June 15th
Autora: Ingrid H.
Beta-Reader: Mari Lima


CAPÍTULOS: [16][17][18][19][20][21][22][23][24][25][26][27][28][29][30]



Capítulo 16


(Colocar para carregar: Box Car Racer - Elevator)

Começava a realmente esfriar em Londres. Amo o inverno, mas quando não tenho absolutamente nada pra fazer. Ir à calçada naquela temperatura era um martírio. Eu continuava firme e forte, lutando contra o meu queixo batendo. Tinha que trabalhar, estava faltando muito ultimamente e as despesas estavam apertando. Agora, pelo menos, tinha um carro e me levava à calçada, o táxi já era cortado. Faz três semanas e alguns dias desde o aniversário de . Desde ali, e eu não nos falamos mais. Quer dizer, depende do que se entende por “falar”. Depois da piscina, no dia seguinte da casa de , só saí com os garotos uma vez, que foi no outro fim de semana. Fomos a uma casa noturna, estava acompanhado de Sophie. Quando isso acontece, sou apenas ignorada, ou melhor, volto para o meu lugar. Tirei a conclusão de que cada vez que vejo e Sophie juntos, me sinto pior. Ela, para variar, foi muito amável comigo, mas eu já não consegui sorrir tanto para ela como até conseguia fazer anteriormente. Era automático, sentia-me mal por isso. estava feliz da vida, pelo menos ela conseguiu se divertir muito na festa que fomos. Estava ficando com toda vez que saíam. É, para a minha surpresa, não se arrependeu do que fez bêbada e inconsciente. Ela insiste que eles estão em um relacionamento completamente aberto, mas eu não acho que seja tanto assim. Porque, nas semanas passadas, quando o McFly estava em Londres, vinha aqui e até dormia em nosso apartamento. Eles dois saíam bastante, inclusive com Harry, e, bem, ... E Sophie, pelo que me contava. Eu tinha apenas decidido não ir mais. Não vou mentir, sinto muita falta de estar com todos eles, mas na maioria das vezes que combinavam de sair, era no meio da semana, e eu tinha que trabalhar.

Certo, não é por isso.

É porque não quero MESMO ficar vendo o cara que eu desenvolvi algum tipo estranho de sentimento, com a sua namorada. Pensando bem, é melhor assim. não vai deixar Sophie para ficar comigo. E eu não quero ser “a outra” a vida inteira. Já basta ser a outra de vários velhos nojentos que me pegam na calçada. é tentador demais para ser tido apenas de vez em quando. Não aprendo a lidar com isso. Então, é melhor me manter distante. Nessas três semanas e alguns dias, parece que sinto mais vontade de estar com ele a cada minuto. Eu tenho medo do perigo. Eu tenho medo de realmente me apaixonar. Ou será que é tarde demais?

— O vai lá em casa hoje — me acordou de meus devaneios.
— Droga, queria jogar conversa fora com vocês — falei desanimada.
— Ué, e por que não faz isso? Vamos voltar pra lá!
— Porque eu tenho que trabalhar, né? — estalei os dedos e ela arqueou as sobrancelhas, lembrando desse mínimo detalhe.
— Ahhh, é bom você ir trabalhando mesmo e juntando dinheiro, porque sábado vamos rachar muitas grades de cerveja e vamos para a casa do ! — comunicou, como se me desse a notícia do século. Tentei sorrir.
— Eu não vou — falei simplesmente e me deu um tapa no braço.
— Como assim não vai? CLARO que você vai! É uma ordem.
— Não vou, , não mesmo.
— Cara, pelos meninos... Esquece o imbecil com cara de galã do ! — ela se aborreceu e nós rimos. — Pô, desde quando você depende de estar bem com ele para se divertir com seus amigos?
— 'Tá, vou pensar — tentei enganá-la.
— Não, te conheço. Pela sua cara, será um ‘não’.
— Juro que vou pensar! — sorri fraco. — Agora deixa eu ir antes que o fique plantado lá — falei e depois dei um abraço nela, que riu.
— Ele tem que rastejar por mim, querida, toda espera é pouco pra ele! — brincou e eu apertei as suas bochechas. — Bom trabalho!
— Bom ! — caçoei, abrindo a porta e descendo do carro. Acenei pra e caminhei um pouco até chegar ao meu ponto. Usava um grande casaco de peles sintético, por cima do vestido curto. Estava frio demais.

Enquanto caminhava, olhava para o céu tomado por nuvens e tentava lembrar o porquê de tudo isso estar acontecendo. Por que eu estava me sentindo tão estranha? As últimas semanas passaram tão devagar que eu desejei morrer por alguns dias e só acordar quando voltasse a entender quem sou eu e o que sinto. Sentei na escada de um prédio, enquanto esperava algum carro parar, tentava aquecer as minhas pernas abraçando-as. Voltei a lembrar ridiculamente do dia em que conheci . Lembrei que estava sentada ali, naquela posição, com a mesma preguiça. A única diferença, é que não estava tão frio. Fiquei observando os carros passarem, pude jurar que vi o de passar várias vezes, mas sabia que era apenas impressão. Peguei-me rindo ao lembrar a expressão sapeca em seu rosto, ao dizer que me deixaria dirigir seu carro um dia. Depois, lembrei do dia em que isso se tornou realidade. Pensei em como eu tinha amadurecido a relação com ele. Eu era completamente muda e travada no início, mas nesses últimos tempos até consegui tirar várias piadas com a sua cara, me sentia tão à vontade quando estava por perto. É estranho ver que ele nem parece se importar. Que tudo isso que para mim significou tanto, para ele foi apenas um preenchimento de buracos em seu calendário.
Respirei aliviada quando um carro parou e afastou os meus pensamentos. Por mais que soubesse que isso era impossível de acontecer, senti uma ponta de decepção quando o vidro foi abaixado e vi que era um homem de cabelos grisalhos. Ele perguntou por quanto eu faria e eu falei, logo em seguida abriu a porta e entrei no veículo. Fizemos o caminho calados, passando pelas avenidas de Londres, e eu vi que alguma coisa naquele dia me puxava de volta para . O caminho, era isso. O HOTEL. Sim, o homem me levava para o mesmo hotel em que deve morar. Senti as pernas formigarem e bati a ponta dos dedos em minhas coxas, ansiosa. Entramos na garagem e ele disse a mesma coisa que : iríamos pelo elevador de serviço, para não chamar atenção. Rezei internamente para que não pressionasse o botão “5”. O meu estômago dançou quando ele aproximou o seu dedo de tal número, mas foi no “4”. Subimos, ainda em silêncio. Ali eu me reconhecia: fria e calculista, ah, e impaciente.

Definitivamente odeio o fato desses elevadores de serviço pararem de andar em andar. Eu não tinha pensado tanto em e ido parar naquele hotel à toa. Quando o elevador parou no segundo andar, aquela pessoa que a minha cabeça insistia em pensar apareceu, do outro lado da porta. Mas não sozinha. Ele estava com o braço em volta do pescoço de Sophie, os dois conversavam com um casal e riam animados. Ouvir a gargalhada de foi como se me eletrocutassem. O casal que estava com eles entrou no elevador e eu abaixei a cabeça, para não ser vista.

(Coloque a canção para tocar).

— Grande Richard! — ouvi a voz rouca que mais me deixava em transe falar e notei que o homem que eu acompanhava era o tal Richard. Tentei me esconder com as mãos e a cabeça ainda baixa.
, campeão! — ele se aproximou da porta do elevador e cumprimentou . Em seguida, creio que cumprimentou Sophie, pois a apresentou. Richard correu para o elevador novamente, a porta já ia fechar. O casal que conversava com os dois ia para o mesmo andar que nós. As minhas mãos tremiam e eu estava perceptivelmente nervosa. O elevador chegou ao 4º andar e nós saímos.

Entramos no quarto do tal Richard. Sentei-me na cama e tirei o casaco. Depois os sapatos, já me deitando na cama. Ele tirava o terno e logo depois se juntou a mim. Começou a beijar o meu pescoço e levar uma de suas mãos à minha intimidade. Eu tentava me concentrar, mas só o que me vinha em mente era ver rindo, feliz, abraçando a namorada. Aquele local também não ajudava. O quarto era muito parecido com o do bendito . Tentei manter os olhos fechados, para evitar mais lembranças e evitar continuar desconcentrada. Parecia que quanto mais eu fazia isso, mais lembranças penetravam em meu cérebro e mais nojo eu sentia. Meu corpo já agia sem o meu consentimento.

— O que foi? — Richard perguntou quando espalmei as mãos em seu peitoral e o empurrei.
— Eu não, eu... — gaguejei e ele me olhou espantado. — Eu não posso! — praticamente pulei da cama e peguei o meu casaco, depois calcei a sandália e saí correndo do quarto, sem ao menos olhar para trás. Não o ouvi falar nada, acho que estava assustado demais com a minha forma de agir que nem pensou no que dizer. Corri, mas corri muito. Vesti o casaco e procurei a porta que dava acesso às escadas, não podia ir pelo elevador e correr o risco de encontrar e Sophie lá. Tirei as sandálias e as segurei com uma das mãos. Parecia que nem havia degraus, parecia mais que eu escorregava ao invés de descer. Meu coração estava na garganta e eu mal respirava, não entendia muito o que estava fazendo, mas naquela escadaria não era lugar para pensar. Só sabia que tinha que deixar aquele hotel imediatamente.

Estava muito longe de casa. E o mais importante: estava a uma distância significativa do hotel, também. Agora eu passava pelas redondezas da famosa Ponte da Torre, nos arredores do rio Tâmisa. Sentei em um banco em que era possível observar o rio. Apoiei os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos. Era a primeira vez que eu tinha agido tão estupidamente no trabalho. Nunca tinha fugido de um programa. NUNCA. Nem no meu primeiro, que foi abominável. Não era justo estar daquele jeito. Não era justo ter encontrado . Eu devia ter feito alguma coisa muito ruim em minhas vidas passadas. Por que me sentia daquele jeito? É, eu sabia por que estava “daquele jeito”. É tão óbvio. Eu não conseguia conviver com a ideia de que tudo havia mudado entre e eu. Drasticamente. O nosso último encontro — antes desse, em que só eu o encontrei — foi tão frio que, se eu não assistisse a minha própria vida, pensaria que nem o conhecia. Como alguém pode mexer tanto com as minhas estruturas psicológicas? O era para ser um mero cliente! Por que eu deixei as coisas saírem do controle? Eu o odeio. Mas me odeio mais ainda por não conseguir odiá-lo.

No sábado...

— Você pegou aquelas que estavam no fundo do congelador? — perguntou ligando o carro.
— PEGUEI, SER HUMANO, agora vamos logo! — respondi impaciente e ela riu.
— Você já foi mais doce! — disse rindo e eu tenho certeza de que já ouvi isso de alguém. — Olha... — continuou e eu a olhei, atenta. — Nada de peidar na farofa! A programação está feita e você só tem que cumprir.
— Ai , não vou dar para trás não... — falei sem muita certeza. O combinado com foi de irmos à noite para a sua casa, beber até enjoar, dormir por lá e almoçar juntos no dia seguinte. Eu sabia que estaria, mas não tinha tanta certeza de que estaria sozinho.
— A Sophie não vai! Ela não anda nas casas dos meninos — comentou, dando de ombros, como se lesse os meus pensamentos. Estou começando a acreditar que é isso o que ela faz, mesmo.
— Hã? Tem nada a ver com a Sophie! — fingi.
— Eu sei que não, é com ela e o bendito lá — ela ligou os pontos e eu a agradeci mentalmente, então apenas fiquei calada vendo o caminho que fazíamos. — Você leva a melhor e sabe disso — adoro os ataques de loucura da .
, para de falar besteira! — balancei a cabeça e ri.
— Não 'tô falando besteira. , eu estou andando mais com eles, nessas últimas semanas que você decidiu ignorar tudo e todos. Sempre que o me vê, parece que fica esperando você aparecer atrás de mim. — falou naturalmente e eu senti uma pontada no peito.
— Sério? Digo, claro que não, isso é coisa da sua cabeça — ignorei.
— Burra do demônio, vá à merda! Também não digo mais nada — se revoltou e ficou calada o percurso inteiro.

Chegamos a uma grande casa amarelada, de dois andares. Na frente, um lindo jardim. Fiquei impressionada com o fato de não haver um muro gigante, apenas grade. desceu do carro e tocou o interfone. Alguém atendeu e ela pediu ajuda com as cervejas. O portão se abriu automaticamente e Harry vinha saindo da casa. Caminhou até nós e cumprimentou , indo para o porta-malas. Ele ainda não tinha me visto.

— Você viu quem eu trouxe? — perguntou marota e Harry levantou a cabeça lentamente, olhando para o lado. A expressão que ele fez valeu o meu dia. Eu não sabia que eles sentiriam tanto a minha falta.
— MEU DEUS! EU 'TÔ VENDO DIREITO? — esfregou os olhos e eu balancei a cabeça, sorrindo. Então, ele se aproximou e me deu um abraço. Não um simples abraço. Era tão apertado que parecia me sufocar, mas eu poderia ficar sufocada ali, não tinha problema. Foi tão sincero que apenas o abracei com a mesma intensidade, claro que não com a mesma força, devido ao pequeno detalhe de ele ser homem. — Rachel, eu senti tanto a sua falta! Os caras também! — confessou, se distanciando e me dando vários beijos estalados na bochecha.
— Ouuun Haz, eu também senti de vocês, muita! — afundei a cabeça na curva de seu pescoço e o abracei novamente. Ele fez carinho na minha nuca e apoiou o queixo em minha cabeça. Eu estava apreensiva para aquele reencontro com e tudo mais, mas Harry foi tão carinhoso, tão lindo com aquela recepção, que me sentia preparada para qualquer coisa. Até para encontrar Sophie e dando uns amassos.
— 'Tá, chega! — pediu, batendo palmas. — Vamos levar logo essas cervejas lá pra dentro antes que eu perca a paciência com essa melação aí! — riu e Harry e eu nos soltamos.
— Está com ciúmes? Tem pra você também! — Harry disse abraçando-a e ela o empurrou rindo.

Pegamos as sacolas e entramos na casa. veio por último, pois ia estacionar o carro na garagem de . Durante o percurso até a porta, Harry e eu conversávamos bastante, ele me perguntava por que eu tinha sumido, por que não saía mais com eles. Inventei que era cansaço, mas ele disse que nada como sair com amigos para curar o stress. Está certo, eu sei, mas eu sabia que Sophie estava indo nessas ‘saídas’. Ficamos esperando sair do carro, parados na porta. Não tinha nenhuma movimentação por ali, os meninos deviam estar em outro cômodo. apareceu e aí então entramos. Passamos por uma bela sala completamente branca e com alguns móveis pretos, eu não sabia que tinha tal bom gosto para decoração. Fomos para um corredor à direita e entramos na cozinha, coloquei as sacolas em cima de uma mesa e Harry abriu o freezer. Pegou apenas as cervejas de duas das sacolas.

— Essas aqui vão pro freezer lá de cima — falou já pegando as outras três sacolas. Devia estar levando para onde os outros estavam. Seguimos Harry, e não parava de comentar como estava espantada com o fato de uma casa tão bonita pertencer ao . Depois de passarmos novamente pelo corredor, vimos uma escada circular, de madeira. Subimos e eu já pude ouvir um som alto e algumas risadas. Dentre elas, a gargalhada nada discreta de . — Aqui é onde tudo acontece, meninas — Harry disse apontando para a porta fechada e a abriu em seguida. Senti um frio na barriga anormal quando consegui ver o interior daquele lugar, porque estava parado, de frente para a porta. Era uma sala de jogos, havia uma mesa de sinuca e mais longe uma TV grande com algum video-game ligado. e jogavam alguma coisa e estava segurando o taco, esperando Harry para jogar sinuca com ele. A reação de foi mais ou menos como a minha: parecia que tinha parado no tempo. Creio que ficou realmente assustado com o fato de eu estar acompanhando . Abaixei a cabeça e entrei por último, fechando a porta. Harry foi para o freezer, colocar as cervejas que faltavam, e foi cumprimentar . Mal olhei para frente e e me abraçaram. Se não tivesse uma parede atrás de mim, acho que fariam montinho, porque eu não tinha forças para aguentá-los. A recepção deles foi tão calorosa quanto a de Harry, e eu parei para me perguntar como tinha aguentado tanto tempo longe daqueles bobos lindos. O abraço de foi mais apertado, porque eu via sempre que ia ao nosso apartamento ficar com .
— @#$%! Rachel! Eu nunca pensei que fosse dizer isso a alguém, mas você fez uma falta danada! — confessou ainda me abraçando e eu passei a mão em sua nuca. — Nem me fala, vocês fizeram uma falta maior ainda pra mim! — falei cordialmente e senti que ele apertou mais ainda o abraço. Eu mentiria se dissesse que o modo como fui recebida não me comoveu. Eu senti SIM um pequeno nó na garganta e um aperto no peito.

Quando me soltaram, pude ver segurando uma latinha recém-aberta, ele conversava com . Riam o tempo todo. Fiquei realmente chateada com o fato de ele não ter vindo falar comigo. Sei que eu sumi, que ele não tinha obrigação nenhuma de fazer tal coisa, mas se antes eu achava que nós estávamos caminhando para um lado em que parecia que nunca tínhamos nos visto antes, agora eu tinha certeza disso. e voltaram para o video-game e Harry se sentou atrás deles, torcendo, colocando pilha. Vez ou outra, um dos dois dava um tapa para que ele se calasse. Caminhei em direção ao freezer, mas só quando cheguei lá percebi que para abri-lo teria de pedir licença a . O que eu ia fazer? Não me sentia à vontade em falar nada com ele. Já sei, eu diria ', PEGA UMA CERVEJA PRA MIM?’. Desisti. Ela ia me fazer passar uma vergonha maior. Respirei fundo.

— Com licença — pedi sorrindo fraco e se afastou bruscamente, então abri e peguei uma latinha. Ah, mas a idiota da não podia simplesmente olhar aquilo calada.
, deixa eu te apresentar a minha amiga . Mas em público, quer dizer, se o público for os seus amigos, ela é Rachel. E , esse é o , mais conhecido como — ela disse puxando a mão de com uma mão e a minha com a outra, para que déssemos as mãos.
— Prazer — ele juntou as nossas mãos e riu cinicamente. Não muda nunca, não importa quanto tempo eu fique sem vê-lo. Meu estômago revirava.
— É todo seu — falei e dei um sorriso irônico, apertando ainda mais a sua mão. arregalou os olhos e saiu de perto. Vou matá-la.
— É mesmo — disse apertando a minha mão de forma incômoda e sorrindo.
— Solta a minha mão, — eu queria rir, mas estava começando a doer, mesmo.
— Não. Palavra mágica? — perguntou com um sorriso maroto.
— Por favor? — respondi em dúvida.
— Resposta errada — apertou mais um pouco e eu comecei a me contorcer.
— AI AI AI, SEI LÁ! — tentei puxar o braço, mas era impossível.
— "Eu senti falta do " — mandou-me repetir simplesmente, como se não estivesse fazendo nada comigo e como se merecesse ouvir isso.
— EU SENTI FALTA DO — falei antes que ficasse pior e ele soltou, em seguida, como em um reflexo pegou a cerveja que eu ia abrir e abriu, bebendo. — Porra! Agora pega outra pra mim — fiz carinho em minha mão e abriu o freezer, me dando outra cerveja. — Obrigada. Quer dizer, obrigada nada, não fez mais que a obrigação.
— Olha que eu derrubo essa daí! — falou em um tom provocativo e eu segurei a minha latinha com mais força. — Deixa eu abrir pra você — entreguei a latinha receosa de que ele ficasse com ela, mas não, largou a que segurava em cima do freezer e abriu a minha, me devolvendo e pegando a sua de volta. — E então, como você está? — perguntou colocando a mão livre no bolso e, agora, se encostando à mesa de sinuca. Fiquei de frente para ele, encostada no freezer.
— Bem, eu acho — sorri fraco e bebi um pouco de cerveja. — E você?
— Bem, eu acho — me imitou e eu dei um chute leve em sua perna. — Estou bem sim — sorriu. — Trabalhando muito?
— Er, todo dia — respondi desanimada e ficou sério.
— Você já está perto de se formar, né? — perguntou do nada.
— É — respondi simplesmente e bebi mais cerveja, ele fez isso também, ao mesmo tempo.
— EI CASAL, JUNTEM-SE A NÓS! — gritou e eu corei. mostrou-lhe o dedo. Comecei a caminhar em direção a eles, vinha atrás. — MAS TRAGAM UMA LATA PRA MIM, NÉ? DÃ!
— Folgado — resmungou e voltou para buscar uma latinha. Sentei ao lado de Harry, que estava atrás de , e . Ele entregou a latinha ao dono e sentou do outro lado de Harry. — Ei, eu não quero ver dois idiotas jogando esse jogo idiota — irritou-se e nós rimos.
, cara, cala a boca. Você não tem onde dormir, cara. E cara, eu 'tô te acolhendo aqui, com todo o meu coração e você me chama de idiota? Cara, é muito decepcionante. — disse sem tirar os olhos da TV.
— Eu nunca vi colocar tanto ‘cara’ em uma frase só! — Harry zombou, dando um pedala em .
— Você vai ver onde o ‘cara’ vai parar, Haz — o outro rebateu e todos riram.

Tocava alguma canção dançante, em um volume praticamente ensurdecedor. levantou e me chamou pra dançar. Recusei, pois fiquei completamente tímida, porém não adiantou muito. Ela me xingou e todos começaram a gritar ‘aceita’ em coro. Levantei querendo matá-la e segurei sua mão. Fomos para perto da mesa de sinuca e começamos a dançar juntas. Fazíamos caras e bocas e rebolávamos o tempo inteiro. Se tinha algum menino jogando video-game, agora o jogo tinha sido praticamente esquecido. Os quatro ficaram um ao lado do outro, batendo palma e assobiando. e eu gargalhávamos, ainda dançando, e eles pareciam quatro bobões, quase babando. Claro que eu me aproveitei da situação. Fiquei atrás de e coloquei as mãos em sua cintura, começamos a descer até o chão, deixando os garotos loucos!

— Só tem frouxo aí... Nenhum tem coragem de se unir a nós! — provocou.
— Pelo amor de Deus, não fala uma coisa dessas... — disse passando a mão no cabelo, nervoso e rindo. Ela foi até e o puxou pelo colarinho da camisa, trazendo-o para perto, ele ficou no meio e nós dançamos nos esfregando nele, que ficou maluco e chamou os amigos de maricas. Quando menos esperei, Harry veio e ficou atrás de mim, então me separei de e e fiquei de frente para ele. e foram pegar cerveja e depois foram até a mesa de sinuca, jogar. Passei os braços ao redor do pescoço de Harry e ele passou os dele ao redor da minha cintura, dançamos com os corpos colados. e brincavam de dança de salão, fazendo todos rirem. Enquanto dançava com Harry, notei uma coisa que me deixou um tanto quanto confusa. E dessa vez não foi . Foi . Quando chegou a uma das vezes de dar a tacada, notei os olhos de atentos em um ponto fixo. Tentei acompanhar o seu olhar e percebi que ia à direção de . Sim, olhei de novo e só tinha como ser para ela. Ele só podia estar bêbado. Ou olhando para o . Não, era para mesmo. Antes que pudesse prestar mais atenção, Harry me puxou de uma vez, mudando os passos de dança.
— Você dança bem! — elogiei encarando Harry e rebolando junto a ele.
— Só quando a pessoa com quem eu estou faz isso melhor do que eu — brincou. — Nossa, 'tô melhorando, percebeu?
— Babaca! — dei um pedala em sua nuca e ele riu. Olhei novamente para a mesa de sinuca e vi esperando jogar. Nossos olhares se encontraram e ele deu um meio sorriso. Fiz o mesmo, arqueando as sobrancelhas e depois desviei o olhar, sentindo o coração bater quase mais alto do que as caixas de som.
— O que tem aí pra comer? 'Tô com uma fome do demônio! — ouvi gritar e depois percebi que ela e tinham parado de dançar e ele estava concentrado tentando tirar alguma mancha de sua camisa.
— O Harry comprou sushi! — respondeu e, se eu não tivesse visto aquilo, não acreditaria. SORRIU cordialmente para ele e ele FEZ O MESMO.
— AMO SUSHI! — ela berrou mais uma vez e os meninos riram. Harry e eu paramos de dançar e fomos até o freezer pegar duas latinhas, uma para ele e outra para mim. — Anda Harry, seu enviado do demônio, vai lá buscar pra mim!
— Eu não, se vira! — Harry disse em tom de brincadeira e fez careta.
— Onde tá essa buc@#$? — perguntou e apontou para a calça dela. Nós gargalhamos e ela fez careta mais uma vez. — Essa daqui eu sei muito bem onde 'tá, quer que eu te ajude a encontrar o que deveria estar nas suas calças? — perguntou colocando as mãos na cintura e sendo aplaudida por todos, menos por , que pediu para ela colocar a mão lá. Foi repreendido por , que pediu respeito, rindo.
— Vamos, eu busco com você! — se ofereceu e Harry teve quase a mesma reação que eu, porque, além de ficar espantado, ainda soltou uma risada abafada. Olhei para e ele balançava a cabeça negativamente, rindo. mal respondeu, simplesmente o seguiu.
— Eu passei muito tempo fora ou eles dois estão começando a se entender? — perguntei confusa e Harry e me olharam com a mesma expressão que eu devia mostrar, o único natural com a pergunta foi .
— Acho que um pouco dos dois — respondeu, dando de ombros, com um sorriso tímido, me fazendo quase suspirar na frente de Harry. agora jogava no lugar de e cantava vitória por acertar mais do que o amigo, deixando perceptivelmente irritado.
— Vai dizer que você não estava se matando pra nos ver de novo? — Harry me acordou do transe temporário e passou uma das mãos pela minha cintura.
— Convencido, hein? — brinquei bagunçando o seu cabelo e ele fez careta. — Mas digamos que você tem um pouco de razão.
— Eu sei — respondeu simplesmente e me deu um tapa leve nas costas. — Você é brother, sem você não era a mesma coisa — ok, depois de ouvir isso, digamos que eu suspirei idiotamente e dei um abraço muito apertado em Harry.
— Haz, traz uma cerveja pra mim? — pediu e Harry me soltou bruscamente, se virando e abrindo o freezer. Depois de pegar a latinha, foi até e este deu o seu taco para que Harry continuasse o jogo com [n/a: notaram o esquema do seu McGuy? Espertinho ele, não?]. passou direto para uma porta perto da televisão, que eu creio ser o banheiro. Continuei tomando a minha cerveja e olhando os dois jogarem. Pegava-me rindo sozinha várias vezes, Harry e só faltavam se estapear. saiu do banheiro e pegou a latinha que tinha deixado na parte de madeira da mesa de sinuca, vindo para o meu lado e fazendo as minhas mãos gelarem. — Vamos olhar e analisar qual dos dois é o pior — falou baixo, para que somente eu escutasse e eu ri.
— Coitados, . Nem são tão ruins assim — mal acabei de falar e Harry, ao dar uma tacada, conseguiu fazer uma bola pular da mesa. Caímos na risada.
— Eu falei que eles eram ruins — deu de ombros e tomou uma golada de cerveja.
— Cadê a e o ? Que demora é essa? — perguntei procurando-os com o olhar e soltou uma risada abafada. — Que foi? Falei alguma besteira?
— Não, nada — balançou a cabeça negativamente e tirou o celular do bolso. Eu juro que fiz de tudo para não olhar o visor de seu aparelho, mas a tentação foi mais forte. Antes não tivesse olhado. O papel de parede era uma foto sua com Sophie, ele a abraçando por trás e ela segurando um poodle branco. Ambos sorrindo. Abaixei a cabeça em um impulso e em seguida virei a latinha, quase a esvaziando. me olhou assustado. — Desde quando você ficou assim? — indagou rindo.
— Assim como? — o olhei confusa.
— Bebendo desse jeito que você fez! — respondeu com os olhos arregalados e eu ri.
— Ah, eu tenho uma maneira de beber diferente dessa? — perguntei curiosa e ele guardou o celular no bolso novamente.
— Tem... — respondeu naturalmente e eu corei. — E não é nada parecida com essa. Você bebeu parecendo um homem. , você é uma dama! — brincou, bagunçando o meu cabelo e eu empurrei sua mão, rindo. Antes que falasse mais alguma coisa para contestar, e apareceram na sala, ela carregava uma travessa grande, cheia de peças de sushi e ele segurava os palitinhos, os saquinhos de shoyu e os pratinhos.
— Onde eu coloco essa merda? , como você não coloca uma mesa na sala de jogos? Só pode ser uma anta mesmo — perguntou inconformada, procurando um lugar que desse para colocar a travessa. Agora sim o tratamento parecia o que eu estava acostumada.
— Tem uma mesa aí — respondeu controlando a risada.
— Onde? Só se for no meu @#. — claro que tinha que vir com as suas respostas sutis.
— A de sinuca, ué. Não está vendo? — apontou para lá e mandou e Harry pararem de jogar. Os dois contestaram, mas ele disse que era isso ou eles dormiriam na sala. bufou, mas colocou a travessa no meio da mesa.

Todos pegaram os seus palitinhos, shoyu, pratinhos e se serviram. Estava muito gostoso mesmo, tanto que ninguém praticamente abriu a boca. Só , para xingar por ter derramado shoyu em sua blusa nova. Após reclamar, apenas derramou mais um pouco e ela o estapeou. Nós assistíamos à troca de ofensas — quer dizer, às ofensas de , porque apenas sorria maliciosamente e aprontava mais alguma coisa — e comíamos ao mesmo tempo. estava ao meu lado e vez ou outra me pedia ajuda com os palitinhos, porque eu o ajudava a fazer do jeito certo, mas ele ia e os tirava da posição, tendo que aprender tudo de novo. Não preciso nem dizer que tocar em suas mãos para ensiná-lo praticamente me fazia voar. Senti tanta falta de tocar aquela pele macia e senti-lo corresponder ao meu toque. É, parece que nós estávamos conseguindo levar tudo isso numa boa. Apesar de realmente desejá-lo, eu estava feliz por não estarmos constrangidos e por conversarmos normalmente. saiu para buscar guardanapos e cada um pegou um. Corei ao ser surpreendida por , que usou um para limpar alguma quantidade de shoyu em meu queixo. Ele fez isso com tanto cuidado, que esqueci, por alguns segundos, que é comprometido e que nós não temos nada. Senti-me uma imbecil por ter fechado os olhos. O que ele devia estar pensando? Então, os abri bruscamente e sorriu, parando de limpar meu queixo e voltando para mais uma rodada de sushi. A travessa foi esvaziada e nós pegamos mais cervejas.

Combinamos como seria a divisão de quartos. Harry e dormiriam em um; e em outro, e e eu em outro. Harry me chamou para dançar e quando percebi todos estavam se levantando para fazer isso. Fizemos uma roda e ficamos dançando juntos, aprontando aquelas coisas de sempre, como aquela em que de 20 em 20 segundos alguém dança sozinho ou escolhe alguém para dançar consigo no meio da roda. Foi aí que eu perdi o chão. foi o primeiro a ir, ele fazia algumas palhaçadas ao invés de dançar e nós ríamos bastante. Quando faltavam 10 segundos para a sua performance acabar, ele me olhou no fundo dos olhos e me chamou com seu dedo indicador. Todos gritaram e eu senti um empurrão — que creio ter vindo de —, fiquei cara a cara com . Ele me puxou pela cintura e nossos corpos ficaram colados. Sua mão ficou fixada em meu cóccix e a outra segurava a latinha de cerveja. Ficamos com as testas coladas, ele me olhava profundamente e eu já estava um pouco alterada, com os desejos aflorados. Apenas o olhei na mesma intensidade e senti as pernas formigarem. agora tinha um sorriso malicioso e a mão que estava em meu cóccix, estava encaixada em meus cabelos, me fazendo quase gemer. Eu já nem sabia o que acontecia em volta. Estava praticamente subindo pelas paredes. Alguém gritou que o tempo tinha acabado e eu odiei tal fato. voltou para o seu lugar e eu para o meu. O próximo a ir foi , que puxou Harry para dançar com ele e arrancou gargalhadas de todos. Olhei para e o vi me olhar da cabeça aos pés. Sua expressão era de completo desejo. Eu sabia que não tinha forças para lutar contra aquilo, ainda mais pelo fato de estar me sentindo igual ou pior do que ele. me deu uma cotovelada e a olhei sem entender, ela deu um sorriso malicioso, como se entendesse o que estava acontecendo. Eu disse que pegaria mais cerveja para nós duas. Senti me acompanhar com o olhar enquanto caminhava até o freezer. Peguei duas latinhas e voltei para a roda, dei uma para e abri a outra. Chegou a minha vez de dominar a pista. Dei uma golada na cerveja e a ergui, fechando os olhos e indo até o chão, arrancando aplausos e assobios. Em seguida, coloquei as mãos nos joelhos e rebolei sensualmente, virada para , de propósito. Fiz questão de morder o lábio inferior enquanto fazia isso. Ele agora me olhava com os olhos semicerrados e a cara mais sem vergonha que eu já o vi fazer. Ele bebia a cerveja de forma desesperada, como se esperasse que aquilo fosse amenizar a situação. Era óbvio que estava louco para me beijar, louco para me sentir. Fiquei impressionada em como eu consigo ter uma boa percepção quando estou bêbada. Meu tempo acabou e eu deixei a sala, precisava sair de perto de .

Controlar o desejo que eu estava sentindo era cada vez mais difícil, devido aos olhares que ele jogava. Por dentro eu sabia que o motivo pelo qual deixei a sala foi o de fazer vir atrás de mim e fazer exatamente o que eu queria que fizesse. Desci as escadas quase rezando para que ele entendesse o recado. Eu já mencionei que sou fraca para bebida, então bastaram algumas latinhas para que eu já enxergasse os degraus com dificuldade. Apoiei-me no corrimão e continuei descendo. Cheguei ao andar de baixo e sentei no último degrau da escada, ainda com uma latinha na mão. Ela estava quase vazia e eu fiz o favor de acabar logo com aquilo. Olhei para um ponto fixo e parecia estar viajando. Tudo o que eu lembrava era do jeito que me olhava enquanto dançava. Deus, como aquilo mexia com o meu sistema nervoso. Senti como se alguém estivesse descendo as escadas, pois os degraus eram de madeira. Olhei para o alto e quase vibrei explicitamente ao ver que o alguém era . Aquele maldito conquistador e quebrador de promessas internas. Eu sabia que bastaria ele me dizer ‘oi’ para que eu estivesse completamente vulnerável e me jogasse em seus braços. desceu e sentou ao meu lado, ainda segurando a sua latinha de cerveja.

— Então... — começou e eu achei que teria um ataque cardíaco.
— Então o quê? — perguntei impaciente e percebi que ele me olhava fixamente. Senti pontadas em todas as partes do corpo possíveis e nem esperei que me respondesse. Encaixei os meus dedos em seus cabelos e o puxei com agressividade.

não pareceu nem um pouco surpreso com o que eu havia feito, porque também encaixou os dedos em meus cabelos, mas fez melhor do que eu, pois inclinou a minha cabeça para trás, puxando-os, deixando o meu pescoço exposto. Foi então que o canalha fez o que mais me deixa louca. Sua língua passeou por todo o meu pescoço, indo parar em meu decote e fazendo o caminho de volta. Soltei um gemido baixo e puxei ainda mais os seus cabelos. Ele agora inclinava a minha cabeça com as duas mãos, mordiscando o meu queixo e em seguida sugando o meu pescoço. As minhas unhas já estavam fixadas em seu pescoço. Finalmente as nossas bocas se encontraram. Nossas línguas praticamente brigavam por mais espaço. colocou as mãos em minha cintura e me guiou, ainda beijando, até seu colo. Cessamos o beijo e eu me acomodei melhor no colo dele, as minhas pernas estavam flexionadas, os joelhos iam de encontro com o degrau e suas mãos estavam em minhas coxas. Olhamo-nos por alguns segundos, não um olhar normal, era como se a cada milésimo de segundo que os nossos olhos permanecessem ligados, o desejo aumentasse ainda mais. Eu podia sentir a necessidade de com precisão. Não só pelo modo como se comportava, mas porque o seu organismo o entregava. Passei a mão por seu abdômen ainda vestido e tirei sua camisa com certa pressa. Em seguida, arranhei o seu peitoral e o ouvi soltar uma exclamação, me deixando louca e, er, mais excitada ainda. Joguei sua camisa para trás e coloquei a boca na curva de seu pescoço, chupando-o. Suas mãos agora estavam em minhas juntas, quando percebi, ele já estava de pé e eu sendo carregada, em direção à cozinha.

Enquanto passávamos pelo corredor, fui pressionada contra a parede e beijada com certa urgência, aquilo me deixava fora do controle. Entramos na cozinha e me sentou na mesa, ficando em pé entre as minhas pernas. Passou os braços entre os meus e se apoiou na superfície, mordendo o meu ombro e passeando com a língua até o pescoço, subindo para o queixo e depois para a minha boca, situando-a junto à minha. Senti as suas mãos apalparem os meus seios, então o empurrei e tirei a blusa que usava, puxando-o novamente e deixando os nossos corpos colados. se desviou e derrubou tudo o que havia atrás de mim na mesa, me deitando e ficando por cima de mim. Se apoiou com os cotovelos e ia descendo os beijos até o meu decote. Depois desceu para a minha barriga e a mordia. Eu puxava os seus cabelos e fechava os olhos com força, quase gritando para que não parasse. levantou a minha saia e brincou com a minha calcinha com a ponta dos dedos, levantei as pernas e as deixei em volta de seus ombros. tirou minha peça íntima e segurou uma de minhas pernas, mordendo e beijando durante o percurso até onde queria realmente chegar. Senti milhares de formigas percorrerem o meu corpo quando a boca dele chegou ao lugar certo. As minhas unhas agora arranhavam a madeira. A cada movimento de sua língua, eu gemia ainda mais alto, o deixando louco, podia sentir isso devido à forma que intensificava os exercícios. Pressionei sua cabeça entre as minhas pernas e fixei as unhas em seu couro cabeludo, ele levantou a cabeça instantaneamente e mordeu seu lábio inferior, me deixando ainda mais maluca. Continuou e, oh céus, como faz isso bem. Parece ter nascido só para fazer aquilo. Aquela corrente elétrica começou a subir dos meus pés até a minha cabeça. O meu corpo se contorceu naturalmente e eu senti vontade de gritar. Senti as pernas ficarem dormentes e caírem sobre a mesa, sem o meu consentimento. Tinha dificuldade para respirar. Meus olhos estavam fechados e eu sentia as gotas de suor escorrerem em meu rosto. Abri os olhos lentamente, ainda respirando ofegante e vi em pé, me observando, paralisado. Sorri fraco e ele fez o mesmo. As minhas pálpebras pesavam. Eu estava incrivelmente relaxada. Ouvimos um barulho, alguém descia as escadas. logo juntou a minha calcinha e a minha blusa, sentei em um impulso e me recompus. Saímos da cozinha correndo e demos de cara com .

— O que vocês dois estavam fazendo? Que cara de culpados! — o idiota falou em um tom malicioso e com um sorriso maroto. Senti uma vergonha indescritível, apenas abaixei a cabeça. — E se o que você procura é a sua camisa, , tá bem ali! — continuou, apontando para o canto.
— Valeu, . Você sempre aparece na hora certa — disse sarcástico e o amigo riu.
— Tô indo na cozinha buscar mais cerveja e espero sinceramente que não tenha nenhum material de borracha jogado pelo chão. — ironizou rindo, enquanto vestia sua camisa. Eu queria matar o .
— É bom você ir tomando a sua última latinha, antes que eu te mate — rebateu, rindo, e eu invejei a sua tranquilidade. deu de ombros, rindo mais ainda, e caminhou até a cozinha.
— Meu Deus, , que vergonha! — falei balançando a cabeça e levando uma das mãos ao rosto. Ele soltou um riso abafado e me deu um beijo na bochecha.
— Vamos subir — falou simplesmente, estendendo a mão e eu a segurei. Como senti falta de fazer isso. Ainda mais depois do que tinha acontecido na cozinha.

A cada degrau mais próximo daquela sala de jogos, eu ficava mais nervosa. percebia como me sentia e apenas me mandava relaxar. Segundo ele, nada do que nós fizemos era novidade para nenhum dos outros quatro. Bati em seu braço, dizendo que não é legal essa sensação para as mulheres, mas ele disse que era só agir naturalmente. Respirei fundo e entramos na sala. Eu não sei se era o meu subconsciente martelando ou se estava escrito na minha testa ‘EU TIVE UM ORGASMO’. Todos nos olharam com umas caras engraçadas, como se soubessem exatamente o que tinha acontecido. entrou na frente, inconscientemente para me deixar mais confortável. Ouvi risadinhas, provavelmente vindas de . Abaixei a cabeça e entrei timidamente. Fui até o freezer e peguei uma cerveja, foi para o banheiro e Harry soltou uma risada abafada. Senti uma mão me puxar e eu já sabia quem era. me puxou para o canto, perto da mesa de sinuca e nós sentamos.

— Me dá um pouco da sua cerveja! — tomou a latinha da minha mão, deu uma golada e devolveu. — Obrigada. Então, AMIGA, ESTÁ ESCRITO NA SUA TESTA QUE ROLARAM MUITAS COISAS — ela começou a falar e eu nunca me senti tão envergonhada.
— Ai meu São Cristóvão. , pelo amor de Deus, só você percebeu, né? — perguntei já imaginando a resposta.
— Dãããã, estamos falando de pessoas adultas que já treparam. — respondeu naturalmente, me fazendo sentir idiota.
— CÉUS! — bati em minha própria testa. — E agora?
— E agora é sorrir pra vida, minha cara — começou a rir e me olhou séria. — O que rolou? Quero detalhes! — bateu palminhas.
— Você quer que eu te conte aqui? Perto deles? — perguntei impaciente, olhando para e Harry, que brindavam. Enquanto isso, saiu do banheiro e foi recebido com aplausos pelos amigos.
— Acorda, anta! Eles nem vão ouvir nada, agora a distração vai ser o , nem vão lembrar de você — deu de ombros.
— 'Tá, 'tá... — respirei fundo e soltei um suspiro. soltou um grito abafado, esperando. Então, tomei uma boa quantidade de cerveja. — Digamos que o fez o que as mulheres mais gostam... — comecei e ela já entendeu, me dando vários tapas na perna.
— VOCÊ ESTÁ ME ZOANDO QUE ELE TE... — prendeu a respiração e levou uma das mãos à boca. — AI PAPAI DO CÉU, COLOCA UM DESSE NA MINHA VIDA!
, coitado do ! — a repreendi, incrédula e rindo.
— Ele é ótimo, não tenho do que reclamar, mas digamos que nós dois ainda não chegamos a esse extremo...
— É, entendo. Essa foi a primeira vez que ele fez isso em mim — soltei uma risadinha e pude jurar que fez leitura labial, pois me olhava sorrindo descaradamente. Baixei o olhar e voltei a encarar , que agora brincava com a ponta de seu cabelo.
— Foi onde? — perguntou, saindo de um transe temporário.
— Na cozinha! — respondi já caindo na risada e ela agora soltou uma de suas melhores gargalhadas. — Fizemos a maior bagunça.
— O ... — começou a rir mais ainda. — O está lá! Nossa, vocês tão f*****!
— É, eu sei — falei desanimada. — A gente deu de cara com ele quando tava indo subir a escada. — mal terminei de falar e o entrou, segurando algumas latinhas. Para a minha sorte, foi direto colocá-las no freezer.
— Prepare-se — alertou, vendo se aproximar de nós duas. Oh meu Deus, consegui sentir as minhas bochechas ficarem vermelhas.
— Se a mesa da cozinha falasse... — ele falou, sentando ao lado de e depois deu um selinho nela, que ria.
— Cala a boca, . Você não sabe de nada — tentei parecer tranquila, mas ele deu uma risada alta.
— Nem preciso, só em ver o trabalho que o vai ter pra juntar achocolatado em pó do chão, já vale por qualquer coisa que alguém me contasse! — provocou e eu dei um tapa em seu ombro.
— Parei com você, tchau! — levantei e e ele ficaram mais próximos, se beijando.
— Ei Rachel, vem aqui... — chamou com um tom provocativo e Harry ria descontroladamente. apenas passava a mão no cabelo, rindo de forma tímida. Eu já sabia o que me esperava, mas não tinha pra onde correr mesmo, então apenas me juntei aos três. Sentei entre e .
— Saco, que é? — perguntei olhando-o impaciente.
— Saco e tudo mais, né? — ele respondeu e eu quis cavar um buraco e me esconder lá para sempre.
— Cala a booooooca! — gritei e bati em seu braço, escondendo o rosto com as mãos e ouvindo gritos de Harry e até de e do outro lado da sala. Não sei como estava reagindo, eu não conseguia tirar os olhos do chão.
, vamos jogar e deixar o casal fumar um cigarro! — Harry disse se levantando e levando o amigo junto, para a mesa de sinuca. Tive vontade de matá-los lentamente.

Senti a mão de tocar as minhas costas, enquanto eu brincava com o piso com as pontas dos dedos. Fiquei arrepiada e o olhei subitamente. Ele esboçou um sorriso e piscou pra mim. Olhei dele para o seu ombro e ele assentiu, como se entendesse que eu pedia para encostar a cabeça ali. O fiz e começou a massagear a minha cabeça, enrolando meus cabelos com os dedos. Fechei os olhos e apenas fiquei sentindo cada toque. Já tinha esquecido que segurava uma lata de cerveja e que precisava tomá-la. Mas nem precisei lembrar.

— Sua cerveja vai esquentar — me acordou de um sonho acordada e afastei a cabeça de seu ombro subitamente, tomando mais uma golada.
— Agora não mais — sorri fraco e tomei mais um pouco. se mexeu rapidamente e, quando percebi, metade de seu corpo estava atrás de mim. Ele deitou de lado, apoiando a cabeça na mão e o cotovelo no chão. Olhei para trás e ele me olhava com uma cara engraçada. — Que foi?
— Seu cheiro fica mais forte por aqui — falou encostando o nariz em minhas costas e eu transpassei um dos braços por ele, apoiando a mão no chão. levantou a cabeça e ficou me olhando. Aquilo me deixou incrivelmente corada.
— Cheiro ruim? — brinquei.
— Tão ruim que eu simplesmente não consigo tirar o nariz de perto de você — certo, por que ele faz isso? POR QUÊ?
— Para, , eu fico envergonhada desse jeito. — falei dando um cutucão em sua bochecha e ele riu, depois respirou fundo e ficou de pé. Tudo assim, de repente. ficou em pé, em minha frente e estendeu a mão. Levantei e começamos a dançar. e também vieram e e Harry apenas bebiam e jogavam sinuca. Ficamos dançando os quatro em uma rodinha, e se beijavam às vezes e eu queria fazer o mesmo com , mas ele parecia estar mais preocupado em esvaziar sua latinha de cerveja. Eu não conseguia deixar de rir do jeito que ele dança quando está mais alterado. Ficava jogando uma perna para cada lado e se apoiava em meu ombro para pular. Depois se juntou com e os dois deram um show para e para mim, que ríamos descontroladamente. As horas foram passando e todo mundo já estava um tanto quanto dormente, principalmente Harry e . Colocamos os dois para dormir no quarto que dividiriam e depois nos despedimos de e . Fomos até o quarto que ficaríamos e cada uma deitou em uma cama. — Preciso de um banho — comentei com preguiça e riu.
— Também, depois de tudo aquilo... — zombou e eu arremessei um travesseiro nela, que riu. — Só não jogo de volta porque tô com preguiça!

Levantei me arrastando e peguei uma toalha na sacola que tinha levado para ficar lá. Separei o babydoll e a calcinha e fui para o banheiro, que ficava no corredor, entre o quarto que estávamos e o quarto que e estavam. Entrei e me tranquei. Tirei a roupa lentamente e liguei o chuveiro. Prendi o cabelo em um coque e senti a água bater no corpo. Era uma sensação boa, eu estava bem. e eu tínhamos nos reaproximado. Tudo bem que não cem por cento da forma que eu queria, mas pelo menos ele mostrou que ainda me quer. Acho que nunca na vida fiquei satisfeita com tão pouco. Digo, eu nunca tive nada concreto da parte dele. Nós dois não temos nada concreto. Mas basta que ele me olhe com um olhar um pouco diferente para que eu sinta uma segurança, uma garantia de que não estou sozinha. Seu sorriso é o mais lindo, o mais sincero, e se torna imensamente mais encantador quando é para mim. Mesmo quando estávamos estranhos, ver sorrir sempre me deu uma alegria a mais. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha. Vesti o babydoll e lembrei que tinha deixado a escova de dente no quarto.

Abri a porta e fui surpreendida. Uma mão tampava a minha boca e a outra me apertava pela cintura. Tentei me soltar, mas fui guiada para um quarto escuro. Conheço muito bem aquele cheiro. Ele chutou a porta e acendeu a luz, me soltando.

— Seu louco! Deixa eu sair! — pedi, indo em sua direção e ele ficou na frente da porta, com os braços abertos, para não me deixar sair.
— Shhhh. Vai acordar todo mundo — disse prendendo a risada e eu comecei a rir.
— Bem que você merecia, mesmo. , me deixa sair, o vai pegar a gente aqui e não vai ser legal, ainda mais depois daquilo na cozinha! — argumentei nervosa, tentando convencê-lo.
— Você pensa demais nos outros. — se aproximou e me abraçou pela cintura. Passei os braços pelos seus ombros e o abracei pelo pescoço, fixando as unhas em sua nuca e sendo beijada de forma intensa. Separamos as nossas bocas com vários selinhos. — Se isso te deixa mais tranquila, ele foi dormir com o e o Harry. — continuou me beijando após dizer isso, então o abracei mais forte e o senti fazer o mesmo, me guiando até a cama.
... — chamei assim que íamos nos deitar.
— A luz? — perguntou me olhando e sorrindo. Apenas assenti. Será que ele tem o meu manual de instruções? foi até o interruptor e desligou a luz, vindo para perto de mim, que estava já sentada na cama, e tropeçando em algumas coisas, devido a pouca claridade que vinha da janela. Rimos. — Acho que te achei! — falou e pulou por cima de mim, eu não conseguia parar de rir e nem ele. Começamos a nos beijar novamente, de forma violenta. Ele estava por cima e eu puxava os seus cabelos, nos viramos e fiquei por cima, mordendo seu pescoço e sentindo a sua mão passear das minhas costas até as minhas pernas. nos inverteu novamente de forma brusca, caímos da cama e ele ficou por baixo, batendo a cabeça de leve no criado-mudo ao lado da cama. Comecei a gargalhar, deitada por cima dele e ele passou a mão no lugar onde bateu, também rindo. — Eu sou demais mesmo. Levo a mulher pra cama e ainda a faço rir! — se vangloriou e levou um tapa no braço. — Porra, . Já tô com a cabeça f**** e você ainda quer detonar o meu braço também? — perguntou num tom de voz carente e eu me derreti.
— Ouuuun, vem aqui! — passei o dedo no lugar onde bateu e fiquei massageando e dando selinhos estalados ao mesmo tempo. Levantamos e ele me jogou na cama.
— Agora eu mostro como é que se faz! — falou em um tom sedutor e eu ri alto. se deitou por cima de mim, flexionando uma de minhas pernas e a pressionando com vontade.

Iniciamos outro beijo, as nossas respirações já começavam a ficar descompassadas e os nossos corpos já vibravam na mesma intensidade. tirou o meu babydoll com todo cuidado, parecia estar tocando em alguma coisa frágil. Aquilo me deixava ainda mais louca por ele, era incrível como me fazia sentir valorizada. Fiquei apenas de calcinha e já estava de boxers. Então, foi descendo, fazendo o caminho com a língua, até chegar a minha virilha. Olhou para mim, sorrindo maroto, e mordeu o elástico da minha calcinha, brincando com ele.

— Duvido que você faça isso! — o provoquei, sorrindo maliciosamente e ele cerrou os olhos.
— Duvida, é? — rebateu e eu assenti. voltou a mordiscar o elástico da calcinha e começou a puxá-la para baixo, mordendo de um lado e puxando do outro com a mão. Sentia a sua respiração percorrer as minhas pernas e o seu dente tocar de leve, aquilo me deixava frenética. E ele conseguiu, dando um sorriso vitorioso após tirar a minha calcinha. Agora estava em pé, erguendo a minha peça íntima e eu fiquei de joelhos na cama, indo até ele e tentando pegá-la. Ele desviava de um lado para o outro e nós ríamos, depois a arremessou para trás e eu lhe dei um tapa. Ao invés de ficar zangado, sorriu ainda mais malicioso, me agarrando bruscamente pela cintura e me enchendo de beijos no pescoço. Enquanto o sentia fazer isso, baixei as suas boxers de uma vez e me olhou rindo, me beijando em seguida e voltando a deitar por cima de mim, ainda com a cueca presa no tornozelo. Quando deitamos por completo, percebi que suas pernas brigaram até que suas boxers voassem. Estávamos completamente nus e aquilo se tornava divertido e prazeroso a cada segundo. Eu mal podia acreditar que estávamos transando de novo. E dessa vez foi bem mais inquieto do que da primeira, agora nós não tínhamos muita noção de espaço e vez ou outra batíamos em alguma coisa. Derrubamos o pequeno relógio do criado-mudo umas vinte vezes. Só faltávamos morrer de rir disso, mas nada apagava o nosso fogo. Os nossos corpos se encaixaram com rapidez, fazia os movimentos cada vez com mais velocidade, me fazendo prender as mãos na cabeceira da cama e não me preocupar em gemer o mais alto que conseguisse.

Caímos novamente da cama, mas aquilo não nos abalou, continuamos o que estávamos fazendo, os nossos beijos pareciam estar cada vez mais quentes e eu sentia as gotas de suor de com precisão, da mesma forma que ele devia sentir as minhas. Quanto mais suado seu corpo ficava, mais eu o puxava, de forma que intensificasse os movimentos. Fiquei por cima novamente e sentei, arranhando seu peitoral e o deixando insano com a forma que me mexia sobre si. Ele pressionava os meus seios com força, mas do jeito certo, do jeito que me deixava ainda com mais prazer. Chegamos ao clímax assim, nessa posição, e eu desmontei, caindo ao lado de , completamente ofegante e dormente. O ouvi rir e o olhei, ele também tinha dificuldade para respirar e tinha uma das mãos na testa.

— Olha aonde nós viemos parar — falou quase que sussurrando. Nós estávamos no chão. Eu até tinha esquecido isso. Começamos a rir juntos e ficou de lado, me olhando, e colocou algumas mechas do meu cabelo atrás da orelha. Fiquei de lado também, de frente para ele e nos abraçamos. Sentir seu coração disparado em meu peito me fez querer dizer tantas coisas, mas eu não podia estragar aqueles momentos em que parecíamos nos conhecer tão bem. Permanecemos daquela forma por alguns minutos, sem falar nada. Apenas ouvindo as nossas respirações e sentindo os corpos úmidos.

Ouvi um barulho e levantei, tomando cuidado para não tropeçar. Acendi a luz e fiquei procurando as partes de meu babydoll e a minha calcinha pelo quarto. Achei a blusinha e o short, mas a calcinha era um mistério. me chamou e apontou para o canto, onde eu vi a peça encolhida e sorri para ele, em agradecimento. Vesti-me e joguei suas boxers em sua barriga, para que as vestisse. Ele o fez ainda deitado e depois levantou.

— Vou indo. A vai me matar! — avisei, caminhando até a porta e vendo-o deitar na cama novamente.
— Vai me deixar aqui sozinho? — perguntou fazendo cara de cão abandonado e eu quase esqueci que ele me usa com esses joguinhos. Fiz careta.
— Dramático. Eu tenho que ir lá, .
— 'Tá, então vai! — deu de ombros. — Mas se chegar lá e quiser voltar, nem pense. Não quero mais — fingiu-se de durão e prendeu a risada. Mostrei-lhe o dedo.
— Boa noite, .
— Boa sorte, — respondeu e eu não entendi o porquê daquilo. Apenas apaguei a luz e fui até o quarto onde deveria ficar com . Notei que a porta do quarto estava fechada, então peguei no trinco, mas antes de abri-la, ouvi uns cochichos. Recuei e coloquei o ouvido contra a porta.
— Para, imbecil! — ouvi a voz de falar baixinho e soltar uma risada. Oh não, ela e .
— Você não quer mesmo que eu pare, quer? — ouvi uma voz masculina responder e definitivamente não era a de .
— Cala a boca e faz isso direito, ! — ela respondeu e os dois riram. ? VULGO ? MEU DEUS. MEU DEUS. MEU DEUS. Respirei fundo e pensei que aquilo devia ser um devaneio. A não seria capaz de ficar com dois dos garotos ao mesmo tempo! Eu a conheço! Mas então o que fazia ali? Voltei atordoada, ainda não acreditando no que tinha acabado de ouvir. Apareci na porta do quarto onde estava.
— Que é? Veio pedir pra ficar? Eu tentei avisar — o ouvi dizer e entrei no quarto subitamente.
— VOCÊ SABIA? — perguntei impaciente.
— Depende. e ? — respondeu com outra pergunta.
— Uhum... Não me diz que você sabia de alguma coisa?!
— 'Tá ok, eu não sabia — seu tom de voz não me convencia.
— 'Tô falando sério, !
— Não te entendo. Diz pra eu não dizer que sei e quando eu faço isso, reclama! — falou e eu dei um tapa na primeira parte de seu corpo que enxerguei. — Ahhhh! Agora você vai ver! — ameaçou, pressionando os meus braços e me puxando para o seu colo. Sentei de lado, rindo e tentando me soltar. me abraçou pela cintura, com força, e fixou a cabeça na curva do meu pescoço. O abracei pelo pescoço e fiz o mesmo.

A essa altura, eu já tinha esquecido e .

Capítulo 17


, RACHEL! ACORDEM! — ouvi Harry chamar desesperado e abri o olho bruscamente. se mexeu, incomodado.
— Que é? — perguntou irritado.
— A Sophie cara, ela esta entrando aqui! — Harry respondeu em um tom aflito e pulou da cama. Eu ainda não tinha sintonizado muito bem o que tinha acontecido, então levantei calmamente e saí do quarto, recebendo um sorriso fraco de Harry quando passei por ele.

Enquanto andava pelo corredor, para ir ao encontro de — agora eu tinha certeza de que ela estava sozinha, já que vi na cama vizinha a de —, ouvi algo que me fez acordar subitamente para tudo o que estava acontecendo.

— Esqueci completamente que a tinha chamado para almoçar aqui, cara! — ouvi explicar impaciente e Harry fazer algum barulho com a boca. Aquilo me atingiu de forma avassaladora. Eu fui usada, mais uma vez. Já estava virando hobby. Entrei no quarto como um foguete e sacudi .
— Que é #$@%!? — ela perguntou esfregando os olhos e fazendo careta.
— Levanta! A gente tem que conversar! — falei impaciente, fui até a minha sacola e peguei a minha escova de dente, depois fui até a dela e peguei a sua, jogando ao seu lado na cama. — Vou ao banheiro e, quando voltar, quero você pronta para me dar mil explicações — ordenei, séria, e ela apenas ouviu calada. Fui até o banheiro e escovei os dentes. bateu na porta. Abri e ela fez o mesmo que eu.
— O que foi? — perguntou e sentou na tampa do vaso.
— O que esta rolando entre você e o ? — perguntei cruzando os braços e ela me olhou espantada.
— Maldito ! Ele garantiu que conseguia te deixar presa no quarto até hoje de manhã! — respondeu balançando a cabeça negativamente e eu mal podia acreditar que realmente estava dizendo aquilo.
— HÃ? , MEU DEUS. O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?
— É isso aí que você está pensando mesmo — baixou o olhar e, antes que pudéssemos conversar mais, ouvi baterem na porta. Era . Ela me olhou assustada e eu balancei a cabeça, dizendo que não contaria nada. Abri a porta e ele entrou. Nós saímos e guardamos as coisas no quarto, depois fomos para a sala, onde todos estavam.

Ao descer as escadas, ouvimos as vozes de Harry e de Sophie, mal falava. me olhou, não entendendo nada, e eu disse que explicava depois. Chegamos à sala e a namorada — argh! — de nos olhou com os olhos arregalados.

— Vocês dormiram aqui? — perguntou rapidamente e e eu nos entreolhamos.
— Não, essa aqui é a nova moda: andar de babydoll quando formos visitar alguém — respondeu secamente e Harry e não disfarçaram a risada. Bom, nem eu. — Mas eu não te culpo por não saber disso — continuou, olhando Sophie da cabeça aos pés. Os meninos estavam roxos de tanto rir. E eu sentia vergonha por estar ali.
— Quem a convidou? — ouvi uma voz rouca perguntar atrás de mim e me virei para olhar. estava enrolado em um lençol branco e tinha o rosto amassado e os cabelos completamente bagunçados.

— Bom, acho que eu estou sobrando aqui. Pode deixar, eu vou embora, — Sophie respondeu em um tom revoltado e todos se entreolharam. Eu fiquei abismada com o fato de não sair em defesa dela.
— Não, não, você conhece o , ele não sabe dizer as coisas, Sophie. — Harry tentou amenizar e ficava cada vez mais constrangedor.
— É, já que já está aí mesmo, pode ficar — continuou, dando meia volta e subindo as escadas novamente. logo apareceu na sala e abraçou pela cintura, Harry fez o mesmo comigo e fomos todos para a cozinha. Sem dizer uma palavra. As coisas pareceram melhorar depois que cada uma era abraçada por um dos meninos, porque a expressão no rosto de Sophie estava bem mais amigável. A mesa ainda estava uma bagunça. Tal bagunça foi feita por e eu na noite passada. Ele me olhou, com um sorriso fraco, e eu nem fiz questão de devolver. Meu sangue fervia. pegou uma pá e uma vassoura, limpando o achocolatado em pó derramado. Depois colocou a embalagem sobre a mesa.
— Vocês nem tomaram café ainda? — Sophie perguntou e todos negaram.
— Já é quase almoço, acho melhor a gente almoçar logo — sugeriu, terminando de jogar o pó no lixo.
— É, eu também acho. O que a gente come? — perguntou mexendo nos armários.
— A gente podia fazer uma macarronada, tipo aquela na casa da , que a Rachel fez! — Harry opinou e Sophie olhou para com um olhar fuzilante. Ele não devia ter contado a ela que tinha ido lá.
— Estava boa? Eu nem lembro! — perguntou, coçando a cabeça e olhando em um ponto fixo, depois se sentou.
— Claro que não, nem você e nem a madame ali! — respondi apontando para e ela fez careta. Sophie sentou e eu fiz o mesmo em seguida.
— Sendo assim eu voto para a Rachel fazer! — falou e foi apoiada. Levantei bufando.
— 'Tá, mas cadê o dono da casa? — perguntei procurando com o olhar.
— Vou acordá-lo, assim não dá, não acho nada nesses armários! — respondeu deixando a cozinha e indo procurar o amigo.

Ficamos os cinco conversando, quer dizer, os quatro, pois Sophie não falava muito. Depois de algum tempo, apareceu na cozinha, sendo seguido por . Agora a sua cara não estava mais tão inchada e ele também não estava enrolado em um lençol. Porém, seu humor permaneceu intacto. Era nítido que a presença de Sophie não o agradava.

