Capítulo 1 “Ainda bem que eu estava sozinha em casa, ou minha mãe já estaria ligando para o hospício. E milhares de imagens e cenas de todo o sofrimento que eu já passara por eles, a banda mais perfeita desse mundo, passavam por minha mente em uma velocidade inimaginavelmente confusa...”
Era uma manhã normal na minha cidade pacata, exceto pelo fato de que eu acabara de brigar com meu namorado. Aquele idiota. Ele teve a brilhante idéia, já que era dia dos namorados, de aparecer na porta da minha casa, o que eu o tinha proibido de fazer sob qualquer circunstância, com um buquê barato com umas margaridas alienígenas, ou sei lá que tipo de projeto de flor era aquilo, e com um sorriso ridículo no rosto. Não foi difícil convencer minha mãe de que ele era um retardado mental da minha escola e que era obcecado por mim, e eu, muito caridosa, fazia questão de incluí-lo no meu círculo social. “Ai, agora ele vem falar comigo no MSN” pesei irritada.
- Pensei que você fosse romântica!
- Mas você sabia que não podia pôr os pés na minha rua! Imagina se minha mãe desconfia de alguma coisa! – Eu digitei rapidamente, impaciente para me ver livre de mais uma discussão com .
- O que você disse pra ela?
- Você não vai querer saber.
- Aí, tá vendo, você resolveu o problema, eu só fiz aquilo porque sabia que você daria um jeito.
- Nossa, mas que inteligente você, hein!
-Tá bem, mas não precisava ter jogado minhas flores no lixo, e na minha frente!
-Ah, mas você é muito brega mesmo, peraí, você disse flores?
- Ah, , esquece, não dá pra conversar com você não, qualquer dia a gente se fala, tchau pra você!
- Maravilha, já tava na hora de você se tocar!
Tá, ninguém podia culpar meu namorado de ser cafona, pobretão e muito meloso, mas antes isso do que como o “bad boy” que eu o encontrei há dois anos. Sinceramente, o já tava me enchendo o saco. Há um tempo tenho sentido dificuldade em engolir as mancadas que ele dá, as quais, diz ele, são todas por amor. Ele já se meteu em brigas por causa de caras idiotas em shows, na rua, na padaria, no cursinho, já socou meu melhor amigo por puro ciúme e já tentou me proibir de ver um de meus amigos mais íntimos, só por acreditar que ele não era confiável e estava afim de mim. Nota: esse amigo é gay. Isso já deve lhes dar uma idéia sobre o nível de possessão e ciúmes em que se encaixa. Assim que ele praticamente fugiu de mim no MSN, eu decidi acessar o amado Twitter. A última postagem era de uma amiga minha, e meus olhos se prenderam imediatamente no texto escrito em Caps. Lock: “ EM EM DEZEMBRO!! *---*”. Eu não podia acreditar, meu cérebro lento ainda não havia processado o significado daquelas palavras coloridas, eu não queria aceitar, eu não conseguia engolir aquela verdade dolorosamente deliciosa. Poucos segundos depois me pus a gritar enlouquecidamente entre arfadas e sussurros: “Não pode ser, não pode ser!!”.
Meu sonho havia se realizado, há seis anos eu era fã de , eu comecei a idolatrá-los antes mesmo de minha prima nascer, e eu já os amava muito antes de qualquer piriguete metida descobrir que eles existiam, e bem antes daquele filme ridículo (tá, eu assisti trezentas vezes, admito) ter sido lançado, estreando Lindsay Lohan com os meninos novinhos cantando “I’ve got you”. E eles jamais tinham feito uma turnê que envolvesse o nome de minha cidade na lista das premiadas, e o porquê não é difícil: é uma cidade pequena, muita gente nem sabe que existe, muita gente sabe que existe e a população é grande até, mas eu definitivamente não gosto daqui. E é claro que como o mais perto que meus artistas amados já chegaram daqui foi 600 km, eu nunca pude ir até eles, por falta de dinheiro e permissão de minha querida mãe. De qualquer forma eu esperara por esse dia durante aproximadamente 2190 dias nublados e frustrantes.
Ainda bem que eu estava sozinha em casa, ou minha mãe já estaria ligando para o hospício. E milhares de imagens e cenas de todo o sofrimento que eu já passara por eles, a banda mais perfeita desse mundo, passavam por minha mente em uma velocidade inimaginavelmente confusa enquanto eu ainda tinha fôlego para gritar, e o minuto que se seguiu durou muito pouco, ainda não tinha sido suficiente para extravasar toda a euforia que se agitava dentro de mim, assim, recomecei a gritar e disparei pela casa, e também por outros minutos mais que se seguiram, até cair tonta e rouca em minha cama. E eu ainda me contorcia, algo dentro de mim não podia ser controlado, e eu urrava de satisfação. Algum tempo depois, não imagino quanto, finalmente me esgotei e adormeci de pronto em minha cama desarrumada e com o colchão derrotado depois de uma dose de pulos infantis, mas muito bem justificáveis.
Quando acordei, nem me importei com a dor de cabeça que me tomou devido a toda aquela gritaria e esforço. Me levantei animada e fui tomar uma boa ducha, era por volta do meio-dia, mas eu precisava acalmar um pouco os meus neurônios... E hormônios também. Debaixo das águas frias de meu chuveiro, parei para pensar com calma no que havia acabado de acontecer antes de eu dormir, e cheguei à seguinte conclusão: meus ídolos estavam a caminho, em cerca de um mês eles estariam aqui, e o sonho da minha adolescência se realizaria e eu ainda nem havia entrado na faculdade. E não sei por que, parei para refletir sobre a minha triste história:
Minha mãe me criara sozinha, pois meu pai nos abandonara antes mesmo de eu nascer. Ela trabalha como professora de português, e ensina o maior número de turmas possíveis e durante dois períodos. No tempo livre, ela geralmente investe em sair com amigas e em procurar parceiros amorosos. No que ela tem se esforçado muito nos últimos anos, mas fracassado infelizmente. Na verdade eu me lembro de muitos namorados de minha mãe, mas somente de um que eu posso dizer que gostava realmente, o Frederico. Ele era o mais respeitável, íntegro, humano e bateu o recorde de duração: um mês. Nenhum havia se aventurado por mais tempo do que isso, a maioria na verdade só passava uma noite aqui e se mandava discretamente no dia seguinte, ou se o relacionamento durava mais do que dois dias, logo sumiam do mapa ou apareciam com outra mulher ou uma desculpa esfarrapada para dar o fora. E todas às vezes, minha mãe se decepcionava, desiludida novamente do sonho de ter encontrado seu príncipe encantado. Recentemente ela havia me dado a notícia de que pretendia ter outro filho. E eu sabia o que isso significava: havia uma chance muito grande de ela estar grávida.
Bem, e podemos dizer que com minha vida inteira de convivência com minha mãe eu teria tomado suas dores, observado seus fracassos e com isso aprendido a lição? Não. Na verdade eu não muito raramente cometo os mesmos erros estúpidos que ela. E sempre acreditei em príncipes encantados, aliás, acredito até hoje. Mas após a revelação de minha mãe sobre engravidar eu só havia lhe dito uma frase até agora: “E quem a senhora pretende que seja o pai?!?!?!?”. Bom, ela não ficou muito ofendida ou chateada, mas disse que pode optar por inseminação artificial caso não encontre o homem perfeito em pouco tempo. Mas isso tudo soava muito mal, e eu tinha tido sonhos com bebês na semana passada... Não me admiraria nada saber que ela já estava grávida e nem sabia de quem, e se sabia, fosse quem fosse já saiu de seu círculo social. Infelizmente, o último cara a passar por aqui de que eu me lembre, foi um tal de Felipe, um homem muito bonito mas muito cafajeste, sumiu no dia seguinte. Será que este poderia ser o pai de meu futuro irmão?
Mas, apresentações da minha família à parte, sobre mim eu posso dizer que não tenho muitos amigos desta cidade estúpida, adoro ler, sou um pouco nerd sim, odeio adolescentes idiotas e sou uma pessoa digamos... diferente. Ah, mas diferente é legal, é... E eu tenho muitos sonhos: Conseguir sair dessa cidade, casar com minha alma gêmea, morar sozinha durante um tempo, me tornar uma cantora profissional, ser uma mulher independente, bem sucedida e poderosa um dia. Ah, e minha meta para o resto da vida: Deixar de ser tão frágil e sensível, eu odeio isso.
O barulho irritante do telefone tocando me trouxe instantaneamente da minha viajem sobre minha vida patética e eu desliguei o chuveiro e saí do banheiro correndo para ver quem chamava. Atendi ao telefone, e adivinha quem queria falar comigo: meu quase ex-namorado, tadinho, não devia ter feito isso. Eu explodi:
- O que você quer, criatura? Nós acabamos de conversar!
- Amor, liguei pra me desculpar, percebi a mancada que eu dei, vi como fui idiota, me desculpa por ter ido até aí sem te avisar e ter te deixado tão brava, eu só queria agradar você porque te amo muito, mas parece que você nunca quer me ouvir...
Eu permaneci em silêncio, pensando muito, e calmamente.
- ? Tá aí?
- To.
- Você me perdoa, meu amor? Por favor? Esquece tudo o que eu disse pra você.
- Tá bom, tá bom , mas que não se repita! Vê se pensa trinta vezes antes de fazer as coisas sem me consultar da próxima vez, tá? Você deu sorte que eu to de muito bom humor.
-Ah, tá é? Desde quando isso, se eu falei com você há quinze minutos e você tava quase me matando via internet?
- Ah, engraçadinho, eu descobri uma novidade maravilhosa... quer saber qual é?- Ele nem precisou responder e eu exclamei: vem pra em dezembro!!
Esperei alguns segundos, surpresa novamente com o que ouvia de minha própria boca, e ele finalmente respondeu:
- , querida, você está bem? Tomou alguma coisa hoje?
- , deixa de ser palhaço!! É verdade!!
-Ah... nesse caso, alguém enlouqueceu... O que eles virão fazer aqui nesse fim de mundo?
- Precisa responder, ?!?
-Ah, não, tudo bem, já saquei, já saquei... Erm, mas que bom então né, você deve estar muito feliz.
- Ah eu estou!
- Tem alguém que vai com você? – Ele disse receoso. Pobre , ele abomina .
- Não sei ainda, vou tentar obrigar a a ir comigo, mas ela não gosta muito deles...
- Você não tem nenhum amigo que curte ?
- É...não. Mas não tem problema, eu posso pagar qualquer homem forte e corajoso pra me proteger lá.- Eu provoquei, séria.
- Que isso pô, eu te levo, sou seu namorado, não é? Não vou deixar você ir sozinha naquele show e muito menos mal acompanhada.
- Ah, que isso hein “Jonny Bravo”?! Tá bem, eu vou pensar no seu caso. A gente se fala amanhã.
- Eu estou falando sério, . Você não vai nesse show sem mim.
- Tudo bem então, depois a gente decide quem vai me impedir. – E dei uma risadinha maldosa, eu odeio quando ele tenta mandar em mim.
- Há, há. – ele riu sem graça.
-Beijinhos, honey – disse sarcástica, adoro deixar ele irritado, não sei por que, e desliguei o telefone rapidamente, nem um pouco preparada emocionalmente pra escutar a resposta dele. , que menina má, fez seu namorado arrependido ficar puto! Apesar de todos os defeitos do , eu gostava da companhia dele, quando ele não estava sendo ciumento e ignorante, ou machucando pessoas que eu amo. E no fundo eu realmente queria ir com ele no show, afinal, como eu ficaria quando meus ídolos tocassem “Falling in Love” se ele não estivesse lá pra me beijar? Provavelmente eu agarraria qualquer cara que estivesse por perto, com tanta emoção que eu iria sentir... Tudo poderia acontecer. Bom, então por via das dúvidas era melhor eu me assegurar e levar meu namorado de uma vez, né? Eu não me atreveria a trair o conscientemente, ele provavelmente me mataria junto com meu amante e jogaria nossos corpos no lago. E de verdade, eu não me surpreenderia se descobrisse que ele é meio psicopata.
Então eu, tranqüila, caminhei até o sofá da sala de estar para tirar um cochilo, desejando que ele durasse a tarde toda, já que era feriado.
-Ei ! – Eu a cumprimentei entusiasmada em nossa sala do cursinho. Ela estava sentada em uma carteira no meio da fileira seis, do lado direito da sala, o que não era bom sinal, ela só se sentava afastada da turma e do quadro quando estava de mau-humor. E ela olhou pra mim com os olhos semi-abertos, com a pior cara de quem estava dormindo sentada possível, e respondeu baixinho:
- Que cara de emoticon é essa, no dia depois do feriado?
- Boa tarde pra você também, e obrigada por perguntar, eu estou ótima, e tenho uma boa notícia! Ao contrário de você, amiga, eu descansei no conforto de meu lar ontem, o dia inteirinho.
- Ah, que ótimo que alguém tá inteira! Mas conta logo a boa notícia. – Ela disse sem expressão nenhuma no rosto. Eu relevei animada e respondi enquanto colocava minha mochila na carteira ao lado da dela:
- Nem te conto , vai vir pra cá em dezembro!!
-Hã? , aquela banda inglesa que você gosta?
- Olha como fala deles, hein! não é uma mera “banda inglesa”, meu bem. – eu disse sentando-me no chão, ao lado de minha Best friend.
- Ah tá, só podia ser um inglês bonitão, ou melhor, quatro, pra você tá tão alegrinha assim.
- Ah, vê se me erra, tá, senhorita escuridão? Nada vai abalar minha áurea iluminada hoje!
- Uai, mas não é verdade? Você sempre foi apaixonada por aqueles caras, cada um teve uma época: no início foi aquele baixinho fofo, até que você descobriu que ele era gay, depois foi a vez do , mas não sei porque, pouco tempo depois você se esqueceu dele, então veio...- Eu a interrompi entre dentes:
- Cala a boca, ! E se alguém escuta isso e conta pro ? Como eu fico?
- Tá bem! Mas não tenta me enganar que você no momento não tem uma quedinha por algum deles! – Ela sussurrou, brava.
- É claro que tenho , mas sou uma mulher comprometida, e com um cara descontrolado! – Eu afirmei contendo o riso.
- Ah, não fala assim no nosso querido amigo , ele é tão educado! – Ela disse sarcasticamente, me fazendo soltar uma risada alta:
- Ai , você nunca vai aprender a gostar dele mesmo, né?
- Espero que não enquanto eu viver, amiga.
O sinal tocou enquanto eu acenava negativamente pra uma despreocupada, e em um minuto a sala estava cheia, com todos os oitenta alunos que estudavam comigo. Tivemos uma péssima aula de química, com aquela vaca mal-comida da professora, como diziam meus estimáveis colegas desprovidos de cérebro, mas certos quanto a uma única coisa: Não há mal em odiar um professor de cursinho. Eu terminei o ensino médio e entrei para este pré-vestibular por causa de meu desespero de ser independente, poder ingressar em qualquer curso em uma universidade federal, me formar o mais rápido possível e poder morar sozinha, me sustentar.
Por estes motivos, aqui estou eu, no lugar mais entediante que uma adolescente poderia estar às duas horas da tarde de uma terça-feira, que não o sofá de sua casa. Se Deus quiser, logo estarei bem longe daqui e entrando pra faculdade.
Quando o sinal para a aula terminar soou, eu já preparada, levantei-me apressada enquanto me despedia de , e rapidamente desci as escadas para a entrada do cursinho, onde o carro de minha mãe já me esperava. Ao entrar, senti um clima pesado, e pude ver minha mãe estranha: preocupada e pesarosa, o que ela dificilmente ficava. Perguntei o que havia de errado e ela me disse que iria viajar por um tempo, sozinha. Ela queria ir para um lugar tranqüilo onde ela poderia descansar e refletir. Eu acenava com a cabeça, pensativa, e disse:
-Tudo bem mãe, eu entendo, mas... por quanto tempo?
- Não sei, filha, o tempo que levar.
- Mas... vai me deixar aqui sozinha? Mãe, eu não vou sobreviver!
- , por favor entenda filha, que eu preciso muito disso agora, você sabe que eu não tiro férias há anos!
- Então me deixe ir com você!
- Você fica e termina seus estudos, logo estarei de volta e você vai começar a trabalhar também, até lá as coisas vão se acalmar e nós vamos poder passar mais tempo juntas!
- Mas ninguém sabe quanto tempo pode levar para eu me formar! A senhora não pode adiar a viajem até minhas férias?
- Por favor minha filha, não me julgue! Só tente ser compreensiva, eu confio em você pra se cuidar até eu voltar. Você é independente, vai se virar sem problemas. Eu vou deixar um cartão de crédito da minha conta do banco com você, vai dar tudo certo!
- Mãe, me responda: Isso tudo tem alguma coisa a ver com aquela conversa sobre engravidar? A senhora está grávida, mãe?
- Não filha, não estou, mas bem que eu queria muito. Eu só quero passar um tempo longe do trabalho, dessa cidade, mas eu não deixei de amar você! Vê se entende isso, ! E assunto encerrado. – Eu engoli minhas contestações e me rendi ao cansaço e cochilei no banco do carona. Ao chegar em casa tudo que eu consegui fazer foi caminhar até o meu quarto, e lá eu fiquei pensando muito pelo resto do dia: Minha mãe estava indo embora. Capítulo 2 - O show “Com minha bolsa gigante debaixo do braço, saí para a fria manhã em direção ao metrô. Eram cinco e meia da manhã. Às 05h55min eu me encontrava parada na porta do “City Hall ”, boquiaberta.”
E pelas 24 semanas seguintes, as tardes passaram-se da mesma forma, lenta e torturantemente, até o dia anterior ao show. Minha mãe já viajara para sei-lá-onde e me abandonara aqui, o que eu já havia aceitado com compreensão. Eu já tinha um plano traçado para ter contato com os melhores músicos do mundo. Não acamparia na fila do show, pois não teria necessidade aqui nesta cidade ignorante, onde quase ninguém já ouviu falar da banda , mas:
PLANO A- Eu chegarei na casa de shows “City Hall ” na primeira hora da manhã e esperarei pelo show até as 16h00min horas da tarde. insistiu para chegar no mesmo horário do que eu, mas eu consegui convencê-lo de que não havia necessidade, assim poderia socializar como um ser humano normal, e fazer amizades na fila com pessoas que pensam como eu, até ele chegar, uma hora antes do show começar. Como serei uma das primeiras da fila, creio que não terei dificuldade em disparar pela grande pista e me espremer contra a grade da pista vip até os astros subirem no palco. Ali me manterei durante todo o show como uma posição estratégica para encarar um dos seguranças durante todo o show. E em um momento oportuno pedirei educadamente que ele me dê um ingresso que me dê direito a entrar no camarim da banda quando tudo acabar e as pessoas vazarem. Eu tenho certeza de que não terei problemas em persuadir o tal segurança, seja ele quem for, pois meu poder de barganha e persuasão são infalíveis, além de quê não irei vestida como uma fã qualquer, mas como uma mulher que sabe o que quer, se é que me entendem... Em seguida me encaminharei até as portas do camarim e entrarei sem nenhum problema para o ninho de amor no qual estará me esperando.
PLANO B- Devemos considerar a possibilidade de eu não conseguir chegar no “City Hall ” às seis da manhã, neste caso, independente do horário que eu chegaria, não furaria fila, mas me concentraria em correr mais rápido ainda pela pista, e caso não conseguisse passar facilmente pelas pessoas que já estarão se acumulando ao redor da grade, entrará em ação: nós daremos as mãos, e ele disparará pela multidão, afastando as pessoas do caminho à medida que penetrará em direção à grade, enquanto eu gritarei: “Me solta! Me solta!”. Na grade, colocarei em ação o plano original de cantar um segurança, caso eu fracasse, o que é quase impossível, terei em minha bolsa um uniforme de empregada, e antes do show acabar me trocarei no banheiro e esperarei rondando a entrada do camarim com um sobretudo escondendo meu disfarce. Quando o show terminar, e a fila de fãs para entrar no camarim se formar, tirarei meu sobretudo e atravessarei a fila de pessoas e ao encontrar o segurança que estará barrando a entrada, começarei a berrar com ele em inglês, para me deixar entrar depressa, pois meus patrões me esperavam lá dentro. O segurança entenda inglês ou não, espero que ele me deixe passar, por medo de mim ou por ter caído no disfarce, e assim proclamarei missão cumprida enfim.
PLANO C- Este plano é uma ramificação do plano B, caso ele falhe em minha tentativa de entrar no camarim disfarçada. Se isto acontecer, estarei prevenida com uma barba postiça, um terno preto masculino, um par de óculos escuros, ombreiras grandes e sapatos formais em minha bolsa. Me disfarçarei de segurança e tentarei convencer o homem responsável pela entrada das fãs no camarim de que ele está sendo chamado na portaria três, onde uma briga acontecia, e eu fora mandada para substituí-lo. Com a barra limpa para mim, ainda disfarçada eu expulsaria as fãs da entrada do camarim, dizendo-lhes que os artistas não receberiam ninguém, haviam desistido de dar autógrafos e estavam de saída no portão lateral seis. Então, sozinha e com meus astros só para mim, me desfaria do disfarce para encontrar meu amado , e dessa vez quase a sós.
Caso nenhum dos planos citados à cima funcione, ainda tenho o plano de emergência, o D: Enfrentar o segurança do camarim ou fazer qualquer outra loucura que me vier à cabeça para conseguir encontrar meus ídolos.
Lá estava eu, repassando mentalmente todos os planos, todas as possibilidades, os mínimos detalhes. Encontrei pequenas falhas nos planos, as quais rapidamente corrigi e substituí. Assim não teria como dar errado, ou melhor, existia essa possibilidade, mas era muito pequena. Eu estava tão neurótica, há duas horas, com o olhar perdido, na mesma posição em minha cama, que se alguém estivesse me observado por dois minutos... teria no mínimo se assustado pra caramba. E a neurótica aqui chegou ao ponto de pegar papel, lápis e calculadora e tentar calcular a porcentagem de possibilidade do plano falhar. Pois afinal era minha última chance, o show era no dia seguinte, eu não teria mais esta oportunidade de ter uma brilhante idéia, os planos já estavam traçados, todo já fora minuciosamente preparado por mim há dias, como a bolsa que levaria, as roupas que vestiria, como me maquiaria, etc, etc. Não havia mais nada o que fazer, se não rezar para que tudo corresse bem, para que algum plano funcionasse, e esperar, esperar algumas poucas horas torturantes até o outro dia, quando começaria a colocar o plano A em ação.
Eu passei o dia todo pensando e escutando , a ansiedade para que o dia passasse era inexplicável, a vontade que tomava cada célula de meu corpo aflito era indescritível, e um anseio de minha alma para vê-los parecia prensar meus pulmões contra minhas costelas, apertar meu coração, fechar minha garganta e desligar meu cérebro lenta e progressivamente. Assim o resto do dia se arrastou dolorosamente, era como se meu corpo, inconscientemente, se guardasse para o que estava por vir, se preparasse para dar tudo de si no dia seguinte. Somente graças a esta estratégia adotada que eu consegui adormecer, às duas horas da madrugada, depois de dois comprimidos calmantes.
O despertador tocou, eram três e meia da madrugada. Acordei com um pulo, e como um robô me dirigi ao banheiro, e tomei uma boa chuveirada de água fria para despertar, me lavei cuidadosamente, procurando por qualquer centímetro de minha pele que não estivesse perfeitamente limpa e livre de pêlos, nem preciso dizer com qual cuidado lavei meus preciosos cabelos, o qual poucas pessoas no mundo tem permissão de tocar, dentre elas eu mesma, meu cabeleireiro e... só. É, não se encaixa nesta categoria de forma alguma. Me sequei lenta e minuciosamente e depois meus cabelos. Escovei os dentes durante, talvez, o recorde de maior tempo em toda a minha vida e me dirigi ao meu quarto.
Me vesti, me maquiei e fiz um penteado básico em meus cabelos ainda molhados, assim quando eles se secaram, ficaram com um ar de despenteados e bagunçados, no final da arrumação, eu estava com um look muito, mas muito sexy. Meus longos cabelos meio soltos e meio presos caíam e enrolavam-se em cachos delicados e brilhantes, que combinavam perfeitamente com minha bata azul-marinho e branca, super decotada que favorecia e muito meus peitos e cintura. E os tons escuros da bata e da calça jeans longa e reta contrastavam-se com minha pele clara. A maquiagem me deixou cinco anos mais velha, mas sem tirar o ar de inocência que eu sei emanar pelos olhos sempre que desejado, ou muitas vezes involuntariamente. E por fim: os pés. Estes calçavam sandálias azuis muito confortáveis e muito bonitas com uma alta plataforma para facilitar a minha visão do show e ajudar no look de mulher sexy e experiente para persuadir o (os) segurança (s). Eu estava pronta.
Com minha bolsa gigante debaixo do braço, saí para a fria manhã em direção ao metrô. Eram cinco e meia da manhã. Às 05h55min eu me encontrava parada na porta do “City Hall ”, boquiaberta. O lugar estava completamente deserto, para minha felicidade. Me posicionei na entrada ocupando alegremente o primeiro lugar da fila, e ali fiquei, escutando com meu ipod, contente, pelos próximos minutos. Foi quando parei para observar o movimento das ruas: também desertas. Era manhã de sábado, conclusão: quem estaria na rua à esta hora? Esperei ansiosa pelos próximos minutos pela chegada de fãs, ou pelo movimento de carros, mas nada. Então coloquei meu cérebro para funcionar um pouquinho e comecei a me lembrar de alguns atenuantes para a minha atual situação: 1 - A ausência de pessoas poderia ser explicada também pelo fato de que ontem foi feriado, aniversário da cidade, então a maioria das pessoas folgara na quinta e na sexta, o que levou muitas destas a viajar, pois não tem nada que presta de entretenimento nessa cidade. 2 – Era praticamente madrugada nesta cidade onde o sol demora a nascer e pra melhorar estávamos em horário de verão, o que provavelmente deixaria o céu escuro como noite pelo menos pela próxima hora. 3- Nenhum fã pareceu dar sinal de vida até agora, e pelo visto não darão tão cedo. 4 – Meu dinheiro deu a conta pra pagar a passagem pra vir pra cá, o que não é um problema ainda, pois eu pretendo voltar pra casa de carona com meu namorado depois do show. 5 – Estou sozinha nessa escuridão e nessa rua deserta, e eu consegui manter o longe daqui pelas próximas dez horas, no mínimo. Que ótimo. Se eu for sequestrada ninguém nunca vai saber.
Agora eu começava a ver maiores falhas em meu plano A. Eu definitivamente não considerei a possibilidade de eu ser a única fã fanática de em minha cidade. Em face à nova realidade de estar presa no centro da cidade pelas próximas onze horas, meu estado de espírito mudou radicalmente. Agora eu estava tensa, desliguei meu ipod e observava cuidadosamente cada centímetro da rua à minha frente. E por mais que eu respirasse fundo e tentasse me distrair, meus olhos não deixavam de percorrer veemente tudo que me cercava. E sob qualquer sinal de movimento eu me assustava.
Não sei quanto tempo depois eu ouvi passos. O silêncio agora era tão mortal que eu podia escutar meu coração batendo e o ruído áspero de minha respiração quase me ensurdecia. Segundos depois avistei um homem ou um garoto, não tenho certeza, ele passou pelo outro lado da rua, e eu o acompanhei com o olhar até ele desaparecer na névoa na esquina em frente ao estabelecimento do “City Hall ”, quando, sem pensar duas vezes me levantei e disparei em silêncio na direção oposta da qual ele seguia. Eu não sabia para onde estava indo, eu só estava fugindo daquele estranho, sem nem mesmo saber se ele era perigoso ou não. Suas vestes eram típicas de um cidadão de classe média, seu andar, típico de um traficante de drogas e seu olhar era típico de um serial killer, não que eu já tenha visto um, mas me causou arrepios ao me encarar.
Eu me movimentava rapidamente e hesitei ao escutar outro barulho além de meus passos abafados e minha respiração ofegante. Eu ouvia outros passos, estes escandalosos, esmagando folhas, e era rápido, mais do que o meu. Eu já em pânico o ouvi gritar:
- Ei, você! Vem cá, eu conheço você! – “Ah não, meu Deus, eu pensei, só falta ser um dos mendigos da porta do cursinho que eu sempre ignoro e que tomou raiva de mim.” E ele insistiu, sem parar de me seguir em nenhum momento:
- Não me ouviu? Eu sei quem você é! Me responde quando eu falo com você, gata! – Não, pensando bem ele não parecia um mendigo, e se ele me conhecia, eu definitivamente não reconhecia aquela voz, e por nada neste mundo eu o responderia, me faria de surda, isso sim. Finalmente alcancei uma esquina e percebi que os passos estavam mais próximos. Algum instinto me disse para correr, e foi o que eu fiz. No primeiro impulso, senti uma mão roçar pelo meu braço enquanto eu disparava.
- Volta aqui meu amor, vamos conversar! – Agora ele gritava. Com o seu toque eu gelei todinha, mas continuei correndo assustada. Agora eu podia ouvi-lo correndo também, e também ouvi outro barulho: um ruído de motor de carro não muito longe, mas que soou alto naquele silêncio tenso.
- Eu vou te pegar, hein! – Ele zombava de mim, e eu sabia que um dia ele me alcançaria, pois era bem mais rápido do que eu, mas eu estava em vantagem, por isso não pararia de correr. Pela primeira vez olhei para trás, e a primeira coisa que vi foram as luzes fortíssimas dos faróis do tal carro, que quase nos alcançava, e essa luz me cegou por alguns instantes, nos quais eu desacelerei. A segunda coisa foi o tal garoto vindo em minha direção. Essa foi a primeira vez que vi seu rosto, ele devia ter uns dezoito anos, era alto e não muito forte, suas feições eu não foquei muito bem, mas me lembro de que era um rapaz bonito e que estava provavelmente drogado. Foi tudo tão rápido que eu mal pude me mexer antes de ver o garoto muito próximo de mim e sentir suas mãos agarrando meus braços e imobilizando-os com força, ao mesmo tempo que o carro parava bem atrás dele e buzinava. Foi quando nós dois congelamos, com os rostos a um centímetro de distância um do outro. Eu estava paralisada com o susto e a rapidez com que tudo aconteceu, e meus músculos da face, tronco e braços estavam tão tensionados que eu poderia ficar parada por horas sem conseguir me mover, mas minhas pernas tremiam um pouco e minha temperatura oscilava de 40° para 15°. E o rapaz havia sido pego de surpresa, nenhum de nós jamais imaginaria que o carro iria parar, muito menos buzinar. Eu vi seus olhos se fecharem em puro ódio e fiquei com mais medo do que já estava. Ele não moveu mais um músculo e esperamos, como que por uma eternidade. O carro buzinou novamente. O que ele queria afinal?? Então o rapaz me soltou bruscamente enquanto se virava para o motorista furioso que saía do carro.
Não foquei muito bem o carro ou o motorista, tudo que vi foram borrões de um carro grande e preto. Eu caíra pesadamente no chão, fraca, e ainda assustada com aquilo tudo. Eu ouvia ruídos, mas não conseguia entendê-los, parece que eles discutiam. A próxima coisa que vi foi o rosto preocupado de um jovem, que era provavelmente o motorista. Ele falava comigo, mas eu não escutava nenhuma palavra. Percebi que ele me levantou quando pude ver o carro atrás dele e a rua deserta à nossa volta, o garoto não estava mais ali e eu tentava me desvencilhar das mãos do jovem motorista, murmurando: Tá tudo bem, tá tudo bem. Ele me soltou relutante e ficou a me observar desconfiado enquanto eu vacilava alguns passos em frente. Então ele me perguntou para onde eu estava indo, pediu que eu aceitasse uma carona, mas eu não poderia de forma alguma aceitar uma carona de um estranho, mesmo um estranho que me salvara de outro estranho, mas eu não geraria incômodo a mais ninguém. Respirei fundo e segui tentando parecer confiante e o agradeci. Não precisei convencê-lo, pois desapareci na primeira oportunidade que tive, e me vendo livre dele, em um beco, me larguei em um muro e escorreguei lentamente, meio que respirando de verdade pela primeira vez desde a perseguição. E lágrimas escorriam pelo meu pescoço eu não sabia por quê. As figuras foram ficando cada vez mais disformes até que tudo ficou escuro.
Abri os olhos e pude ver muita luz, parece que finalmente o sol havia nascido. Me levantei devagar, me localizando: O beco. Segui para a rua ao lado escutando barulho de carros e pessoas: a cidade acordara enfim. Segui em direção ao “City Hall ” pensando em tudo o que acabara de me acontecer. Eu era uma sortuda mesmo, talvez o dia mais importante da minha vida tinha começado com uma tentativa de assalto, ou algo bem pior, a mim. Mas estava tudo bem agora, só me restava esperar até o anoitecer na fila da casa de shows. E foi o que eu fiz pelas próximas horas, quando começaram a chegar alguns fãs, com os quais eu pude conversar alegremente pelas horas que se seguiram. Conheci uma menina meio emo que conhecia a banda há três anos e se considerava a fã número um deles. Eu tenho que dizer que ela me assustava um pouco, mas era divertida. Também tinha um amigo dela, o gay. Ele era hilário e mais fã dos meninos do que de suas músicas mesmo. Após um bom tempo de conversa eu contei para eles do que havia me acontecido mais cedo, e eles encararam como uma história de aventura, a qual ouviram absortos e afetados, achando tudo aquilo muito assustador e muito emocionante. Eu ri deles ao perceber que alguém poderia realmente se divertir à custa de uma história tão traumatizante.
Não posso dizer que fiz amigos para a vida toda ali naquela fila, mas passei bons momentos, e bem acompanhada, como não diria o . O dia foi escurecendo e eu voltei a ficar ansiosa pelo início do show. Sem que eu percebesse que tanto tempo havia se passado, alguém gritou com entusiasmo: “Falta uma hora!”. E surpresa, segundos depois senti meu celular vibrando em minha bolsa, era chegando. Logo sua silhueta magra e definida aparecia no início do quarteirão, por onde a fila já se arrastava, gigantesca. Ele se aproximou sério e me beijou na testa, com seu típico ar de possessão em meio ao público. Revirei os olhos conformada enquanto ele observava ávido ao meu redor, certamente procurando por ameaças à nossa perfeita relação amorosa. Eu o encarei brincalhona e disse aproximando meu rosto do dele:
-Ei! Que cara é essa? O show já vai começar!
- Mal posso esperar. – Ele disse sem emoção. Eu encarei seus olhos para descobrir o que se passava com ele e não pude ver nada, como de costume. Eu nunca encontrara dificuldades em entender ninguém, e até podia desvendar os pensamentos das pessoas somente olhando para elas. Mas sempre fora uma exceção irritante.
- Ah! Você nem sabe o que me aconteceu de emocionante hoje de manhã! – Eu contei, me lembrando subitamente da experiência traumatizante pela qual acabara de passar. Somente contava para ele devido à frustração que essa falta de emoção dele me causava, e esperei preparada para sua reação:
- O quê? – ele disse com o mesmo olhar enigmático, me encarando profundamente, sem expressão. Eu o provoquei entediada:
- Ah, um estranho que passava por aqui me perseguiu e tentou me agarrar, até que um carro preto apareceu, e o motorista o afugentou e eu fugi, sã e salva. – Agora eu sorria fingindo entusiasmo, como uma criança que narra seu dia na escola para sua mãe. Observei seu olhar confuso, certamente ele estava processando tudo que eu acabara de dizer muito rápido e quando seus olhos se arregalaram ele disse:
- Há! Você tá brincando, né?
- Não senhor. Tudo aconteceu tão rápido, foi tão emocionante!
-, você entende o que está dizendo? Se isso for verdade você correu sério risco de vida! E se for mentira só te digo que não tem graça! Você vai me matar qualquer dia... – ele se exaltou.
- Ah, tenho certeza disso, mas não corri risco de vida, deixa de ser exagerado! – respondi com humor.
- , isso não é brincadeira! E se algo te acontecesse? Eu não acredito que você tenha realmente me convencido à não chegar mais cedo para te acompanhar! Não me diga que o desgraçado te machucou! – Ele explodiu irado.
- Ai, calma ! Que horror, eu estou bem e você não tem culpa de nada, muito menos eu! – Eu já perdera a paciência, “Odeio quando ele briga comigo por coisas que me acontecem!”, pensei.
- Eu não me conformo como você pode fazer graça com essa situação! Espero que sirva de lição para você, porque para mim serviu.
- Que lição? Nunca sair sem o ? Ah, vê se me erra! – E ele bufou de raiva diante da minha conclusão e permaneceu em silêncio por um longo tempo, e eu não ousei interromper este momento de reflexão. Enfim ele disse sério:
- , me desculpe, tá? Eu me descontrolei, é que eu não posso ouvir que tentaram machucar você que eu fico fora do sério! Eu me preocupo demais com você, se algo te acontecer o que vai ser de mim? Eu nunca me perdoaria.
- Eu já te disse que o que me acontece ou deixa de me acontecer não é sua responsabilidade, você não é meu pai, mas meu namorado! Você está perdoado, mas vê se se acalma porque logo vamos entrar no City Hall e eu quero me divertir hoje.
- Tudo bem, , eu prometo que vou me esforçar pra não tapar os ouvidos depois que eles começarem com a tortura auditiva.
-Ha, há, mas que engraçadinho você. – E minutos depois adentramos à casa de shows, e eu quase explodia em meu peito, com o coração louco de pressa, desejo, aflição. E eu não sabia de onde vinham estes sentimentos ou sua razão, mas ignorei e me concentrei na execução do plano A. Até agora estava tudo bem quanto à nossa posição na fila, chegara a hora de corrermos até as grades, e assim o fizemos de mãos dadas assim que eu dei impulso no piso de assoalho. se esforçou para acompanhar meu ritmo bem mais lento que o dele, mas não deixou de me proporcionar uma certa vantagem. Finalmente atingimos a grade, e ali me aconcheguei, aliviada. O show começaria a qualquer momento, eu podia sentir. E eu não estava enganada, em minutos uma banda “emo” dos arredores da cidade subiu no palco, para dar abertura ao show de meus ídolos. Esperei impaciente pelo tempo que se seguiu, realmente a maior enrolação, somente para deixar nossos nervos à flor da pele, mortas de ansiedade para nos ensurdecermos ao som das guitarras agressivas, nos deliciarmos ao som das doces vozes, nos deixar contagiar pela batida dos ritmos viciantes e nos hipnotizarmos com a visão de tão belos homens, ou garotos.
A banda emo desinfetou. Eles entraram. Eu observei um de cada vez, procurando por , que foi o último a entrar. Eles se posicionaram, e nesta hora eu já nem podia definir um ritmo de batidas pro meu coração, ele estava enlouquecido, assim como eu. Eu os encarava ansiosa, alerta à qualquer sinal de som para que pudesse começar a gritar. O meu silêncio era doloroso. Eles finalmente começaram a tocar, os ruídos de suas guitarras ensurdecedoras penetravam meus ouvidos deliciosamente até que minha mente foi hipnotizada, eu estava na música. Fixei meu olhar no de rezando para que ele sequer uma vez olhasse para mim. E segundos depois foi o que aconteceu. Ele me encarou e desviou o olhar rapidamente, mas na mesma velocidade retornou a procurar meu rosto, confuso. O que será que ele vira em mim? Alguém parecido? Uma fã assustadora enlouquecida? Algo intrigante? Talvez interessante? Não sei, mas essas e outras dezenas de perguntas passavam e voltavam à minha mente enquanto eu tentava voltar a escutar a música que eles tocavam.
Os minutos foram passando e eles tocavam as minhas músicas preferidas. Vez ou outra um deles me encarava normalmente. Somente que me olhava intrigado ainda, até que desistiu de seus pensamentos e finalmente me encarou com espontaneidade. Ele estava feliz e eu ainda mais, e essa nossa alegria transbordava por nossos olhos. Nos dele em forma de brilho e poesia, nos meus em forma de lágrimas silenciosas. Eles começaram a tocar sua música mais emocionante: “Falling in Love” e eu imediatamente me lembrei da existência de . Eu tinha esquecido que ele estava ali desde que me olhara pela primeira vez! Então temerosa de ter sido flagrada, desviei meu olhar para lentamente, e ele por sorte não olhava em minha direção. Ele encarava a banda com a testa franzida, provavelmente desaprovando o que escutava e via. Então eu aproveitei sua deixa e fingindo estar despreocupada, peguei seu braço com carinho e dei um beijinho em seu ombro, encostando minha cabeça ali em seguida.
Existiam muitas vantagens em ter um namorado muito mais alto do que você, essa era uma delas, poder se apoiar no braço dele sem mesmo dobrar o pescoço. Então ele, pego de surpresa, se sentiu imediatamente obrigado à corresponder o carinho, como de costume, e entrelaçou seus dedos nos meus. Eu fechei os olhos e me deixei levar pela linda música. Quando percebi que estava chorando muito, abri os olhos e sequei as lágrimas, quando de repente me tomou em seus braços e me beijou, com aquela boa pegada dele de sempre. Eu, surpresa, me desvencilhei dele para respirar, e ele enfim notou meu choro e perguntou aflito o que acontecera, eu respondi inquieta:
- Nada demais, só emoção. É que estou muito feliz de estar aqui com você. – “ , sua mentirosa! Deveria sofrer por enganar o rapaz assim!” pensei.
- Ah bom. Não chora então, que eu fico preocupado. – Senti uma pontada de egoísmo ou estou ficando louca? Mesmo confusa, percebi que ele me beijou no alto da cabeça e me abraçou de leve. Eu sorri fracamente para ele e voltei a prestar atenção no palco. me olhava incisivamente, seu olhar se adentrando no meu como uma névoa brilhante e mágica, ele parecia ler meus pensamentos, assim como eu lia os dele e eu vi algo, assombrada: ciúmes? Raiva? Tudo bem, eu tinha um namorado e não devia explicações a um cara que eu jamais vira antes e que mal conhecia. Que estranho, eu devia estar vendo coisas mesmo. Aproveitei o show ao máximo, e quando senti que ele estava próximo do fim, coloquei a parte do plano chamada: “dando em cima do segurança” e dispensei pedindo pra ele me comprar um refrigerante. Me aproximei o máximo possível do segurança e disse animada:
- Oi! Tudo bem com você? – Ele pareceu pensar muito antes de responder convencido:
- Tudo bem, e com você? – Ele disse sedutor, me secando de cima à baixo. Cachorro. Não seria nem um pouquinho difícil. Ele era alto e muito musculoso. Suas feições eram fortes, seu maxilar definido, seus cabelos eram pretos, assim como seus óculos e seu terno. Me concentrei em seduzi-lo ainda mais à ponto de fazê-lo me dar qualquer coisa sem nem pensar antes, e disse correspondendo à seu tom:
- Estou bem... Pensando aqui com meus botões como um cara bonito e que parece ser tão simpático como você estaria fazendo nesse show, pagando uma de segurança chato no meio dessas pirralhinhas...
- Ah! É uma boa pergunta mesmo! E obrigado pelo elogio, mas você não fica muito atrás em beleza e simpatia não! – ele riu, malicioso.
- Muito obrigada! – Eu disse imitando seu tom sedutor. – Mas eu... Eu estou encrencada, pode me dar uma ajudinha?
- Dependendo do que for... Não vou te decepcionar – Ele disse ainda malicioso.
-Ai que bom saber! É que minha irmã mais velha me chantageou, e agora sou obrigada a conseguir ingressos pro camarim desses babacas pra ela! – Minha consciência nem pesou com essa mentira ridícula.
- Ahn, ingressos pro camarim, é? Isso não é difícil para um segurança. O que você está disposta a fazer por eles? – Ele disse, já imaginando minha forma de pagamento. “Você não é nada idiota mesmo, né, colega?”, pensei enojada.
- Tudo. – Pagodeputa.com – O que você quiser. – Terminei com uma expressão safada e oferecida. Ele sorriu satisfeito com minha resposta e disse após morder o lábio inferior:
- Me encontre nos bastidores no final do show, de lá eu te dou passagem pro camarim. – Aquela me pegara de surpresa. Eu jamais imaginaria que ele cobraria seu pagamento ANTES de me dar os ingressos! Eu disfarcei minha surpresa mantendo a postura sensual e disse:
- Ah, mas não podemos resolver isso logo? Você me entrega os ingressos e aí negociamos sua recompensa. – Ele me encarou de cima por um tempo, considerando minha confiabilidade, eu acentuei minha expressão de puta e ele finalmente respondeu:
- Tudo bem, eu te espero na porta do camarim com os ingressos. – Ai meu Deus, de novo! Eu tinha que bolar uma forma de me livrar desse tarado e rápido!
- Ahn... Mas não podemos resolver isso AQUI?
- Ele me encarou de novo e encerrou o assunto com um sorriso nojento:
- Não mesmo.
Pouco tempo depois voltou e despertou-me de minha viajem mental, em que eu buscava avidamente por uma solução para a enrascada em que eu me metera. Ele me olhou desconfiado, juntando levemente as sobrancelhas e perguntando:
- ? O que aconteceu?
- Ah, nada! Trouxe meu refrigerante?
- Aham, tá aqui... Mas não muda de assunto, pode me contar. Quem foi que deu em cima de você? – Ele disse, bravo, me entregando o refrigerante, ele me conhecia bem, afinal. Eu revirei os olhos e escondi minha irritação para evitar que ele desconfiasse de que EU havia cantado alguém. E o abracei fazendo beicinho:
- Ô meu amor! Não fica com ciúmes, ninguém cantou a sua mulher não! – Eu choraminguei imitando a forma como ele me chamava há um tempo. Como ele não respondeu e continuou me encarando com um olhar assustador, eu me ergui um pouco na ponta dos pés e dei-lhe um selinho delicado. Eu mal separara nossos lábios e ele avançou sobre mim com os lábios famintos e agressivos, abrindo os meus e atravessando-os rapidamente com sua língua quente. Seu beijo foi tão envolvente e inesperado ao mesmo tempo, que eu mal podia me decidir entre sua pegada e repreender-lhe. Mas cedi, na esperança de jamais ser descoberta, e me deixei envolver em sua sintonia violenta. Não muito tempo depois eu me concentrei em afastá-lo, pois não gostei nada do rumo que as coisas tomavam. Ele já estava excitado quando eu parti nosso beijo. E ele inspirou fundo, controlando-se. Eu aproveitei o resto do show com meu namorado esquentado na minha cola e braços possessivos envolvendo-me pela cintura, um gesto típico de , em meio à multidão de “machos gulosos”. Ao final do show eu o dispensei para esperar-me em seu carro e segui insegura para os bastidores.
Capítulo 3 – O encontro. “... fortes batidas na porta me tiraram bruscamente de meus pensamentos. Eu encarei a origem do ruído sem motivo, pois já sabia quem estava do outro lado, somente esta palavra ecoava em minha mente, seu nome: .”
Eu esperava que a casa de shows demorasse muito a se esvaziar e que os seguranças não sumissem antes da partida da banda, mas ocorreu o contrário. Todos os fãs estavam tão entusiasmados que evacuaram do prédio em minutos, e eu pude seguir sem medo de ser flagrada. Me aproximei da rampa que levava ao palco, ao lado da entrada para a parte secreta do show, por baixo do palco, no escuro do mistério. Abri a porta da última grade silenciosamente e adentrei àquela escuridão convidativa com veias pulsando fortemente em meu pescoço e com a ansiedade aumentando ainda mais em meu peito. Ponto de vista do Charlie “Então eu joguei a lanterna no chão e a agarrei, morrendo de tesão só de pensar que ela seria minha antes de ser DELE.”
Finalmente o show acabara, faltava muito pouco agora para o final daquela turnê idiota já que aquele era o último país pro qual iríamos. “Não vejo a hora de voltar pro conforto de nosso lar e me meter numa boa briga com os “astros”. Eles nunca mais vão me tratar daquela forma, o fato de eu trabalhar pra eles não os dá o direito de desconsiderar nossa amizade de tantos anos. Chega de trabalhar como uma formiga!” eu pensei indignado. Eu iria bater um papo com eles naquele dia mesmo.
Eu perambulava pelos bastidores sozinho à procura de equipamentos a serem levados à nossa van. Eu não sou o único ajudante da banda, mas parece que todos os meus subordinados decidiram me dar o cano e não tenho idéia de onde estão. Ao buscar uma lanterna para poder enxergar alguma coisa naquele breu eu escutei um barulho de passos. Só podia ser uma mulher, devido ao ruído de sapatos de salto alto. Agucei meus sentidos, atento a qualquer sinal de ameaça, afinal eu não enxergava absolutamente nada e todos haviam partido. Eu poderia estar de frente para uma psicopata que viera assassinar nossos astros e não se importaria de exterminar um simples roadie que se metesse em seu caminho.
Encontrei a lanterna rapidamente a lanterna em meu bolso traseiro e a liguei nervoso. Foi então que eu a vi. A luz repentina em seu rosto a assustou e ela gritou arregalando os belos olhos com cílios longos e cobriu a boca vermelha escancarada. Eu percorri seu lindo corpo com a luz da lanterna de cima a baixo e aquela visão me hipnotizou. Ela disse ainda amedrontada:
- Quem é você?!?
- Posso ajudá-la, senhorita? – Eu disse com segundas intenções com aquela magnífica criatura.
- Ahn... É que... É que eu procuro o camarim, pode me mostrar o caminho? – Ela perguntou receosa e inocente.
- Claro que sim meu anjo, mas tudo tem seu preço... – Eu disse me aproximando para poder observá-la melhor.
- Você não é o segurança, é?
Não. Mas me diga: você é tiete do ?
