London Calling
Autora: Mila Alves | Beta: Cami




É, lá estava eu, mais uma vez enfurnado dentro de um avião em função daquela garota que, na minha opinião, nem merecia estar agora onde está. Cara, com 19 anos de vida não dá para ser uma cantora internacionalmente famosa. Eu e os guys passamos tempos atrás de alguma coisa, e hoje em dia eu tenho 24 anos e estou dentro de um avião com destino a Gabala, na Ásia. Sim, na Á-S-I-A, mas eu estou aqui por conta DELA, nada a ver com a banda que eu gostaria de estar levando para lá, a minha. Mas, não, eu não sou produtor dela, sou só um mero assistente.
Pude sentir o avião balançar e segundos depois foi possível se escutar uma espécie de microfone interno sendo ligado.

- Senhores passageiros, é necessário informar que, graças a problemas técnicos no avião, será preciso fazer uma escala na cidade de Londres, Inglaterra. Desculpem o transtorno. - Assim que o microfone foi desligado, eu bati a cabeça no encosto da cadeira, fechando os olhos. O avião obviamente era de classe, por isso nós ficávamos em uma área reservada dele.
- . - Escutei uma voz vindo da cadeira ao meu lado, podendo ser descrita como quase que desconfiada, mas ainda assim se fazendo de superior. Ignorei. - ... !
- Calma, garota. Você precisa ficar gritando dentro do avião, por acaso? O que, por incrível que pareça, você também faz do lado de fora, não é? - Respondi a ela, já emburrado e afundando na cadeira do avião.
- Ah, garoto, cale a boca. O que vai acontecer? Para onde nós vamos? Eu... - Ela parecia não ficar calada nunca.
- Espere, espere, espere... Fique quieta que, quando pousarmos em Londres, eu ligo para o Charles e resolvo. - Respondi a ela já sem paciência. Continuou com a mesma expressão no rosto e virou para frente novamente. Olhei-a de lado e minha atenção foi em seguida desviada para a aeromoça que passava agora pela porta que nos separava da área econômica, distribuindo balas de maçã verde pelos passageiros.
- Aceita?
- Não, obrigado. - Respondi à moça de cabelos escuros que sorria para mim.

