CHELSEA; LONDRES, INGLATERRA - 05 DE NOVEMBRO DE 2012, 9:41PM.
Os flocos de neve caíam sobre o homem enquanto ele andava pela rua bem iluminada com um copo de cappuccino da Starbucks em uma das mãos, aquecendo-a contra o frio daquela noite, e a outra carregava uma pequena sacola com alguns muffins. Tinha um projeto complicado no qual trabalhar naquela madrugada, que precisava ser entregue no dia seguinte, então decidira fazer uma rápida caminhada até a cafeteria que ficava a um quarteirão do prédio onde morava e buscar um café para ajudá-lo a se manter acordado. Finalmente adentrou novamente o prédio, fugindo da brisa gelada que o atingia antes.
Cumprimentou o porteiro com um aceno de cabeça e seguiu seu caminho até o elevador. Em menos de cinco minutos, já estava em seu apartamento outra vez, depositando o cappuccino e a sacola com os muffins sobre a escrivaninha onde passaria provavelmente a noite inteira. Suspirou, cansado só de pensar a noite de sono perdida e xingando-se mentalmente por ter deixado aquele projeto para cima da hora. Sentou-se à frente da escrivaninha e vasculhou o conteúdo das gavetas em busca do projeto que ele sabia já ter iniciado, algumas semanas atrás, e que guardara ali por ter outros projetos, mais urgentes, pra terminar. O daquela noite era a planta de um novo prédio de luxo a ser construído alguns quarteirões depois do prédio onde ele mesmo morava.
Alguns anos depois de ter se formado em arquitetura, havia se tornado um arquiteto de renome e bastante requisitado, de forma que sempre tinha vários grandes projetos por fazer. Noites sem dormir já haviam virado certa rotina pra ele. Naquela noite, porém, o projeto não seria a única coisa ocupando sua mente. Enquanto mexia no conteúdo das gavetas, já um pouco irritado por não encontrar o que precisava - e tomando a decisão de que, assim que pudesse, organizaria suas coisas ali dentro - encontrou um antigo álbum de fotografias, que devia ter deixado ali quando se mudara para aquele apartamento, meses atrás, simplesmente por não ter outro lugar onde guardá-lo. Franziu o cenho e, apenas por curiosidade, abriu o mesmo, observando as primeiras fotos e deixando um sorriso curvar seus lábios enquanto as lembranças inundavam sua mente.

GREENWICH; LONDRES, INGLATERRA - 12 DE ABRIL DE 1990, 3:26PM.
Era um dia típico de primavera em Londres; uma leve brisa balançava a copa das árvores e o sol brilhava fracamente, mas era o suficiente para que as pessoas saíssem nas ruas sem os casacos pesados que costumavam vestir. O menino deixou de lado os brinquedos com que brincava antes e fixou os olhos na grande janela que havia em seu quarto. Levantou e apoiou-se no parapeito, observando algumas pessoas passando pela rua e querendo estar lá também. Deu as costas à janela e correu escadarias abaixo, encontrando a mãe sentada no sofá da sala de estar, os olhos fixos no livro que suas mãos seguravam.
- Mãe, mãe! - A voz estridente dele chamou a atenção da mulher, que levantou o olhar até o filho, parado à porta. - Posso ir brincar no parque aqui perto? - Pediu, balançando pra frente e pra trás sobre seus pés, fazendo a loira soltar uma risada fraca.
- Pode sim, . Só tome cuidado, e não deixe escurecer antes de voltar. - Ela pediu, sabendo que a área onde moravam era tranquila e não havia problemas em deixar o menino de oito anos ir até o parque. assentiu várias vezes com a cabeça antes de sair da vista da mãe, em direção à garagem da casa. Pegou a bicicleta que havia ganhado de presente no último Natal e em dez minutos chegava ao lugar onde algumas pessoas passeavam com seus cachorros, casais se encontravam sentados sob a sombra das árvores e crianças corriam de um lado para o outro. Deixou a bicicleta no local destinado a elas e correu para onde já havia avistado seus amigos. Porém, ao se aproximar deles, outra pessoa chamou sua atenção.
Sentada em um dos balanços ali perto, havia uma garota que ou era pelo menos dois anos mais nova que ele, ou era simplesmente pequena demais para sua idade. Ela tentava balançar a si mesma, dando alguns impulsos com os pés no chão, mas não estava tendo muito sucesso. O balanço era muito alto para que ela conseguisse sentar e tocar o chão com mais do que a ponta dos pés. Ele sorriu e caminhou até ela, parando em sua frente em silêncio.
- Oi. Meu nome é . - Falou, encolhendo os ombros, sem jeito, quando ela fixou os olhos em seu rosto. A menina abriu um sorriso tímido para ele.
- O meu é . - Disse, a voz baixa devido à timidez dela.
- É bonito. - Ele sorriu novamente, sentando-se à frente do balanço com as pernas cruzadas, o rosto um pouco levantado para que pudesse vê-la. - Mas posso te chamar só de ? Aí você pode me chamar só de .
- Tudo bem. - A garota assentiu com a cabeça e abaixou o olhar, envergonhada por ter os olhos dele fixos em seu rosto por tanto tempo, e cutucou a areia abaixo do balanço com a ponta do pé.
- Você quer que eu te ajude a balançar? - Perguntou, levantando-se. - Eu vi de longe que você não conseguia direito. - Explicou, rindo fraco, quando ela voltou a olhá-lo.
apenas assentiu com a cabeça outra vez e ele se colocou atrás do balanço, segurando nas correntes do mesmo, enquanto ela se sentava direito.
- Segura! - Ele disse, enquanto puxava o balanço para trás e via os nós dos dedos da menina esbranquiçarem por conta da força com que envolviam a mesma corrente que ele segurava. Então largou, empurrando-a com força para a frente, ouvindo-a rir alto em meio a um pequeno grito até se acostumar com a velocidade.
- Mais alto! - Ela pediu, virando um pouco o rosto para poder vê-lo, e ele assentiu, empurrando-a com mais força e vendo-a subir cada vez mais alto. Ria junto a ela, achando engraçada toda a felicidade dela apenas por estar em um balanço, mas aquilo só o deixava com mais vontade de empurrá-la, como se a risada dela fizesse bem a ele.

A tarde passou sem que nenhum dos dois percebesse; correndo de um lado para o outro, rindo de qualquer coisa que vissem em volta e da qual pudessem fazer uma piada. O sol começou a se pôr, a brisa ficou mais gelada do que durante o dia, mas somente quando as luzes do parque começaram a ser acendidas os dois perceberam que já era hora de irem para casa.
- Minha mãe vai brigar comigo. - murmurou enquanto os dois caminhavam em direção ao lugar onde deixara a bicicleta, horas antes. Ele virou o rosto para olhá-la, sem deixar de andar.
- Você mora muito longe? - Perguntou, retirando sua bicicleta do apoio onde a havia colocado. A menina torceu os lábios.
- Mais ou menos. - Disse, dando de ombros enquanto o via passar uma das pernas pela bicicleta, preparando-se para voltar pra casa.
- É pra lá? - Apontou com a cabeça para o lado onde morava, e ela assentiu. Ele sorriu. - Posso te levar. Vem, senta aqui. - Indicou a barra de ferro à sua frente e ela pareceu hesitar, não muito confiante na ideia. - Eu não vou te deixar cair, . Prometo. - O menino riu e a viu se aproximar, ainda meio incerta, mas sentando-se onde ele havia indicado.
- Mas se você demorar ainda mais pra chegar em casa, sua mãe não vai brigar com você? - Ela perguntou, antes que ele começasse a pedalar.
- Vai. Mas não tem problema. - Ele deu de ombros e riu, segurando-se no guidão da bicicleta segundos antes dele colocá-la em movimento.
Somente alguns metros à frente, percebeu que aquilo não estava dando certo com segurando com tanta força no guidão que, sem querer, o fazia virar de um lado para o outro, quase fazendo com que ele perdesse o controle.
- , tenta não mexer o guidão, ou a gente vai cair. - Ele disse, rindo, tentando manter a bicicleta em linha reta e tentando chegar o mais rápido possível a casa dela. Ela assentiu com a cabeça, também rindo, mas sem conseguir relaxar o suficiente para que não o atrapalhasse. Ao fazer uma curva, teve que parar abruptamente e apoiar-se em um dos pés, segurando com um dos braços para que ela também não caísse. Riu da situação e riu ainda mais ao ver a expressão assustada dela.
- Desculpa. - Ela murmurou, abaixando a cabeça, sem jeito. Ele parou de rir e a observou por algum tempo antes de falar novamente.
- Não tem problema. - Disse, fazendo-a olhar para ele outra vez. - Vamos fazer diferente. Você senta no banco, só toma cuidado pra não bater seus pés na roda, porque vai machucar.
- Mas, ... - Ela franziu o cenho, confusa. - Eu não vou conseguir te carregar.
- Não precisa. Só faz o que eu falei. - Ele pediu, e ela não discutiu mais. - Segura em mim. - falou, quando voltou a pedalar, porém, dessa vez, de pé, apenas apoiando-se no guidão. Sentiu as mãos dela agarrarem-se em sua camiseta, uma de cada lado de seu corpo. Por vezes, a garota segurava com mais força e acabava por tocar não somente o tecido da camiseta dele, mas também sua pele, fazendo-o sentir cócegas e encolher-se. Ela gargalhou com isso e ele virou-se para estirar a língua na direção dela.
- É logo ali na frente. - arriscou soltar uma das mãos da camiseta dele para apontar uma casa alguns metros à frente, assim que entrou na rua onde morava.
- Eu moro aqui. - Ele falou, apontando sua própria casa quando passou por ela. - Mas nunca te vi aqui.
- Eu me mudei faz pouco tempo. - A menina deu de ombros e pediu para que ele parasse logo em seguida, em frente a uma casa bastante parecida com a dele, apenas algumas casas depois, porém, do outro lado da rua. Ele deixou a bicicleta no chão depois que ela desceu e se aproximou dela, dando um beijo na bochecha da menina.
- Boa noite. E boa sorte com a sua mãe. - disse, rindo em seguida. riu junto a ele e retribuiu o gesto, dando um beijo no rosto dele também.
- Boa sorte também. - Ela sorriu antes de dar as costas a ele e entrar. ficou observando até que a porta de entrada da casa dela se fechasse, então recolheu a bicicleta e voltou os poucos metros que havia passado de sua própria casa.
Quando fechou a porta atrás de si, ouviu a mãe gritar seu nome e encolheu os ombros, sabendo que ouviria por ter voltado pra casa depois de ter escurecido.
Porém, naquele dia, ele não se importou. Tinha um bom motivo para ter se atrasado.

CHELSEA; LONDRES, INGLATERRA - 05 DE NOVEMBRO DE 2012, 9:59PM.
Ele não podia conter o sorriso que havia surgido em seu rosto com aquelas lembranças. Sentia falta da garotinha que havia conhecido aquele dia no parque, mas que depois havia se tornado uma de suas melhores amigas. Arrependia-se de ter perdido contato com ela depois que terminara o ensino médio, mas a garota havia se mudado de Londres pra fazer a faculdade com que sempre sonhara, e não havia muito o que ele pudesse ter feito. Ainda assim, não entendia por que haviam deixado de se falar completamente. Se suas memórias não estivessem erradas, e ele duvidava que estivessem, ela havia prometido manter contato.
Isso o fazia se perguntar se no lugar onde ela estava agora não havia sequer papel e caneta pra que ela pudesse mandar uma carta que fosse. riu sozinho com o pensamento idiota, enquanto as memórias do dia em que ela fora embora voltavam à sua mente.

