Capítulo Um: Death

caminhava pela longa estrada de pedregulhos, ecoando o barulho emborrachado de seu sapato social a cada passo firme em direção ao túmulo, recém-aberto no cemitério, de seu irmão . O paletó completamente amarrotado vinha sendo arrastado pelo percurso, deslizando vagarosamente por cima das numerosas pedrinhas que deixava para trás. Os ombros caídos, o nó da gravata desfeito e a cabeça baixa intensificavam sua total falta de ânimo para com os “convidados” e seus pêsames, em sua opinião, todos desejados falsamente. Os óculos escuros escondiam seus olhos frios. Ele não conseguiria chorar, embora quisesse – e muito. Digamos que se sentisse de certa forma culpado, o que o impedia de derramar qualquer lágrima que fosse, e se o fizesse não seria pela perda de e sim pelo que julgava ter levado com ele: um pedaço seu. O sol se escondia entre as nuvens, somente para dar aquela sensação de que até ele, o único capaz de iluminar um dia triste como aquele, não era bom o suficiente para clarear os pensamentos de . O rapaz levantou os olhos e percorreu o caminho que teria à frente, seguindo-o até avistar a multidão chorosa ao redor do glorioso mausoléu da influente família . Não conseguiu evitar esboçar um fraco sorriso irônico com o canto dos lábios, pois a maioria só estava presente com a intenção de aparecer nos jornais do dia seguinte. O que não era totalmente verdade. tinha muitos amigos ali, de seu trabalho naturalista e humanitário, de seu dia-a-dia, conquistados pela sua simpatia inigualável, e de seus tempos de colégio e universidade, amizades essas que não julgava necessário preservar.
Ele não se sentiu bem em acompanhar o “cortejo fúnebre”, permaneceu sentado na mais isolada poltrona aveludada do enorme salão para só então seguir seu caminho, completamente sozinho. Olhos curiosos pousaram em sua figura transtornada ao primeiro sinal de sua presença no cemitério, o que o irritava por receber pena e compaixão também indiretamente. As pessoas abriram caminho para que ele chegasse à frente do mausoléu, como se apenas o brilho de seu olhar tivesse o poder de fazê-las se atirarem para o lado. Evitou encarar qualquer um ali, sem paciência para demonstrar que não era “perigoso” como aparentava naquele momento. Atravessou os poucos metros que o distanciavam do túmulo, travando a mandíbula por todos aqueles olhares assustados grudados nele, e fincou os pés no primeiro degrau de mármore, parando para respirar profundamente. Aquela seria a última vez, aquele seria seu último adeus. Apertou os olhos com os dedos trêmulos debaixo dos óculos, deslizou as mãos pelos cabelos desgrenhados, jogou o paletó do terno preto que usava por cima do ombro, ao levantar a cabeça, e passou pelo portal marmóreo escuro, cessando os passos em frente ao caixão de uma madeira muito vermelha, com adornos refinados e simplórios.
já não podia ser visto. O irmão permaneceu imóvel, segurando em seus braços a vontade de pular sobre o mesmo e arrancar cada talha de madeira a fim de rever o rapaz. Ele não havia tido coragem de vê-lo antes, nem mesmo no velório. Portanto, não conseguia se esquecer de como havia sido um completo idiota quando estivera com ele pela última vez. não estaria ali, eternizado em um caixão, se o tivesse ouvido. A culpa o consumia aos poucos, impedindo que sentisse mesmo a dor da perda. estava apressado no início do dia anterior, teria de viajar para o norte a trabalho devido a um transtorno em uma das empresas da família, das quais era presidente desde a morte de seu pai. insistiu inúmeras vezes em acompanhá-lo, animado em contar-lhe suas mais novas ideias ambientalistas. Contudo, a única reação que teve para com o irmão foi virar-se de frente a ele, apontar o dedo indicador em seu rosto e dizer-lhe “Poupe-me de suas utopias, , você não pode salvar o mundo!”, antes de fechar a enorme porta de entrada da mansão dos em seu rosto. Ouvir era o que ele deveria ter feito, nada mais. Que tipo de monstro era, afinal? Isso não importava, não mais. foi de qualquer forma encontrado morto ao final do mesmo dia, a cabeça rente a uma pedra pontiaguda que de acordo com a perícia fora o que lhe causou o traumatismo craniano que consequentemente o levou ao óbito. O mistério, no entanto, era o que pareceu ser uma segunda batida em sua cabeça. Como se não tivesse simplesmente tropeçado e caído e sim, assassinado. Como se apenas um ataque não houvesse sido o suficiente e o esperto homicida o houvesse deixado estrategicamente ao lado da “arma do crime”, embora os investigadores tenham afirmado ser um ultrajoso acidente, em vista de que o tal suposto segundo ataque não tenha sido nada significativo. O caso foi arquivado como “acidente caseiro”, envolvendo duas pedras e não apenas uma – o que não fora, para , o bastante para justificar a morte do irmão. estava no jardim quando acontecera tal brutalidade e possivelmente fora apenas um mero escorregão. Mas é claro que para alguns, ainda mais de tamanha influência como , aquilo não terminaria ali. O homem estava disposto a procurar em cada mísero centímetro do planeta pelo assassino de e ninguém, ninguém o impediria de se vingar.
Os minutos que se seguiram foram os mais longos de sua vida. desligou sua mente de todo aquele cinismo barato enquanto muitos ousavam dizer algumas palavras em homenagem a . Ele observava atentamente cada ser que se dirigia a frente, mesmo que não ouvisse o que dizia, e insistia em acompanhar com os olhos os cravos vermelhos jogados sobre o caixão. De repente a atenção foi voltada para ele, que contra sua vontade, teve que acordar de seu transe. Levantou minimamente a cabeça, que permanecia baixa, fitando o último botão jogado sobre a madeira, e continuou com a expressão séria, esperando que alguém lhe dissesse o motivo de o encararem novamente. Sua mãe, Eleonor, que apesar de também usar óculos escuros, não conseguia esconder a vermelhidão por todo o rosto, apontou discretamente com a cabeça, indicando a direção que todos os demais haviam feito para dizer suas belíssimas e vazias palavras de despedida. não demonstrou nem uma mínima vontade de se mover, esboçando a mesma expressão insensível de sempre. Percebendo que ele não estava disposto a descruzar os braços e caminhar até lá, Reece, seu padrasto, pigarreou alto, caminhando ele mesmo até a outra ponta do caixão. Começou a pronunciar diversas palavras, as mesmas que voltava a não ouvir. Irritado com os cochichos e olhadelas indiscretas direcionadas a ele, o rapaz uniu as sobrancelhas, virando-se bruscamente para trás, quase passando por cima de uma aglomeração de admiradores ao sair pisando forte do mausoléu. Ouviu exclamações espantadas, o que o fez apressar ainda mais os passos pesados em meio aos túmulos envelhecidos.
Sua intenção era simplesmente se distanciar, como se aquelas pessoas sugassem suas energias quando por perto. Ele levou o corpo cambaleante até o banheiro masculino, parando em frente a uma pia branca imunda, na qual apoiou as mãos, jogando o peso do corpo sobre os braços, após retirar os óculos escuros e jogá-los dentro de um dos bolsos da calça social. Fitou com a cabeça baixa o chão sujo, inundado por uma poça de água asquerosa que parecia vir de um dos vasos sanitários, e levantou o rosto em direção ao espelho manchado acima da pia. Seu reflexo era deplorável: as olheiras escuras marcavam o desconforto de uma noite mal dormida, rentes aos olhos , que agora estavam avermelhados e foscos, talvez pela vontade que tinha de chorar, embora ainda não conseguisse. Os lábios se encontravam pálidos, sem vida, assim como todo o rosto, que normalmente estaria corado de tamanha superioridade. O nariz chegava a oscilar devido à respiração agoniada, que fazia seu corpo tremer de aflição. Por fim, os cabelos estavam desalinhados, despenteados pelas inúmeras vezes em que ele já passara as mãos sobre os fios. Se a culpa pudesse se expressar fisicamente, acreditava que ela seria assim, ele seria o seu próprio retrato.
Derrotado, abriu a torneira, deixando algumas gotas d’água escorrerem antes de colocar as mãos embaixo das mesmas. Sentiu o líquido gelado transbordar pelos seus dedos, apertando os olhos. Juntou a palma das mãos e passou-as pelo rosto, na tentativa inútil de diminuir a sensação quente que parecia queimá-lo por dentro. Deslizou as mãos à nuca, deixando as gotículas frias escorregarem de volta a pia, enquanto tentava acalmar a respiração. Inspirou e expirou várias vezes, até sentir-se confiante. Levantou a cabeça, colocou novamente os óculos, penteando porcamente os cabelos com os dedos, e saiu do banheiro, caminhando de um jeito violentamente destrutivo.
- ... Ouvi dizer que o coração foi para uma jovem... – duas senhoras passaram ao seu lado, diminuindo o tom de suas vozes ao lhe lançar olhares reprovadores, e continuaram seu caminho em direção à saída do cemitério. , que tinha parado abruptamente ao escutar o que uma delas havia dito, voltou o corpo rumo ao mausoléu. Aquela era a oportunidade perfeita para quem o considerava assustador finalmente ter razão em temê-lo. Só não correu, porque não estava interessado em chamar ainda mais atenção, mas seus passos certamente estavam muito mais rápidos do que o seu andar lento e provocador. Assim que avistou a família dentro do túmulo, não hesitou nem por um momento em fazer o que fez, mesmo atraindo o que antes tentava evitar: mais olhares.
- Como ousou doar seu coração? – agarrou a gola do terno de seu padrasto Reece rudemente, levantando-o do chão e o prensando-o na parede fria de mármore. Fora Reece quem cuidara de todos os procedimentos do enterro de , em vista de que não saiu mais de seu quarto ao receber a notícia. Portanto, havia sido ele a autorizar a doação dos órgãos do irmão. Um verdadeiro insulto não perguntar-lhe nada – Não podia ter feito isso, é muito... Pessoal. – disse, tentando conter a dor aguda que infligira seu peito naquele instante.
- Era o desejo dele, filho. – respondeu o homem, assustado.
- Não me chame assim, você não é o meu pai! – rugiu , respirando ofegante. O brilho assassino em seus olhos foi o que mais apavorou a todos, que ficaram escandalizados com sua atitude. No entanto, para ele, os curiosos poderiam continuar observando a cena abominável que se seguia, pois ele não ligaria, assim como nunca havia ligado para a opinião alheia. A raiva era tão intensa que parecia transbordar por seus poros, não sabia o porque de ter reagido a isso dessa forma, mas pareceu-lhe um absurdo se “desfazer” de uma parte tão essencial como o coração do irmão.
- O que é isso, ? – Eleonor perguntou, aflita, tampando a boca com as mãos, horrorizada – Acalme-se, por favor. – pedia, chorosa, tentando segurar os braços fortes do filho, enquanto buscava não derramar mais lágrimas. Contudo, suas frágeis mãos perto dos músculos avantajados do rapaz não surtiram nenhum tipo de movimento. Ele continuou a pressionar o pescoço do padrasto, como se ele fosse o culpado pela morte de . Como se ele próprio tivesse arrancado o coração de seu peito e o jogado pela janela.
- não o usaria mais, , não percebe que seu irmão salvou a vida...? – começou Reece, sendo interrompido pelo seu grito horripilante:
- Ninguém é digno de carregar no peito o coração de , NINGUÉM! – dito isso, empurrou-o mais uma vez para cima, largando-o em seguida, o qual escorregou pela parede até o chão, massageando a garganta. deu passos aos tropeços para trás, fitando Reece como um maníaco enfurecido. Virou-se para o lado, perdido, enquanto passava as mãos pelo rosto, tentando clarear a mente a fim de deixar de enxergar as coisas de forma turva. Caminhou bufando até o caixão, pegando grosseiramente um cravo de um buquê, que tinha o propósito de “enfeitar” o local, e o jogou sobre o mesmo, travando a mandíbula – Desculpe-me, irmão. – sua voz soou estranhamente rouca ao engolir em seco, transtornado. Fitou por segundos o entalhe na madeira com as iniciais do nome e sobrenome de , como se fosse receber algum tipo de intervenção divina por sua parte. Ao perceber que nada mudaria, voltou-se rumo à saída com um sorriso sádico nos lábios, sendo devorado pelo choque dos presentes.
- , o que pretende fazer? – gritou sua mãe, correndo até o arco de mármore, apoiando-se dolorosamente sobre ele ao deixar lágrimas caírem dos olhos vermelhos. O rapaz não respondeu, caminhava obstinado em direção ao sombrio portão do cemitério, agora sem prestar atenção nos detalhes sórdidos do lugar. Eleonor, temerosa, ia atrás do garoto, com passos difíceis e cambaleantes, gritando para que não fizesse nenhuma besteira. O sol agora lançava raios intensos sobre ele, que sorriu irônico. “Tarde, tarde demais” Pensou. A gritaria de Eleonor só instigava sua ira, que começara também a querer esmurrar seu rosto pálido, pois por mais que tivesse sido persuadida por Reece nas decisões, ainda tinha relação com toda a história – , filho. Não faça isso! – ele a ignorava. Avistou seu Rolls Royce estacionado junto à fila de carros sombreados por um caminho de grandes árvores, e se dirigiu até ele, abrindo a porta em um movimento rápido para se sentar no banco. Segurou o volante com força, exaltando as veias dos braços, em uma última tentativa de se acalmar, mas não conseguiu – O que vai fazer? – sua mãe chegara ao seu lado, batendo desesperadamente no vidro do mesmo.
- foi roubado... – disse seco, fitando morbidamente a estrada a sua frente – Só vou recuperar o que nunca deveria ter-se tirado dele. – e arrancou o motor, pisando fundo no acelerador. Uma olhada pelo retrovisor com o canto dos olhos e avistou a figura desfocada de Eleonor cair de joelhos em meio aos pedregulhos. Entretanto, ele não cederia aos caprichos sentimentais de sua mãe. teria o coração de volta e era apenas nisso que ele pensava. Não importasse quem o estivesse carregando agora, ele o teria de volta.

Capítulo betado por Letii




Capítulo Dois: Heart

Um mês foi o tempo que se passou desde o enterro de . Um mês foi o tempo que aguentou, com muita dificuldade, os pesadelos que o atormentavam. Um mês foi o tempo que ele levou para encontrá-la.
O rapaz perdera a conta do quanto havia gasto procurando pela garota que agora tinha o coração de batendo em seu peito. Os hospitais e o pedido de total sigilo que ela havia feito não foram páreos para todo o seu dinheiro. gastara muito também com o – julgado por ele imprestável – detetive particular, que tanto procurava por indícios da morte de e até agora não havia encontrado nada, mesmo estando sob vigia de Dominic, o padrinho do garoto, a única pessoa no mundo em quem ele confiava para tratar de assuntos como esse. Contudo, tinha planos de como recuperar o coração de e, só quando o tivesse de volta, direcionaria sua atenção à busca incessante do assassino.

A casa de era simples, possuía duas largas janelas próximas a uma porta central de madeira, as cortinas claras impediam observar o seu interior, mas notava-se que era um lugar “organizado”. Sua fachada era decorada por uma trepadeira muito verde, que cobria quase toda a pintura amarelada. Um jardim com diversas espécies de flores adornavam o caminho de pedras que levava à porta. O homem decorara tudo naquela casa, assim como os horários da dona, na semana inteira em que ficou a vigiando. Nos primeiros dias, percebeu muita movimentação, um entra e sai de pessoas com flores e presentes de boas-vindas – uma verdadeira besteira, pensava ele –, mas com a semana terminando, todos os “amigos” de pareceram desaparecer, o que afirmava sua tese de que não existia amor sem interesse. Seu carro ficou estacionado na calçada em frente à casa dela e seus olhos de águia ficaram presos em cada movimento da moradora.
- Não, Dominic, ainda não. – conversava com seu padrinho por telefone, enquanto observava pelo vidro Insulfilm de seu carro a casa da garota do outro lado da rua – Porque eu não tive coragem, ela é só a porra de uma professora de História, o que quer que eu faça? – o rapaz virou o rosto furioso, metendo a mão no volante ao gritar. Tirou o aparelho por segundos de perto do ouvido e pensou em jogá-lo com força no banco traseiro, mas respirar fundo ao apertar os olhos acabou o acalmando, voltando o mesmo para perto a fim de ouvir o fanfarrear de Dominic do outro lado da linha – Vou fazer, não sou um covarde. – fitou a pistola G38 sobre o estofado do assento ao lado, rangendo os dentes – Como anda a investigação? Da última vez que eu perguntei, você não tinha nenhuma novidade e eu já estou começando a ficar farto de hipóteses. – disse, cansado, bufando. O padrinho não tinha, de fato, nada de novo, o que fez com que arremessasse o celular pela janela aberta, estourando o mesmo na caixa de correio dos vizinhos da casa da frente de . Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e colocou as mãos no rosto, exausto.
- Com licença, senhor? – alguém bateu irritantemente no vidro com o dedo indicador, chamando sua atenção. O homem abaixou minimamente o vidro do carro e fitou o indivíduo do lado de fora com os óculos escuros e sua habitual expressão vazia – Desculpe incomodá-lo, mas recebemos uma ligação de que está aqui há dias, bom, é que... A vizinhança está começando a ficar assustada. – disse o policial acanhado, intimidado pela frieza do rapaz. seguiu o olhar para trás do homem baixo e gordinho à sua frente, reparando que a sombra de observava-os, curiosa, através da cortina de uma das janelas. Assim que seus olhares se encontraram, ela abriu a boca assustada e fechou o pano abruptamente. voltou a encarar o homem de farda azul.
– Não quero me intrometer, mas o que o senhor está fazendo pela redondeza? Não é muito comum alguém de sua classe por essas bandas... – e foi deixado falando sozinho, quando apertou o pé no acelerador e começou a dirigir rumo ao final da rua. O velho policial deu de ombros, passando freneticamente as mãos por seu bigode ralo e continuou sua ronda, descontraidamente.
percorreu pela décima quarta ou décima quinta vez aquele mesmo percurso até a lanchonete mais próxima, parando rente a sarjeta. Não podia evitar sair sorrindo do automóvel a cada vez que ia ao Janett’s. Todos os seus clientes o fitavam imobilizados e ele achava graça de suas expressões. Atravessou a porta vermelha da lanchonete, onde o nome da mesma brilhava em uma luz forte de neon.
- O mesmo pedido devo supor? – o corajoso atendente caminhou até a solitária mesa em que sentou, no final do estabelecimento. O homem assentiu brevemente, sem sequer olhar para o lado, permanecendo com a cabeça virada para a janela. O jovem de aparentemente 20 anos anotou o pedido em um bloco e se virou, caminhando até o balcão. Voltou minutos depois, carregando um hambúrguer duplo com fritas e um copo enorme de cerveja – Não mereço nem um “Obrigado”? – perguntou o moço, indignado com a falta de interesse que demonstrou nele e nos demais funcionários. Murmurou com sua voz estrondosamente forte um “Obrigado” indiferente, fazendo o garoto balançar a cabeça de um lado ao outro enquanto voltava para seu posto. parou para prestar atenção no estabelecimento pela primeira vez dentre as muitas vezes em que estivera ali, enquanto devorava despreocupadamente seu “almoço”. O papel de parede era florido, com adornos dourados e vermelhos, as mesas eram todas próximas às vidrarias, como naqueles típicos filmes dos anos 60. A única peça que chamou verdadeiramente sua atenção foi a galhada de um veado enfeitando uma das paredes do local. Ele se perdeu por um bom tempo ao imaginar o animal sendo abatido, o que o fez lembrar “sua missão”. ficaria bem enfeitando sua parede? Era o que ele, estranhamente, se perguntava. Trocou olhares com alguns dos presentes, que o encaravam curiosos, principalmente pelo modo como comia, nem se importando se estava sendo mal educado, o que de fato estava. Minutos depois, levantou-se, caminhando até o balcão e inclinando-se sobre o mesmo.
- Um maço de cigarros e a minha conta... Por favor? – lutou consigo mesmo, sendo educado a fim de pelo menos ser atendido rapidamente. A atendente, trêmula de nervosismo com a beleza do rapaz, entregou-lhe o maço e recebeu o pagamento, tirado de uma carteira de couro bem “gorda”. assentiu, não conseguiria pronunciar “Obrigado” novamente, e saiu pela porta, ouvindo o irritante ronronar dos pregos enferrujados. Entrou mais uma vez no carro, olhando seu reflexo pelo retrovisor e percebeu que sua barba estava começando a crescer outra vez. Daria um jeito nela antes de finalmente “falar” com . Havia decidido acabar com esse peso de uma vez por todas, o assassino de precisava ser encontrado logo ou ele o perderia. Dirigiu até o hotel barato de quinta categoria em que se hospedara, inutilmente tentando esconder sua posição social. Caminhou até seu quarto, que tinha uma aparência mofada e um péssimo odor, e se direcionou até o banheiro. Ligou o chuveiro, que na maior parte das vezes deixava cair água gelada, e tirou as roupas, passando a camisa verde pelos braços. Todos os músculos de suas costas se contraíram com o movimento, marcando-os perfeitamente. Deslizou a calça pelas pernas junto com a boxer branca que usava e as empurrou com os pés, agora descalços, para um canto. Seu corpo nu arrepiou-se ao andar do chão frio até o box transparente. Sem nem testar a temperatura da água ele entrou embaixo do chuveiro, enrijecendo com o frio. A água descia tentadoramente por seus ombros, deslizando por sua barriga sarada onde corria por seu umbigo até a parte sempre “acesa” de seu corpo. Ele precisava se conter, ou melhor, conter seu órgão para não desobedecê-lo. Era uma máquina do sexo e não estava acostumado a ficar tanto tempo sem uma mulher em sua cama – um mês, no caso. Mas o que o deixava irritado era em quem ele pensava para ficar excitado. Exatamente, , a “ladra”. Ele nunca a tinha propriamente visto, mas só de imaginá-la não conseguia segurar a ereção, era quase instantâneo. Passou as mãos pelos cabelos molhados, fechando os olhos. O cheiro do shampoo lhe lembrava da garota, o do sabonete, as gotas que desciam se assemelhavam ao seu toque. Como ele poderia ter essa tremenda imaginação? Afinal, não a conhecia, ainda não. Fez a barba rapidamente e, enfim, pegou uma esponja, esfregando-a no sabonete, começando, em seguida, a passá-la pelo corpo. Apertando os olhos, ele pôde sentir a espuma como se fossem os lábios de , o que o forçava a contrair os músculos, pois não se perdoaria se fizesse “algo” pensando nela. Desceu a esponja por suas costas e, vagarosamente, por sua bunda perfeitamente desenhada, voltando-a para frente e a pressionando contra o sexo. Deu um leve gemido, desesperadamente tentado. Deixou a esponja cair ao chão, exausto demais para lutar. Apoiou as mãos no órgão, sentindo-se um perdedor, e... “TOC TOC”, alguém bateu à porta. assustou-se, desligando rapidamente o chuveiro enquanto xingava com os seus piores palavrões.
- Espere um minuto! – gritou revoltado ao pegar uma toalha branca, enrolando-a sobre a parte de baixo do corpo que, mesmo com o choque da surpresa, não desarmara o desejo. Com outra toalha enxugava seus cabelos. Caminhou até a porta e a abriu – O que é? – perguntou grosseiramente – Dominic? O que você está fazendo aqui? – indagou, desentendido. No fundo sentiu vontade de lhe socar o olho, mas devido a sua expressão preocupada não o fez – Aconteceu alguma coisa? – insistiu, abrindo caminho para que o padrinho adentrasse no quarto.
- Reece está te procurando, ele quer te impedir de fazer você-sabe-o-que. – disse apressado, andando de um lado ao outro no aposento. estranhou o “interesse” que ele aparentava demonstrar com o plano de recuperar o coração de . Talvez pensasse como ele, foi ultrajante para ambos – Se quer mesmo fazer isso deve andar rápido, não sei se posso te acobertar por muito tempo. Sabe que eu sempre te considerei meu filho, não é? Sinceramente ainda espero que se arrependa antes de tomar qualquer atitude, mas vou estar do seu lado se isso não vier a acontecer. – disse, tenso.
- Não vou me acovardar, sabe muito bem disso. – disse firme, abrindo sua mala e tirando de lá uma camisa preta, junto a uma calça jeans escura e meias brancas limpas – Está me parecendo que você se importa com essa garota Dominic, já a viu antes? – o homem engoliu em seco.
- Não, nunca. – disse sério, com um brilho revoltado nos olhos castanhos escuros – Só me importo com você, não quero que se transforme no mesmo assassino que matou seu irmão.
- Quanto a isso não se preocupe, eu nunca seria capaz de me tornar alguém como ele. – falou, entrando novamente no banheiro, só saindo de lá devidamente vestido e com o cabelo penteado para trás – Mais alguma coisa? Tenho um encontro com e não posso me atrasar. – permaneceu com a expressão vazia enquanto encarava com seus olhos o homem parado. Dominic hesitou, respirando profundamente.
- Conor está ocupando seu cargo na empresa. Como ele sempre quis, na verdade. Tem que voltar logo, garoto, você sabe que nunca foi o preferido dos funcionários e aquele crápula com os seus 49% das ações está começando a agir de acordo com suas próprias vontades. – disse, com um olhar sugestivo – Conor teve a audácia de retirar todos os benefícios ambientalistas que seu irmão tanto se importava em manter. De acordo com ele, aquilo é “perder dinheiro”. – travou a mandíbula, bagunçando os cabelos, irritado. Por que deu prioridade à mesmo? Era o que pensava até se lembrar de que optara em salvar o que o irmão ainda tinha de “vivo” – Acho que está perdendo tempo com essa garota, ela não vale a perda da empresa... – o rapaz o olhou, repreendedo-o, fazendo com que se calasse imediatamente – Conor não parece distraído com supérfluos, ao contrário de voc...
- Eu já ouvi demais, Dominic. Não me tire do sério! – gritou , o encarando com os olhos semicerrados – Dê ordens de que estou te colocando em meu lugar enquanto não me resolvo. Não quero mais ouvir falar sobre isso. Basta que organize o que introduziu à organização, fora isso, não me importa mais nada. Agora pode ir. – apontou para a porta, brutamente. Dominic, após afirmar com a cabeça, saiu do quarto. O celular, o “reserva” que carregava na bolsa, começou a tocar quando voltou a ficar sozinho – Alô? – atendeu, estava ficando impaciente com interrupções – Reece? O que é que você quer? – perguntou, bufando – Já pedi para não me chamar dessa forma e não, não vamos conversar. Tenho assuntos pendentes a tratar. – dizia friamente – Pare de bancar o protetor, o senhor nunca se importou verdadeiramente comigo e muito menos com , sempre dizia que suas ideias não o levariam a lugar algum. Dominic é muito mais meu pai do que você. Não tenho culpa se não sabe agir como ele, aliás, eu preferia que ele fosse meu padrasto. – rugiu, sentando-se na cama – Não vou perder mais meu tempo com você, pare de me importunar, Reece. – mal deixou o homem responder do outro lado da linha e desligou o aparelho. Pegou uma colônia masculina da mala e se banhou em perfume, atravessando, a seguir, a porta em direção ao seu carro.

