Os oito estavam na sala, ainda com a lareira acesa apesar de não estar mais tão frio, rindo e falando bobagens. Ninguém, a não ser e , sabia sobre a conversinha de e nem sobre a repetição do beijo dos dois, mesmo porque eles estavam se saindo muito bem na tarefa de esconder isso de todo mundo. estava gargalhando por causa de algo que acabara de dizer quando ouviu o celular tocar. Ela levantou do sofá e foi pegar o celular que tinha deixado em cima de uma mesinha que ficava na sala.
‘Alô’ atendeu sem nem ver quem era.
‘Olá querida. Como vai?’
‘Mãe?!’ se espantou ao reconhecer a voz da pessoa do outro lado da linha. Viu os amigos olharem pra ela e percebeu que tinha falado alto demais, então foi conversar no corredor ‘Estou bem, mãe’
‘Que bom, querida’ a Sra. disse ao telefone ‘Está se divertindo bastante com seus amigos aí na casa de campo?’
‘Hum, estou’ ela respondeu estranhando muito o comportamento da mãe. Ela nunca fora dessas coisas ‘Mas, mãe, por que me ligou?’
‘Bem querida, seu pai e eu’ a Sra. começou no tom mais amável possível. sentiu as pernas bambas e precisou sentar. Conhecia aquela história começada com “seu pai e eu”. Ela sabia muito bem o que ouviria a seguir ‘nós fomos solicitados novamente naquela filial da empresa que fica nos Estados Unidos. Você sabe como é o nosso trabalho, nós precisamos ir aonde precisam de nós’
‘Isso quer dizer que nós vamos nos mudar, não é?’ perguntou entrando em um quarto e falando em voz baixa, evitando que alguém na sala escutasse sua conversa ao celular.
‘É, é isso mesmo’
‘Mãe, eu...’ ela respirou fundo, pensando no que queria dizer ‘Eu preciso mesmo ir com vocês dessa vez?’
‘Querida, você sempre foi conosco...’
‘Eu nunca quis ir’ interrompeu. Verdade, ela nunca quisera ir, mas dessa vez era diferente. Ela sentia não só como se não quisesse ir, mas também como se não pudesse. Ali ela conseguira amigos maravilhosos e muitas vezes já se vira pensando em passar ao menos o resto do ano com eles, passar o Natal, o Ano Novo ‘Mãe, eu encontrei amigos de verdade aqui, gente que realmente gosta de mim e se preocupa comigo’ ela parou de falar por um momento e ouviu silêncio do outro lado da linha. Sabia que isso queria dizer que a mãe estava pensando. Ela resolveu dar sua última cartada ‘Não tire isso de mim, mãe’
‘...’ a Sra. não sabia o que dizer. Sempre soubera que aquelas mudanças constantes atrapalhavam e conturbavam a vida da filha, mas nunca pôde realmente fazer algo em relação a isso ‘Você não pode ficar aí, ainda tem 17 anos. E você também não teria onde morar, seu pai nunca permitiria que você ficasse com nosso apartamento. Eu sinto muito querida, mas você vai conosco’ ela concluiu firme, mesmo sabendo que aquela decisão magoaria a filha. sentiu um aperto no peito e balançou a cabeça.
‘Quando?’ perguntou derrotada.
‘Assim que você voltar da sua viagem’ a mãe disse, também sentindo um aperto no peito ao ouvir a voz trêmula da filha. Muitas vezes já tinha ouvido com a voz daquele jeito, mas dessa vez realmente parecia diferente ‘Eu preciso desligar agora, querida. Tenho muito trabalho a fazer’
‘Ok’ ela concordou simplesmente ‘Tchau mãe’
‘Até mais, meu bem’ e a linha ficou muda.
desligou e respirou fundo, tentando manter no rosto a expressão mais normal possível. Saiu do quarto e foi deixar o celular na mesinha da sala novamente.
‘Hey ’ chamou vendo a prima entrar na sala novamente. colocou o celular na mesinha e olhou pra prima, que arregalou os olhos ‘O que houve? Você está pálida’
‘Não houve nada’ ela mentiu sorrindo falsamente e fez menção de sair da sala. , que também olhava pra ela, levantou do sofá.
‘Tá tudo bem, ? Você não vai sentar aqui com a gente?’ ele perguntou. negou.
‘Eu só quero ir lá fora um pouco, mas está tudo bem’ ela disse sabendo que sua expressão devia estar dizendo exatamente o contrário e então foi pra cozinha. ameaçou ir atrás dela, mas segurou em seu braço e ele sentou novamente.
O que queria era ficar sozinha pra pensar no que estava acontecendo com sua vida. Foi pros fundos da casa, sentou na borda da piscina e olhou pra água imóvel. Ela queria que sua vida fosse calma e tranqüila como aquela água. A noite não estava fria como a manhã, mas abraçou os joelhos, fechou os olhos e ficou apenas escutando e sentindo uma brisa leve e fresca, esperando que o vento lhe desse respostas e a solidão lhe trouxesse alento.
Ela não sabia há quanto tempo estava sentada ali, pensando e sentindo a brisa passar pelo seu corpo estático. Às vezes ouvia algum barulho vindo de dentro da casa ou as folhas das árvores sacudidas pelo vento ou então um passarinho cantando em algum lugar, mas isso não a atrapalhava porque a única coisa que ela conseguia fazer era pensar. Pensar nos amigos, na prima, em Duncan, no colégio, no apartamento. Pensar nas risadas, nos sorrisos, nos gritos, nas brincadeiras, nas músicas. Pensar nas lágrimas que derramara quando estava perdida e achou que nunca mais veria seus amigos. Pensar em pequenos momentos que compartilhara com certas pessoas e que a fizeram realmente feliz.
‘?’ ela ouviu uma voz conhecida chamando. Abriu os olhos e olhou pro lado. estava de pé ali.
‘Oi’ ela disse morgada e virou a cabeça, olhando pra piscina. A água continuava calma e imóvel.
‘Faz mais de uma hora que você está sozinha aqui’ ele disse ‘Tem certeza de que está tudo bem?’
‘Claro’ ela respondeu simplesmente. estranhou o desânimo e a indiferença dela; a que ele conhecia não era assim. Definitivamente havia algo errado.
‘Você não está bem’ ele afirmou se sentando ao lado dela, virado pra menina ‘Eu sei que não. O que aconteceu?’
‘Nada’ ela continuou monossilábica, sem vontade nenhuma de iniciar uma conversa.
‘Não minta pra mim. Está na cara que tem alguma coisa errada, eu só quero saber o que é’
‘, você está imaginando coisas’ ela balançou a cabeça ‘Eu já disse que estou bem’
‘Não está’ ele insistiu ‘Quando você desligou o celular depois que a sua mãe ligou você já não estava parecendo muito bem. E depois você resolveu que queria ficar sozinha aqui e...’ franziu a testa, pensando no que acabara de dizer ‘Espera, o que a sua mãe queria com você? O que ela te disse?’
‘Não era nada importante, . Esquece’ ela abaixou a cabeça e apoiou o queixo nos joelhos. Ele percebeu que não queria falar sobre isso e teve certeza de que a menina estava daquele jeito por causa da conversa que tivera com a mãe no celular.
‘O que ela te disse?’ ele perguntou outra vez ‘Aconteceu alguma coisa com ela ou com seu pai? , você precisa me dizer o que houve, talvez eu possa ajudar’
‘Você não pode ajudar, mas obrigada do mesmo jeito’ disse e soltou um longo suspiro pesaroso. Por alguns segundos, ficou apenas pensando no que poderia ter deixado a garota daquele jeito, então uma idéia lhe ocorreu.
‘Vocês não vão se mudar, vão?’ ele perguntou sentindo as mãos suarem frio. Não foi preciso resposta de , quando a menina mordeu a boca e olhou pro lado ele entendeu aqueles gestos como uma afirmação. Um calafrio gelado percorreu a espinha de e seu coração parecia querer pular pra fora da caixa torácica. Ele estava com medo, medo de perder ‘Mas... mas você não pode ir. Você já tem uma vida aqui, não pode simplesmente abandonar tudo só por causa dos seus pais’
‘Eu já tive uma vida em muitos lugares, , e isso nunca impediu meus pais de se mudarem e me arrastarem com eles’ ela disse numa voz muito baixa, sinal de falta de coragem ‘não vai ser agora que vai impedir’
‘, você tem 17 anos! Não precisa mais obedecer todas as ordens dos seus pais’
‘Eu tenho 17 anos, não 18. Eu não sou maior de idade, . Nós já falamos sobre isso no seu apartamento’ ela disse lembrando da noite em que ficara até tarde jogando vídeo-game com ele. Sorriu tristemente sem que o menino visse, já que ainda estava com o rosto virado pro outro lado. Ela sentiria saudade de passar momentos como aquele ‘Eu só posso ficar se meus pais permitirem, e sei que eles não farão isso’
‘Mas e se eles fizerem?’ perguntou esperançoso. Nem tudo estava perdido.
‘Eles não farão, escute o que estou te dizendo’
‘Como você pode ter tanta certeza assim? Você já tentou falar com eles sobre isso?’ ele perguntou e a menina não respondeu nada. Ele considerou aquilo como uma resposta negativa e continuou falando ‘Talvez eles não tenham permitido antes porque você era muito mais nova, mas agora você tem já 17 anos’
‘Ok, pode ser que você esteja certo’ ela concordou e olhou pra ele, meio impaciente com a insistência do garoto naquele assunto. Ela sabia que de um jeito ou de outro acabaria se mudando, não adiantava de nada ficar fazendo suposições malucas e pensando em soluções impossíveis pro se problema ‘Mas do que isso ia adiantar? Eu não tenho onde ficar aqui! Meu pai não vai me deixar ficar com o apartamento, minha mãe me disse isso. Eu não tenho nenhum parente que more aqui além da e na casa dela eu não posso ficar, não tem lugar pra mim lá e eu não vou ficar incomodando os meus tios pro resto da vida’ ela tinha falado tudo muito rápido e parou respirando fundo. não precisou nem de um segundo pra pensar no que falar.
‘Mora comigo’ ele disse simplesmente. Num primeiro momento, arregalou os olhos, surpresa. Então franziu a testa, sem acreditar no que acabara de ouvir, e depois ficou sem expressão nenhuma.
‘Agora não é hora pra fazer piadas, ’ ela riu de leve, achando que o garoto estava zombando da sua situação, mas quando olhou dentro dos olhos dele pôde ver que ele não estava brincando.
‘Mora comigo’ ele repetiu sorrindo. Quase não acreditava em si mesmo e na proposta que estava fazendo, mas fora a única solução que ele encontrara pro problema de e, obviamente, não se incomodaria nem um pouco se a menina aceitasse ir morar no seu apartamento ‘Isso não é uma piada’
‘, isso é loucura, é isso que é!’ ela balançou a cabeça ‘Eu não posso ficar no seu apartamento, não posso morar com você’
‘Por que não?’ ele perguntou arqueando as sobrancelhas. virou de frente pra ele, cruzando as pernas.
‘Eu não posso! Meus pais nunca permitiriam... nós nos conhecemos há apenas três meses’ ela disse tentando explicar. riu.
‘Eu não sou nenhum tarado ou maníaco, nem nada do tipo’ ele disse. A menina não agüentou e riu também.
‘Sei que não é, mas meus pais não confiariam... bem, eu realmente não tenho certeza de nada’ ela passou a mão pelos cabelos, meio confusa. Queria ficar na Inglaterra e, na verdade, não via problemas em morar com , mas não achou que devia se apegar muito naquilo porque era uma chance incerta de continuar no país, afinal seria muito complicado fazer seus pais aceitarem que ela fosse morar com seu amigo, ainda mais sendo com um garoto. Chegava a ser absurdo pensar que eles aceitariam uma coisa dessas ‘mas duvido que eles me deixem ficar no seu apartamento’
‘Você sabe que eu estou falando sério, não sabe?’
‘Eu sei disso, mas decidir ficar ou ir embora não depende só de mim’
‘, eu não conheço seus pais e não sei como eles pensam, então não posso dizer nada quanto a isso. Mas, veja bem’ ele pegou as mãos da menina, que sorriu de leve ‘eu não acho que você queira ir e estou te oferecendo uma chance pra ficar. Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo pra morar junto’ disse e ela riu ‘mas é tudo que eu posso fazer por você. E, bem, digamos que por mim também porque eu não posso negar que não quero que você vá’
‘Ah , eu ainda não sei. Eu vou acabar te incomodando e...’
‘Você não vai me incomodar, de forma alguma. Olha, por que você não conversa com seus pais primeiro e depois me dá uma resposta?’ ele perguntou levantando as sobrancelhas.
‘Tá bem, você me convenceu, eu falo com eles’ ela disse vendo que não havia outra saída a não ser concordar. assentiu com a cabeça e os dois ficaram se olhando por uns minutos até que sorriu ‘Obrigada pela ajuda’ ela ficou de joelhos e abraçou o menino. sorriu passando a mão pelas costas dela. Sabia que se fosse preciso faria muito mais, tudo pra poder manter o mais perto dele possível.
Cap. 37
Pouco depois do café da manhã, ligou pra sua mãe. Conversou durante algum tempo com ela sobre a mudança pros Estados Unidos. Quando citou a possibilidade de ficar na Inglaterra e morar com , sua mãe simplesmente disse que conversaria com o marido e ligaria pra filha quando tivesse uma resposta. pediu que a mãe fizesse de tudo pra convencer o pai e agradeceu ao desligar.
‘Então, como foi?’ perguntou assim que sentou na cama. Os dois estavam dentro de um quarto enquanto os amigos estavam fora da casa, aproveitando o dia ensolarado e quente na piscina, isso porque não queria que mais ninguém soubesse da sua mudança provável.
‘Ela disse que vai conversar com meu pai’ respondeu suspirando ‘Até prometeu que vai fazer o possível pra convencê-lo a me deixar ficar, mas disse que não tem nada garantido’
‘Mas ela mesma deixou?’
‘Pelo que ela disse, acho que sim’ encolheu os ombros ‘O problema agora é meu pai’
‘O coroa vai ceder, você vai ver só’ disse tentando animar a menina, que riu.
‘Se ele ouvir você falando assim dele, aí é que ele não me deixa ficar mesmo’
‘Ok, não está mais aqui quem falou’ ele levantou os braços a fazendo rir mais ‘Sério, ele vai acabar cedendo’
‘Espero’ ela disse e o celular jogado na cama tocou. levantou as sobrancelhas.
‘Já?’ perguntou. pegou o celular e riu, negando com a cabeça.
‘Alô’ ela atendeu sabendo a voz de quem ouviria do outro lado da linha.
‘Oi docinho’ Duncan disse no seu habitual tom simpático ‘Como vai?’
‘Bem, e você?’ ela perguntou tentando parecer indiferente, apesar de ter sentido o estômago contrair um pouco ao ler o nome dele no visor do celular.
‘Bem também, mas com saudades’ ele disse e a menina sorriu ‘Que dia você volta de viagem?’
‘Hum, acho que no sábado’ ela viu franzir a testa, sem entender, mas não disse nada.
‘E será que nós podemos nos ver no domingo?’
‘Ah, não sei Duncan...’ disse fazendo charme. virou a cara e rolou os olhos, xingando Duncan mentalmente. Pra que o almofadinhas estava ligando dessa vez? Pra fazer mais alguma declaração patética pra ? bufou; não percebeu.
‘Come on, docinho. Eu disse, estou com saudades de você, e nós ainda temos algumas coisas pra resolver’ Duncan disse de forma meiga. sorriu.
‘Olha, pode ser, mas eu tenho que ver ainda. Qualquer coisa eu te ligo, tudo bem assim?’
‘Certo, mas vê se não me esquece hein?!’ ele disse e riu. Junto com a risada dele, ouviu uma outra risada, porém feminina.
‘Você está sozinho aí, Duncan?’ perguntou franzindo a testa. Na verdade não se sentiu muito incomodada com a risada que ouviu, afinal ela e Duncan não tinham nenhum compromisso e ela mesma tinha ficado com outra pessoa. Perguntar se ele estava sozinho foi mais uma questão de curiosidade, e uma boa maneira de ver se era do tipo mentiroso.
‘Claro’ ele respondeu rápido. Rápido demais pro gosto dela ‘Bem, estou na sala com minha irmãzinha, mas ela nem conta’ ele explicou rindo.
‘Ah, sim’ ela disse simplesmente. Viu levantar da cama e indicar a porta do quarto, sinalizando que ia sair. Ela segurou no braço dele e voltou a falar no celular ‘Escuta, preciso desligar agora. No domingo eu te ligo, ok?’
‘Ok. Nos falamos no domingo então, beijos’
‘Beijos’ ela desligou o celular e o deixou de lado.
‘Duncan?’ perguntou o óbvio. concordou com a cabeça.
‘Era sim, só pra perguntar que dia eu volto da viagem’ respondeu e levantou da cama ‘Vamos lá pra piscina?’
‘Yep’ disse meio desanimado e seguiu a menina pra fora do quarto. Quando chegou ao fundo da casa, ele teve a impressão que o dia estava muito menos ensolarado do que antes.
Mais à tardinha, , , e resolveram jogar vôlei na água. e sentaram na borda da piscina pra ver o jogo e aproveitou pra conversar com , que estava escondida do sol, sentada perto da mesa de sinuca.
‘Então’ começou sentando ao lado da amiga ‘quando vocês vão parar de fingir que não aconteceu nada?’
‘O que... o que você quer dizer com isso?’ olhou espantada pra .
‘Você sabe, estou falando sobre você e o ’
‘Ah!’ disse e fez uma pequena pausa ‘Por que você acha que estamos fingindo que não aconteceu nada?’
‘Quando nós saímos da floresta, você lascou um beijo no garoto. Mais tarde, foi conversar com ele na varanda da casa e vocês se beijaram de novo’ disse de um jeito teatral. apontou acusadoramente pra amiga.
‘Você estava me espionando!’ disse e riu.
‘Não exatamente, mas isso não vem ao caso, o que importa é que eu vi vocês dois se beijando. Então, voltando do ponto onde eu parei, agora vocês estão se tratando como se nenhum desses beijos tivesse acontecido. Acho que é o suficiente pra me fazer pensar que vocês estão fingindo que não aconteceu nada’
‘Odeio ter amiga inteligente demais’ disse balançando a cabeça ‘e ainda por cima, espiã’ e as duas riram ‘Ah , já que você sabe do que houve, eu...’
‘PONTO!’ berrou interrompendo . Ela e olharam pra piscina a tempo de ver dando uma piscadinha discreta pra , que corou.
‘Parece que esse ponto foi pra você’ cochichou pra amiga, que ficou ainda mais corada.
‘Ignore isso’ abanou a mão ‘Voltando ao assunto, eu vou te dizer uma coisa’
‘Pois pode dizer, eu sou toda ouvidos e juro segredo’ disse e riu.
‘Bom saber disso. Bem, enfim, eu gosto do , mas o problema é que eu não sei como lidar com isso’
‘Não entendi’ balançou a cabeça.
‘Eu gosto dele, mas não sei como me comportar, como agir diante disso. Eu nunca fiquei com um garoto como ele antes’ olhou pra piscina e sorriu levemente, vendo levando uns tapas de e rindo por isso ‘Às vezes eu acho que é errado...’
‘Claro que não é! Você gosta mesmo dele’ disse reparando que os olhos da amiga brilhavam enquanto ela continuava olhando pra ‘e o errado seria se você desistisse de ficar com ele’
‘Mas eu já disse , não sei como agir diante disso. É uma coisa nova pra mim’
‘Você só precisa se acostumar e logo vai agir naturalmente, é só uma questão de tempo’ disse despreocupada e olhou pra piscina. Pelo jeito o jogo de vôlei tinha acabado, porque saiu correndo da água, com uma furiosa atrás dele ‘O que aconteceu com a ?’ perguntou quando e se aproximaram dela e de .
‘Ela e o perderam o jogo de vôlei, daí ela começou a culpar o por isso’ explicou.
‘Então, pra a fazer ficar quieta, deu um caldo nela’ completou ‘Parece que ela não gostou muito’
‘Ai meu pai’ disse balançando a cabeça e riu. viu e trocarem olhares suspeitos.
‘O que é...?’ ela não terminou de falar. Em questão de segundos, se viu no colo de e no colo de . As duas só tiveram tempo de dar um berro antes de caírem dentro da água junto com os meninos.
‘EI! Mais cuidado aí’ reclamou quando sentiu respingos de água a atingirem. apenas riu. Os quatro dentro da água voltaram à superfície.
‘ !’ disse séria e partiu pra cima do garoto, dando um caldo nele.
‘Nem vem’ disse se afastando de , que deu língua.
‘?’ chamou olhando pra garota.
‘Oi’ parou de prestar atenção nos amigos dentro da piscina e olhou pro menino.
‘Quer namorar comigo?’ perguntou da forma mais carinhosa possível.
‘Geeeeente’ disse baixinho, soltando , que tirou a cabeça da água pra respirar. e se entreolharam, surpresos.
‘Eu...’ começou, mas não conseguiu dizer mais nada. Abriu um sorriso imenso e beijou com tanta vontade que ele desequilibrou pra frente e os dois acabaram caindo na piscina. Os outros explodiram em risos.
Cap. 38
‘Assim, dois leites...’ começou a contar pros amigos na sala.
‘Aaaaaah não, pode parando’ foi logo interrompendo ‘Pô , ninguém merece essas piadas fim de carreira né’ todos riram.
‘Eu só fui animar o ambiente’ ergueu as mãos, se defendendo.
‘Mudando de assunto’ disse antes que repreendesse mais uma vez ‘A gente vai embora depois de amanhã mesmo?’
‘Claro, sábado faz um semana que nós estamos aqui’ disse ‘E é melhor sairmos de manhãzinha’
‘Caramba, o tempo voa aqui hein’ , que estava deitado no chão, disse ‘Nem parece que já vai fazer uma semana que estamos aqui’
‘Pois é, nem vimos o tempo passar direito’ concordou, deitada com a cabeça na barriga do menino.
‘Uma semana de mordomia já foi’ balançou a cabeça, lamentando.
‘E o que é que a gente vai fazer depois que voltarmos pra casa?’ perguntou. se mexeu desconfortável no sofá. Que ótimo, agora ia ter ouvir os amigos fazendo planos pro resto das férias que ela nem sabia se passaria com eles. Muito agradável.
‘A gente podia fazer alguma coisa juntos’ disse beijando o namorado de leve nos lábios. Os amigos começaram a sacanear e ela riu ‘Juntos quer dizer todo mundo, né gente’
‘Meus pais iam fazer uma segunda lua de mel daí eu ia chamar todo mundo pra ficar lá em casa’ disse e viu os amigos se animarem ‘mas eles desistiram da viagem’ ela terminou acabando com a animação geral.
‘Pior que nem dá pra viajar pra nenhum outro lugar’ disse ‘Boa parte da minha grana foi gasta pra pagar o aluguel dessa casa’
‘Boa parte da grana de todo mundo foi gasta nisso’ corrigiu ‘Acho que ninguém vai poder viajar’
‘Se vocês tivessem recebido pra tocar lá no Gas, provavelmente estariam com dinheiro de sobra agora’ encolheu os ombros, tentando mudar de assunto. Os meninos concordaram com a cabeça ‘Falando em tocar, seria ótimo um violão agora’ disse e olhou pra Tom. Sabia que ele tinha levado um violão porque vira o case no quarto dele.
‘Mas pra que um violão agora?’ Tom perguntou desentendido.
‘Pra usar de pá e cavar um buraco no meio da sala’ disse irônica e todos riram ‘Óbvio que é pra tocar, né criatura!’
‘Pega lá, Tom’ disse ‘A gente não tem mais nada pra fazer mesmo, seria ótimo um sonzinho agora’
Tom encolheu os ombros e foi pegar o violão que tinha deixado no quarto. Quando voltou, os amigos se empertigaram na sala. Ele sentou no sofá novamente, cruzando as pernas, e dedilhou alguma coisa só pra ver se o violão continuava afinado.
‘O que vai ser?’ ele perguntou olhando pros amigos.
‘Tanto faz’ encolheu os ombros. Tom concordou e começou a tocar.
‘Watching the people get lairy is not very pretty I tell thee. Walking through town is quite scary and not very sensible either’ ele cantou.
‘Ah não, pode parando!’ balançou a cabeça e cruzou os braços. Tom até tirou as mãos do violão ‘Eu não sou obrigada a ouvir isso, sou?!’
‘Certo, o que quer que ele cante então?’ perguntou tentando agradar a amiga.
‘Sei lá, mas com certeza não é Kaiser Chiefs’ balançou a cabeça. riu.
‘Ok, prometo que vai ser algo que pelo menos alguém aqui vai gostar’ disse e pegou o violão. Todos estranharam a atitude dela.
‘Desde quando você sabe tocar violão?’ perguntou com a testa franzida.
‘Desde os treze anos de idade, quando tive aulas disso’ disse rindo. Ajeitou o violão no colo, cruzando as pernas, e deu uma tossida leve pra assear a garganta. Lançou um olhar significativo pra e todos se entreolharam desentendidos até que ela tocou as primeiras notas e começou a cantar ‘Close your eyes and I'll kiss you. Tomorrow I'll miss you. Remember I'll always be true’ ‘Ai céus’ corou e escondeu o rosto nas mãos. Todos riram e fizeram sinal pra prosseguir.
‘And then while I'm away, I'll write home every day and I'll send all my loving to you’ ela cantou mais devagar do que o necessário. não conseguia tirar os olhos de cima dela. Ele nem ligava muito pra música, mas estava gostando de ouvir cantar; ela tinha uma voz bonita como ele nunca imaginara ‘I'll pretend that I'm kissing the lips I am missing and hope that my dreams will come true. And then while I'm away, I'll write home every day and I'll send all my loving to you’ ela ia recomeçar, mas viu esconder o rosto no ombro de dessa vez e entregou o violão pra Danny ‘Certo, chega de fazer os outros se constrangerem’ disse fazendo e rirem envergonhados.
‘Bonita voz e muito bom gosto, , mas agora vamos a algo que um dia, quem sabe, vai superar Beatles’ Danny ajeitou o violão no colo e começou a tocar alguma coisa ‘Life is getting harder day by day’ ele cantou e todos riram. Claro, algo pra superar Beatles. Obviamente, McFly.
não estava conseguindo dormir. Ele se revirava na cama a cada ronco de . Uma insônia incomum estava lhe perturbando. Ele sabia o motivo daquela falta de sono, era preocupação. Se quando se perdeu na floresta ele ficara preocupado em não vê-la mais, agora ele estava preocupado com a possível mudança dela e com o fato de poder não vê-la mais novamente. Sem agüentar mais continuar deitado na cama, resolveu ir na cozinha e beber um pouco de água. Quando estava no corredor, ouviu um barulho baixo que reconheceu como som de violão. Ele olhou pro sofá da sala e viu que o violão que não estava mais lá. Olhou pra porta da casa e viu que estava apenas encostada, então foi até lá. Abriu um pouco da porta e espiou na varanda. Sentada numa das redes, de costas pra ele, estava tocando violão. Ele abriu a porta um pouco mais e se encostou ao batente. Sem perceber a presença dele, continuou dedilhando algo simples e tranqüilo. sorriu ao reconhecer aquela melodia. A garota fez um barulho com a garganta.
‘When you're down and troubled and you need a helping hand, and nothing, nothing is going right’ cantou baixinho ‘close your eyes and think of me and soon I will be there to brighten up even your darkest night’ ela se calou e parou de tocar, tendo a estranha sensação de que não estava sozinha. Então olhou pra trás e se assustou um pouco quando viu que estava parado na porta, olhando pra ela e sorrindo ‘Deus do céu, você me assustou’ riu.
‘Desculpe, mas eu não queria interromper’ ele disse e foi sentar ao lado dela. deu espaço pra que ele coubesse na rede também.
‘Está me ouvindo há quanto tempo?’
‘Não muito’ ele se ajeitou melhor na rede e olhou pra garota ‘Você tem uma voz incrível’
‘E você tem problema de audição’ ela disse e os dois riram baixo ‘Espero não ter te acordado, achei que não estava tocando alto’
‘Você não me acordou, eu é que não estava conseguindo dormir mesmo’
‘Insônia?’ ela perguntou. suspirou longamente.
‘Yep’ concordou ‘Causada por preocupações’
‘Hum, isso sempre nos faz perder o sono mesmo’ ela disse olhando pro lado ‘Preocupações são um problema, e quando estamos com um problema nunca conseguimos ficar em paz’
‘Concordo’ ele disse simplesmente ‘Estou preocupado com a sua mudança, ’ ele admitiu sem conseguir esconder aquilo dela. o encarou por uns segundos.
‘Você não precisa se preocupar com isso’ ela disse calma ‘Aliás, não tem porque se preocupar com isso’
‘Eu já disse, não quero que você vá embora. Eu...’ ele ia dizer que não podia ficar sem ela porque a amava, mas olhando bem nos olhos da garota, sem saber o porquê, acabou perdendo a coragem ‘queria poder fazer mais por você’ completou falando mais baixo.
‘Você já está fazendo tudo o que pode, ’ ela disse agradecida ‘E vamos esquecer isso, por favor, pelo menos por agora’ ela disse e sorriu quando concordou. Entregou o violão pra ele ‘Toma, você é músico, é melhor nisso do que eu’ riu. Ele negou com a cabeça e devolveu o violão pra ela.
‘Toca alguma coisa pra mim’ pediu ‘Eu gosto de ouvir você cantar’
‘Você gosta de uma tortura sonora, isso sim’ ela riu.
‘Toca pra mim, é sério’ ele pediu de novo. Ela encolheu os ombros.
‘Qualquer coisa?’ perguntou. assentiu e ela deu uma tossidinha. Olhou pros lados, pensativa, e depois baixou a cabeça. Sorriu com uma antiga música do The Used na cabeça ‘The singer finished singing and she's walking out. The singer sheds a tear fear of falling out and it's hard to say how I feel today. For year gone by and I cried’ fez uma pequena pausa e olhou pra . Viu que ele estava sorrindo e continuou ‘It's hard to say that I was wrong. It's hard to say I miss you. Since you've been gone, it's not the same’ (A cantora terminou de cantar e ela está saindo. O cantor derramou uma lágrima com medo de cair e é difícil dizer como eu me sinto hoje. Nossos anos se passaram e eu chorei. É difícil dizer que eu estava errado. É difícil dizer que eu sinto sua falta. Desde que você se foi, não é a mesma coisa).
se sentia melhor a cada palavra e a cada nota da música. Era como se todas as suas preocupações tivessem ido embora e ele não via um lugar melhor pra estar do que ali, numa casa de campo, sentado na rede, ouvindo a garota da sua vida tocando uma bela música. Seria desperdício de tempo se ele tivesse continuado na cama, tentando dormir. Era muito melhor permanecer acordado e sonhar sem precisar fechar os olhos, mesmo porque seu sonho favorito era de carne e osso e chamava-se .
Cap. 39
Na sexta-feira de noite, saiu do banheiro e foi pra sala, onde , e viam televisão.
‘Ué, cadê o ?’ ela perguntou quando não viu o garoto com os outros. sacudiu os ombros e continuou prestando atenção na TV.
‘Acho que foi tomar banho’ disse com os olhos vidrados na TV ‘A desocupou o banheiro agora há pouco, acho que ele foi pra lá’
‘Ah sim’ concordou e foi até a porta da casa, que estava aberta. Ficou com o corpo escondido atrás da parede, deixando só parte do rosto aparecer no portal. Estava assim porque não queria que o casal lá fora visse que ela estava olhando pros dois. e estavam sentados no capô do carro de , conversando e olhando pro céu. A noite estava quente e o céu estava estrelado, uma noite perfeita pra se aproveitar bem acompanhado. sorriu vendo os dois lá fora se beijarem.
Ela fechou um pouco a porta, dando mais privacidade aos amigos, e saiu da sala. Na cozinha não encontrou ninguém, então foi pra parte externa da casa. Viu e namorando no escuro, perto da mesa de sinuca. Deu um risinho baixo e foi sentar na balaustrada que separava a parte da piscina do campo que rodeava a casa. Fez questão de sentar de costas pros amigos, que nem notaram sua presença. Ficou balançando as pernas e olhando pro céu, admirando a lua que brilhava muito branca. Sentiu uma paz imensa, como há muito tempo já não sentia.
‘Psiu’ alguém falou baixinho atrás dela. sentiu cheiro de sabonete e perfume. Olhou pro lado e viu pulando a balaustrada.
‘Não pisa aí, vai sujar os pés’ ela disse na mesma voz que ele, vendo o menino descalço pisar na terra do outro lado. sacudiu os ombros.
‘Não tem problema’ ele disse e olhou pro céu. Ela fez o mesmo ‘Bonita noite, não é?’
‘Demais’ ela concordou. olhou pra ela, mas a menina continuou olhando pras estrelas ‘Engraçado, o céu daqui é tão limpo que parece que aqui tem mais estrelas do que na cidade’
‘Verdade’ ele disse simplesmente ‘A sua mãe não te ligou?’ perguntou. Ela olhou pra ele.
‘Não, ainda não’ respondeu e tirou o celular do bolso do micro-shorts jeans que estava usando ‘Tô andando com o celular pra lá e pra cá agora, tudo pra não correr o risco de não atender a ligação dela’
‘Quanta ansiedade’ ele riu e ela guardou o celular no bolso ‘O que você acha que seu pai resolveu?’
‘Sei lá’ ela passou a mão pelos cabelos, meio que bagunçando-os ‘Meu pai é complicado, mas eu confio no poder de persuasão da minha mãe. Ela sempre tem bons argumentos’
‘Espero que ela tenha conseguido convencer seu pai, então’
‘Vamos ver, vamos ver’ ela disse vendo o menino ficar na sua frente, a uma certa distância. Riu.
‘Que foi?’ ele perguntou desentendido.
‘Seu cabelo’ ela disse e ele rolou os olhos. Gostava quando os cabelos dele estavam bagunçados, mas achou melhor arrumá-los pra ele ‘Vem aqui’ ela o chamou com a mão e chegou mais perto. passou a mão pelos cabelos dele, fazendo o menino cerrar os olhos ‘Pronto’ disse e ele abriu os olhos.
‘Você não vai agüentar nem uma semana morando comigo’ ele disse de repente. Ela riu.
‘Você é quem não vai me agüentar’
‘Que isso, eu vou adorar você morando comigo’ ele disse chegando um pouco mais perto ‘Eu preciso mesmo de alguém pra dar um jeito no meu apartamento de vez em quando’
‘Vai me usar de empregada?’ ela abriu a boca, irônica, e os dois riram ‘Pode desistindo dessa idéia, eu não vou limpar casa que não é minha’
‘Mas quando você for morar lá’ continuou se aproximando ‘a casa vai ser sua também’
‘Vai passar a escritura no meu nome?’ ela perguntou e ele levantou as sobrancelhas, como quem diz “quem sabe”. Ela riu ‘Isso está parecendo papo de marido e mulher’
‘Calma, não é pra tanto’ ele disse rindo e parando entre as pernas dela. colocou a mão na frente da boca dele.
‘Shiu, não ria tão alto. Não quer atrapalhar o casal ali, quer?’ ela baixou a mão e olhou pra trás. Viu e de pé, encostados na mesa de sinuca. Eles estavam tão embolados num beijo que era difícil ver quem era quem. olhou pra eles por cima do ombro de .
‘Eu vou mandar aqueles dois irem pra um quarto logo, logo’ ele disse. riu baixo e olhou pra ele. Sentiu um arrepio ao ver o quanto o rosto de estava próximo do seu.
‘Deixa os dois’ ela disse tentando manter a calma ‘Todo mundo merece ser feliz, pelo menos um pouquinho’
‘Hum, está com inveja?’ ele perguntou. Ela engoliu em seco ao sentir a respiração dele no seu rosto.
‘Por que deveria?’ ela perguntou em resposta. encolheu os ombros e sorriu. o viu apoiar as mãos na balaustrada, a prendendo ali. Achou que devia afastá-lo, mas não fez nada. Num momento de desvairo talvez, ela encostou seu nariz no dele e fechou os olhos. Céus, aquele era o , seu melhor amigo, não podia ficar com ele, não de novo! Se bem que ela mesma tinha falado que não era errado ficar com ele, que aquilo era apenas um acaso do destino... não teve mais tempo de pensar em nada ou desistir quando sentiu a boca dele encostar na sua. Ela não teve outra reação a não ser beijá-lo. Mas, por Deus, o que estava fazendo?!
desencostou as mãos da balaustrada e as colocou nas costas da menina. Sentiu as mãos dela segurarem no seu rosto e na sua nuca. Ele aproximou mais seu corpo, encostando a cintura na balaustrada. sentia constantes calafrios conforme o beijo ficava mais intenso. Segurou com mais força na nuca do garoto e passou a outra mão pras costas dele. Suas pernas tremeram e ela cruzou os pés atrás das pernas dele. desceu uma das mãos pra cintura da menina e a apertou com certa força. De repente, os dois ouviram um barulho tão alto que se separaram pelo susto e, por pouco, não caiu pra trás. Eles se entreolharam rapidamente, mas não tiveram tempo de falar nada, até porque nenhum dos dois sabia o que dizer. estava chamando-os.
‘Hey vocês! Vamos lá pra frente, ligou o som do carro’ ela gritou e saiu correndo com . virou, ainda sentada, e desceu do lado da piscina. pulou a balaustrada e viu a menina sair correndo pra dentro da casa. A única coisa que ele fez foi segui-la, com um grande sorriso no rosto.
Fazia mais de uma hora que estava dançando com as amigas. A idéia de era aproveitar o último dia que eles tinham na casa de campo curtindo muito e bebendo até cair se fosse possível. As últimas garrafas de cerveja e vodka que eles tinham levado pra lá estavam no chão da varanda e o som do carro estava no último volume, tocando um dos CDs que levara. e estavam dançando com as garotas enquanto e estavam sentados num dos degraus da varanda, tentando conversar apesar da música alta. Os dois bebiam menos do que os outros porque teriam que pegar a estrada e dirigir cedo no dia seguinte e, já que teriam que fazer isso, preferiam fazer sem estar de ressaca. Vez ou outra, dava uma olhada em . A menina parecia já estar sob o efeito do álcool, dançando feito uma louca e segurando uma das algumas garrafas de cerveja que bebia. Apesar disso ele não podia negar que ela estava bonita e até mesmo muito sexy, ainda mais com aquele shorts tão curto e balançando os cabelos ainda meio molhados.
‘Baba menos’ deu uma cotovelada no amigo, vendo que não estava prestando mais atenção na conversa direito.
‘Pior que não dá’ encolheu os ombros. riu.
‘Sei como é, mas e aí?! Nenhum progresso com ela?’
‘Bem, mais ou menos’ mexeu a cabeça de um lado pro outro ‘Digamos que as coisas estão melhorando, hum, gradativamente’
‘Gradativamente é? Isso pode ser bom, cara’ disse ‘Já é alguma coisa’
‘Sem dúvidas’ concordou e olhou pro amigo ‘Mas e você cara? Nada com ninguém?’