- O quê? – Ela parecia confusa, e eu considerando a idéia de que ela seria dele, não engoli a inveja que senti e disse sarcasticamente antes de ajudá-la a entender:
- Como nós somos amigos tão íntimos, você deveria saber que nós dividimos tudo! – Então eu joguei a lanterna no chão e a agarrei, morrendo de tesão só de pensar que ela seria minha antes de ser DELE. Ela devia estar muito assustada, pois nem mesmo reagiu contra mim e muito menos correspondeu meus beijos, o que me irritou um pouco e eu joguei-a na parede e intensifiquei o aperto de minhas mãos em seus braços e prensando-a com força contra a parede, o que finalmente a fez gemer de dor, foi quando ela retomou os sentidos e começou a se debater, quando eu separei nossos lábios para encará-la ela arfou em desespero:
- Me larga! Quem é você? – Eu me limitei em manter o mistério e beijá-la novamente. Suguei seu lábio inferior enquanto a erguia pela cintura com seu corpo ainda colado na parede, e ela gemeu de medo fincando as unhas grandes em meus braços, quando eu finalmente me descontrolei. Coloquei suas pernas em volta de meu tronco e a mantive naquela posição, puxando-a em minha direção e pressionando seu corpo ainda fortemente contra a parede enquanto lambia seu rosto perfeito. Eu não via a hora de rasgar a roupa toda dela quando escutei passos bem próximos. Não parei de beijá-la e ela hesitou por um segundo, percebendo a aproximação de alguém, e continuou a se debater e a tentar me afastar pelo peito e desvencilhar seu rosto do meu, agora com mais fervor. Em seguida escutei a voz de irritante de vinda da escuridão:
- Charlie? É você? O que... – Ele apanhou a lanterna no chão e a apontou em nossa direção, dizendo:
- Ah não, Charlie! Já te disse pra não encostar nas tietes! Seu tarado, solta ela! – Eu o ignorei, ainda surpreso, e percebi que a vadia ainda se debatia. Não soube respondê-lo e deixei o silêncio pairar por um momento. Ponto de vista do
Como era horrível presenciar aquela cena grotesca envolvendo a minha tiete e aquele imbecil do Charlie! Ele não me respondeu e eu perdi a paciência, apontando a lanterna diretamente para sua cabeça, dizendo:
- Vamos, cara, me dê ela aqui! – E eu parei no exato momento em que aquele imbecil olhou pra mim com ódio e eu pude ver o rosto da garota: subitamente branco, devido ao medo ou à luz da lanterna, tinha os olhos arregalados e encharcados de lágrimas, as bochechas molhadas, a boca aberta e avermelhada devido à pressão do beijo daquele Mané. Ela respirava fundo, produzindo um ruído estranhamente assustador e uma palavra escapou por meus lábios antes que eu pudesse evitar:
- Você! – Ela pareceu se assustar ainda mais do que eu e Charlie a largou de repente, deixando-a escorregar para o chão imundo, ainda respirando daquela maneira agonizante, eu reconheci aqueles lábios vermelhos instantaneamente, e ele veio para cima de mim:
- Se manda ! Eu vi ela primeiro, vê se não se mete! Eu to cansado de te aturar, seu imbecil egoísta! – Ele gritava em meu rosto, fazendo a minha raiva aumentar a cada palavra que era dita, e eu o empurrei com força, soltando um urro de raiva, e então disse:
- Imbecil o caralho! Seu débil mental! Como pode encostar nela?! O quê você pensa que é?!? – E dei-lhe um soco no rosto com muito ódio, provocando um ruído doloroso, e o vi cair, engolido pela escuridão. Procurei a garota, iluminando ao meu redor com a lanterna, e a encontrei perto da parede, desfalecida. Peguei-a no colo deixando a lanterna no chão e a levei correndo para o camarim, passando por um segurança no corredor que nos encarou assombrado. Eu o ignorei e chutei a porta do quarto onde meus irmãos da banda me esperavam cochilando cansados, fazendo-os pular de susto, e me encarou confuso e aterrorizado:
-!? O quê você fez? – Ele disse, apontando para o corpo desmaiado da garota, que eu agora colocava sobre o sofá do qual ele saltara, e não o respondi, encarando-a aflito e sem saber o que fazer. Deus, como ela era linda! Seu corpo tão perfeito e sensual se chocava com seu rosto angelical e inocente causando uma visão e uma sensação magnífica. E por um momento tudo que quis foi que ela acordasse e respirasse, saudável, de novo. Subitamente tive a idéia de fazê-la cheirar um pouco de álcool, e enquanto me levantava para procurar uma toalha (porque o whisky não estava difícil de encontrar), continuava gritando comigo. Meu ponto de vista
Abri os olhos rapidamente, cegos pela luz forte que agredia minhas retinas e escutei alguém murmurar:
- Ah! Finalmente! – E senti um suspiro pesado sobre meu rosto. Um cheiro agradável me tomou, me despertando por inteiro e eu encarei meu ídolo a centímetros de mim, atônita:
- !?! Ai meu Deus! – Eu cobri meu rosto com minhas mãos trêmulas e geladas e senti lágrimas rolarem por minha face com uma intensidade incrível. Mãos grandes e frias pegaram as minhas com delicadeza e ele disse:
- Você está bem? Está ferida? – Eu acenei negativamente, ainda chorando e ele me abraçou. Por cima de seu ombro pude ver , lindo, com uma expressão preocupada, dizendo:
- , agora pode por favor explicar, o que aconteceu aqui?! – Ele não sabia de nada! Ninguém sabia! E o rosto de uma pessoa veio à minha mente: ! Ele deveria estar quebrando o carro todo de impaciência agora. Antes que respondesse a , a porta do camarim se abriu com estrondo e o homem do corredor entrou. Ele se dirigiu ao sofá onde estávamos, enlouquecido, sustentando uma expressão assassina e gritando:
- ! Eu vou acabar com você!! – Meu coração parou e o ar que havia inspirado congelou-se em meus pulmões. E respondeu indiferente:
- Segurem ele. – Antes mesmo de eu pensar em respirar dois garotos voaram na direção de seu amigo enraivecido e o impediram de continuar. Ele lutava vidrado contra os braços fortes dos dois meninos, mas em vão. Pouco tempo depois, em meio à gritaria, encarou-o e tudo se silenciou imediatamente. Ainda comigo em seus braços disse, calmo e autoritário:
- Controle-se, Charlie! – Então era esse seu nome. Charlie continuou a dirigir-lhe afrontas de todas as espécies, quase machucando os meninos com toda aquela força desmedida. me abraçou mais forte e eu afundei meu rosto perplexo e apavorado em seu peito. Foi quando explodiu:
- Chega!! , você tem um minuto pra explicar tudo ou eu solto ele! – Eu pulei com o grito de e meu coração voltou a bater, agora machucando meu peito de tão forte e acelerado que batia. percebeu, e colocando sua mão sobre minha cabeça, fazendo-me sentir-me segura e protegida, ele respondeu, agora um pouco alterado:
- Você não faria isso! – E eu senti os olhos de em minha nuca e esperei por seu segundo de hesitação, provavelmente considerando as minhas chances de sobrevivência após o pandemônio que se seguiria e em seguida ouvi seu suspiro resignado quebrando o silêncio gelado. relaxou um pouco à minha volta e pôs-se a explicá-lo com clareza tudo que acontecera. No final de sua narração suas palavras já estavam carregadas de desejo homicida e eu escutei o arfar dos garotos. Um medo me tomou imediatamente. O que fariam com ele?!? Eu não podia admitir que eles o punissem por minha causa. Antes dos meninos arrastarem-no para fora do quarto e eu me virei assustada:
- Não! Não o machuquem! Por favor! – E respondeu:
- Tá tudo bem, não se preocupe, não podemos nos livrar de nosso roadie. – Ele disse calmo enquanto Charlie era arrastado para longe de mim, e senti lágrimas escorreram novamente pelo meu rosto, desmanchando a expressão assustada que ali se fixara. secou minhas lágrimas com carinho e sussurrou:
- Não chora! Você já é tão linda... Quando chora fica mais ainda! É difícil para mim resistir a você... – Chocada e confusa com o que ele disse, eu preferi não responder enquanto assimilava o que ele devia estar sentindo... E eu também. Eu piscava, não só para afastar as lágrimas, mas também na tentativa de clarear minha mente. Minha boca ainda não se fechara quando ele continuou:
- Por favor! Eu imploro que me diga seu nome ao menos. – Pensando freneticamente eu me lembrei de antes de me lembrar de meu nome. Ele estava me esperando. Eu devia voltar correndo e fingir que nada acontecera, mas como eu poderia fazê-lo no estado emocional frágil em que eu me encontrava? Minha mente também não teve tempo de responder à essa pergunta pois fortes batidas na porta me tiraram bruscamente de meus pensamentos. Eu encarei a origem do ruído sem motivo, pois já sabia quem estava do outro lado, somente esta palavra ecoava em minha mente, seu nome: .
caminhou até a porta atordoado e a abriu. Logo já entrava pelo quarto desconfiado, varrendo o local em minha busca, quando seus olhos duros encontraram os meus, meu medo escapou em forma de sussurro:
- ... – E ele encarou-me nos braços de , confuso e contrariado, mas quando observou-me novamente minha expressão não deixou-lhe dúvidas. Meu olhar era suplicante, eu não queria mais brigas, só queria ir para casa, me enrolar em meus cobertores. Então ele correu até mim preocupado, respondendo a meu sussurro:
- ? - me soltou na mesma hora e se afastou encolhendo-se com uma expressão fechada e sombria. me tomou em seus braços perguntando:
- O que você tem?? O que aconteceu? Eu fiquei tão preocupado! Porque demorou tanto?! – Assim que encostei meu rosto em seu pescoço musculoso e minhas glândulas lacrimais se descontrolaram de novo e eu me perdi em meio ao medo e ao choque de tudo o que passara. Tudo escureceu. Ponto de vista do
Eu sentia tanto ódio do cara que a tinha em seus braços que demorei a perceber o que ocorrera quando o corpo dela se amoleceu por inteiro, escorregando de seu abraço. Foi quando ele disparou:
- Você! O quê fez com ela?!?
- Eu não lhe devo explicações. – Eu disse sem expressão. E ele deixou o corpo perfeito dela escorregar pelo sofá e se levantou irritado, gritando:
- Mas é claro que deve! Mas é melhor começar a falar logo antes que eu chame a polícia!
- Qual é cara? Pelo menos aja como um homem, nós podemos resolver tudo isso entre nós. – Então ele voou para cima de mim, me empurrando até a parede mais próxima e socando meu rosto. Tá bem, ele teve o fator surpresa, mas não era mais forte do que eu. o segurou e eu me recuperei rapidamente, observando sua reação exagerada diante de tudo aquilo. O que se passava na cabeça daquele louco? Quem ele pensava que era para encostar em mim??
- Seu idiota! Não tem idéia do que aconteceu aqui e pensa que pode me agredir?
- Eu só sei que eu vi minha mulher nos seus braços! Eu não admito isso! – Ele disse ainda gritando, e eu equiparei nosso volume de voz:
- quem você pensa que é para admitir ou deixar de admitir alguma coisa?! – Eu vi seu rosto se avermelhar de ódio e seus músculos se tencionarem ainda mais e continuei, baixando a voz:
- E pra sua informação, a “sua” namorada é MINHA tiete! – Antes que veias explodissem em seu pescoço ele arremessou longe e se atirou em minha direção urrando de ódio, mas desta vez eu estava preparado. Antes que suas mãos se fechassem em minha garganta eu o soquei na face com o triplo da força com que ele me atingira e ele caiu no chão a uma boa distância de mim. Agora minha agressividade tomara conta de mim e eu que fui impedido desta vez ao tentar avançar sobre o corpo inconsciente em minha frente. Logo conseguiu me acalmar e eu desisti da idéia de socar o “namorado” daquela garota encantadora até ver sangue jorrar. Ele então ligou para um segurança que logo entrou no quarto seguido de mais dois brutamontes e de nossos irmãos. Os caras carregavam o corpo daquele louco quando eu disse:
- Ei! Guardem-no pra mim. – A garota ainda repousava desacordada no sofá branco, e eu observava-a tão maravilhosamente se camuflando, suas roupas destacavam-se especialmente, desenhando seu corpo maravilhoso. De súbito eu tive uma idéia. Enquanto começava a reclamar que devíamos partir logo ou não chegaríamos na próxima cidade a tempo para nosso último show da turnê eu me levantei, peguei a garota em meus braços e saí pela porta apressado, respondendo:
- Vamos embora! – E eu pude ouvi-lo seguir-me após uma breve hesitação, chamando os caras também, e eu não diminuí o ritmo a caminho da van preta que nos levaria ao aeroporto.
Capítulo 4 - A viagem “- Você deve estar brincando comigo, não é? – e sem querer eu pude escutar ruídos de corpos se chocando, sapatos se arrastando no chão rapidamente e grunhidos de dor. Então eu me virei rapidamente, disposta e entrar antes que ele me impedisse, e ao girar a maçaneta entendi o motivo de sua tranqüilidade. A porta estava trancada. Eu me virei devagar com os olhos fechados e supliquei amedrontada...”
Meu ponto de vista
Abri meus olhos e me encontrei em um lugar estranho novamente. Minha cabeça doía um pouco e me concentrei em minha última lembrança, algo confuso envolvendo e . Demorei um minuto para reconhecer o local: estava tudo escuro e eu estava deitada em uma cama pequena e confortável. Olhei para os lados e vi grandes janelas fechadas e com belas cortinas. E em frente a mim estava , sentado em uma poltrona me observando no escuro. O silêncio era adorável. O brilho em seus olhos me deixou muito sem graça, e eu me levantei rapidamente, assustada agora que percebera que estávamos em movimento, portanto dentro de um trailer ou algo parecido. Eu disparei aflita:
- O que aconteceu? Para onde você está me levando??
- Primeiro fique calma, não há motivos para desespero. Você desmaiou e seu namoradinho, bom... – Eu nem o deixei terminar e perguntei:
- Onde ele está? O que você fez com ele?
- Meu Deus, quantas acusações! Ele desmaiou também e está aqui, no mesmo automóvel que nós dois. E estamos indo para uma cidade vizinha, para nosso próximo show.
- Mas... Cadê o ?
- Ele está... na cabine.
- Por quê?
- Ora, por que ele se tornou uma ameaça para nós e eu achei mais seguro, assim como meus guarda-costas, que ele ficasse isolado. E preso.
- Ai eu não acredito! Ele agrediu vocês?
- Digamos que sim.
- Ah... – Eu parei um minuto para imaginar a cena – Vocês não o machucaram, não é?
- Hmm, digamos que sim.
- Você não sabe falar outra coisa? – Percebi o susto que ele levou com minha agressividade e eu disse:
- Ah, me desculpe! É que eu estou tão... Tão... Não sei explicar!
- Céus! O que você quer?
- Você! – Essa não passou pelo meu cérebro antes de sair pela boca... Eu tentei voltar atrás, derrotada:
- Quer dizer... Ah que coisa! Desculpe-me... Eu não quis dizer isso! – Eu realmente sou muito idiota às vezes, e não conseguia controlar meus pensamentos.
- Tudo bem... – Ele me encarou com o olhar mais penetrante com que já me encararam antes, e logo eu vi-me afogando em sua sintonia. Ele saiu de onde estava, se aproximando de mim lentamente. Sentou-se ao meu lado no sofá, tornando nossa proximidade cada vez mais agradável E quando ele juntou nossos lábios eu nem mesmo entendi porque aquilo era tão errado, mas um segundo depois eu já partia nosso beijo, como que acordando de um transe:
- ! Não faça isso! Eu amo o . – Ele não respondeu de pronto, mas me encarou por um tempo, suplicante e lindo, ah, como ele era lindo! “Não é à toa que ele é meu ídolo”, pensei.
- Você... Você me deixa louco! E eu nem sei seu nome!
- Ah, é .
- ! Que perfeito! Combina perfeitamente com tudo que você é.
- Você mal me conhece... – Eu ri incrédula – Apesar de eu te conhecer bastante.
- Não creio que isto seja verdade. Eu sou um cara muito misterioso, e o pouco que já vi de você me mostrou sua essência. É como se eu te conhecesse há anos e anos!
- Não diga isso! – Eu agora suplicava, ele era muito impossível para mim, tanto que eu mal me aventurara a sonhar com ele durante todos esses anos! Eu sempre fora apaixonada pelo que ele parecia ser, mas não era, e agora eu era comprometida! Eu fazia tudo errado mesmo!
- Mas você sabe que é verdade. – Ele disse profundo e sério, tanto que quase arrepiei ao som de suas palavras, sua voz era tão doce e tão sexy ao mesmo tempo. Ele era todo perfeito, por fora. - , você é irresistível para mim! Eu não suporto mais ficar um segundo sem te tocar! Desde que te vi pela primeira vez algo em você me transformou. – Ah eu sei bem do que ele devia estar falando, e não era nada puro e inocente como ele fazia parecer.
- , eu não entendo o que você está dizendo, mas não importa porque eu sou comprometida. Não posso me envolver com você desta forma, mas quero muito te conhecer, afinal você é meu ídolo!
- Você não é comprometida, você pensa que ESTÁ. – Eu não soube o que responder, e ele me beijou novamente, desta vez tão rápido que não pude evitar, e foi muito mais intenso e profundo, ele puxava-me pela cintura com meu corpo já colado ao seu, como se fôssemos nos fundir, e acariciava meus cabelos e costas como que ao mesmo tempo. Ele partiu nosso beijo rapidamente e antes que eu pudesse respirar ele estava sobre mim, me beijando ainda mais profundamente, agora eu não sabia o que fazer e me desesperei, pois tudo acontecera tão rápido que eu tinha medo de não poder afastá-lo, evitar que continuasse. Seu beijo era tão envolvente, tão agressivo e delicado que me deixava dividida e eu mal me alterei quando ele arrancou minha blusa. Ele era sem dúvida o homem mais sexy e charmoso do mundo, seu cheiro era inconfundível, seco, doce, forte, suave, enlouquecedor e tranquilizador ao mesmo tempo. Era simplesmente incrível, ele todo era. Pela primeira vez na vida eu cogitara seriamente a possibilidade de trair , mas no mesmo instante me dei conta do que acontecia e arregalei os olhos partindo nosso beijo com dificuldade e disse:
- Pare com isso! ! O que você pensa que está fazendo? – Eu o encarei fundo em seus olhos pervertidos pela luxúria. Ele me queria. Meu Deus me queria! Eu devia estar sonhando. Eu tentava afastá-lo um pouco mais, o que pareceu impossível, e ele continuou me encarando sem mudar de expressão, e eu concluí que ele não podia estar bem, Finalmente ele respondeu:
- Eu estou tentando... Tentando fazer amor com você! Não está vendo?! – Essa me surpreendeu, e eu não pude impedir minha boca de se abrir e fechar várias vezes na tentativa de dizer alguma coisa, qualquer coisa, diante daquele absurdo. Finalmente palavras foram pronunciadas:
- Não! Saia de cima de mim! Pelo amor de Deus, o está a metros de distância! Eu jamais o trairia!
- Pare você de tentar resistir à mim, você sabe que não é capaz! E se jamais o trairia, o que foi fazer no meu camarim com essa roupa sexy, sozinha, depois que todos se foram?? Não foi para pegar um autógrafo, isso eu posso apostar porque você não carregava nenhum CD nosso. Na verdade você não carregava nada além de seu corpo fantástico.
-! Como ousa?!
- Ah fala sério , não nego que seu corpo tem um poder enorme sobre mim, e você também não deveria mentir, o que você pode ser além de uma tiete, hein?! – Eu não podia acreditar no que estava ouvindo, ele estava me chamando de puta ou eu ainda estava sonhando?! Então eu dei um tapa em seu rosto. Ele se assustou muito e encarou-me com aqueles olhos lindos e cheios de receio agora. Ai meu Deus, o que eu fizera? Tapei minha boca com as mãos um segundo depois e murmurei:
- Desculpe! Ah meu Deus, me perdoe! – Meus olhos se enchiam de lágrimas agora, de choque após todas as suas insinuações maldosas e de medo de tê-lo machucado. E eu continuei:
- Nunca mais diga isso sobre mim! – Ele pareceu se acalmar, e disse baixando a cabeça:
- Eu não disse por mal, pensei que você realmente fosse... Você sabe o quê.
- Eu não sou mais uma de suas tietes, ! – Foi neste momento somente que percebi que eu estava chorando, uma lágrima fria rolou por minha bochecha, seguida de outras agora incontroláveis. E ele disse, novamente surpreso:
- Perdoe-me. – E soltou-me de súbito e se levantou, correndo para longe de mim, deixando agora um ar gelado ocupar seu lugar e sua presença quente e invasora. Eu me virei ainda chorando, e me cobri por inteiro com os lençóis macios, por um segundo meu corpo sentiu falta do dele, de seu toque, mas logo eu já voltava a chorar ainda mais, morrendo de vontade de ir para casa, o que agora estava ainda mais impossível.
Abri meus olhos mais uma vez. E desta vez tudo estava claro, era de manhã e eu me sentia bem, bem até demais. As lágrimas da noite anterior haviam secado em meu rosto e todo o medo se fora. Eu sonhara naquela noite, e sonhara com . No sonho nós estávamos juntos, não só como pessoas, mas como homem e mulher. Nós nos beijávamos felizes em um jardim maravilhoso, longe de todos, longe do mundo, longe de . ! Na noite passada eu praticamente o traíra, fora agarrada por outro homem no mesmo automóvel em que ele estava e ninguém desconfiou, como se o que havíamos feito tivesse ficado preso nas sombras, mas algo me dizia que não por muito tempo. Um medo culpado me preencheu de repente, e eu tremi de frio me agarrando aos cobertores, quando finalmente percebi que estava sem blusa. Eu não me lembrara de vesti-la novamente na noite anterior depois que a arrancara de mim à força! Eu procurei-a avidamente pelo perímetro que cercava a cama onde eu me encontrava, e apavorada constatei que ela não estava lá. Olhei ao meu redor em pânico e pude ver outras camas iguais à minha bem próximas. A primeira que vi foi a que abrigava , quase em frente à minha, depois vi mais duas que abrigavam os outros dois meninos. Por um momento me perguntei onde estaria e onde ele havia dormido mas antes que eu considerasse as possibilidades uma porta à esquerda de minha cama se abriu, e entrou no quarto assobiando calmamente e rodopiando algo em sua mão, que não demorei a reconhecer como minha blusa.
Encarei-o surpresa e enraivecida, estreitando meus olhos instantaneamente e ele disse após fingir se assustar com minha expressão ridícula:
- O que foi?! - Ele forjou um olhar inocente e totalmente irritante e logo matou seu disfarce ao baixar seu olhar ao meu busto, que aturdida percebi que estava descoberto, e me tapando com o cobertor, indignada, o encarei no auge da paciência:
- Me devolva, agora! – e ele jogou a blusa para mim ainda com o olhar pervertido no rosto, me deixando enojada. Ele sabia como ser realmente inconveniente. Eu a vesti de qualquer jeito e comecei sussurrando séria:
- Vem aqui, preciso falar com você! – ele me obedeceu como uma criança, olhando para os lados e se sentando ao meu lado silenciosamente, e me encarou com olhos curiosos e atentos, mas sem esconder que estava zoando total com a minha cara ele respondeu imitando meu sussurro:
- O que eu fiz dessa vez? E porque estamos sussurrando??
- Você sabe muito bem porque ! Não se faça de idiota, eu e você sabemos muito bem que temos muito a esconder depois do que aconteceu ontem à noite. – Eu correspondi ainda mais séria.
- Ah, aquilo? – ele disse mostrando-se indiferente, o que me irritou ainda mais:
- É claro, o que mais poderia estar me perturbando?!
- Relaxa gata, estresse dá rugas, sabia? Seu namoradinho esquentadinho nunca vai suspeitar de nós dois. – Não gostei nada da forma que ele disse “nós dois”:
- Nós dois? Como assim? Nós não temos nada um com o outro! Pare de me provocar!
- Ah não, a mestre em provocações aqui é você, senhorita .
- Tá! Chega! Por favor, tente não ser imaturo por dois segundos, tudo bem? Eu te chamei aqui pra deixar bem claro que eu não admito que você me trate da forma que o fez ontem! E para dizer mais uma vez que eu amo o , e eu sou dele, vê se me deixa em paz! – Algo no meio de meu discurso o perturbou profundamente, e seu rosto já vermelho contorceu-se de ódio e ele cuspiu:
- Você NÃO É dele!! – Eu pulei com sua reação inesperada e respirei aliviada por saber que ele ao menos prestara atenção no que eu o dissera, e disse:
- Não comece com isso, está bem? Você sabe muito bem que eu nunca me ofereci a você, não sei como você pensou que eu... que eu poderia... me envolver com você! – Ele fechou os olhos com força e soltou o ar preso em seus pulmões com estrondo, abriu os olhos devagar e me encarou. Eu notei suas têmporas inchadas e me arrepiei de medo. Ele disse, controlado:
- Tudo bem. – E ele fugiu de mim outra vez, disparando pela porta. “Ele disse Tudo bem?” pensei. Era a última coisa que eu esperava ouvir, realmente ele era surpreendente. Mas me deixara sozinha com meus dilemas assim como ontem à noite e eu me perguntei por um segundo se ele me trouxera para cá ao invés de me deixar desmaiada em qualquer lugar somente pelo meu corpo e pelo desejo e atração que ele sentia por mim, ou se haveria outro motivo desconhecido. Então decidi me levantar e procurar um banheiro. Encontrei um no final do “quarto” e improvisei meu rito de higienização matinal, o que significa: roubei uma escova de dente da gaveta e lavei o rosto. Não me atrevi a tomar banho, pois não tinha outras roupas nem mesmo uma toalha, então me contentei com aquilo mesmo e voltei para o quarto em silêncio para não acordar os meninos.
Por um momento me perguntei se estaria bem, se havia o machucado seriamente, se havia uma maneira sorrateira de eu vê-lo e finalmente se estaria rondando pelo trailer sozinho, o que aumentava minhas chances de fingir que ainda dormia. Mas antes que eu tomasse a decisão de voltar para minha cama e esperar alguém acordar, a porta do quarto se entreabriu devagar e aos poucos o rosto de se revelou, gesticulando um “vem aqui!” e ele esticou o braço direito para eu pegar sua mão. Eu o encarei por um instante e depois sua mão com uma expressão de superioridade e soltei um risinho irônico levantando uma sobrancelha. Então ele mudou sua expressão, agora me intimidava severo e entrou no quarto tão rapidamente quanto me puxou para fora dele acenando negativamente com a cabeça. Quando ele acabara de fechar a porta atrás de nós dois eu o olhei feio e disse:
- O que foi dessa vez?! – E ele respondeu ainda severo:
- Você devia aprender a confiar em mim, pirralha! – Fiquei boquiaberta ao ouvir a forma como ele se dirigiu à mim. Ele era realmente totalmente sem noção.
- Ah você não tem educação mesmo, não é? Se eu ainda tinha alguma esperança quanto à ter algum tipo de relacionamento com você, ela já se foi!
- Espera, você disse “ter um relacionamento” comigo?? – Ele disse me encarando maliciosamente agora e eu me senti enojada novamente, ele não podia levar nada à sério? – Como seria isso, hein gata? – Ele terminou se aproximando ainda mais de mim, deixando nossa distância perigosamente ameaçadora e eu desisti de conter minha raiva e o estapeei com força na face esquerda. Ele novamente não esperava por isso e seu rosto se virou um pouco desta vez, mas ele se recuperou rapidamente e me encarou com a mão sobre a face agredida rindo de mim e com o olhar brincalhão. Eu deixei o silêncio pairar mais um pouco, questionando seriamente a sua sanidade, e ele, sem nada a dizer, deu as costas para mim, respirou fundo e me encarou novamente, agora ainda mais presunçoso:
- Eu salvo você de um tarado, te trago aqui com a maior boa vontade, abrigo você, cuido de você, protejo você e é assim que você me agradece??
- Sinto muito te decepcionar, mas eu não vou dar pra você em troca de tudo isso como todas as outras garotas que você raptou!
- Não foi isso que eu disse! E que história é essa de que te raptei?!
- Eu quero ir pra casa! – Eu deixei escapar de novo o desespero de minha mente e ele se assustou ao ver meus olhos se encherem de lágrimas e disse:
- Me perdoe se eu me enganei quanto à você, pensei que preferiria nos acompanhar à ser deixada inconsciente naquela casa de show à mercê daqueles seguranças tarados! Eu pelo menos tive alguma consideração por você! E não estou pedindo quase nada em troca.
- E o que você quer em troca, exatamente?
- Que confie em mim, me dê uma chance para te mostrar quem eu sou, como eu posso ser um bom homem para você.
- Hah! Mas é claro! Você só quer que eu traia meu namorado e fique com você pra sempre! É realmente muito pouco ! E não se faça de bonzinho inventando desculpas para ter me trazido aqui, porque eu sei muito bem que só estou aqui agora por causa do meu corpo! Porque você não pode me ter antes! E nem sei por que diabos você trouxe , se ele tivesse ficado seria muito mais fácil, não?! – Ele não respondeu de imediato, minhas palavras haviam o atingido em cheio, eu o desmascarara enfim e ele não sabia o que responder. Eu esperei por sua resposta arfando de raiva e com os olhos ainda mais úmidos e ele disse:
- E não... Eu não acredito que você disse isso! – Eu esperei, pois sua reação me pegou de surpresa, novamente. Mas não pareceu que eu era a mais surpresa ali não. – Como... Como você... Ah! Se for isso que você pensa sobre mim, então eu não deveria ter trazido você mesmo. – E desta vez foi eu quem ficou sem resposta e eu o encarei boquiaberta por um bom tempo, enquanto as lágrimas já escorriam pelo meu rosto e eu abaixei a cabeça derrotada, pois eu na verdade não sabia o que pensar sobre ele, sua primeira impressão fora ótima, mas a segunda foi totalmente diferente. Após um bom tempo de silêncio eu resolvi agir com maturidade e secando as lágrimas perguntei:
- O que você queria me dizer?
- Eu sei que você não se mostrou interessada em saber, mas era que eu escutei seu namoradinho discutindo com os seguranças logo depois que te deixei sozinha no quarto.
- O quê?! Porque você não me disse antes?
- Porque você não deixou, oras!
- Tá bem! Chega de gritaria ou vamos acordar os meninos! – Eu enfatizei baixinho. E ele concordou erguendo as sobrancelhas rapidamente. Eu então olhei ao nosso redor e percebi que estávamos em uma espécie de sala, bem pequena, que era outro cômodo do trailer. Ao meu lado havia dois sofás, três poltronas e uma mesinha. Nos cantos do aposento repousavam frigobares provavelmente lotados de bebidas alcoólicas. As paredes continham microondas, forno, gavetas e um lava-louça, e no final da sala havia uma mesa com quatro cadeiras pregadas ao chão. A estrada sob os pneus produzia ruídos constantes fazendo o conteúdo das gavetas chacoalhar e contribuir com o barulho. Eu me virei rapidamente e lhe dirigi a última frase antes de procurar por :
- Pergunta: Vocês sempre viajam de trailer?! – Ele me encarou por dois segundos sem nenhuma expressão e pôs-se a rir. Eu o encarei desconfiada e esperei pela resposta, impaciente.
- Claro que não! – Ele disse ainda rindo um pouco – É porque nosso jatinho estragou e arranjamos esse troço aqui como saída de emergência. A cidade pra onde estamos indo não é tão longe, então logo chegaremos lá. – Eu tentei demonstrar desinteresse e somente disse:
- Ah. – Erguendo as sobrancelhas arrogantemente e me dirigi à porta no final do cômodo, desejando que ele não me seguisse. E antes que eu alcançasse sua maçaneta uma mão pegou meu braço gentilmente e disse:
- Se eu fosse você não entraria aí, é a cabine.
- Pois é exatamente o que eu procuro! Porque acha que não devo entrar? – eu perguntei desconfiada.
- Ah não sei, só acho que deveria esperar os seguranças saírem daí primeiro, mas nada. – ele escorou no sofá mais próximo encarando o nada com um olhar e uma expressão indiferentes e despreocupados e eu me peguei imaginando com curiosidade o que estaria acontecendo ali dentro.
- Você acha que eles ainda estão discutindo?
- Pior. – Foi então que finalmente minha ficha caiu, eles estavam brigando! contra os seguranças! Eu precisava fazer alguma coisa é claro.
- Ah não! eu tenho que impedi-los!
- Foi exatamente o que eu acabei de te alertar contra. Não osso deixar você entrar aí, é muito arriscado e perigoso.
- Você deve estar brincando comigo, não é? – e sem querer eu pude escutar ruídos de corpos se chocando, sapatos se arrastando no chão rapidamente e grunhidos de dor. Então eu me virei rapidamente, disposta e entrar antes que ele me impedisse e ao girar a maçaneta entendi o motivo de sua tranqüilidade. A porta estava trancada. Eu me virei devagar com os olhos fechados e supliquei amedrontada:
- ! Por favor, me dê a chave! Eu preciso entrar!
- Não! – ele respondeu sério. E eu me enraiveci:
- Mas porque esse jogo todo então? Porque me chamou aqui, pra me torturar? Você é psicopata?
- Ai, como você é absurda! É claro que não foi por isso, só achei que você deveria saber...
- ! Eu imploro! – Meus olhos agora se encharcavam de lágrimas e eu mal podia observá-lo sentado no sofá. Então ele me estudou por um segundo, não pode distinguir sua expressão em meio às lágrimas e ele disse:
- Você o ama tanto assim?
- Que tipo de pergunta é essa?? É claro que sim! Por favor, me dê a chave! – Os ruídos do outro lado se intensificaram - Diga-me o que você quer em troca da chave!
- Não quero nada em troca da chave, porque não vou deixar você entrar aí, espero que isso fique bem claro. Mas se você colaborar posso entrar e mandá-los pararem de espancar seu amorzinho.
- Por favor! Eu faço o que você quiser! – Um grito de dor penetrou meus ouvidos e eu caí no chão chorando, enquanto tomava as dores de e repeti:
- Faço qualquer coisa! Eu prometo!– E ele me encarou assustado e disse antes de entrar para a cabine:
- Eu vou cobrar! – e entrou no outro cômodo fechando a porta imediatamente atrás de si, me deixando sozinha e desesperada. estava em perigo e agora eu também estava. Considerei por um tempo que qualquer coisa que ele me obrigasse a fazer valeria a pena por , eu o amava muito. Mas não tinha certeza de estar muito disposta à cumprir minha promessa.
Segundos depois já estava de volta, trazendo consigo o silencio e a calma que eu precisava. Eu ainda no chão olhei para ele sem saber o que transmitir: agradecimento ou repulsa. Eu sabia o que deveria fazer, simplesmente ignorá-lo, mas não pude, pois no fundo eu queria agradecê-lo por ter feito o que eu jamais conseguiria. Sem dizer nada ele me carregou delicadamente sem encontrar nenhuma objeção da minha parte e me colocou no sofá devagar, me encarando profundamente,
tentando descobrir o que dizer. Eu sequei minhas lagrimas e disse:
- Nenhuma palavra sobre isso. - E ele concordou acenando a cabeça.
-Ahn... você quer... assistir um filme? – eu acenei negativamente. – E quanto a um café da manhã caprichado? – Ele perguntou sorridente, e eu encarei-o penalizada:
- Não tenho fome. – Ele pensou por um momento, considerando nossas possibilidades de distração e disse enfim com uma expressão sapeca:
- Já sei! O que acha de acordar todo mundo?! – Essa parecia uma pequena luz no fim do túnel, como ele descobrira? Acordar as pessoas sempre fora a coisa mais legal do mundo em minha opinião. Sem poder esconder a alegria que brilhou fraca no fundo de meus olhos eu disse contendo um sorriso:
- Por mim... tudo bem. – E ele se levantou rapidamente, se dirigindo ao quarto no fim do trailer, e eu o acompanhei devagar, curiosa para descobrir que plano ele tinha em mente. Entramos no quarto e eu fechei a porta atrás de nós sussurrando:
- Como vamos fazer isso? – E ele respondeu presunçoso enquanto abria uma porta do armário na parede do fundo do quarto:
- Vamos explodir os tímpanos deles! – e pegou uma guitarra azul clara maravilhosa de dentro do armário gigantesco e a ofereceu à mim. Eu não hesitei em pegá-la com cuidado e a observei fascinada, pendurando-a devagar em meu ombro direito. Ele pegou outra ainda mais bonita, rosa chock e cintilante e me entregou-a também para poder pegar enfim um grande amplificador. Eu o devolvi sua guitarra e ele rapidamente conectou ambas no mais novo pesadelo dos garotos que dormiam inocentes.
Eu nem sabia que horas eram, mas já era de manhã, o que já tornava a brincadeira um pouco sem graça, então sem piedade nós descemos as mãos pelas cordas ásperas e grossas dos instrumentos. Quando o som ensurdecedor que provocamos já havia se dissipado pelo ambiente eu notei que havia machucado meus dedos. Eu nunca fora acostumada à tocar guitarra, somente violão, e meus dedos sensíveis sentiram essa. Os garotos tiveram reações diferentes, mas todas hilárias. A dor em meus dedos não impediu meu humor negro de vê-los acordando. pulou na cama no exato momento em que tocamos, o outro gritara de pavor assim que produzimos o ruído horrível e demorara segundos para nos reconhecer e enfim se acalmar, e o último acordara aterrorizado segundos depois que o barulho se fora.
Agora o silêncio era preenchido por muitas risadas, minhas, de e de , o único que achou graça da brincadeira. Os outros garotos ainda nos encaravam irritados, e eu me deliciava com toda a diversão. Tirei a guitarra e a encostei na parede mais próxima, correndo em direção à primeiro e implorando suas desculpas, as que ele aceitou ainda gargalhando e gritando desaforos amigáveis para . Em seguida fui até os outros meninos e me desculpei baixinho. Um se fez de ofendido por dois segundos e me deu um abraço de urso antes de me deixar respirar. Eu ri em seus braços fortes e amigáveis e ele enfim me libertou. O último me aguardava fazendo beiçinho. Eu o abracei de leve e ele me assustou gritando enquanto me apertava com força. pronunciou um bom dia pomposo à todos eles e nós guardamos os instrumentos musicais de volta à seus lugares enquanto os garotos se espreguiçavam.
- Sua má! - sussurrou atrás de mim e eu me virei para ele com a expressão mais infantil do mundo, sorrindo satisfeita e sentei na cama ao seu lado dizendo:
- Eu?!?! – Fingindo um tom de indignação – Foi só uma brincadeira! – Eu ri contente.
- Ah! Me pegou direitinho sua safada! – Ele disse me dando uma gravata gentil e bagunçando meu cabelo. – Não deixe te influenciar para o lado negro da força hein? Você já está se corrompendo.
- Ah, não se engane, você mal me conhece! Eu sou muito pior do que você imagina – Eu disse rindo. E ele respondeu com uma expressão super fajuta de medo e riu ainda mais alto comigo. E ele perguntou:
- Qual é o seu nome, meu bem?
- É .
- Muito prazer em conhecê-la, senhorita!
- Huum, o prazer é todo meu! – Eu continuei me divertindo. era ainda mais engraçado do que eu imaginara e eu já não via a hora de conhecê-lo melhor. Foi quando ele disse alegre:
- Então já que nós já a seqüestramos vamos adotar você, e você será minha irmãzinha. Pode ser?
- Haha! Claro que sim! Eu sempre sonhei em ter um irmão mais velho! Na verdade nunca tive nenhum irmão ou irmã.
- Ah, olha só! Está é a chance de sua vida. – eu ri com este comentário e me animei com a idéia de ser uma amiga íntima de . Eu acabara de conhecê-lo e já me apaixonara por ele. Antes que pudéssemos estender nossa conversa animada me interrompeu sério:
- ! Seu namorado quer falar com você. – Sua notícia súbita me desanimou por completo e eu me lembrei de encarar a realidade. Assenti rapidamente e me levantei, deixando sozinho e com cara de desamparado. Segui rumo à cabine com medo, muito medo do que encontraria.
Abri a porta devagar observando a luz que vinha de dentro dela aumentar e revelar o rosto preocupado de lá dentro.
- ! Meu amor! Você está bem?
- Estou sim. Mas você é que parece não estar... – Eu disse indo a encontro de seus braços e deixando-o me abrigar protetoramente. – Deixe-me ver você. – Eu disse desmanchando seu abraço para poder olhá-lo de perto e logo reparei na pequena gota de sangue no canto de seus lábios e em um arroxeado em sua face. Encarei-o com desaprovação e disse:
- Você se meteu em briga com eles, ?
- Claro que sim! Eles raptaram você e me prenderam aqui, sem poder ver você. – Lágrimas grossas escaparam dos meus olhos e eu enterrei minha cabeça em seu peito arfante.
- Ah ... Eu sinto muito, vem cá, vou cuidar de você.
- Não precisa, estou bem. Eu só queria ver você, saber se estão te tratando bem. Minha visão até escurece só de imaginar aquele imbecil encostando em você.
- O ? Não faz isso meu amor, todos me tratam muito bem, inclusive ele.
-É, mas eu vi o jeito que ele olha pra você. E ele pensa que você é uma tiete dele! – Agora ele já gritava de raiva.
- Eu já esclareci as coisas para ele, não pense mais nisso. – Ele respirou fundo e disse:
- Vou tentar. Prometo, mas só se você prometer que vai manter distância desse Mané. – Minha garganta se fechou um pouco com este pedido, e eu me lembrei da promessa que havia feito à antes, e menti gaguejando e respirando com dificuldade:
- C-claro. Claro que vou. – No fundo era o que eu realmente tentava fazer e eu sabia que era o certo. Não podia colocar em risco meu namoro com o , mas eu também queria cumprir minha promessa e acabar com tudo isso entre eu e de uma vez. E agora eu percebia o que eu fizera: escolhera traí-lo a vê-lo sendo espancado. E por um instante me perguntei se ele escolheria o mesmo se tivesse a chance. Eu peguei sua mão e o conduzi ao quarto do outro lado do automóvel e os quatro garotos nos encararam surpresos quando atravessamos a porta. Eu olhei fundo nos olhos maravilhosos de e disse:
- Preciso de um kit de primeiros socorros, você tem um por aqui? – ele balançou a cabeça rapidamente tentando organizar os pensamentos e respondeu encarando o chão pensativo:
- Acho que temos um sim por aqui, mas não sei onde está. – Inspirei fundo para não gritar com ele e prossegui:
- ?
- Ah sim, eu sei onde está, só um minuto que eu vou pegar. – Eu sorri para ele e me pus a esperar com em minha cola. Os olhos de não nos deixavam e eu estava começando a ficar nervosa quando finalmente voltou com uma caixinha branca nas mãos e me entregou-a encarando com desconfiança.
-Muito obrigada . – Eu sorri para ele de novo E ele respondeu sem tirar os olhos de :
- Não foi nada querida. E você, já está melhor, cara? – ele perguntou bravo para , que respondeu encarando o vazio:
- To de boa. – Eu não pude suportar aquele silêncio tenso que pairou por instantes e disse:
- Muito bem então, vamos . – E nós seguimos juntos em direção ao cômodo vizinho. acomodou-se em um sofá e eu me sentei em seu colo e pus-me a limpar suas feridas. Ele não apresentava nenhuma reação ainda, estava sério como sempre e olhava diretamente em meus olhos. Quando eu finalmente terminei e apliquei um anestésico em sua face inchada ele agradeceu. Eu sorri de leve para ele e me levantei. Então a porta ao meu lado se abriu e entrou no aposento. Encarou-me sem expressão e disse:
- Preciso falar com você. A sós. – Eu o encarei impaciente e o segui, antes dando uma rápida piscadela para , que me olhou de volta bufando. me indicou o sofá mais distante de com a mão e eu revirei os olhos ao me sentar nele e logo ele se sentou ao meu lado e eu comecei sussurrando:
- Pelo amor de Deus, o que você quer??
- Ei! Calminha aí, nem deixou eu começar. – Ele carregava uma expressão irritantemente satisfeita no rosto e eu mandei-o dizer logo o que tinha a dizer:
- Bom, na verdade não é nada muito especial, mas achei que era uma boa oportunidade de te livrar daquele chato, pensei que nós podíamos passar o resto da viajem conversando.
- Você achou? – Eu disse com as palavras carregadas de ironia e irritação.
- Achei sim, e não ouse recusar, lembre-se que você tem um favor à cumprir para mim. – Bom, essa eu não esperava mesmo. Então o favor que ele cobraria seria conversar com ele durante horas? Isso me parecia muito bom em vista do que eu imaginara e uma pequena luz de esperança se acendeu no fundo da minha alma e eu me controlei forjando uma expressão brava:
- Tá bem! – Mas ele continuou:
- Ah, mas não ficando animadinha não porque esse não é o único favor que eu vou te pedir. Está longe de ser. – Fechei meus olhos ao relatar a triste realidade e o encarei novamente, agora suplicante.
- O que você quer? Me diz logo. Acaba logo com isso!
- Não se preocupe, você saberá na hora certa. Agora vamos à sua primeira tarefa, certo? – Eu revirei os olhos em concordância. – Vou começar te fazendo perguntas: Hmm, porque você namora esse babaca?
- Posso eu te perguntar algo? Você acha mesmo que vai deixar eu ficar aqui durante horas sem espancar você??
- Ei, uma pergunta de cada vez, e pra sua informação é para isso que temos seguranças. – E olhou significativamente para a porta da cabine, onde dois seguranças se instalavam, observando . – Agora me responda, estou esperando – Ele riu. E eu respondi suspirando:
- Ah, eu o conheci há dois anos e... Bom, ele se apaixonou por mim, foi à primeira vista, e eu acabei dando à ele uma chance.
- Então é essa a sua história de amor? O cara se hipnotizou com a sua beleza e você cedeu ao mané sem sentir absolutamente nada por ele?! – Ele perguntou engraçado. E eu respondi sério:
- Puxa vida, como você tem um poder incrível de distorcer as coisas! É claro que a gente saiu algumas vezes e quando eu o conheci melhor também me apaixonei pela pessoa que ele era.
- Vocês já terminaram alguma vez ou estão juntos há dois anos?
- Já terminamos uma vez sim. No início do nosso namoro, quando eu descobri que ele estava usando drogas.
- Uau! Que história mais romântica! Am, mas e daí, como vocês voltaram?
- Vou ignorar seu comentário insolente. E nós voltamos quando ele largou as drogas. – Então ele pôs-se a rir. Eu perguntei confusa:
- Qual é a graça?? - Ele não respondeu e continuou rindo muito. Finalmente se controlou:
- Você... Você acha mesmo que ele largou as drogas, né?
- Mas que pergunta é essa? É claro que sim. – Ele deu mais uma risada e disse:
- , ele te enganou! Em quanto tempo foi isso? – Ele levantou uma sobrancelha e eu disse:
- Ah... em dois meses. – Ele me encarou com os olhos brilhando, prendendo uma risada com aparente dificuldade e continuou:
- Você acha mesmo que um viciado em drogas consegue se curar em dois meses? E sem ter sido internado, né?
- É. Mas eu acredito nele... Enfim, como você sabe que ele era viciado? Eu nem disse isso.
- Ah, dá pra ver pela cara dele. – Minha boca se entreabriu de indignação com a ofensa e ele continuou sem me deixar falar:
-Próxima pergunta! Seus pais... Como eles devem estar agora imaginando a razão do seu sumiço?!
- Eu não tenho pai, e minha mãe está muito longe daqui viajando. Não se preocupe, você está à salvo da prisão por hora. – Ele riu com meu comentário e prosseguiu:
- Porque você diz que não tem pai?
- Porque ele nos abandonou. Eu não o conheço. – Ele ficou em silêncio por um segundo e disse:
- Eu sinto muito... Mas então, se sua mãe está viajando, com quem você está morando?
- Sozinha. Minha melhor amiga me visita de vez em quando, eu passo as tardes no cursinho e as noites em qualquer lugar com os amigos. Dificilmente fico sozinha em casa, mesmo não gostando muito da companhia deles.
- Você tem muitos amigos?
- Não mesmo. Na verdade a única pessoa que posso chamar de amiga é a , minha Best. Os outros são só companhias aleatórias para minhas noites. – Ele refletiu por um tempo sobre minha declaração e acenou positivamente com a cabeça, e depois disse:
- Essa frase ficou estranha. – E soltou uma risada imbecil.
- Ai, como você tem o pensamento pervertido! – ele continuou rindo e não respondeu. Depois perguntou:
- Você já teve muitos namorados?
- Hmm, na verdade foi meu primeiro e único até hoje.
- Hmm. Me fala um sonho seu?
- Ser cantora profissional.
- Ah é? Então quer dizer que você canta?? Me mostre suas habilidades!
- Haha! Vai sonhando, quero deixar bem claro que eu só canto espontaneamente e para alguém que eu goste muito.
- Ah, entendi. – Ele disse brincalhão. Não se deixou abalar e prosseguiu:
-Qual foi o pior dia da sua vida?
- O dia em que meu cachorro morreu. - Ele riu e eu não gostei nada
daquilo. - Qual é a graça?
- É que... Bom me impressionou você se importar tanto com um animal. -Essa eu não precisei responder. E ele continuou:
- E o melhor dia?
- Não sei dizer... Foram tantos. Mas um de que me lembro foi o dia em
que comecei a namorar .
- Ah, esse não vale, vai! Escolhe outro, qualquer um.
- Ai, tá bom- Eu concordei suspirando e revirando os olhos.- Hmm, teve o dia em que eu contei para a que o estava usando drogas e que eu havia terminado com ele e tudo mais. Nós estávamos na beira de um lago maravilhoso. E viramos a madrugada observando as águas calmas e o barulho dos pássaros. Foi realmente lindo, eu chorei muito.
-Posso te fazer uma pergunta?
- Pode sim.
- É que eu estava me perguntando... Onde está... Charlie? – Ele mudou sua expressão tranqüila para uma preocupada e pensativa e respondeu:
- Não se preocupe, ele não vai mais machucar você. Está bem longe daqui, em nossa casa.
- Vocês moram juntos?
- Não, a casa da banda, nós quatro moramos lá. Eu o mandei diretamente para lá para garantir que você ficasse segura por hora e porque vou ter uma conversa com ele quando voltarmos. – Eu refleti um segundo sobre o que ele me dissera e concordei com a cabeça.
- Ah... só mais uma coisa.
-Sim?
- Quando você nos encontrou naquele corredor nos bastidores... Ao me ver você pareceu me reconhecer com surpresa... Me confundiu com alguém?
- Ah... Nossa é mesmo! Não, não, é que eu já havia te visto naquele dia. – eu franzi a testa confusa e ele continuou – De manhã quando passávamos por perto da casa de shows de carro, as ruas estavam desertas e eu vi você andando por uma delas, sozinha. Até que você começou a correr, e eu vi um cara te perseguindo. Mandei nosso motorista parar imediatamente e me adiantei para sair do carro e pegar aquele depravado, mas as portas estavam travadas. Eu gritei pedindo ao motorista para abri-las, mas ele não me obedeceu e saiu do carro, indo em sua direção e afastando o cara. Eu fiquei observando a cena de dentro do carro, com muita raiva e morrendo de vontade de ir até lá e dar uma surra no Mané. Então vi você dispensando a ajuda dele e praticamente fugindo para outra direção. Eu a observei se afastando, muito pálida e quase tropeçando ao andar e quando o motorista retornou ao carro eu o xinguei de todos os nomes possíveis por não ter agredido o cara e ter deixado você sozinha naquele estado. É claro que eu o despedi e os garotos acordaram com a gritaria e concordaram com minha raiva quando os contei o que acontecera. – Eu escutei a cada palavra, atenta e finalmente entendi o mistério da grande van preta. Então havia me salvado e eu nem sabia disso?! Encarei-o chocada e ele continuou:
- Não precisa me agradecer! Por favor! – e eu fechei a boca ainda maravilhada e ele voltou a fazer-me perguntas.
A noite vinha chegando e continuava a prender-me junto a ele, insistindo em perguntar tudo e qualquer coisa sobre minha vida, até os míseros e constrangedores detalhes ele cobrava com curiosidade e escutava com interesse. Os meninos ensaiavam para o show no quarto ao lado, tocando e cantando convidativamente. Eu estava morrendo de vontade de ir ate lá apreciá-los de perto, mas sempre me fazia ficar, dizendo que as perguntas estavam chegando ao fim.