— Vem, Rach, está aqui! — falou me puxando e me levando até um balcão.
— Valeu, . E bom dia — falei bagunçando seu cabelo e ele fez careta, respondendo o ‘bom dia’ e se sentando ao lado de Harry. Peguei os pacotes de macarrão. — Que é? Vai ficar todo mundo olhando? Podem vir ajudar! — ordenei e resmungou, levantando-se. também se aproximou.
— Eu e o vamos te ajudar, gracinha! — disse apertando as minhas bochechas e eu dei língua. Pegamos os temperos e dividimos as tarefas. Harry se queixou de dor nas costas e disse que por isso não nos ajudaria. Ofereci uma massagem depois do almoço e ele topou. disse que ainda estava com sono e que não queria mexer com comida de mau humor. Olhando bem, ela e estavam da mesma forma, mas era para estarem sorrindo de orelha a orelha, depois do que estavam fazendo de madrugada.
— Eu posso fazer a salada... — Sophie se ofereceu.
— Nááá, ninguém aqui come isso — rebateu em um tom ríspido, me fazendo sentir vergonha por ela. e Harry riram abafado. E ? Não fez NADA.
— Ah, então não posso ajudar. Não sou muito boa com temperos — ela falou simplesmente e ficou brincando com a ponta dos dedos na mesa.
— Tudo bem, Sophie — aliviei a tensão em tom cordial e ela sorriu. — Você é visita.
— Não sei de quem — ouvi sussurrar, mas acho que ela não conseguiu ouvir. Ainda bem, porque eu não consigo ver isso sem sentir constrangimento.
— Rachel, você quer que corte assim ou em pedacinhos? — perguntou me mostrando uma rodela de tomate.
— Pedacinhos, . Isso é tão óbvio! — respondeu, já começando a preparar o molho, e levou um pedala de . Ri.
— Pedacinhos mesmo — confirmei e continuei cortando cebola.
— Acho que vou ajudar vocês — disse se levantando e foi aplaudido — Vão cuidar da vida de vocês! — respondeu brincando e ficou ao meu lado. — O que eu posso fazer?
— Ajuda o com o tomate — respondi e ele o fez.

Não demorou muito para que só faltasse derramar o molho sobre o macarrão. Os meninos são realmente muito eficientes. Colocamos a travessa na mesa e Harry ajudou a colocar os pratos, talheres e copos.

— Então, Rachel, você e o Harry estão juntos? — quase tossi com a pergunta de Sophie. Harry me deu uma cotovelada e eu o olhei de relance, ele assentiu, para que eu confirmasse.
— Er, é — respondi sem encará-la, mas senti todos os olhares da mesa para nós dois.
— É uma coisa aberta, legal — Harry continuou e eu o agradeci mentalmente. Esperava profundamente que estivesse prestando atenção naquilo.
— Tudo aberto é legal — concluiu e todos riram, meu segundo agradecimento mental, porque o assunto morreu.
— Eu estava pensando em uma coisa... — começou e todos olharam atentos.
— Prestem atenção, porque isso não acontece com frequência — cutucou.
— Só quando estou sentada perto de alguém que nem tem cérebro — ela devolveu e todos, menos Sophie, aplaudiram. — Então, continuando... Eu já estou quase concluindo mais um ano de faculdade... — mais aplausos e gritos. — Tá, calem-se. E a Rachel já está concluindo seu curso intensivo... Estive pensando em uma festinha em comemoração...
— JÁ É! QUANDO? — perguntou entusiasmado.
— Daqui duas semanas, que é quando a gente conclui — ela respondeu.
— Que tipo de festa? — Harry perguntou.
— À fantasia! — respondeu recebendo mais gritos e comemorações.
— Acho que não vou estar aqui — Sophie comentou desanimada. — Estou com aquela viagem agendada para o Japão.
— Tenho que pensar em uma fantasia f***! — disse praticamente ignorando a namorada, que o olhou com um olhar expressivo de ‘ah, então você vai sem mim?’.
— O podia ir de homem feliz! — ironizou, devido ao fato de Sophie não estar na festa e todos se entreolharam. Até .
— Estava tudo muito bom, Rachel. Mas eu já vou — Sophie com certeza entendeu e com certeza ficou chateada. Sorri fraco. Ela se levantou e foi seguida por .
— Gente, pelo amor de Deus. , como você faz isso? — perguntei logo que os dois deixaram a cozinha.
— Aguentar ela é demais, Rachel. O só pode ter titica na cabeça pra chamá-la. Parece que estava pedindo — ele respondeu naturalmente e todos riam descontroladamente, menos eu, que ainda não acreditava no que tinha acontecido.
— Qual o problema de vocês com ela? Coitada — perguntei incrédula. Aquela situação realmente não me agradava.
— Ela merece. Eu te garanto — Harry respondeu batendo cordialmente em minhas costas e eu não falei mais nada, não quis insistir. Eles devem saber o motivo de fazer aquilo.
— Eu sei disso, a Rachel que é manteiga derretida — falou dando de ombros e sendo aplaudida.

Interrompemos o assunto, porque voltou para a cozinha. Sentou-se no mesmo lugar que estava e não parecia nem um pouco abalado pelo que aconteceu, pois logo foi perguntando da festa. deu mais detalhes e eu observava aquilo incrédula. Parece que só eu fiquei com pena da garota. Levantei e comecei a pegar os pratos, enquanto eles conversavam. começou a pegar talheres, me ajudando, e pegou os copos. Empilhamos tudo, trouxe a travessa — vazia — e a lavou antes de tudo.

— Estou com vontade de jogar sinuca! — disse assim que colocou a travessa limpa no escorredor.
— Eu te desafio! — Harry arqueou uma das sobrancelhas.
— Vai ser moleza, zombou, levando um chute do amigo. Os dois saíram para jogar e chamou para continuarem a partida de videogame. Resumindo: e eu sobramos, e eu tenho a leve impressão de que isso foi proposital. — É, parece que a louça vai sobrar pra gente, DE NOVO.
— É — respondi simplesmente, pegando alguns pratos.
— Que foi? — perguntou-me se apoiando na pia com um braço e me olhando.
— Que foi o quê? — fingi-me de desentendida, até fui um pouco mal educada.
— Seu jeito. Eu juro que tinha esquecido de que a tinha convidado!
, não me importa. Só acho que você devia colocar a mão na sua consciência e ver a besteira que está fazendo — falei, lavando alguns pratos. — Ela não merece isso.
— Você não a conhece e eu também não devo explicações — respondeu secamente e eu respirei fundo.
— Ótimo, ficamos todos felizes assim — dei um meio sorriso e coloquei os pratos no escorredor.
— Deixa os talheres e os copos comigo — falou me empurrando um pouco, para ficar no meu lugar. Coloquei o pano em seu ombro e deixei a cozinha. Ainda sentia a cabeça pulsando, eu estava incrivelmente irritada com . Odeio quando a pessoa faz tudo errado e finge existir uma razão para isso. Não existe razão. As pessoas erram e pronto. — ! — o ouvi chamar e parei no meio do caminho, virando-me para olhá-lo. estava parado na porta da cozinha, escorado, observando-me.
— Que é? — perguntei impaciente e ele se aproximou lentamente. Eu preferia que ele estivesse correndo, porque assim eu teria uma desculpa para não ter conseguido cair fora a tempo.

Mas não. veio devagar, eu não saí porque realmente não queria. Ficamos com os corpos muito próximos e ele segurou a minha mão suavemente. Senti a sua respiração em minha orelha, depois recebi vários beijos na bochecha, e esses beijos iam fazendo caminho até a minha boca. Eu estava arrepiada, e agora podia sentir isso, pois sua mão acariciava o meu braço. Ele mordeu levemente o meu queixo e pressionou o meu lábio inferior com os seus. Não tinha forças para correr, fugir.

— Por que você faz isso, ? — perguntei quase sussurrando.
— Shhh... — ele pediu simplesmente e as nossas línguas já estavam brincando. pressionava a minha cintura, deixando-me ainda mais colada nele. Eu tentava não abraçá-lo e não corresponder direito aquele beijo. Mas só tive sucesso com a primeira opção, pois o beijo estava impossível de ser cessado. Apenas me entreguei.
— O amor move montanhas — ouvi e nos soltamos bruscamente. dava um sorrisinho provocativo e eu não sabia onde enfiar a cara.
— Dããã! — disse dando-lhe um pedala, quando passou por nós, e o seguiu, deixando-me sozinha, sem entender nada do que acontecia. Então, fechei os olhos e balancei a cabeça, tentando não pensar em mais nada. Dei meia volta e subi as escadas. Já pude ouvir as risadas antes de entrar na sala. Abri a porta e vi e Harry jogando sinuca, ela dava a tacada e comemorava a bola que tinha acabado de entrar. Ele fazia algumas caretas e a mandava se calar. assistia tudo, sentado no chão, segurando um dos controles de videogame. Eles sorriram para mim, quando entrei na sala, e eu apenas sentei ao lado de .
— Como se joga isso? — perguntei pegando o controle livre.
— É fácil! — disse se aproximando e explicando que botões eu devia apertar para fazer determinada coisa. Era um jogo de corrida de carros.
— Já, já... Vai pro seu lugar que eu quero ganhar! — falei rindo e empurrando , que me olhava com um sorriso competitivo.
— Então vamos... Quero só ver! — falou iniciando a rodada. Quando me explicou, parecia ser tão fácil. Ok, quebrei a cara. Meu carro saía da pista o tempo todo e morria de rir. Até e Harry largaram um pouco o jogo deles para nos assistir e rir da minha cara. Eu era terrivelmente ruim naquele troço.

apareceu, com o seguindo, e e eu já estávamos na quinta rodada. Eu tinha perdido todas e era motivo de piada por isso. Mas eu simplesmente não me importava, e até ria de mim mesma. Estava sendo divertido.

— Preciso fazer xixi! — falei soltando o controle e correndo para o banheiro, ouvi a risada dos garotos e algum comentário sutil de . Quando voltei para a sala, jogava com e jogava sinuca com . Harry estava no celular. Aproximei-me de e e fiquei observando sua partida. Ela acertava o tempo inteiro e jogava na cara dele. Eu comemorava, dizendo que ele estava tendo o seu castigo por ter ganhado tanto de mim. Procurava ficar o mais distante possível de , mesmo sentindo aquelas duas bolas azuis me fitando algumas vezes. Ter um beijo ‘roubado’ não significa que já está tudo bem, se é isso que ele pensa. Então, grudei ao máximo em e .
— Rachel... — ouvi Harry chamar com uma voz pidona e o olhei. Ele estava deitado em almofadas, atrás de e .
— Diga — respondi sorrindo.
— Cadê a minha massagem? — perguntou com uma expressão de dor, que era mais drama do que realidade. Saí de onde estava e fui andando em sua direção.
— Fica de bruços — falei já próxima de Harry e cutuquei-lhe com o pé de leve na costela, ele riu e se virou. — Agora tira essas almofadas daí.
— Pronto, sou todo seu — respondeu em um tom de brincadeira e eu sentei no chão, ao seu lado, e comecei a massagem pelos ombros.
— Nossa, você está tenso.
— É falta de você sabe o quê — falou simplesmente e eu ri.
— Também, com as suas cantadas ruins é difícil conquistar alguma garota e fazê-la se abrir. Literalmente — se meteu na conversa, sem se virar, ainda jogando.
— Às vezes, não é preciso cantada. O que conta é demonstração — respondi e fui apoiada por . Harry me olhou arqueando as sobrancelhas e deu um tapa nas costas de . Eu tenho certeza de que ele corou. Desci a massagem para as costas de Harry e continuei concentrada ali. Ele também tem um corpo escultural. Às vezes eu me pegava boquiaberta com as suas formas.
— O que não falta em mim é prática, e você sabe disso — rebateu e eu acordei do profundo transe. Ele tinha mesmo respondido aquilo? Nem sei como todos reagiram, só sei que um silêncio assustador se instalou e eu o olhei com os olhos semicerrados, bufando. Ele apenas riu e se virou para o jogo novamente. Ainda mato o .

Eu já tinha esquecido o que estava fazendo, mas Harry me chamou para a realidade e eu voltei a encarar as suas costas. Depois que acabei a massagem, chamei para ir embora. Os meninos — menos — reclamaram, mas ainda bem que a concordou em ir, ela tinha que fazer algum trabalho da faculdade para entregar na segunda. Pegamos as nossas coisas e deixamos a casa de , disse que ligaria confirmando a data da festa à fantasia. No carro, conversamos muito, contei a ela sobre o ocorrido com no corredor, dele ter vindo atrás de mim e me beijado. Ela disse que ele é louco e gostoso, por isso entendia o fato de eu não ter fugido. Claro que dei tapas nela pela declaração.

— E você? Que história louca é essa? — perguntei me referindo ao seu caso duplo.
— Ah, loooooonga história — respondeu com um sorriso maroto e eu fiquei incrédula.
— Desde quando você ficou assim, amiga? — indaguei espantada e ela começou a rir.
— Eu te falei que as minhas direções mudaram. Agora eu que faço os homens de bobos.
— Mas cara, o não merece isso que você está fazendo! Você sabia que pode provocar o fim de uma amizade de anos? — perguntei tentando fazê-la entender o que podia acontecer.
— Ai , como você é exagerada! — respondeu tranquilamente. — Você fala como se o esperasse fidelidade de mim. Eu estou te falando e você não acredita. O que nós temos é um lance completamente aberto. Não tem essa de "sou sua e você é meu"!
— É, mas não quando isso envolve um dos seus melhores amigos. , pelo amor de Deus. Decida-se!
— Não dá — falou desanimada.
— Claro que dá! — rebati.
— Claro que não! O que falta no o tem, e vice-versa.
— Como assim?
— Tipo, o tem muita pegada, exageradamente, ele me lembra o que você conta do . Tem um fogo do demônio. Já o é mais carinhoso, é aquele tipo fofinho, ursinho de pelúcia — explicou com os olhos marejados, mas eu não sabia por quem ou se era pelos dois. Ela definitivamente precisa de remédios controlados.
— Vem cá... De onde começou esse seu lance com o ? — perguntei cortando o assunto.
— Ah... Lembra aquela casa noturna que a gente foi no fim de semana seguinte ao meu aniversário? — perguntou e eu assenti. — Então, lá rolou uma troca de olhares, um contato visual, saca?
— Não! Meu Deus, você está uma safada, garota! Ficando com um e trocando olhares com o amigo dele?
— Eu não 'tô ficaaaaaaando, ficando com o , #$@%! Entende! — deu um tapa na minha nuca e eu devolvi.
— Ok, ok. Mas quando vocês ficaram?
— Naquela saída depois da casa noturna, no meio da semana, que você não foi. O me arrastou para um banheiro e aí, minha filha, eu vi a luz! — suspirou e eu balancei a cabeça, ainda incrédula. Já nos aproximávamos do prédio em que moramos e estacionou o carro. Descemos e corremos, precisávamos de um banho quase que urgentemente.

Tomei banho antes de , porque ela disse que primeiro terminaria o seu projeto e depois tomaria banho. Vesti-me com uma roupa confortável e voltei para a sala. ainda fazia algumas anotações.

— Você pensou nessa festa toda na hora do almoço mesmo, ou já tinha pensado nisso e NÃO TINHA ME FALADO? — perguntei sentando-me ao seu lado no sofá.
— Ah... Eu tinha pensado e não tinha te falado — respondeu simplesmente, apagando alguma coisa que tinha escrito errado.
— Muito obrigada, cada vez a nossa amizade se solidifica mais! — brinquei e joguei uma almofada nela, que me xingou de todos os nomes possíveis.
— Vai se #$@% sua filha da @#$! do demônio! Não te falei porque não tinha tido a ideia completa, e você sempre estraga meus planos — soltou uma risada maléfica. — Mas agora você já sabe!
— Ok, mas você pretende fazer isso quando, mesmo?
— Em duas semanas nós acabamos tudo, certo? Então as aulas acabam numa sexta e a gente faz a festa no sábado! Perfeito! — bateu palminhas, mas logo voltou a segurar o lápis e o caderno.
— Certo. Já pensou na fantasia?
— Não — pensou. — A gente podia usar a mesma! Que tal? Só mudar as cores e tal...
— Hum... Boa ideia! Vou pesquisar algo! — falei e dei um empurrão em seu braço, ela reclamou, mas nem se moveu, devia estar mesmo concentrada. Levantei e fui para o meu quarto. Eu precisava descansar, acordar daquele jeito me deixou sem energias. Ah, e só para lembrar: eu odeio . O-D-E-I-O.

Capítulo 18


(Colocar para carregar: Matchbox Twenty - Could I Be You)
(Colocar para carregar: Josie and the Pussycats - You don't see me)

Eu já estava pronta, agora só faltava colocar o arranjo na cabeça e terminar a maquiagem. lutava com sua meia-calça preta e eu a ajudava como podia. Seus pais viajaram para a Espanha, a negócios, ou seja, sua mansão era apenas... Nossa. Ah, antes que eu esqueça, me formei! Finalmente consegui terminar o Ensino Médio. Isso elevou tanto a minha auto-estima que se eu soubesse que seria assim, nunca teria largado a escola em Bolton. Era mais uma etapa vencida na minha vida. Agora era a hora de correr atrás de um emprego e, quem sabe, finalmente largar as calçadas. concluiu mais um ano de faculdade, ela só tem o próximo ano até pegar o diploma. Nós duas não poderíamos estar mais felizes. Quer dizer, exceto pelo fato da nossa vida amorosa estar um tanto quanto complicada.

e seus dois homens: o que era uma simples diversão, está virando um certo problema. sabe dela e de , mas nem imagina que ela esteja saindo com ao mesmo tempo. Sendo assim, ela está cada dia mais estressada, porque ambos exigem mais tempo e ela não sabe mais o que fazer. Eu já disse o que deveria ser feito, mas nem cogita a possibilidade de desistir de um dos dois. Então, creio que no fundo ela aprecie a situação. E a minha, bem, a minha não é novidade. Transo todos os dias, menos nos fins de semana — claro que não com quem eu realmente desejava estar fazendo isso — e meu “caso” com é sempre concluído com “três pontinhos”. Nunca sei o que pode acontecer. Depois do almoço na casa de , nós encontramos os garotos apenas duas vezes, na sexta e no sábado passados. Eles foram até o nosso apartamento e dormiram por lá. Não, nada aconteceu entre e eu. Não sei de onde mesmo consegui resistir, suas investidas eram incessantes. Pegava-me quase arrancando as minhas unhas de tanta vontade de ceder, mas não, me tranquei em meu quarto e o mandei para o inferno. A nossa relação não estava tão constrangedora, talvez pelo fato de ele sempre quebrar o gelo. me provocou o tempo inteiro. Quanto mais eu mentalizava não falar com ele, mais ele puxava assunto e me deixava corada.

Hoje é o grande dia: a festa à fantasia de . E eu não vou mentir, tenho medo do que algumas doses de tequila e uísque podem fazer comigo. Digo, com as minhas vontades. Não vou ser hipócrita, eu sei que se eu topar com o essa noite, vou ficar louca para colocar as mãos em volta de seu pescoço e beijá-lo como nunca fiz antes. Só que ninguém precisa saber disso, principalmente ele. Vou tentar me manter afastada o quanto puder. Vou grudar em Harry, isso. Ele sempre é o melhor parceiro de dança, então vamos dançar juntos a noite inteira e o nem terá a chance de se aproximar de mim. Não da forma que ele faz normalmente e me deixa completamente maluca.

— Ugh! Isso machuca! — me acordou de meus pensamentos, ao colocar uma tiara.
— É, por isso estou enrolando pra colocar a minha — falei passando um pouco de blush.
— Nossa, nós vamos arrasar muito hoje à noite — disse se olhando no espelho.
— Eu estou é com vergonha — confessei em um tom de voz trêmulo e soltou uma gargalhada. — Que é? Não é porque sou garota de programa que não posso sentir vergonha! E outra, essa fantasia não está muito sugestiva, não? — perguntei rindo.
— Só pro e pra mim né, que sabemos no que você trabalha. O resto... — deu de ombros.

O pior de tudo é o , o maldito . Já vou até me preparar para ser perseguida por ele e ouvir as suas risadinhas abafadas quando me ver fantasiada de dançarina de can-can. e eu vamos estar assim. A diferença é a parte interna do vestido e alguns detalhes. Ambos os vestidos são pretos, mas o meu tem detalhes rosa choque; já o de , vermelhos. Contratamos alguns seguranças, garçons e recepcionistas, não íamos ficar servindo ninguém, né? Pelo que conseguíamos ver da janela do quarto, muitas pessoas já estavam chegando. Ninguém que importasse tanto, já que a ansiedade mesmo era para ver os garotos. Grrr.
O DJ já tinha começado a tocar, afinal já passava das 11 da noite. Terminamos de nos arrumar e ficamos fazendo poses na frente do espelho, como se tirássemos fotos. Rimos da nossa idiotice e resolvemos descer. Antes, colocamos as tiaras.

A decoração da festa estava divina, tinham algumas velas pelo jardim e tendas rústicas. Os recepcionistas também usavam fantasias, o que acrescentava um clima de "todos estão curtindo"’. Ah, não posso esquecer o barman. O contratado foi aquele mesmo do aniversário de , ele deu um desconto incrível, porque, segundo ele, nunca tinha trabalhado para mulheres tão lindas. Nós nos aproveitamos da situação e jogamos certo charme, o que o fez baixar ainda mais o preço. Descemos as escadas e fomos até o jardim. Cumprimentamos várias pessoas, na verdade, convidamos todas as pessoas de nossas classes, era realmente uma comemoração pelo fim do ano letivo. Por sorte, todos decidiram aderir ao espírito da festa e não tinha ninguém sem fantasia. Deixei a rodinha em que estávamos batendo papo e fui até o bar, pegar tequila para mim e para .

— O que vai querer, francesinha? — o idiota do barman perguntou com uma cara safada, me olhando da cabeça aos pés. Ele estava fantasiado de pirata.
— Tequila, dupla! — respondi rindo e ele me atendeu quase que imediatamente. — Nossa, que eficiência!
— Quando isso me favorece, faço de tudo para atender a clientela — piscou e eu soltei uma risada abafada.
— Obrigada — falei ainda rindo e pegando os dois copos.
— Obrigado nada, isso vai te custar anotar o meu telefone — falou já pegando uma caneta no bolso e procurando um papel.
— Não, não. Deixa isso pra depois! — ri sem graça e tentei sair dali.
— Claro que não, me dê uma de suas mãos e eu anoto!
— Nããããão, eu vou suar e vai apagar, no fim da festa você me passa, ok? — desconversei, saindo dali com um copo em cada mão e andando praticamente de ré. Até que senti um peitoral e duas mãos em meus ombros. Como se isso não bastasse, ainda sinto a respiração perto da minha orelha.
— Vou te sugar todinha... — sussurrou e eu me virei em um impulso, quer dizer, primeiro virei a primeira dose de tequila. Era , eu não estava tão surpresa, porque só pelo sussurro e pelo cheiro, sabia que era ele. Confirmar aquilo só acrescentou um pouco mais de batidas malucas em meu coração. Antes que pudesse xingá-lo pelo que disse, notei que estava fantasiado de vampiro. Sorri fraco.
— Ah, claro. Vampiro! — pensei em voz alta e ele riu.
— Não um simples vampiro, o Drácula — falou se vangloriando e eu ri. Ele estava deslumbrante, seu traje era completamente preto e seu rosto tinha uma maquiagem bem feita. O vampiro mais sexy que eu já vi. E olha que quando assisti ao filme do Drácula, achei que aquele era o homem mais sensual que os meus olhos já tinham visto. — Você vai ficar com os dois copos? — perguntou espantado, me vendo segurá-los.
— Não, esse é pra — mostrei um dos copos.
— Deixa que eu levo — pegou o copo da minha mão e foi na frente, apressado. Corri um pouco para alcançá-lo.
— A está ali, naquela rodinha — tentei guiá-lo.
— Eu sei — respondeu simplesmente e foi andando em direção a ela. entregou o copo de e eu fiquei com o meu, já vazio (não queria voltar ao bar e ter que inventar outra desculpa para não anotar no número do pirata). Ele tirou algumas fotos com os amigos dela e depois ficou ao meu lado. Eu tentava fingir que não estava ali, o que não era possível. — Vem aqui — falou me puxando pela mão e eu nem tive tempo de recusar. Não que eu fosse realmente fazer isso.
— Onde? — perguntei tendo que apressar os passos, pois ele praticamente corria.
— Você vai ver, curiosa — me olhou rindo. Caminhamos um pouco e fomos parar do outro lado do jardim, perto da piscina. Eu estava realmente com medo daquela situação. — Aqui — falou parando de andar e passando a mão na cabeça.
— Por que você me trouxe aqui? — perguntei sem entender, o olhando.
— Não te falei que ia te sugar todinha? Então... — respondeu soltando uma risada alta e me abraçando em volta dos ombros. Eu realmente não conseguia entender.
— Dããã — espalmei a mão desocupada em seu peito e o empurrei. — Sério.
— Sei lá — cruzou os braços e olhou para a piscina.
— Aff , você me trouxe aqui pra “sei lá”? Tchau! — falei dando as costas e saindo rapidamente. Mas só na minha cabeça para achar que sairia dali de forma tão fácil. me puxou com certa força e me prendeu em seus braços, em seguida arremessou o meu copo longe. — Isso custa caro, — reclamei, olhando para onde o copo estava jogado, mas não quebrou, thank god.
— F***-se — riu e me segurou com mais força. Eu tentava não encará-lo. Não podia beijá-lo. Não mesmo. Mas ele procurava isso, com intensidade. Nossos rostos brincavam, o dele de atacar e o meu de desviar. As minhas mãos espalmadas em seu peito já não tinham forças para lutar contra e eu já estava hipnotizada com os seus olhos. Em uma fração de segundo, fez o favor de pressionar seus lábios contra os meus. Tentei manter a boca fechada, de forma que não passasse de um selinho duradouro, mas não foi muito fácil. Ele pressionou tanto que não tive escolha. — Oh Deus, por que a minha namorada não consegue ser tão boa assim? — disse assim que nossos lábios se separaram e eu não podia crer naquilo. O empurrei e saí realmente correndo. Idiota. Imbecil. O que ele tinha que falar na namorada ali? Eu achei que era a única pessoa que ainda lembrava da existência dela. Mas não, ele tinha que soltar um comentário egoísta e infantil que me fizesse sentir incrivelmente culpada por ter cedido e beijado novamente aqueles lábios cruelmente doces e vermelhos.

Voltei para o outro lado do jardim e dei de cara com , que estava fantasiado de homem aranha.

— E aí? Vai querer dar um beijo de cabeça pra baixo? — perguntou me abraçando e eu ri. — Eu sei que vai, mas se eu fizer isso a sua amiga me aposenta — coçou a cabeça e franziu a testa.
! — bati em seu braço. — Bem que eu precisava mesmo de um beijo desses, de um cara que preste — falei em tom de brincadeira, mas eu sei que tinha uma certa revolta em minha voz, pois ele me olhou espantado.
— Então os seus problemas acabaram! Eu sou esse cara! Eu presto, sou lindo e ainda tenho pernas sexies — fez propaganda de si mesmo e eu gargalhei.
— Expecto Patronum! — ouvi atrás de mim e me virei assustada. Caí na risada. Era , fantasiado de Harry Potter. Eu não sei se a fantasia era para ser engraçada ou se é simplesmente pelo fato de ser o ali, mas eu não conseguia parar de rir, nem — #@$¨% merda, do que os imbecis estão rindo? A melhor fantasia aqui é a minha!
— Claro que é, ninguém está falando o contrário... — ironizei, ainda rindo.
— Claro que não, a melhor aqui é a minha, porque, afinal, é minha — disse, birrento, batendo no próprio peito.
— Cadê o Harry, gente? — perguntei procurando-o com o olhar.
— Serve aquela taquara rachada ali? — apontou para onde estava, e Harry estava ao seu lado, fazendo uma imitação de Elvis Presley, sua fantasia.
— Meu Deus, essa fantasia caiu muito bem nele! — falei espantada e rindo.
— QUÊ? O Elvis deve estar se revirando agora! Ele conseguiu f*** com a moral do cara. Diferente de mim, que elevei o potencial do Peter Parker — disse ainda batendo no próprio peito.
— Potencial homossexual, você diz — provocou, rindo.
— Você vai ver um dia o quanto eu sou homossexual — respondeu e eu notei que em seu tom de voz tinha algo diferente... Estava cheio de mensagens nas entrelinhas.
— Vamos dançar, ? — o chamei, evitando que falasse mais besteiras, porque por enquanto não tinha entendido o que ele queria dizer.
— Vamos, eu dançaria comigo mesmo, mas você sabe que isso é bizarro — respondeu e eu dei um tapa em seu braço. Despedimos-nos de e fomos para a pista de dança.
, pelo amor de Deus, deixa de ser louco! — falei alto, para que pudesse ouvir, devido à música alta.
— Que foi? — perguntou rindo, ele sabia do que eu falava.
— É errado isso que você e a fazem, mas não joga na cara do , não.
— Quando ele merece, eu jogo essas indiretinhas inocentes. O é burro demais pra entender, relaxa! — piscou e eu dei um soco leve em seu peito. A canção agitada já estava acabando e uma lenta começava.

(Coloque a primeira canção para tocar)

colocou as mãos em minha cintura e eu coloquei as minhas em seus ombros. Mantínhamos alguma distância.
— Já pensou se eu te agarrasse? Ia fazer com a o que ela faz com o .
— Cala a boca, homem-aranha. Você nem sabe o que diz — falei rindo e ele riu também. Pareceu querer falar alguma coisa, mas notei que desistiu. Mandou um olhar suspeito para alguém que estava atrás de mim. Tirou as suas mãos da minha cintura lentamente e tirou as minhas de seus ombros, segurando uma delas.
— Tem alguém querendo dançar com você. Boa sorte — beijou a minha mão e saiu devagar. Antes de me virar para ver quem era, senti o seu perfume cada vez mais próximo e seus dedos massagearem a palma da minha mão. e eu ficamos frente a frente. Ele me olhou com certa súplica, então eu apenas abaixei a cabeça e a encostei em seu ombro, assim como fiz com uma das mãos. A outra estava no ar, junto com a dele, entrelaçada. Senti seu toque em minha cintura e fechei os olhos. Estávamos dançando lentamente e eu sabia cada verso da música que tocava. É incrível como quando estou com todas as músicas que ouvimos fazem algum sentido. Essa, para variar, dizia exatamente o que eu tinha vontade de dizer para ele, mas não era capaz.

“Well now, you're laughing out loud
(Bem, você está gargalhando)

At just the thought of being alive
(com a simples ideia de estar vivo)

And I was wondering
(E eu estava pensando)

Could I just be you tonight
(Eu poderia ser você apenas esta noite?)

You show your pain like it really hurts
(Você demonstra sua dor como se ela realmente doesse)

And I can't even start to feel mine
(E eu nem posso começar a sentir a minha)

Well, I'm standing in place
(Bem, eu continuo na mesma)

With my head first and I shake
(E eu começo a agitar a cabeça)

I see your progress stretched out for miles and miles
(Eu vejo seu progresso se estender milhas e milhas)

Comecei a lembrar de tudo o que estava acontecendo ultimamente. Comigo, com a minha mente, com , com Sophie. Esse não é o tipo de situação que eu quero para mim. Até quando eu vou ter que ser sempre a distração? Eu queria tanto estar ali, com aquele homem, deitando a cabeça em seu ombro e não pensando em nada... Mas não, eu estou com ele, com a cabeça em seu ombro e não consigo parar de lembrar de vê-lo sorrindo ao lado da namorada e falando nela após me beijar.

This is the sound that I make
(Este é o som que eu emito)

These are the words I chose
(Estas são as palavras que escolhi)

Somehow the right thing to say
(De alguma maneira, as coisas certas para se dizer)

Just won't come out
(Apenas não aparecem)”

— You're laughing out loud. At the thought of being alive — sussurrei o trecho do refrão em seu ouvido e apenas me soltei de seus braços, deixando a pista de dança e procurando algum lugar para ir. Eu estava desnorteada, nem ao menos olhei para trás para ver como ele ficou. Eu não posso estar gostando de , isso é ridículo. Eu não sou mais uma adolescente. Pior ainda é ver como tudo aquilo estava me afetando. Não consigo mais viver a minha vida normalmente, era como se ele tomasse conta da minha cabeça até nas horas vagas.

O bar, foi a única coisa que eu enxerguei durante a ‘fuga’ que fazia. Cheguei ao meu destino e pedi duas doses de uísque. Claro que tive que aguentar diversas cantadas do barman, mas isso não parecia nada perto do que tinha que aguentar dos meus pensamentos.

? Vem beber e nem me chama! — disse sentando ao meu lado e pedindo algumas doses também.
— Desculpa, eu estava meio louca.
— O que houve?
— O de sempre — respondi desanimada.
? — perguntou num tom óbvio.
— Sim, o de sempre — repeti.
— Ah não, você não vai deixar de curtir a NOSSA festa por causa desse monstro, vai?
— É, você está certa! Jack Sparrow, tequila dupla! — pedi rindo e batendo o copo na mesa, riu e pediu o mesmo. Tomamos algumas doses ali, sentadas e falamos muitas bobagens. Até sermos surpreendidas por “Harry Presley”, como ele mesmo fez questão de ser chamado naquela noite. Ele se juntou e ficamos os três enchendo a cara. Vi de longe, rindo alto e cantando algumas meninas que estudavam com . estava na mesma rodinha e parecia tentar impressioná-las. Já , conversava entusiasmado com uma garota que também estava vestida de algum personagem de Harry Potter. Tentei não me fixar muito e esquecer os “problemas” que nem eram para ser problemas se eu não fosse idiota e tivesse deixado a situação sair do meu controle. Por que o fato de ter namorada parecia pesar mais na minha consciência do que na dele? Era eu quem devia estar tirando maior proveito da situação, não ele!
— Quem está pronta para rebolar com o Presley, aqui? — Harry indagou, apontando para si mesmo e nós duas gritamos, levantando e segurando uma em cada mão dele. Caminhamos até a pista de dança e se juntou a nós.
— Achei que você ia ficar com a cabelo de vassoura a noite toda! — falei entrelaçando meu braço no de .
— É a Hermione, ok? — me corrigiu e eu ri.
— É o retardado que é fã de Harry Potter, ok? — Harry emendou e foi xingado.
— Ela não sabe de nada, aquela garota. Poser! — disse inconformado, balançando a cabeça.
— Qual é, . Só você que nessa idade lê aquilo! — zombou e nós rimos, menos ele. — É, é até compreensível.
— Cala a boca aí ô dançarina de can-can, sei muito bem o que isso significa! — rebateu e nós rimos ainda mais.

Chegamos à pista e fizemos uma roda grande, alguns amigos meus estavam nela. Dancei bastante com Jake e depois me virava para dançar com Harry. E vice-versa. foi ao bar várias vezes pegar bebidas para nós quatro. continuava perto do bar, investindo em uma garota, eu podia ver pelo jeito que agia e , bem, agora estava na nossa roda e eu juro que o vi entregar alguma coisa na mão da . Ela, no entanto, mantinha o punho fechado para que não caísse. Dançamos bastante, até dancei com também. Depois de algum tempo, deixou a pista de dança e foi até a entrada da casa. Ela devia estar indo ao banheiro. Continuei dançando, agora com , mas tirei a minha atenção de meus passos de dança por notar que deixara a roda disfarçadamente, fazendo o mesmo caminho que tinha feito. Esses dois não prestam, mesmo. Ninguém mais tinha percebido o que estava havendo, muito menos , que agora fingia patinar na pista e depois foi para o meio da roda tentar fazer dança de rua — muito mal por sinal — e foi vaiado, principalmente por Harry. Tudo estava muito bem, até resolver aparecer na pista com o braço em volta do pescoço daquela safada com quem ele conversava perto do bar. Ele tomava cerveja e falava coisas no ouvido dela, que ria como uma retardada no cio e me fazia querer dar uma voadora no meio dos dois. Espera, o safado é ele. Tem namorada, tenta me pegar e ainda vai atrás de outra? É problemático demais para eu ficar tentando entender. Que se dane. Que se exploda. Ele não vai estragar a minha noite, não vai.

O QUE É ISSO? LOIRA VAGABUNDA! Se esfregando sem vergonha nele, arranhando seu peitoral, que nojenta! E ELE? QUE CARA É ESSA? Grrrrrrr. Dá vontade de quebrar todos aqueles dentes que fazem os meus olhos doerem de tão brancos. agora dançava com ela do mesmo jeito que fazia comigo no dia da bebedeira na casa de . Era questão de segundos para que os dois estivessem se beijando. Eu não ia suportar ver isso, eu sabia. Vê-lo beijando Sophie já era um castigo, mas eu meio que estava preparada para ver, era como se fosse rotineiro. Agora uma nova garota não, ah, isso eu não ia conseguir ver de braços cruzados. Não consegui controlar as minhas pernas e quando voltei à minha sã consciência já tinha feito. Fui até os dois e derramei uísque no cabelo dela, fingindo tropeçar. Depois pedi desculpas e saí correndo, sendo seguida por , que ria descontroladamente e se oferecia para ter o cabelo molhado por mim. Segundo ele, seria uma “honra”. Eu bufava, mas ria abafado. Só posso ter um neurônio a menos, só posso ser mais problemática que o para agir dessa forma. O que eu estou fazendo? Agindo como uma adolescente que vê o namoradinho beijando a líder de torcida. EU TENHO QUE MORRER ASFIXIADA, lentamente, para ter tempo de ver o quanto sou burra e só faço as escolhas erradas.

— Vai, joga uísque em mim, me chama de p*ta do ! — gritava, afeminado, me fazendo parar de andar por algum tempo e rir.
— Cala a boca, ... Foi sem querer! — menti.
— Eu sei que foi, acredito nisso intensamente. Mas se eu fosse você, tomava cuidado para não deixar isso sair do controle e enlouquecer... — ironizou e me deu a mão. — Vamos beber.
— Definitivamente é o melhor que fazemos! — falei deitando a cabeça em seu ombro e indo em direção ao bar.
— Umas vinte doses de tequila, meu chapa! — bateu na mesa e me olhou arqueando as sobrancelhas.
— Você está falando sério? — perguntei espantada.
— Claro, sem chapar o coco a gente não aproveita nada! — respondeu dando de ombros e sentando. — Brincadeira, só dois copos mesmo.
— Ah bom! — sorri aliviada. Mas pensando bem, não seria nada mau ficar inconsciente e esquecer o quanto eu sou idiota. O pedido foi atendido e nós começamos a competir quem tomava mais rápido. Até os três primeiros copos, eu ainda sentia algum ardor na garganta, mas depois começou a descer como suco. O já ria da minha cara, segundo ele, eu estava ficando vesga. Continuamos a competição e quando percebi, Harry, e já estavam em volta, batendo palma e fazendo suas apostas em quem beberia mais sem dar vexame. Tentei procurar com o olhar, mas foi impossível, já que tudo começou a rodar. Olhei para o lado e já batia na própria cabeça, reclamando de tontura, também. Decidimos parar juntos e fomos vaiados e chamados de trouxas. Levantei e encontrei os braços de Harry me segurando, porque não consegui ficar em pé. Claro que todos riram da minha cara.
— Ei, banana podre! — ouvi zoar enquanto eu era ajudada por e Harry a ficar de pé.
— Eu te ajudaria, mas alguma coisa entrou na minha unha, Rachel — disse e eu mostrei o dedo. As pessoas pareciam se mover em câmera lenta. Eu tinha plena consciência de onde estava e com quem estava, mas era como se não conseguisse controlar o caminho que as minhas pernas faziam. Fiquei apoiada em e fomos para a pista de dança, Harry agora ajudava a caminhar. Bem feito, ficou rindo de mim.
, eu acho que não consigo dançar — falei sem nem ouvir a minha voz.
— Ah, você vai ter que dar um jeito, se ficar sentada é pior que quando a tequila pegar vai ser de uma vez! — ela disse chutando uma lata de cerveja vazia que estava no meio do caminho. Ouvia a voz de muito distante, falando um milhão de bobagens e fazendo Harry e rirem muito. Quando percebi, ele estava bem ao nosso lado. Eu já não funciono muito bem quando estou sóbria, tonta, então, sou pior ainda.

A única coisa que eu não queria e, mesmo desnorteada ainda continuava com esse pensamento, era ver com aquela loira aguada. Tá, o aguado é ele, o safado é ele, mas eu não sei por que raios a raiva que sinto é quase que cem por cento dela. Respirei fundo e pedi que me soltasse, ela me olhou preocupada e eu disse que tudo ficaria bem. Andei com um pouco de dificuldade, mas parei para dançar. Os meninos fecharam a roda e eu nem conseguia ver onde estava, só sabia que na pista não era. A não ser que eu também tivesse desenvolvido problema de vista. É, ele devia estar se agarrando com ela atrás de alguma árvore. Dane-se. DANE-sE. Eu ia curtir a festa com a minha melhor amiga e os meus novos melhores amigos. Ele que se ferre. Comecei a dançar e meu estômago começou a revirar, eu não me dou muito bem com tequila em excesso. Puxei e nem consegui falar nada, por sorte ela percebeu o que estava havendo e me seguiu, apenas dizendo para os meninos que ia comigo em casa e já voltávamos.

— Você vai vomitar? — perguntou enquanto corríamos, apenas assenti. — Ai droga! Vamos ao banheiro lá de cima, senão você vai ser perturbada aqui. — me puxou para as escadas e eu não sabia se conseguiria segurar por muito tempo. Ainda bem que consegui, e assim que a porta do banheiro foi aberta, mandei ver. Nem consegui chegar ao vaso. — EEEEEEWWWWWWWWWW! Desculpa amiga, mas eu não consigo olhar pra isso!

Fiquei de joelhos, antes que caísse, as minhas pernas tremiam demais e eu não conseguiria ficar em pé por muito tempo. correu para fora do banheiro, para buscar desinfetante e panos para limpar aquilo. Mas antes de descer as escadas, ela voltou no banheiro e disse para eu não sair de lá, porque senão poderia passar mal de novo e sair vomitando pelo corredor. O que não seria legal, já que o piso era de carpete. O pior de tudo é que eu nem estava bêbada. Só estava tonta. A vergonha é ainda maior. voltou logo, me deu um copo d’água e eu tentei ajudá-la a limpar, ela recusou, mandou que eu ficasse sentada, relaxando, pois limparia tudo. Depois que terminou, me tranquei no banheiro e lavei a boca, escovando os dentes em seguida. Parecia que tudo o que precisava sair tinha saído. Já não sentia embrulho, apenas a garganta estava um pouco dolorida. Saí do banheiro e lembrei que , antes de sair, tinha ordenado que eu descesse imediatamente, que não queria que eu ficasse sozinha. Estranhei o seu excesso de preocupação, primeiro com o carpete e depois com o fato de eu ficar sozinha. Quanto ao carpete, eu entendo, estaria da mesma forma que ela e, não que ela não seja uma amiga atenciosa, mas não costumava me tratar como uma criança, principalmente quando eu fazia esse tipo de coisa. Resolvi parar de pensar nisso e deixei o banheiro. Estava muito cansada, minhas pálpebras estavam pesando e eu não daria conta de dançar, muito menos de ficar olhando os outros dançarem. Pensei primeiro em descansar no quarto de hóspedes e, depois, descer. É, era isso o que eu faria. A minha respiração estava um pouco complicada, o meu coração palpitava. Sou muito nervosa, quando passo mal parece que vou ter um troço. Cheguei à porta do quarto, que estava fechada, e ri de mim mesma ao ver a minha mão tremer quando foi em direção à maçaneta. Tive dificuldade para girá-la, mas insisti.
Antes não tivesse feito isso.

? — perguntou, soltando a garota que estava em seu colo, pressionada contra a parede, usando somente calcinha e sutiã pretos. Eu não parecia estar vendo aquilo realmente, apenas continuei olhando fixamente para os dois. Larguei a porta daquele jeito e corri, voltando para o banheiro e me trancando. Sentei na tampa fechada do vaso, apoiei os cotovelos em meus joelhos e tampei os ouvidos. Fechei os olhos, cerrando-os e tentei me acalmar. É incrível como do mesmo jeito que o álcool vai entrando e aumentando a pressão, os sentimentos ficam aflorados e você não consegue controlá-los. Eu não queria chorar, juro que não, porque sei que sou mais forte que isso. Talvez se eu estivesse sã, nem ao menos tremeria. Antes que eu pudesse segurar ou ignorar, as lágrimas quentes já deslizavam sobre as minhas bochechas e eu sentia aquele velho aperto no coração. Isso me lembrou muito a primeira vez que o vi com Sophie, no shopping. Eu me senti exatamente daquela forma, mas agora estava muito pior. Muito menos suportável. Ouvia a música alta abafada e ia me acalmando. O coração foi voltando ao ritmo normal, as mãos já não tremiam tanto. Respirei fundo. Apoiei a cabeça na parede e continuei sentada. Abri os olhos lentamente e fiquei encarando a parede.
? — ouvi a voz de chamar em um tom baixo e, em seguida, ouvi duas batidas leves na porta. Responder ou não?
— Oi — respondi simplesmente. Sou carente demais para esnobar a minha amiga, que só quer o meu bem.
— Abre pra mim? — perguntou e eu levantei, destrancando a porta. — Tudo bem com você? Estava chorando? — odeio que ela me conheça tão bem.
— Não — a abracei apertado e ela retribuiu, mexendo em meus cabelos. Afundei a cabeça na curva de seu pescoço.
— Eu falei pra você descer, . Eu falei! — disse indignada e eu me desvencilhei, encarando-a.
— Hã? Você sabia? — a olhei arqueando as sobrancelhas e levando uma das mãos à boca. Lembrei da cena que vi quando abri a porta repentinamente e só deu tempo correr para o vaso, abrir a tampa e vomitar de novo. Eu odeio isso. Odeio ser fraca para bebida e odeio enjoar ao ter lembranças desagradáveis. segurou o meu cabelo com uma mão, para que não sujasse, e massageou meu ombro com a outra. Eu estava sentada no chão, com as mãos no vaso e a cabeça enfiada, vomitando mais e mais. Tossi e me deu um pouco de papel higiênico, para limpar a boca. Limpei e arremessei no lixo. — Desculpa — pedi, olhando para cima e vendo me olhar com um meio sorriso, ela balançou a cabeça cordialmente e eu voltei a encarar o vaso. Tentava recuperar a respiração.
— O que está acontecendo? — ouvi a voz de e aquele coração que acalmava as batidas, já não dava mais sinais de vida.
— Nada, bebeu demais — disse e eu olhei para onde eles estavam.
— Quero ficar sozinha com a , sai — falei abanando uma das mãos e cochichou alguma coisa para , que me olhou por cima dela e saiu. Ela, então, trancou a porta e mandou que eu tirasse a cara do vaso, para dar descarga. Feito isso, sentei no chão, encostada na parede e ela sentou ao meu lado.
— Desde quando ver o com outra te afeta tanto? — perguntou me puxando para deitar a cabeça em seu colo.
— Eu também queria saber — respondi com a voz rouca, a minha garganta doía terrivelmente. Ela não disse mais nada, apenas ficou fazendo carinho na minha cabeça. Me encolhi e fiquei olhando para as minhas mãos entrelaçadas bem na minha frente. — , volta pra festa. — ordenei, olhando para cima e a vendo olhar em um ponto fixo.
— Não, vou ficar aqui com você, até você ficar melhor — me olhou e sorriu, então sentei.
— Eu já estou bem. Obrigada, de coração — a abracei.
— Tem certeza? — perguntou ainda abraçada em mim.
— Tenho. Volta lá, eu vou ficar bem, só preciso descansar — respondi ainda forçando a garganta, para que alguma voz saísse, e a soltei. me deu um beijo na bochecha e levantou, piscando para mim e deixando o banheiro. Olhei do vaso à minha frente para a pia e quase chorei pensando que teria que levantar e escovar os dentes de novo. Mas, com muito sacrifício, consegui ficar de pé e ir até a pia novamente. Primeiro lavei a boca só com água e em seguida enchi a escova de dente de pasta e escovei cada milímetro.

Enxuguei-me e saí do banheiro, ainda um pouco tonta, mas me apoiei na parede. Estava fraca, eu sempre fico assim. Fui até o quarto de , sabia que lá não tinha perigo de pegar ninguém se agarrando, a não ser que fosse ela e e, a essa altura, seria até cômico se isso acontecesse, porque aí eu esqueceria o que tinha visto. Ou pelo menos lembraria, mas com outras pessoas como atores principais. Mas não, ainda bem que o quarto estava escuro e vazio. Acendi a luz e estava tudo exatamente como tínhamos deixado. Fechei a porta e abri o guardarroupa. Tirei a minha fantasia e vesti o babydoll que tinha levado. Olhei para a cama de e soltei um suspiro, deitar era tudo o que eu precisava. Deitar e dormir por uns três dias. Como isso não era possível, então me conformei de que apenas dormiria essa noite. Joguei-me naquele colchão mole e confortável e enterrei a cabeça em um travesseiro igualmente mole e igualmente confortável. Fiquei de bruços e lembrei que não tinha apagado a luz. Bufei, levantei e a apaguei. Joguei-me na cama novamente, dessa vez para dormir, mesmo. Fechei os olhos e tentei fazer o mundo parar de girar, apenas para que eu pudesse me sentir sozinha e sem problemas. Lembrei que nem tinha me despedido de Harry, e , mas com certeza os diria que eu estava mal e eles entenderiam. Aquela era para ser uma noite maravilhosa. Se eu tivesse escutado a , nada disso teria acontecido. Se eu tivesse feito o que ela disse, de quando sair do banheiro somente descer as escadas, não teria visto entre as pernas daquela vadia loira. Meu Deus, já não bastam duas? Ouvi a porta do quarto abrir, mas as minha pálpebras estavam pesadas demais para que eu lutasse contra elas e abrisse os olhos. Devia ser , porque estava meio barulhento e ela não é a melhor com portas. Apenas virei a cabeça para o outro lado e desejei mentalmente que ela não acendesse a luz. Mas ela o fez e eu coloquei o travesseiro sobre a minha cabeça.

— O que aconteceu? Bebeu demais? — ouvi uma voz bastante conhecida falar e abri os olhos bruscamente. Não sabia o que fazer, se respondia ou se fingia que estava dormindo. — E eu sei que você está acordada — droga. É, mas talvez ele precise mesmo ouvir algumas coisas.
— Pra você, eu morri! — respondi ainda imóvel.
— Deixa de ser infantil, .
— Trato as pessoas da forma que elas merecem — falei ríspida, tirando o travesseiro da cabeça e sentando na cama. estava parado, escorado na porta do quarto.
— E por que eu mereço ser tratado assim? — perguntou como se não entendesse e isso me deixou mais irritada.
— Porra, — ele sempre me olha espantado quando me ouve falar isso. — Me beijar no jardim, falar da namorada e ainda pegar outra é demais, você não acha? — maldita língua.
— Não era pra você ter visto! E eu sei por que ajo assim — falou arqueando as sobrancelhas e coçando a cabeça.
— F***-se se eu vi ou não. Eu cansei desse seu modo de agir, como se todas as coisas erradas que fizesse tivessem uma razão que as compensasse. E eu não falo por mim, eu falo por uma pessoa que está há um ano presa a você, que não merece nada disso!
— Você pensa mais na Sophie do que eu! Para com isso! — alterou a voz.
— Isso não é normal, . Não mesmo. Você devia ter consciência do que faz! — quase gritei, balançando a cabeça, e ele sentou na beira da cama, de costas para mim.
— Eu tenho plena consciência de tudo o que eu faço, e eu tenho consciência do que provoco em você — disse simplesmente, como se estivesse dando ‘bom dia’. Fiquei entalada com as palavras que eu adicionaria, pois elas voltaram assim que ele disse as últimas palavras. Eu sei que sabe o que provoca em mim, mas ouvir isso de sua boca é um tanto quanto assustador.
— Você não sabe de nada — desconversei, indignada, com as mãos tremendo.
— Você sente ciúmes, não sente? — perguntou se virando e me encarando. Eu devia estar com a cara mais imbecil do mundo.
— NÃO! Não viaja! — neguei, franzindo a testa.
— Então, por que está agindo assim?
— Porque eu simplesmente não devia ter te conhecido melhor, ter ficado amiga dos seus amigos e ter um dia te beijado. Tudo isso é errado, você devia ser um mero cliente e ter sumido da minha vida, ainda mais depois de ter levado uma boa quantidade de spray de pimenta na cara! — quase vomitei tais palavras e ele as ouviu atento. — Eu não quero mais, . Não quero. Vamos acabar com isso, chega! — falei colocando as mãos na cabeça e bufando.
— Acabar com o quê? — perguntou, me olhando confuso.
— Com essa relação pessoal. Eu amo os meninos, não quero mesmo ficar sem a amizade deles, e nem sem a sua. Mas é só isso , amizade. Não quero ficar entre você e uma mulher que te ama e que pode te fazer muito feliz! — respondi com a voz trêmula, parte do que eu disse não era o que eu realmente queria ter dito. Eu não quero a amizade dele, porém é a única forma de eu ficar bem com a minha consciência e parar de fantasiar um futuro, sempre quebrando a cara.
— Então 'tá, é com a relação pessoal que você quer acabar? — perguntou e eu assenti, com vontade de negar. — Ok, então eu te proponho uma semana no Brasil como minha acompanhante, nada mais. Com todas as despesas pagas, quando voltarmos pra cá. Você vai ser a Rachel e eu estou te contratando — propôs, tirando os sapatos e a camisa que vestia.

(Coloque a segunda canção para tocar)

— O que você está fazendo? Não, sem chance! — indaguei nervosa, mas ainda digerindo o que ele tinha acabado de propor. Será que ele queria tanto estar comigo que até me contrataria? Não, não o que eu conheço. Ou será que esse é mais um dos seus ataques de homem bonzinho? As coisas foram ficando piores do que eu imaginava, pois apagou a luz, pegou dois travesseiros e se acomodou, sentado, abrindo os braços.
— Deita aqui, e eu não aceito ‘não’ como resposta — convidou, ainda com os braços abertos, e eu vi um sorriso tentador em seu rosto, mas tinha pouca claridade. Eu tenho como resistir?
— Só abraçados, nada mais. Promete? — perguntei me odiando pelo fato de já estar cedendo. Ele apenas assentiu, sorrindo fraco, e eu me joguei em seus braços, deitando a cabeça em seu peitoral nu e recebendo cafuné.
— Como eu te beijaria se eu sei que você estava vomitando? Eca — brincou e eu dei um tapa leve em seu rosto.

Sentir o perfume de de novo parecia um remédio. Fiquei acariciando sua barriga e sentindo seu queixo apoiado em minha cabeça, sua outra mão passeava pelo meu braço, me deixando arrepiada. Fechei os olhos e suspirei, tive a impressão falsa de que tudo estava bem e que, mesmo sendo falsa, era o que iria me fazer dormir tranquilamente sem pensar tanto no amanhã. Apesar de saber que, a partir de amanhã, tudo poderia estar diferente. Essa podia ser a última vez que eu deitaria com , mesmo que inocentemente. Eu não acho que depois das merdas que eu falei ele vá querer continuar tendo alguma coisa. E eu sei que se isso acontecer, a única pessoa que vai sofrer as consequências serei eu. E ir ao Brasil? Meu Deus. É melhor dormir. Respirei fundo e abracei pela cintura, ele ficou roçando a bochecha em minha cabeça e ali mesmo eu adormeci, querendo, por alguns instantes, tê-lo conhecido de outra forma, não ser quem sou e até ser Sophie.

“I dream a world where you understand
(Eu sonho com um mundo onde você entende)

That I dream a million sleepless nights
(Que eu sonho a milhares de noites sem dormir)

I dream of fire when you're touching my hand
(Eu sonho com o fogo quando você segura a minha mão)

But it twists into smoke when I turn on the lights
(Mas isto se esvai em fumaça quando eu acendo as luzes)

I'm speechless and faded
(Estou sem fala e desvanecida)

It's too complicated
(É muito complicado)

Is this how the book ends?
(É assim que o livro acaba?)

Nothing but good friends?
(Nada além de bons amigos?)

Cuz you don't see me
(Porque você não me vê)

And you don't need me
(E você não precisa de mim)

And you don't love me
(E você não me ama)

The way I wish you would
(Do jeito que eu queria que amasse)

? — chamou cochichando.
— Hum? — perguntei sem me mexer.
— Você está se sentindo bem?
— Uhum — respondi simplesmente e sorri para mim mesma ao ver que ele estava preocupado.
— Ok, então dorme, vou ficar aqui com você — disse passeando com a ponta dos dedos pelo meu rosto. Respirei fundo e senti cada toque, era como se ele me dissesse, apenas com aquilo, tudo o que eu esperava ouvir, ou enxergar. Só me faz sentir assim.

This is the place in my heart
(Esse é o lugar no meu coração)

This is the place where I'm falling apart
(Esse é o lugar que eu estou me despedaçando)

Isn't this just where we met?
(Não é exatamente onde nos encontramos?)

And is this the last chance that I'll ever get?
(E é essa a última chance que terei?)

I wish I was lonely
(Eu queria estar sozinha)

Instead of just only
(Ao invés de apenas só)

Crystal and see—through and not enough to you
(Cristal é um 'vidro' que você vê através, mas não é suficiente)

Capítulo 19


Levantei incrivelmente cedo, não tinha sido uma noite muito fácil, fazer três programas nunca é o que se pode chamar de ‘calmo’. Sair da cama foi um sacrifício, ainda mais sendo acordada por um despertador cruel com a risada do Bob Esponja. Abri a janela e cerrei os olhos, devido à claridade intensa. Fui até o banheiro lentamente e fiz as minhas necessidades diárias: xixi, banho, escovar os dentes. Vesti uma calça jeans, uma blusa não muito justa e calcei um tênis com amortecedor. Escovei o cabelo e fiquei alguns minutos pensando se devia ou não passar um secador, mas decidi que não. Passei um pouco de perfume e fui imediatamente para a cozinha. já estava acordada, lendo jornal e preparando torradas ao mesmo tempo. Estranhei já estar de pé àquela hora, já que estava de férias da faculdade e seu trabalho era na parte da tarde. A abracei e dei um beijo em sua bochecha, ela sorriu e tirou algumas torradas, me dando. Agradeci e sentei, mordendo a torrada e usando as mãos para me servir de café com leite. Após fazer isso, continuei comendo normalmente e se sentou, fazendo o mesmo que eu.

— Pode comer mais, são muitas horas sem comer, bonitinha! — ela recomendou quando terminei a minha primeira torrada.
— Eu sei, mas acordo sem fome — falei desanimada, olhando para milhões de torradas na minha frente.
— É, mas tem que se forçar.
— Ok, mamãe — ri e ela fez careta. Peguei mais uma torrada. E mais uma e mais uma. Levantei da mesa empanturrada e coloquei o copo na pia, disse que ela mesma lavava, senão eu me atrasaria. Corri para o meu quarto e chequei se já estava tudo certo, fechei a mala e peguei a bolsa que levaria em mãos, colocando celular, Ipod e outros utensílios lá dentro. entrou no quarto enquanto eu escovava novamente os dentes e sentou na cama.
— Checou tudo? Celular, Ipod, desodorante, pente, perfume, escova de dente, documentos? — perguntou e eu apenas confirmei com algum barulho pela boca, enquanto a enxaguava após escovar os dentes. Saí do banheiro e levantei a mala que estava estirada no chão. olhava tudo atenta.
— Que foi? — perguntei a olhando e sorrindo, ela, então, sorriu fraco.
— Nada, é que é estranho ficar, tipo, dez dias sozinha — respondeu olhando para a mala.
— Ah, mas você sobrevive! — rimos. — Volto rapidinho, você vai ver. Também vou sentir sua falta, e outra, se não fosse esse seu emprego chato, estávamos indo juntas!
— Eu sei! Ai que ódio, ainda pedi pra ser dispensada esses dias, mas quem disse que a cara de monstro retardada deixou? — estava falando de sua chefe, num tom bem indignado.
— Vou aproveitar por você! — provoquei e ela mostrou o dedo, rindo. Meu celular começou a tocar e eu peguei a bolsa que estava em cima da estante, abrindo-a rapidamente. Era Michael, avisando que já estava lá embaixo. Guardei o celular novamente na bolsa e a apoiei no braço, puxando a mala de rodinhas. levantou e me seguiu. Fomos até a porta e a abri, pegando a mala em seguida. Caminhamos juntas até o primeiro degrau da escada, então me virei. Ela tinha os olhos cheios de lágrimas. Definitivamente odeio despedidas. — Se cuida, loira boba! — baguncei seus cabelos e a abracei, sentindo um nó na garganta.
— Se cuida você! Vê se não esquece de se prevenir! — brincou, se desvencilhando e enxugando algumas lágrimas teimosas.
— Não fica assim, cara. Vou só fazer uma viagenzinha, é rapidinho! — a abracei novamente. — E vai tomar no seu furinho, tá? Não vai ter nada que eu precise me prevenir, só se for do sol!
— Não nasci ontem não, meu bem. Agora vai, senão o Michael te deixa e você faz uma banda super esperada perder seu voo para encontrar suas fãs brasileiras — nos soltamos e eu dei um tapa leve em seu braço.
— Vou te ligar, tipo, todos os dias! Prometo! — prometi e ela assentiu, sorrindo.
— Boa viagem, amiga. Cuida dos meus dois homens, por favor. E curta as praias do Brasil por mim! — colocou as mãos no coração, suspirando e eu ri.
— Safada! Vou tentar — a abracei novamente, bem apertado, respirei fundo e a soltei. Virei-me e peguei a mala, desci as escadas com alguma dificuldade. Sou uma idiota, só fui lembrar disso quando já estava no último degrau. Eu tinha que ter pedido para o Michael me ajudar. Dããã. Voltei a puxar a mala e já vi o carro, Michael me esperava encostado nele e sorriu ao me ver, sorri de volta.
— Bom dia, senhorita — falou simpático, pegando a minha mala para colocar no porta-malas.
— Bom dia — retribuí e ele já veio abrir a porta do carro, agradeci e entrei. Ele entrou logo em seguida e deu partida. Olhei o caminho e senti o coração bater disparado. Eu estava realmente animada para conhecer o Brasil. As pessoas que conheço que já tiveram a oportunidade de ir, me disseram que o Rio tem uma das paisagens mais lindas que seus olhos já viram. Eu mal podia acreditar que estava tendo essa chance, de graça. Quer dizer, sendo paga por isso. Resolvi aceitar o convite de , duas semanas depois da proposta. participou disso tudo, é claro. Disse que era burrice recusar um convite desses, já que para ela eu obviamente gostava de e ele obviamente estava louco para que eu fosse com eles. Cedi, mas não tão facilmente, o fiz implorar um pouco, só para ter o ego aumentado. E, claro, continuei dizendo que isso seria como um ‘contrato’, mesmo sabendo que eu provavelmente recusaria seu pagamento, no fim das contas. Aquilo estava longe de ser um contrato. Pelo menos para mim. Eu não tinha muita certeza de como seria, e até me sentia feliz por isso. É horrível ficar tentando imaginar mil possibilidades e nenhuma delas ser a que prevalece. É melhor ter tudo em seu tempo, vou deixar o tempo me fazer surpresas. Cansei de sofrer por antecipação. Chegamos ao aeroporto e senti um frio anormal na barriga. Era a primeira vez em toda a minha vida que eu entraria em um avião. Não que eu não tivesse pensado nisso antes, mas a idéia de que a poucos minutos eu estaria voando parecia ser esmagadora. Desci do carro e Michael fechou a porta, ainda carregando a minha mala. Entramos no saguão e eu senti novamente o frio na barriga.
— Você está vendo aquela moça? — Michael perguntou, me acordando de um pequeno transe e eu olhei para onde apontava. Eu lembrava dela de algum lugar.
— Sim, o que tem? — perguntei olhando-a.
— Ela é a Lisa, é quem vai te ajudar no check-in e a ir para o avião — ele respondeu e tudo fez sentido. Aquela é a mulher para quem deu meu nome, no dia em que fui vê-lo no photoshoot na London Eye. Assenti e agradeci Michael mais uma vez. Ele foi muito simpático. Peguei a minha mala e fui até Lisa. Ela já me recebeu com um sorriso.
— Olá, Rachel — disse em um tom cordial e com um sorriso no rosto, sorri da mesma forma, ainda mais por ver que ela se lembrava de mim.
— Tudo bem? — perguntei e ela assentiu, me perguntando o mesmo. Depois fomos até um dos balcões de atendimento e a minha mala passou por uma esteira, para ir para o avião.

