By: May Lioncourt | Beta: Benny Franciss


Prólogo

Meu inconsciente tinha plena noção do que estava acontecendo. Eu não queria aquilo, mas era o preço que eu tinha que pagar pelo erro cometido. Estendi o braço, receosa, para Voldemort. Ele roçou seus dedos compridos e nodosos no meu antebraço e com um toque de varinha fez surgir uma tatuagem negra, que foi tomando os contornos de uma caveira. Analisei delicadamente o estrago com o dedo indicador, enquanto sentia minha pele arder como fogo.
Selwyn, que estivera o tempo todo me observando de longe, se aproximou languidamente, fazendo uma breve reverência ao Lorde das Trevas. Ele pousou sua mão com força no meu braço.
- É uma grande honra por minha família ao seu dispor! – exclamou Selwyn, meu pai.
- Acredito que sim. – replicou Voldemort, de forma irônica – Espero que sua filha me seja mais útil que você.
Senti-me ultrajada. Por mais que tivesse asco ao homem que meu pai se transformara, ele ainda era sangue do meu sangue.
Selwyn se encolheu diante da ira de Voldemort e eu comecei a tremer quando senti algo, semelhante a choques elétricos, no meu braço esquerdo.
- Agora vá! Cumpra sua missão e será muito bem recompensada sob a nova diretriz. – sibilou o Lorde das Trevas, com os olhos vermelhos cravados em mim.
- Sim, milorde. – exclamei.
Vesti a capa sob as vestes de Hogwarts e Selwyn fez meu malão levitar ao meu lado, segurando em meu ombro para aparatarmos juntos. Notei como ele se mantinha submisso ao Lorde das Trevas, mas eu fazia questão de manter meu rosto erguido, ampliando assim, meu espaço e minha alma.
Agora eu era uma Comensal da Morte, pronta para servir com lealdade ao meu senhor.

Capítulo Um

"São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades."
(Alvo Dumbledore)


Embarquei meu malão e vi minha mãe se aproximar do trem e de mim. Os olhos lacrimejantes e vermelhos, mas a postura de uma lady. A capa vermelha jogada elegantemente sobre os ombros rígidos e os cabelos presos em um coque por grampos e pedras brilhantes.
Mamãe não sorriu, apenas me abraçou delicada e olhou-me com piedade.
- Espero que saiba onde e com quem está se metendo, . O caminho que está trilhando não dispõe de chave de portal, de volta para casa. – balbuciou de modo que apenas eu ouvisse.
- Sei que não há, mamãe, e também, não quero voltar. – desvencilhei-me de seus braços e dei-lhe um breve aceno de adeus.
Senti repugnância de mim mesma, ao virar a cabeça e dar de cara com Harry Potter e a família de traidores de sangue, os Weasley. Meu coração se apertou ao ver todos os rostos se grudarem nos vidros das cabines para dar uma boa olhada no garoto de óculos e penetrantes olhos verdes que me atraíra desde o primeiro ano.
Eu sabia que tinha a mínima chance com o “menino-que-sobreviveu”, uma garota como eu, da Sonserina, filha de um comensal, estagiária das trevas, querendo sair com o seu inimigo. Aquele garoto que eu deveria espionar e entregar para morte, caso tivesse a oportunidade.

Afundei no meu assento e descansei a cabeça na janela. Fechei os olhos com força, esperando chegar ao estado letárgico do torpor, mas o barulho da porta se abrindo me impediu.
- Só tem uma garota aqui! – disse uma voz uma voz masculina e animada.
Empertiguei-me irritada e ergui os olhos para dar de cara com dois rapazes ruivos e idênticos.
- Não se importa, não é? – disse um deles, entrando na cabine sem esperar pela minha resposta. Foi seguido pelo outro ruivo e um garoto negro.
- É claro que me importo! – guinchei, sobressaltada. – Não dividiria a cabine com alguém da Grifinória nem que ela fosse a última do trem.
- Calma aí! – retrucou o ruivo mais próximo de mim.
- Já vi o problema Fred, ela é aluna da Sonserina. – disse o outro sorrindo e apontando para o brasão em minha capa.
- Somos Fred e Jorge Weasley, e este é Lino Jordan. – o garoto moreno disse oi com um olhar zombeteiro. – Não viemos brigar... só sentar! – os três sorriram.
-Não me importa quem vocês são! E traidores de sangue nem deveriam dirigir a palavra a sangues-puros como eu. – bradei e levantei do assento, mas o tal Fred segurou-me pelo pulso.
- Para alguém da Sonserina, você até que é bem bonita.
Coloquei a mão dentro da capa para pegar minha varinha, mas o garoto me soltou e ergueu os braços em rendição e, sem olhar para sua cara, lhe dei as costas. Saí pelo corredor, afobada, sem notar direito para onde ia. Estava tentando acalmar as borboletas que insistiam em voar no meu estômago.
- ! Onde você estava?

Capítulo Dois

"Não são nossos talentos que mostram aquilo que realmente somos, mas sim as nossas escolhas."
(Alvo Dumbledore)


- Estou cansada! Draco não dá atenção a mim, está completamente obcecado por Potter e aquela gangue de perdedores...
Já nem ouvia mais as reclamações de Pansy. Ela estava mais uma vez falando de Malfoy, mas eu já tivera o bastante por quatro anos, já tinha decorado tudo que consegui assimilar sobre aquela conversa. A única coisa que me preocupava agora era como faria para me aproximar de Harry Potter.
- , você não ouviu uma palavra do que eu disse.
- O quê? – perguntei, atordoada.
- Perguntei: desde quando você usa as vestes de manga longa?
- Desde que achei com combinavam com as saias!
Mesmo Pansy sendo minha melhor amiga, eu não poderia lhe contar o real motivo pelo qual escondia meus braços, ou melhor, meu braço esquerdo.
Percebi que ela ficou intrigada, mas logo deu de ombros e recomeçou o monólogo. Mas Malfoy a interrompeu quando apareceu na cabine, ladeado por seus dois autômatos particulares: Crabbe e Goyle.
- O que está fazendo aqui, Selwyn? - perguntou-me rispidamente.
- Esperando a hora certa para sair. – repliquei.
Abandonei a cabine bem a tempo de perceber o trem parando. Essa não! Meu malão havia ficado na cabine com os Weasley’s. Corri para a outra ponta do trem o mais rápido que pude. No caminho dei de cara com Hermione Granger e Ronald Weasley, que franziram a testa para mim e saíram rápido. Entrei apressada na cabine e um dos gêmeos ainda estava abaixado, juntando alguns pequenos doces. Quando ele me viu, sorriu e estendeu uma pastilha metade laranja e metade roxa, na minha direção.
- Não coma! É vomitilha. Eu e Jorge inventamos. Se puser na língua começará a vomitar na hora. – explicou orgulhoso. – Dê para alguém que não goste!
Peguei o doce e logo devolvi.
- Para você, um presente. – retruquei.
- Muito espirituosa.
Guardei a bala no bolso e tentei retirar meu malão, mas ele ameaçou cair. Fred se adiantou para me ajudar.
- Não preciso da sua caridade! – disse, apontando minha varinha para o malão.
- Para que usar magia? Eu estou aqui.
Sem dificuldade ele puxou o malão e me entregou. Um sorriso sincero repuxando seus lábios em direções opostas.
Sem agradecer, saí e acompanhei o fluxo de alunos que ainda tentava deixar o trem. Percebi ao longe que Fred se juntara ao irmão e ao amigo, Lino Jordan. Eles sorriam e me deu uma enorme vontade de acompanhá-los na diversão.

Capítulo Três

"As conseqüências dos nossos atos são sempre tão complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil."
(Alvo Dumbledore)


Dumbledore não parava de falar! Eu já estava desesperada para me recolher aos meus aposentos. Todos estavam perfeitamente absortos no diretor, mas minha única preocupação ainda era Potter.
Senti o olhar fulminante de Malfoy, que estava sentado à minha frente, mas uma exclamação geral nos fez focalizar uma mulherzinha vestida de rosa. Sorriso falso, um enorme laço de fita na cabeça e, para meu completo pânico, a desconhecida resolveu que também ia discursar.
- Acho que Hogwarts agora ficará livre da ralé. – comentou Pansy, enquanto nos dirigíamos para o Salão Comunal.
- Acho que teremos que tomar cuidado com o faremos daqui para frente. – adverti-a.
Pansy crispou os lábios e avançou na frente, me deixando sozinha para trás. Dei alguns passos antes de me deparar com Malfoy. Ele estava com aquele sorriso irritante nos lábios e sem seus capangas e isso não era um bom sinal.
- Acho que está escondendo o jogo, Selwyn. – começou ele, eu estava disposta a ignorá-lo. – Posso ajudá-la.
Entendi no ato. Então Malfoy queria ser útil para o Lorde das Trevas. Talvez seu pai tivesse lhe contado do que aconteceu comigo, mas a última coisa da qual eu precisava, era de alguém que odiasse Harry Potter tão abertamente.
- Não sei do que está falando. – disse. – Magia é poder. – sussurrei a senha para a gárgula e adentrei no Salão Comunal.
- , precisará de ajuda. Deixe-me ajudá-la! – retorquiu Malfoy, em sua última tentativa de me persuadir.
- Não adianta, Draco. – sibilei.
Soltei-me rudemente da sua mão que me segurava e sumi em direção aos dormitórios.
Já quase desmaiada de sono, fiquei deitada em minha cama de dorsel, esperando que uma idéia caísse do céu, mas tudo que podia ver e ouvir eram o ressonar de Emilia Bulstrode e os murmúrios de Pansy, que lia o Semanário dos Bruxos sob a luz da varinha.
Lentamente meu corpo foi adormecendo. Meus olhos começaram a pesar e perdi completamente o controle sobre meus impulsos e vontades e, quando me resignei a sucumbir ao sono, o rosto dele tomou meus pensamentos, já lentos pelo sono traiçoeiro, pairando em minha mente.
Meu plano estava arquitetado.


Capítulo Quatro
"O senhor da morte aceita que deve morrer,e sabe que há coisas piores, muito piores do que a morte no mundo dos viventes."
(Alvo Dumbledore)


Eu estava a caminho da aula de poções, sozinha. Pansy havia ficando arrulhando em volta de Malfoy e eu na estava com a mínima vontade de sequer olhar naqueles olhos acinzentados.
Próximo à sala de Snape, dei de cara com Potter, Granger e Weasley. Eles conversavam com a garota asiática do time da Corvinal, a namorada do Diggory. Ao notar o olhar de adoração que Harry lançava para ela, eu me senti irritada. Uma raiva anormal se apossou do meu corpo – ou seria ciúme? O olhar quente e amoroso dele, me fez perceber que ninguém nunca tinha me olhado daquela forma, nem mesmo meus pais.
Para minha grande alegria, o imbecil do Weasley ofendeu a “senhorita perfeição” e a Granger pareceu bastante irritada com isso.
A sineta tocou e eu saí do meu pequeno esconderijo e me dirigi para a aula.

Snape estava pegando pesado. Deu-nos um trabalho relativamente difícil, me esforcei ao máximo, mas a Granger ainda se saiu melhor – embora o professor não admitisse. Saí das masmorras acompanhada de Emilia e Pansy, pois agora teríamos aula de Herbologia com a Corvinal. No meio do caminho, vi os gêmeos Weasley pendurando alguma coisa no quadro de avisos do corredor, mas não demonstrei interesse imediato ou Pansy poderia se interessar e me bombardear com perguntas. Virei meus olhos na direção oposta.
- Olá, . – Fred bateu com a mão para mim, quase desmaiei.
- O que ele quer com você, ? Por acaso agora é uma traidora de sangue? – guinchou Pansy ao meu lado. Ela tinha uma expressão de nojo e entortou a boca, para mostrar desprezo por Fred.
Não sei por que, mas a atitude dela me fez cambalear para trás. Como se alguma mão invisível houvesse me empurrado de propósito. Sorte minha que ela interpretou isso da forma errada.
- Calma, Selwyn, eu sei que não faria isso. Só quero ofendê-los. – seu olhar foi de encontro a Fred, que vinha em minha direção. Era impressionante como nada fazia seu sorriso vacilar, ele sempre estava do mesmo jeito por mais hostilidade que houvesse em meu tratamento para com ele.
Jorge e Lino continuavam parados. Notei que o outro gêmeo segurava panfletos coloridos enquanto o amigo carregava uma enorme caixa com o nome “Gemialidades Weasley” gravados a fogo.
- Já usou a vomitilha? – perguntou-me Fred, como se fôssemos íntimos.
- Não enche! – sibilei, puxando Emilia pela manga da blusa para que continuássemos o nosso caminho até as estufas.
- Bom, eu ia te dar mais algumas, caso precise. – ele me estendeu um saquinho transparente com diversas balas de todas as cores. – Só não as coma. – ele deu uma piscadela e se foi.
O que Fred pretendia com todo aquele papo, eu não sabia, mas quando Emilia sugeriu que eu as jogasse fora e Pansy concordou fervorosamente, eu simplesmente as enfiei na mochila e disse que o faria, assim que saíssemos do castelo.


Capítulo Cinco
"Não existe bem nem mal, só existe o poder, e aqueles que são demasiado fracos para o desejarem."
(Lord Voldemort)


Era dia da nossa ida a Hogsmeade. Eu me sentia tão animada para visitar a Zonko’s e a Dedos de Mel que me esqueci completamente a minha missão. Tinha feito planos de beber cerveja amanteigada com Pansy, Zabini, Draco, Crabbe e Goyle no Três Vassouras, porque fui praticamente obrigada pela minha melhor amiga que agora, em vez de reclamar do namorado, reclamava de mim.
- Você está parecendo a versão feminina do Longbotton. – disse ela, certo dia na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Não estou não! – que ofensa para uma garota como eu, me comparar com aquele bobalhão.
Eu ia falar mais, só que a professora Umbridge pigarreou e eu voltei minha total atenção ao pergaminho no qual eu anotava minha aula.

O dia estava ventoso e frio, mas nada iria me impedir de pelo menos, por uma manhã, voltar a ser uma adolescente normal. Pus meu melhor casaco e desci para o café, me encontrando com Pansy e Draco no fim do corredor.
- Ah não! – suspirei. – Quando estiverem fazendo isso, me deixem avisada.
Eu não podia crer que Draco pudesse ser capaz de um gesto tão humano quanto beijar.
Pansy soltou uma risadinha e se agarrou no braço dele.
- E então, vamos? – perguntou ela, mas eu estava completamente assustada com o olhar de Draco.
- Vamos... – balbuciei feito um trasgo e Draco riu.
Que droga estava acontecendo comigo? Porque aquele grande idiota estava conseguindo me desconcertar daquele jeito? Ele não podia ser assim tão persuasivo; Draco não era um grande pensador, mas devo confessar que ele era bem atraente.
Saímos os três juntos, encontrando Crabbe, Goyle e Zabini no caminho, e quando passamos por Filch, Draco deu uma grande gargalhada ao ver o zelador cheirar Harry, não entendi o porquê.


Capítulo Seis
"Porque nos sonhos entramos num mundo inteiramente nosso. Deixe que mergulhe no mais profundo oceano, ou flutue na mais alta nuvem."
(Alvo Dumbledore)

- Por que se esquiva tanto, Selwyn? – perguntou-me Zabini, que sentara ao meu lado.
- Do que está falando? – questionei, crispando os lábios.
- Não me deixa te tocar. Afinal, o que foi aquilo no fim do ano passado?
Meu Deus! Meu corpo inteiro tremeu e eu lembrei que na época do torneio tribruxo, quando todos estavam preocupados com os campeões e as tarefas, eu e Zabini nos encontrávamos às escondidas para... namorar!
Mas aquilo parecia ser algo tão distante, tão assombrosamente normal para mim. Naquela época eu era uma pessoa completamente diferente do que sou hoje. Era mimada e mesquinha, não tinha noção de nada. Super protegida, eu achava que o Lorde das Trevas era um tio distante, daqueles que só ouvimos falar.
- Fraqueza de espírito. – respondi.
- Como é? – Zabini alteou o tom, e eu percebi que Malfoy tinha os olhos cinzas grudados em nós.
- Não sei onde eu estava com a cabeça afinal. Mas o que aconteceu no ano passado não irá acontecer mais, Blásio. Se não se importa...
Ergui o queixo e afastei minha cadeira da mesa. Levantei e saí do ‘Três Vassouras’, rezando para que nenhum dos meus amigos resolvesse me seguir.
Fiquei alguns minutos perdida em meus próprios pensamentos que quando percebi já estava na porta da ‘Dedos de Mel’. Mais adiante a Zonko’s fazia a alegria dos alunos de Hogwarts.
Sem pestanejar, eu acelerei meus passos e entrei a toda na loja de logros e brincadeiras, eu adorava o lugar. Era fascinante as magias que os donos eram capazes para tornar aquilo tudo mais divertido, colorido e animado.
Fiquei horas observando alguns instrumentos estranhos que zumbiam e chaves que encolhiam até desaparecer. Havia kits de magia dos trouxas, com falsas varinhas e cartolas de montar.
- Eu levaria uma poção do amor se fosse você. – sussurrou uma voz ao meu lado.
Ofeguei assustada e virei de imediato. Fred segurava algo estranho que parecia um enorme cotonete de metal. Ele sorria – como sempre -, esperando uma réplica.
- Não que você precise. – consertou, depois de ler errado, minha expressão.
- Não pretendo levar nada. – murmurei, indo em direção a outros brinquedos.
- Então o que faz aqui? Se não quer se divertir...
Ele tinha razão! O que eu fazia ali e não pretendia comprar, sorrir ou interagir com nada nem ninguém. Fiquei alguns segundos com o olhar perdido, até que Fred resolveu me despertar.
- Eu convidaria você para ir à Madame Pudfoot, mas tenho um encontro com alguns amigos. – disse ele.
Por instinto e curiosidade me vi perguntando:
- Onde?
Fred apenas sorriu e acenou indo embora.

Capítulo Sete

"Voldemort é o meu passado, presente e futuro."
(Tom Riddle)


A mesa a Grifinória estava bem movimentada na manhã seguinte. Todas as mesas estavam, mas cada uma tinha alunos da sua casa e especialmente naquela se reuniam, Corvinal, Grifinória e Lufa-Lufa. Não entendi o intuito daquilo, mas o que me interessava no que a escória fazia ou deixava de fazer? Tinha que focar minha total atenção a não me perder de vez no plano que eu tão cuidadosamente pensara naquela noite.
Estava realmente ficando difícil, precisava de uma aproximação sutil que não deixasse dúvidas pairando na cabeça dos meus inimigos e que também não indispusesse com meus amigos. Parecia uma tarefa simples, mas talvez fosse uma das tarefas mais complicadas.

Eu, Draco e Pansy já estávamos às portas das masmorras quando Potter chegou com Granger e Weasley. Draco começou então a se gabar do que acontecera naquela manhã (a alta inquisidora tinha proibido qualquer associação, grupo, time e clubes estudantis de se reunirem sem seu consentimento), a equipe de quadribol da Sonserina teve permissão imediata para continuar treinando.
- É, na mesma hora Umbridge deu à equipe da Sonserina permissão para continuar jogando. Fui pedir a ela logo que acordei. Bom, seria automático, quero dizer, ela conhece meu pai muito bem, ele sempre está entrando e saindo do Ministério... vai ser interessante ver se a Grifinória vai ganhar permissão para continuar a jogar, o que acham?
Eu baixei a cabeça derrotada. Porque Draco não vivia a vida dele e deixava os outros em paz? No meio de tanta guerra, eu estava procurando um pouco de paz, não precisava de um babaca almofadinha como Malfoy pra melar tudo.
Me escondi no meio das pessoas enquanto Pansy perdia o ar de tanto rir quando Malfoy falou da área para pessoas com danos cerebrais causados por magia do St. Mungus. Isso não era coisa para se brincar, não nos dias atuais.
Só então percebi que a balburdia se transformara em briga e me surpreendi ainda mais ao ver que a pessoa que estava se debatendo nos braços de Weasley e Potter era Longbotton. Ele parecia descontrolado e em sua face estava estampada a fúria que sentia.
O professor Snape surgiu do nada, na porta da masmorra. Olhou para os alunos da Grifinória com desprezo e mandou que passássemos para dentro, mas antes tirou pontos dos três. E mais uma vez Malfoy escapou ileso.
Mal cheguei a sentar quando vi a professora Umbridge sentada com uma prancheta, no canto das masmorras. Essa não! Nossa aula ia ser inspecionada. Eu odiava aquilo, ainda mais quando ela vagava até nós com um sorriso presunçoso esperando que nós detonássemos os rofessores. Eu teria prazer em ferrar com aquele grande imbecil do Hagrid, porque ele era um péssimo professor, mas Snape era demais. Era sem dúvida o melhor professor da nova geração em Hogwarts.

Eu estava bastante preocupada com a minha Poção para Fortalecer que nem percebi que Umbridge indagava o professor Snape com muita ânsia, podia jurar que a maldita esperava ferrar com ele. Percebi que agora eu não era a única que não prestava atenção na poção, Harry também era constantemente impedido por Hermione de fazer alguma burrada que acabasse explodindo seu caldeirão. Se aquela vaca velha pusesse o professor Snape em observação, ela ia ter que se ver comigo. Sim, eu gosto dele!

Capítulo Oito

"Naturalmente está acontecendo dentro da sua cabeça, mas por que é que isto deveria significar que não é verdadeiro?"
(Alvo Dumbledore)


Voltei bem tarde da biblioteca. Estava tentando adiantar minha enorme quantidade de deveres atrasados, quando ouvi alguém sussurrar meu nome. De início achei que fosse a enorme armadura que estava imóvel alguns metros atrás de mim, mas logo percebi que Fred me chamava de um canto no corredor.
Olhei para os lados me certificando de que ninguém estava olhando e fui em sua direção, me forçando a pensar no plano e deixar tudo pairar na minha primeira mente.
- Ainda tem seu estoque de balas? – perguntou-me ele.
Pestanejei antes de responder.
- Sim!
- Ótimo, está com elas aí?
- O que quer, Weasley? – perguntei rispidamente.
- Vamos precisar.
Fred me puxou pelo braço até a sala de Filch, eu fiquei em transe ao ver Madame Nora se esgueirando até entrar na sala.
- O que pretende com isso, nos dar o ano inteiro de detenção? – perguntei.
- Shh! Fica aqui.
Fred entrou na sala de Filch e voltou rapidamente. Ele levou meu saquinho de Gemialidades Weasley e ficou esperando o zelador voltar.
- Será que dá me explicar? – tentei mais uma vez.
- Fica quieta mulher! – ele sussurrou, sorrindo.
Não demorou muito depois que Filch voltou, ele saiu correndo da sala vomitando. Achei que ele ia por o estômago para fora. Era absolutamente nojento e asqueroso.
- Agora sim. Vem comigo!
Fred e eu entramos na sala de Filch e afanamos a chave de algum lugar. Fiquei me perguntando por que não abríamos a tal porta com magia, mas como que lendo meus pensamentos Fred respondeu que a porta era impenetrável e imperturbável, o que inviabilizava o uso do Alohomora nela.
- Vou levá-la à sala de troféus.

Meu Deus! Eu nunca havia ido ao nosso cofre no Gringotes, então nunca tinha visto tanto ouro junto. Eram vários troféus e cada um mais diferente do que o outro. Variações de tamanho e peso.
- Essa aqui é a taça de quadribol. – disse ele do outro lado da sala.
- Ela é bem grande. – repliquei.
- A última vez que a Grifinória a levantou, meu irmão Carlinhos era do time. – pela primeira vez vi o sorriso dele vacilar e sair de cena.
- Não se preocupe...
- É claro que você quer que a Sonserina vença!
- Não ligo muito para quadribol. – respondi, Fred estava ultrapassando a barreira, se aproximando demais.
- Devia gostar.
- Por quê? – perguntei.
- Seu futuro namorado é batedor da Grifinória!
Ele estava falando dele?
- Não encosta! – rosnei me afastando, mas ele me segurou com força.
O momento seguinte eu não se descrever bem. Estávamos grudados um no outro e Fred me beijava intensamente. Seus lábios queimavam nos meus deixando uma sensação de formigamento e nervoso que eu não consegui fazer parar, nem com o meu maior esforço.
Suas mãos ainda seguravam meus ombros, fazendo com que eu ficasse de frente para ele e tudo que eu conseguia ver era sua testa. Apertei meus lábios para que ele não encontrasse passagem, mas Fred era insistente e eu já estava quase sem ar quando cedi. Seria nojento se eu começasse a descrever como sua língua começou a desenhar abstratamente no céu da minha boca e como eu deixei que ele movesse os lábios cuidadosamente de encontro aos meus?
Sim seria! Mas eu já contei.

Capítulo Nove

"A verdade é uma coisa bela e terrível, por isso deve ser tratada com grande cautela."
(Alvo Dumbledore)


Com uma enorme força de vontade consegui me separar dele. Armei um tapa em seu rosto, mas desisti no meio do caminho, meu plano começara a dar certo. Eu não poderia melar tudo depois de tanto sacrifício, não estava sendo fácil para mim quebrar meus princípios e quando tudo viesse à tona eu estaria com grandes problemas.
Tentei desviar o olhar de Fred, mas seus olhos castanhos faziam um raio x dos meus sentimentos, senti-me molestada e invadida. Pus as mãos na cabeça e saí correndo da sala de troféus. Eu queria ficar sozinha em algum lugar.
Cheguei desesperada ao sétimo andar. Só sabia onde estava por causa da tapeçaria nas paredes, caso contrário estaria completamente perdida. Havia partes do castelo que eu simplesmente nunca tivera a curiosidade de visitar. Ainda com a idéia fixa em minha mente eu clamei por estar em casa, sozinha em meu quarto. Onde eu podia ser Selwyn sem problemas.
Barulhos me fizeram abrir os olhos, uma enorme porta se materializava na minha frente. Era toda ornada em ferro e madeira e assim que pus a mão em sua maçaneta ela se abriu para me admitir, era como se esperasse por mim. Era a famosa Sala Vem e Vai, eu já tinha ouvido falar dela.
Quando consegui me acostumar com a luz forte e amarela percebi que estava em um réplica exata da minha casa - precisamente do meu quarto. Abafei um grito ao ver o enorme pôster d'As Esquisitonas na parede, onde o vocalista fazia poses e piscava para mim.
Andei pelo lugar, passando a mão na moldura do meu espelho e sentindo a forma delicada dos puxadores do meu armário. Sorri ao notar que a fotografia que eu tirara há tantos anos, com meus pais, estava novamente perfeita e não rasgada como eu fizera antes de ir para Hogwarts. Avancei um pouco mais até dar de cara com o dossel da minha cama de princesa. Um tecido fino e em um tom rosáceo caía nas laterais da cama, ocultando meu colchão e sua coberta de metalassê.
Sentei ao meu piano e deslizei as mãos delicadamente pelas teclas pequenas do brinquedo, sorrindo ao relembrar de que eu era feliz e inocente. Parecia ser há tantos anos.
Apenas dois detalhes diferiam aquele quarto do real: a janela estava sem minha cortina de renda e a luz que provinha dela não era natural. E três fotos que estavam grudadas em minha parede ao lado do pôster da minha banda preferida.
Arranquei a primeira, tentando entender porque Malfoy estava sorrindo para mim. Aquele sorriso antipático e esnobe que eu constantemente ignorava. Ao lado de Malfoy estava Harry que parecia não querer ter sido capturado pela câmera e ao lado de Harry estava... Fred, sorrindo e fazendo careta na direção da fotografia de Malfoy.
Por quê? Por que aquela sala estava me confundindo? Eu só queria um lugar familiar onde pudesse me sentir à vontade para chorar sem ser descoberta, mas no fundo eu tinha certeza que se houvesse volta, eu só desistiria de tudo e seguiria um caminho diferente. Àquela altura eu estava disposta a abdicar de meus poderes para viver uma vida normal, de trouxa. Isso para você compreender que a minha situação se complicava, eu abomino trouxas. Rasguei as fotos e me virei para deixar a sala, mas assim que o fiz vi o diretor Dumbledore parado à porta. Ele me fitava serenamente e eu o odiei ainda mais por parecer sentir pena de mim. Ele ajeitou os óculos sob o nariz torto e sorriu para mim. Velho estúpido! Ele que sorrisse até rasgar a boca, eu não iria para uma detenção.
- Sei que está confusa, Srta Selwyn. – ele disse, entrelaçando as mãos.
- Não estou confusa! – respondi irritada.
- A magia dessa sala é excepcional não acha? – ele saiu das sombras que se projetavam ao lado do meu armário e veio andando até a cama. – Tudo que eu posso ver são objetos velhos e lixo acumulado de séculos. Mas sei que a senhorita vê mais que isso!
O que ele estava dizendo? Então ele não podia invadir minha privacidade? Fechei a cara para ele, indo em direção a porta, mas alguma coisa me chamou a atenção. Pelo que eu conhecia daquela sala, era inviável que Dumbledore tivesse entrado ali.
- Como pode entrar aqui, se eu já estava dentro? – perguntei, ainda de costas para ele. Senti que ele não me olhava mais, mas andava pela sala.
- Tenho meus próprios meios de seguir um aluno. E devo dizer que o Sr Weasley é muito esperto. Ele planejou esse dia com honras, desde que lhe deu uma saca dos doces que fabrica.
Abri a boca comicamente, mas a notícia era tão bombástica que nem me importei de estar parecendo um hipogrifo com sarapintose. Então Fred vinha planejando isso há tempos, ele queria estar sozinho comigo para conseguir roubar um beijo meu. Ele estava apaixonado? Eu não suportaria carregar mais um erro nas costas. Eu já tinha problemas demais, para ainda arcar com o amor de um grifinório imbecil. A esta altura que se danasse o plano.
Ergui a cabeça o mais alto que pude, sem exagera claro, e dei as costas para o diretor indo em direção a porta. Assim que toquei a maçaneta, tudo começou a se dissolver e aí pude ver o que Dumbledore via! Lixo.
Saí em disparada até o dormitório, entrei com cuidado para não acordar as garotas e afundei em minhas cobertas, sem trocar de roupa. Estava a ponto de dormir quando eu percebi o real motivo de estar ali. Eu tinha errado e era por isso que servia ao Lord das Trevas, se eu não tivesse sido extremamente curiosa não teria aquela marca formigante em meu braço e provavelmente estaria preocupada com qual roupa iria ao meu encontro com Blásio. Mas não, eu era uma comensal da morte, não importava a idade, eu tinha um dever a cumprir e se eu falhasse... Bom, melhor não pensar em falhar!


