Firework



null batia os pés nervosamente no chão, esperava null do lado de fora do consultório. As duas eram melhores amigas desde que ela se lembrava, não havia nenhuma lembrança de sua infância feliz ou triste em que null não estivesse presente. Quando os pais de null estavam se separando e brigavam constantemente, a garota sempre ligava para a amiga e esta sempre tinha uma palavra doce para falar:
- null, acho que agora é de verdade. - falou null no telefone olhando para a rua através da janela de seu quarto. Do lado de fora, seu pai carregava suas malas para dentro de um táxi.
- null, vai ficar tudo bem, ok? - garantiu null que estava com a amiga no telefone mesmo sendo meia-noite. - Amanhã eu passo aí na sua casa, tudo bem?
- Tudo bem, null. - falou null deixando suas lágrimas rolarem sem se importar de secá-las.
- Eu vou ficar aqui contigo, null. - garantiu null. - Até você dormir.
E null ficou mesmo falando com a amiga até o dia raiar, lavando o rosto cada vez que ficava com sono. Até ouvir a respiração lenta da amiga indicando que esta havia dormido. Alguns dias antes da ida ao consultório, durante uma aula de educação física, null brincou:
- Vem logo, null, sua lesma. - gritou null a vários metros de distância na pista de corrida. null havia parado a corrida para pegar um pouco de ar, ela estava dobrada sobre a barriga. - Você é tão mole.
- Vá indo na frente que eu te alcanço. - gritou null em resposta.
- Nada disso, sua trapaceira. - falou null correndo até a amiga. - O combinado era corridas em dupla. Vamos perder essa minha banha juntas, lembra?
- Você não é gorda. - falou null fazendo uma careta por causa da dor que sentia pela corrida. Respirava com dificuldade.
- Sou sim, você fala isso porque é ótima e tem o corpo perfeito. - falou null pegando a amiga pelo braço e a puxando de volta para a pista de corrida.
- Não estou me sentindo bem. - falou null ficando cada vez mais pálida.
- Vem logo, tartaruga paralítica. - falou null puxando null com mais força.
- null, não dá. - falou null. - null...
Então null caiu no chão. Primeiro null achou que fosse brincadeira da amiga, depois viu que era sério. Levantou levemente a cabeça de null para que ela respirasse melhor enquanto gritava por ajuda. Um aluno da sala delas, null, parou no meio de sua corrida e carregou null para a enfermaria. null corria atrás do garoto chorando.
- null? - gemeu null assim que abriu os olhos e viu null ao seu lado na enfermaria clara demais da escola. - O que aconteceu, quem morreu?
null tinha lágrimas nos olhos e não achou graça da brincadeira da amiga. Por um minuto, ela achou realmente que a amiga tinha morrido. Só sossegou quando null garantiu para ela que null estava respirando e que isso era sinal de que estava viva.
- A enfermeira disse o que eu tenho? - null perguntou novamente séria.
- Ela falou que você está anêmica, e mandou você fazer alguns exames. - falou null entregando a prescrição médica da enfermeira.
- O que ela sabe? - falou null dando de ombros. - Eu estou ótima.
- Sim, é normal as pessoas terem desmaios como o que você teve. - falou null agressivamente.
- Que bicho te mordeu? - perguntou null. - Canaliza essa tua raiva pra compor uma canção.
- Acontece que por um segundo eu achei que minha amiga tinha morrido e agora essa minha amiga não quer fazer um exame idiota.
- Você esta assim porque achava que eu tinha morrido? - perguntou null.
- Claro, retardada. Você é minha melhor amiga. - falou null caindo no choro novamente.
- Então eu vou fazer os exames. - falou null. - Mas me promete uma coisa? - O que? - perguntou null secando as lágrimas.
- Promete que vai ficar do meu lado apertando minha mão?
- Sempre.
Então foi assim que null se comprometeu a acompanhar null durante os exames. Ela acompanhou durante os exames de rotina, como tirar sangue, mas em alguns ela não pôde acompanhar. Agora, null recebia o veredito:
- Me fale quais foram os sintomas. - falou o médico.
- O senhor não tem o exame de sangue? - perguntou null confusa.
- Tenho, mas ele apontou uma coisa estranha e eu tenho algumas perguntas para fazer.
- Tudo bem. - respondeu null pensativa. - Falta de ar, cansaço e a enfermeira falou que eu estava com anemia.