Fomos para uma sala de embarque, onde os meus documentos e os dela foram avaliados (individualmente, graças a Deus, senão meu segredo seria descoberto). Passamos e tive a bolsa revistada. Devolveram-me e saímos pela porta que dava acesso à pista, junto com algum funcionário do aeroporto. Ventava muito e eu mal conseguia me imaginar dentro de um avião. Vi vários aviões enormes, mas estávamos sendo levadas até um de tamanho menor, devia ser o que chamam de ‘jatinho particular’. Chegamos e já vi e conversando no meio da escada que dava acesso ao transporte. Eles me olharam sorridentes e eu subi as escadas, sendo seguida por Lisa. Cumprimentei os dois, que não me pouparam de piadinhas sobre o fato de estar viajando com . Entramos no avião e vi Harry conversando com um homem robusto, que devia ser o piloto. Olhei um pouco adiante e vi ao seu lado, também conversando empolgado. Harry foi quem me viu primeiro, e logo veio me abraçar. O abracei e abri os olhos durante o ato, vendo com as mãos nos bolsos e me olhando, praticamente ignorando o homem que conversava com ele. Harry me soltou e veio logo em seguida.

— Hey, se eu não estivesse te vendo aqui, não acreditaria — disse brincando com a ponta do meu nariz e me abraçando depois. Como ele estava cheiroso. Era o abraço mais aconchegante que eu já havia recebido.
— Pois eu estou aqui mesmo — falei e não resisti: dei um beijo em seu pescoço. Ele se desvencilhou e me olhou assustado, balancei a cabeça, rindo, e ele riu.
— Seu lugar é bem aqui, ao meu lado — apontou para um lugar vago, já que o outro estava sendo ocupado por um violão.
— Deixa de ser mandão, é tão egoísta que nem vai apresentar ela pra ninguém? — Harry brincou e o mandou ir à merda. Eles me apresentaram uma por uma, cada pessoa naquele voo. Todos foram muito simpáticos e eu me senti bastante à vontade. Até tinha esquecido onde estava.
— Eu sou , a única pessoa que é capaz de seduzir nesse avião — “apresentou-se”, se vangloriando, e eu lhe dei um pedala.
— E eu sou , a pessoa que originalmente diria isso, se o bobalhão aí não tivesse me plagiado.
— Se for assim eu sou Harry, a única pessoa que é tão original que não tem como ser imitada — concluiu e os dois amigos lhe deram cotoveladas.
— E eu sou , que aparentemente não tem nada na cabeça, por isso não formula uma apresentação decente — o ouvi falar atrás de mim e ri, os amigos concordaram. Lisa disse que já estávamos quase saindo, que era bom já sentar e apertar os cintos. Acho que a minha pressão despencou. Sentei depois de sentar, ele ia ao lado da janela. Apertei o cinto e segurei os braços da cadeira fortemente. — Nunca viajou de avião antes? — perguntou e eu o olhei, com um sorriso tímido.
— Primeira vez — respondi apreensiva e mordi o lábio inferior, olhando para frente, onde alguém checava se as portas estavam bem fechadas. Acordei do pequeno transe nervoso, sentindo a mão de ficar sobre a minha. O olhei bruscamente e ele me roubou um selinho, rindo.
— Vai dar tudo certo — piscou e eu continuei imóvel. Quem ele pensa que é pra me deixar tão nervosa? Fechei os olhos e fiquei na posição vertical, agora as nossas mãos estavam entrelaçadas sobre o braço da cadeira e eu apertava a sua, mas acho que para ele eu apenas estava massageando, já que sua mão tem duas vezes o tamanho da minha. O avião começou a andar e aumentar a velocidade, para poder subir. Cerrei os olhos fortemente e ouvi uma risada abafada de . Ele devia estar achando o meu pânico o máximo. O avião decolou e eu sentia como se a minha cabeça estivesse sendo separada do meu corpo, a minha audição pareceu sumir e meu ouvido começou a doer.
... — o cutuquei e ele me olhou, rindo.
— Que foi, medrosa?
— Tô com dor de ouvido — falei brigando com as minhas cordas vocais.
— Espera aí — levantou e saiu. O acompanhei com o olhar e ele foi até uma moça, falou algumas coisas e ela se levantou. Os dois entraram em um lugar e fecharam a porta. Olhei para o lado e dormia, de boca aberta, abraçado em um travesseiro. Como isso é possível? Harry estava concentrado em alguma música de seu Ipod e batia as mãos nas pernas, como se seguisse o ritmo da canção. estava mais adiante, mas não pude ver o que fazia, pois estava de costas. Senti fortes pontadas no ouvido e antes que pudesse reclamar, apareceu, segurando um copo com água e um comprimido. Ele se agachou ao meu lado e estendeu a mão. Peguei o comprimido e depois o copo. Tomei o remédio e bebi toda a água, colocando o copo em um saquinho que devia ser o lixo. sentou novamente ao meu lado.
— Obrigada — sorri cordialmente e ele deu um meio sorriso, me olhando nos olhos. Por alguns segundos eu até esqueci a dor que estava sentindo.
— De nada. Agora você vai ficar com muito sono. Eu costumava tomar isso em todas as viagens, logo que a gente fez a nossa primeira turnê. Agora acostumei, e você vai acostumar também, porque são mais de dez horas de viagem. Daqui para São Paulo você vai estar dançando loucamente, esquecendo que tá voando — ele tentou me consolar, mas eu quase não escutei uma palavra, porque vi a sua boca se mexendo em câmera lenta. É incrível, mas ver falando é outra coisa que me hipnotiza. Acho que eu fazia a cara mais bizarra do mundo ao vê-lo falar ali. Tanto que ele parou e riu. — Desculpa, acho que eu tagarelei demais.
— Não, você fica lindo falando tanto — disse e quis abrir a porta do avião e me atirar. Como eu sou imbecil. TONTA, TONTA, TONTA.
— É, acho que o remédio tá fazendo efeito. Você já tá deixando de falar coisa com coisa — zombou, dando tapinhas leves em minha cabeça, como se me fizesse dormir. Ri indignada e empurrei sua mão. riu alto e olhou para a janela. Comecei a procurar uma posição para dormir, mas não achava. Também comecei a sentir frio, cruzei os braços e as pernas e vi que sou uma otária por ter esquecido de trazer um casaco em mãos. — Não tá passando a dor? — perguntou ao me ver inquieta.
— Tá, é que eu não acho uma posição pra dormir e esqueci de trazer um casaco — respondi com os olhos entreabertos, já um pouco de lado. Vi passar um pouco por cima de mim e o coração acelerou. Pensei por instantes que ele me beijaria, mas apenas pressionou um botão e a cadeira deitou. Olhei assustada e sorrimos, um para o outro. Ele voltou para o seu lugar. — Sou muito da roça mesmo, nem sabia onde fazia isso — confessei envergonhada e deitei, de braços cruzados, fechando os olhos. começou a se mexer muito, abri os olhos bruscamente e o vi tirando o casaco que usava. Louco, aquilo estava congelando e ele tirando o casaco? Ri internamente e voltei a fechar os olhos. Foi então que senti algo quentinho me cobrindo e a mão de tocar um dos meus ombros sem querer. Abri os olhos mais uma vez, para me certificar de que não estava sonhando. — Não precisa, . Tá muito frio aqui — falei após ter a parte de cima do corpo coberta e vê-lo ajeitar-se em sua cadeira novamente.
— Você precisa mais disso do que eu — disse sorrindo fraco e eu corei. Pressionei o botão do braço de sua cadeira e ela abaixou. Ele me olhou, sem entender, e eu apenas gesticulei para que ele deitasse. deu de ombros, com um sorriso convencido, e deitou. Fiquei de lado e ele também, um de frente para o outro. Ele levantou o braço da cadeira que ficava entre os dois e o agradeci mentalmente. Aproximou-se mais e ficamos nos olhando. A essa altura, eu já havia esquecido de que tinha ouvidos ou qualquer outra parte do corpo. Não queria saber se estava em um período de menores proximidades com , só queria saber que naquele momento estar com ele era tudo o que precisava. Senti sua mão acariciar a minha cabeça e fechei os olhos. Senti que me puxava para perto de si e apenas obedeci, encaixando a cabeça na curva de seu pescoço e sentindo o seu perfume a cada inspiração. Abraçou-me forte, e eu me desligava cada vez mais do lugar onde realmente estava.

Abri os olhos bruscamente e dei de cara com um jato de luz. Minto, vários. Não estava entendendo muito bem o que acontecia, só fui começar a raciocinar quando ouvi risadinhas bastante conhecidas. Idiotas! Eram Harry e , tirando fotos minhas e de dormindo, er, abraçados. Coloquei as mãos no rosto para que parassem e começou a xingá-los, depois levantou e tentou tomar as câmeras. Já tinha me situado e até já ria da situação.

— Vocês são idiotas, hein? — falei me sentando e ajeitando a cadeira na posição vertical.
— Idiotas nada, a gente não podia perder esse momento tão romântico em nosso avião — disse colocando as mãos no coração e suspirando. Harry apenas concordava.
— Meu Deus, a cada dia que passa eu percebo que tenho amigos mais imbecis do que eu — reclamou, dando um pedala em cada um e saindo, ele ia para onde eu acredito ser a cozinha.
— Coitado, até o meu cachorro pensa mais do que ele — Harry cochichou e concordou.
— Coitadinho, deixem ele em paz! — defendi, prendendo a risada, e os dois se entreolharam surpresos.
— Huuuuuuummm, já tá até defendendo o amado! — tirou sarro, dando uma cotovelada em Harry e eu mostrei o dedo. Harry olhou para o lado e cutucou o amigo.
— Ei, vamos fazer uma sacanagem com o ? — convidou e prendeu a respiração.
— Eu não como ele nem f*dendo! — brincou e nós rimos.
— Já sei! — falei e fui olhada com espanto.
— Você tem certeza de que vai participar disso? — Harry perguntou atento e eu assenti. — Então ok, qual a sua idéia?
— Ele tem o sono pesado? — perguntei e os dois assentiram. — A gente podia maquiá-lo e tirar várias fotos com ele!
— Você é do @#$%, hein? Boa idéia, o vai ficar muito p. da vida! — comemorou, esfregando uma mão na outra, empolgado. voltou segurando uma lata de refrigerante. Contamos a nossa idéia e eu levantei, para começar o trabalho. mal se mexia, seria muito fácil. Peguei meu estojo de maquiagem na bolsa e primeiro passei rímel, depois comecei a passar sombra. disse para que eu pintasse um lado de cada cor. Pintei o direito de vermelho e o esquerdo de verde. Depois peguei o blush e deixei suas bochechas o mais rosadas possível. Os meninos acompanhavam tudo de perto e riam sem parar. Peguei o gloss e passei em seus lábios levemente, para que não o acordasse. Quando tudo estava feito, Harry teve a idéia de pegar um pincel e cada um escrever alguma coisa na testa e nas bochechas dele. Eu disse que já o tinha sacaneado demais, então agora era com eles três. Guardei a maquiagem em minha bolsa novamente e fiquei segurando a câmera, que eu acredito ser de . Cada um deixou uma palavra promíscua escrita em cada bochecha e na testa, estava muito engraçado. Eles se posicionaram, ao lado do amigo, posando para a foto e eu tirei várias, em várias poses. Nunca vi alguém ter o sono tão pesado! Pensamos em acordá-lo, mas disse que era melhor deixar que acordasse sozinho, assim pagaria mico, pois não saberia que estava daquele jeito. Fomos para o fundo do avião e Harry levou seu baralho, para jogarmos. Meu ouvido já não dava nenhum sinal de dor e eu estava profundamente feliz em estar ali.

Sentamos em círculo e começamos a jogar truco, vez ou outra, Lisa aparecia para nos dar bronca pela gritaria, já que não estávamos sozinhos no avião. Quando já passávamos da quarta partida, apareceu, ainda completamente maquiado e um pouco atordoado.

— Cara, tem um gosto doce na minha boca! — comentou, passando o dedo nos lábios e lambendo em seguida. Todos tentaram prender a risada.
— Vai ver você sonhou beijando a ! — respondeu dando de ombros e fingindo nem ligar. Harry soltou uma risada abafada.
— Não, se ele tivesse sonhado com a , ia sentir gosto de veneno! — foi completamente malvado e eu dei um tapa em sua perna.
— Cala a boca, vou ao banheiro — informou, saindo, e nós começamos a rir. Depois de alguns segundos, ouvimos muitos palavrões vindos do banheiro, ele com certeza tinha acabado de se olhar no espelho.
, cara, você guardou a câmera bem guardada, né? — Harry perguntou se certificando e fez sinal positivo.
— Guardei como se fosse ouro, o nunca poderá excluir essas fotos! — disse com um sorriso malicioso e nós rimos. Logo o prejudicado voltou do banheiro, xingando os amigos de todos os palavrões imagináveis.
— Foi a Rachel que fez todo o serviço, nós só escrevemos as coisas na sua cara! — denunciou, rindo e se esquivando dos socos que levava no braço. parou de bater nele e se virou para mim, incrédulo.
— Você vai assumir ou é mentira? — perguntou simplesmente e eu não aguentei, caí na risada.
— É MENTIRA, LÓGICO QUE É MENTIRA! — respondi em meio a gargalhadas. Ele olhou de mim para os amigos, todos confirmaram a história de e eu quis matá-los. Tudo bem que tinha mesmo sido eu, mas eles não precisavam me entregar! Levantei e saí correndo, veio atrás e eu me tranquei no banheiro.
— ABRE AQUI! — berrou quase derrubando a porta e eu não conseguia parar de rir. — ANDA, DONA RACHEL, VOCÊ VAI TIRAR PINTURA POR PINTURA DO MEU ROSTO, NEM QUE SEUS DEDOS CAIAM! — ordenou, já rindo. Eu já estava sufocada, não conseguia conter as gargalhadas. Abri a porta lentamente e entrou no banheiro com rapidez, nos trancando lá dentro.
, pelo amor que você tem por sei lá quem, abre isso, sou meio claustrofóbica e esse banheiro é pequeno demais para nós dois! — implorei, batendo em seu peito, pois ele estava parado em frente à porta, para não me deixar sair.
— Não, agora você vai me pagar! Vai tirar essa maquiagem todinha! — cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas. Resolvi me render.
— Tá, tá, senta aqui no vaso que eu te ajudo — sorri cordialmente e ele me obedeceu, então destranquei a porta e a deixei aberta, para entrar ar. Abri a torneira e coloquei papel em volta do pescoço de , para que sua roupa não ficasse alagada. Demorou muito até sair tudo, fiquei com os dedos manchados de tinta e ele agora ria da minha cara, dizendo que todos pensariam que eu era imunda e não tomava banho. Tentei tirar as sobras de pintura dos meus dedos, mas não consegui e desisti. Deixamos o banheiro e voltamos para onde os meninos estavam. estava sentado com o violão no colo, ao seu lado havia uma caneta e um caderno. Harry e discutiam algum assunto e vez ou outra dava a sua opinião.
— Eles estão compondo! — cochichou e aí eu passei a entender o que acontecia. Eles perceberam a nossa chegada e mandaram que sentássemos com eles. Sentei e foi pegar seu violão. me entregou o caderno e a caneta e disse para eu anotar o resto que tinham idéias para a letra da canção. Perguntei o motivo de estarem compondo e ele disse que estavam perto de gravar o novo álbum, o tempo que tinham para escrever era durante as viagens. voltou para a roda, já com o seu instrumento e sentou ao meu lado, fiquei entre ele e . e Harry estavam deitados de barriga para baixo e se apoiando com os cotovelos, de frente para mim. Enquanto e discutiam alguns acordes, olhei fixamente para o caderno, vendo a composição já iniciada.

Some people laugh
(Algumas pessoas riem)

Some people cry
(Algumas pessoas choram)

Some people live
(Algumas pessoas vivem)

Some people die
(Algumas pessoas morrem)

Some people run
(Algumas pessoas correm)

Right into the fire
(Em direção ao fogo)

Some people hide
(Algumas pessoas escondem)

Their every desire
(Cada desejo seu)

— Rachel? Você está aí? — acordei do pequeno transe durante a leitura com me chamando. O olhei e ele ria.
— Estou aqui! — respondi batendo continência.
— Então dá pra anotar o que o tá ditando? — perguntou ainda rindo.
— Descuuuulpa aí! — ri — Dá sim, fala, — me virei e o olhei, ele abaixou a cabeça rindo e respirou fundo, como se estivesse com preguiça de falar tudo de novo. — Vaaai, cabeçudo, fala logo — insisti impaciente e ele arregalou os olhos.
— Tá, mal educada, mas vê se escuta! — coçou a testa e começou. — But we are the lovers. If you don't believe me, then just look into my eyes 'cause the heart never lies (Mas nós somos os amantes. Se você não acredita em mim, apenas olhe nos meus olhos, porque o coração nunca mente) — falou devagar, quase que soletrando cada palavra e eu senti corar, as mãos gelarem e o coração bater acelerado. sorriu fraco e eu fiquei hipnotizada em seus grandes olhos azuis. Só acordei quando estalou o dedo e me mandou anotar. Tenho certeza de que percebeu a minha posição estática ao ouvir aquela parte da canção. Oh Deus, por que esse homem tem que me deixar assim?

(...)

Chegamos ao Brasil e ainda era dia. Lisa nos avisou que entrou em contato com pessoas do aeroporto de São Paulo e informaram que havia muitas fãs esperando pelos garotos. já foi dizendo que esta era a sua parte favorita da viagem, encontrar garotas lindas e estrangeiras. Os outros três concordaram, é claro. Como eu sabia que ia enfrentar um batalhão de pessoas, fotógrafos e sei lá mais o que, peguei meus óculos escuros na bolsa e fiz o favor de colocá-los. Minha fisionomia não devia ser das mais agradáveis, afinal foram mais de dez horas de viagem e dormi muito pouco. Os seguranças nos deram as recomendações e Lisa pediu para que eu fosse à frente com ela. Despedi-me dos quatro, só os encontraria no hotel. Deixei o avião e fomos até o saguão do aeroporto, realmente havia muitas fãs histéricas, com câmeras, celulares e tudo o que fosse possível para registrar a chegada de seus ídolos. Passamos sem ser incomodadas, afinal não éramos ninguém que elas esperavam. Saímos do aeroporto e uma van nos esperava. Lisa, mais três pessoas da equipe e eu entramos no veículo e fomos guiados até o hotel, muito luxuoso, por sinal. Durante o caminho, eu olhava tudo em volta, era a primeira vez que saía da Inglaterra e estar na América do Sul é realmente fascinante.

Olhei atenta cada prédio e viaduto que passávamos, São Paulo é muito diferente de Londres. Fiquei algum tempo no lobby do hotel, esperando Lisa pegar as chaves. Também encontramos fãs na porta, no lobby e em todo lugar. Eu fico pensando em como elas conseguem se infiltrar dessa forma, parece que são capazes de atravessar paredes, e isso é engraçado. Lidar com isso deve ser mais engraçado ainda. Tirei o celular da bolsa e comecei a jogar alguma coisa, quando percebi vários olhinhos atentos me observando. Elas usavam camisas da banda e tinham alguns CDs e revistas nas mãos. Dei um sorriso amarelo, porque estava realmente constrangida, e elas retribuiram. Deviam ter percebido que eu não era do mesmo lugar que elas e, certamente, desconfiaram de que eu estivesse com o McFly. Uma delas tomou coragem e veio falar comigo, em português, eu acredito, só para me testar. Respondi em inglês que não falo seu idioma e ela olhou para as outras, empolgada. Então, perguntou em um inglês arranhado de onde eu era, respondi que era da Inglaterra e ela perguntou se eu conhecia o McFly. Respondi que sim e as outras foram se aproximando, quando percebi, tinham ficado em volta de mim, me enchendo de perguntas, sondando se eu realmente estava com os garotos. Graças a Deus Lisa voltou com as chaves e me entregou uma, me despedi das sete garotas e fui para o elevador. Um funcionário do hotel nos acompanhou e mostrou os quartos. Fiquei tão impressionada ao saber que teria um quarto só para mim! Ainda mais em um hotel tão chique. Lisa me informou que a minha mala viria depois, que eu não me preocupasse, também falou que eu podia fazer ligações para quem quisesse. Entrei no quarto e fui logo tirando os óculos e o sapato. Joguei-me na cama e percebi o quanto era macia. Tudo tinha um cheiro bom. Alcancei o telefone, ainda deitada, e comecei a discar. Antes de sair de Londres, me ensinou como devia fazer para ligar para ela. O fiz, ela já devia estar em casa àquela hora, já que Londres tem muitas horas de diferença de São Paulo. Liguei para o seu celular e chamou várias vezes até que ela finalmente atendesse.

— Cheguei, amiga! — falei animada e ela deu gritinhos.
Como foi a viagem, biscate? — perguntou naquele seu tom carinhoso de sempre.
— Foi boa, no começo senti medo, mas depois acostumei. Ah, tive dor de ouvido também!
Mas é uma doente mesmo! — riu. — Foi divertido?
— Muito! Nós pintamos o enquanto dormia e tiramos várias fotos, o escondeu a câmera para ele não apagar, depois dou um jeito de te mandar!
Ah meu Deus! — gargalhou. — É até irônico isso acontecer, né?
— Pois é! — falei simplesmente.
Você tá querendo me contar alguma coisa, não tá? Pode ir falando!
— Por que você me conhece tão bem? Vá à merda! — brinquei e ela me xingou. — O foi um amor comigo — a ouvi prender a respiração.
Não, amiga, ele quer FAZER amor com você. — disse e soltou uma risada abafada, agora quem a xingou fui eu. — Pode dar detalhes! — típico da , detalhes!
— Te falei que tive dor de ouvido né, então, ele foi todo atencioso, pegou remédio pra mim, depois me deu o casaco dele porque eu estava com frio... — suspirei e ela gritou.
Estamos falando do mesmo ? — rimos — Brincadeira, bem que eu te falei, sua cabeça de pedra! Ele tava louco pra que você fosse!
— Será? Tenho medo de achar uma coisa e ele fazer outra, como sempre acontece!
, não é possível que ele tenha te arrastado da Inglaterra até o Brasil por nada. Acorda, garota!
— Talvez você tenha razão... E ele me roubou um selinho também.
COMO VOCÊ ESQUECE DE ME CONTAR ESSA PARTE, SUA @#$% DE QUINTA? — ouvi isso e quase chorei de rir.
— Isso foi bem antes do avião decolar, quando viu que eu estava nervosa! Acho que fez isso só pra me deixar em transe, idiota — bufei e me xingou mais uma vez.
Vou até mudar de assunto, porque senão vou tentar uma telepatia só pra te agredir. Você já encontrou alguma fã louca aí? Elas são que nem as daqui?
— Bom, eu vim pro hotel antes deles, vim com a Lisa e mais algumas pessoas da equipe. No saguão do aeroporto tinham várias, mas não deu pra saber se são como as daí porque não vi como foi quando eles passaram por elas. Mas, aqui no hotel, umas sete perceberam que eu não era brasileira e vieram puxar conversa, sondando. Devem ser piores do que as inglesas... Porque as inglesas os têm com mais frequência, né?
Nossa, se forem piores do que as daqui, vai ter gente voltando careca! — brincou e nós rimos. — E essa pessoa pode ser você!
— Cruzes, amiga! Nem brinca!
É, então vê se não cola em nenhum dos quatro, porque senão você vai ser, tipo, assassinada. Você vai com eles em todos os compromissos?
— Então, um pouco antes do avião descer, a Lisa conversou com a gente e eles disseram que querem que eu os acompanhe em tudo. Fiquei me achando “A” boa, né? — falei em tom de brincadeira e ela riu.
É uma filha da #@$% mesmo. Fica passando inveja! Deixa você comigo! Mas me diz, quando é o show deles?
— O show é só amanhã, mas hoje vão gravar um programa de TV. Daí domingo já tem show em outra cidade e eles participam ao vivo de outro programa. Ai meu Deus, estou até vendo alguém morrendo de sono nessa correria!
Ah não, , pode ir criando coragem aí, porque se você não aproveitar por mim, já sabe o que te espera. — rimos e eu ouvi baterem na porta.
, vou desligar agora, porque tem gente batendo aqui. Ah e adivinha só, tenho um quarto só pra mim! — suspirei e ela gritou.
É uma filhote do demônio! Vai lá, senão vão fazer você pagar essa ligação. — riu.
— Beijo, amiga, sinto sua falta, queria que você estivesse aqui me fazendo companhia — confessei desanimada.
Então, se você quer se sentir mais próxima de mim, vê se aproveita cada segundo, enlouquece aí e cuida dos meus dois maridos! Beijão. — falamos mais algumas coisas antes de desligar e finalmente bati o telefone. Levantei da cama e fui abrir a porta. Era um funcionário do hotel, com a minha mala. Agradeci e entrei no quarto novamente. Coloquei a mala em cima da cama e a abri, separando algumas peças para vestir após o banho e acompanhá-los na gravação de um programa de TV. Peguei uma toalha e fui até o banheiro.

Aquele lugar me lembrou muito os banheiros da casa de . A cor, a decoração, tudo. Mal pude conter a felicidade ao ver uma banheira de hidromassagem. Abri logo a torneira, para que enchesse e tirei a roupa com pressa. Não via a hora de deitar ali. Joguei alguns sais de banho e finalmente entrei. Deitei a cabeça na extremidade e fiquei ensaboando o corpo, depois apenas fechei os olhos e relaxei. Eu me sentia muito bem. A viagem tinha sido uma das melhores coisas que já me aconteceu. Esqueci qualquer frio na barriga por estar voando e apenas curti ao máximo o tempo com os quatro bobões que fazem o meu coração derreter, um deles em especial, mas vamos deixar isso para pensar depois, não quero tirar conclusões precipitadas. Relaxei tanto que me perdi em cochilos sucessivos, sendo acordada de maneira não muito legal: o telefone tocando. Saí da banheira feito louca e quase quebrei parte dos meus ossos com um escorregão. Enrolei-me na toalha e corri para atender. Era Lisa, avisando que sairíamos dentro de meia hora e que eu ia à frente com ela, novamente. Fiquei um pouco desanimada, queria muito ir com os garotos! Mas ok, a infiltrada ali era eu, então ia fazer tudo da forma que mandassem. Enxuguei-me com calma e escovei os dentes, depois me vesti rapidamente, de forma básica, pois percebi que no Brasil não tem muita formalidade, o que me anima assustadoramente. Vesti uma camiseta de mangas curtas, lilás, e uma calça cigarrete. Ao invés de calçar tênis, optei por uma sandália rasteira. Penteei o cabelo e passei um pouco de perfume. Fiquei olhando para o estojo de maquiagem, em dúvida, mas acabei tirando-o da bolsa e passando uma pintura leve. Apenas lápis de olho e gloss. Sentei na cama e liguei a televisão, não conhecia nenhum daqueles canais e muito menos entendia o que as pessoas deles falavam. Fiquei observando e rindo, é tão engraçado não entender nada! Tudo é motivo para dar risada, eles deviam fazer a mesma coisa quando viam programas ingleses, americanos e coisas do tipo. Desliguei a TV quando ouvi Lisa chamar, saí do quarto e tive esperança de dar de cara com um dos meninos, o que não aconteceu, pois eles estavam se arrumando. Descemos pelo elevador e fomos até a van.

Lisa me contou que algumas garotas conseguiram tirar fotos com eles e que arrancaram alguns fios de cabelo de . Fiquei realmente com dó e ciúmes, ao mesmo tempo. Observei caminho que fazíamos mais uma vez, agora para uma direção diferente. Segundo Lisa, estávamos indo para a Mtv brasileira, onde eles gravariam uma entrevista. Quando chegamos, já pude ver uma grande movimentação, bem maior do que a organizada na frente do hotel. Como essas meninas fazem para descobrir onde o McFly vai estar? Tenho que ficar boa nisso e começar a seguir o Oasis. Podia jurar que havia mais de cem fãs ali. Elas tinham cartazes e faziam o maior alvoroço. Quando perceberam a nossa van, correram para cima, mas ficaram desanimadas e acho que até resmungando quando viram que não era quem elas esperavam. Passamos sem muita dificuldade e entramos nos estúdios. Conhecemos os apresentadores, que foram muito simpáticos e até brincaram, me perguntando de quem eu era namorada. Respondi que de nenhum dos quatro, mas Lisa disse que todos queriam ser meus namorados, me deixando incrivelmente corada. Ficamos em uma sala esperando-os. Não demorou muito e chegaram, foi a primeira vez que vi depois de chegarmos e eu mal podia esperar! Ele estava tão lindo! Usava uma camisa xadrez e uma gravata preta, fina, que combinava com a calça também preta e justa. Seus cabelos levemente bagunçados davam todo um charme, que só ele tem. Quase suspirei ao vê-lo. Acho que a apresentadora do programa também, porque ficou vidrada ao cumprimentá-lo. Fiquei conversando com os garotos e eles foram chamados para começar a gravar, disseram que eu podia ir junto e ficar perto dos câmeras. Caminhamos por um longo corredor, para entrarmos em outra sala. e foram à frente, seguidos por Harry e Lisa, e eu ficamos por último e isso me deixou em crise.

— Vamos ter que mudar isso — falou simplesmente e eu fiquei sem entender, continuei caminhando.
— O quê? — perguntei tentando não olhá-lo.
— Esse negócio de você vir com a Lisa — ele respondeu mesmo isso? Estava dando pulinhos por dentro.
— Você acha? — fingi desinteresse, encarando-o, e ele assentiu, rindo.
Viramos à direita e já estávamos na sala de gravação. Acenei para e para os garotos e sentei na cadeira ao lado de Lisa, perto da equipe de filmagem.

Voltamos para o hotel e foi pedido o jantar, me chamou para jantar com ele e eu nem consegui disfarçar o entusiasmo, aceitei quase que na mesma hora que anunciou o convite. Fomos direto para o seu quarto. Ele sentou na cama e ligou a TV, me chamou para ficar ao seu lado e eu o fiz, tirando as sandálias antes.

— Isso não te lembra nada? — perguntou passeando pelos canais de TV, olhando fixamente para o controle.
— Hã?
— Nós dois aqui, num quarto de hotel, sentados e sem falar nada... — respondeu e aí sim eu entendi o que tentava dizer. Lembrei perfeitamente do dia em que o conheci. Sorri fraco ao perceber que me olhava e apenas assenti. Senti a sua mão ficar sobre a minha e assisti as duas se entrelaçando. Pena que isso durou pouco tempo, pois ouvimos baterem à porta e anunciarem que o jantar estava ali. soltou a minha mão bruscamente e foi até a porta, agradeceu e pegou o carrinho, trazendo para perto da cama. — Tô com uma fome desgraçada! — passou a mão na barriga e fez careta.
— Eu também! — falei sincera e ele arregalou os olhos. Bufei. — Que é? Não posso ter fome?
— Não, as mulheres não sentem esse tipo de coisa. Da mesma forma que não vão ao banheiro e tal — brincou e eu mostrei o dedo. Ele, então, começou a tirar a gravata e em seguida a camisa, me deixando hipnotizada. Depois pegou um prato e me deu, ficando com o outro. Aproximei-me dele, de joelhos, por cima da cama e ordenei que me servisse. Mais uma vez, fez as suas piadinhas machistas, mas acabou me servindo. Comemos na cama, vendo Simpsons, ríamos como retardados. Vez ou outra eu ria tanto que ficava sufocada, ele me olhava assustado e dizia que eu estava me transformando em alguém bruto e estranho, o que me fazia dar vários tapas em sua nuca. Depois que terminamos de comer, o que demorou, pois repetiu três vezes e eu duas, ele me acomodou em seu peito, me abraçando por trás.

As nossas mãos se encontraram e ficava brincando com a ponta de seus dedos sobre as costas de minhas mãos. Permanecemos daquele jeito por muito tempo, vendo mais e mais desenhos. A maior comunicação que tínhamos era através de gestos e, querendo ou não, é uma das mais valiosas, porque é só quando eu consigo pensar que ele pode estar querendo o mesmo que eu. Percebi que já ficava tarde e sabia que eles teriam de fazer passagem de som no outro dia, então me despedi de e voltei para o meu quarto. Com o coração na mão e a vontade de ficar ali com ele me perturbando. Nem sentia o chão ao passar pelo corredor. Entrei no quarto praticamente sorrindo para as paredes e me arrumei para dormir. Ficar daquele jeito com aquele cara sempre me faz bem, é incrível como um simples toque de suas mãos pode me fazer sentir idiotamente boba. Não precisei de beijos, palavras e mais nada, ter ficado abraçada a ele por algumas horas simplesmente valeu o meu mês. Não que eu não tivesse sentido vontade de beijá-lo, muito pelo contrário, tinha momentos em que era praticamente impossível controlar, mas como dizem: o silêncio pode dizer mais do que um milhão de palavras, beijos e qualquer outra coisa. Algo me diz que essa viagem vai ser muito melhor do que eu espero que seja.

Capítulo 20


(COLOCAR PARA CARREGAR:James Morrison - You give me something )

Acordei um pouco tarde, na verdade só acordei porque o fez questão de armar uma gritaria na porta do meu quarto. Tudo bem, eu mereço, afinal fui eu quem o pintou e deu a idéia no avião. Por mais que tivesse dormido como urso, parecia que nunca era o suficiente. Se eu soubesse que uma viagem dessas cansava tanto, teria dormido o voo inteiro. Tirei o babydoll e lavei o corpo rapidamente, afinal, segundo , o café da manhã seria retirado dali a quarenta minutos. Vesti uma bermuda jeans, não muito justa, e uma blusinha branca. Saí do quarto e só encontrei Harry no corredor, que disse também ter perdido a hora. Estava muito cheiroso, tinha acabado de sair do banho, eu podia sentir o cheiro de seu sabonete. Pegamos o elevador juntos e fomos conversando pouco, ele disse que acreditava que pediria para que eu ficasse no mesmo quarto que ele, quando estivéssemos em outras cidades. Corei e falei que era bobagem, é óbvio que o amigo não faria isso, mas Harry brincou dizendo que se não o fizesse, eu podia ir para o quarto dele. Chegamos ao lugar onde era servido o café da manhã e pude ver e tirando fotos com algumas fãs. Elas viram Harry chegando e logo correram para ficar ao seu lado e posar para uma fotografia, mas é óbvio que, quando me viram, lançaram aquele olhar 43 de ódio, fúria, ciúmes e tudo misturado. Fiz questão de sair de perto dele como um jato e me sentar sozinha, quer dizer, na mesma mesa que e , porém entre duas cadeiras vagas. Espera, onde estava o ? Olhei em volta e o vi se servindo, conversando com Lisa. Ele estava de óculos escuros, uma camisa branca e uma bermuda marfim. Extremamente lindo. Cumprimentei e , que estavam rindo da minha cara ao me pegarem analisando da cabeça aos pés. Apenas me fingi de desentendida e puxei algum assunto. Harry logo se aproximou e me chamou para me servir junto com ele. Bem na hora que levantei, sentou. Não sei se é coisa da minha cabeça, mas quando dei bom dia, notei que sua resposta foi um tanto quanto seca e ríspida. Ele só pode ter transtorno bipolar. Ok, respirei fundo e segui Harry. Peguei um prato e me servi com algumas frutas, ele me olhou fazendo careta e dizendo que não sabe como eu posso gostar daquilo, pegando logo pão e outras coisas. Rimos muito quando derramou uma boa quantidade de suco sobre a toalha de mesa.

Voltamos para onde os outros estavam e fiquei entre Harry e . Comemos e depois fomos para o quarto de Harry, jogamos muita conversa fora e e eu nos falamos pouquíssimas vezes. Ele não tinha mais aquela expressão rabugenta — porém charmosa — do café da manhã, mas também não parecia fazer muito esforço para uma comunicação sólida. Lisa entrou no quarto para avisar que a van já os esperava, eles iam para a casa de shows fazer a passagem de som. Todos pareciam já estar preparados para aquilo, pois apenas levantaram de onde estavam sentados e foram até a porta. Os segui, mas chegando ao corredor, mudei de direção, indo para o meu quarto. Fui supreendida por me chamando para ir com eles. , logo . Ri internamente e assenti, entrando no quarto apenas para pegar a minha bolsa e logo voltei para o corredor, para pegar o elevador com eles. Chegamos ao lobby do hotel e tive que esperar enquanto eles tiravam fotos com algumas fãs que os esperavam. Entramos na van e e eu ficamos lado a lado. Harry, e foram no banco à nossa frente; foi perto da janela e eu fiquei entre ele e um rapaz da equipe. Conversávamos com os três na frente, mas uma coisa aconteceu. passou o braço ao redor do meu pescoço e apoiou sua mão em meu ombro. Não aconteceu nada além disso, nem mesmo troca de olhares, pois ele conversava olhando o caminho que fazíamos. Infelizmente, chegamos à casa de shows e descemos. Ali foi bem tranquilo, acho que as fãs não conseguiram descobrir que estariam lá. Nunca tinha estado em um lugar vazio daqueles antes. Os meninos pareciam bem habituados, discutiam sobre a decoração do palco e tudo mais. Sentei de frente para o palco, no chão e eles foram até lá, testar os instrumentos. Foi muito engraçado. mal conseguia tocar, porque e o faziam querer rir o tempo inteiro. Harry era o mais concentrado, não desviava a atenção de sua bateria por nada e até dava bronca nos outros. No final da checagem, quando tudo estava certo, me chamaram ao palco, pelo microfone, me deixando extremamente tímida, porque toda a equipe de som, luz e etc. que estava presente ficou me observando. Quis matá-los. Subi no palco e Harry me chamou para tocar bateria. Neguei mil vezes, mas os meninos fizeram coro e pediram para que eu tocasse. Sentei e peguei as baquetas. Não devia ser tão difícil, era só bater, bater e bater.

Mas não. O ser humano é incrível. Eu olhei para aquele instrumento à minha frente e achei que seria perfeitamente capaz de tirar de letra. Tudo o que consegui foram boas gargalhadas e tiradas com a minha cara. Eu sou muito ruim. Harry tentou me ensinar algumas milhares de vezes, mas descobri que não tenho coordenação motora para aquilo. Ok, também não vou negar que me diverti muito! Dei muitas risadas junto com eles. Deixamos a casa de shows e voltamos para o hotel. Chegando lá, fomos avisados por Lisa de que os meninos tinham uma entrevista marcada para antes do almoço, seria para uma revista adolescente e seria no quarto de um deles. Fizeram sorteio e o quarto sorteado foi o de . Cada um foi para o seu quarto e ela prometeu que os avisaria quando a equipe chegasse. foi para o quarto de Harry, enquanto o seu estava sendo preparado para receber a revista.
Deitei em minha cama e liguei a TV, estava em algum noticiário brasileiro. Finalmente encontrei a BBC na TV a cabo, mas estava também em um noticiário. Não que eu não goste de me manter informada, mas essas coisas cansam. Olhei no relógio ao meu lado e somei as horas que seriam em Londres. Como era sábado, devia estar na casa dos pais, ela odiava ficar sozinha no nosso apartamento. Liguei para o seu celular e fui atendida por uma completamente histérica.

ESTOU SENTINDO MUITO A SUA FALTA, SUA VADIA BRASILEIRA! — foi dessa maneira que ela atendeu. Sem tirar e nem colocar.
— Obrigada pela parte do “vadia brasileira” — rimos. — Também estou sentindo a sua. Mas ainda bem que tenho me distraído muito por aqui!
Vagabunda. Vou ser sincera, tô com uma inveja do demônio! — estava demorando. — Como foi a primeira noite no hotel? — perguntou depois de ter berrado alguma coisa para alguém. Ela não devia mesmo estar em nosso apartamento.
— Muito relaxante! Apesar de que eu dormi feito um urso, mas nem parece. Muito cansativa essa viagem — respondi e em seguida suspirei. — Mas essa cama é demais!
E você acha que eu quero saber? — bufou e eu ri. Eu sabia onde ela queria chegar. — O que eu quero mesmo saber é se você e o tiveram mais algum contato, sua otária!
— Como se eu não soubesse que você ia perguntar isso! — falei e a ouvi agradecer aos céus. — Ele me chamou pra jantar com ele, em seu quarto.
E AÍ QUANDO VOCÊ ENTROU, ELE DISSE QUE O JANTAR SERIA VOCÊ? — prendeu a respiração e eu gargalhei.
— Ah claro, tipo, ‘oi, , vou te comer’. Tem ação mais romântica do que essa? Dããããã!
Como se você precisasse de romantismo. Eu sei que você é uma safada, já foi logo dando! — brincou e eu a xinguei, fazendo-a rir alto. — Tá, mas e aí?
— A gente viu desenho animado enquanto jantava e, depois que terminamos, ele me abraçou por trás e ficamos deitados vendo mais desenhos... — respondi simplesmente e ela gritou. — É, mas nem vai se empolgando, não teve nada mais do que isso. Saí de lá e vim pro meu quarto, dormi sozinha.
Que merda, hein? Nem conseguiu seduzir o macho! Se fosse boa ele tinha mandado você ficar. , você precisa urgentemente de uma aula sobre como fazer a dança do acasalamento!
— Cala a boca, sua retardada! — gritei e nós rimos. — Como vai tudo por aí? Você tá onde?
Ah, vai bem. Hello, só faz um dia que estamos distantes, você não acha que aconteceu muita coisa, né? — imitou um burro em seguida e eu bufei, rindo. — E a propósito, estou na casa dos meus pais. Meu pai me deu um notebook. Estou simplesmente a filha mais exemplar do mundo. — suspirou.
— Interesseira! Nem tem vergonha, né? Só é boa com os pais quando ganha presente!
Porra, te poupo de um gasto a mais e você ainda caga em mim? Cara, eu disse que GANHEI um notebook. GA-NHEI. Quer que eu desenhe?
— Tá, ô imbecil, você sabe o que fazer com esse notebook! — falei e caí na risada, para a minha surpresa, ela apenas gargalhou. — Amiga, você está bem?
Sim, mas não vou dizer mais nada, porque o que eu diria para você, o vai fazer. Então poupei a minha saliva.
, eu tenho pena de você. Porque quando eu chegar aí, pode ir se despedindo dessa cabeleira loira! — rimos e do nada ela ficou muda. — Que foi?
Quero te perguntar uma coisa, mas tenho vergonha.
— Ai meu Deus, que é?
O fala de mim? — foi a primeira vez que ouvi perguntar uma coisa com tanta cautela.
— AHHHHHH, TEM ALGUÉM INTERESSADA NISSO? — exagerei e ela me xingou.
Anda, serviçal do capeta, me responde!
— Na verdade, não. Mas amiga, a gente tem tido pouco tempo pra conversar... E você não quer que ele fique falando da ficante do amigo dele, quer?
Er, é verdade. Mas ele bem que podia te puxar pra um cantinho e te dizer ‘Oh céus, como eu sinto falta da . Ela é tão linda, tão sexy, tão perfeita.’ — suspirou.
— Tem certeza que você tá falando do mesmo que eu conheço? — perguntei num tom de voz sarcástico e ela riu — , vou desligar. Acho que a gente já tá há um tempão falando!
Isso que eu ia te dizer! Se cuida aí, viu? Tô sentindo muito a sua falta. — falou sincera e eu senti um aperto no peito.
— Awww sua idiotinha, não me faz ficar derretida. Vai passar logo, rapidinho a gente se vê de novo e volta àquela velha rotina.
Ô delícia, hein? — brincou e nós rimos. — Quando você me liga de novo?
— Não sei. O show deles aqui é hoje, daí amanhã à tarde vão tocar em um programa de TV e saindo de lá já embarcamos para outra cidade, onde fazem show amanhã mesmo. Vou tentar te ligar de lá, mas não é certeza!
Nossa, quanta coisa. — suspirou. — Vou esperar você ligar. Não esquece: aproveita muuuuuuito.
— Pode deixar! Vou aproveitar sim. E você se cuida e se alimenta direito.
Tá, mãe. Amo você. — disse com uma voz fofa e eu decidi que definitivamente preciso viajar mais vezes. A estava tão dócil!
— Também amo você. Até mais — desligamos e decidi sair do quarto.

Encontrei com no corredor e ele disse que a entrevista tinha sido adiada para depois do almoço, a pedidos de , que se dizia com o estômago estraçalhado. Já havia muitas pessoas no quarto de , deviam estar arrumando tudo. Vi algumas bexigas coloridas, creio que eles também fariam uma sessão de fotos. me abraçou pela cintura e depois me puxou até o elevador, perguntei pelos outros e ele disse que já estavam no restaurante do hotel, nos esperando. Enquanto o elevador fazia o seu percurso até o lobby, fiquei pensando no que havia me perguntado. Por que ela perguntaria se o havia falado dela? Eles não estavam só ‘se pegando’? Olhei para ao meu lado e realmente não conseguia entender como ela não estaria apaixonada por ele. Ele é tão carinhoso, atencioso. Espero que não esteja gostando dela, que esteja só curtindo.

Não me contive.

— O que rola entre você e a ? — perguntei enquanto o via encarar suas unhas roídas.
— Hein? — ergueu a cabeça, me olhou arqueando as sobrancelhas e riu.
— Não se faça de tonto! — dei um pedala em sua nuca e ele reclamou.
— Rola como assim?
— Tipo, vocês só se pegam ou tem sentimento? — fui bem direta e até me senti idiota por isso. devia estar me achando uma metida.
— Er, tem sentimento... — começou e eu senti dó dele. — Sentimento de prazer! — continuou, rindo alto, maliciosamente, e levou um tapa meu, no braço. — Brincadeira. Ah, eu gosto da , mas não daqueeeeeela forma, entende? É uma boa companhia — deu de ombros e eu assenti, aliviada. A porta do elevador se abriu e nós caminhamos até o restaurante, conversando sobre o show que eles fariam àquela noite e disse que estava ficando nervoso.

O restaurante fica um pouco distante do lobby e, quando chegamos, já foi recebido por algumas garotas histéricas — o que não é novidade — e eu já comecei a me acostumar com os olhares furiosos e assassinos. Então, o deixei com elas e segui para a mesa onde todos estavam. Harry estava em pé, autografando o encarte do CD para uma menina, mas me olhou e piscou quando me viu chegando. Acenei para ele e sentei na cadeira vaga, entre e . logo chegou e sentou ao lado de , mas antes autografou o CD e abraçou a menina que estava com Harry. Os meninos já haviam pedido a comida e começaram a conversar sobre o show desta noite, enquanto esperávamos. Pela primeira vez eu vi uma banda planejando setlist. Estavam planejando várias surpresas para os fãs brasileiros, muito empolgados. Eu apenas ouvia atenta, muitas das coisas que falavam eram grego para mim. Senti algo tocar a minha perna, percebi que passava a sua na minha, como forma de chamar atenção. O olhei e ele apenas sorriu, como criança. Sorri de volta e arqueei as sobrancelhas, sussurrando para que parasse. Ele balançou a cabeça, negando e ainda sorrindo de forma provocativa. Dei um tapa leve nas costas de sua mão, que estava apoiada no braço da minha cadeira e deu de ombros, afastando sua perna da minha. Olhei para o lado onde estava, apenas para disfarçar e passei meu pé na panturrilha de , que soltou uma risada abafada, colocando sua mão sobre a minha coxa, por baixo da toalha de mesa. O olhei indignada e ele piscou, fazendo uma cara cínica. Dei um tapa em sua mão e ele voltou a colocá-la no braço da minha cadeira. Olhei para o lado e vi que e observavam tudo, morrendo de rir. Mostrei o dedo e, por sorte, antes de falarem alguma brincadeirinha idiota, os garçons serviram o almoço. Pediram alguma comida típica do Brasil, que estava realmente deliciosa. O tempero é um pouco mais forte do que o que estávamos acostumados na Inglaterra, mas arrisco até dizer que é mil vezes mais gostoso. ficava me incomodando o tempo inteiro, roubava pedaços de carne do meu prato, me dava cotoveladas para que eu derramasse arroz... Dentre outros. Eu não deixei barato e dei tapas em sua mão diversas vezes, fazendo-o derrubar comida em sua calça.

Quando terminamos de comer, Lisa nos chamou para subir, a equipe da revista que os entrevistaria já os esperava no quarto de . Eles levantaram meio que contra a vontade, diziam estar cansados, mas os encorajei e disse que logo logo estariam fazendo o que gostam: tocando. Fomos todos para o elevador e foi muito engraçado, porque estava completamente lotado e a porta não quis abrir quando chegamos em nosso andar. começou a gritar, com os braços erguidos, dizendo que era jovem demais para morrer; já complementou, dizendo que era BONITO demais para morrer, então todos olharam para e disseram que ele podia morrer, porque era tão demente que não faria falta. Ele disse que quando todos estivessem dormindo, ia armar uma bagunça em seus quartos, acordando-os e derramando farinha em suas cabeças. Eu já nem conseguia mais rir, de tão nervosa. Tenho um certo problema com locais muito fechados e estávamos todos apertados, a única coisa boa foi o fato de estar colada em e receber um carinho grátis na nuca, como se adivinhasse que eu precisava de alguém para me acalmar. Finalmente a manutenção foi feita e conseguimos deixar o local. Demos de cara com algumas pessoas da revista, e também com o entrevistador, que nos recebeu muito bem. Mais uma vez perguntou se eu era namorada de algum deles e eu neguei, mas Harry me cortou, dizendo que estávamos juntos e era segredo, pois casaríamos no próximo verão. O rapaz riu, acho que não acreditou muito, porque Harry, os meninos e eu ríamos alto. Eles pediram licença para escovar os dentes, tinham acabado de almoçar. Enquanto isso, entrei no quarto de , seguida por Lisa. Fomos bem recebidas pelo fotógrafo e sua equipe, havia muitas bexigas espalhadas pelo cômodo, principalmente em cima da cama. O câmera entrou e ajeitou seus equipamentos. Sentei em uma cadeira próxima à porta e vi os meninos entrarem no quarto, em fileira, sendo cumprimentados por todos e indo direto para a cama. O entrevistador entrou e sentou próximo a eles, conversando um pouco antes de começar a gravar. Todos os presentes riam muito, os garotos não pouparam ninguém de suas brincadeiras e alfinetadas. O câmera foi autorizado e a gravação começou.

Assisti tudo, atenta, dei boas risadas deles tentando falar português e das tiradas que davam no pobre repórter. Mais um ponto para o McFly: eles são o que são. Depois da gravação, fizeram uma sessão de fotos, que também estava sendo filmada. Harry não parava de cutucar e acusar , que negava, mas mesmo assim levava bons tapas do amigo. inventou de ficar sem blusa, mas deu tapas em sua barriga, o que o fez se vestir novamente. Era impossível não dar gargalhadas. Quando tudo terminou, saímos do quarto para que tudo fosse retirado e nos despedimos da equipe, indo para o quarto de .

— A gente podia tocar uma música brasileira, assim, só uma intro — sugeriu e os outros assentiram.
— Tá, mas qual canção? — Harry perguntou pegando latas de refrigerante no frigobar e distribuindo para cada um no quarto.
— Ah gente, tem a Garota de Ipanema... — falei e fui aplaudida, e fizeram reverência e eu ri.
— Acho que de Ipanema seria melhor, afinal, sou eu, né? — se vangloriou e foi vaiado. — E antes que eu me esqueça... Harry, cara, quem você pensa que é pra ficar mexendo no meu frigobar?
— Seu marido — respondeu brincando e todos fizeram “hum” em coro. colocou as mãos no coração e suspirou.
— A idéia da Rachel é ótima, mas a gente tem que começar a pegar logo as cifras e tudo mais — disse e em seguida pediu o notebook de emprestado, depois foi até seu quarto e pegou o violão. Começamos a pesquisar na internet a introdução da canção cifrada. Com muita rapidez, e conseguiram tocá-la, mas disseram que na guitarra seria surpresa até para eles mesmos. expulsou todo mundo de seu quarto, pois disse que tomaria banho e descansaria até o concerto. O quarto de ficou livre e ele foi para lá, Harry e foram para seus respectivos quartos e eu fiz o mesmo. Joguei-me na cama e ativei o despertador do relógio que havia no criado mudo. Deitei de bruços e foi questão de segundos para que eu dormisse.

Fui acordada pelo despertador e tomei o banho mais rápido da minha vida, depois vesti uma calça jeans e coloquei uma camiseta preta. Calcei meu all star e enxuguei o cabelo mais uma vez. Penteei e passei um pouco de perfume. Por sorte, quando bateram na porta do quarto, eu já estava completamente pronta. Desliguei a TV, as luzes e deixei o cômodo. Os garotos já estavam no lobby e, enquanto estávamos no elevador, Lisa disse que eu iria com eles, porque exigiram tal fato. Claro que me senti lisonjeada. Os encontrei e fomos direto para a van. Fiquei entre e Harry; e foram atrás, estavam discutindo algo sobre surpresas para as brasileiras. Fiquei conversando com os dois ao meu lado e sendo a barreira para que não se estapeassem. se gabava cada vez mais e Harry tirava onda com as suas palavras, o que o deixava enfurecido. Chegamos à casa de shows e havia uma multidão do lado de fora, arrodeamos e entramos por um lugar alternativo. Quando chegamos ao camarim, fomos até uma salinha, onde havia um grande banquete esperando pelos astros. Eles comemoraram e se serviram, eu já estava com fome e fiz o mesmo, mas não precisei me servir. disse que faria isso por mim, o que me deixou boba e em transe. Fiquei ao seu lado, dizendo o que queria e o que não queria, e dizendo para que colocasse mais ou menos. Ele disse que me cobraria depois e eu apenas agradeci, pegando o prato e ignorando seu olhar cínico. Sentei ao lado de e ficamos conversando até avisarem que as fãs estavam na sala ao lado, para o Meet & Greet. Os meninos terminaram de comer e saíram da sala para falar com elas. Fui junto, abraçada a Harry. Para variar, recebi olhares de reprovação e ele apenas riu abafado, dizendo que eu seria odiada pelas fãs deles. O soltei e deixei que fosse falar com elas. Fiquei observando de longe, escorada na porta e quase dei um grito quando uma delas pediu para tirar foto dando selinho em . O imbecil topou e eu quis arrancar mais tufos de seu cabelo. Depois que tudo aconteceu, era a hora de subirem ao palco. Abracei um por um e lhes desejei sorte. O último a me abraçar foi e, na verdade, foi o abraço mais duradouro. Encaixei a cabeça na curva de seu pescoço e senti aquele cheiro que tanto me agrada. Ele me deu vários beijos estalados na bochecha e disse que não era para eu deixar a lateral do palco um minuto sequer. Sim, enlouqueci com seu pedido e quase fui idiota e disse ‘nunca, meu príncipe encantado’. Ainda bem que apenas assenti e soltei um beijo, vendo-o se afastar. Esperei Lisa para que subíssemos juntas.

Fiquei na lateral próxima a e . Surpreendi-me ao saber o refrão de algumas músicas. me olhou várias vezes e piscou, sorrindo. Apenas sorri de volta, para não parecer tão afetada positivamente com tudo aquilo. O show foi muito divertido, a platéia brasileira realmente tem um diferencial. Consegue ser ainda mais insana do que a inglesa. e tiraram de letra a intro de Garota de Ipanema, os levando à loucura. É incrível como eles gritam o máximo que podem e ainda conseguem cantar canção por canção. Haja voz e força de vontade. Os meninos estavam cada vez mais suados e empolgados, pareciam crianças. Quanto mais ouviam as pessoas berrando as músicas, mais pulavam e sorriam. Quando dei por mim, estava tão suada e empolgada quanto eles. Fiquei realmente feliz em ver o quanto são queridos.

A última música foi tocada e um coro desanimado pôde ser ouvido. O público insistiu por mais uma canção e eles tocaram uma música surpresa. “Just My Luck”. Meu coração começou a bater junto com Harry na bateria, veio para perto de mim e começou a dançar comigo. Torci para que ninguém conseguisse ver aquilo, pois seria apedrejada. me olhou apenas no último refrão, sorrindo cordialmente e eu fiz o mesmo. O concerto terminou e Lisa me entregou as toalhas, para que eu distribuisse para cada um quando passassem por mim. O fiz e disse que fizeram um ótimo show, eles agradeceram, molhados de tanto suor. Logo entramos na van, e e eu ficamos lado a lado, sozinhos, no último banco. Parecia que aquilo tudo tinha sido esquematizado, porque os meninos fizeram uma confusão para que eu entrasse primeiro, então entrou em seguida e nenhum deles quis ficar com a gente. Apenas apoiei as mãos em minhas coxas e fiquei olhando para o caminho de volta para o hotel. tirou a camisa e respirou fundo, o olhei e ele me olhou com cara de cão abandonado.

— Posso deitar aí? — perguntou olhando para o meu colo e me encarando depois.
— Acho que não, você tá muito suado! — brinquei e ele riu.
— Como se isso importasse muito... — provocou e eu dei um tapa em seu braço. — Que é? Tô falando alguma mentira?
— Sim, todas. Só quero homens cheirosos e limpos perto de mim, sai — o empurrei e ele fechou a cara.
— Ah é? Então quando você vier toda carente me procurar, vou te chutar, vai voltar com o rabinho entre as pernas. Espera pra ver! — fez bico e depois riu.
— Ouuuun, vem aqui, seu revoltado — puxei-o pelos ombros e ele me empurrou.
— Não, fica aí com a sua limpeza — cruzou os braços e olhou para frente, me ignorando. Flexionei-me um pouco e virei sua cabeça para a minha direção, mas insistia em não me encarar.
— Então tá, seu orgulhoso, fica aí com o seu cansaço — dei de ombros e cruzei os braços, olhando para a janela. Não demorou muito até que eu sentisse a sua cabeça em meu colo. Da mesma forma que fez na London Eye. Deitou de barriga para cima e senti que me olhava, porém continuei olhando para a janela e fingindo não perceber. descruzou os meus braços e colocou uma mão minha em sua cabeça e a outra em seu peito.
— Quero carinho — pediu, fechando os olhos e sorrindo. Fiquei em estado de choque e o olhei fixamente. Ele abriu os olhos de forma brusca e me olhou, sério. — Tô esperando.
— Folgado — dei um tapa em seu peito e ele riu, sorri de volta e ficamos nos olhando, enquanto a minha outra mão estava encaixada em seus cabelos, massageando sua cabeça. voltou a fechar os olhos, suspirando.
— Senti falta desse carinho... — confessou em tom baixo e eu nem consegui acreditar que tinha escutado aquilo. — Por dias — continuou e eu estava quase em estado frenético.
— Eu também senti falta da sua cabeça no meu colo — admiti, sem me arrepender, porque abriu os olhos e sorriu, mostrando todos os dentes. Ficamos em silêncio até chegar ao hotel, apenas trocando olhares e carinhos. Sua mão ficou sobre a minha, que acariciava seu peito nu durante a maior parte do percurso. Estava enlouquecendo de tanta vontade de estar nos braços dele, mas tinha que me segurar. Eu havia prometido para mim mesma que acabaria com qualquer coisa que nós tivéssemos. Apesar de ser difícil continuar com essa promessa vendo-o ali, tão lindo.

Chegamos em nosso andar e me despedi dos meninos, que estavam muito cansados, tinha sido realmente uma grande noite. Entrei em meu quarto e tirei o tênis, depois a meia, e fiquei olhando para a porta do banheiro. Tentava criar coragem para ir até lá, tomar banho. Respirei fundo e o telefone tocou. Estranhei, mas pensei que podia ser , nunca se sabe. Fiquei preocupada e corri para atender.

— Alô? — falei impaciente, querendo, na verdade, dizer ‘quem é, o que está acontecendo?’.
Assistir Simpsons sem você não está sendo a mesma coisa. — era . Oh meu Deus, nem preciso dizer que sorri como uma adolescente imbecil.
— Ah é? E daí? — provoquei.
Nossa, sua voz é tão tentadora quando você me corta.
— Tentadora em que sentido?
Sexy?! — riu alto.
— Vai dormir, — falei rindo.
Não sem você.
— Cala a boca!
Vem calar.
— Olha que eu vou, hein?! — brinquei.
Puts, não provoca.
— Não tô te provocando, nem quero nada com você!
É, mas eu quero com você.
— É, mas vai ficar querendo.
Não por muito tempo, então se fosse você, aproveitava.
— E você é o centro do universo, né? — rimos.
Não, eu sou o universo completo.
— Você realmente precisa dormir.
Repito, não sem você.
— Não vou dormir aí, nem adianta! — falei com uma voz brava, mas na verdade queria rir.
Tá, mas ver Simpsons pode? — fez uma voz mimada e eu ri, me derretendo.
— Quem sabe. Com que intenções seria esse ‘assistir’?
As melhores e mais retardadas possíveis. Quer fazer o favor de vir logo? Tchau. — desligou o telefone na minha cara e eu fiquei incrivelmente passada com aquilo. Ri internamente de como pode ser tão louco. Ir ou não ir? Não, eu não vou, definitivamente. Sim, eu vou. Não, mas se eu for não vou resistir. Ok, mas e daí? Pode ser que nem role nada. Melhor pagar pra ver.

Respirei fundo e pensei fixamente que não poderia ficar lá por muito tempo, porque tinha que voltar para o meu quarto, para tomar banho. Desliguei a luz e saí do local. Caminhei lentamente, em direção ao quarto de , descalça. A porta estava entreaberta. Quando entrei, ele estava em pé, na frente da TV, só de boxers, e com o controle na mão. Desviou o olhar dela e me olhou, sorrindo.