- Você tem quantos anos? – Antes de eu processar sua pergunta uma melodia familiar penetrou meus ouvidos e paralisei imediatamente. Ele percebeu que eu não estava bem e disse:
- ? O que foi?
- Ah... não, é essa música. – Eu olhei na direção oposta à sua, tentando sem sucesso esconder minha reação negativa, e observei que não estava mais ali. Ele devia ter voltado para a cabine sem que eu percebesse.
- O que tem ela?
- Eu não... Ela é maravilhosa, mas fico muito triste ao escutá-la. – Ele pensou por um momento antes de responder:
- Ela deve te trazer más lembranças, assim como trás a mim. – Eu acenei positivamente sem entender como ele sabia. Ele suspirou e continuou:
- Eu sei disso porque foi eu quem escreveu a letra... Sinto muito. – Eu o encarei piscando confusa por um tempo, até que compreendi que ele também deveria ter passado por más experiências amorosas e me senti mal por ele, muito mal. Se eu já me sentia triste só de escutar a música, imagina ele que a havia escrito!
- Nossa, eu não sabia. Quem sente muito sou eu. – Eu disse encarando meus pés, e pude ver a sombra de sua cabeça mover-se negativamente. Ficamos em silêncio até o final da música, quando eu já estava chorando. Encarei-o com medo da expressão que encontraria ali e pude vê-lo com os olhos um pouco úmidos, encarando fixamente o vazio. Senti um impulso estranho e repentino de abraçá-lo e foi o que fiz sem pensar por nem um segundo. Primeiramente ele não reagiu, mas em seguida correspondeu, me abraçando com ainda mais força, e eu desejei com todo o meu ser que aquilo que o assombrava ficasse para sempre no passado, e que ele jamais se sentisse daquela forma novamente. Uma música animada começou a tocar e eu sequei minhas lágrimas dizendo:
- Podemos ir até lá agora? – Apontando a porta do quarto de onde vinha a música com a cabeça. E ele esboçou um sorriso suave:
- O que você quiser. – E se levantou devagar pegando a minha mão fria. Entramos no cômodo de mãos dadas atraindo para nós imediatamente três olhares contentes. sentou-se na cama mais próxima de onde os meninos ensaiavam e eu sentei-me ao seu lado automaticamente. Ainda com sua mão segurando a minha, perguntou:
- Quer dançar? – Senti meus olhos brilharem com este convite ao encarar seus olhos ainda mais brilhantes e meu sorriso respondeu por mim. Nos levantamos juntos e eu me pus a dançar e a cantar aquela música tão querida, uma de minhas preferidas. foi até os garotos e pegou sua guitarra que o esperava em seu lugar ao lado de . Pôs-se a tocar avidamente, acrescentando o último detalhe que faltava à música e eu sorri o máximo que pude, observando a expressão divertida e satisfeita de e as contentes e levemente infantis dos outros, assim como a minha deveria estar. Continuamos nos divertindo por um bom tempo, eles tocando as músicas que eu pedia e eu as dançando sem nenhuma vergonha. De repente o trailer parou, silenciando o ruído de sua lataria e dos pneus atritando com a estrada. Todos encaramos as janelas instantaneamente e observamos uma rua vazia e limpa ao nosso redor. O automóvel pôs-se a se locomover novamente, adentrando à um escuro que imaginei ser do interior de um estacionamento. Os meninos finalmente pararam de tocar e exclamou:
- Chegamos! – Todos guardaram os instrumentos rapidamente enquanto eu os observava cansada e alegre. Estavam prontos para seu próximo show e eu estava ansiosa, muito mais do que eles. veio até mim aproximando seu rosto do meu e me encarou com os olhos brilhando de animação e um vestígio de insegurança. Eu o encarei um pouco aturdida por um segundo, mas logo meu olhar voltou ao anterior: transbordando alegria e agora eu acrescentara tranqüilidade e afeto. Todo sairia muito bem, eu tinha certeza, e eu tentava transmiti-la para ele neste momento. Ele sorriu lindamente para mim, me beijou no rosto co carinho e se foi. Os meninos passaram por mim me encarando com alegria e eu retribuí todos os seus olhares. O último foi que sussurrou sorrindo em meu ouvido:
- Esse show é pra você. – Meu sorriso aumentou ainda mais e ele pegou minha mão, guiando-me para fora do trailer, em direção ao seu novo camarim. Quando passei por que cochilava sentado em uma cadeira na cabine eu retomei meus sentidos e percebi: desde que eu vira chorar em meus braços eu estava hipnotizada. E o porquê eu não consegui imaginar, mas segui atrás de confusa, muito confusa.
Entramos no quarto dos garotos e eu disse finalmente:
- Quando começa o show? - respondeu-me de pronto:
- Daqui a uma hora. – Eu arregalei os olhos, surpresa e continuei:
- Mas então... onde estão todos os fãs?? - respondeu-me desta vez:
- Já estão todos aqui dentro. Capítulo 5 – Meu show. “Enquanto ele cantava, ainda olhando nos meus olhos, eu tinha a sensação de que compartilhávamos segredos em um campo de flores ao amanhecer. Até que a música acabou. Sua voz maravilhosa deixou de cantar dentro do meu peito, e eu acordei de um sonho lindo, desesperada para dormir de novo e voltar a sonhar. E nunca, nunca mais acordar.”
Ao contrário do que imaginei, os meninos passaram a última hora antes do show conversando, cochilando, bebendo e etc. Eu fiquei sentada ao lado de todo o tempo pensando no que acontecera nas últimas horas dentro daquele trailer. Eu nem mesmo pensara em , nem uma vez. Até que desisti de tentar entender o que houve comigo e tentei conversar com :
- ? Você sempre bebe assim?
- Nem sempre, só quando a bebida me merece, entende?
- Não... Mas se eu fosse você eu não exagerava, ou você não vai conseguir cantar na hora do show.
-Relaxa gata, eu nunca fico bêbado. – Me diverti com essa afirmação, imaginando como jamais ficara bêbado em sua vida...
- Tudo bem, mas não vai fazer feio, hein? Tem muitas garotas contando com você lá fora. Inclusive eu. – ele me encarou pensativo e disse enfim:
- Pode deixar! Gata, eu vou dar o melhor show que eu já dei na minha vida e é tudo por você! – Ele dizia quase perplexo com suas próprias palavras, e eu me limitei a sorrir para ele, feliz. Eu disse feliz? Bem, foi o que eu pareci estar no momento. Mas é inacreditável. Eu nunca me considerara realmente feliz. Alegre sim, mas feliz nunca. Então ele me puxou para um abraço apertado e eu disse:
- Eu tenho certeza disso. – e eu acabei cochilando sem perceber, no sofá, ao lado de e somente despertei ao escutar alguém exclamar:
- É hora do show! – E eu abri os olhos rapidamente, observando se levantar animado e se dirigir à porta do quarto. veio até mim e disse:
- Não vai assistir ao seu show, irmãzinha? – Eu sorri para ele e seu jeito fofo de sempre e ele me ofereceu a mão me ajudando a levantar. Seguimos de mãos dadas pelo corredor que nos levaria ao palco e antes de chegarmos ele me entregou um colar de VIP dizendo:
- Para o caso de você querer entrar em um camarote ao invés de ficar nos assistindo daqui ou se alguém quiser tirar seu direito de ficar em nosso camarim. – Eu agradeci e o desejei uma boa performance no show enquanto ele se virava e me mandava um beijinho a um passo do grande palco.
Ao tocarem a primeira nota musical do show eu quase senti meus tímpanos estourarem. Eles iniciavam o show com uma música agitada e contagiante e eu tapei meus ouvidos rapidamente ao correr pelo corredor em direção ao camarim. Entrei e bati a porta atrás de mim, reclamando para mim mesma de minha audição sensível. Me larguei no sofá mais próximo imaginando soluções para meu mais novo problema. Então tive a idéia de procurar por protetores auditivos e encontrei um par em uma gaveta de uma mesinha.
Eu voltei para onde os meninos tinham me deixado e eu sentei no chão abraçando minhas pernas. Por algumas musicas a seguir q eles tocaram eu não assisti ao show ou apreciei as musicas, apesar de q o local em q eu estava seria perfeito para isso, eu somente observei . Vez ou outra ele olhava para mim e continuava a cantar com a certeza de que eu estaria lá, apoiando-o. E eu me encantava mais a cada gesto preciso que ele executava ao tocar sua guitarra habilidosamente, a cada gota de suor que escorria por seu rosto e pescoço e a cada batida de seus pés certamente acompanhando o ritmo da música que eu não escutava. Toda vez que ele olhava eu meus olhos eu sentia seu brilho aumentar e meu sorriso se alargar, mesmo acreditando que isso não fosse possível. Só me dei conta do transe em que eu estava quando eles finalmente pararam de tocar e eu escutei as palavras de pela primeira vez.
- Eu gostaria de tocar agora uma música minha, e dedicá-la a garota que eu amo, para não dizer mulher. E ela esta bem aqui agora. Alguém pode me dizer onde ela esta? - Em seguida dezenas de garotas acenavam gritando:
-Aqui! Está aqui! - E ele se divergia acenando negativamente com a cabeça até que elas desistiram e ele olhou diretamente para mim. Todos seguiram seu olhar e eu corei constrangida. Fixei meu olhar amedrontado nos confiantes e seguros olhos de e alguma força dentro deles me fez levantar e caminhar devagar até ele, enquanto pairava um silêncio mortal na platéia. Antes de eu alcançá-lo ele estendeu sua mão para mim e sussurrou ao microfone:
- Digam “oi” para a minha garota. – E imediatamente centenas de gritos preencheram meus ouvidos e eu só via uma coisa: aqueles olhos. Os olhos lindos que pareciam não ter fim de . E eu caía, assim como “Alice no País das Maravilhas” no túnel para o outro mundo, eu caía profundamente na luz do seu olhar. Ele soltou minha mão lentamente e pôs-se a tocar sua música mais linda. A minha preferida. Ela era simplesmente perfeita, falava sobre o amor, sobre a vida, sobre a desilusão, sobre nossa caminhada. Eu não pude impedir meus olhos de transbordarem alegria e cumplicidade. Agora eu sentia toda a cumplicidade do mundo por . Enquanto ele cantava, ainda olhando nos meus olhos, eu tinha a sensação de que compartilhávamos segredos em um campo de flores ao amanhecer. Até que a música acabou. Sua voz maravilhosa deixou de cantar dentro do meu peito, e eu acordei de um sonho lindo, desesperada para dormir de novo e voltar a sonhar. E nunca, nunca mais acordar.
Então ele sorriu para mim, em meio ao delírio da multidão e eu sorri de volta, ainda mais feliz do que ele. Então ele se aproveitou de toda esta alegria e pôs-se a tocar uma música muito animada, que eu adorava, e é claro, sabia a letra de cor, assim como sabia de todas as suas outras músicas. Logo os meninos o acompanharam e os acordes divertidos ressoavam pela casa de shows e pelo meu corpo inteiro. E eu, entregando-me, pus-me a dançar, e dancei e dancei, como se ninguém me observasse, como se estivesse em frente ao meu espelho, com a porta trancada do meu quarto e meu som ligado tocando aquele velho CD.
Observei as pessoas aplaudindo, cantando junto comigo e com , dançando, chorando, gritando. Eu não sabia bem o que elas sentiam, muito menos o que eu sentia, pois na verdade eu não sentia, eu era. Eu era luz, paz, cumplicidade.
Por mais duas músicas igualmente alegres eu permaneci ao lado de , cantando vez ou outra, acompanhando-o no refrão. Não sei por qual milagre que minha voz soou afinada e bonita, como jamais soava nestes momentos importantes. Ele finalizou a sequência exclamando no microfone:
- Você vai estar para sempre dentro do meu coração! – E a galera foi à loucura novamente! E eu ri com meu comentário mental.
- Agradeço à pela participação em nome de todos vocês! – Ele disse ao constante som de gritos. E eu sorri para ele e depois para todos, me curvando duas vezes em agradecimento mudo e sincero. E me retirei do palco estarrecida. Sentei-me no mesmo lugar anterior para poder apreciar o resto do show, e não sei por que meus olhos voltaram a chorar.
Parei por um momento, enxugando as lágrimas e observando as pessoas na pista. Segundos após percorrer os rostos expressivos encontrei um familiar. . Ele me encarava com uma expressão terrível. Não pude me decidir entre a raiva e a perplexidade. Então engoli em seco enquanto somente acenava com a mão fraca e insegura. Ele não acenou de volta, mas não havia dúvida de que ele olhava para mim. Então senti medo, o que ele vira ali? O que ele vira de tão ruim para me olhar daquela maneira? Não sei, mas logo, logo eu descobriria.
O show continuou, incrível e contagiante, assim como os meninos. Os quatro garotos mais lindos e talentosos do mundo! Assisti até o final do show do mesmo lugar e ninguém me abordou. O show chegou ao fim, e ao encarar uma onda de ansiedade percorreu meu corpo, e ao lembrar de esta onda se misturou com um líquido frio e gelado de medo que se espalhava dentro de mim aos poucos.
Então disse:
- Quero chamar nossa diva de volta ao palco. Vem aqui nos presentear com sua presença magnífica, meu amor! – E pude escutar os aplausos e assobios da multidão enquanto eu me levantava automaticamente e caminhava até insegura da segunda reação do povo à mim. Mas fui bem recebida, novamente, e agradeci junto à e aos garotos. mantinha sua mão em meu ombro, aconchegante. E enquanto eu observava a platéia, maravilhada puxou-me para ele e me beijou. Foi um beijo superficial mas significativo. Eu quase podia sentir as ondas de desejo e paixão que emanava de sua boca lindamente desenhada, colada à minha. Foi ótimo, devo admitir. Mas por essa eu não esperava. Somente eu e mais uma pessoa naquela casa de shows inteira não esperava por aquele beijo. Eu e .
Segundos de transe depois me dei conta do que estava acontecendo e temendo por minha vida e minha imagem o afastei rapidamente pelo peito, tentando ser discreta. Ele não pareceu perceber minha rejeição e manteve sua mão firme em minha cintura, sorrindo para a platéia. Eu senti uma leve falta de ar e sussurrei em seu ouvido:
- Vamos embora! – e ele agradeceu pela última vez à multidão de fãs e saiu do palco seguido dos outros meninos e de gritos de excitação. No corredor à caminho para o camarim nenhuma palavra foi dita e o clima estava tenso. ainda me segurava pela cintura e eu me senti fraca, prestes a desmaiar, mas me concentrei em cada passo à frente, me esforçando muito para não me render novamente. Enquanto abria a porta do quarto para todos nós com pressa uma vertigem me atingiu e eu virei-me para a parede ao meu lado, dando as costas para e me apoiando, ou melhor, caindo, nela pelo súbito momento de fraqueza. me segurou antes que eu me machucasse ou caísse realmente, dizendo:
- ?? O que você tem?! – E me guiou até o sofá mais próximo no quarto, segurando com firmeza meu braço e minha cintura. E continuou:
- O que foi?!
- Nada... – Eu disse expirando pesadamente – Foi só uma tontura. – se aproximou me observando e disse para todos nós:
- Deve ser falta de oxigenação. Estava realmente muito abafado. Não deve estar acostumada com multidões. – eu acenei otimista e continuou me encarando preocupado, tentando ver algo além de minha expressão provavelmente empalidecida. E eu tentei me levantar imediatamente, mas ele me impediu dizendo que eu ainda não estava em condições de andar ao que eu respondi:
- Bobagem! Já estou bem . Deixe eu sair daqui, preciso respirar.
- Tudo bem, mas eu te levo. – E me puxou rapidamente pelo braço e eu me apoiei em seu tronco, andando com dificuldade. abriu a porta de uma só vez e luzes fortes piscavam em meu campo de visão, me atordoando ainda mais e muitas pessoas impediam nossa saída, falando e gritando coisas que eu não entendia. Foi tudo tão rápido que antes de eu fechar os olhos já batia a porta na cara de todos eles e a trancava avidamente, murmurando:
- Droga, os paparazzi invadiram os bastidores. , avise nossos seguranças. – Ele terminou me pegando no colo antes que meus joelhos cedessem ali mesmo e disse me levando ao outro lado do quarto:
- Nós vamos ter que sair por aqui ... – E eu pude ver esboços de seu pé chutando o vidro de uma janela, e fechei os olhos ainda consciente, tentando evitar as seguintes visões que poderiam atenuar minha náusea e minha tortura. Eu pude sentir assim que saímos daquele ambiente abafado um ar renovado e fresco preencher meus pulmões e agradeci por tê-lo inspirado antes de entrar em crise asmática. Senti o vento em minha pele ao escutar os passos apressados de e concluí que estávamos nos afastando dali e abri um olho de cada vez, me acostumando com a luz não muito forte do lado de fora e percebi que já estávamos perto do trailer. Fechei os olhos, passando meus braços ao redor do pescoço de e encostando minha cabeça em seu peito aliviada e só abri os olhos novamente quando senti a superfície macia de uma cama sob meu corpo. se manterá em silêncio até aquele momento e não fui eu que me atrevi a falar primeiro. Encarei-o enigmática por um tempo, tentando encontrar as palavras para dizer-lhe o que eu precisava antes de ele dizer baixinho:
- O que foi?
- Você sabe o que foi. Por que fez aquilo?
-Se você se refere à salvar sua vida de novo, foi porque eu sou muito egoísta para deixar você se livrar de mim pra sempre, mas se refere-se ao beijo... Foi porque eu tive vontade. – Ele terminou sorrindo estupidamente e eu concluí que não adiantaria de nada repreendê-lo, mas mesmo assim o fiz:
- Você não deveria ter feito aquilo. Somente deu a mais um motivo para brigar com você... E comigo também
- Deixa aquele imbecil dirigir uma palavra indevida à você! – Ele respondeu imediatamente, se alterando. E eu suspirei fitando seu rosto tão despreocupado, confiante, inocente. – foi quando os meninos se aproximaram do trailer trazendo consigo uma horda de fotógrafos e repórteres enlouquecidos, cercados de seguranças enfurecidos e eles entraram no veículo rapidamente, seguidos de segundos depois. Os três garotos não demoraram a entrar no quarto onde estávamos e se aconchegaram silenciosos e exaustos. Pouco tempo depois o automóvel já arrancava e adentrou no espaço pequeno, que subitamente me pareceu bem menor.
O silêncio pairou enquanto ele me encarava sem expressão nenhuma e o clima tencionava a cada segundo que passava, todos os olhares estavam fixos nele, em seus mínimos movimentos. Todos aguardavam por sua reação quando ele começou a se locomover em minha direção, com os olhos ainda presos nos meus. Eu não sei o que meu olhar transmitia, mas algo que ele viu ali o divertiu, e ele prosseguiu mantendo o ritmo e me intimidando cada vez mais. Eu esperava por um tapa no rosto ou algo pior, mas eu vi algo além em seu olhar agora enfurecido. O que ele estaria tramando?
A um passo de mim, ele desviou seu olhar para , tão rápido quanto seu punho que se estendia diretamente ao seu queixo. Logo toda a imagem da cena anterior se transformara. Um grito de choque escapara de minha garganta no momento em que atingiu e os garotos se puseram de pé ameaçadoramente enquanto o ruído do punho forte de no queixo ainda mais forte de ainda ressoava em meus ouvidos. A cabeça de hora lançada para trás devido à força do impacto já retornara ao seu lugar quando os dois meninos mais próximos voavam na direção de , cada um agarrando-o de um lado, impedindo-o de mover um dedo e eu ainda não conseguira desfazer minha expressão de choque e medo quando se levantou rapidamente, encarando com a raiva planejada de um leão.. E o silêncio pairou novamente.
Nenhum músculo naquele quarto parecia se mover além dos que cercavam a garganta de , onde suas têmporas se contraiam e suas veias grossas pulsavam alertas. Eu me levantei de impulso, quebrando o silêncio do ambiente:
- Não! Por favor, parem com isso agora! Não quero mais brigas aqui! – A vertigem me tomou novamente e meus olhos giraram um pouco nas órbitas antes de eu continuar, me dirigindo à e empurrando-o ao agarrar seus braços tensos fazendo os meninos o largarem e eu continuei na tentativa de arrastá-lo para longe dali se possível. Então murmurei exausta e impaciente:
- ! Vamos! – e ele resistia mudamente ainda com os olhos presos aos igualmente severos de . Ele não dirigiu sequer um olhar em minha direção, e eu agora o encarava incrédula:
- ?! Vamos, !! Chega. – E empurrei-o com força mais uma vez como última tentativa e ele finalmente deixou-se levar para fora daquele quarto. Ninguém ainda ousara quebrar o silêncio quando ultrapassamos a porta e eu tentava virar para a direção oposta à de . Ele ainda não me encarara quando eu me virei e bati a porta rapidamente atrás de nós. Então ele finalmente pareceu notar minha presença e me deu as costas, se afastando muito rápido e agarrando os cabelos em pura frustração.
- O que você quer?! – Pensei um pouco antes de responder essa:
- Como assim o que eu quero? Só estou tentando te impedir de cometer outro ato estúpido e impensado como a maioria dos que você comete sempre que eu não sou rápida o bastante para te impedir.
- O quê?? Você queria o que?! Que eu não fizesse nada e simplesmente observasse vocês dois juntos depois do que aconteceu?
- Não começa, .
- Você nem mesmo o impediu de te beijar! Você acha que eu sou trouxa, é? – Ele exclamou se aproximando, me encarando enfurecidamente.
- Deixe de ser babaca! Eu não pude fazer nada!
- Ah, claro! Sempre assim, você não pode evitar nada mesmo, não é? – E antes que a discussão continuasse a porta se abriu com estrondo atrás de mim, revelando um preocupado à frente de um fora de si segurado pelos outros dois garotos e gritando coisas como “Eu vou acabar com ele!” e “Me solta!!”, fechou a porta rapidamente antes que conseguisse ultrapassá-la e encarou em seguida:
- O que está acontecendo aqui? – Eles provavelmente escutaram os gritos.
- Nada que seja da tua conta!! To discutindo com minha mulher e você não tem o direito de nos interromper! – respondeu ainda mais enraivecido e agora o encarava perplexo:
- Cara! Afaste-se dela agora! – não moveu um músculo e deu um passo ao meu lado em sua direção.
- Eu disse pra se afastar! – berrara desta vez e antes de responder ele empurrou-o com força, atirando-o a passos de distância de mim e por impulso eu me coloquei entre os dois, de frente para e o implorei:
- ! Está tudo sob controle, eu juro! Vá, ! Por favor! – E ele obedeceu-me segundos depois ainda encarando ameaçadoramente, e eu me surpreendi com o fato dele ainda não ter tentado revidar a agressão de . E agradeci mentalmente quando voltou ao quarto por ninguém ter saído muito ferido desta história por enquanto. Me virei receosa para e o encontrei mais controlado desta vez, e começou a falar:
- eu te amo tanto! – E veio até mim me puxando para um abraço apertado e arrependido. - Me desculpe! Eu sei que você jamais me trairia. Diz que me ama também! Eu não agüento mais esse idiota entre nós!
- Eu também te amo! Muito, muito. E não tem ninguém entre nós, ! Esquece isso. – Meu coração se apertou com essa mentira e felizmente ele não percebeu, mas suas palavras sinceras me atingiram em cheio. Eu suspirei exausta em seu ombro e ele afrouxou seu abraço me beijando com força. Eu finalmente me acalmei e disse:
- Preciso descansar! Ah, como estou cansada...
- Vai dormir então, mas eu vou ficar do seu lado a noite toda.
- Não seja bobo, ! Vai dormir tranqüilo em algum sofá, antes que implique com você de novo e te prenda na cabine com os seguranças. – Desta vez ele suspirou vencido e concordou com um aceno de cabeça me soltando e desejando boa noite. Eu me virei para a porta atrás de mim com medo do que me aguardava do outro lado e entrei no cômodo agora com o clima menos tenso e procurei minha cama, sem saber como encarar os meninos que me fitavam com interesse. Notei que estava sentado em minha cama, com ao seu lado procurando acalmá-lo e eu me compadeci dele quando vi seu rosto machucado e seu olhar cego por vingança.
- ! – ele sussurrou – Me diga que ele não encostou em você. – ele terminou se levantando em minha frente:
- Claro que não . Sente-se, deixa eu cuidar de você. – Eu respondi tocando seus ombros e empurrando-o de leve de volta à cama, e ele obedeceu ao meu toque imediatamente.
- Você está bem? – ele agora analisava minha expressão derrotada enquanto eu me sentava em sua frente.
- Estou sim, mas você não está, né?
- Eu estou bem se você está bem. – Eu me esforcei para ignorar aquele comentário e me concentrei em seu machucado.
- Hmm, não foi muito feio. Você vai ficar bem logo.
- Aquele imbecil não me atingiu se é o que ele pensa. Eu ainda vou fechar minhas mãos naquele pescoço, guarde minhas palavras.
- Para com isso, ! Vingança não trás nada bom a ninguém. – Eu o respondi acariciando seu maxilar contraído. – Se acalme! Por favor. – Eu sussurrei perto de seu rosto. – Odeio te ver assim... – Ele não respondeu, mas fechou os olhos com força, soltando todo o ar que estava a prender e relaxou um pouco ao meu toque.
-Isso... Respire fundo, esquece tudo isso, por mim. – Eu quase esquecera de que tínhamos platéia, e observei os garotos nos encarando pasmos. virou sua cabeça na palma da minha mão, mantendo-a ali com seus dedos fechados nos meus e um sono imbatível me tomou imediatamente e eu não pude mais resistir. Deixei minhas pálpebras caírem sobre meus olhos e fui tomada pela escuridão aconchegante dos sonhos.
- O que você tem, ? Conte pra mim!!
- Não... Não!
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende...
- O quê?? O que houve? – E ele chorava dolorosamente, movendo a cabeça negativamente e eu não podia entender o motivo de sua tristeza.
- ... – E escutei uma voz distante me chamar:
- ... !
Abri os olhos rapidamente e me deparei com o rosto de muito próximo do meu em meio às sombras da escuridão interna do trailer. Eu estava sonhando, mas agora não entendia porque me acordava.
- ? Você está bem?
- Não! Chegou a hora de você terminar de cumprir a sua promessa. Estamos a caminho da sua cidade, esqueceu? Logo não verei você para sempre! – Ele sussurrava, seus lábios se movendo rapidamente em meio à escuridão.
- Não! – Eu sussurrei ainda mais baixo – Não diga isso!
- Mas é verdade, não é? A não ser que você queira que mudemos a rota agora mesmo. Podemos partir em direção à minha cidade, ham? Você poderia conhecer a minha casa, o que acha disso? – Ele agora sussurrava em meu rosto, envolvendo seus braços em minha cintura e sentando-se à minha frente em minha cama. Eu fechei os olhos sentindo a aproximação delicada do calor que emanava de sua pele. E respondi atônita:
- Ahn... Você sabe que eu não posso .
- Porque não? O que prende você? Sua mãe se foi, você não tem parentes lá...
- Tenho minha melhor amiga – Virei meu rosto para encará-lo nos olhos – Como ela ficaria sem mim?
- Não sei, mas ela supera, poderá nos visitar quando quiser e ao contrário também. Ela não precisa de você tanto quanto eu! – Nossos ruídos eram quase inaudíveis naquele silêncio profundo exceto pelo ruído do vento contra o veículo, que penetrava tão rápido quanto saía pelas janelas, deixando o frio. Eu arrepiei e não pude responder, ainda tentando entender o que ele dissera.
- Está com frio? Vem cá, eu esquento você.
- Não, ! Esquece tudo isso! Eu não posso ficar mais nem um segundo com você! Tenho que voltar para minha casa, voltar para . E você sabe disso! Capítulo 6 – O Novo começo. “Eu tentava chamar sua atenção novamente, mas agora não adiantava mais. Deixei meu tronco cair no chão ao lado de minha mão gelada e esperei por um milagre que me salvasse, ou alguém, simplesmente.”
Ponto de vista do
Meu corpo a desejava tão dolorosamente que eu mal podia me controlar a ponto de não beijá-la profundamente naquele exato momento. Mas ela estava tensa, fora algo que eu dissera. Mas seu rosto estava tão perto do meu! Eu podia sentir sua respiração fria na minha boca. E ela estava tão linda, linda como nunca! Ela seria minha, não era um desejo, mas uma ordem. Eu não podia suportar mais um segundo silencioso e distante ao seu lado. Eu a abracei com mais força e a beijei. A carícia de lábios se aprofundou e eu mal percebi que ela resistia. Resistia à mim? Porque diabos... E ela partiu nosso beijo contra minha vontade e disse:
- ! Pare com isso!
- Eu sei que você também me quer!
-Não! Não!
-Sim! – Eu terminei juntando nossos lábios novamente. A hora chegara finalmente. Ela seria minha e nada poderia nos impedir, nem mesmo ela.
- , me solte! – Ela partira nosso beijo novamente e agora me encarava severa. – Eu disse pra me soltar! – E eu me lembrei de um detalhe que poderia convencê-la:
- Você se esqueceu de que tem uma promessa a cumprir, moçinha? – Ela não respondeu, e ficou a me encarar apavorada e tensa. Eu sussurrei em seu pescoço:
- É melhor você relaxar... Pense bem: Você agora tem uma desculpa. Sob qualquer circunstância: a culpa é toda minha. – Eu sentia seu peito subir rapidamente e pude ouvi-la arfar, ela finalmente se rendera. Então comecei a beijá-la profundamente e antes de me descontrolar e me impulsionei por cima dela, fazendo-a deitar-se sob meu corpo e agarrei sua cintura erguendo sua blusa até seus seios e separei nossos lábios por uma fração de segundo para arremessar sua roupa para bem longe e voltei a beijá-la. Ela ainda não oferecera nenhuma resistência, o que comprovava minha teoria. Parei para encarar seu busto cheio, coberto por um sutiã preto de renda e ao fechar com ainda mais força minhas mãos em seu tronco pude ouvi-la arfar, e concluí que ela me queria tanto quanto eu a queria, finalmente. Continuei a beijá-la e desci minhas mãos para seus quadris. Desabotoei sua calça jeans e parti nosso beijo para poder tirá-la dali em um segundo.
- ! Por favor! – Não demorei a beijá-la novamente e senti suas mãos empurrando meus braços e ela virou o rosto fazendo-me transferir meus beijos para seu maxilar e pescoço. Direcionei minhas mãos para suas costas, procurando pelo fecho de seu sutiã quando ela segurou meus punhos. Como ela sabia que eu adorava aqueles joguinhos? Então pensei sarcasticamente que ela teria de me recompensar e desisti de seu sutiã por hora. Suas mãos ainda seguravam meus braços enquanto eu acariciava suas costas e desci minhas mãos para seus quadris.
De repente ouvi um barulho de porta se abrindo e não me importei, mas desviou seu rosto do meu novamente e eu começava a me irritar com aquilo quando observei sua face se iluminar pela luz que invadira o quarto repentinamente. Foi quando reparei em seu rosto. Sua face estava molhada e seus olhos arregalados de choque, seus dentes mordiam seu lábio inferior com força e sua testa estava franzida. Ela estava chorando? Eu mal podia acreditar, mas resolvi acompanhar seu olhar para observar quem havia nos flagrado. E me deparei com , em pé em frente à porta, encarando perplexo e furioso. Eu encarei-a de novo tentando absorver tudo aquilo e concluí que ela não me queria, eu me enganara. E ela olhou em meus olhos, ainda chorando e depois se dirigiu à ele:
- ! Por favor, me deixe explicar! – Ela disse enquanto eu saía de cima dela e erguendo seu tronco a encará-lo em desespero e eu virei-me para ele, curioso por sua reação. E pude ver sua expressão de choque se atenuar ao observá-la seminua, seus olhos se encherem de lágrimas de ódio e ele negou com a cabeça e eu, sentado na cama ao lado dela o encarei provocando-o. Mas ele nem mesmo olhou para mim. adiantou-se na tentativa de ir até ele e eu a impedi, prevendo que não era uma boa idéia e ele nos deu as costas deixando a porta aberta atrás dele. Eu a abracei suspirando, na tentativa de consolá-la, mas ela me afastou ainda chorando e disse:
- Eu preciso falar com ele! A sós! – E eu entendi o recado e me levantei sussurrando:
- Estou na cabine.
Meu ponto de vista
Eu fechei os olhos tentando afastar as lágrimas e me levantei rapidamente vestindo minha calça jeans e secando meu rosto molhado. Atravessei a porta por onde passara e andei devagar em sua direção. Ele estava em pé no meio do corredor, de costas para mim. Eu respirei fundo e ele se virou para me encarar furioso. Eu observei ao seu redor à procura de e ele disse:
- Eu cuido dele depois. – E eu engoli em seco com sua ameaça e continuei a encará-lo preparada para enfrentá-lo. Ele continuou em silêncio por um tempo apenas observando minha expressão e disse com repulsa:
- Como você pode, ?! – Eu arfei sem saber por onde começar e disse:
- , eu não traí você!
- Ah, não traiu, não?! Então quase dar pra outro cara significa o que pra você?! – Ele berrou se aproximando de mim e eu respondi:
- Cuidado com o que você fala! Você não sabe o que aconteceu!
- Mas eu vi! Não ouse negar, ! – Eu o encarava atônita, observando suas lágrimas.
- Você tem que confiar em mim! Eu amo você!
- Eu não confio. Não depois do que eu vi.
- ! Tudo que eu fiz por amor...
- Me trair com ele, bem debaixo do meu nariz não foi!! – Ele berrou arfando e uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Não havia como reparar aquele erro sem contá-lo a verdade, que eu fora chantageada. Mas ele acreditaria em mim? Eu abri a boca para responder e ele me interrompeu:
- Não! Eu não quero ouvir mais nada! Não adianta mais, . Acabou! Você não é NADA mais pra mim! – Ele gritou em minha face, me fazendo chorar ainda mais e me deu as costas, se afastando o máximo possível. Eu estragara tudo e nem sabia como consertar, como começar. Agora ele não me ouviria, talvez nunca mais. E seu amor por mim se fora, todo aquele amor, em três segundos se evaporou. Será que um dia ele realmente me amou? Será que era real?
Caí no chão chorando, sem conseguir enxergar nada e encostei minha cabeça em meus joelhos abraçando minhas pernas. O oxigênio passou a me faltar um pouco à medida que eu soluçava e me desesperei com a idéia de entrar em crise asmática. Levantei a cabeça procurando por e o avistei em pé de costas no final do cômodo, perto de uma poltrona, ele estava parado com a cabeça abaixada. Eu, arfando, tentei reunir forças para chamar seu nome e pedir ajuda, mas não consegui. Não era possível que ele não escutava minha respiração agonizante! O que ele estava esperando? Ele sempre carregava uma bombinha de oxigênio com ele caso eu precisasse e não estivesse com a minha! Eu tentava chamar sua atenção novamente, mas agora não adiantava mais. Deixei meu tronco cair no chão ao lado de minha mão gelada e esperei por um milagre que me salvasse, ou alguém, simplesmente.
Escutei passos rápidos no carpete sob meu corpo quase inconsciente e abri os olhos. Vi um par de tênis grandes correndo em minha direção e logo um joelho repousava ao lado de meu rosto e uma voz distante e fraca dizia:
- ! olhe para mim! O que você tem?! – Eu virei minha cabeça com dificuldade e vi os olhos úmidos de me sondando apavorado e eu tentando respirar com mais força levantei uma mão levando-a a meu peito e ele entendeu imediatamente. Pegou-me em seus braços e eu me rendi à inconsciência, desistindo de lutar por hora, com a certeza de que lutaria em meu lugar.
Abri os olhos sobre um sofá, respirando involuntariamente o oxigênio de uma bombinha qualquer que logo descartou e eu expirei aliviada retornando à realidade. não se importara. Ele poderia ter me deixado morrer no mesmo aposento que ele e ele nem mesmo se sentiria culpado. O que eu fizera havia mudado o que ele era. me puxou pelo tronco, me fazendo sentar, juntando nossos corpos em um abraço mais que tudo, amigo.
E eu não podia parar de pensar em . Não pude evitar que sua perda custasse muito a meu coração. Mas ao mesmo tempo em que eu sofria com o novo espaço vazio em meu peito, uma verdade pulsava incessante no fundo do meu coração: ao meu lado estava o homem que poderia preenchê-lo, mas com muito mais amor do que eu jamais imaginara que ele fosse capaz de suportar. Mas naquele momento eu não conseguia escutar a vozinha que me falava em minha mente, que agora uma nova etapa da minha vida finalmente começaria: minha vida sem o . E eu não estava exatamente pronta ainda para enfrentar tal mudança. Por isso o . Era por isso que ele estava comigo naquele instante.
Após algum tempo em silêncio eu disse olhando em seus olhos:
- Eu aceito a sua proposta.
- Qual?
- Quero conhecer sua casa antes de voltarmos para a minha cidade. É muito tarde para isso?
- Não se preocupe, já estamos voltando. – Eu não entendi aquela frase.
- Como assim?
- Quando te deixei sozinha e fui para a cabine eu mandei o motorista mudar a rota. Estamos à caminho do aeroporto. Já comprei nossas passagens via internet. Não vamos precisar viajar mais nessa fuçamba aqui. – Ele terminou contente e meu olhar triste e distante se derreteu em luzes de adoração. Eu encarei no fundo de seus olhos perfeitos sem saber como agradecê-lo por tudo. E ele pareceu adivinhar meus pensamentos:
- Não se incomode. Tudo que eu faço é por amor. – E essa frase me despertou a lembrança de , que agora não mais me amava e eu disse:
- Ele não vai junto, vai? – Adivinhando a quem eu me referia respondeu:
- Se você não quiser, é claro que não.
-Bom... De qualquer forma não vou ficar para sempre. Tenho que buscar algumas roupas, meus objetos pessoais e também avisar .
- Não se preocupe com isso. Todos os seus pertences já estão sendo enviados para lá e já conversei com sua amiga também e a convidei para visitar-nos. – Eu o encarei perplexa:
- Mas... Ahn, tudo bem, mas o que ela achou disso tudo?
- Pra ser sincero ela ficou muito chocada com tudo, mas também não me pareceu triste ou decepcionada. Aceitou o convite alegremente e disse que iria te ligar mais tarde. – Ele disse rindo.
- Ah! Só a mesmo! Nunca gostou do , sabe?
- Eu posso imaginar o porquê... Mas então a qualquer hora ela deve te ligar.
- Ai, que ótimo! Preciso muito conversar com ela! – Eu disse sorrindo para . E ele se alegrou em ver-me bem melhor depois de tudo aquilo.
- Você vai adorar lá... É tão lindo!
- Ah, aposto que sim. Ahn... , posso pedir mais uma coisa?
- Claro!
- Pode procurar minha blusa, por favor? – Só agora eu percebia que não havia vestido minha blusa desde que eu saíra do quarto e eu começava a me envergonhar diante de , que respondeu:
- Ah sim, como quiser. Mas eu acho que você fica bem melhor assim. – Ele sorriu sincero e eu agradeci sentindo meu rosto corar violentamente. Ele se levantou rindo de mim e foi à procura de minha roupa. Logo ele estava de volta com a familiar blusa nas mãos e eu a vesti rapidamente e pensando em voz alta:
- Nossa, eu preciso de um banho. Há quanto tempo estou com as mesmas roupas?
- Não muito. Mas nada que tenha conseguido eliminar seu perfume avassalador. – Eu ri de sua tentativa ridícula de me despreocupar e ele continuou:
- É verdade! Você é a única que não deve saber, porque seu cheiro é divino, . E não sei se é mesmo um perfume, porque ele parece emanar da sua pele, entende? – Ele terminou com os olhos brilhando.
- Não. – Eu ri – Mas obrigada mesmo assim.
- Ainda é de madrugada... Você quer dormir?
- Quero sim. – Ele me pegou em seus braços devagar e me levou até a minha cama.
- ?
- Oi?
- Como você sabia... Que eu estava precisando de ajuda?
- Eu escutei os gritos dele e depois um longo silêncio. Concluí que a briga havia acabado e achei seguro ir até você. Só não fui antes porque se eu interrompesse a briga de vocês eu teria que dar uma surra nele na mesma hora. Eu preferi adiar a nossa briga.
- Você sabe que não precisa tomar minha raiva, meu sofrimento.
- É inevitável. E será um prazer acabar com ele... Longe de você. – Fiquei a fitá-lo preocupada, mas vencida. Nada o impediria de se vingar de pelo que fizera comigo. Mas ele não era o único culpado nesta história.
- Ah, e a propósito... Eu te devo desculpas. Eu estava tão, tão... Ah, eu não percebi que estava te machucando. Não quis te magoar, me perdoe!
- Tudo bem, . – Eu o puxei para um abraço com meus olhos se enchendo de lágrimas, com a lembrança ruim de pouco tempo atrás.
- Agora vou deixar você dormir. Boa noite, . – Ele murmurou em minha bochecha e eu não respondi, já adormecendo ao som de sua voz suave.
- O que você tem, ? Conte pra mim!!
- Não... Não!
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende...
- O quê?? O que houve? – Ele não me respondia, chorando como uma criança desamparada.
- ...
Abri os olhos assustada. Eu tivera o mesmo sonho novamente. Olhei ao meu redor, observando que o sol havia nascido e iluminava todo o quarto. roncava como um bebê na cama em frente, enrolado nos lençóis brancos, assim como os outros Garotos. Capítulo 7 – Aeroporto. “A idéia de estarmos sendo constantemente observados me incomodou um pouco. Estariam eles nos observando no trailer também? Meu estômago revirou com esta possibilidade e eu tentei esquecer aquilo.”
Eu me sentia bem, apesar de não ter dormido muito. Levantei-me devagar, desesperada por um banho e sai a procura de uma toalha. Eles deveriam ter uma em algum lugar pelo quarto. Andei até o armário no fim do cômodo e o abri devagar, medindo os movimentos a fim de não produzir ruído algum, afinal eu não pretendia acordar os garotos por enquanto. Olhei para trás observando o sono tranquilo dos três. Eles não podiam imaginar tudo o que acontecera na madrugada anterior. Então retornei minha atenção para o armário e suas muitas divisões e compartimentos. Procurei cuidadosamente em todos os locais possíveis e ao checar pela ultima vez a ultima gaveta abaixo dos instrumentos musicais, escutei um sussurro atrás de mim:
- Procurando o que, senhorita? - Pulei ao escutar a voz de tão próxima de mim. Eu fora flagrada.
- ! Você me assustou! - Ele ergueu uma sobrancelha para mim, desconfiado e eu continuei suspirando:
- Eu só quero uma toalha! Preciso tomar um banho...
- Ah! Uma toalha!
- É, pensou que fosse o que, jóias de família?
- Haha! Vou pegar uma toalha pra você mocinha, não se preocupe. - Ele disse rindo. Dirigiu-se ao banheiro e retornou rapidamente com uma grande toalha branca enrolada em suas mãos. Eu sorri e o agradeci, caminhando até o banheiro, envergonhada. Como eu não havia pensado em procurar lá primeiro? Fechei a porta do banheiro após encarar pela fresta, notando que ele se esforçava em conter uma risada. Tirei minhas roupas e as atirei em qualquer lugar no chão, correndo para o boxe. Me assustei com a água gelada, mas não reclamei o trailer já não era de um alto nível, mas possuía um chuveiro, o que já era bom demais. Demorei-me o máximo possível no chuveiro, agradecida pela água que me acariciava confortável e relaxante. Ao contrário do que eu imaginara, eu não acordei mal pelo que acontecera ontem à noite. A sensação que eu tinha agora não era mais de perda, mágoa, culpa, mas sim... Alívio. Alívio? Nossa, eu não tenho mesmo um coração. Mas o que eu poderia fazer além de aproveitar meu bem estar ao lado de... Quer dizer: somente aproveitá-lo!?
-! Não demore! Já estamos quase no aeroporto! – gritou do outro lado da porta após algumas batidas que me pegaram de surpresa.
- Tá! Já estou saindo! – Me alegrei com a idéia de finalmente poder sair daquele trailer horroroso, desliguei o chuveiro e me sequei rapidamente. Vesti as mesmas roupas e saí correndo do banheiro. Ao abrir a porta me deparei com uma cena completamente diferente do que a qual eu havia deixado para trás: estava vestido e acordado, arrumando sua cama minuciosamente, me esperava sentado em minha cama, agora arrumada, e os outros meninos jogavam os lençóis de qualquer jeito sobre suas camas, com expressões sonolentas realmente fofas. já me fitava quando desejei um bom dia para os meninos, e no caminho até minha cama, me puxou para um abraço apertado e manhoso e eu o correspondi, esperançosa. Eu esperava que tudo melhorasse a partir daquele momento, pois eu sabia que minha vida mudara completamente.
- Então, como está, meu amor?
- Ah, estou muito bem, ! Estou bem disposta, e você? – Eu respondi sorrindo para ele e sentando-me ao seu lado.
- Eu também acordei ótimo! Pronto para correr uma maratona com um sorriso estampado no rosto!
- Nossa, mas quanta alegria! – eu ri de sua resposta inesperada.
- Pois é! Estou feliz de finalmente poder te levar para a minha casa!
- Calminha aí! – interrompeu – A casa é de todos nós!
- Tudo bem, -estraga-prazeres! – riu e eu ri junto com eles.
Todos conversávamos alegremente quando parei para observar através dos vidros das janelas. Estávamos nos arredores de minha cidade, na estrada que levava ao aeroporto mais próximo. Não demorou muito para chegarmos lá e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos antes de atravessarmos a sala que nos levaria à . Passamos por ele e nenhuma palavra foi dirigida. O silêncio pairou sob o olhar penetrante de em meus olhos assustados. Quando seu olhar tocou o meu, frio e implacável, um arrepio percorreu meu pescoço, rosto e ombros, e percebendo, apertou o entrelaço de nossos dedos, puxando-me rapidamente para fora daquele lugar. Foi quando lembre-me de um detalhe: - Onde está minha bolsa? – Pensei alto demais, e me respondeu:
- Não vi você com nenhuma em momento algum. – Foi então que me lembrei: Antes de meu encontro com e Charlie nos bastidores eu a entregara à , deveria estar trancada em seu carro neste exato momento. Pensei com cuidado em tudo o que estava ali dentro e concluí que não havia nada de valor, então eu jamais necessitaria de tocar neste assunto com . Eu na verdade, jamais precisaria trocar uma palavra sequer com ele. Tudo acabara. E suas últimas palavras me atingiram em cheio mentalmente: “ -Não! Eu não quero ouvir mais nada! Não adianta mais, . Acabou! Você não é NADA mais pra mim!”.
Tentei ignorar meus pensamentos e segui atrás de , que seguia apressado à entrada do aeroporto.
-Só uma coisa antes de irmos. – Ele disse. – Não quer passar na sua casa primeiro? Pegar alguma coisa ou só dizer adeus? – Eu pensei por um instante e respondi:
- Não. Não vou olhar pra trás. – Ele não respondeu, mas acenou em silêncio, e seguimos em frente. Percorremos os salões, fizemos o check-in rapidamente (existem inúmeras vantagens em viajar com astros), atravessamos pátios e subimos escadas até encontrarmos o salão de embarque.
Um ruído familiar chamou-me a atenção em meio ao relativo silêncio e eu logo identifiquei-o como o toque de meu celular.
- !!! – Atendi ao meu celular amarelo gigante sentada ao lado dos garotos no salão de embarque. E ela respondeu do outro lado da linha:
- ! Ai amiga, você quase me matou de preocupação!
- Calma , eu estou bem! Muito bem na verdade...
- É eu fiquei sabendo, Srta ! Vai me contar tudo!!
- Está bem, só um minuto. – Eu sussurrei contendo risadas e pedi licença aos meninos e me dirigi ao banheiro quase correndo. Lá dentro, fechei a porta de qualquer jeito e segura, em frente ao banheiro comecei narrando-lhe os fatos desde o final do show até o momento presente. Ela escutou calada à todos os meus relatos, e quando finalmente terminei de contar, observando minha expressão esperançosa no espelho em minha frente, ela respondeu enfim:
- Meu Deus, ! Quanta coisa aconteceu! – Ela soava alegre, realmente animada.
- Eu sei, amiga! – Eu disse observando meus olhos brilharem. – E agora está tudo tão bem!
- Bem não né! Tá bom demais pra ser verdade! E eu que recebi uma ligação de em plena madrugada! Você não imagina o mico que eu paguei! Eu pensei que ele fosse alguém, qualquer pessoa conhecida, e o insultei de todas as formas que eu conhecia por ter me acordado!
- Ah, ! Não acredito! – Eu ri alto de suas confissões e me adiantei em dizer:
- Mas você não ficou nem um pouquinho ressentida por causa do , não? Eu sofri muito tá, amiga?
- Ah, que nada, ! Desencana, você devia era estar dando uma festa, fazendo uma tatuagem, pulando de alegria ou algo assim! – Eu ri novamente, encantada com sua habilidade humorística em meio à um assunto tenso como aquele. Eu acabara de levar um pé na bunda e em tudo que minha melhor amiga conseguia pensar era em como eu deveria comemorar o ocorrido. E eu respondi:
- Ok amiga, mas não é tudo tão fácil assim... – Eu disse, parando para refletir
- É! Mal deu tempo de você sentir a dor de estar encalhada, e você já passava pro próximo da fila. Esquece isso, você já tá acompanhada de novo, amiga! E que acompanhante, hein!
- Ai , eu sei! – Meus olhos brilhavam novamente. Eu mal podia acreditar no que acontecia.
- , amiga! O !! O cara dos seus sonhos! – Ela disse sussurrando e contendo gritos ao mesmo tempo.
- Eu sei... Eu sei! – Eu encarava meus pés, com dificuldade em conter toda a alegria e satisfação que vibrava dentro de mim.
Pude ouvi-la suspirar do outro lado da linha e meu sorriso se alargou.
- Ai, , eu vou ter que desligar. Conversamos mais quando eu chegar lá... Na casa do !
- Aah... Ok, amiga. Me liga quando botar os pés lá, ouviu? E me fala quando eu puder te visitar, hein!! - Ela respondeu rindo.
-Tudo bem, . Te amo, amiga!
- Eu também! Juízo, ta?
-Precisa dizer? - Ela riu em resposta e mandou- me um beijo ruidoso. Eu correspondi e desliguei o celular. Retornei apressada aos assentos onde os garotos me esperavam. Antes mesmo de eu me sentar em meu lugar, exclamou:
- ! Eu já estava indo atrás de você! Nosso avião aterrissou. – ele disse se levantando.
- Ah! Está bem... – Ele pegou minha mão e eu o acompanhei até as portas do salão de embarque.
- ?
- Hm?
- É... Onde estão seus seguranças?
- Ah, eles estão por aí... Escondidos. – Arregalei meus olhos, subitamente surpreendida e observei ao nosso redor, procurando por eles. A idéia de estarmos sendo constantemente observados me incomodou um pouco. Estariam eles nos observando no trailer também? Meu estômago revirou com esta possibilidade e eu tentei esquecer aquilo.
