O luar entrou pelas cortinas entreabertas. O vento passou pela janela e chocou-se contra meu corpo descoberto. Eu provavelmente teria acordado, mas não naquela noite. Um ano, desde a pior parte que enfrentei da minha vida. Durante um ano, busquei aqueles lábios em outros, nunca os encontrando. Durante um ano procurei não me lembrar daqueles braços fortes que me envolviam em um abraço apertado e reconfortante. Acabei por ceder por não encontrar nada igual, e me satisfiz com os que pelo menos me lembravam dele.
Matt era um companheiro perfeito, mas não pra mim.
“Você conseguiu, ”, falei o abraçando fortemente.
“Não, nós conseguimos, minha pequena” falou ele, retribuindo meu abraço.
Adorava quando me chamava de pequena. Ele dizia que era porque eu era menor que ele e isso o fazia ter a obrigação de me proteger e me humilhar me chamando de pequena. Claro que fiquei brava com ele, mas acabei por me acostumar. me protegia e era o que eu precisava.
“Como vai ser daqui pra frente? Tenho dezoito, não posso mais ficar no orfanato. Não sei por onde começar”, falei, olhando triste para aqueles olhos perfeitos.
“Você pode morar comigo. Não vou me importar, moro sozinho, lembra?” Falou com as mãos em volta da minha cintura. Apertei os braços em volta de seu pescoço, aceitando a proposta em silêncio.
“Não vou viver lá de favor, prometo arrumar um emprego e te ajudar com as despesas”, falei em seu ouvido, ainda abraçada a ele.
“Se insiste” riu de leve, me causando arrepios.
Não me lembro quando foi que descobri que havia me apaixonado por ele, mas me lembro quando o beijei pela primeira vez.
“Como você consegue ganhar de mim toda vez?” Me perguntou ele, derrotado. “Quer dizer, eu devia ganhar.”
“Machista”, dei um tapa em seu ombro “Só porque não é comum uma menina jogar video game, não quer dizer que ela não possa ser boa” peguei minha coca cola e fui até a cozinha, seguida por ele.
“Tanto faz”, deu o ombro me fazendo sorrir.
Limpamos a bagunça que fizemos na sala entre risadas e conversas sobre futilidades. Até que, em um momento de distração, acabei por tropeçar nos meus próprios pés, caindo no chão, levando comigo, pois este envolvia minha cintura com seu braço. Ele caiu sobre mim e, juntos, rimos, mas a proximidade de nossos rostos era insegura, inesperada. Os olhos claros de estavam muito próximos dos meus, o brilho da cor era perfeito. Pude reparar que ele tinha um ponto perto no olho esquerdo que nunca havia reparado antes. Por algum motivo, eu não quis sair de perto do corpo dele, não quis afastá-lo e isso fez com que minha respiração aumentasse, assim como a dele, saindo pelos lábios carnudos, me causando um desejo de tê-los pra mim.
Mordi os meus lábios e isso pareceu causar-lhe alguma reação. Ele se aproximou mais, fazendo nossas testas se tocarem. Senti vertigem quando o vi se aproximando mais, lentamente. Sabia o que aconteceria, mas não conseguia impedir, por algum motivo eu também queria. Todos os pensamentos se foram assim que os lábios dele nos meus. Quentes, macios e grandes.
A partir daquele dia, começamos a nos beijar com mais frequência, e o próximo passo foi o namoro. Descobri que o amava, mas do que jamais conseguirei explicar. Tudo que consigo dizer é que não vivo mais esse amor.
“Por que, ? Por quê?” perguntei confusa, transtornada e praticamente sem visão.
“Simplesmente não posso mais”, falou suspirando. secou minhas lágrimas com os dedos e depois delineou meu rosto, meu pescoço, meus braços, até me segurar pelos cotovelos. “ Vivemos coisas que nunca esquecerei, mas agora você tem que seguir em frente, assim como eu”, uma lágrima solitária escorregou pelo olho esquerdo. Aquela manchinha estava derretida por sofrimento.
Se ele sofreu também, por que terminar tudo? Por que ir embora sem me explicar? Por que me pedir para seguir em frente, se sabia que eu não conseguiria sem ele por perto?