- Teve algum tipo de dor no corpo?
- Sim, nas articulações. - falou null e começou a mexer os dedos fechando a mão em punho e depois voltando à posição normal. - Teve um dia que eu não conseguia fechar minha mão direito. E dor atrás do joelho e no cotovelo.
- E dor no osso?
- Não. - respondeu null de imediato, mas depois que pensou um pouco falou: - Sim, mas isso não seria porque eu estou em fase de crescimento?
- Talvez. - o médico se levantou e começou a andar pela sala. - null, seu exame de sangue indicou que o número de hemácias no seu sangue está anormalmente baixo.
- E o que isso quer dizer? - perguntou null se odiando por nunca ter prestado muita atenção nas aulas de biologia.
- Isso quer dizer, null, que você tem leucemia.
null não agüentava mais esperar, se null não saísse por aquela porta naquele minuto, ela entraria no consultório e veria o que estava acontecendo. Como que lendo seus pensamentos, null abriu a porta e saiu do consultório com a cara mais terrível que null já havia visto na amiga.
- Tudo bem? - perguntou null sem dar tempo para null nem ao menos respirar. - O que ele disse?
- Nada. - falou null dando um sorriso triste. - Eu estou ótima.
- Você não me engana. - falou null agarrando a amiga pelo braço e a obrigando a olhar em seus olhos. - Me conte o que aconteceu.
- Eu não quero falar sobre isso. - falou null, pois sabia que não podia mentir para null.
null esperou pacientemente o dia seguinte para que null contasse o que estava acontecendo, mas null não apareceu na aula. Nem no dia seguinte, nem no outro. null não apareceu por uma semana na aula e isso não era normal para ela que tinha uma presença impecável. null também não atendia o telefone e quando null ligou para a mãe da amiga, null não quis atender mesmo assim. Isso já estava ficando ridículo, então null foi até a casa da amiga saber o que estava acontecendo. Tocou a campainha e esperou:
- null, que surpresa. - falou a senhora null, mãe de null. - O que veio fazer aqui?
- Vim ver null. - falou null decidida.
- Bem, querida, null não está se sentindo bem e... - começou a senhora null.
- Eu não vou sair até falar com a null. - falou null batendo o pé forte.
A senhora null deu um suspiro profundo e deixou null passar.
- Ela está no quarto. - informou a mulher.
null subiu as escadas para o segundo andar correndo. Pulava dois degraus por vez para ir mais rápido. Sem bater na porta, entrou no quarto de null.
- Por que é que você não quer falar comigo? - null exigiu saber.
Foi então que sua raiva passou e ela foi tomada de preocupação. null estava na cama encolhida. Nunca estivera tão magra em sua vida, seus cabelos estavam fracos e sem vida e até mesmo seus olhos haviam perdido a cor. Ela olhou para null com os olhos cheios de lágrimas, dava para ver que ela vinha chorando muito ultimamente. Seus olhos estavam marcados pela dor.
- Eu tenho leucemia. - null disparou sem deixar null se recompor pelo choque que sua aparência causou.
- Tem. - falou null tentando absorver aquilo e segurar suas lágrimas.
- Eu sou um lixo imprestável. - null gritou em meio a soluços. - Nem meu corpo funciona direito.
- Não é verdade. - falou null baixinho ainda em choque.
- É sim. - gritou null vermelha. - Meu corpo produz linfócitos demais.
- Mas isso não quer dizer que você seja lixo. - falou null.
- Sou sim. - gritou null. - Você fala isso porque você é perfeita, sua única preocupação é ser magra que nem as modelos da Vogue.
- Não. - falou null com lágrimas nos olhos e a expressão mais dura do mundo. - Eu falo isso porque eu te conheço, eu sei o que você é de verdade.
- null... - falou null em meio a soluços. - Meu corpo está se destruindo.
- Tem cura. - falou null. - Você vai sair dessa.
- Não. - respondeu null. - Não vou, vou ser esse lixo imprestável e daí eu vou morrer.
- Não diz isso, null. - pediu null. - Você vai viver e nós duas vamos ser as duas velhas mais chatas que o asilo vai ter.
- Não, null, não sonha, porque a realidade é outra. - falou null. - Sai, por favor, eu tenho muito em que pensar.
- null, deixa eu te ajudar. - pediu null estendendo a mão.
- Você não pode. - falou null olhando com desprezo para a mão de null. - Você é só uma garota gorda que não pode fazer nada.