[...]
- ?? – Eu chamei, afundando minhas unhas nos braços da poltrona.
- Oi? – Ele disse concentrado em alguma coisa em seu celular.
- Já te disse que... Eu não me dou muito bem com aviões?? – Eu pude ver pela visão periférica que ele virou o rosto rapidamente em minha direção.
- Não... – Eu não respondi – Ah, não!
- Eu... – Eu tentei dizer algo, amedrontada.
- Você tem medo de viajar de avião! Porque não me contou?
- Eu não tenho medo! – Eu sussurrei severamente.
- O que você tem contra aviões então?
-É que... É que eu costumo passar mal todas as vezes que viajo de avião.
- Passar mal?
-É... Não suporto a mudança de pressão. Toda vez é a mesma coisa.
- Ah, meu Deus! Ainda podemos sair daqui se você quiser!
- Não! Não... – Meus olhos se enchiam de lágrimas – Agora que estou aqui não posso mais sair. Seria ridículo. – E eu finalmente encarei-o.
- Tudo bem, mas... , você está branca!
- Eu sou assim mesmo. – Eu disse com a voz falha.
- Não! Você está mais! Muito mais branca do que o normal! – Eu continuei a encará-lo, assustando-me. – O que você está sentindo?
- Nada! Só estou com medo. Medo de passar muito mal. – Ele suspirou aliviado, fechando os olhos.
- Ah, bom. – Ele abriu os olhos me encarando novamente - Não se preocupe. Eu vou estar aqui. Qualquer coisa que sentir me avise na mesma hora, está bem?
- Tá... Tá. – Eu respondi respirando fundo e me preparando para a decolagem, que já fora anunciada. O avião ligara as turbinas que zuniam ensurdecendo-me e quando ele se locomovia na pista, acelerando, eu já sentia náuseas e minha visão com dificuldade focava na poltrona em minha frente.
- ? – Eu me esforçava em enxergar minhas pernas agora.
- Está me ouvindo? – Sua voz soava distante e abafada sob o zunido que penetrava meus ouvidos sobrecarregando meus tímpanos e me privando de alguns sentidos e reações mentais, por hora. Droga de sensibilidade auditiva. – A mão de pegou meu ombro e eu ergui minha cabeça lentamente, me concentrando em não permitir que minha consciência se fosse. Entreabri os olhos, receosa por cada movimento executado que pudesse me privar de mais sentidos e pude ver muita preocupação e surpresa através do rosto embaçado de .
- Meu Deus, , me diz o que você está sentindo?!?
- Eu... – Minha voz era inaudível em meio àquele barulho enlouquecedor. – Eu... – Suspirei vencida e soltei o braço esquerdo da poltrona, virando a palma de minha mão para cima e a pegou imediatamente, apertando-a ao me encarar. Quando o avião decolou, senti meus pulmões ficarem para trás, na pista, e somente pude respirar aliviada quando a máquina se estabilizou, planando no ar. Encarei , temendo a sua reação.
- Foi só uma tontura... – Agora eu podia focar em seus olhos, marejados de medo e culpa.
- Já está melhor??
- Estou. – Na verdade o que eu sentia era inexplicável. Eu não deveria ter pressão sanguínea alguma, dificilmente alguma gota de sangue restara em todo o meu corpo gelado e tensionado. Mas eu podia respirar, me preparar para o que vinha. Agora era a pior parte.
- Mentira! – Ele sussurrou preocupado. Você não está bem, olhe só para você! Parece um fantasma!
- Oh! – Eu abri a boca ofendida.
- Mas uma fantasma muito linda por sinal, se não fosse pela sua boca roxa.
- Minha... Boca...?
- Está. Eu não sei bem o que significa, mas sei que não é nada saudável. Diz pra mim o que você tem, meu amor.
- , eu... Não sei explicar, mas logo eu já vou melhorar. – Então uma enxaqueca surgiu como mágica acima de minhas sobrancelhas como se minha mentira tivesse a acionado. Ela foi tão repentinamente arrebatadora que franzi a testa contraindo todo o meu rosto e esperei, tentando disfarçar o que acontecia. A dor era tão forte que meus olhos ardiam, e eu pressionava minhas pálpebras fechadas, numa tentativa inútil de ignorar a dor. Eu sentia alguma força invisível pressionando minha cabeça para dentro, e essa força invadia meus olhos e testa, em forma de um aperto profundo e contínuo. Era a pior enxaqueca que eu já tivera. envolveu-me em seus braços e eu não tive coragem de abrir os olhos.
- , calma, meu amor, eu vou ajudar você. – agora sussurrava em meu ouvido, me abraçando com força.
- Deixa! Tá tudo bem. – Eu respondi ao seu sussurro. Eu estava na poltrona ao lado do corredor, e senti a aproximação de alguém quando uma voz familiar falou perto de mim:
- , o que está acontecendo?
- Ela não está passando muito bem, .
- Ai, meu Deus... O que eu posso fazer?
- Se sentar de novo em seu lugar. Obrigado. Qualquer coisa eu te chamo, não preocupe os caras, está tudo sob controle.
- OK. – A mão de acariciou meus cabelos com delicadeza – Vai ficar tudo bem, princesa. – E ele voltou ao seu lugar. ergueu meu rosto contraído para me observar, e eu notei ao entreabrir os olhos, como eles estavam encharcados de lágrimas. Então pisquei os olhos para apaziguar a ardência e quase não senti lágrimas quentes escorrerem por minhas bochechas. E vendo o olhar de preocupação de se atenuar eu me apressei em explicar:
- É por causa da enxaqueca. Meus olhos lacrimejam. – Então ele acariciou minha face calmamente, secando minhas lágrimas, e me beijou no topo da cabeça, depois em minha testa, em meus olhos e no centro deles. Relaxando cada local magicamente. A enxaqueca continuava, mas muito mais fraca agora. Eu desfranzi minha testa, aliviando muita dor presa ali e abri os olhos contente, sorrindo fracamente para . Ele respondeu sorrindo tristemente. Eu enterrei meu rosto em sua camisa aconchegante e tentei relaxar ainda mais. Logo a dor passou e eu suspirei exausta sobre seu ombro, muito tentada a dormir. Capítulo 8 – Anjo meu. “Aquilo estava doendo muito mais em mim do que nela, eu poderia apostar. Então ela finalmente suspirou e seus olhos percorreram o vazio antes de se fecharem, e ela voltar para o mundo da inconsciência.”
- Pronto! Está tudo bem agora.
- Obrigada, .
- Não me agradeça. Não suporto ver você mal. – Ele disse me aconchegando em seu abraço. – Pode dormir se quiser, eu acordo você quando chegarmos. – Naquele instante eu me senti abrigada por um anjo magnífico.
- Ah, , você é um anjo, sabia? – Eu murmurei contra seu peito, quase adormecida. E mal pude conciliar as palavras de sua resposta antes de mergulhar nas maravilhas dos sonhos:
- Você é que é o meu.
[...]
- O que você tem, ? Conte pra mim!! – Eu o encarava intrigada.
- Não... Não! – Seu olhar era distante e torturado.
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor! – Eu sorri inocentemente.
- Você não entende... – Ele me encarou e seu olhar ao se chocar contra o meu me transmitiu uma sensação horrível.
- O quê foi?? – Eu somente queria entender, eu precisava saber o que ele sentia.Ele precisava de minha ajuda, eu sabia.
- O que houve? - Eu gritava em desespero, mas ele não parecia me ouvir.
- ... – Eu suspirei acariciando seus cabelos macios, e ele pegou minha mão em sua cabeça, mantendo-a ali. Ele continuava a chorar ruidosamente, quando percebi que lágrimas também escorriam de meus olhos, e pus-me a chorar com ele.
- O que foi, meu amor? – Eu perguntei pela última vez. Ele ergueu a cabeça, encarando-me com olhos encharcados e disse enfim:
- Você sabe o que é . – Eu pisquei atônita. Tudo escureceu e eu escutei uma voz distante a me falar:
- ! – Alguém sussurrava. – Acorde, meu bem. Chegamos! – Eu abri os olhos lentamente e encarei a assustadora realidade: Eu tivera o mesmo sonho novamente! Eu nunca em toda a minha vida sonhara a mesma coisa por mais de uma noite. Tentei disfarçar minha preocupação adotando uma expressão sonolenta e encarei , sorrindo de leve.
- Dormiu bem? – perguntou sorrindo animado.
- Sim! – Desta vez eu forcei o sorriso, reprimindo a lembrança daquela cena horrível.
- Ótimo... Vamos, então? Os meninos já saíram.
- Tudo bem. Eu disse observando o pequeno movimento de pessoas que saiam do avião. se levantou primeiro, puxando-me pela mão, e nós passamos apressados pelo corredor, eu com dificuldade de acompanhá-lo, devido à lentidão que me tomava, eu ainda não despertara completamente.
- ! Você está viva! – me cumprimentou com um sorriso enorme no rosto.
- Estou! – Eu sorri de volta para ele, imaginando se a visão de mim adormecida tendo pesadelos teria sido hilária ou perfeitamente normal. – Eu dormi tanto assim?
- Umas poucas horas – respondeu ao meu lado, ainda segurado minha mão. – Você está se sentindo bem?
- Estou bem melhor, obrigada. Só um pouco cansada– Eu sorri para ele também e ele retribuiu meu olhar com compreensão, ele sabia melhor do que ninguém como eu dormira mal nas noites anteriores. E os outros dois meninos me saudaram com sorrisos calorosos e disse:
- Sentiu a mudança de fuso-horário?
- Com certeza! – Eu podia senti-la ao redor de meus olhos e abaixo deles, em minhas olheiras, mas omiti esta observação irônica e me limitei a rir baixinho.
- Então, vamos logo conhecer a casa de vocês?? Estou ansiosa...
- Ah, claro! – riu. – Não esperaremos nem mais um segundo. – E ele se dirigiu ao salão de desembarque, passando direto pelas esteiras rolantes que exibiam as bagagens, e eu me lembrei satisfeita de que as nossas já deveriam estar na casa deles. pôs-se a subir uma grande escadaria, e eu acompanhei intrigada. Ao chegarmos na cobertura do prédio, os meninos olhavam ao nosso redor procurando por algo, e eu perguntei:
- O que estamos fazendo aqui, ?
- Ah, esqueci de te dizer. Não fica tão perto daqui a nossa casa, então... vamos de helicóptero. – Ele terminou a frase com um sorriso de quem se desculpa. – Tudo bem pra você?
- Eu... Sinceramente, não sei! Eu nunca viajei de helicóptero! – Eu o encarava boquiaberta, como eles podiam ser tão ricos?
- Ah... Mas é bem melhor do que andar de avião, na minha opinião...
- Eu acho que ela vai gostar! – comentou risonho. – E também, será muito rápido. Levará no máximo quinze minutos.
- Ah! Então está bem, acho que não teremos problemas... – Eu terminei aliviada, sorrindo fracamente. Então o ruído de hélices de helicóptero invadiu minha mente. Olhei para cima, observando a aproximação de um grande helicóptero preto, que trazia consigo uma enorme ventania. Meus cabelos dançavam em torno de minha cabeça quando pegou minha mão para me afastar de onde ele pousaria.
Observei-o pousar devagar, quase surda, e o piloto, seja lá quem fosse, não desligou o motor, mas fez um sinal para que avançássemos. ainda segurando minha mão me levou até lá primeiro. Eu entrei e me sentei no último lugar na primeira poltrona, ao lado da janela. sentou-se ao meu lado, e eu pude ver os outros três garotos entrarem atrás de nós rapidamente. sentou-se ao lado do piloto, colocando rapidamente dois grandes fones de ouvido, eu não imaginava o porquê.
O grande helicóptero levantou vôo, planando instável no ar, o que foi um pouco assustador, mas logo me acostumei. À medida que atravessamos a cidade, me mostrava seus lugares preferidos, me contava histórias suas de que ele se lembrava no momento, me mostrou alguns pontos turísticos e nomeou lagos e avenidas. A cidade era mesmo muito bela. Alguns minutos de vôo foram necessários para nos afastarmos do centro urbano da cidade pequena, e logo estávamos em um vasto campo, em uma área rural e isolada. Havia campos de flores, florestas, fazendas e uma ou outra casa campal. O clima era maravilhoso, eu já podia senti-lo, e o sol dourado que nascia dava um toque de graça à visão maravilhosa. Eu sempre sonhara em morar no interior, mas este lugar superava qualquer expectativa minha.
Eu me sentia perfeitamente bem até que uma repentina tonteira me tomou. Eu fechei os olhos me sentindo muito fraca e murmurei:
- ... – E tudo escureceu. Parecia que eu estava em um daqueles pesadelos, onde fico presa em meu próprio corpo, e durmo, mas não consigo sonhar ou acordar. A escuridão foi tomada por cenas aleatórias, e depois...
- O que você tem, ? Conte pra mim!!
- Não... Não!
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende...
- O quê foi?? –
- O que houve? -
- ... – Eu suspirei e chorei junto com ele. E choramos e choramos.
- O que foi, meu amor? – Ele ergueu a cabeça lentamente, e meu coração acelerou um pouco de ansiedade, ele reagira. Estava prestes a me responder:
- Você sabe o que é, . – Eu franzi a testa, confusa.
- Sei? – Ele somente acenou, ainda chorando, e eu pensei freneticamente em uma explicação.
- Eu posso saber, mas não entendo! Me ajude a entender!- Ele soluçava em desespero e acenava negativamente, sem dizer uma palavra sequer. Manteve-se o silêncio por mais algum tempo, até que eu suspirei, derrotada.
O mesmo sonho de novo. Isto estava começando a me preocupar seriamente. O que ele tinha? O que de ruim estava para acontecer ou acontecera e eu não sabia? Estas perguntas se repetiam em minha mente depois que o sonho terminou, mas tudo ainda era escuro e intocável, eu queria acordar, e me concentrei nisso.
Ponto de vista do
Observávamos as belas paisagens dos arredores de nossa casa, quando me chamou fracamente ao meu lado. Eu virei-me para ela muito tarde. Seu corpo já desfalecia sobre o meu, inconsciente. Eu entrei em desespero. Ela desmaiara tão de repente, que eu não sabia como reagir. A ergui pelos braços, chamando por ela, mas ela não respondia.
- Ela desmaiou! Ela desmaiou!! – Eu gritei.
- Como isso aconteceu?? – perguntou boquiaberto. – Ela passou mal por causa da altura?
- Não, não, não! Ela estava ótima! De repente perdeu a consciência. Ela não está bem , ela não está bem!
- Calma, calma! , respira fundo, nós já estamos quase em casa. Nós vamos aterrissar e então ligamos para uma ambulância, está bem?
- Tá bem, tá bem... – Eu concordava alienado, o rosto de atraía toda a minha atenção no momento. Ela não tinha expressão, pela primeira vez. Até mesmo nas vezes que eu a observara dormindo ela sempre ostentava um sorriso leve ou a testa franzida de preocupação. Mas ela não parecia estar sonhando. Quando ela desmaiara posteriormente, a expressão de dor permanecera em seu rosto, assim como as lágrimas. Mas agora era diferente. Não havia nenhum motivo aparente para o que acontecera. Ela só podia estar doente. E esta constatação me deu um frio na barriga. Tentei expulsar o pensamento, mas já era tarde. Eu precisava ajudá-la. E não podia fazê-lo dentro de um helicóptero em vôo longe da cidade.
- James! Acelera aí! – Eu gritei para o piloto. o explicava o que acontecera e minha paciência se esgotava aos poucos, mas rapidamente. Graças à Deus, não demorou para pousarmos no vasto jardim de nossa propriedade. Desci na frente com ela em meus braços, gritando por nosso criado:
- Jack! Jack, nos ajude aqui. Ajude James a carregar a bagagem. Eu apontei para outros criados com a cabeça. – Ela desmaiou. – Eu suspirei em desespero. - Você deve ter reconhecido, mas esta é de quem tanto lhe falei. É a minha garota.
- Reconheci sim senhor, e devo dizer que ela é simplesmente linda.
- Ela é sim, Jack. Mas tira o olho que ela é minha, hein! – Eu exclamei brincalhão enquanto adentrava a casa pelos fundos apressadamente. Peguei o elevador para o segundo andar, onde ficavam os quartos de hóspedes e corri em direção à primeira porta que vi. Coloquei-a sobre a grande cama e gritei por Jack novamente. Desta vez ele demorou um pouco mais, mas logo pude ver sua expressão sempre alegre adentrar no quarto devagar:
- Me chamou, senhor?
- Chamei sim, preciso que traga as coisas dela para este quarto
- Sim, senhor. - Ele virou seu corpo, caminhando apressadamente em direção a porta e eu disse:
- Ei, Jack, mais uma coisa! - Ele virou-se para mim de imediato e eu terminei sorrindo- Eu já te disse para me chamar de ! - Ele se envergonhou e disse abaixando a cabeça:
- Sim, senhor. - E disparou porta afora. Eu sentei ao lado de , na cama, e fiquei a observá-la. Seu rosto estava empalidecido, seus lábios não estavam rosados como de costume, e leves olheiras se desenhavam em suas pálpebras. Pensei por um instante e calculei que ela deveria estar somente cansada. Muito cansada. Quantas pessoas desmaiavam de cansaço? Bom... Foi a minha melhor conclusão.
- ? Como ela está? – perguntou entrando no quarto rapidamente, junto com os caras.
- Na mesma. – Então Jack entra no quarto, trazendo muitas malas em seus braços. se sentou na cama ao meu lado enquanto Jack posicionava as malas cuidadosamente perto de um sofá. Pude ver pela visão periférica que os outros caras acompanharam Jack em busca dos mais pertences da nossa mais nova hóspede.
- Vai dar tudo certo, . Você vai ver. – tentou me tranqüilizar.
- Não tenho tanta certeza dessa vez, .
- Mas tudo vai acabar bem, você vai ver. É sempre assim.
- Eu espero, cara. Ela merece.
- E você também. – Ele sorriu para mim, e eu entendi. Todos apostavam naquele novo romance em minha vida, talvez fosse o primeiro. Eu acho que nunca amara uma mulher, e se já me envolvi emocionalmente com alguma, esta jamais me correspondeu. Eu ainda não descobrira o amor, mas estava disposto a tentar. Qual seria a dificuldade de encontrá-lo agora, com esta criatura divina que era ?
- Olha, , vamos arrumar as coisas.. Se precisar da gente é só chamar, está bem? Acho que podemos esperar um pouco antes de chamar uma ambulância, certo? Não é a primeira vez que ela desmaia. – disse, me encarando apreensivo.
- É. Tá tudo bem, caras, podem ir lá! Eu só saio daqui quando ela estiver melhor. – Eu respondi, concentrado no rosto dela. E se foi, fechando a porta devagar atrás dele e dos garotos. Eu estava exausto, e só agora eu sentia a dor dos dias anteriores que quase que em claro eu passei. Então me deitei ao lado de e fiquei a observá-la, esperando o momento em que acordaria. Não muito tempo depois eu pude ver seus olhos se abrindo lentamente enquanto ela suspirava levemente, e imediatamente ergui meu tronco, me sentando ao seu lado.
- ?
- Ahn... ?
- Sou eu, meu amor. Você... Você está bem?
- Am? Estou sim... Eu só...
- O quê? – E ela não teve a chance de responder. Imediatamente ela pôs-se a se debater violentamente, e seus olhos já fechados novamente não me permitiam entender o que acontecia. Eu chamei por ela, mas ela não me respondeu. Seu corpo continuava em agonia brusca e ela estava inconsciente. A cena era apavorante, eu tentava imobilizá-la, mas não adiantava, o corpo se debatia com uma força que não era dela. Eu me desesperei a chamar por seu nome, em vão. Então me lembrei sobre algo parecido que eu vira na televisão certa vez. Ela deveria estar tendo uma convulsão, e eu não deveria tocá-la, mas segurar sua língua? Isso não parecia necessário ou possível no momento. Então tentei me acalmar e esperar. Ela logo voltaria à consciência, este surto não costumava levar muito tempo. Eu segurei a mão dela, sem conseguir esconder meu espanto e a observei em seu suplício mudo, impaciente para vê-la de volta.Então ela logo diminuiu a freqüência de seus movimentos, que foram se apaziguando, até que ela parou completamente. Eu suspirei aliviado a observá-la de perto ao esperar por uma reação. Meu ponto de vista
Abri meus olhos rapidamente. O que acontecera desta vez? Eu estava a falar com e de repente...
-! Meu amor, você voltou! – me encarava assustado, com os olhos encharcados de medo, e eu não pude entender.
- ... O que aconteceu?
- Você, você... – Ele parecia perturbado.
- O que houve ? Você está bem?
- Ai, meu amor! Você me deu um susto tremendo! Você teve uma convulsão eu acho...
- Uma convulsão? Tem certeza?
- Bom... Você se debatia, parecia estar em transe.. Eu, eu não sabia o que fazer.
- Ah sim... Nossa, mas eu... Porque eu tive isso?
- Eu não sei, mas você está bem? O que está sentindo?
- Frio... Estou com frio .
- Frio? Frio... OK! Só um instante! – E ele se levantou rapidamente e pôs-se a procurar alguma coisa no grande armário no fim do quarto. Logo estava de volta com uma pilha de cobertores nas mãos, e meu frio somente aumentava. Eu o assisti me cobrir impaciente, me controlando para não tremer. Então quando ele terminou eu disse:
- Tem mais cobertores? É que eu ainda estou com frio. – Ele me encarou rapidamente, e boquiaberto disse:
- Você está tremendo, ! Está pálida! O que você tem, meu Deus?!? – Eu fechei os olhos em desespero, eu não podia estar passando mal novamente, era muito para suportar. Logo senti pesadas mantas caírem por cima de uma camada já grossa de cobertores e colchas, e meu frio ainda aumentava monstruosamente. Eu nunca sentira tanto frio em toda a minha vida. Um ruído repetitivo permanecia em meu ouvido, e demorei a perceber que eram meus dentes que batiam. finalmente sentou-se ao meu lado, me encarando frustrado e certamente percebeu como eu sofria com o frio, pois seu rosto logo aparentou medo, e ele me abraçou com força.
- O que você tem, meu amor? – Ele perguntou com a voz trêmula. Eu não soube responder, nem mesmo considerei adequado no momento. Eu tinha a impressão de que se eu me movesse, perderia um pouco do calor do meu corpo, se é que ele ainda tinha algum...
- Porque todo esse frio? Será que você está com febre? – me encarou e colocou sua mão fria em minha testa, tão fria estava que eu quase gritei com o choque, e ele logo a retirou, dizendo assombrado:
- Você está ardendo em febre! Ai meu Deus! – Ele se levantou em desespero, colocando as mãos sobre a cabeça e me deixando sozinha com o gelo que invadia meu corpo rapidamente. Eu choraria se pudesse, a dor de sentir meus músculos e ossos congelando era muito grande. Eu agonizaria também se conseguisse. Mas minha voz parecia escondida em algum lugar bem lá no fundo do que um dia foram meus pulmões. Então pude acompanhar com os olhos abrindo as portas do quarto rapidamente e gritando por e Jack. Ele voltou a meu encontro e ficou a me encarar aterrorizado, e eu não sabia o que fazer para acalmá-lo. Segundos depois irrompeu pelas portas seguido dos meninos e Jack. Todos eles me encararam assustados enquanto explodia:
- Ela está ardendo em febre! Mas tremendo de frio! Olhem para ela, está tão pálida que tenho medo até de tocá-la. Me ajudem por favor, o que faremos?! – perguntou quase chorando, e logo estava ao meu lado com a mão em meu rosto.
- Jesus Cristo! Ela está mesmo muito quente. – À esta altura eu já não podia me controlar de tanto frio. Meu corpo inteiro tremia e eu me abraçava com força, tentando evitar todos os movimentos. me encarou mais uma vez pesaroso e disse para :
- Temos que fazer algo para abaixar a febre dela, e já! Deve ter chegado aos quarenta graus já, se não passou! Ela corre risco de vida, ! Temos que colocá-la em uma banheira com água fria imediatamente! E Jack! Traga remédios para febre, agora! – Então ele se virou para mim e viu minha expressão ainda mais assustada, e disse:
- Vamos te ajudar, está bem, ? Você vai ficar bem logo, logo. Mas vamos ter que fazer isso... Me desculpe. – Então veio até mim em desespero e pôs-se a remover todos os cobertores, mantas e colchas que me cobriam, e quando terminou pegou-me em seus braços e me carregou até um banheiro. Colocou-me em uma grande banheira e abriu suas torneiras. Ponto de vista do .
Eu tinha que salvá-la. O risco era grande, como me dissera . E eu estava disposto a fazer qualquer coisa para deixá-la segura novamente. Enquanto eu trava suas roupas rapidamente podia escutar a água escorrendo para dentro da banheira e o ruído dos dentes batendo dela junto com seu corpo, que tremia por inteiro, se chocando com a superfície dura da banheira. Ela sentia tanto frio que eu não pensei que ela resistiria ficar somente de lingerie sem gritar, mas ela manteve-se sob controle. Por uma fração de segundo observei como seu corpo era maravilhoso, e como ela ficava linda de lingerie, mas logo me concentrei em salvá-la novamente, e tudo o que eu via era o amor da minha vida tremendo e se debatendo de dor. A água subia pela banheira e ela tremia mais violentamente a cada segundo. Seus olhos não me encaravam mais, eles encaravam o vazio, impassíveis. Então apareceu com um balde repleto de cubos de gelo, e Jack chegou logo em seguida com comprimidos e um copo d’água em mãos.
- Aqui estão os remédio, senhor Jones! – Jack os entregou à mim com as mãos trêmulas, e posicionou o balde aos meus pés com estrondo.
Eu dei os remédios para primeiro, e ela os tomou sem dizer palavra. Depois constatei que sua febre permanecia e só então despejei os cubos de gelo na banheira. Aquilo estava doendo muito mais em mim do que nela, eu poderia apostar. Então ela finalmente suspirou e seus olhos percorreram o vazio antes de se fecharem, e ela voltar para o mundo da inconsciência.
Toquei seu rosto e ele parecia congelado. Algo dera errado, ela deveria ter voltado ao normal. Então retirei seu corpo da banheira gelada e o levei rapidamente de volta para a cama, deixando um rastro de água fria por onde passei. Coloquei-a sobre a cama e pus-me a cobri-la novamente enquanto falava sem parar:
- O que você esta fazendo? Funcionou?? me responda!
- Ela esta congelando, ! Deu errado, ela resfriou demais! – Eu continuava a tentar esquentá-la freneticamente quando escutei um arfar bem próximo. Olhei para e ela estava de volta, com os olhos
arregalados e respirando rapidamente a me encarar:
- ! O que esta fazendo?? Eu estou morrendo de calor! Tire isso de mim! - Ela tentava se livrar de todos os cobertores aflita e agitada, respirando com dificuldade. Eu tentei acalmá-la:
-! Se acalme, por favor! - Eu agarrei seus braços e chamei por seu nome tentando desviar sua atenção a mim.
- Olhe pra mim! Você esta muito fria! Por favor meu amor, agüente firme, só mais um pouco!
- Mas ... Eu... - Ela arfava com as mãos descendo do rosto para o pescoço agora, arranhando sua pele freneticamente, seus olhos úmidos me encaravam suplicantes, mas ela permanecia pálida e fria como um cadáver.
-Por favor meu amor! - Eu que suplicava agora - Eu não sei o que fazer! - Sussurrei em desespero ao olhar pra o vazio de minhas mãos. Então percebi que ela se continha, respirando ruidosamente mas mais lentamente. Encarei-a e pude ver como era doloroso para ela se controlar, mas ela entendera, não havia muitas opções. Então finalmente voltou a falar, horrorizado:
- Oh meu Deus! O que você tem?? - Ele a encarava perplexo, se sentando lentamente ao meu lado e respirando fundo para se acalmar também sem conseguir disfarçar seu medo ou ao menos piscar. E claro que percebeu como tudo aquilo era estranho e medonho, e de sua expressão reprimida pude ver lagrimas assustadas escorrerem, exteriorizando parte de sua dor e confusão. Se eu pudesse chorar, choraria naquele momento, com ela. Mas me mantive sob controle, a observar cada suspiro seu. Logo sua respiração se normalizava e suas mãos afrouxavam um pouco o aperto nas minhas. Meu ponto de vista
O fogo que queimava sob minha pele se amenizou, e eu pude respirar novamente. me encarava impassível e parecia estar fora de seu próprio corpo. Então fechei meus olhos aliviada, enquanto me abraçava com forca murmurando:
-Conseguimos! Vai ficar tudo bem. Você só precisa descansar.
- Uhum... - Eu respondi exausta ao olhar nos olhos sonolentos de . Então um homem maravilhoso apareceu em meu campo de visão, atrás de . Ele parecia aflito e ansioso e encarava com preocupação. pareceu perceber sua presença e virou-se para falar com ele. Eu fechei meus olhos e deixei minha mente vagar pelas minhas ultimas lembranças.
- Onde eu estou?
- Em casa, querida. Você desmaiou quando já estávamos quase aqui dentro. Este é um quarto qualquer, ele pode ser seu se te agradar.
-Ah... – Eu concordei sonolenta e fechei os olhos rapidamente. Capítulo 9 – Pesadelo. “Aquele era um bom lugar para sonhar, para construir planos de vida ou escrever poemas. A inspiração transbordava de cada flor e ramo. Ao longe deveria haver água corrente, que trazia o ruído calmante e baixo até nós. Eu inspirei aquele ar repleto de oxigênio e o aroma aconchegante da natureza.”
- O que você tem, ? Conte pra mim!!
- Não... Não!
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende...
- O quê foi??
- O que houve? – Insisti.
- ... – Eu suspirei chorando.
- O que foi, meu amor? – Ele ergueu a cabeça lentamente, e disse com a voz rouca:
- Você sabe o que é, . – Eu estava confusa.
- Sei? – Ele acenou em prantos. Eu queria me recusar a pensar.
- Eu posso saber, mas não entendo! Me ajude a entender!- Ele soluçava e acenava negativamente, sem dizer nada. Então meu suspiro desolado quebrou o silêncio mortal.
-. - A voz de sussurrava por perto. Sentia sua respiração batendo de leve em meu rosto - Você esta bem?
-.
-Bom dia meu amor!
-Bom dia.
-Você estava falando enquanto dormia. Teve um pesadelo?
-Ahn? Ah, na verdade tive sim. Espere um pouco... Você disse bom dia?
-Aham. Você dormiu todo o resto do dia de ontem. - Eu o encarei boquiaberta:
- O quê?? Eu dormi... Quase um dia inteiro?
-Foi. Você estava cansada. - Ele sorriu amavelmente. - Que bom que já descansou.
-E você?
- Eu também dormi um pouco com você. Mas fiquei aqui todo o tempo, velando seu sono.
-Humm. - Eu sorri confortada - Obrigada .
-Não foi nada, meu amor. Como se sente? Esta melhor?
- Eu... Estou bem. - Eu permiti a meu olhar que vagasse pelo ambiente. Aquilo nas paredes era carpete? Eu ainda devia estar sonhando, o pouco que eu conseguia ver do quarto me espantava. Tamanho luxo e beleza poderiam pertencer a um castelo... A cama em que eu estava deitada era simplesmente enorme. Não havia comparação com as camas king size ou nenhuma do tipo, era muito maior mesmo. Caberiam vinte pessoas sentadas naquela cama! Sua estrutura era feita de uma madeira escura e o modelo da cama era muito raro para os dias de hoje. Parecia ter sido transportada diretamente da era medieval, de uma princesa ou rainha. Suas hastes eram lindamente decoradas e cortinas pesadas de veludo caiam presas às altas hastes, eram vermelhas assim como a manta que me cobria, que mais parecia um tapete persa importado e bordado com fios de ouro. Eu me sentia estranha, como se meu corpo tivesse sido desligado, e agora reanimava lentamente, mas também parcialmente. Minha visão era um pouco turva, e eu não entendi o porquê. Eu percebi que estava muito fraca. Tentei mover meu braço e constatei como ele estava pesado. - Só um pouco fraca. – concluí.
- Certo. Você me deu um susto e tanto ontem. Da próxima vez vou chamar uma ambulância.
-Ah não ! Eu estou bem não estou? – Eu resmunguei.
-É, mas eu quase te matei. - Eu ri de seu comentário e ele respondeu:
-É sério, !
-Ok. - Eu respondi ainda rindo da situação e ele fez um beicinho fofo. Eu pedi para ele me levar até o banheiro e ele o fez, me carregando com cuidado.
- Mas me conta. O que aconteceu exatamente? Eu me lembro de muito pouco. – Eu perguntei de volta à cama, me confortando em seu abraço.
-Ah, você desmaiou no helicóptero e quando acordou aqui teve uma convulsão. Quando ela passou você acordou novamente e sentindo muito frio com febre altíssima. Tentamos baixá-la Te colocando na banheira com água fria e você resfriou além do necessário. Então você desmaiou
e acordou sentindo muito calor. Você estava muito gelada e eu tentei fazer sua temperatura subir. Você teve uma hipotermia, nós achamos. Depois você dormiu e só acordou agora.
-Aah... Então foi isso. Mas porque eu desmaiei no helicóptero? Porque tive febre e porque tive uma convulsão??
-Ótimas perguntas. E por isso que quero chamar um médico. Não sabemos o que você tem.
-Não precisa ... Eu já estou bem. Já passou.
-Essa é a questão, não sabemos se passou mesmo, e o que causou tudo isso? Essas coisas não acontecem todo dia ... - Ele disse pensativo e eu tentei mudar de assunto:
-Isto já aconteceu antes na verdade, não é nada com o que deva se preocupar, . Depois pensamos sobre isso, tá bem? - Eu sorri suplicante. - Eu ainda nem conheço sua casa.
-OK. Logo você vai conhecê-la. Quando você melhorar.
-Porque não posso conhecer agora?
-Bom... Eu acho que você não está completamente bem ainda.
-Como você pode saber? - Eu o desafiei rindo, e ele me encarou com um olhar enigmático e sorriu torto:
- Já se olhou no espelho hoje? - Horrorizada com essa ofensa eu respondi exasperada:
- Oh meu Deus! Eu devo estar mesmo horrorosa! - Levei minhas mãos aos meus cabelos e senti um emaranhado de fios despenteados e um volume incomum, e então cobri meu rosto de pura vergonha enquanto processava a informação e escutei rindo.
-, sua complexada! Eu nãos referi a sua aparência! Meu Deus... Você esta linda como sempre, só esta pálida ainda. Por isso eu sei que não esta bem.
-Como é? Não quis dizer que estou feia? - Eu ri de sua mentira mal-contada. - Se estou pálida já posso imaginar como estou deprimente.
-Sinceramente? Você esta ainda mais bonita assim. - Ele sorriu presunçoso. Não iria me convencer, jamais.
-Seu estranho! - Eu ri de seu gosto deplorável. Me considerava bonita e ainda mais quando pálida. Quem me enganou? - Quem te enganou? – Eu conclui ainda rindo. E ele riu junto a mim em resposta. Três batidas na porta me intrigaram. Nos viramos para a direção dos sons e vimos entrando pelas portas com um sorriso lindo no rosto, dizendo:
- Bom dia!! – Quem vai querer café da manhã?
- Hmm! – murmurou em aprovação. E eu encarei o cobertor pensando sobre a náusea que eu sentia.
- Não estou com fome. – Sorri fraco para , e me encarou intrigado, dizendo:
- Porque será... – Então interrompeu suas reflexões dizendo:
- Tudo bem, mas tem que comer alguma coisa... Nem que eu te obrigue! – Ele riu, e eu nem tão animada calculei as possibilidades horrendas de isso acontecer. riu de leve ao meu lado e disse:
- Já sei! Vou trazer uma bandeja até aqui, então damos uma olhada e decidimos o que fazer... Está bom pra você, ?
- Hmm, tudo bem. – Eu sorri aliviada. Parece que não seria hoje o dia de enfiar comida goela abaixo em mim. Então concordou vindo até mim e me deu um beijo de bom dia em minha testa. Quando se levantou para buscar seu café da manhã, se sentou ao meu lado e pôs-se a me observar contente.
- O que foi?
- Ah... Nada, é só que você estava bem diferente noite passada... – Ele respondeu pensativo.
- Ah, sim. Eu imagino. – Respondi não tentando imaginar a cena grotesca de mim tendo uma convulsão e depois ardendo em febre. Estranho. Eu pensaria sobre aquilo depois...
- Bom, mas o importante é que você está bem melhor agora, não é?! Então... Como se sente?
- Bem. – Minha cara nem queimou com essa mentira descarada.
- Hmm, parece um pouco abatida. – Ele me ignorou. E eu dei de ombros, despreocupada. Eu geralmente ficava assim de manhã.
-, só uma pergunta: Charlie... Você disse que ele estava aqui.
-Bom, não está mais. Ele está “suspenso” até a nossa próxima turnê. Pode ficar despreocupada. Você não vai ver ele por um longo tempo. Talvez até nunca mais.
-Ai, que bom. – Eu respirei aliviada, menos um peso em meus ombros.
- Bem, eu vou descer para comer com os meninos, e depois venho te buscar pra gente dar uma volta pela casa, que tal? – Ele sorriu tranqüilo.
- Parece ótimo. – Mas impossível. Eu não podia imaginar como eu levantaria daquela cama com minhas próprias pernas. Minhas forças mal chegavam em minhas mãos. Então ele sorriu e saiu pelas portas, dando lugar para se sentar, colocando uma bandeja enorme sobre mim.
- Cheguei! – Ele sorria. – Então, o que vai ser?
- Eu encarei a bandeja e tudo o que continha: pães, torradas com geléia, ovos fritos, fatias de presunto e bacon, manteiga, morangos, açúcar, mel, panquecas, um copo de suco e uma xícara de café. Nada daquilo me provocou fome, eu ainda sentia meu estômago gelado e vazio. Ele estava muito bem daquela maneira.
- Uh uhm. – Neguei todas aquelas delícias franzindo o nariz e sua expressão era de decepção agora. Eu tentei sorrir fraco de consolação, mas ele já encarava a bandeja pesaroso, e eu disse:
- Parece que você vai ter que comer sozinho. – E ele sorriu para mim enquanto voava nas torradas com geléia e em uma fatia de bacon. – Eu ri a observá-lo devorar tudo aquilo rapidamente e desejei por um segundo ter um pouquinho de apetite, em vão. Quando ele terminou, me encarou limpando a boca e rindo comigo, e disse:
- Você não sabe o que perdeu!
- Ah, eu sei sim. – E ele riu novamente, retirando a bandeja de cima da cama e colocando-a no chão ao seu lado. Eu suspirei sentindo o cansaço me invadir e observei se deitando ao meu lado na cama rapidamente e me abraçando confortavelmente. Eu fechei os olhos sorrindo, enquanto ele acariciava meus cabelos. Não sei quanto tempo depois, ainda em silêncio, eu percebi como o dia estava lindo. No final do quarto havia uma grande sacada com as portas de vidro abertas e as cortinas presas. A imagem lá fora era de um jardim grande e lindo, os raios do sol iluminavam cada folha delicadamente. Ouvia-se o canto dos pássaros e o ruído do vento nas folhagens. Um ranger de portas se abrindo me despertou de minha viagem auditiva e eu me virei para ver a nos observar sorridente dizendo:
- Acordei vocês?
- Não... – Eu murmurei ao sentir se mover levemente. Ele provavelmente cochilara.
- O que foi ? – Ele perguntou curioso.
- Ah, nada demais, só vim até aqui para levar para conhecer a casa. – Eu não respondi e nem mesmo . Segundos depois ele disse:
- Bom, , eu não acho que ela já esteja bem o suficiente para sair saltitando por aí com você... – Nós três rimos e respondeu:
- Ah, sim. Me desculpe. Mas podemos providenciar uma cadeira de rodas... – Eu hesitei por um momento, considerando a terrível sensação de ser levada em uma cadeira de rodas pela minha mais nova casa pela primeira vez, e tentei negar a idéia.
- Ah... , eu não acho que seja necessário. Vamos esperar até eu estar um pouco mais disposta, pode ser? Quem sabe amanhã ou depois?
- Tudo bem! Então o que quer fazer? Posso trazer a festa até você. – Ele disse rindo.
- Não creio que ela esteja tão animada quanto você, ! – respondeu. – Ela só precisa descansar e se recuperar agora...
- , vocês tem palavras cruzadas?
- Temos sim! Você quer jogar?
- Se não for muito incômodo... – Ele sorriu com os olhos brilhantes e respondeu de pronto:
- Vou trazer os meninos! Só um minuto... – e disparou pelas portas afora. Eu e rimos juntos e ele disse:
- Você gosta de palavras cruzadas, é? Aqui todos adoramos...
- Ah, eu gosto sim, quando não tenho nada pra fazer... – Eu sorri, e ele concordou contente. Logo entrava no quarto novamente com um grande tabuleiro e uma caixinha nas mãos, seguido dos meninos.
-A-Ha! Platão! P-L-A-T-A-O! Eu ganhei! – ria contente.
- Platão? Isso é sequer uma palavra?? – perguntou e todos rimos de sua falta de cultura.
- Peraí! Vale nome próprio? – Um dos meninos perguntou, e logo teve uma resposta:
- Claro que sim! Não importa... Eu ganhei e não há nada que possam fazer!
- Ok, ok! – Eu ponderei. – Você ganhou, ! Parabéns! – Eu concluí rindo, e ele sorriu de volta para mim, e todos jogaram suas peças no tabuleiro, inconformados. Então nos demos conta de que já estava de tarde, e o sol se punha aos poucos, levando a luminosidade do quarto pelas grandes janelas.
- Hora do chá! – Uma voz diferente soou ao pé da porta. Todos nos viramos para ver Jack entrar no quarto radiante, com uma bandeja repleta de belas xícaras de chá e biscoitos. Seu sorriso irradiava mais luz do que o sol ao nascer. Era lindo. Era ele, o homem maravilhoso com quem eu sonhara... ou realmente vira?
- Aceita chá, senhorita? – Ele se dirigiu à mim com sua doce voz, e eu sorri um pouco aturdida em meio à tanta beleza.
- Muito obrigada... Jack. Posso te chamar assim?
- Como quiser, senhorita.
- E você pode me chamar de , por favor. – Eu sorri ainda mais encantada.
- Como quiser. – Ele corou um pouco e pôs-se a servir os garotos, que esperavam ansiosos como crianças famintas. Recostei minha cabeça no ombro forte e rígido de e suspirei contente. Aquele ambiente de mais pura amizade entre os meninos era tão reconfortante e revigorante. Eu sentia que logo me recuperaria... De tudo. Após o chá, que estava delicioso, os garotos se retiraram para jogar futebol, e eu me vi sozinha com novamente. Nós dois olhamos na mesma direção ao mesmo tempo: O pôr-do-sol. Eu não podia vê-lo através das janelas que ficavam longe do alcance dos meus olhos, mas podia-se ver a luz que se esgueirava para fora aos poucos. Ficamos em silêncio a observá-la, até que comentou:
- Eu te convidaria para ir até lá, para assistirmos o fim da tarde. – Eu sorri conformada e fechei meus olhos.
- Hum... Não é necessário. Meus olhos não o podem ver, mas eu o sinto e vejo de outra forma.
- Como? – Ele soou intrigado, e eu dei uma pequena risada.
- O cheiro... A brisa, o calor, a luz... Ele está bem aqui... Em minha imaginação.
- Ah... Quer que eu te leve até lá para confirmarmos se você acertou? – Eu considerei a oferta por um momento e respondi:
- Hmm... Pode ser! – E ele riu contagiante, se levantando prontamente e me carregando em seus braços em direção ao outro lado do grande quarto. Passamos por pequenos sofás, poltronas e mesinhas, deixamos uma porta, que devia ser do banheiro e duas janelas cobertas por cortinas pesadas, e chegamos à sacada. Primeiramente a luz ofuscou minha visão. E logo meus olhos podiam se focar na folhagem iluminada por um brilho dourado e no céu pintado em tons de laranja e amarelo, que se dissolviam lentamente... se dissipando no horizonte junto ao sol, que baixava ao longe nas montanhas verdes. A brisa passeava em meio às árvores junto aos passarinhos, embelezando a cena e ocupando seu silêncio. Aquele era um bom lugar para sonhar, para construir planos de vida ou escrever poemas. A inspiração transbordava de cada flor e ramo. Ao longe deveria haver água corrente, que trazia o ruído calmante e baixo até nós. Eu inspirei aquele ar repleto de oxigênio e o aroma aconchegante da natureza.
- Não é lindo? – perguntou, e eu o encarei. Seus olhos refletiam aquela luz divina e seu rosto era sereno e reflexivo.
- É sim. – Eu respondi.
- Tenha bons sonhos meu amor. – beijou minha testa e se despediu de mim mais uma vez, ao nos prepararmos para dormir.
- Você também.
[...]
- O que você tem, ? Conte pra mim!!
- Não... Não!
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende...
- O quê foi?? Me diga! Capítulo 10 – O presente. “Naquele dia, até aquele instante, eu não havia pensado sobre minhas limitações e me vi entristecida, desejando minha saúde de volta. E minhas forças.”
-! , o que você tem?? – me chacoalhava, com as mãos fechadas em meus braços.
-? – Senti meu rosto molhado. Eu estava chorando?
- Ai, que susto você me deu! – Ele suspirou soltando meus braços.
- O que aconteceu?
- Você estava arfando... Murmurando coisas, se movendo agitada. Parece que estava tendo um pesadelo horrível.
-Eu... Eu... Estava sonhando. Me desculpe se assustei você.
- , você está toda suada! – Encarei meu peito ainda arfante e vi seu brilho úmido sob a luz do luar que iluminava o quarto por inteiro. – Você costuma suar assim à noite? – Eu hesitei:
- Não...
- O que será isso, meu Deus?
- Ah, não deve ser nada demais, foi só a agitação... Me desculpe. Vamos voltar a dormir.
- Tem certeza de que já está bem?
- Tenho sim. Está tudo bem agora. – Ele me abraçou e eu me aconcheguei em seu peito nu, permitindo que o sono me tomasse novamente.
Dessa vez não sonhei.
- Bom dia. – murmurou em meu ouvido e em seguida recebi um beijo estrondoso no rosto.
- Ahn... – Eu murmurei sonolenta. – Ainda é cedo, ... – Eu entreabri os olhos e senti minhas pupilas arderem em reação à luz presente. – Vocês não aprenderam a fechar as janelas não? – Ele riu:
- Sinto muito. Aqui acordamos assim, com a natureza nos chamando! – Ele respondeu alegremente.
- Ah! Mais que romântico! – Eu provoquei, e ele riu ainda mais.
- Já está cansada dessa vida pacata?
- Como poderia me cansar se eu não faço nada?
- Haha, engraçadinha!
Eu me limitei a sorrir e ele me carregou lentamente até o banheiro para minha higienização matinal. Era meio estranho depender das pessoas para tudo, e algo dentro de mim não desejava que eu me acostumasse com isso jamais. Quando terminamos ele me levou de volta para a cama e após um segundo de silencio ele revelou contente:
- Tenho um presente para você!
- Hmm... - Eu contive um sorriso - Espero que não seja caro.
- Não é... Espere só um minutinho, vou buscá-lo - Ele saiu apressado depois de beijar minha testa com um sorriso no rosto. Logo ele voltava com uma grande caixa azul celeste com uma fita amarela presa em um
belo laço. Ele ostentava um sorriso presunçoso agora e eu encarei o presente desconfiada. Sem duvida era muito valioso a julgar pelo embrulho e tamanho cuidado e sofisticação.
-... - Eu comecei sem graça, mas ele me interrompeu:
-Espere ate ver o que é. Depois pode matar. - Então ele depositou a grande caixa em minha frente sobre a cama e eu senti uma fisgada de excitação:
-Eu vou gostar?
- Acho que vai. - Nos dois sorriamos desconcertados e eu desfiz o laço extremamente curiosa. Me livrei da delicada fita amarela num instante e removi com cuidado a tampa pesada para uma simples caixa. De dentro
da caixa um pequeno cachorro me encarava amedrontado. Era a criatura mais meiga que eu já havia visto em minha vida. Minhas reações foram diversas.
-Oh meu Deus! ! Isso e... Oh! Olhe pra isso! Ele e tão... – pôs-se a rir e eu não resisti aqueles olhinhos carentes do filhote e o ergui cuidadosamente, observando seu pequeno corpo.
-Oooown! Ele e fofíssimo! - Eu o aconcheguei em meu peito Acariciando sua cabecinha enquanto ele fechava os olhinhos sonolentos.
- Eu sabia que iria gostar, afinal eu procurei pelo mais parecido com você. E em toda a loja este foi o único que não se aproximou de mim. Ficou quietinho me observando. Quando olhei nos olhos dele e disse
algumas palavras ele pareceu me responder. Tem algo de especial nele... E eu soube na hora que era perfeito pra você.
-Oh meu amor! Eu vou chorar! Ah... Vem aqui! - Eu estendi um braço para ele e ele se aproximou me abraçando com tanto carinho... - Eu mal posso acreditar! Não teria melhor presente, ! Mil vezes obrigada!Não sei o que eu fiz pra merecer você...
-Espero que você só diga isso agora, e se repetir que seja na mesma entonação! - Eu ri imaginando o dia em que ele não seria mais perfeito a meus olhos.
-Não seja bobo! Estamos muito longe disso. - Ele beijou meu rosto e eu esperei por um momento oportuno para agradecê-lo mais uma vez pelo cachorrinho.
-Mas então... Já sabe como vai chamá-lo?
-Nossa, é mesmo... Ele e macho certo? Hmm, você tem alguma sugestão?
-Hmm...
-Que tal Chris?
-Não é nome de menina?
-É, talvez...
-O que acha de Max?
-Você deve ter amigos com esse nome...
-Haha! Tem razão... - Então eu encarei o animalzinho por um instante e um nome me ocorreu de repente:
- Já sei! Vicky!
-O quê? - Ele riu surpreso.
-Vicky! - Eu repeti já sentindo melhor a idéia do nome e sua conveniente sonoridade. - É perfeito!
-Então Vicky será! Mas também me parece um nome afeminado.
-Ah que nada! Ele adorou, olha. - Eu disse beijando o alto da cabeça de Vicky e encarando com o rosto ao lado do dele. E ele realmente parecia feliz.
-Tá bom vai. Essas carinhas de cachorro faminto me convenceram... Eu sabia que logo haveria um complô contra mim. - Ele resmungou contendo um sorriso. Nos éramos mesmo irresistíveis.
- Como é? Você esta me chamando de cachorra? - Eu simulei indignação. Muito mal por sinal.
-Haha! Mil perdões, senhorita! Não era a minha intenção.
-Bom mesmo. - E um estalido nos interrompeu. Era que entrava pelas portas do grande quarto. Seus olhos observaram por um momento a caixa azul aberta e o pequeno cachorro em meus braços e então exclamou com um grande sorriso:
-Finalmente! Haha! Eu sempre sonhei em ter um cachorro nesta casa.