Alguns minutos depois, pude sentir a pressão indicando que o avião começava a aterrissar em Londres, minha cidade. Tombei com a cabeça na janela observando a pista se aproximar cada vez mais de nós, até o avião tocar as rodas nela e o microfone ser ligado mais uma vez com algo em que eu não prestei atenção.
- ... Eu não vou me hospedar no avião. - disse, cutucando-me e me olhando com as sobrancelhas levantadas.
Balancei a cabeça e me levantei rapidamente, carregando minha mochila da cadeira vazia ao lado e andando na frente da garota.
Assim que começamos a atravessar o corredor que daria para a sala de desembarque, liguei meu celular novamente. Andei com ela em meu encalço, passando pelos seguranças que circundavam o aeroporto e, em seguida, atravessando a porta que nos levaria àquelas famosas salas reservadas em que todo mundo gostaria de estar. É, ela normalmente tinha permissão para entrar lá. Retirei meu celular do bolso, ligando de novo para Charles, depois de três toques ele atendeu.
- ? - Escutei aquela mesma voz grossa com a qual já estava acostumado.
- Charles, antes que a tenha algum dos ataques dela aqui, preciso informar que o avião que nós pegamos teve um problema e está fazendo escala em Londres. - Avisei a ele da forma mais calma possível. Como aquilo nunca tinha acontecido, não sabia qual seria sua reação naquele momento.
- Como é que é?
- Exatamente isso. E eu acho que não vamos ter nenhuma conexão agora. - Respondi, franzindo a testa e esperando sua "conclusão" quanto a nossa situação, posso dizer assim.
- A vai ter um ataque, meu Deus. Olhe, eu vou entrar em contato com algum hotel por aí para ver se vocês passam a noite, ok? Ligo em seguida. - Ele falou com certa pressa; eu imaginava que ele estivesse andando de um lado para o outro com a mão na cabeça, como acontecia quando ele ficava estressado por um motivo qualquer.
- Entendido. - Foi a última coisa dita antes de eu bater o flip do celular e olhar na direção da garota que agora estava deitada no sofá com uma cara cansada e desinteressada ao mesmo tempo.
- Merda, quebrei outra unha. - Pude escutar ela resmungar para si mesma enquanto mexia nas unhas das mãos.
Virei o rosto novamente. Inclinei a cabeça no encosto do sofá, segundos depois fechando os olhos e sendo "despertado" graças à porcaria do celular vibrando no meu bolso.
- Charles...
- , a coisa ficou complicada. - Escutei ele falar, ainda com aquela voz estressada, e apenas esperei calado por uma resposta.
- Traduzindo... - incentivei-o depois de alguns segundos sem ser respondido.
- Eu falei com algumas companhias de voo e alguns hotéis aí por perto. A questão é: isso foi, na verdade, um problema com o tempo e nenhum avião vai decolar. Devido a todos eles estarem parados, os hotéis estão todos lotados.
- Então, nós...
- Não, , eu não sei. - Ele me interrompeu, já adivinhando o que eu provavelmente perguntaria.
- Olha... Minha mãe mora aqui em Londres com meus tios, eu acho que posso ficar na casa deles até algum avião estar liberado, mas... - Comecei a lhe propor, mas novamente ele já sabia como eu iria terminar.
- Sim, eu sei. Você odeia a . Mas, , por favor, se for possível, leve-a com você. Ela não tem onde ficar e não pode passar a noite dentro do aeroporto, você sabe. - Eu realmente entendia o que ele estava falando, mas essa não era minha obrigação. Eu a odiava e acreditava que ela possivelmente não gostaria de passar uma noite, ou até alguns dias, hospedada na casa da MINHA família.
- Mesmo que eu ofereça, ela não vai querer. E eu também não quero.
- Ela vai saber que não tem escolha e vai terminar aceitando. E depois dessa, vai ficar te devendo uma, você também sai ganhando. - É, ele tinha razão, nos dois pontos.
- Ai, Charles... Eu vou ligar para lá e, se possível, entro em contato com você em seguida. Qualquer coisa, se eu não ligar, você sabe que nós fomos para lá. - Disse a ele, já não o contestando mais e abanando uma das mãos no ar como "sinal" de indiferença.
- Ok. Muito obrigado, garoto.
Acho que essa foi uma das situações mais difíceis em que eu já me meti. Um pequeno detalhe: a produção tinha ido para Gabala antes de nós dois, o que nos leva à conclusão que todos estão lá, menos nós, presos aqui na Inglaterra.
- Sim?
- Tia? - Perguntei, talvez por mero costume, porque mesmo no telefone eu reconhecia a voz da Rose.
- Quem fala? - Ela perguntou com uma voz que quase parecia desinteressada, como um hábito qualquer.
- Rose, é o . - Respondi, levantando uma das sobrancelhas e me encostando novamente no sofá.
- ? Meu bebê, quanto tempo... - Ela disse com uma voz melosa, às vezes parecia até ser minha própria mãe.
- Tia, não precisa exagerar, eu não passei tanto tempo assim fora. - Respondi a ela, fazendo uma careta graças ao "meu bebê" antes pronunciado por ela.
- Passou sim, amor, mas, de qualquer jeito... Você quer falar com a sua mãe, certo?
- Olhe, na situação que eu estou. Tanto faz ser você ou ela.
- O que aconteceu, ? - Ela perguntou já com seu típico tom materno quando sabe que houve algo comigo.
- Eu cheguei a Londres há alguns minutos. Na verdade, eu estava indo para Ásia, mas ocorreu um problema com o tempo e todos os aviões estão parados, graças a isso, todos os hotéis estão lotados e... - Ia explicando a ela toda a situação antes de ser mais uma vez interrompido naquele dia.
- Essa é a sua casa, você sabe que é sempre bem-vindo aqui, garoto.
- O problema é que eu não estou sozinho...
Nesse meio tempo, pude observar que prestava um pouco de atenção quanto a minha conversa ao telefone e tomava par da situação em que nós dois estávamos.
- Não tem problema, o quarto sobrando é com cama de casal, nós trocamos. A sua namorada pode vir.
- A não é minha namorada, tia. - Disse a ela, franzindo o rosto em sinal de reprovação.
- Oh, desculpe-me, mas isso não importa, venham os dois para cá imediatamente, estarei esperando.
- Muito obrigado, tia.
Fechei o flip do celular, enfiando-o no bolso novamente e respirando fundo quase que para me "preparar" para o que estava para vir. Levantei a cabeça olhando nos olhos da menina que me encarava sem entender nada, provavelmente.
- O que eu vou fazer na casa da sua tia? - Ela perguntou, já indicando que iria elevar o tom da voz.
- Desculpe, , mas o Charles disse que os hotéis estão lotados e não vai ser possível que nenhum avião decole agora, sorte sua que nós resolvemos viajar uns dias antes do festival.
- Sim, sou indiferente, eu durmo aqui. - Ela disse, balançando a cabeça e provavelmente procurando com os olhos um local onde ela pudesse se encostar e dormir.
- , você sabe que não pode. Do jeito que está isso aqui, essa comida aí deve estar até estragada. - Eu disse a ela, apontando para os enlatados que se encontravam em cima de uma mesa no canto da sala. A única comida que se tinha ali dentro, por incrível que pareça, era enlatados.
- Mas...
- , por favor. Não torne isso mais difícil para mim, porque se o Charles não me matasse por isso eu te deixava dormir aqui mesmo, tá ok? - Respondi a ela, já pegando minha mochila em cima do sofá e me dirigindo à porta da sala.
- ESPERE.
- Não grite... - Recomendei, jogando a cabeça para trás.
- A gente vai para a casa da sua tia? - Ela perguntou como se quisesse confirmar que eu não estava brincando com ela.
- É. Minha tia, meu tio e minha mãe moram lá.
- Qual o nome da sua mãe? - Ela perguntou, fazendo-se de desinteressada, seguindo-me pelo aeroporto até a parte externa.
- Beth.
- E do seu pai? - Perguntou novamente, agora mexendo nas unhas sem prestar atenção em nada em volta enquanto víamos algumas pessoas falando baixo ao nosso redor e olhando na direção dela.
- Ele... Morreu na Segunda Guerra do Afeganistão, lutando ao lado dos Estados Unidos. - Eu ainda não me sentia completamente à vontade em falar sobre aquele assunto com qualquer pessoa que fosse, ainda mais pensando no fato de que meu pai era britânico e foi assassinado à custa dos americanos.
- Oh, desculpe. - Ela disse, levantando a cabeça e se apoiando em uma perna só enquanto esperávamos um táxi passar, já que ela não teria todos os privilégios aqui; nada tinha sido programado para uma breve estadia em Londres.

