Flawless Curse
Escrita por Robins
Betada por Lelen (até o capítulo 6), Brille (a partir do capítulo 7) e That (a partir do capítulo 26)


Capitulo O1 – Home


Então eu fiz... fiz tudo o que eu deveria fazer para tornar todos felizes. Eu não era uma pessoa de má vontade, pelo contrário, eu sempre fazia de tudo para agradar aos outros me esquecendo da minha própria felicidade, e dessa vez não seria diferente, aliás, era a felicidade de minha mãe e de meu pai em jogo eu não poderia dizer não para isso, quer dizer, a princesinha nunca poderia dizer não a nada. Eu não queria estar fazendo isso outra vez, eu havia jurado não voltar nunca mais para aquela cidade estúpida. Foco, , faça isso pela sua mãe. E, bem, as circunstâncias e os motivos eram mais fortes do que meu desejo de não voltar para Londres. Há um mês minha irmã, Lucy, havia falecido em um acidente de carro, minha mãe, que morava e cuidava dela, estava deslocada e totalmente frágil com toda essa situação, então sua irmã avisou a mim e ao meu pai e sem pensar duas vezes pegamos o primeiro vôo para Londres. Lucy sempre foi independente, nunca gostou desse negócio de ser princesa, achava uma perda de tempo, Lucy era o tipo de garota que não era domável, ela fazia o que queria na hora que queria e nada a impedia, nem mesmo quem a colocou no mundo. Papai não aprovava sua atitude, sempre acusava os plebeus de ensiná-la a não se comportar. Como muitas das vezes que ela havia ido para outro lugar em vez de vir visitar papai, mas eu sabia que a culpa não era de mamãe, Lucy era uma pessoa difícil. Mamãe culpava-se por não ter controlado Lucy, tê-la deixado fazer tudo o que quisesse sem impedi-la e eu odiava vê-la sofrer por algo que não era sua culpa, principalmente quando eu estava com ela. Lucy havia mudado muito desde última vez que eu a tinha visto, seu cabelos que eram loiros estava em um tom preto e seus olhos verdes rodeados por uma maquiagem pesada, suas roupas e vestidos tinha se transformado em calças escuras e blusas rasgadas. Não que eu tivesse algo contra pessoas que gostavam de preto e calças rasgadas, eu até gostava de me vestir assim, mas parecia que Lucy não era a mesma, ela com toda certeza tinha mudado.
Papai e mamãe eram um casal, quer dizer, costumavam ser um casal, mas com todo os problemas em seu casamento – e com tantos olhares curiosos – eles se separam, mas quem escuta a história deles gostaria de viver uma igual. Papai era vinha de uma família muito nobre da Itália, sua família era praticamente dona de uma grande parte da Itália. Então, como na Inglaterra, a família de papai foi nomeada como a família real. Papai estava prestes a tornar-se rei quando conheceu minha mãe, uma típica londrina, e acabaram se apaixonando perdidamente. Então, como em todos os contos de fadas nasceram duas lindas herdeiras, um tanto quanto brega para os dias de hoje, e eu concordava plenamente. Depois da separação os dois decidiram que cada um ficaria com uma filha, eu fiquei com meu pai e minha mãe com Lucy. Príncipe, realeza, soava meio cafona e velho, mas meu pai era sim um príncipe em pleno século 21. Quer dizer, ele agora rei de Florença, que era uma das cidades mais lindas da Itália, e eu não queria sair nunca dela, nunca, nunca mesmo, mas como todos dizem: nem sempre temos o que desejamos. Papai havia virado rei logo que seu pai morreu depois do meu nascimento e em conseqüência de ter virado rei, eu havia virado uma princesa. Ser princesa não era tão diferente de ser uma plebéia, tirando as festas, os vestidos, e os babões querendo puxar seu saco da pra ter uma vida normal. Eu não gostava dessa estupidez de ser princesa, aliás, quando ia pra casa de minha eu podia me libertar e fazer tudo que uma garota normal fazia: falava palavrões, arrotava, usava jeans surrado, blusas de bandas, tênis, pareciam coisas estúpidas, mas para mim eram um grito de liberdade. Mas bem, isso não era o único motivo de eu estar desembarcando em um aeroporto em Londres, mamãe precisava de mim para ajudá-la com todo esse sofrimento, então como um gesto carinhoso – e depois de muita briga – os dois decidiram que eu deveria morar com ela para ajudá-la a se recompor, decidiram que eu não poderia morar no luxo de um castelo toda a minha vida, pois eu poderia vir a ser uma ditadora no futuro. Calunia!, era isso que tudo isso era, eu nunca humilhei ninguém nem muito menos coloquei meu posto como nobre para ganhar as coisas, mas eles tinham a certeza de que eu não iria aceitar – e não ia mesmo – e eu daria uma das soluções dos jovens de hoje, como meu pai diz, para ficar em Florença. Então decidiram me forçar, mas eu não os odeio por isso, seria muito mesquinho e eu sabia o que eu deveria fazer mesmo que isso pudesse acabar com toda a minha vida.

Passageiros do voo 2319 desembarque pelo portão 2

Direcionei-me para o desembarque avistando minha mala pegando-a e colocando-a em cima de um carrinho. As palavras de Betty ainda vinham em minha cabeça.
- Não vai levar nenhum desses vestidos? – Betty, minha governanta, me perguntou saindo do meu closet com um dos meus vestidos de gala na mão.
- Não precisarei deles. – falei fechando minha ultima mala das cinco que eu iria levar.
- Mas eles são tão lindos. – ela falou rodopiando com ele – Você deveria levar.
- Não Betty, eu não vou para me diverti, eu irei para cuidar de minha mãe.
- Não quero nem imaginá-la com todos aqueles plebeus.
- Ser plebeu não é errado, é muito comum nos dias de hoje. – falei colocando minha bolsa em meu ombro – As pessoas não ligam mais para a realeza lá fora, hoje em dia basta ser um jovem descolado para ser aceito.
- Aqui não.
- Mas lá sim.
Betty costumava ser a mulher que cuidava de mim enquanto meu pai estava ocupado demais com os seus afazeres de rei. Eu fui educada em casa e ensinada a ser uma garota normal quando não estive em Florença, mas uma coisa que não ensinaram foi que as pessoas podem ser más com você, principalmente quando você é nova. Sai do aeroporto sentindo o ar frio de Londres bater em meu corpo fazendo-me querer voltar para minha cidade, mas já era tarde, eu não poderia voltar atrás. Minha mãe precisava de mim e eu não podia decepcioná-la, por mais que ela já tenha feito comigo. Sair de Florença era difícil, era mais difícil ainda sobreviver lá fora sem a certeza do amanhã.
- ! – escutei a voz de Alfred, o motorista e melhor amigo de minha mãe.
- Alfred! – o abracei forte pelo pescoço – Não precisava vir me buscar, eu poderia pegar um táxi.
- Que isso, eu fiz questão de vir te buscar. – ela pegou minhas malas colocando na traseira do carro – Feliz em estar de volta?
- Pra falar a verdade, não. Estou aqui por mina mãe.
- O que Londres te fez para odiá-la tanto?
- Londres é uma cidade maravilhosa, mas eu ainda prefiro minha Florença.
- Parece que você veio obrigada. – ele fechou o porta-malas indo em direção ao banco do motorista eu o acompanhei indo em direção ao banco do passageiro.
- Não vai atrás? – ele perguntou ligando o carro.
- Aqui, eu sou uma mera plebéia. – falei vendo dar a partida.
- Se seu pai escutasse isso.
- Ele ficaria um tanto quanto feliz.
- Uma nobre falando isso é tanto quanto raro hoje em dia.
- Bem, nobres que não chamam tanta atenção assim pode até ser. Nobre como William e Charlie também.
- Você os conheço?
- Sim. Londres não foi sempre um pesadelo, papai já veio aqui para o famoso chá da Rainha.
- Então, você está pronta para seus próximos meses aqui certo?
- Pra falar a verdade, não. Londres é linda, mas algumas das pessoas são diabólicas e más.
- Você ainda não esqueceu o que aquela vizinha da sua mãe fez?
- Aquela garota é louca, prefiro nunca mais olhar na cara dela.
- Bem...
- O quê? Ela ainda mora por lá?
- Sim, a mãe dela pediu desculpa por causa do ocorrido. O sindico a fez assinar um termo que ficaria longe da casa de sua mãe.
- A garota jogou sal em mim.
- Ela disse que você era um bruxa.
- Bruxas são tão raras quanto princesas.
- Mas você é uma princesa.
- Prefiro o termo: 'nascer com uma família rica'.
- Você quer dizer milionária – gargalhei olhando para ele – Estou feliz por ter voltado, sua mãe precisa de você.
- Todos precisam de um pouco de . faça aquilo, arrume seu cabelo desse jeito, vista isso.
- Não se preocupe, ela não fará isso.
- Pelo menos poderei usar calças jeans e camiseta de banda legais sem ser chamada de rebelde sem causa e comer coisas totalmente calóricas. Ser plebeu deve ser incrível.
- Você nunca foi plebéia?
- Pensando bem, não. Todas as vezes eu fiquei aqui ficava trancada dentro de casa com mamãe assistindo ao De volta para o futuro.
- Martin McFLY sempre foi meu divo. – ele falou parando o carro na garagem. Desci do carro encarando a mansão em minha frente, aquela casa tinha pelo menos 6 quartos e 8 banheiros, uma sala de visita, outra de televisão, uma de jantar, tinha também uma cozinha e um enorme jardim tanto na frente quanto nos fundos. Eu achava um tanto exagerado para uma mulher morar sozinha com apenas um mordomo, motorista e melhor amigo, e uma cozinheira. Ah Esmeralda, a cozinheira que fazia os melhores tacos de toda Londres, com eu sentia sua falta. Era exagerado, mas era minha casa agora.
- Eu ainda não sei como mamãe pode morar nessa mansão e dormir em paz.
- Eu também não sei, como é viver em um castelo?
- Não é tecnicamente um castelo e, além do mais, não dormimos sozinhos. – falei entrando em casa dando de cara com Esmeralda – Esmeralda. – falei andando em sua direção abraçando-a pelo pescoço – Como eu senti sua falta.
- Olha como você cresceu, está um mulherão.
- Que isso Mel, estou a mesma.
- Estou tão feliz por ter voltado, todos estávamos sentindo sua falta.
- Eu também. – falei olhando em volta dando falta de alguém – Onde ela está?
- Está trancada no quarto, é só que ela fez durante esse dias.
- Me arrependo de não ter vindo antes.
- É, mas agora você está aqui.
- Vou ver como ela está. – falei me direcionando a escada subindo a mesma. Seria um longo ano.

Capitulo O2 – Lucy, Lucy, everything is about Lucy.

Atravessei o enorme corredor olhando os quartos encarando o segundo a direita, era o quarto de Lucy. Andei até a porta parando na mesma colocando a mão na maçaneta, eu estava aterrorizada, era a primeira vez que eu iria entrar no quarto de Lucy depois de sua morte e depois de sua fase rebelde. Girei a maçaneta sendo em vão, estava trancado e com toda certeza Esmeralda tinha feito isso para afastar mamãe de um sofrimento maior quando entrasse ali dentro. Esmeralda estava com a nossa família por anos, ela veio de Florença quando Lucy nasceu papai disse que queria alguém de confiança para cuida dela. Girei meus calcanhares em direção ao quarto de minha mãe, que ficava no final do corredor, coloquei a mão na maçaneta da porta sem girá-la. E de repente um medo subiu por minha espinha, mamãe estava na pior e eu me culpei parcialmente por não ter vindo antes, muito antes de Lucy morrer ficar um tempo com ela, mas o medo daquela vizinha psicótica e o meu desejo de ficar em Florença eram maiores. Eu sei que deveria ter ficado aqui quando as coisas apertaram e Lucy havia virado uma punk idiota que chegava tarde em casa e na maioria das vezes chapada ou bêbada e humilhava mamãe fazendo-a chorar, mas para mim Lucy estava passando por alguma fase de descoberta do seu verdadeiro eu – uma tremenda estupidez, devo ressaltar. Lucy havia mudado e se tornado uma dessas jovens que odeia os pais por eles serem ricos, Lucy, que costumava ser uma das melhores irmãs que eu já tive, havia se tornado uma vadia sem coração e bem, eu a estava odiando por isso. Ainda me lembro das inúmeras vezes que nós havíamos brigado por causa de algo que ela falava ou fazia, nós havíamos passado de irmãs para duas desconhecidas. Eu havia criado um ódio pela minha própria irmã e por mais que parecesse errado, algo dentro de mim dizia que era o certo. Eu estava desejando que ela estivesse aqui para eu poder dar-lhes umas boas bofetadas para colocá-la em seu lugar. Deus, me perdoe por esses pensamentos.
&nbs Adentrei o quarto de minha mãe – que era conhecida como Scarlet por todos – vendo-a assistir As branquelas.
- Esse filme é épico. – falei fechando a porta atrás de mim – Um dos meus preferidos.
- É um dos meus preferidos, era o de Lucy também. – ela falou murchando o sorriso – Ela amava esse filme. – ela disse deixando as lágrimas correrem por seu rosto.
- Oh mãe – falei andando em sua direção sentando-me em sua cama puxando-a para um abraço – você não precisa se culpar assim.
- Ela se foi , ela se foi e é tudo culpa minha.
- A culpa não é sua mãe, foi um acidente.
- Se eu a tivesse criado, se eu tivesse sido uma mãe melhor.
- Você é uma mãe incrível, a culpa não é sua. Lucy foi irresponsável, não se culpe por algo que você não poderia prever.
- Eu a deixei ir. Se eu a tivesse impedido.
- Não adianta chorar pelo leite derramado. Se você a tivesse impedido, ela teria ido de qualquer jeito.
- Ela mudou muito depois...
- Depois?
- Ela se tornou uma desconhecida para todos.
- Ela se tornou uma tremenda vadia, isso sim.
- Não fale assim da sua irmã. – ela me repreendeu.
- Mãe, eu falo da Lucy do jeito que eu quiser e, aliás, eu não estou mentindo.
- Ela apenas se misturou com quem não deveria.
- Não tente defendê-la, Lucy nunca foi uma pessoa influenciável, ela sabia as conseqüências de seus atos.
- Você fala como se a odiasse.
- Eu não a odeio mãe, ela apenas não parecia ser minha irmã. Ela era outra pessoa.
- Eu sinto tanto a falta dela.
- Eu também mãe.
- Eu nunca desejaria esse sentimento nem para o meu pior inimigo.
- Eu estou aqui mãe, vou cuidar de você agora. – falei abraçando-a.
- Estranho você falar isso, eu deveria dizer isso.
- Os papeis alguma hora se invertem.
- Pensei que você não vinha, seu pai disse que você não queria vir.
- Florença é minha cidade querendo ou não, e também a filha daquela sua vizinha maluca jogou sal em mim. Da onde ela tirou aquilo? 'Você é uma doente.'
- Ela disse que você tem cara de diabólica. E pelo simples fato de você viver dentro de casa, e não sair para nada. Você não é uma adolescente normal, segundo ela.
- Ah, eu não sou mesmo.
- Você realmente não é, você é especial minha filha.
- E lá vamos nós para o lado sentimental.
- Não sei como você não é uma daquelas princesas sentimentais que querem encontrar seu príncipe encantando.
- Príncipes encantados só existem em filmes.
- Então sua vida é um filme? Quero dizer, você é uma princesa, tem que achar o seu príncipe.
- Eu não preciso de alguém que me diga o que fazer ou o quão bonita eu posso ser. E também, eu sou metade plebéia.
- Às vezes você é tão sem coração.
- Eu não sou sem coração, eu apenas não sei como usá-lo.
- Quem te disse isso?
- Uma das minhas governantas quando eu neguei o pedido de casamento de um dos príncipes locais que ela fez questão de dizer que era um dos mais bonitos.
- Por que não aceitou?
- Eca! Eu tenho 17 anos, não estou desesperada pra aceitar qualquer um.
- Já tá mais do que na hora de você arranjar um namorado.
- E essa é a minha deixa. – falei me levantando andando até a porta.
- Quem sabe você não arranja um namorado? Londres tem os meninos mais bonitos.
- E safados. Eu não preciso de um namorado.
- Todos nós precisamos de alguém.
- Bem, eu não.
- O inesperado acontece. – ela falou antes de eu fechar a porta. Sorri sozinha, minha mãe não tinha perdido seu senso de humor, ela sempre quis que eu arranjasse um namorado, pois ela sempre disse que eu vivia sempre sozinha. Eu estava feliz sozinha, eu gostava de estar sozinha, mas isso não quer dizer que eu nunca havia beijado, muito pelo contrário, eu já havia beijado uma vez. Eu era uma pré-adolescente quando aconteceu, tinha apenas 14 anos, e nós estávamos brincando nos gramados do castelo em um dia ensolarado debaixo de uma árvore quando ele me beijou. Tinha sido mágico e nojento ao mesmo tempo, era meu primeiro beijo com o meu melhor amigo, lembro-me também de dois dias depois ele ter ido embora, pois sua família tinha que se mudar meu primeiro beijo e eu nem tive tempo de ter uma segunda prova.

Desci as escadas indo em direção a cozinha dando de cara com Alfred e Esmeralda sentados a mesa, me juntei a eles.
- Como ela está? – Alfred perguntou.
- Na medida do possível, bem. Já até tá querendo que eu case.
- Tomara que com você aqui ela saia de casa um pouco. Esqueça um pouco tudo isso. – assenti abaixando a cabeça levantando-a em seguida dando de cara com um quadro quebrado no chão da cozinha.
- Quem fez aquilo? – perguntei apontando para o quadro.
- Era o quadro preferido de sua mãe, a Lucy...
- O destruiu. – completei – Acho que é só isso que eu tenho escutado nas ultimas semanas. Lucy destruiu o ginásio, Lucy derrubou uma pilastra, Lucy fez isso, Lucy fez aquilo. Lucy é a culpada do aquecimento global.
- Ela aprontou muito no ultimo mês.
- Quando Lucy começou a agir assim?
- Uns dois meses para cá. Ainda me lembro na noite que ela saiu para um encontrou e no dia seguinte ela saiu do quarto com o humor preto.
- Encontro? Com quem?
- Com um garoto do colégio dela, parecia que ela gostava dele.
- Qual o nome dele?
- Eu não sei, mas ela saiu daqui dizendo que era o dia mais feliz da vida dela.
- Lucy e seus amores. – fiz cara de nojo.
- e os seus desamores. – Alfred disse nos fazendo rir.
- Lucy sempre ficava com os meninos mais bonitos.
- Mas nunca foi amada. – Alfred deu um empurrão em Esmeralda – Ai!
- Ela está certa, papai disse que ele a pegava se agarrando com um príncipe diferente quase todo dia.
- Uma simpatia de garota.
- Uma tremenda vadia isso sim.
- !
- O quê?
- A Lucy se foi.
- Eu sei, mas isso não quer dizer que eu esqueci o que ela fez. Ela quase matou minha mãe de um ataque.
- Falando assim até parece que você não gostava da sua irmã.
- Eu amava a Lucy, ainda amo. Acredite, eu chorei três noites seguidas quando soube do acidente, mas quando soube como ela estava tratando mamãe, uma raiva simplesmente surgiu. Por mais que ela odiasse esse negócio de ser princesa, ela pelo menos poderia fingir que gostava para mamãe e papai. Eu também não gosto, mas nem por isso saio por aí vivendo loucamente com o humor preto e humilhando quem eu amo.
- Ela cresceu .
- Crescer não significa ignorar sua educação ou de onde você veio. Lucy fez isso, continuou a mesma garota mimada de sempre e depois eu que vou ser a ditadora.
- Ela fará falta. – Esmeralda falou.
- E muita. – respondi – Eu perdi minha melhor amiga, minha irmã.
- Todos sentirão falta dela, mas nós temos que seguir em frente, Lucy queria isso.
- Falando em seguir em frente, tenho que dormir. – falei me levantando.
- Por quê?
- A outra parte do acordo – me virei para eles – tenho que estudar em uma escola normal, com pessoas normais.
- Boa sorte com isso.
- Acho que vou precisar. Boa noite. – falei subindo as escadas. Amanhã seria o começo de algo novo.


Capitulo O3 – First Day

Escola era uma pequena amostra do mundo lá fora, uma amostra maldosa e superficial. Escola, segundo alguns filmes americanos, era um total inferno para aqueles que não eram mauricinhos jogadores de futebol preocupados demais com seu próprio umbigo, ou loiras magérrimas com seus pompons e saias rodadas tentando parecer o mais superficial possível, e eu com toda certeza não caberia em nenhuma dessas categorias. Agora entendo porque Lucy amava tudo isso, era o ambiente perfeito para ela, pensei entrando pelos portões do colégio. Parecia que todos os filmes americanos que eu tinha assistido em toda a minha vida estavam juntos em apenas um colégio, e como em todos os filmes todos voltaram seus olhares para mim como se eu fosse uma alienígena ou tivesse vindo de algum lugar debaixo da terra, e pelo longo caminho até a secretaria eu realmente achei que eu fosse Carrie, a estranha. Era um tanto quanto estranho para mim, normalmente no seu primeiro dia de aula todos tem a tendência a ficar nervoso, ansioso ou esperando que alguém popular seja legal o suficiente para falar com você e lhe deixe sentar na mesa deles no almoço como no filme da Lindsay Lohan, Means Girls, mas isso com toda certeza não iria acontecer, ainda mais quando está se usando um all star velho, um jeans surrada e uma blusa do Guns 'N' Roses.
- No que eu posso ajudá-la senhorita? – uma senhora que aparentava ter seus 60 anos perguntou.
- Eu vim pegar meu horário, acabei de chegar aqui.
- Qual seu nome minha jovem?
- Gillbard. – respopndi vendo-a parar de digitar olhando assustada para mim.
- Gillbard?
- É, por parte de mãe.
- Você é a irmã de Lucy, Lucy Gillbard?
- Sim, Lucy Gillbard.
- Ela nunca usava o .
- Bem, ela nunca gostou desse sobrenome mesmo. Ela e meu pai não se davam muito bem.
- Ela nunca mencionou uma irmã ou um pai.
- Lucy nunca foi uma pessoa que gostava de falar de família.
- Ah! Bem, aqui está seu horário. – ela falou me entregando o horário – Boa sorte.
- Obrigada. – falei começando a andar pelo corredor completamente vazio do colégio. Parei em frente à sala que dizia Inglês e dei duas batidas e o professor que se encontrava copiando algo no quadro andou até a porta abrindo-a.
- Você deve ser a aluna nova, certo? – ele falou abrindo a porta para eu entrar – Pessoal essa é aluna nova – ele pegou o papel de minhas mãos lendo-o – Gillbard. – E naquele momento eu desejei ter o poder de invisibilidade de Simon de Misfits porque todos que estavam presentes naquela sala, incluindo os que estavam dormindo, viraram sua atenção para mim e começaram a cochichar uns assustados outros surpresos – Você por acaso é...
- Sim. – falei pegando meu horário de suas mãos – Posso me sentar?
- Claro, sente-se ao lado de . – assenti caminhando até a ultima cadeira vazia ao lado de uma garota que me olhava assustada. Sentei-me ao seu lado e dei um sorriso breve, o professor continuou a copiar algo no quadro. Olhei para a garota ao lado que me olhava de boca aberta sem piscar, levei minha mão até seu queixo fechando sua boca.
- Se você não fechar a boca vai entrar mosca.
- Você é irmã da Lucy? A ex Britney Spears que virou uma cópia quase exata do Marilyn Manson?
- Como?
- Ah, me desculpe.
- Não precisa se desculpar, eu sei muito bem no que minha irmã se tornou. E você, era amiga dela?
- A Lucy, ela... Bem, ela não era tão amigável com pessoas como eu. – ela abaixou a cabeça.
- Pessoas como você?
- É, losers.
- Ah, aqueles que os populares maltratam só pra colocar na suas pequenas cabecinhas que são melhores que todos quando, na verdade, estão amedontrados.
- Sua irmã não parecia amedrontada quando maltratava os outros, ela parecia gostar.
- Oh! Me desculpe por tudo que Lucy te fez. Ela mudou muito.
- Não precisa se desculpar é passado. A Lucy sempre foi assim, desde que chegou no colégio.
- É o mínimo que eu posso fazer. Mas a Lucy sempre maltratou os outros?
- Como você disse, são o que os populares fazem. – escutamos o toque para o recreio soar pelo colégio.
- Erm... Eu não sou uma pessoa muito falante e sociável, então...
- Você quer que eu me afaste de você porque ninguém quer ficar com uma loser. – ela falou saindo da sala e eu a segui.
- Claro que não , você foi a única que perguntou na minha cara o que muitos não tiveram coragem de fazer. – falei andando ao seu lado até o refeitório – Eu gostei de você.
- Verdade? A Lucy...
- Eu e Lucy não somos iguais, somos muito diferentes. – falei pegando uma bandeja encarando o self-service.
- Mas vocês se parecem, digo, fisicamente.
- As pessoas sempre falaram que éramos gêmeas, mas Lucy era loira dos olhos verdes, igual mamãe e eu morena de olhos castanhos, igual a papai.
- Você chama seus pais de mamãe e papai? – ela falou rindo.
- Sim, por quê? Vocês não o fazem?
- Isso é meio estranho para uma jovem com seus 17... – ela olhou assustada – anos. Todo mundo está encarando a gente. – olhei para a mesma direção que ela. Eu já havia ficado no centro das atenções várias vezes e não tinha ficado com medo, mas no colegial parecia mais assustador. Todos do refeitório, até as senhorinhas que serviam o lanche, estavam com rostos virados para nós em um silêncio absoluto.
- Dá pra gente ir logo pra mesa?
- Se eu conseguir andar até uma, tudo bem.
- Vamos . – falei pegando-a pelo braço caminhando até uma mesa vazia atrás de alguns brutamontes do time de futebol.
- Ei você! – escutei uma voz pronunciar-se atrás de mim e não dei o trabalho de olhar para trás – Irmã da Lucy! – a mesma voz irritante continuou.
- Você não vai responder? – sussurrou.
- Eu tenho nome e não é irmã da Lucy. – falei colocando minha bandeja em cima da mesa.
- ! – ela falou e eu me virei para ela.
- Sim.
- Oi! – ela sorriu largamente – Eu sou Ashley, eu era amiga da Lucy.
- Percebe-se. – falei baixinho.
- O que você disse?
- Nada, prossiga.
- Eu sinto muito pelo que aconteceu, Lucy foi uma grande amiga, até quando ela virou punk. – ela disse com uma voz chorosa – Eu apoiei ela, pelo menos ela era uma punk estilosa. Ela fará falta.
- Muito obrigada.
- Sabe Lucy...
- Eu conhecia minha irmã, você não precisa traçar o perfil dela pra mim. Ainda dói um pouco.
- Ah, me desculpe. – ela lamentou – Então já que você é nova aqui, você quer se sentar com a gente? – olhei para que encarava a bandeja.
- Não, eu passo. – falei arrastando minha cadeira para poder sentar.
- Mas a Lucy sentava conosco.
- Bem, eu não sou a Lucy. Tenha um bom dia. – falei me sentando encarando o enorme sanduíche em minha bandeja, a vi bater o pé no chão e sair andando até uma das mesas – O que é isso? – falei apontando para o sanduíche em cima da minha mesa.
- É um sanduíche.
- Disso eu sei, mas esse negócio marrom no meio, qual é o nome?
- O nome disso é hambúrguer, você nunca comeu?
- Não, é seguro? – perguntei pegando aquilo o analisando.
- Sim, e muito gostoso. – dei de ombros e dei uma mordida.
- Oh meu Deus!
- O quê? Não gostou?
- Isso é incrível. Por que eu nunca provei isso?
- Você nunca comeu um hambúrguer?
- Não, mas agora eu não quero nunca mais parar. – falei devorando o hambúrguer.
- De onde você veio?
- Florença, Itália. Minha mãe é de Londres, meu pai é da Itália, eles namoraram, casaram, e quando eu nasci eles se separaram. Papai ficou comigo e Lucy com mamãe, mas todas as férias nós trocávamos, Lucy ia pra lá e eu vinha pra cá.
- Eu nunca te vi por aqui.
- Eu passava minhas férias trancada na casa da minha mãe, saía apenas para comprar algo no supermercado. – falei limpando minha boca.
- Por que você não saía de casa?
- Eu vinha pra ficar mais tempo com minha mãe – falei me levantando depois de escutar o toque. – Não ficar no centro das atenções.
- Você ficará no centro das atenções por um longo tempo.
- Bem, eu nunca pedi por isso. – falei entrando na sala de aula. havia sido incrível durante todo o resto da aula, eu poderia até chamá-la de amiga. Deus, amiga, eu nunca tive uma amiga, pelo menos não uma de verdade, a maioria das minhas 'amigas' eram garotas aproveitadoras que queriam apenas meu dinheiro ou me maltratar para saber que até uma princesa chorava e poderia sangrar. E por um momento eu havia me esquecido da onde eu era e o que eu realmente era e passei a me comportar como aqueles que por muito tempo eu sentia um medo, obviamente existia aqueles igual a louca da vizinha da minha mãe que são pessoas de má vontade e de brincadeiras de mal gosto, mas também existia aquelas que eram incríveis, como e Esmeralda. Coloquei a chave em minha porta girando a mesma entrando em casa.
- , é você minha filha? – mamãe perguntou aparecendo no corredor.
- Sou eu sim. – falei indo em sua direção abraçando-a.
- Whops! – ela falou me soltando.
- O quê?
- Lucy nunca me abraçava.
- Parou né? está aqui, é uma sem coração, mas às vezes sabe dar carinho. – falei puxando-a para cozinha.
- Pra onde você vai?
- Pra cozinha.
- A Esmeralda pôs a mesa.
- Sério? Eu não vou comer na mesa, passei quase minha vida comendo em mesas totalmente arrumadas e super sofisticadas. – falei chegando a cozinha sentando-me em um dos bancos em frente à bancada – Eu quero comer aqui na cozinha, em cima dessa bancada. – falei debruçando em cima da mesma.
- Quem vê pensa que é uma garota normal, não um membro da realeza.
- Mas isso é o que eu sou agora, uma garota normal, uma plebéia. – sorri. E pela primeira vez em anos eu me sentia uma garota normal e estava até gostando daquela idéia. Eu poderia levar uma vida normal, apesar de tudo.

Capítulo O4 – Such an Idiot

Ter uma vida normal não era tão difícil. Era um tanto agradável, bem melhor do que uma vida luxuosa. Poder usar jeans velhos e All Star surrados nunca foi uma experiência tão gostosa, com toda certeza melhor que sapatos altos e vestidos longos. Não que eu não gostasse disso, mas usá-los todo o tempo acaba sendo um calo no pé, literalmente. Era meu segundo dia na escola e eu estava feliz, muitas das pessoas odiavam ir à escola, mas eu estava ansiosa por conhecimento e ainda mais quando meu primeiro tempo era aula de história. Eu sempre quis saber mais sobre a Inglaterra do que sua Rainha falava ou o que os livros diziam, os dois poderiam mentir. Andei em direção aos portões do colégio e avistei sentada em um banco perto da entrada, acenei para ela, que deu um sorriso.
Eu nunca pensei como seria minha vida como uma pessoa normal, eu sempre pensei que eu seria trancada naquele castelo e que eu teria que esperar por meu príncipe encantado, como Betty sempre dizia, vir me salvar para sermos felizes para sempre. Mas, bem, as coisas eram diferentes agora, e eu estava gostando do diferente. de repente começou a gesticular rápido com as mãos, fazendo-me olhá-la confusa tentando decifrá-la. Foi quando eu olhei para onde ela apontava e senti algo bater em direção em minha testa, fazendo-me cair no chão com tudo. Minha cabeça começou a latejar, fazendo-me colocar a mão na mesma, tentando amenizar a dor.

- Mas que... – falei, me sentando – Quem foi o idiota que fez isso?
- Tudo bem com você? – uma pessoa, aparentemente um garoto, perguntou.
- Claro, até porque eu sou atingida por uma bola pesada de futebol todos os dias. Nada novo. – falei irônica, sentando-me no chão, apertando meus olhos.
- Quer ajuda para levantar?
- Acho que você já fez o bastante jogando esse troço na minha cabeça. – falei, dando impulso pra levantar, sentindo minha cabeça rodar.
- Wow! – ele falou me segurando pela cintura. Abri os olhos, encarando um par de olhos extremamente chamativos e, em minha opinião, muito bonitos – Vá com calma, você pode se machucar.
- Mais do que eu já estou?
- Ei, que isso? Foi apenas uma bola, o não quis fazer isso. Foi um acidente.
- Claro, entendo. Londrinos e essas suas fissuras por bolas. – ele sorriu e eu senti minhas bochechas queimarem.
- , ! – veio correndo com uma bolsa de gelo nas mãos – Você está bem? Machucou muito? – parou logo que me avistou com a mão de um garoto desconhecido – pelo menos para mim – ao redor da minha cintura, e minha mão apoiado em seu ombro. Afastei-me o mais rápido possível dele e me pus ao lado de – Eu trouxe gelo. Foi você que fez isso com ela, ? Não é proibido jogar futebol fora do ginásio?

- Não fui eu que fiz isso, quem fez foi o .
- ? – ela tremeu ao meu lado.
- Ele chutou a bola e acabou batendo nessa linda moça.
- Vamos logo, . – rolei os olhos, puxando-a pelo braço e indo em direção aos portões do colégio.
- Ei, não quer nem ir a enfermaria? Eu te levo em meus braços. – ele perguntou, me fazendo virar-me para ele.
- Eu não preciso de babá, eu sei me cuidar sozinha. – falei, entrando no colégio com ao meu lado e uma bolsa de gelo na cabeça – Quem era aquele, ? Garoto atrevido ele.

- Também, todas as garotas desse colégio babam por ele, tem mais que ser idiota mesmo.
- Deixa eu adivinhar, ele é o capitão do time de futebol que namora a magérrima de uma daquelas líderes de torcida?
- Errado, não namora.
- Então ele é do tipo pegador.
- Sabe, não é bem assim. A maioria das meninas só quer namorá-lo por causa da fama dele aqui no colégio e por ele ser o capitão do time de futebol. Então ele não namora, só fica com algumas garotas. – ela falou, abrindo seu armário.
- Que aula você tem agora?
- Química, e você?
- História.
- Que pena não termos essa aula juntas. – ela falou, fechando o armário.
- Mas nos encontramos no almoço.
- Te vejo no almoço, até logo. – acenei para ela, que sumiu pelo corredor. Joguei a bolsa de gelo dentro do meu armário e fechei o mesmo, indo em direção à minha sala de história. Entrei na mesma, avistando uma bancada vazia no final na sala, fui em direção à mesma, sentando-me.
- Bom, meus alunos, – o professor falou – espero que estejam loucos por conhecimento, pois nós vamos começar...

- Desculpe o atraso, professor. – uma pessoa entrou na sala de aula e eu nem me dei o trabalho de olhar quem era.
- Que isso não se repita senhor, , estamos apenas começando as aulas.
- Velhos costumes nunca mudam. – rolei os olhos, abrindo meu caderno.
- Bom, senhor , você agora pode se sentar ao lado da senhorita Gillbard.
- O quê? – falamos os dois ao mesmo tempo.
- Mas Lucy...
- Não estou falando de Lucy, estava falando da irmã dela, . Vamos, , eu não tenho o dia inteiro.
- Claro, professor. – ele falou, andando em direção à cadeira ao meu lado. Ele se sentou, ou melhor, se jogou, colocando a bolsa ao lado da cadeira no chão e o professor deu continuidade à aula copiando algo no quadro.
- Você é mesmo irmã da Lucy? – ele perguntou e eu decidi naquele momento que eu iria ignorá-lo – Não vai me responder? Eu vou cantar para você então. Help! I need somebody help, I...

- Dá para você calar essa sua boca? – falei, me arrependendo no mesmo instante – Oh, me desculpe. Eu não...
- Por que você está se desculpando?
- Por te mandado você calar a boca.
- Eu estava esperando você me mandar para o inferno.
- Eu nunca faria isso.
- A maioria das garotas mandaria.
- Quer dizer que você faz isso com todas?
- Só com as especiais.
- Você é mesmo um idiota.
- Mas admita que você gostou de ser chamada de especial.
- Não, não muito. Especial não é muito minha área.
- Mas você é diferente, não é igual a todas. – sorri abaixando a cabeça – Seu machucado está feio, deixa eu pegar um... – ele falou, pegando algo em sua bolsa – aqui.
- O que é isso?
- Um band-aid, é o mais legal o da MTV. – ele falou, tirando o pacote e colocando em minha testa – Ele é bem estilo.
- Obrigada. – escutei o toque ecoar pela sala – Mas vai ser preciso mais do que um band-aid para conquistar minha simpatia, . – falei, me levantando e indo em direção ao corredor. Minhas bochechas estavam queimando e meu corpo estava tremendo violentamente, fazendo com que, a cada passo que eu desse, eu não tivesse a certeza se cairia ou não. Isso é estúpido, pensei indo em direção à no refeitório.

- E aí, como foi a aula? – perguntou logo que eu sentei em sua frente.
- Boa, tirando aquele garoto irritante perturbando meu juízo a aula inteira. – falei, dando uma mordida no meu hambúrguer – Acho que eu posso viver comendo esse negócio.
- Você gostou mesmo, né?
- Maravilhoso.
- Quem é que estava te perturbando?
- Aquele . Meu Deus, quando eu penso que não existem mais garotos idiotas no mundo aparece esse para me mostrar o contrário.
- O é legal, basta você não namorá-lo. Aliás, sabe a Ashley, aquela loira da semana passada? Ela é louca por ele desde sempre.
- E por que eles não namoram, ficam ou sei lá o quê? Seriam o casal 20.
- e Ashley já ficaram, ela até tentou continuar com ele, mas não namora.

- Mas em todos os filmes americanos...
- Você assistiu aqueles filmes?
- Todo mundo assiste.
- Os tempos mudaram, aquela história de casal mais popular do colégio não existe mais. Ashley sabe disso, mas ela não quer aceitar.
- Como você sabe de tudo isso?
- Bem, Ashley é minha prima. – eu coloquei todo o meu refrigerante para fora.
- Como?
- Pois é, todos ficam assustados.
- Não diria assustada, eu diria surpresa.
- Nós não somos próximas, Ashley sempre dizia em seus aniversários que eu era da família, caso contrário, eu não estaria lá.
- Por isso eu não gostei dela desde o primeiro momento.
- Ela é como se fosse a rainha desse colégio e nenhuma rainha quer uma prima loser.
- Acredite, nobres não escolhem seus amigos pelo seu dinheiro ou status, nobres escolhem seus amigos pelo que sentem dentro do peito. Nobres não podem confiar em qualquer um, a maioria das pessoas só quer amizades por interesse.
- Nossa, você deveria ser oradora da turma, você fala perfeitamente bem.
- Eu também acho. – uma pessoa jogou sua bandeja ao meu lado na mesa – Você fala muito bem. – ele pegou o último pedaço do meu hambúrguer, colocando em sua boca.
- Ei, eu ia comer isso.
- A maioria das meninas não gostam de coisas calóricas.

- Eu já disse que não sou a maioria das garotas.
- Eu já disse que você é especial.
- Nossa, isso me faz sentir nas nuvens e tão amada. – ironizei.
- Era só questão de tempo para você cair no charme londrino.
- E é só questão de tempo para você conhecer a antipatia italiana. – falei, batendo no seu copo, fazendo-o cair em cima da sua calça – Oh, me desculpe, você não se importa, certo? Aliás, faz parte do charme londrino. Você não bateria em uma dama indefesa? – falei, me levantando depois de escutar o toque – Vamos, . – falei, indo em direção ao corredor com ao meu lado.
- Você perdeu o juízo?
- O quê?
- Qualquer garota morreria pra ter o em sua mesa.
- Bem, eu não sou qualquer garota. Sou especial. – falei, fazendo uma careta – Ele sempre usa essa cantada? Vamos lá, britânicos podem fazer melhor.

- Você é uma graça.
- Já tive metidos demais em minha vida. – falei, entrando na sala – Para que eu iria querer mais um, pior do que todos os outros?
- Por que ele pareceu gostar de você?
- Você mesma disse que ele é do tipo conquistador e nós nos conhecemos hoje.
- Mas quem sabe dessa vez ele não mude? Eu vi o jeito que ele olhou para você.
- Oh, mas é claro. O fodão do colégio pegando a novata só para mostrar o seu poder. – eu falei, sentando-me na cadeira ao lado da dela – Me sinto em um daqueles filmes americanos e estúpidos.
- Não, era diferente. – ela falou sentando-se ao meu lado – Como se ele realmente quisesse você.
- Eu não estou à procura de um namorado.
- Mas você tem que admitir, ele é extremamente charmoso.
- Única coisa que ele tem de extrema ali é aquela chatice. – nós rimos e vimos o professor entrar na sala e logo depois um ofegante aparecer na porta.
- , , sempre atrasado. – o professor falou.

- Desculpe, professor, tive que ir trocar as calças. Uma certa garota derramou suco nela.
- Aposto que ela tem um bom gosto para não se meter com você. – ri pelo nariz – Vá se sentar, , preciso dar um aviso. – ele assentiu e sentou-se a duas cadeiras depois da minha – Bom, meus queridos monstrinhos, eu e vosso diretor decidimos que vocês precisam se distrair, então decidimos levar vocês ao aquário. – antes mesmo de o professor terminar, a sala inteira já estava comemorando – Iremos amanhã logo no primeiro tempo, então tragam dinheiro, vamos passar o dia lá.
E, depois disso, o professor continuou a dar instruções sobre o que deveríamos levar ou não, dando um alerta de que se algum aluno fizesse algo de errado, no dia seguinte iria fazer uma visita ao nosso ilustre diretor. Eu estava extremamente ansiosa para ir a um aquário, em Florença não tínhamos isso, apenas alguns lagos que eu somente podia ver de longe. A aula seguiu com o professor falando mais sobre as espécies que provavelmente iríamos encontrar por lá e meus olhos brilhavam com cada espécie que ele citava, eu parecia uma criança que acabara de ganhar um algodão doce.
- . – sussurrou.
- Oi? – falei, me virando para ela.
- Olha pro lado.
- O quê?

- Olha pro lado agora. – virei meu rosto para o lado oposto da sala, onde se encontrava me encarando fixamente. Instantaneamente, um sorriso se formou em meus lábios, vendo-o balançar a cabeça e olhar para frente. O toque ecoou pela sala fazendo todos se levantarem e saírem. Levantei-me também, guardando meu material. Não, eu não posso estar sentindo isso. Eu estava em estado negação e eu continuaria assim até meus últimos dias de vida.