Capítulo Dez
"Você vai encontrar muitos inimigos em seu caminho, mas também vai encontrar amigos, poucos, mas verdadeiros."
(Alvo Dumbledore)


Na manhã seguinte eu encontrei com Pansy no corredor, mas assim que vi minha melhor amiga, meus olhos encontraram a figura que pairava por trás dela. Um garoto loiro de olhos claros – um tom anormal de cinza. Ao lado de Malfoy estavam Crabbe e Goyle.
- O que esteve fazendo ontem à noite? – sibilou Pansy, de forma letal. Malfoy riu.
- Estive no Salão Comunal. – respondi receosa.
- Mentirosa! – grasnou Pansy em alto e bom som.
- Do que está falando? Como ousa me chamar de mentirosa? – estourei. Eu queria muito poder contar, mas não poderia.
- Você não estava em lugar algum da torre! Eu procurei em todos os cantos...
- Estive cumprindo detenção. – disse a primeira coisa que me veio à cabeça.
Malfoy levantou os olhos para mim. Pansy por estar de costas não percebeu sua atitude. Nossos olhares se cruzaram e eu desviei assim que tomei consciência do que estava fazendo.
Pansy soltou um grunhido de descrença e saiu da minha frente. Seguindo uma direção oposta à minha.
- Suas perdas começaram. – a frase de Malfoy cortou minha linha de raciocínio, levando-me de imediato para outros pensamentos.

Flashback >>
- Espero que saiba onde e com quem está se metendo, . O caminho que está trilhando não dispõe de chave de portal, de volta para casa. – balbuciou de modo que apenas eu ouvisse.
- Sei que não há mamãe e também, não quero voltar. – desvencilhei-me de seus braços e dei-lhe um breve aceno de adeus.
Fim do Flashback <


***


O jogo entre Grifinória e Sonserina começaria em algumas horas e eu ainda não tinha sequer me levantado. Continuava no meu dormitório, confusa quanto ao que iria fazer; ao que eu estava fazendo.
Eu estava com uma enorme vontade de encontrar Fred de novo, mas meu corpo inteiro reagia de uma forma desconhecida quando pensava no sorriso astuto de repugnante de Malfoy. Eu já não sabia se era raiva ou algum tipo de sentimento novo que estava se agravando com o passar do tempo. Eu realmente necessitava me redescobrir.
Em meio a tantos dilemas eu recebi uma carta. Uma coruja da escola entrou pela janela aberta e depositou uma carta amarelada aos meus pés. Não a peguei de imediato, imaginei logo de cara de quem seria a mensagem e por mais que desejasse ignorar, eu tomei o papel entre os dedos e abri-a com delicadeza.

,
Espero que esteja ansiosa para seu retorno a casa.
Precisamos conversar seriamente sobre nosso futuro!
De seu pai...
Selwyn


Compreendi de imediato porque ele não pode ser mais claro, assim que vi o selo de inspeção da Umbridge no envelope. Aquela mulher não deixava passar nada! Aprumei-me na cama e meu estômago pareceu querer se desmanchar, eu estava nervosa.
Peguei um casaco qualquer dentro do malão e joguei-o sobre os ombros, segurando o cachecol verde e prata na mão esquerda. Resolvi que ia ao jogo e torceria com todas as minhas forças para a Sonserina.
Assim que desci as escadas do dormitório feminino, dei de cara com Malfoy e mais uma gangue de alunos sonserinos rindo descontroladamente. Alguns pegavam nas vestes e gargalhavam mais alto. Outros liam algo ridiculamente cômico em uns pequenos panfletos que Pucey distribuía.
- Quer um também, Selwyn? – silvou Malfoy assim que me viu.
- Um o quê? – perguntei rudemente afastando sua mão.
Algum objeto metálico voou de sua mão e bateu no chão fazendo um barulho que ecoou por todo o Salão Comunal. Ele usou a varinha para convocá-lo de volta.
- Accio distintivo.
- O que é isso Malfoy? – perguntei, abandonando a cautela toquei em sua mão para pegar o distintivo.
Malfoy estremeceu ao meu toque, eu fiz o mesmo. Encaramo-nos calados por alguns instantes e eu reparei nele pela primeira vez no ano.
Seu rosto estava mais pálido que o normal e as olheiras fracas emolduravam seus olhos, que pareciam encantadores quando visto dessa distância, apesar disso seu rosto era belo. Se a personalidade afugentava as pessoas, a aparência com certeza supria todo o resto. Malfoy era realmente um garoto bonito.
- Um presente para o pessoal da Grifinória.
Ele saiu de perto de mim e pegou sua Nimbus 2001 – com certa arrogância – que estava nas mãos de Goyle. Pansy correu para segui-lo. Ela nem sequer me olhou.
Prendi o distintivo junto ao coração. Não sei por que achei que ali seria melhor, encarei meu reflexo por alguns minutos, no vidro que dava para fora. Focalizei o Lago Negro logo depois e suspirei. Por que eu estava agindo daquela forma? Por que meu coração quis sair do corpo quando toquei Malfoy? Por que ele reagiu daquele jeito, como se nada tivesse acontecido, depois de também sentir o mesmo choque que eu? Quantos por ques ainda ficariam sem resposta em minha mente?

Eu me sentia estranha e envergonhada quando encontrei Emilia e Suzan – nossa outra companheira de dormitório – para ir ao jogo. Eu nunca andava com elas, mas pouco me importava se elas iam achar que eu era uma aproveitadora de quinta. Eu não queria ficar sozinha naquele momento. Eu não podia.
- Vi que você também aderiu à campanha: Weasley é nosso rei. – crocitou Emilia, com sua voz grave.
- O que? – franzi a testa.
- O distintivo que Malfoy mandou fazer. – olhei para o peito - Já tem a letra da música? – Suzan me estendeu um panfleto já amassado pelas diversas mãos que o tocaram.
Eu imergi de imediato na letra da música e meus lábios não puderam deixar de se contraírem em um sorriso de satisfação. Além de bonito, Malfoy tinha criatividade. Devolvi a folha para Suzan que também sorria comigo. Ambas sabíamos que aquele jogo ia ser bem divertido. Agora eu sabia que tinha feito a coisa certa. Fred ficaria vulnerável com aquela letra, iria precisar de consolo. Precisar de mim!


Capítulo Onze
"Isto sugere que o que você mais teme é o medo. Muito sensato."
(Remus Lupin)


EI, EI, EI, EI
WEASLEY É O NOSSO REI

- Esse jogo está sendo perfeito. – gemeu Suzan ao meu lado – Estou louca para parabenizar Malfoy.
Eu juro que percebi segundas intenções naquela voz melosa e cheia de manha. Minha vontade foi desafiá-la em um duelo de varinhas, mas não entendi o porquê daquilo. Bom, na verdade eu sabia o que estava acontecendo em meu íntimo, mas não podia ou não queria assumir em voz alta.
- Não acho que Malfoy deva levar todo o crédito. Montague está jogando muito bem. – desconversei.
- Então era com Montague que você se encontrou na noite passada? – perguntou-me Emilia.
- NÃO. – gritei, mas ela não reparou em meu desespero. Sonserina acabava de marcar mais dez pontos.
- Ah, o Malfoy e Potter estão disputando o pomo! – alguém guinchou ao meu lado.
Levantei-me bem a tempo de ver um balaço lançado por Crabbe atingir as costas de Harry em cheio. Uma vertigem me dominou quando vi o garoto ser lançado para fora da vassoura e cair no chão. A torcida da Grifinória dava vivas e gritava enlouquecida. Diversos pontinhos vermelhos pousaram no campo e foram na direção de Harry e Madame Hooch apitou. O jogo havia terminado e nós tínhamos perdido. Irritada e sem esperar por Suzan e Emilia, eu tentei abrir caminho pela multidão verde e prata que se disseminava aos poucos. Todos tinham uma expressão de irritação esnobe no rosto. Desci das arquibancadas e resolvi esperar por Fred próximo aos vestiários. Antes, porém, de alcançar o local desejado, vi Malfoy se aproximar do time da Grifinória.
Eu corri até lá, ele me parecia mais do que zangado. Estava furioso!
- ... também não conseguimos encaixar “fracassado inútil”... para o pai dele, sabe... – dizia Malfoy a plenos pulmões.
Fred olhou para mim de soslaio, seus olhos viajaram até minhas vestes e novamente encontraram meus olhos.
- Ou vai ver, – foi dizendo Malfoy assim que voltei a prestar atenção na conversa. – você se lembra como a casa da sua mãe fedia, Potter, o chiqueiro dos Weasley faz lembrar dela.
Os gêmeos já estavam em seu limite. As garotas da Grifinória tentavam em vão segurar ambos, mas foi Harry quem atingiu Malfoy com um soco. Eu gritei! Harry debruçou-se sobre Malfoy e eu não sabia quem defender, decidi que eu deveria intervir por Draco que era o mais lesado em toda confusão.
Assim que peguei minha varinha, Madame Hooch gritou:
- Impedimenta.
Draco ficou no chão gemendo e com o nariz ensangüentando, Fred estava sendo contido por seus próprios jogadores e Jorge tinha um lábio inchado. Madame Hooch mandou-os para o castelo e eu corri até Draco.
- Fica calmo, eu vou te levar para a ala hospitalar. – guinchei para Malfoy.
Passei seus braços ao redor do meu ombro, recolhi minha varinha e andamos até a saída do campo, sobre vaias e gritos de ambas as torcidas nós dois seguimos para o castelo, em busca de Madame Pomfrey.
- Por que, ? – questionou Malfoy, segurando o nariz que sangrava.
- Por que o que? – continuei andando.
Malfoy soltou-se de mim e ficou a alguns passos de distancia.
- Não tinha que me trazer para a ala hospitalar, eu sei andar sozinho!
- Cara, você é o ser humano mais burro que já conheci. Deixa de ser egocêntrico, só quero ajudar. Anda, vem...
Tentei me aproximar. Meu instinto maternal pedia isso, mas Malfoy afastou minha mão e murmurou:
- Você não entenderia, .
Seus olhos foram suprimidos pelos cabelos loiros. Não pude ler seus sentimentos, mas naquele momento preferi me aproximar a sair correndo. Sua voz pareceu-me sincera e extremamente convidativa. Eu queria aquilo, não seria errado, seria? Passei meus braços no pescoço de Malfoy e puxei seu corpo de encontro ao meu. Encostei minha testa na sua e sussurrei:
- O que eu não entenderia?
Nossos lábios mal se encontraram e ele me repeliu, disse que precisava ir à ala hospitalar e foi embora mancando.
O peso da rejeição me assomou por inteiro. Senti como aquilo tivesse sido um golpe em meu ego e em minha auto-estima. Estava zangada, mas também triste. Quando me virei para ir de volta para a saída do castelo, uma mão atingiu meu rosto em um tapa doloroso.
- Mas que diabos...
Era Pansy. Ela estava vermelha e tremia muito. Sua mão ainda estava levantada. Dos seus olhos caiam lágrimas e eu logo entendi o porquê. Sinceramente eu não fiquei com um pingo de remorso. Não podia ser a culpada por tudo aquilo. Não escolhemos de quem vamos gostar.
- Sua vaca. – ela murmurou – Está tentando roubar a minha vida, tem inveja de mim. Sua maldita vaca!
- Eu não quero nada disso! Quem iria querer viver como um bichinho de estimação sendo constantemente escorraçado? Prefiro mil vezes a minha vida.
Pansy armou um outro tapa, mas eu puxei a minha varinha. Não iria sujar minhas mãos com aquela garota. Para mim já bastava! Ela era egoísta demais para ter verdadeiras amizades e no fundo senti-me livre de um estorvo. Logo o corredor começou a se encher de alunos e eu finalmente tomei meu rumo, deixando para trás uma vadia irritada. Eu acabava de fazer uma inimiga.


Capítulo Doze
"A verdade é uma coisa bela e terrível, e portanto deve ser guardada com grande cautela."
(Alvo Dumbledore)


Algumas semanas se passaram. Fred estava me ignorando completamente, não falava mais comigo e eu presumi que ele ainda estava chateado por eu ter o usado o distintivo que agredia sua família. Malfoy também estava se esquivando de mim, não falava comigo nem quando era necessário e todos já tinham percebido o clima frio entre Pansy e eu. Para evitar brigar, eu não ia dormir mais cedo ou mais tarde. Não precisava dar de cara com ela e começar uma nova discussão! Naquela tarde os alunos da Sonserina e Grifinória se juntaram para assistir uma aula de Trato das Criaturas Mágicas com o idiota do Hagrid. Eu estava com muita vontade de cabular, mas se fizesse isso não poderia fazer o que eu estava planejando.
Assim que chegamos, Hagrid nos avisou que nossa aula seria dentro da floresta, vi Malfoy ficar mais pálido que o natural.
- Vamos trabalhar aqui hoje. – anunciou – Um pouco mais protegidos! De qualquer maneira eles preferem o escuro.
- O que é que prefere o escuro? – Malfoy perguntou rispidamente para Crabbe e Goyle.
Eu ri e me aproximei de mansinho das costas de Malfoy.
- Os dementadores. – respondi – Você bem que devia saber, já que se passou por um.
Relembrei a ele o episódio que ocorrera no terceiro ano quando Malfoy tentou boicotar Harry Potter na partida de Quadribol contra a Corvinal. Draco não me respondeu e fez de conta que eu não existia.
Voltei para meu lugar e aos poucos fui chegando perto de Harry. Eu precisava chamar sua atenção para mim. Ele estava tão entretido em conversar mudamente em seus amigos que não reparou em meu olhar penetrante.
A multidão de alunos seguiu o professor, adentrando na floresta. Eu fiquei mais para trás, queria ir sozinha, mas uma mão me puxou para o lado. Alguém estava escondido detrás de uma arvore.
- Fred! – guinchei alarmada.
O garoto riu.
- Pensei que fosse reconhecer meu irmão.
- Me desculpe... – o que eu estava fazendo, pedindo desculpas. Depois me puno.
- Preciso falar com você sobre ele.
- O que aconteceu com Fred? – eu me vi perguntando. Eu estava preocupada?
- Ele anda meio triste por conta do que aconteceu.
- Sim, eu soube. Vocês dois e o Harry foram proibidos de jogar.
- Isso mesmo.
- É Jorge não é? – ele assentiu – Eu não tenho nada a ver com isso. Foram vocês que partiram para cima do Draco. O que eu pude fazer eu fiz.
- Sei disso. É por isso que vim falar com você. Fred achou que você iria procurá-lo para se explicar porque usava o distintivo e porque preferiu ajudar Malfoy. – Jorge era como o irmão, mesmo em situações tensas continuava sorrindo sempre.
- Ele... Ele está mal?
- Peguei o cara chorando. – disse Jorge em tom solene. – Precisa fazer alguma coisa ou as Gemialidades Weasley vão por água abaixo.
- Mas como vou encontrar com ele? Fred está me ignorando.
- Deixa comigo e com o Lino, a gente dá um jeito. – ele piscou e enfim soltou meu braço.
Jorge já ia um pouco longe quando se virou para mim e sorriu, dizendo:
- Agora entendi quando Fred comentava sobre seus olhos.
Fique estática. Era um elogio? Nossa, como os Grifinórios eram sentimentalistas! Mas eu também estava sentimental. Saber que Fred estava sofrendo, em parte por minha causa, fez meu coração fraquejar e essa não era uma atitude esperada de mim. Não mesmo.

No dia seguinte eu esperei Jorge por horas. Esperava que ele me avisasse a que horas eu poderia encontrar com Fred, e o local também. Mas tudo que consegui foi um bilhete do amigo dos gêmeos, Lino, me avisando de que Fred e Jorge haviam sido chamados na sala do Dumbledore no meio da noite, sem motivo aparente.
- O que eles aprontaram... – sussurrei.



Capítulo Treze
"Todos temos o bem e o mal dentro de si, mas o que realmente importa não são as semelhanças e sim as diferenças."
[HP e a ordem da Fênix]


Enfim as férias. Eu estava pensando seriamente em me preparar categoricamente para os N.O.M’S, mas sempre que me lembrava que algo mais importante me esperava eu tremia. Minhas pernas pareciam que não agüentariam meu peso.
Demorei em arrumar meu malão, despachando Pansy, que deu de ombros, irritada, e seguiu para seu encontro rotineiro com Draco. Coloquei todos os meus livros dentro (eu estava disposta a estudar), acrescentei algumas roupas e deixei algumas coisas de menos importância escondidas em minhas gavetas. Analisei com cuidado tudo que tinha acontecido até ali e resolvi levar meu plano adiante: eu conquistaria Fred Weasley, tentaria ganhar a confiança dos grifinórios até me infiltrar em sua torre e usar da vulnerabilidade de Potter para atraí-lo até o Ministério da Magia. Bom, era tudo o que tinha fazer; pode parecer simples, mas quando você tem fantasmas interiores tão assustadores quanto o Lord das Trevas, isso amedronta você. Eu não era das mais corajosas, sabe?!

Assim que entrei no expresso de Hogwarts, procurei pela última cabine. Não queria que acontecesse a mesma coisa que no primeiro dia de aula, com os pensamentos que eu tinha para organizar a solidão deveria ser minha única vizinha. E assim foi.
Quando chegamos a Kings Cross, eu logo vi minha mãe me esperando, Selwyn não estava com ela. Eu esperaria que no mínimo ele se orgulhasse de mim para se dar o trabalho de aparecer para me buscar, mas a recepção não foi das melhores. Mamãe me deu um abraço superficial e nada mais, nenhuma palavra.
- Onde está o papai? – perguntei, na tentativa inútil de quebrar o gelo.
Mamãe empertigou-se e passou a mão nos cabelos bem presos em um coque japonês no alto da cabeça. Ela estava fria e eu podia entender o sentimento que adornava sua mente, era o mesmo que o meu, só que multiplicado por três.
- Seu pai viajou a trabalho. – ela respondeu, sem olhar para mim.
- Sabe onde ele foi? – continuei, mas logo percebi que tinha feito a pergunta errada.
- Não me interessa os assuntos de vocês, – e depois de uma breve pausa ela murmurou para apenas eu ouvir. – Comensais da Morte.
Mamãe era do tipo que não aprovava nada relacionado à magia negra. Ela havia estudado em uma pequena escola de magia no País de Gales e só se mudou para Londres a fim de estagiar no Gringotes. Assim ela conheceu meu pai. Eu sempre achei a história dos dois muito bonita, mas só me dei conta que aquele amor tinha se tornado uma farsa quando eles começaram a dormir em quartos separados.
- Entre. – ela ordenou, enquanto dava a volta em nosso automóvel para entrar pela outra porta.
- Vamos para casa de carro? – perguntei estarrecida, nunca tínhamos feito isso. Geralmente desaparatávamos.
- Não vamos para casa, estamos indo para Mansão Malfoy.
Não quis acreditar que eu ia para a casa dos Malfoy. Era o lugar que eu mais odiava no mundo, além do caldeirão furado. Eu tinha nojo de Narcisa Malfoy e o senhor Lucio me dava arrepios na nuca. Eu não podia estar indo para lá! Mas se eu reclamasse mamãe provavelmente iria me azarar com um feitiço do corpo preso.
Foram quinze minutos de viagem ou um pouco mais. Eu contei, na esperança de esquecer para onde nós íamos, mas isso só piorou. Era como se eu estivesse fazendo a contagem regressiva para minha morte.
Descemos em um enorme parque, ao fundo havia uma grande floresta. Mamãe me segurou pelo braço e deu ordens expressas para que Lionel – nosso motorista – sumisse com o automóvel e voltasse imediatamente para nossa mansão, nos arredores de Tinworth.
- Vamos. – ela disse, fazendo sinal para que eu a seguisse, assim que largou meu pulso. Não dei uma palavra com ela. Não conseguia sequer compreender o porquê seguíamos para aquela casa. Eu só queria poder me trancar no quarto e estudar para meus N.O.M’s sem ter que me preocupar com Potter ou traidores de sangue, mas algo bem maior estava para me ocorrer. Eu o visitaria!

Capítulo Catorze
"Existe todo o tipo de coragem. É preciso muita audácia para enfrentarmos nossos inimigos, mas igual audácia para defendermos nossos amigos"
[HP e a pedra filosofal]


Assim que nós duas passamos do portão de entrada, eu senti um estranho calafrio percorrer todo meu corpo. Um pavão albino nos fitava de um canto do enorme jardim como se soubesse quem éramos.
Logo na entrada, Rabicho nos esperava. Ele abriu um enorme sorriso quando viu minha mãe e suas costas curvadas desceram ainda mais, reverenciando-a. Ela nem sequer se dirigiu a ele. Com um empurrão, ela nos abriu caminho e deixou que eu passasse a frente. Seguimos caladas pelo corredor, com Rabicho em nosso encalço, até que o avistei.
Malfoy ria para mim, era algo normal, se não fosse pela forma como aquilo se sucedia. Ele não parecia sarcástico, era apenas um sorriso de boas vindas. Mamãe atravessou a grande sala e foi até a senhora Malfoy, onde ambas começaram a cochichar baixinho, eu não dei atenção para não aguçar a curiosidade, mas fui até Malfoy na esperança de obter alguma resposta.
- O que está havendo? – perguntei rispidamente.
- Ele está aqui! Escolheu nossa casa como quartel general. – eu pressenti um certo orgulho em sua postura e voz.
- O Lord das Trevas? – sussurrei, entendo o porquê de tanta balburdia.
Rabicho não parava de andar de um lado para o outro, roendo as unhas como um rato comendo sementes. A senhora Malfoy arrumava a todo instante as cadeiras para que ficassem perfeitas em torno da mesa. Eu podia saber que havia mais alguém na casa pelo estranho clima que estava se abatendo. Até que começaram a surgir as pessoas.
Lucio Malfoy abria o cortejo, trazia sua bengala na mão e demorou seu olhar em mim e Malfoy, como se esperasse que nós anunciássemos casamento. Ele então sentou em uma das cadeiras, afastada da cabeceira da mesa, onde eu podia jurar que Lord Voldemort sentaria. A senhora Narcisa se adiantou e sentou-se ao lado do marido. Mamãe empalideceu um pouco, deu uma breve olhada para mim e se retirou da sala. Eu tentei ir até ela, mas Malfoy me segurou.
- Agora não. – ele sussurrou urgente.
Sem saber por que, eu apenas obedeci.
Agora já tinham entrado mais dois homens, eu sabia que eram os pais de Crabbe e Goyle pela estatura gingatesca, e logo atrás deles entrou uma mulher morena, os cabelos negros eram muito cheios e olhos profundos. Seu rosto estava magro e ossudo. Ela se sentou ao lado da Senhora Narcisa e assim que o fez um homem a acompanhou. Logo que pensei que os únicos que faltavam seriam eu, Malfoy e o Lord das Trevas, meu pai apareceu.
Selwyn estava abatido e parecia que tinha sido severamente torturado. Em nenhum momento ele me olhou. Acomodou-se ao lado de Rabicho, de olhos sempre abaixados. Entraram mais dois homens. Um grandalhão que eu sabia ser Dolohov, e outro magrelo que trabalhava no ministério da Magia. Assim que Draco me guiou para o lugar de frente para o senhor Malfoy eu senti algo se mover no chão. Era Naguini! Seria uma reunião de comensais.
- Como ousam estarem todos aqui como se fossem fiéis ao Lord das Trevas? – sussurrou a mulher morena para a senhora Narcisa, esta estremeceu um pouco antes de responder.
- Por favor, Bela, não complique as coisas.
Então a mulher se chamava Bela. Logo eu descobriria o nome de todos os presentes. Então chegou quem eu menos esperava ver. A campainha silvou um grito e Rabicho correu para atendê-la. Snape caminhou languidamente e ocupou o seu lugar à direita da grande cadeira da cabeceira. Assim que todos os murmúrios cessaram, eu senti sua presença maligna. Ele parecia vir flutuando e suas vestes não faziam ruído algum. Senti-me um trasgo sendo aniquilado. O Lord das Trevas era capaz de meter medo até mesmo em um grande e inteligente gigante. Eu me encolhi na cadeira e assim que o fiz senti a mão de Malfoy se fechar em meu pulso, como que para me dar coragem. Ele devia estar acostumado, afinal desde o ano passado o Lord das Trevas ficava na casa dele.
- Enfim aqui estão meus fiéis amigos. – sibilou Voldemort. Suas íris passearam pela mesa, demorando alguns segundos em todos os que ali estavam. Quando chegou a mim ele curvou os lábios, mas não era um sorriso. Era desprezo.
- Parece que temos uma novata. – ele continuou. – Ela não vem me sendo muito útil, temos apenas seis meses e até agora não há resultado algum. O que me diz disso, ?
Assim que ouvi meu nome, um pequeno grunhido escapou da minha garganta. Meu pai pela primeira vez levantou o rosto, parecia apavorado. Não sei se tinha medo por mim ou se estava com medo por ele, de ser acusado culpado pelo meu fracasso.
Baixei meus olhos para minhas mãos que estavam sob a mesa e tentei inutilmente falar, mas o professor Snape me interrompeu.
- Andei interceptando-a, milorde. – disse ele – Os momentos não foram oportunos, então achei que as tentativas da senhorita Selwyn seriam em vão. Não gostaria que ela deixasse transparecer desconfiança.
Olhei aturdida e agradecida para o professor Snape. Eu não sabia o que pensar e apenas baixei meus olhos, mas encontrei por um instante o brilho acinzentado dos olhos de Malfoy, que apertava seus dedos em cima das pernas.
- Fique calmo – sussurrei.

***


Abri a porta do meu quarto de uma vez. Meus olhos lacrimejantes entregavam meu sofrimento. Minha mãe parou à entrada e me observou por alguns minutos, antes de se aproximar de mim e segurar-me em seus braços. Em um abraço torto e quente.
- Eu avisei a você o que ocorreria. Machucará muita gente com esse jogo de vida e morte, minha filha. – ela disse bondosamente.
Eu nem tive tempo a uma réplica, pois meu pai apareceu com a rapidez de um feitiço em meu quarto e separou-me de minha mãe. Ele me ergueu e me segurou pelo queixo, pude sentir a varinha em seu casaco. Ele estava transtornado, com um brilho assassino nos olhos.
- Ou você entrega logo Potter ao Lord das Trevas ou todos nós morreremos, será que você não entende a situação aqui sua idiota? - disse ele. Suas mãos apertavam meus lábios e meus dentes mordiam minha língua.
- O que está fazendo, largue a minha filha já. – bradou minha mãe, se apossando de sua varinha.
Eu mal tive tempo de gritar e minha mãe fora atingida por um feitiço estuporante. Eu não conseguia entender a atitude do meu pai. Ele nunca se descontrolava com ela e isso logo me levou a crer que a pressão que o Lord das Trevas estava dando em cima do meu pai estava afetando minha família e a paz que antes reinava entre os três Selwyn estava sendo quebrada.
- E lembre-se: sua tia Umbridge de nada sabe sobre sua missão. Se ela descobrir, morreremos todos, e quando digo todos, isso inclui a família Malfoy também. – disse ele.
Sem entender e deixando as lágrimas rolarem por meu rosto, eu ouvi a voz de Malfoy ecoar em minha cabeça como se fosse um fantasma:
- Suas perdas começaram.
Meu pai finalmente me largou e saiu do quarto da mesma forma como entrou. Corri até minha mãe desesperada, agarrei seu corpo inerte e tentei em vão acordá-la. Como estava em casa na presença de meus pais, pus as mãos na varinha de minha mãe e sussurrei:
- Renevarte.
Ela logo despertou, mas estava incapaz de falar. Nos duas apenas chorávamos. Sem saber como agir, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça: escrevi uma mensagem e mandei-a via coruja para Fred.


Capítulo Quinze
"Não há vergonha no que você está sentindo, Harry, pelo contrário... O fato de ser capaz de sentir dor é a sua maior força." [HP e a Ordem da Fênix]


Joguei minhas coisas em cima da cama. No canto esquerdo do meu quarto, o mais escuro, estavam pilhas de jornais com matérias sobre Harry Potter e o Lord das Trevas. Havia mais ou menos um mês desde que tivemos a reunião com Voldemort, e eu estava esperando, ainda, pela resposta de Fred. Sentia-me inútil trancada dentro de casa, e as brigas que meus pais travavam faziam com que a sensação de inutilidade se agregasse a outros sentimentos ruins, me sufocando por completo.
Quando a coruja da família pousou na janela do meu quarto, todos os sentimentos desapareceram e eu logo notei que poderia ser a resposta de Fred. Infelizmente me enganei! Era apenas a carta de Hogwarts, onde estavam os materiais para o próximo semestre de aulas.
- Droga. – falei, com o travesseiro abafando minha voz.
De repente a nossa coruja piou alto e voou rapidamente para o lugar onde lhe era reservado, só então percebi que tinha outra coruja, morta, próximo a minha janela.
Rolei os olhos e caminhei até o parapeito novamente, mas o bicho ainda respirava. A coruja me lançou um olhar de piedade e piou baixinho, estrangulado, antes de erguer a pata, que tremia como se o animal agonizasse.
Retirei o bilhete e carreguei-a, levei até o copo de água que ficava ao lado da minha cama. Enquanto eu abria meu recado o animal se fartava.
- Não pode ser. – disse, levando a mão à boca. – A resposta de Fred.

Me desculpe pela coruja, ela já é bem velha e
talvez não chegue viva até sua casa.
Li seu bilhete e também estava afim de ouvir sua
explicação, mas não sei como dizer aos
meus pais que preciso ir até a casa dos Selwyn,
não gostaria de ter que mentir para eles
e para o Jorge.
Mande uma resposta, com o lugar e a hora em
que podemos nos ver.
Fred

P.S: Te aconselho a usar uma coruja da sua família, pois Errol não aguentaria uma viagem de volta.