Passo, passo. Respira. Respira. null corria a todo o vapor para sua casa. Não podia ser verdade, não era verdade. null se sentou no banco de uma praça que ficava entre a casa das duas. Não estava com vontade de voltar para casa, tinha coisas importantes para pensar. Uma gota de chuva caiu na sua cabeça, depois outra e mais outra. Logo era uma chuva torrencial que caía em cima de sua cabeça. Mas ela não ligava, poderia ficar ali muito mais tempo. Sua amiga estava para morrer.
Ela sempre tinha se achado sortuda em ter achado sua outra metade em uma amiga. Agora, essa outra metade estava indo embora, não formaria mais um inteiro. null seria apenas uma metade patética em um mundo de inteiros. Como ela sobreviveria sem ela? Quem a lembraria de fazer os deveres de casa e os dias das provas? Quem passaria na casa dela apenas para comer cereais e assistir Bob Esponja nos sábados? Quem ficaria ao seu lado e tomaria taças e mais taças de sorvete quando ela levasse um fora?
Não podia agüentar aquilo, tinha que ir para outro lugar. Mas seu corpo não a obedecia. Ela apenas ficava inclinada sobre si chorando desesperadamente. Então, um par de All Star vermelho parou a sua frente, ela levantou os olhos, null estava parado na sua frente segurando o guarda-chuva de modo que ela não pegasse tanta chuva. Ele tirou seu casaco estilo militar e passou em volta do ombro molhado de null. Depois passou os braços em volta dela ajudando-a a levantar-se. Ela então abraçou-o e chorou. Ele ficou abraçado com ela até que ela parou de chorar e começou a respirar um pouco mais perto do normal.
- Não precisa me contar. - falou null quando null abriu a boca. - Só se quiser.
- Não quero. - falou null sufocando um soluço.
- Vou te levar em casa.
null ficou o dia seguinte em casa e não foi para a escola. Ficou deitada na sua cama a manhã inteira. Sua mãe não a perturbou, a mãe de null havia ligado para ela e contado o ocorrido. Como se null estivesse em luto, sua mãe a respeitou e não a incomodou. null desceu apenas para pegar um pacote de batata frita quando ficou com fome. Mas quando se lembrou o motivo de sua tristeza, seu estômago ficou embrulhado e ela não conseguiu comer. Ficou então o dia inteiro deitada na cama não deixando nenhum pensamento permanecer mais do que alguns segundos.
No dia seguinte, quando sua tristeza persistiu, ela pensou melhor e decidiu espantá-la. Tirou o short do pijama e colocou um jeans e colocou um casaco por cima da blusa de ursinhos que combinava com o short. Marchou corajosamente para a casa de null e bateu forte na porta quando chegou. A mãe de null veio atender, a tristeza da casa havia deixado marcas na senhora null também. O sorriso encantador que antes ostentava havia perdido espaço para um olhar vago e um nariz vermelho de chorar. Quando viu null parada na soleira da casa, abriu os braços e a abraçou:
- Sabia que você não ia desistir tão fácil. - falou a senhora null chorando baixinho no ombro de null.
- Eu nunca vou desistir dela.
null teve que ficar mais alguns segundos parada a frente da porta do quarto de null antes de criar coragem o suficiente para entrar. null estava parada em frente a janela olhando tristemente para fora. Quando null entrou, ela apenas ficou parada olhando para a amiga. Então null correu até ela e a abraçou. As duas caíram no choro se escorando uma na outra para não caírem, as duas choraram.
- Você é uma bunda mole, sabia? - falou null entre o cabelo de null.
- Você também. - null falou rindo. - E não é gorda nem inútil, de jeito nenhum.
- Eu sei. Você não achou que eu ia te abandonar de verdade, não é?
- Não, nunca achei. - null falou soltando um pouco o abraço para poder olhar nos olhos da amiga. - Sabia que você ia ficar no meu lado.
- Eu vou estar. - falou null pegando as duas mãos de null e colocando-as entre suas mãos. - Eu estarei segurando sua mão em todos os exames.
- Eu sei. - null falou chorando novamente. - Eu sei que vai.

