one.
Meus olhos já estavam cansados de chorar, e meu coração, cansado de sofrer.
Estava cansada das brigas, das discussões, de todos os nossos desentendimentos
frequentes. Estava cansada de agir como uma idiota e achava que estava na hora
certa de dar um fim em tudo aquilo.
Nunca entendi como fomos chegar a este ponto e já havia desistido de descobrir
há muito tempo.
Nós dois costumávamos ser como o casal perfeito, tudo soava como um sonho. Eu
acordava e agradecia por mais uma oportunidade de passar um dia ao seu lado.
Com ele eu me sentia amada e, acima de tudo, respeitada. Com ele eu me sentia
mulher.
Porém, nos últimos meses, as coisas foram mudando e eu sentia que o perdia cada
vez mais. Já não o reconhecia. No lugar de toda a felicidade que ele me proporcionava,
entrou uma tristeza terrível, e eu terminei presa em uma depressão muito grande.
O que mais doía naquilo tudo é que ele sabia o quê estava acontecendo,
mas não fazia esforço para mudar.
Se ele havia desistido de mim, era a hora de desistir dele também.
Combinamos de nos encontrar no parque que tinha perto de sua casa. Era um local
tranquilo, onde passavam poucas pessoas. O lugar ideal para eu fazer o quê
tinha que fazer.
Embora eu estivesse decidida, ainda estava com um pé atrás.
Tantas vezes em minha vida em que eu fiz escolhas erradas achando que eram certas,
tantas vezes em que saía machucada quando agia por impulso... Mas eu não tinha
mais escolha. Estava certa de que não aguentava mais todo aquele sofrimento,
e estava mais certa ainda de que se eu não fizesse antes, seria ele que terminaria
comigo.
Eu olhava o relógio a cada cinco minutos, temendo que ele não comparecesse,
o quê era provável. Ele parecia querer me ignorar, se afastando de mim
o máximo possível.
Aos poucos me convencia de que ele era covarde o suciente de me largar sem dar
as caras.
Dei um longo suspiro triste e me levantei, preparada para ir embora, quando
eu vi sua silhueta vindo em minha direção.
A neve que caía do céu nublado de Londres pousava sobre ele de uma forma incrível,
de uma forma que talvez só eu visse. Tola apaixonada.
Ele ainda causava o mesmo efeito em mim. Minhas pernas ainda tremiam ao vê-lo,
meu coração só faltava sair pela boca e minha respiração já começava a falhar.
Eu estava tremendo, mas, dessa vez, não de frio.
- Oi,
. -
parou em minha frente e sorriu, deixando os dentes que eu sempre invejei a mostra.
- Me desculpe o atraso, encontrei com uma pessoa que não via há muito tempo
no caminho e fui obrigado a parar para cumprimentá-la. Daí foi toda aquela história,
ela me perguntou o quê eu estava fazendo, onde eu estava morando, perguntou
se eu queria sair algum dia desses...
Ele tagarelava da forma mais natural possível, parecendo se esquecer de todos
os problemas pelo quais estávamos passando e quase me fazendo esquecer do real
motivo de estar ali.
- Não quero saber do motivo do seu atraso,
. - cortei-o, e agora ele me olhava sério, finalmente parecendo entender. Me
voltei a sentar no banco do parque e ele fez o mesmo, agora sem me encarar.
- Acho que você sabe o motivo disso tudo, não sabe? - arrisquei perguntar, e
me decepcionei a não ter resposta. Por que ele estava fazendo aquilo comigo?
Por que me machucar tanto?
Meus olhos já ardiam e eu sentia que estava prestes a chorar, mas não queria
que
me visse naquela forma. Tentava pensar em qualquer coisa que não fosse aquilo,
mas meus pensamentos sempre voltavam a ele e as nossas brigas.
Senti
suspirar ao meu lado e me olhar em seguida, mas permaneci com o rosto em uma
direção oposta.
- Eu sei que te devo uma explicação, e eu vim aqui para isso. -
começou a falar, mas agora eu estava arrependida daquilo. Não sabia se queria
ouvir. Não sabia se estava preparada para o quê ele ia falar.
- Faz tempo que eu andei sendo um panaca com você, mas eu quero que você entenda
que há uma explicação para isso. Sei que agir dessa forma com você não foi certo,
mas foi a única que eu encontrei! Eu estava desesperado, nervoso, não sabia
o que fazer... A única solução que encontrei foi me afastar de você, para, sei
lá, pensar um pouco! Eu precisava pensar,
.
- Pensar em que,
? O quê havia de tão difícil assim para você se sentir
obrigado a se afastar
totalmente de mim? O quê havia de tão difícil para que nós não resolvessemos
juntos? - eu o encarei, me arrependendo depois. Olhar para ele era como se toda
a minha força e coragem escapassem de mim, e eu não podia desistir agora. Virei
meu rosto novamente, me amaldiçoando por dentro.
- Você não percebeu a velocidade que o nosso relacionamento tomou,
? Isso não te assustou um pouco? - ele perguntou baixo, mas eu pude ouvir.
Ficamos calados por um tempo, apenas observando as poucas pessoas que passavam por nós.
