Gay



Eu era gay. É, eu era. Não daqueles gays que viram gays para ficarem perto das mulheres que são apaixonados. Eu era gay. Realmente gay. A única mulher na minha vida além da minha mãe, era . Ela era linda e tinha o sorriso mais encantador da face da terra e o jeito mais perfeito que qualquer homem sonha e eu vou para por aqui porque to aparecendo um gay de novo. Sabe aquela história que toda mulher sonha em ter um amigo gay? Então, era eu. Saíamos juntos para fazer compras no shopping, participava de todas as reuniões com as amigas dela, falávamos mal dos homens, dormíamos na mesma cama e nada, nada acontecia. É, eu era muito gay. Deve estar se perguntando o porquê do uso do verbo ser no pretérito mais que perfeito, certo? Pois eu explico: na verdade, verdade verdadeira, eu nunca fui gay. Nunca me apaixonei por nenhum homem, nem nunca deixei de achar as mulheres gostosas (e isso inclui a ). A questão é que eu só "virei" gay por culpa da minha ex. É, ela era gay e me trocou por uma mulher. É, eu quis me vingar dela e por isso, num momento de fúria, disse para a escola inteira ouvir que eu iria me vingar trocando ela por um homem. Não preciso dizer que no outro dia a escola inteira já apontava para mim e dizia: 'Olha lá, o viadinho do indo procurar o principe encantado!'. Pedi ajuda para os meus melhores amigos e eles me mandaram pastar. O diretor da escola não quis me receber e o meu pai jurou que se ele soubesse de qualquer coisa iria me mandar para uma escola interna só para garotos, mas voltou atrás e disse que iria me mandar para um seminário. Voltou atrás de novo e falou que iria me dar umas boas cintadas até eu virar homem. Ótimo para um menino de 15 anos, loser, e com fama de viado. Até um dia que acordei querendo dar um basta nessa história. Minha mãe me olhava com pena, meu pai me ignorava e meus vizinhos caçoavam da família. Estava decido a pegar a menina mais hot de toda a escola no intervalo, mesmo correndo o risco de levar um chute no Júnior, quando eu a vi. Estava linda com os cabelos presos num coque frouxo segurado por um palitinho, all star amarelo e camisa do The Who com uma calça jeans justa. Se desdobrava em duas tentando segurar os livros e a capa do violão que pendia pro lado. Linda. E tão diferente de todas as meninas daquela escola. Fiquei como um bobalhão babando por ela, até reparar aqueles olhos tão fortes na minha direção e ela caminhando até mim, com um sorriso doce no rosto. É. Eu realmente era gay.
- Oi, você que é o , ? - Ela perguntou se aproximando e eu engasguei tentando me recompor. Dude, eu tava babando!
- Erm, sim! E você? Quem é? - Adivinhem? Minha voz saiu igual à de um gayzinho.
- , prazer. -Ela falou tímida e eu sorri. Bobalhão. Gay. - É você o responsável pelas aulas de violão?
- Sim. Quer dizer, eu não dou mais aula porque, bom, problemas. -Menti. O diretor resolveu cancelar minhas aulas. É, por eu ser gay. - Por quê?
- É que me falaram que aqui nessa escola tinha um aluno que dava aulas. E eu precisava de uma cifra. Mas tudo bem devem ter outros pro...
- Nada! Não é porque eu não dou mais aula que eu não posso ensinar! - Num pulo, fiquei de pé ao lado dela e a abracei pelos ombros. Eu podia ser gay; mas ainda era esperto.

