CapaFic: When it all keeps falling apart

- Posso te pedir um favor então? - perguntei, encarando bem nos olhos.
- O que quiser, - ele me respondeu, prestativo como sempre.
- Não espere por mim - soltei de uma vez, depois de reunir toda coragem que ainda tinha.
- Como assim? - Ele me olhava confuso, contorcendo o rosto. - Fiz alguma coisa errada?
Meu coração doeu. Eu estava ali, sendo uma super megera e ele ainda pensava que era o problema.
- Não, pelo contrário... Você tem sido maravilhoso, . De verdade - me apressei em explicar, antes que doesse mais. - Mas é que eu pensei e... Resolvi que não vou te forçar a esperar por mim, sabe? Só Deus sabe quanto tempo eu vou demorar pra me curar desse vício e eu não vou te prender comigo. Nem a você e nem aos outros.
- E desde quando você se acha responsável por essa decisão? Eu posso pensar em você e te esperar o tempo que eu quiser, e você não pode fazer nada.
- Mas é exatamente por isso que eu estou te
pedindo pra não me esperar, não me mandar cartas, não me visitar e nem nada. Vai ser melhor pra mim e pra todos vocês. - Eu o encarava a todo o momento, e isso não estava facilitando as coisas, mas era assim que tinha que ser.
- Ok, me explica uma coisa... Você bebeu?
Arqueei uma sobrancelha, cética.
- Desculpe, é força do hábito - disse, provavelmente entrando em conflito com sua mente por não pensar antes de falar, mas eu não liguei. - Não sei mais o que estou falando, mas só sei que isso não é o melhor pra ninguém! Eu te amo, os meninos te amam, você sabe disso...
O pior é que eu sabia.
- Se eu ficar sozinha, acho que posso me encontrar mais rápido. - Suspirei e segurei uma de suas mãos. - Posso me concentrar apenas em ficar boa logo pra poder ver vocês novamente, entende?
- Eu não te entendo, ... Definitivamente não entendo.
- Olha... - Respirei fundo antes de continuar. - Você não precisa me entender, é só fazer o que eu tô pedindo, na verdade, mandando. Se você mandar cartas, eu não vou ler. E se você ligar, não vou atender. Nem você, nem os meninos e nem ninguém.
- Mas - tentou me impedir de continuar, mas eu fui mais rápida:
- Se quando eu sair, a vida de vocês ainda for a mesma, pode deixar que eu vou procurá-los. Mas caso você tenha seguido sua vida em frente, eu vou totalmente entender e tentar seguir com a minha também. Esse tempo que eu vou ter sozinha é minha chance de me reencontrar, colocar a cabeça no lugar e decidir de uma vez por todas o que eu quero. E sugiro que você faça o mesmo. Assim poderemos começar do zero quando nos encontrarmos lá fora, ou então simplesmente não começar. - Meus ombros contraíram e meu estômago embrulhou só de mencionar essa possibilidade. Mas então imediatamente, como um raio, um ditado veio à minha cabeça:
“If you love something, set it free. If it comes back, it’s yours. If it doesn’t, it never was"
- Eu não acredito que vamos voltar a essa estaca de novo. Já não passamos por isso?
Eu continuei o encarando, com aquelas frases ecoando em minha mente, e eu não conseguia falar nada. Mas então caí na real, eu tinha que ser mais convincente se quisesse que aquilo desse certo.
- , tenta entender que é para que não precisemos passar por nenhum constrangimento desse tipo de novo que eu estou tomando essa decisão, ok? - falei no tom mais severo que achei dentro de mim. Se brigar desse errado, não havia um plano C. - Que saco, cara! - completei, tentando parecer furiosa.
- Cara... - se levantou e virou-se para a porta, provavelmente se perguntando o que tinha de errado comigo.
- Você pode me deixar sozinha por um tempo? - Aproveitei que ele estava de costas para mim e limpei uma lágrima teimosa. - Pode me deixar sozinha, por favor? - dei minha última tacada.
“If you love something, set it free. If it comes back, it’s yours. If it doesn’t, it never was"

Capítulo 1 - I'll be strong, even if it all goes wrong...

esperou um tempo sentada em um banco perto da estação onde tinha deixado . Inicialmente sem objetivo, mas o tempo acabou passando mais rápido do que ela desejava e ela acabou ficando por ali até decidir o que faria agora. Não de sua vida, mas pelo menos o que faria para salvar seu primeiro dia fora da Clínica de ser um completo desastre.
Ir para casa era uma opção, porém, chegando lá, o que ela faria? Nem sabia ao certo onde as coisas estavam por lá e não estava com paciência para ficar procurando. Mas como não tinha mais ninguém e nem conhecia lugares onde pudesse se divertir sozinha longe de problemas, acabou dirigindo lentamente ao som de trilhas sonoras como Holiday, do Boys Like Girls.
Chegando em casa, isolou os sapatos pela sala impecavelmente arrumada e se jogou em um pufe novo que estava por ali e nem havia sido notado ainda. A garota pegou o telefone e ficou encarando-o. Pensou em ligar para , mas ela a mataria, pois nem em Bolton ela deveria ter chegado ainda. e os outros meninos ainda nem sabiam que ela já estava em casa, e ela não se sentia preparada para contar no momento. Sem contar que o fato de falar com eles pela primeira vez já seria estranho o suficiente pessoalmente, que dirá por telefone. Cogitou até ligar para Joseph e perguntar sobre a série e quando ela poderia voltar a gravar, coisas assim... Mas não estava com humor para aguentar qualquer tipo de bronca.
Os olhos de percorreram a sala em busca de alguma coisa para fazer. Pararam sobre a televisão e alguns DVDs organizados na prateleira embaixo do mesmo. Filmes. É, poderia ver alguns filmes, mas ninguém merece assistir uma comédia sem alguém para rir junto. Lembrou-se que, na Clínica, ela e Mitchell assistiram as mesmas comédias e os mesmos filmes românticos água com açúcar por umas quarenta vezes, chegando até a decorar as falas e interpretá-las junto com os personagens. Mitchell, já estava deixando saudades...
- Mitch, o que deu em você pra não me ligar? - berrou no telefone assim que a voz sonolenta do rapaz atendeu casualmente. Como ela não tinha pensado nele antes? Era óbvio demais! Ela tinha que passar o primeiro dia fora da Clinica com a única pessoa que tinha lhe servido de companhia para esse tempo!
- Achei que você tivesse se divertindo com seus velhos amigos e não quis atrapalhar, Applebee.
- Bem, eu fui ao cinema com , mas ela já foi embora...
- Hum, então você resolveu chamar a segunda opção que, por acaso, está sempre livre, certo?
- Pense o que quiser, mas a verdade é que foi mudança demais pra minha cabeça e eu esqueci que não posso te berrar a qualquer momento que você aparece na minha porta trazendo um pudim furtado.
Mitch soltou uma gargalhada lembrando-se dos apertos que passara para roubar o pudim de chocolate na cozinha antes do jantar para .
- A única mudança é que agora você tem que ligar ao invés de gritar e o pudim não vai ser mais furtado. - Os dois riram juntos. - Apareço aí em vinte minutos ou um pouco mais. Espere por mim bem vestida.
Finalmente, vamos sair!!! comemorava enquanto tentava escolher alguma coisa em seu armário pela primeira vez arrumado decentemente. Uma gaveta só para saias e shorts? Que sonho! tinha feito um ótimo trabalho arrumando tudo por ali.

O celular de apitou e ela foi correndo para ver, esperando inconscientemente que fosse um SMS de querendo saber se os boatos de que ela tinha se recuperado eram verdades, ou um de dizendo que estava com saudades.
Cheguei em Bolton, estou bem. Aproveite o fim do seu dia, não fique em casa lamentando-se, ok? Era o que dizia a mensagem de .
Antes que pudesse responder, o que ela não ia fazer de qualquer jeito, a campainha tocou. pegou sua bolsa, antes jogada no sofá, e correu para porta.
- Aonde pensa que vamos, mocinha? - Mitchell perguntou, olhando-a de cima a baixo.
- Qualquer lugar que você me levar, ué - ela respondeu também observando-o. Ele estava básico, jeans e camisa pólo listrada em tons de marrom e rosa, mas que enganavam como preto e vermelho.
- Ah não, ! - Mitch riu, entendendo o porquê dela estar toda arrumada como se fosse para uma festa ou algo assim. - Quando eu mandei você se arrumar não era porque nós vamos sair, e sim porque eu cansei de olhar para você de pijamas em cores pastéis.
deu um tapa no braço de Mitch quando ele passou por ela, entrando no apartamento.
- Uau, já teve tempo de arrumar? - ele perguntou observando o local com aprovação.
- Não, na verdade fez isso pra mim, acho... - parou atrás de Mitchell, que ainda estava olhando de um lado para o outro da sala.
- E você já ligou para o ? - Finalmente Mitch se mexeu e andou até o sofá, depositando um saco marrom que carregava sem que notasse em cima da mesa. - Porque se não ligou, aconselho a fazer logo. Não se esqueça das milhões de garotinhas histéricas que devem ter ficado correndo atrás dele o tempo todo em que você passou internada.
- Obrigada por me lembrar desse detalhe - disse sarcástica, pegando o pacote misterioso de cima da mesa. - Ainda não liguei e nem vou ligar hoje, talvez amanhã, ou depois... Mas o que trouxe pra mim?
- Adivinha? - Mitch perguntou divertindo-se com a cara de reprovação que lhe lançou assim que abriu o saco.
- Mitch, você sabe que eu odeio pudim de qualquer coisa que não seja chocolate!
- Que isso, Applebee, você precisa variar um pouco, sabia? Está com a cabeça muito fechada ultimamente... Você não parecia ser assim quando eu lia alguma coisa sobre você nas revistas.
- Eu era inconsequente, ok? E quando você me conheceu eu estava tentando mudar isso. - deixou o pudim em cima da mesa.
- Hm, eu tô com fome. O que tem por aqui, hein? - Mitch se levantou e puxou pelo braço, mudando de assunto repentinamente, como sempre fazia quando julgava conveniente.
o guiou até a cozinha, percebendo que não tinha entrado ali direito depois que chegara. Abriu a geladeira e observou que tinha basicamente tudo que ela precisaria para sobreviver saudavelmente por um mês. E frutas demais, com certeza coisa de , a viciada em frutas.
- Nossa - Mitch soltou um assovio, observando a geladeira. - Seus amigos realmente gostam de você, hum? Os meus não devem nem ter mais meu número no celular deles.
- Ah que isso, Mitch! Pelas histórias que você me contou, amigos é o que não falta na sua vida...
- , meus amigos que você ouviu falar só eram meus amigos por causa do meu dinheiro - Mitch disse com a voz alterada, enquanto pegava uma barrinha de cereal na geladeira. - Isso não devia estar aqui. - Ele tentou mudar de assunto como sempre.
- Não acho que isso seja verdade, porque dinheiro você ainda tem. Provavelmente eles nem sabem que você já saiu da Clínica e estão esperando por uma ligação sua.
- Acorda, Applebee, o mundo é mais cruel do que você pensa... - Ele riu friamente, dando uma mordida forte na barra. - Acontece que eu já não represento mais aquela diversão de antigamente para eles. Agora me tornei um "careta". - Ele fez aspas com os dedos.
- Eu acho que você está se precipitando em julgá-los, ok? Nem falou com eles e já está aí supondo coisas...
- Eu já ri de muitos amigos meus que terminaram assim como eu, e já chamei muitos de caretas também. - Mitchell encarou-a com expressão entediada. - Acredite, sei o que estou dizendo.

- Mitch, o que vamos fazer agora? - perguntou baixinho com a voz meio rouca, devido ao tempo em silêncio. Ela e Mitchell estavam deitados no tapete da sala de , assistindo a seriados da Warner há mais de duas horas, atualizando-se do que estava acontecendo neles, já que não podiam assistir enquanto estavam na Clínica.
- Terminar de assistir Cold Case e depois mudar de canal, porque eu não suporto Gossip Girl - ele respondeu sem tirar os olhos da tevê.
- Eu gosto de Gossip. - Ela deu um tapinha fraco no braço do rapaz. - Mas não é a isso que eu estou me referindo... - se virou no tapete, ficando de costas para seu amigo. - Quero dizer, você já pensou no que vai fazer da sua vida agora? Tem planos?
- Hum... - Ele pensou um pouco, abaixando o volume da tevê. - Acho que vou procurar meus pais e avisar que eu saí da Clínica.
- Está com saudades deles? - Um sorrisinho se formou no rosto de , que perguntou em tom de provocação. Mitch sempre se referia à família como pessoas quaisquer. Ele nunca admitia que precisava de algum favor que não fosse financeiro vindo deles.
O ódio era impressionante e não tinha razão aparente.
- Óbvio que não! Mas preciso avisá-los para poderem parar de depositar dinheiro para a Clínica e voltarem a fazer isso direto para minha conta - Mitch respondeu indiferente, dando uma risadinha do comentário de . - Mas e você? Vai procurar os seus?
- É, andei pensando nisso. A última vez que falei com eles foi mês passado, eles disseram que estavam pensando em voltar para Bolton. Aparentemente cansaram de viajar.
- Eles são espertos, sabia? Nós deveríamos sair em um tour pela Inglaterra assim que nem eles qualquer dia desses. Eu, você, um carro e pouco dinheiro.
- Até parece! - riu escandalosamente. - Não íamos chegar nem na esquina, Mitch!
- É, você tem razão. Dinheiro não pode faltar.
- Eu também tenho que avisar pessoalmente os meninos... - Inquieta, se virou novamente, ficando de barriga para cima, encarando o teto branco. - Apesar de não saber nem com que cara chegar para falar com eles.
- E será que eles já não sabem?
- Como eles saberiam se eu ignorei os telefonemas deles esse tempo todo?
- , você já procurou ver o que a mídia falou de você esse tempo todo? Eles já devem ter publicado sua saída também.
- Ai meu Deus! - se sentou imediatamente. - Eu não tinha pensado nisso! Preciso correr para uma banca que tenha todas as revistas desses últimos cinco meses!
- Applebee, relaxa aí. - Mitchell sentou-se ao lado da garota, colocando uma mão no ombro dela. - Amanhã a gente vê isso, com certeza não tem mais nenhuma banca aberta. Muito menos uma que tenha tudo isso que você quer. - O rapaz olhou no relógio de pulso. - Puta que pariu, melhor eu ir indo embora...
- Por quê? Que horas são?
- Dez pra uma - Mitch respondeu enquanto se levantava apressado, já procurando seu par de tênis embaixo do sofá. - Tenho que ir deixar o feijão de molho pro almoço de amanhã.
caiu de costas no chão novamente, rindo escandalosamente.
- Dorme aiiii, Miiiitch - ela pediu com a voz arrastada.
- Tá maluca? - Ele parou em frente à com as mãos na cintura e os pés devidamente calçados. - É a primeira vez que eu venho na sua casa, não posso chegar dormindo aqui! Minha mãe me deu bons modos... Pelo menos isso, né - acrescentou com a voz mais baixa.
- Tudo bem, não te convido pro chá da tarde amanhã!
Mitchell abriu a porta e virou-se para olhar a garota pela última vez, fingindo indignação.
- Boa noite, mal educada!
ouviu a porta batendo e fechou os olhos, deitada no tapete mesmo, esperando o sono chegar. Mesmo com o esforço para pensar no preto e mesmo apertando os olhos com as mãos para mantê-los fechados, o sono não veio. Ela se levantou rápido demais, o que causou uma leve tontura. Cambaleando, foi até o banheiro do corredor e ficou um bom tempo se olhando no espelho enquanto bocejava.
- Mitch? Você voltou? - perguntou alto, com a voz receosa assim que pensou ter ouvido o som de uma porta se abrindo.
Ela foi andando cautelosamente de volta para a sala, chamando baixinho o nome de Mitch.
- Puta que pariu! - berrou encarando-a pasmo. levou uma mão ao peito e outra à boca, impedindo-se de ter um enfarte e de gritar. - O que você tá fazendo aqui? - ele perguntou.
- Eu ainda moro aqui! - respondeu com a voz esganiçada. - A pergunta seria o que você está fazendo aqui, e com um... - os olhos da garota pararam em um ponto baixo, ao lado da perna de - cachorro?
- Ah, essa é a Phoebe - anunciou com um sorriso, olhando para a cadela. - Phoebe, essa é a sua dona de quem te falei, .
- Sua dona? Essa... Cadela é minha?
Ambos ficaram encarando Phoebe por uns segundos, até que ela deu um latido alto, chamando-os para a realidade.
- Meu Deus, você está aqui! - exclamou antes de soltar a coleira que carregava e ir em direção à , abraçando-a bem apertado. - Nem acredito que finalmente você está aqui, na minha frente! – ele falava enquanto a abraçava. - Mas o que exatamente tá fazendo aqui? Você saiu da Clínica?
- Aparentemente sim. - Ela sorriu assim que ele a soltou e ficou encarando-a, ainda abismado com a situação.
- Nossa! - foi tudo que ele conseguiu falar.
Por um tempo, ficou apenas segurando-a pelo braço e observando seu rosto, convencendo-se de que era realmente que estava ali em sua frente. E ... Bem, ela estava completamente sem jeito e sem saber o que pensar.
- Eu pensei tanto em como seria esse momento, de todas as maneiras possíveis, em todos os lugares... - resolveu falar alguma coisa, com os olhos ainda vidrados na garota. - Mas acho que estava me esquecendo do detalhe mais importante desse reencontro... - Ele suspirou pesado, passando delicadamente as costas da sua mão pela bochecha dela. - Eu tinha me esquecido do seu rosto e de... como ele me traz uma certa paz!
- Eu ainda não sei o que falar... - arriscou algumas palavras. - Não tinha me preparado psicologicamente para esse momento. - Ela soltou um risinho nervoso e a puxou novamente para um abraço, afagando seus cabelos.
- Saudades, ... - ele falou respirando fundo, com o rosto enfiado em seus cabelos.
- Também senti muita sua falta, - disse o nome do rapaz com um tom forte, tentando convencer-se de que estava realmente falando o nome dele com ele. Ninguém mais, ninguém menos do que ele.
Novamente um latido de Phoebe os despertou e fez com que o abraço terminasse.
- , não é que eu me importe, mas o que você está fazendo na minha casa à uma hora da manhã? - ela perguntou arqueando a sobrancelha e olhando novamente para a cadela.
- Ah - riu abertamente - é que eu comprei ela pra você há uns meses atrás, quando disseram nas revistas que você já estava prestes a sair da Clínica... - Ele pegou novamente a coleira caída no chão e estendeu-a para . - Mas como desmentiram uma semana depois, eu resolvi cuidar dela até você sair realmente.
- Hum... - resmungou, ainda esperando uma resposta para o motivo dele estar ali aquela hora da manhã.
- Aí eu levei ela pra minha casa e no início estávamos nos dando muito bem, mas aí começamos a gravar mais um CD, os shows ficaram mais frequentes e ela começou a se sentir um pouco sozinha, tadinha... Acho que até ficou doente, segundo .
- ?
- É, ele entende de cachorros. - deu de ombros e continuou sua história. - Enfim, disse que eu precisava passear com ela, mas o único horário que eu tenho ultimamente é o da madrugada, então eu tenho vindo aqui pelo menos três vezes na semana para acostumá-la com sua nova casa.
terminou a explicação com um sorriso no rosto, e permanecia encarando a cadela, sem reação. A idéia de ter que cuidar de algum ser vivo além dela mesma não a agradava nem um pouco, mas depois de todo o trabalho que parecia ter tido com a coitadinha, não tinha como simplesmente dizer a ele que ela não a queria.
- Ela é... uma gracinha, ! - exclamou por fim, fingindo um sorriso enorme. - Muito obrigada, de verdade!
- De nada. - Ele bocejou. - Mas e você, como está se sentindo? Preciso ficar a par das novidades e de todo o resto...
- Bem, tenho certeza de que vou ter tempo o suficiente de agora em diante para te informar da minha rotina super interessante durante os últimos cinco meses... - observou a feição de por um tempo antes de prosseguir. Ele parecia acabado. Estava com olheiras, roupas levemente amassadas e cabelos parcialmente desgrenhados. Isso sem contar com o pequeno e discreto chupão do lado direito do pescoço, que só fora percebido por ela. - Mas agora você me parece muito cansado, então pode ir dormir. Phoebe já está entregue e eu não vou ficar te prendendo aqui, ok?
- Ah, que isso, ! Eu poderia ficar aqui ouvindo - ele tentou disfarçar um bocejo tapando a boca com uma mão - você falar até de manhã...
- Tudo bem, . - lançou-lhe um sorriso reconfortante, pegando a mão dele. - A gente pode conversar amanhã, ou qualquer dia desses.
- Já que você insiste, eu vou nessa mesmo. - Ele deu um beijo demasiado demorado na testa dela e bocejou novamente em seguida. - Te ligo, tá bem? Não some de novo.

Capítulo 2 - Superstar! Where're you from, how's it going? I know you, got a clue what you're doing...

Hey, aqui é a . Sim, estou de volta... Deixe seu recado e eu retorno a ligação! Simples assim.
(Sinal)
Oi, , sou eu, . Ouvi seu recado hoje, mas acho que você me mandou ontem. Enfim, desculpa, mas não deu pra gente se encontrar ontem, nem vai dar hoje e pelo jeito que as coisas vão, nem pelo resto da semana... Desculpa, , eu sinto muito mesmo (berros ao fundo). Bem, está me chamando. A gente se vê por aí, estou com saudades.
(Clique)

Parada em frente ao telefone, encarando o aparelho enquanto escovava seus cabelos mais longos do que nunca, ouvia aquela mensagem pela terceira vez. Ela estava prestes a apertar o botão para repetir novamente, mas Phoebe começou a latir mais alto e a esfregar o focinho na perna da garota.
- Que foi, Phoebe? - berrou e bufou, olhando para baixo, mais precisamente para a cadela. - Eu já não te dei tudo que você precisava? - Ela se abaixou e colocou uma mão na cabeça de Phoebe, acariciando sua orelha. - O que você quer de mim? Sua tigela de água está cheia, e a de ração transbordando! - forçou a cabeça da cadela para as tigelas no canto da sala. - Me diiiz, do que mais você precisa?
O telefone começou a tocar insistentemente. bufou novamente, fechou os olhos e se martirizou mentalmente.
- Fica quietinha aqui, Phoebe - ela ordenou com o dedo apontado no focinho da cadela. - Ou vai lá comer alguma coisa. - Deu um tapinha na bunda da mesma e, quando se levantou para atender ao telefone, ouviu a chamada da caixa postal.

Hey, aqui é a . Sim, estou de volta... Deixe seu recado e eu retorno a ligação! Simples assim.
(Sinal)
Applebee, sou eu. Mitch. Tá, eu sei que você sabe que sou eu, mas é bom falar, certo? Enfim, só liguei pra te avisar que é bom você dar uma voltinha pela rua hoje e de preferência passar em uma banca, ok? Eu poderia ser direto com você agora, mas detesto ser portador de más notícias. Te vejo de noite?
(Clique)

- Puta merda - ela xingou para si mesma.
tirou o pijama e vestiu qualquer coisa (literalmente, já que ela ainda não sabia muito bem onde as coisas estavam na nova arrumação do apartamento), pegou o celular, enfiou-o no bolso junto com algum dinheiro e a chave de casa. Assim que abriu a porta, Phoebe veio correndo latindo alto novamente e saiu pela porta antes mesmo que pudesse fazê-lo.
- Ah, então era isso que você queria, cabeção? - riu consigo mesma e fechou a porta, dirigindo-se ao elevador com Phoebe. - E por que não me disse que queria passear? Era só ter arranhado a porta, pegado a coleira, qualquer coisa assim! Pensando bem, continue sem arranhar a porta, fofinha.
O elevador abriu e as duas ( e Phoebe) entraram no mesmo rapidamente.
- Bom dia, senhorita . - Sr. de Silva, o brasileiro que trabalhava no elevador do prédio, sorriu simpático. - Vejo que tem companhia em casa agora.
- É, um amigo me deu há uns dias - respondeu olhando para o teto. Ela achava o 'moço do elevador' bem simpático e tudo mais, e não via problema no sotaque dele como alguns outros moradores, mas estava preocupada demais com as revistas para ficar de papo no elevador.
- Para comemorar a volta para casa?
não teve tempo de responder, a porta do elevador abriu, salvando-a do constrangimento. Ela sorriu levemente para o homem e saiu atrás de Phoebe, que já tinha corrido metade do saguão.
Assim que conseguiu pegar a cadela no colo, agradecendo por ela ainda ser pequena, a garota soltou seu cabelo antes preso num coque mal feito e encarou a rua ensolarada e movimentada. Respirou fundo, desajeitadamente ajeitou a franja apenas com uma mão para tapar o máximo possível do seu rosto e deu seus primeiros passos nervosos.
Focada no propósito de encontrar uma banca, não reparou nos olhares que recebia não só pela fama, mas também por estar carregando um cão histérico se remexendo no colo.
Phoebe foi parar no chão assim que os olhos da garota localizaram uma revista pendurada do lado de fora da banca.
Vejam quem está de volta! Era a frase escrita embaixo de uma foto de mandando beijinhos.
A foto não era a principal da capa, mas estava na capa! Ao lado de uma foto da ganhadora do concurso de calouros!
Num impulso, pegou a revista pendurada e furiosamente começou a virar as páginas, procurando pela matéria interessada.
- Hey! Tem mais exemplares aqui dentro, esse está apenas para amostra! - um senhor berrou de dentro da banca, mas ela não entendeu nem metade das palavras dele.