Quando soltei a carta, as corujas já haviam partido. Segurei o papel fortemente nas mãos e amassei-o de ansiedade. Eu não sabia o que devia fazer, mas também não podia colocar a minha conversa com Fred em risco. Se eu ia me encontrar com ele, tinha que ser em um lugar onde ninguém nos reconhecesse. Talvez no mundo dos trouxas.
Rapidamente escrevi uma resposta e marquei com Fred, na estação de Kings Cross, no café, onde ninguém seria capaz de nos apanhar.
Assim que anoiteceu, resolvi que podia encarar meu pai. Não poderia ficar para sempre me submetendo às suas decisões, apesar de menor de idade, eu havia sido escolhida em lugar dele. Se o Lord das Trevas me confiara uma missão, é porque achou que eu tivesse potencial para finalizá-la.
Mal cheguei à mesa do jantar e senti a tensão que abatia. Minha mãe amassava o guardanapo no colo, enquanto meu pai comia tranquilamente. O olho esquerdo dela estava roxo e por um instante eu não quis acreditar que Selwyn tivesse feito isso com ela, mas que outro brutamontes seria capaz de tal alto?
- O que houve, mãe? – perguntei inquisitiva, com altivez.
- Deixe sua mãe em paz e coma sua comida. Depois desse jantar, teremos uma reunião em família. – disse papai, largando seu talher sobre o prato.
- Mãe, porque está com essa mancha roxa no rosto? – continuei como se ele não tivesse falado.
- Não é nada , sente-se e obedeça. Já! – finalizou ela, diante de minha hesitação.
Era estranho que ela estivesse com o olho daquele jeito. Mesmo que Selwyn o tivesse feito ela com certeza teria usado um feitiço para desfazer o hematoma, mas agora mamãe parecia querer sustenta-lo como um troféu ou como uma lembrança de algo verdadeiramente ruim.
Não toquei no jantar. Sentia-me bastante enjoada pelo nervosismo. Somente quando Selwyn terminou, ele nos convidou cordialmente para irmos até a sala de visitas. Não entendi no momento o porquê, mas quando nossa elfo doméstica foi até a porta atender a campainha, compreendi o verdadeiro motivo de minha mãe querer continuar com o hematoma. Ela queria mostrar à nossa visita com que tipo de homem casara, mas antes que os visitantes pudessem chegar onde estávamos Selwyn a atingiu com um feitiço e logo o hematoma sumiu da pele pálida da minha mãe.
- Assim está melhor. – sibilou ele, olhando para nós.
A família Malfoy estava acompanhada da mulher morena. Bella, se não me engano. Ela me lançou um olhar frio antes de soltar uma gargalhada mortal e se virar para mexer em uma das prateleiras.
- Sejam bem vindos. É uma ocasião muito importante a de hoje. – disse Selwyn.
- Sem dúvida, caro amigo. Não vejo a hora dessa união. Dois puro-sangue darão origem a uma família poderosa! – concluiu Lucio, olhando para Draco.
Draco, por sua vez, me parecia doente. Estava em um tom esverdeado e evitava olhar para mim. Mamãe e Narcisa se encolheram em um canto e começaram uma conversa aos sussurros.
- Draco! – falei alto, ele me olhou pela primeira vez. – Podemos conversar?
Lucio parou a conversa com papai para ouvir a resposta do filho. Draco hesitou antes de responder, mas o olhar do pai pareceu amedrontá-lo o suficiente para que quisesse deixar a sala.
- Vamos. – disse, se aproximando de mim e me puxando pelo braço.
Fomos para o jardim e ocupamos um dos bancos. Eu me sentia relaxada de vê-lo ali, mas a lembrança do jogo fez com que meu coração quase não pudesse ser contido em meu peito.
- O que quer? – perguntou ele rispidamente, apoiando-se nos cotovelos.
- Do que eles estavam falando? – questionei, ofendida e confusa pelo seu tom de voz.
- Não sei. – disse ele de forma ríspida.
- Ah, não sabe? Pois eu tive a pequena impressão de que você não estava gostando da conversa. – comentei, irritada.
Draco fechou os punhos no colo. Eu senti que ele estava tentando se controlar, havia algo implícito naquele ato. Algo que eu desejava descobrir imediatamente.
- Draco, o que está acontecendo? Me conta. – pedi calmamente, pousando minha mão em seu ombro rígido.
Ao meu toque, ele relaxou um pouco, mas ainda podia perceber sua feição tensa e preocupada.
- Eles querem que a gente se case. – disse Draco de uma só vez.
Arregalei os olhos, espremendo meus dedos nas palmas das mãos. Isso não podia ser verdade, meu pai não poderia estar tentando me fazer casar à força. Tudo bem que meus sentimentos em relação à Draco são completamente confusos, mas não a ponto de eu desejar me unir a ele para sempre. Sempre é uma palavra muito forte pra ser usada de qualquer jeito.
- Fala sério. – suspirei atordoada.
- Sério. – disse Draco levantando-se e me deixando sozinha.

Capítulo Dezesseis
"Enquanto você ainda puder chamar de sua a casa em que vive o sangue de sua mãe, ali você não pode ser tocado nem ferido por Voldemort." [HP e a Ordem da Fênix]


Cheguei atrasada no encontro com Fred, mas, para a minha surpresa, ele ainda não estava lá. O que teria acontecido? Será que ele não tinha conseguido chegar ao endereço? Não era longe de onde estava o portal para a estação 9 ¾ , ele devia ter tido algum problema. Depois de alguns minutos sentada sozinha no café do metrô, percebi que estava chamando atenção. Uma garota não costumava se vestir daquela forma. Acho que mesmo tentando usar meu vestido vitoriano da forma mais trouxa que pude não deu certo.
Segui para o banheiro da estação e lá consegui usar um feitiço de corte, para deixar minha roupa com uma cara mais moderna, senti-me muito melhor daquela forma. Porém, ao sair do banheiro, dei de cara com alguém que eu desejava não ver tão cedo.
- O que está fazendo aqui? – perguntou-me Emilia, com sua aparência bufonídea. Ela estava igual a um sapo, vestida de verde da cabeça aos pés.
- Como você me achou? – perguntei, guardando minha varinha nas vestes o mais rápido possível.
- Vim com meus pais para compras no Beco Diagonal, vi quando você entrou nesse banheiro e pedi a eles para te cumprimentar. – disse ela, simplesmente.
Estava ali tentando dar atenção à Emília quando vi Fred ao longe, procurando por mim no café. Ele não parecia abatido e muito pelo contrário, seu rosto contraia-se em sorrisos para as garotas que tendiam no bar. Uma pontada de ciúmes me invadiu, fazendo-me soltar um gemido rouco que foi incontrolável.
- Você está bem? – perguntou Emilia, olhando-me desconfiada.
- Vou ficar, mas, Emilia, você não tinha que ir com seus pais ao Beco Diagonal?
- Sim. Preciso ir agora, foi bom te ver de novo! – sua voz realmente estava desconfiada e o sorriso falso que me lançou convenceu-me de que ela estava escondendo alguma coisa de mim.
Naquele momento, meu corpo já não resistia mais ao impulso de ir até Fred, eu tinha pouco tempo antes que alguém da minha família notasse meu desaparecimento e percebesse que eu não estava na mansão dos Malfoy como informara aos nossos elfos domésticos, caso mamãe perguntasse.
- Fred! – sibilei irritada, enquanto ele se inclinava sobre o balcão para fazer mágicas de trouxas para a atendente.
- Opa! Parece que aquele alguém chegou. – disse Fred para a garota que soltou um suspiro e me olhou com desgosto.
- O que há com você? Devemos ser discretos. – eu disse a ele, me referindo à nossa condição de bruxos.
- Eu estou cansado de discrição com você e não vejo mais como podemos dar certo. – disse Fred como se fosse simples fazer aquilo.
- Sempre soubemos que não seria fácil. – suspirei, irritada com a atitude dele.
- Um Grifinório e uma Sonserina nunca poderão dar certo. – sussurrou ele e pela segunda vez vi aquela sombra de tristeza tomar conta dos seus olhos sempre brilhantes e divertidos.
- Fred, eu te chamei aqui para dizer uma coisa que deveria ter dito há muito tempo, mas que infelizmente não é da minha natureza demonstrar. – comecei, decidida a abrir o jogo com ele. Ou pelo menos, metade daquele jogo mortal.
- Estou ouvindo.
- Eu gosto de você. – a intenção era dizer: “Eu te amo”, mas as palavras se prenderam em minha língua.
Ele me olhou por alguns segundos, envolvido pela forma repentina que usei para demonstrar meus sentimentos.
Eu não aguentava mais aquela pressão sobre mim e precisava de um confidente. Draco seria a melhor opção nesse momento, mas com toda a história sobre casamento de sangues puros que minha mãe me contou, fiquei receosa de me aproximar demais dele, fazendo com que meus pais insistissem na loucura de me casar com um Malfoy.
- E por gostar de você que preciso contar o que está acontecendo na minha vida. – continuei, baixando a cabeça lentamente. A vergonha me consumia, corando minhas faces. Sentamos em uma mesa reservada no canto do café. A atendente anotou nossos pedidos, mas acho que trouxe o meu errado de propósito. Fred me ofereceu o dele e eu desabafei.
Falei sobre as brigas entre meu pai e minha mãe. Contei-lhe que meu pai tinha confiado algo muito importante a mim, ao nosso futuro e também lhe falei que eles estavam arranjando um casamento com um sangue puro para mim. A esta última notícia Fred reagiu com certa arrogância, condenando a atitude dos meus pais e incriminando-os de “Grandes idiotas”, apesar de serem meus pais, eu gostei que ele me defendesse.
- Mas você pretende realmente se casar com esse sangue puro que eles arranjaram para você? – questionou-me Fred, erguendo uma sobrancelha.
- Não sei. – falei. – Eu realmente não sei como agir diante de tudo isso. Ainda sou muito jovem para provar aos meus pais que posso tomar minhas próprias decisões, tenho medo de que eles me acusem de ser leviana.
- Você pode fugir. – disse Fred entre sorrisos.
- Para onde? Morar com os traidores de sangue? – sibilei, pretendendo fazer uma brincadeira, mas no momento em que falei me arrependi. Fred crispou os lábios e eu soube imediatamente por que. – Me desculpe. – disse.
- Tudo bem, somos traidores de sangue mesmo. – sussurrou ele, sorrindo amarelo.
- Não por isso. Quer dizer, também. Mas minhas desculpas são por conta do episodio de quadribol. Não devia ter encorajado os insultos de Draco com a sua família. Apesar de eu achar bastante errado, pessoas como nós, se misturar tanto com trouxas. Tão inferiores...
- Não vamos começar com isso. Considere o episódio esquecido, madame. – brincou Fred, estufando o peito e voltando a dar aquele sorriso lateral, algo que eu só tinha visto umas duas vezes. Um sorriso infantil, porém cheio de significados.
- Obrigada. – abri meu melhor sorriso também. – Aliás, o que houve com vocês um dia antes das férias? Umbridge ficou uma fera com o sumiço dos Weasley e de Potter. Ela mandou Filch vasculhar cada canto do castelo até ser avisada que vocês já estavam em casa.
- Ah sim. – disse Fred tristemente – Papai foi atacado por alguma coisa no ministério da magia, ele estava em missão... – de repente ele parou. – Digo, de plantão.
- Ele está bem?
- Sim. Quase morreu quando mamãe soube que ele estava usando remédios de trouxas, mas agora ele está bem. – Fred sorriu e eu também.
Assim que percebi que o sol estava a pino, me apavorei. Não podia ter passado tanto tempo assim com Fred, as pessoas em minha casa logo desconfiariam.
- Ah meu Deus! – alardeei. – Tenho que ir para casa.
- Como você vai? – perguntou-me ele, voltando a erguer a sobrancelha.
- Dispensei nosso motorista que ajuda a nos locomover nesse mundo de trouxas. – disse desesperada, eu não tinha pensando na volta para casa.
- Aceita uma carona? – disse ele de repente.
- Como?
- Estou de vassoura, está escondida. Podemos usar um feitiço de desilusão e estaremos cobertos.
Eu não tinha outra escolha.

Capítulo Dezessete
"O Sr. Aluado apresenta seus cumprimentos ao Prof. Snape e pede que ele não meta seu nariz anormalmente grande no que não é de sua conta."
[HP e o Prisioneiro de Askaban]


Ao chegar em casa, deparei-me com algo que viria a mudar toda a minha vida. Minha mãe me defendia mais uma vez dos ataques indômitos do meu pai. Ele a segurava pelo pulso, fazendo com que a pele alva ficasse marcada pelos dedos de sua mão. Drifit, nosso elfo doméstico, guinchava desesperada tentando sem sucesso afastar meu pai da minha mãe, levando um pontapé.
- Pare, Selwyn, o que está fazendo? – gritei o mais alto que pude. Toda a raiva se acumulando em meu baixo ventre, deixando-me enojada e enjoada.
- É tudo culpa sua. Garota estúpida, imprestável. – ele largou minha mãe e sacou a varinha, vindo furiosamente em minha direção.
Dei passos para trás, totalmente indefesa. Minha mão tremia ao redor da varinha e eu me senti impotente; totalmente impotente e vulnerável.
- Estou sofrendo retaliação daqueles malditos por sua culpa. A filha de qualquer um já teria terminado esse trabalho, mas uma traidorazinha que nem você não é capaz nem de raciocinar como uma sangue puro!
Meus dedos congelaram assim como meus olhos. Não consegui piscar diante daquelas palavras, será que meu pai havia descoberto algo envolvendo Fred? Se sim, eu estava morta. Definitivamente eu precisava sair daquela casa.
- Sua mãe te protege de todas as formas e a culpa da sua incompetência é dela! – bufou ele próximo ao meu rosto, pingando-me com sua saliva. – Onde estava hoje? Sei que não estava com os Malfoy, pois eu estava lá!
- Eu... eu... eu estava com Harry Potter. – saiu! Sem que eu percebesse saiu.
Minha mãe parou de choramingar ao chão e lançou-me um olhar de pavor e confusão. Meu pai semicerrou os olhos e pôs sua varinha em meu rosto. Nunca eu o vira tão furioso; nunca eu tinha temido tanto pela minha vida.
- Harry Potter? – disse ele, seu rosto coberto de feias manchas roxas.
- Sim. Deixe-me explicar. – disse, enfim eu revelaria meu antigo plano. Plano esse que virara farelos, desde que eu me apaixonara por Fred. Sim, eu amava Fred!
- Explique-se. – guinchou papai me jogando sobre o sofá como uma fruta podre.
- Eu preciso ganhar a confiança de Potter. Ele precisa não temer estar comigo para que eu possa atraí-lo até o Ministério da Magia. Assim ele pega a profecia para o Lorde das Trevas e enfim poderá ser liquidado. Não posso fazer tudo de repente! É um plano que requer paciência, tempo e cuidados. – despejei, desejando que ele acreditasse.
- Ridículo! É o melhor que pôde fazer? Uma maldição Imperius seria mais fácil.
- Seria mais facilmente detectável, o senhor quer dizer. O maior bruxo de todos os tempos é diretor da nossa escola, pai, e Harry é seu aluno preferido. Demoraria minutos para que ele descobrisse uma maldição imperdoável em Potter.
Parece que esse último argumento o convenceu.
- Pai, se fosse fácil como lançar uma maldição Imperius, não precisaria de mim! O próprio Lorde das Trevas é perito nas imperdoáveis. Tem que ser algo que somente eu possa fazer! Algo totalmente fora dos radares dos grandes bruxos. Harry tem uma guarda pessoal, seria difícil demais tocar nele por meio de magia.

***


O dia de voltar para Hogwarts chegara, e eu nunca ansiara tanto por ir à escola. Vaguei pela casa a manhã inteira, esperando que mamãe viesse para aparatar comigo até a plataforma.
Conforme as horas passavam, eu ficava mais nervosa. Ver Fred era uma necessidade, mas eu também desejava estar com Malfoy. Por Merlin! Seria possível eu estar apaixonada por dois e ainda sentir atração por outro? Maldita queda eu tinha por olhos claros.
Mamãe, costumeiramente vestida de vermelho, apareceu para me levar até a locomotiva. Ela estava taciturna, porém fazia de um tudo para não demonstrar. Temi por ela, sozinha com Selwyn, mas se eu desejasse salvá-la, precisava partir.
- Vamos. – sussurrou ela. Entrelaçando nossos dedos.
Com um aceno de varinha ela despachou minhas malas e olhando para o nada à sua frente, aparatou, levando-me junto com ela. Arquejei ao notar que tinha acabado, respirando profundamente em busca de mais oxigênio para minhas células. Despedi-me rapidamente de mamãe e fui em direção ao trem. Faltavam dez minutos para sua partida.
Sentei-me sozinha em uma cabine, bem longe dos meus companheiros de casa e tive paz durante toda a viagem para pensar em mim mesma e em minha vida, que fora mudada radicalmente. Dos risos compartilhados com Fred, dos olhares rapidamente trocados com Potter, que parecia não me notar, e do beijo selado com Malfoy no dia do jogo. Não lembrava bem como tinha acontecido aquilo, mas meu coração disparava sempre que lembrava dos lábios frios encontrando os meus. Meu primeiro beijo, com meu noivo. Sim, eu e Draco estávamos noivos, devido às circunstancias!
Maldita hora para trazer à tona aqueles sentimentos. Meus olhos ganharam o brilho molhado das lágrimas e minha boca tremia, tentando não se contorcer de tristeza. Em vão! Pus as mãos no rosto, escondendo os olhos entre os dedos, desejando do fundo da minha alma poder voltar no tempo e fazer tudo diferente. Nunca ter me envolvido com pessoas tão díspares ou nunca ter posto em prática aquele plano tão chulo. Papai tinha razão, era ridículo.

***


Tive dois tempos de poções pela manhã. Eu estava atordoada e a toda hora trocava os ingredientes, tendo que refazer tudo. Ao fim, minha poção estava pior que a de Goyle. Nem um trasgo a beberia.
Ao fim das aulas, vi algo que me irritou profundamente, Cho conversava a sós com Harry em um dos corredores. Essa garota não cansava de se atirar para cima dele? Que idiota! Caminhei a passos firmes para bem longe deles, ia de cabeça baixa, bufando, até que um braço me impediu de continuar a andar. Fred estava parado na minha frente junto com o irmão. Jorge me lançou um sorriso torto, quase não identificável. O choque me fez derrubar os livros no chão e então vi um papel voar da mão de Fred até meu livro de poções.
- Vamos, me xingue. – disse ele em um sussurro e eu então entendi.
- Seu imbecil. – guinchei, olhando de soslaio para os lados. – Não olha por onde anda, grande idiota?
Fred sorriu, mas uma gargalhada ecoou mais forte pelos corredores. Era Pirraça, carregando balões d'agua que soltou sobre nós. Fred usou rapidamente um feitiço escudo que nos protegeu.
- Onde aprendeu isso? – perguntei enquanto ele desfazia o feitiço.
- Com um ótimo professor. – Jorge respondeu, piscando para mim.
Eles se afastaram e eu pude enfim convocar meus livros. Porém o papel eu mesma peguei. Abrindo-o e lendo a caligrafia inclinada e bonita de Fred, ele desejava se encontrar comigo no dia dos namorados em Hogsmead. Sorri discretamente e enfiei o papel na meia, deixando o local o mais rápido possível.
- ! – aquela voz, eu reconheceria facilmente em qualquer lugar.
Eu já estava quase na sala comunal quando Draco me encontrou, ele tinha aquele olhar baixo e o sorriso cínico de sempre. Parecia que na escola ele era outra pessoa. Crabbe e Goyle o acompanhavam, mas foram dispensados quando Draco me alcançou.
- Podem ir. Eu e a Selwyn temos um assunto pendente. – disse ele.
- O que há? – questionei incrédula, como ele podia ser tão duas caras.
Draco estava com as mãos nos bolsos. Uma mecha de cabelo prateado caía sobre seus olhos acinzentados, dando-lhe uma aparência de criança sapeca.
- Bom, vamos nos casar então. – disse ele num sussurro.
- Silêncio! Não quero que ninguém saiba. Ainda há tempo para dissuadir nossos pais dessa ideia imbecil.
- Sim, mas bem que poderíamos... poderíamos...
- Poderíamos?
- Ir a Hogsmead juntos.
Eu dei uma gargalhada. Sim, era uma piada. Só podia. Draco fechou a cara para mim e então eu notei que ele estava falando sério.
- Sair juntos? Draco, Pansy me mataria.
- O que ela tem a ver com isso? – disse ele, virando o rosto para a janela.
- Ela gosta de você. Sinto muito.
Dei-lhe as costas e fui para o salão comunal.
- Tudo bem, ela não precisa saber. – disse ele, segurando-me pelo braço.
- Draco...
- Droga, , uma vez só? – pela primeira vez vi-o frustrado.
- Me dá uns dias. Te dou a resposta antes do fim de semana.
E agora, Draco ou Fred? Harry me parecia cada vez mais descartado e seria impossível que eu o conquistasse. Então, eu estava em um dilema!

Capítulo Dezoito
"O Sr. Pontas concorda com o Sr. Aluado e gostaria de acrescentar que o Prof. Snape é um safado mal acabado."
[HP e o Prisioneiro de Askaban]


Durante todo dia fiquei pensando que eu tinha que começar a ganhar a confiança de Potter o mais rápido possível. Pelo bem da minha mãe.
Quando acabaram as aulas, resolvi segui-lo até onde eu pudesse falar com ele. Infelizmente Potter vivia cercado por Granger e Weasley, seria muito mais complicado atrair sua atenção sem ganhar a desconfiança deles, principalmente daquela maldita sangue ruim.
Resolvi que seria mais fácil se eu simplesmente trocasse de roupas antes e foi o que fiz.
- Por que está trocando de roupas? – perguntou Suzan, sentada no parapeito da grande janela em forma de arco.
- Preciso terminar um dever de Transfiguração. – não era de todo mentira e eu sabia que Potter estava lá.
- Hm, estou cansada demais para pensar em deveres. – continuou ela.
Naquele instante, Pansy entrou no quarto, seguida por Umbridge. Meu rosto retorceu-se, fazendo com que meu nariz se enchesse de rugas pequenas e disformes.
- Ora, se não é a senhorita Selwyn! Creio que saiba sobre nosso parentesco. – bufou a professora, sorrindo sonsamente.
- Sim, senhora. – limitei-me a responder.
Pansy continuava parada à porta. Cara de poucos amigos e olhar perdido para fora do quarto.
- Aonde vai?
- Até a biblioteca. Dever de Transfiguração. – menti.
- Tem um minutinho para sua tia? – ela sorriu de novo, eu podia imaginar o que se passava na cabeça daquela mulher.
- Sim.- repliquei hesitante.
- Deve conhecer a Brigada Inquisitorial. A senhorita ganharia pontos extras em diversas matérias e não teria que se preocupar com... os deveres. – ela soltou uma risada que mais pareceu um gritinho ameaçador.
- Sim, senhora.
- A senhorita Parkinson faz parte da nossa Brigada e vem contribuindo bastante para nossos ideais. - Suzan desceu da janela e se prostrou ao meu lado curiosa.
- E a gente passaria em todas as matérias com esses pontos extras? – perguntou ela, apertando os dedos de ansiedade.
- Sim, senhorita. – ela virou os grandes olhos na direção de Suzan, mas logo voltou a me dar sua atenção. O tempo estava passando.
- Me desculpe, diretora, mas não estou interessada. Gosto de fazer meus deveres.
Saí cortando caminho entre ela, mas antes que eu alcançasse a porta, ela soltou um sonoro pigarro e lançando o maior dos sorrisos ameaçadores, comentou:
- Tem certeza?
- Claro!
E saí. Não entendi o interesse dela por mim, alguma coisa estava errada. Umbridge não deveria saber nada sobre o Lorde das Trevas.
Talvez houvesse dedo do meu pai naquilo. Mas era assunto para me preocupar outra hora. Agora era Potter quem tinha minha total atenção.
Cheguei a biblioteca e muitos alunos do quinto ano estavam com os narizes grudados nos livros. Quase todas as mesas estavam ocupadas por quintanista febris que arranhavam seus pergaminhos com avidez e pressa. Todos preocupados com os N.O.M’s. Eu adoraria ter somente essa preocupação.
Olhei ao longe, Harry, Rony e Hermione sentados, conversando aos sussurros. Era muita sorte que houvesse uma mesa vazia próxima a eles. Larguei meus livros vagarosamente para não fazer barulho e chamar a atenção de Madame Pince. Segurei a cadeira com cuidado e arrastei-a para poder sentar. Apurei a audição para a conversa que se seguia ao meu lado.
- Então o que é que tem no Departamento de Mistérios? – perguntou Harry a Rony. – Seu pai alguma vez disse alguma coisa?
Eu sabia sobre a sala de mistérios. Os aurores que trabalhavam lá eram os inomináveis, ninguém realmente sabia o que eles faziam. O departamento era cobiçado pelo Lorde das Trevas, a profecia de que necessitava estava lá. Era onde eu pretendia levar Potter.
O resto da conversa era praticamente impossível de ser ouvida. Em dado momento eles se levantaram e eu imaginei que iam para a sala comunal. Eu não podia deixar de falar com eles naquele momento.
- Harry. – chamei baixinho.
Os três se viraram e me encararam. Hermione pareceu me reconhecer, pois torceu o nariz, mas Rony e Harry ficaram me olhando como se nunca tivessem me visto.
- Poderia me dizer onde encontro Fred e Jorge. Preciso dos serviços deles. – menti.
- Devem estar se exibindo na sala comunal. – comentou Rony contrariado.
- Posso ir com vocês até a entrada? Lá vocês poderiam chamá-los para mim. – forcei um sorriso.
Hermione mastigou a língua por instante e desviou sua atenção de mim. Rony estufou o peito, satisfeito por poder ajudar.
- Acho que não tem problema. – disse Harry, um pouco desconfiado.
Como eu previra. A alma dos Grifinórios em ajudar. Sempre dispostos a fazer o que for para satisfazer as necessidades do próximo. Apesar de me ser uma mão na roda, era extremamente patético.
- Harry, nós não podemos. Alunos de outras casas não têm permissão para entrar no Salão Comunal dos outros. – disse Hermione, tocando no ombro de Harry.
- Não pretendo entrar. Sinto muito se estou parecendo intrometida, mas é urgente.
- Que mal há, Mione? A garota só quer um Kit Mata Aula. – resmungou Rony.
Hermione voltou a me lançar um olhar cortante e por um momento eu imaginei se ela sabia que eu era da Sonserina.
Guardei meu material e segui os três. A garota ia a frente, irritada, enquanto Rony e Harry conversavam sobre quadribol. Eu andava mais atrás, nervosa. Quando nos aproximamos do retrato da mulher gorda, Hermione virou-se furiosa e me disse:
- Acho melhor você esperar aqui. – estávamos na escada.
- Nem pensar. Se a escada se mover eu vou parar no terceiro andar. Não mesmo! – bati o pé.
- Ah, qual é, Mione! – Rony se adiantou e disse a senha para a mulher gorda.
- RONALD! – guinchou Hermione.
- Eu vou chamá-los para você. Se importa de ficar aqui? – pediu Harry em um tom de desculpa.
- Não! Obrigada, Harry. – sussurrei com um sorriso.
Hermione e Rony entraram rapidamente e Harry seguiu mais atrás. Primeira parte do meu plano concluída. Comecei a ganhar a confiança de Harry.
A mulher gorda me analisava de cima a baixo e isso estava me incomodando. Dei as costas para ela, mas em menos um minuto senti uma mão pousar em meu ombro. Ao virar dei um grito!
- Por Merlin! – guinchei alarmada.
Na minha frente havia um homem parado, sem cabeça! Quase senti o coração parar e meus músculos enrijeceram, até eu perceber que era Fred em mais uma de suas brincadeiras.
- Para com isso. – sibilei zangada.
- Não gostou? “Chapéu sem Cabeça”, acabamos de inventar! – disse ele triunfante. – Mas, Harry avisou que queria falar conosco! Por acaso quer um Kit Mata Aula? – Fred riu.
- Na verdade... – comecei – Eu quero um! – menti.

Capítulo Dezenove
"O Sr. Almofadinhas gostaria de deixar registrado o seu espanto de que um idiota desse calibre tenha chegado a professor."
[HP e o Prisioneiro de Askaban]


Sentei-me em uma das cadeiras de chintz, super confortável da sala comunal da Sonserina. Abri meu livro de poções e comecei a ler sobre a Poção do Morto Vivo; algo que realmente me interessava era a matéria de Snape. Folheei algumas páginas até perceber que a sala estava silenciosa demais. Já devia ser madrugada. Eu ainda não estava com sono, por isso continuei minha leitura.
Quando a porta abriu, eu levei um grande susto, quase gritei. Era Malfoy. Ele ainda usava as vestes da escola e sorria debilmente.
- Ainda acordada? – perguntou ele ao me notar na sala, seu sorriso vacilou e ele se largou em outra poltrona.
- Sem sono. – respondi, soltando um suspiro longo e cansado.
- Está se preparando para os N.O.M’s? – questionou-me.
- É, estou tentando. – falei, sem entender o porquê da estranha cordialidade.
Remexi-me inquieta e pus as pernas para cima, olhando para Draco fixamente. Ele soltou a capa, descansou a cabeça no encosto da poltrona e soltou um longo suspiro, parecia feliz com alguma coisa.
- O que você tem? – perguntei curiosa.
- Nada demais.
Eu não consegui relaxar depois disso. Precisava saber sobre o que ele falava.
- Como assim, Draco, do que está falando?
- Esqueça. – foi sua resposta.
Ficamos alguns minutos calados, eu até pensei que ele tinha dormido, mas Draco se levantou e veio em minha direção, fazendo algo que eu nunca teria imaginado de alguém como ele.
- Pensou em minha proposta? Vai comigo a Hogsmead?
Confesso que nunca tinha pensado nisso. Eu estava realmente muito preocupada em salvar minha família e nossa vida, mas agora que ele falava, eu percebi que ainda tinha um problema sentimental para resolver.
De repente me veio uma luz. Se eu conseguisse marcar com Fred bem cedo, dava tempo de correr e me encontrar com Draco. Não sei bem o que eu pretendia com aquele triângulo, mas não desejava machucar ninguém e nem a mim mesma.
- Eu pensei e... Eu aceito ir com você. Desde que não seja nada constrangedor.
- Claro que não. Podemos ir até a casa dos gritos!
Ah, super romântico, pensei. Mas o bom é que ninguém nos veria e a última coisa que desejava era que Pansy ou Fred, ou quem quer que fosse, soubesse alguma sobre mim e Draco e descobrisse a estranha ideia dos nossos pais de nos unir por sermos sangues puros.