‘Nada com ninguém’ balançou a cabeça ‘Pelo menos nada com alguém que me queira’ e os dois riram.
‘Então tem alguém, mas esse alguém não está muito interessado?’ perguntou. concordou.
‘Certas mulheres são mais difíceis do que parecem, meu amigo. Esse é um grande problema pra nós’ disse sabiamente.
‘Que filosofia, ham. E olha que você nem está bêbado’ disse e eles riram. se aproximou dos dois.
‘Segura pra mim um minuto?’ ela perguntou pausadamente por causa da quantidade de álcool que já tinha ingerido e estendeu a garrafa de cerveja quase vazia pra . Ele pegou a garrafa dela e a seguiu com o olhar, vendo a garota entrar na casa pegando o celular no bolso do shorts.
‘Quem será?’ perguntou. voltou a olhar pro amigo.
‘Provavelmente o peguete dela’ ele resmungou mal humorado.
‘Duncan?’ franziu a testa.
‘O próprio. Outro dia o babaca resolveu se declarar pra ela, hunf’ bufou rolando os olhos ‘Disse que gostava muito dela, mas que havia certas coisas que o atrapalhavam pra ficar perto dela’
‘Aposto que essas “coisas” somos nós’ disse fazendo aspas ‘O cara é do time de futebol americano do colégio, não vai querer namorar uma garota que anda com os ex-perdedores de lá’
‘Se é por isso, ele está ferrado. Eu vi a dizer pro playboy que, se ele quiser mesmo ficar com ela, vai ter que aprender a conviver com a gente’
‘Então pode comemorar, meu amigo’ riu dando tapinhas no ombro de ‘Porque se for assim mesmo, o playboy não vai ficar nem uma semana com ela’
‘Espero mesmo’ disse e olhou pra porta da casa ‘Já volto, cara’ ele deixou a garrafa de no degrau e levantou, indo pra dentro da casa. A única luz acesa era a da cozinha e ele supôs que estivesse lá, conversando no celular. Pensou em chegar perto da porta pra ouvir o que tanto ela falava com o tal Duncan, mas mal deu um passo quando viu saindo da cozinha. Ela estava sorrindo quando olhou pra ele.
‘! , minha mãe me ligou!’ ela disse animada ‘Eu vou ficar! Eu vou ficar!’ e correu até o menino, o abraçando com força. quase tossiu quando ela o abraçou. Recuperou o ar e sorriu a abraçando de volta.
‘Que bom, . Que bom’ ele disse sentindo uma enorme felicidade acometê-lo por dentro ‘Eu sabia que as coisas iam acabar se ajeitando. Agora você vai poder ficar e morar lá em casa’
‘Obrigada por estar fazendo isso por mim’ ela agradeceu baixinho, estalando um beijo na bochecha do garoto e encostando o queixo no ombro dele. a apertou mais no abraço, sorrindo mais do que achou que era possível sorrir um dia.
Cap. 40
O dia não estava muito claro por ser quase madrugada ainda e era pouco o sol que iluminava a estrada. assoviava baixinho alguma coisa que lembrava Wind It Up enquanto dirigia em silêncio. e estavam capotados no banco de trás, dormindo profundamente graças ao álcool consumido no dia anterior e a ressaca do dia seguinte. Apesar de ter bebido, tinha esvaziado menos garrafas de cerveja do que eles e nem vodka tinha tomado.
‘Animada pra voltar pra casa?’ perguntou olhando de esguelha pra . A menina encolheu os ombros.
‘Não sei’ respondeu e riu ‘Ah, sei lá, acho que estou mais animada por continuar em casa... bem, não exatamente na minha casa, mas enfim’
‘Vai ser sua casa também, eu já te disse isso’
‘As coisas não são fáceis assim, . Você sabe disso’ ela olhou pra ele ‘Eu posso ter vivido boa parte da minha vida sozinha, sem meus pais por perto, mas viver com outra pessoa é bem diferente’
‘Nós não vamos nos casar, !’ ele riu e, por uma fração de segundo, chegou a lamentar o que tinha dito.
‘Eu sei que não’ ela riu também. resmungou alguma coisa no banco de trás ‘mas as coisas não são tão simples quanto parecem. Eu já te falei, nós nos conhecemos há apenas três meses, não sabemos tudo um do outro. Convenhamos, podemos ser considerados praticamente como dois desconhecidos’
‘Nós não somos dois desconhecidos’ ele disse franzindo a testa, ligeiramente incomodado ‘e nós ainda temos o resto das férias pela frente. Acho que é tempo suficiente pra nos adaptarmos com toda essa mudança. Vai dar tudo certo’
‘Você fala tão confiante que não tem nem como desacreditar’ ela disse e ele riu.
‘Eu sei das coisas. Mas, então, que dia seus pais se mudam?’
‘Minha mãe disse que seria quando eu voltasse da viagem, mas acho que eles não vão hoje não. Mais provável que eles viajem amanhã. Hoje você ainda vai estar livre de mim’
‘Não quer passar a noite lá em casa?’ ele perguntou inocentemente.
‘!’ ela disse um pouco alto e os dois riram. roncou e se mexeu nos braços dele.
‘Não me entenda mal. O que eu quis dizer é se você não quer dormir no quarto que vai ser seu agora, só pra ir se acostumando’ ele encolheu os ombros, se explicando.
‘Ah não, não precisa’ ela balançou a cabeça, ainda rindo ‘Com o quarto eu acho que acostumo fácil, difícil vai ser acostumar a morar com você’
‘O QUÊ?’ deu um grito no banco de trás. levou um susto tão grande que quase perdeu o controle do carro. pulou no banco assim como .
‘Puta merda, ’ disse com a mão no peito, sentindo o coração batendo rápido ‘não faz isso de novo, quase me mata do coração’
‘Você queria que eu ficasse calma depois do que eu ouvi?’ colocou a cabeça entre os bancos da frente, com os olhos arregalados.
‘E o que é que você ouviu pra dar um berro desse jeito?’ perguntou tentando ganhar tempo. arqueou uma sobrancelha.
‘Não se faça de bobo, você sabe o que eu ouvi’ disse e se virou pra prima, que ainda tentava se recuperar do susto ‘Que negócio é esse de ir morar com o ?’
‘Ir morar com quem?’ se pronunciou igualmente surpreso ‘Acho que não ouvi direito. vai morar com quem?’
‘Ninguém ouviu nada errado e acho bom os dois pararem com essa palhaçada’ disse em tom de reprovação ‘Eu vou morar com o e...’
‘Pra que morar com o ? Você não tem seu apartamento, não mora com seus pais?’ perguntou exaltada.
‘E ninguém tem nada a ver com isso’ completou colocando a mão na testa da prima e empurrando a cabeça dela pra trás, tirando-a do meio dos bancos.
‘Mas por que isso?’ perguntou confuso.
‘Porque os pais dela vão se mudar pros Estados Unidos, ela não quer ir com eles e então eu ofereci o meu apartamento pra ela ficar’ contou rapidamente ‘Explicado?’
‘Acho que sim’ disse simplesmente, assimilando as informações.
‘Ai céus’ mexia na bolsa de mão que levava dentro do carro ‘As meninas têm que ficar sabendo disso. Que loucura, que loucura...’
‘Haja paciência’ balançou a cabeça, abrindo o vidro do carro. olhou pelo retrovisor e riu ao ver pegando o celular e discando, provavelmente, o número de uma das meninas que estavam no outro carro.
‘Cara, isso é maluquice’ disse balançando a cabeça. concordou.
‘Tudo bem você gostar da garota, mas chamá-la pra morar contigo... aí já é demais’ disse.
‘É o único jeito de ela continuar aqui, o que vocês queriam que eu fizesse?’ levantou as sobrancelhas. Depois que chegaram de viagem, os garotos tinham ido pro apartamento dele enquanto as meninas se reuniram na casa de .
‘Bom, eu fico feliz que a vai poder ficar aqui’ encolheu os ombros ‘Mas não sei se chamá-la pra morar com você foi a melhor decisão a ser tomada’
‘Eu já disse, é o único jeito de ela não ir pros Estados Unidos. Eu simplesmente não podia ficar de braços cruzados e deixar a garota que eu amo se mudar pra outro país’ disse se recostando na poltrona onde estava sentado ‘Ela vai morar comigo e ponto final. Eu não vou voltar atrás, não importa o que vocês digam’
‘Tudo bem cara, sem estresse’ disse ‘Mas você já pensou em como vai ser a sua vida agora?’
‘ tem razão’ apoiou o amigo ‘Você pensou em como vai ser sua vida com a morando aqui?’
‘O que vocês querem dizer com isso?’ não entendeu.
‘Acho que eles querem dizer que sua vida vai mudar completamente com uma garota morando no seu apartamento’ levantou do sofá e foi pra cozinha.
‘Exatamente’ concordou ‘Pensa só, vai ter uma garota morando aqui agora’
‘Você não vai mais poder fazer tudo que você fazia antes, se é que você me entende’ deu uma piscadinha e ele e riram.
‘Depois de um tempo morando aqui, a vai começar a controlar a sua vida’ disse pra ‘Quando você sair, ela vai perguntar pra onde você vai. Se você chegar de madrugada, ela vai perguntar onde você estava e por aí vai’
‘Hum, duvido que ela faça isso’ discordou balançando a cabeça ‘ não é assim’
‘Garotas são todas iguais, todas controladoras’ encolheu os ombros.
‘Eu discordo’ disse voltando da cozinha com uma garrafa de cerveja.
‘Isso porque você namora há pouco tempo’ riu do amigo.
‘Como se você já tivesse tido namoros muito longos pra descobrir essas coisas sobre as garotas’ retrucou.
‘Voltando ao assunto’ disse antes que os amigos começassem a discutir sobre o tempo de duração dos relacionamentos de ‘Eu ainda acho que esse negócio da morar aqui não vai dar certo. Se ela não se tornar controladora, pode ser que ela se torne possessiva’
‘E fique achando que o apartamento também é dela e que ela pode mandar e desmandar aqui’ completou se virando pra ‘Ela vai começar a mexer nas suas coisas, mudar tudo de lugar, ditar as próprias regras’
‘Sinceramente, vocês são loucos’ riu com as suposições dos amigos.
‘Quanta besteira’ rolou os olhos.
‘Eu não acredito em nada disso que vocês falaram e’ aumentou um pouco a voz quando viu e abrirem a boca ‘acho melhor pararmos de falar sobre isso’
‘Ok, mas quando terminarem as férias eu quero que você me conte como é morar com uma garota e então vamos ver quem estava certo aqui’ disse e apenas concordou com a cabeça.
‘É, porque se você estiver certo, , quem sabe o não chama a pra morar com ele também’ disse bebendo um gole da cerveja. e caíram na risada vendo ficar vermelho e mandar o dedo pra .
‘Gente, tenham calma’ pediu diante do falatório das amigas. As quatro estavam discutindo exatamente a mesma coisa que os garotos: a mudança de pro apartamento de .
‘Meio difícil ter calma diante disso’ disse cruzando os braços, ainda incrédula ‘, é sério, você está cometendo uma loucura indo morar com o ’
‘Ou eu vou morar no apartamento dele ou eu vou morar em um apartamento nos Estados Unidos’ repetiu a mesma frase que já tinha dito duas ou três vezes.
‘Você poderia vir morar aqui em casa’ sugeriu ‘Eu sei que não é muito grande, mas você poderia muito bem dividir o quarto comigo’
‘E ficar incomodando seus pais pelo resto da vida?’ arqueou uma sobrancelha ‘Não, obrigada’
‘E no apartamento do você não vai incomodar ele?’ arqueou uma sobrancelha como a amiga.
‘Gente, isso é diferente. Meus pais me disseram no telefone que vão me mandar dinheiro, tanto pra eu gastar comigo mesma como pra ajudar o com as contas. É como se eu estivesse morando de aluguel no apartamento dele, e não de favor’
‘Você poderia fazer a mesma coisa se morasse aqui’ disse.
‘Seus pais nunca me deixariam pagar qualquer coisa. Não esqueça que eles são meus tios, eu os conheço muito bem’ interpôs e não teve como discordar, sabia que os pais nunca deixariam a prima pagar uma conta sequer.
‘Continuando, eu ainda acho uma loucura o que você está fazendo’ disse.
‘Tipo, vocês são amigos há pouco tempo, não tem nada a ver você ir morar com ele. Isso é, no mínimo, estranho’ disse fazendo cara de quem, na verdade, não achava aquilo apenas estranho, mas sim um absurdo.
‘Esse negócio de morar junto é pra namorados’ balançou a cabeça. olhou pra ela.
‘Você vai morar com o , por acaso?’ perguntou e as outras riram vendo mostrar a língua.
‘Todo mundo entendeu, nem vem’
‘Não adianta falar nada, já está decidido’ resolveu colocar um ponto final na história, cansada de ser repreendida pelas amigas ‘Eu vou morar com o , acabou. Acostumem-se com a idéia’
‘E Duncan?’ mexeu com a cabeça pra frente ‘Ele vai ter que se acostumar com a idéia também?’
‘Erm’ se sentiu ligeiramente desconcertada com a pergunta. Não tinha parado pra pensar em Duncan em nenhum momento desde que ele tinha ligado pra ela na quinta-feira e, conseqüentemente, não tinha pensado na opinião dele. Mas, afinal, ele não tinha que opinar em nada na vida dela exatamente pelo fato da vida ser dela. O mínimo que ele tinha a fazer era se adaptar.
‘Então?’ levantou as sobrancelhas, vendo a amiga demorar pra responder.
‘Obviamente ele vai ter que se acostumar’ respondeu por fim ‘Isso se ele realmente quiser ficar comigo’
‘Ele não vai gostar nada nada de saber que você vai morar com o ’ balançou a cabeça. Na viagem, tivera tempo pra contar às outras meninas sobre a conversa que tivera com Duncan um tempo antes de saírem de férias ‘Se fosse com uma de nós, ele aceitaria numa boa. Mas é com um garoto, e ainda por cima com o !’
‘Eu já disse pra ele que ele vai ter que aprender a conviver com os meus amigos e confiar neles se quiser ter alguma coisa comigo’ disse cansada daquela história sobre Duncan não gostar dos seus amigos ‘Se ele não aprovar o fato de eu morar com , nada entre nós vai dar certo. E, por favor, chega desse assunto’
‘Olha, querem saber de uma coisa?’ levantou do sofá e as amigas olharam pra ela ‘Dane-se o que os homens pensam ou o que deixam de pensar, dane-se o que eles aprovam ou não. Aliás, danem-se os homens’ disse fazendo gestos com as mãos ‘O que acham de esquecermos deles por um momento e acabar com os potes de sorvete dentro do meu congelador?’
‘Apoiado! Apoiado!’ aplaudiu em concordância e as outras fizeram gestos positivos, rindo. foi pra cozinha buscar o sorvete quando o telefone tocou.
‘Eu atendo, eu atendo’ ela disse saindo da cozinha e correndo até a base ‘Deve ser o ’
‘Mas e aquele papo de “danem-se os homens”?’ franziu a testa, cochichando pras amigas, e as três explodiram em risos.
Cap. 41
A mudança de foi algo muito mais simples do que o imaginado. Como os pais dela saíram praticamente de madrugada pra pegar o primeiro vôo pros Estados Unidos no domingo, quem acabou fazendo a mudança foi ela mesma com a ajuda . E tudo teve que ser feito o mais rápido possível, visto que o corretor de imóveis que ia cuidar da venda do apartamento da família chegaria no horário do almoço. Nenhum móvel fez parte da mudança, as únicas coisas que foram transportadas pro apartamento de foram as roupas, calçados, os objetos pessoais da garota – entre eles CDs e DVDs –, a televisão e o computador que ficavam no quarto dela.
‘Três meses que não mudo minhas coisas de lugar e já tinha esquecido do mundo de roupa que eu tenho’ disse fechando a porta do armário quando finalmente terminou de arrumar suas coisas lá dentro.
‘Deu sorte que coube tudo aí’ brincou ajustando o mural de fotos na parede do novo quarto dela.
‘Não exagera’ ela riu e se jogou na cama de casal. deu uma última olhada no mural pra ver se não estava torto e olhou pra menina.
‘Não pretende passar o resto do dia jogada aí, não é?’ ele perguntou e olhou no relógio ‘É uma da tarde agora e eu não estou a fim de cozinhar’ ela riu ‘Quer almoçar fora?’
‘Ah, não sei. Estou meio cansada’ ela disse se espreguiçando.
‘Não sei por que, quem fez o trabalho pesado fui eu’ ele disse sentando na cama. Ela pôs a língua pra fora.
‘Eu acordei de madrugada, me deixa’ ela resmungou chutando de leve a perna dele. O celular dela tocou em cima da escrivaninha ‘Vê que é pra mim, faz favor’ pediu preguiçosa.
‘Mas que folga hein’ ele riu e levantou pra pegar o celular dela. Seu bom humor decaiu quando ele leu o nome no visor do aparelho.
‘Quem é?’ ela perguntou vendo que ele não atendeu o celular e estava demorando pra falar alguma coisa. foi até a cama e estendeu o celular pra ela.
‘Duncan’ resmungou em resposta.
‘Ah caraca’ ela sentou na cama. Com a pequena mudança pra fazer ela tinha esquecido completamente de que tinha prometido ligar pra Duncan. Pegou o celular ‘Oi Duncan’ ela atendeu no tom mais simpático possível. Riu ‘Não, claro que eu não esqueci de você’
virou de costas, rolando os olhos, e foi parar na frente do mural de fotos dela. O mural tinha mudado de lugar, mas as fotos continuavam intactas. Ficou olhando as fotos mais antigas, dos outros lugares onde ela já morara, dos outros amigos que ela já tivera. Ouvindo a menina rir enquanto falava no celular, ele passou os dedos numa foto onde ela aparecia mais nova. Devia estar com uns onze ou doze anos e estava num extenso gramado verde ensolarado com uma construção enorme atrás. Ele reconheceu o sorriso dela, era o mais bonito que ele já vira na vida e parecia ser o mesmo desde que ela era menor.
‘Eu já disse que não’ falou rindo, tirando do seu momento de observação ‘Mas, escuta, onde você está? Oh, sério? Ok então, em cinco minutos estou pronta. Até’ ela desligou, levantando da cama.
‘Onde você tirou essa foto?’ perguntou ainda olhando pra foto dela mais nova. deu uma olhada rápida enquanto procurava um casaco dentro do armário.
‘Estados Unidos. Esse é parte do campus da universidade de Harvard. É simplesmente incrível’ ela respondeu ‘desde essa época eu sonho em estudar lá, ou pelo menos em Princeton. Acho que já te disse isso’
‘Você já comentou uma vez’ ele concordou e olhou pra ela ‘Vai sair?’ perguntou estranhando enquanto ela vestia o casaco que pegara no armário.
‘Duncan está na portaria’ ela disse prendendo os cabelos ‘Dá pra acreditar nisso?’ riu.
‘Não, não dá’ ele respondeu desanimado ‘E vocês vão sair, certo?’
‘Yep’ ela afirmou se olhando no espelho de corpo inteiro que havia no quarto. Deu uma ajeitada no rabo de cavalo que tinha feito no cabelo e olhou pra ‘Se importa de almoçar sozinho?’
‘Ah não, sem problemas. Vai lá, se diverte’ ele disse de má vontade. sorriu.
‘Ótimo, estou saindo então’ disse e deu um beijo na bochecha dele.
‘Espera’ disse quando ela já estava na porta do quarto. A menina se virou pra ele, que pegou algo no bolso da calça ‘Acho que você vai precisar disso’ e jogou uma única chave pra ela.
‘Uma chave?’ franziu a testa, sem entender.
‘É a chave da porta da frente. Você mora aqui agora, precisa ter a chave’ ele disse encolhendo os ombros.
‘Ah certo’ ela concordou e sorriu pra ele ‘Mais uma vez , obrigada pelo que está fazendo por mim’
‘Não tem nada que agradecer’ ele balançou a cabeça ‘Agora vai lá, vai, antes que o Duncan desista de esperar’
riu mandando um beijo no ar e saiu animada do quarto. sentou na ponta da cama dela quando ouviu a porta de entrada batendo.
‘Uh claro, pique pra sair com o Duncan ela tem, mas pra sair comigo não. Vida inútil’ ele reclamou sozinho, se jogando pra trás na cama.
Quando voltou pra casa já eram quase dez horas da noite. estava jogado no sofá, vendo televisão, e olhou pra porta quando a menina entrou no apartamento.
‘Isso são horas, mocinha?’ ele perguntou tentando se divertir com a situação. riu e sentou na ponta do outro sofá. Reparou que estava só de calças e se esforçou pra não se constranger com isso. Tudo bem, já tinha o visto apenas de samba-canção, mas ela ainda não estava acostumada a viver com um garoto que anda seminu pela casa.
‘Desculpe, pai’ ela disse tirando o casaco que usava. Ele riu ‘Como passou o dia?’
‘O que acha?’ ele apontou pras caixinhas de DVD, um copinho vazio de macarrão instantâneo e duas latinhas de cerveja, tudo espalhado na mesinha de centro.
‘Bem emocionante’ ela levantou as sobrancelhas e riu. voltou a olhar pra televisão.
‘E como foi o seu dia?’ perguntou.
‘Nada de anormal’ ela sacudiu os ombros ‘Duncan me levou pra almoçar no shopping, assistimos dois filmes seguidos no cinema e depois ficamos rodando pela cidade no carro dele’
‘Hum, interessante’ ele disse sem real interesse. Viu sua cabeça formar imagens com ele no lugar de Duncan, fazendo tudo aquilo com . Se achou um completo idiota por isso ‘E, bom, você contou pro Duncan que está morando aqui?’
‘Ah contei’ ela disse e se mexeu no sofá, incomodada.
‘E?’
‘Primeiro ele quis te matar’ ela contou e sorriu sem graça quando olhou espantado pra ela ‘Relaxa, eu o convenci a não fazer isso. Depois ele ficou insistindo uma meia hora seguida pra que eu fosse morar com ele, na casa dos pais dele. Um completo absurdo, totalmente fora de questão’ ela rolou os olhos, balançando a cabeça ‘Depois perguntou várias vezes porque eu tinha que morar aqui, com você, e não com uma das minhas amigas ou com a . Então, finalmente, ele ficou quieto e aceitou a idéia de eu morar aqui agora’
‘Namorado complicado que você arranjou’ ele comentou com certa arrogância.
‘Duncan não é meu namorado’ ela disse e levantou ‘Se não se incomoda, eu vou tomar um banho e dormir’
‘Eu não tenho porque me incomodar, o apartamento também é seu agora, você pode fazer o que quiser. Quantas vezes eu vou ter que repetir isso?’ ele riu.
‘Até eu me acostumar, acho’ ela disse rindo e indo pro quarto. balançou a cabeça e olhou pra televisão.
Cap. 42
Demorou uma semana pra se acostumar não só a ver andando apenas de calças pelo apartamento como também pra se acostumar a conviver vinte e quatro horas por dia com um garoto. Fora isso ela ainda teve que se adaptar à nova casa, descobrindo onde estavam as coisas de que precisava, aprendendo a fazer tudo de acordo com as preferências de , já que não queria incomodar de jeito nenhum, e também se soltando mais, visto que nos primeiros dias ela nem sentava mais folgada no sofá. Por mais diferente que fosse morar com uma menina, não demorou nem dois dias pra se acostumar a acordar e encontrar tomando café da manhã na cozinha. O complicado pra ele estava sendo se acostumar com saindo quase todo dia pra encontrar com Duncan, isso quando o loiro não ligava pra ela e os dois passavam horas conversando no celular.
No final daquela semana, no sábado, o pessoal tinha combinado de se encontrar no Gas à noite. O McFly não estava fazendo shows no barzinho naquele mês, porque tecnicamente eles estavam de férias até disso, então os garotos iriam apenas pra se divertir. No apartamento de , o garoto esperava terminar de se arrumar pra que eles pudessem sair.
‘É pra hoje?’ ele perguntou começando a se impacientar.
‘É pra agora’ saiu do quarto, finalmente pronta. sorriu pra ela e os dois saíram do apartamento. Uma coisa que ele pudera perceber naquela semana foi o fato de estar ficando mais feminina, e as suspeitas que ele tinha pra mudança de estilo da menina se voltavam todas para Duncan.
Quando chegaram no Gas, encontraram o barzinho lotado. E dessa vez parecia ainda mais cheio do que de costume, isso por ser mês de férias. Como a cidade era pequena, os adolescentes não tinham muitas opções de lugares pra onde ir nos finais de semana.
‘É até estranho não ver os instrumentos de vocês em cima do palco’ comentou com , enquanto os dois procuravam pelos amigos que, provavelmente, já estariam ocupando uma mesa.
‘É estranho vir aqui e não tocar’ disse rindo ‘A única vez que eu não vim aqui e toquei com os caras foi quando viemos conhecer o lugar, de resto sempre viemos pra fazer show’
‘Vocês precisam relaxar mais’ ela riu. Olho pro lado e reconheceu um par de olhos verdes ‘Achei’ ela segurou pela mão e foi arrastando o garoto até uma mesinha ocupada por oito pessoas. Uma delas se levantou assim que ela chegou perto.
‘Hey docinho’ Duncan cumprimentou com um beijo leve nos lábios dela.
‘O que está fazendo aqui?’ ela perguntou sorrindo. tinha a mesma pergunta em mente. O que o almofadinhas estava fazendo lá?
‘Você me disse que vinha aqui hoje à noite, então eu resolvi fazer uma surpresa’ Duncan respondeu encolhendo os ombros. sorriu mais ainda e foi cumprimentar os outros que estavam na mesa. e Duncan se encararam por um longo minuto ‘E aí, cara?’ Duncan estendeu a mão pra , que a apertou rapidamente ‘Cuidando bem da minha garota?’
‘Claro’ respondeu numa educação forçada.
‘Espero que ela não esteja dando muito trabalho’ Duncan riu sentando na cadeira ao lado da que a ocupara. também sentou.
‘De forma alguma’ disse e sorriu forçado ‘Até porque ela nem para em casa, quase todo dia sai com você’
Duncan levantou as sobrancelhas e se virou pra conversar com . olhou pros amigos e reparou como todos pareciam animados, enquanto seu humor tinha esfriado assim que vira Duncan na sua frente. e estavam conversando sobre a música que o DJ tinha colocado pra tocar enquanto , e tentavam convencer a ir pra pista com eles.
‘Não, agora não’ repetia.
‘Ó, tua namorada tá indo agora’ disse apontando pra ‘Se eu fosse você, iria também’
‘Então é só por isso que está indo?’ perguntou rindo, olhando de pra , que corou imediatamente.
‘Nunca se sabe’ riu e foi pra pista, sendo seguido por uma incrivelmente muda e vermelha. riu e olhou pro namorado.
‘Não vem mesmo?’ perguntou.
‘Não agora, daqui a pouco’ disse e estalou um beijo na boca dele antes de ir pra perto dos amigos na pista. se virou pra , sentado ao seu lado ‘Como é que está, cara?’ perguntou discretamente.
‘Bem’ respondeu com a mesma discrição do amigo, evitando ser ouvido pelos outros que ainda estavam na mesa. arqueou uma sobrancelha.
‘Tem certeza disso?’ insistiu. olhou de esguelha pra Duncan e , que estavam se beijando, e virou a cara rapidamente, sentindo como se seu estômago estivesse embrulhando.
‘Você sabe como é’ ele disse pro amigo. apenas concordou ‘Acho que eu nunca vou me acostumar com isso’
‘Revoltante, eu sei’ o outro disse compreensivo ‘Não se esqueça que eu já passei por isso’
‘No meu caso é pior, ’ balançou a cabeça ‘Já ter ficado com ela e saber que ela prefere ficar com outro faz eu me sentir péssimo. Pelo menos você nunca ficou com a antes de ela começar a namorar o tal Michael’
‘É, nesse ponto você tem razão, seu caso é pior. Bem, pelo menos vocês ficaram uma vez só’ encolheu os ombros.
‘Aí é que você se engana’ disse e viu o amigo arregalar os olhos ‘Lá na casa de campo...’
‘Putz, e agora ela tão perto, morando com você e tal... ah cara, isso é complicado’ deu umas palmadinhas no ombro do amigo.
‘Muito’ disse cabisbaixo ‘Você não sabe o quanto’
viu a noite passar arrastadamente. As conversas com os amigos não pareciam tão divertidas quanto antes, ainda mais quando Duncan resolvia fazer um de seus “cômicos” comentários. Ele se sentia abatido, então não teve ânimo pra dançar, e achava que ia vomitar a cada beijo que e Duncan trocavam, então também não teve estômago pra beber nada. Perto das duas da manhã, empurrara Duncan pra pista e as outras meninas foram junto, deixando os quatro garotos sozinhos na mesa.
‘Você está com cara de quem quer se matar, cara’ disse olhando pra , que suspirou profundamente.
‘Se me matar fosse a solução pros meus problemas, eu não pensaria duas vezes antes de fazê-lo’ disse.
‘Eita, que horror’ riu ‘Tá tão ruim assim?’
‘Que é que você acha?’ levantou as sobrancelhas, cruzando os braços sobre a mesa ‘Aquele panaca não desgruda dela nem por um segundo’
‘Nunca vi cara tão chato’ disse só pra apoiar o amigo.
‘E, pelo que parece, não vai desgrudar tão cedo’ completou.
‘Essa é a vida, cara’ encolheu os ombros e tomou um gole de cerveja ‘Um dia a gente perde, no outro a gente ganha, temos que nos conformar com isso’
‘O problema é que, ultimamente, eu só tenho perdido’
‘Ah, não vem com drama’ balançou a cabeça ‘A garota está morando contigo. Agora, mais do que nunca, você tem chance de conquistar ela’
‘O aqui tem razão’ disse e teve que concordar com a cabeça.
‘Como se fosse muito fácil’ rolou os olhos ‘Faz uma semana que ela está morando comigo e a maior parte dos dias ela passou fora de casa porque saiu com aquele imbecil. Se continuar assim eu não vou ter tempo nem pra falar “oi” pra ela’
‘Você complica muito’ disse ‘Se não tomar uma atitude logo, o Duncan vai pedir a garota em namoro’
‘E então pode dar adeus às chances de ficar com ela’ completou o raciocínio do amigo. virou a cabeça, entristecido, e abriu a boca pra dizer alguma coisa e consolar o amigo, mas não disse nada quando viu uma animadíssima aparecer de mãos dadas com Duncan perto da mesa.
‘Hey gente’ ela chamou e os garotos olharam pra ela. franziu a testa ao ver o enorme sorriso que tanto ela como Duncan tinha no rosto ‘Adivinhem só, estou namorando’ disse toda contente e Duncan a puxou pra um beijo.
deu um meio sorriso, tentando parecer animado com a notícia; arregalou os olhos; continuou com a boca aberta, sem conseguir esconder seu espanto; e puxou a cerveja de e começou a beber no gargalo, quase desejando se engasgar e morrer asfixiado ali mesmo.
ficou em silêncio durante o caminho de volta pra casa, estava tão feliz com o início do namoro que nem reparou na quietude do garoto. Quando chegou no apartamento, continuou calado e se trancou dentro do quarto. Ouviu falando ‘boa noite’ na sala e a porta do quarto dela se fechando. Ele tirou a roupa, ficando só de samba-canção e ligou a televisão do quarto, deitando na cama. Zapeou os canais, mas não encontrou nada que lhe chamasse a atenção. Deixou num canal qualquer e ficou olhando pra TV, sem prestar real atenção no que quer que estivesse passando. Ele não estava com vontade de conversar, de ver televisão e nem de dormir. A única coisa que tinha vontade de fazer, se fosse possível, era dar um sumiço em Duncan ou, no mínimo, voltar no tempo e impedir que aquela noite acontecesse. Tantas vezes ele tinha dito pros amigos que não deixaria Duncan ficar com , pelo menos não por muito tempo, mas agora essas palavras não pareciam fazer sentido. Ele não conseguia encontrar uma solução pro seu problema, uma saída praquela situação. Estava se sentindo inútil e incapaz, um completo idiota de mãos atadas. Tudo estava perdido.
Cap. 43
Era sexta de tarde e, desde sábado da semana anterior, teve que agüentar conformado elogiando Duncan ou contando sobre alguma coisa que eles tinham feito nos dias da semana em que tinham saído juntos. Chegava a ser angustiante e irritante, mas ele não podia fazer nada pra mudar isso. E, pra não atrapalhar a felicidade da menina, tinha adotado o hábito de passar a maior parte do tempo calado. percebeu e começou a se incomodar com isso; estava disposta a fazer alguma coisa pra mudar o humor do seu melhor amigo.
Ela tinha acabado de lavar a louça do almoço e foi pra sala com uma vasilha cheia de sorvete. Sentou ao lado de no sofá.
‘O que está assistindo?’ perguntou misturando a calda no sorvete.
‘Nem idéia’ ele deu de ombros ‘Parece algum tipo de programa idiota em que as pessoas competem pra ganhar uns prêmios ou sei lá o que’
‘Muito interessante’ ela riu e olhou pra ele ‘, tem alguma coisa te aborrecendo?’
‘Nop’ ele respondeu calmo.
‘É sério, cara. Você passou a maior parte desses dias sem falar quase nada, estou começando a ficar preocupada’
‘Não é nada, . Não precisa se preocupar com isso’ ele abanou a mão e começou a trocar os canais.
‘Hum, não sei não. Você não é assim’ ela pegou uma colherada de sorvete ‘Eu acho que você precisa se divertir mais’ e colocou a colher na boca. olhou pra ela.
‘O que quer dizer com isso?’ perguntou com a testa franzida. Ela engoliu o sorvete.
‘Você anda passando muito tempo trancado nesse apartamento. Cara, acorda’ ela se virou pra ele ‘nós estamos de férias, precisamos nos divertir!’
‘Por acaso você não está se divertindo com Duncan?’ ele perguntou quase num resmungo.
‘Eu não estou falando de mim, estou falando de você. Que eu saiba, sempre que eu saio com o Duncan você fica aqui, vendo televisão até eu voltar. Você tem que sair cara, chama os garotos e vai farrear com eles. Só exclua o porque a nunca vai permitir que ele saia pra farrear’ ela riu.
‘Ah, não sei , eu estou feliz aqui com o meu sofá e a minha televisão e...’
‘Larga de ser mole’ ela disse o fazendo rir levemente ‘Hoje é sexta, nada de ficar trancado em casa. Nós vamos sair’
‘Nós? Você diz, eu e você?’ ele arqueou as sobrancelhas e a menina concordou, colocando outra colherada de sorvete na boca. Ele não acreditou ‘Está de brincadeira comigo, não é? Você mesma disse, hoje é sexta! Não vá me dizer que não marcou nenhum compromisso com o Duncan’
‘Pois não marquei não senhor’ ela riu ‘E outra coisa, você é meu melhor amigo’ disse e se sentiu incomodado com o comentário ‘se eu tivesse marcado alguma coisa com o Duncan não pensaria duas vezes antes de desmarcar só pra botar um sorriso nessa tua cara e fazer você levantar desse sofá’
Ele esqueceu a parte do “melhor amigo” e sorriu ao ouvi-la falando daquele jeito.
‘Ok, isso quase me comoveu’ ele disse e ela riu ‘Acho que não tenho muita escolha, então aonde nós vamos?’
‘Gas, aonde mais? E que uma coisa fique bem clara, você vai obedecer a todas as minhas ordens essa noite. Entendido?’ perguntou apontando pra ele com a colher cheia de sorvete.
‘Sim senhora’ ele piscou pra ela antes de abocanhar o sorvete na colher, fazendo a menina gargalhar.
‘Isso parece mais lotado aos sábados’ comentou quando eles entraram no Gas de noite.
‘É porque, normalmente, vem uma banda muito boa tocar aqui aos sábados’ ela disse rindo e ele sorriu ‘mas é até melhor que não esteja tão cheio, o pessoal é mais seleto assim’ ela falou reparando nos grupinhos que ocupavam as mesas e dançavam na pista.
‘E pra que você quer um pessoal mais seleto?’ ele perguntou sem entender, seguindo ela até o bar.
‘É muito mais fácil arrumar alguém decente quando se procura num lugar onde só há ótimas pessoas’ ela explicou.
‘Que eu saiba você tem namorado. Pra que você quer arranjar alguém aqui?’ ele ainda não estava entendendo onde ela queria chegar com isso.
‘Eu não quero arranjar alguém pra mim, e sim pra você’ ela disse e apoiou os cotovelos no balcão do bar, tentando chamar a atenção do barman. Só então compreendeu que a intenção de era arrumar uma garota pra ele. Sentiu-se incomodado com isso. Será que era tão difícil assim ela perceber que a única garota que ele queria era exatamente ela?
‘Ah não, não não e não. Pode tirando essas idéias da cabeça. Eu também não quero arranjar ninguém pra mim’ ele disse e ela olhou pra ele ‘e não quero muito menos que você arranje’
‘Seguinte, a gente veio aqui pra se divertir, certo?’ ela perguntou e ele concordou ‘A prioridade não é arranjar alguém pra você. Se arranjarmos, ótimo, se não arranjarmos, que se dane. Vamos nos divertir do mesmo jeito’ ela deu mais uma olhada pro barman e desistiu de pedir alguma coisa pra beber àquela hora. Olhou pra , que parecia confuso e sem saber o que fazer ‘Quer dançar?’
O menino apenas encolheu os ombros e os dois foram pra pista. não estava muito habituado com o tipo de música que estava tocando no momento, mas fez o seu melhor tentando acompanhar o ritmo da garota. Pôde ver que sorria enquanto dançava e gostou de ver a menina se divertindo ao seu lado.
Os dois ficaram dançando por mais de duas horas. Quando o DJ pareceu cansar das músicas eletrônicas e começou com canções um pouquinho mais lentas e com letras mais românticas, ficou sem graça de dançar com e resolveu ir pegar as bebidas. foi atrás dela até o bar.
‘Duas cervejas, por favor’ ela pediu ao barman, mais desocupado no momento. Sentou num banquinho giratório e se virou pra , que sentou ao lado dela ‘E então?’
‘Acho que nunca dancei tanto na minha vida’ ele respondeu meio sem fôlego e ela riu.
‘Espero que esteja se divertindo’ disse. Ele concordou.
‘Sem dúvidas. Precisamos fazer isso mais vezes’
‘E vamos fazer’ ela sorriu pegando um das garrafas de cerveja que o barman acabara de deixar no balcão. pegou a outra e também sorriu.
‘Só não conte nada pro seu namorado, senão ele me esgana’ disse e a menina balançou a cabeça.
‘Ele não vai te esganar e, relaxe, ele não precisa e nem vai ficar sabendo disso. Até porque eu acho que ele não ficaria muito contente comigo em saber que eu preciso sair com meu melhor amigo pra tirar uma folga dele’ os dois riram, bebendo goles de cerveja.
