Autora: Bruh Fernandes | Beta-reader: Andy


In the jungle, welcome to the jungle
(Na selva, bem-vinda a selva)
Watch it bring you to your
(Veja-a derrubar seus)
Sha-na-na-na-na-na-na-na-knees, knees
(Sha-na-na-na-na-na-na-na-joelhos, joelhos)
Oh, I wanna watch you bleed
(Oh, eu quero ver você sangrar)

And you're a very sexy girl
(E você é uma garota muito sexy)
That's very hard to please
(Que é muito difícil de satisfazer)
You can taste the bright lights
(Você pode experimentar as luzes brilhantes)
But you won't get them for free
(Mas não vai te-las de graça)

In the jungle, welcome to the jungle
(Na selva, bem-vinda a selva)
Feel my, my, my, my serpentine
(Sinta meu, meu, meu, meu chicote)
Oh, I wanna hear you scream
(Oh, eu quero te escutar gritar)

Welcome to the jungle
(Bem vinda a selva)
It gets worse here everyday
(Fica pior a cada dia)
Ya learn to live like an animal
(Você aprende a viver como um animal)
In the jungle where we play
(Na selva onde nós jogamos)

If you got a hunger for what you see
(Se você tem fome pelo o que vê)
You'll take it eventually
(Você consegue eventualmente)
You can have anything you want
(Voce pode ter o que quiser)
But you better not take it from me
(Mas é melhor você não tirar de mim)

And when you're high you never
(E quando você está alto você nunca)
Ever want to come down
(Nunca quer descer)
So down, so down, so down
(Então desça, então desça, então desça)
Yeah, down!
(Sim, desça)

You know where you are?
(Você sabe onde você está?)
You're in the jungle baby
(Você está na selva querida)
You gonna die!
(Você vai morrer)


Prólogo

se jogou no sofá, encarando o namorado que andava de um lado para o outro mexendo nos cabelos e roendo a unha. A moça bufou, vendo preocupado. Odiava aquela tensão no ar e aqueles movimentos repetitivos. Eram chatos, irritantes.
- Que merda! Dá para parar? – reclamou.
- Cala a boca, – insultou. – Meu irmão está sumido há horas.
- Grandes merda. Deve estar com aquelas putas que ele pega. – Deu de ombros, chateada. Sendo a única mulher do grupo, odiava ver os integrantes carregando mulheres para dentro da casa que eles dividiam. Era aquilo todo dia de folga.
- Ele está demorando demais – resmungou.

A porta se abriu e , Bruce, e William, o resto da quadrilha, adentraram a casa.
- Não o encontramos em lugar nenhum, – manifestou , caindo na poltrona e ligando a tevê. Os outros largaram as armas no canto e também sentaram.
- PUTA QUE PARIL, VOCÊS SÃO UM BANDO DE INCOMPETENTES! – vociferou o líder, caminhando em passos fortes até o quarto e batendo a porta do mesmo. Instantes depois abriu uma fresta da porta e chamou : - Venha linda, venha cá. – e fechou.
se levantou ajeitando a saia curta e balançando os cabelos.
- Isso, vai lá aliviar a tesão do seu macho – murmurou. deu-lhe o dedo do meio, abrindo a porta do quarto de . – Sua puta – xingou o rapaz, mas ela fingiu não ter escutado.


Capítulo 1

- Alô? – William atendeu ao telefone celular que tocava. Era de , mas visto que o mesmo estava trancado no quarto há muitos minutos e visivelmente ocupado, o moço se pôs a atender.
- Will, coloque o na linha – pediu a voz que William reconheceu como a de Brian, irmão de .
- Onde você está? Nós estamos te procurando como loucos – protestou, visivelmente irritado.
- Por favor, só coloque meu irmão na linha – suplicou com dificuldade, a voz chegando a falhar.

Will, tenso, foi até a porta do quarto e socou a mesma inúmeras vezes enquanto gritava incessante pelo nome de .
- Eu espero que seja realmente importante – murmurou abrindo a porta tão rapidamente que, por reflexo, a mão de Will foi repetir o movimento que fazia, bater à porta. segurou o pulso do rapaz no ímpeto quando o mesmo estava a milímetros de seu rosto. Jogou o braço do rapaz para baixo com força e esperou uma explicação com a testa franzida.
- Seu irmão está no telefone – informou, erguendo o telefone com as mãos. retirou o telefone da mão do rapaz com brutalidade e o colocou na orelha.
- . – Saiu do quarto passeando pela sala somente de cueca.
- Eles me sequestraram – a voz saiu trêmula.
- Quem? Como você está? Aonde? – encheu o irmão de perguntas.
- Eu... – começou a falar, mas foi interrompido. Por alguns instantes ouviram-se vários ruídos e logo uma voz voltou a falar, mas não era mais de Brian. – Ele está conosco. – reconhecia aquela voz. Jayden. Bufou, merda do cacete! – Estamos em uma das cavernas do bosque. Quase imperceptível, ela se difere das outras pelos detalhes. No meio das outras sempre é contemplada, mas ninguém se atreve a examina-la. Boa sorte! – e o telefone foi desligado.
- MERDA, MERDA, MERDA! – bradou muito encolerizado. – Puta que pariu! – completou, jogando o telefone no sofá e andando de um lado para o outro com as mãos na cabeça.

escutou os gritos do namorado e levantou-se da cama. Cobriu-se com o lençol e seguiu até a sala. Como um deja vú, ela viu a cena de minutos atrás se repetir: andando de um lado a outro nervoso.
- O que aconteceu? – sussurrou ela, agarrando o braço do namorado e o fazendo parar e olhar para ela.
- Meu irmão foi sequestrado pelos Rengs. – Fez uma careta.
Rengs era uma quadrilha da cidade. A quadrilha rival, que tentava tirar tudo que eles conquistavam. Era formada por membros de uma só família, entre pais, filhos, primos e sobrinhos.
- Eu sinto muito, amor – exclamou triste, passando a mão pela face de . – Olha, nós vamos lá salvá-lo.
- Eu sei – soltou rude. – Agora me largue e vá vestir a porra de uma roupa! Já falei para você não andar com essa merda, é coisa de piranha – reclamou, puxando seu braço para junto ao seu corpo.
- Mas que merda, eu não sei nem porque ainda estou aqui, porque ainda estou com você – falou baixo já entrando no quarto.
- Porque você me ama, é por isso – respondeu , a seguindo.
- Ou talvez porque eu seja uma idiota – refletiu. Deu a volta pela cama e encontrou sua calcinha. Enfiou os pés por entre os buracos da vestimenta e a ajeitou no corpo. Largou o lençol e pegou seu sutiã na cama. se manteve do outro lado do quarto. A cama os separava.
- Idiota sou eu por aguentar uma piranha tanto tempo! Filha da puta, você não merece nem metade do que tem – disparou frases grossas e insultantes. – Quer ir embora? Vai, vai dar. Afinal, isso você sabe fazer muito bem, né?
- Seu desgraçado, saia daqui, saia daqui agora! – gritou em meio às lágrimas que caíam de seus olhos. Apesar do modo grosso de , ela o amava. Ele era tudo para ela, sempre foi. - Eu não quero, não preciso escutar essas mentiras! – tampou os ouvidos com as mãos.
- O quarto é meu, saia daqui você – mandou. Assim, pegou o braço da namorada e a jogou para fora do quarto, batendo a porta em seguida.

Humilhada, somente de calcinha e sutiã, ela abaixou a cabeça andando em tropeços e se inundando em lágrimas. Sentiu braços em sua cintura e se apoiou totalmente neles. a segurou quando a mesma desleixou todo o corpo em suas mãos. A pegou no colo e a carregou para o quarto dele como uma criança carrega um bebe. Ou como um recém-casado carrega sua noiva na noite de lua de mel.
Sentia-se frágil. Sua cabeça rodava. Viu-se sendo colocada em uma cama macia e, inconscientemente, se aprumou na mesma. Logo, percebeu que tinha companhia, . Com o silencio do cômodo seu choro ecoou.
- Não fique assim, por favor – começou ele, passando a mão pelos cabelos bagunçados da mulher. Alguns fios chegavam estar molhados tamanho o volume do choro.
- Eu o amo – murmurou ela.
- Ele não te merece, não mesmo. Não merece seu amor. – Fazia círculos em sua bochecha. O silêncio se instalou novamente. As lágrimas não mais eclodiam, mas os soluços ainda saiam de tempos em tempos.
- Ninguém merece, né? – perguntou ela tempo depois. Ele a olhou incrédulo, esperando um esclarecimento àquela pergunta. – Ninguém merece o meu amor. Afinal, eu sou uma puta, não? – Ela o encarou chorosa. As palavras dela, que nada mais foram do que uma repetição das deles, serviram como uma lança em seu coração.
- É claro que não, por favor, me desculpe – suplicou a ela, recusando-se a encarar aqueles olhos chorosos no momento: - A verdade é que eu te amo – soltou baixinho a última frase, com muita dificuldade.
Olhou para a garota abraçada a seu corpo esperando a reação da mesma. No entanto, tudo que ele viu foi os olhos fechados da moça. Ela havia dormido, havia caído no sono no momento em que tomou coragem de falar-lhe o que sente! Bufou antes de depositar um beijo singelo na testa da garota e afagar os cabelos da mesma.

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havia escutado a declaração de . Havia escutado ele falar que a amava. E então, ela resolveu fechar os olhos e fingir que havia adormecido. Era mais fácil não encarar os olhos suplicantes esperando uma resposta de . Não saberia o que responder.
Era claro que o achava bonito. Quem não achava? Alto, ombros largos, a pele bronzeada e o corte de cabelo que fizera quando entrou no Exército. Mas beleza não era tudo. Ao menos não para ela. Apesar da ajuda dele no momento sensível, ele geralmente era grosso com ela e a xingava sempre.
Ela olhou para em pé a sua frente falando qualquer coisa. Ele não era grosso com ela também? A cena de minutos atrás não saía de sua cabeça, o jeito rude de pegar seu braço, xingamentos dirigidos a ela com tanta facilidade. Ela não esquecera, nunca esqueceria, o problema era que ela o amava. Amava por todos os anos juntos, por tudo que haviam passado, pelo jeito que ele a tratava quando sentia ciúmes, pelas declarações que lhe fazia. Essa porra chamada amor só fodia com tudo.

- , estou falando com você – avisou , acordando de seus devaneios.
- Desculpe, eu... hm.. Nada. – Abaixou a cabeça.
- Vá vestir uma roupa, quero passar a missão. – Ela assentiu, caminhando para o quarto que dividia com , ao menos até horas atrás. Com extrema surpresa ela pode escutar falar com : - Obrigado.
Abriu um sorrisinho enquanto procurava sua saia. não era de todo grosso. Mas onde raios havia colocado sua saia?

Flashback #On

abriu a porta, deparando-se com o namorado deitado na cama sem camisa. Encostou a porta e andou até lá lentamente, engatinhando sedutoramente pela cama. olhava descaradamente o decote da regata da mulher. Se meteu a desabotoar a saia jeans de e a empurra-la para baixo enquanto beijava a boca da mulher. As línguas se debatiam, lutando por espaço. agarrou a cintura de e a puxou, fazendo com que ela caísse sobre ele. Em consequência, soltou um gemido e ele sorriu.
encarou os seios de e ela entendeu que estava na hora de retirar a roupa. Sem se desgrudar do homem, ela arrastou a saia para baixo das coxas e consequentemente seu órgão sexual esfregou-se no pênis do rapaz. Retirou a blusa pelos braços e, sem esperar que ela terminasse, mordeu os seios de ainda com o sutiã. O membro ereto roçava com o fino tecido da calcinha da moça.
abriu o fecho do sutiã, sabendo que o namorado nunca conseguia tirar aquela peça. Um sorriso malicioso desabrochou dos lábios do rapaz e ele se concentrou nos seios fartos da mulher. Os apertou, mordeu, sugou enquanto escutava os gemidos dela. A mesma só fixava suas unhas no ombro de os arranhando e puxando os fios de cabelo do mesmo, segurando-se para não gritar a cada segundo.
Farto de aproveitar somente os seios ele a jogou na cama ao lado dele e trocou de posições, finalmente assumindo a posição que mais gostava, dominador. Mexeu na barra da calcinha da garota ameaçando tira-la a qualquer momento e distribuía beijinhos por todo o colo, seios e barriga. Tirou a calça e reparou no membro ereto por debaixo da calça. Passou a mão pela barriga torneada do homem e preparou-se para adentrar a mão por debaixo da cueca e mexer na ereção do rapaz. , no entanto, não a deixou completar o gesto. Finalmente abaixou a calcinha da garota e abriu as pernas da mesma, afastando uma da outra.
Despejou um beijo na testa da namorada e se preparou para invadir o corpo da moça. Adentrou com o pênis ereto na vagina da mulher, segurando os peitos da mesma e a beijando na boca ferozmente enquanto puxava o cabelo dele com força. Penetrou todo o caralho na genitália o que a fez arfar de dor. Investiu ainda mais, movimentando o pênis por todo o órgão da mulher, que gritava o nome de e gemia de dor e prazer. Num dado momento chegou a arquear as costas enquanto fincava as unhas nas costas do homem, mordiscando o lábio inferior para segurar o grito que sairia. Numa precipitação girou as pernas e as grudou nas costas do rapaz, as entrelaçando, mas logo se arrependeu assim que sentiu mais uma estocada firme de .
mordiscava a pele do ombro e do pescoço da namorada enquanto movimentava-se no corpo da mulher e apertava a cintura. Olhou para ela com um sorriso e saiu de seu corpo, caindo para o lado. Abraçaram-se e gozaram juntos.

Flashback #Off

Por que ela pensava nele depois de tudo que havia dito e feito com ela? Por que relembrava da transa que tivera minutos atrás com ele? Balançou a cabeça, afastando esses pensamentos e finalmente encontrando a saia debaixo da cama. E nem a pergunte como ela havia parado ali. Achou a blusa na cama e a colocou pelos braços. Enfiou os chinelos de dedo no pé e caminhou até a sala.
Avistou no cômodo os integrantes da quadrilha reunidos. Com exceção de Brian, que obviamente havia sido sequestrado e não estaria ali, todos se encontravam na sala: William e no sofá maior, na poltrona mais distante e Bruce sentado numa cadeira ao lado da porta. Na cadeira mais perto dela havia um homem que não conhecia e estava em pé falando alguma coisa, com seu corpo virado de lado para ela.
Assim que ela apareceu na visão de todos, os olhares se viraram e , percebendo a movimentação, a encarou. Ela engoliu em seco, abaixando a cabeça e caminhando até o sofá onde estava Will, e onde ela não precisaria cruzar com o namorado. Logo se sentou e sentiu um olhar sobre seu corpo. Era o homem desconhecido que a vislumbrava com um sorriso safado no rosto, ignorando totalmente os outros presentes. Ela se encolheu, entretanto tudo que ele fez foi se aproximar mais dela.

- , esse é Chris. Ele vai nos ajudar – apresentou .
Ela encarou o homem, um negro alto com braços maiores que as coxas da mulher. Um detalhe era que tinha coxas grossas. Ele a olhou com um sorriso malicioso, a analisando da cabeça aos pés e parando o olhar nos lugares estratégicos: coxas e peitos.
– Chris, essa é – apontou, andando até os dois. Havia percebido aquela tensão, visivelmente desconfortável e Chris a olhando sem pudor. Ele só ainda não havia dado um tiro na cabeça do cara porque precisava dele. – Minha mulher – frisou ‘minha’, chegando até perto dela e puxando o pulso da garota com violência.
Ela perdeu o equilíbrio, mas a segurou pela cintura e a colocou de pé novamente. Agarrou a cintura de e colocou a mão na bunda da garota, demarcando o produto. Produto, mercadoria, era assim que ela se sentia no momento. Abaixou a cabeça e simplesmente esperou que começasse a falar. – Minha mulher – ele repetiu. Escutou alguém bufando e sabia que era .
- Não sei por que ainda perco tempo – comentou baixo, balançando a cabeça negativamente em reprovação.
bufou olhando para e mandando-o calar a boca. No entanto o comentário de fez-se efeito em . Respirando fundo e fechando os olhos com força, ela tomou coragem para infringir as palavras do namorado e o contradizer.

- Eu não sou sua mulher – corrigiu a moça, o olhando enfezada, ainda nos braços dele.
- Fica quietinha que eu quero falar sobre a missão – aconselhou, ignorando totalmente a fala de . – De boquinha fechada você é perfeita.
- Você só me enxerga como um corpo bonito. – Abaixou a cabeça, as lágrimas já enchendo seus olhos. - Não dá meu merecido valor.
- Ih, que papo é esse agora? Querendo mostrar que é inteligente? Porra, fica de bico calado – reclamou, pegando o queixo da garota com a mão livre. Não ligando para o choro da mulher que já ecoava ou suas reclamações, só mostrou mais uma vez o quanto era babaca e fútil apertando a bunda da garota.
- ME LARGUE – gritou, tirando a mão de de seu queixo num empurrão e soltando-se do braço do homem por impulso. Respirou rapidamente, tentando se recuperar e falar novamente: - Eu sou inteligente. Mais que você, se quer saber. Estudei em uma das melhores faculdades dos Estados Unidos. Estou farta de você me tratar como um pedaço de carne! – aumentou a voz indignada.
- Ih, eu não vim aqui para escutar discussão de relacionamento – invocou Chris, os encarando enfadonho. – Estou aqui para a missão.
- É, tenho que concordar – murmurou , passando a mão pelos cabelos e bufando vagarosamente. – Vou passar a missão para vocês – mudou de assunto, concentrando-se novamente.

passou a mão por baixo dos olhos e bochechas, limpando as lágrimas e andou até o sofá novamente, agora contornando , o ignorando, e sentando ao lado de . Ele sorriu para ela, terno, a fazendo sorrir também. Sua vontade era abraçá-lo e aninhar-se em seus braços. Era seu melhor amigo no grupo, sempre a escutando e a aconselhando.
- Como vocês sabem, meu irmão foi sequestrado – retomou a conversa depois de observar os passos de – pelos Rengs – acrescentou com uma careta - Jayden, o líder deles, nos informou que eles estão no bosque em uma das cavernas. E disse uma charada – forçou a cabeça para lembrar as exatas palavras que Jayden usou - Quase imperceptível, ela se difere das outras pelos detalhes. No meio das outras sempre é contemplada, mas ninguém se atreve a examiná-la. – deu de ombros. – Meu forte é força física, não charadas. Chamei Chris porque ele conhece melhor que ninguém o bosque da região – explicou. – , você que é bom em metáforas, sinta-se a vontade.
- Você pode repetir? - pediu , levantando do sofá e pegando um bloco e uma caneta ao lado da televisão. - Temos que analisá-la passo a passo.
- Quase imperceptível, ela se difere das outras pelos detalhes. – ditou as palavras lentamente - No meio das outras sempre é contemplada, mas ninguém se atreve a examiná-la.

escreveu a frase no caderno. Leu e a releu somente para si mesmo. Anotou algumas coisas, pensou um pouco e depois de alguns minutos no qual as pessoas o miravam esperando alguma explicação, suspirou e releu a frase em voz alta para todos bastante atentos. Finalmente vieram as explicações:
- Como a caverna é quase imperceptível, eu diria que ela está bem escondida no bosque. Alguns detalhes, obviamente, a fazem ser diferente, contemplada e temida. – Passou a mão pelo queixo. – O interessante é que ao mesmo tempo em que é admirada é assustadora, assustadora a ponto de não terem coragem de entrar nela. – Assentiu com a cabeça, como se concordando com seus próprios pensamentos. - Só temos que pensar no que apresenta esses dois sentimentos antagônicos. – Deu de ombros, entregando o caderninho de anotações para .
- Não consigo pensar em nada assim. – fez uma careta. – Algum de vocês? – perguntou a cada homem ali presente, e todos balançaram a cabeça negativamente. – Porra, difícil... – Passou a mão pelos cabelos.
- Acho melhor nos prepararmos para irmos ao bosque. Se pensarmos em alguma coisa, ótimo, se não, simplesmente descobrimos na hora. – permitiu-se dizer, dando de ombros.
- É, fazemos isso. Todos vistam-se e separem itens importantes. William, remédios e primeiro socorros. Bruce, alimentação. , armas. e , enigma. Chris e eu, mapa. Nos encontramos na garagem daqui a duas horas – ditou o líder, já saindo da sala e entrando no quarto.

suspirou, passando a mão pelos joelhos. Olhou para rapidamente e o viu sorrindo. Ficariam juntos nessa. Certamente, eles eram os mais inteligentes no grupo. Todos ali eram inteligentes, com escola completa e alguns faculdades, mas na questão de literatura e português em geral eles se destacavam. Ainda sim, a garota era profissional em armas. Tendo aprendido tudo com sua mãe, conhecia cada calibre e tipo de arma. Apesar de não simpatizar muito com elas, adorava estar de posse de uma. Sentia-se mais forte. As fotos que empenhara armas saíam mais vibrantes, bonitas. Sua mãe, então, ficava belíssima com os cabelos esvoaçantes e uma armadura nas mãos.
Sua mãe... Sentia tanta falta dela. Das suas lições toda a tarde três horas por dia. Da paixão dela por atirar. Da bravura que resistia e lutava a cada ameaça que aparecia no caminho, principalmente se sua filha estivesse em perigo. Era belíssimo vê-la pelejar com aqueles cabelos extremamente pretos e lisos. Sua beleza era seu maior triunfo. Não sabia se estava pronta para contar o que ela representava na sua vida, o quanto sentia sua falta... Talvez outra hora ela falasse tudo que havia passado. Talvez.
Observou a sala. Com exceção de William, que mexia nos armários, todos já haviam se retirado. Ai, e como ela tinha raiva de Will. O modo como obedecia o líder era incondicional. Como um capacho que aceita tudo que lhe é proposto, abaixa a cabeça e lhe faz o que é pedido sem proferir uma palavra. Sabia que ele era muito bom no que fazia e a faculdade de enfermaria fazia grande efeito, mas sua atitude era errônea.
Apesar disso, era a pessoa certa a ser o líder. Porventura fosse um pouco grosso e dominador demais, mas todos do grupo tinham uma característica e uma função. Claro que todos sabiam atirar, reconheciam os remédios básicos, tinham capacidade de armar um roubo e conheciam a cidade sorretareamente, ainda sim cada um tinha mais habilidade em uma coisa. A sua, era comandar para que tudo mante-se organizado. Sua força física também era importante, com braços fortes e conhecimento de algumas lutas. Tae-kwon-do e boxe eram suas especialidades, o que era um tanto interessante. As duas lutas são bem diversas, a primeira é para defesa pessoal e detém golpes certos; boxe é mais físico e não somente saber golpes, além de ser bem mais desgastante. Como eu sei? Nós do grupo tínhamos aula constante de lutas com e , teórica e praticamente.
Eles dois eram os principais em força física. Apesar de tanto Bruce quanto e Will terem um condicionamento físico muito bom, e sabiam as técnicas corretas e passavam os ensinamentos. havia treinado com a mãe desde pequena e conhecia basicamente alguns golpes.
havia sido do Exército e aprendera lá tudo sobre armas, trilhas e resistência. Sabia também um pouco de tudo, como fazer primeiros socorros quase tão bem quanto William e se arriscava a fazer uns miojos de vez em quando. Sua maior aptidão, no entanto, era seu ouvido perspicaz. Conseguia ouvir ruídos mínimos principalmente em florestas, alcançando a diferença entre cada um dos barulhos e os reconhecendo como de animais caçando, de pessoas andando ou simplesmente o vento batendo na flora. Fora treinado para isso.
Will, como já dito, usava de sua sabedoria em enfermagem para qualquer machucado eventual. tinha uma habilidade intelectual, sempre descobria frases e fórmulas matemáticas. Era daqueles que tirava dez tanto em português e matemática, poderia indicar um livro clássico como ajudar numa conta algébrica e cursar tanto letras e literatura quanto qualquer tipo de engenharia e arquitetura. Sortudo.
Havia também um cozinheiro em nosso grupo. não se relacionava muito com Bruce, porém deliciava-se com suas refeições e o achava uma boa pessoa. Ela sabia apreciar uma boa comida e reconhecia que a maior qualidade de Bruce era conseguir fazer uma comida com qualquer alimento. Por exemplo, um bolo. Se faltasse ovos ou farinha, ele dava outro jeito e ainda fazia um bolo, talvez ainda mais gostoso. Isso realmente era um triunfo para a quadrilha, na região onde moravam havia muito mato e bosques e, às vezes, não tinham os alimentos que precisavam. A garota nunca soube como ele fazia aquela mágica.
E ela, bom, era a única garota. Em alguma coisa tinha que se salientar. Havia estudado em uma faculdade do Arizona e se formado em advocacia. Sim, uma bela advogada fora da lei. Sabia todas as leis da federação, mas isso só a ajudava a burlar todas elas. Era as formas de pensar e analisar, além da boa memória e prática com armas, que a fazia se sobressair.

- - chamaram, tocando-a no ombro. – , está se chamando – informou William.
Meio desnorteada, ela assentiu com a cabeça e agradeceu a Will. Levantou-se, seguindo para o quarto que dividia com , onde o mesmo a esperava. Suspirou. Concordando com mais uma vez? Do que adianta toda aquela rebelião se no final ela irá segui-lo?
Aliás, isso a fazia pensar o quão hipócrita estava sendo. Não seria igual a William? Um servo disposto a fazer tudo que o “dono” lhe ordena? Não era isso que ela fazia cada vez que ele lhe chamava para transar ou simplesmente mostrar aos outros o quanto mandava nela? Abriu a porta do quarto e encarou com a cabeça erguida, superior e decidida.
Por isso que ela se rebelou. Recusou as palavras dominadoras de e lhe afastou, o mostrando que ela podia sair das costas dele onde se escondia e mostrar que era uma pessoa. Tinha sentimentos, vontades, desejos. Abriu um pequeno sorriso nos lábios como um desafio. Ele queria uma pessoa servil toda a hora que quisesse sexo? Que comprasse uma boneca inflável então!


Capítulo 2

- Me chamou? – inquiriu confiante, adentrando ao quarto e arremessando-se na cama. Jogou as pernas para cima e as cruzou no alto com o impulso. direcionou seus olhares por toda a perna da garota. Ah, ela adorava fazer isso! Ao menos a nova gostava. Havia decidido no instante em que entrou pela porta que dali para frente seria uma mulher diferente.
- Sim, estou com saudades – respondeu, deitando na cama e aproximando sua boca do pescoço da namorada. Ameaçou beija-lo quando girou as pernas, colocou os pés no chão e levantou-se prontamente da cama.
- As coisas vão mudar, querido – avisou, ironizando o querido. – Além disso, você me teve há pouco tempo. – Sorriu forçadamente, andando pelo quarto de costas para .
- Mas eu a quero de novo! – argumentou, saindo da cama e seguindo atrás da moça.
- Que pena, não me terá – murmurou, mirando o rapaz. – Se não quiser que terminemos agora, proponho mudanças. – Deu de ombros. ameaçou interromper, mas não deixou. – Não, não. – Balançou o dedo negativamente. – Eu vou falar. Só eu. - Sorriu angelicalmente. - Eu não sou um produto. Não faço o que você manda. E embora tenha sido tola durante todo esse tempo, estou farta.
- Mas você não...
- Chiu- sibilou com o dedo nos lábios, indicando que devia ficar calado. – Já disse que é a minha hora de falar. – Piscou o olho direto para e abriu seu armário.

O silencio procedeu durantes minutos. Só se escutava as mãos da garota mexendo nas vestimentas. Depois de um tempo, ela fechou o armário com umas roupas na mão e um sorriso no rosto. Foi até a cama e despejou ali o traje. Um short saia preto elástico e uma regata branca. já estava deitado na cama novamente.
- Sabe, eu estudei em Usmes University Arizona*, uma das melhores faculdades do país. – Sentou-se na cama. – Sou uma advogada. – Riu. – É engraçado, eu que deveria proteger o país acabo o prejudicando. – Deu de ombros. - Ainda assim, eu sou inteligente o suficiente para não depender de você, não ficar a sua sombra. Sou suficientemente inteligente e voraz para sair daqui.
- SAIA ENTÃO! – vociferou , irritado. , porém, não se abalou. O olhou ternamente, como se ele não tivesse gritado. Não esboçou uma só reação. Isso com certeza o assustou mais que qualquer conversa que ela teria com ele. Era importante a questão de sua influência sobre ela. Se não tinha mais tanto efeito quer dizer, quer dizer que...
- Não, você não quer que eu saia. E mesmo que você quisesse, o que não é verdade, eu não iria embora. E, por favor, não ache que é por você. Não mesmo, – sorriu – não se iluda. – Piscou para ele novamente. – Eu fico aqui porque eu gosto do que eu faço aqui. Eu gosto do grupo, das pessoas. Eu não quero ficar dentro da lei. – Fez uma careta divertida, espremendo os olhos.
- Mas é claro amor, eu sei disso – exclamou fofo, passando a palma da mão pelo braço da num carinho.
- Ótimo. – Sorriu para ele, o encarando. Oh, meu Deus, era tão difícil encarar aqueles olhos. – Espero que entenda que eu não vou fazer o que você quer, não mais. Nada de sentir tantos ciúmes e mostrar que eu sou sua grossamente. Olhar não tira pedaço. E, às vezes, seria legal simplesmente me abraçar e conversar comigo. – Segurou para não derramar lágrimas no momento.
- Eu sinto ciúmes porque você é minha, minha. – falou. Não de forma ameaçadora ou rude, mas meigo.
- É, nós dois sabemos disso. E só nós precisamos saber. – Sorriu. Uma lágrima rebelde escapou de seu olho, mas ela tratou de limpá-la rapidamente. – Não precisa mostrar isso a ninguém. Afinal, você também é meu, não? – Ele assentiu. – E mesmo assim eu não fico exibindo isso para ninguém.
- Ok, me desculpe. – Patenteou um sorriso triste. – Prometo tentar ser diferente. – Fez uma carícia na bochecha dela com o polegar.
- Hm, que bom! – Sorriu travessa. – Se você conseguir, eu prometo ficar com você para sempre.
- Sempre é? Casamento, igreja e tudo? – A puxou para um abraço.
- Sim e não. – Se aninhou nos braços de , descansando a cabeça sobre seu ombro. – Eu não sou mulher de casar.

-#-

caminhou com até a garagem de mãos dadas. Ela ficou feliz quando viu o gesto do namorado. O mesmo não colocara mãos na cintura em sinal de posse, simplesmente lhe deu a mão, como um casal apaixonado. A conversa, afinal, devia ter servido para alguma coisa!
Realmente era o que mais esperava, que mudasse. Havia sido extremamente difícil lhe falar tudo aquilo, jogar todas as verdades na cara. Ela o amava, amava demais, portanto fora complicado falar-lhe tantas coisas demonstrando desprezo. Ela queria lhe abraçar e murmurar que estava tudo bem, mas sabia que tinha que resolver. E conseguiu, com uma coragem absurda, ela mostrou, ao menos fingiu, que é capaz sim de fazê-lo seduzir, sentir falta dela, e entender a importância que ela representa. Com mobilidade, conseguiu demonstrar como se fosse uma nova chance que estava dando ao rapaz. Claro que não era! Ela o amava! Aquilo era só para assustá-lo um pouquinho. Por em vista que, sim, ela podia viver sem ele. A questão era só querer.
Antes de chegarem ao destino, esbarraram com Bruce, que encontrava-se no depósito separando os alimentos que levariam. o lembrou que devia ser o mínimo e mais leve possível, e seguimos para a garagem. Primeiro, nos deparamos com William, que procurava algodão que nem um louco e não o achava. Em poucos segundos abriu a gaveta e o entregou o utensilio. Era fácil, sempre custava a ela arrumar as compras do supermercado. Ele a olhou com um sorriso e jogou o objeto numa cesta cheia de seringas, agulhas, ataduras e curativos em geral.
Em seguida, no local onde se guardavam as armas, toparam com e Chris, o primeiro mostrando armas e o segundo olhando admirado.

- Chris, vamos ver o mapa do bosque lá no escritório? – intimou , chamando atenção do homem.
- Sim – afirmou Chris, logo virando para . – Obrigado cara, é realmente legal. – Apertaram as mãos.
- Que isso, sempre que quiser – disse simpático.
- Bom, por aonde vamos? – inquiriu Chris, passando os olhos por e a vislumbrando, e rapidamente virando para .
- Vamos até lá. - Virou-se para . – Quer que eu procure o com você?
- Não, obrigada – agradeceu, sorrindo e dando um selinho no namorado. – Ajudarei aqui um pouco.
- Ok. Só não, hm, demore – pediu. – espera por você – explicou. concordou, abrindo um sorriso e viu os dois homens saindo pela porta.
sabia que era muito boa com armas. Ela estava com e o enigma naquela missão, mas sabia que tinha condições para ajudar com as armas. Talvez, se ela se esforçasse para lembrar os aprendizados da mãe, fosse até melhor do que com palavras confusas e misteriosas. O namorado só a havia colocado com e não por ciúmes. Ciúmes. E isso fez ela se decidir. Quando , que conversava com Chris, disse que ia sair brevemente e a acompanhava na procura de , ela disse que ficaria ali por mais uns minutos auxiliando com as escolhas das armas. Seria nada mais do que ver se realmente mudaria.

