Involuntário
Autora: Dora Costa Teeger
Beta-Reader: Amy Moore




Capítulo 1
A dupla dinâmica me persegue


A vida é uma droga, e depois você morre. É, se eu tivesse essa sorte...
Jacob Black não podia estar mais certo nisso.
Eu estava à porta do meu carro, um Camaro Z28 azul de 1969. Antes de entrar, eu olhei para todos os lados e apertei com força o pingente do meu cordão: um diamante em forma de gota. Andava muito agitada há um tempo – mais especificamente depois que a minha irmã desapareceu numa caçada. Eu acredito que isso deve ser só mais uma praga de caçador: perder toda a família.
Tinha acabado de chegar numa cidade e entrei em uma lanchonete próxima. A lanchonete estava praticamente vazia, exceto por dois homens jantando na mesa ao lado da minha. Peguei o celular e liguei para um amigo.
- Alô?
- Oi, Bobby!
- ! É bom ouvir a sua voz!
- É bom ouvir a sua também! Olha, acabei de chegar na cidade. Vou investigar os presságios e ver se descubro alguma coisa.
- Tem certeza que são presságios?
- Bobby Singer, está me chamando de maluca? Gado morto e tempestades de relâmpago são sinais claros. Eu sei bem o que eu faço, ok?
- Tudo bem, sei disso. É que depois que a sumiu você ficou meio estressada; achei que podia estar tão desesperada para encontrá-la...
- Que eu ia começar a inventar coisas? Relaxa. O meu problema é que eu fico estressada sempre que ela some. E eu acho que o demônio que sumiu com ela pode estar aqui – ao falar isso, olhei para o pingente que pendia sobre o meu peito.
- Ok, tá. Você está usando algum amuleto de proteção?
- Não, fiz coisa melhor. Uma tatuagem. Eu não vou me deixar possuir, Bobby. Não vou mesmo!
- Você sabe, não é? Qualquer coisa é só me ligar que eu vou estar aqui.
- Certo. Tchau, Bobby. Obrigada por esse apoio.
- Não há de quê. Tchau.

Ponto de vista de Sam.

- Isso aqui tá muito bom, Sammy – Dean falou, depois de dar uma mordida no seu segundo sanduiche. – Ei, ei, olha a gata que acabou de entrar.
Me virei e vi uma garota se sentar na mesa ao nosso lado. Tudo nela parecia entrar em contraste: os cabelos longos e escuros, a pele incrivelmente clara, os olhos castanhos e profundos, os lábios vermelhos… Eram coisas que não deveriam combinar, mas combinavam.
- É. Bonita – foi tudo o que eu disse.
- Acho que ela vai ligar pra alguém! Que não seja para o namorado, que não seja para o namorado – rezou Dean.
- Oi Bobby! – a garota disse ao celular.
- É, acho que é pro namorado – eu disse, rindo.
- Droga, espero que esse namorado esteja na lua!
- Ou talvez não seja um namorado... talvez seja o marido...
- Ai, Sam, cala essa boca!
- Olha, acabei de chegar na cidade. Vou investigar os presságios e ver se descubro alguma coisa.
Dean e eu nos entreolhamos.
- Ela disse “presságios”? – perguntei.
- Acho que sim. Ela é uma caçadora?
- Eu sei lá, Dean.
- Bobby Singer, está me chamando de maluca?
- Bobby? – Dean parecia tão surpreso quanto eu. – Era esse Bobby? Conhece-o?
- Aparentemente…
- Fico estressada sempre que a some, mesmo que ela não tenha ido longe. E eu acho que o demônio que sumiu com ela pode estar aqui.
- Definitivamente, ela é uma caçadora! – eu disse.
- Ei, ela desligou. Anda, vamos lá.

Fim do ponto de vista de Sam.

Quando desliguei o celular, os dois homens da mesa ao lado se levantaram e vieram até mim.
- Com licença – disse o cara mais alto. – Você conhece Bobby Singer?
- É, conheço – respondi, seca.
O outro homem se sentou ao meu lado, e o que falou comigo sentou na minha frente.
- E você o conheceu como, exatamente? – perguntou o cara mais baixo, de cabelos claros.
- O que é isso? Um interrogatório policial, por acaso? – Eu sabia por experiência própria que não deveria revelar informações a ninguém só por ser bonito, e esses caras definitivamente eram.
- Ahn... é! – o mesmo cara disse e mostrou um distintivo, assim como o cara alto.
Puxei o distintivo da mão dele e o analisei. Eu me surpreendi quando vi que aquele distintivo era tão verdadeiro quanto um dos meus vinte mil distintivos.
- Vocês não são policiais! – condenei, e os dois se entreolharam, mas permaneceram calados. – Vocês são caçadores, não é?
- É, nós temos isso mais como um hobby – comentou o de cabelos mais claros, que estava ao meu lado – Adoramos atirar em patos!
- Tudo bem, enganem quem vocês quiserem, mas eu tenho que ir. Tem alguém que precisa muito de mim agora, e eu não posso perder tempo com vocês dois!
Saí da lanchonete e entrei no meu carro, estacionado do outro lado da rua. Antes eu reparei no belo Chevy Impala estacionado em frente à lanchonete.
Depois de dirigir durante uns dez minutos, eu ainda pensava naqueles dois idiotas que havia encontrado na lanchonete.
- "Nós temos isso mais como um hobby". Fala sério, foi o melhor no que ele pôde pensar em dizer? – levantei os olhos para o retrovisor e vi, pela milionésima vez, aquele Impala preto ainda me seguindo. – Vamos ver se os caçadores entram mesmo no jogo...
Resolvi me instalar no primeiro lugar que vi e não importava o preço. O quarto do hotel no qual eu entrei era relativamente grande. Joguei as minhas coisas sobre a cama e retirei um par de pistolas de dentro da mochila, coloquei-as sobre uma mesa no sentido oposto ao da porta. Se eles forem caçadores (como eu tenho certeza que eles são) eles farão o que qualquer caçador faria nessa situação: seguir, identificar e interrogar. Eles já haviam me seguido, deviam estar me identificando na recepção do hotel (como se eu realmente tivesse me registrado com meu nome verdadeiro...), e se eu estivesse realmente certa, logo estariam no meu quarto pra descobrir quem eu sou. E como eu não costumo errar, me sentei em uma cadeira ao lado da mesa onde pus as armas, apaguei as luzes e fiquei aguardando no escuro os meus perseguidores misteriosos.