Assim que o carro parou, indiquei que ela sentasse atrás e coloquei nossas malas dentro do carro, sentando em seguida no banco da frente. Eu esperava loucamente que esses aviões não dessem mais tanto trabalho para que eu pudesse voar logo com essa garota para a porcaria do Azerbaijão. As casas passavam rapidamente à medida que o táxi aumentava a velocidade, e nós chegávamos cada vez mais perto de onde morei com minha família e os três gatos da minha tia. Eu esperava que, pelo menos uma vez na vida, essa garota () pudesse ter um pouco menos de arrogância que de costume. Depois da doença do meu tio (portador de Alzheimer), a Rose terminou se tornando uma pessoa muito observadora, até demais para o meu gosto. Senti o carro diminuindo a velocidade até parar completamente na frente daquela casa já tão reconhecível. Uma luz se acendeu e eu pude ver uma sombra passando pela janela da sala. Agradeci ao taxista, entregando-lhe o dinheiro e saindo do carro, já pegando as malas dentro do veículo.
- Vai ficar aí? - Perguntei à menina que estava parada em pé na frente do carro enquanto eu já me aproximava da casa. Ela não respondeu, só ajeitou uma mecha de cabelo e seguiu atrás de mim.
- ?
- Mãe... - Foi tudo que eu disse, largando as malas no chão e correndo para abraçá-la no alto da pequena escada de três degraus.
- Saudades de você, meu filho.
- Eu também, mãe, eu também...
Ela se desvencilhou dos meus braços e sorriu por cima de meus ombros.
- É a... - Ia apresentar a , mas, como já de costume, fui interrompido novamente.
- , . - Minha mãe me completou sorrindo mais abertamente, apenas confirmei com a cabeça. Ela passou por mim descendo as escadas na direção da menina.
- Prazer, , Beth , mãe do .
- Obrigada, o prazer é meu. - Ela respondeu com um sorrisinho e estendendo a mão para minha mãe, que a abraçou.
- Desculpe, estou com as mãos sujas de comida. - Minha mãe respondeu rindo e justificando o porquê de tê-la abraçado, apesar de eu não ter entendido muito bem.
- Sem problemas. - respondeu sorrindo abertamente para a minha mãe.
- Venham, entrem para comer alguma coisa. Aposto que não colocaram nada na boca desde que chegaram. - Minha mãe dizia animada como sempre, subindo as escadas e sendo seguida pela garota. Entrei em casa com uma saudade enorme daquele lugar, batendo aquela vontade grande de largar o emprego e voltar para cá. Por conta da agenda da criança ao meu lado, eu vivia viajando e resolvendo coisas para ela, por isso não parava em casa.
- ! - Minha tia gritou, saindo de um dos quartos no corredor, correndo em minha direção e me abraçando.
- Estava morrendo de saudades. - Disse a ela, sorrindo comigo mesmo.
- , não seja mal-educado, apresente a menina a sua tia. - Minha mãe disse, enxugando as mãos em uma toalha e já dentro da cozinha novamente. Balancei a cabeça, revirando os olhos para ela e me separando de Rose.
- , tia Rose. Tia Rose, . - Apontei de uma para a outra saindo do "caminho".
- Ah, famosa . - Minha tia disse sorrindo abertamente, assim como minha mãe tinha feito minutos atrás, aproximando-se para abraçar a também.
- Famosa? - Ela perguntou, rindo baixinho e abraçando minha tia de volta.
- Você realmente acha que nunca lhe vimos na televisão, que o nunca falou de você aqui... - Não sei por quê, mas fiquei vermelho involuntariamente quando o olhar dela caiu sobre mim.
- A minha mãe é meio que viciada em você... - Eu falei, balançando a cabeça e arrastando algumas das malas para outro canto da sala enquanto Rose não dizia onde eu ficaria e onde a ficaria.
- Minha fã? Que honra. - Ela disse, rindo, e eu pude escutar a risada da minha mãe vindo da cozinha, aproximando-se novamente da sala.
- Você sabe o que faz, garota... - Minha mãe disse sorrindo levemente, provavelmente se lembrando dos próprios tempos dela.
- Oh, obrigada. - agradeceu, sorrindo de volta para ela com a mesma delicadeza que minha mãe demonstrava para cima dela.
- Sabe... Eu também fui cantora... - Minha mãe disse, passando as mãos novamente no pano e se aproximando da garota. Eu já sabia que ela a partir daí engataria uma provável conversa sobre carreiras com a e eu ficava meio deprimido ouvindo essas coisas. Joguei-me no sofá e fiquei apenas observando as duas.
- Jura? - respondeu a ela arregalando os olhos e parecendo incrivelmente interessada na história.
- A Beth ganhou um Grammy, ... - Minha tia disse, era incrível como ela gostava de se gabar da própria irmã.
- Um Grammy? Você ganhou um Grammy? Isso ainda é meu sonho. - disse, sorrindo abertamente e admirada.
- Pare com isso, Rose. Foi de melhor cantora POP. Mas, como eu já disse... Você sabe o que faz, ainda tem muito tempo, consegue chegar lá. - Minha mãe sorriu para ela, incentivando-a.
- Nessa família, música parece algo quase que genético. - Assim que Rose se pronunciou quanto a isso, eu dei um gemido de reprovação.
- , você não tem que ficar desse jeito toda vez que se lembrar da sua banda, não é porque não deu certo que você vai se lembrar disso como uma coisa ruim. - Minha mãe disse com os olhos calmos e sorrindo para mim, com aquele mesmo sermão de sempre.
- Você tinha uma banda? - perguntou não sei se para mim, já que ela falava meio virada para minha mãe e eu.
- Sim, mas não deu certo. - Disse a ela, jogando-me no sofá de novo.
- Qual o nome? - Ela perguntou, sorrindo e apoiando o queixo na mão, já sentada no outro sofá da pequena sala. Minha mãe, apesar do muito dinheiro, era uma pessoa humilde acima de tudo.
- McFLY. - Minha tia respondeu, tendo visto que eu não falaria mais sobre aquilo.
- McFLY? - Ela perguntou com os olhos arregalados. Na mesma hora, tirei a almofada da cara e olhei em sua direção, franzindo o cenho.
- Por quê? - Perguntei a ela, voltando a falar.
- Eu conheço... Eu escutava, há... uns tempos e depois...
- A banda acabou. Sim, eu sei, essa é a minha história. - Disse a ela sorrindo de lado, era engraçado pensar que a mulher para a qual eu trabalhava chegou um dia a escutar as músicas que eu escrevia, eu sei, é idiota pensar nisso.
- Meu Deus... Eu nunca imaginei isso. Eu conheci vocês no camarim. - Ela disse, balançando a cabeça negativamente enquanto eu tentava me lembrar de alguma garota parecida, irritante como ela, nessa época. É, eu não lembrava.
- ROSE, onde está a caixa de fósforos? - O grito da minha mãe vindo da cozinha me despertou novamente, eu não tinha nem notado a sua falta ali ainda.
- Dentro do armário, ao lado da cola. Pelo amor de Deus, eu todo dia te digo isso, mulher. - Rose dizia, balançando a cabeça e rindo da minha mãe.
- Agradeço por rir da minha desgraça... Cola de isopor, cola quente... Você tem umas quatro colas aqui, para que isso? E meu Deus, quem guarda uma caixa de fósforos dentro de um armário onde também guarda cola? - Minha mãe se pronunciou novamente, aparecendo com a cabeça na porta da cozinha.
- Deixe-me, Beth. Deixe-me. - Minha tia disse, abanando as mãos no ar e se levantando. - Venham deixar as coisas no quarto.
- QuartO? - Perguntei a Rose levantando uma sobrancelha.
- Sim, quarto. Você sabe que aqui são só três quartos, . Pelo amor de Deus, vocês dois... - Antes que ela terminasse de falar, eu a interrompi, ao mesmo tempo em que .
- Nós NÃO somos namorados.
- Não fale alto. - Disse a ela, podendo vê-la revirar os olhos.
- Oh, desculpem. - Minha tia disse, colocando uma das mãos na boca, encenando uma cara surpresa.
- Rose... - Fui interrompido novamente.
- Sem frescuras, sem frescuras, ... - Ela disse, empurrando-me pelo corredor e puxando o braço de , que tinha ficado parada. - Aqui. - Ela disse, "jogando-me" lá dentro.
- A cama está forrada, tem toalhas e lençóis novos, caso queiram. É uma suíte, Srta. ... Só, , tire as suas cuecas do armário, sim? - Rose disse, fazendo uma reverência exagerada para e uma cara de reprovação para mim, claro, podia se pronunciar mais alto.
- Obrigada, Rose. - Ela agradeceu, rindo baixinho.
- Entrem, entrem... Daqui a pouco nós os chamamos para comer, ok? E, , se me permite, tire essa maquiagem escura, criança, você é mais bonita sem ela.
Ela riu. Nós dois entramos no quarto sem respondê-la. As malas já estavam lá dentro, cada uma em um lado da cama. Minha mãe é rápida, eu sei.
- Nós vamos dividir uma cama? - Ela meio que me perguntou.
- É, a não ser que você queira dormir no sofá, desculpe-me.
- Belo cavalheiro você. - Ela disse, rindo e balançando a cabeça.
- Desculpe, a casa é minha. - Respondi, já rindo junto a ela. Não sei bem o porquê.