Uma semana depois, a terapia de null começou. null nunca a viu tão fraca, nem mesmo na semana que soube da leucemia. Então o inevitável chegou, null teve que raspar o cabelo todo. Logo ela que sempre foi tão preocupada com a beleza. null foi com ela no salão e não soltou a mão da amiga, ignorando a dor que null estava provocando apertando sua mão cada vez mais forte. null saiu do salão careca e null com a mão vermelha.

No dia seguinte, null criou coragem e foi para a escola. Sem peruca, sem lenço ou chapéu, exibiu sua careca corajosamente. null sentiu orgulho da amiga estar encarando a doença de frente. Mas os comentários e cochichos ao redor fizeram null se afundar cada vez mais na cadeira.
- Brigou com o cabeleireiro? - perguntou um garoto assim que null chegou.
- Será que ela cansou daquele cabelo tingido que ela usava? - perguntou uma menina maldosamente para sua colega do lado.
Então null ficou irritada, deixou a raiva tomar conta dela. Pegou seu caderno e jogou no quadro negro espalhando pó de giz por todo lado. Jogou sua cadeira para o lado de forma que a cadeira batesse na parede. Marchou para a mesa do professor e ficou em pé em cima da cadeira. Todos na sala olhavam-na assustada, como se estivesse enlouquecido.
- Ela tem leucemia, seus retardados. - gritou null. - LEUCEMIA! Não uma briga com o cabeleireiro. Ela está doente. Vocês deveriam deixar de ser retardados, se envergonhar, pedir desculpas para ela e dar todo o apoio possível.
- Senhorita. - falou o professor.
- Não, professor. - gritou null. - Os alunos tratando ela desse jeito e você não vai fazer nada?
- Saia da sala. - falou o professor secamente.
- Não até que todos peçam desculpas para null. - gritou null ferozmente como se fosse capaz de jogar alguma coisa na cabeça do professor.
- Agora. - o professor falou irritado.
Então tudo aconteceu muito rápido. Alguém pegou null no colo e a retirou da sala ignorando os socos e chutes que ela dava na pessoa. Do lado de fora, a pessoa colocou-a no chão e então null viu quem foi: null.
- Por que você me tirou de lá? - perguntou null irritada.
- Porque se você continuasse lá, o professor te daria mais do que uma expulsão. - ele falou sério. - Você deveria me agradecer.
- Te agradecer? - perguntou null sem acreditar. - Você não percebeu o que aconteceu? As pessoas estavam rindo da null.
- Agora que eles sabem o que aconteceu com ela, vão parar de encher o saco dela. - ele falou daquele jeito sério dele. - Era por isso que você estava chorando o outro dia.
Não foi uma pergunta, foi uma afirmação.
null sabia, então nem se deu o trabalho de concordar. Ele a abraçou e deixou que ela chorasse para se limpar da raiva e da tristeza. Duas semanas se passaram desde o incidente na sala de aula. A notícia havia se espalhado pela escola e todos a tratavam diferente. No começo, null achou que aquilo seria bom, mas null começou a se sentir cada vez pior com todo o tratamento especial e se isolou de novo. Então null começou a faltar a aula de novo, primeiro ela começou a faltar apenas alguns dias, depois começou a faltar semanas seguidas e voltou a ignorar os telefonemas de null, que foi então na casa dela.
- Ela está no quarto. - falou a senhora null assim que viu null ali parada.
- O que aconteceu com você dessa vez? - perguntou null entrando irritada no quarto de null.
- Eu só não tive vontade de ir para a aula hoje. - falou null sem se dar o trabalho de levantar da cama para receber null.
- Não acredito. - falou null de braços cruzados e expressão nada simpática no rosto.
- Não estou inventando. - falou null com voz fraca, então virou o rosto e vomitou no cesto de lixo ao lado de sua cama.
- O que aconteceu? - perguntou null preocupada.
- A leucemia atingiu meu sistema nervoso. - ela falou limpando a boca na manga. - Meu corpo não esta mais respondendo à quimioterapia, a doença está avançando rápido demais.
- E agora? - perguntou ela assustada.
- O médico falou para eu aproveitar a minha vida e fazer tudo o que eu quiser. - ela falou fraca demais para expressar qualquer sentimento na voz.
- E o que você faz aqui dentro do quarto? - perguntou null segurando as lágrimas.
- Não estou com vontade de sair de casa. - ela falou virando para o outro lado, ficando de costas para null.
- E você vai ficar esperando a morte deitada na cama? - perguntou null achando cada vez mais difícil segurar as lágrimas.
- Vou, é mais fácil. - falou null virando para encarar null com lágrimas nos olhos.
- Nem sempre o mais fácil é o que você deve fazer. - falou null.
- Aonde você vai? - perguntou null se levantando levemente para ver null sair.
- Tenho que pensar. - falou null sem olhar para trás.