- Tudo corre como o planejado agora que temos fora da jogada. – um trio de homens passou apressadamente às suas costas, enquanto ele apertava o alarme do automóvel ao se aproximar do mesmo. apurou os sentidos e virou minimamente o rosto na direção deles, interessado – Conduta “verde” em prol dos nossos objetivos é uma ova! nunca aceitou violência como forma de protesto, aquele idiota acreditava que uma conversa civilizada era o suficiente para lidar com as necessidades da população. Nunca o considerei um verdadeiro rebelde, foi até sensato o que aconteceu a ele, queria eu ter tido a oportunidade... – fechou as mãos em punho, respirando profundamente. O trio continuou seu caminho até o final do corredor, onde passaram por uma porta, entrando em um quarto. Obviamente, sendo naturalista, tinha muitos inimigos. Na política, de outros grupos revolucionários e de empresas com forte influência, por fazer-lhes perder dinheiro com suas idealizações. continuou caminhando até o carro, segurando a vontade de voltar e estourar os miolos dos três caras.

Dirigiu até a casa de , que vigiara durante toda aquela semana. Mas dessa vez seria diferente, não seria? Pegou a pistola e a escondeu no cós da calça jeans, disfarçando o volume da mesma com a camisa preta. Olhou-se no retrovisor, penteando os cabelos para trás com os dedos, e colocou seus óculos escuros. Sorriu sadicamente para si mesmo e abriu a porta, batendo-a ao sair. Caminhou determinado até a casa da garota, tocando a campainha ao chegar. Estranhou o suor nas mãos, que o fazia ficar ainda mais nervoso. Não por ter a intenção de matá-la, mas porque iria finalmente conhecê-la. Não recebendo sinais de vida, tocou a campainha mais duas vezes, batendo o pé freneticamente no chão. Ouviu finalmente o som de passos se aproximando e o barulho de mãos na maçaneta enferrujada. Ele piscou bobamente diversas vezes quando a porta foi aberta, absorvendo os fatos. Primeiro: não era a mulher fatal que ele imaginava, era ainda melhor. Não de um jeito sedutor, mas simples e intelectual. Tinha os olhos mais vibrantes que já vira, escondidos inocentemente por óculos com aros quadrados. Vestia uma camiseta branca com o triplo do seu tamanho e uma calça de moletom cinza, com meias de dedinho nos pés junto a chinelos. Seus cabelos estavam presos de forma desajeitada em um coque com hashis e ela se abraçava toda encolhida, a fim de conter o calor de seu corpo, de modo encantador. E segundo: nunca se sentira tão excitado em toda a sua vida como quando a viu ali parada, o encarando com olhos arregalados e curiosos.
- ? – perguntou com a voz embargada, cruzando as mãos em frente a sua calça jeans a fim de esconder o que viria a ser uma ereção em segundos. A garota o fitou de cima a baixo, abrindo e fechando os olhos timidamente, o que o rapaz achou um tanto provocador, apesar de ela só o estar analisando por puro interesse, não de maneira sedutora e sim intrigada.
- Eu... Não... Eu sou... Não sou... – a voz frágil de soou fraca enquanto ela balançava as mãos em frente ao rosto de modo desajeitado – , em carne e osso. – respirou fundo, estendendo a mão direita até ele – Eu te conheço? – perguntou descontraída, arqueando uma das sobrancelhas.
- . – o homem a cumprimentou, formando uma linha com os lábios ao encostar em sua pele macia pela primeira vez. deu dois passos para frente, fazendo-o recuar dois passos. Ela seguiu os olhos pela rua enquanto ficava quieto, travando a mandíbula ao respirar calmamente. De repente o olhar dela se viu preso no carro estacionado logo à frente. A garota abriu e fechou a boca, assustada.
- Oh meu Deus, você é o maluco do Rolls Royce! – sussurrou trêmula, correndo para dentro de casa e fechando a porta desesperada. só conseguiu ver seus cabelos atravessarem a porta e franziu o cenho, tombando minimamente a cabeça – Por favor, vá embora. Não tenho nada de valor, você não iria querer absolutamente nada comigo. Eu nem sou saudável, na verdade. Acabei de ter alta do hospital, ainda tenho faixas por todo o corpo e essa casa? Não é minha. É da minha avó, que foi obrigada a se internar em um asilo a duas quadras daqui, mas voltará daqui a alguns dias e já vou lhe avisando, ela é faixa preta em karatê. Estou implorando, se for dinheiro o que quer, posso conseguir. – destrambelhou a falar, soltando de uma vez cada súplica – Só não me mate! – implorou, por fim. engoliu em seco, suspirando tensamente. Pedido um tanto quanto contraditório esse, já que de fato era essa sua intenção.
- Mas você está com o coração do meu irmão... – sussurrou revoltado, com um tom dolorido na voz, mais para si do que para ela. ficou calada, o que achou ser constrangedor já que ela não havia parado de tagarelar até aquele momento. A porta foi novamente aberta e ele, recebido por um par de olhos piedosos. Piedade. O motivo por ter aceitado internamente o que havia ido fazer ali, levando em conta que pensara, duas ou três vezes, em desistir ao ouvi-la lhe implorando que não a machucasse. Mas para aqueles olhos ele não se importou em ser bom ou ruim, só voltou ao tom frio de sempre, determinado a tirar o peso da culpa de seus ombros.
- Estou? – perguntou acanhada, apertando as mãos em frente aos seios – Desculpe-me, eu... Não sabia. – sentiu algo por ela ao dizer isso, talvez pena. o fitou duvidosa, indecisa em convidá-lo para entrar em sua casa. Ele passou as mãos pelos cabelos, impaciente, até que finalmente a garota abriu toda a porta, dando passagem. O homem levou a mão discretamente à arma, certificando-se de que ela permanecia ali, enquanto dava os primeiros passos para dentro. Como a fachada indicava, sua casa era organizada, continha algumas peças históricas velhas espalhadas e artefatos provavelmente de sua avó, como uma máquina de costura ainda em uso, ao lado de um cesto com novelos e linhas. indicou o caminho até a cozinha, que parecia ser o centro de movimentação da residência, sentando-se em um banco alto ao lado de um balcão e apontando outro à sua frente – Se me permite perguntar, posso saber por que ficou dias vigiando a minha casa se o assunto que trataria comigo era de tamanha importância? – indagou receosa, ajeitando os aros de seus óculos.
- Estava me decidindo se viria ou não, na verdade. – mentiu, limpando a garganta – É sobre meu irmão que falaremos, não queria ser rude com você. Afinal, está carregando o coração dele. – disse sério, com os olhos presos nos dela – Deveria ter se escondido melhor se não queria que eu a encontrasse. Sabe que não se pode confiar em hospitais quando em meio ao assunto envolve-se o dinheiro. – pronunciou de forma grossa, fazendo-a esboçar uma expressão indignada.
- Importa-se de falar logo o que quer? Não estou com ânimo para receber insultos, porque eu sei que é o que está pensando em dizer. – disse levantando-se do banco, colocando ambas as mãos na cintura – Não escolhi receber justamente o coração de seu irmão, preferiria deixá-lo todo para você se fosse o caso. – bufou, esperando que o rapaz abrisse a boca e parasse de olhá-la indiferente.
- Essa é a questão. – ergueu-se abruptamente – Eu também não escolhi doá-lo e muito menos a você. Por mim não o teriam tirado de quem o pertencia. – rugiu, o sangue fervendo dentro de si. encarou-o boquiaberta.
- Sinto lhe informar, mas agora é tarde para isso. Vejo que daqui não sairá nada produtivo, o senhor poderia se retirar? – ela virou-se para a porta de entrada, mas foi parada pela mão firme de em seu braço, que a olhava de forma destrutiva – Está me machucando. – pronunciou, engolindo em seco. O rapaz sorriu irônico, balançando a cabeça negativamente, enquanto ela pedia que a soltasse.
- Posso fazer pior. – sussurrou sadicamente, mostrando a arma junto à calça. arregalou os olhos, ficando quieta instantaneamente – Eu realmente não queria fazer, não é do meu feitio. Sou uma pessoa de classe. – murmurou debochadamente, retirando os óculos escuros – Mas para o seu azar, “roubou” uma coisa que me é de valor e eu a quero de volta. – a empurrou até a parede, prensando seu corpo frágil na mesma. Aproximou seu rosto do dela e deu um beijo tentador no início de seu pescoço, respirando calmamente ali, fazendo-a arrepiar-se com o ar quente e reconfortante que expirava. Pensando “no bem maior”, se segurou para não agarrá-la naquele momento mesmo e proporcionar-lhe todo o prazer das obscenidades que se passavam por sua mente. Ele assistiu seus olhos agoniados deixarem cair uma única lágrima de desespero e... raiva? – Naaaaaah, assim não teria graça, quero ver a luz deixar seus olhos. – provocou, afastando seu corpo. Pegou a arma em mãos e apontou-a no meio da testa da garota, que deixava de chorar para encará-lo com bravura e indignação – Adeus, , foi um prazer conhecê-la.

Capítulo betado por Letii


Capítulo Três: Blood

- Ou ou ou, calminha aí cowboy. – o contradisse, chacoalhando as mãos em frente ao corpo – Podemos resolver isso de outra forma, não precisa ser assim. – dizia tensa, controlando seu lado emocional para enfrentá-lo cara-a-cara. balançou a cabeça negativamente, desinteressado – Não pode ver somente o seu lado dessa história, . Faz ideia do quanto foi torturante para eu ficar em coma por dois meses, sobrevivendo à custa de aparelhos? Não, você não faz. Só pensa em si mesmo. – moveu o corpo para frente, não se importando com a arma apontada para si, enquanto apontava o dedo indicador sobre o peito do rapaz. Ele franziu o cenho, de certa forma admirado. Os olhos marejados de já se transformavam em um brilho de firmeza e pura coragem – Aposto que está escondendo alguma coisa, caso contrário não se postaria a fazer algo tão radical.
- Não blasfeme, você não sabe do que está falando. – ele novamente percorreu os centímetros que os afastavam, prendendo-a rente a parede com as pernas. o encarou desafiadora ao sentir o baque forte de suas costas, questionando-o com os olhos intrigados.
- Pelo visto você sabe... E muito bem. – retrucou. agarrou seus pulsos e os levou também a parede, pressionando doloridamente o cabo da arma sobre seus dedos. Seu nariz encostou-se ao lado do rosto da garota, passeando pelos fios soltos de seu cabelo de encontro com a orelha, sentindo o perfume inebriante que se desprendia dali. ficou indecisa entre o que sentia pulsando no meio das pernas dele; desejo por ela ou por vê-la morta. Mas um desejo que não sabia de onde tinha vindo. Não havia mais espaço entre a garota e a parede, o corpo pesado de a envolvia completamente, até suas pernas estavam imóveis pelas dele. Ela respirava acanhada, sem fôlego, inalando a colônia máscula de seu corpo. O som da risada irônica de soava em seu ouvido. Ela pode sentir seus dentes percorrendo o mesmo tentadoramente e segundos depois, sua língua – Não pode me enganar, está se sentindo culpado pelo que houve com seu irmão. Pode confiar em mim, . – conseguiu sussurrar, perdida entre a vontade que tinha de que ele continuasse e o desespero de tentar distrai-lo. O rapaz, que umedecia seus lábios tão próximos a ela de maneira que sua língua quente e provocante atingia sua orelha e pescoço, ficou tenso inesperadamente. Mais uma vez tocara em um assunto particular dele – Tenho uma proposta. – disse ela, percebendo-o passar as mãos pela arma. O volume entre suas pernas não a deixava respirar com facilidade e , percebendo que isso inocentemente a excitava, pressionava ainda mais o quadril para frente – Pode me ouvir?
- E não estou ouvindo? – provocou, passando os lábios tentadores por seu rosto. O peitoral forte sufocava a garota, que sentia doer à área em que havia sido operada. Ela gemia de dor, o que o rapaz pensou ser de prazer, apesar de também o ser. Ele se divertiria com o brinquedinho antes de quebrá-lo, pensava.
- Não de maneira civilizada. – ela conseguiu murmurar, formando uma linha com os lábios. Os óculos caíam tortos em seu rosto, o que fez sorrir, divertido. Ele estava interessado no que ela teria a dizer, não esperava por uma reação como essa, talvez se saísse bem conseguindo possuí-la antes de matá-la. Afastou o rosto, para poder encarar seus profundos olhos e a fitou, esperando o início de seu último desejo – Dê-me uma hora...
- Fora de cogitação. – foi o que ele disse interrompendo-a, enquanto travava a mandíbula e a olhava sério.
- Uma hora. – repetiu , firme em suas palavras – Para eu te convencer a não me matar. – pronunciou, fazendo-o sorrir irônico – Ninguém entra, ninguém sai. Não me importarei se quiser manter a arma apontada para mim o tempo todo. Se ao final não conseguir fazê-lo desistir, prometo me entregar sem relutância. O que me diz? – insistiu, erguendo a cabeça, sem paciência. “Uma hora” dizia para si mesmo, parecendo pensativo. Chegou à conclusão de que não faria diferença esperar por mais sessenta minutos, já que a tinha nas mãos. O que ele não sabia era que de ignorante não tinha nada e tudo aquilo estava arquitetado em um plano de sensibilizá-lo. Tinha um trunfo nas mãos, que era o que o rapaz parecia sentir fisicamente por ela, talvez corresse como queria. , contra a vontade de soltá-la, afastou o corpo, apoiando as mãos na cintura. A garota respirou fundo, passando as mãos entre os seios, sentindo pontadas na sutura da ferida. Ela sentou-se no chão, apoiando as costas na parede.
- TIC... TAC. – brincou , olhando no relógio do pulso da mesma mão em que segurava a arma.
- Não me apresse, preciso medir as palavras para doê-las em você. – sorriu baixo ao vê-lo passar mais uma vez as mãos pelos cabelos, entediado – Acho que pelo começo é a melhor forma de dizê-las. – concluiu para si, inspirando forte antes de começar – Antes de morrer, minha mãe me deixou uma carta. A condição era de que eu a abrisse somente quando completasse vinte e cinco anos. Mesmo curiosa, passei a vida toda apenas a analisando, sem nunca abri-la. Não desacataria o último pedido dela. – falou, abraçando os joelhos. a observava curioso e não gostava quando ela hesitava, provavelmente porque revia na mente a maneira de como contar a história de uma forma que de fato o faria ficar com pena – Na manhã do meu aniversário, a primeira coisa em que pensei foi correr em direção à carta. Abri a gaveta onde a mantinha guardada e não me contive, rasgando o envelope de uma só vez. Digamos que mais surpresa era impossível de eu ficar. A reli várias vezes, principalmente por que não podia crer...
- O que estava escrito? – o rapaz perguntou de repente, sentando-se ao seu lado no chão da cozinha. fitou-o intrigada, talvez seu plano estivesse funcionando e logo ele a deixaria livre. Mal sabia ela que também tinha em mente fingir cair em seu jogo sentimental, para que no final da hora pudesse gargalhar de sua expressão encabulada. Jogos sádicos às vezes o animavam.
- Como eu poderia encontrar o meu pai, que até então eu pensava estar morto. – falou triste, torcendo o canto da boca – Endereços, telefones, muitos nomes, praticamente um mapa em direção a ele. A principio fiquei chocada demais para demonstrar qualquer reação, mas com o passar do dia resolvi tentar encontrá-lo. Disquei a maioria dos números, só o localizando no antepenúltimo. John Bailey... – sussurrou fraco, piscando involuntariamente – Contei-lhe sobre a carta, sobre minha mãe e disse que queria vê-lo. Conhecê-lo, na verdade. O choque provavelmente o fez mudo por minutos até me perguntar se eu morava na mesma casa em que eles conviveram. Eu afirmei, dizendo-lhe que vivia aqui com minha avó. Disse-me que viria me ver... – a garota parou para suspirar, sorrindo ironicamente depois. sentiu-se incomodado com a história, estava o afetando e isso, a seus olhos, não era vantajoso – Vovó nunca aceitaria que ele ficasse sobre o mesmo teto que ela novamente, então sugeri que nos encontrássemos em um restaurante tradicional da cidade. Ele respondeu que viria me encontrar, pois não morava mais em Chelmsford.
parou, pensativa.
- Continue. – pediu, franzindo o cenho a seguir por ter demonstrado interesse.
- Eu estava dirigindo até o restaurante quando tudo aconteceu: o freio do carro travou, pessoas pularam para os lados enquanto eu passava descontrolada pelas ruas, tentando, em vão, brecar. A parede alta do muro a minha frente e a batida. O que mais doeu na hora não foi o estilhaço de metal que me acertou o coração, mas a chance que perdi de conhecê-lo. Fui levada ao hospital e até agora não tive notícias sobre o que aconteceu a ele. Queria ter o visto uma única vez, esse era o meu desejo. E agora não o localizo mais, simplesmente sumiu. Chego a pensar que está me evitando. – abriu um sorriso triste, encostando a cabeça na parede – Agora estou aqui. Refém de um maníaco que quer roubar meu – novo – coração. A vida não tem sido muito justa. – deduziu, virando minimamente o rosto para encarar o rapaz ao seu lado. a olhava em retorno, ofendido com o “maníaco” direcionado a ele.
- Você ainda tem mais trinta e dois minutos. – disse grosso, deixando de fitá-la.
- Pois bem, se meu drama particular não te afetou em nada não posso desperdiçá-los não é mesmo? – disse , abrindo um mísero sorriso – Posso te fazer uma pergunta? – rolou os olhos, concordando – Meu sonho até minutos atrás era encontrar o meu pai, mas agora me contento em sobreviver. , você tem um sonho? Não falo de utopias criadas enquanto dormimos ou de idealizações pequenas e sim de algo palpável, que possa realmente alcançar. Algo que ainda não tenha ou não tenha feito. – seus olhos eram tão intensos que ele se imaginou conversando com uma criança. Não queria respondê-la, sentia-se começando a desistir. Poderia pegá-lo de vez se começasse a chantageá-lo com belas palavras.
- Eu já tenho tudo o que quero e tudo o que preciso. – disse mal humorado, fazendo-a gargalhar – O que é? – perguntou desentendido, encarando-a nervoso.
- Não minta para mim . Eu vou morrer, não precisa esconder nada. – ela disse sincera. De algum modo o rapaz quis dizer-lhe o contrário, que ela não morreria, ou pelo menos não por suas mãos, e contar-lhe o que de fato imaginava para sua vida futura – É só me dizer, não vai doer.
- Quero... Me... Casar. – pronunciou dificilmente, entre bufadas, suspiros e resmungos. Não acreditava ter dito isso em voz alta, o que o fez virar-se para o lado e encarar as samambaias que enfeitavam o aposento descontraidamente, como se dissesse “Que interessante isso, não?”. o admirava com a boca entreaberta, descrente de que havia mesmo conseguido tirar algo sólido dele. Ela contara algo pessoal, uma resposta igualmente importante deveria ter sido, e foi, dita – Quinze minutos. – suspirou o rapaz, cabisbaixo.
- Temos possibilidades de casamento, sua resposta não foi totalmente justa. Precisa ser mais específico, . – disse, chamando a atenção dele, que resmungou um “” grosseiro. Contudo, a garota já estava acostumada ao seu modo e nem se importou – Quando você se refere a “casar” podemos supor uma união amigável, da qual ambos receberão carinho, mas não amor; casar literalmente falando. Ou pode ser pelo sentido de você não conseguir viver sem a pessoa e desejar passar a vida toda ao lado dela, mas essa opção eu acho menos provável. Então, qual delas? – perguntou, fazendo-o corar pela primeira vez. abriu um sorriso ao vê-lo envergonhado.
- Se pensa que vou dizer a segunda, está muito enganada. – ele murmurou, voltando a observar as samambaias. estava gostando de conversar com a garota, o assunto não era relacionado a dinheiro ou trabalho e muito menos a problemas. Ele sentia a vontade de falar, de tagarelar até altas horas se fosse preciso, de ficar ali sentado com e esquecer o mundo a sua volta. Olhou no relógio uma última vez, faltavam cinco minutos, talvez isso explicasse o abrupto silêncio pairando no ar – Sem mais perguntas? – indagou, ainda sem olhá-la.
- Não vejo porque perguntar nada agora, meu tempo acabou. – ela disse relutante, desmanchando a súbita felicidade que se apossou de seu corpo durante aquela hora – Não consegui fazê-lo desistir, mas talvez eu ainda tenha uma última, sim. – ele virou-se frente à , em seus olhos um brilho de arrependimento e nos dela, misericórdia. Engoliu em seco e esperou que ela falasse – Você, , conseguirá conviver com a culpa?