‘Nem uma semana de namoro completa e ele já está te cansando?’ perguntou.
‘Não é bem isso, mas é que eu gosto de ter meu próprio espaço, entende? Tipo, não vai ser sempre que eu vou querer ele por perto, me acompanhando. Todo mundo precisa de um dia só seu ou ao lado apenas dos amigos’ ela disse. Ultimamente saía tanto com Duncan que quase tinha esquecido de como era divertido ficar sozinha com no apartamento, vendo televisão ou jogando vídeo-game.
‘Verdade’ ele concordou. Ótimo, se Duncan continuasse fechando o namoro dos dois não duraria tanto tempo e, talvez, ele ainda tivesse uma chance de ficar com ela afinal.
‘Você já namorou sério?’ ela perguntou. Ele arqueou uma sobrancelha, não esperava uma pergunta daquele tipo.
‘Erm, uma vez só, mas durou pouco tempo’ ele bebeu um gole de cerveja, pensativo ‘Durou uns seis meses, se não me engano. Eu não me lembro de querer algo muito mais sério na época’ ele riu.
‘Talvez você não gostasse de verdade da menina’ ela encolheu os ombros.
‘É, tem razão’ ele disse afirmando com a cabeça. bebeu um gole de cerveja e olhou pro lado. Sorriu.
‘, você gosta de meninas morenas?’ perguntou. Ele franziu a testa.
‘O quê?’
‘Seja discreto, mas tem uma garota ali que está olhando pra você’ ela disse sorrindo e olhou pro outro lado. enrolou um pouco, fingindo estar prestando atenção nas bebidas atrás do balcão, e então olhou pro lado.
tinha razão. Uma garota bem arrumada, de cabelos escuros, estava olhando diretamente pra ele e sorriu quando seus olhares se cruzaram. se sentiu desconfortável com isso e voltou a olhar pra . Normalmente ele teria sorrido de volta e ido até a garota pra puxar papo com ela, mas no momento ele não sentia vontade de se aproximar de outra garota a não ser .
‘Viu?’ perguntou olhando pra ele, que apenas concordou ‘Aposto que assim que eu sair de perto de você ela vai vir aqui’
‘Ah, aham’ ele disse com ironia. Viu levantar do banquinho e se assustou ‘O que pensa que está fazendo?’
‘Deixando o caminho livre pra alguém’ ela riu e deixou a cerveja em cima do balcão ‘Vou fingir que vou ao banheiro e se ela estiver aqui quando eu voltar, vou embora, ok?!’
‘Você ficou maluca?’ ele arregalou os olhos ‘Você não vai embora coisa nenhuma. Já é tarde, você não vai pra casa sozinha e ainda mais à pé!’
‘Você precisa viver sua vida , e não é minha companhia que vai te atrapalhar de fazer isso. Portanto, te vejo daqui a pouco, ou não’ ela deu uma piscadinha marota pra ele e saiu na direção do banheiro.
ficou olhando pra onde ela tinha sumido e pensando no que ela dissera. Talvez ele realmente devesse voltar a viver sua vida e desistir um pouco de . Talvez dar um tempo e curtir com alguém diferente fosse mesmo algo que ele precisasse fazer. Seus pensamentos foram interrompidos quando a menina de cabelos escuros apareceu do seu lado e segurou em seu ombro. Ele olhou pra ela.
‘Se importa se eu me sentar aqui?’ a menina perguntou educadamente, indicando o banquinho que estivera ocupando. pensou rápido no que dizer e resolveu tomar alguma atitude.
‘Claro que não, sinta-se à vontade’ disse e ela se sentou virada pra ele ‘Desculpe, mas qual seu nome?’
‘Alicia, Alicia Smith’ ela disse com um sorriso doce nos lábios e estendeu a mão pra ele.
‘ , prazer em conhecê-la’ ele apertou a mão dela e retribuiu o sorriso. Olhando por cima do ombro da menina, viu longe, acenando antes de sumir novamente.
‘Por acaso você não é um dos garotos daquela banda que toca aqui aos sábados... McFly?’ Alicia perguntou fazendo voltar a olhar pra ela. Ele concordou sorrindo e os dois começaram uma conversa agradável sobre música.
Cap. 44
‘Então arranjou alguém?’ perguntou se acomodando no sofá. As quatro meninas tinham se reunido na casa de pra papear durante o finzinho da tarde de sábado.
‘Não sei se podemos usar essa expressão, mas tecnicamente, sim’ respondeu.
‘Mais um McGuy desencalhou’ comentou e cutucou a amiga com o cotovelo.
‘Acho melhor você correr e desencalhar o antes que outra garota faça isso’ disse e todas riram. ficou muda e muito vermelha.
‘E ele falou da menina pra você?’ continuou questionando a prima.
‘Falou hoje de manhã, até porque ele chegou tão tarde ontem que eu já estava capotada na cama. O nome dela é Alicia Smith, é um ano mais nova que a gente e estuda num outro colégio da cidade’ contou não muito animada. percebeu a falta de empolgação da prima e estranhou, mas não disse nada.
‘E você a viu lá no Gas, não viu? Como ela é?’ perguntou. deu de ombros.
‘Bonita. Cabelos escuros, corpo legal, foi só o que consegui ver’ disse.
‘Pelo jeito você não gostou da menina’ disse com a testa franzida.
‘Não é questão disso, mas...’ cruzou as pernas no sofá e olhou pras meninas ‘Aquela garota não é pro , entendem?’
‘Não, não entendemos’ disse rindo ‘Explica’
‘O pode ter me contado bem pouco dela, mas eu não sei não’ coçou a cabeça ‘Acho que ela não é boa o suficiente pra ele’
‘E o que te faz pensar assim?’ perguntou.
‘Por exemplo, a primeira coisa que ela perguntou pra ele foi se ele era um dos garotos do McFly. Desse jeito até parece que ela foi falar com ele só porque ele é de uma banda que faz shows num barzinho da cidade!’
‘Hum, é uma hipótese’ avaliou.
‘E, por favor né, ele não merece uma menina interesseira’ disse meio inconformada. concordou, mas ainda não estava convencida das atitudes da prima.
‘Você não estaria com ciúmes do , estaria?’ ela perguntou direta. e encararam , surpresas, e arregalou os olhos diante da pergunta da prima.
‘Claro que não!’ ela respondeu rapidamente, esganiçada ‘Que absurdo’ riu.
‘Absurdo mesmo’ franziu a testa ‘Por que a teria ciúmes do sendo que ela namora o Duncan? Isso não faz sentido’
‘Sem chance’ fez um gesto com a mão, cortando o ar ‘Não sei de onde tu tirou essa idéia, ’
‘Ok, foi piração minha, esqueçam isso’ disse rindo.
‘Mas então, voltando ao assunto’ olhou pra ‘Você acha que o vai ficar com a tal Alicia?’
‘Não tenho nem idéia’ balançou a cabeça. As meninas ficaram um tempo quietas, pensando em como seria um de seus amigos namorando uma garota desconhecida, até que o celular de tocou.
‘Oi amor’ a menina atendeu ao ler o nome do namorado na bina. As outras rolaram os olhos e deram risadinhas ‘Não vai passar aqui em casa hoje? Por que não?’ ela franziu a testa ‘Vai sair com os garotos?’ ela olhou pras outras, que pareceram mais interessadas na conversa ‘Ahn, ok então. Certo, nos vemos amanhã. Divirta-se e juízo. Beijos’
‘Sábado à noite e os moleques vão sair todos juntos?’ disse desconfiada assim que desligou.
‘Isso não vai prestar’ riu.
‘O que tente fazer alguma coisa pra ver o que acontece com ele’ repetiu o gesto que fizera com a mão antes e as amigas começaram a zoar com ela. apenas ria das brincadeiras das meninas, lembrando de quando dissera pra que ele devia chamar os garotos e ir farrear com eles. Então eles iam farrear aquela noite?
‘Alicia’ disse olhando em volta, como se procurasse no barzinho uma menina em quem aquele nome se encaixasse ‘Bonito nome’
‘Alicia’ repetiu e analisou o nome ‘Me vem à mente uma patricinha mimada’ e os quatro garotos riram.
‘Não cara, ela não é assim’ negou tomando um gole de cerveja ‘Ela é simpática, uma menina legal de verdade’
‘Mas e a ?’ perguntou. suspirou balançando a cabeça.
‘Decidi dar um tempo’ disse ‘Não sei, acho que estava começando a me desgastar demais com isso. Ela está com Duncan agora, não é? O que mais eu posso fazer?’
‘Não desistir é algo a fazer’ riu ‘Sério cara, acho que você está abandonando o campo antes do final da partida’
‘Concordo’ disse ‘Você mesmo disse que não ia entregar a menina de mão beijada pra um imbecil como o Duncan, e o que é que está fazendo agora?’
‘Eu sei o que disse, só não sei se tem o mesmo sentido’ disse visivelmente chateado ‘Antes era mais fácil, ela não estava com o Duncan, mas agora...’
‘É, agora complicou pra você, meu caro’ segurou no ombro do amigo ‘Talvez você esteja certo, pode ser que seja bom dar um tempo nesse negócio todo de tentar ficar com a ’
‘E, enquanto isso, você vai vivendo a sua vida numa boa’ disse e concordou.
‘Exatamente isso, e foi a própria que sugeriu que eu aproveitasse mais minha vida, saísse mais de casa e todo o resto. Se ela não liga pro fato de eu estar saindo com outras pessoas e com outras garotas e até apóia isso, acho que é porque ela está mesmo gostando do Duncan e não quer nada comigo’ disse tentando parecer o mais conformado possível com isso ‘Talvez sair com outras garotas seja bom pra eu tentar esquecer a ’
‘Você acha que vai conseguir esquecer ela assim?’ perguntou duvidando que isso pudesse acontecer. pensou um pouco.
‘Não’ ele admitiu rindo fracamente de si mesmo ‘mas eu não posso ficar insistindo nisso pro resto da minha vida, não é? Preciso fazer outras coisas além de passar noventa por cento do meu dia pensando nela’
‘As coisas vão melhorar cara, vão sim’ disse tentando reanimar o amigo. Sabia que o que ele sentia por era algo grande demais, nada que fosse sumir de um dia pro outro ‘Olha, se quer saber, eu não acho que esse namoro do Duncan e da vai durar muito’
‘Você diz isso só pra me apoiar’ abanou a mão. negou.
‘Claro que não, isso é sério’ ele disse firme ‘Duncan não faz o tipo da , isso não vai durar’
‘Vamos ver, vamos ver’ disse e tomou um gole de cerveja.
‘Eu sou da opinião que você não deveria desistir tão fácil. Pô dude, estamos falando da garota que você ama!’ disse e concordou.
‘ tem razão, você está desistindo rápido demais’ disse.
‘Ok, talvez eu não desista por completo’ começou.
‘É assim que se fala’ deu tapinhas nas costas do amigo.
‘Mas isso não me impede de aproveitar a minha vida, impede?’ completou, indagando.
‘Claro que não, meu camarada. Afinal, é como dizem, curta a vida porque a vida é curta’ disse rindo e bebeu um gole de cerveja. olhou pra .
‘E você? Como vão as coisas com a ?’ perguntou. Os outros também olharam pra , que coçou a cabeça.
‘Não tem mais “coisas”. Desde que voltamos de viagem não aconteceu mais nada’ ele disse encolhendo os ombros.
‘Molenga’ riu.
‘E por que não?’ perguntou.
‘Sei lá, sempre que eu chego perto ela parece querer sumir do mundo e sempre dá um jeito de se afastar um pouco. Aquele dia no Gas, quando o Duncan pediu a em namoro, eu achei que tinha toda a chance de ficar com a de novo, mas ela ficou quase fugindo de mim. Podem perguntar pra que estava perto da gente’ contou parecendo chateado.
‘Ela deve estar precisando de um tempo pra pensar no que aconteceu na viagem, cara’ disse e concordou.
‘Foi tudo meio rápido, ela precisa juntar as coisas ainda’ disse.
‘Mulheres, mulheres. Os seres mais complicados da face da Terra’ disse balançando a cabeça e estava levando a cerveja à boca quando uma garota loira passou perto da mesa deles. Ele virou o pescoço pra olhar ‘Mas o que é que é isso?!’ disse de queixo caído e largou a cerveja na mesa, levantando da cadeira e seguindo a loira. Os outros garotos se entreolharam e começaram a rir.
Cap. 45
As aulas voltaram na quarta-feira e pra estava sendo mais difícil do que ele imaginara agüentar e Duncan namorando no colégio. Ele sentia como se arrancassem uma parte do seu coração toda vez que via os dois se abraçando ou se beijando. Não que eles fizessem isso muito próximos de , afinal Duncan ainda se sentia incomodado em ter que passar muito tempo com os amigos de e dividir as atenções da namorada com eles, mas ainda assim era altamente desconfortável pra ter que ver essas cenas típicas de namorados, mesmo que o casal estivesse a dez metros de distância dele. Quanto a desistir de , realmente não conseguira fazer isso por completo. Na verdade era como se estivesse passando por uma batalha interior em que parte dele queria esquecer de vez e parar de sofrer por ela enquanto outra parte persistia naquele amor tão forte e complexo. Alicia? Alicia ainda estava nos planos de . Em alguns dias da semana ele ligara pra menina e, tomando uma boa dose de coragem, decidiu convidá-la pra sair no final de semana.
Era sábado e começava a anoitecer. tinha acabado de sair do banho e estava só de calças, parado em frente a sua cama, tentando escolher com que camisa iria ao encontro com Alicia. parou na porta do quarto dele, se escorando ao batente, e olhou da cama repleta de camisas pra ele.
‘Vai sair?’ perguntou. olhou pra ela e lembrou que não tinha contado sobre seu primeiro encontro com Alicia.
‘Vou. Chamei Alicia pra sair hoje à noite’ ele respondeu e voltou a olhar pras camisas na cama.
‘Que surpresa, você nem me falou nada...’ ela disse, se sentindo ligeiramente chateada não só por ele não ter dividido isso com ela, mas também por poder dar adeus à sua noite de programas inúteis na TV, pizza com ketchup, chocolate e sorvete que planejara passar ao lado do amigo quando não fosse sair com o namorado.
‘Você esteve tão ocupada saindo com o Duncan que eu não tive tempo de te contar’ ele disse sem pensar. Ela se aborreceu ainda mais por isso.
‘Que bom que você e a Alicia estão se entendendo’ ela comentou.
‘Ela é uma garota muito simpática, realmente ótima. Acho que vai ser muito bom eu sair com ela, me divertir um pouco, como você mesma disse’
‘E vocês vão aonde?’ ela perguntou tentando parecer interessada.
‘Ao cinema, talvez a gente saia pra jantar depois, não sei ainda’ ele disse. Ela cruzou os braços e ficou quieta, só olhando pra ele, que continuava indeciso em relação às camisas.
‘Se você não escolher uma camisa logo vai acabar se atrasando. Mulheres não gostam de homens que se atrasam’ ela disse depois de uns minutos. passou a mão pelo cabelo ainda molhado.
‘Não faço idéia de qual vestir’ ele disse e pegou dois cabides, mostrando pra ela ‘Amarela ou branca?’
foi até ele e o analisou de cima a baixo. Olhou pras duas camisas e foi até o armário. Tirou um cabide com uma camisa azul clara de lá de dentro e jogou na cama, saindo do quarto sem silêncio. franziu a testa, estranhando a atitude fria da menina, e por um momento pensou que ela poderia estar com ciúmes. Mas logo tratou de tirar essa idéia da cabeça, pensando que seria impossível isso acontecer, e começou a guardar as outras camisas no armário antes de colocar a que ela tinha escolhido e terminar de se arrumar pra sair.
tinha acabado de sair do apartamento e estava sentada no sofá, com os braços cruzados. Estava completamente sem paciência pra ver qualquer programa na televisão e não deixava no mesmo canal por muito tempo. Começou a mexer as pernas e as cruzou em cima do sofá. Mudou de canal e deitou. Voltou a sentar e mudou de canal de novo. Estava inquieta, pensativa, intrigada. Toda hora se pegava pensando no encontro de Alicia e , querendo saber se eles estavam mesmo no cinema e se iriam jantar juntos depois. Não sabia o porquê, mas se sentia incomodada pelo fato de ele ter saído com a outra garota. Começou a imaginar que estava assim porque ele não tinha contado sobre o encontro pra ela. Pronto, era isso. Ela ainda estava chateada por ele não ter dito que iria sair com Alicia. Ela tinha o direito de saber, afinal, se não fosse por ela, não teria conhecido Alicia nenhuma e naquele exato momento estaria sentado ao seu lado no sofá, rindo de qualquer bobagem na televisão. E, poxa, ela era sua melhor amiga, ele deveria dividir tudo com ela, contar tudo pra ela! Talvez outro motivo fosse não ter podido passar uma noite de sábado sem fazer nada e se divertindo com isso ao lado dele. estava se sentindo praticamente injustiçada. Queria extravasar seu descontentamento de algum modo. Pensou em ligar pra , mas não o fez porque imaginou que a prima viria com aquela história de ciúmes de novo e ela não estava a fim de discutir sobre isso. Pensou em ligar pra Duncan, mas também não o fez porque sabia que o namorado acabaria a repreendendo por estar tão inconformada com a saída de com outra garota. Desistiu da idéia dos telefonemas, fosse pra quem quer que fosse, e foi pra cozinha. Abriu o freezer e tirou o pote de sorvete. Sua noite de sábado seria composta de tédio, chateação, sorvete de morango e muita, mas muita calda de chocolate.
Ela ouviu a porta do apartamento se fechando devagar e abriu os olhos, olhando pro lado. Viu a televisão ligada e o pote de sorvete vazio em cima da mesinha de centro. Olhou pro relógio na estante, marcava uma da manhã. Sentou no sofá, se sentindo empanturrada de tanto sorvete que tinha comido, e viu sentando na poltrona da sala.
‘Você chegou’ ela disse ainda meio sonada. Ele riu.
‘É, cheguei. Desculpe pela porta, eu não queria te acordar’ disse.
‘Não tem problema’ ela esfregou os olhos, tentando acordar um pouco ‘Como foi o encontro?’
‘Melhor do que o previsto’ ele disse se recostando na poltrona, sorrindo. Ela fez um barulho estranho com a boca.
‘Pra chegar a essa hora... deve ter sido mesmo’ disse. riu e olhou pra mesinha de centro.
‘Pelo jeito a sua foi bem divertida também’ disse rindo.
‘Você não sabe o quanto’ ela bocejou, passando a mão pelos cabelos, e olhou pra ele. Reparou que a gola da camisa dele estava um pouco amassada e se sentiu chateada de novo. Lembrou de quando eles tinham ido ao Gas e ele dissera que os dois precisavam se divertir, sair mais vezes juntos. Tentou ignorar isso.
‘Pensei que você ia sair com Duncan hoje’ ele comentou distraído.
‘Se enganou’ ela desligou a televisão e levantou do sofá ‘Vou dormir, amanhã recolho as coisas’ disse apontando pra mesinha de centro e foi pro quarto. Antes de fechar a porta, lembrou mais uma vez do que ele dissera no Gas. Teria mesmo que ignorar isso; agora ele tinha Alicia pra se divertir com ele. Não precisava mais de .
Cap. 46
Na quarta-feira, o pessoal se resolveu se reunir na lanchonete perto do colégio. não levou Duncan porque achou que tanto ele como seus amigos poderiam se aborrecer um pouco com isso, mas ela teve uma grande surpresa: Alicia apareceu por lá.
Os oito estavam sentados numa mesinha mais no fundo da lanchonete, tomando refrigerante, comendo batata frita e conversando, quando uma menina morena chegou perto da mesa. Todos ficaram olhando pra ela e se levantou.
‘Pessoal, essa é a Alicia. Alicia, esse é o pessoal’ ele disse sorridente. A menina sorriu e acenou em geral, enquanto cada um se apresentava. puxou uma cadeira pra menina e ela sentou ao lado de .
‘Fico muito feliz em conhecer vocês’ Alicia disse simpática e olhou pros meninos ‘Vocês são os outros garotos do McFly, não são?’
‘É, acho que somos’ respondeu rindo.
rolou os olhos e olhou pra como se dissesse ‘eu não disse que ela é interesseira?’.
‘Eu vi alguns shows de vocês, são realmente ótimos’ Alicia elogiou.
‘Exagero da sua parte’ disse modesto, sorrindo. olhou meio torto pra ele.
‘Então, você estuda no outro colégio da cidade?’ perguntou, fingindo não saber de nada. Alicia concordou.
‘Eu morava em Londres, faz dois anos que me mudei pra cá e estudo no outro colégio’ disse.
‘Hum, garota de cidade grande’ disse ‘Já se acostumou com essa mini-cidade?’ e todos riram.
Alicia começou a contar sobre quando morava em Londres e o porquê de ter se mudado pra outro lugar. não podia negar, a menina era educada e extrovertida, mas ainda assim não conseguiu simpatizar com ela. Quando eles começaram a falar sobre o Gas e o McFly, voltou a ter a sensação de que a menina não passava de uma fãzinha interesseira.
‘Falando no Gas...’ Alicia se virou pra , enquanto os outros comentava alguma coisa sobre o barzinho ‘Eu acho que já te vi por lá’
‘Eu estava com quando vocês se conheceram’ respondeu a contragosto.
‘Ah, é mesmo. Eu me lembro, você estava sentada no bar com ele’ Alicia sorriu ‘Então você sumiu e eu resolvi ir falar com ele. Achei que vocês eram namorados’ disse rindo. ficou altamente vermelha e enfiou a cara no copo, bebendo metade da sua Coca de um gole só. percebeu e apenas riu, voltando a prestar atenção na conversa dos outros ‘Mas então ele me disse que eu estava enganada’
‘Sem dúvidas estava’ largou o copo de lado.
‘Ele me disse que você mora com ele’ Alicia disse ‘Não é estranho morar com um garoto sem ter nada com ele?’
‘Não, não é’ negou rapidamente, achando aquela pergunta um tanto indiscreta ‘É como se fossemos irmãos’ explicou. Alicia concordou com a cabeça. tossiu.
As duas voltaram a conversar com o resto do pessoal. Quando toda a batata frita e o refrigerante acabou, os nove resolveram ir embora. , já acostumada com a carona de , foi se juntando com ele. coçou a cabeça.
‘Erm, ’ ele chamou e a menina olhou pra ele ‘Se não se importa, eu vou sair com a Alicia, então...’ ele disse sem graça. arqueou uma sobrancelha. Não ia poder voltar pro apartamento com ele.
‘Entendi’ ela disse simplesmente ‘Nos vemos mais tarde’ sorriu falsamente pra ele e acenou pra Alicia, que estava longe conversando alguma coisa com . A morena acenou de volta e saiu da lanchonete. Pelo vidro da enorme janela da lanchonete, viu a menina caminhando sozinha pela calçada e quis não se sentir mal com isso.
Não fazia nem quinze minutos que ela tinha saído da lanchonete e apareceu ao seu lado.
‘O que faz aqui?’ perguntou, estranhando ‘Achei que tinha ido pra casa na carona da ou sei lá’
‘ foi pra outro lugar com ’ abanou a mão ‘eu não queria atrapalhar o casal’ as duas riram.
‘E os outros?’
‘ foi pra casa do com ele e disse que tinha um compromisso, então correu pra casa. me disse que você estava indo pro apartamento e eu resolvi vir te fazer companhia’ disse ‘A não ser que você já tenha algum compromisso com Duncan...’
‘Duncan deve estar nos treinos do time de futebol agora’ disse dando uma olhada no relógio ‘Vai começar os jogos de fim de temporada colegial e ele tem que treinar. Se ele se destacar no time pode conseguir uma bolsa numa boa faculdade ano que vem’
‘Ele não está te dando menos atenção por isso, está?’ perguntou preocupada com o namoro da amiga.
‘Ah não’ ela negou ‘Duncan é muito atencioso, quando não podemos sair juntos ele me liga e acabamos passando horas no telefone’ disse sorrindo.
‘Olha só esse sorriso! Está apaixonadérrima hein amiga’ deu uma cotovelada de leve em , que riu meio envergonhada.
‘Ele é uma graça, não tenho do que reclamar’ ela encolheu os ombros e olhou pra ‘Mas, falando em paixão e essas coisas, como anda seu rolo com o ?’
‘Não anda’ respondeu balançando cabeça ‘Eu não sei como lidar com isso! Eu não consigo ficar perto dele, entende?!’ disse parecendo ligeiramente perturbada.
‘Nós já não conversamos sobre isso?’ perguntou calma.
‘Já, mas... ah, é complicado’ a amiga coçou a cabeça ‘Eu ainda acho que gostar dele desse jeito é estranho. O que você acha que eu devo fazer?’
‘A mesma coisa que achava antes’ riu ‘Você precisa dar tempo ao tempo e se acostumar com o que está acontecendo contigo. E, não sei se você já fez isso, mas não fuja do porque o coitado gosta de você e não merece isso’
‘Tá bem, tá bem’ concordou ‘Mas, mudando de assunto, aquela Alicia não aparenta ser das piores’
‘Ainda acho que ela não é a menina certa pro ’ balançou a cabeça e rolou os olhos quando começou a falar sobre os modos e a simpatia de Alicia. Será que era só ela que via alguma coisa errada nessa menina?
Cap. 47
e perderam sua carona de volta pra casa durante quase toda a semana seguinte. saía do colégio e ia buscar Alicia pra que pudessem sair juntos. Não que não gostasse de voltar pra casa com , conversando e rindo ao ver o quanto ele estava apaixonado pela sua prima, mas ela não deixava de se sentir incomodada com o fato de não ter mais tanto contato assim com seu melhor amigo. E, apesar de ela ter dito pra que Duncan era muito carinhoso, ela começou a perceber que os encontros com o namorado estavam começando a rarear também. Os telefonemas continuavam freqüentes, mas por causa dos treinos de futebol Duncan acabava passando as tardes no colégio.
Na terça da semana seguinte, tinha combinado com as amigas de almoçarem na lanchonete e depois irem ao shopping – essa última parte a pedido de . Assim que as quatro entraram na lanchonete, rindo, o olhar de caiu sobre uma mesa. Ela parou de rir e ficou olhando, de boca aberta.
‘, que foi?’ reparou o olhar estranho da prima e olhou na mesma direção que ela. As outras fizeram o mesmo. O que viram foi sentado ao lado de Alicia, beijando a morena. As três arregalaram os olhos e deram risadinhas. continuou séria.
Ela não sabia descrever o que estava sentindo, mas com certeza não foi isso que imaginou que sentiria se visse seu melhor amigo beijando uma garota qualquer. Seu estômago parecia estar se contorcendo e suas mãos ficaram geladas. De repente, partiu o beijo com Alicia e olhou pra frente. Seus olhares se encontraram. franziu a testa ao ver a expressão estranha e surpresa que estava no rosto de . Ele quis levantar e ir falar com ela, contar o que estava acontecendo, como se lhe devesse alguma explicação, mas não fez nada disso.
‘Vamos lá falar com eles’ disse baixinho pras amigas. ia dizer que não, mas se viu sendo praticamente empurrada por na direção de e Alicia.
‘Que coincidência’ disse quando chegou perto da mesa ‘Não estamos atrapalhando nada, estamos?’
‘Claro que não’ Alicia disse sorrindo ‘É até bom que vocês estejam aqui, assim já ficam sabendo da novidade’
‘Novidade?’ arqueou uma sobrancelha e deu um sorrisinho, querendo passar a impressão de que estava empolgada pra saber o que era ‘Que novidade?’
‘Estamos namorando’ Alicia contou sorrindo mais do que antes. olhou pra ela. Como assim? Ele não se lembrava de ter pedido a menina em namoro ou nada parecido. Eles estavam saindo juntos apenas pra se conhecer, não tinha nada de namoro, não era nada sério.
‘Sério? Poxa, que legal’ disse contente. e cumprimentaram Alicia e , também animadas. abriu a boca e, por um momento, achou que não ia conseguir falar nada tamanho seu espanto com a notícia.
‘Pa-parabéns’ foi o que saiu da boca dela. Ela sorriu pra não deixar transparecer seu choque. olhou pra ela, querendo desmentir o namoro, mas não teve tempo de dizer nada porque Alicia puxou o rosto dele e colou seus lábios. se virou pras amigas ‘Acho melhor a gente ir embora, não?’ disse querendo sair dali. Alicia soltou de .
‘Ah não gente, não precisam ir embora. Aliás, vocês não querem sentar aqui com a gente?’ convidou naturalmente educada. Antes que alguém dissesse mais alguma coisa, negou.
‘Imagina, querida. Nós não queremos atrapalhar vocês dois’ ela deu um risinho ‘Nós já estamos de saída mesmo. Até mais’ acenou rapidamente e deu meia volta, saindo da lanchonete. , e não entenderam muita coisa, assim como . Apenas acenaram sorrindo e foram atrás de .
‘Menina, o que te deu?’ perguntou pra amiga enquanto entravam no carro de .
‘Vocês não iam querer ficar de vela lá, iam?’ franziu a testa, colocando o cinto.
‘A gente não precisava ter sentado na mesma mesa que eles. Nós não tínhamos combinado de almoçar na lanchonete e ir pro shopping depois?’ disse sem entender muita coisa.
‘Nós íamos acabar incomodando aqueles dois e podemos muito bem almoçar no shopping’ disse num tom de quem quer encerrar o interrogatório.
‘Bom, de qualquer jeito’ ligou o carro e olhou pelo retrovisor ‘ foi bem rápido no gatilho, não acham?’
rolou os olhos e virou o rosto pra janela, sem a mínima vontade de participar da conversa das amigas sobre o recentíssimo namoro de . Mas, afinal, porque estava se incomodando tanto com isso?
Quando chegou no apartamento, quase de noite já, encontrou sentado na mesinha da cozinha com uma garrafa de cerveja não mão.
‘Pensei que ainda estivesse com Alicia’ ela disse e o menino olhou pra ela. Por algum motivo, parecia triste.
‘Cheguei faz pouco tempo’ ele disse simplesmente. largou a bolsa em cima da mesinha e foi pegar algo pra beber na geladeira.
‘Acabou a Coca e a cerveja’ ela fechou a porta da geladeira com força e se virou pra ele ‘Você não me parece muito animado. Aconteceu alguma coisa?’
‘Não, nada. Acho que é só... cansaço’ ele inventou. Não tinha motivo nenhum pra estar cansado, mas motivos de sobra pra se sentir pra baixo. Desde que deixara Alicia na porta da casa dela, estava com a sensação de que tinha cometido o maior erro da sua vida quando conheceu aquela garota. Isso porque estar, atualmente, namorando com ela enquanto gostava de o deixava confuso e quando ele se sentia confuso ficava triste.
‘Você devia estar mais empolgado’ ela pegou a garrafa da mão dele ‘Com o namoro e tudo mais...’ disse e bebeu um gole de cerveja. passou a mão pelos cabelos, coisa que sempre fazia quando ficava nervoso.
‘O que você acha disso?’ perguntou. colocou a garrafa na mesa novamente e o encarou.
‘Disso o quê? Do seu namoro com a Alicia?’ ela o viu concordar e pensou um pouco antes de responder alguma coisa ‘Quem sou eu pra achar alguma coisa, ?’
‘Você é a única pessoa pra quem eu estou pedindo uma opinião’ ele disse. Ela parou pra pensar novamente. Acima de tudo, queria ver feliz. O que importava não era seu desconforto em relação ao namoro dele, mas sim a felicidade do garoto.
‘Se Alicia te faz feliz’ ela disse por fim, encolhendo os ombros ‘você deve ficar com ela. Porque a última coisa que eu quero ver é o meu melhor amigo infeliz’ ela deu um breve sorriso e pegou sua bolsa, saindo da cozinha.
se esparramou na cadeira e virou o resto da cerveja na boca. Sentiu como se estivesse em cima de uma corda bamba. Não podia negar que Alicia fora uma garota muito legal com ele até o momento e que ela parecia realmente gostar dele, não seria certo magoá-la. Mas e ? , como ela mesma dizia, era sua melhor amiga e, pra ele, muito mais que isso. Era a garota que ele amava, mas que não dava a mínima bola pra ele e estava até namorando outro cara. Não havia chances de ficar com ela no momento. não sabia o que fazer e se decidiu por não fazer nada, apenas esperaria pelos próximos dias, pelos próximos acontecimentos.
Cap. 48
‘Não , presta atenção’ dizia apontando pro caderno em cima da mesa. Era intervalo do colégio na quinta-feira e ela tentava explicar pro amigo a nova matéria ‘Esse cálculo que você fez está errado’
‘Não está não’ balançou a cabeça e a menina deu um tapinha no braço dele.
‘Se eu digo que está errado, é porque está’ ela disse e ele riu ‘Olha só, o...’ e um barulho interrompeu a explicação dela. colocou a mão no bolso da calça.
‘Espera um minuto’ ele pediu fazendo um sinal com a mão pra ela e atendeu o celular ‘Alô? Oi Alicia’ ele sorriu ‘Ótimo e você? Ah, eu também estou’
rolou os olhos e fechou o caderno com força, o largando em cima da mesa e saindo de perto. olhou pra ela, estranhando sua atitude, mas continuou falando com Alicia. foi até a mesa onde as amigas estavam.
‘A aula particular do acabou?’ perguntou rindo.
‘Acabou não, foi interrompida’ bufou.
‘Ué, o que aconteceu?’ estranhou o mau humor aparente da prima.
‘Alicia ligou’ disse fazendo uma voz enjoada quando disse o nome da garota ‘Ontem aconteceu a mesma coisa quando eu tentava explicar a matéria pra ele lá em casa. A prova é hoje e ele não sabe nada’
‘É, parece que o namoro vai fazer se dar mal nos estudos’ comentou e todas riram, exceto .
‘Desse jeito vai mesmo’ ela disse cruzando os braços. franziu a testa.
‘Ah , deixa disso, não vá me dizer que está toda emburrada assim só porque vai se dar mal numa prova. Afinal, quem vai se dar mal é ele e não você’ disse e riu.
‘Eu não estou emburrada coisa nenhuma, e se estivesse não seria porque vai tirar uma nota ruim numa prova qualquer’ negou.
‘Você está emburrada sim’ disse ‘e está assim desde que começou a namorar. O que anda acontecendo com você?’
‘Nada’ ela resmungou. e se entreolharam quando pôs as mãos na cintura.
‘Anda acontecendo alguma coisa sim e eu acho muito estranho que...’
‘É, , anda acontecendo alguma coisa sim!’ interrompeu, exaltada, descruzando os braços. A prima arregalou os olhos. , e se aproximaram devagar, apenas escutando a conversa ‘Não sei se alguém aqui percebeu, mas eu ando perdendo o meu melhor amigo pra uma menina que ele mal conhece! E EU NÃO ME SINTO FELIZ COM ISSO!’ ela disse praticamente berrando. Algumas pessoas que estavam mais perto e ouviram, olharam pra ela, que sentiu as bochechas esquentando.
‘Eita...’ disse espantado. olhou pra ele e pros outros meninos, percebendo então a presença deles, e depois pra mesa onde estava. Ele continuava conversando no celular e sorrindo. Ela bufou e saiu andando pelo pátio à passos duros. Foi direto na direção do namorado.
‘Oi amor’ Duncan sorriu assim que chegou perto.
‘Tô atrapalhando?’ ela perguntou vendo os amigos dele se afastarem. Ele abraçou a menina pela cintura.
‘Claro que não, você nunca me atrapalha, sabe disso’ disse e beijou de leve os lábios dela ‘Aconteceu alguma coisa?’ ele perguntou quando ela encostou a cabeça no peito dele.
‘Nada de importante... só algumas coisas que andaram me chateando’ ela disse recebendo um carinho na cabeça.
‘E eu posso fazer alguma coisa pra deixar minha gatinha mais contente?’ ele perguntou meigo e ela sorriu.
‘Hum, depende’ ela olhou pra ele ‘Você tem treino hoje?’
‘Infelizmente sim’ ele respondeu fazendo careta. fez bico e ele beijou a ponta do nariz dela ‘mas logo estarei livre disso. O técnico prometeu dar uma aliviada nos treinos se ganharmos o primeiro jogo’
‘Estarei torcendo por vocês então’ ela sorriu e Duncan fez o mesmo antes de beijá-la.
‘Casalzinho, casalzinho’ alguém disse perto deles, fazendo os dois partirem o beijo e procurarem ver quem estava falando. A dona da voz era Susan, que estava passando com as amigas. Ela tinha um sorrisinho maldoso no rosto ‘Como anda o namoro hã?’
‘Muito bem, obrigada’ respondeu grosseira e Duncan abraçou a namorada com mais firmeza.
‘Jura? Olha, se eu fosse você, não teria tanta certeza assim’ Susan disse numa voz arrastada ‘Sabe como é, né ?! Tudo que é bom dura pouco, muito pouco no seu caso’
‘O que você quer dizer com isso?’ se desvencilhou dos braços de Duncan e parou na frente de Susan, com as mãos na cintura.
‘Preocupadinha é? Pois deveria estar mesmo. Olho aberto, ... olho aberto’ Susan disse e saiu de perto, rindo com as amigas.
‘Do que ela estava falando?’ se virou pro namorado, franzindo a testa.
‘Amor, não diga que você levou em conta o que essa garotinha mimada falou’ Duncan puxou pra perto, voltando a abraçá-la ‘Essa menina não tem o que fazer da vida e resolve ficar atrapalhando a vida dos outros. Esquece ela e o que ela disse. Você não tem motivos pra se preocupar’
‘Acho bom mesmo’ ela disse de cara feia e Duncan começou a dar vários beijinhos no rosto dela. A menina não agüentou e sorriu beijando o namorado, sentindo seu humor dar uma guinada pra cima.
‘Corta essa’ disse na sala de aula, em voz baixa ‘Ela não pode estar tão incomodada assim porque eu estou namorando a Alicia’
‘Estamos te falando, cara’ disse ‘Se quiser confirmar a história é só perguntar pras duas ali’ ele apontou discretamente pra e , que conversavam distraídas do outro lado da sala.
‘Não pergunte nada pra ninguém’ bateu na mão de , fazendo com que ele parasse de apontar ‘E pode acreditar no que nós falamos, porque ouvimos muito bem quando a quase berrou que não está feliz porque está perdendo você pra Alicia’
‘Na verdade ela disse que está perdendo o melhor amigo dela, no caso você, pra uma menina que ele mal conhece, no caso a Alicia’ corrigiu e rolou os olhos ‘Mas dá no mesmo’ riu.
‘Eu ainda não consigo acreditar nessa história’ abanou a mão ‘Se a realmente estivesse tão chateada desse jeito ela já teria conversado sobre isso comigo’
‘Você acha mesmo?’ arqueou uma sobrancelha.
