As manhãs de Nova York nunca foram as mais cheias, e com certeza, sempre foram as mais solitárias. Da janela de meu quarto observava os pássaros cuidando de seus ninhos e as pessoas andando apressadamente em direções opostas, algumas em direção ao trabalho, outras à escola, outras se exercitando apenas. Nunca parei para pensar em como cada pessoa que passava diante de meus olhos vivia, se era feliz, se tinha uma família, se tinha gosto pela vida, em que trabalhava, se tinha uma razão para estar ali.
Desde a infância fui uma criança solitária, filha de pais divorciados, minha mãe sempre esteve mais ocupada com a vida social dela do que com os cuidados de sua filha, o que de fato não me importava muito, já que Maria, minha babá, sempre foi mais que uma mãe para mim. Cresci no meio de pessoas da moda, socialites, festas de gala e tudo que incorporava uma exigência muito fina em questões de beleza, o que graças ao meu bondoso Deus, não precisava me preocupar muito, pois a natureza tratou de cuidar disso para mim.
Agora em minha vida, era tempo de mudanças... Estava indo para a faculdade, iria morar sozinha e cuidar da minha própria vida sem interferências, como eu sempre quis.
Bom... era isso que eu pensava.
Capítulo 1
Em meio a tantos carros, buzinas, pessoas diferentes, animação e descontração, adentrei os portões de minha nova faculdade, ou logo de uma vez, nova vida... como preferirem. Adorei o campus logo de entrada, o cheiro de rosas e de natureza invadiu meus pulmões fazendo-me sentir uma calma jamais sentida antes, nada como o chanel de minha mãe ou o perfume masculino impregnado em cada figura do sexo feminino em minha antiga sala de aula.
- ! - Ouvi a voz doce e calma de minha melhor amiga me chamar, e me virei para cumprimentá-la.
- ! Que saudade, amiga. - Fui ao seu encontro e abracei , uma das únicas razões que eu tenho para sorrir.
- Como foram suas férias? As minhas foram as mesmas coisas de sempre: nuggets e filmes! Não via a hora de vir para a faculdade. - disparou em perguntas e afirmações que eu mal entendia, já que minha atenção estava totalmente voltada para os portões principais, onde eu via um garoto alto, cabelos , com um físico de tirar o fôlego e usava uma camisa listada azul clara, calças jeans e um All Star. Diferente de outras pessoas, ele estava sozinho, ouvindo alguma música com seus fones e parecia não se importar com nada à sua volta, o que me manteve concentrada em seu rosto por vários minutos.
- Amiga, vamos! - Ela exclamou um pouco confusa. - Estou falando com você sem parar e você parece nem me ouvir, mas está na nossa hora!
- Desculpa, não tive uma noite de sono muito boa. - Comecei a falar, pegando minha bolsa e caminhando para dentro do prédio em direção ao salão principal, onde se concentrariam todos os alunos presentes.
- Hum, ok. - Ela disse não parecendo muito confiante. - Depois você me conta, vamos lá para a palestra. - E seguimos sem trocar nenhuma palavra, até nos sentarmos ao fundo do salão.
Algum professor começou a palestra falando do início do ano, dos seminários, laboratórios, teatros, salas de aula e dos dormitórios. Nada que tenha me mantido concentrada em ouvir suas palavras, porque sinceramente minha mente só pensava em encontrar o menino que vi na entrada. Completamente sem sucesso.
Quando a palestra chegou ao fim, fomos para a sala iniciar oficialmente o primeiro dia de aula na faculdade. Ouvia vagamente o que cada professor dizia, mas meus pensamentos se encontravam longe, há aproximadamente três anos atrás, e juntamente com esses pensamentos vinha a vontade instigante de apagá-los de minha memória e encerrar de uma vez essa página da minha vida. Nada que fosse fácil de fazer, porém com tantas coisas novas acontecendo, não julgaria necessariamente impossível.
Cheguei em casa e logo ouvi minha mãe falando ao telefone com algum de seus fornecedores ridículos, fazendo um sinal de que já iria almoçar comigo. Mal sabia ela de que eu dispensava a sua falsa preocupação com algo de que não fosse minha aparência e meu bom comportamento diante das pessoas que eram importantes para ela. Me sentei à mesa e já serviram-me. Dei algumas garfadas na comida e logo me senti satisfeita, o que era muito estranho porque comer sempre foi mais do que um hábito para mim, era como uma necessidade de me fazer esquecer dos problemas. Sorte a minha não ter tendência para engordar, ou do contrário não sei se ainda estaria passando pela porta. Muitas vezes cheguei a pensar em ser bulímica, pois apesar de não fazer diferença em meu corpo, mais tarde faria e acredito que me expulsariam de casa, caso minha imagem não se conservasse.
A semana passou lentamente, nada que seja de extrema importância aconteceu. A não ser que o menino misterioso do primeiro dia de aula estava em minha turma e se chamava Schamne, e que não saia mais de minha cabeça nem por um decreto. O que estava me deixando aflita demais, quando ele só falava comigo sobre algum assunto da aula ou para cumprimentar... e outras vezes via ele me encarando, me olhando como se procurasse alguma coisa, precisasse de alguma coisa. Minha cabeça já não aguentava de tão confusa que estava, e por isso que minha animação para a festa dos calouros na sexta, seguida de uma balada no sábado só aumentava, precisava de uma fuga do meu mundo real.
Continua...
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