Todas elas pareciam tão felizes.
E, então, em um impulso, me levantei. Estava cansada de
. Estava cansada daquele lugar, daquele cheiro, daquelas pessoas.
- Aonde você vai? -
perguntou, se colocando de pé ao meu lado.
- Vou embora,
. Já perdi demais o meu tempo com você.
- Então é isso? Você está me largando?
- EU ESTOU TE LARGANDO, ? VOCÊ ACHA MESMO ISSO?
VOCÊ ACHA QUE EU ESTOU TE LARGANDO? - estourei.
Eu precisava falar aquilo. Ele precisava ouvir aquilo. -
, tente se lembrar dos últimos dois meses e veja quem abandonou quem aqui.
Você tem noção de como eu me sentia? Como eu me sentia em ver todo o meu relacionamento
com a pessoa que eu mais amava se desmoronando e não poder fazer absolutamente
nada? Você acha que eu gostava de brigar com você praticamente todos os dias
pelos motivos mais idiotas e fúteis? Por muito tempo eu aguentei isso. Por muito
tempo eu sofri calada, mas agora eu cansei! Cansei de esperar alguma atitude
madura sua, cansei de ser feita de idiota! Então sim,
, eu estou te largando. - limpei as lágrimas que teimavam cair sobre o
meu rosto e me virei para ir embora, mas o olhei uma última vez. - Eu ainda tinha esperanças,
. Mesmo sabendo que era inútil, eu ainda tinha fé na gente. Mas parece que eu
me enganei, outra vez. E, por favor, não me procure. Eu vou embora...
Vou sair desse país, esquecer de tudo o quê aconteceu aqui. Apagar tudo isso
da minha vida. Vai ser melhor.
me olhava confuso, sem saber o quê fazer. Mas não questionou, não tentou me
parar nem ao menos me impedir. Aquilo doía por dentro, ele realmente não se
importava com o fato de eu estar indo embora para sempre.
Apressei os passos, com medo de que me arrependesse e voltasse para os braços
da pessoa que antes eu julgava ser o amor da minha vida.
As lágrimas queimavam meu rosto, e todas as nossas lembranças e momentos que
passamos juntos apareciam como num filme em minha cabeça.
Ia ser a última vez. Não permitiria que aquelas imagens voltassem a assombrar
os meus pensamentos. Não deixaria que
interferisse em minha nova vida.
Depois de muito pensar, decidi que voltaria para a casa dos meus pais, no país
onde eu havia nascido, no Brasil. Eles já estavam ciente de tudo que havia acontecido
e já haviam preparado a casa para a minha volta.
No fundo, eu estava aliviada por voltar para o carinho e o amor dos meus pais,
mas era difícil aceitar o fato de que eu estava mesmo indo embora. Como eu ia
me esquecer dos dias que mais marcaram a minha vida? Como eu ia aprender a viver
sem o seu sorriso, sem a sua voz para me confortar, sem o seu abraço, sem seu
toque, sem seu cheiro... Sem a sua presença?
Como eu ia esquecer da pessoa que mais me fez feliz? Coisas assim não são fáceis
de ser apagadas. Me perguntava se
estava sentindo o mesmo agora. Mas... E se
nunca tivesse me amado? Ele não seria capaz! Apesar de como tenha acabado, o
quê tivemos foi verdadeiro e muito bonito.
Terminei de empacotar a última caixa e dei uma última olhada no local onde costumava
ser o meu lar. As lembranças de tudo o quê aconteceu lá voltaram como um flash
em minha cabeça e não pude deixar de sorrir. Eu realmente tive bons momentos
lá.
Mas agora eu estava pronta para deixar a Inglaterra e seguir para uma nova vida,
longe de tudo e todos.
two.
Um ano depois...
A adaptação no Brasil não foi tão fácil, mas com a ajuda da minha família e
de alguns velhos amigos, tudo se tornava mais gostoso e mais fácil de lidar.
As coisas estavam indo tão bem que eu quase não pensava mais na Inglaterra.
Eu consegui arranjar um emprego estável no Brasil, e consegui comprar uma casa.
Era na mesma rua que a casa dos meus pais, a pedidos deles. Mas era a minha
própria casa.
Tive alguns rolos durante o ano, mas nada muito sério e que marcassem. Não estava
preocupada com aquilo no momento. Estava curtindo a minha vida do jeito que estava.
Fui acordada pelo toque do meu celular e pude ver que já amanhecera. Olhei para
o nome que piscava na tela, era uma colega de trabalho, provavelmente me ligando
para perguntar se eu já arranjara os papéis que Sr. Muriel, meu chefe, havia
pedido. Não estava com paciência suficiente para aturar ela no momento, e ignorei
a ligação.
Caminhei sem vontade alguma ao banheiro onde fiz toda a minha higiene diária
e desci para a sala para ver se havia algo de interessante passando na televisão.
- Que droga, não tem nada que preste! - resmunguei, deixando em um canal infantil
qualquer. Estava passando um desenho sobre algum cachorro vermelho, mas eu não
parei para assistir. Deitei minha cabeça no encosto do sofá e permiti que meus
olhos fechassem, e lembranças de um passado escondido invadiram minha cabeça
sem permissão.