— Você é louco de deixar a porta aberta? — perguntei ainda parada, segurando a maçaneta. Ele jogou o controle em cima da cama.
— Eu sabia que você viria — sorriu maliciosamente e veio em minha direção.
— Ah, sabia? Então você tá desse jeito? — perguntei indignada, com as mãos na cintura. apenas assentiu, ficando parado em minha frente e aproximando seu rosto do meu. Quando pensei que ele me beijaria, virei o rosto.
— Eu não vou te beijar... — disse em meu ouvido e se afastou, o olhei bruscamente. — Não agora — deu um meio sorriso.
— Idiota! — o empurrei rindo e fui até a cama. Ele fechou a porta e ouvi quando passou a chave. Sentei na beira e logo sentou ao meu lado.
— Você não tomou banho? Eca — fez careta. Dei um tapa em sua coxa. — Só quero gente limpa na minha cama — me imitou e eu ri.
— Olha só quem fala! Pelo jeito você não é o mais limpo daqui, . — o olhei arqueando as sobrancelhas e ele fez careta, mostrando a língua.
— É, mas o quarto é meu! — rebateu com uma expressão irritada.
— Sério? Então vou pro meu quarto. — levantei e prendi o riso. Ele me puxou bruscamente, me derrubando na cama e ficando por cima de mim, prendendo os meus pulsos.
— Não, tô brincando! — falou rindo e me segurando com força.
— Então pede desculpa. — falei tentando me soltar.
— Desculpa? — fez bico e eu acho que os meus olhos brilharam.
— Sim, mas me solta — me soltou e eu sentei novamente, arrumando os cabelos.
— Quer refrigerante? — perguntou levantando e indo até o frigobar.
— Quero — respondi simplesmente e ele me entregou uma lata, ficando com a outra. Olhei para a TV e Os Simpsons voltavam do comercial, cutuquei , que estava lendo o rótulo do refrigerante, e ele agradeceu. Ficamos assistindo e tomando Coca-Cola, mais uma vez rindo como retardados. Ele inventou que eu parecia a Lisa Simpson, era mandona e chata. Agradeci, porque Lisa é muito inteligente. Então, falei que ele parecia o Homer, burro e porco. Ficou magoado e me expulsou do quarto, mas não deixou que eu saísse novamente. Depois que o desenho acabou, jogamos as latinhas no lixo e voltamos para a cama.
— Seu cabelo precisa de um corte — falei passando a mão na ponta de seus cabelos, notando algumas duplas.
— Não me importa — deu de ombros e eu fechei a cara. — Brincadeira — me abraçou e beijou a minha bochecha.
— É? Então você deixa eu cortar o seu cabelo? — perguntei animada e ele me olhou espantado.
— Claro que não! Eu amo o meu cabelo! — alisou o cabelo e balançou a cabeça.
! — levantei e coloquei as mãos na cintura. — Eu sei cortar cabelo, juro — bati o pé e ele riu. — Eu costumava cortar o cabelo da minha vizinha e era muito boa nisso! — não menti. Eu realmente aparava os fios de Carol e até os meus. Ao olhar para o cabelo de , tive várias idéias.
— Ok, vou confiar em você — disse em um tom encorajador e eu nem acreditei naquilo.
— Você tá falando sério? — arregalei os olhos e ri. Ele assentiu, com firmeza. — Tem uma tesoura aí?
— Não... Mas devem ter na recepção, né?
, você tem certeza que vai ligar pra recepção e pedir uma tesoura?
— Sim! Agora mesmo! — levantou da cama e foi até o telefone, fazendo o que tinha dito. Eu ria muito, porque a atendente parecia não acreditar no que ele estava pedindo. Ficamos esperando algum tempo, até que bateram na porta e entregaram a tesoura a . Por sorte, não mandaram tesoura de papel. — Sou todo seu, me use — me entregou a tesoura e eu sorri fraco.
— Vai pro banheiro e molha esse cabelo, com ele molhado é mais fácil! — ordenei e ele nem questionou, correu para o banheiro e depois de alguns segundos voltou com uma toalha em volta do pescoço e os cabelos completamente úmidos. — Acho melhor sentar no chão, né?
— Não, acho melhor a gente fazer isso no banheiro mesmo. Perto da banheira — sugeriu e eu concordei, então fomos até o banheiro e sentou no tablado próximo à banheira, de frente para o enorme espelho que havia ali. Mandei que mantivesse a postura e peguei um pente fino, desembaraçando seu cabelo e repensando seu corte. — Vê se não corta demais, também — pediu, preocupado, e eu ri.
— Você disse que confiava em mim, agora cala a boca e espera — ordenei e ele bateu continência. Comecei a cortar atrás. Não ia diminuir muito o comprimento ali, só tirar algumas pontas secas. Quando fui chegando à parte perto de sua orelha, cerrou os olhos, com medo, e eu ri alto. Estava ficando muito bom, modéstia à parte. Depois mandei que ficasse de frente para mim, ele se virou e eu penteei a parte da frente. Faria uma “franja” que ficaria perfeita nele. E também, eu já sabia que seu rosto se encaixava perfeitamente naquele tipo de corte. Mandei que fechasse os olhos, para não entrar cabelo, e o fez. Cortei um pouco abaixo da sobrancelha e penteei. Olhei algumas vezes de novo, para ver se já estava realmente pronto. Dei alguns últimos retoques e o autorizei a olhar. Fiquei com medo de que não gostasse, mas no fundo sabia que tinha feito um bom trabalho e que suas fãs loucas ficariam mais loucas ainda. sorriu e ficou se olhando por um bom tempo, colocava o cabelo para um lado, para o outro, bagunçava, arrumava e eu apenas ficava admirando-o, com os braços cruzados.
— Obrigado, ficou f*da! — falou se levantando e tirando a toalha que tinha em volta do pescoço. Abraçou-me pela cintura e me deu vários beijos na bochecha.
— De nada, você gostou mesmo? — perguntei sorrindo ao vê-lo contente com o corte.
— Muito! — me olhou carinhoso e depois brincou com a ponta do meu nariz.
— Tenho que lavar isso pra gente devolver! — mostrei a tesoura e ele assentiu, sorrindo. Virei-me e abri a torneira, lavando a tesoura. começou a encher a banheira, disse que tomaria banho. — Vou indo, tenho que tomar banho também, aproveito e devolvo isso — falei enxugando a tesoura e o olhando agachado perto da banheira. Ele apenas me olhou e concordou. Flexionei-me e dei um beijo no topo de sua cabeça. Deixei o banheiro e voltei para o quarto, vi o celular de perto da TV e me segurei para não mexer em nada. Apesar de a curiosidade ser matante. Respirei fundo e tentei ignorar meus pensamentos. Continuei andando.
? Você tá aí ainda? — ouvi gritar do banheiro e pensei duas vezes em responder ou não. Mas sabe lá.
— Sim, que foi?
— Esqueci de pegar a minha toalha, ela tá na cadeira perto da cama! — respondeu e eu larguei a tesoura perto da TV, ao lado do celular. Fui até a tal cadeira, peguei sua toalha e me dirigi ao banheiro.

(Coloque a canção para tocar)

— Aqui — falei estendendo-a para que ele pegasse, mas ao invés de simplesmente pegar a toalha, pegou em minha mão e fez o que eu não esperava que fizesse. Puxou-me com toda a sua força, me derrubando na banheira, sobre ele. A toalha ficou submersa e eu toda molhada e tossindo, devido à espuma que entrou em meu nariz. Ele gargalhava e eu tentava empurrá-lo com as mãos espalmadas em seu peitoral, mas não tive sucesso, porque já era segurada pela cintura. Parei de lutar quando levou uma de suas mãos à minha nuca e me puxou, me beijando com urgência. Senti o corpo todo ficar dormente e apenas me entreguei. O abracei em volta do pescoço e deixei suas pernas entre as minhas. Como eu tinha sentido falta daquele toque, daquele beijo, daquele abraço. cessou o beijo e me olhou. — Idiota — xinguei rindo, corada.
— Que tal você ficar que nem eu? — propôs, arqueando as sobrancelhas e rindo maliciosamente. Eu já havia entendido o que queria dizer, já que estava pelado. Balancei a cabeça negando e ele fingiu nem se importar, levantando a minha blusa sem a minha permissão.
— Para, ! — gritei, dando um tapa em sua mão.
— Nossa, me chama assim de novo, com essa raiva! — disse antes de morder meu lábio inferior e encaixou a mão em meu cabelo, com força. Foi questão de centésimos para que estivéssemos nos beijando de novo, numa intensidade ainda maior. parecia estar sentindo a minha falta da mesma forma que eu senti a dele.

Quando dei por mim, já estava nua, sentada em seu colo e nem me importando se a luz do banheiro estava acesa e se havia um enorme espelho ao nosso lado. Só sabia que era ali onde eu queria estar. estava incrivelmente carinhoso, uma de suas mãos sempre estava me acariciando em algum lugar, ora nos cabelos, ora nas bochechas. À medida que nos movimentávamos, sentia a água batendo e notava que nosso suor começava a se misturar com ela. Quanto mais prazer sentia, mais cravava as minhas unhas em suas costas e o arranhava. Ele, por sua vez, sugava o meu pescoço como se fosse a última coisa que faria na vida. Suas mãos passeavam pelo meu corpo e eu já nem conseguia lembrar quando tinha sentido alguma tristeza ou algum arrependimento. Tudo parecia se encaixar perfeitamente, assim como o corpo dele ao meu. Comecei a sentir as pernas vacilarem e um calafrio bom percorrer o meu corpo, soltei um gemido abafado e logo caí ao lado de , com os olhos fechados e respirando ofegante. Ele riu alto e também tinha dificuldades para se recompor. Nossas mãos se encontraram embaixo d’água e ficaram entrelaçadas. As nossas cabeças estavam encostadas e quando abri os olhos, notei que ele estava me olhando. Não parecia aquele seu olhar de sempre, era como se ele me dissesse tudo o que eu precisava ouvir só com aqueles olhos azuis atentos em cada movimento meu. O encarei e sorri fraco, fez o mesmo, e acariciou a minha bochecha, me dando um selinho demorado em seguida, ainda massageando-a.

— Você fica linda cansada — me deixou completamente corada.
— E você fica lindo tentando me deixar sem graça — dei um tapa leve em sua bochecha.
— É? Então vou aproveitar. Senti a sua falta como um imbecil esses dias — ele conseguiu. Escondi o rosto com as mãos e o lindo babaca gargalhou, ficando por cima de mim e tentando tirá-las. — Tira a mão do rosto e me diz o mesmo! — brincou e eu comecei a rir, ficando sem forças e cedendo. Ele se apoiou na extremidade da banheira e começou a me beijar desde a testa até o queixo — Não vai falar? — disse depois de mordiscar a minha bochecha e eu sorri completamente envergonhada.
— Não — neguei simplesmente e ele aproveitou que estava sobre mim para jogar um jato de água em meu rosto, me deixando completamente engasgada. — Socorro! — gritei e ele tampou a minha boca, mandando não fazer escândalo. Apenas sorri e sentou ao meu lado, me puxando e colocando a minha cabeça em seu peito. Acariciei seu peitoral e senti seus dedos brincarem em meu pescoço.

“'Cause you give me something
(Porque você me dá algo)

That makes me scared, alright,
(Que me faz sentir medo)

This could be nothing
(Isso poderia ser nada)

But I'm willing to give it a try,
(Mas eu estou disposto a tentar)

Please give me something,
(Por favor, me dê algum sinal)

'Cause you give me something
That makes me scared, alright,
This could be nothing
But I'm willing to give it a try,
Please give me something

'Cause someday I might know my heart.
(Para que algum dia eu conheça meu coração)

Know my heart, know my heart, know my heart”

Capítulo 21


Três dias se passaram desde o ‘incidente’ da banheira. As coisas não podiam estar melhores entre e eu. Tudo aconteceu exatamente como Harry disse: nas cidades seguintes, pediu para que ficássemos no mesmo quarto, ou seja, dormíamos juntos... E de conchinha. Ah, antes que eu esqueça: ainda tenho que matá-lo, porque após sairmos da banheira naquele dia, ele me fez ir só de toalha até o meu quarto para poder vestir um babydoll. É, mas tem sido tão atencioso que nem tenho do que reclamar. E antes que eu me esqueça, parte dois: seu novo corte de cabelo foi muito bem aceito.

O McFly acabou de tocar em Brasília, capital do país. Foi um ótimo show, tão animado e energizante quanto os anteriores. Voltamos para o hotel, tomamos banho e nos reunimos no quarto de . Tinha virado costume fazer ‘festinhas’ pós show. e eu sentamos no chão, fiquei de costas para ele, entre suas pernas e fui envolvida por um braço seu, em volta cintura. Estávamos naquele clima de ‘casal’, eu mal podia acreditar. Os outros três não deixaram de nos perturbar, é lógico. Principalmente , que cantava vitória por ser o primeiro a desconfiar de que tínhamos alguma coisa.

— Caramba, estou sentindo muito a falta da minha loira, cara — desabafou, me entregando uma garrafa de cerveja e olhando para , que riu.
— Bom mesmo, ela vai te matar se souber que só lembrou dela hoje — falei rindo.
— Nossa, mas como que esquece uma mulher daquela? — Harry perguntou suspirando e levou um tapa no braço, dado por .
— Se enxerga, Haz — disse indignado e tomou uma boa golada de cerveja.
— Grande coisa. Com esse monte de mulher bonita e gostosa no Brasil, quem fica lembrando da ? — perguntou debochado. Joguei a tampa da minha garrafa de cerveja em sua perna e ele me mostrou o dedo.
— É, , só que só em sonho você consegue pegar uma garota tão linda quanto ela. Então vai sonhando — se vangloriou e soltou um riso abafado. Dei uma cotovelada em seu abdômen e ele reclamou.
— Eu costumo ter esses sonhos muitas vezes, quando estou em Londres — respondeu, tomou um pouco de cerveja e sorriu maliciosamente. já nem respirava de tanto rir e Harry não entendeu nada, , pelo jeito, também não. Quis enfiar a cara em um buraco, fiquei constrangida com aquilo.
— Certo, cansados? — mudei de assunto, antes que começasse a pensar no que tinha acabado de dizer. Eles me olharam bruscamente, sem entender o porquê daquela pergunta.
— Nem tanto. Estou mesmo é com fome — foi o primeiro a responder.
— Quero fast food — disse se apoiando com as duas mãos no chão.
— Eu também — falou xeretando o frigobar.
— Tem um McDonald’s aqui em frente, quem vai ter coragem de ir? — Harry perguntou após esvaziar sua garrafa de cerveja e dar um arroto.
— Só é pedir, cara — deu de ombros e concordou.
— Nossa, mas é um bando de preguiçosos mesmo — falei levantando. — Eu vou! Mas me dêem dinheiro — ordenei com as mãos na cintura e eles riram.
— Ah, mas sozinha não vai mesmo! — disse se levantando e eu achei a atitude mais linda que ele já teve há tempos. Os outros falaram ‘hum’ em coro, deixando-me completamente envergonhada e sorrindo fraco.
, ela disse que vai comprar fast food, e não que vai ser o fast food! — brincou e eu dei um chute em sua panturrilha. lhe deu um pedala, dizendo-lhe para tomar cuidado com a morte. Achei lindo, parte dois. Os meninos deram as suas contribuições e anotaram os seus pedidos.

e eu deixamos o quarto e pegamos o elevador juntos. Ele me puxou para si e deixou nossos corpos colados, me dando um beijo intenso e de tirar o fôlego.

! — empurrei-o. — Tem câmera aqui! — apontei para uma que estava bem atrás da gente.
— Isso é que é pegada, estão vendo? — brincou, olhando para a câmera e me apertando ainda mais contra o seu corpo. Comecei a rir e dei um tapa em seu ombro. Chegamos ao lobby e passamos por lá de mãos dadas. Vi duas recepcionistas se cutucarem e apontarem, então apenas ergui a cabeça e continuei andando para a parte externa do hotel. Acho que tinha o sorriso mais bobo e infantil no rosto. Atravessamos a rua e fomos direto ao McDonald’s que havia do outro lado. Algumas meninas reconheceram e gritaram como loucas. Para a minha surpresa, ele não soltou a minha mão nem para acenar para elas... Apenas sorriu educadamente e só me soltou para abraçá-las. Ouvi uma delas perguntar em seu ouvido em um inglês bem ruim, se eu era sua namorada. Quase morri do coração quando ele respondeu "talvez sim, talvez não". Será que ele tinha consciência de que eu poderia ser pisoteada ali mesmo? Depois que o deixaram em paz, sorriu fraco para mim. — Desculpa — pediu, tímido, e eu apertei as suas bochechas.
— Não precisa, é o seu trabalho — sorri cordialmente e o puxei até a fila. Ficamos por algum tempo esperando, até que chegou a nossa vez. A moça chamou outro atendente que entendia a nossa língua e fomos atendidos imediatamente.

Estávamos com várias sacolas, com sanduíches e refrigerantes. Voltamos para o hotel. No elevador, tomei coragem de falar algumas estúpidas palavras.

— Por que você não negou que era meu namorado? — perguntei sem encará-lo, olhando para a porta do elevador.
— Porque não interessa a elas — respondeu simplesmente e reclamou da demora para chegar ao nosso andar. Ficamos em silêncio o percurso inteiro. A porta do elevador abriu e e nos esperavam sentados no carpete do corredor, de frente para o elevador, reclamando de fome absurda. Entregamos algumas das sacolas a eles e fomos para o quarto de novamente. Harry estava deitado na cama, vendo TV, mas pulou quando nos viu entrando. Sentamos todos no chão e fizemos a distribuição dos pedidos. Parecia que todos estiveram presos, sem alimentação, porque os sanduíches estavam sendo devorados. Volta e meia, Harry se irritava com , porque ele ficava pedindo um pedaço de seu sanduíche a cada cinco segundos. Nós conversávamos bastante e, bem, ríamos bastante. e começaram a trocar farpas, porque disse que tinha medo do escuro e que por isso tinha me chamado para dormir com ele, já que era gay. rebatia dizendo que gay era , que não arranjava mulheres que realmente quisessem ficar com ele, por ser um pouco anormal e esquizofrênico. Harry apenas se vangloriava, dizendo que era de longe o que tinha a melhor pegada. Então, disse que só se fosse ‘de longe’, porque de perto, ninguém tinha chance com ele. me perguntou se era verdade e eu apenas corei, Harry disse que com certeza era, já que se dependesse de sua inteligência e bom papo, nunca teria ninguém. Depois que comemos, curtimos a nossa barriga cheia em silêncio, pois mexia em seu notebook e olhava o que ele fazia; Harry ficou vendo TV e apoiou a cabeça em meu ombro. Apoiei-me com uma mão no chão e fiquei acariciando sua cabeça com a outra. — Vamos dormir? — perguntou com a voz rouca, após bocejar.
— Vamos — respondi o afastando e levantando.
Estendi a mão para que levantasse e nos despedimos dos outros que, para variar um pouco, ficaram insinuando que faríamos mil e uma coisas e que se a cama falasse, nós provavelmente seríamos presos. Saímos do quarto de rindo e fomos andando abraçados para o quarto de , ele me abraçava por trás e as nossas pernas se encontravam às vezes, me fazendo quase tropeçar.
Entramos em seu quarto e ele já foi ficando de boxers, peguei uma camisola na mala e fui para o banheiro. Peguei a minha escova de dente e apareceu em seguida, pegou a pasta, passou em minha escova e depois na dele. Escovamos os dentes juntos, com direito a guerra de água durante a atividade e uma competição idiota de quem cuspiria primeiro. Toda vez que um ia, o outro insinuava ir junto, então os dois recuavam. Depois de mais ou menos cinco minutos nessa enrolação, nenhum de nós dois aguentava mais o ardor da pasta de dente; foi cavalheiro e me deixou cuspir primeiro. Ele voltou para o quarto e eu me tranquei, para vestir a camisola.
Quando voltei para lá, estava sentado na cama, com seu notebook no colo, mexendo entretido em alguma coisa. Caminhei até ele lentamente, observando seus movimentos. É incrível como consegue ser tão maduro e tão infantil ao mesmo tempo. Tem algo sobre ele que ninguém consegue decifrar. Talvez seja o que mais me atrai. Posso reclamar, mas é essa sua essência confusa que me deixa cada vez mais presa a ele. percebeu que eu estava chegando e deu dois tapinhas leves no espaço ao seu lado, para que eu sentasse.
— Deixa eu te mostrar algumas coisas — disse enquanto eu sentava e me abraçou pela cintura. Abriu algumas pastas de seu notebook e parou em uma. — Quero que conheça algumas pessoas...
— Quem? — perguntei interessada, observando clique por clique.
— A minha família, meu cachorro, amigos de Bolton... Fotos antigas e tudo mais — respondeu clicando em uma foto. Olhei para confusa, ele queria mesmo me mostrar tudo isso? Senti-me tão envergonhada por não poder mostrar tanto da minha vida para ele. Ou talvez ali fosse a hora certa para nos conhecermos melhor? — Essa é a minha mãe — apontou para uma foto de três senhoras, ela era a mais bonita das três e tem alguns traços exatamente idênticos aos dela.
— Que linda! — comentei maravilhada, ele assentiu e passou para outra foto.
— Essa é a minha irmã — apontou para uma moça de cabelos da mesma cor que os dele e também com uma fisionomia bastante parecida. Linda.
— Meu Deus, como elas são lindas.
— Claro, você não acha que eu, lindão desse jeito, teria parentes feios, acha? — vangloriou-se com um sorriso provocativo e eu dei um tapa em seu braço. — Imagina quando eu tiver um filho, aposto que vou fazer muito sucesso com as mães dos amiguinhos dele.
! — dei outro tapa, dessa vez em sua nuca. — Que coisa feia, eu aqui achando que algum dia você vai encontrar a responsabilidade e você vem com um papo desses!
— Náááá, mas do que adianta ser responsável e feio? Não, eu quero ser responsável, lindo e cobiçado. Lindo e cobiçado eu já sou, só falta mesmo a responsabilidade.
— Se eu não estivesse do seu lado, te olhando agora, acharia que era o falando tudo isso — falei e ri. riu também e se benzeu, agradecendo por não ser o amigo. Então, me mostrou mais fotos. Apresentou tios, avós, amigos de infância e seu cachorro, também chamado , um lindo labrador amarelo. Ri muito das histórias de sua adolescência, ele nunca foi mesmo certo do juízo.
— Queria saber mais sobre você — pediu simplesmente, depois de um grande estoque de risadas.
— Acho que a minha vida não tem tanta graça quanto a sua — fiz careta e ele apertou a ponta do meu nariz.
— Claro que tem, a vida dos outros sempre tem mais graça — brincou e eu resmunguei, deitando a cabeça em seu ombro e recebendo carinho. Pensei, repensei, pensei de novo, repensei mais uma vez.
— Você sabe que eu não me dou bem com os meus pais, então logo se nota que a minha infância e adolescência não foram muito interessantes.
— Mas você não tinha amigos?
— Tinha, até — respondi desanimada. — O problema é que a minha carência me fez fazer muitas merdas.
— Tipo o quê? — perguntou digitando alguma coisa, mas eu nem olhei o que era, estava de olhos fechados.
— Envolver-me com pessoas erradas e me arrepender de besteiras que fiz. — droga! Eu estava a ponto de contar tudo.
— Drogas?
— Uma única vez, no fatídico dia.
— Então o quê? — insistiu e eu quase pedi para que parasse, tinha medo de contar tudo e não ser compreendida.
— Acho que você não vai gostar de saber, deixa pra lá — falei abrindo os olhos e sentando. entrelaçou nossos dedos e me deu um beijo na bochecha.
— Se você não quiser falar, tudo bem — sorriu fraco e eu também, assentindo. — Mas não precisa ter medo, não sou ninguém pra te julgar.
— Eu quero te contar, porque eu soube hoje de muitas coisas da sua vida. Percebi que você não sabe nada de mim. Não é justo — dei de ombros.
— Não, , eu entendo perfeitamente que tenha coisas que você prefere guardar. Não tem problema, sério.
— Eu engravidei aos 16 anos, por isso saí de casa — soltei, olhando fixamente para a TV desligada à nossa frente. Simplesmente saiu, como se eu não tivesse controle do que falava. Ouvi respirar fundo. O olhei e ele estava olhando para a tela do notebook, coçando a testa, nervoso. — Não precisa ficar assim, eu não espero que você diga nada. Só te contei e pronto. — o encorajei e ele me olhou perdido, como se realmente desejasse me dizer algo e não encontrasse as palavras certas. O abracei e dei um beijo em sua bochecha. — Vou dormir. Pode ficar aí — disse deitando e me cobrindo com o edredom. Fiquei de lado, olhando para a porta do banheiro. Eu não devia ter contado, devia estar se sentindo completamente constrangido. Ele ficou algum tempo a mais no computador e ouvi quando o desligou e colocou no criado mudo. Apagou a luz e deitou ao meu lado, creio que de barriga para cima. Sou uma imbecil. Deixei-o com medo, acho. se mexeu um pouco, puxando o edredom, então o ajudei a se cobrir. Depois fiquei novamente de costas.
— Você chegou a ter? — perguntou em um tom baixo, como se tivesse medo de aumentar o volume da voz.
— Não — respondi no mesmo tom.
— Eu acho que ele seria lindo — opinou com uma voz marota e eu ri baixo.
— Talvez.
— Eu imagino o que você passou. E você é mulher, é pior ainda. Não me vejo sendo pai de uma criança, digo, eu sou muito novo pra isso — disse sinceramente e eu me virei para ele.
— Você está certo — sorri fraco e ele ficou de frente para mim, me abraçando e me dando um selinho. O abracei em volta do pescoço e dei outro selinho, mais demorado, depois encostamos as nossas testas e permanecemos assim.
— Como seria um filho nosso? — eu já estava de olhos fechados, mas os abri bruscamente com essa pergunta. consegue ser tão imprevisível! Afastei-me um pouco e ele riu alto. — Que foi? Eu sou tão feio para você nem conseguir pensar em um filho comigo?
— Dããããã! Só me assustei com a pergunta — falei dando um tapa leve em sua testa e senti seu abraço ficar mais apertado.
— Ah, então você me acha bonito? — perguntou sedutor e eu assenti. Não conseguíamos nos enxergar muito bem, mas nem precisei ver mais nada. — É, eu já... — selinho. — Sabia... — outro selinho — Disso... — mais um selinho.
— Se a gente tivesse um pirralho, eu queria que ele tivesse os seus olhos. Grandes bolas azuis. — decidi entrar na brincadeira.
— Não, ele definitivamente teria que ter os seus olhos, os meus são muito comuns pra mim. — desdenhou e eu gargalhei.
— Essa é boa, .
— Sério, uma mini você também seria linda — falou com uma voz infantil e eu me derreti.
— Não sei como!
— Está brincando? — perguntou incrédulo e eu fiquei sem entender.
— Não, por quê?
— Você é uma das mulheres mais bonitas que os meus olhos já viram. Demorei para acreditar que você era, er...
— Garota de programa — completei.
— Tanto faz — deu de ombros e eu corei, como acho que nunca tinha corado antes. — Que foi? — perguntou quando notou o meu silêncio repentino.
— Nada, é só que... Nada — desisti de continuar falando.
— "Nada, é só que nada..." Nunca vi! — imitou-me e nós rimos.
— Ah, , é que... Nunca ninguém me disse isso antes. E eu não esperava ouvir de você. — respondi sincera e ele afastou seu rosto do meu.
— Porra, me chamou de grosseirão e insensível — desvencilhou-se, ficando de costas para mim, mas notei que estava rindo. Então, aproximei-me dele e o abracei por trás, levantando um pouco a cabeça e mordiscando sua orelha. — Isso é golpe baixo. Vai dormir, agora! — ordenou fingindo me ignorar e eu continuei, depois desci para a curva de seu pescoço e ele se encolheu, rindo ao sentir cócegas. Virou-se bruscamente e ficou por cima de mim, apoiando-se no colchão com os cotovelos e me enchendo de beijos e mordidas no pescoço. sabe que me provoca assim. Fixei as duas mãos em sua cabeça e puxei seus cabelos, para que nossos rostos ficassem colados. Sua língua passeou pelos meus lábios, até que finalmente encontrou a minha. Meu coração quase saltava do peito e eu sentia como se tivesse tirado um peso das costas ao revelar um dos meus maiores segredos e não ser repreendida. Ele, na verdade, pareceu nem ligar. E ainda me fez o maior elogio que já recebi desde que nasci. Ficamos nos beijando por muito tempo, mudamos de posição várias vezes, mas nosso abraço não era cessado e, o beijo, muito menos. Quando já estávamos quase sem respirar, tampei a boca de , rindo.
— Boa noite — falei ofegante e ele bufou.
— Nem f*dendo — disse depois que tirei a mão de sua boca.
— Eu disse boa noite — insisti e me virei, ficando de costas para ele, que resmungou, mas me surpreendeu, abraçando-me em seguida, de conchinha e dando beijos sucessivos na curva do meu pescoço.
— Boa noite, linda — falou com a voz rouca e brincalhona, me fazendo quase ter um ataque cardíaco.
— Boa noite, lindo — coloquei a mão sobre a dele, ouvindo sua risada abafada e fechando os olhos, sorrindo.


Capítulo 22


Capítulos 21 e 22 revisados por Caah Souza



Angra dos Reis é definitivamente a cidade mais linda do mundo. Chegamos ao Rio de Janeiro há três dias, mas como o show só é amanhã à noite, passamos os dois últimos dias passeando por essa cidade do interior que tem um mar profundamente perfeito. Estamos aproveitando muito.

Acordei muito cedo para aproveitar cada segundo de nosso último dia aqui. Abri a cortina sorrindo para o sol, que adentrava o quarto de hotel, e já podia ver o mar da janela. se mexeu incomodado e colocou o travesseiro sobre a cabeça.

- Bom dia, raio de sol! – falei, pulando na cama, ao seu lado, e o chacoalhando.
- Bom dia, pedra no meu sapato – resmungou, tirando o travesseiro de cima da cabeça e o jogando em mim.
- Obrigada, hein? Te mimo e é assim que você me trata – reclamei, cruzando os braços e fazendo bico. Ele riu, esfregando os olhos e bocejando.
- Shhh, tão linda caladinha. – Esticou os braços, espreguiçando-se e me puxando para si.
- Me solta, não quero mais. – Empurrei-o e levantei da cama.
- Então corre, porque eu quero! – Ameaçou levantar da cama e eu corri, gargalhando, e me tranquei no banheiro. ficou batendo na porta, falando um monte de besteira e eu negava toda vez que ordenava que abrisse. Escovei os dentes e tomei um banho rápido, não queria perder aquele sol maravilhoso. Por sorte, as toalhas estavam estendidas no próprio banheiro. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, enxuguei bastante os pés para não escorregar e abri a porta do banheiro. levantou da cama e calçou seus chinelos, passando por mim e resmungando algo como "você só me dá dor de cabeça" e se trancou lá dentro. Peguei meu biquini e comecei a colocá-lo. Depois passei um pouco de desodorante e apanhei o protetor solar para usar antes de sair do hotel. Comecei passando nas pernas, depois na barriga, nos ombros, no pescoço, decote e braços. logo saiu do banheiro, muito cheiroso, e se ofereceu para passar protetor em minhas costas. Fiquei de frente para o espelho, olhando-o passar e fiquei segurando os cabelos, para não melar. Ele passou com muita cautela, fazendo caras e bocas e sussurrando bobagens em meus ouvidos.

- Engordei muito com essa viagem! Olha isso – falei, olhando a minha barriga no espelho e ele fez o mesmo, ainda passando protetor, agora em minha nuca.
- Adoro essa sua gordura. – Virou-me bruscamente e ficou colado em mim. Abraçou-me pela cintura e eu o abracei pelo pescoço. Beijamo-nos por algum tempo e depois nos separamos para que usasse protetor solar. Passou onde tinha alcance e eu passei em suas costas. Em seguida, ficamos os dois de frente para o espelho, passando em nossos rostos. Peguei a grande sacola de praia e coloquei toalhas, protetor solar e a câmera de que estava com a gente, porque tínhamos tirado muitas fotos na praia nos dias anteriores. Eu já parecia um pimentão, mais ainda. Mas o pior era , que parecia estar em carne viva, não aguentava nem que encostassem. Enrolei-me em uma canga e vestiu uma bermuda por cima da sunga, mas continuou sem camisa. Saímos do quarto e demos de cara com , que nos avisou que Harry e já tinham saído. Tomamos café primeiramente e depois atravessamos a rua, indo à praia. e Harry já tinham alugado barracas, então apenas nos sentamos com eles. Estava vazio ali, acho que não é época de férias no Brasil. Tirei a canga e deixei a sacola com Harry, que disse que cuidaria da barraca, pois queria beber. e eu fomos para o mar, de mãos dadas; e vieram logo atrás, reparando nos bumbuns das garotas que passavam à sua frente. mal olhava para o lado e meu ego subia incrivelmente por isso. A água gelada bateu em meus pés e eu sorria idiotamente. Entramos no mar, ainda de mãos dadas, e me abraçou por trás. Quando fomos chegando à parte mais funda, ele se jogou por cima de mim e caímos de corpo inteiro. Comecei a tossir e ele se preocupou. e estavam morrendo de rir de mim. riu também, mas me pegou no colo e me carregou para a parte rasa novamente. Sentamos na areia, sentindo a água salgada e gelada bater de leve em nossas pernas, pois o mar estava calmo, por ser cedo. Sentei sobre uma das pernas de e ficamos abraçados, apreciando aquela brisa gelada que beijava nossos corpos. se aproximou, sentando ao nosso lado. ficou no fundo e apenas acenava para nós três. Fiquei brincando com a mão livre na superfície da água, pois a outra estava no ombro de , devido ao braço que o envolvia pelo pescoço. O escutei dar aquela sua gargalhada estridente e também gargalhava, apontando para o fundo. Quando olhei, não pude acreditar: estava com a sunga em sua mão, ou seja, estava nu.
Começamos a gritar para que ele viesse daquele jeito para o raso. Levantei e corri para a mesa, pegando a câmera na sacola e mostrando erguendo a sunga para Harry. Ele disse para eu filmar, então voltei para onde eles estavam e comecei a filmá-lo. Quando viu que eu estava com a câmera, ficou sumindo e aparecendo, fazendo charme. abraçou uma das minhas pernas e encostou a cabeça, mandando que eu sentasse com ele de novo. ficou dizendo que nós estávamos muito grudentos e isso não era bom para a reputação de . Dei um tapa em sua cabeça e parei de gravar quando parecia vestir a peça novamente. Ouvi um barulho estranho e comentei sobre isso com , que estava voltando para a mesa para guardar a câmera. Quando saía da água, escutei o mesmo barulho estranho outra vez. Era como um "clique". Olhei para um lado e para o outro, até que notei algo bem estranho. Havia alguém completamente coberto por uma canga, mas com uma lente de câmera amostra. Corri para a mesa e mostrei para Harry, ele resmungou e pediu para avisar os outros. Voltei para o mar, ainda correndo, e avisei e . já se aproximava, então contei para ele também.
- Há quanto tempo você acha que ele tá aí? – perguntou, coçando a cabeça e olhando para onde o ser suspeito estava.
- Acho que há muito tempo. – respondi, franzindo a testa.
- Relaxa, a gente tá no Brasil... Bem longe da Inglaterra. – deu de ombros, despreocupado.
- Sim, isso nem chega lá – falou no mesmo tom do amigo, como se não se importasse. Mas não estava tão calmo assim. Disse para os amigos que ia até a barraca e eu o segui.
- Harry, cara, tô preocupado – disse, pegando uma latinha de refrigerante e abrindo, depois sentou ao lado de Harry.
- Eu também. – Harry concordou, tenso, olhando para onde e estavam e tomou um pouco de cerveja. Sentei ao lado de . – Rachel, você vai ter que aguentar essa barra.
- Eu sei. – Sorri fraco. Na verdade, várias coisas passaram pela minha cabeça. Mas a principal foi como ficaria o namoro de . – E a Sophie? – perguntei preocupada e os dois riram.
- Talvez essa seja a oportunidade para o se livrar dela. – disse, depois deu uma risada alta. – Finalmente. – concluiu e Harry apoiou.
- Nossa, vocês são tão malvados! Fiquei preocupada.
- Rachel, na boa, curte essa viagem e tenta não pensar nisso. O que vai acontecer depois é problema do , ele que se resolva com ela. – Harry aconselhou sinceramente e assentiu. Respirei fundo e assenti, levantando para voltar para perto de .

Tomamos muito banho no mar, mergulhos e mergulhos, competições e etc. Almoçamos na praia mesmo, comemos muita lagosta, camarão e o que tínhamos direito. Cerveja não faltou também. Parecia que todo mundo ali tinha esquecido o infiltrado, até eu, por alguns momentos. Tentei seguir ao máximo o conselho de Harry, aproveitar cada segundo daquela viagem e os bons momentos ao lado de . Afinal, não é todo dia que ele mantém as mesmas vontades e age da mesma forma: como se soubesse quem eu sou e até sentisse algo por mim. Sabia que talvez aquilo fosse passageiro, mas ali, na frente daquele mar, não era hora para pensar no amanhã. Voltamos para o hotel por volta das três da tarde, todos exaustos. Tomamos banho e nos encontramos no corredor para combinar o que faríamos mais tarde. Lisa nos avisou que tinha conversado com uma moça na recepção e ela disse que havia um ótimo pub a dois quarteirões do hotel, informou o nome e nós combinamos de ir à noite. e eu voltamos para o quarto e ligamos o ar-condicionado, afinal é um lugar muito quente. Ele se deitou e pediu para que eu fechasse a cortina. O fiz e deitei ao seu lado. Trocamos alguns carinhos e dormimos abraçados, com as pernas entrelaçadas.
Fomos acordados por batidas nervosas na porta do quarto. berrava que nós tínhamos que parar de transar e nos arrumar para sair. berrou de volta, dizendo que se ele batesse mais uma vez, ia ver onde a porta ia parar. Levantei rindo e desliguei o ar-condicionado, pois já estava gelado o suficiente. Já era noite e me apressei para me arrumar. disse que não ia tomar banho, porque não tinha suado. Concordei com ele e apenas lavei o rosto e escovei os dentes. Ele fez o mesmo. Abri a mala e peguei um tubinho preto tomara-que-caia e meu par de scarpin vermelho berrante. Enrolei alguns fios de cabelo e os prendi com grampos, para que, ao soltar, ficasse com o cabelo levemente ondulado. me pediu ajuda e escolhi uma camiseta branca e uma calça preta. Nos vestimos e puxei um banquinho, sentando de frente para o espelho para fazer a maquiagem. Quando já estava terminando, pedi para que soltasse os grampos de trás do meu cabelo e ele o fez, já vestido e assustadoramente cheiroso. Levantei e dei uma última checada no tubinho. Calcei o scarpin e soltei os grampos da frente. O cabelo ficou exatamente como eu queria. Bem que dizem que sexo diário – com prazer – faz tudo funcionar corretamente em nosso organismo. Passei o perfume que sei que ele gosta e me aproximei.
- Será que eu mereço uma mulher tão linda ao meu lado? – perguntou, galanteador, deixando-me envergonhada, e me olhando da cabeça aos pés quando o chamei para sair.
- Cala a boca! Por que você sempre quer me deixar sem graça? – falei sorrindo fraco e ele sorriu, arqueando as sobrancelhas.
- Quando elogia reclama, quando trata mal reclama. Eu não sei mais o que fazer com você. – fingiu-se de indignado e desligou a TV.
- Desculpa. Obrigada, – disse com uma voz arrastada e ele fez careta, estendendo a mão para que eu segurasse. Apagou a luz e deixamos o quarto. Harry estava nos esperando e disse que e já estavam na van, porque estavam loucos para dançar e tomar caipirinha, uma bebida genial preparada no Brasil.
Logo estávamos no lobby, entregamos as chaves na recepção e fomos para a van. e morriam de rir de alguma coisa e pararam quando entramos. Deviam estar falando de um de nós três. O pub realmente não ficava muito longe, e eu nunca vi quatro criaturas tão empolgadas por causa de um drink quanto eles. Ao chegar, saímos do carro como foguetes, eles tinham me feito criar entusiasmo e ficar ansiosa como estavam. Entramos no local e fomos direto para o bar. Todos pediram doses de caipirinha para começar. Saboreamos aquilo como se fosse vinho.
- É uma droga saber que em nosso país isso NÃO EXISTE! – Harry disse, brindando com .
- Tem tanta coisa aqui que no nosso país não tem... – suspirou, olhando a bunda de alguma moça que passava, e os outros concordaram.
- Ei, muito cavalheirismo da parte de vocês falarem isso na frente de uma inglesa! – falei, indignada, virando um pouco do drink e eles riram.
- Você é maravilhosa, mas você a gente vê todo dia! – tentou consertar, mas piorou tudo, mesmo assim foi aplaudido pelos amigos. tirou sua câmera do bolso e pediu para o barman tirar uma foto nossa. Juntamo-nos e erguemos os nossos copos. Depois que o flash apareceu, a câmera passou de mão em mão até ser guardada novamente. Harry resolveu dançar e nós o seguimos. Peguei a câmera e registrei muitas imagens deles dançando, depois pegou da minha mão e eu fui dançar, também sendo fotografada, inclusive quando me beijava.

Foi realmente uma noite muito divertida, dançamos até ficarmos todos descalços. Voltamos para o hotel, digamos que não muito sóbrios. segurava os meus sapatos e voltamos para os quartos cambaleando. Chegando ao corredor, se lembrou das chaves, que estavam na recepção. Ele e voltaram para buscar e nós ficamos esperando. quase roncava escorado na porta, até que os dois apareceram. Foi muito difícil colocar a chave no lugar certo para conseguir abrir a porta. e eu trocamos várias vezes, mas não dávamos conta. O mesmo acontecia com e . Harry foi o único que conseguiu entrar e nem fez questão de ajudar ninguém. Deu-nos boa noite e se trancou. Consegui abrir a porta do nosso quarto e fui ajudar e . Missão cumprida, voltei para meu cômodo e tranquei a porta. estava jogado em cima da cama, tinha tirado apenas os sapatos. Corri e me joguei ao seu lado. Ficamos rindo como idiotas, conversando alguma bobagem que eu não me recordo. Virei e fiquei com a barriga para o colchão, me apoiando na cama com os cotovelos.

- Me beija? – pedi e fechei os olhos. Fui atendida bem antes do que achei que seria, colocou a mão em minha nuca e me puxou para si, deixando-me com a metade do corpo sobre o dele e a outra na cama. Ele encostou nossos lábios e ficamos assim algum tempo. Começou a roçar seu nariz no meu e eu senti as pernas ficando dormentes. Nossas respirações se encontravam em sintonia e eu me sentia cada vez mais feliz por estar ali. puxou um dos meus braços, para que eu o abraçasse pelo pescoço, então nos beijamos. Um beijo calmo, leve, que fazia aquelas velhas borboletas em meu estômago ficarem loucas. Flexionou o braço e pegou a minha mão que estava em seu pescoço, entrelaçando os nossos dedos. Em seguida, com a outra mão, pressionou a minha cintura e fez com que eu ficasse completamente sobre ele. Cessamos o beijo e ficávamos apenas sentindo as nossas respirações e o desejo aumentarem cada vez mais. encaixou os dedos entre os meus cabelos e massageava meu couro cabeludo com ternura. Mordeu meu lábio inferior, fazendo-me rir. Abri os olhos e ele também sorria, com os olhos semicerrados. Não havia só malícia naquele olhar, não era como se ele apenas esperasse que transássemos. Passei o dedo indicador sobre seus lábios e os observei atenciosamente. Fixei as mãos nos cabelos dele e dei vários selinhos seguidos, fazendo-o me abraçar apertado e fazer com que as nossas línguas brincassem mais uma vez. Desci o beijo para o seu pescoço e sem querer pressionei seu ombro. Ele reclamou, pois estava doendo do sol e então aproveitei para dar vários beijos onde machuquei. riu alto, dizendo que agora sentia cócegas. Voltamos a nos beijar com mais intensidade. Ajudei a tirar a camisa que vestia e sentei para que ele abrisse o zíper do meu vestido. Ele o fez com alguma dificuldade e brincou que não nasceu pra abrir zíperes e botões. Tirei o vestido e ele ficou de boxer, voltei a deitar sobre seu corpo e nos beijamos.
- Por que raios vocês usam tantas roupas? – perguntou, impaciente, tentando abrir meu sutiã sem alça e rindo.
- Esse é o charme. – Brinquei e ele finalmente conseguiu, arremessando-o a milhas distantes, indignado. Rimos. Então, encaixou as mãos em meus cabelos e os bagunçou ao me beijar. – Ei, isso demorou pra ficar assim! – exclamei, soltando-me dele e apontando para o meu cabelo.
- E eu demorei pra ficar assim com você, então não enche! – rebateu e, para variar, demos risada. Beijamo-nos novamente e rolamos na cama um bom tempo até que estivéssemos completamente nus. Era como se aproveitássemos ao máximo a oportunidade de estarmos juntos. Nossos corpos se encaixaram como se nunca mais fôssemos fazer aquilo na vida.

Nos levantamos e me colocou no colo, ficando entre as minhas pernas e segurando as minhas coxas. Encostou-me na parede e encaixou a testa na curva do meu pescoço, intensificando os movimentos. Eu puxava os seus cabelos com uma mão e arranhava suas costas com a outra. Meus olhos não paravam de revirar e era impossível não gemer alto em alguns momentos. Ou melhor: o tempo todo. As gotas de suor já percorriam o meu rosto e eu sentia a testa de molhada. Então, ele levantou a cabeça e me deu um selinho, levando-me para a mesinha que havia no cômodo. Derrubou tudo o que havia ali em cima e nós gargalhamos com os estrondos causados. Fiquei sentada e ele continuou entre as minhas pernas, fazendo-me realmente não conseguir ficar sem gemer um segundo sequer. Por sorte, estava fazendo isso em um tom baixo. Estávamos com as respirações descompassadas e chegamos ao clímax praticamente juntos. me abraçou pela cintura e deitou a cabeça em meu ombro, ofegante. Abracei-o pelo pescoço e ficamos assim por alguns minutos. Apenas ouvindo as nossas dificuldades respiratórias e sentindo o suor um do outro. se desvencilhou e me deu um selinho demorado. Levantei e senti as pernas fraquejarem. Ele riu da minha situação e eu lhe dei um tapa. Fui direto para o banheiro, e ele me seguiu.

Entramos no chuveiro juntos e trocamos muitos carinhos durante o banho. Saímos e nos enxugamos, depois escovamos os dentes, brincando da mesma forma que fazíamos todos os dias: um espirrando água no outro e brigando para ver quem cuspia primeiro. Dessa vez, eu deixei que ele o fizesse, depois de resmungar alguma coisa que não pude entender. Voltamos para o quarto e vesti uma camisola, sendo aplaudida e recebendo assobios. vestiu aquela boxer que usava no dia em que o conheci, do Barney, e deitou, ligando a TV.

- Que sexy, tigrão. – falei, penteando os cabelos, sentada em frente ao espelho, olhando-o através dele e o vi mostrar o dedo. – E que educação, hein?
- Eu sei que você gosta. – Convencido! Virei-me, cerrando os olhos e ele me mandou um beijo, com uma cara cínica. – Agora vem deitar aqui, que eu quero dormir sentindo seu cheiro – praticamente ordenou e eu corei. Por mais que nós estivéssemos indo perfeitamente bem nesses últimos dias, ainda sinto frio na barriga toda vez que ele fala coisas desse tipo. Claro que também fico nas nuvens. Levantei lentamente e dei passos curtos, encarando-o e ele mordeu o lábio inferior, semicerrando os olhos. – Não faz isso, porque você sabe que eu aguento mais um round. – Sorriu maliciosamente e eu ri alto, jogando-me na cama e sendo abraçada com urgência.
- E você sabe que eu dou conta de você direitinho, mas não vou fazer isso, porque nós temos que viajar cedo – falei, convencida e ele gargalhou. – Que é? Tá negando?
- Você é fraca pra mim, isso é fato. Ninguém pode comigo. – vangloriou-se, batendo no próprio peito, e eu fiquei indignada, desvencilhando-me e ficando de costas para ele, que imediatamente desligou a TV, passou uma das pernas por cima das minhas e me abraçou de conchinha, cheirando o meu pescoço de forma exagerada. Comecei a rir.
- Você só pode ser louco... – pressionei o botão que apaga a luz e fechei os olhos.
- Por você – completou e eu voltei a abrir os olhos, subitamente. – Boa noite – praticamente sussurrou.
- Boa noite – respondi simplesmente, e fiquei pensando no que ouvi, até finalmente dormir.


Capítulo 23




Os garotos foram fazer a checagem de som na casa de show onde seria o concerto no Rio. Claro que os acompanhei. Quando voltamos de Angra, fomos direto para o local, Lisa ficou de ir para o hotel acertar tudo. Hoje tive a oportunidade de tocar guitarra, cedeu a sua depois da checagem e, junto com e , deu-me as coordenadas. Também não é fácil. Harry apenas ria e tampava os ouvidos. Deixamos a casa de shows, almoçamos em um restaurante próximo e algo estranho aconteceu no hotel no Rio: Lisa me deu uma chave e deu outra para . Como assim? Acho que fiquei mal acostumada. Notei que também estranhou, mas procurei não falar nada, afinal parecia bem familiarizado com a idéia. Fomos os cinco no elevador e chegamos ao nosso andar. me deu um selinho e disse que depois conversávamos sobre aquilo. foi para o seu quarto e para o dele. Harry ficou no corredor, esperando Lisa.

- Vai apodrecer aí – falei, rindo e ele riu, assentindo.
- Ué, não vai ficar com o ? – perguntou, vendo-me abrir a porta do quarto que ficaria. Ele estava com um olhar confuso, mal sabia que eu estava mais confusa ainda.
- Então, parece que não. – Dei de ombros e ele ficou olhando para o nada, como se procurasse uma explicação.
- Talvez seja pra você ter mais privacidade. – Parecia querer me encorajar e eu sorri fraco, acenando e entrando no quarto. Pensei em ligar para , mas estava tão cansada que mal deitei na cama e já peguei no sono.

Acordei com o telefone tocando, Lisa pediu que eu me aprontasse, pois dentro de uma hora teríamos que sair do hotel e ir para o local onde eles iam tocar. Levantei e corri para o banheiro, tomei um banho razoavelmente rápido e me arrumei bem devagar, fiquei em dúvida no que vestir. Estava muito quente, então optei por uma blusinha regata verde escuro e uma saia jeans, depois calcei o All Star, penteei os cabelos e passei perfume. Saí do quarto e saiu do seu, praticamente em sincronia. Ele sorriu abertamente e eu fiz o mesmo. Abraçamo-nos e demos um beijo rápido, porque nos interrompeu mais uma vez com a sua frase "o amor move montanhas". Levou um pedala do amigo e outro meu. e Harry já nos aguardavam na van, chegamos lá rapidamente e fomos o caminho inteiro cantando canções dos Beatles. A casa de shows estava entupida de gente. A fila para a entrada fazia voltas. Fizemos a volta e entramos por trás, mas algumas fãs realmente tinham pensado nisso e os atacaram quando desceram do carro. Não sei por que, mas tive a impressão de duas ou três meninas apontarem para mim, como se soubessem quem eu era. Ignorei e fiz o percurso para o camarim. Fui levada para a sala onde os meninos ficariam e logo depois eles entraram. Comemos muito, porque todos estavam morrendo de fome. Autorizaram a entrada das fãs para o Meet & Greet e elas entraram. Apenas olhava de longe, com os braços cruzados, pensando na vida e que talvez não dormiria com essa noite, o que seria complicado para o meu psicológico. Depois que elas saíram, os meninos já tinham que subir ao palco. Abracei cada um e desejei um bom show, me deu um selinho e subiu. Subi em seguida com Lisa e ficamos na lateral. Eu já estava familiarizada com todas as canções que estavam sendo tocadas. Vibrei ao começar a última, uma das minhas favoritas. "I Wanna Hold You". Comecei a pular em sincronia com a multidão e bater palmas, como mandava todos fazerem. Comecei a cantarolar os versos, espantando-me por saber.

"Tell me that you want me baby
(Me diga que você me quer, baby)

Tell me that it's true
(Me diga que é verdade)

Say the magic words and I'd destroy the world for you
(Diga as palavras mágicas e eu destruiria o mundo pra você)

An army for the broken hearted
(Um exército para os de coração partido)

Marching through the streets
(Marchando pelas ruas)

And every city's burning to the ground under your feet
(E cada cidade está queimando no chão abaixo dos seus pés)

olhou para onde eu estava e apontou para mim na primeira frase do refrão, me deixando frenética.
- I wanna hold you (Eu quero te abraçar)

My skies are turning black
(Meus céus estão ficando negros)

Feels like a heart attack
(Parece um ataque cardíaco)

And I'd do anything you ask
(E eu faria qualquer coisa que você pedisse)

I wanna hold you bad
(Eu quero muito te abraçar)

(...)

Enquanto o último refrão estava sendo tocado, Lisa me perguntou se eu gostaria de fazer novamente o que vinha fazendo nos últimos concertos: distribuir as toalhas quando eles passassem por mim. Assenti e ela me entregou quatro toalhinhas brancas. Fiquei esperando o concerto terminar, eles estavam realmente muito suados, porém felizes e aposto que com aquela sensação de missão cumprida. Afinal, este seria o último show no país. Harry deu as últimas batidas em sua bateria e eles agradeceram a todos por os apoiarem e estarem presentes. Falaram algumas coisas em português e foram extremamente aplaudidos. foi o primeiro a passar por mim, entreguei sua toalha e ele agradeceu, enxugando-se e dizendo que tinha sido um dos melhore shows de sua vida. O segundo a passar foi , entreguei a toalha e recebi um beijo na bochecha. Ele perguntou se eu gostei do show e eu respondi "muito, muito, muito", quase que dizia "ainda mais depois de você apontar para mim", mas decidi me calar e parar por aí. Harry passou, entreguei sua toalha e ele agradeceu, dizendo que precisava tomar água urgentemente e desceu. já veio tentando me abraçar, dizendo que se eu gostasse mesmo dele, o abraçaria como estava: todo suado. Neguei e ele disse que estava magoado. Descemos e os garotos se encontraram com uns homens, que pareciam ser de alguma revista ou sei lá o que. Lisa me chamou e disse para irmos à frente, pois eles teriam que dar entrevista para um canal de televisão brasileiro e iriam demorar. Concordei, afinal estava precisando de outro banho urgente e ainda queria ligar para . Despedi-me dos meninos e pediu para que eu os esperasse acordada, pois fariam a famosa reunião pós-show em seu quarto. Concordei e ele continuou, pedindo para eu deixar a porta apenas encostada. Abracei cada um e saí com Lisa, minhas pálpebras estavam pesadas e eu estava pensando em como acharia forças para encarar rodadas e mais rodadas de cerveja no quarto de .

Chegamos ao hotel e fui para o meu quarto. Lisa disse que os meninos demorariam, aconselhava-me a nem esperar. Fiquei sem entender, mas ela os conhece como ninguém, então não questionei. Fui até o banheiro e tomei um banho rápido, vesti um babydoll que não tinha o short muito curto e tinha a blusa de manga. Abri a porta que dava acesso à sacada e fiquei observando o grande mar do outro lado da rua. Também fiquei vendo os carros passarem. Respirei fundo e senti a brisa do mar no rosto. Senti-me feliz novamente por ter a oportunidade de estar ali. Definitivamente, conhecer foi a melhor coisa que já me aconteceu. Ele é o responsável pelos melhores momentos que já tive em toda a minha vida.

Voltei para o quarto e liguei a TV. Olhei para o relógio no criado mudo e percebi que eles estavam demorando demais. Ou talvez eu estivesse ansiosa demais. Calculei as horas e vi que seria de manhã em Londres, então peguei o telefone, já sabendo que talvez levasse gritos de por acordá-la. Liguei em seu celular.

- Alô? – atendeu com a voz bem mais amigável do que eu esperava que atendesse.
- Oi, amiga, adivinha quem é? – perguntei rindo e ela riu.
- SUA VAGABUNDINHA DE ESQUINAAAAA! QUE FALTA QUE EU TÔ SENTINDO, ACHEI QUE VOCÊ TINHA ME ESQUECIDO! – dramatizou, mas de fato, a última vez que falei com ela foi em São Paulo.
- Nossa, nem me fala! Como você tá?
- Bem, na medida do possível, né? E você? Aposto que tá muito bem, só por essa voz alegre aí! – sempre vidente.
- Ai que bom. Eu tô bem, sim. Não vou mentir, porque nem adianta. e eu estamos tão... Lindos. – suspirei e ela gritou.
- AIAIAIAIAIAI, PODE IR ME CONTANDO ISSO AÍ! – típico, típico, típico. Contei parte por parte para ela, desde a hora da banheira até a nossa viagem para Angra e o fato de ele estar demorando para voltar hoje. – Nossa, que bom. – falou simplesmente e eu notei algo de estranho em sua voz, como se tentasse me dizer alguma coisa. é muito mais entusiasmada, ela teria feito outro escândalo.
- Amiga, o que foi? Seu tom de voz foi estranho agora. – perguntei preocupada.
- Não é nada, não. Deixa de ser tola! É falta sua! – falou com a voz melosa e nós rimos. Conversamos sobre tudo: McFLY, Londres, contas, festas... Ela me contou que talvez mudaria de emprego e que tinha distribuído os meus currículos, pois eu tinha pedido. Ouvi um barulho e algumas risadas, então presumi que eles estivessem chegando.
- , espera aí só um minutinho, vou ver se são eles, mesmo.
- Ok, espero sim. – concordou, e eu deixei o telefone no criado mudo, levantando da cama e indo até a porta. Como tinha deixado apenas encostada, abri com um pouco de cautela, ficando com apenas parte da cabeça para fora.

Eu não devia mesmo ter feito aquilo.

As gargalhadas de eram cada vez mais altas e ele estava com uma moça baixa, morena, abraçando-o pela cintura e sendo envolvida pelo pescoço. Nessa mão que a envolvia, ele tinha uma garrafa de cerveja e parecia dizer várias bobagens no ouvido da menina, pois ela ria incontrolavelmente. Olhei um pouco mais para o lado e vi , na mesma posição, com uma loira; com uma morena e Harry com outra morena. Cada um ia entrando em seu quarto, acompanhado delas. Senti as pernas tremerem e o coração bater abafado. Quando percebi, já tinha fechado a porta e sentia as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. Enxuguei algumas e lembrei de que tinha deixado esperando ao telefone. Nem sei como consegui andar até a cama.

- , amanhã eu tô voltando para Londres. A gente conversa quando eu chegar, preciso desligar.
- ? Você tá chorando? Que foi? Pelo amor de Deus. – perguntou preocupada.
- Nada, claro que não tô chorando – menti, tentando driblar o nó na garganta.
- E essa voz trêmula é porque você está saltitante? Claro que não. Te conheço muito bem, pode ir falando. – ao ouvir essas palavras, senti a necessidade de contar para o que tinha visto. Se eu guardasse para mim, seria pior.
- O ... Ele chegou. – respondi e ela riu.
- Que bom, né? Ele te pediu em casamento? Por que você tá chorando, caramba?
- Ele não chegou sozinho, . Estava agarrado em uma menina e eles foram para o quarto dele – falei, quase que vomitando as palavras e sentindo um aperto profundo no coração.
- O QUE? QUEM ESSE FILHO DA PUTA PENSA QUE É PRA FAZER ISSO CONTIGO? VOCÊ NÃO É PALHAÇA! AINDA BEM QUE AMANHÃ VOCÊ JÁ VEM, ELE NÃO É HOMEM PRA VOCÊ. CHUTA ELE, ! O EXCLUI DA SUA VIDA, PELO AMOR DE DEUS! – gritou indignada e eu já soluçava. – NÃO FICA ASSIM, AMIGA. POR FAVOR! Queria tanto estar aí pra poder dar um bom soco no meio do nariz dele! Chama os meninos, os faz fazerem baderna e o atrapalhar.
- Nem que eu quisesse.
- Por quê?
- Porque cada um tá com uma menina agora em seus quartos. – respondi bruscamente e prendeu a respiração.
- PUTA QUE PARIU! ENTÃO QUER DIZER QUE LEVEI CHIFRE DUPLO? AH, MAS ESSES DOIS IMBECIS ME PAGAM, AH SE PAGAM! – berrou, e eu até consegui rir. – Ai, , desculpa. Eu sou uma idiota. Você aí toda tristinha e eu fazendo escândalo por dois safados, filhos da mãe. Ah, mas me pagam muito. Eles dois e o . Deixa só eles chegarem aqui!
- Não, . Deixa tudo como está. Eu não tenho compromisso nenhum com o e nem você com o e... O .
- É, você tem razão. Mas o que o aprontou com você não se faz, não se faz MESMO.
- Vou desligar, amiga. Preciso pensar. – falei sincera e ela concordou. Despedimo-nos e me aconselhou a dormir e ter uma conversa com antes de embarcarmos. Desliguei o telefone e mal tive tempo de pensar em alguma coisa. Abracei o travesseiro com força e comecei a chorar, mas não um choro normal, eu ficava praticamente sufocada entre os soluços. Como uma criança mimada. Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Por que ele me trouxe pra essa droga de viagem, fez eu me enganar o bastante e aprontou assim, na minha cara? Eu realmente não esperava que fôssemos agir como um casal, mas tudo parecia tão certo, tão perfeito. Eu estava cada dia mais encantada por ele. Cada dia descobria uma qualidade nova e aprendia a aceitar os defeitos, que para mim nem tinham importância. Fui uma estúpida de ter me envolvido tanto! Tenho que aprender que sempre que deixo a vida se encarregar, acabo quebrando a cara. Se eu tivesse pelo menos mantido o meu pensamento de ficar sem ele de vez, talvez não estivesse parecendo aquela que chorava sentada na tampa do vaso sanitário aos 16 anos por ter perdido a virgindade com um idiota. Eu me sentia praticamente da mesma forma, mas ali estava sendo pior, porque eu estava prestes a entregar o meu coração nas mãos de . Eu abri o meu maior segredo para ele. Eu acreditei com todas as minhas forças que as coisas iam começar a se ajeitar.

Mas não. Ficou tudo mais bagunçado ainda, porque agora consegui me lembrar de algo que parecia nem existir nesses últimos dias: ele tem uma namorada o esperando em Londres. E eu? Eu não tenho ninguém. Então é por isso que fomos deixados em quartos diferentes. Deve ter sido ao seu pedido. A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, esse é o ditado mais verdadeiro que já inventaram. E nesse caso, quem caiu fui eu.

Corri para o banheiro e só tive tempo de levantar a tampa do vaso, as coisas estavam realmente ficando sérias demais. Aconteceu exatamente como na festa que demos na casa de . Ao lembrar de rindo com aquela vadia, meu estômago revirou e eu tive que vomitar. Eu não consigo lembrar quando estive tão nervosa. Ele se transformou em uma doença para mim. Ou pior do que isso. Porque primeiro me mostra o paraíso, para depois me atirar no inferno. Parece ser tudo premeditado. Alcancei o papel higiênico e limpei a boca por fora. Depois levantei e dei descarga. Abri a torneira e escovei os dentes. Voltei para o quarto e percebi que haviam passado duas horas, desde a maldita hora em que os vi no corredor. Fui até a porta do quarto e a abri devagar para ver se tinha algum sinal de vida. Assim que apareci do lado de fora, vi que a porta do quarto de – que ficava praticamente de frente para a minha – estava sendo aberta. Recuei e deixei apenas uma pequena brecha, para espiar. A garota que estava com ele deixou o cômodo e ele apareceu na porta apenas de boxer, sorrindo e olhando para a bunda dela ao vê-la se aproximar do elevador. Depois entrou e eu fechei a porta novamente. Era melhor evitar ficar mais tempo e ver a de saindo e ele olhando para o traseiro dela assim como o amigo fez. Se vendo já fiquei com nojo, com colocaria todas as tripas para fora. Abri o frigobar e coloquei um pouco de água em um copo. Tomei tentando me acalmar, mas as minhas mãos ficavam cada vez mais geladas e trêmulas.

