– ! – acordei assustada com grito estridente de Green.
caiu da cama, assustado, na mesma hora que escutou os berros de sua namorada. Demorei um pouco para assimilar o que estava acontecendo, mas não deu tempo, um objeto voador não identificado veio em minha direção. Só foi o tempo deu me abaixar e pular da cama, estava meio atordoada por causa do sono. Reparei que já tinha amanhecido. A luz que vinha pela grande janela de vidro ofuscava meus olhos, fazendo com que doesse até um pouco. Green estava de pé na porta do quarto e seu rosto está meio vermelho de tanta raiva que sentia, ela estava com as mãos na cintura e batendo o pé impaciente no chão, esperando logo por uma resposta nossa, mas aposto que deveria estar tão lento quando eu, para entender realmente o que tinha acontecido ali. Não tiro sua razão. Afinal, qualquer uma focaria morrendo de ciúmes se visse seu namorado dormindo abraçado com outra. O pessoal da casa já estava na porta do quarto vendo a confusão armada, e nos olhava curiosos. Laís tinha um sorrisinho sapeca no rosto. Aquela vaca.
– Calma, Green. – falei sonolenta fazendo sinal com as mãos para que ela ficasse tranquila. – Não é nada disso que está pensando. – típica frase de quando alguém faz alguma merda diz.
– CALMA?! VOCÊ ME PEDE CALMA?! É IMPOSSIVEL TER CALMA, QUANDO EU VEJO O MEU NAMORADO COM UMA VADIA SEMINUA, DORMINDO NA MESMA CAMA QUE ELE. ABRAÇADOS AINDA! – a garota estava fazendo um escândalo tão grande, que acho que o Caribe inteiro estava escutando.
– Green, fala baixo, estou estourando de dor de cabeça! – pediu irritado se colocando de pé e nos olhando.
Fiquei parada atrás dele como se fosse um muro de contensão, se a louca tentasse me atacar, eu empurrava para cima dela e sairia correndo. Não que esteja fugindo dela, ou com medo, só não queria arrumar briga aquela hora da manhã, estava com sono ainda, e sonolenta demais para reagir.
– FALAR BAIXO? IMPOSSÍVEL! – gritou mais uma vez levantando os braços, então foi ai que vi explodir.
– Já disse para falar baixo! – estava irritado com a mão na lateral da cabeça. – Que merda! Sai do meu quarto! – apontou pra fora indo em sua direção. Arregalei os olhos, não acreditando na cena que estava presenciando.
– , você não está falando nesse tom comigo! – Green rosnava, parecia que iria sair espuma da boca da garota a qualquer momento, mas ela o enfrentava.
– Não entendeu ainda ou quer que eu te tire aqui a força? – agora falava mais calmo, mas ainda nervoso, parando de frente à dela.
Green saiu batendo a porta. E ainda conseguimos ouvi-la gritando com o pessoal que estava no lado de fora, vendo tudo. Sentei-me na cama, um pouco mais aliviada. Pensando bem, foi engraçado vê-la daquela forma. Irritada por me ver com . Mas cara, não posso me sentir bem com o que acabou de acontecer, era errado! Ah, para! Quem sou para achar o que é certo ou errado. Eu estava ajudando e não tinha nada demais nisso, bem, acho que não. Vou parar de pensar nisso, pois minha cabeça já está saindo fumaça.
– Me desculpe, não deveria ter pegado no sono. – falei baixo para não irritá-lo ainda mais.
– Tudo bem. – deu um sorriso, então sorri também, sentando-se ao meu lado. – O que aconteceu? Não me lembrou de muita coisa. – trocamos olhares.
– Você bebeu demais, te ajudei a tomar um banho, depois começou a passar mal e então fiquei aqui até que dormisse, mas acho que dormir também. – expliquei cabulada com aquela situação.
Depois do que aconteceu no quarto de , no dia da festa, realmente as coisas estavam estranhas entre nós. Ainda mais por eu ter mentido que estava namorando , e ter fugido de daquela forma. Senti meu coração acelerar só de lembrar a forma como me segurou. Que tortura. Não estava conseguindo ficar muito tempo perto de , sem que meus olhos encarassem sua boca e tivesse vontade de beijá-lo. Droga. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis? Certo, tenho que parar de pensar nisso. Mas era impossível. Virei o rosto encarando o piso.
– De qualquer forma, obrigado por tudo. – passou a mão na lateral de meu rosto, tirando uma mecha de cabelo que tinha ali. Senti minhas bochechas esquentarem, e o olhei brevemente. tinha um sorriso lindo nos lábios.
– Fiz por você, o que faria por qualquer um que está nessa casa. – tirei sua mão de meu rosto. Tinha que me afastar. Tinha que fazer qualquer coisa.
– Mas eu não merecia nem que você olhasse na minha cara. – nos estávamos tão próximos, tive vontade de abraçá-lo e dizer tudo o que estava sentindo. Engoli em seco, travando todos os meus músculos na tentativa de me manter firme.
– Muita gente não merece o que faço por elas. Mas a vida é assim, outros perdem e outros ganham. – dei de ombros e me afastei, levantando da cama e indo até a janela, olhando a praia.
– Estou com uma dor de cabeça horrível. – desviou o assunto, acho que ele percebeu o que eu estava fazendo. Bem, era melhor dessa forma.
– Vi uns analgésicos dentro da gaveta do banheiro. – avisei caminhando em direção da porta, desviando de , para que não nos esbarrássemos.
– Vou tomar um. – ele foi para o banheiro.
Só me meto em furada! Sai do quarto e fui para a cozinha arrumar algo para comer. Era mais forte do que eu, queria cuidar dele, e era exatamente o que estava fazendo. Dei um sorriso bobo o balancei a cabeça em negação, percebendo o quanto idiota estava sendo. Todos da casa haviam sumido. Provavelmente deveria está mostrando a ilha a eles. Olhei pela janela da cozinha e não vi ninguém aos arredores. Dei de ombros. Coloquei uma toalha de jogo-americano sobre a bancada, e duas fatias de pão na torradeira. Fui até a geladeira para pegar pasta de amendoim e leite. Escutei uma conversa, mas não entendi o que falavam, estava bem perto, então olhei para trás, pois as vozes vinham no mesmo ambiente que o meu. Meu Deus! Quem era ele? O frasco de leite quase caiu da minha mão, quando parei bruscamente olhando aquele ser. O menino estava falando e rindo com , mas parou assim quando me viu em pé ali, que nem uma pateta olhando para eles.
– Oi. – falou ele, meio tímido, mas me olhando de cima embaixo.
– Oi? – Aquilo foi mais uma pergunta do que um comprimento. Foi ai que me dei conta, e vi que estava apenas de calcinha e camiseta de dormir, sem sutiã. Ok! Não estava nem um pouco apresentável.
Corri para trás do balcão como que tivesse a fim de me esconder, pelo menos minhas pernas, né? Joguei meus cabelos par frente tampando meus peitos, e poderia jurar que estava com as bochechas pegando fogo. Que vergonha! Não sabia o que falar e como reagir. O cara continuava me olhando e ficava rindo da cena! Seu cretino! Tire logo o menino daqui! Não estou apresentável.
– Desculpe, eu não sabia que tinha visitas. – falei sem graça dando um sorrisinho amarelo. Droga, , cale a maldita boca.
Eles riram junto, o que me fez abaixar a cabeça querendo rir também. Isso era realmente ridículo. Não sou de ficar envergonhada dessa forma, mas o cara era um tremendo de um gato!
– , esse é meu primo Alexander. – disse gesticulando para o menino ao seu lado, e para mim, logo depois. – Alex, essa é minha amiga, . Aquela na qual te falei. – Hey, o andava contando sobre minha pessoa, aos outros? Bem, o cara não era os outros, e sim, seu primo. Deveria ser mais do que normal. Eu que não estava acostumada com essa aproximação familiar, já que não tinha isso.
– Prazer. – apenas acenei ainda parada atrás do balcão. – Me desculpe pelos trajes, eu não sabia que você viria.
– Tudo bem. – Alexander deu um meio sorriso, colocando as mãos no bolso de sua bermuda. – Pode me chamar de Alex. – deu um sorriso maroto.
Espera ai que vou desmaiar e vá volto a conversar com vocês! Ele era lindo! Estou parecendo um cachorro no cio.
– Ele vai passar as férias aqui conosco. – ria da minha reação.
– Ah. – abri a boca. Essas férias estavam começando a ficar interessante. – Que bom. – dei um sorriso largo. – Seja bem vindo.
– Vem, Alex, ainda tenho aquele estúdio no porão. – saiu andando na frente.
Alex me lançou um olhar, junto de um sorriso de lado e seguiu o primo. Senti um cheiro de queimado e uni as sobrancelhas, achando estranho. Foi ai que me troquei.
– Meu Deus, as torradas do . – olhei para a torradeira que saia uma fumaça preta. – Merda. – tirei o fio da tomada e fiquei soprando tentando resfriar o troço para tirar as torradas carbonizadas.
Por fim consegui tirar o pão e coloquei outro para fazer, ficando de olho para não queimar. Assim que ficou pronto, passei manteiga de amendoim e coloquei em um prato. Tudo bem bonitinho sobre o balcão, junto de um copo de leito bem gelado e refrescante. Fui até o quarto novamente.
– , vá comer algo. – falei parando na porta e cruzando os braços.
– Estou enjoado e você quer que eu coma algo? – ele estava deitado na cama, com a cabeça enfiada debaixo do travesseiro.
– Preparei umas torradas com manteiga de amendoim e leite. Vá comer. – disse séria, como se fosse uma ordem. levantou a cabeça e me olhou.
Sai do quarto e fui para o meu antes que ele falasse alguma coisa. Me joguei na cama, virada para cima e encarei o teto. Vi Lali saindo do banheiro, vestida com um biquine amarelo ovo, um tanto quanto ofuscante.
– Hum… Você e o em. – fez uma cara de safada apontando o dedo na minha direção.
– Não temos nada. Eu apenas estava ajudando um bêbado necessitado. – ri. – Sua mente é muito poluída.
– Sei. – dei uma gargalhada com o olhar que ela me lançou.
– Não começa. Você vai pegar um sol? – perguntei o óbvio apenas para mudar de assunto.
– Vou. Você não vem? – pegou sua ganga dentro da mala e a passou ao redor de sua cintura, fazendo uma saia longa.
– Não posso entrar na água de mar. – franzi a testa lembrando de meu ombro.
– Tem uma piscina lá atrás, bem, eu vou ficar nela. Água de sal destrói meu cabelo. – Lali fez uma careta muito engraçada, o que me fez rir mais uma vez.
– Vou ver. – falei rolando na cama e agarrando um travesseiro. – Cara, a noite você esqueceu de ligar o ar. Acordei parecendo um frango no forno, só faltou começar a assar. – reclamei me lembrando do ocorrido.
– Foi mal, eu esqueci mesmo. – se desculpou. – Acho melhor nos dormimos de porta trancada essa noite.
– Por que? – Não entendi.
– É capaz de a Green entrar aqui e te assassinar por ter dormido com o . – rimos juntas. – Serio, pensei que ela mataria vocês dois.
– Mas não fizemos nada. Nem um beijo na boca teve. – fiz cara de inocente. – Lais, sou uma santa. E ainda sou virgem, então, por favor, me respeite. – ela me olhou séria.
– Uhum, se você é virgem, e a minha avó também é. Te conheço , nem vem com essa cara de inocente, porque não cola. – disse minha amiga saindo do quarto e debochando da minha cara.
Revirei os olhos e virei para o lado. Por que ninguém nunca acredita nas coisas que digo? Será por que? Sou uma menina tão pura! Ok, vou parar de pensar nessas coisas. Tirei mais um cochilo e depois levantei, me sentindo revigorada. Fiz minha higiene matinal, troquei de roupa e fui até a cozinha comer algo. Meu estomago roncava e eu estava faminta. Escutei um murmuro baixo vindo de um quarto e caminhei lentamente para que a pessoa não me escutasse. Não sou de escutar a conversa dos outros, mas fiquei curiosa para saber quem era.
– Por que ele tem que gostar mais dela do que de mim? – Green estava deitada na cama com as mãos tampando o rosto. – Gosto tanto dele. – pelo seu tom de voz, ela chorava. – Que vontade de matá-lo. Ele não pode me trocar dessa forma!
Eu me senti mal por ela. Afinal, sei que a culpa era minha. Green gostava mesmo do , e sempre achei que fosse puro interesse. Nunca deveria ter beijado o aquela vez na escola. Foi meu maior erro, dar espaço para isso tudo começar. Escutei um gemido de dor. E não aguentei mais ficar ali. Dei uma ultima olhada, e a vi sentada na cama segurando sua camisa com força, perto do peito, a lágrimas escorriam pelo seu rosto e pingavam no chão. Me escondi para que ela não me visse. Tive que sair dali. Voltei até a cozinha, preparei um sanduiche e comi tranquilamente, no meu canto. Depois escovei os dentes, e peguei uma ice que tinha na geladeira. Caminhei até a área da piscina. Geral estava lá, conversando e se divertindo.
– Bom dia. – falei alto para que me escutassem.
Todos me responderam. Me sentei na beira da piscina e coloquei meu pés dentro dela. A água estava gelada e relaxante.
– Você é Alexander, né? – perguntei ao menino que estava deitado em um colchão de ar.
– Sim. – sorriu para mim levantando seus óculos escuros, revelando um belo par de olhos claros.
– Desculpe o mau jeito hoje mais cedo. – desviei o olhar, ainda meio envergonhada pelo o ocorrido.
– Tudo bem. Também ninguém disse que tinha “visitas”. – Alex tinha um sorriso lindo, seus dentes eram perfeitamente retos e brancos. Comecei a sentir o calor aumentar.
– Você não é visita. É um hospede “ainda” desconhecido para mim, mas nada que não possa mudar. – sorte que os óculos de sol tampavam meu olhar de lince em cima dele.
– Adoraria me tornar uma pessoa conhecida. – bem, acho que vou pular na piscina e agarrar esse menino.
– Quem sabe. – levantei, deixando uma dúvida no ar.
Fui até onde estava deitado, em uma espreguiçadeira. Ele não era nem um pouco exibido, deixando a mostra seu físico nem um pouco atraente. Ok, pare de babar. Hormônios se controlem. É apenas o , lindo e gostoso. Chega!
– Tomou o remédio? – perguntei dando um gole na minha Ice e parando ao seu lado, dando sombra em seu rosto.
– Tomei. Obrigado pelo café da manhã. – me olhou abaixando seus óculos de sol.
– Não foi nada demais, apenas torradas com leite. Faço isso para meu irmão todos os dias. – falei com desdém olhando para os lados. – Por que você não foi conversar com a Green sobre o que aconteceu?
– Porque ela fez o maior escândalo sem saber o que estava acontecendo. – se remexeu na espreguiçadeira.
– Qualquer garota faria a mesma coisa vendo seu namorado dormindo abraçado com outra garota. – dei de ombros e bufei.
– Está defendendo ela? – perguntou nervoso.
– Não, estou apenas vendo o lado certo. E dessa vez estávamos errados. Peça desculpa a ela por mim, e diga que não aconteceu nada. – falei me virando para sair de perto dele.
– Que eu saiba... – começou, mas o interrompi.
– , não sou do tipo de mulher que se aproveita de pinguços. – disse olhando por cima de me ombro e o encarando. – Me dê licença, me sinto até ofendida por pensar que eu faria algo contigo naquele estado deplorável.
A parte da manhã foi entediante. Estava morrendo de calor e louca para entrar na água, mas não podia por causa dos pontos em meu ombro. Logo depois do almoço resolvi caçar algo melhor para fazer do que ficar vendo todos se divertirem na piscina. Escutei o som de teclados vindo de algum lugar, em uma melodia calma. Tinha alguém tocando. Fiquei curiosa para saber quem seria o pianista que tocava tão bem. Segui o som, e me deparei com a porta do porão aberta. Desci as escadas e encontrei Alex lá. O lugar era bem legal. As paredes eram acústicas e escuras, ali era bem refrescante, afinal o ar estava ligado. Tinha um tapete velho no meio do local, e acima dele um microfone, que vinha com um fio pendurado no teto até certa altura. Um sofá gigante verde escuro ficava colado na pare, ao lado direito. Tinha um pequeno bar ali também, só que no lado esquerdo. No fundo se encontrava uma bateria. Alex tocava no teclado, que ficava perto dela. Ele ainda não tinha dado conta da minha presença, estava entretido demais com as teclas. Na parede, tinha várias guitarras, violões e baixos, sendo seguradas separadamente por cada suporte. Caixas de som acústicas e amplificadores estavam espalhados por vários pontos do lugar. Vi uma mesa de som no canto e tive vontade de mexer em todos aqueles botões. As paredes eram decoras por pôsteres, e vinis bem antigos.
– Licença. – Falei batendo na porta e me encostando no batente.
Ele levantou a cabeça e sorriu ao me ver.
– Entre. – parou de tocar e me observou me aproximando.
Assim, tão próximo, percebi que Alex era bem mais alto do que eu, e ele tinha algumas tatuagens nos braços. Conclui que deveria também ser mais velho do que aparenta. Além de lindo, tocava teclado. Será que tinha como ficar melhor?
– Você toca muito bem. – elogiei e vi suas bochechas ficarem levemente rubras.
– Obrigado. Hum, você sabe tocar? – perguntou tentando puxar papo.
– Não me arrisco no teclado, mas arranho no violão. – ele foi até a parede onde estavam os instrumentos e escolheu um violão.
– Adoraria te ver tocar. – voltou até onde estava e me entregou um violão azul claro.
– Ah, não. – neguei com a mão empurrando o instrumento que me entregava, para longe. Tocar me fazia lembrar o .
Após ele insistir muito, toquei qualquer música menos significativa possível.
Ficamos conversando durante horas. Alex era muito educado, e bem divertido. Para simplificar, ele era um verdadeiro Lord moderno, cheio de tatuagens e alargador. Seus olhos extremamente azuis chamavam minha atenção, me fazendo encará-los a todo o momento, por serem tão intensos e belos. Sua gargalhada me fazia rir ainda mais, assim como seu sorriso. Descobri que ele também tocava violão, e muito bem por sinal. Seu perfume era tão inebriante que me deixava até um pouco atordoada. Ele era realmente encantador. Só me toquei que já tinha se passado o resto do dia quando meu estomago começou a dar sinal de vida, informando que estava faminta. Ergui uma sobrancelha, vendo Alex olhar para minha barriga e fazer uma careta um tanto quanto cômica, o que me fez soltar uma risada alta. Subimos e arrumamos qualquer bobagem para comer. Todos da casa estavam na sala vendo televisão, ou jogando cartas. Entretidos demais para dar falta de nós dois. Fizemos sanduiches e fomos para a varanda comer. Nos sentamos nos degraus, e colocamos os pés na areia gelada. Continuamos papeando, mesmo que eu estivesse de boca cheia, não ficava quieta nenhum momento, arrancando mais risadas de Alex. Ele me contava mais sobre sua vida. Descobri que tinha 21 anos, e que estava fazendo faculdade de direito, mas que passava a maior parte do tempo com sua família, eles eram bem unidos. Não tinha namorada, apenas rolos causais, nada de muito sério. Por um lado me senti aliviada com isso, pois vi que o sinal verde estava ligado. Merda, do que estou falando? Prometi a mim mesma nada que homens por um bom tempo, e agora já estou querendo o corpo de Alex nu! Sinceramente, não consigo cumprir minhas promessas quando tem algum cara no meio, isso se torna impossível, ainda mais com os homens que me cercam. Seria bem mais prático se eles fossem feios e arrogantes. Bem, era um babaca, mas nem assim deixo de gostar dele. É, acho que não tenho jeito mesmo! Houve um estalo de dedos na frente de meu rosto.
– Hey, está me escutando? – perguntou Alex com um sorriso engraçado no rosto.
– Estou?! – foi mais uma pergunta do que uma afirmação.
Ele se levantou deixando o prato que tínhamos trago da cozinha, no canto da escada. Alex saiu andando em direção do mar, então, levantei e o segui rapidamente. Com certeza ele deveria ter me falado algo e eu devo ter concordado sem prestar atenção. Parei os seu lado, a água fria batia em meus pés descalços. Como uma criança, chutei a água de propósito apenas para molhar Alex, que me olhou desaprovando meu comportamento, logo depois semicerrando os olhos e abrindo um sorriso perverso. Não esperei para ver o que aconteceria, sai correndo feito uma maluca, e ele logo veio atrás de mim. O danado era rápido, e eu senti que minhas pernas não dariam conta de correr mais do que já estavam, ainda mais na arei, mesmo assim me esforcei, conseguindo um pouco mais de velocidade. Olhei por cima do ombro rindo, vendo que Alex estava se aproximando. E então o inesperado aconteceu. Minhas pernas foram agarradas me fazendo cair de cara na arei. Alex pulou em cima de mim, como se estivesse agarrando seu oponente em um jogo de futebol americano, que estava com a bola na mão, e prestes a pontuar. Devo ter comido no mínimo um quilo de arei. Me arrastei, tentando libertar suas mãos de meu corpo, mas não adiantou muito. Controlei meus movimentos para não bater nele sem querer, pois minha brutalidade sempre agia por vida própria.
– Me solte. – falei por fim, me dando por vencida. – Aposto que conseguiu uma bolsa na faculdade por jogar futebol!
– Acertou. – riu soltando minhas pernas. – Não deixaria que fizesse um touchdown.
– Bela forma de agarrar uma dama. – reclamei cuspindo a areia que ainda restava em minha boca.
– Desculpe a comparação, mas você correr como um Halfback. – uni as sobrancelhas com a comparação.
– Não sei se encaro isso como um elogio ou não. – me sentei tentando limpar minha roupa. – Você me sugou toda. – reclamei.
– Você me sujou primeiro. – rebateu fito uma criança de jardim.
– Então é assim? Se eu te sujar, você também vai me sujar? – entortei a cabeça de lado, o olhando.
– Não exatamente nessa ordem. – arregalei os olhos quando ele se levantou e me pegou como se fosse um saco de batatas, me colocando em seu ombro.
– Agora só falta gritar: “Capitão caverna!”. – engrossei a voz, imitando o personagem. Tentei descer, mas Alex me segurava com força. – Você não se atreveria... – não terminei a frase, pois fui jogada dentro da água gelada. Submergi jogando o cabelo para trás. Retira tudo o que eu disse! Ele não era um Lord, e sim, um homem das cavernas! – Alex! – berrei em plenos pulmões, já que o mar abafava minha voz.
– Calma, cara, só é um pouco de água salgada. – disse em forma de desculpa.
Passei por ele praticamente marchando. Alex também estava todo molhado, provavelmente mergulhou depois de ter feito o que fez comigo.
– Eu não podia entrar na água! – senti meu ombro começar a arder, e até latejar um pouco por causa do sal. – Idiota! – estava sentindo frio.
Caminhei de volta para casa, e fui para os fundos, tomar uma ducha para tirar a areia do corpo. Alex vinha andando atrás de mim, calado. Girei o registro e entre debaixo da água gelada, me arrependendo por isso.
– Desculpa, não queria te irritar. – disse manhoso. – Era só uma brincadeira, não achei que ficaria dessa forma.
– Ok! – não o olhei, apenas fechei os olhos e respirei fundo.
– Sério, , me desculpa. – senti suas mãos em minha cintura, então abri os olhos, me deparando com os dele perto demais.
– Já disse que sim. – não me movi nenhum centímetro para afastá-lo.
– Mas não pareceu que desculpou. – se aproximou ainda mais, ficando debaixo da ducha enorme comigo.
Seus lábios avermelhados estavam entreabertos, e a água escorria por eles, causando uma enorme vontade de beijá-los. Seus cabelos estavam caídos em suas testa, e sua roupa estava toda molhada, agarrada em seu corpo, o deixando muito sexy. Meus ovários gritavam, com todo aquele clima. Engoli em seco, quando senti sua respiração batendo contra meu rosto. Alex se aproximava ainda mais, até que nossos narizes se toaram, então percebi que não tinha mais volta, ele estava tão próximo, e mesmo o conhecendo pouco, me senti completamente atraída. Não queria me afastar, queria sentir o gosto de sua boca, saber como era seu beijo, sentir sua pegada. Talvez estivesse tentando achar alguém que substituísse , e se tivesse sucesso, quem sabe Alex, poderia ser esse alguém. Queria tampar o buraco que estava aberto em meu peito. Venci a pouca distancia que nos afastava, e colei nossos lábios, em um selinho demorado, apenas sentindo como era macia sua boca. Aos poucos sua mão foi subindo e se moldou na lateral de meu maxilar, senti seus dedos quentes tocando minha nuca gelada. Um pequeno arrepio me correu. Meus braços estavam colados na lateral de meu corpo, eu parecia uma estátua, e isso me incomodou. Me senti uma pirralha sendo beijada pelo cara mais velho e experiente. Tratei logo de mudar essa figura. Minha mão direita agarrou sua camisa, do lado da costela, e a outra subiu para seu pescoço, e foi para sua nuca, agarrando os cabelos que tinha ali e o puxando mais para perto. Minha língua passou pelos lábios dele, de forma safada, e então dei um sorrisinho, mostrando que queria prová-lo. Voltamos a unir nossas bocas, agora um dando passagem para o outro. Seria um sonho ou alucinação? Até no beijo ele era perfeito. Embora seja diferente de todos que já provei. Seu beijo era calmo e leve, tive a sensação de estar beijando um anjo. Nada de afobamento ou excitação. Senti um frio gostoso na barriga, e não vive vontade de nos separar. Nossas bocas deslizavam um pela outra com tranquilidade. Fui andando para trás, e puxando Alex comigo, até sentir minhas costas encostarem contra a parede, sua mão apertou levemente minha cintura. Levamos um susto, fazendo os dois pularem, e nos separamos, quando ouvidos o barulho de um balde caindo. Olhamos juntos para o local de onde tinha vindo o som. E então surgiu, resmungando algo. Certamente devia ter chutado o balde, sem ver. Ele nos encarou, depois uniu as sobrancelhas, sacando o que tinha acontecido ali.
– Não é da minha importância. Mas se bem me lembro, você tinha dito que estava namorando. – disse torcendo os lábios.
– Eu? – gaguejei. Só depois me lembrando do dia trágico da festa, no qual para fugir de , dizendo que estava com . – Aquilo foi apenas algo passageiro. – justifiquei, sem saber ao certo o que dizer.
Alex me olhou, desconfiado. Com certeza estava achando que eu tinha mentido na maior cara de pau. Nós continuávamos parados, a mais ou menos meio metro de distância.
– Hum, da forma que vocês estavam, não parecia isso. – estava fazendo de propósito, ele queria ver Alex me dando o fora.
– , meus relacionamentos não são do seu interesse. – rebati. – Além do mais, para que quer saber disso? Até onde eu saiba, você está namorando a Green, que espera um filho seu. Então acho que tem coisas mais importantes para se preocupar, do que ficar ai se preocupando com que eu deixo ou não de ficar. – falei sem medo de ser grosseira e pouco me ferrando para o que Alex iria achar da conversa.
me olhou sério, e saiu andando, fulo da vida. Revirei os olhos e bufei. Era só o que me faltava mesmo. não tinha cara de pau maior. Só ele que podia ficar com quem quiser? Por que eu também não podia? Acho mais do que justo, direitos iguais. Que diabos estou pensando? Nós não tínhamos nada. Eu era completamente desimpedida. Alex se aproximou, pensei que ele voltaria me beijar, mas apenas desligou o chuveiro. Olhei para o lado, onde o rosto dele estava na lateral do meu. Seu perfume ainda cheirava.
– Você tem namorado? – Alex perguntou em meu ouvido, minha espinha gelou.
– Não. Esquece o que o falou. – pedi passando a mão em seu peito. – Ele é um babaca.
– Um babaca que está afim de você. – agora sim, travei. – E você dele. – se eu estivesse tomando algo, certamente teria engasgado.
– Não fale besteiras. – meus lábios tocaram a pele de seu pescoço. – tem namorada, e eu quero beijar a sua boca. – Alex virou um pouco o rosto, fazendo com que nossos lábios quase se tocassem.
– Isso não justifica o fato de vocês querem se pegar. – fechei os olhos, irritada.
– Alex, esquece o que acabou de escutar! – disse nervosa. – Eu e , não temos nada a ver um com o outro. Então, deleta! – não estava me sentindo muito bem. Um calafrio tomou conta de toda a minha pele, e senti um frio tomar conta de mim. Afaguei meus braços na tentativa de me esquentar. – Estou com frio, vou entrar. – meu ombro estava doendo demais.
– Você está pálida. Está tudo bem? – perguntou preocupado, não me dando passagem para que passasse.
– Sim, só preciso de um banho quente. Dê licença. – não ousei encarar aqueles olhos azuis.
