A cidade de Leeds, ao norte da Inglaterra, se orgulhava de ser a terceira maior do país. O condado de West Yorkshire, onde fica localizada, estava repleto de vida. A primavera trouxera consigo toda a beleza escondida pelas tempestades de neve que tinham assolado a região meses antes. As árvores, antes apenas galhos cobertos de neve, podiam se destacar pelas folhas verdes. Flores nasciam com passar dos dias, cada uma mais colorida que a outra, e esse desabrochar animava os moradores da região.
O bairro de Westpoint era famoso pelas belas casas, todas em modelos coloniais que tinham certa imponência pela sua arquitetura. Todas as famílias que habitavam o local eram da classe alta, tradicionais e conhecidas não apenas pelo dinheiro e posição social, mas principalmente pela quermesse. O evento reunia todas as pessoas do local e havia se tornado uma tradição. Ocorria todo o ano e era muito famoso pelas quantias arrecadadas em prol das crianças órfãs do St. Anne Hospital, o qual era reconhecido pelo ótimo atendimento e também pela casa que era mantida através de doações para os pequenos.
Neste ano, a famosa quermesse aconteceria alguns meses antecipada, pois os organizadores alegaram que as ótimas condições do tempo tornariam perfeita a realização do evento.
O sol brilhava alto no céu claro e sem nuvens, tudo indicava que aquele seria um dia lindo.
null saiu do carro irritado por ter sido acordado tão cedo. Ele achava um completo absurdo ter que comparecer aquela festa e ainda mais ter que trabalhar nela! Usava uma blusa azul que ressaltava seus belos olhos e uma bermuda larga que deixava sua cueca à mostra. Os cabelos, arrumados de um jeito inexplicável sem que o garoto nem ao menos tivesse que passar um pente por eles, balançavam com o vento primaveril que soprava. Ao entrar, null viu várias caixas, as quais estavam dispostas pelo chão, e fios com bandeirinhas que pendiam de um lado a outro do grande salão. Imediatamente praguejou os pais, pois previa que teria muito trabalho pela frente. As várias barracas tinham suas armações sendo montadas e pessoas andavam de um lado para outro, completamente envoltas em seus trabalhos de carregar equipamentos e decorar o ambiente. Sua mãe deveria estar em algum lugar e se ele fugisse, com certeza seria pego imediatamente, já que todos conheciam a família.
- null! Já não era sem tempo, hein? - A senhora null o invocou. - Pensei que ia ficar entocado naquele quarto o resto do dia. Vamos, me ajude aqui.
- Bem que eu queria. - Ele falou cerrando os dentes, e de maneira que sua mãe não ouvisse enquanto carregava uma das caixas para o local indicado.
null acordou radiante. Ficara dias sonhando com a festa em que, desde seus primeiros anos, ajudava. Depois de tomar banho, vestiu uma calça jeans, uma regata branca e amarrou seus cabelos num rabo de cavalo alto. Ao descer as escadas, pôde sentir o cheiro de milho que estava dominando o ar.
- Bom dia, mãe!
- Nossa, que bom humor! Nem parece a menina que andava chorosa pelos cantos - a mãe a olhou carinhosa. - Ou você acha que eu não percebi?
- Ah, besteira. O que importa é que hoje eu estou bem. E aí, como andam os preparativos?
- Tudo certo, filha. Aliás, acho que já está na hora de você ir ajudar lá, não?
- Claro. Vim só lhe dar um beijo e já estou indo.
A menina pegou sua bolsa e colocou-a sobre os ombros enquanto se dirigia à porta. Já era tempo mesmo de esquecer tudo o que passara nas últimas semanas, e envolver-se em um trabalho tão nobre a ajudaria. Enquanto caminhava até o local da quermesse, null foi lembrando-se de quando caminhara ali acompanhada por ele e de todas as risadas que deram, mas agora tudo aquilo tinha se perdido. Para afastar todos os pensamentos que teimavam em voltar à sua mente, a garota pegou seu iPod e colocou os fones, cantando junto com a música.
Seguiu seu caminho a passos largos e logo estava passando pelo portão. A arrumação estava a todo vapor. Cerca de vinte barraquinhas já estavam montadas, só aguardando para serem decoradas.
O tiro ao alvo já estava no lugar, os recipientes com balinhas de plástico estavam preparados e as armas pendiam prontas para serem usadas. O garoto responsável pela montagem da barraca tentava posicionar os alvos para que ficassem em uma altura boa, mas sua visão estava sendo dificultada pelas pequenas mechas de cabelo que insistiam em cair sobre seus olhos. Com um movimento rápido, ele conseguiu espantar os fios que tanto o incomodavam. null tinha voltado de Londres na noite anterior, estava com cara de poucos amigos já que fora obrigado pela mãe a participar da quermesse. Mesmo achando a causa nobre, não pretendia ter que trabalhar a noite inteira, principalmente depois de sua inesperada volta para a cidade de Leeds.
- null! - Assim que ouviu aquele nome, null sentiu um frio que percorreu todo o seu corpo e as famosas borboletas no estômago o dominaram. O garoto que estava sentado no chão tentou ver quem era a dona da voz. Era a Sra. Brown, uma das principais organizadoras do evento.
null, que tinha fones de ouvidos, continuou andando com passos decididos, cantarolando baixinho alguma música que null não pode distinguir. Era incrível, depois de todos esses dias ela conseguia estar mais bonita. null examinou cada parte de seu corpo e não pôde deixar de sorrir. A regata branca tinha um caimento perfeito em seu corpo. A calça era jeans, com um pequeno rasgo na barra.
- null! - A Sra. Brown tornou a gritar, apressando o passo e tocando o ombro da garota que a encarou assustada.
- B-bom dia - null falou enquanto tirava os fones de ouvido.
- A senhorita já está atrasada! - A mulher falou limpando levemente o rosto com um lencinho branco. - A barraca do beijo ainda não está montada!
- É que... Eu estava justamente procurando a minha barraca... Eu... Eu me perdi.
- Tudo bem, mas eu acho bom você correr, eu quero que tudo esteja arrumado antes do almoço. Não quero ninguém arrumando as coisas durante a festa.
- Mas a festa só vai acontecer à noit... Desculpa. Eu vou começar a fazer isso agora - null deu seu melhor sorriso ao perceber a expressão séria da mulher. - Para que lado fica a minha barraca?
- Para à direita. Mas não se preocupe, eu vou te acompanhar. Não quero que a senhorita se “perca” de novo.
- Barraca do beijo? - null cochichou e deu um sorriso maroto logo em seguida. - Bom saber...
Assim que terminou de montar sua barraca, null decidiu que estava na hora de ir para casa, afinal, ele teria que voltar à noite para trabalhar na festa. Procurou sua mãe na entrada do parque, ela provavelmente estaria organizando as flores e balões do jeito mais escandaloso possível. No caminho de volta, null não conseguiu parar de pensar na imagem da garota que tinha visto minutos antes. Um sorriso insistia em aparecer em seu rosto enquanto lembrava-se dos momentos que passaram juntos.
- null? Urruu... - A Sra. null falou, passando rapidamente a mão na frente do rosto do filho, que a encarou com um sobressalto. - Você está no mundo da lua! Em que está pensando, menino?
- E-eu? - null encarou o vidro do carro, analisando as casas do conjunto - Nada, só estava calado, só isso.
- Sei... - A mãe de null deu um risinho, voltando a olhar para frente. - null! Agora que eu fui me lembrar! Tenho uma novidade!
- Sério? Nossa, estou ansioso pra saber - null fingiu animação.
- A null! A filha da Ellen está trabalhando na barraca do beijo! Vocês são amigos, não? Você já falou com a null? Você a viu hoje?
- Mãe, calma, muitas perguntas em pouco tempo - null tentou ganhar tempo. - Não... Não a vi... – mentiu.
- Você devia procurá-la, filho. Ela é sua amiga não?
- É... Ela é, mãe.
Segunda Parte:
null voltou para a casa com a mãe. Tinha ficado satisfeita com a decoração da barraca, mas pretendia pegar alguns balões para poder colocar mais cor no lugar. Assim que desceu do carro apressou o passo para chegar ao seu quarto, o que mais queria era um banho. Depois de passar a manhã trabalhando, se sentia cansada e principalmente suada. Prendeu os cabelos em um coque no alto da cabeça enquanto caminhava para o banheiro.
null deu um longo suspiro ao sentir a água percorrer seu corpo, era reconfortante após tanto trabalho. Minutos depois a garota foi para seu quarto, ela realmente precisava de algumas horas de sono.
null terminou de se arrumar em alguns minutos. A noite tinha chegado e sua mãe não parava de gritar escadas abaixo pelo seu nome. O garoto estava sem paciência, não estava nem um pouco feliz de ter que trabalhar em uma barraca a noite toda, a única coisa que o obrigava a ir era o fato de que encontraria null, poderia vê-la e finalmente conversar com a garota após essas semanas. Deu um sorriso convencido para o espelho, enquanto abotoava a camiseta de manga comprida azul com estampa xadrez.
- null, nós temos que ir! - A Sra. null entrou no quarto, apressada. - E o que é isso?
- Isso o quê? - null perguntou, passando a mão pelos cabelos.
- Essa calça! Está batendo no seu joelho! - A mãe de null aproximou-se do garoto, puxando sua calça para cima.
- Ai, mãe! - Ele reclamou colocando a calça de volta no lugar. - Deixa a minha calça no lugar, por favor? Eu estou pronto, satisfeita?
- Muitíssimo - ela sorriu, puxando-o pela mão. - Agora vamos, não queremos deixar todos esperando pela barraca de tiro ao alvo, não é?
- Claro, todos devem estar fazendo fila pra jogar nessa barraca idiota - null cochichou.
- Disse alguma coisa, querido?
- Eu? - null coçou a cabeça. - Eu não.
Assim que acordou, null começou a se arrumar para a quermesse. Alguns dias antes, sua mãe tinha comprado um vestido, tentando melhorar os ânimos da filha, que insistia em ficar trancafiada em casa. O vestido era realmente lindo, o modelo era tomara-que-caia com um pequeno laço na frente, não possuía estampa e era vermelho. O cabelo fora preso em uma trança que caía sobre o ombro da garota. null deu uma volta, fazendo com que a saia do vestido armasse. Soltou um riso ao ouvir os aplausos da mãe e do pai que estavam sentados no sofá da sala.
- Você está linda, filha! - A mãe falou orgulhosa. - Todos os garotos vão querer te beijar.
- Tenho que concordar com a sua mãe - O Sr. Walton sorriu. - Só espero que nenhum garoto vá, realmente, beijar a minha filhota.
- Pai, eu estou fazendo isso pra ajudar as crianças do hospital.
- Sua mãe poderia ter colocado você na pescaria, na barraca de comida, mas não...! Colocou você na barraca do beijo! - O pai de null fez um sinal de desaprovação com a cabeça.
- Não vamos começar com essa briga de novo, não é? - A Sra. Walton deu seu melhor sorriso levantando-se do sofá. - Agora vamos, tenho que ver se está tudo certinho para o início da quermesse.
- Droga! - null exclamou. - Eu estou sem brinco. Mãe, me espera só mais uns minutinhos pra eu procurar algum?
- Tudo bem. Eu ainda tenho que checar os salgadinhos ali na cozinha.
null subiu correndo as escadas da casa, entrando rapidamente em seu quarto. Assim que entrou, a garota andou até o grande móvel posicionado na parede central do cômodo. Um grande espelho redondo ficava sobre uma mesa repleta de gavetas, onde estavam guardadas algumas roupas, jóias e maquiagem. A primeira gaveta foi aberta, mas não havia nada ali a não ser algumas blusas. Assim que abriu a segunda, null se deparou com os brincos que tanto queria. Eram pequenas bolinhas, as quais formavam uma flor. A garota pegou o brinco colocando em uma das orelhas enquanto encarava a gaveta, foi quando reparou na bagunça que ali se encontrava. Algumas fotos, cartas, rabiscos, cadernos... Tudo o que uma garota costuma guardar.
null saltou os olhos quando se deparou com uma pequena caixa que ela achava ter esquecido. Sentou-se na cama, colocando a caixa sobre seu colo. Estava indecisa, abriria ou não? Quando percebeu, a tampa já havia sido jogada para o lado e ela começava a olhar o conteúdo que ela conhecia tão bem.
A primeira coisa com a qual se deparou foi com uma foto. Ela e seu amigo de infância, null. Eles estavam na entrada do circo. O garoto segurava a máquina com uma das mãos enquanto abraçava null com a outra. Ela, por sua vez, estava dando um beijo no rosto do amigo que tinha um sorriso de ponta a ponta. Atrás deles podia ser vista uma longa fila, onde adultos e crianças esperavam. No meio da multidão, alguns palhaços se destacavam com seus grandes narizes vermelhos e roupas escandalosas. As crianças que estavam ao seu redor pareciam pular e davam grandes gargalhadas. Dois homens com pernas de pau andavam em meio às filas, entregando flores e distribuindo sorrisos. Aquele dia foi especial. Outra coisa chamou sua atenção: um desenho. O papel já estava meio amarelado, pelo tempo. Lá havia dois bonecos de palitinho pintados com alguns rabiscos completamente desconexos, e embaixo deles lia-se "eu e minha melhor amiga". null conseguiu lembrar-se de quando recebeu esse desenho. Assim que null terminou e lhe entregou, null começou a comentar como tinha ficado feio. Depois disso, eles passaram uma semana sem se falar. O garoto conseguia ser uma pessoa orgulhosa quando queria. A garota colocou-o de lado e outra foto pôde ser vista atrás dele. Um casal estava em meio a uma explosão de cores geradas por fogos de artifício, ambos muito elegantes. Eles sorriam e o garoto a abraçava. Essa lembrança null não conseguiu impedir.