Organizei meu armário enquanto aguardava a madame sair do banheiro. Depois de esperá-la, corri para dentro dele, ansioso por um possível contato com um chuveiro depois de horas dentro de um avião. Nós tínhamos estado recentemente em uma turnê no Brasil, ou seja, do outro lado do mundo. Estava meio perdido em pensamentos ao escutar uma música sendo cantada por uma voz feminina animadamente ao lado de fora. Fiquei escutando atentamente, até ser "despertado" por duas batidas na porta, provavelmente como sinal de que seja lá o que a minha mãe estivesse cozinhando estava na mesa. Troquei de roupa e saí do quarto, encontrando minha mãe e minha tia conversando junto com a , as três sentadas na mesa da sala.
- Hum... O que é isso? - Perguntei, esfregando as mãos e tentando olhar a travessa em cima da mesa.
- Pastel de carne, . O que você achava que a sua mãe iria fazer com a sua volta? - Rose disse sorrindo e empurrando-o em minha direção.
- Own, mãe... - Eu disse, dando um beijo em sua cabeça, rindo e me sentando na ponta da mesa, tirando rapidamente o meu pastel da travessa de inox.
Conversamos durante um bom tempo, com algumas intercaladas quando tia Rose ia ao quarto olhar como meu tio estava. O estado era tão deprimente que eu mesmo não tinha coragem de entrar no quarto, a Alzheimer já ia no 4º estágio, terminal.
Eu, como sempre o mais esfomeado, terminei ainda preparando um famoso pão com requeijão. Vamos combinar que o pastel da minha mãe é uma delícia, mas eu normalmente não consigo me contentar só com o lanche do avião, então era necessário mais que um pastel para saciar minha fome.
se retirou da mesa, pedindo licença e entrando novamente no quarto, alegando estar muito cansada por causa da longa viagem. Levantei-me da mesa, indo em direção à cozinha e lavando meus pratos na pia. Enxuguei-os e guardei novamente no armário. Dirigi-me ao corredor, sendo interrompido por minha tia antes de adentrar o quarto.
- Eu não vou atrapalhar novamente, mas leve isso aqui. Pode ser que seja necessário, os mosquitos estão começando a aparecer por aqui. - Ela disse, sorrindo e fazendo uma careta logo em seguida.
- Ok, obrigado. - Respondi a ela com o mesmo sorriso no rosto e pegando o produto de sua mão.
Assim que ela fechou a porta do próprio quarto, voltei para o meu já tão conhecido cômodo, que agora era "habitado" por uma mulher e uma cama de casal, claro, claro. Passei o produto rapidamente nos braços e o joguei em cima do móvel que tinha no corredor.
Ao entrar, fechei a porta de leve e meio que me congelei com a imagem em minha frente. se encontrava de costas para a porta, escorada na janela, com uma camisola quase transparente que deixava parte da lingerie à mostra e com um aparente maço de cigarro, a caixa deste jogada em cima da cama e Vogue em mãos.
- Perdão...? - Ela "perguntou", virando-se em minha direção, fazendo menção de apagar o cigarro em mãos.
- Não tem problema. - Informei a ela. Mas, do mesmo jeito, ela apagou o cigarro e o jogou dentro do cinzeiro na estante, no canto do quarto, até isso ela tinha achado.
- Acha que nós chegaremos a tempo? - Ela me perguntou, sentando-se em um dos lados da cama.
- Eu não sei, como já são mais de meia-noite, hoje é dia 23. Você toca dia 24, depende do clima local. - Respondi a ela, sentando-me na cama e encostando a cabeça na madeira que constituía a parte de trás dela.
- Eu não queria deixar de tocar lá. - Ela disse balançando a cabeça e colocando as pernas para cima da cama.
- Eu gostaria de estar indo lá no seu lugar.
- Nós somos diferentes... - Ela declarou, encostando o queixo nos joelhos, abraçando as pernas e puxando o lençol para cima de si.
- Sim, somos. - Concordei e fiquei calado por algum tempo, sendo acompanhado por ela. - Olha, eu não sei se algum avião já vai estar liberado amanhã, então, se esse não for o caso... Eu normalmente costumava me encontrar com uns amigos meus em um pub por aqui, então... Talvez, se... É...
- Você está me chamando para sair junto com seus amigos. - Ela afirmou o que provavelmente era para ser uma pergunta. O que eu agradeci, já que não estava nem conseguindo iniciar uma frase direito.
- É.
- Se não for problema para você... - Ela disse, dando de ombros e escorregando pelo colchão, enfiando-se embaixo da colcha.
- Amanhã eu falo com o Charles de novo. - Informei a ela, virando o rosto para o lado oposto e caindo no sono minutos depois.