Foi estranho pensar em
depois de todo aquele tempo. Não sei explicar ao certo o quê eu senti. Me perguntei
como ele devia estar agora, se ele finalmente havia cortado o cabelo ou então
se ele finalmente comprou roupas novas.
sempre usava as mesmas roupas e insistia que não precisava de novas.
Sem perceber, eu estava sorrindo. Estava presa a pensamentos, e estes estavam
me fazendo bem.
O som da campainha tocando fez com que eu saísse do passado e voltasse para
a realidade. Me levantei procurando pelas chaves da casa e quando abri a porta,
não acreditei no que vi.
- Oi! - ele falou surpreso. Devia achar que eu não estava em casa.
Pisquei uma vez, duas, três vezes, e ele continuava lá, sorrindo para mim. Ele
havia cortado o cabelo como eu imaginava, mas continuava com as suas mesmas
roupas de sempre.
Tomei fôlego e decidi que era hora de falar alguma coisa.
- O quê você está fazendo aqui,
?
- Eu não sei... Eu só sei que eu precisava te ver! - ele parecia desesperado,
e um tanto cansado.
- Depois de um ano? Interessante. - dei uma risada cínica, e cruzei os braços,
encarando seu péssimo estado.
- Eu andei pensando neste um ano,
... E agora eu finalmente entendo!
- Do quê você entende?
- Você se lembra,
, daquele dia no parque, em que perguntei para você
se você não estava assustada
com a velocidade que o nosso relacionamento tomara? - concordei com a cabeça.
- Então... Eu estava apavorado. O que nós tínhamos estava cada vez ficando mais
sério, mas será que era aquilo mesmo que eu queria? Ou melhor, será que era
o que você queria? Será que eu estava te fazendo feliz? Será que você
era feliz comigo? De repente, milhares de perguntas começaram a martelar a minha
cabeça e eu prestes a enlouquecer! Eu tinha a certeza de que te amava e de que
queria viver com você para sempre, mas eu não sabia se eu era o cara certo para
isso. Sim, eu fui covarde ao me afastar de você, mas eu achava que aquilo era
o melhor a se fazer. Na minha cabeça, eu achava que você ia encontrar um cara
melhor do que eu, um cara que ia te fazer mais feliz. O problema é que eu não
pensei em como você ia se sentir. Eu não pensei na possibilidade de estar errado.
E eu fiz a única coisa que eu não queria fazer, eu fiz você sofrer. E caramba,
, eu me odeio até hoje por isso. E
quando você foi embora, foi como se o meu
mundo tivesse acabado. Eu me senti desmoronado, não tinha mais razões para estar
feliz porque o quê me fazia feliz era ter você comigo! E eu vi como eu fui idiota
por ter deixado você escapar, por ter deixado aquilo chegar aonde chegou. Se
eu pudesse voltar atrás, no mesmo momento que você tinha dado as costas para
ir embora, eu ia correr atrás de você,
. Ia correr atrás de você e contar a verdade que
eu demorei para perceber.
Mas agora é tarde demais... É... Tarde demais.
- Não,
... Mais uma vez você está enganado. - eu disse, com meu rosto coberto
de lágrimas.
- Nunca é tarde demais. Não se você quiser.
se aproximou de mim e tocou meu rosto de leve, e eu senti cada parte do meu
corpo se arrepiar, da mesma forma que acontecia quando estávamos juntos. Ele
sorriu de leve e limpou as lágrimas que tomavam conta do meu rosto, sem se preocupar
com as que estavam no rosto dele.
- Eu te amo,
. E eu quero passar o resto da minha vida com você.
Eu estou preparado para
isso, estou pronto para ser o cara que te faz feliz. Eu vou me esforçar para
ser esse cara. - ele sussurrava em meu ouvido, e cada palavra era como se eu
finalmente aprendesse como era poder respirar feliz novamente - E você não estava
enganada, meu amor. Você estava certa em ter fé e esperança na gente, porque
a nossa história ainda não acabou. Eu simplesmente não posso continuar sem você.
Esse é o último lugar que eu pensei que estaria quando acordei essa manhã, eu
decidi de última hora que ia te procurar, mas eu precisava te dizer isso!
Eu estou pronto para tentar,
... Você ainda quer tentar? -
me olhou fundo nos olhos, seus dedos, trêmulos, ainda acariciavam o meu rosto.
- Sempre quis,
, sempre quis tentar.
- Eu nunca te desapontarei e eu te amarei agora e para sempre. -
falou e em seguida tocou seus lábios macios nos meus. Era como se eu estivesse
nascendo de novo. Nada mais naquele mundo importava agora que eu tinha
de novo.
The end
n/a:
Eu não sei de onde tirei inspiração para esta fic. Fiquei
a madrugada inteira tentando pensar em alguma história legal, e só depois de
escutar algumas músicas, consegui pensar em alguma coisa. São 07:20 da manhã
e eu terminei a fic, estou morrendo de sono, então não sei se saiu um bom resultado...
Enfim, comentem dizendo o que acharam!
Beijos!
n/b:
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