‘Tá, não’ disse e os outros riram ‘mas ainda assim, não dá pra acreditar numa coisa dessas’
‘Pois pode acreditar’ deu um tapinha no ombro do amigo ‘ está com ciúmes de você’
‘Não vamos exagerar’ disse e encolheu os ombros. olhou pra ‘E, acreditando ou não no que aconteceu, finja que você não sabe de nada do que a gente te falou’
‘Provavelmente a nos mataria se soubesse que contamos essa quase crise de nervos dela pra você’ disse rindo. concordou.
‘Certo, eu não ouvi nada e ninguém me contou nada’ concordou e eles se ajeitaram nos seus lugares vendo o professor entrar na sala ‘Mas que é difícil acreditar nessa história, isso é’
‘Você devia comemorar, cara’ cochichou pro amigo ‘Pelo menos a está se importando um pouco mais contigo’
balançou a cabeça e olhou pra frente, se sentindo confuso com tudo que tinha ouvido até então. simplesmente não podia estar com “ciúmes” dele. Era impossível! Mas e nem sabiam que eles tinham se beijado e já achavam que ela estava com ciúmes. Talvez ela estivesse mesmo, talvez isso fosse possível... Se era, então ele devia fazer alguma coisa pra... Não. Ele lembrou de ter se decidido por esperar e ver o que poderia acontecer. E mais uma vez era apenas isso que ele iria fazer.
Cap. 49
‘, vou sair’ avisou saindo do quarto, na sexta. olhou pra ela, virando no sofá. A menina estava com uma caixinha de CD na mão.
‘O que é?’ ele perguntou apontando pro CD.
‘ me passou fotos das férias. Vou passar pro papel agora, por isso estou saindo’ ela disse e guardou a caixinha no bolso do casaco grande que estava usando ‘Quer ir comigo?’
‘Ok, eu não tenho nada pra fazer aqui mesmo’ ele disse pegando os tênis jogados na sala.
‘Melhor pegar um casaco, está frio e acho que vai chover’ ela disse encostando no sofá pra esperar por ele. ia calçar um dos tênis quando o telefone tocou. Ele levantou pra atender.
‘Alô? Hey sugar’ ele disse sorrindo.
Pelo tom na voz dele, deduziu que fosse Alicia no telefone e então desencostou do sofá. Acenou pra , indicando que ia sair sem ele, e saiu do apartamento antes mesmo que o garoto dissesse alguma coisa ou sequer acenasse de volta. Sabia que a conversa no telefone seria demorada e ela não estava com paciência pra ficar ouvindo.
Fazia pouco tempo que ela estava andando quando seu palpite sobre chuva naquele dia se mostrou correto. Começou com uma garota fininha, que ignorou, mas a chuva foi engrossando aos poucos e ela começou a pensar em voltar pra casa. Olhou pro céu e achou que o tempo ia melhorar logo. Resolveu procurar algum lugar pra se abrigar, só pra não ficar muito encharcada. Virou numa rua e, vendo um café aberto, correu até lá. Estava com frio por causa da chuva que já tinha pegado e agradeceu mentalmente por estar mais quente lá dentro.
estava indo pra uma mesinha perto da janela quando viu duas pessoas numa outra mesa que lhe chamaram muita atenção. Ela petrificou no lugar e ficou apenas olhando pro casal na outra mesa. Não quis acreditar no que estava vendo, mas não tinha como negar. Ela seria capaz de reconhecer aqueles cabelos loiros e aquele sorriso brilhante até mesmo no escuro. Quem estava na outra mesa era Duncan, e ele não estava sozinho. Sentada ao seu lado, com um sorriso enorme no rosto, estava Susan. Os dois pareciam extremamente felizes. piscou com força, como se tentasse apagar aquela imagem da sua mente, mas quando abriu os olhos viu coisa muito pior. Duncan e Susan estavam se beijando apaixonadamente. estava com as pernas bambas, mas, com muito esforço, conseguiu chegar até a mesa deles.
‘Eu devia ter prestado mais atenção no que você me disse no colégio, Susan’ ela disse com a voz já embargada. Duncan e Susan partiram o beijo e olharam pra ela. Susan sorriu com o canto da boca e o loiro arregalou os olhos.
‘, isso não é o que você está pensando’ ele disse devagar. olhou pra ele.
‘Por que será que eu achei que você iria me dizer exatamente isso?’ perguntou ironicamente ‘E por que será que eu não acredito?’
‘Mas... mas não é o que você está pensando!’ ele disse se levantando. Ela deu dois passos pra trás.
‘E é o quê? É o que, hein Duncan? Não vá me dizer que ela te agarrou a força porque eu vi o que realmente aconteceu e sei que não foi isso’ ela disse sentindo lágrimas nos olhos ‘Mas parece que você tem uma boa explicação pro que houve, então me diz. Me explica, Duncan. Me explica!’
‘Olha, fica calma. Eu vou te dizer o que aconteceu...’
‘Você vai é mentir pra mim!’ disse um pouco alterada, aumentando a voz ‘É isso que você vai fazer, mentir pra mim. Me fala a verdade, Duncan, há quanto tempo você vem me traindo com essa vagabundinha aí?’ perguntou apontando pra Susan, que se levantou.
‘Vagabundinha não! Olha lá como você fala comigo, garota!’ Susan disse alto também.
‘Vagabundinha sim! É isso que você é!’ retrucou. Duncan olhou pros lados, vendo que a discussão em tom elevado estava começando a chamar a atenção das outras pessoas no café, e passou a mão pelo rosto.
‘Susan, fica na tua’ ele disse e Susan se sentou, de cara fechada. Ele olhou pra outra garota ‘, eu não estava te traindo com ela’
‘Ah não?! E o que eu vi foi uma ilusão de ótica, foi isso? Por acaso você acha que eu sou louca e que fico tendo ilusões?’ franziu a testa. Duas lágrimas rolaram pelo seu rosto.
‘Claro que não...’
‘Então me diz a verdade!’
‘Eu estou te dizendo a verdade’ Duncan falou meio meloso, se aproximando um pouco dela ‘, acredita em mim, eu te amo’
‘Não minta pra mim’ ela disse entre dentes, as lágrimas rolando mais furiosamente pelas bochechas.
‘Essa garota não significa nada’ ele continuou. Susan abriu a boca, indignada ‘Só você me importa, é você quem eu amo’
‘NÃO MINTA PRA MIM!’ berrou e, de uma vez por todas, os olhares das pessoas no café se voltaram pra ela ‘Você já deve ter mentido demais pra mim e eu não quero mais saber dessas mentiras! Aliás, eu não quero mais saber de você!’
‘Não ! Não faz isso comigo! Por favor...’ ele pediu segurando nos ombros dela.
‘Me solta!’ ela disse desvencilhando das mãos dele e se afastou ‘Você pediu por isso, Duncan! O culpado disso é você, você e só você! Acabou, ouviu?! ACABOU!’ ela gritou e saiu correndo do café, ouvindo a voz do ex-namorado chamar por ela e a risada de Susan ecoando na sua cabeça.
correu pra longe dali, sem se importar com o choro que não conseguia controlar nem com a chuva forte que a encharcava e atrapalhava sua visão juntamente com as lágrimas. A única coisa com que ela se importava era arrumar um jeito de sair dali de perto, sumir dali se fosse possível. Como Duncan pudera fazer isso com ela? Como? Ele que era tão carinhoso, tão amável com ela. balançou a cabeça, tentando esquecer todos os momentos que passara ao lado dele. Tudo era falso, tudo era mentira. O namoro de um mês fora uma grande mentira. Sua cabeça estava confusa com tudo aquilo. Ela virou uma esquina ainda correndo e tentou enxergar alguma coisa à sua frente. Viu algumas casas e um lugar com uma fachada pichada. Dois homens entraram lá dentro e ela foi naquela direção, pensando que poderia dar um tempo por lá pra colocar as idéias no lugar antes de voltar pra casa. entrou no tal lugar e não enxergou muita coisa. Estava escuro e enfumaçado lá dentro e a grande maioria das pessoas que quase enchiam o lugar eram homens. Ela sentiu cheiro de cigarro e bebida. não fazia nem idéia de onde estava, mas não pensou em ir embora. Encaminhou-se ao que parecia ser um balcão e sentou num banquinho com estofamento rasgado.
‘Vodka’ ela pediu sem nem pensar no que estava fazendo ou dizendo quando um homem apareceu na sua frente. Só o que ela queria era acabar com aquela confusão na sua cabeça, organizar os pensamentos, ou simplesmente apagar tudo de vez.
‘Claro que quero’ dizia ainda no telefone ‘Hoje à noite? Tudo bem pra mim. Te pego às sete na sua casa? Certo’ ele ouviu o celular tocando ‘Preciso desligar agora, Alicia. Até mais, beijos’ ele colocou o telefone na base e começou a procurar pelo celular escondido no meio das almofadas do sofá.
‘?’ a voz de era fraca e trêmula do outro lado da linha.
‘?’ estranhou a voz dela ‘Aconteceu alguma coisa?’
‘Ahn, mais ou menos’ ela respondeu sentindo a cabeça rodar um pouco. ouviu alguns barulhos e depois um soluço.
‘Está tudo bem com você?’ perguntou começando a ficar preocupado.
‘Eu... eu não consigo... não consigo te ouvir direito’ ela disse tentando pegar os cacos do copo de vodka que tinha acabado de derrubar em cima do balcão. Alguém falou alguma coisa perto dela ‘Cala a boca, idiota!’ gritou.
‘O quê?’ franziu a testa, sem entender.
‘Não foi com você , desculpe’ ela disse se sentindo mais tonta do que antes e soluçou outra vez ‘Será que você... você pode vir me buscar?’
‘Claro, claro que eu vou’ ele disse prontamente, já calçando os tênis ‘Mas onde você está?’
‘Hum, eu não sei...’ ela disse passando a mão pelo rosto molhado de lágrimas.
‘Como assim não sabe?’ ele se surpreendeu ‘, você precisa saber onde está!’
‘Na-não grita comigo’ ela pediu soluçando.
‘Desculpe. Mas, me diz como é aí’ ele disse pegando uma jaqueta que estava jogada em cima do sofá.
‘É escuro e tem um monte de gente’ ela olhou em volta, com a visão meio embaçada ‘Não tem ninguém na rua’ disse olhando pela porta que um homem encasacado acabara de abrir ‘Acho que... acho que tem um mercadinho na frente, não sei... não consegui ver direito, eu não sei’ ela balançou a cabeça devagar e chorou. pensou um pouco e visualizou um lugar. Sabia onde era, mas que raios ela estava fazendo lá?
‘Olha, fica calma. Eu acho que sei onde você está’ ele disse tentando colocar a jaqueta enquanto falava no celular ‘Em dez minutos eu estou aí, ouviu?’ perguntou. Escutou mais barulhos do outro lado da linha e alguém resmungando alguma coisa ‘, você me ouviu?’
‘Eu já disse que vou pagar, espera...’ parecia estar conversando com outra pessoa. escutou mais barulhos, parecido com o som de moedas tilintando, e então a linha ficou muda. vestiu a jaqueta rapidamente, pegou as chaves do carro e saiu do apartamento. Desceu as escadas correndo, sem tempo pra esperar pelo elevador.
Ele estacionou de qualquer jeito perto da calçada e desceu do carro, indo rapidamente até o bar sem nem se preocupar com a chuva que continuava caindo. Se espremeu entre os homens que estavam lá dentro e foi falar com o balconista.
‘Ah sim, eu me lembro dessa moça’ o homem, já de idade um pouco avançada, disse depois que descreveu ‘Ela bebeu várias doses de vodka e até quebrou um dos meus copos’
‘E onde ela está?’ perguntou aflito.
‘Ela saiu faz pouco tempo. Bebeu demais e agora deve estar perambulando por aí’ o senhor respondeu com total indiferença e foi atender um homem barbudo.
deu meia volta e saiu do bar, voltando pra dentro do carro. Assim que virou a esquina da rua vazia, ele viu uma garota andando tropegamente pela calçada. Ele a reconheceu pela roupa que ela vestia e foi com o carro até ela, parando do seu lado. não parou de andar. desceu do carro e foi atrás dela.
‘’ ele segurou a menina pelo braço e ela se virou. Estava com os cabelos e as roupas encharcadas e tinha uma expressão vaga no rosto ‘O que aconteceu?’
‘O que é que você faz aqui?’ ela perguntou confusa. sentiu um cheiro forte de vodka tanto no hálito quanto nas roupas dela.
‘Eu vim te buscar. Você me ligou e pediu que eu viesse te buscar’ ele respondeu franzindo a testa.
‘Liguei?’ ela arqueou uma sobrancelha e depois riu fracamente ‘É, talvez eu tenha te ligado’
‘Vamos pro carro, ’ ele puxou a menina pelo braço com delicadeza ‘Vou te levar pra casa. Você precisa tomar um banho quente e trocar de roupa, está ensopada’ disse e continuou puxando a menina pro carro. Ela se deixou levar e entrou no veículo quando ele abriu a porta. deu meia volta e entrou do lado do motorista.
‘Olha’ ela olhou pela janela do carro ‘está chovendo’ disse como se só tivesse notado isso naquele momento.
‘É, está sim’ ele concordou paciente e deu a partida no carro ‘Agora me diga o que aconteceu pra você vir parar aqui’
‘Eu só saí andando’ ela disse inocentemente, encolhendo os ombros ‘Era o lugar mais perto’
‘E por que você saiu andando?’ ele perguntou. ficou em silêncio por alguns segundos e começou a chorar de repente. olhou assustado pra ela ‘, o que houve? O que aconteceu?’
‘Duncan... ele estava com uma garota’ ela disse tentando controlar o choro ‘Ele me traiu. Me traiu, . Ele estava com a Susan!’ ela voltou a chorar mais alto. ficou sem saber o que dizer. A raiva que ele sentiu de Duncan só não foi maior que seu espanto em ver daquele jeito.
‘, fica calma... pára de chorar. Por favor, pára de chorar’ ele pediu sentindo seu coração se espremer mais e mais ao ver a menina naquele estado ‘Você está indo pra casa agora, vai ficar tudo bem’ ele disse tentando consolar , mas desistiu quando ela começou a chorar ainda mais alto do que antes ‘Eu mato aquele playboy desgraçado’ ele resmungou entre dentes, segurando com força o volante.
estava andando de um lado pro outro dentro do apartamento, esperando terminar de tomar banho. Os dois mal chegaram em casa e ele a obrigou a tomar banho e trocar de roupa antes que se resfriasse. Fazia um tempinho que ele ouvira o chuveiro desligar e agora esperava que ela saísse do banheiro pra poder conversar melhor com ela. ouviu barulhos vindo do banheiro e correu pra lá, parando na frente da porta quando a abriu. Ela estava com um pijama comprido, o nariz vermelho e os cabelos molhados. Parecia menos bêbada do que antes e não cheirava mais à vodka.
‘Eu escorreguei no tapete’ ela disse fungando ‘Bati a cabeça no boxe, mas tá tudo bem’
‘Tem certeza? Você não se machucou?’ ele perguntou preocupado. negou com a cabeça, fechou a porta do banheiro e foi sentar num sofá da sala. foi sentar do lado dela ‘Quer falar sobre o que aconteceu?’ perguntou meio titubeante, incerto do que dizer.
‘Não tem o que falar, ’ ela disse com a voz embargada e ele percebeu que ela ia começar a chorar de novo ‘Ele me traiu, foi isso que aconteceu. Ele estava com aquela Susan’
‘Mas onde foi isso?’
‘Eu tinha saído pra ver o negócio das fotos, lembra? Só que começou a chover e eu precisava me abrigar em algum lugar... daí eu entrei numa rua onde tinha um café. Eu entrei no lugar e eles estavam lá’ ela não agüentou e começou a chorar ‘Sentados numa mesinha... sorrindo um pro outro e... e se beijando’
‘Imbecil. Eu sempre soube que ele era um canalha, mas não imaginei que fosse tanto pra chegar a esse ponto’ ele disse voltando a sentir uma raiva incomum invadi-lo por dentro. Ouviu um soluço alto de e viu que não adiantaria nada ficar falando mal de Duncan. Ele se aproximou da menina no sofá e passou o braço pelos ombros dela ‘Não precisa mais chorar, meu bem. As coisas vão melhorar, isso tudo vai passar, você vai ver’
‘Por que ele tinha que fazer isso comigo, ?’ ela perguntou entre soluços e fungadas, juntando as pernas no sofá e abraçando o garoto ‘Por que ele me magoou assim?’
‘Porque ele não sabe dar valor ao que tem, mas esquece isso agora. Esquece o Duncan, esquece o que ele fez, esquece tudo que aconteceu hoje. Isso não tem mais importância’ beijou o topo da cabeça dela, tentando confortá-la, e voltou a chorar como antes.
Os dois ficaram daquele jeito no sofá, em silêncio tentando acalentar enquanto ela chorava sem parar, até que finalmente ela se aquietou aos poucos e dormiu. a pegou no colo e a levou até o quarto dela, deitando-a com cuidado na cama.
‘Duncan vai se arrepender do que te fez, . Ele vai pensar milhares de vezes antes de tentar fazer qualquer coisa com você’ ele disse baixinho, cobrindo a garota com o cobertor que estava aos pés da cama dela ‘e eu vou cuidar disso pessoalmente’
Cap. 50
acordou de um sono pesado ao ouvir a porta do apartamento fechando. Levou um tempo até lembrar de tudo que tinha acontecido no dia anterior. Sentiu a cabeça pesar um pouco e uma vontade enorme de continuar na cama e não sair de lá nunca mais. Pensar no que Duncan fizera com ela fez seu coração doer, mas ela não quis se ater a isso e tratou de esquecer tudo novamente, pelo menos naquela hora. Ela respirou profundamente algumas vezes e passou as mãos pelo rosto antes de abrir os olhos. Encontrou uma bandeja ao lado da sua cama, com uma caneca e um prato com torradas. Sentou na cama, ainda embaixo das cobertas, e pegou um guardanapo que tinha sido colocado em cima da caneca. Havia alguma coisa escrita nele.
“Espero que o chá ainda esteja quente quando você acordar” ela leu reconhecendo a letra de e balançou a cabeça, sorrindo. Se ela queria ter alguém ao seu lado naquele momento tão difícil, sem dúvidas esse alguém era . Ela deixou o guardanapo de lado e pegou a caneca de chá, procurando o controle da televisão.
estacionou na frente da casa verde musgo onde fora levar certo dia e desceu do carro. Foi até a porta andando a passos firmes e tocou a campainha. Demorou um tempo pra alguém atender.
‘O que está fazendo aqui?’ um Duncan de cara amassada perguntou franzindo a testa assim que abriu a porta.
‘Acho que nós temos umas contas pra acertar’ respondeu secamente.
‘Eu não tenho nada pra acertar com você, idiota’ Duncan abriu mais a porta e se escorou ao batente.
‘Eu entendo que você tenha uma capacidade mental abaixo da média, mas não precisa forçar a barra’ disse vendo Duncan arquear uma sobrancelha ‘Você sabe do que eu estou falando. Aconteceu uma coisa muito séria ontem e eu acho que nós precisamos resolver isso’
‘Ah, você está falando sobre o que aconteceu ontem?’ Duncan compreendeu onde queria chegar ‘Isso é entre eu e a , você não tem nada que ver com isso’
‘Se você não se importa com a , eu me importo. Não vou deixar que nenhum filho da mãe sem-cérebro fique brincando com os sentimentos dela’
‘Olha aqui, perdedor’ Duncan encostou a ponta do indicador no peito de , começando a ficar irritado ‘você está na minha casa, então acho bom me respeitar’
‘Tecnicamente, eu estou fora da sua casa, então acho que posso dizer o que bem quiser’ afastou a mão de Duncan ‘Voltando ao que interessa, eu espero que você se afaste da de uma vez por todas se não quiser se ver comigo’
‘Ah é? E o que você vai fazer hein imbecil?’ Duncan empurrou , que recuou alguns passos pela força do empurrão ‘Vai me bater por acaso?’ perguntou saindo de casa e indo mais pra perto de onde tinha ido parar ‘Oh, que medinho do babaca perdedor’ Duncan riu irônico. nem pensou no que estava fazendo, seu punho simplesmente voou direto no rosto de Duncan. Então viu a mão fechada de Duncan na sua direção e, uma fração de segundo depois, sentiu gosto de sangue na boca.
tinha acabado de levar a bandeja do café da manhã pra cozinha quando ouviu a porta do apartamento fechando novamente. Saiu da cozinha e arregalou os olhos ao olhar pra .
‘MEU DEUS DO CÉU!’ ela berrou assustada e preocupada ao mesmo tempo ‘O que houve, ?’ perguntou se aproximando do garoto. Ele estava com um olho roxo, o lábio inferior sangrando e segurava um lado do corpo ‘Quem fez isso com você?’
‘Duncan’ resmungou.
‘Oh céus... aquele troglodita’ ela disse amargurada ‘Vou pegar alguma coisa pra dar um jeito nesses machucados’ e correu pro banheiro. tirou a jaqueta, sentindo dor do lado do corpo, e foi pra cozinha. Sentou numa cadeira perto da mesinha. voltou com uma bolsa de gelo vazia e um pacote de algodão ‘O que aconteceu afinal?’
‘Nada demais’ ele respondeu enquanto a menina enchia uma vasilha com água fria.
‘Nada demais’ ela repetiu bufando ‘Como que não foi nada demais? Você está com o olho roxo e a boca sangrando e quer que eu acredite que não foi nada demais?’ ela pegou a vasilha e foi sentar na frente dele, molhando um algodão na água ‘Primeiro, o que você foi fazer na casa do Duncan?’
‘Você não achou que eu ia deixar ele sair ileso depois do que te fez, não é?!’ ele arqueou a sobrancelha sobre o olho que não estava roxo. Ela balançou a cabeça e espremeu o algodão em cima da vasilha.
‘Você não devia ter feito isso, . Olha só no que deu’ disse passando o algodão sobre o queixo e o corte na boca dele, limpando o sangue.
‘Sem fazer nada é que eu não ia ficar’ ele disse inconformado quando ela afastou o algodão da sua boca.
‘Pois devia ter ficado’ ela pegou outro algodão molhado e pressionou em cima do corte. cerrou os olhos e sentiu o olho roxo doer por isso ‘Tá vendo só? Agora está aí, sentindo dor sem necessidade’ ela pegou a mão dele e fez com que ele segurasse o algodão na boca enquanto ia pegar gelo.
‘Não é sem necessidade’ ele teimou, falando devagar por causa do algodão. rolou os olhos colocando os cubinhos de gelo dentro da bolsa.
‘Sem necessidade, sim senhor’ ela entregou a bolsa de gelo pra ele e tirou o algodão da sua boca, examinando o corte ‘Você não tinha nada que ter ido na casa do Duncan pra tirar satisfações com ele, ’ disse séria, voltando a sentar na frente dele. Ficou olhando pro rosto do garoto por uns segundos. Não sendo muito profundo, o corte parara de sangrar e agora segurava a bolsa de gelo sobre o olho roxo. Ela sentiu pena dele e achou que se ele estava naquele estado era por sua causa ‘Eu só não quero que as pessoas se machuquem por minha culpa’ disse num tom mais ameno.
‘Não é sua culpa’ ele discordou ‘Eu fiz o que fiz porque quis fazer, e porque aquele cara merecia levar uns tabefes’
‘Só você mesmo’ ela balançou a cabeça e sorriu com o canto da boca ‘Imagino que Duncan também tenha saído com alguns machucados, não?!’
‘Você vai ver segunda-feira, no colégio. Uma pena que um vizinho bisbilhoteiro tenha nos ouvido brigando na frente da casa dele e resolvido separar a briga, senão aquele cretino teria ficado com o rosto num estado bem pior’
‘Melhor assim’ ela disse voltando a ficar mais séria. sacudiu os ombros, se mexendo na cadeira, e gemeu de dor por causa disso, automaticamente levando a mão ao lado do corpo ‘O que aconteceu aí?’ perguntou olhando pro lugar onde ele colocara a mão.
‘Duncan me chutou’ ele disse fazendo uma pequena careta e sentiu o olho doer novamente.
‘Me deixa ver’ ela pediu. Ele levantou a camiseta, deixando a mostra um hematoma nas costelas ‘Ah , isto está feio’ ela tocou de leve o hematoma ‘Acho melhor irmos a um hospital, você pode ter quebrado uma costela’
‘Eu não vou a um hospital só por causa disso’ ele disse e ela o censurou com o olhar ‘Nem adianta me olhar assim, eu não vou a um hospital e ponto final’
‘Ô teimosia! Ok, não vamos a um hospital então, mas acho bom torcer pra não ter quebrado uma costela. De qualquer jeito, eu vou à farmácia comprar alguma coisa pra cuidar disso. Duvido que aqui tenha algo pra esse tipo de pancada’
‘Eu não quero ficar te dando trabalho, ’ ele segurou na mão dela, vendo a menina levantar da cadeira ‘E, afinal, como você está?’
‘Como eu estou não importa agora’ ela negou com a cabeça e se abaixou um pouquinho ‘Tente não fazer esforço e se comporte. Eu volto logo pra terminar de dar um jeito nisso’ ela deu um beijo na testa dele e saiu da cozinha.
olhou pras coisas em cima da mesa e ouviu o barulho da porta do apartamento fechando. Ele podia sentir o corte na boca inchando, o olho queimando por causa do gelo e pontadas de dor do lado do corpo sempre que se mexia ou fazia um esforço maior pra respirar, mas, no fundo, não estava nem ligando. Receber os cuidados e o carinho de fazia toda aquela dor valer a pena, de certa forma. Ele sorriu com dificuldade por causa do corte na boca e levantou da cadeira, andando devagar até a sala. Ligou a televisão e sentou no sofá com cuidado pra não provocar mais dor do que já estava sentindo.
Ela rolou pro lado e olhou no celular. Eram duas e meia da madrugada. afundou a cara no travesseiro, mas não demorou nem cinco minutos pra rolar pro outro lado e ficar encarando o teto mais uma vez. Definitivamente não estava conseguindo dormir. Sua cabeça estava a milhão e todos aqueles pensamentos turbulentos na sua mente não a deixavam descansar. Ela já tinha passado o fim do dia trancada no quarto, fazendo nada, e cansou de ficar deitada ali, enrolando. Jogou as cobertas pro lado e levantou da cama. Saiu do quarto o mais silenciosamente possível. Assim que pisou na sala, escutou barulho de televisão ligada. Foi até o quarto de e encostou o ouvido na porta, o barulho vinha de lá. Provavelmente ele devia estar acordado e com certeza ela não queria agüentar sozinha aquele desassossego da sua cabeça. deu duas batidinhas na porta antes de abrir uma fresta. , sentado com as costas encostadas na cabeceira da cama, olhou pra ela.
‘Acordada a essa hora?’ ele perguntou estranhando.
‘Insônia’ ela deu de ombros e abriu mais um pouco da porta ‘e não fale de mim, você também está acordado’
‘Você sabe que eu não durmo cedo’ ele riu e dobrou as pernas. A menina encostou a cabeça no batente ‘Ei, não fica aí’ ele disse e ela olhou pra ele ‘Vem cá’ chamou. entrou no quarto e fechou a porta. Andou quase encolhida até a cama e sentou do lado dele, de pernas cruzadas e virada pra televisão. Olhou pro menino e viu que o olho atingido por Duncan estava meio fechado por causa do inchaço.
‘Como estão os machucados?’ perguntou.
‘O corpo ainda dói e imagino que meu olho não deva estar a coisa mais bonita do mundo, mas tudo bem’ ele disse erguendo os ombros e ela sorriu de leve. reconheceu aquele sorriso como não sendo o mais verdadeiro e notou o quanto a menina ainda estava abalada com os acontecimentos mais recentes ‘E você, como está?’
‘Eu? , quem apanhou de um jogador de futebol americano foi você, não eu’ ela levantou uma sobrancelha.
‘Acho que eu não preciso dizer o que esse mesmo jogador de futebol americano fez com você, e isso foi muito pior do que o que ele fez comigo’ ele falou e ela olhou pra televisão.
‘Eu vou superar’ ela disse baixinho. Achou que ia chorar de novo e fungou. ouviu e passou o braço pelos ombros dela. A menina olhou pra ele, com os olhos marejados, e chegou mais perto dele.
‘Não fica assim. Eu não gosto de te ver triste desse jeito’ ele disse passando a mão pelo braço dela ‘Amanhã é outro dia, um dia bem melhor do que ontem e hoje. Então tudo isso vai passar e você vai ficar bem’
‘Eu sei...’ ela disse devagar, com vontade de chorar, mas se segurando pra não fazê-lo. Não queria chorar de novo, não por causa do que tinha acontecido, não por Duncan. Ela deitou a cabeça no peito de ‘Obrigada por me ajudar... por ficar do meu lado’
‘Não precisa me agradecer’ ele ouviu a menina fungar novamente e acariciou os cabelos dela, tentando fazer com que ela se sentisse melhor.
Eles ficaram por mais uns minutos assim, até que esticou as pernas e abraçou de lado. Ela fechou os olhos quando ele beijou o topo da sua cabeça. Na companhia dele ela se sentia protegida, confortada e bem. E era exatamente disso que mais precisava.
Cap. 51
‘Bom dia’ disse sorridente, sentado na mesinha da cozinha, assim que apareceu. A menina olhou no relógio da cozinha e viu que já era quase meio-dia.
‘Acho que dormi demais’ ela passou a mão pela cara sonolenta e abriu a geladeira ‘Como está?’
‘Bem melhor, no geral. Mas, não sei... minha perna está doendo. Você me chutou no meio da noite?’ ele perguntou rindo. Ela fechou a porta da geladeira e foi sentar na frente dele, com um iogurte na mão.
‘Desculpe ter dormido lá... não era minha intenção’ ela disse meio encabulada. Ele negou.
‘Não faz mal’
‘Eu só estava cansada de ficar trancada sozinha no quarto’ ela passou a mão na testa.
‘Você não precisa ficar sozinha quando não quiser’ ele disse carinhoso e ela deu um meio sorriso ‘Está melhor?’
‘Não sei’ ela ergueu os ombros ‘Eu estou meio confusa, sei lá... acho que ainda não consegui encaixar tudo dentro da minha cabeça. É complicado’
‘Eu imagino...’
‘Eu me sinto desnorteada’ ela franziu a testa, se sentindo triste. Baixou a cabeça e olhou pro iogurte ainda fechado ‘Vê? Eu nem sei pra que peguei isso’ ela afastou o iogurte ‘Não é o que quero comer’
‘E o que você quer? Pode pedir qualquer coisa, eu faço’ ele disse tentando animar a menina ‘Ou compro, porque eu não sou um dos melhores cozinheiros do mundo’ ela sorriu de leve.
‘Valeu, mas eu não estou com fome’ ela disse. Ele percebeu o quanto ela estava pra baixo.
‘Você não pode ficar assim, ’ ele segurou nas mãos dela, que estavam sobre a mesinha ‘Tem que reagir. Tem que se alimentar, fazer alguma coisa...’
‘Eu vou fazer alguma coisa. Acho que vou dar um jeito nesse apartamento’ ela disse olhando pela cozinha ‘Esse lugar precisa de uma limpeza. E também tem o almoço...’
‘Pode esquecer, você não vai bancar a doméstica nem por cima do meu cadáver’ ele disse rindo ‘O que você vai fazer é se arrumar pra sair comigo’
‘, eu não quero sair’ ela disse com a voz preguiçosa.
‘Mas você vai’ ele levantou e deu a volta na mesinha, parando do lado da cadeira dela ‘Vamos, pode levantando e indo colocar uma roupa’ disse cutucando ela na cintura. baixou a cabeça, encostando a testa na mesa.
‘...’ disse manhosa.
‘Nem adianta, nós vamos almoçar fora e ponto final’ ele insistiu e ameaçou começar a fazer cócegas nela ‘Ou você vai por bem, ou vai por mal’
‘Ah, ok, você venceu’ ela se rendeu, levantando da cadeira. Ficou de frente pra ele ‘Fala sério, eu não mereço você’ disse fingindo cara feia.
‘Você não merece ficar abatida desse jeito’ ele colocou uma mecha do cabelo dela pra trás da orelha. Sentia vontade de beijar a menina, mas estava se contendo firmemente. Ela baixou os olhos ‘e eu vou cuidar pra que você não fique assim, nunca’
‘Obrigada, sério’ ela disse sorrindo verdadeiramente pela primeira vez desde o dia anterior. beijou ela na testa.
‘Já disse que você não precisa me agradecer. E agora vai, pára de me enrolar e vai se arrumar’ disse sorrindo. A garota rolou os olhos e saiu da cozinha. Ele ficou olhando pra porta da cozinha, pensando que por nada no mundo deixaria se afundar naquela fossa.
‘Eu estou parecendo uma mendiga’ resmungou quando ela e desceram do carro dele, estacionado na frente da lanchonete. Ela ainda estava tão mal humorada que nem reparou nos outros carros estacionados ali perto. fez que não viu também e riu do que ela falou.
‘Não está parecida exatamente com uma mendiga, mas convenhamos que você podia ter se arrumado melhor’ disse olhando pras roupas mais desleixadas que a menina usava.
‘Besta’ ela fez careta pra ele, que riu mais e a abraçou pelos ombros, entrando na lanchonete ao seu lado. parou de andar quando olhou pra uma das mesas ‘Ah não, não acredito nisso’ ela disse balançando a cabeça.
Sentados numa mesa grande estavam , , , , e , todos rindo e conversando contentes. não sentiu a mínima vontade de se juntar aos amigos. Não estava nem um pouco animada pra fazer parte daquela alegria toda.
‘Olha só que coincidência! E vem bem a calhar, afinal você precisa se reanimar e nada melhor do que seus amigos pra ajudarem você com isso’ ele disse conduzindo, meio que a força, a menina até a mesa.
‘Só você já é o suficiente pra isso’ ela disse quase se arrastando ao lado dele. sorriu, se sentindo bem com o comentário, mas nem por isso desistiu de levá-la até a mesa.
‘Não tente me agradar’ ele disse e ela apenas fez um barulho com a boca.
‘Priminha queri...’ ia dizendo animada quando chegou perto da mesa com ‘Que cara é essa?’ perguntou estranhando a expressão da prima.
‘É a mesma cara de sempre, ’ respondeu simplesmente, sentando. sentou ao lado dela.
‘Cara, que aconteceu com seu olho?’ perguntou preocupado vendo o rosto do amigo. As meninas arregalaram os olhos. franziu a testa, mas riu.
‘Não me diga que a Alicia andou te fazendo de saco de pancadas’ ele disse. Todos riram, exceto que pareceu mais infeliz ainda.
‘Não, não foi isso’ negou, rindo ‘Mais tarde vocês vão entender o motivo do machucado’
‘Certo, mas... qual o motivo da reunião?’ levantou as sobrancelhas.
‘Chamou a gente aqui só pra mostrar seu olho roxo, ?’ perguntou rindo pro amigo, que fez um sinal pra ele ficar quieto. olhou pra , com os olhos semi-cerrados.
‘Então foi você que chamou todo mundo? E estava me dizendo que era coincidência’ ela disse e começou a bater no garoto enquanto os outros riam.
‘Ei, sem agressões, por favor. Eu não preciso apanhar mais’ segurou as mãos da menina ‘Eu fiz isso porque achei que você ia gostar de passar um tempo com todo mundo, pra se distrair um pouco’
‘Se eu não estava querendo nem sair de casa, obviamente eu não quero encontrar com esse monte de gente’ ela se soltou dele e cruzou os braços, emburrada.
‘Não quer ver nem seus amigos... poxa, isso magoa’ disse se fingindo chateado e os outros riram.
‘E por que essa reclusão toda?’ perguntou. se mexeu na cadeira, desconfortável com a pergunta.
‘Nada demais’ ela disse sem querer continuar o assunto.
‘Ah, deve ser alguma coisa grave sim’ disse ‘Eu te conheço bem, você não fica com essa cara à toa não’
‘Se é grave, deve ser beeem grave pra ela ter saído com o aqui e não com o namorado’ disse rindo e olhou pra ele de um jeito que fez o amigo calar a boca.
‘Acho que vai ser um pouco mais difícil eu sair com o Duncan agora’ disse se sentindo meio mal por ter que tocar naquele assunto.
‘Hein?’ franziu a testa, sem entender.
‘Vai ser mais fácil vocês verem ele com a Susan do que comigo’ ela ergueu os ombros, como se estivesse contando algo muito normal e sem importância.
‘Só eu que não tô entendendo nada aqui?’ perguntou confuso.
‘Na sexta...’ ela começou, vendo que seria menos doloroso ir direto ao assunto ‘Eu saí pra resolver umas coisas minhas e... e encontrei o Duncan com a Susan’ disse numa voz um pouco mais baixa que o normal. passou a mão nas costas da menina, dando-lhe apoio, e os outros arregalaram os olhos ‘Eles estavam num café, juntos... se beijando’
‘Que cretino!’ quase gritou, indignada ‘Esse cara merece uma boa surra e...’
‘E com certeza não vai ser você quem vai bater nele’ disse rindo e a garota pôs a língua pra fora.
‘Eu sou da mesma opinião que você, ’ disse ‘e é por isso mesmo que meu olho está roxo assim’
‘Há, não diga que você socou o Duncan’ disse sem acreditar. assentiu com a cabeça.
‘Um ato de heroísmo, sem dúvidas’ riu.
‘Um ato de burrice, isso sim’ disse franzindo a testa ‘Ele não tinha nada que ir na casa do Duncan pra arranjar encrenca’
‘Ainda mais porque, vamos admitir, o Duncan dá dois do ’ observou e fez careta pra ela. Os outros riram.
‘Só dois?’ perguntou rindo.
‘Ele pode dar até cinco de mim, mas eu garanto que saiu bem mais machucado’ disse se gabando ‘Eu fiquei só com esse olho roxo e o cara...’
‘Larga de ser mentiroso’ interrompeu o garoto e olhou pros amigos ‘Ele só diz isso porque o corte na boca não está mais aparente e porque ninguém vai pedir pra ele levantar a camiseta e mostrar o hematoma enorme que ele tem nas costelas’
‘Pô , não dedura’ ele disse e todos riram.
‘Mas e o playboy? Como ficou depois da surra?’ perguntou. ia começar a contar quando ouviu um barulho vindo da entrada. Todos olharam pra porta. Duncan e mais dois garotos do time de futebol tinham acabado de entrar.
apertou o braço de quando viu Duncan olhando na sua direção. O loiro falou alguma coisa pros amigos e começou a andar até a mesa onde os oito estavam sentados. virou a cabeça, desviando o olhar. Ouviu os meninos soltarem risadas abafadas, provavelmente porque Duncan estava com um enorme curativo na bochecha, um dos olhos roxo e o braço esquerdo engessado encaixado numa tipóia. Apesar da situação em que se encontrava, fez uma pequena nota mental: parabenizar por ter provocado tamanho estrago em Duncan, coisa que ela nunca imaginou que seu melhor amigo seria capaz de fazer num cara que chegava a parecer um armário. estava de cabeça baixa, mas viu de esguelha quando Duncan parou do seu lado.