Fui despertado por três batidas fracas na porta. Provavelmente, já que eu não respondi, elas retornaram. Em seguida, pude escutar um grito do lado de fora. É, eu já conhecia aquela voz.
- , A SUA MÃE ESTÁ CHAMANDO. - Parece até que ela fazia de propósito, a estava sempre gritando e eu sempre pedindo para ela parar com aquilo. Chegava a ser extremamente irritante.
- Já vai, mãe... - Respondi resmungando com a cara no travesseiro. Tomei coragem e me levantei da cama, abrindo a porta e dando de cara com minha mãe e a preparando qualquer coisa lá para o café da manhã. Não sabia que ela cozinhava.
- Hum... Cheiro bom. - Disse, abraçando minha mãe pelas costas.
- Waffles. - Minha mãe disse sorrindo de volta, mesmo sem ver meu rosto. - A que resolveu fazer. Não me culpe.
- Deixe disso, Beth, você sabe que eu não me importo. - respondeu a minha mãe, sorrindo junto com ela. Eu me sentia quase que a visita dentro daquela casa. Em uma noite, a já falava normalmente com minha mãe, como se já a conhecesse há um certo tempo.
- Que é isso na sua mão? - Perguntei a minha mãe assim que olhei e vi uma marca vermelha nela.
- Ah, um anel que a sua tia achou. Ela não quis e me deu. - Minha mãe respondeu, rindo e analisando o anel em sua mão que eu não tinha reparado, era bonito.
- Não, mãe, a mancha vermelha. - Expliquei, apontando com o dedo.
- Ah, foi só uma queimadura. - Ela disse, balançando as mãos no ar com indiferença.
- Tinha que ser você, dona . - Disse a ela, balançando a cabeça negativamente.
- , não comece. Sente-se aí... - Minha mãe disse, apontando de costas para a pequena mesa que se encontrava dentro da cozinha, fazendo rir baixinho.
Olhei-a, ela me encarava com um pequeno sorriso no canto dos lábios. Retribuí, balançando a cabeça e me sentando novamente. Ela reagia de uma forma diferente e estranha ao mesmo tempo, mas, de qualquer forma, eu achava melhor. Pelo menos, melhor do que aquelas situações em que ela gritava de propósito e sem razão.
Sentei-me na mesa cruzando uma das pernas e esperando que elas, mais especificamente , terminassem os waffles.
- Tome. - disse, estendendo o prato na minha frente.
Agradeci e comecei a comer na mesma hora, ela riu e se sentou do outro lado da mesa.
- Um minuto, eu já volto. - Minha mãe disse, dando um beijo no topo de minha cabeça e saindo da cozinha.
Ficamos calados por algum tempo, até quebrar o silêncio local.
- O Charles ligou? - Perguntou, observando as unhas.
- Não, mas eu vou ligar para ele, não precisa se preocupar. - Disse a ela, colocando o último pedaço de waffle na boca.
- Ok. - Ela disse, balançando a cabeça em sinal de concordância.
Levantei-me e lavei o prato que tinha usado, secando as mãos no pano ao lado do balcão e me virando de volta.
- Obrigada. - Ela disse com a mesma expressão que tinha segundos atrás.
- Por...
- Pelo que você está fazendo. Eu sei que me odeia. - Ela explicou, balançando a cabeça e rindo, mesmo que pouco.
- Você também me odeia... - Eu disse, tentando me "defender", teoricamente.
- Não, eu não te odeio. - Ela falou sorrindo mais abertamente para mim.
- Mas... - Como sempre, fui interrompido.
- Não precisa explicar. Obrigada de qualquer forma. - Ela encerrou, levantando-se e saindo da cozinha sem esperar uma resposta.
Peguei meu celular dentro da mochila, que se encontrava ainda no sofá da sala, e apertei a discagem rápida.
- ? - Tornei a escutar aquela voz grossa.
- Alguma novidade? - Perguntei ainda com alguma esperança de que houvesse um avião que nos levasse ao Azerbaijão ainda hoje.
- Consegui um voo para vocês. Agora, ele só sai amanhã, 24. Então, vocês dois não podem perdê-lo de forma ALGUMA, se não a perde o festival. Está me entendendo, ? - Ele disse tudo rapidamente com um tom duro na voz.
- Claro, claro. Entendi, Charles. Obrigado. - Respondi a ele com a mesma seriedade que me dirigia ao próprio quando estávamos tratando de trabalho.
Ele era meu amigo e algumas vezes saímos para beber juntos, para aliviar o estresse, sabe como é. Nós dois vivíamos viajando ao lado da garota () e, consequentemente, juntos. Isso fez com que nos tornássemos algo quase que como melhores amigos, já que eu ainda considerava meus amigos da banda, mesmo os vendo casualmente.
Desliguei o telefone e me dirigi ao quarto novamente para informar a a nossa atual situação.
- ? - Pronunciei-me, abrindo a porta devagar.
- Pode me chamar de , ou só . - Ela respondeu desinteressada.
- Só tem um voo disponível amanhã, então, nós não podemos perdê-lo, se não você não faz o show. - Disse logo tudo de uma vez a ela.
- Ok... Mas o pub hoje ainda está de pé? - Ela perguntou, sorrindo de lado e se virando para mim.
- Com toda a certeza. - Concordei com a cabeça, sorrindo de lado.
- Então, tudo bem.