~*Flashback*~
Ano novo. Era uma sexta-feira à noite. A família Langlie, uma das mais tradicionais, estava dando uma festa para celebrar a entrada do ano. Megan Langlie era a filha do casal e também a garota mais popular do colégio, então quase todos os alunos receberam uma senha individual.
À medida que os convidados se aglomeravam na porta do salão, uma fila enorme era montada. Para aumentar o suspense da festa, seguranças foram colocados do lado de fora. Estes estavam recolhendo as senhas de todos, só assim as pessoas poderiam entrar.
- null, você tem certeza que isso vai dar certo? - null perguntou, tentando esconder o rosto.
- Claro que sim, null - null falou com firmeza na voz. - Afinal, você está comigo.
null deu um sorriso rápido. null estava incrivelmente bonito. O garoto tinha colocado um smoking preto sobre uma blusa branca com uma gravata vermelha. Era muito engraçado ver todos os garotos do colégio vestido com smokings e gravatas. As meninas não estavam perdendo em nada, muito pelo contrário, estavam muito elegantes com vestidos longos e xales combinando.
null aproveitou que a garota olhava para o outro lado e a encarou dos pés a cabeça. null usava um vestido longo tomara-que-caia rosa claro que realçava sua pele. Seus cabelos estavam soltos e havia uma pequena presilha de strass na lateral.
- Você fala isso porque a Megan lambe o chão que você pisa - null virou-se rapidamente.
- Isso é besteira. Não sei de onde você tirou isso - null levantou uma sobrancelha e balançou a cabeça negativamente.
- Pode perguntar pra qualquer um aqui nessa fila. Todo mundo sabe que ela é apaixonada por você. Eu deveria ter te embrulhado! Colocaria um laço rosa enorme na sua cabeça - null passou a mão levemente pelos cabelos do garoto, bagunçando-os um pouco. – Eu acho que ela pede toda passagem de ano pra namorar você. Assim ela teria me dado uma senha e eu não teria que entrar de penetra.
- Você não é penetra - null cochichou aproximando-se de null. - Você é uma convidada surpresa. Além do mais, seus pais foram convidados.
- Verdade, nunca tinha pensado por esse lado. Os pais dela convidaram meus pais - null sorriu. – Você sabe que ela me odeia e isso tem a ver com você, null null. Por isso fez questão de tirar meu nome da lista.
- Pronto, tudo culpa minha agora. Vocês garotas são estranhas.
- Senha, por favor - o segurança pediu.
- Aqui está a minha... - null entregou para o homem.
- E a sua senhorita?
- Ela está comigo - null falou antes que null pudesse dizer qualquer coisa.
- Ela tem senha?
- Ela esqueceu, mas ela é minha namorada - null falou rapidamente, segurando com firmeza a mão da garota. - Ela está me acompanhando.
null sentiu um frio indescritível na espinha e seu rosto começou a ficar escarlate. Ela evitou encarar null.
- Mas ela não tem senha - o homem reclamou logo em seguida.
- Qual é, eu não posso entrar sem a minha namorada. Tenho certeza de que a Megan não vai se importar, eu sou um dos melhores amigos dela. E além do mais, os pais da minha namorada estão aí dentro.
- Mas ela não...
- É, amor, eu vou ter que ligar pra Megan vir aqui na frente liberar a nossa entrada - null puxou o celular do bolso.
- Tudo bem, podem entrar.
null apertou a mão de null e lançou um sorrisinho convencido para a garota. Os dois entraram no pub e se depararam com várias mesas arrumadas. No meio da pista algumas pessoas dançavam animadas. Um DJ tocava seus discos enquanto todos se sentavam e conversavam com os presentes. A decoração era uma mistura de rosa e prata. Balões e flores completavam o lugar.
- null... - null falou após alguns segundos em silêncio.
- Oi... - Ele respondeu um pouco distraído encarando-a.
- Você... Pode soltar minha mão agora.
- Ah, claro! - Ele coçou a cabeça, sentindo o rosto ficar vermelho. - Desculpa.
- Eu não sabia que você era ator, aquilo merecia um Oscar! - null riu. - Quer dizer, a gente, namorando?
- E o que tem demais nisso? - null tentou manter o bom humor.
- Ah, é que... - null parou por alguns segundos. - É estranho, não? Nós nos conhecemos desde o que? Bebês?
- Eu acho que...
- null! - Um garoto gritou do outro lado da pista andando em direção ao casal. Era David,
um amigo do colégio que vinha acompanhado de Anna, uma das melhores amigas de null.
- Não vai agarrar ninguém porque senão eu não vou gostar, hein - null brincou.
- Ah, nós ainda estamos namorando? - null o encarou sem sair do lugar.
- Mas é claro, meu relacionamento é sério! - null deu uma piscada para a garota antes de sair andando.
A meia noite já estava chegando. Os convidados estavam mais animados que antes, após algumas rodadas de coquetéis. Os meninos tiraram os smokings que usavam, ficando apenas de camisa e gravata frouxa ao redor do pescoço. As garotas deixaram os xales sobre a mesa e algumas também abandonaram os sapatos para que pudessem ficar mais à vontade. Alguns pais e mães se arriscavam na pista de dança, em meio a brindes e conversas. Todos pareciam aproveitar.
null e null quase não se viram durante a festa. Quando isso acontecia, conversavam por alguns minutos e logo eram separados pelos amigos.
- null, vem aqui! – null o chamou mexendo a mão.
- Não sou garçom não, sou seu namorado, ok? – Ele brincou, parando de frente para ela. – Amor, nós estamos namorando há algumas horas e você já começou com grosserias? Vamos discutir a relação!
- Você está levando essa história de namorado muito a sério.
- Eu sou seu namorado de mentirinha – null levou a mão à boca. – Mas não conta pra ninguém.
- Muito engraçadinho, null. - null sentiu o rosto arder. – Quero desarrumar você.
- Desarrumar? – null levantou uma das sobrancelhas.
- Isso mesmo – null tirou o smoking de null, colocando-o sobre um dos braços e puxou uma das mangas do garoto para cima, fazendo com que ela ficasse 3/4. Logo em seguida, afrouxou a gravata vermelha. – Agora está quase bom.
- Fala sério, eu não preciso disso, eu sou sexy desse jeito mesmo – null falou em um tom convencido.
- Você se acha demais, sabia? – null riu, bagunçando o cabelo de null. – Agora sim, está ótimo.
- Obrigado, namorada de mentirinha, ficou ótimo – null piscou para a garota, pegando o smoking de volta. – Agora...
null virou-se para null e viu que ele tinha puxado uma das flores que estavam sobre a mesa e fazia uma pequena reverência.
- null, o que você tá fazendo? – null deu um risinho com o rosto corado.
- Quer dançar comigo? – Ele logo em seguida a encarou com um sorriso de ponta a ponta.
- Eu... – null pigarreou. – Mas a Megan e meus pais vão achar...
- Já sei, vem aqui – null pegou null pela mão, guiando-a para fora do salão.
Do lado de fora, na parte detrás da casa de festas, existia um grande jardim. Ele tinha altos arbustos que formavam grandes fileiras, escondendo os bancos. No meio do local havia um grande chafariz, em forma de dois anjos que tocavam flautas de onde saíam jorros de água.
- Pra onde você está me levando? – null riu.
- Pra um lugar em que você não vai ter que se preocupar em ser vista pelos outros. – null deu uma piscada rápida para a garota, entrando em um dos caminhos escondido pelos arbustos. – Pronto, chegamos.
O local era pouco iluminado, apenas uma fraca luz vinha da passagem principal do jardim. A música do salão ainda podia ser ouvida, mas ela soava um pouco mais baixa.
- Isso aqui é muito lindo – null sorriu, dando uma pequena olhada em volta. – E frio...
- Pega – null estendeu o smoking que tinha em mãos e entregou para a garota. – Pode usar.
- Obrigada – null sorriu.
- Ficou mais bonito em você do que em mim – null mais uma vez fez uma reverência. - Então... Dança comigo?
- Eu... Adoraria – null mordeu o canto da boca, aproximando-se do garoto e passando os braços pelo seu pescoço.
null colocou os braços ao redor da cintura da garota, encostando seus corpos. Ele encostou sua bochecha na de null. Eles davam passos calmos e lentos, apenas acompanhando a música que vinha do salão.
- Seu perfume é muito bom... – null falou próximo ao ouvido de null. – Você tem cheiro de morango, sabia?
- Não, não sabia – null sentiu o rosto ficar escarlate.
- Morango é minha fruta preferida. Se eu soubesse que você tinha esse cheirinho, te abraçaria mais vezes.
- Pode ficar à vontade pra fazer isso.
- Eu estou fazendo isso agora. E poderia ficar te abraçando o resto da minha vida...
- Você está querendo me deixar sem graça, não é? – null falou, sentindo o coração bater mais forte.
- Ah, eu te deixo sem graça? – null a encarou com um sorriso convencido.
- Eu... Nã...
null foi interrompida pelos gritos que vinham do salão de festas. Eles não tinham percebido, mas a música tinha parado. As pessoas começaram a contagem regressiva.
null e null se encararam, não disseram nada, apenas ficaram se olhando enquanto os números eram contados em voz alta pelas pessoas.
- Quatro – null contou baixinho.
- Três... – null contou junto com o garoto.
- Dois...
- Um! – Os dois gargalharam, se abraçando logo em seguida.
- Feliz ano novo, null. Espero que você se livre do fantasma chamado Megan – null falou soltando um risinho.
- Você sabe da tradição... – null a encarou.
Os fogos de artifícios puderam ser ouvidos, iluminando o rosto dos dois. Um colorido iluminava também o céu.
- Você não pode passar o Ano Novo sozinha – null riu segurando o queixo de null.
- Então eu acho melhor eu encontrar algum garoto – null deu um risinho convencido, dando um
passo para trás, mas foi impedida por null, que a segurou pelo pulso.
- Você já achou – null aproximou o rosto, encostando seus lábios, e null abriu a boca levemente, deixando suas línguas brincarem em harmonia. Durante o beijo, null dava pequenas mordidas no lábio inferior da garota, que apenas abriu um sorriso.
Os fogos de artifício já tinham acabado, mas o casal, escondido pelos arbustos, continuava a se beijar.
null, que tinha os braços em volta do pescoço do garoto, passou os dedos pela sua nuca, bagunçando algumas mechas do cabelo de null. Ao sentir o toque, o garoto se arrepiou dos pés à cabeça, finalizando o beijo com alguns selinhos.
- null... – null encarou-o confusa.
- Pronto, você não vai passar o resto do ano na seca, pode me agradecer.
- É, parece que não... – null sorriu um pouco sem graça.
- Não precisa ficar sem graça, amor – null passou o polegar pelo rosto da garota. – Afinal, namorados se beijam, não?
- E até quando nós seremos namorados? – null levantou uma das sobrancelhas.
- Eu não estou pensando em terminar tão cedo, já que eu tenho a melhor namorada de todos os tempos. – null riu, aproximando novamente seus rostos, encostando seus lábios em um beijo apaixonado.
~*End Flashback*~
- null! - A mãe gritou, acordando-a do transe em que se encontrava.
- Estou descendo, mãe! - A garota respondeu, olhando uma última vez para a caixa. Dessa vez, um envelope verde chamou sua atenção. Era uma carta. A curiosidade falou mais alto e ela puxou-a, mas, ao ouvir mais um grito de sua mãe, resolveu guardá-la no bolsinho do vestido.
Terceira Parte:
A barraca de beijos em que null estava trabalhando estava enfeitada com balões em forma de coração e fitinhas coloridas. Enquanto a festa não esquentava, null resolveu dar uns toques finais na decoração e arrumar as cortinas que ficavam na lateral. Ao puxar um dos enfeites, acabou derrubando seu refrigerante que estava sobre uma mesinha.
- Droga! Eu, como sempre, desastrada! - A garota se abaixou para enxugar seus sapatos que tinham ficado ensopados.
- Olá. Eu queria um beijo.
null levantou-se prontamente com um sorriso no rosto, mas este desapareceu assim que reconheceu o dono da voz.
- Não vai me cumprimentar? - null falou encarando a garota com os seus olhos null. Aqueles olhos null que sempre a faziam tremer nas bases. - Já vi que não. Mas tudo bem. Como eu disse, eu quero um beijo... - ele falou sorrindo ainda mais. - Ou essa não é a barraca do beijo?
Desde seus dois anos de idade, null aprendera a formular frases, mas essa capacidade parecia ter sumido. Seus pensamentos estavam completamente embaralhados. Com o que ela conseguiu reunir de raciocínio, a garota esforçou-se para olhá-lo nos olhos.
- É, mas não pra você.
- Ah, eu concordo. Desde quando eu tenho que pagar por um beijo seu?
- Nem com todo o dinheiro do mundo, null - encará-lo parecia impossível sem que seu cérebro mandasse que se aproximasse. Ela precisava sair de perto dele, senão com certeza faria uma besteira. - Barraca fechada - null puxou com muita força as cortinas e depois passou pela portinha lateral, pisando fundo e bufando de raiva. Como ele conseguia, depois de tudo que fez, ir incomodá-la?
