A saudade era a único sentimento que conseguia tomar o meu corpo naquela tarde fria. O sol estava se pondo e a imagem que eu via de Londres, era perfeita como a de um desenho. Eu, , estava sentado na sacada do meu quarto, esperando que algo de bom acontecesse. Não que minha vida não fosse boa. Era, mas eu já havia entrado em uma rotina medíocre. Até o sabor amargo do café passava pela minha garganta sem que eu, ao menos, pudesse senti-lo.
16 de setembro de 2008. Já se passou um ano, e ela ainda permanece na minha memória. é o nome dela.
Quando fui passar as férias de julho do ano passado, na Califórnia, pude ter um dos maiores prazeres da minha vida. Conhecê-la.

Já era meu último dia na Califórnia, e eu esperava meu avião no aeroporto. O vôo estava atrasado, há mais de três horas.
“Passageiros do vôo 305 e 308, desculpem o transtorno, mas devido à chuva, seus respectivos aviões, só sairão da Califórnia, amanhã de manhã.”
Não. Eu não podia acreditar. Esperei durante três horas, para ter que voltar para o hotel? Não. Na verdade nem hotel eu tinha mais. Já havia cancelado minha vaga.
‘Merda!’ ouvi uma voz feminina, que estava sentada em uma cadeira atrás de mim, reclamar. Será que ela era do mesmo vôo que eu? De repente também não teria onde dormir... não que eu tivesse segundas intenções, mas ela não era feia. Nem um pouco.
‘Er... você também era desse vôo?’ tentei puxar assunto.
‘É comigo?’
‘Sim. Você também era do vôo 305?’
‘Não. 308.’ Ela foi grossa e voltou a sentar.
‘Hey... estava passando as férias aqui?’ insisti, e me sentei ao seu lado.
‘O que você pretende?’
‘Depende do que você pretende.’
‘Eu não pretendo nada que não seja esperar o meu avião em paz.’
‘Vai ficar aí a noite toda?’ eu quis saber.
‘O que você tem a ver com isso?’
‘Já vi que você não é de fazer novos amigos... desculpe se te incomodei.’ Levantei e voltei ao meu lugar. Aquela menina, de bonita, havia ficado instantaneamente horripilante, só pelo fato de sua “simpatia”.
‘Olha... me desculpa, mas é que eu odeio atrasos.’ eu a ouvi dizer logo após de um suspiro.
‘E você acha que eu gosto?’ perguntei, mas não obtive resposta.
‘Não sou do vôo 305, sou do 308.’ Ela sentou-se ao meu lado, e pude sentir um incrível cheiro de morango que saia de seus cabelos.
‘Vai ficar por aqui até de manhã?’ tentei novamente.
‘Não... acho que vou voltar pra casa. Ainda tem mais 9 horas pela frente.’
‘Você mora aqui na Califórnia?’
‘Sim. Você não?’
‘Não, moro em Londres. Só vim passar minhas férias aqui.’
‘Ah... e... você vai esperar seu avião até amanhã de manhã?’
‘É o jeito, né? Já cancelei minha vaga no hotel.’ Falei aquilo com a esperança de ser ao menos convidado.
‘Hm, entendo. Então, eu vou indo.’ Ela simplesmente se levantou, pegou sua mala, e começou a ir embora.
‘HEY!’ gritei sem pensar.
‘Oi?’
‘Você não sente pena de mim?’
‘Pena?’
‘É. Eu irei passar a noite toda aqui.’
‘Mas eu nem te conheço.’ Ela fez uma expressão estranha.
, prazer.’
‘Er...’
‘Agora você diz o seu nome, e estamos apresentados.’
.’
‘Posso passar a noite na sua casa, agora?’


O céu começava a escurecer, e Londres ficava cada vez mais fria. Não consegui terminar meu café, e a essa hora, ele já devia estar gelado. Não, não é um dos meus hábitos favoritos tomar café gelado.
Olhei para o Big Ben, e vi que ele marcava exatamente 5h30min da tarde. Ainda tinha uma hora.