- Nossa, abduziram o , colocaram outro no seu lugar e eu não fiquei sabendo de nada? – inquiriu maroto, vendo o novo jeito de .
- Hahaha. – riu forçadamente, dando língua para o rapaz a sua frente. – Eu só conversei com ele. – Deu de ombros.
- O que? Greve? Um gentil e menos ciumento em troca de sexo? – brincou, rindo.
- Chato. – Deu língua novamente. – Eu só mostrei a ele que não sou só um objeto.
- É, pode até ser, mas eu ainda acho que ele ficou com medo de greve de sexo – zombou.
- Ah, seu babaca! – xingou de brincadeira. – O que posso fazer para te ajudar?
- Limpe o cano – entregou o pano a mulher – daquelas armas ali separadas.
A mulher o olhou com um sorriso e um olhar tremendamente safado.
- Cano? – inquiriu, rindo logo em seguida. também riu.

Auxiliou por alguns minutos, limpando as armas que o mesmo já havia separado. Depois se despediu e rumou à procura de . O encontrou no quarto dele, sentado na escrivaninha e tamborilando os dedos no teclado do computador.
- Oh, não o estrague! – suplicou, o que o fez virar o rosto dele em sua direção. Prontamente ele se levantou e deu um abraço na moça. – Ai, que gostoso!
- Também adoro te abraçar. – Mexeu no nariz dela. – Pena que seu namorado é ciumento. - Fez uma careta.
- Então, eu tenho boas novas! – Abriu um sorriso safado. Andou até a cama do rapaz e se jogou lá. – Sobre meu relacionamento – acrescentou.
- Oh, não me diga que deu um pé na bunda nele? – Sentou-se ao lado da garota.
- Ei, não! – empurrou o antebraço do amigo, fingindo estar chateada por suas palavras. – Só impus regras.
- Ah, seria bom demais. – Sorriu sapeca. – Mas me dica, quais foram essas regras?
Então ela lhe contou toda a conversa com .
- Você o ama demais, né? – perguntou sério. Ela assentiu com o rosto fechado. – Voce sabe que ele não te merece, já lhe disse.
Estava farta de escutar todos falando que não a merecia, ela o amava, era isso que importava, não?
- Pare , por favor. Não quero brigar – reclamou.
- Tudo bem. – Deu de ombros. – Vamos tentar desvendar esse enigma enigmático! – mudou de assunto.
- Enigma enigmático? – riu de suas palavras exageradas.
Leram o caderno com a frase várias vezes. Tentaram pensar em qualquer cosia, pesquisaram na internet, em livros, mas era muito ruim procurar por alguma coisa que não sabiam o que era. Era como pedir para procurar uma atriz famosa no museu de cera de Nova York!

bateu a porta e apareceu no quarto já vestido com uma calça própria para mata preta e uma blusa sem manga bege. Os informou que era melhor se vestirem, pois a saída estava marcada para daqui a meia hora. deu um beijo estalado na bochecha do e saiu do quarto com a seu lado esbanjando um sorriso.
O namorado não sentia ciúmes de , nunca sentiu. nunca entendeu porque não sentia que podia ser uma ameaça como , mas no fim ele estava certo. Querendo ou não, demonstrava paixão, enquanto só tinha amizade. O fato era que se aproximou muito de exatamente porque nunca se preocupou. E não pensem que o amigo era gay nem nada do tipo, ele sempre tinha em sua cama belíssimas mulheres, porém com era diferente. Queria-lhe amizade, nada a mais. E, apesar de não gostar da relação do com a amiga pela forma que era tratada, ele sempre o respeitou e, principalmente, a respeitou. Não via o corpo bonito ou os cabelos longos, só via o coração.

Entrou no banheiro do quarto para tomar banho. Não havia antes mencionado, mas o quarto na verdade era uma suíte. Tirou a roupa e entrou na água gelada do chuveiro, retirando a sujeira e o suor impregnado. Ficou pensando no enigma. De tanto repeti-lo com , já havia decorado. Eles já havia até feito um rap com aquelas palavras.
- Er, oh, oh, oh, er, oh, oh, oh. Quase imperceptível ela se difere das outras nos detalhes. – Enrolou-se na toalha e abriu a porta do banheiro. - No meio é sempre comtemplada, mas ninguém vai examiná-la – cantarolava o rap feito por ela e pelo amigo minutos antes. - Er, oh, oh, oh, er, oh, oh, oh. Temida e assustadora, fica escondida, parada no lugar. Er, oh, oh, oh, er, oh, oh, oh... – e executou a pose final, um yo próprio dos rappers. Sentia-se a própria manola , arrasando na música.
- Que isso, amor? – perguntou , a olhando estranho.
- Que susto! – exclamou assustada, colocando a mão no peito. Depois, caiu na risada. – É uma música. Eu e inventamos. Ela fala do enigma. – Sorriu envergonhada.
Não estava acostumada a conversar com daquela forma. Quer dizer, estava super acostumada a tirar a roupa na sua frente e gemer de prazer, mas na hora de conversa boba de namorados e confissões de brincadeiras entre amigos, tudo se tornou novo. Estranho, né?
- Ficou legal. – Ela riu. – Assim nem parece uma advogada fora da lei e um fugitivo da prisão que arquitetou matematicamente sua fuga.

Oh, é. Pequeno detalhe que ainda não havia comentado. era super inteligente e podia fazer metade dos cursos oferecidos pelas faculdades com extremo louvor, mas caiu no mundo das drogas e acabou preso com dezoito anos. Com essa mesma idade, ele usou toda sua inteligência e capacidade de observação para bolar um plano para fugir da cadeia. Cumpriu seu objetivo, mas estava sem rumo. Foi aí que o encontrou. Ele fora o quarto a se juntar no grupo.
O primeiro, por incrível que pareça, não foi ou Brian. Foi Bruce. Ele era cozinheiro do restaurante que seu pai mantinha, entretanto, num erro, ele esqueceu o forno ligado. Conclusão: o restaurante pegou fogo e ele e toda a família ficaram sem nada. Ele abandonou os pais e irmãos e procurou uns caras barra pesada. E lá estava , magricelo e pequeno escutando a conversa de Bruce e seu irmão.
Quatro anos depois, , farto de ser recusado em empregos, adentrou ao grupo – se é que podia se chamar assim – formado por seu irmão mais velho, Brian, e Bruce, o antigo cozinheiro. Um ano depois entrou .
fora o sexto do grupo. Ficou órfão de pai e mãe durante o Exército e, abalado, saiu de lá. Eu havia perdido os últimos meses da vida deles, ele sempre falava entristecido. Ele era rico e ia ser assaltado pela quadrilha. Sua atitude, no entanto, foi surpreendente. Ele pediu para entrar! Disse que compraria uma casa para morarem e tudo mais que quisessem e precisassem com o dinheiro que tinha se lhe acolhessem. No final, ele só queria companhia.
William fora o ultimo. Seu motivo era fútil. Sua admissão maior ainda. Admirava os roubos que a quadrilha fazia e o modo como agiam. Num dado momento, quando trabalhava no hospital público da cidade, entrou lá precisando de transfusão de sangue. Havia perdido muito desse líquido com um tiro que havia levado. Ele os chantageou. Incumbido de fazer a doação do sangue, ele pediu em troca a adesão dele ao grupo. Ou ordenou, tanto faz. No desespero, eles aceitaram. Depois, a palavra que eles deram de nada valeu. Na verdade, Will era covarde e venerava o grupo e o suficiente para pagar-lhes para roubar suas coisas, quanto mais transfundir míseros milímetros de sangue! Mas, no fim, ele acabou sendo perdoado pela tentativa de chantagem que não deu certo e entrou no grupo, afinal.
. fora a quinta. Seis meses depois de , apareceu. Fora diferente de todos os outros. Ela pediu para entrar. Simplesmente os procurou, bateu-lhes a porta e perguntou “Também posso participar?” Nunca explicou o porquê e nunca falou nada sobre sua natureza ou família. A única coisa que falava era que havia aprendido muito com sua mãe e que se formou em advocacia. Por que ela largou o futuro titulo de doutora para começar a ser procurada como bandida? Ela nunca contou.

Deu de ombros para o namorado e procurou a roupa separada há pouco. Assim que a encontrou, andou até lá e a vestiu. Calçou uma bota preta baixa e trançou os cabelos, o prendendo ao final. Observou o celular, mexeu um pouco nele e logo o colocou entre os peitos. Ah, vai, quem sabe não tinha uma antena de sinal no meio da floresta? Sei lá.
Também pegou os remédios que tomava. Um era para aumentar a insulina no corpo. Sim, ela era diabética. E o outro era para não menstruar. Já pensou se ela ficasse menstruada no meio da missão no bosque? Sem cogitação. Os guardou no bolso do short.
Olhou para o namorado e ele entendeu que ela estava pronta. Levantou da cama, se encaminhou para ela e lhe deu um beijo carinhoso no pescoço. Pegou a mão da garota e seguiu para a garagem. Seu semblante era sério. Isso acontecia em todas as missões, fazia parte de suas concentrações. Uma missão para salvar seu irmão, então!
Encontraram todos os esperando. Encheram garrafinhas com água e arrumaram a mochila. Dividiram o peso para todos, igualmente. O que quero dizer é que , sendo mulher, não tinha privilégios. Só tinha essas regalias por ser namorada de , no entanto, geralmente ela recusava qualquer ajuda. Nem estava pesado.

- Vou lhes mostrar o mapa - avisou, pegando o mapa no bolso. – Essas são as cavernas – mostrou a cada um do grupo. - Demoraremos ao menos cinco horas para chegar à primeira. Mas nós sabemos que eles não estarão na primeira.
observou o mapa. Ilustrava um bosque cheio de árvores e algumas cavernas marcadas. Não dava para ver o formato ou estilo.
- O jeito é adentrarmos em todas elas – continuou o líder. – São onze no total.
- Isso – afirmou Chris. – Entretanto, tenho conhecimento de que ao menos quatro sofreram desabamento e não cabem pessoas. São as segunda, quinta, oitava e décima primeira.
- Não existe nenhuma possibilidade delas serem erguidas novamente? – William inquiriu.
- Não. A prefeitura não gastará dinheiro sem retorno e os Rengs não conseguiriam levantar as pedras sem equipamentos corretos – explicou.
- Passem repelentes, principalmente William, Bruce e que estão de short – preveniu . – Se não vocês podem até passar mal devido a quantidade de picadas que vão levar.
Eles concordaram. William mexeu na bolsa e pegou os dois repelentes que havia separado. Entregou a Bruce e a . Eles passaram pelas pernas e braços, além de todas as outras mínimas áreas descobertas. Todos repetiram o ato.

A semelhança das cores entre as roupas deles não eram mera coincidência. Ah, na verdade, a falta de cores. Branco e preto era predominante e de propósito. Dizia-se que é melhor numa floresta usar cores neutras e nada chamativas, para evitar de alguma forma animais. Não que o mosquito deixasse de picar ou um leão de morder porque usavam essas cores, mas não custava nada tirar essas roupas do armário.
Bruce e William, como já dito, estavam de shorts pretos. A blusa do primeiro era bege e do segundo branca. estava com uma calça caqui e uma blusa preta. Chris usava uma calça preta e uma blusa também preta. era o único que usava uma cor diferente daquelas, usando uma roupa camuflada verde, como o daquelas do Exército. Era a roupa que ele havia usado quando havia servido realmente. Todas as roupas apropriadas para a mata o máximo possível, confortável e simples, e botas em todos os pés. Era algo que eles não podiam falhar.

- Todos prontos? – perguntou , observando a todos.
- Sim – respondeu, ajeitando a mochila nos ombros. Todos também responderam positivamente.
- Listagem. – Nada mais que uma conferencia para ver se faltava alguma coisa. - Remédios?
- Correto.
- Comida?
Eles respondiam enquanto andavam até a porta da casa e fechavam a mesma. Desciam as escadas para a rua.
- Feito.
- Armas?
- Distribuídas. – havia separado uma arma diferente para cada e colocado ao lado da mochila de cada um.
- Mapa?
- Aqui – respondeu Chris.
Estavam prontos. Prontos para adentrarem a mata selvagem da cidade em que moravam e resgatar Brian da mão dos Rengs. Quanta rivalidade com os Rengs! nunca havia entendido da onde havia surgido tanta rixa.
- Enigma?
- Incrivelmente difícil – revelou . Todos ririam se não tivessem tão nervosos.

*Faculdade inventada pela imaginação ruim quanto a nomes da autora que vos fala.


Capítulo 3

Adentraram ao bosque minutos depois. Morando numa cidade pequena de maioria rural, a mata era bem próxima. Bruce, por exemplo, sempre falava que o mato era o quintal de casa. Andaram em passos ritmados, nem muito lentos nem muito rápidos. Sempre muito concentrados eles estavam a postos com suas armas para atacar a qualquer momento, embora soubessem que seria muito improvável um ataque dos Rengs. Eles não jogariam tão baixo, não.
Tanto os Rengs como eles mesmos gostavam de jogar. A questão do enigma, de achar a caverna misteriosa, era todo um processo. Eles tinham que merecer a retomada de Brian. Eles eram quadrilhas, mas diferentes. Enquanto as outras assaltariam uma velha no sinal, eles bolariam um plano maquiavélico para tomar posse do banco da cidade. Gostavam não só do objetivo alcançado, mas de tudo feito para se chegar a isso. Os finais não eram mais importantes que os meios.

- Que barulho é esse, gente? – inquiriu William, fazendo todos que conversavam pararem de falar subitamente. Olharam-se e se concentraram nos ruídos. Não saberia descrever aqui qual era o som emitido.
- – chamou , dando a entender que ele esperava uma luz do cara que serviu ao exército americano. Não só ele, mas todos ali miravam esperando uma resposta.
Ele respirou fundo e, baixo, pediu silêncio. Mordendo os lábios ele exclamou:
- Temos companhia. - Todos o olharam assustados. Como assim companhia? Havia alguém ali? – É um animal. – Todos soltaram um “ah” de exclamação. – Pelo barulho acredito ser um bicho de quatro patas, possivelmente um felino.
o observou admirada. Sabia dos dotes do rapaz, mas vê-los sendo usados era incrível. Era incrível o fato de descobrir que conseguia distinguir ruídos minimamente distintos só de escuta-los ao longe.
- Ok, o que faremos? – perguntou William, deixando seu nervoso aparecer.
segurou um bufo. Will era jovem demais, não estava acostumado com aquilo. Só estava na quadrilha há um ano e não conseguia controlar seus instintos. Ficava apreensivo com tudo e qualquer coisa e nunca sabia como agir ou o que fazer. Era chato, muito chato.
- Esperaremos. – o olhou impaciente. – Precisamos ver que bicho é e, se necessário, matá-lo. Aprenda novato, a melhor defesa é sempre o ataque. Se sabemos que há um animal se aproximando, nós temos uma vantagem sobre ele. Estaremos a postos assim que ele aparecer. Se o ignorarmos e seguirmos em frente, nós perderemos o controle da situação e ficaremos expostos a qualquer coisa que ele quiser fazer. Estaremos desprotegidos – explicou.
Então eles esperaram o animal chegar. Alguns minutos passaram e uma onça apareceu na vista do grupo. Eles se preparam para um possível ataque do animal. Metade do grupo tinha armas nas mãos apontadas para o bichano. O último, um tanto assustado com a recepção, deu meia volta e patinhou para o lado oposto.

- Que bom que ele foi embora. – Will respirou aliviado.
Em seguida, tiros foram ouvidos. Três. E logo o autor foi descoberto: Bruce. Ele havia atirado contra o felino o acertando e o fazendo rinchar de dor e cair no chão deitado. Todos os olharam assustados, principalmente William.
- Ele poderia nos atacar – Bruce argumentou, dando de ombros e virando de costas para a onça e o grupo. Retomou a andar.

-#-

Eles encontraram a primeira caverna horas depois, porém passaram direto a ela. Pararam uns instantes tentando escutar qualquer possível ruído que poderia vir da caverna, mas não se escutou mais que o barulho normal da mata.
Avistaram a segunda caverna e decidiram parar por ali. Não que achassem que eles estariam ali, porque sabiam que a caverna havia ruído, e sim porque a noite havia caído. O frio e o vento inundaram o ambiente além de, claro, a escuridão.
observou a caverna. Não estava de todo destruída, mas uma parte das pedras estava no chão. Eles armaram uma barraca e pegaram umas madeiras próximas para a fogueira.

Sentados em uma roda em torno da fogueira, eles estavam comendo. Haviam trago uma carne qualquer e a assavam na fogueira de forma rude. Com mais algumas porcarias eles entulhavam o estomago.
Quando terminaram de se alimentar, aproveitaram para analisar mais uma vez o mapa e as próximas cavernas. As armas sempre ao lado para qualquer eventualidade.
- Faremos assim: eu, e dormimos agora. O resto fica de guarda. Daqui a três horas nós invertemos as posições – ditou , quando, cansado, resolveram parar as atividades do dia.
Todos assentiram, concordando, e se despediu de todos, dando um beijinho em e entrando na barraca. e se afastaram da fogueira, onde todos estavam, e se sentaram ao lado das ruinas da caverna.

colocou grudada na “parede” da caverna, o que a fez tremer pelo choque frio que levou. O rapaz aproveitou-se disso para abraça-la, com a desculpa de não fazê-la sentir frio. E então, começou a beijar o pescoço e o colo da mulher, além de morder.
- Agora não , por favor – pediu, o empurrando fracamente para se afastar.
No entanto, o homem ignorou, só grudando mais seu corpo no dela e dando chupões pelo pescoço. Ela tentou rejeitar, mas não conseguiu recusar o carinho que o homem lhe fazia e soltou um gemido.
Ela não ficou nada feliz com isso, no entanto. Todos estavam próximos, a poucos metros de distância, e escutavam tudo, mesmo que se esforçassem para ignorar. Ela então encarou o grupo, enquanto o namorado investia em seus peitos mesmo com a camisa. Viu quando saiu de lá e entrou na mata irritado. Viu Bruce a olhando decepcionado. Viu todos visivelmente constrangidos.
Isso a faz sentir mal. A fez pensar porque estava com . E pensar se ele mudaria mesmo. Ela estava cansada, cansada de tudo aquilo. Fechou os olhos, só esperando aquilo tudo acabar.
a beijava vorazmente, apertava seu quadril e sua cintura e mexia com seus peitos. Ela não estava sentido mais nada com aquilo, só queria tirar aquela roupa, tirar aquela sujeira que estava se embrenhando em seu corpo e dormir as poucas horas que lhe restavam. Não demorou para que as lágrimas caíssem dos olhos dela.
No mesmo instante o rapaz parou e olhou para ela. Passou as costas da mão pelas bochechas da garota e lhe olhou com um olhar triste.
- O que foi, meu amor? – perguntou carinhosamente, mexendo no rosto da namorada.
- Eu só quero dormir, por favor – respondeu ela chorosa, as lágrimas ainda caindo.
Ele assentiu asseando novamente o rosto da moça das lágrimas e a pegando no colo. Passou a mão pelas coxas da mulher e pelo pescoço e levantou do chão, andando com ela grudada em seu peito até a barraca.
Chegando lá, a despejou com delicadeza na cama improvisada que haviam feito e deitou ao lado dela. se encolheu pelo frio e a abraçou, dando-lhe um beijo terno na testa. Ela se aconchegou nos braços do rapaz e fechou os olhos, deixando o cansaço lhe dominar.

Demorou a dormir. Pensou por minutos em sua relação com . Era um amor meio bandido, não? Ela não sabia se iria aguentar. Havia conversado com ele, e o mesmo prometera que iria mudar. Será que mudaria mesmo?
Ela o amava tanto, não sabia se seria capaz de se manter forte diante de sua decisão. Tinha medo de acabar esquecendo-se das mudanças propostas por ela para que o relacionamento continuasse, e aceitar de novo aquela submissão toda que lhe impunha.
Não, ela não faria isso! Estava farta de ser tratada como um objeto, um corpo sem desejos, sentimentos... Não aceitaria mais isso, não mesmo! Não deixaria aquilo que acontecera minutos atrás acontecer novamente. Fora a gota d’água.

Lá fora tentava não pensar em . Desde a primeira vez que a vira, seu coração de pedra amolecera. Não foi como paixão a primeira vista, não, fora diferente. Ele, claro, havia a achado belíssima, mas o que mais o impressionou fora a imponência que ela passava. E, ao mesmo tempo, a impotência quando estava com . Ah, isso lhe dava muita raiva! Ver como o cara a tratava e como o amor que ela sentia por ele fazia tantas humilhações e submissões valer a pena.
Ele acreditava que era isso que realmente sustentava o amor que sentia por ela. Essa relação amor e ódio. O amor quando a via determinada e o ódio quando a via submissa. Sentia tanta raiva, mas tanta raiva, ódio, que chegava a ama-la. Estranho, nem ele mesmo entendera.
Como um militar, não passava na cabeça dele uma pessoa com força, inteligência e avidez, ou seja, capacidade suficiente para conseguir tudo que queria, se submeter a níveis baixos por amor. O único amor que vale isso tudo era de pai e mãe. Amor de homem e mulher sempre está relacionado à relação física.
Amor de verdade era casar com uma mulher simplesmente por conversar com ela e acreditar fielmente que ela é a mulher de sua vida por te divertir, te deixar feliz, te completar. Sem beijos, sem sexo, sem toques. E era tudo isso que não via na relação de com . Ele não demonstrava o quanto gostava dela, mas sim o quanto gostava das coisas que ela lhe fazia ou lhe proporcionava.
Oh, isso o deixava irado! Só uma chance e ele a faria a mulher mais feliz do mundo. Sem pedir nada em troca. Nada mais do que a companhia dela. Era claro que queria transar com ela, que homem em sã consciência não iria querer? Mas ele estava satisfeito em tê-la ao seu lado. Só como amiga. Não aceitava ela se sujeitar a tudo aquilo.

Voltou para o acampamento na hora da troca. Havia aprendido no exército há perceber quanto tempo havia passado. Aliás, nos dois anos de Exército aprendera mais do que qualquer lugar. Ele recomendava a todos aqueles árduos dias confinados. Valia a pena.
Encontrou sentado num pedaço de madeira com a cabeça baixa num canto afastado do acampamento em que todos estavam apostos. Com o som de passos, o rapaz levantou a cabeça e percebendo a presença de tratou de passar a mão por baixo dos olhos rapidamente. pensava se não havia enxergado demais ao ver o rosto do homem um pouco molhado.
- , estava chorando? – inquiriu .
- Não, eu, - demorou a consertar – ah, foda-se, não vou dizer que tinha alguma coisa no meu olho.
- O que aconteceu? – Sentou-se ao lado de . Não que fossem amigos, mas o momento era um tanto sensível.
- É a . Eu não sei o que eu sinto, não sei o que eu faço!
- Mas você não a ama?
- Sim, mas às vezes eu acho que não, por eu forçar as coisas, ou ser grosseiro. – Deu de ombros. – Ela conversou comigo, mas eu não consigo, que merda!
- Se você ama você fará tudo para que ela seja feliz ao seu lado, inclusive mudar seus pensamentos e atitudes. – Ele concordou. – Afinal, você quer perde-la?
- Não, claro que não. Eu preciso dela perto de mim – confidenciou.
- Então você precisa mudar – informou , levantando do tronco. – Cuide dela.
- Você a ama? – interrogou , quando já andava em rumo à fogueira. Ele voltou seu olhar para o rapaz e respondeu com uma cara triste:
- Acho que sim. – Andou de volta até .
- E você não vai lutar por ela?
- Não, vou deixá-la ser feliz.
- Aquela história de amar tanto uma pessoa a ponto de deixá-la ser feliz com outra não acontece na vida real – avisou.
- Eu sei. - Abriu um sorriso. – Você está me dizendo para lutar por ela?
- Sim, para você se ferrar e ver de uma vez por todas que ela é só minha – disse, levantando do tronco e andando para a cabana. – E para eu te dar uma surra também – acrescentou, olhando para trás.
Oh, estava de volta. Quer dizer, o verdadeiro : grosseiro, dominador. Aquele sensível que chorava por estar confuso em relação a um sentimento era raríssimo e durava muito pouco. Talvez menos do que necessário.
Sozinho o rapaz pensou em lutar pela mulher. Será que era uma boa ideia? Competir com não seria nada fácil...

-#-

A troca foi feita nos minutos seguintes. , William, Bruce e Chris foram dormir, enquanto , e ficavam de guarda. Com armas nas mãos eles se sentaram ao redor da fogueira. havia dormido chateada com , e ele não tentou nada quando sentou. Somente muitos minutos depois ele ousou conversar com a moça:
- Desculpe , eu estou me acostumando com as mudanças.
- Hm... Tudo bem – disse, mordendo o lábio inferior. – Só não faça aquilo de novo, foi horrível.
- Ok, por favor, me perdoe – suplicou-lhe, passando a mão carinhosamente pelos traços do rosto da garota.
Ela assentiu, dando-lhe um selinho. Ele sorriu ao termino do simples beijo, encostando as testas.
- Te amo – declarou-se.
- Te amo – respondeu .
E beijaram-se calorosamente.
- Hum, hum – tentou chamar atenção dos dois – Casal romântico, poderiam deixar isso para outra hora?
Eles se recomporam, prestando atenção exclusivamente no bosque por três horas consecutivas.


Capítulo 4

Assim que mais uma rotação foi completa, o Sol começou a nascer. Devagar, batalhando por seu espaço no céu, a maior estrela do Sistema Solar que surgiu no leste logo dominou todo o espaço. A mata, antes escura, foi invadida pela claridade vívida da manhã. Os pássaros cantaram e a falta de balanço das copas das árvores mostrava que os ventos estariam em falta naquele dia, ao menos nas primeiras horas.
Bruce acordou e tratou de fazer uma mistura robusta para todos tomarem. Usou alguns alimentos que havia trazido para a missão e com a ajuda de um pouco de fogo do isqueiro, preparou o que chamou de café da manhã. duvidou que aquela gororoba grossa pudesse assim ser chamada, mas junto com o resto da quadrilha tomou o alimento. Nem era ruim, afinal.
acordou a todos no horário marcado e depois da comida/bebida de Bruce e umas frutas que cataram na própria floresta, era vez de arrumar as coisas e seguir viagem. Com ajuda de todos, não foram gastos mais de meia hora para ajeitar tudo novamente nas mochilas.
E então eles seguiram viagem, destinados a encontrar a terceira caverna. Seria a primeira possibilidade fiel deles do esconderijo, de acordo com o enigma dado por Jayden. A maioria acreditava que de acordo com a dica, eles saberiam reconhecer a caverna, afinal, ela se destacava dentre as outras. Mas achou-se melhor entrar em todas as possíveis para se investigar se não estariam ali. Não podiam ficar a mercê da dúvida.
Demoraram para achar a terceira caverna. A observando viram que ela não era muito diferente das outras. Posicionaram-se para invadi-la. Não era bem invadir, mas pensar assim ficava bem mais emocionante.
- Vamos entrar. Chris, William fiquem aqui. Qualquer coisa o chamamos – impôs .
Eles concordaram e os outros cinco entraram. e na frente e os três logo atrás. Atentos a qualquer ruído e com grande cuidado para não fazer nenhum barulho, eles davam dois passos e paravam. Pegar a quadrilha rival despreparada para um ataque era tudo que eles queriam, precisavam. Acusar sua presença pelo barulho que faziam era um erro fatal.
Apesar de todos os esforços, não fora desse vez que encontraram os Rengs. Voltaram para a entrada da caverna e seguiram o caminho.

Eles haviam caminhado a manhã toda e parte da tarde, e agora estavam procurando a quarta caverna. Fizeram uma pequena parada para o almoço. Bruce entregou a cada um uma comida desidrata e todos trataram de se alimentar.
- Quero ver esse mapa novamente, com quem está ele? – falou quando todos já estavam acabando de comer.
- Comigo – manifestou-se Chris, já mexendo na mochila a procura do objeto. – Aqui está – e entregou.
perdeu alguns segundos analisando o mapa.
- Ok, segundo minhas contas deve demorar somente mais uma hora e pouco para chegarmos à quarta caverna. A quinta desabou, então se apertarmos um pouco o passo podemos chegar nela até o anoitecer e passar a noite por lá. Claro, se eles não tiverem na caverna anterior.
- Faremos assim: mantemos nosso ritmo até a próxima caverna. Assim, se lá eles estiverem nós teremos forças para lutar com eles. – explicou. – Se eles não tiverem lá, nós aceleramos um pouco o passo até a quinta caverna. Não é bom nós andarmos no escuro e nem pararmos no meio da mata.

-#-

Eles chegaram à quarta caverna no tempo dito por . Dessa vez, lá fora ficaram analisando o mapa, e Chris e William novamente. Chris porque só estava ali porque conhecia o bosque e não tinha dever de procurar os bandidos. William porque era medroso e descuidado o bastante para colocar tudo abaixo se pisasse na caverna.
havia observado a caverna antes de adentra-la. Era maior que as outras, mas tirando isso parecia bem normal. Talvez mais desgastada, mas ainda sim sem nada especial. Não se encaixava no enigma. Podia estar errada, mas imaginava que os Rengs não estariam ali.
Entraram devagar, com um cuidado tremendo e logo depois de minutos andando, se deparam com vários túneis. Quatro, na verdade, exatamente o número de pessoas que ali havia.
- Cada um vai em um túnel, será o único jeito – murmurou baixinho. – Não ataquem se os encontrarem, não ataquem e não deixem serem vistos. Voltem e tentem achar os outros, ou ao menos chamar os que estão lá fora. Se não encontrarem nada voltem imediatamente para cá e esperem os outros. Nada de se arriscar – prescreveu as regras sussurrando.
Todos assentiram, entrando nos túneis. Passos lentos, ruídos mínimos, atenção máxima e segurança por um fio acompanharam a todos durante os minutos que passaram nos túneis.
andava confiante. Apesar de não retirar a possibilidade de encontra-los ali, era mais provável que sua teoria estivesse certa. Depois de algum tempo seguindo em linha reta, o único trajeto que o túnel tinha, ela se deparou com uma virada brusca para a esquerda. Era como se o túnel fosse um L de cabeça para baixo.
Ela avançou e ao longe avistou alguém.
- Oh Meu Deus – acalentou baixinho, sua voz quase não saindo. Será que estava errada? Será que eles estariam ali?
Observou a pessoa que havia parado e apontava a arma em direção a ela. Fizera a mesma coisa, parara e apontara a arma que dominava em mãos para a pessoa. Tentou enxerga-la para ver se reconhecia, mas estavam bem longe.
A pessoa do outro lado ameaçou falar, mas ela pediu silêncio colocando o dedo na boca. E então, numa coragem absurda, caminhou lentamente até a pessoa, passo por passo. Estava pronta, pronta para avançar na pessoa ali sem fazer um mínimo de barulho, para ataca-la!
- ? – perguntou a voz.
Sua visão desembaçou e ela reconheceu a pessoa. Correu até ela, diminuindo o espaço entre as duas e fazendo o mínimo de barulho possível. Abaixou a arma assim que se lembrou da mesma, vendo a pessoa fazer a mesma coisa.
Pulou no colo da pessoa. Deu-lhe um abraço apertado e se segurou para não cair. Olhou a pessoa, e a encarou novamente, só para depois sorrir e abraçar-lhe de novo.
- Você me matou de susto, . – Soltou ela.
- E você acha que não me assustou? – ele perguntou brincalhão.
Ela deu-se conta de onde estava, no colo do rapaz. Ela não tinha intimidade o suficiente para isso, para jogar-se nos braços dele. Então saltou dali, colocando os pés novamente no chão.
- Me desculpe. Eu, hm, fiquei nervosa. – Abaixou a cabeça. – Enfim, não descobriu nada né? – negou. – Ótimo – completou ela irônica.
- Bom, vamos voltar para o começo então, já que já vimos tudo.
Eles andaram por alguns segundos no silêncio, voltando para o ponto de encontro. O que havia acontecido era que os túneis que eles entraram se entrelaçavam, formando-se um só. Seria aquilo destino? Será que não podia ser assim na vida real também? Pensava .
Eles não demoraram muito para chegar ao ponto de encontro e, não encontrando ninguém ali, resolveram esperar. Eles observavam a caverna, cada mísero detalhe, como algumas arranhaduras nas pedras lisas que compunham a gruta ou a sutileza em que as pedras se amontoavam para formar aquele espaço. Uma estrutura forte que ao mesmo tempo passava uma tenuidade e delicadeza invejável.

