By Giovanna
beta reader: Lara Scheffer

Prólogo

Acho que seria muito injusto dizer que minha vida é uma merda. Pode não ser das mais fáceis, mas não é das piores. Afinal, não é algo agradável chegar em casa e ver uma das pessoas que você mais ama em um estado deplorável. E outra pessoa que você também ama, chorando por não entender o porquê de ter apanhado na escola por aqueles que deveriam ser seus amigos e aceita-lo. Claro que eu tenho amigos que me amam e me ajudam a passar por tudo isso. Correção, tinha. Agora só tenho uma pessoa com quem contar, e devo minha vida a ela. July além de minha melhor amiga, é como uma mãe pra mim. A mãe que eu nunca tive. Talvez o único motivo de eu querer fazer com que minha vida valha a pena seja por ter o meu irmão e a ela.

I – This is my fucking life;

Estava terminando de me arrumar par ir buscar meu irmão Joseph na escola dele, ele ainda não pode voltar sozinho, tem apenas 5 anos. Mesmo que fosse mais velho eu não o deixaria voltar da escola sozinho, as pessoas não encaram bem o fato dele ter síndrome de down. Quando terminei de me arrumar desci as escadas calmamente e antes de chegar a sala, parei e respirei fundo, tentando pegar mais do que fôlego, coragem talvez. Ela estava sentada olhando fixamente para a TV desligada, ela não parecia estar psicologicamente presente, mas tudo bem, nunca estava.

- Mãe? – chamei, mas não obtive resposta. – Estou indo buscar o Joe. A senhora ficará bem aqui sozinha? – perguntei mesmo sabendo a resposta.
Havia um copo com um líquido incolor na sua mão, me aproximei e tentei pegar o copo. – A senhora não deveria estar bebendo mãe. – tinha uma voz cansada.

- Não fode, – ela puxou o braço fazendo que parte do líquido derramasse e eu sentisse o cheiro de Tequila. – Olha o que você fez, sua idiota, derramou minha bebida toda! Isso é um desperdício e tanto. – Bufei e sai de casa, tentado evitar uma possível discussão.

Fazia muito frio e o dia estava sombrio, mas normal para a Cordilheira dos Andes, era sempre assim, frio e sombrio. Já me acostumei com esse tempo, antes não gostava, mas hoje em dia não fazia diferença pra mim.

Peguei meu Ipod no bolso da minha calça jeans clara e coloquei pra tocar Bounce do The Cab, estava viciada nessa música, não conseguia para de ouvir-la e já perdi as contas das vezes em que July brigara comigo por ouvir essa música todo dia, ela ficava muito irritada, adoro irritá-la! É meu passatempo preferido.

A escola do meu irmão não ficava muito longe de casa, quis colocá-lo numa escola perto de minha casa porque assim ficava melhor para mim. Eu não precisei andar muito, rapidamente eu já havia avistado a escola Cantinho Feliz (N/A: Foi mais forte que eu ><), as crianças saiam da escola felizes com as suas mães ou iam sozinhos com seus amigos. Deu-me uma dor no peito em saber que meu irmão não iria ser buscado na escola por sua mãe ou iria voltar sozinho com seus amigos, porque, infelizmente, acho que isso nunca iria acontecer. Entrei na escola cumprimentando algumas pessoas que me conheciam, não gostava nem um pouco de quando elas me lançavam um olhar de pena, isso me irritava profundamente! Sei que minha vida não é a das melhores, mas também não preciso que ninguém fique lamentando-se por isso, eu sei me cuidar, eu sei me virar, a vida me ensinou a ser forte, não sou nenhuma fraca, passo por problemas, afinal a vida não é um conto de fadas. Mas graças a esses problemas que me fazem ser forte e não confiar em tudo que me dizem, os humanos são cruéis e podemos esperar qualquer coisas deles.

Cheguei à salinha de meu irmão e ele estava sozinho num canto de cabeça baixa enquanto outros alunos estavam com seus amiguinhos brincando esperando suas mães. Aquilo me machucou muito, não era legal saber que meu irmão não tinha mais ninguém com quem contar a não ser eu. Não iria ficar viva para sempre, uma hora ou outra eu teria que ir embora, teria que abandoná-lo, mas e se eu fosse? O que iria acontecer com ele? Com quem ele ira ficar? Com a alcoólatra da mãe dele? Não, provalvemente ela iria vendê-lo para comprar mais bebidas. Queria que ele tivesse mais alguém que o amasse pelo que ele é, uma pessoa boa, carinhosa, inteligente... Poderia ficar enumerando todas as qualidades dele, mas não vou. Mas as pessoas são preconceituosas e ignorantes, não querem aproximar-se por ele estar ‘fora do padrão da sociedade’, por ele ter uma doença, elas julgam pela aparência, mal sabem elas que beleza não é nada, absolutamente nada. Ele pode não ter uma vida normal, pois precisa de muitos cuidados, mas ele ainda é um humano e merece ser tratado igualmente e com respeito.

- Joe, amor, vamos? – ele levantou a cabeça para me olhar, assim que me avistou um brilho e um sorriso tomaram conta do seu rosto me trazendo uma onda de tranqüilidade. Ele levantou-se e veio na minha direção, eu o abracei fortemente como se quisesse verificar se estava tudo bem com ele. Ele com seu jeito doce fazia um cafuné gostoso na minha cabeça, eu poderia ficar assim o resto da minha vida se pudesse, mas infelizmente eu não posso. Eu o soltei e ele pegou na minha mão sorrindo verdadeiramente.
- Senhorita, , será que poderíamos conversar um minuto? – levantei meu olhar para ver quem havia falado comigo. Deparei-me com um par de olhos hipnotizantes. Ele tinha uma expressão séria, que me fez ficar preocupada.
- Claro senhor...? – quando reparei no seu rosto, muito bonito por sinal. Vi que ele não era Sr. Zimmerman, o professor antigo de Joseph, provavelmente ele era substituto ou novo.
- , professor . Sou o novo professor do Joe. – ele deu um sorriso sem graça
- Claro, Sr. . – deu um sorriso rápido e me virei para olhar Joseph – Joe, você pode ficar no parquinho me esperando? – ele concordou e saiu correndo em direção ao parquinho. – Então, o que queria falar comigo, Sr. ? – ele apontou para uma cadeira que ficava em frente a sua mesa e eu me sentei, logo em seguida ele sentou-se ao meu lado.
- É sobre o Joseph... – o medo tomou conta de mim e comecei a pensar nas piores possibilidades
- O que aconteceu com ele? – minha voz saiu tremula
- Calma, – ele colocou a mão sobre a minha e eu a tirei rapidamente fazendo-o se assustar. Ele deu um sorriso sem graça. – Eu estou preocupado com ele... Bom ele anda, meio... Erm, como posso dizer? – ele coçou a cabeça pensativo.
- O que? O que? Fala logo, caramba. – o desespero era evidente na minha voz
- Eu diria revoltado. – disse cauteloso
- Revoltado? – ok, não fiquei muito assustada, até porque é normal uma criança que tem síndrome de down, que é criado pela irmã, a mãe é uma alcoólatra e drogada que não dá mínima pra ele, apanha na escola e só tem cinco anos. Isso seria normal para alguém na situação dele.
- Bom, hoje aconteceu algo que me deixou preocupado. Ele bateu num menino na sala de aula do nada e ele sempre fica sozinho na aula, no recreio. Ele não tem amigos como os outros.
- Primeiro: No mínimo o garoto mereceu! E segundo: Você acha mesmo que alguém iria ser amigo de uma pessoa que nem ele? – minha voz saiu sombria e isso não assustou somente ele como a mim mesma.
- Você está sendo muito critica, . – ele falou sério me encarando
- Aham, valeu. Essas crianças e os adultos dessa escola nem são preconceituosas não né? Que isso. – falei irônica
- , o que estou querendo dizer é que estou muito preocupado com ele, isso não é normal para uma criança de apenas 5 anos. Acho que você deveria levá-lo ao um psicólogo, eu sei dos problemas da sua família, da sua mãe, dele e sei que você cuida dele sozinha e bom isso pode acabar atingindo-o de alguma forma e prejudicando no seu crescimento. – se ele queria me irritar ele conseguiu! Quem ele pensava que é pra se intrometer assim na minha vida?
- Eu acho que quem deve decidir se leva ou não ele a um psicólogo sou eu! Você não tem absolutamente nada a ver com isso. Se ele está passando por problemas eu que devo resolver não você. Nunca se preocuparam com ele e não vai ser agora que vão se preocupar. – sai daquela sala que já me dava náuseas antes mesmo dele falar algo, não queria mais ouvir a voz daquele idiota, não fui com a cara dele. Ninguém naquela escola gosta de Joe, ninguém nunca se preocupou com ele e agora um professor idiota vai querer dar uma de bonzinho e tentar virar amiguinho dele? Bem capaz.

Cheguei ao parquinho e Joe estava balançando-ee no balanço, ele ria e foi impossível conter uma risada. A risada e o carinho dele me faziam esquecer de qualquer problema, seja grande ou pequeno, eu sempre esquecia.

- Joe, vamos? – ele parou de se balançar e me olhou, um arrepiou passou pela minha espinha ao sentir seu olhar sobre mim, parecia que ele queria dizer algo. Ele saiu do balanço e pegou na minha mão sorrindo meigamente. Peguei sua mochila e sai da escola, mas antes percebi que me olhava incrédulo.

Entrei no meu New Beetle vermelho e joguei a mochila de Joseph no banco de trás, ele se sentou no banco de trás e eu coloquei o cinto nele. Sentei-me no banco de motorista e liguei o carro indo em direção a minha casa. No som tocava Remembering Sunday do All Time Low. No caminho de casa fiquei pensando no que havia me dito, tenho que admitir que concordo com ele em colocar Joseph num psicólogo, tudo que ele passa não é bom, ainda mais para ele que tem somente 5 anos, isso realmente pode atrapalhar no crescimento dele. Mas não preciso que fiquem me falando o que fazer ou deixar de fazer com ele, eu sei o que eu faço com ele e não preciso de opiniões de ninguém. Passei 5 anos cuidado de Joe e nesses 5 anos ninguém além de July se importava com ele, não vai ser agora que vão se importar. Tenho 21 anos e sei cuidar muito bem de mim mesma e dele.

Assim que cheguei em casa estacionei o carro e tirei Joseph e sua mochila do carro, ele correu até a casa animadamente me fazendo soltar uma gargalhada, abri a porta de casa e antes que eu falasse algo ele foi mais rápido e entrou correndo.

Entrei em seguida e vi Joe deparando-se com uma cena que eu esperava que nunca mais veria na minha vida, esperava que Joseph nunca visse essa cena. Aquilo foi cruel, assustador, doloroso e confuso para a mente dele. Ele não merecia ver aquilo, ninguém merecia ver aquilo.

- Mãe! – meu grito ecoou pela casa inteira.


II – Such A Nice Surprise.

- Irmã, porque a mamãe está tremendo toda e babando? Por quê? O que fizeram com ela? – Joseph estava assustado, não entedia o porquê de sua mãe estar daquele jeito no chão, ele estava com medo.
Eu estava desesperada e irritada, como aquela mulher que se dizia ser minha mãe pode ser tão irresponsável a esse ponto? Será que pelo menos uma vez na vida ela iria deixar de ser tão egoísta e parar um pouco pra pensar no filho dela que é uma criança e precisa de uma mãe? Bem ou mal ela tinha um filho que precisava ser criado, por uma mãe e não por uma irmã.
- Merda Phoebe, o que você fez? – corri até ela deixando Joe um tanto confuso parado na porta observando aquela cena complexa demais para aos olhos de uma criança como ele.
Phoebe se debatia no chão e espumas saiam de sua boca, estava tendo uma overdose.
Rasguei um pedaço de minha blusa e coloquei na sua boca evitando que ela mordesse sua língua. Carreguei-a até o banheiro fazendo um esforço enorme, coloquei-a no chão do Box e liguei o chuveiro em seguida. Comecei a dar leves tapas no seu rosto tentando acordá-la, a água estava tão gelada. Começou a resmungar algo indecifrável e lentamente foi abrindo os olhos.
- Porra, , desligue essa merda de chuveiro. – ah sim, agora ela estava acordada. Nunca fiquei tão aliviada em ouvir aquela voz grossa quase masculina, ela estava acordada novamente.
Desliguei o chuveiro deixando-a deitada meio acordada no chão do Box e corri para a sala. Foi então que vi Joseph mexendo numa das seringas que minha mãe havia usado.
- Eu posso brincar com isso? – ele perguntou de um jeito inocente.
- Joe, não toque nisso! É perigoso – disse desesperada, tinha medo que ele pudesse se machucar, era tão frágil.
- Por quê? A mamãe também usou. – ele ainda falava inocentemente. Caminhei até ele e segurei seus pequenos braços fortemente fazendo-o me encarar assustado.
- E você acha que ela é o melhor exemplo a se seguir? Olhe para ela, é assim que você quer ficar? Não fale mais besteiras – falei entre os dentes. Pude ver o medo nos olhos amendoados dele.
Peguei minha bolsa que estava no chão e dentro dela peguei meu celular e disquei o número de emergência, que por acaso já estava na discagem rápida.
Expliquei rapidamente o ocorrido enquanto Joe me encarava sem compreender o que acontecia. Assim que eu desliguei o telefone, fui até o banheiro e tirei Phoebe do Box enrolando-a numa toalha, levei-a até a sala e a coloquei sentada no sofá, ela encontrava-se semi-acordada.
A ambulância chegou rapidamente levando Phoebe para longe de sua casa. Peguei Joe no colo e sai de casa trancando a porta em seguida. Entrei dentro da ambulância com Joseph e minha mãe, percebi que Joe olhava fixamente para mamãe, não queria que ele tivesse presenciado aquela cena, ele ainda era muito novo para isso, novo demais para viver aquilo.
- Pode chorar, Joe – o abracei pelo ombro e ele deitou sua cabeça no meu colo.
- Não, você me ensinou a não chorar por ela. – eu fiquei surpresa ao ouvir palavras tão duras saindo de sua boca, mas ele estava certo, ela não merecia sequer uma lágrima. Quando a ambulância parou, os para-médicos levaram Phoebe rapidamente para dentro do Hospital, eu sai de lá com Joseph no meu encalço e adentrei naquele lugar extremamente branco.
Um arrepio percorreu pela minha espinha, um grito estava entalado na minha garganta deixando me deixado sufocada. Eu estava com muito medo do que poderia acontecer daqui pra frente. Ela foi direto para a sala de emergência deixando apenas eu e Joseph parados naquele corredor. Meu estomago começou a roncar implorando por comida e então eu me toquei que ainda não havia comido nada, assim como Joe.
- Está com fome, Joseph? – como sou idiota, é claro que ele estava com fome.
- Sim – ele respondeu simplesmente.
- Vem vamos comer, depois voltamos para ver como está mamãe – peguei na sua mão pequena e macia e sai do Hospital com ele.
- Phoebe. – ele falou com um pouco de raiva.
- O que você disse? – parei e o encarei.
- O nome dela é Phoebe e ela não é minha mãe – ele disse aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Não queria mais tocar naquele assunto, então antes que ele falasse algo, o puxei em direção ao refeitório do Hospital.


Assim que terminamos de comer fomos até o Hospital ver o estado de Phoebe, eu esperava sinceramente que ela se recuperasse.
- Dr.Herlihy, como ela está? – perguntei um pouco perturbada.
- O estado dela é grave, mas ela já está medicada e estamos dando soro a ela, para limpar seu organismo. – ele soltou um suspiro. - Senhorita Voight...
- Por favor, me chame de – sorri sincera
- Ok, . Já é a quinta vez que sua mãe chega aqui nesse estado. Não acha que está na hora de começar a pensar numa clinica? – ele falou cauteloso e levemente preocupado.
- Eu acho que já até passou da hora, mas Dr. Herlihy, o senhor sabe que não tenho condições para bancar uma clinica realmente boa para ela. O dinheiro que tenho é para ajudar Joseph.
- Eu sei querida, mas em relação a isso, eu tenho um amigo que é dono de uma clínica muito boa por sina e eu ainda conversando com ele, bom ele aceitou que ela fique nessa clinica sem pagar nada.
- Nossa, eu fico muito agradecida, mas não se posso aceitar isso.
- Por favor, , veja isso como um presente de um grande amigo. Eu vejo o que você passa cuidando da sua mãe e do seu irmão sozinha.
- Tudo bem, então eu aceito. – dei um sorriso agradecido, se era para o bem de Joseph então eu aceitava, não seria bom ele ficar vendo aquela mesma cena várias e várias vezes.
- Então agora, vá para casa, cuide do Joseph, mais tarde você volta já com as roupas dela. – estava me sentindo um pouco contente. Será que mamãe iria mudar? Esperava que ela pelo menos tentasse melhorar. Por mais que Phoebe tivesse me magoado bastante, ela ainda era a minha mãe e eu ainda a amava, queria seu bem, mesmo que não merecesse.
- Está bem, mas antes eu posso vê-la? – eu queria saber como estava, se estava um pouco melhor, como ela ficava dormindo? Fazia tanto tempo que eu não a via adormecida que eu queria ver como ficava seu rosto, se era calmo, sereno ou perturbador.
- Não, , ela precisa descansar – eu concordei levemente com a cabeça e peguei Joe no colo, saindo do Hospital em seguida.
Pegamos um táxi e dei o endereço de minha casa ao taxista. Joe olhava atentamente para a janela observando a fria rua de Cordilheira dos Andes. Nesse momento eu queria saber o que se passava na cabeça dele, queria saber o que ele pensava a respeito disso tudo.
- Está tudo bem, Joe? – me virei para ele e apertei levemente a sua perna.
- Como está Phoebe? – ele ignorou minha pergunta fazendo outra, soltei um suspiro.
- Está melhor, nós não podemos vê-la agora, mas a noite vamos visitá-la está bem?
- Está bem. – ele concordou rapidamente.
O taxi parou avisando que havia chegado em casa. Sai do táxi com Joseph e paguei a corrida.
- Joe, direto para o banho – ordenei assim que havíamos chegado em casa, ele como sempre obediente correu até o banheiro e começou a se despir, entrou no Box e me esperou pacientemente. Entrei em seguida e comecei a dar banho nele.


- Quer ver backyardigans? – perguntei carinhosa para ele enquanto penteava seus cabelos ruivos. Ele estava sentado na cama batendo o pé freneticamente, já encontrava-se vestido.
- Não, eu quero ver Criminal Minds. – ele falou simplesmente
Eu fiquei em reação com a afirmação de Joseph. Parecia-me que ele estava se revoltando, não achei isso bom. Mais uma coisa que aquela mulher estragou, a inocência infantil dele.
- Já que insiste, vamos assistir então. – nos dirigimos para a sala. Ele se sentou apoiando a cabeça em sua mão que se apoiava no braço do sofá, me sentei ao lado dele e liguei a TV em seguida. Ficamos um tempo em silêncio apenas assistindo ao programa. Senti meu estomago roncar
– Estou com fome, acho que vou preparar algo pra comer, você quer? – apenas balançou a cabeça sem me olhar, estava começando a ficar preocupada de verdade. Fui para a cozinha.
Acabei adormecendo no sofá com Joseph. Acordei com o meu celular tocando.
- Alô? – falei com a voz arrastada e sonolenta.
- , eu acho melhor você correr pra cá, sua mãe está um tanto agitada – a voz do Dr. Herlihy era urgente. Aos poucos fui perdendo minhas esperanças, logo agora que eu estava confiante, começava a me animar com essa história da clinica, havia me deixado segura sobre o comportamento de mamãe. Mas acabei perdendo minhas forças.
- Estou indo para ai agora! – falei tão rápido que tive certeza que minha voz saiu embolada. Num impulso dei um salto do sofá e peguei minha bolsa colocando o celular dentro dela, peguei Joseph no colo ainda adormecido e coloquei minha bolsa no ombro, saindo o mais rápido possível de casa. Estava indo enfrentar umas das coisas da minha vida.


- Onde ela está? – perguntei ao Dr. Herlihy assim que cheguei ao Hospital, ainda com Joe adormecido nos meus braços.
- Ela está no quarto 12 – virei-me para ir em direção ao quarto de Phoebe, mas senti ele segurar meu braço lentamente fazendo-me encara-lo. – Tenha cuidado e seja forte, por favor.
- Eu sempre fui – falei sarcástica e soltei meu braço de suas mãos grandes e macias.


Fui em direção ao quarto 12 e quando estava no corredor eu pude ouvir seus gritos fazendo Joseph despertar assustado.
- Mamãe! – gritei ao vê-la agitada, enfermeiros a seguravam enquanto ela gritava.
- , mande eles me soltarem filha! Fale para eles que eu não preciso de clinica alguma.
- Desculpe Phoebe, mas eu acho, não, eu acredito que você precisa de uma clinica urgentemente. - ela ficou me analisando, por um segundo achei que ela finalmente havia caído em si, mas tão logo ela voltar a gritar.
- Sua vadia ingrata! Depois de tudo o que eu fiz a você e esse mongolzinho que você chama de irmão. Você está me olhando assim por que, ? Por que eu falei mal do seu queridinho? – tudo o que ela fez por mim e pelo Joseph? Será que ela ainda não se tocou que tudo que ele pela gente foi dar sofrimento e mais e mais desgraças? Nossa quanta coisa boa ela nos proporcionou.
- Chega Phoebe! Você já passou dos limites. Levem-na da daqui. Agora! – ordenei.
Os enfermeiros a levaram para fora do quarto. Ela gritava e se debatia, parecia uma leoa. Quando saiu do quarto ela me lançou um olhar que era carregado de tanta raiva e desprezo, que me fez tremer dos pés a cabeça, eu estava começando a ficar com medo do que ela poderia fazer a mim e principalmente a Joseph.
- Vai ficar tudo bem meu amor, vai ficar tudo bem. – eu passava as mãos no seu cabelo tentando acalmá-lo.
- Ela não gosta de mim não é mesmo? – ele perguntou decepcionado. Suas palavras iam me machucando aos poucos, eu não queria que ele pensasse daquela forma.
- Não Joe, não é isso, ela só está um pouco nervosa, somente isso. – ele me encarou por um momento e eu pude perceber, olhando nos seus olhos que ele não estava convencido, ele ainda achava que ela não o amava, mas não era só ele que pensava isso.


Estava sentada na cama enquanto penteava meu cabelo. Eu estava me preparando para dormir, pois já era de noite, eu estava muito cansada e abalada com os acontecimentos recentes.
- , eu posso dormir com você? – Joseph me perguntou meigamente, ele usava seu pijama listrado e estava parado no batente da porta com um sorriso tímido.
- Claro Joe. Quer dormir agarradinho com a irmã, não é mesmo? – perguntei divertida enquanto ele deitava-se ao meu lado na cama. Ele soltou uma gargalhada gostosa me fazendo rir em seguida.
Levantei-me e coloquei a escova na penteadeira, voltei para cama deitando ao lado de Joseph, o abracei em seguida.
- Não, ela não me ama, mas tudo bem, eu não a vejo como mãe, eu vejo você como minha mamãe. – eu o encarei brevemente por alguns segundos tentando assimilar suas palavras doces. Meu peito explodia de felicidade em saber que era eu que ele via como mãe e não ela, mas devo dizer que não fiquei surpresa, afinal que cuidava dele era eu. Mas eu não podia me permitir sentir isso, até controlar meus sentimentos eu tinha, por causa dela. – Boa noite, >. – ele beijou meu rosto delicadamente e me deu um sorriso. Então eu adormeci com sua imagem angelical na minha mente.


- Boa aula, Joe. – deu um beijo na sua testa quando o deixei na sala de aula, percebi que ele estava um pouco atordoado e isso acabou me deixando um pouco insegura e confusa.
- Joe, vamos. – O professor falou levando Joseph para dentro da sala, percebi que Joseph estava um pouco alegre ao ver o professor, não estava gostando nem um pouco dessa proximidade repentina dos dois, estava começando a me irritar. – Bom dia, Voight – ele falou com aquele largo sorriso mostrando todos os seus dentes brancos e perfeitos e aqueles olhos que sorriam juntamente com seus lábios. Bufei e sai da sala sem lhe dar uma resposta. Era incrível como ele conseguia ser tão falso e preconceituoso, ficava se aproximando de Joseph só para dar uma de bom moço, mas no fundo ele nem sequer ligava para ele. Falso e hipócrita repeti várias vezes para mim mesma.


Cheguei ao pátio da minha faculdade e avistei July sentada num banco lendo o Morro Dos Ventos Uivantes.
- July! – corri até ela abraçando-a fortemente respirando todo seu perfume. Era bom ter minha melhor amiga de volta.
- , que saudades. – ela falou sincera.
- Também. Como foi a viajem? – ela começou a me contar todos os detalhes super empolgada e eu apenas ouvia e ficava feliz por ela. Eu não comentei nada a respeito do que aconteceu com Phoebe, não queria acabar com o nosso reencontro por uma coisa inútil, por uma pessoa inútil.


Assim que havia acabado a aula me telefonaram da escola de Joseph dizendo que eu tinha que ir para lá rapidamente. Senti meu coração disparar e comecei a pensar nas piores coisas.
- , você está bem? Nossa, como você está pálida! – July perguntou preocupada tocando no meu ombro.
- Eu tenho que ir à escola de Joe – ignorei a pergunta dela e disparei para o meu carro.
Dirigi rapidamente pela rua com o coração a mil, estava com tanto medo, pode parecer um medo bobo as olhos de outra pessoa, mas para mim não era.
Eu sempre tive medo do que acontecesse com ele, sempre tive que protegê-lo das pessoas.
Cheguei a escola de Joseph e sai do carro indo em direção a sala dele. Meus passos eram urgentes e apressados.
- Joe, eu cheguei, está tudo bem, meu amor. – corri até ele que estava chorando e com a perna machucada, ao seu lado estava abraçado a ele.
- Irmã, eles me bateram, eles me machucaram... – um soluço escapou de sua boca. – Eu não sei o que eu fiz a eles, eu não sei! Por que eles me tratam assim? Por que eles me batem? Por que eu não tenho amiguinhos como todo mundo? – soltou-se do abraço de e me abraçou fortemente, molhando meu casaco com suas lágrimas inocentes. Vê-lo daquele estado fazia meu coração disparar e a revolta crescer dentro de mim.
- Porque elas são más – eu estava me remoendo de raiva.
- Você está sendo radical, falou calmamente.
- Radical? Por acaso você não viu o estado deplorável que ele se encontra? Fizeram pelo menos algo a respeito? – elevei minha voz.
- Nós já conversamos com eles e pedimos para não fazerem mais isso. – ele falou aquilo como se o que fizeram com Joe fosse a coisa mais normal do mundo e aceitável.
- Vocês conversaram com eles? – falei irônica – Você tinha é que castigá-los!
- , por favor, eu entendo sua revolta, mas eles são crianças. – sua voz era cansada
- É desde pequeno que se aprender! Meu Deus, como essa escola transborda injustiça. – soltei-me do abraço de Joseph que encarava tudo quieto e olhei no fundo dos olhos de falando cara palavra pausadamente para ele entender que eu estava falando sério. – Já que você é como eles, quero você longe do Joseph, ouviu bem? Quero que você se afaste dele e tenha somente uma relação profissional com ele, se é que você é capaz de fazer isso. – dei uma risada sarcástica. – De pessoas injustas, hipócritas e falsas eu não preciso perto dele. Não ouse se aproximar dele!


III - You want my history

Joseph estava deitado na minha cama, sua cabeça estava na curvatura do meu pescoço que por sinal estava molhado por causa de suas lágrimas. Vários soluços frustrados escapavam de seus lábios, somente aquele som era possível se escutar naquele quarto. Vê-lo daquele jeito e não saber o que fazer me deixava desesperada. O que eu poderia dizer a ele? Que estava tudo bem? Que aquelas crianças bateram nele porque o amam? Isso era fazê-lo de idiota. Tirei alguns fios de cabelo que caiam no seu rosto angelical.
- Joe, não fique assim meu amor. – minha voz era calma, mesmo que pode dentro meu sangue fervesse de raiva.
- Por que eles fizeram isso irmã? Eles falaram coisas feias para mim, falaram que eu sou diferente, eu sou igual a todos não é mesmo, ? – sua voz saiu abafada e confusa ao mesmo tempo. Suas palavras pegaram-me desprevenidas e mais uma vez naquele mesmo dia, eu não soube o que dizer. Logo eu que sempre tive respostas na ponta da língua, talvez seja porque eu esperava sinceramente que ele nunca sentisse essa dúvida.
- Ser diferente às vezes é bom, meu amor. – passei a mão delicadamente no seu rosto tentando limpar qualquer vestígio de lágrima.
- Então, eu sou diferente? – ele perguntou meio confuso e um pouco triste, me encarando com aqueles lindos olhos cheios de dúvidas.
- Joseph, nós sermos iguais ou não, isso não importa, o que realmente importa é o nosso sentimento e o que eu e July sentimos por você é amor – um sorriso surgiu em seus lábios mostrando seus pequenos dentes brancos, e ali apareceu uma felicidade tão grande que eu não sabia que era capaz de deixá-lo feliz com algumas palavras. Seu sorriso me deixou mais calma e me fez sorrir junto com ele.
- Então o senhor também sente amor por mim, ele me trata do jeito que você e a July me tratam. – meu sorriso sumiu misteriosamente e a raiva que eu sentia de parecia aumentar, um sentimento de posse cresceu dentro de mim, para mim Joseph era só meu, somente meu e não poderia tirá-lo de mim, não mesmo. Fui tirada dos meus pensamentos possessivos que me deixavam assustada (por incrível que pareça) quando July abriu a porta preocupada, nós a encaramos sem entender nada e ela correu até Joseph o abraçando.
- Joe, como você está? O que aquelas crianças do inferno fizeram com você? – July falava sem para enquanto lhe dava um abraço de urso deixando-o sufocado, às vezes ela era tão exagerada.
- July! – dei um berro fazendo os dois se assustarem. – Você está sufocando-o. – ela deu um sorriso sem graça e tirou seus braços ao redor do pescoço dele.
- Ah, tá. Desculpe Joe – ela acariciou o rosto dele.
- Tudo bem. – respondeu de uma forma simples. July percebera que Joe não estava muito feliz que a tensão naquele quarto estava começando a aumentar, incomodando não somente a mim mesma como a ela também.
- Hey, o que vocês acham de irmos ao parque hoje? – ao ouvir a palavra parque, a excitação começou a tomar conta do corpo de Joseph e então ele começou a repetir a mesma palavra várias vezes enquanto pulava na cama, seu sorriso era enorme. July e eu ríamos da cena, era tão fácil deixar uma criança feliz.
- Então vamos ao parque Joe, vamos tomar muito sorvete e brincar bastante! – July subiu na cama pulando juntamente com ele, pareciam duas crianças felizes, bom, Joseph é uma criança.
- Então vamos crianças! – falei provocativa enquanto ria da cena dos dois. Desceram da cama com sorrisos largos no rosto, era bom saber que Joseph havia esquecido do que acontecera ontem, pelo menos por um momento. – No meu carro ou no seu? – perguntei a July já sabendo a resposta, é claro que seria no meu, July simplesmente amava meu carro e só saia com ele.
- No seu? – perguntou fazendo uma cara de cachorro sem dono tentando me convencer, mas para mim dava no mesmo, nunca me importei com isso.
- Tudo bem. – dei de ombros, peguei minha chave, minha bolsa roxa, minha carteira e meus óculos escuros. – Joseph! – gritei assim que ouvi um barulho vindo do banheiro, July abafou uma risada, tenho certeza que pensamentos como: ‘ não deixa o Joe respirar’ passaram pela sua cabeça. Joseph veio correndo e parou na minha frente com um sorriso de quem acabara de aprontar algo, suas mãos estavam escondidas atrás de seu corpo. – O que você tem na mão Joseph? – falei lançando-lhe um olhar mortal que o deixou indiferente. O sorriso sapeca dele alargou-se mais ainda, tirou uma das mãos que estavam atrás e a estendeu para mim revelando ali uma margarida que seus pequenos dedos seguravam.
- Que lindo! – falei emocionada, como aquela criança conseguia me surpreender a cada dia com coisas tão simples e me ensinar novas coisas? Aquilo era algo que me intrigava. Peguei a flor de suas mãos com um sorriso largo estampado no rosto, acho que aquele era o sorriso mais sincero que eu havia dado em todos os tempos.
- Ah, eu também quero! – July cruzou os braços e fez um biquinho fingindo-se de magoada. Joseph abriu a outra mão para ela, onde também havia uma margarida. July abriu um sorriso ao ver a margarida, pegou e encarou-me, parece que eu não era a única que se surpreendia com coisas bobas que Joseph fazia. Demos um sorriso cúmplice e corremos até ele enchendo-o de beijos.
Alguns minutos atrás choros e soluços era tudo que podia ser escutado naquele quarto, agora somente gargalhadas eram escutadas. Qualquer um que entrasse ali, seja o mais triste que houvesse, com certeza iria ser contagiado pelas risadas tranqüilizantes de Joseph, aquilo era um despertar pra vida. Quando Joseph e nós já estávamos sem fôlego de tanto rir, paramos de beijá-lo e tentamos pegar fôlego.
Peguei Joseph no colo e sai do quarto com July no meu encalço. - Vamos ao parque, vamos ao parque! – Joseph repetia a frase várias vezes, muito feliz.
- Você dirige né? – July perguntou meio decepcionada, mas a resposta que ela realmente queria ouvir era: Não July, você dirige! Para a felicidade dela, pela primeira vez disse o que ela queria ouvir.
- Você dirige. – Minhas palavras mal saíram de minha boca e já via July pulando, extremamente histérica. Foi impossível eu e Joseph contermos uma risada.
Assim que saímos de casa, fomos até a garagem e rapidamente July sentou-se no banco de motorista com um sorriso largo na face, além de exagerada era idiota também. Coloquei Joseph no banco de trás e coloquei também e cinto nele, depois me sentei no banco de passageiro. July deu partida.
July e Joseph iam tagarelando sobre algo que parecia ser inútil demais para eu prestar atenção. Meus pensamentos sempre iam pra a Phoebe, por mais que eu me alertasse sempre de não pensar nela, minha mente não me obedecia. Eu queria muito que ela voltasse a ser como antes, uma mãe de verdade, dedicada, carinhosa. Sentia falta da verdadeira Phoebe, sentia falta do seu carinho. Por mais que eu tivesse July comigo, uma mãe era importante, eu não gostava da sensação de estar só e fazer de tudo para que aquelas pessoas que estão comigo não me abandonarem.
- ! – fui tirada dos meus pensamentos quando ouvi a voz de July chamar por meu nome.
- Oi? – respondi com a voz falha devida às lágrimas que haviam se acumulado em meus olhos sem que eu nem eu percebesse.
- , estou lhe chamando há muito tempo, o que houve? – sua voz parecia preocupada, assim como sua expressão facial.
- Nada, está tudo bem. – falei normalmente, já era normal para mim ter que mentir sobre como estava meu estado emocional, já se tornou um hábito. Mas July não acreditava, nunca acreditava, talvez seja por me conhecer melhor do que eu mesma.
- , você sabe que não adianta esconder nada de mim. Conte-me agora. – ela ordenou parecendo uma mãe, não pude deixar de dar um riso fraco. Olhei para trás e pude ver Joseph olhando a janela com um brilho no olhar. Percebi que já havíamos chegado, o carro estava parado no estacionamento do parque, eu realmente havia me perdido nos meus pensamentos.
- Agora não – apontei discretamente para Joseph que ainda olhava o parque pela janela.
- Tudo bem, mas você não me escapa! – desligou o carro, abriu a porta e saiu, abri a porta também, saindo em seguida. Tirei Joseph do banco de trás, enquanto ele sorria abertamente. – Olhe o tamanho do sorriso de Joe. – July falou rindo.
- Parece que colocaram um cabide na boca dele. – nós ríamos mais ainda enquanto andávamos em direção ao parque. A cada passo o sorriso de Joseph ia aumentando, se é que isso era possível.


- Eu quero posso ir ao carrinho? – Joseph perguntou assim que avistou vários carrinhos de bate-bate.
- Joe, melhor não, é perigoso. – falei preocupada, e comecei a calcular as chances de Joseph se machucar naquele brinquedo ou até mesmo morrer! July soltou uma risada abafada. – O que foi? – perguntei a ela revirando os olhos.
- Você parece aquelas mães que quando o filho vai brincar no quintal o coloca dentro de uma bolha para não se machucar. – falou provocativa, bufei e antes mesmo de eu dizer algo Joseph já me arrastava em direção ao carrinho bate-bate. A preocupação e o desespero eram evidentes na minha face, não queria que ele se machucasse com isso. - , vamos nos divertir, não seja tão pra baixo, deixe de ser super protetora pelo menos uma vez na vida. – falou entediada.
- Tudo bem, você está certa. – e estava mesmo, eu tinha que me distrair um pouco, precisava esquecer um pouco dos problemas, tinha que deixar de ser um pouco responsável demais, pelo menos uma vez na vida. Afinal, eu ainda era nova, precisava me divertir, precisava de um tempo só meu, já que na grande maioria eu passava cuidando de Joseph e Phoebe ou na loja trabalhando.
Mostrei um sorriso largo e percebi que o dela também aumentava. July me abraçou pelo ombro enquanto Joseph segurava minha mão, entrando no carrinho, extremamante feliz. Parecia que a alegria de Joseph havia nos contagiado.


Entrei no carrinho sem pensar duas vezes, sabia que se pensasse mais um pouco iria desistir, está bem, às vezes eu sou muito exagerada e muito responsável. Mas o que eu poderia fazer? Essa era eu, insanidade era algo que eu definitivamente não tinha. Bom, acho que posso ser feliz, pelo menos uma vez na vida.
Joseph sentou-se ao meu lado e July sentou-se no carrinho que estava na nossa frente, nos lançou um olhar desafiador enquanto eu e Joseph lançamos outro. Bem, ele pelo menos tentou. - Prepare-se para perder, July Buck – minha voz saiu desafiadora e Joseph fez uma cara de mal, tentei me concentrar para não rir.
- Veremos Arendi’s, veremos – um apito soou naquele lugar onde, por mim, eu ficaria ali pra sempre, nos avisando que já poderíamos começar. Admito que comecei a ficar com medo, mas depois fiquei calma, afinal o que algo que pode ser divertido e te faz voltar à épocas da vida que você nunca mais queria sair pode te machucar? Acho isso impossível. Eu batia no carro de July e ela batia no nosso, nossas risadas eram escandalosas e não nos importávamos com o que os outros iriam dizer ao nosso respeito, a única coisa que passava na nossa mente era a felicidade. Risadas ecoavam naquele lugar, parecia algo mágico, parecia um filme ou um desenho animado, um livro de contos de fadas, ali era onde eu queria e deveria ficar com as pessoas certas ao meu lado.


- Não acredito, não consigo acreditar que uma criança de cinco anos e uma certinha, conseguiram me vencer! Não, isso é demais pra mim. – July choramingava enquanto íamos em direção à barraca de sorvete que ficava num gramado, havia famílias e casais deitados ali. Joseph e eu ríamos sem parar, July havia perdido para nós e ficou inconformada com aquilo.
- Bem feito Buck, ficou se achando, deu nisso! – falei me sentindo a superior.
- É, isso mesmo, demos uma surra nela! – Joseph concordava comigo enquanto socava o ar, não entendi sua reação. Chegamos à barraca de sorvete e quando ia fazer meu pedido July foi mais rápida que eu e falou na minha frente.
- Dois sorvetes de morango com calda de chocolate e um sorvete de caipirinha (N/A: Se nunca provaram, provem! Muito bom e absoluto dik) – eu a encarei incrédula enquanto Joseph a olhava indiferente, estava preocupado demais com seu sorvete. – Ah, nós somos previsíveis demais . – dei de ombros e peguei os dois sorvetes de morango com calda de chocolate e entreguei um a Joseph enquanto July comia animadamente seu sorvete de caipirinha, July era tão sem noção e tão desleixada.
- Professor ! – ouvi Joseph gritar e largar seu sorvete no chão correndo em direção ao . Como assim? Aquele babaca estava aqui? Não isso só pode ser perseguição... Mas o fato que me deixava mais intrigada era o fato de Joseph ter corrido na direção daquele professorzinho e largar o sorvete que ele tanto queria no chão, POR CAUSA DE ! Isso era demais para mim. July me olhava incrédula, minha expressão era indecifrável. Andamos até eles, eu batia meu pé fortemente no chão parecendo uma criança mimada e July ainda me encarava, não tirava os olhos de mim, ficava atenta a qualquer movimento meu, garanto que ela deveria estar com medo do que eu possa fazer.
- Não mandei você ficar longe dele, ? – falei sombriamente parando à sua frente, queria que ele tivesse medo de mim, mas isso não o deixou amedrontado, ele ainda continuava com um sorriso vitorioso no rosto, aquilo me irritava. Mas não era somente aquilo que me deixava irritada, era seu rosto incrivelmente e diferentemente lindo, seus olhos hipnotizantes que deixavam qualquer mulher sem saber o que fazer e o que falar, seu estilo único que só cairia bem nele, sua voz suave e calma ao mesmo tempo, seu sorriso que ele fazia questão de mostrar e seu cheiro que era possível sentir de longe, mesmo que você não queira sentir aquele perfume você acaba respirando-o para dentro dos seus pulmões e aquilo te deixa tonta. É, ele tinha efeitos sobre as mulheres e era isso que realmente me irritava, mas ele não teria efeito nenhum comigo, ele não teria capacidade.
- , por favor – respondeu calmamente enquanto July me encarava e Joseph também.
- Para mim o senhor é , não tenho nenhuma intimidade para lhe chamar de , então será dentro e fora da escola. – o encarei desafiadora esperando que sua expressão mudasse, mas ela não mudou. – Você ainda não respondeu minha pergunta, . – fiz questão de dar ênfase ao seu sobrenome querendo deixá-lo irritado, mas parecia que eu é que não tinha nenhum efeito sobre ele, continuou indiferente.
- Não sei se você percebeu, , mas o Joe correu até mim, eu não fiz nada a não ser retribuir seu abraço. – aquele sorriso vitorioso que eu tanto odiava apareceu mais uma vez.
- Pra você é e Joseph... – July interrompeu uma possível discussão. Droga, ela tirou minha chance de falar umas verdades para aquele babaca. Lancei-lhe um olhar mortal que ela ignorou.
- , por favor, o rapaz só está sendo educado. – me repreendeu como se eu fosse a errada, quando eu sabia que estava certa ele era o culpado. – Venha, vamos tomar um sorvete conosco, Joe irá adorar – sorriu amigavelmente para ele que retribuiu o sorriso.
- July! – falei incrédula com o que acabara de escutar. Ela era minha amiga e deveria ficar ao meu lado, não contra mim.
- Por favor, , é pelo Joseph. Olha como ele fica feliz ao lado do professor. – falou baixo próximo ao meu ouvido para que somente eu ouvisse, olhei para Joseph e e pude ver que ela realmente estava certa, é duro admitir isso, mas fazia bem a ele.
- Tudo bem, vamos logo antes que eu desista. – falei num bom tom para ele ouvir também, e um sorriso agradecido apareceu no seu rosto me fazendo sorrir inconseqüentemente.
Amaldiçoei-me mentalmente por ser tão estúpida ao sorrir pra ele. Logo pra ele.
- July Buck, prazer – estendeu a mão para .
- . – apertou a mão dela, eu encarava a cena um pouco entediada, nunca fui muito fã de apresentações.
- Vamos logo. – falei impaciente.
- Antes quero comprar um sorvete para o Joe, já que ele deixou o dele cair no chão. – falou fingindo-se de amigável, e foi em direção à barraquinha de sorvete, mas eu fiquei na sua frente impossibilitando sua passagem.
- Não, eu compro. – dei um sorriso cínico e pedi o sorvete preferido de Joseph ao moço da barraquinha sobre o olhar surpreso de . O moço entregou o sorvete a mim e eu dei-lhe uma nota, entreguei o sorvete a Joseph que agradeceu e andei em direção ao gramado lançando dessa vez um sorriso vitorioso ao , July deixou uma risada escapar sem querer, mas não prestou atenção nela, seus olhos estavam fixos em mim.


July sentou no gramado, sentei ao seu lado e sentou ao meu lado, Joseph sentou-se na nossa frente, estava concentrado demais no sorvete enquanto o chupava. Estávamos todos em silêncio e aquilo estava começando a me irritar, alguém poderia ao menos dizer algo, seja inútil ou não.
Joseph deixou um pouco de sorvete cair na blusa e acabou se sujando todo. Bom, aquilo era uma oportunidade pra falar, já que ninguém tomava a iniciativa.
- Joe, amor, cuidado pra não se sujar. Vem cá. – o chamei e ele andou até mim sentando entre eu e July. Peguei uma toalhinha que estava na minha bolsa e limpei sua boca e sua blusa. Eu podia sentir os olhos de sobre mim, pude perceber também que July me olhava de esguelha. Levantei meu olhar até ela que me deu um sorriso malicioso e apontou com a cabeça discretamente pra , revirei os olhos e continuei tentando limpar a blusa de Joseph, em vão.
- Vem Joe, vamos comprar mais um sorvete. – July levantou e Joseph levantou em seguida, eu a olhei sem entender sua reação, mas percebi o que ela queria ao olhar seu sorriso.
- Eu vou com vocês. – ia me levantar, mas July me impediu.
- Não , fique com o , faça companhia a ele. – deu um sorriso malicioso e antes mesmo que eu pudesse dizer algo ou mesmo correr atrás dela, ela saiu, acabando com as minhas esperanças.


Estávamos em silencio, mais uma vez. Ninguém falava nada, ninguém tinha coragem de falar, parecíamos aqueles apaixonadinhos que ficam em silêncio por vergonha. Mas, claro, nosso caso não era paixão e nem vergonha. batia os pés freneticamente enquanto eu encarava minhas unhas, como se elas fossem algo importante.
- Você vai ser uma boa mãe. – ele falou simplesmente tirando-me do meu transe, eu o encarei sem entender. Ele deu um sorriso meigo e explicou: - A forma que você trata Joe, é muito bonito.
- Obrigada. – agradeci um pouco constrangida, ele riu ao perceber que havia ficado constrangida. – Pena que você não seria um bom pai, os valores que você iria passar ao seu filho seriam: Como ser um idiota e falso. – falei qualquer coisa para tentar disfarçar o nervosismo, percebi que seu sorriso sumiu e ele ficou sério.
- Você realmente não acredita em mim, não é mesmo?
- Não. – respondi simplesmente, voltei a encarar minha unha.
- Que pena, por que eu acredito em você e queria que você acreditasse em mim também. Queria que você me contasse mais sobre sua vida, que conversasse comigo como uma pessoa normal faria, deixasse eu me aproximar de você. – falou um pouco pensativo, parei de encarar minhas unhas e encarei seus olhos. Rapidamente parei, e tirei meus olhos dos seus assim que percebi que os mesmo estavam fazendo algum efeito em mim.
- Está me chamando de louca?
- Conte-me sobre sua vida, sua história. – falou rapidamente me olhando fixamente, pude ver um ponto de sinceridade nos seus olhos, mas não iria me permitir deixar enganar por ele.
- Quando você realmente me convencer de que é uma pessoa boa, eu irei contar minha vida toda a você e conversar como uma pessoa decente. – falei calmamente e me deitei na grama, ele deitou ao meu lado. Nos encarávamos fixamente, sem desviar os olhos um do outro, nós não reparávamos na roupa ou no sorriso, no cabelo, nada disso. Só reparávamos nos nossos olhares, nas nossas verdades, nas nossas mentiras, nas nossas hipocrisias e injustiças.
Quem olhasse de fora iria achar que éramos um casal se admirando, mas na verdade nós estávamos olhando para nós mesmo. Enquanto houvesse uma desconfiança, injustiça e uma falsa hipocrisia, estaríamos longe de sermos um casal.