Recém saída do Instituto para Dependentes MAC, (Everything I'm Not), de 18 anos, foi vista no cinema com uma amiga não reconhecida na terça-feira passada. Há rumores de que ela deixou a Clínica naquela mesma manhã, acompanhada de outro ex-interno, e foi direto para o cinema. Não podemos afirmar com certeza o fato, nem a hora do ocorrido, pois os funcionários se recusaram a nos responder alegando que " é uma moça muito especial e não merece isso". A questão é que depois desse episódio, a jovem não deixou seu apartamento, onde costumava morar com o nosso eterno querido e seu ex, Ethan McGuire.
Ao que parece, ela andou ocupada demais recebendo visitas importantes de socialites ex-companheiras da reabilitação e de certos integrantes da banda McFly. Hmmm, sentiram cheiro de romance no ar?
também se recusou a tocar no assunto, dando como resposta às nossas perguntas apenas um sorrisinho tímido. Tudo bem, , nós entendemos que você precise de algum tempo para digerir bem a volta da sua queridinha!
Enquanto tentamos entrar em contato com , que aparentemente está incomunicável, nos resta torcer para que ela tenha realmente se recuperado e possa voltar logo em cena, redimindo-se com seus fãs desapontados.
E também, é claro, continuar com as especulações de algumas perguntas que estão pelo ar completamente sem respostas:
' passou realmente esses cinco meses internada na Clínica de Reabilitação?'
'Quem são os amiguinhos que ela fez por lá?'
'As amizades do lado de fora foram mantidas durante esse período?' Matt Striker, ex companheiro de filmagem da garota, diz que sim. "Amigos são para esses momentos também, certo?" ele afirma.
'Será que será considerada morta para o show business, assim como sua personagem foi morta misteriosamente?'
Bem, eu particularmente estou muito curiosa para saber essas e outras respostas. Mandem e-mails para a gente se souber de alguma noticia recente! Até a próxima, pessoal.


- Moça, você não é essa da foto? - o jornaleiro, que estava tentando chamar atenção da garota enquanto ela lia a matéria chocada, perguntou, apontando para uma foto de e andando em silêncio na última terça-feira.
- Quanto custa essa? - perguntou, fechando a revista com um baque e encarando-o.
- Achei que vocês famosos eram os primeiros a receberem essas revistas de fofoca! - Ele riu achando sua piadinha divertida.
o encarou séria, ainda querendo saber o preço da maldita revista.
- Tudo bem, pode ficar com essa. - Ele abanou o ar com as mãos. - Já lucrei muito com esse exemplar hoje! Você não tem idéia, mas essa está vendendo como água! E olha que eu nem me lembrava mais de você...
O jornaleiro continuou tagarelando, mas já não ouvia mais. Ela pegou novamente Phoebe, que milagrosamente estava quieta num canto rodando em volta do poste, e saiu andando em busca de um pet shop.

Enquanto ela andava pelas ruas ignorando os olhares maliciosos que agora eram facilmente percebidos por ela, se perguntava se já tinha visto a revista e o que ele achara daquilo tudo.
Mais do que nunca, a garota queria matar Joseph, Matt e aquela autorazinha metida a besta que se acha a dona da verdade.
E, mais do que nunca, ela tentava controlar suas lágrimas e manter-se focada no próximo objetivo: comprar uma coleira e uma ração diferente.
- Bom dia - controlou sua voz e se aproximou da balconista para ver seu crachá -, Cassandra - completou.
- Bom dia... - Cassandra interrompeu-se para pensar se deveria demonstrar que conhecia sua cliente. Resolveu não continuar.
passou seus olhos pelos produtos atrás de Cassandra, se perguntando o que seria a maioria das coisas à venda ali.
"Eu realmente preciso me interessar mais por animais em geral" ela pensava.
- Bem, eu queria saber a raça do meu cachorro. - Ela estendeu Phoebe e depositou-a em cima do balcão.
Isso não estava nos planos, mas como ela não sabia e nem havia pensado sobre isso antes, resolveu perguntar.
- Hm, eu não posso me considerar uma especialista nisso, mas me parece ser uma mistura de Pit Bull com o Mastiff Inglês... Mas pode ser só um ou outro, é mais garantido consultar um veterinário mesmo - Cassandra respondeu incerta, alisando os pêlos da cadela. - Como se chama?
- . - a garota respondeu sem dar atenção à vendedora.
- Eu sei disso - Cassadra disse rapidamente e depois se arrependeu de demonstrar que a conhecia. - Quero dizer... - percebeu o nervosismo na voz dela - Eu perguntei da cadela.
- Ah sim. - Ela sorriu, tentando reconfortar Cassandra. - É Phoebe. quem escolheu - ela disse sorrindo mais ainda, esfregando o focinho de Phoebe.
Já que claramente a moça sabia de tudo que estava acontecendo, achou que seria divertido intrigá-la um pouco mais.
- Bem, , posso lhe ajudar em mais alguma coisa?
- É, estou procurando por uma ração que seja do agrado de Phoebe, e também uma coleira estilosa.
- Um instante. - Cassandra saiu de trás do balcão e entrou em uma portinha por ali.
deixou Phoebe no chão e apoiou os cotovelos no balcão, de costas para o mesmo. Incrivelmente, a vontade de chorar havia passado e ela agradeceu mentalmente por não ter corrido para casa como faria antigamente, já que claramente isso só pioraria as coisas. Ela precisava de distração, assim não pensaria nos outros ao seu redor e no que eles estavam pensando e comentando sobre ela.
Mas a raiva não tinha passado. Simplesmente tinha se transformado em cinismo para com as pessoas que a encaravam. E, por isso, sorria cinicamente para todos os presentes na loja.
Cassandra voltou com algumas coleiras bonitinhas e com desenhos e uma ração que afirmou ser a favorita dos cachorros atuais. agradeceu à vendedora e saiu da loja carregando um saco relativamente pesado de ração, mas pelo menos Phoebe já estava com a coleira verde limão.
Por algum tempo, ela caminhou sem rumo, passando várias vezes por seu prédio, mas sempre dando a volta com medo de entrar e a onda de depressão voltar.

Capítulo 3 - The boys are back!

O táxi parou em frente à casa dos meninos. Dos seus ex-amigos. Ou amigos, quem sabia? não sabia, e tinha medo de descobrir. Mas como sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentá-los, por que não quando seu corpo está agindo sem a ajuda da mente?
pagou ao homem do táxi e saiu do carro com Phoebe no colo, olhando fixamente para o único quarto com a luz acesa. Ela andou lentamente até a porta e tocou a campainha. Tocou três vezes e finalmente alguém abriu a porta.
E esse alguém deu de cara com uma esboçando um sorriso forçado, segurando uma coleira firmemente enrolada na mão.
- Quem é você? - ela perguntou quando percebeu que não conhecia aquele indivíduo usando apenas uma bermuda verde extremamente curta para suas pernas.
- Eu que devo perguntar isso, não acha? - o senhor respondeu com raiva na voz, murchando o sorriso da garota. - Você é a estranha que está batendo na minha porta numa hora completamente desagradável.
- Ah, eu estou procurando por meus amigos que moram, ou moravam aqui... - resolveu respirar fundo e ignorar a grosseria.
- Você é mais uma daquelas groupies loucas atrás dos quatro rapazinhos que moravam aqui, é? - O homem cruzou os braços e recostou no batente da porta, olhando impaciente para . - Bem, sinto muito, mas eles mudaram depois que algumas malucas descobriram o endereço e resolveram entrar pelas janelas...
- E você sabe onde eles foram morar?
- Não sei, não quero saber e não falaria se soubesse, agora você pode ir procurar em outro lugar, ok? - ele foi fechando a porta enquanto falava. - E avise as suas amiguinhas para não me encherem mais o saco!
E a porta foi completamente fechada na cara dela. Mas tudo bem, nada que um celular não resolva, certo?
ligou para todos os celulares dos garotos, mas pelo visto eles tinham mudado de número também. Tentou mais uma vez para o último deles e finalmente conseguiu. A conversa foi curta e extremamente estranha para ambos.
Ela apenas perguntou seu novo endereço, ele deu e desligaram depois de 'tô indo praí'.

Novamente em frente a uma porta, amedrontadora, batia o pé freneticamente no chão, contorcendo os dedos no punho fechado. Ela guiou o dedo indicador até a campainha e enfiou seu dedo lá com bastante força, fazendo o barulho ecoar por todo o corredor do prédio. O corredor era claro e com carpete avermelhado, e estava vazio.
Um minuto depois, um rapaz bem vestido abriu a porta. Bem vestido quer dizer que ele estava usando mais coisas do que apenas uma boxer e meias.
Ele abriu mais a porta e fez um gesto para que entrasse. Ela entrou, ele fechou a porta e foi andando pela sala, entrou num corredor e depois em uma porta aberta.
fez o caminho atrás dele em silêncio, reparando que o novo apartamento dos quatro era pequeno demais para eles. E arrumado demais para pertencer a eles.
- Oi - soltou assim que se sentou na cama desarrumada, ao lado do rapaz -, - completou em um tom mais seco.
- Oi - ele respondeu sem olhar para ela, levantou-se da cama e foi até a televisão. Ligou-a, pegou dois controles e voltou para seu lugar de antes. - . - sorriu e entregou um controle a ela.
- E então... - tentou quebrar o silêncio enquanto esperavam o jogo do Xbox carregar. - Há quanto tempo você tá por aí?
entendeu que esse 'por aí' seria fora da clínica.
- Não muito - ela respondeu, batendo o dedo freneticamente no controle, encarando o mesmo.
- E já falou com ? Quero dizer, com os outros?
- É, eu esbarrei com ele no meu apartamento. - Ela riu ao lembrar-se do episódio. - Depois disso ele só me deixou uns recados na secretária eletrônica desmarcando nossos encontros ou pedindo desculpas por estar ocupado demais pra mim...
- Bem, nós temos trabalhado muito mesmo. - deu de ombros. - Fizemos uns shows no Brasil e depois um tour pela Europa...
- Brasil, sério? - olhou para pela primeira vez diretamente. - Que legal - disse sem muito entusiasmo.
Finalmente a espera para que o jogo carregasse acabou e eles começaram a jogar, novamente em silêncio.
Jogaram Need for a Speed Carbon por um longo período de tempo e tudo que se ouvia era o barulho do jogo e alguns comentários do tipo:
- Wow, andou treinando, ?
Ou:
- Você conseguiu ficar ainda pior nisso, ?
Mais um tempo depois eles estavam empatados e saiu para atender um telefonema, deixando sozinha para observar o novo quarto do amigo.
Ele era aconchegante e menor que o outro, em tons de verde. A cama de casal ficava quase no chão, em cima apenas de uma base de madeira. Embora tivesse uma aparência mais limpa e organizada, sabia que meias e cuecas deviam estar enfiadas embaixo do cobertor e os guarda-roupas entulhados de parafernalhas. Não se atreveu nem a se mexer muito em cima da cama, que dirá abrir alguma porta ou gaveta.
- - meteu a cabeça na porta -, os três panacas estão vindo pra cá, mas eles, hum... Não sabem que você tá aqui.
- Ah, tudo bem, acho melhor eu ir indo en... --- rapidamente se levantou, ajeitando sua calça.
- Não, que isso, ! - a cortou. - Eu não disse nada porque não sabia se você queria que eu dissesse, mas você é sempre bem-vinda aqui, pode ficar se quiser. - Tudo bem, acho que eu posso esperar eles chegarem...
- Na verdade, eles já estão chegan --- ia dizendo quando a campainha tocou. - São eles.
- É... Vai indo na frente, eu já vou, ok?
- Tá bem então, . - andou até a garota e depositou um beijo na testa dela. - Vem quando quiser.
respirou fundo, preparando-se psicologicamente. Ela olhou para sua roupa e passou a mão pelo corpo, tentando ajeitar qualquer amassadinho.
Ela sabia que com os outros não seria tão simples como havia sido com , já que eles sempre foram mais amigos, tiveram uma ligação, daquele tipo que você pede desculpas com o silêncio e elas são aceitas da mesma forma.
gostava das coisas mais certinhas e ... Bem, esse simplesmente gostava de falar demais.

Dando passos de formiga, pé ante pé, e respirando profundamente, parou na porta da sala e ficou observando seus quatro rapazes.
- Gente, vocês não tem noção da cara que ela ficou quando eu disse isso! - contava uma história escandalosamente, segurando uma latinha de cerveja. - Ela ficou tipo - ele imitou a cara da garota assustada - tremendo toda!
Todos os outros riram. Eles estavam sentados, ou melhor, jogados no sofá da sala, em volta da mesinha de centro, todos com as latinhas de cerveja em mãos.
- , pára de ser mentiroso! - esticou a perna e deu um chute em , que estava no sofá ao seu lado.
- É sério, ! Eu te disse que tenho esse poder sob as mulheres...
assistia à discussão sem falar nada e sem ter coragem de entrar naquela sala, assim, do nada.
- , por que você tá quieto assim? - perguntou, direcionando o olhar para onde estava olhando, que, por acaso, era a porta em que estava parada. - ? É você? - ele perguntou assustado, quase pulando do sofá.
Imediatamente, todos os olhares se viraram para ela.
- Er, oi - ela arriscou dizer alguma coisa, dando um passo para dentro da sala.
Mais um tempo todos ficaram encarando-a, e ela apenas parada, mordendo o lábio, com as mãos pra trás mexendo freneticamente na ponta do cabelo solto, sem reação.
- , chega mais - tentou falar para amenizar a situação.
Também em silêncio ela caminhou para perto deles e se sentou no sofá maior, ao lado de .

Não pensem que foi fácil se livrar dessa. Não, não é fácil resumir seis meses para quatro abutres reunidos em volta de uma pessoa perguntando cada detalhe do seu dia-a-dia. Mas tentou, ela tinha que tentar. No começo, foi uma situação mais pra desagradável, contar como sua vida foi tediosa durante esse tempo. Mas os quatro foram bastante razoáveis pelo fato dela ter tirado-os da vida dela durante esse tempo, já que eles não poderiam ter sido muito presentes devido às viagens. Por isso, no final das contas estavam todos rindo das histórias bestas e 'super interessantes' que ela e Mitchell tinham vivido enquanto internados.
Todos estavam super à vontade, rindo como antigamente.
Quem não sabia da trajetória deles poderia dizer que seis meses simplesmente não fizeram a menor diferença na convivência deles. Secretamente, agradecia por ter conhecido pessoas tão fáceis de lidar.

Capítulo 4 - So here's your holiday, hope you enjoy this time

- ? - ouviu uma voz chamando seu nome. - Cadê você, Applebee?
- Aqui - ela murmurou, com certeza Mitchell não a ouviu.
- Ah, aí está você... - Mitchell entrou no quarto da garota e foi logo para perto dela. - O que você tá fazendo aí toda encolhida, Applebee?
estava sentada no chão do seu quarto, encostada no armário branco, encolhida e abraçando suas pernas. Ela levantou a cabeça, antes enfiada nos joelhos.
- Não sei, acho que fiquei com medo...
- Medo de quê? - Mitchell se sentou ao lado de , passando um braço pelo ombro dela, confortando-a com um abraço. - Tá tudo bem, minha coisinha...
- Ah, Mitch - ela soltou com uma voz chorosa - você viu aquela reportagem, não viu?
- Claro que eu vi... E aquilo foi ridículo, ! Você não tem que ficar com medo de nada do que eles disseram ali, pelo amor de Deus!
- Eu não fiquei com medo disso, é que... - Ela respirou fundo e prendeu o ar dentro dos pulmões, impedindo-se de derramar uma lágrima sequer. - Eu estava indo no estúdio hoje falar com Joseph, porque, afinal, eu não sei o que aconteceu nesse tempo todo, não sei como anda a Série, não sei nada sobre o que vou fazer agora, entende?
- Sim, você está certa... - Mitch concordou afagando o cabelo da garota.
- Mas aí, quando eu estava indo me lembrei da revista e de que provavelmente o Matt e aquelas outras pessoas patéticas vão estar lá, e sei lá... Me bateu insegurança.
- Applebee, você mesma acaba de dizer que elas são pessoas patéticas - ele soltou uma risadinha irônica. - Por que diabos você deveria ter medo daquela gente?
- Não sei por que, mas eu fiquei, oras! - escondeu o rosto no peito de Mitchell.
Antes de ligar para ele pedindo que fosse a seu apartamento, tinha ligado algumas vezes para , sempre ouvindo aquele mesmo recado da caixa postal. Isso só a deixou mais insegura ainda. Tudo que ela queria era ouvir as palavras que Mitch estava dizendo saindo da boca de .
- Bem, mas eu te digo que você não tem o que temer, e vou te levar praquele estúdio agora e você vai lá de cabeça erguida falar com o Joshua.
- Joseph - o corrigiu, com um sorrisinho.
- Que seja, vamos logo! - Ele se levantou rapidamente e, puxando pelo braço, a pôs de pé com a mesma rapidez.

- Tem certeza de que não quer que eu te acompanhe lá dentro? - Mitch perguntou olhando nos olhos de sua amiga logo depois que desligou o carro em frente ao antigo set de gravações de .
- Não, está tudo bem... - forçou um sorrisinho e recebeu um beijo na testa antes de sair do carro.
Antes de passar pelos portões, ela deu mais uma breve olhada para trás e ficou mais confiante quando viu que Mitch ainda estava mantendo o olhar fixo nela, sorrindo.
- Bom dia, Sr. Dominique - ela cumprimentou o porteiro como de costume.
- Bom dia, Srta. - ele respondeu o cumprimento com as mesmas palavras de sempre, embora em um tom assustado.
Enquanto caminhava pelo set, observou que todos os olhares estavam sob ela, como esperado. E cochichos também não eram poupados por onde ela passava. A garota praguejava aquele lugar por ser tão grande, enquanto sorria para todos que ainda lhe cumprimentavam.
- Olá, Melissa, o Joseph está por aí? - finalmente escorregou os óculos escuros que estava usando para fingir que não percebia os olhares até a cabeça.
- ! - Melissa, a secretária fiel de Joseph, falou num tom surpreso. - Quanto tempo, não?
- Pois é... Já tava na hora de aparecer por aqui, não acha? - Ela se esforçava para ser simpática.
Na verdade, as duas se esforçavam para isso.
- Com certeza... Mas eu receio que Joseph não possa lhe atender no momento... Você chegou a marcar horário diretamente com ele?
- Bem, eu não falo com ele há muito tempo... Não sabia que agora o Joseph tinha uma agenda lotada com horários marcados.
- É, na verdade ele anda muito ocupa... --- Melissa não pôde concluir a frase, porque Joseph saiu de sua sala estampando um sorriso enorme.
Sorriso este que murchou assim que ele pôs os olhos no sorriso de .
- ! - ele exclamou, usando aquele mesmo tom surpreso com o qual todos por ali se referiam a ela. - O quê está fazendo aqui?
- Vim conversar com meu chefe a respeito de negócios e matar as saudades de um antigo amigo ao mesmo tempo, oras! - Mais do que nunca ela se esforçava para parecer não somente simpática, mas radiante. Não queria de jeito nenhum passar a imagem de pobre menininha implorando por um trabalho qualquer em um comercial de xampu.
- Mas que surpresa! - Novamente Joseph estampou um sorrisinho, abrindo mais a porta de sua sala e indicando com uma mão que queria que ela entrasse.
caminhou sorridente até a sala dele. Joseph lançou um olhar mortal à Melissa antes de fechar a porta logo atrás da garota.
- Confesso que não esperava te ver tão...
- Bem? - ela apressou-se em completar.
- Cedo. Eu ia dizer cedo... - Ele foi se sentar em sua cadeira de frente para , que já estava sentada, observando as fotos nos porta-retratos.
- Vejo que você resolveu assumir o seu lado... gay - ela disse observando que todas as fotos em cima da mesa eram de Joe e um cara desconhecido por ela.
- É, você sabe, depois que matamos a Cameron, a audiência caiu muito, então eu achei que estava na hora certa de contar a verdade...
- Ah, então vocês realmente mataram a Cameron?
Cameron era a personagem de na Everything I'm Not.
- Ouvi dizer que tinham feito mesmo... Mas não tínhamos TV a cabo na Clínica... Ou eles não nos deixavam ver, eu acho. Mas fico feliz por você ter finalmente assumido isso! - soltou o porta-retrato em cima da mesa.
- É, a audiência realmente subiu depois disso, como esperado... Nosso público alvo agora são os homossexuais, por isso o personagem do Matt agora é bi.
reprimiu uma risada. Ela nunca pensou que pudesse querer isso, mas ela realmente queria esbarrar com Matt na saída para poder esfregar isso na cara dele.
- Mas, bem, como eu não sou mais útil na Everything I'm Not, fiquei pensando... O que eu faço agora da minha carreira?
- Olha, ... Eu, particularmente, falando como seu amigo e não agente, acho que você deveria descansar...
- Descansar? - repetiu sarcasticamente. - Mais do que eu já descansei?
- É, porque como você sabe, seu contrato aqui com a emissora ainda dura mais algum tempo, acho que quase um ano... - Joseph explicava a situação mexendo freneticamente com as mãos e a vontade de era de quebrar aquelas mãos que faziam gestos femininos de propósito. - E por isso nós vamos continuar te pagando, como sempre fizemos... Você trabalhando ou não.
- Então você quer dizer que eu posso continuar sem trabalhar, mas recebendo?
- Claro que pode! Como você acha que foi mantida naquela Clínica caríssima durante todos esses meses? Nós estávamos usando seu salário para isso! De jeito nenhum íamos desampará-la, ...
- Bem, eu vou pensar no caso, ok? Mas não garanto que eu vá querer ficar parada, então, se você puder, já vá dando uma olhada nos papéis possíveis em outras Séries, quem sabe? Eu sempre fui uma grande fã daquele outro seriado que passava depois do nosso, Scream, sabe?
- Como você quiser.
- Bem, Joe, então acho que eu vou indo... Tenho algumas pessoas para ver, mas eu te ligo assim que puder, sim? Quero me manter a par dos assuntos aqui...
- Pode deixar, mas, - Joseph pegou no braço da garota, quando ela já ia se levantando -, preciso falar com você sobre questões sérias agora.
Ela se sentou de novo, ajeitando seu cabelo.
- Pode falar, sou toda ouvidos.

- ELE FEZ O QUÊ? - Mitchell perguntou berrando.
- Já disse, ele me expulsou dessa casa! - respondeu também histérica, limpando as lágrimas que caíam freneticamente. - Me deu dois dias pra arrumar minhas coisas e sair daqui!
- COMO ele fez isso, ele PODE fazer isso, por acaso? - Mitchell, que provavelmente estava mais desesperado que , passava as mãos pelo cabelo, despenteando-o todo.
- Eu também achava que não, mas pelo visto pode, né! - A garota enfiava as roupas dentro da maior mala que achou, sem o menor cuidado.
- Calma, , você tem que me explicar isso direito! - Mitch agarrou a garota pelos braços, fazendo com que ela parasse de se mexer pela primeira vez desde que botaram o pé na casa dela. Ou ex-casa dela. - Seja racional e me explique que argumentos ele usou pra te expulsar daqui.
- Mitch, esse apartamento era do Ethan, certo?
- Certo - ele confirmou com a cabeça, soltando os braços dela devagar, visto que ela já estava mais controlada.
- E o verdadeiro namorado dele era o Joseph, certo?
- Sim, você me disse isso, mas ---
- Mas nada! Não tem mas! - ela voltou a berrar, andando de um lado para o outro no quarto novamente. - Os dois compraram esse apartamento juntos, ele tava no nome do Ethan, mas existem documentos que comprovam que o Joe também pagou por ele, ou seja: o proprietário é o Joseph!
pegou mais um bolo de roupas na gaveta e jogou com raiva na mala, voltando a chorar.
- Mas se ele sabia que era o proprietário esse tempo todo, por que não te tirou daqui antes?
- Eu sei lá, Mitchell! Vai ver ele quer um lugar maior pra morar com o novo namorado! EU ESTOU POUCO ME FODENDO PRA ISSO!
- É, eu percebo que você não está ligando nem um pouco... - Mitch rolou os olhos, cruzando os braços. Ele cansou de discutir e sentou-se em uma cadeira no canto e ficou apenas observando enquanto enfiava bruscamente a maior quantidade de roupas que conseguia dentro da mala que já estava socada.
Uns dez minutos depois, ela se jogou na cama, sem forças para chorar mais. Com as mãos no rosto, ela soluçava baixinho qualquer coisa inaudível.
- Applebee... - Mitch falou suavemente, sentando-se na beirada da cama. - Vai ficar tudo bem, não é o fim do mundo...
Ele começou a fazer carinho na perna da garota, que continuava sem responder, ainda soluçando.
- Você pode ir morar lá em casa por uns tempos, começar a trabalhar em outra novela ou sei lá o quê, e daí você procura com calma um lugar melhor pra morar, hein... O que me diz?
- Eu não posso - ela resmungou.
- Por que não pode?
- PORQUE NÃO TENHO MAIS EMPREGO! - ela berrou, pegando o travesseiro e colocando na frente da cara.
- Não tem mais por quê? O que você fez? - Mitch perguntou preocupado, apertando uma mão na perna de , que socava o travesseiro no seu rosto com força.
A garota berrou alguma coisa em resposta, mas, sufocada pelo travesseiro, Mitch não conseguiu entender nada.
Ele arrancou o travesseiro e jogou no chão.
- Me diz, o que você fez?
- Rasguei o contrato na cara dele - ela choramingou.
- Ai meu Deus, ... - Mitch suspirou, ajeitando alguns fios de cabelo de atrás da orelha dela. - Fica calma, a gente vai resolver isso...