‘Nossa, sua casa é linda.’ Eu olhava ao redor, e podia analisar os grandes quadros que enfeitavam a sala.
‘Sinta-se privilegiado. Não é qualquer estranho que eu trago pra dentro de casa.’ Ela ignorou meu comentário, e trancou a porta.
‘Só traz os bonitos?’
‘Claro, são os melhores.’ Eu não esperava aquela resposta, e pude sentir meu rosto arder de vergonha. ‘Não precisa ficar vermelho, você sabe que é bonito.’
‘Ah, er... obrigado.’ Não a achava mais horripilante.
‘Não vai dizer "você também é muito bonita"?’
‘Se você quiser eu digo.’ O que estava acontecendo? Eu estava ficando sem graça? Isso não era nem um pouco comum.
‘Não, não precisa.’ abriu um sorriso que eu nunca vi antes. Era um sorriso sincero, por mais que se escondesse atrás da timidez.
‘Er... onde eu fico?’
‘Pode dormir aqui no sofá... vou pegar algumas roupas de cama.’ Ela subiu as escadas, o que me fez reparar em uma parte muito agradável de seu corpo.


Faltam quinze minutos para as 6h da tarde, e eu ainda estou aqui, olhando para o nada. O telefone está ao meu lado, mas eu não pensei em tocá-lo. Agora, além da saudade o medo também permanecia dentro de mim.

‘Você está louco?’ ela me olhava com uma expressão assustada.
‘Não, mas está uma noite linda.’ Eu expliquei.
‘Linda? , está caindo o mundo lá fora.’
‘Caindo o mundo não, está apenas chovendo. E as noites de chuvas são as melhores.’ Puxei seu braço, e a arrastei para fora. A lua cheia tomava conta do céu, e as estrelas brilhavam como nunca. Pareciam feitas para o momento.
‘A propósito, me chame de !!’ eu gritei, para que ela pudesse ouvir.
‘Vamos ficar doentes!’ dizia não acreditando no que estava acontecendo. A chuva caia sobre nós, mas eu não me importava, adorava noites de chuva.
‘E daí? Vai dizer que nunca sonhou em fazer isso?!’ eu me aproximei e envolvi meus braços em sua cintura, a fazendo se sentir protegida. ‘Nunca quis fechar os olhos, e sentir os pingos caírem sobre você... como se mais nada importasse?’ eu falava baixo em seu ouvido, ainda abraçado a ela.
‘Nunca tive essa coragem.’ respirou, agora falando no mesmo tom de voz que eu.
‘Agora tem?’ segurei seu rosto e a olhei nos olhos. Os pingos pareciam mais fortes. Ela não respondeu nada, apenas me beijou. Sim, quando eu menos esperava meus lábios estavam presos ao dela. Apenas com o calor de sua boca, eu conseguia me aquecer da chuva fria.
‘Hey!’ me assustei quando ela se afastou.
‘Que foi?!’
‘Eu te conheci agora... o que estamos fazendo?’
‘Só estamos nos divertindo!’ comecei a gargalhar. Aquela garota era realmente engraçada. Uma hora era grossa comigo, outra hora carinhosa, depois engraçada, assustada, brava, preocupada. Por um momento achei que pudéssemos dar certo.


Meu telefone tocou, e eu fiquei com receio de atender. Não queria dar satisfação a ninguém, estava cansado disso. Uma, duas, três vezes... até que parou.

Acordei na manhã seguinte com uma dor insuportável nas costas. Sim, eu dormi no sofá, que por sinal, era fofo demais. Abri um dos olhos e percebi onde estava.
?’ sentei-me. Ninguém respondeu. Será que ela ainda estaria dormindo? Foi nessa hora que me dei conta de um papel que estava em cima da mesa, com o meu nome.

, não sei quem você é e nem quais eram seus objetivos ao se convidar a ficar na minha casa. Na verdade não sei nem como te deixei ficar aqui, sozinho. Você me passa confiança no olhar, e acho que foi por isso que não me preocupei. Estou indo para Miami, visitar alguns parentes, e não sei quando o verei novamente, já que moramos a quilômetros de distância. Saiba que essa noite foi mais do que mágica, mesmo que você seja um estranho para mim.

ps. quando sair, coloque a chave na caixa do correio.

.”


Ela tinha ido embora sem se despedir, e o mais estranho é que havia deixado alguém, que mal conhecia, dentro de sua casa. Sim, eu era um estranho para ela. Mas isso não me importava agora. Eu queria, ao menos, ter me despedido. Senti um aperto no peito, e não consegui entender. Que sentimento era aquele que comecei a sentir da noite para o dia?