Suspirei e me virei para Matt. Ele dormia tranquilamente ao meu lado. Eu segui em frente, fiz o que havia me pedido, mas por quê? Por que ainda sinto que nada mudou? Por que sinto que há um buraco profundo em meu peito? Por que não consigo tapá-lo?
Me levantei e fui até a janela aberta e saí na sacada. O cheiro das flores encheu minhas narinas. Primavera, a melhor época do ano, clima quente, úmido, e o cheiro de flores era maravilhoso. Respirei fundo, tentando sentir melhor os cheiros das flores. Rosas, lírios, flores do campo, minhas preferias.
Olhei para a rua.
Ninguém acordado; nenhum carro se atreveu a passar pela rua, exceto por um volvo preto, que parecia novo. Olhei para a janela do motorista aberta e me assustei. Não era verdade, não podia ser. Entrei assustada no quarto e fechei a janela, logo em seguida a cortina.
Meu coração acelerou de certa forma que pensei em um possível ataque cardíaco. Coloquei a mão sobre o peito e me sentei na cama, tentando me acalmar. Segundos depois, a campainha toca. Um arrepio passou pelo meu corpo e uma nova lembrança.
“O que aconteceu com você?” perguntou um menino que parecia ter a minha idade
“Meus pais, eles...” não consegui terminar, as lágrimas começaram a cair novamente. Escondi o rosto nas mãos por vergonha.
“Sinto muito”, falou o menino me abraçando forte. Aos poucos consegui parar de chorar e levantar meu rosto para finalmente reparar no menino que havia me consolado.
“Desculpa, eu não queira que você... Não queria chorar, é só que parece que não aconteceu, eu não me acostumei com isso, eu não consigo...” Respondi, olhando para aqueles olhos tão intensos.
“Não sabia que era tão recente”, confessou, culpado.
“Foi ontem, de madrugada. Por que eles? Por que não todos?” Perguntei inconformada.
“Sempre me perguntei isso, nunca fui capaz de encontrar a resposta”, ele sentou-se ao meu lado. “As irmãs me disseram que Deus tem um plano maior pra mim, que Ele precisa de mim...”
“Talvez...” ficamos em silêncio depois disso; fiquei imaginando se aquilo passava, ou se eu iria sofrer para a vida inteira. Não queria sofrer, mas também não queria esquecer meus pais.
“Não vai passar, vai ficar apenas mais fácil conviver com a falta”, respondeu como se lesse a minha mente.
“A sua já ficou mais fácil?” Perguntei olhando seu perfil.
“Está, mas me lembro de cada detalhe da cena e o rosto do responsável por tudo.” Disse, suspirando e fechando os olhos.
“ Ele foi preso?” Perguntei curiosa.
“Foi morto”, respondeu friamente, não conseguindo olhar para mim.
“Sinto muito”, falei pegando na sua mão, fazendo ele sorrir tristemente. Foi nesse momento, nesse sorriso, que percebi que seríamos amigos.
Tinha apenas seis anos quando o acidente aconteceu. Uma criança sem pais, sem avós, sem tios, sem ninguém mais que pudesse chamar de família. A campainha tocou mais uma vez me tirando das lembranças tão presentes naquela noite fria.
Matt abriu os olhos e me olhou sonolento, confuso.
“Quem será?” Perguntou com a voz rouca, me fazendo sorrir. Podia não amá-lo, mas sentia um enorme carinho por ele.
“Volte a dormir, eu vejo quem é” ele concordou e fechou os olhos, dormindo logo em seguida. Duvidei de que ele pudesse se lembrar disso pela manhã.
Coloquei meu roupão e olhei no espelho. Uma mulher de cabelos , olhos e rosto fino me encarou de volta. Seu olhar estava triste e com profundas olheiras. Teria que dar um jeito de escondê-las amanhã, antes do trabalho.
“O que eu poderia fazer?” Perguntei para ele enquanto comíamos o café da manhã.
“Eu acho que você deveria trabalhar com sapatos. Você os ama”, respondeu , sorrindo.
“Não é uma má idéia”, respondi abaixando o jornal e olhando para ele “Você vem comigo?” Perguntei mordendo o lábio inferior logo em seguida.