A passos largos, null foi se distanciando. Precisava de um lugar para ordenar seus pensamentos bem longe de null e ao levantar seu rosto, que estava voltado para o chão, ela pôde ver a roda gigante do parquinho ao lado da igreja. Apressou-se, pois havia muitas pessoas entrando e as cadeiras estavam se esgotando.
- Idiota! - null xingou a si mesmo. - Mil vezes idiota!
Ele virou-se para procurar null. Tinha que encontrá-la a qualquer custo, explicar as coisas! Movimentou a cabeça para todos os lados, tentando achar algum vestígio de onde ela tinha ido e, enquanto andava entre as crianças que corriam para todos os lados, ele pôde ver os cabelos da menina voando ao longe. Respirou fundo e seguiu-a.
- Uma ficha pra roda gigante, por favor.
- Você deu sorte, moça, só sobrou uma cabine. Venha por aqui, por favor. - Ele a guiou até a que estava vazia.
O senhor voltou ao seu painel de controle olhando para ver se mais alguém vinha para ocupar o último lugar vago.
- Moço! Espera, por favor! - Um rapaz chegou ofegante. - Q-quero uma... Uma ficha, por favor. - ele tirou o dinheiro do bolso, entregando-o.
- Com certeza. – o senhor sorriu. - Se você não se importa, terá de dividir a última cabine com uma moça.
- Ah, não senhor, não me importo. Nem um pouco, eu diria.
- Tudo bem, então me acompanhe.
null se perguntava por quê o controlador demorava tanto para dar início, já que ela precisava mais que nunca da vista que o brinquedo lhe proporcionava, daquele ar, de estar longe de null.
- Obrigado. Muito obrigado mesmo - null mal podia conter-se.
Ao ver quem iria dividir a cabine com ela, null arregalou os olhos e começou a gritar.
- NÃO! Não, moço, ele não! Por favor, tire esse... Esse... Garoto daqui!
- Desculpa, princesa, mas eu não tenho autorização pra impedir ninguém de entrar.
- Tudo bem, então eu... - Antes que null pudesse terminar, se deparou com o garoto parado a sua frente. - Saia da minha frente, por favor... - Ela falou sem encará-lo, dando um passo para o lado, a fim de sair dali.
- Não, você não vai a lugar nenhum - null a segurou pelo ombro. - A gente precisa conversar, você querendo ou não - null encarou o chão em silêncio enquanto null ainda a segurava.
- Vocês vão entrar? - O senhor que tinha voltado para o painel da roda gigante e gritou ao fundo.
null deu um empurrãozinho na garota e os dois entraram na gôndola. Poucos segundos depois, eles puderam sentir seus pés saindo do chão e o garoto esboçou o maior sorriso que conseguiu, enquanto
null parecia preparada para jogá-lo de lá a qualquer momento. Nos primeiros minutos, enquanto eles subiam, ninguém falou palavra nenhuma. Quando a roda gigante parou, os dois perceberam que estavam no ponto mais alto e conseguiam ver todo o local onde acontecia a quermesse. null achou estranho o garoto não ter falado nada até aquele momento. Com o canto do olho, percebeu que null estava tenso, tentando evitar o chão.
- Ah! - null falou rapidamente. - Agora eu me lembrei...
- L-lembrou? Lembrou do que?
- Você tem medo de altura! - Ela falou, encarando-o.
- Ah, bom saber que você ainda lembra que eu existo...
- Então o que você está fazendo aqui em cima?
- O meu medo de te perder é bem maior.
- Não começa que eu sei onde isso vai parar - null falou com a voz amargurada. - Não comece com essas suas frases românticas porque eu não caio mais nessa, null. Aliás, eu nem ao menos me lembro do que aconteceu entre nós! – ela mentiu. – Fiz questão de apagar tudo que envolvesse você. Nem consigo lembrar do nosso primeiro beijo!
- Foi na virada do ano. Você estava com aquele vestido rosa, no qual você fica absolutamente linda, aquele tomara que caia. Você lavou seus cabelos com algo que cheirava a morango. A contagem estava sendo feita e... Nós nos beijamos. Suave, mas ao mesmo tempo intenso. Foi incrível.
- Não sei do que você está falando – a garota falou, olhando para o lado oposto.
- Então por que você está me evitando?
- Por quê? Deve ter sido porque... - null parou de falar no meio da frase, não conseguiu ir adiante pois sentiu a garganta apertar. - Sai de perto de mim! Eu não quero ver você, falar com você ou qualquer coisa que eu tenha que ficar próxima de você.
- null, eu estou tentando reparar o que eu fiz, ou você ainda não percebeu isso? - null falou em um tom mais alto, se virando para ela. - Droga!
- Para! Você está querendo se fazer de vítima, null. Eu não quero falar com você - null cruzou os braços emburrada.
- Você é tão infantil. - null deu um risinho ao ver o bico que a garota fazia. - Você sempre faz isso quando as coisas não saem do jeito que você espera ou programa, fica emburrada, calada, fazendo bico, cresce, null! Eu estou tentando ter uma conversa de adultos aqui.
- Uma conversa de adultos? Realmente, o que você fez pode ser considerado o poço da maturidade.
null ia tentar argumentar, mas parou assim que percebeu algumas lágrimas que escorriam pelo rosto da garota. Esta, por sua vez, encarava as pessoas lá embaixo.
- Sabe, null... - null falou assim que sentiu a roda gigante descer. - Eu passei todos esses dias me preparando pra nunca mais ter que te ver de novo. Eu realmente consegui esquecer o que aconteceu, apaguei tudo -null sentiu o medo dominar seu corpo assim que ouviu as palavras ásperas da garota. A roda gigante parou e logo o senhor veio à cabine do casal para destravá-la.
- Por isso, não estraga tudo - null falou assim que o senhor abriu a cabine.
- null, eu... - null não teve a chance de terminar a frase, a garota já tinha corrido para longe dali.
- Aproveitou o passeio? - O senhor perguntou com um sorriso simpático.
- Digamos que foi... - null deu um longo suspiro. - Tenso.
null correu o mais rápido que pôde. No caminho, segurava o choro que estava apertando cada vez mais sua garganta. A garota quase esbarrou em um grupo de senhoras que caminhava carregando algumas tortas e bolos na mão, mas desviou há tempo de mudar a direção. Sem rumo, null foi parar nas arquibancadas do campo de futebol. Ela sentou na parte de baixo, ficando escondida pelos assentos, agarrou os joelhos, encostando-os a testa. Naquele momento ela não aguentava mais. Sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, mas não ligou, sabia que ninguém ia ali. O local só recebia visitas nos dias de jogo e no momento, metade das pessoas estavam ocupadas com a quermesse.
null sentiu que sentara sobre algo e apalpou o bolso esquerdo, retirando de lá o envelope verde que ela botara poucas horas antes. Não pôde deixar de abri-lo e contemplar uma folha de caderno dobrada.
“Ma petite fraise,
Você deve estar perguntando o que é isso. Bom, isso é francês e quer dizer "meu pequeno morango". A partir de hoje eu só vou te chamar assim, porque você tem esse cheirinho que eu adoro.
Eu estou no meio de uma aula de álgebra (ou seja, você pode imaginar como está o meu humor) e eu só queria que você estivesse aqui comigo, tentando me explicar esse assunto que, como eu já falei inúmeras vezes, é inútil pra vida do ser humano.
Na verdade, essa carta é uma desculpa pra eu falar sobre a noite de ontem. Ela foi com certeza uma das mais estranhas (no bom sentido) que eu já passei e, bem... Eu espero que se repita. Quer dizer, amigos podem ser... Mais que amigos, não? Ok, eu estou confuso. Na verdade, eu não estou confuso, eu sei o que eu quero e, bem... Eu quero te ver. Só você consegue organizar todos os meus pensamentos malucos.
Passo na sua casa mais tarde (sim, eu estou me convidando), seu amigo - ou mais que amigo - é abusado.
null”
~*Flashback*~
A campainha pôde ser ouvida no andar de baixo e um sorriso despontou nos lábios de null. Ela correu até o banheiro e olhou-se no espelho rapidamente, pois não podia deixar null esperando. As escadas foram descidas mais do que depressa e, depois de conferir no olho mágico, ela abriu a porta.
- null! - null entrelaçou as mãos atrás do pescoço do garoto, envolvendo-o num abraço apertado.
- Tô vendo que você encontrou a minha carta - ele sorriu e correspondeu ao abraço da garota.
- Eu fiquei muito surpresa ao ver aquele envelope dentro do meu armário, mas assim que abri percebi que era a sua letra. Quer entrar?
- Eu tenho uma idéia melhor. Que tal a gente ir ao parque?
- Parque? Já está quase anoitecendo, null.
- Ué, e qual é o problema? Nós ainda podemos aproveitar o pôr-do-sol.
- Mas vai ficar muito tarde e...
- O Super-null vai estar com você! Não há o que temer - o sorriso convencido característico do rapaz apareceu em seus lábios. - Sim, o que você me diz?
- Uuuh. Tudo bem, herói, espera só eu buscar meu agasalho.
- Eu posso te esquentar também. Sou um herói com mil e uma utilidades!
- Ha-ha, muito engraçado. Espera só um minutinho, bonitão.
O parque tinha um colorido que o deixava absolutamente atraente, na opinião de null. Uma grande árvore foi escolhida para abrigar o casal. Ela tinha o tronco grosso e algumas de suas raízes eram expostas. Suas folhas amareladas cobriam completamente o chão.
- Acho que aqui está bom - null, que andara tapando os olhos de null por todo o caminho, finalmente a deixou ver.
- Por que você estava tapando meus olhos? Eu devo conhecer esse parque como a palma de minha mão.
- Suspense, null, suspense. A coisa fica bem mais romântica assim.
- Aaah, e você queria que fosse romântico?
- Era. Por quê? Eu não consegui?
- Bom, eu estou no meio de um parque com um cara que se acha herói e está quase anoitecendo... Qual a parte romântica mesmo? - null tentava se segurar para não gargalhar da cara que null fez ao ouvir isso.
- Ah, é? - null puxou a garota com uma certa pressa e prendeu seu corpo contra o dele, olhando-a nos olhos. - E se eu te beijar aqui? - Ele depositou um beijo no canto da boca da menina.
- Eu acho que você pode me fazer mudar de idéia - ela sorriu, mordendo o lábio inferior do garoto, que logo a puxou para um beijo apaixonado. null abriu um pouco mais a boca para que o beijo fosse intensificado. Seus braços, que estavam em volta da cintura da garota, aproximaram-na de seu corpo, enquanto null massageava sua nuca de leve.
- E então? - null perguntou, ainda com os olhos fechados e com boca próxima da de null.
- É, mudei de idéia - null sorriu.
- Vem, vamos sentar - null a puxou pela mão. O garoto sentou-se de costas para o tronco da árvore, apoiando as suas costas. null sentou no meio de suas pernas, sendo abraçada logo em seguida.
- Nossa, esse lugar é mesmo lindo.
- Você nunca viu o pôr-do-sol do parque? - null falou próximo ao ouvido da garota.
- Pior que não - null sorriu, aconchegando-se nos braços do garoto.
- Sabe, null, eu não quero estragar a nossa relação como amigos... - null falou após um longo suspiro.
- Nossa! Que direto!
- Desculpa, eu não sei ser de outro jeito - ele sorriu. - Eu nunca passei por uma situação dessas. Estou indo muito mal?
- Bem até demais, eu diria - null deu um selinho no garoto.
- Então eu quero muito ficar com você, continuar te vendo sempre, saindo... Mas eu não posso negar que quero algo mais... Mais do que só conversar.
- Eu também. Mas eu acho que nós temos que ir com calma.
- Tá... Então nós vamos devagar quase parando, ok? - null falou, dando uma piscada. - Não quero te machucar.
- Você não vai. Eu confio em você - null puxou o garoto para mais um beijo.
A noite chegou. Com ela, um vento frio tomou conta do parque. Uma fraca neblina cobria algumas árvores. O local parecia assustador, mas não para o casal que estava encostado na árvore.
- Ali, null! - null apontou para o céu estrelado. - Se você ligar aquele pontinho com aquele outro, forma um sorvete.
- Onde? - null tentou esconder o riso. - null, só você tá vendo um sorvete ali!
- Onde está sua imaginação, garota?
- Bem ali - null apontou para o céu. - É só ligar aquele pontinho com aquele outro, exatamente igual e você encontra.
- Ha-Ha, muito engraçadinha - null deu uma risada sarcástica.
Os dois permaneceram em silêncio, apenas encarando as estrelas que iluminavam o local. O céu estava límpido e brilhava com os vários pontinhos de luz.
- A lua está tão bonita - null encarou encantada
- Ela é sempre bonita.
- null, eu tô ficando com medo - null olhou em volta. O local estava completamente escuro e silencioso, não havia ninguém por perto. - E com frio.
- Não seja por isso! O Super-null tem a solução! - null sorriu, puxando a sua mochila para perto. De dentro dela, o garoto puxou uma coberta azul-escura de lã, colocando-a sobre eles.
- Nossa, melhorou - null sorriu. - E o medo? Você vai me proteger?
- Também, mas eu vou te fazer esquecer que nós estamos em um parque escuro, abandonado e assustador.
- E como? Posso saber?
- Piadas!
- Ah, não! - null escondeu o rosto com as mãos. - Você é péssimo fazendo isso.
- Um peixe foi jogado de cima de um prédio de 20 andares. Que peixe era esse?