Peguei o telefone e comecei a discar aquele antigo número, aquela voz me fazia bem. Eu precisava ouvi-la, mas a campainha tocou. Respirei fundo antes de levantar e comecei a dar passos curtos até a porta. Dei de cara com uma caixa. Não, não era pequena, mas também não era gigante. O suficiente para que coubesse um violão ali dentro. Finalmente havia chegado. Aproximei-me e a coloquei para dentro de casa. Sentei-me no sofá, e fiquei observando aquele embrulho de papelão, que eu deixei na Califórnia de lembrança.

‘Eu não acredito que fizemos isso!’ Entramos pelos fundos, gargalhando.
‘Eu não acredito que você me beijou!’ me fingi de santo, ela não podia pensar que eu era um tarado qualquer... não, eu era um tarado de classe.
‘E você nem gostou, né ?’ ela sorriu enquanto preparava as coisas para fazer um café.
‘Não... você se afastou. Queria que tivesse durado mais tempo.’ Sentei-me na cadeira, e falei olhando para o chão.
‘LEVANTA AGORA!’
‘Que?’ levantei assustado, com aquele grito.
‘Você está molhando minha cadeira. Nada de sentar enquanto não tomar banho, e estiver seco.’
‘Hm, tudo bem, mãe.’ Lembrei da minha mãe naquele momento. ‘Você está louca para ver, né?’
‘Ver o que?’
‘Eu tomando banho.’ Disse simplesmente, e ela começou a gargalhar. Era uma risada gostosa, daquelas que te faziam rir junto. ‘Que foi?’
‘O seu jeito. É engraçado... você não está nem ligando se eu vou te dar um fora ou não, você fala e acabou.’ apertou o botão da cafeteira e se virou, apoiado-se na pia. Sorriu para mim.
‘Então, posso tentar uma coisa, sem saber se vou receber um fora ou não?’
‘Se isso não me prejudicar.’ Ela deu os ombros, e observou que eu me aproximava.
‘Não vai te prejudicar... você vai até se sentir melhor.’ Se eu estivesse no lugar dela, já teria me agarrado, tenho certeza que aquele olhar tinha sido tentador. Nossos corpos estavam bem próximos, e eu a olhava nos olhos. Pude sentir sua respiração falhar por alguns instantes, e mais do que depressa a beijei. Quando nossas línguas se tocaram pude sentir minhas pernas falharem. Sem contar que meus braços se arrepiaram no mesmo instante. Coloquei minhas mãos sobre seu rosto, e ela envolveu seus braços em meu pescoço. Fui descendo meu rosto enquanto beijava seu pescoço. Estávamos molhados, mas ainda sentia o cheiro de morango que permanecia no cabelo dela. “Piiiiiiii” Fomos interrompidos pelo maldito apito da cafeteira. Acho que pude demonstrar minha raiva apenas nos olhos.
‘Calma, é só o café.’ disse achando graça de mim.
‘Não sabia que era tão rápido.’
‘Ah, fiz sob medida.’
‘E nem que apitava.’
, você está bravo?’
‘Não.’ Dei os ombros e me encostei na parede.
‘Toma.’ Ela veio até a mim, e entregou-me uma xícara de café. Permanecemos quietos durante alguns minutos. Eu, olhava para o chão, ela, para a mesa.
‘Não iremos mais nos ver?’ eu tinha que perguntar.
‘Er... eu não sei. Pretende vir mais à Califórnia?’
‘Eu não posso, tenho uma banda, um trabalho em Londres.’
‘Nem nas férias?’
‘Ah, nas férias com certeza. Será minha primeira opção.’ Sorri.
‘E você tem uma banda?’ se mostrou interessada.
‘Tenho sim, apesar de ainda não poder ser comparada aos Beatles.’
‘Eles são incomparáveis. Mas fique tranqüilo, tenho certeza que um dia eu te verei na primeira capa do jornal. Beatles, o retorno.’ Ela fez um gesto como se estivesse super empolgada.
‘Er...’
‘Sou jornalista. Me empolgo com essas coisas.’
‘Ah, tudo bem, eu gosto do seu jeito.’ Meu rosto ardeu de vergonha mais uma vez. Fala sério, não estava gostando disso. ‘Vou te dar um presente!’
‘Presente?’
‘Sim, meu violão. Assim, quando você sentir saudades, basta olhar pra ele.’
‘Posso tocar em vez de ficar só olhando?’
‘Sabe?’
‘O básico.’
‘Então, sinta-se à vontade.’
‘Posso te dar algo, também?’ Achei aquilo amável. Perguntar se podia me dar algo? Claro que podia, mas fiquei a observando por alguns segundos. ‘?’
‘Ah, claro que pode!’ ela colocou as mão por trás de seu próprio pescoço, e desabotoou sua corrente. Havia algo gravado.
‘Ando com ela, desde que perdi minha mãe.’ Ela disse me dando o objeto nas mãos.
‘Eu não posso aceitar, .’
‘Claro que pode . Ou você quer levar meu piano?’
‘Não, mas é lembrança e...’
‘Não, não é lembrança... mas quando ela se foi eu fiquei muito mal, e precisava de algo para fazer sentido, algo que me dissesse o que fazer. Não sei se ficou claro, mas acho que devia passar essa corrente para alguém especial.’
‘Você me acha especial?’
‘Maluco né? Nem te conheço, não sei se você é um maníaco, mas você me faz sentir algo... diferente.’
‘Eu sinto o mesmo.’ Eu disse e abaixei a cabeça, meio sem graça.
‘Every day should be a new day…’ me entregou a corrente.
‘O que?’ eu perguntei, e vi que isso estava escrito no pingente.
‘Minha mãe costumava dizer isso. Sempre que eu ficava triste, ela virava e dizia... Todo dia devia ser um novo dia.’
‘Nossa...’ aquela frase, realmente havia mexido comigo.
‘Coloca.’ Ela sorriu.