- Você é gay, não é? -Ela me perguntou quando estávamos sentados debaixo de uma das arvores mais gostosas do colégio. Tá, isso foi gay.
- Aham. - Falei sem pensar. Estava concentrando tirando a cifra da musica dela.
- Ah. Sempre quis ter um amigo gay. - Eu disse. Mulher gosta dessas coisas!
- Posso ser o seu então! - Falei e gargalhou. Sabe aquela gargalhada que te faz rir? Aquela que por mais que você não queira, seu coração faz cosquinhas dentro de você, e você acaba rindo? Eu senti isso. E isso foi gay. Muito gay.
Dali para frente, o que eu achei que iria se tornar uma pegação e minha fama de gay ir para o espaço, descobri uma amiga. Não uma amiga, uma AMIGA. Daquelas que você sai pra beber, que você faz guerrinha de travesseiro, daquelas que você liga três horas da madrugada. Me senti uma menininha falando isso, mas enfim, sabe daquelas que você conta tudo? Ou quase tudo? É, eu não contei pra que eu não era gay. Eu sempre achei que ela sabia e que nutria algo por mim, até ela arrumar o namoradinho dela, Erick. É, o Erick. O menino mais popular que aquela escola já viu e o menino que mais me odiava na face da terra. É, ele era apaixonado por mim. É, eu não estou mentindo. Ele também era gay. E adivinhem de novo? A pegou ele tentando me beijar. Bom, e vocês se perguntam: você não era gay? Sim, eu não era. E sabe qual foi a maior prova? O que eu falei pra ele dentro do almoxarifado, naquela tarde chuvosa em que ficamos, eu, e Erick, fazendo trabalho para a escola.
- Eu sei que você é gay, . - Erick falou jogando a cadeira pro lado e se aproximando de mim. Gay. Totalmente gay.
- E você é o namorado da minha melhor amiga! - Falei chegando pro lado e segurando uma vasilha de tinta guache rosa choque na mão. E ainda por cima a cor ajudava.
- Você realmente acha que isso é traição? - Erick disse se aproximando de mim e eu dei um passo pra trás encostando na parede. É, agora eu ia ter a minha experiência. MEU DEUS, SOCORRO!
- É! Com que uma pessoa em sã consciência trai a ? - Erick me olhou com cara de 'e dai?' e eu senti vontade de voar em seu pescoço. Pra matar ele, que fique claro.
- Como que uma pessoa não percebe o quão especial aquela garota é? Dude, você já reparou nos tipos diferentes de olhar que ela tem? Na maneira de como ela ri quando você tá agindo como um tremendo idiota? E quando ela tá ansiosa, como que a respiração dela fica? Não né? Desconfiei. - Erick me olhou coçando a cabeça e eu bufei cruzando os braços. Me senti um viadinho.
- Falando assim você parece apaixonado por ela, ! -Erick falou levantando os braços para o céu. É, o viadinho é ele.
- E sou. Aquela menina é a mais perfeita da face da terra. Se ela não me visse como um gay... - Erick me olhou assustado e eu rolei os olhos me xingando mentalmente. Diabos! Não era pra eu falar isso!
Sai batendo o pé até a pequena porta e a escancarei. É, eu tinha aprendido modos de viadinho no decorrer desses dois anos. Porém ela estava lá, com o seu macacão-short e sua blusinha branca com o desenho de e.t, suja de tinta verde e vermelha com cara de assustada. Assim que me viu, seus olhos se encheram de lágrimas e suas orelhas ficaram vermelhas e saiu correndo.
- ! – Chamei, mas ela não me respondeu. Dei um chute no vão da porta e depois pulei de um pé só sentindo dor. E isso não foi gay. Doeu de verdade.
- Cara, vai atrás dela! - Erick disse colocando a mão no meu ombro e eu me virei para olhá-lo.
- Erick, a namorada é sua.
- Mas ela gosta de você, . -Abaixei a cabeça me sentindo um loser. E mais ainda; um gay.
- Eu sou um...
- Gay? Não, eu sei que você não é. - Olhei pra cima assustado e Erick riu. - É , foi de propósito.
- Ora seu...!
- Vai logo, ! - Erick me empurrou e eu sai catando poeira. Voltei e dei um abraço dele que sussurrou algo como deixa de ser viado, ! E sai correndo atrás dela. Sem rumo nenhum, mas sai.