‘...’ o loiro chamou com a habitual voz grossa. A menina respirou fundo e olhou pra ele. O estado do rosto dele parecia bem pior de perto. pôde ver que seus amigos não faziam a mínima questão de esconder que estavam encarando o garoto, muito menos , que parecia prestes a socar Duncan novamente.
‘Quê?’ ela perguntou secamente.
‘Podemos conversar?’ ele pediu. Ela olhou pros lados e depois pra ele de novo.
‘Hum, não’ ela disse de uma forma irônica.
‘Mas eu tenho que te explicar...’
‘Você ouviu o que eu disse?’ ela levantou as sobrancelhas. fez um barulho com a boca e tamborilou na mesa com as unhas compridas.
‘Ouvi, mas...’ Duncan insistiu.
‘A surra que você levou te deixou surdo por acaso?’ franziu a testa e os amigos riram. Duncan negou, parecendo desconfortável ‘Ótimo, isso significa que você ouviu bem o que eu disse. Sendo assim, pode ir embora, porque eu não vou mudar minha resposta’
‘Olha , eu...’
‘Cara, ela não vai ficar repetindo o que te disse’ falou antes mesmo que a amiga abrisse a boca ‘então acho melhor você ir embora daqui bem rápido’
‘A não ser que queira levar outra surra’ disse fazendo menção de levantar de onde estava sentado. segurou ele no lugar.
‘E dessa vez seus amiguinhos vão apanhar junto’ arqueou uma sobrancelha. e estralaram os dedos e as meninas cruzaram os braços, sorrindo satisfeitas. se sentiu intimamente grata pelo apoio dos amigos. Duncan olhou pra cada um na mesa antes de olhar pra ex-namorada de novo.
‘Quando você quiser conversar...’ ele começou.
‘Eu te aviso’ completou por ele. O loiro apenas concordou com a cabeça e voltou pra perto dos amigos. Os três conversaram rapidamente e saíram da lanchonete em seguida. Os oito na mesa ouviram barulho de pneu cantando vindo da rua e então fez-se silêncio entre eles.
‘Aí, eu fiquei com medo de vocês’ disse olhando pros meninos, quebrando o clima pesado. Todos riram, até mesmo .
‘É bom saber que os menininhos viram homens quando se faz necessário’ comentou e dessa vez só as meninas riram enquanto os garotos davam risadas sem graça.
‘Cômico, realmente cômico’ disse sarcástico.
‘Agora, falando sério, parabéns cara’ cumprimentou ‘Realmente o playboy ficou mais machucado que você’
‘É, quem poderia imaginar que seria capaz de fazer aquele estrago todo num jogador de futebol americano’ disse orgulhoso do amigo.
‘Se saiu bem’ deu um beijo na bochecha de , que sorriu.
‘Não foi nada’ disse humildemente.
‘Se o me trair algum dia, vou chamar você pra bater nele’ disse e todos riram.
‘Não vai ser preciso, eu sei me manter na linha e não é só porque tenho medo de apanhar’ disse e recebeu um beijo estalado da namorada ‘Mesmo porque eu acabaria com o antes dele pensar em me bater’ e todos riram.
ficou comendo uma porção de batata frita que já estava na mesa desde que chegara com e ouvindo os garotos discutindo sobre qual deles era mais forte enquanto as meninas riam sem parar. Então começou a pensar em Duncan e em quando conversaria com ele e pouco a pouco foi se sentindo triste de novo. percebeu que a menina estava quieta demais e a abraçou pela cintura.
‘Tudo bem?’ perguntou baixinho. Ela olhou pra ele e fez que sim com a cabeça, sorrindo de leve. Pegou uma batatinha e apontou pra ele. mordeu metade da batatinha e ela comeu a outra metade, rindo. De alguma forma ele sempre fazia com que ela se sentisse um pouco melhor.
‘Chega dessa conversa’ interrompeu os meninos que continuavam no mesmo assunto ‘Vocês todos precisam entrar numa academia’
‘Fato’ concordou e riu vendo os garotos fazerem careta. Ela olhou pra prima e teve uma idéia.
‘Garotas’ ela começou ‘o que acham de um passeio no shopping?’
‘Excelente idéia’ fez positivo pra amiga.
‘Ui, que tu-do! Eu vou também’ disse numa voz afeminada e todos riram.
‘Ela disse garotas, ’ deu um tapa na cabeça do amigo ‘Não é porque você quer ser uma garota que você pode ser incluído nisso’ e os outros riram mais ainda.
‘Bom, como eu sim sou uma garota’ disse rindo ‘Eu topo’
‘?’ levantou as sobrancelhas. , sem saber por que, olhou pra . Ele sorriu.
‘Vai se divertir, vai’ ele disse a incentivando. A menina concordou e levantou da cadeira, acompanhando as outras ‘Quer que eu te busque depois?’
‘Eu estou com meu carro...’ levantou os ombros e olhou pra prima.
‘Qualquer coisa eu te ligo, ’ disse e beijou de leve a bochecha do amigo. Acenou pros outros garotos e até deu uma risada ao ver puxando , que tinha sido agarrada por .
‘Essa garota te ama’ comentou vendo olhando enquanto as meninas saiam da lanchonete. se virou pro amigo.
‘Hein?’ perguntou sem entender.
‘Falei da , ela te ama’
‘Você pirou’ riu, desacreditado. apenas deu de ombros.
‘Agora conta aí cara’ disse pegando umas batatas fritas que tinham sobrado ‘Como foi socar o almofadinhas?’
‘Deve ter sido como terapia pra ele’ brincou rindo e começou a contar como tinha sido a briga com Duncan. Como todo garoto que sai na porrada com alguém mais forte, ele fez questão de modificar, exagerar e excluir algumas partes.
Cap. 52
Na segunda-feira de manhã, no colégio, tanto Duncan como foram alvo de comentários variados relacionados aos seus machucados, mas no intervalo muita gente começou a pensar que os dois estavam naquele estado porque tinham brigado entre si. Essa suspeita foi formada simplesmente pelo fato de estar com e não ter nem olhado na cara de Duncan no pátio.
No horário da saída, estava de saco cheio de tanto ouvir as pessoas comentando e perguntando sobre ele. saiu reclamando da classe pelo mesmo motivo.
‘Esse povo que não tem vida própria devia criar uma e parar de querer cuidar da vida dos outros!’ ela disse quase gritando pra umas meninas que tinham lhe seguido até os portões do colégio.
‘Amiga, que é isso?’ perguntou espantada com a atitude da outra quando e se aproximaram dela e de .
‘Essas patricinhas fofoqueiras e enxeridas que ficam me atolando em perguntas’ bufou, rolando os olhos ‘Querem saber se eu terminei com o Duncan, se é verdade que o brigou com o Duncan por minha causa...’
‘Pelo visto não é só pra mim que andam fazendo perguntas’ disse chegando perto com os amigos.
‘Não, não é’
‘Gente, relaxa’ disse tranqüila. olhou pra ela.
‘Relaxa? Não tem como relaxar com esse mundo de gente especulando sobre o que aconteceu!’ disse nervosa ‘Fala sério, como se já não bastasse aquela va...’
‘Ow, vai com calma’ advertiu a prima, olhando em volta.
‘Vai com calma o cacete! Você quer que eu trate aquela garotinha como minha melhor amiga, é isso?’
‘Ahn, que garotinha?’ perguntou sem entender, abraçado à namorada.
‘Susan’ resmungou numa voz enjoada ‘Não sei se vocês perceberam, mas ela ficou olhando pra mim o intervalo inteiro, com aquele arzinho arrogante e o nariz empinado’
‘É eu percebi’ disse e deu de ombros ‘mas pra mim ela estava com os mesmos ares de sempre, naturalmente arrogante’
‘E quanto ao nariz, não se preocupe, é plástica’ disse descontraído ‘Me disseram que ela queria se parecer com a Britney ou coisa assim’
‘Sério?! Contaram pra mim que ela é muito fã do Michael Jackson, por isso o nariz daquele jeito’ comentou e todos riram, nem conseguiu se manter séria.
‘ !’ alguém gritou e, de repente, uma menina morena apareceu na frente do grupinho parado na frente dos portões. Os oito encararam a menina, mudos. Alguns alunos que estavam ali por perto também olharam pra menina, curiosos.
‘Oi Alicia’ disse calmamente, sorrindo.
‘Oi? Que oi que nada! E não me venha com esse sorriso ’ ela disse colocando as mãos na cintura. Parecia tão furiosa que nem reparou que o namorado estava com um olho roxo. desmanchou o sorriso na hora e os outros deram um passo pra trás ‘Você tem noção de que dia é hoje?’
‘Err, seu aniversário...?’ ele arriscou. Alicia bufou.
‘Claro que não! Hoje é segunda, , segunda!’
‘Ah sim, claro, segunda. Achei que fosse alguma data importante’ ele riu.
‘É uma data importante, e não ria porque isso daqui não é piada’ ela disse nervosa e ele ficou quieto ‘Agora, por acaso você sabe qual foi o último dia em que nos falamos?’
‘Sexta’ ele respondeu esperando estar certo.
‘Oh oh, mais de três dias’ sussurrou pros amigos.
‘Pisou na bola’ disse e concordou. Os meninos se entreolharam sem entender e continuou prestando atenção na conversa dos outros dois.
‘Isso mesmo’ Alicia disse e pareceu mais tranqüilo por ter acertado dessa vez ‘E você lembra o que me disse na sexta-feira?’ perguntou. parou pra pensar. Revirou dentro da cabeça todas as recordações que tinha de sexta e então lembrou de ter combinado, pelo telefone, de sair com Alicia à noite. Então ele entendeu o motivo da namorada estar naquele estado de nervos.
‘Eu disse que ia sair com você. Ia passar na sua casa às sete horas’ respondeu com a garganta seca.
‘E você passou?’ ela perguntou entre dentes. apenas negou com a cabeça.
‘Tá ferrado’ comentou em voz baixa.
‘Exato, você não passou. E por que não?’ Alicia cruzou os braços.
‘Eu tive que resolver uns problemas’ disse rapidamente. mordeu a boca por saber que os problemas dele se resumiam a ter ido buscá-la num bar e depois ter ficado fazendo companhia pra ela durante o resto da noite. Sentiu-se culpada pela situação que estava passando.
‘Que problemas?’ Alicia questionou, intrigada.
‘Problemas pessoais, Alicia. Coisa minha, eu não preciso te contar’ disse.
‘Eu sou sua namorada, ! Você precisa me contar tudo que acontece com você!’ Alicia aumentou a voz de novo.
‘Não, eu não preciso não. Cada um tem que ter seu espaço, suas coisas particulares. É uma questão de privacidade’ ele disse firme. A menina abriu a boca e fechou. Respirou fundo.
‘Certo, tudo bem. Particularidade, privacidade, entendo... só que, me diz, por que você não me ligou pra avisar que teve uns problemas?’
‘Se eu estava com problemas, você acha realmente que eu ia ter cabeça pra lembrar de te ligar?’
‘Então alguns probleminhas pessoais te fazem esquecer completamente da sua namorada?’ Alicia arqueou as sobrancelhas e, antes que ele se justificasse, ela continuou ‘Olha, talvez seus problemas fossem muito graves e até aí tudo bem... mas nos outros dias você continuou sem cabeça pra me ligar? Durante os outros dois dias você não conseguiu se lembrar de mim? Acha que eu gostei de ficar te esperando que nem uma idiota lá em casa? Acha que eu gostei de ficar sem notícias suas, sem uma justificativa, sem receber nem um sinal de vida seu durante dois dias depois do bolo que você me deu? É ISSO QUE VOCÊ ACHA, É?’
‘Será que você pode parar de gritar?’ perguntou alterando a voz também, começando a se irritar com toda aquela situação. Pra que tanto estresse? ‘Eu esqueci, Alicia. Esqueci completamente, ok?! Satisfeita agora? E outra coisa, eu não te liguei, certo, mas você também não se deu ao trabalho de me ligar. Por que não?’
‘Porque essa não era minha obrigação’ Alicia respondeu como se fosse óbvio.
‘Há, essa é boa’ ele riu ironicamente ‘Olha, quer saber? Cansei, tô enjoado desse papo’ ele disse de cara fechada ‘Eu preciso ir pra casa, mais tarde a gente termina essa conversa’ e se virou de costas pra ela.
‘!’ ela chamou de olhos arregalados, surpresa com a atitude dele.
‘Mais tarde’ ele abanou a mão e olhou pra ‘Vambora?’
‘Ahn... ok’ ergueu os ombros, sem saber o que dizer. olhou pra .
‘Vai com a gente, cara?’
‘Claro’ disse e deu um beijo rápido na namorada.
‘Povo, até mais’ se despediu dos outros e e foram atrás do garoto na direção do carro estacionado perto do colégio.
‘ !’ Alicia chamou mais uma vez, mas em vão. entrou no carro sem nem olhar pra ela. A morena olhou pros cinco restantes perto dos portões. Eles apenas encolheram os ombros e a garota saiu andando, furiosa.
‘Você não abriu a boca o caminho inteiro’ disse assim que entrou no apartamento.
‘ estava falando com você sobre a Alicia e o que aconteceu nos portões do colégio’ disse trancando a porta ‘Eu não quis interromper, só isso’
‘Hum, certo’ ele deu de ombros e largou a mochila no chão, se jogando no sofá.
‘Não faça baderna, ’ ela disse rindo e pegando a mochila dele.
‘Larga isso e vem aqui’ ele a chamou com a mão. estranhou, mas deixou sua mochila e a dele na poltrona e foi sentar na beirada do sofá em que ele estava deitado.
‘Que foi?’ perguntou olhando pra ele.
‘Estou carente’ ele disse fazendo bico. A menina começou a rir.
‘Cala a boca’ ela disse rindo e se levantando. a segurou pela mão e fez com que ela continuasse sentada.
‘Tá, brincadeira. Eu só quero... sei lá, conversar com alguém’
‘Sobre o que aconteceu?’ ela perguntou e ele concordou.
‘Cara... por que ela estava tão puta comigo?’ ele perguntou.
‘Isso é meio óbvio, não acha?’ ela riu ‘Você deu um bolo nela e depois ficou dois dias sem explicar o porquê disso, é motivo mais do que suficiente pra ela ficar puta contigo’
‘Mas ela também não me procurou pra saber o que tinha acontecido’ ele levantou as sobrancelhas.
‘Certo, isso foi orgulho exagerado da parte dela. Quanto a isso você tem razão’ ela disse concordando.
‘Caramba, eu me esqueci dela. Sei que isso não é certo, já que ela é minha namorada, mas ela tem que entender que eu estava com outras coisas na cabeça’ ele encolheu os ombros, como se isso resolvesse tudo.
‘, olha... eu me sinto culpada por isso’ ela disse o que estava pensando desde que saíram do colégio e ele franziu a testa, sem entender ‘Os problemas que você teve na sexta, são culpa minha... você teve que ir me buscar naquele lugar porque eu estava bêbada e depois ficou aqui comigo, me fazendo companhia. Por isso você não foi encontrar a Alicia e, conseqüentemente, foi por isso que ela fez o que fez hoje. Eu sinto muito, não queria te criar problemas’
‘Não é culpa sua, ’ ele negou e sentou no sofá, olhando pra ela ‘Você não mandou a Alicia aprontar aquele barraco nos portões do colégio, mandou?’ ela fez que não ‘Então, não é culpa sua. E você precisava mais de mim do que ela’
‘Mesmo assim...’
‘Não fica pensando nisso’ ele interrompeu balançando a cabeça ‘Não é culpa sua e ponto final’
‘Certo, se você diz’ ela sorriu de leve ‘Olha, eu sei que não posso fazer nada em relação ao comportamento da Alicia, mas se quiser podemos almoçar fora’
‘Onde?’ ele perguntou parecendo empolgado. encolheu os ombros.
‘Não sei, McDonald's...? Qualquer lugar que melhore seu humor, e eu pago’
‘Estou pensando em pedir pra Alicia ir gritar comigo no colégio todos os dias’ ele disse e os dois riram.
‘Vou guardar minhas coisas e trocar de roupa, depois a gente vai’ ela deu um beijo na testa dele e levantou, pegando sua mochila na poltrona e indo pro quarto. ficou com um sorriso bobo estampado na cara até que seu celular tocou e ele pegou o aparelho dentro do bolso. Pela bina viu que era Alicia. Pensou várias vezes se atendia ou não, mas achou que se não atendesse seria pior.
‘Oi Alicia’ ele atendeu e não teve tempo de dizer mais nada porque a menina começou a falar rapidamente no telefone. Depois de um tempo, falando sem parar, Alicia parou pra respirar e pediu pra sair com ele ‘Sair? Pra conversar?’ perguntou incerto do que responder ‘Olha, não sei... Ah, ok, não grite, eu vou. Daqui a pouco estou passando aí, está bem? Até’ e desligou. saiu do quarto vestindo seu blusão branco.
‘Pronto, podemos ir’ ela disse animada. levantou do sofá e entortou a boca.
‘Ahn, Alicia me ligou agora’ disse devagar. levantou as sobrancelhas, esperando ouvir mais ‘Ela quer sair comigo, pra conversar e resolver tudo. Eu falei que ia, mas se você quiser...’
‘Não, . Vai lá, sai com ela e acerta esse mal entendido’ ela disse tentando parecer compreensiva, mas no fundo se sentiu chateada por não poder sair com seu amigo.
‘Não tem problema pra você?’ ele perguntou querendo muito que ela dissesse pra ele não ir, mas isso não aconteceu.
‘Claro que não. A gente pode sair outro dia’ ela encolheu os ombros e sorriu, incentivando-o ‘E, olha, fala pra ela sobre o que aconteceu na sexta, assim ela vai entender que a culpa não foi sua’
‘Tem certeza?’ ele levantou as sobrancelhas e a menina apenas concordou ‘Ok, então... melhor eu ir agora. Te vejo mais tarde’ ele deu um beijo na bochecha dela, pegou as chaves do carro e saiu do apartamento.
ficou encarando a porta trancada, sem saber o que fazer. Parecia desnorteada pelo fato de ter sido praticamente trocada. Ela olhou em volta e balançou a cabeça. Não queria ficar sozinha ali dentro.
Sentou no balanço do playground abandonado e colocou as mãos nos bolsos. Ela tinha passado meia hora andando pelas ruas perto de casa até que teve a idéia de ir até o playground. Estava com fome, mas, por algum motivo, não quis parar em lugar nenhum pra comer. A verdade é que ela não queria almoçar sozinha. ficou olhando pro nada e brincando com as pedrinhas no chão do playground com os tênis. Ouviu um barulho conhecido de motor de automóvel e olhou pra frente. Viu descendo do carro e andando na sua direção. De certa forma ela não estranhou o fato de ele estar ali.
‘O que faz aqui?’ ele perguntou sorrindo. A menina deu de ombros.
‘Não estava com vontade de ficar no apartamento então saí pra caminhar’ disse simplesmente. sentou no outro balanço ‘Como foi com a Alicia?’
‘Ela acha que eu me preocupo mais com você do que com ela’ ele respondeu e olhou surpresa pra ele.
‘Só pode estar brincando’
‘Não, é sério. Eu falei pra ela o que aconteceu na sexta e ela começou a dizer que eu me importava mais com você do que com ela e coisas do tipo’ contou indiferente. Queria muito poder dizer pra que, de fato, aquilo era verdade. Alicia podia ser sua namorada ou qualquer outra coisa, mas ele não se importava com ela nem um terço do que se importava com .
‘Que maluquice! Ela é sua namorada, claro que você se importa mais com ela, isso é óbvio’ ela riu achando aquilo uma palhaçada da parte de Alicia. abriu a boca, mas não disse nada ‘Você desmentiu isso, não desmentiu?’
‘Ahn, claro’ ele respondeu fazendo que sim com a cabeça ‘Ela ainda insistiu no assunto, mas eu disse que nada daquilo tinha sentido e ela desistiu de discutir’
‘Então, está tudo bem entre vocês dois?’ ela perguntou e ele fez que sim de novo. Ela olhou pra frente e riu ‘E eu imaginando que se você contasse o que aconteceu na sexta ela ia ficar mais calma e te entender. Mas não, isso só te causou mais problemas’
‘Esquece, não tem importância’ ele abanou a mão. Ela mexeu com a cabeça e começou a se balançar devagar. ficou olhando pra garota ‘Ei, já almoçou?’
‘Nop’ ela disse ainda se balançando. Ele levantou.
‘Ainda topa um McDonald's?’ e ela olhou pra ele. Levantou rindo e acompanhou o garoto até o carro.
Cap. 53
Daquele dia em diante, as discussões entre e Alicia se tornaram freqüentes. E era o motivo de muitas delas. escondia isso da garota pra que ela não se sentisse mal ou até mesmo tentasse se afastar dele. Ele conseguiu fazer com que não soubesse de nada, mas não conseguiu manter seu namoro com Alicia por muito mais tempo. Em duas semanas, estava tudo acabado.
‘E foi isso’ era noite e tinha acabado de voltar de um encontro com Alicia. Estava sentado na poltrona da sala e acabara de contar à como seu namoro tinha terminado naquela noite ‘Não estava mais dando certo, nós andávamos brigando demais. Não valia a pena continuar daquele jeito’
‘É, acho que não valia mesmo. Vou pegar sorvete, quer?’ perguntou descruzando as pernas. negou com a cabeça ‘Terminar o namoro foi a coisa certa a fazer, . Alicia não te fazia feliz’ deu palmadinhas no joelho do garoto, como que o consolando, e foi pra cozinha.
‘O fato é que só você me faz feliz’ falou pra si mesmo, baixinho.
‘Disse alguma coisa?’ a cabeça de apareceu na porta da cozinha.
‘Nada não’ respondeu se esparramando na poltrona ‘Só pensei um pouco alto’
‘Oh, certo’ concordou e voltou pra perto da mesinha, se servindo de sorvete. Começou a falar baixo consigo mesma ‘Espero que o não fique mal por causa daquela Alicia, ela não merece. Foi melhor mesmo eles terem terminado, assim eu não vou ter mais que agüentar aquela nojentinha saindo com a gente. E ela nem era a menina certa pra ele’ e sorriu enfiando uma enorme colherada de sorvete na boca.
Três meses. passou mais três meses escondendo seus sentimentos, vendo o amor da sua vida 24 horas por dia, sem poder dizer o quanto sofria ao vê-la se arrumar pra sair com outros caras, nem o quanto se sentia aliviado quando ela lhe dizia ‘ele não me conhece como você me conhece, não é o cara certo pra mim’. E era assim que continuava esperando que , um dia, descobrisse que nenhum outro cara a conheceria como ele; descobrisse que ele era o cara certo pra ela; descobrisse que ele a amava acima de tudo e de todos.
Três meses. O número de shows do McFly aumentou e agora eles estavam se apresentando em outros barzinhos e outras casas de show; o namoro de e estava mais firme do que nunca, ainda mais depois que comprou as alianças que tanto queria quando eles fizeram cinco meses de namoro; e pareciam prestes a engatar alguma coisa realmente séria; e já tinham ficado três ou quatro vezes, mas preferiram manter a amizade; e continuava morando com , sem nem desconfiar dos verdadeiros sentimentos do garoto, até porque fazia muito tempo que eles não ficavam e ela quase nem se lembrava de que isso tinha acontecido um dia.
Três meses. A época de provas tinha terminado; os boletins finais estavam prestes a sair; os adolescentes estavam ansiosos pelos resultados dos vestibulares; a festa mais esperada pelos alunos do terceiro ano do colegial – o baile de formatura – já estava programada e os convites já estavam a venda; e as férias de fim de ano estavam finalmente chegando.
‘Esse ano passou voando’ comentou com a prima no último dia de aula, enquanto as duas guardavam os materiais escolares pra sair da sala.
‘O tempo voa quando bem aproveitado’ disse sorridente.
‘Você que o diga’ cutucou a prima, que deu risadinhas colocando a mochila nas costas.
‘Como se você não tivesse aproveitado bem seu ano aqui’ disse e teve que concordar com a cabeça.
‘Foi realmente maravilhoso viver aqui com vocês’
‘Foi? Como assim foi?’ perguntou desconfiada, franzindo a testa ‘Desse jeito até parece que você vai se mudar’
‘Mas que bobagem, ’ deu uma risada nervosa ‘É só modo de dizer’
abriu a boca pra falar alguma coisa, mas não teve tempo. A professora pigarreou chamando a atenção dos alunos e todos na classe se sentaram.
‘Senhores alunos, atenção por favor’ a professora disse solenemente ‘Hoje de manhã o diretor me entregou os boletins finais da turma do 3°A’ os alunos se mexeram inquietos nas carteiras ‘Como eu tenho de entregá-los, vou chamar aluno por aluno e vocês virão aqui na frente buscar. Por favor, não façam algazarra’
A tensão dos alunos era tanta que ninguém sequer abriu a boca pra falar, até que Jeff Conan soltou um: ‘Puta que pariu! Consegui um 7 em Inglês!’ assim que pegou seu boletim, fazendo os colegas caírem na gargalhada e a professora arregalar os olhos.
‘, ’ a professora chamou e quase correu pra pegar seu boletim.
‘Ah, graças a Deus’ ela voltou dizendo aliviada e se sentou novamente ‘Nenhuma nota vermelha, mas aquele maldito professor de Matemática podia ter me dado ao menos um 9. 8,75’ balançou a cabeça ‘Desgraçado’ e deu risada.
Depois que todos os boletins foram entregues e o sinal tocou, todos os alunos foram liberados. Aquela pareceu uma rebelião que tinha acabado de explodir: os alunos que tinham passado de ano berravam e pulavam e os que não tinham conseguido a mesma proeza comemoravam com os que tinham, sem pensar no próximo ano. Estava difícil andar no meio daquela gente toda, mas e conseguiram se espremer entre os colegas até chegarem no pátio, que estava incrivelmente mais vazio. As duas encontraram os amigos lá, cada qual com seu boletim na mão.
‘E então, como foram?’ perguntou assim que se aproximou deles.
‘Me dei bem, mas o professor de Matemática é um desgraçado’ disse mostrando o 8,75 no seu boletim.
‘Com toda certeza’ disse antes de beijar o namorado.
‘Digamos que passei suficientemente bem’ ergueu os ombros. , e concordaram com a cabeça, rindo.
‘Fiquei com 6 em Geografia, mas dane-se’ rolou os olhos ‘E você ?’
‘Fechei com 10 em tudo’ a garota respondeu visivelmente constrangida. Os amigos arregalaram os olhos.
‘CDF filha da mãe’ disse quando largou por um instante. mostrou o dedo do meio e todos riram.
‘I wanna hold you. My skies are turning black, feels like a heart attack’ cantarolava enquanto organizava as fotos na porta da geladeira.
Durante aquele tempo vivendo com , ela transformara a porta da geladeira em um segundo mural de fotos, visto que o que estava em seu quarto não comportou tantas fotos tiradas com os amigos. Ali havia fotos desde a primeira saída deles juntos, como um grupo de amigos mesmo, fotos de alguns shows da banda dos garotos, fotos das férias de meio de ano, entre muitas outras; a maior parte delas eram fotos de e .
‘And I do anything you ask’ ela continuou, segurando uma foto em que ela e estavam com os rostos muito próximos, um de frente pro outro, fazendo caretas.
quem tinha tirado a foto num dia friorento em que os oito não tinham nada pra fazer e resolveram passear no playground abandonado. Era inverno, usava uma touca com um pompom no topo da cabeça e o nariz de estava vermelho, como sempre ficava quando estava muito frio.
‘I wanna hold you bad’ ela sorria olhando pra foto.
‘Eu já disse que é bom ouvir você e as meninas cantando nossas músicas?’ entrou na cozinha perguntando. deu um pulo e a foto escorregou de sua mão.
‘Putz , que susto!’ ela exclamou rindo e abaixando pra pegar a foto, que escorregara pra debaixo da geladeira.
‘Susto por quê? Estava fazendo alguma coisa errada?’ ele cerrou os olhos.
‘Derrr, claro que não’ ficou em pé, com a foto na mão ‘Só que eu estava meio distraída, não esperava que você fosse entrar na cozinha assim’
‘Certo’ ele concordou abrindo o armário e começou a procurar alguma coisa pra comer. Respirou fundo e pigarreou ‘Animada pra formatura?’
‘Normal’ a garota respondeu indiferente, recolocando a foto na porta da geladeira.
‘Já recebeu algum convite?’ perguntou escondendo a ansiedade.
‘Se eu tivesse recebido, você saberia’ ela soltou uma risadinha ao responder o óbvio.
‘É, acho que sim. Bem, esses dias’ ele começou, tirando a cabeça de dentro do armário e segurando uma embalagem de Ruffles ‘eu comprei dois convites, sabe?! Estava pensando se...’ fez uma pausa pra respirar e olhou pra ele ‘Se você não quer ir comigo’
‘Claro! Acho uma ótima idéia’ ela disse animada, depois de alguns segundos que pareceram séculos para . O garoto sorriu com o canto da boca ‘Bom que não teremos problemas com horário, já que moramos juntos mesmo’
‘É’ ele disse apenas, contendo toda a alegria que estava sentindo por ter como seu par no baile de formatura.
‘Caramba, acho que vou precisar de um vestido!’ exclamou colocando a mão na testa e rindo ‘E você também vai precisar de um terno, ainda mais porque vai tocar com os meninos’ ela disse se lembrando que o McFly tinha sido convidado pra tocar na formatura do colegial ‘Temos que ver tudo isso, e tem que ser logo’ e abanou o indicador pra ele antes de sair da cozinha. passou a mão pelo rosto, sorrindo de orelha a orelha.
Cap. 54
tinha um plano em mente para o baile de formatura. Ele tinha o dia perfeito, a música perfeita, a oportunidade perfeita e, se tudo desse certo, teria a garota perfeita muito em breve. Era sábado de manhã, faltava apenas uma semana pro grande dia, quando aconteceu algo completamente inesperado. acordou com os gritos histéricos de . O garoto levantou da cama e correu pra sala, encontrando a garota com um sorriso enorme estampado no rosto.
‘Que diabo aconteceu pra você estar desse jeito às’ olhou pro relógio na estante ‘oito da manhã de um sábado?’
‘Você nem adivinha o que me aconteceu’ estava com o rosto iluminado de tanta felicidade.
‘Repetindo, são oito da manhã de um sábado. Eu ainda não estou completamente acordado pra conseguir adivinhar o que te aconteceu’ ele disse franzindo a testa e a menina gargalhou.
‘Esqueci que você só acorda de verdade depois das dez aos sábados, domingos, feriados e nas férias’ ela ria ‘Sendo assim, eu te digo o que aconteceu’ ela disse e agitou na frente do garoto um envelope e um papel azul claro ‘Eu consegui, !’
‘Conseguiu o que, mulher?’ ergueu os ombros, sem entender.
‘Consegui minha bolsa de estudos! Eu vou pra Harvard!’ disse pausadamente e começou a rir ‘Não é maravilhoso?’
sentiu como se alguém tivesse jogado um balde de água fria sobre sua cabeça. O horário ainda era o mesmo, mas agora ele estava completamente acordado. Harvard?! Não, não era possível. De onde tinha saído uma bolsa pra Harvard? Ela tinha que estar brincando, devia ser brincadeira, claro...
‘Só pode estar brincando’ ele disse quase gaguejando de nervoso ‘Uma bolsa pra Harvard? Mas... mas como?’
‘Eu mandei meus boletins e históricos escolares pra Harvard pelo correio na semana passada e pedi pra que eles avaliassem meu desempenho escolar durante todos esses anos’ explicava toda empolgada, sem perceber a cara de paisagem que estava fazendo ‘A carta da reitoria chegou hoje e eu consegui a bolsa de estudos! Ah meu Deus, eu nem acredito...’
‘Nem eu’ sacudiu a cabeça, mas só uma idéia permanecia lá dentro ‘Você... Você vai embora’
A alegria de pareceu diminuir lentamente, até que seu sorriso desapareceu por completo do rosto. Até então ela só tinha pensado na maravilha de ter realizado um sonho que tinha desde pequena, e o fato de que agora iria pros Estados Unidos, abandonando seus melhores amigos, nem tinha passado pela sua cabeça. Mas agora que tinha dito, ela não podia deixar de se sentir mal.
‘Puxa, eu nem tinha pensado nisso’ ela disse em voz mais baixa, com a mão na testa ‘Eu vou ter que me mudar, sair daqui, da Inglaterra e voltar a morar com meus pais nos Estados Unidos... ah que droga’
soltou um longo suspiro e se arrastou até o sofá, se sentando nele. achou que não conseguiria sair de onde estava, mas foi capaz de andar e sentar ao lado da garota. Os dois ficaram um tempo olhando pro chão, pensando no que dizer.
‘Você vai?’ perguntou tentando manter a voz calma e normal.
‘Desde minha primeira viagem pros Estados Unidos eu penso em ir pra Harvard, ’ olhou pro garoto e este a encarou também ‘É um sonho que eu tenho a chance de realizar agora, o que é realmente maravilhoso. Mas em compensação eu tenho uma vida aqui, tenho a minha prima, as meninas, os rapazes, tenho você’ ela ergueu os ombros e ele sentiu uma pontada no peito ‘Pra mim, é difícil deixar tudo pra trás, mas também é difícil abrir mão de uma oportunidade tão grande’
baixou a cabeça. Aquela carta de Harvard não tinha alterado o fato de o baile de formatura estar tão próximo, e nem tinha acabado com o dia perfeito, nem desfeito a música perfeita, nem destruído a oportunidade perfeita, mas estava prestes a mandar pra muito longe a garota perfeita de . Ele ainda podia colocar seu plano em prática, mas quem garantia que teria o mesmo efeito? Ao diabo com Harvard, ele não deixaria que nada estragasse seu plano, não deixaria que nada tirasse sua de perto dele. Mas, se ele a amava tanto assim, a felicidade dela não deveria ficar em primeiro lugar?
‘Não vou mentir pra você, ’ ergueu a cabeça e olhou a garota profundamente nos olhos ‘Eu não quero que você vá para os Estados Unidos, mas é como você disse, agora você tem a chance de realizar um grande sonho de muito tempo atrás. Portanto, quem decide é você’ ele deu um sorriso curto antes de levantar do sofá e voltar para o quarto, onde se trancou pra voltar a dormir. Talvez tudo aquilo não passasse de um sonho ruim.
esperou a porta do quarto de se fechar para deitar no sofá. Ela releu a carta da reitoria de Harvard várias e várias vezes, até quase decorar cada palavra que estava escrita. Ali estava a chance de entrar na universidade de seus sonhos, e sabia a importância daquilo. Ela ainda teria que ligar para seus pais e contar a novidade, talvez pedir uma opinião, mas já podia adivinhar o que ouviria. Eles não pensariam duas vezes antes de lhe enviar uma passagem de ida para os Estados Unidos. Apesar disso, eles respeitariam se a filha não quisesse ir pra Harvard, ainda mais porque ela tinha certeza de que, se conseguira a bolsa pra universidade americana somente pelas suas notas, conseguiria também passar nas quatro universidades inglesas pra qual tinha prestado vestibular. A decisão estava nas mãos de , e ela sabia o que devia fazer.
Três horas mais tarde, estava caminhando sozinho na praia. Ainda quando estava trancado no quarto, ouviu a porta do apartamento bater e aproveitou o fato de ter saído de casa pra sair também. Ele não fazia idéia de onde ela poderia ter ido, mas não fazia muita diferença no momento.
No final das contas ele não tinha conseguido voltar a dormir, e tudo o que acontecera mais cedo não fora um sonho ruim. Era realidade e ele tinha que aceitar isso, por mais dolorosa que fosse. Ele já sentira essa sensação de perda antes, quando os pais dela se mudaram e ela parecia obrigada a se mudar com eles, mas tudo tinha se resolvido e ela acabara ficando na Inglaterra. O problema é que agora não havia nada a se fazer, não havia resolução, ele não conseguia pensar em nada que pudesse fazê-la ficar. Claro, ainda podia decidir não se mudar e fazer uma boa universidade na Inglaterra mesmo, mas duvidava que ela optasse por isso. O sonho dela era ir pra Harvard e ela não cometeria a estupidez de jogar no lixo a oportunidade de realizar seu sonho.
parou para olhar o mar. Como seria respirar debaixo de toda aquela água? Pássaros voavam longe, perto da linha do horizonte. Como seria voar alto como eles? O céu estava azul e sem nuvens. Como seria lá em cima? Um dia ele iria lá pra cima? Como seria se o amasse também? Como seria o primeiro e último adeus entre eles? Ele gostaria de saber. Havia tantas coisas que ele desejava saber. Mas ele sabia apenas que ficaria bem com o tempo, ficaria bem se ela continuasse com ele. olhou pra baixo e afundou os pés na areia. Ele já tinha andado tanto, nem lembrava a que distância tinha parado o carro. Sentiu-se cansado e sentou na areia. Ficou olhando pro horizonte e sentindo a brisa leve que vinha do mar. Talvez todas as respostas de que precisava viessem com o vento.
Por mais de meia hora ele ficou apenas sentado, pensando e se perguntando sobre milhares de coisas e vendo o mundo passar. Parecia estar em transe quando seu celular tocou e ele despertou.
‘Alô’ atendeu com a voz um pouco vaga.
‘?’ era do outro lado da linha ‘Onde você está? Eu saí e você não estava aqui quando voltei. Tá tudo bem?’
‘Tudo certo, ’ ele respondeu e olhou pros lados ‘Estou na praia’
‘O que você está fazendo na praia?’
‘Andando’ ele disse apenas.
‘Andando? Pra onde? Por quê?’ ela questionou sem entender muita coisa. Por que diabos ele tinha ido parar na praia?
‘Eu só estava andando, . Só andando’
‘Oh, se você diz. Bem, volte pra casa então’ ela sorriu sentando no braço do sofá ‘tenho uma surpresa pra você’
‘Certo. Te vejo daqui a pouco’ ele disse e desligou.
ainda demorou uns minutos pra levantar. Não estava com ânimo pra surpresas, e ao ver o caminho que teria que fazer somente para chegar no carro se sentiu mais desanimado ainda.
‘E então, gostou?’ perguntou empolgada quando parou na frente do seu armário.
‘Um terno’ ele disse observando a roupa pendurada por um cabide na porta do armário ‘Legal’ disse sem empolgação.
‘Legal?’ arqueou uma sobrancelha, repetindo o que ele dissera com a mesma entonação ‘Com tantos elogios você escolhe justamente o mais murcho de todos?’
‘É um terno, . O que você queria que eu dissesse?’ perguntou se virando pra garota.
‘Bonito, bacana, demais, até mesmo supimpa... menos legal’ ela disse gesticulando ‘Eu saí e gastei uma nota nesse terno pra você, achando que você ia gostar e até mesmo me agradecer por ter arranjado uma roupa decente pra você ir na formatura e se apresentar com os outros garotos no baile, mas pelo visto nada disso vai acontecer. Você é realmente surpreendente, ’ ela cruzou os braços. coçou a cabeça.
