Fantasy
Por: Vê Fletcher


“Better run for cover
You’re a hurricane full of lies”


Ok, a chave na fechadura, ela chegou. Como vou olhar pra cara dela agora? Já faz dois anos que vivo com uma namorada mentirosa. Meu nome é e o dela , agora você se pergunta: Por que você não largou dela ainda? E eu respondo: porque, simplesmente, ela acha que me engana muito bem e eu tenho dó. É, eu sou um covarde.

“And the way you're heading
No ones getting out alive”


Isso está ficando cada vez mais difícil, eu insisto em seduzi-la para que ela vá pra cama comigo, mas ela me diz que sempre está cansada do trabalho, que o chefe dela é muito exigente e qualquer outra besteirinha. O problema é que ela não sabe que eu tenho conhecimento do tipo de trabalho dela. Desse jeito, nem eu nem ela sairemos daqui vivos.

“So do us all a favor,
Would you find somebody else to blame
Cause your words are like bullets and I'm the way your weapons aim”


Será que ela poderia fazer um favor a mim e a todos os nossos amigos? Ela poderia culpar qualquer outra pessoa que não fosse o chefe ou até eu mesmo, por ser a razão de ela estar “cansada” e, pior, poderia parar de me criticar sobre eu só ficar compondo músicas com os caras, em vez de arrumar um “trabalho de verdade”, como ela sempre diz? Eu estou na mira do seu stress e as palavras dela são como balas que me atingem cada vez mais.

“Guess I could fill a book
With things that I don't know about you, baby?”


Eu poderia escrever um livro sobre coisas que não sei sobre ela. Como na semana passada, eu estava procurando pelo meu dinheiro, que eu sempre guardo na gaveta, quando encontro algumas fantasias nessa e tenho que dizer: eu não havia dado nenhuma delas à minha namorada. Então passei a reparar, ela sempre chegava cansada do trabalho, usando uma bolsa enorme, assim que ela deixava a dita cuja na cama, lá ia eu fuçar. O que eu encontrava eram pacotes de preservativos, chicotes, fantasias sexuais e presentes caríssimos, como jóias. Ela estava me traindo.
Foi então que começou a ficar engraçado investigá-la, sempre que eu pedia por sexo, ela recusava, mas tinha um sorriso maroto no canto dos lábios, como se esperasse por alguma reação minha. Hoje, foi a última vez que eu pedi para ela.
- Ain, amor, eu ‘to cansada, o trabalho foi exaustivo, que tal amanhã? – aquela frase parecia de secretária eletrônica, de tantas vezes que eu já a ouvira.

“You're not misunderstood,
But you got, you got to go!”


- Você precisa partir. – eu disse sério e ela parou de sorrir inocentemente.
- Como? – uma expressão nervosa apareceu em seu rosto.
- Você não entendeu mal, precisa sair daqui! – disse sorrindo de canto, agora sim eu a desmascararia.

“(Lies!) Living in a fantasy,”

- Há dois anos eu vivo em uma fantasia e você acha que eu não percebi? – joguei alguns dos presentes caros que eu havia achado em sua bolsa, no sofá.
- Mas, amor... – ela tentou contrapor, mas eu não deixaria barato.

“(Lies!) Don't even know reality,”

- Eu nem sei mais o que é realidade, , não sei mais o que é ser amado! – continuei.

“(Lies!) When you start talking, I start walking (Lies! Lies! Lies!)”

- , me escuta. – ela começou a argumentar, tudo para mim soava como mentira, então andei até nosso quarto com ela atrás, ainda falando.

“Don't even wanna know the truth,”

Abri a gaveta em que ela guardava suas fantasias e as espalhei pela cama de casal.
- Como você me explica isso? – ergui meu tom de voz e apontei para as roupas.
- Tudo tem um motivo, . – ela disse, com lágrimas nos olhos, mas não me intimidou.

“(Lies!) The devil has his eye on you, girl”

- Mentira! Você é uma mentirosa, o diabo tem os olhos em você, sabia? – urrei de raiva.

“When you start talking, I'll start walking (Lies! Lies! Lies!)”

Novamente, ela começou a argumentar e eu voltei para a sala. Peguei as chaves do carro dela e entreguei à ela.
- Vá embora. – falei entre dentes. Ela não hesitou e pegou a chave, saiu batendo porta, então eu sentei-me no sofá e liguei a televisão no canal de notícias.

