I Don't Know If The World Will End Today
Fic by: Ju. H | Beta: Lilá


Aquele era um dos momentos que poderíamos chamar de desconfortável.
Sentado na grande mesa da sala de jantar de Grimmauld place, n° 12, a sede da ordem da fênix, Snape não sabia como reagir. Bom, ele era um dos bons agora, certo? Era melhor assim. Mesmo que agora as coisas fossem ficar mais difíceis, com ele assumindo o posto de agente duplo, valia à pena. Ele tinha alguma esperança – sim, uma esperança que lutava a cada segundo a golpes mortais de sua consciência para manter-se lá, mas ainda assim uma esperança – de que algum dia ela o perdoasse. Que, talvez houvesse algum convívio... Saudável.
Expectativa esta que cada vez se mostrava menos possível. Do outro lado da mesa, James e Lily. Os dois haviam passado por ele e sentado sem lhe dirigir o olhar. Não que ele tivesse percebido, ao menos. Também não haviam proferido uma palavra. Ela encarava veementemente a mesa, e nos breves olhares que ele dirigira a ela – e só a ela – ele percebera que ela continuava igual à criança que vivia com ele.
- James? – chamou Sirius, passando somente metade de seu corpo pela porta, e então balançando a cabeça.
James se levantou e murmurando um ‘já volto’ rápido para Lilian, seguiu o amigo, indo ao encontro de Dumbledore. Snape já sabia do que se tratava. Fora um dos primeiros a ouvir a profecia, e agora trabalhava tentando manter Voldemort o mais afastado dessas informações o possível. Ele achava extremamente infantil que contassem a tanta gente antes que falassem com Lily. Ele notou o nervosismo dela, sua frustração. Ela continuava fazendo um esforço enorme para não olhar pra ele. Snape estalou a língua.
- Ok, Lilian, já não é suficiente? – perguntou, tomando coragem de repente, movida por sua própria frustração – Sei que não nos falamos há anos, mas já faz muito tempo. Admito que não me perdoe nunca, mas você nem me dirigirá um olhar?
Ele observou-a trincar os dentes e fechar os olhos. Após alguns segundos, ela abriu a boca para falar, mas foi interrompida por James, Sirius e Dumbledore, seguidos de outros membros da ordem da fênix entrando na sala. Salva pelo gongo, pensou Severo, frustrado.
- E então? Por que não começamos ainda? – perguntou Sirius, irritado. Ele, de certa, forma partilhava os sentimentos de Snape, achando extremamente ridículo que ele soubesse antes das mães envolvidas. Elas já eram grandinhas o suficiente.
Dumbledore suspirou. – Estamos esperando pelos Longbottom, logicamente, meu caro.
Lily enrijeceu em sua cadeira. Ela tinha um bom palpite sobre os fatos, sendo que os únicos não informados ali eram pelo visto ela e os Longbottom.
Alguns minutos se passaram, e algumas conversas paralelas começaram. Snape continuava intercalando seus olhares entre a mesa e ela, ao mesmo tempo tentando ouvir as conversas discretamente, quando o casal passou pela porta, ofegantes.
- Fomos perseguidos. – disse o homem, levantando suas mãos para acalmar o burburinho que começava na mesa - Mas acho que conseguimos despistá-los perto de Londres.
Eles tomaram seus lugares, e a reunião pôde começar. Dumbledore começou com assuntos menos importantes, e Snape podia sentir a tensão da sala crescendo conforme os temas secundários iam acabando.
- Agora... Acho que temos que informar uma coisa aos presentes. – Começou Dumbledore. – Alguns já sabem, por precaução, mas teremos que discutir isso. Antes que eu comece, aviso que providencias já foram tomadas – falou, lançando um rápido olhar para Severo – e que temos a situação sob controle. Chegou aos meus ouvidos uma profecia. – Ele fez uma pausa, analisando a reação da sala – Uma profecia que fala diretamente da destruição de Voldemort. A previsão nos diz que... Que um garoto nascido no fim de julho seria colocado no mesmo patamar que Voldemort, por ele mesmo, e que um não poderia sobreviver enquanto o outro estivesse vivo. Os pais desta criança já teriam enfrentado Voldemort três vezes. Acreditamos que a profecia pode estar falando de duas pessoas. – Ele pausou, e James colocou a mão no ombro de Lily, tentando acalmá-la. – Neville ou Harry. N.. – Ele foi interrompido por Sirius.
- Mas é só uma profecia, pelas barbas de Merlin! Elas nem sempre são verdade! Nem sempre se realizam, lembram-se? Por que estamos fazendo todo esse alvoroço por causa de uma simples previsão?!