O homem caminhava assombrosamente pelo jardim, banhado pelos brilhos mórbidos da lua, passando as pontas das adagas vagarosamente pelas flores enquanto sorria sadicamente. A neblina escurecia a visão aos fundos, tornando o local semelhante a um pântano. A bota de plástico preta rangia em seus pés, fazendo sua aproximação ainda mais agoniante. O jardineiro, que morava junto aos demais empregados em uma pequena casa nos terrenos dos , parecia sentir os passos do assassino em sua direção. Fora o único a presenciar a brutal cena da morte de , mas ficara tão apavorado com a visão que entrara em choque, saindo só agora do hospital – o que nenhum dos investigadores levou em consideração, afirmando que havia ficado impressionado ao ver um dos patrões morto. Estava fraco, mas disposto a dizer toda a verdade. Talvez por isso, alguém achou válido que ele nunca mais voltasse a abrir a boca. O assassino mordia sua tão adorada maçã verde, deixando o suco da fruta escorrer por seus lábios. Já se aproximava da casa dos empregados agora e estava empolgado por ter “trabalho” aquela noite. Chegando ao portão, empurrou-o para o lado, contente. Cantarolava ao se aproximar, saboreando lascas grossas da fruta. Ele havia escolhido aquela noite por conta da reunião semanal que os empregados realizavam, portanto, imobilizado, o jardineiro não teria ido e estaria sozinho. Facilmente abriu a porta da casa com um grampo, atravessando o vão.
- Surpresa! – disse ironicamente, assustando o pobre homem que rezava encolhido em um canto, o jardineiro não conseguiu pronunciar nem um mísero gemido, apertando o rosário junto ao corpo – Esperava por mim? – perguntou sarcasticamente, aproximando-se ao morder novamente a maçã – Se sabia que eu viria, porque não tratou de contar a verdade a alguém? Parece-me estúpido. Ou, achou que eu seria misericordioso se não abrisse a boca? Esperto, devo admitir, mas não muito. Eu iria te matar de qualquer forma. – rolou os olhos – Preciso de um pouco de sangue para aquecer a alma.
- Nã-não. – gaguejou o homem, apertando os olhos.
- Diga-me um motivo para não fazer isso, pois se quisesse realmente se safar teria uma carta na manga, o que eu duvido que você tenha. Sabe por que a perícia não lhe deu atenção? Na verdade eles estão fazendo um ótimo serviço a meu suborno: ignorando a testemunha, omitindo fatos e provas. Lindo, não concorda? – ria sozinho – Às vezes é útil ter lábia para com essa gente. Enfim, não deve ter a mínima noção do que eu falo e já me cansei de provocações, não sou uma pessoa que gosta de ficar enrolando, talvez depois que lhe contar a garganta eu brinque um pouquinho. Você não estaria consciente para saber o que vou fazer com o seu corpo então fique tranquilo, tenho uma ideia ótima de como desaparecer com ele, clássica até.
O homem estremecia, mas não conseguia falar. O choque havia sido grave e ele estava fraco e se recuperando, portanto não teria nem a chance de gritar, o que era considerado uma pena pelo homicida, que tinha um gosto singular por gritos – soavam como suas músicas preferidas. Seus olhos se arregalavam com os passos mais próximos do assassino, o corpo todo tremia, não podia nem se mover tamanho era o medo. O homem abriu a mochila imunda que carregava nas costas, espalhou um largo plástico pelo piso, contornando o jardineiro que não conseguia nem ao menos respirar facilmente, e voltou a encará-lo.
- So give them blood, blood, blood. – cantarolava, passando a base do dedão pela faca afiada, sorrindo maliciosamente – Grab a glass because there's going to be a flood! – guinchou e com um movimento rápido, que lhe rasgou a garganta com a adaga, silenciou o jardineiro para sempre. O homicida levou vagarosamente os dedos no rosto, passando-os pelas gotículas de sangue que o atingiram a face, e muito sadicamente, desceu os mesmos a boca, sentindo o gosto metálico do líquido vermelho o aguçar o paladar, como se fosse sua comida preferida. O assassino não o teria matado tão rapidamente se o mesmo pudesse gritar, seria diferente se ele pudesse emitir qualquer som a mais do que um gemido. Contudo, como não era o caso, o homem não poderia se divertir ao ver o outro berrar tão desesperadamente, achou que não merecia afinal morte mais demorada. Sorria ao ver o corpo do jardineiro imóvel no chão, com a pele do pescoço separada em duas ao jorrar uma cachoeira de sangue – Agora vem a pior parte. – disse entediado a si mesmo, olhando as marcas vermelhas nas paredes e carpete. Tornou a abrir a mochila, tirando de lá uma esponja, produtos de limpeza e um pano seco. Carregou o morto até o jardim, jogando-o desajeitadamente no gramado e entrou novamente na casa. Limpou rapidamente os vestígios de sua presença ali, assim como qualquer marca que o jardineiro poderia ter deixado ao morrer e saiu. Colocou o corpo sem vida sobre o ombro e caminhou até o carro estacionado a alguns metros, deitando-o sobre o porta-malas – Desculpe-me não ser um hotel cinco estrelas, mas é o melhor que eu poderia arranjar para alguém como você. – debochou, fechando a porta do automóvel sobre a perna esquerda do rapaz, ouvindo o estralo do possível quebrar de ossos – Oh, machuquei você? – perguntou sorridente, passando a língua sobre os dentes enquanto abria novamente a porta, colocava a perna para dentro e a fechava – Ora, como sou estúpido! – lamentou ao sentar no banco do motorista e ligar o carro – Eu poderia ter visto a agonia em seus olhos, não precisava ter me livrado de você tão cedo. – choramingava, desacreditado – Seria divertido, mesmo sem gritos. – repetia inconformado – Mas, no final das contas, não chegaria nem perto da empolgação que me tomará ao atravessar o peito de . Ah sim, esse será o meu troféu! A esse faço questão de pendurar a cabeça em minha parede. Faço questão de cuspir em seu rosto antes de vê-lo angustiando ao chão. O sangue deste será o meu maior prêmio.

Capítulo Quatro: Stoppage

- Não sentirei culpa, você não me conhece. Quer parar de insinuar que estou com peso na consciência por ter morrido? – gritou, levantando-se do chão para começar a caminhar de um lado ao outro no cômodo. estava certa e sabia disso, mesmo que nunca admitisse. Já ele se sentia invadido, como se ela adentrasse em sua mente até poder lê-la. O sol abaixava no horizonte e o aposento já estava começando a ficar escuro, mesmo com seu piso muito branco – Você não sabe como ele era, como pode achar que merece estar viva no lugar dele? – pensava alto, não se importando com o que acharia de suas indagações.
- E você quer parar de dizer que eu não mereço estar viva? – ela berrou, jogando a cabeça entre os joelhos – Eu acabei de te contar toda a minha vida, nunca tive o seu dinheiro e os benefícios que ele trouxe, nunca tive um pai...
- Meu pai está morto, não pense que é a única órfã por aqui. – ele interrompeu-a, apontando o dedo indicador em seu rosto. o encarou séria e incrédula, balançando a cabeça negativamente. Apoiando as mãos na parede, ela se levantou, parando de frente a ele. Segurou firme na barra de sua larga blusa e a levantou, passando-a pelo pescoço, ficando somente com o top claro e folgado que usava por baixo da mesma, deixando evidente a faixa por seu busto e barriga, a qual tinha a intenção de esconder a sutura da operação. acompanhou o movimento com o olhar desesperado, engolindo em seco – Por quê? – perguntou, franzindo o cenho ao controlar sua vontade de pular sobre ela e traçá-la como faria um animal.
- Prometi que me entregaria se não o convencesse, e vou. Só não quero sujar a camisa branca com o meu sangue. – falou, soando quase inaudível. Sua intenção era obrigá-lo a olhar para o local com a atadura, e obteve sucesso, pois ele não tirou os olhos de cima de seus seios – Fique à vontade. – abriu os braços em sinal de rendição, fitando o fundo dos olhos do rapaz. não conseguiu se mover ao encará-la, não poderia ofuscar o brilho daqueles olhos, era como se fosse matar sua própria felicidade. Ele não estava preparado para mandá-la embora desse mundo e não queria que ela partisse. era o tipo de pessoa, como , que não merecia morrer. Porque o coração dele haveria de ter ido justamente para ela? mataria sem pestanejar qualquer pessoa, porque esteve evitando esse momento até agora se, para ele, não passava de uma ladra? – Precisa de ajuda para apertar o gatilho? – incentivou, ainda esperançosa de que o homem desistisse. levantou a mão trêmulo, para total surpresa dela, e apontou a arma em sua direção.
- , não faça isso! – Reece arrebentara a porta dos fundos da casa da garota, assustando o rapaz que mirou o teto da cozinha para evitar atirar nela com o sobressalto. respirou aliviada, passando as mãos no rosto. Reece aproximou-se dela, abraçando seus ombros – Você está bem? – perguntou paternalmente, fazendo-a assentir – Graças aos céus cheguei a tempo de evitar o pior, pensei que já estaria morta. Desculpe-me pela porta, mas me desesperei quando vi o carro estacionado em frente à casa. – falou, bufando. O rosto de começara a ficar vermelho de raiva e jurava que passava por sua mente atirar no homem ao seu lado.
- Precisa arrumar um carro mais discreto, . – ela brincou, tentando quebrar o clima tenso pairando por suas cabeças. Não obtendo muito êxito em sua falha tentativa de piada, a garota se postou frente ao homem, tentando protegê-lo de um possível tiro – Duas perguntas. Primeira: quem é você? E segunda: devo supor que está aqui para ser morto junto a mim? – indagou , atraindo o olhar feroz de , antes preso ao padrasto. Ela somente fitava sua mão apertar a arma, parecendo indeciso em atirar.
- Meu nome é Reece e sou padrasto do . – disse o homem, atônito. encarou-o intrigada, levando os olhos para a exatos cinco passos dela – É exatamente para que ninguém morra que eu estou aqui. – falou, empurrando a garota para o lado ao começar a atravessar o espaço que o distanciava do rapaz – Vamos , desista dessa sua ideia maluca. Você não é um assassino, filho. – e calou-se ao ouvir o tiro que acionara atingir o chão, despedaçando um dos pisos brancos. se assustara com o barulho, contudo ficara indignada era com o fato de ter uma fissura em seu chão impecavelmente limpo. Reece parecia demonstrar apenas o medo físico, pois seus olhos eram inexpressivos e não pareciam apavorados – deixe de ser infantil e largue essa arma agora mesmo. Não queira que eu tome medidas mais drásticas. – pronunciou Reece, unindo as sobrancelhas. o estudou: tinha o corte de cabelo curto, elegante como o de um executivo, usava um terno preto amarrotado, seu porte não era o de um jovem de academia, mas ele ainda tinha espirito de galanteador, contudo, a barba era o que o deixava com ar paternal.
- Você não tem esse direito! – bradou , ficando cara-a-cara com o padrasto – Só o meu pai poderia conferir ordens como essas, e, pela milionésima vez eu repito, você não é ele. – disse nervoso. olhava de um para o outro sem reação, seria a oportunidade perfeita para fugir, já que finalmente estava entretido com outra coisa que não ela. Mas algo a impedia de deixá-lo e por mais que soasse impossível, uma parte dela já pertencia a ele; talvez o coração que tanto ele almejava. Possivelmente ela já estava ficando louca, pois querer ficar ao lado de alguém que quer te matar não é algo com o que uma pessoa esteja acostumada a fazer – Saia daqui Reece, antes que eu atravesse uma bala em seu peito. é minha e ninguém vai me tirar a chance de pegar o que é meu! – suas palavras soaram autoritárias, o que fez a garota se sentir incomodada com elas.
- Sabia que Dominic saiu aos tapas com Conor hoje? Soube que você ordenou que ele ficasse em seu lugar e isso não o agradou muito. Não o agradou nem um pouco, na verdade. – comentou, sorrindo ironicamente – Você conhece Conor o suficientemente bem para saber que ele não aceita ordens de subordinados. Mas é claro que não saberia nada do que acontece na sua empresa, não é mesmo? Sua atenção esteve voltada para outra coisa nesse ultimo mês. – encarou com o canto dos olhos, vendo-a ofendida com a intensão em que ele o fazia. bufou, acertando um soco no olho direito do padrasto, que cambaleou para trás – Prefere mesmo perder seu dinheiro fácil à voltar comigo, está fisgado! Só não diga que eu não avisei, garoto. Você vai se arrepender amargamente por estar perdendo seu tempo com ela. – apontou-a com a cabeça, recebendo outro soco no rosto em seguida, que lhe provocou um corte nos lábios.
- Deixe-me ver se entendi. – interrompeu o confronto dos dois, colocando as mãos em frente a eles – Conor é seu sócio nos negócios e não ficou feliz por ter Dominic, que ainda me escapa a identidade, em seu lugar na empresa, porque você está “perdendo seu tempo comigo” e agora vocês se acham no dever de lavar a roupa suja na minha casa? – perguntou sarcástica – Eu nunca tive nada haver com a família de vocês, para falar a verdade. Não tenho culpa se morreu que é onde eu acho que está o começo de toda essa confusão. Não tenho culpa se você não consegue dormir a noite por causa disso. Não tenho culpa se Dominic apanhou, talvez de fato eu tenha, já que isso não aconteceria se você estivesse frente a sua empresa onde é o seu lugar e não aqui. Não tenho culpa de nada, muito menos de carregar esse coração no peito! – virou-se rumo à porta, começando a caminhar, entretanto, foi impedida pela mão de , que a fitava repreendedor – Por favor, cuide da sua vida e me deixe em paz. – implorou com a expressão distorcida em dor. afrouxou a mão, mas não a largou – Ou melhor, acabe com isso de uma vez. – disse, apontando para a pistola.
- Você é maluca? – Reece gritou, apoiando-se no fogão para se erguer – Como pode pedir que ele simplesmente atire em você? – voltou a questionar. novamente o olhava impetuosamente. Se Reece ousasse dizer que era perda de tempo mais uma vez, ele não estaria vivo no segundo seguinte para ver qual sua reação – Além de querer morrer, quer transformar em um delinquente? Logo vi que você não era lá... – novamente foi atirado ao longe, e dessa vez o soco de o tirara sangue pelo nariz. estava impressionada com o modo defensor de , ainda mais por ele querer matá-la quando tivesse a oportunidade. Era uma atitude contraditória e tanto.
- Vai embora Reece, não estou interessado na porra da sua opinião! – apontou porta afora, indicando caminho para o padrasto sair da casa. Contudo, o homem não se moveu nem um centímetro – Quer que eu te faça sair de joelhos? – perguntou grosseiramente.
- Saio sem pestanejar se você me entregar essa arma. – pediu ele, estendendo a mão. sorriu irônico, negando – Vim apenas ajudar a essa garota estúpida, mas ela me parece depressiva o bastante para enfrentar o destino dela e arruinar a sua vida. Pensei que você fosse mais inteligente, . – disse o padrasto, dando passos lentos em direção à porta – Espero do fundo do coração que não sinta sua morte minha jovem, pelo visto nunca recebeu um tiro na vida e não sabe como é, boa sorte. Vejo você depois, . – e saiu, abaixando a cabeça.
- Todos as pessoas da sua família são perturbadas? – perguntou e recebeu um tapa involuntário no rosto. A mão de era pesada e a região ficou ardendo por um tempo. Ela fitou-o indignada, pela primeira vez com medo. olhou-a com o cenho franzido e pareceu perceber o que acabara de fazer, segurando seus braços a fim de impedir que ela bambeasse e caísse ao chão.
- Desculpe-me. – disse ele, levando os lábios gelados à bochecha dela, depositando ali um beijo forte e provocador que a fez vacilar ao respirar falha – Prometo nunca mais encostar a mão em você. – disse firme, expirando perto de seu pescoço.
- Certo, você pode atirar de longe, não pode? – provocou ela, virando a cabeça para o lado oposto dos lábios de . Ele por sua vez não se intimidou, beijando o início de seu pescoço – O que está fazendo? Desistiu de me matar ou só está aproveitando antes de fazê-lo? – perguntou novamente, fazendo-o se afastar – Oh, claro, como eu poderia ser inocente o bastante em acreditar que você realmente não faria isso? – disse em um tom sincero, cansada.
- Já disse que não quero fazer, é só que... Eu preciso. – ele encostou o corpo ao balcão, encarando o piso. estava ciente de que não conseguiria, mas continuaria passando a imagem de que iria, ainda não sabia o porquê, mas ele sentia uma aproximação maior de ao provocá-la.
- Dói? – ela perguntou, após segundos de silêncio – Quero dizer, o tiro? – levantou a cabeça e encarou-o. mordeu o lábio inferior, lembrando-se da dor que uma bala causava ao entrar em contato com a pele. Ele mesmo já havia tido a experiência no ano anterior, mas saíra ileso a danos maiores. E mesmo não sabendo de que direção havia sido atingido, pois o “ataque” foi em meio a rua, o fez pensar se essa não teria sido a primeira tentativa do assassino de , talvez ele estivesse visando assassinar os dois irmãos.
- Sim. – respondeu.
- Ótimo, é bom saber. Cinco minutos para me preparar psicologicamente? – pediu ela. começou a gargalhar roucamente, achando engraçado todo o jeito que tinha para adiar o fim – Ok, faça agora, antes que eu me arrependa. – choramingou.
- Quer que eu atire? – questionou triste, encarando a arma. Obviamente ela negou, um calafrio lhe subindo o corpo. caminhou até o lixo ao lado da geladeira e o abriu, jogando a pistola dentro dele. A garota olhou-o assustada, teria ele finalmente desistido? começou a fuçar entre as gavetas do armário, procurando por alguma coisa. não ousou perguntar o que ele estava fazendo, só o acompanhou com o olhar, ansiosa. Ele parou de se mexer ao fitar um objeto dentro de uma das gavetas, respirando calmamente – Não sei qual é a sensação disto. – pensou alto, pegando uma faca em mãos. soltou um grito abafado, tampando a boca – Doeria mais do que um tiro? – perguntou ele, colocando o objeto sobre o balcão. A garota aproximou-se dele, implorando com os olhos que não a apunhalasse. Sabia, pelas inúmeras vezes que se cortara com o objeto, que doeria tanto quanto ou mais do que o tiro. Ela pegou a mesma, tentando afastá-la de , que seguiu seus movimentos com as órbitas intensas – O coração de tem que ficar comigo. – rosnou, totalmente perdido entre o que queria e a necessidade de mantê-la viva.
- Você o quer tanto assim? – perguntou com a voz embargada – Tome, venha pegar. – apontou a faca em direção a , apertando o punho com força, fazendo suas veias se sobressaírem. agarrou o cabo da mesma sobre a mão da garota, comprimindo os dedos dela. mordeu os lábios para conter a dor infligida a ela, respirando bravamente. O rapaz aproximou o corpo do dela, prensando-a no balcão da cozinha enquanto virava a faca rumo ao seu pescoço. Levou a mão livre aos cabelos dela, soltando-os lentamente ao tirar os hashis já bambos presos a ele. Os fios caíram delicadamente sobre o seu colo, destacando as ondas volumosas que se formaram. Em um movimento raivoso, jogou os pauzinhos ao chão, tornando a mão perto de seu rosto. Enganchou os dedos nos cabelos dela e aproximou suas testas, apertando os fios de maneira grossa e violenta. A faca incomodava a pele do pescoço de e seu nariz oscilava, esperando pelo momento em que ela atravessaria o mesmo. Mais uma vez se via excitado por tê-la nas mãos, deixando evidente seu desejo por sobre a calça. Ele mirava os lábios vermelhos e carnudos da garota, querendo imensamente devorá-los – O que está esperando? Eu sou sua, . – o hálito refrescante de roçou seu nariz, a navalha da faca impedindo-a de abaixar o rosto e chegar a boca mais próxima a dele. gemeu, forçando os dedos por seu cabelo, fazendo-a soltar uma leve guinada de dor. Ele encarou seus olhos e teve ali a certeza de que matá-la não era o que ansiava; ele queria possuí-la. forçou a mão agarrada à faca em direção ao balcão, mas foi quem a depositou ali enquanto travava a mandíbula. Ele puxou com ainda mais força seus cabelos, levantando seu rosto, e, deslizando os lábios próximos aos dela, capturou-os em um beijo; entorpecente e enlouquecedor.