IV - And I wanna believe you
Eu estava olhando a rua pela janela de meu quarto enquanto ouvia a voz de July atrás de mim. Pessoas andavam apressadamente, outras lentamente. Algumas distraídas, outras apenas observando. Umas sorrindo, outras não. Pessoas. De diferentes estilos. Com medo, desejo, tristeza, felicidade, amor e ódio... Algumas carregavam a luz dentro de si, outras carregavam as trevas.
- , você está me ouvindo? – July me perguntou, sua voz estava um pouco alterada.
- Estou July, eu estou ouvindo. – minha voz era cansada. Comecei a passar o dedo pela janela empoeirada.
- Então vá marcar a reunião com a diretora, isso não pode ficar assim. – ela aproximou-se de mim e tocou meu ombro com a sua mão gelada.
- Irei chamar uma faxineira amanhã mesmo, essa casa está imunda! Tanta poeira acumulada pode fazer mal a Joseph. – falei ignorando completamente July.
- ! – ela me repreendeu.
- O que foi? O que você quer? Deixa-me em paz! – July me olhou espantada pela forma que eu falei. É, eu sei, fui muito grossa, mas seria mais fácil para mim se ela compreendesse que eu não queria falar. E difícil para mim, tocar nesse assunto.
- . – ela sussurrou e abraçou-me levemente. Sorri e retribui o abraço de July que me passava um alívio que parecia durar eternamente. July sabia o que falar e o que fazer nas horas certas, ela sabia como me entender.
- Eu não quero fazer isso, eles podem ficar irritados e querer tirar Joseph da escola. Tirá-lo da única escola que o aceitou, a única! – choraminguei e uma súbita vontade de chorar apareceu assim que eu lembrei do quanto sofri para colocá-lo numa escola.
- Eles não podem fazer isso. – sua voz ainda era calma, parecia com uma música de ninar, algo reconfortante. O mais engraçado era que July sempre fora a amiga insana e eu a certinha, isso deveria fazer com que eu fizesse o papel da amiga que cuida da outra. Na verdade, era July que cuidava de mim.
- Eles têm dinheiro, podem fazer qualquer coisa. – falei entre os dentes e senti minha veia quase pulsar. Meu rosto pegava fogo.
- Enfrente! Faça isso pelo Joseph! – ela jogou sujo, July sabia o quanto Joseph é importante para mim, eu faria tudo por ele, para seu bem. É, July havia ganhado.
- Você venceu. – rolei os olhos assim que vi um sorriso brotar nos lábios dela. Peguei meu celular que estava na minha bolsa e disquei os números que eu já sabia de cor.
- Bom dia, Colégio Cantinho Feliz (N/A: Tento ao máximo não rir quando escrevo isso, maoe). – ouvi a voz da recepcionista soar numa falsa simpatia.
- Bom dia, quem fala é Arendi, irmã do aluno Joseph Arendi. Eu gostaria de falar com a diretora Sally, por favor? – July me encarava aflita, esperando qualquer reação positiva minha.
- Oh, sim, claro. , irmã do pequeno Joe. – senti que sua voz era de pena. ’’Irmã do doentinho do Joe, não é isso que vocês pensam a respeito dele?’’. Pensei em dizer isso, mas me controlei.
- Exatamente, Sally poderá me atender ou não? – falei rude, querendo cortar qualquer tipo de assunto falso que eu tivesse com aquela mulher.
- Um minuto, vou ver se ela poderá lhe atender. - "Vou ver se ela poderá lhe atender. Velha babaca’’ pensei e revirei os olhos. Segundos depois, Sally me atendeu.
- , querida, como está? – parece que hoje era o dia oficial da falsidade.
- Ótima. – falei seca. – Sally, eu gostaria de marcar uma reunião com a senhora, ainda hoje. Se for possível, claro.
- Hmmm, as três está bem pra você? Avisarei ao professor .
- Está ótimo. – respondi rapidamente. – Obrigada, beijos. – desliguei o telefone sem dar alguma chance de Sally dizer alguma coisa. Joguei-me na minha cama junto com meu celular, July fez o mesmo ficando de frente para mim. Ela sorriu meigamente e eu retribui, porém meu sorriso era fraco. Então July me olhou intensamente e eu pude ver que ela havia compreendido. Eu estava com medo.
- E então? O que a diretora disse? – July me perguntou, tirou alguns fios de meu cabelo que caiam em minha face.
- A reunião vai ser ás 15h, o também vai estar. – ao falar o nome dele fiz uma careta, July soltou uma risada baixa. – July, eu estou com medo. – minha voz saiu tão baixa e trêmula que eu mesma quase não ouvi.
- Eu sei , eu sei. – ela afagou meus cabelos. – Mas você tem que enfrentar isso, essa história já passou dos limites. – assenti com a cabeça e lhe mostrei um sorriso fraco.
- Phoebe está na clínica. – minha voz saiu grave e um nó se formou na minha garganta assim que disse seu nome. July me encarou séria, sua testa se franziu. Percebi que ela ficara tensa – como eu – assim que havia tocado nesse assunto. Ela se preocupava demais comigo e com Joseph.
- Você está bem? – sua voz era cautelosa.
- Ela vai ficar bem? – ignorei sua pergunta fazendo outra, essa pergunta já respondia a dela e de tantas outras. Eu só iria ficar bem quando Phoebe e Joseph também ficassem.
- Só o destino pode lhe responder, , só o destino. – falou tão pensativa que seu eu não a conhecesse tão bem iria falar que era alguma vidente. Ah, o destino, é tão cruel e imprevisível. Uma hora tudo dá certo na sua vida, outra você desmorona, de uma hora pra outra, sem aviso prévio. A pior coisa que existe era você ficar na mão dele.


Respirei fundo pelo menos umas três vezes antes de entrar naquela escola, antes de tomar um choque de realidade. Foi então que compreendi o meu maior medo: A verdade! Ela era tão dura e direta, tão precisa. Eu não queria de maneira alguma ter que ouvi-las, porque eu já lidava com elas, Joseph era a minha maior verdade.
A cada passo que eu dava sentia meu coração bater rapidamente, eu estava me sentindo tonta. Apoiei-me na parede, senti minha pele se arrepiar ao entrar em contato com a parede gélida.
Fiquei alguns minutos calada, apenas ouvindo as vozes e passos de pessoas que estavam naquele lugar. Eu queria gritar, mas parecia que não tinha cordas vocais. Queria correr, mas parecia que meus pés estavam presos naquele chão duro e sujo. Queria chorar, mas parecia que minhas lágrimas haviam secado misteriosamente.
- Está tudo bem? – estremeci ao ouvir a voz rouca de . Seu hálito quente batia no meu pescoço, seu perfume masculino invadiu minhas narinas. Ele estava perigosamente perto de mim. Porém o fato de eu ter estremecido não era por que ele era extremamente sedutor, também por isso, mas na verdade era porque eu estava absorta demais em meus pensamentos.
- Está. – tentei ao máximo me manter calma e mostrar isso a , mas sua presença não estava ajudando muito. Minha voz falhou. Virei meu rosto para poder encará-lo e deparei-me com a sua bela imagem, que, por sinal, estava preocupada. Então era isso? estava preocupado comigo? Devo admitir que fiquei um pouco feliz, eu gostava de saber que mais alguém se preocupava comigo. Tudo bem que qualquer pessoa que passasse ali e visse uma garota agarrada à parede, iria se preocupar, mas ele era , certo?
- Você não me parece bem. – sua voz era desconfiada, ele me olhou de cima a baixo tentando buscar algo que não estivesse certo. Revirei os olhos e tirei minhas mãos da parede.
- Eu estou bem. – falei entre os dentes, dei as costas a ele e entrei em uma sala, onde seria a reunião.
Sentei-me na cadeira em frente a uma mesa, na outra cadeira em frente a mesa estava Sally, ela sorriu amarelo pra mim e eu dei apenas um leve aceno com a cabeça. entrou em seguida e sentou-se na ponta da mesa, me encarando.
- Acho que podemos começar a reunião, certo? – Sally me fitou brevemente, acho que ela queria que eu desistisse. Ela sabia realmente o que eu queria e desistir não estava em meus planos.
- Certo. – respondeu na mesma hora. Seus olhos ainda estavam sobre mim.
- Então , sobre o que exatamente você queria falar? – Sally, como sempre objetiva, me perguntou.
- Joseph, é claro. Não estou satisfeita com o que está acontecendo com ele. Afinal, que pessoa iria gostar de ver a pessoa que ama apanhando e chorando, não é mesmo? – falei irônica, às vezes eu me descontrolava.
- Entendo , entendo. Também não fiquei nem um pouco satisfeita com o que anda acontecendo, mas... Bom, você sabe, eu não posso fazer nada, essas coisas acontecem, são crianças. Não posso ficar à disposição do Joe todo o tempo, mesmo que ele precise disso, eu não posso. – ela entrelaçou suas mãos e me olhou seriamente, querendo que eu a compreendesse. Compreender o quê? Que ela era uma vaca e não tinha sentimentos?
- Isso não é normal, não faz bem a ele e nem a qualquer pessoa, tendo síndrome de down ou não. Isso deve parar! – minhas palavras jorraram da minha boca sem dar tempo de eu medi-las.
- , o que eu estou tentando lhe dizer é que Joseph precisa de todos os cuidados e eu não posso dar atenção somente a ele. Tente me entender, você sabe que eu estou certa. Tudo no Joseph é mais lento, ele demora para aprender a andar, escrever, sentar numa cadeira e a falar. Mesmo que ele já ande, fale e sente, é difícil cuidar dele. Às vezes não entendo o que ele diz. - assim que ela terminou de falar eu me lembrei de quando Joseph tinha quase dois anos e eu o levava ao parque. Todas as crianças que tinham sua idade já andavam, mas Joe não. Ele ficava no meu colo rindo e levantando os bracinhos, pulava querendo ir para o chão. Quando eu o colocava no chão em pé, ele caia novamente e começava a chorar, então eu chorava baixinho junto com ele.
- Mas ele está conseguindo, isso que é importante. Sally, Joseph é uma criança incrível, esperta e esforçada, ele ama estudar. Eu só estou pedindo a vocês um lugar em que ele se sinta confortável. Oh Deus, isso é tão difícil? – insisti tentando manter-me calma. Se ela visse o quanto Joe ficava concentrado pintando as vogais, quando ele me pedia para ensiná-lo a escrever seu nome. Com certeza nem ela nem ninguém iriam duvidar da capacidade dele.
- Não vem só de mim, . – falou com cautela. – A sociedade ainda não se livrou do preconceito com pessoas que tem síndrome de down, assim como também não se livrou do preconceito com pessoas que tem AIDS. Não é à toa que essa foi a única escola que o aceitou. Eu acho melhor Joseph sair da escola, vai ser melhor pra ele e até mesmo pra você. Estudar não daria certo pra ele, não iria adiantar de nada porque ele sempre vai depender de alguém. – suas palavras me acertaram como uma flecha acerta um passarinho e então ele cai de cara no chão, aprendendo que ele não pode contra um índio e uma flecha, ele é mais fraco.
- Ele tem direito de estudar em qualquer escola como toda criança, tenha uma doença ou não. Direitos iguais, não é isso que essa escola "ensina"? – falei entre os dentes com a minha voz embargada. Sally me olhou incrédula, como se a ficha tivesse caído. Ela não podia simplesmente tirar Joseph, porque eu iria até o fim. Sozinha ou não, eu iria lutar pelos direitos dele e de qualquer criança.
- Eu concordo com , e o que eu puder fazer para que essa situação acabe, eu farei. Essas crianças têm que aprender desde cedo que todos são iguais, Joseph não é nenhum anormal, ele é humano e tem sentimentos como todos nós. Acho que é isso que a escola tem que ensinar e não ficar jogando os problemas debaixo do tapete. – , que até então que estava calado, protestou-se. Dirigi meu olhar até ele que me deu um sorriso cúmplice, talvez eu não tenha que fazer isso sozinha, talvez não fosse tão falso como eu achava.
- Senhor , o que pensa que está fazendo? – perguntou Sally, surpresa com a atitude dele.
- Estou lutando pelos direitos do Joseph, assim como . Se quiser me demitir, tudo bem, vá em frente. – não foi somente Sally a ficar surpresa com as palavras de , eu também fiquei surpresa. Nunca esperaria isso dele, arriscar seu próprio emprego por um menino que não era nada seu. O pior de tudo é que sua voz era séria.
Sally encarou tentando intimidá-lo, mas ele ainda continuava com seu olhar firme. Depois ela passou a me encarar, seu olhar parecia dizer: Está satisfeita? Você venceu!.
- Tudo bem, já que o Sr. irá se responsabilizar... Ele que fique de olho em Joseph Arendi. A reunião está encerrada. – rapidamente saiu da sala junto com Sally, peguei minha bolsa e levantei-me apressadamente indo até ele.
- ! – gritei pelo seu nome e minha voz extremamente irritante fez um eco pelo corredor. Ele e Sally viraram-se para mim, ela me deu as costas e voltou a seu caminho. riu, não entendi sua atitude, será que eu fiz algo de errado? Ele andou até a mim, com seus passos firmes e seu corpo relaxado, seus olhos estavam fixos em mim. Pela forma que ele me olhava parecia que somente eu estava ali. Parou na minha frente fazendo com seu perfume viciante invadisse não somente minhas narinas como o ambiente inteiro.
- Pois não? – perguntou educadamente, porém sério.
- Obrigada. – falei timidamente fitando meus próprios pés, uma reação infantil, eu sei. Mas veja bem, era meio estranho ter que admitir que havia me surpreendido sendo que eu falei para ele com todas as letras que ele não prestava.
Um sorriso apareceu nos seus lábios me deixando ver todos os seus dentes e, claro, não pude deixar de reparar o quanto seu sorriso era lindo e sincero.
- Eu faria isso por qual quer pessoa, . Além do mais, eu gosto do Joseph e não quero vê-lo mal. – ele falou calmamente, levantei meus olhos e permaneci fixos nos deles.
- Certo, . – ajeitei minha bolsa no meu ombro e quando ia me virar para sair, ele segurou meu braço delicadamente.
- Só uma coisa. – falou, com sua voz suave. Assenti com a cabeça num sinal que ele continuasse. – Me chame somente de , por favor. – pediu parecendo um pouco receoso.
- Certo, . – minha voz saiu alegre. Era bom dizer o nome dele sem ter que usar o ‘’, não que eu não gostasse do sobrenome dele, pelo contrário, eu achava lindo, mas ao dizer ‘’, parecia menos formal. Na verdade, era menos formal.
- Outra coisa. – ele de uma risada nervosa. – Posso... Erm... – ele coçou a cabeça e eu ri. – Te chamar de ?
- Certo, pode sim. – reprimi uma risada ao ver que ele havia ficado nervoso. Me virei para sair, mas sua mão quente estava novamente em meu braço.
- Última coisa. – seus olhos estavam penetrados em mim.
- Você está pedindo coisas demais, . – tentei falar num tom de brincadeira, mas sua expressão ainda séria fez com que eu ficasse confusa.
- Saia comigo, um jantar. Só nós dois, por favor. – suas palavras saíram de sua boca tão baixas e rápidas que tive que fazer um esforço para ouvi-las. Engoli em seco ainda sentindo suas mãos. Um jantar. Só eu e . Eu queria achar que aquilo era errado, mas minhas emoções diziam que era certo.
- ... – sussurrei, com medo da reação dele.
- Saia comigo , para me conhecer melhor. – conhecê-lo melhor era algo que eu realmente queria, essa proposta estava ficando tentadora demais. Depois do ocorrido de hoje eu fiquei na dúvida a respeito dele. Ele realmente era tão hipócrita como eu achava? Afinal, o que há de errado em conhecê-lo melhor?
- Certo, por que não? – ele se desfez da sua imagem séria e abriu um sorriso, o mesmo de antes. Senti-o tirar sua mão do meu braço e então voltei a sentir o vento frio e cortante na minha pele que antes era protegida pelo toque de .
- Hoje à noite, 21h. Irei passar na sua casa, para te buscar. Me dá seu endereço? – reparei na sua forma de falar, no jeito que sua cabeça sempre ficava levantada como se não tivesse medo de encarar as pessoas. Sempre as encarava com um olhar desafiador e um sorriso debochado, falava sempre tão baixo, como se fosse o dono da verdade. Mesmo que ele estivesse errado, da forma que ele falava parecia que estava certo e você acabava acreditando.
- Certo. - Passei o endereço da minha casa a ele enquanto ele anotava tudo no celular dele.
- . – ouvi sua voz chamar pelo meu nome enquanto eu andava em direção ao portão de saída. Parei no meio do corredor, mas não virei para encará-lo. – Por favor, pare de falar certo. – falou num tom brincalhão. Dei-me conta de que eu realmente estava falando muito certo.
- Certo. – falei, tentando irritá-lo. Começamos a rir, parecia que era algo ensaiado. Nossa risada encheu aquele corredor silencioso, sem vida. Era algo idiota, eu sei. Porém, para nós, era como se fosse algo realmente importante, algo que devêssemos comemorar. Não sei exatamente do que rimos, não sei explicar, só sentimos e compartilhamos.
- Até mais, .
- Até mais, .

V - Won't you take me by the hand take me somewhere new?

Senti uma mão pequenina fazer um cafuné gostoso na minha cabeça. Agora mesmo que eu não ia trabalhar, estava me dando mais preguiça e sono ainda.
- Irmã, você tem que levantar, ainda tem trabalho hoje. – ouvi a voz de Joseph falar próximo do meu ouvido. Até uma criança de cinco anos conseguia ser mais responsável que eu, é , você precisa melhorar. Espreguicei-me e abri os olhos, encarando o par de olhos pequenos e puxados de Joseph.
- Ah Joe, se você soubesse o quanto é ruim ser adulto... – sentei-me na cama e o abracei, ele me deu um beijo estalado na bochecha e sorriu. – Você dormiu bem? – perguntei enquanto andava até o banheiro, ele me seguiu.
- Dormi sim, estou bem animado hoje. – Joseph levantou os braços e começou a rir, eu ri junto com ele, sentindo a alegria me dominar por completo. Entrei no banheiro com Joseph no meu encalço, ele sentou na tampa do vaso. Tirei minha roupa e entrei no Box.
- Nossa, pra que tanta animação? – perguntei enquanto ligava o chuveiro. Senti a água quente bater no meu corpo, relaxei e senti a água me tranqüilizar.
- Não sei, eu só sei que acordei animado. Às vezes eu acordo animado, não entendo. Isso já aconteceu com você, ? – Joseph me fez aquela pergunta como se fosse um bicho de sete cabeças. Eu ri, como poderia explicar algo a ele se nem eu mesma sabia? Eu só me sentia feliz e pronto. Não dava pra explicar, somente sentir. Era uma sensação única, mas que durava pouco, mesmo que achemos que ela seja eterna.
- Eu também não sei Joseph, realmente não sei. – ele fez um barulho com a boca e ficamos em silêncio, perdidos nos nossos próprios pensamentos.


Estava me secando enquanto Joseph procurava uma roupa para eu ir trabalhar. Percebi que não era somente Joseph a se sentir feliz hoje, eu também me sentia feliz. Não sabia se era por que em algumas horas eu iria jantar com .
- Por que você não gosta do professor , ? – Joseph perguntou-me com a voz embolada, Sally estava certa. Às vezes eu também tinha que fazer um enorme esforço para compreender o que ele dizia.
- É difícil explicar. - Como eu poderia explicar a ele que eu tinha medo que o roubasse de mim? Que eu tenho medo de perder as poucas pessoas em que eu tenho? Eu tenho inveja de , inveja por ele ser cercado de amigos e eu só ter uma, inveja dele ter uma vida mil vezes melhor que a minha. Inveja por ele ser mais forte que eu.
- Sua roupa está aqui. – ele apontou para uma calça jeans skinny clara, uma blusa preta com detalhes branco e um casaco preto.
- Obrigada, meu amor. Quando eu voltar irei alugar uns filmes de desenho para vermos, tudo bem? – colocava minha roupa enquanto Joseph estava observando um livro de desenhos.
- Claro, você irá me buscar na escola? – ele perguntou sem tirar os olhos do livro.
- Não vai dá, mas eu peço a July pra te buscar, e aí todos nós assistimos ao filme juntos. -
comecei a pentear meus cabelos e vi um sorriso aparecer nos lábios dele.
- Então está bem. – Joseph fechou o livro e encarou-me sorrindo. Ele deixava a alegria o contagiar tão rápido, ele conseguia ser mais forte que eu.


Assim que deixei Joseph na escola, dirigi até meu trabalho. Passei por um parque e vi uma mulher brincando com uma criança. Inconseqüentemente sorri. Sempre tive vontade de ter um filho, mas eu havia ganhado um, mesmo que muito cedo. Sou grata por ter Joseph, ele me ajuda a ver o mundo de outra forma, ele dá vida ao lugar. De repente meus pensamentos foram parar em . Desde que eu o conheci muita coisa havia mudado, para mim ninguém prestava, todos queriam o mal de Joe. Mas ele me mostrou se importar com Joseph, mostrou ser sincero. Algo nele me lembrava Joseph, não sei se era seu jeito divertido de ver o mundo ou sua sinceridade. Eu realmente não sabia.
Soltei uma risada baixa ao lembrar que eu jurei a mim mesma não acreditar nele, não deixar ele se aproximar de mim e Joseph, ter somente uma relação profissional com ele. E justamente hoje vou sair para jantar com ele, para nos conhecermos melhor. É, realmente o mundo dá voltas e tem um poder incrível de me surpreender. Mas eu não me arrependia, não via motivos algum para me arrepender.
Liguei o rádio, começou a tocar Hello Seattle da banda Owl City. Desliguei o ar e abaixei o vidro, a fim de sentir o vento bater no meu rosto e bagunçar meu cabelo.
O sinal fechou e eu parei o carro. Aumentei o som e comecei a cantarolar a música, cantava bem alto, quase estourando minhas cordas vocais. Um carro preto parou ao meu lado e abaixou o vidro. Um homem de cabelo castanho e olhos azuis encarou-me rindo.
- Estou feliz, o que há de mal nisso? – gritei sem nenhuma vergonha. Ele riu mais ainda e começou a cantar a música comigo. Vejo que alguém ai tem bom gosto.
As pessoas passavam na rua nos olhando incrédulos, como se fossemos malucos, como se tivéssemos comentendo algum crime. Mas não ligávamos, cantávamos mais alto ainda.
- Christian! – ele gritou, sorrindo.
- ! – rimos, compartilhando a nossa alegria. O sinal abriu, os carros começaram a andar. Não nos despedimos com um beijo no rosto ou um tchauzinho com a mão como as pessoas fazem e na maioria das vezes de má vontade. Nos despedimos com um sorriso largo no rosto, um sorriso cúmplice, verdadeiro.
Meu carro andou.


Entrei no escritório do Doutor Stanford e o cumprimentei formalmente indo sentar-me no meu devido lugar.
Stanford era um senhor de uns 40 anos, tinha cabelos grisalhos e era um pouco gordinho, era simpático, mas em relação ao trabalho ele pegava pesado. Um bom chefe, mas um péssimo amigo. Só tinha uma conversa formal com ele, em relação ao trabalho e outras coisas.
- Arendi, entregue este documento ao Ricco, por favor? – ele me perguntou sem tirar os olhos da papelada que estava a sua frente.
- Claro. – respondi com precisão, pegando os documentos que estavam ao seu lado e saindo da sala em seguida.


Entrei em casa ouvindo gargalhadas que eu reconheci sendo de Joseph e July. Joguei minha bolsa num canto qualquer da sala e segui as gargalhadas deles, indo parar no meu quarto.
Assim que abri a porta, mal pude enxergar, pois Joe já estava pendurado no meu pescoço e gritando pelo meu nome. Eu e July desatamos a rir.
- Joe, você vai matar sua irmã. – July falou rindo. Joseph soltou-se do meu pescoço e pulou na cama, caindo ao lado de July. Joguei-me na cama e soltei um suspiro cansado.
- Dia muito cansativo? – July perguntou enquanto alisava meus cabelos.
- Bastante. – tirei meus sapatos com os próprios pés. Ficamos em silêncio assistindo ao filme de comédia romântica. A única coisa que era possível se escutar, eram nossas risadas misturada com o som da TV, criando uma harmonia perfeita naquele lugar.
O sol estava se pondo, anunciando a noite. Um vento frio e gostoso passou pela janela balançando a cortina. Joseph descansou sua cabeça na minha barriga, mostrando seu cansaço. Aos poucos seus olhos foram se fechando e o sono o dominando cada vez mais. Senti minhas pálpebras começarem a pesar e antes que eu caísse no sono, chamei July.
- July. – ela resmungou algo como resposta, já se encontrava de olhos fechados. – Você pode ficar com Joseph hoje à noite? Eu tenho um jantar.
- Claro, mas eu poderia saber com quem a senhorita vai sair para jantar? – incrível, mesmo quase adormecida, July não perdia a maldade.
- Com . – falei com receio, já imaginando a atitude dela. Virei para o lado, sem antes ver os olhos de July se arregalarem.
- O QUÊ? – ela gritou quase me deixando surda.
- Shhh, Joe está dormindo. – coloquei o meu dedo indicador sobre os meus lábios, pedindo silêncio.
- Desculpe. – pediu com a voz baixa. – É isso mesmo que eu ouvi? Você vai jantar com ? ? O que você odiava? – July me olhava surpresa. Oras, nem é um absurdo assim e eu não o odiaaaaava odiaaaava, só não ia com a cara dele, é diferente.
- Isso mesmo que você ouviu e não irei repetir. – falei irritada. Era tão complicado assim para as pessoas entenderem?
- Mas você não falou que ele não prestava? – vale citar que a boca dela estava aberta e os olhos arregalados? Pois bem, eles estavam assim.
- Pois ele me mostrou ser diferente. – falei sorrindo e fechei os olhos.
- , explique essa história direito. – July começou a me balançar.
- July! – eu a repreendi. – Eu vou jantar hoje com o , para conhecê-lo melhor e fim. Agora me deixe dormir! – ordenei virando meu rosto para o lado contrário. July começou a resmungar algo, mas eu ignorei, pegando no sono logo em seguida.


Ouvi uma buzina tocar insistentemente, mas o barulho estava longe demais do meu ouvido. Então o ignorei e passei a me concentrar no meu sono. Senti alguém levantar-se da cama num pulo e depois ouvi barulho de passos. Tentei levantar, mas não conseguia, parecia que eu estava presa na cama.
- Ela está dormindo, chegou muito cansada. Acabamos pegando no sono, mas eu irei acordá-la. – ouvi a voz de July ficar cada vez mais próxima, assim como o som de seus passos.
- Ah... Então é melhor deixá-la dormindo mesmo. – ouvi uma voz rouca falar num tom de voz desapontada. Eu conseguia vê-los no meu quarto, conseguia sentir o olhar de sobre mim, avaliando cada traço meu. Mas não conseguia levantar.
- Eu vou acordá-la, não se preocupe. – vi July sorrir de uma forma amigável para ele. – . – senti a mão dela sacudir-me levemente. – , o está aqui, vamos, levante. – ela repetiu sua ação com um pouco mais de rapidez. Remexi-me na cama e abri os olhos lentamente, me deparando com a imagem de e July parando a minha frente.
- July, você não sabe o que aconteceu! Eu estava dormindo, mas ouvia tudo o que vocês estavam falando e via vocês! Eu tentava levantar, mas não conseguia! – joguei as palavras para fora da minha boca, gesticulando com as mãos. Eu falava muito rápido, nem eu mesma conseguia me entender. July e desataram a rir.
- Calma , inspira e expira. – July falou e eu fiz o que ela pediu. – Pronto , agora sim. Olha, isso acontece porque você está muito cansada, é como se você estivesse semi-acordada. Pelo menos foi isso o que me disseram. – ela deu de ombros. - Entendi. Hey , eu vou me arrumar rapidinho. – joguei a coberta para um lado e corri para o banheiro, sentindo os olhos atentos de e July sobre mim.
Entrei no banheiro e fechei a porta. Tirei minha roupa, entrando no Box em seguida. Liguei o chuveiro e senti a água quente batendo no meu corpo, deixando-me arrepiada, por causa da pele gélida.
Dizem que a água quente te deixa com sono, comigo foi ao contrário, ela me deixou animada e relaxada.


Entrei na sala de cabeça baixa, fitando minha sandália. Eu estava extremamente envergonhada por sentirem os olhos de Joseph, July e pousarem sobre mim, avaliando-me de cima a baixo. Levantei meus olhos e os fitei, corada.
- Você está linda! – Joseph falou maravilhado.
- Que vestido incrível , você ficou linda nele. – July falou
- Então, vamos? – perguntou coçando a cabeça, já de pé. Ele me mostrou um sorriso sem graça.
não me deu nenhum elogio, será que eu estava tão ruim assim? Poxa, me produzi toda à toa?
- Vamos. – concordei, mostrando um sorriso fraco. Abaixei-me para abraçar Joseph. – Comporte-se! – ele concordou com a cabeça e me deu um beijo no rosto, soltando-se do meu abraço.
- Faça tudo o que você não faria. – July sussurrou no meu ouvindo enquanto me abraçava. Eu a repreendi com um tapa no braço e ela riu. despediu-se de July e Joseph, enquanto saiamos July me lançou um olhar significativo.


abriu a porta do carona pra mim e eu sorri agradecida. Entrei no carro e ele entrou em seguida, dando partida.
- Se quiser colocar na rádio, sem problemas. – falou, seus olhos estavam fixos na estrada. Assenti com a cabeça e liguei o som. It's Not Time do Tiago Iorc começou a tocar. Sorri involuntariamente
- Amo essa música. – relaxei minha cabeça no banco e fechei os olhos, me sentindo totalmente relaxada. aumentou o som.
- Eu também. – ele concordou e começou a batucar o dedo no volante.
- Each and every heartbeat gives us a little more time - ele cantarolou, eu virei para encará-lo e sorri. A voz dele era boa, boa mesmo. - Sua voz é boa. – foi a vez de ele virar para me encarar, ele me olhou surpreso.
- Obrigado. – coçou a cabeça, um pouco constrangido, percebi pela forma que suas maçãs haviam ficado vermelhas. - You and I will be again sometime – me arrepiei ao ouvir sua voz cantarolar outra parte da música, fechei os olhos novamente e me deixei ser levada pela voz rouca e doce de , me deixando totalmente anestesiada.


Entramos no restaurante, muito bonito por sinal. Sentamos numa mesa em que havia reservado. O garçom chegou e nos deu dois cardápios, fizemos nosso pedido.
- Então, o que achou do restaurante? – perguntou enquanto estávamos comendo.
- Lindo, muito obrigada . – falei um pouco sem graça, ele sorriu meigamente para mim.
- Não precisa agradecer. – ele segurou minha mão que estava sobre a mesa, mas eu não a retirei, pelo contrário, acariciei as costas de sua mão. Ficamos conversando sobre coisas idiotas, importantes, coisas da nossa vida. Compartilhamos cada momento que passamos, e que era bom lembrar, descobri muitas coisas dele, assim como ele descobriu muitas coisas minhas. Conversamos como uma pessoa normal conversaria.


Saímos do restaurante e me decepcionei ao perceber que iríamos embora, mas depois senti a mão de me puxar para o lado contrário de onde o carro estava, não entendi sua reação.
- O que estamos fazendo ? Aonde vamos? – perguntei incrédula enquanto ele me puxava para a rua, dando gargalhadas do meu desespero. O vento bagunçava nossos cabelos enquanto corríamos, a rua toda estava escura e deserta, mas parecia que o sorriso e o brilho de iluminavam aquele lugar.
- Vou te levar a um lugar que eu adoro! Não era esse o objetivo do jantar? Conhecer-me melhor? – ele falou sorrindo parando de correr e virando-se para mim, esperando alguma resposta minha que o motivasse a continuar.
- Certo, me leve até esse lugar. – respondi e o senti voltar a me puxar, comecei a gargalhar. Era algo estranho, quando estava com eu me sentia feliz, sentia um carinho, queria sorrir o tempo todo e compartilhar coisas com ele.
Chegamos a um lago. A paisagem era linda, fiquei admirando boquiaberta. riu convencido, mas eu ignorei, estava preocupada demais em observar aquela maravilha. Estava tudo silencioso e único barulho que era possível ouvirmos, eram os insetos e nossas respirações aceleradas devido à corrida.
- É maravilhoso! – falei admirada.
- É né? Eu venho sempre aqui, pra pensar, ou pra fazer nada. Sei lá, esse lugar me traz tranqüilidade, é como se ele fosse uma parte da minha vida. Nunca mostrei isso pra ninguém, só hoje, pra você. – a última frase dele me fez virar para encará-lo e não pude evitar que um sorriso bobo escapasse dos meus lábios, o fazendo sorrir também. Um vento gelado passou pela gente e me abracei, tentando inutilmente me livrar do frio. riu e tirou seu casaco colocando sobre meu ombro.
- Não precisa se incomodar . – fiz menção de tirar o casaco, mas ele me impediu.
- Que isso, . Pode ficar, eu vou comprar algo para nos esquentar, vem. – ele estendeu sua mão para mim e eu não hesitei. Caminhamos até um bar próximo que tinha ali, pediu para eu esperá-lo perto de um poste enquanto ele comprava alguma bebida pra gente.
Depois de alguns minutos voltou com uma garrafa de vodka nas mãos e um sorriso brincalhão nos lábios, eu o encarei incrédula. Que tipo de garota ele achava que eu sou? Eu nunca coloquei uma gota de álcool na minha boca.
- , o que pensa que está fazendo com essa garrafa nas mãos? – apontei para a garrafa e ouvi a gargalhada gostosa dele ecoar naquele lugar.
- Ué, ela vai nos esquentar. – falou como se aquilo fosse óbvio e a coisa mais normal do mundo.
- , eu não bebo. – falei com a voz baixa e calma. Ele deu uma risada e me encarou, esperando que aquilo fosse uma brincadeira. – É sério ! – falei indignada, como ele poderia achar que aquilo era brincadeira? Álcool era algo que eu definitivamente não queria para minha vida, não queria ser como a minha mãe, se é que posso chamá-la de mãe.
- Sério mesmo? Por que não? Hoje em dia até minha prima de nove anos bebe. – o encarei boquiaberta e ele riu mais ainda, da minha cara de espanto. – É brincadeira document.write(Dougie) e sua família, não poderíamos nos chocar certo? Errado. Eu não deveria julgá-lo, tenho que parar com isso, estou aqui para conhecê-lo e não criticá-lo. Mude , mude.
- Eu não gosto de beber, pretendo não acabar que nem a Phoebe. – senti um nó formar na minha garganta e minha cabeça começar a doer. Era estranho falar dela sem sentir essas sensações, era estranho falar dela e não sentir sua falta, não sentir dor. Eu me sentia fraca somente em pronunciar seu nome. me encarou sério, como se tivesse compreendido o que eu queria dizer, quando ele abriu a boca pra falar algo eu o impedi. – Não, eu não quero falar sobre isso. – falei meigamente e ele fechou a boca novamente. Estava acostumada quando eu falava de Phoebe e sempre vinha alguém me perguntar se eu queria falar sobre isso, mas a verdade é que eu nunca iria querer falar, aquele não era um assunto do qual eu me agradava. Pra mim, é melhor deixar tudo como está, eu tenho certeza que ela vai se recuperar.
- Não é bebendo um gole de bebida que você vai virar alcoólatra, não é assim . – falou calmamente, mas depois de perceber o quanto meus olhos estavam duros e minha postura enrijecida, pude perceber que ele havia se arrependido de imediato. Alcoólatra. Foi essa palavra que me deixou desse jeito. Era duro pra mim, ter que admitir que Phoebe era uma alcoólatra e ter que me iludir com isso, ouvir isso da boca de outra pessoa fazia com que eu tomasse vários e vários lentos choques de realidade. Era como uma queda, uma lição. – Desculpe. – sua voz soou arrependida e no mesmo instante que eu as ouvi, esqueci qualquer coisa que havia me deixado magoada.
- Tudo bem, mas veja bem, é só para me aquecer ok? – lancei um olhar ameaçador pra ele, apenas deu um sorriso torto e voltou a me puxar, mas delicadamente. Sua mão segurava a garrafa enquanto a outra segurava minha mão, segurando firmemente, como se eu fosse fugir dele.


Sentamos em baixo de uma árvore e abriu a garrafa. Deu um gole bem grande me deixando espantada, estendeu a garrafa para mim e depois dei alguns goles.


(N/A: Coloquem para tocar: Kelly Clarkson – I do not hook up Oh, sweetheart
Oh querido
Put the bottle down
Largue a garrafa
You've got too much talent
Você tem muito talento
I see you through those bloodshot eyes
Eu a vejo através desses olhos vermelhos
There's a cure you've found it
Existe uma cura, você encontrou
Slow motion
Câmera lenta
Sparks you caught that chill
Faíscas que lhe arrepiam
Now don't deny it
Agora não negue
But boys will be boys
Garotos serão garotos
Oh, yes they will
Oh sim eles serão
They don't want to define it
Eles não querem definir isso


bebia goles enormes, enquanto eu me contentava em beber somente uns míseros goles. Falávamos de coisas idiotas, falávamos do tempo, de música, infância, falávamos sobre nós. Sobre algo que era bom falar, algo que nos confortava.
Eu já não sentia mais frio, mas mesmo assim ainda bebia, claro, sem fazer caretas, porque aquilo era ruim demais, forte. (N/A: eu não acho [lixa]) Minha cabeça estava girando e eu sentia vontade de rir por qualquer coisa, se falasse grilo eu já ria. Era uma sensação estranha, a qual eu nunca havia sentido na minha vida, mas eu gostei, me senti bem.


Just give up the game and get into me
Desista do jogo e venha comigo
If you're looking for thrills
Se você procura emoção
Then get cold feet
E tem pé frio


- , acho que você está bêbada. – falou avaliando cada traço meu procurando algum vestígio de lucidez. Eu comecei a gargalhar, o rosto de estava muito engraçado, sua voz estava embolada e ele ainda diz que eu que estou bêbada?
- Eu não estou bêbada , não seja patético. Você está bêbado! – o acusei caindo na gargalhada e por incrível que pareça ele riu junto comigo. A garrafa já estava completamente vazia e ele a deixou num canto. Eu me deitei embaixo da árvore e ele deitou ao meu lado, me encarando. Lembrei-me do dia do parque, quando ficamos nos encarando, mas hoje era um olhar diferente. Era um olhar intenso, caloroso, observador. Senti aproximar-se cada vez mais. Ele já estava perto demais de mim, eu podia sentir sua respiração quente e acelerada com um forte cheio de álcool bater no meu rosto, senti seu nariz tocar no meu e rapidamente virei meu rosto. me olhou um pouco confuso e eu apenas sorri, segurando sua mão. Senti-o relaxar e colocar minha mão em seu peito, onde eu pude sentir os batimentos acelerados do seu coração.


Oh, no I do not hook up, up
Ah não, eu não me envolvo
I go slow
Eu vou devagar
So if you want me
Então se você me quer
I don't come cheap
Não é barato
Keep your hand In my hand
Mantenha sua mão na minha
And your heart on your sleeve
Seu coração em seu bolso
Oh, no I do not hook up, up
Ah não, eu não me envolvo
I fall deep
Eu sou profunda
Cause the more that you try the harder I'll fight
Porque quanto mais você tentar mais irei
To say goodnight
Para dizer boa noite


- Sabe, quando eu era pequena era bem mais divertido. – falei, ainda segurando sua mão. virou seu rosto e começou a me encarar atento enquanto eu ainda olhava para o céu. – Eu chegava da escola e fazia o dever correndo, comia correndo e quando corria pra ir para rua, minha vó me pegava e me obrigava a tomar banho. Eu começava a resmungar falando que eu ia me sujar de novo, mas ela nem ligava e me botava debaixo do chuveiro. Eu tomava banho rapidinho e corria para rua, ficava o dia inteiro na rua brincando de vôlei, pique esconde, pique pega, morto vivo, corda, amarelinha, alerta cor... Brincava de monte de coisas, era legal nessa época. – comecei a lembrar daquela época e uma saudade bateu no meu peito, uma saudade de voltar a ser criança e não ter mais preocupações.
- Então você era porquinha, né? – falou num tom de voz brincalhão, soltei uma risada anasalada. – Eu também aproveitei bastante minha infância, nossa, me divertia muito.
- Uma vez estávamos eu e meu primo brincando de Tarzan e Jane, ai ele foi pular da árvore falando que era o Tarzan e que poderia se pendurar na árvore, mas ai ele caiu de queixo na pedra. Na hora eu fiquei nervosa, mas depois tudo deu certo e eu comecei a rir da cara dele. – nós rimos, parecendo estarmos naquele momento, mesmo que não estivesse presente nele. Aquele momento único, assim como esse estava sendo. Único e secreto para gente. Num impulso dei um beijo na sua testa e senti-o apertar ainda mais minha mão contra seu peito.


I can't cook, no but I can clean
Eu não cozinho não, mas eu posso limpar
Up the mess you left
A bagunça que você deixou
Lay your head down and feel the beat
Deite sua cabeça e sinta as batidas
As I kiss your forehead
Enquanto eu beijo sua testa
This may not last but this is now
Isso pode não durar, mas é agora
So love the one you're with
Então ame quem está com você
You wanna chase but you're chasing your tail
Você quer perseguir, mas você persegue a si mesmo
A quick fix won't ever get you well
Uma solução rápida nunca vai te deixar


- Acho melhor irmos embora né? Está tarde. – me perguntou gentilmente, eu concordei e me levantei. Bufei ao perceber que havia me levantado, eu não estava bêbada, poxa. Na verdade estava sim. Assim que ele me pôs de pé eu cai novamente, comecei a rir e chorar ao mesmo tempo. Ele se agachou e me ajudou a levantar, visivelmente preocupado.
- Você deve está me achando patética, né? – perguntei chorosa.
- Não mesmo. – ele sorriu de uma forma amigável e tocou meu rosto delicadamente, me puxando para um abraço em seguida. Apertei seu corpo contra mim, com medo de cair novamente. Ele riu do meu desespero e acariciou meus cabelos.


Oh, no I do not hook up, up
Ah não, eu não me envolvo
I go slow
Eu vou devagar
So if you want me
Então se você me quer
I don't come cheap
Não é barato
Keep your hand In my hand
Mantenha sua mão na minha
And your heart on your sleeve
Seu coração em seu bolso
Oh, no I do not hook up, up
Ah não, eu não me envolvo
I fall deep
Eu sou profunda
Cause the more that you try the harder I'll fight
Porque quanto mais você tentar mais irei
To say goodnight
Para dizer boa noite


Entramos no carro e preocupou-se em manter seu olhar fixo na estrada, percebi que estava com medo de acontecer alguma coisa. Fiquei observando as casas das ruas passarem voando pelos meus olhos, aquilo estava me deixando tonta. Desviei meus olhos da janela e passei a fitar um ponto qualquer fixo na minha frente, antes que acabasse vomitando.
Eu estava começando a me sentir desconfortável na presença de , remexi-me inquieta no banco. Não entendi minha atitude, deveria ser o efeito de bebida.


Cause I feel the distance between us could be over
Porque eu sinto que a distância entre nós pode acabar
With a snap of your fingers
Em um estalar de dedos
Oh, oh no


Ele estacionou o carro em frente em minha casa e virou para me olhar, um sorriso apareceu nos seus lábios me fazendo sorrir também.
- Chegamos. – percebi que sua voz estava um pouco desapontada.
- É. – concordei ajeitando meu cabelo que provavelmente estava muito bagunçado.
- ? – ele me chamou e eu me virei para encará-lo. – Você estava, e ainda está linda hoje. – corei e sorri, então ele tinha gostado, ele tinha reparado.
- Obrigada... Por tudo. – lhe abracei pelo pescoço e quando virei para dar um beijo em seu rosto ele virou rapidamente fazendo nossos lábios encostarem. Senti seus lábios gélidos encostarem-se ao meu e então meu corpo enrijeceu. Tudo ao nosso redor ficou mais lento, parecia que existia somente nos dois, o mundo recordou somente aquela fração de segundo entre nós dois. Uma coisa carinhosa, grata.
Senti sua língua pedir passagem, mas eu não cedi, eu não cederia tão facilmente. Tirei meu braço do seu pescoço e afastei nossos lábios que estavam grudados num selinho, sorri da melhor forma para ele e antes de sair falei: - Boa noite, .


Oh, no I do not hook up, up
Ah não, eu não me envolvo
I go slow
Eu vou devagar
So if you want me
Então se você me quer
I don't come cheap
Não é barato
Keep your hand In my hand and your heart
Mantenha sua mão na minha
Oh, no I do not hook up, up
Ah não, eu não me envolvo
I fall deep
Eu sou profunda
Cause the more that you try the harder I'll fight
Porque quanto mais você tentar mais difícil irei lutar
To Say
Para dizer
Cause the more that you try the harder I'll fight
Porque quanto mais você tentar mais difícil irei lutar
To say goodnight
Para dizer boa noite
Oh, sweetheart
Oh querido
Put the bottle down
Largue a garrafa
Cause you don't wanna miss out
Porque você não quer perder tudo



VI – Your Guardian Angel.

Estava dormindo tranquilamente na minha cama quentinha. Meu quarto todo estava escuro e silencioso, as cortinas impediam que qualquer raio solar entrasse ali, atrapalhando meu precioso sono.
Escutei a porta sendo aberta abruptamente, logo senti o peso de um corpo ser jogado ao meu lado (imaginei que fosse July) e um outro corpo sendo jogado – sem nenhuma delicadeza – em cima de mim (conclui que fosse Joe).
- , eu sei que você está acordada! – ouvi a voz de July atrás de mim. Joe gargalhou, apertei meus lábios com força, evitando ao máximo rir. Tentei me concentrar no meu querido sono, mas foi impossível, pois July e Joseph começaram a gritar.
Coloquei o travesseiro em cima de minha cabeça e aproveitei para rir.
- Deixei-me dormir. – minha voz saiu abafada, por causa do travesseiro.
- Nada disso, quero saber tudo da sua noite romântica com . – fez uma voz esganiçada ao falar o nome dele. Imaginei-a juntando as mãos, fazendo cara de apaixonada.
- Eu também quero saber de tuuuuuuudo! – Joseph falou de um jeito fofo. July e eu rimos.
- Ah pequeno Joe, tenho certeza que existem coisas que é melhor você não saber! – July falou em um tom malicioso e pude imaginar Joseph fazendo uma cara de quem não havia compreendido nada. Reprimi uma risada, July realmente não sabia de nada.
Tirei o travesseiro que cobria o meu rosto, podendo enfim encará-los. Os dois tinham sorrisos bestas no rosto.
- Bom dia. – falei empolgada, sentando-me na cama.
- Bom dia não, boa tarde né, Arendi? – eu ri, não imaginava que já era tarde. – Conte-me, te deixou exaaaaaaaaaausta né? E ai, ele é bom? Fala tudo! – senti-me uma adolescente quando sai com o cara mais gato e popular da escola. Fiz uma careta ao lembrar que eu nunca saia com nenhum caro gato e muito menos popular da escola, nunca fui de namorar, sempre fiz o papel de nerd.
- O que é exausta, July? – Joseph perguntou.
- É a mesma coisa que cansada, meu amor. – respondeu, passando a mão pelo cabelo extremamente preto e liso dele, tentando ajeitá-lo. Observei a cena com um sorriso no rosto, eu tinha muita sorte de tê-los em minha vida. Eles me faziam esquecer qualquer problema, faziam com que eu me lembre que não estava sozinha.
- E porque o professor a deixou a cansada? – perguntou, com a sobrancelha arqueada. Eu gargalhei, Joseph fitou-me ainda mais curioso.
- Ele não me deixou cansada Joe, isso são coisas da maluca da July! – ela encarou-me desconfiada, na dúvida se eu havia dito aquilo por causa de Joseph ou porque realmente não havia acontecido nada.
- Joe, o que acha de pegar um copo com água para mim, por favor? – Joseph concordou, saindo do quarto em seguida. Deixando apenas eu e July sozinha no quarto, em silêncio. – O que aconteceu, ? – perguntou-me, séria. Franzi a testa, sem entender – ou pelo menos fingindo para mim mesma que não havia entendido – o porque de sua reação. O que havia demais em eu não ter ficado com ? E por que eu estava tão nervosa?
- Nós saímos para jantar, conversamos e depois andamos um pouco, ele me mostrou um lago em que ele ia. Foi isso. – senti minha mão começar a suar frio.
- Vocês se beijaram? Aconteceu algo a mais? – o olhar sério e preocupado de July sobre mim, estava me deixando mais incomodada ainda. Previ que aquela conversa não iria tomar um rumo bom.
- Não! Digo, nós só demos um selinho... Ele queria aprofundar o beijo, mas eu não permiti. – para meu susto, havia desespero em minha voz.
- Por quê? – perguntou, mesmo já sabendo a resposta. Senti meu corpo gelar e minha respiração ficar cada vez mais acelerada. Olhei para July desesperada. Suas palavras estavam ecoando em minha cabeça e pareciam cada vez mais forte, deixando-me tonta. A atmosfera ficou pesada naquele quarto, que muitas das vezes foi onde eu julguei ser um lugar tranqüilo.
Atormentada, engatinhei até July e jogue-me em seus braços, que por sinal, encontravam-se abertos a minha espera.
Abracei-a fortemente tentando ao máximo esquecer o que me atormentava e me deixando pensar apenas que estava nos braços de minha melhor amiga, tudo iria ficar bem.
- Eu estava com medo July, medo de me apaixonar por ele. – senti lágrimas começarem a brotar em meus olhos. Achei-me um tanto tola.
- , não é beijando alguém que você vai se apaixonar. Pode acontecer, mas é difícil. – falou com sua voz calma, tentando-me tranqüilizar, mas não havia funcionado muito.
- E se acontecer? E se eu me apaixonar? O que vai acontecer? Ele pode me deixar, ele pode ser um canalha! – minhas lágrimas já rolavam livremente pelo meu rosto, já não conseguia mais segurá-las.
- Você só vai irá descobrir se tentar. – ela limpou as lágrimas que estavam em meu rosto.
- Eu não quero tentar July! Você sabe que eu me apego demais às pessoas, sabe que eu sou possessiva. – tentei acalmar-me, July percebeu meu nervosismo e pegou em minha mão, apertando-a delicadamente. Prendi todo o ar em meu pulmão.
- Eu vou estar com você, não importa o que aconteça. , existem dificuldades que nos fortalecem e você melhor do que ninguém sabe disso. – soltei todo o ar que estava preso, apertei sua mão e sorri. Tudo estava bem, eu estava com July.