- Calma agora, Sirius. Todos nós sabemos que...
- Não parecem! Por que, diabos, estamos fazendo isso? Confiando neste inútil como espião? Ok, ok, tempos perigosos, ótimo. Mas não é pra tanto, afinal, desde que aquele-que-não-se-deve-ser-nomeado não tenha acesso a essa informaçãozinha, estamos bem! Devíamos mesmo é começar a planejar sua de...
- E no que acha que estou trabalhando, idiota? – Perguntou Snape, rude e friamente. Sirius não ia escapar de suas palavras. – Precaução! Ou você acha bom que deixemos essa informação de lado? Deveríamos contar ao profeta diário, assim quem sabe a vida dessas crianças estivesse mais segura! Claro que sabemos que a profecia pode vir a não se realizar, mas o que você achar que vai acontecer se ela cair nas mãos de qualquer um que não deva? Por que acha que isso é uma reunião privada? – disse, acenando com as mãos a mesa, que desta vez não abrigava nem um terço de sua capacidade - O que você acha que aconteceria se Voldemort ouvisse isso e decidisse acabar com as ameaças? Não é só das crianças que estamos falando! Ou você realmente achava que seu traseiro ia ficar de fora dessa se as coisas dessem errado?!
- NÃO FOI O QUE EU...
- CHEGA. – interrompeu Dumbledore. – já é suficiente, cavalheiros. Agora... Sim, era mais ou menos nesse ponto que eu queria chegar. Porque Harry nasceu depois, se Voldemort ouvir essa profecia, ele tem mais chances de... De escolhê-lo. Portanto estamos trabalhando em impedir isso – ele lançou um olhar de repreensão a Sirius, que abria a boca pra falar – entretanto, Severo está certo, esta informação não deve sair daqui ou a criança não será a única a ser...
- Com licença. – disse Lily, se levantando, e murmurando rapidamente um ‘eu preciso de ar’. Ela saiu rapidamente do cômodo, gesticulando com a mão para que a deixassem sozinha.
Dumbledore a olhou seriamente, ela não tinha culpa de desabar agora. Ele decidiu não terminar a frase. Continuou, terminando a reunião explicando como estavam os procedimentos e o que estava acontecendo do outro lado, de acordo com os relatórios de Snape.
A reunião acabou e todos saíram da sala. James foi procurar Lily e Severo começou a fazer os planos da próxima semana com Dumbledore e Remo.
- Então, o que faremos? – perguntou Snape.
Lupin suspirou, ele ainda estava muito cansado desde a última lua cheia. Se ele fosse só um pouquinho mais cara de pau já teria pedido ajuda a Severo com a poção, as dele nunca ficavam realmente boas, só impediam a dor de cabeça constante.
- Sem planos, aqui.
- Só o mantenha longe da escola, de Sibila, do ministério... – Dumbledore disse.
Snape bufou:
– Vocês sabem que preciso reportar a ele como andam as coisas na escola. Há algo que eu não possa falar? Alguma ideia de distração a ser plantada na mente dele? – Ele mesmo tinha varias ideias, mas sempre achava melhor pedir sugestões, afinal, mais da metade das pessoas da ordem não confiavam nele. Os restantes o odiavam ou o ignoravam.
- Use a sua criatividade, Severo. – Disse Dumbledore, dirigindo um olhar gentil a ele.
Snape estava prestes a assentir rapidamente e sair, como sempre – ele nunca ficava confortável para ficar mais e jantar com aquelas pessoas – quando foram interrompidos por James e alguns murmúrios inquietos:
- Ahn... Vocês viram a Lily em qualquer lugar? Já olhei a casa toda, e nem sinal dela – o pânico transparecia em sua voz.
Todos deram suas negativas, e assim James passou a perguntar as próximas pessoas que encontrava. A tensão na sala crescia.
Conforme o homem falava as pessoas comentavam, e assim o barulho na sala crescia. Dumbledore sentiu que devia interromper isto.
- Acalmem-se, por favor. James venha cá. – ele acenou com sua mão, e então, mais baixo, falou: Lily não está no melhor de seus dias, e você sabe disto. Eu sei que se preocupa, mas ela deve estar querendo ficar sozinha, acho eu. Agora, eu preciso conversar com você e Frank, se possível. – O homem se inquietou com a ideia de deixar sua esposa em algum lugar sozinha, ele nem sabia se ela estava na casa! – De qualquer maneira – começou Dumbledore, sentindo o nervosismo presente, e elevando sua voz – Aqueles que quiserem fazer uma boa ação aos nervos de James poderiam ir procurar Lilian? Com a devida discrição e bom senso, é claro, se a acharem. – Ele piscou, colocando uma mão no ombro de James e o conduzindo até sala de jantar com Frank.