Odiava me sentir assim por um imbecil. Fui novamente para a sacada e fiquei olhando o mar. Era incrível a diferença que poucas horas faziam em nossa vida. A algumas delas atrás, eu estava ali, da mesma forma, porém ansiosa para que os garotos chegassem logo e nos reuníssemos no quarto de . E agora eu estava parada, pensando na razão para ter aceitado viajar com eles e na maldita ideia de ter me usado – mais uma vez.

No outro dia...

Tudo parecia estranho naquela manhã. Era como se os meus sentimentos tivessem feito tudo mudar. Era uma manhã nublada, extremamente ventilada. Fui a última a deixar o quarto. Sairíamos do Rio assim que tomássemos café. A primeira coisa que fiz antes de apertar o botão do elevador foi colocar meus óculos escuros. Não queria sair mostrando as grandes bolsas embaixo dos meus olhos, resultado de uma noite inteira sem dormir e de incontroláveis momentos de choro. A porta do elevador se abriu e entrei, puxando a mala que carregava. Cheguei ao lobby e dei de cara com Harry, que segurava um copo de café da Starbucks e conversava com o motorista da van. Ele percebeu a minha chegada e se aproximou, dando-me bom dia e puxando a minha mala. Entregou-a ao senhor com quem conversava. Agradeci e passei direto, sentindo Harry no meu encalço.

- Tudo bem, Rachel? – perguntou quando conseguiu caminhar ao meu lado, já que eu dava passos apressados.
- Sim – respondi secamente e entrei no local onde o café da manhã é servido. Todos na mesa me olharam com um olhar baixo, envergonhado. Pude notar que Harry fez algum sinal para eles, com certeza havia notado que o meu humor não era dos mais agradáveis. Quando eu disse "todos", quis dizer "todos" menos , que tentava ler um jornal brasileiro. Harry sentou ao lado de , e a única cadeira livre era ao lado de . Respirei fundo e primeiro me servi. Ouvi alguns cochichos quando passei, mas não fiz questão de falar com ninguém. Peguei um pequeno prato e coloquei algumas frutas, depois um pedaço de pão com manteiga. Voltei para a mesa e sentei ao lado de , que agora estava de óculos escuros, assim como eu. Ouvi-o tossir algumas vezes e reclamar de dor na garganta para Lisa quando ela passou por nós. Todos eles pareciam ter medo de falar, comigo por perto, estava comprovado que estavam muito embaraçados pelo que fizeram na noite passada. Ouvi Harry comentar que nunca viu Lisa tão brava.
- Caiu – disse, juntando uma uva que caiu do meu prato e colocando-a de volta.
- Não quero. – Empurrei sua mão e ouvi dizer "wooow".
Quando terminei de comer, os meninos se levantaram e deixaram e eu sozinhos na mesa. Foi tudo muito bem planejado, como a safadeza da noite passada. Fingi não ter percebido que estávamos a sós, mas ele não parecia convencido.
- O que você tem? – perguntou baixo e depois tossiu.
- Nada – respondi com os braços cruzados e balançando uma das pernas freneticamente.
- Eu já te conheço.
- Então nem devia estar falando comigo – falei, mal educada, e ele apoiou os cotovelos na mesa, colocando as mãos nas bochechas.
- Fala de uma vez, odeio esse tipo de coisa – insistiu, mexendo-se na cadeira e voltando à posição vertical, creio que me encarando, pois não podia ver seus olhos.
- Eu não entendo por que raios você me trouxe pra cá. Você não tinha nada que ter me convidado, foi tudo um erro – explodi e ele respirou fundo.
- Talvez tenha sido. – Deu de ombros e eu bufei, jogando o guardanapo que tinha na mão na mesa e levantei. Dei passos largos até o lobby, minhas veias pareciam querer estourar, a vontade que eu tinha era de quebrar a cara de . Agradeci mentalmente ao ver Lisa vindo em minha direção.
- Você quer ir à frente comigo? – perguntou, percebendo a minha expressão nada animada. Apenas assenti e caminhamos até a van, por sorte, em silêncio. Eu não estava pronta para ter nenhum tipo de conversa. Fui o caminho inteiro perto da janela, olhando para o mar do outro lado da rua, pensando no quanto as coisas tinham mudado de um dia para outro. Ouvia Lisa conversando com as outras pessoas da equipe, que iam nos bancos de trás, não conseguia ouvir o assunto, apenas as vozes. A minha cabeça estava ocupada demais pensando em como me deixei ficar tão vulnerável. Antes de aparecer na minha vida, nem sabia o que era um coração e o que ele partido podia causar. Odeio estar passando por isso. Odeio ter saído de casa apenas para confirmar o que eu já sabia, mas achava que poderia ser mudado. Pela primeira vez, eu sentia sinceramente que tinha de me afastar de vez dele. Era isso ou passar a vida inteira sofrendo.

Chegamos ao aeroporto e já fui para a aeronave, Lisa ficou esperando os garotos e eu procurei um lugar para sentar. O piloto brincou, dizendo que os meninos iam brigar para ficar ao meu lado. Fui um pouco rude quando disse que queria distância de todos eles, arrependi-me, pois o pobre homem não sabia de nada. Sentei perto da janela e peguei meu iPod na bolsa, selecionando a playlist dos Beatles e colocando os fones de ouvido. Já tinham tocado cinco músicas quando algum sinal de vida humana apareceu no avião. Era . Ao ver que eu o tinha notado, sorriu fraco, fiz o mesmo e depois me virei para olhar para a janela. Os outros entraram e finalmente o lugar estava completo. Apertei os cintos e percebi que alguém havia sentado ao meu lado. Já sabia quem era só pelo perfume. Quase me cortei para conseguir ficar sem gritar com ele para que saísse do meu lado.

- Acabou. – falou, apertando os cintos e eu fiquei sem entender, como sempre. Acabou o que? Nós dois? Novidade!
- Sério? – perguntei sarcástica e desliguei o iPod a pedido do comissário de bordo.
- Sophie e eu. – esclareceu minhas dúvidas e eu engoli seco. Pensei muito no que falar e realmente apreciei o que disse.
- Bom pra ela. – tirei o cinto que já havia apertado e levantei, passando bruscamente pelas pernas de e indo sentar no lugar vago ao lado de Harry. Ele me olhou espantado e tirou os fones de ouvido.
- Posso ficar aqui com você? – perguntei, colocando a minha bolsa no porta-bagagem. Ele apenas assentiu, sorrindo. Sentei, cruzei os braços e fiquei fazendo o meu tique favorito com as pernas.
- Nervosa? – Harry perguntou, dando-me um lado de seus fones.
- Sim, e você não vai desligar seu iPod pro avião decolar, não? – olhei-o incrédula e ele resmungou, desligando o aparelho e guardando no bolso.
- Por causa do avião ou por causa do ? – perguntou receoso e eu soltei uma risada abafada. Está tão na cara assim?
- Ambos. – respondi sincera e agora quem deu uma risadinha foi ele.
- Acho que nós exageramos na noite passada. – assumiu em tom culpado.
- Ah, que bom que você tem essa consciência. Fiquei esperando vocês um tempão. – estalei os dedos para acrescentar drama e Harry balançou a cabeça, envergonhado. – Mas tudo bem, não sou ninguém pra ficar dando lição de moral. Nem tenho nada a ver com isso.
- Claro que tem, Rach. – disse, apontando para o cinto para que eu o apertasse, fiz e ele continuou falando. – Você veio com a gente, era pra te darmos toda a atenção. O problema é que quando a bebida vai entrando, a responsabilidade vai sumindo.
- Tudo bem, agora já passou. – dei de ombros e fixei as mãos nos braços da cadeira, pois foi anunciado que o avião decolaria. Harry riu alto ao me ver daquele jeito e eu dei língua. Senti mais uma vez como se o meu corpo estivesse se desencaixando e percebi que dessa vez não teria a mão de sobre a minha e nem receberia um selinho roubado. De qualquer forma, se eu o visse na minha frente, seria capaz de quebrar todos os seus dentes. Quando o avião já estava no ar, pressionei o botão e deitei a cadeira, deitando em seguida. Harry fez o mesmo e tirou o Ipod do bolso, me dando um dos lados do fone.
- Acho que o não sabe o que faz. – comentou subitamente, enquanto trocava de música.
- Hã? – perguntei desnorteada.
- Com isso de não ficar com você de vez. – respondeu, parando em uma música e a elogiando. Era Libertines! Sacudi-o, não acreditando que ele ouvia aquilo. Olhou-me assustado, por dizer também nunca acreditar que eu ouvisse aquele tipo de música. Fechei o sorriso e voltei a lembrar do que estávamos falando. Harry também ficou sério.
- Talvez ele simplesmente saiba o que faz. – fingi não dar importância e ele riu, negando.
- Eu tenho certeza que não. Porque se soubesse, ele mesmo teria terminado com a Sophie.
- Mas ele terminou, não? – olhei-o confusa.
- É, mas quem terminou foi ela por telefone. – informou-me e eu fiquei praticamente em estado de choque. Por alguns segundos, tinha imaginado que teria sido homem o suficiente de terminar com ela. Não que eu achasse que esse seria um ato heróico para que ficássemos juntos, mas esperava que sua consciência tivesse pesado e que estivesse a libertando.
- Nossa, nem sei o que dizer – pisquei freneticamente.
- E o pior de tudo é que parece que ela nem justificou. Só disse que sabia que estava sendo traída.
- Quer explicação melhor, Harry? – fiquei abismada e ele riu alto.
- É, você tem razão.
- Será que tem a ver com os paparazzi? – perguntei assustada e ele arregalou os olhos.
- Espero que não, porque isso não pode sobrar pra você! – Harry disse, balançando a cabeça e depois franziu a testa. – Vamos ver quando chegarmos. Mas eu acho que ela falaria. – tentou me consolar.
- Por telefone? Eu não tenho tanta certeza de que ela falaria. – opinei, fechando os olhos, e ouvi Harry fazer algum som com a boca, concordando. Começava a tocar "Can’t Stand Me Now" e Harry sussurrava a letra. Comecei a fazer o mesmo. Enquanto isso, não parava de lembrar que há alguns dias atrás estava sentada bem ao lado de , sendo coberta por ele com seu casaco e recebendo seu abraço. Estava tão bom pensar que tudo daria certo, que tudo estava bem. Mas parece que o mundo vai e te chuta com uma força maior ainda como diz na canção que ouvia. Mesmo tudo estando estranho, os meninos com medo de mim e estando a cadeiras distantes, isso não impediu ninguém de fazer bagunça. e colocaram aventais e ficaram brincando de comissários de bordo, servindo chocolate para todo mundo. Quando chegaram a mim, ajoelharam-se e pediram desculpas, oferecendo-me o maior chocolate da cesta. Não tive como não sorrir para eles e os desculpar. Fomos para o fundo do avião, eu ainda estava de óculos escuros, a minha cara devia estar assustadora. se uniu a nós e ficamos mais uma vez jogando baralho. Nas partidas que ele ia, eu me retirava e vice-versa. Não estava nada bem. Nada. Mas tentei ficar sem pensar nisso e apenas me distraí, afinal eram muitas horas de voo.

Chegamos a Londres e era uma manhã de terça. Peguei a minha bolsa e deixei o avião juntamente com os garotos, mal podia esperar para ver novamente. Tinha sentido a sua falta absurdamente esses dias que ficamos distantes. Também queria contar tudo a ela – a parte boa, se é que eu ainda conseguiria me lembrar sem rancor. Vi uma grande movimentação quando nos aproximávamos do saguão do aeroporto. Havia vários fotógrafos e repórteres. Também notei a presença de paparazzi na parte externa à pista de pouso quando descemos da aeronave. Não entendia muito bem aquilo, mas vi Lisa preocupada, dizendo-nos para só sair quando os seguranças dessem sinal. Observei cerca de dez homens extremamente fortes se posicionarem na porta da sala de desembarque e um deles fazer um sinal positivo para Lisa. Começamos a andar e eu tive uma sensação estranha, como se algo estivesse errado, como se aquele movimento não fosse normal, corriqueiro. Harry foi à minha frente e atrás, e vinham discutindo alguma coisa e reclamando de ter que enfrentar repórteres àquela hora. Quando passamos, os seguranças fizeram praticamente uma "parede", nos acompanhando. A imprensa avançava e aquilo era assustador. Harry olhou para trás para checar se eu estava bem, apenas assenti e ele sussurrou para que eu tivesse calma.

- , , VOCÊ ESTÁ APAIXONADO POR UMA PROSTITUTA? – ouvi um repórter perguntar e senti as minhas pernas faltarem. Ele xingou o tal entrevistador e ouvi quando este falou para os outros que a "prostituta" estava na frente de .

Vi vários flashes em meu rosto quando chegamos à parte externa do aeroporto, os seguranças empurravam, mas era um aglomerado sem fim. Finalmente entramos na van, sentei entre Harry e e foi difícil controlar a vontade de chorar. Tentei disfarçar, mas não tive muito sucesso. e , que estavam no banco da frente, olharam-me preocupados. Harry perguntava para o que estava acontecendo, mas eu não podia ver se cochichava alguma coisa ou se simplesmente ignorava. Foram os quarenta minutos mais longos da minha vida. Parecia que nunca chegaria em casa. Quando o carro parou na frente do prédio, desci como um furacão, Harry disse que as malas estavam vindo na outra van com Lisa, que depois ela deixaria lá. Apenas assenti e abracei cada um. Eles pareciam muito confusos, o único que entendeu exatamente o que estava acontecendo foi e eu, claro. Depois que me despedi de , vi parado, escorado na van com as mãos nos bolsos, cabisbaixo. Pensei em falar com ele ou não, mas decidi apenas virar as costas e subir as escadas. Acenei pela última vez para os três e comecei a subir os degraus. Tirei os óculos, pois não havia muita claridade ali. Meu coração batia acelerado e as minhas mãos estavam geladas e trêmulas. Toquei a campainha e abriu rapidamente. Ela me olhou com uma expressão triste e ali mesmo eu desabei. Abracei apertado e solucei o tanto que pude. não disse uma única palavra, apenas chorava comigo e tentava me acalmar alisando meus cabelos. Quando finalmente conseguimos conversar, ela me contou que as nossas fotos na praia tinham aparecido em um tablóide e que suspeitavam que eu era brasileira. As coisas pioraram quando alguém ligou para lá e disse que eu era prostituta, que era inglesa e outra pessoa havia informado que meu nome era . Não fazíamos a mínima ideia de quem podia ter feito isso. Perguntei à o porquê de não ter me contado nada ao telefone e ela disse que não queria estragar o passeio. Lisa logo chegou com a mala, agradeci e ela me disse que tudo ficaria bem, eles dariam um jeito de tirar as fotos de circulação e toda aquela bagunça. Fiquei muito envergonhada e pedi desculpas, mas ela disse que aquilo não era problema seu, que não estava nem um pouco chateada comigo.

Tomei banho e vesti um blusão de . Passei o dia inteiro socada em meu quarto, chorando tudo o que tinha para chorar embaixo do edredom. faltou o trabalho para ficar comigo. Conversamos muito pouco, porque eu só conseguia soluçar. Além de todo o fato de estar em um escândalo na mídia, o que mais me magoava mesmo era o que tinha feito. Eu não conseguia esquecer a imagem dele com uma vagabunda no corredor do hotel, justamente quando tudo parecia tão bem. Não conseguia entender como ele podia gostar tanto de brincar com os meus sentimentos, com a minha felicidade. Fiquei me perguntando se estava recebendo algum castigo, se eu tinha feito alguma coisa muito ruim para estar passando por isso. Será que eu realmente mereço ter a minha cara estampada em todos os jornais e revistas como "A PROSTITUTA QUE CONQUISTOU "? Será que eu sou uma pessoa tão ruim a ponto de ter isso reservado em meu caminho? Uma coisa era certa: eu queria morrer. Quanto mais as horas iam passando, mais eu sentia vontade de chorar. me deu um calmante e foi quando comecei a me tranquilizar devido ao sono repentino.

Capítulo 24


Abri os olhos com dificuldade, tudo parecia rodar, era como se eu tivesse dormido uma semana inteira. Olhei para a porta e vi escorada, me olhando de braços cruzados. Devia ser a manhã do dia seguinte ao que tinha dormido. Espreguicei-me e a encarei.

- Bom dia. – disse com um meio sorriso.
- Bom dia. Dormi quanto tempo? – perguntei em meio a bocejos.
- Fim de tarde de um dia até a manhã de outro. – soltou uma risada abafada e eu sentei. – Tem alguém querendo falar com você.
- Quem? – perguntei subitamente. – Se for o , eu morri.
- Não! – riu. – Não é ele.
- Quem é? – perguntei procurando com o olhar e apareceu no quarto. Escondi o rosto com as mãos. – Vai lá pra fora, vou lavar o rosto e depois te chamo. – gritei levantando e correndo para o banheiro. Lavei o rosto, escovei os dentes e voltei para o quarto. Gritei por seu nome e ele apareceu novamente, sorrindo.
- Posso entrar? – perguntou com um sorriso maroto no rosto e eu assenti.
- Senta aqui. – dei dois tapinhas na cama e sentou ao meu lado.
- Como você tá? – alisou meu ombro e semicerrou os olhos preocupado.
- Ruim, né? – respondi dando de ombros e em tom desanimado. Ele passou um dos braços ao redor do meu pescoço. – E envergonhada. – abaixei a cabeça.
- Não fica se cobrando tanto! Assim é pior ainda. – aconselhou e eu levantei a cabeça, olhando-o e vendo um olhar misericordioso.
- Dói tanto. – mal falei e me abraçou apertado, dando um beijo no topo da minha cabeça.
- Eu só quero te dizer que nada mudou. A não ser o fato de você ser e eu ter absolutamente amado o seu nome. – brincou e eu ri, enxugando algumas lágrimas teimosas que insistiam em cair.
- Sério? – perguntei e ele assentiu, sorrindo.
- Foi legal isso de você ter um personagem. – me deu uma cotovelada leve, se divertindo e eu dei um tapa em seu ombro.
- Bobo. Igualzinho à retardada da .
- Ih, ela nem quer mais nada comigo. – pareceu lembrar, desanimado.
- Como assim?
- Disse que só me deixava ficar aqui agora pra falar com você, mas que não quer me ver nem pintado de ouro, porque ALGUÉM contou pra ela que me viu com uma “safada” no corredor do hotel, no Rio. – contou e eu prendi a respiração, morrendo de rir.
- Desculpa, mas ela é minha amiga, você sabe. – falei dando tapinhas em suas costas e ele fez careta, prendendo a risada. – ... – o chamei e ele voltou a ficar sério. – Como o Harry e o estão em relação a mim?
- Pode ficar tranquila, como já te disse, não mudou nada. Nós te amamos do mesmo jeito ou até mais. – me reconfortou e deu um beijo estalado na minha bochecha. Abraçou-me novamente.
- Eu também amo muito vocês e me sinto muito mal por não ter contado a verdade desde o começo. – me desvencilhei e segurei sua mão.
- Nááá, nós entendemos muito bem, . É assim seu apelido, né? – perguntou confuso.
- É sim, como você sabe? – o cutuquei rindo.
- O ... – pareceu querer engolir o resto do nome e da frase e me olhou com um olhar engraçado. Senti o estômago revirar. – A . – completou, mal sabendo que fez isso pessimamente.
- Sei, a , né? – instiguei e ele balançou a cabeça, tímido.

Conversamos mais um pouco e evitei falar sobre . entrou no quarto e perguntou o que queríamos almoçar, pois começaria a preparar o almoço. Ela estava realmente chateada com , mal dirigia a palavra a ele. Mas era de uma forma engraçada, me fazendo até esquecer o que estava acontecendo comigo. Almoçamos os três juntos e lembrou o dia em que voltamos da festa a pé. Eles me distraíram muito bem. Quando ele foi embora, se aprontou correndo para ir ao trabalho. Ela tinha falado em faltar novamente para me fazer companhia, mas eu neguei e a mandei trabalhar. Eu estava realmente desanimada com o fato de ficar sozinha em casa, mas isso não era motivo para estragar a vida de também. Antes de sair, a ouvi fazer telefonemas. Depois avisou que deixara o notebook em seu guarda-roupa, ele já estava com internet. Deu-me a senha e eu disse que se o tédio estivesse horrível, realmente usaria. Despedimo-nos e desejei uma boa tarde de trabalho a ela, que fez careta. Tomei banho e vesti outro blusão, não era dos dias mais quentes. Fui até a sala e liguei a televisão. Passeei por vários canais, mas nenhum me agradava. Comecei a lembrar da programação da televisão brasileira, lembrei das risadas que dava por não entender nada do que falavam. Fui para a cozinha procurar algo realmente doce para curar a minha tristeza e ouvi baterem na porta. Respirei fundo e fui até o meu quarto colocar algum short, pois estava com as pernas de fora. Quando abri a porta, fiquei completamente abobalhada com o que vi: Harry e estavam parados na minha frente. Ambos com narizes de palhaço; um segurando uma caixa de bombons e outro segurando um pote de sorvete.

- É aqui que tem uma dama solitária e entediada precisando de uma pitada de diversão no seu dia? – Harry perguntou forçando um sotaque francês e eu nem consegui responder, rindo.
- Seus problemas acabaram, minha cara. Harry e , diretamente do circo de... de... Sei lá de onde vieram trazer felicidade para as suas horas passarem mais rápido. – disse com uma voz irritante. – E tem mais: com direito a sessão de filmes e pipoca de microondas! – após dizer isso, me entregou o pote de sorvete e apanhou uma sacola que estava no chão, atrás dele.
- Seus bobos! – os abracei. – Entrem, entrem! – eles obedeceram e fui colocar o sorvete no congelador. veio atrás, já mexendo no microondas e preparando a pipoca. Harry disse que escolheria o melhor filme de comédia que nossos olhos já tivessem visto. Voltamos para a sala e o filme já começava. Era “O Dono da Festa”. Eu nunca tinha visto, mas os meninos diziam que morreria de tanto rir. Fiquei entre os dois no sofá com a pipoca em um vidro em meu colo e nossos copos com refrigerantes estavam na mesinha de centro.

Harry estava certo, aquele foi um dos filmes em que mais ri na vida, tirando umas partes realmente nojentas. Empanturramo-nos de pipoca, bombom, refrigerante e sorvete. A sala ficou uma verdadeira zona. Os dois se ofereceram para me ajudar a arrumar tudo e eu aceitei. Conversamos muitas besteiras, eu os agradeci mentalmente por não tocarem naquele assunto, mas sabia que devia desculpas. Então, quando fui levá-los à porta, senti que era o momento certo.

- Meninos, muito obrigada por esse dia, mas eu sinto que realmente devo desculpas a vocês. – falei cabisbaixa.
- Você não deve desculpas a ninguém, teve os seus motivos e nós não somos ninguém pra dizer o que é certo e o que é errado. – Harry foi cordial e me abraçou. concordou e me abraçou também. Agradeci mais uma vez o dia maravilhoso e eles se foram. É, talvez as coisas nem estivessem tão ruins quanto eu achava que estavam. logo chegou e perguntou como foi o meu dia.
- Você não vai acreditar! Harry e passaram o dia aqui! – contei dando pulinhos e batendo palminhas.
- Eu sei. – ela disse com um sorriso convencido e eu levei uma das mãos à boca.
- , VOCÊ? AH MEU DEUS! – gritei e ela apenas assentiu. Eu tenho realmente a melhor amiga do mundo. Não é possível alguém ter uma amiga melhor do que ela. Abracei-a apertado e agradeci mil vezes. Quem pode ter um problema insuportável com amigos como os meus?

As últimas duas semanas passaram se arrastando. O McFly havia viajado para a Espanha um dia depois que os garotos foram em nosso apartamento, em seguida para Portugal. Meu estado emocional não estava muito diferente, claro que eu havia melhorado bastante, mas às vezes ainda me pegava chorando. Um dia desses, mexendo no notebook, entrei em um site de vídeos e vi um em que uma garota – aparentemente fanática por – colocou as nossas fotos na praia e tampava o meu rosto, me chamando de coisas horríveis e dizendo que ele era bom demais para se envolver com uma prostituta qualquer. Também assisti a um programa de fofocas em que eles insistiam para que se eu estivesse assistindo, ligasse para lá. Meus celulares estavam desligados, justamente para ninguém conseguir me encontrar, caso dessem algum dos meus números para eles.

A minha saúde também não estava das melhores, comecei a sentir muito mal-estar, praticamente todos os dias. Nem conseguia voltar para as calçadas, de tanto que me sentia ruim. já tinha me dado todos os remédios possíveis e parecia que eu só piorava. Tinha dias em que apenas vomitava e tudo passava. Mas havia outros em que nada resolvia. Acabei de voltar de um laboratório, fiz exame de sangue, devo estar com as defesas baixas, não estava me alimentando muito bem depois dos últimos acontecimentos. E na pior das hipóteses, estava morrendo de medo de ter alguma DST. me estapeava toda vez que eu falava nisso, porque dizia que se eu estivesse usando camisinha, não teria risco nenhum. Eu tenho plena consciência em meus programas, sempre lembro do preservativo. Mas sabe lá. A moça do laboratório disse que eu teria o resultado no outro dia pela manhã e que se houvesse algum agravante, seria chamada para conversar com um médico. Rezei para que não ligassem para o celular de , que foi o número que passei.

Eu não tinha tido mais notícia nenhuma de . A não ser que o fim do namoro com Sophie, de fato, aconteceu e que não tinha mais volta. Soube isso por intermédio de John, que infelizmente foi à casa dos pais de quando eu estava passando o fim de semana lá. Ele estava completamente aborrecido comigo, dizendo que nunca imaginou que e eu tínhamos um caso e que destruí o sonho de sua sobrinha. Aquilo me deixou muito irritada, o mandei cuidar da própria vida e o deixei falando sozinho. Outra coisa que me perturbou muito nesses últimos dias foi saber – através de um desses programas de fofoca – que o McFly perdeu alguns contratos publicitários, devido ao escândalo e mau exemplo de ao sair com uma garota de programa. O que eles têm a ver com isso? É tão patético e hipócrita! Mas querendo ou não, me sentia infinitamente culpada por tudo isso. Decidi ligar o meu celular pessoal e vi algumas centenas de chamadas perdidas. Enquanto esperava terminar de tomar banho para almoçarmos, o ouvi tocar e corri para o quarto. Não conhecia aquele número, mas resolvi atender. Caso fosse um canal de TV, era só desligar a ligação e o aparelho novamente.

- Alô? – atendi nervosa.
- Hum, ahn... ? – a pessoa parecia mais nervosa do que eu.
- Sim, quem é? – perguntei apreensiva e já pronta para desligar.
- É... Aqui é o... Leopold. – gaguejou um pouco e eu quase gritei de felicidade.
- Mentira? – fiquei tão espantada que foi só o que consegui dizer.
- Não, você lembra de mim, não é?
- Claro que lembro, mas MEU DEUS, o senhor demorou tanto pra ligar! – falei animada e ele riu.
- Eu sei. Desculpe, mas é que mal parei em Londres nesses últimos tempos.
- Tudo bem, Leopold. Sem problemas. Você vai ficar aqui até quando?
- Até depois de amanhã à tarde, quando vou para Bolton. – respondeu e eu engoli seco. – Você não quer ir? Ou mandar alguma coisa?
- Eu não acho que posso aparecer lá assim. – comentei desanimada. – Mas eu gostaria muito de vê-lo! Onde o senhor está?
- Naquele mesmo restaurante. Vou te passar o número do celular que estou usando. – falou e eu corri para pegar um papel e uma caneta. Anotei.
- Acho que vou aí hoje. Às três da tarde, está bem?
- Tudo bem, estarei na pousada ao lado do restaurante. Ligue no meu celular antes de vir, sim?
- Ok, pode deixar. Muito bom falar com o senhor, nossa!
- Digo o mesmo, minha filha. Fique com Deus. Até logo. – nos despedimos e eu desliguei o telefone, ainda processando a idéia de ter falado com Leopold depois de tanto tempo. Foi como se a sua voz me desse forças para continuar. Por alguns minutos, parecia que tudo tinha desaparecido. Todos os problemas e toda aquela sensação ruim no estômago. chamou para almoçar e contei que havia falado com Leopold, ela ficou feliz por mim e disse que me emprestava o carro para que eu fosse vê-lo. Agradeci e depois do almoço a deixei no trabalho. Fui direto para onde ele estava. Liguei para o seu celular quando parei em um sinaleiro e ele disse que estaria me esperando na frente do restaurante. Fiquei extremamente nervosa, pensando em como seria esse reencontro. Por tantos anos fiquei pensando exatamente no que diria a ele quando nos encontrássemos, nas desculpas infinitas que pediria por ter fugido e ainda no medo que senti de nunca mais ter notícias suas. Agora tudo estava bem e essa idéia me animava profundamente.

Estacionei no vasto estacionamento entre a pousada e o restaurante e senti as mãos gelarem ao descer do carro. Olhei para a frente do restaurante, procurando Leopold com o olhar. Vi um senhor de costas e pensei que devia ser ele. Caminhei lentamente, ouvindo meu coração bater e toquei em seu ombro. Ele se virou subitamente e abriu um sincero sorriso ao me ver. Confesso que entrei em transe ao vê-lo. Parecia que os anos tinham passado longe, era como se o tivessem congelado da última vez que o vi e tivessem descongelado recentemente. Com exceção da barba um pouco maior e de algumas bolsas embaixo dos olhos, Leopold estava igual. O abracei apertado e senti um profundo nó na garganta se instalar.

- Veja só! Você se transformou em uma bela mulher! – Leopold elogiou quando nos desvencilhamos e eu sorri, corada.
- Obrigada. O senhor não mudou nada. – falei sincera e ele sorriu.
- Como você está? – perguntou com um olhar apreensivo.
- Levando algumas porradas da vida, mas estou bem. E o senhor? – respondi em um tom calmo, para não assustá-lo.
- Estou bem, na medida do possível. Venha, vamos conversar lá dentro. – apontou para o restaurante e entramos. Fui recebida com entusiasmo pela dona do recinto, que perguntou onde estava aquele belo rapaz com quem fui lá da última vez, me fazendo lembrar aquele dia como se fosse ontem.

Leopold e eu conversamos muito, pedi incessantes desculpas pelo que fiz e contei o porquê de tudo. Contei da minha gravidez e que havia virado prostituta. Seus olhos se encheram de lágrimas, disse que se sentia culpado por não ter me visto sair do caminhão, que não conseguia me imaginar tão criança em uma calçada. Perguntei de sua vida e o homem disse que tinha feito as pazes com sua ex-mulher, que agora se encontrava com os filhos constantemente. Fiquei incrivelmente feliz por ele e o deixei da mesma forma quando contei que havia concluído o colégio, coisa que havia deixado para trás ao fugir de Bolton. Deixei o local por volta das seis da tarde, fui praticamente forçada a lanchar e saí de lá empanturrada, porém sorridente. Mal acreditava que tinha reencontrado Leopold e tido uma tarde tão agradável depois das turbulências que vinham aparecendo em meu caminho. Busquei no trabalho e contei tudo para ela durante o percurso. Jantamos em algum fast food e ficamos vendo filme até tarde. Na verdade, usei isso como desculpa por não conseguir dormir. Eu estava apreensiva para o resultado do exame, tinha muito medo de estar com alguma doença grave, já que ao chegar em casa tinha vomitado muito. Obriguei-me a pregar os olhos e só tive sucesso por volta das quatro da manhã.

Acordei com batidas insistentes na porta da frente. Levantei atordoada e lavei o rosto. Passei pelo quarto de e ela estava resmungando, com o travesseiro sobre a cabeça. Abri a porta e quase caí ao ver quem era. segurava um envelope e tinha uma expressão vazia no rosto.

- ? O que você quer a essa hora? – perguntei tentando melhorar o aspecto de meus cabelos.
- Vim te entregar isso. – estendeu a mão com o envelope e eu o peguei, sem entender. Abri e vi um cheque com um valor incrivelmente alto. – Assim como ficou combinado antes de viajarmos. – lembrou secamente e eu não podia acreditar no que os meus olhos viam e as minhas mãos seguravam.
- Hã? Não, isso é seu, pode ficar, não quero. – guardei o cheque novamente no envelope e o estendi. Ele apenas balançou a cabeça, negando. O olhei nos olhos, como achei que não teria coragem de fazer nunca mais. – Eu não posso acreditar nisso que você tá fazendo. – disse incrédula.
- Tenho palavra, falei que ia te pagar por cada dia no Brasil e aí está: tudo somadinho e acertado. Assim ficamos quites e você não tem por que me odiar. – praticamente me deu um soco no meio do nariz com cada palavra daquela. Acho que consegui ouvir o meu coração quebrando em vários pedaços minúsculos.
- Ah, então você acha que me dando dinheiro vai mudar alguma coisa? – ele assentiu, me magoando terrivelmente. – Francamente, , eu achei que te conhecia. – falei indignada, rasgando o envelope e jogando as sobras em seu rosto. – Não quero te ver NUNCA mais. – bati a porta e corri para o meu quarto, a vontade de chorar se misturava com o enjoo em meu estômago. levantou e apareceu na porta.
- O que foi? – perguntou esfregando os olhos.
- Eu odeio o , odeio! Quero que ele se dane! – explodi e comecei a chorar. Parece que aquela ação dele tinha me feito mais mal do que ser “a prostituta” em todos os veículos de imprensa possíveis na Inglaterra. Aquele foi o dinheiro mais sujo que já recebi na vida. Foi como se ele dissesse com todas as letras que os beijos que demos e tudo o que fizemos durante a viagem estivesse em um contrato. Como se nada daquilo tivesse sido espontâneo. Nunca me senti tão imunda, tão usada. me abraçou e eu contei a ela o que tinha acontecido, em meio a soluços e rios de lágrimas. Ela xingou de tudo o que não presta e disse que toda essa maré ruim passaria, quando eu visse já estaria simplesmente bem.

Aquele dia, definitivamente, não seria um dia qualquer. O celular de tocou um pouco depois de eu terminar de tomar banho e ela se arrumou para irmos ao laboratório apanhar o resultado do exame. A ligação era de lá mesmo. A moça disse que uma doutora queria ter uma conversa comigo quando fosse até lá. Fiquei sem chão e me olhava apavorada. Perguntei o que tinha, mas ela disse que só saberia pessoalmente. Quis me jogar da janela do quarto. Ao desligar, me abraçou apertado e disse que não devia ser nada de mais, que uma vez já tinha ficado para conversar com uma doutora e era apenas uma infecção boba. Tentei me consolar com suas palavras, mas parecia cada vez mais difícil. As possibilidades que passeavam em minha mente eram as piores e eu duvidava muito que estivessem erradas. Era como se tudo estivesse escuro e estranho, comecei o dia com o pé esquerdo e acho que seria assim dali para frente, com o que eu estaria prestes a descobrir. Pedi para parar o carro em uma das ruas que entramos e vomitei tudo o que tinha comido no café da manhã e havia comido realmente pouco. Quando consegui me recompor, voltei para o carro e fechei os olhos, respirando fundo e tentando manter a calma. Mas cada vez me sentia mais nervosa, sentia medo de tudo. Tentei imaginar quando tudo começou a dar errado.

Chegamos ao laboratório e, se não fosse segurando a minha mão, tinha caído ali mesmo e pedido para algum carro passar por cima de mim. Ficamos na sala de espera até uma das recepcionistas autorizar a minha entrada na sala da médica que conversaria comigo sobre o que apontava em meu exame. Olhei para apavorada após levantar e ela me abraçou apertado, dizendo que eu tinha que ser corajosa e que estaria comigo no que precisasse. Tentei me acalmar quase arrancando as minhas unhas de tanto roer e segui a moça até uma porta branca, com uma placa em que vi escrito “ginecologia”. A minha mão tremia e suava frio, praticamente escorregando ao abrir a maçaneta.

- Bom dia, . – a doutora me recebeu com um sorriso cordial e eu tentei entender o que ela via de bom para estar sorrindo.
- Bom dia. – tentei parecer calma, mas não consegui.
- Sou a drª July, muito prazer. – estendeu a mão e a apertei, cumprimentando-a.
- Prazer. – sorri fraco e ela apontou a cadeira para que sentasse. Sentei e a puxei para mais perto de sua mesa. Olhei em volta e vi o quão arrepiante podia ser estar em um consultório médico.
- Como você se sente? – perguntou sentando de frente para mim e pegando um papel, analisando-o.
- Péssima. – fui sincera e ela sorriu baixo, me deixando completamente confusa.
- Enjoo? – adivinha? Não, com certeza ela quer saber se estou com os sintomas da doença que o meu exame acusa.
- Praticamente o tempo inteiro. Meu estômago nunca está bem. – descrevi e ela assentiu, com uma expressão séria. Acho que agora ela realmente me falaria tudo e eu abriria um berreiro.
- É assim mesmo. Venha, sente-se aqui. – pediu, levantando e indo em direção a uma maca. Ótimo, eu seria internada. Não sei de onde tirei forças para levantar, mas obedeci e sentei onde ela mandou. – Levante um pouco a sua blusa, por favor. – ordenou e eu obedeci, querendo acabar com aquela agonia. Passou a mão pela minha barriga e depois baixou a minha blusa, observando meus olhos e minha garganta com uma lanterna. – Hum, vamos ver o que posso fazer por você. – falou dando as costas e voltando para sua mesa.
- Doutora, pelo amor de Deus, me diz logo o que eu tenho, porque eu não aguento mais me sentir como estou me sentindo, esse mal estar está insuportável. Eu sei que tenho uma coisa péssima e é por isso que a senhora me chamou. Então, por favor, acaba logo com essa agonia. – soltei involuntariamente, quando ia da maca até a cadeira onde sentaria. Ela riu alto, quase gargalhando e eu me senti realmente ofendida. Nem mesmo sentei. Quer dizer que agora os médicos podem rir do estado terminal de seus pacientes?
- Não se preocupe, tudo isso que você sente vai passar dentro de um mês e meio. – falou em um tom conformado, ainda com um sorriso estampado no rosto e eu quis socá-la.
- Então tem cura? – perguntei quase arrancando os meus cabelos.
- Não que seja uma doença, mas você vai ter seu organismo de volta como ele costumava ser depois de nove meses. – fez algumas anotações e eu acho que nem pisquei. Como assim?
- Eu tenho que fazer algum tipo de tratamento? – ainda estava em pé, olhando-a. Ela olhou para mim.
- Sua saúde está em estado perfeito, tirando uma pequena anemia que logo, logo resolveremos. – ao ouvi-la dizer isso, respirei aliviada. – E antes que você pergunte mais coisas, você se sente tão mal assim porque seu organismo ainda não se adaptou ao fato de estar gerando um novo ser. – revelou naturalmente e eu quase desmaiei.
- EU ESTOU GRÁVIDA? – praticamente berrei e ela assentiu, com um sorriso de orelha a orelha.
- Parabéns. – levantou e me estendeu um papel cheio de anotações e um envelope. Mas eu não conseguia raciocinar.
- Espera, como assim? Não, não é possível. – balancei a cabeça inconformada. – Eu sempre me previno.
- Então aconteceu algum deslize, tente pensar nisso.
- Estou grávida há quanto tempo? – perguntei ainda tentando calcular.
- Aproximadamente oito semanas. – respondeu ainda estendendo o envelope e o papel. – Aqui estão alguns remédios para controlar o enjoo e para a anemia. Meu telefone está aqui e no que você precisar, pode contar comigo. Me ligue em breve para marcarmos a sua primeira ultrassom. Nesse envelope está seu exame, tudo está bem, não se preocupe. – ela deve ter agradecido aos céus quando voltei para o mundo real e segurei os papéis. Não conseguia pensar em como aquilo era possível. A drª July me levou até a porta toda sorridente e eu ainda não conseguia associar os fatos. Ela me disse que era assim mesmo, mas que logo eu começaria a me sentir mãe. Fiquei com vergonha de dizer que já engravidei uma vez e nem tinha forças para isso.

Deixei o consultório e me esperava sentada, de braços cruzados, com o mesmo tique que tenho nas pernas e vez ou outra olhava o relógio. Quando me viu, correu e me abraçou.

- Diz de uma vez por todas antes que eu morra! – pediu, me sacudindo, e eu ainda estava em estado de choque.
- Eu... Eu... – tentei contar, mas era como se a minha voz não quisesse mais sair.
- Você o que? , pelo amor de Deus. – disse levando uma das mãos à boca. – Ah meu Deus, amiga. Você está mesmo muito doente? – seus olhos já estavam cheios de lágrimas e a sua expressão era de pavor. Senti-me culpada por estar causando aquilo nela.
- Não, . Eu estou grávida. – falei de uma vez e ela ficou como eu acho que fiquei quando a doutora me confirmou isso.
- GRÁVIDA? – gritou e depois tampou a boca quando percebeu que todos que estavam próximos a olhavam. – Ops. – deu um tapa na própria testa.
- É, grávida. Agora vamos sair daqui, por favor. – quase implorei, indo na frente e ela me seguiu, acho que ainda tentava entender como seria possível. E eu estava da mesma forma que . Entramos no carro e eu abri o envelope em que havia o resultado do exame. Não que eu entendesse muito bem o que havia escrito ali, mas tinha que ver com os próprios olhos se aquilo era verdade. olhava de relance e dirigia ao mesmo tempo. Sabia que ela não aguentaria calada por muito tempo.
- , você andou transando com o John sem camisinha? Porque eu sei que você confia nele. – perguntou rapidamente, assim que parou no primeiro sinaleiro.
- John? Claro que não, . Tá louca? – respondi incrédula e ela arqueou as sobrancelhas, franzindo a testa e esperando uma resposta.
- De quem é essa criança, então? Eu sei que você se previne em todos os...
- Do . – a interrompi e ela prendeu a respiração. O sinal ficou verde e não conseguiu dizer mais nada. Eu sabia que só podia ser dele. Em uma das vezes que transamos, não consegui lembrar se tínhamos nos prevenido. E foi aquela vez na casa de . Contando as semanas, dava quase oito. Meu Deus, agora eu tinha ido realmente longe demais. Até me envolver com , integrante de uma banda famosa, tudo bem, mas engravidar dele estava sendo exagero. Como eu cheguei a esse ponto? Pedi a ela que parássemos em uma farmácia para comprar os remédios que a doutora havia passado. Eu precisava controlar aqueles enjoos, estava sendo insuportável. Comprei e voltei para o carro, ainda tinha a mesma expressão pálida e incrédula.

Entramos em casa e logo corri para a cozinha, para tomar o comprimido. Apesar do choque, ainda não tinha digerido muito bem a idéia do que estava acontecendo comigo e com o meu organismo. Voltei para a sala e estava sentada na poltrona, vendo TV. Tenho quase certeza de que seus pensamentos estavam muito longe dali. Sentei no sofá ao seu lado, ainda segurando um copo com água, e ela me olhou com um olhar de dúvida.

- Você tem certeza absoluta de que é dele? – perguntou e eu assenti.
- Eu não sei o que fazer. – confessei após tomar um pouco de água.
- É simples, procure-o e conte. Ele vai ter que ser homem e assumir, . – sugeriu, segura, e eu soltei uma risada abafada.
- Depois do que aconteceu hoje de manhã? Nunca. – balancei a cabeça negativamente.
- Larga esse orgulho. Não estamos falando de vocês dois, do que aconteceu no Brasil e etc, estamos falando de uma terceira pessoa que não pediu para vir ao mundo. – continuou em um tom de reprovação e eu abaixei a cabeça, encarando o copo.
- Eu sei, . Mas eu não quero que ele saiba. Não agora. Por favor, não diz nada a ele. – a olhei e quase supliquei.
- Não sei, . Realmente não sei se vou conseguir fazer isso. Caramba, será que ele vai dar uma de que não participou da elaboração desse filho? – perguntou indignada e eu levantei, deixei o copo na cozinha e fui para o meu quarto.

Deitei com a barriga para o colchão e abracei o travesseiro, apoiando o queixo. Eu realmente não sabia o que fazer. Estava completamente perdida. Nem conseguia pensar em nada. Ou melhor, não por algum tempo. Ainda não tinha ligado os pontos direito, não conseguia acreditar em tudo o que tinha acontecido, no que era para ser uma simples manhã. Não conseguia entender por que tudo estava acontecendo tão rápido. Por que tinha que me procurar cedo e me fazer uma das maiores raivas da minha vida e depois eu tive que descobrir que espero um filho dele? Senti uma dor no peito e fiz o que mais fazia nesses últimos dias: chorei. Não sabia como tudo seria, não sabia como ia cuidar de uma criança, não sabia como contaria para .

Meus pais gostam muito do Daniel e os dele de mim. Sua mãe até me disse uma vez que se ela pudesse escolher a mãe de seus netos, me escolheria. – sorriu vitoriosa e eu senti vontade de puxar os seus cabelos e dizer que havia dormido de “conchinha” com o seu namoradinho na noite passada.

(...)

- Eu imagino o que você passou. E você é mulher, é pior ainda. Não me vejo sendo pai de uma criança, digo, eu sou muito novo pra isso. – disse sinceramente e eu me virei para ele.


Essas lembranças começaram a não me deixar em paz. Cada vez chorava com mais intensidade. apareceu no quarto e sentou ao meu lado, me abraçando.
- Eu não sei o que fazer... Eu... Não sei. – falei inconformada, em meio a soluços altos.
- Não vou contar pra ele, . Isso só te interessa, não devo me meter. É uma decisão sua. – tentou me consolar e eu a abracei mais apertado.

Capítulo 25


(COLOCAR PARA CARREGAR – http://www.youtube.com/watch?v=NAuTK6QIhWw)

Certifiquei-me de que havia saído e chamei um táxi. Eu precisava resolver as coisas de uma vez. Tinha que vê-lo pela última vez. A raiva e o orgulho não conseguiam ser maiores do que a falta que ele estava fazendo. Eu não queria saber se seria um momento constrangedor, se eu me passaria por fraca ou se simplesmente não aconteceria nada além de ficarmos um olhando para a cara do outro e ele pensando por que raios eu tinha ido até lá. Entrei no táxi e encostei a cabeça no vidro, vendo o percurso que fazíamos. Era exatamente o mesmo que fiz com no dia em que o conheci. Infelizmente, dessa vez, eu sabia exatamente quem ele era e como tudo estava. Paguei e desci do carro sentindo as pernas vacilarem. Olhei para o grande hotel do outro lado da rua e senti meu coração quase gritar e sair correndo do meu peito. Respirei fundo e sabia exatamente o que fazer, era só colocar em prática. Fui até a recepção e rezei mentalmente para que quisesse me atender. A moça ligou para o seu quarto e ele autorizou. Sim, autorizou, e isso me deixou ainda mais ansiosa. Entrei no elevador e pressionei o bom e velho botão “5”. Lembrei da primeira vez que fui naquele lugar, em que riu abafado quando um casal de velhinhos pegou o mesmo elevador, a diferença é que era o de serviço. Lembrei também da primeira vez que pegou em minha mão. Parecia fazer tanto tempo, como se tivesse sido há anos.

A porta se abriu e eu encarei aquele corredor. As minhas pernas me levaram até a porta do quarto de involuntariamente. Dei duas batidas leves e achei que teria um ataque cardíaco antes mesmo de abri-la. O elevador de serviço teve sua porta aberta e um casal saiu, me cumprimentando educadamente. Eu queria mesmo estar expressando a mesma simpatia, mas a demora de para abrir a porta estava me matando. Bati novamente e, como em um impulso, ele apareceu, me assustando. Estava apenas de boxers, agora com desenhos dos Simpsons, sorri internamente. Seu cabelo estava bagunçado, porém molhado. Devia ter acabado de sair do banho. Ele tinha um olhar confuso e acredito que eu tinha um olhar de desespero. Definitivamente tinha que fazer o que estava com vontade. Eu tinha que guardar aquilo em minha mente. Joguei-me em seus braços e deitei a cabeça em seu ombro. mal tocou em mim, acho que não entendeu nada. Tentei controlar, mas comecei a chorar. Sabia o quanto ele faria falta. Foi aí que senti seus dedos passearem pelos meus cabelos e seu outro braço me envolver.

- Vamos entrar, . – disse, se desvencilhando e eu me senti uma idiota por estar chorando. Limpei as lágrimas, mas não adiantou muito porque suas substitutas já apareciam. Ele fechou a porta do quarto. – Senta. – apontou para a beira da cama e eu o fiz. Sentou-se ao meu lado e me olhou, confuso. – O que foi? – passou as costas de seus dedos em meu rosto. Senti as mãos gelarem quando seu rosto foi se aproximando do meu. Nossos lábios se tocaram como um choque. Abracei pelo pescoço e o puxei para mais perto. As nossas línguas se encontraram com pressa, ele me abraçou pela cintura com força. Novamente, tive aquela sensação falsa de paz, que foi se instalando e me fazendo perder a vontade de chorar e achar que tudo estava bem de novo. Fomos deitando lentamente, me beijava com ternura e ficava por cima de mim. – Não chora mais. – sussurrou e depois me deu um selinho rápido, fazendo carinho em minha testa e me olhando nos olhos, depois enxugou algumas lágrimas que tinham sobrado em meu rosto. O abracei novamente e permanecemos por alguns instantes daquela maneira: em silêncio, prestando atenção em nossas respirações e no calor de nossos corpos. Iniciamos outro beijo e nossos lábios se pressionavam com intensidade. Eu sabia que devia aproveitar cada segundo ali, com ele. Me fez bem perceber que correspondeu ao meu toque e até me beijou primeiro. Infelizmente, tudo o que é bom dura pouco. A vida novamente bateu em minha cabeça e me fez lembrar o que eu tinha que fazer. Empurrei e sentei. Ele ficou confuso e se sentou. Levantei da cama e desamassei a minha blusa, depois os cabelos. Seus olhos suplicavam por uma explicação.
- Eu... Eu... Eu tenho que ir. – falei, querendo realmente dizer o contrário e dei as costas.
- , o que tá acontecendo? – ouvi perguntar e me puxar pelo braço. Virei-me para ele, mas evitei encarar seus olhos.
- Nada, eu só tenho que ir. – respondi tirando sua mão do meu braço e abrindo a porta.
- Você volta? – perguntou em um tom preocupado.
- Não. – balancei a cabeça negativamente. – Eu vim aqui me despedir. – comuniquei de uma vez e ele me olhou assustado.
- Pra onde você vai? – realmente esperava uma resposta.
- Não importa. – respondi ríspida.
- Eu posso fazer alguma coisa pra mudar isso? – usou um tom insistente e eu não acreditei que ele estava fazendo aquilo. Seria tão fácil se ele apenas ignorasse e me mandasse ir para o inferno. Já sentia as lágrimas se acumularem em meus olhos e respirei fundo, depois balancei a cabeça, negando e baixei o olhar. Olhar em seus olhos era cada vez mais difícil. No fundo, eu sabia que uma coisa podia me fazer ficar. Não custava nada tentar.
- O que você faria para que eu ficasse? – perguntei voltando a encará-lo. – O que você diria?
- Eu... – começou e abaixou a cabeça. Continuei olhando-o, esperando ansiosa para ouvir a forma que concluiria sua frase. – Não saberia o que dizer. – concluiu e em seguida bufou, balançando a cabeça e coçando a testa.
- Eu já esperava por essa resposta. – falei sincera e ele bateu na parede.
- Droga, . Eu não entendo o porquê disso tudo!
- Não precisa entender.
- Desculpa, te peço quantas desculpas você quiser! Eu agi como um idiota, mas agora já está feito. – disse nervoso e eu acho que se referia ao que aconteceu no Brasil e o que ocorreu na manhã anterior.
- Não, , não precisa. Você sabe o que faz. Já te falei isso uma vez. Eu simplesmente tenho que ir. – respirei fundo e várias lágrimas já escorriam. Seu olhar era preocupado, receoso. – Não se preocupe, você vai ficar bem. Você não precisa de mim, acredite, tudo vai ficar bem. – falei e dei um beijo demorado em seu rosto. tentou dizer alguma coisa, mas se sentia inseguro por não entender o que estava havendo. Olhamo-nos pela última vez e dei as costas, pressionando o botão do elevador. Eu sabia que não seria como em comédias românticas, ele não viria atrás de mim e se declararia, dizendo tudo o que eu sempre quis ouvir. A vida não é um conto de fadas.

Não sei como consegui deixar aquele prédio, chamei um táxi e chorei o percurso inteiro. Entrei em casa e rapidamente peguei um papel e uma caneta. Tinha que me despedir de . Não pude fazer isso mais cedo pessoalmente, pois ela não me deixaria fazer o que planejava, eu tinha certeza. Ver confuso e atordoado com o que falei quase me fez desistir, ver chorando seria mil vezes pior.

,
Eu queria, honestamente, me despedir de você de uma maneira normal e corajosa. Porém, descobri que sou covarde demais para te encarar e agir fracamente em sua frente. Sei que você esperava exatamente o contrário de mim e não uma fuga repentina. Eu tentei, juro que tentei, mas não consegui uma maneira melhor para encarar tudo o que está acontecendo comigo. Preciso de um tempo longe daqui, longe de tudo o que me cercou nesses últimos meses. Por enquanto, não posso te dizer pra onde vou e faço isso com o coração na mão, porque realmente queria você perto de mim. Por outro lado, acho que isso é preciso, eu tenho que sumir por uns tempos. Tentar colocar a cabeça no lugar e talvez consertar alguns erros do passado. Eu amo você de todo o meu coração e sou eternamente grata por tudo o que você já fez por mim. Sei que se não fosse você, não estaria aqui hoje. Se não fosse você para segurar as pontas, certamente eu já teria cometido suicídio. Consigo até ouvir você me xingando ao ler isso. E acredite, pela primeira vez alguém sentirá falta de ser xingada de tudo o que não presta. Se cuida, loira, vou me virar do jeito que posso e prometo dar sinal de vida quando as coisas estiverem melhores. Não tenta me achar, prometo que apareço.

Não tenho nenhum direito de pedir isso, mas, por favor, não conta nada para o . Te peço por toda a amizade que temos, não quero que ele saiba que é pai do filho que eu estou esperando. Diz para os meninos (, e Harry) que os amo muito também, que queria ter dito um ‘adeus’ pessoalmente, mas não pude, nem tive tempo. Boa sorte com os seus dois homens, espero que você opte por um e que não cause o fim de uma bela amizade. Haha

Te amo incondicionalmente e obrigada por tudo. Um dia, quando você menos esperar, estarei aqui para batizar o serzinho que cresce em minha barriga e quero você ao meu lado, sendo madrinha, assim como sempre combinamos em nossas conversas de madrugada.Até mais.

Beijos, .”


Leopold me olhou preocupado, então apenas confirmei levemente com a cabeça e dei a minha mochila para que ele guardasse. Abri a porta do caminhão e olhei em volta, eu estava realmente deixando tudo aquilo para trás. Olhei para o nosso prédio pela última vez e entrei no veículo. Bati a porta ainda olhando fixamente para a entrada. Lembrei exatamente do dia em que e eu alugamos o nosso apartamento, a nossa felicidade ao vê-lo todo mobiliado, as inúmeras vezes que enchemos a cara, só as duas e ficávamos fazendo zoada na janela, assustando todos que passavam na rua. As diversas vezes que a abracei quando chorava com o coração partido, as vezes que tive de consolá-la. Levei um susto e saí do pequeno transe com Leopold batendo a porta com força e ligando o caminhão. Fui olhando todo o caminho que fazíamos, era muito estranha aquela sensação de estar deixando tudo para trás.

- Você tem certeza de que é isso o que quer fazer? – Leopold perguntou depois de um longo tempo em silêncio.
- Às vezes um raio pode cair no mesmo lugar duas vezes. – respondi simplesmente e encostei a cabeça na janela. Senti o coração ficar apertado, lembrei de tudo o que me fez fugir de Bolton. Agora estava sendo praticamente pelo mesmo motivo, mas comigo adulta e ciente dos meus atos.
Ao passar pela calçada em que trabalhava, lembrei do dia em que vi sentado exatamente no lugar onde eu ficava esperando algum carro parar, não acreditando que ele tinha voltado depois de ter recebido spray de pimenta nos olhos, me levando ainda para ver um filme. Um filme em um cinema aberto. Um dos filmes mais lindos que já assisti.

- Não é certo. — falei em um tom que, se não estivéssemos em silêncio, ele certamente não teria ouvido.
- Cansei de procurar o que é certo. — abri os olhos lentamente e notei que estávamos a apenas um centímetro de distância, ele ainda acariciava o meu rosto, mas agora com a outra mão segurava o meu pescoço. Seus olhos se dividiam da minha boca para os meus olhos. Eu já não sentia parte nenhuma do corpo, sentia estar flutuando. Senti seu nariz encostar-se ao meu, massageando-o, assim como naquele sonho que tive.

Voltei a fechar os olhos. A mão que acariciava o meu rosto agora se dirigia para a minha nuca. Eu, que apenas usava as mãos para me apoiar no banco do carro, levei-as a sua nuca, acariciando seus cabelos. Nossos narizes brincavam e eu sentia a sua respiração bater novamente em meus lábios. Tinha medo de abrir os olhos e estar sonhando, então os mantive fechados. Como um choque, senti os lábios de tocarem os meus com leveza e esse toque começou a se intensificar. Meu coração já nem devia bater mais de tão acelerado que devia estar. Ele pressionou, como se pedisse passagem para nos beijarmos. E eu o fiz, finalmente. Abri suavemente a boca e senti a sua língua encontrar a minha. Elas iam de um lado para o outro com muito cuidado, parecendo se conhecerem há anos. Estava sendo eletrocutada por dentro, senti as tão famosas borboletas no estômago que tanto ouvi a falar que sentia... Lembro de tê-la achado idiota. Mas essas borboletas realmente existem. Basta encontrar alguém que saiba a hora de despertá-las. O beijo estava mais intenso, os braços de agora estavam na minha cintura e os meus em volta de seu pescoço. Ele parece saber o momento certo para tudo. A nossa sintonia era inexplicável. No som, alguma canção que nem prestamos atenção terminava de tocar. E a que começava... Ah, a que começava. Paramos de nos beijar como que num impulso e começamos a rir. Pareciam aquelas cenas clichês de filme. Era “I Wanna Hold Your Hand”. aumentou o volume e me olhou, sorrindo. O sorriso mais lindo que já o vi mostrar. Sorri para ele também, não com um sorriso tão lindo quanto o seu, já que creio ser impossível.


(Coloque a canção para tocar)

Doía saber que tudo aquilo ia ficar no passado, que talvez nunca mais teria a chance de sentir por alguém o que sentia com . Querendo ou não, o motivo real para manter a ideia de sumir foi não ouvir dele o que precisava e esperava. Eu sabia que não seria fácil ter uma conversa honesta com ele e, no entanto, me sentia ainda mais covarde por nem ter tentado. Agora já é tarde demais, é olhar apenas para frente.

“I've been the needle and the thread
(Eu tenho sido a agulha e a linha)

Weaving figure eights and circles round your head
(Tecendo figuras e círculos rodeando sua cabeça)

I try to laugh but cry instead
(Eu tento rir, mas, ao invés disso, choro)

Patiently wait to hear the words you've never said
(Pacientemente espero escutar as palavras que você nunca disse)”

Em algum lugar de minha subconsciência eu esperava que dissesse que gostava de mim e não conseguiria me ver partir. Mas uma coisa ninguém podia arrancar de mim: as memórias. Apesar das turbulências que enfrentei, guardaria tudo aquilo com carinho, tudo o que tivemos. Pelo menos a parte boa. E no fim, não interessava realmente se nem chegou a sentir por mim metade do que sinto por ele, o importante é que vivi intensamente enquanto pude. Vivi em meses o que não vivi em 20 anos. O vidro ia ficando embaçado, porque eu chorava baixinho com a cabeça encostada nele. Junto com a lembrança de , me veio a lembrança de Harry, e . Eu definitivamente nunca iria esquecer os momentos que tivemos. É tão ruim não ter a certeza de que estaremos todos juntos um dia novamente. Quem sabe eu volte para Londres, mas tenha perdido o contato com eles e tudo isso tenha ficado realmente no passado? A única coisa que eu tinha certeza ali era de que, por enquanto, tinha tomado a decisão certa. Eu precisava sair. Eu precisava de um tempo. Saíamos da cidade e eu ainda conseguia ver a London Eye, que também me lançou várias lembranças. Não só com , mas também com os meus novos amigos. Sentia pontadas a cada lembrança que tinha de , sua gargalhada ecoava em minha cabeça e tudo o que eu queria era vê-la antes de partir. Não podia, não conseguiria. Seu abraço e seu sorriso seriam definitivamente umas das coisas que eu mais sentiria falta, que mais me fariam pensar em voltar. Ela é tudo para mim. Mãe, pai, irmã, tia, avó. Ela é o que eu penso ser uma família.

- E que diabos ele faz aí? Foi cantar pra ganhar um trocado extra, por acaso? — rimos.
- Não, sua demente! A namorada dele é filha dos donos da festa e ela é sobrinha do John!
- Você tá brincando? @#$% que pariu! Que cínico, e como ele está agindo?
- Fingimos que fomos apresentados hoje, mas tá sendo difícil disfarçar. Estamos inquietos e eu te liguei pra me ajudar a resolver esse problema! — falei impaciente.
- O que eu posso fazer? Fingir que sou uma garçonete e derrubar bebida nele? Espera que esto indo! — tentei, mas não consegui controlar o riso. A minha amiga não é normal.
- Dããããã, não! Escuta, quero que você me ligue daqui cinco minutos e finja que tá passando mal!
- Dãããã pra você agora! O John, do jeito que se sente o meu pai, vai se oferecer pra me levar ao hospital.
- Dãããã pra você, de novo! Vou dizer que vou pegar um táxi, que não quero estragar a festa dele! Ele vai acreditar, escuta o que eu estou te dizendo. — falei rezando para que ela concordasse logo.
- Tá, tá, tá... Até que faz sentido! – amém! — Então vai logo que dando cinco minutos em ponto eu ligo!
- Muuuuuito obrigada, amiga. Muito mesmo! Te devo mais essa! — agradeci, comemorando sozinha na cabine.
- É, eu sei. Vou começar a anotar tudo o que você me deve, sua bisca. Agora anda, vai logo pra lá que eu estou louca para atuar. — rimos e nos despedimos.

Guardei o celular na bolsinha e abri a cabine. Olhei-me no espelho e respirei fundo. Estava tudo planejado, eu iria escapar daquela festa e deixar o à vontade. Então voltei para a mesa, John e Sophie conversavam empolgados, mas parecia olhar em outra direção. Quando me viu chegando à mesa, olhou-me. Dos pés à cabeça e esboçou um sorriso. Ignorei e sentei. Sophie puxou algum assunto idiota sobre a grife que fez o seu vestido e eu fingi estar gostando da conversa, na verdade estava ansiosa pelo telefonema da . Nunca cinco minutos passaram tão devagar. Até que finalmente senti o celular vibrar. Atendi praticamente vibrando junto com ele.