“Eu tenho que trabalhar...” Começou, me fazendo olhar triste para a mesa, derrotada. “Mas, eu posso ligar e dizer que estou doente”, levantei minha cabeça, exibindo meu melhor sorriso, o de agradecimento.
“Você é o melhor amigo do mundo, ”, e o abracei forte.
Me tornei a melhor na minha área, e hoje lanço sapatos para pessoas famosas e algumas vezes apareço em revistas femininas. Não é uma vida ruim, é a melhor de todas, claro que em assunto profissional, não pessoal.
Desci lentamente as escadas, e a pessoa do outro lado da porta parecia impaciente. Caminhei até a porta e assim que a abri, comecei a falar “Boa no...” Porém a frase permaneceu na minha garganta.
“Boa noite” disse ele, com um meio sorriso, provavelmente se divertindo com meu estado de choque.
Como aquilo era possível? Como ele podia estar ali, bem na minha frente depois de todos esses meses sem notícias? E como ele podia estar tão... Perfeito?
“O que você está fazendo aqui?” Perguntei rudemente, ficando séria e tentando não ligar para a dor no coração.
“Vim falar com você...” Respondeu tirando o sorriso do rosto e ficando sério, também.
“A essa hora da noite?” Falei, inconformada com o horário.
“Desculpa, sei que é tarde, mas eu precisava te ver”, falou pegando em minha mão. Desviei meu olhar para nossas mãos, mas logo as tirei dali e deixando-a ao lado de meu corpo. Isso pareceu atingi-lo.
“Depois de tanto tempo? O que espera que eu faça? Que te receba de abraços abertos e te deixe entrar?” Perguntei com as sobrancelhas juntas. O olhar de era perdido, como se não esperasse essa minha reação.
“Não, bem, não ao certo o que esperava”, respondeu dando os ombros. Típico dele.
“Não vou fazer isso. Se quiser conversar comigo, volte amanhã, ou ligue para a minha secretária, ela irá marcar um horário pra você”, respondi fechando a porta logo em seguida.
Uma raiva incomum tomou conta de mim naquele momento. Sempre esperei que ele voltasse e me dissesse que tava tudo bem, mas nunca previ que essa seria minha reação e muito menos que sentiria raiva, não dele. Mas o tempo passou, e amadureci. Percebi que nada é um conto de fadas, nada pode ser comparado a um 'feliz para sempre', porque ele nunca existiria, não para mim. Estava fadada a conviver com alguém que eu não amava, não do jeito que se deveria amar e já a havia me acostumado com isso.
Assim que coloquei um pé no degrau da escada para voltar a dormir, a campinha soou novamente. Suspirei e voltei a abrir a porta. Ele permanecia ali, perfeito como sempre foi.
“Desculpa”, foi a primeira palavra que disse assim que abri a porta. “Estava com medo, não sabia o que esperar de nós, não queria aceitar que havia me apaixonado. Foi difícil para mim, mas precisava de uma prova para saber o quanto eu te amava, e agora eu sei. Não sou capaz de viver sem ver seus olhos nos meus, sem ter seu cheiro junto a mim quando te abraço... Não sou capaz de acordar e dizer que o dia está bonito sem você ao meu lado para me dizer 'bom dia'. Nada parece ter cor se você não está junto a mim para me dizer que as flores do campo são mais bonitas que as outras. Não sou capaz de viver sem você, assim como uma flor não é capaz de viver sem o sol.” Ele despejou tudo sobre mim de uma vez só, me deixando sem reação alguma.
A única vontade que tive foi de beijar aqueles lábios rosados e dizer que estava tudo bem, que eu também não era capaz de viver sem ele, e eu também o amava e que tudo podia voltar ao normal. Mas não podia, havia algo a mais naquela história toda.
“Não sei o que dizer” foi a única coisa que minha garganta seca conseguiu proferir.
“Apenas diga que me perdoa, não precisamos ser quem éramos antes, apenas diga que me perdoa” implorou pegando no meu ombro e me olhando profundamente.