- Eu queria te falar uma coisa, puxou levemente o pulso da garota, chamando a atenção da mesma. Ela o olhou, incentivando a continuar. – Eu não gosto do jeito que te trata. – Não era exatamente o que lhe queria falar, mas não deixava de ser um assunto recorrente.
- É, percebe-se. O jeito que você me xinga ou se irrita com nós dois juntos – ela exclamou com um sorriso triste.
-Sim, eu peço desculpas por isso. Realmente seu relacionamento com ele nada me agrada, mas isso se deve também ao fato de eu sentir algo por você – soltou num embrenhado de palavras.
Aquilo havia sido uma declaração de amor? se perguntava. Não havia ouvido outra sequer tão mais estranha. Quer dizer, o palavreado tão formal. Não parecia uma declaração e sim a posse de um presidente.
- Como? – foi a única coisa que ela conseguiu digerir.
- Eu gosto de você – confessou ele, mexendo nos cabelos ralos com vergonha.
- Eu também. Assim como eu gosto do ou Bruce. – Ela não queria admitir a si mesma aquela possibilidade que martelava em sua cabeça.
- , você sabe, você me entendeu. – Ele a olhou um pouquinho decepcionado. – Isso só torna as coisas mais difíceis – justificou ele. Ela o encarou, esperando uma continuação. Não havia nada para ela falar. – Como você gosta de , !
Ela então abaixou a cabeça, mordendo os lábios com constrangimento. Logo sentiu mãos em sua cintura e um beijo molhado no pescoço.
- Nada? – perguntou , abraçando a namorada.
- É, nada – exclamou, encarando com um olhar decepcionado.

-#-

Bruce apareceu poucos minutos depois e eles voltaram para a entrada da caverna. Nada feito, a quadrilha não estava lá. O jeito agora era andar até a quinta caverna até anoitecer. Se isso fosse possível.
- De acordo com o sol são quase quatro horas da tarde – informou Chris.
- Ok – afirmou, concordando. – Demoraremos mais ou menos duas horas para chegar à próxima caverna. Talvez mais.
- A caverna era grande demais, custamos a atravessa-la e nos atrasamos – falou.
- O que faremos então? – perguntou William.
- Nós poderíamos parar para dormir aqui, mas acredito que se apertamos o passo conseguimos chegar antes da total escuridão – contou.
- Vamos arriscar. Temos lanternas. Ficar aqui nos atrasaria muito – prescreveu.
Assim se fez. Eles aumentaram os passos, quase correndo em meio ao bosque. Era como os militares andavam nos treinos: a mochila nas costas, os passos cuidadosos, ritmados e apressados, as costas arqueadas para frente esperando qualquer possível ataque ou ameaça.
De repente ouviu-se um grito “AAHH”. Um grito abafado, curto e logo depois um baque. Todos pararam e se olharam. E então, viram Bruce. Caído no chão.
O silencio se estalou e eles puderam escutar o “shiii” da cobra rastejando-se no chão ao lado de Bruce. foi mata-la, mas ela adentrara a mata rapidamente. Apesar disso, ainda se teve tempo de notar a cobra. A famosa e nada invejável cobra de chocalho. A mais perigosa do mundo. Cascavel*.
As pessoas não conseguiam fazer mais do que observar a cena atemorizadas. foi o único que se mexeu:
- Cadê os primeiros socorros? Rápido – suplicou , já abaixando na altura de Bruce e recebendo a maleta de William. – Ande, novato, me ajude aqui.
Pegaram um algodão e passaram na picada. Esta era na panturrilha e estava bem avermelhada. Depois passaram uma gaze por toda a perna na altura da mordedura, a prendendo com um esparadrapo. Deram também um remédio para Bruce.
Este, coitado, já estava pálido. Não conseguia mais se mexer e a dificuldade de puxar o ar para os pulmões já era notada.
envolveu o amigo pelos ombros e com ajuda de , que pegou Bruce pelas pernas, levantaram a vítima e começaram a carregar. Sem dizer uma palavra eles somente andaram para a próxima caverna, agora com um ritmo mais lento.
Andaram constantes por muitos minutos, mas finalmente conseguiram encontrar as ruínas da quinta caverna. Rápidos, os dois que estavam carregando Bruce o despejaram no chão delicadamente e chamaram William para dar os socorros ainda necessários.
O grupo se ajeitou no espaço, despejando as mochilas e fazendo uma fogueira perto do amigo, para aquecê-lo. Depois, todos ficaram em volta dele curiosos, nervosos e medrosos.

- As notícias não são boas – começou Will. – Ele foi picado por uma Cascavel. A única maneira de... – engoliu em seco – não morrer, é tomar o antidoto. Mesmo assim, as chances de sobrevivência são mínimas. O tempo que demoraríamos em chegar até o hospital mais próximo talvez não fosse suficiente.
Todos abaixaram a cabeça desolados. , no entanto, analisou Bruce. Ele estava desacordado. A pele bem branca, quase transparente, a respiração forte e forçada pela boca. Sangue saindo do nariz.
- As cascavéis destroem os órgãos, os tecidos, e interrompem a coagulação do sangue. Sem assistência médica, a mordida é mortal – completou William temeroso, com uma voz baixa.
suspirou fechando os olhos e balançando a cabeça negativamente. Por que isso tinha que acontecer? Eles estavam tendo tanto cuidado... E logo com Bruce? Ele não merecia uma morte assim... Não.
- E então? – perguntou, esperando algum consolo do líder, ou pelo menos alguma ordem.
Alguém tinha que se mostrar forte ali, e esse alguém era ! Se não fosse um para segurar as barras, tudo desabaria. tinha que falar agora, impor moral e lembrar por que todos estavam aqui. Desânimo não era nada bom e não ajudaria em nada também.
- Will, faça tudo possível para Bruce ficar bem. Dormiremos igual à noite anterior. Amanhã veremos o que fazer.
não saberia se aquela era a medida certa. Fora contra desde o começo andar a noite pela mata e sair naquela escuridão para voltar para a cidade; Era muito arriscado e difícil, ainda mais com um homem desmaiado e doente nos braços. Não sabia se valia a pena. Mas, ao mesmo tempo, esperar amanhecer para ver o que fazer poderia ser mortal. Complicado.
William deu mais remédio para Bruce. Com soro que tinha na mochila, improvisou uma entrada na veia de Bruce. Sabia o quanto era importante o soro na corrente para ajudar a retirada do veneno. Não que o veneno fosse retirado só com o soro. Na verdade, talvez fosse até um pouco prejudicial, mas achara que no fim era uma das poucas coisas que podia fazer pelo amigo.
Eles foram deitar para descansar. Dessa vez, , William e ficaram acordados de guarda e ajudando Bruce, enquanto Chris, e iam dormir.
fora dormir abraçada a , mas os dois demoraram a fechar os olhos. Conversaram sobre a situação e a garota chegara a chorar. Por que alguém tinha que se machucar?
Ela só pensava na morte de Bruce. Sim, porque ele iria morrer. Sem o antídoto do veneno, nada o salvaria. Cascavéis são mortais. E eles não podiam fazer nada a não ser vê-lo morrer! Claro que cogitaram a possibilidade de abdicar da missão temporariamente e levar o mais velho para o hospital, mas teriam que andar no escuro com um cara desmaiado e por dias. Afinal, fazia um dia e meio que já estavam ali!
Será que era a atitude certa era voltar à cidade naquele momento? Vocês podem pensar e repensar que sim, sem dúvida essa seria a postura correta! Certeza? Não. Não. Seria a medida humana, mas certo, não necessariamente. Ser humano às vezes não é a melhor alternativa.
Por exemplo, deixar uma pessoa morrer queimada num incêndio. Nada humano. Infelizmente, ou não, correto. Por quê? Abdicando da ajuda dos bombeiros, obviamente, você sozinho querer bancar o herói e tentar salvar a pessoa indefesa é errado! Pode ser humano, porém é errado! E sabe por quê? Porque seria mais uma pessoa morta.

Tardaram a dormir. Digo, fecharam os olhos depois de algum tempo e anunciaram que iriam dormir, entretanto, não foi tão fácil cumprir a sentença como proferi-la. Na hora de levantarem, tiveram aquela sensação de terem acabado de conseguir dormir. Conhece, não? Todos já acordaram com a impressão de ter fechado os olhos um segundo antes. O cansaço era inevitável. Talvez passar a noite em claro fosse melhor.
E foi isso que fez. Abriu mão das três horas de sono que tinha para ficar ao lado do amigo ferido. nunca fora muito intima de Bruce, não mais do que o necessário num grupo que dividia a casa, no entanto sempre fora muito próximo do mais velho. Talvez fosse seu melhor amigo.
BFF. É. Era engraçado. Cômico. Um ex-militar servindo contra o país patriota e um cozinheiro que colocara fogo no próprio restaurante, mesmo que acidentalmente, best friends forever. Falar que os dois eram melhores amigos para sempre soava bastante burlesco. De fato, não se podia negar que era mais ou menos a mesma relação.
entendera o ato de . Até admirou a decisão do amigo, embora nunca tivesse essa relação. Não até . Nunca se dera muito bem com mulheres, porventura por seu sucesso descomunal com os homens. Ou, talvez, por sempre ser moleca e andar com os garotos. Na praça de sua casa, quando ainda estava no colegial, vislumbrava as garotas sentadas nos bancos fazendo as unhas e paquerando os garotos do time de basquete enquanto andava de skate ou pintava o cabelo com cores malucas.
Mas , bom, ele fora o único garoto que realmente nunca quis nada mais com ela. Tivera bons amigos na faculdade, entretanto o relacionamento de amizade era embaçado por ficadas e transas. só lhe oferecia o ombro amigo para ela chorar e os ombros largos para abraçar e se aconchegar enquanto confessava-lhe coisas e reclamava da vida. Faria a mesma coisa se fosse no lugar de Bruce, embora essa ideia lhe aterrorizava. Não queria nem pensar nisso!
Isso lhe fazia refletir outra questão. O egoísmo que aparece em cada coração e cada mente de todos os envolvidos indiretos. Você pode dizer que não pensa nisso, que não deseja, pode afirmar com todas as forças que está sofrendo muito por seu amigo, mas no fim essa possibilidade passara em sua cabeça. Oh, sim, e se somente passara era sorte, porque geralmente ela martelava numa parte de seu cérebro chegando até te irritar.
Você imaginou estar naquele lugar. Ali, no lugar de Bruce. Você fantasia ser você ali picado por uma cobra e se despedindo da vida. E você sorri ao pensar que não fora você que a cobra picou, mas seu amigo! E nem venha me dizer que ama seu amigo e que nunca faria isso, porque você faria! Na verdade, você chega a agradecer por não ser você ali sofrendo e sim o outro.
Ou quando você está num banco e ele é rendido por ladrões. Você vai querer que levem os outros, prendam os outros e matem os outros. Prefere que continue viva. Isso só não acontece com pai, mãe, filho, irmã, irmão, esposa, marido. Amigos? Amigos somente não. Você não daria a vida por um amigo, daria por um irmão. Um irmão não de sangue, mas de coração.
E mais uma vez apresento uma confirmação da teoria ser humano não é ser necessariamente correto, e vice-versa. Eis aqui a vida!
Foi por isso que sentou ao lado de , que observava o amigo inconsciente, e passou as mãos pelos ombros do rapaz para conforta-lo. Ele a olhou e abriu um sorriso triste, voltando novamente para o amigo.
- Como ele está? – perguntou ela, tentando acabar com aquele silencio incomodo e nostálgico.
- Mal. Muito Mal. O veneno está fazendo efeito e os sintomas estão aparecendo: paralisia, hemorragia...
Ela mirou Bruce, vendo-o ainda mais pálido do que horas atrás. O sangue escorria do nariz e da orelha. Podia-se ouvir a respiração laboriosa e fraca que o homem forçava para manter.
- Será que não dá tempo, não sei, de levarmos ao hospital? Ou arranjarmos um antidoto?
- Isso demoraria horas. – Ele continuava a mirar o amigo, desolado. – Muitas horas, dias talvez. Esse tipo de cobra tem um veneno que destrói os tecidos e órgãos muito rápido.
- Não podemos fazer nada? – perguntou um tanto desesperada. Ela sabia que a situação era grave, mas não tanto assim! Estava tentando pensar positivamente, formular hipóteses para que o amigo melhorasse...
- , ele está muito mal. – Ele encarou a mulher. – Quer saber a verdade?
- Claro – insistiu ela.
- Só podemos assisti-lo morrer. – E pode ver uma lágrima escapando da farda dura que o rapaz vestia.

* Cobra cascavel: é considerada a mais perigosa do mundo. Ela é encontrada nas Américas e é da família das jararacas. É facilmente identificável pelo chocalho na ponta de sua cauda. Surpreendentemente, os filhotes são considerados mais perigosos do que os adultos, devido à sua incapacidade de controlar a quantidade de veneno injetado. A maioria das espécies de cascavel tem veneno hemotóxico, que destrói tecidos, órgãos e causa coagulopatia (interrompe a coagulação do sangue). Dificuldade em respirar, paralisia, salivação e hemorragias são os sintomas comuns. Mordidas de cascavel, especialmente de espécies maiores, são muitas vezes fatais. Mesmo com tratamento imediato, sua mordida pode levar à perda de um membro ou à morte. No entanto, antiveneno, quando aplicado a tempo, reduz a taxa de mortalidade para menos de 4%. Cicatrizes permanentes são muito prováveis no caso de uma picada venenosa.


Capítulo 5

Não demorou muito para Bruce morrer. Desde a conversa melancólica de e , não se passou mais que uma hora quando o rapaz mais velho do grupo desistisse da vida. Seu coração parou. Eles não fizeram mais que observar.
A pele amorenada da vítima ainda estava pálida, mas o sangue havia coagulado e não mais sangrava. Não havia mais respiração, obviamente. Receosos, ninguém abriu a boca por muitos e muitos minutos. Só olhavam o homem agora morto, às vezes miravam os amigos compartilhando o sofrimento e deixavam algumas lágrimas de tristezas caírem por fim. Pesarosos, eles começaram a se erguer lentamente e desmontar o acampamento. O café da manhã fora o mais frio de muitos anos. Todos sabiam que os horários das refeições seriam os piores. Era onde Bruce se destacava e mostrava todo seu talento. Era onde ele nunca seria esquecido.
Faria falta. E não a comida boa e simples. Mais do que isso, seria sua presença. Suas lições como mais experiente, suas repressões como ancião da quadrilha, suas atitudes, seu sorriso no rosto. Ele deixara um vazio em todos ali.
- Vamos continuar a busca – a voz de irrompeu o silencio cálido que havia se instalado em luto ao falecido. Todos desviaram a atenção para o líder. – Sei que a situação é triste, mas já passamos muito tempo sepultando o corpo. – Pegou sua mochila e a ajeitou nas costas. – Se demorarmos não será só Bruce a morrer – acrescentou, frio.
William foi o primeiro a obedecer o líder, correndo para agarrar sua mochila. Chris foi o segundo, fazendo o mesmo. encarou o corpo de Bruce e suspirou, também seguindo seu rumo. Só e continuaram ali, deixando-os ser consumidos pelo peso da morte. em respeito a Bruce, em respeito aos dois. Talvez mais pelo sofrimento eminente de , do que pela vítima em si. Não gostava de vê-lo sofrer. Nem ele, nem ninguém.
, assistindo a atitude, ou exatamente a falta dela, dos dois, puxou o braço de fracamente para si.
- Peguem suas coisas, todos estão esperando. – ordenou. Em resposta, bufou baixinho e se levantou para pegar suas coisas.
- Como vamos levar o corpo? – ainda pode escutar perguntar a .
- Não levaremos – ele deu de ombros, seguindo até a namorada. Passou o braço pelos ombros da mesma e lhe deu um beijo no pescoço. Como se nada tivesse acontecido. Como se ninguém tivesse morrido. Como se não houvesse um corpo. Uma vítima. Um amigo ali.
O silêncio se instalou por alguns segundos. Só se escutava os passos do casal e a respiração pesada de . O resto do grupo só os encarava, exacerbados com a reação de ambos.
- ! – bradou , mas o líder nem ameaçou parar. – ! – gritou com toda a sua força.
olhou para trás assustada, encontrando um cheio de raiva. Suas bochechas estavam vermelhas, os punhos contraídos, os olhos esbugalhados. também mirou suas costas quando a namorada lhe pressionou a mão. Abriu um sorriso presunçoso.
- Fale – foi só o que saiu de sua voz.
- Não podemos abandonar Bruce! – disse, um pouco alterado e surpreso com a súbita mudança de reação de .
- Ele nos abandonou.
- O que? – perguntou assustado.
- Ele nos abandonou – repetiu.
- Ele morreu.
- Eu sei.
- Como? – inquiriu . Cada afirmativa que soltava o deixava mais confuso.
- Eu sei que ele morreu. – esperou que ele continuasse. Vendo que o ex-militar nada mais falaria naquele momento, ele bufou e começou a explicar. – Ele era de um grupo, o nosso grupo. Ele está aqui no grupo? Não mais, ele morreu e abandonou assim o grupo que pertencia.
- Ele morreu – tornou a dizer com dificuldade, não acreditando nas palavras de .
- Caralho, eu já sei! – disse raivoso. – Puta que pariu, o que você não entendeu? – perguntou impaciente.
engolira em seco. Havia entendido tudo que havia dito, mas não pensava que ele pudesse ser assim tão frio a esse ponto. Então o homem que havia dedicado anos e anos aquela quadrilha, e inclusive a construiu, não valia mais nada agora morto? Seria abandonado ali, sem ao menos um enterro decente?
- Ele deu a vida a seu irmão.
- Não, ele deu a vida dele a cobra. Eu duvido, mas duvido mesmo, que se ele soubesse que iria morrer ele viria.
- E isso importa? O deixaremos aqui?
- Hm... Sim – sorriu falso.
- E se fosse em seu lugar? – desafiou.
- Se fosse a , eu morreria junto. – revelou, o que fez tremer. Ele faria mesmo aquilo?
balançou a cabeça negativamente, visivelmente aborrecido e desiludido.
- Ele era nosso amigo – exclamou baixinho. - Eu acho que ele merece um enterro digno.
- Não. Ele era seu amigo, e se você acha isso, que faça. Não me importa. Para mim, ele era só mais um integrante da quadrilha.
- Então nós moramos numa mesma casa, dividimos a comida e a vida, conversamos e trabalhamos juntos e você não sente amizade por ninguém aqui? – inquiriu irritado. – Você só nos usa por nossos dotes enquanto necessário? Você é tão ruim a esse ponto?
- Quanto drama! Vá fazer uma peça de teatro então, seu filho da puta. Aqui é uma quadrilha. E se você não sabe, quadrilhas são compostas por pessoas ruins que se juntam buscando interesses em comum.
- VOCÊ NEM CHEGA A SER UMA PESSOA! – gritou. – VOCÊ É UM PROJETO DE ROBÔ SEM SENTIMENTOS QUE NÃO DEU CERTO, PORQUE ATÉ UM BONECO ELETRÔNICO DESSE TEM MAIS CORAÇÃO QUE VOCÊ!
- Continue, rainha do drama – soltou normalmente, sem se alterar pelos gritos e xingamentos do rapaz.
- E sabe o que é mais injusto? Você não tem coração e não merece nada nessa vida, mas ainda sim é líder de uma quadrilha, comanda tudo, tem um estado praticamente em sua mão, muito dinheiro, e uma mulher linda e inteligente que te ama. - sua voz fraquejou.
- NÃO FALE DELA – finalmente manifestou seu tão conhecido gênio. Puxou a mulher para si e lhe colocou em sua frente.
- Ah é? – riu seco, se achando um tolo por não falar de antes. Ele e todos ali sabiam que só tinha um ponto fraco, e esse tinha nome e sobrenome. . – Qual é o problema de eu falar dessa puta?
avançou para cima de . tentou impedi-lo, mas sua força e raiva eram tão grandes, que ela só foi um pequeno obstáculo para ele. Um obstáculo do qual ele conseguiu derrubar facilmente.
Correndo, ele chegou ao ex-militar rapidamente e pulou em cima do rapaz, fazendo os dois caírem. deu um soco no queixo do rapaz e logo sentiu as mãos firmes do mesmo perto da sua orelha. Atirou o cotovelo na bochecha de sem pudor e o vendo desnorteado, aproveitava-lhe para dar socos no rosto.
Chris estava sem reação e William via tudo aquilo fascinado. Podia-se ouvir os gritos de ao longe, misturado com o choro. Ainda estava estirada no chão, onde a havia deixado. Seu próprio namorado havia lhe jogado no chão sem se importar. Ele estava cego de ódio e não tinha boas lembranças daquilo.

Flashback #On

estava com tamanho tédio no momento. Deitada com o namorado na cama após um segundo round de sexo, ela não estava querendo descansar. Apesar de um tanto exausta pela energia gasta a pouco, sua vontade de sair era maior. Estavam tão presos numa missão que não saiam há dias.
- Vamos sair?
- Não, vamos ficar aqui. Desse jeito está ótimo.
Ela o olhou decepcionada. Ela só queria andar um pouco pelas ruas, dançar umas músicas, beber umas bebidas de cores estranhas. Era difícil? Estava farta de sexo, sexo e sexo.
- Eu vou sair. – disse, se desenrolando do namorado e se preparando para levantar.
- Mas que merda, puta que pariu, transar estava bem melhor! – reclamou, mas se levantou junto com a namorada. Os dois pelados, sem se importarem. – Qual o seu problema?
Ela queria responder que o problema era ele, seu jeito agressivo e insensível, mas só abaixou a cabeça e entrou no banheiro para tomar banho. Abriu o chuveiro e entrou na água gelada, tentando esfriar a cabeça.
Claro que não deixou. Um minuto depois escutou a porta sendo aberta e logo depois o namorado arrastando a barra do box e entrando no mesmo. Sorrindo, ele se aproximou da namorada, segurando na sua cintura com um sorriso malicioso nos lábios.
- Não quero, – avisou a garota, manhosa, o empurrando levemente.
- Ah, não recuse! – exclamou ele, a apertando contra seu corpo. – Eu prometo que saímos para a rua logo depois. – sorriu.
sorriu, aceitando a proposta. Ela faria esse “sacrifício”. Um sacrifício que muitas mulheres se matariam para fazer. era lindo e gostoso, não se podia negar. E ela o amava.
Ele avançou no pescoço da mulher, beijando e mordiscando a pele do local. segurou-se no pescoço do rapaz, pulando para colocar as pernas na cintura dele. a auxiliou, aproveitando para colocar a mão na bunda da namorada.
Beijando agora a boca de , ele a apoiou na parede mais próxima, obtendo ajuda na sustentação. Sua língua passava por toda a boca da mulher com avidez, debatendo-se com a outra língua que se mexia ferozmente.
- Me deixa no chão – murmurou quase num gemido.
Ele a ajudou a se firmar com os pés no chão e assim se fez. Em seguida, ele se concentrou nos seios da namorada, os apalpando com força. Ela só puxava o cabelo do rapaz, os arrepiando. Por vezes, arranhava as costas dele, forçando suas unhas contra elas.
Cansada de ser controlada, ela o fez olhar para si e ele deu um caloroso beijo na boca. Que se transformou em beijo por todo o rosto e pescoço e colo. Não satisfeito, ele começou a beijar-lhe os bicos dos seios, a barriga, o umbigo, a cintura, a perna, a virilha, até o pé. É, deixaria para mais tarde a vontade de controlar. Firmou-se na parede, apoiando a cabeça próxima à torneira e olhando para cima. Estava na hora de sentir prazer.
Ele ajoelhou-se no assoalho do Box e segurou o quadril da namorada, sorrindo e encostando seu tronco nas pernas grossas. Exibiu a língua, antes de passa-la suavemente pelo sexo da mulher, lambendo-a e sentindo seu gosto. Agarrando firmemente as pernas de e as afastando levemente uma da outra, finalmente ele adentrou sua língua na vagina, aprofundando e a mexendo por lá.
Recebendo esse carinho, todos os pelos da mulher se eriçaram e ela não sustentou um gemido. Novamente prendeu suas mãos nos fios de cabelo de , os puxando sem pudor. Assim como ele fazia com ela mais abaixo.
Deslizou sua língua pelo clitóris da mulher, a fazendo soltar um suspiro de excitação. Enfiou um dos dedos no órgão da mulher enquanto passava a língua pelo clitóris e toda a região externa.
Sabia que uma mulher demorava a ter um orgasmo. Sabia que sua mulher, mesmo sendo modestamente muito bom de cama, era difícil de satisfazer. E sabia, principalmente, que era orgulhoso. E, se ele estava ajoelhado para dar prazer àquela mulher, ele não pararia até conseguir. E não adiantava vê-la gemer e sussurrar seu nome; não adiantava ver nos olhos da mulher o brilho de prazer; não adiantava ver cada poro dela excitado responder a cada toque seu. Não. Só com o gozo ele saberia que ela estava plenamente satisfeita. Só assim ele pararia.
Por isso que ele a estava incentivando com a língua e a invadindo com o dedo num mesmo gesto. Para ela urrar de prazer. E ela não demorou a fazer isso. Completamente louca, ela puxava os fios de cabelo do rapaz e apertava suas costas e ombros com tamanha força de deixar em pura carne. Gritava, não aguentando segurar tudo aquilo no seu corpo.
Assim como não segurou o gozo. Satisfeito, sorriu, parando os movimentos ao sentir o gosto tão conhecido da mulher novamente em sua boca. Lambeu os dedos que estavam inundados do líquido branco e deixou que ela se livrasse de tudo aquilo, a segurando pela cintura, já que ela estava mole.
se recuperou algum tempo depois, sorrindo, ela se recompôs, erguendo-se e agarrando com um beijo. Segurando os braços musculosos dele, ela resolveu brincar um pouquinho. Ele a fez gozar, ela também o faria.
Roçou os corpos dos dois demoradamente, abaixando-se e levantando colada ao corpo dele. Ele segurava seu cabelo, os emaranhando no coro cabeludo. Sentia a ereção dele pulsar por baixo de seu corpo e aquilo a estimulou ainda mais. Passou os peitos lentamente pelo pênis do rapaz, um por vez. Depois, levantou-se, passando o sexo também por lá.
Ele a apertou, não resistindo a um gemido. Ela sorriu para ele, mas logo abaixou o olhar. Passou a mão pelo membro de e fez carinho ali. Abaixou-se novamente e apoiou os joelhos no chão, aproximando sua boca do membro do namorado.
Aproveitando, apertou a bunda do rapaz enquanto abria a boca o máximo para receber o pênis. Unindo-se cada vez mais ao homem a sua frente, ela deixou que o pênis ocupasse toda sua boca. Sentia sua goela reclamar, mas era só ela insatisfeita ali.
Lambeu lentamente o membro, repetindo os movimentos e mordendo fraquinho a cabeça de tempos em tempos. E então enfiava novamente todo o pênis na boca e o retirava passando a língua por cada parte dele. Sentia o gosto de em sua boca, era bom demais!
Não demorou nada para gozar. Homens são homens, e correspondia bem à maioria. Gozava rapidamente e facilmente. Era só fazer um bom trabalho.
Ele amoleceu, mas se sustentou o suficiente para puxar a cabeça de para baixo do seu membro, a fazendo engolir todo o líquido. Assim que tudo engolido ela subiu, ficando em pé e sorriu para o namorado, que a beijou, sentindo seu gosto misturado com a de na boca dos dois.
Exaustos, eles se abraçaram e com ajuda da parede, deslizaram até o chão, sentando no mesmo. Lado a lado, eles apoiaram a cabeça de um na do outro e suspiraram, deixando que a água do chuveiro os molhasse.
- Vamos nos vestir para sair? – inquiriu dez minutos depois. Eles ainda se encontravam na mesma posição, imóveis.
- Claro – a garota suspirou, apoiando-se nas pernas do rapaz e se erguendo. – Quer ajuda?
- Não. Vai à frente e se veste, porque senão eu vou te agarrar.
Ela riu, pegando o sabonete e passando rapidamente pelo corpo. Lavou-se e pegou sua toalha, enrolando-se nela. Só sentia o olhar de em cada movimento dela, sentado do outro lado do Box.
- Não demora.
- Tudo bem. – sorriu, mas não se mexeu.
- É sério , ande logo!
- Argh – ele fez uma careta, porém finalmente se levantou. – Estou indo,madame.
A verdade é que sexo não precisa ser necessariamente a penetração do pênis na vagina. As preliminares são tão importantes quanto, ou talvez mais. É o que cria o clima, o que os excita. O roçar dos corpos, o agarramento, o sexo oral. Eles já haviam transado três vezes antes e, sinceramente, não sentiam necessidade de uma quarta penetração. Tudo aquilo fora suficientemente prazeroso.

pegou um vestido preto novo. Havia comprado há umas três semanas, mas só agora surgia a oportunidade de usá-lo. Colado ao corpo e o moldando, ele ia até metade das coxas e cobria somente uma parte do colo. Uma sandália de salto prateada nos pés, um pouco de corretivo, sombra, lápis e batom; e por fim uma penteada nas madeixas para domá-las. Estava pronta.
Observou o namorado se vestir. Uma calça jeans preta, uma blusa social com os dois primeiros botões abertos e o tecido dobrado até os cotovelos e um sapatênis bege. Esfregou a toalha nos cabelos molhados, os deixando bagunçados e arrepiados. E também estava pronto.
Seguiram para o centro da cidade, onde se podia ver a população noturna daquela cidadezinha afastada do mapa. Só jovens ocupando uma só rua que detinha todos os barzinhos e baladas. Um calor, um barulho, uma agitação. Era maravilhoso. Como a luz no fim do túnel.
Sentaram num barzinho, numa mesa na calçada mesmo, e logo foram atendidos pelo garçom. pediu somente um Ice enquanto pediu uma dose de cachaça. Conversaram sobre assuntos diversos enquanto bebiam e bebiam.
- Vou tirar uma água do joelho, ok amor? – exclamou , levantando e abraçando exageradamente. Ele já estava bem altinho.
- Ok, vai, mas não demore! – ela o repreendeu, o empurrando levemente.
O homem foi trotando para o banheiro, tentando inutilmente seguir uma linha reta. Duvidava que ainda conseguisse fazer um quatro com as pernas. Dois índices de que a bebida já estava em seu sangue e que ele estava bêbado.
nunca ficava bêbada. Sempre preferia bebidas leves e não se importava do namorado beber. Ele não ficava chato, nem chorão, nem repetitivo. Só um pouco briguento, mas isso não melhoraria nem depois de um banho frio e um litro de café. Era como aquela frase dita por todas as mães: ”quanto mais cresce, pior fica”.
Bebendo mais um gole de sua bebida, sentiu um braço rodear seus ombros e virou para trás sorrindo, pronta para avistar seu namorado. No entanto, não foi quem ela viu. Era um homem robusto, um tanto gordo também, com uma cara de bravo e cabelos presos num rabo de cavalo. As argolas em seu nariz e orelhas eram tão grandes que desconfiguravam essas cartilagens.
- Oi doçura! – o estranho falou meigo, se aproximando do rosto da garota e despejando um beijo em seu pescoço.
- Ei, dá licença! – a moça gritou de ímpeto, empurrando levemente o homem nunca antes visto por ela.
- Calma, delícia, vou te dar uma noite maravilhosa! – riu seco, segurando o queixo da garota.
Fora o ponto final, ela estava pronta para usufruir de tudo que aprendeu com sua mãe. Levantou da cadeira em que estava sentada rápido, virando para o desconhecido. Posicionou seu braço para trás e partiu para dar um soco no rosto do cara. Nada muito forte, uma pequena parcela do que ela era capaz, só para ele aprender a não mexer mais com ela.
Ele sentiu o soco perto do olho e cobriu o machucado. estava satisfeita, ele sairia dali nos próximos segundos, se... se não tivesse vendo tudo.
apareceu por trás do estranho e lhe cutucou no ombro, fazendo o mesmo virar para ele. Assim que o cara virou, ele distribuiu outro soco no rosto do cara. E, dessa vez, a “vítima” foi contudo para cima de , e eles começaram a brigar.
Rolaram ao chão, destruíram mesas do bar, quebraram copos, pratos e garrafas de bebidas. Só pararam quando a polícia chegou. No instante em que ouviram a sirene, eles apartaram a briga e, enquanto o estranho ficou no chão sagrando, veio até , a puxou e saiu correndo daquele bar no mesmo instante.
Eles não podiam esperar a polícia chegar. Não podia deixar eles o prenderem e descobrirem todos seus antecedentes. Conhecendo bem os becos e vielas da cidade, eles adentraram e caminharam por várias, correndo, até estarem bem longe do local.
- Está sangrando um pouquinho no supercílio , não está doendo? – perguntou, reparando no corte na sobrancelha.
- Que nada! –ele abanou a mão – Também bati com o cotovelo e estou sentido sangue em minha boca, mas não é nada demais. Valeu a pena – sorriu macabro.
- Você não precisava ter batido tanto nele!- reclamou enquanto eles andavam para a casa, já seguros.
- Claro que precisava, ele estava te cantando! – retrucou irritado.
- Eu já havia batido nele, tinha dado um soco, ele iria embora, era suficiente!
- Eu vi, aliás, um ótimo soco, ótima pontaria – ele sorriu para ela. – Mas eu precisava mostrá-lo que quando se mexe com mulher minha para-se no hospital!
- É, isso você conseguiu. Mas conseguiu também chamar atenção dos policiais! Se eles descobrirem sobre a quadrilha...
- Eles não descobrirão nada! – repeliu ele. – Era um bêbado, drogado, que fora espancado, você acha mesmo que eles vão procurar quem bateu naquele idiota? Só se fosse para agradecer! – os dois riram suavemente.
- Se não fosse a polícia, quando você pararia de bater nele? – perguntou algum tempo depois, já na porta de casa.
- Hm – o namorado parou, a encarando – só até ele morrer. – e deu de ombros.