Capítulo 2
Esperando os invasores


Esperei mais de duas horas, minha impaciência martelando dentro do crânio. Estava começando a ficar com câimbras e já sentia a minha bunda ficando dormente. Foi nessa hora que eu escutei cliques metálicos na fechadura da porta. Ela se abriu e vi duas silhuetas passando por ela com cautela, para não produzir ruído algum. Mal sabiam que tinham sido descobertos há muito tempo.
As luzes foram acesas. O alto de cabelos escuros deu de cara comigo apontando uma arma pra ele, o outro mais baixo, estava de costas pra mim. Ele ainda não havia percebido nada até que o outro o chamou.
- Dean, temos um problema!
O tal Dean se virou e viu que eu também apontava uma arma pra ele.
- E um belo problema, pelo visto - ele disse, sorrindo.
- Essa é mesmo a sua melhor cantada? - perguntei calmamente. - Aliás, vocês demoraram muito. Comecei a achar que não vinham mais.
Vi o sorriso sumir dos lábios de Dean.
- Como soube que a gente viria? - perguntou-me o outro.
- Digamos que um Impala não passa despercebido aos meus olhos. O carro estava na frente da lanchonete e depois não sumiu mais do meu retrovisor. Agora é minha vez de fazer as perguntas por aqui. Eu quero saber porque tenho dois caçadores atrás de mim.
- Já dissemos que somos policiais! - disse-me Dean. Ele estava crente que eu tinha engolido aquele papo. Coitado.
- Eu não vou cair nessa, benzinho! Tenho uma porção daqueles distintivos na mala do carro.
- Tudo bem, tudo bem - disse o outro cara. - Não fomos muito honestos com você. O que acha de abaixar as armas e conversarmos como adultos?
- Tá certo. Sentem-se, então! - Eles se sentaram na cama, um ao lado do outro, e eu lentamente abaixei as armas e deixei sobre a mesa. - Agora vocês podem começar a falar.
- Você tinha razão; não somos policiais, somos caçadores. Mas como você sabia?
- Um: vocês conhecem Bobby Singer. Dois: o distintivo é falso. Três: vocês invadiram o meu quarto pra conseguir informações. Ou vocês eram caçadores, ou xeretas insuportáveis!
- Mas pra reconhecer um caçador é preciso ser um... - disse Dean. - E então, boneca, você só pode ser uma de nós também!
- E eu sou.
Acho que Dean ficou meio surpreso pela minha resposta direta.
- Acho que devemos nos apresentar melhor - disse o cara alto. - Sou o Sam, e esse é o meu irmão Dean.
- E você, quem é? - Dean perguntou, sem rodeios. Devia estar se roendo por dentro já que eu tinha descoberto o que eles eram.
- Sou .
- Tudo bem, apresentações feitas... Mas eu ainda tenho uma dúvida. Como conhece Bobby Singer? - Sam perguntou.
- Ele sempre foi amigo da minha família.
- Tá, mas no telefone você disse algo sobre presságios e de alguém ter desaparecido - Dean falou. É, eles ouviram tudo o que eu disse pro Bobby. Maravilha! Era tudo o que eu NÃO precisava.
- É, eu disse. Mas isso é problema meu!
- Você pode contar pra gente. Somos confiáveis!
- Isso não é da conta de vocês. – Mas Sam parecia não querer "não" como resposta.
- Podemos te ajudar! Caçadores fazem isso, ajudam as pessoas mas também se ajudam!
- Sam, eu disse NÃO! E sabe o que mais? Eu ia adorar que vocês migrassem pra fora daqui, pode ser?
- Tudo bem, nós vamos embora – disse Dean, se levantando. – Mas eu vou deixar o meu número; caso mude de ideia, é só chamar!
Ele botou um pedaço de papel na minha mão, que eu guardei no bolso da calça.
- Será preciso muito pra me fazer mudar de ideia... mas, obrigada, mesmo assim.
- Mas é sério, pode ligar se quiser qualquer coisa. Mesmo se você quiser só dirigir o Impala que não some do seu retrovisor. - Ele sorriu, piscando um olho, e se retirou do quarto levando Sam consigo.

Ponto de vista de Sam.