O tempo estava frio, mais frio do que de costume. Caia um temporal na cidade. Joe e eu estávamos enrolados num edredom, deitados no sofá. Assistíamos a algum filme de romance que passava na TV. Um relâmpago caiu do céu fazendo com que eu me encolhesse no sofá, assustada.
- Você está com medo, irmã? – Joe tirou-me de meus pensamentos, que estavam focados no barulho assustador daquele relâmpago. - Estou sim, Joe. – admiti, dando um sorriso amarelo. Joseph deitou ao meu lado e eu lhe abracei por trás, sentindo seu corpo miudinho junto ao meu.
- Não precisa ficar com medo não, eu estou aqui com você. – sorri com as palavras do meu pequeno. Senti um medo tão grande de perdê-lo, um aperto no coração. Apertei seu corpo contra o meu, pensando que talvez assim ele não fosse escapar.
Deus, por que eu era tão possessiva?
Voltei meu olhar para a TV, tentando ao máximo me livrar daqueles pensamentos. Focar-me somente no presente.
- Irmã? – Joe chamou-me, quebrando o silêncio que havia se instalado entre nós.
- Oi. – respondi, sem tirar os olhos da TV.
- Como Phoebe está? – desviei meus olhos da TV e passei a fitar os olhos curiosos de Joseph. Engoli em seco suas palavras, que pareciam rasgar minha garganta, como um vidro.
- Acho que está bem. – minha voz saiu como um sussurro.
- Eu quero que ela fique bem.
- Eu também, meu anjo, eu também. – Ah, como eu queria que ela ficasse bem.


O filme havia acabado, mas para mim não fez diferença, eu não estava prestando atenção mesmo. Queria ao máximo esquecer a pergunta que Joseph havia me feito. Como será que ele se sentia em relação a isso? Bem é que ele não estava. Eram essas perguntas que rondavam em minha cabeça, fazendo com que eu pensasse somente nelas.
Levantei-me devagar, tentando ao máximo não acordar Joe, que dormia em meus braços. Ao colocar meus pés no chão, estremeci, o chão estava bem gelado. Rapidamente calcei meu chinelo e caminhei lentamente – graças à minha preguiça – até a cozinha.
Peguei o leite que se encontrava em minha geladeira, coloquei um pouco na leiteira. Joguei duas colheres de açúcar e liguei o fogão.
Quando meu leite queimado já estava pronto, o coloquei em uma caneca. Peguei meu casaco que estava na cadeira e sai da cozinha, indo para minha varanda. Ao abrir a porta me surpreendi ao ver sentando lá.
- ? – eu o chamei, ele levantou seu rosto para me encarar. Seu cabelo estava um pouco molhado e grudado na sua testa. Um sorriso tímido brincou em seus lábios. – O que está fazendo aqui? Já sentiu minha falta? – brinquei, provocando uma risada nele.
- Senta aqui. – ele apontou para o lugar ao seu lado. Sentei-me e o encarei, esperando alguma resposta. – Tudo bem? – perguntou, parecendo preocupado.
- Tudo. – respondi meio incerta. Eu estava realmente bem?
- Tudo bem mesmo? – arqueou sua sobrancelha, duvidando do que eu havia dito.
- Claro! Por que você acha que eu não estou bem? – bebi um gole bem grande do meu leite queimado, sentindo minha garganta queimar, mas tentei ao máximo ignorar.
- Não sei, você parece um pouco triste e preocupada. – senti o olhar dele pesar cada vez mais sobre meu rosto. Corei ao perceber que ele estava reparando em mim. Bebi mais um pouco, como se assim fosse me dar mais coragem para encará-lo.
- Ah, coisas da vida. – fiz uma careta.
- Compartilhe essas tais coisas comigo. – ele pegou na minha outra mão (a que não estava segurando a caneca) que estava em cima de minha coxa coberta pelo moletom e a segurou firmemente. Eu encarei profundamente seus olhos , tão sinceros, tão confortantes.
- Você quer mesmo saber? – um vento passou pela gente, deixando que eu respirasse todo o seu perfume. Respiramos fundo ao mesmo tempo, imaginei que ele havia feito isso somente para sentir meu cheiro. Não seja tola, .
- Tudo relacionado a você me interessa. – sua voz grossa estava mais sincera do que de costume. Um sorriso bobo apareceu em meus lábios. Entrelacei nossas mãos, com medo dele recuar, mas ele não recuou.
- Bem... – bebi o resto de leite queimado que sobrava na caneca. – Sabe que minha mãe se chama Phoebe, certo?
- A cidade inteira sabe. – falou sem graça, soltei um suspiro.
- Então, sabe que ela está numa clínica de reabilitação, né? – concordou com a cabeça. – Eu não sei bem como ela está, eu ainda não fui visitá-la e hoje Joe perguntou-me como ela estava. – me encarava, prestando atenção em tudo que eu dizia.
- E você não soube o que dizer? – concluiu.
- Não... Sabe, eu não tenho coragem de vê-la. – desabafei, fitando o chão.
- , eu sei que é difícil passar por essas coisas que você está passando, realmente não é fácil! Mas você tem que enfrentar, você não pode ignorar a presença dela pra sempre. – soltei uma risada irônica ao ouvir as palavras dele. Ele era cego ou o quÊ? O que eu mais fazia era enfrentar os problemas!
- Você acha que eu não os enfrento? Pelo amor de Deus, ! – exclamei. – Você realmente não sabe de nada! – falei entre os dentes, soltando sua mão.
- . – ele falou calmamente, tornando a pegar em minha mão. – Desculpe, não foi isso que eu quis dizer. – bufei, revirando os olhos. – O que eu estou querendo lhe dizer é que você tem que vê-la. Mostre a Phoebe que você é mais forte que ela. – sua mão segurando a minha fez com que eu me sentisse mais confortável em tocar nesse assunto. Como conseguia ter paciência comigo? Eu era chata, irritante e mesmo assim ele ainda fazia questão de me procurar. Pra que tanto interesse numa garota insuportável?
- Eu estou com medo. – admiti um pouco sem graça. Há uns segundos atrás eu havia quase discutido com ele por ele ter quase insinuado que eu não enfrentava meus problemas e agora estava eu dizendo que tinha realmente tinha medo de enfrentá-los.
Senti sua outra mão levantar minha cabeça delicadamente.
- Enfrente-os, não deixe eles te derrotarem. Você é forte. – suas palavras dominaram meu corpo, fortalecendo-me.
- Eu não quero ir sozinha. – me senti uma criança birrenta.
- Não seja por isso, eu vou com você. – Respirei aliviada.
- Está bem. – concordei, acariciando sua mão.
- Podemos ir hoje, o que acha? – levei um susto. Não imaginei que iria ser tão rápido assim, achava que eu teria pelo menos um tempo para preparar-me psicologicamente.
- Ho-Hoje? – gaguejei.
- . – ouvi a voz manhosa de Joseph chamar pelo meu nome. Ele estava parado na porta, usando seu moletom do Mickey, coçava os olhos. Vi um sorriso enorme aparecer em seus lábios assim que ele havia avistado . Não pude controlar uma pontada de ciúme, era mais forte que eu. Joseph correu até ele e jogou-se em seus braços, riu e eu apenas dei uma risada forçada, torcendo mentalmente para que não tivesse reparado. – Professor! – ele falou animado.
- Hey pequeno, como está? – perguntou, ajeitando Joseph em seu colo.
- Bem... Irmã, estou com fome! – fez um bico e eu finalmente ri verdadeiramente.
- Está com fome, é gordinho? – perguntei, enquanto me aproximava dele e começava a fazer cócegas na sua barriga. Ele soltou uma risada gostosa e escandalosa, se contorcendo nos braços de , que observava a cena, rindo.
- Pára! – Joseph implorava, já com lágrimas nos olhos. Enfim, eu cedi, parando de fazer cócegas nele.
- O que você quer comer? – perguntei, quando ele já havia recuperado o fôlego.
- Sanduíche! – respondeu animado.
- Tudo bem, vou fazer. – levantei-me e peguei Joe no colo. – Venha, . – ele levantou-se também.
Entrei em casa com em meu encalço, ouvi o barulho da porta fechando enquanto eu estava na cozinha. Logo apareceu.
- , deixa que e faço o sanduíche, vai se arrumando enquanto isso. – gelei. Imaginei que ele havia esquecido.
- Eu tenho que dar banho em Joe. – arranjei uma desculpa qualquer, para que eu adiasse bastante minha visita a Phoebe.
- Não seja por isso, eu dou banho nele. – falou gentilmente. Ele estava começando a entrar demais em minha vida, isso não era legal. Ele estava começando a ter uma relação bastante amigável com Joe, eu não queria isso.
- Tudo bem. – me dei por vencida. – As roupas dele ficam no guarda roupa menor, naquele quarto ali. – apontei para o quarto de Joe. – Tem comida no armário e na geladeira, Joe sabe como ele gosta do sanduíche, só perguntar a ele. Fique à vontade. – ele concordou vagamente com a cabeça. Sai da cozinha, indo até meu quarto.
Ao entrar no meu quarto, andei rapidamente até meu banheiro, trancando-o em seguida.
Eu tinha uma mania de sempre trancar as portas, não importava se eu estava sozinha, eu sempre as trancava. Eu tinha uma mania de me proteger do mundo. Mas é difícil eu me proteger de algo que eu faço parte.
Tirei minha roupa e adentrei no Box, logo ligando o chuveiro. Deixei que a água lavasse meu corpo, levasse meu medo embora e recolocasse minha coragem, se é que eu ainda tinha alguma. Esperei que o medo desaparecesse pelo ralo, junto com a água, que sumisse pra sempre do meu corpo. Esperei que a água me desse coragem, mas nada aconteceu.
Desliguei o chuveiro, enrolei-me na toalha e sai do Box. Sequei-me demoradamente, pensando que assim a hora fosse demorar pra passar e finalmente desistisse. Coloquei minha roupa e esperei um pouco, sentada em minha cama. Havia se passado cinco minutos desde que eu havia sentado quando soltei um suspiro derrotado e sai de meu quarto. Ele não desistiu.
Desci as escadas calmamente. Entrei na cozinha e avistei e Joseph (de banho tomado e vestido) sentados à mesa, com sanduíches e refrigerantes, estavam à minha espera. Aquilo parecia mais coisa de família e isso me assustou, muito!
- Estavam me esperando? – perguntei, enquanto sentava-me na cadeira ao lado de Joseph.
- Claro. – respondeu, dei um sorriso tímido e começamos a comer. Enquanto comíamos ouvíamos Joseph tagarelar e rimos do que ele falava. Ríamos quando ele se embolava, ríamos quando ele trocava as palavras. Simplesmente ríamos.
- Vamos? – perguntei assim que saí do banheiro, Joe e me esperavam sentados no sofá.
- Vamos. – falou, levantando-se do sofá, Joseph seguiu seu gesto. Saímos de casa e entramos no carro de .


O caminho todo eu fiquei inquieta. Batia meus pés freneticamente, estalava meus dedos, mexia na minha bolsa. Não parava quieta. conversava com Joseph, mas percebia meu nervosismo, ele me olhava. Eu ignorava, estava preocupada demais em arranjar um jeito de tomar coragem e não ser infantil desistindo de ver Phoebe no meio do caminho. Por que eu estava com tanto medo de vê-la? Eu já a vi fazendo coisas piores, eu já passei por coisas piores. Por que estava com medo de ter uma simples conversa com ela?
O carro corria, assim como meus pensamentos, que não se decidiam entre Joe, ou Phoebe. Um silêncio instalou-se no local, deixando-me mais inquieta ainda. Joseph estava sentado no banco, olhando para a janela, dirigia, seus olhos estavam fixos na estrada, mas eu podia perceber que sua cabeça estava em um local totalmente diferente da estrada. Eu suplicava para que alguém quebrasse aquele silêncio, suplicava para que falasse qualquer coisa somente para eu esquecer um pouco o que tanto me atormentava.
- Chegamos. – falou justamente o que eu temia ouvir. Dei um sorriso amarelo, tentando disfarçar meu nervosismo.
- Bom, então eu vou lá. – quando ia abrir a porta para sair do carro, senti a mão de tocar meu ombro, virei meu rosto para encará-lo.
- Quer que eu vá com você? – sua feição estava preocupada. Eu queria muito que ele fosse comigo, mas eu teria que fazer isso sozinha.
- Não precisa, eu vou sozinha. – tentei fazer com que minha voz soasse o mais convincente possível. Joseph passou a me olhar curioso.
- Posso ir com você? – Joseph perguntou-me. Não, ele não podia. Não queria que ele visse Phoebe tão cedo, somente quando estivesse a certeza que ela estava bem.
- Não Joe, vamos tomar sorvete. – Joseph concordou, dando-se por vencido. Obrigada Deus, por colocar no meu caminho, muito obrigada!
- Tchau. – falei saindo em seguida, antes que eu desistisse de entrar naquela clínica.


Meus passos eram urgentes e firmes. Eu respirava fundo a cada passo que eu dava. O corredor estava um pouco cheio, dirigi-me até o balcão onde estava a recepcionista.
- Boa tarde. – tentei ao máximo ser simpática. – Eu queria saber qual é o quarto de Phoebe Arendi, por favor?
- O quarto dela é o número seis. Horário de visita está acabando, mas você pode correr até o jardim que é onde ela está. – agradeci mentalmente por aquela mulher ser rápida.
- Obrigada. – andei – quase correndo – até o enorme jardim. Ao adentrar no jardim, senti a claridade incomodar meus olhos e rapidamente coloquei minha mão sobre minha testa. Caminhei por aquele local à procura dela, tinha algumas pessoas sentadas ou apenas andando ali. Foi então que eu a vi, sentada num banco, de cabeça baixa. Senti meu coração gelar e minha respiração pesar, tudo ao meu redor rodava, tudo passava em câmera lenta. Andei até a ela, sentando ao seu lado. Ela não virou seu rosto para me encarar, mas percebi que estava um pouco surpresa com a minha presença.
Ficamos um tempo em silêncio até eu finalmente quebrá-lo:
- Oi. – minha voz saiu fraca.
- Eu sabia que você viria. – ela deu uma risada sem humor. Eu rolei os olhos, ignorando completamente seu comentário.
- Como você está? – perguntei, tentando manter uma conversa amigável com ela. Mas isso era quase impossível.
- O que você acha? – finalmente ela virou seu rosto para me encarar e eu levei um susto. Estava pálida e com olheiras fundas nos olhos. – Olhe para mim! Estou péssima e tudo isso é sua culpa! – rosnou fechando os punhos.
- Desculpe, eu só queria te ajudar. – falei cabisbaixa. Ela era muito ingrata! Tudo que eu fiz foi para o bem dela.
- Você não serve pra ajudar, não serve pra porra nenhuma! – Phoebe continha um sorriso diabólico no rosto. Controlei minha súbita vontade de socar sua cara, mas ela ainda era minha mãe, mesmo que não parecesse.
- Por que você é assim? Por que você se acaba e bebidas e drogas e vai afundando cada vez mais? – eu praticamente gritei, querendo que ela lembrasse que não era eu a inútil e sim ela.
- Você quer mesmo saber, queridinha? – falou num tom irônico.
- Sim! – retruquei.
- Desde pequena meu querido pai me batia e na minha mãe também, comecei a beber aos 14 anos para tentar me livrar da dor que eu passava. A bebida passou a ser algo comum na minha vida e eu não me via mais sem ela, minha companheira de todas as horas! – aquilo realmente era um papo de bêbado. – Quando estava com 20 anos conheci seu pai, todo correto, responsável, trabalhador e eu? O que eu era? NADA! Era apenas uma mulher que nem tinha terminado o segundo grau, trabalhava em uma casa cuidando de crianças e que nos tempos livres sai pra beber. Eu e seu pai nos apaixonamos, mas tivemos muitas brigas, seu pai sempre foi careta assim como você! Brigávamos por causa da bebida, ele não me deixava beber porque dizia que eu era alcoólatra, mas eu não era! Quando estava grávida de você as brigas pioraram, fui demitida do meu emprego e passei a beber ainda mais. – tentei lembrar algo que eu tenha vivido com meu pai, mas não consegui, não lembrava mais do seu rosto. – Quando tive você, tudo melhorou, arranjei outro emprego e seu pai estava todo bobo. Alguns anos depois engravidei de Joseph, mas voltei a beber, fui demitida novamente do meu emprego e seu pai estava falindo. – pude ver que lágrimas acumularam-se nos seus olhos. – Uma noite ele havia jogado fora toda a minha bebida, então fui para um bar beber, ele veio atrás de mim. Começamos a discutir na porta do bar e quando fui entrar ele puxou-me, eu o empurrei muito forte, tamanha era a raiva que eu sentia, e ele acabou indo para a rua.... Foi tudo tão rápido que eu não pude ver que um ônibus estava passando na hora e... – ela soluçou, com lágrimas já rolando pelo seu rosto. – eu o joguei na frente do ônibus. EU O MATEI! – gritou revoltada. Suas palavras predominarem naquele local, deixando-me desprotegida. Tudo fazia sentido. Minhas mãos estavam tremendo e Phoebe chorava desesperadamente fazendo com que eu sentisse mais pena ainda dela. Aquelas palavras não saiam da minha cabeça e quando eu achava que elas realmente tinham ido embora, elas voltavam com mais forças, derrubando-me.
Quando dei por mim estava correndo dali, correndo de minha mãe, correndo das verdades. Queria que tudo aquilo que ela havia me dito tivesse sido deixado para trás, com ela. Mas eu sentia aquilo comigo, sentia aquele sentimento comigo. Era como se ele estivesse preso em minhas costas, como se ele nunca me deixasse.
Os olhares de todos estavam sobre mim, mas eu não ligava, eu só queria fugir dali. Cheguei ao estacionamento e vi Joseph e encostados no carro, conversando. Corri ainda mais até eles, os dois me olharam incrédulos. Ao chegar perto deles, joguei-me nos braços de , num ato sem pensar, num desespero. Eu necessitava de um abraço, algo que me passasse confiança e paz. abraçou-me e eu enterrei minha cabeça na curva de seu pescoço.
- Está tudo bem? – ele perguntou, visivelmente preocupado.
- Por favor, não fale nada. Apenas me abrace, só isso. – ele atendeu ao meu pedido, apertando meu corpo contra o seu. Respirei aliviada, abraçando-o tão fortemente que sentia meus braços doerem. Seus lábios tocaram o lóbulo da minha orelha, sussurrando: Está tudo bem, estou com você.


VII - Crave my heart and it will be bleeding in your hand. I can't say no to you.
Eu estava no escritório do Sr. Sandford separando algumas papeladas que estavam em minha mesa. O dia estava bom, não fazia muito frio e nem muito calor, minha roupa estava adequada para a ocasião. Bebi um pouco de meu café, terminando de arrumar toda a papelada.
Faziam quatro dias desde o ocorrido com e Phoebe. Eu andava um pouco enrolada por causada da faculdade, estágio e cuidar de Joseph. Soube que Phoebe estava indo bem, estava se cuidando e eu realmente ficava satisfeita com esse progresso dela.
Quatro dias em que eu não ia mais à clínica vê-la, quatro dias em que não tinha uma conversa com . Sei que posso estar parecendo um pouco infantil por simplesmente ignorá-lo, mas eu queria e precisava de um tempo só meu. Precisava absorver toda informação acumulada no meu cérebro.
Fui tirada de meus pensamentos ao ouvir vozes vindo do corredor. A primeira reconheci como sendo a do Sr. Sandford, a segunda não me parecia estranha, mas não conseguia identificá-la. O Sr. Sandford entrou na sala, sendo seguido por um homem. Não pude ver muito bem seu rosto, mas pelo que reparei, aparentava ter uns 25 anos no máximo.
- Arendi, fez o que eu lhe pedi? – Sandford perguntou e ele estava SORRINDO! Deus, o que haviam feito com aquele homem?
- Sim, senhor. – ao ouvir minha voz, o tal homem virou para me encarar e pude ver que ele havia ficado surpreso, assim como eu ficara.
- ? – ele falou. Sua voz continha um entusiasmo evidente.
- Christian? – falei, também entusiasmada.
- Que coincidência, não? – os olhos dele passavam pelo meu corpo desesperadamente, como se quisesse guardá-lo em sua memória.
- Vocês se conhecem? – Sandford perguntou e nós finalmente lembramos de que ele estava ali e fazia um bom tempo.
- Sim! Tio, ela é a garota do transito, eu te disse. – corei ao perceber que ele havia comentado de mim para o tio dele. Espere ai, tio? Que mundo pequeno.
- Ah, é verdade! A que canta super bem. – percebi certa ironia e isso fez com que eu corasse ainda mais.
- Veja, ela está vermelha! – eles riram. Automaticamente tampei meu rosto com minhas mãos, xingando-me mentalmente por ser tão infantil e estúpida.
- Bom. – peguei minha bolsa em cima da mesa. – Estou indo almoçar e depois vou buscar Joe. – falei, já organizando minhas coisas.
- Espere! – parei no vão da porta ao ouvir a voz doce de Christian. – Posso lhe acompanhar? – perguntou, pude perceber um certo receio em sua voz. Sorri comigo mesma.
- Claro, por que não? – vi um sorriso largo aparecer em seu rosto. Como se eu tivesse dando um doce a uma criança carente. Christian despediu-se do seu tio que por sinal lhe lançou um olhar significativo. Saímos da sala e fomos conversando até o estacionamento. Ele era muito animado e falava demais, em menos de dez minutos eu já sabia metade da sua vida. Ele estava noivo de uma menina há um ano, mas terminaram por causa das inúmeras brigas. Ele quer casar com uma mulher idêntica à mãe dele, ele ama ver futebol com o pai, tem vários amigos (mas só amigos para sair), também é advogado e é viciado em macarrão. Ele é bem família e é claro, muito engraçado. É inevitável não rir com as coisas que ele diz.
- Nós vamos no seu carro? – perguntou, com a sobrancelha arqueada. Já havíamos chegado no estacionamento e só nos demos conta quando vimos o meu carro.
- Claro, você vai ver como a diva arrasa. – joguei meu cabelo numa tentativa frustrada de ser sexy, mas o que consegui mesmo foi arrancar boas gargalhadas dele, o que me fez rir junto. Comentei que é impossível não rir junto com ele?
- Você é uma comédia, . – falou num tom de voz brincalhão. Nunca imaginei que pudesse fazer amizade com alguém que conheci num transito e não me achasse a pessoa mais dramática do mundo. - Você está duvidando da minha capacidade? – coloquei a mão no peito, fingindo ofensa e incredulidade.
- Mulher no volante, perigo constante. – eu o repreendi com um tapa no braço. Eu sempre fazia isso, dava um tapa em alguém como repreensão.
- Machista! – o acusei, tentando manter-me séria, mas fracassei. Senti minha bolsa vibrar e conclui que era meu celular. Sem nem olhar quem era, atendi o telefone: - Alô? – falei, sendo observada por Christian.
- , é o . – ouvir aquela voz que eu conhecia perfeitamente fez com que eu ficasse desconfortável naquela situação. Fez com que eu suasse frio e me sentisse a pessoa mais ingrata do mundo por ignorar uma pessoa que estava do meu lado sempre que pode.
- Oi. – tentei manter minha voz firme, mas eu ainda não havia aprendido mentir tão bem assim para .
- Eu estava pensando em sei lá... – o imaginei coçando a cabeça quando ficava nervoso ou sem falar. – Sairmos para almoçar, o que acha? – eu gelei. Mas que droga! Será que ele não poderia facilitar as coisas para mim, será que ele não poderia tentar entender que eu queria ter um tempo só meu? - Ah, ! Eu realmente queria ir, mas realmente não posso. Estou muito atarefada por causa do estágio e da faculdade, tente entender. – me senti um lixo por mentir assim para ele, mas é melhor falarmos algo que a pessoa queira ouvir e eu posso garantir que ele não gostaria de ouvir que eu não o queria por perto. Não por um tempo.
- Poxa ... Tudo bem então, fica pra próxima. – pude perceber um certo desapontamento em sua voz. Antes que ele dissesse alguma coisa eu desliguei o telefone, temendo que eu me sentisse ainda pior e voltasse atrás. Eu realmente queria sair com ele, sentia falta de conversar com ele, mas o medo dele estar entrando tão rápido em minha vida, o medo de me tornar tão dependente dele, eram maiores.
- Vamos? – Christian perguntou-me, ainda com um sorriso no rosto. Mal sabia ele que o sorriso que eu acabara de lhe mostrar era falso, forçado.
- Vamos. Agora eu vou mostrar a você quem é que manda no volante. – dei uma piscadinha enquanto abria a porta do carro. Christian deu uma risada irônica, entramos no carro e eu dei partida.


- Para de rir! – falei entre os dentes, ouvindo as risadas de Christian, que agora já haviam tornado-se irritantes demais ao meu ouvido.
- Não dá, . – e ele riu ainda mais, deixando-me ainda mais irritada. - Não, porque eu sou a melhor, dirijo melhor que qualquer homem desse lugar e blá blá. – fez uma voz esganiçada, tentando imitar minha voz.
- Cala a boca, Christian! Eu já disse que a culpa foi daquele velho! – falei, já extremamente irritada por causa de suas piadinhas. Odiava ser contrariada.
- Tudo bem, desculpa. – levantou os braços, como se estivesse rendendo-se de algo. – Não precisa ficar com raiva de mim. – fez bico. Senti a mão gélida (devido ao frio que começara a fazer) dele tocar meu ombro, puxando meu pequeno corpo comparado ao dele, para mais perto do seu.
Fiquei um pouco assustada com sua atitude, mas não recuei. Em momento algum passou pela minha cabeça recuar. Apenas dei um sorriso amarelo, tentando ocultar meu susto por estão tão perto dele.
Entramos no restaurante, não era muito luxuoso, mas era um ambiente agradável. Sentamos-nos à mesa próxima a janela. Um garçom chegou, trazendo com ele o cardápio e nos entregando. Fizemos nossos pedidos.
- Quantos anos você tem, Chris? Posso te chamar assim? – perguntei um pouco sem graça. Não sabia se já poderia adotar um apelido, não tínhamos nenhuma intimidade e éramos colegas.
- Claro, pode sim e eu vou te chamar de . - concordei, observando o garçom trazer nossos pedidos. – Eu tenho vinte e quatro anos. – chegou bem perto do que pensei que ele tinha. – E você? Acabo de me recordar que somente eu falei de minha vida e você não. Oh Deus, como sou egoísta e tapado. – bateu na própria testa, dramatizando.
- Tenho vinte e dois anos, faço faculdade de advocacia e também estágio no escritório do seu tio. Pretendo ser uma ótima advogada. Cuido do meu irmão Joseph, tenho uma melhor amiga quase irmã chamada July. – resumi toda a minha vida a ele, ignorando coisas que devem ser ignoradas.
- Então você cuida do seu irmãozinho. Quantos anos ele tem? – perguntou e logo depois agradeceu ao garçom.
- Tem cinco anos e é um amor de pessoa. – ele sorriu ao perceber o carinho que eu tinha por Joe. – E por falar nele, tenho que ligar para July, Joe está na casa dela, vou pedir a ela para trazê-lo para cá. Tenho que levá-lo na escola. – expliquei, enquanto procurava meu celular na bolsa. Assim que eu o achei, disquei os números que eu já sabia de cor.
- Eu ficarei bem feliz em conhecê-lo. – pude perceber que sua voz não era sincera, isso me deixou um pouco desconfortável.
- Espero que você goste dele. – ele sorriu, sem graça. Voltou a comer e eu apenas o observei enquanto esperava July atender o telefone.
- Fala, coisa feia! – não pude conter uma risada ao ouvir a voz animada com um comentário idiota de minha melhor amiga.
- Eu sei que você me ama. – falei, ainda observando Christian. – Você pode, por favor, trazer Joseph para o Windblue? – Christian dirigiu seu olhar até mim, dando um sorriso satisfatório ao perceber que estava sendo observado. Corei, desviando meu olhar para a rua.
- Claro, ele já estava aqui me perguntando se você ia passar aqui ou não e Brendon me ligou. – ela soltou um gritinho histérico, deixando-me quase surda.
Eu admirava a simplicidade a coragem de July. Ela fazia o que queria, na hora que queria, sem se importar com nada.
- Saiu com ele ontem e já está te ligando? Isso que eu chamo de progresso. – imaginei July com um sorriso largo e os olhos brilhando. Eu também admirava e invejava suas emoções.
- Nem me fale, estou tão feliz! Ele é um fofo, me chamou para irmos ao cinema hoje a noite. – fiquei feliz por July. Era bom ver que havia pelo menos uma pessoa se dando bem nessa história. – , ontem ele me deixou exausta! – falou no seu melhor tom de voz malicioso.
- July! Tenha vergonha nessa cara. – eu a repreendi, chocando-me com o comentário que ela havia feito.
- Ai , você e esse seu jeito santa de ser as vezes me irrita. – rolei os olhos, evitando que aquelas palavras me atingissem. – Estou levando o Joe ai, ele já está chorando querendo falar com você. – pude ouvir ao fundo o choro de Joseph, chamando por meu nome. – Beijos. – ela desligou, fazendo com que eu pudesse ouvir somente os ‘tu-tu’.
- Ela já está trazendo Joe. Acredita que ele estava chorando? – minha voz era animada, não por ele estar chorando e sim por ele está chorando por querer me ver.
- Chorando? – perguntou surpreso. Eu apenas concordei com a cabeça, por estar com comida na boa. – Ele realmente te ama. – nós rimos.
- Ele é muito agarrado a mim. – falei orgulhosa de mim mesma por cuidar tão bem de Joe.
- Percebe-se. Então, como é mais ou menos sua relação com Joe e July? – agora sim eu senti que ele estava sendo sincero. Que ele realmente queria saber como eram eles.
- Joseph é um amor de pessoa, obediente, muito carinhoso comigo. Estudioso, esforçado, se preocupa bastante comigo. Eu não tenho o que reclamar dele. – ele comia, mas seus olhos estavam atentos em qualquer coisa que eu falasse, assim como seus ouvidos. Querendo pegar qualquer informação, mesmo que fosse mínima. – A July é como se fosse uma mãe para mim, mas aquelas mães meio loucas, sabe? Ela é insana, retardada, atirada, faz o que quer, fala o que quer sem se importar com nada. Ela é a melhor! – eu sentia que ele reparava em tudo, a forma que eu falava, comia. Tudo para ele era como se fosse algo novo.
- E sua mãe não fica com ciúme de Joseph ser tão agarrado a você? – claro, sempre tem uma pergunta inconveniente que acaba com tudo.
- Não, ela nem liga. – minha voz saiu de um modo aterrorizante, sombrio. Christian encarou meus olhos tão profundamente que por um segundo achei que ele pudesse ler minha mente.
Ficamos calados por um tempo, até que o silêncio finalmente foi quebrado, por uma voz que eu esperava ouvir nem tão cedo.
- , você por aqui? – meu coração parou e por um momento pensei que havia perdido todos os meus sentidos. Havia um certo sarcasmo em sua voz e isso fez com que eu ficasse com medo de me virar e encarar aqueles olhos que eu lutei tanto para não vê-los novamente. Não por um tempo.
- Oi, . – não precisei fingir nenhum tipo de surpresa, já que eu realmente estava surpresa. Finalmente encarei seus olhos, voltando toda a minha atenção a eles, esquecendo-me da presença de Christian.
- Achei que estivesse ocupada demais para ir almoçar comigo, mas vejo que entendi errado, não é mesmo? – o desprezo que tinha na sua voz deixou-me mal. Eu nunca poderia imaginar que um dia eu não conseguiria olhar nos olhos de , os olhos que sempre me passaram um conforto, uma confiança. – Aproveite seu almoço. – então ele me deu as costas. Em segundos sumiu completamente do meu campo de vista.
Era irônico pensar que eu não queria ver por simplesmente ter um tempo só meu – uma atitude egoísta, eu sei. – não ter mais ninguém em quem pensar, somente eu, Joseph, July. E agora ele está na minha cabeça e não há nada que eu faça, diga, pense, nada disso vai tirá-lo da minha cabeça.
Para minha sorte, Christian não me perguntou nada, ele não falou nada. Apenas ignorou o ocorrido e continuou a comer. Eu apenas ficava mexendo no meu copo, ouvindo o barulho que o gelo fazia ao bater no copo. Estava tão concentrada em , que o barulho que eu mesma estava causando parecia não chegar aos meus ouvidos. Eu nem tinha percebido que estava irritando Christian com isso.
Levei um susto ao sentir a mão de Christian segurar firmemente a minha, evitando que eu continuasse a mexer no copo.
- , isso está irritando, por favor, pare. – levantei meus olhos para encarar os deles, dei um sorriso sem graça e finalmente tirei a mão do copo.
- Desculpe. – ele assentiu com a cabeça, voltando a comer.
- Você não vai comer, ? – perguntou, fitando meu prato e observando que estava quase intocado.
- Sim, eu vou. – comi um pouco de minha comida. Quem visse de fora iria achar que eu estava desesperada de fome, por estar comendo tão rápido. Mas eu estava mesmo era ansiosa por sair logo dali, aquele lugar estava deixando-me sufocada, o clima estava tenso. E eu não sabia o que fazer e nem o que dizer. Não sabia se saia de lá o mais rápido possível e iria encontrar , pediria desculpas a ele por ter sido tão idiota ou simplesmente ignorava tudo o que aconteceu e continuava a comer tranquilamente, falando algumas vezes com Christian. Mas nada que pudesse me ajudar aparecia na minha cabeça.
Olhei para o grande relógio que ficava ao lado da janela e vi que faziam 10 minutos que eu havia ligado para July, logo ela estaria chegando. Assim eu esperava.
- Você está bem? – Christian perguntou, parecendo estar um pouco preocupado por eu estar tão aflita. Terminei de beber meu suco e olhei para seu prato, vendo que ele já havia terminado de comer e eu não. O encarei e soltei um suspiro, sendo notada por ele.
- Desculpe, mas eu não estou muito bem. – ele me encarou com os olhos cheios de compreensão, como se entendesse tudo que eu passava. Como se ele também passasse pela mesma coisa. Ele simplesmente esqueceu o fato de que eu arruinei o nosso almoço.
Minha visão foi tampada e eu vi quase tudo escuro, ainda conseguia ver algumas linhas de luz. De repente ouvi a voz animada de minha amiga gritar no meu ouvido:
- Adivinha quem é? – eu ri, imaginando o mico que deveríamos estar pagando.
- Quem mais seria? – tirei suas mãos delicadamente de meu rosto e virei para encará-la, mostrando um sorriso aliviado por ela finalmente ter chegado.
Vi Joseph sair de trás de July e correr até mim, abraçando minha cintura. Senti os olhos de Christian pesar sobre nós.
- Oi, meu amor. – retribui seu abraço. Coloquei Joseph no colo e o virei para Christian, arrependendo-me logo em seguida por ter feito tal coisa. Os olhos de Christian arregalaram-se e sua boca abriu. Ele olhava incrédulo de mim para Joseph. Eu havia me esquecido de que existem pessoas que não aceitavam Joseph tão bem. Eu queria esquecer disso para sempre.
- Joe, esse é o Christian, amigo da irmã. Christian esse é o Joe, meu irmão. – minha voz saiu rouca.
- Oi Christian. – Joseph falou meigamente, de um jeito inocente sem nem perceber o que acabara de acontecer. Sem nem perceber como Christian ficou ao conhecê-lo.
- Oi, Joe. – sua voz saiu rude. Por um momento achei que fosse outra pessoa e não o Christian que acabara de conhecer. – Eu preciso ir, . – levantou-se rapidamente, deixando algumas notas de dinheiro em cima da mesa.
- Já? Mas eu nem te apresentei a July. – perguntei, observando o modo rápido que ele agia.
- Não vai dar , tenho que atender um cliente agora. Foi um prazer conhecê-la, July. – ele apertou a mão dela, sorrindo sem graça. – Tchau, Joseph. – apenas bagunçou os cabelos de Joe. Pude notar que ele havia ficado na dúvida entre abraçá-lo ou não.
- Espere! Eu posso te dar uma carona! – gritei, vendo o correr até a porta de saída.
- Não precisa. – ele gritou, já do lado de fora, sumindo rapidamente do meu ponto de vista.
- Cara estranho, foi só eu e Joe chegarmos que ele foi embora rapidinho. – July começou a falar. – Hey! Você não me disse que estava acompanhada. – finalmente ela parou para pensar. – Pelo amor de Deus, . Não me diga que eu atrapalhei alguma coisa! – eu ri. Não sabia se eu estava rindo das besteiras que minha amiga falava ou da situação em que eu me encontrava. Talvez eu estivesse rindo para não chorar, para não ter que mostrar o quão abalada estava do acontecimento de poucas horas.
Se bem que já passei por coisas piores numa simples noite. Mas em relação a superação, eu nunca fui muito boa.
- Não July, não aconteceu nada. – minha voz estava cansada. Mas no fundo eu realmente estava cansada, de tudo.
- Tudo bem. – ela deu de ombros. – Joseph está aqui, são e salvo. Agora vou me encontrar com Brendon. – ela fez aquela típica cara de apaixonada e percebi que ao falar o nome dele o sorriso dela se alargou.
- Não July, eu preciso ter uma conversa muito séria com você. – alertei-a, querendo que ela não fosse embora antes de me ouvir e ajudar. Oras, eu só tinha July, eu precisava dela. Ela não poderia me deixar na mão.
- , tem mesmo que ser agora? Brendon está me esperando. – ela apontou para o seu celular que tocava insistentemente. O que July pensava que estava fazendo e que raio de pergunta era aquela? Lógico que era agora, aquela não deveria ser July! A primeira coisa que ela faria era ir correndo até mim e me perguntar o que tanto me afligia. Mas ela estava agindo estranhamente e isso me assustava.
- Tem July! Realmente tem que ser agora. – eu estava implorando a minha amiga para me escutar. A que ponto eu tinha chegado? O quão desesperada eu estava?
- Desculpe , mas eu realmente não posso. Brendon está me esperando. – desculpou-se cabisbaixa e saiu do restaurante, deixando-me com uma dúvida que corria meu peito tão rapidamente que nem eu mesma dava conta. Eu estava mesmo perdendo minha melhor amiga? A única que se preocupou comigo e ficou comigo por todos esses anos? Não, não poderia ser. Não poderia acontecer. Eu não poderia deixar.


- Estude diretinho, está bem? – falei com Joseph, já na porta da sala. Ele concordou, abraçou-me e me beijou no rosto. Arrumei sua mochila em suas costas e beijei o topo da sua cabeça permitindo-me sentir o cheio de xampu de criança. Joe entrou na sala de cabeça baixa, mas eu pude notar um sorriso em seu rosto. Eu apenas observei, vendo-o sentar na última carteira, no fundo da sala.
Existem coisas que parecem nunca mudar.
- Senhorita Arendi, com licença. – girei meu corpo tão rapidamente para ver o dono daquela voz que fiquei tonta. Parecia que seu perfume estava presente em qualquer lugar daquele ambiente.
Parei em frente a ele, tão próximo que poderia sentir sua respiração acelerada batendo no meu rosto. Dei espaço para ele passar. entrou, com um ar superior que daria nos nervos qualquer mulher, mas que no fundo eu sabia que era tudo fachada.
Eu pensei em ir até lá, falar com ele, pedir desculpas e lhe explicar o que aconteceu. Mas o medo falou mais alto e quando dei por mim estava andando até o estacionamento e cravando minhas unhas não minha mão.


Meu dia no escritório do Senhor Sandford foi entediante. Fiz tudo que eu tinha que fazer em menos de 2 horas e acabei sendo liberada mais cedo por isso. Eu queria que o dia passasse mais rápido, assim eu iria buscar Joe e logo veria , podendo enfim conversar calmamente com ele. Mas parecia que o universo conspirava contra mim. Os minutos demoravam a passar e isso me matava lentamente, assim como a hora.
Desisti de ficar encarando o relógio e resolvi descansar. Pelo menos enquanto estivesse dormindo eu não iria contar os segundos. Eles passariam tão rápido que eu mesma me chocaria com a rapidez.
Deitei-me em minha cama. Ao fechar os olhos senti o cansaço me dominar e acabei cedendo, adormecendo logo em seguida. Tive um sonho, ou melhor, um pesadelo. Sonhei que Phoebe voltava para casa, mas ela não voltava modificada e sim como sempre foi. A casa ficava em chamas com a sua volta, eu gritava pelo seu nome, pedindo ajuda. Mas ela nada fazia, ficava parada no vão da porta, observando o fogo subir. Foi então que me dei conta de que Joe não estava comigo. Virei para o lado procurando-o. Ele estava lá, sentado na escada com o pé pegando fogo. Estava radiante, com aquele seu jeito inocente. "Joe, saia daí!" eu gritava desesperada, mas era tarde demais. Ele já tinha virado pó e Phoebe continuava parada no vão da porta.
Acordei gritando e me batendo. Tentei manter-me calma e controlar minha vontade de gritar e chorar ao mesmo tempo. Apressei-me para buscar Joseph. Joguei água no rosto, peguei as chaves do carro e entrei nele, dando partida, disparando pelas ruas com aquele maldito sonho na cabeça.
As ruas passavam como borrões aos meus olhos. Talvez seja pela velocidade em que eu estava. Eu nunca fui de dirigir em alta velocidade, mas especialmente hoje eu preferi correr em alta velocidade e me arriscar. Eu corria, achando que assim eu poderia fugir, mas não podia. Eu estava destinada a viver naquela cidadezinha com pessoas medíocres para sempre. Eu estava destinada a viver com aquele sentimento para sempre.
Estacionei o carro numa rua próxima a escola de Joseph. Tranquei a porta; andei até a escola de Joe, avistando logo em frente sua sala. Pude ver o professor na porta entregando alguns alunos às suas mães.
Eu me aproximei ainda mais, mas em momento algum me olhava. Nem quando fiquei cara a cara com ele, nem quando eu abri a boca para chamar Joseph ele olhou. Em momento algum seus olhos fixaram-se em mim, em momento algum ele me olhou de uma forma calorosa, como se só eu estivesse ali. Quando fui embora ele me ignorou. Eu me senti o ser mais desprezível da face da terra, o mais inútil. E aquela realmente foi uma das piores sensações que senti em toda minha vida.


Assim que eu deixei Joseph na fonoaudióloga, resolvi ir para casa. Afinal, não havia nada que eu pudesse fazer para esperar o tempo passar. July estava com Brendon. Christian estava estranho. não queria olhar na minha cara. Eu tinha uma opção: Falar com Phoebe. Mas eu não estava muito bem psicologicamente para isso. Eu sentia que devia falar com , uma voz gritava na minha cabeça por isso e já estava ficando com dor de cabeça. Era agora ou nunca.
Assim que o sinal abriu eu entrei numa curva, sem dar seta. Ouvi algumas buzinas seguidas de uns xingamentos, mas ignorei. Acelerei, querendo chegar o mais rápido possível.
Tentei me concentrar na música Hero/Heroine do Boys Like Girls que tocava na rádio. Cantava alguns versos da música. Assim que vi o carro de estacionado parei de cantar na mesma hora e estacionei meu carro ao lado dele. Sai de lá correndo, deixando o rádio ligado e o carro todo aberto.
Eu o vi parado com os cabelos bagunçados e a mão no bolso. Estava parado em frente ao lago. Pude ver que ele o admirava, como no mesmo dia que ele havia me levado até lá.
- Eu me recordo muito bem quando você me disse que vinha aqui para pensar. Parece que foi ontem. – ele virou-se para me encarar, estava atordoado. Quando analisei seus traços esqueci-me por um momento o porquê de ter mentido para ela, o porquê de eu querer me afastar dele.
- Isso é sério ou é mais uma das suas mentiras? – sua voz estava rude, magoada.
- Não! Isso é sério. – eu praticamente gritei para que ele acreditasse, mas ele ainda continuava com a mesma postura de antes.
- E o que me faz acreditar nas suas palavras? , você mentiu uma vez, por que não mentiria novamente? – aquela ironia dele me matava e eu controlei a minha vontade de mandá-lo a ir à merda. Mas eu era a errada da história, não ele.
- Desculpe, desculpe mesmo. Eu não queria isso, eu só queria um tempo pra pensar. Na verdade eu queria mesmo era ficar longe de você. Você estava entrando tão rápido na minha vida, se tornando tão presente nela, dando um significado a ela que isso me assustou. Eu estava começando a ficar com medo de me tornar tão dependente de você. Eu peço mil desculpas, . – despejei tudo e finalmente, depois daquele dia cansativo, eu relaxei meu corpo.
- , eu te disse que sempre que precisar de mim eu vou estar aqui. Não tinha motivo algum para você mentir para mim, você podia ter falado o que estava acontecendo. Eu não suporto mentiras . Mentiras e desconfianças são coisas que eu mais odeio no mundo. – sua voz, antes rude, estava calma e isso me tranqüilizou um pouco. Percebi que ele tentou medir ao máximo as palavras. Esse era o que eu queria.
- Eu sei, eu agi por impulso. Fui infantil. Mas você me perdoa, por favor? – aquilo ainda me matava um pouco.
- Esquece isso, já passou. Claro que eu te perdôo. – o ar escapou dos meus lábios numa forma de alívio.
- Obrigada por tudo. – eu o abracei pelo ombro, depositando um beijo ali mesmo.
- Sempre que precisar. - ele sorriu tão verdadeiramente que parecia que tudo o que me afligia havia desaparecido. Parecia que aquele vento que bagunçou meus cabelos levou todos os meus problemas com ele e deixou somente o sorriso de para mim, para eu guardar para sempre em minha memória. Para eu ter certeza que ele é real e que eu tive a certeza que existia outra pessoa além de July e Joseph que se preocupava comigo e queria o meu bem. era ela e eu sabia que não adiantava mais fugir, eu estava ficando cada vez mais dependente dele e não poderia mudar isso.