‘Eu sinto muito, ok?! O terno é ótimo’ ele disse apontando pra roupa e fez uma cara de descrente ‘Sério, é muito bonito. Obrigado mesmo. Acontece que eu não estou muito animado’
‘Isso por causa do que aconteceu hoje de manhã, não é?’ ela perguntou, mas não deu tempo para que ele respondesse ‘Olha, eu não quero que você fique chateado por causa do que aconteceu mais cedo. Até porque não tem nada decidido ainda. Eu tenho até o final da semana que vem pra responder a carta da reitoria e tenho muito no que pensar até lá. E, se fosse possível, eu gostaria que nada entre nós mudasse porque isso não ajudaria em nada’
‘Você tem razão’ ele concordou, pois estava sem a mínima vontade de continuar naquele assunto ‘Eu prometo não me chatear e manter tudo como sempre foi’
‘E prometa também não comentar sobre Harvard com ninguém, ninguém mesmo’ ela pediu precavida. Não queria que ninguém ficasse sabendo antes de tomar sua decisão final.
‘Certo, eu prometo isso também’ ele ergueu a mão direita, como se estivesse fazendo um juramento. sorriu.
‘Você é um anjo’ disse e o abraçou ‘e vai ficar lindo naquele terno’ completou, fazendo sorrir ainda abraçado a ela. Não tinha como não sorrir quando estava ao seu lado.
‘A propósito, você comprou seu vestido?’ ele perguntou.
‘Comprei, e é melhor eu correr pra escondê-lo pra que você não o veja antes do dia do baile’ ela disse se soltando dele e saiu correndo na direção do seu quarto.
sentou na beirada da cama e soltou um longo suspiro olhando pro terno novo. Ainda tinha uma semana pra formatura, mas como seria o baile depois de tudo que tinha acontecido então?
Finalmente o dia do baile de formatura chegara. estava sozinho no apartamento porque tinha ido pro salão de beleza com as outras meninas. As quatro se arrumariam e se vestiriam lá, e era o responsável por buscar as quatro e deixar cada uma em sua casa. iria pro apartamento de mesmo, já que os dois iriam juntos pro baile, e e iriam buscar e respectivamente.
O baile começaria às nove da noite. Já era oito e meia e estava pronto, só precisava esperar chegar e os dois poderiam sair. Enquanto esperava pela garota, ele pensava na noite que tinha pela frente. O dia e a oportunidade já não pareciam perfeitos como antes, e a música... bem, a música era completamente diferente. Nos ensaios ocorridos durante toda a semana, os outros garotos não paravam de dizer que a nova música era ótima pra finalizar o show. achava que a anterior era muito melhor, mas ele não tivera tempo nem de apresentá-la pros amigos; ela apenas estava inutilmente escrita num papel guardado no fundo de uma das suas gavetas.
Quando faltavam quinze minutos pras nove e já estava cansado de andar de um lado pro outro no apartamento, chegou. Ele não se sentiu intimidado para admirá-la de cima a baixo: ela estava absolutamente bonita, com os cabelos soltos em grandes cachos e um vestido simples, preto, que lhe chegava até os joelhos, com uma larga fita vermelha de cetim sob os seios.
‘Você está um gato’ disse antes que sequer pudesse abrir a boca para elogiá-la. A camisa branca e a gravata preta combinaram direitinho com os... ‘Vans!’ exclamou olhando pros pés dele, calçados com os tênis quadriculados. Riu ‘Ficaram ótimos, adorei!’
‘Obrigado. Acho que essa é a segunda vez que te vejo de vestido, e você está maravilhosa’ elogiou quando conseguiu arrumar alguma coisa pra dizer e manter seus olhos apenas no rosto da garota.
‘Bondade a sua’ ela disse com um sorriso enorme no rosto, fazendo um gesto com a mão ‘Está com os convites?’ perguntou e mostrou os convites pro baile ‘Melhor irmos então. Provavelmente o diretor vai querer conversar com vocês sobre o show antes daquela cerimônia toda’
apenas concordou e os dois saíram do apartamento falando sobre o baile.
‘Você deveria usar mais vestidos, . Fica tão bonita neles’ elogiou assim que a garota se aproximou da mesa. Inteligentemente, conseguira reservar uma única mesa pros oito, e todos já estavam sentados lá.
‘Obrigada. Vocês ficaram uma graça de terno, meninos’ disse se sentando e sorrindo pros amigos. Ela não viu, mas os três também estavam de tênis.
O buffet onde seria realizado o baile de formatura tinha dois andares, com uma pista espaçosa no térreo e um palco suficientemente grande para comportar os instrumentos do McFly, que já estavam montados e organizados. Por causa da época fria, os aquecedores estavam ligados, deixando um ar quente e agradável percorrer o local. Um DJ estava mais no canto do salão, agitando o começo da festa com algumas músicas atuais, e todo o salão estava muito bonito, em tonalidades de preto e prata. Os formandos estavam impecáveis, exibindo ternos e vestidos belíssimos.
Mas, apesar da bela decoração e de todas aquelas roupas impecáveis, o centro das atenções era a mesa onde os meninos do McFly estavam. Não só pelas garotas, que estavam maravilhosas – estava com um vestido azul marinho, decotado e pontilhado de pedrinhas brancas; usava um vestido branco esvoaçante, com detalhes em prata; e estava com um tomara-que-caia rosa claro – mas principalmente pelos meninos, que seriam a principal atração daquela noite.
‘As pessoas parecem ansiosas para o show’ comentou se sentando ao lado de , percebendo os olhares sobre a mesa deles.
‘Não era de se esperar outra coisa’ ergueu os ombros ‘É uma noite importante pra todos que estão aqui, e todos esperam pelo melhor’
‘Isso chega a ser assustador’ disse parecendo aterrorizado e todos riram.
‘Deixa de ser bobo’ deu um tapa no braço dele ‘Você já se apresentou várias vezes antes, hoje não vai ser diferente’
‘Relaxem, vocês já tem prática e ensaiaram pra tocar hoje. Vai dar tudo certo’ sorriu confiante e levantou ‘Agora, vamos dançar porque eu não estou a fim de ficar parada’ disse e arrastou pra pista antes que o garoto pudesse dizer qualquer coisa.
Todos os outros levantaram e foram pra pista dançar, exceto e que preferiram ficar “tomando conta da mesa”.
Cerca de uma hora depois, a música parou e o diretor subiu no palco. Depois de longos discursos, tanto do diretor como de um formando que fora eleito como orador das turmas, começou a entrega dos diplomas. Alguns formandos fizeram graça em cima do palco e outros chegaram a gritar algumas palavras desconexas fazendo os colegas rirem, mas , e os amigos não fizeram nem disseram nada, apenas pegaram seus diplomas, apertaram a mão do diretor e voltaram pra pista pra comemorar. parecia prestes a chorar quando pegou seu diploma, mas estava sorrindo quando voltou pra perto dos amigos, então ninguém percebeu nada.
‘Bem, mais uma vez, parabéns formandos’ o diretor disse ao microfone quando o último formando desceu com seu diploma na mão ‘Agora, gostaria de chamar ao palco os meninos que vão tocar essa noite. Por favor, McFly’
e as meninas correram pra deixar seus diplomas e os dos garotos na mesa pra poderem voltar pra pista, enquanto eles subiam no palco e os colegas aplaudiam e gritavam.
‘Boa noite, pessoal’ Danny disse ao microfone ‘Bem, parabéns a todos que estão aqui. Não foi fácil chegar aonde chegamos, e acho que agora temos direito a um pouquinho de diversão, não?!’ ele perguntou e todos gritaram concordando ‘Maravilha. Pra esquentar, vamos começar com Saturday Night’
Praticamente todos os presentes conheciam a música, visto que os meninos já a tinham tocado no colégio, e por isso mesmo a galera berrou mais do que nunca por saberem a letra da música e gostarem dela. As garotas correram de volta pra pista, fazendo grande esforço pra ficarem o mais perto do palco possível, e começaram a agitar com os colegas. Era ótimo ver seus amigos no palco e ótimo poder curtir o som deles com mais gente curtindo junto. Era como se eles estivessem fazendo um grande sucesso.
Depois de Saturday Night, Five Colours In Her Hair, The Guy Who Turned Her Down e I’ll Be Ok, Tom asseou a garganta pra falar ao microfone.
‘Valeu galera, mas vamos acabar por hoje’ e todos começaram a pedir por mais ‘Pra finalizar uma música inédita pra vocês. Essa se chama Walk In The Sun’
Quando ouviram os acordes mais lentos, , , e decidiram voltar pra mesa. Elas não tinham par pra dançar uma música lenta, e seria mais fácil prestar atenção na nova criação dos garotos se estivessem sentadas e não dançando.
‘I wonder what it's like to be loved by you (Eu me pergunto como é ser amado por você)
I wonder what is like to be home (Eu me pergunto como é estar em casa)
And I don't walk when there're stones in my shoe (E eu não ando quando tem pedras em meu sapato)
All I know that in time I'll be fine (Só o que eu sei é que com o tempo eu ficarei bem)
I wonder what it's like to fly so high (Eu me pergunto como é voar tão alto)
Or to breathe under the sea (Ou respirar embaixo d'água do mar)
I wonder if someday I'll be good with goodbyes (Eu me pergunto se algum dia eu serei bom em despedidas)
But I'll be ok if you come along with me (Mas eu ficarei bem se você vier comigo)
It's such a long, long way to go (É um longo, longo caminho para ir)
Where I'm going, I don't know (Para onde eu estou indo, eu não sei)
Yeah, I'm just following the road (Sim, apenas estou seguindo a estrada)
Through a walk in the sun (Caminhando sob o sol)
Through a walk in the sun (Caminhando sob o sol)’
A música falava sobre perguntas, sobre a vontade que se tem de saber algo, sobre a melhora com o tempo, sobre caminhos que seguimos, e sobre despedidas. se sentiu particularmente tocada quando ouviu sobre despedidas, mas não percebeu que aquela era mais uma música onde expunha seus pensamentos e sentimentos. Ele notou que ela não tinha percebido nada, mas achou melhor assim porque sabia que se ela percebesse, aquele brilho nos olhos dela se apagaria e eles se tornariam tristes. E ele não queria entristecê-la com sua música; de tristeza, a dele já era suficiente.
‘I wonder how they put a man on the moon (Eu me pergunto como eles colocaram um homem na lua)
I wonder what is like up there (Eu me pergunto como é lá em cima)
I wonder if you'll ever sing this tune (Eu me pergunto se você algum dia cantará essa melodia)
All I know is the answer is in the air (Tudo que eu sei é que a resposta está no ar)
It's such a long, long way to go (É um longo, longo caminho para ir)
Where I'm going, I don't know (Para onde eu estou indo, eu não sei)
Yeah, I'm just following the road (Sim, apenas estou seguindo a estrada)
Through a walk in the sun (Caminhando sob o sol)
Through a walk in the sun (Caminhando sob o sol)
Sitting and watching the world going by (Sentado e olhando o mundo passar)
Is it true when we die, we go up to the sky (É verdade que quando morremos nós vamos para o céu?)
So many things that I don't understand (Tantas coisas que eu não entendo)
Put my feet in the sand when I'm walking in the sun (Coloco meus pés na areia quando estou caminhando sob o sol)
Walking in the sun (Caminhando sob o sol)’
sentia vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Era bonito ver os casais dançando devagar na pista e a música era linda, mas incrivelmente triste. Ela desejou ter a resposta de todas aquelas perguntas que perpetuavam naquela letra tão profunda e tocante. A música quase chegava a ser apropriada pro momento que estava prestes a se seguir. A vontade de chorar estava prevalecendo e um nó na garganta estava começando a se formar. Calma, pediu a si mesma.
‘It's such a long, long way to go (É um longo, longo caminho para ir)
Where I'm going, I don't know (Para onde eu estou indo, eu não sei)
Yeah, I'm just following the road (Sim, apenas estou seguindo a estrada)
Through a walk in the sun (Caminhando sob o sol)
Through a walk in the sun (Caminhando sob o sol)’
Houve uma explosão de aplausos quando os últimos acordes foram tocados. Quem estava sentado, levantou pra aplaudir, incluindo as garotas. viu que algumas pessoas estavam chorando e sorriu por poder compreendê-las. Os aplausos foram tão prolongados que quase não foi possível ouvir os garotos agradecendo aos colegas. Enquanto eles desciam do palco e caminhavam até a mesa, uma nova música já estava rolando – o DJ aproveitou o clima de calmaria que tomou conta dos adolescentes depois da última canção do McFly para colocar umas músicas mais lentas e românticas.
‘Ah, que música mais linda!’ elogiou toda derretida assim que os garotos se sentaram.
‘Apaixonante’ disse depois de um longo beijo do namorado.
‘Nossa música ou isso?’ perguntou apontando pra com cara de desdém. deu um tabefe no amigo e todos riram.
‘Vocês estão melhores a cada dia’ disse sorridente, encostando a cabeça no ombro de .
Os meninos começaram a se gabar, fazendo as garotas rirem, exceto que permaneceu séria o tempo todo. Assim que as gracinhas dos garotos acabaram, resolveu desentalar logo o que estava preso na sua garganta desde que saíra do apartamento com .
‘Gente, mudando um pouquinho de assunto’ ela começou e todos na mesa olharam pra ela. sentiu um calafrio percorrer suas costas ‘Eu tenho uma coisinha pra falar pra vocês. E queria que vocês me deixassem falar, porque é importante’
permaneceu com os olhos vidrados em enquanto os outros se entreolhavam curiosos e voltavam a olhar pra garota. Ele sabia o que estava por vir, por mais que dissesse a si mesmo que estava errado, que nenhuma de suas conclusões era certa, que tinha escrito aquela música se colocando numa situação que nunca aconteceria, ele sabia.
‘Há uma semana eu recebi uma carta que eu esperei durante muito tempo, com a qual eu sonhei desde que eu era pequena’ disse e fez uma pequena pausa, respirando fundo ‘Eu pedi e lutei por essa carta, e consegui tê-la em minhas mãos. Essa carta é da reitoria da universidade de Harvard...’
arregalou os olhos imediatamente. Ela conhecia o sonho que a prima tinha desde pequena, mas não era possível. Sua prima não podia estar falando disso. Não naquele momento, não exatamente na formatura, não depois dos vestibulares. Simplesmente não podia.
‘Depois de uma análise dos meus boletins e históricos escolares, a reitoria de Harvard se decidiu por me conceder uma bolsa de estudos pra cursar faculdade lá’ disse lentamente.
‘Me diz que você está brincando’ pediu, segurando com força a mão de ‘Diz que é brincadeira, . Por Deus...’
‘Você sabe que eu nunca brincaria com isso, ’ ela disse carinhosamente para a prima ‘Estudar em Harvard é um sonho que eu tenho desde pequena, e agora eu tenho a chance de realizá-lo. Durante todos esses dias eu pensei nas coisas que teria pela frente e deixaria para trás se optasse pelo meu sonho; pensei no quanto eu estudei pra obter essa bolsa, sempre mantendo minhas notas no nível mais alto possível; pensei nos meus pais e no quanto eles ficariam orgulhosos de mim; pensei em vocês’ ela correu o olhar pela mesa, sorrindo tristemente para os sete que a olhavam meio surpresos meio intrigados ‘e em tudo que passamos juntos durante esse ano; e também pensei em mim. Eu sinto muito, mas não fui capaz de abrir mão de algo que eu quis desde que me entendo por gente’
‘Não’ soltou a palavra num murmúrio. e arregalaram os olhos e abriram a boca. , e olharam rapidamente pra antes de voltarem a olhar pra . apenas apertou os olhos, esperando pelo final.
‘Ontem, quando o saiu pro ensaio da banda, eu liguei pros meus pais e contei sobre a carta. Depois de conversar com eles, saí e mandei pelo correio minha resposta à reitoria da universidade’ sentiu lágrimas nos olhos e permitiu que apenas uma rolasse pelo seu rosto ‘Voltei pra casa, liguei pro aeroporto e comprei uma passagem. Eu viajo dia 26, um dia depois do Natal’
Cap. 56
Ele tinha perdido. Era simplesmente isso, ele tinha perdido. E não acabara de perder, ele perdera desde que ela recebera aquela maldita carta vinda dos Estados Unidos, de Harvard. Mas só então o fato havia sido confirmado, e agora, mais do que antes, ele mantinha aquela sensação de perda presa dentro de si mesmo. Tinha que se controlar, precisava se manter firme, não podia simplesmente jogar tudo pro alto e agarrá-la ali mesmo, declarando todo o seu amor, pois isso seria mais danoso aos dois do que a partida dela e a perda dele. não moveu um músculo da face, ficou apenas olhando pra e esperando por algo mais. Também desejava íntima e profundamente que ela dissesse que estava mentindo e brincando com todos que estavam ali, mesmo sabendo que isso não aconteceria jamais.
‘Mas que droga, !’ exclamou, se levantando da cadeira. Sua tristeza parecia ter se transformado em indignação. tentou fazer com que ela voltasse a sentar, mais foi em vão ‘Pensei que você quisesse ter uma casa de verdade para não precisar passar o resto da sua vida se mudando de um país para outro. Mas agora que você finalmente conseguiu isso, está abrindo mão por causa de uma faculdade idiota. Você tem consciência do que está fazendo? Está realmente ciente do que está fazendo da sua vida?’
‘Sim, eu tenho’ respondeu mantendo-se calma, engolindo o choro e enxugando a bochecha por onde aquela única lágrima havia escorrido ‘A faculdade pra qual estou indo não é idiota, é excelente. Estudando lá eu terei mais chances de ter um futuro melhor. E isso é importante pra mim, mais importante do que uma casa na Inglaterra’
‘Também é mais importante que seus amigos?’ perguntou se apoiando na mesa, com a testa franzida. engoliu em seco e ficou muda por um momento. Todos a encararam seriamente.
‘Nada é mais importante que meus amigos’ ela respondeu numa voz amarga.
‘Então por que está deixando seus amigos para trás?’
‘Será que você não consegue entender, ? Se ponha no meu lugar por um minuto, droga!’ também se levantou. A conversa de antes se transformava numa discussão levemente acalorada. Os seis que estavam sentados olhavam de uma garota para outra, apenas ouvindo o que elas diziam ‘Eu lutei por essa bolsa de estudos durante todo o tempo em que estive no colégio e agora finalmente a consegui. E, além de um sonho que se realiza, estamos falando da minha vida daqui a alguns anos. Poxa, é o meu futuro que está em jogo!’ ela sentiu uma labareda de raiva queimar dentro de si por não estar recebendo a compreensão que esperava, ao menos, da parte da prima. E aquela raiva estava fazendo com que um outro nó se formasse em sua garganta. Ela sabia que hora ou outra acabaria chorando, mas gostaria de adiar aquele momento ‘Eu não posso simplesmente jogar uma oportunidade deste tamanho pela janela. Talvez, mais tarde, eu me arrependa por ter preferido ir pra uma faculdade nos Estados Unidos do que ficar na Inglaterra com os meus amigos, mas eu vou correr esse risco, está decidido. Se eu me arrepender, o problema é meu! Quem vai sofrer com isso sou eu!’ e saiu correndo da mesa, já chorando.
Muitas pessoas no salão ficaram olhando enquanto corria por entre os formandos e convidados rumo ao segundo andar do salão, mas na mesa todos olhavam pra com um ar de reprovação, até mesmo . baixou e balançou a cabeça. ficou em pé no momento em que ela sentou.
‘Com licença’ ele disse apenas e se afastou da mesa, copiando o caminho que acabara de fazer.
O segundo andar do salão não parecia tão espaçoso quanto o térreo, mas chegava a ser mais bonito. Também estava decorado em tons de preto e prata, mas lá não havia mesas grandes para muitas pessoas, nem um palco, nem uma pista. Havia uma mesa principal, bem no centro do ambiente, onde estava servido um buffet aparentemente apetitoso e mesinhas com lugares para apenas duas pessoas. A maior parte destas mesinhas já estava ocupada pelos casais presentes no baile, mas conseguira encontrar uma vaga e foi lá que a encontrou chorando baixinho.
Ele chegou silenciosamente e sentou numa cadeira que estava na frente da dela. Ela nem tentou esconder o choro, sabia que era esse o motivo de ele estar ali e se sentia intimamente grata por alguém se preocupar e se importar o suficiente com ela ao ponto de segui-la para saber como ela estava. Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, de cabeças baixas, apenas ouvindo as vozes das pessoas ali perto e a música que vinha do térreo.
‘Ela não quer que você vá, entenda’ foi quem falou primeiro.
‘Eu entendo, mas ela não precisava ter falado daquele jeito comigo’ meio que choramingou ‘Poxa, eu já não estou muito bem por ir pros Estados Unidos em breve e ela ainda vem brigar comigo... isso me deixou mal’
‘É, eu sei. Ela podia ter sido mais delicada mesmo’ fez um gesto de concordância e ergueu a cabeça ‘Mas eu devo dizer que tive os mesmos pensamentos que ela quando você disse que iria embora’
‘Bom, pelo menos você não brigou comigo’ ela ergueu os ombros, fungando.
‘Eu nunca faria isso. Você tem todo o direito de escolher ir ou ficar, e foi o que você fez’ ele disse paciente, escondendo a amargura que fazia seu peito doer profundamente. Precisou lembrar a si mesmo de manter o controle antes de continuar a falar ‘Não vou dizer que sua escolha me agrada, porque não agrada’ ele mordeu a boca quando ergueu a cabeça para olhá-lo nos olhos. Um pouco da maquiagem dela estava borrada e escorria pelas suas bochechas, desenhando o caminho que as lágrimas tinham feito em seu rosto, mas ainda assim ela estava bonita ‘Me dói saber que você vai embora daqui a apenas uma semana. Me dói saber que vou voltar a morar sozinho, que não vou mais ver você andando de skate no parque, que não vou mais acordar e encontrar você tomando café da manhã na cozinha, que não vou mais ter sua companhia, que não vou mais ter com quem passar noites e madrugadas vendo filmes velhos e comendo chocolate ou tomando sorvete e que não vou mais ouvir suas gargalhadas ecoando pelo apartamento. Me dói demais saber que eu não vou mais ver você sorrindo todos os dias, porque seu sorriso é o mais verdadeiro e bonito que eu já vi em toda minha vida’
‘Ah ...’ disse num meio sorriso, deixando duas lágrimas pesadas caírem sobre o tampo da mesa.
‘Eu adoro estar com você e adoro você acima de qualquer coisa. Mas, mesmo desejando profundamente que você não vá embora, eu respeito a sua decisão exatamente por adorar tanto você. Se estudar em Harvard vai te fazer feliz, então vá pra lá e estude. Não importa onde você esteja, se você for feliz, eu serei feliz’
não conseguiu dizer nada. Apenas se levantou rapidamente e fez o mesmo, sabendo que ela iria abraçá-lo. E foi exatamente isso que ela fez. O abraçou como nunca tinha feito antes, como se aquele fosse o último adeus. Ela sabia que ainda teria que passar por isso novamente, quando realmente estivesse indo embora, e não achou que poderia agüentar tamanha dor mais uma vez que fosse. Sim, ele tinha falado em dor, e cada palavra dele provocou uma dor aguda no coração dela, mas saber que, apesar de tudo, ele aceitava sua decisão, lhe dava uma grande sensação de alívio. Além disso, ter dito tudo aquilo fora a maior prova de fidelidade, compreensão, carinho e amizade que ele pudera dar a . Uma pena não ter sido exatamente isso que ele quis dar a ela.
‘Obrigada por me entender e me respeitar, ’ ela disse baixinho ao ouvido dele, apertando-o mais no abraço ‘Eu também te adoro, muito, muito mesmo. Você é meu melhor amigo e sabe disso’
‘Sei’ disse apenas, com a decepção presa na garganta. Ele percebeu que ela não tinha entendido suas reais intenções, mas não faria e nem diria nada pra fazer com que ela entendesse. Na verdade ele não queria mais dizer nem fazer nada naquele momento; só ficar ali, abraçado com , parecia o suficiente. Mas eles não podiam passar o resto da noite ali ‘Vamos, melhor descermos. deve estar querendo se desculpar com você, os outros vão querer te dizer alguma coisa e nós ainda temos o fim de um baile pela frente’
‘Você tem razão’ ela concordou se soltando dele ‘mas eu devo estar horrível agora’
‘Não, não, você nunca fica horrível’ ele disse passando as mãos pelo rosto dela, limpando um pouco da maquiagem borrada. A garota deu um sorriso choroso.
‘Mesmo assim eu vou passar no banheiro e dar um jeito nessa minha cara’
‘Vou ficar esperando você aqui’ ele deu um beijo na testa dela e se sentou vendo dar uma corridinha até o banheiro.
‘Ah prima, eu sinto muito’ abraçou assim que ela e voltaram para a mesa ‘Eu não queria ter falado daquele jeito com você, não queria ter brigado com você... eu só não quero que você vá embora, não quero mais ficar anos sem te ver’
‘Tudo bem, eu entendo’ disse quando elas partiram o abraço ‘Não faz mal, já passou’ ela sorriu e se sentou ao lado de . Todos olhavam pra ela.
‘Claro que ninguém aqui quer que você se mude, ’ começou, parecendo muito chateada com tudo ‘mas se é isso que você quer, o mínimo que podemos fazer é respeitar’
‘Compreensão é fundamental numa relação de amizade’ disse sério ‘Nós te compreendemos, ’
‘Você disse que, mais tarde, pode se arrepender de ter preferido ir pros Estados Unidos a ficar na Inglaterra com seus amigos’ disse com um meio sorriso ‘E talvez, mais tarde, nós também poderemos nos arrepender de ter deixado você ir embora. Mas nós também correremos o risco, tentando fazer com que você seja feliz’
‘Independente de qualquer coisa, nós vamos estar do seu lado pro que der e vier’ disse e concordou.
‘Sem dúvidas. Estaremos ao seu lado, mesmo com milhões de quilômetros de distância nos separando’ ele disse e coçou a cabeça ‘Isso é meio difícil, mas... bom, acho que você entendeu’
Mesmo num momento como aquele, não foi possível segurar o riso. nunca se esqueceria da capacidade de para descontrair as pessoas.
‘Não se preocupe, , eu entendi sim’ disse sorrindo para o amigo ‘E obrigada pela compreensão de todos vocês, isso é muito importante pra mim’ ela disse correndo o olhar pela mesa. Sentiu que se falasse mais uma vez sobre a mudança começaria a chorar de novo, e ela não queria que isso acontecesse ‘Eu achei que deveria contar tudo hoje porque seria muito injusto comentar sobre minha viagem um dia antes dela acontecer, mas agora eu não quero mais falar sobre esse assunto, por favor. Nosso baile de formatura ainda não acabou, nós temos um bocado de festa pela frente e eu não quero ver ninguém chateado por minha causa. Vamos aproveitar enquanto podemos’
‘Falou tudo’ fez sinal de positivo com as duas mãos e levantou da cadeira ‘Alguém quer dançar?’
Ninguém titubeou antes de levantar também e seguir a menina. Aquele não era uma noite pra baixo-astral, não mais.
Voltar pra casa naquele silêncio todo dentro do carro estava sendo torturante. Não havia outra palavra, era simplesmente torturante. Toda a melancolia parecia ter voltado assim que as portas do carro de haviam sido fechadas. não abrira a boca desde que se despedira dos amigos, não conseguia falar nada e o rádio estava desligado. Num semáforo fechado, começou a tamborilar no volante.
‘Liga o rádio’ ele pediu.
‘Se não se importa, não estou com muita vontade de ouvir música’ disse encarando a rua lá fora, pela janela ‘Já ouvi música o bastante por essa noite’
‘Certo’ ele concordou e parou de tamborilar ‘O que achou do baile?’
‘Acho que fiz dele uma porcaria’ ela disse e sentiu que o garoto a olhava de rabo de olho ‘Tudo bem que todo mundo dançou e curtiu no final, mas ninguém estava animado como no começo. Fui eu quem provocou isso, eu estraguei o baile’
‘Tire essas idéias da cabeça’ disse acelerando o carro quando o farol ficou verde ‘Você não provocou nem estragou nada, todos aproveitaram o que tinham que aproveitar. E, uma hora ou outra, eles teriam que saber sobre Harvard. Você mesma disse que seria injusto contar tudo um dia antes da sua mudança. Hoje foi o dia certo pra isso’
‘Certo?’ virou a cabeça para olhar pra ele ‘Hoje foi um dia quase tão ruim pra contar sobre minha mudança quanto a véspera dela seria’
‘Veja bem, o que está feito, está feito. E eu repito: você não provocou nem estragou nada. Agora, deixe as coisas acontecerem e o tempo passar pra que todo mundo ponha as idéias no lugar’ ele disse, visto que ele mesmo ainda precisava colocar algumas idéias no lugar.
‘Ok...’ ela baixou a cabeça e começou a brincar com a faixa de cetim vermelho do seu vestido ‘Como acha que vai ser no dia em que eu for embora?’
‘Acho que... deprimente’ ele respondeu, não conseguindo pensar em outro modo de descrever a partida dela. soltou um suspiro profundo.
‘Estava pensando... você poderia me levar ao aeroporto?’ perguntou ainda de cabeça baixa ‘Eu não gostaria de precisar chamar um táxi e... quero ter você por perto quando estiver realmente indo’ e olhou pra ele. segurou o volante com força e umedeceu os lábios antes de responder.
‘Claro’ disse apenas. Então ele a acompanharia até o último minuto, estaria perto dela até o último segundo. He wonders if someday he'll be good with goodbyes...
Cap. 57
Faltava uma semana exata para o Natal e, conseqüentemente, uma semana e um dia para a partida de . Para todos, aquela semana foi, no mínimo, complicada. Os amigos tentaram passar o maior tempo possível juntos, aproveitando aquele comecinho de férias e aquele finalzinho da estadia de na Inglaterra.
Como já era de se esperar, o que mais ficou abalado com essa contagem regressiva foi . O garoto parecia tão desanimado e abatido que as garotas, exceto obviamente, começaram a notar que ele estava sofrendo mais do que qualquer outro envolvido na situação.
No dia 23, os oito resolveram se reunir na lanchonete perto do antigo colégio. Aproveitando que e ainda não tinham chegado, resolveu comentar sobre algo que a estava intrigando muito. Ela não conseguiria ficar de boca fechada por muito tempo.
‘Vocês não acham que o está muito estranho esses dias?’ ela perguntou e todos a encararam ‘Ele parece ter se afetado muito com a mudança da ’
‘Verdade’ concordou ‘Não que nós não estejamos chateados porque ela vai embora, mas ele parece estar mais deprimido do que todo mundo’
‘Deixem ele’ balançou a cabeça, tentando livrar o amigo. Ele devia ter imaginado que, uma hora ou outra, os outros começariam a desconfiar dos sentimentos de em relação à ‘Ele só está assim porque vai voltar a morar sozinho, entendam’
‘Eu acho que tem mais coisa por trás disso’ disse e as outras meninas fizeram que sim com a cabeça. olhou pra e , pedindo apoio. Eles tinham que dar um jeito de esconder a verdade delas.
‘Pensem só’ começou, depois de pensar um pouco ‘Vamos supor que vocês morem com alguém durante quase um ano. Essa pessoa, de uma forma ou de outra, acaba se tornando muito importante pra você, tanto como companhia como amiga. Depois de todo esse tempo vivendo 24 horas juntos, essa pessoa resolve se mudar pra outro país. Vocês não ficariam infelizes?’
As meninas se entreolharam e tiveram que concordar. resolveu falar alguma coisa também.
‘É como nossos pais’ ele disse e todos franziram a testa, sem entender ‘Nós vivemos 24 horas com eles, são essenciais nas nossas vidas. mora sozinho há dois anos, imaginem como ele não se apegou a quando ela passou a morar com ele e lhe fazer companhia’
‘Aí é que está o negócio’ bateu com a mão na mesa da lanchonete ‘Ele se apegou demais a ela. E não é como se eles fossem parentes ou coisa assim, senão eles não teriam se beijado’
‘Eles se beijaram?’ e perguntaram ao mesmo tempo, quase gritando, exasperadas. e arregalaram os olhos, também surpresos com a novidade. olhou feio pra namorada, a recriminando por ter dito aquilo.
‘É, se beijaram’ respondeu meio que de má vontade ‘Algumas vezes, mas nada realmente significativo’
‘Mesmo assim!’ exclamou ‘Como é que você não conta uma coisa dessas pra gente? Caracas... que progresso do ’
‘Progresso?’ franziu a testa ‘Como assim?’
‘Você e sua boca enorme’ deu um tapa na cabeça de ‘Gênio’
‘É impressão minha ou vocês três estão escondendo alguma coisa da gente?’ perguntou pros garotos. Eles se entreolharam e suspirou.
‘O é completamente apaixonado pela . Pronto, falei’ disse. O queixo das meninas caiu instantaneamente.
‘Eu bem que imaginei’ disse pensando nas suas desconfianças ‘Eu achei mesmo que tinha alguma coisa por trás disso, ainda mais depois do beijo... mas a sempre me disse que não’
‘Ela disse que não porque não tem nada da parte dela’ explicou ‘O gostar dela não faz com que o sentimento seja recíproco’
‘Imagino que não’ disse coçando a cabeça ‘Ainda mais por ela ter namorado o Duncan e panz’
‘Será que não mesmo?’ estreitou os olhos ‘Lembra quando o começou a namorar a Alicia? A ficou bem aborrecida com isso’
‘Nós também achamos que ela estava com ciúmes dele nessa época’ se lembrou de uma conversa que tiveram na sala de aula ‘Mas, mais tarde, acabamos descartando essa hipótese porque ela pareceu aceitar o namoro dele com o tempo’
‘Verdade’ concordou ‘Mas, caramba, desde quando ele gosta da minha prima?’
‘Desde a primeira vez que a viu’ respondeu e as meninas pareceram surpresas novamente ‘e só foi, digamos, piorando com o tempo. A grande amizade entre eles e o fato de eles morarem no mesmo apartamento só nutriu o sentimento do ’
‘Que safado!’ exclamou, meio rindo ‘Então foi por isso que ele deu a idéia de ela ir morar com ele’
‘Não pense bobagem’ interveio ‘Ele sempre teve muito respeito pela ’
‘Eu sei ’ mostrou a língua pra ele ‘Eu nunca pensaria isso do . Falei que ele é safado no sentido de esperto, não de pervertido’
‘Agora eu consigo entender porque ele está tão abatido com a mudança da ’ disse balançando a cabeça ‘Coitado, deve estar sofrendo tanto’
‘A gente podia fazer alguma coisa’ sugeriu, pensando em alguma forma de, ao menos, tentar ajudar o garoto ‘Tipo, eu poderia conversar com a minha prima, talvez convencê-la a ficar, ou...’
‘Nenhum de nós vai fazer nada’ disse direto ‘Primeiro porque o ficaria uma fera ao saber que eu, o e o contamos pra vocês que ele é apaixonado pela . Segundo porque, se alguém tem que fazer alguma coisa em relação a tudo isso, esse alguém é o próprio . E terceiro porque nós não podemos fazer nada mesmo’
‘Tem certeza?’ olhou pro namorado com cara de pidona.
‘Tenho’ respondeu sem se deixar levar por ela. Ele tinha que pensar no que seria melhor pro amigo. Se é que poderia se dizer “melhor” nesse caso.
‘Oh oh’ disse olhando pra porta da lanchonete ‘O assunto chegou’ disse, avisando que e tinham acabado de entrar.
‘Pelo amor de Deus, finjam que essa conversa não existiu’ alertou as garotas.
‘É, bico calado’ enfatizou e as três concordaram rapidamente com a cabeça.
‘Hey gente’ cumprimentou chegando perto da mesa ‘Demoramos muito?’
‘Que nada’ abanou a mão, usando a voz mais normal possível.
‘Já pediram alguma coisa pra comer?’ perguntou se sentando ao lado de .
‘Ainda não’ negou com a cabeça ‘Achamos melhor esperar por vocês’
‘Escolham aí então’ indicou o cardápio que estava em cima da mesa. Ele não reparou, mas , e o encaravam com uma nítida expressão de pena. De alguma forma, agora que estavam a par de tudo, queriam ajudá-lo. Mas, como havia dito, não havia simplesmente nada que pudessem fazer.
‘Você não notou alguma coisa estranha no pessoal?’ perguntou pra assim que entraram no apartamento. Já era noite quando eles saíram da lanchonete e voltaram pra casa.
‘Nop’ ele respondeu procurando o controle da televisão pela sala ‘Você notou?’
‘Eu achei que eles estavam tão... sei lá, quietos e aborrecidos. Principalmente as meninas’
‘Natural, não acha?’ ele sentou no sofá, com o controle na mão, e olhou pra ela ‘Não tem como ninguém ficar realmente feliz com a situação que estamos vivendo’
‘Ah , por favor, esse assunto hoje não’ ela pediu sentando ao lado dele ‘Eu sei que minha viagem está muito próxima, mas eu não quero mais ficar falando disso até tudo acontecer realmente’
‘Você quem sabe’ deu de ombros, ligando a TV ‘Só não ache estranho o fato de todo mundo estar, no mínimo, chateado’
‘Ok, mas é que hoje foi diferente’ ela franziu a testa, olhando enquanto ele mudava de canal ‘Parecia até que eles estavam escondendo alguma coisa da gente... e a expressão das garotas quando elas olhavam pra você’
‘Que expressão?’
‘Não sei direito, mas era estranha’ ela disse e deu de ombros ‘Acho que estou ficando meio maluca. Melhor esquecer isso’
apenas fez que sim com a cabeça e viu tirando o casaco. Ela se afastou um pouco e deitou no sofá, com a cabeça no colo dele. O garoto quase desejou que ela não fizesse isso, que não complicasse mais as coisas.
‘Temos que fazer compras amanhã’ começou ‘Senão o pessoal não vai ter nada pra comer’
‘Verdade’ concordou.
Quando estavam na lanchonete, eles tinham combinado em passar o Natal no apartamento de e . De certa forma, seria como uma festa de despedida pra garota, apesar de ninguém querer admitir isso.
‘E você vai ter que me ajudar porque... eu vou ter mais coisas pra fazer’ ela disse meio baixo, lembrando nas malas que teria que arrumar logo. entendeu o que ela quis dizer e engoliu em seco.
‘Pode deixar. Eu não sou um preguiçoso’ disse e a menina olhou meio incrédula pra ele ‘Não sempre’ e ela riu de leve.
Cap. 58
Na véspera do Natal, e levantaram cedo, esperando não encontrar o mercado muito lotado. Tiveram sorte e voltaram rápido pro apartamento. Apesar de não ser uma cozinheira de mão cheia, sabia se virar bem na cozinha, ainda mais com uma receita escrita na mão. também não era nada mal, mas ele fazia tanta bagunça que ficou tentada a expulsar ele da cozinha, mesmo se matando de rir com o que o garoto fazia.