FULHAN; LONDRES, INGLATERRA - 12 DE AGOSTO DE 2001, 8:27AM.
Fracos raios de sol passavam pela cortina clara naquela manhã, mas não foram eles que acordaram o garoto. Ele havia acordado muito antes. Pra falar a verdade, sequer havia dormido aquela noite. Havia passado a madrugada com os olhos fixos na garota deitada ao seu lado, atento a cada movimento do peito dela causado pela respiração calma. Deslizando os dedos levemente pelos braços dela e abraçando-a delicadamente, para não acordá-la, a cada vez que ela se mexia, aconchegando-se mais em seu peito.
Olhou para o relógio na mesa de cabeceira ao lado da cama e percebeu que em poucos minutos o despertador tocaria, acordaria e a tiraria dele. E daquela vez ela não voltaria algumas horas depois. Não ligaria, no final da tarde, dizendo que estava voltando pra casa e que esperava que ele estivesse lá quando ela chegasse.
Não. Naquele dia, o despertador significaria que era a hora dela deixá-lo e partir para o outro lado do oceano.
Fechou os olhos com força enquanto sentia uma única lágrima escorrer de um de seus olhos, no exato momento em que o barulho irritante se fazia ouvido e resmungava, rolando na cama e escapando do abraço de .
- Bom dia. - Ele disse e tentou sorrir, mas duvidava que tivesse sido bem sucedido, já que a garota o olhou torcendo os lábios. Ele respirou fundo e sentou sobre o colchão, balançando a cabeça de um lado para o outro. - Vou trazer algo pra gente comer. - Deu uma desculpa qualquer enquanto levantava da cama e saía do quarto.
- ... - levantou rapidamente e foi atrás dele, alcançando-o enquanto ele ainda estava na porta do cômodo, abraçando-o por trás e apoiando a testa no ombro do namorado. - Não faz assim. - Falou baixo, sentindo os olhos arderem.
Queria que pudesse dar um jeito naquela situação, mas era impossível. Não podia levá-lo para Nova York consigo, porque a vida dele era ali. Mas não podia deixar de cursar a faculdade que sempre sonhara. Além do mais, sua família já havia se mudado para Nova York alguns meses antes, ela só ficara pra terminar o ano letivo. Havia feito algumas visitas a eles e também resolvera as papeladas da faculdade durante as férias, mas as aulas começariam em breve e ela precisava se mudar definitivamente.
- Tá tudo bem. - virou-se para ela forçou um meio sorriso, dessa vez com um pouco mais de sucesso. Acariciou o rosto dela com as costas de sua mão antes de unir seus lábios por longos segundos. Aceitando que teria que deixá-la ir, ele a envolveu em um abraço apertado e se deixou chorar, ao mesmo tempo em que as lágrimas da garota caíam sobre seu peito.

CHELSEA; LONDRES, INGLATERRA - 05 DE NOVEMBRO DE 2012, 10:04PM
A lembrança daquele dia foi o suficiente para desfazer o sorriso que havia surgido em seu rosto anteriormente. No mesmo instante, recolocou o álbum de fotos na gaveta e finalmente encontrou o projeto em que devia estar trabalhando, ao invés de estar relembrando aqueles momentos que, ele tinha que aceitar, jamais voltariam. havia sumido no mundo e ele simplesmente havia desistido de tentar contatá-la. Balançando a cabeça de um lado para o outro para tirar aqueles pensamentos da cabeça, já que precisava se focar na planta que precisava terminar, fixou os olhos sobre o papel já bastante rabiscado. Respirou fundo e esticou o braço para alcançar o copo de cappuccino que, ele esperava, ainda estava quente. Levou-o à boca e deu um gole, sentindo o líquido quente aquecê-lo por dentro. Deixou o copo de lado e finalmente curvou-se de vez sobre o projeto.
Foi ali que passou a madrugada inteira, mas a imagem de não saiu de sua mente nem mesmo por um minuto.

CHELSEA; LONDRES, INGLATERRA - 06 DE NOVEMBRO DE 2012, 9:16AM.
O barulho alto e irritante do celular vibrando sobre a mesa, bem ao seu lado, fez com que ele acordasse com um sobressalto, sentando-se direito e olhando em volta, sonolento. Enquanto o aparelho ainda tocava, percebeu que, de tão cansado, acabara dormindo sobre a escrivaninha após terminar o projeto, apenas algumas horas antes. Finalmente pegou o celular e viu o nome de seu sócio piscando na tela. Antes de atender, checou o horário e balançou a cabeça negativamente, já sabendo o motivo da ligação do amigo. Estava quase atrasado. Com o trânsito que existia naquele horário, jamais chegaria na hora marcada da reunião. Xingou-se mentalmente e finalmente atendeu.
- Hey. - Falou, sem disfarçar a voz rouca e sonolenta; o melhor amigo o conhecia bem demais para saber sua situação. Era quase sempre daquele jeito. - Obrigado por me acordar.
- Quando é que você vai tomar jeito, ? - Sebastien tentara manter a voz séria, fingindo estar irritado, mas uma fraca risada ao final da frase deixou saber que, daquela vez, não ouviria o amigo falando por horas sobre como ele devia ajeitar seus horários.
- Um dia, quem sabe. - Ele riu, fixando os olhos na janela à sua frente apenas para perceber que a neve da noite anterior continuava caindo.
- Espero. - Pelo tom de voz, sabia que Seb estava rolando os olhos do outro lado da linha, mas não falou nada. - De qualquer forma, hoje é seu dia de sorte. O cara acabou de ligar avisando que vai se atrasar. É bom se apressar e chegar aqui antes dele.
- Chegarei, chefinho. - provocou, sabendo que o outro não gostaria da forma como havia sido chamado, e desligou antes mesmo que ouvisse alguma resposta.
Ao guardar os materiais que usara para terminar os desenhos na gaveta, bateu os olhos no álbum de fotos outra vez. Que inferno, pensou, irritado, fazendo uma anotação mental para tirá-lo dali quando voltasse do trabalho.

Depois de um banho rápido e de vestir as primeiras peças de roupa que encontrou no armário, saiu apressado do apartamento e quase não percebeu que o porteiro o chamava enquanto passava pela portaria do prédio. Quando o homem o chamou pela terceira vez, ele finalmente se virou, desculpando-se.
- Isso aqui chegou pelo correio, Senhor . - Ele disse, entregando-lhe um envelope que se parecia com um convite, mas que não tinha tempo pra ler no momento. Agradeceu ao porteiro e se encaminhou para a garagem.
Parando apenas para comprar um café e satisfazer o vício que havia criado desde a faculdade, praticamente, quando começara a perder as noites de sono para finalizar projetos, e fazendo um caminho alternativo para escapar dos engarrafamentos matinais, não demorou muito pra chegar à empresa. Pegou o projeto que deveria apresentar e desceu do carro, entrando no prédio onde trabalhava.
O envelope foi esquecido sobre o banco do passageiro de seu carro. Não seria, se ele soubesse o que havia dentro do mesmo.

RUSSEL SQUARE; LONDRES, INGLATERRA - 06 DE NOVEMBRO DE 2012, 11:44AM.
O relógio parecia estar contra a mulher naquele dia. Acordara atrasada, tinha uma entrevista para um novo emprego em pouco mais de uma hora e mal havia terminado de almoçar. Seu namorado havia saído cedo para o trabalho, portanto, ela não tinha o carro para ir até o local da entrevista. Teria que ter muita sorte para chegar a tempo de ônibus.
escovava os dentes com os olhos fixos nos ponteiros do relógio, que pareciam se mover cinco vezes mais rápido do que o normal, quando o celular tocou em seu quarto. Resmungou impaciente, rolando os olhos, enquanto terminava apressadamente e corria até o aparelho antes que quem quer que estivesse ligando desistisse.
- Fala, Julie. - Atendeu, voltando para o banheiro com o celular preso entre a orelha e o ombro para que pudesse fazer a maquiagem enquanto falava com a melhor amiga.
Julie era uma das únicas pessoas do ensino médio com quem ainda falava. Quando se mudou para Nova York, a fim de fazer sua tão sonhada faculdade de Fotografia, acabara por perder o contato com grande parte dos amigos de Londres. Não de propósito, mas, como ela gostava de dizer, a vida a havia deixado ocupada demais com outras coisas. Os primeiros meses em Nova York haviam sido difíceis e ela sequer gostava de se lembrar dos acontecidos. De qualquer forma, por conta deles, nem vontade de manter o contato ela tinha. Havia reencontrado Julie quatro anos antes, quando voltara à Londres, já formada e decidida a seguir sua vida ali.
- Você também recebeu? - A voz da amiga era animada, mas apenas franziu o cenho, sem entender do que diabos Julie estava falando.
- O quê? - Perguntou, vasculhando sua bolsa de maquiagens atrás da sombra que queria.
- O convite! - Ela fez uma pausa, então soltou um muxoxo baixo. - Ah, esquece. Você ainda vai receber então. - Falou, deixando ainda mais confusa, mas ela não tinha tempo pra entender no momento.
- Olha, Julie... Eu tenho uma entrevista naquela revista hoje e to realmente atrasada. Mais tarde te ligo e você me explica que convite é esse, certo? - E desligou, após ouvir a amiga concordar.
Terminou de se arrumar, pegou a bolsa sobre a cama, e deixou o apartamento, esperando não estar esquecendo nada na pressa de sair. Mas estava.
esqueceu de checar a caixa de correspondências como fazia toda manhã.

CHELSEA; LONDRES, INGLATERRA - 06 DE NOVEMBRO DE 2012, 3:39PM.
A neve não parara de cair em momento algum naquela tarde. O frio que fazia apenas deixava ainda mais cansado e com mais vontade de voltar pra casa o mais rápido possível. Tinha um novo projeto no qual estava trabalhando à sua frente, mas ele percebia que o trabalho não estava rendendo. Não dormira direito na noite anterior, e nas poucas horas que lhe restaram após terminar o projeto que apresentara naquela manhã, seu sono havia sido pontuado por milhares de cenas onde aparecia novamente. Resmungou e largou o lápis que segurava sobre a folha de papel, que continha apenas os rabiscos iniciais de uma planta. Não adiantaria nada continuar ali daquele jeito. Levantou-se, guardando o projeto recém-iniciado dentro da maleta que carregava consigo, pegou o celular, colocando-o no bolso, e deixou a sala.
- Lucy, se alguém me procurar, estou no celular. - Disse, ao passar pela secretária. - A menos que seja Sebastien. Não o deixe me ligar, por favor. - Completou, rindo, ao ver que o amigo passava por ali no mesmo momento em que ele saía. A ruiva riu, acompanhando-o, e assentiu com a cabeça, enquanto Seb rolava os olhos para .
- Onde é que está sua cabeça hoje, ? - Ele perguntou, balançando a cabeça de um lado para o outro, parando à porta de sua sala. deu de ombros, evitando a pergunta.
- Não dormi direito. - Foi a resposta que deu, mas sabia que só aquelas três palavras jamais convenceriam o melhor amigo. Ele apenas balançou novamente a cabeça e, acenando com uma das mãos em despedida, entrou em sua sala.
deixou o prédio em seguida, xingando-se mentalmente por ter esquecido de vestir um casaco mais quente ao sair de casa às pressas pela manhã. Caminhou com passos rápidos, mas cuidadosos, por conta da neve acumulada sobre o chão, até o lugar onde estacionara seu carro e adentrou o mesmo, largando a maleta sobre o banco do passageiro.
Àquela hora, encontrou o caminho até seu apartamento praticamente livre do trânsito, de forma que não levou muito tempo para estacionar o carro na garagem do prédio. Pegou a maleta e, ao retirá-la dali, seus olhos se fixaram no pedaço de papel que estava abaixo dela. O envelope que o porteiro lhe entregara quando ele estava saindo e que ele não dera atenção alguma, por estar atrasado. Depois, cansado do jeito que estava, sequer havia lembrado daquilo. Agora, porém, a curiosidade tomava conta do homem. Com o cenho franzido, pegou o envelope e deixou o carro. Enquanto ainda esperava o elevador, puxou uma das pontas da fita que enrolava o envelope, desfazendo com facilidade o laço. Entrou no elevador quando as portas se abriram, cumprimentando quem quer que estivesse saindo dali sem sequer olhar, pois seus olhos estavam ocupados demais lendo as palavras escritas naquele pequeno pedaço de papel. Entrou no apartamento ainda absorvendo o que o convite propunha.
Um encontro com sua turma do último ano do ensino médio. Não se lembrava de muitas das pessoas daquele tempo, porém, um nome martelou em sua cabeça imediatamente, várias vezes.
.