O resto da tarde passou normalmente. Almoçamos, dei comida aos gatos da minha tia enquanto ela ficava com Josh (meu tio) no quarto dele, conversei com minha mãe, assisti televisão... Aquela mesma rotina de (quase) sempre. Quando já estava por volta das 19h, fui ao quarto me arrumar. Chegando lá, encontrei uma de vestido na frente do espelho, com a testa franzida ainda se analisando.
- Você está linda. - Eu disse a ela, adentrando o quarto e pegando uma calça jeans e uma camisa qualquer dentro da minha mala.
- Obrigada. - Ela respondeu, mas ainda com a testa vincada.
- , nós só vamos a um pub... - Eu disse a ela sorrindo.
- Eu sei disso.
- Ok, então. - Respondi, balançando a cabeça e entrando no banheiro.
Saí de lá minutos depois, já vestido e com o cabelo todo despenteado. Ajeitei-o com a mão e pronto, já estava bom demais.
Encontrei minha mãe e sentadas no sofá conversando sobre qualquer coisa que não me interessava.
- Vamos? - Perguntei a ela, parando ao lado do sofá, estendendo-lhe a mão.
- Aproveitem. - Minha mãe disse sorrindo.
se apoiou em minha mão e levantou, caminhando ao meu encalço em direção à porta.
- Não nos esperem. - Foi a última coisa que disse antes de bater a porta.
Meu carro ainda continuava novo dentro daquela garagem, mas, devido a não saber quais seriam suas consequências, preferi chamar um táxi, que já nos esperava do lado de fora.
Minutos depois, já estávamos na frente daquele pub já tão conhecido por mim. Andei por dentro do local segurando o braço de , é claro, afinal, se ela se perdesse e eu não a encontrasse (sim, sou exagerado) o Charles me mataria. Consegui avistar meus amigos, todos sentados em uma mesa do outro lado do pub.
- Hey, dudes. - Disse a todos eles sorrindo, sendo retribuído com abraços e comentários do tipo "achei que não fosse voltar mais".
- Hey, hey... Apresente a garota, seu idiota. - , como já esperado, falou.
- Como se você não conhecesse. Idiota. - disse, balançando a cabeça.
- Prazer, , . - Ela disse, direcionando a mão para ele, que ficou com uma cara um tanto assustada quanto ao fato de ela saber o seu nome. Enquanto eu conversava com ela, ainda em casa, tinha lhe dito o nome dos meus amigos e suas "aparências", posso dizer, enquanto tentávamos nos relembrar de quando nos conhecemos, sendo que foi no MEU camarim.
- Não precisamos explicar, . - Eu disse a ele rindo.
- O prazer é todo meu, . E, nossa, você é mais... - Ele disse sorrindo mais abertamente. E... É, eu conhecia aquele olhar tarado do . Mesmo que rindo, olhei-o, reprovando-o, e ele interrompeu a frase na mesma hora.
- . - Ela simplesmente disse sem se afetar, cumprimentando meus outros amigos em seguida, os da antiga banda e também os que não eram. Depois de um tempo conversando, levantei-me, dizendo que iria pegar alguma outra coisa para beber, perguntando se alguém mais queria.
- Espere, eu vou com você. - disse, levantando-se de uma das cadeiras com um olhar de reprovação de .
Ele a tinha convencido de se sentar entre ele e , que havia ficado quase que satisfeito com o acordo. Cada um só podia tocar no "seu" lado dela, portanto, nada de braço na cintura nem no ombro. É, eu não sei como eles conseguiram combinar sem que ela ouvisse, mas enfim.
- Uma caipirinha, por favor. - disse ao barman e eu a olhei, lembrando-me de uma das bebidas que tinha provado no Brasil.
- Desculpe, Srta., mas acho que nós não temos essa bebida aqui. - O barman disse a ela com um olhar de desculpas e indiferença ao mesmo tempo.
- Tem como dar uma olhada de qualquer jeito... James? - disse, lendo o crachá do barman e se inclinando por cima do balcão deixando o decote mais exposto, fazendo com que ele baixasse o olhar rapidamente e depois colocasse um olhar assustado em cima de mim.
- E o senhor?
- O mesmo, por favor. - Disse a ele, balançando a cabeça em sinal de reprovação para assim que ele saiu de perto. - Muito feio.
- Como se você nunca tivesse "usado". - Ela disse, fazendo aspas com as mãos e rindo junto a mim.
- Usado? - Perguntei o sentido a ela, fingindo uma cara indignada.
- Sim... Usado atributos físicos. - falou rindo mais alto ainda, provavelmente efeito do álcool já ingerido na noite.
- Não, não. Eu nunca fiz isso... Você que... - Eu comecei dizendo, mas... É, acho que dá para entender que eu fui interrompido.
- Não tente disfarçar, ... - Completou, abanando as mãos no ar.
- Aqui estão, senhores. - O barman chamou nossa atenção com os dois copos de caipirinha em mãos.
- Srta... Obrigada. - disse, corrigindo e sorrindo abertamente para o barman.
- Oh, desculpe-me, . - Ele disse, sorrindo junto com ela.
- Sabia que você ia consegui-la.
- Claro, claro. - Ele concordou com quanto à bebida.
Agora eu tinha certeza que o álcool já afetava a cabeça dela. Ela deu um "tchauzinho" com a mão e saiu andando, sendo seguida por mim.
Virei o copo para um primeiro gole da mesma bebida que eu tinha provado no Brasil dias antes. Não era o mesmo clima você tomar isso na Inglaterra e tomar no Brasil, obviamente, mas eu não me importava muito. Na verdade, está aí uma boa dica. Quando for ao Brasil, coisas que não se pode esquecer:
- Provar cerveja brasileira.
- Tomar caipirinha.
- Comer bolo de rolo. (Tem uma cidade específica, algo como Rocife, Recife... Enfim.)
- Comer pão de queijo. (Em Minas... Ok... O nome não é só isso, mas eu não me lembro do resto e isso agora é irrelevante, procure no Google.)
- Experimentar feijoada.
- Provar um churrasco. (Vamos combinar que é muito melhor.)
- Ir a uma praia.
- Passar carnaval lá. (Ok, eu não passei o carnaval lá, mas já me falaram que é muito bom e... Por que que eu estou fazendo isso mesmo?
Quer uma resposta... Efeitos do álcool.