- Sam, aquela garota tá com algum problema sério.
- Ah, você acha? - perguntei com ironia.
- Palhaço. Será que o Bobby sabe o que é?
- Dean, é claro que ele sabe! Ela tava falando com ele na hora que a vimos, ele sabe de tudo.
- Legal. Você liga pra ele e descobre o que é, eu vou ali pedir um quarto pra gente.
- Ei, ei, espera. A gente vai ficar aqui?
- É claro, né? Essa garota vai nos causar algum problema, estou agilizando o nosso trabalho.
- Ah, tá... Fala sério, Dean, você só quer ajudar porque acha que só assim ela te dá uma chance!
- Por quê? É difícil acreditar que eu ajudo as pessoas sem ter interesse?
- Se for ajudar garotas bonitas, sim, é difícil acreditar!
- Sam, cala a boca! Liga pro Bobby e descobre o que ela tem!
Ele se afastou indo até a recepção do hotel. Peguei o celular no bolso do meu casaco e liguei pro Bobby.
- Alô?
- E aí, Bobby?
- Oi, Sam. Algum problema?
- Não exatamente. Encontramos uma caçadora hoje. Você conhece uma tal ?
- Conheço, por quê?
- É que ela está com um problema, mas não quer que a gente fique sabendo qual é. Queremos ajudar mas não sabemos como fazer isso sem saber o que ela tem. Queria saber se você pode me contar.
- Sam, é uma garota racional e muito esperta. Se ela não quer que você fique sabendo, então você não saberá! Eu vou falar com ela, então vejo se faço ela te contar.
- Mas você não sabe o que é? - forcei.
- Sei. Mas eu não vou contar pra você! Se você vai ficar sabendo, então será por ela.
- Tudo bem, Bobby. Vou esperar notícias.
- Ei, Sam, mais uma coisa!
- Fala.
- Não mexam com ela se ela não pedir ajuda, ou então estarão arrumando briga comigo. Entendeu?
- Então ela é sua protegida? – perguntei, rindo.
- É por aí. Se ela não quiser ajuda, se afastem!
- Ok, vamos ficar longe! Tchau, Bobby.
Desliguei o telefone em tempo de ver Dean voltando com a chave do quarto.
- Ligou pra ele?
- É, liguei, mas não adiantou muito. Bobby não vai nos contar.
- E por que não?
- Ela é protegida dele.
- 'Cê tá de brincadeira comigo!
- Não, não estou! Ele disse que se ela não quiser nossa ajuda, é pra gente se mandar!
- E mais essa agora... Ela está se tornando um problema a cada minuto que passa.
- Ei, foi você quem quis ajudar!
- Quero, mas já está dando trabalho. Anda, vamos pro quarto.

Fim do ponto de vista de Sam.


Capítulo 3
Ser convincente é tudo


Fui tomar um banho, tentar relaxar. Enquanto secava o cabelo, pensava nos acontecimentos do dia: cheguei numa cidade com presságios demoníacos, onde provavelmente a minha irmã estaria; e havia conhecido dois homens dos quais eu só sabia o nome. Aqueles dois eram caçadores, o que significava que iam querer me ajudar de qualquer maneira. Mas eu não queria ninguém mais envolvido nisso, já bastava o Bobby, e só porque ele tinha que saber. Afinal, se fui eu quem perdeu ela, eu é que devo encontrá-la. Tudo bem que era só pouco mais de um ano mais nova, mas meu dever era cuidar da caçula. Mas a verdade é que ela cuidava mais de mim do que eu dela.
Me perdi alguns minutos pensando, só despertei quando meu celular começou a tocar. Era o Bobby.
- Oi, Bobby.
- ? E aí? Alguma notícia sobre a ?
- Ainda não tive tempo de procurar nada específico. Tive alguns atrasos. - Um belo par de atrasos, pelo que pude notar.
- Hum. Esses atrasos estariam relacionados com os homens que você conheceu hoje?
- Bobby, você anda me vigiando? - Ouvi aquela risada forte do outro lado da linha.
- Não. Eles me contaram.
- É, tenho que me lembrar de não falar mais nada perto daqueles dois!
- Já que tocou no assunto, é sobre esse negócio que eu te liguei.
- Esclareça!
- Eles podem te ajudar e estão mais do que dispostos a isso. Sugiro que conte a eles!
- Bobby, já te falei antes e torno a falar: não quero mais ninguém nessa história!
- Eu sei, eu sei. Mas acredite, se existe alguém que pode te ajudar a encontrar a são esses dois. Eles não mediriam esforços até encontrá-la! Conheço-os bem.
- Bobby...
- , você tem que me ouvir. Não podemos levar em conta quem você quer que ajude ou não. Temos que avaliar a gravidade da situação, porque, caso não se lembre, é a vida da sua irmã que está em jogo. E você sabe o quanto ela detesta esse seu orgulho! - Droga, odeio quando ele tem razão. Soltei um suspiro de rendição.
- Está bem, Bobby Singer, você venceu. Vou procurá-los!
- É assim que eu gosto. Só mais uma coisa: se eles te causarem algum problema, me liga que eu vou aí! - Eu ri. Adorava esse jeito superprotetor dele.
- Pode deixar, eu ligo. Até mais!
- Até mais, garota, e se cuide!