A sala se esvaziou rapidamente, todos haviam ou ido a procura de Lily ou achar algum lugar onde pudessem ficar sentados longe dos burburinhos em relação a ‘’desaparecida’’.
Snape suspirou. Ele tinha alguns palpites sobre o paradeiro de Lilian. Por mais que soubesse que não devia, ele queria procurá-la. Sabia que ela precisava de um amigo que a entendesse, que a confortasse, e somente ele o poderia, mesmo com todo o rancor que ele achava que estava guardado no coração dela. Ele andou lentamente até o banheiro escondido embaixo da escada. Nada. Voltando, ele subiu as escadas, avistando um grande armário que ia do chão ao teto. Ela com certeza estaria em um lugar reservado e escuro. Ela sempre fazia isso: em sua casa, no sótão acima de seu quarto, em Hogwarts em salas abandonadas, masmorras perto da sala de poções ou pequenas cavernas ao redor do lago. Ele conhecia cada um destes cantos como a palma de sua mão.
Ele abriu o armário lentamente, e ela pulou. Só havia uma alta prateleira e uma barra de madeira antiga e parcialmente destruída que parecia ter sido feita para que roupas fossem penduradas. Algumas caixas se acumulavam no chão. Ele a olhou.
Sentada no chão forrado de carpete cinza no canto do armário, ela o vidrou com os olhos verdes. E então, com um soluço, mordendo os lábios, ela abraçou os joelhos e caiu em prantos. Ele deu um passo adentro do armário, e ela murmurou para que ele fechasse a porta. Ela não mais se importava, e nada mais poderia esconder.
Ele atendeu seu pedido, e encostou-se à parede oposta a dela, com os braços cruzados, a preocupação transparecendo em seus negros olhos.
Tudo vinha a tona para ela.
Depois de um tempo, ela se levantou, secando suas lágrimas com as mangas compridas, e com um olhar a ele, se virou para sair. Mas ele suavemente pôs a mão em seu pulso, segurando-a.
-Lily... Eu não vou te deixar sair daqui assim, acabada. Não seria bom a ninguém. – disse-lhe baixo, tentando fazer com que ela olhasse em seus olhos. Ela fechou os seus, evitando ao máximo contato visual. Ela não queria perder o controle de novo.
- E-eu estou... Melhor.
- Não, você não esta e nós dois sabemos disso.
Ela tentou conter um sorriso, soltou seu pulso do aperto dele e se abraçou, assentindo. Fazer o que? Ele a conhecia melhor do que qualquer um naquela casa e de nada adiantaria fugir. Agora ela já havia perdido o controle de qualquer maneira. Ela sentiu aquela sensação de sempre voltando. Arrependimento. Ficar tão perto dele nunca ajudava no seu grande controle mental. Todas as más e as perfeitas memórias se acendiam. Ele pigarreou.
- Agora... Lil, você gostaria de con...
- Desculpe-me. – Ela o interrompeu, confundindo-o. Ele a encarou, e ela engoliu em seco, os olhos marejados. Lilian riu nervosamente, passando as mãos pelos longos cabelos ruivos, e se sentando uma vez mais no chão, as lágrimas caindo em sua blusa.
Ele se agachou, hesitante. Por dois segundos ele sentiu-se muito mais velho do que ela.
-Lily... Eu sei que nada deve ser pior a uma mãe do que ver o próprio filho em risco, mas... Olhe, se você não puder confiar em si mesma, em James, Sirius, Dumbledore, na ordem... Confie em mim. Você me conhece, sabe de minha determinação com tudo. Estou lá fora todo dia fazendo de tudo para que nada de mal lhe aconteça. Tenho minha parcela de culpa, mas juro para você, Lilian, que vou compensar meus erros. Todos. – ele fez uma pausa, preocupado, e ela entendeu exatamente o que ele queria dizer – Sinto muito. Não espero que você jamais me perdoe, mas, se possível, confie em mim. Por favor, não me faz bem ver-te assim.
Ela balançou a cabeça, cobrindo o rosto com as mãos e murmurando coisas que ele não entendeu. Ela limpou o rosto de novo. Aquilo era muito mais do que ela esperaria ouvir depois de tudo. Na realidade ela confiava cegamente nele, mais do que em qualquer um, mesmo após tudo. Ele sempre seria o garoto que a apoiou em todos os momentos. Ela sempre tentara ver tudo pelo lado positivo, guardar só as boas lembranças, e as dele ainda eram as que alimentavam o patrono dela.