VIII – Please, don’t leave me.

Era sábado à tarde e como todo sábado à tarde, eu, Joe e July ficávamos assistindo filmes, jogando qualquer jogo, comendo pipoca e guloseimas e bebendo refrigerante.
Era uma tradição. Nunca foi ignorado por nenhum de nós três. Era importante para nós, como se fosse um feriado. Mas hoje parecia que ele iria ser ignorado, parecia que July iria esquecer. Devia estar ocupada demais com Bryan.
Joseph estava sentado no chão da sala, ao seu lado estavam os refrigerantes que eu tinha posto. Sentei ao seu lado com duas bacias em mãos, uma de pipoca e outra de guloseimas. Dei play no filme A Era do Gelo 2.
- Droga! – resmunguei com a boca cheia de pipoca ao ouvir a campainha tocar. Joseph soltou uma risada baixa. Levantei do chão e abri a porta, deparando-me com July. Sorri inconseqüentemente, talvez ela não tenha esquecido, talvez ainda fosse importante para ela.
- Oi. – ela falou, num tom de voz que pude perceber que ela estava sem graça.
- Pensei que você não fosse vir. – admiti.
- Eu não iria deixar de vir, você sabe, é uma tradição. – meu sorriso se alargou, assim como o dela. Joguei-me nos braços de July. Eu sabia, nenhum garoto poderia mudar nossa amizade.
Meu sorriso murchou ao ver um homem - que parecia ser o tal do Bryan - atrás de July, com um sorriso simpático no rosto. É, eu talvez eu esteja errada.
- Oi , eu sou o Bryan. – soltei-me do abraço de July e virei-me para o homem que estava com a mão estendida no ar. Apertei sua mão e depois a soltei.
- Oi. – falei mal humorada. Eu sabia que eles tinham percebido, não havia como não perceber.
- Eu pensei em trazer Bryan... – July falou hesitante. Suspirou e continuou. – Para participar da nossa tradição. – eu a olhei a incrédula. Senti a raiva corroer cada vez mais rápido ao meus órgãos e sem sequer me importar se estaria sendo infantil demais, bati a porta na cara deles. Em seguida subi correndo as escadas. Entrei no meu quarto e joguei-me em minha cama, enterrando minha cabeça em meu travesseiro.
Em menos de um minuto o quarto foi tomado pelo meu choro. Eu chorava por ser tão patética e infantil. Chorava por ser tão dependente. Chorava de raiva.
Ouvi o barulho da porta abrindo, logo senti o peso de outro corpo afundar naquela cama. O cheiro do Jadore invadiu meu quarto. Era July.
- Me desculpe. – pediu, com a voz amargurada. Levantei a cabeça para encará-la e vi que estava prestes a chorar.
- Sai daqui! Eu te odeio! – gritei. Queria de qualquer forma magoá-la. Uma lágrima desceu de seus olhos e ela rapidamente a secou com a palma da mão.
- Largue de ser infantil, ! – July também gritou, com a voz embargada.
- Infantil?! Você não tem noção do que você fez, não é? – levantei da cama e ela repetiu minha ação. – Você. – apontei o dedo na frente dela. – Simplesmente me trocou por causa de um homem! Um homem! Quando eu mais precisava de você. – as lágrimas desciam levemente pelo meu rosto.
- Eu não te troquei por homem nenhum. Você é a minha melhor amiga, minha irmã. Eu nunca faria isso. – ela estava desesperada e eu também. Era nossa primeira briga em anos de amizade.
- Não é o que parece. Eu precisava de você. – minha voz era fraca.
- Você sempre precisa de mim, está na hora de aprender a se virar sozinha. – aquilo doeu. Doeu mais que tudo. Minha melhor amiga dizendo para mim que não estaria o tempo todo ali. Eu sabia que um dia isso iria acontecer. É a verdade nua e crua.
- Não se preocupe, não vou mais perturbar você. – eu estava angustiada, acabada.
- Mas que merda! O que mais você quer de mim? – ela chorava e gritava. Sua voz falhava a cada palavra que pronunciava.
- Eu quero você. Eu quero minha melhor amiga de volta. – minha voz elevou-se.
- Se eu não te conhecesse tão bem, iria achar que você é obcecada por mim. – o que July disse seria cômico, se não fosse trágico.
- Você não entende. – choraminguei.
- Você está certa, eu realmente não entendo. – abaixou sua voz e seu não estivesse prestando atenção, provavelmente eu não ouviria. – Assim como você não entende que eu não posso parar minha vida por você. , eu não vou estar aqui pra sempre, nem Joe. – eu a olhei incrédula, não acreditando que ela tinha colocado Joe nessa história. Ela estava jogando sujo. Como ela pode? Como ela sequer teve coragem? Ela cavou outro buraco fundo no meu coração e deixou a mostra todos os outros que já tinham sido cavados.
July me olhou pela última vez antes de sair daquele quarto. Um olhar vazio, o qual eu nunca tinha visto no rosto alegre de minha ex-amiga.
Enterrei minha cabeça no meu joelho e me pus a chorar. Deus, eu era uma tola. Como eu temia continuar sozinha, como Phoebe. Eu precisava de alguém, não queria terminar sozinha. Senti uma mão pequena afagar meu cabelo.
- Não chore irmã, por favor. – levantei a cabeça ao ouvir a voz de Joseph, ele também chorava. Peguei Joe no colo, ele me abraçou pelo pescoço. Ainda bem que eu o tinha.


Abri os olhos e constatei que era de noite. Joseph e eu havíamos pegado no sono. Ele dormia profundamente ao meu lado. Seu peito subindo e descendo de acordo com a sua respiração.
Olhei a hora no relógio digital que ficava em cima do meu criado mundo. 20h15min. Havíamos dormindo bastante.
Levantei-me cuidadosamente para não acordar Joseph. Amarrei meu cabelo num coque mal feito e desci as escadas, indo em direção a cozinha. Preparei um chá de camomila, precisava me acalmar. Sentei na cadeira com a xícara em mãos e bebi um pouco do chá, que já estava morno. Eu olhava um ponto fixo da parede, sem saber ao certo no que estava pensando.
Meu estômago doía, talvez fosse de fome, por estar o dia inteiro sem comer. Joe também deveria estar morrendo de fome. Meu corpo todo doía. Era fisicamente e mentalmente. Eu sabia bem o porquê.
Coloquei a xícara na pia e observei meu celular que estava em cima do armário. Mordi o lábio inferior pensando se devia ou não ligar para . Resolvi ligar.
- Alô? – ouvir a voz rouca de era como se jogasse terra em um dos meus buracos. Para que eles desaparecessem.
- , é a .
- , oi. O que devo a honra de sua ligação? – ele falou brincalhão e eu sorri. Era bom conversar com ele.
- Eu não posso mais te ligar? – eu ri.
- Claro! Mas é claro que pode. – sua voz era animada. – Então... Você está bem?
- Estou. – menti descaradamente e eu sabia que ele não iria acreditar.
- Você sabe que pode falar a verdade pra mim, . me conhecia tão bem. Isso dificultava minhas chances de omitir ou mentir pra ele.
- Não, eu não estou muito bem. – suspirei.
- O que aconteceu? – ele parecia preocupado.
- Você pode vir aqui? Claro, se não houver nenhum incomodo. – Já podia sentir minha voz falhar e a tontura voltar.
- Sem problemas, eu estava vendo um programa idiota que passava na TV. Estarei ai num minuto. – falou com urgência. O imaginei saltando do sofá e procurando seu tênis.
- Estou te esperando. – sussurrei, olhando o enorme relógio em cima do armário 20h25min.
- Beijos, . – eu gostava de ouvir meu nome sendo pronunciado da sua boca. Da forma em que ele pronunciava. . Era rouca, animada, viva. Fazia-me sentir viva.
- ?
- Sim? – perguntou, parecendo estar bastante interessado.
- Obrigada. – falei manhosa. Obrigada. Obrigada por tudo. Por todos os momentos, por todas as palavras sábias e reconfortantes, pelo abraço carinhoso, pela paciência. Obrigada por ser quem você é e nunca desistir de mim. Pensei. Foi inevitável não me lembrar de todos os momentos que passei com ele. O quanto ele se pôs presente e prestativo.
- Estarei sempre aqui. Você sabe. – o imaginei sorrindo e inconseqüentemente sorri também. Eu sabia que ele estaria sempre ali.
- Estarei te esperando. – esperei ele se despedir para que eu desligasse o telefone. Assim que ele se despediu educadamente, desliguei o telefone. Subi as escadas e fui até meu quarto. Joseph ainda dormia um sono profundo. Estava na mesma posição que eu havia deixado. Sua boca estava entreaberta.
- Joe, amor. – o balancei um pouco, até ouvi-lo resmungar algo. – Vou fazer mamadeira, está bem? – acariciei seus cabelos.
- Não. – ele começou a choramingar. – Eu vou com você. – Joseph sentou-se na cama e estendeu os braços.
- Tudo bem. – soltei um suspiro derrotado e o peguei no colo. Desci as escadas e entrei na cozinha. Peguei a leiteira, a maisena e o açúcar no armário, o leite na geladeira. Preparei a mamadeira de Joseph e coloquei em uma bacia de água fria, esperando que estivesse morna.
Joseph dormia no meu colo. Sua cabeça estava encostada no meu ombro, sua respiração descompassada batendo no meu pescoço.
Tirei a mamadeira da bacia, ela já estava numa temperatura boa. Andei até a sala e sentei, aninhando Joe no meu colo. Coloquei o bico da mamadeira na boca dele e o observei sugar o conteúdo que estava nele. Fiquei absorta em meus pensamentos.
Fui tirada dos mesmos ao ouvir alguém bater na porta.
- Entra. – gritei. A porta foi aberta e logo vi a cabeça de aparecer. Um sorriso tímido brincava nos seus lábios perfeitos. Ele entrou e fechou a porta, caminhando até mim, com seus passos em perfeita sincronia.
- Oi. – ele falou baixinho, enquanto beijava carinhosamente minha testa. observou Joseph dormindo e sorriu, acompanhei seu olhar. – Ele parece mesmo estar com fome! – soltamos uma risada baixa.
- Deve estar mesmo, nós dormimos a tarde toda. Na verdade, apagamos. Eu acordei agora e lembrei que Joe não tinha comido nada.
- Que irresponsabilidade. – fingiu decepção e balançou a cabeça levemente como negação. Por mais que eu saiba que estava fingindo, aquilo me incomodou. Eu sabia que não devia me importar com aquilo, era só uma brincadeira. Mas eu levava muito a sério a frase: Porque toda brincadeira tem um fundo de verdade. Eu era insegura demais, deveria ter mais autoconfiança.
Joe empurrou delicadamente a mamadeira, avisando que já havia acabado. Eu tirei a mamadeira da boca dele e o ajeitei no meu colo, levantando-me em seguida. nos seguiu até a cozinha, em silêncio. Estava pensativo demais.
- O que aconteceu? – soltei um suspiro demorado. Coloquei a mamadeira na pia e virei-me para encará-lo ainda com Joseph no colo. Soltei um suspiro demorado e lento ao me recordar do assunto que minha incomodava. avaliava minha expressão atentamente, como se fosse uma caixinha de surpresa.
- Briguei com July. – minha garganta fechou-se, um nó havia nela. Implorei para não chorar, não ali. Na frente de .
- Por quê? - Vou colocar Joe no quarto dele e assim te explico melhor. – ele assentiu com a cabeça. Subimos as escadas em silêncio. Entramos no quarto de Joseph e eu o coloquei na cama, virando-me em seguida para .
Sai do quarto de Joseph, vinha atrás de mim. Entramos no meu quarto e nos sentamos na beirada da cama, um de frente para o outro. Ele sorriu, encorajando-me.
- Preparado para ouvir os dramas de Arendi? – tentei fazer com que minha voz parecesse brincalhona, mas não havia humor na minha voz.
- Preparado. - July está saindo com um cara... – contei a história resumida para . Imaginei que ele fosse ficar entediado, mas pelo que me parece ele não estava. Prestava atenção em tudo o que eu dizia, não desviava os olhos de meu rosto um minuto sequer. Sempre atento, sempre com a postura ereta.
- , eu acho que você não devia deixar que uma coisa boba possa acabar com a amizade de vocês. – ele falou cauteloso, brincando com os meus dedos.
- Não acho que seja bobeira, . Eu precisava dela ali. – reprimi a raiva que tinha dentro de mim. não estava ali para ser mal tratado.
- Eu sei que você precisava dela, mas pense comigo. Assim como você tem a sua vida, ela também tem a dela. Você não disse que quando você mais precisou dela ela estava lá? – seus olhos, que antes estavam seguindo o rumo que seu dedo dava na linha da minha veia em meu pulso, me encararam profundamente. Por um momento perdi o foco.
- Sim
- Então... Você não acha que está sendo um pouco ingrata? – sua voz voltou a ser cautelosa. Ele fez um careta um tanto quanto fofa.
Ingrata. Aquela palavra nunca me caiu tão bem como agora. Como eu estava sendo egoísta! Minha melhor amiga estava vivendo a vida dela, querendo ser feliz e eu dava ataques porque ela deixou de me escutar uma vez. Uma única vez. Quantas e quantas vezes ela estava lá quando eu mais precisava? Como eu era ingrata, egoísta.
- Awn, . – choraminguei. – Você está certo. – sorriu. Mas não era um sorriso presunçoso do tipo "Eu sou O cara." Era um sorriso reconfortante, de que tudo no final ainda vai dar certo.
- Ainda dá tempo de consertar as coisas. – seus dedos frios passaram levemente pelo meu braço e subiram até meu pescoço, seguindo com os dedos cada curva do meu pescoço. Eles foram descendo lentamente, até pararem um pouco acima do meu peito esquerdo. Ele pressionou os dedos frios contra minha pele. ouvia o batimento acelerado do meu coração.
Ele fechou os olhos e suspirou, mordendo os lábios. Meus olhos continuavam abertos, observando cada traço seu. O modo como ele fechava os olhos e parecia estar em outro mundo, bem distante desse. O jeito perfeito que seu cabelo caia no seu rosto, a forma que seu peito subia e descia de acordo com sua respiração quente e irregular. Seus dentes prendendo seu lábio inferior. Aqueles lábios tão perfeitos e tão vermelhos.
De repente tudo se encaixou, como um quebra cabeça. Eu precisava de . Eu precisava dele para preencher o vazio das minhas noites. Tirar de mim essa sensação de que algo estava incompleto. Somente ele poderia fazer isso. Ele é a última peça do meu quebra cabeça, a outra metade da minha maçã. Não adiantava mais fugir da verdade.
abriu os olhos lentamente e fitou-me curioso. Meu corpo gritava pedindo algum contato com a sua pele quente. Aproximei dele e finalmente encostei meus lábios trêmulos nos seus firmes. Eu esperava que ele tomasse alguma atitude, mas ele nada fez. Continuou imóvel, com os lábios encostados nos meus.
Senti meus olhos lacrimejarem e eu sabia que a qualquer momento, se eu os abrisse, iria começar a chorar, como uma criança. Eu estava sendo rejeitada. não me achava atraente demais a ponto de me beijar, eu era somente uma amiga dele.
Como se tivesse sido puxada para trás, afastei-me de . Abri os olhos, lutando contra as lágrimas que teimavam em cair e o encarei. Sua expressão era indecifrável e aquilo me matou por dentro.
- Me perdoe. Eu sabia que não deveria fazer isso. Eu... – ele me puxou pela cintura e me beijou com certa urgência. Minha voz que antes estava desesperada sumiu completamente, deixando que sua língua quente tomasse o lugar dela. Tinha certo desespero naquele beijo, como se fosse aquilo que esperávamos a vida inteira.
Entrelacei minhas pernas ao redor de seu quadril e agarrei minha mão no seu cabelo. Suspirei ao sentir apertar com mais força minha cintura. Ele subiu sua outra mão até meu cabelo, bagunçando os mesmos. Dei um selinho nele e mordisquei seu lábio inferior. Separei nossas bocas e nos encaramos, ambos com a respiração descompassada.
- E agora? Como vai ficar essa história? – falei ofegante. Ele sorriu e tirou alguns fios de cabelo que caiam no meu rosto.
- Você se preocupa demais. – sua voz era tranqüila.
- Você sabe, eu tenho medo de ficar sozinha nesse mundo. – falei manhosa. pegou delicadamente minha mão e beijou cada dedo meu, por fim deu um beijo na palma da minha mão. - Então, somos eu e você contra o mundo.


IX – I am changed by you

Minha vida estava dando uma reviravolta daquelas e ela mudou de uma hora pra outra, sem dar tempo de eu acompanhar sua mudança. Por um lado isso era bom, ela estava deixando de ser aquela vida previsível com direito a muito drama mexicano. Por outro lado isso me assustava, eu estava com medo e ansiosa do que vinha pela frente. Era um novo começo, uma nova era.


O som irritante do despertador me acordou. Joguei meu edredom para um lado e levantei da cama. Imediatamente meus pés quentes estremeceram ao entrar em contato com o duro chão gélido. Calcei meus chinelos e arrastei-me para o banheiro. Entrei no banheiro e acendi a luz, meus olhos levaram um tempo para se acostumar com a claridade. Tirei minha roupa de dormir e entrei no Box. Liguei o chuveiro e senti a água quente aquecer meu corpo.
Sai do Box, enxuguei-me com uma toalha e enrolei-me na mesma. Fiz minha higiene matinal e sai do banheiro entrando em seguida no meu quarto. Coloquei minha roupa, penteei meu cabelo, passei uma maquiagem leve e fui para o quarto de Joseph. Seu quarto era todo colorido. Do jeito que ele gosta, colorido e vivo.
Joe dormia em um sono leve, sua boca estava entreaberta deixando o ar escapar de seus pulmões. Aproximei-me de sua cama e tirei alguns fios de cabelo de seu rosto, mas ele não se moveu.
- Joe, está na gora de acordar. – sussurrei num bom tom no seu ouvido.
- Oi. – falou com a voz arrastada e ainda de olhos fechados.
- Vamos tomar banho para você ir à escola.
- Escola. – abriu os olhos num instante e deu um sorriso sapeca. Sentou-se na cama e esfregou os olhos, abriu os braços e eu o peguei no colo indo até o banheiro com ele.


Secava delicadamente cada parte do seu corpo macio evitando ao máximo machucá-lo. Foi então que eu vi algo que por um bom tempo não me permiti ver, não me deixar sequer recordar. Era um passado. Sombrio. Ele devia ser esquecido, deveria passar como um dia. Mas ele não passava, ele sempre vinha à tona.
No braço branco de Joseph tinha profundas marcas, já estavam cicatrizadas, mas estavam marcadas no seu corpo, como tatuagem. Nas suas costas também tinham marcas. Mas uma em si chamou minha atenção: Um arranhão. Mas ele não estava cicatrizado.
Passei minhas mãos levemente pelas cicatrizes. Eu senti como se elas fossem minhas, como se também estivessem em meu corpo, como se também estivessem me machucado.
- Isso vai acontecer de novo, irmã? – Joseph perguntou-me. Parecia estar com medo e preocupado.
- Não, meu anjo, não vai. - Porque a pessoa que fez isso está enterrada, morta. Ela agora era um passado sem cor, sem vida.


- Professor ! – Joseph gritou ao ver parado no vão da porta recebendo alguns alunos. Ele soltou da minha mão e saiu correndo até , agarrando na suas pernas que eram bem maiores que as suas. Se fosse em outra época, eu sentiria ciúme, mas eu apenas sorri e imaginei como seria quando eu e estivéssemos juntos, provavelmente Joe iria amar. Eu comecei a imaginar um futuro bem incerto e talvez certo. Estaria sendo mentirosa em falar que aquilo não me animou e me deu novas expectativas, mas tratei de voltar logo à realidade, não poderia começar a esperar tanto das pessoas. Se não iria me decepcionar com mais rapidez.
Sorrindo debilmente, andei até onde e Joseph estavam. me encarava também com um sorriso nos seus lábios perfeitos e vermelhos. Quando me aproximei, ele riu, mas não uma risada forçada, uma risada natural, espontânea. Aquela que você pensa ‘’Por que esse idiota está rindo?’’ e você logo ri em seguida, mesmo sem saber o motivo. Aquela que você tem vontade de fotografar e guardar no seu porta-retrato pra nunca mais esquecer, pois acha que é rara demais, nunca vai encontrar. Essa era a risada de , pelo menos era assim que eu via quando estava comigo.
- E ai, senhorita Arendi? – ele falou num tom formal fazendo uma voz engraçada. Eu ri, baixando a cabeça ao perceber que estava corando. Oh céus, como estava sendo infantil. Eu já era adulta, poderia encarar muito bem o fato de conversar com o professor do meu irmão, com quem eu fiquei.
- Tudo bem, professor ? – Levantei minha cabeça e entrei na brincadeira. Eu era adulta, poderia enfrentar isso. Não era nenhum bicho de sete cabeças, pelo contrário, estava longe de ser um bicho.
- Tudo ótimo, e com a senhorita?
- Tudo ótimo também... É, , será que eu poderia te fazer uma pergunta rapidinho? Sei que você está ocupado, mas é muito rápido, prometo. – odiava ficar nervosa, eu sempre falava demais e minha voz sempre entregava meu nervosismo. Odiava me sentir estúpida perto do cara que hoje em dia eu achava o mais foda do mundo.
- Sem problemas, pode falar. – seu sorriso sumiu rapidamente do seu rosto dando lugar apenas para uma linha. Olhei para baixo e Joe olhava para cima me fitando com seus lindos olhos cor de amêndoas. Suspirei pesadamente.
- Você sabe que ainda continuam batendo no Joe. – falei um pouco mais baixo, somente para ele ouvir, mas tenho certeza que Joseph também ouviu.
- Não, eu tive uma conversa com os alunos e isso não aconteceu mais. Certifiquei-me disso. Algum problema? – ele arqueou a sobrancelha, curioso.
- Não, nenhum. Apenas preocupações, sabe como eu sou né? – dei um sorriso convincente para ele e parece que ele acreditou, pois gentilmente ele afagou meu rosto com suas enormes mãos macias. Fechei meus olhos e respirei fundo apreciando seu carinho. sempre fora tão gentil e doce comigo.
- Não há porque se preocupar, estou cuidando dele. – concordei com a cabeça. Mas por que eu não estava me sentindo despreocupada? Por que eu sentia que havia algo de errado? Por que não confiava na palavra de e deixava isso pra lá? Por que eu sentia que o perigo não estava na escola, mas em outro lugar que não poderia cuidar? Eu sentia que havia algo errado, eu sabia que havia algo errado.


Tudo que eu mais pensava naquele momento era em tirar aquelas sandálias que estavam machucando meus pés e dormir, dormir e dormir. Mas infelizmente não podia, tinha que terminar de fazer as coisas que o Sr. Sandford me mandou fazer. Maldita hora que fui arranjar um chefe tão exigente.
Levantei-me da minha cadeira que já estava deixando minha bunda dolorida e saí daquela pequena sala, indo até o final do corredor. Peguei uma xícara de café e voltei para a sala, bebericando o café. Era preciso estar acordada e enfrentar aquele trabalho que eu já estava achando um saco. Só de pensar que infelizmente teria trabalho da faculdade para fazer, já me dava um desanimo, uma preguiça...
- Senhorita Arendi, entrega para a senhora. – o porteiro do prédio do Sr. Sandford me chamou, estendendo para mim um buquê de rosas vermelhas. Eu olhei admirada para as rosas, elas eram tão lindas e românticas. Meu coração palpitou ao pensar em que poderia ter me dado. Só de lembrar do doce nome dele já fiquei corada.
- Quem mandou? – perguntei sem tirar os olhos do lindo buquê que tinha um enorme laço lilás em volta, minha cor preferida.
- Um rapaz loiro que entregou. Nunca o vi por aqui. – minhas conclusões estavam certíssimas, eu já imaginava que seria . Era bem a cara dele, transformar um dia entediante e chato em um dia especial. Mesmo que seja só receber um buquê de flores, só isso já ganhava meu dia. Qualquer gesto dele era especial, tudo nele era. Talvez seja por isso que suas atitudes me lembravam tanto as de Joseph.
- Obrigada. – peguei alguns trocados que tinha na minha bolsa e dei para o porteiro. Ele sorriu e entregou-me o buquê de rosas, saindo em seguida do escritório.


"It's not always easy... But I'm here forever!"
Xx, . Ou Professor . O que você quiser. Eu sou o que você quiser.



Eu li o pequeno cartãozinho com um sorriso bobo no rosto. Ele estaria aqui pra sempre, eu sabia disso. Eu sabia que poderia contar com ele a qualquer hora, não importaria se estava frio, chovendo, sol, calor, tendo um tsunami, um furacão. Ele estaria aqui para me ajudar. E não era somente para ganhar a minha confiança e depois ir embora, era porque no fundo eu sentia que também gostava de mim, eu sentia que ele também queria ficar comigo. Eu sentia que ele também sentia de que eu precisava dele, mais do que precisei de qualquer pessoa. Ele não estava ali apenas para ser o meu ficante, ou namorado, ou professor do meu irmão. Estava ali para ser meu ficante, namorado, professor do meu irmão, amigo, irmão. era tudo em um pacote só e eu nem havia pagado por ele.


Ao sair do prédio em que trabalhava, um vento gelado chicoteou meu rosto. Apertei ainda mais meu casaco em volta do meu corpo. Estava mais frio que o normal, eu poderia sentir meus pés congelando. A rua inteira estava lotada de pessoas que pareciam estar empacotadas, de tantas roupas que estavam vestindo. Todas elas andavam apressadamente, garanto que elas, assim como eu, queriam era chegar em casa, tomar um banho quente e dormir. Já estava escurecendo, as luzes da cidade já estavam acesas deixando o lugar mais iluminado e bonito. O buquê de rosas que havia me dado estava em minhas mãos, eu as segurava com todo cuidado, temendo deixar cair sequer uma rosa. Atravessei a rua rapidamente e entrei no carro, pelo menos ali estava mais quente. Coloquei minha bolsa e o buquê no banco traseiro do carro, liguei o aquecedor e o som. Babe I’m Gonna Leave You do Led Zeppelin tocava em um bom som. Tudo que eu precisava, calor e um ótimo som. Liguei o carro e dirigi, rumo a minha casa.
Eu sabia que não estava dando total atenção ao trânsito, mas também não estava totalmente desconcentrada dele. Freei bruscamente e por sorte eu não atropelei um rapaz que andava aos tropeços no meio da rua. Provavelmente estava bêbado. Suas mãos estavam trêmulas e encostadas o capô do meu carro, seu rosto estava branco e em choque, ele me olhava assustado. Demorei um tempo no seu rosto, seus olhos estavam carregados de angústia e estavam vermelhos. Sua boca estava ressecada, ele tinha profundas olheiras na pele branca. Sua barba estava desalinhada. Um semblante de um homem acabado. E aquele homem era Christian. Como ele estava diferente de quando eu o conheci.
Ele ainda continuava parado em frente ao carro me olhando, sua respiração estava ofegante. Christian parecia desesperado, atordoado. Eu não sabia como estava meu rosto, mas imaginava que estava confuso. Aquele momento foi tão rápido e confuso, tão estranho. Eu não estava entendo o que se passava ali, a única coisa que eu sabia é que Christian precisava de mim. Tirou suas mãos do carro virou-se de costa, sentando no chão, eu encarava a cena, sem saber o que fazer. Parecia que eu estava em estado de choque. Buzinas irritadas tocavam atrás de nós, mas parecia que nenhum de nós ligava, estávamos envolvidos demais com aquela cena. Abri a porta do carro e corri até ele. Sua cabeça estava no seu joelho e ele chorava como uma criança. Ele dizia frases sem sentindo como: ‘’Por quê? Por quê? Eu sou um idiota. Eu não a mereço. ’’ Era difícil de compreender o que saia da sua boca, seus soluços dificultavam tudo. Ajoelhei-me ao seu lado e passei meu braço em volta de seu corpo, como se ele fosse uma criança, bem grande por sinal.
- Christian? Está tudo bem? Eu te machuquei? Precisa de ajuda? – disparei um monte de perguntas para ele, sem nem dar tempo dele pensar em alguma. Mas eu duvidava de que ele ainda pensasse em alguma, estava descontrolado demais.
Não respondeu minha pergunta, continuou a chorar. Eu não sabia o que fazer, então fiz o que provavelmente gostaria que fizessem por mim: Eu o abracei, com força, tentando passar segurança, mesmo sem saber se era aquilo que ele queria. Christian me abraçou pela cintura e enterrou sua cabeça na minha barriga molhando meu casaco, mas eu não me importei com aquilo. O som que se escutava naquela rua eram as buzinas e xingamentos, o som que eu me permitia escutar era o choro de Christian e suas palavras sem sentido. Todos pararam para ver o que estava acontecendo com aqueles dois jovens ajoelhados no meio do trânsito e abraçados. Mas ninguém saberia explicar, nem eu mesma saberia. Parecia que estávamos numa bolha impenetrável, somente eu e ele.
- Eu estou melhor. – sua voz saiu abafada.
- Vem, vou te deixar em casa. – eu o ajudei a levantar-se. Quando ele finalmente estava em pé, pude sentir o forte cheiro de álcool que vinha de suas roupas e da sua boca. Como previsto, ele estava bêbado. Christian apoiou-se em mim e andamos até porta do carona, cambaleando um pouco. Ele por estar bêbado, eu por não agüentar seu peso. Abri a porta e Christian jogou seu corpo no banco, bati a porta e dei a volta, entrando no carro e finalmente saindo daquela rua. As buzinas pararam, as pessoas voltaram a andar.
Christian me explicou o caminho da sua casa, era bem longe, mas mesmo assim falei que não haveria problema algum em levá-lo lá. Ele insistiu que o deixasse ir sozinho, mas falei que nunca iria fazer isso. Por fim ele deu-se por vencido e me deixou levá-lo lá.
- Me desculpe. – Christian finalmente falou alguma coisa desde nossa ‘’discussão’’ sobre se ele iria ou não sozinho. Já estávamos em frente a sua casa e assustei-me quando ouvi sua voz carregada de dor.
- Pelo o que? – virei para meu rosto para encará-lo, mas ele não tinha coragem de olhar para mim, fitava o painel do carro.
- Por hoje, por aquele dia. Desculpa, mesmo. – engoli em seco suas palavras ao me lembrar do acontecido. Foi inevitável sentir raiva dele, mas tentei me controlar.
- Por que você fez aquilo?
- Você não vai querer saber.
- Ah, eu vou querer saber sim. Eu acho que eu tenho o direito de saber por que você olhou para o MEU irmão como se fosse um animal. – eu estava tentando me controlar, mas não agüentei por muito tempo e logo explodi. Achei que ele fosse gritar mais alto que eu ou então falasse coisas que eu provavelmente não queria ouvir, mas nada ele fez, continuou a fitar o painel do meu carro com um olhar vago.
- Você lembra daquela minha namorada? – balancei minha cabeça concordando. – Ela estava grávida de mim, eu fiquei super feliz, meu sonho era ser pai. Ia com ela em todas as vezes que ela tinha que ir ao médico, cuidava super bem dela. Quando ela foi ter o bebê eu estava lá, na sala de parto, filmando tudo, com um sorriso bobo no rosto. Na hora que eu vi a criança eu comecei a chorar, no início era de felicidade, depois foi de desespero. Meu filho nasceu com uma deformação no rosto, ele era horrível. Eu não consegui dizer nada, eu esqueci completamente do meu amor e da minha felicidade ao vê-lo. A minha namorada me encarava curiosa em saber o porque de eu estar com aquela cara, eu não disse nada, apenas entreguei a criança em suas mãos e sai do hospital. Eu fui o caminho todo pra casa chorando e lembrando da imagem ao ver meu filho, eu chorava de soluçar. Parei o carro em frente a minha casa, peguei minhas coisas e vim pra cá, para essa cidadezinha. Fiquei por uns tempos na casa do meu tio até arranjar um apartamento aqui. – ele voltou a chorar.
- Por que você fez isso, Christian? Eles precisavam de você! Isso foi cruel. – eu estava indignada com a confissão dele, aquilo foi horrível.
- Eu sei, eu sei. – algumas lágrimas caiam dos seus olhos, sua voz estava embargada. – Eu me arrependo todo dia , você não tem noção. Não tem um dia sequer que eu não me arrependa do que eu fiz, não tem um dia sequer que eu não lembre e não sofra. Eu fui imaturo, só pensei em mim. Eu achei que estaria longe de todos os problemas e... Eu conheci você, parecia ser uma pessoa legal, achei que talvez com você, te conhecendo direito, eu pudesse esquecer tudo que eu fiz. Mas ai eu vi o Joseph, vi que ele tinha síndrome de down e fugi de novo, com medo de novo, sendo egoísta novamente. Eu não queria ter feito isso, me desculpe. Mas é que tudo me faz lembrar do erro enorme que eu cometi, isso me machuca demais. Eu a amo mais que tudo, Melanie é a minha vida e eu também amo meu filho, mais que tudo, eles são minhas vidas. Mas agora é tarde demais, está feito. – toda raiva que eu senti dele sumiram misteriosamente e tudo que eu pude sentir foi pena. Eu estava morrendo de pena dele e eu o entendia. Tudo o que ele fez eu pensei em fazer várias vezes, só Deus e Jully sabiam o quanto eu sofria em criar do Joe, o quanto preconceito nós passávamos. Eu o entendia, mas não dava razão ao que ele fez. Mas entendia seus pensamentos, suas dores. Eu sabia o quanto era ruim, o quanto doía. Christian não era cruel, ele era apenas fraco, mas isso não o fazia um ser humano cruel. Ele apenas foi fraco em fugir da sua realidade em vez de encará-la. Agora sim eu entendia o porquê dele precisar tanto de mim.
Mais uma vez naquele mesmo o dia, eu o abracei e deixei que ele molhasse novamente meu casaco. Eu acariciava seus cabelos e ouvia seus soluços que se misturavam com o som da música I Will Follow You Into The Dark do Death Cab For Cutie. Christian me abraçava tão apertado que por um momento pensei que morreria sufocada, mas não o soltei, eu sabia que ele precisava disso. Deixei que ele colocasse pra fora tudo que estava entalado dentro dele e quando ele finalmente estava mais calmo eu o soltei e dei um sorriso seguro.
- Ainda dá tempo Chris, volte pra sua casa, mostra que você mudou seus pensamentos. Garanto que se ela realmente te ama, ela vai te aceitar de volta. Eles precisam de você. – limpei seu rosto que estava molhado.
- E se ela não me aceitar de volta?
- Você pelo menos tentou.
- Obrigado, mesmo. – dei um beijo estalado na sua bochecha.
- Não há de que. – então ele saiu do carro. Eu o observei entrar na portaria do seu prédio e sorri. Pelo menos eu fiz algo bom hoje, não era como ‘’Oh, eu salvei o mundo’’, mas era algo como pelo menos ‘’Eu juntei uma família’’ ou ‘’Eu dei um conselho que preste’’. Isso me fez bem. Olhei atentamente cada passo dele. Não saberia quando finalmente poderia vê-lo.


Sentei no sofá da sala e dei play no filme que Joe queria tanto que eu visse com ele: Bob Esponja – O Filme.
Não queria assistir o filme, mas poderia dormir assim que tivesse certeza de que Joseph estava prestando total atenção no filme. Então aconcheguei-me no sofá e Joe deitou no meu colo.
Quando estava finalmente quase pegando no sono, o som da campainha me atrapalhou. Levantei emburrada do sofá e fui até a porta, abrindo a mesma.
- ! – falei animada olhando para o garoto de olhos que estava parado na minha porta.
- ! Pensei em vir aqui para... Sei lá, passarmos a tarde juntos. – ele riu nervoso.
- Pois fez muito bem, Joe está me obrigando a assistir Bob Esponja, O Filme. – nós rimos. Eu o abracei pelo pescoço e lhe dei um selinho, ele me agarrou pela cintura e levantou-me aprofundando o beijo.
Separamos nossas bocas assim que um vento gelado passou pela gente e fez com que apertássemos um ao outro. Abri meus olhos e automaticamente olhei para o outro lado da rua e senti meu coração parar de bater. percebeu que eu estava em um momento de choque e me soltou olhando para onde eu olhava. Meu cérebro não havia mandado nenhuma ação para que eu fizesse, eu continuava parada encarando outro lado da rua, onde estava Phoebe, também me olhando.
- O que houve, ? – perguntou preocupado.
- Phoebe, ali. - Minha voz saiu trêmula. Apontei para o outro lado da rua, ele olhou para o mesmo, mas sua expressão não ficou assustada como a minha.
- Eu não estou vendo nada.
- Como não? Ali. – apontei especificamente para onde ele estava. Aquilo não pareceu intimidá-la, ela ainda continuava a nos olhar com uma expressão indecifrável nos olhos. – Eu vou até lá falar com ela, ver o que ela quer.
- . – segurou meu braço. – Não tem ninguém ali, não tem ninguém na rua. – sua voz era cautelosa e isso me deixou ainda mais confusa.
- É claro que tem, eu estou vendo, não sou maluca. – eu falei, um pouco fora do controle.
- Não, não tem. – respirei fundo e olhei novamente pra lá. Phoebe ainda estava lá, parada. Como ele podia não ver? Era impossível, não estava a confundindo com ninguém, eu a via perfeitamente. Então achei melhor deixar pra lá, não queria que achasse que eu sou uma maluca, eu tinha certeza que ele não estava olhando para o lugar certo, mas era melhor esquecer isso. Phoebe não seria burra o suficiente de fazer algo a mim e Joe, ela poderia se prejudicar e feio.
- Vem, vamos ver o filme antes que Joe reclame. – peguei sua mão e entrelacei nossos dedos, os meus aqueceram os seus. Entramos em casa e fechamos a porta. Joe continuava na mesma posição assistindo o filme, sem nem piscar os olhos.
- Oi Joe. – beijou a cabeça de Joseph. Ele levantou a cabeça e sorriu ao ver seu professor.
- Professor .
- Aqui você pode me chamar de . – ele sentou-se ao meu lado e me abraçou pela cintura, descansei minha cabeça no seu peito. Pude sentir seu coração bater rapidamente. Fechei os olhos e deixei seu perfume masculino me deixar embriagada.
- Tudo bem, .


(N/A: Coloquem para tocar Changed By You - Between The Trees)


Please wait while I slowly untie my tongue tonight
Por favor espere enquanto eu lentamente solto minha língua hoje à noite
I pray by some feeble attempt
Eu rezo por alguma tentativa débil
My words would tell you what my heart has to say
Minhas palavras te diriam o que meu coração tem a dizer
Cause you've always been right beside me for so many days
Porque você sempre esteve do meu lado por tantos dias
How could I be without you now
Como eu poderia ficar sem você agora


fazia um carinho gostoso na minha cintura enquanto eu estava abraçada a ele, ouvindo seu coração disparar cada vez mais quando eu mexia no seu cabelo ou simplesmente beijava seu pescoço. Eu gostava de causar qualquer desses efeitos nele, gostava de saber que não era a única a sentir isso.
- Isso é engraçado. – ele comentou e riu. Eu olhei para cima, fitando seus olhos que estavam num tom mais escuro que o normal. abaixou seus olhos e também me fitou.
- O que é engraçado?
- Você e eu. Digo, há um tempo você me odiava e falava para eu manter distância sua e do Joe, agora estamos juntos e toda vez que me aproximo do Joe você fica com um sorriso bobo no rosto. – corei ao saber que ele também percebia minhas ações perto dele, ele riu mais ainda. E realmente aquilo era engraçado, eu e ele. Juntos. Agora. Na minha casa. Era estranho, mas era algo estranho que eu queria para a vida toda.
- É verdade, eu também andei pensando nisso esses dias e também cheguei à conclusão de que era engraçado. Mas eu gosto disso, eu gosto dessa nova experiência. – admiti, sem nem sequer ficar corada. Um ponto para mim. Ele me olhou tão intensamente, tão meigamente que fiquei sem palavras.
- Eu também gosto, acho que de todas as experiências que eu tive, essa foi a melhor. – ficamos em silêncio por um tempo, nos olhando, até ele finalmente quebrar: - Me promete uma coisa?
- Claro.
- Promete que essa foi a melhor de todas as experiências que eu tive e você não vai me deixar. – pela primeira vez eu vi totalmente inseguro de si, inseguro de seus efeitos sobre mim.
- Seria impossível ficar longe de você, eu devo minha vida a você. Você resgatou a minha. – aproximou-se de mim e pude sentir seu hálito quente bater no meu rosto. Em um modo torturante ele encostou seus lábios nos meus e sua língua pediu passagem pra explorar minha boca. Eu dei passagem e nossas línguas se encontraram e começaram a explorar cada uma a boca da outro. Como se a cada dia que passasse houvesse algo diferente, um gosto diferente. apertava minha cintura e eu brincava com alguns fios de seu cabelo. Nos esquecemos completamente de que não estávamos sozinhos naquela sala, apenas nos concentramos naquele beijo, tão intenso, tão imprevisível, tão nosso.


Cause I am changed by you
Porque eu estou mudado por você
The more I get to know you
Quanto mais eu te conheço
The more I want you close to me
Mais eu quero estar perto de você
And I'll take care of you
E eu vou cuidar de você
Please just say you love me
Por favor, apenas diga que você me ama
Forever be whatever you need
Pra sempre serei o que você precisa


- Você e a irmã estão namorando? – imediatamente desgrudamos nossas bocas e voltamos Pa realidade ao ouvir a voz inocente de Joe falar conosco. Olhamos para ele e sorrimos.
- Pode-se dizer que sim. – falou e Joe fez um ‘’Ah’’ com a boca e voltou sua atenção ao filme. E eu voltei minha atenção a .
- Estamos namorando? – perguntei com a sobrancelha arqueada e ele riu.
- Arendi, você aceita namorar com um cara gostoso como ? – fez uma voz engraçada e eu gargalhei, tudo ele tinha que fazer piada. – Agora é sério. Você aceita namorar comigo? – sua voz engraçada mudou para séria. Eu tirei minha cabeça do seu peito e sentei corretamente no sofá, virando todo o meu corpo para ele que acompanhava cada gesto meu.
- Hmmmm... – Percebi que sua expressão já estava nervosa e resolvi parar com o suspense. – Sim, eu aceito. – ele respirou aliviado e me puxou para mais um beijo, mas que não durou tanto como o outro.
- A propósito, você também resgatou minha vida, por isso eu sempre vou cuidar de você e também devo minha vida a você. – selei nossos lábios e logo voltamos a nos beijar, tão intensamente como antes. Aquele era realmente um dia de confissões, mas aquela para mim havia sido a melhor de todas. Ninguém além dele poderia me falar algo que eu nunca imaginei ouvir e que nunca esquecerei. Cada momento com ele seria único e eterno. Ele para mim seria único e eterno.

And so if your supposed to get what you deserve in life
E então se é esperado que você consiga tudo que merece na vida
And you came just in the nick of time
E você veio apenas em cima da hora
God's grace has overtaken me
A graça de Deus me ultrapassou
My love needless to say I am blessed by you
Meu amor será desnecessário dizer que sou abençoado por você
Cause you are the one
Porque você é a única
You are the one that I've been waiting for
Você é a única que eu estive esperando
I've been waiting for
Eu estive esperando


- Acho que Deus realmente me ama muito. – ele falou assim que separamos nossas bocas com um selinho.
- Por que?
- Eu esperei tantos anos por uma pessoa realmente certa e você veio logo na hora em que eu já estava desistindo de esperar. – senti todo o meu sangue ir para o meu rosto e abaixei meus olhos. Passou a mão delicadamente pelo meu rosto e beijou a ponta do meu nariz. – Você fica muito bonitinha como um pimentão vermelho. – eu ri nervosa.
- Acho que Deus nos ama muito. – levantei meus olhos para encará-lo e ele concordou com a cabeça.


Cause I am changed by you
Porque eu estou mudado por você
The more I get to know you
Quanto mais eu te conheço
The more I want you close to me
Mais eu quero estar perto de você
And I'll take care of you
E eu vou cuidar de você
Please just say you love me
Por favor, apenas diga que você me ama
Forever be whatever you need
Pra sempre serei o que você precisa


agora era como uma droga para mim, mas uma droga boa. Ele era meu anjo da guarda que parecia adivinhar quando eu mais precisava dele e logo se fazia tão presente. Eu sabia que nada do que eu fizesse por ele valeria mais do que o que ele já havia feito por mim. Eu sabia que nem eu mudando por ele seria uma recompensa ao que ele fez por mim, porque minha mudança não estava ajudando somente a ele, como a mim também. Ele estava me ensinando a ser uma pessoa melhor, mais tolerável, paciente. Estava me dando a chance de enxergar a vida de uma outra forma e para mim, nada nesse mundo poderia recompensá-lo. Ele estava tirando minha vida do fundo do poço escuro e a levando para a claridade.


You knock my fears away
Você levou meus medos embora
And reach inside me with your eyes
E enxergou dentrou de mim com seus olhos
And light a burning fire
E o fogo queima uma luz
And I can not stop staring
E eu não posso parar de olhar


Estávamos todos assistindo ao filme, eu, e Joe que agora estava com a cabeça no meu colo. fazia um cafuné gostoso na minha cabeça. Riamos algumas vezes do filme. Parecíamos realmente uma família e pela primeira vez isso não me assustou, me deixou confortável até. Quando apareceu na minha vida e permiti me deixar envolver com ele, meus medos foram embora dando lugar a esperança e ao amor. Eu sei que amor é uma palavra bem forte. Mas se amor não for querer estar sempre do lado da pessoa que você gosta, querer protegê-la e estar do lado dela sempre quando ela precisar, sentir seu coração subir e descer com qualquer gesto mínimo que ela faça, achá-la a pessoa mais incrível e encantadora que existe, confiar cegamente nela, amar seus defeitos... Eu sinceramente não sei o que é.


Cause I am changed by you
Porque eu estou mudado por você
The more I get to know you
Quanto mais eu te conheço
The more I want you close to me
Mais eu quero estar perto de você
And I'll take care of you
E eu vou cuidar de você
Please just say you love me
Por favor, apenas diga que você me ama
Forever be whatever you need
Pra sempre serei o que você precisa


Mas se isso for amor, eu posso afirmar com toda certeza que eu amo o e não tenho o menor medo de mudar por ele.


X – Masquerade?