Alex saiu da minha frente. Entrei na casa pela cozinha fui direto para o quarto. Cacei feito louca um analgésico dentro de minha bolsa. Minhas mãos tremiam de frio, e até elas estavam perdendo a cor. Encontrei o vidro laranja no fundo da mala, peguei dois comprimidos e tomei. Fui para o banheiro, e tomei um banho bem quente, de deixar a pele vermelha. Estava enjoada demais, assim quando sai do box, tive que correr para o vaso, e vomitei até o almoço. Minha pressão caiu rapidamente, e comecei a suar frio. Senti que iria desmaiar a qualquer momento. Me encostei na parede, e me sentei no chão, apenas enrolada na toalha preta, felpuda. Fechei os olhos, que estavam pesados e tentei respirar fundo, o máximo que consegui. Minha cabeça girava, e meu corpo estava tão mole e pesado, que eu não conseguia mexer nem o dedo. Escutei um barulho na porta, abri os olhos com dificuldade, e vi Lais entrando. E logo depois gritar apavorada. Nossa, deveria estar mesmo péssima. Ela veio até onde eu estava e se abaixou ao meu lado.
– . ! Meu Deus! – Colocou a mão na boca. – Você está sangrando! – o único movimento que consegui fazer, foi erguer uma sobrancelha. Ela tocou meu resto. – Está queimando em febre.
– Legal. – falei e dei um meio sorriso. – Me ajuda a levantar. – pedi.
– Não, fica parada. Vou chamar o . – se levantou e saiu correndo.
Mas que caramba! Não era para chamar ninguém! Só para me ajudar a levantar. Consegui fazer com que minhas pernas se mexessem, e me obriguei, com todas as forças que existia em meu corpo, a me levantar daquele chão gelado. Não seria a bosta de uma febre, que me derrubaria. Segurei na pia, e me puxei para cima, logo depois me apoiando nela. Pude ver minha imagem refletida no espelho, em meio do vapor, que ainda tinha dentro daquele banheiro. Meu ombro escorria sangue, e debaixo de meus olhos, havia olheiras extremamente pretas, e gigantes. Meus lábios estavam sem cor alguma, e meu rosto estava tão pálido, que eu parecia um zumbi, assim como toda minha pele. Senti minhas pernas falharem, e então alguém me segurou. Era , e ele tinha um olhar de preocupação. Fui levada para o quarto e deitada na cama. Virei a cabeça para o lado e vendo o rastro de sangue que tinha deixado para trás.
– Ela está perdendo muito sangue. – era a voz de Lali, e estava embargada.
– Cale a boca! – resmunguei me sentando na cama. Minha cabeça deu um giro de 360º e pensei que iria cair dura. – Pegue uma roupa, estou com muito frio. – pedi, ela foi correndo até minha bolsa.
– , o que está sentindo? – perguntou se sentando ao meu lado na cama.
– Nada. Só quero dormir. – torci os lábios. ficou me analisando, então arregalou os olhos, que pensei que saltariam de suas orbitas.
– Vamos para o hospital agora. Daqui a pouco o Nêmesis vai sair de dentro de você. – disse se levantando da cama. – Lali, a ajude a se vestir. – saiu do quarto nos deixando sozinhas.
Encarei minha amiga que chorava assustada, enquanto tinha um muda de roupas em mãos. Ela fez um curativo em meu ombro, apenas para tentar estancar o sangramento. Devo ter arrebentado os pontos quando estava com Alex na praia, e nem tinha percebido. Lais me ajudou a me vestir. Por sorte consegui me mexer. Pude ouvir a voz de do outro lado da porta, até que ela se abriu, revelando ele, que veio em minha direção, com em seu encalço. Eu estava sentada com as pernas para fora da cama.
– O que você tem? – perguntou segurando meu rosto com as duas mãos, e se agachando entre minhas pernas.
– Vai se ferrar. – dei um tapinha de mosca em sua mão, mas ela nem ao menos se moveu. Minha voz era fraca, e quase inaudível. – , tire esse cara daqui.
me olhou irritado, depois envolveu minhas pernas e costas, me erguendo como se fosse um bebe.
– ! Me solte! Agora! – inseri muita raiva em minha voz, embora ela continuasse como de uma pessoa doente. – Não me faça chutar seu saco!
Ele nem ao menos se deu o trabalho de me responder. Saiu comigo do quarto, tomando cuidado para que minha cabeça não batesse no batente das portas. O pessoal que estava na sala, nos olhos apavorados. e Lais, nos seguiam. Alex não estava no grupo, ele deveria estar tomando banho. Agradeci por não estar vendo aquela cena toda. Não soube decifrar a cara que Green fez quando me viu nos braços de seu namorado. Tentei me soltar, ou fazer que me soltasse, mas ele permanecia firme.
– Que droga, ! Me coloque no chão! – agora minha voz saiu normal. – Eu posso andar. – paramos na varanda, então ele me colocou no chão.
Consegui dar apenas cinco passos, antes de cair, já que minhas pernas não conseguiram segurar meu peso. me segurou por trás e me pegou nos braços novamente.
– Você é muito teimosa. – resmungou em meu ouvido. – Além de ser orgulhosa. O que custa deixar eu te ajudar?
– Não preciso da sua ajuda. – o calafrio voltou, e comecei a suar frio. – Me coloca no chão.
– Fora de cogitação. – me levava para o pequeno porto que tinha na ilha. foi andando na frente, e já ligava a lancha.
– Que droga! Te odeio. – minha cabeça voltou a ficar pesada. – Muito. – fechei os olhos. O vento fresco batia em meu rosto.
Mais uma vez ele não respondeu. Entramos na lancha, e me colocou deitada em um sofá dentro da cabine. Ele sentou-se no chão, ao lado da minha cabeça e ficou me olhando. Meus olhos entreabertos encaram os dele, que estavam preocupados. Senti sua mão quente acariciar minha bochecha, e tive vontade de virá-la de rosto, mas não conseguia, então fiz uma careta.
– Você está muito quente. – comentou triste. – Por que não disse que estava passando mal? – minha respiração estava pesada, e eu não conseguia puxar muito o ar. – Eu deveria te bater por isso. – torceu o nariz.
– Não teria coragem disso. – pensei que ele não tinha escutado. Fechei os olhos, e tudo foi ficando longe demais para que eu conseguisse assimilar qualquer coisa. Senti como se meu corpo estivesse pesando uma tonelada, e eu estivesse sendo puxada para baixo, em uma queda livre, com extrema velocidade.
– ! Hey, . Abre os olhos. – senti algo segurar meu rosto com força, e sacudir levemente. – Droga! ! Fique comigo. – era que gritava desesperado, e agora balançava meus ombros. – Abre a porra dos olhos!
Não senti mais nada. Tudo ficou em silêncio absoluto. Uma leveza tomou conta de meu corpo, e nunca me senti tão bem em toda a minha vida.
13. E sem respeito nenhum por nada
Abri meus olhos lentamente, sentia meu corpo um pouco pesado. Tinha algo agarrado em meu braço, virei a cabeça lentamente e vi uma agulha com soro ali. A tirei e me sentei. O quarto estava escuro, apenas com uma iluminação fraca que vinha da cortina da janela entreaberta. Embora parecesse que estivesse um sol forte e radiante do lado de fora, ali naquele quarto era bem refrescante. Reparei que estava com pijama de hospital. Droga. Que merda tinha me acontecido? Minhas memórias estavam nubladas demais para lembrar de algo coerente. Estalei minha coluna e depois meus braços, senti uma pequena repuxada em meu ombro, embora não estivesse doendo. Levantei da cama, e senti uma vertigem. Abaixei a cabeça, coloquei a mão na testa e fechei os olhos com força. Assim quando os abri, a tonteira passou. Vi minhas roupas dobradas sobre um sofá no canto, fui até ele e peguei minhas coisas. Queria saber como sair daquele hospital vestindo moletom?! Fritaria lá fora. Abri uma brecha da cortina e praticamente fiquei cega com a ofuscação dos raios de sol. Soltei um grunhido em forma de reclamação e fui até o banheiro me trocar. Aprovei a ducha que tinha ali, e tomei um banho, desfazendo meu curativo. De certa forma meu ombro não doía, então supus que me deram um medicamente bem forte para que isso não acontecesse, embora o local estivesse bem roxo ainda. Assim quando terminei de me lavar, vesti aquela roupa quente, já sentindo calor. Fiz um coque prendendo com meu próprio cabelo. Não consegui até agora me acostumar com esses meu visual de vadia, certamente loiro não tinha nada a ver comigo, ainda mais essas pontas rosa.
– ? – escutei a voz de , me chamar preocupado.
Sai do banheiro e o vi parada no meio do quarto, com logo atrás dele. Os dois me olhavam sério.
– Oi?! – dei um sorriso para ver se eles mudavam a carranca, mas não adiantou muito. – Não precisam me olhar com essa cara, ainda estou aqui. – levantei uma sobrancelha.
– Eu deveria te bater! – disse revoltado. – Você quer nos deixar de cabelos brancos! – veio andando em minha direção e me abraçou. – Sua peste.
– Ok, ok. Não me lembro o que aconteceu direito. – confessei retribuindo o abraço.
– Mas deveria lembrar. Nos assustou a noite passada. – se aproximou. – Pensamos que você ia morrer, sei lá. – ele tinha um olhar preocupado. – Não faça mais isso.
– Obrigada por terem me ajudado, mas não precisavam ficar preocupados. – esbocei um meio sorriso me soltando de .
– Não?! Você quase morre por causa de uma infecção e quer que fiquemos calmos? – meu amigo beliscou meu braço.
– AI! – Reclamei passando a mão onde ele beliscou. – Bruto. – Fiz um bico.
– Está se sentindo melhor? – perguntou se encostando na cama e cruzando os braços. – Pelo menos a sua cor voltou.
– Estou novinha em folha, seja lá que medicamentos me passaram, não estou sentindo nada. – me sentia já pronta para a próxima. – Quanto tempo fiquei aqui?
– Desde ontem à noite. – respondeu olhando para baixo. – Deve ter mais de doze horas, não sei.
– O que?! Certo. O que aconteceu comigo? – me sentei na cama ao seu lado.
– Bem, quando cheguei no banheiro, você estava tão pálida que parecia um zumbi. Seu ombro estava sangrando muito, além de estar queimando em febre e suando frio. – explicou sentando do meu lado, agora eu estava no meio dos dois. – E a senhorita não queria vir para o hospital! – me deu outro beliscão. – teve que te pegar a força para te trazer. – senti minhas bochechas esquentaram um pouco. Então foi quem me carregou aqui até aqui. Que vexame. Fechei os olhos e respirei fundo.
– Obrigada. – agradecia novamente aos dois. – E me desculpem. – fiquei balançando os pés, já que eles não chegavam até o chão, enquanto fiquei olhando para minhas mãos, que tinham os dedos entrelaçados, sem coragem de olhara para nenhum dos dois. – Não sei nem o que dizer.
– Não precisa agradecer e nem se desculpar. Está tudo bem agora, você está bem. – me abraçou. – Vou chamar o médico. – disse e saiu do quarto.
Fiquei quieta, continuava imóvel no mesmo lugar. Eu não ousaria dar uma palavra se quer. Mordi o canto de minha boca, nervosa com aquela situação.
– Estamos quites agora. – quebrou o silêncio, então o olhei, mas ele olhava para um ponto no meio do nada. – Você me ajudou quando estava mal, e agora eu te ajudei. Bem, acho que é isso. – ele falava, mas não esboçava reação alguma. – Me lembro de ter te falado uma coisa, antes de dormir naquela noite. – meu coração deu um murro forte conta meu peito, seguido de vários outros. – Estava bêbado, mas fui sincero. E ontem, quando estava em meus braços, quase inconsciente, disse que me odiava. – um nó se formou em minha garganta, então fechei os olhos, pois eles começaram a arder. – Acho que nós temos sentimentos bem diferentes um pelo outro. Sei que sou um babaca, e que fiz coisas erradas, mas não pensei que sentia isso por mim.
– , não é... – entrou no quarto junto com o médio. se afastou, e não consegui completar a minha frase.
– Senhorita . – falou o médico olhando em sua prancheta. – Vejamos... – ele começou a me examinar e fazer alguns testes. – Humm. – deu um murmuro e escreveu algo em um papel. – Você é uma menina bem forte. Teve uma recuperação rápida com os medicamentos que passei, se continuar assim, em breve estará completamente recuperada. Esses aqui são os medicamentos que tem de tomar. – me entregou o papel no qual escrevera. – Os tome na hora certa. Lembre-se, nada de álcool, mocinha. – o olhei querendo saber o que ele deveria estar pensando sobre mim. – Está liberada.
– Valeu. – pulei da cama e sai do quarto.
Os meninos vinham me seguindo, eles ao contrário de mim, estavam de regata, chinelo e bermuda, fiquei com muita inveja. Pegamos um taxi, e paramos em uma farmácia para comprar meus remédios. Odeio ficar tomando essas porcarias. e eu não trocamos nenhuma palavra se quer, muito menos um olhar. Isso estava me incomodando. Ele tinha ficado magoado e eu queria falar que não o odiava daquela forma, e sim, que gostava muito dele, que não estava aguentando mais ficar longe, que toda hora meus pensamentos iam até ele. Mas não posso. Tem que continuar assim. Já estávamos machucados demais para seguir em frente. Pelo menos eu me sentia assim. Porém o machucado que tinha em meu peito, o único remédio seria quem o fez. Segurei a mão de , iria falar a verdade. Ele parou e me olhou, então perdi toda a minha coragem e o soltei. Controle. Não posso fraquejar. Deixe ele ir, o deixei seguir em frente. não viu que paramos de andar, então continuava seu caminho.
– O que foi? – perguntou olhando dentro dos meus olhos. – Está tudo bem. – neguei com a cabeça. – O que está sentindo? – abri minha boca para falar logo, mas não conseguia. Malditas palavras que ficavam presas em minha garganta. – , o que você tem? – segurou meu rosto. Fechei os olhos e uni as sobrancelhas.
– Por favor, para de me tratar dessa forma. Pare de se preocupar. – pedi. – Apenas continue fingindo que nunca tivemos nada. – ele me soltou. Seu toque em minha pele era tão bom.
– Odeio quando fica mentindo para você mesma. O que custa admitir a verdade? É tão difícil assim? Não vê que não consigo parar de te evitar? – trinquei minha mandíbula e torci os lábios.
– Para com isso, por favor. Para. , você namora a Green e sabe que ela te ama, e droga, vocês vão tem um filho juntos. É como se eu estivesse estragando a felicidade dos outros. E por mais que queria, deseje e tudo mais, não posso. Não sou de ficar com o homem dos outros, isso é coisa de mulher sem caráter. Tenta me entender. Sei que é difícil, mas tente. É o melhor a se fazer. – não queria ter dito nada daquilo. Queria abraçá-lo forte e dizer que queria ficar com ele. em olhava de uma forma profunda com aqueles olhos .
Esperei por sua resposta, por sua reivindicação, mas não houve. apenas assentiu com a cabeça e me deu as costas, me deixando para trás. Então, foi assim? Acabou? Ele se foi? Serio mesmo? Fácil dessa maneira? Dei um sorriso sem jeito, não acreditando que tinha conseguido. olhou para trás e acenou para que eu fosse logo. Corri em sua direção, andando ao seu lado, enquanto andava do outro lado, também acompanhando o amigo. Fiquei obsevando o movimento da cidade, distraída, até chegarmos ao cais. Estava suando e morrendo de calor. era o único que falava. não me olhava, e eu não sabia se ficava feliz por isso ou não. Mas iria seguir em frente. Alex estaria me esperando quando voltasse. Estaria? Tomara que esteja. Me sentei dentro da cabine, ali era bem mais fresco do que do lado de fora. Comecei a cantarolar qualquer música que vinha em minha cabeça, tentando teleguiar meus pensamentos para outros lados, e não para ele. Assim quando chegamos, todos já nos esperavam na varanda. Lais foi a primeira a sair correndo que nem louca na nossa direção.
– Sua vaca! – Me abraçou com força. – Vou te socar!
– Não aperta. – Reclamei, o braço dela estava em cima dos meus pontos. – Você não faria isso com uma menina inocente, faria?
– Só como faria, e como vou fazer! – ela deu um soco em meu braço. – Serio, . Você me deixou desesperada!
– A pare com isso, só foi um pouco de sangue. – sorri e dei um tapa em sua testa. – Estou viva, ainda.
– Percebi. – revirou os olhos. – Vamos, você tem que trocar de roupa, está muito calor. – pegou meu braço e saiu me arrastando.
Caminhamos até a varanda.
– , como você está? – perguntou me dando um abraço.
– Bem. – Dei um meio sorriso.
Alex me olhou e depois sorriu. Perez não se pronunciou. Green estava com cara de bunda, e de braços cruzados encostada na porta. Me soltei de e caminhei até Alexander que ainda me olhava. e veio andando atrás de mim.
– Oi. – falei o olhando. – Desculpe por ter sido grossa ontem à noite.
– Não tem com que se desculpar. Você está bem? Me falaram que te levaram as presas para o hospital, mas ninguém sabia o que estava acontecendo. O idiota do meu primo não atendia o celular. – colocou as mãos dentro do bolso de sua bermuda.
– Estou. Não precisa ficar preocupado, não foi nada demais. – tentei não dar muitas explicações. – Mas obrigada mesmo assim.
– Crianças, o almoço está pronto. – Falou a empregada cortando o clima chato, agradeci demais por isso.
– Vamos comer. – Green saiu puxando e Perez para dentro.
– Vamos. – Alex estendeu a mão para mim.
Sorri e aceitei seu convite.
– Vou trocar de roupa. – avisei.
– Te espero. – Aquele menino era muito gentil.
Fui até meu quarto correndo e troquei de roupa. Alex me esperava sentado no sofá na sala.
– Pronto. – Disse no pé do ouvido dele, pulando por cima do sofá e sentando ao seu lado.
Alexander ficou me olhando sem dizer nenhuma palavra. Depois passou a mão em meu rosto e desceu até meu pescoço, me puxando para perto e encostando sua boca na minha de leve. Fechei os olhos apenas para poder sentir melhor seus lábios nos meus. Quando ele se afastou, continuei de olhos fechados.
– Sabia que você é a garota mais linda que já vi? – comentou com uma voz baixa e suave. Que coisa clichê!
– Não seja bobo. Têm muitas por ai mais bonitas que eu. – Minhas bochechas começaram a esquentar, então abri os olhos, encarnado aqueles globos azuis que me admiravam.
– Para os olhos de outro homem, aos meus você, é a mais bela de todas. – falou chegando mais perto novamente, até sussurrar as ultimas palavras em meu ouvido.
Abaixei um pouco o rosto, eu deveria estar mais vermelha como um tomate. Alex pegou a ponta de meu queixo e levantou meu rosto. Encarei aqueles olhos maravilhosos, ele se aproximou e me beijou. Aquele garoto era tão delicado, o toque dele era leve e macio, assim como seu beijo. O gosto de bala de frutas em sua boca era delicioso. Será que Alex sempre masca balas de frutas, senão eu o faria mascar todos os dias. Passei a mão pela nuca dele o trazendo para mais perto de mim. As mãos finas dele entrelaçaram minha cintura me puxando para si.
– Vocês não vão… Acho que estou atrapalhando. – Escutei a voz do .
Nos separamos muito lentamente, abri os olhos e vi Alex me olhando serenamente com um sorriso doce no rosto. Será que esse menino realmente existe ou é só fruto da minha imaginação fértil?
– Já estamos indo. – A voz dele saiu meio rouca e muito sedutora aos meus ouvidos.
Me segura que vou derreter. Olhei para que continuava parado na porta nos olhando. O olhar dele era triste e com raiva ao mesmo tempo. Senti um aperto no meu peito uma vontade de ir até ele e o abraçar forte. Mas não, eu não poderia fraquejar mais. Tinha que ser forte e manter a minha palavra. Eu disse; “Vou te esquecer de qualquer forma, .” E vou. Voltei a olhar para Alex e o beijei com vontade. A vontade de que queria beijar . Chegamos a nos separar sem fôlego, e os lábios dele estavam avermelhados. Sorri e peguei sua mão nos guiando até a copa. Alex se sentou do meu lado. O almoço foi agradável. Ninguém falou muita coisa. Logo depois fomos para a piscina.
– Você não vai entrar? – Perguntou o ele com um sorriso lindo no rosto, seus cabelos estavam molhados e jogados para trás e eu, como sempre, sentada na borda da piscina com as pernas na água.
– Não. – Franzi o nariz.
– Posso saber o motivo, pelo menos? – veio se aproximando até ficar ao meu lado.
– Machuquei o ombro brincando com meu irmão mais novo. Tive que levar uns pontos e não quero que a água de cloro e nem de mar bata no machucado. E foi por isso que eu não queria que você me jogasse na água ontem. – sorri sem mostrar os dentes.
– Desculpe, se tivesse me dito antes, não teria feito. Agora entendi porque ficou tão irritada. – riu. – Vamos entre. Fica deitada comigo no colchão de ar. – Tinha um colchão de ar enorme de casal boiando na piscina.
– Ok, Alexander. Vou colocar um biquíni e já volto. – Levantei e fui para meu quarto.
Me troquei, passei o protetor e voltei. Tirei a peça que estava por cima e entrei na piscina lentamente. Alex me olhou e veio até mim e dando a mão. Ele me pegou pela cintura me levantando, puxando para perto de si e enlacei minhas pernas em volta de seu quadril. Olhei discretamente por debaixo das lentes escuras dos meus óculos de sol para que estava no canto da piscina abraçado com Green. Alex caminhou comigo até a boia e me colocou em cima dela.
– Bela tatuagem. – Comentou olhando para minha costela.
– Obrigada. – Sorri, me arrumei em cima do colchão de ar dando espaço para ele subir e deitar ao meu lado.
E foi exatamente o que Alexander fez. Ele ficou apoiado em um só braço com sua cabeça encostada em sua mão, enquanto acariciava meus cabelos. Ficamos nos olhando, nenhum dos dois falava nada, e isso estava começando a me incomodar.
– Se continuar fazendo isso, irei acabar dormindo. – Sorri para ele. – Posso te contar um segredo?
– Todos que você quiser. – disse de um jeito doce.
– Hoje é meu aniversário. – falei baixinho para ninguém escutar.
– Serio? – perguntou empolgado.
– Sim. – concordei com a cabeça também.
– Quantos anos?
– 17 aninhos. – Brinquei.
– Nem parece ser tão nova assim. – falou e me beijou. – Você aparenta ser mais velha.
– Ai meu deus. – fiz uma expressão de preocupação.
– O que foi? – Perguntou assustado com minha cara.
– Imagina quando eu estiver com 50 anos! Vou parecer um maracujá de gaveta. – Falei passando a mão em meu rosto e de uma forma fútil.
– Pode ter a idade que for, vai sempre continuar linda. – voltou a me beijar.
Sabe o que eu queria de presente hoje? O só para mim. Cale a boca! Pare de pensar idiotices. Ele está namorando e a Green ainda está grávida dele. Mais quantas vezes vou precisar repetir isso? mentiu para mim, então por que ainda o quero como nunca? É mais forte do que eu. Vontade de sair correndo dos braços de Alex e ir para os braços fortes de . Argh. Pare de pensar nesse menino, nem que seja por um minuto. Alexander está sendo um cavalheiro comigo, um doce de pessoa e ainda fico pensando em outro enquanto nos beijamos. Sou uma burra mesmo. Será que sempre quando eu olhar para o vou sentir essa dor e angústia dentro de mim? É tão difícil ver ele com a Green. Praticamente insuportável. Tá, chega. Estou querendo começar a chorar. Nos separamos e me deitei de bruços, com Alex me abraçando. Fiquei passando o dedo na água observando de costas com os braços para fora na borda da piscina. Senti uma lágrima escorrer do canto do meu olho. Tão lindo, tão perfeito, mas não é meu. Sequei a lágrima e virei o rosto para o outro lado. Tenho que parar com isso.
O dia se passou tranquilo, acho que Green deu uma trégua. Estava no quarto, tinha acabado de sair do banho e me vestido, quando escutei alguém batendo na porta.
– Entra. – Falei me olhando no espelho.
– Licença. – entrou e fechou a porta. – Podemos conversar? – estranhei seu jeito de falar.
– Claro, amor. – Me sentei na cama e ele se sentou ao meu lado. – O que quer?
– , antes das férias, se lembra daquele ocorrido no estacionamento do shopping? – gelei quando ele disse aquilo.
– Sim, o que tem? – tentei não alterar minha voz e parecer tranquila.
– Você disse que gostava do , era verdade? – Perguntou, agora me olhava mais sério que antes.
Não esbocei nenhuma reação.
– Por que? – perguntei antes de responder.
– Já reparei como vocês se olham. É intenso demais, dá para sentir a vibração dos dois no ar. O que está acontecendo realmente? – meu amigo me encarava esperando logo por minha resposta. – não se preocupa com ninguém como se preocupa contigo. Nunca o vi ajudar alguém da maneira como te ajudou. Ele não saiu de perto de você nenhum momento.
– , ele tem namorada e ela está esperando um filho dele. – falei com um nó na garganta, como se aquilo justificasse tudo.
– Como é? A Green esperando um filho do ? Está falando sério? – ficou alarmado.
– Você não sabia? – Olhei para agora, a expressão dele era confusa.
– Não. Ele não me disse nada. É sério isso? – uniu as sobrancelhas, ele estava indignado.
– Sim, pergunte a ele. – Abaixei a cabeça. Não ia segurar mais por minto tempo e preferia que não visse aquilo.
– Eu não sei nem o que dizer. Vocês já ficaram? – levantou meu rosto para que eu o olhasse diretamente.
– Uhum. – Aquilo estava sendo difícil de falar, muito mesmo. – Eu gosto dele, . Mas ele mentiu para mim, me fez de boba. Enquanto estava dando tudo de mim, sendo verdadeira. – Minha voz saia embargada e choro dominou minha garganta como uma onda gigantesca.
– Desculpe, não deveria ter tocado nesse assunto. – me abraçou. – Pode chorar, desabafa. – se ele não namorasse Lais, pensaria que era gay.
– Estou tentando de todas as formas esquecê-lo, mas quando o vejo, volta tudo. É horrível, , horrível. – estava aos prantos. – Nunca senti nada por alguém como sinto por ele. – finalmente estava confessando aquilo para alguém.
– Hey, olha, para mim. – Puxou meu rosto para cima. – , se você gosta mesmo dele, conversa com ele, cara. Tenta chegar a um acordo, sei lá. Vocês dois não podem ficar assim. Olha para você, fica toda calada no seu canto e ele no dele. O quase não conversa mais comigo e nem com o já faz um bom tempo.
– Já conversamos. E não dá! Pedi para que ficasse longe, e ele aceitou. É melhor assim. – Balancei a cabeça. – Ele vai ter o filho com outra garota. Não temos futuro. Além do mais, a Green gosta mesmo dele. Vou deixar que sejam felizes, não vou me meter nisso. Já fiz estrago demais. – as lágrimas escorriam pelo meu rosto, molhando a minha roupa.
– Mas , e você? Não é justo que sofra. – Disse enxugando minhas bochechas.
– Vou ficar bem. – Dei um sorriso triste. – Só preciso de um pouco de tempo, apenas isso.
me abraçou forte, retribui o abraço e afundei a cabeça em seu peito.
– Espero que dê certo. – Falou passando a mão em meus cabelos. – Hey, hoje é seu aniversário, né? – mudou de assunto.
– Ah não, ! Onde você viu isso? – Alex, aquele linguarudo!
– Na sua identidade no hospital, esqueci de falar. Parabéns, minha menina. – me abraçou novamente. – Está faltando um presente.
– Já ganhei. – sorri.
– De quem? – ergueu as sobrancelhas, surpreso.
– De você, você é meu presente. O melhor presente que alguém pode ganhar. – dei um beijo em sua bochecha. – Sabe que te amo, né?
– Também te amo. Mesmo assim vou te dar um presente e nem adianta reclamar Dona . – me deu um beijo na testa.
– Seu presente vai ser não sair desse quarto gritando que hoje é meu aniversário. – Apertei o nariz dele.
– Isso não é junto, vou pedir para a Tia fazer um bolo para você. – Se levantou da cama. – E nem adianta reclamar.
– Ok! Chato. – Taquei um travesseiro nele.
– Lave esse rosto. Está com cara de quem acabou de chorar um rio. – Brincou de forma irônica.
Comecei a rir. saiu do quarto e fui lavar meu rosto. Assim quando enxaguei minha cara e abri os olhos, vi atrás de mim. Nem vou falar que quase tive um infarto fulminante com essa cena de filme de terror, né? Agora tinha que me manter calma. Cabeça para cima, ombros levantados e respiração firme. Eu era forte, não é? Então vou ser forte! SEJA FORTE! Meu subconsciente berrava. Nada me abala. Sou a Dama de ferro.
– Está faltando o facão ensanguentado na sua mão. – Falei secando o rosto ainda olhando o reflexo dele pelo espelho.
Ele não respondeu. Comecei a achar que era uma alucinação e que eu estava vendo demais. O que não me surpreenderia em nada. Mas isso durou muito pouco quando senti seus dedos gelados envolverem meu pulso e me puxar para perto dele. Engoli em seco com o rosto dele tão próximo do meu, com sua respiração batendo conta meu rosto.
– Nem pense em fazer isso. – Avisei olhando para ele.
– Você vai ficar desfilando com aquele cara pela casa? – perguntou nervoso.