- Alô?
- Uhul, é agora!
- ? O que você tem, amiga?
- Oh Deus, adoro isso! Tenho vontade de te tirar dessa festa chata. — ela gargalhou.
- Calma, fica calma, por favor. Enquanto você ficar agitada assim só vai piorar. — falei tentando parecer preocupada, mas conter o riso era quase impossível.
- Anda Julia Roberts, quero mais DRAMA!
- Não, não posso sair daqui, , você sabe... Estou fazendo companhia para o John. — todos na mesa estavam me olhando preocupados.
- Manda ele se @#$%& junto com a sobrinha dele e esse cantorzinho de McFly imbecil! — quase começo a rir, mas levei uma das mãos à boca, tentando controlar.
- Ai meu Deus, estou indo, não consigo te ouvir assim e não te ver. Aguenta que estou chegando. Tchau.
- E o Oscar vai para... Tchau! — ela desligou e eu também.

(...)

Subi as escadas apressada e bati na porta. me recebeu já rindo e eu a abracei. Rimos juntas por um tempinho, ali, paradas na entrada do apartamento. Entramos e me joguei no sofá, tirando a sandália e apoiando os pés na mesinha de centro. sentou na poltrona.

- Obrigada, amiga, muito obrigada. Acho que nunca me diverti tanto! – falei ainda rindo e fechando os olhos com a cabeça apoiada no sofá.
- E eu? O que você achou da minha performance?
- Ai sua imbecil! Você quase me faz gargalhar na frente deles e estragar tudo. Mas valeu a pena, ri demais dentro do táxi... Quando desci, ele desejou até que eu continuasse sempre assim... Feliz! — agora era quem ria descontroladamente.

Fomos para o meu quarto e eu tirei toda a maquiagem, em seguida vesti uma camisola de seda. Deitamos em minha cama e a me fez contar tudo, pra variar. Quando contei da parte do banheiro, ela disse que eu deveria ter feito igual naqueles filmes e revelar tudo... Assim a Sophie iria até o e jogava o sapato na cabeça dele, como ela fez com Ryan. Também me disse que conhece Sophie, já foi em algum jantar oferecido pelos pais dela. “Ela é uma vagabunda”, disse-me inconformada. Não acreditei tanto assim, acho que ela disse para me conformar, alegrar-me. Sophie é completamente doce e delicada. Como seria uma vagabunda? Acho que eu chego mais perto disso, e não aquela moça tão elegante e educada, louca para casar com o namorado. Não pensem que ela também não xingou . Chamou-o de todos os adjetivos necessários, os ruins, claro. Mas eu pedi que deixasse pra lá, o não é meu, por mais que às vezes eu desejasse isso de forma assustadora.

- Dorme aqui comigo? — perguntei virada para a janela, encarava o teto.
- Durmo. — respondeu simplesmente.
- Obrigada.— fechei os olhos.
- ?
- Oi?
- Você se importa se eu colocar música? Só durmo com música. — falou com uma voz pidona.

O gênio forte e egocêntrico de ; personalidade mais estranha do mundo de e o jeito sério, porém sarcástico de Harry me marcaram decisivamente. Era impossível não reconhecer que eles foram algumas das únicas pessoas que eu tinha medo de perder. Eu simplesmente amo aqueles garotos. E não sei o que farei para suportar tanto tempo sem vê-los se engalfinhando e me fazendo rir feito louca.

- Você viu quem eu trouxe? – disse e Harry levantou a cabeça lentamente e olhando para o lado. A expressão que ele fez valeu o meu dia. Eu não sabia que eles sentiriam tanto a minha falta.
- MEU DEUS! EU TÔ VENDO DIREITO? – esfregou os olhos e eu balancei a cabeça, sorrindo. Então ele se aproximou e me deu um abraço. Não um simples abraço. Era tão apertado que parecia me sufocar, mas eu poderia ficar sufocada ali, não tinha problema. Foi tão sincero que eu apenas o abracei com a mesma intensidade, claro que não com a mesma força, devido ao pequeno detalhe de ele ser homem. – Rachel, eu senti tanto a sua falta! Os meninos também! – falou se distanciando e me dando vários beijos estalados na bochecha.
Ele fez carinho na minha nuca e apoiou o queixo na minha cabeça. Eu estava apreensiva para aquele reencontro com e tudo mais, mas Harry foi tão carinhoso, tão lindo com aquela recepção que eu me sentia preparada para qualquer coisa.
Mal olhei para frente e e me abraçaram, se não tivesse uma parede atrás de mim, acho que fariam montinho, porque eu não tinha forças para aguentá-los. A recepção deles foi tão calorosa quanto a de Harry, e eu parei para me perguntar como tinha aguentado tanto tempo longe daqueles bobos lindos. O abraço de foi mais apertado, porque eu via sempre que ia em nosso apartamento ficar com .
- @#$%! Rachel! Eu nunca pensei que eu ia dizer isso pra alguém, mas você fez uma falta danada! – disse ainda me abraçando e eu passei a mão em sua nuca.

(...)

- Quem é? – perguntei procurando com o olhar e apareceu no quarto. Escondi o rosto com as mãos. – Vai lá pra fora, vou lavar o rosto e depois te chamo. – falei levantando e correndo para o banheiro. (...)
- Posso entrar? – perguntou com um sorriso maroto no rosto e eu assenti.
- Senta aqui. – dei dois tapinhas na cama e ele sentou ao meu lado.
- Como você tá?
- Ruim, né? – disse dando de ombros e em tom desanimado. Ele passou um dos braços ao redor do meu pescoço. – E envergonhada. – baixei a cabeça.
- Não se cobra tanto. Assim é pior ainda. – falou sincero e eu levantei a cabeça, olhando-o e vendo um olhar misericordioso.
- Dói tanto. – mal falei e me abraçou apertado, dando um beijo no topo da minha cabeça.
- Eu só quero te dizer que nada mudou. A não ser o fato de você ser e eu ter absolutamente amado o seu nome. – brincou e eu ri, enxugando algumas lágrimas teimosas que insistiam em cair. (...)
- ... – o chamei e ele ficou sério. – Como o Harry e o estão em relação a mim?
- Pode ficar tranquila, como já te disse, não mudou nada. Nós te amamos do mesmo jeito, ou até mais. – disse me dando um beijo estalado na bochecha e me abraçando novamente.

Abracei os meus joelhos e escondi o rosto. Estava impossível conter os fortes soluços. Eu amava o que estava deixando para trás. Deixei a maior parte do meu coração em Londres. Senti a mão de Leopold acariciar a minha nuca e levantei a cabeça, sorrindo fraco e enxugando algumas lágrimas. Ele me disse que tudo ficaria bem, que logo, logo eu estaria com um sorriso no rosto e um filho nos braços, veria tudo de uma forma melhor. Acomodei-me no banco e começava a chover. Enquanto contava cada gota que batia na janela, fui sentindo as pálpebras pesarem. Eu tinha noção de que aquele seria o sono menos tranquilo que já havia tido.

Acordei bruscamente e Leopold me disse que já estávamos em Bolton. Tentei ajeitar os cabelos e abrir mais os olhos. Olhei para o lado e vi que estávamos em um posto de gasolina. Desci para esticar as pernas e olhei em volta. Foi uma sensação incomum. Era extremamente estranho estar em Bolton novamente e ver o quanto aquela cidade havia mudado em quatro anos. Leopold conversava com um frentista e vez ou outra o pegava olhando para onde eu estava, acho que para garantir que desta vez eu não fugiria. Apontei para a loja de conveniência, avisando que iria até lá e ele assentiu. Comprei iogurte e voltei para perto do caminhão. Pelo que pude perceber, estava de manhã, ainda. Leopold veio até mim e disse que já estava pronto. Entrei no caminhão e ele perguntou para onde eu iria. Peguei um papel amassado no bolso e confirmei o que já lembrava. Dei as coordenadas e observei o caminho com cautela. Parecia ser outra cidade. Não lembrava nem de longe aquela Bolton que deixei aos 16 anos. Olhava atenta para as pessoas que passavam na rua, tentava encontrar algum rosto conhecido, mesmo sabendo que isso seria praticamente impossível.

Senti as pernas fraquejarem ao entrar naquela rua. O caminhão parou e eu respirei fundo antes de descer. Sabia que não seria fácil. Era uma mistura infinita de sensações. Sentia agonia, ansiedade, medo, curiosidade. Leopold me entregou a minha mochila e me deu um abraço apertado, disse que estaria disposto a me ajudar no que precisasse, bastava ligar em seu celular. Agradeci muito tudo o que estava fazendo e disse que manteria contato. Desejou-me sorte e eu vi que realmente precisaria. Assisti seu caminhão sumir de vista e me virei para o lado da rua que mais me assustava. Olhei para a casa de meus pais e percebi que ela estava praticamente da mesma forma, a diferença é que as paredes estavam descascando, era óbvio que precisava de uma pintura urgente. Também notei que a grama do jardim estava um pouco alta demais. No fundo eu imaginava que estaria dessa forma, pois quando morava ali a única pessoa que se importava em apará-la era eu. Coloquei a mochila nas costas e caminhei lentamente, sentindo como se as minhas pernas estivessem grudadas no asfalto. Por que o passado consegue ser mais assustador do que o futuro? Minha mão foi quase contra a vontade até a porta. Bati de leve e me senti exatamente da maneira como me senti quando me despedi de no dia anterior, antes dele abrir a porta do quarto. Bati novamente e não ouvi nenhum movimento. Virei-me e voltei a encarar a rua, tomando ar para criar coragem e bater de novo.

Ouvi a porta se abrir. Virei-me bruscamente e dei de cara com aquela pessoa que eu devo chamar de ‘mãe’. Ela estava abatida, com grandes olheiras e pareceu me reconhecer de primeira. Olhou-me da cabeça aos pés e eu senti todas as partes do corpo tremerem. Como era grotesco estar ali novamente.

- Por que você voltou? – perguntou em um tom indignado e tragou o seu cigarro. Soltei uma risada abafada, era incrível, mas eu não esperava uma recepção diferente. Tudo estava como eu acreditava que estaria.
- É bom te ver também, mamãe. – falei em um tom sarcástico e agora quem sorriu foi ela, balançando a cabeça negativamente e coçando a testa. Parecia estar mais desconsertada do que eu.
- Quem está aí, Ellen? – ouvi a voz de meu pai vindo do fundo da casa e o procurei com o olhar.
- Ninguém, Paul. – respondeu simplesmente, me olhou uma última vez com os olhos cerrados e bateu a porta. Era óbvio que seria assim. Agradeci-me mentalmente por não estar decepcionada e por não esperar um abraço caloroso e uma festinha de boas-vindas. Saí dali e caminhei para o lado da casa, para o quintal vizinho.

A casa dos Former.

Aquela sim havia mudado bastante. Agora tinha duas árvores na frente e um balanço na varanda, com alguns vasos de planta na janela frontal. Sorri ao ver o quanto tudo estava bem cuidado. Era até irônico, era como se por eles serem pessoas boas tudo estivesse incrivelmente mais bonito do que na casa ao lado. Toquei a campainha e senti um frio constante na barriga.

- OH MEU DEUS! EDWARD, VENHA AQUI! – dona Mary gritou, levando as mãos à boca ao me ver, quando olhou da janela para ver quem havia tocado a campainha. Sorri abertamente para ela e então a porta foi aberta. O senhor Edward me recebeu de braços abertos. Ele sim era um pai para mim. Abracei-o muito apertado e abri os olhos, vi dona Mary limpando algumas lágrimas e percebi que eu estava exatamente como ela: lacrimejando de tanta emoção. Desvencilhamo-nos e corri para abraçá-la. – Querida, como eu senti a sua falta. Deus, olhe para você! – disse se distanciando e colocando as mãos em meu rosto. – Como está linda. – me abraçou novamente.
- Eu nem acredito que estou com vocês de novo! – falei, me desvencilhando e recebendo um beijo no topo de minha cabeça, dado pelo senhor Edward.

Dona Mary pediu que entregasse a minha mochila para ela e levou-a para um quarto. Segui-a e ela disse que eu ficaria ali. Olhei e percebi que aquele era o quarto onde Carol dormia. Assim que decidi voltar para Bolton, testei ligar para o número que tinha gravado em minha mente, que seria da casa deles na época em que saí de lá. Falei com o senhor Edward e agradeci aos céus por ainda ser aquele o seu telefone. Avisei que estava indo e eles comemoraram, dizendo que exigiam que ficasse lá. Não tive muito tempo para perguntar por Carol, faria isso quando chegasse. Olhando para o quarto completamente sem decorações, apenas com uma cama de solteiro e uma cômoda, pude perceber que ela não vivia mais lá.

- Dona Mary, onde a Carol está? – perguntei sentando na cama, enquanto ela mexia em algumas gavetas da cômoda, checando se estavam limpas para que eu colocasse as minhas roupas.
- Ah, meu bem, ela está formada. Você sabe como é, criamos os filhos para o mundo. Assim que começou a ganhar melhor, alugou um apartamento e foi morar sozinha. – respondeu em um tom desanimado e eu imaginei o quanto aquilo tinha sido difícil para ela, pois Carol e dona Mary tinham um ótimo relacionamento, eram unha e carne.
- Fica perto daqui?
- Sim, e será surpresa. Edward e eu não avisamos que você chegaria. Convidamos Carol para jantar aqui hoje. – agora seu tom de voz estava bem mais feliz e eu sorri.
- Ai, acho que nós duas teremos ataques cardíacos! Quando vi vocês achei que teria um troço. – falei sincera e ela riu baixo, sentando ao meu lado.
- Ela sempre fala de você. Sempre diz que não se conforma por não saber onde você estava.
- Nossa, eu também sempre me lembrava dela. De vocês. Na verdade, eram as únicas lembranças que fiz questão de guardar daqui. – baixei a cabeça e a senti fazer cafuné.
- Nós nunca esquecemos você, minha querida. E eu sempre soube que iríamos nos rever. – me abraçou e eu senti como se tudo fosse melhorar dali para frente. – Você se importa se eu perguntar sobre seus pais? – perguntou ao nos separarmos e eu neguei. – Quando pretende falar com eles?
- Eu fui lá antes de vir aqui. – comecei e ela arregalou os olhos. – A minha mãe abriu a porta e agiu exatamente como eu pensei que agiria.

Contei como havia sido para dona Mary, ela tentou me consolar, dizendo que as coisas melhorariam com o passar dos dias. Perguntei se eles haviam conversado com os meus pais nesses últimos tempos e ela disse que pouquíssimas vezes, mas que meu pai havia se curado de seu vício e havia perguntado uma vez para o senhor Edward se eles ou Carol tinham tido notícias minhas, o que me deixou surpresa. Ela também perguntou um tanto quanto desajeitada como estava o meu filho e por que não o havia levado comigo. Respondi cabisbaixa que não cheguei a tê-lo e dona Mary ficou constrangida, me pedindo mil desculpas e dizendo que Carol a mataria se soubesse que ela tinha me feito perguntas a respeito disso. Eu disse que não importava, que ela tinha todo o direito de querer saber e que não pedi segredo. Contei como estava a minha vida em Londres, para ela e para o senhor Edward, quando a ajudava na cozinha com o almoço. Eles disseram que queriam conhecer e que ela era um anjo colocado em meu caminho. Evitei falar no que trabalhava, queria poupá-los desse choque, assim como o fato de estar grávida novamente. Eu já estava claramente à vontade. Almoçamos conversando muito e depois tomei banho e fui para o quarto descansar. Dormi realmente mal durante a viagem e me sentia como se o caminhão tivesse passado por cima de mim.

Já estava pronta e ajudei dona Mary com alguns pratos para o jantar. Esperava por Carol ansiosa. O senhor Edward foi correndo na cozinha avisar que ela estava chegando. Dona Mary disse que iria para a sala de jantar com o senhor Edward e ficariam conversando com Carol, então eu viria e serviria o prato principal, fazendo a surpresa. Adorei a idéia e suei frio de tanto nervoso. Ouvi a voz de Carol vindo da sala e meu coração bateu acelerado. Cheguei a achar por muito tempo que talvez nunca teria a chance de falar com ela de novo. Senhor Edward fez o sinal que havíamos combinado e eu peguei a travessa de lasanha, indo até a sala de jantar. Quando me viu, Carol deu um grito e se levantou em um impulso. Coloquei a lasanha na mesa e corri em seu encontro. Eu também gritei de felicidade ao vê-la e foi impossível controlar a emoção. Notei que ela também chorava enquanto nos abraçávamos.

- , eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo em te ter de volta! – falou sincera, com a voz trêmula devido à emoção, me apertando ainda mais.
- Senti tanto a sua falta, amiga. Tanto. – falei me afastando e a olhando. – Você tá muito linda! – a abracei novamente.
- Olha quem fala! – agora ela que me olhou. – Um mulherão! – brincou e nós rimos.

Soltamo-nos para jantar e aquele foi um jantar realmente animado. Colocamos todas as fofocas em dia e não falamos de nenhum assunto desagradável. Carol contou tudo sobre a sua nova vida e eu sobre a minha, claro que ausentando alguns detalhes, como a minha profissão. Contaria para ela depois, quando estivéssemos a sós. Ela também ficou profundamente feliz em saber que encontrei . Confessou que já chegou a pensar que eu havia morrido e eu ri, dizendo que ela teria que me aguentar por muito tempo. Quando terminamos de jantar, Carol disse que iria em seu apartamento buscar suas roupas para dormir na casa dos pais, para que continuássemos conversando. Aprontei-me para deitar e fiquei esperando-a. Dei boa noite para seus pais e fui para o quarto. Carol logo chegou e arrumou um colchão no chão ao lado da cama em que eu estava deitada.

- , você tá ouvindo isso? – perguntou procurando algo.
- Ih, acho que é meu celular. – falei levantando da cama e correndo. Abri a bolsa que estava em cima da cômoda e o tirei ainda vibrando de lá. “Você recebeu 15 mensagens”. Deveria ser . Ela deveria estar louca. Senti o coração ficar do tamanho de um grão de areia ao ver que 14, das 15 mensagens, eram avisando que seu número tinha me ligado. Mas a 15ª mensagem era de texto. E foi esta que me deixou como uma estátua.

“I never meant the things I said
To make you cry. Can I say I'm sorry?
It's hard to forget and yes I regret all these mistakes

I don't know why you're leaving me
But I know you must have your reasons
There's tears in your eyes, I watch as you cry
But it's getting late.

(Nunca quis dizer as coisas que eu disse
Para fazer você chorar. Posso dizer que sinto muito?
É difícil esquecer e sim, eu me arrependo de todos esses erros

Eu não sei por que você está me deixando
Mas eu sei que você deve ter suas razões
Há lágrimas em seus olhos, eu assisto enquanto você chora
Mas está ficando tarde)

Honestly, . (Honestamente, )

- ? O que foi? – Carol perguntou preocupada, ficando ao meu lado e eu entreguei o celular em sua mão, para que ela mesma visse. – É seu namorado? Ex?
- Nem um e nem outro. – respondi desnorteada e li a mensagem de novo.

Depois de algum tempo voltamos para a cama e contei tudo para Carol. Desde como eu ganhava a vida em Londres até a história com . Ela ouviu tudo atenta e quase infartou quando falei que ele era o do McFly. Disse-me mil vezes que só podia estar brincando. Ficou maluca quando falei que fui com eles ao Brasil e eu fiquei muito surpresa com o fato de ela não ter me visto nos tablóides e nos programas de fofoca. Sua reação não foi ruim como esperava quanto ao fato de eu ser prostituta. Ela apenas ficou inconformada de saber que não pôde estar presente em minha vida por tanto tempo. Pedi mais desculpas por ter sumido daquela forma, mas ela disse que compreendia perfeitamente bem, apesar de nunca ter deixado de se perguntar onde eu estava. Também ficou bastante triste quando contei que tinha perdido o bebê que esperava aos cinco meses de gravidez. A história do meu primeiro programa a deixou apavorada e eu ainda sinto calafrios ao contar. Fiquei receosa em contar que estava grávida novamente. Ela acharia que sou muito burra para cometer o mesmo erro mais uma vez. Senti que seria preciso quando Carol começou a me questionar o porquê de ter fugido de Londres.

- O exato motivo pelo qual saí daqui. – respondi sem encará-la. Carol entendeu de primeira e a ouvi respirar fundo, como fez quando contei que já havia engravidado uma vez.
- É do ? – perguntou simplesmente, me olhando e eu assenti. – Você tem que contar pra ele!
- Não, não vou fazer isso. Como te contei, o nosso relacionamento nunca foi uma coisa estável. Nem posso chamar de relacionamento.
- Mas o que importa? Ele é tão responsável por esse filho quanto você. – se não tivesse olhando para Carol falando aquilo, juraria que era .
- E você acha que ele acreditaria em mim? – perguntei e ela ficou pensativa.
- Você o ama? – perguntou de uma vez e eu engoli seco.
- Amar não, isso é muito forte. – desconversei.
- É apaixonada por ele? – insistiu.
- Talvez. – dei de ombros e ela deu um gritinho, dando um tapa na própria boca por ter achado que acordaria os pais, rimos.

Quando percebemos, já passava das quatro da manhã. Carol tinha que trabalhar às oito. Forçamo-nos a dormir, apesar de nos pegarmos conversando novamente várias vezes. Parecia que esses quatro anos distantes não tinha feito a mínima diferença. Ainda parecíamos aquelas duas amigas adolescentes que ficavam jogando conversa fora a noite toda. Tudo aquilo estava me fazendo tão bem que eu me senti mais leve ao finalmente fechar os olhos.

Capítulo 26


Levantei exatamente às seis e meia da manhã, como em todos os dias – tirando os finais de semana. Tomei café com Carol e ficamos vendo o noticiário. Percebi que já estava atrasada e corri para não perder o metrô. Cheguei ao trabalho 10 minutos atrasada, por sorte a minha chefe não tem mau humor e ficou no meu lugar por alguns instantes. Carol conseguiu esse emprego para mim, em uma agência de viagens. Estou gostando muito, afinal nesses lugares sempre conhecemos pessoas diferentes e cheias de vontade de viver, viajar e querer que os problemas se danem.

O tempo passou voando e já faz três meses que estou em Bolton. Saí da casa dos pais de Carol e fui dividir apartamento com ela. Há dois meses estou trabalhando neste lugar, está sendo ótimo para a minha saúde mental. Porém, hoje alguma coisa me dizia que não seria um dia qualquer. Estava concentrada, digitando algumas coisas pedidas pela minha chefe, quando uma senhora sentou-se em minha frente. Virei-me para olhá-la e ela sorriu, muito simpática. Sorri de volta e fiquei pensando que a conhecia de algum lugar.

- Bom dia, como vai? – perguntei exatamente como fui instruída a fazer.
- Bom dia, vou muito bem, e você? – respondeu sorrindo.
- Tudo bem também. Em que posso ajudá-la?
- Quero marcar uma passagem para Londres, oh Deus, estou sentindo tanta falta do meu filho. – suspirou e eu quase caí da cadeira quando olhei para os seus olhos. Eram os olhos de . Eu sabia que a conhecia de algum lugar! Claro! É sua mãe! Oh meu Deus. Acho que as minhas mãos estavam congeladas.
- Desculpe-me, mas a senhora é mãe do ? – peguntei de uma vez, nem me importando se aquilo parecia inoportuno. Ela arqueou as sobrancelhas e riu baixo.
- Sim. – respondeu assentindo e eu senti o coração quase passar pela garganta. – Você é fã dele?
- Na... Sou! – falei subitamente, ainda em estado de choque.

Tentei parecer natural e conversar com ela normalmente, marquei sua passagem e a senhora disse mais uma vez que não via a hora de ver o filho. . Quase falei para ela que me sentia da mesma forma por ele, mas ainda bem que ainda tenho alguns momentos de auto controle. Aquele definitivamente foi um dia cheio. Nunca marquei tantas passagens.

Voltei para casa meia hora depois do expediente e Carol estava na cozinha, preparando macarrão ao molho branco.

- Nossa, essa “chiqueza” toda só pra nós duas? – perguntei tirando a tampa de uma das panelas e sentindo aquele cheiro maravilhoso.
- Na verdade, não. Alguém vem jantar aqui. – respondeu em um tom misterioso e eu bati palmas.
- Adoro mistério. – brinquei e ela riu. Fui para o meu quarto e peguei uma toalha, precisava de um banho urgente. Depois fui para o banheiro e nem vi o tempo passar debaixo do chuveiro. Quando saí, percebi que o espelho estava embaçado de tanto tempo que estava com o chuveiro ligado na água quente. Voltei para o meu quarto e me troquei, coloquei um simples vestidinho e apenas penteei o cabelo. Saí de lá e fui para a sala.

Vi alguém estranho no sofá, devia ser o convidado. “O” mesmo, já que não tinha longos cabelos e usava roupa masculina. Carol saiu da cozinha e eu olhei dela para o rapaz, apreensiva.

- Mike... – ela chamou e ele olhou para onde estávamos. Eu não podia acreditar no que via. Era Mike Thompson, o garoto que tirou a minha virgindade e de quem eu engravidei aos 16 anos. Entrei em transe e olhei para Carol apavorada. Quando percebi, ele já havia se levantado e estávamos frente a frente. Seu rosto não mudou nada, agora tinha uma expressão mais adulta, porém parecia ainda ser aquele mesmo menino do colegial.
- Oi. – falou timidamente. – É bom te ver.
- Oi. – sussurrei, ainda não acreditando que aquilo estava acontecendo. Nem consegui responder um “igualmente”, só sabia que queria matar Carol.
- Bom, vamos jantar? – ela quebrou o silêncio constrangedor e eu apenas concordei, seguindo-os.

Depois que jantamos – e aquele havia sido um jantar completamente constrangedor, porque eu não conseguia falar nada –, Carol nos deixou a sós na sala, dizendo que ia olhar uma coisa em seu computador, o que eu sei que era conversa fiada. Sentei na poltrona, justamente para não ter que dividir o sofá com Mike. Evitei olhá-lo, mantive os olhos concentrados na televisão, mas nem prestava realmente atenção no que passava.

- Eu quero conversar com você. – o ouvi dizer e o olhei bruscamente.
- Sobre o que? – perguntei ríspida, qual é, a gente não se suportava antigamente.
- Sobre o nosso filho. – franziu a testa e eu engoli seco.
- Como é? – estranhei que ele soubesse daquilo. Ah, eu mato Carol, mil vezes.
- Carol me contou que você foi embora grávida. – continuou e eu o olhava imóvel.
- É, mas eu perdi. – dei de ombros e cocei a testa, nervosa.
- Eu sinto muito. Por isso e por não ter estado presente.
- Mike, eu não entendo por que estamos falando disso. Já passou e qual é? Você quer dar uma de bonzinho que assumiria tudo? Você nem me procurou depois daquela festa. – explodi e ele ouviu tudo atento, mas não disfarçou os olhos arregalados ao escutar a última parte.
- Como não? – perguntou com uma expressão de estranheza. – Eu fui à sua casa praticamente duas vezes por semana.
- Então você procurou a casa errada, ou eu tenho um clone...
- Não, a sua mãe que sempre atendia a porta e dizia que você não estava. Deixei meu telefone para que me ligasse quando chegasse e isso nunca aconteceu. – falou sincero e me contive. – Você sumiu do colégio... Fiquei muito preocupado, sentindo uma culpa surreal por... Você sabe. – concluiu tímido e eu apenas arqueei as sobrancelhas, digerindo suas informações.
- Eu nunca soube disso. – falei apoiando os cotovelos nos joelhos e levando as mãos à cabeça. Foi como se a minha mãe tivesse feito tudo acontecer. Como se planejasse que eu realmente sumisse. Se eu soubesse que Mike tinha me procurado, talvez nunca tivesse ido a Londres. Não que eu quisesse alguma coisa com ele sã, mas saber que não fui apenas um brinquedo em suas mãos realmente mudaria tudo.
- É como você já disse, já passou. Mas eu queria deixar tudo em pratos limpos. Encontrei com Carol há alguns meses atrás, foi quando soube de tudo e ela me garantiu que você nunca soube que eu tinha ido atrás de você em sua casa.

Ficamos algum tempo em silêncio, até que Carol aparecesse novamente. Ela se sentou ao lado de Mike e engatou assuntos dispersos. Contei para ele sobre a vida em Londres – claro que omiti o fato de ser prostituta – e ele disse que pensava em se mudar para lá, quando se formasse em arquitetura. Logo foi embora e me deu seu telefone, para que saíssemos depois. Eu não acho que ligaria, foi bom saber que ele se preocupou comigo, mas daí para virarmos amigos já era um pouco demais. Eu não conseguia me acostumar com a ideia de que ele era pai do filho que eu havia perdido. Aquilo tudo era muito estranho para mim. Conversei com Carol sobre quase ter me matado de susto e que quando fosse fazer mais surpresas como essa, me avisasse, porque eu podia ter perdido o bebê ali mesmo. Tudo com uma pitada de exagero, lógico.

Devagar tudo ia sendo consertado. Falei com Mike depois de anos, revi os Former e só o que faltava mesmo era ter uma relação mais amigável com os meus pais. O que não era fácil, mas devagar estávamos ficando mais dóceis. Eu tenho todos os motivos do mundo para querê-los o mais distante de mim, mas mesmo assim estava fazendo o possível para aproximá-los. Tudo foi ficando melhor quando souberam que não cheguei a ter o bebê. É egoísta, mas eles são assim. Não contei que esperava um filho novamente, pois sabia o impacto que isso causaria neles, mesmo não tendo nenhum direito de opinar no que acontecia comigo. Apesar de tudo estar indo razoavelmente bem, uma coisa me arrancou o sono: eu não conseguia parar de lembrar de ter conhecido Kathy [n/a: sei que é o nome da mãe do Danny, mas usem a imaginação, ok? Haha], mãe de . É muita coincidência. Bolton tem milhões de agências de viagens. Ela tinha que ir logo naquela?

Levantei da cama e fui até o computador, que ficava no fim do corredor. Carol já tinha ido deitar, afinal tínhamos que acordar cedo. Tentei fazer o mínimo barulho possível. Esperei tudo ser iniciado e cliquei no navegador. Entrei em meu e-mail, depois de séculos. Senti um frio na barriga e um nó na garganta ao ver a caixa de entrada praticamente lotada de e-mails de . Abri um por um. Em todos, ela pedia notícias e percebi que me escrevia quase todos os dias, desde que fui embora. Segurei-me para não responder. Mesmo vendo tudo melhorar, ainda não estava preparada para aparecer. Quando fui passando as páginas, notei que havia um e-mail de anexado. Respirei fundo e abri. Ali estavam TODAS as nossas fotos no Brasil. Todas, uma por uma. Inclusive as de todo pintado. Ri sozinha ao ver tudo aquilo. Senti algumas lágrimas teimosas escorrerem e as enxuguei, abrindo cada imagem. Lembrei do quanto havia me divertido, do quanto estava feliz naqueles dias. Senti as pernas fraquejarem e o coração quase saltar do peito ao ver uma foto com no pub que fomos em Angra dos Reis. Eu segurava seu copo de caipirinha e ele beijava meu rosto. É incrível como parecem ser duas s diferentes.

Como eu sinto falta dele!

Fiquei olhando fixamente para sua mão em minha cintura e pareci sentir seu toque. Tudo estava tão triste sem . Já não importava o que ele tinha feito para mim no último dia no Brasil, parece que aquilo tinha sido apagado, mas eu sabia que não havia lugar no mundo para nós dois juntos. O que passou, passou. E eu guardava aqueles momentos com muito carinho. Ri alto – percebendo depois o barulho que tinha feito – ao ver a nossa foto erguendo os copos de caipirinha. Quanta falta eu sentia dos outros três também. Foi como se ao olhar aquela foto, vários pedaços do meu coração partido tivessem voltado e colado para sempre. E isso era bom, mesmo sabendo que ao desligar o computador voltaria a sentir o mesmo vazio. Se algumas lágrimas já escorriam, agora eu já soluçava ao ver o que escreveu no corpo de mensagem:

“Esperamos ansiosamente o dia em que você estará com a cabeça no lugar. Saiba que quando voltar, terão três pares de braços abertos, loucos para te abraçar. Você faz falta, cada dia mais. Estaremos aqui, sempre.

, e Harry.”


Capítulo 27

(COLOCAR PARA CARREGAR: http://www.youtube.com/watch?v=gJN6yR02hLU)

- Eu sei quem você é. – ela disse colocando sua mão sobre uma das minhas, que estava sobre a mesa e eu acho que sentiu que eu estava congelando. Olhei-a desesperada, queria achar um buraco para me esconder. – Não precisa ficar assim. – sorriu cordialmente e eu baixei o olhar.
- É que... – balancei a cabeça negativamente e levei as mãos ao rosto. Tirei-as e coloquei em cima da mesa novamente, respirando fundo. – Eu não sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada. – sorriu fraco. – Eu só vim aqui para te dizer que além de saber quem você é, eu sei a diferença que você fez na vida do meu filho. – falou calmamente e eu senti meu coração saltar a cada palavra. Como assim? Eu fiz diferença?
- É, acho que eu sei a diferença que fiz. Estraguei a reputação dele. – falei envergonhada, mas ela balançou a cabeça negativamente e sorriu.
- Eu estive com o em Londres. – quando a ouvi dizer seu nome, senti as pernas desmontarem.
- Como ele está? – perguntei quase que antes de ela terminar a frase.
- Bem. – sorriu fraco.
- E, meu Deus, como a senhora lembrou de mim?
- Acompanhei todos os tablóides com as fotos de vocês dois no Brasil. Quando vim à agência marcar aquela passagem para Londres, sabia que lembrava de você de algum lugar. Meu filho me mostrou algumas fotos em seu computador e eu te vi. – eu não podia acreditar em cada palavra do que ouvia, sentia cada vez mais vergonha. Ela devia me achar uma aproveitadora.
- Me desculpe, eu não quis mesmo trazer todo aquele alvoroço para a vida do . Eu...
- Não, querida. – ela me interrompeu com um meio sorriso e a olhei confusa. – Eu acho que ele não vê por esse lado.
- Como assim?
- Nunca vi o daquela forma quando falei que tinha estado com você. Encheu-me de perguntas. – falou simplesmente e eu senti as lágrimas se acumularem em meus olhos. Não conseguia dizer nada. – Toma. – me entregou um pedaço de papel e levantou. – Ele fez pra você.
- O que é isso? – indaguei lendo a frase e não entendendo.
- Bom, não foi bem ele quem me contou, seus amigos o entregaram. É uma canção. – se as minhas pernas pareciam desmontar, agora eu nem as sentia mais. Então ele fez uma canção para mim?
- Nem sei o que dizer, dona Kathy. – confessei, levantando e colocando o papel no bolso. – Obrigada. – mordi o lábio inferior e ela passou a mão levemente sobre o meu ombro.
- Não tem o que agradecer. Senti que era preciso deixá-la ciente. – se virou e eu a segui até a porta. Abri-a e a olhei sair, mas ela se virou novamente antes de deixar o local. – Ele sente a sua falta. – revelou e eu achei que meu coração estava prestes a sair pela boca. Senti uma lágrima teimosa escorrer e a limpei instantaneamente. – E você a dele, pelo jeito. – deu aquele mesmo sorriso maroto que seu filho tem, me deixando em transe. Sorri cordialmente para ela e agradeci mais uma vez, desejando-lhe um bom dia.

Aquele não foi um dia muito movimentado na agência. E isso parecia me matar, porque não conseguia parar de pensar no que havia acabado de acontecer. Depois de dois meses que a conheci, ali mesmo, a mãe de voltou apenas para me dizer que sabia quem eu era e para dar informações sobre o filho. Meu cérebro não parecia processar nada daquilo. Eu tinha medo de estar tendo alucinações. Nesses dois últimos meses, haviam acontecido muitas coisas em minha vida, a maioria ruim. Saber que, aparentemente, sentia a minha falta parecia ter valido os cinco meses que estava em Bolton. Principalmente os fatídicos dois últimos. Saí do trabalho e antes passei na cafeteria, comprei algumas roscas e fui para casa. Carol assistia a seu talk show favorito e disse que tinha sobras do almoço na geladeira. Agradeci e disse que apenas comeria aquelas besteiras que havia comprado. Fui direto para o fim do corredor, onde ficava o computador. Pensei duas vezes antes de ligá-lo, não sabia se estava preparada para ver aquilo. Coloquei o copo de cappuccino e as rosquinhas na mesa e liguei o computador. Sentia o coração pular no peito ao ver a página inicial. Abri o navegador e entrei naquele famoso site de vídeos. Tirei o papel que Kathy havia me dado do bolso e olhei o nome da canção. “She Left Me” (Ela me deixou). Um título que pareceu estraçalhar todos os meus órgãos. Digitei tremendo e logo achei um vídeo de um show deles que pelo jeito havia passado na TV há pouco tempo. É, eu continuava do mesmo jeito, sem me ligar muito no que se passava na televisão... Carol devia saber, mas nem me avisou, ela evitava falar de , McFly ou qualquer coisa de Londres. Enquanto o vídeo carregava, comi algumas rosquinhas com muita pressa, como se fosse a última coisa que eu faria. Quando vi que já podia assistir, dei uma golada no cappuccino e respirei fundo.

Aquela multidão me lembrou a primeira vez que vi um show do McFly, aquelas mesmas fãs histéricas. Depois a câmera se dirigiu para o palco, para aquelas quatro criaturas que faziam o meu mundo girar. Olhei atentamente para cada um. Eles estavam bem diferentes. anunciava que aquela canção tinha um significado especial para um deles. E eu já sabia quem era. Logo a câmera foi direto para o rosto de , fazendo as minhas pernas e mãos tremerem. Ele estava tão lindo. Ainda utilizava o mesmo corte de cabelo, mas agora parecia estar mais cheinho. Nada exorbitante, estava até impossivelmente mais lindo. Ele disse que esperava que as fãs gostassem daquela canção e completou dizendo que esperava que elas nunca os abandonassem, arrancando gritos e risadas.

(Coloque a canção para tocar)

Harry deu as primeiras batucadas e a canção começou. Eu não sabia se continuava ali ou se morria de vez, já que meu coração logo pararia. O frio na barriga era surreal. Apenas tentei me concentrar, com os olhos vidrados em , sabendo que aquela música era para mim.

“She walked in and said she didn't wanna know
(Ela entrou e disse que não queria saber)

Anymore
(Mais)

Before i could ask why she was gone at the door
(Antes que eu pudesse perguntar o porquê, ela já tinha saído pela porta)

I didn't know, what i did wrong
(Eu não sei o que fiz de errado)

But now i just can't move on
(Mas agora eu não consigo seguir em frente)

Since she left me
(Desde que ela me deixou)

She told me
(Ela me disse:)

Don't worry
("não se preocupe")

You'll be ok you don't need me
("você vai ficar bem", "você não precisa de mim")

Believe me you'll be fine
("acredite, você vai ficar bem")

Then i knew what she meant
(Então eu soube o que ela queria dizer)

And it's not what she said
(E não era o que ela disse)

Now I can't believe that she's gone
(Agora eu não acredito que ela se foi)

Ele lembrava-se de cada palavra que eu disse. E o pior: eu lembrava-me de cada palavra, também.

I tried calling her up on her phone
(Eu tentei ligar pra ela...)

No one's there,
(Ninguém estava lá)

I've left messages after the tone...
(Deixei mensagens depois do bip...)

Really?
("Sério?")

Yeah, man, loads
("É, cara, muitas")

I didn't know, what i did wrong
(Eu não sei, o que fiz de errado)

But now i just can't move on
(Mas agora não consigo seguir em frente)

Nem preciso dizer o que senti naquele momento. Não sabia que ele se sentia daquela forma. se sentia realmente mal por não saber o que dizer, o que fazer. As lágrimas já percorriam o meu rosto quando o vídeo foi terminando. Não sei explicar o que estava acontecendo dentro de mim. Será que ele realmente gostava de mim da forma que eu gostava dele? Não que ele tenha falado algo do tipo na letra, mas ali eu ouvi um que se importa. Um que nem sempre acha que as coisas acontecem porque tem que acontecer.

- Uau. – ouvi a voz de Carol atrás de mim e tentei enxugar as lágrimas antes de olhá-la, mas não tive muito resultado. – Eu também choraria. Foi pra você? – perguntou e eu me virei para olhá-la. Apenas assenti e nos abraçamos. – Volta, . Lá é o seu lugar. – ela disse passando a mão em meus cabelos e parecia ter entrado na minha cabeça e adivinhado tudo o que eu estava pensando. Desvencilhei-me e já consegui enxugar o rosto. Ficamos paradas, em silêncio por algum tempo, até que eu decidi jogar o copo de cappuccino fora e guardar as rosquinhas que tinham sobrado. Eu gostava de , era realmente apaixonada por ele e agora isso parecia dar tapas na minha cara. Se eu achava que ficando longe tudo passaria, estava enganada. Revê-lo mexeu tanto comigo que eu nem tinha forças para criar pensamentos contrários a voltar para Londres. Era só disso que eu sentia vontade. Voltar para Londres, encarar e responder tudo o que ele perguntava a si. Voltei para a sala e sentei ao lado de Carol. Ela me olhou com uma expressão de dúvida.
- Eu acho que você tem razão. – falei simplesmente e ela assentiu.
- Ele gosta de você. Você ainda tem alguma dúvida? – perguntou em um tom óbvio e eu sorri fraco. Sim, eu ainda tinha dúvidas, mas bem menos do que eu tive antes desse movimentado dia. Voltei para o computador e revi todas as fotos que havia mandado para o meu e-mail há meses atrás. As fotos do Brasil. Cada vez eu tinha mais certeza de que era a hora de voltar.

Eu estava pronta para voltar.

(COLOCAR PARA CARREGAR: http://www.youtube.com/watch?v=agVc6CqCAEo)

Levantei cedo, com uma disposição que não tinha há tempos. Tomei café com Carol, praticamente sorrindo o tempo inteiro. Ela me olhava feliz, porém com certo receio. Eu sabia o que ela sentia, porque por diversas vezes conversamos sobre isso. Carol tinha medo de perdermos o contato novamente, então logo tratei de assegurar que dessa vez seria diferente: eu esperaria sua visita em Londres e daria a ela quantos números de celulares fossem precisos. Saí de casa e peguei o metrô, indo para a agência: aquela velha rotina. Eu tinha algum frio na barriga antes de falar com minha chefe. Apesar de saber que ela não é do tipo megera, tenho noção de que o que eu faria não é o certo. Eu a deixaria na mão, sem aviso prévio.
A conversa foi razoavelmente boa, Margot ficou um pouco triste, porque não sabia onde arranjar alguém de confiança. Agradeci todo o apoio e pedi mil desculpas. Ela disse que me mandaria o pagamento na próxima semana, para a minha conta bancária e que não descontaria nem um centavo por ter avisado em cima da hora. Senti-me realmente grata e a abracei tão apertado que acho que até a sufoquei. Depois de deixar a agência, fui direto para a casa dos Former, tinha que me despedir deles. Dona Mary e o senhor Edward lamentaram a minha ida para Londres, mas me desejaram felicidades e me obrigaram a também deixar todos os números que tinham direito, para que nos falássemos com frequência. Prometi que logo, logo voltaria a Bolton para revê-los. Respirei fundo e fui para a casa vizinha: os meus pais. Não vou negar que tudo estava mais fácil agora. A nossa comunicação tinha realmente fluído. Também não vou ser hipócrita e dizer que vivíamos de beijos e abraços e que minha mãe preparou a minha torta favorita e ofereceu um jantar, mas digamos que estávamos bem mais civilizados, com os pingos nos i’s. Os meus pais nunca iriam mudar, isso era algo que eu já nem esperava que acontecesse, mas me surpreendi com o que houve conosco nesses últimos meses.

- Eu estou indo. – falei baixo, olhando-os e recebendo olhares confusos.
- Mas você mal chegou. – meu pai disse totalmente desnorteado. Ele achava que eu havia dito que estava indo para a casa de Carol.
- Não, pai. – sorri fraco e baixei o olhar. Respirei fundo e voltei a encará-los. – Eu estou indo embora de Bolton. – ouvi a minha mãe prender a respiração e quase cocei os ouvidos para ver se eu estava ouvindo mesmo aquilo.
- Você vai pra onde, ? – minha mãe finalmente se manifestou.
- Vou voltar pra Londres. – respondi simplesmente e meu pai tossiu.
- E seu emprego? – ele questionou e me deixou ainda mais surpresa, eu sentia algum tom de desespero em sua voz.
- Já está tudo resolvido. – falei convicta.
- E você decidiu assim? Do nada? – ela interrogou, acendendo um cigarro.
- Nem tão do nada assim... – comecei e eles me olhavam atentos. – Tem a ver com tudo o que estava acontecendo e me fez vir pra cá. Acho que as coisas estão se ajeitando e eu realmente preciso voltar.
- Você acha que é mesmo isso o que deve ser feito? – meu pai perguntou preocupado.
- Sim. Eu preciso voltar.
- Quando você vai? – minha mãe perguntou e em seguida tossiu, ela tem que aprender que está passando da hora de largar esse vício.
- Hoje mesmo. Vim me despedir de vocês, volto para o apartamento de Carol, termino de arrumar as minhas coisas e ela me leva pra estação.
- Parece que ela está mesmo decidida, Ellen. – papai comentou, derrotado.
- Bom, você já está bem crescidinha, . Não há nada mais que possamos fazer. Se você acha que isso é o certo, então o faça. – ela aconselhou severa e meu pai assentiu, mas não parecia muito convencido.
- É, mas de qualquer forma, agradeço a compreensão. – falei com um meio sorriso. – Agora eu tenho que ir. – respirei fundo e levantei, indo até a porta. Eu estava completamente perdida, não sabia se os abraçava ou se simplesmente dava um aceno breve quando estivesse saindo. Por mais que tudo já estivesse bem mais calmo, as barreiras afetivas ainda existiam. Estava tudo bem, mas nada muito próximo. Ouvi o levantar dos dois e depois seus passos me seguindo no piso de madeira. Quando cheguei à porta, me virei para encará-los novamente. Minha mãe continuava apegada ao seu cigarro e meu pai tinha as mãos nos bolsos, claramente confuso. – É isso, então. – quebrei o silêncio, um pouco constrangida.
- Você tem previsão para voltar?
- Não, mãe. Mas deixei uns telefones com os Former. – a vi revirar os olhos quando respondi. Por mais que eles tenham uma amizade de vizinhos, sinto que meus pais sempre se incomodaram com o fato de eu ter mais consideração por eles do que pelas pessoas que me trouxeram ao mundo. Porém, não me culpo, pelo contrário, a culpa é toda dos dois. – Até mais. – disse simples e curtamente, dando um sorriso fraco e respirando fundo. Virei-me, mas fui surpreendida por uma mão segurando o meu braço. Voltei a ficar frente a frente com eles e vi que aquela mão que me segurava era do meu pai. Ele tinha os olhos marejados e aquilo pareceu fazer uma reviravolta em todo o meu sistema nervoso. Abraçou-me com urgência e eu não sabia o que fazer com as minhas mãos. Não sabia se as acomodava em suas costas ou se simplesmente sentia aquele abraço que não recebo desde os 10 anos de idade, dia de meu aniversário.
- Eu sinto muito por tudo o que fiz. Espero que um dia receba o seu perdão e possamos ter uma relação normal. – ouvi meu pai dizer e sua respiração batia em meu ouvido. Desvencilhei-me com urgência e o olhei espantada. Ele estava um pouco tímido pelo que tinha acabado de dizer, mas franziu a testa, indicando firmeza e eu apenas assenti, com um meio sorriso tão tímido quanto a sua expressão. Minha mãe com certeza não tinha conseguido escutar uma palavra, porque nos olhava curiosa e eu sabia que a primeira coisa que faria quando eu desse as costas era perguntar ao meu pai palavra por palavra. Ela, por sua vez, apenas ficou me fitando, sem conseguir agir. Estendi a mão e ela a apertou.
- Até logo. – falei soltando sua mão e seguindo o meu caminho. Não me virei para me certificar, mas sabia que os dois continuavam ali, imóveis, me observando. O táxi já me esperava e quando bati a porta, senti algumas lágrimas escorrerem. Fui observando, pela última vez, as casas dali. Nem conseguia acreditar que tinha voltado e, muito menos, que estava indo embora novamente.

Cheguei ao apartamento de Carol e coloquei algumas últimas roupas em minha mala. Ela logo chegou de seu escritório e trouxe almoço. Eu a notava cabisbaixa, evitando qualquer assunto demasiado comigo. Sua expressão era de medo.

- Por que você mal está falando comigo? – perguntei brincando com o arroz em meu prato.
- Porque se eu engatar algum assunto com você, vou começar a chorar. – respondeu já com a voz trêmula e se levantou, ficando ao meu lado e me abraçando. Nem preciso dizer que já comecei a chorar também. Definitivamente, odeio clima de despedida.
- Carol... – falei em meio a fungadas e ouvi-a fazer o mesmo. Desvencilhamo-nos e ela me olhou atenta. – Eu prometo que agora tudo vai ser diferente. Não é como se eu estivesse fugindo. Agora você sabe pra onde eu vou.
- Eu sei. – assentiu limpando o rosto. – É que... Eu vou sentir sua falta. – continuou, sincera, voltando para o seu lugar. Levantei e peguei os nossos pratos já vazios, empilhando e levando-os para a cozinha.

Separei algum agasalho para levar em mãos e fechei a mala. Carol observava tudo e me lembrava constantemente dos documentos, para que eu não esquecesse. Demos uma última olhada no quarto, para ver se não tinha nada ficando para trás e saímos do cômodo. Fui até a mesinha de centro e anotei alguns telefones, assim como havia prometido a ela. Até o número dos meninos eu dei, mas a fiz prometer que não passaria para mais ninguém e só ligaria se os meus e o de não atendessem. Carol pegou sua bolsa e saímos do apartamento. Colocamos a mala no porta-malas e entramos em seu carro. Liguei o som na BBC One e terminava de tocar aquela música que e berravam bêbados no dia em que ela ganhou seu Porsche. Ri internamente e observei o caminho que fazíamos. Já escurecia e o trânsito estava praticamente impossível. Carol e eu conversamos enquanto esperávamos a fila de carros se mover, o que demorava bastante.

- Você vai enfrentar o ? – perguntou olhando o relógio.
- Eu tenho que fazer isso. – respondi curtamente e um tanto quanto insegura.
- Como será que ele vai reagir a tudo isso?
- Também quero saber. – falei em um tom baixo e olhando para o nada.
- Acho que tudo vai ficar bem. Tem aquela música, você sabe. Aquilo não me pareceu ter nem um pingo de ‘eu odeio você’, e sim ‘você me deixou e eu me odeio por não entender isso’. – formulou e eu realmente parei para pensar. Talvez as coisas fossem melhores do que eu esperava.
- Eu espero que você esteja certa. – concluí e o carro finalmente saiu do lugar. Senti um frio na barriga ao perceber que estávamos a pouco tempo da estação de trem. Eu ainda tinha que comprar o bilhete, mas a ideia de que estava voltando para Londres parecia martelar no meu corpo inteiro e fazer uma salada com o meu estômago.

Depois de mais ou menos meia hora, conseguimos chegar à estação. Carol e eu fomos até o balcão e a moça informou que sairia um trem dali à uma hora. Comprei o bilhete e fui com Carol até a praça de alimentação. Já era noite, nós compramos alguns salgados e ficamos comendo enquanto conversávamos. Por um momento, parecia que eu tinha colocado a voz de Carol no mudo, pois enquanto falava, eu apenas observava as pessoas indo e vindo. Algumas chorando de emoção ao rever alguém querido e outras chorando por ver quem amavam ir embora. Essa era a primeira vez que eu saía de algum lugar deixando alguém realmente sentindo a minha falta e eu sabendo disso. Eu sei que estava morrendo de saudade de mim, porque eu também já não estava me aguentando do tanto que queria estar com ela de novo, mas não tive coragem de me despedir, não pude ver a sua reação ao me ver partir. Até porque sei que se tivesse visto, jamais teria voltado para Bolton.

O tempo passou voando, quando percebemos uma voz feminina já avisava a chegada do trem que eu pegaria para Londres. Olhei para Carol e ela olhou de volta, quase que automaticamente. Tinha algum drama em seu olhar, e eu acho que no meu também. Levantei e ela me seguiu. Não queria encará-la, eu estava fazendo o que deveria ser feito. Chegamos à entrada do transporte e um senhor recebeu o meu bilhete, em seguida pegou a minha mala. Carol estendeu uma revista para que eu pegasse. Ela disse que eu ficaria muito entediada.

- Eu trouxe meu Ipod. – falei sorrindo fraco. – Não precisa.
- Você vai ver como uma revistinha faz falta. – brincou. – Pega.
- Então tá, mas se a minha retina descolar, a culpa é sua! – zombei e ela deu língua.
- , promete que vai se cuidar? – perguntou me olhando fixamente, era clara a sua preocupação. Assenti, mordendo o lábio inferior.
- Eu prometo, mas você também tem que me prometer que, além de se cuidar, vai me visitar em Londres! – tentei amenizar aquele clima de despedida que realmente me torturava. Carol soltou uma risada abafada e eu vi um amontoado de lágrimas em seus olhos. – Não faz isso, amiga. – a abracei apertado e já senti várias lágrimas quentes escorrerem em meu rosto. Ficamos assim por muito tempo.
- Senhora, o trem partirá dentro de 10 minutos. – o senhor que havia pegado a bagagem informou, fazendo nos desvencilharmos, ambas enxugando suas lágrimas desconsertadamente.
- Acho que chegou a hora. – comentei dando de ombros e franzindo a testa. Ela assentiu.
- Se cuida, . Pelo amor de Deus, me manda notícias e me espera que, assim que eu ficar de férias, vou até Londres! – falou batendo palminhas e também tentando amenizar o clima.

(Coloque a canção para tocar)

- Eu amo você, amiga. Muito, muito obrigada por tudo. Acho que nunca vou conseguir fazer por você a metade do que você fez por mim. – disse sincera e ela balançou a cabeça negativamente, sorrindo.
- O melhor que você faz por mim é ser feliz. Você estando bem, já vai ter me devolvido o que eu nem te cobrei. – falou com a voz trêmula, prendendo o choro. – Eu te amo demais! – se ela tentava prender o choro, agora a sua cabeça já estava enterrada na curva do meu pescoço e estava aos prantos.
- Obrigada, Carol. De coração. – agradeci afagando seus cabelos e quase soluçando.

O senhor alertou a partida do trem, agora faltavam apenas 5 minutos. Carol e eu demos um último abraço, peguei a revista e respirei fundo, olhando-a. Ela me voltou um olhar firme, como se dissesse para eu criar coragem e enfrentar a minha vida. Desviei o olhar e entrei no trem.
Viajar à noite é realmente assustador. Não há nada para ser observado pela janela. Li e reli a revista que Carol me deu, mas aquilo não parecia fazer o tempo passar. Minha playlist do Ipod já estava quase acabando e eu não via em que mais me distrair. O trem estava praticamente vazio, estava sozinha em minha cabine. Ajeitei-me em meu banco e apoiei o cotovelo na janela. Fechei os olhos, mas não havia nenhum sinal de sono. Comecei a pensar em tudo o que aconteceu na minha vida nesses últimos cinco meses. A vida em Bolton tinha sido uma verdadeira montanha russa. Havia momentos em que eu estava completamente por cima, encarando tudo positivamente... Já em outros, me encontrava de cabeça para baixo, sem saber o que fazer. Era realmente difícil levantar da cama e saber que não encontraria na cozinha na hora de tomar café. Mas, olhando por outro lado, eu estava novamente com Carol, a minha amiga de infância que por muito tempo foi alguém que estava presente apenas em minhas memórias. Algumas vezes, tudo parecia estar completamente se encaixando, dando certo. Saía para a balada com Carol e alguns amigos, nos divertíamos muito, mas era estranho dormir sem saber como tudo estaria no dia seguinte, como eu me sentiria.

Bolton era a minha cidade natal, foi onde tudo começou, eu devia me sentir completa lá. Mas não foi assim. Apesar de ter sido maravilhoso reencontrar quem eu mais sentia falta, vários pedaços do meu coração ficaram para trás, o vazio não podia ser preenchido, não havia substituição. E de todos os buracos que ficaram, o maior era o que havia sido feito por . Eu não sabia o que fazer, por diversas vezes liguei em seu celular só para ouvir a sua voz. Um simples “alô” e aquilo podia me fazer dormir aquecida. Tínhamos contas para acertar, mas alguma coisa me dizia que as coisas poderiam ficar bem, algum dia, quem sabe. Meu coração estava mais tranquilo, era como se ele soubesse que eu estava voltando para casa, para a minha verdadeira casa. No fundo eu sempre soube que mesmo consertando problemas do passado, não conseguiria anular tudo o que aconteceu comigo em Londres. Lá era o meu lugar. Peguei-me rindo sozinha ao pensar que logo, logo ouviria os xingamentos de , as trapalhadas de , a modéstia elevada de , o cavalheirismo de Harry e, bem, o simples som da voz de perto de meus ouvidos. Eu não sabia como as coisas estariam entre e os garotos, mas preferia pensar que tudo estava exatamente igual a cinco meses atrás. Quer dizer, eu esperava sinceramente que ela tivesse optado por um dos dois meninos ou que tivesse desistido de ambos. Mas a é louca, ela sempre escolhe o caminho mais difícil e o mais perigoso.

Agora tudo seria diferente, tudo mesmo. Eu não viveria 24 horas pensando em como podia ter agido no passado para conquistar meus pais, o que devia ou não ter feito. Tudo estava resolvido. Não havia mais nada pendente, nada que pudesse realmente tirar o meu sono. Na verdade sim, o reencontro com , mas eu estava mais ansiosa do que com medo. Ter conseguido encarar meus pais, conversar abertamente com eles, ter recebido um abraço apertado do meu pai e um pedido de desculpas sincero realmente tinha me renovado. Se havia alguma covardia dentro de mim que me fizesse desistir de voltar para Londres, agora ela havia virado lenda. Mesmo que por diversas vezes eu não quisesse assumir nem para mim mesma, ter uma relação mal resolvida com os meus genitores era algo que me tornava completamente insegura e angustiada. Eu me sentia impotente.

Abri os olhos bruscamente e percebi que já era dia. Ou tarde, para ser mais precisa. Peguei um espelho em minha bolsa e tentei melhorar meu aspecto, o que não deu muito certo, então optei pelos óculos escuros. Guardei o espelho novamente e peguei a revista que estava ao meu lado. Guardei o Ipod no bolso e levantei. Havia pouquíssimas pessoas no trem, então logo cheguei à saída. Esperei o cargueiro tirar todas as bagagens e logo vi a minha mala vermelha nada discreta. Puxei-a e fui chegando ao ponto de táxi da estação de trem de Londres. Londres. Eu ainda nem tinha parado para raciocinar que depois de tanto tempo longe, eu estava de volta, sem saber o que me aguardava. Senti várias borboletas nervosas em minha barriga e respirei fundo, em seguida fui até um dos veículos estacionados e o taxista colocou a minha mala no bagageiro. Entrei e fechei a porta, dando o endereço. À medida que íamos nos aproximando da rua em que ficava o prédio de , sentia o coração ficar mais apertado e mais acelerado, ao mesmo tempo. Foi então que passamos por aquela calçada, a minha calçada de trabalho. E, se tudo desse certo, EX calçada de trabalho. Pedi para o taxista parar e ele ficou sem entender. Paguei pelo percurso e deixei o carro, com a minha mala sendo puxada.

Olhei fixamente para aquele lugar. Por quanto tempo aquela tinha sido a minha realidade... Agradeci aos céus mentalmente por estar ali apenas de passagem. Senti-me uma cidadã comum, passando em seu caminho comum por aquela calçada. E foi assim que cheguei ao apartamento de : andando e puxando uma mala. Eu realmente precisava disto, eu tinha que acreditar que estava em Londres de novo. Eu tinha que ME fazer acreditar nisso e tomar coragem para encarar tudo o que tivesse para acontecer. Depois de vários quarteirões, senti as pernas falharem ao ver novamente aquele prédio. Tudo estava exatamente igual por ali. É estranho quando você percebe que a única coisa que mudou foi você. Para mim, era como se tivesse ficado fora por anos. Vi um carro bastante conhecido pelos meus olhos, na verdade dois: o de e o de . Eles ainda deviam estar juntos! Peguei-me sorrindo como uma retardada e entrei no prédio. Carregar aquela mala pesada e subir escada não é lá uma tarefa muito fácil para uma mulher que não pratica esportes, mas consegui chegar no ‘376’ com a respiração descompassada, porém viva. Benzi-me e bati na porta. Eu mal podia esperar para ver abrindo-a e abraçá-la. E ainda ver o !

- Si? – uma garota que eu nunca havia visto perguntou, ainda sem abrir a porta completamente. havia mudado de apartamento?
- A está? – perguntei sentindo as mãos tremerem e a garota apenas assentiu.
- Um momento. – pediu e fechou a porta novamente. Fiquei sem entender o seu comportamento. Ela não me parece ser inglesa, o sotaque é mais estranho do que o meu! Comecei a roer as unhas, de tanto nervoso, quando vi a porta se abrindo novamente. Era . Se eu tivesse conseguido arrancar alguma unha, já a teria engolido. Senti um nó na garganta anormal se instalar e nem quis saber qual era a cara que ela estava fazendo, abracei-a subitamente. Um abraço longo e apertado.
- Sua #$@!! Quanta falta você fez! – ela disse em meio a soluços, se desvencilhando e em uma tentativa falha de limpar as lágrimas. Ali eu senti a terrível covarde que eu havia sido de ter simplesmente sumido.
- Desculpa, , mil vezes. – falei com a voz trêmula, também tentando enxugar as minhas lágrimas. Ela apenas assentiu, me abraçando novamente. Entramos no apartamento e eu deixei a minha mala próxima à porta. Foi então que me soltou em um impulso e fez uma expressão estranha, como se procurasse alguma coisa.
- Cadê a sua barriga? – quase cuspiu as palavras e eu bufei, triste, desviando o olhar para o chão.
- Eu perdi. – respondi em um tom baixo. Ainda não era fácil lembrar que eu havia perdido outro filho. Outro aborto espontâneo. Se a gravidez tivesse vingado, agora eu estaria com mais ou menos oito meses. mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça negativamente, como se não conseguisse acreditar no que ouvia. – É o meu carma.
- Eu nem sei o que dizer. – disse tristemente, tentando escolher as palavras certas.
- Quem tá aí? – ouvi uma voz vindo do quarto e já sabia quem era: .
- Vem ver. – ela berrou e eu quase me suicidei ali mesmo. apareceu no corredor, sendo escoltado por Harry e . Os três fizeram a famosa cara de paisagem ao me verem. Paisagem ou pavor, como se vissem um fantasma.
- Eu... Não... – Harry começou.
- Consigo acreditar. – concluiu, Harry assentiu e apenas ficou boquiaberto. Mas isso não durou lá muito tempo. Sorri fraco, constrangida e os três logo correram para me abraçar. , é claro, os xingou de lerdos e tudo mais. Abracei cada um da mesma forma que abracei , quanta falta senti deles!
- Ué, mas onde está... – começou e eu o olhei curiosa.
- Ela perdeu. – respondeu antes que ele concluísse a pergunta. Olhei-a completamente confusa e deu um soco nas costas de , que revidou. Harry apenas balançou a cabeça negativamente.
- Vocês são umas antas mesmo. – disse Harry, indignado.
- Todo mundo já sabia? – perguntei a todos, mas direcionando o olhar para . Ela tinha uma expressão apavorada e apenas baixou o olhar.
- Eu tive que contar... – respondeu quase sussurrando. – Você sumiu e eu fiquei muito desesperada. – continuou e eu apoiei a mão levemente sobre seu ombro. Enquanto o silêncio se instalou no ambiente, a garota que eu presumo ser estrangeira voltou para a sala, totalmente despreocupada e obviamente não entendendo nada do que se passava.
- Quem é ela? – perguntei olhando-a e os meninos soltaram risadinhas abafadas.
- Raquel, ela é intercambista. – respondeu e chamou-a para se aproximar e nos cumprimentarmos. Bem que eu desconfiava!
- Prazer, sou , a amiga sumida da . – brinquei e a garota riu.
- Eu sei, o prazer é meu. – ela disse simpática.
- A Raquel tá ficando com o Haz! – disse alto e risonho, levando um tapa no estômago, dado por Harry.
- Como assim? Ele é o meu step! – brinquei mais uma vez e rimos, até a menina, mas as suas bochechas estavam incrivelmente rosadas.
- Porra, só fui descobrir hoje que eu era o seu step! Por que você não tornou as coisas mais claras antes? – Harry brincou e foi vaiado pelos garotos. Ali, naquele momento, eu tentei conseguir entender como não voltei antes. Ou melhor, como consegui ir embora e deixar tudo aquilo para trás. Os abracei mais uma vez e recebi um montinho, os agradeci mentalmente por não falarem mais sobre a gravidez, era tudo o que eu precisava esquecer naquele instante. Não havia sido fácil enfrentar mais um aborto espontâneo, tive que encontrar uma psicóloga praticamente todos os dias, por dois meses.