Em seu quarto, null não podia deixar de pensar na amiga. Nem ao menos deixava outros pensamentos tomar espaço em sua cabeça. Apesar do que os médicos diziam, ela sempre teve esperança na sobrevivência da amiga. Agora, suas esperanças pareceram bobas, coisa de criança. O que ela tinha agora era sua melhor amiga definhando na cama.
Ela não sabia o que era mais triste, saber que sua amiga estava morrendo ou vê-la morrendo pouco a pouco deitada em um quarto escuro. Ela olhou o violão descansando apoiado em uma parede. Sempre fora melhor compondo do que falando, pegou o violão e começou a trabalhar. Duas horas depois, pouco antes do jantar, a campainha tocou, uma voz de homem falou, depois sua mãe falou e depois passos começaram a chegar do corredor. null estava parado a sua porta, esperando permissão para entrar:
- Entra. - falou null sem saber o que fazer.
- Achei que talvez você precisasse disso. - falou null entregando uma caixa do chocolate favorito de null.
- Acertou, talvez eu precise. - ela falou aceitando a caixa. - Estou trabalhando em algo.
Ela explicou em detalhes sobre o avanço da doença de null. Então falou sobre como se sentia em relação a isso, como suas esperanças pareciam estar se esgotando pouco a pouco e sobre a indiferença de null em seus últimos dias de vida. Logo estava tagarelando e chorando, falando sobre como não queria perder sua melhor amiga e como ela se sentiria sozinha no mundo sem sua melhor amiga pra ajudá-la a passar pela vida. Então falou sobre sua música e deu-lhe para que lesse.
- É fantástica. - ele falou pela primeira vez desde que null tinha começado a falar de verdade. - Sério.
- Acha que ela vai gostar? - perguntou null timidamente.
- Acho que vai fazer ela mudar o modo de ver a vida. - ele falou entregando a letra cifrada para null.
- Espero.
null marchou novamente para a casa da amiga e nem parou para cumprimentar a senhora null à porta. Abriu a porta do quarto e viu a amiga novamente debruçada vomitando. Estava mais pálida do que a última vez que tinha se visto ou era impressão de null? Então a garota pegou o violão e cantou com todo seu coração.