– Hãm? – Levantei uma sobrancelha sem compreender muito bem do que ele estava falando.
– Você e o primo do ! – estava com raiva.
– Sou livre e desimpedida para desfilar com que EU quiser e onde EU quiser. Dá licença . – Tentei soltar meu pulso da mão dele, mas não consegui. – Me solte, garoto. – Disse ríspida. E um pouco feliz por estarmos brigando, isso era um bom sinal.
– Isso não vai ficar assim. – me soltou e saiu do quarto batendo a porta.
– Abusado. – Resmunguei e sai do quarto também. – Esse povo não tem vergonha na cara. – Que diabos têm na cabeça? Ele tinha concordado em se afastar e agora está dando um ataque de ciúmes.
– Está falando sozinha, ? – Green perguntou com um sorriso no rosto.
– Malucos têm esse costume. Cuidado, posso virar uma maluca psicopata ainda. – Sai andando. – Eu mereço. Vou te contar!
Fui caminhando pela casa resmungando besteiras.
– Tudo bem? – Alex parou na minha frente. – Está invocando algum feitiço?
– Só o que me faltava é você me chamar de bruxa também! – Falei irritada. – Sai da minha frente. – Passei por ele cuspindo fogo.
– O que deu nela gente? – Ouvi Alexander perguntando para que riu sentando no sofá.
– Cuidado, ela está distribuindo patadas coletivas. – Disse entrando na sala. Era muito bom para ser verdade. Havia me esquecido que me tirava do sério com facilidade, ou melhor, ele tinha esse dom.
– Vai se ferrar, moleque. – Rosnei.
– Estou falando. Tome cuidado Alex, ela é capaz até de te morder por nada. – debochava.
– Isso eu só faço contigo, amor. – ironizei. – Assim como nessas horas que você me irrita, minha vontade é mesmo de te morder, mas para arrancar um pedaço bem grande, vai que você morre de hemorragia e ficaremos todos felizes. – Dei um sorrisinho sínico. Sai da sala.
Mas eu voltei. Não podia ter falado com o Alex daquele jeito.
– Cuidado, o Dragão voltou. – Disse . Só pode estar de brincadeira. Ele era tão infantil.
Nem olhei para ele, apenas ignorei. Fui até Alex que estava na cozinha.
– Alexander. – Chamei.
– Me chama de Alex, por favor. – Pediu se virando para mim.
– Desculpe ter falado daquele jeito com você. – Fui até ele e o beijei. – Eu sou uma bruta mal educada mesmo, e acho que também sou um pouco bipolar.
– Tudo bem, você está nervosa e falei algo importuno. – me abraçou juntando ainda mais nossos corpos.
– Serio cara, de onde você saiu? Você não existe. – Dei outro beijo nele. – Acho que estou sonhando.
– Por que? – Passou a mão no meu maxilar.
– Porque você é certo demais para ser verdade. – Sorri, o que fez ele sorrir também.
– Então, estou sonhando junto contigo...
– Não diga. Eu não sou nada disso que você fala. – O interrompi. – Sou uma bruta estúpida.
Alex riu da minha definição.
– Hey, pare de rir dos meus defeitos. – Belisquei o braço dele enquanto mordi meu lábio inferior fazendo um cara de criança sapeca.
– Não estou rindo dos seus defeitos, e sim, contigo. – Me puxou pela cintura. – Menininha terrível.
– Sou mesmo. – Fiz cara de metida e Alex jogou a cabeça para trás dando uma gargalhada.
Dei um sorriso perverso, tentada a começar a beijar aquele pescoço exposto para mim. Pareci uma vampira querendo avançar na jugular de sua presa. Me aproximei mais do local que iria atacar sorrateiramente. Apenas deixei que me hálito batesse no pescoço dele e depois passei meus lábios por ali, mas sem beijar o local. Senti Alex se arrepiar com aquilo. Dei um sorriso safado por isso.
– O que foi? – perguntei em uma voz sensual no pé de sua orelha o fazendo se arrepiar de novo.
– Você. Fica me atentando. – Disse pausadamente. – Depois não reclame.
– Você não faria nada. – Falei no mesmo timbre de voz que antes só para provocá-lo.
– Não faria nada que VOCÊ não quisesse. – Ele apertou minha cintura contra dele. Isso me deixou excitada. – Hum… – Alex nos separou quando sentiu minha língua encostar-se a seu pescoço. – Preciso fazer umas coisas.
Ri pelo nariz soltando uma lufada de ar.
– Certo. – Falei e ele saiu da cozinha apressado.
– , assim você assusta o menino. – falou pegando alguma coisa dentro da geladeira.
– Nem vi você ai. Está nos observando muito tempo, amor? – levantei uma sobrancelha.
– O tempo suficiente para ver que o menino fugiu. – zombou da minha cara. – Não são todos que gostam de uma garota que nem você avançando seus pescoços.
– E você adora, né? – coloquei as mãos na cintura.
– Não. Eu AMO, qualquer coisa que você faça comigo. – Me olhou com aqueles olhos maravilhosos.
Me lembrei do dia em que transamos no banheiro da escola. Pra que? Senti minhas pernas vacilarem. era atordoante demais. Peste de menino. Que vontade eu tinha de beijar aquela boca novamente. Ah não, ! De novo, não. Balancei a cabeça.
– O que foi? – Ele se aproximou então dei um passou involuntário para trás. – Fugindo de mim de novo, ? – tinha um sorriso idiota no rosto.
– Não, só estou mantendo uma distancia segura para nós. Você ai e eu aqui. Ok? – Sai da cozinha feito o diabo correndo da cruz. É isso ai. Sai correndo dele. Literalmente.
Tudo isso era muito estranho. tinha me magoado e eu a ele, mas mesmo assim um queria o outro. Algo muito forte nos atraia. Por mais que eu quisesse desculpar por me ter feito de idiota, não conseguia. Minha mente estava entrando em conflito, e só queria perder toda a minha sanidade para fazer a coisa certa. era uma droga ilícita e viciante demais, uma droga na qual não conseguia mais ficar sem por muito tempo. Por um momento entendi o que os viciados sentem. Embora nunca compreendesse a loucura dos caras que compravam pó comigo. Aquilo é algo tão bom e te deixa tão alucinado, que te faz querer ainda mais, é como se fosse uma necessidade de seu corpo. Tipo como respirar, você não conseguiria viver sem oxigênio. É simplesmente patética essa minha comparação, mas era isso que estava sentindo. Precisava me livrar desse vicio, precisava me livrar do ! Precisava parar de respirar! Corri até a praia o mais rápido que consegui, tentando me afastar ao máximo daquela casa. O crepúsculo estava começando, parei e fiquei olhando o sol no fundo do horizonte. Então decidi sentar na areia e admirar aquele lindo final de tarde, tentando colocar minhas ideias nos lugares. Alguém se sentou ao meu lado, mas nem olhei para ver quem era. Continuei refletindo.
– Posso ficar aqui? – Green perguntou. Me surpreendi ao ouvir a voz dela. – Sabe, acho que você não é tão ruim quanto aparenta. – a olhei incrédula. O que essa merda está fazendo sentada ao meu lado?
– Não, sou pior. – Dei um sorriso sínico. Oras, o que ela queria? Ser a minha amiga agora?! Iríamos costurar roupa para o bebê juntas? Nunca!
– me explicou o que aconteceu. Obrigada por ter cuidado dele, e ontem, fiquei com ciúmes de te ver em seus braços, mas era por uma boa causa. – Certo, algum E.T. tinha torçado de lugar com a Green, e eu estava conversando com um alienígena agora. Não era possível que ela estava sendo compreensiva.
– Hmm. – Respondi sem olhar para ela agora. – Não tiro a sua razão. – Pelo que parecia ela estava sorrindo. Qual é o problema dela? Levantei, limpando meu short.
– Onde vai? – Green levantou logo em seguida.
– Qual é Green? Sei que você não gosta de mim. Então, por que está vindo conversar? Fala logo o que quer! – A garota ficou sem reação quando falei.
– Eu só queria conversar. – Disse triste e até meio chocada.
Olhei para a menina que tinha um olhar baixo. A vá! Converse com a Perez! Hoje não era meu dia! Esse aniversário estava sendo ótimo, para não dizer o contrário. Já não gostava de comemorar essa data, ainda mais agora que não queria mesmo! Será que tem como ficar pior?
– Me diga do que quer conversar, então. – O que eu tinha a perder? Uma hora de uma conversa fútil sobre sapatos e roupas? Já estava na merda mesmo. Deixei meus ombros caírem, me dando por vencida.
– Vamos andar pela praia e conversando. – Sugeriu. Fechei os olhos e ri. Isso era ridículo. Minha vontade era de afogar aquela menina no mar.
Ficamos caminhando pela extensão da praia por mais de uma hora. Aquela garota tinha engolido uma vitrola ou algo parecido. Green não parava de falar nenhum momento. Minha cabeça já começava a latejar com a sua voz irritante. Alguém me salva!
– Vamos voltar? Estou ficando com fome. – Comentei cortando ela.
– Sim, também estou faminta. – Sorriu dando meia volta.
Minha vontade era de correr de volta pra casa. Já não aguentava mais ficar escutando-a falar sobre suas amigas e shopping. Escutei seu celular tocar e paramos de andar. A garota checou o número.
– Preciso atender. Pode ir andando na frente. – Disse e voltou o caminho atendendo seu aparelho rosa Pink.
Deus, como o senhor é bondoso comigo. Acelerei o passo na esperança dela demorar em sua ligação e que desse tempo deu chegar à casa livre dela. Ou melhor, comecei a correr. Consegui finalmente chegar na casa, salva de uma outra conversa entediante. Estranhei que estava tudo escuro e muito silêncio. Caminhei às cegas tropeçando na mesinha de centro e dando uma canelada nela.
– Puta que pariu! – xinguei tentando enxergar algo, mas era inútil.
Atravesse a sala quase morrendo no trajeto por causa das coisas no meio do caminho. Por fim consegui achar o interruptor e acender a luz, ficando cega na mesma hora com a claridade.
– Surpresa! – Todo mundo gritou saindo de trás dos moveis e entrando pelas portas.
Fiquei sem reação. Eu não acredito que fez isso! Peste! Fiquei parada no mesmo lugar olhando para todos os meus amigos. Percebi que estava de boca aberta, então tratei de fechá-la. A sala estava toda enfeitada com balões pretos e roxos, junto com serpentinas brancas. veio com um bolo que só de olhá-lo me deu vontade de comer tudo sozinha, e muita água na boca.
– , seu linguarudo! – Falei sorrindo querendo socá-lo.
– Parabéns, amiga! – Lais veio e me abraçou. – Comprei uma coisinha para você. – Disse me dando uma sacola de papel vermelha com uns detalhes em prata. Ergui uma sobrancelha. Não estava acostumada a ganhar presentes.
– Só espero que não seja um filme pornô. – Brinquei e todos deram uma risada.
– Isso foi o quem comprou. – Comentou ela rindo apontando para o menino.
– Hey, Lais sua estraga prazer. Agora não tem mais graça deu dar meu presente. – Falou de um jeito divertido o que fez todos nós rimos.
Abri a sacola e vi um livrinho. Peguei o tal e li o titulo, depois olhei para minha amiga.
– Muito obrigada, cara! Era tudo que eu precisava, um livro de Kamasutra. Vou ler e treinar todas as posições, mas só vai me faltar quem consiga fazer todas elas comigo. – Brinquei e olhei para o só para provocá-lo. Tenho que parar com isso. Urgente!
– Amiga, isso não é problema! Homem é o que não falta nessa casa. – Lali me deu um tapão no ombro, me tirando do lugar.
Comecei a rir. Já mencionei que ela era bruta? Bem, acho que não precisava.
– , também comprei algo para você. – Perez veio em minha direção e me entregou uma sacola branca. – Parabéns, e espero que goste. – Sorriu me dando um abraço.
Abri a sacola e retirei uma camiseta de dentro dela. Muito bonita.
– Adorei, Perez. Depois experimento e vejo como ficou. – coloquei na frente de meu corpo para ver se iria servir.
– . – me chamou, então olhei para ele. – Tome. – Me estendeu uma sacolinha pequena e preta.
Peguei de sua mão o que me fez tocar nele e sentir sua pele quente. Ok, parei! Não vou mais ficar vidrada em todos os detalhes nele. Abri a pequena bolsinha e viu algo rosa. Pow, Rosa, ?! Peguei a coisa rosa e vi que era uma touca. Fiquei olhando para ela e coloquei na cabeça no mesmo instante. Involuntariamente ou bem voluntariamente, me atirei em cima de o abraçando forte pelo pescoço e encostando meu rosto em seu ombro. Senti o cheiro de seu perfume que tanto amava. Fechei os olhos, dei um sorriso largo ao sentir suas mãos envolverem minhas costas e me apertarem conta ser corpo.
– Amei. – Dei um beijo apertado em sua bochecha.
deu um beijo em meu pescoço, já que estava na altura de seus lábios, fiquei arrepiada no mesmo instante e meus braços se firmaram ainda mais ao seu redor.
– Parabéns, garota. – afagou meus cabelos da nuca. – Não era bem isso que queria te dar, mas tudo bem. – Sussurrou em meu ouvido.
Me segura, porque fiquei mole agora. tinha total controle sobre meu corpo. Eu já deveria estar vermelha o suficiente quando me dei conta do exagero que estava fazendo em abraçar daquele jeito. Me separei bruscamente dele. me olhou e percebeu que fiquei meio constrangida com a situação, afinal, todos estavam nos olhando. Que bosta!
– Green, não estava contigo? – Ele mudou de assunto.
– Er… Estava, mas ela recebeu uma ligação e pediu para eu ir vindo na frente. – Dei de ombros e olhei para os lados, buscando uma saída. – , você vai ficar segurando esse bolo pelo resto da vida? Coloque-o em cima da mesa antes que caia e não comamos nada dele. – Falei indo até ele e tirando o bolo de suas mãos.
– Parabéns, princesa! – me abraçou chegando a me levantar do chão.
– Meu Deus, !– Ri. – Quero ficar viva.
– Também comprei uma coisa para você. – Falou me soltando e enfiando a mão no bolso. – Esse será todo seu. – Ele me entregou uma chave.
– ! Eu não posso aceitar um presente desses. – Falei colocando a chave de uma BMW na mão dele de volta.
– Se não aceitar, irei ficar magoado. – Ele estava sério e depois fez cara de tristonho.
– Que cor? – perguntei colocando as mãos em minha cintura e torcendo os lábios.
– Preta, do jeito que você gosta. – deu um sorriso sapeca.
Revirei os olhos não acreditando no que ele tinha feito. Cretino, sabia exatamente o que fazer para que eu aceitasse o presente.
– Seu merda. – Espalmei minhas mãos no peito dele. – Isso não vale!
– Claro que vale. – me abraçou.
– Chega, vocês dois. Assim eu vou ficar com ciúmes. – Lali fez um bico e entrou entre nós.
Não preciso nem falar que todo mundo ficou zuando ela, né? Lhe dei um pescotapa para sair dali, mas levei outro de volta.
– Agora o meu presente. – falou pulando feito uma criança com uma caixa na mão.
– Estou até com medo do seu presente. Você não andou fumando, né? – Brinquei dando uma gargalhada.
– Não, não. Toma. Abra logo. – ele tinha um sorriso sem igual no rosto, e aquilo me dava medo.
Peguei uma caixa que estava revestida com um papel dourado e fiquei examinando dela, tentando imaginar o que era, depois cheguei meu ouvido bem perto, para ver se não era uma bomba relógio ou algo parecido, e é claro que a sacudi na tentativa de descobrir por vez o que tinha dentro dela.
– , não quero nem ver o que é. – o olhei desconfiada.
– Anda, abra logo. – ele se punha ao meu lado, louco para que eu abrisse logo.
Rasguei o papel e abri a caixa.
– , sabe o que vou fazer com isso? – Peguei o objeto azul transparente na mão, o balançando.
– Olha, o que você vai fazer ou não, o problema já não é meu, mas sei que vai usar bastante. – disse se defendendo.
– , seu gay. Você teve a cara de pau de entrar em um sexy shop para me comprar um pinto de borracha?! – perguntei impressionada com a coragem dele.
– Não fui sozinho, a Lais foi comigo. – apontou para minha amiga, que se mijava de tanto rir. – Foi lá que ela comprou o livro de Kamasutra. Bem, eu ia trazer um filme pornô, mas ela não deixou. – falou triste e fazendo cara de cachorrinho sem dono.
Todos caímos na gargalhada, era inevitável. Descobri que tinha os melhores amigos que alguém podia ter. Não havia constrangimento com brincadeiras idiotas e todos pareciam ser verdadeiros. E esse era o melhor presente que recebi em anos, nunca tinha conhecido pessoas como aquelas, que estavam ali comigo apesar da diferença. Eles sabiam quem eu era, em termos, mas sabia, e mesmo assim não se importavam.
– Do que estão rindo? – Perguntou Green entrando na sala.
– Do pinto de borracha que ganhei de presente do . – Falei balançando o objeto na mão.
Green olhou séria para mim e logo após começou a rir.
– . – me chamou. – Estava brincando. O presente verdadeiro é esse aqui. – me entregou outra caixa.
A abri meia receosa, vai que pulava algum bicho dali de dentro, ou sei lá! Do não duvidava de nada.
– , é lindo. – Falei pegando a botinha da all star de dentro da caixa. – Obrigada. – dei um sorriso largo.
– Nada. Achei a sua cara. – Ele me deu um abraço. – Parabéns. – beijou a minha bochecha, retribui o abraço.
– . Comprei algo para você. – Disse a Green, então a olhei espantada.
Me surpreendi com aquilo. Ok, estou suspeitando mesmo que ela foi trocada por um E.T. Serio, isso era muito estranho. Esse comportamento dela. Green veio em minha direção e me entregou um envelope branco, o abri e vi que era um cupom para duas pessoas fazerem um programa de velejar no litoral da Califórnia.
– Legal. Obrigado Green. – Agradeci e a abracei sem a menor vontade.
– Achei que iria gostar. O me levou uma vez, e eu adorei. – calma, ela não falou por mal, ou falou?
Claro. Só falta falar com que o te come! Vadia. Apenas dei um sorriso. Tenho que parar de ter tanto ciúmes do dessa maneira. Isso é coisa de gente doente!
– Vamos cantar parabéns e cortar o bolo! – falou logo cortando o assunto. – Estou morrendo de fome. A Tia fez uns cachorros-quentes, salgadinhos, docinhos e está preparando uma pipoca.
– , eu não acredito! – Falei colocando todas as coisas que tinha ganhado sobre a mesa.
– Isso é só o começo! Depois vamos nos arrumar e partir para a cidade. Comprei entradas para uma boate muito foda no centro. – fiquei boquiaberta. Isso só podia estar sendo brincadeira, ou eu ainda estava deitada em uma cama de hospital e sonhando com isso tudo.
Depois deu ter feito um escândalo com , por ter planejado tudo isso sem meu consentimento, e ele não ter se importado com metade das coisas que falei, fomos comer. Assim quando terminei, Lais e eu fomos para o quarto nos arrumar. Tomei o remédio que o médico havia me passado e fui tomar um banho rápido. Assim que sai do banheiro apenas enrolada na toalha, me deparei com Lali de pé em cima da cama, com o som ligado e com uma filmadora na mão. Ela dançava enquanto olhava no viso da câmera, quando me viu começou a me filmar.
– Não senhora, pode ir parando! Nada de me filmar! – reclamei indo até a minha mala. – Vai tomar seu banho, se não vamos nos atrasar!
– Ok! Chata! – desligou a câmera e a deixou na cabeceira.
Lais foi tomar seu banho, enquanto eu revirava minha mala em busca de uma roupa que não denunciasse minha ia a NY, mas era praticamente impossível. Só tinha roupas curtas para sair à noite, então escolhi um vestido mais discreto que encontrei. Estava cansada de me vestir como uma vadia, só que com aquela mala de roupas, era quase impossível. Se eu não fosse de vestido, teria que ir de bermuda jeans, e isso não combina absolutamente em nada para o lugar onde vamos. Me arrumei como deu, tentando não ficar extravagante demais. Não iria secar meu cabelo, já que ele ficaria todo horrível até chegar na costa. Prendi os fios da frente, e deixei que caísse para trás em camadas. Peguei um pouco de dinheiro e guardei no decote de meu vestido. Assim que minha amiga saiu do banheiro, eu já estava pronta. Me pergunto se ela que tinha demorando demais, ou se eu quem era rápida. Lais me olhou séria de cima embaixo, seus cabelos pretos e curtos estavam presos em um rabo de cavalo alto, deixando alguns fios caírem em seu rosto, que estava com uma maquiagem clara e com bastante brilho, dando um realce em seus olhos castanhos claro.
– Quem te vestiu? – perguntou voltando ao normal e pegando a roupa que tinha separado.
– Eu? – indaguei me olhando no espelho para checar se tinha algo de errado. – Está ruim?
– O que? Ruim? Está linda! Maravilhosa! Se eu fosse um homem até te pegava. – soltou uma risada. – Serio, cara, está gata.
– Pare com isso, também não é para tanto. – revirei os olhos. – Vou te esperar lá fora. Não demora! Lerda.
– Ok. Já estou indo. – sai do quarto a deixando sozinha.
Passei no quarto de e perguntei se poderia pegar alguma bebida no bar que tinha na sala de jantar, ele disse que sim. Então, fui até lá. Fiquei caçando algo forte, e achei uma garrafa de tequila, José Cuervo Premium, guardada embaixo no armário. Essa é da boa. Me abaixei para pegar, deixando minha bunda para cima, já que não tinha ninguém ali, não haveria problema algum de alguém ficar olhando meus fundos. Senti a presença de alguém atrás de mim, e minhas bochechas queimaram. Peguei a garrafa e levantei, deparando com , que me encarou como se eu fosse um pedaço de bife. Pensei que seus olhos pulariam de sua cara. Dei um passo para trás, encostando no pequeno balcão. tinha concordado em se afastar! Droga, então por que ele tinha que se aproximar tanto dessa maneira? estava gostoso como sempre, vestia uma camisa branca com gola V, ela estava meio apertada em seus braços, deixando marcado seu físico de quarterback. Pensei que ia babar quando vi sua calça jeans clara, meio apertada em suas cochas, o deixando mais delicioso ainda. calçava um DC Ryan Smith 2.0, cinzar, de camurça. Ele deu mais um passo em minha direção, e quase subi em cima do balcão para tentar fugir dele. não tirava os olhos do meu corpo nenhum instante se quer. Escutamos um barulho na porta e olhamos para ela no mesmo instante. Era e dei graças a Deus por isso. se afastou e saiu da sala. Senti que poderia respirar aliviada novamente.
– Valeu. – agradeci colocando a mão no peito. – Me salvou. – riu. – Seu pai tem bebidas ótimas aqui. – ergui a garrafa de José Cuervo forçando um sorriso.
– Você está bem? – abaixei o olhar e afirmei com a cabeça. – Anda, vamos para a sala.
Caminhei até a sala, tentando não fazer barulho com aqueles saltos escandalosos, mas foi impossível, já que quando passei pela porta, todos que estavam lá, digo, todos os garotos, que nenhum das meninas ainda tinha acabado de se arrumar, ficaram me olhando. Alex se levantou e caminhou em minha direção com um sorriso nos lábios. Ele estava lindo vestido com uma camisa xadrez, vermelha, aberta até no peito. Sua calça jeans preta era larga, e eu poderia apostar o quanto quisesse que a cueca dele era boxer estava aparecendo por debaixo da sua camisa, em seus pés tinha um Nike Dunk High preto de couro, por cima da boca da calça. Seu perfume estava mais forte do que antes, e seus cabelos estava molhados e completamente bagunçados. Senti minhas pernas darem uma pequena bambeada com sua proximidade. Ele ficou parada a poucos centímetros. Ficamos nos olhando, sem falara nada, até Alex colocar a mão no bolso de sua calça e tirar uma pequena caixa preta de lá.
– Ainda não dei meu presente. – sorriu para mim de uma forma graciosa.
– Você também? – Choraminguei olhando para suas mãos.
– Não é uma BMW, mas é de coração. – disse Alex com uma voz doce e segurou minha mão com delicadeza, colocando a pequena caixa de veludo em minha palma.
Fiquei olhando-a, depois a abri lentamente, revelando um cordão de coração, o mais lindo que já vi. Fiquei maravilhada olhando para a joia que era feita de prata e ouro envelhecido, com diamantes cravados nele. Ergui meu olhar até encontrar o de Alex.
– Alexander, é lindo. – falei baixinho. – Você pode colocá-lo? – perguntei tirando o cordão de dentro da caixa e entregando a ele, que o pegou.
Levantei meus cabelos, e apenas senti a mão de Alex passando pelo meu pescoço e soltando o colar, que caiu perfeitamente até a altura de meus seios. nos olhava de longe ainda sentado no sofá, fingi não ter visto. Soltei meu cabelo, que voltou a cair pelas minhas costas. Sorri quando os lábios de Alexander tocaram meu ombro nu e subiram até minha orelha, me causando um arrepio.
- Está incrivelmente linda. – sussurrou em meu ouvido, depois me virou.
Ficamos frente a frente, então unimos nossas bocas. Senti suas mãos percorrerem pelo meu pescoço com um toque leve e suave, enquanto a minha que estava livre deu a volta em seu tórax o puxando cada vez mais para perto. O beijo era tranquilo, com aquele delicioso gosto de bala de frutas. Não estava ligando se os meninos estavam olhando, queria mais que todos vissem que eu e o Alex estávamos ficando. Nos separamos com o berro de Lais bem atrás de nós. Ela fez de propósito. A olhei e em suas mãos já estava à bendita filmadora. Revirei os olhos, e Alexander riu.
– Não comece você também. – o belisquei.
– Ai, o que eu fiz? – perguntou ainda rindo.
– Sabe muito bem. – semisserrei os olhos.
Lali ainda nos filmava, ela vestia um vestido curto, tomara que caia, amarelo claro, e em seus pés tinha um sapato de salto branco. Minha amiga estava realmente linda.
– Então, cadê a Perez e a Green? – perguntei tentando evitar olhar a maldita câmera.
– A Perez já está vindo. – respondeu minha amiga e se virando para o corredor. – E olha ela ai, desfilando! Toda gata! – Perez riu e deu um tchau para Lali que a filmava. Ela vestia um vestido azul escuto, mas ele ia até os joelhos e tinha uma alça fina, e prendia abaixo do busto, o deixando volumoso. Seus cabelos estavam presos em um trança embutida e sua maquiagem era escura, lhe dando um ar de mulher madura, seus pés calçavam um par de sapatos de salto preto verniz. – Produção, essa moça pode sair desse jeito? – perguntou Lais ao que já estava de pé ao lado da namorada.
– Ela é nova, tem que mostrar tudo enquanto está durinho ainda. – brincou, e recebeu um olhar desaprovado de Perez. – Estou brincando. Agora volte naquele quarto e vista algo descente. – fez cara de bravo.
– Menino chato. – Perez apertou as bochechas dele. – É por isso que te amo. – lhe deu um selinho.
– O amor é lindo. – Lali falou soltando um suspiro. – , venha aqui e me beije também, fiquei com inveja. – riu. – Não é para rir, é para vim aqui. Anda, estou mandando, me beije. – ela fez uma pose de superior.
– Então, só falta a Green. – falei desviando a atenção dos casais.
– Ela não vai. – disse . Fiz um olhei pedindo uma resposta pelo motivo no qual era não iria. – Green não gosta de sair à noite, e também está cansada. – ergui uma sobrancelha. – Vamos? – se levantou do sofá e saiu andando.
Todos ficaram quietos sem entender direito o que tinha acontecido. Green não gosta de sair à noite e deixaria seu namorado ir para uma boate sozinho, sendo que eu vou estar lá. Serio? Certo, não vou fazer nada, porque Alex está comigo, mas era um galinha! Não é uma pessoa que se possa confiar. Ok, não tenho nada a ver com isso, mas se eu estivesse no lugar dela, não deixaria que ele fosse. Dei de ombros e peguei na mão de Alexander. Carreguei a José Cuervo comigo, ela seria minha melhor amiga essa noite. A areia da praia entrava em meu sapato, mas não estava me importando. Entrei na lancha com a ajuda de meu cavalheiro, que praticamente me pegou nos braços e me carregou. Abri a garrafa de tequila e dei um gole. Aquilo me desceu quente.
– Aí, galera! – levantei a garrafa. – Essa noite é nossa! – gritei e todos me seguiram. Dei outro gole, louca para a minha sanidade ir embora.