Capítulo O5 – Never Felling

Coloquei minha chave na fechadura, escutando o barulho das outras chaves enquanto eu as rodava, abrindo a porta. Eu sabia que isso não iria dar certo, pensei, entrando em casa e jogando minha bolsa ao lado da porta. Eu não poderia, e não queria sentir essas estúpidas borboletas e pernas trêmulas toda vez que eu pensava em alguém. Isso era totalmente contra as minhas regras de sobrevivência londrina, mas parecia que meu coração não estava a fim de seguir essas regras que minha razão impôs. Soltei todo o ar de meus pulmões, me jogando no sofá. Essa, com toda certeza, não foi uma boa ideia, pensei, passando a mão pela minha testa sentindo o band-aid por cima do meu machucado. Sorri ao lembrar-me de suas palavras, Um band-aid, é o mais legal, o da MTV. Ele é bem estiloso. Como alguém tão idiota e molambento podia ser tão bonito e carinhoso ao mesmo tempo? Acho que deve ser o charme londrino, o charme londrino que não funcionava em mim estava agora me atingindo como um raio.
- ? – escutei uma voz ao longe – ! – minha mãe colocou o rosto em minha frente, fazendo-me pular do sofá.
- Você me assustou, mãe. – falei, colocando minha mão em meu peito.
- Desculpe, mas faz mais de quinze minutos que eu chamo seu nome.
- Ah, não escutei.
- Em que estava pensando?
- Ninguém.
- Ahá! Eu não falei que você estava pesando em alguém.
- Não?
- Você estava pensando em alguém? Digo, em um garoto ou em uma garota?
- Mãe, não se preocupe, eu não pretendo jogar no tipo de quem gosta de meninas, ok?
- Então você estava pensando em um menino?
- Mais ou menos, estava pensando em mil maneiras de matá-lo.
- Ele é um idiota? Que nem um daqueles príncipes?
- Os príncipes não tem a cara de pau igual a desse garoto. Eles não se metem comigo.
- Segundo dia de aula e você já tem um paquera.
- Mãe, não.
- Vai dizer que ele é feio.
- Ele é irritante.
- Mas não é feio.
- Não, ele é do tipo londrino. E ele tem os olhos mais viciantes que eu já vi e um sorriso perfeito.
- Oh, você está interessada nele. – minha mãe me acusou apontando o dedo para mim, que sorri largamente. Por que diabos eu estava sorrindo largamente?
- Não estou interessada nele, só em matá-lo.
- Seus olhos estão brilhando, você está vermelha.
- Não, não estou.
- Está sim. Ei, o que é isso na sua testa? – ela apontou para o band-aid em minha testa.
- Um band-aid, o mais legal. É da MTV. O me deu porque o amigo dele me acertou com a bola.
- Te acertaram com uma bola? Quem foi? Eu vou ligar para o diretor. – mamãe falou, levantando-se.
- Deixa de paranoia, dona Emily. – falei, puxando-a pelo braço, fazendo-a sentar no sofá – Foi apenas um arranhão, estou aqui, viva. Por enquanto.
- ...
- Tá bem, estou apenas brincando. Você deveria se divertir mais, mãe, sabia?
- Eu não sou mais uma adolescente.
- Para viver não precisa ser adolescente, basta apenas querer. Você precisa viver um pouco, mãe.
- Falou a pessoa que mais se diverte nessa casa. Você deveria sair, se divertir. Você nem tem amigos aqui, onde estão aqueles seus amigos daquele baile de gala?
- Correção: eu tinha amigos, por interesse. Mas agora eu tenho uma amiga de verdade.
- Ela sabe que você é uma nobre?
- Não, ninguém aqui sabe.
- Então...
- Sou apenas uma garota normal vinda da Itália, irmã da ex-Britney Spears, que virou a quase cópia do Marilyn Manson.
- O quê? – ela riu – De onde você tirou isso?
- Era como Lucy era conhecida no colégio.
- Muito criativo. – ela falou, sorrindo – Mas, sério, , você deveria dar uma chance para esse garoto, talvez ele seja o seu príncipe encantado.
- Mãe, eu não sou a Cinderela.
- Mas você deveria dar uma chance pra ele, talvez...
- Senhora Emily, – Esmeralda apareceu na sala – posso ir na casa dos Hastings pegar uma forma?
- Claro, Mel.
- Sabe, eu ainda não entendi porque chamam a Esmeralda de Mel.
- Minha filha, quando era mais nova, me chamava apenas de Mel, então pegou.
- Ah, bom, – levantei-me – posso ir também? Quero conhecer um pouco o bairro.
- Claro.
- Tchau, mãe. – dei um beijo em sua testa e saí de casa com Esmeralda – Onde fica a casa da senhora Hastings?
- A uma quadra daqui.
- Nossa! Essas casas são lindas. – falei, olhando em volta do condomínio de mansões.
- Tem que ser, aqui é um dos bairros mais...
- Nobres da cidade. – completei, fazendo uma careta em seguida.
- Você não gosta, não é?
- Quando se vive sobre os holofotes desde pequena, você só deseja uma vida normal.
- A maioria das garotas morreria para estar no seu lugar.
- Acredite, eles não iriam querer minha vida.
- Como não? Vestidos de galas, jantares cheios de nobres, homem lindos, coroas, jóias, comida de primeira. Nada de ruim acontece.
- Tudo que tem seu lado bom, tem seu lado ruim. Acredite quando eu digo que a noite nem tudo são rosas.
- Você fala como se...
- CUIDADO! – olhei para o lado e vi um saco de grama ser jogado em nossa direção e, em um impulso, abaixei-me levando Esmeralda junto, vendo o saco ser jogado dentro de um galão.
- Qual é o seu problema? – perguntei, levantando e virando-me para o indivíduo que estava de costas e sem camisa. Admito, aquelas costas eram uma das mais bonitas que eu já tinha visto. O que é isso, ? Que pensamentos são esses?
- Desculpe, eu... – ele se virou para mim e eu não pude deixar de analisá-lo de cima abaixo. Sua calça estava baixa, mostrando uma parte de sua cueca boxer, seu cabelo todo bagunçado, o suor descendo de sua testa e por seu peitoral malhado, seu abdômen definido e braços fortes, dando um ar de homem e não de um pirralho insuportável do colegial. Acordei do meu transe quando vi um sorriso de canto em seus lábios.
- Só podia ser! Isso por acaso é um tipo de perseguição?
- Perseguição da sua parte. Você está em todo lugar, principalmente quando se trata de um lugar com perigo.
- Muito engraçado você.
- O que você faz aqui, afinal?
- Eu moro aqui.
- E por que você está em um colégio público e não em um particular?
- Nem todos gostam de pessoas frescas todo o tempo. E você? O que faz aqui? Cortando a grama para a mamãe deixar você sair para uma balada hoje à noite?
- Não. – ele respondeu seco – Estou juntando dinheiro para pagar o tratamento da minha mãe. Ela está no hospital. – ele continuou enrolando os cabos em seu braço.
- Eu... – tentei falar, mas ele me interrompeu.
- Entendi. Você não gosta de pessoas que não são riquinhas e percebeu que eu não sou uma dessas.
- ...
- Não se preocupe, não vou mais me meter com você. Você é igual a todas.
- ! – escutei a voz de Esmeralda me chamar, fazendo-me virar para trás.
- Já estou indo. – falei, virando-me para frente de novo, mas não estava mais lá. Girei meus calcanhares, indo em direção à Esmeralda e acompanhando-a pelo caminho de volta.
- Garoto bonito aquele. – ela falou e eu sorri. Por que diabos eu estava me sentindo tão vulnerável por escutar aquelas palavras de sua boca?. É, definitivamente seria um longo ano.

Capítulo O6 – Aquarium

- Por favor, meus monstrinhos, não toquem, não assustem os peixes, não respirem e não quebrem nada, não façam das paredes do aquário um antro de sua perdição diária. – o professor falou enquanto íamos em direção ao ônibus que iria nos levar até o aquário. estava ao meu lado falando sobre o quanto o aquário era legal e o quanto eu não tive infância por nunca ter ido a um antes, fazendo-me soltar algumas gargalhadas. Mas não estava me entretendo o suficiente, pois meus olhos estavam fixos em uma roda de garotos - que julguei serem os mais bonitos daquela escola -, onde apenas um garoto naquele meio me interessava, um que escutava atenciosamente o que um de seus amigos falava com os braços cruzados, escondendo sua camisa preta por baixo de um casaco da mesma cor junto com uma calça de lavagem escura e um tênis qualquer.
Eu estava parecendo uma daquelas garotas estúpidas de filmes que dedicavam seu tempo analisando cada milímetro de um garoto, mas eu estava me recusando a aceitar isso, então pulei para a única opção que ainda me restava: a culpa. Isso era culpa, com toda certeza era a culpa por ter dado uma mancada com ele e achado que ele era um desses mauricinhos que eu estou acostumada. Erro meu em julgá-lo sem nem ao menos conhecê-lo, achando que ele não passava de um idiota que queria o meu dinheiro e status por ser visto comigo. Então eu me toquei o quanto eu estava sendo estúpida. Ninguém aqui sabe a verdade sobre mim e duvido muito que Lucy tenha comentado com alguém, e foi nesse momento que eu percebi o quanto estúpida eu estava sendo. Eu não era assim, eu costumava ser simpática com as pessoas. Eu sou simpática com as pessoas, mas algo deixava minha voz falha e todo o meu corpo em estado de defesa ao senti-lo perto de mim, como se ele fosse algum tipo de vírus que tomaria conta de mim e não sairia nunca mais.
E então bastou apenas o seu olhar frio e duro sobre mim para o meu coração entrar em estado de colapso e toda a culpa e arrependimento que eu nunca senti em minha vida tomarem conta de mim. Meus olhos não gostavam nada do que viam, ele me olhava de forma seca, sem nem ao menos uma compaixão ou diversão como o dia interior. Frio, seco, era assim que ele se encontrava e eu não o culpava por isso. Ele tinha todo o direito de me odiar e querer que eu caísse no primeiro buraco e nunca mais voltasse, mas esse não era a minha maior preocupação. A pergunta que não queria calar era: Por que eu me importava tanto se ele me odiava ou não?

- ! – gritou no meu ouvido.
- Qual é o teu problema? – perguntei, colocando a mão no meu ouvido – Perdeu o juízo, ?
- Faz quase cinco minutos que eu te chamo. – ela me puxou pelo braço – O professor está chamando, todos já entraram no ônibus. – ela me arrastou para dentro do ônibus – No que você estava pensando?
- Ninguém. – falei, acompanhando-a pelo corredor do ônibus.
- Eu sabia que você estava pensando em alguém, você estava muito concentrada. – ela falou analisando um lugar para nós sentarmos.
- Eu estava pensando no... Meu pai. Sinto falta dele.
- Ah, claro, como se eu tivesse nascido ontem. Eu vi. – ela falou sentando-se do lado da janela – O que aconteceu?
- Viu o quê? – falei, virando meu rosto para ela, sentando-me ao seu lado.
- Vi você encarando um certo alguém. – ela apontou para o grupo de garoto que havia acabado de entrar no ônibus fazendo muito barulho.
- Foi apenas um daqueles momentos que você olha para um canto fixo e não pensa em nada.
- Então por que ele não brincou com você hoje?
- Sei lá, arranjou outra garota para se preocupar. – falei, sentindo um peso no meu braço, fazendo-me olhar para o lado e ver um par de olhos verdes me encarando.
- Desculpe, princesa, me empurraram. – um garoto, que estava junto com o time de futebol, falou sorrindo.
- Tudo bem, o perigo parece me seguir. – falei sorrindo para ele, que estava agachado ao meu lado.
- Eu sou Jason.
- , prazer. – falei, estendendo a mão, e ele pegou e a beijou.
- O prazer é todo meu. Então, você é nova?
- Sou sim, cheguei...
- Jason, andando. – escutei a voz de se pronunciar, parado em pé no corredor.
- Só um segundo.
- Agora! – ele aumentou o tom de voz fazendo Jason se levantar e andar até os últimos assentos, fazendo-me olhar incrédula.
- Claro, não está acontecendo nada.
- Para mim continua na mesma.
- Ele acabou de gritar com o Jason. Jason é o melhor amigo dele depois do .
- Todos temos nossos momentos de estresse.
- ...
- Tudo bem, eu falo. Eu meio que fiz uma besteira. Eu o encontrei no meu condomínio e falei umas besteiras para ele.
- O que você disse?
- Perguntei se ele estava cortando a grama para mãe dele deixar ele ir numa balada, mas aí ele me disse que a mãe dele estava no hospital e ele estava fazendo aquilo para ajudá-la.
- Você mora no Davery?
- Acho que sim.
- Você é rica? Não sei nem porque eu estou fazendo essa pergunta besta, é claro que você é.
- Isso não importa. Eu fui malvada com ele desde que o vi, julguei-o mal, e eu não sou assim. Agora eu fiz uma burrada e eu não sei o que fazer.
- Você não foi malvada, você apenas não sabia o que estava acontecendo. Tente falar com ele.
- Claro, porque ele vai me escutar e ainda vai me abraçar, pedindo perdão por eu ter sido uma tremenda idiota.
- Você tem que começar falando o que ele quer ouvir.
- Como assim? , às vezes eu acho que você não fala coisa com coisa.
- O que eu estou querendo dizer é que você deveria pedir desculpas.
- Você acha que ele vai aceitar?
- Vale a pena tentar. – ela falou e eu vi o ônibus parar em frente a um lugar decorado com pedras enormes dando um ar natural, cheio de árvores e folhas caídas no chão. Um lugar muito diferente de uma parte de Londres, que se destaca sua arquitetura antiga e encantadora, era um lugar cheio de vida. Os alunos foram saindo um a um do ônibus, fazendo uma roda gigante ao redor do professor. me pegou pelo braço e me arrastou para fora do ônibus.
- Esse lugar é incrível. – falei com os olhos brilhando – Lembra os enormes campos de Florença.
- Estou vendo que você gostou, seus olhos estão brilhando.
- Meus monstrinhos, um pouco da sua atenção. – o professor me fez acordar do transe e dar atenção a ele – Cuidado, os animais são acostumados com pessoas, mas não com elas os assustando. Então, por favor, não os assustem. Não queremos ser expulsos ou ganhar um castigo quando chegarmos ao colégio. Façam duplas.
- Você vai amar isso aqui.
- Senhorita ?
- Sim, professor.
- Separe-se da senhorita Gillbard, troque com o senhor .
- Mas professor...
- Vamos, troquem logo.
- Sim, professor. – bufou, mas eu sabia que ela estava feliz por dentro em fazer o trabalho com . , por sua vez, veio para o meu lado com uma cara de quem não estava satisfeito, deixando seu rosto fixo no caminho que íamos traçando. Ele me odiava e eu nem conseguia formar um Desculpe direito, uma palavra tão simples com apenas oito letras, mas que tinha um significado enorme. Um Desculpe. Que tipo de pessoa não tinha a capacidade de pronunciar essa palavra? Eu, é claro, que não estava sendo eu mesma desde que esse garoto entrou em minha vida.

Entramos no aquário e meus olhos pareciam de uma criança que acabara de ganhar um doce. De cada lado do aquário, por um longo corredor, existiam todos os tipos de peixes que poderia se imaginar como em um daqueles corais na costa da Austrália, que tinha tantas espécies diferentes e que era um show de cores e surpresas.
- Parece até que você nunca foi em um aquário. – ele resmungou sem olhar para mim.
- Eu nunca fui em um antes. Já vi fotos da costa da Austrália, mas nunca de perto. – falei, andando até o aquário em que os golfinhos ficavam – Eles são lindos. – falei, colocando a mão no vidro – Eu daria tudo para tocar neles.
- Vem comigo. – ele me pegou pela mão e me levou até uma porta que dizia: 'Proibida a entrada de visitantes'.
- , aquela placa dizia que era proibida a entrada de visitantes.
- Eu já trabalhei aqui, então isso faz de mim um funcionário. – ele respondeu, me puxando pela mão.
- Isso faz de você um ex-funcionário.
- Ainda tem funcionário na frase. – ele falou sorrindo e me levando por uma sala cheia de árvores e várias espécies de plantas.
- Onde você está me levando? , o que são todas essas plantas?
- Você não queria ver os golfinhos, então... – ele abriu uma porta – Aqui estão eles. Quando eu trabalhava aqui eles estavam construindo. Vejo que agora terminaram.
- Incrível. – falei, me aproximando de algumas pedras e plantas que rodeavam uma enorme piscina de águas cristalinas – Isso é de verdade?
- Não, é tudo superficial.
- Onde eles estão?
- Devem estar se exibindo para os visitantes. Eles são os únicos que tem um aquário que leva direto até essa piscina, onde eles se apresentam. Então eles ficam transitando de lá pra cá. – ele respondeu, abaixando-se ao meu lado – Uma vez ou outra eles aparecem por aqui.
- Eu queria tanto ver pelo menos um deles.
- Não que você mereça, mas eu vou fazer isso por você.
- , a gente pode conversar sobre isso? Eu... – ele assobiou alto, me fazendo tampar os ouvidos – Você quer me deixar surda?
- Você bem que merece.
- , dá para você me escutar? – ele me encarou – Eu não sou desse jeito, mas você me faz ficar assim. Tem alguma coisa em você que me faz sair do sério.
- Deve ser meu cabelo bagunçado.
- .
- Ou meus olhos viciantes. Ou melhor, meu sorriso irresistível.
- , para. – dei um empurrão nele e acabei escorregando e caindo de bunda numa pedra cheia de plantas.
- Wow! Viu o que acontece quando você se mete comigo?
- Idiota. – falei, me ajeitando e tirando as folhas que se encontravam no meu cabelo – O que eu estou querendo dizer é que eu fui uma idiota com você e eu queria pedir desculpas.
- Você pede muitas desculpas, principalmente para mim.
- Fazer o que se você tirou o ano para me infernizar?
- Fazer o que se você é irritadinha? – ele falou, se ajoelhando em minha frente – Tem uma folha no seu cabelo. – ele se inclinou para frente, ficando a milímetros do meu rosto, tirando a folha do meu cabelo – Além de irritadinha, é muito linda também. – seus olhos estavam encarando os meus e sua respiração quente bateu no meu rosto, fazendo-me fechar os olhos. Eu não sabia ao certo o que eu estava sentindo e muito menos o que eu estava fazendo, mas algo dentro de mim dizia que eu não parasse, pois meus lábios estavam pedindo pelos seus. Mas um jato de água nos fez pular para longe um do outro.
- Decidiu aparecer, mocinha? – ele fez carinho no golfinho que tinha jogado água na gente – Essa é a Thunder.
- Thunder?
- Eu a achei depois de uma tempestade, então coloquei esse nome nela.
- Você colocou o nome nela? Você é dono dela, por acaso?
- Não, mas quando achamos um animal, damos um nome a ele. Vem, ela não vai fazer mal a você. – ajoelhei-me ao seu lado, acariciando o golfinho – Espere aqui, vou pegar alguma coisa para ela comer.
- Tudo bem. – falei, vendo-o ir até uma porta, ainda acariciando Thunder.
- Ei, mocinha o que faz aqui? – um homem entrou pela porta onde havíamos passado há poucos minutos.
- Eu... – falei, me levantando.
- Você não pode ficar aqui. Você veio com o colégio Mackenzie?
- Professor, eu a achei.
- Senhorita , acredito que a senhorita está em uma grande encrenca.


Capítulo O7 – Friday

- O que a diretora falou? – perguntou quando eu entrei na aula de Educação Física.
- Disse que como era a minha primeira vez e eu só queria ver os golfinhos, eu não pegaria nada, apenas uma advertência. – respondi, arrumando meu short – Isso realmente precisa ser pequeno desse jeito?
- A maioria não reclama, elas até gostam. – respondeu começando a andar ao redor da quadra.
- Tudo isso só para conquistar algum garoto. Elas não têm mais nada na cabeça não?
- Espere até o baile, isso aqui vira a terra das patricinhas de Beverly Hills. Que cor eu devo usar? Rosa, amarelo, verde? Ai, meu Deus.
- Imagino. Quem será a escolhida pelo colégio inteiro para ser a líder superficial do resto do bando?
- Você falou igual ao .
- Igual ao ?
- É, nós conversamos o passeio inteiro e...
- E...
- Ele me chamou para sair. – ela começou a pular descontroladamente, me fazendo dar alguns passos para trás – Eu vou sair com depois do jogo de hoje!
- Eu estou tão feliz por você, . – falei, abraçando-a.
- Ele é tão perfeito, ele é tudo que eu sempre pensei que fosse. Até mais se duvidar.
- Vocês formam um casal bonito.
- Tudo graças ao professor Fulder.
- E, graças a ele, a diretora quase me manda um trabalho do aquário de Londres.
- Quem mandou você escapar e ir ver os golfinhos?
- Nós íamos ver de qualquer jeito, eu só me adiantei. Eles eram tão encantadores.
- Sabe, , eu posso te perguntar uma coisa?
- Claro.
- O funcionário disse que não tinha como você descobrir aquele local sozinha.
- Aonde você quer chegar com isso?
- Você teve ajuda para chegar àquele lugar?
- Tive sim.
- Então por que você não contou para a diretora?
- De que adiantaria?
- Você não levaria a culpa sozinha.
- Olha, , uma coisa que eu aprendi foi não dedurar os outros. Isso é desleal e se essa pessoa não se apresentou, ela teve um motivo muito bom ou estava apenas estava com medo.
- Mas isso salvaria sua pele, nem advertência você levaria.
- Deixa como está, foi até bom.
- Quem estava com você, afinal?
- Será que podemos conversar? – parei de andar no mesmo segundo que vi em minha frente.
- Dá para você fazer o favor de sair do caminho? – falei, dando um passo para o lado.
- Não, só depois de você me escutar.
- E o que você vai dizer? O quanto covarde você foi? O quanto você sente muito? Poupe-me do seu discurso barato.
- Eu estava apavorado, tente entender, eu...
- , , e Gillbard, venham aqui. – peguei pela mão e me direcionei até ao meio da quadra onde a professora estava – Vocês completaram o futebol misto. e Gillbard para um time, e ficam no outro. – segui até o outro lado da quadra.
- Ei, espera. – disse .
- O quê? – virei-me para ele – Você vai defender o seu amigo? Já vou logo adiantando que não vai funcionar.
- Não, eu não vim falar do , você está com todo o direito de estar chateada com ele. Eu vim falar da .
- Da ? O que você quer saber sobre ela?
- O que você acha que devo fazer? Tipo, se eu devo chamá-la para o jogo de hoje? Ou devo chamá-la para jantar depois do jogo? Onde eu a levo? O que eu faço? O que ela gosta?
- Calma, .
- É que... Sei lá, ela é diferente das garotas que eu costumo sair. Eu não sei como agradá-la. Eu travo, sabe?
- Eu acho que você deveria chamá-la para assistir você jogar e, depois, chamá-la para sair, comer uma pizza ou alguma coisa.
- Você acha que ela iria gostar?
- Tudo que você fizer ela vai gostar, acredite em mim. Vai falar com ela.
- Agora?
- A professora nem vai notar. Vai lá.
- Obrigado, , o tinha razão quando falou que você era especial. – ele me abraçou e correu em direção à .
- Agora vocês são amigos? – apareceu ao meu lado.
- Agora você se importa? – falei, começando a andar para o lado oposto do campo.
- , eu posso explicar!
- Explicar o quê? A parte que você me largou lá sozinha para levar o sermão ou a parte que você mostrou que, detrás de toda aquela marra, tem um garotinho covarde que não assume seus erros?
- Você não entendeu.
- Ah, , eu entendi sim. Você me levou para aquele lugar só para eu ganhar um castigo por ter falado aquelas coisas para você no outro dia.
- Eu nunca faria isso, eu não sou esse tipo de pessoa. Você queria ver os golfinhos, eu só queria ver você feliz.
- Minha felicidade estaria completa se você saísse da minha frente e nunca mais voltasse.
- Dá pra você parar um segundo? – ele me segurou pelos braços – Desculpe-me, ok? Eu não sabia que eles iam aparecer, eu nunca faria uma coisa dessas com você. Eu nunca armaria para você.
- O que você quer de mim dessa vez, ? Mostrar para todo mundo que você enganou a novata e ainda saiu imune? Você precisa da minha permissão para sair por aí espalhando a história? Permissão concedida, então.
- Cala boca por um segundo, que droga! – ele me sacudiu – Não era assim que eu tinha planejado.
- Algum problema com vocês dois?
- Não, professora.
- e Gillbard, para a diretoria agora. – a treinadora falou se aproximando de nós – Vamos, me acompanhem. – bufei, seguindo a professora pela imensa quadra até o corredor.
- Se você me deixasse falar sem me acusar. – ele sussurrou ao meu lado.
- Se você tivesse sido homem suficiente e não tivesse me deixado lá.
- Você não entende, eu não posso ser cortado do time.
- O seu querido futebol, tudo que importa para você.
- Calados os dois.
- Você nunca sentiu que quisesse tanto algo e a única solução fosse a mais dolorosa?
- Diretora. – a professora falou, abrindo a porta da diretoria – Tenho dois alunos que estava discutindo na minha aula.
- Senhorita Gillbard, estou surpresa que esteja aqui depois da confusão do aquário e nossa conversa. E, senhor , posso dizer o mesmo quanto ao senhor, já que mais uma advertência e você é cortado do time.
- Diretora, eu realmente sinto muito por isso, mas, por favor, não me corte do time até o fim da temporada.
- Sentem-se os dois. – ela ordenou e nós obedecemos – Bem, senhorita, não me resta nada a fazer a não ser dar-lhe um castigo. Você ficará aqui depois do jogo para limpar o gramado.
- Sim, diretora.
- E você, , não me resta nada a fazer a não ser te cortar do time.
- Diretora, por favor, não faça isso.
- Eu lhe avisei, . Mais uma advertência e você seria cortado.
- Por favor...
- Não foi culpa dele. – falei e os dois olharam para mim – Eu o provoquei e ele acabou perdendo a cabeça. A culpa foi toda minha, ele não fez nada. Ele estava só reagindo.
- Você tem noção do que isso significa?
- Sim, apenas não o culpe por algo que ele não fez. Ele merece jogar.
- Tudo bem, senhor , você pode ir.
- Mas...
- Vai logo, . – ele se levantou e saiu da diretoria – Você não precisava defendê-lo.
- Eu não o defendi, só não tirei dele o que ele queria. O time precisa dele.
- Não se importa de limpar o gramado depois do jogo?
- Existem coisas piores no mundo. – falei, levantando-me – Às vezes temos que fazer sacrifícios para deixar os outros felizes.
- Eu lamento pela sua irmã. Apesar de tudo, ela era uma garota incrível.
- Acredito que sim. Lucy amava esse lugar, apesar de sua casa...
- Ser em Florença. – ela completou.
- Como você sabe?
- Sua mãe vinha muitas vezes me visitar, ela me contou muita coisa sobre vocês.
- De mim também?
- Sim, você não sabe o quanto ela queria que você viesse morar aqui.
- Não foi o melhor dos motivos, mas eu estou aqui. – abri a porta da diretoria.
- Bem-vinda. – sorri em resposta e continuei meu caminho pelo corredor.

Capítulo O8 – Night

- Você tem certeza de que vai ficar bem aqui? – me perguntava pela última vez. O jogo havia acabado e todos já haviam ido embora, exceto , que estava esperando , que estava no vestiário com os outros jogadores. O time do colégio Mackenzie havia ganhado e, como a tradição mandava, eles precisavam comemorar ao lado da garota que eles sempre desejaram. estava quase soltando fogos de artifícios de tanta felicidade e eu estava feliz por ela, ela iria ter finalmente o cara que ela merecia e que aparentemente gostava dela – Eu posso ficar com você.
- Eu vou ficar bem. Vá ao seu encontro com o , divirta-se e aproveite.
- Mas...
- Vamos, ? – apareceu ao nosso lado divinamente arrumado e cheiroso.
- Claro.
- Tchau, , tenha uma noite divertida. – ele falou pegando na mão de , que só conseguia sorrir que nem uma boba.
- Tchau. – respondi, virando-me para o campo. “Eu tenho muito trabalho a fazer”, pensei pegando o saco de lixo e começando a apanhar os copos vazios que estavam espalhados pelo campo.
- É um ótimo jeito de passar a sua sexta à noite. – virei-me para trás, encarando parado a poucos metros de mim.
- Você está me vendo reclamar?
- Qualquer uma reclamaria.
- Você já deixou muito claro que eu sou especial.
- Especial demais para estar fazendo isso. – ele se aproximou de mim – Por que me livrou do castigo?
- O jogo era importante para você.
- Mas você está encrencada por minha culpa.
- O que você faz aqui, afinal de contas? Veio ver a idiota que livrou você do castigo fazer seu trabalho? Bem, você pode ir. O show acabou, os ingressos já foram todos vendidos.
- Por que você sempre fica na defensiva?
- Por que você ainda está aqui? – perguntei, pegando mais alguns copos do chão – Você não deveria ir comemorar com seus amigos?
- Eu não conseguiria até conversar com você, me explicar. Você vai me deixar explicar? – ele perguntou apanhando alguns copos do chão e colocando-os dentro do saco.
- Tente.
- Eu só queria te ver feliz, você parecia tão encantada ao ver um golfinho que eu decidi te levar para vê-los. Você parecia uma criança que acabara de ganhar um doce, então eu te levei até lá. Mas eu nunca imaginei que alguém poderia aparecer. Eu quis aparecer na hora que o professor chegou com o funcionário, mas eu me lembrei do time e que mais uma advertência eu estava fora. Eu não queria decepcioná-los, pois eles fizeram tanto por mim e isso era o mínimo que eu podia fazer, por isso eu te deixei lá. Eu iria consertar as coisas com você quando chegássemos à escola, mas você é osso duro e não me deixou falar ou me explicar. – ele pegou o saco de minhas mãos, jogando-o dentro da lixeira – Eu realmente sinto muito e, para consertar as coisas, amanhã eu falo com a diretora que a culpa foi toda minha.
- Você não precisa fazer isso.
- Eu quero consertar as coisas com você.
- Eu não quero que você decepcione seu time. Eu já te perdoei. Além do mais, do que adiantaria? Você seria cortado do time e eu continuaria de castigo? Isso faria você se sentir melhor?
- Faria sim.
- Seria um ato nobre, mas não me faria sentir melhor. Eu me culparia por tirar algo tão importante de você. Promete esquecer esse assunto?
- Claro, Realeza. – ele respondeu fazendo reverência – Então estou desculpado? Você não me odeia?
- Claro que está desculpado e eu não te odeio.
- Então, vem. – ele me puxou pela mão, mas eu não me movi.
- Espera. Aonde você pensa que vamos?
- Vamos comemorar.
- , eu não posso.
- Claro que pode, .
- , eu tenho que estar em casa antes da meia-noite.
- Vamos logo, .
- Não, eu não vou. – falei, soltando-me dele.
- O que custa, ? É tão ruim assim ser vista comigo?
- Devo ser honesta? – ele murchou o sorriso e começou a andar em direção à saída – Ei, espera. – segurei em sua mão – Eu estava brincando.
- Então por que não vem comigo? Me dê apenas um motivo.
- Eu...
- Sabia que você não tinha um. – ele colocou um braço ao redor da minha cintura, depois se agachou colocando o outro ao redor de minhas pernas, pegando-me no colo, e começou a andar em direção à saída.
- , o que você está fazendo?
- Te levando até o Dunka.
- Aonde?
- Dunka, uma lanchonete aqui perto do colégio. – ele falou atravessando a rua, andando pela calçada.
- Tem aqueles hambúrgueres que vendem lá no colégio?
- Os hambúrgueres do colégio são de lá.
- Incrível. – falei sorrindo, vendo-o rir – O quê? Do que você está rindo?
- De você e sua fissura por hambúrgueres.
- Hambúrgueres são deliciosos, eu nunca tinha comido antes. É a melhor invenção do homem.
- Só depois de você. – abaixei a cabeça – Como você nunca comeu hambúrguer antes? Todo mundo já comeu hambúrguer antes.
- Bem, de onde eu venho não vendem isso, e, se vendem, nunca me deixaram comer.
- Você vivia trancada em um castelo, por acaso?
- Algo desse tipo. , você pode, por favor, me colocar no chão? Acho que já deu, eu vou ficar mal acostumada. – ele me colocou no chão em frente à lanchonete.
- Vamos. – ele abriu a porta da lanchonete, dando passagem para mim. Entrei e avistei todos do colégio em uma mesa olharem automaticamente para mim. passou o braço por meu ombro, levando-me até uma mesa longe de seus amigos.
- Eu pensei que nós íamos nos sentar com seus amigos. – falei, sentando-me e vendo-o fazer o mesmo em minha frente.
- A mesa está cheia.
- Tem alguns lugares sobrando. – olhei para ele, que chamou a garçonete – Você está tentando ficar sozinho comigo?
- O quê? Eu...
- Isso é um encontro, ?
- Quê? Encontro? Pff. De onde você tirou isso?
- Você é um garoto, eu, uma garota, os dois sozinhos... Isso, para mim, é um encontro. Ninguém assiste aos filmes americanos não?
- Acho que não.
- O que vocês vão querer? – a garçonete perguntou.
- Dois hambúrgueres completos. Obrigado.
- Você pediu por mim. Isso é o que os garotos fazem quando estão em um encontro e estão a fim da garota.
- Você vai ficar com essa história na cabeça? Isso não é um encontro.
- Desculpe, eu não falo mais. – falei, olhando para o lado.
- Desculpe, eu sou um idiota mesmo.
- Concordo. – resmunguei baixinho, escutando-o rir pelo nariz.
- Isso não é um encontro porque você merece mais do que uma vinda a uma velha lanchonete para comer hambúrgueres. Eu aposto que você é igual à Lucy e gosta de lugares chiques e caros.
- Eu não sou. Luxo não é bem a minha praia. E uma vinda em uma lanchonete velha para comer hambúrgueres é bem melhor do que lugares chiques e caros. O lugar não importa, o que importa é a companhia.
- Eu sou uma boa companhia?
- Estamos em processo ainda. – falei, sorrindo, e olhei para ele, que me fitava de uma maneira constrangedora – O que foi?
- Nada. Só admirando o seu prazer em pequenas coisas, isso é tão raro em garotas hoje em dia.
- Você mesmo disse que eu era especial.
- Você é muito mais que especial para mim. – ele falou segurando minhas mãos, o que me fez abaixar a cabeça.
- Seus pedidos. – a garçonete colocou os pratos com dois hambúrgueres, batatas-fritas e refrigerantes na mesa.
- Obrigada. – falei, pegando meu hambúrguer e tirando um pedaço – Agora diz se essa não é a melhor coisa que você já comeu.
- Não.
- Chato.
- Você me lembra minha mãe.
- Como? – perguntei, dando outra mordida.
- Minha mãe. Ela sempre amou os hambúrgueres do Dunka, é o restaurante favorito dela.
- Você sente falta dela?
- Sinto. Ela é a mulher mais incrível que eu já conheci, mas ela está com medo de perder o posto dela.
- Sério? Por quê?
- Apareceu uma garota que eu não consigo tirar do pensamento.
- Quem?
- Você. – sorri, abaixando minha cabeça.
- Diga a ela que não precisa se preocupar, eu...
- Está sujo aqui. – ele falou apontando para o canto da minha boca – Deixa que eu limpo. – ele se inclinou sobre a mesa, limpando o canto da minha boca – Pronto.
- Obrigada.
- De nada. – levantei meu olhar para o relógio pregado na parede que marcava 11:50. Oh, droga!, pensei me levantando em um pulo, fazendo me olhar assustado.
- O que foi?
- Eu preciso ir.
- Fica mais um pouco, você nem terminou ainda.
- Não, , eu tenho que ir. – falei, começando a andar até a saída.
- Eu posso te levar para casa.
- Não precisa, eu sei o caminho. Eu adorei hoje à noite. Tchau, . – falei, saindo da lanchonete.
Olhei para os lados, tentando achar o caminho mais rápido para casa, e movi meus calcanhares para meu lado esquerdo, correndo em direção à minha casa. Eu precisava chegar a tempo, ou alguém se machucaria seriamente. Minha casa não era longe da escola, mas o caminho nunca pareceu tão longo. O fôlego já me faltava e eu estava com a sensação de que eu havia corrido mais do que em toda a minha vida, como se minha vida dependesse disso. Mas eu sabia que a minha não, e sim a de outra pessoa dependia. Avistei as luzes da minha casa e os portões se abrirem para eu poder entrar. Olhei para frente, avistando minha mãe na sacada com os braços cruzados.
Eu estava decidida. não entraria em minha vida. Eu não permitiria isso, mesmo que isso machucasse cada célula do meu corpo.

Capítulo O9 – Movie

- Então, com quem você estava ontem? – Mel perguntou quando entrei na cozinha.
- Quem te disse que eu estava com alguém? – respondi, sentando-me em frente à bancada.
- Eu disse. – mamãe apareceu na cozinha e parou ao meu lado com os braços cruzados e uma expressão não muito feliz – Eu disse porque você conhece as regras e, mesmo assim, desrespeitou-as.
- Eu cheguei aqui a tempo. – falei, tomando um gole do meu café.
- E se você não tivesse chegado? – ela falou andando ao lado oposto onde eu estava sentada, sentando-se também.
- Mas eu cheguei. – falei, pegando o sanduíche que Mel tinha acabado de colocar em meu prato – Obrigada, Mel.
- Eu não quero que você fique fora depois das onze, entendeu?
- Sim, general. – dei uma mordida em meu sanduíche.
- Isso não tem graça. E onde diabos você estava?
- Foi apenas um jogo de futebol e depois nós saímos para ir a uma lanchonete. Não foi nada demais.
- Você já pensou no que podia ter acontecido?
- Pensei sim. Sonho todo dia com isso.
- Isso é uma espécie de brincadeira para você, mocinha?
- Melhor rir da sua desgraça do que deixá-la tomar conta de você.
- Às vezes eu acho que você gosta.
- Gosto? – coloquei o sanduíche no prato – Você acha mesmo que eu quis ter vindo correndo de uma lanchonete a dois quarteirões daqui quase colocando meus pulmões para fora? Não, eu não gostei. E, só para sua informação, eu nunca pedi por toda essa porcaria. Eu aceitei porque era algo que, mesmo que eu quisesse, eu não podia negar, pois, se eu o fizesse, eu me sentiria infeliz e culpada pelo resto da minha vida. E não venha me dizer que você sabe como eu me sinto porque, acredite, você não sabe! – gritei, respirando fundo em seguida.
- Eu sinto muito.
- Ah, claro. Você sente. Você já tentou se colocar no meu lugar? Claro que não, porque ninguém ia querer uma vida dessas! – gritei irritada, batendo com a mão na mesa – Desculpe-me, eu me descontrolei. Não vai acontecer outra vez. – abaixei meu tom de voz, recuperando meu fôlego.
- Filha... – ela se levantou, andando até mim.
- Apenas vá, mãe. Você vai chegar atrasada.
- Tchau, minha filha. – ela deu um beijo em minha testa e saiu.
- Vocês são tão estranhas. – ri pelo nariz olhando para ela.
- Você não sabe o quanto, precisa conhecer o resto da família.
- Sua mãe é meio radical quando o assunto é o toque de recolher. Ela fazia o mesmo com Lucy.
- O pai dela fazia o mesmo com ela, eu acho. – escutamos a campainha ecoar pela casa – Deixa que eu vou, Mel. – levantei-me, saindo da cozinha, e passei pelo corredor, indo até a porta, e a abri – ? O que você faz aqui?
- Boa tarde. – ele deu um beijo em meu rosto, entrando em minha casa – Seu DVD está pegando? Eu trouxe filme e pipoca. – ele andou pelo corredor de costas, olhando para mim. Eu estava estática segurando a maçaneta da porta, olhando-o, boquiaberta.
- , dá para você me explicar o que está acontecendo? – fechei a porta, virando-me para ele com um sorriso nos lábios. Meu Deus, por que eu estava sorrindo?
- Essa é a sua sala? – ele apontou para o lado direito dele – Tem DVD?
- Tem, mas... – ele me interrompeu.
- Ótimo. – ele entrou nela. Sorri boba, sentindo minhas pernas tremerem.
Estúpida fraqueja, pensei começando a andar pelo corredor até a sala. O sorriso em meus lábios parecia ter vida própria e, por mais que eu quisesse disfarçar, de alguma forma que eu não sabia explicar, ele demonstrava minha felicidade. Eu não estava contendo os meus próprios músculos ou meus próprios pensamentos, o que não parecia nada bom.
Entrei na sala, encostando-me ao batente, vendo-o mexer no DVD.
- Sabia que é falta de educação entrar na casa dos outros e mexer nas coisas deles? – falei, vendo-o olhar para mim com um sorriso no rosto. Estúpida fraqueja.
- Você quer ver qual primeiro? Fica Comigo ou Hairspray? – ele se levantou.
- , o que você está fazendo?
- Eu vim ver como você está, já que você saiu correndo do nosso encontro sem deixar eu te levar para casa. Eu fiquei preocupado.
- Então era um encontro?
- Era. Não. Quer dizer... Eu não sei.
- Oh, claro.
- Eu trouxe filmes, mas, se você quiser, nós podemos voltar para aquela lanchonete e terminar nosso... Encontro?
- Isso saiu mais como uma pergunta do que como uma afirmação.
- Porque foi uma pergunta. Você deveria ter aprendido nos filmes que um cara precisa chamar uma garota para um encontro. Então, você quer ir a um encontro comigo? – ele fechou os olhos, fazendo-me sentir uma pontada em meu coração.
- Eu adoraria, mas eu não posso.
- Eu entendo. – ele disse, abaixando a cabeça.
- Seria um encontro se ficássemos aqui em casa?
- Acho que sim.
- Então, que seja, fica comigo.
- O quê?
- O filme, eu quero ver Fica Comigo.
- Ah, claro. – ele falou andando até o DVD – O filme, claro que era o filme.
- Sabe, , eu queria pedir desculpas por ter saído daquele jeito. Minha mãe é muito radical quando se trata do toque de recolher. – falei, andando até onde ele estava.
- Não, eu deveria pedir desculpas por não ter te escutado. Mas é que eu só queria passar mais tempo com você. – ele sorriu. Abaixei a cabeça, disfarçando meu sorriso, escutando o som do começo do filme ecoar pela sala.
- Acho melhor nós sentarmos.
- Claro. – ele tirou a jaqueta e os tênis.
- O que você está fazendo, ?
- O quê? – ele se jogou no sofá – Eu quero assistir o filme do meu jeito confortável.
- Do jeito folgado, você quer dizer.
- Vem, . – ele bateu o lugar ao seu lado – Vai ficar em pé aí para sempre?
- Estou indo. – falei, sentando-me um pouco longe dele no sofá, encarando a TV.
- Só para sua informação, eu não mordo. – ele falou me fazendo sorrir – Sabe, minha mãe costumava ficar mexendo no meu cabelo quando assistíamos filmes juntos. Eu sinto falta dela mexendo no meu cabelo. – vi seu sorriso desaparecer. Eu sei que iria me arrepender disso, mas eu não resisto a uma cara de cachorro solitário.
- Vem aqui. – chamei-o com a mão.
- O quê?
- Bem, eu não sou mãe, mas ainda posso fazer carinho em você.
- Você está falando sério?
- Vamos logo, , antes que eu desista.
- Já estou indo, general. – ele falou deitando a cabeça em meu colo – Agora é a parte que você faz carinho. – ele pegou minha mão direita e colocou em seus cabelos e eu comecei a fazer carinho. pegou minha mão esquerda e entrelaçou na dele, fazendo minhas bochechas ficarem em um tom avermelhado.
- A mão esquerda também faz parte do carinho?
- Cala a boca e assista ao filme. – ele disse, passando o polegar em minha mão. Tornei meu olhar para televisão, tentando dar atenção ao filme, mas era uma tarefa muito difícil quando um garoto está alisando sua mão da forma mais carinhosa possível. Eu prometi não olhá-lo nunca e ficar pelo menos a cinco metros de distância, mas essa promessa era quebrada toda vez que eu esse garoto de rosto angelical e corpo de homem aparecia em meu campo de vista. Algo dentro de mim se acendia e todo o meu corpo e sentidos me faziam andar em sua direção com um sorriso idiota no rosto. Eu me sentia fraca e idiota por ter esses estúpidos formigamentos em apenas tê-lo perto, eu sabia o que aquilo era, mas eu não aceitaria isso. Não mesmo. – No que você pensa tanto?
- O quê? – perguntei olhando para baixo, vendo-o me encarar.
- No que você pensa tanto?
- Você não está assistindo o filme?
- Não. Eu odeio filmes americanos, só trouxe porque achei que você ia gostar.
- Você está tentando me agradar?
- É difícil agradar você. – ele falou, sentando-se e olhando para mim – Como se agrada um garota que gosta de Guns 'n' Roses e ama filme de romance americano? A maioria das garotas gosta de idas a restaurantes caros e palavras sem sentimento, mas você gosta de ir a uma lanchonete para comer hambúrguer e uma boa conversa sobre eles.
- Fazer o quê? Eu sou especial.
- Você é diferente, o tipo que qualquer garoto poderia pedir a Deus. Que eu pedi a Deus. Mas a pergunta que não quer calar é: por que você demorou tanto?
- Eu não sou a garota ideal para ninguém.
- Pode até não ser para ninguém, mas para mim você é perfeita.
- ...
- Você poderia ficar calada um minuto. – ele me interrompeu colocando a mão em meu rosto, alisando minha bochecha – Não estraga o momento. – ele se aproximou de meu rosto, fazendo nossos narizes se tocarem e sua respiração bater perto de minha boca. Seus lábios se roçaram nos meus, pressionando-os levemente, fazendo todos os meus pêlos se arrepiarem. Meu coração batia demasiado dentro do peito e, em um momento de insanidade, automaticamente minhas mãos puxaram seu rosto para perto do meu, fazendo nossos lábios serem pressionados um contra o outro. Em um selinho, senti meu corpo aquecer rapidamente. Não era primeira vez que eu beijava um garoto, mas devo admitir que nunca fui daquelas que saía por aí beijando todos. Mas com , tudo parecia novo. Novos sentimentos, novas sensações, novos sorrisos e uma nova vida. Ele havia mudado a minha vida e, por mais que parecesse errado, eu não queria deixá-lo ir.
E, do mesmo jeito que havia começado, havia terminado.
- , você está aí, filha? – escutei a porta da frente bater e a voz de minha mãe ecoar pela sala, o que nos fez pular para lados opostos.
- Sou eu sim, mãe. – falei, levantando-me, vendo-a aparecer na sala.
- Filha, você... ?
- Olá, senhora Gillbard. – falou ficando ao meu lado.
- Vocês se conhecem? – perguntei.
- Eu estava atrapalhando algo? Basta fingir que eu não passei por aqui e continuem.
- Não, eu já estava de saída. – disse, pegando sua jaqueta e calçando seus tênis.
- Você não quer ficar para o jantar?
- Não, obrigado. – ele falou colocando a jaqueta – Tchau, . – ele me deu um beijo no rosto – Tchau, senhora Gillbard. – ele disse passando por minha mãe e saindo pela porta.
- Ele é o garoto que você está interessada?
- Eu já disse que não estou interessada nele.
- Não foi isso que eu vi. No escuro, os dois juntos no sofá, isso para mim é interesse sim. é um garoto incrível, pena que ele e Lucy não se falavam mais.
- Ele conhecia Lucy?
- Eles eram como carne e osso. costumava cortar a grama aqui e Lucy sempre ficava conversando com ele.
- Por que eles pararam de se falar?
- Sua irmã gostava dele mais do que um amigo, e, um dia, eles decidiram sair em um encontro.
- E? O que mais, mãe? Não deixe a história sem um fim.
- Depois desse encontro, Lucy chegou em casa quebrando tudo e ficou daquele jeito. O resto você já sabe. Mudança de humor, festas, bebidas e o acidente. – ela começou a subir as escadas – Não se esqueça que amanhã vamos ao hospital.
- Fazer o que lá?
- Eu fiz uma doação para uma paciente no começo da semana. Ela precisava continuar o tratamento de quimioterapia e ela receberá alta.
- Tudo bem. – falei, vendo-a subir as escadas – Então a culpa foi dele? – ela apenas continuou subindo as escadas – Obrigada. Seu silêncio disse tudo.
Estava muito bom para ser verdade. Quando eu finalmente pensei que tinha achado um garoto diferente, ele deixa sua máscara cair e mostra que é pior do que os outros.