‘Você colocou a moeda dentro?’ perguntou olhando pro plum pudding quase pronto. Aquela receita era tradicional na Inglaterra: dentro do pudim de ameixas era colocada uma moeda, que daria sorte a quem pegasse o pedaço com ela.
‘Coloquei’ respondeu, quase orgulhoso da comida a sua frente. Aquele tinha sido o único prato que deixara por conta dele e não interferira em nada.
‘Espero que esteja, ao menos, comestível’ ela disse examinando o plum pudding mais atentamente. Levou um peteleco do garoto.
‘Você sabe que eu sei cozinhar’ ele disse em sua própria defesa.
‘Qualquer um sabe fazer macarrão instantâneo’ ela deu de ombros e começou a rir quando ele lhe deu outro peteleco.
‘Eu sei fazer mais do que isso. E não se esqueça que meu macarrão instantâneo é melhor que o seu’ ele disse cheio de si.
‘Grandes coisas’ ela pôs a língua pra fora ‘Vamos, melhor começarmos a enfeitar aquela árvore de Natal logo. Tudo precisa estar organizado até às oito da noite, senão o pessoal vai chegar e não vai ter nada pronto no fim das contas’ disse saindo da cozinha com em seu encalço.
Por morarem em um apartamento não muito espaçoso, eles acabaram comprando um pinheiro de médio porte. Mesmo não sendo uma das maiores que eles já tinham visto, a árvore era realmente uma graça. Quando começaram a enfeitar o pinheirinho, sentiu saudades dos Natais que passara com seus pais e, principalmente, do que passara quando ainda morava no Brasil. Ter sua família inteira reunida era um privilégio que há muito ela não tinha. Conseqüentemente, ela pensou que aquele primeiro Natal que passaria com os melhores amigos que já tivera também lhe deixaria muitas saudades.
‘Eu gosto dessa época do ano’ a garota comentou pendurando mais um enfeitinho na árvore ‘Fica tudo tão calmo, as pessoas parecem tão amigáveis’
‘É o espírito natalino’ comentou com uma risada. Ele estava sentando ao lado dela no chão, ajudando com os enfeites ‘Todo o mundo se torna caridoso, prestativo e amigável’
‘As pessoas deviam ser assim o ano todo, não somente no Natal’ ela disse pensativa ‘O mundo seria melhor’
‘Talvez’ ele deu de ombros, ajeitando um enfeite que não queria parar num certo galho.
‘Mas acho que o que realmente importa nessa época é estar ao lado das pessoas que são importantes pra você’ disse e apenas concordou com a cabeça. Ela pendurou um enfeite em formato de sino ‘Esse Natal vai ser ótimo’
‘Vai deixar saudade’ ele disse como se pudesse ler os pensamentos da garota. Os dois se encararam por um ou dois minutos, até que ela sorriu.
‘Com certeza’ disse apenas e eles permaneceram em silêncio enquanto terminavam de decorar o pinheiro.
Mais tarde, deixou responsável por lavar a louça enquanto ela começava a arrumar suas malas. Deixaria algumas coisas de fora para usar durante aqueles últimos dias em que ainda ficaria no apartamento, mas a maior parte de suas coisas seria retirada de qualquer parte do quarto e seria guardada em uma das muitas malas que a garota tinha. Seu grande número de mudanças acabara por lhe fornecer um bom número de malas de viagem.
Enquanto dobrava algumas peças de roupa, a garota se deixou chorar em silêncio. Por mais que aparentasse não estar abalada, ela sofria intimamente com toda aquela situação. Ainda era difícil pensar que em pouco tempo não estaria mais com seus amigos e, talvez, ela só se acostumasse com sua idéia quando finalmente estivesse fora da Inglaterra. Mas, enquanto a viagem ainda não era fato consumado, não conseguia lidar bem com aquela sensação de cada minuto ser o último. De todas as mudanças pelas quais já tinha passado, com certeza aquela era a mais deprimente e dolorosa.
Depois de quase esvaziar o guarda-roupas, pegou uma caixinha de madeira que tinha desde pequena e começou a colocar dentro dela todas as fotos que estavam em seu mural. Analisou uma por uma antes de guardá-las dentro da caixinha. A última foi uma tirada na casa de campo em que ela e os amigos passaram as férias de verão. Estavam todos reunidos perto da lareira, sorrindo. Uma lágrima caiu sobre a foto.
‘Hey’ ouviu e enxugou o rosto com uma mão antes de juntar aquela última foto com as outras. ficou parado na porta do quarto, o observando. Parecia muito vazio ‘Já terminei com aquela louça’ comentou. Que coisa inútil pra se dizer agora, pensou.
‘Ótimo’ disse sem olhar pra ele, com a voz mais normal que conseguiu produzir.
‘Faz tempo que não vejo esse quarto tão vazio’ ele comentou, se escorando no batente da porta ‘É estranho’
‘Eu sei’ ela concordou colocando a caixinha de madeira dentro da última mala que tinha arrumado ‘É estranho estar tirando tudo daqui também’ e cruzou os braços, olhando pela janela do quarto ‘Sabe... durante todo esse tempo que estive aqui eu nunca me imaginei indo embora’
‘E quem poderia imaginar que você iria?’ ele perguntou em voz baixa. A menina respirou fundo, engolindo as últimas lágrimas que pediam pra, como as outras, escorrerem livremente pelo seu rosto, e só então se virou pra . Ele reconheceu imediatamente os sinais de choro recente e se sentiu altamente comovido. Desencostou-se do batente, andou pelo quarto e abraçou ‘Não chore’ disse apenas.
‘Não sei se vou conseguir’ ela disse com a voz ligeiramente embargada, deitando o rosto no ombro dele. O garoto suspirou e entendeu. Sabia o que era ter vontade de chorar, mas ainda não tinha permitido que essa vontade se consumisse. O silêncio se estabeleceu entre eles por alguns instantes.
‘Está com fome?’ perguntou, sem encontrar outra coisa pra dizer, querendo que aquele silêncio fosse quebrado logo. Era agonizante. fez um som que significava sim ‘O que acha de sairmos pra almoçar?’ ele fez outra pergunta. Ela desencostou o rosto do ombro dele e o encarou.
‘Bom’ respondeu apenas. Tanto ele como ela se esforçaram e conseguiram sorrir um para o outro.
O almoço rápido na lanchonete – que por sorte estava aberta naquela véspera de Natal – não foi dos mais animadores, mas serviu para que a tensão entre e fosse levemente aliviada. Mesmo estando muito frio, os dois tinham saído a pé, e agora caminhavam de volta para casa.
O tempo estava ruim e uma névoa densa parecia cobrir toda a rua por onde eles andavam, fora o vento gelado que assobiava ao passar por entre eles.
‘Ah caramba, que gelo está hoje’ se encolheu dentro do seu habitual blusão branco.
‘Nem fale’ puxou pra baixo a touca que estava usando ‘Pelo menos não está nevando’
‘Não duvido nada que isso aconteça ainda hoje’ ela disse quando viravam uma esquina. Olhou pra frente ‘Olha, o playground abandonado! Vamos dar um pulo lá’
‘Você acaba de reclamar do frio e depois diz pra gente ir num lugar sem aquecedor?’ ele franziu a testa pra garota, que apenas deu de ombros e sorriu. Droga, ele nunca resistia ao sorriso dela ‘Ok, vamos lá’
‘Eu sabia que você ia querer’ deu o braço pra , procurando se esquentar enquanto caminhavam até o playground.
Alguns brinquedos estavam cobertos por uma fina camada de gelo, as árvores ali perto pareciam decoradas com pingentes de cristal e as pedrinhas no chão pareciam úmidas. Os efeitos da geada noturna permaneciam por ali. Quando chegaram ao playground, se soltou do braço de e foi pra perto do gira-gira.
‘Vou sentir falta desse lugar’ ela comentou olhando a sua volta ‘Eu ainda consigo lembrar de todas as vezes que viemos aqui’
‘Depois sempre acabávamos indo ao McDonald's’ disse escorado na escadinha do escorregador.
‘Verdade. No dia em que você me convidou pro baile de formatura’ ela dizia e fez uma pausa ao se recordar da noite do baile. Respirou fundo ‘eu estava vendo algumas das fotos que estão na porta da geladeira’
‘São muitas, não?’ ele pensou na porta da sua geladeira, apinhada de fotos. Quase sorriu ao lembrar que, a maior parte delas, eram só dele e de .
‘É, são’ ela concordou colocando as mãos dentro dos bolsos ‘Eu peguei algumas... pra levar comigo. Você se importa?’
‘Claro que não. Só não leve todas, eu quero ter alguma lembrança de você’ ele disse e a garota olhou pra ele. Sorriu.
‘Você está com o nariz vermelho de frio’ disse e rolou os olhos.
‘Isso sempre acontece’
‘É, sempre’ ela disse ainda sorrindo. Encarou o garoto durante alguns minutos e lhe virou as costas, andando até o balanço ‘Eu vou sentir muito a sua falta, ’ admitiu o que há muito queria dizer, com um aperto dentro do peito que não permitia encarar o amigo nos olhos. caminhou lentamente pra perto dela, até chegar perto o bastante para fazê-la ouvir seu sussurro:
‘Não tanta quanta eu vou sentir de você’
baixou a cabeça e passou a mão pela corrente enregelada do balanço. O garoto a segurou pelo braço com delicadeza e a fez ficar de frente pra ele. Com as pontas dos dedos, ergueu o rosto dela pelo queixo até que os olhos de ambos se encontrassem. Eles se encararam por longos minutos, como se analisassem pela última vez cada mínimo detalhe de seus rostos. quase sorriu ao olhar novamente pro nariz dele, ainda vermelho por causa do frio, mas não foi capaz. Ela simplesmente não se sentia capaz de sorrir naquela ocasião. Somente uma coisa passava pela sua cabeça e, vendo que não poderia ser diferente, deixou-se levar pelos pensamentos e pelo momento. Ela o beijou.
não se conteve nem por mais um segundo. Sentir a boca dela contra a sua novamente não permitia que ele recuasse nem que fosse com muita calma. Ele andara esperando por isso desde a última vez em que se beijaram e agora não podia simplesmente se fazer indiferente. Colocou as mãos na cintura da menina, a beijando furiosamente. Por mais frio que estivesse, podia sentir calor emanando do corpo do garoto. Levou as mãos até o rosto e o pescoço dele, que apertou sua cintura. De um minuto para outro, ela pareceu começar a se dar conta do que estava fazendo. Caramba, aquele era um de seus últimos dias na Inglaterra, ela não podia meramente sair cometendo esse tipo de loucura quando estava prestes a se mudar para os Estados Unidos! Como se tivesse ouvido um estalo dentro da sua cabeça, separou as bocas e afastou o seu rosto do de .
‘Isso... é errado’ ela ofegou, tentando controlar a respiração.
‘Não hoje’ ele retrucou com a voz entrecortada e voltou a beijá-la com, talvez, mais intensidade do que antes.
Apesar de não deixar de pensar que aquilo era algum tipo de insanidade, ela não o impediu, nem sequer tentou. Ela apenas se deixou levar novamente. Talvez estivesse sendo levada para fora da realidade e da razão, mas na situação em que se encontrava, prestes a deixar para trás uma casa e pessoas que amava tanto, a sensação de estar saindo de perto daquilo tudo, mesmo que somente por alguns instantes, chegava a ser um alívio. E a única pessoa que poderia lhe proporcionar tal alívio, sem a menor sombra de dúvida, era seu melhor amigo. Os dedos frios de passaram levemente pela pele das costas dela sob as blusas que ela usava, o que causou calafrios na garota. Ela sentiu algo gelado em seu rosto, e pensou nas mãos dele. Mas não poderiam ser, as duas estavam na sua cintura. partiu o beijo de novo e olhou para o céu.
‘Neve’ murmurou sorrindo. também olhou para o céu.
Os flocos pequenos e tão brancos quanto as poucas nuvens no céu caíam em pequena quantidade e vagarosamente, como uma garoa feita de algodão. estirou a língua pra fora da boca e “capturou” um floco de neve. Olhou pra e fez um careta ao engolir o floco de neve fria. A menina gargalhou e beijou a ponta do nariz dele antes de sentar num dos balanços. foi pra trás do balanço e começou a empurrá-lo.
Os dois ficaram até sete da noite no playground abandonado, apreciando a garoa de algodão. Não disseram uma palavra. Os flocos de neve eram as palavras, e elas estavam congeladas.
Cap. 59
Não era exatamente daquele jeito que ela imaginou passar o Natal em Londres, mas parecia o suficiente por ser uma penúltima noite naquela cidade, naquele país. Seus amigos estavam reunidos na sala, conversando e rindo, como se nada estivesse para acontecer. O apartamento estava bem decorado e quente. A comida estava boa e, no final, ela conseguira tirar o pedaço do plum pudding com a moeda dentro. Ela esperava que aquela pequena moeda lhe desse sorte na nova vida.
sentiu o olhar de sobre ela. Ele sabia que ela não estava se sentindo totalmente feliz, mas se esforçou para parecer contente de alguma forma, como se tentasse lhe passar uma alegria que não existia pra ambos. Ela sorriu pra ele antes de voltar a prestar atenção na conversa dos outros. retribuiu com um sorriso rápido e fraco.
‘Aquela viagem foi realmente ótima’ concordou dando um beijo estalado na boca de .
‘Pena que certas pessoas tiveram que se perder no meio de uma floresta, não é?!’ disse olhando de para .
‘Foi culpa dela’ as duas disseram ao mesmo tempo, apontando uma pra outra, e caindo na risada com todos logo depois.
‘Eu não tenho do que reclamar, isso me serviu pra alguma coisa’ sorriu satisfeito, abraçando de lado.
‘Nós poderíamos voltar lá um dia desses’ comentou meio avoado. se mexeu desconfortável no sofá e beliscou o garoto discretamente. Ele entendeu e não disse nada.
‘Gerente, sabe o que eu acho que tá faltando aqui?’ perguntou se empolgando, tentando mudar de assunto ‘Um pouco de música! O que acham?’
‘Ótima idéia’ disse dando apoio e levantou do sofá pra buscar o violão que estava encostado no canto da sala. Tom havia convenientemente o levado para o apartamento.
‘Quem vai ser?’ perguntou olhando para os meninos.
‘Por que não você?’ entregou o violão pra ela. A garota arregalou os olhos ‘Todo mundo sabe que você canta bem, acho que ninguém se incomodaria em ouvir uma voz diferente cantando hoje’
‘Realmente, vocês já devem estar enjoadas de nós’ disse e os outros garotos concordaram sorrindo. encolheu os ombros e pegou o violão. Ajeitou-o sobre as pernas cruzadas.
‘Então... o que querem?’ perguntou passando rapidamente os dedos pelas cordas.
‘Honky Tonky Women’ sugeriu.
‘Eu não vou cantar uma música sobre prostitutas’ negou rapidamente e todos riram ‘Escolham alguma coisa mais apropriada, por favor’ pediu. olhou pra janela do apartamento.
‘Natal... neve... friozinho... todo mundo reunido’ foi dizendo e se virou para ‘Pô, Let It Snow’
‘Excelente idéia’ bateu palmas, concordando ‘Só faltava uma lareira aqui pra ser a música perfeita’
‘Boas conhecedoras do nosso repertório’ comentou rindo.
‘Let It Snow?’ perguntou e todos assentiram com a cabeça ‘Vamos ver então...’ ela baixou a cabeça e começou a dedilhar. Pigarreou ‘Oh the weather outside is frightful...’ (Oh, o tempo lá fora está terrível).
‘Então, ... Nós nos vemos hoje ainda?’ perguntou quando a prima destrancou a porta do apartamento. não abriu a porta, apenas se segurou na maçaneta e olhou pros amigos que se “enfileiravam” atrás dela, esperando pra se despedir e ir embora. estava mais atrás, e ela fez questão de não olhar pra ele antes de responder à prima.
‘Eu ainda tenho muita coisa pra arrumar, vai ser um dia corrido’ disse meio sem graça ‘Provavelmente eu vou acordar tarde e tenho que organizar tudo o mais rápido possível... não posso deixar nada pra última hora’
‘Tudo bem...’ disse compreensiva ‘Nos vemos no aeroporto, então’ concluiu. mexeu levemente nos cabelos.
‘Erm, pra falar a verdade , eu não queria que vocês fossem ao aeroporto’ disse e viu a cara surpresa que todos fizeram. Desta vez ela olhou pra e ele estava boquiaberto. Antes que alguém exclamasse alguma coisa ou fizesse alguma pergunta, ela prosseguiu ‘Eu não sei se vocês me entendem, mas não quero uma despedida dolorosa... foi tão bom passar essa noite de Natal com vocês, seria melhor que hoje fosse o último dia que eu os vejo. Não quero vê-los no aeroporto somente para dizer adeus. Me desculpem, mas acho que vai ser melhor assim’
‘Nós...’ quem começou a falar foi , depois de um longo suspiro conjunto. Ela olhou pra todos antes de continuar ‘Nós entendemos sim, entendemos. É uma pena, mas é a sua escolha. Também não seria nada fácil pra nós... já não será agora’
ia abrir a boca pra falar mais alguma coisa quando a abraçou impulsivamente. Ela deu um meio sorriso e apertou a prima no abraço.
‘Você vai fazer muita falta’ dizia meio que fungando ‘Muita mesmo. Meu Deus, como vai! Eu fiquei tão feliz quando você me disse que viria morar aqui... e agora você tá indo embora, mais uma vez pra variar. Não some, prima. Você sabe que eu te amo, certo?’ perguntou se soltando do abraço ‘Tá no sangue’
‘Eu sei’ respondeu apenas, querendo poder manter aquele meio sorriso no rosto, mas estava difícil. A vontade de chorar estava crescendo.
‘Boa sorte’ deu um beijo na testa da prima e abriu sozinha a porta do apartamento. Saiu e ficou esperando pelos outros no corredor do prédio, enquanto segurava lágrimas teimosas. se aproximou de .
‘Você é uma pessoa muito especial, . Continue assim e vai ter tudo que merece e deseja. Não mude nunca, não importa o que aconteça nem onde esteja’ abraçou e saiu também, indo abraçar a namorada que já não se continha mais e chorava. e resolveram dar um abraço duplo, se agarrando a uma de cada lado. Ambas estavam visivelmente emocionadas e já estava quase deixando as lágrimas escaparem.
‘Tudo de bom pra você, amiga. Você merece, com certeza’ disse fungando.
‘Tenha juízo, se cuide direito e seja feliz... mas vê se não esquece que a gente existe’ recomendou e pediu. recebeu dois beijos em cada bochecha das amigas antes que as duas também saíssem do apartamento. chegou mais perto pra se despedir.
‘Espero que você seja feliz realizando esse seu sonho. Você correu atrás e conseguiu, aproveite bem’ o garoto disse quase deixando sem ar com o abraço apertado. meio que deu uma corridinha pra abraçar a garota quando o amigo se juntou aos outros no corredor.
‘Você sabe que a gente te ama e, mesmo longe de você, estaremos sempre torcendo pelo seu sucesso. Boa viagem’ ele deu um sorriso curto ao desmanchar o abraço e sair do apartamento.
se virou pra porta e não se conteve quando viu os amigos ali, juntos... estava chorando descontroladamente no ombro de ; mordia o lábio; a abraçava de lado e estava de cabeça baixa; fungava sem parar e passava a mão em seu ombro, procurando consolá-la sem muito sucesso. sabia que era a última vez que via os amigos reunidos daquela forma antes de finalmente partir. Era impossível manter a calma e o controle. Era impossível não chorar. Ela sentiu se aproximar da porta também, sabia que ele estava bem atrás dela, mas não teve coragem de dar nem sequer uma olhada de rabo de olho. Se descontrolaria ainda mais. Foi entre lágrimas e fungadas que ela disse numa voz pastosa:
‘Vocês não têm idéia do carinho e do amor que eu sinto por vocês. Foi aqui que eu encontrei amigos de verdade e é inexplicável a dor de ter que deixá-los. Mas é uma escolha que eu tenho que fazer, é uma questão de futuro, de sonhos a serem realizados. O meu sonho de ter amigos verdadeiros ao menos uma vez na vida, eu já realizei, e foi graças a vocês. Agora preciso correr atrás de outros sonhos, e infelizmente a realização destes fica a quilômetros de distância daqui. Obrigada por estarem comigo em vários e vários momentos, obrigada por me fazerem rir e me impedirem de chorar, obrigada por me entenderem e me apoiarem, mas obrigada principalmente por terem entrado na minha vida. Eu nunca, nunca mesmo vou me esquecer de vocês. E isso é uma promessa’ ela respirou fundo pra tentar continuar, mas não pôde. Sentiu uma mão trêmula em seu ombro e soube que era a de . Colocou a sua por cima da dele quando viu apertar o botão pra chamar o elevador.
Os segundos que se seguiram a partir daí até a chegada do elevador foram repletos de fungadas e soluços ecoando pelo corredor do prédio, e algumas lágrimas pesadas caindo no chão. Não havia mais nada a ser dito, nenhuma palavra poderia proporcionar a menor sensação de consolo em nenhum daqueles oito corações adolescentes oprimidos pela dor da separação. Quando o elevador chegou, os seis no corredor acenaram pra porta do apartamento. mandou um beijo fraco pra prima, que tentou sorrir, mas não teve muito sucesso. Assim que as portas do elevador fecharam, se virou pra e o abraçou. sentiu que ela estava trêmula, sabia que ela estava fraca, prestes a desabar, e apenas a abraçou de volta, mostrando que ali ela ainda tinha algum apoio, algum sustento.
Os dois ficaram abraçados até os soluços compulsivos de cessarem, então a garota rompeu o abraço. Passou as mãos no rosto antes de olhar pra . Ao olhar nos olhos dele, não teve dúvidas que ele também sentia vontade de chorar, mas ele estava sendo mais forte que ela. E ela o admirou por isso. Respirou fundo antes de falar.
‘Vamos, ainda temos coisas pra limpar e arrumar. Melhor entrarmos antes que fique tarde demais’ disse com a voz mais firme que conseguiu produzir. apenas concordou com a cabeça, entrando com ela no apartamento e trancando a porta logo depois. Engoliu um nó dolorido na garganta enquanto ia pra cozinha lavar os pratos.
Quase três da madrugada. estava terminando de recolher os papéis de presentes que ainda estavam espalhados pelo chão da sala. Presentes de Natal que seriam lembranças dos amigos quando não estivesse mais perto deles como estivera naquela noite... Ela balançou a cabeça pegando um papel que havia embrulhado o blusão do Incubus que havia dado à de presente. Enquanto isso cantarolava baixinho.
‘But if you really hold me tight, all the way home I'll be warm’ (Mas se você me abraçar realmente apertado, todo o caminho para casa será quente).
‘Você acertou no presente. Eu adorei’ saiu da cozinha, vestindo seu blusão novo. ficou em pé e olhou pra ele. O blusão parecia um pouco largo, mas ficava bom nele.
‘Que bom que gostou’ ela sorriu fracamente e foi jogar os papéis no lixo da cozinha.
‘Acho que não tem mais nada pra arrumar aqui, tem?’ ele perguntou dando uma olhada na sala. Tentava fazer com que aquela conversa fosse a mais normal possível. Queria poder deixar de pensar que era uma das últimas.
‘Não’ ela se escorou no batente da porta da cozinha ‘Só tinha os papéis pra recolher mesmo’
‘Certo, vou pro quarto então’ ele se virou pra ela e lhe deu um beijo carinhoso na testa ‘Boa noite’
‘Boa noite, ’ disse o acompanhando com o olhar até o quarto.
Ela apagou as luzes da sala quando ele fechou a porta do quarto. As luzes decorativas da árvore de Natal ainda piscavam na sala e uma luz fria da rua entrava pela janela. sorriu tolamente pra árvore de Natal e se aproximou da janela. Ainda nevava lá fora. Sua respiração embaçou o vidro. Ela fechou os olhos.
‘As long as you love me so; let it snow, let snow, let it snow’ (Mesmo que você me ame muito; deixe nevar, deixe nevar, deixe nevar).
Cap. 60
acordou às onze da manhã. Mal acordou e aquele maldito pensamento lhe veio à cabeça: aquele era o último dia de em Londres. Ele teve vontade de se perder no meio dos cobertores e dormir o resto da vida, como se assim pudesse evitar que aquele dia passasse. Seria bom se durasse pra sempre... mas não duraria.
Ele levantou, colocou uma roupa qualquer e se arrastou pra fora do quarto. Não sentiu o habitual cheiro de café que vinha da cozinha todas as manhãs e notou que a porta do quarto de ainda estava fechada. Ela devia estar dormindo. parou na frente da porta do quarto dela. Ficou olhando pra maçaneta durante alguns minutos, como um bobo. Suspirou e abriu a porta devagar, fazendo o menor barulho possível.
O quarto estava escuro e quente. A respiração profunda de era audível. se aproximou da cama e ficou olhando pra garota adormecida sob o edredom. Ela parecia estar em paz. Parecia nem ter consciência de que não estaria mais dormindo naquela cama em pouco tempo. Ele queria poder tocá-la, mas tinha medo de acordá-la. Não se perdoaria se fizesse isso. Queria deitar e dormir com ela. Ficar ao seu lado, imóvel mesmo, apenas sentindo a sua presença. Ele a queria tanto naquele momento. Estendeu a mão vagarosamente, sem chegar a encostar nela... mas estava com a mão tão próxima de seu rosto que podia sentir a respiração quente e leve nas pontas de seus dedos. Milhares de coisas começaram a passar pela sua cabeça e ele concluiu que era melhor sair daquele quarto antes que ficasse louco. Afastou-se da cama e saiu do quarto silenciosamente como havia entrado, mas não sem antes dar uma olhada a mais na garota adormecida.
Na sala, sentou no sofá e não fez mais nada. Ele não sabia mesmo o que fazer, e nem queria fazer coisa alguma. Ele só era capaz de pensar naquele momento, apesar de não estar pensando com muita clareza. Tantas e tantas coisas iam e vinham dentro da sua cabeça. Cenas, vozes, sensações, palavras perdidas e incoerentes... ele precisava encontrar um sentido. Mas no fundo ele sabia qual era o sentido de tudo: era . Todos aqueles pensamentos, de alguma forma, eram ligados a ela. Tudo se resumia simplesmente a ela. bufou e passou as mãos pelo rosto com certa força. Precisava de fato sair daquele apartamento, espairecer, conversar com alguém antes que realmente enlouquecesse. E ele sabia exatamente quem procurar pra conversar. Subitamente, levantou do sofá e saiu do apartamento.
não parecia ter acordado há muito tempo quando abriu a porta do seu apartamento. nem cumprimentou o amigo, entrou como um vendaval.
‘Hey cara’ disse com uma voz meio sonolenta, mas surpresa, depois que fechou a porta do apartamento e foi até a sala. andava de um lado pro outro, passando a mão pelos cabelos. Isso serviu pra despertar por completo ‘Aconteceu alguma coisa? Achei que você não viria aqui hoje, que ficaria ajudando com as malas...’
‘Foi isso que aconteceu, exatamente isso!’ disse exasperado ‘, foi isso que me aconteceu!’
‘Mas hein?’ perguntou sem entender nada. parou de andar e encarou o amigo com uma expressão de total desespero.
‘Eu não posso mais, cara. Não agüento mais, simplesmente não agüento!’ exclamou falando rápido ‘Não dá mais pra esconder dela o que eu sinto, não dá. Céus, ela vai embora amanhã. Amanhã! E eu não tive coragem até hoje pra abrir meu coração e contar a ela o que eu sinto de verdade... eu não posso continuar com isso, carregando essa omissão. Não posso deixar que ela vá embora sem saber de nada, não é certo’
‘Você tá pensando em contar tudo pra ela?’ perguntou estupefato e arregalou os olhos quando viu o amigo concordar com a cabeça ‘Cara, mas justo agora?’
‘É agora ou nunca, . Agora ou nunca, essa é a verdade!’ começou a fazer gestos exagerados com a mão, declarando seu total e completo desespero ‘Não tem mais como eu esperar, eu vou explodir se não disser nada, se ela for embora sem eu contar. Aliás, eu deveria ter contado há muito tempo, fui um completo idiota não fazendo isso... não sei de onde eu tirei a idéia de que não podia, como se ela fosse proibida pra mim ou coisa do tipo. Que estupidez a minha! Eu fui ridículo esse tempo todo, fui sim. E agora cara, agora eu tenho a minha última chance. Uma última chance de fazer com que ela fique, de fazer a coisa certa’
‘Tem certeza mesmo que essa é a coisa certa a ser feita?’ perguntou temeroso pelo amigo.
‘Eu só sei que eu tenho que tentar, tenho que fazer alguma coisa, e é exatamente isso que eu vou fazer. Aliás, eu vou fazer tudo que eu puder, tudo! Eu preciso dela mais do que qualquer outra coisa. Eu a quero pra mim! Meu Deus...’ sentou em um dos sofás, meio sem fôlego de tanto falar. Passou a mão pelos cabelos mais uma vez como se pudesse desarrumá-los ainda mais ‘Eu amo aquela garota mais do que qualquer pessoa pode amá-la em toda essa vida. E me diz cara, se não for eu, quem mais pode fazê-la feliz?’
‘Realmente, eu não sei’ admitiu. Era incontestável o fato que amava mais do que tudo e essa era a maior prova de que ele realmente poderia fazer dela a garota mais feliz de todo o universo. Não havia como duvidar. Pensando exatamente nisso, resolveu apoiar o amigo ‘Dude, se você precisa falar o que sente, fale. Mas rápido, ela não tem mais a vida toda pra te ouvir’
‘Eu não preciso de uma vida toda pra que ela me ouça, ’ olhou pro amigo. O desespero parecia ter sumido e agora dava lugar pro que parecia ser exaustão ‘Mas eu preciso dela na minha vida’
‘Então toma um expediente, mermão’ disse estalando os dedos e levantou imediatamente do sofá.
‘Valeu pelo apoio, cara. Te devo essa’ disse antes de correr pra fora do apartamento. Não perdeu tempo com elevadores, correu escadas abaixo. Tempo era o que ele menos tinha.
‘Boa sorte!’ gritou antes de fechar a porta que o amigo deixara escancarada. Estava voltando pra sala quando a porta do seu quarto abriu. Uma descabelada e com os olhos arregalados saiu de lá de dentro ‘Ouvindo atrás da porta, meu amor?’ perguntou entre risos.
‘Eu ouvi direito? Ele vai contar tudo pra ?’ perguntou com uma voz assombrada.
‘Vai’ respondeu com simplicidade, vendo o queixo da namorada cair ‘Uma hora ou outra ela acabaria sabendo, eu tenho certeza. Melhor que ela saiba por ele... só não sei se esse é o melhor momento pra ele contar. Mas, de qualquer forma, é um risco que ele tem que correr pra tê-la aqui’
conseguiu apenas concordar com a cabeça, pensando em todas as reações possíveis que sua prima poderia ter e no quanto, no final das contas, omitir sentimentos poderia ser arriscado. Mas é como dizem, concluiu ela, amar nada mais é do que correr riscos.
parou na porta do apartamento e respirou fundo. Ficou passando as chaves de uma mão pra outra durante uns bons minutos, tentando medir as palavras que pretendia dizer, avaliando cada uma delas, verificando se eram as melhores que poderia usar. Mas quando girou a chave na fechadura, todas as palavras que tinha em mente sumiram da sua cabeça e ele soube que nada sairia como ele planejara algum dia, muito menos como acabara de planejar. Ele não tinha mais a mínima idéia de como ia ser e nem do que esperar, só desejava que desse tudo certo e que ele conseguisse falar... Ou ao menos se lembrasse de respirar. Abriu a porta sentindo as pernas antecipadamente bambas.
Havia barulho dentro do apartamento e um cheiro forte de café emanava da cozinha. Obviamente já estava acordada, e saber disso só deixou mais nervoso. Ele esperou que ela ainda estivesse tomando café na cozinha, então foi pra sala. Pra sua surpresa, ela estava na sala, juntamente com suas malas. demorou alguns segundos pra perceber a presença do garoto ali. achou que poderia ter desmaiado quando ela se virou e olhou em sua direção.
‘Bom dia’ disse num tom de voz oprimido. ficou pensando no que dizer em resposta.
‘Precisamos conversar’ disse apressado. Percebeu que a garota se espantou, mas não queria adiar muito a conversa que teria com ela. De qualquer forma, precisava falar, precisava dizer a verdade, e não queria ter que esperar muito pra fazer isso. Até então, já tinha esperado demais.
‘Certo’ concordou meio relutante e ficou esperando.
chegou mais perto dela e sentiu o corpo tremer por inteiro. Abriu e fechou a boca inúmeras vezes, sem conseguir proferir nem meia palavra. Sentiu-se impotente ao encarar os olhos profundos e brilhantes da garota a sua frente. Por mais cheios de pesar que estivessem aqueles olhos, eles ainda brilhavam com uma intensidade incrível. E isso ainda o deixava abobado. Ao ver franzir a testa, respirou fundo mais uma última vez. Como ele dissera a , era agora ou nunca.
‘Eu te amo’ ele disse mais devagar do que pensou que seria capaz de dizer. piscou algumas vezes.
‘O que?’ ela perguntou.
‘Eu te amo’ ele repetiu mais devagar ainda.
‘Ah , eu tam...’ a garota começou, mas ele a interrompeu logo.
‘Não, não me diga que você também me ama’ disse balançando a cabeça negativamente ‘Você não entendeu o que eu disse. Eu te amo. E não é da mesma forma que você me ama, com certeza não é. Você me vê apenas como um amigo, . E você é muito mais que uma amiga pra mim’ ele começou a falar com mais rapidez, não tinha mais tempo a perder e nem queria perder tempo algum ‘Desde a primeira vez que eu te vi eu não parei mais de pensar em você. Eu queria falar com você, conhecer você, precisava disso. Tinha que arrumar uma forma de me aproximar de você... pensei que estudar no mesmo colégio e morar no mesmo prédio que você ajudaria, mas não adiantou grandes coisas. Eu nunca tinha coragem pra chegar em você, nem que fosse pra trocar meia dúzia de palavras. Então teve aquele dia que eu te ajudei com as compras e eu vi ali a minha grande chance de ficar perto de você, me tornar seu amigo e ir te conquistando aos poucos. Eu tinha pressa, sempre tive porque eu sempre te amei demais, mas eu sabia que mesmo estando próximo a você as coisas não seriam tão fáceis. Mas tudo foi muito mais lento e mais difícil do que eu pensei que seria’
parou um pouco de falar, respirando rápido. As palavras estavam saindo com mais facilidade do que ele imaginara, mas ele não sabia o efeito que estavam produzindo sobre . A garota mantinha a mesma expressão indecifrável desde que ele começara a falar. Apesar disso, ele não se preocupava com o efeito direto das suas palavras. Ainda tinha muito mais pra falar.
‘Claro, nós éramos ótimos amigos’ ele prosseguiu tentando diminuir o ritmo da conversa, mas sabia que não ia se controlar por muito tempo ‘Amigos tão próximos que chegamos até mesmo a ficar juntos. E foi exatamente nesse ponto em que eu cometi um erro enorme, porque eu devia ter te contado tudo o que eu sentia no dia em que ficamos, mas eu fui um covarde e preferi manter a situação como ela estava... e, porra, eu me arrependo disso profundamente, ainda mais sabendo que as oportunidades que eu tive pra te contar tudo o que eu sentia e ainda sinto não foram poucas. Mas o tempo foi passando e então surgiram Duncan e Alicia. Eu via o quanto você gostava daquele cara e, acho que por te amar demais, não quis estragar sua felicidade com ele. Quanto a mim e Alicia, nunca houve nada. Eu gostava de ficar com ela, só isso, talvez numa tentativa patética e inútil de esquecer você. Enfim, nada deu certo, nem pra você nem pra mim. As oportunidades que eu tinha voltaram mesmo com o fato de a gente não ter ficado juntos mais nenhuma vez. Você saía com outros caras e eu agüentava calado porque não tinha coragem suficiente pra te dizer nada. No fundo, eu confesso, tinha medo de estragar tudo com você. Tinha medo da sua reação e do que poderia acontecer depois e, tentando esconder todo esse meu medo, cheguei a me convencer de que uma hora ou outra você descobriria tudo sozinha, você simplesmente entenderia o que estava havendo. Mas o motivo maior de eu nunca ter dito nada sempre foi meu medo... só que eu tinha que acabar com essa minha falta de coragem. Então eu pensei que o baile de formatura seria a oportunidade perfeita pra colocar tudo em pratos limpos. E realmente teria sido se você não tivesse recebido aquela carta da reitoria de Harvard’
Ele parou e soltou um longo suspiro. Mexeu nos cabelos e olhou pra baixo por uns segundos. apenas engoliu em seco, sentindo estranhas sensações percorrerem todo o seu corpo. Queria falar alguma coisa, até sentia que precisava falar alguma coisa, soltar algo que estava preso dentro do peito, mas não se sentia capaz nem de abrir a boca. Além do mais, ela sabia que o que tinha pra falar não terminava por aí. E estava certa. suspirou mais uma vez e ergueu a cabeça, voltando a encarar a garota. Seus olhos estavam apertados, úmidos, e o rosto estava abatido. Ele chegava a parecer um doente que buscava nas palavras a cura pra um mal que não podia mais suportar carregar consigo.