RUSSEL SQUARE; LONDRES, INGLATERRA - 06 DE NOVEMBRO DE 2012, 4:36PM.
O vento gelado do final daquela tarde de inverno fazia a garota abraçar o próprio corpo, envolto no sobretudo vermelho, e entrar apressada no prédio onde morava com o namorado, fugindo do frio. Cumprimentou o porteiro com um gesto silencioso da cabeça e já havia apertado o botão do elevador quando pôs os olhos nas caixinhas de correspondências. Balançou a cabeça, lembrando de que pela manhã, com toda a pressa que tinha ao sair, esquecera completamente de checar a sua. Abriu-a, mas não encontrou nada lá dentro e franziu o cenho; Julie havia mencionado algum convite e dito que ainda receberia o seu, deixando-a extremamente curiosa para saber o que havia no tal convite que, aparentemente, não havia chegado ainda. Deu de ombros e adentrou o elevador, tocando o botão do sexto andar, onde morava. Assim que colocou os pés no corredor de seu andar, sabia que seu namorado já havia chegado em casa e preparado uma de suas costumeiras surpresas. Declan era formado em gastronomia e já havia aberto uma confeitaria e um restaurante, e vez ou outra resolvia chegar mais cedo em casa apenas para receber a namorada com alguma de suas especialidades. respirou fundo antes de abrir a porta do apartamento, sentindo o cheiro do que quer que fosse que ele estava preparando e tentando adivinhar.
- Muffins. Baunilha! - Ela exclamou, com uma risada, parando à porta da cozinha e encarando Declan, um avental branco amarrado ao pescoço e à cintura, luva de cozinha na mão direita para protegê-la da temperatura muito alta, e curvado em direção ao forno e observando o que em breve seria o café da tarde dos dois. Ele fechou o forno e virou-se na direção dela, um sorriso curvando seus lábios. Aproximou-se de , retirando a luva e largando-a sobre a bancada da cozinha.
- Está ficando cada vez melhor nisso. - Disse, rindo após beijá-la rapidamente. Tirou o avental sujo de farinha e o largou junto à luva antes de abraçá-la. - Decidi fazer alguns muffins porque deduzi que teríamos um motivo para comemorar.
- Deduziu certo! - Ela falou, um sorriso animado iluminando seu rosto antes e então ele soube, antes mesmo dela lhe contar, que havia conseguido o emprego. - Começo no início da semana que vem!
- Eu sabia que conseguiria, . Parabéns! - Abraçou-a mais uma vez, feliz por vê-la tão satisfeita consigo mesma. Sabia o quanto a garota queria aquele novo trabalho. Ouviu o forno apitar e largou-a, andando rapidamente até ele enquanto colocava a luva de volta em sua mão. - Você me distrai muito, . Como vamos comemorar se eu queimar nossos muffins? - Ele riu, tirando a forma de dentro do forno e colocando-a sobre a bancada.
- Não venha me culpar pela sua falta de atenção. - Ela respondeu, estirando a língua para ele, que apenas riu em resposta. - Posso ajudar a recheá-los? Juro que não faço bagunça. Por favor, Dec, por favor! - tinha uma expressão extremamente infantil no rosto, fazendo-o gargalhar.
- Tudo bem, amor. Só vamos esperar esfriar um pouco. - Ele disse, ainda rindo. - Ah, chegou um convite pra você hoje, . - Declan se dirigiu até a sala e a mulher o seguiu, a curiosidade tomando conta de si ao pensar que devia ser o tal convite que a melhor amiga havia falado mais cedo. franziu o cenho enquanto desfazia o laço que envolvia o envelope. Não havia nada além do nome dela escrito do lado de fora, nada que indicasse do que se tratava aquilo. Abriu de uma vez, sentindo o olhar curioso do namorado tão preso ao pedaço de papel quanto o dela. ficou em silêncio algum tempo, assimilando o que as palavras impressas ali significavam. Abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não emitiu som algum.
- É um encontro... Da turma com quem eu me formei no ensino médio. – Ela conseguiu murmurar, em resposta ao olhar confuso que Declan lançava a ela ao vê-la sem reação daquele jeito. Lógico que ele não entenderia. – Dec, já volto. Vou tomar um banho, pode rechear os muffins sem mim. – Ela disse, rapidamente se encaminhando para o quarto e deixando o namorado sem entender absolutamente nada, mas não conseguiria explicar coisa alguma no momento. Precisava ligar para Julie.
- Por favor, por favor, atenda. Droga, Julie! – resmungava, andando em círculos pelo quarto com o telefone ao ouvido. – Finalmente! Julie, recebi o convite. – Praticamente vomitou as palavras no segundo em que a amiga atendeu a ligação.
- Calma. Eu também recebi, mas por que essa agitação? – Julie parecia tão confusa quanto Declan e rolou os olhos, mesmo que a outra não pudesse vê-la.
- Droga, Julie! Nossa turma da formatura. Tenho certeza que você se lembra de quem se formou com a gente. – Explicou, bufando em seguida, ao sentar na cama. Esperava que a amiga já tivesse ligado os fatos. A resposta veio rápida e apenas em duas palavras.
- .

BOURNEMOUTH, INGLATERRA – 22 DE JULHO DE 1998, 5:58AM.
A rua bem iluminada à beira-mar se encontrava praticamente deserta àquela hora da madrugada, exceto pelo grupo de jovens que caminhava sem realmente um destino. Simplesmente andavam pelas ruas, falando e rindo alto, sem se preocuparem com nada além do fato de que a bebida alcoólica em suas garrafas havia acabado. Os seis sentaram no meio fio, cansados. deitou a cabeça sobre o ombro de , que passou um braço em volta do corpo ligeiramente menor que o seu após largar o violão que carregava ao seu lado, mantendo-a próxima de si.
- Tem um bar logo ali na frente, eu acho. – Mark, um garoto alto e de cabelos negros, falou, apontando a direção onde ficava o estabelecimento com a garrafa de cerveja vazia que tinha em uma das mãos. – Quem vai?
- Eu posso... – começou a dizer e fez menção de levantar, porém foi interrompido pela namorada, segurando-o pelo casaco de moletom que ele vestia.
- Você pode ficar sentado aqui, isso sim. Não te venderiam nada mesmo. – Resmungou, encolhendo-se mais contra o corpo dele, com frio. soltou uma risada e deu de ombros. – Julie pode ir com Derick, ele é o único que já pode comprar, de qualquer jeito.
- Com que dinheiro? – A melhor amiga de perguntou, causando um riso geral no grupo. – Porque, sério, eu não tenho nada.
Mark abriu a carteira e estendeu algumas notas na direção de Derick, enquanto tirava mais alguns trocados do bolso e Charlie, o garoto mais novo do grupo, fazia o mesmo. Julie e Rick deixaram os outros quatro e foram andando lentamente até o pequeno bar, alguns metros à frente. O telefone de começou a tocar no bolso de e ele deixou de abraçá-la para poder checar quem estava ligando àquela hora. A palavra “Pai” piscava insistentemente na tela.
- . Temos um problema, eu acho. – Ele disse, rindo baixo; sabia o quanto o pai de se preocupava com ela.
- Droga. Deixa tocar, me resolvo com ele de manhã. – Ela deu de ombros e apenas balançou a cabeça de um lado para o outro, colocando o aparelho de volta em seu bolso.
- Você é quem sabe. – Disse, dando de ombros. Inclinou o corpo para frente, tentando enxergar a porta do bar onde Julie e Derick haviam entrado, mas não havia sinal de nenhum dos dois. Mark fazia o mesmo, bufando em seguida.
- Os dois devem estar é pegando um quarto com nosso dinheiro. – Rolou os olhos bastante verdes, fazendo Charlie, e rirem alto e concordarem.
- Ou, talvez, quebrando as garrafas um no outro. Vai saber, não sei como eles estão hoje. – imitou o gesto de Mark, rindo. Os outros dois amigos eram enrolados desde que haviam se conhecido, porém nunca haviam se assumido de verdade; quando estavam juntos, ou estavam brigando, ou se agarrando como se não houvesse amanhã.
Mais alguns minutos e os dois apareceram, Julie com a expressão emburrada e três garrafas nas mãos. Entregou uma a e uma a e sentou-se ao lado da amiga, sem dizer uma palavra. Derick parecia tão irritado quanto ela e, ao notar isso, os outros quatro apenas se entreolharam significativamente, deixando uma risada fraca escapar.

As cervejas haviam acabado, o dinheiro também, e o grupo havia atravessado a avenida, agora sentados na areia da praia, enquanto o céu ameaçava se iluminar conforme o sol apontava no horizonte.
- Acho que devíamos voltar pra casa. – Julie comentou, para ninguém em especial, o rosto apoiado nas mãos e a expressão nele deixando claro que a noite em claro não havia deixado seu humor em um dos melhores.
- E você pretende ir andando e carregando Charlie? Ele mal consegue se manter em pé sozinho. – Derick retrucou, bufando em seguida.
- Vá se foder. – A garota respondeu, grosseira, levantando e deixando o grupo para trás. rolou os olhos e encarou o menino, respirando fundo.
- Derick, por que você não deixa de ser um imbecil uma vez na sua vida e assume a Julie logo? Vá atrás dela. – Falou, a voz alguns tons mais alta, cansada dos dramas desnecessários dos dois amigos. O loiro a encarou por alguns segundos, decidindo-se entre seguir o conselho de ou simplesmente ignorá-la. Levou o olhar até Julie, agora vários metros à frente, e finalmente se levantou.
- JULIE. – Gritou, e a garota parou, virando-se para observá-lo, o cenho franzido. Ele se aproximou dela com passos largos e os amigos não puderam ouvir a conversa que se seguiu, porém, a julgar pelo beijo que puderam ver depois, havia sido uma conversa bem sucedida. , e Mark gritaram, assobiaram e bateram palmas em aprovação, fazendo o casal virar para olhá-los por alguns segundos antes de dar as mãos e se afastar, ainda caminhando pela faixa de areia, em direção à casa dos pais de , onde eles estavam passando o fim de semana. Em seguida, todos levantaram e os seguiram, Mark apoiando Charlie, que precisara ser acordado, pois estivera cochilando nos últimos minutos, e e seguiam logo atrás.
O sol já havia nascido quando alcançaram a casa dos e encontraram o pai de , Stephen, saindo para a varanda da casa. Nas mãos, uma xícara fumegante, provavelmente de café, e no rosto uma expressão de poucos amigos. Se não o conhecesse há tantos anos, provavelmente seria o tipo de genro que morreria de medo do pai da namorada.
- Eu avisei que chegaríamos hoje cedo, . Onde estavam? – O homem de cabelos grisalhos perguntou, enquanto Derick, Julie, Charlie e Mark davam a volta na casa, de fininho, para entrar pelos fundos.
- Ah, nós só estávamos... Na praia. – Ela deu de ombros, evitando dar detalhes. É óbvio que o pai não precisava saber que apenas algumas horas atrás ela e os amigos estavam praticamente bêbados.
- É, só perdemos a hora, Stephen. Sabe como é, conversando, tocando e cantando. – levantou o violão que carregava na mão esquerda, dando ênfase ao que falava, e dando de ombros em seguida.
- Sei. – Foi a resposta que os dois jovens tiveram, em um tom ainda bastante desconfiado. – Sabe, garoto... Não sei se agradeço por ter alguém como você sempre por perto, cuidando dela, ou se acho ruim porque você sempre a livra dos apuros. – Completou, com uma risada, que foi acompanhada por e .
- Tenho certeza que algum dia nós dois vamos nos arrepender de tê-la mimado desse jeito, Stephen. – sorriu, acompanhando o mais velho e a namorada para dentro da casa, enquanto resmungava algo sobre como ela não era mimada coisa nenhuma, porém, satisfeita pela confiança que seu pai tinha em , que, de fato, era sempre quem acabava livrando-a das broncas.

CHELSEA; LONDRES, INGLATERRA – 28 DE NOVEMBRO DE 2012; 8:28PM.
Nervoso. Era a única palavra que usaria para descrever a si mesmo naquele momento. Aliás, estivera nervoso durante todo o dia. Havia tanto tempo que não se sentia daquele jeito. Às vezes antes de alguma reunião importante, mas nunca naquela intensidade. Sentia as mãos mais geladas que o normal mesmo com o ar condicionado regulado para aumentar a temperatura em seu quarto. Os olhos se fixavam nos ponteiros do relógio em seu pulso em intervalos frequentes demais, causando-lhe até certa irritação.
Sim, estava, definitivamente, nervoso.
Olhando-se no espelho outra vez, fechou mais um botão da camisa social escura que vestia, deixando os dois primeiros abertos; talvez aquilo o ajudasse a não se sentir tão sufocado. Sequer tinha certeza de que estaria no tal reencontro da turma, mas esperava que pudesse vê-la lá. Era uma pena que não tivesse mantido contato com ninguém do pequeno grupo de amigos que tinha na época da escola, sendo assim, não tinha a quem perguntar se a garota estaria presente. De qualquer forma, apenas a possibilidade de vê-la, mesmo que de longe, era o suficiente para deixá-lo naquele estado. Dobrou as mangas da camisa cuidadosamente, deixando-as pouco abaixo do cotovelo e, por fim, passou os dedos pelos fios de cabelo, bagunçando-os; uma mania que tinha desde sempre.
Deixou o quarto, colocando a carteira e o aparelho celular no bolso da calça jeans também escura, e saiu do apartamento.