Capítulo 1O – Misunderstood


- Você está pronta, filha? – minha mãe perguntou da ponta da escada.
- Estou sim. – respondi, colocando meus sapatos enquanto descia as escadas.
- Eu entendo porque seu pai não te deixar usar aquelas roupas que você usa quando vem aqui, você fica bem melhor assim. – minha mãe falou quando parei no último degrau da escada.
- Eu nem estou arrumada, são apenas roupas que meu pai exige que eu use em eventos não oficiais. Eu estava muito feliz com meus tênis e jeans surrados.
- Um dia ainda jogo esses tênis fora. – escutamos a campainha tocar.
- Eu atendo. – disse, indo em direção a porta e a abri.
- Nossa, você adivinhou que eu ia te chamar pra sair? – falou quando abri a porta.
- O que você faz aqui? – perguntei, olhando para ele da maneira mais seca possível.
- Eu vim te chamar para sair.
- Desculpe, eu estou ocupada. – falei, fechando a porta atrás de mim.
- E mais tarde você vai estar ocupada também? – ele colocou suas mãos no bolso, dando um sorriso de lado, o que quase me fez ceder. Foco, , foco. A culpa é dele.
- Eu estou completamente ocupada quando o assunto é você.
- O quê?
- Por que você não me disse? Quanto tempo você achou que iria me esconder a verdade?
- Do que você está falando?
- Da Lucy. A culpa de ela ter se transformado na quase cópia do Marilyn Manson é sua.
- O quê?
- Você foi o último a falar com ela antes dela se tornar uma vadia de preto.
- Quem te falou isso?
- Você não vai nem negar? Nem tentar se defender?
- Adiantaria se eu negasse?
- Então é verdade? Foi você que fez a Lucy mudar?
- As coisas não são bem assim, , deixa eu explicar.
- Por que você não me disse antes? Por que você não me falou que você tinha sido o último a falar com ela? Ai, meu Deus, eu sou mesmo uma idiota.
- O que você queria que eu fizesse? – ele abriu os braços – Eu achei que você ainda estivesse abalada pela morte da sua irmã. Eu não ia chegar simplesmente soltando que saímos uma noite antes dela virar uma gótica que odiava todo mundo.
- Não mentisse e não tentasse ser meu amigo. Isso é algum tipo de jogo para você? Você sai com a uma garota e, quando não quer mais, pega a irmã dela? Isso é bem a cara de .
- Me deixa explicar, por favor.
- , podemos ir? – minha mãe apareceu atrás de mim.
- Podemos. Eu já terminei com ele. – falei, puxando-a em direção ao carro.
- , espera. – escutei-o gritar enquanto eu descia as escadas e abria a porta do carro. Parei, virando-me para ele.
- Quando eu voltar, quero você fora da minha casa. – falei, entrando no carro e batendo a porta.
- O que vocês conversavam? – minha mãe perguntou quando o motorista deu a partida no carro.
- Nada. – falei, cruzando meus braços.
- Parecia importante, já que você gritava, acusando-o da Lucy ter mudado.
- Você ouviu?
- Acho que todos do bairro ouviram.
- Que seja. Eu não me importo.
- Não adianta se fazer de durona, eu sei que você está machucada.
- Às vezes eu acho que você vê coisas, dona Emily.
- Claro que vejo, é para isso que eu tenho olhos. O que eu quero dizer é que você está tomando decisões precipitadas.
- Ele fez alguma coisa para Lucy para ela ficar daquele jeito, e boa coisa não foi.
- Como você sabe? Você nem o deixou explicar.
- E como eu vou saber que ele não está mentindo?
- E como você sabe que ele não está falando a verdade?
- Se ele não tivesse nada a esconder, diria desde o início que ele e Lucy eram melhores amigos.
- Talvez ele estivesse com medo da sua reação. Você não acha que eu queria saber o que aconteceu com sua irmã? Todos nós queremos, mas culpá-lo não vai trazê-la de volta.
- Eu só quero entender o que aconteceu com ela.
- É incrível como você, mesmo sendo a mais nova, ainda cuida da Lucy.
- Ela podia ser descontrolada, idiota, egoísta, às vezes uma vadia, mas ela ainda é minha irmã. – abaixei minha cabeça – Eu não só queria me decepcionar com um cara. Eu queria que ele tivesse falado a verdade, não ter tentado ser meu amigo. Ai, como eu sou burra.
- Se ele tivesse falado da primeira vez, você reagiria diferente? – ela perguntou, saindo do carro – Você sempre age pelos seus sentimentos.
- Qual outra explicação você daria? – perguntei, acompanhando-a até a porta do hospital – Eles saem em um encontro e Lucy volta odiando o mundo e a todos?
Entramos pelo corredor onde minha mãe acenava para algumas das pessoas que passavam.
- Uma coisa que você e sua irmã têm em comum é que vocês se deixam levar pelo sentimento, e os da Lucy são dez vezes pior que o seu.
- Eu não sei o que pensar, mãe. – falei, entrando no elevador.
- Por que você não para de pensar na Lucy e pensa um pouco no que seu coração diz?
- Mãe, coração não toma decisões. Ele só as complica. – falei saindo do elevador, indo para o corredor e olhando para os lados.
- Qual lado?
- Direito. – ela me pegou pela mão, puxando-me pelo corredor – O que eu estou querendo dizer é que você tem que fazer uma loucura de vez em quando.
- Que tipo de mãe fala uma coisa dessas para a filha?
- O tipo de mãe que quer que sua filha deixe derreter o gelo do seu coração.
- Coração toma decisões por impulso, muita das vezes, estúpidas.
- Mas ele toma uma das decisões mais importante de uma vida, por que ele erraria nas outras? – disse batendo em uma porta, colocando a cabeça para dentro – Olá, podemos entrar?
- Claro, Emily, vocês podem entrar. – escutei uma voz pronunciar dentro da sala – Você trouxe sua filha?
- Como você pediu. – mamãe respondeu, abrindo a porta – Jenetty, conheça minha filha, .
- Olá. – falei entrando em seu quarto, vendo-a deitada em uma cama. O quarto era simples, um quarto de hospital comum, mas podia-se perceber a alegria nas cores das flores que estavam perto da janela de vidro e dos balões que dizia: I love you – Como a senhora está?
- Oh, ela é exatamente do jeito que você falou, Emily. Uma garota muito educada e bonita.
- Obrigada. – respondi, sorrindo.
- Eu estou bem, minha filha, obrigada por perguntar. E você, como está?
- Muito bem, obrigada.
- Entendo porque sua mãe fala todo o tempo de você, você é a filha que qualquer família pediu.
- Acredite, como todo ser humano, tenho meus defeitos. Comigo não é diferente.
- É claro que tem, mas aposto que não deixa os outro vê-los. Como agora, você está triste, mas não quer transparecer.
- Eu não estou triste.
- Ela brigou com um garoto que ela gosta.
- Mãe!
- Aposto que o que ele fez tem perdão. Uma garota de coração tão nobre não precisa guardar rancor – sorri, abaixando a cabeça – Sabe, você lembra muito uma garota que meu filho vem falando nas últimas semanas.
- Verdade?
- Ele a descreve perfeitamente como você. Sente-se. – ela pediu e eu me sentei em uma poltrona ao lado da sua cama – Depois da minha doença, meu filho quase não tem tempo para pensar nele, ou ele estava trabalhando ou indo à escola. Eu fiquei muito feliz quando ele chegou aqui falando dessa garota perfeita que ele havia conhecido.
- Seu filho quis cuidar de você. Nós, filhos, podemos parecer ingratos às vezes, mas quando nossos pais precisam da gente, nós somos o primeiro a chegar à fila.
- Ele fez muito por mim, eu passei minha vida quase toda em um hospital e ele sempre vinha me visitar.
- Ele e seu marido devem tê-la enchido de mimos.
- Meu marido morreu há dois anos.
- Oh, me desculpe.
- Está tudo bem querida, você não sabia. – sorri em resposta. – Sabe o que ele sempre fala dessa garota? Que ela é muito parecida comigo.
- Verdade? Parece um pouco estranho gostar de alguém que se parece com sua mãe.
- !
- O quê, mãe? Eu estou só brincando.
- Deixe a garota em paz, Emily.
- Viu, dona Emily?
- Você e eu vamos conversar em casa.
- Deixe-me continuar a história.
- Claro.
- Existe uma lanchonete chamada Dunka e ela sempre foi minha favorita, o hambúrguer de lá é o melhor. Ele me disse que a levou lá e ela amou, mas...
- Ela saiu super apressada. – continuei.
- Como você sabe?
- Palpite de sorte?
- Ele só fala nela há semanas, eu estou ficando até com ciúmes. Mas ele gosta dela, e espero que eles se resolvam.
- É. – falei, abaixando a cabeça – Qual é o nome dessa menina mesmo?
- Oh, não me lembro do nome dela, mas acho que é...
- . – escutei a voz dele ecoar pelo quarto. Meus olhos se fecharam automaticamente na esperança daquilo ser apenas uma ilusão.
- Obrigada, meu filho, eu quase havia me esquecido. – olhamos todas para a porta – , um lindo nome.
- Sabe, mãe, essa garota é muito cabeça dura, ela quase nunca me deixa falar e acaba pedindo desculpas no final. – ele falou andando até o outro lado da cama – Não estou certo, ? – ele olhou para mim.
- Você é algum tipo de maldição que eu preciso carregar? – falei levantando-me, olhando para ele.
- Se você não notou, a mãe é minha. Você que está me seguindo.
- Mas é claro que eu não estou te seguindo. Eu não sou a Lucy.
- Se você me deixasse explicar, você saberia o que sua irmã me disse para eu não querer mais vê-la em minha frente. Mas você é uma cabeça dura e só quer saber um lado da história, o seu lado! – ele gritou.
- Acho melhor vocês conversarem lá fora.
- Eu não vou conversar com ele.
- Por favor, , faça por mim. – a mãe de pediu. Oh, estúpido coração mole e nobre, não resiste a um pedido.
- Mas...
- Vamos logo. – me pegou pela mão, levando-me para o corredor. Ele me puxou para um banco afastado de todos, sentando-se em um deles – Você não vai se sentar?
- Estou muito bem em pé. – falei, cruzando os braços.
- Senta logo. – ele me puxou para o banco, fazendo-me sentar longe dele – Mais perto. – ele passou o braço por minha cintura, me puxando para mais perto, o que me fez arrepiar – Assim está melhor.
- Você vai falar ou minha bunda vai ficar quadrada? – falei, cruzando os braços, o que fez seu braço sair da minha cintura.
- Quando você quer ser insuportável, você consegue.
- Já você consegue sem esforço.
- Você vai deixar eu falar ou não?
- Estou esperando.
- Eu sinto muito.
- Por que eu não estou surpresa? Já acabou? Ótima conversa, muito produtiva. – levantei-me, andando pelo corredor.
- Ela pediu que eu fugisse com ela. – parei de andar, virando-me para ele outra vez.
- O quê?
- Ela disse que nós precisávamos sair dessa cidade, que nós éramos feito um para o outro e precisávamos ficar juntos. Eu nunca pensei na Lucy como uma namorada, ela era a primeira menina que havia conversando comigo sabendo que eu não era o cara mais rico daquela escola. Eu gostava muito da Lucy, mas nunca a quis como namorada. Eu a chamei para ir ao cinema e depois jantar, como sempre fazíamos, mas dessa vez Lucy agia diferente e, quando ela veio com o papo de fugirmos juntos, eu fiquei louco. Eu tentei me desculpar, mas ela não queria me ver. Aí você me aparece, a irmã da Lucy. Eu tentei não... – andei em sua direção, abraçando-o forte pelo pescoço, sentindo seus braços rodearem minha cintura. Sua respiração batia na curva do meu pescoço, fazendo-me esquecer o porquê da raiva que eu estava dele. Eu estava enfraquecendo a cada minuto que eu ficava perto dele e eu não gostava disso; meu coração de gelo estava aos poucos degelando e começando a bater. E pela primeira vez ele bateria por um garoto.
- Eu sinto muito. – sussurrei em seu ouvido.
- Eu disse que você acabaria se desculpando. – sorri pelo nariz, colocando meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro.

Capítulo 11 – The French Mistake


- Então vocês estão se falando agora? – perguntou, atravessando a rua em direção ao campo.
- Estamos.
- Eu sabia que vocês iam se resolver. – falou, apontando o dedo para mim – Vocês são fofos juntos.
- Que nada, somos amigos. – falei, cruzando os braços e sorrindo tímida.
- Amigos? Só se for amizade colorida. – ela falou entrando no campo, onde a arquibancada já estava lotada de alunos para o clássico do futebol.
- Que horror, , você tem umas idéias sem noção. – falei, andando pela lateral do campo, onde alguns torcedores se encontravam.
- Não, isso são fatos. Eu vejo o que as pessoas se negam a ver.
- Ah, senhorita , você não me escapa agora. Pode ir me contando tudo sobre seu encontro com o .
- Eu não poderia pedir garoto melhor. Ele é inteligente, charmoso, engraçado e gosta de mim do jeito que eu sou. Ele me beijou e vai me levar para conhecer a família dele.
- A família dele? Oh, meu Deus.
- Eu sei, estou tão nervosa!
- Você vai se sair bem, você é adorável. Eles vão te amar.
- Eu quero que tudo dê certo.
- Own, que coisa mais linda vocês dois.
- É como se fosse um sonho.
- Pois que comece o sonho, o está vindo aí.
- Oi, amor. – ele deu um selinho nela, abraçando-a de lado – Oi, .
- Oi, . – falei, passando meus olhos disfarçadamente pelo resto do campo – Preparado para o jogo?
- Preparadíssimo. No vestiário.
- O quê?
- O está no vestiário.
- Ah, bom saber.
- Você pode ir lá, ele está sozinho.
- Tudo bem. Eu já volto. – falei, andando em direção aos vestiários. Minhas mãos suavam mais do que o normal e eu estava com uma sensação que as palavras iriam me faltar quando o avistasse. Eu parecia uma garota boba que estava falando com o garoto por quem tem um pequeno interesse pela primeira vez, e eu poderia até aceitar, mas aquela não era a primeira vez que eu falava com ele, e isso deixava minhas bochechas quentes.
Andei pelo corredor onde os vestiários se encontravam, olhei para o lado e vi o vestiário que pertencia ao time do meu colégio. Entrei, escutando um barulho de mochila cair no chão e caminhei até lá. Levantei o olhar de meus tênis, vendo-o de costas para mim colocando a camisa, e eu pude analisar cada músculo de suas costas se movimentando. Senti todo um arrepio passar por meu corpo e pensamentos pecaminosos de como seria se minhas mãos tocassem aquelas costas. Ele se virou, sentando-se para amarrar os cadarços, enquanto eu andava em sua direção.
- Oi, . – falei, sorrindo, e vendo-o não tirar os olhos do nó em seu tênis – ? Hello? Alguém aí dentro?
- O que você quer? – ele perguntou seco, levantando-se.
- Eu vim te desejar boa sorte. – falei, dando o meu melhor sorriso.
- Eu não preciso.
- Como?
- Eu não preciso que você me deseje boa sorte, você já pode ir.
- , o que aconteceu?
- Você aconteceu. Eu ainda não sei como eu me enganei com você.
- Do que você está falando?
- Devo admitir, nota dez para a atuação. – ele bateu palmas, sarcástico – O idiota aqui caiu direitinho.
- , por que você está sendo tão malvado? Eu pensei que nós tínhamos nos resolvido.
- Por que eu estou sendo malvado? – ele gritou apontando para si – Porque eu fui burro, – ele começou a andar em minha direção, fazendo-me dar passos para trás – eu fui um idiota em acreditar que você era diferente, mas você é pior do que todas. Elas, pelo menos, mostram quem são de verdade, você mente e se faz de santa.
- Eu nunca me fiz de santa para ninguém.
- Hipócrita! Você fingiu ser uma boa moça para enganar a todos sobre quem você é de verdade.
- Eu nunca fingi ser nada.
- E por que eu acreditaria nisso? Eu já sei da verdade, você pode parar com sua atuação.
- , por favor, você precisa me escutar. Eu nunca faria nada para te machucar. – falei, sentindo minhas costas baterem na parede.
- Tarde demais, você estraçalhou meu coração.
- , vamos conversar. Eu...
- Cala a boca. – ele gritou, batendo a mão na parede, o que fez fechar os olhos – Eu nunca mais quero te ver na minha frente, nunca mais quero que você fale comigo.
- , por que você está fazendo isso?
- Porque você me fez gostar de você. – ele se afastou de mim – Agora você pode voltar para os braços do seu namorado. – ele falou, indo em direção à saída e batendo a porta com força. Senti as lágrimas tomarem conta do meu rosto, fazendo minhas costas deslizarem pela parede. Abracei meus joelhos, sentindo as lágrimas em meus jeans surrados, e olhei meu reflexo em um espelho no chão, observando minhas lágrimas rolarem. Eu sabia que isso iria acontecer. Em uma hora ou outra, ele estraçalharia meu coração.
Levantei-me, enxugando minhas lágrimas, e andei até a saída.
- , o que aconteceu? – perguntou, andando até mim, assim que saí do vestiário.
- Nada.
- O entrou no campo soltando fogo pela boca. O que aconteceu?
- O me odeia. – eu disse, sentindo uma lágrima rolar por meu rosto – E eu não sei o porquê.
- Calma. – ela me abraçou – Você quer ir para casa?
- Não, eu posso ficar até o final do jogo.
- Vamos. – ela me puxou para cima, abraçando-me pela cintura.
O jogo não parecia passar por entre meus olhos, já que os mesmos estavam focados em apenas um jogador no campo. A fúria nos olhos de e suas palavras pareciam fazer meu coração sangrar dentro do peito, e as lágrimas teimavam em cair. Eu jurei nunca deixar uma lágrima minha ser derramada por causa de um idiota qualquer, mas não era um idiota qualquer, ele era o único garoto que me fazia sentir formigamentos em todos os cantos imagináveis e um calor insuportável pelo meu corpo. Eu não queria sentir isso, eu jurei não sentir isso, mas como minha mãe sempre diz: “Em um coração apaixonado, a razão não manda.”
Ela poderia até estar certa. Mas eu iria lutar com todas as minhas forças para minha razão tomar conta do meu coração.
- , você está bem? – perguntou, levantando-se.
- Aham. Aonde você vai? – perguntei, me levantando também.
- O jogo acabou. Nós ganhamos. – ela falou, indo em direção à escada da arquibancada, descendo-a – Eu te levo para casa agora. – ela pegou minha mão, indo em direção à saída.
- . – apareceu na nossa frente – Aonde você vai?
- Nós vamos para casa.
- Vocês não vão ficar? Nós vamos comemorar. – me olhou.
- Olha...
- Nós vamos sim, . – falei, forçando um sorriso.
- Vocês vão na frente, fica duas ruas depois do Dunka. É um bar chamado Nuts. Tudo bem para vocês?
- Claro. Agora vai lá tomar seu banho.
- Tchau, meninas! – ele disse, correndo em direção ao vestiário.
- Você tem certeza de que quer ir? - perguntou, me olhando.
- O que pode acontecer de mal? – perguntei, andando até os portões.
- O vai está lá.
- não existe para mim.
- Você não acha que está sendo radical demais? Vocês nem conversaram direito. – ela me acompanhou pela calçada.
- Ele já deixou bem claro o que sente sobre mim. – falei, olhando os dois lados da rua – O que mais você quer que eu faça?
- Vai falar com ele.
- Eu já tentei, . Ele não quer falar comigo, nem ao menos me ver. Acabou, . Muito antes de começar.
- Mas vocês...
- Não, , não existe “mas” para nós, existe apenas um ponto final.
- Ele te disse o por que de não querer te ver outra vez?
- Sei lá, . – eu falei, passando em frente ao Dunka – Algum motivo mesquinho. Isso iria acontecer um dia.
- Essa história está mal contada.
- Não tem nada mal contado. O cansou de brincar com a garota nova e agora vai atrás de alguma garota que morra de amor por ele.
- Você é radical.
- É de família. – falei, parando em frente ao bar que dizia em um letreiro “Nuts”. – É aqui?
- É sim. – respondeu, e eu analisei o local. A fachada do bar era feita de madeira bem escura com a arquitetura antiga, com uns toques modernos. Olhei pela porta de vidro dentro do bar, vendo vários dos alunos do meu colégio já lá dentro – Você vai ficar olhando ou vai entrar? Vamos logo, . - me pegou pela mão, me puxando para dentro do bar – Olha, ali tem uma mesa. – ela disse, apontando para uma mesa no canto do bar, me puxando para a mesma.
- Os pais desses jovens sabem que eles estão aqui?
- Alguns sim, outros não. – ela se sentou e eu a acompanhei – Agora, você pode me dizer o que o disse para você?
- Ele falou que não queria me ver, que eu era uma mentirosa e alguma coisa sobre um namorado ou algo assim. Eu já deveria estar esperando isso.
- Quem deveria estar esperando o quê? - apareceu ao nosso lado, fazendo-me pular da cadeira.
- Que susto, . Quer me matar do coração? – falei, colocando a mão em meu coração.
- Desculpe.
- Como você chegou aqui tão rápido?
- Eu vim com o de carro. – ele apontou para trás, onde se encontrava em uma mesa com algumas garotas e garrafas de vodca – O mudou de humor muito rápido, uma hora ele estava se recusando a vir aqui e agora está bebendo como se não houvesse amanhã.
- Vai ver ele quer acabar como algum ídolo dele do futebol. Um idiota bêbado na prisão. – falei, cruzando os braços.
- Wow! Eu fui o único que senti ódio nessa frase?
- Ela e o não estão se falando, algo sobre um namorado.
- O seu namorado italiano? – ele tomou um gole de sua cerveja.
- Namorado italiano? Que namorado italiano? – perguntei, apoiando meus braços cruzados em cima da mesa, encarando-o.
- O seu namorado italiano. – ele apontou para mim – Aquele que te fez prometer não ficar com ninguém aqui, porque ele está te esperando na Itália para vocês serem felizes para sempre.
- Eu não tenho um namorado italiano.
- A Ashley disse que você disse que tem, ela falou isso para o antes do jogo.
- Então é por isso que ele falou aquelas coisas horríveis para ? - perguntou, encarando-o também.
- Você não tem um namorado italiano? – perguntou, olhando para mim.
- Claro que não. Os italianos de onde eu venho são um bando de idiotas aproveitadores.
- Viu, ? Foi tudo um mal entendido. Agora você vai lá e explica para o a verdade.
- Não, , ele não confiou em mim. Ele preferiu acreditar na Ashley em vez de vir conversar comigo abertamente.
- O é um cara meio emotivo. – falou.
- Que se dane. Isso não justifica o que ele fez.
- Mas...
- Eu vou tomar um ar. – falei, levantando-me e indo em direção à saída de emergência, que dava para um beco escuro e úmido. Andei até a rua a passos pequenos, chutando algumas pedras que estavam por ali. Idiota. é mil vezes um idiota, pensei, encostando-me em uma parede, fechando meus olhos. Como ele pôde acreditar em uma besteira dessas? Nós podemos não nos conhecer a vida inteira, mas eu nunca mentiria para ele. Principalmente se alguém estivesse esperando por mim em Florença, eu o teria cortado no primeiro momento.
Meus pensamentos foram interrompidos por um estrondo vindo da porta de onde eu tinha acabado de sair, onde um homem acabava de jogar outro na parede.
Ai, meu Deus, eu estava realmente morta.

Capítulo 12 – Drink


- Você realmente se acha o valentão? – Um homem de voz grossa falou, empurrando outro contra a parede a alguns metros de mim. – Por acaso você quer morrer?
- E quem é que vai matar? Você, gazela? – O outro falou, dando uma risada alta.
- Se eu fosse você, teria medo.
- Por quê? Por que a sua garota estava na minha mesa? Foi ela quem veio, cara. O que você queria que eu fizesse?
- Você gosta de mulher comprometida, por acaso?
- Pelo visto, é só o que me chama a atenção.
- , você não deveria ter dito isso. – Ele disse, levantando o punho na altura do rosto de .
- Espera! – Gritei e os dois olharam para mim. – Quem você pensa que é para bater nele? – Falei, andando até onde eles estavam.
- O quê? A pergunta certa aqui seria: Quem a senhorita pensa que é?
- Uma pessoa, idiota.
- Se você não fosse mulher...
- Você iria me bater? Ah, você pode tentar.
- Você se importa tanto assim com ele?
- Honestamente? Não muito, no momento.
- Então eu posso acabar com ele. – Ele disse, levantando novamente o punho na altura do rosto de , que fechou os olhos. E, por um momento, eu achei que aquilo seria um tanto quanto merecido.
- Espera!
- O que é agora?
- Ele pode ser um idiota, mas...
- Ele não é apenas um idiota, ele é um bêbado idiota.
- Que seja. Ele pode ser um bêbado idiota, mas foi sua garota quem foi atrás. Você já se perguntou se a culpa foi realmente dele ou da sua namorada que foi se sentar com ele?
- Ela...
- Aposto que ela não é a garota mais santa do mundo e que, enquanto você está batendo nesse idiota, ela está lá dentro com outro.
- Vadia. – Ele disse, soltando e voltando para dentro do bar.
- Vamos. – Peguei sua mão, puxando-o em direção à rua paralela à do beco.
- Eu não posso ir. – Ele falou, se apoiando na parede. – Eu preciso voltar para o bar, ainda falta uma rodada para completar a vigésima.
- Você acha que vai voltar para lá? – Apontei para o bar.
- Você é minha mãe, por acaso?
- Não, sua mãe não faria isso. – Dei uma tapa em sua cabeça.
- Ai! Isso doeu. – Ele massageou a cabeça.
- Nunca disse que faria carinho. – Falei, pegando seu braço e colocando-o em meu ombro. Passei meu braço por sua cintura, ajudando-o a andar até a rua movimentada. – Onde fica sua casa?
- Eu moro na próxima rua, virando à esquerda. Por aqui. – Ele apontou para a direção oposta à do bar.
- Sua mãe está em casa? – Falei, começando a andar pela calçada na direção que ele tinha apontado.
- Eu moro sozinho.
- Sua mãe te deixou fazer isso?
- Eu já sou independente, tenho dezenove anos.
- Só se for fisicamente, porque mental, parece ser que parou nos nove.
- Eu sou perfeitamente alienado.
- Ah, mas é claro.
- Por que você está me ajudando? – Ele perguntou quando viramos a esquina. – Eu já disse que não quero te ver.
- Eu não levei um castigo para você ir a um bar e decepcionar seu time.
- Então você não está me ajudando por mim?
- Mas é claro que não. Estou fazendo isso pelo seu time, e sua mãe.
- É aqui. – Ele apontou para uma porta azul escura, pegando as chaves no bolso. A fachada da casa era branca e havia um pequeno gramado na frente, bem cuidado, por sinal. – Aqui estão as chaves, Mulher Maravilha. – Ele me entregou as chaves.
- Muito engraçadinho, , eu deveria te deixar aqui. – Falei, pegando as chaves da sua mão e colocando-a na fechadura.
- E por que não vai?
- Eu já vim até aqui, o que custa colocar o bebê mimado na caminha? – Falei, abrindo a porta e acendendo a luz.
- Mimado não.
- Ah, claro, bebê da mamãe.
- Para quem me chama de rica, sua casa não é nada mal.
A casa tinha dois andares. No primeiro, do lado esquerdo, ficava a sala, onde estava um sofá branco, uma lareira com algumas fotos de família, troféus e, na parede em cima da lareira, ficava um quadro de algum artista contemporâneo. Um quadro de bom gosto. E, por último, um móvel com uma televisão de 42 polegadas, um DVD e um vídeo-game. Homens serão para sempre homens. Já do lado direito ficava a cozinha e, no meio dela, um balcão, onde ficava um fogão elétrico e alguns enfeites um tanto quanto femininos.
- Eu ralei por isso. – Ele falou, soltando-se de mim e indo em direção à escada, cambaleando e se apoiando no corrimão. – Não foi dado de um dia para o outro.
- Quem disse que as coisas para mim são dadas? – Perguntei, colocando as mãos em minha cintura.
- Sua mansão fala por si só. – Ele parou no segundo andar, virando-se por inteiro para mim com um sorriso sarcástico nos lábios.
- Você não sabe nada sobre mim. – Falei, subindo as escadas de dois em dois degraus.
- Sei sim. A princesinha dos Gillbards, a menina de ouro, a boazinha, a certinha, a santa, a boneca perfeita. – Ele falou quando parei em sua frente. – Você alguma vez teve que sacrificar algo? – A raiva tomou conta das minhas emoções, que se transpareceram na minha mão, indo com tudo em direção ao seu rosto.
- Não se atreva a dizer uma palavra sobre mim. – Coloquei o dedo em seu peito, irritada. – Você não sabe o que o escuro esconde e, acredite, você não vai querer saber o que tem atrás dele. – Vi um líquido sair de sua boca, sentindo-o tocar em minha camisa. – Agora sim, está perfeito. Vamos, . – Falei, olhando para minha camisa para ver o estrago.
- Desculpe.
- Vamos, . – Falei, ajudando-o a andar até seu quarto, abrindo a porta. – Vai tomar um banho e escovar esses dentes.
- Você pode pegar uma roupa minha. – Ele falou, apontando para o guarda-roupa ao lado da porta do banheiro.
- Vai logo, . – Falei, apontando para o banheiro.
Olhei em volta, reparando o quanto limpo era aquele quarto. Quarto de garotos não são tão arrumados ou decorados com móveis brancos e paredes sem pôsteres de bandas ou mulheres peladas, era um quarto aconchegante e, provavelmente, decorado por sua mãe. “Filhinho da mamãe”, pensei, andando em direção ao seu guarda-roupa, abrindo-o. Não sei ao certo se aquilo era uma alucinação ou se eu estava no céu, mas o que eu sei é que era o guarda-roupa que eu sempre quis e, provavelmente, nunca teria. Aerosmith, The Beatles, Rolling Stones, Guns 'n' Roses, Nirvana, Creed, Lifehouse e AC/DC eram apenas alguns exemplos das camisas de bandas que eu vi ali dentro. Meus olhos brilhavam tanto que poderiam iluminar uma cidade inteira e, por mais que eu estivesse com raiva do , desejando que ele acordasse com uma dor de cabeça tão insuportável a ponto de gritar pelo nome da sua mãe, eu não poderia deixar de ressaltar que ele tinha o guarda-roupa que eu pedi a Deus, e que um dia vou ter.
Passei meus olhos pelas camisas, avistando uma das minhas favoritas do Aerosmith. “Oh, , se eu não estivesse com raiva de você, entraria nesse banheiro e o beijaria”, pensei, balançando minha cabeça. Olhei para minha calça, que também estava um pouco suja de vômito, e avistei uma boxer ainda com a etiqueta dentro de um saco jogado dentro do guarda-roupa. Peguei-a, dando passos para trás, sentando-me na cama e tirando meus tênis. Abri o zíper da minha calça, tirando-a e vestindo a boxer em seguida. Tirei minha blusa, em seguida pegando minha calça e dobrando-a, colocando as duas de lado.
- Por que você usa aquelas camisas maiores que você? Você tem o corpo perfeito. – Tomei um susto, pulando da cama, ficando em pé.
- , – coloquei a camisa em minha frente – o que você está fazendo?
- No momento, vendo você trocar de roupa.
- Idiota. – Joguei um travesseiro nele. – Uma mulher não deve mostrar seus dotes.
- De que década você é?
- Da década onde uma mulher deve se dar ao respeito. Então, você poderia se virar para eu colocar essa blusa?
- Claro. – Ele falou, virando-se de costas. Peguei a blusa, colocando-a o mais rápido possível. – Posso virar?
- Pode sim. – Falei, pegando minhas roupas sujas. – Você está se sentindo melhor?
- Tirando a sensação de ressaca que eu vou ter amanhã, eu estou ótimo. – Ele disse passando a mão em sua cabeça.
- Isso é ótimo. Onde tem uma sacola?
- Acho que deve ter alguma em uma das gavetas no banheiro. Para que você quer uma sacola?
- Para colocar minhas roupas, eu preciso ir para casa. – Eu disse, indo até o banheiro, e na primeira gaveta que abri, encontrei algumas sacolas. Peguei uma e coloquei minhas roupas na mesma, voltando para o quarto.
- Você vai para casa? – Ele perguntou surpreso.
- Claro que sim. – Respondi, com uma cara óbvia.
- E vai me deixar sozinho?
- Você já é bem grandinho para ter uma babá.
- E se quando você sair pela porta eu sair e beber até parar no hospital? – Ele apontou para a porta de seu quarto.
- O que você fizer quando eu sair por aquela porta não é do meu interesse. – Falei, andando até a porta.
- Você vai decepcionar minha mãe e meu time?
- A pergunta é se você vai decepcioná-los.
- Fica. – Ele se pôs à minha frente, a poucos centímetros de mim. – Por favor, fica comigo.
- , eu preciso ir para casa.
- Por favor, fica. – Ele se aproximou de mim. “Vamos, , você consegue resistir a esse charme”, pensei, andando para trás, sentindo meus joelhos baterem na cama. – Por favor.
- Só um pouco, depois eu vou embora. – Falei, vendo-o sorrir. Ele deu um beijo em minha bochecha, o que fez o lugar esquentar. Vi-o se jogar na cama, deitando-se, me fazendo soltar uma risada ao me sentar na ponta da cama.
- Você vai ficar aí? – Ele perguntou, colocando os braços atrás da sua cabeça, fazendo-me perder meu olhar em seu troco descoberto.
- Você não pediu para eu ficar?
- Pedi. Mas você vai ficar aí, na ponta da cama?
- Estou muito bem, obrigada.
- Deixa de ser besta. – Ele pegou meu braço, puxando-me, o que fez minha sacola cair no chão.
- . – Falei, olhando para o meu lado, onde ele estava deitado enquanto eu estava sentada. – Você não está no seu normal.
- Tente misturar álcool e .
- Idiota. – Falei, dando um empurrão nele.
- , você pode deitar.
- Não, obrigada.
- Por favor.
- Tudo bem. – Afastei-me dele, deitando-me a alguns centímetros de distância.
- Mas você é chata, viu? – Ele passou o braço por trás do meu pescoço, puxando-me para colocar a cabeça em seu peito nu. Automaticamente, minha mão deslizou por seu abdômen, fazendo meu braço ficar ao redor da sua cintura, enquanto uma de suas mãos alisava meu braço.
- Eu nunca fiquei em uma cama com um garoto antes. – Confessei, com um sorriso tímido.
- Nem com seu namorado italiano?
- Eu não tenho um namorado italiano.
- Não? Mas a Ashley disse que...
- Italianos são meio enjoados e não fazem meu tipo.
- Eu faço seu tipo?
- Nós estamos trabalhando nisso.
- Quer dizer que eu não tenho concorrência?
- Não, . – Falei, sorrindo.
- Melhor assim. Sem concorrência já era difícil, com concorrência italiana, eu não iria ter nem chances. – Sorri, sentindo meus olhos pesarem. Mas não me impediram de escutá-lo dizer:
- Boa noite, minha menina.