Flashback #Off

Era por isso que tinha tanto medo daquilo. Uma coisa era a agressão verbal, os xingamentos, outra bem diferente era brigar fisicamente. Envolvia dor, sangue e morte.
- , , PARE! – suplicou e num súbito de coragem correu até onde os dois estavam brigando e se jogou entre eles. – Por favor, parem. – ainda repetiu.
parou na hora. ainda se aproveitou disso para dar um soco cego no ombro de , mas também cessou os movimentos. Perplexo, Chris apareceu, segurando os braços de e fazendo o mesmo levantar, com a pura intenção de tirá-lo de perto de .
, por sinal, levantou-se praticamente sozinho e se deixou ser segurado, a raiva saindo de seu corpo. Ainda perguntou a namorada:
- Você vai deixa-lo falar assim de você,? – fora sua questão final. Afinal, valia a pena ele lutar e também sangrar se a própria a ser xingada –a quem ele estava defendendo-, não se importava?
- Por que não deixaria? Você me xinga, meu próprio namorado. – ela abaixou a cabeça. Ele maneou a cabeça negativamente.
- Eu posso. –engoliu em seco.
- Você pode é calar a boca, seu babaca. Vá esfriar a cabeça! – ordenou rude.
se soltou de Chris como uma criança querendo sair do colo do pai para brincar na pracinha com os amigos. Chris ainda ficou alerta com a possibilidade de ele avançar para cima de novamente, ou até de , mas ele deu meia volta e andou mata adentro. Fora a primeira vez que aceitara e fizera o que a namorada pedira.
-#-
olhou para todos os figurantes daquele briga: Will, Chris e .
– Vocês podem fazer um favor? Cavar uma cova pequena para enterrar Bruce? Só um pouco de terra para que o corpo dele não fique largado. – eles assentiram.
Ela caminhou até , que agora estava sentado em um tronco longe dali. O mesmo se encontrava imóvel e abobalhado pela reação de . Na verdade, não era só ele que estava surpreso com a revolta que a mulher travou, mas todos ali. Ainda mais . Naquele momento, sozinho, a vendo abraçar fortemente, ele só pode abaixar a cabeça e sair dali o mais rápido possível.
Sentou-se embaixo de uma árvore no imenso verde do bosque e pensou em . Ela havia mesmo mudado, não aceitava mais as coisas que ele lhe impunha, a forma como a dominava. Ele sempre a subestimou, achando que o amor que ela sentia era suficiente para fazê-la se rebaixar sempre a ele, mas naquele momento havia aprendido que estava errado.
Não queria perdê-la. Podia ser rude com ela, muitas vezes prepotente, todavia era somente seu jeito para lidar com o relacionamento. Ela era uma mulher com um corpo maravilhoso e um rosto lindo, além de ser inteligente. Era daquelas bonitas por dentro e por fora. Daquelas que todos os homens dariam de tudo para tê-la uma só vez na cama.
Apesar de receoso, admitia para si mesmo que não podia competir com o resto do mundo. Ela o amava, mas será que seria assim para sempre? Ou ela o largaria para ficar com qualquer um melhor que ele? Por isso que fazia tudo aquilo. A dominava. Para que ela sempre ficasse encoberta, quieta, sequer ter um contato com algum homem a não ser ele.
No fim, no entanto, não adiantara. Ela a havia trocado por . Havia se rebelado e ido para os braços de . Tudo bem que ele ainda era seu namorado, mas seria mais por muito tempo? Havia tantas ameaças pelo mundo. Até mais perto, na própria quadrilha.
Ele iria mudar. Ou ao menos tentaria. Ele a amava. Amava como nunca tinha amado alguém antes. Nem seus pais, nem seu irmão, o amor que nutria por ela era algo descomunal. Aumentava a cada dia.
Não era mentira quando revelou que morreria junto se morresse. Ele se mataria se fosse preciso, mas não podia viver sem ela. Assim como ela não podia viver sem ele. Deixou as lágrimas caírem.

- Eu sinto muito, – murmurou no ouvido do amigo.
- Tudo bem. Olha, obrigado. – ele sorriu para ela. – Muito obrigado.
- Pelo que exatamente? – eles começaram a andar em torno da caverna, os corpos lado a lado, às vezes encostando-se.
- Por você ficar do meu lado, por ajudar num enterro para Bruce e, principalmente, por você se rebelar com seu namorado de merda.
- Não fale assim dele – puxou-lhe a orelha.
- Ok, me desculpe. – levantou os braços para o alto em sinal de rendição.
- Foi bom.
- O que?
- Contestá-lo.
- Preciso dizer que eu avisei? – perguntou maroto.
- Não, bobo – deu língua.
- – chamou o garoto, puxando o pulso dela fracamente e a fazendo parar e olhar para ele. – Eu vou embora.
- Como? – ela esbugalhou os olhos.
- Eu não me dou muito bem com não é de hoje, mas sempre o aturei. Entretanto, o que ele fez hoje é inadmissível para mim. Ele mostrou que não se importa com ninguém, então porque eu me importaria?
- Não faça isso – ela abaixou a cabeça.
- Eu vou voltar para nossa casa, pegar minhas coisas e depois dar um jeito de enterrar Bruce em um cemitério. Vou procurar um emprego decente, encontrar uma mulher, me casar e ter filhos. Quero ser uma pessoa normal, como meus pais. Vi hoje que se eu continuar aqui eu não vou ter nada. Só serão anos perdidos.
- Por favor,, não vá. Eu prometo... Prometo que eu te ajudo com Bruce e se quiser sair depois, bom, saia, mas agora não... Por favor. – ela o encarou e deixou uma lágrima cair.
- Não chore. – limpou a lágrima que se instalou na bochecha de . – Talvez seja difícil, mas será melhor no fim. E não precisa prometer nada...
- Fique – lhe implorou, segurando seu braço com força.
- Porque eu continuaria aqui? – inquiriu. Ela engoliu em seco, sussurrando a resposta baixinho em seguida:
- Por mim.
E então o mundo parou. Era como se o ar deixasse de flutuar, a água de jorrar, o fogo de queimar. Para , tudo havia parado. E, se quisesse, poderia acabar ali mesmo. Ela havia dito que o queria ali! Que precisava dele ali!
sabia que ele se redimiria pelo pedido dela com aquelas simples palavras. Sabia o poder que exercia sobre ele, mas tudo aquilo saíra da boca dela sem pensar. De ímpeto. Do seu coração. Era verdade, ela necessitava dele.
segurou o pescoço da mulher e a mirou com um sorriso no rosto. Ela segurou seu braço e também o olhou.
- Você pode repetir? – pediu terno, enquanto aproximava seu rosto do dela.
- Continue aqui por mim – ela tomou coragem de falar novamente.
Ele abriu ainda mais o sorriso, acabando com a distância dos dois e encostando seus lábios no dela. Fechou os olhos e aproveitou cada segundo daquele misero beijo. Como era bom tê-la ali tão próxima, com seus lábios no seus, como era bom provar-lhe, sentir o gosto de sua boca.
Sem desfazer o sorriso, a língua dele avançou nos lábios da mulher, pedindo para adentrar. Ela deixou e ele a segurou pela cintura, já movimentando sua língua na boca dela.
As línguas se moviam juntas em movimentos repetidos, lentos e suaves. Os dois aproveitando e guardando na memória cada momento. Ela passou os braços pelo pescoço de e os acomodou nos ombros do rapaz, o puxando mais contra si. Se isso ainda fosse possível.
Tantos sentimentos sendo ali passados, sentidos. Tanta atração e desejo só os faziam cobiçar ainda mais a junção das duas bocas e dos dois corpos. De longe, havia um só telespectador. O nome do ser? .

Capítulo 6

Não demorou mais de duas horas para os três rapazes incumbidos de fazerem a cova de Bruce terminassem a tarefa. e se juntaram a eles depois do beijo, visivelmente constrangidos.
Depois do pedido dela e da consequência – lê-se: beijo – ficou óbvio que sacrificara-se para concordar com o rogo da mulher. Sacrificara-se? Ele queria que qualquer coisa fosse implorada daquela forma, com um beijo daqueles. Soltaram-se assim que tiveram que respirar e abaixaram a cabeça com embaraço, logo seguindo para o resto do grupo, os ajudando com a terra.
não deixava de pensar em . Ele estava sumido, mas ela estava se sentindo tremendamente mal por ter traído o namorado. Ele podia ser dominador, grosseiro e rude, porém não era um traidor. A mulher sabia que ele não a trairia por nada, e isso só a fazia se sentir pior. Ainda mais por ter gostado.
não parava de pensar no beijo de minutos atrás. Seria demais se falasse que fora o melhor beijo da vida dele? Ele era experiente, já tinha pegado mais mulheres do que muitas celebridades. Aliás, esse era mais um bom motivo para se alistar numa das três forças militares. Mulher. Não sei qual era o chamariz, mas era como se no uniforme e em cada estrela posta lá houvesse um imã. Um imã que atraía todas as saias.
Os dois anos que passara no Exército correspondiam a anos que mais pegara mulher. Quando saía com os amigos com a farda para bares nos dias de folga, sempre tivera ao menos três mulheres lhe dando mole. E ele pegava as três. Somando todas essas saídas mais algumas mulheres que serviam para o país, ele havia pegado umas quatrocentas, quinhentas. Ele havia perdido a conta, na verdade. Podia-se somar o número de mulheres de todos os outros anos antes ou depois do exército, que não chegava perto do número estrondoso com três dígitos.
Claro que se apaixonara por algumas, e inclusive namorara uma companheira de cargo no Exército, mas nada foi como aquele beijo. Talvez fosse porque já convivesse há tanto tempo com aquela paixão platônica, esperava há tanto tempo aquele beijo, aquela magia, que tudo foi perfeito. Incrível. Indescritível.

Sem cerimônias, assim que a escavação ficou pronta, eles preparam o corpo de Bruce. Passaram formol por todo ele e, quando pronto, ajeitaram-no no buraco. Despediram-se rapidamente, com algumas palavras de consolo:
- Descanse em paz.
- Boa sorte.
- Até mais.
- Divirta-se.
- Foi ótimo te conhecer, seja feliz.
- Nos encontramos no inferno. – chegara no instante, soltando a perola.
E então a terra o cobriu.
-#-

Fora difícil, não vou negar. Não sou desses caras que encobrem tanto as coisas. Claro que não vou escrever um livro sobre a minha vida, acusando-me de inúmeros crimes, mas não me importo de falar determinadas coisas. Qual o problema, afinal, de eu chorar quando tiver vontade? Vai me tornar menos homem?
Ou disfarçar minha raiva, desprezo e toda a dor que invadia o meu peito quando vi minha namorada beijar o cara em que havia acabado de bater? Não vou esconder, foi muito difícil. Muito difícil não sair correndo e dar um tiro bem na cara de , e outros tantos e tantos tiros para que nem o corpo dele ficasse num estado normal para um enterro digno. Mas eu só observei e guardei toda essa dor, enquanto forçava-me a encarar toda aquela cena. Eu precisava ver que ela podia sim ter outro quando e como quisesse e que, mais importante do que isso, que ela poderia querer me largar para ficar com ou qualquer outro no segundo em que tivesse vontade.
Eu me tornei menos homem por causa disso, eu te pergunto novamente? Eu a amo, sem sombra de dúvidas, e é claro que eu vou lutar por ela, mas aquele era seu momento. Aliás, o momento deles. Dos dois, e . Era o momento de ela ver o que era melhor para ela. Afinal, ela tem direito de tentar de forma diferente, se da outra forma não está dando certo.
Não me perguntem nada mais além disso, porque eu não saberei responder. Vê-los abraçados, suas línguas entrelaçando-se, fora imensurável para mim. E a cada instante eu me arrependia de não ter feito nada para impedir. Na hora, entretanto, eu achei melhor assim.

Houve suspiros por todos os lados. Eles estavam, sem exceção, cabisbaixos e sem motivação nenhuma para continuar. Sentaram-se em um tronco de madeira e ficaram ali por minutos, em silêncio, somente pensando e encarando as próprias unhas e pés. Nada mais melancólico. sabia que era a vez dele por ordem naquela porra sentimentalista que acontecia no momento.
- Agora podemos ir embora, não? – o líder levantou de prontidão, assustando a todos com sua pergunta na imensidão do silêncio, mas atraindo os olhares do grupo como ele queria. – Já fizemos a merda de um enterro para aquele filho da puta e se não quisermos fazer outro para meu irmão, nós temos que continuar. Então levantem essas porras dessas bundas gordas, peguem suas tralhas e sigam-me os maus.
Diferente do que ele faria se nada, horas antes, tivesse acontecido, ele não puxou para junto de si. Não segurou seu pulso, puxou-lhe pela cintura ou exigiu que ela ficasse ao seu lado. Pela primeira vez desde que conhecera , ele deixara que ela tomasse sua própria decisão, sem pressão alguma.
Talvez ele esteja mesmo tentando mudar, pensou , levemente assustada pela reação contrária ao que estava acostumada, de . É, ela sentiu um pouco, como se aquela falta de opção que sempre lhe abatia, fizesse falta. Seria masoquismo? Quer dizer, não que ela realmente quisesse que ele continuasse com a grosseria, mas ele fizera por tanto tempo que a mudança repentina causou grande surpresa e quebrou um pouco do esperado por ela. Era uma decepção boa, concluiu. Se isso ao menos existisse.
William foi o primeiro a levantar, com um sorriso no rosto, como se nenhum momento de tristeza e tensão tivesse lhe enfraquecido. Talvez não tivesse mesmo lhe enfraquecido. Pegou sua mochila e ajeitou em suas costas. Chris lhe seguiu, analisando novamente o mapa.
encarou e forçou um sorriso fraco para ele. “Não me abandone”, sussurrou ainda, sem que o som saísse de sua voz, mas o suficiente para que ele entendesse, pois assentiu e levantou-se.
A única garota também se ergueu do tronco e foi até , segurando-lhe a mão e o puxando para cima. Com esforço, ele levantou e quase caiu em cima de . Depois, entre risos, eles foram pegar as mochilas. Estavam-nas ajeitando nos ombros, quando o rapaz cutucou a mulher:
- Conquistou mais um coração, hein! – murmurou divertido.
- Digamos que hoje eu fiz mais um escravo – piscou os olhos para o amigo pela brincadeira, fazendo-o rir. – Não, sério, estou arrependida – fez uma careta.
- Por tê-lo beijado?
- Não propriamente isso. Quer dizer, olhe para ele, lindo, gostoso, tudo de bom, além de sim, agora eu posso falar, um ótimo beijoqueiro. – a própria concordava com a cabeça enquanto ia falando, como se esse gesto reforçasse ainda mais as características do descritas por ela.
- Não é como se eu precisasse saber esses detalhes. – deu língua.
- Verdade, às vezes eu esqueço que você não é gay – ela revela, rindo.
- Ei, por que eu seria gay? – ele lhe deu um beliscão no braço, falsamente indignado.
- Oras, você é o único dos homens que não deu em cima de mim! – deu de ombros, caindo na risada em seguida.
- Ih, modesta você, hein! Você não faz meu tipo – ele forçou uma voz afetada.
- Eu faço o tipo de qualquer um! – ela acrescentou, não aguentando de tanto rir. Ele negou com a cabeça, tentando se manter sério, mas não conseguindo. – A menos que você não goste da fruta, aí sim! – riu.
- Boba! – apertou a bochecha da amiga, como se a mesma fosse uma criança fofa com uma bochechona – Eu te acho linda, mas você é minha melhor amiga, eu nunca estragaria tudo isso para ficar com você. – explicou.
- Sei... – disse, somente, fingindo não acreditar.
- Ok, ok, a verdade é que seu namorado, e agora seu amante, me matam se eu somente te olhar diferente! – levantou os braços, em sinal de rendição, rindo sem parar. Ela riu também.
- Ei, – chamou a atenção do amigo, quando eles já estavam caminhando para o resto do grupo – ele não é meu amante! – e ele assentiu, rindo.
-#-

Eles andaram por algumas horas e, por um milagre, conseguiram chegar à sexta caverna. Dessa vez, entraram , , e William, enquanto e Chris esperavam no lado de fora pela volta deles. Ou exatamente a não volta deles para o encontro do resto do grupo.
Já estava na hora de Will encarar, a garota pensou, concordando com decisão do namorado em chama-lo para entrar, mesmo que este insistisse em ficar em alerta do lado de fora. Qual é, ele estava na quadrilha e, mesmo puxando o saco do chefe, tinha que fazer e sofrer tanto quanto os outros! Mais até, porque ele era o caçula do grupo e, como os calouros da faculdade – que faziam deveres para os veteranos e levavam gemada-, ele devia receber uns trotes e sofrer um pouquinho. Só um pouquinho, riu com seus pensamentos maléficos.
Desvencilhando o antigo pensamento, aproveitou para observar a caverna. Diante de todas as novidades que ocorreram pela manhã, ela havia esquecido momentaneamente uma parte importante de toda aquela procura. O enigma que os Rengs o passaram dias atrás. Como era mesmo? Quase imperceptível, ela se difere das outras pelos detalhes. No meio das outras sempre é contemplada, mas ninguém se atreve a examina-la.
A caverna onde eles estavam não tinha nada que a fizesse ligar com a metáfora, nem vice-versa. Era bem pontuda, como um arranha-céu, ou aquelas igrejas góticas, mas não tinha detalhes, ao menos não que fossem percebidos. A segunda parte até podia se encaixar, se você considerar que era uma estrutura até bem bonita e, portanto, digna de ser contemplada, mas por ser tão fina, sugeria leveza e até um medo de que tudo caísse de repente. Como um castelinho de areia.
Ela encarou, atenta, Chris, que havia ficado com ela na escolta, lhe mandando um olhar de “se prepare”. Esperaram. E, de repente, ouviram um grito. esbugalhou os olhos antes de sussurrar para que Chris lhe seguisse e adentrou a caverna, segurando a arma na altura de seu peito, ponta para ser usada.
Mais um grito e, agora, um homem correndo vindo em sua direção. Estava muito escuro, então não podia ver mais do que a sombra de um corpo. Apontou a arma para a cabeça dele e se posicionou para atirar contra ele.
- Pare agora ou eu furo sua cabeça. – gritou, ameaçadoramente.
- , sou eu, Will! – informou, depois de um gritinho de susto.
- William? Por que está gritando? – ela perguntou, o encarando com um semblante desentendido. – Os Rengs estão aqui, é isso?
- Na verdade... – ele engoliu em seco, retardando sua resposta. Ainda se aproximou da garota e seu acompanhante, e confirmou que era ele mesmo, embora tenha feito questão de continuar com a arma preparada.
- Fale logo, William! – pediu irritada, se segurando para não bater os pés.
- Me chame de Will, não gosto que me chamem pelo meu nome. Parece minha mãe e eu fugi dela assim que pude! – afirmou, quase soltando uma risada.
Porventura ele risse mesmo, se não vislumbrasse a careta irritada que havia se formado no rosto de . Ela havia erguido as sobrancelhas e assumido um olhar de morte. Podia-se quase se ouvir o que o olhar transmitia: fale algo que preste ou eu não pensarei duas vezes e dar-te-ei um tiro nesse nariz empinado. Era demais falar que os dois rapazes presentes ouviram um grunhido sair dos lábios da garota, sempre tão aclamados?
- Não, eles não estão aqui. – ele respondeu, finalmente, fazendo respirar profundamente e suspirar aliviada.
- Então por que gritou, Will? – o chamara pelo apelido. É, a raiva havia passado, pelo visto. Ainda abaixara a arma, apontando para o chão em sinal de repouso.
- Eu vi um rato! – revelou ele, como se tivesse fugido da bomba atômica que atingira Hiroshima na Segunda Guerra Mundial.
- Você está brincando comigo? – Chris se pronunciou pela primeira vez, perplexo pela revelação do rapaz! Toda aquela cena por um mísero rato?
- O pior Chris, - respondeu no lugar dele, olhando para o homem que estava atrás de si – é que ele está falando sério!
-#-

Depois do breve susto que tomaram, precederam-se os xingamentos contra o Will. e Chris intercalaram-se nos empurrões e zoações, enquanto o novato defendia-se com rogo.
Encontraram os demais do lado de fora da caverna, já preparando as cabanas e juntando os pedaços de madeira para a fogueira. Chris correu para ajudar com os gravetos e Will sumiu do lado de antes que ela percebesse. Ela suspirou, antes de achar com o olhar. Caminhou, lentamente, até o namorado:
- Vamos ficar aqui hoje? – ela inquiriu, mesmo sendo uma pergunta retórica. Era só um jeito de puxar assunto.
- Por acaso está cega? – respondeu com sua postura arrogante. Só que já estava anestesiada de toda aquela grosseira, mesmo que às vezes o namorado conseguisse ser tão rude a ponto da anestesia tarja preta não ser forte o suficiente. Aí doía. Não agora.
- Provável, para namorar um cara como você – ela o encarou, vitoriosa, toda cheia de si. não continuou com palavras sujas, só abriu um sorriso e apertou levemente o queixo da namorada.
- Você está ficando boa nisso.
- Treinei durante anos – ela piscou para ele.
Ele riu, mas logo virou o rosto para outra direção. Procurou alguém livre, mas só descobriu analisando o mapa. Já ia chama-lo quando seus olhos pegaram, no flagra, William comendo um pacote de biscoito escondido na mochila. Sorriu maléfico.
- William, seu grandessíssimo filho da puta, para de comer essa porra e venha aqui agora – gritou, fazendo o garoto pular da madeira onde estava, assustado. Então ele levantou e em atropelos foi em direção ao líder.
- Senhor, eu estava somente... – havia começado a se justificar, mas fez um gesto para que ele parasse de falar.
- Sem desculpas, seu merda! Monte essa porra dessa barraca em cinco minutos e torça para que eu deixe você dormir dentro dela um dia. – ordenou, recebendo um consentimento do outro.
Então, deu a mão a e a levou até um tronco mais distante dali. Eles se sentaram um de frente para o outro, como uma perna de cada lado da madeira, e cruzaram seus dedos. Ela o mirou com um sorriso e lhe deu um selinho. Ele não sorriu.
- , eu preciso te contar uma coisa – os músculos dele enrijeceram. Ela o olhou, preocupada, e esperou que continuasse: - Eu vi você beijando o .
Ela paralisou. Esbugalhou os olhos e desvencilhou suas mãos das do namorado, as levantando até o rosto, em sinal de desespero. Isso mudava tudo. Ele... ele tendo visto os dois se beijando, trocando carinhos... isso era possível? Quer dizer, ele ter visto, claro que era, mas ele não ter agido contra isso? Não partira para cima de , não começara a xingá-la de vadia e palavras piores. Não fizera absolutamente nada, somente havia lhe confidenciado que sabia que havia levado chifres. Como um corno manso? Isso não era nem um pouco característico dele. Estranho demais.
- Eu, eu sinto...muito. – ela segurou os braços dele, as palavras saindo de sua boca com rapidez. A angústia e a aflição a flor da pele. – Olhe, não faça nada, não... não foi culpa dele, foi minha culpa, eu... – a mulher não conseguiu continuar. Suspirou, passando a mão pelo pescoço. – Por favor, não faça nada que esteja planejando.
- – ele a chamou. Ela havia fechado os olhos.
- Por favor, , por favor. – ela lhe suplicou.
- , olhe pra mim. – ele pediu autoritário, só assim a fazendo abrir os olhos. Ele colocou as mãos no rosto dela. – Está tudo bem. Eu não farei nada. Você está no seu direito.
- Isso... é sério? – ela o encarou, extremamente confusa.
- Eu estou tentando mudar, , não percebe? – ela sorriu, cobrindo com um abraço. Ele a puxou pela cintura, o deixando mais perto de si.
- Eu te amo. – falou no ouvido de e lhe mordiscou a orelha.
- Eu também amo – deu um beijo no canto da boca dele.
agarrou os cabelos da mulher e trombou sua boca com a dela antes que ela pudesse se dar conta. Eles se beijaram ardentemente e, no fim, suas bocas continuaram coladas. Eles riram.
- Eu nunca fiz amor no meio da mata – confidenciou a garota.
- Como uma bandida como você não tem isto no currículo? – brincou ele. – Vamos providenciar agora mesmo. – e atacou-lhe o pescoço, enquanto já tentava retirar a camisa do namorado.
Ela gemeu quando chupou seu pescoço, o que certamente traria uma marca roxa. Em seguida, puxou o queixo do namorado até que as bocas se tocassem e as línguas se entrelaçassem novamente.
levantou os braços e, rapidamente, quebrou o beijo para ajudar a namorada com a blusa, já que a mesma não conseguia tirar sozinha. Depois, sentindo-se em desvantagem, ele a fez tirar a blusa. Sua atenção, então, passou para os seios da mulher.
O homem já puxava o sutiã, quase o arrancando do corpo da companheira, quando uma voz os assustou.
- Estão... ahn – o dono da voz, , rosnou para chamar atenção, quando percebeu o que estava acontecendo – chamando para o jantar – ele encarou o chão, achando as pedrinhas tão mais interessantes do que minutos atrás.
respirou fundo, bufando em seguida. Sem olhar para o ex-militar, ele respondeu que já iriam. Olhou para a mulher e sorriu, dando um tapa carinhoso no quadril da mulher.
- Empata-foda do caralho – reclamou o namorado, baixinho. riu e lhe puxou para um rápido beijo.
- Vamos, vamos. Depois terminamos isso – e puxou o namorado pelo braço.
-#-

As ervas que Max havia colhido, amassadas na farinha láctea e misturadas à água tinham uma aparência pior do que todos imaginavam. E o gosto, nossa, só os fez lembrar que quando bebês a mesma papinha, feita com a mesma farinha, parecia bem mais deliciosa e apetitosa de se comer. Diante de caretas e exclamações de desgosto, jogou o resto de sua gororoba no lixo e, num rompante, foi para dentro da mata, indo para bem longe das pessoas.
Usando suas habilidades adquiridas no exército, mesmo no escuro, ele foi capaz de refazer o caminho inverso do feito de manhã. Passos e mais passos, desvios de galhos e pulos atentos para não perturbar as serpentes, tudo para voltar para onde o corpo de Bruce estava.
A verdade era que Bruce sempre foi seu melhor amigo. O inverso de , muito receptivo, amigável, gentil, educado, sempre disposto a ajudar e preocupado com questões que ultrapassam os problemas da quadrilha e tinham um nível pessoal. Engraçado, até, porque se descrevesse Bruce para qualquer um, estes podiam supor que o agora morto era arquiteto, professor, químico ou servidor público, ou até o mendigo que ficava a porta da igreja abençoando quem passava, mas não um bandido. Era, portanto, apesar de seu destino caminhado para o lado ruim, digno de um enterro louvável, de uma morte triste e memorável, o que simplesmente ignorou.
Aliás, , aquele bandidinho de merda, arrogante e prepotente, que se acha como princípio do mundo e detentor de todas as coisas, havia passado em cima de tudo que Bruce era de bom, o quanto ele fizera pela quadrilha de forma geral e, por isso, o que ele merecia pelo menos a hora de sua morte, o mínimo de respeito que nunca tivera, mesmo sendo mais velho e “fundador” da quadrilha.
Este agora estava morto, enterrado em meio à terra seca e perdido naquele bosque infindável. Mas para , ele continuava sendo o companheiro de todas as horas. E, agora, mais do que nunca, o ex-militar precisava de uns conselhos, mesmo que oriundos de sua própria reflexão. Nunca se encontrara mais perdido. Tudo porque o havia beijado, implorado para que ele ficasse, e, menos de vinte quatro horas depois, havia visto a mesma se atracando com o namorado, já seminus.
Ele não queria que ela terminasse toda sua historia com um segundo depois do beijo, nem que começassem a namorar, casar e tivessem filhos e netos. Nem sequer imaginava os dois de mãos dadas na praça já velhinhos! só queria que aquele beijo a fizesse pensar. Pensar nos relacionamentos, nas brigas, na vida. Refletir se era mesmo o que ela queria para o resto da vida, mesmo este a subjugando, ou se , o bobo apaixonado, louco para fazê-la feliz e capaz de brigar com ela, podia ter um espaço no seu coração.
Enfim sentiu o ar diferente e supôs que estava próximo ao seu local de chegada. Decidiu correr um pouco, tentando chegar as suas marcas enquanto ainda servia ao país. Quando finalmente alcançou o ponto onde estava Bruce, se agachou, colocando as mãos nos joelhos, tentando encontrar o folego. 100 metros de corrida e já estava com falta de ar, pensou ele, o que serve contra o país está bem fora de forma. Riu consigo mesmo.
Colocou os joelhos no chão e, na marca onde haviam colocado o corpo, ele começara a cavar.
- O que? Mas como...?
-#-

- Cadê o ? Cadê o ? – o tormento de inundou seus olhos e suas palavras. O desespero, junto à correria, a agonia, fizeram todos os presentes – no caso, Chris, Will e – desviarem as atenções da conversa e focarem toda a visão no vulto preto encoberto pela copa das árvores.
- , é você? – perguntou, levantando e tentando se aproximar do amigo.
- Onde ele está? – ele gritou de volta, ignorando as palavras preocupadas de . – Will, vá chama-lo.
- Ele está na cabana... – William argumentou.
- Não importa! – vociferou em resposta. – Ele pode estar dormindo, transando, até falando ao vivo com Deus, interrompa o que quer que seja e chame os dois urgentemente! Preciso de todos reunidos.
William, contrariado, levantou e correu até a barraca. caminhou para mais perto do grupo. indicou um lugar ao lado dele, no tronco da árvore, para que o ex-militar sentasse, mas este recusou. Nervoso, ele folegava, o pulmão bombeando ar rapidamente. A boca aberta soltava bufos de cansaço e aflição. Ele não conseguia manter-se parado, mexendo os braços e a cabeça.
- Desculpe , mas eu preciso perguntar. – a voz de foi interrompida por gritos vindos da barraca onde estava. Quando estes acabaram, ele voltou a falar. – Isso não faz parte da briguinha de vocês dois, faz?
- , é uma coisa muito séria. – seu tom emanava, apesar de contradito, serenidade.
e apareceram na mesma hora, andando rapidamente para o encontro dos outros, com Will no encalço. Via-se a cara amassada de e o rosto zangado do namorado dela. Podia até, com um pouco de esforço, ver a raiva borbulhando de sua boca.
- Eu realmente espero que seja uma coisa importante. Enterrar outro vai dar muito trabalho...
controlou-se para não gruir. Enfim, falou as palavras que estavam entaladas em sua garganta desde a visita a Bruce. Sua voz saiu até um pouco rouca, enquanto as lágrimas já invadiam e distorciam seu olhar.
- Bruce sumiu.