Onde eu havia jogado a calça que estava usando ainda pouco? Ah, claro! Estava no chão do banheiro, como tudo o que eu usava. Peguei a calça e vasculhei os bolsos, procurando aquele maldito pedaço de papel com aquele maldito número. Obriguei meus dedos a digitar o telefone, forcei minha mão a não cancelar a ligação. O celular tocou apenas uma vez e logo foi atendido.
- Alô! - disse a voz. Droga, era aquela voz. Maldição!
- Dean? - perguntei com cautela. Eu sabia que era ele, mas foi a única coisa que passou pela minha cabeça. Pelo jeito que ele riu, tenho certeza que ele também reconheceu a minha voz.
- E aí, boneca? Mudou de ideia?
- É, mudei. Onde podemos nos encontrar?
- Bom... você está num hotel, certo? Podia ser no seu quarto. - Eu percebi a ambiguidade naquela resposta.
- Tenho ideia melhor. Que tal no estacionamento do hotel?
- Ah, tudo bem. - Acho que ele ficou decepcionado. Que pena!
- E não se esqueça de levar o Sam! - Desliguei o celular.
Pus uma calça preta apertada, uma camiseta azul comum, um par de botas de salto e, é claro, o meu inseparável pingente de diamante. Peguei uma das pistolas de cima da mesa e prendi na calça, joguei a minha jaqueta vinho por cima pra que ninguém a notasse. Saí do quarto no instante seguinte.
Chegando ao estacionamento, fui até o meu Camaro e me deitei sobre o capô, de modo que eu podia ver os carros que entravam e a porta do hotel pela qual eu havia acabado de passar. Joguei a cabeça pra trás, fitando as estrelas naquele céu escuro. O estacionamento estava silencioso, então eu sempre sabia quando tinha alguém vindo. Eu sempre levantava a cabeça ao ouvir um barulho de carro, mas nunca era o Impala. Decidi fechar os olhos, pois a espera estava me cansando. Por que eu sempre tinha que esperar os dois? Ouvi o som de passos, dois pares de passos no concreto do estacionamento, se aproximando em um ritmo normal. Não, eu não abriria os olhos, estava farta de alarmes falsos! Eu me espreguicei sobre o capô gelado do Camaro, sentindo a arma na minha cintura. Os passos pararam e alguém a minha esquerda falou, educadamente:
- Com licença... - eu reconheci a voz. Realmente era de alguém educado. Abri os olhos e o encarei.
- Oi, Sam. E, oi, De...
Dean estava ao lado do irmão. Ele me olhava, mas não era só uma olhada. Era uma secada de norte a sul, como se a qualquer instante Dean fosse tirar um pedaço de mim. Eu estava acostumada com aquele tipo de olhar, mas vindo de adolescentes entupidos pelos hormônios. Pelo que eu pude sentir, Dean estava como um deles: uma bomba viva de testosterona. Sam reparou no meu olhar e cutucou o irmão com o braço, Dean saiu do transe.
- O que foi, Dean? Nunca viu uma garota no capô de um carro? – perguntei, irônica.
- Já vi, sim, muitas vezes, mas nunca sobre um Camaro. - E as desculpas de Dean ficam cada vez piores. Oh, vida! – E é um belo Camaro.
- Obrigada. Ele é o meu bebê!
Eu desci do capô e apenas fiquei encostada na lateral. Foi Sam que falou agora.
- Então, , o que queria falar com a gente?
- Ah, claro. Eu quero a ajuda de vocês.
- E como é que se pede? - perguntou Dean.
- Se bem me lembro foi você quem me ofereceu ajuda!
- Se bem me lembro você recusou!
- Vai me ajudar ou não?
- Acho que vou. Faz muito tempo que eu não faço caridade!
- Imbecil!
- Grossa!
- JÁ CHEGA! - gritou Sam. - Isso está ficando ridículo! - Já mais calmo, ele se virou pra mim. - , por que mudou de ideia?
- Bobby me fez mudar de ideia. Ele consegue ser bem convincente quando quer! Ele tem certeza que vocês podem me ajudar com... o meu problema...
- Que vem a ser...? - Dean perguntou. Parecia amigável.
- Nossa, é uma história complicada...
- Então descomplique! – disse, grosseiro. E o imbecil interior volta à tona...
- Duas semanas atrás minha irmã sumiu numa caçada. 'To procurando desde então, um demônio desapareceu com ela e as pistas trazem até aqui.
- Parece que você deu sorte, querida. Demônios são a nossa especialidade!
- Então vão me ajudar?
- Claro que vamos! - respondeu Sam. - Só precisamos saber de todos os detalhes.
- Será que dá pra fazer isso amanhã? Ainda quero dar uma repassada em algumas coisas.
- Sem problemas!
Eu desencostei do carro e fui andando na direção do hotel. Só me assustei quando percebi que eles estavam andando junto comigo.
- Ahn... Por que estão me seguindo?
- Não estamos seguindo você - respondeu Dean. - Mas adivinha quem está hospedado no quarto ao lado do seu?
Ele só podia estar brincando. Ele tinha que estar brincando!
- Meu Deus!
- Não é ele, tenta de novo!
Eu bufei e saí correndo hotel adentro, querendo chegar no quarto antes deles, só pra não precisar ver Dean outra vez!