Era uma tarde de sábado. O sol fraquinho iluminava os fios de cabelo de . Seus olhos que eu tanto gostava estavam fechados e sua cabeça encostada no tronco da árvore daquele parque. Ele dormia, sua respiração estava acelerada e seu rosto tranqüilo. Engatinhei até ele e depositei cuidadosamente um beijo na ponta do seu nariz. Ri baixinho ao vê-lo resmungar algo.
- Irmã, vamos pintar o rosto do irmão ? – Joseph pediu com um brilho nos olhos e um sorriso infantil nos lábios. Ele achava que por eu ser irmã dele e namorar com , ele também seria seu irmão. Era um pensamento bobo, mas preferimos não discordar dele.
Preferimos. Desde o dia em que me pediu em namoro eu passava a usar palavras no plural.
- Vamos. – dei um sorriso cúmplice. Peguei minha bolsa e tirei de lá de dentro meu estojo de maquiagem. Peguei dois batons e entreguei um na mão pequenina de Joseph. Cuidadosamente pintei a boca de e depois o nariz. Joe foi imitar minha ação, mas não tão cuidadoso como eu. Ele jogou todo o seu peso em cima do corpo de e rabiscou todo o seu rosto. Imediatamente os olhos de abriram-se e passou a nos encarar curioso. Joseph soltou uma gargalhada, ainda em cima de .
- Você está lindo, amor. – falei num tom de voz irônico. Ele me olhou desconfiado e Joe riu ainda mais.
- O que vocês aprontaram? – dirigiu seu olhar para o batom que estava nas mãos de Joseph. Peguei o espelho dentro da minha bolsa e coloquei em frente ao seu rosto para que ele visse o estrago que havíamos feito. abriu a boca surpreso e olhou de mim para Joseph. Pegou Joe que estava em cima dele e o deitou na grama fazendo cócegas nele. Joe gritava e gargalhava contorcendo-se, tentava inutilmente escapar das cócegas dele.
- Irmã, socorre. – Joseph gritou desesperadamente. Aproveitei que estava desatento e comecei a fazer cócegas nele. Ele parou de fazer cócegas em Joseph e passou a ficar contorcendo-se de rir.
- Eu estou sem ar! Parem, por favor. - implorou sem conseguir parar de rir. Paramos de fazer cócegas nele e esperamos sua respiração normalizar. Ele respirou fundo algumas vezes e sua respiração foi desacelerando. sorriu maliciosamente e antes que eu pudesse correr ele me jogou na grama e prendeu meu quadril na sua perna, suas mãos descansaram ao lado de minha cabeça e seus olhos não se decidiam entre os meus e a minha boca.
- Por favor, senhor , não me torture com cócegas. – dramatizei. Vi seu sorriso aumentar e encolhi-me.
- Eu vou te torturar de outra forma, senhorita Arendi. – Ele aproximou seu rosto do meu. Fechei os olhos ao sentir sua respiração bater na minha boca. Pude sentir aproximasse ainda mais. Ele mordeu o meu lábio inferior com força e, acabei descobrindo sua "tortura".
beijou meu queixo, depois minha orelha, e mordiscou o lóbulo da mesma. Desceu os beijos até meu pescoço onde deu alguns chupões, apertei com força suas costas. Não agüentando mais aquele joguinho, puxei seu cabelo tentando deixar seu rosto onde eu pude fixar meus olhos nos seus. Desesperadamente beijei seus lábios como se estivesse procurando por eles há anos. Minha língua pediu passagem para explorar sua boca e foi concedida. sorriu convencido entre o beijo, mas eu não me importei, só queria aproveitar aquele momento.
Suas mãos apertaram com força minha cintura e ele prensou seu corpo ainda mais contra o meu. Como um imã, minhas mãos foram parar embaixo da sua blusa, alisando sua barriga. contraiu o abdômen ao sentir minhas mãos gélidas. Umas de minhas pernas ficaram entrelaçadas nas suas e sua mão apertava com força minha coxa.
Havíamos esquecido completamente de que estávamos num parque com uma criança do nosso lado.
- ... – minha voz saiu por um fio. Soltei um suspiro demorado assim que ele deu um chupão no meu colo e passou a acariciar meu seio. Eu queria empurrá-lo e dizer que aquilo não era certo, não ali, com Joe. Seus dedos ágeis abriram o botão da minha calça jeans e o empurrei gentilmente. Seus olhos me encararam aflitos. – Aqui não, Joseph está ao nosso lado. – automaticamente olhamos para o lado e vimos Joe sentado rabiscando-se todo com o batom.
- Ter uma criança na família tem suas desvantagens. – eu o encarei incrédula, não conseguindo assimilar o que ele havia acabado de falar. Então eu e Joseph éramos um atraso na vida dele? Bom saber, era sempre bom saber que tipo de pessoas estamos lidando, assim escolhemos se é bom ou não lugar por elas.
- Não seja por isso, não seremos mais um atraso na sua vida "perfeitinha". – ironizei, sentindo meu sangue ferver de raiva. Joguei seu corpo para o lado e levantei-me, ajeitando minha roupa. Peguei um lenço na minha bolsa e limpei as pernas de Joe. veio até mim e tocou meu ombro, esquivei-me de seu toque e tirei o batom da mão de Joseph que olhava tudo bastante curioso.
- , não foi isso que eu quis dizer. – sua voz soava tão arrependida que se eu não estivesse me corroendo de raiva por dentro, eu cederia. Virei-me bruscamente para encará-lo e aquele rosto que eu achava tão lindo estava me dando náuseas.
- Foi exatamente isso o que você quis dizer! Mas foi bom isso acontecer, sua máscara de bom moço finalmente caiu. – as palavras foram cuspidas da minha boca. Seu olhar triste não desviava um segundo sequer dos meus, que queimavam em ira. Peguei Joseph no colo e minha bolsa, mas eu não iria embora sem antes lhe dizer uma última coisa: - Eu esperava mais de você. – minha voz saiu por um fio, minha garganta ameaçava a fechar e nada mais saiu da minha boca. Aquelas palavras feriram-me muito mais do que as de July e Phoebe juntas. havia tocado na feriada mais dolorosa. Eu amava Joe, como se fosse meu filho. Mas doía ter que admitir que eu deixei e ainda deixo de fazer muitas coisas por causa dele. Não queria tratá-lo como um peso em minha vida.


Joe estava no banco de trás. Ele não falava nada e isso estava até me ajudando. Eu queria pensar, raciocinar as coisas, resolvê-las e com uma criança falando não iria ajudar muito.
Minha visão acabou ficando embaçada devido ao acúmulo de lágrimas que haviam formado-se nos meus olhos. Sabia que não iria conseguir segurá-las por muito tempo.
Estacionei o carro no acostamento, não estava em condições de dirigir, precisava me acalmar. Encostei a cabeça no volante, fechei os olhos e comecei a chorar. Logo os soluços fizeram companhia ás lágrimas.
Um relâmpago rasgou o céu que começava a ficar cinza e o barulho do trovão cortou o meu choro. Não demorou muito para que alguns pingos de chuva caíssem no painel do carro. Olhei para trás me certificando de que estava tudo bem com Joseph. Ele dormia no banco de trás.
Bati minha cabeça várias e várias vezes no volante do carro como se assim num piscar de olhos meus problemas fossem acabar. Imaginei como seria minha vida se Phoebe não tivesse problemas com drogas e álcool e passasse a cuidar de Joseph, se meu pai estivesse vivo, se Joseph não tivesse síndrome de down. Seria tudo mais fácil? Eu deixaria de ser tão dependente assim de July? Eu não estaria tão apaixonada assim por , mas sim por outra pessoa? Tantas perguntas, nenhuma resposta. É frustrante.
Levantei minha cabeça ao ouvir o barulho da porta abrindo e depois fechando. July sentou-se no banco do carona com dois cappuccinos em mãos, seu cabelo estava um pouco molhado e seus dentes batiam uns nos outros. Ela estendeu um cappuccino para mim e eu peguei, encarando-a curiosa.
- Nossa! Está caindo um temporal lá fora. Trouxe um cappuccino para nos aquecer. – começou a falar normalmente, como se não estivéssemos sem nos falar há três semanas.
- O que você faz aqui? – falei um pouco rude. July suspirou.
- Encontrei com , ele contou tudo o que aconteceu. – virei meu rosto para o lado tentando inutilmente lutar contra as lágrimas que vinham à tona.
- Como você sabia que eu estava aqui? – bebi um gole do meu cappuccino sentindo-o aquecer minha garganta.
- Eu estava indo até a cafeteria e acabei esbarrando com , quando entrei na cafeteria avistei seu carro. Imaginei que você estivesse mal e chorando. Sabe, você não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. – virei meu rosto para encará-la novamente e lhe mostrei um sorriso fraco. July me conhecia tão bem. – Você é bem previsível, . – beberiquei mais um pouco do meu cappuccino e o coloquei no suporte de copos. O olhar de compreensão de July pairava sobre mim. Ela colocou também seu copo no suporte, ao lado do meu.
- Ai July... – choraminguei e em seguida joguei-me em seus braços. Ela retribuiu meu abraço e começou a afagar meu cabelo. Eu havia sentido tanta falta disso. Do seu abraço maternal.
- Vai ficar tudo bem, meu bem. – por mais que as palavras de July confortassem-me antigamente, hoje em dia elas não surtiam efeito. Eu não me sentia segura. Por mais que ela se esforçasse para serem seguras. Talvez seja porque eu não queria ouvir aquelas palavras saindo meigamente da boca dela, mas sim da boca dele.
- Por que tudo tem que ser tão difícil, July? Por quê?
- Porque você torna as coisas difíceis.
- July, você tinha que ouvir o que ele disse. – um soluço escapou de meus lábios, dificultando minha fala. – Ele falou que o Joseph atrapalhava a vida dele.
- Não , você deduziu isso. – afastei-me de seu abraço para fitá-la melhor.
- Mas eu ouvi, eu ouvi cada palavra saindo da boca dele. – minha voz elevou-se.
- Você sabe muito bem que não foi isso o que ele quis dizer. – ela enxugou minhas lágrimas com seus dedos gélidos. – Ele ama Joseph, ele te ama, você sabe disso. Mas existem momentos que uma criança atrapalha sim. Quantas vezes queríamos sair sozinhas e não podíamos porque não tínhamos com quem deixar Joe? Entende o que ele quis dizer? – pela primeira vez naquele dia e desde o dia em que brigamos, eu sorri verdadeiramente para ela que de imediato copiou minha ação. July sempre tinha palavras certas na ponta da língua. Ela era tão sábia, tão racional. Era por isso que eu havia a escolhido como minha melhor amiga, minha irmã, minha mãe.
- Eu senti tanta a sua falta. – admiti, voltando a abraçá-la.
- Eu também senti muito a sua falta. – Jully abraçou-me fortemente como se quisesse lembrar como era a sensação do meu abraço. Como se tentasse transmitir para mim o quão ruim foi ficar sem falar comigo durante essas semanas e o tamanho da falta que eu fiz a ela. – Agora você vai nesse exato momento falar com o . Ficarei aqui com Joe. – separei-me de seu abraço e quando abri a boca para protestar ela cortou-me. – E fim de papo. – ordenou autoritária. Eu apenas assenti com a cabeça, o que poderia dizer a ela? Aquela era July, ela só iria me deixar em paz caso eu fizesse o que ela estivesse mandando. Bom, eu realmente queria ir até lá, mas me faltava coragem.


Eu dirigia em alta velocidade, como se assim fosse me dar coragem de chegar até a casa de e lhe pedir desculpas por ter sido idiota. Como se com a velocidade em que eu estava pudesse ser a mesma velocidade para os problemas ruins. Eu sabia que não deveria correr tanto, ainda mais na chuva. Mas essa era a última questão em que me preocupava. Somente um bom discurso, sincero e convincente para eu falar com é que passava na minha cabeça, o resto sumia. Desaparecia como as construções que passavam as aos meus olhos. Rápidas demais para eu acompanhá-las.
Eu estaria mentindo se dissesse que não estava surpresa pela forma insana a qual eu estava agindo. Dirigir em alta velocidade? Realmente era uma experiência bem nova para mim. Mas eu estava gostando daquela mistura de emoções. Ansiedade, medo, adrenalina. Tudo isso parecia ser muito novo para mim, pelo menos naquele ponto de vista.
Não me surpreendi ao ver que meu carro estava em frente a casa de . Um suspiro de alivio escapou de meus lábios ao ver seu carro estacionado na garagem. Seria péssimo se ele não estivesse lá.
Com passos calculados e lentos, como se assim fosse adiar a chegada, aproximei-me da casa. Dei duas batidas na porta e pude ouvir a voz grossa de soar detrás dela gritando um: Já vai. Meu coração disparou de medo. Será que ele iria me desculpar? Eu havia duvidado dele. Estava tão absorta nas minhas perguntas que levei um susto ao ouvir a porta abrindo e em questões de segundos a figura de aparecer bem na minha frente. Tão perto que fiquei com medo dele ouvir o disparo do meu coração. usava um moletom e seus cabelos estavam bagunçados, seu rosto amassado.
- Oi? – ele falou um pouco surpreso. Respirei fundo tentando achar coragem dentro de mim para falar com ele. Eu já estava ali, não poderia voltar atrás.
- Eu queria pedir desculpas. Eu sei que não deveria ter dito aquilo pra você, mas eu sou precipitada e impulsiva, falo coisas que nem sei direito do que estou dizendo e depois me arrependo. Não penso nada disso ao seu respeito e sei que você gosta de mim e do Joe. – cuspi as palavras, sem nem me dar tempo de respirar ou simplesmente avaliá-las. Sua expressão transformou-se para uma engraçada, ele encostou no batente da porta e sorriu sem graça. Soltei o ar preso em meus pulmões.
- É claro que eu te desculpo e eu até te entendo. Você não vai de cara confiar em mim. – percebi que ele estava mais nervoso do que eu, isso tranqüilizou-me. – Ah, , é claro que te perdôo. – desesperadamente ele me puxou para um abraço, apertando-me contra o seu corpo o dobro do meu. Minha cabeça encostou no seu peitoral descoberto e eu abracei sua cintura, apertando-o também contra mim. Ele afagava e beijava meus cabelos, eu expirava todo o seu perfume doce que emanava de sua pele extremamente perfeita. Por que ele era perfeito? Por que não tinha defeitos? Por que ele era meu?
- Eu não sei se está cedo... Talvez você pode se assustar, eu mesmo estou meio assustada... – comecei a falar e riu do meu nervosismo deixando-me ainda mais nervosa. – Eu acho que te amo. – falei de uma vez. Eu o abracei ainda mais fortemente com medo do que ele pudesse falar, com medo dele negar ou simplesmente chegar e falar: Mas eu ainda não te amo, gosto de você, mas não te amo.
Sabe, eu fiquei com medo de que eu fosse rejeitada e ele dissesse todas aquelas palavras que eu temia e via em filmes, implorando em pensamentos para que isso nunca acontecesse comigo. Era meio patético, mas acho que não iria suportar que isso acontecesse comigo. E esse silêncio todo de estava complicando ainda mais as coisas.
soltou-se do meu abraço e meu coração parou de bater por um momento, uma dor incrivelmente dolorosa apossou-se de meu peito. Fechei meus olhos com força. Senti suas mãos quentes tocarem gentilmente meu rosto e sua boca macia beijou-me de uma forma tão... Amorosa.
- Eu também te amo. Te amo tanto que é como se o seu amor fosse a base de tudo, minha sobrevivência. – foi inevitável beijá-lo.


Quando o dia finalmente estava terminando, guardei minhas coisas rapidamente e tranquei o escritório em menos de um minuto. Iria à casa de passar a tarde com ele, Joseph estava lá. Não via a hora de finalmente ver meu namorado. Desde aquele dia com altas revelações, tudo entre a gente estava indo a mil maravilhas, minha amizade com July estava mais forte do que nunca. E eram poucas as vezes em que eu pensava em Phoebe.
Entrei no carro e joguei minha bolsa e minha pasta no banco do carona. Liguei o carro disparei até a casa de . Tive sorte em não pegar engarrafamento.
Estacionei o carro do outro lado da rua, peguei minha bolsa e andei até a casa de . O sol estava mais quente que o normal, isso era raro de acontecer, mas bem. Eu gostava do sol, do calor que vinha dele. A sensação de estar aquecida.
Bati na porta, mas logo a abri ao ouvir um "Entra" vindo detrás da mesma. Entrei na casa perfeitamente arrumada (incrível, não?) de e o avistei sentado no sofá da sala com os olhos fixos na tela da TV e Joe dormindo pesadamente no seu colo. Um sorriso bobo escapou de meus lábios. Caminhei até ele e parei a sua frente. Corei ai ver seus olhos fixarem em mim. Beijei seus lábios e sentei ao seu lado colocando minhas pernas em cima do sofá e encostando minha cabeça no seu ombro, passou seus braços pela minha cintura.
- Oi, meu amor. – ele falou carinhoso.
- Então ele dormiu? – referi-me a Joe. concordou com a cabeça e em seguida sua postura ficou ereta, ele pareceu uma estátua ao meu lado, estava tenso. Olhei pelo canto do olho para ele e percebi que suas feições estavam duras. Algo estava errado, bem errado. – O que houve? – não respondeu nada por um momento, depois virou-se para me encarar. Pude ver a preocupação em seus olhos.
- Eu preciso falar com você... Sobre o Joseph. – seu tom de voz era calculado demais. Isso me deixou preocupada.
- O que está acontecendo, ? – ele percebeu o nervosismo em minha voz. Tirou sua mão em volta da minha cintura e retirou Joseph do seu colo, deitando-o delicadamente no outro lado do sofá. virou todo seu corpo para mim, pegou minhas mãos e levantou do sofá, puxando-me. Sem entender nada eu continuei sentada, esperando ele dizer algo.
- Vem, quero te mostrar algo. – levantei-me do sofá desconfiada e o segui até seu quarto. soltou minha mão e foi até seu guarda-roupa. Abriu a gaveta do mesmo e tirou de lá de dentro uma folha. veio até mim com as folhas em mãos e me entregou. Peguei das suas mãos e fixei meu olhar no desenho, prestando atenção nos mínimos detalhes que tinha ali. Na folha tinha o desenho de uma criança onde no seu lado esquerdo havia uma mulher que pelo seu rosto parecia boa, mas no seu lado direito havia outra mulher que pode concluir também pelo seu rosto que ela era má. Era um desenho torto, você saberia que era feito por uma criança de cinco anos, um desenho mal feito. Porém era cheio de significados e eu havia entendido esse significado, essa incógnita. – Joe desenhou hoje na aula, achei importante guardar para você ver. – ele mordeu o lábio inferior, ansioso pela minha resposta.
- Ela voltou , Phoebe voltou. – somente em pronunciar seu nome meu coração já havia disparado e aquele pânico havia instalado-se no meu corpo.
- Mas e se não for ela?
- É claro que é ela, é óbvio. Ela é a única que poderia fazer isso. Eu preciso falar com ela, vou agora.
- Não, fale com ela depois. Agora não.
- , eu preciso. – a última palavra foi a minha. Dei um selinho nele e sai do seu quarto, logo da sua casa.


Entrei na clinica parecendo estar correndo do que andando. Minhas unhas machucavam a palma da minha mão, mas não era a dor que me incomodava, era o pânico. Por mais que eu estivesse tentando disfarçar o tal medo que alojava em meu corpo. Parei na recepção e uma mulher baixa e morena sorriu forçadamente para mim.
- Poderia falar com a Phoebe Arendi, por favor? – perguntei educadamente. A mulher olhou-me de rabo de olho e isso amedrontou-me ainda mais.
- Claro, ela está no quarto dela. Seu nome, por favor?
- Arendi, sou a filha dela. – ela estendeu-me um formulário para eu preencher. Preenchi e segui até o quarto de Phoebe pensando em várias vezes alguma hipótese de realmente não ser ela. Ser apenas coisa da minha cabeça.
Parei em frente ao seu quarto e fitei Phoebe sentada na ponta da cama encarando o nada. Minha respiração acelerou e pesou, dificultando minha respiração, meu raciocínio. Pelo menos ela estava ali.
Phoebe virou-se para me encarar ao ouvir o barulho do meu salto bater contra o piso. Ela sorriu para mim, sorriu como se já esperasse pela minha visita. Como se esperasse pelas minhas palavras, pelas minhas ações. Como se tivesse previsto o que aconteceria naquele quarto.
- Minha querida filha, como está? – levantou-se e veio até mim abraçando-me. Como ela poderia ser tão falsa? Queria ter a habilidade de Phoebe de conseguir mentir tão bem.
- Acredito que você já saiba porque eu vim aqui, não é mesmo? – ela me soltou e passou a me encarar. Finalmente, depois de alguns meses sem visualizar seu rosto o qual estava abatido. Phoebe fingiu surpresa e logo deixou sua máscara de lado e passou a sorrir diabolicamente.
- Acredito que não. – Ela pegou um cigarro que estava na gaveta, colocou na boca e o acendeu, deu uma tragada e continuou a me encarar.
- Eu não quero que você volte naquela casa, nunca mais. Não quero que você chegue mais perto de Joseph, nunca mais. – falei pausadamente cada palavra, falava entre os dentes, por um momento achei que fosse quebrá-los. Queria que ela sentisse medo, queria causar o mesmo efeito que ela causava em mim. Mas Phoebe não se abalou, continuou a fumar e a encarar-me.
- Querida, você melhor do que ninguém sabe que eu não voltei mais lá e nem sequer cheguei perto de Joe. – falou seu nome numa falsa delicadeza, como se realmente importasse com ele. – Seja lá o que for o que está acontecendo com ele você sabe que eu não sou eu que fiz isso. – aproximou-se ainda mais de mim e grudou sua boca no meu ouvido, pronunciado pausadamente de uma forma cruel cada palavra: - Você sabe quem fez isso.
Eu gelei e todos os meus pensamentos só focaram-se no dia do parque. não faria isso, faria?


XI – My girl.

- Chegou cedo hoje, hein. – July disse assim que me viu passar pela porta da sala. Joseph e ela assistiam CSI Miami na TV. Andei até eles pensando no quanto eu gostaria de me livrar daqueles sapatos e de minha roupa, ficando apenas com uma camiseta grande e larga e descalça.
- Meu chefe me liberou mais cedo para passar o dia com meu namorado. – expliquei enquanto beijava a testa de Joseph que por sinal ignorava-me completamente, sua atenção toda estava voltada à TV. Sentei-me ao lado de July.
- Chefe bonzinho esse. – brincou, cutucando minha costela. – Então, comprou uma lingerie linda para passar a noite com ele, né? – disse num tom de voz malicioso. Remexi-me desconfortável no sofá. Não queria tocar nesse assunto.
- Não, eu não vou comprar. – minha voz saiu falha. Que droga, eu não iria dar uma de chorona agora. Iria?
- Por que não? Não me diga que vocês brigaram!
- Não, é só que não posso passar o dia com ele. Quer dizer, tenho que cuidar de Joe, você sabe. – olhei tristemente para Joseph do outro lado do sofá e aquele maldito sentimento apossou novamente na minha cabeça. Odiava aquilo, odiava profundamente.
- Como assim? Claro que você vai, mas você vai mesmo! – July disse indignada.
- Como, July? Como? – aumentei meu tom de voz. Será que era tão difícil assim para July entender as coisas?
- Eu vou ficar com o Joe. – sorriu como se tivesse feito a caridade do ano.
- Mentira? Sério mesmo que você vai fazer isso por mim? – perguntei com um sorriso bobo no rosto. Eu tinha A melhor amiga. Valia por muitos, valia por mãe, pai, tia, tio e etc.
- Claro né. Você é minha irmã, sempre que precisar estarei aqui. – July abraçou-me com aquele seu mesmo abraço maternal, deitei minha cabeça no seu ombro.
- Eu também quero um abraço. – Joseph fez bico. Eu e July o abraçamos ouvindo sua gargalhada gostosa ecoar naquela sala.


July berrava a música Mmm Papi da Britney Spears enquanto eu dirigia. Joseph e eu gargalhávamos ao vê-la remexer-se no banco do carona. Ignorava completamente os olhares que as pessoas a lançavam e continuava a berrar e remexer-se, o vento gelado jogava seu cabelo preto no seu rosto. Havia sentido falta do jeito extrovertido de July.
Estacionei o carro no estacionamento do shopping. Saímos do carro, Joe segurou minha mão e a de July. Adentramos no shopping observando o grande número de pessoas que circulavam ali com várias bolsas. July passava seus olhos a procura de uma loja que vendesse lingeries.
- Ali! – July apontou para a loja a nossa frente onde havia várias manequins com lingeries maravilhosas. Andamos até a loja e adentramos no local extremamente rosa. July e eu rolamos os olhos ao mesmo tempo e reprimimos uma risada. Uma mulher loira, magra, um pouco mais alta que eu e um sorriso forçado nos lábios apareceu.
- Boa tarde. Desejam alguma coisa? – a mulher perguntou sem decidir se olhava de mim para July e de July para Joseph. Na verdade a atenção das pessoas naquele shopping estavam em Joe.
- Sim, estamos a procura de uma lingerie perfeita para a minha amiga aqui comemorar um mês de namoro com o gostoso do namorado dela. – July comentou ignorando totalmente os olhares discretos que a mulher lançava de mim para Joe. Eu a olhei incrédula, ela tinha que deixar certas coisas entre eu e ela. A mulher riu envergonhada com o comentário de minha melhor amiga.
- Eu vou mostrar a nova coleção da Victoria Secrets para vocês. – nós a seguimos indo a procura de alguma lingerie realmente perfeita para a noite de hoje. Tudo teria que ser perfeito. Experimentei algumas das que ela me mostrava e finalmente escolhi a que eu queria. Paguei pela lingerie e segui para a casa para me arrumar.


Olhei-me mais uma vez no espelho. Eu vestia um vestido que July havia me dado de presente para comemorar meu aniversário de um mês de namoro. Por baixo, vestia a lingerie que eu e July havíamos comprado mais cedo. Bufei emburrada, não estava satisfeita com a imagem que eu via no espelho. Joguei meu cabelo para o lado, depois joguei para o outro lado. Suspirei ainda insatisfeita. Minha maquiagem estava leve, meu cabelo estava bonito, o vestido era lindo, meu perfume tinha um cheiro maravilhoso. Então por que diabos eu ainda não me sentia linda?
Ouvi uma batida na porta e antes mesmo que eu respondesse alguma coisa, a porta foi aberta. July entrou no meu quarto, virei-me para ela que me encarou, mordi o lábio inferior aflita.
- Então? – perguntei enquanto me avaliava de cima a baixo.
- Você está linda! – falou admirada. Sorri fraco para ela e sentei-me na cama, ainda estava desacreditada. July sentou-se ao meu lado visivelmente preocupada. – O que houve? – suspirei mais uma vez em menos de uma hora.
- Estou me achando tão feia, July. E se o não gostar? Estou insegura. – falei manhosa. Sem autorização alguma minhas pernas começaram a balançar demonstrando meu nervosismo.
- , você melhor do que ninguém sabe o quanto ele te ama, o quanto ele gosta de você assim, do jeito que você é. Você é linda e ele te ama muito, você sabe disso e já ouviu isso da boca dele. – dessa vez as palavras dela causaram um efeito tranqüilizador em mim como sempre causava. Talvez seja porque no fundo eu sabia que era verdade, ou talvez porque eu já as tenha escutado. Sorri verdadeiramente para ela e abracei, July retribuiu meu abraço e afagou meus cabelos.
- Obrigada. – minha voz saiu abafada, pois minha cabeça estava enterrada nos seus cabelos pretos.
- Disponha. – soltou-se do meu abraço e levantou-se da cama puxando-me em seguida. – Agora vamos porque você tem uma noite para aproveitar. – riu maliciosamente, dei um tapa no seu braço a repreendendo. Descemos as escadas juntas enquanto ouvia os comentários maliciosos de July sobre o que eu faria nessa noite, era inevitável rir com eles.
- July, não esqueça: Assim que o Joe acordar...
- Dar mamadeira para o Joseph, depois fazer uma comida leve para ele, depois dar geléia, fazer o dever da escola e não deixar dormi-lo até mais tarde e nem ver muito CSI. Já sei disso tudo, ! – July interrompeu-me, rolou os olhos mostrando o quão entediada estava.
- Obrigada. – repeti mais uma vez. July me deu um ultimo abraço.
- Não precisa, já disse. Agora vai lá e depois quero todos os detalhes hein, sua danada! – ri com o comentário dela e sai de casa antes que ouvisse mais alguma piadinha.

Meus pensamentos corriam de acordo com as casas que sumiam rapidamente dos meus olhos. Eu pensava em tudo. Qual seria a reação de ao me ver. O que ele diria. Pensava nos acontecimentos com Joe e isso era como uma chave para meus pensamentos voarem para a conversa com Phoebe, havia ficado intrigada com suas palavras. Não contei para July e muito menos para , achei melhor deixar isso entre eu e Phoebe.
Balancei minha cabeça tentando afastar aqueles pensamentos. Hoje era meu aniversário de namoro de um mês com e em alguns minutos eu estaria com ele. Não poderia deixar pensamentos idiotas como esses acabarem com isso.
Estava tão desligada que não havia percebido que num ato inconsciente já estava com o carro parado em frente a casa de . Desliguei o som dando fim na voz irritante do mais irritante ainda, Justin Bieber. Sai do carro e o tranquei, atravessei a rua e logo estava na casa de . Bati na porta e em seguida olhei para o céu achando que estivesse chovendo, mas estava errada, o céu estava limpo e estrelado. Dei de ombros. abriu a porta a porta, assim que me viu sorriu. Ele estava lindo! Vestia uma camisa social preta, seu cabelo estava bagunçado daquele mesmo jeito de sempre, seus olhos estavam num tom escuro. Ao vê-lo, todas aquelas sensações já tão conhecidas por mim reapareceram. O coração disparou, a respiração acelerou, o nervosismo dominou meu coração e tudo que eu conseguia pensar era em .
- Você está linda! – ele me puxou pela cintura deixando nossos corpos colados, pude sentir seu hálito refrescante batendo no meu rosto. Sorri debilmente e passei meus braços pelo seu pescoço, lhe dei um selinho rápido.
- Você também está lindo. – soltou minha cintura e entrelaçou nossas mãos adentrando sua casa. A casa toda estava escura, era iluminada somente por algumas velas que continham um cheiro agradável e havia rosas vermelhas em toda parte da casa, a mesa da cozinha estava toda iluminada com velas e tinha um tabuleiro com macarronada, uma garrafa de vinho e duas taças. Apertei sua mão e meu sorriso alargou-se. Ele teve todo esse trabalho para fazer um jantar romântico para mim, do jeito como sempre sonhei, exatamente do jeito que eu sonhei. Ele não poderia ter sequer um defeito?
- Gostou? – mordeu o lábio inferior aflito. Passei novamente meus braços sobre seu pescoço e lhe dei outro selinho. Era impossível não gostar de nada que faça.
- Eu amei. – ele apertou seu corpo ainda mais contra o meu, sua boca tocou meus lábios. Sua língua pediu passagem para explorar minha boca e sem cerimônias eu a concedi. Suas mãos apertavam com força minha cintura e isso me causou uma mistura de dor e prazer, minhas mãos pararam na sua nuca bagunçando seu cabelo e arranhando sua nuca. O beijo não durou muito tempo, separei nossas bocas e o encarei com um brilho no olhar.
- Vamos comer? – concordei com a cabeça. Entramos na cozinha e nos sentamos à mesa, sentou-se a minha frente. Observei a macarronada, parecia estar deliciosa. Meu estomago roncou lembrando-me que não havia comido nada o dia inteiro, riu. – Espero que você goste da minha macarronada, não sou um chefe de cozinha, mas dá pra engolir. – ele fez uma careta fofa, inclinei-me sobre a mesa e mordi seu nariz.
- Tenho certeza de que vou amar. – sentei-me direito na cadeira. nos serviu com a macarronada e colocou vinho nas nossas taças. Ele me olhou esperando por alguma palavra que o fizesse desistir de me dar bebida alcoólica. Mas eu não fiz nada, aquela era a nossa noite, então teria que sair do nosso jeito, não queria que fosse só do MEU jeito.


(N/A: Coloquem para tocar: My Girl - The Temptations)

I've got sunshine
Eu tenho o brilho do sol
On a cloudy day
Num dia nublado
When it's cold outside
Quando está frio lá fora
I've got the month of May
Para mim é como se fosse a primavera


- Obrigada , sério. Nossa, isso... Uau... Está lindo, não sei o que dizer. – disse admirada tornando a olhar todo o local. pegou minha mão e fez um carinho na palma da mão.
- Você merece. – sorri abobada. – Agora coma, preciso saber se está bom. – coloquei um pouco da macarronada na minha boca e mastiguei lentamente tentando deixá-lo ainda mais aflito, fazia caretas para torturá-lo. – Está tão ruim assim? – perguntou preocupado.
- Está maravilhoso, meu amor. Não sabia que cozinhava tão bem. – soltou o ar preso em seus pulmões mostrando o quão aliviado estava. Eu ri.
- Está falando isso para não me deixar mal. – fez um bico.
- É sério, está ótimo.
- Mas tem um motivo para estar tão bom assim. – estufou o peito convencido.
- Tem, é? E qual seria esse motivo? – perguntei, mesmo tendo as respostas decoradas na minha cabeça.


Well, I guess you'll say
Bem, você vai me perguntar:
What can make me feel this way?
O que me faz se sentir desse jeito?
My girl
Minha garota
Talkin' 'bout my girl, my Girl
Eu estou falando da minha garota (minha garota)


- A minha garota. – por mais que eu soubesse a resposta, que eu soubesse que ele sorriria para mim daquele seu jeito encantador e então eu perderia todos os sentidos, meu coração iria disparar e ficaria ainda mais apaixonada por ele, por mais que já estivesse decorada a cena tão clichê e vivida por muitas garotas sortudas como eu. Foi inevitável esquecer de tudo isso, parecia que eu havia perdido a memória e todas as ações pareciam novas para mim. Tudo que era clichê com , para mim parecia ser novo.
- Essa sua garota deve ser mesmo uma sortuda. – disse quando finalmente havia recuperado minha voz. demorou um tempo para responder, pois estava mastigando.
- Ah, sim, ela é a minha garota. É a única que me faz sentir todas essas coisas, a única que gostou da minha macarronada, a única que me atura, a única que é realmente complicada e cabeça dura, a única que se encanta com qualquer coisa que eu faça e diga e a única que me deixa encantado com qualquer gesto, mínimo que seja. Bom, ela é a única para mim. – seu sorriso meigo ficou guardado na minha memória, assim como suas palavras adoráveis. Assim como aquela noite. Pretendi guardar tudo, desde o momento em que bati na sua porta até o momento em que eu estava levantando-me da minha cadeira e indo com os meus próprios pés até a sua cadeira. Quando me ajoelhei sobre seus olhos atentos e curiosos e sem pensar em mais nada eu beijei seus lábios sentindo meu sangue circular mais rápido.


I've got so much honey
Eu tenho muito mel
The bees envy me
As abelhas me invejam
I've got a sweeter song
Eu tenho uma doce canção
Than the birds from the trees
Como os pássaros nas árvores


retribuiu o meu beijo, mas de uma forma intensa. Sem desgrudar nossas bocas ele levantou-se da cadeira e puxou-me para cima colando meu corpo ao seu de imediato. Suas mãos apertavam com força minha cintura e a outra apertava minha bunda, eu arrancava alguns fios de seu cabelo o ouvindo gemer contra meus lábios. Nossos pés andavam para trás tropeçando nos mesmos e às vezes até os machucando devido a intensidade que o beijo havia formado, estávamos a procura de um lugar seguro.

Well, I guess you'll say
Bem, você vai me perguntar:
What can make me feel this way?
O que me faz se sentir desse jeito?
My girl
Minha garota
Talkin' 'bout my girl, my Girl
Eu estou falando da minha garota (minha garota)


Paramos de andar e de nos beijar. Arranquei sua blusa social deixando à mostra seu abdômen definido. Eu sabia que nesse momento meus olhos queimavam em luxúria e tudo o que eu queria sentir nesse momento era o corpo de em sintonia com o meu. Beijei seu pescoço descoberto e desci os beijos até chegar no seu peito onde mordisquei, apertou meu braço com força. Passei minha língua ao redor do seu peito e depois o beijei, subi os beijos até chegarem no lóbulo da orelha de . Ele prensou seu corpo contra o meu e pude ver o quão excitado ele estava, assim como eu.

Ooooh, Hoooo.Ooooh, Hoooo. I've got sunshine
Eu tenho o brilho do sol
On a cloudy day
Num dia nublado
When it's cold outside
Quando está frio lá fora
I've got the month of May
Para mim é como se fosse a primavera


Minhas mãos subiam, desciam e arranhavam seu abdômen. resmungou, provavelmente cansado demais das minhas torturas. Ele envolveu suas mãos ao redor do meu rosto e olhou-me, pude ver que seus olhos também estavam queimando em luxúria. Estava tão concentrada na troca de olhares e no silêncio que se instalara ali que não havia percebido que suas mãos saíram do meu rosto e estavam abrindo o zíper do meu vestido. Em questão de segundos ele estava caído aos meus pés deixando-me apenas com a minha lingerie, tirei meu pé de cima do vestido e o joguei em qualquer canto da sala. Voltei a olhar para que observava cada parte do meu corpo semi nu com um sorriso malicioso. Seus dedos contornaram a minha boca e imediatamente fechei os olhos ao sentir seu toque. Sua mão alisou meu colo, depois desceu para o meu peito, minha barriga, brincou com o elástico da minha calcinha, desceu um pouco mais sua mão e parou na minha coxa apertando-a. Suspirei pesadamente ao sentir suas mãos fazerem movimentos de vai e vem sobre minha calcinha, riu baixinho com isso.
Tocava cada parte do meu corpo desconhecida por ele, querendo descobrir cada parte que era coberta pelas roupas que eu usava.
Grudei nossas bocas recomeçando mais um beijo feroz. Dei impulso e entrelacei minhas pernas na sua cintura, cambaleou um pouco para trás com o peso do meu corpo. Cambaleava enquanto procurava seu quarto – pelo menos foi isso o que eu havia escutado saindo da sua boca – e segurava com força minha cintura sem desgrudar nossos lábios. Uma de suas mãos abriu a porta do quarto. Separei nossas bocas quando meu pulmão implorou por ar, passou a chupar meu colo e eu arfei. Colocou-me delicadamente na sua cama de casal e ficou sobre mim. Finalmente tirei sua calça social deixando-o apenas com a sua boxer que em questão de segundos também foi retirada, tirou seus sapatos com os pés e ficou completamente nu. Pude sentir sua ereção entre minhas pernas e isso aumentou meu tesão pelo seu corpo. Retirou meu corpete e em seguida minha calcinha. Meu corpo todo arrepiou-se ao sentir nossos corpos nus colados, ambos queimando de excitação.


Well, I guess you'll say
Bem, você vai me perguntar:
What can make me feel this way?
O que me faz se sentir desse jeito?
My girl
Minha garota
Talkin' 'bout my girl, my Girl
Eu estou falando da minha garota (minha garota)


Nossos corpos moviam-se em sintonias e nossos beijos eram desesperados, ferozes. Nossos suspiros, gemidos, suores misturavam-se, assim como nossas palavras. Às vezes nossas mãos esbarravam-se e quando isso acontecia, nós a entrelaçavamos ou até mesmo as apertávamos sentindo o prazer queimar nossos corpos.


XII - I don't believe you

Tudo estava indo bem na minha vida, bem até demais. Eu havia me formado na faculdade e consegui um emprego no escritório do senhor Sandford. Não havia mais machucados no corpo de Joseph, minha relação com estava cada vez melhor e eu tinha minha melhor amiga de volta.
Por mais que tudo estivesse indo muito bem, algo ainda me incomodava, não tanto. Como se fosse um cisco no olho. Era estranho, pois parecia que eu estava à espera de algo ruim. Eu tinha a sensação de que algo ruim iria acontecer.
Assim que entrei no meu quarto joguei meu sapato num canto e tirei minha roupa que logo foi parar em cima do meu sapato. Fui até o meu banheiro e retirei minha peça íntima, entrei no Box e liguei o chuveiro. A água quente bateu no meu corpo.
Sai do banheiro enrolada na toalha. Peguei minha roupa no armário e a vesti, penteei meu cabelo, passei um perfume pelo meu corpo e sai do quarto. Ao sair do quarto deparei-me com a casa toda escura, em cada cômodo que eu passava ia acendendo as luzes até a casa estar completamente acesa. Desci as escadas e fui até a bancada da cozinha onde meu celular estava e piscava. Peguei o celular e li as duas mensagens ali:


Não precisa buscar Joe no fonoaudiólogo, eu o levarei em casa e vou dormir ai.
Xx, July.



Amanhã vou passar o dia inteiro com você!
Te amo, .


Um sorriso bobo apareceu nos meus lábios, o mesmo de sempre. Respondi a sua mensagem:


Claro meu amor, estarei te esperando. Também te amo.
Xx, .


Coloquei o celular de volta na bancada e fui até o armário da cozinha. Tirei de lá de dentro um pacote de macarrão. Peguei uma panela e a enchi de água, coloquei no fogão e esperei a água ferver. Assim que a água estava fervida joguei macarrão dentro da panela.
Ouvi o barulho da porta sendo destrancada e depois ela sendo fechada. Passos aproximavam-se da cozinha. Senti os braços de Joseph envolverem minha coxa e beijar a mesma. O peguei no colo e beijei seu nariz.
- Boa tarde. – July falou animada largando sua bolsa na bancada. Depositou um beijo no meu cabelo e olhou para a panela que estava no fogão.
- Boa tarde, estou fazendo macarrão. – July sorriu e sentou-se a mesa, coloquei Joseph no chão que logo correu e sentou-se no colo de minha amiga.
Quando o macarrão estava pronto, nos sentamos à mesa e começamos a comer e conversar. Contar coisas sobre o nosso dia cansativo.


Acordei contra minha vontade ao ouvir o barulho do despertador. Joguei o edredom para o lado e levantei-me. Rapidamente calcei meu chinelo ao sentir meus pés tocarem o chão gélido.
- July, levanta, está na hora de irmos trabalhar. – sacudi levemente seu corpo, mas ela não se levantou. Bufei, acordar July era sempre difícil. – Eu vou tomar banho e quando voltar espero te ver acordada. – disse irritada entrando no banheiro. Tirei minha roupa de dormir e entrei no Box ligando o chuveiro em seguida.


- July! – gritei quando sai do banheiro enrolada na toalha e vi minha melhor amiga ainda dormindo na mesma posição. July levantou da cama rapidamente e assim que me viu lançou-me um olhar irritado.
- Não precisa gritar, ! – disse irritada indo até o banheiro.
- Aproveite e dê um banho no Joe também. – pedi enquanto colocava minha roupa. July saiu irritada do banheiro e foi até o quarto de Joseph batendo o pé, ri baixinho com a sua atitude. Segundos depois ela voltou com Joe no colo.

Entramos no carro e dei partida. July ligou o som e Baby One More Time da Britney Spears estava tocando. Entreolhamo-nos e começamos a cantar relembrando o nosso tempo de escola. Joseph estava no banco de trás gargalhando e tentando cantar a música no mesmo ritmo que o nosso. Minha vontade foi apenas de fechar os olhos e deixar que as lembranças daquele tempo de escola me levassem de volta para lá. Aquele tempo onde reclamávamos de acordar cedo, dos professores e a quantidade de exercícios que eles passavam. O tempo em que nos apaixonávamos e nos desapaixonávamos diversas vezes. O tempo em que minha família era normal e tanto minha mãe como meu pai estavam ali comigo, dando o apoio necessário para minhas decisões.
Eu realmente queria fechar os olhos e voltar ao tempo, mas não o fiz. Não por estar dirigindo e correr o risco de bater com o carro. Mas porque existe coisas que são melhores serem deixadas no passado, lembrar delas não iria adiantar e as vezes ela vinham acompanhadas da dor e da saudade.
Estacionei o carro em frente ao prédio onde July trabalhava.
- Tchau amiga, tchau Joe. – July me abraçou e eu retribui seu abraço. Em seguida abraçou Joseph.
- Tchau. – Joseph eu dissemos em uníssono, July saiu do carro e bateu a porta. Dei partida no carro rumo à escola de Joseph.
- Irmã, eu tive um pai? – Joseph perguntou-me inocentemente após alguns segundos em silêncio. Dei sorte de o sinal ter fechado naquele momento. Fiquei surpresa com a pergunta dele e por um momento não soube o que dizer. Assim que me recuperei do choque, lhe respondi:
- Sim, meu anjo, você teve um pai. – desviei meus olhos do painel para a janela ao meu lado assim que senti eles encherem-se de lágrimas. O que eu poderia fazer? Eu sentia falta de meu pai, muita. Sentia falta de ir correndo abraçá-lo quando chegava do trabalho, de ir toda feliz mostrar para ele minhas notas na escola, de ouvir suas histórias, tomar seu chocolate quente e ir ao parque com ele. Sentia falta da alegria que ele nos dava. Se ele estivesse vivo, muita coisa iria mudar, mas infelizmente ele não estava.
- Eu queria conhecê-lo. Por que ele nos abandonou, ? – Joseph perguntou-me melancólico. Minha garganta se fechou e eu sabia que assim que minha voz voltasse iria soluçar. Uma lágrima grossa e teimosa escorreu, rapidamente eu a sequei evitando que Joseph a visse. Senti um peso instalar-se no meu corpo.
- Ele não nos abandonou, meu bem, Deus queria que papai ficasse com ele. – disse assim que minha voz voltou. Pedi mentalmente para que aquela conversa acabasse.
O sinal abriu, o carro andou.
- Como ele era? – Joseph tornou a me perguntar enquanto descia e subia os dedos pelo vidro. Tentei evitar que aquela pergunta me deixasse abalada, mas foi em vão. Tentei focar minha atenção no trânsito.
- Ele era um ótimo pai. – sorri ao lembrar-me da sua face tranqüila e do quão bom ele era. Sempre ensinando a ser honesto, querendo sempre o melhor da gente. Ele era realmente um ótimo pai, sempre tão presente.
Estacionei o carro em frente à escola de Joseph. Desliguei o rádio, tirei meu cinto de segurança e sai do carro. Tirei Joseph do banco de trás e o coloquei no chão, ele segurou minha mão enquanto eu trancava o automóvel.
- Chega de perguntas, mocinho. – brinquei com ele enquanto entrávamos na sua escola. Cumprimentei alguns conhecidos. Logo meus olhos pararam no homem parado no batente da porta da sala de Joseph. Suas mãos estavam no bolso da calça jeans clara, percebi que sua respiração estava acelerada devido à forma que seu peito subia e descia. Os dois botões de sua camisa social estavam abertos, seu cabelo estava um pouco bagunçado, seus olhos estavam extremamente e fixos em mim e nos seus lábios havia um largo sorriso.
Paramos em frente a ele e eu sorri. Beijei o topo da cabeça de Joseph despedindo-me dele, Joseph abraçou o mesmo retribuiu seu abraço. Ele entrou na sala deixando somente eu e sozinhos no meio daquelas pessoas totalmente inúteis aos nossos olhos.
- Bom dia. – o abracei pelo ombro sentindo seus braços envolverem minha cintura.
- O meu dia já começou ótimo com esse abraço. – falou próximo ao meu ouvido e eu fechei os olhos ao ouvir sua voz rouca. Beijei o seu pescoço expirando seu perfume e seus pêlos arrepiaram-se.
- Tudo bem com você? – tirei meus braços ao redor do seu pescoço, mas ainda segurava firmemente minha cintura.
- Tudo ótimo e com você? – assim que fui responder uma voz esganiçada e bastante irritante aos meus ouvidos chamou pelo meu namorado. Imediatamente soltou minha cintura e seus olhos que antes estavam fixos em mim, agora estavam fixos na ruiva à nossa frente.
Ela era linda! Seu corpo era curvilíneo, seu cabelo batia mais ou menos na sua cintura e eram sedosos, seus olhos eram de um verde escuro e sua pele clara era de um leve tom rosado. Ela era perfeita e eu totalmente sem graça comparada a ela.
- Maggie! – disse entusiasmado saindo de perto de mim e abraçando a ruiva, ambos sorrindo. Patéticos. Completamente patéticos.
- Quanto tempo! – a ruiva chamada Maggie disse soltando-se do abraço caloroso dele.
- É verdade, como está? Vejo que está muito bem. – senti meu sangue ferver, fechei o punho e respirei fundo tentando controlar minha raiva. Maggie deu um tapa no braço de e gargalhou. Deus! Até a risada daquela mulher era melhor que a minha.
- Não seja bobo, . – ela passou as mãos no cabelo e jogou um pouco a cabeça para trás ainda rindo. Revirei os olhos totalmente irritada com a relação "intima" entre eles. Fiz um barulho com a boca com o propósito de ser notada e não ignorada. e Maggie viraram-se para mim.
- Ah. – bateu na própria testa como se estivesse esquecido de algo e ele realmente havia esquecido. – Maggie, essa é a minha namorada, . – a ruiva sorriu e estendeu a mão para mim, eu a apertei levemente e também sorri. Falsamente.
- Que gracinha sua namorada. - Gracinha. Revirei os olhos com o comentário idiota dela e não disse nada, apenas concordou! Controlei minha raiva que parecia aumentar cada vez mais.
- Prazer em conhecê-la. – disse falsamente.
- O prazer é todo meu. O que acham de sairmos para jantar hoje à noite? Ah, , temos muitas novidades para contar. – quando abri a boca para negar o seu pedido e avisá-la que e eu tínhamos planos, foi mais rápido que eu e falou na minha frente:
- Claro que aceitamos! Seria maravilhoso, no Junni’s, o que acha? Voltando aos velhos tempos. – não, não seria nem um pouco maravilhoso. Não era maravilhoso saber que existia agora uma nova pessoa na vida de e talvez essa pessoa fosse importante para ele. Não era maravilhoso saber que existia agora uma nova pessoa na vida e talvez ela tomasse meu lugar e não era nem um pouco maravilhoso saber que ela sabia e havia participado do passado dele e eu não.
- Perfeito! – sorriu animada. – Às nove horas está bom para vocês? – assentiu com a cabeça. Respirei fundo mais uma vez. Não estava suportando aquele clima.
- , amor, vou indo, se não vou me atrasar. – passei os braços pelo seu pescoço e beijei seus lábios demoradamente para lembrar a Maggie que ele era meu e passado ficava no passado.
- Está bem. Passarei na sua casa às oito e meia para irmos jantar. – assenti com a cabeça e virei-me para Maggie falando numa falsa simpatia:
- Até mais, querida. – ela me deu um breve tchau. Dei as costas aos dois andando até o portão de saída.