RUSSEL SQUARE; LONDRES, INGLATERRA – 28 DE NOVEMBRO DE 2012; 8:32PM.
estava pronta havia aproximadamente vinte minutos. Julie já havia ligado avisando que estava a caminho do local onde estava marcada a reunião dos antigos colegas do ensino médio, mas Declan havia chego do restaurante poucos minutos antes e ainda estava no banho, de forma que estava cada vez mais impaciente. A mulher andava de um lado para o outro na sala, tentando em vão buscar algo que prendesse sua atenção. Já havia passado por pelo menos quinze canais diferentes na televisão, mas desistira e deixara o aparelho ligado em um canal de videoclipes qualquer quando percebeu que não funcionaria. O relógio na parede ao seu lado fazia um barulho constante que começava a irritá-la. Ela quase podia ouvi-lo dizendo: “Tic-Tac. Tic-Tac. É o som da sua chance de reencontrá-lo indo embora.”
Rolou os olhos com seus pensamentos estúpidos, quase comemorando ao ouvir, ao invés do som do relógio, a porta do banheiro se abrindo. Declan apareceu quase imediatamente na sala, já pronto para saírem, apenas terminando de abotoar a camisa.
- , você fica agitada desse jeito toda vez que tocamos no assunto dessa reunião, e agora está tão pálida que eu estou começando a ficar realmente preocupado. – Ele arqueou uma das sobrancelhas, aproximando-se da namorada. – Tem certeza de que é uma boa ideia irmos?
- Tá tudo bem, Dec. De verdade. – respondeu, forçando um sorriso que jamais o convenceria, mas ele apenas deu de ombros e assentiu com a cabeça.
- Vamos, então. – Ele entrelaçou os dedos nos dela, sentindo a temperatura baixa da mão de , o que só serviu para deixá-lo ainda mais intrigado.
O que diabos havia naquele tal encontro que estava escondendo?

SOHO; LONDRES, INGLATERRA – 28 DE NOVEMBRO DE 2012; 8:57PM.
A luz baixa dentro do bar fez com que levasse algum tempo para se encontrar ali dentro e avistar alguém que realmente reconhecesse. Tinha quase certeza de que a garota sentada na mesa do outro lado do estabelecimento era Julie. Podia estar mais velha, sim, mas ainda lembrava bastante a menina irritadiça do ensino médio. Lançou um sorriso de canto na direção dela quando percebeu que ela o olhava, ao que Julie retribuiu sorrindo mais abertamente do que ele e acenando para que se juntasse à mesa. Um olhar mais cuidadoso em volta da garota enquanto cruzava o bar até lá o fez reconhecer Mark e Derick sentados àquela mesa também. Encontrar pessoas que conhecia e das quais até era próximo antes da vida acabar levando-os por caminhos diferentes diminuiu um pouco seu nervosismo pela possibilidade de encontrar por ali.
- ! – Mark exclamou, sorrindo e apontando uma das cadeiras vazias em volta da mesa, para que ele se sentasse. – Quanto tempo, huh?
- Quanto tempo, mesmo. Vocês todos sumiram. Derick, Julie... – Olhou para os outros dois, não podendo deixar de reparar que ambos usavam uma aliança na mão esquerda. – Casados? Vocês dois? Quem diria. – Comentou, rindo, e Mark o acompanhou.
- Acabei de dizer exatamente a mesma coisa. – Mark disse, levando seu copo à boca e dando um gole em qualquer que fosse a bebida ali dentro. – Charlie vem? E ? – Perguntou, inocentemente. O olhar de Julie imediatamente se fixou no rosto de , que ficou repentinamente tenso, apenas à menção do nome de .
- deve estar chegando a qualquer momento. – Julie respondeu, devagar, quase como se esperasse uma reação exagerada de .
- Charlie não tinha certeza se vinha quando falei com ele, semana passada. – Derick deu de ombros, os olhos perpassando por todo o estabelecimento, parando em uma garota próxima ao bar. – Dá pra acreditar que aquela é Candice?
- Candice? Você quer dizer, Candice, a nerd? – Mark arqueou as sobrancelhas, sem acreditar. girou o corpo para olhar na mesma direção que os amigos e entendeu a surpresa. A garota agora tinha os cabelos loiros, descendo em grandes cachos sobre seus ombros, e com certeza usava o vestido mais curto daquele lugar.
- E aquele do lado dela é... Jason. – gargalhou, observando o capitão do time da escola na época, que se aproximava da garota. – Esse não mudou nada. – Disse, ouvindo todos os outros sentados à mesa concordarem.

Algumas garrafas de cerveja depois, já estava relaxado o suficiente para deixar de encarar a porta do bar a cada cinco minutos, esperando ver entrando pela mesma. Foi assim que sequer notou quando a mulher adentrou o local, os olhos atentos buscando pela melhor amiga, a mão fria por conta do nervosismo firmemente segura pela do namorado.
- Lá está Julie, não? – Declan apontou na direção da mesa onde a mulher estava sentada, junto a três homens. conseguiu reconhecer Derick, obviamente, já que o via regularmente por ter casado com Julie, e Mark, mas o terceiro homem estava de costas para ela.
- É sim. Vem, vamos até lá. Você vai gostar de conhecer Mark. – Disse, puxando o namorado e cruzando o local até se aproximar da mesa. Estava apenas a alguns metros de distância quando o homem que estava de costas jogou a cabeça para trás, gargalhando de algo que havia sido dito anteriormente, mas ela não havia escutado.
O que tinha conseguido ouvir, entretanto, e reconheceria em qualquer lugar, a qualquer hora, independente de quanto barulho houvesse no lugar, era aquela risada. Quantos dias não havia passado, ouvindo aquele som, que a fazia rir também só de escutá-lo?
Um aperto no peito a fez parar no lugar em que estava, e Declan a olhou com o cenho franzido, sem entender. Ele a puxou e ela saiu do estado de choque em que se encontrava, indo de encontro à melhor amiga e forçando um sorriso.
- Demorei, né? Desculpa. – Falou, enquanto sentava-se em uma das únicas cadeiras vazias, que por azar ficava exatamente de frente para . – Declan, esses são Mark e... . Estudaram comigo, Julie e Derick. – Disse, hesitando em manter o olhar em por muito tempo. – E esse é Declan, meu namorado. – Seus olhos imediatamente a traíram ao dizer aquilo e se fixaram nos de e ela teve certeza de que, por um momento, eles perderam o foco.
Mark, Derick e Declan logo se envolveram em uma conversa qualquer, enquanto Julie e trocavam algumas palavras sussurradas, mas mal prestava atenção em qualquer coisa à sua volta. Esperava ver ali, sim, porém, não com alguém. Idiota, xingou-se mentalmente; não sabia por que não havia pensado naquela possibilidade. Levantou-se da mesa rapidamente, sentiu alguns olhares sobre si, e resmungou qualquer coisa sobre ir até o bar ou ao banheiro; não conseguia ouvir com clareza nem mesmo as palavras que saiam de sua boca. Sabia que reencontrar teria algum efeito daquele tipo sobre si, mas não sabia que aqueles sentimentos poderiam voltar com tanta intensidade, de uma hora para outra.
- . Vocês dois tem que conversar. Você foi embora há mais de dez anos, mas vocês nunca tiveram realmente um fim, sabe disso. Você não manteve contato nenhum, voltou e não o procurou. Pelo menos uma conversa você deve a ele. – Julie falou baixo, para que ninguém mais escutasse. A outra respirou fundo e assentiu com a cabeça.
- Eu sei. – Disse, simplesmente. – Se alguém perguntar, diga que fui ao banheiro e já volto. – Levantou e se afastou da mesa, tentando encontrar em algum lugar. Passou os olhos por toda a extensão do bar, sem avistá-lo, e então subiu as escadas, em direção ao segundo andar do estabelecimento. Caminhou até a parte externa, uma espécie de varanda, com algumas mesas ao ar livre. encontrava-se de costas para a porta que dava acesso àquela área, escorado no parapeito de madeira. Ela se aproximou devagar, com passos curtos e hesitantes, sem saber realmente o que dizer. Parou ao lado dele, também apoiando os braços no parapeito, mas ainda sem proferir nenhuma palavra. Percebeu que ficou automaticamente mais tenso ao notar sua presença ali, mas nenhum dos dois ousou quebrar o silêncio, que começava a ficar um pouco constrangedor. Era estranho, na verdade, para qualquer um dos dois, estarem juntos sem saber o que dizer. Nenhum deles estava acostumado com aquela situação; os silêncios entre os dois normalmente não precisavam ser quebrados, eram os momentos em que eles costumavam apenas aproveitar a presença um do outro. Mas, como já esperavam, muita coisa havia mudado nos onze anos que passaram sem contato algum. respirou fundo, tentando buscar algo para falar, mas se arrependeu no instante seguinte, quando as palavras escaparam por entre seus lábios sem que ele tivesse controle.
- Trocou seu perfume. – Uma risada fraca pôde ser ouvida em seguida, enquanto ele balançava a cabeça negativamente, de um lado para o outro, mas continuava evitando a todo custo que seus olhos encontrassem os dela.
- Troquei. – Ela confirmou, assentindo com a cabeça. Arriscou desviar o olhar na direção dele, que continuava com os olhos fixos à sua frente, como se ali estivesse algo muito interessante, e não apenas mais uma rua qualquer de Londres, com carros passando incessantemente. Um novo momento de silêncio, como o de minutos antes, voltou a assolá-los. – .
Ele virou o rosto para encará-la, mas não respondeu. Esperou que ela continuasse falando, mas ao finalmente olhá-lo nos olhos outra vez, ela parecia não saber mais o que dizer. também não tinha certeza se devia falar alguma coisa; não estava irritado pelo fato de que ela tinha outra pessoa, só estava... Sentido. Porém, não tinha o direito de brigar com a garota por causa daquilo.
- Ele te faz feliz? – Perguntou, simplesmente. Ela franziu o cenho, confusa; certamente não era o que esperava ouvir dele naquele momento, mas assentiu com um movimento de cabeça. Não podia negar que sim, Declan a fazia feliz, mas depois de rever e perceber que muita coisa não havia ficado no passado, não confiava em sua voz para responder com palavras.
Algo que o tempo não havia mudado, porém, era o quanto ainda era capaz de notar as mínimas reações de . Notou o quanto a pergunta a havia desconcertado, e a próxima pergunta foi feita com a intenção de descontrair, mas também fazê-la lembrar do que ele próprio estava lembrando no momento.
- Ele pede pra pegar a sua mão?

GREENWICH; LONDRES, INGLATERRA - 14 DE AGOSTO DE 1996, 3:45PM.
O sinal agudo da escola tocou, anunciando o final de mais um dia de aulas. já tinha seus livros, cadernos e lápis todos jogados dentro da mochila há quinze minutos, por já não aguentar mais aquela aula de cálculo. Jogou a mochila sobre o ombro direito e parou ao lado da mesa de , algumas fileiras à frente.
- Vamos, ! – Exclamou, apressando-a. Ela levantou os olhos até o rosto dele por alguns segundos e depois voltou a observar o quadro à frente da sala, enquanto terminava de copiar as informações escritas ali.
- Já to terminando, . Calma. – Ela deu de ombros, com toda a calma do mundo. Não sabia por que toda aquela pressa do melhor amigo de querer sair correndo todos os dias.
- Mas Derick e Julie provavelmente já estão nos esperando lá fora. Hoje vamos todo pra casa do Mark, lembra? – O menino a lembrou e ela finalmente parou de escrever e fechou o caderno, guardando-o dentro da mochila e levantando da cadeira.
- Lembro. Mas temos mais de meia hora pra chegar lá e Mark mora a três quarteirões daqui. – respondeu, sorrindo ao vê-lo rolar os olhos, impaciente. – Vamos? – Perguntou, colocando a mochila nos ombros e se dirigindo à porta da sala. Ele concordou, resmungando um “Até que em fim”, e foi atrás dela.
Do lado de fora da escola, os dois encontraram Julie e Derick já os esperando. A menina tinha os braços cruzados e batia o pé direito insistentemente contra o chão, impaciente. lançou um olhar de canto a , como se dissesse “Eu avisei”, e ela apenas estirou a língua em sua direção como resposta.
- Eu que demorei, admito, podemos pular a parte em que você reclama e irmos pra casa de Mark? – Falou ao se aproximar dos amigos, antes mesmo que Julie começasse a dizer algo.
- Bom humor mandou lembranças, . – Derick arqueou as sobrancelhas e rolou os olhos.
- Todos nós já sabemos o que Julie diria... – Ela deu de ombros e riu, concordando com a cabeça antes de sair caminhando em direção à casa de Mark, atrás de .