***


Era manhã de 14 de Fevereiro. Dia dos namorados, vesti minha camisa preta e abusei de uma saia para ir até Hogsmead. Não esqueci a meia-calça. Soltei meus cabelos e pus uma pequena fivela que havia ganhado da minha mãe.
- Acho que está bom. – sussurrei para meu reflexo e ele guinchou "Arrume a meia, ponha a blusa pra dentro", o ignorei.
Pansy entrou no quarto e me lançou um olhar de absoluto nojo. Soltou uma risada, pegou seu cachecol e saiu.
Depois disso procurei algum erro no meu visual, mas não encontrei. Eu não estava impecável, porém, não era a pior delas. Peguei minha bolsa e saí. Eu não tinha companhia até Hogsmead, mas quando cheguei ao hall de entrada, percebi que Harry e Cho iriam juntos. Isso me fez subir um fogo de raiva e fiquei realmente satisfeita quando Pansy passou acompanhada de algumas das minhas antigas amigas e zombou do casal.
Fiz o caminho sozinha, até a casa dos gritos. Ninguém parecia interessado em ir ali no dia dos namorados, talvez Draco também não aparecesse, mas percebi que ele estava lá. Sentado em uma pedra, olhando para a casa sem interesse nenhum.
- Oi. – cumprimentei, esperando não assustá-lo.
- Essa casa velha não assusta ninguém, não é mesmo? – comentou ele.
- Não mesmo! – sorri cordialmente.
- Quer sentar? – ele perguntou, as bochechas pálidas um pouco coradas. Perguntei-me se era de vergonha.
- Ah tá. Obrigada.
Nós conversamos um pouco sobre coisas banais. Em nenhum momento tocamos em nossos assuntos familiares problemáticos. Estava realmente agradável estar ali. Até começar a chover.
Abrigamo-nos em uma pequena caverna perto de uma árvore, onde eu comecei a tremer de frio. Como um cavalheiro faria, Draco me ofereceu seu casaco e eu aceitei. Antes que eu pudesse perceber minha cabeça descansava em seu ombro.
- Eu sinto muito se tenho sido idiota com você. – disse ele de repente – Eu não queria ser assim, mas se eu não me impuser, as pessoas deixarão de respeitar a família Malfoy.
- Nunca reparou que as pessoas podem ter medo e não respeito por vocês? – argumentei.
- Já. Mas quero que meu pai me respeite, não importa que para isso as pessoas tenham medo de mim.
- Ou raiva.
- Ou raiva. – ele concordou.
Como que sincronizados, ambos resolvemos virar a cabeça ao mesmo tempo. Eu queria dizer para ele que achava que a chuva já tinha passado, mas Draco fez nossos lábios se encontrarem. Meus olhos se recusaram a fechar diante do gesto, eu fiquei ali, confusa enquanto o beijo se tornava cada vez mais sério. Infelizmente a imagem de Fred, sorrindo, tomou minha cabeça. Ele estaria esperando por mim e eu pensei: quem eu estava traindo? Draco, Fred ou eu?
- Espera. – empurrei Draco.
- O quê? – ele disse.
- Se isso ficar sério, eles vão insistir nesse casamento sem sentido, Draco. – falei, passando a mão na nuca.
- Desculpa, eu não devia.
- Deixa pra lá, está tudo bem.
Os olhos cinza estavam apenas alguns centímetros dos meus. Senti necessidade de tê-los para mim e como que impulsivamente me aninhei em seus braços, sentindo o calor do qual eu precisava nesse momento.
Draco me abraçou e eu podia sentir sua respiração em meu cabelo. Ficamos assim algum tempo até decidirmos sair, Draco ia se encontrar com Crabbe e Goyle na Zonko’s e eu iria até o três vassouras, esperar para ir ao encontro de Fred no Madame Pudifoot.

Capítulo Vinte
Que lindo lugar para estar com os amigos. Dobby está feliz por está com o seu amigo... Harry Potter!
[HP e as Relíquias da Morte]


Eu bem sabia que àquela hora, Fred estaria na Zonko’s, muito provavelmente na companhia de seu irmão Jorge e melhor amigo Lino. Resolvi que seria melhor passar lá antes do que ir ao Três Vassouras, onde estaria apinhado de alunos da escola e professores.
A Dedos de Mel estava lotada de primeiranistas lambuzados e eu adorava doces, não podia negar que meu status na escola iria cair. Não podia deixar que pensassem em mim como uma garota boa que adorava se deliciar com doces. Se bem que Crabbe e Goyle adorariam morar dentro da Dedos de Mel.
Segui direto para a Zonko’s, onde eu encontrei Fred. Ele logo sorriu em minha direção e veio me cumprimentar. Não pude deixar de perceber que ele estava mais feliz que o normal.
- Olha só, pensei que a gente ia se encontrar no madame Pudifoot mais tarde. – disse ele.
- Eu também, decidi vir aqui para olhar as novidades. – menti.
- Então você assume que gosta de se divertir? – disse Jorge, que surgiu por trás do irmão.
- Um pouco. – respondi, disposta a ser alguém melhor ao menos no dia dos namorados.
- Então a gente pode adiantar nosso encontro. – comentou Fred, entregando as coisas que ia comprar para o irmão. – Você sabe o que fazer com isso!
- Não, Fred, termina o que está fazendo, ainda preciso ir ao correio. – menti mais uma vez, não desejava que ninguém nos visse seguindo para um lugar tão suspeito quanto um café romântico.
Segui rua acima até encontrar um lugar tranquilo para descansar um pouco, mas logo me vi ansiosa para virar à direita e entrar no beco apertado que levava até o café. Como eu previra, haviam muitos casais de estudantes sentados nas mesinhas e alguma espécie de criatura mágica jogava confete em cada novo cliente, deixando o clima romântico um pouco assustador. Fiquei ali com o nariz grudado no vidro até que senti a presença de alguém. Era Fred!
- Agora a gente já pode entrar. Acho bem mais seguro do que colar seu rosto aí. – ele apontou para o vidro, coçando a sobrancelha e fazendo cara de confuso.
- Ah, desculpe. Estou parecendo uma idiota. – mas que mania essa minha de me desculpar com tudo. Acho que o cabelo ruivo que me deixava boba.
- Não esquenta. – ele sorriu, me guiando porta adentro.
Sentamos em uma das mesinhas mais afastadas. Eu reconhecia alguns rostos dali, o capitão do time da Corvinal se agarrava com uma loira sem nenhum pudor. Outros eram insignificantes não mereciam ser guardados na memória o suficiente para serem lembrados. Um definitivamente parecia não estar agradando sua parceira, mas eu podia entender. Com aqueles olhos enormes por detrás dos óculos, acho que nem mesmo a idiota da Trelawaney o teria considerado.
- O que vão pedir, garotos? – falou uma senhora que se aproximara sorrateiramente, bom, acho que ela não caminhou sorrateiramente, mas eu não havia percebido sua chegada.
- Dois cafés? – Fred olhou para mim, questionando-me.
- Pode ser. – dei de ombros.
A mulher se afastou e então pudemos conversar.
- Eu estou com seu Kit Mata Aula, mas não achei seguro trazê-lo. Melhor lhe entregar em Hogwarts. Filch e seus sensores de segredo.
- Mas não há magia das trevas naquilo há? – perguntei curiosa.
- Não mesmo! Cem por cento a boa e velha magia branca. – ele deu uma piscadela e eu tive que sorrir.
A velha voltou trazendo nossos cafés e eu me perguntei por que ela simplesmente não os conjurou, mas logo veio a resposta.
- Feito na hora. – ela sorriu e eu presumi que estivesse satisfeita por ter seu café tão cheio, ou simplesmente por está cheio de jovens.
Tomei um gole do meu e me surpreendi, estava realmente bom. Acho que a cara que fiz me denunciou. Fred soltou uma sonora gargalhada que fez Davies olhar para nós, irritado. Ele estava armando outro bote para cima da sua acompanhante, mas foi interrompido pelo sorriso do meu.
- Do que está rindo?
- Você é realmente uma bruxinha rica. – disse ele – Está tão acostumada com as coisas preparadas por magia que se surpreende quando algo feito pelas próprias mãos se mostra muito melhor.
- Não gostei do “bruxinha rica”. – retruquei.
- Mas é verdade.
- Sim, é verdade, mas não quer dizer que sou fútil. Você iria se surpreender com os alunos da Sonserina, nem todos são ambiciosos e capazes de tudo para subir na vida. – resmunguei, tomando mais um gole do meu café.
- Devo concordar com você. Achei que todas as bruxas da Sonserina e principalmente as de 15 anos, fossem terrivelmente metidas e totalmente insuportáveis. Mas você mudou essa minha opinião! – de repente acrescentou. – Só devo dizer que não vou com a cara de todos os garotos de lá. Não me surpreende que as meninas gostem de garotos das outras casas. Eles são realmente feios ou é a careta de dor pelo peso dos galeões?
Eu sorri e me curvei sobre a mesa.
- Acho que é só feiura mesmo. – gargalhamos novamente e eu coloquei a mão na boca de Fred, tentando fazer o estrondo ser menor.
Os minutos passaram voando, já estava escurecendo quando demos conta de que tínhamos que ir embora. Fred pousou sua mão na minha delicadamente e eu pude prever o que estava por vir. O formigamento de nervoso em minha barriga era mais forte do que eu, não pude impedir a vontade crescente de trazê-lo para mais perto e beijá-lo. Era inevitável.
Fred tocou meu rosto devagar e ambos nos aproximamos, o beijo veio calmo e lento, se tornando mais intenso aos poucos. Movimentava meus lábios de encontro aos deles como se tivéssemos ensaiado muitas vezes antes. Eu tinha que admitir que era a melhor sensação que eu já tinha experimentado na vida. Soltei a mão dele e levei a minha de encontro à sua nuca, pressionando-a e fechando meus dedos em torno dos seus cabelos. Ele sorriu e colou nossas testas, mas ainda não estava satisfeito. Beijou-me outra vez, passando seus longos dedos pelo meu rosto, deixando uma sensação boa de cócegas onde tocava. Seus lábios pressionavam os meus com cuidado e eu percebia que ele não queria forçar uma resposta.
- Se demorar mais um pouco vamos ficar trancados aqui! – sussurrei, tocando seu rosto e sorrindo.
- Bem convincente. Esses cupidos estão me enlouquecendo. – disse ele, quando os cupidos nos lançaram mais uma baforada de confetes. Saímos sorrindo até o beco, ele segurava minha mão com força e eu não tinha a mínima vontade de soltá-la, mas seria necessário.
- Acho que me atrasei para encontrar meus amigos no Três Vassouras! – comunicou Fred, olhando para seu relógio de pulso.
- Acho que estou bem atrasada também, preciso encontrar com Pansy. – menti. Não queria ser vista com Fred.
- Se importa de voltar com ela para Hogwarts, preciso encontrar com o Jorge e o Lino.
- Não. Tudo bem. – falei, pegando minha bolsa e tomando o caminho da escola, mas antes que eu pudesse sair, Fred puxou-me braço e me beijou mais uma vez.
Pensando em tudo que tinha me acontecido eu percebi pela primeira vez que meus sentimentos já estavam mais do que decididos. Uma garota não se apaixona por mais de um cara, no mínimo ela ama um e sente atração por outro, ou algum afeto que a faz sentir confusa.
Draco despertava em mim a vontade de cuidar e proteger. De ler nas entrelinhas e aconselhar, enquanto Fred me fazia pisar em nuvens e deixava o sentimento amor chegar ao nível máximo dentro de mim. Já Potter, bom pode-se dizer que além de impossível, eu só desejava ser observada pelo Eleito, como muitas outras garotas. Afinal, era difícil entender como ele havia derrotado o bruxo mais poderoso de todo mundo com apenas um ano de idade.

Capítulo Vinte e Um
Cada qual acredita que o que tem a dizer é muito mais importante do que qualquer coisa que o outro tenha a contribuir.
[HP e o Enigma do Príncipe]


Os dias seguintes não foram pouco atribulados. Pode-se dizer exatamente o contrário, que foram bem movimentados. Harry Potter havia dado uma entrevista em Hogsmead no dia dos namorados que havia deixado a professora Umbridge fora de si. Ela proibiu a revistinha lixo do pai da Di Lua e agora todos os comentários eram sob o Torneio Tribuxo e a volta de Voldemort. A escola estava em polvorosa com a notícia. Eu fiquei calada e não comentei nada com ninguém.
Sentia-me sozinha. Fazia de tudo para evitar Draco e agora eu precisava assumir Fred, mesmo que isso causasse frisson nos meus companheiros de casa. “Sacrifícios seriam necessários”, me dissera meu pai uma vez quando eu ainda era pequena.
Fui até a porta da sala Comunal da Grifinória. O retrato da mulher gorda virou e uma garota ruiva saiu. Ela me olhou de cima a baixo e fez a mesma cara de nojo que Hermione Granger havia me feito semanas atrás.
- O que quer aqui? – sibilou ela, notoriamente irritada com a minha presença.
- Estou procurando pelo Fred. – retruquei.
- Fred? – ela franziu a testa.
- É, você poderia chamá-lo para mim?
- O que alguém como você, iria querer com meu irmão? – ela cruzou os braços no peito e me encarou, entortando o pescoço para enfatizar.
Nesse momento Fred saiu da Sala Comunal, um sorriso perfeito estampando seu rosto e então ele piscou e pôs as mãos na cintura da garota.
- Irmãzinha, não trate mal nossas clientes. O que deseja, senhorita? – ele falou e eu entendi seu jogo.
- Vim buscar meu Kit Mata Aula. – resmunguei, fingindo mau humor.
- Não sabia que sua clientela era tão baixa. – disse a garota e se retirou a passos firmes.
Olhei para Fred e suspirei.
- Nossa, muito geniosa essa sua irmã! – comentei.
- É, ela sempre teve a personalidade forte, a Gina. – ele passou a mão em meus ombros e eu estremeci.
- Queria ver você. – disse – Fred, precisamos conversar sobre o que está acontecendo entre nós.
- O que está acontecendo... – ele repetiu.
Saímos do castelo e fomos para a beira do Lago Negro, era uma ensolarada tarde. Algo meio estranho para o mês. Cruzei as pernas para ficar mais confortável, porém sentir algo se chocar contra elas. Fred deitara em meu colo.
Senti uma enorme vontade de afastar uma mecha daquele cabelo avermelhado do seu rosto e acariciá-lo, mas precisava continuar com o que tinha vindo fazer.
- Fred, eu acho que não poderemos esconder isso por muito tempo. – disse finalmente.
- Eu nunca quis esconder. Faço isso em nome da sua reputação. – ele murmurou sério.
- Então, eu estive pensando que é melhor assumirmos.
Fred ergue-se rapidamente. Acho que se assustou com minhas palavras. Ele sorriu como nunca tinha sorrido antes e me beijou ali mesmo. Eu não lutei contra e retribuí o carinho com mais entusiasmo.
- Sabe, eu gosto de você. – ele falou.
- Puxa vida, pensei que nunca ouviria isso.
Quando ele me abraçou, eu vi alguém ao longe que nos observava fixamente. Os cabelos loiros ao vento, a capa negra a expressão de ódio. Draco havia nos visto.

***


- Não acho uma boa ideia me levar na sua Sala Comunal. – resmunguei, enquanto Fred me arrastava pelas escadas. Era noite.
- Contando que nunca vai me levar na sua sala, só temos a minha para ficarmos juntos. – ele disse, me beijando rapidamente.
- É, eu sei. – sussurrei vencida.
A sala estava vazia, a maioria dos alunos já havia ido dormir. Senti um estranho arrepio ao passar pelo buraco do retrato e olhar para toda aquela decoração vermelha e cor de ouro. Era nauseante estar no covil do inimigo.
- Relaxa. Estamos aqui como nós mesmos, e não como rivais. – Fred me ofereceu uma cadeira puída para sentar.
Acomodei-me da melhor forma possível, próximo à lareira que queimava os últimos resquícios da madeira que ali havia. Fred sentou-se ao meu lado e começou a contar-me o quanto ele e Jorge estavam evoluindo com suas criações. Eu estava levemente interessada, mas fingi envolvimento com o assunto, resmungando umas perguntas de vez em quando.
Então a voz de Potter cortou nossa conversa com um sonoro NÃO.
Virei-me aturdida e Fred me tranquilizou.
- Fica tranquila, Harry tem tido pesadelos. Rony disse que ele sonha com uma porta trancada no Ministério da Magia. Deve ser uma espécie de trauma, você sabe, da audiência que ele teve que enfrentar no começo do ano. – despejou ele.
- Soube sim. Os dementadores que o atacaram. – concordei.
- É, e ao primo trouxa dele também.

Capítulo Vinte e Dois
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
[HP e a Relíquias da Morte]


Fred me esperou ao pé da escada principal. Assim que me viu, ele abriu um grande sorriso e fez uma cômica reverência, arrancando de mim um sorriso que eu não desejava dar. Ainda era muito estranho estar próximo a ele, sendo criticada pelos colegas da sua própria casa que desconheciam os motivos que me levaram a amar Fred incondicionalmente.
- Bom dia, princesa da Sonserina. – disse Fred.
- Sem piadinhas, já tomou café? – perguntei, estendo a mão para ele.
- Estava esperando você, Jorge já está na mesa. Temos que te mostrar uma coisa! – eu percebi a animação na voz dele.
Caminhamos juntos pelos corredores. Eu esperava sinceramente que nenhuma das minhas “colegas” fizesse gracinhas, pois Fred andava propenso a algumas divertidas confusões.
À noite estávamos sentados na escada próximos ao Salão Comunal da Grifinória, quando algumas quartanistas passaram e começaram a cochichar umas com as outras, uma delas até parou para me encarar em reprovação. Eu sustentei o olhar até Fred se irritar e puxar do casaco um dos seus chapéus.
- Meu Deus, o que está acontecendo? – guinchou ele se retorcendo no chão – Essa garota da Sonserina me enfeitiçou, ela é realmente muito má. – ele estava escondido atrás de mim.
Quando Fred reapareceu, ele estava sem cabeça. Eu, para entrar na brincadeira, puxei minha varinha e apontei para ele, mas antes que eu pudesse testar meus dotes de atriz, as garotas olharam Fred sem cabeça e começaram a gritar. Entre risadas, eu me perguntei se elas nunca tinham visto os produtos da Gemialidades Weasley.
- Você é maluco. – comentei, me recuperando das gargalhadas.
- Posso dizer que você é mais, por concordar com minhas maluquices. – falou Fred, guardando o chapéu e se levantando.
Fred puxou-me pela cintura e me abraçou, separando nossos corpos apenas para me beijar.
A sensação era cada vez melhor, eu continuava a me imaginar pisando em nuvens. Era incrível como eu sentia fisgadas na barriga e falta de equilíbrio quando estava nos braços de Fred. Eu sabia que não aguentaria perdê-lo, eu não aguentaria não ter mais Fred ao meu lado.
Estávamos tão envolvidos no nosso mundinho particular que nem percebemos a chegada da Granger, do irmão do Fred e de Harry.
Ao deparar-me com os olhos verdes de Potter, meu mundo pareceu desmoronar. Não fazia sentido aquilo que eu estava sentindo, como eu podia estar apaixonada por três garotos ao mesmo tempo? Eu sabia que não era nenhuma vagabunda, mas eu me sentia suja sempre que dava de cara com Harry.
- Oi. – cumprimentou ele, acho que estava receoso de dizer a senha na minha frente.
- Oi, Harry. – respondi, empurrando Fred.
- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou Hermione de forma cética.
- É que meus “colegas” de casa são meio hostis. – retruquei, sorrindo amarelo na direção de Rony.
Percebi que ao fazer isso Hermione ficou bem mais brava que antes, separando seus lábios e apertando os olhos na minha direção.
- E o que vocês estão fazendo aqui? – perguntou Fred, me beijando no rosto e segurando minha mão.
- Não é da sua... – começou Rony, mas Harry o interrompeu.
- Estávamos na biblioteca. – ele levantou um pergaminho para provar.
- Ah, Fred, acho que está na hora de eu ir. Daqui a pouco o lesado do Filch aparece por aqui e enche o saco de todo mundo. – resmunguei no ouvido dele.
- Vou te deixar próximo à sua Sala Comunal. – retrucou Fred em resposta.
Hermione cruzara os braços tão fortemente que tive a impressão de demorariam anos até que alguém os conseguisse separar. Rony ainda estava parado com as mãos nos bolsos e uma cara de inveja, enquanto Harry me lançava um sorriso sereno. Meu coração palpitou tão forte ao notar a atitude dele que apertei a mão de Fred involuntariamente, até nossos dedos ficarem brancos.
Acho que Fred entendeu meu gesto como um pedido para ir embora.
- Então vamos? – disse ele para mim.
- Sim! Noite. – respondi, lançando um rápido olhar na direção do trio que nos observava.
Fred me deixou no começo do corredor que levava para a sala Comunal da Sonserina.
Com um último beijo de despedida ele voltou e eu segui em frente. Assim que murmurei a senha para a gárgula, ela saltou para o lado, liberando a sala esverdeada pelas águas do Lago Negro. Um grupo de sextanistas ainda conversava à luz da lareira, mas passei por eles sem mostrar interesse, mas antes que conseguisse subir as escadas para os dormitórios, alguém me segurou pelo pulso. Eu virei de imediato e me deparei com um par de olhos acinzentados a centímetros dos meus. Estávamos tão próximos um do outro que podia sentir sua respiração em meu rosto.
O susto foi tão grande que foi quase impossível reencontrar minha fala. De repente percebi que os sextanistas não estavam mais na sala, notei que Draco devia estar com eles e que os dispensara assim que me viu voltar.
- Eu não acredito que você está fazendo isso! – sussurrou ele, letalmente.
- Fazendo o que? – murmurei, procurando minha voz no fundo da garganta.
- Usando esse traidor de sangue para atingir seus pais. Eu sei que está tentando chocar, mas seria mais fácil assumir o que sente por mim. – disse ele, soltando meu braço e me dando as costas.
- É isso que acha que estou fazendo? Usando Fred para atingir minha família? Já passou pela sua cabeça que eu posso realmente gostar dele? – questionei.
- Gostar? Uma Selwyn e um Weasley? Impossível! Somos noivos, vamos nos casar. – guinchou ele, voltando a segurar meu braço. Mas dessa vez eu subi um degrau e fiz um movimento brusco para me soltar.
- Nada é confirmado, Draco. E o que quer dizer com “assumir o que sinto por você”? Eu não sinto nada por você, Malfoy, melhor, nesse momento estou sentindo raiva. – retruquei. – Como pode pensar que eu sou tão baixa a ponto de usar um sentimento nobre como o amor? Eu não suporto os traidores de sangue, Draco, mas isso não quer dizer que não sou capaz de passar por cima dessa cisma para viver uma grande paixão! – o que eu estava dizendo? Eu realmente não sabia de onde vinham essas palavras. As letras simplesmente rolavam pela minha boca, formando frases na minha língua. Naquele momento, eu estava me desprezando por estar mentindo tanto. Para mim, para Draco e para Fred.
- Grande paixão? – bufou Draco em meu rosto e antes que eu pudesse reagir ele me beijou.
A sensação foi a mesma que vivi meses atrás quando o beijo após o jogo de quadribol. Eu lutei no início, mas eu sempre soube que era uma batalha já perdida. Draco era mais forte que eu e a sensação inebriante de estar em seus braços me dopou imediatamente. Aos poucos eu cedi e minhas mãos viajaram dos dedos finos e pálidos, até os cabelos loiro platinado.
- Não. – sibilei, usando de toda minha força de vontade para separar-me daquele beijo. – Me deixa em paz! – ordenei.
Com passos firmes subi normalmente as escadas, fazendo de conta que o beijo não me afetou. Quanta mentira em um dia só! Eu já estava desesperada para me deitar.
Assim que entrei no quarto, percebi que Pansy e Emília liam o Semanário dos Bruxos sob a luz da varinha. Suzan estava sentada à janela admirando os terrenos vazios de Hogwarts. Ela parecia muito com a Di Lua quando fazia isso.
- Ora, ora. – falou Pansy, se erguendo graciosamente. – Se não é a traidora. Nunca pensei que pudesse existir uma entre os Sonserinos.
Assim que Pansy se levantou, percebi que Emília e Suzan nos lançavam olhares curiosos. Suzan se prostrou ao meu lado.
- Deixa disso, Pansy, você não sabe os motivos da .
- Cala a boca, Suzan. A conversa aqui é entre a Selwyn e eu!
- Pansy, Suzan tem razão. Não acho que esteja fazendo isso sem algum bom motivo. – replicou Emília, visivelmente amedrontada.
- Deixem-na falar. Há dias que sinto que você está tentando comprar uma briga comigo, Pansy, e se você realmente quer isso, essa é uma boa hora. – falei, já totalmente tomada de ódio.
- Não quero comprar briga. – resmungou Pansy, recuando de suas palavras. – Só quero saber por que está fazendo isso!
- Não é da sua conta os meus assuntos pessoais e se caso não quer brigar, me deixa em paz. – peguei meu pijama no malão e os vesti sob os um trio de olhares.
- Droga. – resmunguei e me enfiei debaixo das cobertas, fechando as cortinas do dossel.
A noite foi longa, sonhei com Freds que viravam Dracos e que viravam Pansys que viravam Selwyns e Voldemorts. Continuamente eu acordava assustada, mas minha vida estava muito atribulada e o pesadelo só continuava sempre que eu voltava a dormir.



Capítulo Vinte e Três
“Dá pra acreditar na nossa sorte? Com todas as árvores em que poderíamos bater, tínhamos que bater na que revida.”
[HP e a Câmara Secreta]


Alguns dias se passaram e só então os alunos começavam a se acostumar com minha relação com Fred. Draco passava por mim nos corredores e fazia de tudo para não me encarar, mas eu continuava encontrando seus discretos olhares em minha direção.
Gina Weasley e Hermione Granger ainda me recriminavam às vezes, mas estavam menos ariscas com minha presença permanente próximo a eles. Jorge e Lino também estavam tentando se adaptar à nova rotina de vida de Fred, na qual eu era parte importante e constante, e o melhor de tudo era que Harry não parecia desconfiar um instante de mim.
Mesmo fazendo parte do grupo que Fred frequentava, eu ainda era posta semanalmente de lado, todos os alunos da Grifinória pareciam sumir à noite. Eu saía à procura de Fred e Harry em todos os cantos, mas não os encontrava e então voltava frustrada para minha torre.
Certa noite, encontrei Draco rondando no corredor do sétimo andar e me perguntei o que ele fazia ali, ladeado por Crabbe e Goyle. Senti através de suas palavras que ele sabia de alguma coisa que eu desconhecia.
- Seus amigos sujos estão para cair, e se você continuar com essa bobagem de ser uma traidora, cairá junto. – seus lábios curvaram-se em um sorriso torto.
- Draco, precisamos ir, está quase na hora. – crocitou Crabbe, balançando-se como um sapo gordo e desengonçado.
- Aonde vão? – questionei, fechando a cara para eles.
- Vamos cuidar de dar cabo dos seus amigos.
Talvez fosse uma falsa ameaça, mas o aperto que senti no coração não era nada falso. Obriguei-me a sentar em um degrau próximo e respirar profundamente antes de ir dormir. Eu não precisava de mais confusão na minha vida.
A manhã estava cálida. Talvez eu não precisasse fazer nada ruim naquele dia, mas quando o correio coruja apareceu trazendo o Profeta Diário, eu soube que estava completamente enganada em minha constatação.
Só agora as coisas começavam a fazer sentido, todos aqueles comensais com os quais eu nunca tinha tido contato antes e que agora voltavam a fazer parte do círculo íntimo de Voldemort haviam fugido de Askaban no início do ano.
- Essa não. – murmurei ao notar a foto da mulher morena, a Bella. – Ela estivera em Askaban.
A mulher era tia de Draco Malfoy. Havia uma legenda sobre ela e uma foto sua muito mal tratada. Sua aparência assustadora só piorava, ainda mais, com seus atos presos na imagem. Ela era a imagem do mal e isso me deixava preocupada.
Ao olhar para meus colegas, notei que todos pareciam comentar aos cochichos a notícia sobre a fuga na prisão do mar do norte.
- Então só agora saiu essa notícia. – disse Draco, sentando-se ao meu lado pra o café da manhã.
- Com licença. – pedi, mas ele segurou meu braço. Na verdade ele apenas tocou com seus dedos compridos e finos.
- Desculpa. – disse ele o mais baixo que pôde, para que os outros não ouvissem – Agora entendo o que está fazendo, a sua mãe contou para a minha.
Estremeci e soltei-o como tivesse levado um choque. Então mamãe desconfiava do que eu estava fazendo, mas até onde ela poderia saber? Será que ela tinha conhecimento sobre meu amor platônico por Harry, pelo carinho que eu mantinha vivo por Fred e Draco?
Meu Deus! Quanta confusão pessoal.
- Me deixa. – respondi.
- Não estou segurando você, mas se eu estivesse em seu lugar, jamais iria querer me misturar com a ralé. Faça seu trabalho e somente seu trabalho.
Nunca imaginei que palavras tão sensatas pudessem ser pronunciadas pela boca de Draco. Ele não me parecia inteligente o suficiente para pensar dessa forma e me assustava saber que ele estava tentando abrir meus olhos para uma coisa que eu já sabia. Eram avisos por cima de avisos, então estava na hora de começar a agir. O mais rápido possível.

