Eu observara pela miúda fresta que se deixava com culpa existir na porta de seu quarto, contendia a respiração extremamente baixa, o seu trocar de roupa, o corpo escultural, os cabelos curtos caídos no ombro, a seriedade, o perfume intenso e a forma com que a penumbra iluminava e ao mesmo tempo emitia sombra em seu corpo.
Observara vidrado, observara com vontade, sendo infelizmente interrompido pelo som do meu pai subindo as escadas nada mudas, o “cheiro clássico” de hortelã, whisky e cigarro.
Corri, bati a porta, também nada muda, do quarto. Amar a própria irmã. Amar o próprio sangue do meu sangue, amar a menininha que eu vi nascer quando tinha quatro anos, que eu contei histórias sem nem saber inventá-las direito para vê-la dormir, a menininha que eu ensinei a ler poesias e escrever sobre o que teme, o que sente, o que vê, o que sofre, o que a faz feliz, a menina que eu ensinei a arrancar pétalas das flores para enfim ter certeza de seus amores e jogar pedrinhas no rio, fazendo-as quicarem três vezes.
E hoje, em seus quatorze, observá-la e perceber a mudança de seu corpo, a diferença em seu olhar, e sorrir lentamente em vê-la pular como uma menininha, os cílios enormes e os lábios em formato de coração, de um vermelho extremamente vivo.
E nem mesmo eu tendo consciência para ter coragem, eu cometi uma paixão proibida.
Mas não aquelas em que você considera restrita porque no fim te fazerá sofrer, porque seu amigo, sua amiga, ama a quem você ama, ou por este alguém estar apaixonado por outra pessoa. Nem mesmo se ele morar em outra cidade.
Tudo isso junto, a não ser a cidade, e por simplesmente ser a minha irmã. Porque a acho linda, porque a acho doce, inteligente, sensual e, enfim, perfeita, como jamais vi nenhuma garota.
Falo de , que, no exato instante em que escrevo seu nome, entra “arrombando a porta” do meu quarto, fazendo me borrar para o lado com a caneta.
Escondo o papel.
-O que você tem aí? – Ela questiona com a voz de seda e o sorriso perfeito e doce.
-Nada, nada não, eu não tenho nada, não é nada, eu juro!
-Calma, bobo. – Sorri.
Eu sorrio também, com vergonha.
-Vamos jogar pedrinhas no rio?
-Já passa...da meia noite.
Ela dá uma gargalhada. –Vou chegar primeiro.
E então saímos correndo um atrás do outro, cambaleando, caindo no chão, rindo, e eu, observando seu olhar, incessantemente.
Desaprendo a jogar pedrinhas no rio e Laura me ensina de novo.
Deitamos no chão para observar as estrelas, e contá-las novamente.
Ela diz que me ama. Mas eu não posso responder “Eu também”.

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