Todos os meus amigos já se encontravam igualmente bêbados e já tinham conversas mais sem sentido do que o normal. Dois deles dançavam juntos na parte da boate e agora eu via se levantando com , ameaçando se juntar aos outros dois na pista. No início, fiquei só observando a cena depravada. Sim, a bebida já os levava a pontos... extremos.
O que me fez levantar e seguir na direção dos outros.
- Hey, hey... , está bom, ok? Isso... - Eu ia dizendo com a vista meio embaçada e me aproximando dos quatro.
- Hum... , vem cá, vem. - dizia rebolando e vindo em minha direção. Posso dizer que eu era o menos bêbado ali?
- Deixe-o, . Ele não vai conseguir resistir à tentação. - disse, aproximando-se com um sorriso tarado e bem abestalhado, colocando uma mão em meu ombro.
- ... Você tem um show amanhã, é melhor parar por aqui... Meu Deus, o Charles vai me matar. - Eu sussurrei para ela enquanto repentinamente me lembrava dele.
- Não me importo. - Ela completou, balançando as mãos e a cabeça negativamente.
- Mas eu me importo. - Disse a ela, já fazendo uma cara emburrada, pedindo que ela pelo menos tentasse me levar a sério naquela hora.
- Comigo ou com seu emprego intacto? - Perguntou desafiadora e eu... Talvez por puro impulso, respondi o que dias atrás não seria considerado "verdade" por mim.
- Com os dois, . Com os dois. - Fechei os olhos, balançando a cabeça negativamente e já pensando na merda que isso iria dar para cima de mim.
Fui "expulso" desses pensamentos com uma pressão súbita em meus lábios. Em função do estado em que estava, retribuí o beijo prontamente. Ela já pedia "passagem", que foi obviamente concedida. Eu era homem antes de odiá-la. Ok, isso uns três dias atrás. Minha mão, que antes estava largada ao meu lado, agora puxava seu cabelo na nuca e eu recebia o mesmo de volta. Envolvi minha mão livre em sua cintura, puxando-a para mais perto, e senti seu braço envolvendo meu pescoço, em seguida, soltando meu cabelo, aliviando a "dor". Segundos depois, ela afastou o rosto, juntando nossas testas e sorrindo de olhos fechados. Sem entender porra nenhuma, sorri junto com ela, não podia negar que tinha gostado. Ela se afastou e continuou andando em direção ao bar. Pude vê-la tomando um gole de uma bebida qualquer e voltando ao meu encontro.
- Vamos embora... - Ela se pronunciou, abanando uma das mãos no ar e ajeitando o decote do vestido.
Ainda meio desnorteado com a situação, simplesmente peguei em sua mão e saí a guiando dentro do pub, até que, enfim, chegamos ao lado de fora.
Levantei o braço para o primeiro táxi que passou e nós entramos nele, dei o endereço e em minutos estávamos na frente da minha casa de novo. Eu acho que ela não comentaria sobre a cena de minutos atrás deliberadamente, e nem eu gostaria de fazer isso agora. Quem sabe, amanhã... Ou depois, ou talvez nunca. Tanto faz.
Abri a porta tentando fazer o menor barulho possível. Minha mãe nunca tinha reclamado quanto ao fato de eu voltar bêbado das festas, contando com o fato de que eu era maior de idade e tinha pelo menos a consciência de ir e voltar de táxi, mas não era confortável para ninguém ser acordado em plenas 4h30 da manhã por dois bêbados que se beijaram em uma boate. Bom, esse segundo fato era irrelevante, mas eu me sinto com uma necessidade de ressaltá-lo e... isso também é efeito do álcool.
Entrei em casa e não consegui fazer mais nada que não fosse abrir a porta do quarto, jogar-me na cama e dormir, sendo imitado por , que jogou a cara no travesseiro e adormeceu segundos depois.

Levantei de "manhã" em um salto quando vi no celular que já eram 11h30. Levantei-me rapidamente, vendo que já não se encontrava na cama. Abri a porta do quarto escutando a voz das duas vindo da cozinha.
- Bom dia, filho. - Minha mãe disse sorrindo abertamente para mim e virando-se novamente de frente para o balcão.
- Bom dia. - disse, dando-me um selinho e passando novamente pela porta da cozinha, deixando-me meio estatelado.
- Coma logo. A foi tomar banho para daqui a pouco vocês dois saírem. - Minha mãe disse, colocando um prato de muffins a minha frente.
- E...
- Ela já colocou as coisas dentro da mala, não precisa se preocupar. - Minha mãe respondeu à pergunta que eu não tinha feito.
- Obrigado. - Disse a ela, sorrindo e me sentando à mesa.
- Boa viagem. - Ela completou, deixando um beijo no topo de minha cabeça e saindo da cozinha.
O silêncio se instalou por completo e eu estava claramente sozinho novamente. Terminei de comer e coloquei o prato na pia, voltando para o meu quarto e arrumando minha mala, a qual não tinha tomado a liberdade de mexer.
Algum tempo depois, já tínhamos tudo ao lado do sofá na sala, apenas esperando o táxi chegar para irmos ao aeroporto. Entrei no quarto do meu tio, presenciando aquela cena que eu tanto odiava mais uma vez. Despedi-me da minha tia e dos gatos, o que ela me obrigou a fazer. E, por fim, da minha mãe, para qual prometi que não demoraria tanto a voltar quanto da última vez. E quando você espera receber algo como "espero que volte mais rápido mesmo" ou qualquer coisa do tipo, leva um tapa da na cara (no sentido literal). É, tinha que ser minha mãe. Qual o tipo de pessoa que responde isso com um "você só entra aqui de novo junto com a "? Ah, mãe, obrigado por me considerar, realmente fico muito lisonjeado.
O táxi chegou e, graças a Deus, nós chegamos ao aeroporto na hora certa, entrando na sala de embarque e esperando mais um tempo para embarcar no avião. Havia algumas pessoas do lado de fora, no hall do aeroporto, que se diga, com cartazes em mãos, nos quais era possível ler o nome da . Provavelmente, devido à cena no pub ontem à noite, terminaram descobrindo sobre a nossa atual estadia. Ela tentava ler os cartazes através do vidro que nos separava deles, pediu inúmeras vezes que a deixassem sair. Mas não foi permitido, graças a Deus, porque eu não poderia impedi-la de ir lá e seria meio difícil tirá-la de perto na hora do embarque.
Subimos no avião e a aeromoça já passava novamente com aquelas balas de maçã verde de um lado a outro do avião. Coloquei minha mochila no bagageiro e me esparramei na cadeira enquanto não decolávamos.
Minutos depois, pude escutar a microfonia do avião e o aviso de decolagem. Fiquei observando as nuvens no céu enquanto estava perdido em pensamentos. Tempos depois, a aeromoça já tinha passado pelo menos umas quinze vezes entre nós ( e eu) perguntando se nós queríamos algo.
- Ela está dando em cima de você... - sussurrou em meu ouvido, respondendo à situação que eu tinha em mente.
- Só porque você quer.
- E você realmente acha que eu quero. - Ela disse, balançando a cabeça negativamente e olhando pela janela. Virei o rosto para ela, que tinha um quase sorriso no canto dos lábios.