Encontrei Fred na hora do almoço. Andamos juntos pelos terrenos de Hogwarts, era sexta feira e nós não tínhamos aulas à tarde. Deparei-me com uma sensação totalmente nova em mim, algo que eu estava tentando esconder, mas que estava vindo à tona de forma insana.
- Fred, acha que se acontecer alguma coisa, nós podemos nos separar? – eu perguntei, mesmo sabendo que aquelas palavras seriam confusas para ele, que não se encaixariam em nada que ele sabia.
Eu estava enlouquecida com a ideia. Nunca tinha imaginado como tudo terminaria. A pressão me era exercida todos os dias com as mensagens noturnas devidamente assinadas pelo meu pai e outros comensais da morte. Estava ficando frequente eu acordar com barulho de asas ou bicadas inocentes. Estava frequente eu não mais dormir.
- Do que está falando? Está querendo dizer, se acontecer alguma coisa no mundo bruxo? – retrucou Fred, tentando entender a minha frase.
- É. – menti. - Se a diretriz ministerial mudar, você acha que seremos capazes de passar por cima de tudo?
- Acho que não. – disse ele com sinceridade. – Lutamos de lados opostos, , e você sabe disso. Um de nós teria que abdicar de sua natureza, e eu jamais iria lutar do lado das Trevas.
Eu me afastei dele delicadamente. Ao perguntar, eu não esperava tanta sinceridade. Mas um pensamento me atordoou. Eu não mudaria de lado, precisava da minha família, mas eu poderia tentar convencer minha mãe de que estávamos do lado errado. Papai não seria nada fácil, já que ele amava o que fazia e venerava as atitudes de Lorde Voldemort.
- Mas o porquê disso agora? – perguntou Fred.
- É que todos nós sabemos que o Lorde das Trevas está de volta e essa fuga em massa de Askaban me fez imaginar que talvez eles estejam tramando alguma coisa. – respondi com meia verdade, omiti que eu estava inclusa nessa trama.
- Não se preocupe com isso. – Fred voltou a deitar sua cabeleira ruiva em meu colo e agitar sua varinha de mentira, criando diversos animais de plástico que sumiam em questão de minutos.
Era de se esperar que eu começasse a ficar nervosa com a aproximação dos N.O.M’s, mas a última coisa para a qual eu tinha cabeça naquele momento era estudar. Eu via meus colegas estudando pelos cantos do salão comunal e isso me gelava os ossos. Como eles podiam ser normais e eu não. Era tão injusto.
Draco era o único ali que não parecia se preocupar com nada, mas sinceramente estávamos do mesmo lado. Eu sabia que em seu íntimo Draco só pensava em como livrar seu pai e sua mãe daquilo. Eu sentia que a presença de Lorde Voldemort na casa dos Malfoy estava se tornando incômoda para a família.

Capítulo Vinte e Quatro
“Cicatrizes podem vir a ser úteis. Eu mesmo tenho uma acima do joelho esquerdo que é um mapa perfeito do metrô de Londres.”
[HP e a Pedra Filosofal]


A sala comunal da Grifinória estava cheia demais. Fred e eu não aguentávamos mais ficarmos ali enquanto todos pareciam eufóricos com a semana de N.O.M’s e por conta do time de quadribol da casa ter vencido a Corvinal com a ajuda do Ronald.
O castelo parecia refulgir a atmosfera feliz das pessoas que caminhavam ao seu redor. Vários casais estavam sentados longe um do outro por causa do decreto da Tia Umbridge, mas estavam realmente satisfeitos que as coisas estivessem começando a ficar no lugar em relação ao ano anterior.
A morte do Diggory tinha sido um choque para todos nós. Sabíamos que pessoas haviam morrido durante Torneios Tribuxo, mas com Dumbledore como diretor, nunca esperávamos que acontecesse ali e em tempos modernos.
Vacilei diante da visão brilhante do Lago Negro.
Fred e eu atravessamos até o campo de Quadribol, que se estendia majestosamente verde e bem cuidado. Fred me puxou até a arquibancada mais alta e me sentou ao seu lado, jogando seus braços ao meu redor e apertando-me contra seu peito, beijando meu pescoço diversas vezes.
- Para. – gemi sorrindo.
- Jura que quer que eu pare? – ele perguntou divertido, levantando as mãos em forma de rendição. – Eu já parei e não encosto mais.
Fiquei alguns instantes encarando aqueles belos olhos castanhos e olhando ele erguer e abaixar as sobrancelhas como quem aprecia algo cinicamente.
- Ah, deixa pra lá! – eu disse, puxando ele pelas vestes de encontro a mim e beijando-o fortemente.
Fred correspondeu animadamente, deixando suas mãos passearem pelas minhas costas com carinho, brincando com meus cabelos e fazendo meu corpo inteiro espinhar de nervoso.
Afastei-me dele, me forçando a afastar os pensamentos ruins que começavam a se apoderar de mim.
- Como eu vou fazer isso. – sussurrei para Fred, passando meus dedos pela face sardenta e tão atrativa.
- Fazer o que? – não respondi. - , eu tenho percebido a frequência com que você e aquele Draco têm se falado. Ele anda incomodando você com alguma coisa?
- Não! – guinchei – Fred, por favor, não me pergunte nada. Vamos apenas curtir esse momento raro.
Fred e eu ficamos ali, conversamos sobre tudo e ele ainda me contou sobre alguma coisa que pretendia fazer para irritar Umbridge.
- Estivemos pensamos em Pelúcios... – afirmou ele pensativo.
- Ela ficaria irritadíssima. Odeia animais. – comentei displicente.
- E eu não sei! – triunfou Fred.
Ele me abraçou de novo, mas dessa vez foi diferente. As coisas pareciam seguir em câmera lenta e as mãos dele tocavam minha nuca causando arrepios em todo o meu corpo. Seus olhos perfuraram os meus e seus lábios roçaram delicadamente a pele do meu rosto. Cada beijo era depositado de forma premeditada, chegando cada vez mais perto da minha boca, mas quando ia finalmente me beijar, ele parou me causando um desejo anormal de tê-lo imediatamente.
- , me conta o que está acontecendo com você. Eu sinto que não é totalmente sincera comigo, mas sei que não posso exigir mais. Já foi o suficiente fazer você pagar essa vergonha pessoal de ter que se unir a mim, mas quero que possa confiar... – ele me beijou delicadamente. – em mim. – finalizou.
Foi impossível. Era frustrante olhar para aquele brilho infantil e sério nos olhos de Fred e conter as lágrimas. Cada palavra de repulsa por eu ser quem era estava sendo pontuada por uma lágrima sofrida que queimava em meu rosto, deixando uma marca de solidão. Mesmo ali, em frente ao rapaz que me ensinara sobre o amor, eu me sentia sozinha, os momentos felizes daquela tarde estavam se dissipando em nuvens negras.
Afastei as mãos de Fred de meu corpo, mesmo que relutante, e naquele momento eu só pensava em uma solução. O fim do ano estava chegando e com ele a guerra premeditada.
- Eu não posso, Fred, sinto muito. – e o impulso foi mais forte que a força de vontade, eu corri. Desci as arquibancadas como um furacão e voei para o castelo, deixando Fred para trás.

Desde a tarde, eu não parava de pensar naquilo que eu tinha feito. Eu sabia que Fred não poderia me procurar porque eu estava na minha torre e nem saíra para o jantar.
Eu estava debaixo de todas aquelas cobertas, sentindo o cheiro inebriante que ele deixara em minhas roupas. Meu corpo inteiro recendia a Fred e aquela sensação não ajudava em nada a esquecer.
- ! ! – a voz de Suzan ecoava distante, mas eu não tinha ânimo para levantar a cabeça. - ! – ela tocou meu ombro.
- O que foi? – resmunguei em resposta.
- Tem duas corujas na sua janela. E elas estão olhando para você...
- O que? – guinchei.
As cartas estavam amarradas às patas dos animais, eu puxei a primeira para perto e peguei a primeira. Mas logo vi a escrita grossa e firme do meu pai. A segunda era uma coruja alva e familiar, seus olhos cor âmbar pareciam me recriminar e, ao contrário da outra coruja, assim que retirei meu bilhete, ela levantou vôo e sumiu em direção ao corujal.
Decidi que nada poderia ser pior do que a carta do meu pai. Alguma coisa ruim estava acontecendo e, por isso, ela seria a última a ser aberta. Suzan percebeu minha falta de jeito e deu de ombros, me deixando sozinha no dormitório.
Abri o recado da coruja branca.

Não entendi seu ato, mas isso só fez perceber que existe algo muito errado
entre nós. Não se ainda podemos confiar um no outro, afinal acho que nunca houve
cumplicidade em nosso namoro. Mas vou continuar aqui, esperando por você.
Resolva sua vida e me procure, mesmo que isso dure toda a nossa vida.
Fred

Amassei o papel nas mãos e deixei vazarem as lágrimas que eu tinha escondido sob o travesseiro. Sem dar tempo para eu pensar se tinha ou não perdido Fred para sempre, eu abri a carta de papai.

Chegou a hora de provar seu valor. Espero que se saia muito bem em sua
missão, que será esta semana. , todos nós contamos com você e caso algo dê
errado, saiba que isso implicará toda nossa família. Essa semana, , essa semana.
Lembre-se bem!
Seu Pai

Meu Deus! Meu corpo tremeu inteiro enrijeceu. Então meu pai estava me avisando do início da guerra. Eu devia me preparar para perder tudo que eu conquistara. E o que mais me doía era saber que Fred me odiaria para sempre.

Capítulo Vinte e Cinco
“Vou ficar bem, Harry. Você é um grande bruxo. Realmente é.”
[HP e a Câmara Secreta]

A manhã agourenta anunciou o que estava por vir. Entrei na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas com a feição preocupada. De vez em quando eu me lembrava de desenrugar a testa, mas meu coração ainda estava apertadinho como fosse sumir.
Draco me olhava de esguelha, tentando atrair minha atenção, mas minha cabeça não conseguia se concentrar em mais nada, até meu Teoria de Defesa em Magia não parecia me atrair tanto quando antigamente. Eu brincava com a borda das páginas sem pensar no que estava fazendo.
Eu precisava saber como atrair Potter para o Ministério, mas infelizmente não me ocorria nada com o qual pudesse iniciar um assunto.
Arrisquei um olhar na direção de Potter - que era fulminado de tempos em tempos pela Tia Umbridge - e pude notar que Hermione cochichava freneticamente em seu ouvido, enquanto Rony parecia querer vomitar de tão verde e insatisfeito. Algo estava muito errado ali.
A aula finalmente terminou e eu ergui o rosto para a mesa da professora, onde minha tia guardava suas coisas dentro de uma bolsa rosada e felpuda. Suspirando nervosamente, peguei minhas coisas, jogando minha capa de qualquer jeito sobre os ombros e caminhando pesadamente para fora da sala.
Os corredores estavam cheios e as conversas resvalavam em meus ouvidos, rolando pelo corpo sem realmente me atingir, baixei os olhos para o chão e virei para um corredor vazio, continuando meu caminho para fora do castelo, mas antes que eu conseguisse alcançar meu destino, um braço me puxou para trás da tapeçaria.
- O que...
- Calma. Sou eu! – sussurrou Fred em meu ouvido.
Tudo aconteceu rápido demais. Ele estava ali na minha frente, o rosto vincado de curiosidade. Por um instante Fred apertou os olhos e balançou a cabeça, fazendo os longos cabelos ruivos emanarem um cheiro adocicado de frutas.
- Fred! – guinchei, soltando meus livros no chão e abraçando-o.
- Não dá para entender você. – suspirou ele.
- Eu amo você. Eu te amo, Fred Weasley. – era tudo que eu conseguia pensar. Não tinha mais nada que eu quisesse dizer a ele.
- , eu te amo muito. Só vim aqui pra dizer que eu e Jorge vamos finalmente dar o passo que faltava para o Gemilialidades Weasley.
- Como assim? – perguntei, me afastando alguns centímetros para encarar seus olhos escandalosamente achocolatados.
- Nada do que eu fizer vai ser por sua culpa. Você foi a melhor coisa que me aconteceu aqui em Hogwarts. – e sem dar tempo para eu pensar em alguma coisa, Fred me beijou.
O beijo foi rápido, porém profundo e carregado de sentimentos. Era uma despedida e eu sabia disso pela forma como seu corpo se movimentava ao encontro do meu. Seus braços não se fechavam totalmente em torno de mim, apenas tocavam parcialmente minha pele. Sua mão brincava com uma mecha do meu cabelo, bem próxima a orelha. Seus lábios tinham dificuldade de encontrar o ritmo perfeito que sempre estivera cadenciando nossos encontros, Fred estava partindo.
- Weasley, me conta o que está acontecendo? – exigi, mas Fred apenas sorriu e pegou sua varinha, saindo e me deixando ali sozinha.
Assim que me recuperei, usei um feitiço para pegar meus livros e saí correndo na direção do corredor principal bem a tempo de ver Fred e Jorge combinando algo com Lino Jordan. Então ,de repente, meu olhar encontrou o de Fred e foi como se estivéssemos interligados mentalmente e eu pude perceber pela forma sapeca como seu cabelo caía sobre a testa sardenta e o sorriso simpático com o qual ele puxou um rojão de dentro da capa e acendeu.
- Fred! – sussurrei.
Então começou. Um escarcéu! Enquanto Lino seguia para o lado oposto segurando uma caixa da Gemialidades Weasley, em questão de segundos estava armada a confusão.
Um dos fogos que Jorge trazia na mão, ganhou vida e se transformou em uma lebre que passou voando e silvando bem ao lado do meu ouvido. Agachei na tentativa de proteger meus cabelos. As pessoas que estavam próximas fizeram o mesmo.
Vários animais de faíscas coloridas começaram então a vagar pela grande salão, fazendo barulhos engraçados e amedrontando os alunos. Soltei meus livros em um vão perto de um archote e segurei minha bolsa com firmeza, seguindo Fred, que corria em meio a gargalhadas e gritos, soltando mais e mais fogos.
- Fred Weasley. – gritei, mas ele apenas limitou-se a virar para trás e colocou o dedo indicador sobre os lábios, num gesto internacional de silêncio. Enrijeci os braços, irritada, e continuei em sua direção, mas a esta altura os professores já haviam sido avisados e meu cérebro não parava de me alertar que aquela atitude traria sérias consequências para os gêmeos.
Ao chegar ao corredor, estava quase impossível passar, pois tudo estava tomado por um pântano que parecia ter sido trazido de algum lugar bastante lamacento e fedido. Além de que alguns alunos escorregavam no lodo e sujavam todas as suas vestes. Pensando rápido eu joguei minha capa em cima da água e atravessei o corredor aos pulos.
No Saguão de entrada os alunos se aglomeravam grudados nas paredes e em meio a gritos e eu percebi que professores e fantasmas faziam parte do cortejo que procurava o estopim da balburdia e parecia que haviam conseguido, pois Fred e Jorge estavam juntos parados no meio o Saguão, totalmente encurralados.
Abri caminho entre os estudantes que se aventuravam a andar e entre os fantasmas, cheguei até a atravessar o Barão Sangrento, que me jogou um olhar de gelar os ossos, mas eu tinha uma preocupação maior: que diabos Fred Weasley estava tentando fazer? No mínimo ele seria expulso dessa vez, afinal, tínhamos uma superiora nada relevadora.
- Então! – eu olhei na direção da voz que falava, calando todos os murmúrios – Então... Vocês acham divertido transformar o corredor da escola em um pântano. – meu coração quase parou. Umbridge olhava para os gêmeos como um predador olha para sua caça.
- Achei bastante divertido – respondeu Fred. Agora sim eu ia morrer, estava quase tento um ataque, mas ele parecia bastante seguro do que fazia.
Então o idiota do Filch se fez aparecer. Ele trazia um papel amassado nas mãos e abriu caminho a força entre os alunos para conseguir alcançar a diretora, que olhava para Fred como se não houvesse ser humano mais digno de pena no mundo.
- Apanhei o documento diretora – disse ele – Tenho o documento e tenho as chibatas prontas... ah... me deixe fazer isso agora...
- Muito bem, Argo. Vocês dois. – agora a escola toda estava parada e calada observando a cena entre os gêmeos e a diretora - Vocês vão aprender o que acontece com malfeitores na minha escola.
Eu sabia que o fim não seria agradável como os contos da minha infância. Os gêmeos tinham abusado da sorte e agora eles não tinham mais o velho do Dumbledore para relevar suas peraltices e achá-las engraçadas. Afinal, o diretor tinha sumido e eu não havia entendido direito o que tinha acontecido.
- Você viu o que aconteceu com todos. – resmungou uma voz ao meu lado. – É assim que quer terminar? A união de nossas famílias é a coisa mais sensata a se fazer.
- Draco...
- Aquele grupinho de Potter já desapareceu e é uma sorte esse idiota não ter sido expulso, mas felizmente esses traidores de sangue não terão a mesma sorte de Potter.
- Do que está falando?
- Da Armada de Dumbledore ou coisa parecida! Eles se juntaram para ir contra a diretriz ministerial e agora... vejam só! Todos que estão contra nós começaram a cair, começando por aquele velho caduco que se dizia diretor dessa escola.
Eu não pude continuar a minha indagação, pois alguma coisa muito estranha começou a acontecer. As vassouras de Fred e Jorge surgiram voando e ainda com as correntes que Umbridge havia usado para prendê-las quando os proibiu de jogar quadribol.
Sorrindo, os dois montaram cada qual sua vassoura e deram impulso, voando de imediato.
- IMPEÇA-OS! – gritou Umbridge, mas o único disposto a ajudar era o abortado do Filch.
Corri para mais perto da cena e só pude ouvir Fred pedir a Pirraça que infernizasse alguém, provavelmente minha tia e então ele me viu. Um meio sorriso distorceu seus lábios e ele partiu. Fred estava indo embora, me deixando.
- Eu acho que ele não te... como é que vocês falam? Ah sim, amava. – sussurrou Pansy, passando por mim com um enorme sorriso nos lábios rosados.

Capítulo Vinte e Seis
“O cargo é azarado. Ninguém aguentou mais que um ano... Quirrel até morreu.
Pessoalmente, vou torcer para que haja outra morte...”
[HP e a Enigma do Príncipe]


Quando os exames começaram, eu me sentia oca e vazia. Soltei um gemido quando entrei no Salão Principal para o teste escrito. Meu coração dançava uma salsa triste no peito e eu não estava com cabeça para me lembrar de movimentos de varinhas e que feitiços me faziam mudar as cores dos pelos.
Confesso que suspirei por diversas vezes tentando me concentrar na prova, mas tudo que vinha à minha cabeça era a última imagem de Fred, que estava gravada na minha mente. Seu sorriso triste e sua partida, enfim, posso afirmar que foi o momento mais desesperador da minha vida.
Em algumas perguntas eu conseguia distinguir imediatamente as respostas, mas aquelas que exigiam demais da minha cabeça e dos meus conhecimentos profundos nas matérias, simplesmente borbulhavam em minha mente e evaporavam, escapando através dos meus orifícios.
Durante a tarde, no exame prático, eu senti que me superei, mas ao tentar criar uma linha de água cristalina pela ponta da minha varinha, eu acabei de descontrolando e água cristalina tornou-se vermelho sangue e sujou todo o chão, molhando meus sapatos e meias.
- Pelos calções de Merlin. – sussurrou a mulher gorducha que me examinava. Ao agachar e tocar o líquido com o dedo ela constatou. – Minha menina, isso é sangue!
Eu tentei fazer a minha melhor cara de inocência e desculpa, mas a mulher continuava a me olhar alarmada. Para tentar arrumar a bagunça que eu tinha feito me ofereci para limpar com um feitiço e creio que isso me ajudou a ganhar alguns pontos extras com ela.
E assim a semana foi passando, me dei muito bem no exame de Transfiguração, transformando com louvor minha caixinha de alfinetes em um besouro e fazendo uma formiga voltar a ser um alfinete, mas decididamente não fui nada bem em História da Magia.
Herbologia, decididamente, foi meu melhor. Consegui espremer todas as minhas vagens dentro da vasilha sem fazer nenhuma bagunça, sem contar que as minhas mandrágoras pareciam muito boazinhas e não soltaram nenhum grito fatal.
Então veio o exame de Defesa Contra as Artes das Trevas, eu sabia que naquele me daria muito bem, mas mesmo assim me sentia nervosa. Descontei toda a minha raiva nas criaturas que tive que enfrentar. O bicho papão explodiu em milhões de pedacinhos quando executei meu feitiço repelente e o kappa deve ter ficado com trauma eterno de mim, porém tudo correu sem nenhuma surpresa.
Adivinhação foi minha pior matéria, eu via Fred em cada fumacinha que surgia naquela sala. Vi ele nos óculos da professora e nas sombras dos abajures, até Draco se fez presente naquele momento, me deixando totalmente perdida e confusa.
As outras matérias foram satisfatórias, mas foi no exame prático de Astronomia que a coisa aconteceu. Todos os alunos afastaram seus olhos dos telescópios para repararem nos cinco vultos escuros que seguiam pelos terrenos de Hogwarts até a cabana do guarda caças.
Ninguém em sã consciência procuraria aquele ser para uma noite de conversas e diversão, então só pude imaginar que aquilo era o sinal de que algo envolvendo meus “colegas” Comensais aconteceria.
Então alguma coisa rugiu e foi impossível me conter, cheguei ao lado de Potter e lancei um olhar desesperado na direção do grito.
- O que está acontecendo? – questionei baixinho.
- Eu não sei, mas preciso descobrir. – murmurou Harry em resposta.
O examinador então pigarreou.
- Tentem se concentrar, vamos, garotos. – mas eu não tinha mais cabeça para o exame.
Eu já desenhava várias coisas que nem existiam no meu mapa, quando fomos alertados que estava quase acabando o nosso tempo. Graças a Merlin! Eu precisava sair dali e ir imediatamente mandar uma coruja para meus pais.
Dei uma última olhada em meu mapa e reparei que eu tinha marcado duas luas e que não havia nenhuma terra. Substituí umas das luas por terra, diminuindo um dos desenhos e entreguei o teste, mas nesse momento ouvimos um estampido e Hermione Granger guinchou um ‘não’.
Corri até o grande vão que nos servia de observatório e olhei para baixo.
- Minha nossa. – disse o examinador. – Estamos em um exame. – comentou ele, tomando meu mapa e me puxando para longe dos outros alunos.
Saí da sala correndo, tomei fôlego e cortei todos os caminhos procurando sair da visão de qualquer adulto pelo caminho, chegando ofegante ao corredor da Sonserina. Olhei com cuidado para ver se alguém não tinha me seguido e sussurrei com cuidado a senha para a porta ladeada por uma gárgula, a porta secreta moveu-se, liberando minha entrada.
Escrevi um bilhete para meu pai, pedindo explicações sobre o que estava acontecendo na escola, questionando se a hora tinha chegado e se eu tinha que agir imediatamente.



Capítulo Vinte e Sete
“Dobby ruim... Dobby muito ruim”
[HP e a Câmara Secreta]


No dia seguinte, o ataque à professora McGonagall tomou conta da escola. Era visível a apreensão dos alunos com relação ao que aconteceria. Os dois protetores de Hogwarts haviam sido ameaçados e Dumbledore já tinha partido.
Cheguei um pouco atrasada para o exame de História da Magia, mas consegui entrar antes que a examinadora anunciasse o inicio. Harry, Rony e Hermione sentaram na fileira reservada para a Grifinória e eu segui adiante, sentando na segunda fileira, reservada para Sonserina, na primeira cadeira, bem ao lado de Pansy. Ela me observou com raiva e permaneceu alguns segundos assim, até ouvirmos a ampulheta começar a derramar sua areia.
As questões eram relativamente fáceis. Mas algumas palavras me faziam reviver o drama vivido dias antes, quando Fred partiu.
Agucei minha atenção na direção do pergaminho, mas o barulho das penas riscando o papel me incomodava. O silêncio era tão absurdo que quase machucava meus tímpanos e mesmo assim eu ainda tentava a todo custo me concentrar, meu futuro dependia daqueles testes. Relanceei um olhar na direção da Granger, ela escrevia freneticamente, os olhos desfocados. Ronald Weasley mordia a ponta do lápis num gesto costumeiro de nervosismo, seus dedos tamborilavam sob a mesa de madeira como alguém que deseja a todo custo que aquilo termine, mas ao olhar para Harry meu coração se apertou. Ele tinha o olhar perdido, não como o de Hermione, perdido como se ele não estivesse presente. Suas mãos jaziam rígidas sob o colo e de repente seu corpo ficou ereto e com um tranco, Harry caiu no chão, gritando e se contorcendo, como se tivesse sido atingido por um excruciante feitiço de dor.
Ergui-me de um salto e corri em sua direção. Senti os olhares queimarem em minha nuca e até mesmo a examinadora parecia nervosa com minha atitude. Um aluno desmaiar durante o exame parecia deixar a examinadora nervosa. Segurei Harry em meus braços com Rony e Hermione me ladeando, eu tinha certeza que Harry estava tendo um acesso às memórias de Voldemort, eu sabia que estava acontecendo aquilo pelo qual eu trabalhara o ano inteiro. Seria justo deixar meu exame, comprometer meu futuro para seguir os preceitos da minha família? Não, não seria! Mas eu tinha que fazer.
O examinador Tofty se aproximou receoso, tocou o rosto pálido e quente de Harry e resolveu que seria melhor levá-lo à ala hospitalar. Harry resmungava e despertava aos poucos, eu podia sentir que era a hora certa para terminar com tudo.
- Temos que tirá-lo daqui. – sussurrou o professor Tofty para mim, olhando o brasão em minha capa com certa desconfiança. – Voltem aos seus testes, voltem aos seus testes. – gritava o professor Tofty nervoso, murmurando no ouvido da examinadora.
- Vai ficar tudo bem. – disse para Harry que resmungava algo como “pegaram Snuflles, eles pegaram Snuffles”.
- Vem, vamos levá-lo à ala hospitalar. – o professor Tofty passou o ombro pelos braços de Harry e eu fiz o mesmo.
- Deveria voltar e fazer o seu teste, mocinha.
- Eu já terminei. – corri e peguei meu rolo de pergaminho, entregando-o à professora Marchbanks.

- Não vou... Não preciso da ala hospitalar... Não quero... – balbuciava Harry se debatendo em nossos braços.
Forcei ainda mais minha mão na cintura de Harry e agarrei-o de modo que ele não pudesse fugir de jeito nenhum. Os olhares curiosos continuavam e eu me sentia cada vez mais invadida, e mal saberiam todos aqueles alunos o que eu estava prestes a fazer.
- Precisa melhorar, Harry. – resmunguei.
- Estou... Estou ótimo. – gaguejou Harry e acrescentou diante do meu olhar inquisitivo. – Verdade... Eu só adormeci... Tive um pesadelo.
- A pressão dos exames! – suspirou o professor Tofty com um sorriso para Harry e tentando acalmá-lo com palmadinhas simpáticas. – Acontece, meu rapaz, acontece! Agora, uma bebida refrescante, e talvez você possa voltar ao Salão Principal? O exame está quase terminando, mas você talvez consiga concluir satisfatoriamente a última pergunta?
- Sim. – respondeu Harry – Quero dizer... Não... Já fiz... Fiz tudo que pude, acho...
Harry me soltou e eu me remexi inquieta e nervosa de estar participando daquela discussão. Eu iria a extremos agora, tinha feito minha escolha e eu não sou boa. Eu trabalho para o lado mal e é como tal que devo me comportar.
- Muito bem, muito bem. – disse o bruxo gentilmente. – Então vou recolher o seu exame e sugiro que vá se deitar um pouco.
- Vou fazer isso. – respondeu Harry agitado, obviamente mentindo. – Muitíssimo obrigado.
- Harry... – arrisquei quando o homem girou nos calcanhares e sumiu através da enorme porta do Salão Principal.
Harry virou-se e só então pareceu perceber minha presença. Como se não acreditasse, ele se empertigou e me olhou confuso, esperando que eu continuasse minha manifestação.
- Harry, você está bem? – perguntei a primeira coisa que me veio à cabeça.
- Sim, estou... Digo... Eu tô bem. – retrucou Harry, ainda confuso.
- Harry, você falou de um Snuffles. O que é um Snuffles? – questionei, saindo das sombras e seguindo na direção de Harry.
Passaram-se alguns segundos, nos quais eu me perguntei se ele analisava meu porte de confiança, mas eu sabia que se não fizesse algo, meu plano estava ameaçado bem ali e seria impossível convencer Harry a ir até o Ministério da Magia, onde o Lorde das Trevas tinha grandes planos para àquela noite.
Harry olhou para as escadas, esperançoso, e eu pude notar em seu olhar longínquo e desesperado que algo muito sério tinha acontecido enquanto ele estava desmaiado. Talvez a estranha ligação entre as mentes de Voldemort e Harry fosse a culpa do desmaio. Eu precisava estar pronta.
Com um tranco, dei as costas para Harry e corri na direção do Salão Comunal da Sonserina. A mão direita viajou até a varinha que estava escondida em minhas vestes, pronta para uma batalha, mas os únicos empecilhos que encontrei pelo caminho eram hordas e grupos de alunos que cochichavam sobre os testes, e alguns outros que cabulavam aulas, aproveitando-se do caos que se tornavam os corredores.
- Permita que tudo dê certo. – sussurrei, sem saber se falava certo para mim ou para meus “inimigos”.
A voz de Fred se sobrepunha em minha mente, lembrando me do momento triste em que o questionei sobre nosso amor poder quebrar as barreiras do bem e do mal e da resposta que obtive. Talvez ele estivesse certo, eu não seria capaz de abdicar de tudo naquele momento. Eu estava entalada naquela lama até o pescoço e agora iria até o fim.
Cheguei ao Salão Comunal no mesmo momento em que Pansy gorgolejava um carinho para Draco, que virou o rosto na minha direção, sua face contraindo-se em um sorriso macabro, algo que beirava a maldade extrema. Sem dar atenção para o silêncio mórbido que se abateu com minha chegada, subi para o quarto e afobada troquei de roupa.
- O que pensa que está fazendo? – a voz de Pansy ecoou pelo quarto, batendo das paredes e tornando-se ecos sinistros.
Virei assustada para olhar para ela.
- Na verdade, não estou pensando. – respondi bruscamente, voltando a remexer nas cobertas das camas em busca de algo que eu havia ganhado durante as férias.
- Não tem nada na minha cama que sirva para você! – guinchou Pansy, vindo em minha direção e segurando meus braços, impedindo-me de mexer em suas cobertas.
- Alguém pegou. – gritei descontrolada.