- Senhor Sandford? – perguntei assim que ouvi a voz grosa do meu chefe.
- O que deseja, senhorita Arendi? – perguntou educadamente. Estacionei o carro na garagem da minha casa.
- Eu queria lhe avisar que infelizmente não vou trabalhar hoje, estou indisposta. – mordi o lábio inferior insegura esperando pela bronca. Bati a porta do carro e o tranquei.
- Ah querida, que pena! Bom, melhoras então e qualquer coisa é só ligar. – às vezes meu chefe é tão gentil. Abri a caixa de correios e arqueei a sobrancelha ao ler de quem era e para que lhe interessava:
De: Christian Sandford.
Para: Arendi.

- Obrigada. – nos despedimos e eu desliguei o celular. Guardei o aparelho na minha bolsa e entre em casa com a carta em mãos. Joguei minha bolsa no sofá e rasguei o envelope, abri a carta e logo pude ver a caligrafia perfeita e cautelosa de Christian. Nela dizia:


Querida , como andam as coisas em Cordilheiras dos Andes? Ainda trabalhando com meu tio? Como vão July e Joseph? Desculpe-me pelas inúmeras perguntas, mas é que quero ficar por dentro de tudo! Desculpe-me também pelo desaparecimento... Você deve imaginar que fui atrás de minha mulher e meu filho, certo? Pois se imaginou isso, está certíssima! Obrigada pelo conselho, ele me foi muito válido. Agora estou (finalmente) em casa e com a minha família. Contei para ela sobre você e ela está curiosa para te conhecer, podemos marcar algo, o que acha? Quero saber tudo que aconteceu com você! Escreva para mim.
Sinto sua falta.
Beijos, Christian.


Sorri e passei os dedos pela folha como se quisesse guardá-las em minha memória. As palavras eram tão amorosas, sinceras. Christian havia demonstrado ser uma pessoa tão especial.
Guardei a carta dentro do envelope e as segurei firmemente em minhas mãos como se estivesse medo que elas desaparecessem. Subi a escada com o objetivo de ir direto para o meu quarto e dormir um pouco, mas ao passar em frente ao quarto de Phoebe meus planos mudaram. Fiquei parada em frente à porta escura do seu quarto pensando se deveria entrar ou não ali. Eu sabia que assim que pusesse não somente meus pés como meu corpo inteiro, eu seria tomada por uma nostalgia enterrada por mim. Mesmo sabendo disso, preferi entrar.
Ao entrar naquele quarto que se manteve fechado por meses, não pude deixar de expirar o perfume adocicado que tinha ali e isso me acalmou. Sua cama estava bagunçada, suas roupas espalhadas. Em cima da cabeceira havia um cinzeiro com incontáveis guimbas de cigarro, duas garrafas vazias de whisky. Aproximei-me da cabeceira ao notar um porta retrato com uma foto a qual não pude identificar as pessoas que estavam nela. Peguei o porta retrato em minhas mãos e um sorriso largo apareceu assim que vi eu, Phoebe e meu pai na foto. Essa foto era antiga, eu devia ter uns cinco anos quando a tiramos. Eu estava sentada no colo de meu pai e Phoebe sorria radiante abraçando meu pai pelo ombro.
Eu estava feliz por saber que ela ainda tinha essa foto e a deixava em cima da cabeceira ao lado da sua cama. Tudo bem que não havia fotos de Joseph no seu quarto, e isso me fez lembrar minha juventude perdida por cuidar dele e quantas pessoas e amigos tive que enfrentar devido ao preconceito que tinham com meu irmão. Phoebe nunca fez nada para ele, sempre o ignorava e quando não o ignorava, batia nele. Apesar das lembranças que essa foto me causava eu ainda me sentia feliz, pelo menos Phoebe lembrava que tinha família.
Passei os dedos pela foto e fechei os olhos parando o dedo no rosto de meu pai. A mesma nostalgia de antes tomou conta de meu corpo. Então me veio em mente a idéia de visitá-lo, me pareceu boba, mas naquele momento era o que eu queria fazer. Sai do quarto deixando a porta aberta, desci a escada pulando alguns degraus e peguei minha bolsa em cima do sofá, saindo em seguida de casa e trancando a mesma.
Entrei no cemitério e andei até o túmulo de meu pai. Assim que o vi não pude conter um arrepio. Sentei-me no chão e olhei para a sua foto. Tão lindo, tão feliz. Por um momento as palavras escaparam de mim e não soube o que dizer o fazer, apenas olhei para a sua foto. Um vento frio passou por mim e eu fechei os olhos, logo as palavras foram cuspidas de minha boca dizendo tudo o que eu quis dizer durante todos esses anos e nunca disse.
- Oi, pai, não venho aqui faz tempo, não é mesmo? – dei uma risada nervosa. – Estou sentindo-me patética por estar nervosa ao falar com você, na verdade, estou falando com algo feito de cimento, mas gosto de pensar que você está me ouvindo. Esses últimos anos foram muito difíceis sem você, mamãe piorou e Joseph foi quem sofreu. Acho que ele tem sorte de me ter, sabe quem iria cuidar dele? Com certeza não seria Phoebe. Está tudo muito complicado e confuso, quando tudo está indo muito bem, simplesmente desanda de uma hora para outra e eu não gosto disso. Não mesmo. Sinto sua falta, sinto sua falta todos os dias, de tudo que passei com o senhor. Às vezes fecho os olhos e imagino como era antigamente, quando o senhor estava vivo e logo começo a chorar, como estou chorando agora. – funguei. – Queria que o senhor estivesse vivo, tudo seria como antes. O senhor nos ajudou tanto e às vezes não consigo me conformar com a sua morte. O senhor sabe pelo o que eu estou passando? Tem idéia? Eu estou sofrendo muito sem você aqui, mesmo eu tendo , Joseph e July, nada se compara a você. Ao seu carinho, seu amor de pai. Às vezes acho que não vou suportar. Só queria poder te abraçar novamente, encharcar sua blusa com as minhas lágrimas e lhe contar como foi meu dia. Sinto sua falta, você não tem idéia. Cuide de mim, preciso de forças. – sequei meu rosto que já estava molhado devido as lágrimas que caiam dos meus olhos e sorri ao olhar pela última vez sua foto. A foto de meu pai.

Ouvi uma buzina e rapidamente nos levantamos do sofá onde esperávamos impacientemente . Saimos de casa e tranquei a porta. Atravessamos a rua e entramos no carro trocando a impaciência pela alegria ao ver , beijei seus lábios. Joseph sentou-se no banco de trás.
- Você está linda. – sussurrou no meu ouvido e eu arrepiei-me. Sorri satisfeita, sabia que não havia errado na escolha da roupa.
- Você não está atrás. – ele concordou e eu ri batendo de leve no seu braço, pegou minha mão e a beijou e depois a soltou colocando a sua no volante. Deu partida no carro enquanto conversávamos coisas aleatórias e eu tentava ao máximo não me deixar lembrar que Maggie estaria lá.
Chegamos ao restaurante, estacionou o carro no estacionamento e saímos do mesmo. Entrelaçamos nossas mãos e entramos no restaurante, Joseph segurou minha outra mão. O restaurante não era lindo e chique, mas era bonito e confortável. Logo avistei o cabelo extremamente ruivo de Maggie, ela estava sentada numa mesa um pouco afastada das outras com um copo de bebida em mãos e sozinha. Assim que nos viu acenou alegremente, revirei os olhos.
- Olá. – Maggie disse sorrindo enquanto nos sentávamos a mesa. sentou-se ao meu lado e Joseph também, Maggie estava a nossa frente. Pude perceber o olhar surpreso dela que vinha disfarçado do sorriso e do olhar amigável.
- Oi, querida. – disse falsamente e percebi que havia notado minha falsa animação assim como ouvi sua risada baixinha.
- Oi, Maggie. – disse realmente animado e isso não me deixou nem um pouco contente.
- Vamos fazer os pedidos? – ela nos estendeu o cardápio. Escolhemos o pedido. Olhei para Joseph estranhando o fato de ele estar quieto e percebi que ele olhava fixamente para Maggie e percebi também que a mesma estava inquieta com o olhar curioso do menor.
- Então, como vocês se conheceram? – finalmente perguntei não suportando aquela dúvida que estava em minha cabeça. Os dois se entreolharam e sorriram sem graça.
- Nós namorávamos nos tempos de escola. – disse um pouco envergonhado e abaixou os olhos evitando olhar nos meus. Aquele sentimento de possessão aumentou ao saber que Maggie também já fora dele e sabia mais coisas dele do que eu e talvez até tivesse dormido na mesma cama que ele e acordado ao seu lado. Ela também beijou os lábios que eu beijava todos os dias e ele também disse várias vezes que a amava e o quão linda era. Isso tudo quase me deixou tonta e descontrolada. Mas não podia bancar a ciumenta agora.
- , não precisa ficar envergonhado! é sua namorada, ela precisa saber coisas do seu passado. – Maggie riu da vergonha do homem. É, eu realmente preciso saber do seu passado, .
- É, , sou sua namorada, fala sério! – brinquei tentando ao máximo tirar aquela tensão que predominava ali. Ele levantou os olhos e os fixou no meu, deu um sorriso de canto e beijou minha testa sobre os olhos atentos de Maggie.
E a conversa continuou, o pedido chegou e continuávamos a comer ainda conversando. Na verdade, somente e Maggie conversavam, eu apenas ouvia as histórias sobre sendo pronunciadas da boca de Maggie. Dei um último gole no refrigerante e pedi licença já não suportando aquele clima intimo e totalmente exclusivo dos dois. Levantei-me sendo ignorada por eles e fui até o banheiro. Olhei meu reflexo no espelho. Eu estava bonita, bem arrumada. Por que então me ignorava e seus olhos estavam atentos sobre as coisas que ela dizia e fazia? Eu não era tão bonita, simpática e inteligente como ela? Era isso?
Molhei meu rosto com a água gelada da torneira a fim de afastar esses pensamentos e peguei um papel e sequei meu rosto. Sai do banheiro deparando-me com uma cena totalmente confusa e dolorosa para mim. puxava com forças os braços de Joseph e o batia contra o a mesa, parecendo usar bastante força. Maggie olhava a cena e ria. Meu corpo explodiu de raiva ao ver aquela cena e aquilo doeu, doeu mais em Joe do que em mim, tinha certeza. Como ele pôde? Preferia que tivesse me traído com Maggie, que tivesse me magoado a fazer isso com Joseph.
- O que está acontecendo aqui? – minha voz saiu falha e os olhares dos presentes naquela mesa pousaram sobre mim.
- Estamos conversando. – respondeu confuso arqueando a sobrancelha.
- Não, vocês não estavam conversando, você estava batendo em Joseph! Como pôde, , como pôde? – minha voz agora era cortante e amargurada. e Maggie encararam-me surpresos, até mesmo Joseph.
- , eu não fiz isso, Maggie eu estávamos conversando! Quem te disse isso? – perguntou visivelmente nervoso. Peguei Joseph no colo querendo sair o mais rápido dali com o meu irmão.
- Ninguém me disse, eu vi! Não diga que estou mentindo, eu vi tudo, não sou cega. – aumentei meu tom de voz já cansada daquela farsa.
- Mas eu não fiz nada, NADA! – aumentou também sua voz passando as mãos pelo cabelo e arrancando alguns fios.
- Está falando que sou louca agora? Não me precisa me mostrar mais nada, eu vi tudo. Sua farsa caiu e fique com a sua queridinha, ela realmente te conhece melhor do que eu. – disse irônica dando as costas aos dois ainda sentados na cadeira, olhando-me perplexos. Quando estava na porta do restaurante me virei para eles e gritei: - À propósito, está tudo acabado entre nós. Não venha atrás de mim.

XIII - People always leave

A claridade da luz de fora fez com que eu cobrisse meu rosto rapidamente, a porta fechando-se lentamente fez com que eu bufasse irritada. Merda! Eu não poderia nem ficar sozinha? Estava cansada de toda a piedade que sentiam por mim.
Ao meu lado alguém deitou-se afundando a cama. O perfume refrescante fez com que eu definisse a pessoa como July. Era de se esperar.
- Joe ainda está dormindo. Está chateado por vê-la triste. – July disse claramente alisando meu cabelo que escapava do edredom. Um nó formou-se na minha garganta. Odiava o fato de estar mal e sem querer atingir Joseph com isso.
Tirei o edredom do meu rosto e fixei meus olhos sem qualquer sinal vital nos dela. Os de July brilhavam, tinha vida. Os meus pareciam mais um poço escuro.
- Você está realmente acabada. – July disse divertida tentando animar-me, mas fraquejou. Meus olhos encheram-se de lágrimas dando-lhe um brilho. Diferente do que eu queria, mas ainda sim um brilho. Abracei July pelo ombro e em questão de segundos o choro veio à tona colocando tudo para fora. – Oh meu anjo, não fique assim. – Ela alisava meu cabelo tentando me acalmar.
- Por que ele fez isso, July? Por quê? – Perguntei com a voz embargada. Eu sabia que July não teria uma resposta para essa pergunta. Ninguém teria.
- Não sei, gostaria de entender. – Respondeu justamente o que eu imaginava ouvir.
- Logo com o Joe, July! Ele já sofreu bastante. – Falei indignada apertando inconseqüentemente o pescoço dela, depois afrouxei o abraço com medo de também machucá-la, porém de uma forma diferente.
- , você realmente viu aquilo? – Sua voz era cautelosa demais, como se tivesse medo de que aquela pergunta pudesse prejudicar algo. Tirei meus braços que estavam envolta do seu pescoço e afastei-me para encará-la.
- É claro que eu vi, com os meus próprios olhos. Você acredita em mim, não é? – Em menos de um minuto uma mistura de várias emoções passou por ela, eu havia percebido isso. Mas a confusão ficou, mesmo que ela tenha disfarçado. Ela estava tão confusa quanto Joseph.
- Acredito. – Suspirei pesadamente tentando encher meus pulmões de vida. Passei a mão pelo rosto molhado e inchado secando as lágrimas já irritantes.
- Quero ficar sozinha. – Me virei para o lado oposto enrolando-me ainda mais no edredom.
- Nada disso. Temos que ir a rua comprar os preparativos para o aniversário de Joe. – Bati a mão na testa. Como pude esquecer? Era daqui a duas semanas. Droga! Como o tempo passava rápido.


’s POV

Eu simplesmente não conseguia compreender o porquê de ter terminado comigo, ainda mais daquela forma. Como ela poderia ter visto algo que nunca aconteceu e sequer passou pela minha cabeça fazer isso? Eu nunca encostaria um dedo em Joe, eu o amo tanto como ela o ama. Então por que ela teria visto algo que nunca aconteceu e ainda sim jurou ter visto? Não fazia sentido, não tinha cabimento. Aquela história estava estranha demais e isso me confundia cada vez mais. Eu nunca conseguia chegar a uma resposta que fizesse sentido. Se ela queria terminar comigo então por que diabos inventou tudo aquilo? Era só terminar. Afinal por que ela queria terminar comigo se estava tudo bem entre a gente e ela parecia feliz?
Respirei fundo. Não recebi nenhuma resposta, apenas um silêncio frustrante, apesar do barulho que fazia naquele local. Levei o copo com uísque dentro até minha boca e pude sentir o material frio e gélido do copo. Bebi o resto do uísque tinha no copo sentindo-o queimar minha garganta. Disfarcei uma careta, não estava acostumado a beber muito, mas naquela ocasião me parecia ser uma ótima idéia.
- Afogando as mágoas, ? – Ouvi a voz melodiosa de Maggie soar no meu ouvido. Isso fez todos os pêlos da minha nuca arrepiarem-se. Ela puxou um banco e sentou-se ao meu lado no bar.
- Cada um tem a sua maneira de reagir após um término de namoro. – Dei um sorriso torto virando-me para finalmente encará-la. Seus olhos estavam atentos em mim. Ela estava muito bonita. Seu cabelo estava solto, sua maquiagem não estava forte e nem leve. O lápis preto realçava a cor dos seus olhos. Maggie usava um vestido preto curto e justo que realçava suas curvas levando qualquer homem à loucura somente em olhar, inclusive eu. Ela corou ao notar meus olhos a avaliando.
- Ela terminou mesmo? – Perguntou mordendo o lábio inferior. Se eu ainda conhecia muito bem Maggie ela estava sentindo-se culpada. Concordei abaixando os olhos e os fixando no meu copo vazio.
- Então, o que te traz aqui sozinha? – Perguntei quebrando aquele silêncio que se instalara.
- Ultimamente minha vida se resume a ficar sozinha. – Riu baixo e sem humor. Naquele momento me vi conectado a Maggie. Ambos sentados no banco de um bar, sozinhos e completamente infelizes.
- Bem, afogue suas mágoas comigo. – Estendi meu copo vazio a ela que rapidamente chamou o Barman.
- Pois não, senhora? – O Barman perguntou educadamente olhando discretamente para o decote dela. Balancei a cabeça em sinal de negação e ri pelo nariz.
- Um uísque, por favor. Vou acompanhar meu amigo. – Girou seu corpo e olhou-me, sorriu dando uma piscadela. Havia me esquecido que Maggie era uma ótima companheira para bebedeiras.
- Outro para mim. – O Barman retirou o copo que estava em cima do balcão e sumiu do nosso campo de vista. Depois ele voltou com os dois copos e os colocou em cima do balcão. Fizemos um brinde saudando a nossa infelicidade.
Ficamos ali bebendo não sei por quanto tempo. Maggie fez com que eu me esquecesse de , pelo menos por aquela noite. E ao invés de eu estar lamentando-me por não tê-la mais como eu estava horas atrás, agora eu estava gargalhando das coisas que Maggie dizia. Ela era o tipo de pessoa que fazia bem a qualquer um. Sempre espontânea e prestativa. Naquela noite havia mostrado ser uma confidente.
Saímos do bar rindo escandalosamente e tropeçando nos nossos próprios pés. Sei que parecíamos dois adolescentes, porém, ambos precisavámos daquilo. Uma quantidade exagerada de álcool, apenas para esquecer-se, por um momento. Não sabíamos ao certo quantos copos de uísque foram pedidos, mas sabíamos que foram muitos.
- Minha casa é pra lá. – Apontou para a rua atrás dela. Seus olhos estavam semicerrados, seu cabelo bagunçado.
- Nada disso, está tarde demais para você ir sozinha e além do mais você está completamente bêbada. – Eu disse mantendo uma postura séria e tentando voltar à lucidez.
- Você está tão bêbado quanto eu. – Gargalhou. Não consegui manter minha postura séria por um tempo e nem conter meu riso.
- Acho melhor você vir para a minha casa, venha. – A puxei pela mão e atravessamos a rua quando o sinal fechou.
- me chamando para passar uma noite na sua casa? – Disse divertida fazendo gestos exagerados com a mão.
- Não seja idiota. É só que minha casa é logo ali – Apontei para a pequena casa azul que ficava à nossa frente no final da rua sem saída – e eu não quero que você vá sozinha.
Apressei o passo querendo chegar o mais rápido possível em casa, não estava suportando aquele frio e acredito que Maggie também não, já que suas mãos estavam gélidas e ela encolhia-se quando um vento gelado passava por nós. Ela tentava me acompanhar e acabava tropeçando nos seus pés e ria, inundando a rua vazia, fria e escura com o som engraçado e harmonioso da sua risada.
Abri a porta de casa com um pouco de dificuldade para enxergar o buraco da fechadura e enfiar a chave ali. Adentramos a sala silenciosa e nos jogamos no sofá. Estávamos ofegantes devido ao esforço feito para chegar até ali. Maggie colocou seu pé sobre a minha perna e deitou sua cabeça no meu ombro. Prendi a respiração por alguns segundos e depois a soltei lentamente. Eu sabia o que iria acontecer ali pra frente. Começava com um gesto inocente, sem maldade, depois ia com uma intensa troca de olhares, o beijo e no fim acabávamos nos dois deitados no sofá daquela sala, ou na cama. E depois eu ou ela ficamos arrependidos e juramos nunca mais beber.
- Achou que vou pegar uma garrafa de vinho. – Delicadamente tirei seus pés do meu colo e levantei-me indo até a cozinha. Peguei a garrafa de vinho no armário e duas taças de cristal, voltei para a sala. Maggie estava parada em frente à estante observando os objetos ali. Ela virou-se para mim quando ouviu o barulho da garrafa sendo aberta. Coloquei vinho nas duas taças e fui até ela com as taças em mãos. Estendi uma a ela que pegou sem hesitar, apenas sorriu.
- Você ainda tem aqueles CDs maravilhosos? – Perguntou após saborear o vinho.
- Tenho todos. – Beberiquei meu vinho e fui até a estante tirando de dentro da caixa o CD do The Smiths que estava ali. Preferido de ambos. Coloquei o CD dentro do som que estava ao meu lado e pudemos ouvir os primeiros acordes de There Is A Light That Never Goes Out. - The Smiths! – Aumentou o tom de voz demonstrando o quão feliz estava. Sorri com isso e comecei a cantarolar a música, mas parei de imediato quando essa mesma música trouxe-me lembranças. preparando a comida na cozinha, Joseph ao seu lado, eles cantarolando a música. A mesma que Maggie e eu estávamos ouvindo.
- Essa música é a preferida de . – Meu tom de voz saiu melancólico. Rapidamente bebi um pouco do meu vinho ao sentir minha garganta se fechar assim quando pronunciei seu nome. Estúpido. Estúpida era a forma que eu reagia ao falar e pensar nela.
- Você gosta bastante dela, não é mesmo? – Seus olhos não desgrudaram dos meus e sua voz era firme.
- Bastante. – Respondi recordando-me do quanto eu gosto do sorriso e a forma que seus olhos sorriam junto com seus lábios, brilhando como sempre. Do jeito que sua risada ecoava no meu ouvido e era tão estúpida que te fazia rir junto. Quando ela mexia no cabelo mostrando o quão nervosa ou ansiosa estava e isso prendia a sua atenção. Todas essas coisas tornavam-me um cara completamente apaixonado por ela.
Coloquei minha taça em cima da estante e Maggie fez o mesmo colocando a sua ao lado da minha. Aproximou-se ainda mais de mim ficando perigosamente perto. Tão perto que seu perfume doce deixou-me ainda mais embriagado.
- Esqueça um pouco dela, pelo menos essa noite. – Seu tom de voz era quase inaudível e estranhamente sedutor. Ela colocou sua mão em volta do meu pescoço e inconsequentemente as minhas foram parar ao redor da sua cintura. Seus olhos estavam fixos nos meus lábios. Maggie aproximou seu rosto do meu e beijou-me, mas sua língua não pediu passagem. Deveria estar com medo da minha reação. Eu não poderia negar que eu também queria aquilo.
E então minha língua pediu passagem e logo foi concedida. Sua língua tinha o sabor do vinho e eu imaginei que a minha também tinha. Eu a guiei até o sofá segurando fortemente sua cintura e a deitei ali, fiquei por cima dela. Minhas mãos subiam e desciam ágeis pelo seu colo até sua coxa, as dela estavam ocupadas demais em abrir o zíper da minha calça. E dentro de alguns minutos aconteceu justamente o que eu havia previsto e queria que acontecesse. Não, eu não a confundi com , eu via claramente Maggie ali. Nua, deitada em baixo do meu corpo febril, gemendo baixinho no meu ouvido quando eu a penetrava com os olhos fechados.


Não sabia ao certo por quanto tempo estava parado ali com uma xícara de café em mãos e encostado na pia da cozinha. Eu só sabia que estava ali. Absorto nos meus pensamentos. Tais pensamentos como: Eu estava certo ou errado em dormir com Maggie? Errado porque eu a usei para esquecer naquela noite. Mas eu estava certo porque era aquilo que queríamos e eu não estava mais com .
- Pensando na morte da bezerra? – Perguntou divertindo-se com a minha expressão vazia. Dirigi meu olhar a ela que estava encostada no batente da porta usando apenas minha camisa. Seu cabelo estava preso num coque frouxo e ela sorria timidamente. Estava linda e sonolenta, pelo o que eu percebi.
- Preparei café da manhã, vamos comer. – Veio até mim sorrindo radiante e me deu um selinho antes de sentar-se na cadeira. Devo admitir que tudo aquilo era bastante estranho. Eu sentando-me para tomar café da manhã com outra pessoa, não a que eu realmente queria que estivesse ali.
- Já estava com saudades de comer sua panqueca. – Disse enquanto eu puxava a cadeira e sentava-me em frente a ela. Somente a mesa com diversos alimentos nos separava.
- Então você vai matar a sua vontade. – Sorri enquanto a servia com panquecas. Começamos a comer em silêncio, parando algumas vezes para falar algo sobre a comida ou como o tempo parecia esfriar cada vez mais. Nada além disso. Permaneceu ali um silêncio constrangedor. Até que sete palavras foram pronunciadas de forma clara da boca de Maggie e pegou-me de surpresa.
- Você deveria ir até a casa dela. – Quase me engasguei quando ouvi suas palavras, por isso engoli rapidamente o pedaço de panqueca que estava na minha boca antes que isso acontecesse.
- Desculpe? – Para minha surpresa minha voz estava normal, sem sinal algum de falha.
- Ela, . Era com ela que você deveria estar tomando café-da-manhã. – Por incrível que pareça suas palavras eram sinceras e faziam total sentido. Se eu queria tanto assim de volta, não deveria ter ido ao bar beber e depois ter transado com Maggie. Deveria ter ido até a casa dela.
- Não, Maggie, foi com você que eu dormi ontem e é com você que eu deveria estar nessa manhã. – Não queria que ela achasse que havia me arrependido da noite anterior, porque eu não havia me arrependido. Não havia vestígio nenhum de arrependimento, não havia por que se arrepender. Naquele momento eu queria aquilo tanto quanto ela. Apesar de estar bêbado eu ainda tinha consciência do que eu estava acontecendo ali.
- Mas é ela que você ama e não eu. – Quando abri a boca para protestar dizendo que não era bem assim que as coisas funcionavam. Naquele momento eu era a última pessoa no mundo que ela queria ver, Maggie me impediu sendo mais rápida e dizendo: - , somos adultos o suficiente para reconhecer nossos sentimentos e aceitá-los. O que aconteceu entre a gente foi apenas um desejo, foi carne. Seus sentimentos mesmo são por e isso sempre esteve claro. – Percebi que ela corou ao falar sobre nossa noite juntos. Imaginei se Maggie também havia se recordado dela como eu havia feito.
- Você... Está completamente certa. – Maggie deu um sorriso satisfeito e eu pus minha mão em cima da sua apertando-a levemente como uma forma de agradecimento.

Após aquela conversa esclarecedora de manhã com Maggie eu havia decidido ir até a casa de . Se eu realmente a amava e gostava de me imaginar por um bom tempo com ela, eu deveria sim ir atrás dela. E não porque sou idiota por correr atrás de uma pessoa que havia me acusado de algo que eu não fiz, mas sim porque eu a amava e seria capaz de qualquer coisa para tê-la de volta. Eu tinha lutado tanto para tê-la, havia sido tão difícil... Agora que eu a tinha não podia deixá-la escapar das minhas mãos tão fácil.
Tranquei a casa vazia e dirigi-me até a garagem onde avistei meu carro e entrei ali. Maggie já havia ido embora, não quis que eu a deixasse em casa, usou a desculpa que sua casa era tão ridiculamente perto da minha que ela poderia ir andando, já que não era sedentária. Não protestei, pois eu queria chegar o mais depressa possível na casa de e acabar com tudo aquilo. Ou seria recomeçar?
Liguei o carro e dei partida torcendo mentalmente para que não houvesse engarrafamento ou começasse a chover. Liguei o radio e pude ouvir o refrão da música My Love da Pixie Lott tocar. Comecei a batucar meus dedos no volante dando total atenção ao trânsito. Estranhei quando já estava na rua da casa de podendo ver algumas crianças brincando na calçada. Não sabia se eu havia chegado tão rápido ali devido à velocidade em que eu estava ou porque não prestava tanta atenção assim no trânsito. Só sei que em menos de dez minutos eu estava na rua dela. Estacionei o carro em frente à casa da senhora Marchtten com receio que visse meu carro em frente a sua casa e trancasse a porta para que eu não falasse com ela, já que eu tinha certeza que ela na queria me ver. Sai do carro, mas antes desliguei o rádio. Enquanto ia até o meu objetivo repassava na minha mente algum discurso bastante convincente para fazê-la acreditar em mim, mas ao ver um pequeno ser humano correndo da casa dela, perdi toda a minha atenção, antes concentrada no discurso. Apressei o passo querendo aproximar-me cada vez mais do pequeno ser e acabar com todas as minhas dúvidas. Identifiquei o ser sendo Joseph que corria desesperadamente como se tivesse fugindo de um tiroteio; completamente assustado. Assim que me viu parou a minha frente. Seus olhos estavam arregalados (como se tivesse acabado de presenciar algo macabro) e tão cheios de lágrimas que lhe dava a impressão que num piscar de olhos iria começar a chorar, sua respiração estava acelerada devido à corrida e sua pele estava pálida, mas não seu tom pálido normal, um pálido de susto. Joseph estava com medo, sentia tanto medo que tremia da cabeça aos pés parecendo que iria desmontar. E dessa vez eu fiquei realmente assustado.
- Joe, está tudo bem? – Perguntei preocupado. Ajoelhei-me a sua frente e de repente minha visão foi tampada, pois Joseph agarrou-me pelo pescoço. Eu levantei com Joseph no meu colo, ele tremia tanto e eu sabia que não era por causa do frio já que ele estava todo agasalhado.
- Eu estou com medo dela, muito medo. – Sua voz era cortante, falhava. Arquei a sobrancelha demonstrando o quão confuso eu estava com suas palavras. Voltei a andar ainda com Joseph no meu colo.
- Está com medo de quem? – Joseph apertava com força meu pescoço e isso dificultou minha fala.
- Eu não gosto dela. Não gosto nenhum pouco. – Balançava a cabeça negativamente ignorando minha pergunta. Imaginei que fosse Phoebe, mas lembrei que ela ainda estava na clinica. Então me veio à mente July, mas não fazia sentido já que Joe a amava tanto e a considerava como uma irmã. Então veio a última pessoa que desejaria nunca ter pensado: . Mas definitivamente não fazia sentido ser ela, Joseph era completamente apaixonado pela irmã, a via como uma mãe. Recordo-me perfeitamente quando ele estufava o peito e dizia todo orgulhoso em alto e bom som para que todos na sala de aula ouvissem: "Minha irmã fez bolo de chocolate para mim, ela é uma ótima irmã e eu a amo. " Não fazia nem um pouco de sentido.
- De quem você não gosta? – Afaguei seu cabelo ruivo tentando acalmá-lo. Mas ele não respondeu a minha pergunta, apenas deixou que um silêncio frustrante permanecesse ali. Derrotado por não receber nenhuma resposta esclarecedora girei cautelosamente a maçaneta da porta da casa de , evitei ao máximo fazer barulho. Quando a porta abriu vi sentada no sofá enrolada no seu edredom amarelo. Estava com os olhos fixos na tela da TV, apesar de estar olhando para lá era possível saber que sua atenção não estava realmente ali, pois estava envolta nos seus próprios pensamentos.
Ela continuava linda, porém triste. Seus olhos eram cansados e tristonhos, também estavam inchados denunciando o choro. Havia fundas olheiras revelando suas noites mal dormidas, estava um pouco abatida. Alguém riu, pensei que havia sido ela, mas lembrei-me do som baixo e engraçado da sua risada. Descobri que vinha da TV. Esperei que também risse como sempre fazia quando alguém ria, mas ela não fez o que eu esperava.
- Hey. – Disse baixinho, mas o suficiente para ela ouvir. Desviou os olhos da TV para a porta quando ouviu minha voz e ficou surpresa a me ver parado ali com Joe, que ainda mantinha-se calado, no colo. Rapidamente entrei na sala e fechei a porta antes que ela me expulsasse.
- O que você está fazendo aqui? – Sua voz completamente fria e raivosa foi como uma facada. Ela só falava daquela forma comigo na época que me odiava. Percebi que Joe agarrou com mais força meu pescoço quando percebemos a ira na voz da irmã dele. jogou o edredom para o lado e levantou-se irada andando até nós. Parou em nossa frente permitindo que eu olhasse de perto seu rosto amargurado e sentisse seu hálito quente.
- Eu vim conversar com você. Civilizadamente. – Passamos a nos encarar, mas não com olhares amorosos de antes, agora eles eram sérios.
- O que você está fazendo com ele? – Referiu-se a Joseph. – Ele estava no quarto dormindo! Por que diabos você está com ele se era para estar dormindo? Não me diga que você está pensando em seqüestrá-lo para torturá-lo? – Seu tom de voz era extremamente alterado. Se a situação não fosse tão séria quanto parecia ser, eu iria rir e mandá-la parar de brincadeira. Mas eu sabia que ela não estava brincando.
- Eu o vi saindo correndo de sua casa e fiquei preocupado, então o peguei e o trouxe até aqui. – tomou Joe dos meus braços e os aninhou nos seus, mal me deu tempo de explicar-me.
- Preocupado, sei. Imagino o quão preocupado estava. – Disse sarcasticamente. Respirei fundo vencendo meu orgulho e minha ira. Afinal, eu sabia que não seria fácil. – Fique calmo meu anjo, eu estou aqui, tudo ficará bem. – Suas mãos faziam um cafuné no cabelo dele e seus lábios beijavam sua cabeça. Joseph parecia estar mais calmo com o carinho que recebia da irmã. Sorri ao ver a cena. Ela parecia uma mãe.
- Precisamos conversar. – Fui objetivo querendo que aquilo terminasse logo, mas terminasse bem.
- Não temos nada para conversar, . – Dizia tranquilamente, o que eu estranhei. Mas sua expressão mudou. De calma passou a ser de desdém. Imaginei que ela houvesse mudado de expressão porque havia se lembrado daquela noite. – Está tudo esclarecido. Terminei com você após ver algo completamente inaceitável e covarde. – Suas palavras saíram entre seus dentes que pareciam quebrar a qualquer momento, tamanha era a força que usava.
- Eu não fiz isso, eu nunca faria algo para machucá-lo. Não ao Joe, não a você ou qualquer outra pessoa que você e eu amamos. – É engraçado quando você conta a verdade e ninguém acredita em você, porém quando conta uma mentira acreditam em você. A vida era mesmo injusta com os justos. Sim, eu era justo e tinha total consciência disso. Nunca tinha sido um filho da puta, pelo menos, não com . Sempre fui tão honesto com ela. Não havia motivos para que desconfiasse de mim.
- Você fez, . Você fez e eu vi tudo. – Não pude deixar de notar sua voz embargada. Ela estava a ponto de chorar. Joseph tirou sua cabeça que estava encostada no pescoço dela e passou a nos olhar curiosamente.
- NUNCA BATERIA NELE! SEQUER ENCONSTEI UM DEDO NELE. SE NÃO ACREDITA EM MIM, PERGUNTE A ELE. – Toda aquela tática de manter a paciência simplesmente desapareceu e me vi gritando completamente alterado. Já estava casado de todas aquelas falsas acusações e o que me deixava puto era ser acusado por algo que eu não fiz.
- O professor nunca me bateu. – Joseph pronunciou claramente e com certa dificuldade as palavras sem esperar que sua irmã lhe perguntasse, eu sabia que ela não iria lhe perguntar. o olhou com uma expressão surpresa, até demais. Um breve silêncio instalou-se ali. Era torturante não ouvir nenhuma palavra saindo da boca dela. Uma crítica, um xingamento ou um pedido de desculpas. Nada. Absolutamente nada.
- O que você disse? – Finalmente disse algo. Sua expressão que antes estava surpresa agora mudou para desconfiada. Provavelmente deveria estar achando que Joe estava mentindo para proteger-me. O que não era verdade.
- Ele nunca me bateu, mas já encostou um dedo em mim, me abraçou. – Senti vontade de rir quando o ouvi dizer isso, tão inocente. Porém não ri, não seria bom eu fazer isso, poderia complicar as coisas.
- Meu amor, não precisa mentir para mim, pode dizer a verdade. – Passou as mãos delicadamente pelo seu rosto sorriu carinhosamente. Mas seus olhos não demonstravam nenhum tipo de carinho e sim uma preocupação exagerada.
- Não, irmã, eu não estou mentindo. nunca me bateu, ele gosta de mim, ele já me disse. – Sorri ao ouvir as palavras do pequeno Joe que riu para mim. Ele era a única chance que eu tinha para trazer de volta e fazê-la acreditar em mim.
- Agora você acredita em mim? – Aproximei-me ainda mais dela querendo acabar coma pouca distância que sobrara. não recuou um passo.
- Acredito no Joe, o conheço bastante para saber que ele não mentiria para mim.
- Eu nunca menti para você, por que está dizendo isso? – Ela referia-se a Maggie? Nunca havia mentido pra ela sobre isso. Vasculhei na minha mente algum momento em que eu tivesse mentido para ela sobre algo grave, mas não me recordei.
- Não estou dizendo que você está mentindo ou já mentiu, apenas disse que não te conheço o suficiente para saber quando você fala a verdade. – Não demonstrou sinal algum de brincadeira, pelo contrário, suas palavras eram firmes. Não compreendi ao certo o que ela queria dizer com aquilo. Estávamos juntos há dois meses. Eu não era um desconhecido para ela, eu era o seu namorado.
- O que você está dizendo? – Suspirou pesadamente como se estivesse cansada demais.
- Vá embora, . – A forma que ela me pediu para ir embora doeu. Indiferente. Como se aquele pedido fosse indiferente a ela.
- ... Vamos conversar. – Não me senti patético por dizer aquilo em tom de súplica.
- , vá embora, por favor. – Desviou seus olhos dos meus para a parede branca e lisa da sala. Derrotado e amargurado sai de sua casa em silencio e bati a porta da sala. Pedi a Deus mentalmente que eu não estivesse saído da vida de quando havia posto o meu pé para fora de sua casa, porque eu não iria desistir dela.


’s POV OFF.

A foto em cima da mesa do computador prendeu minha atenção. Eu e sorriamos radiantes deitados na grama do quintal da casa de July. Ontem mesmo eu queria ver aquela foto na lata de lixo, queria jogar fora qualquer coisa que fosse de ou apenas me lembrasse dele. Hoje eu já não me importava tanto com aquela foto, admito que até gostava de vê-la ali. Não queria jogar fora nada que me lembrasse dele e nem queria esquecê-lo, porque eu amo.
Admito também que não queria vê-lo e nem conversar. A conversa de hoje à tarde não havia me deixado tranqüila como provavelmente ele imaginou que aconteceria. Pelo contrário, me deixou confusa. Agora eu sabia que não havia batido em Joe e eu não poderia negar que estava mais tranqüila. Mas ainda assim eu estava confusa. Se não era que batia em Joseph, então quem batia, afinal? Eu não tinha o visto batendo nele? Louca eu não estava (tinha total controle da minha mente), não era cega (eu enxergava muito bem por sinal) e havia visto com meus próprios olhos aquela cena. Que merda estava acontecendo na minha vida afinal? Não quero dramas, não quero mistérios, não quero dor. Quero felicidade, romance, uma vida normal, se não for pedir muito.
Um choro baixinho vindo do banheiro tirou-me dos meus pensamentos sobre uma vida normal. Estranhei, afinal só estávamos eu e Joseph em casa, ele estava dormindo. Desconfiada, fui até o banheiro evitando ao máximo fazer barulho e xingando-me mentalmente por não ter calçado um chinelo ou ter posto minhas meias. A luz do banheiro estava acesa e a porta entreaberta. Cuidadosamente abri a porta e meus olhos passaram por aquele local à procura do barulho. Os fixei no canto do banheiro quando vi Joe sentado ali abraçado ao seu corpo nu e chorando baixinho. Corri até ele e ajoelhei-me ao seu lado, preocupada demais. Afastei do seu rosto alguns fios de cabelo que estavam na sua face e o vi recuar ao sentir meu toque.
- Joe sou eu, sua irmã. – Virou seu rosto para encarar-me. O pavor tomou conta de mim quando vi seu rosto angelical todo arranhado. – O que aconteceu com você? – Perguntei aterrorizada.
- Foi ela, irmã, ela quem fez isso. – Ele gaguejou com os olhos cheios de lágrimas. Um aperto instalou-se no meu peito.
- Ela quem? Quem fez isso? Diga-me e eu vou acabar com a vida dela. – Logo a ira tomou conta do pavor, transformando-me numa pessoa descontrolada. Ninguém tinha o direito de fazer isso com Joe.
- A Summer. – Arquei a sobrancelha completamente confusa com a sua resposta. - Quem é essa?
- Summer, sua irmã.


Capítulo XIV - Take the white pill and you will fell alright;

- July, eu não estou brincando! July, foi estranho, sabe? Eu o encontrei no banheiro todo arranhado e perguntei quem havia feito aquilo com ele, daí ele respondeu: ‘’Sua irmã, Summer.’’ E eu lá tenho uma irmã? Eu nunca soube da existência de uma irmã, meu pai sequer traiu Phoebe. Ela poderia ter traído ele, mas não faz sentido toda essa história. Que diabos, July, eu estou confusa! Você pode, por favor, parar de rir? – Eu estava descontrolada e isso estava absolutamente claro. A risada de July deixava-me ainda mais irada. Eu enfrentava uma batalha entre o celular e o volante.
As autoridades estão certas quando dizem para não falarmos ao telefone enquanto dirigimos.
- Desculpe, mas é que a situação é hilária. – Mais risinhos. Bufei e revirei os olhos. Quando queria ela conseguia ser muito irritante.
- A situação não é hilária, July! Meu irmão está apanhando e eu sequer sei quem está fazendo isso com ele, está bem? Não vejo nada de engraçado nisso. – Pronto. Toda aquela tática de respirar e inspirar para evitar que eu me estressasse foi por água baixo. Eu fiquei ainda mais descontrolada.
Não ouvi a respiração de July, então pude concluir que ela tinha prendido o ar. Sabia que estava errada.
- Sinto muito, você está certa. – Agora ela falava sério e parecia estar realmente arrependia. Respirei fundo. Aquela história estava me deixando completamente louca. Eu só queria paz, era pedir muito?
Normalidade, essa sim seria uma boa escolha de vida.
- Está bem. July, com toda a sua sinceridade, o que você acha que é? – Mordi o lábio inferior demonstrando para mim mesma o meu nervosismo. Estacionei o carro no estacionamento do escritório onde eu trabalhava e o desliguei, mas continuei sentada no banco do motorista.
- Eu acho que ele criou um amigo imaginário. – Ainda não tinha pensado nessa possibilidade. O problema é quando não paramos, sentamos e analisamos a situação.
Eu nunca faço o que é certo.
- Mas e os machucados? – O ar escapou dos meus pulmões, lembrei-me que estava segurando-o por tanto tempo. Ele embaçou o vidro e então comecei a fazer qualquer desenho idiota.
- Talvez ele mesmo tenha feito isso. , as crianças são bastante imaginativas. – Desliguei o som, já não suportava mais ouvir aquele Hip Hop de quinta categoria. Aproveitando, sai também do carro e o desliguei.
- Acho que você tem razão, eu vou conversar com o psicólogo dele. Preciso da ajuda de um profissional, não é mesmo? – A ouvi balbuciar algo em concordância. – Preciso desligar, nos falamos depois. Beijos.
- Beijos.- Ela desligou o telefone. Guardei meu celular na bolsa e encarei meu reflexo na janela do carro. Cabelo arrumado, roupa adequada, estava abatida, mais abatida que o normal, profundas olheiras. Tão profundas que nem mesmo a maquiagem foi capaz de cobrir. Era incrível como alguns problemas poderiam acabar com a sua aparência num piscar de olhos.
Era horrível admitir que eu sentia falta de . E cada vez que ele me ligava, ou mandava mensagem, eu sentia meu corpo ceder e atender a ligação, ou responder sua mensagem. Era horrível admitir o quanto odiava o meu orgulho.
Eu precisava dele, mais que qualquer coisa no mundo.
- ? Arendi? – Ouvi uma voz masculina me chamar. Ela não me era estranha, mas eu sabia que não era a de , porque a dele eu iria reconhecer de imediato. Até mesmo meu corpo iria reconhecer. Girei meu corpo para o outro lado da rua onde o dono daquela voz estava. Era um homem, não parecia ser novo e nem velho, digamos que era mediano. Assim que percebeu meu olhar sobre ele o homem sorriu e caminhou até a mim. A cada passo que ele dava minha imagem sobre ele estava ficando melhor e eu o reconhecia aos poucos. Até que tudo fez sentido. Seus olhos, aqueles olhos tão comuns e ao mesmo tempo tão diferentes, continuavam o mesmo. Sua expressão alegre e nova também continuava a mesma. Seu cabelo estava curto e ele tinha uma barba rala. Não fazia tanto tempo que eu não o via, mas, nossa, como estava diferente! Estava mais maduro, parecia mais responsável.
- Christian! – Assim que ele parou ao meu lado não pensei em mais nada a não ser correr até ele e abraçá-lo. Christian segurou minha cintura fortemente enquanto eu o abraçava pelo ombro. Inspirei seu perfume, delicioso por sinal. Não era mais aquele forte cheiro de álcool como da última vez que eu o vi.
- Eu senti tanta a sua falta. – Ele disse, sua cabeça estava enterrada no meu cabelo. Soltei de seu abraço e o analisei. Cada expressão sua, cada coisa que havia mudado nele. Era estranho. Eu conhecia Christian há pouco tempo, não tivemos muito contato, mas nos sentimos tão ligados. Eu gostava daquilo, daquela ligação que tínhamos.
- Eu também senti sua falta. Mas me conte, como está? O que anda fazendo?
- Eu estou bem e não há mais nada para te contar. Tudo que aconteceu de interessante na minha vida eu te contei naquela carta. Eu sei, minha vida não é nada interessante. – Nós rimos, uma risada fraca. – Carta que por sinal você não respondeu, não é mesmo, senhorita? – Christian fingiu estar bravo comigo, ri pelo nariz e abaixei os olhos.
- Desculpe, eu andei tão ocupada e estressada. – Suspirei, mas ao notar o olhar de pena que Chris lançou para mim, rapidamente mudei de assunto. – Mas então, o que te traz de volta para a Cordilheira dos Andes? – Começamos a andar em direção ao um banco que tinha ali no jardim do prédio. Havia muitas coisas a serem contadas. Sandford poderia esperar.
- Minha esposa e eu resolvemos nos mudar pra cá, com o nosso filho, claro. Vou trabalhar com o meu tio no escritório dele. – Um sorriso bobo apareceu no meu rosto. Era bom saber que Chris estaria por perto.
- Ah, vai ser maravilhoso, Christian! Tão bom ter você por perto. – Eu o abracei pela cintura e deitei minha cabeça no seu ombro.
- Me conte, , o que anda te deixando tão abalada e estressada? – Eu era tão previsível assim? Por que todo mundo sabia que havia algo de errado comigo?
- É uma história longa. – Levantei meu rosto para encará-lo. Ele tinha um sorriso doce nos lábios.
- Eu tenho tempo e paciência.
- Então tá. – Comecei a contar a minha história bastante conturbadora. Christian prestava atenção a cada detalhe, porém não dizia nada. Parecia que ele sabia que eu precisava disso, de um desabafo.