Capítulo 4
Redescobrindo a minha história


Era por volta de duas da manhã e eu estava sem um pingo de sono. Sentei à mesa para repassar os locais onde os presságios ocorriam, mas alguém bateu na porta.
- Quem é?
- Sou eu, Sam. – Abri a porta.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada. Eu só quero saber se você topa dar uma volta.

Fomos andando até a praça perto do hotel, e permanecemos calados durante todo o percurso, até que Sam quebrou o incômodo silêncio com uma pergunta:
- Você é caçadora desde quando?
- Como eu já disse, é uma história complicada.
- Eu tenho tempo! – Sam era persistente, mas não do modo irritante.
- Bom, eu morava em Omaha com a minha mãe, meu pai e minha irmã. Meu pai vivia fora, e a minha mãe sempre dizia que ele era uma espécie de mecânico, que ia onde o chamassem. Um dia um demônio possuiu a minha mãe e ele não estava em casa. O demônio fatiou-a, mas não abandonou o corpo dela, e ainda ia matar e eu. Meu pai chegou bem na hora e então eles brigaram. Papai usou água benta e o demônio saiu dela. Mas não adiantou, ela já estava morta. Eu tinha oito anos. Isso era dela. – Segurei o pingente de diamante para que ele pudesse ver. – tem a pulseira que ela usava. Foi aí que eu soube o que ele fazia. Ele começou a treinar a gente e por vários anos não falamos sobre o que tinha acontecido.
Sam ouvia tudo com muita atenção.
- Foi muito forte, não é? – Confirmei com a cabeça e quando dei por mim estava apertando o diamante. – Foi uma coisa parecida com o Dean e o nosso pai. Eu não me lembro de nada porque era um bebê.
- Sorte sua – sussurrei. – Foi tudo tão terrível na época; agora eu já nem ligo tanto. E o demônio voltou, matou meu pai quando eu tinha vinte anos. Jurou que ia matar toda a família, e é por isso que eu preciso achar a .
- Mas não acha que a essa altura ela já estaria... morta?
- Não... o demônio é esperto... ele sabe que eu vou atrás dela e ele vai me querer também. Saber que ela está viva me dá motivação pra continuar a procurar. Recuso-me a pensar de outra forma.
- É impressionante como vocês são parecidos.
- “Vocês” quem?
- Você e Dean.
- É mesmo? – perguntei com desdém.
- É. E ele tá agindo esquisito desde que conheceu você.
- E o que te faz pensar isso?
- O jeito que ele te olha. E o Impala, principalmente.
- O que tem o Impala?
- Ele nem me deixa dirigir aquela coisa, e dar a ideia pra outra pessoa dirigir então...
- Nesse ponto eu digo que nós realmente somos iguais! – Nós rimos.
- O fato é que Dean Winchester nunca faz isso. Quando acontece é pra gente se assustar. O que houve?
Eu havia parado completamente. Aparentemente o susto me colara ao chão.
- Winchester? – sussurrei.
- É. , o que aconteceu? Você está branca!
- Sam e Dean Winchester! – Eu estremeci e por um momento achei que ia cair no chão, então percebi que Sam estava me segurando pra isso não acontecer. Ele me ajudou e eu pude me sentar no chão. – Conheci seu pai.
- Conheceu meu pai?
- O seu pai e o meu foram amigos durante muitos anos.
- Qual era o nome do seu pai?
- Thomas.
- Thomas ? Acho que me lembro de ouvir papai falar esse nome uma vez ou outra. Lembro que a última vez que o ouvi falar nele foi quando ele morreu.
- Curiosamente também foi a última vez que eu vi seu pai. John foi na minha casa uma semana depois da minha mãe ter morrido. Eles estavam conversando no andar de baixo da casa. Desci e vi os dois na sala, John falava sobre a morte dela, que os dois sabiam por que aconteceu.
- E você, sabe? – Eu sempre soube, mas nunca tinha entendido. Talvez Sam me ajudasse a clarear as coisas.
- Disseram que foi por minha causa. Porque tinha sido a mesma coisa com você. Eu fiquei assustada e foi aí que eles me viram na escada, John e meu pai se despediram e ele foi embora depois disso.
- Por favor, tente se lembra o que eles disseram exatamente.
- Tá, espera. – Mentalmente, voltei àquela noite que parecia ter sido em outra vida. Era difícil me lembrar muito bem; eu era muito criança, mas se eu me concentrasse eu conseguiria. – John disse: “Mary morreu porque ele queria o Sam. Sua mulher não estava na noite em que ele veio na sua casa, então ele voltou pra completar o trabalho”. Nunca entendi o que ele quis dizer.
- É, mas eu acho que entendi. , quantos anos você tem?
- Vinte e três, mas o que isso tem a ver?
Ele se abaixou e me olhou com curiosidade.
- A uns nove ou dez meses você começou a apresentar algumas... habilidades?
- Como você sabe? – Fiquei tão espantada que a minha voz saiu fraca e rouca.
- Aconteceu comigo também. Tenho visões. O que aconteceu com você não deixa de ser como o que aconteceu comigo.
Fiquei calada, só o observando, esperando que ele explicasse.
- Na noite em que eu completei seis meses, um demônio entrou no meu quarto e matou a minha mãe. Ele fez algo em mim que me mudou. A sua mãe não tinha entrado no seu quarto quando ele foi na sua casa, por isso ela não morreu aquela noite.
- “Então ele voltou pra completar o trabalho”.
- É, basicamente.
Minha cabeça havia se tornado um grande nó. Tudo o que tínhamos falado não ajudou muito na minha atual preocupação: procurar minha irmã. Só tinha conseguido aumentar a minha ansiedade. Que coisa legal...
- Acho que temos que contar isso pro Dean.


Capítulo 5
Meus poderes se mostram ativos


Voltamos correndo ao hotel e entramos no quarto deles. Dean se assustou e quase caiu da cama com o barulho que nós fizemos ao entrar. Contamos a história a Dean com a maior rapidez que pudemos, e admito que foi engraçado ver o olhar dele passar de mim para o Sam e vice e versa. Ele parecia bobo e incrédulo. Pouco mais que o normal...
- Fala sério! – Foi a primeira coisa que ele disse. – Então o demônio do olho amarelo visitou você também? Espera, o que você faz?
- Eu? Bom... eu posso mover as coisas.
Os dois ficaram me olhando sem entender nada.
- Com a mente. E parem já de me olhar assim. – Dean se levantou e foi para outro lado do quarto, perto de um pequeno armário.
- Fala sério, , isso é coisa de filme! – Sam disse.
- Ver o futuro também é!
- Touché!
- Mas agora que você falou, você vai ter que provar – disse Dean, se aproximando de mim.
- Como é?
Ele levantou a mão e pude ver o que ele tinha ido buscar. Uma colher. Não sabia se olhava pra ele ou pra Sam, que estava segurando um riso.
- Ah, qual é, Dean?
- Manda ver! Entorta!
- Eu não tenho que te provar nada!
Bati na mão dele e a colher caiu no chão, foi quando Sam não aguentou e começou a rir.
- Não entorto colheres. Primeiro, porque é idiotice, segundo, porque eu tenho mais o que fazer. Como dormir, por exemplo. Boa noite!

***

Ele usava uma jaqueta preta, tênis de marca e uma calça jeans esfarrapada. Parecia muito estranho um cara vestido assim entrar em, no que parecia, uma loja abandonada. A loja tinha um letreiro de neon com letras faltando e parecia que não era utilizado há muito tempo, a porta de ferro estava bem enferrujada, ele forçou um pouco e entrou. Ele caminhou por entre os entulhos espalhados nas prateleiras e as coisas jogadas no chão, subiu uma escada e chegou a uma sala mal iluminada com falhas no telhado. No centro da sala, havia uma garota amordaçada e amarrada em uma cadeira, seu rosto estava machucado. O homem contornou a cadeira e ela o seguiu com o olhar.
- Não vai ficar aí por muito tempo, ela já chegou na cidade.
Ela o olhou como se o fosse estrangular se não estivesse amarrada ali. Ele tirou a amarra da sua boca.
- Por que quer tanto nos matar? O que de tão grave nós fizemos pra você? – sua voz era fraca.
Ele riu.
- Nada. Mas o importante não é o que fizeram, é o que ainda pode ser feito.
Ele parou na direção de uma falha no telhado. A luz da lua entrou e brilhou nos seus olhos amarelos.