- Piadas não, por favor!
- Não vai responder? - Ao ver que a garota acenou negativamente com a cabeça, null continuou: - Era um atum. Porque quando ele caiu fez Aaaaaaaaaaaaaaaa Tum!
null parou por alguns segundos, assimilando a piada. Não conseguiu segurar o riso. A garota sentiu o rosto começar a ficar vermelho do tanto que gargalhava.
- Essa piada é muito sem graça! - Ela falou entre risos.
- E você tá rindo!
- Porque é sem graça!
- Ah, então você gosta de piadas sem graça? - null parou, tentando lembrar-se de mais alguma. - Ah, já sei! O que são 5 pontos coloridos no jardim?
- N-não sei! - null falou entre as gargalhadas.
- Os FlowerRangers!
null sentiu o estômago doer. Tanto ela como null riam sem parar. O repertório do garoto era enorme. Ele passou uma grande parte do tempo contando piadas.
- Tá bom! Chega de piadas! - null falou com as mãos no rosto.
- Só mais uma! Só mais uma! Como o Batman faz para abrir a bat-caverna?
- Não faço a mínima idéia!
- Ele bat-palma! - null falou, dando mais uma gargalhada logo em seguida.
- Essa foi boa! - null falou rindo junto com o garoto. - Tá bom! Agora chega de piadas!
- Tudo bem, parei. - Ele sorriu, dando um beijo no rosto da garota.
- null, olha - null apontou para o arbusto que tinha perto deles. Vários vaga-lumes brilhavam em meio às folhas. Eles piscavam, apagavam e voltavam a brilhar. Parecia uma imensa cortina iluminada, que transformava aquele local assustador em algo mais aconchegante e bonito.
- Vaga-lumes... - null comentou, olhando para os insetos que brilhavam sem parar.
- Muito lindo.
- Muita pouca vergonha, isso sim - null riu.
- Pouca vergonha? - null perguntou, sem entender. - Como assim?
- É porque, por incrível que pareça, eu prestei atenção nessa aula de biologia. Os vaga-lumes emitem essa luz como uma espécie de chamado para as fêmeas. Para o acasalamento e tal.
- Nossa, null null é cultura! - null deu uma gargalhada, dando um beijo no rosto do garoto logo em seguida.
- Mas é claro, ma fraise - null riu, mordendo levemente o canto da boca da garota. Logo os dois voltaram a se beijar.
- null, já está tarde. É melhor eu voltar pra casa - null falou entre o beijo que acontecia.
- É... - null parou o beijo, roçando seus narizes. - Eu queria passar mais tempo aqui, mas sua mãe deve estar preocupada.
- Então vamos. Nada impede que nós voltemos aqui outros dias - null sorriu, dando um selinho no garoto e levantando-se logo sem seguida.
- Ok - null colocou o manto de lã dentro da mochila. - Mas... Antes, eu quero fazer uma coisa...
- Tá... O que?
null puxou um canivete que tinha no bolso da calça jeans. O garoto pediu o celular de null, que entregou o objeto prontamente. null se aproximou da árvore, iluminando um pequeno local com o visor do aparelho telefônico. Ele começou a cravar algo no tronco da árvore.
- O que você tá fazendo? - null perguntou, tentando ver o que o garoto escrevia.
- Você vai ver - null deu uma piscada para ela. Ele continuou a cravar o canivete contra a árvore. Minutos depois, se afastou e puderam ser vistos os nomes ''null&null''. Embaixo deles uma data. Era a data do respectivo dia.
- Pra marcar o início de uma coisa muito boa nas nossas vidas - null sorriu, puxando a garota pela mão, a caminho da saída do parque. - Vem, vou te levar pra casa, ma fraise.
~*End Flashback*~
Quarta Parte
null deu um pequeno sorriso ao terminar de ler a carta. null era um dos garotos mais engraçados que ela já conhecera. Às vezes conseguia ser mais rabugento que ela, mas era isso que os fizera tão amigos. Dobrou a carta cuidadosamente e novamente a guardou.
Seu rosto estava molhado devido à quantidade de lágrimas que escorreram por ele, mas agora ela já não chorava, apenas olhava para algum ponto fixo no horizonte, refletindo sobre o que havia acontecido. O incidente tinha aberto tantas feridas que ela já acreditava estarem fechadas, mas se surpreendeu em descobrir justamente o contrário: elas estavam lá, mais doloridas que nunca. O seu transe foi interrompido pelo celular que tocava. Ela passou as costas da mão esquerda pelo rosto, afim de tirar o excesso de umidade, e com a outra puxou o aparelho.
- O-oi, mãe. - null falou, tentando disfarçar sua voz embargada.
- null, onde você está?! A barraca já deveria estar funcionando, filha! Venha pra cá.
- T-tudo bem.
Ela desligou o celular e puxou as pernas para si, abraçando-as fortemente e descansando a cabeça em seus joelhos. Respirou fundo e tentou reunir o pouco de bom senso que lhe restava para todas aquelas crianças que precisavam de sua ajuda, tentando resgatar forças por esse motivo, que certamente era o único que conseguiria tirá-la dali. Apoiando-se nas armações de ferro, as quais ficavam por trás dos bancos, ela levantou-se e seguiu até o primeiro banheiro que encontrou, já que precisava dar um jeito de esconder o que estivera fazendo desde que deixara a roda gigante. Abriu a torneira, exausta, e esperou que escorresse um pouco até pôr suas mãos embaixo dela e enchê-las, despejando a seguir o líquido em seu rosto, misturando-o ao sal das lágrimas que há pouco estiveram ali. Mais uma vez encheu os pulmões de tanto ar quanto conseguiu, enquanto passava levemente uma toalha de papel por sua face.
null tentava manter o sorriso para todos que passavam em frente a sua barraca, cumprimentando os que passavam por ela. Ainda estava meio extasiada devido aos acontecimentos recentes, mas ainda assim ela estava executando seu papel. Ao longe, ela viu um rapaz de cabelos ruivos e olhos verdes se aproximando com um sorriso tão brilhante e atraente que poderia hipnotizar qualquer menina que o visse. Este era Eric Jensen, filho do político mais renomado de toda Leeds, e o qual sempre que podia tentava alguma coisa com null.
- Como vai a garota mais bonita da festa? - Ele chegou e deu beijo no rosto de null, que sorriu timidamente.
- Assim que você encontrá-la você pode perguntar - ela falou, fazendo-se de desentendida.
- Pois ela está bem na minha frente. - ele expandiu seu sorriso. - E como anda o trabalho? Quantas fichas de beijo você tem aqui? - o garoto baixou a cabeça, tentando calcular quantos retângulos de papel, aproximadamente, estavam sobre a mesa.
- Anh, o trabalho está bom, eu acho. Não cheguei há muito tempo. E quanto às fichas... Creio que umas... Não sei, Eric - ela riu. - Por que você quer saber?
- Talvez seja porque eu quero todas - ele piscou de um jeito divertido.
Eric segurou o queixo da garota e aproximou seu rosto do dela de modo que o ar quente de suas respirações podia ser sentido cada vez mais intensamente. Mesmo que não pudesse negar o fato de se sentir atraída por ele, não acreditava que em uma situação comum null corresponderia a mais essa investida do rapaz, mas além de ser o seu trabalho, ela queria se vingar de null.
- Filha! Você não imagina quem está de volta à cidade! - A mãe de null, senhora Walton, chegou muito contente, acompanhada de outra jovem senhora que null conhecia muito bem. - A Emma acabou de me contar! Meu Deus, como você vai ficar feliz! - a filha lançou um olhar para ela como quem diz 'mãe, tá atrapalhando' que logo foi percebido. - Oh. Desculpe. Tudo bem, Eric? Como está seu pai? - Esticou sua mão direita. - Mande lembranças minhas a ele.
- Eu falo sim, Sra. Walton - Eric deu um sorriso rápido para a mulher.
- Sim, filha, me perdoe, mas você tem que ver isso! Olhe quem está aqui! É o null!
As duas senhoras se afastaram e atrás delas apareceu o dono do rosto que null menos queria ver na face da terra: null null. O queixo da garota caiu. Ela não acreditava que ele tinha sido cara de pau o suficiente para fingir para sua mãe que ainda não tinham se visto, e muito menos que ele tivesse coragem de ir atrás dela depois do acontecido.
- null! - A Sra. Walton falou em tom imperativo. - Você não vai falar com o null?
- Er... - null mordeu o lábio inferior. - Oi!
- Minha filha, seja educada - a mãe de null cochichou em seu ouvido, segurando-a pelos ombros e colocando-a de frente para o garoto.
- Olá, null! - null forçou um sorriso.
- Oi - null também forçou um sorriso, inclinando-se para frente dando um beijo no rosto da garota.
Assim que sentiu aquele toque, null mudou a expressão, agora tinha o rosto preocupado misturado com a surpresa que sentiu naquele momento. null a encarou com um sorriso de canto de boca, coisa que ele sempre costumava fazer quando pensava estar no comando.
- null! Quase me esqueço! Eu realmente preciso de alguns doces e salgados que estão lá em casa, e como sei que vocês têm muito para conversar, você e o null podem fazer o favor de pegar pra mim.
- Obrigada, mãe, mas eu posso buscar sozinha - null falou, tentando manter-se amigável.
- Não, não pode, filha! São muitos. Para você buscar, terá que ir de carro e você ainda não tirou sua habilitação.
- O null deu a idéia de te levar até lá, null - A Sra. null sorriu passando a mão pela cabeça do filho.
- Isso mesmo! E como null tem carta, vai te levar até lá. - A mãe de null olhou para o garoto, que mantivera-se calado, apenas encarando a garota. - Não leva, querido?
- Claro, senhora Walton. Alguém vai ficar responsável pela minha barraca enquanto eu levo a null até a sua casa.
- Não, null, você deve estar muito cansado da viagem... - null falou rapidamente.
- Imagina, null! Eu te levo com o maior prazer - null falou logo em seguida.
- Ótimo! Obrigada mesmo, querido. Você tem suas chaves, né, null? - Ao ver o aceno positivo de cabeça a Sra. Walton virou-se. - Tome as do carro, null. Muito obrigada, crianças. Agora nós temos que voltar ao trabalho.
- null, quando você voltou? - Eric, que estivera ouvindo toda a conversa em silêncio, resolveu se manifestar.
- Ontem à noite, Jensen. Sentiu minha falta?
- Para lhe ser sincero... Não.
- Fico feliz em dizer o mesmo - null o encarou com a expressão séria.
- null, chega. Você já conseguiu o que queria. Vamos logo pegar o que a minha mãe pediu.
- Eu posso te levar até sua casa, null! - Eric falou, segurando a menina pelo pulso.
- Não, ela vai comigo, não ouviu não? - null respondeu bruscamente, abrindo a portinhola da barraca.
- Eu acho que a null tem que decidir isso e não você, null - Eric encarou null, que tinha uma das sobrancelhas levantadas.
- null, vamos logo.
- Ei! Quem você pensa que é? Você não manda em mim, null!
- Por que você fica criando caso? Eu vou te levar em casa e ponto final! - null empurrou a mão de Eric, que segurava null pelos pulsos.
- Você está querendo brigar, dude? - Eric se aproximou de null, encarando-o de frente.
- Só quero que você deixe a null em paz.
- null! Para com isso! - null saiu da barraca, ficando entre os dois garotos. - Eric, obrigada pela ajuda, mas minha mãe pediu para o null me ajudar, e se eu não fizer o que ela manda, eu que arco com as consequências. Da próxima vez você me leva, ok? null, vamos embora.
- Hey, espera - null chegou ao carro e logo depois null juntou-se a ela, destravando-o e possibilitando a sua entrada.
- Eu não quero ouvir nenhuma palavra saindo da sua boca dentro desse carro, null null!
- Eu fico calado depois, mas antes você poderia me explicar o que tava fazendo perto daquele Eric? Aliás, perto DEMAIS pro meu gosto!
- Como é que é? - a garota deu um risinho irônico. - Quem você pensa que é pra dizer perto de quem eu devo ficar?
- Você não tem noção de que ele não presta? - null falou em um tom mais alto.
- Eu já sou bem grandinha pra decidir com quem eu saio ou deixo de sair.
- Quer dizer que vocês estão saindo? - null perguntou, espantado.
- Não! - null respondeu passando as mãos pelos cabelos, impaciente. - Foi jeito de falar! Eu só falo com ele e pronto!
- Ainda bem, fico feliz de saber que você não perdeu completamente o senso.
- Olha aqui! Pra sua informação... - A garota falou, sentando-se no banco do passageiro.
- Tá bom, null! - null ligou o carro, travando as portas logo em seguida. - Eu só falei isso por falar, não quero ficar discutindo.
- Não quer discutir? Parece que o único motivo pra você estar nessa quermesse é pra discutir comigo.
- Eu só queria falar que o Jensen não é o cara certo pra você... - null parou no sinal vermelho da rua.
- Ah, claro! E você sabe muito sobre quem é o "cara certo pra mim".
- Sei sim. - null deu um sorriso convencido, encarando-a. - Eu sou o cara certo pra você.
- Eu disse que não queria ouvir sua voz dentro desse carro! - null ficou séria, evitando ter qualquer contato com null durante o resto do caminho.
Depois de aproximadamente 5 minutos, o carro estava sendo estacionado em frente à casa de null, que se dirigiu até a porta de entrada e girou a maçaneta, adentrando em sua sala, a qual estava completamente escura. Em seu encalço vinha null, que fechou a porta com os pés assim que eles passaram.