“So don't forget your seatbelt
Don't you think of picking up the phone”


** entrou em seu carro na garagem e respirou fundo, deu partida e sequer lembrou-se de colocar o cinto de segurança, saiu em disparada para qualquer lugar que não fosse seu apartamento. Ouviu seu celular tocar e olhou na bina. “” estava escrito; riu sarcasticamente e jogou o celular no banco de trás, mas a campainha ensurdecedora já a estava tirando do sério.**

“Better say your prayers
Cos you're never gonna make it home”


Eu ligava incansavelmente em seu celular, era melhor ela rezar para que voltasse para casa, pois acho que estaria longe de isso acontecer.

“Did you miss the stop sign?
That last decision was your last
Cos you can't go back
Once you're lying in the broken glass”


Uma repórter estava ao vivo, perto de uma loja da Starbucks, quando um barulho ensurdecedor tomou conta da TV. Ela virou para trás e um acidente de carro havia acabado de acontecer.
- Parece que um carro acaba de atravessar o sinal vermelho e o motorista foi jogado para fora do veículo. – ela dizia, aproximando-se de onde o carro estava e várias pessoas aglomeravam-se ao redor do veículo. Quando a câmera focou o corpo, eu estremeci. estava ali, naquela rua, com o corpo estendido sobre os cacos do pára-brisa.

“You get to here me say
Who gets the last laugh now!”


Dizem que quem ri por último, ri melhor. Mas será que eu realmente deveria rir daquilo? “Quem rirá por último agora?” havia me dito isso antes de sair de casa batendo porta.

“No more excuses
No more running
Only God can save you now”


Fui chamado ao hospital para onde a levaram e pelo seu estado, só Deus poderia salvá-la agora. Ela não tinha por onde escapar, não tinha desculpas para dar, tudo agora dependia do tempo. E se ela fosse perdoada, com certeza voltaria outra pessoa.

“Cos I know the truth time is running out”

Eu sabia da verdade, sabia que era questão de segundos para que todos os aparelhos apitassem e ela morresse. O tempo estava acabando, teria o fim que merecia por ter mentido para todos nós por todo esse tempo, mas eu não me sentia feliz.

“And I'm just one drink away
And I'm back in Wonderland like it was yesterday”


Saí do hospital e fui beber com os caras, todos eles já sabiam do acidente, mas não quiseram comentar. Já estava na minha quinta cerveja, estava a mais uma garrafa do País das Maravilhas, onde eu poderia me esquecer de e de todas as suas mentiras. Como no dia anterior, que eu havia me embebedado em casa e nem a vi chegar, estava pensando em como toda nossa situação poderia ser diferente.

“And you get to hear me say
Who gets the last?
Who gets the last?
Who gets the last laugh now!”


Ela tinha que me ouvir responder à sua frase “Quem rirá por último agora?”, mas ela não conseguia, estava em coma. Isso mesmo, ela havia entrado em estado de inconsciência.

“(Lies!) Living in a fantasy,”

Novamente, eu estava vivendo uma fantasia, indo todos os dias ao hospital visitá-la, mas ela sequer podia me ver, quem sabe escutar.

“(Lies!) Don't even know reality,”

não sabia da realidade, não sabia que eu queria ouvi-la, dessa vez sem protestar, nem nada. Eu queria ouvir a versão dela da história e a cada dia percebia que estava ficando mais difícil dessa cena poder vir a acontecer.

“(Lies!) When you start talking, I start walking (Lies! Lies! Lies!)”

Arrependo-me agora de não ter lhe dado ouvidos, poderia ser mais um rio de mentiras dela, mas pelo menos eu não me sentiria tão culpado pelo seu acidente e muito menos pelo seu estado de saúde.

“Don't even wanna know the truth,”

Poderia não querer saber da verdade, mas agora eu a desejo a cada minuto, queria ver como teria sido se ela, ao menos uma vez, tivesse me dito a verdade.

“(Lies!) The devil has his eye on you, girl”

Achei que o diabo tivesse os olhos nela, mas ao vê-la ainda viva, mudei de idéia, essa garota tinha era muita sorte!

“When you start talking, I'll start walking (Lies! Lies! Lies!)”

Se ela começasse a falar, eu começaria a andar? Não. Se ela mentisse mais uma vez para mim, eu iria acreditar? Não. Mas e se ela resistisse e me contasse toda a verdade, nada mais do que a verdade, eu lhe daria ouvidos? Sim. Tudo para que eu não me sentisse tão mal do jeito que eu me sinto agora, desejando a cada dia que ela acorde de seu infinito sono e que crie coragem para me contar toda a verdade, o que de fato lhe acontecia enquanto eu descobria suas mentiras.

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