Capítulo 13 – Hungover


7 P.M. Can you hear the crowd? They all go wild for you and your denial, they're watching you break down.
Virei-me na cama, batendo a mão no despertador. “Que música é essa? Isso não é meu despertador”, pensei, passando a mão pela minha testa, relembrando a noite passada. Levantei meu tronco em um movimento rápido, arregalando os olhos e olhando para os lados com dificuldade por causa da luz do sol, que iluminava o quarto inteiro. Esse, definitivamente, não era meu quarto. “Oh, meu Deus, eu dormi com o ”, pensei, olhando para o lado e não o vendo.
Levantei-me da cama, indo até o banheiro e procurando por . Voltei ao quarto e avistei gotas de sangue no chão; olhei para o lado e vi um abajur estraçalhado e a janela aberta. Meu coração começou a bater rápido dentro do meu peito, o que fez minha respiração ficar ofegante. Se eu perdesse , eu iria me culpar pelo resto da vida por ter machucado o único cara que me fez parece uma daquelas idiotas apaixonadas de filmes americanos em anos. Sim, dentro de mim algo fazia meu coração bater mais forte por ele, era algo novo, proibido, mas fazia um bem tão grande. Eu poderia conhecê-lo há apenas algumas semanas, mas ele foi o único que me fez querer contar a verdade sobre mim.
Escutei um barulho vindo do andar de baixo, o que me fez sair correndo do quarto e descer as escadas pulando de dois em dois degraus, quase tropeçando em meus pés. “Por favor, esteja bem, por favor, esteja bem”, pensei, correndo até a sala. Um sorriso habitou meu rosto e um alívio tomou conta de mim quando vi de costas, e depois virando-se para mim com um sorriso no rosto. Meu coração começou a bater devagar dentro do peito. Antes mesmo que ele pudesse terminar, pulei em seu pescoço, abraçando-o forte.
- Wow! Bom dia para você também. – Ele falou, abraçando-me pela cintura.
- Graças a Deus, você está bem.
- E por que não estaria?
- Eu pensei que você tivesse passado mal e colocado as tripas para fora ou algo do tipo.
- Ah, claro. E precisava pular em cima de mim desse jeito?
- Oh, me desculpe. – Falei, separando-me dele. – Eu...
- Eu não disse que não gostei.
- Por que tem sangue no chão? Por que a janela está aberta? Por que o abajur está quebrado?
- Calma, , uma coisa de cada vez. Eu abri a janela para ficar mais fresco porque você ainda estava dormindo, e acabei derrubando o abajur. E cortei minha mão em um ferro que estava solto naquele negócio. – Ele mostrou a mão com um curativo.
- Só isso?
- Aham.
- Graças a Deus. – Falei, colocando a mão em meu peito. – Bem, agora que você está bem, eu posso ir para casa.
- Fica mais um pouco. – Ele me segurou pela mão.
- Não, , eu só fiquei aqui até você melhorar. Agora que você está bem, eu posso ir pra casa. Você mesmo disse que não queria me ver nunca mais, então estou só concedendo seu pedido.
- Espere. – Ele falou, pegando em meu braço. – Por favor, vamos conversar.
- ...
- Eu sei. Eu sei que eu fui um idiota com você, mais de uma vez, mas eu quero me redimir.
- Então somos dois idiotas.
- Então você vai me escutar?
- Estou mais do que pronta para te escutar dizer “me desculpe”. – Sentei-me no sofá de lado com as pernas cruzadas.
- Você é muito má. – Ele se sentou ao meu lado, de frente para a televisão, virando o rosto para mim.
- Você merece.
- Eu sei que eu deveria ter falado com você, mas eu estava com muita raiva. Quando a Ashley me falou, eu apenas acreditei. Eu fazia de tudo e você nem dava bola pra mim, eu apenas pensei que ela tinha razão. Eu sinto muito.
- Tudo bem. Eu entendo. Eu realmente queria que você tivesse vindo me perguntar, mas, se fosse comigo, eu faria do mesmo jeito.
- Eu não te imagino odiando alguém.
- Odiar é uma coisa muito forte. Eu acho que, mesmo que eu tentasse, eu não conseguiria odiar alguém.
- Nem eu sendo um idiota com você?
- Você é que eu não consigo mesmo.
- Eu sabia que você ia cair de amores por esse corpinho e esse sorriso de matar.
- Oh, claro. A única coisa que eu caio de amores sobre você são as camisas do seu guarda-roupa.
- Você pode usar se você quiser.
- E o que eu terei que fazer em troca?
- Bom, você teria que passar todos os dias aqui para trocar de roupa.
- Você está falando sério? Você vai mesmo me emprestar suas camisas?
- Estou. E você está?
- Ah. – Pulei em cima dele, abraçando-o por cima do pescoço, o que me fez ficar deitada por cima dele. – Claro que estou. Muito obrigada. – Falei, olhando em seus olhos.
- De nada. – Senti seu hálito fresco bater em meu rosto. Suas mãos percorreram minha cintura fazendo carinho, o que me fez fechar os olhos e aproximar meu rosto do seu, até que o som de Pink do Aerosmith ecoou pela sala. Nota mental: colocar esse celular no silencioso quando estiver com .
- Eu preciso atender. – Falei, levantando-me contra minha vontade, pegando meu celular em cima da mesa e olhando no visor: Mãe. – É minha mãe, eu preciso ir para casa.
- Por que você não diz para ela que está aqui e vai para casa mais tarde?
- Eu passei a noite fora de casa, não posso pedir uma coisa dessas.
- E você vai para casa assim? Com uma boxer e uma camisa do Aerosmith? – Ele se levantou, ficando em minha frente.
- Algum problema com isso? Eu estou na moda. E, além disso, minha casa fica a apenas três ruas daqui.
- Você não acha perigoso?
- O que pode acontecer comigo? Eu venho todos os dias andando do colégio até minha casa e nada aconteceu comigo. Eu vou só pegar minha sacola lá em cima.
- Ela está aí do lado, eu peguei para colocar para lavar.
- Não precisava. – Falei, pegando a sacola onde minhas roupas estavam. – Você me empresta um chinelo?
- Essas aí do lado são da minha mãe, devem servir. – Calcei os chinelos, escutando meu celular tocar outra vez.
- Perfeito.
- Você não quer que eu te leve?
- Não, eu sei me cuidar. – Falei, andando até ele. – Se cuida. – Dei um beijo em seu rosto. – Até amanhã no colégio. – Falei, andando em direção à porta e saindo.
Olhei para os lados e comecei a andar, vendo o movimento dos carros na rua e as pessoas começarem a sair de suas casas para pegar seus jornais. A manhã estava linda, as ruas estavam lindas, as flores estavam lindas... E eu parecia uma idiota apaixonada que acha até uma lata de lixo linda. Idiota apaixonada. Duas palavras, mas com um peso enorme em meus ombros. Isso significava que eu, mesmo não querendo, estava sentindo aquilo que toda garota sentia quando o cara que ela gosta diz: “Fica, por favor”. Aquelas manadas de inúmeros animais diferentes, formigamentos nos dedos junto com um calor por todo o corpo, aqueles estúpidos arrepios e sorrisos bobos em apenas pensar nele. Eu estava cedendo aos poucos, eu estava, pela primeira vez, deixando meu coração tomar conta das minhas decisões, e eu estava gostando disso.
Abri o portão da minha casa com minha chave reserva e caminhei pelo enorme gramado com um sorriso no rosto. Eu estava feliz e nada iria acabar com essa felicidade. Entrei em casa, jogando a sacola com minhas roupas ao lado da mesa, seguindo até a sala onde minha mãe estava assistindo o noticiário, e me encostei ao batente.
- Por que você está assistindo isso? – Ela me olhou assustada, levantando-se do sofá. – Não está muito cedo para desastres?
- Você perdeu o juízo? – Ela se levantou, olhando para mim.
- Não. Ele está onde sempre esteve.
- Com quem você estava?
- Com o .
- Ele está bem? Nada aconteceu com ele?
- Ele está bem.
- Defina bem. Ele está vivo?
- Sim. – Falei, andando em sua direção. – Ele está vivo.
- Mas...
- Eu não sei, ele apenas está lá. Vivo, bem, a salvo.
- Eu não entendo, ele deveria...
- Eu sei, mas ele não está.
- Você nunca mais faça isso, .
- Foi só uma noite, e ele está bem.
- Você conhece seus deveres, , você tem que cumpri-los. O que você acha que ele vai pensar se um dia ele descobrir? Acho que eu não preciso responder.
- Tudo bem. Desculpe-me, não vai acontecer de novo.
- Eu quero você longe desse garoto. Ouviu-me, ?
- Eu não te entendo, você gosta dele uma hora e agora quer me ver longe dele?
- Isso foi antes de você colocar a vida dele em risco. Você vai se afastar dele?
- Tanto faz.
- .
- Eu vou me afastar dele. Feliz? – Falei, levantando-me. – Espero que esteja. – Continuei andando até a escada.
- Aonde você vai, mocinha?
- Vou para o meu quarto.
- Mas ainda é manhã.
- Eu estou cansada.
- E você não vai para a escola?
- Se eu faltar um dia, não vão se importar.
- Mas esse foi o acordo, você iria ser uma garota normal. Eu sabia que se você vivesse naquele luxo...
- O quê? Eu iria me transformar numa garota fútil? Você pode dizer o que quiser sobre mim, menos que eu sou fútil. Eu não sou a Lucy.
- Pare de falar da sua irmã desse jeito! – Ela gritou.
- Está vendo? Mesmo fazendo tudo que ela fez, você sempre a defendeu. Ela sempre foi sua filha preferida.
- Eu amo as duas do mesmo jeito.
- É mesmo? – Perguntei, cruzando os braços. – Você, alguma vez, perguntou como eu me sentia sobre isso? Você, alguma vez, foi me ver em algum dos meus aniversários em Florença? Você, alguma vez, me perguntou se eu queria ficar em Florença, longe da minha mãe, vivendo uma vida que não combinava comigo? Não para todas as perguntas.
- Eu pensei que você quisesse ficar em Florença com seu pai.
- É. Mas eu também queria ficar com minha mãe.
- Filha. – Ela disse, e o pager dela começou a tocar.
- Pode ir, seus pacientes estão esperando. – Dei um passo para o lado, abaixando a cabeça, e ela passou por mim. Eu não gostava de brigar com minha mãe, principalmente quando o motivo se tratava de Lucy. Mas isso estava entalado na minha garganta desde os meus doze anos, quando eu descobri que eu tinha uma mãe e ela morava em Londres com minha irmã, porque não queria toda a atenção que todas lhe davam. Eu a entendi no primeiro momento, eu também não era muito fã de atenção, mas, no meu aniversário de treze anos, ao qual ela deveria aparecer e não o fez, eu entendi que eu teria que fazer o esforço se quisesse conhecê-la.
- Você não deveria ser tão má com ela. – Mel apareceu na sala, fazendo-me levantar a cabeça.
- Má com ela? Você tem certeza de que eu sou a malvada dessa história? Eu me esforcei, Mel. Eu tentei. Mas ela? Ela nunca parou para conversar comigo como uma mãe realmente faz.
- Tente entendê-la.
- Eu entendi. Ela tem uma preferida, e é a Lucy. Eu saquei isso, mas não quer dizer que ela deveria ignorar a outra filha.
- Ela nunca ignorou você.
- Pergunte-me a quantos aniversários meus ela compareceu. Nenhum. Não tente justificar o que ela fez. – Falei, olhando para ela. – Eu vou para o meu quarto, eu preciso descansar. Boa noite. – Falei, subindo as escadas, sentindo uma lágrima descer por meu rosto.

Capítulo 14 – Princess


- ! – Escutei uma voz me chamar do outro lado da porta do banheiro.
- Já estou indo! – Gritei, colocando minha blusa. Abri a porta do banheiro, dando de cara com Mel. – Que susto, Mel. – Falei, colocando a mão no coração.
- Você anda muito assustada ultimamente. – Ela falou, andando em minha direção.
- Impressão sua.
- Você está se sentindo bem hoje?
- Estou, por que não estaria?
-Você não foi à escola hoje, ficou trancada nesse quarto o dia inteiro e não comeu nada.
- Bem, vou sair agora. O que tem para comer? – Falei, abrindo a porta do meu quarto.
- Eu fiz um lanche para você, um dos seus favoritos.
- Obrigada. Emily já foi trabalhar?
- Saiu cedo. Plantão.
- Claro.
- Você não vai fugir para sempre.
- Quem disse que eu estou fugindo? – Falei, olhando para trás.
- Você evitou sua mãe o dia inteiro, você brigaram feio ontem.
- Estamos bem.
- Não. O que está acontecendo?
- Mel, é complicado. O melhor é você não ficar sabendo dessa história.
- O que é tão sombrio para você não querer falar?
- Minha vida, Mel. Eu carrego comigo uma coisa que me faz afastar as pessoas de mim, para o próprio bem delas.
- Até aquele garoto que você gosta?
- Mel, é o melhor para todos. – Falei, andando até a escada.
- Você vai continuar indo para a escola? – Mel perguntou, acompanhando-me.
- Não. Eu vim para cá para cuidar da minha mãe, não dar uma de colegial. Minha mãe já está melhor, então eu já posso voltar para Florença.
- Você vai voltar para Florença?
- Florença é o meu lugar.
- E sua mãe? Digo, você vai deixá-la sozinha?
- Ela está melhor. Ela pode se virar sem mim, como sempre fez. – Falei, andando até a sala, assustando-me. – ? O que você está fazendo aqui?
- Eu vim ver como você está. – falou. – Você vai voltar para Florença?
- Eu... Eu não sei. Eu sinto falta de casa.
- Aqui também é sua casa.
- Nada mais me prende aqui.
- E seus amigos? E sua mãe?
- Minha mãe já está bem melhor, meu trabalho aqui acabou.
- E você encarou vir ficar com sua mãe apenas como um trabalho?
- Não, eu...
- Deus, você é igual a Lucy.
- Não fale assim de mim. Eu não tenho nada parecido com ela.
- Você é egoísta, igualzinha à sua irmã. Mas ela, pelo menos, mostrava. Você se faz de santa.
- Por que as pessoas continuam falando isso?
- Porque talvez isso seja verdade.
- , você não entende.
- Mas é claro que eu não entendo, você não me explica.
- É complicado, . – Abaixei a cabeça.
- Sou toda ouvidos, tenho a tarde livre hoje.
- Eu não posso falar, eu prometi.
- Então você vai simplesmente partir? Não vai dizer nada para ninguém? Nem para o ?
- Você mesma disse que ele não é do tipo que se apaixona. Quando eu for embora, aposto que ele arranja outra. – Levantei minha cabeça, olhando para ela.
- Talvez pode ser diferente dessa vez.
- Nós não estamos em um filme americano.
- Pare de comparar sua vida com um filme americano. Mas que droga! – Ela levantou a voz, e eu abaixei a cabeça. – E quanto a mim? Você é a única amiga que eu tenho!
- Você agora tem ao .
- E para quem eu vou contar os meus encontros com ele? Para o próprio ? Dê-me apenas um motivo para você ir embora. – Continuei em silêncio. – Obrigada. Seu silêncio diz tudo. – Ela falou, andando até a porta. Eu iria me arrepender disso.
- Eu sou uma princesa. – Falei, fechando os olhos e abaixando minha cabeça.
- O quê? – Ela se virou para mim. – Você está louca.
- Eu sou uma princesa.
- A princesinha perfeita dos Gillbard?
- Não. Uma princesa de verdade.
- Você anda assistindo muito “O Diário da Princesa”.
- Não. – Falei, andando em sua direção. – Eu nasci em uma família de nobres. Meu pai é um rei e eu, uma princesa.
- Você andou usando as drogas da sua irmã?
- Vem comigo. – Falei, pegando-a pela mão e começando a subir as escadas.
- Aonde você está me levando?
- Você precisa acreditar em mim. – Falei, andando pelo corredor até meu quarto, e abri a porta. – Onde será que eu coloquei? – Falei, abrindo as gavetas da mesa onde meu computador ficava.
- Colocou o quê?
- Minha caixa. – Falei, andando até a porta do lado da porta do meu banheiro, abrindo-a.
- Esse é o seu closet? – Ela perguntou, entrando nele. Meu closet parecia um quarto quase do tamanho do meu, mas era cheios de prateleiras, gavetas e cabides separados em calças, tênis, saltos, jóias, blusas velhas de bandas e vestidos. Meu closet era pequeno comparado ao o que eu tinha em Florença, esse estava mais para o closet de “O Diário da Princesa”, decorado de bege claro, branco com enfeites de coroas e papel de parede de desenho de coisas da realeza. – Você não acha que é muito roupa? – Ela perguntou, analisando tudo.
- Você precisa ver o meu de Florença, é duas vezes maior. – Falei, olhando para trás e sorrindo para ela.
- Duas vezes maior? – Ela rodou o dedo indicador.
- Deve estar aqui. – Falei, afastando meus vestidos, abrindo um compartimento que ficava em um fundo falso. – Achei. – Peguei uma caixa, abrindo-a. Minha coroa estava impecável, um pouco empoeirada por conta da poeira que tinha naquela parte velha e escondida do meu closet, mas nada tirava o brilho dos diamantes que a rodeavam. – Do mesmo jeito que eu a deixei – falei, assoprando a poeira, virando-me para .
- É de verdade? – Ela perguntou, pegando minha coroa e analisando-a. – Isso são realmente diamantes?
- São sim. Meu pai mandou fazer para mim quando eu nasci. Ela teve uns retoques porque minha cabeça não ia ficar pequena para sempre, mas continua a mesma daquela foto. – Apontei para uma pintura onde havia meu pai, minha mãe, eu e Lucy logo quando nós nascemos.
- Oh, Deus! – Ela falou, andando em direção à pintura. – Você e Lucy eram quase gêmeas. – Ela falou olhando para mim. – Pena que ela não tem sua personalidade. Eles são perfeitos.
- O quê? – Perguntei, colocando a caixa em cima de uma prateleira e andando até onde ela estava parada, analisando o quadro.
- Seu pai e sua mãe, eles ficam perfeitos juntos.
- Eu sei. – Respondi, cruzando os braços. – Nossa, faz tanto tempo que eu não vejo essa pintura.
- Você é uma princesa de verdade. Ai, meu Deus, você é uma princesa. Mas como...?
- Meu pai é rei de Florença. Ele e minha mãe se casaram e tiveram Lucy e eu.
- Como ninguém sabe disso? A Lucy nunca falou isso.
- A Lucy nunca gostou da ideia de ter o sobrenome . – Falei, pegando a coroa de suas mãos e andando em direção até onde eu havia colocando a caixa. Coloquei-a dentro da mesma, virando-me para colocar no compartimento secreto atrás de meus vestidos. – Ela não gostava dessa vida real, ela negava o sobrenome de papai.
- Quem faria isso? – Ela se virou para mim. – Deve ser incrível ser da nobreza.
- Na maior parte do tempo, não. – Andei em direção à saída. – As pessoas são egocêntricas, estão ali apenas para fingir que gostam de você e para agradar ao rei. Quando você não estiver olhando, arranjam defeitos que você nem tem. – Falei, esperando-a sair. Fechei a porta do meu quarto e fui em direção ao frigobar.
- Você tem um frigobar?
- Tenho. – Falei, pegando um pote de sorvete e duas colheres.
- O máximo que eu tenho é um copo de água quente no criado-mudo ao lado da minha cama.
- Eu também tenho. – Apontei para o criado-mudo branco ao lado da minha cama.
- Mas você tem um frigobar.
- É exatamente isso que eu estou querendo dizer. – Andei em sua direção. – Eu sou uma garota normal, mesmo sendo um membro da realeza. Aliás, eu gosto de mais de ser uma garota normal que usa jeans surrado do que uma princesa em um vestido. Eu sou a mesma, , o que muda agora é que você sabe o meu segredo.
- Isso muda tudo, . – Ela disse e eu abaixei a cabeça. – Agora que eu sei que você tem esse closet, nem que a vaca tussa eu vou deixar você sair de casa com esses trapos que você vai para a escola. – Levantei meu olhar, sorrindo para ela.
- Eu pensei...
- Que eu ia pirar e dar uma de vadia aproveitadora? Eu deixo isso para a Ashley.
- Obrigada. – Andei em sua direção, abraçando-a pelo pescoço.
- Eu é que agradeço. Já sei onde passar quando precisar de um vestido para sair com o . – Ela se separou de mim. – Quem imaginaria que a garota de tênis surrados e blusa dos Guns 'n' Roses é, na verdade, uma princesa? O sabe disso?
- Não. Eu não tive coragem de falar para ele. – Falei, sentando na cama e dando a primeira colherada no sorvete. – Ele vai me chamar de louca, vai achar que eu sou igual à Lucy.
- Claro que não. – Ela se sentou ao meu lado. – Ele gosta de você, ele vai entender. Você e a Lucy podem se parecer fisicamente, mas não se parecem nada por dentro. – Dei outra colherada. – Você vai contar para ele?
- Eu não posso. Na verdade, eu não posso contar para ninguém. – Ela se sentou ao meu lado, dando uma colherada no sorvete.
- E por que você me contou?
- Você é a minha melhor amiga em anos.
- Como você sabe que eu não quero só me aproveitar de você?
- Você não perguntou.
- O quê?
- O que todas perguntam.
- O que elas perguntam?
- Quando eu iria lhe apresentar o rei.
- E por que eu iria querer que você me apresentasse o rei?
- Para se casar com ele e ser rainha.
- Eca! É o seu pai, , que nojo.
- Resposta perfeita. – Rimos as duas. – Você quer?
- Parece com o sorvete que o me deu ontem.
- Ai, meu Deus, como foi o encontro de vocês?
- Nós estamos namorando! – Ela soltou um grito.
- Me conta tudo.
- Primeiro, ele me levou para jantar, aí... – E nossa tarde se passou em um piscar de olhos. falava de , enquanto eu falava da minha vida em Florença.
Não tinha sido tão difícil como eu pensei.
Pelo menos essa metade.


Capítulo 15 – Be My Date?


- Olha, . O seu príncipe. – Apontei para quando entramos no corredor do colégio.
- Você é a princesa e eu que tenho o príncipe?
- Não precisa ser da realeza para ter um príncipe encantado à sua espera.
- Pensei que você não acreditasse nisso.
- Bem, eu não acreditava, mas posso estar começando.
- Olha, a Bela Adormecida decidiu aparecer. – disse quando nos aproximamos.
- Oi, .
- Conseguiu levantar da cama hoje?
- Sua namorada me ajudou a levantar.
- Por isso você não atendia o celular ontem. – Ele a abraçou de lado. – Eu fiquei preocupado, mas aí o foi à casa da , e a mulher disse que ela já estava com visita e não iria mais ver ninguém.
- Ele foi à minha casa ontem?
- Foi sim.
- Ninguém me avisou.
- Devem ter esquecido.
- É, deve ser. Eu vou entrar, preciso pegar uns livros no meu armário.
- Tudo bem.
- Nos vemos no almoço. – Falei, indo pelo corredor e virando à esquerda. Fui em direção ao meu armário, abrindo-o. Eu estava muito tranquila, tudo estava indo muito bem, e isso me assustava horrores, porque eu sabia que quando tudo está indo bem, sempre haverá algo para atrapalhar.
- Gillbard! – Era só questão de tempo. Fechei meu armário, dando de cara com Ashley.
- Sim?
- Você está bem?
- Estou. Por que não estaria? – Perguntei confusa.
- Não sei, você deveria se sentir culpada.
- E por que eu me sentiria assim?
- Não sei. Talvez porque o tenha levado uma suspensão do time.
- O quê?
- Você não soube? O estava preocupado porque você não veio para a aula e resolveu ir te visitar, mas para isso ele precisou faltar ao treino. O treinador o suspendeu dos jogos.
- Você está mentindo.
- Estou? Vamos perguntar para um dos colegas dele. Ei, Kyle, é verdade que o foi suspenso do time?
- Verdade. – Um garoto falou do outro lado do corredor.
- Viu? Por sua culpa o não vai jogar nos próximos jogos. Você não vê? Você só atrapalha a vida dele, você é a única coisa que está entre ele e o sonho dele de ser jogador. – Escutamos o sinal ecoar pelo corredor. – Se você realmente se importa com ele, afaste-se. – Ela disse, seguindo seu caminho no corredor. Peguei meus livros no armário e fui em direção à minha sala.
Ashley tinha razão. Desde que eu cheguei aqui, vem se metendo em várias confusões, desde idas a diretoria à uma bebedeira. Eu era uma pedra no caminho dele, eu sabia disso e, por mais que eu não quisesse ficar longe dele, eu precisava. Para o seu próprio bem, eu precisava apagar da minha vida, mesmo que custasse minha felicidade.
Entrei em minha sala, avistando um único lugar vazio. Carma, só pode ser carma. Andei em direção à cadeira, e me sentei em silêncio.
- Oi, . – falou. – Eu...
- Meus amores, hoje nós vamos falar sobre lendas. – O professor falou, entrando em nossa turma. – Espero que vocês estejam preparados.
- Essa aula vai ser chata. Sabe, , eu queria falar uma coisa com você. Você, por acaso, não quer...
- Se você não quer assistir a aula, fique calado, pois eu quero.
- O quê?
- Eu quero assistir a aula, será que você não entendeu?
- O que aconteceu, ? – Continuei em silêncio. – Dá para você falar comigo?
- Senhor , você poderia ler a primeira lenda?
- Claro, professor. – Ele abriu o livro e começou a ler. Doía dentro do peito ter que ignorá-lo, mas era para o próprio bem dele. Minha mãe estava certa quando disse que eu deveria ficar o mais longe possível dele. Eu só iria atrapalhar todos os planos de um futuro feliz que ele merecia como jogador caso eu ficasse com ele. Ele merecia uma vida melhor, uma família, uma vida sem medo, e, comigo, ele nunca teria isso. E, por mais que eu quisesse tê-lo ao meu lado, esse era um privilégio que eu nunca poderia ter, eu ficaria sozinha pelo resto da minha vida. Essa é a minha sina, e eu teria que aceitá-la. – Só me diz o que eu fiz.
- , é o melhor para você.
- Quem decide o que é melhor para mim sou eu.
- Por favor, entenda.
- Senhorita Gillbard, que tal a senhorita explicar para os seus colegas o que é a lenda menzanotte, do livro de Charles P. James?
- Eu...
- Por favor.
- No século XIII, uma mulher chamada Rosálie era considerada a mais linda das redondezas, e a mais perigosa, também. Rumores rolavam naquela época que ela era uma bruxa muito poderosa e, mesmo assim, todos os homens a desejavam, e diziam que aquilo era invenção das mulheres para que eles não se interessassem por ela. Mas Rosálie estava de olho em outro homem, e esse homem era nada mais, nada menos do que Alexander, o príncipe e futuro rei. Alexander estava quase caindo nas graças de Rosálie quando uma forasteira, chamada Carmen, conquistou o príncipe e se casou com ele. Rosálie ficou tão furiosa que, no nascimento da filha do casal, ela invadiu o palácio e jogou uma maldição que dizia que toda mulher que nascesse descendente do rei iria conhecer o bem e o mal, e iria ter que sacrificar um bem maior. E todo homem que essa mulher amasse iria morrer, e, a não ser que algum de seus descendentes fosse sacrificado, a maldição seria quebrada.
- Vejo que a senhorita fez seu dever de casa. Não é como os outros alunos que insistem em ver aquelas besteiras de vampiros e lobisomens.
- Os livros que o senhor passou sobre lendas do mundo são muito interessantes.
- Viram só, alunos ingratos? Vocês deveriam seguir o exemplo da aluna Gillbard.
- Por que eu ia querer ler um livro sobre lendas velhas e que não vão mudar em nada minha vida? – Uma aluna perguntou.
- Porque essas lendas velhas vão estar em seu teste.
- Por que o senhor não passa o que todos gostam hoje em dia? Por que o senhor é sempre do contra? – Escutamos o toque ecoar pela sala. Levantei-me em um pulo, saindo da sala e indo para o corredor. Apressei meus passos na esperança de não ser seguida.
- Só me diz o motivo. – apareceu em minha frente.
- É o melhor, eu só atrapalho sua vida. – Respondi, desviando meu caminho do dele.
- O quê? De onde você tirou isso?
- Você foi cortado do time por minha causa. Se você não tivesse ido me visitar, o treinador não teria te tirado no time.
- O quê? Quem disse isso? – Ele perguntou andando ao meu lado.
- Você não foi dispensado do time? – Parei de andar, olhando para ele.
- Fui sim, mas...
- Viu? – Falei, começando a andar novamente.
- Dá pra você me deixar terminar de falar? – Ele perguntou, segurando meus ombros, o que me fez parar e abaixar minha cabeça. – Eu fui dispensado, mas foi porque eu pisei em um vidro quando estava limpando a sujeira do abajur. Não foi culpa sua.
- Ai, eu sou muito burra. – Falei, colocando minha mão em minha testa. – Burra! Mil e trezentas vezes burra!
- Não, você não é burra. – Ele pegou minhas mãos. – Você só acha que a culpa de tudo é sua.
- Talvez seja. – Soltei-me dele, começando a andar até o refeitório.
- Quem te disse isso?
- O quê?
- O negócio da suspensão.
- A Ashley. – Ele parou na porta, olhando o refeitório inteiro, e parou em seu alvo.
- Eu não acredito. Ela vai me pagar.
- , espera. – Segurei-o pelo braço antes que ele atravessasse o refeitório.
- Ela não vai ficar imune, não dessa vez. – falou, apressando o passo até onde Ashley estava parada. – Você é doente, por acaso? Você não cansa de mentir não?
- O quê? – Ela se virou para ele.
- Você mentiu para a sobre minha suspensão. Você é uma desequilibrada, egoísta e que pensa apenas em você, sem se importar com os sentimentos dos outros. Eu tenho nojo de você. E se um dia você pensou que eu namoraria você, você estava errada. Eu nunca namoraria alguém tão superficial e falsa.
- Você não pode falar assim comigo.
- Eu falo do jeito que eu quiser com você.
- Ela é um passatempo, eu sei que você...
- Vou voltar para você algum dia? Pensou errado. Você era um passatempo, ela é especial. E se você tentar nos separar, eu juro que esqueço que você é uma mulher e parto para força bruta.
- .
- Esqueça que eu existo! – Todos no refeitório estavam em silêncio. andou em minha direção, passando por mim como uma bala, e foi em direção ao corredor. Olhei para o refeitório, que me encarava boquiaberto, e vi Ashley jogar uma bandeja no chão, olhando-me com raiva. Girei meus calcanhares em direção ao corredor, olhando para os lados e avistando dar um soco em uma parede, sentando-se na escada logo em seguida. Andei em sua direção, sentando-me ao seu lado – Ela é...
- Uma vadia, eu sei. Eu nunca deveria ter acreditado nela.
- Você acabou de dizer vadia? – Ele perguntou, olhando para mim.
- Aham.
- Você conhece palavrões?
- Claro que conheço. Por que não conheceria?
- Talvez porque você parece alguém que saiu de um berço de ouro.
- Eu sou uma garota normal como outra qualquer. Eu só não deixo transparecer que eu conheço palavras de baixo calão – falei, colocando a mão em seu cabelo e fazendo carinho. – Vamos fazer um acordo: não vamos mais acreditar no que a Ashley, ou algum dos amigos dela fala.
- Parece justo. Aquela garota não tem limite, eu...
- Você não vai fazer nada. Nós vamos esquecer que ela existe. Ashley? Que diabos é Ashley?
- Isso é o que eu deveria ter feito há muito tempo. – Ele disse, massageando sua mão.
- Está doendo? – Ele assentiu. – Me dê aqui. – Peguei sua mão e dei um beijo. – Pronto, vai ficar bom agora.
- Quantos anos você tem? – Ele sorriu, olhando para mim.
- , você é um insensível. – Falei, dando um empurrão nele, que sorriu. E, de repente, ele se calou, olhando para o chão. – O que foi, ?
- É só essa coisa que eu quero te perguntar. Você não me deixou falar na aula de História.
- Pode perguntar.
- Você quer ir ao parque comigo?
- Parque? Tipo um parque de verdade com rodas gigantes, barraquinhas, ursos gigantes, maçãs do amor e todas aquelas coisas?
- Esse mesmo.
- Mas é claro que eu quero.
- Eu te pego às seis, então.
- Então isso é um encontro? – Perguntei, olhando para ele com um sorriso estúpido no rosto.
- Com toda certeza.
- Tudo bem. – O toque ecoou pelo colégio. – Te vejo à noite. – Falei, aproximando meu rosto do dele, e lhe dei um selinho. – Tchau, . – Despedi-me, levantando-me e andando pelo corredor.
Olhei para trás, ainda estava parado com um sorriso no rosto.


Capítulo 16 – The Only Kiss


- !
- Ah! – Soltei um grito quando entrou em meu quarto pulando e gritando. – Você é doente, ? Vai assustar tua mãe! – Coloquei a mão em meu coração.
- Você estava tão concentrada. – Ela falou, sentando-se em minha cama.
- Claro, eu sou uma aberração. Não tenho nada para vestir. – Falei, caindo na cama, deitada, colocando o travesseiro em meu rosto.
- Você não tem nada para vestir? – Ela falou, tirando o travesseiro do meu rosto, e andou até meu closet, abrindo os braços. – Sério, ? Eu não tenho nada para vestir.
- , – levantei-me indo em sua direção – nenhuma roupa me serve, tudo fica feio. Eu preciso comprar uma roupa nova. Será que a Forever 21 está aberta?
- Você só pode estar brincando comigo.
- Eu estou com cara de quem está brincando?
- Ai, meu Deus. – Ela falou, fazendo-me olhá-la assustada.
- O quê?
- Você está nervosa.
- O quê? Eu não estou nervosa.
- Crise com roupas, ? Sério? Você tem um guarda-roupa perfeito!
- Mas...
- Toma aqui. – Ela me entregou uma roupa. – Coloque isso aqui.
- Mas eu não uso esse tipo de roupa.
- Por isso mesmo. Eu ainda não sei por que você usa essas roupas de roqueira dos anos 80, essas roupas de princesa combinam mais com você.
- Eu sei, mas não estamos em Florença. – Falei, colocando minha calça. – E eu gosto de usar essas camisetas. Eu me sinto livre.
- Vai me dizer que você tem sempre que usar vestido? – Ela perguntou desacreditada. – Mentira. Eu não acredito.
- Pois acredite. – Falei, colocando minha blusa. – Vestidos e saltos quase todas as horas do meu dia. É claro que em algumas vezes eu escapava e usava uma dessas roupas, mas, quando ficava perto de uma das comemorações no castelo, eu não poderia ser vista vestida que nem uma plebeia.
- Como você sobreviveu?
- Bem, eu aprendi a me acostumar. Essa é minha vida, . Eu sou uma princesa, não posso negar isso.
- Então você também não pode negar o fato que um dia você vai voltar para Florença. – Sentei-me em minha cama, encarando-a. – Digo, sua vida é em Florença, não aqui.
- Eu sei. – Falei, levantando-me.
- Você vai contar para o ?
- Eu não sei. Digo, o que ele vai pensar de mim? – Falei, colocando meu cardigã.
- Que você é uma princesa e que ele gosta de você.
- Eu não sei, , eu não planejei conhecer você ou o . Simplesmente aconteceu. E, por mais que eu quisesse ficar sozinha, vocês dois são as pessoas que mais me cativaram em tão pouco tempo. – Falei, calçando minhas sapatilhas.
- As melhores coisas sempre acontecem quando não fazemos planos.
- Eu estava feliz com meu plano de apenas ser invisível.
- Não está dando muito certo. – Ela abaixou a cabeça. – Eu vou sentir sua falta quando você voltar para Florença.
- Você pode me visitar. Florença é linda, e nós não chamamos tanta atenção quanto os nobres de outros países.
- Se eu soubesse que você era uma princesa, eu nunca me aproximaria de você.
- Por quê?
- Porque provavelmente você seria que nem a Ashley.
- Eu nunca te trataria daquela maneira. – Abracei-a forte.
- Para você ver, – ela se separou de mim – uma princesa de verdade trata todos melhor do que a falsa rainha.
- Ser nobre não se trata de carregar um título e uma coroa na cabeça, é também saber tratar os outros para que se sintam bem. Você pensa nos outros, em vez de pensar em você.
- Você sempre fala assim?
- Na maioria do tempo.
- Você consegue ser bem mal-educada quando você quer. – Ela disse, fazendo-me dar um empurrão nela.
- ? – Escutamos batidas na porta.
- Pode entrar. – Respondi, vendo Mel entrar em meu quarto com um sorriso sapeca no rosto. – O que foi, Mel?
- Tem dois garotos muito lindos lá embaixo, esperando por vocês.
- Ai, meu Deus.
- Você está nervosa, ? – Mel perguntou.
- Não. Talvez. Por que todo mundo continua falando isso?
- Oh, isso é tão perfeito.
- Como estar nervosa é perfeito?
- Quer dizer que aquela garota de Florença, também chamada de princesa, ainda está aí dentro, mesmo que um pouco diferente.
- Ela sempre esteve. – Falei, pegando pela mão e andando até a porta, caminhando pelo corredor.
- Ela estava ausente por estes dias.
- Até os nobres precisam de um descanso.
- Apoiado. Sua vida naquela cidade é um saco. – Mel falou andando em nossa frente.
- Como...
- Quem você acha que cuidou de você quando você era um bebê? – Ela perguntou, descendo as escadas. – Sua mãe mal cuidava dela, imagine de duas crianças.
- Dona Emily não sabia trocar fraldas.
- E quando ela ia fazer o seu leite e acabava dormindo em cima da mesa? Bons tempos.
- Mas fazer o quê? Todos têm que crescer um dia. – Falei, andando em direção à saída.
- E se apaixonar. – Sorri para ela, parando na porta, e esperei Mel abrir para nós podermos sair. Meu sorriso não se conteve em meu rosto quando eu vi aqueles dois garotos – principalmente o da ponta esquerda – parados conversando sobre algum assunto de garotos. e Mel, que estavam ao meu lado, não deixaram de soltar suspiros quando os avistaram, e, devo admitir, eles estavam irresistíveis.
- ! – quase gritou enquanto descia as escadas. e viraram seus olhares para nós com sorrisos nos rostos. pulou no pescoço do , dando-lhe um longo beijo, o que me fez sentir uma pontada de inveja. Olhei para , não podendo evitar meu coração de bater um pouco mais devagar dentro do meu peito. Eu tinha essa queda por garotos estilosos e despojados, principalmente quando estão vestindo uma blusa social branca com os dois primeiros botões abertos, por baixo de uma jaqueta preta de couro, uma calça meio colada de lavagem escura e um par de tênis. Mas superava todos os garotos que eu já tive uma queda quando vim à Londres antes. Ele, com toda certeza, era mais do que um garoto de estilo despojado pelo qual eu tinha uma pequena queda, era o primeiro cara que eu realmente tinha gostado. é o primeiro cara que eu realmente gosto em anos.
- Vai lá, . – Mel me tirou do transe, fazendo-me virar o rosto para ela. – Eu falo para sua mãe que você saiu com a e volta às onze e meia.
- Obrigada, Mel. – falei, abraçando-a.
- Boa sorte, minha filha.
- Tchau, Mel. – Falei, descendo a pequena escada que havia em frente à minha casa.
- Bela casa. – falou quando parei no último degrau da escada.
- Obrigada.
- Podemos ir? – perguntou. – Eu quero muito ir no carrinho de bate-bate.
- Vamos na frente, amor. – puxou em direção aos portões da saída.
- Mas...
- Vamos logo, . – Sorri, tornando meu olhar para .
- Oi. – Falei, quase sussurrando.
- Você está incrível. – Ele falou, sorrindo para mim. – Eu te trouxe uma rosa. – Ele falou, pegando uma rosa de dentro do seu bolso de trás.
- Obrigada. – Falei, pegando-a de suas mãos. – Ela é linda. – Aproximei-me dele, ficando nas pontas dos pés, o que deixou nossos rostos a milímetros de distância. Segurei sua nuca, aproximando meus lábios dos dele e lhe dando um longo selinho. – Vamos?
- O quê?
- O e a estão nos esperando.
- Ah, claro. – Senti sua mão encostar na minha, entrelaçando nossos dedos. Confusa, eu olhei para ele, que apenas respondeu:
- Isso é um encontro, então nós devemos agir como se estivéssemos em um. – Ele disse, dando um beijo em minha testa, fazendo-me sorrir com uma boba. Boba era como eu ficava quando o assunto era , uma completa bobona que em apenas tê-lo perto de mim ou em tocar em seu nome. é o cara que toda garota sonha em ter, mas sempre perde a esperança quando um idiota quebra seu coração, e, bem, eu já havia conhecido muitos idiotas na minha vida e já havia perdido a esperança de conhecer o meu príncipe encantado, literalmente. poderia não ser um príncipe, mas seu coração era nobre, valente mais do que qualquer príncipe que eu conheci em minha vida. E ele carregava um charme que nem todos os príncipes do mundo têm, o charme londrino, que bate qualquer outro. Até mesmo o italiano.
Meu coração batia demasiado dentro do peito, mas não era por medo ou insegurança. Era pelo simples fato de todo o meu corpo se sentir bem, leve, solto e livre para poder viver o que a vida me propusesse. Eu não sentia uma falsa felicidade, eu estava, pela primeira vez, me sentindo feliz.
E, para completar minha felicidade, avistei o parque de diversões em minha frente. Era tão lindo quanto os dos filmes; as barraquinhas iluminadas, divididas em algumas com doces e outras com desafios de tiro ao alvo, os brinquedos fazendo os barulhos irritantes te convidando para mais uma rodada. E, por último e mais importante, a roda-gigante, o brinquedo mais incrível, romântico e assustador de qualquer parque de diversão.
- Você quer ir? – perguntou, tirando-me do transe.
- O quê? – Virei meu rosto para ele.
- Você quer ir na roda-gigante? – Ele apontou para o brinquedo.
- Eu quero sim.
- Então vem. – Ele me pegou pela mão, levando-me até uma bilheteria.
- Mas e a e o ? – Perguntei, olhando para trás e não avistando os dois. – Cadê a e o ?
- Ele foram se divertir em outro lugar. Eles são namorados, deixa os dois. – Ele disse, parando em frente a um trailer onde havia uma mulher fantasiada de palhaço dentro dele, e uma placa enorme e chamativa dizendo “Bilheteria”. – Duas entradas para a roda gigante, por favor. – Ele disse, pegando sua carteira.
- Eu pago o meu. – Falei, pegando em seu braço.
- De jeito nenhum. Você não aprendeu que em encontros o cara paga para a garota? – Ele sorriu para mim, voltando-se para a mulher fantasiada.
- Duas entradas para o casal apaixonado. – Ela falou, pegando o dinheiro e entregando-lhe dois tickets amarelos.
- Pronta para a melhor experiência da sua vida? – Ele perguntou, passando o braço sobre meus ombros.
- Prontíssima. – Falei, acompanhando-o até a roda-gigante.
- Eu preciso de um casal! – Um homem em cima do andaime onde ficava a roda gigante gritou.
- Nós aqui! – gritou, puxando-me em direção à roda-gigante.
- Ora, ora, um casal jovem e apaixonado. – O homem disse, pegando os ingressos da mão de . – Tiveram sorte de pegar o último lugar da roda, – o homem disse, abrindo uma portinha para o último lugar na roda – sintam-se sortudos. – me ajudou a subir, e subiu logo em seguida. O homem fechou a porta, fazendo um frio subir pela minha espinha.
- Isso é tão emocionante. – Falei, quando a roda começou a girar. – E frio também. – Falei, me abraçando.
- Toma a minha jaqueta. – Ele falou, retirando sua jaqueta.
- Não, você vai ficar com frio.
- Que nada. – Ele falou, colocando sua jaqueta sobre meus ombros. Coloquei meus braços dentro dos braços da jaqueta numa forma de me aquecer. – Feche os olhos.
- Como? – Perguntei, olhando para ele.
- Fecha os olhos.
- Por quê?
- Você confia em mim? – Ele perguntou, olhando em meus olhos, com um sorriso em seu rosto.
- Confio. – Falei, fechando os olhos.
- Londres é uma das cidades mais lindas da Europa. Dizem que Paris é a cidade luz, mas quem disse isso nunca viu Londres à noite. – A roda-gigante parou de se mexer, fazendo-me sentir o vento gelado da noite de Londres bater em meu rosto. – Londres deveria ser a cidade luz, mas a rainha deixou que os franceses ficassem com a expressão. Londres é linda por si só e não precisa ser conhecida por algum pseudônimo idiota. Pode abrir os olhos. – Abri meus olhos. – Londres é perfeita.
- Isso é lindo. – A vista de cima do ponto mais alto da roda gigante era perfeita. As luzes da rua faziam caminhos iluminados sem fim, as casas e prédios com luzes alternadas em acesas e apagadas se destacavam no meio de mais uma noite fria e as pessoas e carros nas ruas faziam Londres parecer um quadro lindo ao vivo. Era perfeito. Olhei para baixo, vendo as luzes do parque se misturarem com a vista; era uma vista e tanto. Tornei meu olhar para frente, sentindo meus olhos brilharem observando o Big Ben iluminado, destacando-se no meio dos outros lugares da cidade. Londres só não recebia o nome de cidade luz por bondade da rainha com os franceses. Eu tinha certeza disso agora.
- Isso é lindo. – Eu disse automaticamente.
- Não tão lindo quanto você. – Ele disse, fazendo-me olhar para ele. – Você é a única que não percebeu.
- O quê? Que a vista de Londres é melhor do que a de Paris?
- Não. Que eu estou apaixonado por você. – Ele disse, olhando em meus olhos. – Eu jurei para mim mesmo nunca sentir isso, mas você apareceu e eu não pude evitar. Eu simplesmente me apaixonei por você. Eu estou apaixonado por você, . – Ele sorriu nervoso, fazendo um sorriso se alargar em meu rosto. – Você não vai dizer nada?
- Eu não. – Eu disse, dando de ombros, vendo-o abaixar a cabeça. Aproximei-me dele, colocando minhas mãos em seu rosto, e fiz com que ele olhasse para mim. Seu olhar era triste, vago. E, por um momento, me arrependi de não tê-lo respondido no primeiro momento que eu estava sentindo também. Mas logo vi um sorriso tomar conta de seu rosto, fazendo-me sorrir também.
Puxei seu rosto para perto do meu, sentindo sua respiração bater em meu rosto e seu nariz tocar o meu, e em seguida senti seus lábios tocarem os meus, pressionando-os com força. Suas mãos entraram por dentro de sua jaqueta deslizando por minha cintura, puxando-me para mais perto, quase me colocando em seu colo. Seus dentes morderam meu lábio inferior, fazendo minha boca se abrir e sua língua tocar a minha, explorando cada canto da minha boca, o que fez com que todos os meus pelos se arrepiassem e uma corrente passasse por todo meu corpo, esquentando-o como nunca havia acontecido antes. Uma de suas mãos saiu da minha cintura até o meu cangote, entrelaçando seus dedos em meus cabelos. Minha mão, automaticamente, saiu de seu rosto, indo ao seu cangote, entrelaçando minhas mãos em seu cabelo também.
Meus lábios estavam dormentes, meus pulmões quase vazios, mas nada me fazia querer parar, pareciam que os lábios de tinham algo tipo de entorpecente que não me deixavam parar ou querer soltá-lo. Era algo forte, novo e delicioso que me fazia querer continuar sem me importar com as consequências. Eu sabia que depois disso não teria volta, eu estaria me entregando para ele e nada mais me faria evitar o que estava sentindo.
Eu estava sentindo uma sensação nunca sentida antes, eu sabia que era o que todas as mocinhas sentiam quando os heróis diziam a elas que ela era escolhida dele, e era uma sensação gostosa. Eu estava burlando todas as regras, queimando toda a minha sanidade de uma vez e não estava me importando com isso. Eu deveria me importar com isso. O ar que faltava em nossos pulmões nos fez separar nossos lábios, terminando com um selinho.
- Vejo que aproveitaram o passeio. – O mesmo homem de antes falou, abrindo a porta e me ajudando a descer.
- O melhor passeio da minha vida. – falou, parando ao meu lado, fazendo-me sorrir tímida. Ele entrelaçou nossas mãos, guiando-me para descer do andaime.
- É verdade? – Perguntei, parando de andar, fazendo-o se virar de frente para mim. – Foi o melhor passeio da sua vida?
- Eu não mentiria sobre isso. – Ele se aproximou. – E você?
- Eu... – fui interrompida por um grito.
- Ajuda! Socorro! Lobos! – Uma mulher apareceu gritando. Olhei para o lado, avistando dois lobos cinza enormes parados no meio do parque.
- Que horas são?
- Dez e meia.
- Não faz sentido.
- O quê? – Escutamos os lobos uivando e começando a andar em nossa direção.
- Vamos!
Peguei em sua mão e comecei a correr para fora do parque, puxando-o pela mão e atravessando a rua, quase sendo atropelada pelos carros. Eu precisava chegar em casa o quanto antes. Não fazia sentido algum, mas eu não poderia arriscar, eu não poderia deixar se machucar. Olhei para trás, vendo-os nos seguir e puxei para correr mais rápido. Viramos a esquina onde ficava a minha casa, e eu agradeci mentalmente pelo parque ser a apenas algumas ruas da minha casa. Peguei minhas chaves e meu controle, abrindo rapidamente o portão. Entrei pelos portões, parando de correr aos poucos, e me apoiei em meus joelhos, ofegante, vendo se jogar no gramado.
- Isso foi emocionante. – Ele falou, sorrindo ofegante. – Eu nunca vi lobos em Londres. Será que é uma atração do parque?
- Vai embora. – Eu disse, pondo-me em pé.
- O quê? – Ele se apoiou em seus cotovelos, olhando para mim.
- Vai embora da minha casa. Agora.
- Mas...
- Vai, , eu não te quero na minha vida.
- , eu pensei que você sentisse o mesmo por mim. – Ele se levantou, parando em minha frente.
- Eu não sinto. Lucy tinha razão quando disse que você era fácil de enganar.
- Mas...
- Esse era o último desejo de Lucy, eu não poderia negar isso a ela. Aposto que ela está feliz onde quer que ela esteja. – Eu disse, sorrindo sarcástica.
- Eu... Eu sabia. – Ele balançou a cabeça com o olhar triste. – Você é uma vadia sem coração igual à sua irmã.
- Família é algo que não se nega.
- Considere-se fora da minha vida. – ele disse, saindo pelo portão. Senti minhas pernas despencarem junto com as lágrimas em meu rosto.