- Alô? ! - exclamou surpresa ao telefone. - Sim, tá tudo bem... É, quer dizer, quando eu deixei as mensagens aí pra você não tava tudo bem, mas agora tô... - pensou um pouco. Se queria ver com essa vida cheia de compromissos que ele tinha agora, era bom ela fingir que não estava bem, porque, caso contrário, ele só diria 'tá bem então, deixa eu ir que estou ocupado' e sabe-se lá quando ela ouviria sua voz de novo.
A garota fez um sinal com a mão para que Mitchell esperasse e saiu do quarto.
- Ah, desculpe, , estava perdida em pensamentos aqui... É, eu sei... Mas é que eu não tenho andando muito bem mesmo, sei lá... Não, eu também não sei por que te liguei, força do hábito, talvez? É, você pode aparecer quando puder, eu não me importo... Ah, , não precisa ficar enrolado só pra vir me ver, né! Tá bem, não, tudo bem... Te espero aqui então, beijos.
desligou o telefone e voltou ao quarto sem conseguir esconder um sorriso no canto da boca.
- Que foi? - Mitchell perguntou assim que reparou na felicidade repentina.
- está vindo me ver! - A garota não conseguiu reprimir um gritinho histérico.
- Ah, depois que a confusão toda já passou ele aparece, né?
- Ah, Mitch, você sabe que o anda muito compromissado, né? Ele tenta me ver, mas também não tem a menor obrigação!
- Ih, agora você vai defender os argumentos que ele usa e você passa o tempo inteiro criticando no meu ouvido, é?
o respondeu colocando a língua pra fora.
- Você já pode ir se quiser, Mitch. Tô vendo que não é uma boa hora pra te apresentar ao , né, ô bem humorado?
- Era só o que me faltava! - Mitchell jogou as mãos pra cima, indignado. - Eu fico o tempo inteiro com você te dando apoio, aí é só esse Zé Mané falar que vai aparecer por aqui e você já me dá um pé na bunda, é, Applebee? - Ele a olhou fazendo cara de coitadinho.
- Mitch, não comece com drama, vai... - riu baixinho e abraçou a cabeça do amigo, ajoelhada na cama ao lado dele. - Você sabe como minha situação ficou enrolada com ele depois da reabilitação e se eu não tiver momentos a sós com ele pra resolver, vou continuar vivendo nessa baderna pra sempre...
- Mas eu ainda acho que agora você devia continuar arrumando suas coisas e irmos pra minha casa, resolver primeiro seu problema de moradia e desemprego, depois pensar nas questões amorosas, viu... - ele continuou fazendo aquela voz de pobre coitado, com acariciando seus cabelos.
- Eu prometo que vou arrumar minhas coisas assim que ele sair daqui, ok?
- Tudo bem, mas eu só vou sair daqui quando ele chegar.
bufou e deixou o corpo pesado cair para trás na cama.
- Mala, mala, mala, mala...

Meia hora depois, a campainha tocou no apartamento de . Ou melhor, ex-apartamento.
Ela sorriu e deu um pulinho de alegria enquanto ia atender à porta. Cinco minutos antes, Mitchell tinha a deixado sozinha, depois dela muito insistir.
- Oi, . - escondeu o sorriso e estampou sua expressão 'tanto faz' ao abrir a porta.
- Olá, . - Ele sorriu de uma maneira encorajadora e entrou pela sala. - Aconteceu alguma coisa?
- Bem... - Ela enrolou um pouco, fazendo alguns desenhos imaginários com o pé no chão. - Digamos que eu esteja despejada e desempregada.
- O quê? - levou um choque ao ouvir aquilo de uma vez só.
- E solitária, carente - a garota acrescentou entortando a boca.
- Mas como? Como assim? - O rapaz ainda a encarava incrédulo. - E o contrato? Você tinha um contrato, né? Com Joseph, com o canal, sei lá com quem!
- Eu rasguei.
andou lentamente até o sofá da sala e sentou-se, puxando pelo braço para sentar-se com ela. E então despejou todo o ocorrido pela segunda vez em menos de uma hora, ouvindo as mesmas perguntas e mesmas exclamações.
No fim das contas a reação foi a mesma:
- Você vai morar comigo! - bradou, colocando sua mão por cima da de .
- Não sei, obrigada pelo convite, , mas o Mitchell já disse a mesma coisa, então...
- Mitchell? Quem diabos é Mitchell? - arqueou a sobrancelha, encarando a garota à sua frente.
- Eu já falei dele pra vocês, é meu amigo que eu conheci na Clínica...
'Ótimos, dois ex-internos morando juntos. Imagina quanta coisa boa vai sair disso!' pensou fazendo uma careta. Não que ele não confiasse em e não achasse que ela já estava curada. Mas a questão é que cuidados extras sempre são bem-vindos e, como ele não tinha mais tempo para ficar de olho nela, pelo menos se estivesse embaixo de seu teto, algum controle a mais ele teria.
- , quem você conhece a mais tempo, eu ou ele? - ele perguntou enquanto acariciava sua mão com o polegar, olhando-a, compreensivo. - Em quem você confia mais? Quem gosta mais de você e só quer o teu bem? - abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a interrompeu com um dedo estendido. - Não estou dizendo que ele não é seu amigo e que quer o seu mal, mas, entenda, você vai se sentir mais segura comigo, assim como eu vou ficar mais tranquilo sabendo que você está bem.
- Tudo bem, eu vou pensar sobre o assunto, prometo - ela disse por fim, com um leve sorriso.
- Não, não tem o que pensar! - se levantou rapidamente, seguindo em direção ao quarto da garota. - Vamos logo arrumar tudo isso porque eu não tenho tempo sobrando!
- Não tem tempo... Sei - murmurou sozinha, levantando-se em seguida para seguir o rapaz.
Quando chegou ao quarto, parou encostada no batente da porta, com os braços cruzados.
- Engraçado... - ela comentou - acho que já vi essa cena antes...
estava afundando roupas e mais roupas dentro da mala que já estava aberta em cima da cama, assim como ela estava fazendo antes, e assim como ele fizera há bastante tempo atrás, quando foram passar um dia na casa da avó dele.
- É o destino, ... - Ele riu, sem desviar sua atenção do que estava fazendo. - Encare a realidade, você é desorganizada demais para fazer as malas e adora quando eu faço isso por você...
- Não vou negar.

Capítulo 5 - Don't tell me you love me, and act like you don't

A televisão foi desligada pela terceira vez em dez minutos.
- You were, my bad habit... - cantarolou pela quinta vez nesses mesmos dez minutos.
Ela pegou o celular e o encarou pela décima vez em dez intermináveis minutos.
Oi, Mitch falando. Não posso atender no momento, me ligue mais tarde. Ou não, mas eu não irei retornar.
Essa mesma mensagem soou no ouvido da garota novamente.
jogou a cabeça pesadamente sobre o travesseiro em que estava deitada, na cama de . Ela já estava hospedada lá há dois dias, na verdade no quarto de hóspedes, mas quando não estava em casa, o que acontecia com uma frequência assustadora, a garota passava o tempo deitada na cama dele, vendo TV ou simplesmente encarando o teto.
- Aonde você vai? - Ela lembrou-se mais uma vez da conversa que tivera mais cedo um pouco com .
- Ah, não sei... Uns amigos me chamaram pra sair, e como é sábado à noite, pensei que tudo bem... - ele respondera meio enrolado, mexendo nervosamente no cabelo. Estava todo arrumado, esporte fino, e cheiroso como sempre. - Mas não vou sair com nossos amigos... São outros, que você ainda não conhece... Caso contrário eu te levava comigo - ele fez questão de explicar, com um sorrisinho sem graça.
E então ele a deixara sozinho em casa. Na casa que agora ele insistia em dizer que era dela também. A casa na qual deixava todos os dias pela manhã sozinha e só retornava tarde da noite com cara de cansado, sem tempo nem para conversar, procurando somente sua cama.
- Quer saber? Foda-se! - se levantou com um impulso, calçou suas pantufas, que a esperavam ao lado da cama, e foi andando para a cozinha em passos largos. - Vou encher minha cara de pipoca e sorvete, ver um bom filme água com açúcar e foda-se !
E foi assim que se passaram as próximas três horas.
assistindo "O Melhor Amigo da Noiva" e comendo baldes de pipoca. Tem como ficar mais feliz? Até teria, com uma boa companhia.
Mas, no momento, não era uma garota com muitas opções sociais. Ela até poderia ligar para , ou , mas tinha medo de saber por eles aonde realmente tinha ido e com quem estava.
- Oi, Phoebe - disse usando um tom muito meigo, assim que a cadela apareceu pela sala.
Obviamente, Phoebe continuava morando com os dois.
- Não era para você estar dormindo não, bebê? - A garota acariciou a cabeça da cadela.
não queria admitir nem para si mesma, mas ela andava apreciando bastante a companhia de Phoebe, já que era a única.
- Que horas são? - ela se perguntou, olhando em seguida no relógio digital ao seu lado, na mesinha de cabeceira. - Meu Deus, Phoebe! Já são duas da manhã e nada de sono para nenhuma de nós, hum?
se levantou da cama de , levando a bacia já vazia de pipoca e Phoebe no colo. Ela deixou a cadela na sua casinha, que ficava na lavanderia do apartamento, abasteceu as vasilhas de água e comida dela, e parou na cozinha. A garota ponderou a possibilidade de comer mais alguma coisa, porém já estava entupida de pipoca e sabia que a fome não era a causadora de sua insônia. Na verdade, ela sabia que o fator causador tinha nome e sobrenome, e enquanto ele não chegasse, ela não conseguiria pegar no sono.
Resolveu então ocupar-se em lavar a louça, que já estava ficando bem grandinha para uma casa com apenas dois moradores. Ela pegou as luvas que estavam sobre a torneira, pegou também a esponja e começou a lavar os copos.
Ela não podia reclamar de lavar as louças, já que não era acostumada a fazer isso. achava até que era um passatempo interessante. Claro, acompanhado de uma boa cantoria.
- Oooh baby give me one more chaance! - estava cantando I want you back por mais ou menos dez minutos seguidos, imitando os gritinhos da música e tudo mais. Já estava quase terminando com os talheres quando sentiu um olhar sobre ela.
- ! Que susto! - ela exclamou ao virar-se para trás e encontrar um com os olhos semi cerrados, encarando-a. - O que você tá fazendo aqui uma hora dessas?
O rapaz não respondeu, apenas continuou parado na mesma posição, apoiado na mesa, observando . Seus cabelos estavam bagunçados, sua camisa meio aberta e amassada, ele estava sem sapatos e cheirava ao seu perfume misturado com álcool.
- Não conseguiu nenhuma mulher por hoje e resolveu voltar pra casa mais cedo, foi? - ela perguntou enquanto secava suas mãos na toalha. - Fala alguma coisa, !
- Você... - ele começou, com a voz arrastada - você é maravilhosa - se enrolou no maravilhosa, que soou mais como 'mralhosa'. - Mas não devia estar lavando louça... - Ele estendeu o dedo indicador, aproximando-se de . - Ainda mais uma hora dessas!
- Alguém tem que fazer isso uma hora, não acha? - sorriu sem graça, apoiando as duas mãos na pia atrás do seu corpo. já tinha encostado seu corpo no dela, e chegava cada vez mais perto, encurralando-a.
- Mas não uma pessoa delicada como você, viu... - Ele riu de uma forma engraçada, soluçando em seguida e apertando o nariz da garota.
- É, , acho melhor irmos nos deitar, não? Você não tá muito bem hoje... - virou o rosto para o lado quando bruscamente jogou sua cabeça para frente, quase selando seus lábios.
- Qual é, ... - ele resmungou, virando o rosto dela com a mão. - Eu sei que você também quer isso, tanto quanto eu e não é de hoje...
começou a fazer carinho na bochecha de com as costas de sua mão, aproximando sua boca do ouvido dela.
- Vamos lá... - ele a incentivou sussurrando em seus ouvidos e depositando beijinhos fracos em seu pescoço.
Automaticamente, as mãos de foram parar na nuca de , incentivando-o a continuar com os beijos e chupões em seu pescoço, que logo foram subindo, em direção à boca da menina, iniciando um beijo que aparentemente seria calmo. Aparentemente apenas, já que estava mesmo querendo aquilo há bastante tempo, e ... Bem, não queria acabar a noite sozinho.
A cada apertão que dava na nuca de , puxando seus cabelos, o beijo ficava mais intenso e rápido. tirou suas mãos da pia e colocou uma em cada lado da cintura de , dando impulso para que ela se sentasse na pia e envolvesse a cintura do rapaz com suas pernas, puxando-o para mais perto ainda.
As mãos de já passeavam pelas costas nuas de depois de um certo tempo, assim como os dedos dela já invadiam a calça dele pela parte de trás, visto que ela já estava aberta. Com um pouco de precisão, as mãos de conseguiram fazer a calça de descer.
Rapidamente ele quebrou o beijo pela primeira vez, retirou o resto da calça com os próprios pés e pegou no colo, passando pelo corredor e sala, indo em direção ao quarto dele, que no momento estava iluminado apenas pela luz azul da tela da televisão que esquecera ligada no AV.
- ... - sussurrou no ouvido de assim que deitou-a em sua cama, ficando por cima dela.
O rapaz começou a preocupar-se com tirar o resto da roupa dela e dar-lhe prazer a partir dali, porém só conseguia pensar se ele sussurrava '' para as outras com quem dormiu nesse tempo todo, ou se pelo menos era nela que ele pensava durante...
Ela também se perguntou se ele estava consciente do que estava fazendo e de quem estava ali com ele. A garota que ele amava, mas que o expulsara da vida dela por tempo demais... A garota com quem supostamente ele deveria estar bravo, mas, ao invés disso, tentava ser gentil ao máximo.
- Eu te amo, ... - novamente ele sussurrou, quando seu corpo suado caiu pesadamente sobre o dela. Não parecia ter consciência de que havia dito aquilo em voz alta.
Também cansada, acariciava o cabelo de , que ainda estava por cima dela, com o rosto em seu pescoço, aparentemente dormindo. Ela sabia que ele a amava. Não tinha outra explicação para ele tê-la perdoado tão facilmente. Ou nem perdoado, mas nunca se magoado realmente. Mas ela também sabia que provavelmente não sabia o que tinha feito, já que ele tentava manter uma certa distância entre eles desde que ela deixara a Reabilitação. Provavelmente tentando manter uma distância segura da causadora de seus problemas.

acordou com Ela bufou e virou-se para o lado, tapando a cabeça com o travesseiro na esperança de pegar no sono de novo. Mais algum tempo de tortura e ele finalmente fez algum barulho entendível.
- ? - ele a chamou com a voz pesada.
A garota se virou e o encarou. Ele estava com os olhos semi-abertos e olheiras profundas.
- Pode me trazer algum remédio pra dor de cabeça, por favor? - pediu, fechando os olhos com força, provavelmente ele estava precisando de muita força de vontade para conseguir falar alguma coisa.
- Só um minuto - se levantou, e assim que seus pés tocaram o chão gelado com seu pé quentinho, seu corpo inteiro estremeceu, lembrando-a de que ela estava com cólica.
Antes de ir para o banheiro, a garota calçou umas meias de que estavam jogadas pelo chão e colocou um casaco, apertando-o contra seu corpo.
lavou o rosto, que também estava com olheiras nada agradáveis, a fim de acordar melhor da noite mal dormida. Escovou os dentes e então abriu o armarinho do espelho, procurando um remédio não só para dor de cabeça, mas outro para cólica, mesmo sabendo que a busca era inútil.
Um tempo depois, ela voltou para o quarto carregando um comprimido e um copo de água e o entregou para , que fez uma careta ao beber a água gelada.
- Obrigado, - ele resmungou antes de se jogar pesadamente na cama de novo, cobrindo o rosto com o cobertor.
não achara nem uma bolsa de água na cozinha para tentar aliviar sua dor, então deitou-se debaixo das cobertas de novo, encolhendo-se toda. Não estava mais com sono, apesar de saber que ainda eram sete e meia da manhã.

Às nove e meia da manhã, o despertador de tocou, como sempre. E como sempre, resmungando, acordou e esticou-se para desligar o aparelho irritante. Porém dessa vez, estava deitada ao seu lado, fazendo com que ele tivesse que se esticar mais por cima da garota para conseguir calar aquela matraca de 'pipipi'.
- Bom dia - ele disse, dando um beijo na bochecha de , que fazia uma careta com os olhos ainda fechados.
Sem obter resposta, se levantou e foi direto para o banheiro tomar um banho e esfriar a cabeça que ainda latejava.
rolou mais um tempo na cama, encolhendo-se cada vez mais de todas as maneiras, mas a cólica estava forte, não importava a sua posição.
- ? - chamou o rapaz assim que ele saiu do banheiro usando apenas uma calça jeans e a cueca Calvin Klein aparecendo. - Você tá indo trabalhar?
Ele se virou para ela, secando os cabelos com a toalha branca.
- Sim, por quê? Quer alguma coisa da rua?
- Na verdade eu queria sim... - Ela fez uma careta de dor, sentindo uma pontada forte. - Preciso de um remédio pra cólica e de uma bolsa de água urgente!
- Eu tenho muitos remédios por aqui, você não deu uma olhada não? - Agora falava virado de costas para ela, escolhendo uma blusa nas gavetas. - E pra que você quer uma bolsa de água? Tem gelo aí, se quiser eu pego pra você... Dá no mesmo, não?
riu fraco da ignorância de quanto à cólicas, mas não conseguiu rir muito bem, até isso aumentava sua dor.
- Não, , não creio que você tenha remédio pra cólica menstrual, certo? E eu preciso de uma bolsa de água quente! Urgente, sério, tô quase tendo um filho aqui!
- ... - ele terminou de vestir-se e virou para ela - você precisa mesmo disso pra agora? Tá doendo tanto assim? Porque eu já tô meio atrasado...
- , você não faz idéia de como uma cólica dói! Eu não estou brincando...
- Tudo bem, tudo bem... - deu um beijo na testa da garota e se levantou rapidamente. - Já volto com seu remédio e bendita bolsa de água quente!

- Alô? - atendeu o telefone assim que a deixou sozinha.
- Hm... Quem fala? - a voz do outro lado perguntou.
- ... É o ?
- Ah, oi, ! - ele exclamou feliz e depois parou um tempo para pensar. - Peraí, que você tá fazendo aí na casa do ? Eu liguei pro , né?
- Sim, , você ligou pro ... - Ela riu fraco. - Ele não te contou que eu tô morando com ele por uns tempos?
- Você? Morando com o ? - não escondeu sua surpresa. - Como assim? Desde quando?
- Tem uma semana já... Uma longa história, mas eu achei que ele fosse contar pra vocês.
- Ah, o anda esquecendo muita coisa mesmo ultimamente...
- Pois é, eu percebi que ele anda meio desligado mesmo.
- Mas enfim, , tô meio sem tempo pra papo furado agora, você sabe onde o se meteu que não chegou no estúdio até agora?
- Bem, no momento ele está numa farmácia comprando remédio pra mim... Mas eu sei que depois disso ele vai correndo praí.
- Ahhh sim, tá explicado...
- Desculpa por isso, é que eu realmente tô precisando do remédio, sabe como é... Cólica e tal...
- Uuuui - soltou um gemido. - Não sei como é, mas imagino que doa bastante... A Adda só sabe reclamar disso!
- Adda?
- Longa história, , que eu adoraria te contar, mas agora tô sem tempo... - ouviu algumas vozes berrando uns xingamentos do outro lado da linha. - Tem gente chamando aqui, mas que tal a gente se encontrar hoje à noite no BG's? Eu, você, , e , como nos velhos tempos?
- Só se você levar a Adda e me contar toda essa história... Pode ser?
- Beleza, mais que combinado! Nove horas, certo?
- Te vejo lá, zinho. Beijos...

- , cheguei com suas parafernálias... - Quinze minutos depois, um atolado e ofegante, carregando uma sacola com um batalhão de remédios, apareceu na porta do quarto.
- Nossa, , em que maratona você foi correr? - o olhou assustada, abrindo a sacola que ele a entregara.
- Minha filha, você não tem noção da fila que se encontram as farmácias a essa hora! - Ele enxugou sua testa, rindo um pouco. - Não sabia que farmácias tinham hora do rush!
- , pra quê tanto remédio? Eu só queria um comprimido pra cólica e minha bolsa de água, só!
- Bem, eu comprei seu precioso comprimido, sua bolsinha querida e mais alguns remédios aí, oras! Não sabia qual escolher pra cólica, então trouxe um monte de uma vez... - Ele ia ajudando a tirar os remédios de dentro da sacola, espalhando-os na cama.
Um tempo analisando qual seria o melhor para a maldita cólica, e se pronunciou:
- Bem, , cumpri meu trabalho por aqui, tenho que ir antes que alguém me mate com a força do pensamento, ok? - se inclinou para beijar-lhe a bochecha, mas virou-se propositalmente, fazendo com que eles dessem um selinho rápido.
O rapaz, sem jeito, saiu rapidamente do quarto, mas não sem avisar antes:
- Deixei um copo de café expresso da Starbucks pra você na cozinha.
sorriu e se levantou rapidamente, levando consigo apenas uma caixinha de remédio e a bolsa d'água para a cozinha. O cheirinho de café quente invadiu suas narinas e, assim que ela sentiu o gosto do mesmo, já pôde perceber seu corpo mais quente. O que era muito bom no momento. Ela tomou seu comprimido com o café mesmo, e enquanto esperava sua bolsa de água esquentar, pegou o telefone na sala, a fim de tentar novamente falar com Mitchell.
- Mitch? - ela perguntou surpresa por não ouvir a mensagem de voz desagradável do rapaz mais uma vez. - Você me atendeu mesmo?
- É o que parece, não?
- Caraca, quanto tempo não ouço essa sua voz! - Ela riu sozinha, caindo de costas no sofá. - Tava com saudade dessa dose de sarcasmo pela manhã...
Silêncio.
- Mas então... - continuou - andou ocupado ultimamente, hein? Nem me atende mais... Espero que tenha sido com seus pais ou amigos! Caso contrário, terei que pensar duas vezes antes de te perdoar...
- Na verdade eu tava te evitando mesmo, pra você sentir minha falta - ele disse normalmente.
gostava disso em Mitch, a sinceridade e a praticidade com que ele falava as coisas, e por isso sabia que ele não estava mentindo nem a enrolando.
- Por quê? Fiz alguma coisa? - ela perguntou, começando a ficar preocupada.
- Não veio morar comigo, oras. Me trocou pelo outro aí.
- Aaaah, Mitch! Não acredito que você ficou sentido com isso, né? Você sabe que eu tô fazendo tudo isso na intenção de fazer as coisas entre eu e melhorarem...
- E conseguiu?
- Ainda não, mas --
- Bem feito - ele a interrompeu.
- Mitchell, que isso? Tá torcendo contra a minha felicidade agora, é?
- Pelo contrário, meu bem. Eu acho, aliás, eu tenho certeza de que você estaria bem melhor morando comigo. Porque eu não trabalho, eu teria tempo pra você, e sem contar que eu sou muito mais divertido do que qualquer outro ser humano!
- Eu sei, Roswell, eu sei... - riu, com saudades daquele ser único e singular. Passar cinco meses 'confinada' com ele não tinha sido sacrifício nenhum, e agora tinha se acostumado com a presença dele sempre por perto. - Mas eu sei também que preciso reconquistar meu homem, não acha?
- Você precisava era deixar ele ficar com saudade de você, e não ficar aí no pé dele vinte e quatro horas por dia!
- Com mais saudade ainda? Bem, sinto lhe informar, mas isso não adiantou da última vez. E mesmo morando com ele, são raros os momentos que nós temos pra conversar e dar umas boas risadas como antigamente... - Ela suspirou.
- Enfim, agora quem tá com saudade de você sou eu, então se arruma aí que eu tô indo te buscar, beleza?
- Me buscar? Pra irmos aonde?
- Não pergunta, só me passa logo o endereço desse ai, vai...

Celular da , deixe seu recado e eu retorno depois
(Sinal)
Hm, confesso que estou impressionado com a simplicidade da sua caixa de mensagens, logo você que sempre teve problemas com isso (risos). Mas enfim, é o que está falando caso você não reconheça minha voz. Só liguei pra confirmar hoje no BG's, certo? Não se esqueça, por favor... E ah, só pra você ficar sabendo, eu marquei com os caras, mas não avisei que você vai, e nem que a Adda vai, sei lá, pra ser uma surpresa mesmo, beleza? Então esteja estonteante como sempre e nos mostre novamente porque te amamos (gargalhadas). Até mais, .
(Clique)

- Do que você tá rindo aí? - Mitchell perguntou chegando perto de com dois sorvetes de chocolate em mãos.
desligou o celular ainda com um sorrisinho e colocou-o na bolsa.
- Estava rindo da uma mensagem do ... Comprou de que pra mim?
- Chocolate pros dois, como sempre. - Ele deu uma lambida no outro sorvete que ainda estava intacto e ofereceu à .
- Ew, seu nojento! - fez uma cara feia e pegou o sorvete, observando-o. - Que horas são?
- Dez pras oito.
- Hm, e tem como você me levar pra casa agora? - falou chupando seu sorvete, tentando não parecer atrasada. Ela não queria que Mitchell soubesse que ela estava indo se encontrar com os quatro.
- Se for pra minha, tem sim... - Ele piscou divertido, pegando a mão dela e começando a andar.
- Sério, Mitch, eu tenho algumas coisas pra fazer lá...
- Tipo o quê? Varrer a casa? Lavar as cuecas do ? - ele perguntou irônico.
- Por favoooor... - o olhou com sua cara de pena. - Por favorzinho, vaai...
- Cara - Mitch parou de andar e fez se virar para ele -, como você é insuportável, sabia? - ele falou controlando o riso.
- Puxa, magoei - A garota fez um biquinho tosco.