Não sei como e nem por quê, mas eu estava parada no meio da rua usando minha camisola. Lembro de estar conversando com July no quarto e depois termos ido dormir. Mas agora eu estava parada no meio da rua, suando frio. Tudo ao meu redor pegava fogo e um grito de desespero estava entalado na minha garganta, implorando para sair. Mas parecia que minha voz havia sumido.
Virei-me para minha casa assim que ouvi Joseph chamar pelo meu nome. E para minha desgraça e susto, minha casa estava em chamas e eu só podia ouvir gritos. Gritos tão fortes que causavam pontadas na minha cabeça, eu estava começando a ficar tonta. Mas ainda tinha forças para correr até minha casa e tirar Joe e July de lá. E foi exatamente o que eu fiz.
Corri até minha casa ignorando o sangue que escorria dos meus pés. Eu sequer me preocupei em saber de onde ele veio. Ignorei também a dor que sentia ao correr. Empurrei a porta sentindo a palma de a minha mão queimar com o calor da madeira. O fogo comia todos os objetos e paredes da casa. Mas era estranho, porque no centro da sala o fogo não estava e tudo parecia estar intacto. Olhei para a escada e vi Joseph sentado nela chorando e soluçando. Sem pensar em mais nada corri até ele para tirá-lo dali, mas uma mão segurou meu braço e me impediu. Virei-me bruscamente para a pessoa e deparei-me com Phoebe a minha frente. O forte cheiro de álcool que emanava de sua roupa deixou-me ainda mais tonta, seu sorriso diabólico não me amedrontou. Havia outro plano em mente, outras pessoas envolvidas.
Eu já tinha vivenciado aquela cena. Eu sabia que tinha.
- SOLTE-ME, ME DEIXA AJUDÁ-LO! – Gritei desesperada, mas Phoebe segurava fortemente meu braço. Joseph não parava de chorar, o que aumentava meu desespero.
- Você não vai a lugar algum, eu quero que você o veja apodrecer. Bem debaixo do seu nariz. – Ela sussurrou no meu ouvido. Então eu comecei a gritar. Não sabia exatamente porque estava gritando, talvez para pedir ajuda.
De repente não consegui entender mais nada. Minha linha de raciocínio estava lenta, eu estava tonta demais e tudo que eu conseguia enxergar eram vultos. Eu me sentia dentro de uma xícara daquelas de parque. Tudo girava sem parar. Até que tudo escureceu. Eu não podia ver nem ouvir mais nada.

- Ainda bem que você veio, , estou muito preocupada com ela.
- O que aconteceu com ela, July?
- Estava tendo uma alucinação, pelo o que me apareceu. Gritava coisas sem nexo e então desmaiou. Pedi ao vizinho para carregá-la e colocá-la na cama, ela deve estar dormindo ainda.
- Por que está acontecendo isso com ela? Por quê?
- Não sei, , sinceramente não sei. Ela precisa de ajuda.
- Eu vou ficar aqui com ela, obrigado por me ligar.
- Eu que agradeço por você vir.
July e achavam que eu estava dormindo, mas eu não estava. Eu chorava silenciosamente enquanto ouvia o diálogo deles. Eu estava tão confusa quanto os dois. Precisar de ajuda? Deus, que ponto eu cheguei?
Era tão real, parecia tão real. Eu podia sentir a dor.
deitou-se ao meu lado e abraçou minha cintura, enterrou sua cabeça na curvatura do meu pescoço. Meu coração disparou e essa reação foi patética.
- Está bem, está tudo bem, eu estou aqui. – Ele sussurrou no meu ouvido tentando me acalmar. Eu chorei ainda mais, não porque não estava calma. Eu estava mais calma, só não era justo com e nem com ninguém.
- Me deixa sozinha, . – Falei com a voz embargada.
- Eu não vou te deixar sozinha, eu sei que você não quer mais saber de mim, mas não vou te deixar e muito menos desistir de você. Eu te amo e estou ao seu lado para o que der e vier. Estou sempre aqui, sempre. – Era inevitável cessar o choro e no lugar dele abrir um sorriso.
Esse era o meu .

O caminho mais fácil nem sempre é melhor que o da dor.

Capítulo XV – It's not always easy. But I'm here forever;

Eu e July estávamos super ocupadas arrumando os preparativos para o aniversário de Joseph. Iria ser uma coisa simples, com no máximo dez pessoas – já que nós dois não tínhamos tantos amigos assim -, somente para não passar em branco. Enquanto arrumava a mesa com doces, ouvia o falatório de July, que pendurava as bolas. Eu não prestava muita atenção no que ela falava, estava pensando em outras coisas. Para ser mais exata, eu pensava no acontecimento daquela maldita tarde. Por mais que eu quisesse, eu não conseguia esquecê-la, parecia que estava trancada numa caixa dentro da minha mente e quando eu achava que tinha esquecido, vinha alguém e destrancava a caixa, fazendo com que eu recordasse de tudo novamente. Era tão doloroso... Conseguia me colocar pra baixo num segundo. Mas eu tinha que superar aquilo, ou pelo menos fingir que havia superado. Da mesma forma que fingia que havia superado .
E quando me lembrava daquela tarde, eu automaticamente me lembrava de e seu jeito carinhoso e protetor de cuidar de mim. Eu me lembrava de como foi bom tê-lo ao meu lado, me abraçando, transmitindo a segurança necessária que eu precisava. E quando eu me lembrava disso, eu sorria. Não adianta, quando você gosta de alguém de verdade, é difícil esquecê-lo. Na verdade, acho que você nunca o esquece, apenas não se lembra dele com tanta freqüência. Infelizmente eu me lembrava dele com freqüência. E sempre segurava o choro, tentando mostrar o quão forte eu estava.
Desde aquele, dia nunca mais nos vimos ou nos falamos. Eu não o procurei e nem ele havia me procurado. Acredito – e espero – que ele estava me dando um tempo para assimilar toda a confusão recente. Admito também que não queria mais aquele tempo, queria que ele continuasse me procurando e insistindo, porque logo eu iria ceder. Isso era certo já. Eu só queria ainda ter a certeza de que ele esperava por mim, que me queria tanto quanto eu o queria e que nada havia mudado entre nós.
Porém essas eram, ao mesmo tempo, uma das coisas que eu mais gostava em . Ele não me pressionava a fazer nada, sempre me dava o tempo exato para que eu pensasse nas coisas. E esse tempo que passamos separados só fez com que a saudade aumentasse. E junto com a saudade, aumentava também esse sentimento tão forte que eu tinha por ele, o qual eu simplesmente não conseguia nomear. Mas de uma coisa eu tinha certeza: Passava de um simples gostar.
ia crescendo aos poucos dentro de mim de uma forma inexplicável. Com toda sua paciência e carisma, ele ia quebrando os muros que construí ao meu redor – os muros que separavam os meus sentimentos – até não restar mais nada que me protegesse. Até me deixar sem armaduras. Ele estava conseguindo algo que ninguém nunca conseguiu.
Isso me deixava insegura e ao mesmo tempo ainda mais apaixonada. Eu realmente estava completamente apaixonada por ele. Isso me causava tantos medos tolos às vezes. Medos que me faziam desistir dele, desistir de tentar ficar ao seu lado. Sabia que estava perdendo inúmeras oportunidades, sabia também que estava sendo estúpida. O problema era criar coragem.
Rapidamente fui retirada dos meus pensamentos ao ouvir o grito estridente de July. Olhei para a escada e ao constatar que minha amiga não estava mais lá olhei rapidamente para o chão. July estava sentada no chão, apoiada nos cotovelos e com uma expressão facial que aparentava dor.
- Diabos, ! Onde você estava com a cabeça?! – Ela me perguntou, assim que me ajoelhei ao seu lado e lhe ajudei a levantar-se.
- Desculpe, estava pensando nos trabalhos da faculdade que tenho que entregar. – Ela parou no segundo degrau da escada e olhou-me desconfiada. Continuou a subir a escada e arrumar as bolas.
- Você não me engana, Arendi. Você realmente não me engana. – Por alguns segundos eu a observei fazer a armação com as bolas, depois voltei a arrumar a mesa com os doces. Mantive-me em silêncio – Ande logo, , pode me contando no que pensava. Ou melhor: Em quem pensava. – Disse, no seu típico tom de voz acusador. Apesar de não estar olhando seu rosto, eu sabia que ela estava sorrindo.
- ... – Disse, após um longo suspiro. – Eu sinto a falta dele. – Meu tom de voz saiu quase inaudível, mas eu tinha certeza que ela havia escutado.
- Então por que não liga para ele? – Perguntou, como se fosse óbvio.
- Não é assim tão simples. Passamos por muitas coisas nessas últimas semanas, preciso pensar no que quero para minha vida.
- , você quer ficar com , você quer terminar a faculdade, você quer continuar criando Joe. Essas são as coisas que você quer para sua vida, no que mais você tem que pensar? As coisas podem ser simples, você que tem que parar de complicá-las. - Eu terminei de arrumar a mesa com os docinhos e a encarei, pensando um pouco nas palavras que acabara de ouvir.
Invejei a simplicidade que July tinha para ver e resolver as coisas. Eu sempre via e resolvia tudo do modo mais complicado, do jeito mais difícil e doloroso. Ela não, sempre ia da maneira mais simples, da maneira que não causasse dor para ninguém. Da melhor maneira.
- Eu não complico as coisas. – Disse, deixando transparecer – sem querer – a minha incerteza.
- Não mesmo? Então ligue agora pra ele. – Ela tirou o celular do bolso e estendeu-me, eu a olhei receosa. – Vamos, , ligue. – Depois de passado alguns segundos eu peguei o celular com uma cautela desnecessária.
- Está bem. – Bufei, saindo da sala e indo em direção ao quintal. Disquei o número que eu sabia de cor e esperei impacientemente que atendesse. No segundo toque ele atendeu e eu pude ouvir sua voz rouca atender ao telefone com seu casual ’’Alô?’’. Eu havia sentido falta daquela voz.
- Oi, , é a . – Era inútil falar o meu nome já que eu sabia que ele iria reconhecer. Tantos meses a escutando...
- ! Quanto tempo. Como vai? – Sua voz aparentava surpresa e satisfação. Um pequeno sorriso apareceu nos meus lábios. Ainda não estava tudo perdido.
- É verdade. – Eu queria ter dito a ele que também havia sentido sua falta, que me lembrava dele com freqüência e que muitas vezes pensei em procurá-lo, mas não o fiz porque sou extremamente orgulhosa. Eu queria ter dito tudo isso, mas não consegui, parecia que havia um bloqueio. Não queria dar o braço a torcer. Eu estava vendo tudo como um jogo. – Eu vou bem e você?
- Eu também vou bem. Senti sua falta. – "Se sentiu minha falta, por que não me procurou?" Eu tive vontade de lhe perguntar isso, mas não disse, é claro. Talvez porque eu saiba que era sempre ele que me procurava.
- Eu te liguei para lhe convidar pro aniversário de Joe hoje à tarde, sei que está em cima da hora, mas... – Respirei fundo antes de voltar a falar. mantinha-se calado. – Eu adoraria que você viesse. – Mordi meu lábio inferior, estava envergonhada. Eu sabia que ele sabia.
- Joe já havia me chamado ontem. – Nós dois rimos. – Mas achei melhor não ir, sei que você precisava de um tempo. Soube disso quando July passou a buscar Joe e não era mais você que o buscava. - Percebi uma mágoa na sua voz.
- É, eu realmente precisava de um tempo para pensar. Sinto muito por todas as complicações. – Sentei-me no gramado do quintal e passei a segurar com força o celular, queria ficar atenta a qualquer palavra dele.
- Tudo bem, não foi sua culpa. – O imaginei balançando as mãos como se quisesse dizer que estava tudo bem. Tanto tempo o estudando, decorando suas manias.
- Então, você vem?
- Você quer que eu vá?
- Eu adoraria. – Disse, rapidamente, antes que eu me arrependesse.
- Então eu vou. – Eu sabia que ele estava sorrindo.
- Obrigada.
- Não por isso. – Então eu desliguei o celular. Sem mandar beijos, sem dizer ‘‘tchau’’ ou até mesmo um ‘‘até logo’’. Sem qualquer despedida. A verdade é que eu estava cansada de despedidas entre nós dois. Contentava-me somente com aquelas poucas palavras ou até mesmo com a ausência delas. Era melhor do que qualquer despedida banal. Mesmo que não fosse uma despedida de verdade, essa palavra já me assustava. Eu não queria perdê-lo. Eu não podia perdê-lo.
O celular ainda continuava em minhas mãos, como se eu ainda ouvisse sua voz dizendo que tudo iria ficar bem.

Eu observava Joseph brincar com duas crianças – que eram portadoras da mesma síndrome que ele – em volta da mesa onde estava o bolo. Eu estava sentada numa cadeira da mesa onde July, April e Margareth – as mães das duas crianças que brincavam com Joseph – estavam. April era casada há cinco anos, mas seu marido nunca foi muito presente na sua vida e da filha, ocupava-se bastante com o trabalho. April era adorável e meiga. Era impossível alguém não gostar dela. Já Margareth era viúva. Era uma ótima mulher, bastante sábia e experiente. Conheci as duas no pediatra de Joseph. Nos demos muito bem logo de cara. Nós três passávamos por situações difíceis com as crianças.
Por mais que eu tentasse, não conseguia me manter atenta a conversa. O balanço inconsciente de minha perna e os sorrisos forçados a cada palavra dita pelas pessoas denunciavam meu nervosismo. E todo esse nervosismo era por causa de . A demora de sua chegada me deixava ainda mais ansiosa.
Quando a porta da cozinha abriu-se, meu coração disparou, mas logo voltou a bater normalmente quando vi que era Christian. Eu tinha certeza que minha expressão facial demonstrava decepção.
- Oi, . – Christian disse quando parou ao meu lado. Levantei-me e abracei apertado meu amigo. - Olá. Sua esposa veio? – Eu sempre esquecia o nome dela. Tentei disfarçar a decepção que eu tive ao vê-lo. Não que eu não quisesse vê-lo, pelo contrário, estava feliz em saber que ele estava ali. Eu só estava ansiosa demais para que chegasse logo.
- Está doente, então preferiu ficar. Mas desejou parabéns a Joe e mandou um beijo para você e July. Eu também ia ficar, mas ela insistiu que eu viesse para ver você e Joe. – Eu sorri, demonstrando minha gratidão por ele ter vindo.
- Mas está tudo bem? É algo sério? – Passei meus olhos em volta do local à procura de , mas não havia nenhum sinal dele.
- Não, não é nada sério. É apenas um resfriado.
- ! – Ao ouvir a voz infantil de Joseph chamando por ele, a pessoa que eu tanto esperava, meu coração acelerou e fiquei meio desnorteada. Vi Joseph sair correndo e atirando-se nos braços de , que o pegou no colo e o abraçou carinhosamente, alisando seu cabelo negro. Percebi que ele dizia algo baixinho para Joseph, devia estar desejando-lhe ‘‘parabéns’’.
Voltei minha atenção a Christian que ainda me encarava, porém, com um sorriso brincalhão no rosto. Dei um leve tapa no seu braço e soltei uma risada baixa.
Eu sabia o que ele queria dizer com aquele sorriso.
Olhei para e dessa vez ele me olhava, com um sorriso doce nos lábios. Eu não fui até ele, continuei parada no mesmo lugar, porém, com os olhos fixos nele. Eu havia sentido falta do seu olhar intenso que me fazia esquecer do mundo por alguns segundos. Tudo nele me chamava, tudo nele me encantava. Era tudo tão forte que algumas vezes chegava ser doloroso. Era doloroso demais querê-lo tanto.
colocou Joseph no chão, beijou o topo da cabeça dele e veio até mim. Percebi Christian afastar-se e ir para o lado de July, deixando eu e a sós. Quando ele parou em minha frente vi que ainda tinha o mesmo sorriso encantador nos lábios. Automaticamente, eu sorri.
- Oi. – Eu disse, timidamente, xingando-me mentalmente por parecer uma adolescente idiota.
- Oi. – Ele respondeu. Beijou delicadamente meu rosto.
- Joe ficou feliz por você ter vindo.
- Eu percebi. – parecia estar nervoso, pois falava pouco.
- Como você está? – Tentava desesperadamente puxar algum assunto.
- Bem, apesar dos apesares. – Ri nervosamente. – E você?
- Eu também vou bem. – Então o que eu temia aconteceu. Um silêncio constrangedor e torturante instalou-se ali. Não sabíamos o que falar. Era decepcionante que tivéssemos chegado a esse estágio.
- ? – Assim que eu o ouvi pronunciar meu nome eu o encarei, mostrando que estava ouvindo e que podia continuar. – Por que me ligou? – Antes de responder sua pergunta eu pensei várias vezes no que dizer. Pensei em responder com sinceridade e ignorar meu orgulho ou tentar bancar a durona e não demonstrar meus sentimentos. Então finalmente decidi ser sincera e demonstrar a ele o que sentia.
- Eu senti sua falta.
- Você realmente não tem idéia de como estou feliz por ouvir isso. – Ele tinha um sorriso largo no rosto. – Eu também senti sua falta. E quero, mais do que qualquer coisa que já quis na vida, ficar com você, porque eu te amo demais. – Eu já sentia as lágrimas formando-se nos meus olhos, demonstrando meu primeiro sinal de fraqueza. – Mas eu quero e preciso saber se você também quer ficar comigo, porque eu não quero passar por tudo aquilo de novo. , nós dois vamos passar por problemas, alguns grandes, outros pequenos, mas temos que enfrentá-los. Não podemos ser fracos e fugir na primeira oportunidade, nos separararmos. Isso não pode acontecer! Temos que ficar juntos, temos que enfrentar esses problemas. , se você me quer, tem que me prometer que não vai fugir, tem que me prometer que vai lutar e confiar em mim. – Suas mãos agora envolviam meu rosto molhado por algumas lágrimas.
- Eu prometo. Eu prometo que não vou te abandonar, eu prometo que vou confiar em você. Porque ficar com você é uma das coisas que eu mais quero, porque também te amo e te quero bem e perto de mim. – A minha voz embargada dificultava um pouco minha fala, mas continuava a me olhar, com uma incrível atenção.
- Vai dar tudo certo, tudo vai ficar bem. – Pronto, foi necessário aquelas palavras para que fizessem com que eu o abraçasse com uma enorme urgência, apertando-o com força. Ele retribuiu o meu abraço na mesma intensidade. – ? – Percebi um receio na sua voz.
- Diga. – Minha voz saiu abafada, pois minha cabeça estava enterrada na curvatura do seu pescoço.
- Eu dormi com a Megan. – Meus braços ficaram rígidos ao redor de sua cintura e, por um momento, eu desejei que aquilo fosse um pesadelo o qual eu iria acordar logo. Mas não era.
Soltei meus braços que estavam em sua cintura e o encarei seriamente. Era legível a aflição em sua face. Eu não sabia o que dizer, o que fazer ou o que pensar.
- Sinto muito. Não estávamos juntos, aconteceu... – Ele parecia realmente arrependido. Não posso negar que suas palavras diminuíram um pouco meu ciúme e insegurança.
- Você ainda a vê? – Eu consegui manter meu auto-controle.
- Não, desde aquela noite nunca mais a vi. Eu te contei isso, , porque devemos ser sinceros uns com os outros. Quero que você saiba isso por mim e não por outra pessoa. Mas, por favor, não desista de nós dois pelo o que fiz e nem duvide de meus sentimentos por você. É só o que eu te peço. – Era fato que eu estava morrendo de ciúmes. Só de imaginar os dois dormindo juntos eu tinha uma vontade de chorar. Aquilo me feriu de uma maneira inexplicável. Mas eu o amava demais para perdê-lo de novo. Eu estava disposta a deixar que ele cicatrizasse minha ferida.
Antes de falar alguma coisa, eu o beijei, deixando-o completamente surpreso. Minhas mãos foram direto para sua nuca e ficaram alisando aquela região. apertava minha cintura e pressionava meu corpo contra o seu.
Ambos havíamos sentido falta daquilo. Eu sabia.
Separei o beijo e disse, ofegante:
- Eu não quero e nem vou te perder de novo.

Capítulo XVI – Stay with me, this is what I need, please?;

Abri os olhos lentamente e comecei a reclamar porque tinha que trabalhar, mas lembrei-me que era sábado, logo não teria que trabalhar. Virei para o lado e vi ali, dormindo tranquilamente, sua boca estava entreaberta deixando o ar escapar lentamente. Eu sorri ao observá-lo. Tinha sentido falta disso, de acordar ao lado dele, de observá-lo dormir. Mas uma súbita onda de tristeza apossou do meu corpo assim que me lembrei do que ele havia me contado no dia anterior. Só de imaginá-lo dormindo com a Maggie, dormindo da mesma forma que dormíamos, isso me machucava! Minha garganta imediatamente quis fechar e meus olhos encheram-se de lágrimas assim que a imagem dos dois veio a minha mente. As malditas perguntas já começavam a formar na minha mente: ''Por que ele fez isso comigo?'' ''Por que não me esperou?'' ''Ele não me amava suficiente para não querer ficar somente comigo?''. Era inevitável. Eu acreditava que ele me amava, eu só estava magoada demais. Não queria demonstrar tal mágoa para ele, não queria perdê-lo de novo. Era ele que eu queria e faria de tudo para tê-lo.
mexeu-se e acabou tirando-me dos meus pensamentos. Alisei carinhosamente sua face e aproximei-me um pouco para beijar sua boca delicadamente. Ele abriu os olhos, um pouco assustado, mas acalmou-se ao me ver. Eu sorri e ele logo veio me abraçar, encostei a cabeça no seu peito e ele beijou minha testa.
- Bom dia, meu amor! – Eu lhe desejei, beijando seu peito nu.
Ele espreguiçou e fez um barulho estranho com a boca, e disse: - Bom dia, minha vida!
E, como uma boba, eu sorri. Lembrei-me de todas as vezes que ele me chamava assim, havia sentido tanta falta. Como pude ser tão tola por ficar esse tempo sem ele? Quando vou entender que eu preciso dele?
- Vamos tomar café? Estou morrendo de fome! - Senti meu estômago roncar, acho que ele ouviu, pois soltou uma risada.
- O que você quer comer? - começou a beijar meu pescoço, deixando-me arrepiada. Sabia que aquilo era proposital, mas naquele momento minha fome era maior que qualquer coisa.
- Qualquer coisa, eu só quero comer. - Ele foi descendo sua boca até o meu seio, automaticamente fechei os meus olhos e tentei me controlar, por mais difícil que fosse. - Esfomeada! – Ele disse com a voz abafada. Eu o empurrei de cima de mim, levantou da cama, beijou a ponta do meu nariz e saiu indo em direção à cozinha.
Eu permaneci deitada na cama. Pensando em como seria meu futuro daqui pra frente com o . Será que iríamos conseguir mesmo superar tudo aquilo que passamos? Estávamos dispostos a superar? E será que eu conseguiria esquecer o fato dele ter dormido com a Maggie? Odiava todas essas perguntas que rondavam na minha cabeça, elas me deixavam tão insegura. Eu sou tão insegura! Eu queria , mais do que qualquer coisa no mundo. Mas não queria deixar aquele sentimento se apossar de mim.
Ouvi barulho de panela caindo vindo da cozinha. Comecei a rir sozinha. Certas coisas não mudavam mesmo... era um desastre na cozinha, mas devo admitir que achei fofo da parte dele preparar o café da manhã pra mim.
Após alguns minutos de barulho e xingamento, apareceu na porta do quarto carregando uma bandeja. – Trouxe comidinha para o neném. – Ele disse em tom de deboche aproximando-se da cama. Colocou a bandeja em cima da mesma e sentou-se ao meu lado. Notei o que tinha em cima da bandeja: Panquecas, suco de laranja, maçã e uma flor de papel. Olhei para flor e logo em seguida eu o encarei arqueando a sobrancelha. – Foi tudo que eu pude arrumar. – Levantou os braços em sinal de defesa.
- Está perfeito, meu amor. – Dei um selinho demorado nele.
Em menos de quinze minutos já havíamos devorado a comida. A bandeja já estava no chão e estávamos deitados na cama, abraçados assistindo Se Beber não Case 2 e rindo escandalosamente. Passamos a maior parte do dia assim, não precisávamos nos preocupar com a hora, pois não iríamos trabalhar, e muito menos precisávamos nos preocupar com Joseph, já que July havia feito o favor de ficar com ele. Foi um dia perfeito.


- July já ligou, disse que Joseph estava chorando porque estava com saudades de nós dois. – disse assim que desligou o celular.
- Mas já? Quanto amor! – Nós rimos. – Sabe o que isso quer dizer, né?
- Sim. Está na hora de buscá-lo. – Levantei do sofá da sala e fui até ele, abracei-o e beijei sua face.
- Exatamente. Vamos? – Ele concordou com a cabeça. Deu-me um selinho demorado e já foi à procura da chave do carro.
Eu observava colocar a camisa e automaticamente meus pensamentos foram até Joseph. Eu ainda tinha certo receio em deixar Joe com ele. Mesmo que Joseph tenha dito que não fez nada, mesmo que no fundo eu soubesse que ele realmente não havia feito, mas eu ainda tinha medo. Aquela história estava confusa demais. E para confundir ainda mais aparece uma tal de Summer que diz ser minha irmã? Como isso? Não era possível, não tinha lógica. Será que essa história iria acabar?
Fui tirada dos meus pensamentos ao ouvir a voz de avisando que já poderíamos ir. Saímos de casa e entramos no carro, deu partida. Eu desejei que meus pensamentos também partissem de mim, seria muito mais fácil lidar com as situações cotidianas sem eles por perto. Mas nada era tão fácil assim.
- ? Está tudo bem? – , mais uma vez, tirou-me dos meus pensamentos. Olhei para ele e pude ver a preocupação estampada na sua face. - Sim, está tudo bem. - Nós já chegamos. – Ele apontou para casa de July, eu o olhei e dei um sorriso sem graça. Estava tão absorta nos meus pensamentos que não tinha reparado que já havíamos chegado, e parecia que fazia tempo.
Eu tinha a certeza de que o amava na mesma intensidade que ele me amava, e que foi feito para ficar comigo. Poderia passar o tempo que fosse, poderiam vir milhares de pessoas, milhares de problemas, mas eu pertencia a ele assim como ele me pertencia. Não existia mais eu e você, agora éramos nós. Eu tinha certeza absoluta que isso não acabaria tão facilmente.
Joseph interrompeu nosso beijo quando abraçou nossas pernas, olhamos para baixo e vimos seu sorriso enorme por nos ver. abaixou e o pegou no colo, sorriu carinhosamente para ele e beijou sua face. Eu olhei aquela cena admirada e me xinguei mentalmente várias vezes por ser tão tola em achar que poderia fazer algo de ruim a Joe.
- Joe sentiu saudades. – Ele fez biquinho e eu ri da sua tentativa de fazer charme.
- Nós também sentimos a sua falta, Joe, por isso viemos te buscar. – disse enquanto alisava o cabelo da criança.
- July, obrigada mesmo por ficar com ele. – Agradeci, dirigindo-me a minha amiga.
- Você sabe que não precisa agradecer por isso. – Nos abraçamos e July já se adiantou em sussurrar no meu ouvido: - Quero saber de tudo, safada. – Foi inevitável soltar uma risada escandalosa ao ouvir isso, e Joe nos olharam desconfiados, mas ignoramos.
- Pode deixar que depois te conto tudo. – Sussurrei no seu ouvido. Soltei do seu abraço e fui andando em direção ao carro, abri a porta da carona e entrei no carro. Esperei e Joseph despedirem de July.


Estávamos deitados na cama do meu quarto. Joseph dormia tranquilamente ao meu lado, seu peito subia e descia tranquilamente de acordo com a sua respiração. estava ao meu lado, minha cabeça estava encostada no seu peito enquanto ele a afagava. Algum programa idiota passava na TV, mas eu não estava dando a menor atenção. Na verdade o que mais prendia a minha atenção era o que acontecia naquele momento. Eu, e Joseph dividindo a mesma cama, abraçados. Imaginei se isso duraria para sempre, se aquilo se repetiria mais vezes, se um dia eu casaria com . Eu precisava construir uma família, precisava de alguém para me ajudar a criar Joe, e era o cara que eu queria que fizesse isso.
- O que você está pensando? – me perguntou, levantei o rosto e olhei dentro dos seus olhos . Estremeci, eles estavam mais lindos que o normal. Será que eu causava o mesmo efeito em ?
- Em nós dois, nisso aqui que está acontecendo. – Sorri timidamente. Ele retribuiu com a mesma intensidade meu olhar e acabamos nos encarando. Não sei o que ele estava pensando, não sabia dizer se ele também estava pensando em nós dois ou não. Mas eu desejei que ele também estivesse pensando nisso, eu desejei que não fosse a única que sonhava com o nosso futuro. Mas bem no fundo eu sabia que não era a única.
- Era um pensamento bom ou ruim? – Ele mordeu os lábios, como se tivesse medo da resposta.
- Maravilhoso! – Ele parecia estar aliviado com a minha resposta.
- Por que seria tão maravilhoso assim? – virou de frente para mim e olhou profundamente nos meus olhos. Eu corei e sorri timidamente, mas ele continuou a me encarar.
- Porque esse pensamento, mesmo sendo bobo e meio infantil, me faz crer que é você quem eu quero e é com você que eu quero passar minhas noites assim, acordar com você ao meu lado. – O sorriso dele foi a coisa mais linda que eu já vi. De todas as pessoas que eu conheci eu nunca vi um sorriso tão lindo igual ao dele, todo esse tempo que eu passei com ele eu nunca vi um sorriso tão lindo assim. Ele sorriu de uma forma tão espontânea e verdadeira, tão carinhosa, que eu fiquei imaginando o que eu havia dito de mais para que o fizesse sorrir daquela forma, para que o deixasse daquele jeito. Ele me beijou de um jeito tão carinhoso, me abraçou tão forte – como se não quisesse que eu saísse de perto dele, como se aquele abraço fizesse com que eu fosse sempre sua e estivesse sempre ali. Eu retribui seu beijo e abraço na mesma intensidade. E tudo que eu pude ouvir antes de dormir eram nossos corações batendo tão acelerados que parecia que iria rasgar o nosso peito. Afinal, para que palavras?

XVI - Why do you make me cry and try to justify?

Acordei assustada após um pesadelo que eu tive. Meu corpo estava suado, minha respiração ofegante e meu cabelo colado no meu rosto. O pesadelo era com Summer. Ela se parecia comigo, não sei o porquê. Provavelmente deveria ser porque Joseph me disse que ela era minha irmã e aquilo não tinha saído da minha cabeça.
Olhei para o lado e ainda dormia ao meu lado, o susto que eu levei não o fez acordar. Peguei meu celular que estava na mesinha ao lado da cama e vi a hora, eram 03h30min da manhã. Levantei da cama delicadamente e fui até o banheiro. Olhei meu reflexo no espelho e vi o estado deplorável em que eu me encontrava. Estava pálida, com olheiras, suada e cabelo bagunçado. Abri a torneira e molhei meu rosto, numa tentativa falha de melhorar a situação. Quando olhei novamente para o meu reflexo no espelho, as imagens do sonho vieram à tona. Summer era idêntica a mim no sonho. Meu coração disparou e o medo tomou posse do meu corpo. Lembrar-se de uma pessoa - que era idêntica a mim - espancando e dizendo coisas horríveis a uma criança - tal criança que eu amava como um filho - me fez chorar. Eu encostei-me à parede e lentamente fui descendo até o chão, o reflexo no espelho ainda me assustava, o pesadelo ainda me assustava. Lágrimas e mais lágrimas corriam por minha face, minha boca estava trêmula, eu queria gritar. Eu estava praticamente deitada no chão, chorando como uma criança, chorando de soluçar. Aquele maldito pesadelo havia me causado dores enormes, dores que eu pensei já ter superado. Mas, pelo visto, eu não havia superado. Lembrei-me das cenas em que eu via minha mãe batendo em Joseph e o xingando, ela o odiava por ter síndrome de down. Pelo amor de Deus, como se isso fosse culpa dele! Lembrei-me da cena em que eu jurava ter visto batendo em Joseph. Lembrei-me de todas as vezes que Joseph chegava machucado em casa, de todas às vezes que as pessoas o olhavam com desdém, e de quando o ignoravam. Lembrei-me de toda dor que ele passou. Tais recordações fizeram-me chorar ainda mais. Eu estava chateada, magoada, assustada, confusa. Chateada e magoada pelos sofrimentos que meu irmão passou, assustada pelo o que Joe me disse sobre Summer, confusa pelas coisas que eu pensava ter visto e por tudo que estava acontecendo. A minha vida já era uma grande merda, não estava bom de tantos problemas?
- ? - Ouvi a voz grossa de me chamar, havia confusão e preocupação em sua voz. Mas eu sequer levantei a cabeça para vê-lo, eu não tinha mais vontade para fazer nada, somente ficar ali chorando. Patética.
Eu o ouvi aproximar-se de mim, ele ajoelhou-se ao meu lado e me abraçou fortemente, acaricando meus cabelos e vez ou outra os beijando.
- O que aconteceu? - Perguntou, aninhando-me em seus braços. Não respondi, a única coisa que eu fiz foi continuar a chorar.
Acredito que havia percebido que eu não queria fazer ou falar mais nada, como não era típico dele ''forçar a barra'', ele tirou-me lentamente dos seus braços, levantou e delicadamente pegou-me no colo. Abracei seu pescoço e enterrei a cabeça no seu peito. Agora sim eu chorava desesperadamente.
Ele colocou-me na cama e em seguida deitou-se ao meu lado, eu enterrei a cabeça na curvatura do seu pescoço e ele puxou-me para mais perto, abraçando-me. Eu não conseguia parar de chorar, estava molhando todo o seu pescoço, mas ele não parecia se importar. continuava quieto, escutando meu choro e alisando meu cabelo. Ficamos assim por um bom tempo, até eu pegar no sono.
Eu estava com muito medo do que poderia acontecer daqui pra frente.


Levantei-me da cama sentindo fortes dores de cabeça. Meu corpo estava pesado, mas esforcei-me para levantar. O quarto estava escuro e não havia ninguém ali além de mim. Sai do quarto ainda rastejando os meus pés e com cuidado desci às escadas. Era possível escutar o barulho da televisão, a sala estava acesa. Joseph e assistiam desenho. Joseph dividia o seu olhar entre a televisão e o desenho que ele mesmo fazia no papel, parecia estar concentrado na programação a sua frente. Um sorriso escapou dos meus lábios, aquela cena dos dois juntos na sala vendo televisão me agradou.
- Olha quem acordou! – Joe disse assim que me viu descendo as escadas. Aproximei-me dos dois, beijei o topo da cabeça de Joe e sentei ao lado de aconchegando-me em seu peito.
- Até que enfim, dorminhoca. – brincou, fazendo Joe rir.
- Que horas são? – Perguntei, ainda com a voz sonolenta.
- São exatamente 18h30min. – Olhei espantada para ele. Eu havia perdido totalmente a noção da hora! - Por que não me acordou? - Você precisava descansar, não dormiu bem essa noite. – Ele sorriu docemente para mim. Abaixei meus olhos assim que me lembrei dessa madrugada, e consequentemente do sonho. Procurei focar minha atenção no desenho que passava, acariciava o meu cabelo fazendo um cafuné gostoso.
- O que você está desenhando, meu amor? – Perguntei a Joseph. Ele havia deixado a televisão de lado e manteve sua atenção no seu próprio desenho. - Minha família. - É mesmo? E quem está na sua família? – Perguntei, na esperança de ouvi-lo dizer que era eu, e ele. Olhei para sorridente e ele retribuiu o sorriso. - Você, ... – O sorriso alargou-se. – Phoebe e Summer. – Após ouvir esses dois últimos nomes o sorriso desapareceu do meu rosto e meu coração disparou. reparou na minha feição, arqueou a sobrancelha mostrando a dúvida que pairava sobre ele. Provavelmente ele estava em dúvida sobre o último nome. Summer. Minha garganta fechou. Eu queria chorar, gritar, fugir. O que essa mulher queria? O que Joseph queria comigo dizendo essas coisas? Fazendo essas coisas? O que eu havia feito de tão errado para merecer tal castigo?
- , você poderia, por favor, me deixar a sós com o Joseph? – Desviei os meus olhos dos dele, não queria encará-los agora.
- Claro. – Ele levantou-se, percebi que ainda procurava os meus olhos, mas evitei que eles se encontrassem. Esperei subir a escada para começar a minha conversa com Joseph. A conversa que eu esperava nunca ter acontecido.
- Posso ver o seu desenho, meu anjo? – Perguntei e em seguida me aproximei dele. Joseph parou de pintar e entregou o seu desenho para mim. Observei calmamente cada desenho, mas algo me chamou atenção. Duas meninas eram muito parecidas. Eram do mesmo tamanho, a cor do cabelo e o tamanho eram os mesmos. Uma estava sorrindo, a outra não. Aquela situação não me era estranha, já havia presenciado algo parecido.
- Quem são essas? – Apontei para as duas meninas do desenho. - Você. – Ele apontou o com o dedinho para a menina que sorria. – E Summer. – E com o mesmo dedinho ele apontou para a menina que não sorria.
Eu não sei ao certo se meu coração parou de bater ou disparou. Eu só sei que senti uma dor muito forte no peito. Aquela sala parecia estar me sufocando, estava difícil respirar, o ar parecia não querer sair. A presença de Joseph não me deixava calma como na maioria das vezes, pelo contrário, sua presença me deixava ainda mais aflita. Eu estava desesperada, confusa, sem respostas. Minha cabeça rodava. Tudo estava a mil por hora. Por que Summer era parecida comigo? Por que logo comigo? Por que não com Phoebe? Ela é que não prestava, ela sim batia em Joseph, era uma drogada, alcóolatra, egoísta! Fazia mais sentido ser Phoebe e não eu!
Então eu me lembrei do sonho que eu tivera. Seria um aviso? Porque no sonho Summer se parecia comigo, assim como no desenho. Summer seria mesmo minha irmã? Talvez minha irmã gêmea? Mas não fazia sentido. Eu nunca havia visto Summer, nunca soube de sua existência. Phoebe nunca citou o fato de ter tido outra filha. Não fazia mais sentido ainda Joseph a conhecê-la, já que ele sempre estava comigo, com July ou . E não fazia mais sentido ainda Summer ter batido nele, eu nunca deixava Joseph sozinho, e muito menos o deixava com uma pessoa que eu não conhecesse ou confiava. Não acredito que July e teriam a conhecido já que não sabe dessa história e July havia ficado surpresa quando eu contei o que Joseph havia me dito. Nada mais fazia sentido, afinal.
- Mas Joe, nós duas somos muito parecidas. Por quê? – Sim, eu temia pela sua resposta. Mas de uma forma ou outra eu precisava ouvi-la.
- Eu não já te disse que vocês são irmãs? – Ele respondeu de uma forma óbvia. Joe não imaginava a dor que aquelas palavras me causavam.
- Como você a conheceu?
- Uma vez eu estava brincando no quintal e você estava fazendo o meu almoço. Eu sem querer quebrei o seu jarro de flores favorito, Summer ouviu o barulho e veio furiosa. Eu pensei que era você irmã, mas estava tão diferente. Summer não sorria como você sorria, ela sempre estava com raiva e sempre me batia. Depois que ela viu que eu quebrei o vaso ela me chamou de desgraçado e começou a me bater. Doeu muito. Eu falei assim: ", irmã, me desculpe." Mas ela disse que não se chamava Joan, que seu nome era Summer. E continuou me batendo, depois ela foi embora e eu fiquei ali chorando. Irmã, o que é desgraçado? – Ele perguntou de uma forma tão ingênua. Eu segurei-me para não chorar.
- É um nome muito feio e você nunca mais deve dizê-lo, está bem? – Ele assentiu concordando. – Por que quando eu te perguntei naquele dia porque você estava machucado você não me disse a verdade? – Eu havia me lembrado daquele dia. Eu estava na cozinha preparando o almoço e deixei Joseph no quintal brincando, mesmo fazendo a comida eu ainda mantinha os olhos sob ele. Mas eu precisava ir ao banheiro e então fui rapidamente, não queria deixá-lo muito tempo sozinho. Quando voltei do banheiro vi Joseph no chão e o vaso ao seu lado quebrado. Corri desesperadamente até o quintal e ajoelhei ao seu lado. Perguntei o que havia acontecido, pois ele estava no chão e estava todo vermelho. Ele disse que havia caído. Eu não me importei com o vaso quebrado, eu só me importei em saber se Joseph estava bem.
- Eu fiquei com medo dela me bater de novo. – Sua voz demonstrou a tristeza que ele estava sentido. Aquilo cortou o meu coração.
Em um ato de desespero eu saí correndo. Eu sei que essa atitude estúpida não iria me livrar dos meus problemas, infelizmente eles continuariam me perseguindo. Mas naquele momento eu precisava disso. Eu precisava de um tempo só meu. E pela primeira vez eu não me importei com Joseph, eu só queria fugir. Tudo aquilo havia sido culpa minha! Sim, a culpa era exclusivamente M-I-N-H-A! Se eu não tivesse deixado Joseph sozinho, mesmo que tenha sido por alguns minutos, nada disso teria acontecido. Eu veria o vaso quebrado antes de Summer e diferentemente dela, não teria batido nele. Mas não, mais uma vez eu havia sido egoísta. Mais uma vez eu havia sido irresponsável! Graças a esse ato estúpido eu causei dores físicas e psicológicas ao meu irmão.
Se eu estava confusa, imagine Joseph? Quanto mais eu pensava, mais confusa eu ficava. Não parecia haver respostas para esse problema. Se Summer era mesmo minha irmã, como seria possível ela entrar e sair na minha casa diversas vezes em eu vê-la? Sem outra pessoa vê-la? Era óbvio que ela sabia de mim, então por que não me procurava? Por que Phoebe e meu pai nunca haviam me contado?
Mas o que mais me machucava mesmo, o que cortava, despedaçava, triturava o meu coração era saber que ela se parecia comigo. Era saber que uma pessoa extremamente má, uma pessoa cruel que não amava o próprio irmão, uma pessoa que queria o mal dele, que praticava o mal a ele, se parecia comigo. Não era possível, eu não poderia ser tão má assim para que um tipo de pessoa como ela se parecesse comigo. Eu amava Joe, eu o amava como se fosse meu filho. Meu Deus! Que situação mais trágica. Por que, Senhor? Por que colocaste um ser como esse no mundo? E por que teria que ser parecida comigo? Logo comigo? Seria isso um castigo? Perdoe-me Pai, perdoe-me, mas não me castigues desta forma. Já não é suficiente ter uma mãe como Phoebe? Se eu errei a culpada sou eu, não culpe Joe por isso, ele é apenas uma criança, meu Deus.
Quanto mais eu corria, mais meu desespero aumentava. Não sabia ao certo por que estava correndo, sabia que aquela atitude não faria meus problemas correrem de mim. Pelo contrário, eles ainda estavam ao meu lado.
Parei em frente ao cemitério St. Jude. Minha respiração estava ofegante e meu coração parecia rasgar o meu peito. Coloquei minhas mãos sobre meu joelho e fiquei um tempo parada em frente ao cemitério, estava esperando minha respiração normalizar. Depois de um tempo parada naquela posição, eu resolvi entrar no cemitério. Meu coração ainda estava acelerado, mas, além disso, havia uma dor muito forte nele. Eu conhecia aquela dor. Assim que entrei no cemitério, eu passei meus olhos sobre os túmulos que estavam ali, eu procurava somente um. Quando eu o encontrei, um arrepio percorreu meu corpo. Aproximei-me dele, sentindo minha respiração pesar, parei em frente a ele e o observei. Era o túmulo do meu pai.
Lembrei-me do motivo que me fez ir até ali, e ao lembrar o motivo à revolta dentro de mim cresceu. Era o túmulo do homem que mentiu pra mim todo esse tempo, o homem que me enganou junto com minha mãe! Não me disse que eu tinha uma irmã, como se eu não tivesse o direito de saber! E agora eu havia descoberto, mas da pior forma. Descobri que a irmã que eu nunca soube que tinha era a que machucava meu irmãozinho. Por todos esses anos eu fui enganada!
O ódio dentro de mim era tão grande que em um ato de revolta eu comecei a chutar o túmulo do meu pai. Eu chutava com tanta força que não me importava com a dor que eu sentia ao fazer aquilo. Eu não me importava com mais nada naquele momento. Eu chorava, gritava, xingava. Pensava que assim, de alguma forma, iria atingi-lo, iria mostrar a ele o quão irada eu estava com ele, o quão chateada estava. Mas era uma atitude inútil. Meu pai estava morto. Chutar o seu túmulo, xingá-lo, chorar, gritar, não iria adiantar de nada. Ele não estava vendo, ouvindo ou sentindo aquilo. Ele não estava mais presente para se explicar, se defender ou ainda me magoar mais. Qualquer atitude que eu tomasse em relação a ele era inútil.
Decidi parar de chutar aquele túmulo idiota do homem mais idiota ainda. Não havia mais nada a ser feito. Mas eu ainda continuava a observar e meu peito ainda doía. Lentamente uma lágrima escorreu dos meus olhos, e depois escorreram duas, três, quatro, cinco... E como era de se esperar eu comecei a chorar, como uma criança assustada. Afinal, eu estava assustada! Só tinha minhas dúvidas se era uma criança, na maioria das vezes parecia, já que eu me comportava como uma. Mesmo tendo responsabilidades.
Minhas pernas pareciam não aguentar mais o peso do meu corpo e acabei caindo no chão. Não tive forças para levantar, acabei ficando por ali mesmo, deitada no chão daquele cemitério. Eu não me importei, na verdade eu só queria um lugar para chorar, um lugar seguro, aonde ninguém me achasse.
Não demorou muito para que eu começasse a chorar escandalosamente. Só era possível escutar naquele lugar o meu choro, nada além do meu choro. Meu peito doía, parecia ter levado várias facadas, minha cabeça explodia devido à quantidade de coisas que passavam nela, e meu corpo não aguentava mais nada. Eu estava cansada. Mas por incrível que pareça eu não estava cansada de chorar. Parecia que o choro sempre estava me acompanhando, aonde quer que eu esteja, ele estaria comigo.
Quanto mais eu pensava, mais eu chegava à conclusão de que nada daquilo faria sentido. Se Summer era mesmo minha irmã, por qual motivo meus pais teriam escondido isso de mim? Por que não a queriam por perto? Ela deveria ser realmente uma pessoa cruel para fazer com que Phoebe e meu pai a escondessem de mim. Phoebe era a pior pessoa que eu pude conhecer um dia, será que Summer era igual ou pior do que ela? Como Joe a via se eu mesma não a via? Como ela tinha acesso de entrar e sair da minha casa? Nada se encaixava. Perguntas e mais perguntas rondavam em minha cabeça. A frustração de não ter uma resposta era grande. O choro não cessava, e a dor ainda permanecia ali comigo. Eu precisava conversar com alguém sobre o que estava acontecendo comigo, sobre todos os meus problemas, mas naquele momento eu não conseguia confiar em ninguém. Nem mesmo em July que era minha melhor amiga, nem mesmo que era paciente comigo. Naquele momento eu me vi sozinha. Mais sozinha do que um dia eu pude ser. Eu vi que eu realmente não tinha ninguém. Eu não tinha July, Joe, , Phoebe, meu pai. Aquilo me desesperou. Abracei-me na tentativa de afastar o desespero, na tentativa inútil de tentar me consolar. Mas nada adiantou, ainda me senti sozinha. O choro aumentou, o meu desespero também.
Não sei por quanto tempo fiquei ali. Eu ainda permanecia deitada naquele chão e abraçada comigo mesma, porém não havia mais choro, minhas lágrimas já estavam secas em meu rosto. Meu corpo doía, mas eu não queria levantar, eu queria continuar naquele lugar e naquela mesma posição. Não queria voltar para casa e ter que responder inúmeras perguntas sobre onde eu estava e por que havia fugido.
- ! – Ouvi uma voz conhecida gritar o meu nome, mas não fiz esforços para tentar distingui-la ou simplesmente levantar a cabeça para avistar a dona daquela voz. Logo pude ouvir passos chegarem perto de mim, mas não movi um músculo sequer. – O que você pensa que está fazendo? – July perguntou, sua voz continha um misto de raiva e surpresa. – Eu procurei você pela cidade inteira, estava desesperada já. Não era de espantar que fosse te encontrar nesse lugar e nesse estado deplorável. – Ela continuou a falar, mas eu não prestava atenção, ou fingia não prestar. – É lógico, você é rainha do drama! Só se preocupa com você, quer que todos estejam a sua disposição. – Aquilo me machucou. Eu já me encontrava machucada demais, não precisava de mais coisas para colocar-me para baixo. Levantei-me do chão sentindo algumas pontadas em meu corpo, mas eu ignorei. Parei em frente a July, ela me encarava perplexa. – Joe está chorando pensando que você foi embora, me ligou desesperado perguntando se eu sabia de você. Por que você fez isso? Ou melhor, por que você FAZ isso? – Desviei meus olhos dos dela e comecei andar em direção à saída do cemitério. July veio até a mim e agressivamente puxou o meu braço fazendo com que eu virasse brutamente para ela. – VOCÊ PODE ME EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO? PODE PARAR, POR FAVOR, COM SEUS DRAMAS INFANTIS? – ela gritou, demonstrando o quão irada estava. Eu queria chorar, mas não conseguia mais.
- Você não sabe de nada, July. – falei calmamente, tentando me desvencilhar de sua mão, mas não obtive sucesso, July ainda segurava meu braço fortemente.
- É LÓGICO QUE EU NÃO SEI, ! EU NUNCA SEI DE NADA, EU NUNCA SOU BOA AMIGA, NUNCA ESTOU PRESENTE. EU NÃO PRESTO! SÓ VOCÊ QUE TEM PROBLEMAS, VOCÊ É A SOFREDORA, A VÍTIMA. – ela ainda gritava. Eu e July sempre brigávamos, mas nunca havíamos chegado naquele nível. Ela nunca disse coisas tão horríveis para mim.
- Me deixa ir embora, July, por favor. – choraminguei puxando meu braço, finalmente ela o soltou. July olhou fixamente dentro dos meus olhos, pude ver decepção neles.
- Sabe o que eu acho, ? Que na verdade você não é tão boa como demonstra ser. Você não se importa com ninguém, é extremamente egoísta. Você está sempre culpando Phoebe por ser uma pessoa ruim, por cometer erros, mas sempre culpa os outros por não estarem sempre a sua disposição. Pra você ninguém é bom o suficiente, você é a santa, você que sabe cuidar perfeitamente de Joe. Ninguém está a sua altura não é mesmo? Mas quer saber? Graças a Deus não estou a sua altura, eu odiaria ser comparada a uma pessoa tão egoísta como você. – July saiu, deixando-me ali com suas palavras duras em minha cabeça. Pensei que já não havia mais como me machucar, mas minha melhor amiga me mostrou que estava errada. Ainda existiam formas. Eu sabia que ela havia dito a verdade, mas se a verdade fosse tão dolorosa assim, eu preferia não ter escutado. Pelo menos não naquele momento. Eu não tinha mais reação, eu não sabia mais o que fazer. Não queria ter me tornado nessa pessoa que me tornei, mas eu não conseguia encontrar meios de me tornar uma pessoa melhor. Só em pensar que existia uma irmã gêmea minha, uma pessoa cruel, andando por aí, podendo fazer mal não somente a mim e a Joe, mas como qualquer pessoa, me deixava ainda mais com medo. Eu não queria ser igual a Summer, eu queria ser uma pessoa boa. Mas depois de tudo que July me disse eu ainda tinha minhas dúvidas se realmente era diferente de Summer.