Os cinco haviam passado a tarde na piscina da casa de Mark, porém, com o final da tarde se aproximando e trazendo uma brisa gelada, as meninas haviam saído da água havia alguns minutos; Julie estava deitada em uma das espreguiçadeiras à beira da piscina, e sentada com apenas os pés debaixo da água. Mark, Derick e estavam entretidos em uma competição de quem conseguia permanecer mais tempo submerso, sem respirar. Derick foi o primeiro a voltar à superfície e Julie não perdeu tempo em alfinetá-lo.
- Tá fraco, hein, Rick? – Apoiou-se sobre os cotovelos, levantando parcialmente o corpo, para encará-lo. Ele resmungou algo em resposta e rolou os olhos, xingando em voz alta em seguida, quando Mark também emergiu, balançando a cabeça de um lado para o outro e jogando água pra todo lado. apareceu logo em seguida, um grande sorriso no rosto.
- Seus fracos! – Exclamou, rindo quando os outros dois o olharam de cara fechada. Deu de ombros, como se dissesse “Não tenho culpa disso!”, e assistiu os outros saírem da água.
- Nós vamos entrar, vocês vêm? - Mark perguntou, enrolando-se em uma toalha, assim como Derick. fez um sinal dizendo que já ia e nadou até a beira da piscina, onde ainda estava sentada.
- Muito bom, . – A menina falou, quando ele parou à sua frente, apoiando as duas mãos nos joelhos dela. – Só tome cuidado pra não se empolgar da próxima vez e se esquecer de voltar à superfície. Quase dois minutos foi tempo suficiente. – Completou, rindo junto a ele.
- Te deixei preocupada, foi? – O garoto perguntou, com um tom de voz propositalmente presunçoso, que só a fez rir.
- Você é muito cheio de si. Sabe disso, não sabe? – Ela respondeu com uma nova pergunta, levando uma das mãos na direção dele, passando os dedos pelos fios de cabelo escuros que caíam sobre a testa do menino e retirando-os dali.
- Sei. – Ele deu de ombros, apoiando-se com mais força nos joelhos de e dando um impulso com os pés no fundo da piscina, deixando seu rosto na altura do dela. Ele não sabia e, se soubesse, talvez fizesse aquilo com mais frequência, mas aquela proximidade fazia o coração da garota acelerar. Ele era a única pessoa que causava aquela reação nela e, de um jeito estranho, ela gostava da sensação. – Mas... Não importa. Porque você também não se importa. – Sorriu de canto, antes de, sem qualquer aviso, tocar os lábios dela com os seus. parecia sem reação no primeiro momento, mas entreabriu os próprios lábios em seguida, retribuindo o beijo, até que o quebrou, com um sorriso no rosto.
- É, eu não me importo. – Ela disse, sentindo as bochechas adquirirem um tom rosado e abaixando a cabeça, fugindo do olhar dele. sorriu com a vergonha evidente dela, e tocou seu queixo com os dedos, fazendo-a olhá-lo outra vez.
- com vergonha não é algo que eu veja com frequência, preciso prestar bastante atenção nisso. – Ele sorriu, rindo quando ela rolou os olhos e o empurrou, pegando-o despreparado e fazendo com que ele caísse na água outra vez e levantou, rindo da expressão de falsa indignação que tinha no rosto ao sair da piscina e ir atrás dela, abraçando-a e, consequentemente, deixando-a completamente molhada outra vez.
- Pode tentar, mas nós dois sabemos que você não consegue ficar muito tempo brava comigo. – Ele sorriu outra vez, beijando-a no rosto antes de alcançar uma toalha e colocá-la sobre os ombros da menina, que virou-se para ele.
- Às vezes eu me arrependo de te conhecer há tanto tempo, porque é por isso que você me conhece tão bem. – Ela disse, fazendo uma pequena pausa enquanto ele franzia o cenho. – Depois eu percebo que é por isso que eu também te conheço melhor que você mesmo. – sorriu, piscando o olho esquerdo e beijando-o outra vez.
- Você anda espertinha demais, garota. – Ele riu, afastando-se dela para terminar de secar o corpo antes de entrar na casa, ou Mark provavelmente o mataria. fazia o mesmo e, depois, encaminhou-se à porta dos fundos da casa, com a acompanhando e abraçando-a de lado. Ele a fez parar antes de entrar, observando-a.
- Tudo bem se eles souberem? – Perguntou, sem saber exatamente como agir. Era óbvio que algumas coisas mudariam depois do beijo, e ambos esperavam que pra melhor, mas não tinha certeza de como se sentia sobre os amigos saberem do que acontecia entre eles. Ela encolheu os ombros, mas logo em seguida assentiu com a cabeça e o viu sorrir. – Posso, então? – Ele perguntou outra vez, levando a mão em direção à dela, quase pedindo permissão pra entrelaçar os dedos aos dela. Em resposta, apenas juntou sua mão à dele, sentindo como se as duas se encaixassem perfeitamente.
Então, os dois entraram, encontrando os outros três amigos na cozinha, conversando. Todos se viraram pra observá-los e os três olhares caíram sobre as mãos entrelaçadas. Julie foi a primeira a entender o que acontecera e abrir um sorriso sugestivo na direção de e , que apenas deram de ombros, como se dissessem “É, é isso mesmo”, e sentaram-se à mesa junto aos outros.

SOHO; LONDRES, INGLATERRA – 28 DE NOVEMBRO DE 2012; 9:36PM.
Onze anos sem contato algum com não mudaram o jeito com que sempre parecia capaz de saber o que se passava na cabeça dela em alguns momentos. Como naqueles momentos de silêncio após a pergunta dele, ele tinha certeza de que a mesma lembrança que passava em sua mente estava na dela. O meio sorriso que ela esboçou em seguida fez o aperto em seu peito relaxar. Pelo menos, aquelas memórias também faziam bem a ela, exatamente como faziam bem a ele próprio. manteve os olhos fixos no rosto dela, prestando bastante atenção em cada reação, esperando que ainda pudesse ler suas expressões como costumava fazer anos antes. Mais alguns minutos de silêncio e arriscou um novo olhar na direção dele antes de responder à pergunta.
- Não. – Disse, em um sussurro, abaixando a cabeça. Onze anos haviam se passado e ela ainda se sentia quase que indefesa em frente a . Ainda tinha a mesma sensação de que ele ouvia todos os seus pensamentos. Ele não hesitou em se aproximar e tocar o queixo da mulher, permitindo-se olhar dentro dos olhos dela. Mordeu o canto do lábio inferior, incerto sobre fazer ou não o que pretendia fazer em seguida.
- Posso? – Perguntou, um sorriso de canto involuntário surgindo em seu rosto e sendo refletido quase que instantaneamente no dela. Ela encolheu os ombros, visivelmente sem jeito, mas o sorriso não deixou seu rosto; entendeu aquilo como uma resposta positiva e, novamente sem hesitar, entrelaçou os dedos aos dela, fechando os olhos em seguida, assim como ela. Ambos querendo tirar o máximo daquele simples toque, depois de tanto tempo. Involuntariamente, deu um passo na direção do homem, quase se arrependendo logo em seguida; o perfume dele ainda a inebriava como costumava fazer antes. Sem conseguir evitar, puxou-a gentilmente para perto de si, soltando sua mão da dela para que pudesse abraçá-la. deitou a cabeça no peito dele e envolveu o corpo de com seus braços, deixando que o silêncio tomasse conta dos dois mais uma vez, porém, não era mais um silêncio sufocante, ou constrangedor; era simplesmente um momento para que os dois aproveitassem a presença um do outro novamente, para que soubessem que, mesmo depois de tanto tempo, aquela ligação ainda estava ali. tocou a testa da mulher com os lábios, em um gesto de carinho que costumava ser bastante comum entre os dois e, em resposta, ela apertou mais os braços em volta da cintura dele. Vários minutos se passaram sem que nenhum deles ousasse quebrar o silêncio, com medo de que aquele momento acabasse.
- Senti sua falta. – finalmente voltou a falar, afastando-se um pouco dela para que pudesse encará-la. Ela devolveu o olhar, com um sorriso tímido, antes de responder.
- Eu também. – confessou, sentindo o rosto esquentar; um dia ainda entenderia por que apenas conseguia fazê-la corar daquela maneira. Ele tocou o rosto de delicadamente, acariciando-o, apenas pela sensação do toque da pele dela na sua. Retirou dali uma mecha dos cabelos da mulher, que quase caía sobre seus olhos, colocando-a atrás da orelha dela antes de se pronunciar novamente.
- Nós precisamos conversar, . Não aqui, hoje, ou agora. – Ele fez uma pausa, pensando em suas próximas palavras. Durante os poucos momentos que haviam passado naquela noite, ele teve certeza de que não era o único que ainda nutria sentimentos ali. A decisão que tomou, apesar de ser tomada rapidamente e de última hora, não havia sido impensada ou por impulso; ele a teria de volta, sim. – Podemos nos ver outro dia? Só nós dois, sem... Nenhum deles por perto. – Completou, sabendo que ela entenderia que, na verdade, ele queria vê-la onde não houvesse a chance de Declan aparecer a qualquer momento, procurando por ela. assentiu com a cabeça, concordando, e então segurou seu rosto entre suas duas mãos, unindo seus lábios por alguns breves segundos; sentiu tensa com o toque, e a reação dela foi exatamente a que ele temia e, de certa forma, esperava. As duas mãos delicadas foram espalmadas em seu peito e o empurraram com certa força, fazendo-o dar um passo para trás, olhando-a com o arrependimento expresso em seus olhos. Assim como , ainda era capaz de ler o que se passava em sua mente apenas com um olhar; porém, apesar de ver nos olhos à sua frente que ele havia agido por impulso, que havia se deixado levar pelo momento, ela não pôde deixar de expressar o descontentamento e a decepção. fechou os olhos quando ela balançou a cabeça negativamente, de um lado para o outro, sem querer vê-la se afastando dele. Assisti-la indo embora uma vez, ainda que anos antes, já havia sido doloroso demais, não precisava reviver aquela cena.
- Desculpa. – Ele sussurrou para si mesmo, já que sabia que estava longe demais para escutá-lo, e sabendo que, se as coisas haviam saído do rumo naquela noite, a culpa era dele, e somente dele.