Passei a tequila para , que deu um gole. Então a garrafa foi passando, até chegar novamente em minhas mãos. Ninguém estava ligando em tomar ela antes de chupar um limão com sal. Quando chegamos à costa, metade da bebida já tinha sumido. Esse povo era uma esponja! Combinamos de nos encontrar às sete da manhã ali mesmo. Desci da lancha e fui andando na frente, de mãos dadas com Alex. Pegamos um taxi e paramos na porta da boate que tinha dito. Ele estava com nossas entradas em mãos. Não sei o que ele tinha arrumado, mas não precisamos ficar na fila. Entramos pela frente, os seguranças não se importaram se éramos menores de idade ou se em minhas mãos tinha uma garrafa de José Cuervo. Lais filmava tudo. A música eletrônica tomava conta do lugar, assim como os jogos de luzes. Ali estava cheio e me perguntei como entraria mais pessoas naquele lugar. Comecei a dançar, e a cantar junto com a música. Balançava a cabeça de um lado para o outro, fazendo meus cabelos se soltaram da amarração que fiz. Meu corpo tinha vida própria, então deixei que ele comandasse. Me lembrei que tinha tomado o remédio que o médico passou, e que a combinação dele com a tequila me deixaria louca. Dei um sorriso, então dei uma grande golada na bebida. Dei a garrafa para Alex, que estava bem atrás de mim, e que também dançava. Passei a mão em meus cabelos, os jogando para trás. Estava calor e sentia que precisava beber algo gelado. Sai andando em meio daquelas pessoas, e fui atrás do bar. Encontrei um balcão iluminado com luzes neon, então me debrucei sobre ele e puxei um garçom. Pedi para que me desse uma ice bem gelada, e ele logo voltou com meu pedido, que chegava a ter gelo no vidro da garrafa. Quase bebi tudo em apenas uma longa golada. A batida da música fazia com que meus quadris de mexessem. Acabei de beber minha ice e pedi outra. Voltei até onde achava que tinha deixado meus amigos, mas não os encontrei. Não liguei para isso. Apenas continuei bebendo e dançando por muito tempo. Vi um cara com um baseado na mão, que distingui pelo cheiro. O olhei e dei um sorriso, e aquilo foi o suficiente para me estender o seu cigarro. Peguei e dei uma bola, prendendo o ar logo em seguida. Comecei a conversar com o camarada, que me ofereceu um saquinho com comprimidos coloridos, ecstasy. Meus olhos brilharam ao ver aquilo, era como se eu olhasse para diamantes valiosos. Muito tempo que não tomava um daqueles comprimidos, e era aquilo que estava me faltando. Paguei o homem e ele me entregou o saquinho. Sai dali e voltei no bar. Peguei uma cerveja. Encontrei no meio da pista. Ele tinha um copo com um liquido vermelho na mão, que brilhava na luz negra. Senti que o álcool estava sob efeito de meu cérebro. Me aproximei, mas ele não percebeu. Seus olhos estavam fechados, então sorri. Coloquei um comprimido de ecstasy na ponta de minha língua, mas não o engoli. Segurei pena nuca com força, e o puxei ao meu encontro. Nos beijamos com ferocidade. Senti sua mão apertar minha bunda com vontade. A “bala” que estava na minha boca, passou para a dele. Estar em seus braços novamente era maravilhoso. Ele tinha uma pegada sem igual, uma pegada que me deixava louca, que fazia meu sangue ferver. Minhas unhas arranharam seu pescoço. A boca de foi descendo e se agarrou em meu pescoço. Ah, merda! Ele lembrava ainda onde era meu ponto fraco. O tesão me dominava. Bem, só de chegar muito perto dele eu já ficava com tesão, e isso era foda! Puxei os cabelos da nuca dele e soltei um pequeno gemido, seus lábios continuavam agarrado em meu pescoço, e aquilo ficaria roxo. Tão gostoso. O puxei para que me beijasse novamente. A forma como nos beijávamos era intensa. Sua mão alisava todas as partes que conseguia alcançar. Senti sendo encostada contra uma superfície lisa, e me perguntei como fomos parar em uma parede. Dani-se, a única coisa que interessa agora era , e a forma como ele me tocava. Ele me prensou de jeito ali. Me afastei dele apenas para acabar de tomar minha cerveja, mas ela foi arrancada de minha mão, e não vi onde foi parar. A boca de já tomava lugar do gargalo da garrafa. Suas mãos seguraram minhas cochas e me erguei no chão, encaixando seu quadril entre minhas pernas. Meu vestido subiu com isso, deixando minha bunda a mostra. Ainda bem que estava escuro ali.
– Achei você! – escutei a voz de Lais, e desejei matar ela, ou melhor, esquartejar em pedacinhos e jogar no mar para que os tubarões comessem.
Não nos afastamos, apenas fingimos que não a escutamos. Estava delicioso demais ali, não iramos parar. Lais puxou o ombro de .
– Que merda, Lais! – xingou virando apenas o pescoço de lado, para olhá-la. – O que quer? – perguntou irritado.
– Que solte um pouco a boca da minha amiga! Preciso dela! – rebateu nervosa. – Anda, ! Sai daí. – reclamou.
Eu ainda estava nos braços de , que firmou ainda mais seu corpo no meu, quando fiz menção de sair. Minhas unhas se apertaram no ombro dele, querendo que ele fizesse aquilo novamente, e meu pedido foi atendido. Soltei um gemido em seu ouvido, suas mãos apertaram o interior de minha cocha. Estava me sentindo uma vadia, mas uma vadia que era desejada pelo cara que ela queria. Ele me olhou e encostou sua testa com a minha, nossos lábios se roçaram, e íamos nos beijar novamente.
– ! Dá pra ser, ou está difícil?! – Lali berrou.
– Já vai. – respondeu olhando por cima de seu ombro. – Espera! – voltou a me olhar, então nos beijamos.
mordeu meu lábio inferior, depois o chupou. Quando o soltou, senti latejar um pouco. Ele me colocou no chão, então arrumei meu vestido, que estava mais que indecente. Nos olhamos, e antes de voltarmos a nos agarrar, Lais segurou em meu braço e saiu me arrastando. Sim, arrastando, porque quase cai pelo caminho, ela empurrava as pessoas na sua frente para abrir passagem. Percebi que chegamos ao banheiro apenas por causa das luzes fortes que ofuscaram meus olhos.
– Que merda! Por que você fez aquilo? – perguntei puta da vida.
– Para o seu bem, sua idiota! tem namorada, e você está ficando com o Alex. – só faltou Lais dar na minha cara.
– Foda-se! – falei e sai andando, mas Lali me impediu de sair do banheiro. – Lais, não ferra! Sai da minha frente.
– , você está alterada. – ela empacou na minha frente.
– Serio? Quer ganhar um doce por isso? Sei o que estou fazendo. – amarrei meu cabelo em um coque, com ele próprio. – Agora, sai daí.
– Depois não diga que te avisei. – deu passagem para que eu passasse.
– Só preciso de mais um pouco disso, senão vou enlouquecer. – falei saindo dali.
Encontrei com Alex assim que sai do banheiro. Parei de andar, completamente sem reação. Será que ele tinha me visto com ? Quando ele sorriu, percebi que não tinha visto nada. Fui até ele e o beijei. Ainda estava conseguindo pensar nos meus atos, precisava de mais álcool. Então lembrei de que tinha os comprimidos, e apenas eles dariam conta do serviço. Me separei dele, peguei o saquinho entre meus peitos e mandei dois comprimidos para dentro. Alexander pegou aquele saquinho da minha mão. Merda, me devolva isso! Ele colocou três comprimidos na bebida dele, que começaram a se dissolver. Sorri com aquilo. Me devolveu o saquinho, então o guardei. Nos beijamos novamente. Fomos para a pista e ficamos dançando. As luzes piscavam freneticamente, e tudo rodava ao meu redor. Estava completamente alucinada. Uma música lenta começou a tocar. Bem, acho que era música lenta, é, parecia que era mesmo. Passei os braços ao redor do pescoço de Alex, e encostei minha cabeça em seu peito. Ficamos balançando de um lado para o outro. Tive a impressão de ter passado horas. Senti a outra mão tocar minha cintura, e me virei para ver quem era. Era , então ele simplesmente segurou meu rosto e me beijou.
14. Eu não tenho mais vergonha ou medo
Não queria abrir os olhos, ainda sentia tudo girando. Não sei quem latejava mais, se era meu ombro ou minha cabeça. Parecia que tinha uma tonelada sobre meu corpo, mal conseguia me mexer. Merda! Tinha mesmo algo me impedindo de me mexer. Tinha que abrir os olhos e ver o que estava acontecendo, mas eles pareciam pregados. Droga! Consegui finalmente, depois de um pouco de esforço abri-los. Um espelho no teto refletia uma cena um tanto quanto, bem, vulgar seria a palavra apropriada, mas acabei ficando excitada com o que via. estava com sua cabeça em minha barriga e seus braços fortes envolviam meu quadril, jogando todo o seu peso para cima de meu corpo. Alex estava deitado sobre meus peitos e abraçando meu tronco. Certo, estava presa ali. Tirando que estávamos nus. Acho que o pior de tudo era que não me lembrava de bosta nenhuma e isso me irritada.
Certo, vamos lá! Virei a cabeça e encontrei um relógio digital, que marcava já sete e meia da manhã. Puta merda! Estávamos atrasados. Passei a mão nos cabelos de na tentativa de acordá-lo, mas não deu certo, então o sacudi de leve. Ele levantou a cabeça e me olhou, depois uniu as sobrancelhas sem entender porra nenhuma do que estava acontecendo. Fiz sinal para que ele não falasse nada, apenas que me ajudasse a tirar Alex de cima de meu corpo. levantou e me ajudou a sair daquele abraço de urso. Sem perceber, estava reparando em cada detalhe de seu corpo definido. Ele era tão gostoso. Ah droga, pare com isso! Minha cabeça deu um giro e pensei que iria desmaiar, minhas pernas falharam e não consegui sustentar meu corpo. Foi só um baque seco, cai dura no chão. me olhou assustado com suas roupas em mãos. Me sentei e fechei os olhos. Estava tonta demais.
– Se machucou? – perguntou baixo, se colocando ao meu lado. Sua mão gelada tocou meu ombro, causando um pequeno choque térmico.
– Não, estou legal. – forcei um meio sorriso de lado.
– Venha, te ajudo. – sua mão tocou na minha e me puxou para cima. – Acho que passamos do limite dessa vez. – abri os olhos e o olhei. olhava para cama. – Que merda nós fizemos?
– Não faço ideia. – encostei a cabeça em seu peito. "Você não sai da minha cabeça", falei baixo para mim mesma em forma de lamento. – Hey, – coloquei meus braços ao redor de seu pescoço. – me promete que nada disso vai tornar a acontecer? – olhava dentro de meus olhos e eu nos dele. Tão .
– Não. – suas mãos alisavam minhas costas nuas. – Depois conversamos sobre isso. – encostou sua boca de leve na minha.
Não o afastei, apenas deixei que fizesse o que quisesse comigo. Não podia mais impedir minha vontade. nos separou e eu estava me sentido ridícula da forma como estava dependente dele. Senti meus sentidos voltarem aos poucos. Nos vestimos rapidamente, entre tropeços e até mesmo algumas risadas. Encontrei meu batom jogado sobre a cabeceira, o catei rapidamente e passei. Quando terminamos saímos do quarto. Parei na porta e segurei seu pulso, o puxando de volta. Segurei sua nuca com uma só mão e o beijei com toda a vontade que estava sentindo. Eu o queria tanto. Sua boca na minha era um dos melhores alucinógenos que existe. Sua mão direita segurou minha cintura, a puxando para mais perto e sua mão esquerda caçou a minha e entrelaçou nossos dedos. O nosso beijo parecia que nunca teria fim, sempre quando um mencionava se afastar, o outro ia atrás e intensificava ainda mais. O gosto de sua boca era maravilhoso. Como pude pensar em me afastar dele? Era impossível. Já estava mais do que entregue, eu era dele. podia fazer o que quisesse de mim.
Meu batom recém passado escrevia minha boca na dele, deixando registrado que eu estive ali. Minha felicidade era tanta que tive vontade de berrar até meus pulmões não aguentassem. A pergunta final, que não parava de gritar em minha cabeça, era; “Será que isso vai ter um fim?”. Sinceramente, não queria saber a resposta. Estar com ele era melhor do que qualquer coisa. Escutei um celular tocar, então parou de me beijar. Não, volte aqui. Tentei puxá-lo, mas ele não permitiu.
– Deve ser o . – murmurou, então pegou o aparelho no bolso da frente de sua calça. – É ele mesmo. – disse antes de atender. – O que foi, cara? – houve uma pausa e pude escutar a voz do meu amigo de longe. – Ok, não precisa gritar. Sim, ela está comigo. – me olhou e sorriu, passando o polegar no canto de minha boca, no qual segui com o olhar. – Estamos indo. – encerrou a ligação e voltou a me beijar.
– Hum, tenho que acordar o Alex. – reclamou, depois bufou irritado.
– , – segurei seu rosto com as duas mãos. – não precisa ficar assim. Eu sou sua. – o inacreditável aconteceu. Falei o que tanto tentava esconder. – Mesmo você não sendo meu. – abaixei a cabeça.
– , está falando sério? – engoli em seco. – Seja lá o que você tomou, ainda está fazendo efeito. – fechei os olhos com força. Por que ele tinha que ser um babaca?
– Não, estou brincando. – ergui a cabeça e dei um sorriso largo, o mais falso que já dei em toda a minha vida. – Achou mesmo que eu estava falando sério? – era impressionante como ele conseguia me fazer levantar a guarda rapidamente apenas com uma frase. – Se quiser me esperar lá embaixo, tudo bem. Vou acordar Alexander e já vamos descer.
– Tanto faz. – apenas me deu as costas e saiu andando. – Seja feliz com seu namoradinho.
– Larga de ser infantil! – berrei e depois grui de raiva. – Idiota! – bati o pé no chão.
O infeliz nem se quer me respondeu ou olhou para trás. Abri a boca para xingá-lo, mas seria completamente inútil. Bufei, nervosa e voltei para o quarto. Caminhei apressada até a cama e sacudi Alex, para que acordasse. Peguei suas roupas no chão e as joguei em cima dele, depois fui até a janela e a abri com brutalidade, fazendo o maior barulho. Que raiva. Bendita hora em que fui beijar no gramado da escola. Olhei para o lado de fora, onde já tinha um sol radiante. Sem dúvidas hoje seria um belo dia.
– Acho que alguém acordou de mau humor. – Alexander falou, mas nem ousei olhá-lo ou responder. – Merda, deve estar cuspindo fogo, estamos uma hora atrasados.
– É. – me virei e ele já estava de pé vestindo suas calças. – Te espero lá fora.
Passei por Alex de braços cruzados sem a menor vontade de manter uma conversa. Sai do quarto batendo a porta atrás de mim. Caminhei apressada até o elevador. Meu peito subia e descia rapidamente, tentando puxar o ar que me faltava. Algo esmagador tinha dentro de mim que me impedia de respirar direito. Um bolo em minha garganta não me deixava dar mais nenhuma palavra. Uma sensação horrível estava tomando conta de minha cabeça, que estava ficando pesada. Apertei o botão violentamente várias vezes. Quando a porta dupla se abriu dei de cara com um espelho de meio corpo. Meu reflexo era abominável, meus cabelos estavam um lixo, além de estarem soltos e completamente embaraçado. Minha maquiagem estava destruída e em meu pescoço tinha um chupão gigante, bem roxo. Dei um passo a frente e entrei no elevador. A agonia era tão grande que quando percebi, senti uma lágrima escorrer do canto de meu olho. Levantei a cabeça e encarei o teto na tentativa de fazer tudo o que estava sentindo voltar para dentro e tudo isso parasse. A porta se fechou, então me encontrei sozinha. Segurei minha nuca com força e gritei. Gritei o mais forte que consegui e dei um soco no espelho, que veio ao chão em cacos.
– Eu te odeio ! – estava agindo como criança e estava ciente disso, mas que se foda!
Senti o sangue escorrer pela minha mão e isso me fez voltar para a terra. Merda, o que estava fazendo comigo mesma? Senti que tinha chegado ao limite. Uma adrenalina intensa percorria por todo o meu corpo, me sentia elétrica e bem mais leve. Foi como se tivesse liberado aquilo que estava dentro de mim. Ri. Ri sozinha, ri da minha atitude ridícula. Pois, era isso que estava sendo. Tudo ao meu redor não passava de uma mentira ridícula. A porta se abriu e tinha um casal de velhos esperando o elevador e assim que olharam para dentro, me encararam assustados. Fingi não ter percebido. Apenas continuei andando e fui até a recepção. Joguei o dinheiro sobre o balcão, no qual achei o suficiente para pagar o quarto e a merda que tinha feito. A mulher me olhou assustada.
– Quarto 807. – falei amarrando meu cabelo com ele próprio em um coque. Ela olhou no computador.
– Você me deu dinheiro a mais. – declarou me devolvendo algumas notas.
– Fica pelo serviço de quarto. – sorri e dei uma piscadinha.
– Mas... – não escutei o resto da frase, apenas sai andando.
Meu ombro estava me incomodando, mas pelo o que parecia não tinha arrebentado nenhum ponto. Minha cabeça estava a ponto de explodir, mas sentia que poderia ir correndo até o porto onde nos esperava. Estava acelerada. Minha mão estava pingando, então fui até o segurança que estava de óculos de sol e terno, na frente do hotel.
– Hey, cara. – o chamei. – Tem um lenço ai? – pedi e ele me olhou.
Ele abriu o terno e me entregou um lenço branco, depois ficou me analisando. Limpei minha mão, que tinha um corte em cima do osso, perto do dedo mindinho e parecia ter sido um pouco fundo. Ficaria uma marca ali.
– Pode ficar com ele. – disse ele, se colocando a sua posição de antes.
– Hum, valeu. – enrolei minha mão fazendo um torniquete.
Alex apareceu olhando para os lados, me procurando. Fui até ele, que sorriu quando me viu, tão gracioso, que se a minha raiva não fosse tão grande teria me sentido até feliz com aquilo. Mesmo assim não pude evitar de dar um sorrisinho de volta. Não foi nem preciso chamar um táxi, pois já tinha um ali nos aguardado. Entrei no banco de trás e fiquei próxima a janela, apenas falei com o motorista onde deveria nos levar. Será que Alexander se lembrava do que acontecera ontem a noite?
– O que aconteceu com a sua mão? – perguntou tocando nela.
– Soquei o espelho do elevador. – respondi pouco me importando o que ele acharia da minha atitude.
– Hum. Deve ter doído. – o olhei e depois voltei a olhar para o lado de fora. – Você não liga para o que as pessoas acham, não é?
– Não, não ligo. Sou o que sou, ninguém vai mudar isso. Então para que me importar com o que as pessoas acham ou deixam de achar? Eles que se danem. – respondi o que se passava pela minha mente. – Não posso obrigar ninguém a gostar de mim. Podem olhar e pensar o que quiserem.
– É por isso que gostei de você. – ri com seu comentário. – Em seu dicionário não deve existir a palavra vergonha ou medo.
– É, não deve. – uni os lábios em uma linha reta. – Você se lembra do que aconteceu na noite passada?
– Não e você? – me senti aliviada.
– Também não. Bem, talvez não seja para ser lembrada mesmo. – mesmo assim, queria lembrar. – Mas deve ter sido legal.
– Sim.
E esse foi nosso papo empolgante até o porto. Quando chegamos todos estavam lá. De braços cruzados com cara de cú com câimbra. Revirei os olhos e passei por eles sem desejar bom dia. Estava sendo uma grossa estúpida mesmo, não estava a fim de dar sorrisinho para os outros e receber desaforo de volta. Entrei na lancha e me sentei no lado de fora para ir tomando um sol no caminho. Cruzei os braços e as pernas. Todos entraram e não houve nenhum falatório. Todo mundo quieto demais. Lais veio e sentou-se ao meu lado, então encostou sua cabeça em meu ombro.
– Não quero te ver na merda. – disse ela. – Meu irmão morreu por causa dessas coisas. – suspirou. – Ele era tão bom, não merecia um final trágico.
– Meus pêsames pelo seu irmão. – falei do meu modo frio. – Como que ele morreu?
– Com um tiro na cabeça, briga com a polícia. – senti algo molhar meu ombro, Lais estava chorando. – Jared foi um idiota. – meu coração apenas parou. Ela disse, Jared? Meus olhos ficaram quentes e molhados. – Eu disse que era para ele não se meter com essas coisas.
– É realmente uma pena. Ele deveria ser um grande homem. – não podia chorar. Segure firme.
– E era. Não quero te ver metida com drogas. Está me escutando? Já pedi alguém muito importante, não posso perder outra pessoa também. – a abracei, então ela chorou mais ainda em meu ombro. – Me promete que não vai mais usar aquelas porcarias?
– Prometo. – afaguei seus cabelos. – Pode chorar, estou aqui contigo.
Não fazia ideia de qual seria a reação de Lais se soubesse que eu estava envolvida com drogas, ainda mais junto com seu irmão. Bem, não queria pensar nisso agora. Já era passado, no qual já estava enterrado a sete palmos. Jared morreu e levou toda a merda que fiz com ele pro caixão.
passou por nós e parecia que nos procurava, já que quando me olhou fez uma cara estranha. Apenas acenei com a mão que era para ele não perguntar nada naquele momento. Assim que chegamos na ilha, cada um foi para seus quarto, estávamos cansados demais. Deitei na cama, mas não consegui pregar os olhos, aos poucos cenas da noite anterior apareciam em minha mente com flashes fotográficos. Nada fazia muito sentido, apenas cenas aleatórias. , Alex, eu e muita gente ao nosso redor. Sexo, bebidas e drogas. Cama, corpos suados e gemidos. Era só isso. Senti meu estômago roncar e minha boca ficar seca. Estava com fome e morrendo de sede. Assaltei a geladeira e como o destino gosta de gozar, estava lá na cozinha, com um copo de leite na mão. O ignorei, mas meu corpo me fazia lembrar a todo o momento sua presença ali. Peguei pasta de amendoim e suco de laranja na dispensa, catei o pão de forma e me sentei a mesa. Conseguia sentir o olhar de em cima de mim e isso estava me irritando. Porra, qual era a dequele moleque? Me comer e depois ficar se gabando, claro, além de ficar me secando e esfregando sua namoradinha babaca na minha cara. Engoli meu pão e praticamente joguei o prato e o copo que usei dentro da pia. continuava lá, parado que nem um palerma. Como se só o fato dele estar presente no mesmo lugar que eu não bastava, ainda tinha que ficar me secando como se eu fosse um frango frito. O que ele tanto olhava? Minhas coxas de fora? Minha bunda que estava coberta com uma calcinha de shortinho? Meus peitos nos quais ficavam marcados em minha camiseta de dormir? Em vez deu sair da cozinha e acabar de ignorar aquele patife, eu tinha que abrir a minha maldita boca.
– Qual foi? Sou alguma pintora ou uma escultura de arte para ficar me olhando? – perguntei indicando meu rosto e depois o resto de meu corpo.
– Bem, não está muito longe de ser uma escultura e uma das gostosas. – cerrei meus olhos e quis morder a minha língua por ter aberto a merda da minha boca.
– Hum. Olhe bastante, porque isso, – levantei minha camiseta mostrando meus peitos. A cara que fez com a minha ação foi impagável. – você não toca mais. – sai da cozinha.
Me pergunto que bosta tenho na cabeça para ter acabado de fazer aquilo. Tirando o fato de adorar provocá-lo, eu odiava quando ele fazia isso, e o resto do dia foi assim, um provocando o outro, que nem duas crianças do jardim de infância. Ele queria guerra?! Então teria guerra! era abusado, toda hora me olhava para checar se eu estava olhando para ele e vice versa. Aquele moleque sabia exatamente o que fazer para me deixar irritada ou com tesão apenas com um simples ato, mas fingi que nem me importava, como sempre fazia. À noite eu e Lali acordamos com uns barulhos do lado de fora da casa. Merda, que bosta poderia ser? Algum animal? Mas estávamos em uma ilha, que bicho poderia ser? Fiquei deitada tentando pensar no que poderia ser.
– O que será? – Lais se levantou colocando um short. – Será que é ladrão?
– Ladrão na ilha? Acho meio difícil. Vamos lá ver. – Levantei vestindo um short também. Estava curiosa demais.
Fomos até a lavanderia e cada uma pegou um objeto para se defender. Eu impus um rodo em mãos, enquanto Lais tinha uma vassoura. Saímos da casa de fininho seguindo os barulhos. Minha amiga estava morrendo de medo, já eu queria rir daquela situação besta.
– Amiga, estou com medo. – Ela resmungou pela vigésima vez.
– Anda, vamos. Não deve ser nada, apenas um animal. – Fui na frente com o rodo na mão. Como se eu precisasse, né? Mas vamos manter as aparências, que é bom. – O barulho está vindo da piscina.
Acenei com a mão. Demos passo ante passo nos desviando de tudo o que encontrávamos no caminho, que estava bem bagunçado. Alguém tinha feito uma bela arruaça por ali. Chegamos até o deque da piscina onde estava tudo escuro. A única coisa que escutávamos era sussurros, mas não dava para entender muito bem. Conseguimos enxergar duas pessoas, que estavam à beira da piscina.
– Amiga, é ladrão. – Lali quase chorava atrás de mim.
– Shiu. Vão nos escutar. – fiz sinal para que ela se calasse. – Olha, vou dar a volta. Você fica aqui. Quando me ver e eu der o sinal, nós atacamos. OK? – o plano seria simples.
– E se eles tiverem armados? – pude ver as mãos de Lali tremerem e fiquei com um pouco de pena.
– Quieta. – dei um tapa em seu braço.
– Seria melhor se nós chamarmos os meninos, não? – Lais segurava a vassoura com força, na tentativa de parar de tremer.
– Não. Me espera, vou dar a volta. – Sai correndo e dei a volta na casa aparecendo o outro lado.
Fiz um sinal para que Lali me visse, então ela acenou de volta. Contei de um até três nos dedos para que ela visse e corremos para cima das duas pessoas que estavam na beira da piscina, claro, gritando, como se estivéssemos em meio de uma guerra de espartanos. Demos vassouradas e rodadas neles os tacando dentro da água. Pelos nossos gritos acordamos a casa toda. Logo a luz de fora se acendeu e surgiu na porta junto com Alex, e Perez. Todos nos olhavam apavoradas, então olhei para minha amiga que estava descabela, e eu não deveria estar muito diferente. Senti meu ombro latejando um pouco pelo esforço que tinha feito, mas não era nada demais.
– Suas loucas! O que pensam que estão fazendo?! – escutei xingar de dentro da piscina, todo molhado.
Green estava atrás dele, o abraçando e pelo que vi, estava nua, assim como ele. Eu e trocamos um olhar, um com raiva do outro. Ele por eu ter o espancado com o rodo e eu por ele estar comendo aquela vadia. Cretino, o jogo não era esse, eu não ia transar com o Alex para todo mundo ver. Infeliz!
– Vocês estavam se… – Lali fez o gesto com as mãos.
– É! – estava revoltado.
– O que está acontecendo? – veio até nós.
– Amor, pensamos que eram ladrões, estava tudo escuro e tals… – Lais tentou explicar gesticulando seus braços para todos os lados quase acertando eu e o com a vassoura.
– Aí, pegamos um rodo e uma vassoura para defender a casa. – Completei a história sem fazer o rodeio todo que minha amiga fazia.
– E nos encheram de vassouradas! – Disse Green nervosa se agarrando ao . Ah!!! Tire suas patas dele. Eu estava ao ponto de entrar dentro daquela piscina e bater nos dois.
– Foi mal! Não sabíamos que eram vocês. – Lali se desculpou dando um sorriso debochado.
Todos menos e Green começaram a rir, e eu, é claro. Não estava vendo a menor graça naquilo tudo.
– Não estou achando graça alguma! – falou revoltado olhando para mim. Querido, somos dois então.
– Mas foi! – Lais gargalhava demais.
– Não tinha um lugar melhor para se comerem, não? – perguntei segurando o rodo com força em minha mão. Estava com vontade de quebrar aquela merda na cabeça daqueles dois.
Foi divertido estragar a transa dos dois. Muito divertido! Mais ainda estava com muita raiva, pois se não tivéssemos impedido... aí, vocês já sabem o que teria acontecido e nem quero pensar nisso, que ficaria com mais raiva que já estava. Eu devia estar vermelha que nem um tomate de tão nervosa.
– NÃO! ESTAMOS DORMINDO EM QUARTO SEPARADOS! – Green estava exaltada. – VOCÊ QUERIA O QUÊ?!
– Já pedimos desculpas, não foi a nossa intenção atrapalhar os animais se acasalando. – ironizei dando um sorrisinho.
– , vai se ferrar! – me xingou, reformulando, ele relinchou.
– Também te amo, amor. – debochei piscando e mandei um beijinho para ele. Meus olhos o fuzilavam, mas ainda não ia dar meu braço a torcer e começar uma briga.
me tacou água, me molhando inteira. Esse moleque tinha bosta na cabeça! Eu ia pular lá dentro quando senti a mão de Lais segurar meu braço. A olhei e ela negou com a cabeça.
– Seu animal! Molhou meu pijama! – Xinguei jogando o rodo na direção dele, mas errei feio.
– Molhei mesmo, sua maluca! E vou molhar mais ainda se não sumir da minha frente. – Ele praticamente gruiu, sem dúvidas ele estava tão nervoso quanto eu e nunca tinha visto daquela maneira.
– Grosso, estúpido, ogro… – Lais saiu me arrastando para dentro da casa enquanto eu xingava. Peguei a vassoura da mão dela e também taquei dentro da piscina, mas dessa vez acertando na cabeça dele. Isso!