Capítulo 17 – Curse


- Mas que droga! – Falei, jogando meu celular na parede. – Por que diabos meu pai não atende a droga desse celular?
- Vai ver ele está ocupado. – Mel falou, tentando me acalmar.
- Não, Mel, ele passa o tempo todo com esse celular. Alguma coisa aconteceu. – Falei, andando de um lado para o outro.
- Você precisa se acalmar.
- Faz duas semanas que eu não falo com ele. Eu estou preocupada. – Escutamos a campainha ecoar pela casa.
- Eu atendo.
- Deixa que eu vou, eu preciso me acalmar. – Falei, andando até a porta. – Deve ser o Alfred com meus potes de sorvetes. Eu estou precisando. – Continuei abrindo a porta. – Lorenzo? – Perguntei confusa. – Lorenzo! – Falei, pulando em seu pescoço.
- Baixinha, que saudades. – Ele se separou de mim. – Vejo que está usando o que Betty chama de trapos. – Lorenzo era um dos guardas do castelo, eu e ele sempre íamos juntos a cidade para comprar utensílios para a cozinha, mesmo contra a vontade de Lauren, a cozinheira. Lorenzo era o meu melhor amigo, o único que eu tinha de verdade, que não ligava para meu título e me tratava como uma irmã mais nova. Lorenzo, além de meu melhor amigo, era meu treinador e havia me ensinado artes marciais, a como usar armas e tudo que ele havia aprendido no seu tempo de aprendiz no exército do castelo. Ele sempre dizia que uma mulher deveria estar preparada.
- Não são trapos, são minhas roupas.
- Eu sempre achei que você ficava melhor com essas roupas.
- Entre, Lorenzo. – Falei, dando passagem para ele entrar em minha casa.
- É tão bom vê-la. Eu fico feliz que você esteja bem, mesmo depois do que aconteceu. – Ele disse, entrando e passando pelo corredor, indo em direção à sala. – Essa casa não mudou nada.
- Depois do que aconteceu? – Perguntei confusa, fechando a porta. Segui-o com os braços cruzados e a testa franzida. – O que aconteceu? – Perguntei, parando no batente da sala.
- Você não sabe? – Ele perguntou, virando-se para mim, confuso. – Oh, você não sabe.
- Não sei do quê?
- Acho que eu não sou o melhor para lhe contar isso, mas eu sou o único que está na condição de fazê-lo.
- Eu... Eu não estou entendendo nada.
- O castelo. Ele foi invadido cerca de um mês atrás. – Ele falou, olhando para televisão e andando em direção à mesma. – As câmeras do palácio gravaram tudo. – Ele disse, retirando um pendrive do bolso, embutindo-o na televisão. Ele pegou o controle ao lado da mesma e andou até mim, parando ao meu lado e apertando o play. – Nós lutamos até não termos mais forças, – ele falava enquanto eu olhava, aterrorizada, para a televisão. Os portões do castelo tinham sido abertos como se fossem simples portas de açúcar, dando passagem para duas mulheres vestidas de preto dos pés à cabeça. Elas comandavam homens encapuzados, que faziam os guardas do castelo de reféns – mas nós estávamos em menor número. A maioria dos nossos homens está de férias ou em missões de caridade.
Continuei olhando para a TV, sentindo meu coração doer só de pensar o que poderia acontecer com meu pai e com o reino. Eles eram minha família, meu povo, eu não poderia negar que, mesmo estando em Londres e sendo feliz aqui, Florença era minha casa, e, como toda pessoa, eu amava minha casa e queria protegê-la de todo o mal. Eu nunca me perdoaria se acontecesse alguma coisa a meu pai; algo me dizia que eu nunca deveria ter deixado Florença, mas papai havia insistido. Mas uma coisa era certa, se algo acontecesse com meu pai, eu iria atrás do infeliz que havia feito mal a ele. E, acredite, ele iria pagar com sua miserável vida.
Olhei para a televisão atenciosamente, vendo uma das mulheres aproximar-se da câmera e levantar seu braço com uma lata de spray em sua mão, pintando a câmera.
- O rei...
- Congela a imagem. – Eu disse em um impulso, não acreditando no que meus olhos pareciam ter visto. “É a força do momento, é estresse. Não pode ser real”, pensei, balançando a cabeça. Lorenzo congelou a imagem, e, automaticamente, meus pés se moveram em direção à televisão. “Não seja ela, não seja ela, por favor, não seja ela”, pensei, abaixando-me em frente à televisão com os olhos fechados. O ar em meus pulmões fugiu, antes que eu pudesse respirar fundo para poder pensar direito e formular palavras. Eu estava louca, ou vendo alucinações. Isso não podia ser real. Ela não iria tão baixo. – Aproxima no pulso dela. – Pedi, vendo a imagem ficar cada vez mais perto. Eu não estava louca; aquilo não era uma alucinação. Eu, com toda a certeza, iria acabar com a raça dela. Levantei-me, olhando para Lorenzo.
- Quem invadiu o castelo – dei uma pausa, cerrando meus punhos – foi a Lucy?
- A Lucy está morta, . E, mesmo que estivesse viva, ela nunca faria isso. Como você pode falar uma coisa dessas? – Mel perguntou.
- Responde, Lorenzo. – Ignorei Mel.
- Lucy e Greta estão comandando tudo e trancaram o rei no calabouço junto com os que não queriam curvar-se a elas.
- Lucy está viva? – Mel perguntou, colocando a mão no coração.
- Sim. – Lorenzo respondeu. – Todos ficaram surpresos, seu pai quase teve um infarto quando a viu.
- Você vai acreditar no que ele está dizendo? – Mel apontou para Lorenzo. – Nós enterramos Lucy, ele não tem como provar.
- Você está vendo isso? – Falei, apontando para a tatuagem que ficava no pulso de Lucy e podia ser vista nitidamente no televisor. – Está escrito Flawless Curse. – Levantei a manga da minha blusa de manga comprida até o cotovelo. – Está vendo isso? – Levantei meu braço apontando para o meu pulso. – Flawless Curse. Eu e Lucy fizemos isso quando descobrimos, aos dezesseis anos, que éramos amaldiçoadas.
- A-amaldiçoadas? – Ela gaguejou, olhando-me surpresa.
- É. Lucy e eu somos amaldiçoadas. – Falei, andando até o sofá, finalmente deixando que meu corpo caísse no mesmo, dando-me por vencida. Eu já não estava aguentando mais guardar isso dentro de mim, eu não podia mais esconder de Mel a verdade sobre as filhas perfeitas dos Gillbards. – A família do rei foi amaldiçoada há trezentos anos. Uma bruxa jogou a maldição em nossa família quando foi renegada por nosso descendente, o rei Alexander, de que toda mulher descendente do rei carregaria consigo a maldição de que todo homem que ela amasse iria morrer, a não ser que o último o descendente da bruxa fosse sacrificado.
- Então vão atrás desse descendente.
- Não podemos. O rei não acreditou na maldição da bruxa, achou que era apenas mais uma das renegadas por ele. Mas tudo mudou quando sua filha fugiu de casa para se casar com um guarda do palácio e, depois da meia-noite, o garoto foi atacado por lobos acinzentados até a morte. O rei mandou seus homens atrás da bruxa, mas o máximo que encontraram foi uma casa vazia. Eles procuraram pela bruxa, mas nunca a acharam. Flawless Curse significa Impecável Maldição.
- Não entendi.
- Foi um jeito mais engraçado de zombar dessa nossa sina. Impecável era como as filhas do rei eram chamadas, as perfeitas filhas do rei que nunca conheceram o errado. Era um jeito sarcástico de zombar de todos, ou seja, aqueles babões que ficam ao nosso redor; e maldição porque vai nos acompanhar desde o berço até nosso túmulo. É a nossa sina.
- Isso não pode ser real, essas coisa não existem.
- Existem. – Falei, abraçando minhas pernas. – E nós carregamos uma dessas conosco.
- Então por isso você tem que estar em casa antes da meia-noite?
- É. Nossa maldição chama-se menzanotte, ou seja, traduzindo, meia-noite. Se não estivermos no lugar que chamamos de casa à meia-noite, quem estiver conosco morrerá violentamente atacado por lobos acinzentados.
- Lobos acinzentados?
- Meio brega, eu sei. Dizem que a bruxa tinha lobos acinzentados de estimação, então ela deu a eles esse dever.
- Mas Londres não é sua casa.
- Essa casa está no nome do meu pai. Ela é, tecnicamente, minha casa. – Falei, levantando-me. – Mas você não se arriscaria vir até aqui apenas para contar isso. Por... – minha fala foi interrompida por um barulho de vaso caindo no chão, o que fez com que todos nós olhássemos para trás.
Minha mãe havia batido no vaso enquanto se apoiava em uma mesa, mas não foi isso que fez minha respiração parar por mais de dois minutos – aliás, ela sabia de tudo –, e sim, quem estava a segurando para que ela não caísse junto com a mesa. segurava minha mãe pelo braço para que ela não caísse. Seu olhar alternava-se entre ter certeza de que minha mãe ficaria em pé e em me olhar assustado com os olhos arregalados, desacreditado no que acabara de escutar.
Eu conseguia ver medo em seus olhos pela primeira vez desde que cheguei nessa cidade. Eu já havia visto de todos os humores, mas esse era novo e fazia meu coração palpitar dentro do peito com medo do que poderia vir a seguir. Ele havia escutado tudo e, provavelmente, estava pensando que eu era alguma espécie de aberração ou louca varrida, que colocava a culpa em uma maldição idiota contada por um professor de história maluco para dar um fora em um londrino, e voltar para sua cidade e viver a sua vida perfeitinha. E, por mais que isso doesse, eu não teria coragem de me impor à sua provável decisão de nunca mais olhar para minha face; ele estaria com todo o direito, e eu não iria impedir. Aliás, quem iria querer uma aberração como eu?
E então, eu fiz a única coisa que eu poderia fazer: abaixei minha cabeça, escondendo as lágrimas que já caíam de meu rosto, antes mesmo de escutá-lo dizer com todas as letras: Fique longe de mim, tão frio e seco que massacrariam meu coração tão rápido quanto um trator.
Levantei meu rosto em direção a Lorenzo, respirando fundo e procurando um pouco de ar que me fizesse continuar:
- Por que você veio?
- Lucy está pedindo uma recompensa para quem trouxer a princesa primeiro.
- E você veio para cá me pedir para ir com você?
- Eu realmente preciso dessa recompensa. É o dinheiro que qualquer um pediu para um novo começo.
- Eu não entendo. Lucy sabe que, quando eu soubesse que ela havia invadido o reino, eu iria fazer de tudo para tirá-la do controle. O que a fez mudar de ideia?
- O castelo foi atacado por lobos ontem à noite quando ela estava tomando banho em um lago lá perto com algum duque. Ela disse algo como...
- Ainda não é meia-noite. – Completei. – É, eu também achei estranho. – Olhei para ele. – Está bem. Eu vou com você, alguém precisa mostrar limites para Lucy.
- O quê?! – Minha mãe gritou, soltando-se de e vindo em minha direção. – Você não vai! – Ela parou em minha frente. – Isso é suicídio!
- Não. Lucy precisa de limite, e sou eu que vou dar esse limite.
- Você não vai, , dessa casa você não sai.
- Mãe...
- Você não vai e ponto final.
- Eu... Eu preciso de ar. – Falei, andando em direção à porta, que dava para o jardim ao lado da casa; lá havia algumas esculturas, um banco e uma piscina que eu nunca havia usado. Coloquei meus pés no gramado molhado, sentindo um frio subir pela minha espinha. Pense, , pense.
- Eu não vou deixa você ir. – Escutei uma voz conhecida pronunciar-se a alguns metros de mim, fazendo-me virar e ficar de frente para ele.
- O que você ainda faz aqui? Eu pensei que você já estaria à milhas daqui me achando uma louca varrida.
- Você não é primeira pessoa que eu escuto dizer isso.
- O quê?
- Lucy disse isso quando pediu para que nós fugíssemos. Ela disse que havia achado uma solução para o nosso problema, que nós iríamos morar em uma ilha longe de todos.
- Por isso ela fez meu pai comprar uma casa para ela. Para fugir com você.
- Eu a achei uma louca quando ela me falou todas essas coisas, por isso eu fugi.
- Essa é a parte que você sai daqui correndo.
- Eu não posso.
- Do que você precisa para sair correndo daqui? Um convite?
- Você realmente não entende.
- Você que não entende. Eu não posso ficar com ninguém, eu carrego isso comigo. Isso é minha sina, minha maldição. Nada que você fizer vai mudar isso.
- Eu nunca disse que queria mudar isso. Nós arrumamos um jeito.
- Você me conhece há dois meses, como você tem certeza de que quer ficar comigo?
- Porque você fez meu coração bater rápido, tão rápido que às vezes eu acho que vou ter um ataque cardíaco. – Ele disse, andando em minha direção. – Porque você é a primeira menina que me fez esperar semanas antes de cair em minha graças, – ele parou em minha frente, segurando meus cotovelos – porque você é a única que, mesmo sendo chata, marrenta e mal educada às vezes, consegue ser doce, inocente e a garota mais amável que eu já vi. Porque você foi a única que me fez sentir de verdade. – Ele encostou sua testa na minha.
- Eu... Eu não posso, . – Falei, separando-me dele. – Você merece uma vida. E eu nunca vou poder te dar isso. Eu me importo muito com você para te deixar ficar comigo. Seria egoísmo meu. – Falei, soltando-me dele, sentindo as lágrimas rolarem por meu rosto.
Dei um passo para o lado, desviando meu corpo do dele, e caminhei até a porta. A cada passo que eu dava sabia que não teria volta, mesmo tendo o desejo de voltar e pular nos braços de e dizer o quanto eu o queria para mim, eu não podia. Eu não podia acabar com a vida de desse jeito; por mais que doesse, eu não seria egoísta a ponta de impedir de ter uma vida normal, sem medo do que a noite pode trazer, pelo simples capricho de querê-lo perto de mim. Por mais que doesse em cada célula do meu corpo, esse era um luxo que eu não poderia ter. Essa era minha sina, minha querida maldição. Eu morreria sozinha.
Mas tudo isso não impedia de que cada passo que eu dava em direção à minha casa parecesse estacas atravessando meu coração, fazendo-o sangrar dentro do peito como as lágrimas que rolavam por meu rosto. Na vida de não tinha lugar para mim, e eu sabia disso. Desde que cheguei nessa cidade e o conheci, quando encarei aqueles olhos viciantes e sorriso irresistível, eu sabia que não podia me apaixonar, eu sabia que não podia sentir, mas era mais forte do que eu podia controlar. E, quando eu menos esperei, estava sentindo aquele fogo que em anos eu não conseguiria apagar.
fazia isso comigo; ele me fazia sentir, por mais que eu lutasse contra isso.
era minha maldição; uma maldição boa que eu nunca iria querer que me abandonasse.
me fazia perder o controle, e não querer retomá-lo nunca mais.
fazia. Não fará mais.
- Você não pode decidir por mim! – Ele gritou, fazendo-me parar, chorando cada vez mais. – Eu quero ficar com você, , não importa o que aconteça. – Os sons das palavras que saíam da sua boca pareciam a melodia de uma música. Era tudo que eu precisava escutar agora, era tudo que eu queria escutar. – Eu só quero você. – Aquelas palavras me atingiram como um raio. Fechei meus olhos na esperança de recobrar a sanidade, que eu havia perdido ontem. Seja forte, , é para o bem dele. – Só você.
Era isso. Nem essa estúpida maldição iria me impedir de fazer o que eu estava prestes a fazer.
Girei meus calcanhares, virando-me para ele, e o vi de cabeça baixa, encarando seus sapatos. levantou sua cabeça na esperança de dar ênfase no que ele já havia dito e insistia em dizer outra vez, mesmo sabendo que minha resposta não mudaria. Ele sabia o quanto eu era orgulhosa, decidida e que eu quase nunca mudava de opinião. Bem, eu estava prestes a quebrar as tradições que eu mesma havia criado para defender-me do sentimento chamado amor, eu iria derreter o gelo que protegia meu coração de sentir e iria me jogar de vez no que estava sentindo, sem pensar nas consequências.
Apressei meus passos em sua direção, vendo-o sorrir largamente para mim, e joguei meus braços ao redor do seu pescoço, ficando na ponta dos pés e pressionando meus lábios contra o seus. Seus braços rodearam minha cintura, colando nossos corpos. Sua língua passou por entre meus lábios, fazendo os mesmos entreabrirem, dando passagem para nossas línguas se encontrarem.
Era mais do que um sentimento novo ou o simples derretimento das paredes de gelo que se encontravam meu coração, eram os primeiros passos de uma descoberta para algo que eu sabia que era eterno. Podia parecer cedo, mas o amor não tem hora ou dia marcado, é algo que acontece em um momento em que menos você deseja, mas que provavelmente ficaria com você para sempre. Tinha sido assim com .
Suas mãos quentes tocaram minha cintura fria, enquanto seus lábios separavam-se dos meus, e ele perguntou:
- Então, você é uma princesa mesmo?
- Com coroa e tudo.
- Eu estou saindo com uma princesa? Eu preciso ser príncipe para isso?
- Não. Mas você é um príncipe para mim. – Dei um selinho nele.
- Eu disse que você era especial. Eu sempre soube disso. – Ele me abraçou mais forte, colocando a cabeça em meu pescoço e dando um beijo. – Você sabe que eu não vou deixar você ir.
- Meu pai está lá, . E Lorenzo precisa que eu faça isso.
- Você não vai sair daqui.
- Seria mais fácil se você tivesse me achado uma louca.
- Eu não me assusto tão fácil, você precisa fazer mais.
- Nem os lobos acinzentados correndo atrás de nós?
- Ótimo exercício.
- Você é louco.
- Não. Eu estou apaixonado, é diferente. – Ele me abraçou mais forte. – Nós vamos arranjar uma solução. Eu te prometo, .
- Acho melhor voltarmos lá para dentro. – Falei, separando-me dele e virando-me em direção à porta.
- Claro, minha princesa. – Ele me abraçou por trás, fazendo-nos andar juntos em direção à sala.
- Não me chame de princesa, eu não gosto.
- Está bem, princesa.
- Idiota. – Falei, dando uma tapa em seu braço e entrando na sala novamente.
- Ele ainda está aqui? – Minha mãe perguntou quando nos viu entrar na sala.
- Com todo o respeito, senhora Gillbard, mas vai ser preciso muito mais para me assustar. Nós vamos arranjar um jeito.
- E, Lorenzo, – falei, andando em sua direção – obrigada por me avisar. Eu vou pensar em algo e depois lhe informo. – Abracei-o, dizendo em seu ouvido: – Pegue minha mala reserva e minha coroa e me espere lá fora. – Separei-me dele.
- Eu vou estar esperando. – Ele disse.
- Eu te levo até a porta. – Mel falou, dando passagem para ele passar, e o acompanhou até a porta. Voltei para o lado de , entrelaçando nossas mãos.
- Vocês sabem que...
- Não vamos pensar nisso agora, mãe. Problemas bastam os que já temos, vamos pensar nisso amanhã.
- Entendi. – Ela disse, levantando os braços. – Vou deixar vocês a sós. – Ela continuou, retirando-se da sala.
- Enfim sós. – disse, abraçando-me pela cintura e caindo comigo em seu colo no sofá. Fiquei de lado para ele com os pés em cima dele .– Tem mais alguma coisa que eu precise saber sobre você? Além de que você é um membro da realeza, carrega uma maldição e tem uma tatuagem?
- Eu sei todas as artes marciais e como usar uma arma. – Falei, passando os braços por seu pescoço.
- Isso não é meio pesado para uma princesa?
- Não quando seu melhor amigo foi treinado pelo exército.
- Ele é seu melhor amigo?
- Sim, desde que éramos crianças.
- Eu sinto muito. Nós vamos arranjar um jeito, e você verá seu pai novamente. Eu prometo.
- Obrigada. – Falei, dando um selinho nele. – Obrigada por tudo.
- Eu faria qualquer coisa por você.
- Você poderia começar me entendendo.
- Seu pedido é uma ordem. – Ele sorriu. – O que foi, ?
- Nada.
- Você quer alguma coisa?
- Quero um copo d'água.
- Você fica aqui, – ele me colocou ao seu lado no sofá, levantando-se em seguida – que eu vou buscar sua água. Fica aí. – Ele disse, indo em direção à cozinha.
Levantei-me, pegando seu casaco em cima da mesa de centro na sala, e andei até o corredor, olhando para os lados vendo se havia alguém. Eu precisava fazer isso; mesmo arriscando minha vida, eu precisava impedir que Lucy acabasse com Florença. Lucy era minha irmã, e por isso eu sabia do que ela seria capaz e o que ela faria a aqueles que não se curvassem a ela.
Abri a porta da frente com cuidado, avistando Lorenzo me esperando dentro do carro. Dei uma última olhada, vendo se ninguém estava vindo. Fechei a porta e fui em direção ao carro, onde Lorenzo se encontrava.
- Você tem certeza? – Ele perguntou quando entrei no carro.
- Tenho.
- Pegou tudo?
- Peguei. – Ele falou, apontando para a bolsa que se encontrava no banco de trás do carro. – Mas e sua mãe? E o ?
- É o meu pai, Lorenzo. – Olhei para ele. – E eu sou a única que pode colocar limites em Lucy.
Ele deu a partida no carro indo em direção aos portões e eu virei meu rosto para trás, vendo e minha mãe parados do lado de fora. Uma lágrima rolou por meu rosto. Poderia ser uma missão suicida ou apenas um daqueles impulsos que todos os seres humanos têm quando alguém que você ama está em perigo, mas eu sabia que, se eu não fizesse, eu iria me arrepender pelo resto da minha vida.
Florença era minha casa, e eu iria defendê-la até os últimos dias da minha vida.
Até mesmo se fosse contra minha própria irmã.


Capítulo 18 – Florença


Por .

- ? – Perguntei, entrando na sala e olhando para os lados. Aonde ela foi? – ? – Chamei outra vez, indo em direção ao banheiro. – ? – Bati na porta, mas não obtive resposta.
- O que foi, ? – Senhora Gillbard perguntou da ponta da escada.
- A , ela desapareceu.
- Você já checou o banheiro?
- Já sim.
- Eu vou ver se ela está aqui por cima. – Ela disse, desaparecendo pelo corredor.
Coloquei o copo em cima do aparador, que ficava no corredor, passando as mãos por meus cabelos. Por favor, , não faça nada estúpido, por favor, pensei, encostando-me à parede e apoiando minha cabeça na mesma. Se tivesse fugido para ir à Florença com alguma esperança de tentar controlar Lucy, eu não me perdoaria por tê-la deixado sozinha, mesmo sabendo que ela, de algum modo, arranjaria um jeito de fugir. não é uma pessoa previsível, pelo contrário; você nunca sabe o que ela fará a seguir ou qual será humor pela manhã. era uma pessoa decidida e, quando colocava algo na cabeça, só continuaria em paz se resolvesse.
Eu havia sido estúpido de pensar que ela havia desistido e iria esperar que pensássemos em uma solução. Ela nunca iria esperar, não quando o assunto era seu pai e o seu reino. Por mais que eu a quisesse aqui e quisesse protegê-la, ela não iria se aquietar até ter certeza que seu pai estava bem e que Lucy estava em seu devido lugar.
Lucy. Eu ainda estava digerindo essa ideia que ela arquitetou apenas para fazer vir para cá cuidar de sua mãe e que ela pudesse finalmente tomar o reino. Essa era uma ideia óbvia, até um bebê entenderia. Eu não sou um bebê, eu era o melhor amigo de Lucy, e sabia do que ela era capaz quando colocava algo na cabeça. Ela iria passar por cima de tudo e de todos.
Mas, por outro lado, eu estava agradecido a ela. Por causa da estúpida história que ela inventou, eu havia conhecido a garota dos meus sonhos, aquela que eu havia pedido a Deus. Com maldição ou não, eu estava apaixonado por ela e nada iria mudar isso.
- Ela não está aqui em canto nenhum. – Senhora Gillbard desceu as escadas. – Ela deve ter ido com Lorenzo.
Um barulho de carro dando a partida pôde ser ouvido, e nos entreolhamos, correndo até a porta e abrindo-a. O carro já estava atravessando os portões quando chegamos a varanda. Eu vi olhar para trás, e uma lágrima rolar por seu rosto.
- Droga. Eu não deveria tê-la deixado sozinha.
- A culpa não é sua. – Ela voltou para dentro de casa e eu a segui. – Eu sabia que ela iria. Ela ama mais ao pai do que a mim.
- A questão aqui, senhora Gillbard, – segui-a até a sala – não é a quem ela ama mais. É o pai dela, aposto que ela faria o mesmo por você.
- Não contaria com isso, meu jovem. sempre preferiu o pai.
- Mas isso não quer dizer que ela não a ama. Você é a mãe dela.
- Eu nunca fui uma mãe para ela, ela mesma disse.
- Não importa o que ela disse, palavras são ditas em vão todo o tempo. O que importa é que dentro do coração dela, mesmo que não pareça, ela ama a senhora.
- Como você pode saber o que é amor, meu jovem?
- Porque eu sinto. Eu estou sentindo isso por sua filha.
- Oh, claro, um rapaz que se diz “apaixonado” – ela fez aspas com as mãos – pela minha filha. Era tudo que eu precisava agora.
- Por que a senhora não acredita que eu me apaixonei por sua filha?
- Ora, meu rapaz, é um membro da realeza que carrega consigo uma terrível maldição. Você realmente espera que eu acredite que você ama minha filha? – Ela cruzou os braços e eu assenti. – Olha, meu jovem, o melhor que você tem a fazer é fugir enquanto pode. Eu digo a que você se mudou e não aguentava tudo isso. Ela ficará chateada no começo, mas vai superar.
- E o que a senhora vai fazer? Digo, para salvá-la?
- Isso não é da sua conta. – Ela se virou, indo em direção a um armário.
- Eu não vou.
- O quê? – Ela se virou novamente para mim. – Oh, claro. Você quer uma recompensa. – Disse, andando até sua bolsa que se encontrava em cima da mesa de centro. – Quanto você quer?
- A senhora não me entendeu. – Falei em um tom mais alto. – Eu não vou.
- É o melhor para você. Você não iria aguentar isso por muito tempo.
- Como a senhora pode saber o melhor para mim? A senhora, por acaso, parou para me conhecer?
- Eu conheço sua mãe. Ela falou muito de você. Você tem uma vida pela frente, com a você não terá certeza que viverá para ver o nascer do sol.
- Com todo o respeito, eu não estou nem um pouco me importando. A senhora sabe quando você conhece alguém e, mesmo você negando e não querendo, você não consegue ficar longe dessa pessoa e nem parar de pensar nela? Pois é isso que eu estou sentindo por sua filha. Aquela bruxinha me conquistou mesmo quando eu havia prometido nunca me apaixonar. Eu até tentei resistir, pensei até em sair da cidade, mas toda vez que eu via o sorriso da sua filha, eu me esquecia o motivo pelo qual eu estava aborrecido. Mesmo com toda aquela arrogância e ódio que ela aparentava sentir por mim, eu não queria ficar longe dela. Nem por um segundo. Ela me encantou, me entorpeceu, e, mesmo contra a minha vontade, eu estava pensando nela cada segundo do meu dia. Pode parecer idiota, ou a senhora pode me achar muito novo, mas eu estou apaixonado por sua filha e não vai ser uma maldição idiota que vai impedir de que eu lute para ficar com ela.
- Isso é... lindo. – Ela disse, sorrindo. – Você não vai desistir até vê-la bem, não é?
- A senhora pode apostar que sim.
- Então, espero que esteja pronto.
- Pronto para o quê?
- Ligarei para o meu contato em Florença e pedirei que ele venha correndo para nos levar até lá.
- Mas Lucy tomou o reino. Nossa, isso é muito estranho de se dizer. – Falei, fazendo uma careta.
- Você se acostuma. – Ela falou, indo até o telefone. – Pedirei que ele venha o mais rápido possível. Acho que chegaremos a Florença pela amanhã pela manhã.
Escutamos a campainha ecoar pela casa. Mel, que se encontrava na cozinha, correu para atender.
- ? – Virei meu rosto para trás, vendo e entrarem na sala dos Gillbard.
- O que vocês estão fazendo aqui?
- Viemos ver a . Esperávamos que você estivesse aqui para convidar vocês dois para irmos almoçar juntos, já que os dois não foram à aula. Por que vocês não foram à aula?
- Eu vim conversar com a senhora Gillbard.
- E a ?
- , essa não é a melhor hora. Volte outra hora. – A senhora Gillbard disse.
- O que está acontecendo? Onde está a ?
- , vá para casa, por favor.
- Ela... Ela voltou à Florença. – Senhora Gillbard falou, abaixando a cabeça.
- Mas ela prometeu ficar. Ela disse que não queria voltar para a vida de vestidos e saltos. Não agora.
- Eu sei, mas... – comecei, mas me interrompi, digerindo as palavras que acabara de pronunciar. – O que você disse?
- Nada. Eu não disse nada.
- Não. Você disse que ela não queria voltar para uma vida de vestidos e saltos. – Cruzei meus braços. – O que você sabe? O que a te disse? – abaixou a cabeça. – , ela te contou algo sobre ser uma princesa?
- Sim, mas como você sabe? Ela disse que não tinha te falado.
- Só isso?
- O quê?
- Ela só te contou isso?
- Foi sim. Tem mais alguma coisa que precise ser falada?
- A vai te contar quando chegar a hora.
- Por que você não me fala? O que está acontecendo?
- , – a senhora Gillbard começou – o melhor agora é que você vá para casa. Espere até voltar e lhe falar.
- Mas... – foi interrompida pelo estrondo da porta da frente sendo arrombada junto ao barulho dos vidros das janelas sendo quebradas. Ela soltou um grito e foi abraçada por seu namorado. Homens vestidos de preto da cabeça aos pés tomaram conta da sala, rendendo a todos nós. Um homem alto, também vestido de preto, atravessou a sala e parou em frente à senhora Gillbard.
- Olá, Sua Realeza. – Ele disse, retirando os óculos escuros e fazendo referência.
- Ninguém...
- Sabe sobre o posto que você ainda tem? – Ele a interrompeu. – Muito conveniente do seu marido não lhe retirar o título de rainha.
- Quem é você?
- Vamos dizer, amigo de algum membro da família.
- Eu... Eu não acredito.
- Venho observando a senhora há algum tempo a pedido da sua filha.
- ? – deixou escapar. – Por que faria isso?
- Sua Realeza não tem apenas uma filha?
- Lu-Lu-Lucy. – gaguejou.
- não mandaria matar nem uma mosca. Estamos falando de Lucy, a real merecedora do trono de Florença.
ficou pálida.
- Mas ela está morta. – Ela continuou atônita.
- Você deveria rever seu conceito sobre morte.
- Você está dizendo que Lucy fingiu sua morte?
- Como tirar doce de criança. – Ele se virou para nós – Eu não poderia ser mais sortudo, estava muito ansiosa para conhecê-los. – Ela andou até mim. – , o capitão do time de futebol que despertou o amor das ; – ele foi em direção a , o melhor amigo, namorado da linda , – ele foi em direção à – a melhor amiga da princesa. Um grupo interessante. Leve a todos.
- A todos, senhor? – Um dos capangas perguntou.
- Lucy ficará feliz. Levem-nos. – Ele disse. Os homens nos arrastaram em direção à porta um por um. Primeiro, a senhora Gillbard e eu, depois e , colocando um por um dentro da van, sentados frente a frente com capangas ao lado. e estavam pálidos e suas faces não pareciam conseguir expressar nenhum tipo de emoção. Mas não é todo dia que uma pessoa que deveria estar a sete palmos debaixo da terra está mais do que viva e ainda fazendo o mal.
- O que... – começou com a voz rouca. – O que está acontecendo, ? – perguntou quase em um sussurro.
- É complicado, . – Eu disse, olhando-a.
- É, , a gente entendeu. – começou com a voz alterada. – Eu quero saber que merda eu estou fazendo numa van com um bando de desconhecidos e que eu tenho certeza de que não será coisa boa. O que está acontecendo, cara?
- Lucy está viva e invadiu o reino de seu pai para tomar o trono dele.
- Reino? Sério? Isso é alguma brincadeira de mau gosto sua, ?
- Ele está falando, amor. e Lucy vieram da família da real de Florença. – disse.
- Mesmo que isso fosse verdade, Lucy morreu em um acidente de carro. Nós estávamos no enterro. Ela não pode estar viva.
- Mas o caixão estava vazio, você não se lembra? Disseram que o corpo dela tinha se perdido no mar.
- Então, e Lucy são princesas de verdade?
- São sim.
- Ele ainda não contou a melhor parte. – O líder do bando disse, virando o rosto para nós com um sorriso. – Vamos, , conte a verdade sobre sua namoradinha. Conte a aberração que ela é.
- Você não se atreva a falar dela. Eu acabo com você. – Falei, levantando-me, mas sendo segurado pelo capanga ao meu lado.
- Aberração? – perguntou. – Impossível. é a garota mais perfeita que eu já vi.
- Ninguém falou fisicamente. – O homem virou o rosto para frente.
- Do que ele está falando?
- A ... Isso pode parecer loucura... A , ela é...
- Oh, me poupe disso. – O homem se virou novamente para nós. – Sua querida melhor amiga, a filha prodígio dos s, teve a má sorte de ser descendente de Alexander, e acabou ficando com o mal da família: a maldição menzanotte.
- Maldição? – perguntou. – Sério, cara? Você é um comediante. – gargalhou, olhando para mim, que continuei sério. – ? Cara? Você não acredita nele, certo?
- É verdade, . A realmente é amaldiçoada.
- Isso não existe. Ele está mentindo, , você não pode acreditar nele.
- Ele não está mentindo. – A senhora Gillbard começou. – Há trezentos anos, o descendente de Jonathan, pai de , recebeu uma maldição. Essa maldição dizia que toda mulher descendente do rei conheceria o bem e o mal, e que, qualquer pessoa que estivesse com ela depois da meia-noite, morreria atacado por lobos cinza. A maldição menzanotte.
- Lobos cinza? O parque foi atacado por lobos cinza ontem. – falou.
- sempre seguiu todas as regras, nunca as burlou. Ela aceitou muito bem, para falar a verdade, toda essa história. Mas eu sempre soube que, dentro do coração dela, ela só queria que isso tudo fosse um sonho e que ela pudesse viver sem medo.
- Menzanotte? Não é aquela lenda que tem no livro do colégio? – perguntou.
- Para todos, isso é apenas uma história velha contada por algum louco em um livro idiota, mas para minhas filhas isso é real e faz parte da vida delas. br>- Quando eu penso que ela não pode me surpreender, ela me vem com outra. – disse com um sorriso fraco no rosto.
- Por isso ela nunca arranjava amigos ou namorados fora do palácio. Ela não queria que as pessoas se machucassem por causa dela. Ela só queria proteger a todos.
- Ela sempre pensou nos outros em vez dela.
- Então a senhora também tem a maldição?
- Não. Eu não sou descendente de Alexander, Jonathan é.
- A senhora não achou estranho da primeira que ele lhe disse isso?
- A maldição só é ativada aos dezesseis anos. Na festa de dezesseis anos de , nós, mulheres, inventamos de sair das paredes do castelo para tomar banho no lago ali perto. Foi quando tudo aconteceu. Quando voltamos ao castelo, vimos os lobos desaparecerem e foi quando Jonathan contou para nós.
- Então foi por isso que a senhora se separou dele?
- Era muita loucura para uma mulher só. – Ela respirou fundo. – Mas foi a mais forte de todas quando descobriu. Ela sempre foi apaixonada por História e, quando soube que uma das histórias que ela costumava ler era verdade, não se assustou. Lucy e eu decidimos virmos à Londres para longe de toda aquela loucura, então Jonathan comprou a casa para nós.
- Espere aí. – disse. – Então, a senhora ainda é uma rainha?
- Sim. Eu e Jonathan não nos separamos, eu apenas fui morar em Londres com Lucy.
- Nossa. Isso é uma loucura.
- , quando eu disse para arrumar uma namorada diferente, eu nunca pensei que você teria tanta imaginação.
- Você é um idiota, .
- Mas tem uma coisa que eu não entendi. Já que a tem essa maldição, por que vocês nunca tentaram quebrar?
- Bem, para quebrar a maldição, é necessário que matemos o descendente da bruxa, mas o rasto dela se perdeu há muito tempo e nunca o achamos.
- Boa sorte em namorá-la, .
- Não importa, . Eu quero ficar com ela. Nem que eu tenha que nunca mais sair de casa, eu vou ficar com a .
- Quanto nobreza. – O líder do bando se pronunciou. – Eu acho que vou vomitar.
A van parou bruscamente, o que nos fez quase cair. As portas ao nosso lado foram abertas e, do mesmo jeito que entramos, saímos sendo segurados pelos capangas de Lucy. Estava escuro e quase não se podia enxergava nada, apenas um barulho de turbinas sendo ligadas.
- Aonde nós vamos? – A senhora Gillbard perguntou enquanto eles nos levavam por um caminho escuro, fazendo o barulho de turbinas aumentarem.
- Vamos para casa. – Portões foram arrastados para os lados, fazendo a luz do sol machucar nossos olhos. – Vamos para Florença. – Ele passou para o lado, dando passagem para os capangas nos levarem para o avião com o símbolo real dos . – Espero que não tenham medo de avião, será uma longa viagem.

Capítulo 19 – Ritorno a Casa, Firenze.

Por .

