- Achei que estivesse aqui. - as palavras foram carregadas pelo vento até onde ela se encontrava. Estava em pé por mais tempo do que se permitia ficar. Seus olhos se perdiam diante da imensidão da paisagem e o vento, movimentando seus longos cabelos, não lhe pareciam um incômodo aparente. - ... - sua voz ecoou pelo lugar novamente e ela se encolheu, como se de repente um frio lhe percorresse a espinha. Droga. Por que o jeito como lhe falava tinha que ser de tamanho impacto?
- Vai embora. - sua voz saiu como um sussurro, mais para si mesma; ela não queria que ele fosse. Seus pés afundavam na terra fofa sob ela devido ao tempo que estava ali, parada. Seus olhos voltavam a arder, ela mal conseguia piscá-los, estavam inchados e de certa forma pesados. Suas pernas doíam, clamando por um descanso.
Aquele lugar, seu pequeno refúgio, agora ocupado pela pessoa que há tanto tempo habitava seu coração, mas ela se sentia tão...sufocada. Tinha medo de se virar e encontrar aqueles olhos que faziam seu mundo parar de girar por um instante, poderia passar horas apenas analisando-os, mas não ali. Não agora. O ar se desprendeu de seu peito e saiu em um suspiro entrecortado pelo nó que sua garganta formava lentamente. Ela voltou a olhar para o céu, o alaranjado do sol se pondo estava se misturando com o azul escuro da noite caindo, seus olhos estavam se embaçando, permitindo a vista contorcida do que seria um incrível pôr-do-sol se ela não estivesse tão machucada.
Abaixou seu olhar magoado para seus pés e por um breve momento sentiu que o chão estava mais próximo de seu rosto do que imaginara até sentir braços a envolverem logo abaixo do busto, dando-lhe a força que suas pernas não poderiam mais lhe oferecer. O silêncio era mórbido, tanto que ela ouvia suas lágrimas atingirem o solo, como gotas de chuva solitárias.
ajoelhou-se com o cuidado de não machucar e a sentou em seu colo enquanto seus braços ainda a envolviam, trazendo-a para mais perto de si. Estava gelada, tão gelada quanto seu coração se encontrava naquele momento, vendo sua pequena sofrer...por causa dele. Como havia sido capaz? Capaz de falar tamanha besteira quando ele sabia que queria totalmente o contrário? Tirou parte do cabelo da menina, jogando-o para o lado, como fazia para poder sentir seu perfume. Aquele cheiro doce e viciante, o qual ele nunca se permitiria enjoar, invadiu suas narinas ao que o vento soprou na direção dos dois, fazendo-o sorrir involuntariamente.
Ele conseguia ouvir os curtos e baixos soluços de irem tornando-se cada vez mais frequentes. Aproximou-se de uma das orelhas da menina e percebeu, como de costume, a pele da nuca de se arrepiar com sua presença tão próxima. Os segundos que se passavam enquanto ele pensava no que dizer pareciam intermináveis. "Me desculpe?", "Não sabia que se sentia desse jeito?", não sabia como começar a se explicar. A proximidade com a amiga de tantos anos o impedia de pensar em uma conversa concreta.
- Por que está aqui? - ela resolvera quebrar o silêncio. Por um lado sua presença havia a acalmado, por outro...continuava a ser perturbadora. Ela não aguentava mais derramar lágrimas, se sentia tão vazia que acreditava não ter mais o que derramar. O fato de ele estar ali, a abraçando, parecia lhe trazer uma alegria irônica que acabaria no momento que ele se levantasse e lhe desse as costas. Não, ela não deixaria que aquilo acontecesse.
- Eu... - ele começou, mas sua voz logo foi abafada pela rajada de vento que os atingiu, fazendo com que se encolhesse. Automaticamente apertou mais o abraço. virou-se de lado, colocando ao alcance de sua visão periférica. Não iria resistir por muito tempo, seu peito se comprimia cada vez mais...aquela proximidade que, ao mesmo tempo em que lhe reconfortava, parecia impedi-la como uma barreira posta entre os dois.
Não aguentando mais ela virou-se de frente para ele e a primeira coisa pela qual procurou foram seus olhos. Ah, seus incríveis olhos que perdiam o brilho a medida que o sol que os iluminava ia perdendo altitude. Como adorava aqueles olhos, poderia saber, como ninguém, o que se passava com apenas olhando para eles. E naquele momento eles estavam confusos, analisando a expressão de seu rosto que ela mal se lembrava de estar expressando. O silêncio entre eles parecia perturbá-los de maneiras distintas, mas em uma coisa eles deveriam concordar: precisavam dizer algo.
- Eu... - tentou novamente, a garganta seca o fez pigarrear. Os olhos de brilhavam pelas lágrimas e ele não queria que continuasse assim; só de pensar que aquelas lágrimas tinham seu reflexo já o fazia pensar em voltar no tempo e impedir que tudo aquilo estivesse acontecendo.
Mas ele não conseguia, não conseguia enxergá-la da maneira como ela queria...ou talvez até conseguisse, só que não queria. Não queria arriscar perder a amizade, aquela que eles haviam construído durante anos, dia por dia, momento por momento. Simplesmente não conseguiria imaginar a vida sem ela ao seu lado, o apoiando nos momentos mais difíceis e o suportando com calma nos momentos de fúria.