Quinze minutos depois, estava sozinha de novo no apartamento de . Ela tirou seu tênis assim que entrou pela porta, mas não os jogou em qualquer lugar como fazia em seu apartamento, e sim foi carregando-os até o quarto onde estava hospedada.
Nada como ser uma hóspede para aprender bons modos.
Em exatos quarenta e dois minutos, já estava de banho tomado, perfumada, maquiada e mais importante: vestida e calçada. Isso aí, calçada sem perder tempo procurando sapatos.
Ela vestia uma calça tipo skinny xadrez em um tom verde-escuro, blusa branca de gola alta e um sapato baixo meio fechado também branco. Simples e casual, porém bonita.
Nove e quinze, ela estava parada na porta do BG's, encarando as pessoas a procura de seus amigos.
- Perdida por aqui, ? - Um sorridente chegou por trás de dando um apertão em sua cintura.
- ! - ela o repreendeu, colocando a mão no peito, devido ao susto. - Não perde essa mania besta mesmo, hein?
- Não posso fazer nada se as circunstâncias são sempre favoráveis - Ele deu de ombro, passou um braço pela cintura de e foi a arrastando até a mesa onde estavam sentados os outros três e duas desconhecidas de . - Olha quem eu achei perdida por aí - empurrou a garota para que ela se sentasse ao lado de no sofá que rodeava a mesa e sentou-se também ao lado dela.
- é o único que vai ao banheiro e sempre volta com brindes... - brincou, dando um beijo na bochecha da amiga.
- Vai ficar conosco esta noite, não é, ? - perguntou, encarando-a.
- Eu vim com essa intenção, oras.
- Eu a chamei, pessoal - se explicou antes que perguntassem alguma coisa. - Queria que ela conhecesse a Adda. - Ele sorriu, passando um braço pelo ombro da loira ao seu lado.
- Prazer, Adda. - estendeu seu braço, sorrindo simpática. - .
- Eu sei. - Ela sorriu sem graça, apertando a mão de . - As revistas e esses quatro falam bastante de você...
continuou sorrindo simpática e a ruiva que estava entre e pigarreou. Todos a encararam.
- Ah, , essa é a Linda - apontou para ela, que sorriu sem graça.
- Prazer - ela disse quase que num sussurro. - Eles realmente falam bastante de você - ela completou depois de um silêncio constrangedor, na mesma vozinha fininha.
- Desculpe, não consegui te ouvir - provocou. Apesar do Pub estar bem cheio e barulhento, e da voz da tal Linda ser fina e baixa demais, como a voz de hamsters da televisão, ela conseguia ser ouvida. Se você prestasse bastante atenção.
- Eu disse que eles falam... - Linda tentou repetir um pouco mais alto, mas a interrompeu com um assovio, chamando o garçom, que prontamente veio até a mesa deles.
- Pois não - disse o garçom, abrindo seu bloquinho de pedidos e pegando a caneta do bolso. - Vão querer beber alguma coisa? - ele incentivou, devido ao silêncio que se instalara na mesa.
- Eu quero um Martini - Adda fez seu pedido, já que ninguém mais se habilitara a tal.
- Dois, por favor - Linda a acompanhou.
- Hmm - fez um barulho estranho com a boca - acho que vou ficar no suco de laranja hoje - ele disse por fim.
- Dois! - levantou a mão.
- Uma tônica pra mim - disse simplesmente, como se não estivesse ligando para a atmosfera pesada.
- Eu quero uma Coca Diet - sorriu, sentindo-se constrangida.
Todos os olhares voltaram-se para , que ainda encarava o menu.
- Pode ser tônica também - ele disse por fim.
O garçom repassou os pedidos e saiu quando todos confirmaram, e Adda e Linda mudaram seus pedidos pra suco de pêssego e morango.
- Tiveram um longo dia vocês, hum? - Adda tentou brincar, ajeitando a gola da blusa de .
- Pois é... - afirmou com a voz arrastada.
não sabia onde enfiar a cara, cutucou-a e deu um sorrisinho incentivador assim que todos retomaram uma conversa.
Quando as bebidas chegaram, eles pediram cada um uma coisa diferente para comer e então o clima começou a ficar mais agradável de novo. Agradável na medida do possível, já que ninguém estava engolindo muito o fato de ter trazido Linda sem avisar ninguém, e ter feito o mesmo com e Adda.
Não que eles não gostassem da companhia delas, mas todos sabiam da história de e , incluindo a própria Linda. Só não sabiam que eles estavam morando juntos e tinham transado na noite anterior.
Meros detalhes...
- Bem, gente, se vocês me dão licença, eu vou ao banheiro - Linda falou e ninguém além de e , que ainda prestavam atenção ao que ela dizia, ouviram.
Assim que ela deixou a mesa, disse o mesmo e se retirou também, seguindo-a para fora do Pub.
- Oh, desculpe - falou depois de ter esbarrado em Linda, que estava parada na porta do BG's, do lado de fora. - Achei que você tivesse ido ao banheiro... - Ela fez menção de entrar novamente no Pub, mas Linda se pronunciou.
- Tudo bem, pode ficar - ela disse.
- Obrigada... - se abraçou, esfregando os braços com as mãos. Estava congelando lá fora e ela pretendia ser rápida, conseguir as informações necessárias e entrar logo, antes que congelasse.
- Mas então, o que veio fazer aqui fora? - Linda perguntou, acendendo um cigarro.
- O mesmo que você - ela respondeu sem pensar, e foi rápida em acrescentar: - mas acabei esquecendo meu maço lá dentro. Você pode me dar um?
Linda, sem falar nada, prendeu o cigarro em seus lábios e tirou outro do bolso, estendendo-o junto com o isqueiro para .
A garota colocou o cigarro na boca e o acendeu sem dificuldade. Ela não fumava há bastante tempo, na verdade nunca tivera esse vício, mas sabia muito bem como lidar com um. Assim como sabia também que para arrancar alguma coisa de uma mulher, precisa fumar com ela ou entrar no mesmo banheiro e passar maquiagem de frente para o mesmo espelho. Mulheres...
O silêncio reinou durante um tempo, tempo este em que as duas ficaram observando a fumaça que saía de suas bocas.
- Mas então... - Linda começou a falar - você não vai voltar mesmo praquele seriado?
- É, estou dando um tempo... Sabe como é, todos precisamos de férias. - deu de ombros. - Mudar um pouco...
- Hmm - Linda murmurou, desinteressada.
- Não estou nem morando mais no mesmo lugar, mudança total - ela continuou o assunto como quem não quer nada, satisfeita por estar chegando ao ponto que queria.
- Sério? E mudou para onde?
- Estou passando um tempo com .
Imediatamente, Linda engasgou-se com a fumaça e tossiu.
Bingo!
- Com... Com o , é? - ela perguntou, tentando se recompor.
- É, mas só por uns tempos, sabe, até a gente se ajeitar... Digo, até a minha vida se ajeitar - disse com um sorrisinho estampado no rosto, ciente de que Linda analisava meticulosamente sua expressão. - Mas isso não é um problema pra você, é? Quero dizer, não deve ser muito legal mesmo saber que seu namorado está morando com uma ex, mas fique tranquila quanto a isso...
- Ele não é meu namorado - Linda respondeu com a voz seca.
Com certeza você queria que fosse... pensava, comemorando sua vitória na batalha, digo, conversa.
- Tudo bem, então. - A garota deixou seu cigarro cair no chão e apagou a ponta com seu pé. - Vou entrar, está muito frio aqui fora.
caminhou triunfante até a mesa, sorrindo de orelha a orelha.
- Gente, acabo de me lembrar que me esqueci de colocar comida pra Phoebe - ela disse assim que chegou à mesa, sem se dar ao trabalho nem de sentar-se novamente.
- Vocês ainda estão cuidando dela? - perguntou animado.
- Estamos tentando. - riu. - Mas então, tenho que ir pra casa antes que os vizinhos reclamem, já que ela deve estar latindo de fome. , você me acompanha?
- É, acho que sim... - ele respondeu após pensar um pouco.
e Adda tiveram que se levantar para que conseguisse sair da mesa, e depois que todos se despediram, os dois seguiram lado a lado até a porta do Pub, onde viram Linda entrando com uma cara nada boa.
- Linda! Estava te procurando. - segurou-a pelo braço e se afastou um pouco. Mas só um pouco, perto o suficiente para que ela pudesse escutar o que os dois diziam.
- É, eu já estou indo mesmo... Sim, eu vou com ela... - Da onde estava, só conseguia ouvir a voz de , já que Linda continuava com sua voz de hamster. - É, é verdade que ela anda morando comigo por uns tempos... Linda! Quer parar com isso? Olha, eu vou indo nessa, a gente se fala...
- Me liga? - foi a única coisa que conseguiu escutar de Linda, devido ao tom um pouco mais desesperado que ela usara.
- É, pode ser - respondeu seco antes de dar-lhe um beijo na bochecha e vir ao encontro de , que esperava por ele com um sorriso sereno no rosto.

e entraram em casa no mesmo silêncio que percorreram o caminho de volta. seguiu com seus sapatos na mão para o banheiro, e foi até a área onde Phoebe ficava, para constatar que ela estava dormindo e a vasilha de comida, cheia.
Assim que saiu do banheiro já sem maquiagem e de pijamas, deu de cara com encostado na parede, de braços cruzados.
- ! - ela exclamou surpresa, aproximando-se do rapaz. - O que faz aqui?
- Eu não tenho nada com a Linda - ele disse simplesmente. - Digo, nada sério.
- Sim, eu sei.
- Sabe? - arqueou uma sobrancelha, encarando-a ainda com os braços cruzados.
- Sei, ela era só mais uma que ia ter a chance de ir pra cama com . - sorriu, aproximando seu corpo mais ainda do de , porém mantendo uma distância segura de seu rosto. - Assim como eu e todas as outras.
- Você sabe que não é apenas mais uma como as outras, . - Num impulso, segurou o braço de firmemente e, sem que ela percebesse, a imprensou contra a parede, trocando as posições.
- A única diferença é que estamos temporariamente morando juntos, mas quando não estivermos mais, eu serei apenas mais uma que passou por essa cama - disse, lutando para permanecer com sua voz fria e séria, apesar da proximidade perigosa de sua boca e a dele.
- Você não pode se queixar disso, foi você que se botou nessa posição. - Ele roçou suas bocas, ainda apertando seu braço com uma certa força e mantendo seu corpo pressionado com o dela contra a parede.
- Estou me queixando? - ela perguntou com um sorriso vitorioso e cheio de malícia.
Sem mais uma palavra, pressionou com vontade sua boca contra a de , levando instintivamente sua outra mão a cintura dela.
correspondia ao beijo com o mesmo desejo que , sua perna escorregando pelas dele às vezes, porém suas mãos continuavam para baixo, se segurando para não tocá-lo.
Quando os dois começaram a se movimentar pelo corredor, sem desfazer o contato de suas bocas nem por um segundo, as mãos de já passeavam pelo tronco todo de , subindo-lhe a blusa, porém a garota insistentemente mantinha suas mãos atrás das costas, mesmo que sua vontade fosse totalmente contrária.
Ela queria sentir o cabelo do rapaz emaranhado em suas mãos, suas costas provavelmente já suadas escorregando por elas, mas estava firme.
Depois de uns esbarrões pelas paredes e portas, conseguiu guiar até seu quarto.
- Está querendo me deixar doido, é isso? - ele perguntou com a voz ofegante, ao pé do ouvido dela, sem parar nem um momento de acariciar e apertar todas as partes disponíveis de seu corpo.
- Doido de tesão - ela respondeu com uma risada alta e gostosa, envolvendo uma de suas pernas na cintura dele.
Sem pensar duas vezes, agarrou firmemente nessa perna da garota e a suspendeu, carregando-a até a cama.
Percebendo que não cederia tão cedo e permaneceria com suas mãos quietas, se encarregou de tirar suas roupas, sob o olhar malicioso da garota que o encarava mordendo o lábio. Rapidamente, ele deixou seu corpo cair sobre o dela.
Por cima de , a provocava, beijando seu pescoço com avidez, descendo pelo seu colo, barriga e até por suas pernas, enquanto simultaneamente retirava sua calça. E finalmente, rendendo-se a provocação, levou suas mãos às costas nuas do rapaz, arranhando-o de leve.
Naquela mesma cama os dois repetiram as ações da noite anterior, descarregando um no outro todo o tesão e a tensão que existia sob eles desde o dia que se encontraram de novo no antigo apartamento de . Diante do que estavam vivendo no momento, as outras transas deles, incluindo a da noite passada, não significaram absolutamente nada. Daquela vez, nenhum dos dois havia ingerido uma gota de álcool, sabiam perfeitamente o que estavam fazendo, não estavam preocupados com os sentimentos nem deles próprios muito menos do outro, só em finalmente matar a saudade e manter seus corpos pertos o suficiente pra compensar cinco meses de separação e questões não resolvidas.

Capítulo 6 - I know a place where we can go to, a place where no one knows you, they won't know who we are...

- ? - murmurou sem abrir os olhos. Ela já estava semi-acordada e não havia encontrado deitado ao seu lado quando procurou-o com as mãos. - ? - ela o chamou com mais vontade, abrindo os olhos e sentando-se na cama. Ele não estava no quarto.
Olhou no relógio: meio dia e cinco. Ele com certeza já tinha ido trabalhar.
se levantou com desgosto e se arrastou até o banheiro, onde tomou um banho rápido e depois vestiu uma camiseta de , sem nem se indignar a ver se era a camiseta dos Beatles ou a de Star Wars.
Ainda se arrastando, passou pela sala e foi até a cozinha comer qualquer coisa. Pegou uma maçã e voltou para a sala, jogando-se no sofá e dando a primeira mordida com vontade da fruta.
- Bom dia - ela ouviu uma voz macia e conhecida. Rapidamente olhou para o sofá ao lado e só então percebeu que estava sentado ali apenas de boxer, observando-a.
- Você tá aí desde quando?
- Desde que acordei, basicamente. Tentei ficar te encarando como os caras fazem nos filmes, mas você estava roncando... - Ele fez uma careta mostrando a língua.
- ! - o repreendeu sem conseguir conter uma risada, tacando uma almofada no rapaz. - Mas sério, por que você não está trabalhando?
- Hoje é sábado. - Ele levantou as mãos, comemorando. - Você não deve saber mesmo, já que todo dia é feriado agora.
- Hm, é verdade... - A garota deu outra mordida na maçã.
ligou a televisão e ficou rodando pelos canais, sem achar nada que o interessasse, enquanto terminava seu 'café-da-manhã'. Finalmente ele parou no canal que estava passando um filme do Jim Carey, e os dois assistiram até o final, visto que ele já estava na metade. Sem fazer nenhum comentário sobre o filme, apenas compartilhando risadas com as idiotices do Jim. Quando o filme acabou, já eram quase uma hora da tarde, e desligou a televisão.
- Então, o que vamos comer? - ele perguntou, encarando-a.
- Por mim, nada. - colocou as mãos na barriga, acariciando-a. - Estou cheia.
- Poupe-me, . - riu e se levantou, foi até e pegou sua mão, puxando-a para cima. - Eu sei que você continua uma draga como sempre... Caso contrário, quem estaria detonando meus sorvetes e biscoitos todos?
riu e deixou ser guiada por até a cozinha. Ela se sentou na mesa, apoiando os pés em uma cadeira e ficou encarando a geladeira, enquanto observava o que tinha ali dentro.
- E então...? - ela perguntou depois de um tempo.
- Acho que vamos ter que recorrer ao telefone mesmo. - Ele gargalhou alto, fechando a geladeira com força.
Os dois pediram qualquer coisa num restaurante italiano que entregava em casa e comeram em silêncio. Quando já estavam quase acabando com seus pratos, ambos incomodados com a falta de diálogo entre eles, o telefone começou a tocar, porém ninguém moveu um músculo para atendê-lo.
Algum tempo depois, a voz de Mitchell começou a sair do telefone.
? Você tá aí, né? Mas não precisa me atender, eu só liguei pro telefone fixo porque eu sei que você deve estar mofando aí sozinha pra variar. Mas enfim, lembra-se do nosso programa marcado pra hoje? Espero que você não tenha se esquecido, ou pelo menos finja que não esqueceu, pra não me magoar, ok? Te busco às duas em ponto, beleza? Te dou um toque quando chegar pra você descer. Beijos, Mitch.
- Você vai sair hoje? - perguntou encarando seu prato já vazio, assim que ouviram o BIP da secretária.
- Bem, na verdade eu não lembrava mesmo... Mas, aparentemente, vou ter que ir. - se levantou e pegou os dois pratos na mesa, indo em direção à pia.
- Fica aí hoje, , a gente pode fazer alguma coisa, sei lá...
- Não posso, - falava enquanto lavava os pratos e talheres rapidamente. - O Mitch quando marca as coisas e leva um bolo vira a pior pessoa do mundo! É insuportável, você nem imagina...
- Se ele é tão insuportável assim, por isso mesmo você deveria ficar aqui comigo.
ficou pensando enquanto terminava com a louça. Assim que ela acabou, foi na direção de e deu-lhe um beijo estalado na bochecha.
- Desculpe, mas não posso dar um fora nele. Volto de noite, certo?

- Mitch? Não acredito que é você! - ouviu uma voz escandalosa e em seguida uma porta sendo fechada com força. - Por que diabos você tá me ligando? Eu acabei de me despedir de você! - Ele ouvia umas risadinhas e fragmentos da conversa aparentemente super engraçada que estava tendo com seu novo amiguinho. - Vai me dizer que eu esqueci minha tornozeleira no carro de novo? - Mais e mais risadas.
- Ah, oi, . - acenou para o rapaz que apareceu na sala usando apenas a calça do pijama, com os cabelos completamente desgrenhados, carregando uma latinha de Heineken na mão.
- Então por que você me ligou? Ficou com saudade de ouvir minha voz, foi? - se jogou no sofá com as pernas pra cima. – Ah, cala a boca, você consegue ser tão clichê quando quer! Não vem com essa de 'senti falta da sua risada'! Eu estava me acabando de rir com você há cinco segundos! Não, cala a boca, seu mentiroso!
Cinco minutos de mais conversa e risadinhas, voltou da cozinha já sem a latinha e sentou-se ao pé de , colocando-os em cima de suas pernas.
- Desliga isso - ele pediu apenas movimentando a boca.
- Não, Mitch, eu não vou te bater... Ao menos que você me diga que ainda está parado aqui embaixo do prédio, ai sim eu vou descer e te espancar até a morte por ser tão idiota!
- Anda logo - agora murmurou, começando a acariciar e apertar os pés de com força.
- Calma aí, ! - falou num tom autoritário, mas dando uma risadinha de quem diz 'tudo bem, não precisa parar'. - Não, estou falando com o . Sim, ele tá aqui comigo, mas não, não precisa parar de falar comigo por isso.
- Precisa sim - berrou, chegando a cabeça para mais perto do telefone, inclinando seu corpo sob o da garota.
- Tá, tudo bem então... Você quem sabe, Rosewell. Pode desligar, eu não me importo. - afastava a cabeça com o celular para longe de , que ainda estava tentando chegar mais perto do aparelho para falar também.
- , você que parar com isso? - o repreendeu assim que desligou o celular, pegando sua cabeça com as duas mãos.
Eles se olharam por alguns instantes, apenas se olharam bem próximos, com acariciando sua bochecha de um lado e sua orelha do outro lado do rosto.
- Parar por quê? - Ele fez uma careta. - Esse Michael parece um grude só!
- Mitchell - o corrigiu, sabendo que ele tinha errado o nome de propósito. - Tem alguém com ciúmes aqui? - Ela abriu um sorrisinho e depositou um beijo demorado no nariz dele.
- Claro que estou, você me abandonou aqui pra sair com ele fazer sei lá o quê! - falou fazendo biquinho, encostando sua testa com a da garota.
- Você não me ofereceu nenhum programa decente, e não estávamos nem conversando sobre nada! - abriu a boca para contrariar, mas continuou com o tom de voz mais alto: - Aliás, por que você se importa? Nós não temos nenhum tipo de relação séria, sou apenas uma pessoa morando de favores e retribuindo como posso!
fez uma careta e pensou por um tempo.
- Isso não soou nem um pouco legal. - Ele mordeu seu lábio inferior, segurando-se para não começar a rir.
- É, me senti uma prostituta - ela concordou.
Eles explodiram em gargalhadas, que logo foram interrompidas pelo celular de tocando novamente.
- Eu juro que, se for o Michael de novo, eu jogo esse celular longe! - bufou, deitando sua cabeça no peito da garota.
riu e pegou seu celular para ver quem era.
- Oi, ! - atendeu animada, passando um braço em volta da cintura de para que ele não pudesse sair dali. - Como vai? Eu vou muito bem também, mas conte-me suas novidades... Você conseguiu aquele outro trabalho do qual me falou semana passada?
Cinco minutos de conversa fiada sobre a vida de em Bolton e sobre os novos episódios de "America's Next Top Model", já não aguentava mais ouvir as palavras 'literalmente e totalmente'.
- Quando isso vai acabar? - ele resmungou contorcendo seu rosto, virando de frente para .
- Cinco minutinhos, babe. - estendeu a mão para ele, que grudou a boca na mesma imediatamente, dando uma mordidinha. - Aiiii!
. percebendo que aquele era o único jeito de acabar logo com aquela conversa chata, continuou colocando sua boca perto do ouvido desocupado de , de sua nuca...
- Não, , eu ainda não arrumei outro emprego, e nem estou procurando no momento. - tentava concentrar-se na conversa e em afastar a cabeça de com a mão livre, mas não era uma tarefa muito fácil. - Sim, ainda estou morando com o . Pára com isso, ! - A cada vez que ela o repreendia, ele ficava mais contente com os resultados e só aumentava a velocidade de seus beijos e chupões pelo pescoço de .
- Nada não, amiga... É, também não tenho lido as revistas ultimamente, ando esquecendo disso. Não sei, acho que estou fora dos holofotes, então ninguém vai escrever sobre mim, pode parar de comprar a SevenTeen.
- , pára com isso, porra! - sussurrou enquanto tagarelava alguma coisa sobre ter lido uma matéria falando sobre a mudança e o sumiço dela.
apenas tirou o rosto do pescoço de e a encarou, abrindo um sorriso gigante e contagiante, que fazia com que ele parecesse realmente uma criança inocente.
rolou os olhos e apertou suas bochechas.
- Não, amor, não vi essa revista ainda não, que-que ab-absuurdo-do! - Quando percebeu que não ia conseguir rapidamente, resolveu avançar com seu joguinho, passando suas mãos delicadamente sobre a coxa de , apertando o interior da mesma com uma certa força. - Na-nada nã-ãão... Quaaaal re-revist-aa me-esmoo? - E então não deu outra, a garota começou a gaguejar, fechando os olhos e respirando fundo pra se conter. Vamos lá, estamos falando de em cima de você, apertando suas pernas e beijando seu queixo!
- É só a ma-mala do a-aaaaqui!
- Bem, acho que vou deixá-los a sós então, não estou a fim de quebrar o clima de ninguém! - Foi a única e última coisa que ouviu vindo de , já que tinha afastado bastante o celular do ouvido, desligando-o e colocando-o em cima da mesa em seguida.
- Você definitivamente não presta! - balançou a cabeça negativamente e, com pressa, procurou pela boca do rapaz com a sua.