Capítulo Cinco: Pleasure

N/a: música, Coloquei a mesma música em sequência para o caso de ela acabar e você, leitor(a) querido(a), não precisar voltar e recolocá-la.

deslizou as mãos dos cabelos de , passando-as firmemente por sua nuca e depois por toda a extensão de suas costas, parando as mesmas no inicio de seu quadril. A garota subiu as suas, massageando com os dedos os ombros largos de . Ele a beijava como se nunca o tivesse feito, agarrando seus lábios com os dele enquanto os mordia e sugava, deleitando-se em sua boca. umedecia todo o contorno dos lábios dela, passeando sem pudor com sua língua por onde quisesse. A pressão que fazia nas pernas era tanta que sentia seus músculos rígidos, sobressaltando as veias do pescoço. Inclinou o corpo para frente, a fim de não haver mais espaço os separando, fazendo-a segurar firmemente em suas costas. tornou uma mão em seu pescoço, forçando-o rumo a si e a outra foi estirada no centro das costas de , puxando-a para cima. A garota estava praticamente sentada sobre o balcão e as pontadas em seu peito não doíam tanto quanto podiam, ou até o faziam, se sua atenção não estivesse depositada em outra coisa. O rapaz escorregou os dedos até sua nádega direita, segurando sua coxa a seguir enquanto a suspendia vagarosamente até a altura de sua cintura. sentia que um hematoma se formaria ali tamanha era a pressão que ele depositava. Agora ela notava com clareza o órgão de no meio de suas pernas e o quão grande ele era.
- Pre-preciso de a-ar. – sussurrou a garota, virando o rosto para o lado ao descolar os lábios dos dele. sorriu cúmplice em sua bochecha, depositando beijos leves e molhados ali. Ela percorria suas costas com as unhas, sentindo seu peitoral esbarrar em seus seios arrepiados. arrastou a boca até seu ouvido, sugando seu lóbulo. Obviamente ele praticava muito mais do que , a garota era praticamente leiga no assunto “sexo”, e estava destreinada para o mesmo. Os beijos mais intensos foram parar em seu pescoço, chupando e mordiscando a pele clara dela. estava desesperado para enterrar seu pênis de uma vez em , mas seguraria a onda, pois quanto mais a provocasse mais delicioso seria o prazer de tê-la.
- Já? – perguntou, sem tirar a boca de seu pescoço, fazendo-a sentir os dentes relativamente pontiagudos correrem por ali. explorava o queixo dela com a língua, sentindo-a respirar ofegante. fechou os olhos e aproveitou a sensação que lhe era proporcionada. O homem comprimia o corpo para frente, disposto a sentir por sobre a calça de moletom que a garota usava o quão excitada ela se encontrava. A cueca boxer branca dele já estava apertada, queria retirá-la e jogá-la longe – Ar? Já? – voltou a perguntar, prensando sua cintura com a dela no balcão. pareceu acordar de um torpor, sorrindo timidamente.
- Acho que si... – foi interrompida pelos lábios de , que voltaram a devorar os seus – Você não perde tempo. – sorriu entre o beijo. A língua do rapaz invadia toda a sua boca, chocando-se com a sua. Todo apressado, ele começou a se movimentar para frente e para trás, tentando encaixar seus corpos em um ângulo perfeito. A mão na coxa de não cedia, erguendo-a ainda mais para cima.
- Muita. Roupa. – sussurrou falho, puxando o moletom irritado. Os lábios dançavam ritmados e eram deliciosamente quentes. Ele pegou as mãos de e as levou até a barra de sua camisa preta, indicando que queria que a tirasse. Ela obedeceu, puxando o tecido para cima, fazendo-o afastar-se por segundos de seu corpo. A peça escorregou por seus braços, deixando a mostra o seu abdômen definido. ajudou-a a passar a mesma por sua cabeça, vendo que a garota parecia estática observando timidamente as curvas do tanquinho enquanto passava os dedos pelo mesmo. Jogou a camisa longe e puxou violentamente o corpo de de volta para si, tornando a beijá-la. A boca dela era tentadora demais, ele nunca havia experimentado gosto parecido com aquele, mais especificamente se assemelhava ao tipo de coisa que de tão boa não paramos de comer, batata frita, por exemplo; o beijo de era como batata frita – Quero te ver... Nua. – sussurrou em seu ouvido, fazendo-a gemer envergonhada. Como ele ousava pedir algo assim? sentiu-se até ofendida, mas nada que os beijos de não curassem – Estou falando sério, ou você tira a roupa ou eu mesmo faço esse favor. – gemia em sua orelha, gargalhando maliciosamente.
- Não pense que vou fazer isso só porque você quer. Tenho amor próprio, . – vingou-se, mordendo seu maxilar, fincando os dentes firmemente na pele dele. Percebendo as marcas que haviam formado, fez um bico extremamente sensual e encostou-o sobre as mesmas, seguindo com a língua – Se estamos em um momento tão intimo que te dá o direito de proferir perversões, não sou eu quem vai perder essa oportunidade. – murmurou delicadamente, aproximando a boca da base de seu ouvido, sugando a cartilagem antes de dizer – Pare de me cutucar com o seu amigo e nos apresente formalmente, antes que eu desista de conhecê-lo. – foi o que bastou para levar as mãos ao cinto, lutando contra a fivela para se libertar. mantinha os olhos pregados em seu corpo moldado, enquanto mordia o lábio inferior, tentada.
- É como dizem: as “inocentes” são as piores. – provocava, sorrindo empolgado. Estava ansioso para saber se era quente como pensava – e aparentava. É claro que ele não a penetraria sem provar de seu sabor e estava louco para fazê-lo. Soltou o cinto, deixando que a calça lhe caísse pelas pernas. murmurou algo como “Grande”, encarando a cueca branca e o que estava ereto dentro dela. tirou os sapatos com os pés e a peça toda, atirando-a longe – Eu de cueca e meias e você toda vestida, isso não é justo. – o órgão dele era facilmente sentido o que a deixava louca. Impaciente, agarrou a barra do moletom de , puxando-o para baixo em um único movimento, expondo sua calcinha alaranjada florescente. Ele não soube o porquê, mas o instinto de devorá-la aumentara drasticamente naquele momento – Parece... Boa. – foi o que conseguiu pronunciar ao secá-la sem pudor com os olhos . E instantaneamente levou a mão ao interior de suas pernas, com o objetivo de senti-la molhada como gostaria que estivesse – Tão úmida... Não me torture. – implorou ao passar vagarosamente dois dedos por sobre seu clitóris, lhe arrancando gemidos abafados. Ele brincava com a unha na região, deixando-a arrepiada.
- Perturbado. – murmurou ela, escondendo o rosto em seu ombro. sorria prazeroso. arranhava sua pele clara, isso porque o rapaz ainda não havia chegado muito perto de sua excitação – Quer fazer isso logo, por favor? – implorou ela, gargalhando de seu desespero. afastou-a do balcão, segurando-a forte em seus braços e levou uma das mãos novamente ao meio das pernas dela, dessa vez adentrando a calcinha. só faltava rosnar com os dedos apressados que seguiam para sua parte mais necessitada. Com a mão livre abraçou-a pela cintura, tendo a intenção de erguê-la centímetros do chão, e com a outra a penetrou com os dedos, fazendo-a inclinar a cabeça para trás, respirando fundo. Ele ficou excitado com seus gemidos. Mexia compassadamente dentro dela, sentindo a passagem lubrificada e quente. era deliciosa! A boxer tinha problemas em cobrir a ereção do rapaz, que já era tamanha ao ponto que ele se controlava para não explodir.
- Você é muito... Gostosa. – pressionou os dedos fortemente, dançando tentadoramente com eles. tentava abaixar o corpo, para sentir a penetração mais funda, mas não permitia. Privava a garota do prazer que ela ansiava. Para ajudar, o homem beijava seus lábios vermelhos, sentindo-a despejar mais de seu liquido em seus dedos. Aquilo o estava enlouquecendo – Goze para mim, . – sussurrou rente aos seus lábios, estocando os dedos até o limite, fazendo-a gemer alto e murmurar um “Desgraçado” enquanto gozava em sua mão inquieta e ardente. adorou tê-la vacilante em seus braços, já a garota odiara a sensação, pois provavelmente a faria querer muito mais, em vista de que nunca tinha estado com alguém tão perturbador, inclusive o seu jeito grosseiro parecia ter contribuído para o melhor orgasmo de sua vida... Até agora. Ele subiu os dedos molhados com o liquido de e chupou-os, apertando os olhos ao sentir seu gosto – Não é o suficiente para mim, preciso te “beber” inteira para me saciar. – dito isso, ele agarrou em sua bunda bruscamente, puxando-a rumo ao chão, onde a deitou rapidamente.
- O que quis dizer com isso? – ela perguntou receosa, com a voz fraca, olhando de para as mãos dele, depositadas nas abas de sua calcinha – , “querido”, está me assustando. – disse irônica, franzindo o cenho. O rapaz a fitou maliciosamente em retorno, antes de puxar a peça por suas pernas, fazendo-a fechar as mesmas, envergonhada, enquanto tentava proteger sua intimidade do olhar pervertido dele – Estou começando a crer que antes eu estava mais segura. – sussurrou com um gritinho quando ele agarrou seus joelhos e abriu suas pernas de uma vez.
- Concordo. Se preferir, posso manter uma arma apontada para você... O tempo todo. – disse sarcástico, sorrindo luxuriosamente – Mas imagino que por hora, minha língua deva bastar. – a visão que ele tinha o fazia morder os lábios. O homem aproximou seu rosto do interior de suas coxas, esfregando o mesmo por toda a extensão. Levantou um último olhar de puro desejo em direção a e enfiou a língua em seu sexo, fazendo-a apoiar a cabeça no piso, fechando as mãos em punho. Em chamas, era como estava sua língua, passeando por todas as extremidades de . Ela se contorcia, sentindo os músculos se contraírem. parecia estar zonzo com o líquido nos lábios, era tentação demais para ele. Sugava-o todo, chupando cada gota. Faminto como um vampiro por sangue. Sentia o seu órgão ereto encostar firme ao chão, incomodando-o por querê-lo dentro da ardente . Conforme a garota despejava seu “mel” ele se sentia excitado, tanto que não conseguiria aguentar. Levou uma mão para dentro da boxer, começando a mexê-la.
- Espere, espere. – arfou, fazendo-o levantar minimamente a cabeça, frustrado – Não tem que fazer isso sozinho. – ela apontou para a cueca, observando perfeitamente a mão dele sobre o membro. franziu o cenho, rolando os olhos, e voltou a explorá-la com a língua flamejante – Você por acaso é um maníaco por fluidos? – perguntou, respirando com dificuldade, enquanto batia os dedos desesperadamente no piso branco.
- Digamos que o seu não tem como recusar. – ele disse, sorrindo com os lábios em seu clitóris. puxava os seus cabelos para cima, insistindo que ele a olhasse. fitou-a nervoso, mas a garota não deixou de teimar – Juntos? – perguntou ele então, balançando a cabeça descontraidamente. Não queria corrompê-la ainda mais, entretanto, não parecia querer desistir. Afastou o rosto e se esticou ao chão, deitado – Vem. – disse, chamando-a com as mãos. encarou-o desentendida, com curiosidade nos olhos. Não sabia o que ele pretendia fazer. Impaciente, agarrou sua cintura, puxando-a para si, de modo que ela ficasse praticamente sentada em seu rosto. A garota não se sentira nem um pouco confortável com isso – Faça bom proveito. – falou ele, apontando o próprio órgão. levou a boca em sua excitação, tornando a sugá-la. Com as mãos trêmulas, tentou tirar sua boxer, que foi facilmente passada pelas pernas dele, quando o mesmo ergueu a bunda centímetros do chão. não poupava nos chupões, mal conseguia respirar tamanho era o prazer que sentia. Ela murmurou novamente algo como “Grande” antes de abocanhar o órgão dele, não completamente, pois não caberia, fazendo-o mordê-la ao menor toque de seus lábios. Ambos começaram a se devorar, quanto mais pressionavam, mais aumentava a vontade de uma continuação violenta. sentiu o orgasmo, apoiando a palma das mãos no piso gelado, enquanto lambia cada pedaço de seu interior, sorrindo vitorioso. Vingativa, apertava os lábios contra toda a extensão lubrificada, prendendo-a na boca. gritava “Não pare”, enquanto ela o fazia rápida e intensamente. apoiou as mãos em seu membro, masturbando-o. O movimento de seus lábios e mãos deixavam o rapaz inteiro rígido enquanto ele apalpava suas coxas berrando “Porra, porra, porra”. Outras mordidas a mais e gozou, batendo a cabeça no chão ao respirar – Isso foi muito, muito, bom! – sussurrou ofegante. Não tinha palavras para descrever a sensação. sentou-se de lado, deixando as pernas sobre as dele – Acho que tenho um novo vício.
- Qual? – perguntou com a voz fraca.
- Sua boca. – respondeu, fazendo-a gargalhar.
- Mas me parece que não está satisfeito. – observou , limpando o suor que escorria sobre sua testa.
- Claro que não, fico imaginando como é estar em você por inteiro. Quero muito mais e quero agora. – disse autoritário, ficando de joelhos ao puxá-la para um abraço. Começaram a se beijar novamente, esfregando as mãos em cada parte possível do corpo um do outro, ajoelhados em meio à cozinha. retirou o sutiã, última peça de roupa entre eles, com exceção de suas meias que não fariam a mínima diferença estarem ou não ali. Seus olhos chegaram a brilhar ao encarar os seios redondos e convidativos da garota. Logo beijava seu colo, passando a boca desesperadamente pelos seios dela. o masturbava para que ficasse ereto enquanto o homem desenrolava a faixa que lhe cobria a cicatriz em formação. Ao tirar completamente o tecido branco começou a desenhar beijos por sobre a sutura, massageando seu quadril.
- Não quer mais me matar, ? – provocou ela, mordendo os lábios.
- Quero. – respondeu, levantando do chão e levando-a com ele até prensá-la na parede. Os órgãos se tocando provocantemente – De prazer. – disse malicioso, penetrando-a de uma vez. Os ombros de pareciam ter aumentado de tamanho com a contração que ele fazia, todo o seu corpo estava perfeitamente marcado. Eles gritaram baixo, contendo ruídos mais chamativos embora quisessem berrar o quão aquilo era bom aos quatro ventos. investia fortemente, sentindo cada centímetro de sua extensão deslizar para dentro dela. Nada se comparava aquilo. As estocadas eram violentas e os gemidos tentadores. bateu a cabeça na parede, fazendo-o sorrir. Ela subiu as pernas, abraçando-as em sua cintura e sentia o pênis de percorrer sua "ida e volta" muitas vezes. Sem retirar o órgão de dentro dela, ele caminhou até a sala, apoiando as mãos em sua bunda para dar firmeza as estocadas e caiu sobre no sofá. Como consequência do movimento brusco, investiu tão forte que pode sentir o útero da garota, que beijava seus lábios sedutoramente para conter os gritos de prazer – Pelos seus gemidos, acho que estou conseguindo. – debochou, rebolando.
- Você quer isso tanto quanto ou até mais do que eu. – respondeu sarcástica, mordendo seu ombro.
- É verdade, admito. Mas, convenhamos, estou melhor armado do que você. – voltou a dizer, ofegante. sorriu em retorno. Mais estocadas e mais pressão.
- Chegou mesmo a pensar que você é o único a proporcionar prazer nessa relação? – disse arfante, investia pesadamente querendo-a desmontada em seus braços. se mexia de tal maneira que nem o rapaz soube como agir, uivando. Ele sentiu que outro orgasmo estava por vir e se sentindo ofendido começou a masturbá-la com dois dedos para que gozassem juntos. viu isso como uma vitória sobre ele. Sentiram seus corpos moles, um por cima do outro enquanto dava suas últimas investidas.
- Quantas mais você aguenta? – perguntou empolgado, sentando-se no sofá.
- Quantas você inventar. – respondeu com um sussurro em seu ouvido.
- É assim que eu gosto. – beijou-a, intensamente. Os dedos enfiados em seus cabelos.
- Quer dizer que qualquer garota que te faça gozar por mais de uma vez em uma mesma transa merece um prêmio? – afastou o rosto do dele, fitando-o sarcástica enquanto sorria pervertida.
- Todas as outras eram entediantes, nunca me fizeram ficar interessado por mais de um orgasmo. Com você é diferente. – ele puxou-a de volta, mordendo seus lábios.
- Vou receber isso como um elogio. – disse ela, timidamente.
- O melhor que eu posso oferecer. – falou entre beijos. A imagem que tinha de com seu órgão na boca o fez ficar excitado rapidamente. Agora ela subira em seu colo, sentando sobre o seu membro. cavalgava deliciosamente, fazendo rolar os olhos nas órbitas. Ele estava completamente insano, rezando para que aquilo nunca passasse.
- Qual é a sensação, ? – provocou, deixando uma gota de suor escorrer de seu pescoço para o peitoral dele – Qual é a sensação de transar com a garota que possui o coração de seu irmão, a mesma que você queria transpassar uma bala no peito há pouco tempo e a única capaz de te fazer gemer como um tigre enjaulado? – perguntou, rebolando juntamente com movimentos para frente e para trás. deixava que ela investisse, mexendo pouco a cintura quando o quisesse.
- Pensei que tivesse aprendido a medir as palavras quando fosse falar comigo. Não foi muito esperto de sua parte dizer isso. – ele segurou sua cintura com força, pressionando-a para baixo. Novamente sentiu o útero no fundo de seu ventre. Receosa, prendera o órgão dele dentro de si, fazendo-o morder os lábios – Assustada? – debochou, sorrindo com os olhos fechados. colocou-a de quatro sobre o sofá, ficando ajoelhado sobre o mesmo enquanto investia violentamente.
- Parece que me proporcionar dor não é o seu forte. – disse, respirando em compasso com as estocadas.
- E quem disse que eu queria te fazer sofrer? Minha intenção é te fazer pensar em mim te “comendo” a cada segundo, de todos os dias. – ele rugia, sentindo a pele da extensão encostar prazerosamente nas paredes do interior de .
- Permito que continue com sua tentativa se parar de usar palavras baixas quando for se dirigir a mim. – murmurou ela, entre gemidos – Caso contrário... – afastou o corpo um pouco do dele, sentindo o órgão quase fora de si. Contudo, foi puxada para trás, murmurando um “Ok” grosso – Pode-se dizer que seu trabalho estará completo quando você não conseguir pensar em outra coisa a não ser eu. – ela voltou à posição anterior, cavalgando sobre ele – Quando você não suportar ficar sem “me comer” a cada segundo, de todos os dias. Quando implorar para me ter em você novamente. – estocava contra ele, fazendo-o apalpar suas coxas.
- Eu já estou implorando pela próxima vez. – ele grunhiu, sentindo o orgasmo dado por deixá-lo ofegante, enquanto esta dava os últimos pulos em seu colo. não conseguiu se mover, nem ao menos tirá-lo de si. Ficaram sentados no sofá, agarrados aos corpos molhados de suor um do outro – Eu pensei... O coração de tem que ser meu. – disse sério, fazendo-a olhá-lo desacreditada – No entanto, se você o carregar, se continuar comigo, eu o terei, não é? Não da mesma maneira, mas ele seria meu e você também. – sussurrou pensativo, recebendo um beijo singelo na ponta de seu nariz.
- Esse é seu jeito de dizer que gosta de mim? – perguntou acanhada, achando-o adorável com o rubor no rosto.
- Não, esse é meu jeito de dizer que não quero te matar. – respondeu, tendo os lábios acolhidos por um selinho quente e agradecido. estava correto e teria como “brinde” por manter o coração de intacto. Teria tudo o que quisera, o irmão e a garota; dois em um.