Contudo, ela havia dito. Aquelas famosas três palavras que todo mundo sonhava em ouvir um dia e o que ele havia feito? Negado. Agora podia sentir com mais vigor seu estômago afundar e doer, o coração acelerar e a respiração tomar uma leve pausa. Ele havia dito 'não' ao amor que estava disposta a lhe entregar naquela tarde. Deus, se sentia tão tolo, tão infantil por tê-la magoado daquela maneira. Era como se tivesse errado o passo em um campo minado, e agora via tudo explodir a sua volta, parecia finalmente poder cair em si.
Fechou os olhos e inspirou falhamente, umedeceu os lábios e tornou a abri-los, olhando para a menina a sua frente. Aquela pela qual seu coração batia diferente e ele sabia disso, só não sabia se deveria aceitar, acreditar. Soltou o ar de seus pulmões que, sem querer, acabaram batendo no rosto de que fechou os olhos, por sua vez.
A vontade de tocar seu rosto, sentir a pele macia dela sob seus dedos estava vencendo-o aos poucos; não sabia se podia, mas já havia feito muito de errado naquele dia para deixar essa oportunidade lhe escapar por entre os dedos, literalmente. Sua mão foi se aproximando lentamente do rosto de até que as pontas dos dedos encontraram a superfície úmida, porém macia, de seu rosto e ela abriu um pequeno sorriso no canto dos lábios, inclinando levemente a cabeça para que sua pele entrasse em contato com a dele, mais ainda. Sua pequena mão subiu pelo braço de até chegar na mão que segurava uma de suas bochechas, e as entrelaçou.
Seu rosto se contorceu e logo ela voltava a chorar, aquela poderia ser a última vez que ele lhe fazia carinho. Respirou fundo, o ar soltando-se em pequenos espasmos que eram seus soluços. Queria gritar, queria lhe perguntar o porque de não querê-la tanto quanto ela lhe queria. Virou mais o rosto e beijou-lhe a palma da mão abrindo os olhos em seguida. Não importava que não o enxergasse direito através das lágrimas que teimavam em embaçar sua visão, apenas sabia que estava olhando para ela.
- . - ele a chamou, seu hálito de chocolate invadiu as narinas da menina que o olhou. O tempo parecia ter parado, escolhia palavra por palavra como se ainda estivesse no mesmo campo minado, pois ele sabia que, dependendo dos passos, o jogo poderia começar de novo. E dessa vez ele não estragaria tudo.
- Fala. - seu tom de voz pareceu descontraí-lo. Era doce, como ela costumava lhe falar quando ficavam em silêncio por muito tempo, sem nada a dizer. Ele sorriu com vagas memórias de momentos juntos. Sua outra mão subiu até tocar a bochecha de , ele levantou seu rosto e alinhou seus olhares. Era agora ou nunca.
- Eu... eu também te amo. - ele suspirou, sorrindo aliviado assim que as três palavras deixaram seus lábios para serem carregadas pelo vento incessante. continuou olhando-o, parecia não conseguir acreditar no que acabara de dizer, pensava ser coisa de sua cabeça, mas não. - Eu te amo, . - ele repetiu, aumentando o sorriso. abriu e fechou a boca diversas vezes, sentia seu peito inchar aos poucos de felicidade.
- Mas... - ia dizendo ela quando o dedo indicador do menino "tapou" seus lábios.
- O que eu disse mais cedo, eu, eu fui um idiota. - ele balançou a cabeça, como se ainda fosse inacreditável que, de fato, ele lhe havia negado o amor. - Você é minha melhor amiga, , aquela com quem eu gosto de passar os dias, não importa como eu esteja me sentindo, você faz eu me sentir bem. - os lábios de ganhavam vida a medida que ela ia curvando-os para cima em um sorriso lindo. - E eu estava com medo de dizer que te amava e acabar perdendo sua amizade, o meu bem mais precioso. - beijou-lhe a testa e apoiou a cabeça da menina em seu peito, abraçando-a.
- Obrigada. - ela sussurrou, sorrindo e aconchegando-se ainda mais no peito do amigo. sentiu seu corpo se aquecer e sorriu largamente. Ficaram um bom tempo apenas curtindo a presença um do outro como parecia há muito tempo não o fazer.
- I gotta tell you what I'm feeling inside, - começou a sussurrar baixinho com a voz meio falha. Sabia que aquela música era a preferida de sua pequena. - I could lie to myself but it's true. There's no denying when I look in your eyes. Girl, I'm out of my head over you.
- I lived my life believing all love is blind, but everything about you, is telling me this time it's... - continuou, desviando seus olhos para os de .
- Forever, this time I know... - os dois cantaram juntos, sorrindo. - And there's no doubt in my mind. Forever, until my life is through. Girl, I'll be loving you forever. - eles riram e aproximaram seus rostos.
fechou os olhos, sentindo o carinho que fazia em seu rosto. Podia sentir sua respiração bater em seus lábios e isso só a deixava mais nervosa. observava cada detalhe do rosto da menina, como se gravasse enquanto traçava um trajeto aleatório com seus dedos. Desceu uma de suas mãos para a nuca de e trouxe-a para mais perto. Ao que seus lábios se encontraram ambos sentiram uma explosão dentro de seus corpos. Era como se milhares de fogos de artifício explodissem de uma só vez. Cargas de adrenalina percorriam por suas veias enquanto eles aproveitavam cada momento de um sentimento novo.
foi escorregando suas mãos até abraçar o pescoço do menino, enrolando seus pequenos e delicados dedos no cabelo de , conforme o beijo ia se intensificando. Ela se sentia feliz. Ele se sentia feliz. Ambos finalmente poderiam viver juntos de forma a conservar a amizade e o amor que haviam cultivado todos esses anos.