A semana seguinte passou lentamente para os dois moradores daquele apartamento. , sem mais o que fazer, gastou seu tempo lendo matérias sobre ela e e o fato de estarem morando juntos, e cuidando de Phoebe. Ela estava realmente gostando um pouco mais da cadela, levando-a para passear todas as manhãs, que era o único momento do dia em que ela saía do apartamento.
continuava trabalhando firme na gravação do CD, assim como todos os outros caras. Ninguém nunca mais ouvira falar em Linda, e também não tinha mais tempo para se encontrar com qualquer outra mulher. Nem para ele tinha tempo; eles só se viam quando ficava acordada até mais tarde, assistindo alguma coisa na tevê ou fofocando com no computador e com Mitch no telefone. E, mesmo assim, eles só falavam o essencial, estavam constrangidos, sem entender bem a situação na qual se encontravam e com medo demais de colocar tudo isso à tona e prejudicarem o 'bom' convívio que estavam tendo.
Vez ou outra chegava em casa cansado e encontrava a garota deitada no sofá dormindo com o telefone em mãos, e então tinha que carregá-la para seu quarto, onde dormiam juntos.
Porém, naquela noite de quinta-feira, entrou em casa silenciosamente, arrastando os pés de cansaço, e ouviu a voz de animada:
- , você tem que vir semana que vem pra cá! Não me interessa onde você vai ficar, é uma data importante demais pra eu passar longe da minha única e melhor amiga!
foi andando para o banheiro do corredor e passou pelo quarto de hóspedes, que era de onde saía aquela voz alta repreendendo alguém no telefone.
- Por favor, ... Se você não estiver presente no meu aniversário de dezenove anos, eu nunca mais olho na sua cara! Nunca mais tiro fotos com famosos pra você e não te conto mais nenhuma fofoca interna!
Aniversário? Desde quando o aniversário de estava chegando?
perguntava para si mesmo enquanto escovava os dentes.
- Puta merda! - ele exclamou. - É SEMANA QUE VEM!
- ? - ele ouviu a voz de se aproximando. - , você já chegou! Que horas são? - Ela parecia espantada com o horário.
- Uma e meia da manhã, ou algo assim - ele respondeu, secando a boca com a toalha de rosto em suas mãos. - O que a senhorita está fazendo de pé até agora?
- Estava sem sono, pensando no que fazer semana que vem - disse isso num tom sugestivo, instigando a se lembrar de seu aniversário sem tocar no assunto. Ela não sabia se ele se lembrava, e não queria ser a pessoa que o lembraria. - Eu queria que viesse pra cá, e o Mitch andou inventando de fazermos uma viagem ao Caribe, mas ele viaja demais. Não literalmente.
- Bem, você quem sabe, . - passou por na porta do banheiro, rumando em direção ao seu quarto. Ele estava se sentindo desconfortável por ter esquecido a data, mas sua cabeça estava cheia demais para sequer lembrar o seu, que dirá o de mais alguém. Mas mesmo assim ele se martirizava por não ter preparado um plano para aquela semana. Ele sabia o quanto levava a sério a semana de seu aniversário, principalmente a véspera, que era quando ela passava o dia todo tagarelando e não dormia até que tivesse recebido todos as ligações pouco depois da meia-noite. - Eu estou realmente morto agora, acho que vou deitar...
- Tudo bem então - ela respondeu, sem se mexer.
- Você não vem? - berrou de dentro do quarto, enquanto tirava sua camisa.
- Não, não vou conseguir dormir agora, acho que vou ficar no quarto dos hóspedes essa noite. - A resposta veio ainda do banheiro. - Boa noite, .
- Tudo bem então - o rapaz resmungou para si mesmo, enfiando-se embaixo das cobertas.

acordou na manhã seguinte sentindo-se disposta. Era sexta-feira, o que significava que faltavam apenas três dias para seu aniversário!
E ela ainda não sabia o que faria.
Mas nem isso a desanimou. vestiu logo uma calça legging, uma blusa larga cinza com os dizeres: Beauty Queen e foi atrás de Phoebe para uma caminhada matinal.
À medida que ela ia se aproximando da sala, foi percebendo a voz de , e achando estranho ele ainda estar em casa, olhou no relógio: Dez e quinze.
O que ele ainda estava fazendo ali?
Ao perceber que ele estava no telefone, fez silêncio e parou no corredor, instintivamente.
- É sério, , eu preciso mesmo dessas férias! Não estou mais aguentando essa pressão toda, nós precisamos de uma vida, sabia?
bufava e às vezes aumentava o tom de voz no telefone. continuava parada, apenas ouvindo a conversa, mas não por mal, e sim porque ela não queria interromper a discussão que ele estava tendo com .
- , é sério, não tem outro motivo! Eu estou fatigado, é só isso... Preciso de tempo, senão vou começar a atrasar o progresso de vocês também!
Passou-se mais algum tempo e ainda tentava de todas as maneiras convencer a de que não estava mais aguentando aquilo tudo, quando ele finalmente explodiu:
- Tá bom , que porra! Você quer saber por que eu preciso de uma semana de folga? É o aniversário da , mongol! É, eu sei que você se lembra disso, a questão é que eu tinha esquecido, e só fui ficar sabendo ontem porque ouvi a conversa dela com a ! Satisfeito? Esse é um bom motivo pra você? Agora eu preciso fingir que planejei a porra de uma semana perfeita pra ela, porque as coisas não estão nem um pouco legais entre a gente!
não pôde deixar de sentir seu coração diminuindo naquele momento. Imediatamente, por instinto, ela correu de volta para o quarto e fechou a porta do mesmo, deixando seu corpo deslizar por ela até sentar-se no chão. Ao mesmo tempo que ela se sentia magoada por ele sequer ter lembrado da data mais importante do ano para ela, que fora também a data em que eles ficaram juntos pela primeira vez no ano passado, entendia que a cabeça do rapaz estava cheia demais para se preocupar com coisas como aquelas. Ela se sentia egoísta e meio infantil até por se deixar abalar por aquilo, mas não conseguia interromper o sentimento de tristeza.
Talvez fosse porque ela sempre fora uma criança mimada que teve dos seus pais toda atenção que desejava na semana de seu aniversário, e quando seus pais já não faziam isso, ela passou a ter da mídia e de seus novos amigos.
Mas era uma coisa que ela simplesmente não podia evitar, mas teria que esconder, para o bem daquela relação conturbada. Ao menos estava tentando se redimir.
Quando tomou coragem para sair do quarto, não estava mais lá. Ela resolveu ignorar o fato e enfim saiu para fazer sua caminhada matinal com Phoebe.
- , se importaria de dar umas palavrinhas para o E! Channel? - Saindo do prédio com Phoebe, um sujeito de boné enfiou um microfone no rosto de .
- Desculpe, no momento estou ocupada - ela respondeu educadamente, virando o rosto depois e seguindo seu caminho.
- Por favor, ! Apenas confirme o boato de que você está morando no mesmo apartamento de ! - ele ainda berrou. Mas não se virou nem para sorrir cinicamente, como costumava fazer.
O jornalista ainda a seguiu por algumas quadras, filmando suas costas e berrando perguntas sobre a vida dela no momento, mas depois de ser ignorado o caminho todo, ele acabou desistindo.
Cansada de correr do tal sujeito da E!, voltou para casa tomando chá gelado em uma latinha. Para sua surpresa, Mitchell estava parado em frente ao prédio de , encostado no carro com as pernas e braços cruzados e cabeça baixa. Parecia mesmo que estava dormindo em pé.
- Mitch, é você? - ela perguntou, chegando mais perto para conferir.
Ele estava diferente, usando um chapéu preto com riscas no estilo mafioso, óculos escuros e a barba estava por fazer.
- Ah, oi, Applebee! Tenho notícias pra você - ele foi direto ao ponto, segurando o braço de e abrindo a porta do carro ao mesmo tempo.
- Notícias? De que tipo? - perguntou enquanto era empurrada por Mitchell para dentro do banco traseiro do carro. Logo em seguida o rapaz também entrou, fechando a porta com força.
- Decidi o que vamos fazer no seu aniversário. - Ele tirou os óculos e o chapéu, finalmente abrindo um de seus sorrisos cativantes.
- Seus olhos estão vermelhos, Mitch - comentou, colocando uma mão no rosto dele e acariciando-o. - E seu cabelo uma bagunça só! Por onde você andou essa semana?
- Estava resolvendo algumas coisas, . - Mitchell virou o rosto, e retirou suas mãos de perto dele. - Agora me ouça que eu tenho pouco tempo antes de voltar aos preparativos.
- Estou ouvindo.
- Falei com minha mãe recentemente e peguei a chave daquela minha antiga casa aqui em Londres mesmo, está lembrada? Aquela das fotos da minha infância, com a piscina e o jardim que você tanto elogiou e disse que queria conhecer...
- Ah sim, claro! A com o campo de golfe e tudo mais?
- Exatamente! Então, minha mãe disse que ninguém além dos velhos empregados ainda ficam por lá, então podemos passar o fim de semana lá, o que me diz?
- Você tá falando sério comigo? Sem brincadeira? Eu vou poder fazer uma festa naquele jardim excepcional? - o encarava boquiaberta.
- Tudo isso e ainda vou te ensinar a jogar golfe e cricket, se você quiser, é claro...
- Se eu quero? Tá brincando comigo, né? É ÓBVIO QUE EU QUERO, MITCH! - Ela não se controlou e pulou para cima de Mitchell, quase enforcando-o com os braços fortemente apertados em seu pescoço. - Quando podemos ir?
- Bem, eu estava pensando em irmos amanhã mesmo, tudo bem pra você?
soltou o pescoço do rapaz e voltou para seu lugar, desviando seus olhos para o volante do carro.
- Bem... - ela se enrolou um pouco, pensando em como falar aquilo. - Na verdade, eu tenho que ver se o e a vão poder ir amanhã também, quero dizer, eles vão poder ir, né?
- Sim, perfeitamente, a casa é gigantesca, só depende deles.
- Ótimo, então eu vou falar com os dois hoje e, se eles toparem, partimos amanhã cedinho! - O sorriso voltou ao rosto de .
- Que mané partimos, Applebee! - Mitchell riu. - Minha casa não fica a mais de meia hora daqui, em Londres mesmo!
- Ah, que seja - disse já abrindo a porta do carro. - Estou subindo, vou ligar agora mesmo para , certo?
Mtichell também saiu do carro pela outra porta ao mesmo tempo que e entrou rapidamente no banco do motorista. deu a volta no carro e parou na janela dele, apoiando os cotovelos na mesma.
- Você é sem dúvidas o melhor amigo do mundo, eu te amo! - Ela se inclinou para frente, prestes a dar um beijo na bochecha de Mitchell, porém ele virou o rosto na hora com o intuito de falar alguma coisa, e eles acabaram tendo um esbarrão de bocas, que consequentemente acarretou em um selinho.
- Hm, desculpe por isso - Mitchell disse após um tempo de constrangimento.
- Sem problemas, eu te ligo. - rapidamente deixou o carro e entrou no prédio, só então percebendo que deixara Phoebe sozinha do lado de fora e o porteiro havia tomado conta dela.
- Obrigada, Tobias - a garota agradeceu, correndo feliz para o elevador.

Para algumas pessoas, uma boa notícia pode mudar totalmente o rumo de um dia infeliz, ou até mesmo um período infeliz.
Para , a notícia de que seu aniversário não seria um total fracasso a deixou radiante, e foi por isso que ela entrou no apartamento de assoviando alguma canção idiota que costumava cantar na infância.
- É você, ? - ela ouviu a voz de a chamando assim que tirou seus tênis.
Antes que pudesse responder alguma coisa, apareceu na sala com a camisa marrom. Que anteriormente era branca, mas devido ao esforço que ele estava fazendo para cozinhar alguma coisa, ela misteriosamente ficou marrom.
- Que droga, você chegou cedo demais! - ele disse num tom brincalhão, porém realmente falando sério. colocou o pano de prato que segurava nos ombros.
o encarou de cima a baixo: a posição, blusa completamente suja, pano no ombro e cabelos brancos (provavelmente por causa da farinha), e só conseguiu rir da situação.
- O que exatamente você estava tentando fazer, ? - ela perguntou, ainda rindo.
- Brownies. Receita da senhora , mas aparentemente não deu muito certo nas primeiras duas tentativas.
só conseguiu rir mais alto ainda com isso.
- , se você estava com desejos de comer brownies, era só me ligar e eu trazia alguns bem quentinhos e feitos na hora da rua! - passou por , pegou o pano de prato do ombro do rapaz e rumou para a cozinha, sendo seguida por ele. - Agora vou ter que dar um jeito nessa bagunça toda! - Ela olhou abismada para o estado da cozinha.
- Não, não olha pra isso e pode deixar que eu arrumo. - tampou os olhos de com uma mão. - Pelo menos alguma coisa eu tenho que fazer pra você, já que a tentativa dos brownies não deu muito certo...
- Ah, então quer dizer que eles eram pra mim? - A garota se virou sorridente para , passando os braços pelo pescoço dele.
Ele assentiu com a cabeça, franzindo o nariz que estava coçando.
- Então... - começou a falar calmamente, esfregando seu nariz com o de - Eu sei como você pode me deixar mais feliz do que fazendo brownies pra mim.
- Eu sei que você sabe - eles riram -, você sempre sabe o que quer, o problema é que seus pedidos são sempre difíceis demais pra mim...
- Ah, pára de reclamar, , eu juro que vou ser boazinha, ok?
- Então manda. - Ele fez uma feição fingindo medo.
- Você aceita ir comigo, com e com Mitch pra casa dele amanhã e voltar depois do meu aniversário?
- , depois do seu aniversário? - fez uma cara dolorida. - Não é muito tempo pra se passar numa casa sei lá onde com uma pessoa que eu nem conheço e já não gosto?
- Não é muito tempo, amanhã já é sábado e meu aniversário é no domingo, poxa! Aí a gente volta segunda de manhã bem cedo, eu juuro! Os caras podem ir também, se o Mitch concordar, mas como eu acho que tem bastante espaço na casa dele, ele vai concordar sim. Já te disse que é uma casa enorme, com quadra de tudo quando é esporte, campo de golfe, umas duas piscinas e um jardim imenso? Ia ser o local perfeito pra minha festa com poucas pessoas, o que me diz? - respirou fundo após metralhar um milhão de argumentos.
- Ok, respire e se acalme, sim? - ria da cara dela. - Eu vou pensar no seu caso...
- Não, , eu preciso de uma resposta agora, porque aí eu posso ligar pra e combinar com ela, depois confirmar com o Mi -- continuou tagarelando sem respirar, e a interrompeu:
- Tudo bem, , eu vou com você!
- Sério? - Ele confirmou com a cabeça, sorrindo fraco. - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - A garota agarrou o pescoço de com mais força, abraçando-o e berrando em seu ouvido.

Capítulo 7 - Take me away! I'm gonna hurt somebody, take me away right now!

- Uau, vocês vieram pro almoço ou pro lanche da tarde?
- Mitchell! - largou sua singela mala de rodinhas para trás e foi correndo abraçar o amigo. Ela era pura alegria.
- Sério, vocês demoraram demais mesmo! - Mitch continuou falando, ainda abraçado com a garota. Ele trajava um uniforme todo branco de tênis, com uma bandana na cabeça, e estava um pouco suado. - Ainda bem que já tinha me avisado da sua lerdeza pra dirigir, cara, se não já tinha chamado um resgate pra vocês - ele disse dando um tapinha nas costas de , que chegara mais perto carregando sua mochila e a mala de .
- Se tivesse me avisado que a casa ficava a quase uma hora do centro, eu teria saído mais cedo - ele resmungou e só pôde ouvir. Ela riu baixinho com ele.
- Finalmente eu conheci o famoso Mitchell Rose! - exclamou, apertando a mão de Mitch. - me falou um bocado de você, hein...
- Que isso - ele abanou a mão, fingindo humildade -, eu que aguentei cinco meses de me falando em e , e , e ...
- Ha ha ha - ironizou com uma risadinha.
Todos olharam para , que estava um pouco afastado olhando para as malas, esperando que ele falasse alguma coisa.
- Ah - ele se tocou -, prazer, Mitchell. Obrigado por nos abrigar na sua humilde residência. - levantou seu olhar para dar uma olhada na casa gigantesca logo atrás de si. Aquela era definitivamente uma mansão nada humilde.
- É uma bela casa... - soltou um assovio, também a observando.
- Sabia que eles filmaram alguns filmes por aqui? - puxou pelo braço, falando entusiasmada. As duas entraram pela casa em seguida, seguindo um Mitchell muito animado que ia mostrando tudo orgulhoso. foi logo atrás, carregado de malas e tentando disfarçar seu total desconforto naquele ambiente.
- Gostoso, muito gostoso. - Ele leu os lábios de falando com , que respondeu com um joinha.
rolou os olhos e foi seguindo os três conversando animadamente pela casa, até que finalmente Mitchell resolveu que era melhor eles se acomodarem nos quartos para começarem com a agenda corrida que ele tinha preparado. mal podia esperar!
- Esse é o corredor onde ficam os quartos de hóspedes. - Mitchell abriu os braços sorrindo, mostrando contente um corredor relativamente grande e largo, com várias portas de fora a fora. - , acho que você vai gostar desse aqui. É o maior de todos e com uma vista privilegiada da piscina. - Ele abriu uma das portas.
- Uau - gritou já lá de dentro, abismada com o interior do quarto.
- E quanto a vocês dois... Bem, vocês podem escolher o que quiserem, podem ficar separados ou juntos, tanto faz... Eu vou estar logo ali numa daquelas primeiras portas que vimos no segundo andar.
- Vamos ficar juntos - disse prontamente, abrindo a primeira porta que viu. - Esse quarto só tem duas camas de solteiro, não tem nenhum com uma de casal não?
- Bem, na verdade a única cama de casal está no quarto de , os outros só têm uma ou duas de solteiro... - explicou Mitchell. - Mas qualquer coisa podemos pedir a para trocar de quarto, certo?
- Não, que isso! - pegou sua mala da mão de , entrando no quarto com a porta aberta. - Nós podemos muito bem dormir em camas separadas, não é, ? Não tem necessidade de trocas.
- É, podemos... - Resmungando, entrou no quarto seguindo .
O quarto era do tamanho do de , porém mais vazio. Tinha um armário que ocupava quase uma parede inteira, uma janela que de fato ocupava uma parede inteira, uma poltrona no canto, as duas camas de solteiro feitas e era em tons de salmão e branco.
- Tem dois banheiros no fim do corredor, cobertores nos armários e algumas besteiras no frigobar. Estou no meu quarto, vistam suas roupas de golfe e me encontrem daqui a meia hora na sala para um lanchinho - Mitch deu as ordens e fechou a porta, mas não sem antes jogar um beijinho no ar para .
- Ele é gay também? - perguntou zombando do beijinho de Mitch, largando sua mochila em cima de uma das camas, com raiva.
- Hahaha, muito engraçadinho. - também se jogou em cima da cama ao contrário, com a cabeça para fora da mesma, pendendo para baixo.
- Você se importa se eu pedir serviço de quarto, ? Não estou me sentindo muito bem pra descer hoje... Trouxe até um livro pra ler, olha só! - esboçou um sorrisinho falso, estendendo a biografia de Eric Clapton.
- Me recuso a responder isso - respondeu a garota, secamente.
- Acho que vou juntar as camas, você se importa? - se levantou, observando as duas camas e medindo a possibilidade de arrastar a de para perto da sua.
- Por mim, tudo bem. - deu de ombros, levantou-se e foi ao armário procurar por suas roupas. Ela pegou um cabide com uma vestimenta branca que continha seu nome. Estava provando a roupa em frente ao seu corpo, quando a porta abriu-se subitamente e uma extremamente animada entrou no quarto pulando sorridente e balançando seu mini vestido.
- Não é simplesmente perfeito? - perguntou quando finalmente parou de saltitar, passando as mãos pela saia do vestido.
- Demais, não? - também soltou um guincho animadinho, apertando mais o vestido contra seu corpo e depois retirando-o do cabide.
- , vou me trocar no quarto de , já volto aqui, ok? Toma sua roupa, não demora pra se vestir hein! - Ainda super empolgada, tacou o cabide de em cima da cama sem ao menos olhar para a roupa e saiu comemorando com sua amiga.
Com ajuda de , em menos de cinco minutos já estava usando seu traje para jogar golfe, que consistia exatamente em um vestidinho branco igual ao de , com a única diferença na cor das listrinhas super finas que continham na saia meio pregada. As de eram azul-marinhas e as de , vermelhas.
- Isso não tá muito pequeno não? - perguntou, olhando insegura para sua roupa e puxando a barra da saia para baixo. A saia estava a um pouco menos de dois palmos abaixo da cintura.
- Que nada, amiga, assim que as jogadoras usam mesmo!
As duas ficaram o resto do tempo discutindo que tipo de penteado cairia melhor com a boina estilizada de . Por fim, colocaram as luvas e voltaram ao quarto, onde encontraram com uma latinha de refrigerante de limão na mão, esparramado nas camas que já estavam juntas, perto da janela.
- ! - berrou, colocando uma mão na cintura. - Qual teu problema?
- Meu problema é essa roupa - ele respondeu entediado, apontando para o cabide pendurado ao lado da cama.
- O que tem de errado com a roupa? - foi andando com as mãos na cintura até a ponta da cama e pegou o cabide, analisando a roupa. - Aposto que é igualzinha a que o Mitch vai usar, que parar de frescura?
- Pois eu aposto com você que a dele é dez vezes maior que a minha! - soou como uma criança de dez anos, embora seu argumento tivesse base. O short branco parecia feminino devido ao tamanho e a blusa também branca com uma listra horizontal preta esmagaria os braços do rapaz.
- Não é não - a garota analisava as roupas em frente ao seu corpo -, você que fica usando aquelas calças gigantescas e agora ficou de paranóia com as roupas de tamanho normal!
- Tudo bem então, . - Ele bufou, dando uma última e longa golada na latinha. - O problema é comigo, eu que estou sendo implicante com tudo, satisfeita?
- Ficarei satisfeita se você vestir essa roupa em menos de cinco segundos e me encontrar lá embaixo em dez! - Dito isso, jogou a roupa super apertada na cara de e saiu do quarto batendo os pés, nervosa.

- Estou falando sério, vocês ficaram demais nesses trajes! - Mitch falava empolgadamente, bebendo seu suco de laranja.
- Pára com isso, você tá me deixando sem graça. - colocou a mão na bochecha para checar se estava ficando vermelha. Na verdade ela estava adorando aqueles elogios todos!
- Mitchell, eu sei que sou demais com qualquer traje, pode parar de puxar meu saco. - piscou para ele, rindo divertida enquanto mordiscava delicadamente a torrada que estava tentando comer desde que se sentara na mesa. Ela não queria demonstrar nem para si mesma preocupação, mas na verdade ficava olhando para a escada de cinco em cinco segundos esperando por .
- Aham, eu ligo quando tiver notícias - todos ouviram uma voz vindo da escada e dirigiram seus olhares para lá, sendo que os de já estavam vidrados há tempo. - Até mais, .
- ! - não conteve uma exclamação. - Até que enfim!
- Desculpem a demora, pessoal. - Ele puxou uma cadeira de frente para Mitch na mesa para quatro. - estava me alugando pra resolver algumas coisas. Da banda.
Um silêncio se instalou por alguns segundos. Mitch e comiam tranquilamente, enquanto encarava a , mais precisamente à sua bermuda bege larga no meio da canela e sua blusa pólo preta.
- O que houve com sua roupa de jogador? - quebrou o silêncio fazendo a pergunta que queria fazer.
- Por favor, não me diga que não coube em você!? - Mitch se adiantou em falar alguma coisa antes que pudesse responder.
- É, na verdade não coube mesmo - ele respondeu simplesmente, dando uma mordida enorme no pedaço de bolo. - Mas tudo bem, não tenho tanta certeza assim se vou jogar.
- Eu tinha provado aquela bermuda e blusa antes e, como não deu em mim, deixei para você... Achei que fosse dar - disse Mitch com falsa voz de pena, claramente zombando de pelo fato de ser maior e um pouco mais forte do que ele.
engasgou rapidamente com seu suco, contendo uma risada.
- Bem, você vai jogar sim, - apressou-se em dizer, antes que eles pudessem mudar o assunto. - Você me prometeu.
- Você quem manda. - abriu um sorriso enorme, demonstrando que estava tudo normal para ele.
- Então vamos logo acabar com isso. - Mitchell levantou de repente, dando um susto em todos com uma batida na mesa. - Que os jogos comecem.
E os jogos (intermináveis) de golfe começaram.

- Boa noite, pessoal! - e puderam ouvir Mitchell berrar antes de fechar a porta de seu quarto.
- Tô morta - a garota resmungou, rumando para o banheiro enquanto tirava sua saia pelo caminho. - Preciso desesperadamente de um banho.
- E eu preciso desesperadamente de uma dose de você. - a seguiu, também deixando sua blusa cair antes de entrar no banheiro.
- Esqueci de te agradecer pelo seu comportamento no jogo hoje. - ignorou o comentário anterior do rapaz, continuando a se despir. - Mesmo perdendo de lavada pro Mitch você não foi arrogante ou antipático nem uma vez. - Ela sorria para pelo espelho, já que ele estava um pouco atrás dela, encostado no batente da porta.
- Eu não levei uma surra - protestou cruzando os braços, enquanto observava meticulosamente todos os gestos que fazia antes de entrar no chuveiro.
riu e abriu a boca para rebater, mas preferiu permanecer em silêncio.
- O que foi? - ele perguntou, segurando o riso, ainda a encarando. - Eu sei que você ia falar alguma coisa.
- Pra te zoar, é claro. Então acho melhor ficar quieta, já que você se comportou.
sentou-se no vaso sanitário em silêncio e apoiou os pés na bancada de mármore alta à sua frente.
- Quero ver se ele ganha de mim no Guitar Hero - ele comentou em sua defesa depois de um tempo quietos. gargalhou.
Sem dizer nada e ainda rindo, escorregou a porta do box e botou a cabeça para fora do mesmo, convidando < para juntar-se a ela. Imediatamente ele tirou sua bermuda e entrou afobado no banho.