FULHAN; LONDRES, INGLATERRA – 04 DE DEZEMBRO DE 2012; 6:21PM.
Fazia um bom tempo que não caminhava por aquelas ruas. Desde que se mudara para o apartamento de Declan, cerca de dois anos atrás, seu antigo apartamento havia ficado praticamente desocupado. O namorado vivia dizendo que ela devia ao menos alugá-lo, pra não deixá-lo completamente fechado e abandonado, mas aquele apartamento era um local bastante pessoal para a mulher; era o lugar onde muitas de suas memórias haviam ficado guardadas enquanto ela preferia não lembrar, mas também não queria perdê-las. Por esse motivo, nunca quis permitir que outra pessoa entrasse ali e fizesse com que aquelas paredes guardassem novas lembranças, jogando as suas fora.
Ela venceu os últimos metros até o prédio onde costumava morar, caminhando devagar e com cuidado devido à neve acumulada na calçada, e finalmente adentrou a construção. Assim que passou pela porta de entrada, o porteiro a observou curioso; lógico que não era mais o mesmo simpático senhor de dois anos atrás e, por esse motivo, o novo porteiro não a conhecia.
- Sou . O apartamento 402 é meu. – Explicou, com um sorriso simpático no rosto, e o senhor franziu o cenho.
- Achei que o 402 estivesse desocupado. – Ele disse, aparentemente confuso. Ela riu, assentindo com a cabeça.
- Está. Eu não moro mais nele, só... Decidi vir dar uma olhada hoje. – Deu de ombros, sem querer estender a conversa, e o senhor concordou, finalmente deixando-a passar em direção ao elevador. Conforme os números no painel mudavam e se aproximavam do 4, sentia um certo aperto no peito. Não sabia ao certo o que a levara à decisão de visitar o antigo apartamento, mas ali estava ela, não estava?
As portas metálicas se abriram, revelando o corredor de paredes cor de creme e piso de cerâmica que ela conhecia tão bem. Seus olhos facilmente encontraram a mancha arroxeada, causada pelo vinho que havia derramado, na parede próxima à porta com o número 402 entalhado, fazendo-a abrir um sorriso. Lembrava-se perfeitamente da cena de sentado ali, adormecido, escorado à parede, uma garrafa de vinho tinto vazia nas mãos e completamente bêbado, em uma noite qualquer em que haviam tido uma discussão e ela se recusara a abrir a porta para o garoto e ele, então, dormira em frente ao seu apartamento. Ela o havia encontrado na manhã seguinte e tinha gasto alguns bons minutos tentando acordá-lo e convencê-lo a entrar no apartamento. Ele havia insistido em fazê-la prometer de que tudo estava bem entre os dois antes de finalmente levantar-se e entrar.
Balançou a cabeça, rindo com aquelas lembranças enquanto girava a chave na fechadura e adentrava a sala de estar. Ainda haviam algumas caixas ali, com pertences que ela preferira não levar para o apartamento de Declan quando se mudou, além de uma pequena mesa de centro no meio da sala. Algumas almofadas jogadas no canto do cômodo, próximas à porta da sacada, mas nada mais do que aquilo. Atravessou o local com alguns passos rápidos e chegou ao único quarto do apartamento, onde havia apenas um colchão escorado à parede oposta da porta e um quadro de fotos na parede lateral. Poucas fotos ainda se encontravam presas a ele, mas uma delas ela lembrava exatamente de quando era. e , na noite de formatura, ambos sorrindo abertamente, dançando. Havia sido tirada provavelmente por Julie, e ela realmente gostara daquela foto. Completamente espontânea e mostrando o quanto estavam felizes, apesar de saberem que seus dias juntos estavam contados. Ela retirou a foto do quadro e sorriu ao ver a frase escrita no verso, apesar de sentir os olhos ardendo com as lágrimas de saudade que surgiam.
“Though with no music we danced. (…) Dance by yourself and think of me when you do.”
Sentou-se no chão do quarto, escorada à parede que ela havia pintado de lilás quando os pais lhe deram o apartamento, e tirou o celular do bolso. Procurou na agenda do aparelho o número de , que havia pego com Julie alguns dias antes e, sem pensar muito, para que não acabasse desistindo, ligou. Aquele apartamento era cheio demais com as lembranças dos dois para que ela aguentasse sozinha.
- Pode vir me encontrar? – Pediu, assim que o homem atendeu a ligação, sem conseguir esconder a voz chorosa, por mais que tentasse. não conhecia o número, mas reconheceria aquela voz em qualquer lugar e circunstância e, independente da situação, o tom de choro sempre o deixaria preocupado.
- , onde você tá? – Ele perguntou, já levantando do sofá onde estivera deitado assistindo a um filme qualquer na televisão e vestindo o primeiro casaco que encontrou pela frente.
- No meu... Nosso apartamento. – Respondeu, quando ele já pegava as chaves do carro e deixava o próprio loft, esquecendo-se até mesmo de trancar a porta ao passar por ela. Precisou pensar apenas por alguns segundos até saber exatamente onde a mulher se encontrava.

SOHO; LONDRES, INGLATERRA – 30 DE MAIO DE 2001, 3:52AM.
O grupo de amigos caminhava pela rua que, àquela hora, já não era tão movimentada quanto costumava ser em outros horários, todos rindo ou fazendo piadas de qualquer coisa que pudessem pensar.
- Precisamos de um táxi! – Mark, o único deles que não era um recém-formado no ensino médio, por ser um ano mais velho, exclamou, e os outros o olharam.
- Você está vendo algum táxi por aqui, Mark? – Derick perguntou, olhando em volta, sem avistar nenhum dos carros amarelos de que precisavam. – Eu também não. Então podemos só continuar andando. – Deu de ombros, e Charlie rolou os olhos, rindo da lógica estranha do amigo.
- Não comecem. – suspirou, esperando que eles não começassem uma discussão qualquer que a tiraria do sério facilmente. – Podemos simplesmente aproveitar o resto da noite? Pelo amor de Deus, acabamos de nos livrar da escola!
- Sim, amor, podemos passar o resto da noite dançando no meio da rua, o que acha? – apareceu em sua frente, puxando-a pela mão e fazendo-a girar, realmente iniciando uma dança qualquer, por mais que não existisse música nenhuma tocando por ali. jogou a cabeça para trás, gargalhando, mas entrando na brincadeira do namorado e aceitando a dança, deixando que, em seguida, ele passasse um braço por baixo de seus joelhos e outro por suas costas, levantando-a e girando-a rapidamente. Apenas o grito e as risadas exageradas de eram ouvidos naquele pedaço da rua.
Os amigos riam da cena e Julie tinha a câmera fotográfica em mãos, registrando em várias fotos aquele momento, entretanto, com um sorriso um tanto quanto triste no rosto. Sabia que, em algumas semanas, quando se mudasse para Nova York, aquelas fotos seriam tudo que o casal de amigos teria.

FULHAN; LONDRES, INGLATERRA – 04 DE DEZEMBRO DE 2012; 7:11PM.
O homem passou tão rapidamente pelo hall de entrada do prédio que sequer deu tempo para que o porteiro o impedisse. Seus passos longos e rápidos o levaram para dentro do elevador em questão de segundos. O coração acelerado dentro do peito quase conseguia se fazer ouvido enquanto os números no painel pareciam aumentar mais lentamente do que o normal. As portas se abriram e ele já tinha um pé para fora do cubículo metálico quando percebeu que ainda estava no terceiro andar. Um casal esperava para entrar no elevador e ele deu um passo para trás, voltando.
- Está subindo, desculpe. – Disse, com um sorriso amarelo, e pressionou rapidamente o botão para fechar as portas novamente, xingando internamente aquele casal que o havia feito perder ainda mais tempo. Quando finalmente chegou ao quarto andar, quase correu até a porta do apartamento 402 e bateu na madeira com os nós dos dedos, mas não recebeu resposta nenhuma. Tentou girar a maçaneta e a porta cedeu, permitindo-o entrar no apartamento. A sala praticamente vazia, com apenas a mesa de centro ali, trouxe mais lembranças à sua mente, mas ele não tinha tempo pra se perder em memórias; talvez mais tarde. Se não estava na sala, então só poderia estar no quarto, e foi pra lá que ele se encaminhou em seguida. Parando à porta, viu a mulher sentada no canto do cômodo, abraçada aos joelhos e com uma foto em suas mãos. Ao ver aquela cena, teve certeza do que estava acontecendo e, por alguns momentos, odiou a si mesmo por saber que, de certa forma, ele era o causador das lágrimas que até alguns minutos antes escorriam dos olhos de . Sentou-se ao lado dela, passou um braço pelos seus ombros e retirou a foto de suas mãos, reconhecendo-a na hora.
- Dance by yourself and think of me when you do. I’m not sure you understand what this means to me, what you do to me. – Ele cantou, a voz alguns tons mais baixa do que o normal, beijando-a na testa logo em seguida. virou o rosto para olhá-lo, um sorriso tímido tomara o lugar das lágrimas.
- Obrigada por vir. – Ela sussurrou, deitando a cabeça no ombro de enquanto ele apertava ainda mais seu braço em volta do corpo da mulher, ligeiramente menor que o seu, mantendo-a próxima de si. – Mesmo depois de eu ter saído daquele jeito no outro dia. – O tom de sua voz caiu ainda mais ao tocar naquele assunto, como se ela estivesse envergonhada. pôs um dedo sobre os lábios dela, impedindo-a de continuar.
- Tá tudo bem. Eu não devia... – Deixou a voz morrer no meio da frase, dando de ombros. Balançou a cabeça, sem querer se lembrar da decepção no rosto da mulher na outra noite. – Por que está aqui hoje? Pela falta de móveis, acho que você não mora mais aqui... – Mudou de assunto e a viu fechar os olhos, respirando fundo. Franziu o cenho enquanto permanecia em silêncio, esperando por uma resposta.
- Não sei. – Ela finalmente falou, deixando-o mais confuso ainda. – Eu... Droga, . Depois de tanto tempo, já não esperava te encontrar de novo. E agora eu só... Não sei. Não sei o que fazer, não consigo arrumar essa confusão toda dentro da minha cabeça. – finalizou com um suspiro, deitando-se com a cabeça sobre as pernas do homem, que imediatamente deslizou uma das mãos por entre os fios de cabelo muito macios, em mais uma cena bastante familiar para ambos. Quantas tardes de domingo não haviam passado exatamente daquele jeito, apenas assistindo qualquer coisa na televisão? Quantas noites de tempestade os dois haviam passado, também daquele jeito, apenas observando a chuva cair pela porta de vidro da sacada, porque ela tinha medo demais dos trovões para conseguir dormir?
- Eu não sei exatamente o que você espera ouvir, ... Mas não acho que seja minha culpa se levamos tanto tempo pra nos reencontrarmos. Você se mudou e desapareceu. Nem uma ligação, nem uma carta... Nada. Voltou há quatro anos, pelo o que Derick me falou, e eu não fazia idéia. – fez uma pausa, e foi sua vez de respirar fundo. – Quer me explicar por quê?
- Quando eu me mudei pra Nova York... – Ela começou, mas parou em seguida, engolindo em seco. – Fiquei sabendo que papai e mamãe tinham ido antes porque papai estava doente. – fechou os olhos e deixou algumas lágrimas escorrerem. começou a entender o que havia acontecido e tocou os lábios dela com os dedos que não estavam ocupados acariciando seus cabelos.
- Stephen...? – Ele não teve coragem de fazer a pergunta completa, mas havia entendido e assentiu com a cabeça, confirmando o que ele temia. Stephen , o homem que havia sido quase um segundo pai para ele, desde que seu próprio pai havia deixado a família, quando ele ainda tinha dez anos, estava morto. – Ah, . – não conseguiu evitar as próprias lágrimas e, quando percebeu, a mulher havia levantado parcialmente e agora estava sentada em seu colo, chorando em seu peito, enquanto ele mesmo não era capaz de se recompor. Quando finalmente conseguiu voltar sua respiração ao ritmo normal, voltou a falar.
- Eu só não tinha vontade de nada, sabe? – Explicou, e ele apenas concordou com a cabeça, esperando que ela continuasse. – Atrasei em um ano minha entrada na faculdade por isso. E, quando voltei, Julie também não tinha notícias de você, então... Fiquei perdida. – Ela finalizou, não querendo se estender muito. apenas assentiu mais uma vez, em silêncio, e apertou os braços em volta da cintura dela. Era verdade, ele não havia mantido contato com ninguém dos tempos de colégio, e era exatamente por isso que nunca encontrara outra vez, antes daquela festa.
- Então... Você veio até aqui pra tentar colocar seus pensamentos em ordem? – voltou a mudar de assunto, já que sabia que não iria querer continuar falando sobre seu pai; nem ele queria, na verdade.
- É. Não deu muito certo, na verdade. – Ela disse, rindo e rolando os olhos em seguida. – Esse lugar tem lembranças demais. – Confessou, vendo-o concordar com um movimento de cabeça.
- Isso é ruim, ou...? – Ele perguntou, sorrindo de canto, sem conseguir se conter. Não conseguia evitar se sentir, de certa forma, feliz por saber que ela estava, pelo menos, em dúvida.
- Não. Eu gosto de estar aqui. – Disse, deitando a cabeça no peito do homem mais uma vez, passando os dedos pelos desenhos rabiscados no casaco de moletom dele. Sua voz estava alguns tons mais baixa quando ela voltou a falar, tímida. – Eu gosto de estar aqui com você, de novo.
- Eu também. – Foi a vez dele confessar, os olhos fixos no rosto dela, sem conseguir conter um sorriso ao notar que não havia perdido algumas manias, como a de encarar as próprias unhas quando tentava evitar olhá-lo, como fazia naquele momento.
- Sabe no que eu reparei hoje, quando cheguei aqui? – A mulher perguntou, depois de mais alguns momentos de silêncio. Ele negou com a cabeça e ela riu antes de continuar. – Aquela mancha na parede do corredor ainda está lá.
- Mentira?! , você devia cobrar uma limpeza decente. – Ele riu junto a ela, balançando a cabeça. – A Senhora Porter ainda é sua vizinha? Me lembro do quanto ela nos xingava por fazer barulho demais. – Relembrou, fazendo-a gargalhar e concordar com a cabeça.
As lembranças compartilhadas pelos dois naquele apartamento continuavam surgindo uma atrás da outra, e ambos sentiam-se como se estivessem realmente voltando no tempo. E, enquanto isso, dentro de cada um crescia a sensação de estar de volta ao lugar em que pertenciam. Nos braços um do outro.