Capítulo Seis: Outrage

abriu os olhos. Uma cantoria vinda da cozinha o fez acordar de seu sono. Ele sorriu ao ouvir ao fundo cantarolando “We are young, heartache to heartache we stand. No promises, no demands. Love Is A Battlefield” acompanha de algumas batidas de talheres de madeira pelo balcão. O rapaz gargalhou quando cantadas as notas mais agudas. Sentou-se no sofá, coçando os olhos, percebendo que continuava nu, mas coberto por um lençol fino. As imagens das últimas horas vieram em sua mente. Ah, como havia sido bom! Ele se sentia livre. Parecia leve, sem ódio ou amargura; não era mais o mesmo. Olhou o relógio ao lado da televisão e balançou a cabeça negativamente, levantando-se do sofá. Caminhou à vontade até o cômodo, tentando pentear os cabelos com os dedos. Parou no vão da porta, colocando as mãos na cintura ao observar dançar e cantar distraidamente, sem ao menos notar sua presença ali.
- São 3 horas da manhã, o que você está fazendo? – perguntou, atraindo a atenção da garota, que parou de cantar assim que o viu, expondo um sorriso largo no rosto.
- Sanduiches. – disse ela, apontando o pão e aparentemente tudo o que tirara da geladeira sobre uma mesa de madeira – Você me deixou com fome. – confessou, corando. sorriu, aproximando-se. Lembrando-se de sua “condição física”, deu dois passos em direção a sua boxer jogada ao canto do aposento, vestindo-a antes de voltar a andar até . Ele reparou que ela usava uma calcinha listrada com renda preta e uma blusa branca cavada, percebeu também que a garota havia refeito a atadura sobre a barriga e seios. Ele abraçou-a por trás, apoiando o queixo no topo de sua cabeça ao fazer carinhos em sua barriga com as unhas – Vai querer com ou sem queij...?
- Que cheiro é esse? – interrompeu-a, olhando ao redor.
- Cheiro? Que cheiro? Só sinto o seu perfume. – ela respondeu, desentendida.
- Parece-me um gás ou... Gasolina?! – indagou sério a si mesmo. Afastou-se dela, apoiando as mãos no chão ao olhar embaixo dos armários e mesas. o observava percorrer a cozinha de um lado ao outro com o cenho franzido, terminando de passar algo viscoso, maionese talvez, em uma fatia de pão. percorria os mesmos metros, andando em círculos pelo cômodo, até que pisou em algo pegajoso perto da porta dos fundos. Levantou o olhar para indicando que achara o que procurava, a mesma respondeu com um dar de ombros. O rapaz percebeu que em cima da pia havia uma caneca com água, a qual supôs que usaria para fazer chá. No momento em que lhe passou o pensamento pela mente, ela pegara a mesma, colocando-a sobre o fogão. Procurou por uma caixa de fósforos, segurando um nas mãos – Não o acenda. – advertiu, fazendo-a parar no exato momento em que o faria. Ele virou o rosto em direção ao exterior da casa, observando o quintal por uma janela – Mas que porra! – gritou, seguindo com os olhos o caminho que um filete de fogo fazia em direção a casa, por uma trilha de combustível que entraria pela porta em poucos segundos. correu em direção a e agarrou as mãos dela, puxando-a para fora. Eles passaram pela porta afobados enquanto a garota questionava o que é que estava acontecendo. Atravessaram o jardim lateral do lugar, rumando em direção ao ponto mais longe possível. olhou para trás a tempo de ver o fogo se espalhando por todo o gramado do quintal e seguir em direção a cozinha. Quando alcançaram a rua a casa explodiu, ecoando o barulho estrondoso dos cômodos se partindo, fazendo-os jogarem-se na grama dos vizinhos frontais da garota, quase caindo em sua varanda. ajoelhou-se, observando as chamas tomarem conta da residência enquanto uma lágrima escorria por seus olhos , arregalados de pavor. Ela levantou-se bruscamente e tentou correr rumo a casa, mas foi impedida por , que segurou seus braços com força.
- A carta está lá, . É a única maneira de eu reencontrar meu pai, não posso perdê-la. – ela se contorcia, tentando, em vão, se soltar. Vizinhos já saiam de suas casas e aglomeravam-se ali para observar a cena caótica que iluminava todo o quarteirão – Solte-me, eu preciso...
- Diga-me onde está, eu vou até lá. – falou firme, virando-a de frente ao seu corpo. Estava determinado a recuperar a única pista que a garota tinha de encontrar o pai, era como se vê-la realizar esse sonho o fizesse feliz.
- Pode se queimar. – choramingou , mas o rapaz não cedeu, insistiu com um olhar repreendedor para que ela falasse. As lágrimas que escorriam pelos olhos dela doíam nele, que não gostou de ver sua chorando daquele jeito – Há um corredor que faz divisa com a sala, por onde se chega aos quartos. O meu tem um pôster bem evidente do Johnny Depp na porta, embora eu ache que não sobrou nem sequer um pedacinho dele. Entre. Ao lado da cama haverá dois criados-mudos, um deles tem três gavetas, o que estará perto da janela. Abra a segunda. Terá ali uma caixinha de madeira, dentro desta estará a carta. – desatou a falar, apertando os lábios. assentiu, travando a mandíbula – Cuidado. – ela sussurrou, encostando os lábios levemente nos dele, fazendo-o sentir o gosto salgado de suas lágrimas. abraçou-a com força, afagando seus cabelos rapidamente, e virou-se em direção aos destroços pegando fogo.
A explicação de agora não seria de muita ajuda, não restara praticamente nada intacto na casa. O peito de pareceu apertado ao imaginá-la aos prantos em meio aos vizinhos fofoqueiros. Ele seguiu seu instinto, atravessando o que antes era o vão da porta de entrada. Gemeu de dor ao perceber o chão quente sobre seus pés, mesmo de meias ele pode sentir a ardência do fogo. A sala estava aos entulhos, fazendo-o bufar raivoso ao observar o sofá onde havia estado com queimar lentamente. Apertou os olhos e foi até o que lhe pareceu a entrada do corredor, desviando-se das chamas que se alastravam. Deu de cara com duas portas, uma delas pela metade. Procurou entre os pedaços de madeira algum sinal do rosto do Johnny Depp, encontrando o pôster sendo consumido pelo fogo. O ator encolhia conforme o papel virava cinzas. empurrou a meia porta para frente com dificuldade, pois do outro lado havia mais madeira amontoada, levando em conta que a maçaneta estava quente. A cama de estava quebrada, um pedaço do forro do teto caído sobre ela. O criado-mudo com três gavetas estava escondido por entulho. limpou-o com as mãos, jogando tijolos, madeira e cinzas para o lado. Arrancou a segunda gaveta toda, tirando de lá a caixinha. Abriu-a, certificando-se de que a carta estava lá, e a fechou novamente. Levantou o rosto em direção à porta, vendo o fogo se aproximando. Com os olhos comprimidos, deu alguns passos em direção a ela, torcendo o nariz ao pisar em pedaços afiados de madeira. Ao atravessar a mesma, uma viga caiu em seu ombro violentamente, fazendo-o berrar e se ajoelhar instantaneamente ao chão, apoiando a mão sobre o local. Sentiu o sangue escorrendo por um corte não muito profundo, ensopando seu colo. As gotas vermelhas desciam por seu peitoral, dispersando-se por seu corpo. Ele travou a mandíbula, suspirou fundo tentando conter a dor e levantou-se. precisava daquela carta e ele precisava de , não poderia desistir de sair dali. As maçãs de seu rosto estavam escuras, assim como todo o corpo. A boxer branca agora era preta, assim como as meias, e seus cabelos estavam eriçados e cheiravam a queimado.
Parecia impossível atravessar o caminho por onde entrara devido ao fogo, teria que achar outra saída. Ele observou uma das janelas quase cedendo, prestes a cair. Avistou um vaso antigo ao chão ainda inteiro e pegou-o nas mãos, sentindo o ombro latejar. Engolindo em seco, trêmulo, jogou-o sobre o vidro, despedaçando-o ao abrir um buraco na parede. Cambaleou até lá, zonzo pela fumaça que entupia seu nariz. Ouviu exclamações e gritos ao sair da casa, caindo de rosto no gramado. A caixinha escapou de suas mãos, indo parar a centímetros de distância de seus dedos.
Mãos delicadas logo o acolheram. piscou algumas vezes, desnorteado, e encontrou um par de olhos o fitando. Abriu um sorriso fraco, que foi calado por um beijo de . Ela o puxou para seu colo, deitando sua cabeça em suas pernas, enquanto gritava “Chamem uma ambulância, suas lesmas” para os vizinhos que os encaravam. Três minutos depois o corpo de bombeiros estava no local, junto com a polícia e mais curiosos. afagava os cabelos de , esperando pela ambulância que não chegava, enquanto dizia que tudo ficaria bem. esticou as mãos até a caixinha e pegou-a com os dedos vacilantes, entregando-a a garota.
- Não acredito que você está machucado por isso, me desculpe. – sua voz soava chorosa, devido às lagrimas que não paravam de escorrer por seus olhos – Não deveria ter ido, . – sussurrou triste.
- Agora você pode realizar o seu sonho e eu o meu. – falou ele, tentando consolá-la enquanto afagava seu rosto. fitou-o desentendida. Pelo que se lembrava do sonho do rapaz nada na situação acarretaria em uma cerimônia de casamento. Ele suspirou sorrindo antes de continuar a falar – A segunda opção é a correta. Quero me casar por não conseguir ficar longe. Não que eu esteja te pedindo em casamento, não hoje, mas sinto que não conseguirei viver sem você. – murmurou, timidamente – Engraçado, eu sei. Não te conheço tão bem assim, mas afinal, enfrentei uma casa em chamas por você, não foi? Isso só pode significar alguma coisa, mesmo que eu ainda não saiba o que é.
- Já é o bastante para que eu acredite. – respondeu ela, beijando sua testa. alargou o sorriso e esticou o pescoço para receber um nos lábios, contudo, a ambulância chegara no mesmo instante e três homens vestidos de branco saíram do automóvel. Eles levaram o rapaz para o carro, com a intenção de fazer um curativo em seu ombro, deixando perdida em meio à multidão. Os vizinhos a encaravam repreendedores, fitando seu corpo seminu, como quem dizia “Sempre soube que o estilo intelectual era só fachada”. Vendo-se ruborizada, ela caminhou rapidamente até e observou o enfermeiro fazer-lhe uma sutura no corte, lançando ao homem um olhar encorajador, enquanto esse revirava os olhos de dor.
Os bombeiros estabilizaram a situação e esperavam para que o casal pudesse explicar o motivo do incêndio. Um deles aproximou-se de e começou a fazer alguns questionamentos. ameaçou um dos enfermeiros para que este entregasse algum roupão a garota ao reparar os olhares maliciosos lançados sobre ela. foi coberta por uma camisola de hospital, rolando os olhos ao ver assentir autoritário e continuou a responder as perguntas do bombeiro a sua frente. Acabado o curativo, o homem afastou-se da maca, descendo do veiculo, sem ao menos agradecer. Agarrou pela cintura, possessivo. Ela virou-se rapidamente para ele, perguntando se estava bem, fazendo-o afirmar com um aceno ao dar um beijo em seu rosto. Os bombeiros e policiais, que se aproximaram para participar do interrogatório, não gostaram da atitude de , preferiam continuar conversando somente com , que era mais simpática e muito mais atraente.
- Foi uma tentativa de assassinato. – acusou , fazendo todos os olhares prenderem-se a ele – Eu vi o fogo por um caminho de combustível, não foi acidente. – continuou, sério. encarou-o boquiaberta, os olhos ainda marejados impediam-na de ver as expressões chocadas dos policiais. O rapaz praticamente dizia com os olhos “Não se preocupe, eu cuido disso”, fazendo com que ela apenas olhasse de um homem para o outro.
- Meus homens encontraram uma das bocas do fogão acesa. – intrometeu-se o líder, rabugento. segurou o pulso de , não sabia como rebater o diálogo, estava ainda chocada por ter perdido sua casa.
- Não chegamos a sequer usar um fósforo, não tente revirar a culpa para o nosso lado. – contradisse, começando a ficar nervoso. parecia muda, assustada – O fogo não teria se materializado e mesmo que o fogão estivesse com uma de suas bocas acesas não fomos nós a causar o incêndio. Posso afirmar, eu vi o fogo primeiro do lado de fora da casa. – discutia, franzindo o cenho. Odiava policiais, eram estúpidos e ignoravam as pistas mais evidentes.
- Estavam acordados pelo visto. – pronunciou o homem, olhando de relance o rapaz de cueca e a garota em seus braços – Quem me garante que são inocentes? Além do mais, conseguiram fugir a tempo. – acusou o policial.
- Estávamos mesmo, transamos a noite toda, satisfeitos? – gritou alto para que todos ouvissem, bufando. encolheu-se em seu peito, encabulada. Os vizinhos agora cochichavam e apontavam para ela, comprimindo os olhares repreendedores – Isso não quer dizer que tenhamos botado fogo na nossa própria casa, não somos burros, acham que queríamos morrer? – ironizou, furioso – Como eu já disse, fugimos quando vi o fogo próximo a casa. Percebi o óbvio, ao contrário de vocês. Não teríamos colocado fogo e fugido, o que ganharíamos com isso? – dizia, fazendo-os se entreolharem.
- E porque acha que foi tentativa de assassinato? – tornou a perguntar, agora absorvendo melhor os fatos.
- Meu irmão foi morto há um mês, creio que a vitima agora seja eu. – disse claramente. arregalou os olhos molhados, virando o corpo de frente ao dele – Estive pensando nisso, antes era somente uma hipótese, mas agora tenho certeza. – falou a ela, que o abraçou, perdendo o rosto em seu ombro, fazendo-o contrair minimamente o mesmo – Terminaram? Por que se não se importarem, gostaríamos de sair desse lugar o quanto antes. – disse o rapaz, afagando os cabelos dela. Os policiais pareciam perdidos e afirmaram, não muito contentes. puxou a garota em direção ao seu carro, abrindo a porta para ela, que escorregou para dentro. O homem deu a volta e sentou-se no banco do motorista. Assim que apoiou as mãos no volante, o celular no porta luvas começou a tocar. olhou para quando não reconheceu o número, mas atendeu mesmo assim, colocando no viva voz – Alô?
- Ainda vivos? – disse uma voz alterada por aparelho, soando entediante. arregalou os olhos, intrigada, e incomodou-se primeiro com o plural usado na frase para depois perceber que aquilo havia soado como uma possível ameaça – Parece-me que será mais difícil do que eu pensava pegar vocês, não poderei me dar ao trabalho de uma tacada tão espetacular quanto a explosão. Aquela foi clássica e vocês me deixaram magoado por terem escapado inteiros. – ouviu-se um suspiro, já se segurava para não jogar o telefone longe ao ver o medo estampado nos olhos de . Porque estaria interessado na garota? Era o que pensava. não tinha nada haver com os assuntos de sua família, morreria simplesmente por ter se envolvido com ele? – Nos vemos por aí, mal vejo a hora de nos encontrar... Você tem os olhos da sua mãe, . Caso você não saiba, eu a conheci, nada muito pessoal. E nada que vá me impedir de lhe acertar uma bala no meio do peit... desligou o telefone, travando a mandíbula e apertando as mãos em punho. Conhecer a mãe dela era motivo para matá-la? Alguma coisa lhe cheirava mal nessa história. abraçou as pernas no banco e deixou que mais lágrimas caíssem de seus olhos, sentia-se péssima e para piorar sua mãe havia conhecido um assassino. O rapaz a encarou protetor, não deixaria que ninguém encostasse nela.
- Por acaso você teria pílula em algum lugar aqui, ? – questionou, suspirando fundo. não entendeu o motivo de mudar de assunto levando em consideração a gravidade do acontecimento, mas ela lhe parecia tão exausta que ele não se atreveu a perguntar – Não usamos camisinha. – continuou, encostando a testa no vidro do carro para observar o lado de fora. A casa soltava uma fumaça branca de seus entulhos negros como carvão, os bombeiros e policiais andavam entre os cômodos, procurando por mais vestígios da explosão e poucos dos curiosos voltavam para suas casas.
- Podemos passar em uma farmácia a caminho do hotel. – respondeu ele, levando uma das mãos em seu rosto. Passou os dedos pelas lágrimas que escorriam ali, fazendo-a virar a cabeça para ele, com um sorriso fraco nos lábios – Sabe que se eu não o fizer, ninguém mais pode não é? – indagou, sorrindo com o canto dos lábios. rolou os olhos e aproximou-se dele, deitando em seu ombro. Quem os visse ali pensaria que eram um casal de namorados, juntos há longos anos e não há menos de vinte e quatro horas – Eu desisti, não foi? Preferi você viva. Espere até esse assassino olhar no fundo dos seus olhos como eu fiz, não vai querer nunca que eles se fechem. – sussurrou, depositando um beijo em seus cabelos.
- Não tenho medo por mim, . – ela disse, fazendo-o arrepiar-se com sua respiração quente em seu peito – Ninguém chorará minha morte, nem mesmo minha avó. Ela anda com lapsos na memória, talvez nem se lembre de que tenha uma neta e é a única pessoa no mundo que eu tenho. E hoje perdi tudo! ... Não tenho ideia de como contarei a ela. – balbuciou, fungando – Já você tem uma empresa, uma família. É mais importa do que eu. Sinto muito pela morte do seu irmão, mas ainda tem quem precise de você...
- Pode ter perdido sua casa hoje, mas ganhou a mim. – sussurrou com a voz embargada – Mesmo que pareça loucura, nunca vou te abandonar. – abraçou-a forte. O curativo no ombro repuxava, mas ele não se importava com a dor. aconchegou-se mais nele. Talvez fossem palavras de conforto para amenizar o sofrimento dela ou talvez ele tivesse mesmo “se apaixonado a primeira vista”, contudo, de uma coisa tinha certeza: não queria deixá-la. Não sabia o porquê, era mais forte que ele – Ninguém morrerá, encontraremos esse desgraçado antes que nos pegue. – disse firme – E se não conseguirmos, darei minha vida pela sua.
- Você é uma figura. – gargalhou baixo.
- Pensei que soaria bonito. Uma frase de efeito em um momento como esse é o que se espera ouvir, não é? – ele também sorriu, contente por vê-la menos tensa – Junto a um beijo dos personagens principais para intensificar o quão tocante a mesma foi. – dito isso, levou os lábios aos dela, unindo-os em um compasso prazeroso de sensações.

- Garoto mal educado, espere até eu por minhas mãos em você. Aprenderá a nunca desligar o telefone na minha cara! – mugia o homicida, franzindo o cenho. Ele deixava o local da explosão e se dirigia a um carro estacionado a poucos metros. Esteve presente entre os curiosos e ninguém notara sua presença ali, o que soava ainda mais assustador. Poderia ser qualquer um, até mesmo um conhecido que passara despercebido. Mas a questão era ele ter estado lá, observando-os o tempo todo. Acompanhando cada passo do “casal”, ouvindo cada palavra.
Abriu a porta do automóvel e sentou-se no banco do motorista, olhando por sobre o ombro o corpo desacordado do detetive particular contratado por para investigar a morte do irmão. Sorriu sádico, precisaria matá-lo essa noite para descontar a frustração do seu plano fracassado. Dirigiu rapidamente até uma casa abandonada onde montara todo o seu “circo”. Sabia que era um homem esperto e, portanto, preparara um segundo plano para o caso de não pegá-lo. Carregou o detetive até uma sala escura, acendendo a luz. Depositou-o sobre uma maca e amarrou seu corpo junto à mesma. Nunca fora fã de matar homens, esses normalmente não ficavam, a seu olhar, bonitos quando nus. Preferia garotas jovens e coradas, com o corpo esculpido para que pudesse aproveitar seu calor antes de lhes tirar a vida. Mas como não era o que tinha em mãos, contentou-se em apenas deixar os olhos do homem sem brilho, quando enfim cortasse sua garganta.
Vendo-o ali estirado, ficou imaginando por onde passaria sua adaga. E com toda certeza, sua imaginação era bem fértil. Quando o homem acordou, meio desnorteado por onde estava, o assassino começou a sorrir contente por finalmente poder começar a retalhá-lo. Havia uma faixa em sua boca, mas isso não o impediu de começar a gritar, alargando o sorriso do homicida. Logo ele a tiraria dali, para ouvir seus berros menos abafados. Andou de um lado ao outro, sendo seguido pelos olhos lacrimejantes do detetive que pareciam dizer “Você?!”. Caminhou até um rádio, colocando uma musica clássica para tocar e respirou fundo, absorvendo o vento gélido que entrava pelas fendas da porta. Voltou sua direção ao homem deitado e finalmente retirou a faixa de sua boca.
- O que pensa estar fazendo? Pagou para que eu não descobrisse nada sobre você e estou fazendo um ótimo trabalho, qual o seu problema? – desatou a berrar, remexendo-se na maca.
- Eu sei, eu sei. – o assassino revirou os olhos – É exatamente essa a questão, tendo você vivo e não descobrindo nada não seria útil ao garoto, ele te demitiria e contrataria outra pessoa. Eu não posso subornar todo mundo que me aparece pela frente, é praticamente suicídio. Agora... Se você morrer, acreditará que tinha algo em mãos que eu não gostaria que você tivesse. Está mais para uma pista falsa. Você morre e eles dirigem a investigação para outro caminho. É bem lógico. – pronunciou sarcasticamente.
- Não, eu faço qualquer coisa, desapareço se quiser. – implorava o homem, choramingando.
- Até que seria uma boa ideia, mas não correrei o risco de você revelar minha identidade agora que sabe que eu não sou a pessoa mais confiável desse mundo. E outra, preciso do seu sangue. – sorriu maliciosamente, fazendo-o contorcer-se ainda mais, apavorado – Eu estive pensando, que tal um jogo da velha? Seria até instrutivo. – gargalhou.
- Vá se ferrar! – gritou o homem.
- Ok, jogarei sozinho. Aliás, esta gostando da música? É a minha preferida. Escolhi especialmente para essa ocasião, sinto minha mente mais aberta a sugestões de tortura. – dizia calmamente, apertando a ponta da faca sobre o dedão – Qual você prefere, X ou O? – perguntou infantilmente, gargalhando a seguir. Os olhos do detetive chegavam a brilhar vermelhos de fúria, mas não havia nada que ele pudesse fazer – Oh, claro. Primeiro o tabuleiro. – deu um tapa na própria testa, levando a ponta da faca ao peito do homem, que arregalou os olhos, deixando mais lágrimas caírem dos mesmos. O assassino desenhou o jogo com e faca no corpo do outro, que gritava desesperadamente. O sangue escorria por todos os lados, pingando ao chão – Quer começar? – perguntou o homicida.
- Nã-não fa-faça isso, estou lhe implo-plorando. – murmurava o detetive, apertando os olhos.
- Tudo bem, eu começo. – o homem disse, rolando os olhos. Desenhou um X em um dos espaços, deixando o outro ainda mais desesperado. Gritava com todas as suas forças, suplicando por misericórdia. O assassino nem ao menos se importava, continuava com seu jogo sádico e desumano. Ao final da tortura, o chão se encontrava vermelho, a maca pingava as gotas lentamente e sobre o corpo do detetive havia uma sequência de X – Ora, ora, ora, vejamos, eu ganhei. – gargalhou – Te vejo no inferno. – sorriu sádico e traçou uma linha funda sobre o desenho, perfurando violentamente o corpo do homem, que agora jazia morto sobre a maca, seus olhos ainda abertos, mas sem vida. O assassino suspirou, passando a mão pela testa suada – Um imprestável a menos no mundo.

Capítulo Sete: Suspicious

O peito de subia tranquilamente enquanto a garota dormia nos braços de . Ele por sua vez não conseguira fechar os olhos. Contemplava a respiração dela ao acariciar seus cabelos . mantinha as costas encostadas na cabeceira da cama e estava depositada entre suas pernas, abraçando sua cintura. Espalhadas pelo chão havia caixas de pizza, latinhas de cerveja e refrigerante. O quarto estava um caos; consequência do lanchinho noturno que o casal fizera. Ele havia descido – imundo pelas cinzas, ensanguentado e de boxer – em meio a uma lanchonete 24 horas, atraindo olhares dos poucos clientes que pensaram que o rapaz fosse um espião tirado diretamente de “Missão Impossível”. Um adolescente que o fitava boquiaberto chegou a perguntar quem ele era, e virando-se carrancudo para ele, respondeu “Bond, James Bond”, antes de se voltar para o carro, entrando pela porta.
O relógio na parede a frente dele corria vagarosamente. Contudo, uma única coisa se passava por sua mente: afinal, quem era ? Qual seria sua cor, comida e músicas preferidas? Ela era de fato confiável? E porque não conseguiu arrancar-lhe o coração como era o pretendido? sentia-se em dúvida. Teria ele oferecido sua vida por alguém que não ofereceria a sua em troca? Não que quisesse vê-la morrer por ele, algo ainda o impedia de deixá-la partir, mas teria sido essa uma atitude precipitada? E qual seria o mistério envolvendo sua família? A mãe dela conhecera o assassino, talvez também o conhecesse. Mas se fosse o caso, porque ele ameaçaria aos dois? Queria passar a ideia de que era inocente, mesmo que não fosse? Ou a garota estava totalmente por fora e isso era apenas paranóia? O que no contexto todo estava errado? Qual era a peça que faltava para completar esse quebra-cabeça? Ela parecia tão ingênua, não conseguia crer que tinha algo relacionado ao assassino. Poderia estar julgando mal, mas arriscaria seu pescoço. Para ele, continuaria sendo sua. E, consequentemente, outra vítima por ter se envolvido com a família .
Daniel depositou um beijo na testa de , afagando seus ombros, e adormeceu pouco tempo depois.
O sol irradiava alto quando acordou, deveria ser quase meio dia. Ele procurou por , apalpando o colchão, mas não a encontrou ali. Piscou algumas vezes e abriu os olhos de uma vez. Observou ao redor, vendo o ambiente mais limpo e arrumado do que estava durante a noite e sentou-se na beirada da cama, coçando a nuca. Ouviu alguns ruídos vindos do banheiro e caminhou sonolento até lá. A porta estava entreaberta, pois a fechadura estava com defeito e não podia ser fechada – problema esse que nem se importou em reclamar com o gerente, estaria sozinho mesmo. Abriu-a alguns centímetros, sorrindo maliciosamente. tomava banho. Seus olhos estavam fechados ao deixar com que as gotas geladas caíssem sobre seu rosto. A água descia delicadamente por seu corpo, escorrendo tentadoramente pela ponta de seus cabelos. acompanhou as gotas que desciam por seu colo, desenhando seus seios e se encaminhando para sua virilha e coxas, até perder-se ao chão. Não pensou duas vezes antes de adentrar ao box transparente e prensar seu corpo à parede. sorriu, mas ele percebeu que mesmo estando excitada não teria a vontade de fazer nada; ela estava tensa demais para pensar em sexo. Seu corpo molhado daquele jeito era ainda mais delicioso. Ela abriu os olhos, vendo-o fitando sua boca vermelha. Empurrou-o debaixo d’água, fazendo as gotas grossas caírem em sua cabeça e abraçou-o, colocando os pulsos perto de sua bunda.
- Eu não tenho roupas limpas. – disse , simpaticamente.
- Por mim tudo bem, prefiro você sem elas. – respondeu o rapaz, sorridente. rolou os olhos, fazendo encostar seus lábios e iniciar um beijo molhado e intenso. Os seios arrepiados de uniram-se ao peitoral de , que gemeu com a aproximação. Suas mãos passeavam pelas costas dela, descendo de tempos em tempos ao seu quadril, onde apertava suas nádegas. As unhas de deslizavam pela nuca do homem, acompanhando a movimentação da água. A cueca dele estava encharcada, mas não queria tirar suas mãos da garota para descê-la aos pés. O rapaz sugava seus lábios juntamente com a água, o que deixava mais úmido o contato entre eles. Os dedos prendiam-se nos cabelos um do outro. afastou a boca da dele, encostando suas testas, quando intencionou continuar o beijo deitados na cama. Ela sorriu, balançando a cabeça negativamente. O homem bufou, mas não a pressionou. Tomaram banho juntos, consumindo o dobro de água que usariam normalmente ao passar mais tempo se beijando do que se ensaboando.
trocou de roupa, colocando uma cueca vermelha, jeans e uma camiseta azul escura. permanecia enrolada em uma toalha, sentada na cama ao observá-lo se vestindo. Ele secou os cabelos, penteou-os e se banhou com colônia masculina. A garota contou que usara seu telefone celular para resolver os últimos “pepinos” da explosão enquanto ele dormia e que também ligara para o asilo de sua avó. Como ela mesma havia dito, a pobre senhora não se lembrava de ter uma neta, mas acabou por acertar um dos enfermeiros com um golpe de karatê ao ouvir que sua casa havia explodido. não conseguiu segurar uma risada.
- Por enquanto pode colocar alguma camisa minha, caso alguém apareça. Vou sair para comprar alguma coisa para você, não demoro. – disse ele. Deus dois passos em direção a uma agradecida e lhe deu um beijo nos lábios, virando-se rumo à porta. Lançou a garota uma piscada e atravessou o vão. Caminhou até seu carro, apertando o botão do alarme e abriu a porta. Sentou-se no banco, procurando por seus óculos escuros, e lembrou-se que os havia deixado na casa dela, o que o fez revirar os olhos. Deu partida no automóvel e só parou ao encontrar uma loja de roupas a algumas quadras do hotel. Andou até ela e começou a futricar entre as peças femininas, completamente perdido. Recusou ajuda de qualquer atendente que vinha em sua direção, escolhendo ele mesmo as peças de roupa que queria. Comprou por fim duas camisas, duas calças e dois sapatos. ficaria linda em qualquer uma daquelas roupas. De quebra, escolheu uma lingerie preta, pensando nas insanidades que faria ao vê-la na garota. Pagou no caixa o valor necessário e voltou ao hotel, dirigindo apressadamente – Nunca mais faço isso na vida. – disse ele gargalhando ao passar pela porta do quarto, carregando as sacolas da loja – Não te conheço bem ao ponto de saber o seu gosto para roupas, então, espero ter acertado a mão. – depositou as sacolas sobre a cama, onde estava deitada lendo um livro. Ela ajoelhou-se na mesma com um sorriso curioso, colocando o livro de lado, que reconheceu como sendo o “O Apanhador no Campo de Centeio”, este que estava dentro de sua mala.
- Tem certeza de que não me conhece bem? Isso é a minha cara. – murmurou ela espantada, enquanto tirava as peças das sacolas – Você é a primeira pessoa a me dar roupas que eu realmente gosto. Confesso que estava esperando algo mais clássico, do tipo que a sua mãe usaria ou algo parecido... Ou ou ou, isto não estava na lista. – e gargalhou fraco, com os olhos brilhantes, enquanto admirava os presentes, incluindo a lingerie. , que estava com os braços cruzados a observando, percebeu que ela estava vestindo uma de suas camisas sociais; sua preferida – Vou me trocar, volto em um min...
- Espere. – puxou-a pelos pulsos, caminhou até sua mala e tirou de lá uma máquina fotográfica, uma Polaroid. arregalou os olhos , negando com a cabeça, mas ele não se intimidou e bateu uma fotografia dela, que saiu fazendo uma careta por de trás dos óculos com aros quadrados. Ele sorriu ao ver como a peça a cobria quase até os joelhos e, dando um tapa em sua bunda, mandou-a trocar de roupa. Jogou-se na cama ainda encarando a fotografia nas mãos. Ele sentiu nesse momento que era inocente, que ela não tinha nada haver com o assassino. Ela era somente sua , e nenhum outro homem poderia lhe tirar a vida se não ele, e como o rapaz mesmo não o faria, ela não morreria. De maneira nenhuma – Está linda. – falou ao vê-la saindo do banheiro, sorrindo em agradecimento – Vamos a um restaurante, precisamos almoçar algo saudável. – e suspirou, levantando-se do colchão. Estendeu uma mão a garota e os dois saíram do quarto. O rapaz dirigiu lentamente até um restaurante, o mesmo que havia combinado de encontrar o pai no dia de seu acidente. Ela não se sentiu confortável por ter escolhido justamente esse, mas não disse nada a ele. Eles desceram do automóvel de mãos dadas e se encaminharam para dentro do estabelecimento.