Capítulo 7

- Por acaso você está com amnésia? , o Bruce está morto, os Estados Unidos inteiro já sabe disso! – resmungou , contrariado, segurando-se para não partir para cima do outro rapaz.
- Você não está entendendo... – engoliu em seco. – É exatamente o fato de alguém além da quadrilha saber que ele está morto.
- , por que você não nos explica toda essa confusão? – apelou.
Em resposta, ele respirou fundo e sentou-se no chão de terra. Passou a mão pelo rosto e suspirou, olhando todos da quadrilha antes de começar o discurso. Explicou-lhes que havia saído para procurar o Bruce, embora tenha deixado encoberto que precisava conversar com o amigo morto.
- Depois de cavar, eu não encontrei o corpo dele. Não havia nada ali.
- Deve ter sido um animal qualquer que destroçou o cadáver. – Chris sugeriu, balançando os ombros como se estivesse falando que dois mais dois são quatro.
arrepiou-se toda com as palavras. Forçou para simplesmente abster sua cabeça das cenas horríveis que sua mente insana já moldava. Um tigre, ou quem sabe mesmo uma raposa, arrancando os braços e devorando a carne sem o menor pudor... , por sua vez, estremeceu com o pensamento, mas meneou um não com a cabeça.
- Eu também pensei nisso, mas não há rastros. Se fossem animais, haveria carne e ossos por todos os lados, mas não tem uma só sujeira. Só pegadas de um sapato. Alguém nos descobriu.
bufou: - , às vezes eu me pergunto se você não é uma mulher com cara de homem. Tem certeza que você tem um pintinho aí embaixo?
o olhou incrédulo. Partiria para cima daquele cara na hora, com tudo, mas repensou a ação e no fim percebeu que não adiantava brigar com . Com isso, ele ia conseguir somente afastar a preocupação com o corpo de Bruce, o que ele realmente não queria no momento. A cara que ele fez, então, foi daquelas para serem eternizadas. Olhou o líder de cima a baixo e com um olhar presunçoso soltou um risinho. Sabe, aquele riso que dá vontade de avançar no pescoço da pessoa.
- Não , eu não tenho um pintinho, não. Aqui embaixo tem a Torre Eiffel. Um lugar muito visitado e requisitado, aliás.
- Só se for pelos mosquitos – murmurou .
quase gritou que a qualquer momento poderia ser almejado por também, mas segurou-se. Isso só iria prejudicar tudo e sem a quadrilha, ele não podia fazer nada. Então ele só girou os olhos, reprimindo um bufo.
- Se você se acha mais confiante assim, macho alfa, beleza – mudou de assunto. – Retomando a questão importante antes de falarmos do meu pinto, alguém sabe que Bruce está morto, aliás, deve estar ao lado do corpo dele neste momento. E se essa pessoa tem o mínimo de inteligência, sabe que o morto não pode se enterrar sozinho.
- Oh, porra, sinceramente, eu não sei qual de vocês dois é o mais ridículo! – Chris comentou.
- Será que... – Will abriu a boca, não deixando que nenhum dos dois se defendesse como crianças. Seu rosto era desesperado, o que já estava se tornando normal, mas um misto de pavor sobrenatural assustou . – Será que foram os Rengs?
- Will, você não vai mijar nas calças, né? – perguntou, aproveitando-se do medo do novato.
- , ele já não está nervoso o suficiente? Para de encher o saco do garoto! – reclamou. levantou as mãos para cima, num sinal de rendição, e murmurou um desculpa inaudível com os lábios.
- Ei, o que Will falou tem fundamento... Será que Bruce está com a quadrilha rival?
- Pelo menos ele já está morto. – deu de ombros.
-#-
Eles se organizaram para continuar a andar no dia seguinte. Resolveram que, independente de quem tivesse descoberto Bruce, tudo que eles não podiam fazer era ficar parados, muito menos voltar para a cidade. Então eles decidiram continuar a procurar a caverna enigmática. Descobrindo os Rengs, eles se certificariam se Bruce estava ou não com eles.
Entraram mata adentro, a mata cada vez mais alta. ia abrindo caminho junto com Chris, enquanto os outros catavam qualquer alimento que houvesse. Estes estavam já nas reservas, e sabe-se lá o que estariam por esperar. A próxima caverna era a sétima e está ainda estava meio distante. Se andassem sem parar todo o dia, eles talvez conseguiriam chegar à noite, exaustos. Ao mesmo tempo, eles não sabiam o que era pior: dormir no meio da mata ou não saber se poderiam dormir na caverna.
Começou a chover e ouviram-se suspiros de descontentamento. Tudo que eles precisavam era a terra molhada, que dificultava a caminhada, e o ambiente úmido que propiciava cobras, jacarés e sabe-se lá mais que animais. Pegaram seus casacos com capuz e cobriam suas cabeças.
andava ao lado de e sorriu ao avistar algumas maçãs. Fazia tanto tempo que não comia uma maçã vermelhinha e suculenta como aquela aparentava. Seu estômago roncou e ela praticamente correu para a macieira.
Ela não viu o galho a sua frente, tropeçou nele e foi com tudo para o chão. A primeira reação de todos foi rir, porque o tombo havia sido realmente muito engraçado. Quando ela não respondeu nada diante da humilhação, nem ao menos se mexeu, eles viram que era sério.
foi o primeiro a se aproximar dela. Puxou ela num rompante que a fez ficar tonta. A colocou de pé, mas se não fosse para segura-la pela cintura, ela cairia novamente. Seu rosto e seus cabelos estão repletos de terras e plantas, sua blusa, short e braços completamente sujos. Ela precisava urgentemente de um banho. Mas tudo isso fora somente um pormenor. O sangue que escorria por sua coxa até o fim da sua perna era mais assustador, e prendeu a atenção de todos.
- , olhe pra mim! – apareceu, segurando seu queixo e forçando-a a prestar atenção nele. – Onde está seu remédio?
Ele foi o primeiro a se dar conta. Já vira isso antes, no episódio que Will chantageara o grupo. Quando havia tomado um tiro e estava perdendo muito sangue. Ela ficara do mesmo jeito, a beira de um desmaio. Sem comer por muito tempo, e com diabetes, aquilo não era nada bom.
- , aqui! – retomou grosso, mexendo no braço dela com força. – O remédio, onde está? Responda! – a cutucou.
Ela finalmente pareceu acordar. Por poucos segundos olhou para ele e apontou para o próprio decote da blusa. Era ali que ela guardava o remédio. Por que não na bolsa? Se roubassem a mochila dela, ela não os teria mais, e eles eram indispensáveis, ainda mais numa situação dessas. enfiou a mão no decote da blusa de , sem pudor. Não se importava se ia tentar bater nele depois, ou expulsá-lo do grupo pela atitude, ele ia salvar sua amiga. De qualquer maneira, não esboçou nenhuma reação.
- Vocês podem, por favor, se mexer? – reclamou . – Will, vá separando os instrumentos para o curativo. Chris, vá procurar uma pedra para que consigamos cuidar do ferimento, rápido! – ordenou.
ainda estava a segurando pelo braço com extrema força, que certamente faria uma marca roxa, mas ela nem sentia no momento. Só lutava para não desfalecer de vez. que a segurava de verdade e ela apoiava todo o corpo sobre ele. preparou a injeção e deu esta na própria perna de , para que fizesse mais rápido efeito. Observou a trilha de sangue, misturada à água da chuva, que se formava no chão.
- Achei um lugar! – Chris apareceu sem fôlego pela correria.
William foi o primeiro a ir até lá. Abriu a mala e distribuiu tudo que precisava. e sentaram na pedra e segurou com o corpo as costas da moça, para que não caísse. O enfermeiro começou limpando o ferimento e passando o remédio que tinha para não infeccionar. Depois, com agulha e linha começou a costurar o corte de aproximadamente dez centímetros, de profundidade média. O sangue ainda escorria, entretanto, e uma gaze foi ali posta. Claro que isso não foi um atendimento médico e os instrumentos que tinham não eram bons, mas era o que estava à disposição no momento.
observava . Este não estava ajudando nem Will com o socorro, nem em segurá-la. Só olhava para a namorada, os olhos lutando para não derramarem lágrimas. Era assim que ele mostrava que a amava? Não a ajudando a sobreviver? O ex-militar bufou. As pessoas realmente eram estranhas.
Aos poucos, foi acordando. Deram comida a ela, a mesma maçã que ela estava querendo, e finalmente se aproximou dela. A abraçou, distribuiu beijos e fez com que ela se apoiasse nele e descansasse um pouco ali.
Foram necessárias, ao fim, três horas para que eles voltassem a andar. Agora, num ritmo mais lento. não conseguia andar direito pelo corte, e mancava a perna direita machucada. Apoiou-se nos ombros de , enquanto este lhe segurava pela cintura. O trajeto que duraria uma hora, demorou três. Já era tarde, e eles resolveram cochilar um pouco.

-#-

A chegada à outra caverna foi feita ainda no comecinho da manhã, tendo o sol nascido há poucos minutos. mancava, e agora era ajudada por . O único que deixou que a carregasse, aliás. Fora só se oferecer, ou Chris, que ele tratou de dar uma resposta grossa de que não se aproveitariam da namorada dele. Um sentimentalismo tremendo, afinal. Talvez ele pensasse que o era gay. De fato, ele pediu para que a ajudasse.
Quando olharam a caverna, a analisaram de verdade, notaram como esta era diferente, especial. Como parecia ter sido esculpida por um brilhante artista, devido à quantidade de detalhes que a ornavam. Não há quem não gostasse daquela obra de arte da natureza. Mas, ao mesmo tempo, ela fez alguns darem um passo para trás. desequilibrou e quase caiu. A caverna trazia uma instabilidade, uma insegurança, um medo. Ela, de alguma forma, mesmo feita de pedras, era... uma serpente. Como se o intuito daquele mesmo artista fosse esculpir uma cobra, e não uma simples caverna.
- Eu achei que esse dia nunca chegaria – Chris deixou escapar por entre os lábios. Eles sabiam que finalmente descobriram o enigma, a caverna. Eles sabiam que encontrariam os Rengs ali.
- Interessante, uma serpente. – exclamou. – Acho que nunca descobriria. Nem mesmo pensei nisso quando Bruce foi picado! – divagou, mais consigo mesmo do que com o próprio grupo. Estes, no fim, lhe ignoraram.
- Preparem as armas, mas não entrem atirando. Acreditem, vocês não são a porra do 007, e o jeito mais fácil de morrer é achando que não pode acontecer nada com você. – auxiliava. – , - virou para a namorada, pegando sua mão – imagino que vá querer entrar armada. – ela assentiu, já saindo dos braços de . Este foi pegar suas coisas. – Você tem certeza que não vai fazer merda? – A pergunta dele não foi arrogante, acusadora, foi... preocupada. não pode deixar de sorrir com o namorado.
- O fazedor de merdas do grupo é o William, . – ela fingiu estar séria, mas acompanhou o líder em um sorriso. – Eu vou ficar bem, sério. O corte já está cicatrizando, até.
- Ah, claro! – concordou irônico. – Tudo bem então, eu te amo – e deu um selinho na mulher.
Todos, pouquíssimos minutos depois, já estavam prontos. , e Will na frente. Os outros atrás, a cinco passos de distância, atentos a qualquer ruído. Só havia um túnel e eles atravessaram-no. De repente, as paredes se afastavam uma das outras. Havia mesas, cadeiras, televisões, computadores. E, obviamente, umas cinco pessoas apontando armas para a quadrilha. Lá no fundo, amarrado a uma cadeira, estava Brian.
“Pelo menos estamos em maior número, apesar de eu valer por meio no momento” não pode deixar de pensar “Ah, o Will também vale por meio. Droga, empatamos com os Rengs” brincou, rindo por dentro. Seu rosto, no entanto, estava impassível, concentrado no que viria. deu um passo à frente, cauteloso, e ergueu as armas para cima, rendendo-se. Quebrou o silêncio:
- Não queremos guerra. Podemos chegar a um acordo sem maiores matanças.
Jayden, o líder dos Rengs, também deu um passo à frente, ficando cara a cara com . Eles se encararam por alguns segundos, os dois erguendo o queixo para mostrar poder. Apesar de, claro, o perder nessa competição, já que suas armas estavam em cima da cabeça.
Ninguém atiraria nele, é claro. A menos que quisesse, com essa ação, decretar sua morte e de todo o grupo. Um tiro e pronto, é guerra. Todos da quadrilha estavam apontando as armas para os rivais.
- Também não atiraremos.
As armas, ao mesmo tempo, foram abaixadas. Um clima amistoso estagnou no local. Todos do Rengs continuaram o que faziam antes dos visitantes chegarem. Claro, com as armas agarradas ao corpo, mas ainda assim bem tranquilos. Jayden ofereceu comida, água e banho. Este último foi aceito. Um a um foi até uma parte da caverna que as pedras comportavam água, para tirarem a sujeira que impregnava os corpos.
No fim, todos sentarem-se para conversar. Até parecia que eram velhos amigos. Mas aquelas quadrilhas não iam simplesmente matar uma a outra, porque não é feitio delas. Eles pegaram Brian por um motivo racional, com um objetivo, e queriam atingir essa meta.
- Quando Brian vai poder sair dali? – perguntou a mesa, olhando para o irmão amarrado na cadeira e, no momento, desacordado.
- Já, já, fique tranquilo. Ele está bem, seguindo um cardápio bem nutritivo. – brincou um rapaz bem alto.
- Parte do nosso grupo foi conferir o porquê de policiais estarem circulando pela mata. – Jayden comentou, mudando de assunto. – Por isso estamos em menor número.
- Policiais? - sussurrou. – Eu acho que eu sei porquê.
- Que porra vocês fizeram? – um homem gordo levantou de supetão e irritado, bateu na mesa.
- Nada. – o olhou sonsa. – Um amigo nosso morreu. Enterramos o corpo dele em uma das cavernas.
- Vocês por acaso sabem que o fogo já foi inventado? – foi a vez de uma loirinha, cheia de ignorância, escarnar.
- E por acaso você tem algum neurônio nessa cabeça oca? – rebateu, a olhando desafiadoramente. riu, satisfeito pela atitude. passou a mão pelo braço da mulher, tentando acalmá-la. Em seguida, falou, com um tom mais calmo que o da amiga, mas ainda sim repleto de acidez:
- Claro, porque a fumaça nem ia chamar a atenção dos policiais e dos bombeiros, né?
A loirinha bufou e resolveu mexer nas unhas. revirou os olhos. Odiava garotas fúteis e petulantes como aquela. Passava uma imagem de que toda mulher era como ela. “Eca”, reclamou em pensamento.
- De qualquer maneira, eles provavelmente encontraram o corpo do cara. – Jayden voltou à questão inicial.
- O que explica o fato do corpo ter desaparecido – acrescentou , desviando seu olhar para o ex-miltar, que não mostrava reação.
O silêncio se apoderou. levantou-se, pedindo licença. Iria fazer o novo curativo para o machucado, pois os primeiros socorros já não estavam segurando o sangue, além de estar bem sujo e molhado. Sabendo onde ia encontrar água limpa, e com a mochila para ferimentos sobre um ombro, ela caminhou tranquilamente até lá, forçando-se para não mancar.
Jogou a mochila em uma das paredes e dobrou o short, para que este ficasse menor e fosse mais fácil realizar a limpeza do machucado. Já ia levantar a cabeça e sentar quando avistou um par de botas pretas a aproximadamente um metro de distância. Foi o rosto de um rapaz que ela encarou assim que procurou o dono das botas. Ele era loiro e seus cabelos caíam sobre o rosto. Estava vestido todo de preto e a olhava curioso, enquanto brincava com uma arma.
- Quem é você? – ela pegou a mochila e se apoiou nas pedras.
Ótimo, então era assim que tudo terminava. Morta no banheiro de uma caverna. Ela esbugalhou os olhos. Queria dizer para , , e até Will e Chris o quanto sentiria falta deles.
- Reng, um dos primos do Jayden. Você deve ser , estou certo?
- Como sabe meu nome? – perguntou, ainda segurando na parede.
- Como não te reconhecer? Esse cabelo, esse rosto, esse corpo...
- De onde me conhece?
- Minha mãe trabalhou muito tempo com a sua. Eu vi você ainda na barriga dela. Quando a minha mãe morreu, eu fui morar com minha tia. E aí, bom, ela era casada com um Reng. Cá estou eu. – apontou para si mesmo.
- Você não devia falar essas coisas para mim – exclamou, largando a mochila de volta no chão. As articulações dos dedos já estavam reclamando pelo peso.
- Por quê? Só porque você é da quadrilha rival? Eu realmente não me importo – deu de ombros. – Aliás, se eu morresse nas mãos de uma mulher tão bonita como você, estaria tudo bem pra mim. – piscou um olho.
o olhou como se ele tivesse retardo mental. Isso era um jeito dele flertar com a mulher, falando que ela podia mata-lo? E ele não se importava com a rivalidade das duas tribos? Qual era o problema dele?!
- Eu sei que sou bonito, não precisa me olhar desse jeito, como se eu fosse um deus grego. – sorriu presunçoso.
- Eu o encaixaria mais como retardado mental – ela rechaçou, apoiando-se no chão e acomodando-se no mesmo. Ela ainda tinha que refazer o curativo e sentia que ele não sairia dali só se ela pedisse com educação.
- Até que enfim você me rebateu! – riu. – Já estava me decepcionando com você.
- Já te falaram que você é ridículo? – ergueu as sobrancelhas.
- Já te falaram que você é gostosa? Ah, claro que sim! – bateu com uma das mãos na perna. – Esse seu olhar me impediu de pensar em uma resposta melhor.
A mulher o olhava como se quisesse vomitar e mesmo assim ele era todo paquerador? tentou não olhar os atributos físicos do rapaz. Ele estava jogando e ela não ficaria para trás. queria isso e teria isso.
- Você não respondeu minha pergunta.
- Algo me diz que a minha resposta não mudará muito sua opinião sobre mim – levantou do canto onde estava, largou a arma de lado e lentamente se aproximou dela, enquanto continuava a falar. – De qualquer jeito, você não veio aqui me procurar.
- Eu...
- Não, deixe me tentar adivinhar. – abanou a mão. – Você chegou aqui com uma careta de dor. Parecia que se esforçava para andar, o que sugere um ferimento ou na perna ou no pé. Aqui tem água, logo, você veio limpar o machucado que está na perna direita. - divagou.
- Foi fácil – resmungou ela.
- Não, na verdade não teria sido, mas eu vi o curativo quando você dobrou o short. – sorriu vitorioso.
Em resposta, ela bufou e olhou para ele, já a sua frente, com um olhar de ódio. O sorriso dele se alargou. Ela meneou a cabeça negativamente, desistindo de manter uma conversa com, com aquele... ser!
- Já que o senhor adivinho estourou sua cota de enigmas por hoje, você pode me dar licença para que eu refaça o curativo? – ergueu-se do chão, colando na parede de pedras novamente, para que ficasse ao máximo longe de , que estava bem próximo.
- Não! – exclamou ele, somente.
- Sua mãe não te ensinou a ser educado, não? – inquiriu a garota.
- Ela morreu cedo de mais pra isso – forçou uma cara triste.
- Você é ridículo! – ela sabia que não devia xingá-lo, porque demonstrava fraqueza, como se não pudesse refutar o que ele dissesse. Mas não se aguentou. Precisava xingá-lo até a quinta geração ao menos.
- Obrigado. – sorriu, mas não se mexeu.
o encarou por alguns segundos. Para a trilha onde era a saída, e para novamente. Depois apontou para ele e para a saída, com uma cara imperturbável. , por sua vez, só meneou um não com o dedo indicador. A mulher respirou profundamente para não avançar no pescoço do homem a sua frente.
- Você não vai mesmo sair?
- E perder a oportunidade de ficar ao seu lado? – fez uma negativa com a cabeça. – Eu tenho esperança que toda a sua beleza passe por uma conversa. – ela jogou sua cabeça pra trás, batendo com ela de propósito nas pedras. Talvez os crimes que ela já cometeu finalmente tivessem sendo vingados, porque aquentar aquele cara era um castigo daqueles! – Mas, também, se uma simples troca de palavras não adiantar, uma troca genética vai fazer minha prole bonita desse jeito. E ainda vai ser mais gostoso.


Capítulo 8

Depois de praticamente dizer que queria transar com a mulher, sem nenhum pudor, ela desistiu de tentar expulsá-lo. Cada coisa que ele falava a deixava mais estressada e ela sabia que só faltava bem pouco pra ela partir pra cima dele e chutar seu órgão de reprodução.
- Fazer filhos com você não será possível – ela respondeu, como se dissesse que não poderia comparecer a uma reunião. Era como se tivesse consultado sua agenda e visto que estava ocupada! – Quem sabe na próxima encarnação? – forçou uma voz animadora. Ele forçou um careta. – De qualquer jeito, eu te chamo qualquer dia desses para você assistir uma troca genética minha com o meu namorado, beleza?
- Não pode ser nem um ménage a trois? Porque aí ainda duvida-se da paternidade! – exclamou maroto.
- Depende, você aceita ficar só atrás? – ela rebateu, o olhando maliciosa.
- Deixe-me ver – pegou a mão dela e ela tremeu pela pele fria. A fez girar, uma volta de 180 graus. Tudo para que ele visse a bunda dela.
- Oh, esqueça! – murmurou , assim que percebeu sua intenção.
- Desistiu? Ficou com medo de um sim? – ela voltou a olhar para ele, mas logo ergueu os olhos em sinal de exaustão.
- A conversa sobre sexo anal está muito agradável – a voz irônica dela afirmou – Entretanto, receio que tenho que me concentrar para refazer o curativo. Este precisa ser feito com urgência.
- Tudo bem, então – deu de ombros. – Meus dois anos de medicina vão ajudar em alguma coisa.
Ela já ia reclamar que não queria sua ajuda, mas a fala dele desviou sua atenção. Faculdade de medicina? Ele estava mais uma vez a sacaneando, não?
- Dois anos de medicina? – ela forçou um riso.
- Não acredita?
- Hm, deixa eu pensar... – fingiu uma dúvida. – Não! – declarou com firmeza.
Ele bufou antes de responder, abrindo um pequeno sorriso:
- Você faz pouco caso de mim, né? – bufou novamente, divertido. Seu tom de voz era outro, mais rouco, límpido. – Não é porque estou aqui agora que nunca estudei, ou quis fazer outra coisa. – mexeu nos fios que invadiam seu rosto. – Veja você, por exemplo, uma advogada criminosa.
gelou. Sem mexer a cabeça, seus olhos foram de um canto a outro do ambiente e retornaram aos olhos de . Ela se esqueceu de como se respirava.
- Como... como você sabe? – a pergunta saíra com dificuldade.
- Te abalei? Queria que a primeira vez que eu te deixasse abalada fosse na cama, mas tudo bem. – ele montou seu sorriso cafajeste que já estava tornando-se simbólico. Só que, dessa vez, não o contestou. Estava paralisada.
- Sem brincadeiras agora, por favor. Quase ninguém sabe que fiz faculdade de direito. Não é possível que você saiba.
- , - ele suspirou – sua mãe me procurou por muito tempo. Antes mesmo dos Rengs se formarem, antes de tudo que estamos vivendo, ela me visitava todo ano para me contar as novidades. Isso foi até ela morrer. – ele desviou o olhar. – Eu tenho um álbum com suas fotos, desde criança, até já adulta. Eu sempre quis conhecer você.
- Por que ela nunca me falou de você? Por que ela nunca nos apresentou? – olhava em seus olhos, pedindo uma explicação.
- Eu não sei. – meneou um não com a cabeça.
- Você nunca a perguntou? – a voz dela ergue-se um oitavo. – Seu... idiota! – deu-lhe um soco na barriga, o empurrando para trás.
- Claro que sim, claro que eu a perguntei! – ele asseverou irritado, segurando a mão da mulher que antes desferira um golpe contra ele. – Ela nunca... nunca respondeu – engoliu em seco. – Sempre mudava de assunto, perguntava como estavam minhas namoradas... – sacudiu a cabeça, como se quisesse esquecer as memórias. - Nós podemos mudar de assunto também?
mordeu o lábio inferior e, receosa, assentiu levemente. Parecia mesmo que ele não sabia. Ela queria se lembrar da mãe, entender as coisas que se passaram, tudo que estava obscuro. Parecia tão difícil. E, ao mesmo tempo, diante de também obsessão, ela precisava focar qual era sua missão no momento.
- Que assunto?
- Que tal sentarmos para cuidar desse ferimento enquanto falo de minhas namoradas? – ele havia voltado. Aquele sorriso, aquele jeito.
- Estou pressentindo que será bem divertido – ela deu língua pra ele.
-#-
não sabia se devia acreditar na suposta faculdade de medicina, mas assim que ele pegou os instrumentos e tocou a pele da perna dela, ela soube que ele tinha jeito para aquilo. Ele retirou o antigo curativo, e começou a limpar com um algodão molhado o local do corte que, surpresa, ainda não havia cicatrizado.
- Quando você se machucou? – a voz de não era debochada, era bem séria, profissional.
- Hm, ontem à noite. – ela respondeu no mesmo tom. Ela viu a careta que se formou no rosto dele.
- Isso já devia estar fechando, mas ainda há sangue circulando.
- . – foi a primeira vez que declamara o nome dele. Ele a olhou nos olhos, parando com sua mão na coxa dela. – Eu tenho diabetes.
- Por que sua mãe nunca me contou isso? – foi a única coisa que ele falou.
- Não sei. Por que ela tinha que ter te contado tudo sobre a minha vida? – rebateu, irritada. Ele se sentia mesmo no direito de saber cada coisinha que acontecia?
- , – ele suspirou – você foi o que mais se aproximava de uma irmã para mim. E irmãos ficam preocupados uns com os outros.
- , eu nem ao menos o conhecia! Nunca tinha ouvido minha mãe uma única vez falar de você! Ela não tinha o direito de te contar tudo sobre mim sem eu nem saber! – refutou ela. Ele assentiu, fungando.
- Você está certa, me desculpe. – ele voltou a se concentrar no ferimento.
- Tudo bem - concordou.
- Você precisa levar mais a sério esse ferimento. – retomou. - Para você, com diabetes, até um mísero corte é preocupante. Aqui não tem equipamentos nem conforto para você melhorar, tem que se tomar cuidado.
- Eu escuto isso desde que eu tinha cinco anos e ralei meu joelho. – ele fez uma careta pela comparação. – Sério, eu estou bem. Já passei por situações bem piores.
- E bem melhores também. – sorriu de lado.
- Você e essa sua mania de achar que sabe tudo sobre a minha vida! – reclamou. Ele deu de ombros, fingindo estar chateado, mas riu. Já estava suturando o pouco de sangue entravado nos pontos dados por Will e passaria em seguida para um remédio que ardia bastante.
- Acho que posso escrever um livro sobre sua vida, mesmo te conhecendo hoje. – comentou.
- Ah, é? Tudo bem, vejamos se você sabe tudo sobre mim! – ela propôs.
- Eu nunca recuso um desafio! Só não vale depois que sua mãe morreu, certo? – ele se mexeu, se sentando melhor no chão. Dividia a atenção entre o corte e o rosto da mulher.
- Qual é minha comida favorita? – ela ergueu as sobrancelhas.
- Essa é fácil. Macarrão com almôndegas.
- Acertou – forçou uma cara triste. – Qual é o meu livro favorito?
- A arte da Guerra. Aliás, esse livro é um dos mais incríveis que eu já li. – ela concordou com a cabeça.
- Meu primeiro beijo foi com quantos anos?
- Selinho ou beijo de verdade?
- Beijo de verdade.
- Me pegou! Doze anos?
- Tem certeza que você não sabia? – ele comemorou por ter acertado. – Essa, agora, eu duvido que você acerte. Com quantos anos eu deixei de ser virgem?
- Hm..., chutando, 16?
- Errou – sorriu.
- Foi com quantos, quinze? – tentou mais uma vez.
- Não! Com vinte.
- Fala sério! Vinte anos? Com vinte anos eu já tinha transado com metade das garotas da minha cidade.
- Por isso que eu não me chamo – o olhou, sonsa.
- Não, sério, vintes anos é muito tarde para uma primeira vez, mesmo para uma mulher. Ao menos que ela queira casar virgem. Você já foi casada? – ela negou com a cabeça, o olhando como se ele fosse maluco. Talvez fosse mesmo. – Então não entendo. Sua mãe me contava que você tinha três, quatro namorados por ano, eu pensava que você dava ao menos para um deles.
- Obrigada pelas bonitas palavras - rechaçou ela. – Eu sempre me dei muito bem com os garotos, gostava do que eles gostavam de fazer, então sempre havia um garoto apaixonado por mim. A gente até começava a namorar, mas eles achavam que se eu era toda desencanada desse jeito, eu devia querer transar com eles sempre. Quando eu dizia que não era bem assim, eles me largavam. – mordeu o lábio.
- Sinto muito.
- Não sinta. Eles eram grandes filhos da puta. – riu. - Eu perdi minha virgindade com um cara por quem namorei três anos. Demorei quase todos esses anos para me entregar.
- E por que terminaram?
- Eu achei o documento dele muito pequeno – eles riram.
O ambiente se suavizou. cobria o machucado, agora, com uma gaze e prendia-o ao corpo da mulher. O silêncio se instalou por alguns minutos. Ele já estava nos toques finais, quando a mulher se lembrou de algo:
- Ei, você me disse que me considerava quase uma irmã. – ele assentiu, dando a deixa para que ela continuasse. - É normal você querer transar com a sua irmã? Ou é só uma ocasião em especial? - Ele deu o dedo do meio pra ela. Ela riu.
- Você fica bem mais bonita assim, feliz. – comentou ele, sorrindo. Ela resolveu não respondê-lo. Ele se aproximou ainda mais dela e colocou a mão na coxa boa. ficou nervosa. – Posso te beijar?
- Não. – respondeu, mas não se afastou dele. – Mas me admira depois de todo esse seu joguinho, você perguntar.
- Eu não quero estragar tudo com você. – ele se esforçou para olhar nos olhos dela, que brilhavam. Em seguida, fechou os olhos. Não podia fazer isso.
- , o que está acontecendo aqui? – uma voz adentrou ao espaço deles. As pisadas eram fortes e a mulher pode sentir seu braço ser puxado para cima com agressividade. Soltou um gruído. – Cada vez que eu te deixo sozinha agora você se joga para outro cara, como uma puta? – gritava tanto em seu ouvido, segurava tão forte em seu braço, que os olhos dela se inundaram de lágrimas.
procurou por , e o encontrou ainda sentado, um olhar assustado em cima deles. , por sua vez, olhava para e sentia vontade de chorar junto com ela. Ela lhe suplicava silenciosamente para tirar ela dali.
- Ei, o que você está fazendo, meu chapa? – tentou ser amigável e, assim que levantou, cutucou para chamar atenção. – Não precisa de tudo isso né, nós só estávamos conversando.
- Cala a sua boca, seu viadinho de merda! – com a mão livre, deu um soco no rosto de , que voou para longe. De fato, era muito maior e mais forte que o outro. E covarde também.
Assim, ele saiu dali, com a mochila em um dos ombros e segurando a namorada pelo braço com extrema força. Ela reclamava, ele a xingava. não conseguia entender como ainda conseguia amar um cara louco assim.
-#-
Quem nunca se arrependeu de um relacionamento? Quem nunca achou que aquele cara seria o príncipe encantado, quando ele não passava de um sapo? E, digo, coitado dos sapos! Quem nunca achou que havia encontrado a cara metade, aquele que lhe acordaria com um café da manhã e uma rosa de pétalas abertas? À noite, a faria mulher, a faria sentir amada mais do que qualquer outro ser no mundo. Declamaria que era sua vida, que era seu amor, seu tudo. E que sem ela não viveria.
Agora, pedia somente um que não fizesse aquelas coisas. Não a agarrasse daquele jeito, não a maltratasse, não a tratasse como um cachorro que desobedeceu a suas ordens. A xingando como se ela fosse verdadeiramente uma daquelas vadias que ele pegava antes, como se não fosse fiel a ele e como se não o amasse.
No começo, sonhara em construir uma vida com ele. Saindo do crime, talvez até trabalhando como advogada, em outra casa, cidade, vida. Dias e noites felizes, alguns filhos lindos e uma vida plena e satisfeita. Mas, agora, ela só queria que ele parasse com tudo aquilo que estava falando para ela. Esta, já não chorava mais, já ignorava tudo aquilo que ele dizia, sabia que até ele sabia que aquelas palavras não passavam de raiva.
Mas a dor, ah, esta não a deixava. Era tão funda, tão grande, seu coração apertava. E não era o gesto de comprimir seu braço que mais a incomodava. Nem o ciúmes dele. Era... era tudo. Tudo, cada coisinha que ia somando-se a outra e tornando-as grandes aberrações, que podiam acabar com o mais longínquo e amoroso relacionamento. E... e o exagero. O exagero nas ações, nas palavras, nas atitudes, nos sentimentos.
Ela queria uma vida com ele. Ah, como queria! Mas ficar submissa a ele, isto ela já não estava mais aguentando. Chega a um ponto na vida em que sua caixinha de paciência acaba. E a dela, havia acabado de vez, pelo menos achava. Sabia que sua cabeça estava latejando e seu coração já não mais suportava. Sabia que por mais que o amasse, que o quisesse bem, que o quisesse ao seu lado, a amando, não poderia aceitar continuar algo assim. Estava farta.
Farta por tudo. Pelo quanto havia pedido para que ele melhorasse, e de nada adiantara. Por tudo que ele já a fizera se submeter na frente dos outros. Por tentar mostrar aos outros que era seu dono e que ela faria tudo que ele ordenasse. Estava farta que durante há uma hora que se seguiu, tivesse a prendido num dos túneis, ficando de frente a ela e deferindo palavras ruins e fúteis a amada. Ela, durante todo esse tempo, enquanto seus pensamentos borbulhavam na cabeça, só o observava expressar um olhar de desgosto. Não, mais do que isso. Era mais como se tivesse nojo dela. Ela se perguntava por que ainda estava com ele, porque ainda lutava para que o amor deles desse certo.
Não soube como, de repente, ele parou. Mas, de fato, ele se controlou e parou de xingá-la. Suspirando profundamente, sentou ao lado dela, encostando suas costas na parede, e abaixou a cabeça por um tempo. Depois, meneando a cabeça negativamente, ele recomeçou a falar, agora bem mais calmo:
- Me desculpe – engoli em seco. – Por favor, me perdoe, . Eu... eu não queria ter feito isso. – Todavia ela estava decidida.
- Mas você fez! Você me agarrou como se eu fosse um bicho, não, uma planta, algum ser que não tenha alma e controle sobre si mesmo. – reclamou.
- Eu não queria te machucar – ele passou a mão pelo roxo do braço da namorada que ele mesmo havia feito minutos atrás.
- Tire as mãos de mim – mandou calma, afastando o braço dele. – Me machucou. Mais do que somente o braço, além disso. – suspirou. – , você sabe. Você sabe o quanto meu coração é machucado por você cada vez que faz isso.
- Eu estou arrependido, por favor. – suplicou.
- Arrepender-se sempre depois de um erro não vai tornar esse erro melhor. Você sempre foi assim. Faz 1001 besteiras e aí vem pedir desculpas, todo arrependido, falando que nunca mais vai fazer algo assim. – negou com a cabeça. – É mentira. Você vai fazer sempre. Não sei por que, nem sei se você tem culpa, realmente, mas eu não posso mais aceitar isso.
- , não faça isso. Não... não termine comigo – segurou o pulso dela por impulso. Ela olhou para o pulso, o que o fez notar o gesto e retirar a mão de lá.
- É... – ela riu amargamente – é exatamente disso que estou farta. De toda essa possessividade. , um namoro não significa, por mais que a gente ame a pessoa, que nós somos donos dela.
- Eu sei disso – sussurrou.
- Não parece. Eu só estava conversando com ele. Sabia que ele conheceu minha mãe?
- Eu nem ao menos sei quem ele é, . Mas ele estava tão próximo de você, com a mão em sua coxa! – argumentou, irritado.
- Durante minha conversa com ele, - ela continuou tranquila, não deixando que a raiva de a invadisse - eu descobri que ele largou a faculdade de medicina. Ele, assim como William, é profissional, só estava me ajudando, fazendo o curativo como seu seguidor fez da primeira vez. Nenhuma diferença – mentiu. – Você enxerga a maldade no que quer.
- Eu prometo melhorar. – ele gemeu em resposta, ela riu de novo, amarga.
- Você já prometeu isso tantas vezes, , tantas. Eu já perdi as contas.
- Eu gosto de você. Amo você.
- Eu também. – passou a mão pelo rosto. - Também amo você, mas não quando você me machuca. Amo você, mas não quando é possessivo. Amo você, quando é como qualquer outro cara normal. Mas você às vezes se transforma em um monstro. Um monstro que eu não sou capaz de amar.
Ele engoliu em seco e assentiu lentamente. Fechou os olhos e soltou o ar pesadamente. Voltou o olhar para e passou as costas da mão pela bochecha dela. Desenhou os lábios da mulher com o dedo e ela se segurou para não arfar. Apesar de tudo, era tão difícil falar não pra ele. Porque quando ele voltava a ser só o normal, bonzinho, era encantador. Seus olhos, seu mínimo sorriso, seu toque.
- Me dê uma chance, , só uma. – apelou. - Só até terminarmos a missão. E, aí, então, estamos bem, seja qual for a decisão. – Ela não pode deixar de sorrir pela citação de uma música que adorava. Ele sabia.
- Tudo bem – assentiu, mesmo querendo se matar por ceder. – Mas você sabe que vão mudar as estações, mas nada vai mudar, né? – completou o trecho da música.
- Claro que vai. – afirmou.
- Tudo pode estar diferente, mas não isso. – meneou um não com a cabeça. – Você não devia ter citado essa música, .
- Por que, ?
- Porque ela é triste. – fungou. – Porque ela diz que as pessoas acreditam que o relacionamento seria pra sempre, mas que pra sempre não há, este sempre acaba. Eu já acreditei que nós seriamos para sempre.
- Eu ainda acredito, ainda tenho esperanças – pegou a mão dela, fazendo carinho na mesma. – E escolhi essa música, porque além de ela ser uma das que você mais gosta, ela diz que não importa o que se passou antes, porque eles estão voltando para a casa. – sorriu e lhe deu um selinho.


