Fic by: Lissa | Beta: Lilá

Encontro-me encarando a lua e percebo que não é a primeira vez que faço tal coisa. Estou nisso já vai fazer uma hora e quando paro para me perguntar o motivo, descubro que talvez seja porque a lua me lembre tanto dela. Nunca pensei em compará-la com o sol, porque de fato nunca gostei muito dele. O sol permite a vida na terra, mas é tão luminoso e radiante que não conseguimos sequer olhar diretamente. Não, ela não é o sol, ela é a lua. A fonte de luz quando tudo está escuro.

Encaro a lua — não ela — e é como se eu estivesse encarando seus olhos brilhantes. Não eram cinzentos, mas o brilho definitivamente era o mesmo, como se irradiassem luz. Balanço a cabeça, quebrando meu contato visual com a lua, como se antes estivesse hipnotizado. Não faz sentido viver assim.

Veja bem, ela me largou já faz quase um ano. Eu fui realmente estúpido em me apaixonar por uma mulher que amava outro cara. O filho da mãe acabou machucando-a e a deixando frágil, então eu a consolei, porque de alguma forma ou de outra era disso que ela sempre parecia precisar. Consolo. Essa talvez tenha sido a coisa mais ridícula e masoquista que fiz em minha vida, porque quando ele voltou atrás e pediu desculpas, ela as aceitou. Como eu sempre imaginei que faria.

Fraca. É disso que eu gostaria de chamá-la, porque é o que ela é e sempre foi. Nunca tive a chance de dizer isso, e nem sei se teria a coragem necessária para fazê-lo. Eu sei que ela não me odeia, mas é tão frágil que simplesmente não aguenta ouvir as verdades na lata. Do jeito que ela é — fraca —, é provável que passasse a me odiar se eu a chamasse assim, e não sei se suportaria viver desse jeito.

Acho que a verdade é que ela tem medo de mim. Tem medo de que eu arruine todos os seus planos agora que conseguiu tudo o que desejava. Ela tem um marido que está verdadeiramente arrependido e faria qualquer coisa por ela, porque ele a ama e deve saber que é um sortudo do caralho. Eu nem sequer sei o nome dele. Acho até melhor, porque me impede de fazer coisas realmente infantis, como odiar todas as pessoas que tenham o mesmo nome que ele ou qualquer idiotice do gênero.

Dividir o apartamento com tem sido uma boa coisa, porque ambos somos pessoas perturbadas que não tem muitos motivos para sair da cama de manhã. Pessoalmente desconheço os motivos dela, mas compreendo que são muito maiores que os meus. Quando pergunto alguma coisa sobre isso, ela simplesmente cospe um "não é da sua conta". Só isso. E acho melhor deixar de lado.

Eu realmente gosto muito do lugar onde moramos por causa da localização. Fica relativamente afastado do centro, então não tem aquela névoa horrível de poluição. Da varanda do meu quarto dá para ver o céu bem nítido à noite, com a lua gigantesca bem no meu alcance de visão.

— Você está sempre olhando para a lua — observa . Eu nunca percebo quando ela chega, ela tem passos ‘filhadaputamente’ suaves. — Por quê?

— Não é da sua conta — digo. Ela se debruça na varanda e por um momento tenho a impressão de que ela vai cair dali, então olha para mim e levanta uma das sobrancelhas. Fico na obrigação de acrescentar: — Eu não tenho a necessidade de me abrir com você, , porque você simplesmente não faz isso comigo.

Ela levanta as mãos em sinal de rendição.

— O que quer saber? Vamos, me pergunte. — Ela se senta na varanda e balança as pernas.

Suspiro alto, porque sei qual é a condição dela. A curiosidade acaba me vencendo.

— Por que você é desse jeito? — pergunto e a vejo levantar as sobrancelhas em dúvida. — Você sabe do que estou falando, , não se faça de idiota. Isso você obviamente não é.

— Tudo bem, eu fodi com tudo — responde depois de um tempo. — Eu... perdi muita gente, e as pessoas que sobraram simplesmente afastei da minha vida. — então pensa mais um pouco. — Bem, eu não precisava delas, você sabe. Eu não preciso de ninguém.

— Eu não acredito nisso — digo. — , você deve ser a pessoa mais forte que eu conheço, mas todos precisam de alguém. — falo com a voz quase sumindo. Ela levanta os olhos para mim e sua expressão é totalmente indecifrável. — Suponho que eu deva te falar sobre a lua, não é? — pergunto, e vejo sua cabeça balançar em afirmativa.