Flashback,
- Se você diz, Severo. Confio em seu julgamento. – Snape não esboçou sinal de sentir-se elogiado, apenas continuou ereto firmando os olhos negros nos extremamente vermelhos e ofídicos do Lorde das Trevas.
- Sim, milorde, essa garota não saberá o momento certo de agir. – replicou Snape.
Por um instante percebi que seu olhar pousou em mim e Draco e em nossas mãos unidas, ele ergueu os olhos vagarosamente e nos encaramos, eu esperava silenciosamente que ele estivesse tentando me ajudar.
- E o que nos sugere, Severo, que a mantenhamos informada com cartas claras e objetivas? – perguntou Lúcio, sendo acompanhado por gargalhadas que provinham de todos os lados.
Arrisquei olhar para meu pai, mas ele mantinha-se curvado e não ousava encarar nenhum dos comensais, muito menos seu chefe.
- Eu sugiro que entreguemos a ela um amuleto que a permita saber a hora exata de lutar. – o professor respondeu, seu rosto agora adquirira rugas de raiva.
- Interessante. – sibilou o Lorde das Trevas. – E o que seria isso?
- Um objeto simples, cotidiano. – falou o professor que ergueu a varinha e conjurou uma bela pulseira adejada com diversas pedras e apenas um cristal. Eu não pude deixar de sentir-me emocionada ao ver a beleza do objeto.
Era algo incomum. O professor Snape não seria capaz de um ato tão nobre por qualquer um, talvez eu tivesse subestimado sua personalidade. Snape talvez fosse um homem bom, mas não podia negar que ele me fazia sentir peculiar. Como se eu fosse especial para ele. Fim do Flashback.

- Devolve logo! – falei com os dentes cerrados, segurando-me para não açoitar Pansy.
- Não sei do que você está falando. – seu sorriso dissimulado a denunciava, ela sabia sim.
Puxei a varinha de dentro das vestes e Pansy crispou um sorriso, pela primeira vez eu percebi que realmente nunca tinha significado nada a nossa amizade, de repente eu notei que o que houve naquele quarto durante todos esses anos não passou de uma simulação muito bem bolada. Pansy era igual a qualquer aluno da Sonserina: ambiciosa e maldita.
- Eu já disse, Selwyn, eu não tenho... AI! – Pansy gritou e deu um pulinho no lugar, puxando do bolso da calça que usava a minha pulseira, onde o cristal outrora límpido agora estava preto e similar a um ônix.
- Minha pulseira. – sibilei. – Expelliarmus!
O objeto voou da mão de Pansy e aterrissou desajeitadamente sob a cama de Emília. O choque por conta do feitiço fez Pansy voar alguns centímetros do chão e se desequilibrar.
Irritada ela empunhou sua varinha e apontou-a para mim, sem dar tempo para pensar a vadia me lançou um jorro de faíscas amarelas, mas graças a Merlin consegui me desviar a tempo.
Pulei em cima da cama e rolei para baixo dela com a pulseira nas mãos. O cristal negro vibrava como se houvesse vida na pequena pedra. Fechei as mãos em volta da corrente de ouro bem a tempo de ver Pansy tentar me atingir novamente, mas dessa vez eu estava pronta para revidar.
- Petrificus Totalus. - gritei e Pansy arregalou os olhos caindo dura no chão.
- Você realmente achou que eu não era capaz de atingir você não é? – falei agachando-me próximo ao seu corpo. – Surpresa! Sinto muito, amiga, eu não sou boazinha e muito menos com garotas estúpidas. – Obliviate.
Sem esperar para que alguém chegasse e visse a cena, eu arrastei Pansy para baixo da cama de Suzan, escondi a varinha na bota e pus minha pulseira no pulso. Pondo no rosto minha expressão mais módica, desci as escadas, encontrando uma multidão que discutia euforicamente o resultado dos N.O.M’s. Draco estava sentado em um canto e me notou, seus olhos encontraram os meus e desceram até meu braço, vendo a pulseira e subitamente as íris acinzentadas compreenderam a situação. Sorri amarelo para as pessoas que me cumprimentaram e saí do Salão Comunal, sendo observada de longe por Malfoy.



Capítulo Vinte e Oito
“... ainda restava um último e dourado dia de paz para aproveitar com Rony e Hermione”
[HP e o Enigma do Príncipe]


- Sirius está sendo torturado AGORA! – ouvi a voz de Harry quando corria pelo corredor vazio do primeiro andar. Junto com ela percebi aflição e desespero.
- Mas se isso for um truque de Voldemort, Harry, precisamos verificar, simplesmente precisamos. – como a sangue ruim ousava pronunciar o nome do Lorde das Trevas? Ela não tinha amor à vida?
Sem pensar direito, eu abri a porta, vindo a encontrar Ronald, Hermione e Harry próximos à lousa. Hermione e Harry se encaravam vermelhos, ela parecia aflita e ele muito irritado. No outro lado da sala a irmã mais nova de Fred e Di Lua observavam a cena.
- O que você quer aqui? Vai contar para seus amiguinhos comensais o que está acontecendo? – atacou-me Gina de repente, seus olhos castanhos parecendo vermelhos à meia luz.
- Não! Me desculpem se não pude deixar de ouvir... – repliquei, mas Hermione me interrompeu.
- Ah, você podia sim. – afirmou ela.
- O que quer? – perguntou-me Harry, um brilho feroz nos olhos verdes.
- Essa pessoa, Sirius, é muito importante para você? – continuei quando não obtive resposta. – Eu posso ajudar você a conversar com ele.
Todos os olhares recaíram sob mim. Todos desconfiados de que estivesse mentindo ou armando alguma coisa.
- Como você faria isso? – questionou-me Ronald que até então estivera calado e envolto nas sombras.
- A lareira da minha tia, Umbridge. Você deve saber que ela não é vigiada, e por ela talvez você pudesse usar pó de Flu e ir até esse Sirius. – expliquei.
- Sei não, Harry, ela não me inspira confiança. – sussurrou Hermione, próximo a Harry.
- Talvez ela possa nos ajudar. – cantarolou Di Lua, dando um passo à frente e se sobrepondo à Gina.
- Não acho que podemos confiar em alguém da Sonserina, desde quando eles são legais? – perguntou Gina retoricamente, fuzilando-me.
- Ela namorava seu irmão, não? – perguntou a garota loira com os olhos vidrados na amiga, que ficou um pouco envergonhada. – Acho que ela é bastante corajosa, já que foi capaz de assumir o namoro com alguém rival.
- Fred não era meu rival! – guinchei. – Eu realmente o amo.
- Se vai realmente nos ajudar o que devo fazer? – perguntou Harry, passando a mão direita sob a cicatriz.
- Você tem uma capa da invisibilidade não? – perguntei, novamente não obtive respostas. – Tem ou não, Potter?
- Sim, ele tem. – retrucou Ronald irritado com as orelhas vermelhas.
- Use-a. Vou tentar afastar minha tia para o mais longe de sua sala, os outros poderiam afastar os alunos.
- Poderíamos dizer que Pirraça está destruindo o departamento de Transfiguração ou coisa do tipo. – disse Rony. – Posso até tentar convencer Pirraça a fazer isso, se encontrá-lo no caminho.
- Certo. – disse Hermione decidida. – E quem vai afastar os estudantes da sala da mbridge enquanto forçamos a entrada? Ou algum aluno da Sonserina pode avisá-la.

Eu revirei os olhos, irritada. Aquela desconfiança toda tinha fundamento, mas eu não podia deixar transparecer meu nervosismo. De repente a pulseira vibrou em meu braço e tudo que Harry via eu fui capaz de ver e com imagens disformes, entendi o que tinha que perpetrar. Eu estava no caminho certo, Harry precisava ter certeza de que o padrinho não estava na sede da Ordem e sim no Departamento de Mistérios. Era exatamente esse o plano que eu tinha que apoiar.
Quando voltei a mim, Harry já tinha saído da sala em busca de sua capa, era minha deixa. Segui Di Lua e Gina, que iam para o corredor, e ultrapassei-as quando elas se posicionaram para evitar a passagem de alunos. Virei-me para Hermione e sorri confiante fazendo sinal de positivo, seguindo em busca da minha tia.
Continuei meu caminho até encontrar-me com ela. Umbridge gritava com alguns alunos que formavam grupinhos e cochichavam, assim que a vi, meu coração disparou e eu lembrei que não sabia o que fazer, mas a mulher parecia saber como agir quando me visse.
- Ahá! – Umbridge abriu um largo sorriso. – Eu sabia que ainda viria me procurar, Srta. Selwyn, afinal nossa ligação é ínfima, não?
- Sim, professora. – respondi hesitante. – Gostaria de vir a fazer parte da sua Brigada. – eu sabia que combater os alunos da Grifinória era o maior dos prazeres de Umbridge naquela escola.
- Ah sim, imaginei que depois que aquele pirralho malcriado partisse, você conseguisse perceber a razão. – Umbridge pôs as mãos em frente ao corpo e cruzou os dedos. – Tenho quase certeza que ele a enfeitiçou. – seus dedos recobertos de enormes anéis com imagens de gatos viajaram para me tocar, mas antes que o fizesse um miado insistente cortou o silêncio.
- Peguei você. – sibilou ela olhando para o anel e sorrindo para mim. - Venha, seu primeiro trabalho a aguarda. – sem entender o motivo, mas agradecida eu a segui.
Atravessamos os corredores, cada passo me deixando mais desesperada. A pedra de ônix em minha pulseira vibrava cada vez mais forte e oscilava entre o gélido e quente, o intensificava o sentimento de derrota em mim. Era como se ela estivesse avisando todo o tempo que eu estava perdendo tempo em atitudes inúteis. Envolta em todas essas preocupações, não notei o caminho que seguíamos, mas notei que tínhamos voltado para a Sala de Umbridge e o plano de Harry iria se revelar. Eu desejava alertá-lo, mas seria óbvio demais naquele momento, eu não podia me arriscar a nada, a guerra estava começando.
- Professora, acho que tem um grupo de alunos suspeitos no corredor principal. – falei, tentando chamar sua atenção e desviar seu caminho.
- Nada é mais suspeito que isso. – Umbridge continuava andando e esfregou seu anel em meu rosto.
Assim que entramos na sala, Hermione soltou um guincho assustado, obviamente ela não esperava ser pega, mas quando seus olhos encontraram os meus, eu soube ela me culpava. Emília apareceu logo depois, me lançando um sorriso enviesado e agarrando Hermione violentamente, ela não dirigiu a palavra a mim.
- Você! Eu sabia que não devíamos confiar em você. – Hermione falou, fazendo Umbridge me olhar desconfiada.
Assim que a diretora notou que sua lareira estava sendo ocupada por alguém ela soltou uma grande gargalhada maluca, notei que ela reconhecera Harry e neste momento a pedra de ônix tornou-se quente, mais quente do que jamais estivera, não me queimando, mas deixando uma marca alaranjada em minha pele.
- Você acha, – Umbridge agarrou Harry pelos cabelos. – que depois de dois pelúcios, eu ia deixar mais algum bichinho imundo, comedor de carniça, entrar em minha sala sem o meu conhecimento? Mandei instalar Feitiços Sensores de Atividades Furtivas ao redor da minha porta depois do último, seu tolo. Tire a varinha dele. – vociferou a diretora, eu me encolhi no canto quando Emília se adiantou para obedecer à ordem. - A dela também.
Naquele instante eu percebi que estava diante de uma inquisição onde os bruxos seriam duramente punidos, eu tinha que fazer alguma coisa, mas ainda estava muito confusa sem saber em qual lado eu iria lutar. Meus olhos procuraram algo que pudesse me ajudar, mas eu não conseguia bolar nada. Minha mente tinha travado.
Arrastei meus pés para longe do tumulto, mas o olhar acusador de Hermione me desconcertou e se naquele momento eu desse as costas e fugisse, nunca iria me perdoar e tinha certeza que daria todos os motivos para que eles acreditassem na minha traição, que não deixaria de acontecer, mas não podia ser naquela hora, não naquele momento.
- Quero saber por que você esta na minha sala. – disse minha tia, sacudindo Harry. As mãos gorduchas e cheias de anéis seguravam os cabelos negros dele com tanta força que eu podia sentir sua dor.
- Diretora, está havendo alguma balbúrdia no corredor, Pirraça deve ter... – comecei, realmente algo acontecia.
- CALE-SE! – berrou Umbridge descontrolada, forçando ainda mais o pescoço de Harry.
- Por favor, diretora, não é a primeira vez que Harry Potter quebra as regras. – forcei uma voz desdenhosa.
- Mas dessa vez ele estava tentando contatar alguém. Com quem você estava se comunicando?
- Eu só estava tentando recuperar minha Firebolt. – mentiu Harry.
O zumbido no corredor aumentara, mas eu estava bastante nervosa com o que ocorria dentro da sala para me preocupar com alguns malfeitores que resolviam brigar no corredor. Afinal era comum algum tumulto perto da sala da Tia Umbridge.
- Mentiroso! – gritou Umbridge e atirou Harry para longe com uma violência absurda, fazendo-o bater na escrivaninha.
A desordem no corredor cessara e tudo que se podia ouvir agora eram gemidos de protesto e de repente Malfoy, Crabbe, Warrington, Suzan e Flint entraram na sala cada um arrastando um aluno da Grifinória. Os olhares assustados apertaram meu coração e pela primeira vez na vida eu senti piedade. Queria saber o que estava acontecendo comigo, porque todos aqueles sentimentos controversos em mim, eu não conseguia manter minha atenção em mais nada agora.
Dei um passo para o lado e antes que algum dos alunos ali presente pudesse protestar saí correndo. Algo devia ser feito, eu não sabia o que, mas precisava pensar rápido. Antes, porém que eu conseguisse alcançar o salão principal, o professor Snape me encontrou, seus olhos negros encararam os meus e eu senti como se eles pudessem filtrar não só os pensamentos, mas toda luz ao redor. Estagnei, arfando cansada, esperei que ele se manifestasse e alguns segundos de silêncio foram o suficiente para ele perceber que deveria falar.
- Está pronta? – perguntou, sua voz grave invadindo meus ouvidos e se tornando um zumbido incomodo.
Apenas acenei afirmativamente, com mais força do que seria necessário e muito mais determinação do que eu sentia.
- Preciso continuar aqui, mas você terá que ir para o Ministério da Magia. Um grupo de Comensais a espera.
- Ir para o Ministério? – perguntei.
- Achava que estaria protegida por essas paredes para sempre? – zombou Snape, erguendo sua cabeça alguns milímetros.
- Não, digo... Eu...
- Pare de gaguejar. Venha até minha sala. – a capa negra esvoaçou em suas costas e eu, mesmo amedrontada, o segui, suspirando profundamente, tentando acalmar a tremedeira que meu corpo insistia em demonstrar.
Caminhamos lentamente até as masmorras, isso só aumentava minha ânsia de terminar logo com aquilo. Todas as vezes que me imaginava lutando contra Harry no Ministério, eu me lembrava de varias coisas que havia ouvido durante todo o ano. A vez que Fred disse que nunca estaríamos do mesmo lado em uma batalha; a vez que Malfoy me dissera que eu iria perder tudo se insistisse em me misturar com os traidores de sangue.
- Entre. – sibilou Snape para mim, os braços envoltos em tecido negro. Não era possível ver uma parte sequer de sua pele pálida.
- Professor...
- Entre logo!
A sala era tomada por objetos estranhos, algumas pinturas assustadoras enfeitavam as paredes escuras. Não havia janelas, alguma coisa com certeza estava morta dentro de um dos vidros de líquido esverdeado. Segui mais adentro e parei, esperando a próxima ordem. A pulseira voltou a vibrar.
- Pegue isso. – ele me estendeu um pequeno pote prateado. – É pó de Flu, todas as lareiras estão sendo vigiadas, mas consegui reverter o feitiço em uma delas, a da sala de Poções, saía por essa porta e vá imediatamente para o Ministério, interliguei-as e você não precisará se certificar de sair na grade certa.
- Professor, por que está me ajudando? – perguntei hesitando.
- Não estou lhe ajudando, estou cumprindo ordens.
- Tenho certeza que o Lorde das Trevas não pediu para que facilitasse minha vida, professor, tem alguma coisa que está escondendo. Confie em mim! – eu realmente não imaginava que havia um segredo, as palavras apenas vieram na minha cabeça.
- Saia agora.
Ergui meus olhos para encontrar os do professor, mas ele me deu as costas bem a tempo de ouvir alguém bater na aldabra da porta, fazendo ecoar um barulho metálico que cortou a tensão do momento.
- Entre. – ordenou Snape.
- A professora Umbridge quer vê-lo na sala dela. – resmungou Malfoy irritado ao notar minha presença. Encarei-o, mas desviei os olhos quando percebi que estava corando de vergonha.
Snape nos expulsou da sala e disse-me para que eu esperasse o momento certo de deixar a escola. Baixei a cabeça para o pote prateado e passei o dedo delicadamente por sua tampa, Malfoy não me deixara, apenas me encarava como se não tivesse visto em sua vida nada mais digno de piedade.
- O que está acontecendo? – sussurrei ainda de cabeça baixa.
- Por que está perguntando isso? – questionou Malfoy, se encostando à parede e cruzando os braços, uma mecha do cabelo loiro platinado caiu em sua testa.
- Eu sei exatamente o que aconteceu, o que está acontecendo e o que irá acontecer, mas então por que essa pergunta insiste em pairar na minha mente?
- Talvez porque você perdeu sua capacidade quando se apaixonou. – respondeu-me.
Malfoy, nunca entenderia como ele era capaz de vir com frases tão significativas sendo quem era.
- O que quer me dizer com isso? – aproximei-me dele em busca da resposta para as minhas perguntas.
- Ora, , por que acha que foi escolhida? Porque é fraca. Todos sabiam disso, todos duvidam de sua capacidade.
- Se eu posso falhar, por que não escolheram você, ou Crabbe e Goyle? Por que eu?
- Crabbe e Goyle são dois idiotas! – Malfoy virou as pupilas para dar ênfase à sua afirmação.
- São seus amigos. – falei.
- São interesseiros, só andam comigo por causa do meu sobrenome. Eu não sou nada mais que um Malfoy.
- Não diga isso. – toquei seu ombro. – Você é muito mais que apenas um sobrenome, Draco, você apesar de não demonstrar, tem coragem e determinação, só não sabe como usá-las e se fica contra a parede, prefere cavar um buraco nela e fugir. Eu sei que é capaz de feitos incríveis e de grandes coisas, por que não se esforça?
- Pelo mesmo motivo que você. Não sou capaz.
- Mentira. Você é sentimental, essa é sua fraqueza!
Não podia mais segurar. A dor em meu peito se intensificava ao notar o rosto pálido vincado de uma amarga tristeza. Meus braços o envolveram involuntariamente e meu corpo reagiu ao instinto de protegê-lo, de tocá-lo e fazer toda aquela agonia que o sufocava sumir. Eu queria poder ser o suficiente para ele naquele momento e para isso o abracei.
Draco enrijeceu o corpo ao meu toque, mas eu não podia deixá-lo ali sozinho. Ambos estávamos em situações difíceis. Eu sabia como era estar naquela posição de Draco. Não ter amigos, ser alvo de interesseiros e bajuladores, ser usado sempre que algo dava errado para motivo de chacotas. Ser temido quando tudo que você mais queria era poder viver sua vida normalmente.
- Eu sei como se sente. – sussurrei em seu ouvido. – Sei como é sentir-se sozinho, não ser confiante em si mesmo.
As mãos dele viajaram vagarosamente até minhas costas e segundos depois elas me apertavam contra seu corpo e pela primeira vez na vida eu pude perceber o adolescente Draco, um jovem, e não um Malfoy. E notei que era assim que ele desejava ser visto.
Draco não tinha inveja de Harry Potter por ele ter derrotado Voldemort ainda criança e ser O-menino-que-sobreviveu, ele tinha inveja do que Harry tinha, uma família que o adotara e o amava, amigos e atenção. Era isso que ele desejava: ser amado também, e era isso que eu também queria.
- Compartilharemos essa dor juntos.
Ele nos afastou e encarou meus olhos e de repente vi a determinação tomar conta do cinza em seus olhos, seus lábios se entreabriram vagarosamente soltando um vago ressonar, algo tão puro e inocente que parecia contrastar violentamente com Draco. Seu rosto curvou-se próximo ao meu e suas bochechas pálidas foram ficando vermelhas conforme ficávamos mais perto. Percebi que meu coração disparava tão forte em meu peito que meu corpo tremia a cada batida e quando o beijo finalmente se concretizou, eu senti como se chão sumisse sob meus pés e de repente eu estivesse flutuando; como se nada mais importasse a não ser os braços de Draco me impedindo de perder o equilíbrio e despencar. O corredor vazio e silencioso estimulava o aprofundamento da situação e inconscientemente nossas línguas se envolveram em um ritmo desconhecido, como uma balada antiga. As mãos se entrelaçando em fios de cabelo e a respiração ofegante a cada vez que tentávamos respirar e de repente percebi que aquela tinha sido a melhor sensação da minha vida. Beijar Draco era a melhor coisa que eu já sentira.



Capítulo Vinte e Nove
“Não faça perguntas e não te direi mentiras.”
(Fred Weasley)


- Ora, ora. – Lúcio Malfoy se adiantou em minha direção. – Hoje você mostrará se é realmente digna de ser incluída em nosso círculo pessoal ou se tem talento para ser uma traidora de sangue e se juntar à ralé.
Outras pessoas pairavam ao redor de Malfoy, elas usavam máscaras e capuzes, mas era claro que eu podia identificar algumas e entre elas estava meu pai, seu corpo ainda curvado como se esperasse que o Lorde das Trevas aparecesse a qualquer instante.
- Serei digna. – confirmei com uma convicção que não era minha.
- Empunhe sua varinha, precisará dela. – os cabelos compridos eram da mesma cor que os de Draco e isso não me ajudava a me concentrar.
- O que devo fazer? – perguntei, forçando meus dedos trêmulos a segurarem minha varinha com força.
Uma risada aguda e enlouquecida ecoou e do lado de Malfoy surgiu uma mulher. Os cabelos compridos e mal cuidados, o rosto seco e os olhos emoldurados por negras olheiras que lhe davam a aparência assustadora de Bellatrix Lestrange. Agora eu já a conhecia.
- Quer saber o que fazer, a garotinha... – murmurou ela, inclinando a cabeça para o lado e segurando a varinha torta na altura do rosto. – Que tal voltar pra sua casa e chorar nos braços da sua mamãezinha?
Bellatrix pareceu cuspir a última palavra, desdenhando da minha mãe e da minha família. Meu sangue borbulhou como se fosse evaporar e meu autocontrole foi testado ao máximo quando me forcei a encarar a mulher. Lúcio revirou os olhos e fez um gesto rápido com a varinha fazendo sua máscara cobrir as feições serosas. A mulher também refez sua máscara, mas eu ainda podia ver a sombra de seu último sorriso.
O grupo se encaminhou languidamente até um corredor, parecia que estávamos ali para uma visita rotineira. O senhor Malfoy sabia o caminho como se estivesse em casa e guiava o grupo cheio de si. A esta altura eu não conseguia pensar em mais nada a não ser em terminar tudo e poder voltar para casa, para minha mãe.
- Aqui estamos. – falou o Senhor Malfoy, erguendo os olhos para uma enorme porta preta que se erguia majestosa à nossa frente.
Minha pulseira vibrou, dessa vez não como antes. Meu braço inteiro tremeu e com um grito assustado, eu soltei minha varinha que voou alguns centímetros e caiu no chão, com um barulho cavo e rolou até o pé de um dos comensais. Eu não era capaz de controlar o que sentia, mas assim que consegui retirar a joia o Senhor Malfoy falou:
- Eles já chegaram.

Meus olhos ardiam diante da escuridão. Eu não podia compreender como tudo podia estar tão calmo. Onde estaria o Lorde das Trevas, por que estávamos ali sozinhos escondidos atrás daquelas enormes prateleiras? Meu corpo estava rígido e mesmo que eu desejasse movê-lo seria incapaz de fazê-lo. Todos os meus sentimentos se misturaram com a angústia que me reprimia, ergui meus olhos para os globos prateados tentando entender o significado daquilo, mas eu notava que estava servindo de uma simples marionete. Eu não havia sido realmente necessária e só então passei a questionar o real significado de ter sido escolhida, eu realmente teria sido levada até o Lorde das Trevas por ter me metido nos assuntos particulares do meu pai há tantos anos?
- Eu agirei primeiro. – sussurrou o Senhor Malfoy alterado.
- Por que você? Eu sou a mais leal, o próprio Lorde das Trevas me disse isso. – respondeu uma voz feminina que eu reconheci como sendo a da Lestrange.
- Você não serviu de nada para ele em Askaban.
- Curioso, você também não me pareceu preocupado em encontrá-lo, Malfoy. – guinchou Bellatrix.
- Silêncio, eles chegaram. Quem diria que Potter conseguiria vir tão longe! – admirou-se o homem.

- O Lorde das Trevas previu. Ele é tão inteligente. – resmungou Bellatrix.
Eu era impossibilitada de vê-los por causa da escuridão, mas arrisquei lançar um olhar para a direção de onde viemos e percebi que um feixe de luzes caminhava em nossa direção. Eu estava calada, não por opção, mas porque não conseguia encontrar minha voz, até minha respiração parecia ter sumido.
Os longos corredores estavam sendo consumidos por essa luz e um burburinho se aproximava juntamente com o grupo de pessoas que o acompanhava e de repente a voz de
Hermione cortou o silêncio mórbido, fazendo com que eu me sobressaltasse.
- Noventa e sete. – disse ela.
- Ele está bem no final. – replicou um garoto, era Harry. Eu queria avisá-lo, mas sentia que alguém me observava, mesmo que eu não pudesse ver. – Não se consegue ver direito daqui.
O grupo continuou seu caminho e quando eles chegaram mais perto de mim eu me encolhi por instinto, tentando me esconder da claridade insistente. Então Harry ainda procurava por Sirius, ele ainda tentava bancar o herói. Essa mania idiota de querer salvar todo mundo, era por isso que os pais dele haviam morrido e agora ele estava tentando ir pelo mesmo caminho? Minha vontade era agarrá-lo pela roupa e tentar dissuadi-lo da ideia de salvar alguém que não corria perigo.
Os comensais acompanharam Harry silenciosamente, uma mão rude puxou minhas vestes, arrastando-me com eles até o novo esconderijo. Meus olhos reagiam e as lágrimas se acumulavam em minha linha d’agua. O que eu estava fazendo?
- Harry? – chamou Hermione.
- Que? – Harry parecia extremamente irritado com ela.
- Eu... eu acho que Sirius não está aqui.
O silêncio se abateu por alguns minutos, apurei meus ouvidos para entender a conversa. Hermione parecia convicta, mas Harry ainda insistia em não acreditar que aquela imagem havia sido plantada em sua mente.
- Harry. – dessa vez a voz era de Rony.
- Que?
- Você viu isso? – questionou o garoto.
- Que? – Harry parecia entediado.
Rony não respondeu.
- Que? – repetiu ele mal humorado.
- Tem... tem seu nome escrito aqui.
Então era isso. Alguma coisa ali pertencia a Harry e isso era o que Voldemort queria? Eu não podia acreditar que tínhamos arquitetado toda aquela manobra durante um ano inteiro para que Harry viesse pegar alguma coisa para ele. Por que Voldemort não viera fazer isso? Teria sido mais rápido para todos, inclusive para ele.
- Meu nome? – perguntou Harry confuso.
Os passos se aproximaram da prateleira na qual eu estava escondida, mas a conversa entre eles continuou.
- O que é isso? O que é que seu nome tá fazendo aqui? Eu não estou aqui. Nenhum de nós está.
- Harry, eu acho que você não devia tocar nisso. – guinchou Hermione de súbito.
- Por que não? É alguma coisa ligada a mim, não é?
- Não, Harry. – quem poderia ser? Era uma voz de menino, mas completamente nova para mim. Parecia nervosa.
- Tem o meu nome nela. – teimou Harry, convencido que tinha o direito.
Um barulho de vidro se fez e as vestes de alguém tomou meu rosto, pois eu estava agachada e então Bellatrix deu um risinho baixo e passou por mim.
- Muito bem, Potter. Agora se vire, muito devagarzinho e me entregue isso.
Eu estava certa, se era só isso que queríamos seria fácil. Bastava Harry entregá-la para o Senhor Malfoy e tudo estaria acabado.