O assassino se encontrava em frente ao asilo St. Louis, onde sabia ter como paciente a avó de . Um sorriso diabólico se formou em seu rosto. Fingia-se de visitante, enquanto passava pelos corredores brancos e sorria para um ou dois idosos que ali se encontravam. O que todos desconheciam era o que ele carregava dentro de uma mochila em suas costas, a mesma que o deixava com ar de neto carente. Encontrou uma enfermeira e se informou sobre o paradeiro da Sra. Abigail , assentindo afirmativamente ao receber a resposta. A porta do quarto de Abigail estava aberta, o que o fez rolar os olhos; seria fácil demais. A velhinha se encontrava sentada em uma poltrona de veludo e sorria bobamente para uma janela. O homicida tossiu, atraindo sua atenção.
- Sim, meu querido? – perguntou adoravelmente.
- Oi, vovó. – mentiu ele, aproximando-se.
- Sou sua avó? – questionou Abigail, desentendida – Os enfermeiros me disseram que eu tinha uma neta. – informou-o, enquanto o mesmo abaixava-se ao seu lado.
- Devem ter se confundido. – o homem deu de ombros, abrindo um sorriso no rosto da senhora. Ele a iludiu por algum tempo, perguntando-lhe sobre a vida no asilo e contando mentiras sobre sua própria vida, dizendo que trabalhava em um supermercado do bairro e conseguia juntar alguns trocados para pagar suas contas, o que a pobre velhinha acreditava piamente. Ela lhe deu biscoitos de chocolate, que havia feito de manhã – e esquecido a receita, a propósito – e observou-o alegremente, enquanto este devorava os mesmos. Quando se passaram alguns minutos a Sra. pegara no sono; a deixa que o assassino esperava ansiosamente. Ele observou um enfermeiro injetar um remédio com uma seringa em seu braço e o mesmo lhe disse que o horário de visitas tinha terminado. O homem respondeu que ficaria só mais cinco minutos para se despedir e que iria embora. Assentindo, o enfermeiro saiu do quarto – Trágico. – sussurrou para si mesmo, sorrindo maliciosamente. Abriu o zíper de sua mochila e tirou de lá uma serpente rara e venenosa, segurando uma gargalhada de empolgação. Era a primeira vez que tinha uma ideia dessas. Colocou a cobra, que estava atiçada, sobre a cama de Abigail, escondendo-a bem entre os cobertores – Faça seu trabalho, minha amiga. Conto com você dessa vez. – e saiu do quarto, erguendo a cabeça superior enquanto andava pelos corredores mais uma vez com seu típico sorriso sarcástico nos lábios.

- Pense comigo, . Reece foi o único a entrar em minha casa além de você. – falava, parecendo pensativa – Se não me engano, quando o acertou com um soco, seu padrasto se apoiou no fogão para se erguer. Creio que obviamente tenha sido ele. – concluiu, enquanto bebericava um pouco de seu suco de morango. O restaurante estava quase cheio, com exceção de algumas mesas vazias, as mesmas que os cercavam. Optaram por se sentar afastados para discutir melhor o assunto – Ele pode não ter culpa, talvez tenha sido um acidente ter aberto uma das bocas, mas se não foi eu e não foi você, tecnicamente só há essa resposta.
- Realmente faz sentido. – assentiu, passando as mãos nos cabelos – Ou talvez o assassino tenha entrado escondido enquanto nós dormíamos. – supôs, tombando minimamente a cabeça.
- Mas não é muita coincidência? – perguntou, enfiando uma garfada de sua salada de tomates na boca, encarando-o duvidosa. empurrara seu prato para o lado, aparentemente sem apetite, e jogara a cabeça para trás, bufando – Hipoteticamente falando, Reece deixou que o gás escapasse com a intenção de que a casa explodisse. – deu de ombros, receosa em expor sua opinião. não se moveu – Poderia muito bem ter sido ele. Percebe-se de longe que vocês não são melhores amigos.
- Supondo que tenha sido ele, – voltou a encará-la, pensativo – o que ganharia com isso? O dinheiro da minha família? – perguntou mais para si mesmo, fazendo dar de ombros – É casado com a minha mãe, isso praticamente ele já tem. Não vejo nenhum interesse da parte dele na empresa, não saberia como guiá-la, pois não entende do assunto. E outra, se foi mesmo ele, teria matado por nada? Meu irmão nunca se meteu em seu caminho, digo, tirando o lance ambientalista que o irritava, não dava motivos para Reece o matar. Acredito que eu dê mais trabalho com meu comportamento do que ele, que praticamente era um santo. – apoiou os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos – Outras opções?
- se envolvia com seus negócios, certo? – perguntou, fazendo-o afirmar – Conor teria então motivos para matá-lo, eu acho, não gastaria dinheiro com diretos ambientais e se livraria de vocês dois para tomar a empresa toda para si. É um pensamento absurdo, eu sei, mas levando os fatos em consideração, pode ser mais do que um palpite. – disse ela, torcendo o canto dos lábios – Aparentemente ele também não gosta de você, cá entre nós fico preocupada com quantos inimigos você vem arranjando por aí, e esteja em sua mente se livrar dos que tanto o impedem de fazer o que quer.
- É um bom palpite. – admitiu – Sempre considerei Conor egoísta e talvez tenha feito algo para se dar bem sozinho. Francamente, o cara me odeia. – até riu um pouco – Mas porque matar ? Sem mim naquela empresa ele teria muito mais chances de retirar os benefícios que meu irmão preservava. Teria sido mais inteligente me matar de uma vez, não a , ele não tinha culpa de nada.
- Sim, mas antes precaver. Talvez Conor intencionasse um abalo emocional para só então cortar o mal pela raiz. Ou talvez seja inocente e nós o estamos julgando mal. – bebeu todo o copo com suco de uma vez, sentindo a garganta seca – Estou começando a odiar a palavra talvez. – sorriu sem humor, contagiando-o – Alguém mais estaria interessado em matar ou nossos suspeitos são apenas Reece e Conor? – perguntou ela, olhando-o sugestivamente.
- Tem uma gangue humanitária a qual ele não aceitava os termos de rebeldia. Ouvi alguns caras ontem, são violentos. Poderiam ter sido eles. não era nenhum queridinho na política também, pode ser qualquer um. – bufou, rolando os olhos.
- Exclua os que não tem haver com você, pois se está tentado te matar, um completo desconhecido não pode ser. – disse , erguendo o cenho enquanto o observava começar a sorrir divertido – Só não me diga que conhece toda a classe privilegiada dessa sociedade. – falou ela, tombando minimamente a cabeça ao fitá-lo indagadora.
- Se preferir eu não digo, mas não deixa de ser verdade. – murmurou ele, com um sorriso largo nos lábios.
- Ajudou bastante. – ironizou , bufando – Pensando bem, se eu também estou na lista negra desse crápula, minha mãe teria que o ter conhecido. E nem ela e nem eu temos qualquer contato com essas pessoas. O que me faz repensar todos os nossos suspeitos, porque nenhum deles teria motivos para me matar também. – disse ela, refletindo.
- Isso está mais difícil do que eu julgava estar. – reclamou , carrancudo – Preciso falar com meu detetive, talvez tenha algo a acrescentar. – pegou o telefone celular em mãos e discou o número. Esperou que o aparelho tocasse algumas vezes e vendo que ninguém atendia, desistiu – Incompetente. – resmungou nervoso.
- ? – uma voz foi ouvida atrás deles. Ambos se viraram para ver quem era o emissor e deram de cara com Dominic, desconhecido por – Estava te procurando. Reconheci o carro e supus que estaria aqui, mas não acompanhado. – lançou um olhar sugestivo à que parecia dizer “Avisei que seu carro era muito chamativo”, contendo uma risada – Muito prazer, minha jovem, eu sou Dominic, padrinho do . – o homem estendeu as mãos às dela, apertando-as.
- Diga logo o que quer, Dominic. – resmungou.
- O detetive e o jardineiro, o único presente na cena do crime de , desapareceram. – informou ele, preocupado – Não os encontro em lugar algum, parece que foram riscados do mapa. – a expressão no rosto de transformou-se em furiosa, ele balançava a cabeça desacreditado, bufando descontroladamente – Devo supor que estão mortos, o empregado mal conseguia se mexer, estava hospitalizado a pouco tempo, e seus colegas afirmavam terem o deixado em casa no dia se sua reunião. – desembestou a falar, sentando-se na cadeira ao lado da de – O detetive tinha aparentemente uma pista importante nas mãos, estava investigando a ONG em que colaborava e ouviu muitos comentários indevidos a respeito de seu irmão.
- O que você acha? – sussurrou para , que balançou a cabeça negativamente sem saber o que responder – Vamos sair daqui. – disse, chamando o garçom com a conta. O homem aproximou-se e estendeu um tipo de carteira de couro, onde o rapaz depositou o dinheiro. Os três se levantaram e rumaram-se para a saída do estabelecimento – Estou começando a enlouquecer com tudo isso. – reclamou, passando novamente as mãos pelos cabelos . Atravessaram a porta e se preparavam para entrar no Rolls Royce de quando foram surpreendidos por uma sombra em meio a um beco. imediatamente colocou atrás de si, com a intenção de protegê-la. O vulto apenas gargalhou sarcasticamente e estendeu uma arma na direção deles. gritou, apertando o rapaz contra seu corpo. Dominic ficara estático no mesmo lugar. encarava o escuro furioso, com os dentes semicerrados. A pistola nas mãos do desconhecido refletia o brilho do sol da tarde, ameaçadoramente. “Vai ficar tudo bem”, sussurrou para , que parecia querer começar a chorar de pânico. Ela se agarrava ao seu corpo com toda a força, sentindo seus músculos firmes e sobressaltados. O homem na escuridão soltou uma breve gargalhada diabólica e atirou, ecoando o barulho do tiro pelo beco. fechou os olhos, apertando-os, e esperou sentir a dor aguda envolver seu peito, contudo, ela não veio. Ele abriu novamente os olhos, aliviado, e avistou o corpo de Dominic ao chão, ensanguentado. Aparentemente, o padrinho havia entrado na sua frente e recebido o tiro em seu lugar. O sangue jorrava vagarosamente, fosco e sem vida.

Capítulo Oito: Persecution

N/a: Mesmo esquema com a música, a mesma em sequência para você não precisar recolocá-la. Quando aparecer o link, coloque-a para tocar e quando a cena mudar, tire a música, ok? JAJAJAJAJAJA

Mais uma vez o “casal” se encontrava no mesmo quarto mofado. andava de um lado ao outro, descontrolado. O cômodo estava todo bagunçado, deixando vestígios por toda a parte de seu ataque exageradamente violento. Ele estava furioso por seu padrinho, que jazia agora em uma cama de hospital. permanecia encolhida em um dos cantos, abraçando os joelhos ao deixar lágrimas caírem de seus olhos devido à notícia que acabara de receber: sua avó estava morta. Vítima de uma cobra peçonhenta. A indignação nos olhos de era notável, o maldito assassino estava lhes tirando os entes mais queridos. não sabia como agir, não depois de uma surpresa dessas. Era um sinal; ele estava os alcançando. caminhou até ela, afinal, seu padrinho continuava vivo e já não poderia dizer o mesmo sobre a avó da garota. Sentia-se mal, como se ele próprio estivesse causando sua dor. E, aparentemente, pensava o mesmo, pois havia evitado sequer encarar o rapaz desde o telefonema do asilo. abaixou-se na altura dela, afagando seus ombros, em uma falha tentativa de confortá-la.
- Não me toque. – resmungou, levantando a cabeça encostada em seus joelhos. O homem a encarava desentendido ao vê-la limpar as lágrimas dos olhos – A culpa é sua. – balbuciou ela, soluçando. levantou-se, com um brilho questionador nos olhos – Tudo estava perfeitamente bem antes de você aparecer, não percebe? Eu não era um alvo e muito menos minha família. – disse triste.
- Oh, claro. Como se eu pudesse prever que algo assim aconteceria. Acha que teria me aproximado de você se soubesse que poderia correr risco também? – perguntou ele, refletindo sua ira em suas palavras.
- Você mesmo tentou me matar, aproximou-se com esse propósito. Que diferença faria agora? – rebateu ela, apoiando-se nas paredes para se erguer – Talvez as coisas continuassem normais, talvez minha vida continuasse igual, talvez ninguém tivesse se ferido se você não batesse a minha porta. Pode não querer fazer nada comigo agora, mas isso não muda o fato de que alguém mais queira. Eu poderia continuar ilesa se não te conhecesse. Nenhum outro motivo teria esse assassino para me pegar. Portanto, a culpa é toda sua. – murmurou com a voz chorosa.
- Não tem o direito de me culpar. Posso ter tocado a campainha, mas você não hesitou nem por um momento que eu entrasse em sua vida. – retrucou, franzindo o cenho e travando a mandíbula – Não venha se arrepender agora, nada te impediu de dizer “não” quando a situação lhe era agradável. Aliás, parou para pensar que os seus problemas começaram quando abriu a carta de sua mãe? Nunca teria precisado de um coração se não fosse por seu pai, consequentemente, nunca teria me conhecido. – disse sério. Estava com raiva pelo que falara, mas ao mesmo tempo via-se sensibilizado pelo momento. Tinha plena noção de que ela sofria e, de certa forma, tentava compreendê-la. Os olhos de continuavam indecifráveis, um misto de medo, dor e raiva. Para ela, não poderia culpar seu pai por isso, ele não tinha nada haver com a história – A carta é a sua maldição, não eu. Deveria tê-la deixado queimar quando teve a chance. – falou, olhando-a sugestivamente – Eu estaria disposto a ficar do seu lado, mas se preferir pode aguentar tudo isso sozinha. – e pegou uma jaqueta preta de couro, depositada sobre sua mala – Pelo visto não me quer por perto e não sou eu quem vai te obrigar a aturar o culpado pela morte de sua avó. – caminhou até a porta e apertou a maçaneta, parando ao ouvir seu nome ser pronunciado em um fraco sussurro. Virou o corpo frente a ela, observando-a parada e tensa ao lado da cama. poderia estar furiosa com , mas só a ideia de vê-lo longe a fez ficar desesperada. Não queria que ele fosse embora, só tinha a agora e não suportaria viver sem seu calor.
- Eu odeio você. – rosnou, descontando toda sua fúria sobre ele, fazendo-o estreitar os olhos, espantado, antes de partir para cima do rapaz, agarrando-lhe os cabelos . (Música) – Nunca mais me vire as costas, pois eu estarei logo atrás de você, disposta a te trazer de volta. Não vai a lugar algum sem mim. – e uniu seus lábios. gemeu aliviado, levando suas mãos às costas dela, apertando-a junto a si. Aquele beijo não era somente cheio de desejo como os outros, mas também era violento. virou-a contra a porta, devorando-a. Seus lábios eram mordidos ao ponto de ele sentir o gosto de sangue. Não havia espaço entre seus corpos. O rugido da porta era incômodo aos que passavam pelo corredor externo, que apressavam os passos para cobrir os rostos ruborizados. Os músculos do rapaz sobressaltaram sobre a roupa. já sentia o seu peso sobre ela. a ergueu facilmente, carregando-a até a cama, onde a depositou bruscamente, jogando-se sobre o corpo frágil e quente da garota. Suas mãos percorriam suas coxas sem pudor, subindo e descendo pela lateral de seu corpo. Os dedos de percorriam toda a extensão das costas largas do rapaz, contornando cada pequena curva de seus músculos.
explorava a boca dela, sentindo o gosto insaciável que tanto o deixava excitado. Suas línguas chocavam-se prazerosamente, deixando serem ouvidos os ruídos de suas mordidas e chupões. sorria roucamente ao escutar tais sons, fazendo sua garganta vibrar ao ponto de deixar gemendo de desejo. Ele enterrou seus lábios no pescoço dela, enquanto a mesma levava as mãos para os cabelos dele, puxando-os ao morder o lábio inferior. subiu uma das pernas, ajoelhando-se ao lado de seu corpo. A outra permanecia esticada, e deu passagem para que também erguesse a sua, encaixando-a no meio das pernas dele. O corpo de pesava deliciosamente sobre o dela, que parecia não querer sair daquela posição. Com uma última sugada em sua boca, que deixou a ambos ofegantes, o homem se afastou e começou a levantar o tecido de sua camisa. Os olhos de sempre pegavam fogo ao vê-lo fazendo esse movimento. , ainda ajoelhado sobre a cama, passou a peça pela cabeça, deixando o corpo despencar sobre a garota em seguida. Sua boca voando direto para o lóbulo de sua orelha. Arrepiada pelo frescor gélido em seu cangote, novamente percorreu o corpo dele com os dedos, parecia agradável a ela senti-lo todo contraído sobre suas mãos.
- Chegou mesmo a acreditar que eu iria atravessar aquela porta? – perguntou sorrindo sarcasticamente ao mesmo tempo em que passava a língua vagarosamente pelo caminho de seu pescoço até o queixo, onde depositou leves mordidas.
- Você me pareceu bem convincente. – respondeu num sussurro, engolindo em seco.
- Existem raros momentos em que você não pode me levar a sério. – murmurou em seu ouvido, descendo os lábios gelados até seu colo, começando a abrir a camisa xadrez de botões frontais que ela usava com os dentes.
- Espero, então, viver longos anos ao seu lado para poder diferenciá-los dos demais. – grunhiu , sorrindo com os olhos fechados. Ela sentiu o sorriso satisfeito de em seu seio o que foi capaz de lhe arrancar uma bufada desesperada. O rapaz abriu todos os botões, lambendo tentadoramente a parte exposta de sua pele abaixo de seu umbigo. Com um beijo provocativo ali, ele novamente se afastou, ajudando-a a se livrar de sua blusa. A garota não havia refeito o curativo, pois não tinha em mãos os materiais necessários para tal, mas ela não haveria de pensar nisso naquele momento, inclusive nos remédios que deveria tomar diariamente e que agora dispunham-se em meio aos destroços de sua casa. Os olhos de correram por sua sutura quase cicatrizada e um brilho estranho se passou por seu olhar durante alguns segundos. O mesmo que foi apagado de seu rosto quando segurou suas mãos e as colocou sobre o fecho dianteiro de seu sutiã. Em um movimento rápido com dois dedos, ele o abriu, deixando seus seios expostos. No mesmo instante pode sentir a ereção pulsante lhe cutucando a virilha, desesperada para se livrar da calça jeans. Os lábios de abocanharam um de seus seios, enquanto o outro era massageado por seus dedos. Ela lutou contra o botão de sua calça, descendo o zíper ligeiramente. O rapaz apoiou-se no colchão com os joelhos, segurando as laterais da peça e a desceu por suas pernas, xingando palavrões obscenos devido ao tecido de couro que insistia em não obedecer as suas mãos, puxando com ela a calcinha de . Vendo-a completamente nua, soltou uma exclamação animada que a fez gargalhar.
- Algum dia eu aprenderei a não achar cada movimento seu tentador? – perguntou a si mesmo infantilmente, enquanto olhava encantado para as pernas da garota, que teimavam em fechar-se de um modo envergonhado.
- Estou contando com um “não”. – respondeu ela, alargando o sorriso nos lábios. rangeu os dentes em concordância e abaixou a cabeça para prestar atenção nos próprios dedos, que inconscientemente começaram a abrir o botão de sua calça. Ele a desceu pelas pernas, movimentando-as desengonçadamente. Esticou o corpo até a mala em um dos criados-mudos, deixando ofegante por tê-lo nu a poucos centímetros de seu corpo enquanto seu membro roçava em sua barriga. Pegou de um dos bolsos, bem abastecidos de preservativos e anticoncepcionais, uma camisinha, colocando-a apressadamente, e voltou a jogar-se sobre a garota, novamente capturando seus lábios em um beijo entorpecente, enquanto ela esperava aflita que seu órgão a penetrasse. achou graça de seus movimentos para cima com a cintura e a provocou lentamente para que tivesse paciência, causando um leve atrito em seus sexos para que ela não estivesse ciente de quando ele investiria. No instante em que as mãos dela foram espalmadas em sua bunda, apertando-a ao fincar as unhas ali, ele a penetrou, sentindo o caminho completamente lubrificado. Os gemidos altos de eram abafados por seus lábios, mesmo que ele também não estivesse interessado em sufocá-los. As paredes do hotel eram finas e os gritos de prazer de ambos eram ouvidos pelos vizinhos de quarto de , que por sinal era um casal de velhinhos. A cama rangente batia nas paredes a cada investida, deixando que o forro do teto soltasse a poeira presa em sua madeira.
sentia o membro deslizar pelo interior de , que se agarrava em suas nádegas ainda mais, implorando por velocidade. O rapaz acelerou os movimentos de uma maneira que nunca havia feito, prendeu as mãos na cabeceira da cama e movimentou a pélvis criando círculos para torturá-la de prazer. Com o próprio suor de seus corpos, ela acariciou suas costas, correndo os dedos em uma massagem pelo seu tórax, mamilos, barriga e coxas. A cama tremia bamba, querendo ceder aos movimentos e despencar. As paredes ecoavam os barulhos altos da cama sendo pressionada contra a mesma. arqueava o corpo para cima e rosnava, deixando os olhos serem revirados nas órbitas. Ao sentir o ápice chegando, ela apertou seus músculos ao redor do pênis dele, intensificando o estímulo. O orgasmo veio logo depois, junto com o de . Ele deixou o corpo pesar, respirando ofegante. A ponta de seus cabelos deixava deslizar o suor quente para o rosto vermelho da garota, enquanto ambos sorriam satisfeitos.
- Wow. – o homem exclamou, deitando-se ao lado dela na cama. virou-se de bruços, apoiando o corpo sobre os cotovelos. Os olhos de caminharam por seu corpo, acompanhando desde suas costas até o quadril empinado e redondo – Segundo round? – pediu ele, engolindo em seco. Ela abaixou a cabeça gargalhando enquanto caminhava com uma das mãos até seu membro, tocando seus testículos e virilha. Um desesperado livrou-se rapidamente do preservativo usado e colocou outro novo em seu membro. circulava a base com o dedo indicador e o polegar, deixando-o louco. Segurou o dedo indicador do rapaz, sugando-o lentamente, e levou-o até seu clitóris, fazendo-o olhá-la com uma expressão luxuriosa. Mal conseguiu ver o momento em que subiu sobre suas costas, encaixando a cintura perfeitamente em suas nádegas, penetrando-a. arqueou o corpo para trás a fim de facilitar a penetração. Ela chegava a morder os lençóis, sentindo-o deslizar o nariz por todo o caminho de suas costas suadas. encaixou a cabeça em seu pescoço e a beijava ali, deixando-a vacilante. jogava a cabeça para trás e movimentava o corpo como quem escreve o número oito, devagar.
- Oh Deus, . Anos de experiência lhe fizeram muito bem. – sussurrava ela com a respiração falha, mordendo os lábios. Ele levou as mãos em seus seios e os apertava com força, apoiando-se ali para puxá-la cada vez mais para trás.
- Até hoje ninguém reclamou. – gabou-se, sorrindo provocador – Levando em conta q-que... – o prazer que sentia o impedia de completar a frase, era quente e seu órgão se encaixava perfeitamente dentro dela. Investidas mais firmes e com mais pressão. A cama praticamente desmoronava –... Que com você, o efeito é três vezes melhor. – bufava dificultosamente – Então nenhuma outra chegou a experimentar todos os meus dotes e todas as potências do Júnior. – gargalhou em seu cangote, passando os lábios ardentes pela pele de seu pescoço.
- Sorte a minha, azar o delas. – ralhou ao sentir o gozo deixá-la mole. , sorrindo triunfante, investiu rapidamente e também deixou o orgasmo lhe tomar o corpo, depositando beijos no ombro suado da garota. Deitou-se ao lado dela suspirando profundamente, completamente exausto. Aninhou-a em seu ombro, passando as mãos por sua cintura e lhe afagou os cabelos – Quais as chances de o tempo parar nesse exato momento? – murmurou , sentindo o cheiro de seu perfume impregnado em seu peito.
- Infelizmente nulas, mas nada que nos impeça de fingir, pelo menos agora, que só existem duas pessoas em todo o mundo: você e eu. – respondeu , piscando preguiçosamente os olhos enquanto esboçava um sorriso sincero em seus lábios tão vermelhos. assentiu em um movimento lento com a cabeça e aconchegou-se em . Ele observou-a perder os sentidos e aprofundar-se em um sono tranquilo, antes de também ser vencido pelas pálpebras, que insistiam em se fechar vagarosamente.