– Vaca. – falou colocando a mão na cabeça.
– Vaca é a… – Tamparam minha boca. Droga, me deixem acabar de xingar!
– Chega de escândalo. – Disse me segurando com força agora. – Vem comigo. – Ele saiu me puxando para a praia. Que horas eu saí da mão de Lais e fui parar na de ?
– Me solte . – Resmunguei puxando meu braço e dando uns passos para trás.
– O quê aconteceu mesmo lá? Você não fez de propósito só para atrapalhar eles, fez? – me olhava desconfiado. Agora devo ser a bruxa dos contos de fadas!
– , você está desconfiando de mim? – perguntei colocando o indicador em meu peito, enquanto dava alguns passos cambaleando.
– De você espero tudo. – a nossa conversa estava sendo mesmo séria.
– Sério, dessa vez não. Pensamos que eram ladrões. – levantei os braços. – Sou inocente!
– E se eles tivessem armados? Vocês duas não têm juízo? – Ele me repreendeu.
– Ah, nem pensamos nisso na hora. Bem, eu não, a Lais sim. Mas confesse que foi cômico. É que você não estava quando começamos a dar as vassouradas neles. – Comecei a rir e não resistiu e riu junto.
– Menina, você é impossível sabia? – deu um sorriso por fim.
– Eu sei disso. – dei uma piscadinha marota.
Então a tensão daquela conversa foi quebrada. Voltamos para casa rindo, falando qualquer besteira. E eu já tinha esquecido a raiva que estava sentindo. Vi e Green saindo da piscina.
– Uhulll gostoso! – Gritei zoando que estava com a bunda à mostra para quem quisesse ver.
– . – me cutucou. – Você não tem jeito.
– Ué, é gostoso mesmo. – Dei de ombros.
olhou para nós e fez sinal feio para mim. Cerrei os olhos, achando aquilo o maior desaforo. Ele vestiu sua cueca.
– Sua mãe não te deu educação? – Perguntei irritada. Minha vontade de socar a cara dele, voltou.
– Com vadias que nem você não costumo ter educação. Além do mais, bem que podia pedir um manual de instruções para sua mãe, de como tratar putas. – Green que estava ao seu lado, soltou uma pequena risadinha. – Bem, pensando melhor, posso eu mesmo perguntar à ela e quem sabe sua mãe pode me pagar um boquete melhor do que você. – agora ele riu. – Já que nem pra isso você serve. Para filha de uma prostituta, acho que esperava mais. – conforme ele ia falando, o cretino se aproximava de nós. Suas palavras tinham me pegado tão de surpresa, que nem se quer estava acreditando no que escutava. – Sua vadia.
– , chega. – entrou na minha frente, impedindo que ele se aproximasse mais. – Já extrapolou os limites.
– Qual é , vai defender a putinha, agora? Ela também está te dando a bunda? – reação? Bem, essa desconhecia no momento. fez o que nunca se passou em minha cabeça que ele faria. Deu um murro no rosto de . – Fala sério, cara! Vai me socar por causa dessa bosta?
– , eu já disse, chega! – foi então que meu corpo agiu por si só. Passei por e pulei em cima de . – , não! – estava cega de raiva, as lágrimas de ódio escorriam de meus olhos.
Braços me seguravam por todos os lados. Eu só conseguia escutar minha voz berrando todos os palavrões e advérbios existentes que poderia xingar aquele desgraçado do . Como ele se atrevia a falar comigo daquele jeito? Cega, cega, cega. Minhas pequenas mãos juntas agarraram o pescoço daquele animal. Minhas unhas fincaram em sua pele. Houve um solavanco bruto e então alguém conseguiu me tirar daquele lugar. Todos os meus músculos tremiam, meu rosto estava molhado e minha garganta doía. Não sabia mais onde me encontrava.
– Hey . – me sacudia. – Olha para mim!
Eu não respondia nada. Minha cabeça estava a mil! Não sabia se queria enfiar um soco bem dado na cara do ou se queria cair ali no chão e começar a chorar. Olhei para minhas mãos e vi um pouco de sangue na ponta de meus dedos. Tentei engolir o bolo que tinha em minha garganta, no qual me impedia até mesmo de respirar.
– Boneca, me responda. – passou a mão no meu rosto. – Não, você não vai chorar. O é um imbecil, não ligue para o que aquele babaca disse.
As lágrimas escorriam sozinhas sem eu falar ou fazer nada. Rolavam pelo meu rosto molhando minha camiseta do pijama. me abraçou. Reparei que nos encontrávamos na cozinha e estávamos sozinhos, pelo menos ninguém tinha visto aquela cena ridícula. disse que não era para eu liguar para as coisas que escutei. Afinal, como não ligar? sambou na minha cara e eu não consegui nem ao menos me defender. Só o sentimento de ódio me dominava e esse sentimento era muito ruim. Me fazia querer berrar, chorar e...e... droga, tinha vontade de me matar. É péssimo admitir uma bosta dessa, mas essa era a merda da verdade. Não conseguia acreditar no nível que chegamos, era algo que não entrava em minha cabeça de forma alguma.
– Boneca, não fique assim. – os braços de meu amigo, me envolveram com ternura.
– . – Chamei e minha voz saiu mais fria do que eu pensava. – Se eu chorar mais uma vez pelo , me prometa que irá parar de falar comigo. – pedi fitando o nada.
– Hey, hey, hey. Pare de falar essas besteiras. – Disse secando meu rosto.
– Estou com muita raiva de mim mesma por estar fazendo isso. – era como se eu tivesse entrado em piloto automático.
– Venha, vamos dormir. – ele pegou minha mão e me guiou até o quarto onde eu estava dormindo. – Lais, posso dormir hoje aqui com a ?
– Por quê? O que aconteceu? – Ela nos olhou um tanto preocupada. – , está chorando? – veio em minha direção. Não respondi.
– Ela não está se sentindo muito bem. Durma lá no quarto dos meus pais. Alex dorme no sofá da sala. – Pediu .
– Não, tudo bem. – Ela pegou seu travesseiro, lençol e saiu do quarto fechando a porta com calma.
Lais era uma garota legal e também era, eles formavam um belo casal. Me deitei na cama com ao meu lado. Ele acabou pegando no sono, mas e eu? Minhas pálpebras não fechavam por nada. Fiquei a noite toda chorando que nem uma criança. Por que ele falou daquele jeito comigo? Sou tão ruim assim? Será que sou mesmo uma vadia e não percebi isso? Eram tantas perguntas em minha cabeça, que estava difícil de digerir todas. Bosta de vida! O sol nasceu, acordou e nada deu ter conseguido dormir.
– Bom dia. – Disse ele se espreguiçando. – Está melhor?
– Uhum. – Forcei um sorriso.
– Você ficou chorando a noite inteira, né? Seus olhos estão inchados. – se apoiou em um só braço.
– Não, é impressão sua. Acabei de acordar e você não quer que meu rosto esteja inchado? – Tentei mentir, mas foi um fracasso. Eu estava começando a chorar de novo. EU ERA UM FRACASSO!
– Shiu. Não chore minha boneca. – Ele me abraçou. – Olha se não está se sentindo bem eu peço para meu pai mandar o jatinho e vamos todos embora.
– Não, . Não vou estragar suas férias por isso. O problema é meu, vou arrumar minhas coisas e vou embora. Vai ser melhor para todos assim. – afundei minha cabeça em seu peito.
– Olha, , estou com você para o que der e vier. Não vou me sentir bem sabendo que está em casa desse jeito. – Falou sério alisando minhas costas.
– Por favor, . Não quero que estrague as férias do pessoal. Me deixa ir, vou ficar bem. Aproveito e passo esses dias na casa de meu pai. – só queria ficar sozinha.
– Eu não deveria te deixar ir. Mas com você aqui perto demais do não está dando certo. – Disse com compreensão. – Vou ligar para meu pai mandar o jatinho.
– Não! Eu trouxe dinheiro, vou comprar uma passagem no aeroporto e ir para casa. Não precisa se preocupar comigo. – levantei a cabeça e o encarei.
– Então me deixe pelo menos te acompanhar até o aeroporto. – pediu, colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. – Seu rosto está inchado. – alisou minha bochecha.
–Vou arrumar minhas coisas. – Levantei, escovei os dentes e arrumei minha mala com a ajuda de .
Ele foi trocar de roupa enquanto levei minha mala gigante para fora. Coloquei uns óculos escuros bem grandes na expectativa de ninguém notar minha cara de rosquinha mutante.
– Está indo embora? – Alex me perguntou tristonho, vendo minhas coisas arrumadas.
Acho que nunca gostei tanto de usar óculos, ele tampava grande parte de meu rosto, e se eu conseguisse controlar minha voz, ninguém notaria nada.
– Problemas familiares. Meu pai precisa de mim. Meu irmão também está de férias e a babá se mandou. – Inventei qualquer mentira que veio em minha mente.
– Ah sim. Boa sorte com seu pai e irmão. Nós vamos nos ver de novo? – ele deu um sorriso, que se eu não estivesse em um momento fossa, aquele sorriso teria iluminado meu dia.
Sorri mesmo sem vontade e o abracei. Seu perfume era gostoso.
– Pergunte ao seu primo onde me encontrar. Claro, se você quiser. – Dei um selinho demorado em Alex.
– Vamos ? – apareceu na sala já arrumado.
– Sim. Tchau Alexander. – lhe dei um beijo agora. Ele me segurou pela cintura, e por um breve momento me senti menos pior. Pelo menos Alex era um cara legal.
– Alex… – Sorriu me corrigindo. – Tchau, . – me deu um abraço apertado.
Mais ninguém estava acordado. foi comigo até o aeroporto e esperou que eu embarcasse no avião.
– Manda um beijo para todos. Nos vemos depois das férias. – Falei dando um abraço nele. – Te amo menino. Você é o melhor amigo que já tive.
– Tudo bem. Também te amo, você é a melhor amiga que já tive. – Repetiu. – Me parte o coração te ver assim.
– Vai passar. Só preciso de um tempo. – Forcei um sorriso. Claro, um tempo, a quem queria enganar com essa desculpa?
– Qualquer coisa me ligue. Seu carro vai estar lá em casa, passe lá para buscá-lo. – avisou.
– Uhum. – Sai andando em embarquei no avião.
A viagem foi chata, já que minha cabeça estava em momento de estourar.
Quando cheguei em casa a noite tinha um papel na porta.
“Aviso de despejo. Esvaziem o local em dentro de 24hs.”
Arranquei o papel na porta e entrei. Quanto tempo será que colocaram esse aviso? A casa estava um chiqueiro. Um cheiro de cigarro insuportável, misturado com álcool e sexo. Vi minha mãe deitada no sofá com uma garrafa de vodka na mão, apenas vestida com uma camisa. Cena nojenta. Mas que merda é essa? Deixei minha mala perto da porta. Me assustei quando um homem saiu do banheiro subindo as calças. Ele parecia um Neandertal.
– Quem é você e o que está fazendo aqui? – Perguntei para o homem que tinha um cigarro na boca.
– Hum. Serei o homem que te deixará louca, gostosinha. – Ah que nojo! Ele me olhava com cara safado quando veio para cima de mim que nem um monstro. Poderia jurar que as coisas trepidaram com os passos dele.
Sai correndo para a cozinha e fiquei do outro lado da mesa. Quem era aquele homem? Nem vou questionar o que ele estava fazendo ali, já sabia que tinha sido minha mãe quem o trouxe para cá. Eu tinha que chegar até a porta e me mandar dali. O cara era grande demais e com certeza eu não daria conta. O maluco tinha a estatura do The Rock! Não sei nem como que ele conseguiu passar pela porta do meu apartamento. Meus socos nem se quer fariam efeito nele e caso este me acertasse um tapa que fosse, pode contar que eu agarraria na parede feito uma lagartixa.
– Hey, gostosinha não fuja de mim, só vou te fazer um carinho. – Ele abria as calças, e eu sentia meu estômago revirar só com a ideia dele tocando em meu corpo.
– Seu porco, fique longe de mim! – Falei e peguei uma garrafa vazia de cerveja que estava em cima da pia. Era aquilo ou nada!
– Não seja má, vem pro papai, aqui. – O homem pulou pro cima da mesa quase me pegando.
Quebrei a garrafa em sua cabeça o que fez ele cair no chão, então corri para sala.
– Mãe! Acorda. – Sacudi ela, mas a mulher nem respondeu. – Mãe…
O homem se levantou com a mão no rosto, sua roupa estava suja de sangue. Olhei assustada quando vi ele correndo para cima de mim que nem um touro. O porco pulou por cima do sofá o que fez minha mãe cair no chão, mas mesmo assim ela não reagiu. Me arrastei para trás e levantei. Corri até a porta, mas ela estava trancada. Para que eu tranquei isso? Vi as chaves sobre a mesinha de centro, sem chances! O cara se levantou.
– Ai. meu Deus. – Falei sem saber o que fazer, então fui para meu quarto trancando a porta assim quando entrei.
– Sua cadela! Abra essa porta! – Ele esmurrava ela com violência, senti que aquilo não o aguentaria muito tempo.
Peguei meu celular no bolso de trás de meu short e liguei para David. Minhas mãos estavam trêmulas. Nunca tinha ficado apavorada daquela maneira. Acho que o tamanho daquele cara me assustava.
– Alô. – Disse David ao atender.
– Delegado, por favor, me ajude. Tem um homem na minha casa… – A porta foi arrombada o que me fez gritar de susto.
– Sua piranha. – O homem me deu uma bofetada no rosto.
Meu celular voou para algum lugar que não vi onde, assim como eu fui para o chão feito uma banana. Maldito. Senti um gosto forte de sangue em minha boca, fiquei na dúvida se meus dentes ainda estavam no lugar. Levantei rapidamente. O cara estava de pé esperando pela minha reação. Parti para cima dele para lhe dar um soco, mas o homem segurou meu braço esquerdo com força o torcendo. Minha mão sumia dentro da dele, eu estava usando toda a minha força, mas aquilo não era nada. Eu era fraca demais.
– O que pensa que ia fazer? – Perguntou torcendo cada vez mais, me prensou contra a parede e fazendo com que eu ficasse de costas para ele. – Responda sua vadiazinha. – Puxou meu cabelo com força para trás e bateu com meu rosto na parede.
– Me larga. – Tentei puxar meu braço que ele segurava, mas foi pior. Apenas ouvi um estalo e uma dor insuportável no meu antebraço. – Me solta, por favor. – eu não pedi, implorei. Meu braço estava doendo pra caralho.
– Cala a boca! – Ele passava a mão em minha bunda. – Cadê toda a sua coragem agora?
Eu tinha que fazer alguma coisa! Mas o quê ? Estava assustada demais para reagir. Pensa , pensa. A dor desviava qualquer pensamento. Eu não podia deixar alguém tomar posse de meu corpo sem meu consentimento, não mais. É horrível só de lembrar como isso me aconteceu quando pequena, não queria reviver isso por nada. O cheiro que aquele sujeito inalava era muito ruim. Ele não devia tomar banho há um mês no mínimo, tirando o bafo.
– Está bem! – Falei era melhor entrar na dele. – Faço o que você quiser.
– É assim que eu gosto. Que seja obediente. – Ele me virou com força e prensou meu corpo na parede, usando o dele.
Dei uma joelhada bem em suas bolas e o empurrei com braço direito. Sai do quarto e me tranquei no banheiro. Me sentei atrás da porta. Olhei para meu braço quebrado, e dava para ver o osso levantado por debaixo da pele, sorte que não a rasgou. Peguei uma escova de dente, coloquei em minha boca e empurrei o osso que estava levantado para o lugar. Dei mais um grito de dor aguda. Era inevitável não chorar de tanta dor. Senti minha boca cortada por dentro e meu ombro arder. Tive certeza que aquela bosta de ponto tinha aberto novamente, pois senti minha blusa molhada nas costas. Deus o que eu fiz para merecer isso? No banheiro não tinha janela, nunca odiei tanto morar em um subsolo.
– Sua puta! – Escutei o homem gritar.
– Por favor. Por favor. Por favor, vá embora. – resmungava chorando. – Deus, me ajuda. Sei que sou uma péssima menina, mas, por favor. Juro que não vou mais roubar ninguém. Por favor!
Senti a porta sendo esmurrada, então me firmei mais para trás dela para segurá-la. Até parece que ia adiantar muito.
– Vai embora! – Gritei apavorada.
– Abra essa merda! – Ele continuava porrando a porta. Pensei que ele a derrubaria comigo junto.
– Vá embora! – Gritei de novo.
A porta se abriu. Segurei com força, mas não adiantou. Ele a abriu a fazendo bater em minha cabeça. Senti o sangue quente escorrendo pelo meu rosto e fiquei meio tonta. Não vá desmaiar! Você precisa reagir. Mãos brutas seguraram meu braço com força. Minhas costas bateram no azulejo do banheiro fazendo até alguns racharem com tanta força que ele usou. Fiquei sem ar, minha cabeça girava mais que antes. Ainda tentei empurrá-lo com meu braço bom, mas ele o segurou e o prendeu acima de minha cabeça, segurando com sua mão bruta.
– Me deixa, por favor. – Resmunguei tonta, era a única coisa que me restava agora.
– Cale a boca! – Recebi um soco no rosto.
Mais gosto de sangue. Terror, era isso que se passava por mim cabeça. Estava revivendo aquele terror e eu não conseguia mais me defender. Fiquei sem força para reagir, meu corpo estava mole, meus braços e pernas não reagiam aos comandos do cérebro. Mas, conseguia falar agora. Senti algo forçando meu short para arrancá-lo. Não, por favor, não. Isso era a única coisa que se repetia infinitas vezes em minha mente. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Escutei o barulho do jeans sendo rasgado e machucando minhas coxas por esse motivo. Uma mão agarrou minhas pernas as forçando para serem abertas. O homem bateu minha cabeça contra os azulejos mais duas vezes. Apaguei!
– . , abra os olhos. – Alguém dava leves tapinhas em meu rosto. – Chamem os paramédicos. – Uma voz longe disse. – Arranje uma toalha ou pano também.
Eu queria abrir os olhos, mas estava muito difícil. Meu corpo parecia que tinha passado por um moedor de carne moída. Não conseguia me mexer, tudo doía ao extremo.
– , você está me ouvindo? Responda algo. – Reconheci a voz de David. – Cadê a bendita toalha?! – Gritou nervoso.
– Está aqui, senhor.
Algo cobriu minhas pernas, por sinal deveria ter sido a toalha.
– Delegado. – Minha voz saiu fraca.
– , está me escutando?
– Uhum. – Consegui abrir os olhos. – O que aconteceu?
– Depois digo o que aconteceu. Não se esforce. Fique calma, os médicos já estão vindo.
Não respondi e fechei os olhos. Estava com dificuldade de respirar. Dor e terror, era as únicas palavras que eu poderia falar que existia em meu dicionário agora. Pelo barulho os paramédicos tinham chegado. Me tiraram de casa em uma maca ou sei lá, não estava vendo muita coisa. Acho que eles me deram um sedativo, porque fui ficando sonolenta cada vez mais. Abri os olhos e vi um teto branco. Olhei para a janela e já era dia. Estou começando a odiar hospitais. Me sentei na cama, meu corpo ainda estava doendo, mas menos em alguns lugares e mais em outros, como minhas costas e minhas costelas. Meu braço esquerdo estava engessado e o quarto vazio. Então apertei a campainha e logo apareceu uma enfermeira.
– Chamou? – perguntou entrando e fechando a porta atrás de si.
– Sim. Tem alguém aqui comigo? – Perguntei.
– Sim, o homem que estava aqui desceu para tomar um café, mas já deve estar voltando. – Disse com simpatia. – Está sentindo algo?
– Parece que um trator passou em cima de mim, isso é bom? – Dei um meio sorriso.
– É porque seu corpo está relaxado. Irei chamar o Doutor. – Ela saiu do quarto.
Encostei minha cabeça na cômoda da cama e doeu muito.
– Merda! Onde que mexe nisso para essas camas ficarem curvadas? – Procurei e vi um controle em cima da cabeceira, me enguicei até ele com dificuldade. – Seu danado, te peguei. – Apertei os botões.
Alguém entrou e vi que era David com um copo de café na mão.
– Que bom que está acordada. Como se sente? – deu um sorriso, tentando me animar.
– Estrupada. – Respondi fazendo uma careta.
– Ah sim, não deu tempo dele fazer nada disso contigo. Quando chegamos o pegamos tentando arrancar sua roupa intima. E os médicos disseram que não tem nenhum sinal de penetração forçada. – explicou colocando o café no criado mudo.
– Nossa você conversa assim com sua filha? – Perguntei surpresa.
– Se for preciso, sim. Estou acostumado lidar com todo o tipo de coisa na delegacia. – David falou tranquilo. – Mas e você está bem?
– Um braço quebrado e parece que fui pisoteada. Tirando isso está tudo horrível, porque estamos sendo despejados e o garoto que eu gosto me chamou de vadia e mais um monte de merda, engravidou a namorada dele e ainda por cima diz que gosta de mim. Tirando isso tudo sou uma pessoa feliz. Tenho uma mãe prostituta, um pai alcoólatra, meu ex era um assassino psicopata e todos os caras com quem me envolvo são merdas! Será que me esqueci de alguma coisa? – ergui uma sobrancelha.
– Nossa. Alguém acordou irritada.
– Um pouco. – sorri.
– Então, temos que conversar. – ao escutar aquilo lembrei de tudo que já tinha feito em minha vida. David puxou uma cadeira de ferro e sentou-se ao lado da minha cama. – É sobre esse machucado de tiro em seu ombro.
– O que tem ele? – tive que me manter calma, pois estava conectada ao aparelho de cardiograma, que controlava meus batimentos constantes. Me lembrei do que Jared me falou se algum dia isso acontecesse. Que era para que eu acreditasse que minha mentira fosse verdade, me concentrasse em algo material e mantivesse a calma.
– Charlotte me contou que você disse que isso era uma medalha de honra por ter ajudado alguém que não merecia. – controle, mantenha o controle.
– Charlotte? – perguntei estranhando ela estar envolvida nisso. David soltou o ar.
– Ok. Faremos o seguinte, você me conta tudo o que sabe e eu te conto o que está acontecendo. – sugeriu dando um gole em seu café.
– Certo. Comece você. – pedi para que desse tempo deu formular que história contaria a ele.
– Você faz parte de uma investigação. Não sou delegado, mas estou disfarçado de um. Sou um agente especial do FBI e estou liderando a investigação. – sustentei seu olhar. – Estávamos atrás dessa mafia já faz dois anos. As poucos conseguimos pegar alguns traficantes que estavam envolvidos. Jared era um deles. Mas ele morreu antes de conseguirmos um interrogatório. Então veio você, envolvida com tudo isso até o pescoço. Charlotte entrou na sua escola para soldar o que você fazia mais de perto, sem ser realmente notada. Ela também é uma agente. – Ok, estava vendo que iria me ferrar. – Quando te mandamos atrás de Jack, foi para ver se vocês se conheciam. De dois, um. Você não sabia de nada e fez tudo por instinto, ou, sabia de tudo e está escondendo mais do que pode.
– Fico com a primeira opção. – falei me ajeitando na cama.
– Então, por que esteve em New Jersey? – ele me encarava. – Você ajudou alguém a escapar. Quem? Achou mesmo que Gab não me contaria?
– Não ajudei ninguém a fugir. – respirei fundo. O aparelho ainda continuava em um bip constante sem haver alteração.
– Ok. Você ligou para o Gab de um celular que não era seu. Era de quem? – cruzou os braços e me olhou com aquela cara de: Eu sei que você está mentindo.
– Do . – respondi sem receio algum.
– Vou ligar para e fazer algumas perguntas para ele. – agora sim tive que me segurar. Ele não podia falar com .
– Pode ligar, ele não sabe de nada. – David me olhou com um pouco de indignação.
– Estou vendo que terei que agir da forma antiga. – respirou fundo e um pouco impaciente. – Pelo o que aconteceu na sua casa hoje, você e seu irmão irão para o conselho tutelar. Sua mãe perdeu a guarda de vocês. Mas, eu posso dar um jeito nisso.
– Não, David. Se fomos para um orfanato irão nos separar. – fiquei nervosa com aquilo agora, ele tinha conseguido pegar meu ponto fraco. – Tem o meu pai, podemos ficar com ele.
– Seu pai não tem condições para se sustentar sozinho, quem dirá uma criança e uma adolescente. – David jogava baixo.
– Por favor, posso dar um jeito nisso. Meu pai vai arranjar um emprego, entrar nos alcoólicos anônimos, vai se curar desse vício maldito. – tentei argumentar. – Olha, eu não sei de nada sobre essa máfia na qual estão atrás, juro, a única coisa que sei é aquilo que encontrei no apartamento de Jack. Agora me ajuda, faço qualquer coisa que pedir. Não posso perder meu irmão. – estava desesperada.
– Você ainda não me respondeu quem ajudou a fugir. – desgraçado!
– Não ajudei ninguém! – persisti.
– Então, por que falou aquilo à Charlotte? – ele se exaltou. – Não vou te ajudar se você não me ajudar.
– O quer que eu diga? Falei aquilo por falar, estava mais de 24hs sem dormir, estava exausta. – me mexi bruscamente e me arrependi amargamente por isso.
– Se vire com o conselho tutelar. – disse se levantando da cadeira.
– Espero que fique com peso na consciência de separar meu irmão de mim. – falei com raiva. – Você não pode me culpar por algo assim. Já falei que não sei de nada.
– Jack era apenas um laranja como disse e você fez tudo de tal forma que deixou todos impressionados. Você não é tão inocente como diz ser. Que nem na primeira vez na delegacia, disse que nunca tinha feito nada e esperamos e olha, você confessou tudo para Charlotte. Acho melhor começar a falar a verdade, caso contrário não vai para um orfanato, e sim para cadeia. Tenho provas o suficiente para te colocar lá. – estava cada vez mais enrolada.
– Vá em frente. Mande me prender. – dei um sorriso. – Vou sair de lá de qualquer forma e mesmo assim você não vai me fazer falar! Porque não sei de bosta nenhuma! – não daria o braço a torcer por ameaças.
– Estou vendo que não se importa se Josh ficar sozinho. – David sabia como lidar com as palavras.
– Você não sabe o quanto me importo, faria qualquer coisa por ele. – abaixei a cabeça me fazendo de vítima.
– Não parece. Anda, diga o que sabe. Se não abrir o bico, te garanto que nunca mais irá ver nem uma foto do seu irmão. Diga!! – gritou.
– John . Foi ele quem ajudei a fugir. – soltei.
– Quem é ele? – seu tom de voz mudou.
– Pai de um amigo meu. – falei por fim. – O escutei falando no celular com Jack na festa que eu estava. Pelo que me pareceu ele era o dono da máfia. Eles têm muito dinheiro para ser apenas de pubs. – fechei os olhos. – Ajudei ele a fugir porque não queria ver meu amigo decepcionado com o próprio pai, assim como fiquei com o meu há muito tempo atrás. Não queria ver mais uma família desgraçada por causa do dinheiro. – abri os olhos e encarei David. – é um rapaz muito bom para sofrer por causa do pai. – ele acreditou no que falei, pude ver pelos seus olhos.
– Você não sabia de nada então? – neguei com a cabeça.
– Já te contei tudo que queria. Agora não deixem que me separem de Josh. – irei me ferrar se alguém descobrir que abri o bico.
– Você terá tempo necessário para ir até seu pai e acertar as coisas, vou dar algumas ligações para que tudo dê certo. Não vão separar vocês.
David se calou quando o médico entrou. Ele examinou e me deu alta. O delegado havia levado uma muda de roupa de sua filha para que eu pudesse ter algo para vestir quando saísse do hospital. Como que se aquilo combinasse muito comigo. O Doutor me passou alguns analgésicos, que seriam bem úteis. Coloquei o all star que estava mais cedo no pé. Nele tinha umas gotas vermelhas que supus logo ser meu sangue. Fiquei com raiva daquilo. Fui uma completa inútil. Olhei meu reflexo no espelho do banheiro e me assustei com aquilo. Estava com um curativo acima da sobrancelha, o removi e vi que tinha dois pontos ali, minha maça do rosto estava roxa e enxada, já meus braços tinham hematomas horríveis e minhas coxas também.
– David, não posso sair daqui assim. – Falei saindo do banheiro. – Olha meu rosto, está todo machucado.
– Ora, deixe o cabelo solto. – Respondeu como se fosse uma futilidade minha. – Anda, precisamos ir até a delegacia fazer a ocorrência.
Deixei aquilo de lado e saí com o delegado de lá indo para a delegacia. Dei ocorrência sobre o que aconteceu. O homem foi preso por vários motivos que nem lembro de todos. Fiquei sabendo também que ele já tinha ficha suja na polícia por ter batido em mulheres antes.
Sai da delegacia e fui para a casa de . Merda! A chave do carro estava em minha casa, mas… Ah, eles deviam ter a cópia de qualquer forma. Assim que cheguei à residência luxuosa toquei a campainha. Deb quem abriu a porta.
– Oi, não sei se você se lembra de mim… – Ela me interrompeu.