Capítulo 9

- Um dólar por seus pensamentos. – sussurrou no ouvido de . Os dois estavam sentados no chão de um dos túneis da caverna, abraçados.
- Eu não preciso de dinheiro – exclamou, baixinho. - Na verdade, eu preciso de liberdade. – encarou o namorado nos olhos.
- O que você quer dizer com isso? – ele dobrou a testa, em confusão.
- Eu – suspirou – não aguento mais essa vida.
- Não vai demorar muito e nós sairemos daqui e voltaremos para a nossa rotina... – afagou a mão de .
- Esse é o problema, a rotina que vivemos. Eu estou farta. Eu entrei nesse mundo por um motivo: um motivo que nunca esteve tão próximo de ser cumprido. Você verá, em poucos meses, você entenderá qual é. E quando eu finalmente conseguir, tudo estará acabado. Então, talvez, eu vá me entregar à polícia.
- Você ficou maluca? – se exaltou. – Você vai morrer lá!
- Pode ser. – deu de ombros. – , eu fiz Direito. Eu fiquei cinco anos sentada em uma cadeira aprendendo que devemos ser justos.
- Nós podemos fugir para a América do Sul – ele mexeu nos cabelos, nervoso.
- Eu não quero mais fugir. Nós fugimos não só da polícia, mas de nós mesmos. Desvencilhamo-nos cada vez mais do que éramos quando crianças. Não conseguiremos lembrar de nossas origens, costumes.
- E na cadeia você vai se encontrar? Vai ficar mais feliz? – ironizou.
- Você não entende – meneou a cabeça. – Eu olho famílias felizes, de mãos dadas, e me pergunto por que nunca tive o direito de ser assim! – seus olhos se encheram d’água. – Porque, por mais que minha mãe tenha tentado me criar como qualquer criança, nós fugimos todo ano para lugares diferentes e eu tinha que matar animais na floresta com a arma que levava no bolso. Eu não quero continuar assim.
- Acho que você anda vendo filmes demais! – brincou. – Virou menininha agora? Que sonha em casar e cuidar dos filhos? , isso não tem nada a ver com você!
- Eu sei. Mas esses dias me fizeram mudar, sabe. – fungou, as lágrimas escorrendo. – Eu não preciso de nada tradicional, nada demais, mas eu preciso de alguém ao meu lado. Eu me sinto solitária demais.
- Você me tem.
- Eu quero mais do que isso. Quero um lugar para ficar. Quero ter uma criaturinha minúscula, que só chore, cague e coma, quem eu mais vou amar no mundo. Eu preciso de incentivos desse para viver e tentar ser feliz. – limpou o rosto. – E eu preciso saber: você está disposto a abrir mão da vida no crime para construir isso comigo?
- , eu te amo – passou a mão pelo rosto da namorada e aproximou-se para beijá-la. Ela se afastou.
- Mas...?
Neste instante, um do grupo do Rengs chamou atenção do casal e avisou-lhes que a comida estava na mesa. Quando estes lhe responderam que já iam, o rapaz acrescentou que dali a pouco não restaria um só grão. Segundos depois, William apareceu com a mão cheia de comida.
- Cara, que saudade de comida de verdade! – o garoto falou, com a boca cheia de pão, as migalhas voando cada vez que ele soltava uma sílaba.
- Porra, Will! Pare de cuspir essa merda na minha cara! – reclamou , passando a mão pelo rosto, embora a comida não tivesse ultrapassado centímetros de distância do rosto dele. deu um tapa de leve no braço dele, o repreendendo.
- Eu preciso comer pão! – a mulher levantou num solavanco, limpando com as mãos a parte de trás do short enquanto falava. – Vejo vocês por aí.
praticamente correu para alcançar o último pão do cesto, ignorando a dor na perna ao fazer isso. A milímetros de distância, um braço bateu no seu e pegou o ultimo pão, que parecia ainda mais suculento agora. Ela deu um gritinho histérico e olhou para o ladrão.
Nada mais, nada menos que ele. Aquele que não satisfeito em irritá-la, anteriormente, por minutos a fio, acabava com toda a esperança de vida dela. A feria como se depositasse um tiro bem no coração. Ok, bem menos que isso, mas a chateava cada dia mais. Ou hora, visto que não havia nem um dia que se conheciam.
- A segunda coisa que você mais gosta de comer, pão. – ele exibiu um sorriso sacana. – Irmãzinha. - Ela bufou.
- Assombração, olá. – murmurou falsamente feliz.
- Assombração, é? Por quê? Eu vago pelos teus sonhos e não te deixo dormir? – riu levemente com a própria piada.
- Você me assusta e aparece só para me atormentar. – retrucou.
- Oucth – ele fez bico, fingindo estar chateado. – Essa doeu até no meu coraçãozinho de pedra.
- Você vai falar tudo no diminutivo mesmo? Irmãzinha, coraçãozinho... Tem como ser mais irritante?
- Se eu estiver afim, sim. E você vai escutar, sabe por quê? Porque eu tenho uma coisa que você quer muito... – debochou.
- Olha, eu detesto te desapontar, – forçou as palavras – mas ainda tem uma mesa cheia de comida, eu não vou morrer só porque não comi pão.
- Ah, o pão? – ele o levantou, olhando-o. - Na verdade, eu não estava falando dele. Referia-me a mim mesmo. – se olhou. – Eu sei que sou um pedaço de mau caminho, tentador – deu de ombros.
- Argh, como você é ridículo! – respondeu com raiva, embora quisesse rir.
- Argh, como você não acha outro adjetivo para me xingar! – revidou, imitando a voz de .
- Chato!
- Você fica linda assim.
- Idiota!
- Gostosa!
- Eu quero esse pão! – exclamou, rindo depois.
- Eu sei. – assentiu com um sorriso. – Como eu sou uma pessoa muito boa, – ela fez uma careta para ele – eu vou dividi-lo com você. Vamos!
Ela parou, analisando suas opções. Desistir daquele louco e comer as outras opções que tinha ou batalhar por seu pão de cada dia. Ok, não exatamente isso, mas vocês entenderam.
- Para onde? – ela perguntou, já o seguindo.
- O lugar do nosso primeiro encontro. – respondeu.
- Primeiro encontro...? – repetiu , confusa.
- É. Sabe, onde você me viu pela primeira vez, quando foi refazer o curativo.
- Ah, sim. – murmurou.
- Achou que eu lhe ofereceria um pão para um encontro de verdade? – virou o rosto para ela. – Mas, ainda não sendo um encontro de casal e tal, você pode me agarrar quando eu quiser.
- Só se for para ter bater. – respondeu, dando-lhe língua.
- Quem dá língua, pede beijo. – piscou o olho para ela.
- E quem pisca o olho, pede um soco. – disse a primeira coisa que veio a sua cabeça. parou, a fazendo quase esbarrar nela e a olhou com uma cara meio confusa:
- Você sabe que foi horrível, né? – ela deu de ombros.
- Estou tentando me rebaixar ao seu nível, sabe como é. – ela deu de ombros. Ele assentiu lentamente, fingindo estar convencido, e virou-se para continuar a andar.
finalmente reparou no local. As pessoas iam e vinham, conversavam, enquanto enchiam a barriga. Apesar de carregarem armas, rolava um clima amistoso. Talvez não fosse só ela que conversava com os rivais. Vai entender.
- Chegamos! – soltou , já se jogando no chão e se encostando-se à parede.
- Gentileza, uma de suas melhores qualidades. – não pode deixar de comentar, enquanto com dificuldade, por causa do corte, sentava-se ao lado dele, com uma distância de dez centímetros.
- Mamãe não pode me ensinar – esboçou uma cara triste forçada. – Esse corte ainda está aberto? – mudou o tom de voz. Acabou dando o pão inteiro para ela, que o mordeu e o engoliu inteiro, deliciando-se com o gosto, antes de responder.
- Anh, não sei. Na verdade, não estou ligando e tenho raiva de quem está. – mostrou os dentes. – E pare de culpar sua mãe por você ser uma pessoa de merda. – o tom dela foi divertido, mas diferente de todo o resto da conversa, ele não levou na brincadeira.
- Você prefere os caras que te dão marcas rochas nos braços? – apontou para o braço descoberto dela e a marca de mais cedo feita por . – Que a tratam como objeto? Esses são os bonzinhos da história e eu sou a merda?
abaixou a cabeça. A conversa, apesar de tudo, era divertida. Por que tinha que tocar naquele assunto? Trazer todo aquele clima pesado. O que falar? Como explicar?
-Nós temos que discutir isso?
- , o que ele faz com você é crime. – ela riu, amarga.
- E eu sou a santa? – retrucou, cheia de sarcasmo, e olhou diretamente nos olhos dele, que brilhavam como nunca.
- Nenhuma mulher, por mais ruim que ela seja, merece o tratamento que você recebe.
- As pessoas têm lados bons e ruins. Você só conheceu o lado ruim dele. – argumentou.
- Sim, as pessoas têm defeitos. Elas podem ser tagarelas, chatas, metidas, até mesmo ciumentas. Só que o defeitinho dele não é normal. Mas até aí, eu até entendo, ele não é, nem nunca será, o único. Há vários por aí espancando suas mulheres. O que me assusta é você deixar. Você que me rebate quando falo uma mísera coisa que você não gosta, você que parece ser tão forte, independente, sábia. E você se torna uma bonequinha ao lado dele.
- Você não me conhece! – levantou a voz. – Não sabe nada de mim! Você pode ter conhecido minha mãe, pode me considerar uma espécie de irmã, pode ter conhecimento sobre as porras que eu gosto, mas você não havia trocado uma palavra comigo antes de hoje, você não sabe quem eu sou! Muito menos o que me tornei depois que minha mãe se foi! Você não sabe nada de mim e por mim nunca vai saber!
- Desculpa, - levantou as mãos para cima – mas, na verdade, quando a gente era criança, eu dizia oi e você respondia, o que é considerado uma conversa...
Ela ergueu-se tão rápido que se sentiu, por um segundo, tonta. Se afastou dele e olhou para com vontade de mata-lo. Como ele podia ser tão... ridículo? Faltavam palavras para descrevê-lo.
- Não que você vá sentir alguma vez na sua vida, diante do que você é, mas o que eu sinto pelo , meu namorado, se chama amor.
E diante disso, saiu.
levantou-se e foi até a água. Enfiou sua cabeça lá dentro e depois de alguns segundos, retirou-a, molhando toda sua roupa. Ele não se importava. Só queria esquecer o que acontecera ali. O que estava acontecendo na sua vida.
As lembranças de pequeno sempre foram fortes, mas agora invadiam sua mente a todo o momento. Ainda se lembrava da bebê , que não parava de mexer os bracinhos e perninhas enquanto acordava. Gargalhava gostosamente. Ele sempre fora encantado por crianças menores que ele, então ele tentava brincar com ela, mas era muito pequena e nada entendia.
Eram dias felizes, aqueles. Até que, de repente, se viu sem mãe, e com os tios. Cresceu tentando se envolver o quanto menos no crime. Conseguiu até a faculdade. A mãe de sempre o encontrava na porta do colégio, lhe contava histórias que ele muitas vezes se recusava a escutar. Mas, agora, tantos anos depois, ele sentia falta.
É engraçado como a vida é. Quando pequenos, a mãe dele e a de viviam repetindo que eles se casariam. Amar-se-iam, sabe, aquelas coisas. E depois de tantas reviravoltas, ele achou que nunca mais a encontraria. E de repente, a encontrou. Mais de vinte e cinco anos depois, uma mulher.
achara que ele não sabia o que era amor, e realmente não sabia. Estava confuso. Confuso porque queria tratá-la como irmã, mas sentia uma atração incontestável por ela. Queria, mais que tudo, beijá-la e fazê-la sua. Mas, isso não bastava. Queria também protegê-la e vê-la feliz. Talvez seja melhor chamá-la de prima, pensou ele, rindo em seguida.
-#-
estava sentado à mesa, conversando com Chris e , mas assim que viu , virou seu corpo na direção dela e a esperou chegar mais perto dele.
- Você sumiu. – murmurou. Ela somente rompeu o espaço entre os dois e o abraçou. O abraçou tão forte que seus braços doíam. a envolveu e lhe deu carinhosos beijos no pescoço. – Ei, o que foi, meu amor? O que houve?
- , nós podemos ir dormir? Por favor, eu não aguento mais. – ele assentiu e a rodeou pela cintura, se levantando e se despedindo dos outros.
- Me conte, querida, o que houve. – retomou, quando eles já estavam em um dos túneis, bem distantes de qualquer um.
- Estou confusa, confusa demais. – suspirou.
- Tudo bem, tudo bem. – fez carinho em seu braço. A deitou no chão e em seguida ficou ao lado dela. – Encoste-se ao meu braço e durma, querida. – bagunçou os cabelos dela e lhe deu um beijo na testa.
Ela se recostou nele, de lado, e fechou os olhos, revivendo a briga de minutos atrás. não queria pensar naquilo, não agora. Sabia que, no fundo, apesar de tudo, estava certo. Uma coisa que sua mãe sempre lhe ensinou foi a se colocar no lugar das pessoas e se estivesse no lugar de , faria a mesma pergunta. Talvez não efetivasse o questionamento, mas com certeza sua mente tentaria achar uma resposta.
Por que, afinal, ela mudava tanto quando estava ao lado de ? Era mesmo o amor? Só o amor, quatro letrinhas, uma palavrinha tão pequena, faria esse estrago todo? Talvez. Só de pensar sua cabeça ameaçava a entrar em choque. Então ela resolveu deixar o modo intelectual e pensar nas necessidades básicas dela. O que, no momento, se resumia a um carinho especial.
beijou o pescoço do namorado, acelerando momento a momento. Ele logo notou que não era hora mais de dormir. Mexeu-se e sorriu para ela, já se preparando para mudar de posição. Ela o puxou e sussurrou:
- Vamos fazer amor, tranquilamente. O mundo não vai acabar. Nós temos todo o tempo. Estou precisando de um carinho. – sorriu brevemente.
assentiu e começou a beijá-la. Tão calmo, aproveitando cada segundo, sem o desespero corriqueiro dele. Mas isso durou pouco. Logo ele estava tirando a blusa dela e atacando seus seios. É, talvez tudo com ele tivesse que ser intenso mesmo.
Que seja, ela pensou, mordendo todo o rosto dele e beijando-lhe os lábios ao fim. Tirou o sutiã sozinha e ele sorriu satisfeito. Deitou em cima dela e avançou contra o colo nu de . Ela, por sua vez, puxava o botão da calça de , tentando tirá-la, enquanto segurava-se para não gemer a todo o momento.
E, de repente, ela parou. Quer dizer, não propriamente dito. Ela desistiu de abrir o cós da calça dele, mas ainda gemia a cada mordida ou sorvida dele. Mas, ela parou para pensar. Pensar como sempre era assim. Como em todo o sexo era a mesma coisa. Era uma coisa como ele adorava os peitos dela, todavia esse não era o problema em si.
Hoje, especialmente, ela havia pedido, mais do que o sexo, carinho. O carinho que uma mulher triste quer receber do namorado. Afinal, eles não servem para sexo. Isso, qualquer um da esquina serve. O relacionamento é para você ter alguém para dividir os momentos alegres e para se apoiar nos momentos tristes. É receber algumas palavrinhas lindas quando você está meio depressiva. Receber um abraço quando está triste. Ou receber um carinho quando está carente. E era tudo que ela queria.
Só que ele só via o sexo em si. Ela nem se importava no desejo dele enfiar o pênis em sua intimidade, desde que houvesse mais do que isso. Será que o que eles faziam, mesmo com anos de namoro, era sexo? Quer dizer, sexo e não amor? Mais do que nunca, ela sentia falta das coisas básicas. Dos beijos de tempos em tempos na boca, dos sorrisos que podiam ser trocados e das breves perguntas, para mostrar o quanto se importava com a outra pessoa. Porque, afinal, naquele momento, qual era a diferença do transar com uma prostituta ou com ela?
Ele tirou sua própria calça e a calcinha dela e penetrou no sexo dela, mexendo-se insaciável. Ela gemia, clamava por mais, numa superficialidade tremenda. Porque quando ele ia finalmente gozar, e consequentemente saiu de , terminando por ali o que ele chama de fazer amor, ela agradeceu por ter chegado ao fim.



Capítulo 10

Levantar no dia seguinte fora difícil para a . Suas pálpebras estavam pesadas e ela não sabia se a escuridão que a caverna fornecia era bom ou ruim. Quando tentou levantar, sentiu-se tão pesada que caiu para trás, batendo as costas no chão de pedra frio.
A dor dela foi tanta que ela atravessou o céu e voltou a Terra em míseros segundos. Então ela ergueu minimamente a cabeça e notou o que tinha de errado. estava com metade de seu corpo em cima dela. O cotovelo dele machucando lhe as costelas, uma de suas pernas em cima da perna machucada de .
Ela respirou fundo, tentando aliviar a dor. Metade do seu corpo estava dormente e a parte que ainda sentia, pulsava pelo peso. Engoliu em seco e, devagar, começou a chamar .
Pareceu uma eternidade, mas poucos minutos depois ele notou que estava em cima da namorada, a machucando, e pulou rapidamente, desculpando-se por minutos a fio.
- Está tudo bem, . – exclamou, logo depois de finalmente levantar, alongando o corpo.
- Como está essa perna? – inquiriu ele, olhando para o machucado. Ela somente a encarou, com uma cara de tédio, e fez questão de ignora-lo. Tudo porque ela já não aguentava mais essa pergunta! Ela, a pergunta, já estava se transformando em um segundo “tudo bem?”; estava se tornando uma pergunta praxe de todo o diálogo. Um porre.
Ela saiu dali sem falar com o namorado. O mesmo olhou as costas de enquanto ela se afastava mancando, tentando entender a falta de palavras da mulher. Desistiu quando sentiu o cansaço de seu corpo. Dormir era a melhor coisa que podia fazer agora.
, por sua vez, avistou , o único de sua quadrilha quando, faminta, foi procurar alguma coisa na mesa principal para comer. Os olhares deles se cruzaram e eles sorriram, enquanto ela andava forçando a perna ruim e sentava ao lado dele.
- Rola algo pra comer por aqui? – foi a primeira coisa que a mulher perguntou, colocando as pernas pra cima do banco e as circundando com os braços.
- Bom dia pra você também, . Eu estou muito bem, obrigado. – brincou.
- Me desculpe, querido – forçou um bico. - Já que você já respondeu as perguntinhas básicas, vou dispensá-las. Eu estou morrendo de fome, sabe, então você pode responder a minha questão?
- Eu não sei. Você sabe, não estamos em um hotel, não dá pra acordar e pedir um banquete. – deu de ombros. A mulher assentiu, concordando. – Mas, pelo que te conheço, a noite foi boa ontem. – sorriu safado. – Você só tem fome depois que acorda quando gastou muitas energias.
- Você me conhece muito – empurrou o amigo levemente, rindo em seguida. - Aliás, , eu preciso te contar umas coisas.
E começou. Contou sobre e tudo que lhe irritava nele, contou as poucas horas que passaram juntos. Falou sobre a noite com o namorado e o intrigante fim desta.
- Nossa, esse Reng mexeu com você. – ele comentou, no fim de tudo.
- Ele não é um Reng, na verdade. – ela argumentou. – E ele não mexeu comigo desse jeito, só me irritou.
- Sendo ou não filho de um Reng, ele pertence a outra quadrilha e continua sendo, sim, seu inimigo. – ela fez uma careta. - E desde quando você dá tanta conversa pra quem te irrita? William, por exemplo. Você não o suporta, então você o ignora. Mas esse cara não, você gosta de brigar com ele.
- Talvez você tenha razão. – pendeu ela e logo bufou. – De qualquer forma, isso não me interessa. Sairemos daqui logo mais e tudo acabará. Estou mais preocupada com meu futuro ex-namorado.
- Opa, isso é sério? – a alegria era visível na sua voz. Ela deu de ombros, dando deixa para ele continuar. Estava confusa demais. – Quanto a sairmos daqui, acho que demorará um pouquinho mais do que planejávamos. A polícia ainda está fazendo buscas de possíveis mais corpos e blábláblá. Conclusão: eles estão em boa parte da floresta. Teremos que esperar a poeira abaixar.
- – o chamou e ele olhou-a nos olhos. – A poeira da minha vida só está aumentando. – e suspirou.
-#-
Foi por volta do horário de almoço que finalmente a comida surgiu. Sabia-se que era um bicho que haviam caçado, mas diante da falta de tempero foi difícil distinguir se era uma ave ou um suíno. É, a situação era realmente crítica, mas a fome era tanta que esquecia-se esses meros detalhes.
Quando um ou outro terminava de comer, ia saindo, se dispersando pela caverna. Alguns trabalhando, outros só conversando e não fazendo absolutamente nada. não aparecera na refeição, tampouco estava preocupada com ele. Ele adorava acordar no horário do jantar e isso era uma das coisas que a namorada odiava e ignorava.
Foi assim, entre mordidas na carne e colheradas de uma pasta que diziam as más línguas que era arroz, que se viu sentada à mesa praticamente sozinha. Só havia dois caras dos Rengs do outro lado, na parede oposta da caverna, conversando animadamente sobre armas.
E, ao fundo, a razão de ter conhecido , de ter tido tantos problemas com , de estar tão confusa enquanto presa e escondida num monte de pedras. Ou talvez não. Talvez ele só tenha sido o estopim para que tudo acontecesse mais rápido e, infelizmente, ao mesmo tempo. O que, diga-se de passagem, a estava deixando maluca.
Então ela levantou do banco de pedra e caminhou até ele. Brian, que ainda estava amarrado na mesma cadeira. Ele a viu assim que se aproximou e sorriu forçado, ela retribuiu. Pensou ali, nos poucos segundos que faltava para quebrar a distância, que parecia uma patricinha reclamando da sua vida.
Sabe, daquelas que fazem um escarcéu porque a unha quebrou. Quer dizer, e daí que um cara a irritava a ponto de querer cometer um assassinato? E daí se o namoro estava em crise, caminhando para um poço fundo e sem volta? Era nada, tão insignificante perto dele. Ele que estava a incontáveis dias sem poder levantar, andar, comer e beber quando tinha vontade. Ela estava sendo idiota, idiota como uma menininha. Uma menininha que, antes, ela tinha orgulho de dizer que não estava nem perto de ser.
- Ei. – ela sussurrou, sem coragem para dizer qualquer coisa a mais e ainda entretida em seus pensamentos.
- . – ele a saudou. – Por favor, não me pergunte como estou. Isso só faz me lembrar da minha situação nada agradável. – pediu. Ela assentiu, compreendendo.
- E todos que passam fazem questão de perguntar isso, não? – acrescentou a mulher, o vendo concordar freneticamente.
- É a primeira pergunta que fazem.
- Sei como é isso. – ela fez uma careta. – É a mesma coisa com a minha perna.
- Oh, claro. – disse somente.
O silêncio se instalou. sentou no chão ao lado dele, encostando as costas na parede e esticando as pernas. Suspirou e fechou os olhos. Por que não tinha mesmo continuado a faculdade e seguido a profissão? E aí, talvez, sua maior dúvida fosse o que cozinhar para o marido à noite.
- Brian. – ela o chamou, depois de um tempo.
- Fale.
- Por que eles te pegaram? O que eles querem em troca? – perguntou, sua curiosidade infestando-lhe os nervos.
- Eles, - suspirou alto e engoliu em seco – eles querem a nossa casa.
- O que? – a pergunta saiu antes que a mulher pudesse contê-la. – Mas ela é nossa, quer dizer, nós moramos lá...
- É. – foi a única coisa que ele respondeu e entendeu que Brian não queria estender o assunto.
- E por que você? – já que havia começado o interrogatório, que terminasse com todas as dúvidas. – Por que não eu, ou ? Não foi só coincidência, foi?
- Você é inteligente. – exclamou ele, sorrindo. – Não, não é coincidência. Eu e Jayden não nos damos bem há tempos. – ele suspirou. – É uma longa história.
- Estamos presos dentro dessa caverna, a polícia está lá fora, eu não tenho nada para fazer. Tenho tempo de sobra para escutá-lo.
Ele sorriu pela brincadeira, mas mordeu o lábio em seguida. Olhou para cima e soltou um bufo. Ninguém da quadrilha sabia dessa história a não ser , mas sentia que tinha de contar o porquê daquilo tudo. Eles não mereciam estar presos com pessoas que, embora nunca as tivessem visto, eram suas inimigas. E nem ao menos saber o porquê disso, como tudo começou.
- Isso tem muitos anos. Você devia ser uma criança, talvez entrando na adolescência naqueles tempos. Ainda não havia o nosso grupo, eu era um ladrão de merda, que roubava as mercearias e farmácias.

Flashback #On

- Mais uma dose. – Brian pediu no bar, estendendo o copo.
- Aquela mulher lhe mandou – o garçom deu ao Brian um copo de gim, apontando para a mulher que oferecera a bebida.
O homem a encarou, ela riu para ele. Ela era loira e os cachos de seu cabelo iam até a cintura. Usava uma saia de couro colada ao corpo e uma blusa de manga comprida que realçava o busto. Ela era gostosa.
- É um prazer conhecê-la – Brian exclamou galanteador, já no ouvido da moça. Ela sorriu antes de respondê-lo.
- Eu vou te mostrar o que é prazer, querido.
Jac era como ela se autodenominava. Eles transaram aquele dia no carro de Brian. Uma semana depois, ela passava metade do dia na casa dele, na cama. Era um relacionamento baseado em sexo, mas no mês seguinte, isso não era mais suficiente para Brian, que estava encantado. Ele pediu que morasse com ele, casasse, tivesse filhos.
Tudo as mil maravilhas, até Brian encontrar com um primo seu. Seu sorriso, que ia de orelha a orelha, esvaiu-se em uma palavra: marido. Jac era casada, ele era só um amante.
Foi em um restaurante, no dia seguinte, que ele marcou de encontrá-la para revelar que sabia o que ela era, uma vagabunda. Mas era tarde demais. Aquilo era mais do que uma traição, era uma armação, um jogo. E a vítima ali era Brian.

Flashback #Off

- O marido dela apareceu junto com Jac e apontou uma arma para minha cabeça. Então eu reconheci que ela ficou comigo só para descobrir o grande contrabando de drogas que eu estava armando, do qual eles queriam tomar posse. Eu só não morri porque o movimento estava grande e um corpo ia chamar muita atenção. Eu fugi como um louco.
- E qual a ligação de Jayden com tudo isso? – inquiriu, vendo que a grande história finalizara.
- Ele era o marido. – a mulher deixou o queixo cair.
- E você estava apaixonado por ela. – concluiu. Meu deus, será que todas as brigas de homem sempre começavam por causa de uma mulher?
- Era mais do que paixão. Era amor. Nunca havia sentido antes aquilo. Eu a amava. – mordeu o lábio inferior – Imagine se você descobrisse que estava somente te usando para depois te matar. Eu me senti destroçado.
Ela assentiu, embora não conseguisse pensar em como se sentiria se aquilo acontecesse com ela. Devia ser mesmo horrível.
- Sinto muito.
- Tudo bem. – ele riu. – Isso foi há tempos. Eu já superei.
- Mas vocês continuam sendo inimigos. – interceptou ela.
- Sim. Tudo começou por ela, reconheço. O nosso grupo foi criado por esse episódio. Mas, agora, nossas divergências com os Rengs são só consequências de tudo que fizemos naquela época. – deu de ombros.
- Você odeia o Jayden?
- Não tanto quanto naquele tempo. Sabe, é diferente agora. Antes ele me perseguiu, eu nem o conhecia, ele quis me matar por nada. E usou até sua mulher para isso. Hoje, quando ele aponta a arma para mim, é por uma história de desavenças e matanças. Não é por um carregamento de drogas, é por uma quadrilha que ele cuida e protege. O peso das coisas é diferente.
- Impressionante. Será que ele pensa do mesmo jeito?
- Não sei. Aí você pergunte a ele. – ele sorriu.
O silêncio invadiu novamente. Brian ficou revivendo aquelas memórias, ficou pensando em tudo que ouvira, todas as novidades. Até que uma pergunta óbvia veio a sua mente e ela a fez.
- Essa mulher, Jac, não? – ele assentiu. – Ela está aqui?
- Não, ela morreu. – antes que ela perguntasse novamente, ele tratou de esclarecer. – Eu a matei. Com um tiro no coração.

-#-

Foi no susto que deu conta que cochilara. Isso porque estava a sacudindo e chamando seu nome. Depois da revelação tensa de Brian, no qual ficou sem palavras, o silêncio voltou. E, de repente, a visão ficou embaçada e os sons mais distantes.
- Estou acordada, já pode parar de me balançar. – exclamou irritada, desvencilhando-se das mãos dele.
- Desculpe, senhorita mal-agradecida. – ele bufou, estendendo os braços para mim. – Ande, me dê suas mãos.
obedeceu, embora dois segundos depois estivesse se recriminando por isso. Era o sono que não a deixara pensar e simplesmente bater nos braços dele, recusando a ajuda.
- Por que você me levantou? – inquiriu em tom irritado, soltando um gemido.
- Estão chamando todos para uma reunião e, como seu namorado está mais preocupado em comer do que te procurar, eu vim chamá-la. – sorriu forçadamente. – Já pode me agradecer.
- Você veio aqui porque quis. – ela retribuiu, dando ombros e dispensando um obrigada.
- Mal-educada – reclamou baixinho. – Então, sonhou comigo?
- Não, não tive pesadelos. – sorriu, bocejando em seguida.
- Como você é engraçadinha. – brincou. - Me conte como foi o sonho sem minha bela presença. Deve ter sido no mínimo chato.
Eles finalmente começaram a andar.
- Na verdade, foi bem legal. – mentiu. Ela só havia repetido a cena em sua cabeça de Brian atirando numa linda mulher loura. – Eu estava na praia. Com um daqueles mini biquínis que usam no Brasil. Fio dental, é.
- Ótimo, agora eu vou dormir pensando em como você fica de biquíni fio dental. – riu.
- Desde que você só durma, sem problemas. - ela deu de ombros, rindo, entrando na brincadeira.
- Pode ficar tranquila. A primeira vez que eu gozar de prazer com esse seu corpinho, você estará presente. – ele informou, sem pudor.
deu um pulo de susto pelas palavras dele. Ele era muito sem-vergonha! Como falava para uma mulher que conhecera poucos dias atrás algo baixo desse tipo? Nojento!
- Que horror! – ela ainda exclamou, embora ele já estive se distanciando dela. Eles haviam chegado ao resto das pessoas que esperavam pelo conteúdo da reunião.
- Não se faça de santa. – ele sussurrou no ouvido dela. – Eu sei que você iria adorar fazer um sexo selvagem comigo. – e então mordeu o lóbulo da orelha dela, fazendo a mulher se arrepiar.