O barulho irritante de pedras chocando-se delicadamente contra o vidro da janela foi ouvido. levantou a cabeça sonolento e olhou em direção a mesma, com uma careta emburrada no rosto. Levantou cuidadosamente de seu peito sem querer acordá-la e sentou-se na cama, com intenção de se levantar e caminhar até a janela para verificar o que é que tanto os incomodava. Contudo, foi parado por uma pedra maior que chegou a quebrar o vidro da janela ao atravessá-la. acordou instantaneamente, olhando ao redor assustada. foi de encontro à pedra e percebeu que a mesma era pontiaguda e se assemelhava a que havia tirado a vida do irmão. Enrolado a ela, encontrava-se um bilhete amassado. se protegeu com o lençol, tampando quase todo o rosto ao receber o olhar receoso do rapaz. Ele pegou a pedra em mãos e retirou o elástico que prendia o papel, abrindo-o.
- “O momento não é propício para beijos e abraços. Se eu fosse vocês, passaria mais tempo tentando arquitetar um plano que me despiste à transar o tempo todo como dois animais”. – leu em voz alta, bufando ao terminar. Amassou o bilhete e jogou-o sobre a cama para que o analisasse.
- “Estou de olho em vocês”. – ela leu com a voz embargada o que havia escrito no lugar da assinatura. Ergueu o olhar para e suspirou – Você não disse que havia homens suspeitos no hotel? Talvez tenha sido um deles... – disse tensa engolindo em seco. pareceu refletir por segundos – Ele ainda pode estar aqui, . – sussurrou ela, olhando horrorizada pelo buraco aberto na janela. bradou e rumou-se para a porta, abriu-a e saiu procurando pelos lugares que podia alcançar com os olhos os possíveis pontos de onde o assassino poderia ter atirado a pedra. Ao receber olhares repreendedores dos moradores do estabelecimento, por ainda continuar pelado, retornou para o quarto, batendo a porta ao atravessá-la. Pegou a mala nas mãos e tirou roupas limpas de lá: uma calça jeans, uma boxer escura e uma camiseta branca. Vestiu-as rapidamente, sendo seguido pelos olhos de a cada movimento, que não ousava abrir a boca nem para exprimir gemidos, e começou a recolher seus pertences pelo aposento, jogando-os todos na mala – Vamos a algum lugar? – ousou perguntar, apertando os lábios. levantou o olhar para ela e assentiu.
- Vamos sair daqui o mais rápido possível. – disse ele firmemente. A garota afirmou com a cabeça e depois de se vestir ajudou-o a colocar na mala os seus objetos pessoais. Com o quarto limpo de vestígios de , o rapaz foi, carregando a garota com ele com a desculpa de que não a deixaria sozinha nem por um segundo, até a recepção do hotel e fechou seu registro. Em instantes o casal ocupou seus lugares no Rolls Royce e rodou a chave, pisando no acelerador. Dirigia atentamente, sempre olhando para os lados, preocupado.
- , é impressão minha ou aquele carro está nos perseguindo? – olhava aflita pelo retrovisor, respirando descompassadamente. O homem acompanhou seu olhar e percebeu que havia mesmo um carro suspeito percorrendo os mesmos caminhos que o seu. Sua lataria era prateada e se misturava facilmente entre os demais carros, mas sempre a mesma placa apontava atrás deles – Está sim, eu não posso estar ficando tão paranóica. – sussurrava mais para si mesma, virando o rosto para trás, toda apavorada. Ela não conseguia tirar a imagem da avó sendo assassinada de sua mente toda vez que imaginava o rosto do homem por de trás daquele vidro Insulfim.
- Fique tranquila, eu vou despistá-lo. – virou uma ruela escura com pouca movimentação e foi seguido pelo carro prateado. Com uma das mãos, inconscientemente, enlaçou os dedos nos de , que os apertava junto ao corpo. O rapaz começou a se enfiar por entre as ruas, cortando avenidas e travessas como se estivessem em um labirinto e por um momento pensou ter se livrado de seu perseguidor – Mas o que diabos ele está querendo? – xingou ao ver novamente o carro a uma distância relativamente curta.
- Nossas cabeças em uma bandeja? – arriscou responder, recebendo um olhar reprovador em resposta – Sabe de algum lugar onde poderíamos ir e quase ninguém conhece? – perguntou, em uma tentativa de tirar toda a tensão e o peso das costas de – Outro hotel, talvez? Eu iria sugerir sua casa, mas foi morto lá, portanto não há como saber se estaríamos seguros. Seria melhor nos “esconder” em um local bem movimentado, para dificultar o trabalho de nos encontrar. – murmurava, ainda olhando para trás.
- Se ele não parar de nos perseguir agora não conseguiremos achar nenhum refúgio seguro. – disse ele, metodicamente. Virou o automóvel por mais algumas ruas e se deparou com uma estrada quase deserta, pisando fundo no acelerador. O carro prateado conseguiu os alcançar, deixando o casal desesperado. Começaram a apostar uma corrida, lado a lado. O automóvel jogava-se em cima do Rolls Royce e desviava-se xingando, o perseguidor chegou a arranhar a lataria do carro de , que só fazia berrar furioso.
- Talvez se você diminuir a velocidade ele continue acelerando, nos daria tempo de fazer uma curva e voltar. – sugeriu, fazendo o rapaz assentir.
- Pode funcionar. Segure-se. – falou ele, pisando no freio. Os pneus cantaram enquanto brecava, fazendo um balão no meio da pista, que provocou o congestionamento dos demais carros na estrada. nunca passara por nada tão radical em toda a sua vida e o rapaz não conseguiu parar de gargalhar de sua expressão escandalizada. O perseguidor prateado passou direto, e quando eles já faziam o caminho de volta ouviram o mesmo frear, ficando para trás, desistindo, por enquanto, de seu objetivo – Fazemos uma bela dupla. – disse empolgado, enquanto colocava uma mão vidro afora e mostrava o dedo do meio em direção ao carro. Ele virou-se iluminado para que não deixou de acompanhá-lo em uma gargalhada alta. Nos breves momentos que tinham longe de problemas, eles não negavam uma boa “farra”. levou uma mão para o meio da coxa dele, apertando-a maliciosamente. Em resposta, esticou o pescoço e encostou seus lábios, sem tirar os olhos da estrada. os mordeu e os sugou lentamente, deixando o contorno de sua boca úmido.
- E para onde iremos agora, Batman? – perguntou ela, lançando a ele um olhar sugestivo. encarou-a com as sobrancelhas arqueadas, jogou a cabeça para trás e expôs seus dentes demasiados pontiagudos em um sorriso pervertido.

Capítulo Nove: Revelations

O resto da semana se passou. O casal revezava os dias em hotéis baratos e luxuosos para quebrar o padrão e despistar seu perseguidor, o que, aparentemente, estava funcionando muito bem. Não receberam ligações ou mensagens os ameaçando durante esse período, o que fez com que sugerisse a voltar a trabalhar. Obviamente ele não acatou ao seu pedido, mesmo percebendo o quão necessitada ela estava para entrar em uma sala de aula. O rapaz mesmo não achava seguro voltar para a empresa, que tinha lá seus muitos seguranças, que dirá uma “frágil” garota adentrar ao prédio de uma escola sem receber ao menos um tiro em meio à testa. Sim, ele ficava paranoico com a ideia de vê-la morrer. O relacionamento dos dois nesse curto tempo aumentara drasticamente e agiam como se fossem namorados há anos, consequentemente, muitos cômodos foram bagunçados junto a paredes que insistiam em tremer. O único secreto medo de ambos era que toda essa paixão fosse somente consequência da situação, como se assim que o assassino fosse desmascarado eles começassem a ver um no outro suas possíveis diferenças.
O enterro da avó de foi comovente. não sabia bem como reagir porque não chegara a conhecer a Sra. , mas uma lágrima breve saltara de seus olhos ao ver a garota debruçada sobre o corpo imóvel da avó ao deixar que o choro lhe esvaísse. O que o fez minutos depois se trancar no banheiro do mesmo cemitério onde se encontrava e derramar todas as lágrimas não choradas por ele no dia de sua morte. Agora que não se sentia tão culpado pelo ocorrido, não conseguiu evitar deixar que elas rolassem por seus olhos . Fora uma despedida contida, pois só havia os dois no local, junto ao padre e o coveiro, certamente. Nem mesmo os enfermeiros que tomaram conta de Abigail durante os meses em que se via impossibilitada para tal foram avisados. O casal estava receoso com todos os envolvidos, poderia muito facilmente ter sido qualquer um deles. E devido a isso não chegou aos ouvidos do homicida esse acontecimento.
fora uma única vez visitar Dominic no hospital, infelizmente o homem estava sedado e não poderia receber ninguém enquanto inconsciente. Ele não entendeu o motivo de tamanha frescura, mas não ousou contrariar o médico e foi embora. Não voltou mais depois desse episódio.
Agora estavam ali, hospedados em um hotel caro da cidade vizinha. O quarto era largo, com uma cama central envolta a edredons de seda dourados, enfeitados por rendas e estampa medieval. Um sofá amplo e macio à direita, repleto de almofadas finas, e poltronas por todo o cômodo. No chão, um tapete persa detalhado. As cortinas que cobriam as janelas eram também cor de ouro e refletiam lindamente os raios do fraco sol. E no teto, encontrava-se um lustre antigo, característico da Monarquia.
- , acha que sua mãe corre algum risco? Deveríamos checar se tudo está bem com ela, não concorda? – perguntou morbidamente, respirando fundo. Ela estava sentada sobre o colo do rapaz, que a mantinha abraçada em meio as suas pernas cruzadas e fazia cafunés em sua cabeça, depositando beijos leves no topo da mesma de vez em quando. A poltrona onde se depositavam era confortável e parecia acolher aos dois.
- Está certa, ainda não tive noticias de minha mãe nesses últimos dias. – respondeu ele com os lábios presos em sua testa – Sugere ir até minha casa, então? – questionou com uma preocupação cortante na voz.
- Bom, sim. Creio eu que o telefone deva estar grampeado e se pensar em ligar seremos pegos. Não sei como não nos encontraram ainda. Na verdade, estou surpresa por estarmos vivos. – disse ela, sorrindo sem humor. a apertou mais para si – Estou com medo de que algo de ruim aconteça a nós dois assim que pusermos os pés naquela casa. Afinal, um de nossos suspeitos mora sobre aquele teto. – sussurrou , brincando com os dedos trêmulos por sua camisa branca de gola.
- Não acha melhor eu ir sozinho? – indagou , franzindo o cenho de inquietação.
- Não mesmo, me manteve vigiada até esse momento e não será agora que eu vou tirar meus olhos de você. – respondeu firme em suas palavras, fazendo-o assentir bufante – Estamos juntos nessa até o final, seja ele bom ou não. – apertou os olhos e perdeu seu rosto no pescoço do homem, que abaixou sua cabeça para acolher a garota.
- Quando tudo isso acabar vou te levar para conhecer o mundo inteiro, cada mísero cantinho dele. – murmurou, sorrindo minimamente. Queria distraí-la de pensamentos pessimistas. Sabia que as chances de sobreviverem eram mínimas comparadas às façanhas do assassino, mas tinha que tentar fazê-la sorrir de novo.
- Incluindo os museus? – perguntou abafadamente, fungando em seu peito.
- Sim, porque não? E passeios de gôndola por Veneza, de balão pela Savana Africana e tudo o que você tiver direito. – animou-se de um jeito que fizeram os lábios de se curvarem em um sorriso meigo – E uma capela, talvez, quem sabe. – gargalhou roucamente, vibrando as cordas vocais de uma maneira gostosa de ouvir.
- Gostei dessa ideia. – sussurrou, afastando o rosto para poder encarar seus olhos. sorriu com a atitude, inclinando a cabeça bobamente para o lado.
- Qual delas? – perguntou interessado – Viajar ao redor do mundo ou passar o resto da sua vida ao meu lado? – ela alargou o sorriso ao ouvir tal indagação, sentindo o rosto corar vagarosamente.
- As duas. – respondeu simplesmente – Mesmo que isso ainda não tenha sido um pedido formal de casamento. – e o abraçou, afagando seus cabelos perfumados. enlaçou os dedos pelos fios dela, presos em um coque mal feito, e a apertou contra si, como se tentasse gravar a sensação de em seus braços.
- Tem certeza que quer ir à mansão? – perguntou tenso, sem soltá-la – Estou com um péssimo pressentimento.

- Bom, isso está demorando mais do que o previsto. – murmurou o homicida, andando de um lado ao outro pelo vasto quarto do casal . Como havia perdido seus perseguidos de vista, não teve outra opção a não ser votar à mansão e chamar a atenção deles de alguma forma. Certamente não de uma maneira civilizada. O corpo de Eleonor se encontrava pendurado por uma corda: seu pescoço estava quebrado. Para quem visse a cena tudo aparentaria suicídio e ele estaria livre uma vez mais. Motivos? Pensou em utilizar a morte de um filho e o desprezo de outro, como se ela não tivesse suportado a pressão e imaginasse essa sua última saída. Eleonor usava ainda sua camisola de seda dourada, uma de suas pantufas permanecia aquecendo um de seus pés, enquanto a outra se via caída abaixo de seu corpo suspenso – Porque ele está demorando tanto a vir? Talvez eu devesse descer agora e fingir ter encontrado o corpo, de uma forma ou de outra ele teria de vir.
Gritos logo foram ouvidos pela casa, possivelmente de todo o teatro que o homicida armara. Ele caiu ajoelhado após descer as escadas principais da casa, chorando falsamente. Uma imagem digna de pena se não fosse por ele a encenando. Os funcionários do local se aglomeraram ao seu redor enquanto o mesmo contava o que acabara de ver. Minutos depois uma ambulância se encontrava na mansão. Todos os empregados foram dispensados para uma folga com a notícia e o corpo sem vida de Eleonor foi tirado do local.
- Agora é questão de tempo. – sussurrou o assassino para si, esfregando uma mão na outra.