Aquela tarde foi tudo o que eu precisava, reencontrar os meus melhores amigos e a , minha verdadeira família. Raquel, a garota estrangeira que abriu a porta, estava morando com há quatro meses e estava realmente ficando com o Harry. Eles pareciam estar se entendendo, apesar de que muitas vezes eu não conseguia entender o que ela falava, seu inglês ainda era falho. Tomei banho e ficamos todos reunidos no tapete da sala, não havia nada diferente no apartamento, a não ser o fato de que o meu quarto agora pertencia à Raquel. não pôde me contar nada, porque ninguém saía de perto, mas percebi que ela não estava mais com . Os dois nem ao menos ficaram lado a lado, suas conversas eram exatamente do mesmo jeito de quando ainda eram simples amigos. Será que ele havia descoberto tudo? Não, não mesmo, até porque acho que as coisas não teriam ficado bem dessa forma que pareciam estar. Raquel estava sentada entre as pernas de Harry e os dois faziam brincadeirinhas um com o outro, um casal daqueles muito fofos. Espero que Harry saiba como levar esse relacionamento e que Raquel esteja preparada caso ele aja como . Porque eu não estava preparada, me apaixonei e aconteceu o que aconteceu. As conversas ainda eram engraçadas, eu já estava com dor de barriga de tanto rir e parecia que não era o suficiente. e continuavam com as suas desavenças bobas, fazendo todos rirem. Mas algo havia mudado muito ali, fora o fato de e não estarem mais juntos. Ela e mal brigavam, o que também não é bom sinal. Os meninos foram embora por volta das nove da noite e Raquel foi com eles, pois dormiria com Harry. Apesar de ter achado-a muito simpática, achei bom ficar a sós com , eu tinha coisas particulares a falar e acho que ela também.

Dito e feito.

- Você não tirou, certo? – perguntou apontando para a minha barriga. Eu sabia que ela estava com isso na cabeça, algo me dizia.
- Não. – respondi simplesmente, depois de respirar fundo.
- Desculpa amiga, eu não queria te ofender com essa pergunta, mas sei que você estava meio perturbada, então fiquei com medo de ter provocado o aborto. – ela disse me abraçando e eu a abracei.
- Tudo bem, eu entendo. – falei sincera e nos desvencilhamos. – Mas me conta... Você e o não estão mais juntos? – perguntei e ela mordeu o lábio inferior, desligando a TV em seguida e ficando de frente para mim, de joelhos. Deviam ter acontecido MUITAS coisas, mesmo.
- Acabou. Ele descobriu tudo. – respondeu tropeçando nas palavras. Prendi a respiração e fiquei completamente sem saber o que dizer.
- Mas então por que tudo parecia tão bem?
- Tudo está bem. Você sabe, nós não nos apaixonamos. – ela falou em um tom cordial, como se fosse muito normal.
- Ta, , mas mesmo assim. Ele achou legal ser chifrado esse tempo todo com um dos melhores amigos?
- Não, não. – balançou a cabeça negativamente e olhou para o canto da sala. – Foi meio complicado. Envolveu até o , porque quando o e o discutiram, o imbecil do disse que o já sabia também. – quando ela pronunciou o nome dele, tive mil sensações de uma vez. Foi a primeira vez no dia que eu ouvi aquele nome. Durante toda a tarde, todos evitaram pronunciar ‘’. Ignorei aquilo e voltei para a realidade.
- Nossa... Mas e você e o ?
- Acabou, também. O disse que seria sacanagem demais ficarmos juntos depois do que aconteceu e eu... – ela respirou fundo, desanimada. – Aceitei.
- Na boa? – perguntei vendo que a resposta óbvia era negativa.
- Uhum. – não sabe ser convincente quando mente.
- Tô vendo. – ironizei e ela me deu um tapa.
- Quê? Você acha mesmo que eu ia querer ficar com um imbecil como o ? Nunca! Ele só é bom de pegada, só. – tentou convencer a si mesma e eu apenas ri, levando mais tapas.
- Como o está? – perguntei de uma vez, assustando .
- Não sei. – respondeu sincera, com um olhar triste.
- Você e os meninos não tão andando juntos?
- Eu e os meninos, menos o . Ele não sai mais com eles quando eles saem comigo. – ela falou indignada e eu fiquei sem entender, acho que ela percebeu, pela minha cara. – É, minha cara, nem eu consigo entender.
- O que eles dizem? Não falam dele? Quando foi a última vez que você o viu? – fiz uma pergunta atrás da outra e começou a rir.
- Meu Deus, eu achando que esse tempo fora te faria ficar dura e sem coração, mas não, parece que voltou ainda mais apaixonada pelo . – agora quem levou tapa foi ela, muitos. Mas eu sei que, no fundo, tem razão.
- Responde, ! – ordenei prendendo o riso e ela bateu continência.
- De vez em quando ele e o saem... É mais eles dois... Vão encher a cara por aí. Tem altas fotos de paparazzis deles bêbados pelos pubs... – ela riu e eu sorri fraco, tentando imaginar o “novo” . – A última vez que eu o vi foi na semana passada, em um pub, mas o encontrei lá por acaso, eu e a Raquel saímos e lá estava o idiota.
- Você falou com ele? – a interrompi e riu.
- Cumprimentei de longe, ele mal respondeu. O não é mais o mesmo, . – por mais que eu tentasse, era difícil acreditar nas palavras de . A culpa de tudo isso era minha? Foi então que parei para ligar os fatos.
- ! – praticamente berrei e ela se assustou.
- Ai sua filha do demônio, que susto! – comecei a rir quando ouvi isso, estava com muita saudade. – Que foi?
- Se os meninos sabem da minha gravidez, isso quer dizer que o também soube! Ah meu Deus! – coloquei a mão na testa e zombou.
- Agora que você foi perceber isso?
- , eu pedi pra você não contar! – falei irritada.
- É, mas você sumiu de uma vez, fiquei muito preocupada. E me desculpe, mas a primeira coisa que fiz foi contar pro . A gente precisava saber onde você estava. Eu pedi pro idiota não dizer pro , mas quando eu vi, foi tarde demais, ele já sabia de tudo.
- Meu Deus, eu sou um monstro. – coloquei as mãos na cabeça e voltou a sentar ao meu lado, me abraçando.
- Claro que não, eu também não sei o que eu faria no seu lugar, com tudo o que estava acontecendo.
- Não, . – ergui a cabeça novamente. – Eu devia ter enfrentado tudo, sempre fujo dos meus problemas...
- Tá, isso pode até ser verdade, mas ele não é ninguém pra julgar o que você fez. Nem eu. Só quem vive o que você viveu a vida inteira pode entender. – me consolou como sempre faz. Deitei em seu colo e voltei a sentir aquela segurança que não sentia há quase seis meses.

Comecei a contar para ela tudo o que aconteceu. Como eu já esperava, sabia que eu estava em Bolton, porque a mãe de contou para ele, que contou para os amigos, que contaram para ela. Perguntei por que ela não havia me procurado, e ela disse exatamente o que eu esperava que dissesse: queria me dar o tempo de perceber que era hora de voltar, sem pressionar. me conhecia melhor do que ninguém, ela sabe que quando tenho as minhas crises, só consigo resolver sozinha, com a minha própria cadeia de pensamentos. Ela brincou que estava com ciúmes, porque só Carol tinha visto a minha barriga crescendo, mas depois disse que queria conhecê-la. Perguntou sobre os meus pais e eu falei que tudo estava bem melhor do que há quatro anos, contei das desculpas sinceras do meu pai e ela ficou realmente surpresa com o fato de eu não ter dito a ele que o perdoava, ter apenas assentido. Até eu me assusto comigo, com as minhas reações. Também falei que sabia da existência da canção, a “She Left Me”.

- Preciso te mostrar uma coisa. – disse tirando a minha cabeça do seu colo e eu sentei, ela então levantou e foi até o seu quarto buscar alguma coisa. Quando voltou, me entregou um papel e sentou ao meu lado novamente.

“Eu estou ficando cansado de perguntar
Essa é a última vez
Então, eu fiz você feliz?
Porque você chorou um oceano
Quando há um milhão de linhas
Sobre o jeito que você sorri
Escritas em minha cabeça
Mas cada palavra é uma mentira

Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito
Mas você pode pegar o céu mais azul e transformá-lo em cinza
Eu jurei para você que eu faria meu melhor para mudar
Mas você disse que isso não importa
Eu estou olhando para você por outro ponto de vista
Eu não sei como diabos eu me apaixonei por você
Eu nunca desejei para ninguém se sentir do jeito que eu sinto

Isso é um sinal do céu?
Me mostrando a luz
Era para isso ter acontecido?
Eu estou melhor sem você
Então você pode ir embora esta noite
E não se atreva a voltar
E tentar acertar as coisas
Porque eu vou estar pronto para uma briga

E você disse que isso não importa”


- O que é isso? – perguntei depois de ler.
- É a letra de uma música que vai pro novo cd do McFly.
- Escrita pelo ? – a resposta era óbvia, apenas assentiu. – Quem te deu isso?
- O , ele roubou da gaveta dele. – ela disse e eu soltei um riso abafado, tinha que ser coisa do . Por mais que eu estivesse até rindo do que ela havia acabado de contar, formava-se um grande nó em minha garganta. Ali, naquele papel, estava a frase que eu mais esperei ouvir de em todo esse tempo: “Eu me apaixonei por você”. Porém, não da forma que eu achava que iria ouvir, porque a frase completa não tinha um bom sentido.

“Eu estou melhor sem você
Então você pode ir embora esta noite
E não se atreva a voltar
E tentar acertar as coisas
Porque eu vou estar pronto para uma briga”


Quando percebi, já me abraçava. Eu estava em meio a lágrimas. Eu havia feito muito mal a ele, tinha certa noção disso. Se realmente estava apaixonado, então eu estraguei tudo. E doía pensar que eu podia ter sido feliz. Podia não ser covarde e ter ido procurá-lo, dane-se o que ele acharia do fato de eu estar grávida. Da mesma forma que eu vivia imaginando que ele se esquivaria e diria que o filho podia não ser seu, podia ter agido como homem e dizer o que estava sentindo. Fui uma idiota esse tempo inteiro.

- Vou procurá-lo. – falei enxugando as lágrimas e entregando o papel para .
- Você tem certeza? – ela perguntou visivelmente preocupada. Apenas assenti e dei um beijo em seu rosto, levantando em seguida. Seria no dia seguinte, eu não tinha mais para onde correr.

Preciso enfrentar , mesmo que ele esteja pronto apenas para uma briga.

Capítulo 28


(COLOCAR PARA CARREGAR: http://www.youtube.com/watch?v=Ub52NjNDQwg)

Acordei incrivelmente decidida, as coisas podem se tornar mais fáceis quando você percebe que pode estar errada. Eu era culpada pelo que estava acontecendo, devia ter deixado claro desde o começo que estava me envolvendo, assim não teria brincado inconscientemente com os meus sentimentos. Eu sabia que teriam milhões de questões a serem discutidas e que não era apenas dizendo um “eu sou louca por você” que conquistaria o seu perdão, mas havia uma pitada de esperança em meu coração, alguma coisa no fundo da minha alma dizia que as coisas ficariam bem, assim como eu vinha sentindo o tempo inteiro no trem.

Encontrei com e Raquel na cozinha, as duas estavam prontas para ir às respectivas aulas. Isso me lembrou que eu tinha de agilizar alguns papéis e tentar uma vaga em uma faculdade. Assim que apareci na cozinha, já pronta para o ‘confronto’, me olhou espantada e Raquel acenou freneticamente, me oferecendo torradas recém-preparadas, aceitei e agradeci, depois me lembrei de que ela não tinha dormido em casa.

- Por que você já levantou a essa hora? – perguntou enquanto me observava preparar leite com café.
- Vou falar com o . – respondi nem acreditando que estava realmente indo fazer isso. Mal me calei e Raquel prendeu a respiração. Até ela sabia da gravidade que seria essa conversa?
- Ah meu Deus. – continuou, aparentemente mais nervosa do que eu. – Você tem mesmo certeza? Eu acho que essa não é uma boa ideia, .
- Se acha que deve enfrentar , essa é a hora. – Raquel deu a sua primeira manifestação do dia e eu a aplaudi, fez careta. Claro que não deixei de rir do seu inglês, que é muito engraçado.
- Gostei de você, xará... – brinquei e Raquel não entendeu, apenas riu baixinho, a menina não devia saber que eu usava aquele mesmo nome quando era prostituta, apesar de eu crer que a escrita é diferente.
- De qualquer forma, depois não diz que eu não avisei. Vamos, Quel. – disse depois de tomar o último gole de seu leite. Raquel enfiou uma torrada inteira na boca e me deu um tapinha no ombro. Desejei boa aula às duas, agradeceu e me desejou sorte; Raquel estava com a boca cheia, então apenas emitiu algum som. Eu sabia que precisaria de sorte.

Terminei de tomar café e lavei as sobras que as duas deixaram, juntando com as minhas. Estava tentando, de qualquer maneira, adiar a hora mais esquisita do dia. E esperada. Não sentia apenas medo de enfrentá-lo, sentia também falta, muita falta, mas não fazia ideia de como seria esse reencontro, eu não sabia como me sentiria. E aquilo realmente assustava e me fazia querer depositar todo o café da manhã em um vaso sanitário por via oral. Assim que terminei de lavar a louça, percebi que não havia nada mais a ser usado como desculpa para prolongar a minha ansiedade. Peguei a minha bolsa, que já estava em cima do sofá, e dei uma última checada no cabelo, me olhando no novo espelho que havia sido colocado no fim do corredor por Raquel, segundo informações de . Tranquei o apartamento e desci as escadas com cuidado, as minhas pernas tremiam involuntariamente, assim como as minhas mãos, me deixando até envergonhada, porque quando passava pelo andar de baixo, um senhor me olhou com uma pena que me fez até sentir pena de mim mesma.

Fiz uma caminhada relativamente longa até o ponto de táxi mais próximo do meu prédio, era muito estranho fazer aquele caminho novamente. Eu já estava me acostumando com Bolton, depois que voltei para Londres, havia momentos em que me assustava ao pensar que não estava mais lá. Na minha cabeça doentia, só conseguiria voltar daqui anos e mais anos, não em cinco meses e mais alguns dias. Peguei um táxi e dei as instruções, ele brincou, dizendo que eu era bonita demais para estar tão nervosa. É, eu devia estar pálida e com uma expressão de desespero, porque era assim mesmo que me sentia. Uma música começava a tocar na estação de rádio e o taxista cantarolava baixinho, era do McFly. “I Wanna Hold You”, sim, aquela que cantou apontando tal frase para mim no show do Rio de Janeiro. Senti o estômago revirar e todos os fiozinhos de cabelo se arrepiarem. Ouvir a voz de a essa altura do campeonato era algo surreal. O era surreal. Acho que eu estava com mais medo de enfrentá-lo do que tive ao enfrentar meus pais maquiavélicos. Olhei o caminho que fazíamos e ficava cada vez mais próximo do hotel em que morava. Comecei a lembrar da me perguntando, completamente preocupada, se eu tinha certeza de que deveria vê-lo. Quanto mais eu pensava, mais dor de barriga me dava. Quanto mais eu tentava pensar que as coisas poderiam nem ser tão estranhas, mais eu imaginava me escorraçando para longe do hotel. Ora, o que mais poderia esperar? Um abraço apertado? Ou na hipótese mais distante possível, um beijo? Eu estava com medo, muito, muito medo. A música no rádio ia acabando e, se eu já quase infartei com a voz dele em uma canção, imagina ouvir a voz dele e olhar em seus olhos ao mesmo tempo? Já conseguia enxergar a fachada do luxuoso hotel.

O taxista encostou lentamente na calçada, para que eu pudesse descer. A essa hora, eu já não tinha mais unhas. Fui acordada do pequeno transe com ele falando o valor da corrida e quase gritei de susto, sem contar que fiquei hiper constrangida pelo fato de não estar encontrando a minha carteira no buraco negro que a minha bolsa se tornou. As minhas mãos estavam suadas e congeladas, entreguei a nota para o taxista e ele riu, vendo que a cédula se tremia devido ao meu nervosismo. Abri a porta do carro notando que o meu suor havia ficado na maçaneta. Desci lentamente e nem me lembrei de dizer um ‘obrigada’ ao motorista de táxi, coisa que eu sempre fazia. Antes de pensar em atravessar a rua, respirei fundo e olhei para o hotel, que estava do outro lado. Foi nessa hora que eu queria mesmo me torturar por gostar tanto de . Assim que avistei a entrada do hotel, o vi na calçada, dando um selinho em uma garota loira e baixa, que parecia ser ainda mais nova do que eu. Em seguida, ela entrou em um táxi, tendo a porta aberta e fechada pelo , ambos rindo como retardados, o que me corroeu ainda mais. Senti-me uma idiota de ter me preparado tanto e ter passado uma noite em claro pensando no que dizer a ele para chegar a hora e vê-lo com outra.

Ok, eu sei que ele nunca foi minha propriedade, mas me senti infinitamente tola por ter me martirizado tanto. Por mais que o meu coração batesse acelerado, a ponto de explodir por dois motivos completamente distintos, da mesma forma que o nó em minha garganta – o primeiro motivo foi pela raiva, pelo ciúme que senti em vê-lo com aquela garota e, o segundo, foi apenas pelo fato de revê-lo. Eu odeio como esse idiota me faz sentir.–, não pensei duas vezes e entrei no mesmo táxi novamente, é até irônico dizer isso, mas pelo menos uma coisa havia dado certo naquele dia. Pelo menos o trânsito estava tão ruim a ponto de o taxista não ter conseguido sair do lugar. Ele me olhou preocupado e perguntou se eu precisava de alguma coisa. Respondi que sim: sumir dali. Enquanto encarávamos um engarrafamento, evitei olhar novamente para a frente do hotel e queria me auto flagelar, porque enquanto a minha cabeça odiava , o coração pedia para que eu o olhasse pelo menos para matar um pouco da falta que sentia dele. Eu odeio ter um coração, ODEIO. Ainda bem que dessa vez a minha razão conseguiu se manter e evitei olhá-lo, até porque acredito que não tenha ficado de bobeira na frente daquele hotel, sendo que ali passa uma das avenidas mais movimentadas de Londres.

Eu também tentava segurar o choro que queria aparecer, engolia seco e não deixava que aquele nó na garganta se instalasse. Tinha que ser mais forte do que isso, mas me sentia frustrada, muito frustrada. sempre consegue me surpreender, juro que acreditei por horas que teríamos essa conversa hoje, mas não, ele sempre faz algo contrário. Eu sei que ele nem imaginava que eu estava indo até lá, aliás, nem deve saber que voltei. Mas DROGA! Por que sempre tudo sai diferente do planejado? Só porque eu estava com as coisas a dizer na ponta da língua! Pelo menos eu achava que sim. Com certeza estava enganada, porque se estava tão decidida como achava, por que não fui até lá mesmo assim? Mesmo vendo ele com uma loira aguada menor do que eu? Eu sempre tenho que quebrar a cara, sempre. Se tivesse dado ouvidos à desde o começo, com certeza não teria chegado a esse estado em que o meu amor próprio praticamente sumiu. Pedi para o taxista me deixar em frente ao London Eye, era tudo o que eu precisava. Ali pelo menos o meu medo de altura me distrairia. Desci do carro e observei, ainda de longe, a roda gigante mais gigante que já vi.

Havia pouquíssimas pessoas, já que se tratava de uma manhã de um dia de semana. Peguei uns trocados em minha bolsa para já pagar o tanto certo, detesto esperar troco, ainda mais do jeito que eu estava naquele momento: completamente sem paciência, querendo explodir. Entrei em uma cabine sozinha, de tão pouco que era o movimento. Cruzei os braços e encostei a cabeça no vidro, observando a cabine ficar cada vez mais alta. Sentei com as pernas esparramadas e esticadas, comecei a pensar no filho que havia perdido. Ainda pensava muito nisso, por mais que não parecesse para quem olhava superficialmente. A própria Carol me disse várias vezes que não sabia de onde eu tirava forças para ter um comportamento normal poucos dias depois do acontecido. Mal sabia ela o tanto que eu estava sofrendo. Esse é o meu jeito de sofrer. Ao invés de pedir ajuda, fico com o problema inteiramente para mim. Fui criada assim, os meus pais não me davam o direito de sofrer. Era um bicho de sete cabeças chorar na frente dos outros. Eu queria mesmo ser tão durona e fria como muitas pessoas já disseram que sou e até admiram isso em mim. Mas não é assim. Nenhuma delas sabe que enquanto eu estou sorrindo, meu coração está despedaçando e estou me corroendo. Erguer a cabeça nem sempre é sinal de segurança. Ser fria e durona era tudo o que eu precisava em momentos como estes. E agora estou aqui, sentada em uma cabine de uma roda gigante, observando uma cidade que não para, mas sentindo como se o meu mundo tivesse parado de girar. Desde quando um homem tinha tanto controle sobre o que me rodeia?
Paguei para continuar ali várias e várias vezes, o homem que dava os tickets me olhava com muita, muita pena. Ele devia estar pensando que eu era algum tipo de esquizofrênica. Mas de alguma forma, eu começava a me sentir melhor. Como se estivesse acima de tudo e de todos, como se nada me afetasse. Quanto mais alto estava, mais segurança sentia. Segurança falsa, já que quando saísse dali tudo voltaria ao curso normal. Eu tinha perdido mais um filho e, de brinde, o pai dele.

Finalmente decidi sair da roda gigante, já devia ser a hora do almoço. Eu nem ao menos sentia fome e queria conseguir parar de pensar em . Caminhei por vários quarteirões até pegar o táxi e voltar para casa. não teria expediente nesta tarde e eu me aproveitaria disso para usar o seu ombro amigo.
Entrei no apartamento bufando e batendo a porta, ainda não conseguia acreditar que tanta preparação não serviu para nada. apareceu, vindo da cozinha, e me olhou espantada. Dei um breve ‘olá’ e me joguei no sofá. O cheiro de comida até parecia animar o meu estômago, mas eu sabia que se tentasse comer, não conseguiria.

- O que aconteceu? – perguntou sentando ao meu lado.
- Adivinha... – bufei.
- Não conseguiu falar com o ou ele te tratou como um cachorro... – acertou na mosca, na primeira opção.
- A primeira opção. – resmunguei e cruzei os braços.
- Ah, tô vendo que vamos ter que contar uma com a outra hoje. – disse desanimada e soltando um riso abafado.
- Como assim? – estranhei.
- está saindo com a Holy, aquela vagabunda que estuda comigo. – falou de uma vez e eu a olhei subitamente, prendendo a respiração. Holy Peterson estuda com desde os tempos de colegial e, por ironia do destino, optou pelo mesmo curso. As duas nunca se deram bem, mas agora parecia que as coisas estavam começando a dar certo. Só parecia.
- E isso te incomoda? – perguntei querendo rir e levei um tapa no braço. – Outch! Sua louca! – massageei e continuei rindo, estava mesmo com ciúmes.
- Ahhh, não é por causa do ... É que essa menina tem o talento de pegar caras que eu descarto... – blefou.
- Ah, para . Se ela tivesse com o , tenho certeza de que você não estaria assim. – dei de ombros e ela me bateu de novo.
- Nunca mais repita uma coisa dessas... Eu odeio aquele monte de merda que é o . E quer saber, vou mandar uma mensagem pra ele agora mesmo! Você tinha que ver a cara cínica dele encostado no carro, esperando aquela vadia! E ela como sempre uma #@$%, se mostrando pra faculdade inteira, porque estava com um retardadinho do McFly. Nossa, eu odeio, odeio, odeio o . Quero que ele se dane! Junto com aquela siliconada! Grrrrr... – desembestou a falar e eu apenas a observei dizer palavra por palavra. Era óbvio o tanto que aquilo incomodava . Eu nunca a tinha visto agir dessa forma. Nem pelo Ryan, que é realmente um monte de merda. O mais engraçado era que ela esperava mesmo que eu acreditasse no que dizia. Não consegui controlar e comecei a rir novamente. Ela bateu o pé e levantou, voltando para a cozinha e me xingando de vários nomes. Por alguns segundos, como sempre, conseguiu me distrair. Levantei e fui caminhando até a cozinha. Ela estava visivelmente irritada, mexendo em seu celular e, como havia dito, devia estar mandando uma mensagem para .
- Você está apaixonada, amiga, tente lidar com isso. – falei pegando uma maçã na fruteira e preparando os meus ouvidos para ser xingada. desviou o olhar do celular e semicerrou os olhos, a acompanhei abrir a boca lentamente, sabia que dali viriam milhões de palavras obscenas. Mas, antes que ela pudesse dizer alguma palavra...
- Ya estoy harta, Harry! HARTA! (Já estou farta, Harry! Farta!) – ouvimos Raquel gritar entrando no apartamento. Larguei a minha maçã na mesa e corremos para ver do que se tratava. Ela puxava os próprios cabelos e dizia um monte de coisas em sua língua. Nem , nem Harry e nem eu conseguíamos entender. – Todo eso es una mierda! Tu eres una mierda! (Tudo isso é uma merda! Você é uma merda!) – Raquel apontava para Harry e ele olhava dela para nós duas, desesperado, procurando uma tradução. Apenas balancei a cabeça negativamente, como se dissesse para ele que não estava entendendo nada.
- Fala em inglês, caramba! – Harry disse em alto e bom som, e eu quase nos abraçamos assustadas. Era a primeira vez que o víamos irritado. Raquel se calou e creio que ficou tão assustada quanto nós duas. e eu começamos a gargalhar. Aquela foi a discussão mais engraçada que já havíamos visto. Raquel deve ter chamado Harry de todos os palavrões existentes em sua terra natal. Desejei por longos minutos ser poliglota, para poder xingar em todos os idiomas, sem que ele entendesse o que estava falando. Harry nos olhou, ainda irritado, e Raquel bufou, indo para o quarto e batendo a porta.
- Minha santa mãe do céu, o que foi isso? – perguntei erguendo os braços e Harry passou a mão na cabeça, respirando fundo.
- Eu nunca vi a Raquel desse jeito, o que você aprontou, Harry? – perguntou ficando ao lado dele e conduzindo-o até o sofá.
- Eu não sei, ela é louca! – ele respondeu simplesmente, apoiando os cotovelos nos joelhos e balançando a cabeça.
- Para uma mulher agir assim, alguma coisa você fez, pode ter certeza! – falei sentando do outro lado, deixando Harry entre e eu. Ele, então, me olhou bruscamente.
- Só se foi por causa de uma garota que... Ah meu Deus... – ele parou de falar e deu um tapa na própria testa.
- Garota que... – o estimulou a continuar falando.
- Eu namorei um tempo e a Raquel achou umas fotos dela no meu armário...
- E essa ex namorada estuda na mesma faculdade que ela? – dei o palpite e ele assentiu. prendeu a respiração.
- Ela veio me abraçar bem na hora que a Raquel vinha saindo... E aí acho que foi por isso que ela ficou assim. – Harry disse e depois bufou.
- Ahhhhhhh, mas eu acho isso muito pouco! Ela deveria ter metido a mão na sua cara, seu cachorro sem vergonha! Você tinha prometido que ia buscá-la e depois fica abraçado com a ex? Vá à merda, Haz! Vou atrás da minha amiga, você não a merece! – explodiu, comprando a briga e nós a observamos levantar e ir até o quarto de Raquel. A minha amiga não é muito de comprar briga, mas era óbvio que aquilo a fez lembrar o aborrecimento de ver com outra, então ela acabou descontando em Harry.
- Você entendeu? – Harry perguntou apontando para o corredor.
- Sim. – respondi simplesmente. – Ela tá aborrecida com o seu amigo. Aí você sabe, né? Vocês são todos parecidos e isso faz com que ela desconte no primeiro que aparecer.
- O ? O que ele fez? Acho que ele nem acordou ainda!
- Dãããã... Não o , o !
- Hein? Isso ainda dá ibope? – Harry perguntou espantado e eu assenti, sorrindo.
- Pelo jeito... Mas deixa pra lá, a não consegue nem ouvir o nome dele direito...
- Você acha que eu vou falar alguma coisa? Ele é louca, igual à Raquel, não me meto mais com nenhuma das duas... – disse em um tom desanimado e eu apoiei a cabeça em seu ombro.
- Ai, ai. Antes tivesse me apaixonado por você. – desabafei baixinho e Harry passou o braço pelo meu ombro. Ficamos olhando para a TV desligada.
- Digo o mesmo. Mas não, fui me apaixonar logo por uma maluca vinda lá de não sei aonde que quando quer brigar fala em espanhol e eu não entendo $#@% nenhuma. – reclamou e nós rimos.
- Que lindo, Haz.
- O que?
- Você disse que se apaixonou pela Raquel.
- É... Olha em que buraco eu fui me meter. – deu de ombros. – Agora já tô ferrado, mesmo.
- Nem tá. – levantei a cabeça e o encarei. – Corre atrás, ela também está apaixonada. Se não estivesse, não teria agido dessa forma ao te ver com a ex. Ferrada estou eu, meu amigo... – dei dois tapinhas em seu ombro e ele riu.
- Você gosta do , né? – perguntou já sabendo a resposta e olhou para a minha mão, em seguida entrelaçou a sua na minha.
- Preciso responder? – sorri fraco e ele negou, beijando a minha mão.
- Eu senti sua falta, . Você não sabe a vontade que tive de cuidar de você, nesse tempo todo que sumiu grávida por aí. – desabafou.
- Ouuunnn. – nos abraçamos e em seguida ele se desvencilhou, me olhando com uma expressão sapeca.
- E se o estiver apaixonado, também?
- Não, não, não. Ele esteve, eu acho. – dei de ombros.
- Por que esteve? – perguntou atordoado.
- A me mostrou a letra de uma música aí que ele escreveu. Acho que me odeia...
- Claro que não. Aquela topeira não sabe o que é sentir ódio... Não se preocupe, se duvidar, ele nem sabe o significado dessa palavra! – brincou e nós rimos.
- Eu o vi hoje. – falei rapidamente e Harry arregalou os olhos.
- E aí? – perguntou visivelmente curioso.
- Só vi, não falei com ele...
- Por quê? Ele não morde! Relincha, mas não morde! – brincou mais uma vez. – Sério, agora... Por que vocês não se falaram?
- Eu tomei coragem pra conversar com ele... Mas quando cheguei à frente do hotel, o vi dando um selinho em uma garota e depois abrindo a porta do táxi para que ela entrasse. – respondi completamente desanimada, lembrando perfeitamente daquele momento. Harry franziu a testa, com certeza desconsertado, ele não sabia o que dizer.
- VAI EMBORA, HARRY. – Raquel ressurgiu e nós levamos um susto, visto que um silêncio estranho havia se instalado.
- Isso aí, some, Judd! – apoiou e eu gesticulei para que ela se acalmasse e não se metesse na briga dos dois.
- Acho melhor você ir, antes que o teto desabe na sua cabeça, Haz. – brinquei e ele concordou, levantando. Levantei em seguida e o abracei. Ele não teve coragem nem de acenar para as duas loucas, apenas as olhou por alguns segundos e me deu um beijo no rosto, deixando o apartamento. Fechei a porta e me virei para e Raquel.
- Vocês são loucas? A Raquel até tudo bem, porque a confusão foi com ela... Mas o que você tinha que dar uma de louca pra cima do Harry, ? O seu problema é com o . Eles são quase a mesma pessoa... Quase. – ironizei e ela bufou, fazendo careta.
- Vou servir o almoço, quem quiser comer, me siga. – ignorou e foi para a cozinha. Raquel continuou ali, parada.
- Perdóname. (Desculpe-me.) – ela disse, ainda em seu idioma.
- Raquel, eu não entendo a sua língua. – fui sincera e ela rolou os olhos, batendo na própria testa.
- Eu quis dizer ‘desculpe-me’, mas é que às vezes não processo a informação de estar em outro país. – falou envergonhada e eu sorri fraco.
- Não tem problema, deve ser complicado, mesmo. E também o que aconteceu é problema seu e do Harry. Só quero que você pondere. – falei em tom cordial e ela sorriu aliviada, assentindo. – Vamos almoçar? – convidei, mudando de assunto, e ela assentiu, me seguindo.

O almoço foi bastante silencioso. Raquel tinha vergonha de falar e ser repreendida – a essa hora ela devia me achar a própria megera – e devia estar me odiando por, de certa forma, ficar do lado de Harry. E, claro, por perceber o que ela mais queria esconder de todos: sua paixonite por . Apesar de todo esse clima estranho, uma coisa parecia me perturbar mais ainda: eu não conseguia parar de lembrar-me da cena que vi mais cedo. Queria mesmo desabafar com alguém, quase consegui com Harry, se não tivéssemos sido interrompidos por e Raquel possessas. Assim que terminamos de almoçar, Raquel disse que lavaria a louça, ela deveria estar querendo evitar qualquer tipo de stress em mim e em e também deveria estar realmente envergonhada pelo que aconteceu entre ela e Harry na nossa frente. Quer dizer, o que aconteceu com ela, já que Harry nem entendia o que ela falava, para se defender. Fui direto para a sala e abri um livro que havia comprado em Bolton e, desde que comprei – há dois meses –, não dei conta de começar a ler.

Agora eu não tinha mais quarto, Raquel ocupara o que era meu e eu estava dormindo com . Não ia mesmo pedir o meu quarto de volta, afinal quem sumiu por cinco meses fui eu, a pobre estrangeira não tem nada a ver com isso. E alguma coisa me dizia que nós nos daríamos bem, ela só me pareceu um pouco impulsiva, mas também é, então não há nada de extraordinário nisso.
Apesar de saber que não é recomendável ler de barriga cheia, ignorei e deitei no sofá, de barriga para cima e apoiei o livro no busto. Eu tinha que encontrar alguma forma de distração convincente, pelo menos para o resto do dia.

Li por mais ou menos uma hora, até Raquel vir e me oferecer um cigarro. Não costumo fumar sempre, mas se estou atordoada e alguém me oferece, não consigo recusar. Aceitei, fechei o livro e sentei, pedindo para que ela sentasse ao meu lado. Raquel acendeu o meu cigarro e ficamos as duas fumando e olhando para a TV desligada. reapareceu, acredito que estava em seu quarto.

- Ninguém me oferece um cigarro? – indagou em um tom brincalhão e sentou ao lado de Raquel, deixando-a entre nós duas. Raquel ofereceu um cigarro e ela agradeceu, tendo-o aceso.
- Homens são uma porcaria. Olha o que eles fizeram com a gente. – brinquei depois de tragar e as duas riram.
- Principalmente homens de McFly. – Raquel disse e eu e caímos na gargalhada, a menina olhou sem entender, mas ficamos com vergonha de dizer que o seu inglês é muito engraçado. – No compreendo. (Não entendo.) – resmungou e e eu paramos de rir, tentando imaginar o que significava.
- Concordo com você, Quel. – disse, em seguida deu mais uma forte tragada. Seu celular começou a tocar. – Mensagem! – ela gritou, correndo para o quarto, onde ele estava.
- Acho que é do . – falei e Raquel assentiu.
- FILHO DA @#$% DO DEMÔÔÔÔNIOOOOOOOOO!!!!! – ouvimos berrar e corremos para o seu quarto. Encontramos a doida atirando o celular contra a parede.
- O que é isso, ? – perguntei tentando juntar os pedaços do aparelho, recebendo ajuda de Raquel, apesar de saber que não tinha mais jeito.
- Aquele imbecil, nojento e argh! – puxou o próprio cabelo e bateu o pé.
- O que otário apontou? – Raquel perguntou.
- Aprontou. – a corrigi e ela agradeceu.
- Ele nasceu, Quel. Esse é o problema, ELE NASCEU! AAAAAAAHHH MAS EU MATO, EU ARRANCO AS BOLAS DELE COM UM CANIVETE! – gritava cada vez mais alto e nós tentávamos prender o riso. Ela agora descontava toda a sua raiva no cigarro, dando tragadas cada vez mais fortes, sentada na cama.
- O que ele disse? – perguntei sentando ao seu lado e ela balançou a cabeça. Raquel ainda lutava para conseguir salvar o celular.

A noite chegou e nós não soubemos o que escreveu para . Ela estava muito irritada e nós preferimos deixá-la sozinha. Fiquei assistindo TV e fumando com a Raquel, a tinha decidido dormir e esquecer que um dia beijou . Ela sempre foi dramática quanto a relacionamentos, mas eu nunca tinha visto coisa daquele tipo, de sair quebrando celular e etc.

- Você acha que gosta ? – Raquel perguntou apagando o seu cigarro no cinzeiro.
- Não faço a mínima ideia. Os dois são muito orgulhosos. – respondi depressa, porque não queria perder nenhuma fala de Friends, em seguida, apaguei o meu cigarro. – Já fumei demais por hoje, vou tomar banho. Vamos sair? – falei levantando.
- Será que querer ir? – ela perguntou preocupada.
- Não vamos saber se não convidarmos! – respondi brincando e ela riu, se oferecendo para enfrentar e chamá-la para sair. Fui para o meu ex quarto e entrei no meu ex banheiro. Não suporto o cheiro de cigarro impregnado em meus dedos, tive logo que tomar banho para não senti-lo. Enquanto passava shampoo, ouvi Raquel chamar e sua resposta não ter sucesso.

No fundo eu sabia que ela não aceitaria sair, pois quando tem alguma coisa perturbando-a, prefere sumir e esquecer que existe. Não a culpo, sou assim também, mas tinha que esquecer o que tinha visto, ou pelo menos não lembrar tanto e, se ficasse em casa, não conseguiria pensar em outra coisa.
Terminei o banho e escovei os dentes, tentei me olhar no espelho, mas ele estava muito embaçado, então simplesmente terminei de lavar a boca e saí, enrolada na toalha. Fui até o quarto de , onde estava a minha mala. Raquel já estava em seu quarto, meu ex quarto, escolhendo uma roupa.

- Vai ficar aí encolhida, mesmo? – perguntei vendo-a se mexer incomodada com o barulho que a porta fez. estava toda enrolada no lençol e abraçada no travesseiro. Abri a minha mala e revirei procurando uma roupa adequada para ‘sair’, já que eu não sabia ainda para onde ir.
- Uhum. – respondeu quase meia hora depois de eu ter perguntado.
- Tudo bem, é um direito seu, mas eu queria que você fosse. – falei com a voz melosa e ela mostrou o dedo, rindo.
- Nááá, tô enjoada. – falou com preguiça e eu finalmente encontrei uma roupa boa. Aquele mesmo tubinho que usei quando saímos no Brasil. Ok, eu tinha muitas lembranças, boas e ruins, mas era a melhor roupa e a menos amassada que tinha em minha mala. Coloquei a calcinha e depois me vesti, antes, enrolei os cabelos na toalha. – Que gata, baby. – brincou e eu não acreditei que ela tivesse feito isso, já que seu humor não era dos melhores.
- Obrigada, amiga. Ahhhhhh, , queria tanto que você fosse. – disse indo em sua direção e sentando na cama ao seu lado, a abracei apertado e depois fiz cócegas.
- Sua engraçadinha do demônio. – ela disse em meio a risadas. – Sério, , hoje eu não consigo. – falou desanimada.
- Ouuuuun, ta bom, vou deixar você aí, mas tô levando o celular, se bem que não sei como você vai me ligar se acontecer alguma coisa, já que detonou o seu, né? – levantei da cama e a ouvi rir, lógico que ri também, a risada da sempre é algo de animar alguém, até ela mesma.

Desenrolei o cabelo da toalha e peguei um secador. Passei desodorante e puxei um banquinho para sentar de frente para o espelho e secar o cabelo. Liguei o objeto na tomada e peguei uma escova. levantou e disse que ia fazer aquilo para mim, já que ela era talentosa para essas coisas. Agradeci um milhão de vezes a ela mentalmente, pois morro de preguiça de fazer esse tipo de coisa. Logo Raquel apareceu no quarto, prontíssima, pois não tem problemas com cabelo, seu cabelo é liso escorrido, de dar inveja. Ela se sentou na cama e ficamos as três conversando, ofereceu seu carro e, claro, nós aceitamos. Não demorou muito tempo para que o meu cabelo estivesse pronto, faz milagres, nasceu mesmo para a coisa. Aprontei os últimos detalhes, como perfume, brincos e pulseiras. Raquel deixou seu celular para que utilizasse caso precisasse de alguma coisa. nos desejou ‘boa saída’ – ainda não tínhamos decidido o que fazer – e me deu a chave do carro. Calcei o scarpin preto e deixamos o prédio.

Dirigir o Porsche da é sempre relaxante. Dá aquela sensação de estar voando.

- Para onde vamos? – Raquel perguntou ligando o som do carro e procurando uma estação de rádio.
- Não sei. – falei virando o volante para a direita, onde íamos dobrar. – Tem um bar muito legal, mas fica bem longe daqui. – dei a sugestão, lembrando-me daquela casa noturna em que e eu fomos e encontramos , há muito tempo atrás. Ali havia vários ambientes, dentre eles um bar.

(Coloque a canção para tocar)

- Pode ser, deve ser lugar bom, porque eu não conhecer muita coisa ainda de Londres. – ela concordou, dando de ombros e aumentando o volume. – EU AMO ESSA MÚSICA! – Raquel começou a cantarolar bem alto e eu dirigia batendo de leve no volante, dançando com a cabeça.
- ESSA MÚSICA ME LEMBRA ALGUÉM! – berrei para que ela ouvisse, já que o volume estava muito alto. Raquel começou a rir e disse que também lembrava alguém para ela.
- EU QUERO QUE HARRY SE DANE! – gritou erguendo os braços e continuou a cantar.
- E EU QUERO QUE O SE DANE MAIS AINDA! – entrei na brincadeira e demos um breve high five, já que eu tinha que prestar atenção no caminho. Essa música realmente me lembrava o . Parece que o descrevia.

I wanna hit you just to see if you cry
(Eu quero bater em você, só pra ver se você chora)

Keep knockin on wood
(Continuo agüentando firme)

Hopin there's a real boy inside
(Esperando que tenha um garoto de verdade aí dentro)

- NÓS NÃO PRECISAR DESSES HOMENS IDIOTAS! – Raquel tinha mesmo se empolgado e eu ria, concordando.

'cuz you're not a man
(Porque você não é um homem)

You're just a mannequin
(Você é apenas um manequim)

I wish you could feel
(Eu queria que você sentisse)

That my love is real
(Que meu amor é real)

But you're not a man
(Mas você não é um homem...)

I wish I could just turn you on
(Eu queria que eu pudesse apenas ligar você)

But a battery in and make you talk
(Colocar uma bateria e fazer você falar)

Even pull a string for you to say anything
(Até mesmo puxar uma corda, para você falar qualquer coisa)

But with you there is no guarantee
(Mas com você não existe garantia)

Only expired warranty
(Apenas validade vencida)

A bunch of broken parts
(Um monte de partes quebradas)

But I can't seem to find your heart
(Mas parece que eu não consigo achar o seu coração)

Oh.. I'm such a fool
(Eu sou uma tola)

I'm such a fool
I'm such a fool

Cause this one's outta my hands
(Porque isso está fora das minhas mãos)

I can't put you back together again
(Eu não posso te juntar novamente)

O trânsito não estava ruim, primeiro passamos em um banco, para que eu sacasse algum dinheiro e logo fomos chegando à casa noturna, que, mesmo em dia de semana, estava lotada. Ficamos muito tempo esperando por uma vaga no estacionamento. Não gosto nada de ficar esperando essas vagas, se dependesse de mim estacionaria em qualquer lugar ali por perto, mas o carro não era meu e eu sabia que tinha que cuidar dele como cuido da minha própria vida e até mais, porque se alguma coisa acontecesse com o Porsche, logo eu não teria mais vida. Finalmente uma alma caridosa decidiu ir embora e depois de quase uma hora esperando, conseguimos estacionar. Chequei se o carro estava devidamente alinhado e pressionei o alarme, trancando-o. O rapaz que cuidava do estacionamento nos deu uma fichinha e guardei na bolsa.

Além de passar um ano esperando uma vaga no estacionamento, ficamos mais outro na fila para a entrada. O que mais me assusta é que ali é a casa noturna mais cara de Londres, então eu não consigo entender como ela pode ser tão congestionada em dias de semana. Apesar dos empurrões, algumas brigas próximas a nós e gritarias por troco errado, conseguimos pagar a nossa entrada e entrar sãs e salvas. Pegamos o elevador para o último andar, onde ficava o bar. Raquel e eu rimos muito, porque um rapaz bastante esbelto ficou junto com a gente. Era realmente constrangedor, porque o comíamos com os olhos e ele com certeza percebia tudo. Quando a porta se abriu, revelando um belo lugar, altamente sofisticado e consideravelmente vazio, o rapaz puxou cartões do bolso e deu um para cada uma, se apresentando como Alex e nos dizendo que só não pagava um drink porque ficaria pouquíssimo tempo lá, mas que podíamos ligar para uma saída depois. Começamos a rir na cara do coitado, pedi desculpa em seguida e disse que tudo bem, que também estávamos só de passagem, o que era mentira, porque temos amor ao nosso dinheiro.

Fiquei me sentindo incrivelmente bem comigo mesma, pois havia me desacostumado a receber cantadas, nem que fossem desse estilo, implícitas. Porque geralmente os caras pagavam para sair comigo e fazer tudo o que tivessem direito. Cheguei até a respirar aliviada por saber que agora eu havia me livrado daquele peso de ser prostituta. Deixamos o elevador e nos dirigimos ao bar. Havia muitos bancos vazios e eu vi um rapaz que me parecia familiar, de costas, sentado e pedindo mais um drink.

Não podia ser.

Era o dono do nome que mais escutei no dia: . Se eu tivesse convencido a a sair de casa, com certeza estaria levando bofetadas por ser a responsável pelo seu encontro com o dito cujo. Cutuquei a Raquel e apontei para ele, ela prendeu a respiração e jogou um olhar de dúvida, então assenti firmemente e nos aproximamos de .

- Boa noite, cinderelo. – falei baixinho em seu ouvido, por trás, o fazendo quase saltar do banco.
- $%#& que pariiiiiu, , que susto! – disse e logo após virou mais um pouco de vodka. Então, levantou e me abraçou, em seguida abraçou Raquel e nos convidou para sentar com ele.
- Nossa, isso parece aquelas cenas de filme em que todos os fracassados se encontram em um bar e choram as mágoas ingerindo vodka e etc. – brinquei e os dois riram.
- Ei, mas quem é fracassado aqui? – retrucou, é óbvio.
- Concordo com esse idiota. – Raquel disse, sem medir as palavras e eu belisquei seu braço disfarçadamente.
- Você me chamou de que? – ele perguntou irritado, mas prendendo a risada, já devia estar um pouco bêbado, já que o sóbrio nunca aceitaria ser chamado de idiota.
- Você ouviu. – Raquel se manteve firme, cruzando os braços e fazendo careta, comecei a rir.
- Ai, gente, só vocês mesmo. – falei, rindo e também caiu na risada. Ele não estava mesmo bem. – Você é um idiota, de verdade! – provoquei.
- O QUE EU FIZ, PELO SANTO @#!@$%? – ele aumentou o tom de voz e Raquel ironizou com um riso debochado.
- O que você mandou para a , por mensagem? – perguntei intimidando-o com o olhar.
- Eu? – bateu no próprio peito, incrédulo. – Como ela é fofoqueira!
- não fofoqueira, covarde! – Raquel falou irritada, se preparou para responder e eu pedi para que acalmassem os ânimos.
- Nós moramos juntas e temos umas às outras, então ela precisa desabafar, né? E ela estava muito irritada hoje com algo que você mandou para ela no celular... – comecei e Raquel me perguntou se eu queria pedir algum drink, falei o que queria e enquanto ela fazia o pedido, notei que ia começar a falar. Não estava enganada.
- Oras, ela que começou! – ele começou a falar, como uma criança birrenta. – Eu estava lá, na boa, e ela me mandou uma mensagem dizendo que eu era um saco de merda pra ela...
- E você respondeu que...? – perguntei já sabendo que pela frente viria um ‘saco de merda’. O barman, enquanto pensava se respondia ou não, entregou os nossos drinks.
- Ah, falei que eu tô bem, então... Porque até um saco de merda, para mim, vale mais do que ela... – respondeu como se dissesse que dois e dois são quatro e Raquel tossiu.
- COMO É GROSSEIRO! – falou com as mãos na cintura e levantou, dando passos largos até o sofá que ficava no meio do salão. Lógico que não largou a sua bebida.
- Essa índia é louca como a sua amiga, elas se merecem! – exclamou irritado, observando Raquel sentada a metros de distância. Eu apenas ri.
- Vocês parecem crianças. – falei simplesmente e ele me olhou, incrédulo.
- Ela me xinga e eu sou criança?
- Não, seu idiota, tô falando de você e da . Convenhamos, né? Você não tinha nada que pegar a Holy! – assim que terminei de falar, deu um tapa na própria testa e balançou a cabeça negativamente.
- A sua amiga acha que eu fui propriedade dela?
- A minha amiga tem nome...
- Eu não quero dizer o nome dela...
- !
- Tá, tá... A é muito possessiva. – ele cedeu, em tom arrastado, como se desdenhasse do nome dela.
- Claro que não e, francamente, eu esperava mais de você! Não uma birra de criança da sexta série de ficar com alguém que estuda com a ex, só para provocar. – explodi e ele ficou boquiaberto, em seguida riu.
- Eu mereço! Agora o mundo gira em torno da !
- Quando você gosta dela... – insinuei e ele arregalou os olhos. Eu precisava ver de que forma reagiria.
- Não, eu não gosto dela. É impossível gostar de alguém como aquela louca! Ainda mais eu, um cara que pode ter quem quer e garotas muito mais gostosas e simpáticas... Tá, não que a simpatia importe muito... Mas ajuda, e a é uma nojentinha chata e infantil, possessiva, histérica e mal educada. – desembestou a falar, exatamente como fez quando insinuei que ela estava apaixonada por ele. Aproveitei para pedir outro drink, durante a palestra sobre como é uma pessoa ruim.
- Vocês dois são exatamente iguais. – soltei e ele ficou ainda mais exaltado.
- Nunca, se eu fosse igual a ela, estaria em um hospício, mas não, eu sou um cara altamente elegante, fino e famoso, além de ter uma beleza indescritível e uma inteligência inigualável. Você não quer mesmo me comparar com ela, quer? – deu um show de arrogância e modéstia, o que me fez quase correr para sentar ao lado de Raquel. Mas não, eu sentia que tinha de me meter na história dele com .
- Você já percebeu o quão fácil é falar mal dela? Com ela acontece do mesmo jeito, só consegue abrir a boca para falar mal de você. Será que vocês não enxergam que isso é frustração por nenhum dos dois renunciar ao orgulho? – desabafei e ele apenas ouviu tudo calado, por alguns segundos eu até jurei vê-lo assentir disfarçadamente.
- É, apesar de tudo, eu sinto falta dela. – mal acreditei que estava ouvindo aquilo sair da boca de quem falava. Agora quem ficou muda fui eu. – Que é? A tem lá as suas qualidades... Ela até que é engraçadinha, charmosinha, gostosinha... – quando ele falou a última qualidade, levou um belo tapa na nuca.
- Idiota! É só que eu não esperava que você fosse assumir que sente falta dela.
- , eu te mato se ela ficar sabendo que eu disse isso. Tô confiando em você, até porque acho que nós nunca mais vamos nos ver, depois daquelas mensagens.
- Lógico que ela não vai saber disso! – menti. – Mas... Eu acho que ela sente a sua falta também. – um olhar revoltado se transformou em um olhar esperançoso, de súplica. Parece que o que eu acabei de dizer realmente afetou a pedra que protegia o coração de .
- Você tá falando sério? – perguntou em um tom ansioso, mas logo balançou a cabeça. – Digo, não me importa. – deu de ombros. – É lógico que ela sente a minha falta, que garota não sentiria?!
- ! – dei mais um tapa em sua nuca e ele se esquivou. – Eu desisto, sinceramente. Barman!!! – chamei, para pedir mais um drink. Virei para me comunicar com Raquel, mas desisti, pois ela estava conversando bastante animada com um rapaz.
- O Harry dançou! – comentou, me dando a certeza de que estava vendo a mesma coisa que eu.
- Não, ela não vai beijar esse cara, tá fazendo isso pela auto estima. – falei confiante e soltou um riso debochado. Pedi mais uma dose dupla de Sex on the Beach e disse que experimentaria aquele drink feminino.
- Mulheres... Tudo pela auto estima. – desdenhou.
- Você já deveria ter percebido que tem o mesmo problema. – retruquei e ele me deu uma cotovelada. – É sério, . Você pensa que eu não sei que esse seu jeito intocável é apenas um escudo pra proteger o cara sensível e melosamente romântico que existe aí dentro. – falei apontando para o seu coração e ele abanou o ar, fazendo careta.
- Parabéns, você me decifrou! – ironizou e nós rimos. O barman trouxe as bebidas e adorou o Sex on the Beach, pedindo desculpas por ter chamado de drink feminino.

Ficamos conversando e bebendo por várias horas. Um pouco depois de conversar com aquele cara no sofá, Raquel voltou a se reunir conosco, pediu para que a abraçasse, para fingir que estavam juntos, porque estava sendo perseguida pelo rapaz que queria beijá-la. disse que só fingiria se ela pedisse desculpa vinte vezes, e ela o fez. Tudo pelo desespero. O cara ficou nos rondando por muito tempo, até finalmente ir embora do local, então Raquel se desvencilhou de , que insinuou se desinfetar, levando várias bolsadas na cabeça.
Saímos do bar por volta de três da madrugada, era o mais prejudicado, pois estava bebendo desde cedo.

- Você veio como? – perguntei a ele quando chegamos ao estacionamento.
- Não sei, acho que de táxi. – respondeu confuso, como se procurasse seu carro.
- Vem, eu te levo. – falei entrelaçando o meu braço no dele, para que não fugisse. Raquel pegou a chave e já foi pressionando o alarme.
- Eu vou mesmo no carro da ? – ele perguntou dando um meio sorriso.
- É, se quiser ir... – brinquei e ele riu.
- Qual o problema de ir no carro de ? – Raquel perguntou, já na defensiva. Ela e são realmente muito engraçadas.
- É que eu pensei que nunca mais ia entrar nesse carro! – respondeu rindo e Raquel mandou que ele fosse na frente, já que desceria primeiro.
- A não pode nem sonhar que você andou aqui! – falei tentando imaginar o escândalo que a minha amiga faria se soubesse que esteve em seu carro.

Raquel me deu a chave e nos ajeitamos no carro. Liguei o veículo e pagamos o estacionamento. Apesar de fazer bastante tempo, ainda lembrava o caminho para a casa de e, mesmo levemente embriagada, lembrei de que foi em sua casa que engravidei de .

Raquel até prendeu a respiração ao ver a casa de , pensando a mesma coisa que todas as pessoas que vão até lá pensam: como uma casa tão bonita e bem cuidada pode pertencer a ele. nos chamou para entrar, mas recusamos, porque Raquel tinha aula cedo e bem, eu não tinha nada para fazer, mas não ia ser egoísta e prejudicá-la.

- ... – o chamei antes que deixasse o carro.
- Hum? – perguntou recuando.
- A gosta de você.
- ELA TE DISSE ISSO? – ele perguntou com um sorriso que mostrava todos os dentes, me fazendo rir.
- Não, mas eu acho que sim. – de um sorriso aberto, sua expressão se transformou em desânimo.
- Ah, então não vale a pena. – deu de ombros.
- Francamente, vocês não sabem mesmo correr atrás de uma mulher? – perguntei incrédula. São todos exatamente iguais.
- Homens são todos frouxos! – Raquel, que raramente se manifestava, soltou do nada, fazendo se virar e se preparar para dar uma resposta à altura.
- Raquel, por favor, não complica! – pedi e ela pediu desculpas. voltou a sua atenção para mim. – Eu sei que você também gosta dela. – assim que falei isso, ele balançou a cabeça em sentido negativo, freneticamente. – Não importa o que você faça ou fale, eu sei que você gosta. Então, mesmo você estando bêbado, eu quero que você se lembre dessas duas palavras: CORRE ATRÁS.
- Mas eu... – parecia disposto a colocar obstáculos.
- Tchau, . – o cortei e olhei para frente, como se ignorasse qualquer coisa que viesse a falar. Ele, então, deixou o carro, se inclinando para nos ver pela janela.
- Tchau, , obrigado pela carona. – falou sério, visivelmente pensativo e atordoado, então acenei. – Tchau, louca. – disse olhando para Raquel, ela apenas mostrou o dedo do meio, rimos.

Observei-o entrar em casa e dei a partida no carro. Raquel estava estirada no banco de trás, devia estar pegando no sono. Odeio dirigir sem nenhum barulho, então a primeira coisa que fiz foi ligar o som e colocar em uma estação de rádio que era a minha favorita na madrugada. Tocavam exatamente as melhores músicas antigas que existiam. No momento, tocava “Last Kiss”, do Pearl Jam. Aquela música sempre me deixava em pedaços, antes mesmo de conhecer o e me apaixonar por ele. Simplesmente pela sua melodia e história, o tipo de coisa que me emocionava em filmes. Eu nunca fui do tipo romântica e não me culpo por ter me apaixonado por alguém completamente sem nenhum romantismo. Se fosse tudo o que as garotas costumam querer, passaria longe de me atrair. Passaria longe do meu coração, passaria longe dos meus pensamentos todos os dias. O que eu mais gostava nele era o simples fato de sempre me surpreender. Ele estava tão lindo! Mesmo vendo-o na hora errada, ainda assim não consegui deixar de notar o tanto que mudou, o quanto consegue mexer cada vez mais com o meu sistema nervoso.

Capítulo 29


(COLOCAR PRA CARREGAR: http://www.youtube.com/watch?v=WrwoiWKj1Qg&feature=related ) Terminei de lavar a louça do almoço e teve que sair correndo para trabalhar, ela havia mudado de emprego e agora entrava alguns minutos mais cedo. Hoje teve que sair muito mais cedo da aula para comprar um celular novo, por sorte conseguimos salvar seu chip. Raquel estava no quarto, se aprontando para pegar um táxi e ir ao seu trabalho. Eu tinha acordado bem cedo, porque distribuí currículos por agências de viagem e entreguei documentos em faculdades, se desse sorte começaria a cursar esse ano mesmo. Fui para a sala e liguei a Tv, estava passando Simpsons, o que me deu um frio na espinha, já que desde a viagem para o Brasil nunca mais tinha nem ouvido falar neles. Ignorei a minha nostalgia e decidi assistir, afinal sempre dou boas risadas com o Homer. Ouvi alguns barulhos vindos do quarto e Raquel xingando em espanhol, ela devia ter derrubado alguma coisa, já que era bastante desastrada. O meu celular começou a tocar, corri para a cozinha, pois o havia esquecido em cima da mesa.

- Alô?
- Oi, er, ?
- Sim... Quem é?
- Oi! É o Harry... Tudo bem?
- Oi Haz! Tudo bem sim...
- É que você sabe que hoje é sexta, né?
- Lógico, Judd! – rimos. – Você acha que eu tô em que planeta?
- Engraçadinha!
- FAAAAALA LOGOOOOO!!!
- Então, continuando, se você não me interromper tirando com a minha cara...
- FALA LOGO, HARRY! – gritei impaciente.
- Ai, ai, ai, calma. Er... Onde eu tava mesmo? Ah, sim. hoje vai ter uma festinha, bem ‘inha’ mesmo. Só pros amigos mais próximos...
- Huuuummm, nossa, tô me sentindo de ser considerada uma amiga próxima! – brinquei e ele riu.
- Shhhhh, deixa eu concluir... Pois é, vai ser na casa do e o som vai ser por conta de uns amigos nossos que tão iniciando agora e a gente tá dando uma força!
- Oba! Pode contar comigo! Tô precisando sair, espairecer...
- Mais? Eu soube que esses dias você tava bebendo com o !
- Que fofoqueiro! Mas eu acho que vou sozinha, viu? Você chamou a ?
- Chamei, ela disse que vai pensar um milhão de vezes e, se for, é por causa de mim! Já que ela nem quer passar perto da casa do ...
- Ai, ai, pra mim isso tudo é frescura! Tá louca para vê-lo!
- Concordo com você... Ah, , se não for pedir muito...
- Pode falar, Haz...
- Eu tô sem coragem de ligar pra Raquel, então você convida ela por mim e dá um jeito de ela ir? – pediu com a voz quase melosa e eu ri.
- Ouuuuuun, prometo que vou dar um jeitinho, tá?
- Obrigado, sério.
- Ih, nem precisa. Relaxa!
- Então é isso, agora tenho que ir ajudar o com umas coisas, você sabe que ele é lerdo.
- Tadinho, Harry. Mas ok, vou aparecer por lá. – nos despedimos e desliguei, voltando para a frente da TV.

Raquel saiu do quarto e junto com ela veio um cheiro muito bom. Ela reclamou de preguiça, então a acalmei, lembrando-a de que já era sexta. Sentou-se na poltrona ao lado do sofá. Pensei se falava ou não da festinha à noite, então decidi avisar logo.

- Quel, hoje à noite vai ter uma festinha na casa do ... E você foi convidada. – falei de uma vez para não ter argumentos negativos.
- Hum, Harry vai? – perguntou simplesmente. Eu já devia estar esperando.
- Uhum.
- Então não vou. – deu de ombros e levantou. Não discuti, pois seria pior, à noite eu sabia que a convenceria de qualquer forma. Onde tem vodka, a Raquel está por perto, então não seria nenhum bicho de sete cabeças.