-Nem vem que ele é meu, tá? - Apos uma risada ele continuou hipnotizado:
- Ele é lindo! Você comprou pra ela ? E nem me contou?! – O pequeno animalzinho cor de palha observava intrigado e seu pelo curto se movia lentamente nas curvas de sua pele enquanto ele virava sua cabecinha para os lados devagar, como que o analisando intrigado. Eu sorri orgulhosa do mais novo membro da família e afirmei contente:
-Este é Vicky!
-Qual é a raça dele?
-Não faço idéia... ?
-É um vira-lata. E muito safado como pode observar. - Vicky resmungou alto e recostou sua cabeça pesadamente sobre meu braço, como que confirmando indignado o que dissera. Todos nos divertimos com o comportamento excêntrico de Vicky, que logo foi recebido pelos outros garotos com grande entusiasmo e carinho também. Logo a manhã chegou ao fim e eu desejei por um momento poder sair daquela cama sozinha e passear com Vicky pela casa. Naquele dia, até aquele instante, eu não havia pensado sobre minhas limitações e me vi entristecida, desejando minha saúde de volta. E minhas forças.
- Ah, ! Acabei de me lembrar que prometi ligar para quando chegássemos aqui. Ela deve estar muito preocupada.
- Está certo. Pode ligar para ela agora mesmo se quiser. – Ele disse apontando para um telefone antigo e muito lindo em cima de uma mesinha do outro lado do quarto. Eu acenei positivamente com a cabeça:
- Eu quero. Melhor ligar logo antes que eu me esqueça novamente. – Ele concordou e se ajoelhou devagar sobre a cama antes de erguer-me em seus braços. Eu continuei a carregar Vicky e ele me acompanhou até o belo sofá ao lado da mesinha. Eu agradeci a e hesitei com a mão sobre o telefone tão antigo e raro, observando seus detalhes dourados e desenhos de flores sobre o fundo creme.
-Alô?
-? É a .
- Oi! Finalmente lembrou que tem uma amiga, né?
- Ai, me desculpe ter demorado tanto a ligar! É que ocorreram alguns imprevistos...
- Eu posso imaginar quais, sozinha na casa de !
- Pra começar não estamos sozinhos, os meninos moram aqui também e pra sua informação eu adoeci.
- Jura?
- Sim, mas já melhorei, tá?
- Ai, quando eu posso ir te ver??
- Bom... Por mim poderia vir qualquer hora, mas eu não sou a dona da casa, então... Um minuto. – Eu pedi a para falar com por alguns instantes e ele pegou o fone pesado do telefone com o olhar intrigado.
- Sim? – Ele disse e escutou o que ela tinha a perguntar antes de responder brevemente:
- Mas é claro! Não há problema algum. Esta casa é tanto minha quanto dela agora...Sim, sim! Eu espero você em breve...OK, até mais!
- E então? Quando ela vem?
- Agora. – Ele disse sério colocando o fone sobre o gancho do telefone. Eu sorri com sua resposta inesperada e ele me encarou.
- O que foi, ? Há algo errado.
-Aham... Quero que entenda uma coisa, : – Ele dizia ainda mais sério e eu me perguntava o que eu fizera desta vez – Agora esta casa é sua também. E você não precisa da minha permissão para fazer nada, está bem? – Eu ri alto expulsando minha preocupação com alívio – As coisas são diferentes agora.
- Mas é claro! Me desculpe... – Eu respondi ainda rindo.
- Achou que eu fosse te dar uma bronca né? – Ele disse se divertindo.
- Haha! Me pegou direitinho...
- Não era a minha intenção, mas se você é tão complexada eu não tenho culpa.
- Eu não sou complexada!
- Aham... – Vicky dormia tranquilo em meu colo e eu o entreguei a sentindo meus braços cansados. Ele o levou até a cama, onde o deixou se aconchegar e retornou alegre para me carregar de volta ao leito.
- , eu não poderia estar mais feliz! Não sei como te agradecer por tudo. Capítulo 11 – Mãe. “Nós passamos a tarde nos belos jardins, lendo ao sol, ao balanço da rede ou à sombra das árvores. Somente no cair da noite que retornamos ao aconchego da mansão e após o jantar, quando eu já não tinha apetite, nos dirigimos ao “meu” quarto para descansar.”
- Você sabe que não precisa... – Eu sorri e ele beijou meus lábios delicadamente. Minha mão foi até a sua nuca e eu acariciei seus cabelos durante algum tempo. Nós nos beijamos por longos minutos antes de meu fôlego acabar e ele partir nosso beijo arfando. Nós sorrimos e ele pôs-se a beijar meu pescoço com carinho. O que me provocou sensações estranhas. Eu passei meus braços ao redor de sua cabeça e acariciei suas costas rígidas. Senti suas mãos deslizarem pelas minhas costas e logo ele puxava minha camisola para cima, tentando retirá-la.
- ! – Eu sussurrei preocupada com onde aquilo tudo iria parar. Ele suspirou pesadamente sobre meu ombro e soltou minha camisola olhando em meus olhos.
- Me desculpe... Você está doente. Está certo. – Eu pensei sobre aquilo por um instante antes de responder:
- Não é só isso ...
- Am?
- É que... Eu sou virgem. – Ele hesitou processando a informação e depois seus olhos se arregalaram .
- O quê? Você quer dizer... virgem? Virgem mesmo?
- Aham...
- Não brinca!
-É verdade ... – Eu respondi envergonhada.
- Oh... Oh. Eu não imaginava. Então você e , vocês nunca...?
- Não. – Eu disse abaixando a cabeça sem saber o que dizer.- Sinto muito.
- Não diga isso... Ei! Olhe pra mim. – Eu o encarei me sentindo humilhada e ele disse com a voz firme:
- Não há nenhum problema nisso, ouviu? Eu fico até contente de saber...
- Fica?
- Aham. É... Eu sei que isso é... Bem, geralmente os caras odeiam quando suas namoradas são virgens e só contam pra eles em cima da hora. Mas eu não sou assim. Acho isso até bacana. – Ele terminou sorrindo.
- Hum... Se é assim... Então não tem problema. De qualquer forma eu fico aliviada de pensar que não transei com quando namorávamos. Eu estaria me sentindo péssima com isso agora.
-É verdade. E eu fico lisonjeado. Quer dizer... Se eu for o primeiro...
- Sim. – Eu sorri.- Assim que eu estiver pronta.
- Certo.
- Que bom que falamos sobre isso.
- Com certeza! – Ele riu aliviado e eu o acompanhei também aliviada.
- É... ?
- Sim?
- Eu acho que estou com fome. – Ele se sentou rapidamente em minha frente, me encarando com o olhar brincalhão:
- Não pode ser... É verdade?
- É! – Eu ri animada.
- Então vamos lá para baixo que o almoço já deve estar saindo.
- Espera... Então quer dizer... Vamos sair deste quarto?
- Vamos! Você finalmente vai conhecer um pouco da casa. Acho que já está bem melhor, não é?
- Com certeza... Vicky fez muito bem a minha saúde. – Eu sorri agradecida pela mais nova bênção em minha vida, que naquele momento cochilava confortável no pé da cama gigantesca.
- O que nós temos pro almoço, Manolo?! – gritava ao meu lado para as portas no final da grande sala de jantar.
- Só um minuto! – Uma voz abafada respondeu de dentro da cozinha e em um minuto um cozinheiro chefe entrava pelas portas duplas solenemente, com uma pilha de menus nas mãos. O chefe era alto, loiro e muito bonito. Entregou-nos os cardápios com muita elegância e em seguida explicou o que o inspirara a preparar os pratos de hoje, e quais eram suas expectativas. Todos sorrimos e ele esperou por nossos pedidos para dar a ordem aos seus subordinados. Eu escolhi feliz a entrada mais simples, ao descobrir sobre o entusiasmo do chef em finalmente me conhecer.
Tomei uma sopa de galinha deliciosa, que pareceu reacender algo em meu rosto e peito, o que me deixou animada para continuar comendo. Meu apetite se abriu depois da salada de alface americana com tomates e eu não me dei por satisfeita até provar quase todos os pratos, roubando uma batata ou um pedaço de bife de quando ele estava distraído e quando não estava também. Nós todos nos divertimos muito à mesa, os meninos se empanturraram, todos eles. E eu tive uma boa refeição, finalmente, depois de um bom tempo. não podia estar mais contente. Ele observava minha melhora e bem-estar somente aumentando e já fazia planos e mais planos para o resto do dia e os seguintes. Eu ria inocentemente, alegre e boba, esperançosa e despreocupada.
Depois do almoço maravilhoso nós passamos a tarde nos belos jardins, lendo ao sol, ao balanço da rede ou à sombra das árvores. Somente no cair da noite que retornamos ao aconchego da mansão e após o jantar, quando eu já não tinha apetite, nos dirigimos ao “meu” quarto para descansar. Eu e conversávamos baixinho e com ternura sobre a minha melhora, ambos deitados em “minha” cama.
O ranger da porta chamou minha atenção e eu observei entrando no quarto seguido por Jack.
- O que foi rapazes? – perguntou. E eu observei que suas expressões eram um tanto pesarosas e me preocupei. O que acontecera?
- Bom, senhor... Eu acabo de dar uma notícia ao senhor ... Então pensamos em chamá-lo para uma conversa em particular por apenas alguns instantes, se não se importa. – Disse Jack que segurava seu chapéu de vaqueiro com as mãos trêmulas. E eu observei considerar suas palavras intrigado. Ele me encarou e eu me adiantei:
- Ah não. Por favor... Não precisam esconder nada de mim.
- Eu concordo. Jack, , não há nada que vocês tenham a me dizer que não possa saber. Jack encarou apreensivo e este respondeu:
- Nós insistimos, . – Eu encarei confusa e este evitou o meu olhar.
- Não. Por favor. Digam logo o que tem a dizer, estão nos deixando preocupados. O que aconteceu?
- É que eu recebi um telefonema a pouco, senhor... E era da polícia. – Disse Jack receoso.
- Da polícia? O que diabos aconteceu? – explodiu. – Alguém se meteu em encrenca, ? Algum dos garotos? Você??
- Não, não, ... Ninguém fez nada de errado. - respondeu prontamente.
- Então digam logo! O que eles queriam??
-Eles procuravam pela senhorita , senhor! – Jack respondeu cedendo à pressão.
-Por mim?
- Sim, senhorita.
- O que eles queriam com ela, Jack? – perguntou sério. – Estou ficando nervoso com esta história.
- Bom, senhor... Eles tinham uma notícia para ela. – Ele virou-se para mim com o semblante triste e eu encarei que tinha a cabeça baixa e os olhos úmidos.
- Que notícia, Jack? O que eles te disseram? – Eu perguntei olhando fundo nos seus olhos e ele tentava esconder algo terrível ali, sem sucesso. E eu esperei impaciente.
-Era sobre sua mãe, senhorita. Eles disseram que ela estava na Califórnia. Certo?
- Na Califórnia?! Puxa vida... Eu não sabia.
- Bom, foi o que disseram. E eles também disseram que ela estava desaparecida há algum tempo, e que finalmente a encontraram. – Ele dizia medindo as palavras.
- Sim?
- A encontraram em um hospital da cidade, ela sofrera um acidente de carro. – Eu levei minhas mãos ao meu rosto e cobri minha boca assustada. - E ela... Faleceu, senhorita.
Eu nunca fora muito ligada à minha mãe, mas agora eu sentia sua falta em forma de ferida em meu coração. E ela pulsava, aberta, provocando uma dor quase insuportável. Senti braços fortes me abraçarem por trás e me impedirem de cair no chão em frente à minha cama. E seja quem fosse, não encontrou resistência. Logo uma mão quente escorregava de minha testa para meus cabelos, mantendo-se firme ali, para que minha cabeça permanecesse levantada. Seu outro braço já envolvia meu tronco e braços, segurando meu corpo colado ao dele. Lágrimas infinitas deslizavam pelo meu rosto e eu arfava, respirando com dificuldade. Logo as arfadas se transformaram em tentativas inúteis de inspirar oxigênio e eu entrei em crise asmática. Mole como uma marionete, eu nem mesmo reagia, meu corpo se movimentava levemente para frente e para trás em resposta ao desespero de meus pulmões.
Então calmamente virou-me para ele, como se eu fosse uma boneca de plumas e me carregou, para colocar meu corpo agonizante sobre a cama. Cada gesto executado com muita tranqüilidade e delicadeza, muito atípicas dele, e talvez um segundo depois ele já estava com uma bombinha de oxigênio posicionada em frente ao meu rosto, colocando-a entre meus lábios abertos, que aflitos a acomodaram, e inspirei com uma força que desconhecia, inconsciente de cada movimento. Senti o oxigênio penetrar delicado e confortável por minha traquéia, seguido dos brônquios, bronquíolos e alvéolos, salvando-me torturantemente devagar. A última coisa que vi antes de desmaiar foram os olhos apreensivos e úmidos de .
Na manhã seguinte acordei tremendo de frio, e inicialmente não me lembrei do ocorrido da noite passada. Procurei não me mover para não acordar , mas como mágica, poucos segundos depois ele despertou rapidamente, como se houvesse capitado a minha consciência, e me encarou apreensivo durante o que pareceu ser um longo tempo, até que sussurrou cuidadosamente, com os olhos se umedecendo:
- Meu amor... Como você está? – E como um choque elétrico a realidade me tomou rapidamente, eu me lembrei de tudo que havia visto naqueles olhos preocupados na noite anterior, e antes que eu percebesse, lágrimas já escorriam pela minha face enquanto ele me tomava em um abraço apertado. Graças a Deus que eu estava com ele neste momento, jamais teria superado sem o amor da minha vida para me apoiar. Depois de chorar bastante no colo de meu amado eu concluí entre soluços:
- Eu não a perdi, foi o céu que ganhou uma grande estrela. – Ele não respondeu e pouco tempo depois adormecíamos juntos novamente, no confortável silêncio que se seguiu.
E por uma semana continuei na mesma agonia, constatando a verdade a cada manhã, atravessando o resto dos dias com muito afeto e compreensão de todos naquela casa e adormecendo entorpecida por lágrimas de medo e saudade. não se separava de mim nem um segundo, me acompanhava a todos os cantos da propriedade. , que se unira a nós há pouco tempo, também me observava preocupada no meu silêncio constante. Com o passar dos dias minha aceitação foi se ampliando. Não chorava mais pela falta que minha mãe fazia, mas agradecia a Deus por ter tantas pessoas novas em minha vida que eu amava, que preenchiam o vazio que havia se instalado em mim. Com o tempo a ferida em meu coração se cicatrizaria com o amor de e a ajuda de meus amigos, e logo estaria completamente curada.
-Bom dia meu amor! – me cumprimentou amavelmente após me acordar com um beijo no rosto, pronto para enfrentar mais um dia quieto e lindo de verão. E foi neste dia que ele finalmente conseguiu me contar o resto da notícia sobre minha mãe.
- Bom dia. – Eu respondi rouca e sonolenta. E me aconcheguei em seu abraço. – O que tem pra hoje?
- O que você quiser! – Ele riu de meu bom-humor repentino. – Está com fome? – Eu queria ter visto a expressão engraçada e cautelosa que ele deve ter adotado.
- Hmm... Eu não diria fome, mas... Estou disposta a comer um café da manhã digno!
- Se é este o caso, que tragam o café da manhã!- Ele afrouxou seu abraço, levando uma mão ao telefone na cabeceira da cama e discou três números.
- Manolo? Ah, sim. Peça para trazerem um café da manhã especial hoje. Estamos no segundo andar, no primeiro quarto de hóspedes. Obrigado. – Eu ergui a cabeça abrindo os olhos devagar para observá-lo e sorri fracamente em agradecimento. Ele disse:
- Vou te levar ao banheiro. Precisa de um pouco de água fria pra acordar de vez, não acha?
- Ahh, não!! – Eu murmurei com preguiça.
- Ah, sim! – Ele respondeu teimoso, comigo em seus braços.
Capítulo 12– O sobrevivente. “Eu permaneci em nosso quarto, sozinha, não desejando que ele voltasse tão cedo. Era difícil encará-lo depois do que acontecera. Eu me sentei em um belo divã cor de creme com flores vermelhas e encostei a cabeça em seu braço, ao lado de Vicky, pensando no que faria a seguir.”
- Tenho que te contar uma coisa.
- O quê é, ?
- Bom... No dia em que ficamos sabendo sobre sua mãe... Você não ouviu o resto da notícia.
- Ah... E o que é?
- Sua mãe estava grávida. – Ele cuspiu as palavras com medo delas, e mais ainda da minha reação, eu imagino.
- O quê?? – Eu não sabia com o que me preocupar, com o que surtar.
- Não me diga que ela perdeu o bebê... Quer dizer... Que ele morreu quando ela foi atropelada!
- Não, amor, eles conseguiram salvá-lo. – Eu não respondi.
- Ele sobreviveu, apesar de só ter sido gerado por sete meses. Ele vai permanecer na incubadora da maternidade na Califórnia por algum tempo.
- Em qual maternidade ele está?
- Tenho que confirmar com .
- Eu... Eu... Não sei o que dizer. Quer dizer que tenho um irmão? – Eu perguntei emocionada e surpresa.
- Sim! – Ele sorriu.
- Eu sabia! Eu sabia! – Eu exclamei aos sussurros. – Ela não queria me contar! Foi por isso que viajou! Oh, meu Deus... E agora?
- E agora o quê? – perguntou.
- Eu digo... Onde ele vai morar? Quem vai criá-lo?
- Não sei... Mas provavelmente ele vai ficar um bom tempo no hospital até o conselho tutelar decidir para quem ele será doado.
- É... Pobrezinho do meu irmão.
- Ei, eu não te disse o sexo do bebê! – Ele riu.
- Nossa, é mesmo! Eu imaginei um menino... Você sabe? – Eu perguntei.
- Não. – Ele disse. E eu não respondi, pensativa. Eu deveria fazer alguma coisa. Não entregaria meu irmão a um parente distante qualquer e muito menos a um abrigo. Que horror, o que planejavam para ele? Eu tinha que resgatá-lo, tinha que ir atrás dele o quanto antes. Eu tinha que conseguir sua guarda na justiça e criá-lo como um filho... E ? Ele aceitaria? Se houvesse qualquer problema eu voltaria para minha cidade imediatamente e o criaria em minha casa, sozinha.
- Eu preciso vê-lo. – Eu disse encarando no fundo dos olhos de .
- Tudo bem, assim que você melhorar nós iremos. – Ele disse sério, ponderando.
- Melhorar?
- , você não sai da cama há dias... Acha que tem alguma condição de viajar? E pra tão longe? – Ele exclamou me contrariando.
- Ah, por favor , não comece. Eu me sinto muito bem.
- Pode esquecer. Só sai daqui com minha autorização. – Ele completou secamente e eu o encarei boquiaberta e nervosa, sem saber como o responder. Então desisti de discutir, indignada, e comecei a arquitetar planos de fuga.
Era nossa primeira discussão, não acho que é digna de ser chamada de briga, mas eu desejei que também fosse a última, sem poder imaginar o que ainda estava por vir. Depois de um tempo eu senti que podia escutar meus pensamentos e o observei me encarar com um olhar desaprovador. Eu o ignorei e virei a cara. Ele não gostou e não disse nada. Naquela altura eu não podia imaginar quem seria o primeiro a ceder e dizer algo. Nunca soube medir quem de nós dois era mais teimoso.
- Está com fome? O almoço já deve estar pronto. – Ele perguntou.
- Perdi o apetite. Pode ir. – Eu respondi sem olhar para ele, e ele me deixou, entendendo que eu precisava de espaço. Eu permaneci em nosso quarto, sozinha, não desejando que ele voltasse tão cedo. Era difícil encará-lo depois do que acontecera. Eu me sentei em um belo divã cor de creme com flores vermelhas e encostei a cabeça em seu braço, ao lado de Vicky, pensando no que faria a seguir. Uma tentativa de fuga da casa do homem que eu amo seria no mínimo patética. Eu tinha de tentar convencê-lo. Ou então eu simplesmente tinha de tentar melhorar. E se não conseguisse, eu o enganaria. Depois de algum tempo pensando eu decidi descer até a sala de jantar para encontrar os meninos e tentar esquecer o assunto por hora. Mas, quando me levantei do divã, senti uma tontura repentina e tive a certeza de que iria desmaiar. A última coisa de que me lembro foi o latido de Vicky quando eu senti o chão faltar aos meus pés. Ponto de vista do
- Jack! Jack! Chame nosso médico, pelo amor de Deus!
- Mas Sr., não acha melhor uma ambulância?
- Não! Ela abomina hospitais! Traga nosso médico aqui em minutos! Mande James ir buscá-lo de helicóptero imediatamente!
- Sim, senhor! – Ele me respondeu e saiu apressado pelo corredor do segundo andar. Eu a observava desmaiada no carpete bege, sem nenhuma expressão, e assustado eu esperava por outro ataque convulsivo ou algo parecido, com medo de tocá-la. Segundos depois desisti de esperar por algo e a levei para sua cama com pressa. a observava do pé da cama, e nós não trocamos nenhuma palavra. Logo Jack retornava.
- Conseguiu contatar nosso médico? – Eu o perguntei.
- Consegui sim, mas ele estava no meio de uma cirurgia, me indicou um colega de trabalho dele, excepcional, e ele está vindo com uma equipe.
- Como assim? Ele mandou outro?
- Mandou sim, senhor. Mas garantiu que este era melhor até mesmo do que ele. – Considerei os fatos por um bom tempo, bufando de raiva e acabei por me contentar. precisava de ajuda o quanto antes.
- Está bem... Contanto que eles a ajudem... – Eu disse convencido, encarando o rosto desfalecido e perfeito de . Até mesmo inconsciente sua beleza ainda era magnífica. E suspirei cansado encarando . Ele estava tão preocupado quanto eu, mas ainda assim era otimista. Jack permaneceu de pé em frente a cama, andando para lá e para cá com seu chapéu nas mãos que pareciam suar de nervoso. E aquilo já estava me irritando, mas não disse nada. Os outros caras apareceram, mas também não se dirigiram à mim, se sentaram um pouco afastados, cochichando entre eles.
Não demorou para escutarmos o barulho das hélices do helicóptero ao pousar em nosso campo, e então Jack saiu pela porta. Todos nos preparamos para o que viria, ansiosos e temerosos por , esperando que o momento em que descobriríamos do que ela realmente sofria não chegasse nunca. Não demorou para Jack retornar aflito:
- Eles chegaram! – Ele não precisou especificar, todos esperávamos pelas mesmas pessoas. Acenei positivamente pra ele, e ele disparou pelo corredor para recebê-los. Logo três médicos entravam no quarto e eu encarei-os demoradamente enquanto pairava um silêncio tenso.
- Finalmente! – Eu quebrei o silêncio, exausto e fui até eles cumprimentá-los. Apertei a mão dos dois caras e da moça também. Não estava com humor para beijos no rosto. Apontei para o corpo de dizendo:
- Ela desmaiou. - Então o médico mais simpático disse:
- Vamos ver o que ela tem... – Indo até a cama e examinando rapidamente. Eu suspirei me jogando sobre uma poltrona vermelha, em frente à parede oposta à cama. E fiquei a observá-los enquanto faziam seu trabalho. A moça abriu uma grande maleta branca do outro lado da cama e tirou de lá um cateter e entregou-o ao médico mal-humorado, mas que parecia ser honesto e competente. Ele espetou o braço de e conectou um tubo fino ao cateter, este se conectava a outros que engrossavam à medida que se estendiam e terminava em uma bolsa contendo um líquido transparente, que ele pendurou em um suporte metálico que o outro médico já colocara ao seu lado. Então a moça entregou uma seringa pequena ao médico que examinava e ele espetou-a em uma saída do tubo que se ligava ao braço dela, injetando algum líquido transparente, que também adentraria em sua corrente sanguínea.
- O que é isto que estão dando a ela?
- A bolsa contém soro e o que acabei de injetar com a seringa é para acordá-la. Precisamos dela consciente por hora, para saber o que aconteceu. – Ele sorriu pela primeira vez, após me responder, e eu acenei sério. Eles continuaram ligando coisas a seu corpo, instalando grandes equipamentos ao redor de sua cama, e eu me senti dentro de uma UTI.
- Para que tudo isso?
- Nós fomos informados de que vocês não freqüentam hospitais. – A médica respondeu, sem expressão.
- Eu não me importo, mas geralmente o Dr. Storch, que mandou vocês, nos atende aqui mesmo. Mas tem pavor de hospitais. Eu jamais a faria acordar em um sem explicação.
- Entendo... – Ela respondeu pensativa.
- Mas vocês nem sabem o que ela tem, e já estão instalando tudo isso? E se não for nada sério?
- Então não a fará mal algum, isto tudo é para descobrirmos com segurança o que está acontecendo com ela. Não se preocupe, parece que ela está muito mal a vendo assim, mas ainda não podemos confirmar nada. – Ela sorriu calorosamente para mim, deve ter percebido todo o meu receio, e eu pensei ironicamente: Mas que reconfortante!
- Tudo... - Então antes de eu terminar de Falar, o ruído de um suspiro quebrou o silencio e eu olhei imediatamente para a sua origem e pude ver abrir os olhos rapidamente, ela finalmente despertara. – Bem...
- ! - Eu sussurrei me aproximando dela o máximo possível e ela me encarou assustada:
- ? O que aconteceu? - Ela agora observava todas as pessoas estranhas ao seu redor e os aparelhos medicinais. Vicky passeava impaciente ao redor dos médicos.
- Eu também não sei bem, meu amor. - Ela olhou para si mesma e encarou apavorada todos os tubos e aparelhos conectados a seu corpo e disse, quando seus olhos se encheram de lágrimas:
- O que é tudo isso? Quem são essas pessoas? O que esta acontecendo??
- Esta tudo bem, , são médicos confiáveis que foram Indicados e eles estão monitorando você, para descobrir exatamente o que aconteceu. - Eu segurava sua mão gelada e fraca enquanto ela olhava para as pessoas a seu redor:
- Com licença, , certo? É um prazer conhecê-la, meu nome é Chaase, sou médico, e estes são Foreman e Cameron. Eu queria te fazer algumas perguntas, se você se sentir bem em responder.
- Tudo bem. - Eu me afastei um pouco dela, sentando no final da cama, enquanto o doutor se aproximava para o lado da cama onde ela estava, o lado direito.
- O que você esta sentindo? - Ele perguntou concentrado.
- Ahn... Estou cansada. – Ela respondeu com a voz baixa.
- Você pratica muitas atividades físicas?
- Não. Eu tenho asma, doutor.
- Ah, sim. E o que estava fazendo quando desmaiou?
- Eu estava sentada no divã, e quando me levantei eu desmaiei. – O médico demorou um pouco mais para responder dessa vez:
- Certo. E esta é a primeira vez que você desmaia sem aparente motivo, ?
- Não...
- Tem sentido mais alguma coisa ultimamente?
- Hmm, além de cansaço, fraqueza e tonturas? Nada incomum.
- OK. Tem se alimentado corretamente?
- Bom... Eu não ando com muita fome, então...
- Hmm. - Ele considerou pensativo, e o outro médico, Foreman, encarou-o significativamente. Eles sabiam de algo que eu não sabia. Meu ponto de vista
Os belos olhos do doutor Chaase me encaravam pensativos, e ele fazia-me perguntas:
- Mas o que esta sentindo agora? Náusea, cansaço, sonolência, tonteiras?
-Eu estou... bem. - Eu disse fechando os olhos, eu mal acordara e já estava esgotada.
-Olhe, , se você não nos disser exatamente o que sente não poderemos ajudar você...
-Eu sei. - Eu esbocei um sorriso sincero. - Muito obrigada. - E ele respondeu com um sorriso pesaroso. Eu desviei meu olhar para o final da cama e encontrei , preocupado e compadecido de mim. Somente ele me entendia naquele momento. Eu realmente odiava médicos e cuidados, tudo que eu queria era que eles desligassem todos aqueles aparelhos e desconectassem todos aqueles tubos de mim. Até parecia que eu estava em um hospital, e morrendo. Seria essa a sensação? Era terrível o que eu sentia, não havia comparação, mas comecei a considerar que talvez minha situação fosse mesmo grave, como parecia. Mas eu não me importava, tudo aquilo estava me perturbando. percebeu meu suplício silencioso e disse:
-Eu acho que ela já se desgastou o bastante por hoje, agora que acordou deveria dormir um pouco, você esta precisando não é, meu amor? - Ele terminou me encarando com carinho e eu não precisei responder, somente pisquei fracamente e todos entenderam.
- Só uma última pergunta então... Tem sentido dores de cabeça? Ou dores no corpo?
- Sim para os dois.
-OK. Obrigado. Já coletamos seu sangue e o enviaremos para o laboratório hoje mesmo. Por enquanto não temos certeza sobre seu quadro ou o que causou tudo isso, então por hora não há com o que se preocupar. – Ele sorriu gentil e eu os agradeci. Os médicos se afastaram, desejando-me um bom descanso e quando estava ao meu lado, segurando minha mão novamente, eu vi os doutores e os meninos saindo pelas belas portas duplas do quarto.
-Ei – Eu sussurrei sem forças, e ele respondeu com um sorriso que deve ter até doído, pude ver em seus olhos:
- Oi! Como você está? E não precisa mentir pra mim, como fez com aqueles médicos, não é?
- Ah, aquilo... Não menti, só ocultei detalhes desnecessários.
- Você sabe que não são desnecessários... – Ele me censurou com uma expressão fofa. Eu revirei os olhos vencida e murmurei esboçando um sorriso:
- Que seja – Eu não deixaria aquilo me abalar. Eu estava na casa de , ele me amava, o que mais eu poderia querer? É claro que havia algumas outras questões, ou pessoas, pendentes. Como e meu mais novo irmão. Mas eu resolveria tudo assim que eu pudesse me levantar daquela cama.
- Bom – Ele suspirou exausto – Eu lhe devo desculpas. Não deveria ter falado com você daquela maneira, é que eu fiquei nervoso, porque às vezes você não parece ouvir ninguém e nem se importar com si mesma. Mas eu me preocupo.
- Eu sei, . – Eu respondi com uma pequena lágrima escorrendo pelo canto do meu olho esquerdo. – Você só esta tentando cuidar de mim e eu não deixo. Me desculpe também, isso é um problema meu, vou tentar mudar. – Ele agradeceu e me deu um beijo na testa.
-Você precisa realmente descansar, eu sei que não está em seus melhores dias, certo? – Eu apenas sorri enigmática àquela afirmação tão correta e tão equivocada ao mesmo tempo. Mesmo que eu estivesse morrendo, ainda seria um dos melhores dias da minha vida. Os olhos deles brilharam quando ele pareceu escutar o que minha mente pensava, e ele pegou minha mão e a beijou carinhosamente, sorrindo contente, e disse se levantando:
- Tenha bons sonhos... Eu terei. – E eu sorri convencida de que não poderia estar em nenhum lugar melhor do que aquele em todo o universo.
- O que você tem, ? Conte pra mim!! – Eu o encarava sem compreender.
- Não... Não! – Ele respondeu desolado.
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende...
- O quê foi??
- O que houve? – Eu insisti.
- ... – Eu suspirei e pus-me a chorar.
- O que foi, meu amor? – Eu tentei pela última vez, e ele me encarou com os olhos encharcados, assim como os meus e respondeu-me enfim:
- Você sabe o que é, . – Eu fora pega de surpresa e agora possuía ainda mais dúvidas.
- Sei? – Ele acenou inconsolável, e eu ainda com a testa franzida pensei sobre aquilo.
- Eu posso saber, mas não entendo! Me ajude a entender!- Ele soluçava freneticamente e acenava negativamente, negando-se a me responder. O silêncio pairava, mortal, e eu suspirei vencida, derrotada, e fechei os olhos deixando meu corpo cair sobre o dele.
- Bom dia meu amor!- me acordara daquele pesadelo mais uma vez.
- Bom dia, . – Eu sorri sem alegria. Tinha medo daqueles médicos, de como poderiam me machucar, examinar... E o pior: diagnosticar. Eu não podia ter nada muito sério, mas qualquer doença simples seria suficiente para provocar em um instinto mais que paternal por um longo tempo, e eu estava preocupada com sua reação a essa situação também.
- Bom, vou pedir para trazerem um café da manhã para você... Ou melhor, vou eu mesmo prepará-lo! – Ele sorriu animado – E depois trarei as notícias dos médicos sobre seus exames. – Ele completou baixando o tom de voz.
- OK – Eu disse sem fôlego. E ele saiu apressado pelas belas portas duplas. Ponto de vista do
- Antes de descer para preparar o café-da-manhã da eu corri sorrateiramente para o quarto ao lado do dela, para conversar com os médicos de novo.
- Com licença. – Eu falei abrindo a porta lentamente.
- Sim? – Cameron respondeu.
- Posso entrar?
- Claro, não se incomode.
- Tudo bem, eu preciso falar com vocês. – Eu disse sério, encarando os médicos, que estavam sentados nos sofás no fundo do quarto.
- O que é? – Esqueci o nome do moreno mal-humorado que perguntou.
- Eu estou preocupada quanto à . – Eu disse sentando-me no braço do sofá mais próximo. – Eu quero que me digam logo se já sabem de alguma coisa. Ela está doente... Mas é grave?
- Nós ainda não temos certeza do que ela tem, na verdade... – Chaase respondeu – Mas recebemos os resultados dela e estávamos discutindo sobre seu quadro agora mesmo.
- Certo. O Doutor Storch disse que estava mandando um médico que era melhor do que ele mesmo com uma equipe. Qual de vocês é ele? Eles se entreolharam por um instante e Cameron respondeu:
- Na verdade, nós somos a equipe. A equipe de House.
- Então esse House é o médico que deveria estar aqui? E porque não está? – Eu perguntei indignado, ele já perdera sua chance de causar uma boa primeira impressão pra mim.
- Ele não tinha disponibilidade, eu sinto muito que não te avisaram. Ele nos mandou e nós mantemos constante contato com ele, não se preocupe. – Disse Cameron calmamente.
-Sei... Então quer dizer que ele não virá?!
- Bom... – Ela respondeu desconfortada – Se for necessário, sim, virá.
- Tudo bem. Eu preciso do telefone deste médico. – Eu disse secamente. Eles não responderam.
- Eu preciso do telefone de House!
- Tudo bem... – O moreno respondeu, e Chaase o interrompeu:
- Espere, Foreman, nós temos permissão para passar o telefone dele? – Ah, sim, o nome do moreno era Foreman.
- Acho que não – ele respondeu – Mas eu não me importo – Ele completou me entregando seu celular. Eu comecei a gostar daquele cara. Então eu peguei seu telefone e liguei praquele mané, do corredor. Quem ele pensava que era? aqui em uma UTI doméstica mal conseguindo se mexer e ele esperando para vir quando for “necessário”, haha.
- House. – ele atendeu depois de deixar o telefone tocar várias vezes.
- Aqui é . O meu médico, doutor Storch, te recomendou, disse que viria com uma equipe, se lembra? Bom, eu estou vendo sua equipe, mas não vejo você.
- Espere... do ?
- Isso mesmo.
-Hmmm... Deve haver algum engano, não sou eu quem você procura. Desculpe-me.
- Não, senhor! É você mesmo, doutor House. Quem você pensa que é? Acha que não é digna da sua presença? Porque? O caso dela não é tão grave? Não é desafiador o bastante para o Doutor House?
- Uau! Você não é tão simpático por telefone como é pela televisão, não é? Bem... Eu não fui até aí para satisfazer suas vontades e atender sua namorada porque não foi preciso. Minha equipe cuidará bem dela. Tem gente morrendo do lado de cá, sabe? E eu não posso sair por aí voando de helicóptero na hora que você, astro do pop, bem entende. – O quê?! Ele me chamou de astro do pop?!
- Olha aqui, doutor House, você virá, querendo ou não, porque apesar de mandar na sua equipe ou até no seu hospital, eu tenho a grana, e eu que pago para que você possa trabalhar. Então faça o favor de aparecer.
Eu desliguei o telefone e retornei ao quarto onde os médicos me esperavam e perguntei:
- Vocês acham que ele virá?
- Não mesmo...
- Bom... Quem é o chefe dele?
Eles me passaram o telefone, era a chefe, doutora Cuddy. Eu liguei pra ela e esclareci a situação, ela me garantiu que ele estaria em minha casa em menos de uma hora e eu agradeci satisfeito.
- Pronto. – Eu concluí entregando o celular de volta para meu mais novo amigo, Foreman, que sorria contente. – Parece que ele virá, afinal.
- Hmm, ... Você me perdoaria se dissesse que não tenho fome? – me perguntou receosa.
- Claro que não, eu teria de matá-la. – Nós sorrimos e ela continuou:
- Sinto muito, mas não acho que vou conseguir comer.
- Tá com uma cara tão ruim assim o que eu preparei para você? – Eu havia trazido ovos mexidos, torradas com geléia, pãezinhos, uma pêra, rosquinhas, um copo de suco de laranja, um pedaço de queijo e um leite com mel bem quente para ela, na bandeja mais bonita que encontrei naquela cozinha. Coloquei até um raminho de flores cor-de-rosa ao lado da caneca de leite, que continha os dizeres: Melhor amigo do mundo. me dera aquela caneca de presente no meu décimo - sétimo aniversário, que parecia há um século... Na verdade fazia quase um século mesmo.
- Não, ! Tem uma cara ótima – Ela resmungou – Mas eu não quero... – Ela terminou me encarando com um enorme “DESCULPE-ME” escrito em sua testa. E eu não me abalei, apesar de que realmente desejava que ela comesse alguma coisa.
- Então pelo menos tome um gole do suco! – Eu pedi
- Está bem... – Ela tomou.
- Já que já tomou um gole do suco, pelo menos morda um pedaçinho do pão com ovos mexidos, eu sei que você adora...
- É verdade. Está bem, passe pra cá então. Mas só um pedacinho. – Ela comeu e eu insisti em um gole do leite, depois em um pedaço do queijo e antes que eu insistisse em mais um gole do suco ela disse com a voz exausta:
- , por favor, eu não agüento mais. Não vou comer mais nada.
- Está bem... Como está se sentindo?
- Eu não sei – Ela murmurou com os olhos fechados. – Tem alguma lixeira por aí?
- Lixeira... – Eu fui até o banheiro e trouxe uma vazia de lá. – Tem essa, mas para quê?
- Porque eu acho que vou vomitar... – Ela disse quando eu a entreguei a lixeira, segundos antes de eu escutar o barulho dela se enchendo.
- Oh meu Deus! – Eu exclamei segurando seus cabelos para trás enquanto ela vomitava. Ela parou algumas vezes, ofegante, derramando lágrimas e murmurando meu nome antes de voltar a encher a lixeira.
- Está tudo bem, . – Eu disse controlando o meu medo, com uma mão em sua testa e a outra ao redor de seu tronco. Ela não vomitou muito, mas não encarou aquilo com normalidade. Eu levei a lixeira e voltei rapidamente com uma toalha molhada. Eu a passei em seu rosto a cada segundo mais pálido, em silêncio, enquanto ela não parava de chorar e se desculpar, sentindo muita vergonha, e desconfio que medo também. E não posso negar que aquela reação dela estava começando a me assustar.
- Não tem problema, está tudo bem. Você só vomitou, meu amor. Acontece.
- Eu sei, mas é que eu odeio vomitar... – Ela disse entre lágrimas e suspiros – Simplesmente odeio, sempre fico assim depois.
- Você não fez nada errado, está tudo bem, vai passar agora. – Eu disse a abraçando, sem saber como acalmá-la. Então pequei o telefone na mesinha ao lado da cama e liguei para , ele atendeu e eu o pedi para vir até o quarto e trazer os médicos quando viesse. Ele não demorou nem um minuto com Cameron, Chaase e Foreman, e eu expliquei a todos o que aconteceu e depois pedi para levar a bandeja do café da manhã para a cozinha.
- Foi agora? – Cameron perguntou para , preocupada – O que você comeu? – Ela não respondeu e eu disse:
- Nada estragado, com certeza, doutora. Ela só comeu alguns pedaçinhos do café da manhã que preparei para ela, mas quase nada.
- Está certo – Cameron concluiu depois de analisar as pupilas de e se dirigiu aos outros médicos, que observavam calados e pensativos. Sobre os gritos de meus pensamentos, o bip da máquina que media a freqüência cardíaca dela soava muito mais alto, acelerado, e eu não conseguia calar minha mente, aterrorizada.
- Como se sente, ? – Foreman perguntou.
- Bem – Ela respondeu ofegante – Bem? Nenhum tolo era capaz de cair naquela mentira horrorosa. Ela não sabia mesmo como mentir, sorte a minha. Eu notara que ela não quis contar aos médicos a recente notícia que recebera, e eu não sabia porquê, apesar de que isto poderia ter influenciado em seu desmaio. Mas respeitei sua decisão e não comentei nada também. Não poderia ter sido somente por causa daquilo que ela tivera tudo isso. Havia alguma coisa por trás desta história, e não sabíamos o que era.
- Bom, temos notícias para vocês. – O doutor Chaase nos disse – O resultado dos exames apontou uma anemia, o que não é grave e podemos resolver com uma dieta controlada e alguns medicamentos. Você vai ter que passar a se alimentar bem, moçinha. Foi a anemia que causou suas tonteiras, seu cansaço e indisposição.
- E quanto à falta de apetite e o vômito? As dores de cabeça, nos ossos... – Eu perguntei preocupado novamente.
- Bom, ainda não temos certeza, mas temos uma hipótese... – Chaase me interrompeu.
- E qual é? - Chaase respondeu:
- Bom... Achamos que pode estar grávida. – Eu fiquei tão boquiaberto que caberia uma bola de tênis entre meus lábios. Não pude ver a reação imediata de porque o encarei ainda surpreso:
- Não pode ser! Pode, ? Diga Pra eles.
- Eu... Eu... – Ela estava chocada. Eu aguardava por sua resposta com os nervos à flor da pele.
- Está tudo bem, podem se abrir, nós somos médicos. Isso acontece, quero assegurar-lhes. – Cameron disse se aproximando. – Não há motivo para pânico.
- Mas, mas... – Eu quase gritei “DIGA LOGO DE UMA VEZ QUE NÃO É POSSÍVEL”. – Eu... Não, não! Não estou grávida! Tenho certeza! – Eles a encararam incrédulos – Certeza absoluta.
- É – Eu reforcei aliviado. Isto ela não esconderia deles. E nem de mim. Os médicos saíram do quarto e logo escutamos o barulho do helicóptero pousando em nossa propriedade. Eu aproveitei a deixa, quando todos saíram, para conversar com .
- Meu amor, tem algo que queira me contar?
- ... Você não pensa que estou grávida...
- Não foi o que eu disse.
- Bom, eu juro pra você. Nunca transei com o . Nunca! Eu sou virgem, lembra? Tem que confiar em mim.
- Eu confio! – Eu exclamei pegando suas mãos com cuidado. E ela pareceu se acalmar. Já não bastava seu irmão que acabava de nascer, eu pensei. Ela tinha alguns motivos a mais agora para ficar tensa e amedrontada. Passamos o resto do dia naquela cama. Eu não consegui comer nada, assim como ela. Mas já começou com o medicamento para a anemia naquela tarde mesmo. O tal doutor House não apareceu e eu não tive vontade de vê-lo. Na manhã seguinte me acordou de madrugada, toda suada e arfando:
- !
- O que foi, meu amor?
- , não! Por favor! – Ela chorava agora, em puro desespero.
- O quê? O que foi?! – Ela não parecia me escutar ou me ver, devia estar sonhando.
- Não, não faça isso... – Ela implorava sem forças. Eu tentei acordá-la, sequei suas lágrimas e o suor de seu rosto e pescoço, mas ela continuava sonhando.
- , acorde! Acorde! – Eu falava alto agora – É só um sonho. – Eu a abracei e ela pareceu voltar à realidade lentamente.
- Foi um pesadelo... Vai ficar tudo bem – Eu sussurrei em seu ouvido. Seu peito descia e subia rapidamente. Ela me encarou assustada, alguns fios de cabelo pregaram-se a seu rosto que continuava a suar e que ela afundou em meu peito.
- De novo... – Ela sussurrou.
- O quê?
- De novo esse pesadelo... – E então ela voltou a chorar.
- Não, não chore. Está tudo bem, já passou... – Eu tentava consolá-la preocupado. Depois de algum tempo, ainda suando muito, ela voltou a dormir. Acordamos muito cedo, poucas horas depois, pois ela me pedia para levá-la ao banheiro.
- Claro, vamos lá. – Eu disse sonolento ao me levantar. Afastei seus cobertores e estendi minha mão. Eu mal senti quando ela a pegou e observei sua expressão assustada.
- O que há?
- Eu não consigo me mexer!! – Ela exclamou sem ar, controlando seu desespero. Eu não pude esconder o meu.
- Como assim? – Eu arfava – Como assim não pode se mexer?
- Não posso! Parece que vou cair.
- Tudo bem, fique calma. Eu levo você, não tem problema algum. – Então eu a carreguei, ela estava leve como uma criança, e a levei para o toillet, arrastando o suporte da bolsa de soro com uma das mãos. Pensei em dá-la alguma privacidade lá dentro, mas inutilmente. Ela não tinha forças para ficar de pé, para ficar sentada e nem para escovar seus dentes. Eu comecei a ficar realmente preocupado, muito mais. Seu corpo estava mole, parecia que ela não controlava seus movimentos. Eu a sentei sobre um banco ao lado da pia, e enquanto a segurava com um braço, limpava seu rosto com uma toalha umedecida com o outro.
- , o que eu tenho? – Ela perguntou enquanto eu a dava um banho, vestindo lingerie. Ela ainda era muito tímida em relação a mim.
- Eu não sei. – Eu disse afastando uma mecha de seus cabelos molhados de seu rosto. – Mas vamos descobrir, e você vai melhorar.
- Será que eu vou mesmo? Olhe para mim: mal consigo me mexer, não tenho forças, não tenho mais vida. – Ela disse devagar e com a voz fraca e morta. Eu reparei em sua aparência e notei que ela estava certa. Não havia cor alguma em seu rosto além do castanho de seus grandes olhos. Ela ostentava olheiras profundas e arroxeadas, seu rosto parecia ter emagrecido, e eu sentia falta do rosa de suas bochechas. Eu não consegui responder. Apesar de tudo ela ainda era linda. Acho que nada poderia algum dia afetar sua beleza.
- Bom dia! – Escutei exclamar do quarto – Onde vocês estão?
- Estamos aqui no toillet, ! Só um minuto!
- OK!
Então eu abri o ralo da banheira e pus-me a secá-la quando a água escoou. Nós permanecemos em silêncio, e eu não pude deixar de notar em seus belos seios e em como eles se destacavam naquele sutiã de renda azul-marinha que ela usava. Também não pude evitar reparar em suas pernas, suas curvas, sua barriga, cintura, sua calçinha... Ela era muito gostosa, e bota gostosa nisso! Que tentação de mulher ela sempre foi. Mas em seu corpo nada era exagerado, era na medida certa.
Não era a primeira vez que eu a auxiliava no banho, mas era a primeira vez que ela não se movera durante todo o processo. Sua fraqueza era absurda, eu nunca vira nada igual. Eu tinha medo de tocá-la, medo de que ela desmaiasse a qualquer momento ou tivesse uma crise de asma.
- Aí estão vocês! Finalmente... – disse risonho quando emergimos pelas portas do banheiro. Eu a coloquei sobre a cama e pareceu notar como ela não reagia e como seu corpo estava “mole” e perguntou:
- O que há com você, querida?
- ! – Ela murmurou se entregando às lágrimas – Me abrace! – E ele o fez.
- Não chore, não. Odeio te ver assim. Vai dar tudo certo, maninha, você vai ver. Vai sair dessa num piscar de olhos. – Ele dizia em seus cabelos úmidos enquanto ela se desmanchava em seu ombro, sem mexer nenhum músculo além dos da face. Eu fui chamar os médicos na mesma hora. Quando voltei com eles ela já havia cessado seu choro, e segurava e beijava sua mão esquerda, ajoelhado no chão ao lado da cama. Os doutores já sabiam o que se passava naquele momento, e fizeram uma série de testes nela, a analisaram e depois concluíram que era tudo devido à fraqueza. Ela não perdera a capacidade de se mover, somente não tinha capacidade para fazê-lo, segundo eles. Isso me acalmou um pouco.
- Vamos aumentar a dose da medicação, está bem? – Chaase disse para nós três enquanto os outros médicos faziam anotações e conversavam entre si.
- OK... E onde está House? – Eu perguntei.
- Dormindo, eu acredito. – Disse Cameron. Então eu decidi que já passara da hora de eu conhecer aquele médico.
Capítulo 13 – Natal. “Não demorou muito para que a casa toda vibrasse em luz e cor. Era um espetáculo, tudo era lindo, inspirava emoções ou remetia a lembranças gostosas.”
- Ei! House! House! – Eu bati com força na porta do quarto em que me disseram que ele se encontrava. Eu não desisti até ele abrir a porta. Com os cabelos bagunçados e umas calças de moletom, o médico me encarou com desprezo, irritado:
- O que você quer?! Mal passa das sete da madrugada!! – Ele exclamou bem perto do meu rosto.
- Doutor House, eu sou Daniel! Finalmente nos conhecemos, hã?
- É... Tanto faz. Porque infernos você me acordou?
- Porque sua paciente, minha “namorada”, está doente, lembra-se?
- Olhe, eu vim até aqui, não vim? Fiz o que você mandou, não foi? Então ainda pensa que sou obrigado a visitá-la? Qual é! Chame os doutores da alegria ou algo assim.
- Ela está realmente mal, seu canalha.
- Ela está grávida! E você é um idiota se ainda não acredita nisso.
- Eu acredito nela, e ela NÃO ESTÁ grávida! Acho melhor você aparecer com uma nova teoria antes que seja tarde demais!
- Como assim? Ela está morrendo ou algo assim? – Ele perguntou sarcasticamente.
-Quer saber? A verdade é que não faço idéia. Mas esta manhã ela acordou sem conseguir se mexer, tem a aparência de um cadáver, não consegue se alimentar e mal está falando também! – Ele pareceu se surpreender – Você acha mesmo que não é nada grave? – Então aparentando se convencer e com uma expressão de descontentamento, House me seguiu até o quarto de , totalmente indisposto a fazer seu trabalho. Eu abri as portas de seu quarto e os apresentei satisfeito.
- Ora, ora... Então você é a namorada do astro do Pop? – House perguntou sarcástico entrando pelo quarto apoiando em sua bengala. Ela não respondeu, somente acenou com a cabeça.
- Você realmente parece mal. – Ele comentou pensativo. – Bom! O que estamos esperando? Um teste de gravidez, um para infecções, um neurológico, um para viroses, um de coagulação, um para auto-imunes e... E só. Satisfeito, Daniel? – House me encarou severo e eu disse:
- Por ora. – Então todos me deixaram sozinho com no quarto, e ela disse:
- Hoje é que dia?