Não conversamos nada de interessante o resto da viagem inteira e aquilo já estava tedioso, quando foi finalmente anunciado que nós pousaríamos.
Descemos do avião rapidamente, pegando as malas e passando por um corredor "especial", que nos tirava da ala de desembarque sul, onde os fãs se concentravam. Tudo estava ocorrendo muito rápido e eu não pensava mais, só agia. Indicaram-nos o táxi, o qual adentrei em segundos, sendo seguido por .
Fomos deixados na parte de trás de uma estrutura de show e o táxi seguiu com o produtor do festival dentro, provavelmente para o hotel.
- ? - Um homem alto perguntou, indicando-me com a cabeça.
- Eu. - Respondi a ele, franzindo a testa.
- Camarim da ali. - Ele disse, apontando com o dedo uma das portas no corredor branco. - Você, suba... O Charles quer falar com você.
- Ok, obrigado. - Respondi, fazendo menção de subir as escadas do palco.
- Hey, hey... - disse, segurando meu braço. - Espere-me.
- , não dá. Deve estar tudo a maior confusão. Não tem nem condições, eu preciso trabalhar e...
- Não é porque voltamos a trabalhar que você tem que me chamar de , ok? Eu não gosto disso. - Ela me respondeu, franzindo a testa e os lábios. Como fazia quando estava irritada com Charles.
- Desculpe. Olhe, eu tenho que ir. Mas eu volto logo. Vá para o camarim. - Disse a ela, indicando com o braço e dando um beijo em sua testa deliberadamente.

O finalzinho da tarde passou super rápido: passagens de som, preparações para a hora do show, organização do camarim, toda aquela coisa de estar conectando canal 1, canal 2. Posso dizer que passagem de som é o maior saco. Mas tudo correu bem.
Eu esperava na ponta da escada sair de dentro do camarim para subir no palco, já que tudo já se encontrava em seus devidos lugares.
- ¹Axsam üçün bir daha t?s?kkür edirik. Seninle, . - O cara disse em azerbaijano, a qual eu pelo menos pensava ser a língua do país, se ele só tivesse uma. E admito que eu só entendi o no final, então, ele obviamente a estava apresentando.
Virei o rosto em direção ao corredor branco de novo e finalmente a vi saindo de dentro de uma das portas com um vestido vermelho que ia até um pouco acima do joelho e os cabelos soltos ao lado dos ombros. Eu verdadeiramente nunca a tinha observado antes de um show, essa era primeira vez. Fiz um gesto com a mão indicando um relógio no braço direito, cobrando-lhe a hora, ela riu e subiu as escadas ao meu lado. Puxei o microfone da mão do cara que se encontrava entre as coxias e entreguei em sua mão, sorrindo. Ela o pegou e entrou pela lateral do palco, direcionando as luzes para cima de si e fazendo com que os gritos aumentassem.
Foram exatas uma hora e meia a observando em cima daquele palco e algumas vezes encontrando seu olhar. Quando o show acabou, sentia-me tendo esperado tempo demais para fazer o que nenhum de nós dois tinha feito depois da noite no pub: agarrei-a em um giro, beijando-a sem pressa, mas minha felicidade quase que era equivalente a isso. Ela retribuiu, rindo e me soltando segundos depois com um sorriso de ponta a ponta no rosto.
- Eu te amo. - Foi tudo o que eu disse antes de nos calarmos novamente com o terceiro beijo.
- Demorou demais. Problemas de vista? Estava demorando para enxergar, bebê. - Ela falou merda sorrindo de lado e mordendo a ponta do lábio.
- "É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos." - Disse a ela, sorrindo de lado também.
- Eu... Own... "Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante." - Completou o trecho do Pequeno Príncipe que eu tinha acabado de falar a ela.
- Você ainda está me devendo uma. - Disse a ela, lembrando-me da conversa que tinha tido com Charles antes de ela ir parar na minha casa, quando ele disse que ficaria me devendo um favor.
É, eu sei. Foi muito tempo até nós dois podermos enxergar isso, mas, como sempre dizem, antes tarde do que nunca.
Diz William Shakespeare: "Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor." Eu o tinha em minhas mãos há anos e não sabia. A maior luta pela qual passei foi para encontrá-lo.

¹ - "Obrigado novamente por esta noite. Com vocês, ."


N/A: Hey, eu por aqui de novo depois de bastante tempo, haha. Espero que tenham gostado, e só informando, essa fiction foi escrita para o desafio de um outro site. Então... Se tiver por aqui algo fanfic com história parecida, é porque a escritora participou desse desafio haha.
Queria novamente agradecer a @AylaAlves e a Shay do @EatMeFletcher que me ajudaram dando críticas ao desenvolver da fanfic, muito obrigada mesmo.
E por último, mas obviamente não menos importante, agradecer a Cami (minha xará haha) por me acompanhar aqui mais uma vez haha.
Nós vemos em breve...
Xxx

N/B: Se encontrarem qualquer erro, por favor, me mandem um e-mail? (camila.ov@hotmail.com) Cami, xx

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