“Eu...Eu não sei” por um momento pensei em perdoá-lo, mas não conseguia, algo dentro de mim me lembrava das horas perdidas chorando por ele. “Eu sofri como nunca pensei que sofreria novamente. Chorava toda vez que via um filme que lembrava você, uma foto, uma música ou até mesmo um simples 'bom dia' que me davam que me lembrava o modo como você me falava bom dia. Não posso esquecer isso, não consigo esquecer que você me magoou mais do que ninguém foi capaz de fazê-lo, e não quero passar por isso novamente, apenas porque você estava inseguro. Eu também estava. Namorar meu melhor amigo, isso era certo? Era certo beijá-lo e dizer que o amaria para sempre sem ter certeza que o pra sempre existia? Era o que eu pensava e você me provou que não era certo e também... Que o pra sempre não existe, provou da pior maneira” falei tudo que estava entalado em minha garganta durante todos aqueles meses de dor.
me olhou de uma maneira que nunca pensei que o veria, ele sofria demais, seus olhos eram molhados com lágrimas e vi que ele sofreu tanto quanto eu durante aqueles meses. Pode ter sido até mais, já que ele é que havia acabado com toda a alegria, toda a felicidade que sentíamos juntos. Lágrimas começaram a cair dos meus olhos sem que eu quisesse. Não era para ser assim, prometi a mim mesma que nunca choraria por ele novamente.
“Fui tolo, você era o meu pra sempre, você é o meu pra sempre. Fugi por medo e por insegurança, mas volto por amor e esperança que tudo que você sente por mim seja maior que o sofrimento que a fiz passar. Por favor, me perdoe, ou não serei capaz de viver nesse sofrimento intenso que tenho vivido assim que a vi sair pela porta” falou fazendo minhas lágrimas caírem ainda mais. Ele estava arrependido e disposto a viver o pra sempre comigo. O que eu havia de aceitar: o pra sempre de contos de fadas, ou o pra sempre de uma vida real?
“Eu n... Eu não... Eu não sou capaz de sofrer novamente ou ficar imaginando o que teria acontecido se eu tivesse dito sim...” Ele me olhou como uma criança olha para seu primeiro presente de natal, olha como um bebê olha para algo muito valioso e brilhante. “Eu te perdôo, .” Disse por fim, sorrindo insegura.
“Prometo nunca mais te fazer sofrer”, e me beijou antes que eu pudesse dizer algo.
Capitulo 2. Esperar por aquele momento talvez tivesse valido a pena. Os lábios, que tanto procurei, haviam finalmente voltado para junto aos meus, onde eu esperava que ficassem por vários anos mais. Os braços fortes que sempre conseguiam me reconfortar estavam agora envolvendo o meu corpo arrepiado em um abraço perfeito, como se eu tivesse sido moldada perfeitamente para caber dentro deles.
O frio da noite era, agora, totalmente desprezível. A escuridão era maléfica, triste e muitas vezes solitária para mim, mas ali, naquele instante, com os lábios de nos meus, tudo se dissolveu em um sentimento esquecido dentro do meu peito.
- Como senti saudades dos seus lábios – falou o maroto, sorrindo para mim alegre, assim que o beijo foi finalizado – Como senti falta da sua pele, do seu perfume e de seus cabelos , de tudo em você.
Eu sorri abobalhada com ele. sempre foi romântico, carinhoso e muito bonito, ele é o cara perfeito para qualquer tipo de mulher, mas ele escolhera a mim. Eu tinha Matt agora, alguém que considero como um amigo não um amante, , porém, eu havia perdoado, mas e se tudo acontecesse de novo? Como iria ter a certeza de que ele nunca me deixaria?
Com Matt, tudo sempre foi seguro, nunca senti com ele a dúvida que sentia com , nunca senti que Matt fosse inseguro em relação ao nosso namoro, mas o único problema nisso tudo era que eu não consegui amá-lo como eu deveria, nunca consegui tocá-lo como deveria e nunca consegui imaginar a mim junto a ele vivendo lado a lado para sempre.
pode ser completamente inseguro, porém é ele que amo desde que soube que as pessoas se apaixonavam. , para mim, era mais que um amigo, era mais do que um amante, mais que um namorado, era o que eu sou, e eu sei que conseguiria viver sem ele, não agora que ele havia voltado para mim, nem que ele fosse meu amigo.