Mal voltei a atenção para Homer, Bart e etc e tocaram a campainha. Chamei por Raquel, mas ela estava procurando a sua bolsa no quarto. Levantei pisando fundo, quase abrindo um buraco no chão, de tanta preguiça e me arrastei até a porta. A devia ter pedido alguma coisa, ou alguém ficou de entregar algo. Abri a porta olhando para o chão e por alguns segundos pensei estar sonhando, ou melhor, desejei estar sonhando. Eu conhecia aqueles sapatos, conhecia aquela calça, conhecia aquela camisa, aquele pescoço, aquele rosto, aquela boca, aqueles olhos, aqueles cabelos e aquele cheiro. Aqueles olhos já não tinham o brilho radiante, tinham mais um tom reprovador do que qualquer outra coisa. Senti todos os fios dos meus cabelos arrepiados e o coração em todas as partes do corpo. tinha uma aparência pesada e eu não estava pronta para vê-lo. Não naquele momento. Ele me pegou completamente despreparada. Em meu mundo fantasioso, eu ainda estava tomando coragem para ir até o seu apartamento e enfrentá-lo. Em meu mundo fantasioso, talvez tivesse que vê-lo esta noite na casa de , mas acreditava que nem nos cumprimentaríamos. Em meu mundo fantasioso, eu teria até forças para abraçá-lo. Mas no mundo real, ele deixou claro, com apenas aquele olhar, que as coisas seriam um pouquinho mais difíceis. No mundo real, haviam contas a serem acertadas.

- Vai me deixar aqui na porta? – pela primeira vez, desde que voltei, ouvi a sua voz, que me acordou do transe. tinha as mãos nos bolsos e a testa franzida.
- Ah, sim, cla-claro. – respondi visivelmente desconsertada. Abri a porta um pouco mais e fui para a lateral, dando passagem. Senti o sangue passar por cada veia e esquecer minhas mãos, pois elas estavam congeladas e trêmulas. Assim que ele entrou, bati a porta, sem calcular a força que tinha jogado ali. Raquel saiu do quarto falando alguma coisa, mas ao ver , logo se calou e arregalou os olhos.
- Yo, digo, eu estou de saída. – disse atropelando as palavras e querendo sumir dali o mais rápido possível, para nos deixar a sós. Tive vontade de segurar em seu braço e implorar para que ficasse, mas sabia que isso seria impossível e esse momento inevitável. Apenas assenti e Raquel passou por mim como um furacão, batendo a porta. , que estava de costas para mim, se virou em um impulso e eu podia jurar que ouvi meu estômago gritar.
- Senta. – falei com dificuldade, apontando para o sofá, porque a minha voz não queria sair.
- Não, eu tô bem assim. – respondeu ríspido e em seguida mordeu o lábio inferior.
- É... – quis começar a falar alguma coisa, mas ele me interrompeu.
- Acho que nós precisamos conversar. – falou o óbvio, que, naquele tom de voz, mais parecia uma novidade ruim.
- É. – foi só isso que saiu da minha boca. Abaixei a cabeça e fiquei encarando os meus pés, esperando que ele começasse, porque eu não tinha coragem e nem ao menos disposição. Ouvi-o respirar fundo e fiquei ainda mais nervosa. Era engraçado como na minha cabeça eu seria a senhora da razão, seria ouvida, mas ali, com ele, parecia que eu era uma criança mal educada que iria levar um sermão.
- Por que você não me disse nada? – se manifestou e eu reergui a cabeça, mas ainda tendo dificuldade para olhar em seus olhos.
- Porque você não entenderia. – respondi sem saber de onde havia criado as palavras certas.
- Baseado em que você pensou isso?
- Baseado no que eu conheço sobre quem você é.
- E você acha mesmo que me conhece bem? – seu tom era cada vez mais irônico.
- O que eu conheci foi o suficiente para saber como você age. – respondi firmemente e ele deu uma risada sarcástica.
- Não, , você não me conheceu.
- Isso não me importa, você não foi homem o suficiente para deixar a sua namorada livre e viver aventurinhas de adolescente. Eu não acho que seja muito interessante saber quem você é! – o sangue parecia querer se concentrar todo em minha cabeça, mas eu precisava desabafar.
- Olha quem fala em adolescência! Você fugiu duas vezes pelo mesmo motivo! Adolescente, para mim, é quem não tem coragem de enfrentar os próprios problemas. – estava cada vez mais irritado, mas isso não era um problema, já que eu, provavelmente, estava ainda mais.
- Isso não é problema seu! – quase gritei, mas não podia deixar que ele me julgasse. - A partir do momento em que você diz estar grávida de mim, isso se torna um problema meu!
- Eu não disse estar grávida de você. Eu estava e era seu!
- Droga! Você conseguiu estragar tudo! – ele disse passando a mão nos cabelos e balançando a cabeça negativamente.
- Estragar o que? Quem estragou tudo foi você! Você implorou para que eu fosse para o Brasil com vocês e aprontou comigo.
- Fui só eu que aprontei? Você tem amnésia?
- Hã? Você tá louco? Me diz uma coisa, além de ter omitido essa gravidez, o que eu teria aprontado contra você?
- Há! – ele semicerrou os olhos e eu sabia que dali não sairiam coisas boas. – Quer dizer que você não se lembra das mensagens que trocou com o panaca do John enquanto a gente arrumava as coisas para ir a Angra dos Reis?
- Que? Do que você tá falando? Você andou mexendo no meu celular pelas minhas costas? – eu estava completamente confusa, mas agora as coisas que ele disse faziam sentido. Lembrei de que realmente John havia me mandado algumas mensagens e eu respondi enquanto se aprontava para irmos até o ônibus que iria a Angra dos Reis. Céus, se ele soubesse que tudo aquilo não significava nada! Tanto que sequer me lembrava.
- Isso já não interessa! – exclamou.
- , aquilo para mim não era nada! E nem tinha nada demais nas mensagens! Não justifica o que você fez comigo... E também, você nunca me deu segurança, nunca me fez enxergar que estava apaixonado por mim. Você acha que eu sou vidente? A idiota da história fui eu.
- Como é? – ele deu uma risada alta. – Eu nunca te fiz enxergar? , eu escrevi uma música pra você sem nem ao menos ter te beijado. Te levei pro Brasil pra gente poder ficar em paz! – mesmo fingindo ignorar, o meu coração saltou ao ter confirmado que ‘Just My Luck’ tinha sido escrita para mim, e não para Sophie, e por dizer que a ida para o Brasil foi para que pudéssemos ficar juntos.
- Você nunca me disse que aquilo era para mim! Qual é? Você tinha uma namorada... Acha que eu ia mesmo pensar que aquela canção era sobre mim?
- Sempre, sempre a Sophie! Você se achava tão inferior a ela que não enxergava um palmo à frente disso? – estava se exaltando e cada palavra que ele dizia me deixava ainda mais confusa sobre quando tudo começou a dar errado.
- A namorada era ela. E eu não entendia o motivo de você fazer aquilo. Se era infeliz com a Sophie, por que não a deixou livre?
- Eu nunca achei que isso importasse tanto, mas se te incomoda, vou falar o real motivo: eu era completamente apaixonado por ela, logo que começamos. Eu estava mesmo empenhado em fazer aquele namoro dar certo. Nunca fui bom com relacionamentos, mas achava que aprenderia ali. Só que a minha namoradinha me traiu com um dos meus melhores amigos e achou que eu nunca saberia...
- Aí então você me usou para dar o troco nela?! – perguntei fingindo ignorar aquela revelação. Nunca, em nenhum momento, passou pela minha cabeça que aquela moça tão refinada teria traído .
- Sim e acabei gostando de você. – respondeu simplesmente e eu quis matá-lo.
- E você fala isso assim? Você se orgulha disso? – eu estava perplexa, minhas mãos começavam a tremer.
- Não foi proposital, ou melhor, foi, mas eu não contava com o fato de me apaixonar por você.
- E agora você diz que eu estraguei tudo? Você acha que só você se envolveu? , eu queria morrer a cada vez que você fazia as coisas saírem do percurso! Você não faz ideia do quanto eu me senti mal quando, depois de te beijar, você voltou de viagem todo estranho e me tratou como se nem me conhecesse direito...
- Ah, e você acha que eu fiz isso do nada? Eu vi um cara te dando um selinho bem aqui na porta! – ele disse nervoso e eu me lembrei daquele dia. Então o viu quando o vizinho me ajudou com as compras e me deu um beijo que pegou no canto da boca. Foi por isso que agiu estranhamente e não porque tinha se arrependido de ter me beijado!
- Ele não me deu um selinho, simplesmente escorregou da bochecha para a boca, sem querer... – eu sabia que não tinha sido tão sem querer assim da parte dele, mas isso agora não vinha ao caso.
- E daí? Eu fiquei louco com aquilo! Você não faz ideia da falta que eu sentia de estar com você e para que? Para chegar e ver um cara quase te beijando?
- Então você tinha ciúmes de mim? Meu Deus, você nunca deixou isso claro, . Para mim você nem se importava, da mesma forma que fazia com a Sophie enquanto os seus amigos a tratavam mal!
- Te ver cheia de gracinhas com o Harry me fazia mal e eu não conseguia aceitar que você ia estar com não sei quantos caras após me ver... Não conseguia lidar com isso, . Eu preferia me afastar... – sentia pelo seu tom de voz que estava falando mais do que havia planejado, mas preferiu ser honesto, era incontrolável.
- Então por que você nunca me disse? – insisti.
- Porque eu não queria me dar o direito de estar apaixonado por você! Eu sabia que não poderia mudar nada, que só ia sofrer, então preferi me fingir de insensível. Fingi para mim mesmo não dar a mínima para a sua profissão.
- Eu nunca vou conseguir te entender, nunca mesmo. – coloquei as mãos na cabeça e respirei fundo, tentando controlar o modo como tanta informação entrava pelos meus ouvidos.
- Eu sei disso e sei que também não vou conseguir entender o que você fez. Nós não nascemos pra ficar juntos... – por mais que parecesse óbvio, partindo de tudo que já vivemos, ouvir isso de causou um aperto inexplicável no meu coração. Eu não conseguia processar a ideia de viver sem ele.
- Mas você disse que se apaixonou... – ressalvei, pressentindo não haver sucesso.
- Sim, mas isso há algum tempo atrás. Esse seu sumiço, todas as coisas que aconteceram e que eu só soube depois de muito tempo... Não sei, eu não sei se ainda resta algum sentimento. – agora eu sentia várias facas me apunhalando. Estive tão perto, tão perto de ser feliz com ele, que pensar que tudo foi por água abaixo era, no mínimo, apavorante.
- Será possível que você não entendeu? – perguntei tentando estabilizar a minha voz, já que tinha um nó na garganta. – Tudo isso que eu fiz, todo esse meu jeito de agir, é porque nunca tive segurança em nada! Você nunca demonstrou estar apaixonado por mim ou não fez questão que eu entendesse o recado... A vez que eu cheguei mais perto de acreditar foi quando você apareceu aqui, de madrugada, depois daquele show do McFly e pediu para que eu te deixasse ficar. Mas você estava bêbado, então eu não tinha mais razões para alimentar os meus achismos...
- Eu não estava bêbado. – senti todos os meus órgãos se movimentarem.
- Céus, ! Você tem noção do que você está me dizendo?
- Eu precisava provar para mim mesmo que estava por cima da situação, precisava provar que eu estava apenas te usando! Não ingeri uma gota de álcool naquele dia, fiz apenas bochecho para que você caísse... Eu precisava ver que você estava se rendendo mais do que eu...
- Como eu fui idiota! – bati em minha própria testa. – E, meu Deus, se eu soubesse disso, nunca mais teria olhado na sua cara!
- Por isso mesmo eu nunca confessei... Apesar de querer provar a mim mesmo que estava te usando, não conseguia parar de te ver.
- Você não se sente mal por ter enganado a Sophie desse jeito? Mesmo ela tendo te traído, foi uma vez, você ficou comigo e com ela vários meses! – quando falei isso, ele deu uma risada baixa e olhava para os próprios pés. Em seguida, seus olhos azuis voltaram a atenção para os meus.
- Eu sei que parece meio difícil de acreditar... Mas quando eu comecei a me envolver com você, era como se eu tivesse esquecido quem Sophie era e do compromisso que tínhamos. Não me sentia culpado, sentia apenas que ela era o trabalho pesado e você o descanso, o lugar de onde eu não queria mais sair. Quanto mais eu te via, menos queria ver a Sophie, e o meu sentimento por ela foi se tornando indiferente... Era como se nada mais me afetasse, nem raiva eu sentia mais. – falou tão sinceramente como eu nunca o tinha ouvido falar antes. Era como se aquelas palavras explicassem, em menos de dois minutos, o que minha cabeça fez confusão por quase um ano. Eu tentava cavar argumentos que o pusessem mais contra a parede, mas ele havia decidido abrir o jogo completamente, me deixando sem palavras.
- Eu não sei o que dizer... – falei sincera e evitei olhá-lo nos olhos.
- O que você teria a dizer? Você sumiu, me escondeu muitas coisas...
- Você sabia onde eu estava. Eu sei que a sua mãe te disse que havia me visto em Bolton. Foi opção sua não me procurar, .
- Quem me garante que o filho era meu? Quem me garante que você não andou transando sem camisinha com o John? – eu sei que ele tinha todo o direito de desconfiar, mas aquelas palavras me ofenderam de tal forma que não pensei duas vezes e dei um tapa em seu rosto. me olhou espantado, com a mão na bochecha.

(Coloque a canção para tocar)

- Você sabe que não foi assim! – sussurrei, rancorosa, pois sabia o porquê de ter dado aquela bofetada. Apenas respirei fundo e fechei os olhos, tentando me acalmar.
- Eu sabia que sairia daqui da mesma forma pela qual cheguei: sem explicações convincentes. Você tem uma mente doentia e eu não posso suprir essa sua carência, não mais. – cada palavra me atingia como um tiro. Não era justo ouvir aquilo de . Ele também contribuiu para que eu não confiasse o meu coração a ele. Não foi como se eu tivesse brincado com os seus sentimentos. Tentei fazer dar certo, eu tinha essa consciência, o indeciso era ele, o tempo inteiro. E, talvez, o motivo real para chegarmos onde estávamos fosse justamente a montanha russa que havia em seu coração.
- Eu não tenho a obrigação de ouvir isso. Acho que tudo que podia ser dito, já foi dito. É melhor você ir. – fui até a porta e a abri, indicando a saída.
- É difícil ouvir a verdade. Mas esse é um direito seu, eu também não tenho mais nada a falar... Só que quero que você esqueça tudo o que tivemos um dia, da mesma forma que eu vou fazer e já estou fazendo. – disse as últimas palavras antes de sair pela porta. Mas eu não podia deixar a situação daquele jeito, como se ele estivesse por cima.
- Obrigada. – ele já estava de costas, mas voltou novamente a me olhar, semicerrando os olhos. – Obrigada por ter me feito enxergar que mereço ser amada, mereço saber que alguém gosta de mim, que não preciso de uma bola de cristal pra saber tudo o que agrada outra pessoa. Obrigada por me mostrar o que eu já sabia: você foi um erro. E não se preocupe, tudo o que aconteceu no ano passado, fica no ano passado. – falei isso sem olhá-lo nos olhos, pois sabia que, se olhasse, não conseguiria. O meu sentimento por era forte demais, ele conseguia me deixar fragilizada só estando perto de mim. Bati a porta para evitar que alguma coisa fosse dita e me magoasse ainda mais. E, por mais que eu tivesse parecido firme, por dentro tudo estava quebrado.

Oh what are we doing?
(Oh, o que nós estamos fazendo?)
We are turning into dust
(Estamos transformando em pó)
Playing house in the ruins of us
(Achando que não está acontecendo nada)
Running back through the fire
(Correndo em direção ao fogo)
When there's nothing left to save
(Quando não há mais nada para dizer)
It's like chasing the very last train
(É como se estivesse correndo atrás do último trem)
When it's too late
(Quando já é tarde demais)
Too late
(Tarde demais)

Mal fechei a porta e não consegui controlar os soluços. Escorreguei pela porta aos prantos, era como se não houvesse chão sob os meus pés. Não era aquele o último contato que eu esperava com . Não dessa forma. O som da voz dos Simpsons ainda passando na Tv pareciam me deixar ainda mais tensa. Várias hipóteses passaram pela minha cabeça em todo esse tempo, mas sempre sobrou alguma esperança, alguma esperança de em algum lugar no tempo nós podermos ficar juntos. Mas não, ele disse com todas as letras, e não havia o que ser discutido, as circunstâncias nos levavam ao fim, eu já devia saber. O meu maior erro é nunca levar o fracasso a sério, é esperar que as coisas mudem do dia para a noite, esperar que tudo comece a dar certo. Eu me apaixonei e, mesmo não querendo aceitar isso de início, provocou em mim o que ninguém jamais provocara. Ele me mostrou os sentimentos mais bonitos, abriu as portas para que eu encontrasse a plena felicidade. Permitiu, mesmo que inconscientemente, que me sentisse amada. E não importava realmente se ele me machucava com a sua indecisão, ou se eu achava que era usada: no final, sempre voltava para o mesmo lugar. No final, só ele conseguia me devolver os pedaços deixados pelo caminho. No final, não havia final. Havia sempre um capítulo a ser escrito.

De certa forma, durante esses cinco meses longe, foi o meu porto seguro. É irônico, mas quando me sentia sem propósitos, perdida, com vontade de jogar ainda mais tudo para o alto, lembrava de , de como os seus olhos azuis conseguiam me acalmar, de como o calor do seu abraço me mantinha aquecida, de como o seu cheiro me levava às nuvens. Nunca vou conseguir esquecê-lo e odeio que tudo tenha acabado dessa forma. O gosto do seu beijo era como a luz no fim do túnel e eu não sei como me guiarei sem aqueles lábios que, com apenas um toque, faziam o meu ritmo cardíaco acelerar e desacelerar ao mesmo tempo, me fazendo sentir uma corrente elétrica e provocando todas as borboletas em meu estômago. Ele me fazia sentir como uma criança, coisa que eu nunca me senti, de fato. Da mesma forma que me fazia sentir viva a cada vez que me olhava fixamente; o jeito que me tocava, era como se tivesse medo de me quebrar, como se eu fosse feita de porcelana. me fazia sentir especial para alguém e era estranho perceber isso, ainda mais depois que tive a certeza de que o perdi. As nossas risadas eram as mais gostosas, o som da sua gargalhada despertava toda e qualquer esperança que estivesse morta em meu peito. Seu simples meio-sorriso quase provocava um ataque cardíaco. Com ele, o errado parecia certo e, mesmo quando parecia errado, se transformava no erro mais doce e viciante. havia se tornado o meu vício. Definitivamente essa não seria uma abstinência fácil. Mas não há mais o que ser dito, não há mais como voltar atrás. Nós nos magoamos, simplesmente pelo fato de não tornarmos as coisas claras, simplesmente porque fomos covardes demais, a ponto de não dizermos o que sentimos enquanto havia tempo, enquanto alguma coisa podia ser feita. Enquanto o destino podia não ser tão cruel.

Aquela foi uma tarde incrivelmente chuvosa, parecia que o tempo se ajustara a como o meu coração se encontrava: nublado, pesado e frio. Ignorei qualquer coisa que não tivesse a ver com um cobertor e um travesseiro. Ah, e lenços, vários lenços de papel. Parecia que quanto mais chorava, mais lágrimas tinham para escorrer. Eu me sentia como naquela canção que diz “ontem o amor era um jogo fácil de se jogar, agora preciso de um lugar para me esconder.”

e Raquel chegaram juntas, mas, ao contrário dos outros dias, não vinham fazendo festa, rindo alto e fofocando. Com certeza Raquel já havia contado para que foi me ver e que a sua cara não era das melhores. Eu pedia internamente que elas não viessem me perguntar nada, pois não estava na condição de relembrar tudo o que houve naquela sala. Eu não conseguiria, me sentiria frustrada por não poder voltar no tempo e desfazer todos os erros, todos os mal entendidos e tudo o que conspirou para a situação em que nos encontrávamos.

- Posso entrar? – perguntou abrindo a porta do seu próprio quarto cautelosamente.
- É o seu quarto, amiga. – respondi com o rosto escondido no travesseiro. Eu devia estar horrível.
- Nossa, quantas caixinhas de lenço você gastou? – ela tentou brincar, mas eu não conseguia rir. Senti-a se aproximar cada vez mais e um lado da cama ficar mais fundo. – A Raquel me disse que ele esteve aqui. – começou a alisar os meus cabelos e então decidi não me esconder mais. Deitei de barriga para cima e enxuguei as milhões de lágrimas teimosas que escorriam pelas minhas bochechas.
- Eu devo estar horrível. – falei sorrindo fraco e fungando, foram várias horas de choro.
- Você não é das mais bonitas hoje... – não tem como não rir com a por perto. Respirei fundo e fiquei brincando com um dos últimos lenços que restaram. – Você não deve querer falar nisso agora, né? – perguntou atenciosa e eu apenas assenti. O celular da começou a tocar e Raquel veio entregar à dona. A última me jogou um olhar de compaixão, então sorri fraco para ela, que devolveu o mesmo sorriso, porém com um olhar preocupado. Pelo jeito quem estava ligando era Harry, e ficou um pouco sem graça de falar sobre a festa ali, naquele momento.
- Podem ir. Não quero que vocês deixem de se divertir por minha causa... – falei antes que dissesse para Harry que não ia à festa. Ela fez careta para mim e foi conversar com ele na sala. Raquel continuou no quarto, me olhando, sem saber o que dizer.
- , quer alguma coisa? – ela perguntou com uma voz pastosa e eu neguei, a agradecendo pela atenção.
- O que vocês decidiram? Vão ou não? – tentei mudar de assunto, não queria mesmo falar sobre a conversa com .
- Eu não sei, a disse que vai, mas não sei se quer ver Harry... Ops, se quero ver Harry... – como sempre, Raquel se embaralhou com as palavras e eu ri, a fazendo rir também.
- Vou ficar chateada se vocês não forem. – falei sincera e ela arregalou os olhos.
- Mas nós não queremos te deixar sozinha!
- Quel, eu tô falando sério, não quero que vocês deixem de se divertir! Aproveitem! – tentei acrescentar um tom animado em minha voz, mas era um pouco difícil. Raquel ia falar alguma coisa, porém entrou bruscamente no quarto.
- Nós vamos ficar com você! Vamos ver um filme e comer muito chocolate! – disse batendo palminhas e segurou os meus punhos, balançando-os, numa tentativa falha de me animar.
- Cara, eu vou matar vocês duas! Não quero empatar a diversão de ninguém! Eu juro que vou ficar bem! Como eu disse pra Raquel: vou ficar chateada se vocês não forem para a casa do .
- Eu não quero ver Harry mesmo! – Raquel pestanejou e nós rimos.
- Eu também não quero ver o bundão! – falou em tom exagerado e nós rimos mais uma vez.
- Vocês é que sabem, mas eu ainda acho que devem ir.
- Não, está decidido! A Quel vai comigo ali na locadora e nós vamos trazer comédias MA-RA-VI-LHO-SAS.
- Faz muito tempo que não vejo filme! – Raquel comemorou.
- , a gente já volta! Vamos, Quel! – a chamou animada e eu tentei sorrir abertamente. Não vou mentir, aprecio muito que elas se preocupem comigo, isso mostra que tenho amigas de verdade, mas eu precisava desse tempo sozinha. A minha energia devia estar tão carregada negativamente que eu tinha medo de passar o desânimo para elas.

Raquel e demoraram mais do que esperava que demorassem, mas isso aconteceu porque passaram primeiro no supermercado para comprar toneladas de chocolate. Elas trouxeram três filmes, que pareciam ser realmente muito engraçados, mas mais ainda quando quem os assistia estava no clima para achar algo cômico. Enquanto ajeitava o DVD e Raquel fazia pipoca, tomei um banho rápido para ver se melhorava o mal estar que sentia. Coloquei um pijama que despertou risadas das meninas, porque eu parecia uma criança daqueles internatos. A blusa tinha mangas compridas e a calça também era comprida. Eu estava com frio e aquela era a roupa mais confortável e quentinha que encontrei. Sentamos uma ao lado da outra, fiquei entre Quel e , a primeira segurando o balde de pipoca e a segunda, os chocolates. O refrigerante estava na mesinha de centro e então deu início ao filme. O nome era “Todas Contra John” e eu não vou mentir, consegui até dar boas gargalhadas. Assistimos o segundo, já íamos para o terceiro filme e o sexto balde de pipoca quando ouvimos uns barulhos estranhos. Umas vozes gritando exageradamente, parecia que tentavam cantar, mas a algazarra era maior do que a arte.

Corremos para a janela do quarto de , que dava direto para a rua em que ficava a frente do prédio, pois o som parecia vir de lá. Abrimos a janela e foi aí a grande surpresa: e Harry pareciam um pouco bêbados e gritavam como se as suas vozes nunca fossem ser ouvidas. Havia mais dois rapazes com eles, cada um com um violão, tocando “All My Loving”, dos Beatles. Os dois bem que tentavam entrar no ritmo, mas a tentativa era falha. Tive um ataque de riso, mas ao mesmo tempo achei a coisa mais linda do universo. Os olhos de e Raquel só não brilhavam mais por falta de lágrimas. Eu me sentia incrivelmente feliz pelas duas. Foi então que eles foram até o carro estacionado do outro lado da rua e cada um pegou um cartaz. O de tinha escrito: “SAM, VOCÊ É O SACO DE MERDA MAIS LINDO E PERFUMADO QUE EU JÁ VI. FICA COMIGO?”; e o de Harry: “MESMO NÃO ENTENDENDO O QUE VOCÊ FALA, EU ACHO QUE EU TE AMO. VOLTA PRA MIM, RAQUEL?”. E, depois de exibirem os cartazes, voltaram a cantar. As duas ficaram sem palavras e eu dava pulinhos e batia palmas, os deixando ainda mais histéricos.

- Ah meu Deus. Essa foi a coisa mais brega e mais linda que já fizeram pra mim. – disse com as mãos na boca.
- Eu acho que amo Harry também! – Raquel exclamou e saiu correndo para descer as escadas.
- Você não vai? – perguntei para e ela me olhou confusa, parecia não acreditar no que via. – , se você não for, pode esquecer que um dia eu fui sua amiga! – a pressionei e ela bateu o pé.
- Eu não sei o que fazer! – ela disse inconformada, mas inquieta.
- Vou te mostrar o que fazer! – a virei de costas para mim e coloquei as mãos em seus ombros. Empurrei-a até a porta e ameacei jogá-la da escada se não descesse por conta própria.
- Tá, tá, já tô indo, sua amaldiçoada! – gritou me dando um tapa no braço e desceu. Por um momento, até esqueci os trajes em que eu me encontrava e a segui, não podia perder aquela cena por nada!

Chegamos à rua e Raquel já estava agarrada em Harry. ainda cantava, sozinho, acompanhado pelos dois amigos no violão e com o cartaz na mão. Quando viu , se calou e correu em sua direção.

- Desculpa por aquela... – começou a falar, mas colocou a mão em sua boca para que se calasse.
- Você é mais bonito e eu gosto mais de você calado, ! – brincou e os dois riram, em seguida ele jogou o cartaz na rua e abraçou . Parecia que tudo acontecia em câmera lenta, eu nunca achei que fosse ver os dois se beijando tão calmamente. E não foi um simples beijo, foi daqueles de tirar o ar. Peguei o cartaz jogado e o limpei, acho que ele não ficaria tão perfeito, porque o asfalto estava molhado.

Enquanto os dois casais faziam as pazes e eu lia novamente os dizeres dos cartazes de e Harry, que achei atirado mais longe – sim, sou uma amiga coruja –, percebi que os dois garotos que os acompanhavam riam de mim, não de mim, mas da roupa que eu vestia. Foi então que fui lembrar que não tinha sido muito feliz em descer as escadas de pijama, ainda mais aquele pijama. Os olhei envergonhada e subi as escadas correndo, querendo enfiar o rosto em um buraco ou sumir de vez.

Troquei de roupa e desci novamente, ficamos conversando na calçada por bastante tempo. Conhecemos os dois garotos, eram Dave e Steve, integrantes da banda que tocaria na festa na casa de . nos disse que suspendeu a festa enquanto iam fazer a serenata e que tudo isso foi ideia de , o que nos deixou surpresas. Logo eles se despediram, mas os meninos insistiram para que fôssemos até a festa com eles. Neguei, mas exigi que e Raquel fossem curtir os seus romances e se divertirem, sem se preocupar comigo, pois eu ficaria bem. Depois de muita lenga-lenga, elas acabaram topando e foram para o carro com eles. Tive uma surpresa quando ia dando as costas para subir as escadas... Dave me puxou e pediu o meu telefone. Sorri fraco e fiquei bastante envergonhada, mas acabei cedendo. Nunca é tarde demais para novos amigos.
Os observei sumir de vista e senti o vento gelado bater em meu rosto e despentear os meus cabelos – que não estavam tão penteados assim –, tendo a impressão estranha de dever cumprido, apesar da tarde desastrosa. Com , eu havia aprendido que nem sempre o que mais importa é a própria felicidade. Não tem recompensa maior do que ver alguém que você se importa sendo feliz. Ainda mais quando você sabe que contribuiu para aquilo. A minha amiga merece alguém que cuide dela, que goste dela por quem é, e isso eu sei que será capaz, porque mostrou todas as suas faces a ele. O mesmo acontece no sentido contrário. Se ela se apaixonou por , foi por seu caráter convencido, prepotente e extremamente autoconfiante. Raquel e Harry parecem ter sido feitos sob medida. No dia em que cheguei em Londres, os vi juntos e ali pude perceber a sintonia que existia, mesmo às vezes sendo impossível entender o sentido das frases dela. Eu seria hipócrita em dizer que não desejaria que aparecesse naquele momento e me pedisse desculpas, ou que estivesse disposto a entender as minhas razões e recuperar o que nós deixamos jogado em algum lugar no tempo.

E assim acabou aquela noite: uma rua vazia, um vento gelado e um coração partido, porém recompensado pela felicidade alheia.

Capítulo 30


(COLOCAR PARA CARREGAR 1: http://www.youtube.com/watch?v=_A0A9N0AtPk )
(COLOCAR PARA CARREGAR 2: http://www.youtube.com/watch?v=-Lb557lk060 )

Londres, 15 de junho de 2010. Exatamente dois anos depois do dia em que a minha vida foi exposta a mudanças drásticas e inesperadas. É engraçado ver como tudo está diferente. Há dois anos, eu não tinha nenhuma previsão de deixar as calçadas e nem conseguia pensar em uma possibilidade de voltar à minha cidade natal. Agora tudo parecia melhor. Margot – minha patroa em Bolton – mandou uma carta de recomendação para a matriz da agência de viagens em que trabalhei em Bolton, fui contratada de imediato, há quase um ano. Também consegui uma vaga na mesma faculdade que estudava, porém no curso de Jornalismo, que sempre foi uma das coisas que mais me interessaram. Eu queria me tornar crítica de música. Quanto a relacionamentos, estou “namorando” há oito meses com Dave, aquele rapaz que estava acompanhando e Harry na serenata para e Raquel no ano passado e pediu o meu telefone. Isso foi se transformando em flores, bombons, cartinhas por debaixo da porta, telefonemas, saídas e finalmente beijos. Claro que ele teve que ter muita paciência, porque eu não consegui ceder tão fácil, fiquei fragilizada pelo que aconteceu no dia em que nos conhecemos por muito tempo e, se digo que estamos namorando entre aspas, é porque pedi que ele não oficializasse um pedido. Apenas vamos levando e ver até onde conseguimos chegar. Parece que agora quem tinha trauma de relacionamentos sérios era eu.

Apesar de tudo, cada dia criava mais confiança e intimidade com Dave, ele é muito divertido e criativo, sempre me surpreende com presentes inesperados no dia em que completamos meses de, er, namoro. Não são anéis de diamante, nem colares, mas sim presentes com alto valor emocional, coisas que ninguém imaginaria receber e então recebe. No último dia dos namorados, ele mandou entregarem uma pizza no apartamento, e nessa pizza, as calabresas formavam as iniciais de nossos nomes e, entre as letras, havia um coração de orégano. Não vou mentir e dizer que estou perdidamente apaixonada, ou que meu coração bate mais rápido quando ele me abraça e beija, mas nós criamos um vínculo legal, um sentimento legal. Não sei explicar bem que sentimento é esse, mas Dave sabe me deixar feliz, e eu sei o quanto ele gosta de mim. Às vezes penso não merecer tal quantidade de amor, mas faço o que posso para fazê-lo se sentir recompensado. Acho que se eu quisesse retribuir tudo o que ele já fez por mim nesses oito meses, precisaria de 30 anos e talvez nem assim conseguiria. A banda dele está prestes a fazer sucesso. Fletch, empresário do McFly, aceitou, a pedido deles, cuidar da banda de Dave e prometeu que até o fim do ano eles serão um sucesso. Eles também já estão confirmados para fazer a abertura dos shows da próxima turnê dos garotos. Falando em Fletch, , Quel e eu estávamos nos aprontando para o seu casamento. A cerimônia vai acontecer no jardim de sua casa, que segundo , é enorme e fica bem próxima à London Eye. A festa vai ser lá mesmo, aquele típico casamento de filmes americanos. Fiquei realmente surpresa em ter recebido um convite.

, Raquel e eu ainda dividimos o apartamento, porém mudamos para o último andar do mesmo prédio e agora temos três grandes quartos e a sala dá praticamente duas do apartamento antigo. É um pouco mais caro, mas agora são três pessoas cooperando. se formou em Moda no fim do ano passado, agora ela trabalha assessorando um importante estilista inglês, que prometeu levá-la a Milão nos desfiles da temporada. Raquel está no último ano de Cinema, afinal ela veio transferida do México e já mudou de emprego três vezes do ano passado para cá. A nossa amizade parece se solidificar a cada dia, temos os nossos perrengues de vez em quando, mas quem não ama brigas. Elas continuam firmes e fortes em seus relacionamentos e eu continuo tendo que me meter às vezes, porque nunca vi quatro seres gostarem tanto de uma discussão por besteira.

A minha amizade com os garotos do McFly continua firme, quer dizer, com exceção de você-sabe-quem. e ainda eram os mais bêbados nas nossas festinhas e ele e ainda nos matavam de rir com as suas briguinhas infundadas. E, bom, sobre , desde aquele dia não o vi muitas vezes. Na verdade creio que só duas, porque fomos a dois shows do McFly no fim do ano passado e ele estava lá, lógico. Era bastante estranho quando os nossos olhares se encontravam, sempre um dos dois tratava de recuar imediatamente, ou ambos, ao mesmo tempo. Dave não imagina nada do que tenha acontecido entre e eu, e ele e são bastante amigos. Por conta disso é que eu tinha algumas informações sobre ele, já que Harry, e não tocavam muito em seu nome na minha frente. Nosso círculo de amizade se ampliou, os caras da banda de Dave têm saído com frequência conosco, Steve e Chris também são muito engraçados, são como dois clones de , aquele mesmo senso maluco e destrambelhado.

- Onde estão aqueles imbecis? – perguntou com o celular no ouvido, fazia meia hora que ela tentava falar com e Harry, mas seus celulares estavam desligados.
- Será que eles estão dormindo? – perguntei, passando rímel.
- Não é possível! Eu mato! – Raquel disse, agora com um inglês bem melhor, procurando um gloss no kit de maquiagem de .

, Harry, Dave e ficaram de passar em nosso prédio para que chegássemos juntos. Eles tinham alugado uma van para que coubesse todo mundo. Não que tivessem tido essa ideia sozinhos, já que na cabeça deles daria perfeitamente para todo mundo se acomodar no carro de . Foi aí que as únicas cabeças pensantes – e femininas – tiveram que entrar em ação e lembrá-los de que não podíamos chegar com os vestidos amassados.
Não demorou muito tempo e depois de desistir de ligar, ligou em meu celular, levando uma bronca e em seguida justificando que os amigos esqueceram de carregar seus celulares, por isso não atenderam. Na noite anterior, fizemos uma pequena farra na nova casa de Harry e torramos a bateria de seu celular fazendo ligações interurbanas. Como se não fosse o bastante, pegamos também o celular de e torramos sua bateria com mais ligações. Os donos consentiram, é lógico, acho que porque estavam muito bêbados. A nossa preocupação foi justamente pelo fato de o casamento ser realizado às 10 da manhã, por isso ficamos com medo de eles não conseguirem acordar a tempo.

Terminamos de nos arrumar e por volta das 9 horas, os nossos respectivos príncipes, e o , apareceram para nos buscar. A van foi mais lotada do que o previsto, porque acabamos buscando Steve e Chris também, e o último trouxe sua namorada, Michelle, que é muito simpática e companheira de vodka. Harry dirigia, porque e eram um tanto quanto barbeiros, um pouco pior. Este foi ao seu lado, como um verdadeiro DJ, colocando todos para cantar as canções que escolhia. A casa de Fletch era muito distante de nosso prédio, e também não contávamos com um trânsito tão ruim àquela hora. Passamos 20 minutos presos em uma rua, mas conseguimos chegar ao local faltando apenas 5 minutos para o início da cerimônia. Saímos da van quase que nos pisoteando, porque todas usavam vestidos longos. Tive de ajeitar a gravata de Dave, ele não era muito bom com isso. Também ajeitei um pouco mais o seu cabelo, já que era pior ainda nisso. e Quel também tiveram que ajeitar as gravatas de seus namorados; Michelle a de Chris e eu acabei também ajeitando a de e Steve, que fizeram um pequeno drama por não terem quem fizesse isso por eles. Demos uma última checada em nossas maquiagens com o pequeno espelho trazido por e entramos na mansão.

Era realmente uma grande casa com um enorme jardim. Um dos jardins mais lindos que já vi. Havia centenas de flores coloridas e o verde era intenso. O padre já esperava embaixo do arco cuidadosamente decorado e em frente ao altar, as cadeirinhas brancas já estavam quase todas lotadas, com exceção das últimas, que eram as nossas, claro, porque demoramos muito para chegar. Esse era o segundo casamento que assistia na vida, o primeiro foi quando eu tinha apenas doze anos. Todos conversavam bastante e nós cumprimentávamos de longe algumas carinhas conhecidas. O portão frontal se abriu e Fletch entrou, acompanhado de sua mãe. Ele não era um homem muito bonito, mas acho que estava tão feliz que digamos que ficou bem charmoso naquele terno. Sua mãe se juntou ao seu pai na lateral, onde a mãe da noiva já estava. Exatamente às 10 horas e 10 minutos, a marcha nupcial começou a ser tocada. Nenhuma voz era ouvida ali, todos voltaram as suas atenções para a noiva, que estava linda. Ela vinha acompanhada de seu pai e seu vestido tinha detalhes rosa-bebê. , que estava do meu lado direito – já que Dave estava do esquerdo –, me cutucou e cochichou que ela só podia estar interessada no dinheiro de Fletch, já que era muito “gostosa” e nova para ele. Dei uma cotovelada e mandei que ele se calasse, mas não pude deixar de rir com a idiotice do meu amigo, só ele, para no meio de uma cerimônia, dizer uma coisa dessas.

Logo Fletch e Linda – sua noiva – estavam lado a lado e o padre começou a abençoá-los. Olhei para trás e já tinha algumas lágrimas acumuladas nos olhos, sorri para ela, que me devolveu um sorriso seguido de uma mordida no lábio inferior. Voltei o meu olhar para frente e também comecei a sentir um nó na garganta, eu já não lembrava o quanto um casamento podia ser emocionante. Já havia visto e chorado com vários em filmes, mas na vida real é uma sensação inexplicável. O vento soprava cada vez mais forte, mesmo sendo uma manhã ensolarada, e Dave logo tratou de tirar o lenço do bolso de seu terno e me oferecer. Aceitei e enxuguei algumas lágrimas que já escorriam e deviam borrar a minha maquiagem. Ouvi alguns fungados ao meu lado e quase gargalhei alto, até estava emocionado. Falei baixinho em seu ouvido que ele mordeu a língua com o que disse quando Linda apareceu no jardim e ele apenas assentiu, apertando os olhos com a mão, tentando parar a emoção que sentia.
“Eu vos declaro marido e mulher.” Após o padre dizer a frase clássica, Fletch e Linda selaram a união com um beijo e foram cobertos de aplausos. A cerimônia foi muito mais bonita do que qualquer um de nós esperava.

Mais à frente podiam ser vistas várias mesas e cadeiras, para que os convidados se acomodassem. Também havia um tablado de madeira próximo ao local onde se encontrava o bolo, em que vários rapazes estavam reunidos com seus instrumentos, deviam estar acertando os últimos detalhes para começar a tocar as músicas escolhidas pelo casal. Escolhemos uma mesa que ficava perto do centro, onde estavam os noivos e seus familiares. Os garçons nos serviram com uma entrada de frios e vinho. A banda começou, tocando “She Is Love”, do Oasis, uma das minhas canções favoritas. Os meninos brincavam com os palitos da mesa e , Raquel, Michelle e eu brindávamos, tomando mais e mais vinho. De vez em quando, quando ninguém percebia, eu procurava por com o olhar, pois Dave havia me dito que ele só viria para a festa. Não que eu achasse que ia mudar muita coisa quando o visse, mas a cada vez que olhava, ficava mais frustrada por não achá-lo.

- O que você tanto procura? – perguntou me assustando, por me acordar do pequeno transe em que me encontrava.
- Hã? Eu? Nada! – disfarcei, rezando para que ela acreditasse.
- Sei... – disse desconfiada. – Talvez quem você procura ainda não tenha chegado. – enfatizou com um sorriso cínico e eu fiz careta. Nós não falávamos muito sobre o ocorrido no ano passado, mas sempre soube que não havia ficado completamente no passado. Não que eu ainda pensasse nele as vinte e quatro horas do dia, mas era como se sempre faltasse alguma coisa. Algum pedaço.

A banda fazia mais e mais covers animados, fazendo todos levantarem de suas cadeiras e dançarem. (n/a: Coloque a primeira canção para tocar) Eu estava distraída, conversando com Raquel e quando uma nova canção começou a ser tocada. É estranho, mas depois de dois anos, a sensação que tive foi a mesma que senti da primeira vez que a ouvi longe de . arregalou os olhos e esticou o braço, berrando cada verso de “I Want to Hold Your Hand”, dos Beatles. O modo perfeito que a banda fazia o cover apertava ainda mais o meu coração. Raquel me puxou pelo braço, para que dançássemos juntas, mas era como se a voz do vocalista tomasse conta da minha cabeça e me conduzisse até um passado não muito distante: o dia em que, para mim, essa se tornou a minha trilha sonora com . Lembrei, então, do dia em que ele fez o cover com o McFly no Children In Need, do quanto me surpreendeu e me fez ficar ainda mais apaixonada. Desvencilhei-me de Quel e corri atrás de um garçom, já que pela quantidade de pessoas dançando, eles haviam parado de servir vinho por um tempo. Encontrei um em uma das extremidades do palco e peguei uma taça. Fiquei parada por algum tempo e era como se eu sentisse a presença de ali. Eu estava bem ao lado da caixa de som, mas parecia não existir nenhum barulho estridente, apenas as vozes dos cantores da banda. Era cada vez mais forte e parecia puxar o meu olhar para um lado em que eu nem teria interesse em olhar, mas foi naquela hora em que eu encontrei um par de olhos azuis me olhando fixamente. Foi como se eu escutasse um copo de vidro quebrando dentro de mim, as batidas do meu coração soavam como batucadas em meu ouvido. também segurava uma taça de vinho e, ao contrário do que eu esperava, não desviou o olhar.

“Yeah, you've got that something,
(É, você tem aquela coisa especial)

I think you'll understand.
(Acho que você vai entender)

When I'll say that something
(Quando disser essa coisa especial)

I wanna hold your hand,
(Eu quero segurar a sua mão)”

Os meus olhos pareciam não obedecer aos meus comandos, eu me sentia enfeitiçada. Naquele momento pude entender o que era a sensação “estranha” que apareceu quando nos vimos no fim do ano passado: era algo como se não tivéssemos um passado, e muito menos um passado ruim. Toda a mágoa que me acompanhou desde o dia em que discutimos parecia ter evacuado. A sensação era justamente a de estar começando do zero. estava parado, enquanto várias pessoas ao seu redor dançavam, mas era como se só estivéssemos os dois naquele jardim. Então, mais uma vez, depois de tanto tempo, ele conseguiu me surpreender. Ergueu a sua taça de vinho, como se dissesse que aquela era a nossa música e deu um meio sorriso, justamente aquele que quase me causava um ataque cardíaco. Senti todas as partes do corpo ficarem dormentes e involuntariamente devolvi um sorriso e ergui a minha taça. A minha respiração estava descompassada e eu já nem conseguia lembrar de que estava no meio de várias pessoas, em uma festa. Senti como se tivesse parado no tempo. Como se estivesse sonhando. A única coisa que eu sabia, era que queria segurar a sua mão.

- , o almoço tá servido! – Dave disse após tocar o meu braço com a sua mão gelada. Dei um pulo devido ao susto que levei e derramei um pouco de vinho em meu vestido. – Você estava sonhando? – perguntou rindo, ao me ver desconsertada. Se não me policiasse, responderia que sim.
- Ahn... Não, vamos. – tentei disfarçar e segurei a sua mão. Dave foi à frente e então virei-me um pouco para olhar uma última vez, porém não consegui mais achá-lo.

Eu me sentia exatamente como em um conto de fadas, em que a personagem ingressa num mundo paralelo e depois volta para a realidade. Almocei sem nem ao menos sentir o gosto da comida. Não conseguia parar de lembrar do meio sorriso de e do nosso cumprimento desajeitado, quer dizer, o meu cumprimento desajeitado. O mais estranho era saber que tudo havia ficado para trás, que éramos passado um para o outro. Porém, no momento em que os nossos olhares se encontraram naquele jardim, foi como se o mundo tivesse parado de girar e só nós dois soubéssemos o que tínhamos. O elo que depois de tanto tempo confirmou ainda existir. Eu não sei sobre ele, mas para mim foi como se todas as dúvidas que sentia nesse tempo todo fossem esclarecidas: o meu sentimento por tinha ficado trancado em algum lugar do meu coração, sem ser alimentado, mas ainda sim vivo, mais vivo do que eu podia imaginar. E, mesmo sabendo que nós não tínhamos mais chance, senti uma felicidade inexplicável invadir o coração: tudo estava bem, e eu tínhamos nos perdoado inconscientemente.

Anoitecia e todos estavam muito animados, mas o auge foi quando a banda começou a tocar “Crazy Little Thing Called Love”, do Queen, e eu levantei, puxando para dançar. A gente vivia dançando essa canção durante as madrugadas desse ano. Cada um na mesa começou a levantar e puxou a namorada para si, então comecei a dançar com Dave. Quel e Harry dançavam juntos, Chris e Michelle também. Steve tinha encontrado uma prima por lá e dançava com ela. E ? Bem, continuava o mesmo. Enquanto todos dançavam em casais, ele apenas bebia o seu vinho e cantava as mulheres que iam passando pela mesa. Tudo ali parecia bem e eu me sentia extremamente feliz por ver e tão bem, sem problemas – não que a história do saco de merda não tenha rendido boas brigas – e Raquel e Harry trocando o “eu acho que te amo”, pelo “eu sei”. Quanto a mim, não posso dizer nem que amo Dave e nem que vivemos brigando, tudo o que eu posso dizer é que ele se tornou alguém especial para mim, alguém que eu gostaria de poder contar sempre, mas não alguém que eu gostaria de dividir uma vida para sempre. Eu sabia que não teríamos um caminho muito longo a percorrer, mas como já falei para ele há algumas semanas atrás: que seja bom enquanto dure.

Todos já tinham bebido o suficiente e nós fomos para um lugar vazio no jardim. A festa ainda rolava, mas nós estávamos meio saturados. Deitamos e ficamos contando as estrelas. já roncava, é claro que, para variar, ele era o mais prejudicado. Steve era o único que estava sentado, se agarrando com a sua prima. Dave também havia passado da conta e estava bastante sonolento, não demorou muito para que pegasse no sono. e estavam logo ao lado, também estava bem bêbada e quase apagando. conversava com Chris e Michelle enquanto afagava , que estava deitada em seu peito. Harry e Raquel estavam mais preocupados em se amassar atrás de um arbusto. Fiquei observando o brilho de cada estrela e vendo que nada é tão ruim quanto parece. Ou, se for, pode melhorar. Quem diria que de dois anos para cá eu teria contato regular com os meus pais? Quem diria que a minha vida profissional teria finalmente deslanchado? Quem diria que talvez eu não fosse futuramente uma quarentona solteira?
Olhei para um lado e Steve e sua prima haviam sumido, deviam também estar atrás de algum arbusto por aí. Do outro lado, dormia e Chris e Michelle jogavam alguma coisa no celular. Não havia nem sinais de Raquel e Harry. roncava cada vez mais alto.

Decidi levantar e caminhar por aí, sabia exatamente aonde tinha que ir. Dave dormia com seu braço transpassado embaixo do meu busto, então o tirei lentamente. Ele se mexeu um pouco, mas não abriu os olhos. Sentei e o observei por alguns segundos. Dave era um rapaz realmente bonito, seus traços eram delicados e uma das coisas que mais me ajudou a acostumar com ele foi o fato de lembrar bastante , a não ser pelos cabelos, que eram um pouco mais claros. Até os olhos tinham a mesma cor. Muitas vezes me culpei por não conseguir retribuir todo o sentimento que tem por mim, mas a sua presença sempre me fez bem. Dei um beijo leve em sua testa e, antes de levantar, tirei os sapatos. Chris e Michelle me perguntaram onde eu estava indo, então menti que estava indo ao banheiro. Caminhei bastante até chegar ao portão frontal e deixei a mansão ainda descalça. Assim fui por todo o caminho, mas segurando os sapatos em uma das mãos. Eu não sei direito o que tanto me atrai naquilo que os meus olhos vêem e seguem.

A London Eye me parece infinita, talvez simbolize, intimamente, o modo como a minha vida foi conduzida todo esse tempo. Estive por cima muitas vezes e por baixo mais ainda, em todos os sentidos imagináveis. O fato de vê-la ali, tão grande, sempre despertou em mim a esperança de conseguir driblar todos os meus problemas, a esperança de ser maior do que todos eles. Ao entrar naquela cabine, eu me sentia no comando da minha própria vida, o que sempre me pareceu distante de acontecer. Aquela noite estava exatamente como na noite do dia 15 de junho de 2008: fria. Meu vestido era um pouco decotado e o vento era cada vez mais forte, já havia tirado o penteado, que eu tinha demorado horas para fazer, em minutos.
Cheguei à praça onde se localiza a London Eye, vendo o Tâmisa logo atrás, e o vento soprou com mais velocidade ainda. Suas luzes tinham sido acesas há pouco tempo, eu pude ver o momento que se acenderam enquanto olhava as estrelas, deitada no jardim da casa de Fletch. Não havia ninguém por perto, apenas alguns seguranças próximos à roda gigante, já que suas cabines não estavam disponíveis para o passeio à noite. O chão sob os meus pés estava bastante gelado, mas eu não queria calçar aquele salto que tanto me incomodava. Fiquei parada observando cada volta, as suas luzes me deixavam extasiada. Vi alguém que me parecia familiar, de costas, mais à frente, também observando as voltas da London Eye.

(Coloque a segunda canção para tocar)

Aproximei-me, sentindo o vento gelado bater em meu rosto e percebendo que mesmo em todo aquele frio, o meu coração não era impedido de bater mais forte. Parei bem ao lado de , seu cheiro pareceu acordar todos os meus sinos internos, movimentando as borboletas e fazendo bagunça no meu estômago. Ficamos os dois com o olhar fixo na roda gigante, apenas apreciando a presença um do outro. Aquele silêncio que podia dizer mais que um milhão de palavras, declarações ou pedidos de desculpa. Eu me sentia realizada pelo simples fato de poder estar novamente ao seu lado.

- Você ainda pensa nele? – perguntou quebrando o silêncio e me deixando, como sempre, confusa.
- Nele quem? – perguntei de volta, ainda sem olhá-lo diretamente. Senti os olhos de me observando.
- No nosso filho. – respondeu simplesmente e o olhei, não acreditando no que ouvia. A palavra “nosso” realmente saiu de sua boca? Respirei fundo.
- Muito. – desviei o olhar para o chão e observei os meus pés ficando sem cor, devido ao frio.
- Eu também. – sua voz rouca e baixa massageou os meus ouvidos, como há muito tempo não acontecia. Voltamos a nos olhar, ao mesmo tempo, e riu.
- O que foi? – perguntei sem entender o motivo da risada.
- Você sente? – perguntou já sério e eu fechei os olhos, voltando o meu olhar para o que acontecia dentro de mim quando estava perto de . Ele não precisou me explicar o que perguntara, até porque não havia explicação com simples palavras. Voltei a abrir os olhos lentamente e encará-lo.
- Sinto. – falei com um meio sorriso e ele franziu a testa.
- Dois anos. – lembrou nostálgico e voltou a olhar para a roda gigante.
- Quanta coisa mudou, não? – indaguei também voltando a olhar para a London Eye e percebi quando assentiu.
- Pelo menos agora eu não tenho um spray de pimenta nos olhos! – brincou e dei um tapa leve em seu braço, rindo.
- Foi divertido, não foi? – relembrei, olhando-o e percebendo que ainda era o mesmo , apenas um pouco mais maduro e ainda incrivelmente lindo em um terno.
- É, mas eu não queria de novo. – falou sério e eu senti um frio na barriga, pois, se dependesse de mim, viveria tudo aquilo de novo. Tá, talvez um pouco diferente. – Se eu tivesse um spray de pimenta nos olhos hoje, não teria conseguido perceber que você era a mulher mais linda da festa. – ele concluiu, fazendo o meu coração quase saltar para fora do peito e as minhas bochechas rosarem, mesmo naqueles ventos surreais. Ele ainda provoca em mim tudo o que provocava quando estávamos juntos.
- Mentiroso! – zombei. – Em um casamento não tem nenhuma mulher mais linda do que a noiva...
- Errado. Ela estaria mais bonita se fosse você. – disse me olhando fixamente, paralisando todo o meu corpo.
- Bobagem! – balancei a cabeça e voltei a encarar a London Eye, sem um pensamento concreto. – O que te trouxe até aqui? – perguntei e o ouvi respirar fundo.
- Você. – sua resposta fez com que mais uma vez os nossos olhares se encontrassem, em uma sintonia ainda mais forte.

“Maybe we're losing all reason in our silly fights
(Talvez estejamos perdendo toda a razão nas nossas brigas tolas)

Maybe this time it'll seem right
(Talvez desta vez parecerá correto)

I wanna tell you 'bout
(Quero te falar sobre)

The day we first met and
(O dia em que nos conhecemos e)

How I feel when you're holding me tight
(Como eu me sinto quando você me abraça forte)

Oh, and how you've changed my life
(Oh, e como você mudou minha vida)”

O motivo que me levou até a London Eye foi justamente a lembrança distante do dia em que e eu frequentamos a mesma cabine. O dia em que ele disse que podia morrer no meu colo, pois morreria feliz.

- Posso te pedir uma coisa? – perguntou com cautela.
- Qualquer coisa. – respondi hipnotizada, percebendo o quanto os meus olhos sentiram falta dos seus.
- Me deixa segurar a sua mão? – sorriu infantilmente e lançou um olhar inocente, me fazendo derreter e assentir. Seus dedos passearam sobre a palma da minha mão e nós observamos o momento em que os nossos dedos se entrelaçaram. Parecia fazer tanto tempo.
- Posso te pedir uma coisa, também? – perguntei levantando a cabeça, fez o mesmo.
- Contanto que não seja sair daqui... – respondeu em tom de brincadeira e nós rimos.
- Não, besta! – falei rindo e ele fez careta. – Me abraça? – voltei a ficar séria e observei o sorriso de se desmanchar lentamente.

E antes que eu pudesse pensar qualquer coisa, não usou palavras para me responder. Uma de minhas mãos soltou involuntariamente os sapatos que carregava e quando percebi, estava com a cabeça enterrada no peito de e as minhas mãos em volta de seu pescoço. As suas, me abraçavam pela cintura com intensidade.
Aquele abraço era como se tudo voltasse para o lugar. Na verdade, como se nada nunca tivesse saído de seu devido lugar. O som de seu coração batendo tão acelerado quanto o meu me satisfazia mais do que qualquer música.
Ali eu não precisava de respostas e nem de um final perfeito.
Ali havia alívio por saber que o livro não estava chegando ao fim.
Ali a vida estava só começando.

Fim



N/A: ”The time has come to say goodbye…”

Ah, sinceramente? Eu não queria estar escrevendo essa att agora. Por que despedidas são tão tristes? Porém, ao mesmo tempo, tenho a sensação de missão cumprida. June 15th foi a primeira coisa que comecei e consegui concluir. Tentava fazer educação física, mas não conseguia agüentar um mês. Tentei dançar, não durou mais que três meses. Tentei escrever uma fanfic anteriormente, mas acabei abandonando-a.

Meus sentimentos por June são intensos e estar finalizando parece que meu bebê está me deixando para fazer faculdade haha Tenho tantas pessoas para agradecer, pessoas estas que ajudaram a fazer da fanfic o sucesso que é. O primeiro agradecimento vai ao McFly, pela inspiração; o segundo, para Samarah, minha prima e amiga que sempre deu palpites e passava horas na praia discutindo comigo que rumo a história devia tomar (LEMBRA? KKKK)... Talvez se não fosse por ela, este seria mais um projeto abandonado. Raquel, minha outra prima do coração que também ganhou uma personagem pra lá de inspirada nela KKKKKKKKKKKKK; Amanda Ramos, praticamente a primeira beta de June... Já que a fic só começou a ser atualizada com frequencia com ela... Não tenho palavras para agradecer sua atenção, e é aí que vem o próximo agradecimento: Natalie Sato, que substituiu a Amanda e cuidou de June como se fosse dela. Nunca vou esquecer tudo o que você fez, desejo tudo de melhor pra ti, mesmo de longe!

Well, well, claro que não pode faltar o agradecimento para a Mari Lima, que fechou com chave de ouro o time de betas mais competentes e eficientes do site (SIM, OUSEI MESMO)! Não tive dúvidas quando ela pediu para betar a fic... Quer coisa melhor do que uma leitora para te assessorar? Alguém que você tem certeza de que se importa e vai fazer o melhor, sempre?! Então, essa é a Mari. Me sinto privilegiada em poder encerrar esta fic e iniciar uma nova com você betando.Obrigada por todo o esforço, carinho e dedicação. YOU ROCK, GIRL! :D

O ultimo, porém mais importante agradecimento vai para as minhas leitoras lindas, que não me abandonaram e me fizeram rir aloka com seus comentários ora revoltados, ora apaixonados, ora tarados... ADORO! Vocês não imaginam o quanto me diverti. Só não sinto um pedacinho de mim faltando porque espero reencontrá-las na minha nova fanfic. POR FAVOR, continuem colorindo os meus dias. Sou infinitamente grata a todas vocês. Espero que tenham ficado satisfeitas com o final (link com o print) que vocês votaram em maioria absoluta HAHAHAHA GENTE, QUE ESCÂNDALO ESSA QUANTIDADE DE VOTOS! ALGUMA DÚVIDA DE QUE AS LEITORAS DE JUNE SÃO AS MAIS FODAS? Peço desculpas pelas vezes em que as atts demoraram séculos para entar... Algumas vezes porque eu estava sem tempo para mandar, outras porque aconteciam alguns probleminhas com o site. É inacreditável que esse já seja o fim, mas vamos pensar como a personagem principal: a vida está só começando. Nos encontraremos em outras fanfics, em outros shows do McFly (VAI SAIR ATÉ FAÍSCA HEIN AHAHAHA)... O mundo dá voltas, e espero que a gente se veja em várias delas. Amo vocês, party girls. Não me esqueçam, não esqueçam June, pois nunca esquecerei vocês.

Para quem perguntou no twitter e forms se teria parte 2... Por enquanto não tenho planos, porque tenho medo de estragar a sensação que ficou neste último capítulo. Acho melhor todas pensarmos que uma nova porta se abriu para esse casal tão louco e inconstante... Que eles sempre estarão juntos, consertando os erros cometidos anteriormente e voltando um para a vida do outro mesmo quando as forças da natureza (e da teimosia) insistem em afastá-los. Espero que vocês tenham sentido a mesma coisa que eu e se emocionado como me emocionei ao escrever.

Como prometido, aqui está o print do resultado da enquete

É isso aí, chegamos ao final da caminhada. Algumas comigo desde o início, outras no meio e na reta final... O que importa é que todas fizeram parte da minha vida e têm um lugar MUITO especial no meu coração. Se quiserem me encontrar novamente, estarei em All I Need to Know, pronta para ter ótimos momentos e ótimas risadas com vocês.

“I'm dying to thank you all.”

Ingrid xx

Fanfic da mesma autora:
All I Need To Know – McFLY/Em Andamento

Sigam-me: http://www.twitter.com/justlikeneon
Perguntem-me: http://www.formspring.me/ingridhessel
Adicionem-me: http://www.facebook.com/profile.php?id=100000738892134

N/B: ”The time has come to say goodbye…” THIS
Estou chorando demais. June acabou.
Posso dizer que esta fic mudou minha vida e ela significa muito pra mim. Não é à toa que está no meu TOP5! Haha
Eu não sei como redigir uma n/b de despedidas porque nunca fiz isso. Anyway.
MUITO OBRIGADA, Guid! Sério, por tudo tudo tudo. Por ter deixado eu betar essa preciosidade que é June, por ter sido minha amiga esse tempo, por todos os surtos... Desculpa também se em algum momento falhei ou lhe decepcionei, sempre dei meu máximo para deixar esta fic impecável. Você merece tudo de melhor, você é uma pessoa maravilhosa! YOU ROCK TOO, GIRL! :D
As lágrimas se confundem com sorrisos e a alegria e a nostalgia preenchem meu coração. Não consigo explicar o que senti quando recebi o e-mail, dizendo “Último Capítulo de June”. Desesperei-me, angustiei-me, mas ao fim, ao ler a última palavra fim, um conforto reinou. Dói ter que abandonar este bebê, mas estamos começando uma nova fase, right? June ficará marcada pra sempre em mim e espero que possamos compartilhar mais momentos juntas. AINTK, BRING IT ON!
PORRA, OLHA ESSE PARÁGRAFO SÓ MEU, que perfeito! <3 E você me fez chorar mais ainda com ele! Injusto. Não acredito que eu seja tudo isso, mas eu tentei! Haha Obrigada mesmo pelos elogios.
Sobretudo, obrigada leitoras por não serem um saco e ficarem me enchendo para saber das atts por serem uns amores e fazerem dessa fic o sucesso que é!
Sério, não sei mesmo mais o que falar.
June me deixou sem palavras.
E o clichê: qualquer erro, seja de script, português ou ambos, enviem diretamente a mim, ok? Seja por tweet ou email. Para saber sobre futuras atualizações, acesse minha página de controle. Muito obrigada!

This is goodbye...
xx, Mari Lima




comments powered by Disqus




TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.