- Dia 20. Por quê?
- Por quê?! , o natal! É daqui a quatro dias! – Ela disse animada.
- Ai! É mesmo! Eu me esqueci totalmente! – Eu respondi levando uma mão à testa. Que estúpido. Parece que aquela história toda de estar sendo monitorada 24 horas por dia me tirou do normal.
- Estou ansiosa! – Ela me disse, tentando reprimir uma risada, sem sucesso. Eu sorri em resposta e pensei, desesperado, que precisava comprar um presente para ela. Mas me perguntei o que eu deveria comprar. Era difícil para mim, agradar uma mulher. E ainda mais ... “De que tipo de presente ela gosta mesmo?” eu me perguntei mentalmente enquanto ela abria e fechava a boca rapidamente, dizendo alguma coisa com os olhos brilhando.
- Me perdoe. O que você disse?
- Eu disse que temos que preparar uma ceia de natal maravilhosa! Vai ser o nosso primeiro natal juntos...
- É verdade. – eu sorri.
- Geralmente vocês passam natal aqui?
- Depende. Tem ano que passamos aqui, só nós quatro, e tem ano que cada um vai encontrar sua família e tal...
- Ah, tá. Nossa que mal educada! Eu nem perguntei pra você se tinha planos!
- Ah, não! Imagine... Eu não estava nem me lembrando... – Nós rimos juntos – E eu não tinha nada planejado não.
- Ok. – Ela sorriu. – Ainda bem que está aqui! Vai ser o meu primeiro natal com ela!
- Hum. E ainda bem que você está aqui! Eu não gostaria de passar mais um natal vazio e regado de cerveja. Diferente de , que sempre amou o espírito natalino como ninguém. – Ela emitiu uma gargalhada deliciosa, e eu ri também, encontrando mais graça em sua risada do que no que eu dissera.
- É verdade! – Ela disse sem ar – sempre twittou sobre isso.
- Ah, então você nos seguia no twitter? – Ela respirou por um segundo antes de responder, me olhando com o canto do olho:
- Seguia... Assim como as outras 300.000 pessoas! – Ela riu-se.
- Hahaha! Tem razão... Mas eu não sabia que você curtia twitter.
- Foi através dele que eu fiquei sabendo do show.
- Ah sim...
- Eu sinto falta de twittar...
- Hum. E eu não twitto desde que você chegou aqui!
- Haha! Sinto muito...
- Mas também... Eu iria twittar o quê? Hoje eu almocei arroz, carne, salada de alface... – E nós rimos juntos novamente. Eu estava feliz em ver como seu humor havia melhorado.
- já deve estar planejando a decoração natalina. – Eu disse – Você devia conversar com ele, dar idéias se quiser...
- Boa idéia. – Ela agradeceu com um sorriso
Então sucederam-se todos aqueles exames, alguns levaram dias para a chegada do resultado, outros não. Em um piscar de olhos era dia de natal, e nos acordava de manhã cedinho para montarmos a árvore.Mas já estava se sentindo bem melhor.
- Será que dá tempo de terminarmos até a noite? – perguntou, sentada no sofá vermelho de veludo, na sala do piano, ou melhor, na sala de visitas. Era lá que sempre montávamos a árvore de natal, bem no centro.
- É claro que dá! Com toda essa gente, vamos terminar loguinho. – observou ao seu redor com deleite, encarando todos que ele conseguira reunir para trabalhar para a causa natalina. Os caras o encaravam sonolentos e eu o fitava de má vontade. Parecia que os únicos contentes com aquilo, naquela sala, eram, além de , e Jack, que não perdia o bom ânimo de sempre. Ninguém respondeu.
- Então... Por onde começamos? – Jack perguntou alegre.
- Bom, já temos aqui todo o material que será necessário. – ele disse, apontando para as caixas enormes que jaziam no chão ao centro da sala. – A não ser, é claro, que queiram jogar todos esses enfeites no lixo, e comprar novos. Faz um bom tempo, aliás, que não fazemos isso...
- Ah, não, ! – murmurou – Os enfeites antigos são mais bonitos, e também especiais.
- Eu concordo! – Eu disse me aproveitando da opinião dela para escapar de outra seção de compras natalinas.
- Está bem! – Disse . – Vamos utilizar esses mesmo.
- Ah, mas uma coisa, : Tem que prometer que esse ano nós só vamos decorar a casa. Somente a casa – Eu repeti.
- Tá certo... – Ele disse desapontado.
- Por quê? Não entendi – disse confusa.
- É que o ano passado ele tentou colocar gorros de papai Noel nos carneirinhos! – Revelou um dos caras, rindo, e se divertiu com esta constatação.
- Eu nunca vi um carneirinho aqui! – Ela disse
- É porque eles ficam espalhados pela propriedade. Tem que andar um pouquinho até o bosque, é lá que a maioria deles fica, com os coelhos. E tem alguns veados também.
- Meu Deus que coisa mais linda! – ofegou maravilhada.
- Um dia você vai conhecê-los, amor. Eu disse sereno e ela sorriu.
- Ok! Então vamos começar logo! – exclamou animado. soltou uma risadinha animada, juntando as mãos em frente a seu rosto, e os garotos suspiraram assustados. – ... – E então o sorriso dela aumentou ainda mais. – Você ficará responsável pela decoração desta sala e da cozinha. e eu enfeitaremos a árvore e os cômodos daqui de baixo, vocês, caras, - Ele se virou para os outros dois brothers do e depois de hesitar disse – hmm, vocês podem enfeitar os quartos.
- Todos eles?! – Eles exclamaram.
- Sim, todos eles! Mas não precisa ser nada exagerado, é uma decoração simples, somente um toque natalino. Entenderam? – Eles não responderam e ele continuou.
- Jack! Você pode auxiliar a todos nós?
- Claro.
- Então pronto! Os enfeites estão aqui! Todos ao trabalho!
Os caras, que estavam recostados no braço do sofá, escorregaram para o lado e quase caíram no chão, se levantou rapidamente com graça e alegria, jack, que já estava de pé, se adiantou para mais perto de , que se abaixou para separar enfeites para o pinheiro, e eu permaneci os observando por alguns instantes. Vi pedindo a pelos enfeites da sala principal e ele apontando para uma caixa branca grande perto de mim. Ela veio com os olhos brilhantes e me abraçou com carinho.
-Não esta animado?
-Estou sim. Estou feliz por você estar aqui. - Ela me encarou com aqueles olhos grandes de baixo e eu me abaixei para beijá-la rapidamente. Então nos separamos, eu fui ajudar com a arvore enquanto se deliciava com a caixa de enfeites.
Meu ponto de vista
Não demorou muito para que a casa toda vibrasse em luz e cor. Era um espetáculo, tudo era lindo, inspirava emoções ou remetia a lembranças gostosas. Eu definitivamente acreditava no espírito natalino e já podia senti-lo. Eu planejara uma surpresa para no dia anterior, que nada verdade era algo que eu sempre desejara fazer. Naquele instante, ao ajeitar o laço de uma ovelha de pelúcia, eu mal podia esperar para contar para a minha ideia genial. Vicky me acompanhava pela casa na intenção de me auxiliar na decoração e nem mesmo tentara rasgar seu gorro de papai Noel em mil pedaços, o que realmente me surpreendeu. Eu sorri para ele, que me observava atentamente do chão, e me dirigi as enormes escadas que também faziam parte da minha decoração, já que ficavam no final da sala/hall da qual eu me encarregara. Nos corrimões dourados já pendiam ramos e flores naturais que davam ao ambiente um toque de frescor encantador. Nos degraus estava estendido o grandioso tapete vermelho, e eu começava a considerar o uso de luzinhas de pisca-pisca.
-Você sabe onde estão as luzinhas peroladas? - Eu perguntei para o bebe da casa e ele resmungou sonolento. Eu ri e me pus a procurar por . O encontrei caminhando pelos corredores do primeiro andar com dezenas de bichos de pelúcia nas mãos.
-!
-Ah! Que susto, maninha! Eu quase deixei tudo isso cair. - Ele exclamou risonho.
-Me desculpe , e que eu preciso de luzes de pisca-pisca peroladas.
-Ah, sim. Temos algumas em algum lugar... Ou melhor, em alguma daquelas caixas perto da arvore. - Ele respondeu enquanto descíamos as escadas.
-Esta bem, não se preocupe, eu posso procurar.
-Ótimo! Tenho que entregar estes bichos pro caras, eles vão colocar gorros, laços e meias em todos eles. - Então eu soltei uma gargalhada alta ao imaginá-los vestindo um coelhinho.
Encontrei entretido com o pinheiro e procurei pelas luzinhas sem incomodá-lo. As encontrei e retornei a escada chamando por Jack. Ele não demorou nem dez segundos e eu o pedi uma extensão e uma ajuda para decorar os corrimões. Não demoramos muito para enrolar doze fios de pisca-pisca em toda a extensão dos corrimões. Ficou maravilhoso. Então mirei meu relógio de pulso e decidi que era hora de revelar meu plano a .
-Meu amor, tenho uma surpresa para você!
-Em pleno dia natalino? Mal posso esperar... - Ele sorriu esfregando as mãos uma na outra.
-Venha aqui - Eu disse contente o pegando pela mão e guiando-o ate as portas da cozinha no final da casa. Eu o pedi que fechasse os olhos, ele fechou. Então abri as portas.
-Pode abrir! - Então ele abriu e viu o que eu vi. Viu panelas e panelas borbulhando, viu quase todos os cozinheiros trabalhando, viu dois deles embrulhando perus assados em papel alumínio, viu o chefe dando ordens a outro homem, um baixinho, e se dirigindo a uma bancada repleta de embalagens de isopor.
-O que e tudo isso? - Ele perguntou maravilhado.
-O cheiro e bom, não e? - Antes de ele responder, Manolo percebeu que estávamos ali e se adiantou para cumprimentar-nos.
-Já era hora de vocês aparecerem. Já esta quase tudo pronto, senhorita. Vocês terão que correr.
-Peraí, como assim? Pra que tanta comida? Haha.
-, a minha ideia para este Natal foi presentear outra pessoa alem de nos.
-Quem?
-Jesus. Eu contei com a ajuda de Manolo e todo o pessoal da cozinha para preparar várias ceias natalinas este ano. E eu desejo distribuí-las, pelo vilarejo mais próximo, para famílias carentes, de crianças que estão nas ruas ou de sem-tetos e mendigos. Pra mim seria um sonho realizado. E seria o maior presente que você poderia me dar se fosse comigo. - demorou um pouco a responder, seus olhos se encheram d'água e ele sorriu:
-Mas e claro que vou com você, amor! Que surpresa mais linda, que ideia maravilhosa! Eu adorei! Foi a minha melhor surpresa de Natal! Haha
-Ai, eu to tão feliz! - Eu exclamei ansiosa. E então esperamos por mais alguns minutos ate que tudo estava pronto e separado.
-Então vamos, senão não dá tempo! - Eu disse a depois de agradecer a Manolo e seu pessoal e de contar a surpresa a . Ele quis ir com a gente e assim foi feito.
A noite foi maravilhosa. Eu observava o olhar de ao entregar os alimentos aos moradores de rua e a impressão que tive foi de que ele nunca tinha feito isso antes, nunca tinha ajudado alguém. Era tudo realmente novo para ele, e ele se divertia e se surpreendia. Todos nos agradeciam com muito carinho e não conseguia se desvencilhar das crianças que o reconheciam da TV ou que simplesmente se encantavam por seu jeito delicado. Não demoramos muito a retornar para a mansão. A ceia foi impecável, mas simples, devido à todos os esforços que foram canalizados para a preparação das doações. Todos comemos felizes e brindamos ao espírito do natal. Mais tarde, cada um se pronunciou e agradeceu por tudo e depois os meninos cantaram algumas músicas natalinas. Eu cantei uma que sempre gostei chamada “White Christmas”, ao som do violão de . Foi a primeira vez que cantei em público, e foi uma surpresa encantadora, me aplaudiram muito, parecia aturdido, não conseguiu bolar nenhuma frase completa e eu me diverti muito. Antes de todos irem dormir, propôs o último brinde da noite, e brindamos à minha chegada naquela casa, que segundo ele, foi a primeira e a última chegada estelar de lá, que já tinha deixado rastros suficientes para sua vida inteira, e causado transformações maiores que o movimento das placas tectônicas dentro do coração dele. Eu sabia, inconscientemente, que ele nunca mais seria o mesmo. Eu sorri e ele me beijou.
Nesta noite, quando nos deitamos para dormir, eu mal me continha de vontade de fazer amor com ele. Mas, é claro, não cedi aos meus desejos do corpo e me contive quando ele me abraçou e rezei para dormir logo e esquecer aquela sensação. E foi o que aconteceu, eu desmaiei de cansaço. Foi a primeira vez que desejei ser esposa de , mas na manhã seguinte, ao despertar, me arrependi do desejo e me ergui tranquila para mais um dia de batalha.
Capítulo 14 – O programa de TV. “She's not got that much more to give – E neste verso eu parei pra pensar em como aquilo se aplicava tão bem em sua realidade, não tinha mais tanto para dar, afinal.”
A cada manhã eu aguardava esperançoso pela entrada da doutora Cameron no quarto, para escutá-la dizer “Deu negativo” mais uma vez. tinha melhoras e recaídas repentinas mas ainda evitava qualquer tipo de esforço por recomendação dos médicos, o que significava carregá-la para todo e qualquer lugar que ela desejasse durante todo o dia, apesar de que ela raramente deixava seu quarto. E esta situação a perturbava mais a cada dia. Ela odiava depender de mim para fazer tantas coisas e se sentia culpada também. Depois de duas ou três semanas, ela já se sentia mais forte, podendo ficar de pé e caminhar sozinha, mas contando com a ajuda de alguém por perto. E esta novidade não poderia deixá-la mais feliz. Eu, contudo, ficava mais frustrado a cada segundo ao seu lado. Sua recuperação se mostrava extremamente lenta, e mesmo assim o risco de ter outra recaída nunca diminuía... Ela estava doente, tinha alguma coisa. Mas ninguém descobria o que era.
Eu não saía de casa desde que chegara aqui, e quando parei para pensar na opção de contratar outro médico para avaliá-la, recebi uma ligação peculiar. Era dia 21 de janeiro.
- Está bem. Muito obrigado. Certo.
- Quem era? – Ela perguntou.
- Adivinhe só: Fui convidado para participar de um programa de TV! – Eu disse animado.
- Oh, mas que legal. – Ela se sentia bem neste dia.
- É... Eu queria poder levar você.
- Não será possível, . – Ela disse desanimada – Os médicos não me deixariam sair daqui.
-Hmm. Que pena. Eu queria realmente ir.
- Mas você tem que ir! Não tem problema, eu assisto você daqui.
- Tem certeza?
- Aham. – Então eu saí naquela tarde para o estúdio na extremidade da cidade, sem poder imaginar o que me esperava dali a algumas horas.
- Vai começar, vai começar! – A repórter sussurrou ansiosa. Monique era seu nome, e puxa vida, ela era linda! E muito gostosa. Eu pegava, mole, mole.
- Prontos?! GRAVANDO! – Alguém gritou não muito longe.
- Boa noite! No programa de hoje nós teremos a participação especial do artista , integrante da banda britânica que eclodiu de fãs em todo o mundo... Mcfly! – Então tocou uma vinheta escrota, da abertura do programa de entrevistas.
- Boa noite, Daniel! Posso te chamar assim?
- Ou de ! – Eu ri – Boa noite!
- Primeiramente, é um prazer imenso finalmente conhecê-lo!
- Obrigado!
-E então, todos nós sabemos que vocês do Mcfly atingiram um sucesso mundial. Posso perguntar como isso foi possível?
- Bom, na verdade tudo começou quando encontrei em um teste para uma boyband, onde eu me escrevi por engano, pensando que era pra uma banda de rock. compunha para outra banda na época, então nos unimos e passamos meses em um hotel compondo novas músicas para nossa futura banda. Depois encontramos os outros caras, fizemos alguns testes e eles entraram. Até hoje não sabemos como fomos acabar tão famosos! – Eu concluí sorrindo.
- Então quer dizer que você e foram os pioneiros?
- Sim.
- E sobre seu primeiro álbum “Room on the third floor”, ele por acaso tem alguma relação com o hotel em que você e ficaram hospedados?
- Tem sim, nós compúnhamos lá, noite e dia, até criarmos a música que deu nome ao álbum.
- Então vocês não esperavam ser tão famosos assim, quando tudo começou?
- Não. Nosso foco era o público britânico, que foi conquistado de imediato pelas canções maravilhosas que compunha e pelo estilo das músicas, que rapidamente se tornaram populares.
- Certo.
Meu ponto de vista - E sobre sua relação com os outros integrantes da banda, correram muitos boatos, certo?
- É verdade. Falaram de tudo por aí. – Ele disse com um sorriso brincalhão no rosto, estava muito envergonhado.
- E uma das coisas que falaram foi sobre um caso secreto, disfarçado por brincadeiras, entre você e . Isto era verdade, ou é? – Eu ri.
- Haha! De forma alguma! Desde que eu e começamos a compor, ele já tinha uma namorada, e ainda a namora até hoje, por sinal. E eu também sou hétero.(risos)
- E quanto aos beijos e outras carícias íntimas entre vocês durante os shows e tudo mais?
- Tudo nunca passou de amizade, e uma amizade muito forte, inclusive. Nós somos como irmãos, mas ambos gostamos de zoar bastante, só isso. – “Nossa, pobre ”, eu pensei naquele momento.
- E quanto aos limites entre vocês dois? A namorada de nunca teve ciúmes?
- Não havia limites em nossas vidas durante muito tempo. E que eu saiba ela nunca reclamou, não. Haha.
- E sobre o boato dos outros integrantes? Eles realmente tem um caso?
- Um caso?! Eles estão noivos! – A platéia gargalhou ruidosamente e eu soltei uma risada e depois me contive, conservando o silêncio que se fazia ao meu redor. Então observei as expressões sérias dos meninos, que assistiam ao programa sentados na cama ao meu redor. estava em uma poltrona que ele colocara ao lado e me abraçava, sentada atrás de mim.
- Bom, na verdade, eu não estou autorizado a comentar sobre este assunto. – E esta foi a menor mancada de naquela noite.
- Pronto! Desculpem o atraso! – Jack irrompeu pelas portas do quarto com gotas de suor a escorrerem-lhe do rosto. – O que eu perdi?
- Só o início – Eu disse – Que bom que você veio, que injustiça seria se você, que teve todo o trabalho de instalar a TV aqui, não assistisse ao programa com a gente! – Eu terminei rindo.
- Haha. Tem razão. – Jack respondeu.
- Sente-se aqui. – Eu sugeri apontando para um lugar vazio ao meu lado esquerdo, e ele o fez.
- Obrigado, senhorita. – Ele disse encarando meus olhos profundamente, e eu retribuí seu olhar, perdida por um momento no brilho do dourado dos seus olhos.
- N-não precisa me chamar assim, Jack. E de nada – Eu completei sorrindo – Me chame de , por favor.
- Está bem – Ele disse envergonhado, desviando seu olhar para a televisão.
- Mas então, , sabemos que você já namorou algumas das últimas miss Inglaterra, certo? Mas recentemente terminou o namoro com uma delas. Posso perguntar por quê?- Eu não gostei nada daquilo.
- Na verdade faz mais de seis meses que tudo terminou. Quanto ao motivo, posso dizer que o que procurávamos um no outro não era a mesma coisa, então... Não deu certo.
- E quem terminou? Você ou ela?
- Fui eu.
- E você a amava, ?
- Amor... É uma palavra muito difícil de ser aplicada... Mas acho que não, nunca a amei. Putz, ela vai me matar na próxima vez que nos encontrarmos! Haha! – A repórter riu também e prosseguiu:
- Bom, então é melhor mudarmos de assunto: E atualmente? Tem alguém em sua vida, ?
Ele hesitou durante um segundo e meio e respondeu: - Não.
- Está solteiro, então! Ah, bom saber, não é meninas? – Ela perguntou entusiasmada encarando a platéia e sorriu presunçoso em resposta aos gritos e risos. E eu pude sentir a boca de escancarar-se atrás de mim.
- O quê?! – Ela exclamou nem meio segundo depois. Sua surpresa somente espelhava a minha. Ninguém respondeu.
- Você tem malhado, ? Porque você revelou uma vez para uma revista que tinha dificuldade para ganhar peso. O que mudou?
- O que mudou foi que eu cresci, encorpei, passei de um garoto para um homem. – E fez o sinal de agradecimento a Deus, todos riram.
- E como o fez! – Ela disse sorridente demais, encarando seus braços fortes, seu peito largo e as veias grossas de seu pescoço avermelhado. Ela era realmente bonita, e com certeza se insinuava para ele jogando seus cabelos longos e louros de um lado para o outro e cruzando e descruzando as pernas sem a menor descrição.
- Tá me zoando, né?- Ela quase gritou indignada.
- Shh! – Eu disse
- ! – Eu não respondi.
- Obrigado, Monique. Você também não está nada mal...
-Depois de todas aquelas plásticas! – completou, provocando risadas nervosas nos meninos e em . Jack permanecia calado, encarando severo a televisão. Eu não sabia o que fazer, sentia ciúmes e estava decepcionada com . Jack com certeza percebera e tomara minhas dores. Ele me encarou pesaroso enquanto eu observava a estampa do lençol sobre minhas pernas.
- Não fique assim, sen...
- Estou bem, obrigada – Eu respondi com a visão embaçada por lágrimas.
- Muito obrigada, , ficamos por aqui, pessoal! Tenham uma ótima noite!
- Boa noite! – encerrou.
Eu desliguei a TV imediatamente, desolada, imaginando que ao mesmo tempo ele suspirava aliviado daquela tortura.
- Ah, se eu pego essa Monique... Faço um estrago na cara dela que nem todas as plásticas do mundo poderiam consertar dessa vez! – disse, rindo de si mesma. Eu não poderia negar que estava preocupada e receosa. Não foi legal da parte de não assumir nosso namoro... Mas ao mesmo tempo eu não conseguia afastar meus pensamentos de meu irmão... Como ele estaria? Será que já havia se recuperado, saído da incubadora? Eu sabia, pelo menos, que não podia deixar tantas questões me perturbarem por muito tempo... Eu teria que resolver aquilo tudo, e logo.
Ponto de vista do
O programa terminou e eu suspirei aliviado com o fim daquela tortura. Monique levantou-se rapidamente e veio até mim para me cumprimentar com dois beijos no rosto. Eu a saudei educadamente e ela me convidou para sairmos dali “agora mesmo”, com uma amiga dela, para comemorarmos o sucesso da entrevista. “Nossa audiência foi absurdamente alta!” Ela comentou, e eu sorri pensativo. Que mal poderia fazer? Eu não precisava demorar muito.
- O meu chefe vai ficar super contente! Ai, obrigada ! Foi tudo graças à você!
- Imagina...
- E aí? Vamos então?
- É claro! – Eu respondi decidido – Mas não posso demorar.
- Ah, nós também não podemos, não se preocupe! – Ela ria animada agora acompanhada de sua amiga, uma morena alta chamada Fernanda, tinha uma boca grande, olhos bem verdes e uma voz bonita.
- Então vamos! Damas primeiro, por favor. – Elas riram entusiasmadas. Eu as levei em meu Porsche Cayman preto, modelo 2009, até o bar que me indicaram. Parei em frente, e logo um manobrista apareceu, para minha alegria. O lugar era top mesmo.
- O que vão querer? – Eu perguntei.
- Ah, pra mim um Martini, por favor – Respondeu Monique.
- E pra mim uma tequila! – Disse a morena, sorrindo.
- Ei, colega! Vamos querer uma dose de Martini, uma tequila e um whisky, por favor!
- Sem problema. – E nós bebemos a primeira dose, a segunda, a terceira... Conversando animadamente sobre ex-namorados e namoradas. Até que surgiu o assunto sexo.
- Vou querer uma vodka agora!
- Nós também! – Gritou a morena. – E lá se foi mais uma rodada. Elas já estavam totalmente bêbadas quando pedi uma tequila. Eu já estava ficando bêbado quando a morena revelou que já fez programa, eu mal podia acreditar.
-Hahaha! Não brinca!
- Verdade!!
- Ah! Hahahaha – Nós gargalhávamos sem nos lembrarmos de que havia pessoas ao nosso redor. Até que completamente bêbados, fomos para o apartamento de Monique, e lá transamos até eu me lembrar de que esperava por mim. Voltei para casa quase voando em meu porsche, morrendo de sono e totalmente embriagado ainda.
Meu ponto de vista
Eram mais de três da manhã. ainda não aparecera. Eu conseguira convencer os garotos a irem dormir, porque eu estava bem, sozinha. Jack foi o último a sair, logo depois de , preocupado comigo e com também. “Ele deve ter perdido a hora” ele comentou. E eu não escutava nada ao meu redor. Precisava ouvir a voz dele, de . Eu tentara ligar para seu celular, mas estava desligado todo o tempo. Eu ligara, a partir do horário em que acabou o programa, uma vez a cada duas horas, e nenhuma tentativa funcionou. Idéias horrendas rondavam minha mente aterrorizada, e eu tentava afugentá-las, imaginando um possível assalto, um engarrafamento, um problema em seu carro ou algo assim. Tudo isso ainda era pior do que aquilo, que eu me recusava a dizer. Então decidi me levantar, e sem dificuldade eu o fiz, cambaleando de um lado para o outro em frente às portas duplas do grande quarto. Até que ela se abriu lentamente, revelando um distraído.
- Onde você estava?
- Ah!! Meu Deus, mulher! Você me assustou! – Ele exclamou fechando os olhos com força.
- Me desculpe, mas você também me assustou, ! Onde você estava? Já são mais de três da manhã!
- Ah... Eu fui ao programa... – Ele disse com a voz pastosa, a expressão de confusão.
- Isso eu sei... – Ele tropeçou em seus próprios pés, apoiando-se na parede antes de cair – ?! Você está bem?
- Anh... Não. Preciso dormir. – Ele disse caminhando até a cama com os olhos entreabertos.
- Você está bêbado! – Eu concluí.
- Surpresa! – Ele disse com sarcasmo, eu não estava nada contente.
- , me diga onde você estava.
- Não é óbvio? Eu estava no bar... Aí perdi a hora... E estou aqui! Com você. – Eu não precisei hesitar.
- Mentira.
- O quê?!
- É mentira!
- O que é, você lê mentes agora, é? – Ele gritou.
- Não grite comigo, Daniel!
- Quem você pensa que é pra me dar ordens, mulher?! – Ele gritou ainda mais alto.
-Não pode ser... – Eu murmurei – Você... Você estava com outra mulher! A repórter, era?
- Já disse que não.
- Não minta para mim! – Eu disse chorando.
- Está bem!! Está bem! Eu estava com elas, ok? Fomos pra um apartamento...
- Você me traiu?! – Eu chorava cada vez mais.
- Traí, porra! Monique, vai dormir! – Ele resmungou alterado.
- Meu nome é ! Oh, meu Deus... Meu Deus, ! O que você fez?! – Eu estava a ponto do desespero.
- Cala essa boca e vai dormir! – Ele gritou em meu rosto e em seguida me empurrou para fora de seu caminho até a cama. Eu cambaleei e caí no chão. Ele se sentou na cama, e eu me levantei, caminhei até ele secando as lágrimas e dei-lhe um tapa no rosto. Ele se levantou imediatamente e me estapeou de volta. Eu me virei com a mão sobre a face esquerda e mais lágrimas escorreram.
- Seu idiota!! – Eu me virei para ele e finalmente gritei, o empurrando e me virei para correr para bem longe dali, mas ele me puxou pelo braço exclamando: “Volta aqui!”
- Me larga!! – Eu gritei chorando antes que ele me beijasse, segurando meus braços com força e ignorando minha resistência.
- Ah!! Tire as mãos de mim! – Eu gritei histérica.
- Para com isso!! – Ele gritou mais alto do que eu, chacoalhando-me violentamente.
- Não!! – Eu berrei, e foi quando o ruído forte da porta sendo aberta à força chamou nossa atenção.
- O que está acontecendo aqui?! – gritou furioso enquanto Jack voava sobre . Eu estremeci, imaginando a confusão que se seguiria.
- Não! – Eu sussurrei observando Jack segurar pela gola da camisa, enquanto me puxava para um abraço.
- Shh! Está tudo bem. Não chore, maninha.
- Não o machuquem, ... Ele está fora de si.
- Eu percebi pelo cheiro. – Ele respondeu com um tom desaprovador, encarando . “Ei, ei, Jack! Sou eu, !”, ele dizia incompreensível. Eu sentia vergonha por ele.
- O que você fez?! – Jack perguntou para , controlando sua raiva sem soltá-lo.
- Primeiro tire as mãos de mim! – riu sem graça alguma.
- Não, Jack, não vale a pena... – Eu me desvencilhei de e disse entre soluços, me aproximando de Jack. Eu insisti e ele o soltou, virando=-se para mim:
- Me perdoe, senhorita. Tenha uma boa noite! – E saiu rapidamente pelas portas do quarto.
- Venha, , vamos sair daqui. – disse com carinho, me envolvendo em seus braços.
- E você, não saia daí! – Ele disse à , severo.
-Tudo bem, , já passou.
- Mas, ... Eu estou com medo!
- Do quê? – Eu acenei negativamente, fazendo careta de choro.
- Pode dizer, maninha... – Ele insistiu.
- Ah, ... Eu tenho medo de que ele não me ame mais.
- Olha, eu sei que ele se descontrolou, gritou com você, mas ele sempre faz isso quando está bêbado. Não era ele, . – Eu continuei chorando sem conseguir acreditar naquilo.
- Não sei, ... Você não faz idéia...
- O quê? O quê você não quer me contar?
- Eu... É que eu... – Eu soluçava ainda amedrontada, lembrando dos detalhes que não poderia imaginar.
-Shh... Está tudo bem. Não tenha medo. – Permanecemos abraçados por mais um bom tempo, sobre uma cama desconhecida, em um quarto desconhecido, em outro corredor do segundo andar. Até que eu consegui dizer enfim:
- Ele me traiu, . Ele me contou. – Ele separou nosso abraço para me encarar nos olhos:
- O quê?!
- Uhum, é verdade.
- Não pode ser... – Ele sussurrou me abraçando novamente. E nenhum de nós falou mais nada sobre o assunto.
- Vocês brigaram, eu escutei os gritos.
- Uhum.
- Ele machucou você? – Eu senti o ardor em meu rosto aumentar, me lembrando do tapa.
- Bom... Ele me jogou no chão, eu fiquei com raiva e dei um tapa na cara dele!
- Você bateu nele?
- Aham.
- Você não devia fazer isso quando ele está assim. Ninguém sabe o que ele poderia ter feito...
- Eu sei. Ele me bateu de volta. – não respondeu de imediato e pegou meu rosto devagar, observando minha face esquerda seriamente.
- Eu sinto muito, . Ele vai pagar por isso!
- Pelo amor de Deus, ! Não diga uma coisa dessas... – Ele não respondeu.
- Eu não sei o que vou fazer. – Eu suspirei sombriamente.
- Vai ficar aqui até se recuperar, oras. – Eu considerei a opção e adormeci, temerosa pelo que aconteceria no dia seguinte. E adivinhe: Tive o mesmo pesadelo de novo.
Ponto de vista do
- Ah, não! – Eu resmunguei quando perguntou se eu me lembrava da noite passada. – Por enquanto eu sei que enchi a cara. Minha cabeça vai explodir!
- Como você pode não se lembrar?!
- Aii! Não grita, porra. Hmm... Me ajude a lembrar. Peraí, cadê a ?
- Escuta, presta atenção: Você foi para o programa de TV, deu a entrevista...
- Certo! E depois?
- Bom, eu não estava lá, não é? Mas acho que você saiu para beber, foi pra casa de alguma garota, traiu , voltou pra casa, brigou com ela, contou que a traiu e ainda bateu nela!!
- Ah, não! Eu comi mesmo aquelas piranhas!
- Aquelas?! – berrou.
- Shhhhh!! Você quer que eu seja esquartejado?
- Se você for, vai ser por mim.
- , olha só, eu me lembro de tudo agora! Eu perdi o controle totalmente! Estava muito bêbado... Preciso explicar pra ela.
- Ela sabe de tudo isso. Mas se é motivo para ela te perdoar, eu não sei! Vê se pensa em algo para reconquistá-la, e rápido! Ela ainda está dormindo. – Ele sussurrou severamente.
- OK, OK... Mas me ajude a pensar!
- Não! Você já teve a sorte de eu não ter quebrado sua cara!
- , me escuta...
-Me escuta você, ! – Ele me interrompeu – O que você estava pensando?! Pensou que ela não ia descobrir, é? Que não teria problema? Bom, surpresa!! Ela sabia de tudo bem antes de você chegar aqui. Eu não tinha nem imaginado, mas já podia ver nos olhos dela a dor da traição.
- Ótimas palavras, , por isso é tão bom compositor.
- Cala essa boca, !
- Aaai, caralho! Para de gritar! Minha cabeça!
- Você acabou de trair sua namorada e só está preocupado com sua cabeça! Desisto de você. – Ele disse virando as costas para mim.
- Não, ! Está bem, está bem... Me ajude a fazer uma surpresa pra ela. Por ela , por favor.
- Está bem, mas só porque ela merece! Merece saber que babaca que o namorado dela é – Ele disse mal-humorado.
She falls asleep and all she thinks about is you – Ele cantou cabisbaixo, sem me encarar. Eu não respondi, imaginando que ele pararia por aí. She falls asleep and all she dreams about is you – Mas não, ele cantou a música inteira, me comovendo bastante. When she's asleep the air she's breathing is for you
Oh why she wants to live
She's not got that much more to give – E neste verso eu parei pra pensar em como aquilo se aplicava tão bem em sua realidade, não tinha mais tanto para dar, afinal. E eu, idiota, desperdiçando cada segundo precioso que ela tinha ao meu lado.
[…] Capítulo 15 - O Pesadelo de novo. “Ele gritava aos prantos, fazendo-me chorar junto com ele. E eu que eu mais queria era poder afundar meu rosto no peito dele e ser consolada, sem abrigada com carinho pelo resto dos dias, até o fim.”
Acordei ao som de “The heart never lies” no velho violão de . Ergui-me rapidamente, procurando pela origem do barulho. Ele estava do lado de fora do meu quarto, e logo vi abrindo as portas lentamente. O volume da música aumentou significativamente, e meu amor entrou, trazendo com ele uma forte luz.
“Some people laugh
Some people cry
Some people live
Some people die
Some people run
Right into the fire
Some people hide
Their every desire”
Nesta parte eu já estava chorando, mas quando ele continuou, cantando com toda sua alma a me encarar com ternura, eu não pude me conter, já soluçava em pura emoção.
But we are the lovers
If you don't believe me
Then just look into my eyes
‘Cause the heart never lies
Ele cantou sentando-se na cama, ao meu lado, a me encarar profundamente. Aqueles olhos tão lindos me suplicavam perdão, e eles realmente não estavam mentindo, eles me amavam.
Some people fight
Some people fall
Others pretend
They don't care at all
If you want to fight
I'll stand right beside you
The day that you fall
I'll be right behind you
To pick up the pieces
Então entrou, cantando junto a .
If you don't believe me
Just look into my eyes
'cause the heart never lies
Whoa x2
Another year over
And we're still together
It's not always easy
But I'm here forever
We are the lovers
I know you believe me
When you look into my eyes
Because the heart never lies
Yeah we are the lovers
I know you believe me
When you look into my eyes
'cause the heart never lies
Whoa x2
Another year over
And we're still together
It's not always easy
But I'm here forever
Yeah we are the lovers
I know you believe me
When you look into my eyes
Because the heart never lies
'cause the heart never lies
Because the heart never lies
Eu não disse nada quando eles terminaram, apenas enxuguei minhas lágrimas e eles continuaram, tocaram All about you, Home is where the heart is, Walk in the sun, Sorry’s not good enough, Good night e Falling in love. Foi maravilhoso, eu chorei em todas, louca para que terminassem e eu pudesse abraçar cada um com muito carinho.
- , meu amor... Eu sei que pedir desculpas não é o bastante, por isso cantei pra você. Mas ainda assim, não espero que me perdoe e se me odiar para sempre também não vou reclamar. Mas eu precisava dizer... Apesar de tudo, nunca deixei de te amar e nem vou deixar nunca, você precisa acreditar em mim, voltar a confiar. Se não conseguir... – Ele hesitou encarando o chão – Bom, então descobriremos uma forma de fazer dar certo, se você quiser, é claro. Eu me sinto muito mal pelo que aconteceu, eu não... Eu não pensei, meu amor. Eu não sei o que dizer. Mas eu te amo, prometo que nunca mais vou trair você! Nosso amor... É tudo o que eu tenho! Por favor, amor, diga alguma coisa. – ele terminou chorando, pela primeira vez. Eu observei aquelas lágrimas, encantada. E disse com ternura:
- Era tudo o que eu precisava saber, meu amor. Mas ainda preciso de um abraço seu... – E ele colocou o violão sobre a cama e me abraçou com força, afundando o rosto em meus cabelos, e eu acariciei os seus, expirando com força o cheiro de seu pescoço, para nunca mais esquecer aquele momento, ou aquele cheiro delicioso...
- Obrigado! Eu te amo, te amo demais, meu amor.
- Eu também, ... – nos observava aos prantos, e eu pus-me a rir e chorar ao mesmo tempo ao observar aquela cena tão linda e engraçada ao mesmo tempo.
- ...! – Eu resmunguei para ele, abrindo os braços, e ele juntou-se a nós com muito carinho.
- Estou muito feliz por vocês, maninha. – Ele disse. – Agora vamos voltar para seu quarto, por favor, antes que os médicos vão até lá e dêem queixa na polícia pelo seu desaparecimento.
- Ok – Eu disse sorrindo. E me carregou até lá, enquanto eu beijava seu rosto pelo caminho. Quando chegamos encontramos Cameron, Chaase e Foreman a encarar com espanto minha cama vazia, e respirarem aliviados ao nos verem entrar pelo quarto.
- Bom dia! – exclamou feliz.
- Bom dia... – Todos disseram.
-Eu dormi em outro quarto, mas já estou de volta – Declarei sorrindo sem a intenção de contar-lhes o que se passara na noite passada.
- Acabei de ter uma idéia – disse ao me colocar sobre a cama.
- Qual, meu amor?
- Vamos dar uma festa!
- Uma festa?
- Sim! Para comemorar!
- Certo, mas comemorar o quê, exatamente? – perguntou
- A melhora de , é claro! O que você acha, meu amor? – Ele perguntou dirigindo-se a mim.
- Ahn.. Eu não sei, . – Eu disse quando ele pegou minha mão. – Pode ser legal... Mas quem iríamos convidar?
- Ora, quem você quiser, é claro! – Ele disse rindo.
- É, pensando bem, acho que vai ser ótimo uma festa por aqui! – disse alegre.
- Opaa, alguém falou em festa?! – exclamou irrompendo pelas portas duplas de meu quarto, com um sorriso de orelha a orelha.
- !
- Bom dia, ! Como você está esta manhã? Ah... Parece que alguém resolveu vir para casa, afinal... – Ela disse encarando e se dirigindo à minha cama.
- Hah. Estou bem – Eu ri sem graça.
- Hmm... Você andou chorando, moçinha? O que aconteceu? – Não se podia esconder nada de , ela era uma detetive às vezes.
- Nada, . Depois conversamos, está bem?
- Hmm, OK. – Ela disse desconfiada. a encarava preocupado. Provavelmente não considerara que precisaria não somente do meu perdão, mas do dela também. E provavelmente ele estava “ferrado” com ela.
- Bom, – Cameron disse. – Hoje queremos fazer um exame diferente com você. Vamos precisar de uma esteira. Vocês tem alguma aqui?
- As da academia servem? – perguntou.
- Vocês tem uma academia? – Eu perguntei boquiaberta. – Porque nunca me contaram?
- Sei lá – riu.
- Ótimo. Então... Pode ser agora? – Cameron perguntou.
- Pode ser. – Eu disse ainda rindo.
- E depois vamos almoçar, né? – perguntou.
- É, por mim pode ser...
- É o seguinte, você corre até quando conseguir. E depois disso corre mais. Não pare até suas forças acabarem completamente, está bem?
- Wow! – Eu ri – Está bem. Já vi que vai ser divertido. Ainda bem que os meninos não estão aqui, né?
- Com certeza. – Cameron respondeu bem-humorada. – Então, está pronta? Podemos começar?
- Sim! – Eu disse encarando , que me observava da esteira ao lado, correndo contente.
O exame ocorreu exatamente como doutora Cameron descrevera. Eu corri até não agüentar mais, mas continuei. E depois corri um pouco mais, suando e arfando, a ponto de desmaiar. Mas continuei, senão o resultado do teste poderia dar errado. Para minha infelicidade, no final do exame, apareceu e ficou ao lado dos médicos, me observando preocupado. Eu tentei sorrir para ele, mas me pareceu, no momento, que de nada adiantou. Eu estava muito mais forte naquela época, do que a poucas semanas atrás. Eu me surpreendia ao me ver correndo e suportando continuar por tanto tempo. Eu decidi que não pararia até meu corpo parar sozinho. E assim aconteceu.
- , você está bem? – Chaase perguntou observando os grandes aparelhos que eles conectaram a meu corpo. E em meio segundo eu estava no chão atrás da esteira.
- Me desculpe! – Eu murmurei – Eu caí.
- ! – gritou correndo até mim.
- Acho que agora chega – Escutei a voz de House não muito próxima, declarar seriamente. me levantou, mas minhas pernas não quiseram suportar meu peso. A academia começou a girar e eu me lembrei daquela sensação familiar.
- Ah, não! – Eu murmurei observando os médicos e a me encararem com medo – Que droga! – E me pegou em seu colo, dizendo confiante:
- Está tudo bem. Vamos entrar.
- Que susto você nos deu! – sussurrou, sentada ao meu lado na grande cama. – Você está péssima! – Ela disse rindo, e eu a acompanhei mentalmente. Eu estava economizando forças, pois sentia que se eu apenas falasse, desmaiaria.
-Pare com isso, ! Pare de lutar! Eu sei o que está fazendo, eu te conheço! – Ela sussurrou severa. E o pior era que ela realmente sabia do que estava falando. Eu lutava contra a inconsciência há um bom tempo, e continuava naquele momento.
- Feche os olhos, relaxe, . Você vai estar de volta logo, logo, eu prometo! – Meus olhos se encheram de lágrimas de medo de desmaiar, mas confiei nela e suspirei exausta.
- Quando você acordar a gente conversa. – Ela sussurrou bem antes de eu adormecer.
- O que você tem, ? Conte pra mim!! – Eu o observava assustada.
- Não... Não! – Ele respondeu aos prantos.
- Pare de chorar! Sorria pra mim, por favor!
- Você não entende... – Ele disse em meio a um suspiro.
- O quê foi??
- O que houve? – Eu insisti.
- ... – Eu disse antes de começar a chorar também.
- O que foi, meu amor? – Eu insisti pela última vez, e ele me fitou com os olhos molhados como os meus e disse-me enfim:
- Você sabe o que é, .
- Sei? – Ele acenou confirmando, e eu pus-me a pensar sobre aquilo.
- Eu posso saber, mas não entendo! Me ajude a entender!- Ele soluçava freneticamente e acenava negativamente, negando-se a me responder. O silêncio pairava, mortal, e eu suspirei vencida, derrotada, e fechei os olhos deixando meu corpo cair sobre o dele. Então ele se moveu levemente e disse:
- Você... Você vai morrer. – Minha garganta se fechou e eu comecei a sufocar. – Você vai me deixar! – Ele gritava com uma expressão de dor no rosto, eu não me debatia ou tentava respirar. Tudo ficou escuro, eu achei que tinha morrido mesmo.
- Psiu! Amor... – sussurrou em meu ouvido.
- Hmm. – Eu resmunguei sonolenta, minha cabeça doía.
- Você precisa comer alguma coisa... – Ele disse me abraçando por trás, aconchegante.
- Uhum. – Eu murmurei quase adormecendo novamente.
- Não dorme de novo, por favor... Eu não vou conseguir te acordar outra vez. – Ele suplicou, eu podia sentir seu sorriso através de sua voz. Então eu me virei para ele, ainda de olhos fechados e disse:
- Minha cabeça.
- O quê?
-Minha cabeça está doendo, .
- Calma, vamos dar um jeito nisso. Quer que eu chame os médicos?
- Acho que é melhor, né? Você já os paga uma fortuna para ficarem aqui. – Ele não respondeu. – Ou você pensou que eu pensava que eles faziam caridade? – Ele soltou uma gargalhada gostosa e eu sorri.
- Tá bom... Vou chamar eles. – Ele disse se levantando e saindo prontamente em busca de Cameron, Chaase e Foreman. E talvez House também se eu tivesse muita sorte. Meus olhos se encheram de lágrimas, a luz feria minha visão mesmo com os olhos fechados.
- Ah! E, ?
- Sim?
- Chame a também, por favor. Preciso falar com ela.
- OK. – E ele saiu, bem disposto. Não demorou nada para chegarem os médicos preocupados, acompanhados de , à vontade.
- ? Você está bem?
- Ah, sim. – Eu respondi ao doutor Chaase. – Só estou com uma dor de cabeça estranha.
- Me mostre aonde dói. – Ele disse ao se aproximar com curiosidade. E eu apontei para ele os locais.
- E é uma dor latejante ou constante?
- É constante. Como uma enxaqueca.
- Hmm. – Ele disse pensativo, a tomar notas em uma prancheta. - Tudo bem, vou administrar um remédio para a dor. Não se preocupe, vai passar logo.
- Obrigada. – Eu disse com os olhos ardendo devido à dor de cabeça.
- Ei, . – disse sorrindo de leve, ao se sentar no pé de minha cama. E eu sorri em resposta, um pouco preocupada. O que estaria, afinal, acontecendo comigo?
- É só isso ou está sentindo algo mais?
- Nada além do normal. Muito obrigada à todos. – E eles sorriram ou acenaram em resposta, se retirando do quarto lentamente.
- Se sentir alguma coisa, qualquer coisa, pode nos chamar imediatamente. – Disse a doutora Cameron, com um olhar que me pareceu um pouco amedrontado.
- Quer que eu as dê licença para conversarem? – perguntou um pouco desconfortável, o que eu estranhei.
- Por favor, querido. – E ele acenou prontamente, me beijando a testa antes de sair e nos deixar sozinhas. ainda me observava do pé da cama, com o olhar perdido em pensamentos, fixado em meu rosto.
- ?
- Oi? – Ela pareceu acordar de um sonho profundo.
- Você queria falar comigo... O que era?
- Ah, sim! Eu só queria dizer... – Ela disse se levantando e sentando-se um pouco mais perto de mim. – Que ando um pouco preocupada com você.
- Certo.
- É que... Parece que seja lá o que for que você tem, não está melhorando. Já tem um bom tempo que está doente e nunca se recupera.
- Não faz tanto tempo assim...
- Pense bem, : Desde que você chegou aqui você tem estado de cama. Foram raras as vezes em que se sentiu realmente saudável, e você sabe disso. – Eu não respondi, concordando com ela no fundo do coração.
- Você não acha estranho?
- Uhum... – Eu considerei.
- Tem acontecido alguma coisa desde que chegou aqui, ? Que não me contou?
- Não! Nada, , nada mesmo! Você sabe que eu conto tudo pra você.
- Está bem, eu confio em você. Mas tem alguma coisa errada...
- Isso tem. – Eu disse entristecida. – Tenho medo de que seja algo grave.
- Você com medo?
- Não sei ... Tudo está tão diferente de uns tempos para cá. Eu não me surpreenderia se já tivesse me tornado uma covarde.
- Não diga isso, ! Nunca diga isso... Você nunca será covarde. É a pessoa mais forte e corajosa que eu conheço, você sabe. E eu admiro tanto isso em você... – Ela disse emocionada.
- Obrigada. – Eu disse quase chorando. – Você tem sido minha melhor amiga por todo esse tempo... Nem sei como agradecer. – E ela abriu um lindo sorriso, e eu a acompanhei, recebendo seu abraço perfumado.
- Eu te amo. Não pense mais sobre isso. Eu vou sempre estar aqui, por você.
- Eu também. Mas aninha... Tem algo aqu ainda não te contei sim. Sobre a chegada de ontem de madrugada. – Ela me encarou sem expressão e disse “Sim?” e eu contei tudo a ela, implorando para não comentar nada com ou com ninguém mais. Ela ficou indignada, mas acabou concordando, afinal estava bem claro que eu não tinha mais forças para conflitos.
No dia seguinte, doutora Cameron anunciou que em breve teriam a necessidade de encaminhar-me a um hospital para a realização de testes para o meu diagnóstico. Eu concordei de mau-humor e não houve discussões. No mesmo dia, ao anoitecer, quando eu conversava com sobre meu irmão recém-nascido, doutor Chaase nos interrompeu, adentrando o quarto com um ar preocupado.
- , preciso lhe contar uma coisa. – Disse-me o Doutor Chaase, segundos antes da revelação mais importante da minha vida, e talvez a mais surpreendente também.
- O que é, Chaase? – Eu perguntei amedrontada. Aquela cena era familiar demais. Eu já vira aquela expressão antes. E eu esperava por más notícias quando ele respondeu:
- Bom... Importa-se se nos falarmos a sós? – Eu olhei para , e este o perguntou desconfiado:
- Por quê?
- Bom, certos assuntos são pessoais. Fica a critério do paciente. – Chaase terminou voltando-se para mim.
- Por favor nos dê licença, Daniel. – Disse a doutora Cameron. E se virou para mim e perguntou:
- ?
- Vai, ... – Eu disse encarando os cobertores. E ele se foi sem dizer mais nada.
- Diga-me de uma vez, por favor. – Eu disse a encarar o doutor Chaase, que não conseguiu abrir a boca. Então de repente doutor House apareceu, fechando as portas com estrondo atrás dele e dizendo:
- Eu contei pra ele.
- O quê?! – Exaltou-se a doutora Cameron, indo de encontro a , no corredor, e fechando a porta mais uma vez, ao sair.
- Contou o quê? – Eu perguntei.
- Vamos lá, Chaase, você consegue. Não vai doer. – House disse sarcástico. Eu não podia mais suportar aquele suspense.
- O quê é? O que aconteceu, pelo amor de Deus!? – E Chaase finalmente conseguiu se pronunciar:
- Ah, é... É que...
- Você tem câncer! – House completou o interrompendo.
- Câncer? – Eu perguntei surpresa.
- É... Na verdade só temos suspeitas por hora. Ainda precisamos da confirmação de alguns exames, e também não sabemos qual câncer você tem. – Doutor Chaase se apressou em explicar. No momento só havia uma coisa em minha mente: . Seu rosto permanecia em minha imaginação, lindo, concreto. E eu sabia que tinha que ser forte. Não me abalei muito com a notícia completamente inesperada e nem pensei muito sobre isso. Eu me concentrava em ser forte a partir daquele momento, até aquilo tudo acabar, ou poderia se abalar de tal forma que jamais seria o mesmo. E eu faria isso por ele, era muito pouco comparado ao que ele fazia por mim.