- Sev... – ela deu um pequeno sorriso sem olhar pra ele – Eu te perdoei há um longo tempo. – agora seus lábios se comprimiam em uma linha fina e tensa – Desculpe-me. E-Eu fui horrível, mal educada, infantil, orgulhosa, argh. Desculpe-me por nunca ter te procurado.
Ele estava sem reação. Ele queria negar, dizer que ela era maravilhosa e que ele sempre a adoraria, queria a abraçar a amiga de que tanto sentiu falta, mas seus músculos estavam paralisados. Ela percebeu.
- É que... Sabe por que não me dirigi a você hoje? Medo. Tinha medo de... – ele imaginou por dois segundos que aquilo estaria indo para o lado errado, mas ela riu de novo – de perder o controle. E-E aqui estou eu, em um armário chorando feito uma maluca para me esconder justamente do melhor amigo que... Ah, Sev, eu senti tanto sua falta.
Ele afastou o cabelo do rosto dela, colocando-o atrás de sua orelha.
- Também senti a sua, Lil. – ele fez uma pausa, olhando os lindos olhos que o faziam ficar tonto e perdido. Ele ainda não sabia o que poderia falar. - Sente-se melhor?
Ela assentiu, sorrindo timidamente. Snape levantou e lhe ofereceu a mão. Ele a puxou, e ela foi parar há dez centímetros dele. Ela sorriu, e mordeu o lábio inferior, sem jeito. Ficar tão perto dele a fazia perder o foco. Sempre fizera, mas ela estava acostumada a disfarçar melhor quando adolescente. Sem controle, sem querer seus olhos se dirigiram aos lábios dele. E o foco se fora. Ela tinha desculpas antes, e agora todas fugiam de sua mente, e por mais que tentasse agarrá-las, ela não queria, e assim elas desapareciam como fumaça. Seu coração parecia bater mais rápido e mais forte do que nunca só pela proximidade.
Ela se inclinou, já havia desistido da resistência, os olhos verdes focados nos negros, e pôs seus lábios nos dele, passando suas mãos ao redor do pescoço dele. Ele passou seus braços pela cintura dela, retribuindo o beijo, que começara lento, e agora parecia pegar fogo. Ela percebeu como o garoto desajeitado que era seu melhor amigo ganhara um belo corpo, que faria Sirius espumar na época do colégio. Ele mal conseguia pensar em nada, tomado pela sensação de ter a mulher que amava há tantos anos nos braços. Não podia estar acontecendo. Ambos sabiam que queriam aquilo há anos. Cada toque era uma dose de adrenalina e alívio.
Depois de algum tempo, ela se afastou, tomando consciência das circunstâncias. Ela encostou sua testa na dele, e ele murmurou:
- Isso nunca vai acontecer, não é?
Ela riu, e o beijou novamente. Depois a tristeza pareceu invadir sua mente uma vez mais. Ela era casada e mãe, afinal de contas. Mas se tinha uma certeza era de quem não o queria deixar ir. Harry, James, a ordem, Sev... Sua mente não sabia mais o que considerar. Ela acariciou a bochecha dele com sua mão, ele virou e beijou-lhe a testa, sentindo o cheiro de que tanto sentira falta, o dela, floral e ainda cítrico, em uma mistura interessante de lírios e algo que nunca decifrara, passando as mãos pelos longos cabelos vermelhos que amava... Com todos os acontecimentos ruins do dia, era de se esperar que ela estivesse louca, mas nos braços dele uma vez mais ela estava perfeitamente sã. Por alguns momentos, colou sua testa na dele de novo, e então se afastou um pouco, deixando suas mãos nos ombros dele e murmurando:
- Não agora, ao menos. Mas nunca se sabe, certo?
Ele assentiu, e ela o abraçou, enterrando a cabeça em seu ombro. Uma lágrima caiu de seu olho, mas ela não estava mais em pânico, desesperada, nem arrasada... Ela se sentia segura no firme abraço que ela tanto quisera de volta. Com ele, ela sabia, ela sempre estaria segura... Ela confiava nele, Harry também estaria seguro. E aquilo não era um adeus. Ela se desvencilhou a contra gosto, e ajeitou seu cabelo, virando em direção a porta.
-Lily?
Ela se virou.
- Amigos de novo? – ele perguntou hesitante.
Ela deu uma risadinha.
- E com benefícios. – Lilian piscou, e pegou a mão dele. – Vamos, tem gente pra caramba me procurando, vai parecer suspeito se nós dois sumirmos por muito mais tempo. – ela fez uma careta.
Os dois saíram rindo, nunca de melhor humor. Não importava o que acontecesse a seguir, ambos sabiam que nunca mais deixariam a pessoa a seu lado ir embora. Tudo havia sido esquecido.

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