Capítulo Trinta
Harry ainda está aqui, ele está em nossos corações.
(Neville Longbotton)


Todos os Comensais saíram de seus esconderijos, rodeando o grupo de Harry e foi aí que eu vi que além de Rony e Hermione estavam ali também a irmã mais nova de Fred, Di Lua e Longbotton. Meia dúzia de alunos de Hogwarts contra um grupo grande e experiente de Comensais, se eles ousassem lutar seriam liquidados facilmente. Por Merlin, o que eu poderia fazer para que aquilo não se tornasse um massacre?
- A mim, Potter. – repetiu a voz do pai de Draco.
Por um instante não percebi o que fazia, simplesmente dei um passo a frente, ficando bem visível para todos os presentes. Os olhares me metralharam no instante em que todos reconheceram a minha presença, por um instante achei que haveria gritaria, mas Hermione pôs no rosto sua cara de sábia e suspirou como se já conhecesse, Ronald deixou a boca abrir-se em um o minúsculo, Longbotton tremia tanto e pareceu não me reconhecer, Di Lua parecia à única triste e baixou os olhos para sua mão que brandia a varinha, Gina apertava tanto os dedos que eles estavam brancos e sem circulação, os lábios finos ficando roxos por causa da força com que ela fechara a boca. Harry foi o que mais me doeu ver, ele não demonstrava expressão alguma, ele simplesmente continuava a segurar o globo de vidros, mas não pudemos evitar nossos olhares de se encontrarem.
- Confiei em você. – disse ele.
- Isso só prova que você tem talento para confiar nas coisas erradas, Potter. – comunicou Lucio tomando à dianteira.
- Você fez de tudo para me trazer até aqui, não é? Foi você quem avisou Umbridge, enganou a gente... – continuou Harry.
- Ela é uma dissimulada, como todos que pertencem ou pertenceram à Sonserina. – contrapôs Gina.
- A mim. - repetiu Lucio diante do meu silêncio.
- Me desculpe, mas eu tinha uma escolha a fazer...
- Nossa. Comovente! Entregar Harry era a mais fácil delas? – perguntou Hermione sem me olhar, sua atenção estava fixa no comensal à sua frente.
- Não! Não foi a mais fácil, trair a confiança de vocês não é o que eu queria, mas não havia outra escolha. Harry precisava estar aqui hoje, agora só depende de você. – olhei para Harry. - Entregue a esfera para nós e não haverá luta.
- Onde está Sirius? – perguntou Harry.
- O Lorde das Trevas sempre tem razão!
Os Comensais riram diante da afirmação de Lucio, inclusive Bellatrix, que agora estava ao meu lado.
- Sempre. – repetiu Malfoy suavemente. – Agora me dê a profecia, Potter.
- Entregue, Harry, prometo que irá embora. – retruquei.
- Não prometa o que não pode cumprir. – disse Rony. – Já nos traiu uma vez, é fácil fazer de novo.
- Não farei! – respondi, franzindo a testa desesperada, dando um passo à frente. Harry apontou sua varinha pra mim.
- Eu quero saber onde está Sirius!
- Eu quero saber onde está Sirius! – imitou Bellatrix, virei-me para ela irritada, notando que o círculo se fechava em torno dos garotos.
Meus olhos seguravam as lágrimas amarguradas que eu tentava esconder com as minhas palavras. Eu nunca esperara passar por uma situação daquela, sempre achei que seria capaz de qualquer coisa para me dar bem na vida e antes de me relacionar com aquelas pessoas eu realmente seria. Se eu não tivesse conhecido os bons sentimentos com Fred, Rony, Hermione e Harry, provavelmente estaria me divertindo bastante amedrontando aqueles alunos da Grifinória, mas eu não conseguia. Eles eram meus amigos e de repente percebi que não era Fred quem devia mudar para ficarmos juntos, e sim eu!
Eu estava lutando do lado errado e me lembrei de uma frase que eu pronunciara meses antes, onde eu afirmava que haviam bruxos decentes na Sonserina.
- Como gostaria de ficar conhecida no futuro, ? – perguntou-me Di Lua docemente como se fossemos amigas, num sussurro. – Sei que é uma boa pessoa e escolheu o que mais lhe convém, mas agora é a hora de escolher o bem e o mal, pense nisso.
- Posso ajudar vocês, mas terão que reiterar sua confiança em mim! Estou cansada de bancar a marionete nas mãos deles. – comentei para que somente ela me ouvisse.
- Confio em você. – replicou ela. - Sirius Black não está aqui. – falei no momento em que Harry afirmava que nós o tínhamos pegado.
- Já está na hora de você aprender a diferença entre vida e sonho, Potter. – disse Lúcio. – Agora me entregue a profecia ou vamos começar a usar as varinhas.
Meus olhos arregalaram, agora sim era a hora de lutar, mas eu havia acabado de escolher o lado pelo qual eu ia lutar. Ia lutar pela minha dignidade, pelo meu nome e não pelo meu sobrenome ou por alguém que não merecia respeito. Meu pai havia feito sua escolha anos atrás quando eu ainda nem cogitava vir ao mundo, não podia fazer parte desse plano maquiavélico. Eu tinha o direito de escolher meu futuro e qual caminho seguir.
- Use, então. – afrontou Harry erguendo a varinha e todos o obedeceram, eu ainda estava de costas para Bellatrix e Lucio, segurando minha própria varinha a altura do peito e suspirando pesadamente enquanto bolava meu próximo passo.
- Harry, entregue a profecia. – pedi, mais para ganhar tempo do que para persuadi-lo.
- Entregue a profecia e ninguém precisará se machucar. – disse Malfoy tranquilamente.
- É, certo! Eu lhe entrego essa... Essa profecia, é? E o senhor nos deixa ir embora para casa, não é mesmo?
Mal Harry acabou de falar, Bellatrix soltou um gemido de tédio a apontou a varinha para ele gritando:
- Accio prof...
- Protego! – gritou Harry, a esfera quase escorregando por seus dedos.
- Ah, ele sabe brincar, o bebezinho Potter. – sibilou Belatriz, ainda de capuz.
- EU JÁ DISSE A VOCÊ, NÃO! – berrou Lúcio descontrolado.
Dei dois passos para o lado enquanto eles ainda discutiam a questão de quebrar ou não a profecia. Embrenhei-me entre as prateleiras e escondi-me. Segurei minha varinha com força na direção de um dos comensais e lancei um feitiço estuporante, o melhor que consegui, mas por pouco ele desviou e bateu no chão explodindo em milhões de partículas vermelhas.
Olhei para Lúcio e para Harry, eles pareciam proteger Gina, e Bellatrix ainda com um olhar enlouquecido discutia com Potter alguma coisa. Antes de pensar direito mirei nela um feitiço estuporante, mas como o outro ele desviou e atingiu outro comensal que soltou um uivado estrangulado antes de cair no chão como uma fruta podre.
No momento ninguém soube o que aconteceu, mas Luna olhou na minha direção e sorriu cochichando com Neville algo que eu julguei ser ao meu respeito.
Nessa hora, Bellatrix lançou um jato de luz vermelha que Malfoy desviou em minha direção. Dei um grito alto e me joguei para o lado onde várias esferas de vidro se estilhaçaram sobre mim cortando minha pele. Dois vultos branco-pérola subiram e começaram a murmurar palavras ininteligíveis e então tive um insight, voltei correndo para o meio da briga, eu precisava ser corajosa.
- Sinto muito, Lúcio. – eu disse, caminhando confiante na direção do grupo de alunos e adquirindo confiança dentro de mim - Mas acho que você tem o defeito de escolher confiar nas pessoas erradas.
- Então é assim que termina? – perguntou Lúcio, detendo Bellatrix, que tentava a todo custo atingir um de nós com seus feitiços.
- O que há de tão especial em ser um Comensal da Morte? O que há de tão especial em ser do... Como vocês chamam? Ah sim, Círculo íntimo do Lorde das Trevas? Ele abomina vocês!
- GAROTINHA INSOLENTE, COMO OUSA. – berrou Bellatrix.
- Como ousa? Como você ousa se sentir tão próxima assim de alguém que odeia tudo ao seu redor? Como pode crer que ele realmente a Admir, Bellatrix? Voldemort não tem amigos e nunca terá e muito menos tem em você alguém especial...
Enquanto falava, atrás de mim ouvi Harry dar instruções para Hermione quebrar prateleiras. Era exatamente o que eu estava pensando, talvez eu e Potter tivéssemos mais em comum do que imaginávamos.
- Eu acho que quem deveria ter motivos para se sentir peculiar aqui seria o Harry. Pois o maior bruxo do mundo tem carinho por ele. Sim, Dumbledore é digno de ser conhecido por esse título, ele contribuiu mais para o mundo bruxo do que qualquer outro que se diga Lorde.
- Quando eu disser agora... – murmurou Harry.
- Voldemort é uma grande farsa! – terminei; meus dedos tremendo ao redor da varinha.
O rosto de Bellatrix estava manchado de vermelho, seu aspecto doentio se intensificara. Ela segurava a varinha com tanta força que parecia que a quebraria a qualquer momento. Prostrei-me ao lado de Harry para me proteger, se me atingissem danificariam a profecia e Voldemort os castigaria duramente.
- Olhem só para vocês, não podem sequer agir e isso não é respeito, é medo! Medo de falhar e serem cruelmente punidos. Que amor é esse que faz sofrer? Vocês não sabem o que é realmente amar, desconhecem esse significado.
- AGORA! – gritou Harry.
Todos nós gritamos ao mesmo tempo e as prateleiras ao nosso redor começaram a despencar. Os comensais não ficaram parados, atacaram também e em meio a tantos vultos brancos como fantasmas e pedaços de vidro quebrando eu corri, assim como todos ao meu redor. Eu já nem era capaz de distinguir os amigos dos inimigos, só procurava a todo custo me proteger da fúria que eu acabara de desencadear, não conseguia nem pensar nas coisas que eu havia falado. Queria tanto machucar aquelas pessoas, da pior forma possível. Como eles tinham me machucado.
Entrei em um corredor escuro, ofegante. Meus olhos irritados pela poeira que as profecias haviam desencadeado. Um comensal da morte surgiu na minha frente, ele era enorme e seu rosto ainda estava coberto pela mascara mágica que protegia sua identidade.
Meus pés travaram e o medo passou a me consumir, eu não sabia o que fazer, mas atrás de mim alguém gritou.
- Estupefaça.

O Comensal voou com a força do feitiço e bateu na parede negra, soltando um urro de dor e desmontando no chão. Olhei para trás, mas a pessoa foi mais rápida e já estava perto de mim. Harry pegou em minha mão e me arrastou para uma porta entreaberta, onde Hermione apressava Neville para entrar. Assim que consegui entrar me joguei em um canto.
- Colloportus. – exclamou Hermione lacrando a porta.

- Onde... onde estão os outros? – perguntou Harry.
- Eles devem ter tomado o caminho errado.
- O que foi aquilo? – perguntou-me Neville que se agachara do meu lado.
- Aquilo o que? – perguntei.
- Você.
Eu havia entendido a pergunta de Neville, só não me sentia preparada para responder a ele, pois nem eu mesma sabia o que eu tinha feito ou de onde vieram aquelas palavras.
Foram mais um desabafo do que uma decisão propriamente dita, com fundamentos explicáveis.
- Eu... Eu não sei. – respondi.
- Não confio em você! – falou Hermione.
- Mione, dá um tempo. – disse Harry. – Graças a você conseguimos quebrar as prateleiras, obrigado!
Era a primeira vez que eu alguém me agradecia por alguma coisa, baixei os olhos marejados para evitar ser vista chorando em um momento tão íntimo.

Capítulo Trinta e Um
Não se preocupe. Você é tão normal quanto eu.
(Luna Lovegood)


Passos e gritos ainda ecoavam do outro lado da porta na qual nos refugiamos, sob meu protesto, Harry encostou seu ouvido à ela buscando algum som característico de seus amigos, mas tudo que ouviu foi o pai de Draco. Todos nós o ouvimos berrar.
- Deixe Nott, deixe-o aí: os ferimentos dele não significarão nada diante do Lorde das Trevas, diante da perda da profecia. Jugson, volte aqui, precisamos nos organizar...
A esta altura meu coração palpitava ensandecido. A ficha do que eu tinha feito começava a cair e o pânico era evidente, não havia como escapar dele. Eu me questionava se seria capaz de um dia ser perdoada pelo meu pai e pela minha mãe, mas o fato de que Harry e Fred me entenderiam me contentava no momento.
Encolhi-me ainda mais no canto onde me encontrava. Pus a mão sob a varinha e segurei-a com força, eu sabia que eles não desistiriam e que agora eu era um alvo. Lancei um rápido olhar na direção de Hermione, ela se arrastava até Harry, o olhar vidrado e apavorado.
- O que faremos? – perguntou ela tremendo.
- Devemos esperar. – falei instintivamente. – Não podemos sair daqui sem a certeza de que temos um contra ataque. Eles não machucarão você, Harry, mas não posso dizer o mesmo dos outros.
- Incluindo você. – retrucou Neville, parecendo inteligente.
- Inclusive a mim, e receio que eu esteja valendo tanto quanto Harry neste instante. – eu fiquei bem mais calma falando isso do que realmente esperava.
- Mas não podemos ficar aqui parados esperando eles nos encontrarem. Vamos nos afastar dessa porta. – disse Harry.
Corremos silenciosamente, passamos por pequenos objetos que incubavam e desincubavam e alguns sinos que assobiavam baixinho, mas antes que pudéssemos achar a saída da sala circular alguma coisa colidiu contra a porta que Hermione lacrara.
- Afastem-se. – disse uma ríspida voz. – Alorromora.
A porta se escancarou e nós mergulhamos embaixo das escrivaninhas procurando abrigo. Meus respirar estava tão forte que eu achava impossível não ser ouvida. A barra das vestes negras dos Comensais podia ser vista por nós.
- Eles podem ter corrido direto para o corredor. – disse o homem que abrira a porta, sua voz era parecida com a de Rodolfo, mas eu não tinha tido muito contato com ele e por isso não podia afirmar.
- Veja embaixo das escrivaninhas. – disse outra voz desconhecida.
Quando o homem se aproximou eu soltei um gritinho e Harry meteu a varinha para fora, derrubando o homem com um feitiço que tombou para trás; o segundo Comensal tentou nos alcançar, mas novamente Harry agiu, derrubando-o pelos joelhos.

Neville se adiantou ansioso e derrubou uma das escrivaninhas na tentativa de ajudar, mas tudo que conseguiu foi me imobilizar por alguns minutos, dei um grito quando ele tentou desarmar o comensal que atacava Harry e por descuido a varinha do próprio Harry voou de sua mão indo aterrissar há metros de distância. Agarrei-me com força ao pedaço de madeira do qual dependia minha vida e me arrastei para Harry, lançando um feitiço qualquer nas mãos do Comensal e puxando-o para longe, mas novamente Neville estava disposto a corrigir seu erro enquanto Hermione continuava lutando com outro comensal nos fundos. Eu e Harry nos atiramos para o lado no momento em que Longbotton estuporou o comensal e atingiu um grande armário na parede que se abriu e atirou vidros para todos os lados, se espatifando no chão.
- O que vamos fazer? – ofeguei nervosa, mas Harry já olhava para o Comensal que pegava sua varinha solta no chão e apontava-a para nós.
- ESTUP...
- ESTUPEFAÇA! – bradou Hermione, interceptando o feitiço e nos salvando.
O jorro de faíscas vermelhas atingiu o Comensal da morte bem no peito: ele se imobilizou, o braço ainda erguido, sua varinha caiu no chão com estrépito e ele desabou para trás na direção de um vidro em forma de sino. A cabeça do Comensal entrou no vidro cheio de vento cintilante.
- Accio varinha. – ordenou Hermione e a varinha de Harry veio ao seu encontro.
- O que está acontecendo com ele? – perguntei arregalando os olhos quando o homem começou a regredir em um bebê.
- É o Tempo. – respondeu o homem assombrada. – O Tempo...
- Vamos dar o fora daqui. – disse Harry horrorizado e nos empurrando para fora no exato momento em que ouvimos um berro da sala próxima.
- RONY? – bradou Harry e nós corremos. – GINA? LUNA?
- Harry! – gritou Hermione.
O Comensal da Morte havia conseguido tirar a cabeça do vidro e se recuperava devagar, mas sua cabeça ainda alternava entre um bebê e um adulto. Empunhei minha varinha e apontei-a para o Comensal, disposta a atacá-lo, mas Hermione me interrompeu.
- O que pensa que está fazendo? – perguntou.
- Precisamos pará-lo. – disse Harry, erguendo sua varinha também.
- Você não pode machucar um bebê.
Corri e passei através de Hermione e Harry, que resolvera não discutir com ela. Dolohov havia me alcançado e, descontrolado, lançava maldições para todos os lados, segurei minha varinha em punho e concentrei-me em um feitiço mudo que o fez voar alguns metros e erguer-se sobre os cotovelos atordoado.
- Harry, precisamos sair daqui. - gritei.
Arrastei Harry e vi quando Neville se juntou a Hermione para nos escondermos em uma pequena saleta. Mione agitou a varinha sob a cabeça a fim de lacrar mais essa porta, infelizmente ela foi impedida por dois comensais que escancararam a porta com agressividade e bradaram juntos com um grito de triunfo.
Nós quatro fomos derrubados de costas. Hermione colidiu com uma estante e foi prontamente soterrada por uma avalanche de pesados livros; a cabeça de Harry bateu contra a parede de pedra e eu e Neville fomos parar sob uma escrivaninha de madeira velha que ruiu com nosso peso, fazendo-nos abraçarmo-nos um ao outro para não sucumbir à dor rascante da madeira em nossa pele.
- PEGAMOS ELE! – berrou o Comensal da morte olhando para Harry. – EM UM ESCRITÓRIO DO LADO...
- Silêncio. – exclamou Hermione.
O Comensal continuava falando, mas sua voz não saia. Era um feitiçozinho irritante, mas extremamente útil.
O companheiro do Comensal sibilou irritado e empurrando-o para o lado apontou sua varinha na minha direção, mas Harry foi mais rápido e petrificou-o.
- Muito bem, Há...
Infelizmente nesse momento Hermione foi atingida, Neville se arrastou por baixo da escrivaninha alcançando Harry que estava de joelhos e amparava Hermione nos braços. Ergui-me de um salto e com um único movimento rápido e audaz de varinha fiz um dos comensais desabar sobre o peso do próprio corpo.
- Precisamos sair daqui. – sussurrei agachando-me ao lado de Neville e fitando o rosto pálido e mortis de Hermione.
O outro homem, que Hermione silenciara, nos alcançou e, embora não pudesse falar, estendeu sua mão em um gesto que não poderia ser mais claro; ele queria a profecia.
- Como se você não fosse nos matar de qualquer jeito no momento em que eu a entregar. – disse Harry.
Virei-me para Neville, a mão que segurava Hermione estava manchada de sangue e seu nariz visivelmente quebrado não parava de escorrer o liquido vermelho, alguns segundos depois ele olhou de mim para Harry e voltou a cobrir o rosto com as mãos.
- Faça o que fizer, Harry, mas não entregue. – disse ele.
Compreendendo imediatamente que até o mais inútil dos homens tinha seu ato de coragem, ergui-me mais uma vez, tomada de um entusiasmo anormal e corri por entre o comensal e Harry, petrificando Dolohov com um grito e desabando ao lado de corpo de Hermione ainda desfalecido.
Diante da cena e do silêncio que se seguiu, Harry voltou a olhar para a amiga e suspirou desesperado.
- Hermione. – ela não se moveu. – Hermione, acorde...
- Gue foi gue ele fez com ela? – perguntou Neville, saindo de seu esconderijo. A cabeça do comensal da morte sumindo de novo dentro do vidro.
- Não sei...
- Deve ter sido algum tipo de feitiço das trevas. – retruquei, forçando minha voz a ficar firme.
- Dem bulsação, Harry, denho cerdeza gue é.
- Ela está viva.
- Está sim, Harry. - afirmei tocando a pele da garota. – Ainda está quente, obviamente não foi nada que lhe ameace a vida. Agora você precisa dar o fora.
- Estamos longe da saída. – respondeu Harry, encarando-me de repente.
Seus olhos absurdamente verdes nunca haviam me intimidado antes, mas diante da situação senti-me compelida a desviar as minhas íris escuras daquele olhar penetrante.
- Estamos ao lado da sala circular. – disse Neville. - Se pudermos atravessá-la e descobrir a porta certa antes que os outros Comensais da Morte apareçam...
- Você pode carregar Hermione para fora daqui, Neville? Aposto que sim! – disse eu de repente, olhando de novo para Harry em busca de uma afirmação.
- Isso, você podia procurar alguém... Dar um alarme. – concluiu Harry.
- E gue é que vocês vão fazer? – perguntou Neville enxugando o nariz sangrento na manga da camisa.
- Tenho de procurar os outros.
- Endão, vou procurar com vocês – disse Neville com firmeza.
- Mas Hermione... – retorqui, mas ele me interrompeu.
- Levamos com a gente. Caego Hermione... vocês ludam melhor com eles do gue eu...
Assim que Neville ficou de pé, puxei Harry pelo braço e segurei-o firmemente até obter sua total atenção. O garoto ainda tremia e seu olhar estava perdido em Neville, que se levantava com dificuldade diante do peso de Hermione.
- Seria atraso, Harry, precisamos tirar você daqui a salvo e encontrar seus amigos.
- Mas Neville poderia...
- Ele não é um completo idiota, Harry. Confie nele ao menos uma vez em sua vida!
A concepção tomou conta do rosto de Harry e ele entendeu que devia deixar Neville partir e que tinha que incutir esse pensamento no amigo.

Saímos furtivamente pelo corredor, seguindo vagarosamente pelo lugar de onde já tínhamos vindo. Armada com minha varinha, deixava meus olhos e ouvidos bem atentos a qualquer movimento suspeito.
Quando encontramos a primeira bifurcação, três pessoas desabaram pela escuridão e vieram silenciosamente em nossa direção, até terem certeza que éramos amigos.
- Rony! – exclamou Harry ao ver o amigo. – Gina... você está...
- Harry. – disse Rony frouxamente. – Ah, aqui está você... há... há...ha... está com a cara engraçada, Harry... está todo arranhado.
Puxei o garoto pelo braço e olhei fundo em seus olhos vidrados e desfocados. Ele parecia não ter noção de onde estava nem o que estava fazendo.
- Ei, solte meu irmão! – sibilou Gina.
- Tudo bem, Gina, o que aconteceu? – perguntou o garoto, notando que ela mancava e era ajudada por Luna.
- Acho que ela quebrou o tornozelo. – respondeu a loira. – Quatro deles nos perseguiram por uma sala escura cheia de planetas; um lugar muito esquisito, parte do tempo ficamos só flutuando no escuro.
- Harry, vimos Urano de perto! – cortou Rony, ainda rindo em meus braços. – Sacou, Harry, Urano... há... há... há...
- Temos que tirar vocês daqui! – resmunguei de novo. – Sua cabeça está valendo tanto quanto essa profecia.
- E o que você sabe disso? – disse Gina, fazendo uma careta de dor.
- Mais do que você pode imaginar. – retruquei irritada.
- Ah, é claro! Você é uma Comensal, quem nos garante que não está armando de novo?
- Gina, ela está certa! Não podemos ficar aqui por muito mais tempo, não com Rony desse jeito e Hermione nocauteada.
- Sem contar que agora você será um peso morto. – finalizei quando Rony se soltou de mim e girou no próprio eixo.
- Tem alguém se aproximando. – disse Gina, olhando para a escuridão atrás de mim e Harry.
- Tentem achar a saída, eu atraso eles. – respondi e antes que pudesse ouvir a resposta, corri na direção em que Luna dissera ter ouvido alguém.
A escuridão era minha única companheira, com isso meus pensamentos soavam mais altos que as batidas do meu coração. Meu corpo inteiro obedecia apenas ao instinto de correr insanamente até conseguir fazer aquela coisa toda parar. Que idiotice lutar por um pequeno pedaço de vidro, que importância a profecia poderia ter para Voldemort, todos nós sabíamos que ele era sem duvida o bruxo mais poderoso do mundo.
Desci por uma escadaria prateada que se mostrou a minha frente, não sabia aonde aquilo ia dar, mas tinha certeza que ia pelo caminho certo.
- Senhorita Selwyn. – disse uma voz calma ao meu lado, fazendo-me estagnar.
- Quem é? – questionei nervosa; as mãos à frente tateando em busca do estranho dono da voz.
- Vejo que fez sua escolha. – disse a voz.
- Eu conheço você?
- Claro que sim. Creio que não sou facilmente esquecível. – disse Dumbledore surgindo através da escuridão.
- O que...
- Sei de tudo que se sucedeu em sua curta vida, senhorita, e tenho certeza que fez a escolha correta para o resto dela. – disse ele sem se aproximar.
- Não estou entendendo. – desconversei, suando frio.
- Suas escolhas são os caminhos pelos quais vai trilhar sua trajetória até o fim. – comentou ele, erguendo e acendendo a varinha displicentemente, tirando da manga das vestes azul ciano um pequeno papel de bordas douradas que ele me estendeu. - Pegue isso, confio em você.
- O que é isso? – aceitei o papel.
Sem responder o diretor brandiu sua varinha e entre meus dedos apertados senti algo surgir, era macio e pequeno. Assustada, abri a mão e encontrei um pequeno saquinho pardo. Lancei um olhar indagador na direção do velho que apenas sorriu.
- Tenho total confiança em você. Pó de Flu e um endereço.
Baixei os olhos para ver o conteúdo e minhas mãos e quando os levantei, Dumbledore já tinha sumido.



Capítulo Trinta e Dois
“Algumas pessoas acham que podem entrar e sair de nossas vidas quando bem entendem. Um dia elas se surpreenderão ao encontrar a porta fechada.”
(Daniel Jacob Radcliffe)

Não corri mais. Quando cheguei ao fim da escada, já nem me admirei ao encontrar o majestoso Átrio à minha frente. Vaguei como um zumbi até uma das enormes lareiras de despacho, atravessando o grande salão e passando pelas estátuas dos irmãos mágicos sem nem ao menos notar de que elas eram.
Olhei para o papel lendo as palavras ali escritas por instinto: a sede da Ordem da Fênix encontra-se no Largo Grimmauld, número doze, Londres.
- Pelos poderes de Merlin! Ele me deu o endereço da Ordem. – sussurrei, no exato momento em que joguei as cinzas na lareira e me deixei levar pelas chamas esmeralda.