Em algum momento daquele início de noite, sem que percebessem, havia começado a chover. Entre uma lembrança e uma risada, uma trovoada foi ouvida por . Foi assim que os dois acabaram carregando o colchão até a sala e deitando-se de frente para a porta de vidro da sacada; de uma maneira estranha, ver a chuva batendo contra o vidro acalmava . Ele se escorava à parede de cor clara e ela se encontrava entre suas pernas, escorada ao peito dele, que ainda passava os braços em volta do corpo dela, em uma tentativa de acalmá-la em seu abraço.
Um clarão pôde ser visto através da grande porta de correr e sentiu a mulher se encolher entre seus braços, fazendo-o abraçá-la com mais força. - Me pergunto como é que você sobreviveu às tempestades de Nova York. – Ele comentou. Na verdade, tinha a intenção de perguntar se o atual namorado dela era capaz de passar noites inteiras acordado junto a ela, mas temia tocar no assunto e acabar estragando aquele momento que ele não queria que acabasse.
- Um chá e alguns comprimidos faziam um bom trabalho em me fazer dormir. Ainda fazem. – Ela respondeu, ajeitando-se melhor nos braços do homem. Um sorriso curvou os lábios dele; poderia ser apenas uma coincidência ou ele podia ter entendido errado, mas ao ouvir as duas últimas palavras dela, ponderou a possibilidade dela ter entendido o que realmente ele perguntara e, sutilmente, havia respondido o que ele queria saber. Exatamente como ela sempre fazia, por conhecê-lo tão bem, antes de se mudar. – Mas eu prefiro você ao invés do chá.
- Bom saber. – Ele respondeu, beijando-a no rosto em seguida, ao mesmo tempo em que um novo clarão era visto e, segundos depois, puderam ouvir a trovoada ressoando no apartamento. – Acho que não vamos embora hoje. – Disse. suspirou e resmungou alguma coisa em concordância, inconscientemente brincando com os dedos de , que repousavam em sua cintura.
- Precisamos de algo pra comer. – Ela levantou os olhos para ele em tempo de vê-lo concordar com um aceno de cabeça. – Não tem nada na geladeira.
- Posso ir buscar qualquer coisa em algum lugar aqui perto... – começou, mas apenas o olhar de em sua direção o fez entender que ele não iria a lugar nenhum enquanto aquele temporal não passasse. – Tudo bem. Podemos pedir uma pizza, então, o que acha?
- Só se for quatro queijos... – começou a falar e balançou a cabeça, rindo. – E bacon pra você.
- Parece que nem tanta coisa mudou, huh? – Ele tirou o celular do bolso, vendo-a estirar a língua em sua direção e fazendo-o rir com a expressão infantil que tinha no rosto. Não mais do que cinco minutos depois, ele largou o aparelho ao seu lado e novamente a sentiu se encolher devido a um novo trovão.
Pouco mais de meia hora depois, o interfone foi tocado e fez menção de levantar para atender e buscar o jantar dos dois, mas ela o segurou pela manga do casaco.
- . Não vou levar cinco minutos, criancinha. – Ele riu, beijando-a na testa e livrando-se das mãos dela, que apenas cruzou os braços em frente ao peito, fazendo-o rir enquanto atendia o interfone, informando ao entregador que desceria para buscar a pizza.
Quando o homem voltou, encontrou as almofadas em volta da pequena mesinha de centro, como se fossem cadeiras, e havia alguns guardanapos sobre o tampo de vidro. Ele gargalhou, fechando a porta e caminhando até o centro da sala.
- Você estava certo. Nem tanta coisa mudou. – Ela disse, com um sorriso, assistindo-o se sentar na almofada de frente para ela, do outro lado da mesa. Na mente dos dois, a lembrança do dia em que havia se mudado para aquele apartamento se fazia presente. A cena era exatamente a mesma, exceto pelo fato de que, naquele outro dia, muito mais caixas tomavam conta de todos os cômodos e eles tinham, com muito custo, encontrado pelo menos pratos e talheres para comer.
- Sabe, com o tempo, eu acho que devíamos progredir. Mas nem pratos nós temos dessa vez, ! – Ele riu, enquanto agradecia mentalmente que a pizza tivesse sido entregue já cortada, pois não havia deixado sequer um par de talheres no apartamento ao se mudar.
- Até parece que você se importa com isso. – Ela deu de ombros, vendo-o rir e concordar com a cabeça. Enquanto comiam, os dois permaneceram em silêncio pela maior parte do tempo, mas em certo ponto aquilo começou a incomodar , que levantou, sentindo o olhar de em suas costas. Foi até o quarto, onde sabia ter visto, quando chegara ali, em um dos cantos do cômodo, um antigo rádio e o porta CDs que ele havia dado à mulher anos atrás. Sabia que ali dentro estavam apenas os CDs que ele gravara para ela, com algumas de suas músicas preferidas, e provavelmente por isso ela o deixara ali, e não levara para o apartamento de Declan. Voltou para a sala e colocou o aparelho na tomada, colocando qualquer um dos discos para tocar. Uma música qualquer, bastante animada, mas que ele não se lembrava do nome, começou a tocar; ele aumentou o volume e levantou-se, olhando para ela.
- Vem. Pelos velhos tempos. – Chamou, estendendo a mão para ela. Ela balançou a cabeça negativamente, mas sabia que ele não desistiria, então aceitou a mão e se juntou a ele.
- Não me lembro da última vez que dancei, . – Ela disse, rindo, um pouco enferrujada nos movimentos.
- É uma ótima chance para lembrar. – O homem sorriu, piscando o olho direito, com as duas mãos na cintura dela enquanto se movia no ritmo da música.
Cinco músicas depois, algumas gargalhadas e movimentos errados, os dois estavam outra vez jogados no colchão, um ao lado do outro, cantando as músicas juntos ao rádio, sem se importar com o barulho que faziam para os vizinhos. Porém, uma batida na porta os fez parar. Os dois se entreolharam, ambos com o cenho franzido, perguntando-se quem poderia ser.
- TEM GENTE QUERENDO DORMIR AQUI. – Disse uma voz esganiçada e, ao reconhecê-la, os dois voltaram a rir desenfreadamente. Os dois levantaram e correram até a porta, abrindo-a com grandes sorrisos no rosto.
- Boa noite, senhora Porter! – Disseram, juntos, em um tom animado. A velha senhora trocou a expressão raivosa por um grande sorriso no momento em que os viu.
- Vocês dois! Estão de volta? Ainda juntos?! – Perguntou, a mesma voz esganiçada, mas agora um tanto exasperada. – Ah, eu sempre soube que vocês tinham algo especial! – E lançou os braços curtos em volta dos dois, em um abraço coletivo. ria, enquanto tinha um sorriso amarelo no rosto.
- Hm. Obrigado, senhora Porter, mas não estamos realmente... Juntos. – Ele deu de ombros, torcendo os lábios, quando ela os soltou.
- Mas como não?! Pois tratem de dar um jeito de se acertarem! – Ela disse, exasperada, os olhos por trás dos óculos de aros dourados não conseguiam se decidir entre olhar para ou . – Mas, se não se importam, com menos barulho, certo, crianças?! Essa velha senhora precisa do sono dela.
- Desculpe, senhora Porter. Nós meio que perdemos a noção do horário. – respondeu, com um sorriso simpático nos lábios. A senhora assentiu com a cabeça e murmurou um “Tenham uma boa noite, queridos” enquanto se dirigia de volta ao apartamento da frente, onde morava desde que se mudara para aquele lugar.
Quando fechou a porta e voltou com para dentro do apartamento, o rádio tocava os primeiros acordes de Slow Dancing In a Burning Room, do John Mayer, e ele se aproximou da mulher.
- Só mais essa. – Disse, puxando-a para perto de si sem esperar por uma resposta dela. assentiu em silêncio, sabendo que aquela música sempre fora uma das preferidas de , e apenas apoiou suas duas mãos nos ombros dele, movendo os pés lentamente de um lado para o outro.
- We’re going down, and you can see it too. We’re going down, and you know that we’re doomed. We’re slow dancing in a burning room. – Ele cantou, a voz tão baixa que ela não conseguiria ouvir se os lábios dele não estivessem tão próximos de seu ouvido. Tão próximos que, no momento seguinte, estavam deslizando por seu rosto, em direção aos lábios dela. E, dessa vez, quando sentiu o toque da boca dele na sua, não se afastou; sequer pensou em empurrá-lo para longe.
Dessa vez, ela sabia que não podia mentir para si mesma. Seu lugar era com , e nem mesmo os onze anos longe tinham mudado aquilo.

FULHAN; LONDRES, INGLATERRA – 05 DE DEZEMBRO DE 2012; 10:19AM.
Acordar sentindo um par de braços fortes em volta de sua cintura fez com que abrisse um sorriso ao mesmo tempo em que abria os olhos, devagar, devido à claridade que passava pelas portas de vidro da sacada. Sentia o peito do homem contra suas costas e ouvia a respiração lenta e compassada dele, denunciando que ele ainda dormia, portanto, tentou não se mexer muito para não acordá-lo. fechou os olhos novamente, não esperando cair no sono de novo, mas para concentrar-se apenas na sensação da respiração de batendo em seu pescoço, como costumava ser anos antes. Porém, aquele seu momento não durou muito tempo. Seu celular vibrou alguns minutos depois, ao lado da almofada que ela usara como travesseiro durante a noite. Movendo-se o mais lentamente possível, ela alcançou o aparelho e viu o nome de Declan; mordeu o lábio inferior, incerta sobre o que fazer, mas, por fim, decidiu atender. O homem devia estar louco atrás dela mesmo, já que ela havia sumido a noite inteira sem dizer onde estivera.
- Oi. – Disse, simplesmente, ao acordar, com a voz baixa, em uma tentativa de não acordar , ainda adormecido ao seu lado.
- ?! Onde é que você está?! – Declan estava exasperado, quase gritando do outro lado da linha e visivelmente preocupado. Ela fechou os olhos, sentindo-se culpada. Devia ter ao menos avisado ao namorado onde estava. Sentiu-se ainda mais culpada ao pensar na palavra “namorado” e se lembrar dos beijos de na noite anterior, além do fato de que ainda estava deitada nos braços dele.
- No meu antigo apartamento. Resolvi dar uma passada aqui ontem, acabei perdendo a hora e depois começou a chover... Dormi por aqui. – Ela explicou, omitindo o fato de que estava acompanhada. Pelo ex-namorado, melhor amigo e amor de infância. – Mas estou bem, Dec. Pode ficar tranquilo.
- Quer que eu passe aí pra te buscar? – Ele perguntou e ela suspirou. Não, lógico que não queria. Na verdade, não queria sequer vê-lo tão cedo, porque sabia que não saberia como agir. O sentimento de culpa tomaria conta dela com ainda mais força e ela ainda não sabia o que faria.
- Não precisa, eu... Vou pra casa logo. – Respondeu, sem querer dar muitos motivos para que ele não fosse até ali. Não queria nem imaginar o que aconteceria se ele resolvesse aparecer em seu apartamento mesmo assim e encontrasse ali.
- , tem certeza de que está tudo bem? – Declan insistiu, fazendo-a esbravejar internamente. Por que ele tinha que ser quase tão preocupado quanto era? E ali estava ela, já comparando Declan a . Xingou-se mentalmente, percebendo que precisava dar um jeito em sua cabeça. Tinha uma decisão a fazer, e precisava de tempo.
- Está, sim. Te vejo à noite. – Ela disse, despedindo-se dele em seguida e finalizando a ligação. A respiração de não batia mais em seu pescoço e os braços dele haviam se afrouxado um pouco. virou-se de frente para ele, mas escondeu o rosto em seu peito, envergonhada, de certa forma, por ele ter acordado enquanto ela falava com Declan.
- Bom dia pra você também. – Ele falou, rindo fracamente, e ela levantou os olhos para o rosto de .
- Bom dia. – Ela respondeu, abrindo um sorriso tímido, enquanto se permitia perder-se nos olhos dele. – Não queria te acordar, desculpa.
- Sem problemas. – encolheu os ombros, tocando o rosto dela com as pontas dos dedos, em um carinho que a fez fechar os olhos por alguns segundos. – O que acha de tomarmos um café em algum lugar aqui perto e depois eu te deixo em casa? – Sugeriu, sabendo que naquele momento não seria uma boa ideia falar sobre a ligação do namorado da mulher. Era bem verdade que ele estava adorando os momentos com , mas não podia forçá-la a fazer uma decisão daquelas baseada em uma noite. Temia estragar as coisas se a pressionasse, por isso havia decidido lhe dar algum tempo para pensar.
- Ótimo. – Ela concordou, mas ao invés de levantar-se do colchão, apenas aninhou-se mais nos braços de , que riu.
- Vamos logo, preguiçosa. Não sei você, mas eu ainda preciso trabalhar. – Disse, apertando seus braços em volta dela em um abraço que a fez estapeá-lo enquanto reclamava algo sobre ainda precisar respirar. apenas riu e levantou-se, ajudando-a a fazer o mesmo, enquanto ela gargalhava e tentava se manter ainda deitada no colchão. Ele gargalhava junto à mulher e, em um momento em que ela o pegou despreparado, jogando todo seu peso de volta no colchão, conseguiu derrubá-lo. apenas deixou-se cair, ainda rindo, permitindo-se aproveitar aqueles momentos de que tanto sentira falta.