Inúmeras vezes pôde ouvir passos no corredor pela manhã. Embora ele e tenham passado a madrugada acordados, ele já estava sem sono às oito e meia da manhã. Porém não se renderia a clara pressão que Mitchell estava fazendo para que todos se levantassem sem que ele tivesse que bancar o chato acordando todos. Sem contar que estava deitada com a cabeça em seu peito e as pernas jogadas em cima das suas. Sua bochecha estava amassada e ela parecia um bebê dormindo, vez ou outra usando sua mão para servir de travesseiro mais fofo do que o peito de .
Por um tempo contentou-se em passar seu tempo divertindo-se observando as feições da garota enquanto dormia, mas às onze da manhã seu sono já tinha totalmente ido embora e ele já não aguentava mais o peso de sobre si.
- ... - ele a chamou com a voz arrastada, cutucando seu ombro. - , acorda logo... - sua voz continuava macia, porém um pouco mais impaciente a medida em que ele ia a chamando e não obtia nem um sinal de vida.
bufou em frustração e delicadamente empurrou a cabeça de para o travesseiro ao lado, levantando-se com dificuldade depois. virou para o outro lado, porém ainda sem demonstrar nenhum sinal de que estava pronta para levantar.
Sem humor algum, trocou sua roupa e abriu o frigobar, morrendo de fome e sem vontade alguma de descer para tomar café à mesa gigantesca que provavelmente estava posta desde cedo.
Ele teve que se contentar com uma maçã encontrada no canto da geladeira e um suco em caixinha de uva.
- Se pelo menos ainda fossem morangos... - ele resmungou sozinho.
- Hmmmmm - foi o primeiro sinal de que ainda estava viva naquela manhã.
- Bom dia, dorminhoca. - Imediatamente, voltou a sentar-se na cama, levando o outro suco de caixinha para . - Levanta logo que eu tô morrendo de fome.
Lentamente, sentou-se na cama recostada na cabeceira, espreguiçando-se e ajeitando seu cabelo desgrenhado num coque frouxo.
- Suco de abacaxi? - Ela observou o suco com desprezo. - É só isso que você tem a me oferecer como café na cama?
- Não venha reclamar comigo! - jogou os braços pro alto, recusando receber a culpa. - Era só o que tinha no frigobar, depois você pode reclamar com Mitchell - ele pronunciou o nome com um certo desprezo.
Em troca recebeu um soco sem força no braço.
- Que foi? - protestou. - Não disse nada demais!
o encarou com os olhos semi cerrados, sem parar de beber seu suco pelo canudinho.
Estavam bem assim quando ouviram alguém batendo na porta.
- Posso abrir? - ouviram em seguida uma voz familiar perguntando. Instintivamente, empurrou para o lado da cama, sentando mais perto dela e cobrindo-se com a coberta.
- Pode - gritou em resposta. passou um braço pelo ombro dela.
- Cubra-se, - Mitchell brincou logo antes de abrir a porta.
- Engraçadinho - ainda conseguiu murmurar com sarcasmo antes que ele pudesse ouvir.
- Bem, eu não queria bancar o chato acordando vocês, mas é que já são quase meio dia e nós temos uma festa daqui a menos de uma hora... - Mitch ia dizendo enquanto apertava cada vez mais seu braço em volta de , como se quisesse protegê-la do olhar incisivo de Mitchell que parecia querer enxergar por debaixo da coberta que os cobria. - E nós não podemos perder essa festa. De jeito nenhum - ele completou depois de um tempo observando a situação.
A tensão estava claramente no ar, e Mitchell fazia questão de ignorar.
- Tudo bem, Mitch - resolveu se pronunciar -, a culpa foi minha, acabei dormindo demais. - Ela contorceu a boca em uma semi careta. - Já estamos indo, ok?
- Sem pressa, só vim avisar mesmo. E se por acaso vocês virem a , avisem-me, certo? Ela sumiu desde cedo pelos arredores da casa. Estou com medo de que George a tenha encontrado. - Mitchell deixou o suspense pairando no ar antes de fechar a porta.
- Quem é George? - perguntou preocupada, encarando a .
- Eu que vou saber? - deu de ombros.
- Ai. Meu. Deus. Minha amiga, !!! - pulou da cama e no segundo seguinte eles ouviram uma gargalhada vinda do lado de fora.
- CANALHA! - A garota pegou a primeira sandália que viu pela frente e tacou na porta. - Você me deixou preocupada!

Capítulo 8 - Fight for your right to PARTY!

- MITCHELL! - Uma morena peituda abriu o portão pessoalmente. observara que todas as outras pessoas entraram sozinhas. - Você veio!
- Eu vim... - Mitchell disse com falsa modéstia, sorrindo como sempre.
- E trouxe mais gente - a morena constatou em um tom não tão animado - que bom!
- Nelly, esses são , e - Mitchell os apresentou apontando para cada um deles. - está fazendo aniversário amanhã, então pensei em mostrar pra ela as festas mais animadas que temos aos domingos por aqui.
- E com certeza a minha festa não podia faltar, não é mesmo? - ela riu escandalosamente, empurrando as meninas para que entrassem mais e parando com as mãos nas costas de , que vinha por último.
- Você não é o do McFly? - Nelly perguntou como quem não quer nada. assentiu com a cabeça e um sorrisinho amarelo. - Meu Deus, Mitchell! E eu que andava duvidando dos seus contatos influentes, hein!
- Quem pode, pode, né? - Mitchell brincou de se achar um pouco. - Não reconheceu ?
Nelly forçou o rosto, fingindo estar buscando na memória.
- Ah sim, aquela que foi morta num seriado recentemente?
- É, eu mesma - respondeu seca, puxando pela mão para se aproximar dela.
- Gente, cadê a ? - Foi a primeira vez que se pronunciou. Todos olharam ao redor em busca da garota que estava ali há poucos segundos.
- Não se pode nem piscar o olho perto da hein - resmungou , seguindo em direção ao amontoado de gente e carregando consigo. - Parece uma criança!
- Aproveitem a festa, qualquer coisa, me procurem! - eles ouviram Nelly gritar já de longe.
começou a observar o ambiente da festa. Eles estavam em um jardim, que não era maior do que o de Mitchell, porém era tão bonito quanto o dele. Ou pelo menos devia ser, antes de um bando de bêbados por natureza secos por uma festa estragarem o local. A casa ao fundo tinha detalhes parecidos com a de Mitchell também, assim como todas as casas da vizinhança, mas observara que nenhuma conseguia ser tão grande. Conforme os dois iam andando, a passagem ia ficando cada vez mais difícil, pois o maior número de pessoas sempre ficava aglomerado perto da churrasqueira e da piscina. Prontos para comer como porcos, beber como esponjas e depois pular na piscina de barriga para então vomitar no local mais próximo.
- Essa piscina deve ser a coisa mais nojenta da festa - comentou no ouvido de para que ele pudesse ouvir, devido à música alta que tocava no momento. Era algum hip hop pesado desconhecido por eles.
- Tenho minhas dúvidas... - respondeu rindo, também no ouvido da garota. - Estou entre a piscina, aquela banheira de ponche ou aquele gordinho sentado na cadeira com um pote de coxas de frango.
explodiu em gargalhadas ao observar o gordinho. Ele tinha um aspecto realmente nojento.
- Se você beber um copo daquele ponche, eu pulo na piscina - propôs . Os dois tinham achado um canto na varanda aberta relativamente quieto, onde eles podiam sentar no parapeito da janela e conversar sem ter que berrar tanto.
pensou um pouco na proposta e depois fez uma careta, negando com a cabeça.
- Eu tomo dois copos do ponche e pulo na piscina se você der um beijo no gordinho! - Mais e mais risadas.
- Cadê a , hein? - mudou de assunto bruscamente. - Mitchell também sumiu!
- Ahhh, esperta! - deu uma cotovelada na cintura da garota, que quase caiu pra trás do parapeito. - Não vem fugindo do assunto não, você sempre dá um jeito de fazer isso.
- É claro! Tá achando que eu ia mesmo dar um beijo naquela boca gordurosa com gosto de galinha? - fazia uma cara de nojo.
- Larga de ser fresca - implicou.
- Fresca? Queria ver se fosse o contrário! Se eu tomasse um copo do ponche e pulasse na piscina, você daria um beijo no gordinho?
- Tá me achando com cara de gay, ? - cruzou os braços e a encarou, sério, mas com vontade de rir.
- Na bochecha. Pode ser na bochecha... Mas aí você vai ter que comer uma coxa também.
pensou um pouco. Os dois dividiam seus olhares entre o gordinho, a piscina e a banheira de ponche exposta perto da churrasqueira.
- Sabia! - contou vitória, apontando o dedo na cara do rapaz.
- Eu topo - ele disse simplesmente, descendo do parapeito e pegando pela cintura para descê-la dali.
- Você o quê?
- Eu topo, oras! Mas primeiro você toma o ponche... - sorriu e virou de costas para , chamando-a para subir em suas costas. - Assim é mais rápido.
subiu nas costas do rapaz e eles foram pra perto da churrasqueira, onde a música era mais alta e a concentração de pessoas semi-nuas era perturbadora.
- Com licença - pediu a um rapaz que estava sentado na ponta da banheira de ponche. Ele sequer olhou para ela. - COM LICENÇA, POR FAVOR - ela berrou.
O rapaz loiro bronzeado com cheiro de cerveja sorriu para .
- Você quer ponche? - ele perguntou. observava a cena logo atrás de , segurando-se para não ter outro acesso de risos.
- Gostaria sim.
- Deixa eu ver se isso tá digno de uma moça tão bonita como você - o loiro falava devagar, arrastando as palavras, já quase não se aguentando em pé por causa da quantidade de álcool e maconha que já havia ingerido. já estava se irritando com a lerdeza dele para sair do seu caminho, quando ele enfiou a mão dentro da banheira e bebeu um pouco do ponche.
- Delícia - ele disse, fazendo um sinal de 'okay' com a mão, e logo depois saiu finalmente da frente da banheira.
e se aproximaram, analisando o líquido vermelho aguado, com vestígios de várias coisas dentro.
- Hmmm, acho que vou passar - virou para trás e deu de cara com o peito de impedindo a passagem.
- Não vai não, mocinha! - virou o corpo de para encarar o ponche novamente. Ele pegou um copo de plástico azul que estava de bobeira numa mesinha ao lado da banheira e mergulhou-o lá dentro. - Delícia, como nosso amigo maconheiro mesmo disse - ele zoou, fazendo o mesmo joinha com o polegar.
- Mau caráter. - arrancou o copo da mão do rapaz, com seu olhar mortal. Ela observou novamente o líquido nojento dentro do copo, fechou os olhos e botou pra dentro um gole relativamente grande.
- Hm, até que é bom - ela constatou depois, mexendo com a boca como quem acaba de degustar um vinho realmente bom.
- Sério? - Um curioso meteu a cabeça dentro do copo, arrancando-o da mão da garota depois e dando uma boa cheirada. - É, até que não parece tão ruim assim... - Ele balançou o conteúdo, bastante observador.
- É bom mesmo, prova - incentivou e tomou um gole.
- Puta que pariu, ! - Ele cuspiu as palavras junto com o ponche. - Que merda é essa? - ele berrou.
- Não gostou, amorzinho? - Ela apertou as bochechas de , fazendo um beicinho meigo com a boca, depois caiu na gargalhada.
- Você vai se ver comigo também, espera só... - Ele deixou o copo em cima da mesinha novamente.
- Vamos lá , o gordinho sexy te espera...

e foram até o bendito gordinho, tentaram de todo modo conversar com ele, mas o cara era realmente antipático e não estava a fim de papo, só queria saber de suas coxas de galinha. Muito tempo e esforços depois, eles descobriram que o nome do sujeito era Billy, e que de jeito nenhum deixaria se aproximar dele, muito menos beijar sua testa careca. Por isso, diminuiu a pena de , que teria apenas que comer uma coxinha. O que na verdade revelou-se um desafio tão grande quanto beijá-lo, já que, além de tudo, Billy era extremamente egoísta.
- , não adianta, ele não vai me dar uma coxinha! - reclamava, porém vibrava por dentro. Ele já não aguentava mais olhar para a cara antipática de Billy, muito menos ver como ele esfregava a mesma mão pelo corpo todo suado, enfiava a mão no pote interminável de coxas e depois ainda lambia os dedos. Nojento, até mesmo para que não era dos mais frescos.
- Claro que vai! Nem que você tenha que roubar, , essa coxa de galinha vai ser sua!
começou a gargalhar, deixando sem entender nada.
- Que foi, porra?
- Já pensou se alguém te ouve falando uma coisa dessas? - ainda tentava falar controlando o riso, o que estava difícil no momento. - "Nem que você tenha que roubar, , essa coxa de galinha vai ser sua!" - Ele imitou o tom de voz autoritário da garota, que imediatamente caiu no riso também.
Era inevitável, os dois juntos não precisavam de ninguém mais e muito menos de uma situação engraçada para se divertirem. Eles simplesmente tornavam-se bobos que riam de tudo. Patéticos para quem os via de fora. Perfeitos para os únicos que se entendiam.
- Que alegria é essa, hein? - Eles ouviram uma voz conhecida.
- Oi, Mitch - conseguiu dizer assim que se controlou. ainda continuava rindo, abaixado com as mãos na barriga de tanta dor.
- Posso saber o motivo de tantas gargalhadas?
- Estamos tentando conseguir uma coxinha daquele garoto - ela apontou para Billy ainda sentado na mesma posição desde sempre - para , mas ele não quer dar. - fez um beicinho, chantageando Mitchell a conseguir a coxa para ela. - e eu temos uma tara por coxas de galinha fritas e com bastante pele.
Mitchell observou Billy por um tempo com a feição de nojo.
- Vocês querem mesmo isso? - ele perguntou escondendo a careta com um sorrisinho. assentiu com a cabeça, enquanto já estava praticamente sentando no chão, segurando nas mãos da garota para que isso não acontecesse.
- Tudo bem. - Mitch saiu em direção a Billy e ficou tentando puxar o rapaz para cima, abanando seu rosto. De vez em quando algum corpo tombando e tentando chegar a algum lugar esbarrava neles, fazendo com que a garota quase caísse em cima de .
- Consegui. - Os dois olharam para cima e viram Mitch sorrindo e segurando uma coxinha nojenta na mão. Preciso mencionar o ataque que se sucedeu depois disso?

O tempo passou rápido, e Mitchell às vezes apareciam para falar com e , que não se desgrudavam, mas logo eles se perdiam de novo no meio da multidão.
- Geeeente, vocês por aqui! - berrou chegando perto dos dois de novo. Eles estavam numa área de grama de onde podiam ver quase a festa inteira sem participar realmente dela. estava sentado numa canga amarela estendida no chão e deitada com a cabeça em cima da perna dele. - Não vão aproveitar a festa não?
- Estamos aproveitando daqui - respondeu. Ele se apoiava nos dois cotovelos apoiados no gramado.
- É, daqui a gente vê a festa inteira - completou. virou-se para ver se era mesmo verdade. Ela já não estava muito sóbria, o que era raro, já que não costumava beber nada além de um vinhozinho casualmente.
- Mas não aproveitam nada dela, seus caretas!
- Ao contrário de você, né - disse, rindo. - Já vi você agarrada com uns três caras diferentes, hein?
abanou a mão, rindo escandalosamente. Normalmente ela ficaria roxa de vergonha, mas nada que o álcool não resolva.
- Bem, eu vou indo porque aquela piscina me chama! - jogou os braços pra cima e voltou correndo para o meio da festa, se jogando na piscina com um gritinho histérico.
O sol já tinha ido embora, mas a tarde ainda estava clara e agradável.
- , você ainda não entrou na piscina - lembrou, olhando para cima para poder ver o rosto do rapaz se contorcendo.
- Mas eu bebi o ponche com você, então estamos quites.
- Nada disso, você bebeu porque é idiota! O trato era comer a coxa, beijar o Billy e ainda entrar na piscina! Eu fui muito boazinha com você.
- Então, que bom que você é boazinha, né? Vai receber muitos presentes amanhã no seu aniversário, continue assim. - abaixou um pouco sua cabeça e depositou um beijo carinhoso no nariz da garota.
- Mas a piscina tá vazia agora, isso não te dá vontade de entrar não? - voltou seu olhar para a piscina, que estava mesmo mais vazia, com apenas um casal se pegando no canto. Ela parecia bem mais calma agora e até menos nojenta, com a luz interna já acesa.
- Você tá falando sério? Não tá com nojinho da quantidade de resíduo de cremes, urina e álcool que devem ter jogado ali, sem mencionar os pedaços de carne? - provocou, fazendo cara de nojo. deu um tapa forte na perna dele, que ria.
- Obrigada por atiçar minha imaginação, , mas mesmo assim eu quero entrar. Tem tempo que não faço alguma coisa doida, e eu tenho que curtir, afinal, amanhã é meu aniversário!
- Tudo bem então. - se levantou rapidamente, pegando a garota no colo. - Mas não diga que eu não avisei!

- Valeu, Ott - Mitchell agradeceu e acenou brevemente. , e esperavam confusos e pacientes por ele, um pouco distantes de Ott e seu caminhão, que, por sinal, havia carregado os quatro até ali.
- O que estamos fazendo aqui exatamente? - perguntou . Os outros dois tinham decidido que ela perguntaria, já que conhecia Mitchell há mais tempo.
A situação era que Mitch havia retirado os três da piscina do nada, dizendo que tinha uma surpresa para eles, então eles entraram no caminhão de Ott e pararam ali.
- Vocês vão ver, apressadinhos - ele respondeu com um sorriso no rosto, se deliciando da situação. - Por enquanto vistam isso e me esperem aqui só mais alguns minutos. - Mitchell entregou uma sacola de papel para cada um deles e foi andando em direção à única casa que podia ser vista ao longe.
- Mas está escuro e eu estou com frio e fome, Mitch - reclamou.
- Vou resolver todos esses problemas, Applebee - Mitchell berrou sem virar-se para de novo, afastando-se cada vez mais rápido. - Por enquanto relaxe e me obedeça, apenas.
- Isso é loucura! - reclamou , jogando sua sacola no chão com raiva. - Não vou ficar aqui brincando os joguinhos desse maluco!
- Calma, gente, ele vai resolver tudo, não ouviram? - tentou soar confiante e tranquilizadora, mas na verdade ela estava confusa também. Deviam ser quase oito horas da noite, e a meia noite ela esperava estar deitada na sacada do quarto com , olhando as estrelas e ouvindo ele lhe desejar parabéns.
- Só eu estou achando isso muito divertido? - guinchou animada, já vestindo o macacão completamente branco por cima da roupa. - Adoro esses joguinhos que o Mitchell faz! E por que essa fixação com roupas brancas?
abriu sua sacola e pegou a roupa lá de dentro. Era um macacão branco exatamente igual ao de e ao de também.
- Vamos fazer o seguinte - ela tentou organizar um plano em sua cabeça e explicar aos outros, antes que fosse embora do nada, ou ficasse empolgada demais para prestar atenção. - Vestir isso aqui, esperar por Mitch, ir aonde ele quer, ficaremos juntos e lá pras nove horas eu vou fingir que estou me sentindo mal e assim iremos pra casa, ok?
concordou animadamente, dando uns pulinhos. Ela já estava bem alterada.
olhou com sua carinha de piedade para , que por fim bufou e tirou seu macacão maior de dentro da sacola.
- Que seja - disse por fim. - Mas lembre-se de que amanhã temos que estar de volta bem cedo. Provavelmente você não se lembra, mas sua consulta na Clínica foi marcada pra amanhã às dez e meia.
Realmente não lembrava daquilo. A secretária da Reabilitação havia ligado umas duas semanas atrás marcando uma reunião para exatamente no dia de seu aniversário, e como a reunião era realmente importante, pois era ali que ela deveria provar de que estava realmente curada, ela não pôde cancelar.
A garota deu de ombros e pegou seu macacão, vestindo-o por último. Eles eram totalmente tapados, cobriam os pés, portanto todos tiveram que ficar descalços, e eram de manga comprida.
- , não precisava ter tirado a blusa! - estendeu a blusa para a amiga. - Coloca isso por baixo do macacão de novo, você não sabe o que vai acontecer!
Algum tempo depois, Mitchell chegou novamente, vestido como todos eles. Os três o seguiram carregando suas sacolas com os sapatos até a casa ao longe. Como já estava escuro e o gramado por onde eles estavam andando há quase dez minutos não tinha nenhum tipo de iluminação, eles só começaram a ter uma idéia de que estavam indo para uma festa na casa de alguém quando realmente começaram a se aproximar da mesma.
Normalmente, o jardim da casa estaria lotado de pessoas, assim como a casa em si, mas como nada ali parecia seguir os padrões da normalidade, nenhuma alma-viva estava na frente da casa. E a casa? Bem, todas as janelas estavam fechadas, então eles não puderam ver nada até entrarem, mas já podiam ouvir bastante barulho vindo lá de dentro, nada reconhecível.
Na porta, Mitchell sussurrou algumas coisas com uma espécie de segurança que vestia roupas todas brancas também, embora não fosse um macacão. Todos entraram tranquilamente, e a primeira impressão dentro da casa foi de choque.
- Mitchell, sem brincadeiras - falou séria. Estava começando a ficar realmente nervosa com a situação. - Onde estamos?
A saleta por onde eles entraram estava completamente vazia, sem móveis e sem pessoas. As paredes eram completamente brancas, sem nenhuma sujeira. Agonizante.
- Não posso dizer exatamente - ele respondeu, olhando fascinado para o local, como se tivesse alguma coisa para ser apreciada.
segurava pelo braço fortemente, parado de pé atrás dela, atento como um cão de guarda, mudo e prestando atenção em tudo. E estava encostando na parede, tentando descobrir qual era a textura, ou qualquer coisa do gênero.
- Ela disse sem brincadeiras, Rosewell - impôs um tom mais autoritário.
- Olha só, Applebee - Mitchell ignorou a e segurou uma mão de -, você me disse que queria se divertir no final de semana do seu aniversário, e tudo que eu estou fazendo agora é te mostrar a diversão que temos por aqui. Eu te levei ao melhor churrasco que costumamos ter por aqui, na melhor casa da região e agora te trouxe pra festa mais diferente e inesquecível que você vai ter na sua vida - ele falava calmamente. - Então faça o favor de confiar em mim e se deixe levar, ok? Eu estou vivo até agora e sempre vivi nesse meio, não foi? - concordou fracamente com a cabeça e Mitchell apertou as mãos dela, fazendo com que se aproximasse mais. - Então pronto, vamos aproveitar!
- Pra onde a foi? - perguntou por fim.
- A espertinha já escolheu uma porta - Mitchell disse divertido, olhando para a porta que acabara de bater. - O negócio é o seguinte, cada um escolhe uma porta e a gente se vê por aí!
Dito isso, Mitchell escolheu uma das cinco portas, abriu entrou e fechou rapidamente, sem que ninguém pudesse ver o que tinha do outro lado.
- Acho que vou escolher aquela ali - optou pela última porta a esquerda depois de um tempo analisando.
- Eu vou com você - concordou.
- Não acho que eles vão deixar entrarmos juntos.
- Estou pouco me fodendo pro que eles querem, . Nós vamos entrar juntos e eu não vou desgrudar de você um segundo.
E então eles entraram de mãos dadas na mesma porta, tendo uma surpresa e tanto ao chegar do outro lado.