Capítulo 11

- Como todos sabem, a merda da polícia achou o corpo de um dos integrantes da quadrilha de Brian e acham que podem haver outros corpos. – Jayden começou, fazendo uma careta. - Eles estão no bosque, procurando, o que estava dificultando nossas negociações. Enfim, para que não haja ainda mais perigo, tem sempre uma guarda do lado de fora da caverna, para qualquer eventualidade. Preciso trocar essa guarda e preciso de voluntários. – esclareceu.
levantou a mão na hora, só de pensar em respirar ar puro novamente, já valia a pena. , que havia sido guarda anteriormente, obrigou William a erguer o braço. Mais duas mulheres dos Rengs se dispuseram.
- Ok. Vocês já podem ir lá pra fora. – eles foram se erguendo e se despedindo, caminhando até a saída. - Preciso de mais dois homens. – informou Jayden. e Chris, então, levantaram a mão.

-#-

reviveu os passos de dias atrás, só que ao contrário. Sorriu, era bom sair um pouco da caverna. Às vezes se sentia com claustrofobia lá dentro. Era muito fechado e muito pouco ar para tanta gente.
Logo que viu a vegetação da área, respirou profundamente, sentindo o vento em seus cabelos. Ajeitou a arma na sua cintura e viu os outros se organizando. Havia alguém, mais a frente, dando ordens. Ela seguiu até lá.
- Precisamos ter guarda em todo o entorno da caverna. Dividam-se, uma dupla para cada lado. – exclamou uma voz conhecida por ela.
Qual não foi a surpresa dela ao ver que aquele momentâneo líder não era ninguém menos do que ? Ele a encarou no mesmo momento, como se estivesse sentindo a presença dela. Abriu um sorriso.
- Você fica comigo aqui na frente. – ele a puxou, abraçando-a de lado. – Senti sua falta, sua sumida.
- Eu também, . – apoiou uma das minhas mãos no peito descoberto dele.
Ele estava com uma camisa xadrez, mas os botões estavam abertos e o vento fazia questão de apreciar a visão da mulher com aquele abdômen. E, veja bem, ou ela apoiava suas mãos ali, ou perdia o equilíbrio. É sério.
– E eu não estou sumida. – argumentou ela, em protesto.
- Não? Eu só te vejo nas refeições, . – murmurou. – E o “fica aqui por mim” que você me falou dias atrás?
- Ah, sim, logo antes de você me beijar, não? – brincou antes.
- Isso mesmo! – ele riu levemente. - E eu acho que você gostou, então por que nem conversa mais comigo direito?
- Eu não menti, . Eu gosto muito de você, sério – suspirou, dando uma leve batida no bíceps dele. – Mas acho que você entendeu errado. Ou quis entender errado. – gemeu. - Você sabe.
- Não, não sei. – falou em resposta. – Por acaso é aquele papo de “eu amo o ” e essas porras?
- Ih, ela fala isso para você também? – uma terceira voz cortou a conversa dos dois. Ela estava repleta de sarcasmo. . Quem mais poderia ser?
se desvencilhou de e olhou para trás, encarando o homem com um olhar despretensioso.
- A pergunta certa a se fazer é: por que ela falaria isso para você?
Em resposta, bufou.
- Hm... , esse é seu nome, certo? – ele assentiu. – Deve ser porque eu a conheço desde que nasceu. – e sorriu, desdenhoso.
Então o ex-militar girou até que encontrasse com o olhar. Para ela, parecia que os segundos para o começo de um pesadelo passavam em câmera lenta. Mas lá estava , já a entupindo de perguntas, sem que ela estivesse preparada para respondê-las.
Por que tinha que falar isso? Qual era o grande objetivo dele? Chateá-la, acabar com a vida dela ou o que? Ele achava que era uma espécie de orgulho tê-lo como um irmãozinho forçado e ter que contar esse fato a todo o mundo era um favor a ela? Ou era exatamente o inverso e ele só queria, mais uma vez, irritá-la?
- , o que ele quer dizer com isso? – perguntou, trazendo a mulher de volta a dura realidade. – Vocês já se conheciam?
- Não.
- Sim. – respondeu, a contraponto.
- ! – a chamou de novo, entendendo menos ainda o que acontecia ali. Como ela respondia negativamente enquanto o outro, positivamente? – Quem de vocês está mentindo? – apontou para os dois, desviando a atenção de um para o outro.
- Ela. – murmurou o rapaz rapidamente, antes que ela pudesse explicar toda aquela situação.
- , por favor. – repetiu o ex-militar pela terceira vez. Ela suspirou.
- Na verdade, , nenhum de nós está mentindo. – sentenciou. O silêncio transpôs o ambiente. Ninguém abriu o bico. Ela viu que teria que continuar. – Ele e minha mãe eram amigos. Ele me viu nascer, mas depois foi morar com a tia. Eu era muito pequena para me lembrar dele. Então, para mim, ele é um desconhecido.
- Um desconhecido que ela adorou compartilhar as últimas horas. – acrescentou, com um risinho debochado.
o matou com o olhar. Era como se sua visão fosse a mira da arma e a raiva que sentia era suficiente para atirar bem na cabeça daquele... ser! mal havia absorvido a novidade que contara e o ainda lhe atirava uma bomba!
- Você passou esses dias com ele? – segurou-se para manter sua voz estável.
suspirou. Eram dez horas de guarda dali para frente. O martírio só estava começando.

-#-

demorou a entender que as conversas que tivera com nos últimos dias não foram programadas. Nem eram diálogos normais! Eram briguinhas bobas, competições ridículas, que acabaram com o tempo dela antes que pudesse perceber.
Ele assentiu levemente com a cabeça, mas a mulher viu o quanto ele estava contrariado. Então se despediu dela, dizendo que ia rodar a caverna e ver se alguém precisava de ajuda. Ignorou , nem mesmo olhou em seu rosto.
- Não gostei desse cara – exclamou, quando já estava distante.
olhou para o homem, que estava em pé atrás dela, encostado na caverna. Lançou lhe um olhar de escárnio.
- Pena que eu não me importo com o que você acha. – murmurou ela. – Além disso, ele deve estar pensando a mesma coisa de você agora.
- Pode ser. – concordou ele, fazendo o olhar sem entender. – Ele me viu como uma ameaça, porque conheço você mais do que ele. – explicou.
- Detesto te decepcionar – a mulher rebateu, sarcástica – mas eu já fiz coisas com ele que nunca fiz, nem nunca farei, com você.
Ele não se deixou decepcionar:
- As pessoas pagam pela boca – informou. – E pode ter certeza que eu vou fazer você pagar por esse “nunca” que você falou.
- Estou morrendo de medo. – proferiu com seu tom, já quase usual, de ironia.
soltou um risinho, enquanto se aproximava sorrateiramente da mulher, para que ela não notasse.
- Isso, , me desdenha. – sussurrou no ouvido dela, a fazendo tomar um susto. – Quem desdenha quer comprar. – roçou a boca na orelha dela.
Ela controlou-se para não soltar um suspiro. Graças aos céus ela não ficara arrepiada com aquele toque dele. Reações involuntárias de seu corpo que diziam o contrário do que ela queria passar era exatamente tudo que não queria.
- Está sem palavras, querida? – inquiriu o homem, ainda em seu ouvido. Então ele saiu de lá tão rápido quanto chegou, e sentou-se ao lado de .
- Não quero gastar minha saliva com você. – cuspiu em resposta.
riu novamente, e então o silêncio durou alguns segundos. Poucos segundos, aliás, porque é o tipo de pessoa que não cala a boca.
- Eu pensava que você só tinha o , mas pelo visto esse também está na sua. – comentou.
- Infelizmente, está. – concordou ela. – Afinal, olhe pra mim. Quem não iria se apaixonar por uma mulher maravilhosa como eu? – perguntou retoricamente, se glorificando.
- Você está certa, em partes. – ele deu de ombros. – Na verdade, o verbo da frase não seria “apaixonar”, seria trepar. – ela o olhou com os olhos esbugalhados e a boca escancarada. – E quem não quer trepar com você? Mas quando te conhecessem, eles veriam o quanto você é maluca e chata, e sentiriam nojo de você.
Num primeiro momento, se controlou para não partir para cima dele. Sabia que se fosse bater nele, logo estaria com a arma apontada para . E sendo ele da quadrilha inimiga, isso originaria o término do acordo de paz. Depois de ouvir o que ele falava até o fim, principalmente a última frase, ela tivera vontade de chorar. Dane-se mostrar pra ele como era forte, como não se importava com o que ele dizia, como podia ser bem pior que ele. Teve vontade de ser somente aquelas meninas que choram.
Ele pegara pesado. tinha que falar aquelas coisas? Mesmo com a personalidade dele de responder a tudo, precisava ser tão grosso? Fazer aquele comentário idiota sobre o verbo estar errado. Insinuar que era só um corpinho bonito e nada além disso. E, não satisfeito, a xingar daquelas coisas horríveis e falar em nojo. Sentir nojo dela, como se ela fosse uma barata de esgoto.
A decisão dela fora se manter calada. Engoliu em seco, e virou a cabeça para o outro lado, focando sua visão no bosque. Tentando pensar em como o tempo estava, ou contar quantas frutas tinha em cada árvore. Mas o que falara não saía de sua cabeça. Era como se tudo aquilo estivesse estampado em um visor colorido e brilhante, igual aos dos motéis, que era impossível de ignorar.
Sentiu seus olhos inchando pelas lágrimas. Lutou contra elas, para que elas sumissem dali, evaporassem só pela força de vontade. Mas elas eram fortes, insistiram e venceram. Uma lágrima grossa escorreu pelo lado direito do rosto de . Passou pela bochecha e caiu até o queixo, pingando na blusa da mulher.
Ela nunca fora de chorar. Nem quando criança, quando era contrariada em seus desejos. Sempre quis mostrar que era diferente das outras. Que era forte. Só chorara pela mãe morta quando estava sozinha. Mostrar aos outros o quanto era fraca, maleável, sensível, emocional, sempre esteve fora de cogitação. Principalmente ali, para aquele arrogante, mesquinho, ridículo rapaz que, só por tê-la visto bebê, via-se no direito de irritá-la e, com orgulho, dizia que a conhecia bem.
Fracassou. Pela primeira vez, em tantos anos.
Então fechou os olhos levemente, e as lágrimas inundaram seu rosto. Ela queria, mais que tudo, fazê-las parar, mas não conseguiu. Elas estavam no controle. Segurou-se para não se render ao instinto, para não levar suas mãos ao rosto, o que a denunciaria como chorona.
De repente, soltou um soluço. a olhou no mesmo instante.
- , você está bem?
Ela virou a cabeça ainda mais para ficar longe da vista dele. Aproveitou o cabelo e, estrategicamente, o colocou em frente ao seu rosto.
- Como ficar bem se a pessoa ao meu lado sente nojo de mim? – a voz dela saiu amarga e vacilante.
- Você tem razão. – ele afirmou, contrariando as expectativas dela.
Sim, ela sabia que ele era um idiota. Sabia que era ridículo, que não tinha pudor, que não amava nada nem ninguém além dele. Sabia que ele podia ser cruel, ser grosso, ser mesquinho, ser arrogante, ser esquisito. Mas ele, algumas vezes, e pouquíssimas vezes, deve-se acrescentar, a fazia rir. Mesmo que o riso fosse de deboche. A fazia se sentir outra pessoa. E mostrava que, apesar de tudo, se ele se esforçasse muito, muito mesmo, ele podia ser até legal.
Enganou-se, ela.
- Aliás, eu não sei nem porque você ainda está aqui. – sua voz tinha um tom de desdenho, quase venenosa. se sentiu horrível. – Além de tudo, é burra.
O baque que ela levou ultrapassou o emocional. Ela bambeou mesmo sentada e seu tronco foi para frente. Ela sentiu a comida voltando a sua garganta. Sentiu-se tonta.
Fechou os olhos fortemente. Eu sou uma mulher forte, repetia a si mesma. Essas merdas que sinto são psicológicas, eu não posso deixar ele me atingir assim, repassava mentalmente. Eu sou uma mulher forte.
Foda-se o resto do mundo!
- Seu filho da puta! – levantou num rompante, virando-se para ele e o encarando. Apontou o dedo para ele. Seu rosto ainda estava encharcado, mas ela já não estava nem aí.
- Não aponta essa porra de dedo pra mim. – ele levantou, ficando frente a frente com ela. Seu tom, no entanto, ainda era calmo. Ele pegou o dedo dela com força – Eu arranco ele num segundo!
- Faça isso. – desafiou , colocando o dedo da outra mão no rosto dele. – Sua mãe iria adorar saber que você fizera isso comigo.
Ela sabia que estava pegando pesado, mas o que ele fizera com ela até agora fora o que? E sem motivo!
- Eu te odeio! – esbravejou ele.
Soltou o dedo dela, mas continuou a encarando. Ela decidiu não responder. Deu um passo cauteloso para trás e então, passando a seguros passos de distância dele, caminhou até a parede da caverna.
Fora ali que ele a alcançou. Segurou os dois pulsos dela e a fez virar para si novamente. Jogou o corpo dela na rocha com força. Levantou os dois braços dela para cima e deixou as pernas delas entre as suas, a prendendo com os joelhos.
- Vai se foder! – gritou ela, com todas as forças que tinha.
arriscou se soltar, mas ele a apertava tão forte que ela nem sentia o sangue circular naqueles locais.
- Só se você for comigo. – ele respondeu, tranquilo, com a gozação de sempre.
Ela tentou chutar a parte sensível dele. E, com sorte, o fazer sentir dor para o resto da vida, até mesmo na parte mais prazerosa dela. Mas quando ele percebeu a intenção dela ao levantar a perna, ele se encostou mais nela. Agora, eles estavam tão juntos um do outro que ela nem conseguia respirar normalmente. O rosto de cada um virado para um lado. Ela podia até sentir o membro dele encostado em sua saia.
E então, ela retornou a chorar. Chorar como um bebê. notou os soluços e as fungadas e a olhou, afastando-se levemente dela.
- Por quê? – foi a única coisa que ele perguntou.
Ela abaixou a cabeça, envergonhada. As lágrimas molhavam a blusa de . Ele deixou que os braços dela caíssem. Ela, no mesmo instante, limpou o embaçado que já estava a sua visão. E viu.
Preparou-se, contou até três e com toda a sua força chutou a parte íntima dele. Ele se jogou no chão, urrando de dor, e ela sorriu maléfica.
- Eu te odeio mais – respondeu ao xingamento anterior dele.
limpou uma lágrima insistente e começou a se afastar dele. Quando começara a correr, sentiu um puxão no tornozelo. Ela perdeu o equilíbrio e só pudera colocar os braços para amortecer a queda.
Olhou para trás e lá estava , em meio a lágrimas, sorrindo vitorioso.
- Me solta!
Ela tentou chuta-lo, mas ele a puxou para mais perto de si antes. Em segundos, estavam os dois novamente colados. Agora, deitados, um olhando para o outro com a respiração acelerada.
- Eu não quis ser grosso com você, me desculpe. – ele pediu, sério.
- Não, não desculpo! – rebateu ela – Você quis, quis ser grosso sim!
- É, verdade. Eu quis te atingir, não é só isso que fazemos um com o outro? Batalhamos para ver quem é o mais forte? – inquiriu.
- Você foi baixo...
- Eu sei, eu sei. Eu não medi as minhas palavras. – ele passou a mão pela bochecha dela.
- Elas doeram. – gemeu.
- Elas são mentiras, . Mentiras, você sabe disso!
- Não, eu não sei. – mordeu o lábio inferior. – Eu me senti horrível.
- , você é incrível. Você não é burra, você é inteligente pra caramba. Você é linda, mas não é só isso. Você é mulher para se apaixonar e para casar. Você não é nojenta, longe disso, ou você acha que eu conversaria com você se eu realmente acreditasse no que disse?
- Chata, maluca? – ela o lembrou dos outros adjetivos que ele a havia chamado.
- Ah, vai, você é chata quando quer. E maluca em algumas situações. – riu, meigo.
precisou de uns segundos para se recuperar. Tudo mentira? E agora , que havia passado dias a criticando, a estava elogiando?
- Obrigada, mas você não precisava mentir tanto assim. – o abraçou.
- Ah, droga, você descobriu! – ele brincou, rindo.
Ela o olhou. Assim, daquele jeitinho, ele parecia até uma pessoa normal. Se não tivesse compartilhado infelizes horas anteriores, mas só os cinco últimos minutos, talvez, e só talvez, ela pudesse gostar dele.
- Você ainda quer me beijar? – ela perguntou de uma vez, antes que perdesse a coragem.
- Muito. – ele riu.
- Você sabe que não terá mais chances assim, né? – jogou-lhe uma indireta.
- Que desespero todo é esse, ? – perguntou, rindo em seguida. – Eu criarei as chances, se for necessário. Fique tranquila, você ainda vai me beijar.
Ela o olhou com a boca arreganhada, falsamente indignada. E caiu na risada. Ele a abraçou novamente e lhe deu um beijo inocente na bochecha.
- Eu gosto de você assim. – comentou ela, quando ele já levantava do chão, reclamando da dor que sentia pelo chute, brincando.
- Bom, isso é uma pena. – ofereceu o braço para ela, que os pegou como impulso para levantar. – Porque eu não sou assim, e você sabe disso. -E então desvencilhou as mãos dela das suas, a fazendo perder o equilíbrio e cair sentada no chão, rindo da cara dela.

Capítulo 12

Desde a discussão deles, com direito a uma pseudo declaração de , eles haviam se calado. Só estavam sentados, meio distantes, observando o dia cair e o vento balançar a copa das árvores. O silêncio, uma imensidão de arrependimento pelas palavras outrora ditas.
- Silêncio de merda. – exclamou, bufando, farto da calmaria. - Eu estou quase dormindo aqui. – reclamou o homem.
o ignorou completamente, como se a voz dele não soasse mais alta que o bater das asas de um passarinho num furacão.
– Você vai ficar sem falar comigo, mesmo? – a olhou, desacreditando.
Ela não respondera. Ele bufou.
- Tratamento de silêncio? Que atitude de criança, ! – resmungou, irritado.
- Cala a porra da boca, Reng! – ela vociferou, o fazendo quase pular de susto. – Eu podia dar um tiro na sua cara, mas eu só estou exigindo paz!
- Uau. Desculpe. – levantou os braços, se entregando. – Isso tudo só por causa daqueles xingamentos?
o olhou com um olhar mortal. Um olhar esclarecedor que dizia para calar a boca se não quisesse morrer. Ele engoliu em seco, pela primeira vez meio inseguro de estar ali do lado dela.
Afinal, ele não sabia do que ela era capaz. Quer dizer, podia conhecê-la quando pequena e até ter convivido com sua mãe, mas anos se passaram e sabe-se lá no que a mulher se transformara. Ela era de uma quadrilha, certo? Quem disse que ela hesitaria antes de mirar a arma na cara de e o matar?
Os minutos passaram lentamente.
- Eu nunca vou me adaptar – sussurrou baixinho.
a olhou com atenção, tentando entender do que se tratava.
- Você ter conhecido minha mãe – ela explicou, visto que o rapaz estava confuso. – Ter convivido com ela, ter me conhecido por fotografias, saber tanto da minha vida.
- Eu... – ele pigarreou, sem saber o que fazer – sinto muito?
- Não sinta. Não é exatamente ruim, só é estranho – mordeu o lábio – Difícil. – girou a cabeça, o encarando.
- Por quê? – deixou escapar. Estava curioso pelo comentário dela.
- Eu nunca contei a ninguém sobre minha vida, minha mãe. – engoliu em seco. – Mesmo os meus amigos só sabem que foi com ela que aprendi a atirar, e que ela não era a maior seguidora das leis. Mas, mas eles nem ao menos sabem o nome dela.
- Nina. – correspondeu . – Tia Nina.
- Soa angelical, não? – perguntou retoricamente. – E, de repente, aparece um cara, que eu nunca vi antes, um tanto petulante – ele forçou uma cara afetada, ela sorriu – que sabe tanto quanto eu sobre ela! Não acha meio assustador?
- Total. – colocou sua mão em cima da dela e sorriu.
- Eu sinto tanta falta dela – gemeu , os olhos inchados d’água.
acabou com a distância deles, envolvendo-a com os braços e a trazendo perto de si. Afagou o cabelo dela.
- Eu também. Também tenho saudades!
As lágrimas dela molhavam a blusa dele, ela soluçava de tanto chorar. Nada fora respondido. segurou levemente o braço de , os distanciando levemente. Olhou em seus olhos que brilhavam como o Sol de um dia quente.
- Você se parece com ela. – comentou.
- Nunca me falaram isso – falou enquanto limpava o rosto das lágrimas com uma das mãos. – Obrigada.
Ele, sem pensar, levou seu braço até perto do rosto dela, encostando as costas da sua mão por ali. A abaixou levemente, fazendo carinho. E então levou-a para as bochechas dela, usando seus dedos para secar a pele molhada pelas lágrimas.
o deixou fazer, sem reação. E quando ele já abaixava a mão, ela o impediu, voltando a mão dele para sua face. passou a ponta de seus dedos levemente pela pele dela, deslizou até os lábios dela, que tremiam.
A outra mão dele subiu pelo braço dela, fazendo se arrepiar. Ela abriu a boca para falar, mas notou que não conseguia nem respirar normalmente. De repente, o espaço entre eles acabou. encostou seus lábios nos de .
O rapaz correspondeu ao selinho, mas um segundo depois pulou de susto, se afastando da mulher. Ainda abalada, ela levantou o olhar, encarando-o. Ele respirava rapidamente, com as mãos na cintura.
Então ela fechou os olhos. Merda, merda, merda!, reclamou em pensamento. Fora fraca, se deixara levar pelo momento. Momento raro que era legal, como qualquer outro, carinhoso. E, depois, encarou aqueles olhos e não pensou em mais nada.
Os toques dele em sua pele não a ajudavam a recuperar o controle. Só a faziam ficar mais louca, mais longe da razão. Quão desesperada foi ao colocar a mão dele de volta ao corpo dela? Agora ela teria que aquentá-lo falar daquela fraqueza momentânea dela. Do jeito que ele era, jogaria na cara dela a toda hora, só pra ganhar um argumento.
E o pior, o que a matava por dentro era que ele a rejeitara. Ela, que minutos antes dissera que nunca faria algo daquele tipo com ele, se entregara. E, como resposta, saiu de perto dela. Como se fosse nojenta.
- Eu – respirou fundo, levantando-se – vou dar uma volta.
Com ela já se afastando, gritou seu nome, o que a fez virar o rosto para ele:
- Eu disse que você pagaria pelo ‘nunca’. – e riu pretensioso.
bufou, já voltando a andar. Ignorá-lo sempre seria a melhor alternativa. Ou... ou talvez não. Porque, assim, mais uma vez, em poucos minutos, ela sairia derrotada e ele seria o vencedor.
- Quer saber, vou ficar mesmo por aqui. – ela disse, girando e voltando para perto de . – Aliás, está um calor, não?
- Não... – comentou ele, mas já era tarde.
Ela já tirava a blusa, sorrindo maleficamente. Ele queria guerra, não? Pois bem. Só com o sutiã preto de renda, jogou a blusa para . Esse, sem reação, deixou a vestimenta cair em seus pés. Piscou rapidamente, tentando retornar o raciocínio. Puta que pariu, ela pegara pesado!
- Algum problema, irmãozinho? – inquiriu, marota, quebrando a distância deles.
- Uma gripe, provavelmente. – ele deu de ombros, forçando-se para parecer normal. Concentrando-se a olhar nos olhos de e somente nos olhos. Qualquer escape podia ser fatal.
- Então acho que você vai ter que manter meu corpo quente. – informou, falsamente ingênua.
- Nossa! – soltou , mostrando sua surpresa pelas palavras da mulher. – Eu a esquento com prazer, assim que você admitir que me quer. – exclamou, recuperado, dando um de seus sorrisos.
Ela riu seca, pretenciosa e deitou na mata, ignorando o tremor que passou em seu corpo. Tentou não pensar nas formigas que poderiam subir por sua pele desnuda, respirando fundo. Ela tinha de mostrar a ele que era forte, não uma menininha qualquer.
- Eu já vi tratamento de pele com bichos, mas não acho que essa seja a melhor hora para se tentar uma nova técnica. – afirmou , tentando mascarar sua preocupação.
- Me tire daqui, então, doutor. – o instigou, repleta de sarcasmo.
- Ótimo, ótimo – concordou ele, levantando e puxando-a para cima. A verdade é que estava preocupado com ela, com a consequência de alguma picada. Podia ser só uma marca, podia ser morte. Mas, claro, ele nunca falaria isso pra ela. – Deixando claro, sempre, que eu fiz isso pelas formigas.
A abraçou contra seu peito, segurando o corpo que ela fazia questão de deixar amolecido. A sentou no tronco novamente, ainda a apoiando nele.
- Pelas formigas? – inquiriu ela, perto de seu ouvido.
- Claro. Não quero que elas morram envenenadas pelo seu sangue. – revelou, fingindo seriedade.
- É? – perguntou retoricamente, tentando não rir das palavras dele. – Então você deve ser mais perigoso que eu, para ainda estar vivo depois do meu beijo. – empurrou para trás, raivosa.
- Como já dito anteriormente, - começou, sorrindo por ver a mulher com raiva. Como suas bochechas ficavam vermelhas e como ela parecia, apesar de tudo, mais menina – eu vou ter o maior prazer de morrer em seus braços.

-#-

- Sabe, eu estive pensando. – acabou com o silêncio entre eles, depois de minutos deste. - Você não sente amor por . – concluiu, seriamente.
- E o que te leva a pensar que eu quero sua opinião sobre isso? – rechaçou.
- - Ele suspirou, mexendo nos cabelos. – Estou falando sério. Se você gostasse dele de verdade, você não aceitaria as coisas que ele faz. Você não mudaria a si própria só para, não sei, o agradar. E, mais importante, se ele amasse você de verdade, ele não te trataria dessa forma.
- Você não sabe dos sentimentos dele por mim. – falou num tom ameaçador, ainda que calma. - Ele me ama.
- Não. Ele, você pode até achar que sim, mas esse teórico amor é doentio, é ruim, então ele não conta. Se ele te amasse de verdade, ele traria o melhor de você, a melhor parte seria vista quando vocês estivessem juntos. Mas isso não acontece.
Ela fechou os olhos, respirando fundo, tentando engolir aquelas palavras sem que elas fizessem uma reviravolta em seu estômago. E cérebro. Talvez tivesse razão. Talvez ele estivesse certo.
Afinal, ela não era ela mesma quando estava com . Ela ficava submissa, aceitava as palavras rudes dele ao invés de xingá-lo, respondê-lo da mesma forma, até mesmo lutar com ele se fosse preciso. E, se realmente o namorado a amasse, ele entenderia que aquelas situações eram horríveis, insustentáveis, não? Talvez ele só não tivesse percebido...
- Por que você fica tão diferente quando está com ele? – a explicação para o pronome não era necessária, ela sabia que ainda se tratava do . As conversas deles sempre chegariam a esse ponto, um momento ou outro.
- Diferente? – inquiriu ela, só para ter mais tempo para pensar.
Sabia do que ele estava falando. Do fato de se tornar outra pessoa.
- É. Você não percebe? Você discute comigo, faz uma cena por meras palavras minhas; e ele... – engoliu em seco – ele te machuca, te xinga e você não faz absolutamente nada.
- Só espero passar. – completou ela, assentindo com a cabeça. Era difícil de admitir, mas ele estava certo. – Eu sei. Eu já pedi tantas vezes pra ele parar, ele está se esforçando...
- Por que você é diferente com ele? – retomou a pergunta inicial, não querendo alongar aquela típica conversa de que o vilão está tentando virar bonzinho com muito zelo e esforço.
- Não sei. – deu de ombros, mexendo o corpo. – Talvez eu seja diferente com você também. Quer dizer, não é que eu chegue pra qualquer um que fale comigo e o chame de retardado mental, sabe. – ela sorriu, ele assentiu.
- É, eu também não chego pra qualquer mulher bonita e digo que quero transar com ela. – revelou, concordando. – Não, talvez eu diga mesmo. – eles riram. – Mas foi só pra você que eu disse que queria compartilhar DNA.
- Sinto-me lisonjeada. – afirmou ela, abaixando o tronco em forma de agradecimento, embora estivesse rindo.
- É o mínimo que você podia sentir. – falou com tom de arrogância.
- Quer dizer, como eu posso aceitar isso? – ela continuou, apontando para . – Não dá pra escutar você se vangloriando e não querer acabar com esses seus pensamentos ilusórios.
- Ilusórios? – repetiu ele, a boca escancarando de surpresa. - Vai falar que eu não sou o sonho de qualquer mulher? – exclamou metido, erguendo o queixo.
- De uma mulher aos 50, com dez filhos e um marido que não consegue enxergar o próprio pinto, talvez, mas de mulheres como eu, definitivamente não! – negou com a cabeça.
- Duvido que você não mude essa sua opinião preconceituosa e infundada em um beijo. – murmurou .
- O que? Depois do beijo eu vou perceber que nem a baranga dos cinquenta mal comida vai te querer? – soltou ela, explodindo em risadas.
Ele forçou o riso, dando língua ao fim.
- Uma pessoa uma vez me falou que quem dá língua, pede beijo. – recordou o dia em que havia lhe falado isso, depois de ela lhe dar de língua.
- Eu não preciso pedir um beijo a você.
- Realmente, pedir é pouco, você vai ter que implorar. E mesmo assim, nunca vai rolar. – mordeu o lábio.
- Eu juro , juro, que quando eu estiver dentro de você pela primeira vez e você acabar com a sua voz gritando por mais, eu não vou te levar até o fim até você pedir desculpas por todas essas frases suas de desprezo e todos esses “nunca” que você solta. – gesticulou enquanto falava. – Você vai ter que fazer muito mais do que gemer meu nome.
- Já estou morrendo de medo, senhor fodão. – respondeu, não deixando de rir.
Ele riu junto. Este momento dos dois estava tão divertido. Descontraído, momentâneo, um tirando sarro do outro e rindo. Esqueceu-se as quadrilhas rivais, o namorado ciumento, o sonhador, o passado e tudo mais. Era só eles ali, compartilhando situações, zoando um ao outro, passando o tempo da melhor forma possível.
sentiu que, finalmente, conhecera a melhor parte de . E deixou-se também que ela conhecesse seu melhor.
- Por quê? – perguntou ele, sua voz mais calma, num tom menos divertido.
- Por que o que, seu maluco? – respondeu-lhe, com um sorriso bobo no rosto.
- Por que você não é assim com ele? – . Por que tudo voltava para ele?
- De novo esse assunto, ? Você sempre vai falar disso? – gemeu ela, reclamando.
- Sempre. Até você largar ele e ficar comigo.

Capítulo 13

sentia que todas as conversas que teria com o , daqui pra frente, e as de trás também contavam, apresentariam de alguma forma, o nome de seu namorado. Seja hora perguntando por que ela aceitava o que ele lhe fazia ou por que ela não era ela mesma – embora nem ela soubesse como era ser si mesma-, ou mesmo acreditasse que só existe uma de si, sem mudanças.
Era chato. Era. Era extremamente chato, na verdade. Um momento legal quebrado por esse assunto chato, maçante. Mas ela percebera. Percebera que não só , mas , e até , todos eles, em suas conversas com ela, voltavam a basicamente a mesma coisa: o relacionamento de e .
E, geralmente, isso é uma coisa normal. Quer dizer, se você está namorando e encontra um amigo, ele vai lhe perguntar, obviamente, como está indo o namoro. Até mesmo se vocês convivem bastante. E você, normalmente, irá responder com um sorriso no rosto.
não fazia isso. Era quase um martírio para ela dar respostas àquelas perguntas, muitas vezes até inapropriadas e inoportunas. E se eram sempre aquelas mesmas perguntas, irritantes, que a chateavam, por que continuar a respondê-las? Por que continuar a dar margem para elas serem feitas?
Enfim, por que continuar com um relacionamento desse tipo? Não sabia, sinceramente, por que todos os diferentes tipos de conversa voltavam, de alguma forma, ao . Mas sabia que, sozinhas, elas não iriam terminar. E só tinha duas chances de isso acabar.
Uma era ela brigando com os amigos por causa disso, o que ela certamente não iria fazer. A outra era acabar com o estopim pra tudo aquilo.
E estava até meio certo, em sua última frase. Ela não precisava ficar com ele, mas para aquilo tudo acabar, ela tinha que terminar com .