– Claro que me lembro, você é amiga do meu filho. , não é? – Perguntou sorrindo.
– Sim.
– Por favor, entre. – Deb deu espaço para que eu passasse.
– Licença. – Falei ao entrar na casa. – Er… – não sabia direito o que dizer.
– disse que viria. – Me interrompeu novamente. – Desculpe perguntar, mas o que te aconteceu? – ela ia andando na frente, enquanto eu a seguia.
Fiquei sem jeito de falar exatamente o que aconteceu, eu poderia inventar qualquer coisa que a coitada acreditaria. Agora Deb parou e se virou me olhando, esperando por uma explicação, supus.
– O cara com quem minha mãe namora estava bêbado quando cheguei em casa, ai você já sabe o que aconteceu, né? – Levantei meu antebraço engessado erguendo minhas duas sobrancelhas e fazendo uma careta.
– Meu Deus! Você já foi até a delegacia? – disse alarmada colocando a mão na boca.
– Sim, prenderam ele. – dei de ombros, agora aquilo não tinha mais significância alguma.
– Graças a Deus. Essas pessoas merecem nunca mais sair da prisão. Está com fome? O almoço vai ser servido. Venha, almoce comigo e meu marido. – ela disparou a falar rápido e novamente saiu andando na frente.
– Não, obrigada. – tentei não ser mal educada.
– Que isso, por favor, venha. – Ela pegou minha mão e me puxou para a sala de jantar. – Bob, a amiga do irá almoçar conosco. – apenas avisou ao homem que estava sentado à mesa de jantar, lendo um jornal.
– Olá Sr. . – Acenei para ele.
– Olá querida, sente-se e sinta-se a vontade. – Disse Bob gesticulando para uma cadeira vazia ao lado dele.
Acabou que almocei lá mesmo depois de um pouco de insistência e logo depois Bob me entregou o carro e como eu disse, ele tinha uma chave reserva. Assinei os papéis da documentação e foi tudo. Ele me acompanhou até a porta sendo tão agradável quanto Deb. Agora podia entender como era do jeito que era, pois seus pais também eram uns amores.
– Obrigada Sr. . – agradeci pela vigésima quinta vez.
– Por nada, querida. Agradeça ao meu filho, ele que comprou com sua própria mesada. – aquilo me deixou surpresa, quem dera eu com a mesada que ganhava. – Juízo com esse carro. – me deu um breve abraço.
– Pode deixar. – sorri.
Deb estava no pé da escada, nos observando, então fui até ela.
– Obrigada pelo o almoço, estava divino. – Agradeci.
– Que isso, não foi nada, apareça mais vezes. – segurou meu rosto e me deu um beijo na testa. – E se cuide. – passou o polegar com cuidado no machucado em minha bochecha.
– Certo, vou me cuidar. Mais uma vez, obrigada. – Sorri pegando sua mão. – Tchau. – falei me distanciando aos poucos.
Eles me acompanharam até o carro. Deb e Bob acenaram, então entrei na BMW que tinha cheiro de nova e dei a partida bem devagar, apreciando o momento. Bem que o tinha falado que ela era do jeitinho que gostava. O portão da casa foi aberto para que eu saísse, então foi a hora de testar o motor. Cheguei em casa rápido e minha mãe não estava mais lá. Peguei todas as minhas coisas e as de Josh também e coloquei no carro, entupi o veiculo até não dar mais. Tirei o assoalho falso que tinha debaixo de minha cama e peguei minha grada das jóias que estavam escondidas, o fechei e puxei a cama de volta para o lugar. Acho que era tudo, apenas ficaram no apartamento os móveis e coisas da minha mãe, até os eletrodomésticos levei-os todos comigo. Dirigi por uma hora e meia, aproximadamente, sem parar, até a casa do meu pai. Estacionei na frente da casa velha, olhei a poeira vermelha que levantei pelo retrovisor e sai do carro. Vi Max deitado ao lado de Rex e quando o cavalo me reconheceu veio correndo em minha direção. O coitado estava imundo, seus pêlos não eram mais brancos e sim, laranja.
– Meu amor. – O peguei no colo. – Sentiu falta da mamãe? – Passei a mão na cabeça de Max. Ele era pesado, então o coloquei no chão.
Caminhei até a porta com Max me seguindo e pulando em minhas pernas de tanta felicidade, claro. Ele quase me jogou no chão. Bati na porta e esperei para ser atendida e mesmo que aquela também fosse a minha casa, não iria sair entrando. Meu pai que a abriu.
– Filha? – Me olhou assustado. – O que te aconteceu princesa? – perguntou dando passagem para que eu entrasse.
– Pai, precisamos conversar. – Entrei na casa deixando Max do lado de fora. – Cadê Josh? – me sentei no sofá velho.
– Saiu com a Corinne. – Respondeu se sentando no outro sofá.
– A Corinne ainda não foi? – estranhei.
– Não. Quem fez isso com você? – Perguntou me analisando.
Contei toda a história para meu pai, que aconteceu no apartamento. Ele ficou irritado demais e queria bater no sujeito que fez aquilo comigo, além de querer fazer a mesma coisa com minha mãe. A chamou de irresponsável e mais um milhão de coisas.
– Então. Tenho um dinheiro, o senhor pode tentar vender essa casa e nos mudamos para uma melhor na cidade. – Sugeri por fim.
– Acho difícil de alguém querer comprar isso. – Disse se referindo a casa com desdém.
– Também tenho um carro novo que ganhei de aniversário. – tudo bem que eu tinha acabado de ganhar e nem tinha aproveitado ainda, mas agora tinha coisas mais sérias em jogo.
– É mesmo, foi seu aniversário. Parabéns. – Falou sorrindo e se levantando. Veio até mim e me abraçou, depois sentou-se ao meu lado. – Mas filha, não adianta comprarmos uma casa e não termos como sustentá-la. – retomou o assunto anterior. Bem, ele tinha razão, então tive uma ideia.
– Pai, se lembra de quando me contou sobre uma empresa que meu avô tinha? – sorri.
– Sim, agora é de outra pessoa. O que quer com aquilo? – ficou um tanto quanto curioso.
– Você sabe o nome do novo proprietário? – Perguntei me virando no sofá e ficando de frente para meu pai.
– Bem, é uma proprietária. , Samantha . – disse com certa dúvida. – Acho que é isso.
– !? Pai, vamos para cidade agora. Você vai cortar esse cabelo, comprar roupas novas e vai conseguir seu espaço empresa. – pulei do sofá e o puxei pela mão.
– Filha você está doida? – riu achando que eu realmente tinha algum problema mental.
– Não, pai. Vamos tentar. – choraminguei.
– Está bem, vou tentar por você e pelo Josh. – pulei em seu pescoço o abraçando com força.
É galera, mais de um mês se passou e digo: foi tenso. Uma correria absurda! Nem fui na escola ainda, o conselho tutelar caindo de pau em cima de mim e de meu pai e nós nos virando de toda a maneira possível. Corinne estava nos ajudando como podia e minha mãe, bem, essa eu nem sei onde foi parar. Desde o ocorrido ela simplesmente sumiu, nem um telefonema foi capaz de dar ou até mesmo de atender. Voltando a minha atual situação, com o dinheiro que ganhei por ter ajudado David na investigação e mais o que eu tinha guardado, deu para comprarmos uma boa casa de dois andares: três quartos, sendo duas suítes, uma sala grande, cozinha muito boa, quatro banheiros, sendo três na parte de cima e um na parte de baixo, porão e sótão, área, e um quintal que dava para montar uma piscina grande e ainda sobrava espaço, jardim e garagem para dois carros. Ela ficava em um bairro bem melhor do que o que morávamos. Pensando desse jeito, acho que realmente tinha conseguido juntar um bom dinheiro.
Ainda não tinha tirado o gesso de meu braço por falta de tempo. Contei apenas para o que estava acontecendo e ele me ajudava com tudo. Pelos pais dele serem importantes e tals, conseguiram colocar meu pai dentro da empresa dos , eles também faziam parte do império, por tanto não foi difícil. O pior de tudo era que estávamos sem dinheiro nem para comer e isso eu não iria pedir para o de forma alguma. Meu pai tinha acabado de começar a trabalhar e não tinha como ele pedir um adiantamento. Coloquei uma roupa confortável e fui procurar emprego. Afinal, era a única coisa que me restava agora. No fim da tarde já estava cansada de levar tantos “nãos” na cara. Me sentei em uma lanchonete e pedi uma torrada com bacon com o último trocado que me restava. Três mulheres com roupas bem curtas e justas entraram na lanchonete, um tanto quando alegres. Ao meu ver pareciam prostitutas que acabaram de receber uma grana de seu cafetão. Não fiquei encarando por muito tempo.
– Quem são elas? – Perguntei para o velho gordo que me atendia.
– Não as conheço muito bem, mas sempre passam aqui há essa hora para comer algo antes de irem trabalhar. – ergui uma sobrancelha, tendo quase confirmação do que elas realmente eram.
– São prostitutas?! – aquilo saiu mais como uma afirmação e o homem me lançou um olhar meio assustado com minhas palavras.
– Não! São… – Ele me jogou um abridor de latas. – wolves. – disse e depois saiu para atender outro cliente.
Olhei o abridor que estava escrito “Wolf Black”. Direcionei meu olhar para as meninas que brincavam com a comida na mesa e depois para o abridor em minha mão. Elas eram bem mais bonitas e tinham muito mais corpo do que eu. Mas será que se eu fosse no bar que elas trabalhavam, teria por acaso uma vaga sobrando? Quer que seja se fosse apenas para limpar privada já estava aceitando. Virei o abridor na minha mão que tinha o endereço atrás. Acabei de comer minhas torradas com bacon, coloquei o dinheiro amassado no balcão e fui até o local do bar, mas estava fechado, então dei um assovio alto. Alguém tinha que estar lá.
– Tem alguém ai? – Gritei.
– Sim, aqui embaixo. – Escutei alguém responder.
Olhei para o lado e vi uma escada que descia para debaixo do estabelecimento. Ergui uma sobrancelha ao ver uma ruiva de cabelos curtos e esguia aparecer no final da escada. Suas roupas eram de couro e seu rosto fino.
– Em que posso ajudar? – perguntou colocando a mão na cintura e fazendo uma cara de que eu estava atrapalhando algo.
– Queria saber quem é o dono daqui. – dei de ombros, ela deveria ser apenas uma funcionária ou algo do tipo.
– Hum, desce ai. – fez sinal com a mão e deu as costas.
Revirei os olhos com aquela atitude, era mais fácil ela ter dito que chamaria o cara responsável. Não que eu tivesse problema de descer, só que, sei lá, o lugar era estranho... Assim como aquela mulher. Já estava me arrependendo de ter ido ali. Desci os degraus lentamente, na verdade estava com preguiça e cansada de andar. Assim quando cheguei ao final, vi que ali era um depósito de bebidas e a mulher estava organizando alguma delas. O lugar era mal iluminado. Como que ela consegue ler os rótulos das garrafas com aquela luz?
– O que você quer com o dono? – sua voz me fez olhá-la.
– Queria saber se... quer saber, deixa para lá. – me virei para ir embora.
– Quer saber se estamos precisando de alguém. – foi direta, então olhei por cima do ombro e ela estava me reparando. – Me deixe ver você. – pediu movendo seu indicador para que eu virasse.
– Que merda, seria mais fácil se eu falasse com o dono. – reclamei me virando.
– Eu sou a dona. – sorriu. Ela encarou minha vestimenta.
– Sério? – agora foi minha vez de novamente olhar o que ela vestia. Aquela mulher não tinha a menor cara de quem era dona daquele lugar. – Digamos que você não se parece em nada com uma dona de bar.
– E você se parece com uma drogada e nem por isso falei na sua cara. Então, é de onde? – estava começando a gostar dela, bem sincera e direta.
– Sou daqui mesmo, mas nasci em Devils Lake, Dakota do Norte. – respondi cruzando os braços.
– Usa drogas? – típica pergunta que todos geralmente faziam. – Não quero te julgar, mas faz parte da entrevista. – ri com aquilo. Sério mesmo que aquela conversa estava sendo uma entrevista?
– Não, bem, não mais. – Eu não usava mais mesmo. – E mesmo se usasse não teria dinheiro para comprar.
Ela se aproximou e segurou meu rosto com as duas mãos, depois olhou bem em meus olhos e puxou meus braços, me examinando. Essa mulher era louca e paranoica. Parecia minha mãe checando se eu não estava bêbada, ou se tinha usado alguma droga injetável. Certo, minha mão nunca fez isso, mas suponho que uma mãe normal faria a mesma coisa com seu filho quando ele chegava altas horas em casa.
– Não vai dar para ver muito. – falei a observando minhas veias que saltavam.
– Como quebrou seu braço? – perguntou, o soltando.
– Quebraram. Foi um homem que tentou me estuprar. – Só de me lembrar daquilo, uma raiva enorme crescia em meu peito. – Vai querer uma amostra de sangue também? – Ironizei.
– Seria uma boa ideia. – deu um sorriso debochado. – Gostei de você. Tire o gesso e comece sexta-feira. Chegue às 10 horas.
– Sério? – Perguntei surpresa.
– Sim, uma das minhas meninas foi embora semana passada e estamos desfalcadas, mas não se anime. É apenas uma experiência e acredite, já teve outras por aqui tentando conseguir esse emprego. – sorriu e deu um tapinha em meu ombro.
– Certo, valeu. – Tratei logo de sair dali.
Fui direito para o hospital tirar aquele gesso horrível.
29 de agosto, sexta-feira.
Por incrível que pareça estava entusiasmada com aquela “experiência”, afinal, aquele seria o meu primeiro trabalho de verdade, algo completamente novo. Não contei nada ao meu pai, ele poderia ficar preocupado e isso era o que eu menos queria. Falei apenas com o e ele ficou tão entusiasmado quando eu, o que me fez pensar que estava realmente no caminho certo. Talvez agora as coisas começassem a tomar um rumo e quem sabem minha vida começasse a ser normal. Emprego, família, amigos e... e só. Era isso que eu tanto queria e era isso que conseguiria. Meta e foco, sem desvios no meio do caminho. Isso tudo me faz pensar que apesar do que passei até agora, as coisas realmente tenham sido boas, o que aconteceu me serviu para acordar e ver o que está ao meu redor. E nesse momento estava me arrumando para sair, para viver o que importava, para trabalhar honestamente. Desci as escadas e meu pai estava na sala assistindo TV.
– Pai, estou saindo. – avisei.
– Vai aonde? – Perguntou olhando para trás para me ver.
– Em uma festa. – Menti dando de ombros.
– Não chegue tarde. – voltou a se aconchegar na poltrona.
– Ok. – Sai pela porta da frente, a batendo.
Fui para o bar de carro, é, não vendi minha BMW linda! Estacionei ali perto e entrei no estabelecimento. Fiquei chocada com o que vi. O local estava lotado, praticamente impossível de se transitar por ali. O Bar tinha um balcão no meio do salão formando um quadrado onde as meninas serviam as pessoas e em cada canto do balcão tinha ferros que ia até o teto. Fiquei me perguntando para que seria aquilo, mas não queria mesmo saber. Em um piso superior tinha uma mesa de sinuca com mais três mesas circulares ali perto, no canto do estabelecimento havia um jukebox digital e na porta de saída tinha duas cabines que supôs serem os caixas. A mulher ruiva me viu e acenou para que me aproximasse, assim o fiz chegando até o balcão.
– Vamos garota, entre! – ela estava sorridente, enquanto enchia um como com choop.
– Por onde? – Perguntei procurando a entrada do balcão.
– Pula por cima! – certo, acho que essa mulher era completamente louca.
Ergui uma sobrancelha e procurei alguma coisa na qual poderia subir e pular o balcão, não que eu realmente precisasse.
– Não tem entrada! – falou. Quem disse que eu estava procurando uma entrada? – Vai ficar olhando para os lados com essa cara de menina inocente ou vai pular o balcão logo?!
Passei por cima do balcão e cai para dentro do bar. A mulher olhou minha roupa.
– Está tudo errado. – disse ela negando com a cabeça e logo pegou uma faca.
– O que está errado? – perguntei, mas ela não me respondeu, apenas cortou as mangas, barra e abriu um decote maior em minha blusa.
Minha camisa foda agora que era um cropped. Senti vontade de esmurrar a cara daquela vadia! Com que direito ela acha que tem para cortar minha roupa? A olhei com raiva.
– A única regra que tem aqui é: Sem brigas no meu bar. Entendeu? – colocou a mão em meu ombro.
– Entendi. – será que tenho algo estampado na minha testa dizendo que gosto de arrumar briga?
– Então, manda ver garota. – deu um tapa na minha bunda e saiu para servir outras pessoas.
Muito interessante. Estava ali, no meio daquele lugar lotado de gente até no teto, sendo que não faço a menor ideia de que copo servir cada bebida, e com algumas mulheres transitando ali dentro quase me jogando ao chão. Quer saber, foda-se! Servi algumas pessoas como eu pude, olhei para as meninas que serviam e elas faziam malabarismo com as garrafas. Aquilo me parecia um pouco complicado, mas nada que um dia eu não possa fazer também. Prendi meus cabelos que estava me atrapalhando. Conforme ia recebendo os cartões de comandas, tinha que ir passando no computador e registrando o pedido e logo após entregar o que o cidadão pediu, sendo que as pessoas não paravam de gritar e praticamente se atirar para dentro do bar, puxando, implorando para ser atendido. Deus, aquilo era um caos. Estava ficando louca. Seria mais fácil se cada garota fizesse uma coisa diferente, ou sei lá, alguma outra maneira de não juntar tantas pessoas empoleiradas naquele balcão.
– Precisa de ajuda? – uma morena de olhos verdes me perguntou, sua pele era bem bronzeada, o que fazia a cor de seus olhos darem um belo realce.
– Ajuda? Preciso de uma corda, para me enforcar. – brinquei dando um sorriso. – Cara, isso aqui é muito louco. Como vocês conseguem?
– Com o tempo você se acostuma. – riu. – Então, em chamo Katharine, mas pode me chamar de Kat, ou de neguinha, se quiser. – deu uma piscadinha. – Como se chama?
– . – dei de ombros. – Prefiro te chamar de Kat.
– Então, acho que ninguém aqui deu as formalidades, né? – neguei com a cabeça. – Aquela vadia loira ali, é a Jordana. – a garota se aproximou de nós.
– O que essa cachorra está falando sobre mim? – deu uma gargalhada. – Aposto que está com inveja do meu platinado.
– Viu, eu disse que ela era uma vadia. – repetiu Kat. – Aquela outra, é a...
– É a vaca da Sonny. – Jordana se intrometeu na conversa. – Sabe, não odeia pessoas, mas está aqui apenas pelo dinheiro. – a garota era branca como uma vela, era albina para falar a verdade, seu rosto era cheio de sardas e seu cabelo liso e laranja.
Interessante, acho que devo trair gente estranha. Então foi aí que reparei que aquelas três mulheres eram as mesmas que estava na lanchonete pela tarde. Novamente estou querendo saber o que faço nesse lugar. Jordana subiu sobre o balcão e começou a dançar, se esfregando na barra de ferro da lateral. Que bosta, desça daí, tem gente para atender. No jukebox tocava alguma música eletrônica que não estava conseguindo saber qual era. Os caras jogavam dinheiro para a platinada que dançava feito uma vadia. Fiquei meio boquiaberta com aquilo. Um homem puxou meu braço e aquilo estava me dando nos nervos, se mais alguém me puxasse, certamente daria um murro no meio da fuça.
– Apí, me vê uma dose de tequila. – Pediu um homem barbudo. – E outra para você.
– O quê? Não posso beber, estou trabalhando. – rebati pegando o cartão de sua mão e computando seu pedido.
– Não discuta com o cliente, sirva a tequila e bebe. – Sonny que nem se quer tinha olhado na minha cara ainda, chegou do meu lado.
– Você está louca, né? – rebati servindo o homem.
– Certo. Aí Chris, a Demi Lovato aqui não quer beber. – apontou em minha direção. Que bosta ela acabou de falar? Vou quebrar essa garrafa de tequila na cabeça dessa laranja!
Chris, que era a ruiva de cabelos curtos, dona daquele lugar, me olhou atravessado. Está de sacanagem, não vou beber essa porra! Olhei para Sonny com tanta raiva, que soquei um copo de tequila no balcão e enchi. O homem sorriu e me entregou seu cartão, Sonny o tirou de minha mão e o passou, enquanto eu enchia o copo e depois bebia aquela merda.
– Gostei de você. – disse o homem e foi embora assim que seu cartão foi entregue.
Grunhi de raiva e sai para atender outra pessoa, mas esbarrando no ombro da vaca laranja. Estava me roendo de raiva, mas a tequila fez o efeito do meu nervoso amenizar. Agora estava amaldiçoando o som alto daquele lugar, pois não conseguia escutar o que a mulher estava pedindo. Praticamente tive que quase pular o balcão para escutar seu pedido.
– Deixa que eu atendo. – Jordana brotou do além, bem do meu lado e me empurrou com o ombro.
– Chris, acho que a sua nova garota não está conseguindo pegar os pedidos! – Sonny logo berrou.
Minha vontade era de quebrar os dentes daquela mulher. Irritante. Cala a boca! Bem, agora eu já estava pensando em milhões de formas legais para torturar aquela vaca, porque esmurrá-la seria pouco. Levei um susto quando um lobo uivou no intervalo de uma música. Se eu já achava que o balcão já estava cheio antes, agora a parada parecia um formigueiro. E todos pedindo cerveja. Não sabia quem atender. Aquilo era um apocalipse zumbi e todo mundo querendo ser atendido ao mesmo tempo e vários tentando nos puxar. Gente, socorro! Então supus que quando o lobo uivou deveria ser porque a cerveja abaixou o preço. Como nunca ouvi falar desse lugar? Depois de uns cinco minutos no inferno, o povo se acalmou. Olhei para os lados e o balcão voltou a ficar ao normal, mas também a música tinha terminado. Acho que entendi o mecanismo, o lobo uiva e durante a música que está tocando, a bebida abaixa de preço, e quando a música acaba, o preço volta como antes. Legal, mas assustador.
– Sobe aí garota, mostra o que você sabe. – Chris me empurrou.
– O quê? Não sei dançar. – respondi atendendo um cliente.
– Ok. – Chris tirou um dinheiro do bolso e pegou o cartão da minha mão. – Tome esse dinheiro e vaza. Foi ótimo para uma ex-viciada.
– O quê? Não pode me mandar embora apenas porque não sei dançar. – rebati pegando o dinheiro.
– Na verdade, posso fazer o que eu quiser, o bar é meu. Afinal, isso foi apenas uma experiência e você não passou. Agora cai fora! – me deu as costas.
Ótimo, pelo menos com esse dinheiro deve dar para comprar uma camisa nova, já que ela destruiu a minha! Enfiei a grana no bolso e pulei para o lado de fora do balcão. Um cara me esbarrou e vi que outro estava brigando com ele. Sério mesmo?
– Fala sério! Vocês estão brigando mesmo? – briga de bar era ridícula. – Não pode brigar aqui dentro. – segurei o sujeito que quase caiu.
Vi Chris subindo no balcão com um taco de baseball e ela começou a gritar para que aquela bagunça tivesse um fim, mas isso não adiantou em bosta nenhuma. Já que o cara que eu segurei foi para cima do outro.
– Hey, parem com isso! – entrei no meio deles. – Sério mesmo que vão ficar pagando de machão? – falei olhando de um para outro. – Gente, têm várias mulheres nesse bar e garanto que elas estão achando vocês dois brigando tão ridículo quanto eu, então, que tal essa briga parar, e cada um pegar uma gostosa e uma bebida para ela no bar? – sorri. – E quem sabe depois ir para um motel. – os dois babacas começaram a rir. – É disso que estou falando. Vão lá e se divirtam.
– Sexo! – os idiotas gritaram e saíram andando.
Como tem caras que conseguem ser tão idiotas a esse ponto. Pelo jeito tinham até se esquecido o motivo da briga. Voltei a andar para sair daquele lugar lotado.
– Garota! – escutei Chris me berrar e pedir para que eu esperasse. Parei de andar e ela se aproximou. – O que você disse para eles?
– Nada demais, só que sexo era melhor que briga. – dei de ombros e ela riu.
– Certo, você merece uma segunda chance. Toma essa grana, amanhã se encontre com a Kat, ela vai fazer compras contigo. – me entregou um papel com o número da menina.
30 de agosto, sábado.
Ir às comprar com a Kat foi uma péssima ideia, já que ela me fez comprar as roupas mais vulgares que encontramos. E sabe como é, não sou fã disso, essa parada de parecer uma puta, não é comigo. À noite, me vesti e fui para o Wolf Black. Estava indo tudo muito bem no bar, até que um cara segurou meu braço.
– Quero falar com a Chris. – pediu.
– Ela está muito ocupada. – falei. – Quer beber algo enquanto espera?
– Não, preciso falar com ela. – insistiu. – Não posso esperar muito tempo.
Fiz uma careta e fui falar com a Chris.
– Aí, tem um cara querendo falar com você. – avisei.
– Manda ele esperar. Estou ocupada. – dei e ombros.
Voltei até o homem.
– Eu disse, ela está ocupada. – falei e fui atender outra pessoa, mas o sujeito segurou meu braço. – Me solte!
– Empurra logo esse cara para trás e continue atendendo. – disse Sonny ao meu ouvido.
– Chame a Chris, agora! – ele disse nervoso.
– Já disse! Ela está ocupada! – rebati tão nervosa quanto ele. – Agora, me larga.
Ele me puxou para perto do balcão, fazendo minhas costelas bater na madeira, aquilo doeu e me deixou com mais raiva que já estava. Não pensei novamente. Minha mão já estava fechada, então lhe dei um soco no nariz e ele me soltou. Vi seu sangue descer e manchar sua camisa. Idiota.
– Não! – escutei Chris berrar e correr até onde eu estava. – Por que não me disse que era ele? – a olhei como se fosse óbvio, eu não tinha ideia de quem era o cara! – Timmy, me perdoe, ela é nova aqui. – pulou por cima do balcão já com um pano em mãos.
– Vamos lá para fora. – ele me lançou um olhar e saiu andando com Chris logo atrás dele.
Isso não é bom, não mesmo. Estou ferrada, acabei de perder o emprego. Droga. Balancei a cabeça.
– Foi um prazer trabalhar contigo. – Sonny deu dois tapinhas em meu ombro.
Pulei por cima do balcão e fui até o banheiro. Minha mão estava um pouco dolorida e tinha sangue nela. A levei e fiquei encarnado meu reflexo no espelho. Sou uma idiota mesmo.
– Você está bem? – Jordana entrou no banheiro logo perguntando.
– Eu sim, mas o cara que surrei, acho que não. – fiz uma careta. – É melhor eu ir embora antes que Chris me joguei para fora.
– Não diga isso. Foi um acidente. – ela riu. – Timmy é um grosso, Chris estava louca para fazer isso à algum tempo. – neguei com a cabeça, abaixando o olhar. – Agora esquece o que aconteceu, porque tem um gato lá fora te procurando.
– Sério? – ela afirmou.
Antes de saírmos do banheiro, Chris apareceu.
– Olha aqui garota! – apontou o dedo na minha direção. – Só não te mando embora agora mesmo, porque estava louca para fazer o que você fez. – ela sorriu no final da frase. – Mas que isso não se repita, a regra continua valendo, sem brigas no meu bar!
Saímos do banheiro. Cada uma pulou de um lado por cima do balcão e voltamos a atender a galera.
– Cadê aquela menina que conheci no caribe? – Escutei uma voz familiar me perguntando e foi aí que resolvi olhar para a cara da pessoa que havia me feito o pedido.
– Alex! – Sorri e abracei ele. – Como me encontrou aqui?
– Bem, você disse que eu saberia onde te encontrar se perguntasse para o meu primo, então te encontrei. – Ele sorriu. – Quer dizer que se tornou uma Wolf?
– É isso aí, garoto! – sorri. – Então, Alexander, o que deseja?
– Não seja má me chamando assim. – Ele fez um biquinho tão gostoso que tive vontade de morder. – Apenas vim te ver.
– Certo, mas agora estou trabalhando. Que tal ficar por aqui e me esperar sair? – perguntei dando um sorriso.
– Ótimo. Então, me vê uma cerveja. – me entregou o cartão.
Quando sai do bar já estava amanhecendo. Vi Alex encostado em uma Ferrari vermelha.
– Hum. Vai falar que é seu? – perguntei apontando para o carro.
– Gostou? – abriu um sorriso.
– Gostei mais de quem está encostado nele. – Me aproximei.
– Hum. Quer uma carona? – coloquei meus braços em seus ombros, enquanto ele me abraçava pela cintura.
– Não preciso de carona agora tenho um carro. – Brinquei fazendo cara de metida.
– Ah sim, tinha me esquecido que o te deu um. – ele não tirava os olhos de meus lábios. – Então posso te acompanhar até em casa? – perguntou se aproximando.
– Irei adorar. – falei com quase um sussurrou.
Alex foi me seguindo até em casa. Assim quando cheguei, entrei com o carro na garagem enquanto ele estacionou rente a calçada.