Coloquei meus pés para fora do carro, tomando cuidado com o salto que eu usava. Eu odiava saltos, isso era a pura verdade. Mas Lucy odiava quando eu me vestia a caráter, principalmente quando eu colocava minha coroa e um vestido longo que lembrava muito as mulheres do século XIX. Ela odiaria quando me visse desse jeito e eu iria adorar vê-la borbulhando ao me ver aqui, de queixo erguido e pronta para tirá-la do trono do meu pai e colocá-la em seu devido lugar. Lucy podia ser filha do rei, mas a favorita para ser sucessora do rei sempre fora eu, e isso deixava Lucy com muita raiva, pois ela queria comandar o reino desde que era uma garotinha. Ela até mesmo dava ordem em todos, enquanto eu ficava brincando com Lorenzo.
Lucy era a favorita quando criança. Enquanto eu era a filha moleca do rei, algumas pessoas chegaram até a pensar que eu jogava para o outro time, o que causou a fúria de meu pai, que me obrigou a ter aulas de etiquetas a partir dos onze anos. Eu odiava todas aquelas aulas, mas eu sabia que meu pai precisava que eu fizesse aquilo e eu estava determinada a calar a boca de todos.
Eu sentia falta daquela época quando minha maior preocupação era se eu conseguiria chegar a tempo para jogar bola com Lorenzo. Eu amava ser criança e, se pudesse, teria parado naquela idade. Mas eu agradeço por ter crescido porque só de apenas pensar que, se eu não tivesse crescido, eu não teria conhecido , o ar faltava em meus pulmões.
- Você tem certeza? – Lorenzo perguntou, parando ao meu lado.
- Não, mas é o meu pai. Cara, como eu odeio esses sapatos. – Falei, fazendo uma careta.
- Não sei por que você trocou de roupa se você não gosta dessas.
- Para intimidar Lucy. Ela odeia quando uso essas roupas, ela sempre disse que me dava um ar superior. – Gargalhei.
- Não sei como você pode achar isso engraçado. Você está indo em direção à sua provável sentença de morte.
- Ela precisa de mim, e ela sabe disso. Ela pode ser uma vadia sem coração, mas ela não faria mal à sua família.
- Eu realmente espero. – Ele falou, pegando em meu braço e me levando até a porta do palácio, – Tome isso. – Ele colocou uma chave em minha mão. – Ela abre qualquer cela do calabouço.
- Obrigada. – Falei, colocando a chave dentro de um bolso escondido em meu vestido entre meus seios.
- Apresentem-se. – Os guardas, que eu tinha certeza que não eram os do castelo, perguntaram.
- Sir...
- Sou irmã de Lucy, Gillbard. Creio que ela esteja me esperando.
- Mas...
- Oh, saiam do meu caminho. – Falei, passando por eles e abrindo os portões do castelo.
O pátio, que costumava ser cheio de criados alegres e cheio de plantas vivas, estava parecendo um parque abandonado com flores murchas e folhas secas no chão. Estava tudo morto, e parecia mais um filme de terror. Mas isso não impediu de meus pés andarem um pouco mais rápido em direção ao salão principal, onde o enorme lustre iluminava todo o salão, dando destaque aos dourados do detalhe. O salão principal era usado para a recepção das festas do castelo, era onde estava a foto dos nossos ancestrais, desde rei Alexander até meu pai. Mas eu sentia falta de uma foto, a foto igual a que tinha em meu closet. A foto da nossa família, que havia sido substituída por uma de Lucy vestida como uma rainha. O sangue em minhas veias ferveu e a raiva tomou conta mais uma vez desde que eu descobri que Lucy estava viva. Essa havia sido a gota d'água.
Em muitos dos casos, as irmãs de garotas que fingem sua morte entendem e perdoam suas irmãs, mas esse não era meu caso. Lucy havia passado o limite da minha paciência desde o momento que ela virou uma cópia de Marilyn Manson até agora, fingindo sua morte.
Subi a escadaria, que dava à sala real onde o rei recebia os convidados dos eventos do castelo, e andei em direção às portas, abrindo-as. A cada passo que eu dava, o barulho que estava na sala diminuía, chamando a atenção de Lucy, que estava sentada no trono de meu pai. Ao seu lado, estava Greta.
- Curve-se diante de sua rainha. – Greta disse, quando parei em frente à Lucy.
- Ah, cala a boca. Eu não me curvo diante dela nem que fosse obrigada, e – virei-me para os guardas que já andavam em minha direção – nem pensem em me obrigar. Eu não estou com paciência.
- Deixem-na. – Lucy disse, levantando-se e descendo do altar onde ficavam os tronos. – Olá, irmã. – Ela parou em minha frente, abrindo os braços. – Não ganho nenhum abraço?
- E eu ainda tinha a esperança que Lorenzo estivesse enganado.
- Lorenzo veio com você? Eu sempre achei que vocês dois namoravam.
- Por quê? Por que você está fazendo isso?
- Como assim por quê? Esse reino também é meu, e eu tenho todo o direito de comandá-lo.
- E trancar nosso pai no calabouço? Fingir sua morte, Lucy, isso foi o mais baixo que você já foi.
- Às vezes precisamos ir ao fundo do poço para ficar no topo. – Ela falou, voltando a subir.
- Você não pensou nas consequências? Mamãe ficou doente e papai chorava quase todas as noites.
- E você? Você fez o quê? Você nem se importa comigo, .
- Mas é claro que me importo. Eu fiquei triste por você ter morrido.
- Oh, a irmã arrependida. Que comovente.
- Eu não estou arrependida. Falo para todos que quiserem ouvir que você é uma vadia sem coração.
- Se eu fosse você, mediria suas palavras. – Ela falou, aproximando-se de mim. – Eu ainda posso mandar acabar com sua raça.
- Pode mandar acabar comigo, eu não me importo. Contanto que você liberte a todos.
- Oh, a nobre princesa que se sacrifica pelo bem dos outros. A favorita de todos. – Ela começou a subir as escadas novamente.
- Então esse é o motivo? Por que eu sou a favorita? Você sabe que não é verdade.
- Não é verdade? – Ela se virou para mim. – Você é a favorita do papai, do povo de Florença e até da mamãe, então o que resta para mim, , hein? Nada. Absolutamente nada.
- A mamãe sempre gostou mais de você.
- Ela só falava de você, . De como seu coração era nobre, como você era educada. isso, aquilo. Você deveria ser igual à sua irmã, Lucy! – Ela gritou. – Eu nunca vou querer ficar igual a você! Nunca! – Ela recomeçou a subir as escadas.
- Lucy, no que você transformou? Você não era assim.
- Eu cresci, . Você deveria tentar. – Ela disse por cima dos ombros.
- Tudo isso é por causa do... ? – Ela parou bruscamente de andar, virando-se para mim. – Lucy, você não precisa culpar os outros por não querer fugir com você.
- Ele apenas... Espere. Como você sabe disso?
- Eu...
- Como você o conheceu?
- Quando fui morar com mamãe, fui obrigada a ir à escola. Ele costumava me irritar.
- Costumava?
- Não perturba mais. Foi apenas uma brincadeira com a novata.
- Típico dele. – Ela falou, sorrindo. – Ele implicou comigo também, mas só eu sabia seu segredo. Eu sei que ele me ama e, dentro do coração dele, ele sabe que me ama.
- Foco, Lucy. – Greta disse.
- Nós vamos ficar juntos, eu sinto isso. – Lucy ignorou o comentário de Greta. – Ele nunca se interessaria por você, você não é – ela olhou para mim – o tipo dele. Você é muito fraca.
- O que você quer, afinal?
- Quebrar a maldição.
- É impossível. Perdemos o rastro dos descendentes da bruxa anos atrás.
- Bem, com a ajuda de Greta, nós o achamos. Eu consegui em meses o que papai não conseguiu em anos.
- Você não pode matar uma pessoa para tentar ser feliz com alguém, Lucy.
- Quem disse que eu vou matar alguém? – Ela cruzou os braços.
- Mas...
- Me solta! – Um grito ecoou pelo salão principal chamando nossa atenção, fazendo todos olharem para a porta, – Me solta, cara!
Senti um aperto tão forte dentro do meu peito que fez com que todos os meus músculos ficassem rígidos e todo o ar de meus pulmões saísse em questão de segundos. estava sendo segurado por dois homens tentando, ao máximo, fugir.
Lucy passou por mim com um sorriso no rosto e foi em direção a , o que me fez abaixar a cabeça, tentando recobrar meus sentidos para tentar pensar em alguma saída
- Lucy. – Lucy não se assustou ao escutar o som de sua voz pronunciar o seu nome sem nenhum vestígio de surpresa. Por favor, não olhe para mim, por favor, pensei, levantando a cabeça, pedindo inúmeras vezes que ele não me reconhecesse. Isso irritaria Lucy, e isso era tudo o que eu não queria no momento.
- Os outros estão no calabouço. – Um homem, que estava vestido todo de preto com medalhas em penduradas ao lado esquerdo do seu peito, disse.
- Ótimo trabalho, Max. – Ela parou em frente a ele, tampando qualquer chance dele me ver. Olhei diretamente para os dois e vi quando Lucy acariciou seu rosto, o que fez o sangue por entre minhas veias ferver e a vontade de ir até lá aumentar. Acalme-se, , pensei. – Eu senti sua falta, .
- Já não posso dizer o mesmo.
- Não tente se fazer de durão, , eu conheço você. Não se lembra?
- O que você quer, Lucy? – Ele perguntou ríspido.
- Eu quero você.
- Desculpe, eu não estou à venda. Tente outro brinquedo.
- Por que você não admite logo que me ama, ? Eu sei que você me ama.
- Do que você está falando? Eu nunca te amei, Lucy. Eu sempre tive um carinho enorme por você, um carinho de irmã. Você era a única que não dava em cima de mim. Você era minha melhor amiga, Lucy.
- Mas você...
- Eu nunca dei a entender que queria mais.
- Você precisa ficar comigo, você tem que ficar comigo. Eu sou a única que pode te salvar.
- Desculpe, Lucy. – Ele abaixou a cabeça. – Eu estou apaixonado por outra pessoa.
- Você não pode. – Ela andou em direção a um vaso, que estava em cima da mesa, e jogou-o na parede com toda a força. levantou a cabeça e nossos olhos se cruzaram. Uma pessoa em meu lugar começaria a chorar, mas eu não conseguia, não quando aqueles lindos olhos olhavam para mim. A única coisa que eu fiz foi sorrir. se soltou dos guardas e correu em minha direção, segurando meu rosto entre suas mãos e encostando nossos lábios em um selinho.
- Eu pensei que nunca te veria outra vez. – Ele encostou nossas testas.
- Desculpe-me, , você não vai se livrar de mim assim tão fácil.
- Quando eu te vi dentro daquele carro, eu quase tive um ataque do coração.
- É o meu pai, , eu...
- Sua mentirosa! – Lucy gritou. Separamo-nos, olhando os dois para ela.
- Lucy, eu...
- Você não cansa de roubar as coisas de mim? O amor da minha família, do meu povo e da única pessoa que eu amei de verdade! – Ela chorava.
- Desculpe-me.
- Bem, espero que os dois sejam muito infelizes. Principalmente você, , quando tiver que matar seu próprio amado.
- O quê? Do que você está falando?
- Isso mesmo, irmãzinha. O seu querido é o descendente da bruxa. Eu descobri isso logo depois de conhecê-lo.
- O quê?
- Ora, , eu não incompetente como o resto da nossa família.
- Mas você deveria odiá-lo.
- Eu me aproximei dele para trazê-lo para cá e quebrar a maldição, mas, infelizmente, eu me apaixonei por ele. Então encontrei Greta e ela me disse que podia trazê-lo de volta à vida depois do sacrifício, mas não aceitou fugir comigo, e tivemos que ir ao plano B. Fingir minha morte e tomar o reino para que papai aceitasse o meu plano. Estava tudo conforme o plano, até você estragar tudo e ficar no meu caminho.
As palavras de Lucy entraram por meus ouvidos, indo lentamente ao meu cérebro, fazendo-me processá-las da forma mais lenta possível. Lucy estava certa, a minha ida para Florença nunca deveria ter acontecido; foram planos de última hora e um pedido do psicólogo que acompanhava minha mãe. Fazia tudo sentido agora. Porque os lobos apareceram mais cedo no dia do parque, porque os lobos não atacaram no dia que eu dormi em sua casa. Ele deixava a maldição retardada, fora dos eixos. O descendente da bruxa pode mudar a maldição a partir do seu pensamento, mesmo não querendo, recordei as palavras de meu pai. Olhei para , que olhava fixamente e com os olhos arregalados para Lucy.
- Você está mentindo. – disse, balançando a cabeça.
- O seu sobrenome é de origem italiana e sua família veio fugida da Itália. Na casa de sua mãe, existe o mesmo livro que tem na escola falando da história de Carmen e Alexander. Ela disse que faz parte da história da família.
- Isso não é possível. – balançava a cabeça. – Eu sou um monstro.
- Ei, – levantei seu queixo – não é sua culpa, ok? Nós vamos resolver isso. Eu prometo.
- Como você pode querê-lo depois de saber que a família dele é a culpada por nossa desgraça?
- Ele não é o culpado disso. Foi há muito tempo.
- No momento, isso realmente não importa, . Peguem-nos. – Lucy disse aos guardas que estavam ao seu lado.
- Vamos, ! – Gritei, entrelaçando nossas mãos e puxando-o para uma das saídas do castelo que dava no bosque.
Desci as escadas correndo e tirando meus sapatos, jogando-os para o lado. Puxei-o em direção ao bosque escuro, avisando que a noite estava chegando, onde ficava um esconderijo secreto que apenas eu e meu pai conhecíamos. Corri o mais rápido possível, segurando a barra do meu vestido com ao meu lado; estávamos os dois ofegantes. Eu poderia deixar Lucy sacrificá-lo, já que ela garantiu que o traria de volta, mas algo me dizia que isso não era a melhor saída. Existia outra, outra que não seria tão dolorosa.
puxou minha mão, fazendo com que parássemos bruscamente e meu rosto colidisse com seu peito. Ele se colocou em minha frente, protegendo-me.
- Pensei que vocês nunca chegariam. – Greta falou, dando alguns passos para frente, parando em frente à luz, onde pude perceber a lâmina de aço brilhando em sua mão.
- Não chegue perto.
- Vamos lá, , eu sei que você quer ver sua princesinha feliz, não quer? – Greta falou e olhou para mim. – Imagine você dois juntos, para sempre, sem ter que se preocupar com o que possa acontecer quando a noite cair.
- , não. – Falei, vendo-o se afastar um pouco de mim.
- É tudo culpa minha, . – Ele se afastou de mim. – Ela me trará de volta e nós poderemos ser felizes. – Ele disse, as lágrimas rolando de seus olhos por sua face.
- Com toda certeza.
- Pronto. – Ele parou em frente à Greta. As lágrimas rolavam por meu rosto e caíam em meu vestido sujo de terra. – Eu estou pronto.
- , não!
Meus pés se moveram rapidamente até onde estava e, antes que a faca o atingisse, senti uma superfície gélida deslizar por entre os tecidos da minha barriga.
Preto. Tudo estava preto.


Capítulo 2O – Memories


Por favor, volte. Não me abandone. Uma voz sussurrava em meu ouvido, mas eu não conseguia distinguir de onde ela vinha, a única coisa que eu sabia era que ela era linda. Meus pés moveram-se em direção àquela voz aveludada, que habitava meus ouvidos como uma linda melodia em um fim de tarde chuvoso. Era uma estrada sem fim, e, mesmo que eu fizesse esforço para ver o dono daquela voz, minha vista estava embaçada. A única coisa que eu conseguia ver era um par de olhos extremamente viciantes.
E, de repente, minha cabeça doía e um canto da minha barriga queimava por baixo da blusa, o que me fez apertar meus lábios, fazendo uma careta de dor. Água. Eu precisava de água. E muito, pelo visto.
Estendi minha mão para o lado, tentando alcançar o criado-mudo ao meu lado ou, pelo menos, o que deveria estar lá. De repente, barulhos irritantes de pequenas buzinas e apitos ecoaram ao meu lado. O que é isso?, pensei, tentando mover minha outra mão. Dei-me por vencida e abri meus olhos, machucando-os com a luz do sol que entrava no meu quarto, o que me fez gemer baixinho e fechar meus olhos novamente. Quem havia deixado as cortinas abertas iria pagar pela brincadeira de mau gosto, pensei, tentando levantar meu corpo para fora da cama para que eu pudesse fechar as cortinas e dormir o resto do dia. Eu estava muito cansada e não sabia o motivo.
Virei minha cabeça para o lado, abrindo meus olhos e a imagem a seguir foi a mais assustadora e linda que eu já havia visto. Um garoto estava deitado por cima da minha mão e a segurava entre as suas, apertando-a com certa força. Sua pele era branca e seu cabelo era de um tom escuro e ele aparentava estar cansado, as olheiras debaixo de seus olhos acusavam que não dormia há dias. Ele parecia um anjo, um anjo ferido pelas preocupações do mundo. Ele era lindo, perfeito; seu rosto parecia ser esculpido para ninguém botar defeito. Eu queria conhecê-lo, queria que ele abrisse os olhos, queria ver a cor de suas íris, queria ver seus lábios vermelhos rodearem um sorriso lindo. Cheguei a pensar que ele não era de verdade, que aquilo era fruto da minha imaginação. Que eu estava sonhando.
E, lentamente, aqueles olhos se abriram e me encararam, parecendo me decifrar em questão de segundos. Meus olhos se arregalaram, e a única coisa que eu consegui formular foi um grito. Um grito tão alto que fez o garoto se levantar assustado, encarando-me com uma estátua.
- ... – ele falou com uma voz chorosa. E a minha vontade foi de levantar e abraçá-lo forte. E, mesmo que o quisesse, não conseguiria fazer. Não antes de perguntá-lo como ele sabia meu nome.
Quando eu já havia juntado minhas forças para mandá-lo embora de meus aposentos, um homem em seu jaleco branco entrou em meu quarto acompanhado de meu pai, minha mãe, Lucy e mais dois desconhecidos. Olhei em volta, analisando onde eu estava, e, com toda certeza, não era meu quarto. O que diabos eu estava fazendo em um hospital?
- Oh, minha filha, – minha mãe andou em minha direção – eu fiquei tão preocupada. – Ela me abraçou e pude perceber que lágrimas rolavam de seu rosto. – Nós pensamos que você não voltaria para nós.
- O que está acontecendo? – Perguntei, ajeitando-me na cama com um pouco de dificuldade.
- Você não pode fazer esforço. – O garoto, que estava deitado sobre minha mão, disse.
- Pelo o que eu saiba, meu pai é outro, garoto. – Falei, olhando para seu rosto e não para seus olhos. Eu era fraca demais para encarar olhos tão lindos sem gaguejar.
- , por que você está falando assim com o ? – Minha mãe perguntou.
- Deve ser porque eu não o conheço e ele estava dormindo em cima da minha mão? – Perguntei, cruzando os braços. – Aliás, o que você estava fazendo dormindo em cima da minha mão?
- Você não o conhece? – O médico perguntou.
- Não. Eu deveria?
- Oh, Deus. Eu deveria saber. – O médico disse, abaixando a cabeça.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo?
- Você está em um hospital.
- Isso eu já entendi, Sherlock. Eu quero saber o porquê de eu estar aqui.
Todos eles se entreolharam de uma forma muito estranha.
- Você caiu e bateu a cabeça em uma pedra. – O médico começou. – Seus pais te trouxeram junto com seus amigos para cá. Você ficou em coma por duas semanas. A queda não causou danos ao seu cérebro, mas deixou uma sequela.
- Sequela? Que tipo de sequela?
- Vamos testar agora. – Ele parou ao lado do casal de desconhecidos, parados ao lado de Lucy. – Você se lembra deles?
Olhei para os dois, que estavam de mãos dadas, mas nada me vinha à cabeça.
- Não, desculpe. – Falei, apertando os lábios.
- Esses são e . Eles estudam com você.
- Desculpe-me, eu...
- Não se preocupe, nós vamos fazer você lembrar. – abriu um sorriso. O médico foi para o lado de Lucy.
- E eles, você conhece?
- Sim. São Lucy, minha irmã, Jonathan, meu pai, e minha mãe, Emily.
- Muito bem, você se lembra da sua família. – Ele parou ao lado do garoto que minha mãe tinha dito ser chamado . – E dele, você se lembra? – Olhei para ele, que me encarava com o olhar vago. Eu estava certa, ele havia chorado, e muito, por sinal. Tentei, de todas as maneiras, me lembrar de onde o conhecia, mas nada me vinha à mente.
- Não. Eu...
- Com licença. – Ele falou, saindo do meu quarto, sendo seguido por .
- Desculpe-me, eu não consigo lembrar. – Falei, abaixando a cabeça.
- Não é sua culpa. – O médico falou, andando até a porta. – Vocês, da família, podem me acompanhar?
Todos assentiram, seguindo-o para fora do quarto. , se esse era seu nome, estava parada, olhando para seus sapatos.
- O que aconteceu? – Perguntei com a voz falha.
- O médico já te disse, – ela levantou a cabeça – você estava em coma e acordou com sequela.
- Não isso. O que aconteceu com ele? Com o garoto dos olhos... – eu e minha boca grande.
- Dos olhos... Você pode me contar, eu não falarei para ninguém.
- Dos olhos perfetto. Digo, dos olhos bonitos.
- Ele está apenas cansado. Nós ficamos todos preocupados com você.
- Por que você ficaria preocupada comigo?
- Porque eu sou sua melhor amiga. – Ela segurou em minhas mãos. – Uma que, com certeza, não namoraria seu pai.
- Verdade? Às vezes não faz sentido ser amiga de alguém que está apenas sendo legal com você para pegar seu pai, um velho na beira dos quarenta anos. As pessoas não me entendem porque eu gosto de ficar mais tempo com serviçais do que com elas.
- Mas eu entendo. Eu não sei como é sua vida por aqui, mas, pelo visto, deve ser um tanto entediante.
- Nem me fale com todos aqueles...
- Vestidos e saltos altos durante o dia. – Ela me completou.
- Como você sabe? – Perguntei assustada. Ela sorriu. – Ah. Certo. Você é minha melhor amiga. – Eu sorri.
- Eu sei que deve ser difícil para você digerir tudo isso de uma vez.
- Eu apenas queria lembrar, sabe? – Falei, brincando com minhas mãos. – Para não decepcionar ninguém.
- Você não vai decepcionar ninguém. Todos estão felizes por você estar bem.
- Mas eu não me lembro dos meus amigos. Deus, eu tinha verdadeiros amigos e agora eu me esqueci deles.
- Você irá lembrar. Com o tempo você irá lembrar. – Ela sorriu meiga.
Agora eu entendia porque era minha melhor amiga. Ela era a garota mais meiga, doce, simpática e verdadeira que eu já havia visto. Era claro que ela não mentia quando dizia que era minha melhor amiga, eu nunca havia dito em voz alta sobre minhas supostas "amigas" e eu sei que eu contaria aquilo apenas para alguém de minha extrema confiança, alguém como minha melhor amiga. Mas algo batucava na minha cabeça, igualzinho à banda do castelo em dia da independência de Florença.
- ? – O médico entrou no quarto outra vez. – Você está pronta?
- Pronta? – Olhei para ele. – Pronta para quê?
- Para voltar para casa.
- Mas já? Digo, acabei de acordar de um coma.
- Você está perfeitamente saudável. – Ele andou até a minha cama, colocando roupas dobradas em cima de minha cama. – Você pode trocar de roupa agora. – Ele disse, retirando os milhares de tubos ou algo do tipo do meu corpo. – Estaremos esperando.
- Obrigada, doutor. – Falei, colocando-me de lado, deixando meus pés para fora da cama.
- Vá com calma. – Ele disse, segurando meu braço, ajudando-me a descer da cama. Meus pés tocaram o chão gelado do hospital, fazendo todo o meu corpo arrepiar.
- Gelado! – Falei, pegando minhas roupas em cima da cama.
- O banheiro é ali. Você pode tomar um banho, todos estaremos esperando aqui fora. – Ele disse, puxando para fora do quarto.
- Não morra de saudades de mim. – disse, fazendo-me rir. – Eu estarei aqui quando você sair.
- Engraçadinha. – Falei, vendo-a fechar a porta.
Andei em direção ao banheiro em passos lentos, eu não arriscaria cair em um chão de hospital. Abri a porta do banheiro e logo avistei um chuveiro; nem pensei duas vezes antes de tirar minha roupa de hospital e andar até aquele chuveiro e me deliciar com aquela água quentinha. Não sei ao certo, mas parecia que eu não tomava um banho há muito tempo. Saí do banho, enxugando-me e colocando minhas roupas íntimas. Coloquei minha calça, mas parei ao avistar minha imagem no espelho. O que era aquilo?, pensei, vendo um pequeno corte em minha barriga. Levei uma de minhas mãos até o corte, tocando-o. Ele ainda ardia um pouco e parecia profundo, mas a cicatriz e a profundidade do ferimento não era o que me importava e, sim, como eu havia conseguido aquilo.
Saí do banheiro totalmente vestida. Meu quarto estava vazio, o que significava que todos estavam lá fora. Andei até a porta, abrindo-a e dando de cara com minha família na sala de espera.
- Você está pronta? – Minha mãe perguntou.
- Estou. – Falei, olhando para os lados. – Onde estão os outros?
- Eu vou chamá-los. – Lucy disse.
- Não. Deixa que eu vou. Onde eles estão?
- Na sala de espera.
- Eu volto já. – Falei, andando pelo corredor até a sala de espera.
estava no maior chamego com e chutava a máquina de refrigerante.
- Máquina idiota! – Um chute. – Roubou meu dinheiro. – Outro chute.
- A máquina não tem culpa de nada. – Ele parou de chutar a máquina, apoiando-se nela com os dois braços esticados, e não se deu ao trabalho de olhar para trás para saber quem falava. Andei até onde ele estava, parando ao seu lado. – Ela não funciona assim. – Falei, abaixando-me e ficando entre seus braços esticados, sentindo sua respiração em meu pescoço. – Você tem que colocar a moeda. – Agachei-me, pegando a moeda no chão e colocando-a na entrada. – Aperta o botão. – Apertei o botão. – E, aí, dá um chute. – Falei, dando um chute perto de onde a lata sai, vendo-a sair. – Pronto. – Falei, virando-me para ele. Ele continuava parado na mesma posição, apenas me encarando. – Você precisa ter paciência com essas coisas.
- Obrigado. – Ele disse, pegando a lata de minhas mãos, virando-se de costas para mim.
- Papai está chamando a todos. Nós já vamos voltar para casa. – Falei, vendo se afastar. – Ele tem alguma coisa contra mim?
- Ele está só cansado. – falou, levantando-se. – Essas duas últimas semanas não foram fáceis. – Ela continuou, colocando o braço em meus ombros.
- Vamos logo. Eu quero chegar em casa e dormir. – Falei, abaixando a cabeça.
- Você dormiu por duas semanas e ainda quer dormir mais? – perguntou enquanto andávamos pelo corredor.
- ! – deu um soco em seu braço.
- Mas parece que eu não durmo por meses. – Falei, vendo meu pai e minha mãe conversarem com o médico. – E isso me leva a uma questão. – Continuei, parando em frente a eles. – O que aconteceu aqui? – Perguntei, levantando minha blusa e apontando para o corte em minha barriga. arregalou os olhos e olhou para .
- Vocês estão prontos? – Meu pai pegou em meus ombros.
- Claro. – Respondi, olhando para ele.
- Todos do castelo ficaram felizes em saber que você está voltando. – Papai colocou seu braço sobre meus ombros. – Querem dar uma festa.
- Eu quero descansar, papai. – Falei, olhando para cima. Meu pai era muito mais alto que eu. – Prometo que, quando estiver melhor, faço uma festa. E também, eu praticamente não vou os reconhecer.
- Tudo bem, minha filha. – Ele disse, dando um beijo em minha testa.
Todos me fizeram sentir em casa. Alguns rostos não me pareciam estranhos, mas nenhum flash de memória vinha, nem de quem eles eram e o que representavam em minha vida, tudo o que eles eram agora eram míseros estranhos. Essa era a pior sensação do mundo, ser lembrada por todos, mas não se lembrar de ninguém. Eu me sentia um lixo, inútil, como se não pertencesse àquele lugar. Então, eu fiz a única coisa que me restava fazer: cumprimentar a todos e depois de tudo subir para meu quarto e descansar o meu corpo.
Joguei-me em minha cama, tirando meus tênis e os jogando longe. Eu me lembrava de alguns detalhes da minha vida como minha família, meu quarto, meu título de nobreza, meu ódio por vestidos e saltos e minha paixão por bandas. Não sei ao certo onde, mas tenho certeza de que já vi uma coleção de blusas de bandas, a mais perfeita coleção que eu já vi. Eram poucas coisas, mas que significavam muito.
e me fizeram sentir como se fôssemos amigos desde as fraldas. Eles me contaram um pouco sobre tudo que aconteceu em Londres, como era nossa escola e como as pessoas pareciam aquelas dos filmes americanos que eu costumava assistir. Eles me faziam sentir, ao contrário de , que nem olhava na minha cara.
Cheguei até a me perguntar o que diabos ele fazia aqui se não se importava comigo. Ele era irritante, um idiota irritante, mas seus olhos, seus lindos olhos que chamavam a minha atenção de uma forma que nem ao menos eu poderia explicar. Mas, olhando fundo neles, poderia perceber que eles estavam vazios, e isso me levava a uma questão: O que ele significa em minha vida? Se ele era um amigo, melhor amigo, amigo do meu amigo. Se trabalhava comigo, estudava comigo. Se gostava de mim, se me odiava, ou se era indiferente em relação à minha existência.
Eu só queria saber em que parte da minha vida ele se encaixava, se eu fazia parte da vida dele e o que eu significava para ele. Eu apenas sentia essa estúpida necessidade de saber tudo sobre ele. Eu podia muito bem ter ido perguntar, mas seria falta de respeito, já que ele olhava para mim como se quisesse que eu tivesse morrido naquele hospital. Eu estava parecendo uma daquelas garotas estúpidas de filmes que dedicavam seu tempo analisando cada milímetro de um garoto. Era estúpido, e eu me recusava a aceitar isso. Dormir. Eu preciso dormir, pensei, colocando as cobertas por cima de mim.
Escutei o barulho da maçaneta da porta girando e tratei logo de fechar meus olhos. Ouvi passos se aproximarem da cama, e uma voz dizer baixinho:
- Você pode ter me esquecido. – Senti seus lábios quentes tocarem minha testa e o toque de sua mão na minha fez meu corpo estremecer. – Mas eu nunca irei te esquecer, minha pequena.


Capítulo 21 – Enchanted.


- Bom dia. – Falei, assim que cheguei à mesa do café onde meus pais se encontravam junto com e . Eu sentia falta de alguém, mas não iria perguntar. Não mesmo.
- Bom dia. – Todos responderam em coro.
- Vejo que acordou disposta. – Meu pai disse, tomando um gole do seu café.
- Duas semanas presa em uma cama de hospital te deixam disposta e com fome. – Falei, pegando um pão de queijo do prato de minha mãe.
- Então sente-se e coma. – Minha mãe disse.
- Eu preciso perguntar uma coisa antes que eu me esqueça. – Falei, apoiando-me no encosto da cadeira de minha mãe. – Alguém sabe de onde essa blusa veio? – Falei, apontando para a blusa dos The Beatles que eu vestia. – Eu acordei e ela estava em cima da minha cama.
- Foi um presente. – Meu pai disse.
- De quem?
- Da Rainha.
- E desde quando a Rainha sabe algo sobre minha vida?
- Desde que ela lhe conheceu naquele baile há dois anos, ela sabe que você tem essa pequena obsessão por essas bandas inglesas e antigas.
- Oh, diga a ela que eu agra... – escutei o barulho de crianças do lado de fora do castelo. – Que eu agradeço. – Continuei andando até a janela.
Era a única parte do castelo que podia ser aberta ao povo de Florença; se não me engano, as crianças vinha aqui para brincar quando seus domingos ficavam chatos. Era perfeito para elas, existiam laranjeiras, limoeiros, pinheiros e coqueiros por toda a extensão do enorme campo verde que ficava na parte de trás do castelo. Havia animais soltos pelos campos, mas com o olhar cuidadoso de seus treinadores, e, por último, havia felicidade, aquilo que muitos eram privados dela. Felicidade era algo que o povo de Florença tinha para dar e espalhar pelos quatro ventos.
Existia uma fonte do lado esquerdo do campo onde as pessoas vinham para jogar uma moeda e pedir-lhe um desejo. E muitos diziam que seus pedidos eram atendidos. Havia também um lago artificial do lado direito que servia de habitat para peixes, cisnes e patos. Um labirinto onde os namorados se escondiam quando seus namoros eram proibidos ou queriam ficar sozinhos. E, por último, havia o bosque, que costumava ser um dos meus lugares favoritos do castelo e agora me dava um frio na espinha. Mas não era isso que chamava a minha atenção, isso era apenas detalhe perto do que meus olhos avistavam a poucos metros dali. E o que eles avistavam era um garoto de costas sem sua veste de cima, apenas de calça, brincando no meio em tantas crianças.
Ele parecia se divertir e brincava de um lado para o outro, correndo atrás dos pequeninos. Os músculos de suas costas se contraíam a cada criança que ele levantava, fazendo menção de jogá-la no lago. Ele sorria, pela primeira vez, e eu podia ver os seus dentes brancos brilharem com a luz do sol, mas seus olhos não demonstravam o mesmo que sua boca aparentava mostrar: alegria. Não, não, seus olhos mostravam a mesma tristeza que eu havia conhecido naquele hospital, a tristeza que me fazia sentir pontadas em meu coração.
Mas eu não consegui reparar isso tudo apenas observando-o da minha janela. Meus pés já haviam abandonado o controle de meu cérebro e andavam como se tivessem vida própria, levando-me em sua direção. Desci a escada, atravessando o enorme gramado recém regado do castelo. Eu estava parada com um sorriso idiota no rosto, apenas observando-o. Parecia loucura, mas eu estava disposta a observá-lo pelo resto do meu dia, se pudesse. Eu apenas queria ficar ali, vendo-o de longe, tentando decifrá-lo de alguma maneira. Mas isso não seria possível, pois logo seus olhos encontraram os meus, fazendo as maçãs do meu rosto ficarem quentes. Ele, que estava agachado conversando com uma adorável mocinha com seus cachos dourados, se levantou e abriu um sorriso de orelha a orelha para mim, o que fez minhas bochechas queimarem ainda mais. E eu, uma garota que sempre sabia o que falar e fazer quando algum engraçadinho flertava comigo, estava simplesmente sem ação, sorrindo largamente para um garoto que, provavelmente, me odiava.
- Princesa. – Uma das crianças, que estava com ele, correu em minha direção e agarrou minhas pernas.
- Oh, olá. – Falei, abaixando-me, vendo seus lindos globos azulados me encararem.
- Você acredita na fonte do castelo, princesa?
- Por que a pergunta?
- Porque eu queria fazer um pedido. – Ela abriu a mão, mostrando duas moedas na palma de sua mão. – E eu queria saber se é verdade. Muitos dizem que se realizam.
- Então, você deveria acreditar neles.
- Mas eles podem estar mentido, princesa.
- Ou podem estar falando a verdade.
- Você já realizou algum pedido?
- Bem, eu nunca pedi nada. Eu não saberia o que pedir.
- Oh! – Ela abaixou a cabeça – Acho que vou devolver as moedas para o meu irmão. Ele tem razão, isso é bobagem. – Ela começou a se afastar de mim.
- Espere! – Eu disse, levantando-me. – Por que não vamos as duas agora?
- Verdade?
- Verdade. Mas eu não tenho nenhuma moeda.
- Eu tenho duas. – Ela falou, correndo em minha direção, estendendo-me uma moeda.
- Então vamos juntas. – Falei, pegando a moeda de sua mão e segurando na mesma para que fôssemos até a fonte juntas.
- Quem vai primeiro? Eu ou você? – Ela perguntou, olhando para mim.
- Vamos as duas juntas. Vamos virar de costas. – Nós duas nos viramos de costas para a fonte. – Agora, fechamos os olhos, fazemos nossos pedidos e jogamos a moeda.
- Ok.
- No três. Um, dois, três. – Falei, jogando a moeda e fazendo meu pedido. Eu quero ser feliz.
Abri os olhos, dando de cara com meu par de olhos favoritos. Vi o sorriso abrir entre seus lábios, e logo o meu acompanhar. Era impossível não sorrir quando olhava aqueles olhos tão de perto, eles pareciam mais perfeitos do que quando estavam longe. Então, eu desejei, desde aquele momento que não se afastassem nunca para longe de mim, e que a alegria e o brilho que eu via neles nunca se apagassem. Ele ficava muito melhor quando sorria com sinceridade, e não apenas para mostrar aos outros que estava bem.
Algo naquele garoto me chamava a atenção, e era essa estúpida necessidade que eu sentia dentro do peito de querer conhecê-lo melhor, de saber cada detalhe da sua vida, até aqueles que não achava importante. Era esse estúpido arrepio que eu sentia cada vez que ele estava perto e cada vez que eu lembrava que ele havia dormido em cima de minha mão. Oh, como eu sonhara com sua mão tocando a minha novamente, nem que fosse por um segundo, apenas para sentir algum pedaço do seu corpo perto do meu. Era estúpido, e eu me negava a sentir isso, mas algo dentro do meu peito dizia que eu fosse, deixasse que a muralha que rodeasse meu coração fosse destruída por aquele garoto – se é que eu já não o havia feito.
Abaixei minha cabeça, sentindo minhas bochechas queimarem, e percebi que sua camisa estava no local onde devia estar. Uma pena, devo ressaltar. Ele era esculpido como um daqueles deuses de mármores, perfeitamente firme e ardo. Eu desejara ardentemente que ele me pegasse em seus braços e me apertasse forte, como se nunca quisesse que eu partisse. Eu queria escutar sua voz sussurrar mais uma vez meu nome e que seus lábios tocassem o meu, até o ar de meu peito não existir mais.
Oh, Deus, o que está acontecendo comigo?
- O que você pediu, princesa? – Cassie puxou minha mão, fazendo com que eu olhasse para ela.
- O que eu não ganhei em meu aniversário de dez anos.
- O que foi?
- Um ursinho de pelúcia. Eu pedi o urso e, em vez disso, meu pai me deu uma festa.
- O irmão dela está procurando-a. – Ele disse, fazendo com que eu levantasse a cabeça.
- Oh, me desculpe. – Falei, direcionando-me para o garoto ao seu lado.
- Vamos logo, Cassie, mamãe está te esperando. – Ele estendeu a mão para a garotinha ao meu lado. – Ela disse que você tem que provar o vestido de seu aniversário.
- Hoje é seu aniversário, Cassie? – Perguntei, olhando para ela.
- É sim. – Ela disse, murchando um sorriso.
- Então, por que está tão triste? – Perguntei, abaixando-me à sua altura.
- Meus pais não têm dinheiro suficiente para pagar uma festa, então me deram apenas um vestido. – Ela abaixou a cabeça. – Mas eu entendo que eles guardam dinheiro para meu irmão que está estudando fora.
- Muito bravo para uma garotinha de... Quantos anos está fazendo?
- Dez anos.
- Eu tive uma linda festa nos meus dez anos. – Eu disse a ela, que sorriu fraquinho. Eu sabia o quer deveria fazer. – Venha. – Levantei-me, pegando em sua mão.
- Onde nós vamos?
- Você verá. – Eu disse, carregando-a pelo gramando e indo em direção às escadas. Entrei pela porta de trás do castelo, andando pelo corredor que dava até a sala onde meu pai, Lucy e minha mãe estavam. – Eu quero uma festa de aniversário.
- O quê? – Os três falaram, levantando-se.
- Eu quero uma festa de aniversário.
- Mas seu aniversário é na próxima semana. – Minha mãe disse.
- Não. Eu quero uma festa de aniversário igual àquela que tive quando tinha dez anos.
- Você não acha que está velha para isso? – Lucy disse cruzando os braços. – Sempre soube que você era infantil, mas não a esse ponto.
- Eu não pedi sua opinião.
- Eu não preciso da sua permissão para falar.
- Parem as duas. – Meu pai disse antes que eu e Lucy começássemos a brigar. E, quando começávamos, era quase impossível pararmos. – Você quer que adiantemos sua festa?
- Não. Eu não quero que vocês façam uma festa para mim, quero que façam uma festa de aniversário para Cassie. – Apontei para a menina que segurava minha mão. – Hoje é o aniversário dela, e ela não poderá ter uma festa porque seus pais estão enviando seu dinheiro para o irmão que está estudando fora.
- Mas não podemos fazer uma festa em apenas algumas horas.
- Já vi o pessoal desse castelo fazer milagres em menos tempo. Por favor, papai, por favor.
- Está bem, faremos a festa de Cassie. Marta! – Meu pai gritou pela nossa governanta.
- Sim, senhor? – Ela apareceu ao nosso lado.
- Lembra aquela festa de dez anos que fizemos para ? – Ela assentiu. – Quero que faça uma parecida com aquela para hoje.
- Hoje? Nós precisamos de muita ajuda para fazer uma festa como aquela.
- Botaremos todos do castelo para trabalhar. – Falei, virando-me para ela. – Chamaremos pessoas da cidade para ajudar também, se assim quiserem. Garanto que ninguém negará nada ao rei.
- Então, vamos começar agora. – Marta falou, andando até a cozinha. – Gaspier, Monna e Lucio, temos uma festa para organizar.
- Você não pode fazer uma festa para toda criança que você sentir pena. Todos vão se aproveitar da sua bondade.
- Então, que o façam. Temos um gramado lindo, podemos dar festas todos os fins de semanas se quisermos. – Falei, cerrando os olhos para ela. – Cassie. – Falei, abaixando-me à sua altura. – Vá para sua casa, avise sua família e espalhe a notícia pela cidade. Você terá o aniversário melhor que o meu.
- Obrigada, princesa. – Ela me abraçou. – Vamos, Keith, temos que avisar a todos. – Ela correu em direção ao irmão, pegando-o pela mão e arrastando-o até a porta de saída.
- O que vocês estão fazendo parados? – Perguntei para os quatros que me olhavam abismados. – Pensaram que iam escapar? Podem ir arranjar algo para fazer e não pense que senhor Rei que não fará nada, você terá que trabalhar também. – Dei as costas para ele, indo em direção à cozinha. – Marta, em que eu posso ajudar?
Todos estavam ajudando na festa. Estávamos fazendo o máximo para que tudo estivesse pronto para a noite. Marta e eu ficávamos parecíamos duas baratas tontas ao redor do castelo dando ordens, ela ficava na cozinha arrumando os comes e bebes, e eu ficava lá fora para que tudo saísse igual ao meu aniversário de dez anos.
Papai e mamãe estavam arrumando onde cada brinquedo ficaria e, às vezes, acabavam brigando, arrancando gargalhadas de quem estava em volta. Eles faziam um belo casal, e eu sabia que eles ainda eram apaixonados um pelo outro, mas eram muito orgulhosos para admitir isso.
Lucy não deu as caras. Apenas ficou em seu quarto trancada para que ninguém a perturbasse. Lucy havia mudado, eu sentia isso toda vez que eu estava perto dela e sentia uma energia ruim; um arrepio na espinha e uma dor na minha cicatriz na barriga. Era estranho, e eu estava começando a me perguntar: o que aconteceu comigo? Como eu havia perdido a memória? Por que ninguém me falava a verdade? Eram perguntas que não havia respostas e eu estava disposta a descobri-las.
e faziam tudo juntos, mesmo que Marta gritasse com os dois para que se separassem para que o trabalho fosse mais rápido, os dois não se separavam, ficavam para cima e para baixo beijando-se, abraçando-se e dizendo coisas bobas um para o outro. Eu tinha inveja dos dois, uma inveja boa porque eu queria ter um amor desse jeito para mim.
Olhei para o lado e meu coração disparou dentro do peito. me encarava, me encarava com aqueles olhos tristes outra vez. Eu queria ter ido em sua direção e o abraçado forte, pedindo que ele nunca mais ficasse triste outra vez. Queria. Eu não podia simplesmente abraçá-lo do nada. Seria loucura. Mas, se eu o fizesse, o que ele faria? Qual seria sua reação? Ele retribuiria? Isso me perturbaria pelo resto da minha vida, pois eu não teria a menor coragem de fazer algo assim.
- ? – Marta interrompeu meus pensamentos. – Ele é muito bonito mesmo.
- O quê? – Virei meu rosto para ela. – O que é bonito mesmo? Ah, você está falando do gramado. É lindo mesmo.
- Você sabe do que estou falando. – Abaixei a cabeça. – Por que você não vai falar com ele?
- Nós nunca conversamos, seria falta de respeito falar com ele. Eu nem, ao menos, sei muita coisa sobre mim.
- Mas você se lembrou do seu aniversário de dez anos.
- Eu lembro de pequenos detalhes, mas nada relacionado ao que passou nos últimos meses. Por que eu fui para Londres, minha escola, o que eu fiz, o que eu vi, meus amigos, o que aconteceu comigo. Eu quase não me lembro de nada.
- Você irá lembrar, basta ter paciência. – Ela passou a mão por meus cabelos. – Ai! Eu não acredito!
- O quê?
- Não penduraram as luzes. –Ela apontou para as lâmpadas que estavam em uma escada. – Cadê o Lorenzo para fazer isso? Lorenzo!
- Calma, Marta! Deixa que eu vou.
- É muito perigoso.
- Não. Eu vou. – Falei, correndo até a escada que estava encostada na parede do castelo perto da janela de meu quarto. Subi as escadas, segurando-me nas suas pernas, e parei no último degrau. Desamarrei o fio em que estavam todas as lâmpadas e inclinei-me para a bucha, que estava pregada na parede para amarrar o fio nela, mas meu braço não alcançava. Inclinei-me mais um pouco, ficando apoiada em apenas um pé. Movimento estúpido. O peso que eu coloquei apenas para um lado do corpo fez com que eu me desequilibrasse e caísse de onde eu estava.
Eu já estava sentindo o impacto do chão em minhas costas e a provável fratura que eu teria. Mas não foi isso que aconteceu. Em vez de uma superfície dura e gélida, meu corpo caiu sobre dois braços fortes e quentes. Agarrei-me em quem havia me salvado, esperando meu coração bater de uma forma mais calma, mas tudo tendeu a piorar quando abri meus olhos e dei de cara com o par de olhos que eu havia visto em minha mente a cada segundo.
- Você está bem? – Sua voz calma fez com que meu corpo, que estava tremendo, se acalmasse ao poucos. – Mesmo sem memórias, continua se metendo em encrencas.
- Se você me salvar todas as vezes, farei questão de me meter em mais uma dessas. – Eu disse.
Eu podia sentir o cheiro de seu perfume entrar por minhas narinas por conta da proximidade do seu rosto ao meu. Era um cheiro gostoso e diferente da maioria dos garotos que eu havia conhecido que gostavam de tomar banho de perfume. Era um cheiro do perfume misturado com loção pós-barba, dando um ar mais adulto para ele.
Seus braços eram como eu imaginava, fortes e duros como rocha e, dentro de mim, um desejo de senti-los por volta de minha cintura, em um abraço apertado, era enorme. Oh, Deus, o que eu estou pensando?
- Meu Deus, minha filha, você está bem? – Meu pai saiu pela porta, chamando minha atenção.
- Estou sim.
- O que você pensa que estava fazendo?
- Ela estava tentando colocar as luzes e caiu. – me colocou em pé no chão, e eu desejei arduamente que eu tivesse desmaiado só para passar mais tempo em seus braços.
- A senhorita está louca?
- Não era grande coisa. Eu posso colocá-las. E, na verdade, eu vou colocá-las. – Falei, voltando meu corpo para a escada novamente, quando a mão de se fechou em meu braço.
- Você não vai. Deixa que eu coloco, você precisa se arrumar.
- Mas...
- Marta, você não acha que a senhorita precisa se arrumar? Está ficando tarde. – Ele falou, olhando para a Marta.
- Ai, meu Deus, você está parecendo uma mendiga. – Marta olhou para mim, assustada. – Vamos logo, eu preciso que você fique linda. – Marta me puxou pela mão em direção ao castelo outra vez.
Marta passou mais de três horas comigo. Além de governanta, Marta também era uma mulher de múltiplos talentos como: maquiagem, cabelo, unhas e em como deixar sua pele linda e macia. Era uma tradição passada de família em família ao longo dos anos, e Marta fazia questão que fizesse isso em mim. Ela disse sempre fazia isso antes de uma festa e, dessa vez, não seria diferente.
Enquanto Marta cuidava de mim, eu pude tirar um cochilo, já que minha noite havia sido muito perturbadora depois de uma certo menino dizendo a mais linda frase que alguém já havia me dito: Mas eu nunca vou te esquecer, minha pequena. Aquelas palavras me atormentaram o tempo todo e quase me tomaram uma noite inteira de sono. E, quando consegui dormir, sonhei com aqueles olhos e com aquela frase sendo sussurrada em meu ouvido, e, principalmente, com aqueles lábios tocando os meus.
Oh, Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu estava perdendo o controle do meu próprio corpo, estava agindo como uma colegial que agia por impulso de acordo como seu coração mandava. Isso era estúpido, e eu havia prometido nunca deixar meu coração vencer. Eu não podia simplesmente estar caída de amores por alguém que eu mal conheço, um total estranho para mim. Era contra as regras. Era contra as regras da minha vida.
Marta escolheu o meu vestido. Segundo ela, se eu escolhesse alguma coisa, seria uma daquelas blusas de bandas loucas que apenas os britânicos usavam. E ela estava com toda a razão. Se eu pudesse, usaria meu jeans surrado, meu All Star velho e uma blusa dos Guns N' Roses. Perfeito. Seria a roupa perfeita, e eu tinha certeza de que eu já havia usado em algum lugar, um lugar com muitas pessoas onde eu me sentia Carrie, a Estranha.
Déjà vu.
Era o que estava se passando agora. Oh, Deus, eu estava começando a me lembrar. Mas saber onde eu usei essa roupa e quem eu conheci não importaria nem um pouco; isso era o menos importante, e nem chegava aos pés do que eu queria saber. Meu desejo maior tinha nome e sobrenome e me perseguia com aqueles olhos penetrantes para todo o lugar que eu fosse. Não importava se estavam longe ou perto, sobre meu campo de visão ou não, eles estavam lá. E, quando eles estavam me encarando como mais cedo, meu coração disparava dentro do peito batendo a quase mil por hora. Oh, Deus, isso era normal? Porque, se não fosse, eu poderia ser levada para um hospício por estar obcecada por alguém com que eu havia trocado poucas palavras.
- Você está linda. – Marta falou, terminando de arrumar meu cabelo.
- Você acha? – Falei, levantando-me da cadeira em frente à penteadeira.
- Você é a princesa mais linda que eu já vi. – Ela disse, segurando em minhas mãos.
- Obrigada.
- Aposto que irá gostar.
- Você acha? – Perguntei, olhando para ela e vendo um sorriso sapeca em seus lábios. – Oh, não! Quero dizer, eu não me importo se ele vai gostar ou não.
- Você não precisa esconder de mim. Eu sei que você está encantada com ele.
- Eu...
- Filha? – Minha mãe bateu na porta, colocando a cabeça para dentro. – Você está pronta?
- Acho que sim. – Falei, virando-me para a porta, onde ela agora se encontrava.
- Oh, meu Deus, você está linda. – Ela falou, sorrindo e andando em minha direção. – Uma verdadeira princesa. Um vestido digno de uma princesa.
- Obrigada, mãe. Eu havia me esquecido como era ser uma princesa. – Falei, sarcástica.
- Você não deveria brincar com isso, .
- E o que eu deveria fazer? Chorar? Mas é claro que não. Você e papai me ensinaram a seguir em frente, e eu estou fazendo isso.
- Eu me orgulho tanto de ter você como filha. – Ela me abraçou.
- Oh, que cena comovente. – Lucy estava encostada no batente da porta. – Nós vamos ou não? Estão todos esperando.
- Você poderia ser só mais um pouco sentimental, Lucy? Sentimento não mata. – Falei. Lucy usava um vestido preto de alças finais, completamente apertado em seu corpo, que ia até as coxas. Suas pernas estavam cobertas por uma meia-calça pera, e os pés, calçados com uma ankle boot preta. Ela estava bonita. Seus olhos verdes estavam cobertos por uma maquiagem preta, destacando-os.
- Mas machuca. – Ela cruzou os braços, desencostando-se do batente. – Vamos logo com isso?
- Estamos indo, senhorita apressadinha. – Falei, pegando mamãe pela mão e passando por Lucy, que, por sua vez, passou por nós, descendo as escadas apressadamente. Mamãe a olhou com o olhar triste, ela com toda a certeza desejava que Lucy voltasse a ser a mesma garota que antes, a garota alegre, brincalhona e com cabelos dourados iguais ao dela. Lucy havia mudado. Mudado muito. Eu quase não a reconheci quando a vi. Ela não é minha irmã, simplesmente não é.
Mamãe e eu descemos as escadas juntas e fomos em direção à parte de trás do castelo. Tudo havia ficado lindo. As crianças se divertiam nos escorregadores, a piscina de bolinhas e os vários pulas-pulas estavam espalhados pelo enorme gramado, e os adultos estavam nas mesas conversando uns com os outros. As luzes, que estavam penduradas, foram espalhadas por todo o jardim, sendo colocadas dos muros às árvores que existiam no gramado. Oh, Deus, onde eu havia visto luzes tão bonitas como essas?
- Vocês estão lindas. – Meu pai falou, andando em nossa direção e abraçando a mim e Lucy. – Minhas lindas meninas.
- Obrigada, papai. – Falei, sorrindo.
- Você também está muito bonita, Emily. – Ele falou, dirigindo-se à minha mãe, que usava um vestido creme tomara-que-caia.
- Obrigada, Jonathan. – Ela falou, encarando-o. – Você também. – O silêncio se instalou entre os dois, que apenas se encaravam. – Eu vou falar com os convidados, eu sei que provavelmente não o fará. – Ela desviou dele, andando em direção aos convidados.
- Princesa, princesa! – Cassie gritou alegremente, pulando em meus braços. – Essa é a melhor festa de aniversário que eu já tive. Muito obrigada.
- Por nada, Cassie. Você merece.
- Vem. Eu vou te apresentar a todos os meus amigos.
Cassie me arrastou pela festa inteira, apresentando-me a todas as crianças presentes. Estavam todos nervosos, provavelmente, imaginando que eu era algum tipo de ditadora que não gostava de crianças, mas logo mudaram de opinião quando eu respondi todas as suas perguntas sobre o castelo e ser um membro da realeza. Crianças eram pequenos serem impossíveis de se mentir para eles, principalmente quando estavam ao seu redor, escutando atentamente o que você dizia sobre qualquer coisa que elas perguntassem.
Ah, ser criança. A fase da vida onde tudo é mais fácil, sem preocupações, sem inseguranças, sem corações partidos, sem amores platônicos e sem sofrimento. Oh, como eu queria ter ficado criança.
- Princesa, posso perguntar uma coisa? – Uma garotinha perguntou.
- Mas é claro, meu amor.
- Você tem namorado?
Abaixei minha cabeça, sentindo minhas bochechas corarem violentamente, e um sorriso bobo formar-se em meus lábios. Levantei minha cabeça, olhando para frente, e lá estava ele, a apenas alguns metros de mim, brincando com um garotinho em uma barraca de tiro ao alvo. Ele estava concentrado em seu alvo, segurando sua arma na mão até o disparo acertar em cheio o alvo e ele, junto com o garotinho, explodirem de alegria. Ele estava perfeito com sua calça de lavagem escura, seu tênis e sua camisa preta por baixo de uma jaqueta da mesma cor. Eu podia ficar olhando para ele o resto da noite, mas logo seus olhos encontraram o meu e o sorriso em seu rosto me fez abrir o um sorriso bobo entre meus lábios. O homem da barraquinha entregou-lhe um urso de pelúcia, e ele, então, levantou o urso de pelúcia em minha direção.
- Acho que já sei a resposta. – Abaixei minha cabeça, envergonhada.
Depois do meu pequeno testemunho sobre como ser um membro da realeza, minha mãe me arrastou para o lado onde os adultos ficavam, apresentando-me para todos que estavam sentados em sua mesa. Eu desejei ardentemente ter ficado com meus pequeninos, em vez de falar com pessoas que estavam ali apenas para comer e beber de graça e depois falarem mal da festa. Era óbvio que haveria aqueles estavam aqui com o objetivo de se divertir, mas também existiam aqueles que só viam para criticar.
Respirar. Eu preciso respirar.
Afastei-me de minha mãe, indo para a parte ao lado do castelo. Lá tinha um pequeno banco de mármore e era o único lugar em que tudo estava silencioso. Deitei-me no banco, sentindo o cansaço da noite bater. Passava da meia-noite, e eu ainda estava acordada.
- Se está cansada, deveria ir para o seu quarto. – Levantei-me do banco com rapidez, assim que a voz terminou de falar. Olhei para frente, vendo . Ele estava a alguns passos de mim e segurava um urso de pelúcia na mão.
- Eu não posso. Cassie precisa de mim e minha mãe também. E ainda nem cantamos os parabéns.
- Sempre colocando os outros em primeiro lugar. – Ele andou em minha direção e eu senti meu coração palpitar. – Pegue. – Ele estendeu o urso para mim. – É para você.
- Obrigada. – Falei, pegando o urso de suas mãos, abraçando-o. Ele continha o seu cheiro. – Por que está fazendo isso?
- Você disse que queria o urso em seu aniversário de dez anos. Bem, esse não é o seu aniversário, mas você conseguiu o urso.
- O que nós éramos? – Soltei em voz alta o que deveria ter sido apenas em pensamento. – Digo, para você estar aqui, eu devo significar alguma coisa para você, certo? Ou você só está aqui porque alguém pediu?
- Você significa muito para mim. – Ele abaixou a cabeça.
- Nós éramos próximos?
- Sim.
- Quão próximos?
- Muito próximos.
Ele deu um passo largo em minha direção, ficando em minha frente. Nossos rostos estavam próximos, a ponto que eu podia sentir sua respiração em meu rosto. Seus olhos estavam diferentes, estavam cheio de vida pela primeira vez. Senti seu rosto aproximar-se do meu, e seus lábios roçarem nos meus. Ele estava a ponto de me beijar, e eu sabia disso. Uma moça direita nunca deixaria um desconhecido chegar assim tão perto, muito menos deixar seus lábios se roçarem nos dela, mas ele não era um desconhecido para mim. Dentro do meu coração, eu sabia que ele era algo mais do que um simples amigo ou amigo do amigo. Ele era aquele que fazia meu corpo arder, ansiando pelo seu toque e meus lábios ficarem secos querendo que eles fossem preenchidos pelos seus.
- Nós vamos cantar os parabéns.
E tudo que eu ansiava não havia acontecido e tudo por causa de uma estúpida pessoa. se afastou de mim, virando-se para a pessoa que havia nos atrapalhado.
- Nós já vamos, Lucy. – Ele respondeu ríspido.
- Estão querendo vocês dois lá agora.
- Vamos, . – me pegou pela mão, andando em direção à festa outra vez. Senti um choque percorrer todo o meu corpo enquanto sua mão segurava forte a minha.
- Princesa. – Cassie nos parou. – Quero que você fique ao meu lado na hora dos parabéns. Vamos. – Cassie segurou minha mão, e eu olhei para .
- Pode ir, amanhã nós conversamos.
E, antes que eu pudesse falar algo, seus lábios se encontraram com os meus em um selinho rápido. Arregalei meus olhos, olhando para ele, que apenas sorriu.
Com certeza, ele significava muito para mim. Até mais que meu coração pudesse suportar.