Minha reação além da surpresa foi um súbito medo, que somente umedeceu meus olhos. Estes logo secaram-se novamente devido a todo o calor que parecia rondar minha pele, mas eu sentia frio... O médico estranhou minha reação aparentemente fria e indiferente e permaneceu me encarando com seus grandes olhos verdes esbugalhados. Mal sabia ele quanto autocontrole aquela postura resignada e tranqüila me custava e machucava por dentro. Apenas assenti calmamente com a cabeça e disse, depois de respirar bem fundo:
- Eu entendo. Quais são minhas chances? – Ele percorreu o chão com os olhos, hesitando brevemente, e eu esperava pela resposta com uma expressão despreocupada. E então sua expressão passou de surpresa para amedrontada e ele disse com os olhos se encharcando de lágrimas:
- Bom, ainda temos que confirmar se é o tipo de câncer que estamos pensando. Mas se estivermos certos, no início do tratamento as chances são poucas, mas devem evoluir para até 30% até o seu término.
- Quanto tempo?
- Aproximadamente um mês de tratamento. A primeira fase. – Ele respondeu prontamente, mais contido.
- Não... Quanto tempo eu tenho? De vida. – E esta pergunta o pegou de surpresa, e após gaguejar um pouco ele disse, sério:
- Não podemos prever nada ainda. Como você está se sentindo? Posso fazer alguma coisa por você?
- Estou bem. – Respirei fundo pela última vez, fechando os olhos com força e disse:
- Pode sim, chame Daniel. – Ele acenou rapidamente e saiu pesaroso, aparentando dificuldade em dar cada passo, e ao abrir as portas devagar, disse:
- Como quiser, . – E se foi. Um minuto depois um confuso e preocupado irrompeu pelo quarto, escancarando as portas duplas.
Logo ele estava em meus braços, praticamente deitado em meu peito, com todo o corpo a retorcer-se sobre os lençóis, a rejeitar aquela verdade que nos rondava como uma névoa esbranquiçada, exercendo uma forte pressão ao tentar penetrar-nos. E se conseguisse ou não, nos mataria. Eu preferi manter-me em silêncio. Não sei o que poderia proferir minha língua se eu tentasse me comunicar. E espalhava os sentimentos que eu tanto me esforçava em esconder. E ele sabia. Todos sabiam. Passar por isso não deveria ser fácil pra ninguém.
Ele chorava em puro desespero, seus braços se fechavam ao redor de meu tronco, apertando-me com força sem que ele percebesse, e eu acariciava seus cabelos sem ver nada, sem sentir, com o olhar a perder-se no infinito vazio da parede em frente. Eu já me cansara de ser forte, mas era muito cedo para desistir. Então decidi dizer algo.
- ... – Eu sussurrei derrotada, quando uma lágrima de terror desceu lentamente pelo meu rosto contraído até atingir minha boca. E seu gosto era amargo e triste.
- Oh, meu amor! – Ele soluçava como uma criança. Estava inconsolável. Ele me abraçava com mais força a cada segundo, como que temendo me perder, prevendo meu desaparecimento repentino.
- Está tudo bem... – Eu tentava convencê-lo, mas ele não me ouvia.
- Câncer... Câncer! – Eu não suportava o efeito que causava aquela palavra, mas ele continuou, inerte – Câncer!! – Ele gritava aos prantos, fazendo-me chorar junto com ele. E eu que eu mais queria era poder afundar meu rosto no peito dele e ser consolada, sem abrigada com carinho pelo resto dos dias, até o fim. Até a manhã em que eu acordaria me sentindo perfeita, saudável e curada. Mas pensar assim era simplesmente egoísta, então afugentei este desejo, focando-me em livrar daquele pesar, daquela dor que eu o causara. Agora era tudo culpa minha. Parecia que meu pesadelo estava se concretizando, literalmente. Aquela cena que me perturbara por tanto tempo... No fim não passava de uma premonição.
Logo chegaram e os meninos, posteriormente avisados sobre minha doença, e não demorou para Jack entrar correndo em meu quarto, ofegando contra lágrimas que lhe molhavam a face. Os garotos tinham um ar fúnebre. E rezavam em silêncio, agrupados. Eu me senti em um funeral, parecia que a tragédia já havia ocorrido, naquele momento, o momento da notícia, da revelação cruel. E a partir de então era somente a espera. Uma espera torturante e lenta pelo velório, pelo adeus. Mas aquilo eu não queria aceitar, eu não podia. Minhas chances de sobrevivência eram pequenas, mas eu sobreviveria. Seria difícil, seria desgastante, mas eu estava determinada a fazê-lo. A causa não pertencia somente a mim agora. Eu tinha algo, ou melhor, alguém, por quem lutar. Minha família.
foi a última a receber a notícia. Provavelmente fora a última a ser encontrada, sempre enfiada em seus cantos, lendo, pensando na vida, comendo. Então ela entrou. Caminhou pelo quarto até minha cama, com a cabeça erguida e o rosto rígido, tentando conter as lágrimas. Ela assumira a mesma postura que eu, e somente sua visão já era um incentivo para mim. Ela encarara a batalha, se juntaria a mim para lutar, começando a partir daquele dia.
- Nós vamos sair dessa. – Eu disse mais para todos do que para . E todos concordaram entristecidos. - Não se preocupe, , querido... Ainda vamos ter muitas histórias pra contar. – Eu disse tentando parecer otimista, no que ele respondeu com um gemido entrecortado por um soluço, perto de meu pescoço. Eu peguei seu rosto, reunindo forças desconhecidas, e disse a ele:
- Confie em mim! Isso não vai nos abalar! Palavra de . – Eu terminei sorrindo, e ele pareceu menos desesperado. A idéia de perdê-lo, de perder minha vida, teria me amedrontado da mesma maneira, mas não pensei sobre isto naquela noite... Não pensei.
- Deus nos ajude. – Encerrou House, irônico. E antes de adormecer abracei cada um daquela casa por cinco minutos. Conversei com cada um, consolei e fui consolada. Dizem que são nessas horas que se descobrem os verdadeiros amigos. Se quem disse isto estava certo, eu sou a pessoa mais sortuda e feliz do mundo. Porque ninguém deve ter, sem merecer, tantos amigos que a amam de verdade, quanto eu. E naquele momento, me veio em mente a idéia da festa que queria fazer, para comemorar minha melhora. Parece que ela teria de ficar para depois.
Estávamos, e eu, deitados sobre o leito de meu quarto, naquela mesma noite, antes de eu adormecer. Encarávamos o vazio em frente, em silêncio. Eu suspirava de cansaço e de vontade de dormir, mas não apagara a luz. A superfície do lençol sob meu corpo era gelada. Eu mandara trocar todo o jogo de cama. Este, antes em tons de vermelho, bege e vinho, agora era totalmente branco, cada peça. não questionou minha escolha, mas nem eu mesma sabia explicar porque eu optara por aquela mudança. Eu simplesmente odiava aqueles cobertores pesados, com estampa carregada e cores fortes, apesar de bonitas. Mas porque exatamente eu decidira finalmente dar um fim neles, no exato dia em que eu recebera a notícia de que eu tinha câncer, ninguém jamais poderá desvendar. Foi dia 23 de janeiro.
Na manhã seguinte estávamos no helicóptero, a caminho do hospital. Eu estava deitada no banco de trás, com a cabeça sobre o colo de , e na frente estavam Chaase e o piloto, cujo nome eu não me lembrava. Não sei em quanto tempo, exatamente, chegamos ao hospital. E lá fiz outra série de exames, todos que você pode imaginar, eu fiz. Capítulo 16 – No Hospital. “E pareceu por um segundo que todo o amor, todo o amor que nos cercava não era suficiente. Ela se alimentava dele também, sobrevivendo, mas um dia aquilo iria acabar. Tudo. E naquele instante mudo e discreto, minha vida mudou.”
Ponto de vista do
O quarto para o qual fora levada era pequeno e aconchegante. Mal cabíamos todos lá, é claro, mas isso não importava. Nada importava eu acho. não ficou muito tempo internada, mas eu sei que cada minuto daqueles dias é uma lembrança ruim para ela. Câncer. Você não sabe o que é até te atingir em cheio, mais próximo e mortal do que você poderia imaginar. Mas o pior do câncer não é que mata as pessoas, mas que antes mata as esperanças e os sonhos de todos que dele se aproximam. E eu temia o dia em que ele me atingiria dessa forma, em que ele levaria minha paixão, a vida de minha vida. E este medo já era um sinal de desistência. Já era um sintoma. E eu espero que jamais saiba disso. Jamais saiba de como fui fraco, como envergonhei sua memória.
-. – murmurou com um pingo de emoção quando sua melhor amiga entrou no quarto, no primeiro dia de hospital de .
- Amiga! – A outra sorriu emocionada e cuidadosa.
-Eu te amo tanto...
- E eu estou cada vez mais apaixonada por você, sinto muito . – Ana Luiza disse virando-se para mim com um sorriso safado, todos rimos. – Você tem uma guerreira e tanto aqui... Tem muita sorte. – Ela continuou encarando com serenidade. Esta sorriu em agradecimento.
- Eu não vejo a hora de sair daqui amiga... E acabei de chegar! – riu-se sem graça alguma.
- Eu sei, te conheço bem coisinha... – respondeu pegando sua mão, resignada.
- Eu não quero que fique aqui. Quero que vá embora.
- Desculpe-me?
- Quero que vá embora daqui, . Odeio ver você aqui, tendo que engolir tantas desgraças por minha causa.
- Ah, entendi. Sua boboca... Nunca tive que engolir nada por você. Mas você por mim, sim. Lembra-se de John? – Ela perguntou referindo-se a alguém que eu não conhecia, que pelo visto as fizera passar por bons bocados. sorriu fracamente, fechando os olhos, e disse que sim.
- Tive que engolir uma garrafa inteira de “água”. – Ela desenhou as aspas no ar
- O que tinha ali? – eu perguntei, e elas me encararam como que se lembrando de que eu estava no mesmo quarto que elas.
- Ninguém sabe ao certo, mas muitas coisas mesmo. Uma mistura nojenta. – respondeu fazendo careta. – E ela fez isso pra não ter que dar um selinho no meu gato.
- Aquele jogo infernal... – murmurou se lembrando.
- Nunca mais jogamos nada parecido. – riu-se, e eu a acompanhei, me lembrando das loucuras que eu fizera jogando verdade ou conseqüência.
- Mas você escutou o que eu disse? Não suporto ter você por aqui no meio dessa situação... Prometo que visito você quando eu melhorar.
- Não vai precisar, eu já adoro aquela casa, a sua casa. Eu não devo demorar a aparecer por lá, te garanto. – sorriu, e continuou. – Bom, mas de qualquer forma você sabe que eu tenho que ir mesmo... Não demora nada e as aulas do meu cursinho vão começar. Esse ano eu passo no vestibular, não importa o que aconteça! – E aquela palavra me deixou desconfortável. Eu nunca me formara em nenhum curso por causa do Mcfly. Minha vida tomou rumos que dispensaram educação profissional, mas eu nunca deixei de sentir falta deste detalhe. E percebi que sentiu o mesmo, pois ela, inteligente como era, também devia ter vontade de continuar estudando, mas ela inclusive perdera as provas principais das universidades do estado e de sua cidade, porque estava comigo, a milhas de distância. Ela realmente abandonara tudo por mim.
- Sim, sim... Você vai passar. disse.
-, meu amor... – Uma voz rouca e angelical disse-me no segundo dia de minha estadia no hospital.
-Sim? – Eu respondi focando o rosto pálido de .
- O que você acha que vai acontecer? – Eu engoli em seco, pois já esperava receoso pelo momento em que ela me perguntaria aquilo.
- Acontecer quando, meu bem? – Eu perguntei tentando parecer tranqüilo como ela.
- Quando eu começar o tratamento, a quimioterapia.
- Ahn... Bom... – Eu inspirei tomando coragem e continuei – Você vai se sentir fraca eu acho... Vai querer voltar para casa, vai querer estar com alguém da sua família – Eu a encarei e vi seus olhos se umedecerem instantaneamente, mas continuei – Vai sentir enjôos, tonteiras, - “Nada que ela já não sente”, pensei. E a minha garganta ia se fechando à medida que eu falava – E há a possibilidade de seu cabelo cair...
- De quanto por cento? – Ela sorriu fracamente e eu respondi com uma risada presa na garganta. Ela engoliu em seco observando o vazio da tela plana, em preto, em sua frente. “Ela jamais será a mesma, ela jamais será a mesma” minha mente repetia a observá-la. A observar sua beleza ofuscada, mas ali, tímida.
- E você acha que eu vou viver ou morrer? – Ela me surpreendeu, como sempre, a encarar sua própria situação com normalidade.
- ... É claro que você vai viver! – Eu disse, tentando enfiar aquela certeza em minha cabeça. Mas o medo era mais forte.
- Não foi esse o lugar em que eu imaginei que a gente estaria, com um mês de namoro.
- Nem eu, meu amor. Nem eu. – Eu disse com os olhos úmidos.
- Sabe ... Eu tenho câncer, mas não é contagioso.
- Ahn? – Eu não entendi intrigado – Como assim?
- Você pode me beijar, amor, não vai pegar minha doença, eu juro. – Ela brincou quase sem expressão. – Eu ri de seu comentário e me adiantei até seu rosto e a beijei da maneira mais terna que pude. Ela adorou, sorrindo. Eu me sentei de seu lado mais contente e ela disse:
- Já passamos por tantas coisas juntos... – Eu fiz que sim com a cabeça – Mas o pior vem agora. – Ela decretou séria e concentrada em minha expressão. Eu, sem saber como reagir, observei seu olhar preocupado e sorri, aliviando a tensão.
- Imagine, meu bem. Não se preocupe – E a abracei com carinho. – Agora é a melhor parte, você vai ver. – Eu senti que ela não entendeu, mas não disse nada. Um dia ela entenderia, e eu também, apesar de ter tanta certeza. Então ela beijou meu rosto com um estalo gostoso e recostou-se nos travesseiros, suspirando exausta. Eu a entendia bem melhor agora. Não fazia muito tempo que tudo mudara, e então parecíamos um só. Podia sentir o que ela sentia, e ela também quanto à mim.
-Ahn... ? – Ela me chamou distraindo minha atenção até então direcionada para as pulseiras no meu braço direito.
- Sim?
- Eu adoro essa pulseira. – Ela sorriu de leve. – Você nunca a tira... Quem te deu? – Eu pensei por um segundo, me lembrando da cena. Uma garota ruiva, meio geek, usando óculos de fundo de garrafa contornava as centenas de fãs desesperadas e por baixo do braço de um segurança, me entregava aquela pulseira simplória com um bilhete preso a ela. Ela me encarou profundamente depois de me entregá-la, e eu, atônito, segui em frente curioso. No bilhete havia letras garranchadas que diziam algo assim: “. Você, assim como o resto da escória dos homens que recaiu sobre a terra, não tem nada de especial, não é melhor que nenhum deles, em nada. A diferença entre vocês é que você teve sorte. Vocês tem talento, juntos. Mas separados não passam de garotos. Aproveite sua fama, porque ela não é para sempre. E um dia você vai se apaixonar, , e então você vai entender como é se sentir perdido e indefeso em relação à quem se ama. E não se esqueça nunca das milhões de pessoas que se sentem assim por você e você nem se importa. Nem sabe da existência da maioria... Pertubador, não? Recado de uma fã apaixonada e arrependida.”
Aquelas palavras, de alguma forma me tocaram. Aquilo tudo era muito verdade, e ninguém antes tinha se dirigido a mim daquele jeito, muito menos uma fã. Eu mostrara pros caras e tal, mas me convenceu de que era só uma geek louca querendo me assustar, e eles fizeram graça com isso, dizendo que eu teria pesadelos com ela à noite e essas coisas retardadas... Mas a verdade é que eu guardei a pulseira só de raiva, e a coloquei e nunca tirei para não me esquecer, assim como ela planejara, que sou amado, que tenho responsabilidades indiretas sobre todas as minhas milhares de fãs. Eu sempre usei aquela bijuteria, carregando-a como um peso desde então, encarando minha fama como algo ruim. Senti meu estômago revirar com aquelas lembranças, e sofri ainda mais com a idéia de contar tudo aquilo à .
- ? Está me ouvindo, amor? – Eu ergui o olhar até ela, largando a pulseira, e menti com facilidade:
- Ah, sim. Me desculpe... É que foi minha mãe que me deu. Pra nunca me esquecer da minha família, mesmo com o sucesso e tudo mais. – Ela se encantou com aquela história, pude ver pelo brilho de seus olhos. Ou aquilo seriam lágrimas?
- Que lindo ... – Ela disse – Posso ver? – Ela pediu, e eu tirei a pulseira e a entreguei a ela, cabisbaixo e envergonhado por ter mentido. Ela a observou por um instante, concluiu que era feita à mão, eu confirmei, e depois ela a colocou. Pareceu, não sei porque, muito mais bonita nela do que em mim.
- Fique com ela.
- Não! – Ela murmurou surpresa. – É muito importante para você.
- Na verdade não é. – Eu disse desconcertado, mas decidido a ser sincero desta vez – Na verdade representa um peso para mim, sempre usei por obrigação. – Ela pareceu decepcionada, mas compreendeu acenando.
- Sei... – Ela murmurou baixinho. – Eu adorei – Ela disse sorrindo, claramente se esforçando em me animar. – Muito obrigada, amor. – Ela terminou acariciando meus cabelos com delicadeza. E naquele dia descobriram o que ela tinha, finalmente. Era câncer, realmente, e era um tipo raro, o qual não me lembro o nome. não quis saber muito sobre a doença, apesar de que o doutor Chaase insistia em tentar informá-la sobre alguns detalhes, com o olhar confuso. começou o tratamento no dia seguinte, de manhã bem cedo. E naquele dia tudo mudou.
“Dia 26/01/2011 – 06h23min AM
acabou de sair para tomar um café, o que deve me dar cerca de quinze minutos. Há dias não escrevo nada e isso já estava me deixando perturbada. Como se este lugar já não fosse perturbador o bastante. Hoje, ao acordar, notei um vaso de flores na mesinha ao lado da cama. Lindas flores rosas e delicadas, não sei o nome delas, mas seu perfume é tão bom... disse-me que não são dele, e eu me perguntei quem as teria colocado ali... Talvez alguém do hospital mesmo. Sei que não serei capaz de escrever todos os dias aqui, mas não importa. Poucas coisas importam agora. Ontem descobriram o que eu tenho, câncer, mas um que não costuma atingir mulheres da minha idade e existe em uma porcentagem muito pequena da população, é só o que me lembro. Dei muita sorte de encontrar esse guardanapo e uma caneta aqui, na gaveta do criado-mudo. Hoje vou fazer minha primeira sessão de quimioterapia, daqui a cerca de uma hora, e estou um pouco amedrontada. Eu odeio tudo aqui. Os odores, as cores, as expressões nos rostos das pessoas, a máscara que se apossou de . Não conheço mais ninguém, os garotos, Jack, ... Nem me conheço mais. Da última vez que me olhei no espelho, me assustei. Estou pálida, muito mais do que o comum, e sem precisar mencionar as olheiras e o cabelo mal-cuidado que ostento, já posso convencer-me de que estou repugnante. E esta camisola... Me dá arrepios de só usar lingerie por baixo dela, e não só por causa do frio. Eu não sei bem o que fazer... Eu já aceitei o câncer, mas essa situação toda é bastante complicada. Principalmente porque não afetou somente a mim mesma, o que faz eu me sentir culpada às vezes... “
Naquele dia realizara sua primeira sessão de quimioterapia. Eu me lembro de ter me preocupado com os efeitos colaterais que poderiam surgir, mas eu nem imaginava, naquela época, que um dia eu me acostumaria com aquilo.
- Como está se sentindo? – Eu perguntei assim que a doutora Cameron se retirou do quarto.
- Não sei ainda...
- Os garotos estão aqui até hoje, sabia?
- Ah, não! Eles não voltaram para casa ontem?
- Não.
- Mas eu pedi pra eles que voltassem.
- É, meu bem... Mas eles estão preocupados com você. Te adoram demais pra te deixar aqui.
- Hmm... – ela suspirou decepcionada. Era claro que ela não queria causar mais sofrimento à ninguém.
- e Jack me disseram hoje de manhã que queriam ver você.
- Certo. – Ela disse, provavelmente calculando quando estaria disposta a recebê-los. Eu não soube o que dizer por um momento, esperando pelo efeito colateral da quimioterapia, que pelo que nos disseram os médicos, não devia demorar. Ela respirava com dificuldade, tremendo levemente, e aquele silêncio nos perturbava.
- Posso me sentar ao seu lado? – Eu finalmente perguntei, receoso.
- Claro, meu amor. – Ela disse se afastando ligeiramente para o lado. Eu me sentei devagar e pus-me a observá-la, a tentar ler o que se passava em sua mente.
- O que foi? – Ela riu.
- Nada. Só estou pensando... Pensando em como você é forte.
- Eu? Hah! Quem dera ser forte...
- Mas você é. Sua força não é física, mas é tão grande que te alimenta. É o que te mantém sempre assim, cheia de vida e amor, não importa o que aconteça. – Eu disse sentindo meus olhos se umedecerem. Ela sorriu emocionada e agradeceu-me. Não demorou muito para o momento chegar. Ela agarrou minha mão de repente e eu peguei o recipiente na mesinha ao lado, bem a tempo de ela vomitar ruidosamente dentro dele. Ela parou para respirar, mas logo os vômitos voltavam. Foi rápido, mas passou devagar, quase em câmera lenta. Eu segurava seus cabelos, os acariciando suavemente, a esperar impaciente pelo fim daquele suplício. Quando ela terminou, eu a entreguei uma pequena toalha, já deixada ali também, por precaução, e ela limpou a boca, tentando limpar as lágrimas, mas sem sucesso.
Sua dor sempre ia além das náuseas, eu sabia. E era difícil para ela se controlar. Quando ela desistiu da toalha e afastando-a ergueu seu rosto a me encarar, eu senti uma coisa que nunca havia sentido antes. Todos os momentos de dor pelos quais ela passara e eu presenciara me vieram à mente como um relâmpago. Cada segundo de amor que ela me dera, cada sorriso sincero e lágrima contida. Eu vi tudo dentro daqueles olhos, lá no fundo da íris translúcida. Alguma coisa apunhalou meu peito profundamente e eu me segurei para não cair. E pareceu por um segundo que todo o amor, todo o amor que nos cercava, não era suficiente. Ela se alimentava dele também, sobrevivendo, mas um dia aquilo iria acabar. Tudo. E naquele instante mudo e discreto, minha vida mudou. Sim, ela mudara minha vida, em muitos sentidos. E a tudo sou grato. Então eu a abracei antes que ela percebesse minha reação, e ela suspirou se derretendo em meu ombro, aliviando muito peso naquelas lágrimas, naqueles soluços. Eu enterrei meu rosto em seus cabelos, inspirando seu cheiro delicioso e a desejando de volta. Desejando a garota que eu conhecera há mais de um mês atrás, mas sabendo que ela jamais retornaria para mim. Nem mesmo uma garota ela ainda era. “Dia 29/01/2011 – 03h12min AM
Como pode ler, já é tarde... Mas não durmo muito de madrugada, afinal, tenho o dia todo para isso. Estou escrevendo da cama mesmo, porque não consigo me levantar daqui, sob a luz fraca e amarelada do abajur barato, em cima do criado-mudo, meu mais novo amigo. Não sei bem o que dizer, a história já diz tudo por si só... está aqui, do meu lado, dormindo pesadamente sobre a poltrona cinza de estampa horrível do meu quarto. Os médicos Cameron, Chaase e Foreman me visitam constantemente, e ontem conheci um amigo de House, Doutor Wilson. Um homem muito simpático, especialista em câncer, ele veio conversar comigo. Conversamos a sós por um bom tempo, sobre minha doença, meu estado e minha recuperação. Eu o perguntei quanto tempo de vida eu tinha, mas ele disse que não podiam determinar. Mentira. “
Maldito câncer. Maldito hospital e malditas sejam as doenças! Eu pensei na manhã do dia seguinte. Mais um dia. Mais um dia gelado, dolorosamente claro, lento e real. Real demais. As sessões de tratamento de se repetiram, assim como os efeitos colaterais. E se repetiram e se repetiram... Eu não agüentava mais. Ela que era a doente, que vomitava como louca e não tinha força nem para afastar o lençol de sua cama, e nem mesmo reclamava! Eu me lamentava muito mais do que ela, e não só por ela, mas por mim. As camas de “visitas” do hospital eram terríveis, e aquele cheiro de produtos de limpeza, álcool e outras coisas horríveis era tão forte que mal me deixava dormir. E ela... Meu Deus. Ela odiava hospitais, tinha um trauma, que só veio a me contar um bom tempo depois daquela época do início do tratamento, e mesmo assim, parecia melhor do que eu com aquilo tudo. Ela era tão forte que eu me sentia até envergonhado perto dela, tentava disfarçar minhas fraquezas, meu desespero, meu medo.
“Dia 01/02/2011 – 09h35min AM
Para a minha alegria, até hoje as flores na mesinha ao lado da cama continuam aparecendo, diferentes a cada manhã. Hoje tomei coragem para ver e Jack. Eles pareciam arrasados. não tinha esperança alguma, chorava em meu colo como que já sentindo saudades. Mas Jack não. Jack tinha vida, ainda tinha luz nele. Aquela que nunca o deixava. Mas ele ostentava um olhar triste, preso no meu, enquanto eu consolava . E então desvendei o mistério das flores, quando vi Jack trocar as rosas vermelhas do dia anterior, ainda perfeitas, por um novo buquê, desta vez de pequenas margaridas amarelas e brancas.”
Sua vida ia se escondendo cada vez mais para dentro dela, a cada dia. Eu esperava ansioso, todos os dias, pelo momento em que ela abriria um sorriso, em que demonstraria alguma emoção ou em que me pediria algum favor. Mas estes momentos demoravam a chegar, e em alguns dias nem chegavam. e os garotos começaram a alugar um apartamento lá perto depois de uma semana, e aninha foi com eles. E era bem melhor assim para todos nós. Menos para mim, que continuava no hospital, dormindo no quarto de hóspedes ou na poltrona ou no sofá do quarto de . Maldito câncer. Depois de duas semanas aquela guerra era minha, eu a tomara para mim. E eu estava determinado a não deixar o maldito câncer levar a vida dela. Esta era minha lei agora. Lutar. E eu lutei. Lutei por ela. E ela lutou também, mas sempre soube que no momento em que parasse, desistisse, ou quando suas forças terminassem completamente, ela poderia descansar em paz, pois eu continuaria lutando por ela.
“Dia 02/02/2011 – 16h08min PM
Hoje foi embora, voltou para casa. Eu queria não precisar escrever como a solidão aumentou ou descrever como meu coração se machucou quando ela veio de mim se despedir, e depois de me fitar, eu observei sua expressão se desfazer em lágrimas, pela primeira vez. Eu jamais a vira chorar de tristeza antes, mas doeu tanto que mal pude abraçá-la para a consolar, sem que me desmanchasse também, sem saber o que fazer. Em puro desespero. “Não! Não!” eu gritava em pensamento, aflita, sem querer largá-la, soltar meu abraço. Eu preciso dela aqui, mas não quero admitir, não é justo com ela. Ela tem que voltar, estudar, passar no vestibular e realizar seu sonho de ser médica. E eu... eu tenho que ficar aqui, que é o meu lugar agora. Ao lado de , me recuperando, me curando. Ainda bem que apareceu depois que ela se foi, senão não imagino o que teria acontecido. A presença singela de Jack ali, naquelas flores, também me ajudaram de certa forma. Eu podia contar com elas, com ele também. Eu sabia que todo dia, quando amanhecesse, algum perfume delicioso estaria ali, com novas flores companheiras e leais. Leais como Jack.”
No dia 03/02, os médicos disseram que contraíra uma infecção, mas não nos desesperamos, pois era perfeitamente tratável. E assim foi, ela não demorou para curá-la. E no mesmo dia ela me pediu para cantar para ela, e eu cantei, sem querer, mas cantei. Ela gostou, a música faz ela se sentir melhor, e de posse desta nova descoberta, eu fui até uma loja de CDs, e comprei um monte, sem saber ao certo qual a agradaria. Levei-os para ela, junto com um som, e ela escolheu a cantora Maria Gadú. A partir daquele dia ela não ficou um minuto sem música naquele hospital, e sua melhora era visível. Também recebemos uma notícia boa naquele dia, através da doutora Cameron. Segundo ela, não perderia os cabelos, já que até aquele dia eles não tinham começado a cair. Nenhuma outra notícia além da cura poderia tê-la deixado mais alegre. Foi um ótimo dia. Mas depois ela começou a enfraquecer, enfraquecer sempre mais. E aquilo me deixava triste, com medo até de tocá-la. Ela sentia dores pelo corpo, cansaço e não comia. Continuava emagrecendo, e isto me preocupava. Eu pedi ajuda ao doutor Chaase, e eles adicionaram mais um tubo aos que se ligavam às suas veias, e ele garantiu que aquilo a ajudaria.
“Dia 09/02/2011 – 13h45min PM
Alguns dizem que o câncer não tem uma causa exata, outros dizem que rancor e maldades são as causas principais. Eu, sinceramente, não sei o que desencadeou essa doença em mim, mas venho tentando descobrir, acreditar. Talvez alguma coisa na minha vida esteja errada. Talvez algum assunto que deixei para trás ficou mal resolvido. E isso não seria uma suposição tão estúpida se eu considerasse que minha mãe morreu à pouco e eu nem tive a chance de dizer que a amava antes de ela viajar. É claro que minha vida mudou completamente de quase dois meses para cá. Passei a namorar o , terminei com o , mudei de cidade e tudo mais... Abandonei tudo sem pensar duas vezes, ou melhor, uma vez. me tirou dali sem me perguntar o que eu pensava, mas depois eu aceitei a idéia, pensando somente em . Há quem acredita em milagres... Eu não, nunca acreditei. Para mim, milagre é tudo, é o mundo e a vida. É cada segundo em que uma flor pinta a luz do sol, é o farfalhar mudo das asas de uma borboleta, é o brilho do olhar de uma criança e o sorriso que alguém abre todo dia, depois de um suspiro. E é por isso que eu tenho fé em Deus. Não sei se ela é real, visível ou suficiente, mas sei que é a minha fé, e sei também que ela é importante aos olhos Dele. E talvez Ele me cure, talvez não, mas não vou deixar de orar ou de lutar.”
Eu me alimentava muito mal também, pois não gostava da idéia de comer perto dela, sendo que ela não tinha mais paladar, e também odiava cada segundo longe dela. Teve um dia que entrei no quarto e ela estava cantando junto com a música que soava baixinha, e aquilo me alegrou muito. Apesar das olheiras roxas ao redor de seus olhos, o tom de pele translúcido, a fraqueza extrema e toda a sombra da idéia da morte próxima, ainda tinha algo dentro dela, foi naquele dia que constatei. Ela não estaria cantando por outro motivo, e nenhuma outra notícia, além da cura, poderia ter me deixado mais feliz do que aquela que ela me deu naquele dia:
- ! Eu estou me sentindo bem, acredita? Acho que estou melhorando, amor... Hoje tive esse pressentimento de que as coisas vão ficar melhores. – ela sorriu, depois de muitos dias sem fazê-lo, e eu me derreti sem poder resistir ao seu encanto e graça. A esperança ainda morava em nós.
“Dia 12/02/2011 – 10h24min AM
Um dia eu pretendo terminar esta história. Reunir todos os relatos que venho escrevendo ao longo dos dias, desde que a turnê de Mcfly foi até minha cidade. E tenho esperança de que eu consiga, mas quando vou parar, parar de escrever... Isso não sei. Afinal, é a minha vida, e enquanto ela não acabar eu não vou parar de me esforçar em contar esta história. E agora, observando estas palavras trêmulas e finas sobre este papel, eu fico pensando em como minha vida mudou, como sou outra pessoa, uma pessoa melhor, felizmente. Fico a me lembrar de minha vida antes do show da turnê, antes de ... Eu jamais imaginaria, naquela época, que um dia estaria sentada ao lado dele em uma poltrona de um avião, que sorriria com ele sob o sol aconchegante nos jardins de sua mansão ou que escreveria, aflita e escondida, em um pedaço de papel, no leito de um hospital, sobre meus acontecimentos recentes, a esperar por retornar. Eu raramente tenho um minuto de privacidade aqui no hospital, por isso cada segundo é precioso, cada palavra importa e deve ser medida, calculada e avaliada antes de descer à tinta. Talvez, se um dia ler isso, ele não compreenda porque não contei para ele, porque não compartilhei este sonho, esta necessidade de escrever, de relatar... Mas não é esse guardanapo o que mais importa. É o conjunto, a obra final. Lá estará a resposta para ele, a todas as perguntas que um dia ele fará a si mesmo. E eu não sei se estarei aqui ainda para respondê-las, para ouvi-las.”
No dia 15 as coisas pioraram. teve uma hemorragia interna. Gritou de dor e vomitou sangue. Eu nem quis saber o motivo daquilo, eu arfava, desolado. Agarrei-me às últimas lembranças quase felizes que passamos juntos naquela cama, aquela cama de lençóis verde-água, cobertores brancos... Eu deveria aprender a amá-los, a amar tudo ali, assim como estava aprendendo. Me agarrei àquelas sensações imaginárias como se fossem minhas últimas esperanças, e sobrevivi. Ela também. Mais um dia. Mais um dia de escuridão, decorado com a graça de seu olhar compreensivo, seus gestos graciosos. No outro dia, de madrugada, eu acordei e a escutei rezando com lágrimas nos olhos, foi tão lindo que eu fiquei a repetir aquelas palavras em minha mente, e pouco tempo depois, quando ela adormeceu novamente, fui até o banheiro e anotei tudo em um pedaço de papel toalha, para jamais esquecer aquela oração. E eram todas palavras dela.
“Raio de sol, seja forte! Seja forte gota d’água, pequena semente, grão da terra, chama vermelha e sopro do ar! Se vocês forem fortes e viverem para mim, eu também serei. Anjo, permita que um raio de sol penetre a minha escuridão. Permita também, que a gota d’água venha apaziguar minha sequidão. Permita que a pequena semente brote na minha alegria e que o grão de terra a acolha resignado. Permita que a chama vermelha não me abandone se eu congelar, e que me console quando eu chorar. Permita, enfim, que o leve sopro do ar me ensine que algumas coisas permanecem. Que mesmo depois de toda a tempestade e do tempo, elas permanecem.”
No dia 18, e eu recebemos outra boa notícia: Poderíamos voltar para casa. Lá ela continuaria seu tratamento, mais à base de remédios, sem máquinas, tubos e enfermeiras. Ela estava, além de bem mais saudável, radiante. Que aquela sexta-feira seja abençoada! E então logo ela retomou suas atividades, sua vida normal. Era a nova , mas a minha . Aquela que brincava com todos, se divertia com coisas simples e estava sempre insistindo em não ficar parada. Andava pela casa, passeava nos belos jardins, lia, desenhava e escrevia. E uma parte dela que eu não conhecera se revelou também. A faminta, haha. Seu apetite se normalizava aos poucos, e ela devorava tudo o que encontrava pela casa, alugava (A impressão parou aqui) Manolo por horas, sempre pedindo para que a ensinasse uma nova receita, e auxiliando-o e aprendendo com o Chef na enorme cozinha da nossa mansão.
“Dia 18/02/2011 -
Mal posso acreditar, mas estou em casa! Voltei para cá hoje cedo, e mal tive a chance de me recuperar do choque, mas senti necessidade de escrever. É maravilhoso ter uma nova paisagem em meu campo de visão. Novos odores, agora suaves e carregados de lembranças, me tomam com carinho. A luz do sol me rodeia sem pudor e eu estou encantada. Sinto falta da alegria, das risadas, de . Detenho em minhas mãos uma pequena pilha de guardanapos com os relatos dos dias que passei no hospital. Este será o último entre eles, vou voltar a escrever decentemente.”
Eu não sabia o que fazer, até onde acompanhá-la. Ela caminhava até onde seus pés podiam levá-la e trabalhava e se divertia até onde suas forças a permitiam. Em um domingo de sol, , eu e ela fomos caminhar pelos jardins, e acabamos por adentrar a floresta, seguindo por uma trilha. E então, em um vale, encontrou um carneiro, como ela tanto queria. Ele foi o seu deleite. Ela acariciava-o, deitada na grama, e lia alto seu livro de poesias para todos nós. Nem preciso descrever como ela estava linda naquela manhã, usando um vestido branco de renda e um chapéu delicado de palha. As olheiras haviam desaparecido, havia até mesmo um leve rubor em suas bochechas, que lhe eram característicos. Seus cabelos nunca mais ficaram desgrenhados e a luz que emanava de seu rosto, nos dias em que ela estava feliz, permaneceu por um bom tempo. Ela nem parecia doente. Qualquer um que a conhecesse duvidaria que estava em fase de tratamento de câncer. Meu ponto de vista
Finalmente voltei a escrever. Mal tivera tempo, quando retornei, devido às tantas ocupações que preenchiam meus dias. Desde que eu chegara àquela casa, há meses atrás, carregada por e desacordada, eu não aproveitara tanto a minha estadia quanto naqueles dias depois da saída do hospital. Eu os vivi plenamente, resistindo às dores que por vezes me tomavam, mas não mais me limitavam. Eu me divertia ajudando Manolo e os outros cozinheiros na preparação das refeições, brincando com os garotos, lendo, aprendendo a tocar baixo, guitarra e bateria com os meninos. Foi difícil acostumar com a palheta, na guitarra, porque tinha costume de tocar violão, eu adorava, na verdade. Mas não tocava desde que abandonara minha antiga cidade, porque eu esquecera meu instrumento amado na casa de , em algum dia muito distante...
Mas é claro que estava bom demais para ser verdade, estava bom demais para uma doente, para uma garota com câncer. E ainda existia aquele pequeno detalhe, latejando escondido em minhas têmporas, aquele que todos pareciam ignorar, e eu não podia. Meu irmão. Eu não conseguia parar de pensar nele, de desejar vê-lo, carregá-lo e amá-lo em nome da memória de minha mãe. Eu sempre acreditei que nada é por acaso. E aquilo definitivamente não era. Ele nascera para mim. Meu irmão não deveria ser criado por minha mãe, mas por mim, este era seu destino. Nosso destino, agora.
-Amor você está nojento! – Eu exclamei gargalhando, no final de uma tarde de verão, no dia 02/03/2011, aproveitando ao máximo minha recuperação.
- E você... – Ele riu e eu também – Você... – Ele dizia a me analisar, com um sorriso cômico – Está deliciosa! Haha!
- Não! Hah! Preciso de um banho... – Eu resmunguei risonha, observando a lama que secava em minhas roupas, meus braços e até em meu rosto. Eu estava com , no jardim, quando começou a cair um temporal. Ele me prendera em seu abraço para não me deixar fugir dali correndo, de volta para a casa, e nos beijamos apaixonadamente. Tão apaixonadamente que cambaleamos entorpecidos, caímos na grama e descemos morro abaixo, rolando e nos emporcalhando de terra. Voltamos correndo, logo em seguida, para a mansão.
- Certo... – Ele disse animado, me carregando em seus braços sem dificuldade. Ele já tinha prática com aquilo. Me levou para a grande banheira do toillet do meu quarto e enquanto eu me despia das roupas sujas, exceto as lingeries, ele retirava sua camisa branca, agora quase totalmente marrom, e a jogava no cesto de roupas sujas. Eu não pude deixar de reparar no peitoral lindo dele, e nos músculos fortes de seus braços e barriga. “Ei, tenho câncer, mas ainda não estou morta!” eu pensei com um sorriso no canto dos lábios. Ele se sentou na privada ao meu lado, a me observar com aquele olhar nada inocente, e eu disse:
- Amor, você sabe que eu tenho vergonha...
- Eu sei. – ele disse se desculpando. – Posso sair se você quiser.
- Não. Pode ficar, mas não fica me encarando assim... – Eu ri, e ele assentiu, corando.
- É que eu não consigo resistir à você... – Eu não respondi, olhando para a água que corria pela banheira, enchendo-a lentamente. – Seu corpo é tão lindo...
- Ah, não começa! – Eu brinquei. – Olhe pra mim! Sou tão sem-graça. Meus peitos são pequenos, minhas coxas...
- Seus peitos são perfeitos. – Ele disse sério, e eu desisti. – Ele suas coxas também. Você por acaso queria ser como a mulher-melancia?
- Haha! OK! Não, mas eu queria ser... Sei lá, gostosa.
- “Sei lá, gostosa” – Ele me imitou irritante – Mas você é gostosa, sua ceguinha! – Ele murmurou se aproximando e me dando um selinho delicado. Eu ri, acenando negativamente e não quis continuar com a discussão. Se ele me achava gostosa eu estava feliz. A água subiu na banheira, cheia de espuma, e eu fechei a torneira ainda me divertindo com o comentário de .
- A gente tem se divertido muito ultimamente. – Ele riu
- É verdade...
- Amor, você... – Ele hesitou, subitamente sério – Você não tem medo? – É claro que eu tinha medo, mas era orgulhosa demais para demonstrar...
- Tinha. – Eu disse com os olhos se enchendo de lágrimas. – No começo, . Mas depois... Depois eu entreguei pra Deus. Se tiver que ser, será.
- Você adora dizer isso. – Ele comentou, e eu sorri.
- É porque é verdade. Não se preocupe com o futuro, . Confie.
- Eu confio. Confio em você. Na sua força.
- Um dia você vai entender, meu amor... – Eu sorri resignada. Era um desejo meu que acreditasse em Deus, tivesse fé... Mas para ele era muito difícil, não sei por quê. Ele não respondeu, e um minuto depois, enquanto eu esfregava meu braço sujo de lama com a bucha, ele soltou uma risada, e eu perguntei desconfiada:
- O que foi?
- Eu estava lembrando... – Ele disse me encarando – De como você me chamava de , com raiva, quando nos conhecemos, no trailer.
- Haha! Parece que faz um século... – Eu ri.
- É.
- Você me dava nos nervos, ...
- Digo o mesmo para você, senhorita .
- Não! Haha. – Eu murmurei risonha – Não me chame assim. Eu te suplico.
- OK. Mas as lembranças de você me repreendendo também me perturbam até hoje.
- Repreendendo? Quando exatamente?
- “Tente não ser imaturo por dois segundos, tudo bem? Eu te chamei aqui pra deixar bem claro que eu não admito que você me trate da forma que o fez ontem!” ele me imitou aos sussurros, citando uma frase minha.
- Ah sim... Você tem boa memória, hein! Haha. Mas também... Você tinha me agarrado na noite anterior, esqueceu?
- Não, eu me lembro muito bem. A gente tava dando uns amassos, tirei sua blusa e você nem ligou!
- A, vá! – Eu sorri encarando-o com o canto do olhos.
- Verdade! Você tava doidinha pra transar com o astro do Mcfly, eu sei... – Eu ri dele e ele continuou – Mas do nada você percebeu como aquilo era terrível e começou a brigar comigo, como se a culpa fosse toda minha.
- Mas você que me agarrou!
- E você me agarrou de volta, sua santinha do pau oco! – Ele me acusou.
- Hah! Que absurdo! – Eu ri indignada.
- É! Haha! Não adianta negar, eu me lembro bem...
- Hum. – Eu instiguei e ele começou a rir.
- ... – Ele não parou – !
- Ok, ok... Me perdoe. Não me controlo quando você faz essa cara.
- Que cara?
- Esse beiçinho sexy.
- Sexy, é?
- É... – ele disse, já malicioso, se aproximando do meu pescoço e beijando-o. Eu ri e disse:
- Daniel, você é um tarado! Sinto muito, é irreversível!
- Eu sei, gata. – Ele disse em meu pescoço e nós rimos juntos, quase dopados de tanto rir. – Humm, que delícia, seu pescoço tá com gosto de sabão!
- Haha! Comeu espuma!
- Aah! – Ele riu vencido. – Parece que os tarados sempre perdem...
- Parece. – Eu disse me acalmando.
- Ai, ai... Ele disse sorrindo. Eu esperei por um segundo, me acostumando com o silêncio constrangedor. E de repente deu um grito divertido, pulando sobre mim, na banheira, e me fazendo mergulhar. Eu voltei imediatamente e o encarei boquiaberta. Ele se divertia, me abraçando, e eu espirrei água nele, pegando-o de surpresa. Ele nem se importou e eu disse entre risadas:
- Seu louco! Eu poderia ter morrido afogada!
- Morre nada...
- Ah, você me paga, Daniel! Olha o que você fez! – Eu observei ao meu redor, ainda boquiaberta. As paredes do banheiro estavam encharcadas e cheias de espuma, assim como o chão ao lado da banheira e as toalhas. Ele acompanhou meu olhar ainda sorrindo como um retardado e ignorou.
- É por isso que temos empregados. – E eu ri em desaprovação.
- Empregados... Você vai ver, vai ter que limpar isso tudo!
- Ah é?
- É! Vai limpar sim, vai ser seu pagamento. Achou que ia sair ileso, né?
- Ai, ai, viu... – Ele disse de um jeito fofo, simulando irritação, e eu sorri beijando sua bochecha. Agora nossos cabelos e rostos estavam cheios de espuma também, e nossos corpos muito próximos. Próximos demais. Eu esperava pelo momento em que ele tentaria alguma graçinha. Então ele me beijou, intenso, divertido. Foi ótimo, e eu correspondi, com saudade daquele beijo. Saudade daquelas sensações que ele me fazia sentir quando estávamos juntos, assim tão próximos. Ele agarrou minha cintura com força e me prensou contra a superfície gelada da banheira. Eu parti nosso beijo arfante:
- Vai me agarrar de novo, ? Igual aquele dia no trailer?
- Haha! – Ele riu e continuou a me beijar inescrupuloso.
- Olhe lá onde você coloca essas mãos! – Eu exclamei rindo quando ele as escorregava até o final das minhas costas, segurando meus quadris. Ele me ignorou, sorrindo com o canto da boca.
- Ah, . – Eu o repreendi e agarrei seus cabelos com uma mão, alisando seu ombro com a outra.
- Ah, . – Ele correspondeu rindo e puxando-me mais para perto do corpo dele. Nós nos encaixávamos perfeitamente, era incrível. Ficamos naquilo por mais um tempo, mas não aconteceu nada. Até que seus beijos ficaram ainda mais intensos, sua respiração ainda mais arfante, e eu entendi o que estava acontecendo. Eu peguei sua cabeça, rindo, quando ela escorregava do meu pescoço para baixo, e disse:
- ! Eu sou virgem, esqueceu?
- Jamais – Ele sorriu e eu dei outra risada.
- Então!
-Então o quê?
- Você acha mesmo que eu vou perder minha virgindade em uma banheira? – Eu ri.
- Quer lugar mais perfeito que esse? – Ele brincou, e eu ri.
- Ok, ok... Já chega. – Eu disse afastando-o no momento em que ele agarrara o fecho do meu sutiã. – Não estou brincando. Ele ficou sério e depois fez um biquinho infantil, em uma tentativa ridícula de me imitar, e eu dei um tapa em seu braço, me levantando e saindo dali enrolada em minha toalha. Ele me seguiu, sem toalha, vestindo uma boxer preta super sexy, depois de tirar a calça encharcada e espumada e deixá-la jogada no chão do banheiro.
- Volta aqui! – Ele murmurou rindo. – Onde você pensa que vai, hã? – Eu corri, me divertindo, e ele me alcançou antes do que eu esperava, e me jogou na cama, rindo também.
- Pronto! – Ele murmurou em cima de mim. – Agora você pode perder sua virgindade. - Eu gargalhei alto depois daquela observação, e ele me encarou surpreso:
- O que foi? – Ele perguntou com uma risada entrecortada. E eu continuei rindo, imaginando o quão distante deveria estar aquele momento, o momento em que eu confiaria em o bastante para tranzar com ele. Afinal, eu não estava pronta ainda.
- Nada não... – Ele não respondeu ainda me encarando.
- Você não está pronta, né? – Ele murmurou, subitamente sério.
- Eu encarei no fundo de seus olhos e disse sentida:
- Não... – Ele suspirou pesadamente em meu ombro e eu continuei – Sinto muito...
- Tudo bem. – Ele sorriu fracamente – É que eu pensei que você estava.
- Hum. – Eu resmunguei arrependida. Calculei que talvez teria sido melhor se eu tivesse ficado de boca fechada e não tivesse estragado esse momento. Pobre . Estava louco para tranzar comigo desde que nos conhecemos. E fazia quase três meses agora. – Me desculpe... Eu sei o quanto...
- O quanto eu morro de desejo por você? – Ele me interrompeu. Eu engoli em seco e disse:
-É.
- Do que você tem medo? De mim? – Eu não soube responder, não sentia medo dele, mas medo do que poderia acontecer, se ele se descontrolasse e me machucasse ou fosse um idiota. Faltava confiança, e eu não queria confessar isso.
- Tem medo de engravidar? – Eu pensei por um momento e aceitei aquela desculpa como a melhor, e disse:
- Tenho.
- Já ouviu falar em camisinha? – Ele riu.
- Eu tenho medo mesmo assim, amor! – Eu supliquei, mentindo. Ele pareceu acreditar, e suspirou novamente antes de sair de cima de mim. Eu respirei aliviada e ele me abraçou de lado:
- Não se preocupe. – Ele disse olhando no fundo dos meus olhos – Não vou te forçar a nada. – Disso eu sabia, quanto à sua paciência, eu tinha minhas dúvidas... “Até quando que ele vai suportar?” eu me perguntei em pensamento.
-Amoor... – Eu disse brincalhona, de manhã bem cedinho.
- Hmm – Ele resmungou, sem mover um músculo. Eu tentei remover seu braço de cima do meu tronco, mas era muito pesado para minhas forças. Então eu mordi a orelha dele, e a este estímulo ele reagiu. Logo seu braço forte se fechava ao meu redor, me aproximando dele.
- Ah! Você me assustou! – Eu disse arfando. Ele ainda não abrira os olhos.
- Hmm.
- Amoor! – Ele não respondeu e eu me cansei:
- ! – Eu gritei rindo.
- Aahn! Meu Deus! – Ele resmungou. – Não precisa gritar. – então ele deu outro sinal de vida e virou o rosto para mim abrindo os olhos devagar.
- Finalmente! – Eu sorri.
- O que é tão importante?
- É que eu vomitei enquanto dormia! – Eu sussurrei.
- O quê?! – Ele se exaltou, sentando-se na cama a observar ao seu redor, preocupado. – Você está bem?
- Hahahahahahaha.
- O que foi?! – Eu não conseguia controlar meu risos. Ele olhou melhor à nossa volta e não encontrou nenhum sinal de que eu vomitara realmente.