Conto tudo a ela. Todas as coisas que se passam em minha cabeça quando olho para a lua. Como me lembra seus olhos e toda a metáfora ridícula. está atenta a tudo que digo, mas em algum momento simplesmente paro de olhar para ela e começo a falar com os olhos focados diretamente na lua. Quando acabo de esvaziar meus pensamentos, quase esqueço que tem alguém ali comigo, e é quando ela coloca as mãos suavemente em meu ombro.

— Você é um idiota, — sussurra, parecendo chateada de verdade. — A lua é apenas uma rocha idiota sem luz própria. Você só a vê porque ela reflete a luz que recebe do sol, sabia disso?

E aquilo fica na minha cabeça no dia seguinte. Martelando e martelando. O que ela quis dizer quando disse aquilo? Quer dizer, eu sei, mas não quero admitir para mim mesmo que sou um completo imbecil por ainda pensar em dizer a que ela tinha sim luz própria. E eu nem sei mais se é verdade, só que também, de quem ela refletiria a luz? Com certeza não seria do idiota que ela era apaixonada, mas então quem? Eu? Tudo faz um emaranhado esquisito na minha cabeça e fico extremamente distraído no trabalho. Dizer que não foi um dia produtivo é eufemismo pesado.

Quando chego em casa, vou direto para a varanda do meu quarto. A lua ainda está um pouco apagada no céu então faço meu caminho até a cozinha esperando achar alguma coisa para comer. Quero que chegue logo, mas parece que ela demora de propósito, só para me deixar mais inquieto ainda. Subo novamente depois de achar café e biscoitos. A lua agora está mais nítida, branca e brilhante, contrastando com o céu escuro.

Ouço um barulho de chave na porta, mas não vou ao encontro dela porque já entrei em meu transe diário e, uma vez nele, é bem difícil de sair. abre a porta da varanda momentos depois. Ela fica furiosa ao me ver desse jeito e agarra meu braço de repente, com os olhos faiscando.

Sua face está vermelha e sua expressão é tão enérgica que fico com vontade de rir, porque poucas coisas realmente chateiam . Ela simplesmente finge que está puta com todo mundo para parecer chata e afastar as pessoas.

Olhando atentamente a garota banhada pela luz do luar à minha frente, fico imaginando porque nunca reparei nela antes. é absolutamente maravilhosa em todos os significados que essa palavra pode ter. Seus olhos são realmente brilhantes — muito mais do que os dela — e tem essas covinhas quando sorri, ou até quando os músculos do rosto estão tensos. Em algum momento meus olhos pousam em seus lábios entreabertos e ligeiramente avermelhados. parece atônita e vira para outro lado, como se estivesse assustada pela intensidade com a qual meus olhos estão fixados em seu rosto.

E quando finalmente olho novamente para o céu, não é a lua que vejo, mas sim um mar de pequenos pontos brilhantes. Estrelas. Estrelas não são como a lua, elas tem brilho próprio.

Então percebo que todo esse tempo encarando a lua, acabei deixando de ver as estrelas.


N/A: Eu realmente gostei de fazer essa Short-fic. Escrevi em um dia, mas devo ter revisado tantas vezes, adicionando ou subtraindo coisas, que perdi até a conta. Já postei uma fanfic aqui no site, mas faz bastante tempo, e acho que minha forma de escrever mudou completamente. Ainda estou tentando melhorar. Só tenho que dizer que acho bem difícil fazer narração masculina, porque obviamente não sou um homem. Se eu não tivesse tanta vergonha dos meus textos, eu pediria para um amigo dar uma olhada e tal, mas sabe quando vou fazer isso? Nunca. Essa simplesmente não daria certo se não fosse o que narrasse. Pensei até em fazer de terceira pessoa, mas eu realmente preciso trabalhar em minhas fraquezas. Tentei trabalhar esse tema da lua e das estrelas do modo mais coerente possível. Espero que todos entendam toda a metáfora. Outra coisa é que não sou uma pessoa romântica. Mostrei isso pra uma das minhas amigas e ela ficou realmente surpresa, falando coisas do tipo "OMG, eu não acredito, você tem um coração!", então eu fiz o que pude. Espero do fundo do coração — porque eu tenho um, sim! — que você goste e comente!


Atenção, qualquer erro nesta fic, notifique a beta.

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