- Peraí que agora você vai me ouvir. Afinal, era "nenhuma palavra dentro do carro" - ele segurou o braço de null e a puxou em direção a porta recém fechada, ficando em frente à garota.
- null! M-Me solta! - null gritou, evitando encará-lo.
- null! Por favor! Me escuta! - null pediu, colando seu corpo no dela.
null pôde sentir o corpo de null muito próximo ao dela. O seu perfume se misturou com o do garoto. Ela não queria que ele ficasse tão próximo, não queria voltar a sentir ou pensar nas coisas que ele despertava nela.
- null, me desculpa - null falou ao pé do ouvido da garota. - Eu posso explicar tudo, ma fraise.
A garota que estava encostada na parede, de frente para o rapaz, pôde sentir suas pernas tremerem somente com o som das duas últimas palavras de null. Ele segurou de maneira firme os braços da garota para que ela não se desvencilhasse, mas sem chegar a machucá-la.
- Me solta, null - null tentou encontrar forças para pronunciar as palavras. A garota sentiu sua garganta se fechar e seus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente. - P-por favor.
- Eu sei que fui um idiota, mas... Mas - null falava cada palavra murmurando. Ele tinha a boca muito próxima da orelha esquerda de null, e segundos depois ela pôde sentir o leve toque dos lábios do garoto, o que, mesmo contra a vontade dela, fez seu corpo inteiro se arrepiar. - Agora eu... - mais um beijo foi dado, desta vez em seu pescoço. A respiração dos dois começava a tornar-se descompassada enquanto null aproximou sua boca da de null, encostando seus narizes - Voltei. - o lábio dela foi comprimido e a língua do rapaz delicadamente pediu passagem.
null conseguiu sentir um gosto salgado durante o beijo. A falta que null sentia daquele toque, daquele gosto, não podia ser descrita, e mais uma vez ela não conseguiu impedir as lágrimas que caíam. Um lado seu implorava para que ela continuasse com aquilo, mas o seu orgulho era mais forte que seu desejo. Lentamente, null soltou os braços da garota, abraçando-a pela cintura. O silêncio da sala de estar, que era ritmado somente pela respiração de ambos, foi quebrado pelo barulho que ecoou por toda a casa, o som do tapa que null deu na face esquerda de null.
- ME DEIXA EM PAZ! - null falou entre soluços, escondendo o rosto com as mãos.
null sentiu o rosto começar a arder e sabia que logo o local ficaria vermelho. Não sabia o que pensar, tinha uma expressão chocada no rosto enquanto encarava a garota que estava ali na sua frente. O garoto soltou a cintura de null, e esta, por sua vez, saiu correndo em direção a cozinha. null puxou um dos bancos da cozinha, sentando-se. Cruzou os braços, debruçando-se sobre a mesa de mármore que ficava no centro. As lágrimas escorriam pelo seu rosto sem parar e ela tentava evitar que seus soluços soassem muito alto. Em sua cabeça, giravam todas as memórias que ela julgava estarem adormecidas, porém com a volta do garoto, todas elas já estavam passando por mais de uma vez perante seus olhos.
~*Flashback*~
O flash iluminou o rosto do jovem casal que se posicionara na frente da grande fila para a entrada do circo. O local estava repleto de crianças que gargalhavam e pulavam de um lado para o outro com balões presos em seus pulsos. Os adultos conversavam enquanto esperavam para comprar o ingresso. Várias luzes coloridas rodeavam a grande tenda vermelha posicionada no centro do parque. Azuis, amarelas e verdes, estas cores traziam mais vida à gelada noite da cidade de Leeds.
null pegou com uma das mãos a máquina, agradecendo ao palhaço que parara para bater a foto, e com a outra abraçava null pelo ombro.
- Olha, ficou ótima! - null sorriu, apontando para o visor da máquina.
- Também gostei. O que esse cara tá fazendo como palhaço? Ele deveria ser fotógrafo! - null deu um risinho, guardando o objeto em um dos bolsos da larga bermuda com estampa camuflada.
- Ah, claro! Um palhaço de circo virar fotógrafo! Você tem a imaginação muito fértil, sabia disso?
- Fazer o quê? O circo me inspira. - null falou, guiando a garota para a entrada do picadeiro.
- Uma flor para outra flor mais bela ainda - o casal foi surpreendido por um homem com pernas de pau. Ele estava entregando flores na entrada da tenda para todas as pessoas que passavam. Ele estendeu uma rosa vermelha à garota, que sorriu em resposta.
- Que é isso, dude! O cara dando em cima de você na minha frente! - null brincou, dando uma piscadela logo em seguida.
O espetáculo durou por volta de uma hora e meia. O auge da apresentação aconteceu quando os palhaços entraram no picadeiro. Tanto crianças como adultos gargalhavam com as tolices feitas pelos artistas do circo. Os palhaços entraram com dois cachorros e o público prontamente aplaudiu os animais, que logo começaram seus truques. Em um deles, os artistas pegaram uma bola gigante, daquelas que se usa para brincar na praia, bem colorida e vibrante. Os cachorros, com seus focinhos, começaram a jogar uma espécie de vôlei com o objeto, enquanto os palhaços faziam malabarismos com bolinhas menores. Um deles tinha cinco delas na mão, e o outro, com mais experiência, estava com oito.
- Como eles fazem isso? - null perguntou, apontando para o palhaço com mais bolinhas na mão.
- É fácil, null - null deu um sorriso convencido.
- Duvido que você consiga fazer com duas - A garota rolou os olhos.
- Claro que eu consigo! - null falou, quase gritando, mas logo foi reprimido pelos pedidos de silêncio.
- Eu consigo, ok? - null aproximou-se do ouvido de null, sussurrando.
- Se você diz... - A garota sorriu, respondendo no mesmo tom de voz.
Uma salva de estrondosas palmas ecoaram pela grande tenda, o espetáculo havia chegado ao fim.
null pegou null pela mão, tentando evitar que os dois se separassem enquanto abandonavam o lugar em meio a todas aquelas pessoas. A multidão caminhou para as saídas mais próximas, assim como o casal. Ao chegarem à saída, null e null se depararam com várias barraquinhas onde eram vendidas comidas e alguns artesanatos confeccionados pelos próprios artistas do circo.
- Olha, null! - null apontou para uma das barracas. O casal se aproximou. Na barraca eram feitas pinturas. Os desenhos podiam ser escolhidos em um grande livro que fora deixado sobre o balcão. Uma criança estava sentada na cadeira, ao seu lado, seus pais assistiam enquanto uma senhora pintava uma espécie de nariz de palhaço.
- Por que você não faz uma pintura? - null falou, próximo ao ouvido de null, abraçando-a por trás.
- Eu não - null deu um risinho.
- Ah, você quer, eu sei que quer.
- Pronto, querido - a mulher sorriu para a criança que, agora, tinha uma pintura de cara de palhaço sobre o rosto. - Próximo!
- Ela quer! - null falou apressadamente, empurrando null para frente.
- Não! Não quero não! - null tentou frear o garoto que a empurrava na direção da barraca.
- Um morango! Ela quer um morango! - null segurou null pelos ombros, sentando-a na cadeira. - Faz um na bochecha dela, moça.
- Eu não acredito que fiz isso! - null abraçou null pela cintura enquanto andavam pela rua.
- Qual é, ficou muito legal! Você tem um morango na bochecha e... Tem glitter! - null falou entre gargalhadas, olhando para o grande morango que cobria metade da bochecha da garota.
- Ah, claro, eu devo estar parecendo uma idiota com essa coisa vermelha no rosto.
- Digamos que te deu um charme a mais, ma fraise - null sorriu, depositando um beijo estalado no rosto da garota - Então, para onde nós vamos agora?
- Pra onde a vida me levar - null brincou. - Isso significa: minha casa.
- Ótimo, eu estou a fim de atacar a sua geladeira hoje.
- Minha mãe fala que você come demais - null deu um risinho, rolando os olhos.
- Sério? Nossa, então eu não vou comer nada.
- E desde quando você se importa com o que minha mãe pensa? - null o encarou um pouco confusa.
- Eu não me importo - null respondeu prontamente. - O que VOCÊ pensa é importante pra mim e pronto.
O casal logo chegou à casa da garota. Esta, por sua vez, estava completamente vazia, já que os pais de null tinham saído em uma viagem durante o final de semana para uma cidade vizinha.
Os casacos foram jogados na sala, junto com a bolsa da garota. Os dois seguiram para a cozinha, onde cozinharam algumas salsichas. Logo os cachorros quentes estavam prontos. Minutos depois, os pratos foram jogados na pia.
- Ah, eu vou tirar isso do meu rosto! - null falou entre gargalhadas, enquanto null a segurava pelo pulso.
- Não vai não, mocinha! - null também gargalhava, tentando impedir que null subisse as escadas enquanto equilibrava um copo de refrigerante na outra mão.
- Fala sério, null, isso vai me dar alergia!
- Deixa de frescura! - null reclamou, levando na brincadeira.
- Para, null, eu vou tirar e ponto final. Agora me solta - null segurou o riso, encarando-o decidida.
- Tá bom, né... - null rolou os olhos.
- Agora vem. Eu quero te mostrar aquele cantor que eu encontrei na internet - a garota sorriu segurando a mão de null.
Os dois subiram a escada e logo entraram no quarto da garota. null se jogou na cama, arrancando risinhos de null.
- Já que você está se sentindo em casa, me espera aqui enquanto eu lavo o meu rosto.
- Claro. - null sorriu, jogando os tênis para longe.
- null, aproveita e escuta o CD! - null gritou do banheiro. - Põe na música quatro!
- Nossa, você tá incentivando a pirataria nesse país, é? - null respondeu no mesmo tom de voz, levantando-se da cama e caminhando até o aparelho de som.
- Não! Eu já pedi o CD pela internet, ok? Mas não consegui esperar.
null ligou o aparelho e logo a música começou a tocar. As primeiras notas no piano começaram a ser tocadas, junto com uma batida fraca de bateria. O cantor começou e o garoto ouvia com atenção.
- Jon McLaughlin - null falou, sentando-se na cama onde o garoto há pouco estivera. - Esse é o nome do cantor.
- Ele é bom... - null levantou uma das sobrancelhas enquanto ouvia a música. - E a música?
- "Just give it time" - null sorriu.
- A letra é boa, a melodia... É, parece que você está melhorando seu gosto musical, ma fraise - null comentou enquanto null sentava-se ao seu lado.
- Ainda bem que você gostou.
- Então um brinde! - null levantou o copo que tinha em mãos rapidamente, derramando um pouco de refrigerante na blusa de null. - Foi mal!
- Foi péssimo! - null riu, andando em direção ao banheiro. - Espera aqui enquanto eu me troco.
null entrou no banheiro deixando a porta entreaberta. Tirou a blusa que estava molhada, jogando-a para o lado, mas quando passou o olho novamente pelo local, percebeu que se esquecera de pegar uma roupa em seu armário. Foi quando seu olhar se encontrou com o de null que, pela fresta da porta, a encarava. O garoto virou o rosto instantaneamente para a direção oposta e null tratou de fechar a porta com um forte estrondo.
- null, você pode pegar uma blusa pra mim? - null pediu de dentro do banheiro.
- A-ah, claro! - O garoto respondeu e, segundos depois, bateu na porta.
- Obrigada - null falou, colocando apenas o braço para o lado de fora.
Logo a garota apareceu, fechando a porta atrás de si. null, que estava deitado na cama, sentou-se prontamente, encarando-a. null pôde perceber que ele estava sem graça, principalmente depois do acontecido.
- Er... Desculpa... Foi sem querer... - Ele coçou a cabeça, tentando esconder o desconforto que sentia.
- Ah, tudo bem... - null sorriu.
- Sabe, null, eu tenho pensado muito em você nesses últimos dias... Mais do que eu gostaria. - null abaixou a cabeça, encarando a ponta dos dedos.
- Eu também... - null aproximou-se do garoto, sentando-se ao seu lado.
null permaneceu calado, encarando o chão. null, por sua vez, encarou o teto, esperando que o garoto falasse alguma coisa.
- Pelo visto, você gostou mesmo das músicas do Jon, não? - Ela riu. - Ele está tocando sem parar.
- Eu esqueci de desligar...
- null?
- Ham?
- Até que horas eu vou ter que esperar? Você vai me beijar ou não? - null sorriu, encarando-o.
- Tô meio lento hoje - null riu, colocando uma das mãos sobre a bochecha da garota e puxando-a para um beijo.
null deu um breve sorriso, que foi impedido pelos lábios de null, agora colados aos seus. Com o outro braço, null abraçou a garota, aproximando seus corpos. null deu pequenas mordidas no lábio inferior do garoto, que se arrepiava a cada toque. Ela sentiu o corpo sendo levado para trás e aos poucos sentiu suas costas entrarem em contato com sua cama. null deitou sobre o corpo da garota, segurando-a pela cintura, massageando-a levemente.
- null... - null falou durante o beijo que acontecia.
- Você quer que eu pare? - Ele parou de beijá-la, a encarando logo em seguida.
- Não é isso... - null sentiu as bochechas arderem. - É só que eu... Eu sou...
- Eu também... - null deu um sorriso com o canto da boca, encostando levemente seus narizes. - Se você quiser eu paro e nós... Vamos jogar cartas ou qualquer coisa do tipo.
- Você é muito bobo, sabia? - null não pôde deixar de gargalhar.