O noticiário no rádio – o qual o casal se acostumara a ouvir por esses dias para ficar por dentro do que andava acontecendo a sua volta – anunciava o suicídio de Eleonor . apertou os olhos, afundando o rosto nas mãos. Um ponto a mais para o assassino, ele estava vencendo a guerra. não sabia como confortá-lo, pois desconhecia sua relação com sua mãe, mas como a boa garota que era ela apertava os ombros do rapaz em um abraço. Ele já havia preparado seu emocional para essa notícia, de algum modo sabia que logo ela viria.
- Agora só temos um ao outro, amor. – sussurrou, beijando as mãos de .
- Eu sinto muito por isso, se houver alguma coisa que eu possa fazer... – começou com a voz fraca, respirando dificultosamente.
- Sobreviva, é o que eu quero que você faça. – ele puxou-a para um abraço mais apertado. Mesmo que isso fosse a armadilha que ele acreditava que seria, estava disposto a ir até sua casa e enfrentar de uma vez o homicida. Pensava em alguma desculpa para que ficasse para trás, a fim de que ele fosse sozinho, quando um lampejo lhe veio à cabeça – Espere. – afastou-se dela, segurando-a pelos ombros – O noticiário acabou de nos dar uma pista.
- E qual foi? – perguntou , desentendida.
- Parece-me óbvio agora. Veja, foi informado de que um fiel amigo da família encontrou o corpo, provavelmente Dominic, e que todos os funcionários foram liberados para uma folga. Pense, qual foi à única pessoa a querer que nós víssemos Conor e Reece como suspeitos? Que praticamente os jogou contra nós? Dominic pode ter sido baleado, mas eu não o encontrei no hospital quando fui visita-lo. Não vê? Enquanto eu me preocupava em encontrar você ele se aproveitou para colocar Conor como inimigo, e o que eu fiz? Dei meu cargo livremente a ele, porque confiava em sua palavra. Era tudo o que ele queria. Pode muito bem ter sido ele a tirar os benefícios de e ter jogado a culpa em Conor, por isso ambos saíram aos socos. Talvez ele tenha ameaçado sua família caso houvesse alguma acusação, já que se ele morresse seria demasiado óbvio. Dominic era o único que sabia o seu endereço além de mim, ele pode muito bem tê-lo dito a Reece para que fosse até sua casa. – dizia, com o cenho franzido.
- Mas e quanto à boca aberta do fogão? Dominic não poderia tê-la aberto. – murmurou, tentando compreender toda a teoria de .
- Não, mas pode ter dito a Reece para fazê-lo. Ele pode não estar totalmente envolvido com tudo o que aconteceu, mas pode ser seu cúmplice. – deduziu, passando as mãos pelos cabelos.
- Não acha que está tirando conclusões precipitadas? – perguntou receosa, não queria novamente culpar a qualquer um.
- É claro que eu posso, só estou tentando ver todos os lados desse enigma. Só parece se encaixar com todo o ocorrido. O assassino estava ciente de que sobrevivemos à explosão e nos contatou quase que imediatamente. Ele só poderia ter nos visto entrando no carro, o que nos prova de que estava presente em meio à multidão. Reece poderia não ter saído de lá, poderia ter ficado sondando a casa ou Dominic entrou no local enquanto dormíamos e abriu a boca do fogão, colocando a gasolina no mesmo instante. Mas de fato ele estava presente!
- Mas ele mesmo disse que o detetive encontrara uma pista importante, por isso poderia ter sido morto. Algo relacionado a uma ONG. – lembrou-se de sua conversa no restaurante, mordendo os lábios pelas hipóteses que o rapaz pronunciava.
- Ele pode ter implantado essa pista, para que pensássemos justamente isso. – indicou o ar com as mãos, andando agora de um lado ao outro.
- Você está começando a me assustar. Como pode pensar tão logicamente dessa maneira? – a garota se encolheu, abraçando-se.
- Só me parece óbvio agora. Eu nunca tinha parado para raciocinar sozinho, tinha deixado toda a carga para ele. Não parece estranho que o detetive não tenha encontrado nada? Dominic sempre se mostrou ótimo em tudo o que fazia e não ter encontrado nem uma mísera pista? Isso me cheira a suborno. – seus dedos corriam apressados por seus cabelos .
- Você anda assistindo a muitos seriados policiais, Sr. . Dominic levou um tiro por você, se esqueceu? – torceu o canto dos lábios.
- Pode ter sido forjado! Eu reparei que o sangue não era tão vivo quanto deveria e o fato de ele não poder me receber no hospital me assombrou por dias. Tudo se encaixa, talvez ele tenha feito isso para se safar. Como se eu não o considerasse em meio aos meus suspeitos por ter tentado me defender. Pensei até em minha própria mãe como suspeita, não te contei sobre isso, desculpe, porque não ele? – perguntou exacerbado.
- Você o ama como a um pai! Tem certeza de que quer seguir com esse pensamento? – a garota indagou, olhando-o sugestivamente.
- Mesmo se não for ele, nunca mais o olharei da mesma maneira. – declarou , negando com a cabeça.
- Yeah, ok, mas o que eu teria haver com ele, afinal? Conheci Dominic no restaurante e nunca o tinha visto antes, e acredito que muito menos minha mãe. – ela dizia receosa.
- Acabei de criar uma teoria para isso também, mas você não vai gostar. – ele abaixou o rosto e fitou-a incerto.
- Posso saber qual? – ela perguntou intrigada, não conseguindo esconder a expressão assustada de seu rosto.
- Dominic é o seu pai. – ele disse de uma vez, fazendo-a arregalar os olhos.
- O que? Meu pai se chama John Bailey, . – contradisse, balançando a cabeça negativamente – E o assassino mesmo disse que seu relacionamento com a minha mãe não era algo pessoal...
- Dominic me disse uma vez que adotara o próprio nome por gostar dele e deixou bem claro que não é o seu verdadeiro. Pelo que nós sabemos, que se resume a nada, ele bem poderia ser. – deu de ombros, formando uma linha com os lábios. caíra sentada em um sofá, desolada.
- Isso significaria que meu pai é o assassino? – perguntou chorosa, passando as mãos pelos olhos para conter as lágrimas – É claro que isso são apenas teorias, certo? Podemos estar cometendo erros no nosso julgamento, não é? Até porque não temos provas... – levantou os olhos suplicantes para , que assentiu no mesmo instante, aproximando-se dela. Ele se sentou ao seu lado e a abraçou. deixou lágrimas rolarem por seus olhos e enterrou o rosto na curva de seu pescoço.
- Pode acreditar, eu quero estar errado quanto a isso. – ele beijou o topo de sua cabeça, afagando o seu ombro – Posso enfrentá-lo sozinho, ainda insiste em ir? – perguntou, fazendo-a balançar a cabeça afirmativamente, deixando-o tenso.
- Agora é pessoal, quero tirar tudo a limpo. – sussurrou falha e teve ali a certeza de que não poderia cogitar a possibilidade de deixá-la para trás.
Em menos de algumas horas – onde levaram em conta o tempo que a perícia usaria para investigar todas as possíveis pistas até se contentar e partir – cruzaram os portões da mansão . Como anunciado, todos os funcionários não se encontravam na casa. só esperava encarar uma única pessoa lá dentro. andava meio encolhida atrás dele, olhando ao redor toda assustada. O rapaz carregava uma arma, segurando-a como um exímio atirador. Ele empurrou o portal de madeira e deram de cara com o imenso saguão de entrada. Ao final do tapete adornado estava um homem de costas, com os braços cruzados. Ele começou a sorrir no instante em que fora localizado, virando-se para o casal.
- Bem-vindo, , e é claro, . – cumprimentou-os, com seu típico sorriso sádico – Como é bom vê-lo de novo ao lar.
- Calado, Dominic. – disse friamente, travando a mandíbula. Naquele instante todo o seu respeito e amor pelo padrinho se esvaíra como fumaça. A única coisa que ele queria era acertar uma bala em seu peito e acabar com todo esse jogo demoníaco – Eu sabia que era você. – cuspiu as palavras, fazendo o outro gargalhar.
- Sério? Desde quando chegou a essa conclusão? – perguntou, arqueando a sobrancelha.
- Há pouco tempo. – disse , respondendo por que não parecia ter forças para abrir a boca e dizer mais do que o que já havia dito.
- Certo. – caminhou alguns passos até eles – Imagino, então, que já tenham descoberto tudo. – lançou-o um olhar intrigado – Não? O jovem expert não conseguiu deduzir mais nada além de eu ser o culpado? Interessante, eu acharia bastante óbvio depois dessa conclusão. – fuzilou-o com os olhos, apertando a arma na mão – Sim. Eu sou seu pai, . – a frase caiu-lhe feito uma bomba, fazendo-a estremecer e ser agarrada por para não cair ao chão. quis jogar em sua expressão de superioridade que chegara sozinho a essa dedução, mas não era algo com o que poderia se vangloriar – Também fui eu a sabotar o seu carro, mas infelizmente você continua viva. – rolou os olhos.
- Por isso perguntou se eu morava na mesma casa de minha mãe... – sussurrou , desolada. Ela não conseguiria chorar uma única lágrima sequer por ele – Contudo, seu plano não funcionou conforme queria, não foi? Eu estou aqui, estou com e estou prestes a arrancar esse sorriso patético do seu rosto.
- Quem diria, não é? Coincidência desastrosa a minha. O coração de foi justamente para a minha filha. Duas de minhas vítimas, uma tendo salvado a outra. – pronunciava, desacreditado com uma gargalhada lhe rasgando a garganta.
- Guarde suas palavras sujas para você mesmo, Duas Caras. – bradou , erguendo a arma em direção ao padrinho, que no mesmo instante espelhou seu movimento, mostrando também estar armado.
- Contenha seu brinquedinho, garoto. Ao contrário de você eu não hesitarei em atirar. – disse seco, cerrando os olhos – Será emocionante tirar sua vida, , assim como foi tirar a de sua mãe. Mas a de seu adorado namorado será ainda melhor. , você não sabe quanto tempo esperei por esse momento e você trouxe meus dois maiores trunfos bem para a palma de minha mão. – tombou a cabeça para o lado, apontando sua mão estendida, enquanto sua voz soava fria e cruel. pôs-se a chorar por sua mãe, lembrando-se de que sua morte fora documentada como natural, agora ela sabia que tinha sido obra de Dominic, provavelmente veneno – Realmente, eu descobri sobre sua existência no dia do seu telefonema minha filha, sua mãe nunca ousou dizer a mim uma coisa dessas. Pobrezinha, deve ter morrido sem saber que foi eu quem a matou. – e gargalhou, colocando ambas as mãos na barriga para dar ênfase ao movimento. não conseguiu se conter e partiu para cima dele, grudando suas mãos em seus cabelos.
- ! – advertiu tardiamente.
- Tire essa criatura de cima de mim , se não quiser que ela morra nesse mesmo instante! – bradou o outro, tentando empurrar a garota para longe. puxou-a para si e jogou-a contra o chão, colocando-se em seu lugar. assistiu o rapaz acertar um soco no padrinho, que deixou sua arma voar para longe. O mais velho revidou o ataque, também deixando o jovem desarmado. A garota se arrastou pelo lustroso piso espelhado do hall de entrada, pegando uma das armas nas mãos. Dominic encarou-a com o canto dos olhos, enquanto acertava um soco na boca do estômago do rapaz, que se contorceu em dor – Vai atirar no papai, ? – debochou, dando mais um soco brutal em . levantou a arma para ele, respirando ofegante.
- Não, , deixe que eu faça. – sussurrava, tentando limpar o sangue que escorria de seu nariz. Dominic alargou o sorriso sádico, balançando a cabeça negativamente. Virou-se para a garota e começou a caminhar em sua direção. rapidamente jogou todo o peso de seu corpo sobre ele, fazendo ambos caírem no chão. Começaram a rolar entre tapas, chutes e socos, pelo saguão. chorava contidamente, mordendo os lábios. Por mais que tivesse a intenção de apertar o gatilho não conseguiria matá-lo. Ela assistia a tudo chocada, vendo-os acertarem-se violentos golpes – CORRA, . SAIA DAQUI! – gritou ao receber um soco no rosto, que lhe arrancou sangue dos lábios. Trêmula, não conseguia se mover. Ela pensou em atirar no padrinho do homem no momento em que esse ficara por cima em todo o bolo corporal que se encontravam, mas ficou com medo de acabar por acertar em se errasse a mira. empurrou o outro para longe, fazendo instantaneamente os dedos de apertarem o gatilho. O Tiro acertou a coxa de Dominic, fazendo-o soltar um grito de ódio. Ele ficou de pé e mancou até ela, que não conseguiu ordenar seus dedos a repetirem o movimento. Enquanto o mesmo caminhava até a garota, partiu para a outra arma no chão.
- Hey. – gritou, chamando a atenção do padrinho que virou o rosto para olhá-lo. sorriu com um brilho de vitória nos olhos . Contudo, também se distraíra com o seu grito e aproveitando-se disso o homem tomou grosseiramente a arma de suas mãos. lançou-a um olhar desesperado. Dominic se afastou, mancando. O revólver apontado para a garota. Ela deu leves passos em direção ao rapaz, que esperava tê-la segura atrás de si para poder atirar no outro homem. Qualquer movimento brusco vindo dele seria o seu último. A arma continuava erguida para , que tinha todos os músculos contraídos de medo – Deixe-a Dominic, não tem nada haver com isso. – suplicou, com sua voz dolorida. Dominic rolou os olhos como resposta ao seu choramingo, sorrindo maliciosamente a seguir. Um último lampejo de fúria percorreu seus olhos.
E então ele atirou...

Capítulo Dez: End

N/a: música.

A bala seguiu em câmera lenta até o peito de , acertando-a bem no meio de seu tórax. Os olhos de arregalaram-se mais do que os da garota, que caía vagarosamente ao chão feito uma pétala de rosa. Ele, paralisado, observou-a estirada e todo o sangue que corria de seu corpo trêmulo. Respirou profundamente, apertando a arma na palma das mãos, e só fez levantar a cabeça em direção a Dominic, que mantinha um sorriso sádico de quem se divertia com sua dor. Ergueu a mão direita com uma fúria inimaginável nos olhos, apontando o revolver para o homem, que o fitou duvidoso enquanto balançava a cabeça negativamente, e só percebeu que tinha apertado o gatilho quando este levou as mãos ao tronco, enquanto caía de joelhos. Dominic encarou-o sorridente, soltando uma gargalhada incrédula.
- Belo tiro, garoto. – provocou, mesmo estando abestalhado por ter perdido seu jogo bizarro.
- Espero que se divirta junto dos seus... No inferno! – bradou. Raivoso por não ter cessado o ataque cômico do padrinho, caminhou violentamente até ele, parando ao seu lado. O homem agonizava deitado no piso brilhante, fitando o rapaz de uma maneira profunda e demoníaca. Abriu a boca seca para dizer suas últimas palavras, mas foi cortado por mais três disparos, que o acertaram sem demora, ecoando o barulho agudo dos estouros por todo o salão. Dominic tombou a cabeça, morto. Seus olhos permaneciam abertos, o que fez jogar a pistola em seu rosto, enojado. Não sentiria sua falta, o que era de certa forma engraçado porque até então Dominic era seu “ídolo”. ficou contente por finalmente se livrar dele; estava livre. Voltou-se em direção a , correndo enlouquecidamente até ela. Ajoelhou-se ao seu lado e passou seus braços por seus ombros – Vai ficar tudo bem, amor. – dizia enquanto a segurava firmemente junto ao seu corpo. Pegou suas pernas e puxou-a para cima, começando a cambalear ao levantar-se abruptamente e rumar porta afora da mansão com a garota em seus braços. Não sabia se sorria irônico ou se deixava as lágrimas, que tanto incomodavam seus olhos, caírem. Optou por agarrar-se a como nunca o tinha feito, beijando-lhe o topo da cabeça inúmeras vezes. Ela soltava leves suspiros de agonia e não tinha mais forças para segurá-lo – Não me deixe. – a dor cortante na voz de era exposta. Ele atravessou o caminho de pedras até seu carro, estacionado de frente ao portão principal da casa, acelerando os passos a cada gemido de . Abriu a porta do automóvel com dificuldade, colocando-a no banco de passageiros, cuidadosamente. Depositou sua cabeça desnorteada sobre o encosto, dando-lhe um rápido e intenso beijo nos lábios, antes de fechar a porta e correr para o outro lado, sentando-se desesperadamente no banco do motorista. Nem pensou ao ligar o motor e disparar em direção ao hospital mais próximo – Não se esqueça dos nossos planos, ok? – dizia choroso ao soar de outro suspiro fraco de – A viagem ao redor do mundo, o passeio de gôndola em Veneza, os museus! – começou a balbuciar. , que apertava os olhos fortemente, conseguiu esticar uma mão desajeitadamente até , segurando a gola de sua camisa – Isso, amor, se apegue a eles. Temos que ter muitas histórias para contar para nossos netos, não é? – insistia, a voz embargada e os olhos fissurados presos na estrada.
- E-estou me a-apegando a vo-você. – sussurrou, engolindo em seco. não aguentou ao ouvi-la dizer isso, deixando uma única e solitária lágrima descer dolorida por seu rosto pálido – E-eu te a-amo. – ela murmurou, tentando virar a cabeça para olhá-lo, que não reagiu de outra forma a não ser continuar a fitar o asfalto à frente. sorriu brandamente, tentando voltar a mão ensanguentada para perto do ferimento, mas foi impedida pela de , que a fisgou no ar inesperadamente, entrelaçando seus dedos ao aproximá-la de seu peito. As lágrimas escorriam descontroladas agora, despencando de seus olhos avermelhados – Nã-não chore, não por mi-mim. – voltou a falar entre gemidos. ergueu a mão junto à dela e pressionou-a sobre os lábios, respirando agoniante. A garota franziu o cenho, triste, ao sentir molhar o dorso da mão pelas lágrimas dele.
- Não posso te perder, eu não aguentaria. – soprou fracamente.
- Vo-vo-cê nã-ao va-ai. Sou su-sua, se lem-lembra? Para to-todo o semp-pre. – ela tentou sorrir, mas a dor em seu ferimento era mais forte, portanto, sua falha tentativa de confortá-lo foi um completo fracasso quando seus lábios se curvaram em doloridos gemidos de agonia.
- Estamos chegando. Aguente firme! – disse – E, por favor, não feche os olhos. Nunca, nunca, feche os olhos!
O Rolls Royce foi estacionado segundos depois em frente ao hospital. , é claro, ignorou todas as regras de cidadania e parou o automóvel entre três vagas, mal desligando os motores quando correu até a porta do passageiro. Pegou nos braços, puxando-a para cima desajeitadamente até que ficasse firme em seu colo e caminhou o mais rápido que conseguiu.
- Não me solte, ! Já estamos aqui, você está salva. – sussurrava para a garota inerte em sua própria dor. As mãos frágeis dela não se mantinham firmes.
- Talvez não. Você-ê tem que a-aceit-ar a pos-sibilida-de de me per-... – a voz fraca foi cordada por um grito de negação junto ao estrondo do ombro de com a porta de entrada do hospital.
- AJUDA, PRECISO DE AJUDA. – berrou enlouquecido, atraindo toda a atenção dos que jaziam sentados nos sofás de espera – MAS QUE DEMORA É ESSA? NÃO VEEM QUE ELA ESTÁ MORRENDO? – os gritos saiam tão do fundo de sua alma que perdeu as forças por alguns instantes, deixando com que ambos fossem ao chão. ajoelhou-se e a puxou para suas pernas, apoiando sua cabeça em suas coxas – UM MÉDICO, PELO AMOR DE DEUS. ALGUÉM CHAME UM MÉDICO! – ele olhava para os lados a procura de compaixão, mas o máximo que as pessoas faziam era observá-lo abestalhadas.
- Dr. Ryan está vindo socorrê-lo. – avisou-lhe uma enfermeira, que acabara de falar com o doutor no telefone – Enquanto isso, mantenha as pessoas afastadas.
- Vocês ouviram, saiam daqui. AGORA! – olhava atônito para os rostos apavorados, voltando a encarar para tentar estancar seu sangue com sua própria mão.
- Vo-cê con-seguiu, não fo-oi? O co-ra-ção de é seu a-go-o-ra. – suspirou agoniante – Pegue-o, . – ela contraia o corpo ao forçar as mãos de contra o ferimento – Leve-o com você-ê.
- O que está dizendo? Você não vai morrer. – seus olhos pareciam cachoeiras cristalinas, transbordando o maior números de lágrimas que ele já derramara em toda a sua vida.
- Por-que est-tá sen-do tão otimis-ta? Você sa-be que isso não é ver-dade. Eu vou morr...
- Não diga isso. PARE DE DIZER ISSO. – ele puxava a garota contra seu corpo, abraçando-a tão intensamente que já começara a fazer com que todos a sua volta deixassem uma ou duas lágrimas caírem. – MAS ONDE É QUE ESTÁ A PORRA DO MÉDICO? – berrou para a enfermeira.
- Desculpe-me senhor, ele está a caminho. – respondeu intimidada.
- Não é cul-pa de-dela, . E mesmo que o mé-di-co ve-nha, ser-rá tar-de de-mais. – não sabia se sorria ou se chorava, não sabia se conseguiria sobreviver e não sabia como reagiria à sua morte.
- Porque fica repetindo isso para mim? – ele levou os lábios aos dela, beijando-o inúmeras vezes – Eu não deixarei que tirem você de mim. – e mais beijos desesperados – Nem Deus é capaz de tirar você de mim.
- Pro-prometa-me uma co-coisa? – pediu ela, apertando os olhos.
- Qualquer coisa, o que você quiser. – respondeu prontamente.
- Você-ê vai so-bre-viver, vai se ca-sar, ter mui-tos filhos e vai morr-er bem velhi-nho, em uma ca-ma quen-tinha. – e sorriu bobamente, sabendo o quanto sempre odiara a parte do filme Titanic em que Rose promete a Jack continuar a viver sua vida sem ele. O rapaz havia comentado isso uma ou duas vezes durante a semana. Mesmo tendo a certeza de que estava errando todas as falas, continuou a dizer: – Não aqui, não hoje.
- Eu odeio esse filme. – resmungou, arrancado-lhe um sorriso – E eu não vou te prometer nada. Só prometo se você prometer de volta sair dessa viva. – o sangue em suas mãos era tão vívido que quando ele passava os dedos pelo rosto de Catherine, manchava-o de vermelho – Me promete?
- Não, . Não po-sso prome-ter o que sei que não vo-ou cump-rir.
Ele esbravejou alto, assustando as pessoas.
- Prometa-me, ! Por favor. – implorava.
- Eu pro-meto te am-ar pelo res-to da eterni-dade. Isso não é o sufi-cien-te? – murmurou ela.
- NÃO, NÃO, NÃO.
- Sinto mui-to. – choramingou ela – Vo-cê tem me-eu co-ra-ção se qui-ser ficar com ele. É seu e sem-pre será.
Medo. Medo foi o que ela sentiu naquele momento, quando viu que a morte se aproximava. Medo do que encontraria no “plano superior” sem ao seu lado para enfrentar o que fosse desconhecido. Medo de não viver. Medo de ser esquecida por ele.
Suspirando fundo, juntando todas as forças, conseguiu dizer sem ao menos gaguejar, as palavras:
- Eu te amo. – e fechou os olhos delicadamente, ainda ouvindo a voz ecoante de berrar em seu ouvido.
- Não se atreva a me deixar, não... – sentiu-o mexendo seus ombros e chacoalha-la com força como em câmera lenta – , NÃAAAAAAO.
E, então, tudo apagou.

N/a: música.

nunca perdoaria o Dr. Ryan e toda a sua equipe por tê-lo feito perder seu mais precioso tesouro. Nunca. A culpa seria dele por sua incompetência e atraso. Ele, obviamente, abusou de seus contatos para acabar com a carreira do médico, mesmo sabendo que isso era um exagero. não voltaria e alguém tinha que pagar. Alguém.
Agora estava ali, onde toda essa história havia começado: em um cemitério. Mas dessa vez, não era seu irmão o dono do caixão avermelhado com entalhes rústicos e sim . Sua doce e ingênua .
Sua vida havia se transformado em um mar de tristeza. Ele estava sozinho no mundo. Reece desaparecera e bem no fundo de sua alma, desejava que ele estivesse morto. Aquele era o fim.
Todos os convidados do enterro já haviam ido embora. O coveiro já havia tampado a cova com terra e uma única rosa vermelha vinda de descansava em seu leito. E mesmo assim ele permanecia ali. Ajoelhado frente à lápide, escrita com letras garrafais tudo o que ele jamais havia dito “Amada até o último suspiro e muito além”. A chuva caía sobre sua cabeça, molhando sua roupa suja de terra. Trovões reverberavam ao fundo, iluminando aquela tarde escura. E até no mais ínfimo espaço de sua mente as palavras “Alguém tem que pagar” ecoavam como estrondos. Alguém, alguém...

O culpado.

Ele.

- Se eu vou te encontrar depois do que eu estou prestes a fazer? Sinceramente, não sei. Contudo não pretendo viver nem por um segundo nesse mundo sem você. Eu poderia encontrar outra pessoa, sim. Mas seria você o tempo todo assombrando meus pensamentos. Você a quem eu veria ao olhá-la. O seu nome eu gritaria, te pedindo de volta para mim. Acho que deixei bem claro o quanto eu sou intenso nos meus sentimentos. Mas afinal, "como posso viver sem aqueles que eu amo? O tempo ainda vira as páginas do livro queimado. Lugar e tempo sempre na minha cabeça. E a luz que você deixou ainda permanece e é tão difícil ficar quando eu tenho tanto pra dizer, mas você está tão distante..." – suas lágrimas se misturavam às gotículas de chuva que corriam por seu rosto – E é por isso... É por isso que eu estou indo me juntar a você. – e sorriu com o canto dos lábios – Você seria completamente contra isso, eu sei. Mas agora quem toma minhas próprias decisões sou eu mesmo. E você é mais do que tudo para mim. Eu te amo, , e faço isso para te ter ao meu lado, na vida e na morte. Sempre.
Retirou vagarosamente uma pequena adaga de um dos bolsos da calça e rodou-a nas mãos, analisando o objeto de prata com um sorriso conformado nos lábios. Ele estava preparado para desistir de sua vida.
- Meu coração também é seu agora. – e enfiou-se a adaga no peito, mugindo de dor. Rasgou a carne lentamente e ao sentir seu organismo clamar por uma parada, percebeu que os órgãos estavam expostos. De maneira até impossível, teve forças para introduzir a mão direita dentro do ferimento aberto e arrancar o próprio coração. Sua vida se fora no mesmo instante. Tudo terminaria ali. Naquele túmulo. Naquele cemitério mórbido. Por ela. Por .
Seu corpo imóvel caiu para o lado, deixando o coração vermelho ensanguentado rolar para perto da rosa solitária enquanto a chuva banhava a funesta cena. Uma última gota de lágrima escorreu por seu rosto, morrendo no canto de sua boca, onde ainda permanecia gravado um eterno sorriso, que ninguém jamais saberia o motivo de estar exposto.

Ele demorou a vida toda para saber de sua existência, um mês para encontrá-la e uma semana... Para perdê-la.

E quem sabe, talvez, tê-la novamente em seus braços.

FIM.


N/a: Obrigada a você que acompanhou Heartless até o final. *-*

O capítulo não ficou tão bom quanto eu tinha planejado. Eu queria detalhá-lo muito mais, mas a falta de tempo pra escrever me fez deixá-lo assim mesmo, pelo menos vocês saberão o que vai acontecer, não é?
E fiquem aí com uma ideia na cabeça, Heartless DOIS. Claro que não agora, talvez nas férias, mas é uma possibilidade. afijoeighoegheuogh
Um último McBeijo para vocês e é isso aí. *O*


Qualquer erro nessa atualização é meu, só meu. Reclamações por e-mail ou pelo twitter.



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