Capítulo 22 – Broken Arrow


Desci as escadas encarando meus tênis. Fazia frio. Eu adorava o frio, se me lembro bem.
A festa havia sido um sucesso, e Cassie havia ficado muito feliz com isso. Ela estava com um sorriso no rosto do começo ao final da festa, contagiando a todos com sua alegria. Cassie teve a festa que mereceu e sua família me agradeceu repetidas vezes naquela mesma noite, e eu fiz questão que sua padaria, que fazia as melhores tortas – e minhas preferidas, segundo Marta, – fosse um sucesso no dia seguinte, dando a eles o lucro que precisavam.
O poder de ter um título real pesava na hora de uma crítica. Se eu dissesse que nuggets eram a pior comida do mundo, eles o exterminariam de toda a Florença, ou, se eu dissesse que pizza de mussarela era a melhor comida, era capaz de muitas pessoas comerem pizza pelo resto da vida. Era uma responsabilidade enorme criticar alguém, pois isso influenciaria na vida de muitas pessoas. Era um absurdo pensar que uma pessoa pode mudar a opinião de outros, mas era a verdade. Mas não era o que os outros fariam no próximo dia que me importava, e sim o que havia acontecido naquela noite, aquilo que o dono do meu urso de pelúcia havia ganhado tinha feito.
Eu me lembrava. A cada minuto eu sorria quando lembrava. Meus lábios ainda ardiam; eles formigavam desde a noite passada, quando os tocou por míseros segundos, mas que se tornaram o motivo da minha noite sem sono. foi minha companhia a noite toda, apenas em meus sonhos, pois pelo o resto do aniversário, eu fui arrastada de ponta a ponta junto com Cassie para fotos. Não que eu não gostasse de fotos – na verdade, eu gostava e muito –, mas eu queria conversar com e saber o que aquele pequeno roçar de lábios havia significado, se era apenas por pena pela tonta princesa sem memória, ou se ela era realmente alguém muito importante para ele. Algo muito mais que uma amiga.
Parei no último degrau da escada, vendo malas sendo postas em um carro pela janela. Olhei para o lado e vi e abraçando Marta. Espere um segundo, eles estavam partindo?
- Vocês estão partindo? – Perguntei, descendo o último degrau da escada, vendo a expressões assustadas em seus rostos.
- ? O que você faz acordada? – perguntou.
- Por quê? Não era para eu acordar? Vocês iam simplesmente partir sem nem ao menos dizer tchau?
- Marta disse que você ainda dormia, não iríamos te acordar.
- Então vocês estão partindo?
- Nós já faltamos muito tempo de aula, temos que voltar. É o nosso último ano, não podemos perder aula assim.
- Então eu devo ir com vocês. Eu também estudo lá. – Virei-me para Marta. – Marta, arrume minhas malas.
- Você não pode, . – falou, andando em minha direção.
- Por que não? – Olhei para ela.
- Você está em recuperação. Não pode pegar um voo de horas até Londres. – Ela segurou minhas mãos. – Florença é sua casa. Você deve ficar aqui até se recuperar totalmente.
- Mas...
- É o melhor que você tem a fazer, . – me abraçou. – Nós vamos sentir sua falta.
- Onde está o ?
- Ele está na biblioteca.
- Eu vou me despedir dele. – Abracei-a. – Eu vou sentir falta de vocês. – Soltei-a e fui em direção a , abraçando-o. – Obrigada por tudo que vocês fizeram por mim. – Separei-me dele. – Espero vê-los em breve.
- Tchau, . – os dois falaram ao mesmo tempo.
Girei meus calcanhares em direção à biblioteca. Minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam de acordo com o caminho que eu percorria até lá. Não era um longo caminho, mas parecia se distanciar a cada passo que eu dava. Eu estava mais nervosa do que nunca e eu podia sentir em casa nervo do meu corpo – o beijo havia feito isso comigo. Podia ter sido apenas um tocar de lábios, mas isso havia causado o efeito de manadas de elefantes a cada vez que eu me lembrava.
significava muito para mim. Eu sabia disso agora.
Respirei fundo, colocando a mão na maçaneta da porta e girei-a. estava de costas para a porta, em frente à janela, analisando o enorme gramado lá fora, onde ainda podia se ver algumas pessoas do castelo trabalhando. Ele estava pensativo e com uma expressão séria no rosto, como se estivesse prestes a tomar uma decisão, e também segurava um livro em suas mãos, um livro velho que eu não conseguia identificar. Ele respirou fundo antes de se virar e me ver encostada ao batente da porta, parecendo assustado e surpreso.
- Pensei que você estivesse dormindo. – Ele disse saindo de trás da escrivaninha.
- Acabei de acordar. – Respondi, dando alguns passos em sua direção. – Você ia partir sem dizer adeus?
- Você estava dormindo, e não queríamos te acordar. Você está em estado de recuperação e, depois do esforço de ontem, achamos que você queria dormir.
- Eu sei, mas vocês são meus amigos. Eu tenho o total direito de me despedir de vocês, principalmente de você. – Ele olhou em meus olhos. – Especialmente depois de ontem. – Ele sorriu.
- , aquilo foi... – ele se interrompeu. – Um erro.
- Um erro? – Perguntei, sentindo meu coração bater devagar.
- É. Eu não deveria ter feito aquilo, foi apenas um impulso. Eu nunca quis estar aqui para começo de história. – Ele falou, afastando-se de mim e começando a andar até a porta. – O me obrigou a vir com ele porque a mãe dele nunca o deixa viajar sozinho, então eu vim.
- E por que você me beijou, então?
- Bem, você estava sozinha. Eu fiquei com pena. Eu tenho essa pequena queda quando meninas me olham do jeito que você me olhou.
- Então tudo não passou de pena para você? – Falei, ainda de costas para ele. Eu não conseguia encará-lo, minha vista já estava turva, sinal que as lágrimas começariam a cair a qualquer instante.
- Você sabe como são os homens, não resistimos a um olhar tristonho das mulheres. – Escutei seus passos se aproximarem de mim. – Espero que você entenda.
- Mas é claro que entendo. – Falei, limpando minhas lágrimas e me virando para ele. – E também agradeço a você.
- Por quê?
- Por ter me mostrado que tudo que eu esperava de um homem era a mais pura verdade. – Falei, desviando-me dele e andando até a porta.
- , espera. – Ele segurou em meu braço – Eu...
- Tenha uma ótima viagem. Espero vê-lo... Oh, espere um segundo. Espero nunca mais vê-lo em minha frente. Adeus.
Fechei a porta da biblioteca com força e comecei a correr pelo corredor.
As lágrimas caíam do meu rosto à medida em que eu ia correndo. Passei pela sala, reparando que as malas de e não estavam mais lá, sinal de que eles já iriam embora.
Talvez fosse melhor assim. Sem eles por aqui, eu poderia finalmente colocar minhas ideias no lugar e viver minha vida de acordo com as minhas obrigações de princesa, sem perder tempo imaginando o que havia acontecido comigo em Londres e o que aquele pequeno bastardo e arrogante significava em minha vida. Havia sido perda de tempo, ele estava apenas com pena da tonta princesa sem memória. Eu deveria ter previsto, mas eu preferi acreditar em meu coração.
Estúpido e bobo coração, não tomará nenhuma decisão.
Entrei em meu quarto, jogando-me na cama. Agarrei meu travesseiro na esperança de que tudo passasse, mas não passaria, pois o urso que ele havia me dado estava a alguns metros de mim, fazendo minha mente recordar-se de seu rosto.
É. Não passaria.

O som dos gritos dos garotos invadia meus ouvidos, acordando-me do meu sono. Abri os olhos, percebendo que já era final de tarde. Eu queria dormir pelo menos até o amanhecer do próximo dia, ou do dia depois do próximo. Eu apenas queria dormir por um longo tempo.
Eu sentia todo o meu corpo doer e meus olhos arderem, talvez seja assim que garotas se sentem depois de descobrirem que o cara que lhe beijou estava apenas com pena de você por você ter perdido a memória. Eu deveria saber que ele não passava de mais um idiota arrogante que queria provar que podia domar a princesa indomável. Nada diferente dos outros.
Coloquei o travesseiro em meu rosto, tentando amenizar o som que os garotos faziam no gramado do castelo, mas os barulhos pareciam aumentar a cada segundo que eu empurrava o travesseiro em meu rosto.
Droga!
Levantei-me da cama, indo em direção à janela. Alguns garotos jogavam algum jogo, onde havia um taco e uma bola pequena, que eles tentavam acertar. Homens e suas fissuras por bolas. Abri a janela vagarosamente e coloquei minha cabeça para fora.
- Ei, garotos, vocês poderiam...?
E antes que eu pudesse terminar minha frase, senti uma pequena superfície bater em minha testa, fazendo-me cair no chão. E, então, tudo ficou claro.

(...)
Há um mês minha irmã, Lucy, havia falecido em um acidente de carro. Minha mãe, que morava e cuidava dela, estava deslocada e totalmente frágil com toda essa situação, então sua irmã avisou a mim e ao meu pai e, sem pensar duas vezes, pegamos o primeiro voo para Londres. Lucy sempre foi independente, nunca gostou desse negócio de ser princesa, achava uma perda de tempo. Lucy era o tipo de garota que não era domável, ela fazia o que queria na hora que queria e nada a impedia, nem mesmo quem a colocou no mundo.

(...)
- Se você não fechar a boca, vai entrar mosca.
- Você é irmã da Lucy? A ex-Britney Spears que virou uma cópia quase exata do Marilyn Manson?
- Como?
- Ah, me desculpe.
- Não precisa se desculpar, eu sei muito bem no que minha irmã se tornou. E você, era amiga dela?
- A Lucy, ela... Bem, ela não era tão amigável com pessoas como eu. – Ela abaixou a cabeça.
- Pessoas como você?
- É, losers.


(...)
-O nome disso é hambúrguer, você nunca comeu?
- Não, é seguro? – Perguntei, pegando aquilo e analisando-o.
- Sim, e muito gostoso. – Dei de ombros e dei uma mordida.
- Oh, meu Deus!
- O quê? Não gostou?
- Isso é incrível. Por que eu nunca provei isso?
- Você nunca comeu um hambúrguer?
- Não, mas agora eu não quero nunca mais parar. – Falei, devorando o hambúrguer.
- De onde você veio?
- Florença, Itália. Minha mãe é de Londres, meu pai é da Itália, eles namoraram, casaram, e quando eu nasci eles se separaram. Papai ficou comigo e Lucy com mamãe, mas todas as férias nós trocávamos, Lucy ia para lá e eu vinha para cá.


(...)
-O que é isso?
- Um band-aid, é o mais legal o da MTV. – Ele falou, tirando o pacote e colocando em minha testa. – Ele é bem estilo.
- Obrigada. – Escutei o toque ecoar pela sala. – Mas vai ser preciso mais do que um band-aid para conquistar minha simpatia, .


(...)
- Feche os olhos.
- Por quê?
- Você confia em mim? – Ele perguntou, olhando em meus olhos, com um sorriso em seu rosto.
- Confio. – Falei, fechando os olhos.
- Londres é uma das cidades mais lindas da Europa. Dizem que Paris é a cidade luz, mas quem disse isso nunca viu Londres à noite. – A roda-gigante parou de se mexer, fazendo-me sentir o vento gelado da noite de Londres bater em meu rosto. – Londres deveria ser a cidade luz, mas a rainha deixou que os franceses ficassem com a expressão. Londres é linda por si só e não precisa ser conhecida por algum pseudônimo idiota. Pode abrir os olhos. – Abri meus olhos. – Londres é perfeita.
- Isso é lindo. – A vista de cima do ponto mais alto da roda gigante era perfeita. As luzes da rua faziam caminhos iluminados sem fim, as casas e prédios com luzes alternadas em acesas e apagadas se destacavam no meio de mais uma noite fria e as pessoas e carros nas ruas faziam Londres parecer um quadro lindo ao vivo. Era perfeito. Olhei para baixo, vendo as luzes do parque se misturarem com a vista; era uma vista e tanto. Tornei meu olhar para frente, sentindo meus olhos brilharem observando o Big Ben iluminado, destacando-se no meio dos outros lugares da cidade. Londres só não recebia o nome de cidade luz por bondade da rainha com os franceses. Eu tinha certeza disso agora.
- Não tão lindo quanto você. – Ele disse, fazendo-me olhar para ele. – Você é a única que não percebeu.
- O quê? Que a vista de Londres é melhor do que a de Paris?
- Não. Que eu estou apaixonado por você. – Ele disse, olhando em meus olhos. – Eu jurei para mim mesmo nunca sentir isso, mas você apareceu e eu não pude evitar. Eu simplesmente me apaixonei por você. Eu estou apaixonado por você, . – Ele sorriu nervoso, fazendo um sorriso se alargar em meu rosto. – Você não vai dizer nada?
- Eu não. – Eu disse, dando de ombros, vendo-o abaixar a cabeça. Aproximei-me dele, colocando minhas mãos em seu rosto, e fiz com que ele olhasse para mim. Seu olhar era triste, vago. E, por um momento, me arrependi de não tê-lo respondido no primeiro momento que eu estava sentindo também. Mas logo vi um sorriso tomar conta de seu rosto, fazendo-me sorrir também.


(...)
- Você está vendo isso? – Falei, apontando para a tatuagem que ficava no pulso de Lucy e podia ser vista nitidamente no televisor. – Está escrito Flawless Curse. – Levantei a manga da minha blusa de manga comprida até o cotovelo. – Está vendo isso? – Levantei meu braço apontando para o meu pulso. – Flawless Curse. Eu e Lucy fizemos isso quando descobrimos, aos dezesseis anos, que éramos amaldiçoadas.
- A-amaldiçoadas? – Ela gaguejou, olhando-me surpresa.
- É. Lucy e eu somos amaldiçoadas. – Falei, andando até o sofá, finalmente deixando que meu corpo caísse no mesmo, dando-me por vencida. Eu já não estava aguentando mais guardar isso dentro de mim, eu não podia mais esconder de Mel a verdade sobre as filhas perfeitas dos Gillbards. – A família do rei foi amaldiçoada há trezentos anos. Uma bruxa jogou a maldição em nossa família quando foi renegada por nosso descendente, o rei Alexander, de que toda mulher descendente do rei carregaria consigo a maldição de que todo homem que ela amasse iria morrer, a não ser que o último o descendente da bruxa fosse sacrificado.
- Então vão atrás desse descendente.
- Não podemos. O rei não acreditou na maldição da bruxa, achou que era apenas mais uma das renegadas por ele. Mas tudo mudou quando sua filha fugiu de casa para se casar com um guarda do palácio e, depois da meia-noite, o garoto foi atacado por lobos acinzentados até a morte. O rei mandou seus homens atrás da bruxa, mas o máximo que encontraram foi uma casa vazia. Eles procuraram pela bruxa, mas nunca a acharam. Flawless Curse significa Impecável Maldição.
- Não entendi.
- Foi um jeito mais engraçado de zombar dessa nossa sina. Impecável era como as filhas do rei eram chamadas, as perfeitas filhas do rei que nunca conheceram o errado. Era um jeito sarcástico de zombar de todos, ou seja, aqueles babões que ficam ao nosso redor; e maldição porque vai nos acompanhar desde o berço até nosso túmulo. É a nossa sina.


(...)
- Pensei que vocês nunca chegariam. – Greta falou, dando alguns passos para frente, parando em frente à luz, onde pude perceber a lâmina de aço brilhando em sua mão.
- Não chegue perto.
- Vamos lá, , eu sei que você quer ver sua princesinha feliz, não quer? – Greta falou, e olhou para mim. – Imagine você dois juntos, para sempre, sem ter que se preocupar com o que possa acontecer quando a noite cair.
- , não. – Falei, vendo-o se afastar um pouco de mim.
- É tudo culpa minha, . – Ele se afastou de mim. – Ela me trará de volta e nós poderemos ser felizes. – Ele disse, as lágrimas rolando de seus olhos por sua face.
- Com toda certeza.
- Pronto. – Ele parou em frente à Greta. As lágrimas rolavam por meu rosto e caíam em meu vestido sujo de terra. – Eu estou pronto.
- , não!
Meus pés se moveram rapidamente até onde estava e, antes que a faca o atingisse, senti uma superfície gélida deslizar por entre os tecidos da minha barriga.
Preto. Tudo estava preto.


Minha cabeça rodava e começava a doer. Não sei se era da queda ou era velocidade em que minha memória voltava; era forte e passava por entre meus olhos como raios quando tocavam o chão: rápido, inesperado e assustador. Eu me lembrava de cada pedaço do que eu vivi em Londres, desde a minha chegada até o motivo da minha volta para Florença e meu sangue fervia apenas em pensar isso. Tudo fazia sentido a partir de agora, e eu poderia fazer justiça e dar a Lucy o que ela merece.
Abri meus olhos vagarosamente, vendo todos ao meu redor. Lorenzo estava desesperado rezando para que eu não morresse, enquanto meu pai e minha mãe me abanavam. Mas não eram eles que me preocupavam no momento, era alguém que não estava ali e que eu iria encontrar logo.
- Você está bem, minha filha? – Meu pai perguntou, ajudando-me a sentar.
- Melhor do que nunca. – Falei, apoiando minhas mãos no chão e fazendo força para me levantar.
- Você não deve fazer esforço, você está... – meu pai interrompeu sua frase quando eu já estava em pé – em recuperação.
- Creio que isso não esteja mais acontecendo. – Falei, andando até a porta e abrindo-a.
- Onde você vai?
- Fazer o que eu deveria ter feito antes de perder a memória. – Falei, fechando a porta atrás de mim.
O quarto de Lucy ficava no final do corredor, e eu podia escutar as risadas dela vindo do mesmo. Meu sangue fervilhava a cada passo fundo que eu dava no tapete do corredor, eu ainda não podia acreditar que a minha própria irmã havia armado contra tudo e todos e tinha saído ilesa disso. Eu sabia que Lucy era uma vadia sem coração, mas não a ponto de fazer sua família pensar que ela estava morta apenas para quebrar essa maldita maldição para fugir com um garoto idiota.
Abri as portas do quarto de Lucy, vendo-a falar ao telefone com alguém. Assustada, ela se virou para mim e, antes que ela pudesse formular alguma palavra, minha mão atingiu seu rosto, fazendo seu celular pular longe.
- Você está louca? – Ela colocou a mão no lugar onde minha mão havia habitado por alguns segundos. – Além de perder a memória? – Ela olhou assustada para mim. – Sua memória voltou?
- Como você pôde fazer isso? Como você pode enganar a todos?
- Eu nunca fui importante para essa família. Não faria diferença se eu morresse ou não, eles teriam a você.
- Você sabe que as coisas não são assim.
- As coisas são exatamente assim. Você sempre foi a preferida de todos, do papai e da mamãe, dos criados, do povo de Florença e até do único garoto que eu gostei de verdade. Você acha que não doía ver todos te paparicando, dizendo o quanto te amavam e esperavam que você fosse a rainha de Florença? E como você era perfeita? Enquanto a mim, eles só viam uma aberração?
- Isso não justifica o que você fez.
- Eu fiz por amor, eu fiz por você! Eu queria que você tivesse uma vida normal, que pudesse sair de casa e viver! Eu queria que nós pudéssemos ser normais, pudéssemos sair e não ter hora para voltar! – As lágrimas rolavam do rosto dela, e meu coração começava a amolecer. – Greta me prometeu tudo isso, e eu apenas acreditei. Eu queria que tudo fosse diferente. – Lucy deixou seus joelhos cederem, caindo ajoelhada no chão.
- Eu... Eu sinto muito. – Falei, sentindo as lágrimas deixarem minha visão turva. Andei até Lucy, ajoelhando-me ao seu lado. – Eu sinto tanto, Lucy. – Abracei-a forte.
- Eu também, .
- Tudo vai ficar bem, Lucy. Eu prometo.


Capítulo 23 – Under The Truth


- Um dia você vai cair daí de cima.
- Lorenzo! – Falei, colocando a mão em meu coração – Você quer me matar? – Continuei olhando para a sacada do meu quarto, onde ele estava.
- Você deveria estar sentada nesse telhado? – Ele perguntou, apoiando-se na grade.
- Não. – Falei, olhando para frente e admirando o gramado do palácio.
Eu estava sentada no telhado ao lado da sacada do meu quarto, onde o vento batia e parecia levar todo o aperto dentro do meu peito. Da sacada, podia se sentir o vento, mas não o gosto da liberdade. Fazia uma semana, a mais longa semana de toda a minha vida. Todos ainda estavam contentes com a volta da minha memória, principalmente os criados, que agora não teriam que ficar repetindo seus nomes toda vez que eu fosse falar com eles. Mas nada superava a felicidade dos meus pais em saber que Lucy e eu finalmente tínhamos nos entendido, até agora. Estava tudo bem, ou, aparentava estar bem, pois algo dentro de mim ardia do lado esquerdo, algo que não me deixava dormir.
Algo não. Alguém.
Um erro. Essas palavras ficavam batendo dentro da minha cabeça a cada segundo que meu coração batia, ardendo dentro do peito. Por que diabos diria algo daquele jeito para mim? Ele sabia o quanto significava para mim e sabia o quanto eu o odiaria por aquela simples palavras saírem de sua boca, então por que ele dissera aquilo sabendo as consequências?
Sete dias foram o suficiente para meu coração aceitar o que minha consciência já sabia que aconteceria: havia seguido em frente. E seguido em frente sem mim.
era um garoto que gostava de sair e de se divertir com os amigos; era um jovem britânico normal e, com uma namorada como eu, não poderia nem ao menos aproveitar uma festa sem que alguém caísse morto segundos depois. Era difícil e extremamente doloroso, mas era assim a vida para alguém que carrega uma maldição onde a única solução é matar a pessoa que ama. Então eu preferia viver sozinha para o resto da minha vida a matar a pessoa que amo.
Eu nunca me perdoaria por isso. Eu o deixaria ser feliz, mesmo que fosse para a minha própria infelicidade.
- Você deveria estar aqui?
- Ouch! Recuperou a memória mesmo, já começou a ficar ignorante outra vez.
- Desculpe. – Abaixei a cabeça, encarando o celular em minhas mãos.
- Você não vai ligar para ele?
- Ele deveria ligar para mim, Lorenzo. – Falei, olhando para ele. – É o meu aniversário.
- Vai ver ele esqueceu...
- Ele não esqueceu. O e a estavam na escola quando me ligaram para desejar parabéns. Ele sabia, só não quis ligar.
- Ele...
- Não tente arrumar uma desculpa para ele. – Falei, levantando e me virando para Lorenzo. – Se ele realmente gostasse de mim, não teria falado aquelas barbaridades para mim. Foi apenas um jogo para ele, e eu já aceitei isso.
- Você não pode guardar esse ódio todo dele em seu coração. Vai te matar aos poucos.
- Eu já o perdoei. – Falei, estendendo a mão para ele, que me ajudou a descer do telhado e ir para a sacada. – Não me fará bem guardar rancor para sempre. E eu não posso guardar rancor de uma pessoa que só quis viver sua vida com a certeza de que viverá mais um dia.
-
- Essa é minha maldição. Maldição, o nome já diz tudo. – Falei, andando até meu quarto.
- Oh, meu Deus, você ainda não está vestida. – Marta entrou no meu quarto. – Você sabia que os convidados já estão começando a chegar? Vamos, mocinha, para o banho agora! – Ela me empurrou em direção ao banheiro, virando-se para Lorenzo em seguida. – E você, saia daqui, vá se arrumar.
- Sim, general. – Ele respondeu, batendo continência.
- Que audácia. – Marta falou, jogando um pincel nele. – Saia daqui, seu pirralho.
- Já estou indo, mãe. – Ele falou, correndo do meu quarto.
- E você? – Marta se virou para mim. – O que está esperando para tomar seu banho? Agora, vamos. – Ela me empurrou de volta para o banheiro.

