Ephemeral
História por Biaa C. | Revisão por Taaci


O sol já se punha naquela tarde de sexta-feira. Como em todos os pores-do-sol, a visão era linda, quase mágica, daquele alaranjado intenso de cores. Aqueles que admiravam esse momento, agradeciam aos céus por tão belo evento da natureza. Belo, mas passageiro. Antes que você se dê conta, o sol já se foi, já anoiteceu, e a escuridão em breve tomará conta dos nossos olhos. Um único momento diário. Efêmero.

Dentro da lotada e barulhenta estação de metrô, nenhuma das muitas pessoas que ali transitavam pensava em pores-do-sol. A pressa de chegar logo em casa, o mal-humor após um dia cheio no trabalho, escola ou faculdade, faziam aquelas pessoas esquecerem de momentos tão simples e singelos, e acabarem por passar batido pelos sóis de todos os dias, não mais admirando esse ou outros acontecimentos da natureza. Entre o corre-corre que havia se instalado na estação, já que o trem havia acabado de chegar, uma garota, tão comum quanto qualquer outra pessoa ali, entra no último vagão, apressada a conseguir um lugar para se sentar. A jovem senta e se encosta no duro banco, suspirando o fim de mais um dia. Prende os longos cabelos castanhos num coque, fecha os belos olhos e apoia a cabeça, tentando fugir da realidade. Após alguns minutos, o trem já partiu, o celular dela tocou. abriu a bolsa vermelha de pano, olha rapidamente o visor e decide por não atender. É sua mãe. Na verdade, é quase um milagre a mãe estar lhe telefonando.
talvez seja uma jovem fora do comum, já que pelos seus dezessete anos, ela deveria ser uma daquelas adolescentes espevitadas e cheias de alegria, sorrindo, pulando e cantando por aí. Mas não era bem assim. A vida, nem sempre fácil e doce de , a havia levado a ser uma pessoa um tanto quanto fechada, sem muita recepção a novas pessoas, incluindo aí, novos amores. Com o passar dos anos, a garota havia se tornado um tanto quanto independente emocionalmente. O afeto familiar sempre havia sido escasso, e uma decepção amorosa, causada pelo não-correspondido primeiro e único, até o momento, amor dela, a haviam feito desacreditar no amor. Pode parecer um pouco precoce, mas a garota gostava de viver suas emoções intensamente. Gostava. Agora ela estava fechada para emoções. Sozinha.

Mal percebeu quando o lugar ao seu lado foi ocupado por um rapaz. A viagem prosseguia, e o tempo passava. O rapaz ao lado dela? Outro solitário. não via mais beleza em pores-do-sol. Fazia uma pose de pessoa perfeita e completamente feliz, mesmo na juventude de apenas dezoito anos, mas no fundo estava triste. Saía a cada dia com uma garota, voltava pra casa só na madrugada, faltava à aula e não estava nem aí. Havia passado o último ano inteiro assim. Mas agora estava cansado. Tinha várias namoradas, mas se sentia cada vez mais sozinho. Sentimento. Era isso que faltava. Ele desejava encontrar alguém que fizesse seu coração acelerar, que o fizesse ter vontade de ter só uma mulher para sempre. Alguém para quem ele pudesse ligar no meio da tarde só para dizer Eu te amo, alguém para quem ele pudesse contar seus segredos, dividir suas emoções. Olhou para o lado, vendo a bela garota sentada ali, e tentou adivinhar o que ela pensava. mantinha os olhos fechados, concentrada em alguma coisa que nem sonhava o que poderia ser. Após alguns minutos, desistiu de decifrar a garota, decidindo se concentrar em seus próprios pensamentos. Lembrou-se que era o dia da festa anual de Jéssica. Ela era a sua mais recente conquista, e eles estavam ficando há algumas semanas. A garota havia insistido muito que ele comparecesse à festa, já que seria a mais comentada por meses, e ele, como bom garoto popular e baladeiro, não poderia faltar. De jeito nenhum. Então, o que ele fazia num metrô, indo direto para casa? Simples. Ele havia, definitivamente, desistido dessa vida de aparências e festas. Devia haver algo além disso pelo qual valesse a pena viver, certo?