– Está entregue. – Disse saindo da Ferrari. – É aqui que você mora?
– Sim. Ela é linda, né? – perguntei olhando para a casa.
– Assim como você. – Alex se aproximou e encostou a testa na minha.
– ! – Escutei meu pai gritar. – Entre agora!
Olhei para Alex e comecei a rir. Não me virei para ver onde meu pai estava.
– E esse é meu pai. – meio que apresentei.
– Não me faça ir aí te buscar! – Ele estava irritado.
– Vou entrar, senão o velho enfarta. – Dei um beijo na bochecha dele. – Me liga?
– Sim. – Alex sorriu e acenou.
Acenei de volta e entrei em casa.
– Onde você estava até essa hora e ainda mais vestida desse jeito? Cadê o resto da sua camisa?! – Meu pai estava em pleno ataque de nervos. – Quem é aquele garoto?
– Relaxa pai, eu não estava fazendo nada demais. Estava trabalhando. – Respondi.
– Trabalhando aonde? Você não precisa disso! – o velho estava ficando vermelho.
– É em um bar. Ah pai, não começa. Olha, arranjei dinheiro para o nosso almoço de hoje. – Tirei a grana do bolso de meu short. – Sabe que estamos precisando, não briga comigo por causa disso.
– Quando eu começar a receber você não vai mais precisar fazer isso. – algo nele estava triste.
– Eu sei, quando você começar a receber eu saio do bar, está bem? – Falei na tentativa de acalmar ele. – Tome, vou dormir um pouco e mais tarde vamos fazer compras. – Entreguei o dinheiro para ele.
– Não queria que precisasse fazer isso. Que bar é esse? – Perguntou pegando o dinheiro e colocando dentro do bolso de sua calça.
– Ah, é uma bar aí, esqueci o nome. – menti.
– E quem era aquele menino? – se referiu ao Alex.
– Um amigo, primo do . Conheci ele quando viajei para o Caribe. – dei de ombros, não tinha importância.
– Tenha juízo! Não te quero metida em encrenca. – pediu.
– Tudo bem. Bom dia pai. – Subi para meu quarto.
16. Pra mim é fácil e normal
31 de agosto, domingo.
Com o dinheiro que ganhei na noite passada, nós fomos às comprar na manhã seguinte. Nem eu e muito menos meu pai comentava algo sobre meu suposto trabalho, na verdade, não tinha nada a ser dito. Porém, se eu falasse para ele que estava trabalhando em um bar, servindo os caras com uma mini roupa, bem, isso não iria agradá-lo muito. Então preferi deixar quieto. O dia se passou tranquilo, como uma típica família que se junta no domingo. Estava me sentindo feliz, todos estávamos na verdade, pois agora tínhamos uma casa e eu não estava metida em nenhuma encrenca. Mais a noite, me arrumei e fui para o Wolf Black, que como todas as noites, estava lotado, até que começou uma tremenda de uma confusão e todo mundo começou a ficar apavorado. Eu e as meninas não sabíamos o que fazer. Chris foi para o meio da galera tentar apartar o que estava acontecendo, parecia uma briga, não sei, não dava para ver. Então foi aí que a parada ficou tensa, porque o pessoal começou a invadir o balcão. Pegaram Jordana e a puxaram para o meio da multidão. Kat gritava com algumas pessoas, tentando tirá-las dali de dentro e já Sonny, ligou a mangueira de lavar copos e começou a molhar a galera. Mas isso não estava adiantando em nada. Subi sobre o balcão na tentativa de sair dali, e claro, não ser pisoteada, mas o mar de gente era tanto que não tinha para onde ir. Olhei para as meninas, localizando a platinada no meio do povo, tentando sair dali e pedindo ajuda, já Chris estava ajudando o segurança a colocar os baderneiros para fora. Kat continuava a discutir colocando quem conseguia para fora do balcão. Sonny me entregou um balde de gelo, então o joguei no pessoal, mas nada que fazíamos os afastavam. Tínhamos que fazer algo. O Jukebox estava tocando Mirrors da Natalia Kills e a única coisa que me restava fazer era chamar atenção daqueles caras. Me abaixei e apertei o botão que fazia o lobo uivar, conseguindo assim atenção. Então comecei a dançar no ritmo da música, mesmo que estivesse morrendo de vergonha fazendo aquilo, então apenas fechei os olhos e me agarrei a uma das barras de ferro e me deixei levar. Passei a mão em meus cabelos, soltando o nó que tinha dado nele. Tentei ser o mais sensual possível, mexendo meu corpo e meus quadris conforme a batida. Olhei ao redor, e percebi que os caras param de invadir o bar e me olhavam com atenção. Foi aí que encontrei um olhar familiar no meio daqueles e senti meu corpo inteiro gelar. Meu pai. Merda, o que ele estava fazendo ali? Desci e fui em sua direção, mas ele saiu andando, fui atrás e o alcancei já atravessando a rua.
– Eu posso explicar. – praticamente gritei para que ele me escutasse.
– É bom que tenha uma boa explicação. – parou de andar e se virou. – Pois estou com vontade de lhe dar uma surra!
– É só um bar. Não tem nada demais! – tentei explicar. – Não é nada disso que está pensando.
– Um bar ou uma casa de show? Acho que você perdeu a noção das coisas. – o velho já estava ficando vermelho, e pude ver a veia de sua testa saltar.
– Pai, as meninas estavam precisando de ajuda, se eu não fizesse nada iriam quebrar o bar todo. – tentei explicar.
– Nada justifica! Minha filha é uma prostituta. – falou mais consigo mesmo do que comigo. Engoli em seco, não era nada daquilo.
– Não, pai, não sou nada disso, eu só sirvo as pessoas. – por mais que eu falasse, parecia que ele não queria entender, pois nem se quer olhava em minha cara.
– Servir? Não foi exatamente o que presenciei. – sua voz tinha amargura. – Estou cansado, vou para casa.
– Eu nunca tinha dançado daquele jeito antes, foi a primeira vez. Pai, por favor. – segurei sua mão, mas ele a puxou. – As coisas estão mal explicadas.
– Não sei para você, mas para mim, elas estão bem explicadas. – me deu as costas e saiu andando.
– Sei que por mais que eu tente falar você não vai me escutar, mas esse lugar foi o único no qual conseguir arranjar um emprego. – disse, mesmo não sabendo se ele estava mesmo escutando. – Só estava querendo ajudar, apenas isso. – ele parou, mas logo depois voltou a andar, me deixando ali sozinha.
1 de setembro, segunda-feira.
Estava dormindo tão bem, poderia falar até que estava tendo um sonho, mas logo fui acordada pelo meu celular as berros em meu ouvido. O peguei as cegas sobre a cabeceira e atendi.
– Alô. – falei ainda dormindo.
– Não quero desculpas hoje! Anda, levanta, que você vai para a escola. – praticamente gritou do outro lado da linha.
– Seu merda! Vai acordar a vó. – Resmunguei me revirando na cama.
– Anda, levanta. Estou aqui na frente da sua casa te esperando, não me faça entrar aí. – ameaçou, então abri os olhos muito a contra gosto.
– Tchau, ! – Desliguei o celular e levantei.
Tomei um banho rápido para ver se conseguia finalmente despertar, o que não adiantou muita coisa. Vesti qualquer porcaria que encontrei pela frente, peguei minha mochila e desci. Não iria parar para comer nada, senão acabaria ficando atrasada.
– Estou indo para a escola. – apenas avisei ao meu pai antes de sair e ele não me respondeu.
Atravessei o gramado rapidamente e logo entrei no carro de , que estava estacionado rente à calçada.
– Bom dia! – disse , assim quando me sentei ao seu lado.
– Bom dia. – Sorri mesmo sem a menor vontade.
E não conversamos mais nada, já que praticamente dormi o caminho todo. Assim quando chegamos o sinal da escola tocou. Peguei meu material voando, assim como o e voamos para a sala. Para começar o meu dia bem, dei uma trombada com . Sério mesmo quando resolvo voltar para esse purgatório tenho que dar de cara com ele? Não o encarei.
– Desculpe. – falei sem perceber, estava começando a criar o hábito de ser educada com as pessoas, mesmo que elas mão merecessem.
– A sumida apareceu. – me pergunto porque ele ainda fala comigo, e ainda fica tentando chamar minha atenção com esses trocadilhos idiotas.
– Guarde suas piadinhas para você mesmo. – rebati já ficando nervosa com aquela situação, ele simplesmente não sair da minha frente.
– Garota, você é muito grossa. – ergui um pouco o olhar, mas me arrependi por isso.
– Diga uma coisa que eu ainda não sei. – Dei um sorriso amarelo.
Nós estávamos parados na porta. Ele não me dava passagem para passar de jeito nenhum. A cada segundo que passava, eu apertava a alça da minha mochila contra meu ombro. Que droga, pare de falar comigo! O pior é que estou respondendo, não era nem para eu estar olhando na cara desse cretino.
– , saia da minha frente antes que eu passe por cima de você. – ameacei. Meu tom de voz era baixo, estava tentando me controlar, mas só de lembrar as merdas que ele já tinha me dito, meu sangue fervia. me olhava de dentro da sala e estava apreensivo com aquela situação.
– , deixe ela passar. – pediu, mas o energúmeno ignorou o pedido.
– Cara, fica na sua. – fez algum gesto dizendo que era para meu amigo ficar calado.
– Olha, não vou admitir que você fale assim com o ! – o pavio tinha acabado e eu estava a ponto de explodir. – , saia da minha frente antes que eu quebre o seu nariz! De novo.
– Tenta, então. – fez sua melhor cara de deboche. Mas travei, não conseguia simplesmente socar sua cara.
– Ora, seu... – pressionei a mandíbula para não começar a xingar ele ali mesmo.
– Seu o quê? – Ele chegou bem perto do meu ouvido e sussurrou. – Seu amor? – fechei os olhos e então foi como um tremendo “caboom”.
Fechei a mão com força e dei um soco na cara dele, em cheio, o que o fez se abaixar de dor, então o empurrei com facilidade para que saísse da minha frente.
– Não estou de brincadeira contigo, dsu palhaço! – Disse apontando o dedo na cara dele.
– Sério garota, você tem problema! – ele estava com a mão no rosto.
A sala inteira estava nos olhando.
– ! – Escutei a voz de Green atrás de mim.
Olhei e a vi de pé no corredor com sua típica cara de espanto e claro que não podia faltar sua roupa de piranha.
– O que essa abominável fez contigo, meu amor? – Green foi até seu namoradinho. Ver aqueles dois juntos me dava vontade de vomitar.
– Oh, que lindo! Agora você precisa de mulher para se defender, ? – Cuspi as palavras.
– Cale a boca, ! – a vadia rebateu toda nervosa, segurando o rosto de que estava sangrando.
– Que bonitinho. – Apontei o dedo para eles em forma de ironia. – A namoradinha defendendo o menino indefeso. Qual é ? Você não é o machão? – Me aproximei dele.
Ele me encarava com aqueles olhos lindos. Apertei as bochechas dele com uma só mão.
– Já que é tão fodão como fala, conta tudo para a sua namoradinha logo. – Dei um selinho nele.
Sorri, estava com muita raiva daquilo tudo. E qualquer coisa que eu pudesse fazer para provocar os dois, iria fazer, e não estava me importando com o que o resto das pessoas acharia. me olhou espantado com o que fiz, assim como o .
– Sua vagabunda, tire a mão dele! – Green me puxou de perto de seu namorado.
– O que está acontecendo aqui? – A professora perguntou parando na porta, e se não tivesse sido isso, eu teria enfiado a mão da cara da Green.
– Essa garota, professora! – Green apontou em minha direção. – Bateu no meu namorado.
– , para a diretoria agora. – a professora falou toda irritada, apenas revirei os olhos.
– Que legal, meu primeiro dia depois das férias e já vou para a diretoria. , vamos lá, você também vem, afinal, me provocou primeiro. – dei de ombros, não ia me ferrar sozinha.
– Ele não te fez nada! – Retrucou Green.
– Sua biscate, o tem boca! Ele pode falar e sabe muito bem que estava me irritando. Anda seu idiota! – respondi saindo da sala.
– Ele não vai em lugar nenhum. – Green o segurou.
– , para a diretoria com a . E Green sente no seu lugar. – Ordenou a professora. Toma vadia!
saiu da sala e a professora fechou a porta. Comecei a andar lentamente pelo corredor.
– Ainda me pergunto qual é o seu problema! – eu que ainda me pergunto porque você ainda me direciona palavra.
– Meu problema? – perguntei me virando. – Meu problema é você na minha vida.
– A claro, não tenho culpa se você me ama. – riu.
– Cala a boca, ! – revirei os olhos e voltei a andar. Era impossível manter uma conversa com ele.
– Vem calar. – não escutei aquilo. Sério mesmo? deveria estar no jardim da infância.
Olhei séria para ele. Quem ele pensava que era para falar daquele jeito comigo? Babaca! Uni a sobrancelha nervosa. Como que conseguia mexer tanto comigo? Eu já havia me esquecido de todas as vezes que ele me humilhou na frente das pessoas, das vezes que mentiu para mim e das vezes que me enganou. Como eu era tão boba. Só de ver o sorriso dele, sentia minhas pernas bambearem. Fechei os olhos e grunhi com raiva de mim mesma. Respira e foco! Você consegue.
– . – chamou, me fazendo abrir os olhos.
– Fique quieto, . – falei e saí andando. Quanto mais tempo falasse com ele seria pior.
– Espera. – Segurou meu braço. – Por que você foi embora da ilha daquele jeito? – como ele ainda tinha a coragem de perguntar aquilo?
– Se estivesse mesmo interessado em saber teria me procurando há um mês. – Puxei meu braço. – E além do mais, até parece que você não sabe o motivo!
– Não foi por causa daquela briga idiota, foi? – nem se quer iria responder. – E também, me disse para não te procurar. Fiquei preocupado e me descul... – levantei a mão, para que ele parasse.
– Me poupe do seu discurso ridículo. Você não se preocupa com nada, que dirá comigo. – falei olhando para o outro lado. – E sim, fui embora por causa das merdas que você disse e não, não quero suas desculpas.
– Sério! Por favor, olha para mim. – pediu parando bem na minha frente. – Estava de cabeça quente, não queria mesmo ter dito aqui.
– Mas falou. – forcei os lábios em uma linha reta e encarei o chão. – Não tem como voltar mais atrás e não vou conseguir esquecer o que você disse.
– Estou te fazendo mal, não é? disse isso e também falou que era para me afastar de você. – sua voz era baixa. – Me desculpe por te fazer tão mal, nunca foi minha intenção. – imagina se fosse.
Não respondi, só sai andando.
– ! – veio andando atrás de mim. – Não vá embora. Realmente senti sua falta.
– Garoto, me esquece, valeu? – Parei de andar e me virei para ele. – Afinal, sou uma vadia que... – não conseguia completar a frase. – Foda-se o que você acha de mim. Chega, ok?
me encarou sério. Ele mencionou falar alguma coisa, mas logo o cortei.
– Não sou capacho para você ficar pisando e esfregando sua namoradinha escrota na minha cara! Eu cansei. – falei levantando a mão e fazendo um gesto de quem estava exausta.
– Não… Nunca quis te magoar. – ele negou com a cabeça.
– É, mas você fez pior que isso. – Nós discutíamos no meio do corredor, sendo que não tinha ninguém, já que todos estavam em aula.
– , me desculpe. – segurou minha mão. – Sério, foi mal mesmo, mas me desculpa.
– Por favor, não me toque. – puxei minha mão. – Suas desculpas não vão fazer diferença.
O olhar dele estava triste e aquilo estava me deixando péssima.
– Cara, você sabe que me amarro na sua, gosto mesmo. – disse sinceramente, pelo menos foi o que me pareceu.
– Não o suficiente. – rebati. – Você não tem coragem de fazer nada por mim. Se gostasse mesmo como fala, nós estaríamos juntos, olha… – Estalei os dedos repetidamente mostrando quantidade. – Há muito tempo.
– É complicado, não é tão fácil como pensa. – agora ele não tinha coragem de me encarar.
– , acho que estou começando a entender. Você também gosta da Green. – falei por fim quando entendi o verdadeiro motivo de não estarmos juntos. – É isso! Como nunca tinha sacado isso antes. Como sou burra. – Dei um passo para trás colocando a mão na cabeça.
– Não tive coragem pra te falar isso. – Quando disse aquelas palavras a minha vontade era de cair ali no chão mesmo. – Tenho medo de te perder.
– , como o meu ídolo Johnny Depp disse: “Se você acha que ama duas pessoas ao mesmo tempo, escolha a segunda. Porque se você realmente amasse a primeira, não teria uma segunda opção.” – sai andando. – Então, acho que você já me perdeu. – Apenas olhei para trás e vi que ele continuava parado.
Caminhei o mais rápido que pude até a sala do diretor, assim quando cheguei, já entrei sem bater.
– , já estava demorando a aparecer. O que você aprontou agora? – o diretor gesticulou para que eu me sentasse. – Sente-se.
Me sentei na cadeira de madeira à frente de sua mesa.
– Sr. Diretor, eu dei um soco na cara do . – Falei sem emoção alguma, estava estranha, se essa era a palavra certa. Não sabia mais o que estava sentindo. As emoções estavam misturadas demais para definir; raiva, surpresa, tristeza, mágoa, agonia e por aí vai.
– , o que você tem? Está com uma cara estranha. – O diretor perguntou se sentando.
– Coração partido serve para a sua resposta? – Levantei o olhar.
Escutei alguém bater na porta.
– Entre. – Disse o Diretor.
– Com licença. – A voz de invadiu minha mente.
– Por favor, sente-se . – pediu também.
se sentou ao meu lado, não nos olhamos.
– Ainda estou para descobrir qual é o problema de vocês dois. – falou o diretor, um tanto quanto pensativo. – Estava tudo tranquilo demais para ser verdade.
– Desculpa Sr. Diretor, isso não vai se repetir mais. – declarei.
– Ok. , se retire. Uma semana de detenção para os dois.
saiu me deixando sozinho com o velho.
– , o que te deu? Nunca te vi falar assim, definitivamente você não está nada bem. Quer que eu chame a Charlotte para que vocês conversem?
– Não, obrigada. – Dei um meio sorriso. – Isso não vai passar mesmo... Se o Sr. já me castigou, com licença, vou voltar para aula. – me levantei da cadeira.
O Diretor não falou nada, apensa assentiu meu pedido.
Na hora do intervalo, todos os meus “amigos” se reuniram como de costume. Me sentei ao lado de , quieta. Estava sem humor algum para conversar.
– , o que te deu para falar com o daquele jeito? – perguntou tentando puxar assunto.
– Merda na cabeça. – respondi sem vontade.
deixou quieto, percebeu que eu não queria falar sobre o ocorrido. Fiquei mordiscando minha torta de maçã, observando os alunos patéticos ao meu redor.
– Viadinho! – Escutei um dos meninos do time de futebol falar e bater na bandeja do menino que passava por eles.
– Esses caras não têm limite. – levantei da mesa em um rompante.
– Não vá arrumar encrenca. – pediu Lali, mas fingi que não escutei.
Caminhei até o menino que tentava pegar sua comida do chão.
– Jake, seu babaca! – Xinguei, porque foi ele quem deu um tapa na bandeja do menino.
– O que foi? Vai defender o viadinho? – Jake veio para cima de mim. – Afinal, gays sempre estão unidos, né?
– Olha aqui moleque, se esse menino aqui é ou deixa de ser gay, o problema é dele. Você não tem nada que se meter na opinião sexual das pessoas. – Enfiei o dedo em sua cara. – Larga de ser homofônico e respeite as pessoas!
– Que emocionante, agora você vai defender a causa? Cadê a sua namorada para defender junto contigo? – Jake debochava. – Acho que está faltando uma bandeira colorida.
– Sabia que o que está fazendo é crime? – estava séria. – Ninguém está achando graça do que você está falando. Só não enfio a mão no meio da sua fuça, porque não quero sujar minha mão com merda que nem você. – dei as costas. – Venha. – Puxei o menino que estava de joelhos no chão. – Não precisa pegar isso, a faxineira limpa. E você Jake, tinha que ter vergonha de falar essas coisas.
Saí puxando o menino tímido para fora do refeitório, ele nem se quer olhava para os lados, apenas encarava o chão.
– Hey. – Balancei ele. – Qual é o seu nome? – erguei a cabeça.
– Pa-Patri-ck – gaguejou, e suas bochechas estavam vermelhas.
– Patrick, certo? – confirmou com a cabeça. – Meu nome é . Olha, não precisa ficar assim por causa desses babacas do time de futebol.
– Tá. – ok, Patrick continuaria se importando com o que os outros falavam.
– Venha, vamos lá comprar outro lanche para você. – segurei em sua mão.
– Não, eles pegaram meu dinheiro. – voltou a encarar o chão, que por sinal deveria estar mesmo bonito hoje, já que até eu tinha feito isso mais cedo.
– Essas caras não têm limites mesmo. Não tem importância, eu pago para você. – sorri e ele me encarou, tão vermelho quanto antes.
– Mas… – tentou reivindicar.
– Mas nada. – O puxei de volta para o refeitório.
17. Não faço um esforço
3 de setembro, quarta-feira.
As coisas estavam meio complicadas para o meu lado. Meu pai não estava falando comigo direito e eu tinha que sair de casa escondida para ir trabalhar. Já na escola, Patrick tinha se juntado ao nosso círculo de amizade. Ele era o menino mais doidinho que já conheci e até mesmo soltava um pouco de sua purpurina para cima de e do . Claro que eu e as meninas morríamos de rir com isso.
Agora em relação ao , eu queria o máximo de distância que fosse possível, mas querer não costuma significar poder, então sentia que cada sentimento meu estava ligado aquele garoto e por mais que tentasse, ele nunca sairia da minha cabeça, do meu corpo. Era como se uma ligação entre nós fosse impossível de ser rompida e a essa altura, já estava me arrependendo de tudo que tínhamos passado, porque estava me fazendo mal a tal ponto que até dormir era ruim, pois sonhava com ele. Apenas queria que minha vida fosse um pesadelo, no qual iria acordar ao amanhecer.
Respirei fundo e fui trabalhar, que pelo menos lá, minha mente estava tão ocupada que não conseguia pensar em nada.
O Wolf Black estava cheio como sempre. Atendendo entre uma e outra pessoa, reconheci um homem. Alan, pai de .
– O que deseja? – perguntei quando ele me entregou seu cartão.
– Duas cervejas, por favor. – pediu educadamente dando um sorriso.
– Amor, já pediu minha cerveja? Estou com sede. – pude ver e reconhecer a mulher que estava atrás dele.
– Claro, minha gatinha. – Alan se virou sutilmente e lhe deu um beijo.
Fiquei catatônica com aquela cena, pois a mulher que o acompanhava era nada mais, nada menos que a Green. Engoli em seco, eu não acreditava no que estava vendo. Aquilo me fez questionar muitas coisas, mas tratei logo de pegar as duas cervejas e entregá-las a Alan junto com o cartão, antes que Green percebesse minha presença. Fiquei observando eles o tempo inteiro subindo no balcão e fingindo dançar algumas das vezes. E bem, era o que eu estava pensando, Green estava com Alan, estava traindo o com o próprio pai dele. Não conseguia ter noção do quanto vadia aquela garota era e a repulsa que sentia ao ver aqueles dois juntos. Aquilo era tão nojento e errado, errado ao ponto de me parecer um crime. Como uma pessoa consegue ser assim? Ser falsa e enganar o cara que gosta dela! Green realmente tinha conseguido se superar na vadiagem. O que me deixava mais com raiva era que eu estava aqui que nem uma babaca sofrendo por causa do , sendo que ele gosta dela também! Que raiva. Green não merecia o que sentia por ela. Eu quem merecia! Vai ver que aquele filho que ela está esperando nem é mesmo do . Que droga.
4 de setembro, quinta-feira.
Como de praxe, não consegui dormir durante a noite, pensando no que faria. Assim que cheguei na escola procurei por todo o canto, o encontrando treinando junto com os meninos. Não pensei duas vezes e invadi o campo atrás dele, atrapalhando todo o jogo.
– , preciso falar contigo. – falei com urgência segurando o capacete pela grade.
– O que você quer? Está atrapalhando o jogo. – aqueles olhos me fitaram de forma estranha.
Senti um arrepio esquisito na espinha, como se eu devesse ir embora e deixar aquele assunto que não era meu. Não tenho nada a ver com a vida deles, mas gosto tanto do , não posso deixar que ele seja enganado, tinha que falar a verdade, ele precisava saber. Respirei fundo e travei os dentes. Vamos lá.
O treinador apitou parando o jogo.
– Menina, está atrapalhando o treino. – gritou o cara parrudo entrando no campo.
– Desculpe, é só um minuto. – falei e puxei para lateral do campo, onde ninguém iria escutar a nossa conversa.
– O que você quer? Fala rápido. – ele tirou seu capacete e olhou para o jogo, no qual estava mais interessado.
– Preciso dizer que acredito em você, em tudo que já me disse. Inclusive que o filho da Green não é seu e que você me ama, acredito em tudo! – segurei seu rosto com as duas mãos, estavam em desespero, precisava que ele acreditasse.
– Mas… – ficou confuso. – Por que agora você acredita em mim? – ergueu uma sobrancelha.
– Olha, eu não deveria estar falando isso, mas, vi a Green com outro cara ontem à noite em um bar. – disse logo mantendo nosso contato visual para que ele tivesse certeza de que eu não estava mentindo.
– , sério isso? – franziu a testa. – Cara, não acredito, logo você inventando coisa para me separar dela? – falou em tom acusador, se afastando um pouco.
– O quê? Não, . – neguei com a cabeça.
– Esperava isso de qualquer outra menina, menos de você. – tinha indignação na voz. – Preciso voltar. – segurei seu braço.
– Por isso mesmo, . Você sabe que eu não faria isso… - ele me cortou.
– Não é o que parece. – foi ríspido. – Olha, o filho que a Green está esperando é meu. – apontou o indicador para o próprio peito.
– Por que você não está acreditando em mim? Droga! Como tem tanta certeza que não era a Green quem eu vi ontem no bar? – estava ficando com vontade de socar a cara dele.
– Certo, me diz ai, que bar era esse? – antes deu responder, ele já falou. – Nenhum! Porque a Green detesta sair à noite, que dirá para um bar! Pare de mentir! – tirou minha mãe de seu braço.
– , é ela quem está mentindo para você, não eu! – rebati nervosa.
– Chega! Ok? Não acredito em nenhuma palavra do que está me dizendo. Tudo não passa de um monte de mentira e se acha que isso vai afetar em algo no meu relacionamento com a Green, pode contar que não. Agora dá o fora, que estou perdendo o meu tempo, e inclusive o seu. – como sempre, as palavras farpadas de me pegaram desprevenida e me encontrei sem reação. Ele me deu as costas.
– , eu não estou mentindo. Que droga, acredita em mim! – bati o pé no chão com raiva e meus olhos começaram a marejar. Estava parecendo uma criança mimada na loja de brinquedos, fazendo pirraça para que a mãe comprasse o brinquedo que tanto queria. – , não estou mentindo. – minha voz saiu embargada. – Por favor, acredite. – a última frase saiu como um sussurro.
– Não tente fazer isso. Chorar não vai me convencer. – ele voltou, então abaixei a cabeça. – Não se faça de santa, porque você não é! – pegou a ponta de meu queixo e me fez encará-lo. – Seque esse rosto, o que vão pensar de nós?
– Dane-se o que vão pensar. – as lágrimas rolavam dos meus olhos com tristeza. – Me decepciono cada vez mais com você. Como não pode acreditar em mim?
– Porque confio na Green. – soltou meu rosto.
– Obrigada. – Pressionei a alça de minha mochila em meu ombro. – Obrigada por não CONFIAR em mim. Era tudo que eu precisava. – Encarei o chão, já estava cansada dele me varrer para debaixo do tapete. – Quer saber? – sequei meu resto. – Cansei. Vou conseguir viver sem você, afinal, vivi 17 anos sem te ter. E outra coisa, não tenho vergonha de nós e nem me preocupo com o que os outros iriam achar. Mas pense bem no que te contei, porque posso jurar por qualquer coisa que quiser que estou falando a verdade. Posso ser muitas coisas, mas não sou do tipo que jogar baixo ao ponto de inventar mentiras. Ao contrário de muita gente nessa merda de colégio, ainda sei ser verdadeira com as pessoas que gosto. Acho melhor você começar a rever os seus conceitos e olhar bem com que está andando, especialmente com quem dorme ao seu lado. Nunca se sabe quando uma cobra pode dar o bote. – me olhava tão sério, quanto eu o olhava.
Meu celular tocou quando ele iria falar algo.
– Alô. – Atendi olhando para que ainda estava na minha frente e sem checar a ligação.
– ? Tudo bem? – a voz de Alex me fez sorrir.
– Oi, Alex. – consegui falar mais animada. – Tudo e contigo? – Quando escutou quem era, saiu andando com raiva.
– Estou ótimo. – ele deu uma risada. Fechei os olhos e me sentei no banco que tinha bem ali. – Queria te chamar para sair.
– Só queria? Não quer mais? – brinquei e fiquei olhando voltar para seu posto no jogo.