- Eu posso ser o que você quiser. É só você me pedir...
- Você já é tudo o que eu posso querer - null sorriu, voltando a beijar o garoto.
- Tem certeza disso?
- Tenho. Não consigo imaginar ninguém melhor.
- É que eu não quero apressar as coisas... É só que... - null pigarreou. - Eu não consigo imaginar você nos braços de outra pessoa ou... Tendo sua primeira vez sem ser comigo. Você pode não pensar isso, mas... Eu quero ter minha primeira vez com voc...
null não conseguiu terminar, logo fora calado por um beijo apaixonado de null. A garota pôde sentir as mãos dele por dentro de sua blusa enquanto esta era puxada para cima. O beijo foi partido e ambos deram pequenos sorrisinhos. null colocou a mão na barra da blusa do garoto, que levantou os braços para que ela pudesse tirá-la. Em poucos minutos, a única coisa que os impedia eram suas roupas íntimas. null usava apenas sua boxer estampada, enquanto null estava apenas de calcinha. null pressionava o corpo contra o de null, deixando-os mais próximos, sentindo sua respiração se tornar mais ofegante à medida que o tempo passava. Os beijos eram intensificados cada vez mais. A garota dava pequenas mordidas no pescoço de null, provocando-o. null colocou as duas mãos sobre a calcinha de null, mas parou, como se pedisse permissão. A garota entendeu o recado e apenas acenou afirmativamente com a cabeça. Logo fora a vez dela. null, com a ajuda de null, tirou a boxer que já incomodava.
Seus corpos finalmente se juntaram, matando a vontade que ambos sentiam. null fazia pequenos movimentos enquanto null gemia baixinho.
- null... Para, para... - null pediu após alguns minutos. - Tá doendo...
- Desculpa, desculpa - null parou imediatamente, dando vários selinhos seguidos na garota. - Eu tô te machucando?
- Não... - A garota mordeu o lábio inferior. - Eu acho que... Eu tô nervosa...
- Se você quiser a gente para, não precisamos continuar...
- Não, eu quero... - null sorriu sem graça para o garoto, colocando as duas mãos sobre seu rosto, puxando-o para um beijo.
- Eu vou com calma dessa vez, não quero te machucar - null deu um beijo na testa da garota.
O sol brilhava lá fora. Aquele seria o primeiro dia de férias. null rolou na cama, sentindo os lençóis ao redor de seu corpo. Apalpou o canto da cama à procura de null, mas percebeu que não havia ninguém ao seu lado. Dessa vez abriu definitivamente os olhos, levantando-se logo em seguida. O cômodo estava vazio, assim como o resto da casa.
~*End Flashback*~
Quinta Parte
null parou na porta da cozinha. Ele definitivamente não sabia o que fazer. null estava de costas para ele. O garoto deu alguns passos para frente e, à medida que se aproximava, sentia o coração acelerar. Decidiu não falar nada. Apenas caminhou até a mesa, pegando os salgados e doces que estavam sobre ela. De dois em dois, foi levando os embrulhos até o lado de fora da casa e colocando-os na parte de trás do carro. Em pouco tempo, todos os pacotes estavam guardados e o garoto voltou para a cozinha, onde null ainda se encontrava sentada.
- null?
- Não fala nada! - A garota respondeu secamente.
- null... Nós temos... Que voltar... Se você quiser, eu levo as coisas que sua mãe pediu - null pigarreou. - Você pode ficar aqui. Eu não acho que você vai querer voltar.
- O Eric vem aqui - null deu um soluço. - Ele vai me levar de volta.
- Você vai com ele? - null perguntou. - null, você não vai!
- null, eu não quero mais falar com você. Por favor, me deixa em paz.
- Então vamos fazer o seguinte: eu te levo, não falo uma palavra! Nenhuma palavra! - null passou as mãos pelos cabelos. - Por favor, não volta pra lá com o Eric.
- Eu não estou aqui negociando, null, eu já me decidi. - Ela falou enquanto pegava o celular para ligar para o garoto.
- Ahn... Tudo bem então. Eu vou indo já que é assim... - null deu um passo para frente devagar, olhando para trás em seguida. - Estou indo. E você vai ficar sozinha nessa casa grande e escura - null parou de discar os números, ainda de costas para null.
- VAI LOGO! - Os números voltaram a ser discados e null aproximou o telefone da orelha enquanto esperava que atendessem - Ahn... Oi, Eric. Será que você podia vir aqui em casa me pegar? É. Pra me levar de volta praí sim. Não, é que o null vai na frente. Não, meus pais estão trabalhando na quermesse. Isso. Obrigada, Eric, vou te esperar. Um beijo.
- Hmm. Ele vai vir mesmo, né?
- Vai sim.
- E a casa tá vazia, né? Sem seus pais nem ninguém...
- , DÁ O FORA! - Ela falou, impaciente.
- Eu vou sim. Mas você vai comigo - null andou rapidamente até null e passou seu braço direito pela cintura da garota, a colocando sobre seus ombros enquanto esta se debatia.
- Me larga, null! Me põe no chão agora! AGORA, GAROTO!
- Oh, fraise, eu preciso dos meus tímpanos. Portanto, para de gritar, porque você vai voltar comigo - null sorriu, andando com a garota até o carro.
- EU NÃO VOU COM VOCÊ!
- Com aquele babacão é que você não vai. Ainda mais depois desse papinho de "você está sozinha em casa?". Parece coisa de pedófilo de internet.
- Você só esqueceu-se de um fato: EU NÃO SOU MAIS CRIANÇA!
- Então para de fazer birra e vem comigo. - Ele continuou andando tranquilamente enquanto a garota batia em suas costas.
Com um pouco de dificuldade, o garoto abriu a porta, colocando null no banco do passageiro. Logo em seguida, a trancou com a trava de segurança, para que ela não pudesse sair. Depois foi sua vez de entrar. Sem dizer uma palavra, ele ligou o carro, distanciando-se da casa dos Walton.
Durante todo o caminho, eles não conversaram. null encarava a rua e tinha a cara fechada. De vez em quando soltava um longo suspiro impaciente, junto com as batidinhas que dava com o pé. null lançava olhares com o canto do olho em direção a garota, mas não era correspondido em hora nenhuma. Queria falar, conversar, tentar convencer null de que as coisas não eram o que apareciam ser, mas esse não era o momento certo para fazer aquilo.
O carro virou a rua e puderam ser vistos os grandes balões na entrada do parque. O local parecia estar ainda mais movimentado. Um grande contingente de pessoas entrava e saía a todo o momento com doces na mão e pequenos brinquedos adquiridos nas barracas. null estacionou o automóvel quase na frente do local, desligando-o logo em seguida.
- Você... Pode voltar pra sua barraca - ele pigarreou. - Eu levo isso pra sua mãe.
- Não, ela pediu pra eu ajudar, e é isso que eu vou fazer - null respondeu, ríspida. - Agora você pode abrir a porta do carro?
null acenou positivamente com a cabeça, destravando as portas.
null abandonou o automóvel rapidamente, posicionando-se ao lado do mesmo. Logo pegou duas travessas de salgados. null fez o mesmo, seguindo a garota no meio da multidão.
Bem na entrada, eles encontraram a mãe da garota, que conversava animadamente com todos que entravam e deixavam suas doações na primeira barraca, a qual já se encontrava cheia de brinquedos.
- null! null! - A Sra. Walton acenou. - Que bom! O que aconteceu? Se perderam pelo caminho? Vocês demoraram muito!
- A-ah... Na verdade... Eu tive que trocar o pneu... - null coçou a cabeça. Tentado esconder a vermelhidão do rosto.
- Nossa! Mas o importante é que vocês estão aqui agora - A mãe de null sorriu. - Podem deixar isso aqui em cima e voltem para as suas respectivas barracas.
- Claro - null colocou as duas travessas sobre o balcão. - Se precisar de qualquer coisa é só chamar, Sra. Walton.
- Pode deixar, querido.
null deu um sorriso com o canto da boca, deixando null e a Sra. Walton sozinhas.
- O null é um menino de ouro, não é, minha filha? - A mãe de null perguntou, olhando null até ele desaparecer na
multidão.
- Aqui está o seu salgado - null imitou null, colocando as travessas sobre o balcão. - É melhor eu voltar para a minha barraca.
null já estava em sua barraca havia mais ou menos trinta minutos, ela era provavelmente uma das mais movimentadas e uma fila já se formava. Ele arrumou as espingardas e entregou para a criança que estava parada a sua frente.
- Mira bem ali - ele tentou ensinar para o garoto, que não devia ter mais de sete anos. - Tá vendo aquele vermelho? Se você acertar nele, eu te dou um prêmio muito legal.
O pequeno garoto não conseguia ficar na altura do alvo, por isso estava tendo uma dificuldade imensa para mirar. null saiu da barraca a fim de ajudá-lo.
- Eu vou te segurar e você atira, ok? - Ele sorriu, levantando o garoto pela cintura. Alguns segundos depois, a bala acertou em cheio o canto do alvo, bastante próximo do centro. O garoto soltou uma gostosa gargalhada, o que fez null sorrir.
- Toma - null lhe entregou um pacote com cartas de super trunfo.
- M-mas... Minha namorada não vai gostar disso - o garoto fez uma careta.
- Ah! Você tem namorada? - null deu um risinho divertido. - Então as coisas mudam. É claro que eu não vou deixar você dar isso pra ela.
null encarou a prateleira de brindes que tinha a sua frente.
- Aqui - O garoto pegou de volta o pacote de cartas de super trunfo, entregando um pequeno ursinho rosa. - Eu acho que ela vai gostar desse.
- É - o pequeno garotinho abriu um sorriso de ponta a ponta. - Ela vai sim. Obrigado.
O garoto virou de costas, dando pulinhos até sumir na multidão.
- Próximo! - null gritou, pegando outra espingarda. - Olha, você tem que mirar ali e...
- Olá, null! - Uma garota de cabelos loiros e encaracolados falou, dando um pequeno aceno com a mão direita. Era Megan.
- Oi, Megan...
- Então, eu acho que eu também não tenho altura pra acertar o alvo - ela mordeu o lábio inferior enquanto enrolava a ponta do cabelo com um dos dedos. - Que tal você me segurar?
- Pra falar a verdade, eu acho que você é bem grandinha. Tenho certeza que você não precisa da minha ajuda - ele sorriu um pouco sem graça.
- Ah! Por favor, null! Você passa as férias todas sem dar notícia e ainda não quer me ajudar? - Megan afinou a voz, batendo os pés no chão. Ela definitivamente era uma criança, uma criança que dava birra por tudo.
- Vamos lá, Megan - null entregou a espingarda para a garota. - Você consegue.
- Você é muito chato, sabia, null? Já sei! Vamos fazer um acordo: se eu acertar o alvo, eu ganho um beijo.
- Um beijo? - null levantou uma das sobrancelhas. - Tá bom... Um beijo.
- Sério? - A garota deu um gritinho. - Então? Posso atirar?
null acenou positivamente com cabeça. Megan deu um tiro certeiro no centro do alvo. Assim que viu onde a bala tinha parado, deu pulinhos de alegria misturados com os gritos.
- Então, eu quero meu prêmio! - Ela sorriu para null, inclinando-se no balcão, deixando aparecer o decote que usava.
- Claro, você acertou o centro, você merece um prêmio! - null se aproximou da garota. - E você vai ganhar.
- Ótimo. - ela sorriu, aproximando-se da boca do garoto, quando foi impedida por um pedaço de papel que selou seus lábios - O que é isso?!
- O seu beijo - null sorriu. - Aqui tem uma ficha pra barraca do beijo.
- Mas, eu disse que queria um beijo!
- Por isso mesmo, lá vão te atender prontamente - null sorriu com o canto da boca. - Próximo.
Megan lançou um olhar de desprezo para o garoto, que a ignorou enquanto ensinava uma criancinha a atirar. A garota jogou a ficha de volta para a barraca, dando meia volta logo em seguida.
null agradeceu a Deus pela falta de movimentação em sua barraca. Depois que Jason, o maior nerd de todo o colégio tinha ido até lá, ela ficara com receio de beijar qualquer pessoa. Não que Jason fosse uma pessoa chata, longe disso, ele era muito legal, porém, as primeiras coisas que vinham em sua cabeça quando ouvia seu nome eram espinhas e asma. No meio do beijo, ele teve que usar sua bombinha, o que foi extremamente nojento.
Sexta Parte
A festa entrava em seu clímax. A banda do bairro iria começar a tocar. Os garotos de Westpoint tinham se reunido alguns meses antes, preparando-se para a noite da quermesse. Um aglomerado se formou em frente ao palco. Os músicos estavam posicionados. Dois guitarristas, um pianista, um baixista e um baterista. A primeira música começou a ser tocada. Ela tinha um ritmo animado e todos dançavam. Todo o parque conseguia ouvir a música e pareciam gostar. Em meio a composições próprias e covers os garotos animavam a festa.
O turno de null na barraca de tiro ao alvo tinha acabado. O garoto andou até onde estava o palco, a fim de ver os garotos tocando de perto. Eles eram realmente bons. Ele conhecia os rapazes da banda, alguns eram seus vizinhos e outros do seu colégio.
null encarou o piano que estava sobre o palco. Um sorriso despontou em seus lábios.
- Anna! - null gritou acenando para a garota de cabelos curtos e pretos que vinha em direção a sua barraca.
- E então null, como anda o trabalho? - Anna deu um sorriso abrindo a portinhola da barraca entrando logo em seguida.