- Ah, ótimo. – Ele disse, me encarando com uma falsa raiva – Sua mentirosa! Me enganou direitinho...
- Hahaaaaa! , amor! Você acreditou!
- Você me paga. – Ele disse rindo, me abraçou rapidamente e se deitou em cima de mim, depositando todo o seu peso.
- Não, não... Me larga! – Eu gritei, rindo sem ar. – Hah! , não consigo respirar!
- Haha, engraçadinha, não vai me pegar de novo não. – Ele riu em meus cabelos. Eu comecei a arfar, faltava oxigênio. Então entrei em crise asmática, para meu horror.
- Para de fingir, amor. Que coisa feia. – riu mais ainda, saindo de cima de mim. Eu me virei, ainda agonizante, e pus-me a abrir as gavetas do criado-mudo, em desespero, a procurar por minha bombinha de O2. Ele estranhou:
- Amor? Amor?! – Ele exclamou, virando-me para ele e constatando que eu não estava mentindo. Ele arregalou os olhos, boquiaberto, e pulou para fora da cama. Em um instante sufocante ele estava de volta, com a bombinha em suas mãos, e me salvou mais uma vez, lentamente.
- Ahh... – Eu suspirei depois de respirar normalmente.
-Oh, não. – Ele sussurrou horrorizado. – Não acredito... Me perdoe, amor. O que eu fiz?!
- Tudo bem. – Eu disse arfando e acariciando seu rosto. Ele pegou minha mão, ainda se sentindo mal:
- Não, eu fui idiota! – Ele murmurou.
- Não foi culpa sua, ! – Eu abri um sorriso.
- Foi sim! Droga! Me perdoe, por favor...
- Calma, não se preocupe, tá tudo bem... – Eu sussurrei, e ele me puxou para um abraço apertado.
- Eu fiquei tão assustado...
- Eu também, amor. Eu também...
- Eu nunca vou me perdoar se, algum dia, alguma coisa acontecer a você... – E eu me lembrei das vezes em que me dissera a mesma frase.
- Sabe que dia é hoje? - Eu perguntei mudando de assunto.
-Hmm... Dia 5 de março?
- Isso!
- E...?
- E hoje faz três meses que estamos juntos. - Eu sorri abertamente.
- Ah, jura?
- Você não se lembra?! – Eu ri indignada.
- Você está errada...
- Não estou não! – Eu exclamei, dando um soco no ombro dele. Mas pareceu mais um carinho, já que eu estava tão fraca. Ele riu e continuou:
- Está sim! Ontem que fez três meses que estamos juntos. Dia 4!
- Não senhor! Dia 4 foi o dia do show do Mcfly na minha cidade.
- Então!
- Mas eu ainda estava com ! – Eu murmurei.
- Eu sei, mas pra mim, nós estamos juntos desde aquele dia. Desde que eu encontrei você naquele corredor escuro, sendo agarrada pelo nosso roadie.
- Hmm – Eu murmurei pensativa. – Entendi.
- Então parece que temos que comemorar em dias diferentes!
- Isso mesmo, e você esqueceu do seu dia! – Eu disse simulando nervosismo.
- Ah, esqueci é?
-É. Seu bobão... – E ele tirou uma pequena caixinha azul-marinho de debaixo do travesseiro, calando-me imediatamente. Eu congelei de medo ao vê-la, imaginando as piores coisas.
- Pra você. – Ele disse abrindo a caixinha e revelando uma fina aliança dourada desenhada de delicadas folhas e raminhos. Eu espirei desesperada. “Casamento? Meu Deus! Mal nos conhecemos, faz três meses!! Só três meses! Ele não pode estar falando sério, nunca se apaixonou antes!Como vou explicar? Como vou recusar?! Ele nunca vai entender!”minha mente gritava, me ensurdecendo. Eu abri a boca para tentar me explicar, mas graças a Deus ele me interrompeu:
- Comprei alianças pra gente. De compromisso. – Eu quase engasguei. – Você aceita, , ser oficialmente minha namorada, e jura lealdade, cumplicidade e amor a mim? – Eu respirei aliviada, rindo, e disse:
- Eu pensei que já fosse sua namorada!
- É óbvio, amor, mas queria oficializar isso.
- Hmm – Eu sorri encarando-o torto.
- O que me diz? – Ele riu impaciente.
- Sim! É claro! – Ele abriu o sorriso mais lindo do universo e me beijou com ternura antes de tirar o lindo anel da caixinha e colocá-lo em meu anelar da mão direita. Eu suspirei e disse:
- Amor! – Ele me ignorou e mostrou-me sua mão direita, com um anel igual ao meu. Eu sorri e insisti insatisfeita:
- Amoor!
- Eu? – Ele sorriu.
- Está na mão errada.
- Não está não.
- Está sim! – Eu insisti. – Essa é a mão do noivado. A esquerda é a do casamento.
- Somos muito novos para estarmos casados... – Ele murmurou.
- Então!! – Eu sorri trocando o anel de mão.
- Não entendi. – Ele riu.
- Se usarmos na mão esquerda ninguém vai pensar que estamos casados. Vão pensar que estamos namorando.
- Ah, vão?
- É. E se usarmos na mão direita não vão nem cogitar namoro. Vão pensar de uma vez que estamos noivos.
- Então jamais pensariam que estamos casados, mas cogitariam a idéia de estarmos noivos?
- Isso! – Eu ri. – Você entendeu.
- Mas não faz o menor sentido.
- Faz sim! – Eu insisti.
- Mas eu sempre usei nessa. E vou continuar usando. – Eu suspirei, fazendo minha franja se elevar com o vento, e me deitei.
-Está bem... Então você usa na direita e eu uso na esquerda.
- Ótimo. – Ele concordou encarando o teto. Eu esperei por um segundo, prevendo que ele mudaria de idéia, mas ele não mudou.
- Teimoso.
- Teimosa. – Ele mostrou a língua pra mim e eu fiz uma careta, franzindo o nariz. Mas depois pensei bem e resolvi testar se ainda era irresistível para ele:
- Amooor... – Eu disse sedutora.
- Hmm? – Ele me olhou desconfiado, pronto para o que viria.
- Amor... Mas eu queria tanto que você usasse na esquerda... – Eu disse com a voz mansa, falando devagar. – Eu acho tão bonito.
- Você está louca pra casar comigo, né? – E eu sorri, imaginando como ele reagiria se descobrisse o que eu realmente sentia quanto àquele assunto. Mas ele não mudou a aliança de dedo.
- Então tá, não mude. Use-a onde você bem entender. – Eu disse simulando conformação. Ele pareceu se surpreender. – Afinal nós só somos namorados, né? – Ele pareceu concordar, mas de uma forma estranha. Ele parecia culpado.
- Quer saber amor? – Eu disse com um tom alegre. – Você tem razão, o correto é usar na direita, afinal todos fazem isso, não é? Não temos que ser diferentes. – Eu terminei trocando a aliança de mão e me deitando do seu lado, aconchegante. Eu não vi, mas pude ter certeza de que ele fechou os olhos com força antes de se sentar na cama ao meu lado:
- Não, amor... Não faz isso.
- Oi? – Eu perguntei me sentando também.
- Não precisa mudar. – Ele disse colocando meu anel de volta à mão esquerda.
- Mas eu quero. – Eu murmurei.
- Não... Não quer. – Ele disse meigo antes de trocar a aliança dele de mão e depois entrelaçar nossos dedos. – Bem melhor – Ele murmurou com um sorriso. E eu respondi com um sorriso safado.
- ... – Ele caiu na gargalhada.
- Você... – Ele disse acusador.
-Eu não, você passou no teste. – Eu ri me deitando em cima dele e o beijando com carinho. Ele correspondeu ao beijo, mas com a intensidade que lhe era característica, e enquanto eu arrastava minhas mãos pelo seu peito até seus ombros e pescoço ele agarrava meus cabelos com uma mão e com a outra percorria a extensão de minha coluna. Até que chegou em meus quadris e apertou minha bunda. Eu parti nosso beijo imediatamente, rindo:
- Já chega! Já teve sua recompensa, garoto apressado. – E rolei para o lado na cama. Ele me seguiu, agora sobre mim e disse:
- Ah é? E o que eu perdi por não ter esperado? – Ele murmurou em minha boca, encarando-me no fundo de meus olhos divertidos.
- Nunca vai saber. – Eu sussurrei tentando ficar séria. Ele continuou a me beijar, e depois de um bom tempo naquele beijo profundo eu já arfava meio sem ar e tonta. Ele insistiu me provocando:
- Tem certeza que eu nunca vou saber?
- Tenho. – Tentei parecer convincente, mas soou mais como um resmungo. Ele me beijou de novo e eu virei o rosto e o afastei.
- O que foi? – Ele murmurou confuso e eu respondi:
- Minha cabeça está girando.
- Eu sabia que era melhor não mandar os médicos embora. – Ele riu.
- Ponto pra você. – Eu respondi com a testa franzida, sentando-me na cama.
- Eu vou chamá-los.
- Não vai, não. – Eu respondi colocando a mão sobre seu peito. – Já passou.
- Aham, e eu não te conheço né, neguinha?
- Hmm – Eu resmunguei beijando seu rosto. – De onde você tirou essa agora?
- Neguinha? – Ele perguntou em meu pescoço, o que me fez cócegas, eu ri dizendo ”Aham”.
- O que foi? – ele riu também.
- Cócegas.
-Hmm, bom saber. – E eu apertei sua bochecha de uma forma irritante, de propósito.
- Desde quando eu sou nega? – Eu me joguei em cima dele de novo.
- Desde quando eu decidi – Ele riu. Eu o encarei e ele respondeu – É só uma forma carinhosa de te chamar de branquela, amor.
- Mas eu queria ser morena.
- Mas sua cor é tão linda... – Ele murmurou com as mãos em minha cintura. – Não vai fazer bronzeamento artificial, pelo amor de Deus.
- Eu achei que você não acreditasse em Deus.
- É modo de dizer.
- Então vou fazer – Eu sorri vencedora. Ele não achou graça e eu me virei, caindo ao seu lado na cama. Ele não se mexeu e eu senti seus olhos em meu rosto. Me virei ainda sorrindo:
- O que foi?
- Você sabe me irritar. – Ele disse com uma expressão nada irritada.
- Que bom. – Eu permaneci sorrindo.
- E também sabe me deixar louco, coisinha! – Ele murmurou com ênfase e eu caí na gargalhada enquanto ele me abraçava de lado, colando seu rosto na minha bochecha.
- OK, temos que levantar! – Eu exclamei – Vão vir aqui daqui a pouco pensando que nós morremos enquanto dormíamos.
- Só se tivéssemos morrido de amor.
- Oown. – Ele fez um biquinho fofo.
- Levanta! – Eu exclamei me sentando e puxando seu braço. Ele não moveu um músculo, com um sorriso safado nos lábios. Eu insisti – Levanta, amoor!
- Hah! Sua manipuladora barata!
- É mesmo? E a manipuladora barata sempre controla você.
- Controla nada.
- Você sempre cai como um patinho – Ele se sentou indignado.
- Como quando?
- Como agora. – Eu sorri puxando seu braço com mais força pensando “consegui fazer ele se sentar!” Ele mostrou a língua pra mim e eu ignorei, deixando ele ainda mais perturbado. Eu continuei puxando-o, mas como ele era pesado!
- Vem aqui, moçinha! – Ele murmurou me puxando de volta, eu estava quase em seus braços quando consegui me desvencilhar.
- Seu pesado!
- Sua manipuladora!
- Seu teimoso preguiçoso!
- Sua teimosa fogosa!
- Fogosa?! – Ele riu às minhas custas.
- É, oras. Quem não consegue ficar parado.
- Qualquer dia eu te mostro quem é a fogosa! – Ele abriu um sorriso enorme, o maior daquela manhã, mas eu o encarava séria. É claro que ele não comprou. – Vai pagar pra ver?
- Definitivamente! – Eu me virei desistindo de tentar erguê-lo e ele me seguiu. “Bem mais fácil” eu pensei andando até o closet.
- Hmm, vejamos... O que vou vestir hoje?
- Se vai bancar a fogosa... – Ele disse me abraçando por trás – Essa coisinha aqui. – Ele apontou para um shorts jeans bem curto, que eu usava quando era criança.
- Tem certeza? – Eu disse fingindo que estava levando a sério e pegando a peça em minhas mãos.
- Hmm – Ele calculou friamente – Creio que sim, é o mais adequado.
- Haha! – Eu ri jogando a peça no fundo do closet. – No dia em que você estiver bonzinho... Quem sabe. – Eu disse encarando-o com o canto dos olhos e adentrando mais um pouco o closet maravilhoso. Ele me seguiu de perto, calado, e eu encontrei a roupa perfeita:
- Amarelo! – Eu exclamei alegre.
- Amarelo?! – Ele exclamou enojado.
- É! Até parece que nunca me viu usar amarelo... – Eu revirei os olhos.
- Já... Mas esse amarelo eu nunca vi!
- Ah! Só porque ele é alegre. – Ele arregalou os olhos, irônico, e eu ri, pegando o vestido curto de manguinhas curtas. – Vai ser ele e pronto.
- Hum. E eu? O que vou vestir?
- Aah... Eu tenho a roupa perfeita pra você!
Os meninos riam, naquela tarde, sentados na grama de um belo vale.
- Ahn... ? – Chamou , ele não respondeu. – Quando foi que você incorporou o Jason Mraz? – E os garotos caíram na gargalhada, acompanhados de Jack. Eu não ri, mas sorri para com carinho. Ele estava usando uma camisa de americano-cru bem soltinha, com as mangas dobradas, uma bermuda branca e um chapéu Fedora de palha. “Está um gato!”, eu sussurrei para ele, que pareceu satisfeito.
- Tá fazendo um calor, não é? – Ele disse, ignorando as crianças.
- Uhum! – Eu concordei interessada. – Só falta uma piscina nesta casa.
- É. Nunca gostamos muito.
- Gostamos vírgula! – tom exclamou ainda se divertindo com sua piada. – O Jason Mraz aí que nunca gostou, eu e os garotos sempre quisemos construir uma aqui.
- Hmm – Eu respondi. – Então o que vamos fazer?
- Podemos pular no lago. – disse indiferente e pareceu concordar com a cabeça.
- Lago?! – Tem um algo aqui?
- Tem, maninha! – disse com uma risada no canto da boca. – Nunca viu?
- Não! Por quê? – eu estava indignada, simplesmente amava lagos. “Será que eu nunca fui longe o bastante para encontrá-lo?”, me perguntei intrigada. riu.
-Calma, amor. Deve ser que é porque ele fica bem longe daqui.
- É por onde? – Eu quis saber.
- Tem que seguir entre aqueles morros ali, e depois dos jardins , no final da floresta, ele está.
- Do outro lado da trilha?
- Isso mesmo. – respondeu.
- Ah, tá. Deve ser por isso. Tenho medo de sair daquela trilha, quando estou sozinha, e ficar perdida naquela floresta enorme.
- Haha. – E naquela tarde mesmo decidimos caminhar até o lago, e chegamos lá muito cansados, e extremamente suados. Não foi difícil nos jogarmos nas águas frescas daquele lago lindo... Nos divertimos muito e retornamos à casa ainda molhados, antes do anoitecer. Todos chegamos lá secos, mas sujos devido ao percurso pelas florestas. E eu ainda estava descalça.
- Ah, não. – Eu murmurei à porta da entrada dos fundos da mansão. A noite acabara de cair.
- O que, amor?
-Meus pés vão deixar sua casa imunda.
- Nossa!
- É. – Eu fiz careta. tirou suas sandálias e as deixou lá fora mesmo, antes de me carregar em seus braços e me levar até o segundo andar, em nosso quarto.
- Tem alguma coisa que eu ainda não conheça dessa casa?
- Na verdade ainda tem muitas – Ele sorriu me colocando na banheira e ligando a torneira.Eu tirei meu vestido e ele tirou sua camisa e as bermudas.
- Então amanhã não vai ter mais nada. Mais nenhum lugarzinho que eu não tenha visto.
- Aham. – Ele afirmou irônico. Eu espirrei água nele e ele aceitou.
- Foi justo. – Eu assenti, sorrindo. Ele entrou na banheira também e me beijou devagar.
- Amor, você tá me machucando.
- Estou? – Ele perguntou se afastando imediatamente. – Me desculpe.
- Tudo bem. – Eu disse com os olhos cheios d’água, deitando-me em seu peito.
- Quem mandou você ser tão pesado?
- Ei!
- Hmm. Que delícia. – Eu disse fechando meus olhos e sentindo a água subir na banheira e atingir o alto das minhas costas.
- Concordo. – Ele disse suspirando cansado. –Estou morto, amor.
- E eu que sou a doente... E fraca!
- Ah, nem vem. Você sabe que as mulheres são mais resistentes à dor do que os homens.
- É porque vocês são uns manhosos.
- É! Deve ser. – Ele admitiu com os olhos pregados.
- Eu amo você, coisinha. – Eu disse sonolenta.
- Eu amo mais. E você é a coisinha, não eu.
- Hmm. – Eu murmurei despreocupada. – Agora você é a minha coisinha também.
Eu cochilei na banheira, assim como , mas ele acordou antes de mim e me despertou, rindo.
- Dormimos na banheira! Não acredito... – Ele se divertia secando seus cabelos com uma toalha branca e trocando de boxer enquanto eu trocava de lingerie, de costas para ele, e não me divertia tanto assim.
- É. – Eu concordei terminando de vestir meu pijama minúsculo de algodão e de estampa de pequenas flores.
- Hmm, que pijama sexy. – Ele disse enquanto nos encaminhávamos até a cama. – Se eu tivesse namorado você antes...
- Sexy pra uma colegial, você quer dizer... E não ia fazer nada, seu bobão. Nem o conseguiu. E olha que ele era terrível, hein.
- Ah, não fala naquele imbecil. Estragou minha noite. – Ele disse se deitando ao meu lado e me cobrindo. Eu fiz um bico enorme, o imitando, e ele revirou os olhos.
- E isso porque você só tem um por cento das lembranças que eu tenho dele.
- Hum. Ele era tão ruim assim?
- Era. Só me arranjava problemas. Sempre brigando com os meus amigos...
- Você quer mesmo falar sobre ele? – Eu hesitei.
- Acho que sim. Acho que estou pronta.
- Ok. – Ele suspirou contrariado. Papo de ex-namorados nunca é muito divertido...
-Bom...
-Por onde quer começar?
-Hmm não sei... Haha.
- Tá rindo do quê?
- É que acabei de me lembrar de que a odiava o .
- Ah é? Posso imaginar por que...
- É. Ela sempre o achou muito arrogante, e o jeito descontrolado dele sempre a irritou. Ah, sem esquecer também da pose de durão, isto incomodava até a mim. A gente se divertia falando mal dele de madrugada, haha... – Me controlei para não dizer “Bons tempos...”
- Hum, acho que ele merecia.
- É... Mas ele me amava muito sabe?
- Eu duvido. – Ele respondeu imediatamente sério.
- Duvida?
- Uhum. Aquilo não era amor, . Era algo doentio, como se fosse viciado em você.
- Ele era possessivo, você tem razão, e muito ciumento.
- Pois é. Dois sinais de doença mental. Ele não te amava. – Ele declarou rindo da própria piada – Você namorou um psicopata! – E subitamente o sorriso desapareceu de meu rosto e eu baixei o olhar, pensativa, revivendo algumas lembranças.
- Amor?
- Hun? – Eu me assustei
- Tudo bem? – Eu não respondi, novamente perdida em lembranças, mas disse:
- Sabe que... Eu sempre considerei isso? Quero dizer, eu e sempre conversávamos sobre isso.
- Sobre ele ser psicopata? Era brincadeira amor.
- Eu sei. – Eu ri – Mas eu estou falando sério, já pensei muito sobre isso. Ele tinha algumas atitudes muito absurdas, se é que me entende... Nada normal. E eu estava sempre, perturbadoramente, com medo dele. – Eu dei uma pausa, encarando os lençóis brancos e não disse nada. Eu pude sentir seus olhos pregados em meu rosto, me escutando com atenção, e então continuei – Eu nunca me incomodei muito com isso, mas é estranho, não é? Pelo menos agora é, pensando bem...
- Ah, sim, com certeza! Quero dizer... Você não deveria se sentir assim.
- Não, não deveria...
- Ele agia de alguma forma que justificava o seu medo? – Eu o encarei pelo canto do olho, entendendo aonde ele queria chegar.
- Não ... Não é isso que você está pensando... – Ele me encarava paciente. – Ele era muito violento com as outras pessoas, meus amigos, caras que mexiam comigo e tal, mas comigo não, nunca.
- Hum. – Ele não pareceu se conformar.
- Ele nunca encostou em mim, . – Eu afirmei com um sorriso rápido. – Não se preocupe. – Ele me encarou com carinho e concordou com a cabeça:
- Fico contente em saber. – E eu sorri confortando-o.
- Que babaca que ele era, ...
- É. – Eu concordei pesarosa.
- Bom... Podemos mudar de assunto?
- Absolutamente! – Eu ri aliviada
- Chega de ex-namorados por hoje. – disse me abraçando de lado e beijando minha face.
- É... – Eu murmurei abraçando-o de volta. Em minutos eu adormeci, satisfeita por ter aliviado um pouco do peso que carregava nos ombros desde que terminara com . De alguma forma eu ainda me sentia ligada a ele, tinha medo de me sentir culpada pelo nosso fim trágico e buscava por desculpas que o incriminassem e aliviassem um pouco o meu pesar.
Capítulo 17 – O reencontro. “Me deixa em paz! Vai embora daqui! Ah! – Eu gritei quando ele afastou meus braços com uma força exagerada e eu senti alguma coisa se quebrar lá dentro. Eu tentava respirar, mas não conseguia. Todo meu esforço para afastá-lo era em vão.”
Bem, infelizmente, pouco tempo depois, em uma noite fria, especificamente dia 16/03, eu voltara a ver . E não foi o exatamente o reencontro que eu imaginei.
- Então acho que hoje devo trazer o jantar aqui em cima pra você...
- Por favor. – Eu concordei relutante. Eu não me sentira muito bem aquele dia, eu acordara com uma sensação ruim, um pressentimento, e aquilo me preocupou um pouco e me deixou indisposta. Foi o primeiro dia desde que eu retornara à mansão que eu não saí a caminhar pelos jardins. estava visivelmente perturbado e preocupado, mas tentou disfarçar da melhor maneira possível para não me assustar, contanto, ele não tinha idéia de como era a sensação que eu tinha. Ele me deixou sozinha e eu suspirei preocupada. Orei por alguns segundos, como fazia todas as noites, e pedi à Deus que me abençoasse, assim como a , e que me desse forças para me recuperar logo e vencer minha doença. Também pedi para que levasse de mim aquela sensação ruim e que me protegesse do que quer que fosse me acontecer. Então ouvi um ruído forte não muito longe e me assustei. Aguardei em silêncio pela voz de alguém, mas nada. Então o ruído me assustou novamente, mas desta vez um pouco mais próximo, e o reconheci como o abrir de portas. De novo, mas bem alto agora, e então pela última vez o ruído quebrou o silêncio e as belas portas de meu quarto se escancararam logo em seguida, revelando o autor daqueles barulhos. . Ele me encarava com ódio e algo mais nos olhos.
- ! Finalmente! – Ele exclamou com a voz embriagada, caminhando lentamente até minha cama, e eu percebi que o “algo mais” em seu olhar era a confusão que a bebedeira lhe causava.
- ! – Eu sussurrei horrorizada.
- Surpresa?
- Aham... Muito. Você podia ter ligado, avisado que viria, assim poderíamos lhe dar uma recepção adequada. – Ele ignorou:
- Onde estão seus amigos? Seu namorado?
- Lá em baixo – Eu disse me levantando – Vou chamá-los.
- Não, não! – ele se exaltou posicionando-se em frente a mim – Você não vai a lugar nenhum, eu vim falar com você mesmo.
- Jack recebeu você?
- Digamos que eu não entrei pela porta da frente. – Eu não respondi de imediato a encarar-lhe fundo nos olhos:
- Você soube, é? – Eu perguntei controlando meu medo e me referindo a meu câncer.
- Soube do quê?! Vocês se casaram?! Vão ter filhos?! – Ele disse se aproximando, sua atitude me assustava.
- Nada disso... Você está bêbado, .
- Voi lá! – Ele gritou fora de si.
- O que você quer de mim? – Eu perguntei enraivecida
- Sabe, meu bem... – Ele disse distraído, se aproximando cada vez mais enquanto eu me afastava. – Eu sofri muito quando você me traiu com aquele idiota.
- Eu não te... – Ele me interrompeu me assustando:
- Cala a boca! Não vim aqui pra ouvir mais desculpas idiotas.
- Como você me encontrou?
- Eu tive muita raiva... Muita raiva! De você e de seu namorado... , não é?
- Como que entrou aqui?
- Pois é, essa raiva que virou ódio me trouxe até aqui. Eu segui seu cheiro, . – Ele respondeu aproximando seu rosto do meu, inspirando com força em meus cabelos.
- Diz logo o que você quer e vá embora! – Eu disse apavorada. – É dinheiro? – Ele riu:
- Parece não faltar por aqui, não é mesmo? Como está sendo morar aqui, na casa do milionário e seus coleguinhas, hã?! Sua vagabunda!! – Eu respirei fundo para não responder – Ele deve te tratar como você merece, mesmo! Hein?! Me conta, ... – Eu não respondi, dando as costas para ele e caminhando até a porta, mas ele me impediu, me puxando pelos cabelos:
- Onde você pensa que vai?! Eu não terminei com você ainda! – Ele gritou em meu rosto e me empurrou para mais dentro do quarto.
- Ah! – Eu gritei de dor, me sentia frágil. Então ele foi até a porta e a trancou. Eu me levantei rapidamente e me aproximei dele:
- O que você está fazendo? – Ele não respondeu – , abra esta porta agora!
- Não! – Ele gritou – Chega de me dar ordens! Foi sempre assim! Você achava que eu não tinha inteligência suficiente pra tomar decisões não é? Agora é diferente, você me traiu e acabou tudo entre nós!
- Pare de dizer isso, não é verdade!
- Não interessa, eu não acredito mais em você, sua vagabunda!
- Eu não sou vagabunda! – Eu gritei de volta e ele se aproximou rapidamente me jogando no chão e me agarrando com força pela cintura. – Me larga! Sai de cima de mim! – Eu arfava confusa, me debatendo. Ele parou por um instante e me encarou fundo nos olhos. Eu esperava com fervor poder encontrar uma pequena gota sequer de sanidade, mas foi em vão. Então ele disse em um sussurro mórbido:
- Não vai conseguir piedade da minha parte. – Eu arregalei os olhos chocada e ele me beijou avidamente. Ao mesmo tempo em que parecia que ele sentira falta daquele gosto também parecia que ele tinha pressa em acabar logo com aquilo, em me humilhar, se vingar enfim. Eu relutei contra seus braços em desespero, tentei desviar meu corpo, meu rosto, mas nada adiantava, ele usava toda sua força contra mim, uma força cercada por uma onda de violência e brutalidade que eu não conhecia. El partiu nosso beijo e agarrou minha camisola com força, eu arfei profundamente tentando pensar, tentando decidir o que fazer. “Os garotos não ouviram o barulho das portas?!” o pensamento passou por minha mente sem que eu percebesse. Eu empurrei seus ombros com toda a minha força, mas eles nem mesmo se mexeram enquanto ele erguia o tecido fino do pijama por minhas pernas, barriga, tronco. Aumentei ainda a força com que eu o empurrava, mas com um movimento rápido ele fez minhas mãos se desviarem de seus ombros e escorregarem para longe dele ainda com força. E o movimento rápido que ele dera fora uma cabeçada que me fez perder alguns segundos do que se passava. O que vi em seguida foi o teto dourado e branco do quarto, depois vi sua cabeça se mexer ao lado da minha, depois senti sua boca em meu pescoço, sua respiração quente e rápida, o carpete em meus dedos frios, seu corpo a esmagar meu tronco aflito, meus pulmões asmáticos, suas mãos no fim de minhas costas, me apertando, e uma dor apunhalando a parte de trás da minha cabeça. Foi a última coisa que senti, parei por aí, abaixo de minha cintura eu não sentia nada. Levantei meus braços apavorada, tomei ar, e agarrei seus cabelos, puxando sua cabeça para trás. Ele deu um grito e eu o soltei, concentrei minha força em seu peito e então gritei:
- Me deixa em paz! Vai embora daqui! Ah! – Eu gritei quando ele afastou meus braços com uma força exagerada e eu senti alguma coisa se quebrar lá dentro. Eu tentava respirar, mas não conseguia. Todo meu esforço para afastá-lo era em vão. Eu consegui erguer um pouco a cabeça e vi que estava usando lingerie. “Pelo menos” concluí sem muitas esperanças. A minha visão se embaçou e eu rezei por um milagre. “ vai chegar, vai chegar!” eu repetia em minha mente, tentando não me esquecer de nunca desistir, de não perder a fé. No fundo eu sabia que tudo daria certo, mas o medo me impedia de ver isso. Quem diria... , meu ex-namorado, me agarrando e me machucando no chão de minha mansão, ou melhor, da mansão de .
- Deus... Me ajude. – Eu sussurrei inaldivelmente enquanto derramava uma lágrima e procurava pelo fecho de meu sutiã. Eu fechei os olhos, ele gritou “Acorda!”.
- Você tem que estar consciente. !
- Você enlouqueceu. – Eu pisquei atônita movendo a cabeça para os lados devagar, tentando me recuperar da tonteira que a dor no braço me causara. Ele riu e eu tive ainda mais medo. Mas tomei forças e continuei, ganhando tempo precioso enquanto ele me encarava de uma pequena distância.
- O que está fazendo? O que vai ganhar com isso, ? Você nunca foi cruel...
- Não, esse foi o problema. Deixei você me magoar, arrancar meu coração. Ah, não, meu amor... Nunca, nunca mais você vai brincar com o , nunca.... – Seus olhos estavam marejados e não pareciam me enxergar. “Será que ele vai se arrepender disto amanhã?” eu pensei entristecida.
- ... Você sabe o quanto eu gosto de você, sempre gostei.
- Não! Não, sua vagabunda interesseira! Porque nunca deu pra mim?! Hein?! – Ele me sacudiu pelos braços, me encarou fundo e eu me segurei para não responder o que me veio em mente. – Porque você deu praquele playboy na primeira oportunidade?! Porque ele?? – Eu não me magoei porque sabia que a acusação não era verdadeira, mas considerei o outro sentido da pergunta: “Porque eu escolhi ? Porque desisti de ?” e então chorei novamente, no momento todas as emoções me tomavam com força, eu estava aflita, fora de controle, desequilibrada. – Porque ele?! Me responde!!
- Eu não sei! Tá?! Eu não sei! Eu me apaixonei... Eu não devia... Me perdoe, . Por favor! Esquece tudo isso...
- Não, nunca. Vocês vão pagar, vão sim! – E foi quando eu percebi o quanto estava farta de ser sempre a donzela em perigo, o quanto me incomodava. E então eu me prometi que dali para frente eu me esforçaria ao máximo e passaria por cima do que fosse para evitar que eu estivesse naquela situação outra vez. “Chega de humilhação. Não quero mais a ajuda ou a pena de ninguém!”, minha mente viajou para bem longe daquele quarto, daquele corpo, entre lembranças e tristezas. Não me movi, não senti o que se passava em meu corpo ou com , eu simplesmente parei um pouco de lutar, respirei, me lamentei. E então alguém me acordou com uma surpresa brusca:
- ! – Eu pisquei e avistei por cima do ombro de . Senti seu espanto horrorizado e sua incredulidade. Os garotos deviam estar junto dele, mas foi tudo muito rápido, eu não os vi. Se tivessem me perguntado naquele instante se eu ainda era virgem, eu não saberia responder. desapareceu, se aproximou muito, me pegou em seus braços. Eu logo estava em nossa cama a observá-lo pensativa. Agradeci a Deus por meus pensamentos serem secretos. Eu considerava os motivos pelos quais eu o escolhera, pelos quais eu o amava. Seria mais fácil amar uma estrela, na ilusão do real, na distância amiga, na pureza da inocência de não tocá-la, na esperança do encontro único e eterno após a morte. O meu amor era muito real, plausível. Ele me oferecia muito, mas também cobrava em peso. Era uma condição, uma troca. Eu me perguntei se ainda era saudável, mas tive medo da resposta.
- Meu amor... Como você está? – sussurrou me fitando. Eu olhei para meu corpo solto sobre os lençóis e quase não me importei com o fato de que ainda estava vestida, era virgem afinal.
- Estou com medo. – Declarei com sinceridade.
- Oh meu Deus...O que ele fez a você?
- Não fez nada. Nada, . Eu estou bem, você chegou a tempo.
- Eu sinto tanto, yais, eu... Eu não sei como não cheguei antes.
- Você estava ocupado cuidando de mim.
- Mas não consegui, não é?
- Claro que conseguiu... Você me salvou mais uma vez. Obrigada. – Eu senti uma lágrima fria presa em meus cílios, adentrando minha pele. Senti minha cabeça latejando, não senti meu braço direito, mas senti dores leves nas costelas, na coxa esquerda, nos dedos das mãos.
- Você está tensa... – Ele sussurrou preocupado acariciando meus braços com pressa para me aquecer. – Tente relaxar, respire fundo. – Eu obedeci. – Me perdoe, por favor. É tudo culpa minha. Eu me odiaria pra sempre se ele tivesse estuprado você. – Ele falava com verdade no coração e lágrimas nos olhos, mas eu não conseguia sustentar muitas emoções. Eu só sentia alívio por estar inteira e a salvo.
- Eu sabia que você chegaria... – Eu disse a observar seu belo rosto. Ele sorriu de leve, não sabia o que fazer, queria me ajudar. – Eu estou bem mesmo, não precisa se preocupar comigo. – Ele passou os olhos pela extensão de meu corpo, devagar, e parou em meu braço direito com os olhos arregalados.
- , meu amor... – Ele murmurou sem conseguir despregar seus olhos de meu braço – O que aconteceu com seu braço?
- Nada. – Menti.
- Você pode mexer sua mão? Seus dedos?
- Não... – Resmunguei chateada.
- Ai, meu Deus! Ele está quebrado... – Eu ergui a cabeça com dificuldade para vê-lo, mas ele me impediu:
- Não, não olhe! É melhor, amor. – Ele se inclinou e me beijou nos lábios com delicadeza. Eu relaxei e ele permaneceu ao meu lado acariciando meus cabelos até os médicos chegarem.
- Não se preocupe, ele vai pagar. Eu vou matá-lo! – Ele exclamou quando as portas do quarto se abriram.
- Não... Por favor não se sinta assim... – Ele me ignorou e me deu um beijo na testa dizendo “Tudo vai ficar bem”, e então se separou de mim e eu pude ver os rostos de doutora Cameron e doutor Chaase se aproximarem. Eu não tinha nada além de um braço quebrado e pequenos hematomas de dedos nas costelas e coxas. Enfaixaram meu braço e logo eu fiquei bem. Não suportava a idéia de que fizera sofrer mais uma vez e ainda mais. Todos alimentavam aquele ódio horrível por . Os meninos deram uma boa surra nele, naquela mesma noite, e depois o deixaram ir embora. Ameaçaram entregá-lo para a polícia caso voltasse a me perturbar e comentavam sobre o ocorrido todo o tempo. Todos queriam ter a chance de encontrá-lo novamente e matá-lo com suas próprias mãos. Até mesmo doutor Chaase e doutor Foreman compartilhavam destes sentimentos. É claro que House, que apareceu no dia seguinte, não disse nada além de umas poucas palavras como “Infernos!” ou “Misericórdia!”. Poucos entendiam como eu o que se passava dentro dele. Era interessante. Então os médicos partiram mais uma vez. Eu tentei perdoar e esquecer tudo aquilo, mas não me deixavam. Ninguém esqueceu também do fato de eu ainda estar me recuperando do câncer, o que me trouxe de volta às velhas lembranças horrorosas de tudo que aquela doença me proporcionara. Eu tentava ignorar absolutamente tudo aquilo e continuar com a minha vida de antes daquela noite, mas passaram a me tratar diferente, como uma doente novamente. Aquilo me irritou, mas não briguei com ninguém, só queria ficar em paz. Me ausentava por longas horas entre as florestas ou na beira do lago para pensar e ficar um pouco sozinha. Ninguém demonstrava seu incômodo com aquilo além de . Todos, exceto ele, pareciam entender que eu precisava de um tempo para mim mesma, de espaço. Capítulo 18 “Você vê os olhos dele, você vê os olhos dela. Você sente o clima tenso congelar em chama ao redor da pele deles. Seu coração treme lá dentro, ainda intacto aparentemente, e geme de culpa. Você sabe que está fazendo algo errado. Mas foi o que “te deu na cabeça”, e você sempre faz o que “te dá na cabeça”, não é? Pois é...”
Dia 01/04/2011
Fizeram-me muito bem aqueles dias de calma, solidão, reflexões. Eu não me sentia mais tão leve e alegre desde a “visita” de , e parecia que agora tudo piorara, não importava o quanto tentava me fazer feliz, parecia que a sombra do passado com o me atormentava ainda mais, Eu havia chegado a uma conclusão. Existia uma coisa ainda muito errada em minha vida. E eu não permitiria que aquele assunto me afligisse mais. Eu estava decidida, nada me faria mudar de idéia, nada. E nesta tarde eu retornei o mais rápido possível para a casa, a procura dos garotos, eu precisava que todos tomassem conhecimento de minha decisão. Gritei por cada um deles, mas não obtive resposta. Subi depressa para meu quarto e fechei a porta. Joguei meu vestido laranja sujo de terra e grama no chão do banheiro e tomei um banho gelado. Não demorei, mas observei tudo com cuidado, cada detalhe da banheira, do teto, das paredes, dos objetos sobre a pia. Me penteei , me vesti e comecei a reunir meus pertences espalhados pelo quarto enorme. Deixei tudo em cima da cama inclusive minhas malas: uma grande para roupas e outras duas pequenas para sapatos e acessórios. Separei todos os livros que eram da biblioteca da casa e os posicionei na mesinha ao lado da cama. Abri a porta do quarto e entrou, ele estava me esperando do lado de fora. Ele me encarou preocupado e me perguntou onde eu estava. Eu disse a verdade, mas sem coragem para contá-lo sobre a novidade. Ele se virou para minha cama e não se moveu. Eu tentei ignorar e continuei a fazer as malas.
- Eu preciso ir! – Eu afirmei convencida, ao jogar uma blusa azul na mala aberta em cima da cama.
- Você não pode ir! – Ele exclamou, seguindo cada passo meu por aquele quarto, e eu não respondi. – Você está doente! Você tem câncer, pelo amor de Deus!!
- Quem se importa?!
- Eu me importo!
- Tudo bem, eu tenho câncer! Mas meu irmão precisa de mim! – Eu discutia, teimosamente, enquanto terminava de fazer minhas malas. Ainda não sabia, neste ponto da discussão, se eu teria que esvaziar meu guarda-roupa e levar todos os meus pertences, que estavam naquela casa, ou se levaria somente o necessário para a estadia de um dia ou dois na Califórnia.
- Ele é só um bebê! Ele vai sobreviver! Já você...
- Eu o quê?! Você acha que eu vou morrer, ? Só por entrar em um avião? – Eu gritei sem paciência.
- Você sabe que não é tão simples! Você mal pode andar!
- Ótimo! Então deixe-me rastejar até lá e fique aqui se lamentando! É o que fazem os que amam, não é?
- Eu amo você!! E é por isso que não vou deixar você fazer essa loucura! Imagine! Viajar toda essa distância...
- E porquê você não pode vir comigo?
- Porque eu não concordo com isso!
- ! Me escuta! Ele é meu irmão! Minha mãe morreu! Ele é a única coisa que me restou! É o último pedaçinho dela! Ele é a minha família! – Eu disse, esgotando a maioria de minhas forças, com os olhos se umedecendo.
- Então é isso? Eu não sou o suficiente? Pensei que eu fosse sua família agora... Que nós fossemos uma família! – Ele gritou mais uma vez, fazendo-me chorar.
- ! Por favor, entenda! Por favor, ! Por favor... – Eu implorei entre soluços – Eu vou buscá-lo... Preciso vê-lo... – Eu continuei, pensando alto.
- Isso não vai acontecer. – Ele decretou, sério, e pôs-se a desfazer minha mala, jogando as roupas sobre a cama. Eu ia até meu armário e voltava com mais pertences, o ignorando.
- Tente me impedir! – Eu me exaltei, finalmente, farta daquele jogo de chantagens, proibições... Eu queria vê-lo por em prática, naquele momento, tudo que prometeu, que jurou. Mas ele não poderia, eu sabia. Não poderia provar que me amava, não poderia me impedir realmente de partir. E o pior: Não poderia me acompanhar, me entender ou me perdoar. Eu estaria sozinha, a partir do momento em que saísse daquela casa. Ele me odiaria para sempre e tentaria, até o resto de seus dias, reprimir a lembrança daquela que partiu seu coração, que o fez se apaixonar para depois abandoná-lo. Eu.
- O que você vai fazer, ? O que pretende?! – Ele perguntava, seguindo-me mais de perto agora, e encarando-me com raiva, a queimar sob um fogo intenso de medo por baixo de sua pele. – Vai trazer ele pra cá? Vai cuidar de um bebê, se tornar mãe? Abandonar sua vida?! – Ele se exaltava, incrédulo, exigindo-me respostas, as quais eu me recusava a dar.
- Que vida?! Isto? – Eu gritei, ainda chorando, a observar o quarto ao meu redor, que me remeteu muitas lembranças horríveis, e concluí como éramos infelizes há um bom tempo.
- Então quer dizer... Quer dizer que você não é feliz aqui?! – Eu encarei aqueles olhos tremulantemente brilhantes e quase pude ouvir a música “Here comes the storm”, e pensei comigo mesma: “Mas não aquele trecho legal que você acompanha com a cabeça na boate, aquela parte fria que ele canta, aquela parte que dói nas entranhas quando se escuta, e você pode até ver um quarto de hotel frio, bem iluminado, sendo abandonado naquele instante. Você vê os olhos dele, você vê os olhos dela. Você sente o clima tenso congelar em chamas ao redor da pele deles. Seu coração treme lá dentro, ainda intacto aparentemente, e geme de culpa. Você sabe que está fazendo algo errado. Mas foi o que “te deu na cabeça”, e você sempre faz o que “te dá na cabeça”, não é? Pois é... Chegou a hora de provar isso. Essa é a hora.” Sim, aquela era a minha hora, e se tivesse sido um show, eu diria que eu brilhei.
- O que quer que eu diga, ? Quer que eu minta? Eu estou morrendo!! – Eu exclamei, como que o lembrando daquela verdade terrível, que todos ali se recusavam a aceitar. – Sou carregada para todos os lados, mal saio deste quarto, dependo de vocês para tudo! Eu não brinco, não sou útil, não trabalho, não corro, não saio com você! Você até sai sozinho, pra beber! – Ele arregalou levemente seus olhos, ainda me encarando e mordendo o lábio inferior. Após um segundo do silêncio regado de seu arfar profundo e ainda ferido.
- Sua doença... Sua situação... Isso não é culpa minha. – Ele disse se acalmando aparentemente.
- Eu nunca disse isso. – Eu respondi ofendida.
- Mas eu não pude fazer você feliz, não é?
- Claro que não! Esse é o problema...
- Haha! Isso é épico... E a história se repete!! – Ele riu-se, escandalosamente, me irritando.
- Não, Daniel! Não é isso! Não sou eu o problema, não é a sua ex! É você! Você e esse orgulho seu!
- O quê?! Era só o que me faltava... – Ele disse, dando as costas para mim.
- É isso mesmo! Você sempre quer ser o melhor em tudo! Pensa que tudo tem que ser perfeito! Que as pessoas devem dizer somente o que você quer ouvir!
- É! Mas foi isso que me fez chegar até onde eu cheguei! Escutou? Se não fosse pelo meu perfeccionismo, pela minha exigência, nós não estaríamos famosos! Mcfly não seria um sucesso e...
- E você nunca teria me conhecido. – Eu completei a interrompê-lo. Ele em encarou, surpreso, e não conseguiu continuar. Eu sustentei o silêncio por mais alguns segundos, e fungando eu frustrei as tentativas de parar de chorar.
- Você conquistou o mundo, Daniel... Mas e quanto a mim? – Ele ainda me encarava, emudecido, mas reparei que seu olhar começava a descongelar.
- Chega. – Ele disse sério, contrariando minhas expectativas. – Não quero saber... Você quer o bebê? Ótimo! Então vá pegá-lo! Mas não venha me procurar se você piorar! Se tiver uma recaída! – Ele terminou gritando, e jogou minha mala no chão, na última tentativa muda de tentar me impedir de ir.
-Ah, mas não se preocupe. Eu não planejava voltar pra cá. – Eu respondi, secando as últimas lágrimas que eu derramaria naquela noite.
-... – Ele disse depois de respirar fundo, tentando se conter – Você tem uma vida aqui. Você tem amor.
- É verdade. Mas você me custa muito. Não posso pagar, .
- Você vai mesmo pegá-lo?
- É claro que vou pegá-lo! É meu irmão, pelo amor de Deus! – Então as portas se abriram, antes que pudesse responder, e atraíram nossa atenção. adentrava o quarto com Vicky no colo, na certa eles teriam dado uma volta pelo jardim.
- O que houve? – Ele perguntou. Nós não respondemos, eu encarava o chão. – Seus gritos ecoaram pela casa toda... Céus! Querem me explicar o que está acontecendo, por favor? – então disse:
- Ela quer viajar . Quer buscar o irmão recém-nascido! Na Califórnia!
- Não, , você não pode fazer isso... - disse sereno, mas horrorizado, enquanto eu jogava um punhado de roupas na mala escancarada no chão.
- ... – Eu suspirei indisposta a brigar com ele. – Eu tenho que encontrar meu irmão. Ele precisa de mim!
- Nós também precisamos. – ele respondeu triste, colocando Vicky no chão. – Como vamos ficar sem você aqui?
- Mas eu não vou morrer, ! É só uma viajem, vai dar tudo certo.
- Os médicos sabem disso?
- Não... – Eu disse desconfiada.
- Você está no meio do tratamento. Não pode abandonar tudo assim, você terá no mínimo uma recaída.
- Não vou ficar aqui esperando pra morrer. Antes disso preciso ver meu irmão. Eu vou fazer isso, . – Ele suspirou, vencido e respondeu:
- Você é quem decide.
- Não, ! Você tem que impedi-la! – se exaltou, surpreso.
- Não vou fazer isso porque sou um cavalheiro. – disse, e eu o encarei agradecida. – Mas a minha vontade era de te trancar em um quarto até estar curada. – Ele terminou, assassino.
- Então é isso? Vai deixar ela ir?
- Ei! Eu ainda estou aqui! – Eu disse indignada. me tratava como se eu fosse uma criança, e isso vinha me perturbando há algum tempo...
- Vou. – respondeu também me ignorando.
- O que você está fazendo? – perguntou atônito.
- Respeitando-a. E você devia fazer o mesmo. – tom respondeu encarando o chão e depois . Eu fechei os olhos aliviada, fechou os olhos perturbado e os fechou penoso. Então eu tomei coragem e pedi a que fechasse minha mala e a colocasse de pé perto da porta. Ele o fez sob o olhar incrédulo de , e eu o segui, entristecida. Antes de sair eu me virei e fitei .
- Eu não vou voltar. - Eu disse preocupada, me perguntando se ele ficaria bem sozinho, sem a esperança de que me perdoasse. Ele ergueu seu olhar até mim, e disse depois de me observar da cabeça aos pés, com os olhos encharcados.
- Eu sei. – Ele respondeu simplesmente. Eu tentei dar um sorriso de despedida, mas não consegui. E saí pelas belas portas duplas, observando-as calorosamente, me despedindo.
- Continue sendo este homem decente e gentil que você é, . – Eu disse ao pé da grande escada ornamental coberta por tapetes vermelhos. Eu usava um vestido simples, negro, luvas brancas e me sustentava com dificuldade, sobre os saltos do sapato azul e sobre as verdades que preferia ocultar a mim mesma.
- Sim, senhora. – Ele disse me puxando para um abraço apertado.
- Cuide bem de todos. E de Vicky também. Trate-o como você gostaria de me tratar. – Ele acenou positivamente e eu continuei com minhas recomendações – E não se preocupe comigo, eu juro que vou fazer de tudo para tentar ser feliz. Nunca, nunca vou esquecer você, é claro. – Eu sorri emocionada – E mande um abraço para os meninos, o pessoal da cozinha, Manolo... Todos. Diga que não me despedi porque estava com pressa.
- Ok, irmãzinha. Vou chorar todos os dias. – Ele disse.
- Um dia eu volto para buscar Vicky. – Eu disse esfregando suas orelhas e fazendo-o se mexer no colo de , querendo sair de lá, ir comigo.
- E neste dia, você pode aproveitar e me ver também?
-Hum. – Eu resmunguei simulando estar tocada – Claro . – Eu terminei dando-lhe um beijo na bochecha, com esperança de que um dia nos encontraríamos de novo, sem ressentimentos, sem mágoas, sem lembranças tristes. Virei-me e atravessei as grandes portas do hall de entrada, que me esperavam escancaradas. Jack me seguiu, carregando minha bagagem com o olhar fixo no horizonte, seu coração machucado, sua confiança traída. Eu o encarei profundamente, por muitos segundos, depois que ele fechou o porta-malas do carro do motorista, e disse:
- Vou sentir falta desses olhos dourados. – Ele respirou fundo antes de responder, e com muito custo o fez, cuspindo as palavras rapidamente e fitando o chão:
- E eu vou sentir falta da sua voz, de suas mãos, seu sorriso, seus cabelos, sua pele, suas roupas, seu olhar, suas desculpas, seus “obrigadas”, seus suspiros, suas lágrimas, da sua voz rouca e meiga ao amanhecer e do ruído dos seus passos pela casa. – Eu entreabri os lábios sem perceber, arregalei os olhos e fixei meu olhar em seu rosto até que ele ergueu seus olhos até os meus, e eu não pude pronunciar uma palavra sequer. Muitas coisas passaram por minha mente naquele momento. Todos aqueles pensamentos... Confusos. Não vale a pena tentar descrevê-los, ou as sensações, emoções, que me tomavam. Mas ele me abraçou com carinho. O sol se punha. E assim como os raios dourados me deixavam, deixava-me também o dourado dos olhos dele. Eu entrei no carro, não me lembro como, e fiquei a observá-lo pelo vidro. Ele sustentou meu olhar, entristecido. E quando o motorista deu a partida no carro eu sussurrei a palavra que até agora tentara negar a mim mesma.
- Adeus.
Fim.
N/B: Heey :) espero que gostem da fiic! A autora me enviou completa depois de várias revisões e eu dei mais uma revisada por cima, conforme pedido por ela, porém, qualquer errinho já sabem -> /kaah.jones/ xx.