Essa foi a melhor noite da minha vida. Sim, uma noite em que eu não ganhei o Oscar, em que eu não ganhei dinheiro, eu não ganhei um carro novo, e nem uma casa nova... apenas cancelaram meu vôo, conheci alguém, fiquei embaixo de chuva, e fui interrompido por uma cafeteira. Depois da manhã seguinte nunca mais vi .
Ontem fiquei sabendo de sua morte, estava no jornal. Pelo o que eu li, ela estava vindo para Londres, e o avião estava com problemas no motor. Na hora não tive reação, porque aquilo não parecia possível. Agora, eu olho as pessoas passarem na rua. Namorados, amigos... e penso em como seria se ela estivesse aqui comigo? Não era a pessoa mais importante da minha vida, pelo fato de eu ter passado apenas uma noite com ela, mas, por ser apenas uma noite ela já era alguém bem especial. Olhei para o relógio, e já eram 6h30min. Liguei o rádio que já estava ao meu lado. Esperava pela música que me fazia bem. A corrente estava no meu pescoço, e me dava força para seguir em frente, de algum modo.
“Agora, a música que está chegando em primeiro lugar nas paradas... Falling in Love, McFLY"

“Everyday feels like a Monday
There is no escaping from the heart ache
Now I gotta put it back together
'Cause it's always better later than never
Wishing I could be in California
I wanna tell you when I call ya
I could've fallen in love
I wish I'd fallen in love…”


Peguei o telefone, e tomei coragem. Disquei aquele mesmo número, para poder me lembrar, pela última vez, daquela voz doce. Tocou uma, duas, três, quatro vezes... até cair na caixa postal. “Oi, no momento não posso atender... devo estar escrevendo alguma matéria, ou estar muito ocupada, deixe seu recado, que, se eu estiver com vontade, eu te ligo. Também te amo.”
A última frase era a melhor da mensagem inteira. Uma lágrima está escorrendo dos meus olhos, e meu coração está apertado. Eu sei que quando deitar, irei pensar nela e irei sonhar com ela. Nós poderíamos ter nos apaixonado.

FIM

n/a: Olá meninas! =D Espero que tenham gostado da fic. É triste, mas eu gosto tanto dessa música *-* Eu chorei quando eles tocaram no Faustão, eu chorei no quando eles tocaram no show de SP *-* E, eu não tenho explicação, porque isso é mais do que admiração. Comentem.

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