- Duro, eu diria - null deu um longo suspiro. - É cada um que aparece.
- Imagino... - A garota de cabelos curtos mordeu o lábio inferior. - Agora é minha vez de sofrer aqui.
- Eu não sei onde as nossas mães estavam com a cabeça quando nos colocaram em uma barraca do beijo!
- Pois é! Mas agora você está liberada do sofrimento, eu acabei de começar meu turno.
- Obrigada Anna, você é a melhor. - null deu um beijo no rosto da garota. - Espero que você tenha mais sorte que eu.
- Eu também. Fiz até promessa pro David aparecer - Anna tentou esconder o rosto.
- Nossa! Eu não sabia que vocês estavam juntos!
- Não estamos... Só tem um climinha. Espero que ele compre todas as fichas.
- Ele vai comprar! Se ele não fizer isso, é porque é um idiota.
- Falando em David, sabe quem eu encontrei? Um dos melhores amigos dele, o null! - Anna falou animada. - Ele voltou!
- Ah - null fez uma careta. - Nem me fale, não estou aguentando olhar pra cara daquele moleque.
Assim que terminou a frase null percebeu que a banda tinha parado de tocar. Os aplausos ecoaram por todo o parque. Um dos vocalistas começou a falar algumas palavras sobre a próxima música.
- Gente, boa noite! - O garoto de cabeça raspada falou com um tom meio nervoso. - Eu gostaria de agradecer a presença de todos aqui hoje. Essa causa é muito nobre e eu espero que todos ajudem! Nós iremos tocar uma música que... - O garoto parou mais uma vez de falar, pois fora interrompido pelo pianista que falava alguma coisa em seu ouvido - Ham... Então, alguém está querendo cantar aqui!
O público foi à loucura, dando alguns gritos de incentivo. O vocalista deu um risinho, pedindo para fazerem silêncio.
- Parece que o nosso querido null null vai cantar uma música! - O garoto gritou levantando os braços.
- Meu Deus! Eu ouvi bem? - Anna agarrou null pelo braço - O null vai cantar!
- Ele não consegue ficar um segundo sem ser o centro das atenções - null bufou.
- Nós temos que ir lá ver isso! - Anna deu pulinhos animados, enquanto empurrava a amiga para fora da barraca.
- Anna, não! Eu não vou!
- AH! A gente não pode perder essa null! O null cantando!
- Mas a barraca não pode ficar sem ninguém! - null apontou para o local.
- Está temporariamente fechada! - Anna puxou uma plaquinha do balcão, desligando a luz que iluminava a barraca.
Anna puxou null pela mão e em pouco tempo as duas se depararam com a multidão que estava em volta do palco. Nele estavam posicionados todos os garotos da banda. No centro, ao lado do pianista null se encontrava sentando em um banquinho. O garoto parecia extremamente envergonhado, mas tentava esconder isso conversando com o pianista.
- Eu não acredito! Ele vai mesmo cantar! - Anna deu um empurrão em null.
- null null, você está pronto? - O vocalista perguntou dando palmadinhas no ombro do garoto. - Gente, se ele não for bem, vocês podem jogar tomates, doces... Enfim, o que quiserem!
- Só não acertem os outros membros da banda ok? Nós ainda temos que trabalhar - o baixista brincou.
- Pronto? - O guitarrista cochichou. null apenas acenou positivamente com a cabeça.
- Mas eu posso falar uma coisa antes?
- Todo seu - o guitarrista colocou o microfone no tripé afastando-se.
null se aproximou do microfone, recebendo aplausos. null e Anna encaravam o palco, ambas muito surpresas.
- Então... - null pigarreou passando a mão pelos cabelos - Eu quero dedicar essa música a uma pessoa muito especial. Eu acho que estraguei tudo... Pensei que estava fazendo a coisa certa, mas fiz justamente a errada. Eu passei as férias inteiras tentando achar um bom jeito para explicar o que eu fiz, espero que isso seja o suficiente, ou pelo menos me dê uma chance de fazer a coisa certa dessa vez. Essa música se chama "Just Give It Time".
Assim que terminou de falar o nome da música, o público que escutava as palavras do garoto com atenção aplaudiu fortemente. Logo o som da bateria, que introduzia a música pode ser ouvido. As primeiras notas no piano foram tocadas, em harmonia com o outro instrumento.
null deu um longo suspiro e começou a cantar a música.
"Still waters, heavy hearts
(Águas calmas e corações pesados) Plans we make all fall apart
(Planos que fizemos, todos desmoronaram) Disillusioned and lost in the gray
(Desiludido e perdido nas cinzas) How can we fix the heart when it breaks
(Como podemos consertar um coração quando se parte?) Don't know how much more you can take"
(Não sei o quanto mais você pode agüentar )
A música era calma, null estava afinado, embora ainda se sentisse um pouco envergonhado, mas evitava pensar no número de pessoas que o assistia. Passou o olho pela platéia, à procura daquela que ele tanto queria que escutasse a música. Seu olhar finalmente se encontrou com o de null. A garota tinha uma expressão de surpresa. Seus olhos estavam marejados e seu rosto vermelho. null deu um pequeno sorrisinho enquanto cantava. Decidiu que cantaria apenas para ela, sua petite fraise. Não importava quantos estivessem escutando. Cantaria para ela, encarando-a profundamente, olho no olho. Somente os dois sabiam o que aquela música realmente significava. Chegara a hora mais esperada, o refrão. Em um grande estrondo a bateria se sobressaiu e o tom de voz de null aumentou, dando mais sentimento à letra.
"Just give it time
(Apenas dê um tempo) It's gonna get better
(Isso vai melhorar) Now is not forever at all
(O agora não é pra sempre, com certeza) Just give it time
(Apenas dê um tempo) Everything changes
(Tudo muda) Tomorrow comes today will be gone
(O amanhã vem hoje, e depois se foi) Everything's gonna be alright
(Tudo vai ficar bem) Just give it time, Give it time"
(Apenas dê um tempo, dê um tempo)
Assim que o refrão acabou todos bateram palmas, incentivando o garoto a continuar a cantar. null entendeu o recado, tirou o microfone do tripé, andando por todos os lados do palco, sem tirar os olhos de null.
"Quiet landslide when nobody knows
(Escapatória calma, quando ninguém sabe) Regretted decisions that nobody chose
(Decisões arrependidas que ninguém escolhe) Under water and sinking fast
(Sobre a água e afundando rápido) No way out no way to get back
(Sem saída e sem jeito de voltar) What might have been is lost in the past"
(O que quase tinha sido, está perdido no passado)
O refrão se repetiu. null cantou com mais emoção ainda, um pouco contida, pela vergonha que ainda dominava uma parte de seu corpo.
"When the world you're in is still again
(Quando o mundo que você está é calmo novamente) And it all fades out
(E tudo vai embora) You've reached the end, begin again, now"
(Você tem alcançado o fim, comece novamente, agora.)
Alguns minutos depois, ele cantou a última parte da música.
"Tomorrow comes today will be gone
(O amanhã vem hoje, e depois se foi) Everything's gonna be alright
(Tudo vai ficar bem) Just give it time, ma petite fraise"
(Apenas dê um tempo, dê um tempo, meu moranguinho)
Ele acrescentou o apelido na última linha da música. Assim que terminou, null deu um pequeno aceno com a mão direita, colocando o microfone novamente no tripé. Todos que assistiam deram uma salva de palmas estrondosas. O garoto apenas sorriu, cumprimentando todos os garotos da banda, que tinham dado apoio para que ele fizesse aquilo.
- É, pelo visto todos gostaram! - O baixista sorriu, batendo palmas. - Uma salva de palmas para null null!
O público obedeceu, mais uma vez aplaudindo. null foi até a frente e se curvou um pouco. Antes de dar as costas ao público, encarou o local onde null se encontrava, mas a garota não estava mais lá. null conseguiu ver Anna, que apenas levantou as mãos como um pedido de desculpas por null ter ido embora. null deu um sorriso forçado para o público e desceu do palco. Precisava encontrar null.
Sétima Parte
null caminhou até Anna, que o encarava com um leve sorriso.
- Anna, cadê a null?
- Desculpa, null, ela pediu para eu não dizer, caso você perguntasse.
- C-como? - null respirou fundo. - Tudo bem, Anna, obrigado. - O garoto deu as costas e ficou pensando aonde iria primeiro, até que ouviu mais uma vez a voz da garota.
- Ela pode estar no balanço atrás da igreja. Mas é só uma hipótese, claro - Anna falou sorrindo. - E você descobriu sozinho!
- Ai meu Deus, Anna, você é um anjo! - Ele voltou-se para a garota, a abraçou e deu um beijinho em sua bochecha. - A propósito, o David é apaixonado por você desde que nós temos 13 anos. Ele está esperando um "sinal" de que você sente o mesmo, por isso fala logo pra aquele mané. Ah, isso você também descobriu sozinha - null piscou para a menina dos cabelos negros que estava com um sorriso enorme no rosto e foi em direção à igreja, decidido.
O garoto tomou ar e olhou para o lugar que estava aparentemente vazio. Olhou para os dois lados até que ao fundo viu o contorno do que parecia ser um parquinho abandonado. Apenas a luz de um poste iluminava o lugar, o que fez null concluir que havia uma garota sentada em um dos balanços.
- O-oi - ele falou timidamente
- Eu vou matar a Anna. - null continuava encarando o chão
- N-não, eu descobri sozinho - ele falou, tentando manter o que tinha dito para a amiga.
- Eu não nasci ontem, null.
- É, eu sei - null passou as mãos pelos cabelos, nervoso. O silêncio de null estava fazendo com que seu coração batesse cada vez mais rápido. Era pior do que se ela simplesmente tivesse gritado e o expulsado dali. null aproximou-se do balanço vazio e sentou-se ao lado dela.
- Eu só queria... Só queria entender tudo. - Os olhos marejados da menina encararam os de null.
- É o que eu estive tentando fazer desde que nos vimos, mas você não deixou!
- Eu não queria ouvir. Já estava retomando a minha vida, esquecendo tudo o que eu passei nesse tempo... Aí, como se fosse pra me prejudicar, você aparece e faz tudo voltar. - null gesticulava exageradamente como sempre fazia quando estava nervosa. - E eu achei que não ia aguentar passar por tudo aquilo, então pensei que tratando você mal você iria...
- Desistir?
- Você não desiste mesmo, né? - null falou, deixando escapar um sorriso de canto de boca.
- Eu deveria? Bom, mesmo que você diga que sim, eu não vou. Agora eu posso, por favor, dar as explicações que você quer?
- Com certeza.
- Bom, por onde eu começo? Oh, sim. Aquela noite: a melhor da minha vida - null sorriu bobamente ao que null baixou a cabeça.
~*Flashback*~
null estava deitado ao lado de null com um sorriso radiante no rosto. A garota dormia e null a abraçava e acariciava seu rosto. Tudo que ele mais queria tinha acontecido, e exatamente do jeito que ele sonhara.
- Eu te amo - ele falou para a garota desacordada a sua frente. Aproximou seus corpos para um abraço, mas antes que ele pudesse aconchegá-la mais, começou a ouvir um barulho conhecido. - Ah, não, agora não! - Para não acordar null, null correu pelo quarto procurando por seu celular até que finalmente o achou debaixo de uma pilha de roupas e viu o nome "Johnny" no visor. - Você é a pessoa mais inconveniente que existe! Espero que você tenha um bom motivo pra me ligar às 4:00 da manhã. Aliás, um ÓTIM...
- E eu tenho cara. Preciso te ver AGORA!
- Johnny, amigão, eu sempre desconfiei dessas suas manias estranhas, mas é... Eu não sou o cara certo e... Você sabe... Não é preconceito, mas... Eu tenho umas amigas bem gatas que eu poderia te apresentar... - null falava apressado, atropelando as palavras
- Tá louco, cara? - Johnny começou a rir desesperadamente. - Deixa de besteira! Não é nada disso!
- N-não? Ufa - null respirou aliviado. - Não me mata do coração, cara.
- Vem agora pro aeroporto, dude! Tenho a chance perfeita pra você.
- Aeroporto? Mas quem vai viajar? Do que você tá falando? Deve ser o sono, porque eu não tô entendendo absolutamente nada do que você tá...
- DUDE, VEM LOGO! Eu te explico aqui. Não dá tempo de falar agora, mas acredite: você não vai se arrepender.
- Você tá me assustando. É alguma seita maluca? "Os sanguinários do aeroporto" ou algo do tipo?
- null, NÃO DEMORA! - Johnny desligou o celular impaciente.
- Oh, Deus, na minha próxima vida, me dê amigos normais - null olhava para o teto com as mãos para o alto. - Quatro da manhã! Humpf, onde já se viu? - null ia praguejando enquanto recolhia suas roupas do chão e as vestia. - Acho bom ser algo realmente importante e... - null aproximou-se de null, que continuava dormindo, e deu um beijo em seu rosto. - Até mais tarde, fraise. Você fez da minha noite a melhor. - Ele se dirigiu até a porta e encostou a mão na maçaneta, girando-a. Virou o corpo e contemplou mais uma vez sua garota desacordada e, num impulso, voltou para o lado dela e depositou um beijo em seus lábios. - Eu te amo. Não esquece!
As escadas da casa dos Walton foram percorridas rapidamente pelo garoto. null acenou para um táxi e se dirigiu o mais rápido que pôde para o aeroporto, levemente preocupado com o que poderia estar acontecendo com o seu amigo. O carro foi estacionado e ele pagou ao motorista enquanto ligava para Johnny para saber onde o encontraria.