***

- Acorde!
Eu estava deitada na cama do hotel. Meu suor escorrendo pelo rosto, minha visão ligeiramente desfocada. Sam estava perto da porta, esquadrilhando o quarto com os olhos; algumas coisas haviam caído e outras estavam fora do lugar. Dean estava ao meu lado, ajoelhado na cama com as mãos nos meus ombros; aparentemente, ele me sacudira. Seu rosto estava preocupado e assustado.
- O que houve? – sussurrei.
- Ouvimos seus gritos do nosso quarto. Quando chegamos aqui, tudo estava tremendo e tinha umas coisas levitando. Você fez isso?
- É provável. – Me sentei na cama. Eu estava completamente atordoada.
- Você está bem? – Sam se aproximou de nós. – Parece pálida.
Dean segurou as minhas mãos entre as dele, que pareciam ferver quando me tocaram.
- E está fria, também.
Fiquei calada, não parecia mais estar ali. Sentia-me mole e confusa. Dean chegou mais perto e me fez olhar pra ele.
- Você está bem? – perguntou.
Em um instante, eu percebi tudo. O meu sonho, cada detalhe, eu podia me lembrar. Eu sabia de tudo, eu vi tudo. Foi tão de repente que até o ar pareceu fugir de meus pulmões.
- ! Eu sei onde ela está! E o demônio está com ela!
- Sam, pegue tudo e ponha no carro. Vou pra lá em um minuto.
Sam nos deu as costas e saiu correndo. Dean se virou pra me olhar, parecia estranhamente calmo.
- Anda, Dean, temos que ir! – Levantei da cama muito rápido e fiquei meio tonta, mas não caí, porque Dean me segurou. – Ui, obrigada!
Me virei e me surpreendi, pois quem estava meio pálido agora era Dean e não eu.
- Tudo bem com você?
Ele segurou a minha mão e me olhou com um pouco de tristeza.
- Dean, está me assustando! – Ddá pra acreditar? Eu estava me importando com ele. Justo com ele.
- Eu mesmo já estou assustado.
- O que houve com você?
- Eu não sei ao certo... mas com certeza aconteceu alguma coisa... Acho que foi ver você em cima do Camaro, e depois ver você gritando. Eu nunca fui assim. Acho que agora eu realmente me importo...
- Dean, quer por favor dizer algo que faça sentido?
- Se eu te pedisse pra ficar, você ficaria?
- Você ficaria se fosse o Sam?
Ele abaixou a cabeça e apertou a minha mão; ele entendeu o que quis dizer. Me olhou e não pude decifrar o seu rosto, mas posso jurar que quase vi uma pitada de medo naqueles olhos verdes.
- , eu não quero que você vá...
- E por que não?
- Não quero que você se machuque.
- Dean, é um mal necessário... Ela é a única família que eu tenho, e não vou deixá-la morrer. É amor de família! É involuntário!
- Que nem o amor que eu tenho por você.
Meu coração parou de bater. Ou talvez batesse tão depressa que eu não o sentia mais. Meu rosto ficou quente e me perguntei se eu estaria tão vermelha quanto eu achava. Ele se aproximou e me beijou. Seus lábios macios pareceram se moldar perfeitamente nos meus. Passei uma mão pela nuca dele e o puxei pra mais perto de mim. Ele passou a mão pela minha cintura e eu me senti completa, como se a minha alma fosse só a metade que se encaixava com a de Dean. Parecia ser impossível me separar dele, mas reuni forças e parei de beijá-lo. Mas ele não. Continuou beijando meu pescoço e eu o mandei parar. Acho que ele não gostou.
- A gente pode fazer isso outra hora... – Ele me olhou confuso. – Tínhamos outra coisa pra fazer agora, lembra?
- Ah! É mesmo... Bom, então... Acho que vou esperar você lá embaixo.
Ele me soltou e quando ele chegou na porta eu o chamei.
- Dean!
Ele se virou.
- Acho que eu também amo você involuntariamente!