Capítulo 9 - Just one taste and you'll want more

- Ok, acho que isso é um pouco diferente do que eu imaginava. - teve que ficar na ponta dos pés para alcançar o ouvido de e gritar lá dentro.
Os dois observaram o local sem conseguir dar um passo sequer. Eles estavam parados exatamente atrás da porta pela qual eles entraram segundos antes, e em sua frente eles só conseguiam ver centenas de pessoas com seus macacões brancos, pulando descompassadas, berrando e se descabelando totalmente.
- Definitivamente não foi aqui que e Mitchell entraram. - se virou para trás de novo, tentando abrir a porta também branca. Tentou freneticamente abrir a porta de todos os jeitos, bateu na mesma e nada.
- Nem pense em berrar - ele alertou quando percebeu que estava enchendo seus pulmões. - A gente não tava ouvindo esse show de rock lá de fora, acha mesmo que alguém te ouviria?
- É... - a garota comentou, rindo da sua estupidez. - Vamos tentar achar outra saída. - Ela gesticulava, tentando se comunicar de qualquer jeito.
Eles resolveram ir pelos cantos até acharem outra porta, uma idéia inteligente que, por incrível que pareça, partiu de .
- Acho que não foi uma idéia tão boa assim - comentou depois de um tempo tentando sair da primeira parede. Dez minutos tinham se passado e eles não haviam dado nem dez passos.
Tudo que se via até então eram os mesmos loucos pulando e cantando alguma música que vinha sabe se lá de onde, que parecia um rock pesado, se é que aquilo parecia alguma coisa; e casais se amassando encostados nas paredes, que era justamente o que os impedia de passar.
Mais algum tempo e eles conseguiram ver o que chamavam de banda cantando no palco. Eram realmente três malucos, um na guitarra, uma na bateria e outro apenas berrando, digo, cantando.
- Que tipo de festa é essa? - Eles pararam para observar, sentando em uma escadinha perto do palco.
- Uma festa de malucos que gostam de branco - foi a resposta mais plausível que encontrou no momento. - Retardados definiria melhor.
- Se fosse um tempo atrás, acho que eu estaria me divertindo... - comentava enquanto observava as pessoas mais próximas ao palco quase arrancando seus macacões, sendo que eles, ao contrário dela, não usavam nada por baixo daquilo. - Não sei o que deu no Mitch pra trazer a gente aqui. - Ela olhou para o lado, procurando ver a expressão de . Mas ele não estava lá.
- ? - ela o chamou, olhando para todos os lados possíveis. - ?
Tensa, dando voltas como uma barata tonta, berrou o nome de algumas boas vezes, e já estava até cogitando a possibilidade de subir naquele palco, agarrar o microfone do cabeludo e chamar por ele, quando o rapaz apareceu com a cabecinha atrás de uma cortina ao lado da escadinha que eles estavam sentados antes.
- Acho que achei um jeito de sair daqui, - disse sorrindo largamente. Sem pensar duas vezes, a garota o seguiu para trás da cortina, passaram por umas caixas de som, onde o barulho era maior ainda, e desviaram de alguns fios no chão, até que finalmente deram de cara com duas portas brancas.
- Devem querer que cada pessoa escolha uma - sugeriu .
- Nem em sonhos. – Instantaneamente, procurou pela mão da garota, segurando-a com força. - Eu não te solto aqui por nada.
deu uma última olhada para trás e pôde ver ao longe o caos do qual eles acabaram de escapar. Definitivamente ela não ficaria sozinha naquela casa de doidos, mas o que quer que fosse atrás das duas portas, não podia ser pior do que o show de rock, poderia?
Sem pensar muito, abriu a porta da direita e entrou, sendo seguida por .
O branco da outra sala era cegante, o silêncio perturbador e a falta de móveis assustadora. Os dois fecharam os olhos no primeiro contato, e escondeu sua cabeça no peito do rapaz, que acariciou seus cabelos.
- Que diabos é isso? - ele perguntou para si mesmo, observando as poucas pessoas jogadas nos cantos. Como todas elas estavam com os macacões, porém estavam desacordadas, jogadas umas em cima das outras, sem mover nem um músculo sequer.
abriu um olho e observou o local ainda aconchegada no peito de .
- Deve ser uma espécie de sala de transição. Como a primeira que passamos.
- Tá mais pra um lixão de pessoas - concluiu sem nenhum humor detectado na voz. - Deve ser aqui que eles jogam os que não aguentaram até tarde.
- Cruzes, !
- Mas é sério, vamos embora daqui rápido, antes que você presencie uma cena não muito agradável da próxima remessa de gente.
Definitivamente o humor de estava decadente. O nervosismo era claramente percebido em seus olhos, que não paravam quietos, como se quisessem rastrear cada canto daquele lugar, tentando prever os 'perigos' que poderiam vir a ocorrer. Sua voz era fria e calculista, e sua postura de contra-ataque.
O mais rápido possível, eles passaram para a próxima porta, onde encontraram uma sala que parecia a menos perigosa de todas elas.
- Podemos ficar por aqui, eu acho - comentou, analisando o local. Finalmente se desprendeu dele, observando também os mini sofás disponibilizados em círculos e as pessoas estranhas sentadas neles, amontoadas em cima de alguma coisa no meio das rodas.
Os dois se aproximaram calmamente dos círculos, só então percebendo que eles se amontoavam para dividir entre si algum tipo de fumo, e aí tentavam algumas técnicas uns com os outros dividindo seus tabacos.
- É afrodisíaco, cara - um dos sujeitos virou para os dois. Sua voz indicava que ele estava quase dormindo, apesar de seus olhos não poderem ser vistos graças aos dreads caídos em seu rosto. - Querem tentar? - Ele analisou de cima a baixo.
- Não, obrigado - respondeu secamente. - Estamos bem.
Por fim, e sentaram em um dos sofás no canto e ficaram por lá conversando, ou pelo menos tentando, visto que ele estava tenso demais pra falar mais do que algumas poucas palavras combinadas em uma frase.
- Já deve ter passado da meia noite - comentou, suspirando profundamente e passando as pernas por cima das de para poder se apoiar melhor na parede.
- Parabéns, . - beijou-lhe a testa delicadamente, sem ao menos olhar no rosto dela. Ele não tirava os olhos dos bolinhos de pessoas e das portas de jeito nenhum. - Você já é uma mulher agora que tem 19 anos.
- Você me disse a mesma coisa ano passado, . - Ela sorriu ao lembrar-se, recostando a cabeça na parede também para observar o teto. Já não aguentava mais olhar para os chapados. - Será que a gente pode tentar sair daqui agora? Queria encontrar com e Mitchell pra eles me desejarem os parabéns também.
- A gente só sai daqui se for pra achar uma saída, . - Ele se mantinha frio, embora estivesse acariciando a perna da garota em seu colo.
- Que seja. - se levantou bruscamente, fazendo com que finalmente o rapaz prendesse seu olhar nela. - Qualquer coisa é melhor do que esse tédio.

Definitivamente não foi uma boa idéia sair da sala dos maconheiros. se julgava mentalmente enquanto sentia seu corpo sendo jogado de um lado pro outro pelas pessoas descontroladas que dançavam em volta dela. Assim que eles passaram pela última porta, foi questão de segundos pra que ela se perdesse de . Aquela definitivamente era a sala mais cheia que eles já estiveram, e a mais animada também. A boate.
Logicamente estava procurando por ela como um cão de guarda, então não havia exatamente por que ela se preocupar com isso. Então, por que não se divertir um pouco?
Aos poucos, o corpo de foi se soltando no ritmo envolvente da música e ela começou a dançar animadamente como o resto do povo ali sem nem se dar conta disso! Ela soltou seu cabelo do rabo de cavalo que havia feito as pressas e balançava sua cabeça de uma forma que já não enxergava quase nada devido à tontura e até mesmo ao cabelo que batia em seu rosto. A garota já não lembrava qual fora a última vez que ela se divertira tanto assim, com uma coisa tão simples como dançar com estranhos ao redor, sem nenhuma preocupação.
estava tão animada e empolgada com essa nova sensação que nem se importou quando percebeu que um garoto moreno parecido com Chris Pine se aproximou perigosamente, colocando uma mão em sua cintura para que eles pudessem dançar juntos.
- Já te disseram que você é muito parecido com Chris Pine? - perguntou, tendo que chegar mais perto do ouvido do rapaz para ser ouvido.
- Na verdade não - ele respondeu segurando na nuca de para que ela não pudesse se afastar, fazendo com que os dois passassem a dançar mais próximos ainda, e permitindo que sentisse o aroma muito agradável do perfume do Chris. - Mas já te disseram que você parece muito com , estou certo?
- Pra falar a verdade também não. - Ela riu, balançando a cabeça negativamente e não resistindo ao impulso de finalmente tocá-lo com suas próprias mãos, envolvendo-as em seu pescoço. - Mas sempre me dizem que eu sou muito melhor que ela.
- É verdade, você é muito melhor ao vivo - ele sussurrou no ouvido dela, dando uma mordidinha fraca no lóbulo da orelha em seguida. - Digo, muito melhor que ela. - Ele riu, parecendo achar a situação divertida.
Aquela mordida casual na orelha de fez com que ela acordasse para o que estava fazendo: dando bola para um homem - incrivelmente sensual, diga-se de passagem -, enquanto o seu homem provavelmente procurava desesperadamente por ela. Ela se afastou um pouco, olhando para o lado e abrindo um pouco seu macacão branco, procurando resfriar-se.
- Que foi, não está se sentindo muito bem? - O rapaz passou a mão pelo cabelo pegajoso e pingando de , tirando-o do seu rosto. - Precisa de um pouco de ar?
continuava sem encará-lo, pensando em como se livraria dele agora e como faria para conseguir voltar a respirar novamente no meio daquela sala, quando ouviu as palavras mágicas saírem da boca de Chris.
- Eu conheço um lugar mais calmo e respirável por aqui, se quiser ir é só falar. - Ele insistia em pegar na mão da garota, que, por estar começando a desenvolver claustrofobia, aceitou e seguiu-o para a porta mais próxima.
- Nossa, muito obrigada mesmo - finalmente conseguiu falar alguma coisa, sentindo o ar 'puro' entrar em seus pulmões. A sala branca em que estavam agora era realmente mais calma e grande, com muitos jogos infantis entulhados lá dentro, como se fosse um playground interno, com direito a fliperamas, piscina de bolinhas gigantesca e até algumas camas elásticas.
- David Queller - o rapaz finalmente se apresentou devidamente, acariciando a bochecha vermelha de com o polegar.
- - ela também se apresentou, como se ele já não soubesse. se sentou na beirada da piscina de bolinhas, abanando-se freneticamente. David se afastou um pouco, provavelmente procurando um dos freezers que se espalhavam por todas as salas pelas quais ela já havia passado, sem exceção. Só quando conseguiu se acalmar e pensar devidamente, foi que percebeu que fizera a maior burrada saindo da boate. O melhor que ela poderia ter feito era ter ficado lá, já que estava lá procurando por ela! Agora a chance deles se encontrarem de novo fora reduzida a dez multiplicado pelo número de ambientes que tinha aquela festa, o que por sinal ela não fazia a menor idéia!
- Toma, isso vai te fazer bem. - David voltou estendendo uma garrafa transparente para . Por mais que sua boca estivesse seca a ponto dela quase não conseguir falar, ela não aceitaria aquilo. Negou com a cabeça, sorrindo fracamente. - Você acha que eu ia te oferecer alguma coisa com álcool, ? - David sorriu ternamente, abrindo a garrafa e colocando-a na mão dela. - Eu tenho algum juízo, isso é só suco.
Observou um pouco o líquido antes de provar, e realmente parecia muito com suco de limão, e se tivesse algum teor alcoólico era realmente muito pouco.
- Nossa, você tava realmente com sede - David comentou, observando a garota que limpava a boca discretamente depois de ter bebido a garrafa quase inteira em praticamente uma golada.
- Não sei o que falar - ela disse, sincera, encarando a garrafa.
- Por quê? Te intimido tanto assim? - ele brincou.
- Um pouco - ela admitiu, dando de ombros. - Não sei o que pensar sobre a situação. É estranho você não conhecer as pessoas e mesmo assim elas saberem tudo sobre você.
- Eu não sei tudo sobre você.
- Mas você sabe meu nome e também sabe dos meus problemas, o que já é grande coisa.
- Hmm, vejamos... - David se sentou ao lado dela, dando um gole na sua garrafa que com certeza não continha suco de limão. - Eu tenho sérios problemas com compromisso. Podemos dizer até que é um tipo de fobia. Nunca consegui manter uma relação por mais de um mês sem magoar alguém, e isso nunca tinha me incomodado até semana passada - ele disse sério, ainda assim com um tom despreocupado.
- E por que você tá me contando isso agora?
- Porque agora você sabe meu nome e um problema meu. Estamos quites.
não pôde deixar de rir. David era um cara divertido, até. A garota, agora não mais tão sedenta, deu um gole mais devagar na bebida.
- Isso aqui não é só suco de limão - ela afirmou, encarando a garrafa gelada em suas mãos. - Você sabia do meu problema e mesmo assim me deu isso. - Seu tom de voz não era de acusação, muito pelo contrário, estava apenas constatando.
- Não - admitiu David. - Mas você também está aguçando meu problema só por estar perto de mim, então quem liga? Estamos quites de novo.
- Hmm - pensou um pouco, aproximando o nariz do 'suco de limão' - não reconheço essa bebida - ela deu um longo gole, saboreando mais o gosto. - Tem alguma coisa com vodca aqui?
- Pra ser sincero eu não sei, só peguei o que tava ali dentro pra mim e pra você. - David deu de ombros. - Mas não precisa beber se não quiser, só aviso que você não vai achar nada sem álcool nessa festa.
- Você pode pegar outro pra mim então? Estou realmente com sede. - Ela jogou a garrafa vazia no chão e em seguida deixou seu corpo cair para trás, dentro da piscina de bolinhas.
Um tempo depois, David apareceu com mais algumas garrafas transparentes com líquidos coloridos, cada um de uma cor. Ele entrou na piscina, sentando com as costas encostadas na borda.
- Qual você vai querer?
parou com a brincadeira que estava fazendo no meio das bolas e estendeu uma bola qualquer perto do rosto. Azul.
- Quero esse treco azul aí - ela respondeu sorrindo sapeca, aproximando-se do rapaz para pegar a bebida. Estava agindo inconsequentemente de novo e gostava daquilo. Pegou a garrafa e sentiu o líquido azul de framboesa queimar um pouco na sua garganta. Fez uma careta involuntariamente.
- Ah, por favor! - David riu da careta dela. - Achei que as histórias sobre seu alcoolismo fossem verdadeiras! Isso é mais fraco do que Ice!
- Acho que desacostumei com bebidas, qualquer uma na verdade. - deu outro gole ainda maior que o primeiro. - Mas pelo menos aprendi a me controlar, então tudo bem.
- Se você diz. - Eles bateram a garrafa em um brinde.
- Nossa, isso é bom mesmo - ela comentou, gargalhando.

Depois de um tempo, não se lembrava mais há quanto tempo estava se sentindo extremamente sem sentido, nos dois sentidos. Sua noção de espaço já havia ido embora há bastante tempo, e sua percepção de tato, olfato, visão, audição e paladar também.
Ela e David ainda estavam dentro da piscina de bolinhas e as garrafas no chão já faziam um grande número.
- Não, é sério! Juro que não estou inventando! - David berrava perto do ouvido da garota. Ele estava literalmente em cima dela, com o rosto encostado no dela. só não conseguia se lembrar se sua boca tinha ou não trocado alguma coisa com a dele além de palavras. - Essas festas são assim mesmo, as coisas acontecem, você sabe...
- Pra falar a verdade eu não sei mais de coisas como essas há muito tempo - falou distraída, seu olhar observando um homem que vinha chegando mais perto.
- Posso te mostrar se você quiser, pra relembrar. - David procurava a boca de sem sucesso, pois também já bebera mais do que o necessário e estava beijando o queixo da garota quando ela percebeu quem estava por perto.
- Mitchell! - exclamou, aliviada.
- Tudo bem, ? - ele perguntou, sorrindo. Apoiou-se perto da piscina de bolinhas e deu um leve empurrão em David, que foi mais do que o suficiente para que ele caísse para o lado, saindo de cima dela.
- Agora estou bem melhor, Chris estava pesando. - Ela sorria abestalhadamente, tentando se levantar para sair da piscina.
- Chris? - Ele olhou confuso para o rapaz que jazia na piscina de bolinhas, meio desacordado. Sorriu fraco. - Vejo que David cuidou bem de você enquanto eu estava fora, hein?
Mitchell ajudou a sair da piscina de bolinhas, e foi então que ele percebeu as garrafas esparramadas no chão.
- Isso tudo aqui é obra sua? - perguntou preocupado, mostrando as garrafas para , que ainda desnorteada tentava tirar o cabelo do rosto. Não dava para pensar em responder pergunta alguma se seu cabelo estivesse caindo no rosto. Era exigir demais para o cérebro dela naquele momento se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo.
- , você não se lembra que amanhã tem a reunião na Clínica? - Mitchell segurou a garota pelo braço fortemente, impedindo-a de cair. - Eu te contei como foi a minha semana passada, eles vão fazer perguntas e você tem que estar pelo menos apresentável! Não pode chegar lá e desapontar todo mundo, sem contar que eles vão querer te convencer a voltar pra lá!
- Não vou voltar pra lá, Miitch - resmungou parecendo um pouco mais séria, devido ao susto -, não deixa isso acontecer! - Ela se jogou nos braços do rapaz.
- Não vou deixar nada de mal te acontecer, Applebee. - Um sorriso se formava no rosto de Mitchell enquanto ele colocava um braço em volta da cintura de , dando-lhe apoio para seguirem andando. - Pode confiar em mim, vamos cuidar de você.

olhou mais uma vez no celular: meia noite e nove. Sua mão já estava suada e doendo um pouco, mas ele não pararia de apertar aquele celular por nada. Há mais ou menos meia hora ele desistira de procurar por e andava pelos cômodos (um mais doido que o outro, como ele previra) em busca de sinal para o celular. Não sabia ao certo para quem ligaria, visto que não estava com seu celular, mas o fato de ter um meio de comunicação no meio daquela loucura toda já seria reconfortante.
- Você está me perseguindo ou algo assim? - Uma menina de cabelos rosa chegou perto de , colocando suas mãos em seu peito e o olhando sedutoramente.
- Na verdade, estou procurando minha namorada - ele respondeu seco, enfiando as mãos no bolso, ainda segurando seu celular.
- Ah - ela pareceu se desapontar um pouco, mas não perder totalmente as esperanças ,- você pode me perseguir a hora que quiser.
- Obrigado. - afastou um pouco as mãos da 'rosada', finalizando a conversa. Sentou-se em um banquinho branco no canto de uma sala onde pessoas com o corpo praticamente todo tatuado faziam mais tatuagens, com tatuadores definitivamente não profissionais, já que agarravam qualquer mulher que sentasse na maca.
Ele passou a mão livre pelo cabelo, começando a ficar mais nervoso. Não aguentava mais olhar para coisas brancas, e não aguentava mais a sensação de perda dentro de seu peito. De impotência, de fracasso.
A essa hora tudo que ele mais queria era estar perto de sua garota para poderem sair o mais rápido dali e eles pudessem comemorar o aniversário dela decentemente. Imaginou onde ela estaria enfiada, e se estaria chorando por estar perdida e sozinha no dia de seu aniversário.
- ? - Uma voz surpresa ecoou meio ao longe, e sequer levantou seu olhar para ver de quem era a voz. - Que surpresa você por aqui!
A pessoa sentou-se ao lado dele e passou o braço por sua cintura, obrigando a olhar para conferir quem era.
- Oi - ele respondeu tentando sorrir, ao perceber que era a morena peituda dona da festa na piscina em que eles estiveram mais cedo.
- Nelly - ela se apresentou de novo, percebendo que ele a esquecera. - Você me conheceu na festa hoje, lembra?
- Lembro sim, Nelly, claro - tentou ser simpático, mas sua cara devia contradizer qualquer sorriso que ele desse.
- Que surpresa você por aqui!
- Você está realmente surpresa? - era o desânimo em pessoa enquanto falava, ainda dando umas espiadinhas no celular discretamente para que Nelly não percebesse sua euforia interna. - Me parece que todas as pessoas nessa região frequentam todas as festas por aqui...
- Realmente, mas Mitchell me disse hoje cedo que você não estaria aqui. - Ela deu de ombros, como quem não quer nada.
- Como assim? Mitchell estava planejando esse final de semana meticulosamente naquela mente retardada e psicótica dele. - Sua raiva agora transparecia claramente.
- É verdade - Nelly concordou, olhando para o chão -, mas você com certeza não estava nos planos dele. Achei que ele já tinha te eliminado a uma hora dessas.
- Nelly, do que você tá falando? Eliminado? Planos? - virou-se de frente para a garota, segurando em seus ombros. Uma pequena chama de esperança brotara em seu estômago, embrulhando-o de uma forma consideravelmente agradável.
- Acho que estou falando demais, desculpe. - Ela olhava nos olhos do rapaz, como se estivesse encabulada, mas podia perceber claramente que diferente de todas as pessoas naquela festa, Nelly estava sóbria. Bem sóbria, tendo consciência de tudo que estava falando.
- Não, você está salvando minha pele. - a olhava sério, e falava firme, decidido a arrancar alguma coisa dela. - Me diga o que Mitchell estava tramando e onde ele está com a nesse momento, por favor.
- Eu não sei exatamente, ele não confia muito em mim pra ficar contando seus planos, acha que eu sou idiota demais pra entendê-los. Mas hoje quando eu fui procurar por ele pra gente conversar e dar uns amassos como costumamos fazer ele deixou escapar que tinha planos melhores e maiores do que eu pra hoje.
- Hmm, entendo. - A chama dentro do estômago de já tinha se tornado praticamente um incêndio, e ele só não saía correndo dali atrás de Mitchell porque tinha que obter informações primeiro. - Isso é extremamente importante, Nelly. Vou precisar da sua ajuda aqui. - Ela assentiu com a cabeça, seus olhos começando a demonstrar preocupação. Sua intenção inicial era atiçar para que ele fosse atrás de e deixasse Mitchell para ela, realmente ela não tinha percebido a gravidade da situação.
- O que exatamente aquele desgraçado deixou escapar pra você hoje?
- Bem, eu não me lembro exatamente - Nelly se embolava um pouco com as palavras devido ao nervosismo -, mas ele me mandou observar a ao longe, e aprender com ela. Disse também que hoje não estava interessado em mim, tinha que focar em tirar alguns obstáculos do caminho.
ainda a encarava, na esperança de que ela se lembrasse de alguma coisa mais concreta.
- Não sei, ! - Nelly quase berrou. - Mitchell é uma pessoa enigmática e não confia na minha capacidade como eu disse! Ele não se importou em completar raciocínios e nem eu me importei em prestar mais atenção, desculpe!
- Tudo bem, tudo bem - ele conteve sua frustração, acariciando de leve os braços da garota quase aos prantos na sua frente. - Você já me ajudou bastante.
- E o que você vai fazer agora? - ela perguntou assim que conseguiu controlar um pouco seu soluço.
- Vou precisar da sua ajuda, ok? Acho que tenho um plano, que não é muito bom, mas vai ter que funcionar. - Nelly assentiu com a cabeça, prendendo seus cabelos para se concentrar melhor. - Você vai me dar o número do seu celular e vai ficar com ele em mãos o tempo todo, tudo bem? Vai ficar procurando Mitchell, ou até mesmo a por aí, e se ver qualquer um deles me liga imediatamente! - A cada nova informação, Nelly assentia pacientemente, anotando tudo mentalmente. - Eu também vou procurar por eles e... Acho que é só isso. Não vou conseguir pensar em algo melhor.
se martirizava mentalmente por não ter uma idéia brilhante ou algo assim.
- Só mais uma coisa: você já esteve em uma festa nessa casa antes?
- Claro, de quinze em quinze dias eles abrem a casa, mas ela não é sempre branca assim. Falando nisso, fique atento, alguma coisa vai acontecer. Eles gostam de surpresinhas, e normalmente elas não são muito agradáveis.
- Surpresinhas? Que tipo de surpresinhas?
- Ah, todo tipo de surpresinhas idiotas. - Nelly deu de ombros, totalmente recomposta. - Da última vez eles soltaram esquilos pela casa inteira do nada, e todo mundo meio que pirou! Mas eram só esquilos! Eles fazem essas coisas pra se divertir rindo da nossa cara mesmo.
- Eles?
- Eles, os organizadores da festa. Eles ficam em uma sala separada e trancada, observando cada cômodo e rindo da gente. Mas ninguém se importa, porque essas são as melhores festas que temos por aqui.
- Salas reservadas... Onde ficam essas salas?
- Não sei exatamente, acho que no segundo andar talvez. É mais difícil chegar ao segundo andar, só tem uma sala com uma escada, e normalmente um segurança fica lá. É tipo uma área VIP, eu já fui uma vez com Mitchell.
- Mitchell - rosnou seu nome com ódio. Ele se levantou, se recompôs e então se despediu de Nelly.
- Não esquece, qualquer coisa me liga! Boa sorte.
- Boa sorte pra você também. - Nelly deu um beijo na bochecha dele. - E ah, talvez o nome David Queller te seja útil. Ele é bem influente por essas áreas e amigo do Mitch.

Capítulo 10 - SOS please! Someone help me!

- Mitchell Roswell. - O segurança sorriu. - Você por aqui? Andou sumido.
- É, precisei esfriar a cabeça, fui internado numa clínica - ele deu de ombros, rindo de lado -, mas estou de volta.
- Bom saber, os chefes vão gostar de saber, acho - o segurança respondeu com insegurança. Há muito tempo não ouvia o nome de Mitchell ser pronunciado por ali, na verdade.
- Mas e aí, ainda tenho passe livre? - Mitch foi direto ao assunto, ajeitando a garota que estava debruçada em seus braços, com a cabeça em seu ombro.
- Bem, na verdade seu nome não está mais nas listas. - Ele fingiu dar uma olhada na lista, embora soubesse exatamente quem estava ali ou não. - Mas acho que podemos te colocar pra dentro, em nome dos velhos tempos. Até porque o jogo de hoje vai ser interessante pelo que me disseram, você vai gostar de assistir com eles a reação dos bonecos.
Jogo fazia referência as 'surpresinhas' já mencionadas, e boneco era como carinhosamente os convidados eram chamados.
- Você é demais, cara. Simplesmente demais! – Mitch, já animado, deu um passo a frente, quase arrastando a garota semi-acordada ao seu lado.
- Mas peraí. - O segurança colocou uma mão na porta, impedindo a passagem. - Quem é a garota?
- Applebee? - Mitchell riu maliciosamente. - Um presentinho para meus antigos companheiros de sociedade. - Ele piscou, imediatamente recebendo um olhar cúmplice do segurança e passagem livre e fácil.

Fácil definitivamente não foi a palavra para descrever como ele conseguiu achar o lugar. Pra dizer a verdade, circulou por todas as salas, e por algumas até mesmo duas vezes, mas ele achou. A escada. Era uma sala mais calma, com algumas pessoas jogando poker ou sinuca, e as pessoas ali pareciam mais civilizadas. E a escada estava no fim da sala, discreta e quase imperceptível. Porém, quando a avistou, foi como se sentisse algo pulando dentro de si, um misto de excitação e nervosismo. Devagar, ele subiu a escada, segurando forte no corrimão da mesma, e na outra mão o celular, como sempre esperando uma ligação de Nelly.
Ao chegar ao andar de cima, teve que fechar os olhos. As paredes eram pretas, e o contraste o deixou meio tonto por um tempo. Quando se recompôs, conseguiu ver o segurança parado perto de uma porta marrom. Cores. Como era bom ver cores!
- David Queller - foi o que disse ao se aproximar do segurança carrancudo. Ele não sabia como começar, muito menos o que falaria depois, então simplesmente deu de cara a única informação que lhe dava esperança.
- Quem? - o homem se fez de desentendido.
- David Queller - repetiu após forçar a memória para lembrar se não havia errado o nome, ou a pronúncia. - Queller me mandou aqui - arriscou. - Ele disse que está precisando de ajuda e quer que eu pegue uma pasta.
Era tudo ou nada. David Queller podia estar ali dentro se divertindo, David Queller podia ser o segurança, David Queller podia ter morrido ou simplesmente nem existir, e então teria perdido a chance de entrar na área VIP.
Mas se David Queller existisse e não estivesse por perto, então talvez conseguisse alguma coisa. Ele só precisava de um pouco de sorte.
- Você pode me dizer de que pasta está falando, e então eu mandarei pegar. Senhor Queller não deixaria qualquer um entrar aqui sem aviso prévio. - O segurança analisava de cima a baixo, com certa insegurança.
- Escuta aqui, meu senhor, o negócio é sério. David está mesmo precisando de ajuda, e por isso me mandou aqui, porque ele está em circunstâncias desesperadoras!
Dois anos de teatro no Ensino Médio afinal estavam valendo para alguma coisa, era o que pensava naquele momento. Além do nome que não parava de ecoar em sua cabeça, como se ele pudesse ouvir sua garota falando em seu ouvido: Mitch.