- Aonde você tá, dude? Fala rápido porque a bateria tá acabando.
- Terceiro terminal. Vira à esquerda no segundo andar, depois da loja de doces.
Quando finalmente encontrou o amigo, null deu um sorriso que foi cortado pela montanha de informações que Johnny despejou sobre ele.
- Lembra que eu fui pra Londres tentar uma vaga numa banda e recusaram? Eu resolvi ficar mais uns dias por lá para saber se eles não podiam me dar uma segunda chance ou algo do tipo, e quando eles já estavam cansados de olhar pra minha cara me disseram que precisavam de um null, então se eu soubesse tocar eu poderia ficar. Mas, ahn, eu não sei.
- E você quer que eu te dê aulas num aeroporto?
- Não, null, eu quero que você vá pra essa audição! Aliás, a vaga já é sua, com certeza! - Essa declaração atingiu null em cheio. Aquilo fora seu maior sonho nos últimos anos. Era completamente surreal as coisas estarem dando tão certo pra ele.
- Q-que eu vá? Mas, eu não tenho passagem, nem a permissão dos meus pais, nem... Nem nada.
- Passagem? Ah, você tem sim. - Um bloco de papel foi entregue a ele. - Boa sorte, amigão.
- Johnny, não é assim. Não é que eu não queira, mas tem meus pais e... E tem a null! Eu não posso simplesmente ir embora.
- É seu sonho, null!
- É claro que é. E eu agradeço por você ter pensado em mim, mas...
- Última chamada para o vôo com destino a Londres - uma voz feminina ecoou por todo o saguão.
- Vai lá, cara. As coisas por aqui você consegue consertar depois. Uma chance como essa não aparece sempre.
- Mas eu nem tenho uma mala!
- Vá a esse endereço que está num papel junto com a sua passagem. É de um amigo meu cujo nome é Kevin. Ele é muito gente boa, me ajudou quando eu estava em Londres e ele pode te emprestar umas roupas.
~*End Flashback*~
null contou todos os detalhes do que tinha acontecido para a garota.
- E eu fui.
- Mas por que você não me ligou?
- Quando eu cheguei em Londres peguei meu celular pra te ligar, mas ele estava descarregado. Então eu fui até a casa de Kevin pra ver se ele podia me emprestar o telefone dele e eu descobri duas coisas: que o telefone dele estava cortado e que eu estava atrasado pra minha audição. Saímos do apartamento correndo e eu fiz o teste de surpresa! Sorte que eles gostaram de mim imediatamente. - O sorriso do garoto iluminou-se. - Eu voltei para o apartamento, caí no sofá e dormi lá mesmo. Quando acordei, de madrugada, me desesperei e devo ter batido em uns cinco apartamentos diferentes sem nem ao menos conhecer alguém em busca de um telefone, e depois de vários “nãos”, eu resolvi voltar e esperar o outro dia - null colocou a mão sobre o próprio braço e o acariciou. - A bengala daquela senhora realmente doía - ele olhou para null, que o encarava sem entender. - As pessoas podem se tornar bem hostis quando são acordadas às 2:00 da manhã. Mas o que interessa é que no outro dia eu fui atrás de um carregador pro meu celular, já que eu não tinha levado o meu. Eu queria falar com você, ouvir sua voz, contar as novidades. E eu liguei pro seu celular, que estava desligado. Liguei pra sua casa e ninguém atendeu. Depois disso passei a te telefonar freneticamente por quase uma semana, mas você nunca me atendia. Então me dei conta de que você devia estar me achando um loser total. E com razão.
- Meu pai apareceu com uma colônia de férias maluca e me mandou pra lá. Passei uma semana e quando voltei ainda não tinha tido notícias suas. Até que um dia a sua mãe disse pra minha que você tinha decidido "curtir a vida pela Europa" - null falou com uma risada seca. - Tem noção de quanto aquilo me magoou?
- E eu imagino. Mas não foi nada disso! Ela não queria que eu fosse null de jeito nenhum, com medo de aquilo afetar a "imagem" dela - null bufou. - Então ela inventou essa mentira ridícula. Depois de tanto ligar pra você, eu conclui que você só me ouviria pessoalmente. E aqui estou eu. - null se ajoelhou em frente à garota, que arregalou os olhos, espantada.
- E aqui está você... - null deu um risinho com o canto da boca.
- Me perdoa? - null pediu, mordendo o lábio inferior.
- Eu acho que... Depois de todas essas explicações e... Depois de toda essa confusão... Nós merecemos uma segunda chance.
- S-sério? - O garoto pigarreou - Nossa... Eu...
- null! - null o encarou após uma gargalhada. – Vem logo me dar um abraço!
- É que eu não esperava... - null sorriu, levantando-se logo em seguida. null afastou-se um pouco para trás, ainda encostada no balanço.
O garoto que se encontrava de frente para ela segurou as correntes que prendiam o assento do brinquedo, fechando-a com os dois braços. Seus narizes se tocaram, as pontas roçaram levemente enquanto eles sentiam suas respirações quentes. null beijou a ponta do nariz de null, que fechou os olhos ao sentir o toque. Logo em seguida foi a vez da bochecha direita, esta se encontrava vermelha. A bochecha esquerda fora beijada e ele seguiu para a testa. O garoto parou bem em frente à boca de null, a qual tinha os olhos abertos e esperava ansiosa pelo beijo. null deu um pequeno risinho, seguido de um selinho rápido que logo fora prolongado. null abriu levemente a boca, sentindo o garoto intensificar o beijo à medida que o tempo passava. Suas línguas brincavam em harmonia. Seus corpos estavam próximos. Colados.
- null! - null sentiu o rosto arder, afastando-se do garoto rapidamente.
- O-o que? - Ele perguntou assustado, sem tirar as mãos das correntes.
- Er... Que volume é esse na sua calça? - null perguntou, com o rosto escondido pelas mãos.
- Er... Volume? - null passou a mão pelos cabelos. - Bom, null, você sabe... Eu realmente vou ter que explicar isso? E quanto às aulas de bio...?
- NÃO! Não aquele volume... Esse daqui - null gargalhou tocando na lateral da calça de null, onde um grande bolso estava.
- Ah! Esse volume - null gargalhou também, colocando uma das mãos dentro do bolso.
- O que é isso? - A garota perguntou encarando os inúmeros papeizinhos na mão de null.
- Ah, são fichas pra... Er... Barraca do beijo.
- Você comprou quantas? - null encarou a mão do rapaz, onde quase não cabiam os papéis.
- Er... Todas as que sobraram. - null deu um sorrisinho rápido, sentindo o rosto corar.
- Sério? Todas? - null deu um sorriso bobo que logo fora substituído por uma cara de horror. - Oh! Não me diga! E por que você não foi usá-las? Podia ter ido pelo menos antes do Jason! - null passou os dedos pela boca, lembrando-se do garoto que fora obrigada a beijar.
- Ahh, eu vi que ele foi lá. Quis te fazer sofrer um pouquinho - null levantou uma das sobrancelhas. - Você estava sendo muito cruel, sabia? E assim achei que você sentiria falta dos meus beijos. Além do mais, eu queria te beijar sem ser interrompido.
- Owwn, eu fui mesmo, não é? Fica tranquilo que agora ninguém vai te interromper - null colocou a mão na nuca de null, puxando-o para perto de si. Uma mistura de nervosismo e felicidade fazia parte do ambiente. Aos poucos, null sentiu as mãos do garoto sobre sua cintura, massageando levemente seu corpo. As borboletas no estômago voltaram a aparecer, era impossível não sentir. null passou os braços em volta do pescoço de null e seus cabelos da nuca foram bagunçados pelos dedos dela, que se entrelaçavam entre os fios.
- Eu acho que isso é um... Sim - null falou, finalizando o beijo com um selinho. - Ao meu pedido de desculpas.
- Isso é um sim - null sentiu o rosto arder e não conseguia esconder o sorriso que desabrochava em sua boca.
- Então... O que nós faremos agora? - null entrelaçou seus dedos nos de null, puxando-a para andarem de volta à quermesse.
- Eu acho que você poderia voltar para o palco - null brincou. - Quer dizer, o público te ama!
- Muito engraçadinha você - null deu língua para a garota. - Eu ainda não acredito que fiz aquilo.
- Nem eu! Mas sabia que você não canta tão mal?
- Há-ha, você está tão engraçadinha hoje, ma fraise, nem te conto, olha - null respondeu sarcasticamente. - Tomou palhacitos no café da manhã, foi?
- Nossa, você voltou com piadas novas?
- Ma fraise! Tô cheio de piadas novas! - null falou animado. - Aqui vai uma... Por que a mulher do Hulk largou ele?
- Não sei, null.
- Porque ela queria um homem mais maduro! - null respondeu à pergunta segurando o riso. - Maduro, sacou? Verde e tal.
- Eu entendi, null...
- Então por que você não tá rindo?
- Sem querer ofender... Mas essa piada é sem graça.
- Tá bom, tá bom! Eu tenho uma melhor! - null pigarreo.u - Porque o elefante tem o joelho mais enrugado que o resto do corpo?
- Não sei, mas a resposta deve ser bem idiota - null escondeu o rosto com uma das mãos.
- Porque ele jogava muito bolinha de gude quando era pequeno!
- Desiste, null, você não tem talento como humorista - null sorriu, abraçando o garoto pela cintura enquanto andavam de volta para a tumultuada quermesse.
Epílogo
A primavera tinha chegado mais uma vez à cidade de Leeds. O parque parecia ficar mais bonito com todos seus arbustos verdes e floridos. Um fraco vento batia, refrescando as pessoas que aproveitavam aquela manhã de sol para passear e fazer piqueniques sobre o grande tapete gramado.
Entre as grandes árvores do parque um casal passeava. Eles tinham suas mãos entrelaçadas e se desviavam das grandes raízes que dominavam o chão. Aquele lugar era mais afastado e poucas pessoas iam ali. Era muito bonito. A luz entrava mais fraca, porém o local era privilegiado pela lagoa. Esta tinha a água um pouco escura e podiam ser alugados botes e pedalinhos em forma de gansos.
Uma árvore em particular fora escolhida para abrigar o casal que tinha caminhado por todo o parque à sua procura. Fazia um ano que eles tinham ido àquele lugar. Nem parecia tanto tempo, já que juntos, tudo passava de forma tão prazerosa e rápida.
- É aqui, ma fraise! - null gritou entusiasmado, apontando para o grande tronco.
- null, eu estou aqui do seu lado - null riu, colocando as mãos sobre os ouvidos. - E como você pode ter tanta certeza?
- Eu estava procurando isso - o garoto apontou para uma marca feita com canivete no ano anterior onde se encontravam as palavras "null&null". - Lembra?
- É claro que eu lembro - null sorriu. - Aquele dia foi inesquecível.
- Olha, eu trouxe até uma toalha de lã - null sentou-se entre o tronco da árvore, abrindo os braços para que null sentasse junto.
- Não está tão frio, null.
- Ma fraise, você tem que entrar no clima! - null a abraçou pela cintura, colando seus corpos.
- Eu estou totalmente no clima - null riu, passando a mão levemente sobre a bochecha do garoto.
- Está animada?
- Com o quê? - null virou o rosto para poder olhar para null.
- Em ir para Londres comigo.
- Londres? - A garota o encarou sem entender. - Como assim?
- Amanhã nós vamos para Londres.
- É? E... Como eu não estou sabendo disso?
- Bom, eu estou te avisando agora, ma fraise. Eu tenho uma apresentação daqui a duas semanas, então eu pensei em, quem sabe... - null aproximou a boca da orelha de null cochichando. - Nós irmos amanhã e passarmos um tempo, sozinhos?
- Você está falando sério? - A garota abriu um sorriso de ponta a ponta.
- Muito sério. E você quer ir comigo, não?
- Claro que eu quero! – Ela olhou-o como se não acreditasse. – É tudo que eu quero! – O garoto, então, postou-se em frente a ela e prendeu-a com os dois braços encostados na árvore.
- Você não sabe como eu fico feliz com isso. – null riu em frente à boca de null, iniciando um beijo. Alguns minutos depois de beijos calorosos suas bocas foram separadas em meio a selinhos. – Ah! Eu tenho mais uma coisa pra fazer aqui. – null afastou-se de null e puxou um canivete do bolso, cravando na árvore a data do dia corrente – Pra marcar nosso primeiro ano...
- De muitos – a garota, que olhava encantada, se aproximou dele com um sorriso bobo no rosto.
- Com certeza – null puxou-a e eles iniciaram mais um beijo.
Fim.
Rebetado por: Leeh Rodriigues.
Nota da autora:
Ai meu Deus, acabou!
Eu espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado.
Muito obrigada por acompanharem a fic, comentarem e elogiarem. Vocês devem ler isso toda hora, mas é só pra reforçar: os comentários são mesmo o combustível pras atualizações e qualquer palavrinha que vocês deixam pra nós, são analisadas e apreciadas.
Queria pedir desculpa se alguém ficou irritada com a demora de atualizações, mas é que eu tive um probleminha com o meu pc e só agora consegui recuperar.
Vou ficando por aqui. Mais uma vez, obrigada, meniiiinhas! Vocês são as melhores!
E não esqueçam de ler as minhas três fics preferidas:
Meet Those Girls
All American Girl
e é claro: MOTION IN LONDON!