Marta havia feito o seu trabalho “transforme uma princesa que se veste como um mendigo em uma verdadeira princesa” em menos de uma hora.
Eu podia ver em seu rosto que ela estava se divertindo com isso, principalmente quando fazia questão de lembrar o quanto ela cuidou de mim sem escutar reclamações quando eu estava sem memória. E eu fazia questão de rebater dizendo-lhe que eu estava em um momento em que eu não podia argumentar – eu estava sem memória e não me lembrava o quanto isso era irritante e entediante. Mas eu sabia que Marta cuidava de mim como cuidava da filha que ela nunca teve, por isso agradecia todas as vezes que ela me tratava como se fosse sua.
Marta teve a má sorte de só ter filhos homens quando ela queria filhas mulheres. Ela sempre disse que podia ter tido pelo menos uma para que ela aplicasse o que foi lhe ensinado de geração a geração, mas, em compensação, os filhos de Marta eram rapazes extremamente inteligentes e extremamente gatos – sorrisos de matar, olhos vibrantes e chamativos e um corpo de dar inveja a qualquer velhote com barriga de cerveja. E, o principal detalhe, todas as garotas estavam encantadas por eles.
I figli di Martha*, eram assim que eles eram conhecidos. Não eram príncipes, mas paravam o trânsito e tinham milhares de candidatas. Eu poderia ser uma candidata, se meu coração não pertencesse a outro.
Argh! Droga.
Aqui estava eu, uma semana depois, ainda pensando nele. Eu não podia culpá-lo por ter me abandonado, pois seria totalmente injusto julgá-lo por querer ter uma vida normal, sem uma namorada que carregava consigo um carma ruim. Eu simplesmente aceitaria o fato de que ele só estava sóbrio o suficiente para fazer o que qualquer um faria em seu lugar: fugir e esquecer. Era o que qualquer um faria; foi o que ele fez.
E eu não podia odiá-lo, nem que fosse por uma fração de segundo, nem por um momento sequer, pois eu sabia, dentro do meu peito, que não era permitido. Nem com todo o esforço do mundo, meu coração permitiria que isso acontecesse, não quando o que ele sentia era totalmente o contrário. Eu não era mais a garota novata que teve a sorte de sair com o cara mais popular da escola, eu era agora a princesa que havia se apaixonado perdidamente pelo o garoto que sabia de seu segredo e não havia fugido – até agora.
Mas deixe-me corrigir algo. Paixões são passageiras, coisas rápidas, que não teriam importância. Eu sabia que o que eu sentia por era algo totalmente diferente. Era aquela terrível vontade de tê-lo ao meu lado todo o tempo e acordar vendo seu sorriso tímido, ter seus braços ao redor de minha cintura e ter seus lábios colados aos meus. Isso não era paixão, era algo maior que fazia meu peito doer só de pensar em não tê-lo comigo. Era um sentimento louco que muitos provavam ao longo de sua vida, mas poucos tinham a sorte de ser correspondidos. Aquilo era amor.
E eu sabia que dias, meses e anos podiam passar, eu poderia já estar casada com filhos e eu nunca conseguiria esquecer . Porque eu sei que ele é o único ao qual meu coração iria pertencer, e eu não iria esquecê-lo. Eu guardaria cada momento que passamos juntos dentro da minha memória para que elas habitassem minhas noites de sonos e transformassem tudo o que eu desejava em realidade. Pelo menos uma vez, eu iria tê-lo para mim, só para mim.
O amor é uma virtude, mas um amor correspondido é um milagre.
Marta terminou de arrumar os últimos detalhes do meu vestido e fez minha maquiagem – simples e que não chamasse muita a atenção, pois ela sabia que eu odiava. Eu estava pronta em menos de duas horas, e só faltavam meus sapatos, que estavam ao lado de minha cama.
Sem querer, meus olhos passaram de meus sapatos para um ursinho que se encontrava em cima da cama. Ele tinha seu cheiro e, nessa última semana, eu havia dormido abraçada a ele.
- Você está linda. – Marta falou, olhando para meu reflexo no espelho.
- Graças a você, Marta. – Falei, levantando-me. – Tenho que admitir, você faz milagres. Transformar-me em uma princesa outra vez depois de uma temporada de plebeia em Londres deve ter sido uma tarefa difícil.
- Você é linda, . – Ela falou, segurando em minhas mãos. – Eu só realcei isso.
- Obrigada, Marta. – Dei um abraço nela. – Obrigada por tudo mesmo.
- Não foi por nada, querida. – Ela me soltou.
- Filha? Você já está pronta? – Meu pai entrou em meu quarto. – Nossa! Você está linda!
- Obrigada, senhor. – Falei, fazendo reverência.
- Você cresceu tão rápido. Parece que foi ontem que a segurei em meus braços.
- Não fica assim, pai. – Falei, andando em sua direção e abraçando-o pela cintura. – Eu sempre serei sua garotinha.
- Não, filha, – ele se afastou – você agora é uma mulher.
- Uma linda mulher. – Minha mãe apareceu ao lado do meu pai. – Você está linda.
- Tudo graças a Marta. – Falei, olhando para ela. – E, falando em Marta, o que você ainda faz aqui? Vá se arrumar.
- Para quê?
- Você é minha convidada. Vamos, Marta, você tem que estar linda no meu aniversário.
- Obrigada, Sua Majestade.
- Chame-me de tudo, Marta, menos de Sua Majestade. Eu me sinto velha que nem meu pai.
- Ei! – Meu pai protestou, fazendo com que ríssemos. Marta deu um beijo no topo da minha cabeça, saindo logo em seguida.
- Onde está Lucy?
- Ela disse que foi esperar seu acompanhante.
- Ela tem um acompanhante? – Perguntei surpresa.
- Foi isso que ela disse antes de sair.
- Nossa! Por essa eu não esperava.
- Vamos, então? – Meu pai perguntou, estendendo os braços para mim e minha mãe.
- Com todo o prazer, senhor Jonathan. – Falei, colocando minha mão na curva de seu braço.
Meu pai nos guiou pela escada que dava até a sala, e eu jurei ter visto olhares significativos durante o percurso que fazíamos até a escada que dava até o gramado, onde estavam todos os convidados.
- Vossa Majestade, o rei Jonathan com sua linda esposa, Emily, e sua filha, aniversariante e princesa, . – O guarda anunciou nossa chegada, e todos os convidados pararam para nos ver descer a escada. Mas os convidados eram o de menos, perto do que meus olhos conseguiam ver.
Tirei meu braço da curva do braço de meu pai e corri em direção à ela, abraçando-a o mais forte possível.
- Wow! Recepção calorosa essa. – falou, enquanto eu a esmagava em um abraço.
- Eu pensei que vocês não viriam. – Falei, separando-me dela.
- E perder os quitutes? – perguntou, colocando alguns petiscos, que estavam em cima da mesa, em sua boca.
- Ai, , seu idiota. – Dei um empurrão em seu ombro e o abracei. – Eu também senti sua falta.
- Eu também senti. – Ele me soltou. – Nós trouxemos um presente para você. Está lá no seu quarto.
- Verdade? O que é?
- Não vamos dizer. – falou.
- Fala, , por favor.
- Não, é surpresa.
- Diz, por favor.
- Nossa! Como você é chata. Não digo e ponto. – falou, cruzando os braços.
- Você é a pior melhor amiga do mundo.
- Não sou não. Eu vim para o seu aniversário em semana de aula.
- Hoje é sexta.
- Mas eu vim e ainda trouxe meu lindo namorado. – Ela o abraçou pelo pescoço, e eu abaixei a cabeça. – Ele não tem ido à escola.
- Eu não quero saber, .
- Ele não anda mais com a gente.
- Eu não me importo, . Ele escolheu assim.
sabia do que eu estava falando. Logo que recuperei a memória, uma semana atrás, eu contei a ela tudo que havia acontecido desde que eu havia chegado a Florença – desde minha briga com Lucy até a volta da minha memória – aos dias atuais. escutou tudo sem me interromper e, depois de escutar as barbaridades que tinha me dito, ela tentou me consolar ao máximo. A única coisa que eu pude fazer foi escutá-la e pedir que ela nunca mais tocasse no nome dele.
- Tudo bem. – Ela disse, levantando as mãos. – Você não deveria cumprimentar os convidados?
- Você tem razão. Volto em um minuto. – Falei, indo em direção ao local onde alguns convidados se encontravam.
Cumprimentei a todos que me desejaram feliz aniversário. A maioria dos convidados eram amigos de meu pai, membros da nobreza para ser mais precisa, mas ainda podia se ver os trabalhadores do castelo que animavam a festa com sua enorme alegria. E era deles que eu mais gostava – eles me recebiam com abraços calorosos e ainda tiveram a atenção de se juntar algum dinheiro para comprar um presente para mim, muito diferente de alguns nobres que vinham apenas para reclamar da festa quando chegassem em casa.
Papai sempre dizia que quando eu era criança fugia para a cozinha apenas para observar os criados trabalharem. Ele dizia que eu odiava a atenção que me davam e sempre fugia para cozinha para ser tratada como um deles. Eu me sentia segura lá; talvez fosse o único lugar que eu me sentia segura nessas festas, onde a atenção era virada para mim.
- Olha quem apareceu, rapazes, a nossa querida princesa. – John falou. – Façam reverência, seus idiotas. – Ele continuou, e todos o obedeceram.
John era o filho mais velho de Marta e, acompanhado de Lorenzo, Marcus, seus irmãos, e mais alguns rapazes, formavam o time de futebol da universidade de Florença. Lorenzo era o mais próximo de mim, pois passava mais tempo comigo por trabalhar no castelo e ter sido criado junto comigo.
- Deixe de baboseira, seu besta. – Dei um empurrão nele. – Eu já disse para vocês me tratarem como se eu fosse uma de vocês.
- Se eu fosse você... – a fala de Lorenzo foi interrompida pelo cajado do criado que anunciava as entrada de membros importante da realeza. Lorenzo estava com os olhos arregalados, fazendo a curiosidade tomar conta de mim.
Virei meu rosto na direção da escada, sentindo a curva do sorriso que se encontrava em meu rosto se desmanchar.
- A princesa Lucy com seu acompanhante, .
Meus olhos piscaram algumas vezes para ter certeza de que aquilo não era uma ilusão ou coisa da minha cabeça. Lucy estava com um sorriso estampado em seu rosto, enquanto estava com a expressão séria, quase parecendo que ele não queria estar aqui.
Lucy vestia um vestido branco e longo, enquanto vestia um terno, mas seus pés calçavam coturnos, em vez de sapatos para festa.
Minha respiração parou quando seus olhos encontraram-se com os meus. Meu coração batia devagar dentro do peito, não acreditando no que meus olhos presenciavam. Eu estava estática no mesmo lugar, apenas observando Lucy andar em minha direção agarrada no braço de . Acidentalmente, uma lágrima desceu por meu rosto e logo tratei de limpá-la. Eu não me faria de frágil.
- Parabéns, minha irmãzinha. – Lucy falou, abraçando-me forte. – Que você seja muito feliz. – Ela se separou de mim.
- Obrigada, Lucy.
- Desculpe o atraso. Eu ainda tive que buscar meu acompanhante no aeroporto. – Ela se pôs ao lado de . – Espero que você não se importe.
- Não. Eu não me importo nem um pouco. – Falei, olhando para e depois para ela. – Espero que aproveitem a festa. – Falei sarcástica.
- … – começou.
- Não, , eu entendi. – Interrompi-o. - Eu desejo, do fundo do meu coração, que vocês sejam felizes. – Dei um sorriso nervoso.
- Que bom que você entende. – Lucy olhou para ele e depois para mim. – O seu apoio era o que nós precisávamos.
- Hora de ser tratada como os outros, princesa. – John se intrometeu em nossa conversa antes que eu desabasse em lágrimas.
- O que...
John me pegou no colo, arrastando-me para a pista de dança. Tocava uma das minhas músicas preferidas e que marcou um dos melhores momentos da minha vida – quando John, o mesmo que me carregava agora, havia me chamado para dançar em meu aniversário de quinze anos. Essa mesma música tocava, e ele me pediu em namoro logo em seguida.
(I've Had) the Time of My Life era a nossa música. Mesmo que dois meses depois nós tenhamos decidido terminar e sermos amigos, nada mudaria o fato de que John havia sido o melhor namorado que eu já tive.
- Você lembra? – Ele perguntou, colocando-me no chão.
- Mas é claro que lembro. – Respondi, deixando-o me guiar de acordo com o ritmo da música.
- Então aquele é o babaca?
- Que babaca?
- O babaca pelo qual você está apaixonada.
- Pode-se dizer que sim.
- E o que deu errado?
- Isso é uma pergunta que nem eu tenho a resposta. – Ele me rodopiou.
- Partir para outra faz parte da vida, mas pegar sua irmã já é sacanagem.
- Eu não me importo, John. Não mais. Se isso fará Lucy feliz, que deixe como está. Hoje não é dia de desanimar, hoje é dia de felicidade.
- Por que nós não namoramos mesmo?
- Porque nós decidimos ser só amigos.
- Era estranho beijar alguém da realeza.
- Agora meu título é o culpado do término do nosso relacionamento?
- Nossa amizade é a culpada do término do nosso namoro. Eu confiava a você todos os detalhes da minha vida, e isso não estava certo.
- Mas eu agradeço por tudo, sabe? Se eu pudesse escolher viver outra vida, eu escolheria essa. Eu não tenho do que reclamar.
- Com a maldição inclusa?
- Do jeitinho que ela é, sem mudar nada. – Ele me rodopiou outra vez. – A vida não é feita só de coisas boas. – A música parou e todos aplaudiram. – Eu vou buscar uma água. – Falei, separando-me dele e apontando para a mesa de refrigerantes.
- Tudo bem, mas não me abandone. Eu não sei se consigo viver sem você.
- Idiota! – Falei, andando em direção à mesa de bebida.
- ? – Marta parou em minha frente, interrompendo que eu continuasse.
- Diga, Marta, minha linda.
- Você lembra daquele doce que eu fazia para você quando você era pequena?
- Aquele tubinho de chocolate recheado com morango?
- Esse mesmo.
- Lembro sim. Eles eram deliciosos.
- Eu fiz alguns para você, estão lá na geladeira.
- Eu não acredito. Eu posso ir buscar?
- Se você não mostrar ao seu pai.
- Obrigada, Marta. – Falei, abraçando-a.
Segui meu caminho, agora em direção à lateral do castelo, onde ficava uma escada que dava direto para a cozinha. Andei o mais devagar possível para não chamar atenção, principalmente de John, que dividia essa pequena obsessão pelos tubinhos de Marta comigo.
- O que você fez não tem perdão! – Escutei uma voz gritar. Eu reconhecia aquela voz, era a voz de . – Vir no aniversário da com a irmã dela depois da cagada que você fez foi o auge da falta de respeito, !
Aproximei-me um pouco mais, podendo ver os dois a apenas alguns metros de mim.
- , por favor, me entende.
- Te entender? Eu não posso conhecer a por muito tempo, mas eu sei que ela nunca faria nada como isso com você.
- Você acha que eu tive escolha?
- Sempre há uma escolha.
- E se eu tivesse escolha, eu escolheria ficar com a . Acredite, eu a escolheria sem dúvida alguma, mas eu não posso, eu preciso protegê-la. – Ele abaixou a cabeça.
- E ficar com a Lucy tem o que haver com isso?
- É complicado, . Eu não posso falar disso.
- Seja homem, . – deu um empurrão nele, e eu abafei um grito de dor. – Pelo menos, uma vez em sua vida, admita que você brincou com a única menina que realmente se importou com você. Você é um covarde, e eu não sei como eu fui virar seu amigo. Você...
- Eu a amo! – interrompeu . – Eu a amo e por isso estou fazendo todo esse showzinho. É por isso que eu vim até aqui com a Lucy. Será que você não vê, ? Será que você não percebeu? Eu amo aquela garota e, desde que eu saí dos enormes portões desse palácio, eu desejei voltar e dizer o tanto que eu a amo e gritar para o mundo que ela seria minha para sempre. Mas às vezes quando se ama, você tem que pensar nos outros em vez de você. Eu preferiria morrer a ter que ver a machucada, e esse foi o único motivo por eu ter mentido para ela. Ela corre perigo e, por amá-la tanto, eu tenho que ficar o mais longe possível dela. Eu estou pela primeira vez amando e nem ao menos posso dizer a ela.
Uma lágrima desceu por meu rosto e tocou meus lábios, que sustentavam aquelas palavras que saíam da sua boca com um sorriso. Ele me amava, e não tinha sido uma alucinação ou um sonho que eu estava vivendo. Era a realidade, era a mais pura realidade.
Minha respiração acompanhava meu coração em um perfeita sintonia. Os dois estavam acelerados como nunca antes, e minhas pernas estavam fracas. Eu sentia que, a qualquer momento, eu poderia cair ali mesmo, mas eu cairia feliz. Os meus ouvidos haviam escutado as palavras que qualquer garota queria ouvir, e eram palavras sinceras, que apenas um coração que estava amando poderia reproduzir com toda a sinceridade através de um simples par de palavras.
Oh, Deus, ele me ama.
Ele me ama.
E-L-E M-E A-M-A.

- Bem, você já disse. – fez com que eu saísse do meu transe quando apontou para mim, fazendo olhar para mim. – Eu acho que ouvi a me chamar. – Ele começou a andar até a minha direção. – Vou ver o que meu amor quer.
passou com mim e murmurou um Boa sorte e seguiu seu caminho. Minha cabeça continuava abaixada, e eu podia sentir minhas bochechas queimarem.
- Eu te trouxe um presente.
- Verdade? – Perguntei, levantando a cabeça e olhando pela primeira vez em seus olhos.
- Se você tivesse deixado, eu teria lhe dado logo quando cheguei. – Ele começou a andar em minha direção.
- Você estava muito entretido, e eu não queria atrapalhar.
- É para você. – Ele parou em minha frente e estendeu uma caixa de veludo azul. – É um cordão, eu comprei em uma loja vintage. Eu sei o quanto você gosta dessas coisas.
- Obrigada. – Falei, abrindo a caixa e vendo o cordão que estava lá. – É lindo. Você pode colocar em mim? – Perguntei, estendendo o cordão a ele.
- Claro.
Ele pegou o colar de minhas mãos e eu me virei de costas para ele, afastando meu cabelo. Ele passou o cordão por cima de minha cabeça, fechando-o.
- Obrigada. – Falei, virando-me para ele e dando de cara com seu rosto a centímetros do meu.
Seu nariz tocou o meu e eu automaticamente fechei os olhos, sentindo sua respiração bater em meu rosto e logo seus lábios tocarem os meus. Suas mãos rodearam minha cintura, puxando-me para mais perto e colando nossos corpos, enquanto minhas mãos soltavam a pequena caixa de veludo e travavam o caminho de seus braços até seu cangote, entrelaçando meus dedos em seus cabelos. Sua língua passou por meus lábios, fazendo-me entreabri-los e deixar sua língua tocar a minha, o que causou uma pequena corrente por meu corpo inteiro e fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem involuntariamente.
Sua língua explorava cada canto da minha boca e ainda estava sincronizada com a minha como em uma perfeita valsa – sem erros, sem paradas. Eu sentia como se todo o meu corpo relaxasse; minhas pernas estavam fracas e parecia que a única coisa que me sustentava eram seus braços, que seguravam minha cintura fortemente, como se quisesse que eu nunca fosse embora. Mesmo que eu fosse obrigada, eu não conseguiria, pois em seus braços era o único lugar em que eu me sentia segura, protegida e totalmente anestesiada.
Era assim que o amor era. Essa estúpida necessidade de sentir cada pedaço do corpo do outro, podia ser em um beijo, em um abraço ou apenas em um aperto de mão, apenas para senti-lo, pois o amor tornava o mundo miserável em que vivemos um lugar decente de se viver, um lugar melhor. O amor causa isso nas pessoas; o amor estava causando isso em mim, e eu não queria que fosse embora nunca mais. Porque amar alguém, mesmo que não seja recíproco, é a melhor coisa do mundo. É o que impede o ser humano de ser um total robô e o transforma em um ser com sentimentos, sendo eles ruins ou bons. É o motivo do mundo girar, de cada ser humano ter nascido; era o motivo de filmes românticos fazerem sucessos e músicas melosas serem as melhores. Amor é o que todos procuram, é que todos um dia esperam encontrar para sua felicidade ser completa, para que aqueles calafrios, sorrisos bobos, sonhos estúpidos e pequenas lembranças com aquela pessoa, que fazem um sorriso nascer em seu lábio, fazerem sentido.
O amor não faz sentido, não para aqueles que não amam. Mas para aqueles que o sentem correndo em suas veias, é um sentimento impossível de se largar.
O ar de meus pulmões havia sumido e, por mais que eu não quisesse largar dos lábios de , eu tinha ou iria morrer.
Separamos nosso lábios e apenas podia se escutar o som alto que vinha do outro lado do castelo.
- Eu te amo. – Falamos ao mesmo tempo.
- Eu disse primeiro. – falou, dando-me dando um selinho.
- Onde fica seu cavalheirismo, ? – Falei, cruzando os braços.
- Eu realmente disse primeiro. Não para você, mas para o .
- Essa não vale. – Falei, dando um empurrão em seu ombro.
- Desculpe por ter mentido quando você estava sem memória. Eu não queria, mas foi preciso. Eu preciso te proteger.
- Proteger? Proteger do quê? – Falei, separando-me dele.
- Isso não é fácil de se falar. E não é hora, nem lugar. – Ele abaixou a cabeça.
- O que é tão grave que você não pode falar?
- É sobre sua irmã, . – Ele levantou a cabeça. – A Lucy, ela...
- ? – foi interrompido por John, que estava atrás de mim. Virei-me imediatamente para ele. – Seu pai está te procurando e ele disse que é urgente. Eu estou atrapalhando algo?
- Está sim. – deu um passo em direção a John, ficando ao meu lado.
- Algum problema, britannico?
- Calma, rapazes. – Falei, empurrando cada um para o lado. – Onde meu pai está?
- Ele está na biblioteca.
- Tudo bem, eu vou ver o que ele quer.
- Eu vou te esperar aqui. – falou, segurando meu rosto e me dando um selinho demorado.
- Tudo bem. – Falei, andando de costas e olhando para os dois. – Não se matem.
Subi as escadas que davam para a cozinha e atravessei quase correndo o corredor, já que essa cozinha me dava calafrios à noite. Continuei meu caminho até a biblioteca e escutei soluços altos vindo da mesma. Apressei meu passo e entrei na biblioteca com tudo.
Minha mãe estava sentada no sofá com as mãos em seu rosto, enquanto meu pai a consolava.
- O que está acontecendo aqui? – Perguntei, olhando para minha mãe.
- Você deve ser a . – Uma mulher, que estava parada ao lado da prateleira de livros antigos do meu pai, falou. Ela vestia um vestido de festa, e seus cabelos soltos encaracolados e ruivos destacavam seu rosto branco, quase pálido.
- Sou sim. Quem gostaria de saber?
- Eu sou Germana, sou irmã de Greta.
- O quê? Guardas, prendam-na. – Falei, apontando para ela e olhando para Lorenzo, que estava parada ao lado da porta.
- Acalme-se, . – Ela falou. – Eu estou aqui para ajudar.
- Sua irmã já tentou isso e me deu uma cicatriz de presente, obrigada.
- Greta nunca ajudou sua família. Ela tentou ao máximo destruí-los.
- Do que você está falando?
- Eu estou aqui para contar a verdade sobre você, sobre o seu destino e sobre a sua maldição.
Meus olhos arregalaram-se, e eu olhei diretamente para ela.
- Como você sabe sobre minha maldição?
- Como eu não poderia saber? Minhas descendentes a jogaram em você.
- Espere um segundo. Você é tia de ?
- Vamos dizer que uma prima distante, muito distante. A mãe de se mudou para Londres para ficar ao máximo longe das “loucuras” da família.
- Eu faria o mesmo. – Sorri sem humor. – Mas a senhora ainda não me disse o que quer comigo, já que não quer nos destruir.
- Você conhece a história da sua maldição?
- Conheço.
- Você poderia me dizer como é?
- Mas você...
- Apenas me diga. – Ela me interrompeu.
- Uma mulher que não conseguiu o amor do rei amaldiçoou todas as descendentes mulheres dele, dizendo que todo homem que ela amasse iria morrer, a não ser que um descendente dela morresse. Aí a maldição iria ser quebrada.
- Onde exatamente está isso?
- No livro de Charles P. James. Ele era um escritor muito famoso da época e escreveu sobre o mistério da família logo quando um garoto, que tentou fugir com a princesa, morreu.
- Você poderia vir até a mesa?
- Senhora, eu não preciso de uma aula sobre o meu toque de recolher.
- Meu Deus, garota, você tem um gênio difícil.
- Obrigada.
- , deixa de interrompê-la. - Lorenzo falou furioso.
- Desculpe. – Falei, andando até a mesa.
- Você reconhece esse livro? – Ela apontou para o livro, que estava à minha direita.
- Sim. É o livro de Charles P. James, onde contém a maldição. Uma edição mais nova usada em aulas de Literatura.
- Está vendo esse outro? – Ela apontou para o livro que estava do lado esquerdo. Era um livro velho, parecia bem antigo. – Leia o que está escrito na capa.
- Mezzanotte. Prima edizione. La storia del bene e del male, la sorella non avrebbe dovuto nascere. Charles P. James. (Meia noite. Primeira edição. A história do bem e do mal, a irmã que não deveria ter nascido. Charles P. James.) O quê? – perguntei, olhando para ela. Ela ignorou minha pergunta e pegou o livro, começando a lê-lo:
- Rosalie era uma mulher de muito rancor no coração, principalmente quando se tratava de Alexander, o homem que ela sempre amou desde pequena. Então Rosalie, com toda a amargura de seu coração, invadiu o castelo do rei e de sua esposa grávida de nove meses e disse as seguintes palavras: “Toda mulher que nascer descendente do rei vai conhecer o bem e o mal, e terá ter que sacrificar um bem maior. Nascerão duas de suas meninas; a primeira carregará todos os sentimentos ruins: raiva, dor, ódio, amargura, inveja e ira. E a segunda trará consigo todos os sentimentos bons: felicidade, compaixão, ternura e bondade. Mas, um dia, elas terão que se enfrentar. Quando as duas atingirem idade suficiente para se entregar totalmente ao amor, e as palavras “eu te amo” saírem de suas bocas, elas terão que lutar. E a segunda terá que matar a primeira para que os lobos a libertem do seu castigo da meia-noite. Se ela não o fizer, a primeira trará a escuridão e o sofrimento para todo o reino, até que não sobre mais nada. Mas, se ela o fizer, terá que conviver com os sentimentos ruins dali para frente.” E, ali mesmo, a rainha deu à luz uma menina e, um ano depois, à outra. E, então, ela soube que a maldição havia se concretizado; ela iria conhecer o bem e o mal e teria que sacrificar um bem maior, para o bem do seu reino. – ela fechou o livro e o colocou de lado.
Meu pés pareciam não tocar o chão, e meus joelhos fraquejaram logo que o livro foi fechado em meu rosto, fazendo-me sentar na cadeira que estava atrás de mim. As palavras daquela mulher ainda estavam sendo digeridas pela minha mente.
Eu não queria acreditar. Eu não podia acreditar. Minha visão começou a ficar embaçada, e as lágrimas começaram a rolar por meu rosto.
- Isso... Isso não pode ser verdade, esse livro é uma farsa. – Gaguejei, olhando para ela.
- Desculpe, mas não é. – Ela se sentou à minha frente.
- Mas as edições seguintes... Elas não mostram nada disso. Como, em anos, nada disso apareceu nos outros livros?
- O rei não queria que os outros soubessem da existência dessa maldição. Quando ele soube que Charles, ex-guarda do palácio, iria escrever sobre o que ele havia presenciado naquela noite, o rei pegou a única cópia que falava da verdadeira maldição e a guardou na biblioteca, onde apenas ele e a rainha saberiam onde estava.
- E como você sabe da existência desse livro?
- Minha mãe costumava contar essa história para eu e minha irmã dormirmos. Quando descobriu que era verdade, ela nos contou tudo, até sobre o livro.
- Mas por que você não apareceu antes? Por que esperar tanto tempo?
- Eu venho observando o castelo faz pouco tempo. Lorenzo, John, Marcus e Marta me ajudaram.
- Você sabia? – Perguntei, olhando para ele.
- Sim. – Ele andou até minha direção e se agachou ao meu lado. – Eu queria te contar, mas nós precisávamos esperar até ver se a maldição se concretizaria, e ela se concretizou.
- O que isso significa?
- Que você terá que cumprir o que a maldição diz.
- Mas como você sabe que eu sou a boazinha? Eu nem sou boazinha.
- Você faz tudo pelo seu reino. Você deu uma festa de aniversário para uma garota de dez anos, você se mudou para Londres para cuidar de sua mãe e você passa mais tempo preocupada com o povo de Florença do que com você. – Germana se levantou e começou a falar. – E hoje, você abriu mão do único cara a qual você estava disposta a dizer aquelas três palavrinhas para ele ficar com sua irmã. Mesmo sabendo que isso traria uma dor enorme em seu coração, você preferiu à dor a infelicidade dela.
- É errado querer a felicidade dos outros? – Perguntei, levantando-me.
- Errado não é, mas quando impede a nossa, às vezes, temos que nos colocar à frente. – Ela segurou minhas mãos. – Você sabe que o que eu estou falando é verdade. Dentro do seu coração, você sabe que eu tenho razão.
- Eu não posso.
- Ela está certa. – Meu pai falou, levantando-se. – Você deve cumprir o que a maldição diz.
- Pai.
- Eu sei. Lucy pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece um fim trágico desse jeito. E, acredite, eu tentei ao máximo evitar que a maldição se concretizasse, mas não pudemos evitar.
- Espera aí, você sabia da maldição original?
- Sabia. – Meu pai respondeu. – Quando eu me separei, pensei que a maldição nunca iria se concretizar. Lucy e sua mãe estavam em outro país, e você estava aqui, então nunca aconteceria de vocês duas se apaixonarem pelo mesmo garoto, e eu decidi contar apenas a parte da maldição que estavam nos novos exemplares. E, quando Lucy fingiu sua morte, achei que tudo isso havia acabado, mas sua mãe me contou que os lobos te seguiram enquanto você voltava do jogo, e eu pensei que a maldição não tinha acabado ou algo estava errado. Então, comecei a acreditar que os novos exemplares poderiam estar certos, e que o velho livro de Charles era apenas uma história fantasiosa. Mas, quando Lucy invadiu o castelo, eu soube que Charles não era um homem fantasioso. Ele estava certo quanto à maldição.
- Eu sabia que tinha algo de errado com ela. – Minha mãe falou, levantando-se e limpando as lágrimas. – Principalmente quando ela tentou me empurrar da escada.
- Aquela va...
- Lorenzo. – John entrou com tudo dentro da biblioteca, segurando uma bolsa de gelo no rosto, acompanhado por e .
- O que aconteceu?
- Lucy, ela me acertou. – John começou. – Ela levou o .
- O quê?
- Ela disse algo sobre ele ser a única esperança de que ela possa viver.
- Greta está com ela. – Germana falou. – Ela sabe de toda a verdade agora.
- Desculpe, , eu não pude evitar.
- Tudo bem, John. – Falei, passando a mão em seu braço.
- Então, o que vamos fazer, princesa? – Germana perguntou, cruzando os braços.
- Lorenzo, chame a todos. – Falei, afastando-me de John e indo em direção à porta.
- Aonde você vai? – Meu pai perguntou.
- Vou me preparar. A temporada de caça à vadia está aberta, e eu tenho uma vadia para caçar.


Capítulo 24 – Find Lucy


- Lorenzo chegou! – Marta anunciou, e eu pude sentir meu coração dar um pulo dentro do peito.
Olhei apreensiva para a porta da frente, esperando que Lorenzo chegasse acompanhado dos guardas. Fazia mais de dezoito horas que ele havia partido à procura de , e eu podia ver o sol se pondo na janela do mesmo modo que eu o vi nascendo.
Meu coturno estava desgastado e sujo, consequência das longas caminhadas que dei pelo castelo à procura de alguma pista ou de algum sinal para onde Lucy havia levado . Mas eu não havia achado nada, o que fazia meu coração doer a cada pensamento negativo que passava pela minha cabeça.
Se algo acontecesse com , eu nunca me perdoaria. Eu nunca conseguiria continuar vivendo, sabendo que o único cara que eu realmente amei foi morto por causa de uma irmã que – na verdade, é uma parte má de mim e não deveria ter nascido – quer minha cabeça em uma bandeja de prata por causa de um estúpido capricho e de uma maldição idiota.
Eu sempre aceitei o fato de carregar uma maldição. Até aceitei o fato de ser seguida por lobos grandes e acinzentado e morrer sozinha sofrendo por amor, mas tudo não fazia sentido agora. Não era exatamente fácil aceitar que tudo que eu havia planejado em meu futuro – sozinha – estava desmoronando na minha frente, e eu não podia fazer apenas aceitar. Isso já estava passando dos limites. Eu já havia passado do limite da loucura e podia afirmar que, em dezessete anos, eu já havia vivido uma loucura por uma vida inteira e que nenhum dos pacientes do hospício poderia superar.
Eu seria trancada em uma sala especial como a melhor louca contadora de história, pensei, encostando-me ao móvel da enorme sala do castelo e olhando em volta. Minha mãe estava sentada no sofá, deixando-se ser consolada por meu pai. Os dois estavam apreensivos e preocupados e, por mais que não quisessem demonstrar, eu podia ver a preocupação em seus olhares quando olhavam para mim e imaginavam o que eu estava prestes a fazer.
Eu mataria sua filha.
Eu mataria minha própria irmã.
Irmã. Lucy era minha irmã – apesar de tudo e de todo o mal que ela causou a todos –, mas isso não significava que eu deveria tirar sua vida por causa de uma maldição. Eu acreditava que as pessoas podiam mudar. Eu acreditava que Lucy podia mudar algum dia. Mas, apenas ao lembrar o mal e o sofrimento que ela causou com suas atitudes, eu sentia meu sangue em minhas veias ferver.
Oh, Deus, por que eu fui tão burra em acreditar nela outra vez?
Toda vez que eu repetia essa pergunta, mesmo que apenas em pensamentos, Germana fazia questão de me lembrar que os sentimentos bons em meu coração superariam todos os maus. Era o que fazia com que eu olhasse a todos com a inocência de uma criança e tivesse compaixão e perdoasse o pecado mais grave vindo do prisioneiro mais perigoso.
E, bem, ela estava certa sobre isso.
Não é sua culpa, meu pai insistia em dizer. Lucy apenas não deveria ter nascido, ele afirmava com a maior tranquilidade e sem um pingo de compaixão na voz, e eu me perguntava: Por quê? Por que diabos isso tinha acontecer logo comigo? Por que será que Deus me colocou nessa família? Por que isso simplesmente não ficava apenas para os livros de conto de fadas? Seria muito mais fácil se isso fosse apenas uma história de um livro velho de um velho idiota sobre uma mulher ressentida e abandonada. Não seria tão doloroso, e eu não me sentiria como um lixo a cada minuto em que olhava para a mesa e via a lâmina da adaga presa em um cinto que Lorenzo havia me emprestado para caso Lucy aparecesse.
Eu não queria usá-la. Eu não teria coragem de usá-la.
- Sua Majestade. – Lorenzo falou ao chegar à sala, fazendo reverência ao meu pai.
- Lorenzo. – Meu pai se levantou para olhá-lo nos olhos. – Então, vocês acharam onde ela está?
- Não. – Ele disse, e eu abaixei minha cabeça. – Mas achamos uma pista.
Levantei minha cabeça, desencostando-me da mesa imediatamente.
- O que vocês acharam? – Perguntei, andando até ele. – Um mapa? Uma trilha? Uma casa abandonada? Uma...
- , acalme-se. – Lorenzo falou, segurando meus ombros. – Nós vamos achá-la, demore o tempo que for.
- Desculpe. – Falei, abaixando a cabeça. – Eu estou um pouco ansiosa.
- Nós vamos achá-lo, ok? Eu prometo. – Lorenzo falou e deu um beijo em minha testa.
- O que você acharam? – Germana perguntou.
- Uma muda de roupa, na verdade. – Levantei meu rosto, vendo Lorenzo pegar uma muda da mão de um dos guardas. – Elas são roupas do . Ele as usava ontem no aniversário. – Ele continuou desatando os nós do pano – agora – sujos de terra.
- Isso quer dizer que ele trocou de roupa? Por que alguém faria isso no meio de um sequestro? – Meu pai perguntou confuso.
- Para nós perdemos o rastro dele. Lucy e Greta provavelmente fizeram com que trocasse de roupa para que seu cheiro não fosse rastreado.
- Então vocês perderam o rastro? – Perguntei, cruzando os braços.
- Sim. – Ele falou, entregando a muda de volta para o guarda. – Nossos cachorros não poderão continuar.
- Vocês não tinham, sei lá, alguma roupa da Lucy? – Perguntei, começando a andar de um lado pelo outro. – Alguma coisa que fizessem os cachorros continuarem?
- Você não entendeu, , eles não poderão continuar. Não foi porque eles não conseguiam, ou pela perda do rastro, eles apenas não podiam atravessar a linha.
- Lorenzo, você fumou alguma coisa? Bateu a cabeça em algum galho solto de árvore? Se eles perderam o rastro, por que não continuaram?
- É a zona proibida. – Ele disse finalmente, e meu corpo ficou rígido. – Os cachorros perderam o rastro na linha da zona proibida, aos arredores do castelo e Wallguinton.
- Ela não...
Comecei a sentir um nó formar-se em minha garganta, impedindo-me de continuar.
- Acho que já chega por hoje. – Meu pai se pronunciou. – Lorenzo, obrigado pelos seus serviços, mas continuaremos nossas buscas amanhã.
- O quê?! – Gritei, virando-me para meu pai. – Nós sabemos onde ela está, por que não continuar?
- Está anoitecendo, minha filha. Não vai adiantar nada, continuaremos amanhã pela manhã.
- Mas...
- Por que você não descansa um pouco? – Meu pai perguntou, segurando meus ombros. – Você não dormiu nada noite passada, merece um descanso.
- Mas...
- Boa noite, . – Meu pai disse, dando um beijo em minha testa. – Emily, leve-a com você.
- Claro. – Minha mãe respondeu, andando em minha direção. – Vamos, .
- Boa noite a todos. – Eu disse, recebendo um coro de Boa noite em resposta.
Minha mãe passou o braço por cima de meu ombro, guiando-me pela escada até o corredor do andar de cima. Ela estava calada, e eu podia ver em seus olhos que ela estava machucada por perder sua filha favorita. Lucy sempre foi sua queridinha. Desde que éramos pequenas e brigávamos pela mesma boneca, Lucy sempre saía ganhando. Estava a matando e eu sabia disso, pois estava me matando também a cada minuto que passava e a nossa batalha se aproximava.
Era irônico pensar que, após anos querendo dar a Lucy uma lição que ela nunca esquecesse, eu a tinha em minhas mãos e não estava preparada o suficiente para executá-la. Talvez eu seja fraca demais. Ou talvez eu seja a determinada a morrer, pensei, vendo a porta à minha frente ser aberta por minha mãe.
- Você parece cansada. – Ela disse, andando em direção à minha cama. – Você precisa dormir muito para repor suas energias.
Observei-a tirar a colcha de minha cama, enquanto eu tirava meus coturnos.
- Desculpe-me. – Falei um pouco mais alto, voltando toda sua atenção para mim.
- Desculpar pelo quê? – Ela olhou para mim.
- Por você estar passando por tudo isso. Por fazer você sofrer, por ter que matar sua filha favorita. – Abaixei minha cabeça, encarando meus pés.
- Ei, ei. – Ela andou em minha direção e levantou meu rosto entre suas mãos. – Você é a minha filha, minha única filha.
- Mas... Lucy. Você sempre preferiu Lucy.
- Lucy, desde pequena, precisava de muita atenção e sempre foi muito mimada. Seu pai não podia dar o que ela precisava, então eu fiquei com ela.
- Eu não queria ter que matá-la, mamãe. – Confessei, sentindo as lágrimas se alojarem em meus olhos e minha visão ficar embaçada.
- Mas você precisa, meu amor.
- Por que, hein? Por que nós não apenas tentamos mudá-la?
- Porque você não pode fugir do seu destino.
- Destino de merda esse. – Falei, cruzando os braços.
- Eu sei que é difícil. Acredite, é difícil para mim também. Mas pense em todo o mal que ela causou todos esses anos, com você, comigo, com seu pai, com os criados, com seus amigos... Com . Você não sente nem um pouquinho de raiva?
- Talvez uma vontade de dar um tapa nela, ou trancá-la no calabouço. Mas aí eu penso em como ela sofreria e esqueço tudo.
- Definitivamente você é a boazinha. – Rimos as duas. – Agora vá, durma um pouco. – Minha mãe segurou em meus ombros, guiando-me até a cama. – Você precisa descansar. – Ela disse, e eu afastei o edredom, deitando em minha cama e colocando-o por cima de mim outra vez. – Boa noite, minha filha. – Ela deu um beijo em minha testa. – Durma bem.
- Boa noite, mamãe. – Respondi, vendo-a andar em direção à porta.
- Tudo depende de você. – Ela se virou para mim. – Se você não cumprir seu destino, vamos todos morrer. – Ela abriu a porta, saindo logo em seguida.
- Repor as energias uma ova. – Falei, jogando o edredom para o lado, ficando em pé ao lado da cama.
Sentei-me em minha cama novamente, calçando meu coturno. Nada me impediria de pegar Lucy desprevenida, ainda mais porque eu sabia que Lucy tinha a absoluta certeza de que nenhum guarda do castelo iria entrar na zona proibida. Além do mais, eles eram proibidos de chegarem perto do castelo de Wallguinton. Quero dizer, qualquer habitante tem medo de chegar perto daquele castelo.
O castelo de Wallguinton estava abandonado há mais de duas décadas. A família que ali habitava era dona de um dos maiores bancos da Itália, no qual guardava o dinheiro dos maiores proprietários de Florença. A família Wallguinton havia enganado a todos, ela estava desviando o dinheiro que recebia para sua própria conta para poder sobreviver. Papai, quando descobriu essa barbaridade, mandou que prendesse a todos e fechou o castelo, logo em seguida. E, desde esse dia, o castelo de Wallguinton tornou-se zona proibida.
Alguns dizem que a família nunca saiu realmente do castelo, já que o rei fechou tudo e nunca voltou para checar. Outros dizem que, depois da partida da família Wallguinton, o castelo passou a ser assombrado pelos fantasmas furiosas dos antigos Wallinguintons que ali moravam, fazendo toda a vegetação ao seu redor morrer.
Histórias de dormir contadas a crianças que desobedeciam aos pais, pensei, abrindo a porta de vidro que dava para minha varanda.
O gramado do castelo estava vazio, já que a maioria dos guardas estava descansando para a busca por Lucy no dia seguinte. O labirinto que dava para o bosque, que levava a zona proibida, estava sem vigília, o que facilitava minha fuga. Além disso, minha varanda ficava de frente ao labirinto. Apenas alguns metros de distância, e eu estaria caminhando para o meu destino.
Subi na grade de proteção da minha varanda e pulei para o pequeno telhado que ficava ao lado. Dei graças a Deus por meu pai ter colocado uma escada ao lado de cada janela, caso acontece algum acidente e fosse preciso escapar. Segurei a barra com minhas mãos, em seguida colocando meus pés cinco barras abaixo. A escada não era alta o suficiente para me assustar, ela ainda ia até o telhado do castelo, lugar vazio que era apenas usado pelos atiradores caso alguém ameaçasse o castelo ou em alguma festa com membros da alta sociedade.
Coloquei meus pés no gramado do castelo e olhei para os lados, vendo o campo completamente vazio. Coragem, , pensei, respirando fundo.
Comecei a dar passos firmes em direção ao labirinto, mas meu corpo congelou no lugar. Ao ouvir uma voz, girei meus calcanhares em direção ao caminho que havia traçado há apenas alguns segundos.
- Aonde você pensa que está indo?
- Eu... Eu vim buscar um brinco que caiu aqui ontem à noite.
- E que parte dessa história você quer que eu acredite?
- Toda?
- Não acredito nem ao menos em uma letra.
- Olha, Lorenzo, eu tenho que fazer isso. – Falei, dando alguns passos em sua direção. – O reino depende de mim... Todos dependem de mim... O depende de mim. Eu não posso decepcioná-los.
- Eu não vim aqui para te impedir. Eu vim aqui para ir com você.
- Lorenzo, ela vai acabar com você.
- Ingrata. Fui eu que te ensinei a socar alguém do mesmo jeito que eu aprendi na aldeia de treinamento.
- Eu não quero que você se machuque, tanto já foram machucados por minha causa. – Lamentei, abaixando minha cabeça.
- Ei! – Ele levantou meu rosto com as pontas dos dedos. – Nada é culpa sua, . Não é sua culpa uma bruxa louca jogar uma maldição e ela permanecer por anos na sua família. Você nem era nascida, afinal. E se fosse, devo dizer, gatinha, você está uma belezura para quem tem mais de quatrocentos anos.
Senti os meus lábios se curvarem em um sorriso e não consegui reprimi-lo.
- Obrigada. Mas isso não vai me impedir de ir encontrar Lucy.
- Eu estou pronto mesmo. Vamos logo caçar a vadia. – Ele me pegou pelo braço e começou a andar em direção ao labirinto.
- Lorenzo. – Falei, fazendo-o parar. – Eu não vou deixá-lo ir.
- E eu não vou deixar você ir sozinha, então estamos quites.
- Eu preciso fazer isso sozinha.
- Ninguém é melhor sozinho. E Lucy não está sozinha. Você é minha melhor amiga, ex-cunhada preferida e praticamente da família. , você é a irmã mais nova que eu sempre quis ter e eu não vou deixar você encarar o seu destino sozinha, desprotegida. Além disso, eu não me perdoaria se algo acontecesse com você e eu soubesse que eu poderia ter feito algo, mas não fiz. Então, não tente me convencer, você nunca foi boa nisso. E não vai ser agora que você vai conseguir.
- Obrigada, Lorenzo. – Pulei em seu pescoço, abraçando-o forte. – Obrigada mesmo, por tudo. – Continuei, separando-me dele.
- Você se esqueceu de uma coisa.
- O quê?
- A adaga que eu emprestei. – Ele falou, desabotoando a fivela do cinto que estava acima do seu verdadeiro cinto, que carregava uma arma e uma espada do outro lado. – Você esqueceu em cima da mesa.
- Obrigada. – Respondi, pegando o cinto e envolvendo em minha cintura. – Eu não pretendia usá-la.
- Você ia encontrar com sua “irmã”, – ele fez aspas com a mão – que pretende matar você desde o dia do seu nascimento, desarmada e sem nenhuma guarda?
- Eu tinha esperança de que, se eu conversasse com ela...
- Você realmente acha que ela deixaria você falar? – Ele me interrompeu.
- Eu tinha uma pontada de esperança. – Confessei, começando a andar pelo bosque.
Estava uma noite fria e o céu não tinha nuvens, apenas estrelas e a lua. Eu não queria pensar nisso, mas talvez hoje fosse o último dia que eu veria um céu estrelado, que eu sentiria o vento em meu rosto e veria as folhas das árvores caindo.
A maldição dizia claramente que eu 'devo' matar minha irmã, mas não diz nada sobre ela não lutar pela sua vida ou se voluntariar para morrer. Ela iria lutar, eu sabia disso. E também sabia que ela podia muito bem acabar comigo, afinal Lucy era muito melhor em brigas do que eu, tanto que ela costumava me defender das meninas malvadas que insistiam em implicar comigo por eu ser uma princesa. Foram as inúmeras vezes que papai teve que dar uma recompensa às mães das meninas que apareciam em suas casas com uma parte do cabelo faltando ou um dente de leite em mãos. Bons tempos que não voltaram.
O labirinto me dava calafrios e, logo que avistei o bosque, o medo tomou conta de mim e minha cicatriz ardeu de leve. Esse bosque me trazia péssimas lembranças e, à noite, quando não se estava correndo feito um louco e podia-se vê-lo calmamente, parecia mais assustador ainda.
Lorenzo segurou em minha mão e começou a me guiar em direção ao castelo de Wallguinton.
- Você está tremendo. – Lorenzo falou, olhando-me.
- É o frio.
- Como se eu fosse acreditar em ti.
- Esse bosque não é o meu lugar favorito.
- Más lembranças, certo?
- Péssimas. – Falei, passando a mão em cima da minha cicatriz. – Droga! Esse troço está ardendo.
- O quê?
- Minha cicatriz, ela arde de vez em quando. Vai ver é uma coisa que acontece quando um de seus órgãos é quase perfurado por uma louca.
- Ou então quer dizer que estamos perto.
- Do que você está falando?
- Bem, minha mãe costumava dizer coisas sobre atos de uma bruxa.
- Sim. – Olhei para ele, esperando que ele continuasse. – Droga, Lorenzo, continua. O que sua mãe dizia?
- Ela dizia que quando uma bruxa tenta te matar e você sobrevive, você passa a senti-la.
- Senti-la? Tipo, se ela estiver perto de mim, eu vou poder senti-la através da dor da minha cicatriz?
- Alguma coisa parecida com isso.
- Isso está totalmente fora do meu limite de loucura.
- Você atravessou o limite de loucura quando nasceu. – Ele falou olhando para frente, estreitando os olhos para enxergar melhor. – A estrada que leva ao castelo de Wallguinton está logo à frente. – Lorenzo olhou para os lados e depois olhou para mim.
- O que foi?
- Você escutou isso?
- O quê?
- Shiu! Apenas escute. – Olhei para Lorenzo, abismada. Ele estava me assustando, e eu estava começando a pensar que aquele campo de treinamento, além de treinar soldados, os deixava psicóticos. – Vamos andando. – Ele falou, puxando-me pelo braço e caminhando em direção à pequena estrada que levava a entrada do castelo de Wallguinton.
- Lorenzo, o que está acontecendo?
- Alguém está atrás de nós.
- Isso é impossível. Ninguém...
Minha fala foi interrompida pelo barulho da primeira badala do relógio da igreja que ficava no castelo, anunciando que era meia-noite. O uivo de um lobo fez com que eu apertasse a mão de Lorenzo com mais força, e eu virei meu rosto para trás, avistando três lobos enormes e acinzentados parados a alguns metros de nós, que não pareciam nada amigáveis. Oh, droga, a maldição não havia sido quebrada ainda!
- Esses são...
- São sim. – Interrompi-o, engolindo em seco.
- Eles vão nos atacar? – Escutei a oitava badalada.
- Corre, Lorenzo, corre!
Segurei na mão de Lorenzo com mais força, puxando-o para correr comigo. Eu podia escutar as patas daqueles animais amassarem as folhas secas que estavam no chão logo atrás de nós. Agradeci a Deus por meus pés tocarem na estrada de terra, estávamos mais perto do que longe do castelo de Wallguinton.
O portão do castelo estava aberto e sem nenhuma tipo de guarda. Eu sabia que era uma armadilha, mas eu não podia deixar Lorenzo morrer por lobos raivosos e que estavam ali por minha causa. Eu teria que entrar no castelo de uma maneira ou outra.
Lorenzo me puxou para dentro logo quando atravessamos o portão, mexendo na alavanca e puxando-a para baixo, o que fez o portão de ferro descer. Os lobos pararam antes mesmo de chegarem à metade da estrada e deram meia-volta, desaparecendo como o vento.
- Sejam bem vindos. – Olhamos os dois para trás, dando de cara com Greta e dois guardas. – Eu estava esperando por vocês. Peguem-nos.


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