Capítulo 6
Planos do demônio


Dean e eu nos mantivemos calados sobre o nosso “amor involuntário”, falamos apenas sobre o local onde ficava a loja, e em poucos minutos chegamos lá (eu sabia onde ficava, havia passado ali em frente naquela mesma noite). O lugar era exatamente como no meu sonho: empoeirado, sujo e muito escuro. Sam se aproximou de mim e falou baixo.
- Tudo bem, , seja os nossos olhos.
Caminhei lentamente pelo corredor, tomando cuidado para não derrubar nada nem fazer barulho quando meus sapatos batiam no piso de madeira. Subimos a escada e eu andei com a maior calma que pude pra poder encontrar a terceira sala à esquerda, a sala cheia de vitrines vazias, onde deveria estar.
E ela estava lá. Tão machucada e contundida quanto no meu sonho, talvez até mais. Aproximei-me rapidamente e me ajoelhei ao lado da cadeira. Tirei a mordaça da boca dela e tentei fazê-la falar comigo, enquanto isso Dean soltava as cordas dos seus braços e pernas.
- ? Por favor, acorde! Fala comigo!
- Eu sabia que você viria!
Foram as palavras que saíram da boca dela. Mas não era bem ela. Sua voz não estava nem um pouco fraca, parecia até maligna. Ela levantou a cabeça, seus lábios ensanguentados repuxados num sorriso diabólico, e seus olhos eram amarelos. Fui atingida bem no nariz e senti o sangue espirrar pelo meu rosto, Dean não teve a mesma sorte e foi arremessado para a sala em frente e caiu de costas no chão. Houve um barulho e o velho piso de madeira se rompeu, deixando Dean cair no andar de baixo. Esperava que ele estivesse bem, ou ao menos vivo. Se acontecesse algo a Dean, Sam me culparia pelo resto da vida, e disso eu tinha certeza. O demônio me segurou pelo pescoço e me jogou contra uma das vitrines, senti o vidro cortar todas as partes descobertas do meu corpo e um grande caco cravou na minha perna, me fazendo gritar. Sam atirou. Deu certo, o demônio me deixou... mas foi pra cima dele e começou a esmurrá-lo até deixa-lo tonto a ponto de cair no chão. Não tinha mais nenhuma fuga para mim.
Mas o demônio se virou e ficou me olhando, sorrindo, e não me fez nada. Esperava que ele apertasse meu pescoço até eu parar de respirar. Se fosse esse o caso, eu poderia dar uma de kamikaze e fazer algo sem medo de morrer, mas não aconteceu nada assim.
- Sabe, você é muito difícil. Poderia simplesmente ter vindo pra cá, mas não... teve que conhecer os dois bons moços. Realmente esperava que viesse sozinha!
- Saia dela – fui clara e objetiva.
- Tão depressa? Eu ainda nem falei dos planos que tenho pra você.
- Eu não quero seus planos, nem quero você por perto, só quero que saia dela e nos deixe em paz.
Tá, como se alguma vez na minha vida eu tivesse tido paz pra saber o que é.
- , você precisa dos meus planos. Precisa de mim. Você é tão forte, está tudo aí na sua cabeça, só preciso que me deixe explorar o que você tem de melhor. Então você seria a pessoa mais qualificada a me ajudar. Eu tenho planos tão grandes pra v... AAAAAAHH!
Sam havia se levantado e sorrateiramente pegou uma garrafa com água benta de dentro da mochila, e eu estava tão confusa que nem percebi. O demônio gritou algumas vezes, até que deixou o corpo. A fumaça negra saiu pela janela e não voltou.
caiu no chão e permaneceu imóvel. Rastejei pelo chão, afastando os cacos à minha volta, e fui até onde ela caiu. Ela estava bem gelada, porém, viva. Eu a sacudi com o restante da minha energia e ela piscou de leve. Sua voz saiu fraca, mas ao menos era ela.
- Oi...
- E aí, maninha?
- O que houve com seu rosto?
- Não importa. Você está bem?
- A julgar pela sua cara, estou melhor que você!
Sim. Ela estava bem. E sim, ela estava melhor do que eu.
Sam veio cambaleando até nós e ajudou a se levantar. Admito que ela era a única de nós com o equilíbrio intacto. Sam veio me ajudar e eu mal conseguia me sustentar, andar exigia um pouco mais de esforço. Quando passamos pela porta foi que eu me lembrei: Dean havia caído no primeiro andar. Arrastei as minhas pernas o mais rápido possível, e não percebi que estava correndo até me chamar, sua voz muito atrás de mim.
- Aonde vai?
Mas eu já havia descido a escada e procurava o lugar embaixo da sala que tinha um enorme buraco no chão. Foi fácil, era o único lugar iluminado do andar de baixo. Dean estava desmaiado sobre uma pilha de madeira. Aparentemente, ele caiu sobre um armário e acho que isso amorteceu um pouco a queda. Fui até ele e pus a mão sobre seu peito: o coração ainda batia.
- Dean? Pode me ouvir?
Ele abriu os olhos e me fitou, curioso.
- Caramba, o que aconteceu com você?
De repente eu me lembrei de sentir dor e a minha perna sangrenta deu uma fisgada que quase me fez cair. Ouvi alguns passos atrás de mim e Sam se aproximou, parecia aliviado. Dean saiu do meio dos entulhos, estava curvado por causa da dor e eu não devia estar muito diferente dele. ainda estava parada na porta nos olhando com os braços cruzados. Vi no braço dela a pulseira de esmeraldas que havia pertencido à nossa mãe. Nos últimos dias ela tinha passado por muito mais coisa e, no entanto, tinha aparência muito melhor que a nossa. Parecia que nós três éramos sobreviventes de um acidente de carro.
- Então... quem são vocês dois mesmo?
- Esse é o Sam e este aqui é o Dean. Eles me ajudaram a te encontrar, e sem eles eu poderia estar morta.
A expressão dela suavizou. sempre era muito grata com quem salvava a minha vida, e acredite quando digo que isso acontecia com mais frequência do que eu gostaria. Ela olhou Dean como se tivesse medo que o sangue dele pudesse espirrar nela, se virou para Sam e o olhou de um jeito engraçado, um jeito que eu nunca tinha visto antes, e eu acabei por não entender. Sam passou por ela devagar e saiu, Dean foi atrás e eu puxei pelo braço quando passei. Eu a teria abraçado se eu não estivesse pingando de sangue.


Capítulo 7
Meu melhor amigo, minha irmã e... ele.