-#-

Mais um.
Como se não bastasse ter que lutar pela mulher que amava com o namorado dela e todo o seu instinto super protetor, havia um filho da mãe que dizia conhecê-la a porra da vida toda! Como competir com eles?
era só um cara qualquer. Um ex-militar, com merda nenhuma para dar a ela. Só era visto, na melhor das hipóteses, como um admirador dela; ou, simplesmente, um chato que ficava em seu pé tentando como um idiota tirar algum pedaço do que restava dela. Se é que restara.
Ele, afinal, era só um babaca que se importava tanto com ela a ponto de arrumar briga com , o namorado durão e ciumento de , não se importando em perder alguns dentes, se fosse o caso. Ela era tão importante para ele, que vê-la triste o deixava triste também, ansiando por encontrar uma maneira de recuperar sua alegria.
Todavia, isso não era nada. Quer dizer, ter um cara que te trata mal deve ser melhor. E ficar com deve ser tão ruim que até depois do beijo que eles trocaram, ela se afastou dele por um qualquer. Aliás, pior, não era um cara qualquer, era um Reng, um inimigo. E mesmo assim ela sorria para ele como se tivesse acabado de ganhar na loteria. Mesmo quando discutiam e seu pescoço enrijecia, ele percebia o quanto ela gostava daquilo tudo.
Ela fizera uma promessa a ele e não cumprira. Ela fizera esperançar algo entre eles, uma evolução naquele relacionamento. Será que era hora de simplesmente cair na real e desistir?
se jogou num canto da caverna, pensando na ideia. Olhou para a parede de pedra a sua frente e desenhou suas imperfeiçoes com as pontas dos dedos.
Lembrou-se, então, de alguns dias atrás, em outra caverna, na mesma floresta. Com . Num primeiro momento, a apreensão dos dois por não enxergarem um ao outro ali, a real possibilidade de ser um inimigo, as mortes proeminentes. E então veio o reconhecimento, o alívio seguido. Ela correu, acabando com a distância entre eles e jogou-se nos braços dele.
Novamente, sentando no chão da caverna, sorriu. Fora um dos melhores momentos da vida dele. Era daqueles em que você aceitaria um fim da vida em seguida, porque ele tivera as últimas horas tão felizes, tão completas, que sentira que tudo já valera a pena.
Tê-la em seus braços, seus dois corpos juntos, dividindo a respiração conturbada. Ele se sentiu um ridículo bobo apaixonado. E teve a coragem de poucas vezes para se declarar a ela.
E levou um fora da parte dela. Uma sucessão de acontecimentos num turbilhão de emoção. Uma notável volta ao mundo real. O mundo em que ele aceitava que nunca a teria plenamente. Nunca poderia chamá-la de meu amor, de sua, e receber respostas boas e sinceras a respeito.
Mesmo com o beijo que trocaram, repleto de sentimento da parte dele, momento em que ele percebeu que o que sentira por ela era maior que por qualquer outra mulher e se acalentara; Nada daquilo valia.
Ele suspirou, rendendo-se aos olhos inchados pela vontade de chorar. Aproveitando-se da escuridão, desabou, chorou com um bebê, uma criança marrenta que não tinha o que queria.
não tinha o que queria. E começou a perceber que talvez nunca teria.
Um amor não correspondido é uma das piores coisas da vida. E ele sentia que, de toda a sua vida, ele estava na parte mais dolorosa dela.

-#-

O silêncio pairou sobre o ar. olhava para o céu a procura de uma mudança sólida que indicasse um decorrer longo de tempo, mas aquilo não acontecia. Se tivesse acontecido, todavia, ela não saberia o que fazer.
Ficar ali, sair dali? Quando era a hora certa de deixar e voltar para a caverna? Havia hora certa? A mulher inconscientemente pediu que o namorado a viesse chamar, a viesse buscar. Logo em seguida, se discriminou por esse pensamento tão dependente. Se for vontade dela sair, simplesmente levantará e sairá. Se quisesse ficar, então continuará daquele jeito.
O problema é que ela não sabia o que queria. E diante da falta de conversa, parecia que ela era uma intrusa ali. Mas voltar a caverna, dividir o ar com seus inimigos, tudo parecia hipócrita demais. Fez um pequeno jogo mental e decidiu. Na verdade, a sorte decidiu, mas não vem ao caso.
- Sabe, , talvez eu não seja diferente com .
Não, não sabia por que retornara aquele assunto idiota. Ela não reclamara minutos antes que só falavam disso? E agora lá estava puxando exatamente o mesmo assunto!
- Explique-se. – pediu ele, somente, olhando-a interessado.
Havia coisas a serem ditas. precisava entender que era totalmente diferente com o namorado, mas que ela também se transformava, ficava mais batalhadora, mais teimosa, até mesmo mais chata, com outra pessoa. Com ele.
- , - ela soltou uma risada – você não vê?
- Essa pergunta é um tanto abrangente. E subjetiva. Então, por favor, especifique a questão.
- Eu sou diferente com você. - revelou, subitamente envergonhada. Ele assentiu para que continuasse. – Seu jeito, , me faz... – ela bufou – não sei, ele me inspira a batalhar. Quando você fala alguma gracinha, alguma babaquice, qualquer coisa idiota que sai dessa boca, eu simplesmente sou consumida por uma vontade de rebater. – ela olhou para baixo, juntando o chão. – Rebater. E, geralmente, você me deixa sem palavras, então eu te xingo!
- Minha beleza te deixa sem palavras? – ele perguntou, com uma voz por demais sedutora.
- Sua beleza me deixa sem palavras, sem chão, sem ar, ! – murmurou a mulher, fingindo um suspiro apaixonado, o que o fez cair na risada. acompanhou levemente – Mas você está vendo? Compreende, agora? Você me manda uma dessas frases e eu vou responder o que?
- Que tal sim? – interrompeu .
- Que tal a verdade? – ela riu, o encarando. – Não, sua beleza não me deixa sem palavras. Mas isso não quer dizer que você não seja bonito.
- Uau! Você me elogiou? - arregalou os olhos, dramatizando. - Ou será que estou precisando limpar meus ouvidos?
- Você escutou bem, mas pela sujeira que dá pra ver daqui, eu acho que você está precisando limpar os ouvidos mesmo. – brincou ela, sorrindo.
- Estava demorando para você me esculachar, . Mas eu gosto. – revelou ele, com um sorriso em resposta.
- Além de tudo você é masoquista, ? – a mulher riu. – Gosta que as pessoas te esculachem, é?
- Não. Só você. – apesar da brincadeira embutida, sua voz era séria. – Gosto de qualquer coisa que saia da sua boca.
A mulher salivou ao máximo e quando achou suficiente, cuspiu, atirando a baba a alguns metros de distância. Sorriu e voltou a olhar para ele.
- Até isso?
- Até isso. – ele respondeu, afirmando com a cabeça. Ela riu tanto, mas tanto, que colocou a mão na barriga para se segurar. – Não zombe de mim, mocinha! – ordenou o rapaz.
- Você é um idiota, . – ela falou, só de implicância.
- Obrigado, .
- Agora, você vai deixar eu continuar meu discurso ou vai me interromper de novo? – inquiriu a mulher, fingindo chateação.
- Desculpa, arrependido fechando a boca. – ele levantou as mãos para o alto, em rendição.
- Espero que isso dure pra sempre – ela sussurrou e, quando ele ia rebater, ela o impediu. – Não. Eu falo. – suspirou. – Ai, ai, onde eu estava mesmo? Ah, sim. A sua personalidade irritante ao máximo me faz agir de um jeito diferente. Quer dizer, com o eu fico quieta por demais, com você eu fico falante por demais, e eu sou um meio termo entre esses dois polos.
- Eu gosto do seu jeito comigo. – ele estava falando sério, ela podia sentir.
- Eu também gosto do seu jeito, . Apesar de tudo, eu acho que nunca ri tanto na minha vida quanto nesses poucos dias. E, não sei, – ela sorriu, boba – discutir com você é divertido, é bom. O tempo passa mais rápido quando estou com você.
A comparação, inegavelmente, foi feita. Pensou no , em como nos últimos dias, mesmo antes de encontrar , ela queria passar cada vez menos tempo com ele. E que os momentos que eles passavam juntos, não eram mais tão bons quanto antigamente. Mesmo em meio ao sexo, não existia uma verdadeira felicidade além da emanada pelo prazer. Mas ela ainda o amava, não?
- Com o é tudo mais difícil. E, com você, é tudo mais fácil. – Ela concluiu.
- . – ele a chamou, fazendo-a encará-lo nos olhos. a olhava de uma maneira extremamente estranha. – O que foi isso tudo?
- Isso o que? – ela perguntou, ficando preocupada. Será que ela se abrira demais para ele? – Por que você está me olhando assim, ?!
- Você não percebeu? – ele inquiriu em resposta, a olhando transtornado. – Droga! Você está perdidamente apaixonada por mim! E nós nem transamos ainda!


Capítulo 14

não achou o momento os dos mais apropriados pra risada, só que ela não pode se segurar. Até tentou, mas a vontade era tamanha que ela não aguentara a pressão do ar em suas bochechas. Meu Deus, com somente uma fala confirmou toda a teoria dela!
- Do que você tanto ri, menina?
Ela o encarou descrente. Com esforço, conseguiu reprimir as risadas e então revirou os olhos. Só ele mesmo para se manter sério depois de tamanha piada.
- De sua gracinha, óbvio. Quando eu acho que não ficará pior, você se supera. Incrível, parabéns. – ela sorriu.
, no entanto, a olhou com uma nítida cara de confusão como se, de repente, ela tivesse se transformado em um Avatar. Ou em um E.T.
- Obrigado, mas, não foi nenhum tipo de brincadeira, sua doida. – ele deu de ombros – Apesar de meu tom irônico, eu falei sério. Você está apaixonada por mim!
Novamente, ela caiu na risada. Ao fundo, estava se martirizando por não respondê-lo com xingamentos, mas era tão engraçado, tão maluco, que simplesmente não conseguia parar de rir. Só vendo para acreditar.
- Desculpe, é hilário! – ela falou entre fôlegos, vendo a cara irritada do rapaz. Sabia que estava reagindo exageradamente, todavia era involuntário.
, entretanto, não se deu por satisfeito pelo pedido de desculpas e se levantou num rompante, afastando-se dela e entrando na mata. Ela acompanhou a silhueta dele até que esta sumisse e então bufou, desentendo aquela atitude.
Bem, era como diziam: para cada ação à sua reação. E se a sua ação fora exagerada, porque ele não podia também desfrutar desse direito? Sentindo o diafragma doer pelo riso, subitamente ela percebeu que a melhor coisa para deixar irritado era algo tão simples, humano e gracioso que tampouco passara pela cabeça dela. Xingar, mostrar chateação pelas palavras só o faziam lutar mais, achando-se vitorioso antes da hora. Quando ria, o estava desmoralizando, deixando-o sem palavras...
E lá estava pensando ela em outro dizer popular: rir é o melhor remédio!

-#-

- Merda! - socou a árvore a sua frente. Esta não se moveu, impassível ao toque. O rapaz, no entanto, sentiu os ossos de sua mão doerem pelo contato a madeira dura.
O sangue pulsava no local e ele jogou sua mão contra a árvore mais uma vez, ainda mais forte. Em consequência, soltou um ruído de dor e caiu no chão. Resfolegando na mesma árvore no qual despejara sua raiva incontrolada e sem motivo, percebeu que o ambiente mergulhava numa maré de ondas, movendo-se sem rumo.
Mas eram somente as árvores dos bosques que lhe acompanhavam. E elas não se moviam, só estavam tremendo em seu olhar. Embaçadas. Seria pela pancada que provocara a si mesmo, sua mente estaria agora oferecendo uma rápida resposta? Porque seus olhos ficaram de repente tão desfocados?
Levou sua mão boa até seus olhos, encostando-lhes levemente. Ele... estavam chorando? Desde quando não fazia aquilo? Deixava que seu sentimento transbordasse por através da capa dura que cobria seu coração?
Nina, fora por Tia Nina a última vez que chorara. E, agora, era por quê? Pelo soco na árvore, certamente não era. Perdeu a habilidade de chorar por dor física. Ele estaria chorando por ? Pela filha daquela última que chorou? Seria um mal de família a qual estaria ele fadado?
Não! Seria infantil, infame demais chorar por ela, por... nada. Por que ela rira dele, ou de sua frase? E em que dia de merda desde que a conhecera ela não fizera uma dessas coisas? Então por que porra estava chorando como uma criança mimada?!
Fora ele quem começou com a ironia. Era sempre ele quem começava. E somente depois da reação provável de percebeu que ele esperava algo diferente. Seria insano demais pensar que ela lhe olharia com aquele olhar brilhante, sorriria e deixaria suas bochechas rosadas de vergonha? E admitisse ali, mesmo sem palavras, que ele tinha razão?
Ela reagiu como o previsto. E era tudo que ele não queria. Porque desde o momento que a viu, alguma parte dele, lá ao fundo, se tocou de que nada mais seria como o previsto. De que nada ele adiantara ter feito planos para sua vida, porque ao que a sua se deparou com a dela, tudo mudou.
O que ele estava pensando? O que estava pensando? Não conseguia evitar, não conseguia fugir, pior, temia não conseguir deixá-la.
- Por que você bate tão forte, cara? – reclamou com seu coração, tocando o peito brevemente. As lágrimas ainda caíam e molhavam seu rosto transtornado.
De repente, se deu conta de que caíra em suas próprias teias. Que o que sempre dissera aquela mulher corajosa e desafiante, linda e indulgente, se tornara seu dogma. Alertando-a sempre para cuidar de seus sentimentos e entregar seu corpo a ele, se esqueceu de precavesse com o mesmo anseio.
Agora, estava amarrado a grossas linhas, laços mais fortes que qualquer anterior. Afogando-se em um mar poderoso, ocioso, perigoso, repleto de assustadores monstros.
Estava apaixonado.
E só tinha uma maneira de queimar tudo aquilo. Sumindo dali.

-#-

Sabe quando você está tão cheia de tudo que quer que o resto do mundo se exploda? adentrou a caverna com esse pensamento. Que a porra da vigia se foda! Se for para a polícia ou para o saci-pererê aparecer e descobrir as quadrilhas, que arma-se a guerra e uns deem tiros nos outros até que o que reste sejam só cadáveres!, pensou.
Riu consigo mesma, descobrindo o quão maquiavélica podia ser. Deparando-se com a mesa repleta de comes e bebes, reparou chegar na hora certa, a do lanche. Correu até lá e pegou tudo que queria, indo até o encontro de em seguida.
- ! – o cumprimentou, sentando-se ao seu lado. – Novidades?
- Sempre pulando a parte mais importante, senhorita... – ele meneou a cabeça negativamente – Sim, eu estou bem, fico feliz que se preocupe – sua voz veio repleta de ironia e lhe respondeu com a língua pra fora. O que a lembrou ...
- Sabe, vocês homem são estranhos... – comentou ela, antes de se conter – Vocês brincam o quanto podem, mas então quando você entra na brincadeira ficam putos e vão embora? – divagou, com a famosa dedução. “ fez isso. é homem. Logo, todos os homens fazem isso.”
- Deixe-me adivinhar o culpado... ? – ele a olhou, exclamando em seus olhos a confusão por ele acertar de primeira. Não seria mais capaz citar logo, já que ele era seu namorado? Ele tratou de explica-la. – Só vocês dois não se dão conta do quanto passam tempo junto. E, digamos, não são conversas normais. As pessoas comentam. – ele deu de ombros.
- Mas, , não fizemos nada demais – ela confidenciou. Realmente, se desconsiderassem o quase beijo e aquele apertão de seus corpos contra a parede da caverna e, bom, as frases nada puritanas que soltavam, era uma verdade que não fizeram nada demais.
- , você não é nenhuma santa, te conheço. Fique ligada. Por muito menos, Ana Bolena foi decapitada!
cruzou os braços sob o peito e o encarou descrente com a comparação.
- , dizem que ela tentou dormir com o próprio irmão! – ela exclamou, irritada.
- Bom, sua mãe tratava quase como a um filho, não? - acrescentou ele, falsamente inocente.
A mulher levantou as mãos para o alto, mas não esbravejou nada, pela falta do que se falar. As ideias eram tão absurdas que se defender era irreal! Bufou, desistindo do amigo.
- Depois dessa, eu vou... – ela começou, mas logo o amigo a interrompeu.
- Relaxa, você não vai para lugar nenhum. – ele afirmou, categórico – Olhe só quem está vindo pra cá! E com o sorriso de orelha em orelha.
Por um instante deparou-se com Henrique VIII da Inglaterra, sorrindo ansioso por sua cabeça sangrando distante do corpo. Piscando, ela viu que era somente . Só.

-#-

Vinte minutos com na caverna, depois dele carinhosamente puxá-la para si e levá-la para um canto mais vazio, foi suficiente para esquecer todas as asneiras que falara. Felizmente, ela estava acostumada a suas brincadeiras e tão pouco perdia tendo se preocupando sem elas.
O silêncio que lhes saudava era muito mais agradável. Depois de um dia como aquele, tão turvo, confuso, repleto de acontecimentos, ter uns instantes de paz eram muito bem-vindos. Deixar que os pensamentos floresçam, enlanguesçam, entrelacem-se.
Pena que pouco durou. o quebrou dizendo que precisava falar algo importante e tampouco tinha falado naquele dia. assentiu para que ele continuasse, esperando que fosse alguma estratégia para a situação vivida ou alguma boa nova sobre a quadrilha.
- Eu te amo. – foram as palavras que declarou, sorrindo-lhe terno.
Ela teve vontade de rir. Primeiro porque não esperava que fossem essas três palavras a coisa importante que o namorado tinha a lhe dizer. Segundo porque, bem, aquelas palavrinhas eram bem importantes, no final das contas. Um sentimento tão profundo...
De repente, gelara. Esqueceu-se de como se engolia, como se falava, ou como se mexia. Ela somente encarava os olhos do namorado percebendo que não mais flutuava sob eles. Que o brilho deles por si só não a fazia mais feliz.
A pele deles se tocou, mas não produzia aquela sensação boa que antigamente lhe proporcionava. Quando acabara aquilo, agora? Ou ela simplesmente não percebera antes que a sensação passara para um simples toque?
Pensando rapidamente, ela descobriu que encolher-se nos braços de não lhe servia mais de consolo porque, irrefutavelmente, estar longe dele lhe era o consolo.
Só faltava uma coisa.
avançou contra a sua boca, enfiando a língua num ato de desespero. Ele, claro, correspondeu, aproximando-se dela e a segurando carnalmente pela cintura. Nada da antiga boa sensação de pele com pele, pode confirmar. E, pior, a mistura de saliva não era nada mais do que... uma mistura de saliva.
Ela não se sentia a pessoa mais feliz do mundo por beijá-lo. Ter seu corpo apertado contra o de já não lhe parecia o gesto mais prazeroso existente na face da Terra. O beijo não era fisicamente ruim, mas era, simplesmente, normal. E isso, psicologicamente, era ruim demais.
Era isso. Não havia magia. E se deu conta de que não podia mais falar aquelas simples palavras: eu te amo.
E ela demorou para entender aquilo. Porque durante anos ela ficou acostumada a dizer Eu te amo. E como uma expressão tão pequena e tão importante deixa de ser usada de um dia pro outro?
Veja bem, o sentimento vai se esvanecendo dia a dia, pouco a pouco, sem a pessoa ao menos perceber. Mas a expressão continua... até que se percebe que aquelas palavras já não são a exata realidade. E então, em um dia, troca-se juras de amor e, no dia seguinte, aquelas três palavrinhas ficam entaladas na garganta.
E foi assim que, de repente, descobriu que já não mais amava seu namorado.

-#-

Na primeira vez que o viu, achou que ele era muito para ela. Já ouvira falar dele e do irmão, da nova quadrilha que formavam e os burburinhos diziam que ele era tão bonito quanto possessivo. Realmente, ele era lindo, forte, seguro de si, o estilo de cara que ela gostava.
Nos primeiros meses, enquanto o relacionamento deles não passava de amizade misturada a alguns carinhos de dois solitários, ela duvidou que as fofocas fossem verdade. Ele não podia ser o quão possessivo diziam. Gostava, sim, de dar ordens e se intrometer em assuntos alheios, mas não mais que isso.
Eles evoluíram. Começaram a namorar. estava maravilhada por tê-lo por perto, por tê-lo para si, somente. Cada sorriso que ele lhe dava fazia com que seu estômago revirasse de alegria. Quando ele a beijava, se arrepiava por inteira. Cada parte de seu corpo dizia: eu estou aqui e quero um beijo assim para mim também.
Tudo estava completamente bem. Até um cara dar em cima dela. Então, pouco a pouco, o relacionamento deles foi esfarelando. No início, o ciúme era fofo, acolhedor, protetor. Mesmo orgulhosa, ela gostava de se sentir tão desejada daquele jeito.
A atração, em algum momento, se tornou paixão. E, logo, amor. O carinho que tinha por ela, a proteção que lhe oferecia e o profundo sentimento a tocou. Ela nunca tivera uma presença masculina ativa em sua vida. Ele era o primeiro. Tão especial.
Mas, aí começou o pequeno inferno. As reclamações, o ciúmes exagerado e doentio, os puxões no braço, os gritos, as discussões. Durante muito tempo empurrou aquilo, desconsiderou os momentos ruim, ponderou-os pelos bons momentos que compartilhavam.
O fim. Quando a caixinha de sua paciência acaba e quando os defeitos não são mais embaçados pelas qualidades. Quando o sexo já não mais aquele enlouquecedor e metafísico momento. Quando parece que a reação química entre vocês perdeu o catalisador e, agora, ocorre tão mais lentamente. Quando ficar longe já não machuca o coração. Quando o amor se esvai.
- , me solte! – gritou, agitando seu braço na tentativa de tirar a mão do ex-namorado dali. – Você é surdo? Acabou! Essa coisa estranha e sádica entre nós acabou!
- É por causa daquele bastardo maldito, não? Do ! Você está me largando para ter uma aventura com ele. – acusou, gritando. Sacudiu-a, tentando a fazer falar.
Depois que chegara a conclusão de que tinha de terminar o relacionamento, decidira falar com o futuro ex-namorado. Nada fácil, considerando os minutos e minutos passados tentando colocar na cabeça daquele inútil que não queria absolutamente mais nada com ele.
- Não tem nada a ver com ele, ! Mas que mania de culpar os outros pelos SEUS erros! – enfiou-lhe o indicador no seu peito, fortificando sua acusação. – Durante muito tempo, você me maltratou com seu ciúme doentio. Deveria ter feito isso muito antes!
- Sua idiota! – ele brandeou, empurrando-a para a parede.
Ela quase caiu, trôpega, quando bateu a cabeça nas pedras, mas não se permitiu tirar os olhos dele. Não iria se rebaixar a ele. Não, nunca mais.
- Eu te amo, sua vadia! – ele continuou, se aproximando dela e cravando um de seus joelhos em sua coxa. Colocou a mãos nas pedras atrás dela e a prendeu ali. – Eu te amo. Você não entende? - diminuiu a voz, roçando sua boca na orelha da mulher.
- Você que não entende as coisas por aqui, . – ela manteve sua voz, mesmo tão perto dele. Ele já não exercia o mesmo poder sobre ela. – Isso que você sente por mim não é amor, é obsessão. Você é doente.
O silêncio do fim de sua fala foi cortado pelo agudo som de uma mão e um rosto em atrito. Ele havia batido nela! E com a mão que tinha um maldito anel. Ela riu possessa. E simplesmente retrucou o tapa, com toda a força que lhe pertencia. E riu novamente.
Ele recuou, a deixando livre. Agora, para sempre.
- Eu preciso de você. – ele exclamou com a cabeça cabisbaixa, a mão em seu rosto recém-machucado.
Ela já andava para sair dali, mas então voltou, somente para encará-lo uma última vez. Vitoriosa.
- Adeus, . E, se quer saber, você precisa é de tratamento!

-#-

Ela corria pela mata sem se importar com mais nada. Sentia suas dobras soarem e não ligava. Sentia seu rosto esquentar e ficar mais vermelho. Não ligava. Sentia suas pernas reclamarem pelo esforço. E não ligava.
Simplesmente não ligava.
Ela estava livre! Como há muito tempo não estava.
Fechou os olhos, sentindo o vento cortar sua pele. Ah, que maravilha!
Ops.
Ela sentiu bater em algo duro e caiu para trás. Sua bunda bateu no chão e ela gemeu de dor. Que ideia horrível tinha sido aquela de andar por um bosque de olhos fechados? Que idiotice! Com certeza bateria com tudo em uma árvore ou, pior, tropeçaria em um animal.
- Ei, maluca. – uma voz cortou seus pensamentos e ela finalmente abriu os olhos. Em reconhecimento, estes faiscaram. – Está inteira, ?
- Não por sua causa. – ela retrucou, ignorando a mão que o rapaz a estendeu como ajuda e levantando sozinha. – O que você está fazendo aqui? - ela limpou a sujeira de suas roupas.
Ele deu de ombros. Ela o encarou. Primeiro, nos olhos, vendo o nervosismo. Depois, desviou o olhar para suas costas. E viu uma mochila ali.
Iluminou-se.
Brincalhona, perguntou:
- Está fugindo de mim, ?

*

Se ao menos pensasse por mais um minuto em sua frase, ela veria o quão certa estava. O inocente e inofensivo pensamento era totalmente verdadeiro. E tremia. Encarava-a, vendo seu sorriso, e tentava demonstrar que achara ótima a brincadeira.
Mas só conseguia se esforçar para manter as pernas firmes. Ele gastara as últimas horas se despedindo dos mais próximos, arrumando suas coisas e tentando manter sua partida discreta para, logo depois de ter saído para sempre daquela caverna que havia confundido sua vida, encontrar logo a causa de tudo aquilo.
A sorridente, bonita e suada causa de tudo aquilo.
E então, não conseguia respirar direito, quanto mais formular uma resposta qualquer.
Por sorte, ignorou sua própria pergunta e continuou a falar:
- , eu finalmente fiz. – ela exclamou, completamente animada. O rapaz a olhou sem entender, a fazendo bufar. – Eu terminei com . Eu terminei com ele!
Ele sorriu. Não pode deixar de fazê-lo. Ali estava , aquela garota irritante que havia conhecido. Aquela que o desafiava, que brigava com ele pelos mais ridículos motivos. Aquela que mais o divertida e encantava. Aquela que ocupara todos os seus pensamentos. Aquela por quem se apaixonara.
E ela estava com os olhos brilhantes. Feliz. Feliz enquanto contava que terminara com o namorado. tentava processar as informações. Achara tão impossível que terminasse com aquele mauricinho, que vê-la falando que fizera era quase surreal. Quase.
Ela estava ali. Solteira. Feliz.
Ele estava ali. Solteiro. Ainda mais apaixonado.

*

- Eu discuti com uns Rengs, então decidi abandonar a quadrilha. Nunca foi pra mim, mesmo. – ele inventara aquela história tão rapidamente e era tão tremendamente simples, que nada soaria melhor como uma desculpa.
- É. – ela assentiu, caindo na mentira - Eu presumi isso quando o vi sem arma. Você nunca foi um bandido.
Ele rolou os olhos, embora se segurasse para rir.
- Sim, fui um bandido, . Só nunca fui um dos bons. – ele deu de ombros, fazendo-a rir.
- Bom, para sua sorte, eu sou uma das boas. – ela mostrou-lhe a pistola no cós do short.
Um silêncio constrangedor os atingiu. sorriu, mas, dessa vez, foi forçado. As palavras de ecoavam. Embutidas nelas estavam muitas outras. Ao menos a pretensão de continuar com ele. Ou ele estava exagerando?
- ... Eu estava pensando...
Em meio a toda aquela alegria do término, um pensamento atingiu . Um simples: o que fazer agora? A resposta, no entanto, parecia ser complexa. Com o fim do jeito que foi, era improvável que ainda fosse aceita na quadrilha. Mesmo que a aceitassem, ela não queria conviver com . Não mais.
Mas, isso... Isso a deixava sem ninguém. Ela não tinha mais ninguém a não ser , , e Brian. Mas não poderia mais tê-los. Ela estava... Sozinha. Sozinha novamente.
Por isso tivera aquela maluca e arriscada ideia. Porque, apesar de insana, parecia-lhe melhor que ficar sozinha. E , afinal, era o mais perto de um irmão que ela tinha, não?
Não. Não irmão. Primo.
De qualquer jeito, era o cara que conhecera e admirara sua mãe. E que a conhecia.
E a animava, com suas palavras galanteadoras.
E a irritava, com a série de discussões.
E a divertia, com seu jeito.
O encarou, sorrindo. Poucos dias bastaram, mas quem precisa de mais? Ele era especial. sabia.
Ele sorriu um sorriso de meia boca. E piscou o olho para ela.
Ela decidiu.
- Vamos fugir juntos.
O futuro está por vir. E ele não será fácil.

FIM



Nota final da autora (26/06/14): Minha dificuldade pra escrever essa última nota é tremenda. E olhem que nem é a verdadeira última nota de Factory Girl. Ainda teremos muitas das minhas irritantes palavras na parte 2. -E fiquem tranquilas, ainda tenho duas páginas só de ideias/acontecimentos de FG. - Ainda sim, é um marco. A primeira parte de FG chega ao fim. E quem tá comigo desde o começo, sabe o quanto eu penei pra chegar aqui. Foram ao menos dois grandes bloqueios, com parada de meses. Meses. E vocês simplesmente não me abandonaram.
O que falar de vocês, leitoras de FG? Vocês são sensacionais, simplesmente as melhores! Cada comentário que eu li me deu tremenda vontade de chorar e cada pedido por mais me fazia ter ainda mais certeza de que, sim, eu fiz a coisa certa ao começar essa fic. E algumas me perguntaram, com medo, sobre abandono. Mas como eu posso abandonar vocês? E como poderia deixar vocês sem o querido do ex-militar, o ciumento namorado, o fofo amigo ou o intrigante e maravilhoso principal?
Eu só tenho que agradecê-las por absolutamente tudo. É impossível citar todas aqui, mas eu faço questão de responder todas nos comentários-e farei dessa vez, então depois dê uma olhada.
Vou agradecer em especial a duas pessoas. Eu tenho que. Sem elas FG não seria mais que uma ideia. Primeiro, minha linda beta Andy, que me abandonou de repente, mas que acompanhava minhas loucuras desde minha primeira long. Apesar da falta de contato pelas vidas corridas, aonde você tiver, sabia que foi um privilégio ter tido você como corretora das minhas fics. Você é sensacional, obrigada pelas boas experiências!
E, claro, a Fê. Minha amiga magrela, viciada em ficção cientifica e um pouco louca por me aturar. Pouco? Ela é tipo minha agente - sem tipo, ela é hahaha - e eu prometo pagá-la pelos danos morais com livros - se, algum dia, eu consegui publicá-los. Mas, sério, ela lê absolutamente tudo – tudo mesmo e olha que não é pouco - que eu escrevo e sem ela, bom, fica ate difícil kkkkkk. Sem ela, FG nunca teria ido pra frente. *todomundomandabeijopraFê* Então, obrigada amiga, você é a melhor! Mil Henry Cavill pra você!
E, como eu disse, essa bagaça aqui não é despedida, tanto que a beta é novíssima na área. Bem-vinda, Carol! E obrigada por aceitar isso aqui. Daqui a pouco você se acostuma com minhas loucuras ;)
Então, afinal, a pergunta que vale ouro: vocês gostaram dessa parada de fim aê?
Eu tinha a ideia da fuga desde o instante em que pensei na fic, dois anos e meio atrás. Mudei algumas circunstâncias que, no meu ponto de vista, melhoraram a história da fic, mas minhas ideias continuam se encaixando e tudo que eu imaginei pra fic pouco a pouco se concretizando. Então, preciso saber de vocês: gostaram???
Por fim, queria mandar um beijão no coração pra todas que leram isso aqui. Sério. E, por favor, mesmo, *implorandodejoelhos*, escrevam um comentário aqui embaixo! Please! Vou responder a todos!

Importante agora galera, os meus contatos, pra vocês surtarem enquanto a parte 2 não vem. Grupo das minhas fics (rola spoiler e promoções!!):
https://www.facebook.com/groups/392061090888737/665199183574925/?notif_t=group_comment
Meu facebook: https://www.facebook.com/bruna.avelino.90
O tumblr das minhas fics (em especial FG – Rola spoiler e atualização antes!): http://bruhffics.tumblr.com/

Me procurem! Beijos!


Nota da Beta: Obrigada pela introdução, Bruna! Você é fofa demais. <33
Meninas, qualquer erro, entrem em contato comigo por email.
- Carol

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