Corri debaixo daquela chuva de outono procurando por . Procurei em todos os lugares que íamos juntos; sorveteria à kilo, praça do tio que vendia maça do amor, parquinho da creche e nada. Já estava anoitecendo e a chuva só aumentava e o frio também. Resolvi ir pro meu lugar preferido naquela cidade, o morro dos namorados, onde os casais paravam de carro para avistar a paisagem plana de Londres. Tinha certeza que lá eu iria conseguir pensar na melhor maneira de pedir desculpas pra .
Caminhei chutando as pedras sem me importar com minha roupa encharcada. Subi aquele morro dos infernos quase escorrendo nas folhagens e agradeci por nenhum casal safado de namorados estar ali, mas bufei alto quando vi a silhueta de alguém. Esse alguém, assim que percebeu que não estava mais sozinho, se virou e eu quase caí morro abaixo, quando reconheci os brincos que eu dei de presente.
- ! - Tentei me aproximar, mas ficou de costas novamente.
- Sai, . - Ela falou e sua voz saiu de choro. Minha pequena estava chorando. E por minha culpa.
- , por favor, me escuta...- Falei me aproximando dela que virou furiosa na minha direção.
- Te escutar, ? Escutar o que? Você falando que tudo o que eu ouvi foi mentira? Que aquilo tudo que você falou não existe e que meu namorado mentiu pra mim? E pior? Que meu melhor amigo mentiu pra mim?
- Eu menti porque sempre te amei, ! - Ela pareceu recuar um pouco e passou as mãos pelos cabelos molhados. Danada de chuva que só sabia aumentar!
- Não , não pode! Você é gay! Não pode... não pode... - Ela repetia mais pra ela própria do que pra mim. E eu me sentia um loser. Mas não um loser gay. Só um loser.
- Pode, dude! Não tem nada impedindo, ! - Falei me aproximando dela de vez e a segurando pelos braços. A chuva se confundia com as lágrimas. Meu cabelo tava um cu e a última coisa que eu estava me preocupando era com isso.
- Não tenho forças, . - falou e se jogou nos meus braços. A abracei pela cintura e afundei meu rosto na sua nuca. Ela chorava que dava aperto no meu coração. Deus, o que eu fiz com a minha moçinha?
- Tem sim, . Você é forte! - Tá, eu sou um gay. Só de ouvir minha menina chorar já senti as lágrimas arderem meus olhos, e misturada com chuva arde.
- Sabe o que é lutar contra o que você sente, por não ter outra alternativa? - levantou sua cabeça e me olhou nos olhos, com aqueles olhinhos cheios de lágrimas e um pouco cerrados devido aos pingos de chuva. - Sabe o que é ter que mentir pro seu coração, porque a sua razão não acha outra maneira?
- Sei. Eu fiz a mesma coisa, . -Respondi e me senti a bixa mais sincera da face da terra. piscou algumas vezes e eu a beijei. Aqueles lábios finos e molhados que de uns tempos pra cá eu tanto sonhei. Talvez eu tivesse morrido e ido pro paraíso. Talvez eu tivesse apenas morrido. O que importava é que eu estava ali, com a menina mais linda de toda a face da terra, no lugar mais perfeito, provando para eu mesmo que eu era realmente um gay. Um gay por ser tão idiota à ponto de esperar tanto tempo por aquele beijo. Mas não interessa. Hoje eu to aqui, feito um viadinho andando pra lá e pra cá, enquanto Renata dá a luz. É, ela tá gravida. E a enfermeira acabou de chegar. E é um menino. E é lindo. E adivinhem? Eu to chorando segurando essa coisinha minúscula nos meus braços e a mistura exata minha e de . Erick chega saltitante com seu lencinho rosa bebê perto de mim e começa a chorar feito uma bixa louca. A enfermeira nos leva até o quarto onde está, e ela está linda. Suada e cansada, mas linda. E agora eu percebi que eu sou o pai mais babão do mundo. E o homem mais feliz do mundo. E o gay? Ah, o gay mais macho da face da terra. E tenho dito.


nota: OE eu precisava mandar essa fic pra cá riri. foi vendo o Orlandinho que me inspirou a fazer essa fic. fala sério, ele é MUITO fofo *o* to torcendo pra Céu ficar com ele (yn) brigada prof. Marcell que nem percebeu que eu tava fazendo uma fic na aula dele rere. Parte dois eu tenho ela em mente, mas só vou fazer se alguém pedir riri :D Bjs meus xuxus :*


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