Os dois estavam concentrados, cada um em seus próprios mundos quando, de repente, o trem parou e as luzes se apagaram completamente.

havia pego no sono, resultado de noites mal-dormidas e preocupações em excesso. Queria aproveitar esses poucos minutos de sossego no vagão, porque, ao chegar em casa, o inferno recomeçaria. olhava para os lados, tentando identificar à origem do problema, mas o escuro e os gritos das pessoas assustadas dificultavam o trabalho do garoto. Todos se levantaram, desesperados para acender às luzes, mesmo não havendo interruptor algum por ali, e o problema, claramente, ser mais profundo do que um apagão repentino.
De repente, uma voz, provavelmente do maquinista ou de algum funcionário do metrô, ressoou por todos os vagões:

SENHORES PASSAGEIROS: ABANDONAR O TREM IMEDIATAMENTE! UM PROBLEMA NOS CABOS PODE CAUSAR UM ACIDENTE IMEDIATO. REPETINDO: ABANDONAR O TREM IMEDIATAMENTE!


Ao aviso do funcionário, os gritos aumentaram, crianças choravam sem entender o que acontecia. Pessoas se atropelavam, na pressa de conseguir abrir as portas e janelas, travadas na hora do apagão. Depois de muito esforço, conseguiram abrir uma das portas, a do último vagão. Desesperados, todos correram naquela direção, tumultuando e dificultando a saída. Com um estralo e uma faísca, algumas pessoas no fim da fila mal formada, começaram a berrar: FOGO! ESTÁ PEGANDO FOGO!
não pensou em nada, saiu correndo, atropelando velhinhas e mulheres, homens e crianças. Só pensava em salvar sua vida. O alvoroço foi geral, todas as pessoas corriam, desesperadas em abandonar o trem. Os cabos iam se soltando, as faíscas comecando e o fogo veio, repentino e assustador, como se houvessem jogado um fósforo em gasolina, o efeito foi imediato. Em poucos minutos, metade do trem estava tomado pelas chamas. Os bombeiros haviam sido acionados e estavam a caminho. Todas as pessoas que haviam escapado, choravam aos montes: alguns abraçados, outros rezando por terem se salvado. olhava ao redor, uma preocupação repentina havia tomado conta dele: Onde estava aquela garota que dormia tranquila, sentada ao lado dele? Andou pela plataforma, de lá pra cá, sem nenhum sinal da garota. Começou a suar frio. Será que ela havia ficado no trem? Nesse momento os bombeiros chegaram, e foram direto ao fogo, tentando apagá-lo. Mas era dificil, o fogo havia se alastrado rapidamente. correu, sem nem pensar. Os bombeiros estavam apagando o fogo nos primeiros vagões, e a garota estava no último, do outro lado do trem. Ele foi até lá, forçando a passagem na porta emperrada, atravessou às chamas tossindo muito pela alta quantidade de fumaça e a localizou: caída, no chão, desmaiada. Pegou-a no colo e começou a gritar, desesperado por ajuda:

- Tem uma garota desmaiada aqui! Será que alguém pode me ajudar? EI, BOMBEIROS! - gritou, avistando alguns dos profissionais. - Ela está desmaiada, inalou muita fumaça, provavelmente.
Um dos bombeiros comecou a gritar que precisavam de uma maca, mas outro respondeu que não tinha como a maca chegar até a plataforma, então correu carregando até a saida mais próxima, desesperado em salvar a vida daquela garota. Chegando a saída, os bombeiros que haviam seguido até ali, rapidamente chamaram a ambulância. deitou delicadamente na maca, os olhos cheios de água, ao ver que ela nao acordava.
- Por favor, se apressem. Ela não acorda. - chacoalhava o bombeiro mais próximo. - Por favor.
O bombeiro tentava acalmá-lo, enquanto os enfermeiros colocavam a máscara de oxigênio em , e a reanimavam. Alguns minutos depois, ela acordou e correu até a garota, querendo falar com ela, saber se estava bem. Como podia se preocupar tanto com alguém de quem não sabia nada, nem mesmo o nome?
abriu os olhos, tossindo muito, e a primeira coisa que viu foi um par de olhos angustiados que a encaravam receosos.
- Q-quem é você? O que houve? - começou a tentar se levantar, e constatou que estava numa maca.
- Meu nome é . - ele pegou na mão de , tentando acalmá-la. - Sentei ao seu lado no vagão.
- Sim, eu vi, mas... Porque eu estou aqui? - perguntou aflita.
- Hm, o trem... Ern, o trem pegou fogo, e você estava dormindo. Todos saíram apressados, mas eu percebi que você ainda estava no vagão, então voltei pra te buscar.
- Você... Você voltou? No fogo? Nas chamas? Pra salvar uma desconhecida? - ficava cada vez mais surpresa com aquele garoto. ...
- Sim. - ele respondeu como se fosse óbvio. - Era o mínimo que eu podia fazer.
Após alguns minutos de silêncio, um dos paramédicos disse que estava liberada e já podia voltar para casa. havia se afastado para ligar pra Jéssica e dizer que não iria à festa. caminhou até onde o garoto estava, esperando o fim da ligação.
- Então... - ele falou, desligando o celular.
- Bom, o médico me liberou, eu já vou pra casa. Obrigada por tudo, . - ela falou se aproximando e dando um abraço rápido no garoto. Ele mal teve tempo de responder e ela já se afastava.
- Ei, , você não quer que eu te leve para casa?
- Não precisa. Obrigada, ! - agradeceu com um sorriso, e saiu apressada. Estava na hora de voltar à vida real.

Depois de algumas horas, cada um na sua casa, os mesmos pensamentos rondavam a mente dos dois. Eram dois desconhecidos que estavam, por acaso, na mesma hora, no mesmo lugar. Por acaso? Como podiam os dois terem saído tão impressionados desse breve e intenso encontro? Nem nem achavam uma resposta para isso, mas, os dois sabiam que existem momentos efêmeros que são intensos como toda uma vida.
Fim


N/A: Pois é, primeira short fic da minha vida, primeira fic que eu finalizo, acho que eu deveria celebrar e. Oi gente! Ok, não sirvo para N/a's. HSHAUHAS. Enfim. Essa fic surgiu inteira na minha cabeça e seria longa, maaas, eu queria finalizá-la logo, então virou short. Aí, um belo dia de verão, a dona Thaciane, vulgo beta-amiga-apoiadora (?), disse que gostava e surtou comigo, então aqui estamos com a fic no site. Medo. Me digam o que acharam, sweets, por favor *---*. Sou daquelas inseguras hahaha. E quanto a parte dois, o que eu duvido que alguém queira, quem sabe... ~mistério~. Tem mais para acontecer entre você e o bonitão que te salvou, certo? JHSUASHDUAHDSUHD. Ah, pra finalizar: todaspira que a Taaci agora é beta e e e. Parabéns Smith *-* Todas mandando as fics para ela e. u_u HSUASHAUHSA. Bom, já deu de falação, né?
Beijos ;*

N/b: Primeiro, eu adorei a história, é simples, mas eu gostei dela, da ideia. Segundo, espero uma parte dois, ta? Os principais merecem se encontrar de novo, quem sabe na segunda parte ela quem vai salvá-lo? #fail - Terceiro, obrigada, mesmo, mesmo. Aliás, espero mais fics suas também, ta? :B
E deixem um comentário, a autora merece.

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