- O que é isso? – resmungou uma voz rouca e arrastada e então um horrendo elfo doméstico apareceu na minha frente.
- O que você está fazendo, Monstro? – perguntou o homem rudemente.
Afastei-me da lareira, coberta de cinzas e tossindo descontroladamente. O pequeno e feioso elfo me olhou boquiaberto e começou a passar seu espanador de penas em meu corpo.
- Devo ajudar a senhorita, é a futura noiva de Senhor Malfoy, sobrinho neto da minha senhora.
- Me conhece? – sussurrei, mas um homem alto e bonito surgiu na cozinha.
Apesar de seus olhos estarem cobertos pela grande massa de cabelos, eu pude saber que ele estava me olhando pela forma como seu corpo se curvava em minha direção. Seus dedos nodosos e magros então vieram em direção ao meu rosto, erguendo-o para que ele pudesse me ver.
Outro homem entrou na cozinha e esse eu reconheci de imediato, era o Remo Lupin.
- Eu conheço você. – afirmou Lupin, ajudando-me a levantar.
- Quem é ela, Remo? – perguntou o outro homem.
- É aluna de Hogwarts, Sirius. – disse Remo preocupado.
- Qual casa? – perguntou Sirius arregalando os olhos. – Sai daqui! – gritou ele com o elfo.
- Não importa! – sibilei, tirando cinzas da boca. – Tenho um recado de Dumbledore.
- Eu ouvi o nome de Dumbledore? – uma garota se aproximou, ela era apenas um pouco mais velha que eu e seu cabelo era de um tom rosa chiclete berrante.
- Vamos sair daqui, está ficando um pouco apertado. – murmurou Lupin, levando-me para outro cômodo no qual fomos seguidos pelos outros.
Na sala encontrei mais três pessoas e uma delas não pareceu nada feliz em me ver ali. Olho Tonto Moody enlouqueceu seu olho na órbita me analisando.
- Não temos tempo para isso. – estourei. – Dumbledore está no Ministério da Magia, assim como Harry...
- Harry! – exclamou Sirius.
- Os Comensais estão tentando obter uma profecia...
Sirius não esperou que eu terminasse de falar e antes que qualquer um pudesse impedir ele desaparatou.
- Droga! Ele não pensa no que faz... – resmungou a mulher, puxando-me pelo braço sem falar nada.
Desaparatamos todos na entrada de visitantes e quando senti meus pulmões descolarem e voltarem a funcionar normalmente, agradeci com um arquejo forte e uma respiração rápida e descompassada. A mulher de cabelos rosados me amparou em seus braços e deu um sorriso divertido, porém assustado.
- Não baixem a guarda, vigilância constante. – gritou Moddy, que já ia manquejando na frente.
- Você fica no Átrio, pode ser perigoso vir com a gente, beleza? – falou a garota se afastando de mim e entrando na cabine com um tchauzinho tímido.
Estávamos novamente no Ministério. Ainda estava tentando respirar normalmente, minha voz havia perdido a força e meu corpo inteiro tremia tanto que eu seria incapaz de ficar de pé. Arrastei-me até a estátua dos irmãos mágicos e ali descansei, sentindo lágrimas rolarem pelo meu rosto sem serem convidadas.
Que droga tinha acontecido? Eu não conseguia me lembrar de metades das coisas que haviam ocorrido naquela noite, mas eu lembrava perfeitamente de ter traído aos meus comandos, eu estava morta; minha família estava morta. Fechei meus dedos com força e soquei o chão, machucando os nós no piso frio e gélido, mas não me rendi à dor. Era um preço a se pagar.
Notei então que estava com as vestes rasgadas em algumas partes. Toda a minha pele estava coberta de fuligem e suor. Meus cabelos estavam cheios e desgrenhados. Podia sentir o gosto azedo do medo em minha língua, eu estava à beira de um colapso psicológico.
Reuni meus últimos resquícios de força e tentei erguer-me, mas meus pés não obedeciam e meus joelhos se renderam ao cansaço.
Não sei por quanto tempo fiquei jogada ao lado daquela estátua, mas de repente uma risada histérica, insana, invadiu meus tímpanos. Chorando, tapei os ouvidos para não consegui distinguir de quem era, mas foi um ato inútil e infantil.
- Estupefaça! – berrou alguém. - Protego! – gritou a outra.
Abri os olhos lentamente, como se os ruídos fossem parte de um pesadelo e fossem cessar se eu acordasse.
- Potter, vou dar-lhe uma única chance. – o jato da verdade me invadiu, era Bellatrix Lestrange e Harry. – Me entregue a profecia, faça-a rola pelo chão na minha direção, e talvez eu lhe poupe a vida.
Pus a mão na boca, meus olhos bastante arregalados diante da constatação. A minha vida parecia não ser tão importante quanto à de Harry naquele momento. Eu queria tanto protegê-lo, me sentia totalmente culpada por aquilo tudo estar acontecendo. As lágrimas se tornaram um choro constante.
- Sou uma imprestável mesmo. Papai sempre teve razão! Uma maldita covarde. – sussurrei entre os dentes, puxando os cabelos como uma louca.
- MENTIROSO! - gritou Bellatrix e eu cobri os ouvidos mais uma vez.
Um par de mãos quentes e grandes acariciou-me. Senti a tensão se esvair através daqueles dedos delicados e ir embora, mas a tristeza ainda permanecia como se fosse extensão do meu corpo.
- Fique calma, senhorita Selwyn, sabemos que tipo de pessoa você é, eu e você. – sussurrou Dumbledore em meu ouvido, reconheci-o imediatamente.
Levantei os olhos perdida e desconsolada, mas ele apenas sorriu.
- Preciso de mais um favorzinho. Quero que leve Harry de volta para minha sala.
- O que esta acontecendo, professor? – perguntei.
- Coisas muito importantes. – ele alargou o sorriso, embora as rugas em seus olhos estivessem mais vincadas.
- Não consigo fazer isso. – respondi.
- Claro que consegue. Ao contrário do que pensa, tem um poder enorme dentro de você; um poder que qualquer bruxo almeja, até mesmo Tom.
- Tom?
- Você o conhece como Voldemort ou Lorde das Trevas...
Antes, porém, que pudesse terminar a sua frase, ele ergueu a varinha e manipulou-a rapidamente. Por instinto pus as mãos na cabeça e um pedaço dourado caiu aos nossos pés. Dumbledore sorriu e olhou ao longe, eu o imitei.
Harry parecia furioso e completamente insano. Seus olhos reviravam nas órbitas de pura raiva, ele apontava sua varinha para Bellatrix, que o encarava com um olhar alucinado e então, de repente, a estátua sem cabeça do bruxo ganhou vida e saltou do pedestal correndo em direção a Harry com um retinir de pedra sobre pedra. Meu corpo reagiu e se levantou sozinho, minha varinha pendendo inutilmente entre os dedos trêmulos; eu desejava fazer alguma coisa, mas ao invés de atacar Harry, ela o protegeu com os braços e só então notei que Dumbledore estava no comando da estátua.
- POR MORGANA! – guinchei desesperada, percebendo pela primeira vez a presença de Voldemort.
- Espere aqui e quando eu lhe der o sinal, leve Harry de volta para a minha sala em Hogwarts. - Colloportus. – disse Dumbledore para a cabeça do bruxo.
- Como assim? Não, eu preciso lutar, preciso! – retruquei lívida, uma coragem que não pertencia, dominando meu corpo.
- Sim.
Que tipo de resposta era aquela? Não fazia sentido. Será que as pessoas tinham razão em relação ao nosso diretor, seria ele mesmo um velho caduco e senil? Infelizmente eu não teria tempo para responder essas questões.
Corri em volta da estátua e me espremi entre a da bruxa e o duende, mas esta também ganhou vida, indo afastar Harry da briga que Dumbledore e Voldemort travavam. Agachei-me até onde Harry se esticava e tentava lutar. Cheguei perto dele, vendo-o se assustar com minha presença.
- Você estava aí o tempo todo? – perguntou Harry.
- Relaxo! – falei; foi inútil, a estátua não abandonou Harry. – Sim, eu estava, vi tudo que aconteceu.
- Precisa ajudar Dumbledore! – disse Harry tentando afastar o braço da bruxa dourada.
- Ele não precisa de ajuda, é você quem precisamos tirar daqui!
- Como? – perguntou-me ele.
- Tem uma chave de portal nos esperando, precisamos atravessar a luta! – sussurrei quando os gritos e feitiços voaram próximos a nós.
Arrisquei um rápido olhar na direção de Dumbledore, mas ele parecia assustado e seus olhos não paravam de viajar até Harry, numa súplica silenciosa para que ele desse o fora dali.
Entendi o recado imediatamente, mas mesmo assim não conseguia fazer com que a estátua do bruxo sem cabeça soltasse Harry e o deixasse vir comigo e seria muita pretensão erguer-me e pedir inocentemente ajuda a Dumbledore, que parecia estar lidando com mais do que podia suportar.
- Harry, quero que encontre uma forma de sair daí... – tentei, mas fui interrompida.
- Por que está fazendo isso? Não é importante para você. – disse Harry, me encarando, enquanto os barulhos da batalha travada e dos gritos de Bellatrix eram nossa única companhia.
- É importante para mim sim. – falei de repente, as palavras simplesmente embolando em minha língua e descendo por ela. – Você é importante para mim.
De repente um feitiço passou rente à minha orelha e por muito pouco não me atingiu. Sentia todo o poder daquelas faíscas perto dos meus olhos e por pouco não tive um ataque cardíaco quando a estátua que protegia Harry sumiu em milhões de pedacinhos e este se arrastou para fora do cerco em direção ao diretor e foi só aí que percebi, Voldemort havia sumido. Isso seria um sinal de que o bem havia ganhado a batalha? Ledo engano.
Harry jogou-se no chão, contorcendo seus membros em um sofrimento silencioso. Não conseguia encará-lo diante daquela situação, parecia que ele estava sendo dilacerado por dentro. Joguei-me a seus pés e pus minhas mãos em sua testa, ele tremia e suava muito. As lágrimas queimaram em meus olhos, lágrimas sofridas e de raiva. Até quando tudo aquilo iria durar? Por Morgana! Tudo aquilo era insano e eu não tinha a menor ideia de como por fim na situação.
- Me mate agora, Dumbledore... – sibilou Harry jogado no chão, mas ele jamais se dirigiria ao diretor de forma desrespeitosa.
E enquanto o garoto se contorcia no chão, Dumbledore permanecia calmo, ao menos por fora. Os oclinhos de meia lua, como sempre, tortos na ponta do nariz e olhos tão brilhantes quanto dois diamantes lapidados, daqueles que minha mãe usava em ocasiões especiais.
Ele continuava ali, encarando sofrimento de Harry como se não pudéssemos fazer nada.
- O que há com ele? – bradei, segurando Harry em meus braços, mesmo em meio a suas convulsões.
- Tom ultrapassou a fronteira. Uma grande tolice se que minha opinião, senhorita Selwyn. – respondeu ele, ainda olhando para Harry como quem olha um doente na enfermaria do St. Mungus.
- Não, não quero! Faça isso parar. – pedi, acenando levemente na direção de Harry que parecia estar se acalmando.
Harry abriu os olhos devagar e eu pude enfim apreciar aquele mar de esmeralda bem de perto. Era a primeira vez que tinha um contato tão íntimo com ele. Parecia um sonho, nunca poderia imaginar que estaria em uma batalha ao lado do garoto que sobreviveu e ainda por cima vencer. Eu não conseguia me dar o luxo de pensar no amanhã. Mesmo minha mente não conseguindo se desligar do meu nefasto futuro, eu ainda conseguia apreciar o feliz momento de ver Harry vencer mais uma batalha e frustrar mais uma vez os planos de Voldemort.
- Você está bem, Harry? – perguntou o diretor, notando a curiosidade de Harry.
- Estou. – disse Harry, ele tremia tanto quanto as gelatinas dos elfos e parecia extremamente fraco. – Estou... Onde está Voldemort, onde... quem são esses... que é...
De repente o Átrio se viu invadido por uma porção de aurores armados com suas varinhas. Apesar de serem o alto escalão da segurança bruxa, pareciam mais amedrontados que nós. Os olhos da maioria tentava não acreditar no que tinha visto, enquanto outros mantinham a vigilância constante de Moddy.

***


Estávamos na sala de Dumbledore. Havíamos tomado a chave de portal para evitar que perguntas embaraçosas nos fossem feitas pelo Ministro da Magia, mas os questionamentos dele eram os mesmos dos nossos.
Desabei na primeira cadeira que vi. Harry estava desconsolado, sem saber como extravasar seu sentimento, ele mantinha os pés firmes no chão, enquanto caminhava por todo o aposento, ensandecido.
- Não deixei esse sentimento te assustar, Harry. – tentei.
- Não estou assustado. – respondeu ele rudemente sem me olhar.
Tomei fôlego e continuei.
- Coisas ruins acontecem com pessoas boas, sempre aconteceram. Coisas boas acontecem com pessoas ruins, mas quando elas tiram o dia para contrariar... – não conseguia distinguir o que eu mesma falava. Estava tentando manter um diálogo sensato, mas estava completamente perdida.
- CALA A BOCA! NÃO FALA COMO SE ENTENDESSE O QUE SINTO.
Meus olhos arderam e meu coração doeu. Não estava sendo capaz de lidar com a situação. Será que Harry pensava que ele era o único perseguido, o único que tinha problemas e um passado e futuro condenados? Se ele pensava assim, ele era muito arrogante e pretensioso, mas eu sabia que Harry não o era e preferi me manter quieta enquanto ele remoia sua dor.
Os quadros nos questionaram sobre a volta de Dumbledore e de forma displicente nós respondíamos. Eu podia ver no rosto de Harry que ele estava incapaz de compreender e formular respostas mais coerentes.
- O que está acontecendo, Harry? – perguntei, irritada por seu silêncio e movimento constante.
- Por favor, não me pergunte nada! – pediu ele, as mãos sobre os cabelos bagunçados, o rosto manchado de sangue e as roupas amarrotadas e chamuscadas.
De repente a lareira vazia irrompeu em chamas verde esmeralda e lancei um olhar para o homem que girava no interior da grade. A figura alta de Dumbledore então surgiu e seu olhar triste era totalmente incomum. Seus lábios retorcidos escondiam palavras que só deveriam ser ouvidas por Harry e meu peito doeu ao imaginar o que aconteceria naquela sala.
- Senhorita Selwyn, obrigado por hoje. Sempre soube que poderia confiar na senhorita. – disse ele de repente, seu sorriso tão pálido quanto o rosto de Harry. – Mas apesar de toda essa confiança, há algo que devo dizer a Harry e somente a ele.
- Me desculpe, diretor. – sibilei erguendo a cabeça e me dirigindo para a porta de sua sala. – Não gostaria de passar uma má impressão, mas... o que houve hoje à noite?
- Não gostaria de ser mal educado, . – ao ouvir meu nome eu compreendi, estava sendo totalmente dispensada. Minha presença não estava sendo bem aceita.
- Assim seja. – falei irritada e abri a porta de carvalho, precipitando-me para fora da sala.
Minhas pernas dormentes seguiam o caminho conhecido para o salão comunal da Sonserina, não era como se eu realmente desejasse ir para aquele lugar, mas era o único no qual eu me sentiria plena. A falta que Fred me fazia se mesclava com o terror que eu tinha de Harry descobrir quem eu era. Minha cabeça confusa não distinguia mais nada além daquilo que eu já tinha passado. De repente meu corpo parou de súbito, meu olhar vagueou e minhas pernas tremeram. Senti um estranho arrepio correr meu braço esquerdo até meu coração. Este doeu; uma dor lancinante cortou as minhas veias e as extremidades do meu corpo começaram a roxear. A dor era tão insuportável que me joguei no chão, gemendo, recusando-me a gritar e dar o gostinho da vitória a quem me fazia aquilo.
Minha angústia era tanta que eu clamava silenciosamente pela morte e quando meus olhos fecharam-se nas órbitas, uma mão calorosa me pôs no colo e me levou dali.

Capítulo Trinta e Três
”Bem, antes eu sabia que ia ser um filme. Eu era o maior fã de Harry Potter. Eu li todos os livros.”
(Rupert Alexander Lloyd Grint)

As vozes eram distantes, não conseguia reconhecer nenhuma. Meus olhos permaneciam fechados, mas dessa vez era por escolha própria. Eu conseguia ver a luz através das pálpebras, o estranho tom de vermelho estava iluminando minhas íris. Suspirei calmamente, para não chamar a atenção de quem me observava e por alguns segundos percebi que o silêncio se instaurara no recinto. Meus dedos mexiam-se involuntariamente, não conseguia saber se eram espasmos, pois por mais que tentasse, não conseguia erguer os braços.
- Ela está acordando? – perguntou uma voz de garota, preocupada.
- Não sei. – respondeu outra. – Ela fez isso durante o dia todo.
- Ela só está ressonando. – compreendeu a primeira.
- Acho que devemos ir, ela não deve acordar hoje também. – comentou um garoto.
- Não! Eu vou ficar aqui. – era Fred.
Meus olhos se abriram abruptamente, era como se a voz de Fred fosse o estimulo que precisava para voltar ao mundo. Eu continuava rígida sobre os lençóis, sem saber por que não conseguia mover meus músculos.
- Ela acordou. – guinchou a segunda garota.
- O que está acontecendo aqui? – era madame Pomfrey. – Chega, garotos, é melhor deixar a senhorita Selwyn descansando. Vamos, vamos. – disse enxotando Hermione, Gina e Rony que também pareciam ter sido medicados por ela, embora estivessem melhor que eu.
- Como se sente? – perguntou-me Fred, quando Madame Pomfrey o deixou permanecer por mais dois minutos.
- Eu... – tentei, mas minha voz falhou.
- Esquece. Você dormiu por três dias! – disse ele, mas seu rosto parecia distante e sua voz tão fria quanto os invernos ingleses.
- Fred... – mastiguei as palavras de novo; frustrada, fechei os olhos e tomei fôlego. – Fred, senti sua falta.
- Também senti a sua. – continuou ele, seus olhos vidrados como se não houvesse verdade naquilo que afirmava.
- Você... está... bem? – resmunguei, levantando a mão e tentando tocar seu rosto sardento.
- Ótimo. – respondeu simplesmente, segurando meus dedos e pondo-os de volta na cama.
- Vou perguntar de novo. Você está bem? – minha voz saía mais firmemente e depois de um longo suspiro continuei. – Responda sinceramente.
- , o que é essa tatuagem marcada a fogo nos seu braço? – ele cuspiu as palavras lentamente, e a pergunta me pareceu totalmente retórica.
- Meu Deus! Você viu? – perguntei, obviamente ele tinha visto, mas eu precisava de tempo para assimilar o questionamento. – Fred, eu ia te contar. – menti.
- Não ia não. – disse ele, balançando a cabeça e finalmente eu pude descobrir o que lhe arrancava o sorriso do rosto.
Apertei meus lábios, sentindo meus olhos marejarem, mas não derramei uma lágrima.
- Não, eu realmente não ia. O que pensaria de mim se eu lhe contasse que fui tatuada a fogo por Lord Voldemort? – soltei, escondendo o rosto.
- Então você é mesmo uma deles? E eu achando que você fosse diferente.
- Eu não sou uma deles.
- Fala sério, , acha que sou algum idiota? Você nem se importa comigo, nunca se importou.
- Isso é mentira! – gritei descontrolada, tentando me levantar. – Eu amo você, eu amo.
- Não posso acreditar nisso. – finalizou ele, se erguendo quando Madame Pomfrey veio na nossa direção.
- Não me deixa falando sozinha, Fred. Fred! – gritei e só então desabei em lágrimas.
Não consegui mais. Estava muito difícil continuar a vida que tinham me imposto. Eu realmente estava perdendo tudo que tinha e até aqueles que não significavam muita coisa para mim.
Joguei-me novamente sobre os lençóis e gritei com o rosto apertado ao travesseiro.
Perguntei-me quantas pessoas tinham descoberto sobre meu segredo. Olhei para o biombo da enfermeira de Hogwarts e suspirei. Senti um baque quando me lembrei dos meus pais, eles estariam bem ou já teriam sido punidos pela deserção?

***


- Entre. – pediu a voz do diretor quando bati à porta de seu escritório na noite em que deixei a ala hospitalar.
- Boa noite, diretor. – sussurrei, cabeça erguida e tom altivo.
- Fique tranquila, não estou aqui para acusá-la. Cada um serve ao lado que lhe convém. – disse ele com um sorriso encantador, mostrando-me a cadeira para que eu sentasse.
Permaneci de pé e Fawkes piou baixinho.
- Creio que já deva saber o que aconteceu, mas só chamei-a aqui para dizer que seu segredo está guardado. E que sua única ameaça é Bellatrix Lestrange.
- E os outros comensais? – perguntei seriamente, correndo os olhos pelos quadros que fingiam dormir.
- Em Askaban.
Arregalei os olhos.
- Bom, se desejar me perguntar algo fique à vontade.
Estalei os lábios em sinal de irritação e dei as costas para Dumbledore, bem a tempo de ouvir um dos quadros dizer a ele:
- Olha só que disparate, esses jovens de hoje não respeitam autoridades.

Caminhei pelos corredores vazios. Os alunos pareciam já estar recolhidos em seus aposentos. Ocupei-me o caminho todo de desligar meus pensamentos, julgando que seriam mais do que eu poderia aguentar.
Não sabia exatamente aonde ir, não queria ficar vagando por Hogwarts e nem tampouco desejava entrar no salão comunal da Sonserina. Meu peito doía ao pensar em Fred e meus olhos ardiam cada vez que eu imaginava a raiva de Harry ao saber quem eu era realmente.
Eu estava usando as mangas compridas. Minhas saias batiam nos joelhos e a meia calça negra escondia os machucados em minhas pernas. Meus cabelos sujos e desgrenhados estavam presos em um rabo de cavalo mal feito e as olheiras em meus olhos batiam nas bochechas. Eu estava assustadora e tinha consciência disso.
Enfim acabei por me decidir. Eu iria enfrentar a cólera de Salazar Sonserina. Eu iria para os dormitórios.
O salão comunal da Sonserina ficava escondido atrás de uma porta, próximo ao lago negro. A grande sala era toda em tons de verde e isso não me ajudava a esquecer Harry. O lugar estava silencioso e vazio, sentei-me em uma das confortáveis poltronas para descansar, esperando que quando fosse para a cama, todas as garotas já estivessem dormindo. Afinal, na manhã seguinte era à volta para casa.
- Está tudo bem? – perguntou alguém e me espantei, soltando um gritinho agudo.
Era Draco. Ele vestia uma camisa preta simples, uma calça da mesma cor e seu cabelo platinado estava molhado como se ele tivesse acabado de tomar banho. Seus olhos acinzentados estavam tristes e sofridos e só pude presumir que era por causa de seu pai.
- Draco. – falei.
- Me desculpe não ter visitado você quando estava na ala hospitalar, mas o traidor de sangue não a deixava sozinha por um minuto sequer.
- Fred? Ele estava sempre comigo?
- Durante os três dias!
Eu podia compreender a preocupação de Fred, ele deveria estar desejoso de obter algumas repostas, mas também não conseguia tirar da minha cabeça que ele podia estar preocupado comigo e meu bem estar. Se assim fosse, isso queria dizer que ainda me amava.
- Eu estou bem agora, mas e você? Soube sobre seu pai. – retruquei, e Draco sentou na poltrona ao meu lado. Era como se todas as nossas divergências houvessem sumido.
- Aquele Potter vai pagar caro pelo que fez. Não descanso enquanto não vingar meu pai.
- Draco, desculpe pelo que fiz. – disse, sentando-me no chão. Sempre havia preferido o carpete macio ao invés das poltronas.
- Não quero saber o que você fez, mas deve saber que seu pai está muito irritado. Ele foi severamente torturado.
Olhei para Draco assustada, sentindo meu corpo ficar quente e frio. Eu estava tendo calafrios com a notícia.
- E minha mãe? Tem notícias da minha mãe?
A expressão de Draco mudou. Era sempre assim, comigo ele estava sempre mais calmo e preferencialmente bonito. Ele não era arrogante, muito menos o garoto metido filho da família rica. Comigo ele não era Malfoy, ela era simplesmente o Draco.
- Anda, Malfoy! Sabe o que sobre minha mãe? – gritei.
Draco tampou minha boca com sua mão, pedindo silêncio. Ele olhou carinhosamente para mim e seus braços me envolveram em um abraço apertado e caloroso. Meus dedos apertaram sua camisa, sentindo os músculos em suas costas. Nossos corpos retidos um contra o outro era tudo que eu conseguia sentir, mas desejava saber sobre minha mãe e aquela reação respondeu-me de certo modo.
- Não. – chorei. – O que aquela aberração fez com minha mãe? O quê?
- Sinto muito, . Foi a sua punição, ele sabia que ela era a única que a faria sofrer. – explicou Draco.
- Como foi? – perguntei. – Você viu?
- Não exatamente. Eu ouvi! Seu pai estava presente.
- AQUELE PORCO. – guinchei, tremendo e tendo espasmos, se não fosse por Draco me segurando eu já teria desmaiado. Era como se compartilhássemos nossas forças. – ELE VIU MINHA MÃE MORRER E NÃO FEZ NADA! COMO ELE PODE, COMO?
- Fica calma. Eu estou aqui com você, prometo nunca te deixar. – seus braços continuaram me apertando.
Draco separou-se de mim vagarosamente, seus dedos compridos limparam as lágrimas que jorravam em meu rosto. Eu não conseguia fazê-las parar, mas também não queria. Eu estava cansada de guardar aquela raiva, o sofrimento e a angústia. Já era hora de pensar um pouco em mim.
- Eu juro que vou vingar minha mãe. – sussurrei.
- ...
- Estaremos um contra o outro, eu sei. – respondi à sua pergunta subtendida.
- Sim. – ele afirmou. – Mas mesmo assim, eu... – Draco parou, olhando dos meus olhos para minha boca e eu mal pude notar o momento em que aconteceu.
Draco me beijou. O beijo mais firme e delicado que eu já tivera em minha vida. Suas mãos deslizavam por minhas costas, até chegarem a minha nuca. Seus lábios se moviam seguros ao encontro dos meus, buscando passagem para aprofundar a situação.
Meus dedos brincaram com os cabelos lisos de Draco e meus olhos fecharam-se involuntariamente e de repente todos os meus sentimentos se misturaram, formando uma só massa emocional. Eu tinha sido atingida pela paixão.
Paixão é diferente de amor. Amor eu só tinha por Fred.
- Eu amo você. – Draco terminou sua frase.
Acabamos a noite, sentados no carpete, próximo à lareira. Não nos tocamos ou falamos mais. Só precisávamos da presença um do outro para sentir que tínhamos com quem contar.

***

Cheguei à plataforma de embarque sozinha e vestida de negro em sinal de eterno luto. Eu não sabia para onde iria, mas decidi que não voltaria para casa de jeito nenhum. Olhei ao redor e vi Rony, Hermione, Gina, Luna e Neville juntos. Harry estava um pouco distante e aéreo.
Draco continuava ladeado por Crabbe e Goyle e o resto dos Sonserinos me evitavam.
- Senhorita, o professor Dumbledore deseja vê-la. – era Hagrid, ele sorriu para mim e acenou para os garotos mais à frente.
- Como assim, vou perder o expresso! – respondi, vendo pela visão periférica que Draco me olhava.
- Me desculpe, senhorita, mas são ordens do diretor. – respondeu Hagrid, só então notei que ele estava acompanhado daquele cachorro enorme.
No caminho de volta para Hogwarts tive uma grande surpresa.
- Que coisa horrorosa é essa? – perguntei, apontando para o cavalo que puxava a carruagem, esquelético como se tivesse à beira da morte.
- São os testrálios. – Hagrid franziu o cenho para mim. – Como consegue vê-los? Na aula em que os mostrei você não disse nada.
Ignorei a pergunta e continuei olhando para o estranho animal á minha frente, compreendendo então porque eu os via.
- Mamãe! – sussurrei.

Dumbledore me recebeu aos portões da escola. Ele sorria e seus óculos brilhavam a luz do sol. Seus compridos braços me esperavam abertos, como se quisessem me abraçar, mas ao mesmo o sorriso parecia preocupado.
- Senhorita. – disse ele. - Venha comigo. Precisamos conversar.
- Sobre o que, diretor? – perguntei nervosa.
- Algo do seu interesse.
Fomos diretamente para a sala do diretor; o diretor ia à frente, falando sobre doces e animais. Ele era fascinado por tudo isso e conseguia perceber o quanto ele venerava tais assuntos. Eu seria incapaz de compreender aquele homem enigmático, então desisti.
- Vamos conversar aqui. – ele disse quando entramos.
- Diretor... – fui interrompida.
- A senhorita tem onde ficar? – perguntou-me, eu fiquei sem palavras.
- Sinceramente, isso não assunto seu, Senhor. – respondi.
- Claro que não. Mas acho que estaria correndo perigo voltando para os braços de seu pai. – falou Dumbledore. – Eu andei conversando com os senhores Weasley e eles concordaram em receber você na casa deles.
- Os traidores...
- Por favor, não use dessas palavras na minha frente. – ralhou ele, olhando-me seriamente. - Aceita a proposta?
- Eu realmente não tenho para onde ir. – desabei, olhando para a janela onde o sol reinava absoluto.
- Aceite essa oferta. Será muito bem recebida. –ele tentou me convencer. – Outra coisa, a senhorita não tem mais os valores que Salazar Sonserina preza.
- Como assim? - Silvei erguendo meu olhar para ele – Como assim não tenho?
- Não é mais ambiciosa acima de tudo. Provou que tem sentimentos melhores e acho que não seria orgulho para o fundador dessa casa. Por isso proponho uma mudança.
- Mudança... Está dizendo que quer me tirar da Sonserina?
- Se a senhorita aceitar e obviamente o diretor da sua casa, mas devo avisá-la que ele não tem objeções.
- O professor Snape não deseja mais a minha presença na Sonserina?
- Ele concorda que a senhorita é corajosa e nobre demais para fazer parte da casa da qual ele é diretor.
Sentei-me ereta novamente, olhando para o chão e respirando profundamente. Resoluta em minha resposta.
- Não mudarei de casa em Hogwarts. – respondi. – Eu amo a Sonserina!
- Claro. Não vou obrigá-la! – Dumbledore assentiu sorrindo. – E quanto à Toca?
- Sendo para minha segurança, eu aceito. Mas não espere que eu mude com isso, não vou me misturar com essas pessoas.
- Sim, senhorita. Então, a partir do próximo ano letivo a senhorita será a primeira moradora da Toca a estudar na Sonserina.
Olhei para fora no exato momento em que os raios de sol tocaram meu rosto e senti a presença da minha mãe, era como se ela estivesse abençoando minha escolha e me protegendo onde quer que estivesse.
- Não a decepcionarei, mãe. Eu prometo.

Fim



Nota da Autora: Oi minhas princesas! Gostaram do final? Gostaram da sua escolha? Na minha opinião, você foi muito brava durante a fic, não sei se eu seria corajosa assim.
Sinto muito se você e Fred brigaram, mas Draco completou parte desse vazio no seu coraçãozinho não? Talvez. Ah, sinto pela sua mãe também, mas ela não era muito maternal não é mesmo?
Que acha de morar na Toca? O Fred vai lá sempre que pode, quem sabe vocês não reatam? Bom, não posso garantir nada, mas acho que você vai viver uma aventura no próximo ano.
Estou muito feliz por ter concluído esse projeto, eu estava deliciada de escrever essa fic e cada capítulo. Uma emoção indescritível tomava conta de mim cada vez que você vivia uma aventura, ou beijava o Fred e até mesmo o Draco. E vejam só como é o destino, eu queria fazer o Harry principal e o Draco tomou conta da fic e além de tudo o Fred é o cara, hem?
Sim, I work for evil, but I love you é meu orgulho, assim como, P.S: Game Over, na verdade nem consigo me lembrar de como surgiu a ideia de criar essa fanfic, mas fiquei extremamente emocionada com a aceitação dela no site. Incrível como conseguimos fazer dela uma fic famosa de HP *-*
Espero também, que vocês tenham percebido o amadurecimento da personagem principal ao longo da história, ela cresceu e passou por mudanças e caráter. Eu realmente desejei mudá-la de casa, mas acho que a personagem é uma legítima Sonserina e não aceitaria muito fácil a ideia de ter que mudar de casa e que seus atos de bravura e coragem poderiam ser repetidos por qualquer pessoa sobre pressão.
Queriam me desculpar pelas possíveis lacunas que a fanfic deixou, mas é que odeio planejar a história antes de escrevê-la, gosto deixar os próprios personagens escreverem suas vidas.
Bom minhas flores, é isso. Agradeço à todas por acompanharem IWFE e principalmente a Benny que se provou não só uma beta, mas também uma amiga que me ajudou muito a continuar e cada elogio dela era igualmente importante, assim como os de vocês.
Prometo que vocês não vão ficar muito tempo sem continuação, pois a próxima aventura já esta sendo escrita ;D
Beijos, May.

P.S: Você gostaria que tivéssemos finais alternativos (Um com Draco, um com Fred e um com Harry)? Respondam nos comentários com a seguinte colagem: Finais Alternativos:
( ) SIM
( ) NÃO Obrigada.

Nota da Beta: Então, o que eu posso dizer? Foi a primeira fic de HP que eu betei, e acho que eu leria essa fic mesmo se não fosse beta dela. A história foi muito bem desenvolvida, e foi incrível como a May conseguiu fazer eu me apaixonar perdidamente pelo Fred e até sentir compaixão pelo pobre do Draco. Então EU voto pelos finais alternativos, sim!!!
E além de tudo, eu estou mega emocional aqui porque essa é a primeira fic que eu concluo como beta! É muito emocionante acompanhar cada capítulo, e assim como vocês leitoras, eu ficava ansiosa e enchendo o saco da May por causa das atualizações! Mas agora só resta esperar a May aparecer com a IWFE2 e me escolher de novo como beta! Ai dela se não o fizer, eu vou atrás dela e faço picadinho! KKKKK
Espero que vocês tenha gostado da fic, e fiquem ligadas para as próximas fics da May, ok?! Comentem e façam ela muiiito feliz, pra ela se animar a escrever a continuação da IWFE! :D
Xxx

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