’s POV.

Eu estava lá em cima distraído com um programa que passava na TV, mas o choro de Joseph que vinha do andar de baixo tirou minha concentração do programa. Não me importei em descer às escadas e ver o que estava acontecendo, estava com ele, ela iria resolver. Mas comecei a cogitar a ideia de descer as escadas assim que eu percebi que o choro não havia parado.
- ! – Ouvi Joe gritar o meu nome. Preocupado, sai do quarto e desci as escadas correndo. Estava achando aquela situação muito estranha. Porém estranhei ainda mais quando vi Joe parado em frente à porta aberta, ele parecia estar sozinho e continuava chorando.
- Joe, o que houve? Cadê a ? – Perguntei assim que me aproximei dele e o peguei no colo. Nós dois olhávamos para a rua, mas não havia ninguém ali.
- Ela saiu correndo para a rua. – Ele dizia em meio ao choro. – Não sei o que está acontecendo. – Eu o abracei, Joseph encostou sua cabeça no meu ombro e eu alisei seu cabelo, tentando acalmá-lo. O carro de estava na garagem, aquilo me preocupou. Por que sairia correndo do nada? Aquela não era uma atitude típica sua. Eu comecei a me desesperar pensando no que poderia ter acontecido a ela. Não poderia procurar agora, Joseph estava comigo e não tinha com quem deixar. Resolvi ligar para July, talvez tivesse acontecido algo e teria ido a casa dela.
Ainda com Joe no colo eu fui até a mesinha da sala e peguei o telefone, disquei o número de July e esperei impacientemente ela atender. July atendeu no quinto toque.
- Alô? – Ouvi a voz feminina falar do outro lado da linha.
- Oi July, é o . Por acaso está ai? – Falei sem cerimônias.
- Não, , por quê? – Ela perguntou visivelmente, preocupada.
- Eu estava lá em cima assistindo TV e estava no andar de baixo com Joe, eu estava ouvindo Joe chorar e me chamar, então desci para ver o que estava acontecendo, Joseph me disse que saiu correndo. – Suspirei antes de continuar a falar. – Eu estou preocupado, July. – Admiti. Eu temia o que poderia estar acontecendo com ela. Com sempre era uma novidade.
- Fique aí com Joe, eu vou procurá-la. – Disse, decidida. Assim como eu, July também estava preocupada.
- Tudo bem. – Ela não se despediu. Apenas desligou o telefone deixando que eu somente ouvisse o "tu-tu-tu". Desliguei também e sentei-me na sala com Joseph no meu colo. Os minutos iam passando e a minha preocupação ia aumentando. Deveria ter acontecido algo realmente grave para fazer com que deixasse Joe sozinho.


’s POV OFF.

Eu estava parada em frente à porta da minha casa. Buscava algum tipo de coragem para entrar em casa e encarar e Joseph. Mas a coragem já havia me abandonado faz tempo. Eu não queria passar por aquela porta e ouvir mais coisas que pudessem me machucar, não queria ver Joe chorando por eu ter fugido. Eu estava com medo do que poderia vir a seguir.
Ainda permanecia parada em frente à porta. Todas as vezes que eu pensava em entrar em casa o medo era maior e me impedia. Cansada de ficar em pé esperando que milagrosamente surgisse algum tipo de coragem dentro de mim, eu resolvi entrar. Abri a porta lentamente e entrei em casa, evitando fazer algum tipo de barulho. A luz da sala estava acesa e eu podia ouvir o barulho da TV indicando o programa que passava nela. estava sentado no sofá com Joseph no seu colo, ambos dormiam pesadamente. Deviam ter ficado cansados de me esperar. Encostada na porta eu os observei dormir, um sorriso mínimo apareceu em meus lábios ao olhar aquela cena. Eles pareciam pai e filho. Aquela dor conhecida por mim apossou-se do meu corpo assim que me lembrei do que July havia me dito no cemitério. Egoísta. e Joseph estavam em casa preocupados com o meu paradeiro e eu somente me preocupava com a minha dor, eu não estava me importando com a dor que eu causava a eles.
Aproximei-me dos dois e com cuidado sentei ao lado de , repousei minha cabeça no seu ombro. Soltei um suspiro cansado e isso fez despertar do seu sono. Ele pareceu assustado quando me viu deitada em seu ombro, levantei minha cabeça para poder olhá-lo. Ele parecia realmente cansado.
- , onde você estava? – Ele perguntou, em um tom de voz baixo.
- Eu fui ao cemitério... Sabe, fui ver o túmulo do meu pai. – Eu respondi, como se fosse uma coisa normal. Ele olhou-me curioso e desconfiado ao mesmo tempo.
- Fiquei preocupado, Joseph disse que você tinha saído daqui correndo e July não sabia onde você estava. – Meu estômago revirou ao ouvir o nome da minha amiga. Tentei afastar as lembranças da minha mente, mas era impossível.
- Joe exagera às vezes. Eu disse pra ele subir e ficar com você que eu iria dar uma saída rápida. – Menti. Não queria preocupar e também não queria falar do que andava me assombrando ultimamente.
- Mas por que não me avisou? Quando eu desci Joe estava sozinho e chorando.
- Me desculpe, eu não pensei nisso. – Abaixei os olhos evitando demonstrar a vergonha que eu estava sentindo naquele momento. Vergonha por ter mentido para e pela atitude infantil e irresponsável que havia tomado.
- Está tudo bem mesmo? Você sabe que pode conversar comigo. – Ele ainda não estava convencido, eu sabia disso.
- Sim, está tudo bem. – Menti mais uma vez, aquela situação estava me deixando desconfortável. Levantei meus olhos e fitei os seus, não consegui encará-los por muito tempo, eu sabia que iria ceder. Dei um selinho rápido em e levantei-me. – Deixa que eu coloco Joe na cama. – me entregou Joseph e eu o peguei no colo, ignorei o olhar desconfiado que ele me lançava e fui em direção ao quarto de Joseph. Coloquei-o na cama delicadamente e o cobri, Joe remexeu-se e lentamente abriu os olhos. Assim que me viu um sorriso largo apareceu em seu rosto.
- Irmã! Você voltou. – Ele disse alegremente. Deitei ao seu lado e o abracei.
- Voltei, meu amor. – Acabei deixando uma lágrima grossa escapar de meus olhos. E eu ainda pensava que não tinha mais o que chorar. Mais uma vez estava enganada.
- Você não vai mais embora, não é? – Era visível a preocupação em sua voz.
- Não, Joe, eu não vou mais embora. – Eu o abracei ainda mais apertado. Ele aconchegou-se em meus braços. As lágrimas já escorriam livremente pela minha face. Eu senti a presença de na porta, nos observando. Eu não sabia sinceramente o que ele estava achando de tudo aquilo, mas sabia que não estava conformado com as resposta que eu havia dado. E eu não estava conformada com as coisas que estavam acontecendo.

XVIII – Changes

Eu estava deitada na minha cama, estava acordada fazia tempo. Não consegui dormir direito, os acontecimentos da noite passada ainda me deixavam aflita. Virei para o lado, sentindo o peso do braço de na minha cintura dificultando um pouco meu movimento. Eu o observei dormir ao meu lado. Seu peito subia e descia tranquilamente, sua boca estava entreaberta, deixando o ar escapar lentamente. Ele estava lindo. Mesmo com o cabelo bagunçado e caído no seu rosto, mesmo com o rosto amassado. Ele ainda continuava lindo. Acariciei sua face delicadamente, meu peito doeu. Não sei por que senti aquela dor, mas eu sabia que essa dor não tinha nada a ver com os acontecimentos do dia anterior. Mas tinha a ver com o amor que eu sentia por . Ele era tão imenso que me machucava diversas vezes. Perguntei-me se isso também acontecia com , se ele também me amava dessa forma. Ele parecia sempre estar tão feliz ao meu lado, ter certeza por ter decidido estar comigo.
Ele remexeu-se na cama, afastei rapidamente minha mão da sua face, não queria acordá-lo. Mas foi em vão, foi abrindo os olhos lentamente. Ao me ver, ele sorriu calorosamente. Eu retribuí seu sorriso.
- Está acordada há muito tempo? – Ele perguntou, puxando-me para mais perto do seu corpo e beijando minha testa.
Balancei minha cabeça, afirmando. – Você dorme demais. – Resmunguei, riu da minha atitude infantil e abraçou-me ainda mais apertado. Encostei minha cabeça no seu peito e ele alisou meu cabelo desgrenhado. Era possível escutar os batimentos acelerados do seu coração, sorri ao ouvi-los. Eu também causava efeitos em . Beijei seu peito descoberto, com o pensamento de que estar ali abraçada com ele e deitada na cama era a melhor coisa. Desejei que essa intimidade e felicidade que tínhamos ao estarmos juntos nunca acabasse, e nunca mudasse.
- Eu te amo. – Ele sussurrou, sua voz saiu abafada entre meu cabelo. Eu sorri verdadeiramente. Meu coração saltou tão rápido e forte que pensei que fosse escapar do meu corpo. já havia me dito aquelas três palavras antes, então por que eu estava tão feliz assim? Não era novidade pra mim. Mas eu sabia o motivo da minha real felicidade. Naquele momento eu tive total certeza de que ele realmente me amava. Não que antes eu não acreditasse, eu até acredita va, mas sempre tinha aquela insegurança, sempre tinha aquelas duas malditas palavrinhas "E se...". Era por isso que eu estava feliz, porque dessa vez não teve insegurança, dessa vez essas palavras não vieram na minha cabeça. Eu acreditei completamente no que havia me dito. Sim, ele me amava.
- Eu te amo, demais. – Disse, no mesmo tom de voz que o dele.
Naquele momento, essa era a frase certa para se usar. Também te amo para mim soava tão forçado e algumas vezes tão falso. Parecia não demonstrar o real significado do amor, o real significado do meu amor por .


e eu preparávamos o café da manhã. Joseph ainda dormia. Era sábado, ninguém queria se preocupar com a hora. fazia panquecas enquanto eu preparava a mesa. Estava colocando frutas em cima da mesa e rindo ao ver rebolando e cantando enquanto fazia as panquecas.
- Você está extremamente gay. – Fingi reprovação.
- Algum preconceito com isso, amiga? – perguntou, forçando uma voz fina. Soltei uma gargalhada escandalosa, ele realmente estava hilário. Ele colocou as panquecas na mesa, ainda rebolando e cantando, e começou a me ajudar a arrumá-la.
- Bom dia. – Ouvimos a voz infantil de Joe. Ele estava encostado na parede, usava seus pijamas e coçava o olho, demonstrando o quão sonolento ele estava.
- Bom dia, meu amor. – Aproximei-me dele e o peguei no colo, depositei um beijo em seu cabelo e ele acariciou minhas costas. se aproximou de nós e nos abraçou, dando também um beijo na cabeça de Joe.
- Vamos tomar café? Fiz as panquecas que você tanto gosta, Joe. – Senti Joseph levantar a cabeça, logo ele começou a comemorar, mostrando o quão satisfeito estava por fazer sua vontade. Coloquei-o no chão e ele disparou até a mesa, sentando-se na cadeira. Eu e nos entreolhamos e rimos. Sentei em minha cadeira e sentou-se na cadeira ao lado. A mesa estava repleta de frutas, panquecas, sucos, torradas e geléias. Não demorou muito para que nós três começássemos a devorar tudo aquilo.
- O que vocês acham de irmos ao parque hoje? O dia está lindo. – perguntou, olhando de Joe para mim. Meu irmão abriu um largo sorriso ao ouvir a palavra parque e olhou para mim de um jeito manhoso para que eu dissesse que sim.
- Eu acho que seria uma ótima ideia, e você, Joe, o que acha? – E realmente seria uma ótima ideia. Eu estava mesmo precisando sair um pouco com e Joseph, me distrair. Ficar trancada naquela casa só fazia com que os meus pensamentos me assombrassem.
- Eu acho muito, muito, muito legal! – Ele respondeu animadamente com a boca cheia de panquecas. Não pensei em reprová-lo por isso, a cena era hilária. Mais uma vez, naquela mesma manhã, caímos na risada.


Joseph segurava a minha mão e a de . Ele pulava alegremente ao ver o colorido dos brinquedos do parque. Ele tinha aquele sorriso de criança, aquele sorriso que contagia todos a sua volta. E era isso que ele e fazia comigo e com , ele nos contagiava com a sua alegria. Era tão fácil agradá-lo, tão fácil fazê-lo feliz. Joe era radiante.
- Qual brinquedo você quer ir, meu amor? – Perguntei gentilmente a meu irmão. Ele olhava os brinquedos com um brilho nos olhos, olhava aquilo como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo. E para ele era a coisa mais maravilhosa do mundo.
- Todos! – Ele pulou e bateu palmas, ansioso para andar em todos os brinquedos.
- Mas qual você quer ir agora? – Percebi o olhar de , ele parecia estar maravilhado com aquele momento simples que acontecia ali.
- Naquele dali. – Joseph apontou para um brinquedo extremamente colorido. Era um aviãozinho. Eu deduzi que só era permitida a entrada de crianças menores que oito anos, o brinquedo era muito infantil.
- Então vamos lá. – disse entrando na empolgação do meu irmão. Ele pegou Joseph e colocou nas costas, foi andando em direção ao brinquedo, eu os segui.
Joseph entrou no brinquedo, ele estava radiante. Eu e sorríamos ao olhar para ele. De repente senti os olhos de pesarem sobre mim, avaliando-me. Ignorei seu olhar e continuei a observar Joseph. aproximou-se de mim e me abraçou por trás, apoiou seu queixo em meu ombro e voltou seus olhos a Joseph. Mas eu sabia que sua atenção não estava nele.
- Está tudo bem? – Perguntei, enquanto fazia um cafuné em seu cabelo. O sorriso que tinha nos lábios do meu namorado havia desaparecido, mas o que me preocupava era o silêncio torturante que havia se instalado entre nós dois. Eu temia o que poderia acontecer adiante.
- Não. – Ele respondeu sinceramente. Meu coração acelerou e minha respiração estava pesada.
- O que aconteceu? – Fingi que não sabia o que havia acontecido, quando na realidade eu sabia exatamente. Eu sabia que tinha a ver com ontem, infelizmente não consegui convencê-lo com minha desculpa esfarrapada.
- Eu que te pergunto. O que aconteceu ontem? – Delicadamente ele virou-me para que ficasse de frente para ele. Encarar aqueles olhos não estava me fazendo tão bem como faziam antes, eu estava me sentindo culpada. Culpada por ter mentido para ele, culpado por ter fugido, culpada por ser egoísta. Naquele momento eu percebi que era eu que não merecia . Eu merecia uma pessoa tão egoísta quanto eu. merecia alguém maravilhoso como ele. Tudo o que ele fez por mim e ainda faz, todas às vezes que eu o xinguei, que eu o mandei embora e ele ainda permanecia ali me amando, só fazia com que eu tivesse certeza que ele era bom demais para mim. Amando. me amava verdadeiramente. Era óbvio que o amor dele não era igual ao meu! O meu amor era tão frio, tão doloroso. Eu machucava as pessoas. Graças a Deus por ele não me amar da mesma forma que eu o amava! Eu não sabia amar, essa era a verdade.
- Aconteceu aquilo que eu te disse. Senti vontade de visitar o meu pai. – Menti descaradamente. Mais uma vez.
- Eu sei que não foi isso. Você não iria sair do nada e deixar Joe sozinho, você iria me avisar. – Reprimi a vontade de chorar. Por mais que eu odiasse mentir para , eu odiaria ainda mais contar a verdade para ele. Naquele momento eu não queria causar mais preocupação nele. Eu teria que permanecer com a minha mentira até o fim.
- Mas foi exatamente isso que aconteceu, meu amor. – Tentei lhe mostrar um sorriso confiante, mas ele ainda não estava convencido. – Vamos esquecer isso, está bem? – Ele concordou com a cabeça, dando-se por vencido. Um suspiro escapou dos meus lábios. Pelo menos por hoje ele não tocaria mais naquele assunto. Beijei levemente seus lábios e fechei os olhos, fechou os olhos também e retribuiu o beijo, mas não da forma que eu esperava. O seu beijo era frio. Aquilo me feriu, mas eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer. Eu menti para ele, sabia que eu estava mentindo, sua reação era uma consequência do meu ato. Abri os olhos e afastei nossas bocas, em seguida abriu os seus. Encaramos-nos profundamente. E então eu tive a certeza de que algo mudaria dali pra frente. Eu só esperava que fosse uma mudança boa, mesmo não acreditando muito nisso.



XIX - Baby, you lost me.

Dez dias haviam se passado desde aquele dia no cemitério. E desde aquele dia, como eu havia previsto, as coisas mudaram. Minha relação com estava cada vez mais fria, eu sentia isso e sabia que ele também havia sentido. Várias vezes ele me perguntava o que realmente tinha acontecido e eu mentia todas as vezes que ele perguntava. Mentir para já havia se tornado quase um hábito. Várias vezes eu saia de casa para esfriar a cabeça, já que eu não conseguia suportar ficar um minuto dentro daquela casa, parecia me sugar. O lugar que deveria me acalmar e deixar-me segura era justamente o lugar onde a desconfiança pairava. Todas as vezes que eu saia de casa, me perguntava aonde eu ia e eu sempre usava a mesma desculpa: ''Vou ao cemitério''. Ele nunca acreditava.
Eu sabia que estava me transformando em uma estranha para . Eu não podia culpá-lo. Como ele poderia confiar em mim se eu sempre mentia pra ele? Como ele poderia dizer que me conhece tão bem se eu escondo os meus segredos dele? Ele estava praticamente morando na minha casa, estávamos praticamente ''casados'', mas parecia que não passávamos de conhecidos. Quando deitávamos na cama cada um virava para o seu lado. Aquilo partia o meu coração em pedacinhos e, como de costume, uma lágrima silenciosa escorria dos meus olhos.
Passei as mãos entre o cabelo, depois no meu rosto. Bufei, cansada de todo aquele drama que eu mesma criava para minha vida. July estava certa. Olhei para a tela do computador à minha frente, estava entediada. Eu já havia feito tudo no meu trabalho, meu chefe poderia ser um cara legal e me liberar mais cedo. Mas não, eu continuava presa naquele cubículo que chamam de sala, entediada e com milhões de problemas rondando a minha cabeça. Fui retirada dos meus pensamentos ao ouvir o meu celular tocar. Peguei-o e li o número que piscava no visor. Era July.
- Alô. - Atendi a ligação um tanto desanimada. Estava cansada de brigas, e para July me ligar depois de ter dito tudo aquilo, com certeza era para brigar.
- ? É a July. - Doeu ter ouvido minha melhor amiga me chamar pelo nome. Parecia que eu também havia me tornado uma desconhecida para ela.
- Oi July. - Meu tom de voz era desapontado, ela percebeu, eu sabia que ela havia percebido.
- Eu queria saber se o Joe está melhor. - Irritei-me completamente com aquela pergunta. Quem ela pensava que era? Lógico que ele estava bem, eu poderia estar passando por todos os problemas do mundo, mas nunca deixei de cuidar do Joe. Ela estava insinuando que eu era irresponsável demais para cuidar dele, que eu havia causado problemas demais a ele.
Respirei fundo antes de responder a sua pergunta, estava tentando manter a minha calma, e respondi: - Ele está ótimo, obrigada por perguntar. Passar bem, tchau. - Desliguei o telefone na cara dela, não queria ter sido tão grosseira com ela, mas não me restou alternativa alguma. Eu mordi meus lábios fortemente, o sangue em minhas veias parecia borbulhar. Queria ter ido até a casa de July e ter dito umas verdades para ela, mas continuei sentada na cadeira em frente à minha mesa. Chega de problemas.


Estacionei o carro em frente a minha casa, desliguei o rádio e saí, trancando-o em seguida. De pé, em frente a minha casa, pude perceber que ainda não havia chegado ninguém. Respirei fundo, uns minutos sozinha na minha própria casa era tudo que eu precisava. Não precisei me preocupar em buscar Joe, com praticamente morando na minha casa, ele o levava. Entrei em casa e rapidamente subi a escada, indo direto ao banheiro. Tirei minha roupa e entrei no Box, liguei o chuveiro e deixei que a água morna caísse sobre o meu corpo, relaxando os meus músculos, relaxando também minha mente, mesmo que só por um momento. Ao sair do Box, enxuguei cuidadosamente o meu corpo e coloquei uma roupa confortável. Terminei de me arrumar e saí do banheiro, descendo a escada e indo até a cozinha com o objetivo de preparar o jantar.
Enquanto procurava algo para fazer o jantar, eu pensava em como queria que fosse um jantar romântico. Como ele fez comigo. Ninguém em casa, somente eu e ele, aproveitando aquela noite, sozinhos e sem preocupação. Fazia tempo em que não tínhamos essa intimidade, que não tínhamos momentos como aquele. Na fase em que estamos, acho que uma noite é tudo que precisamos para voltarmos a sermos como antes, mas com Joseph em casa seria impossível. Era horrível admitir, e tenho medo de parecer uma pessoa má ao falar isso, mas Joseph sempre atrapalhava os meus planos. Eu o amava, como um filho. Mas às vezes não queria ter a responsabilidade de cuidar dele. Sei o quão nova ainda sou. Ainda estou construindo minha vida e tenho muitas coisas para viver, coisas que não tive a oportunidade de viver devido à responsabilidade que eu tinha de cuidar de Joseph.
Graças a e Joseph, fui retirada dos meus terríveis pensamentos. Eles entraram em casa, sorridentes, e Joseph ria de algo que o contava. Coloquei alguns legumes sobre a pia e virei-me para encará-los, um sorriso doce apareceu em meus lábios assim que vi a face do meu irmão. Como eu era tola por ter aqueles pensamentos, não existia pessoa que me fizesse mais feliz do que Joseph, eu deveria ser muito grata por tê-lo em minha vida. Senti o olhar de pesar sobre mim, diferentemente de Joe, ele não sorria. Aquela atitude dele não me surpreendeu, há dias não sorria verdadeiramente para mim. E aquele desejo de que as coisas mudassem apossou-se de mim. Porém, me mantive forte.
- Irmã! – Joe disse alegremente ao me ver na cozinha. Ele largou sua mochila no chão e correu até o meu encontro, abaixei-me para pegá-lo no colo. Beijei sua face ele me abraçou, deitando a cabeça em meu ombro e acariciando minhas costas, como sempre fazia. Pelo menos alguém não havia mudado comigo.
- Oi, meu amor! Como foi na escola? – Vi aproximar-se de nós dois. Ele parou na minha frente beijou minha testa, mas logo se afastou. Encostou-se na bancada e ficou nos encarando.
- Foi muito legal, tio ensinou muita coisa legal. – Olhei para e sorri, mas ele não retribuiu o sorriso e desviou seus olhos. – O que você está fazendo para comer? – Ele levantou a cabeça e olhou-me atentamente. Foquei minha atenção no que Joseph dizia, era mais fácil fazer isso do que encarar . Eu tinha que ser forte.
- Ainda estou vendo, o que acha de me ajudar? – Rapidamente eu pude ver a empolgação tomar conta de Joseph. Era tão fácil fazê-lo feliz.
- Eu adoraria! – Coloquei-o no chão e ele foi até a pia, ficando na ponta dos pés para pegar os legumes.
- Bom, eu vou subir para tomar banho. – falou e saiu da cozinha, sem me beijar, ou me olhar. Ele pegou a mochila de Joseph e subiu a escada.
Aquela situação estava me matando por dentro, desconfio que por fora também, já que eu estava abatida e com ainda mais olheiras. O que queria? Castigar-me por mentir para ele? Bom, acho que eu já tinha aprendido a lição. Eu não estava mais suportando conviver com aquilo. Não sabia o que fazer para que voltássemos a ser como antes. Na verdade eu sabia, mas eu não podia fazê-lo. Uma parte de mim culpava Joseph. Se não tivesse feito aquele desenho, eu não teria perguntado a ele e ele não teria me dito nada. Eu não podia negar que na maioria das vezes Joseph me causava problemas e atrapalhava minha vida.

’s POV.

Enquanto tomava meu banho milhões de coisas passavam em minha cabeça. Todas relacionadas à . Nossa relação havia mudado tão rápido, e era uma mudança tão ruim. Mas tudo aquilo que estava acontecendo era culpa dela. Se ela não mentisse todo o tempo para mim e resolvesse me contar toda a verdade, confiasse em mim, estaríamos muito melhor. Eu não sou idiota, eu sei que algo de errado estava acontecendo. July não falava mais com ela desde aquela noite, estava cada vez mais distante e sempre arrumava alguma desculpa para sair de casa. Sempre era mesma desculpa. O cemitério. O que ela tanto fazia ali? Todo esse tempo com ela eu nunca a vi indo ao cemitério, por que logo agora todo esse interesse? Eu tinha medo de perder , mas eu sabia que não há nada que eu pudesse fazer. Estava nas mãos dela.
Sai do banheiro com a toalha enrolada na minha cintura. Peguei uma roupa que eu havia deixado no guarda de roupa da e vesti. Passei meus olhos pelo quarto. Tantos momentos passaram ali, já existia tanta história, mesmo com pouco tempo. Eu amava , eu amava tanto. E por isso me magoava o fato dela mentir sempre pra mim, como se não se importasse comigo, como se eu não merecesse a verdade. Não vou negar que estava em meus planos a pedir parar morar comigo, seja na minha casa ou na dela, tanto faz, eu só queria morar com ela. Mas depois de tudo que estava acontecendo, eu ainda me pergunto toda noite se ela é a mulher certa para mim, se é com ela que eu deveria passar o resto da minha vida. Suas atitudes ultimamente demonstravam que não era isso que ela queria, o que ela queria mesmo era ficar sozinha. Isso me deixava inseguro. E por isso não tive coragem de pedir, mas também não tive coragem de sair da sua vida.
Assustei-me quando ouvi gritos vindos do andar de baixo. Uma onda de desespero apossou-se de mim quando me lembrei daquela noite onde também ouvira gritos. Eu estava com medo do que poderia estar acontecendo, eu estava com mais medo ainda de ter ido embora, mas dessa vez pra sempre.
Saí do quarto desesperadamente e desci a escada correndo e pulando alguns degraus. Correndo, fui em direção à cozinha e ao chegar lá me arrependi na mesma hora. Deparei com uma cena que eu nunca esperava ver na minha vida, aquilo me machucou de uma forma que algo nunca havia me machucado. Eu esperava aquilo de qualquer pessoa, menos de . Eu nunca esperaria aquilo dela. Algo tão cruel. Eu não sabia ao certo se estava decepcionado, surpreso, magoado, irritado. Talvez eu estivesse sentindo tudo isso ao mesmo tempo. Como alguém seria capaz de cometer uma atitude tão perversa como aquela? Como ela poderia ser tão má, tão falsa?! Todo esse tempo me engando, fingindo ser algo que não era e culpando todas as outras pessoas que não tinham nada a ver com isso. Nada a ver com a sua crueldade! era a pior pessoa que eu já conheci em toda a minha vida. Eu nunca pensei que pensaria algo assim dela, mas quando eu entrei na cozinha e a vi segurando Joseph pelo braço e o batendo, foi impossível pensar algo bom ao seu respeito. Ela batia no seu próprio irmão, tal irmão que ela jurava considerar como filho e amá-lo verdadeiramente. xingava Joseph e o batia cada vez mais, ele chorava implorando para que ela parasse de fazer isso, mas ela ignorava e continuava a bater nele. Cansado de ver aquela cena torturante, eu gritei:
- Chega, ! – Imediatamente ela soltou Joseph e olhou-me para mim assustada. Seu rosto estava irreconhecível. Seus olhos não eram mais doces como antes, eram duros. Ela sorriu para mim sarcasticamente, sua atitude me surpreendeu. Imaginei que ela fosse chorar e pedir desculpas e inventar alguma história, ou então fingir que eu tinha batido em Joseph. Exatamente como ela fez no restaurante. Sim, ela fingiu. Porque diferente dela, eu nunca encostaria um dedo em Joseph.
- Por quê? O que você vai fazer comigo se eu não parar? – Joseph correu até a mim e escondeu-se atrás da minha perna. Ela ainda tinha aquele sorriso sarcástico no rosto, eu nunca a havia visto daquela forma. Lentamente ela aproximou-se de mim e parou frente a frente, olhando-me profundamente nos olhos. Aqueles olhos que antes me transmitiam uma paz, agora me causavam medo. Irônico, não? - Não me obrigue a fazer com você o que eu realmente quero fazer. – Não deixei que ela me intimidasse. Eu não conhecia mais, não sabia o que ela poderia fazer. Continuamos nos encarando, ela ainda sorria, eu estava sério. E então ela me surpreendeu mais uma vez, cuspiu no meu rosto. O meu sangue parecia borbulhar de ódio, eu deveria estar vermelho, com certeza. Respirei fundo, controlando a minha ira. gargalhou e aquilo me deu mais raiva ainda. Peguei Joseph no colo e sai daquela cozinha o mais rápido possível, antes que eu pudesse fazer algo que me arrependesse. veio atrás de mim, mas eu a ignorei.
- Isso, vai embora dessa casa mesmo! Muito obrigada por levar esse desgraçado da minha vida, você não tem noção do quanto eu quis me livrar dele. – Ouvi-la falar daquela forma de Joseph me machucou ainda mais. estava irreconhecível. Saí daquela casa, que até então parecia me sufocar, e coloquei Joseph dentro do carro. ainda estava atrás de mim, eu entrei no carro, ainda sem olhá-la nos olhos. Ela voltou para casa e antes de entrar parou na porta, olhou-me fixamente e gritou: - O MEU NOME É SUMMER, SEU IDIOTA! – Summer, aquele nome não me parecia estranho, mas eu não conseguia me recordar de onde eu havia escutado aquele nome. De qualquer forma não faria diferença, estava fingindo, como sempre.
Liguei o carro e saí daquela casa. Agora sim eu havia tomado coragem para sair da sua vida. Afinal, eu estaria perdendo meu tempo naquela casa já que eu perdi minha para sempre.



XX- But no one believes me.

Eu havia terminado de preparar a mesa para o jantar quando gritei por e Joseph chamando-os para comerem. Enquanto esperava por alguma resposta, observei a mesa já pronta, checava se faltava algo.
- , Joseph! A comida está pronta. - gritei novamente e mais uma vez não obtive respostas. Bufei impaciente e revirei os olhos. Cansada de esperar, resolvi ir até o andar de cima falar com eles. Subi a escada, estranhando não ouvir algum barulho. Com Joseph em casa sempre era possível escutar algo. Entrei no meu quarto e não vi ninguém, aquela situação estava começando a me deixar preocupada. O que não era muito difícil de acontecer. Entrei no banheiro e não vi ninguém, fui até o quarto de Joseph e novamente não vi ninguém. Procurei nos outros cômodos da casa, mas para meu desespero também estavam vazios. Meu coração disparou. Todo aquele medo que eu estava sentindo nos últimos dias de que algo ruim fosse acontecer apossou do meu corpo.
- ! - gritei, ainda tinha esperanças de que ele me respondesse. Mas tudo o que eu pude ouvir foi o meu grito ecoando pela casa. Meus olhos encheram-se de lágrimas e, como se eu não tivesse mais forças para sustentar o meu corpo, eu caí no chão. Diversas lágrimas escorriam dos meus olhos molhando o meu rosto. - ... - repeti seu nome, mas quase não emiti som.
Agora eu sabia como e Joseph haviam sentido no dia em que eu fugi de casa. Confusos e abandonados. Era assim que eu estava me sentindo.
As lágrimas rolavam soltas pelo meu rosto, mas eu não me importava. Eu sequer me importava com o gélido chão em que eu estava caída. Meu coração parecia estar esmagado, tamanha era a dor que eu sentia. e Joe haviam ido embora, eu sentia isso. Somente o som do meu choro era possível escutar naquela casa. Eu estava me sentindo mais solitária ainda. Eu sabia que dessa vez era diferente. Porque todas as vezes que eu me sentia solitária eu realmente não estava solitária, eu ainda tinha Joseph e July ao meu lado. Mas agora eu não tinha mais Joseph para acariciar meu cabelo e abraçar-me enquanto eu chorava ou sentia-me sozinha. E eu não tinha July para brigar comigo por estar fazendo drama. Eu também não tinha mais para beijar-me e transmitir aquela paz que somente ele conseguia me passar. Dessa vez eu realmente estava sozinha, não era mais drama. E lembrar das vezes em que eu pensei em como não queria ter a responsabilidade de cuidar de Joseph, e até mesmo não tê-lo em minha vida, me dava ódio de mim mesma. Como eu pude pensar dessa forma? Eu não tinha mais Joseph, mas eu queria tê-lo de volta. Arrependia-me tanto por ter tido esses pensamentos, por ter tido essa vontade de tê-lo longe de mim.
Um pingo de esperança surgiu em mim quando pensei que talvez, mais uma vez, eu estivesse exagerando. Talvez tivesse ido comprar algo e tenha levado Joe como companhia, e teria se esquecido de me avisar. Ou teria até me avisado, mas eu deveria estar tão distraída preparando a janta que não prestei atenção.
Sorri involuntariamente ao pensar nessas possibilidades. Eu estava me preocupando demais, como sempre.
Afobada, levantei do chão e enxuguei minhas lágrimas. Desci a escada correndo e fui até a cozinha pegar meu celular, queria acabar com essa tortura logo, por isso decidi ligar para e perguntá-lo onde estava. Disquei seu número e esperei impacientemente até que ele atendesse.
- ! - Falei, animada, assim que ele atendeu a ligação.
- Como você ainda tem coragem de me ligar? - Sua voz, diferente da minha, era séria. Ele não parecia estar feliz ao ouvir a minha voz.
- , o que está acontecendo? Por que você está falando assim comigo? - Perguntei, já com a voz embargada. Minha esperança havia sumido.
- Não seja sonsa, garota! Eu nunca mais quero falar com você. - após dizer todas essas palavras de uma forma fria, ele desligou o telefone.
Eu não estava exagerando dessa vez. Eu realmente havia sido abandonada. Sem Joseph, July, , Phoebe, meu pai. Eu estava sozinha. Eu estava me sentindo vazia por dentro e por fora. Não sentia mais vontade de chorar. E aquela dor no peito que sempre me acompanhava quando algo de ruim me acontecia havia ido embora. Parecia que eu havia me transformado em uma pedra, eu não conseguia sentir nada. Raiva, tristeza, amor. Nada. Em questão de segundos eu já havia me conformado por ter sido abandonada. Porque no fundo eu sempre soube que um dia isso iria acontecer. Eu sabia que o meu destino era terminar sozinha. As minhas atitudes afastavam as pessoas de mim. Eu era sempre dramática, protetora, resmungona. Eu queria sempre mostrar a todos como eu era boa, como eu era altruísta. Mas na verdade eu usava Joe para mostrar a todos que eu não era uma pessoa ruim. July estava certa. Eu não era a garota boa que eu demonstrava ser, a garota que todos acreditavam existir. Mas não existia, era tudo uma farsa.
Sai da cozinha e subi a escada lentamente, sem pressa alguma. Passei pelo meu quarto, do Joseph e segui até o final do corredor onde ficava o quarto de Phoebe. Não sei o motivo que me fez ir até lá, eu simplesmente senti vontade de ir. Abri a porta do seu quarto e entrei no cômodo. O cheiro de mofo invadiu minhas narinas, a pouca claridade que tinha ali não me permitia enxergar com clareza as coisas. Mas nada daquilo me incomodou. Por incrível que pareça, eu me senti em casa ao estar ali. Eu me senti como se ali, no quarto de Phoebe, fosse o meu devido lugar. Fui até a sua cama e sentei ali, alisei o lençol empoeirado com as minhas mãos.
- É, Phoebe, você sempre me disse que éramos parecidas. Agora eu vejo que você está certa. Realmente somos parecidas. Tudo que eu temia acontecer aconteceu. Terminei como você. Abandonada.
Não vou negar, ainda era um pouco doloroso admitir isso. Mesmo que fosse só para mim, mesmo que Phoebe não soubesse disso, mas ainda inflamava o meu ego admitir que ela estivesse certa. Não queria que as coisas tivessem terminado assim, eu não queria era me conformar com tudo isso. Mas no fundo eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer, já estava feito. No fundo eu sabia que havia me deixado por estar cansado de mim e dos meus segredos. Eu só não entendia porque Joseph havia ido com ele. Eu não conseguia ter forças para lutar contra isso. Eu só queria ficar ali, sentada no quarto da Phoebe, convencida de que de fato nós éramos muito parecidas.

’s POV.


Eu dirigia desesperadamente até a casa de July, eu sabia que ela era a única que poderia me ajudar naquela situação. Eu tinha medo de que pudesse vir atrás de mim e do Joe, tinha medo do que ela poderia fazer com ele. July era a única que poderia me ajudar a entender o que estava acontecendo com . Eu estava com tanto medo e ao mesmo tempo tão decepcionado. Eu poderia esperar qualquer coisa dela, menos isso. Como será possível passar tanto tempo com uma pessoa, achar que a conhece tão bem e então descobrir que ela não é nada do que demonstrar ser? Eu estava sendo enganado o tempo todo e Joseph estava pagando as consequências. Ele era inocente, não tinha nada a ver com isso.
O que me deixava ainda mais furioso era continuar fingindo. Em uma hora ela mostra ser realmente quem é, em outra ela volta a fingir. Como posso confiar numa pessoa dessas?
Eu estava de mãos atadas, não sabia mais o que fazer. Eu só sabia que deveria proteger Joe do monstro que era a irmã dele, mas não sabia como fazer isso.
Mas no fundo eu sabia que também precisava da minha ajuda. Eu só estava magoado demais para encontrar uma forma de ajudar. Eu ainda não queria acreditar naquilo tudo que estava acontecendo. Eu amava , planejava construir uma família com ela. Ela parecia ser a mulher ideal para mim, carinhosa, honesta, gentil. Era com ela que eu queria ter filhos e realizar todos aqueles planos bobos. Mas era com a que eu amava, não essa que era um verdadeiro monstro. Dessa eu queria distância.
Estacionei o carro em frente à casa da July. A luz estava acesa, isso era um bom sinal, ela deveria estar em casa. Desliguei o carro, abri a porta e sai, andei em direção a porta do carona e abri a mesma, pegando em seguida Joseph em meu colo. Ele dormia pesadamente, provavelmente exausto dos acontecimentos recentes. Fechei a porta e tranquei o carro. Ainda com Joseph adormecido em meu colo, eu andei até a porta da casa da July, aonde dei duas batidas fortes. Esperei-a atender. July abriu a porta e, curiosa, fitou-me. Assim que seus olhos bateram nos meus eu pude ver o medo ali. Ela estava com medo do que pudesse ter acontecido. Naquele momento medo era um sentimento comum para todos nós.
- O que aconteceu, ? – Ela perguntou receosa. Eu suspirei e sustentei o seu olhar.
- Precisamos conversar. Sobre . – Ela assentiu e me deu espaço para que eu passasse com Joseph. Entrei na sala e sentei-me no sofá, ajeitei Joe em meu colo, July fechou a porta e sentou-se ao meu lado.
- Acho melhor colocá-lo no meu quarto. – Ela apontou para Joseph que dormia em meu colo. Eu concordei. July levantou-se do sofá e pegou Joseph do meu colo, sumiu pelo corredor indo até o seu quarto. Alguns minutos depois ela voltou e sentou-se ao meu lado. Suas mãos estavam apoiadas em seu colo, seu queixo estava erguido e ela olhava-me duramente, como se estivesse se preparando para o que pudesse ouvir. – Diga, o que aconteceu? – Um suspiro escapou dos meus lábios e eu a olhei com ternura. Logo o olhar duro de July se desfez e ela retribuiu o meu olhar. Nós sabíamos que precisávamos estar unidos para ajudá-la. Seja lá o que ela estivesse passando.
- Ela precisa da nossa ajuda, July. Eu não sei o que está acontecendo com ela. – Estava tomando coragem para contar-lhe o que realmente havia acontecido. Eu sabia que July e eram unidas, pareciam até irmãs. Então eu imaginava que aquilo fosse mais doloroso a ela do que a mim, principalmente por July conhecê-la há tanto tempo, ser tão presente na vida dela.
- Por favor, , não me enrole e conte logo! – Seu pedido quase saiu como uma súplica. Respirei fundo, como se assim me enchesse de coragem, e finalmente falei:
- Hoje, quando cheguei em casa com Joseph, eu o deixei com para que ele pudesse ajudá-la a fazer comida, e subi para o quarto. Não demorou muito e eu pude ouvir gritos vindos da cozinha. Eu fiquei com medo, sabe, July? Com medo de que ela novamente pudesse ir embora e dessa vez não voltar mais. – Ela me olhou com compaixão, como se sentisse muito por tudo aquilo que eu estivesse passando. – E então eu desci e fui até a cozinha ver o que estava acontecendo. Perdoe-me pelo o que eu vou dizer, July, mas eu preferiria que tivesse ido embora ao ter que ver aquilo. Ela estava batendo em Joseph. Não estava dando uma palmada como se estivesse corrigindo-o de algo errado que ele fez, ela estava batendo nele. Eu gritei com ela, ela gritou comigo e disse coisas horríveis, não pensei duas vezes e peguei Joseph e fui embora. Não sei o que ela poderia fazer a ele, ou a si mesma. – O olhar de July não era mais de compaixão. Ele era indecifrável, assim como sua expressão. Ela ficou um bom tempo calada, assimilando tudo o que eu havia acabado de dizer, e eu respeitei o seu silêncio calando-me também.
- Como você tem coragem? – Espantei-me com a sua pergunta e a encarei curioso.
- Perdão?
- Como você ousa vir até a minha casa e falar que bateu em Joseph? Eu conheço há anos, conheço-a o suficiente pra saber o quanto ela o ama e nunca seria capaz de fazer algo do tipo. Quando for mentir, , invente uma mentira menos absurda. – A ira transbordava em suas palavras. Ela respirava pesadamente, estava vermelha de ódio.
- Eu não menti, July! Por que eu mentiria sobre algo desse tipo? Sinceramente? Eu preferia que fosse mentira, mas não é, é a mais pura verdade. – Tentei ser o mais sincero possível, mas algo me dizia que não adiantou.
- estava certa, ela não estava ficando louca nada, você realmente havia batido em Joe. Agora veio inventar essa história pra mim para que todos acreditassem que ela não presta e você é o bonzinho! Mas dessa vez você não vai me enganar, , sua máscara caiu. – Ela levantou-se do sofá exaltada e foi até a porta, abriu-a e apontou para a rua. Eu entendi o seu recado, ela estava me expulsando.
- Por favor, July, acredite em mim. e Joe precisam da nossa ajuda. – Eu a olhava suplicante, mas ela ainda mantinha sua postura ereta e seu olhar transbordando ódio.
- O único que precisa de ajuda aqui é você, . Saia da minha casa agora e suma das nossas vidas! – Eu continuei a encará-la esperando esperançosamente que ela mudasse de ideia e acreditasse em mim, mas nada aconteceu. Ela continuou na mesma posição, apontando para a rua e sem me encarar. Suspirei derrotado e finalmente sai de sua casa. Assim que pus o pé para fora, July bateu a porta fortemente sem hesitar. Um nó formou-se na minha garganta ao constatar que não obtive sucesso. Agora July não acreditara em mim e pensava que eu não prestava, poderia machucar ainda mais Joseph e ele poderia sofrer ainda mais. Se eu já não sabia o que fazer antes, imagine agora.
E então uma solução passou pela minha mente. Talvez nem tudo estivesse perdido. Ainda havia uma pessoa para me ajudar. Uma última pessoa. Phoebe.

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Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email ou mesmo no twitter. Quer saber quando essa fic vai atualizar? Fique de olho aqui. Obrigada. Xx.

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