RUSSEL SQUARE; LONDRES, INGLATERRA – 05 DE DEZEMBRO DE 2012; 11:26AM.
O carro foi estacionado em frente ao prédio que indicara e, por via das dúvidas, tentou memorizar o máximo de detalhes do caminho que podia. Se algum dia precisasse procurá-la, pelo menos saberia onde. Ele tirou as mãos do volante e virou-se para ela, tomando uma das mãos delicadas da mulher entre as suas.
- Obrigada. Por ontem. – disse, antes mesmo que o homem conseguisse começar a falar o que tinha em mente.
- Sabe que não precisa agradecer, . Pode ligar quando quiser. – Ele sorriu, acariciando as costas da mão dela com o polegar, quase inconscientemente. Ela manteve os olhos fixos no rosto dele, enquanto ainda procurava as palavras certas pra continuar falando; era quase como se ela soubesse que ele ainda tinha algo a dizer, e por isso estava esperando. respirou fundo antes de voltar a falar. – Olha, , eu sei que você está confusa agora. Eu sei que você precisa de algum tempo, e é por isso que eu não quero te pressionar ou te forçar a fazer qualquer coisa por impulso. – Fez uma pausa e a viu entreabrir os lábios, preparando-se para responder, mas, com um movimento negativo da cabeça, ele a calou. – Onze anos mudam muita coisa, eu sei disso, mas também sei que existem coisas que o tempo não apaga também, e na noite passada nós dois vimos isso. – Ele curvou os lábios em um pequeno sorriso, mas logo a expressão séria voltou ao seu rosto. – Eu sei que minha presença te confunde ainda mais, então eu não vou te procurar de novo. Eu esperei durante esses anos, e eu posso esperar mais algum tempo, mas não me deixe sem saber o que fazer. – Finalizou, respirando fundo outra vez e desviando o olhar do dela por alguns segundos.
- Eu realmente preciso de um tempo, . Mas eu não te deixaria perdido, como deixei quando me mudei, outra vez. – abaixou os olhos rapidamente, mas logo voltou fixá-los no rosto dele. Não saberia dizer o efeito que suas palavras estavam causando nele, mas esperava que ele entendesse. – Vamos fazer assim: nos encontramos daqui duas semanas, no apartamento. – apenas assentiu com um movimento da cabeça, e ela aproximou seu rosto do dele, unindo seus lábios por um breve momento antes de descer do carro e adentrar o prédio onde morava. Ele a acompanhou com o olhar até que ela saísse de seu campo de vista e então ligou o carro novamente, deixando o local, mas já contando os minutos para dali a duas semanas, quando poderia vê-la outra vez.

RUSSEL SQUARE; LONDRES – INGLATERRA – 19 DE DEZEMBRO DE 2012; 6:58PM.
O apartamento se encontrava em silêncio, depois da conversa que durara algumas horas naquele final de tarde. A mulher, que retirava a maior parte de suas roupas de dentro do armário e as colocava dentro de duas grandes malas sobre a cama, tinha o rosto ainda molhado por lágrimas. O homem, sentado na sala com o rosto escondido nas mãos, ainda tentava controlar seu próprio choro; porém, ele não podia dizer que aquilo era inesperado. Nos últimos dias, estivera distante, e agora ele entendia que, na verdade, ela só estivera pensando em um jeito de contar a ele o que estava acontecendo. Ele não a culpava, claro que não. Desde o dia em que o vira colocar os olhos em , no pub, soube que havia algo ali do qual ele não tinha conhecimento.
terminou de colocar suas roupas dentro das malas, juntou apenas alguns de seus pertences que estavam pelo quarto que costumava dividir com Declan e então saiu do cômodo arrastando as duas malas atrás de si. Deixou-as próximas da porta e voltou até o sofá onde o loiro se encontrava sentado. Sentou-se ao lado dele e passou um braço em volta dele, abraçando-o.
- Desculpa. – Sussurrou, apertando ainda mais o abraço por alguns segundos antes de levantar-se e deixar o apartamento de uma vez. Ainda tinha a chave, poderia voltar em outra hora, quando soubesse que ele não estaria ali, para que a dor dele fosse menor, se é que isso era possível. Ao chegar ao hall de entrada do prédio, pediu que o porteiro chamasse um táxi e esperou.
Havia feito sua decisão.

FULHAN; LONDRES, INGLATERRA – 19 DE DEZEMBRO DE 2012; 7:17PM.
A porta estava trancada, e o apartamento silencioso demais para que houvesse alguém ali. Ainda assim, tocou a campainha algumas vezes, mas não recebeu nada em resposta. Andou pelo corredor, inquieto, por alguns minutos, as duas mãos perdendo-se entre seus cabelos, em sinal de nervosismo. Duas semanas haviam se passado desde a noite que havia passado com , logo, era o dia que haviam marcado para se encontrarem novamente. E ela viria com uma decisão tomada. O coração do homem batia acelerado quando as portas metálicas do elevador se abriram e ele voltou os olhos naquela direção, esperançoso.
Apenas para ver Emma Porter saindo de lá, com pelo menos uma dezena de sacolas plásticas nas mãos. Por mais que estivesse decepcionado por não ser , não pôde conter um sorriso ao ver a simpática senhora. Andou na direção dela e pegou boa parte das sacolas, percebendo a dificuldade que ela tinha para carregá-las.
- Obrigada, querido. – Ela agradeceu, caminhando até a porta com o número 403 gravado. – O que faz aqui?
- Estou esperando . Não tenho mais a chave, mas combinamos de nos encontrar aqui hoje e... Bom, acho que ela ainda não chegou. – Deu de ombros, torcendo os lábios por um momento, mas sorrindo logo em seguida com a expressão no rosto da velha senhora.
- Se acertaram, então? – Ela perguntou, esperançosa e exasperada. Ele riu fracamente antes de negar com a cabeça e vê-la mudar a expressão logo em seguida, como se fosse lhe dar uma bronca.
- Mais ou menos. Na verdade, vamos nos encontrar hoje e vou saber o que ela decidiu. Se ela aparecer. – Um suspiro escapou por entre os lábios do homem, que já começava a duvidar de que ela fosse aparecer.
- Claro que ela vai aparecer, garoto! Onde já se viu duvidar disso? Desde que os vi pela primeira vez, soube que vocês ficariam juntos. Mas sempre foi assim, não foi? Essa garota, sempre dando a última palavra. – Emma disse, balançando a cabeça e fazendo rir novamente. – E você sempre aceitando, não é?
- Se pra tê-la comigo tenho que aceitar, aceito. É o que o amor faz conosco, não é, Senhora Porter? Nos deixa meio idiotas. – Ele balançou a cabeça de um lado para o outro, no momento em que ouviu passos no corredor outra vez. Emma caminhou até a porta de seu apartamento o mais rápido que suas pernas curtas a permitiam, a tempo de ver destrancando a porta com o número 402 e sumindo porta adentro, arrastando duas malas atrás de si.
- Não quero dizer nada, garoto, mas a julgar pelas malas que ela trouxe, vocês conseguiram se acertar. – Ela disse, puxando-o pela mão em direção à porta e em seguida empurrando-o gentilmente para o corredor. – Agora vá ser idiota outra vez. Se for por amor, seja sempre um idiota. – Deu um leve tapa nas costas de e fechou a porta, deixando-o com um grande sorriso no rosto. Que mulher adorável era aquela velha senhora, Emma Porter.
Respirando fundo, ele se encaminhou para a porta do apartamento de e girou a maçaneta, fazendo a porta ceder. Parou no meio da sala, onde viu as duas grandes malas da mulher e mais algumas sacolas com alguns porta-retratos e coisas do tipo.
surgiu na sala, vindo do quarto, e abriu um sorriso, que foi refletido no rosto dele. caminhou até ela, envolvendo-a em seus braços e sentindo-a deitar a cabeça em seu ombro.
- Obrigado por vir hoje. Prometo que você não vai se arrepender da sua escolha. – Ele sussurrou, percebendo que sua respiração batendo contra a pele dela ainda causava arrepios.
- Sei que não vou. Desde o momento em que vi você outra vez, soube que não havia outra escolha que pudesse ser feita. – Ela respondeu, afastando-se dele apenas o suficiente para que conseguisse olhá-lo nos olhos.
- Sabe quando eu descobri que não havia outra escolha? – perguntou e a mulher apenas negou com a cabeça. – No dia em que te vi no parque, tentando se balançar sozinha quando só conseguia cutucar a areia com a ponta dos pés, fui até você e te disse meu nome. Quando você me disse o seu, eu já tinha perdido qualquer autoridade sobre as escolhas que faria futuramente. – Completou, passando o polegar pelas bochechas dela para secar as lágrimas que ela não conseguira segurar ao ouvir aquelas palavras.
- I’m willing to prove that you’re the one I regret to slip away. Now I know it was only you that I’ve been searching for, and missing all this time. cantou, quase em um sussurro, antes de unir seus lábios aos dele e fechar os olhos, entregando-se totalmente àquele momento, exatamente como ele fazia.
Ambos estavam de volta ao lugar de onde nunca deveriam ter saído.


Nota da Autora: Hey!
Acho que esse é o primeiro especial da equipe que eu participo - e quase que não consigo terminar a fic a tempo. Juro, eu já tinha começado a fic, voltei a escrevê-la com a intenção de mandá-la pro especial e com a meta de finalizar em 10 páginas. Por fim, finalizei em 21. Isso porque era pra ser uma shortfic HAHAHAHA. Saudades de quando conseguia escrever shortfics realmente short. Enfim, eu gostei muito dessa fic. O casal principal dela é meu favorito, de todos que já escrevi, esses lindos. <3 Mas acho que minha personagem preferida dessa história é a Emma Porter. GENTE, me apaixonei pela velha HAHAHAH. Ela era só pra ser citada, mas acabei colocando ela em duas cenas da história e super linda e. Aff. Muito amor.
Anyway. Espero que vocês tenham gostado dessa coisinha aqui, não deixem de comentarem e me dizerem o que acharam, certo? Mesmo que seja um "Lara, tá um lixo, pára de escrever." Sério. AH, quero deixar aqui meu muito obrigado à Emme que fez essa capa lindíssima pra Memories <3, à Benny, essa linda, que aceitou betar e não me deixou desistir quando eu achei que não ia conseguir terminar a tempo UIAHUIAHUIA, e à Débora que teve paciência pra ler Memories todinha antes.
Ah, os trechos de música (escritos atrás da foto que a principal acha no apartamento, que ele canta quando a encontra lá, e que ela canta pra ele no final da fic), são da música Stationary Stationery, do Anberlin. E a história também foi inspirada pela música Younglife, também do Anberlin. Ouçam, são músicas lindas e maravilhosas e e e... É.
É isso aí, deixem seus comentários ali embaixo, sim? :)
xx
Lara

Outras fics:
A Safe Place To Fall - Outros/Andamento
Summer Paradise - Outros/Andamento
Bloody Valentine - Especial Dia dos Namorados
O Garanhão da Casa Ao Lado - Restritas/Andamento (Escrita com a Amanda Teixeira)

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