- O que está te incomodando? – perguntou acariciando minha bochecha com as costas da mão.
- Nada... É só que você já foi embora uma vez, o que me assegura que você não fará novamente? – perguntei sendo sincera com ele, não queria que nada me desse a incerteza de que um dia o pra sempre iria embora.
- Você terá que confiar em mim, pequena – falou olhando com aqueles olhos castanhos profundos e intensos.
- Já confiei uma vez e você a traiu – o clima ente nós estava ficando pesado e a tristeza me abraçou agora com mais intensidade
- E você não tem ideia de como me arrependo de tê-lo feito – o braço que ele ainda mantinha em minha cintura me apertou mais contra seu corpo – Eu te amo – falou com todas as letras, me olhando profundamente
- Eu também te amo, mas não consigo, não sei se posso tentar viver o meu conto de fadas novamente. Talvez nossa chance já tenha passado – disse pensando demais no que via acontecer. Dos meus olhos escorriam lagrimas da insegurança dele. Os papeis haviam sido trocados - Não sei o que fazer, não sei o que pensar e o que esperar do futuro.
- Eu sei – falou com a certeza que eu estava esperando receber a noite inteira – Nunca vou te abandonar novamente e para lhe provar isso, irei te apoiar em qualquer decisão que tomar, se não estiver mais preparada para se entregar a um amor verdadeiro vou estar ao seu lado, para te apoiar e te respeitar; nunca mais irei te deixar sozinha, minha pequena – ele beijou de leve meus lábios, fazendo minhas incertezas irem embora por alguns segundos – Aqui está meu numero, me ligue sempre que precisar de mim – me entregou um papel com vários números escritos e beijou minha testa, sorrindo tristemente.
Não consegui sorrir, parar de chorar, ou me mexer. Vê-lo ali, andando para junto ao seu volvo, sendo banhado pela luz do amanhecer, com seus cabelos ao vento, fez o buraco se abrir e engolir tudo que estava perto. Abri minha boca para tentar proferir alguma palavra, gritar seu nome e dizer que não queria tê-lo como amigo, queria meu conto de fadas, mas nada, absolutamente nada saiu da minha boca.
Minhas pernas já não sustentavam meu corpo e a última coisa que vi foi o rosto de virar para me olhar pela última vez, com uma lagrima brilhando em seu rosto...
O som contínuo de um apito chegou aos meus ouvidos, além de vozes incompreensíveis ao fundo, mas a única coisa que realmente me chamou atenção foi a respiração ao meu lado, constante e nervosa. Era uma respiração conhecida por mim a tempos.
Abri os olhos e vi tudo escuro, aos poucos minha visão foi se formando e confirmou minha teoria, Matt estava ao meu lado me olhando atentamente. Assim que nossos olhares se cruzaram ele sorriu feliz, porém a preocupação ainda estava em seus olhos. Retribui o sorriso verdadeiro.
- Como está se sentindo, amor? – perguntou ele, após beijar minha testa ternamente.
- Estou bem, apenas confusa. Como eu vim parar num hospital? – perguntei, já que a ultima coisa que lembrava era do rosto triste de .
- Você desmaiou na porta, por sorte seu amigo te trouxe pra dentro e já estava acordando, então liguei para a ambulância e cá estamos nós – explicou sorrindo simpático para mim.
- Onde está , agora? – perguntei assim que não vi sua presença no quarto
- Lá fora, falando com o médico – disse Matt segurando a minha mão. A corrente elétrica que passava por meu corpo quando sentia a pele de na minha não estava presente ali, agora.
No segundo seguinte, vi aqueles olhos entrando atrás de um homem que aparentava ter quarenta anos. Ele me olhou e sorriu ao me ver bem e acordada.
- Então, como está se sentindo? – perguntou-me o médico sorrindo amistoso.
- Estou me sentindo ótima – respondi desviando meu olhara para os do medico e sorri.
- Bom, vou te dar uma receita, e depois que te trazerem algo para você, está liberada – falou depois me examinar. Sorri aliviada e descansei minha cabeça no travesseiro.