- Miiiiitch - ria e tinha dificuldade ao pronunciar o nome do amigo. - Miiitch, eu estou feliz! Finalmente estou feliz desde que enfiaram a gente naquele manicômio ridículo, Mitch!
Ela estava sentada, quase deitada, em um sofá, no canto de uma sala mal iluminada cheia e com umas dez pessoas dentro, mais ou menos sete homens e três mulheres, sem contar com eles. Mitchell tirava seus sapatos e não falava nada, apenas lançava sorrisinhos para ela de vez em quando. Mas nem por isso calava a boca. Ao contrário, sua boca parecia estar com vontade própria, falando qualquer coisa sem que sua mente pudesse processar primeiro.
- Que dia é hoje, Mitchell? - ela perguntou, aparentando até estar sóbria. - Parece que é meu aniversário. Hoje é meu aniversário? Ou ele já passou? Meu aniversário foi ontem, certo? Eu lembro de estar com no meu aniversário, e a gente estava -- Ao mencionar o nome de , despertou em Mitchell uma certa raiva, o que fez com que ele levasse um dedo até a boca dela.
- Shiu, . - Ele riu fraco, segurando o dedo indicador nos lábios da garota. - Fica quietinha um pouco, ok? As pessoas estão ocupadas aqui e não querem ouvir você tagarelando.
olhou ao redor. Era difícil ver alguma coisa, primeiro porque sua cabeça doía um pouco e também porque a luz não estava ajudando muito, mas ela conseguiu identificar que as paredes eram de madeira, e o ambiente parecia um bar sofisticado, com mesas e sofás de couro preto e um balcão. Uma das paredes parecia uma adega, e estava lotada de bebidas de vários tipos.
- Estou com sede - comentou, lambendo os lábios e afastando o dedo de Mitchell. Fitava desejosa todas aquelas garrafas diferentes.
- Toma, pode beber mais um pouco - ele estendeu a garrafa de água para ela, que a pegou prontamente -, mas não esquece de tomar isso aqui junto, vai ajudar com a dor de cabeça.
bebeu um gole grande de água e em seguida engoliu o comprimido que recebera. Teve a sensação de que não era a primeira vez que tomava aquele comprimido àquela noite.
- Você sabe que sempre gostei muito de você, Mitch - tagarelava, lutando com seus olhos que teimavam em fechar. - Mas estou confusa agora, porque... Porque não sei onde estou e... E tem uma menina usando o meu macacão ali. - Apontou para uma mulher que dançava em cima do balcão, tirando aos poucos um macacão igual ao que estava usando na festa. Olhou então para o seu corpo e percebeu que já estava sem o macacão, sem os sapatos e sem a blusa.
- Como eu parei aqui? - ela perguntou, sentindo sua voz mais fraca e a vontade de chorar invadindo sua garganta. - E onde estão minhas roupas?
- Applebee, eu estou tentando ser legal com você aqui, mas se você me fizer as mesmas perguntas de cinco em cinco minutos vai ficar difícil - Mitchell bufou, sentando-se ao lado de e retirando o cabelo molhado de suor dela do pescoço. - Você tomou um porre na festa e eu te trouxe pra cá pra cuidar de você, porque você tem uma entrevista na Clínica amanhã e não pode aparecer nesse estado!
- E onde está o ? - perguntou chorosa, segurando com as duas mãos trêmulas no rosto de Mitchell, que estava de repente perto demais, quase encostando a boca na sua.
- Puta que pariu, ! - berrou com raiva, apertando com força os braços da garota, deixando marcas e fazendo com que ela soltasse um gritinho fino, calado com um beijo forçado seguido de um pedido de desculpas.

- Desculpe, mas David não é o único que manda por aqui e, sem o consentimento dos outros chefes, não posso fazer nada por você. - Toda a pose de manda-chuva do segurança voltou com esse comentário. Mas não desistiria. Ele não havia chegado tão longe, dado a maior cagada da sua vida e finalmente utilizado suas habilidades de artista em vão.
Era hora de mostrar que ele era mesmo um bom salva-vidas e merecedor de , e por isso deu sua última tacada.
- Tudo bem se você quiser perguntar ao Mitchell - disse, como quem não quer nada. - Rosewell, sabe? Acho que ele está sabendo do pequeno probleminha de David. E também, ela deve estar aí dentro, acompanhada de Mitchell.
- ?
- Applebee, , , companheira de reabilitação, Nelly, como preferir. - Deu de ombros, tentando dar o máximo de informações abstratas possíveis, a fim de que uma delas significassem alguma coisa para o segurança.
- Ah, Applebee. - Ele sorriu satisfeito, como se finalmente tivesse entendido tudo que estava falando. - Por que você não disse antes?
- Não sabia se podia mencionar isso. Mas então, ela está aí dentro?
- Está... Entrou há uns vinte minutos acompanhada do Rosewell. Parece que ia ser parte da diversão da noite, ou algo assim, mas eu não sabia que ele e o Queller estavam disputando a garota, pra mim era uma prostitutazinha qualquer - ele ria enquanto falava com escárnio, se sentindo o maioral por estar dentro dos assuntos e tratando as pessoas com tanto desprezo.
Os punhos de se fecharam imperceptivelmente, e a vontade de acertá-los na cara daquele engravatado filho-da-puta crescia descomunalmente. Sabe-se lá com que forças ele conseguiu se controlar, e apenas tentou dar um sorriso enviesado, apressado.
- Posso buscar a encomenda então? - perguntou, já impaciente. Mil pensamentos passavam por sua cabeça a cada segundo, mil possibilidades sobre o que estavam fazendo com sua garota do outro lado da porta.
- Claro, entra aí. - Ele deu passagem, abrindo a porta. - Não acho que vai ser difícil, a garota estava meio drogada e...
não ficou para ouvir o que ele tinha a dizer. Passou por aquela porta com medo do que encontraria, podendo ouvir seus batimentos cardíacos como trilha sonora. Rapidamente ele se livrou do macacão branco, visto que era isso que diferenciava as pessoas normais da festa dos VIPs. Seu olhar corria pela sala mal iluminada, procurando desesperadamente por algum sinal de .

- ! - Mitchell sacudia a garota pelos ombros enquanto chamava seu nome. - Porra, ! Qual seu problema agora? - Ele retirou sua mão de dentro da calça da garota e segurou com força em seu rosto, apertando-o e puxando para perto de si. - Não vai falar mesmo não? Vai ficar me olhando com essa cara de coitadinha? - não respondia, não se mexia sozinha e não demonstrava nada. Para falar a verdade, ela sequer ouvia direito, não reconhecia vozes e música ambiente. - Ótimo, não tento mais te ajudar! Você sabe que é isso que eu estava tentando fazer, não é? Ajudar! Mas não, você só pensa em , , ! - Mitchell deu um murro no sofá ao lado de e bufou frustrado. Pegou a garota nos braços com dificuldade, o corpo mole dela pendendo para baixo.

Mulheres semi-nuas dançando no balcão, homens bêbados assistindo e tentando agarrá-las pelas pernas, casais se agarrando sentados nos sofás, uma garota sendo carregada... Era só isso que conseguia ver, mas e ? Sua visão ia e voltava rapidamente demais, sem que ele comandasse, e isso o impedia de reconhecer rostos. Casais dançando no balcão, mulheres assistindo semi-nuas, homens bêbados se agarrando; tudo confuso na mente que não processava tão rapidamente quanto a visão! Garota carregada, pendendo, cabelos grandes caídos, semi-nua? ! !
- , volta aqui! - ele berrou e saiu correndo atrás da garota, atraindo a atenção de alguns que ainda estavam mais conscientes.
viu a cabeça de Mitchell olhando para trás e procurando pela voz que chamava a garota desmaiada em seu colo. Rapidamente, ele pegou a bandeja vazia da mão de um garçom que passava ao seu lado e colocou na frente do seu rosto, disfarçando, porém continuando a andar rápido atrás deles.
Mitchell carregou por bastante tempo, entrando em vários corredores estreitos e às vezes tinha a impressão de que eles estavam dando algumas voltas, possivelmente ele estava tentando despistar alguém que pudesse estar os vigiando. Foi exigido de uma tremenda paciência e força de vontade para se controlar, não sair correndo e arrancar dos braços daquele miserável e socá-lo até desfigurar seu rosto, mas ele queria ver até onde aquilo iria. Qual era a intenção dele com , o que ele pretendia fazer.

Sentindo-se vazia, como se não tivesse comido há dias, abria os olhos vagarosamente tentando enxergar o que estava acontecendo. Por vezes tinha a impressão de ver um vulto atrás dela, parecido com , tenso como ela se lembrava de tê-lo visto pela última vez. Sua cabeça pendia, pois os braços de Mitchell não a davam segurança, e o movimento a enjoava.
- Aquele... ... Mitchell... Onde - ela balbuciava e era calada com um selinho rápido.
- Shh, - ele sussurrava contra os lábios dela -, estamos chegando, e eu prometo que a dor vai passar... Tudo vai passar.
Sua língua estava pesada, seus olhos estavam pesados, era difícil tentar manter-se acordada, então acabou cedendo ao cansaço e deixando o torpor tomar conta de novo.

já estava cansando do joguinho de Mitchell. Estava cansado de bancar o detetive investigando, o gato correndo atrás do rato covarde. Quando percebeu que Mitchell abriu uma porta que dava para uma escada de emergência, e que ele estava fugindo com em direção a seu carro estacionado do outro lado da rua, resolveu que era hora de agir.
Disparou a correr atrás dos dois, sem se importar mais em manter a discrição. Obviamente, assim que ouviu uma movimentação estranha, Mitchell virou-se para conferir, mas felizmente foi mais rápido e o acertou com uma cotovelada no ombro, o que apenas o fez cambalear. Estava claro que ele não era bom de briga e estava agindo por impulso, sem pensar exatamente no que pretendia fazer para sair logo dali, e sair intacto.
Ao invés de Mitchell parar para lutar como um homem, que era o que esperava que ele fizesse, ele apenas continuou a descer as escadas de incêndio desajeitado, carregando uma desacordada nos braços. Agindo de maneira premeditada pela primeira vez, não correu atrás de Mitchell, apenas esperou para que ele ficasse abaixo de seus pés e o acertou com um chute na cara sem piedade, fazendo com que Mitchell cambaleasse e desse tempo para chegar até ele e ainda pegar de seu colo.
- - ele balançava o corpo da garota semi-acordada em suas mãos, tentando pô-la de pé -, , por favor, reage! - dividia seu olhar entre um corpo mole quase caindo em seus braços e outro corpo mole quase caindo no chão, porém se recuperando.
Seguindo seus instintos raivosos, optou por deixar sozinha por um momento e ir atrás do crápula, não dando a ele chance de se recuperar totalmente.
- O que você fez com ela, seu desgraçado? - Ele acertou um soco em Mitchell, que estava meio abaixado, com uma mão apoiada no joelho e outra na cabeça dolorida. - Me fala, o que você deu pra ela? - Um chute nas pernas bambas e ele caiu no chão.
estava achando estranho o fato de Mitchell não estar reagindo às suas provocações, pois ele não parecia tão acabado assim, e com certeza estava mais determinado em carregar antes. Até que ele percebeu o porquê da falta de movimento de seu adversário; o motorista do carro que esperava por ele embaixo da escada estava vindo em sua direção, para socorrer seu chefe.
Deu mais um chute no corpo caído aos seus pés e foi até , amolecida no chão com a cabeça encostada na escada. Pegou a garota em seus braços e pensou em suas possibilidades: ou ele poderia descer as escadas e enfrentar os dois com nos braços; ou ele subia as escadas e enfrentava sabe-se lá quem que ainda estava na festa. Na hora, a segunda opção soou mais fácil, e por isso ele começou a correr escadaria à cima, olhando para trás apenas para ver o motorista correndo mais rápido atrás dele, mas parando para falar brevemente com Mitchell.
Agora corria com em seus braços o mais rápido que podia, passando pela sala VIP e recebendo olhares de todos os ainda conscientes, sem se importar muito com isso.
- O que você tá fazendo segurando a diversão da noite, rapaz? - O segurança segurou o ombro de assim que ele passou pela porta.
- Ganhei a aposta - ele foi rápido em responder e continuou correndo, descendo as escadas. Uma grande parte do desafio fora vencida: sair da área VIP. Agora era só despistar o segurança e achar a saída dali.
Não tinha nenhuma porta além daquela pela qual entrara, então ele supôs que estavam na última sala da casa. Tudo que ele tinha que fazer era tentar lembrar por quais portas ele tinha passado, e então sair pela entrada. Esse era o plano ideal, ainda mais porque logo depois de três portas, o motorista de Mitchell parecia ter se perdido no meio do caminho ou desistido de persegui-los.
- ? - a chamou, balançando levemente seu corpo. - É o aqui, ... Tá tudo bem agora! Consegue me ouvir?
A garota murmurava coisas ininteligíveis e relutava em abrir os olhos. Não aguentando mais carregá-la, ele não tinha outra opção senão pô-la de pé.
- Escute, . - a segurou pelos braços, parando-a de pé em sua frente, porém o corpo da garota estava mole demais para se sustentar sozinha. - Você vai precisar ser forte agora, ouviu? Não vai poder dormir, vai ter que vencer o cansaço. - A garota assentia fracamente com a cabeça enquanto piscava os olhos numa tentativa de mantê-los abertos. não tinha certeza se ela estava o entendendo bem, mesmo que ele estivesse falando calma e pausadamente. - Não pode se deixar levar pela dor, ou seja lá o que você estiver sentindo. Estamos entendidos?
Eles mal começaram a andar de novo em busca de uma saída - se arrastando, com um braço apoiado no ombro de -, quando foram atingidos por uma coisa estranha. Primeiro só sentiu um pingo em sua camisa, o que o fez olhar para cima para conferir de onde vinha, se deparando com espécies de mangueiras penduradas por todo lugar no teto, disparando pequenos jatos do que parecia ser tinta. Começaram a andar mais rápido, a fim de sair logo daquela sala e fugir das gotas. Porém, quando mudaram de cômodo, perceberam que a chuva de tinta ali estava mais forte, fazendo com que algumas poucas pessoas parassem para observar, enquanto outras nem ligavam para o que estava acontecendo.
- Malditas surpresas - murmurou entre dentes, apertando com uma força desnecessária a cintura de , que por sua vez resmungou.
- Colorido - ela conseguiu dizer uma palavra com algum sentido depois de um tempo. Os dois já estavam cobertos de tintas de todas as cores, e o chão estava escorregadio.
- Sim, , está tudo colorido aqui.
- Gosto de cores - ela falava, sorrindo debilmente. Quem a via poderia perceber facilmente que estava drogada ou tinha algum tipo de problema mental. tentava não se concentrar nesse detalhe, deixando isso para depois. No momento, ele só queria sair dali o mais rápido possível, antes que desmaiasse de sono e cansaço em qualquer canto sujo daquele lugar imundo e lotado de pessoas vazias.

Capítulo 11 - The Great Escape

Por que a casa de Mitchell tinha que ser tão longe assim do centro, afinal de contas?
Era o que resmungava em sua mente de cinco em cinco minutos. O local já era afastado, e o trânsito de uma segunda-feira pela manhã não ajudava em nada!
Será que esses londrinos não tinham outra forma de ir para o trabalho? Tinham mesmo que resolver sair de carro todos no mesmo dia, porra?
- Idiotas, vão todos morrer solitários esses prepotentes - ele praguejava os outros motoristas, enfiando sua mão na buzina com uma força exagerada. remexeu-se no banco traseiro do carro e imediatamente virou sua atenção para ela, a fim de checar se tudo estava bem. Ela continuava dormindo, mas isso não aliviava totalmente sua tensão. temia por não saber o que Mitchell havia lhe dado para tomar e, a princípio, não queria deixar que ela dormisse, com medo de as coisas complicarem e ela não acordar mais. Podia parecer exagerado, mas depois da noite anterior ele não duvidava de mais nada nesse mundo!
Suspirou, passando a mão nervosamente pelo cabelo bagunçado e cheirando à maconha. Olhou seu reflexo no retrovisor e suspirou novamente; estava acabado. Olheiras bem fundas embaixo dos olhos vermelhos de sono, a pele pálida e o cansaço aparente. não estava muito diferente dele, mas pelo menos parecia não ter preocupações enquanto dormia.
Quando eles finalmente chegaram de volta à casa, já eram sete e quarenta da manhã, o que lhes dava um tempo de exatas uma hora e vinte minutos para chegarem à reunião da Clínica de Reabilitação. Ou hospital. O rapaz não sabia bem para onde a levaria.
- Vamos, , acorde por favor - ele a chamava com a voz suave, enquanto retirava os sapatos da menina estirada na cama. - Como você está se sentindo? Acha que precisamos ir a um hospital?
- Hmmm huhuum hun - ela resmungava em resposta, tentando encolher o corpo em cima da cama. Sua língua estava mole demais para que conseguisse falar alguma coisa, e seu cérebro processava devagar demais.
resolveu então enfiá-la debaixo do chuveiro, como já fizera algumas vezes. Só que dessa vez ele não estava com raiva da garota por ter bebido demais e feito alguma merda, visto que a culpa não era dela! Tinha sido enganada e tapeada por Mitchell.
Pelo menos era nisso que ele queria acreditar enquanto enxaguava os cabelos dela. Queria mesmo acreditar que ela não tinha bebido e se drogado de propósito. Essa era uma possibilidade, afinal de contas, ele não tinha como ter absoluta certeza de que havia mesmo se curado do alcoolismo. Mas tinha de acreditar nisso! Tinha de acreditar em sua garota, levá-la à Clínica para fazerem logo os testes e ela finalmente poder ficar livre de toda essa pressão. E então eles viajariam de férias e passariam um tempo isolado do mundo, onde seriam só os dois e um mar calmo e tranquilo. Esse era o plano perfeito de . Só que havia um porém, no fim das contas. Alguns testes teriam que ser feitos para comprovar que andava sóbria nos últimos tempos, certo? E como ninguém sabia o que a garota tinha ingerido noite passada, provavelmente o teste daria positivo e ela teria de ser internada novamente! xingou alto e quase deixou a semi-acordada cair no chão do box, mas a segurou antes que isso acontecesse.

- , quanto tempo! - Um senhor simpático sorriu para ele. abriu mais a porta, deixando o homem de branco segurando uma maletinha entrar na sala.
- Realmente muito tempo, doutor - murmurou sem muita simpatia. - Mas eu também não estou com muito tempo, então se o senhor puder me acompanhar até o quarto e fazer uns exames básicos, eu agradecerei.
Dito isso, os dois fizeram o caminho até o quarto de em silêncio, onde uma vestida em um pijama de flanela estava deitada, dormindo profundamente.
- Quer que eu a acorde? - perguntou, sentando na beirada da cama. - Ela está dormindo assim há bastante tempo, na verdade. Essa é uma das minhas preocupações.
mexeu no pé de com carinho, mas ela sequer pareceu notar a carícia. Percebendo que seria necessário mais força de vontade, ele se inclinou sobre o corpo da garota e beijou-lhe os lábios de leve antes de balançar seu corpo, chamando por seu nome em uma voz bastante grave.
O médico apenas observava enquanto, vagarosamente, dava alguns sinais de vida e se espreguiçava, mas sem abrir os olhos.
- O doutor Sinki está aqui para te ver, . - a ajeitou sentada com as costas apoiadas na cama. Logo depois se levantou e foi para o canto do quarto observar enquanto Dr. Sinki fazia uns exames básicos, como medir a temperatura e tirar a pressão. Esperou apreensivo até que tudo estivesse feito. colaborava com os movimentos e até seu olhar às vezes seguia o do médico enquanto ele mexia nela, mas não conseguiu pronunciar nenhuma palavra.
- Bem... Você faz alguma idéia do que andou ingerindo, mocinha? - perguntou olhando atentamente para , que nem mesmo um olhar expressivo mandou como resposta.
- Na verdade é isso que queremos saber, doutor - intrometeu-se pela primeira vez, aproximando-se. - Acho que alguém a dopou ou algo assim.
- Com certeza ela ingeriu uma quantidade significativa de álcool - ele falava para , mas não tirava os olhos de sua paciente quase fechando novamente os olhos na cama. - Realmente não me parece que foi em grande quantidade, mas sabendo que a paciente estava em abstinência há alguns meses, o organismo dela deve ter se desacostumado com qualquer quantidade de álcool.
assentiu pacientemente, também sem tirar os olhos de .
- Mais alguma coisa?
- Teríamos que fazer um exame de sangue para dizer com precisão se ela tomou algum medicamento ou usou algum tipo de droga, mas... - Seu olhar agora era de pena. Parecia que estava olhando para uma pobre garota que não conseguia controlar seus vícios. Isso deixou com bastante raiva, mas procurou não demonstrar.
- Pelos sintomas dela dá pra dizer que ela tomou sim algum tipo de calmante, sedativo ou anti-depressivo - concluiu por fim.
- Então devemos levá-la ao hospital para ter certeza?
- Se houver tempo, seria bom que ela fizesse um exame de sangue e talvez até mesmo ficar sob o soro algumas horas, mas o senhor me parece bastante preocupado e apressado, senhor .
- Na verdade, há uma certa pressa mesmo - admitiu, pegando a mão de e acariciando-a com o polegar. - Mas se for de extrema urgência, acho que podemos adiar os planos...
- Faça o seguinte então - Sinki se levantou bruscamente, começando a juntar seus apetrechos -, deixe-a dormir por mais algumas horas, mas acorde-a de vinte em vinte minutos para deixar que ela beba um pouco de água; sua garganta está seca demais! E quando ela acordar, se estiver se sentindo bem, não precisam procurar mais ajuda.
- Tudo bem, obrigado, doutor. - também se levantou para acompanhar o médico até a porta, onde acertaram o pagamento.
- Só aviso que o cansaço pelas próximas 24 ou até mesmo 48 horas é normal.
- Certo, muito obrigado mesmo, Dr. Sinki. - Apertaram as mãos. - Espero poder continuar contando com sua discrição de sempre. - tirou mais algumas notas do bolso e deixou-as na mão dele.

- , não é muita loucura da sua parte não? - olhou para e para agarrada ao braço do rapaz.
- Eu já avisei ao Fletch e aos outros caras, ... Vai ser melhor pra todos, ganhamos umas férias, viu?
- Não estou preocupado com a banda, cara... - diminuiu o tom de voz para comentar: - Mas ela ainda não me parece muito bem.
- Ela está se recuperando, mas tenho certeza de que vai aguentar isso - respondeu com firmeza, apertando mais a mão da garota que estava entrelaçada na sua.
- Vamos visitar minha mãe, ? - perguntou, pela primeira vez parecendo prestar atenção ao que estava acontecendo ao seu redor. - Estou com saudades dela...
- Não, - ele beijou-lhe a testa carinhosamente -, vamos passar uns tempos na casa de um amigo em Berlim, mas podemos visitar sua mãe na volta, tudo bem?
- Também estou com saudades de - falou pensativa. - Quanto tempo tem que eu não a vejo? E também tem Mitchell... Anda sumido.
olhava atentamente para , com um misto de pena e preocupação. quase quebrou o pulso da garota ao ouvir o nome de Mitchell saindo da boca dela, pois instintivamente apertou-o sem piedade.
- Ela está sem noção do tempo - explicou entre dentes, relaxando um pouco seu punho fechado. - Mas estou dizendo, vai aguentar a viagem... Com sorte ela não vai nem perceber o tempo passando.

Continua...

NA: Finalmente a festa acabou. UHAUHAUH E eu espero não ter decepcionado ninguém por todo o mistério que envolvia essa festa... Por favor, comentem sobre esse caso, preciso de opiniões porque ainda há tempo de mudar algumas coisas em relação a isso, visto que os próximos capts estão totalmente em branco! UHAHUAHU
Por isso, vai haver uma certa demora de atualização à partir de agora, ainda mais porque eu resolvi ser uma boa menina e estudar, mas... Não vou abandonar a fic de jeito nenhum! Ainda mais porque estamos bem próximos de um final aqui, hein! :)
Queria agradecer as meninas que ainda acompanham a fic, principalmente aquelas que vêm comentando desde os primeiros capts da primeira parte... Vocês são demais, fofas!
Beijos para todas, nos vemos em Berlim ;)

Minhas outras fics:
Cooper - Finalizada - Luíza e Paula [http://fanficobsession.com.br/fics/cooper.htm]
That's What I Go to School For - Finalizada - Luíza [http://fanficobsession.com.br/fics/thatswhatigotoschoolfor.htm]
He is Back. And to stay (?) - Em andamento - Luíza e Paula [http://fanficobsession.com.br/fictions/heisback.html]
I do - Em esquecimento (rs) - Luíza [http://www.fanficobsession.com.br/fanfics/ido.htm]

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