Do you ever feel like a plastic bag
(Você já se sentiu como um saco plástico)
Drifting through the wind
(Flutuando pelo vento)
Wanting to start again
(Esperando começar de novo?)

Do you ever feel, feel so paper thin
(Você já se sentiu frágil)
Like a house of cards
(Como um castelo de cartas)
One blow from caving in
(A um sopro de desmoronar?)

Do you ever feel already buried deep
(Você já se sentiu enterrado)
Six feet under scream
(Gritando sobre sete palmos)
But no one seems to hear a thing
(Mas ninguém parece ouvir nada?)

Do you know that there's still a chance for you
(Você sabe que há uma chance para você?)
Cause there's a spark in you
(Porque há uma faísca em você)

You just gotta ignite the light
(Você só tem que acendê-la)
And let it shine
(E deixá-la brilhar)
Just own the night

(Apenas domine a noite)
Like the Fourth of July
(Como o dia da independência)

Cause baby you're a firework
(Porque você é fogo de artifício, baby)
Come on show 'em what your worth
(Vá em frente e mostre o que você vale)
Make 'em go "Oh, oh, oh!"
(Faça-os fazer "Oh, oh, oh!")
As you shoot across the sky
(Enquanto você é atirado pelo céu)

Baby you're a firework
(Baby, você é um fogo de artifício)
Come on let your colors burst
(Vamos, deixe suas cores explodirem)
Make 'em go "Oh, oh, oh!"
(Faça-os fazer "Oh, oh, oh!")
You're gonna leave 'em fallin' down
(Você vai deixar todos surpresos)

You don't have to feel like a waste of space
(Você não tem que se sentir um desperdício de espaço)
You're original, cannot be replaced
(Você é original, não pode ser substituído)
If you only knew what the future holds
(Se você soubesse o que o futuro guarda)
After a hurricane comes a rainbow
(Depois de um furacão, vem o arco-íris)

Maybe you're reason why all the doors are closed
(Talvez a razão pela qual as portas estão fechadas)
So you could open one that leads you to the perfect road
(É que você possa abrir uma que te leve para a estrada perfeita)
Like a lightning bolt, your heart will blow
(Como um relâmpago, seu coração ira brilhar)
And when it's time, you'll know
(E quando chegar a hora, você vai saber)

Boom, boom, boom
(Boom, boom, boom)
Even brighter than the moon, moon, moon
(Mais brilhante que a lua, lua, lua)
It's always been inside of you, you, you
(Sempre esteve dentro de você)
And now it's time to let it through
(E agora é a hora de deixá-lo sair)

Quando terminou, ela e null tinham lágrimas nos olhos e se abraçaram. Prometeram ficarem juntas até o fim, mas null sentiu a garganta doer quando falou “fim”, pois sabia que esse fim, que antes parecia distante, estava cada dia mais próximo. null passou todos os seus últimos dias fora da cama, aproveitando o mundo. null nunca a viu tão feliz. E quando ela teve que partir, seu sorriso era o que null mais lembrava. Ela foi e em vez de deixar uma tristeza passada no ar, ela deixou um doce aroma de feliz partida. Por mais que ela não tivesse percebido, ela juntou null e null, que vários anos depois casaram e deram o nome a sua filha de null, o nome de uma verdadeira amiga, amada filha e incrível ser humano que, apesar de sua doce partida, deixou um enorme espaço a ser completado no coração de todos que conheceu.


Fim


N/b: Achou algum erro, seja ele qual for, envie um e-mail diretamente para mim [paulabrussi@gmail.com], ou um tweet, indicando-o e o nome da fic. Obrigada!


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