Dean foi para o quarto dele e se jogou na cama, sangrando e tudo. Sam veio comigo e me ajudou com o enorme corte na minha perna. Pedi a que fosse ficar no quarto com Dean, caso ele precisasse de alguma coisa. Depois de alguns gemidos e urros de dor, minha perna estava um pouco melhor.
- Sabe, Sam, acho que você é um dos meus melhores amigos.
- Como deduziu isso?
- Não é qualquer um que eu deixo costurar a minha perna.
Ele riu.
- Então acho que você também é a minha melhor amiga, você foi a primeira pessoa que não me chamou de louco quando eu disse que tinha visões. Você acreditou em mim sem nem me conhecer.
- Sei lá, acho que é porque eu sou tão estranha quanto você. – Eu sorri e ele também.
Sam foi para o outro quarto ajudar com os machucados dela e pedi que ele chamasse Dean. Dele eu podia cuidar.
Quando ele entrou, eu estava largada na cama com as pernas pra fora.
- Nossa, isso ainda está feio!
- Obrigada, Dean, precisava desse incentivo pra completar a minha noite.
- Quer que eu faça um curativo? – Fiz que sim.
Ele apertou um pouco o curativo para que não sangrasse mais, e pensando bem, quase não doía do modo como ele apertou.
- Pode esperar aqui por um minuto? Só quero ver se ela está bem.
- Espero o tempo que você quiser. – OWN, que meigo! Por que ele não foi assim no estacionamento?
Tirei os sapatos e fui. Empurrei a porta e vi a cena mais inusitada da minha vida: minha irmã beijando Sam. Achei melhor sair tão silenciosamente quanto eu entrara, ali tinha um clima que eu não queria estragar. Fiz a cara mais normal que pude e voltei para o meu quarto e Dean estava na mesma posição de quando eu saí.
- O que foi?
- Nada... só me lembrei que ainda não vi o estrago por completo.
Manquei em direção ao espelho da parede. Senti como se tivesse sido jogada numa piscina de gelo.
Estava com pequenos pedaços de vidro no meu cabelo e nem notara, esse era o menor dos meus problemas. Meu rosto estava lanhado do início ao fim, havia cortes grandes e pequenos na testa, bochechas e pescoço. Minhas mãos estavam machucadas e os braços também. Ali em pé, pude perceber o talho na minha perna: devia ter uns sete centímetros pelo tamanho do curativo que Dean tinha colocado. Estava tão aterrorizada com a minha própria imagem que não vi Dean se aproximar de mim com um pano molhado. Ele me fez olhá-lo e começou a limpar meu rosto cortado. Não havia notado os pequenos cortes no rosto dele até esse momento. Fiz menção de tocá-lo, mas ele afastou a minha mão.
- Desculpe... sabe… lá na loja, eu devia ter te protegido.
- Ninguém poderia ter me protegido, Dean.
- Eu poderia. – Revirei os olhos. – Juro que nunca vou deixar nada te acontecer.
Me afastei dele e me sentei na cama.
- Não me prometa isso, por favor.
- E por que não?
- Por que a última vez que alguém me prometeu isso, esse alguém morreu. E eu não quero que você morra.
Antes que eu percebesse, já estava com lágrimas nos olhos, o assunto não me fazia nem um pouco bem. Dean se ajoelhou na minha frente e estava com um olhar que dizia que ele estaria mais do que disposto a se atirar entre mim e uma bala. Eu odiava esse olhar nas pessoas, pelo menos quando elas estavam olhando pra mim desse jeito.
- Quem morreu?
- Meu pai... – Se Dean me forçasse mais um pouco eu iria começar a chorar e ele percebeu isso.
- Hum... você não ia ver a ?
- Eu vou depois... Tenho algo mais urgente. – Eu o olhei com um olhar malicioso e ele me lançou o sorriso mais perfeito que eu havia visto.
Ele me beijou com tal suavidade que eu mal senti. Segurei-o pela jaqueta, o joguei na cama e deitei por cima dele. Eu o beijei com vontade, e ele retribuiu. Por algum tempo ficamos nos olhando, sorrindo. Não tinha nenhuma noção do que se passava na cabeça dele, mas eu só pensava em como eu tinha conquistado um cara tão maravilhoso. E depois me veio o medo: e se eu o perdesse? Não para outra pessoa, mas para a morte? Senti o sangue deixar o meu cérebro. Eu me sentei depressa, Dean deve ter percebido que algo acontecera comigo.
- Está tudo bem? - Ele se sentou.
Fechei os olhos. Pensei em quando eu acordei e ele estava ao meu lado, preocupado comigo. Pensei em quando o encontrei caído sobre uma pilha de entulhos, por minha causa, mas ele acordou e estava bem. Pensei em no quarto ao lado, beijando meu melhor amigo. Lembrei a mim mesma que ela estava bem. Abri os olhos. Vi o sol nascendo atrás de Dean. Dean... Seus olhos muito verdes estavam me fitando com curiosidade e preocupação. Percebi que se eu ficasse me preocupando demais com meu futuro, jamais teria um presente. Apertei o diamante em forma de gota e involuntariamente sorri. Sim, tudo estava bem.

FIM

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Nota da Autora: Gente, essa é a minha primeira fic no site e eu estou nervosa demais!! Quero agradecer a Srta. Juliane Araújo, minha amiga quase irmã (tanto que até botei ela na fic) que foi a primeira pessoa que leu e que praticamente só faltou me bater pra postar logo! Quero agradecer também a diva Amy Moore, e principalmente a você que está lendo isso!
Então, o que acharam desse lado meio sentimental do Dean? É, eu sei que eu devo ter fugido um pouco do personagem original, mas é o que se acontece quando um mulherengo se apaixona. E o Dean tem o direito de se apaixonar pelo menos uma vez na vida, certo??
E eu tenho uma surpresinha pra vocês! São vocês que vão decidir se essa história vai ter continuação ou não!! Comentem, COMENTEM! Eu vou ficar de olho na opinião de vocês!
A gente se vê! Beijinhos, Isadora Costa *-* (07/11/2011)

Nota da beta: Oi? Que fic linda! A-M-E-I. JURO! Parabéns, Dora. Muito boa mesmo!


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Nota da Beta: Comentem. Não demora, faz a autora feliz e evita possíveis sequestros - só um toque. Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por email ou Twitter. Obrigada. Amy Moore xx