‘Aquela foi a pior notícia que eu recebi em toda a minha vida’ tinha diminuído o tom da voz, mas não porque estava perdendo a coragem nem nada, ele simplesmente não conseguia mais falar normalmente. Havia um nó tão incômodo na sua garganta que a voz não saía direito ‘Nada se compara ao desespero que eu senti durante todo o tempo em que você decidia se ia ou não pra Harvard. E na formatura... ouvir que você realmente ia me matou por dentro. Você nunca vai chegar nem perto de entender ou imaginar o que eu senti naquela hora, nem o que eu sinto agora. Você não sabe o tamanho da minha angústia, da minha dor, do meu sofrimento, vendo você se preparando pra ir embora daqui, deixar tudo pra trás... sair da minha vida. E é por isso que eu estou aqui, falando tudo isso. Deixando transparecer os meus verdadeiros sentimentos, expondo tudo o que eu sinto realmente, sem mais medo nenhum. Eu não sei o que pode acontecer agora, não sei qual vai ser sua reação, não sei o que você vai me dizer nem nada, mas eu não tenho mais medo, porque essa é a minha única e desesperada tentativa de fazer com que você fique aqui. Eu não posso simplesmente abrir mão de tudo isso e deixar você sair da minha vida sem nem ao menos tentar, nem que seja uma única vez. Tantas vezes eu me flagrei pensando em você e nas coisas que eu queria te dizer, que eu precisava te dizer... E agora eu finalmente disse, eu tinha que contar pra você, tinha que deixar que você soubesse agora. Porque você sabe tudo sobre mim, menos que você é tudo na minha vida... e agora eu sinceramente não sei mais como te explicar coisa alguma, também não sei mais o que te dizer, porque a única coisa que me resta é repetir que eu te amo’
A última palavra que saiu da boca de pareceu pairar sobre os dois adolescentes durante os vários minutos em que um silêncio absoluto dominou a sala. Nenhum dos dois deixou de olhar pro outro, mas foi o máximo que fizeram exteriormente. Enquanto no interior de ambos havia um turbilhão de sentimentos e emoções se movimentando e se chocando sem parar. se consumia por dentro, ansioso e nervoso. Aquilo tudo não podia ter sido em vão. Não podia.
estava como que em choque. Assustada e confusa com o que acabara de ouvir, ela não sabia o que dizer. Começou a sentir os conhecidos calafrios e tremores nas pernas, quase não se sustentava de pé. Junto com os calafrios vieram milhares e milhares de pensamentos na sua cabeça, momentos pelos quais já tinha passado com , palavras que já tinha ouvido dele. Tanta coisa com tanto significado, e ela perdida, envolvida no meio daquilo tudo, sem entender... Sentiu seu coração acelerar repentinamente; ele batia tão rápido quanto algumas conclusões surgiam em sua mente. Então, de súbito, num baque eletrizante, ela entendeu o que aquilo significava. não era o único cujo sentimento ia além da amizade. Como uma cega, ela não tinha percebido que se aproximara e se envolvera demais com o garoto, ficando com ele, morando com ele, passando todos os seus dias ao lado dele. Sua mente a forçara a acreditar que seu sentimento por era como que de uma irmã enquanto seu coração tentara lutar pra poder lhe mostrar o que ela realmente sentia. Durante todo aquele tempo, ela travara uma enorme batalha interna e inconsciente, e agora estava na hora de pôr um ponto final em tudo, jogar limpo com e consigo mesma, como ele mesmo dissera: sem medo de expor seus verdadeiros sentimentos. Não havia mais confusão, não havia mais desentendimento, não havia mais nada que questionar. Foi com a boca seca, com as pernas trêmulas e se sentindo completamente chocada que , depois de tanto pensar e debater consigo mesma sobre várias coisas, tirou uma conclusão aparentemente muito “simples”: ela amava . Mas, logo depois de concluir isso, se deparou com outro fato: ela simplesmente não estava preparada pra nada daquilo.
‘Céus...’ foi a primeira palavra que conseguiu pronunciar depois de longuíssimos minutos. quase levou um susto quando finalmente ouviu a voz dela novamente, cheia de surpresa e – porque não? – pavor.
olhou em volta de si mesma antes de encarar nos olhos. Sentiu o corpo inteiro tremer de uma vez só quando seus olhos encontraram os dele. Eles ainda eram os mesmos, estavam na mesma sala, nada tinha mudado desde que terminara de falar, nada exceto o surpreendente fato de que ela o amava. E isso a fazia enxergá-lo de uma forma completamente diferente. Dentro daqueles olhos que já olhara várias e várias vezes, ela viu muito mais coisas do que jamais fora capaz de ver. Ela viu súplica, ansiedade, aflição e, acima de tudo, um brilho de amor incontestável. Foi olhando dentro daqueles olhos que, por apenas uma fração de segundo, ela conseguiu esquecer tudo e se sentir em paz. Mas foi realmente por apenas uma fração de segundo, bastou que ele piscasse pra ela voltar a sua realidade e se sentir cheia de medos e dúvidas novamente. Ainda não sabia o que dizer, nem como reagir, e isso a deixava profundamente inquieta por dentro. Estava acostumada a ter tudo sob seu controle e agora ele arrancara à força as rédeas das suas mãos. Respirou fundo por diversas vezes antes de abrir a boca novamente.
‘Eu não sei o que te dizer’ ela disse com total sinceridade. Enxergou novamente a aflição e a súplica nos olhos de e tomou ar pra poder continuar falando. Não podia deixá-lo sem resposta, seria absolutamente injusto com ele... na verdade, com ambos, porque agora os sentimentos dela também estavam em jogo ‘Isso tudo é tão estranho pra mim... e tão assustador. Você sempre teve as suas certezas, sempre conheceu seus sentimentos, não deve nem imaginar como é compreender tudo de uma só vez. É realmente apavorante’ ela arregalou os olhos, fazendo gestos com as mãos suadas e trêmulas, admitindo seu medo em relação às próprias conclusões. arqueou uma sobrancelha leve e vagarosamente ‘Eu achei que sabia de tudo sobre mim mesma, mas todo esse tempo eu escondi e guardei tanta coisa que eu nem sei se tem algum sentido, algum motivo contar... mas eu acho que preciso’ ela suspirou e fechou os olhos por alguns instantes.
Que palavras usar naquela hora? Pra explicar exatamente o que? Um amor que ela não sabia que existia? E havia palavras pra explicar tal coisa? Ela abriu os olhos e mordeu a boca, olhando pro rosto atento e aflito de . Ele queria ouvir o que ela tinha a dizer, ele precisava ouvir tanto quanto ela precisava falar. E ela não podia errar consigo mesma novamente e tornar a guardar e esconder tudo aquilo novamente. Era hora de se conhecer mais e deixar que a conhecesse melhor também. Era hora da verdade.
‘Todas as vezes que nós ficamos...’ ela começou devagar, tentando manter uma calma que não existia nem de longe ‘Eu sempre me senti bem ficando com você, era algo que me causava sensações que eu desejava ter pra sempre, mas era tão casual, demorava tanto pra acontecer de novo que eu pensava que aquilo era coisa de amigos, nada realmente sério, por isso nunca cheguei a parar pra pensar no que estava havendo entre nós dois realmente. E, dessa forma, acabei não percebendo o quanto estava me envolvendo com isso’ ela fez uma pequena pausa, pensando em como prosseguir.
Nesse meio tempo, nada passava pela cabeça de . Ele só conseguir prestar atenção no que ela dizia, e pelo modo como ela o encarava, sabia que ela ainda tinha muito a dizer, fato que só o deixava mais aflito. Talvez o que ela tivesse a dizer não era exatamente o que ele desejava ouvir. mordeu o canto da boca.
‘Se houve no mundo alguém que eu sempre quis ao meu lado, independente do que eu estivesse fazendo ou sentindo, esse alguém foi você... e ainda é’ ela sentiu aquelas palavras saírem de sua boca um tanto sofridas, como se não devessem ser pronunciadas. Mas não as ouviu de modo errado, pelo contrario, sentiu verdade nelas e isso a fez continuar. também sentiu verdade no que ouvia, e quis ouvir mais ‘Seis meses morando no mesmo apartamento nos aproximou demais, e isso fez com que nos conhecêssemos de um modo tão profundo que... era quase como se fizéssemos parte um do outro. Mas eu pensava que você fazia parte de mim como um irmão faria parte de uma irmã. O que acontece é que... ah meu Deus, como eu vou dizer isso?’ ela rolou os olhos, quase perdida nas palavras ‘A verdade é que eu sempre te amei, amei de verdade, de uma forma muito verdadeira, muito intensa... mas esse amor era mudo, silencioso, subconsciente. Eu não sei como isso pôde acontecer, mas aconteceu’ balançou a cabeça de leve. Era duro admitir que tinha se enganado, mentido pra si mesma durante tanto tempo.
estava tendo dificuldades pra respirar naquele momento, mas manteve sua expressão o mais calma e controlada possível. Ele mal podia acreditar no que tinha acabado de ouvir... a esperança que há muito tempo tinha morrido dentro dele pareceu reviver instantaneamente. Ele por inteiro tinha ganhado um sopro de vida. Mas ele não podia deixar-se levar por apenas aquelas palavras, não podia se prender somente a elas, e como conhecia muito mais do que bem, analisou-a atentamente procurando adivinhar o que viria a seguir. Divisou claramente nos olhos delas culpa, confissão, vergonha e o mesmo pesar, a mesma melancolia que vinha enxergando há tempos. Aquilo só serviu para deixá-lo intrigado.
‘Pra você essa situação toda pode parecer ridícula’ disse com pouca firmeza na voz ‘mas é a verdade, é o que aconteceu. Eu simplesmente não fiz nada porque não sabia de nada, só reprimia e guardava um sentimento’ ela balançou a cabeça de leve. Era duro admitir que tinha mentido pra si mesma durante tanto tempo, mas mais duro ainda seria o que estava prestes a dizer. Por mais que quisesse poder dizer outras coisas, precisava ser sincera. Se era tempo da verdade vir a tona, que viesse por completo. Não podia mais se enganar nem enganar . Já tinha feito isso demais ‘Nós tivemos tanto tempo, tantas chances... e hoje, só podemos lamentar imaginar que as coisas poderiam ter sido diferentes se tivessem sido esclarecidas mais cedo. Nosso tempo acabou’ admitiu dolorosamente pro garoto e pra si mesma. Instantaneamente, seus olhos marejaram. Ela não queria derramar mais lágrimas do que as que já tinha derramado até aquele dia, mas parecia inevitável. Ainda assim, tentaria ser forte.
Força... não sabia mais o que era ter força. Com aquelas palavras de , se sentiu absolutamente fraco. Do que adiantava ter ouvido que ela o amava pra depois ouvir que o tempo deles chegara ao final? Ele não queria que aquele fosse o final, ele tinha aberto o seu jogo exatamente pra impedir a existência de um final. Suas palavras, sua esperança, seu amor... nada haveria de ser em vão.
‘Me diz que eu entendi errado’ ele pediu suplicante ‘Não pode ter acabado... nós ainda temos tempo, eu sei que temos. E nós ainda temos uma chance, estamos tendo uma chance agora! Não me diga que vai jogá-la fora como se não significasse nada...’
‘O que estamos tendo agora não é uma chance, é um último momento pra últimas confissões’ ela disse baixo, permitindo que uma lágrima teimosa rolasse por uma de suas bochechas ‘Meus planos já estão feitos, . Já está tudo preparado... e por mais que me doa, eu não vou desistir de nada. Eu sei que você não deve estar encontrando sentido nenhum no fato de eu ter dito tudo isso agora, justamente agora. Mas eu tinha que falar, precisava... o que eu descobri agora devia ser partilhado com ninguém menos que você’ fungou, passando a mão pela bochecha que estava molhada. Viu algo sumir nos olhos de e reconheceu a morte da esperança dele. Não queria mais ficar lá, naquela sala. Estava sentindo dor, estava sufocando ‘S-sinto muito’ gaguejou antes de pegar o habitual blusão branco e o celular que estavam jogados no sofá e sair rapidamente do apartamento.
ficou paralisado. Sentia as pernas chumbadas no lugar onde estava. Não teve reação alguma perante a fuga de . A idéia de correr atrás dela lhe ocorreu, mas ele achou que, em primeiro lugar seria um esforço em vão, e em segundo duvidou da sua capacidade de sair de onde estava no momento. Refletindo um pouco, achou mesmo que depois de tudo que dissera, ele achou que ela precisava de um tempo sozinha e ia respeitar isso, ia respeitar o espaço dela, como sempre fizera. se escorou na parede mais próxima e deixou o corpo escorregar até que sentar-se no chão da sala. Conseguiu encarar a porta do apartamento e começou a se perguntar se tinha feito o certo ao contar o que sentia por , se não errara em dizer tudo aquilo, ainda mais em tal momento, em tal situação. Ele cobriu o rosto com uma mão, desejando poder saber o que aconteceria se tudo tivesse sido diferente, desejando que tudo pudesse ser diferente. Em meio aos seus desejos, se deixou chorar em silêncio.
Cap. 61
Ela andou contra o frio daquele dia. Andou muito, sem rumo nenhum. Apenas andou, sem nem olhar pra frente. Não queria ver onde ia parar, apenas estava indo... Acabou pegando um ônibus, sem nem saber pra onde ele iria também. De qualquer forma, iria com ele. Precisava de um lugar pra ficar, pra pensar, pra esquecer e principalmente pra entender. Desceu num ponto próximo a praia, que estava completamente deserta. Era ali que pretendia ficar.
tirou os tênis e caminhou até perto da beira da água. Sentou abraçada aos joelhos e ficou olhando pro horizonte. Que diabos estava fazendo com a sua vida? Que diabos tinha acabado de fazer? Acabara de tirar de dentro de si várias coisas perdidas e de expor um gigantesco sentimento há muito tempo guardado, mas não conseguia sentir alívio nem nada parecido com isso. Sentia um peso enorme empurrando seu corpo pra baixo. Sua confissão não tinha lhe ajudado em nada, só piorara a dor de estar partindo. Porque de qualquer forma ela iria partir. Não podia se prender a nada, era de seu sonho que estava falando... Não podia deixar de realizar o sonho de uma vida inteira por causa de meia dúzia de palavras que tinha ouvido e dito.
Meia dúzia de palavras? Aquelas não tinham sido simples meia dúzia de palavras. Eram muito mais. Eram palavras que tinham um sentido, um significado muito mais forte do que quaisquer outras palavras que ela já ouvira ou dissera. Era impossível negar a importância de cada uma delas. Eram como mãos nas quais se agarrava, impedindo que aquele peso enorme não a empurrasse pra baixo de uma vez. Eram palavras reais, nas quais ela podia se prender e acreditar. Eram palavras que formavam uma nova realidade bem na sua frente, uma nova situação a ser vivida. Mas como vivê-la, se não havia mais tempo pra isso? Essa nova vida teria que ser adiada por muito tempo, reprogramada e repensada pra daqui a muito tempo.
deitou na areia a fechou os olhos. Queria voltar no tempo. Ah, se ela apenas pudesse voltar...
Acordou sentindo o cheiro da maresia. Tinha dormido na areia sem nem se dar conta e agora despertava de um sono pesado que parecia ter durado uma semana seguida. Ela sentou encolhida, ainda estava ventando forte, e olhou novamente pro horizonte. Já devia ser tarde, o dia não estava mais tão claro. Tirou o celular do bolso e constatou que já passava das três da tarde. Achou melhor voltar pro apartamento, mesmo não querendo. O tempo estava feio, nuvens escuras indicavam que choveria logo e ela não queria ficar andando sozinha por aí na chuva e no frio. Pegou os tênis e se levantou devagar, sentindo uma ligeira tontura ao ficar em pé. Suas pernas não estavam muito firmes, mas ela conseguiu se sustentar. Notou que estava imunda, com areia na roupa e nos cabelos, mas não se importou. Sua aparência era o de menos agora. olhou mais uma vez pro horizonte antes de dar as costas pro mar e começar a andar em direção à rua. Andou até o ponto de ônibus mais próximo cantarolando numa voz rouca a melodia da primeira música que lhe veio na cabeça: Walk In The Sun... porque agora ela era capaz de entender tudo sobre aquela música. também tinha estado na praia, mas havia sol naquele dia, e ainda havia segredos e palavras não ditas. Agora só havia frio, dor e um adeus muito próximo de ser dito.
olhou no relógio que ficava na estante da sala quando ouviu a porta do apartamento ser aberta e fechada logo depois. Quase quatro e meia. Ele suspirou e voltou a fechar os olhos. Ainda podia senti-los inchados, conseqüência de choro prolongado. Ele se mexeu pouco no sofá, se mantendo deitado praticamente na mesma posição. Muitos de seus músculos estavam doloridos, como se ele tivesse levado uma grande surra. Ignorou o inchaço dos olhos, a dor no corpo e um cheiro de mar misturado com um perfume doce que invadiu pouco a pouco o apartamento. Teve vontade de se levantar, ver , falar com ela, abraçá-la e tocá-la, mas não fez nada disso. Permaneceu imóvel, deitado e de olhos fechados. Mas pôde sentir a presença da garota na sala, e sabia que ela não estava muito longe do sofá.
Os olhos dele estavam inchados, ela notou. E ele parecia ainda mais doente agora. Maldição, o que estava fazendo com ele? piscou com força e abriu a boca, mas acabou não dizendo nada. Estendeu a mão vagarosamente e segurou no encosto do sofá. Ficou vendo o peito de subir e descer conforme ele respirava. Quis deitar no sofá com ele como já fizera algumas vezes quando precisara de ajuda e de força. Mas ele estava mais fraco que ela, ela sabia. Não podia buscar nada daquilo na presença dele, pois não encontraria. respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, então soltou o encosto do sofá e foi em direção ao banheiro.
ouviu o barulho do chuveiro ligando e resolveu se sentar. Passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos antes de levantar e ir pra cozinha. Resolveu fazer café, tentando espalhar outro cheiro pelo apartamento que não fosse o cheiro dela.
jogou o blusão branco na máquina de lavar e se encostou numa parede da lavanderia pequena, segurando uma xícara de café. Desde que voltara da praia não tinha falado com , pois quando saiu do banho ele estava trancado no quarto. Mas ela nem sabia se queria falar com ele, ou mesmo se saberia o que falar com ele. Seria complicado conversar com ele depois de tudo que tinha sido dito. A sorte era que havia pouco tempo pra eles ficarem perto um do outro.
‘Sorte?’ perguntou pra si mesma, ironicamente, antes de tomar um gole do café quente. Ouviu passos arrastados pelo apartamento e deu uma olhada rápida pela porta aberta da lavanderia a tempo de ver entrar na cozinha ao lado.
Ele estava com a aparência de quem dormira demais ou não dormira quase nada. Os olhos ainda estavam inchados, os cabelos estavam bagunçados e as roupas amassadas. tirou a cabeça da porta da lavanderia antes que ele a visse ali. Sentiu-se diretamente culpada pelo estado em que se encontrava. Abaixou a cabeça e ficou olhando pro café dentro da xícara. Respirou fundo, se deliciando somente com o cheiro da bebida quente.
‘Ficou bom?’ uma voz rouca perguntou de repente, fazendo se sobressaltar. Ela ergueu a cabeça e viu que metade do corpo de estava dentro da lavanderia ‘Desculpe o susto’
‘Tudo bem, eu... Só estava um pouco distraída’ ela disse completamente sem graça ‘O que você perguntou?’
‘Se ficou bom’ ele disse e apontou pro café quando a garota franziu a testa sem entender ‘O café... Ficou bom?’
‘Ah sim, está ótimo’ ela respondeu concordando com a cabeça ‘Bem doce, como eu gosto’
‘Achei uma droga’ ele deu de ombros, parecendo decepcionado consigo mesmo ‘Prefiro o seu, fica mais forte’
deu uma risadinha boba e baixou a cabeça, voltando a olhar pro café. Não estava conseguindo encarar nos olhos. Ao lado do brilho de um amor incontestável que ela vira há poucas horas antes nos olhos dele havia uma melancolia incomparável. E saber que ela era responsável por isso a machucava, então preferia não olhá-lo nos olhos. Quando nós causamos um problema, nós nos negamos terminantemente a encará-lo de frente, isso é fato.
‘O que está lavando?’ perguntou de repente, reparando que a máquina de lavar roupas estava ligada.
‘Meu blusão branco’ respondeu ainda de cabeça baixa ‘Estava cheio de areia... Espero que seque até amanhã, não pretendo deixá-lo aqui’
mordeu a boca por dentro ao perceber o que estava acontecendo. A garota com a xícara de café na mão estava com medo de falar com ele. Chegava até mesmo a parecer acuada naquela parede da lavanderia pequena. Ele não queria que ela se sentisse assim, seria terrível passar as últimas horas ao lado dela daquele jeito. Sabia que tinha que fazer alguma coisa pra melhorar a situação. Não que isso fosse possível nem fácil, mas tinha que tentar ao menos amenizar as coisas.
‘Desculpe se eu não pretendo manter um clima péssimo entre nós até que você viaje’ disse tentando parecer muito tranqüilo, como se não estivesse atingido. ergueu a cabeça, ligeiramente surpresa pelo que ele dissera, mas não o olhou diretamente nos olhos. O resto de coragem que ainda tinha lhe permitia olhar para o rosto dele, no máximo.
‘Eu... Eu quem peço desculpas’ ela disse encolhendo os ombros ‘Eu só não sei o que fazer, nem o que dizer’ meio humilhada, ela admitiu o que ele já sabia.
‘Como se eu soubesse’ ele disse num tom levemente irônico e totalmente derrotado. Olhou pros lados antes de continuar ‘Não pense que eu estou agindo dessa forma porque estou bem ou por não estar me sentindo atingido com o que aconteceu ou até mesmo porque sou tão forte que já superei tudo’ ele soltou um longo suspiro antes de prosseguir ‘Eu estou muito longe de ter alguma força pra superar qualquer coisa’
segurou a xícara com mais força, sentindo o coração se comprimir dentro do peito. Sabia que ele estava fraco, claro que sabia, mas não imaginou que ele estivesse tão fraco a ponto de admitir esse fato. Ele estava jogando mais limpo do que nunca, realmente não demonstrava mais medo nenhum de expor seus sentimentos, mesmo naquele estado. Ela se sentiu doída por ele ao mesmo tempo em que o admirou pela sua honestidade.
‘Sinto muito’ foi tudo o que ela conseguiu dizer e se achou absurdamente patética por isso. esboçou um sorriso magoado.
‘Não sinta tanto, a culpa não é só sua’ disse vendo a garota morder os lábios ‘Nós dois erramos, mas é como você disse, não há mais tempo, não é?! Não há mais tempo pra mudar tudo nem corrigir erros. O que nos resta é aceitar o que o destino reservou pra nós dois e seguir em frente’ ele fez uma pequena pausa, olhando rapidamente para os lados. Não acreditava nem em meia palavra que estava dizendo e esperava que ela não percebesse isso. sentiu que estava prestes chorar novamente, mas prometeu a si mesma se conter naquele momento ao menos. engoliu em seco, olhou pra ela e continuou ‘Só não quero passar nossas últimas horas juntos me martirizando e nem vendo você se martirizar por algo que não tem mais volta. Não vamos tornar as coisas mais difíceis... Por favor’ ele pediu sem agüentar mais falar sobre aquilo.
Todas as palavras sumiram da cabeça de quando ela ouviu aquele “por favor”. Aquele era um pedido, um pedido sofrido de colaboração, quase uma súplica, algo que ela não negaria nem que quisesse ou pudesse. Sem conseguir falar, completamente muda diante do garoto, ela apenas concordou tolamente com a cabeça. fez um aceno de cabeça em sinal de agradecimento e voltou pra cozinha. continuou estática e olhando pra porta da lavanderia até ouvir o barulho da TV na sala, assim tendo certeza de que estava lá. Então desceu as costas pela parede onde estava encostada e sentou com as pernas encolhidas no piso frio da lavanderia. Ficou olhando fixamente pro chão durante longos minutos, completamente vidrada e imóvel. Passou mais tempo naquela posição do que poderia imaginar. Quando finalmente se moveu, foi pra tomar um último gole de café. A bebida desceu quente pela sua garganta, mas de algum modo ela ainda se sentia fria por dentro.
Já devia fazer mais de uma hora que tinha desligado o telefonema com e ido deitar... Quase meia-noite então, ele supôs. Rolando na cama, pensava no dia que estava prestes a acabar e no que logo começaria. Não estava conseguindo dormir e não estava preparado pra acordar. Se fosse dormir, preferia que dormisse pra sempre. desistiu. Jogou os cobertores pro lado e sentou na ponta da cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e afundando o rosto nas mãos. Tentava esquecer tudo e se prender ao que tinha lhe dito no telefone. ... Pobre , sem saber como consolar o amigo que sofria por não poder ficar com a garota que mais amava no mundo. Apesar disso, dissera algo que ainda martelava na cabeça de : “Mesmo que ela vá, não é pra sempre”.
Pelo que ela dizia, não parecia mesmo ser pra sempre. Mas até que ponto isso poderia ser considerado um consolo? Quem podia garantir que até a volta de pra Inglaterra nada poderia mudar? não tinha dúvidas por causa dos seus sentimentos, mas sim pelos dela. Longe dele ela poderia muito bem esquecer tudo que havia sido dito numa certa ocasião e simplesmente partir pra outra. Ela tinha todo o direito de seguir a sua vida sem ele... E provavelmente ela faria exatamente isso. Imediatamente começaram a passar na sua cabeça diversas imagens de com os mais variados caras e isso fez com que seu peito doesse. passou as mãos com força pelos cabelos, tentando se livrar daqueles pensamentos. Ouviu uma batida de leve na porta do quarto e levantou a cabeça. Com a ajuda da claridade que vinha da janela aberta, ele viu abrir lentamente a porta.
‘Posso?’ ela perguntou praticamente sussurrando. apenas concordou com a cabeça e a garota entrou no quarto.
Ela encostou a porta e foi a passos lentos até a cama, se sentando ao lado de . Ficou olhando pros pés descalços até ouvir um suspiro profundo. Virou a cabeça pra olhar . Os cabelos dele estavam bagunçados como ela gostava. Isso fez com que ela quase sorrisse, mas não foi capaz de tal prodígio.
‘Insônia?’ perguntou simplesmente, ainda quase sussurrando. concordou com a cabeça mais uma vez e olhou pra ela ‘Então eu não sou a única na casa...’
‘Você deveria dormir’ ele finalmente falou ‘Amanhã tem que acordar cedo pra ir pro aeroporto’ conclui meio que secamente, sabendo que o vôo da garota saía às nove da manhã.
‘Eu sei, mas posso dormir no avião em último caso’ ela disse ‘Ainda vai me levar amanhã?’
‘E por que não levaria?’ ele perguntou arqueando as sobrancelhas. apenas encolheu os ombros, sem nenhuma resposta pra dar.
respirou profundamente antes de levantar da cama. Andou até a janela, sentindo o olhar discreto de acompanhando seus movimentos. No final das contas, mesmo depois daquela conversa breve na lavanderia, eles não tinham passado tempo nenhum juntos e agora ele queria muito que ela continuasse ali, mas ao mesmo tempo achava melhor que ela fosse embora. Talvez fosse mais simples se ela apenas lhe desejasse uma boa noite e saísse do quarto. Mas sabia que ela não iria. Ele respirou profundamente mais uma vez antes de voltar pra cama. Deitou do lado onde não estava sentada, entrelaçando os dedos na nuca e apoiando a cabeça no travesseiro.
olhou pra ele e entendeu que, na atual situação, ele até preferia ficar sozinho. Assim ela tinha duas opções: fazer a sua vontade ou a vontade dele. Mordeu a boca e deitou encolhida no lado vazio da cama, de costas pra , optando pela sua própria vontade. olhou pra garota deitada e quis entender aquilo de alguma forma, mas não conseguiu. Ele sentou na cama, puxou os cobertores cobrindo e a si mesmo, e voltou a deitar na mesma posição em que estava antes. Novamente olhou pra garota ao seu lado. Ela puxou os cobertores pra mais perto do rosto, ainda encolhida, e soltou um suspiro. ficou olhando pra ela até que ela dormisse, e continuou olhando pra ela depois disso. Não sabia quanto tempo teria que passar sem a presença de , não queria desperdiçar mais nenhum segundo que tivesse ao lado dela. Pôde sentir cada minuto da madrugada passando, mas simplesmente se negou a dormir.
Cap. 62
Pela primeira vez, ela acordou sentindo cheiro de café. Normalmente ela quem fazia o café, mas aparentemente não seria assim naquele dia... Naquele último dia, ela lembrou.
Enrolando as pernas no cobertor, se encolheu na cama e ficou olhando pra janela. O tempo estava nublado, parecia ventar lá fora. Deprimente, pensou. Não só por causa do tempo feio, mas mais do que nunca ela desejou ficar na cama pra sempre... Ainda mais na cama de , que agora parecia o lugar mais aconchegante possível.
Por alguns segundos fechou os olhos, só pra ter a sensação de que poderia dormir por mais quantas horas quisesse, mas isso não durou muito. Sabia que devia ser cedo ainda, claro, senão não estaria de pé já, mas de qualquer forma tinha que levantar, tomar um banho e terminar de arrumar o que tivesse que arrumar antes de sair pro aeroporto. Sendo assim, deixou as cobertas quentes de lado e saiu da cama, praticamente se arrastando pra fora do quarto.
‘Bom dia’ bocejou ao se deparar com na sala, vendo televisão.
‘Dia’ ele disse apenas e tomou um gole do café na xícara que estava segurando.
‘Que horas são?’ ela perguntou se espreguiçando.
‘Seis e meia’ deu uma olhada rápida nela e logo voltou a atenção pro café e pra televisão. Nem fazia idéia do que estava passando, mas qualquer coisa era menos pior do que ver sua garota indo embora.
‘Vou tomar um banho, depois arrumar umas últimas coisas e então podemos ir’ ela disse. Achou que ele não tinha ouvido ‘Certo?’ perguntou meio insegura. Recebeu um aceno de cabeça como resposta. Sentiu-se quase ignorada por isso e abriu a boca querendo falar alguma coisa, mas a fechou novamente e entrou no banheiro. Seis e meia da manhã não parecia mesmo um bom horário pra conversas longas...
O silêncio dentro do carro que estava a caminho do aeroporto era profundo e incômodo, mas nenhum dos presentes no carro parecia sequer prestes a quebrá-lo. ainda pensava no telefonema que tinha recebido da prima assim que saiu do banho. tinha chorado e quase implorado pra se despedir da prima no aeroporto, mas mesmo comovida manteve sua palavra e insistiu que não queria ver ninguém no aeroporto. A não ser , que obviamente estaria lá. Talvez se ela tivesse tido coragem pra se despedir dele antes, poderia ter chamado um táxi e ido sozinha pro aeroporto... Mas coragem era a última coisa que ela estava sentindo nesses dias, então teria que se despedir de na última hora, de qualquer maneira. Contra sua vontade, começou a pensar no que falaria pro garoto quando chegasse a hora. Olhou de esguelha pra ele, que dirigia olhando fixamente pra frente. Por mais calmo que ele aparentasse estar, ela supunha que dentro dele a calma não era tão grande assim, se é que existia.
E ela estava certa. estava desesperado interiormente e tentava ao máximo esconder isso de . Enquanto por fora parecia centrado e tranqüilo, por dentro estava praticamente em conflito. Pensava no que ainda poderia fazer, que chances ainda tinha, quais seriam suas últimas palavras pra antes de ela entrar no avião... Ah, tantas coisas girando incessantemente na sua cabeça e ele sem poder extravasar nada. Já tinha pensado em começar a se despedir ali mesmo, mas achou que seria dramático demais e desistiu. Também pensara em desviar o curso do carro e impedir que viajasse – pelo menos naquela hora –, mas sabia que a garota ficaria irritadíssima com ele e não queria que ela fosse embora o odiando. E dentre outras milhares de coisas que ele pensou em fazer, a decisão mais acertada pareceu a de continuar dirigindo em direção ao aeroporto sem abrir a boca nem uma única vez. A não ser pra falar...
‘Chegamos’ ele disse desligando o carro após estacioná-lo.
‘É’ concordou tolamente descendo do carro junto com o garoto.
pegou as malas dela no porta-malas e a seguiu pra dentro do aeroporto. Pararam perto de uma pilastra, onde encostou as malas, e ficaram olhando ao se redor.
‘Mais quinze minutos e fim’ falou baixo, olhando num relógio enorme que estava perto de um balcão. colocou as mãos nos bolsos e balançou o corpo pra frente e pra trás.
‘Fim...’ repetiu. soltou um longo suspiro, um dos mais longos que poderia soltar, e encarou o garoto. Ele a encarou de volta instantaneamente.
‘Eu nem sei o que te dizer’ ela admitiu se sentindo estúpida ‘Talvez por, desde que comecei a morar com você, não ter imaginado nunca que teria que me despedir assim... Foi burrice a minha pensar que seria pra sempre, mas eu só pensei isso porque eu queria que fosse. E agora eu me sinto uma idiota por estar acabando com o “pra sempre” que eu mesma criei pra mim’ ela balançou a cabeça com um sorriso bobo no canto da boca.
‘Nunca existiu nenhum “pra sempre” na minha vida’ disse numa voz controlada ‘até você chegar e criar um pra nós’ ele viu morder a boca ao ouvir a palavra que enfatizara ‘Infelizmente ele acabou, sim, mas é como eu já te falei antes: a culpa não é só sua’
‘Mesmo assim , eu queria te pedir desculpas’ ela disse se sentindo absurdamente tentada a chorar ‘Eu errei comigo e com você também, e eu fui tão burra, tão...’
‘Você foi perfeita’ ele a segurou pelos ombros com delicadeza, olhando-a intensamente nos olhos. Foi tudo o que precisou ouvir pra cair no choro. a abraçou pela cintura e começou a lhe acariciar os cabelos macios com uma das mãos.
se sentiu grata pelo abraço, pois precisava que a confortassem. E nos braços de era exatamente o que ela buscava: conforto. Ele sentia isso e tentava suprir essa necessidade que praticamente emanava dela. Estavam ali buscas e tentativas inúteis. Não havia conforto naquele lugar, muito menos entre aqueles dois jovens que prolongavam uma despedida dolorosa. Havia apenas pesar. Em cada canto, em cada segundo, em cada respiração.
‘Eu devia ter feito você prometer que não ia chorar porque essa realmente não é a última imagem que eu quero ter de você, mas tudo bem... O importante não sou eu, e sim você’ continuou após aquela longa pausa que fizeram ‘E eu quero que você pare de pensar que foi burra ou coisa assim, você simplesmente não escutou a si mesma’ ele respirou fundo ouvindo os soluços abafados que a garota soltava contra seu peito ‘Vou te confessar que até hoje não entendo isso, mas mesmo assim você não deve ficar se culpando, se menosprezando nem nada disso. O que está feito, está feito’
‘E agora eu estou indo embora’ ela afastou o rosto dele, olhando pra cima pra poder encará-lo. Sempre tinha que fazer isso quando estava perto demais dele. Ele sempre fora um pouco mais alto que ela e... Droga, até de pequenos detalhes assim ela sentiria falta ‘como uma covarde’
‘Shiu’ ele tirou a mão dos cabelos dela e colocou o dedo indicador na frente da sua boca ‘Você só está fazendo o que acha que é melhor, não está fugindo. E de qualquer forma, eu só quero que você saiba que longe ou perto de mim, eu vou te amar como eu amei desde o começo’
‘Não faz isso comigo’ ela pediu chorosa. Ele ignorou o que ela disse.
‘Eu vou continuar te amando sim, isso não vai mudar em nada, eu sei, tenho certeza... Porque é a melhor coisa que eu já senti e eu não quero esquecer como é sentir isso’
‘Onde quer que eu esteja, eu vou te amar. Juro’ disse entre lágrimas.
nunca se viu querendo acreditar tanto em palavras como aquelas. Segurou o rosto da garota e a beijou. A beijou como se eles fossem as últimas pessoas vivas no mundo, como se nunca tivesse feito isso antes, como se fosse a última coisa que pudesse fazer na vida. não se conteve e nem pensou em fazê-lo. Como das outras vezes, se deixou levar. Nunca quis tanto ser levada daquela forma. O tempo, as pessoas, a vida... Tudo podia passar por ela contanto que ela pudesse sentir o gosto de como naquele momento. Nada naquele aeroporto, naquela cidade e nem no mundo inteiro era mais importante pra ambos do que aquele último beijo.
Após longos minutos, eles separaram as bocas e os corpos. mordeu a boca num meio sorriso sem jeito, o que fez sorrir também. A voz calma de uma aeromoça qualquer ecoou ao fundo.
‘Passageiros do vôo 724 com destino à Massachusetts, Estados Unidos, dirijam-se ao portão de embarque 6’
‘Meu vôo’ disse tirando a passagem do bolso e a verificando. Sentiu as mãos de nos seus ombros mais uma vez e o encarou ‘Eu acho... Que tenho que ir agora e... Só... Só não se esquece de mim, ok?!’
‘Nem se eu quisesse’ murmurou antes de dar um beijo suave na testa da garota ‘Se cuida e dê notícias’
concordou com a cabeça antes de abraçá-lo forte.
‘Obrigada por tudo, principalmente por isso.... Por estar cedendo dessa forma, . Infelizmente alguém sempre tem que ceder... É a vida’ disse amargurada ‘Vou sentir muita, muita saudade’ e se soltou dele. pegou algo no bolso de trás da calça e colocou na mão direita dela, fechando-a em seguida.
‘Pra dar sorte’ ele disse sorrindo de canto. abriu a mão e encontrou uma moeda bem na palma. Sorriu. Era a moeda que estava no plum pudding do Natal e que, por coincidência, tinha encontrado na porção do doce que estava comendo.
‘Obrigada’ ela agradeceu, achando mesmo que precisaria de um pouco de sorte. Afinal, esse é o tipo de coisa que nunca se nega, que nunca é demais. pegou as malas e respirou fundo ‘Até mais, ’
‘Até’ ele respondeu apenas. Sentia como se quando ela tivesse se soltado do abraço tivesse arrancado algum pedaço dele. Um pedaço que estava levando com ela e que talvez não voltasse a pertencer a ele jamais.
Demorou mais alguns segundos pra que ela afastasse. A aeromoça chamou de novo os passageiros do vôo 724 e só então deu as costas e foi à passos lentos em direção ao portão de embarque 6. se encostou na pilastra, colocou as mãos nos bolsos e ficou olhando enquanto ela se afastava. Viu pegarem a bagagem dela, verificarem sua passagem e tudo mais. Então recebeu um último olhar e um último aceno antes que ela sumisse atrás de uma porta de vidro escuro. Era isso, tinha acabado. Ela não estava mais lá, não estaria mais lá com ele. Acabou, ele concluiu. Uma lágrima quente e indesejada escorreu pelo seu rosto abatido quando ele desencostou da pilastra e foi à caminho da saída do aeroporto.
Quando chegou no carro, notou que as ruas estavam estranhamente vazias. E nevava. Só... nevava.
N.A.: OOOH GOOOD, não acredito que chegou ao fim. Sério, parece que foi tão rápido... E pra mim é quase tão triste quanto pra vocês ;; Bom, deixando isso de lado, eu gostaria de agradecer MUITO vocês, leitoras tão lindas e fofas, que acompanharam a fic, sorrindo, chorando, xingando e se emocionando... Enfim, se sentindo parte dela. Me empenhei muito nessa história e agradeço a todas que leram, que demonstraram carinho, que elogiaram e que criticaram também. Não seria a mesma coisa sem o incentivo de cada uma de vocês, então, obrigada MESMO *-* Quero agradecer também às minhas amigas que também me apoiaram e foram as primeiras a opinar sobre a fic, me ajudando com alguns detalhes; obrigada à minha beta Lelen, que atendeu à todos os meus pedidos e fez um ótimo trabalho; e, como não poderia faltar, obrigada McFLY por surgir em minha vida e despertar muitos sonhos dentro de mim e de várias outras garotas ao redor do mundo :}
AH, já ia me esquecendo de um detalhe importante! Suponho que algumas (ou todas) de vocês estejam imaginando se esse é realmente o fim da fic, certo? Bom, devo informar que vocês podem alimentar suas esperanças, além de pedir que tenham paciência e que não esqueçam do que aconteceu até agora... Forbidden 2 vai chegar quando vocês menos esperarem ;D
Beijocas à todas e, mais uma vez, obrigada por tudo. Amo vocês, minhas lindas :*