- Eu vou lá na recepção pagar a conta. Já volto – falou Matt levantando-se e saindo da sala sem antes me deixar um beijo rápido nos lábios.
ocupou seu lugar antes que eu pudesse piscar os olhos.
- Como está se sentindo? – perguntou e eu soube que não era sobre a minha saúde que ele queria saber.
- Confusa. Sei que preciso de você ao meu lado, mas eu não quero perder o Matt – respondi, vendo o olhar decepcionado do maroto – Entenda, ele foi quem me ajudou a curar a dor que você me deixou, ele é meu porto seguro.
- Eu entendo, acho – sussurrou – Mas eu quero que você entenda que não vou desistir de você, e que me tornarei seu porto seguro – ele sorriu tristemente, assim como eu. – Tenho que ir trabalhar agora, mas como eu disse antes, me liga se você precisar de qualquer coisa.
- Obrigada – falei antes de ver seu corpo sumir pela porta.
O resto das horas passei ao lado de Matt, sorrindo divertida das coisas que ele falava, e imitava muitas vezes. Tudo na minha cabeça parecia não se encaixar perfeitamente, parecia que se eu escolhesse perderia Matt e se escolhesse Matt perderia . Algo dentro de mim não me deixava escolher e ficar com os dois ao mesmo tempo.
Quando estava saindo do hospital me deparei com dois homens em volta de uma mulher na cadeira de rodas. Os três sorriam divertidos, porém você via como a mulher olhava para um dos homens. Era um olhar apaixonado, cheio de amor e carinho, porém, pelo outro o único olhar era amizade, a mais pura amizade. E os olhares deles correspondiam ao sentimento que ela demonstrava. Por que comigo tinha que ser diferente?
Olhei para Matt analisando-o. Traços leves e perfeitos, nariz gordinho porem perfeito para seu rosto, olhos verdes escuros e cabelos morenos. Ele era um homem muito bonito, talvez até mais bonito que ; era seguro e sabia o que queria. Mas algo quando ele olhou pra mim fez com que eu finalmente respondesse a minha infeliz dúvida. Eu teria um porto seguro ou um conto de fadas?
Assim que cheguei em casa, Matt se desculpou e falou que tinha que trabalhar, precisavam dele na empresa. Eu sorri mais feliz do que nunca, já que o peso sobre minhas costas não existia mais e o vi partir. Peguei o meu celular e liguei para o número anotado no papel.
- Alô? – escutei a voz dele do outro lado da linha.
- ? – perguntei insegura, estava muito nervosa naquele momento.
- Pequena, o que aconteceu? – ele, com certeza, percebeu meu nervosismo.
- Nada, é só que eu preciso ver você o mais rápido possível – falei suspirando tentando acalmar meus nervos.
- Daqui a alguns minutos estou passando na sua casa – ele falou e antes que eu pudesse dizer algo ele desligou.
A Starbucks estava quase vazia, havia apenas algumas pessoas tomando e conversando, a maioria tinha sacolas de compras aos pés. Sentei em uma das mesas depois de ter pedido um muffin, seguida por .
- Quando eu estava saindo do hospital, vi uma cena que me fez perceber que teria que escolher entre o seguro e garantido, e o seguro e não garantido... – comecei percebendo o olhar de sobre mim, pedindo para que eu falasse logo – Então eu me lembrei do orfanato e de como eu sempre gostei de aventuras e desafios, e foi aí que decidi – podia ver a ansiedade de presente. Ele sabia do que eu estava falando. – Eu decidi o seguro e não garantido.
- Isso significa que você vai atrás...? – ele não conseguiu terminar a frase.
- Isso significa que eu vou atrás de você, – o sorriso dele ficou maior que o rosto – Você é o meu seguro-não-garantido e mesmo se eu perder Matt, eu escolho você, eu escolho o meu feliz para sempre de contos de fadas – eu tinha certeza que o meu sorriso estava do mesmo tamanho que o dele.
- Eu te amo, pequena.
- Eu também te amo – o beijo que se seguiu foi digno de cinema.
FIM
Qualquer erro, comuniquem meu email ou enviem-me um tweet. xx Izzy