– Ainda quero, mas me resta saber se você quer. – talvez Alex pudesse ser um belo estepe, e isso me agradava em muito.
– Pode contar que quero. – encostei a cabeça e sorri. – Qualquer lugar bem longe da minha realidade. – pedi.
– Seu pedido é uma ordem, Mademoiselle. – aquilo me fez rir. Era estranho alguém me tratar com tanta educação. – Posso te buscar às 16hs na sua casa?
– Pode ser. – dessa vez vou conseguir seguir em frente.
– Então, até mais tarde. Tenha uma boa aula. – fitei o nada.
– Até. – encerrei a ligação.
26 de setembro, sexta-feira.
Alex conseguia ser imprevisível. Naquela tarde nos encontramos e ele me pediu em namoro, depois, de noite foi até a minha casa pedir permissão ao meu pai. Isso foi a coisa mais linda que um cara já fez por mim. Ele não sabia o que fazer para me agradar, me tratava como se eu fosse uma rainha. Estava me sentido bem ao lado dele, afinal, qual mulher não sentiria?
Embora tudo estivesse bem, meu pai ainda não tinha recebido ainda seu primeiro salário, então eu continuava no Wolf Black. Falando nele, estava agora dançando em cima do balcão, até um cliente subir e começar a dançar comigo. Nada demais, às vezes acontecia isso, até que o cara colocou a mão na minha cintura e foi descendo. Antes de falar qualquer coisa, o homem foi puxado para baixo e caindo no chão. Fiquei assustada quando vi Alexander dar um soco no cliente que estava dançando comigo. Droga. Desci do balcão e tentei apartar a briga. Empurrei Alex de cima do cidadão e fomos andando para fora do bar, enquanto ele continuava a gritar coisas do tipo; “Nunca mais toque nela”. Essas coisas de homem.
– Cara, o que deu em você? – perguntei enquanto ele andava de um lado para o outro. – Não tinha motivo para isso. Era só um cliente se divertindo.
– Se divertindo com minha namorada! – disse nervoso parando na minha frente. – , o cara estava te alisando.
– Não, ele estava apenas com a mão na minha cintura. – rebati. – Não tinha nada demais. Eu estava trabalhando, quando do nada você chega e dá um ataque de ciúmes.
– Trabalhando? Não sabia que agora seu trabalho era ficar se esfregando com qualquer um em cima de um balcão de bar. E sim, fiquei com ciúmes. – Alex estava possesso. – Sai logo desse lugar, isso não é para você!
– É fácil falar quando se tem tudo, quando se é rico e filhinho de papai! – falei sem pensar e ainda continuei. – Quando foi a última vez que você sonhou com algo que era difícil e que o seu dinheiro não podesse comprar? – eu praticamente o acusei.
– É, alguns como eu não podem se dar a esse luxo de sonhar! – Alex rebateu tão irritado quanto antes.
– Por que será? Porque é tudo mais fácil quando se é sentado na grana! Ao contrário de você, não tenho dinheiro! E se realmente não fosse preciso, acha que mesmo que eu viria trabalhar aqui? – passei a mão em meus cabelos, estava nervosa e odiando estar brigando com ele.
– Quer saber? Esquece! – Alexander saiu andando, me deixando ali plantada.
– É, vai mesmo! É o que todo mundo faz comigo mesmo, apenas se esquece! – levantei os braços.
– Para de querer ser a vítima e que as pessoas tenham pena de você. Seja digna das coisas que faz! Faça as pessoas terem orgulho de você e não pena! – ele abriu a porta do carro.
– Eu não sou digna, né? – fui andando até a Ferrari.
– Por que você não tira a sua blusa, coloca um short mais curto e mostra mais um pouco do seu corpo? Vai estar aí a sua resposta. – ele entrou e abaixou o vidro. – Volta para o seu balcão e acabe de tirar a sua roupa, eles vão amar. – Alex arrancou com o carro.
Fiquei ali parada no meio da rua, até escutar Chris gritar meu nome da porta do Wolf Black. Olhei por cima do meu ombro e vi ela com minhas coisas. Estreitei os olhos e me aproximei.
– Garota, eu te avisei. Sem brigas no meu bar! – jogou minha bolsa em cima de mim. – Aqui está seu dinheiro. Agora, fora! – me entregou a grana e entrou.
Contei o dinheiro e o guardei no bolso do meu short. Muito bom, agora estava sem emprego e sem namorado.
29 de setembro, segunda-feira.
Não vou nem mencionar o fiasco que foi meu final de semana. Vesti qualquer trapo que encontrei e fui para a escola. Assim quando cheguei, encontrei Patrick sentado na escada com cara de preocupado. Ele ergueu lentamente seus olhos verdes me fitando de cima embaixo e depois deu um sorriso. Em um pulo o menino se levantou e segurou minha mão, me puxando para um canto.
– Calma, não vou fugir. – comentei dando um leve sorriso. – O que está pegando?
– Bem… você é a minha única amiga e eu queria que me fizesse um mega super hiper favor. – ele praticamente sussurrou.
– Que favor? – ergui uma sobrancelha já com medo do que se passava pela aquela cabecinha loira.
– Você sabe que eu sou gay, né? – suas bochechas ficaram vermelhas.
– Ih? – dei de ombros. Aquilo não era novidade para ninguém.
– Meuspaisnãosabemesábadotemumafestadefamília. – Patrick falou tão rápido que não consegui entender nada.
– Ok, agora respira e fala devagar para eu poder entender o que você quer, certo? – coloquei a mão em seu ombro. – O que está pegando?
– Meus pais não sabem que sou gay e no sábado tem a uma festa da família na casa da tia Gertrude... – logo o interrompi.
– Tia, o quê? E eu que pensava que isso era nome fictício, mas prossiga. – fiz sinal com a mão para que ele continuasse.
– Então, toda a família do meu pai vai estar lá e minha mãe me pediu para que eu levasse uma amiga. – cerrei os olhos, tinha mais coisa nessa história. – Na verdade ela me pediu para levar alguma menina que eu estivesse ficando. – dei uma risadinha. – Não ria, estou falando sério.
– Desculpa. – me controlei. – Nossa, que rolo. A sua mãe sabe que você é gay?
– Não, ninguém da minha família sabe. Mas as pessoas me chamam mesmo assim e minha mãe quer calar a boca delas. Entende? – Patrick estava encostado na parede e seu rosto estava extremamente vermelho.
– Patrick, meu anjo, conta logo a verdade para a sua mãe. – puxei a cordinha do capuz de seu casaco, apenas para implicar, e ele fez uma careta.
– Não posso, ela disse que a maior decepção dela é ter um filho gay. – rebateu arrumando a cordinha que eu tinha puxado. – Vai me ajudar?
– Até posso ir nessa festa contigo, mas não vou ficar servindo de sua namorada pelo resto da vida. Você tem que sair do armário. – puxei novamente a cordinha do capuz dele, e Patrick soltou um resmungo.
– Pare com isso. – reclamou. – Então, você vai na festa comigo? Por favor. – praticamente suplicou.
– Vou! – dei um sorriso e um soco fraco no peito dele.
– Ai, você é muito bruta. – passou a mão em seu peito. – Obrigado por me ajudar.
– Tudo bem. Agora vamos para a aula. – sai puxando ele pela manga de seu casaco.
3 de outubro, sábado.
Passei o dia cuidando do meu visual, não que eu estivesse ficando vaidosa, apenas voltei com a antiga cor do meu cabelo e fiquei horas tentando achar uma roupa legal para poder acompanhar Patrick na festa. Estava fazendo isso por ele, porque se fosse por mim, teria vestido qualquer coisa que já estaria bom. Escutei a capainha tocar. Me olhei a última vez no espelho e acho que estava vestida de acordo com a situação.
– Pode deixar que eu atendo. –falei já descendo as escadas com meu celular em mãos.
– Onde você vai? – meu pai perguntou sentado no sofá fumando seu cigarro.
– Em uma festa da família de Patrick. – respondi dando de ombros.
– Quem é esse menino? – meu pai olhou por cima do encosto da poltrona.
– Você vai ver agora. – caminhei até a porta e a abri. Patrick estava muito bonito, e se ele não fosse gay, certamente daria uns pegas nele. – Entre, meu pai quer te conhecer. – Puxei o menino para dentro. – Pai esse é o Patrick, Patrick, esse é Peter, meu pai. – apresentei devidamente os dois.
Meu pai já estava de pé na porta da sala, e examinou o menino por completo, o que estava deixando ele um pouco constrangido.
– Prazer Sr . – foi até meu pai e estendeu à mão, o velho olhou mais uma vez para o menino e segurou a mão dele em um aperto que pareceu ser forte.
– Pai, corta essa. Patrick é só um amigo. – fui até eles. – Vamos, se não iremos chegar atrasados. – peguei a mão de Patrick.
– Não chegue tarde, eu tenho o telefone da polícia. – disse meu pai tentando amedrontar.
– Pai, qualquer um tem o telefone da polícia. – Saí puxando Patrick. – Tchau. Não sei que horas vou chegar. – falei antes de bater a porta.
– Tchau Sr . – O menino gritou para que meu pai escutasse. – Você está muito bonita, trocou a cor do cabelo. – notou enquanto caminhávamos até seu carro.
– É, voltei para a cor natural dele, não estava aguentando me ver loirona todos os dias. – sorri parando ao lado da porta do carona.
– Você fica bem com qualquer cor de cabelo. – deu um beijo na minha testa e passou os dedos nos fios soltos de meu cabelo.
– Patrick, se você quer parecer um pouco macho, não comente essas coisas perto dos seus familiares. – Alertei. – Sobre minha roupa, maquiagem ou qualquer outro apetrecho. Se quiser me elogiar perto de alguém, apenas diga que estou bonita.
– Ok. – abriu a porta do seu Alfa Romeo 159 SW, para que eu entrasse.
Fomos conversando pelo caminho, até Patrick me contar que era aniversário de sua tia Gertrude.
– Patrick, por que não me disse que era aniversário da sua tia? Eu poderia ter comprado uma lembrancinha. – reclamei o repreendendo.
– Aquela velha podia morrer engasgada com os doces que come, não precisava de lembrancinha nenhuma. – torceu os lábios, então estacionou rente calçada. – Chegamos.
– Que horror menino, ela não deve ser tão ruim assim. – Fiz uma careta.
– Certamente, ela é pior. Ainda acho que aquela velha deve ser reencarnação de Lúcifer. – saiu do carro antes que eu comentasse qualquer coisa, e então fiz a mesma coisa. – Eu ia abrir a porta para você.
– Parou, né? Eu tenho mão. – rimos juntos, então ele me estendeu sua mão.
Entrelaçamos nossos dedos e caminhamos lado a lado como se fossemos um casal. Atravessamos o pequeno jardim para chegar até a casa. A porta estava fechada, mas pelo que parecia o lugar estava cheio. Alguém abriu a porta e encarou Patrick, era uma mulher, depois ela me olhou.
– Pensei que você não viria. – disse a mulher de vertido rosa. – Anda, entre. Sua tia já está perguntando de você.
– Boa noite para você também, mãe. – ele revirou os olhos e me puxou para dentro.
– Patrick. – achei, cutucando seu braço. – Não vai me apresentar à minha sogra? – brinquei e ele ficou vermelho.
– Hmm. Mãe, essa é a , minha namorada. – aquilo me saiu um pouco forçado. – , essa é minha mãe, Amélia.
– Prazer. – sorri e me aproximei, lhe dando um beijo na bochecha, mas sem soltar a mão de meu “namorado”.
– O prazer é todo meu. – ela me pareceu feliz. – Estava mesmo começando a duvidar que meu filho tivesse uma namorada. – senti os dedos de Patrick se apertarem entre os meus.
– Mãe, onde está a tia Gertrude? – ele tentou mudar de assunto.
Amélia saiu andando na frente, então a seguimos, mesmo que Patrick estivesse de má vontade. Vi uma velha de cabelos brancos sentada em um sofá, comendo um pedaço de torta, ao seu lado tinha uma bengala de marfim. Paramos na frente dela, o que a fez nos olhar. Dei um sorriso, no qual não foi retribuído.
– Oi, tia. – Patrick me puxou mais para perto dele. A velha nem se quer respondeu.
– Olá Dona Gertrude. – falei tentando ser amigável.
– Senhora, por favor. Quem é você? – A velha perguntou me reparando agora. – O Patrick não te pagou para vim até aqui, né?
– Não senhora, sou a namorada dele. – Respondi e Patrick me abraçou por trás.
– É tia, ela é minha namorada. – resaltou me dando um beijo no pescoço.
– E você por acaso tem a capacidade de arranjar uma namorada, ainda mais uma menina desse porte? – A velha pegou sua bengala, na qual e eu estava vendo na hora que ela bateria em Patrick com aquele objeto.
– Tenho tia. – respondeu com grosseria. – Vamos amor, vou te apresentar pro resto da família. – Ele saiu me puxando.
Para não ser mal educada apenas dei um sorriso para a velha Gertrude que olhava para o sobrinho com nojo.
– Eu te disse que aquela velha era um troço! – Patrick reclamava me puxando para mais perto dele.
Dei uma risadinha do comentário engraçado. Patrick me apresentou para todos seus familiares até para os primos babacas que fizeram comentários ridículos sobre ele.
– , vou no banheiro e já volto. – Disse ele e se distanciou.
– E aí, gatinha. – Um dos primos babacas de Patrick plantou do meu lado. – O que você faz com o viadinho do meu primo?
Não respondi, apenas ignorei dando um gole no meu refrigerante.
– Te garanto que sou muito mais homem do que ele. Sabia que a minha varinha brilha? – O porco falava no meu ouvido e minha bebida quase saiu pelo nariz.
– A sim, brilha, né? – Ironizei.
– Sim, e ela também te faz ver estrelas. – o porco riu.
Eu não escutei isso. Olhei séria para o animal do meu lado, esse conseguia ser pior que o . Respirei fundo.
– Amigo, o Patrick pode ser o que for, mas você não é nem a metade do homem que ele é. Então não venha ficar dando uma de “sou o gostosão” para cima de mim, porque essa não cola. Agora me dê licença que não sou obrigada a ficar escutando cantada de pedreiro. – Saí dali sem nem olhar para a cara do dito cujo.
– Demorei? – Encontrei Patrick no meio do caminho.
– Não. Um primo seu estava dando em cima de mim. – Falei revirando os olhos.
– O que ele disse? – perguntou divertido.
– Ronq ronq. – Fiz o barulhinho do porco. – Eu não entendo muito bem a língua dos porcos.
Patrick caiu na gargalhada.
– O que foi? Estou falando a verdade. – Me fiz de cínica.
– Você é ótima, . – O celular dele tocou. – Só um minuto. – Ele atendeu. – Fala. Está bem cara. Vou te esperar na porta. – disse e encerrou a ligação. – Venha, um amigo meu está chegando.
Fomos até a porta da casa da tia Gertrude. Ficamos conversando, até na hora que eu fiquei paralisada ao reconhecer o carro que tinha estacionando ali perto. Engoli em seco e fiquei branca quando Alex saiu de dentro de sua Ferrari. Que merda. O que ele estava fazendo aqui?
– Não me diga que o seu amigo é o Alex. – Minha voz saiu esganiçada.
– É, por quê? Você o conhece? – Patrick me olhou.
Apenas afirmei com a cabeça.
– Fala ae, Patrick. – Alex se aproximou com um sorriso no rosto. – Trouxe um presente para a tia Gertrude. – Ele ainda não tinha me notado ali.
– Sabe que não precisava, a menos que seja uma bomba relógio ou algum doce envenenado. – Patrick deu um abraço no menino. – Alex, você conhece a ? – Gesticulou para mim. Olhei séria para aquele loiro. Ele tinha mesmo que fazer isso?
Logo desviei, reparando como a tábua da varanda era velha e sem ter coragem de encarar Alex, não conseguiria olhar dentro daqueles olhos zuis novamente, não sem sentir vergonha de mim mesma. Mordi o canto de minha boca.
– Sim. – Respondeu ele sem emoção na voz. – É a minha ex.
Eu sabia que não íamos ter mais nada, mas escutar a palavra “ex” da boca dele foi meio tenso. Queria abraçá-lo e pedir desculpas pelo que eu tinha dito, queria sentir o cheio de seu perfume e o gosto de seu beijo, aquele sabor de bala de frutas.
– Oi. – falei sem graça. – Patrick, vou pegar algo para beber. Você quer alguma coisa? – perguntei na tentativa de escapar daquela situação.
– Não, vai lá, daqui a pouco te encontro. – ele sorriu.
Entrei de volta na casa como um foguete. Fui até a cozinha e peguei um refrigerante. Me encostei na pia e fiquei olhando pela janela que tinha acima dela. A cozinha estava vazia para minha sorte. Respirei fundo e passei a mão em meus cabelos. Afinal, por que foi tão difícil olhar para o Alex? Passei a mão pela minha nuca levemente suada, eu estava tensa. Tinha tanta coisa dentro da minha cabeça, estava tudo um caos. E eu ainda achava que não poderia ficar pior. Escutei a porta da cozinha ser aberta e dei um pulo me virando para ver quem era. Patrick e Alex. Engoli em seco. Alexander estava muito bem vestido, como de costume.
– , vamos nos juntar no jardim de trás para conversar e tocar violão? – Patrick perguntou.
– Hã? – Balancei a cabeça. – Quem?
– Eu, Alex e meus primos. – explicou.
– Tá. – Disse me aproximando, assim quando passei por Alex seu perfume maravilho invadiu meus pulmões. – O que você trouxe de presentes para a Tia de Patrick? – Tentei puxar assunto com ele.
– Nada demais. – deu de ombros.
Toma patada , isso é para você aprender a calar a boca e não tentar puxar assunto com seu ex. Patrick nos olhou.
– Vocês querem ficar a sós para conversarem? – Perguntou apontando para nós dois.
– Não temos nada para ser conversado a sós. – Alex disse, mas não de uma forma grossa, e sim, até que muito educado.
– Er… Alex. – Me virei para ele. – Desculpe ter falado aquelas coisas para você. – mordi o canto de minha boca.
– Esquece aquilo, já passou. – ele sorriu.
– Você não se importa mais, né? – perguntei fechando os olhos e abaixando a cabeça. Sou um fracasso com homem.
– Uhum. Aquilo já passou, algo que é para ser esquecido. – Falou sem dar a menor importância. – Patrick, quem trouxe o violão? – Ele mudou de assunto.
Ele não precisava me xingar para me fazer senti um lixo, apenas me tratar daquele jeito dele tão educado acabava comigo. Minha vontade era de falar para ele me xingar, me bater ou qualquer coisa. Eu sentia que ele havia ficado decepcionado comigo e isso era pior que qualquer coisa. Decepção. Realmente não sou digna nem de olhar na cara dele. Vai ver que é por isso que eu e o nos gostávamos, dois lixos! Patrick pegou minha mão e me guiou até o lado de fora para o jardim dos fundos. A noite estava meio nublada, mas não fria. Nós sentamos em um circo, pelo que calculei éramos no total de umas 14 pessoas. O pessoal cantava, bebia e se divertia, enquanto eu apenas ficava no meu “mundinho” ridículo pensando em coisas idiotas. Às vezes me pegava perdida olhando e pensando em Alex, outras pensando no .
– E você ? Sabe cantar? – Patrick me perguntou me puxando de volta para a terra.
– Ah, não… – Dei um meio sorriso.
– Mentira, ela é a melhor cantora que já vi. – Disse Alex dando um sorriso lindo. – Pare de esconder o jogo, se quiser, posso tocar enquanto você canta.
– Não obrigada, e também não sei cantar assim como você está falando. - Patrick estava no nosso meio e ria daquilo.
– Não vou te elogiar novamente, já disse que você é boa, mas se não quer cantar, tudo bem. – ele deu um sorriso gentil.
Por favor, pare de me tratar bem!
– Por que você não canta? – rebati cerrando os olhos.
– Porque eu não sei cantar bem, oras. – respondeu me encarando.
– Não importa, vai, canta aí. – Falei me sentando direito.
– Já que você quer. – Ele pegou o violão e começou a cantar See no More do Joe Jonas.
Por que eu perguntei? Bem feito. Cala a sua boca, ! Patrick cantarolava junto com Alex. O pessoal batia palma no ritmo da música. Alexander cantava bem, mas ele não me olhou. Como que eu pude fazer isso com ele? Justo ele que me tratava tão bem! Por um momento o olhar dele se cruzou com o meu, mas Alex desviou logo. Ele deveria ter nojo de mim. Assim que acabou de cantar o pessoal bateu palmas, e eu também, é claro.
– Você ainda me diz que não canta bem! Eu deveria te bater. – brinquei e ele riu.
– Não tão bem como você. – Piscou para mim. Abaixei a cabeça e neguei, rindo de nós.
– Pare com isso! – estava começando a ficar envergonhada.
– Parar com o quê? – dessa forma acabaria parecendo que eu estava afim do Alex, o que não era mentira, mas no momento eu era “namorada” do Patrick.
– De falar que eu canto! – todos começaram a rir. O que tem de tão engraçado?
– Agora estou curioso. – disse Patrick pegando o violão da mão de Alex. – Canta uma musica aí.
– Patrick! – Arregalei os olhos para ele. – Não.
– Anda, vai. Por mim. – ele fez beicinho.
– Está bem. Me dê esse violão. – pedi fazendo cara de metida.
Escolhi Secrets do OneRepublic para tocar. Por quê? Nenhum motivo especifico, apenas gostava dela, ou será que não? Talvez ela dissesse bastante coisa. Eu não sabia mais o que queria da vida. Gostava muito do , mas o Alex me fazia bem, me tratava bem. Queria dar uma chance para ele, tentar concertar as coisas, só que dentro do meu peito gritava apenas um nome: . Por que eu não poderia dar a chance para outro? Era tão difícil assim? Por que eu não podia entender que o não gostava de mim? Tantas perguntas em minha cabeça que aquilo estava me deixando confusa. Eu só queria… O que eu queria? Não sei! Não sei de mais nada. É uma agonia tão grande dentro de mim, a razão dizia uma coisa e a emoção outra. Por que elas não podiam chegar em um acordo? Que merda! Por que tudo tem que ser difícil para mim? Eu não poderia ser uma adolescente normal que se preocupava com que roupa iria para a escola ou para uma festa? Que vidinha essa a minha. É, eu estava tocando e cantando pensando em mil coisas, não sei nem se estava cantando certo ou não. Quero apenas uma razão para começar tudo de novo. Apenas alguém que me dê força para eu me levantar. Porque não estou com a mínima vontade de continuar a caminhar. Por mim, ficaria enfiada em um buraco o resto de minha vida. A partir de agora vou apenas viver, que os dias me levem sem alma, sem esperança e sem futuro. Vou apenas viver o presente, espero que seja mais fácil.
– Viu, eu disse que ela cantava bem! – Alex falou assim quando acabei.
Dei um sorriso azedo e me levantei.
– Já volto. – Disse para Patrick dando-lhe um selinho que foi inesperado até para ele mesmo.
Tinha que sair dali. Caminhei até a rua, o vento de outono fresco batia em meu rosto e fazia meus cabelos ricochetearem ao ar. Respirei fundo e dei uma caminhada pelo quarteirão.
– Ora ora ora. Quem eu estou vendo andando na rua, sozinha a essa hora da noite. – Paul falou dirigindo bem lentamente seu Chevette GP2 1978 amarelo.
Não respondi.
– Aí, quero te fazer uma proposta. – Continuou ele. – Você me arranja 100 mil e eu não te mato. O que acha?
– Vá se danar, Paul. Me mata e você se ferra. – Respondi ríspida sem olhar para ele.
Ouvi ele freando e saindo de dentro do carro.
– Olha aqui garota, não estou de brincadeira contigo. – Paul veio para cima de mim me empurrando contra o seu veiculo. – Me arranja a grana ou… – Ele tirou uma arma de trás da calça. – Estouro seus miolos. – apontou para minha cabeça. Era só o que me faltava. Esse cara brotar do além para me atazanar.
– Anda, vai, me mata logo. – Eu olhava dentro dos olhos dele com estrema frieza. – Mas mata direito, porque se eu ficar viva, quem morre é você.
Paul me deu uma coronhada no rosto.
– Vadia. – senti o gosto de ferro na boca.
– Seu verme. – Cuspi sangue no chão. – Está esperando o quê? Você não tem coragem? – Empurrei ele.
Paul veio para cima de mim para me bater, mas me esquivei com facilidade dando uma canelada em sua costela. Era incrível como eu era ímã de problemas.
– Quer brigar? Cai dentro. – Fiz um gesto para que ele viesse.
Ele veio na minha direção. Começamos a brigar feio, assim como dei um soco na cara dele e quebrei seu nariz, tomei uma rasteira e cai no chão, mas não deu tempo de me levantar. Ele veio com um chute no meu rosto e depois outro em minha barriga. Argh. Senti sangue na minha boca, pensei que Paul tinha acabado, mas não, ele se empoleirou nas minhas costas e me deu uma chave de braço em minha garganta. Estava ficando sem ar. Se eu desmaiasse, aí sim, ficaria pior, e sabe lá o que ele faria com o meu corpo. Respirei fundo como consegui e tomei força sabe Deus de onde para me levantar com ele em minhas costas. Paul era da minha altura, então não pesava muito mais do que eu. Assim quando consegui ficar de pé joguei meu corpo para trás com toda força, fazendo Paul bater com suas costas no carro e me soltar. Me virei rapidamente e dei um gancho nele, o que o deixou tonto.
– Olha, Paul. – falei também meio tonta. – Já chega, ok? Não vou te dar merda nenhuma e você some da minha vista antes que eu te arrebente.
Ele não respondeu, apenas puxou a arma de sua calça. A arranquei da sua mão com agilidade a apontei para a testa dele, destravando ela.
– Eu tenho coragem para disparar. – disse com o dedo no gatinho. – Façamos um acordo. Você nunca mais me preocupa e eu não estouro sua cabeça, o que acha? – sorri.
– Tudo bem. – Agora ele estava meio apavorado. – Nunca mais vou te perturbar. – ele estava mentindo.
Empurrei o cano do revolver contra sua testa.
– Paul, se algo acontecer com qualquer um que eu conheço, irei te caçar até no inferno, entendeu? – disse bem perto de seu rosto.
Ele afirmou com a cabeça. Dei um disparo para cima, tirei o pente do revolver e o devolvi.
– Nunca mais quero ver a sua cara. – dei um passo para trás.
Paul pegou o objeto de minha mão, entrou no carro e foi embora mais do que rápido. Me sentei no meio fio com a cabeça entre os joelho, minhas mãos tremiam e eu poderia jurar que estava pálida pelo suor gelado que escorria em minha nuca. Minha boca estava sangrando bastante e meu rosto estava machucado. Fiquei alguns minutos naquela posição esperando minha cabeça parar de girar. Escutei passos que pareciam mais com alguém correndo.
– , . – a voz de Alex invadiu minha cabeça.
– Hey, . – agora era a de Patrick estava do meu lado. – O que aconteceu contigo?
– Ouvimos um barulho alto, parecia de tiro. – falou Alexander com preocupação se agachando na minha frente. – Hey, olha para mim. – ele me fez erguer o rosto. Fechei os olhos para não ver a sua reação. – Mas, o quê? Você está sangrando. – passou a mão no canto de minha boca.
– Estou bem. – Respondi virando o rosto e me levantando, mas dei uma cambaleada. Senti as mãos de Alex segurar minha cintura, e aquilo me deixou mais mole que antes. – Não precisava ter vindo me procurar Patrick, eu disse que já ia voltar. – tentei me manter firme.
– Eu sei, mas ouvimos o barulho de um tiro, te procuramos pela casa toda e então ficamos preocupados. – Respondeu ele aflito. – O seu nariz está sangrando. – Disse tocando o seu próprio nariz indicando onde o meu estava sangrando.
– Droga. – Coloquei a mão e depois a olhei. – Patrick, me desculpe, mas eu vou para casa.
– Tudo bem, eu te levo. – ele disse de firma gentil.
– Não, pode deixar, eu levo. – Alex se prontificou. – É a festa da sua família, vai ficar chato você sair assim.
– Eu não me importo, seria uma desculpa perfeita para sair daquele lugar. – entendi Patrick, mas realmente ficaria chato.
– Mas eu me importo. – Falei. – Não vai ser legal você sair assim, ainda mais que… – parei de falar. – Me desculpe o jeito, mas a sua família é meio chata contigo, então não crie motivos para eles falarem mais.
– Ok, mas o que vou falar para eles se eu voltar sem você? – perguntou tristinho.
– Diga que eu estava passando mal e fui embora. – foi a primeira coisa que veio em minha cabeça. – Quando Alex me deixar em casa, ele volta.
– Está bem. Qualquer coisa me liga? – me deu um abraço.
– Ligo. – Respondi retribuindo o abraço.
– Venha. – Alex segurou o meu braço de uma forma gentil.
– Não precisa me ajudar, estou bem. – reclamei tirando sua mão de mim de uma forma educada, não queria ser grossa com ele.
– Está mesmo bem? Qualquer coisa eu vou buscar o carro enquanto você me espera aqui. – ele me olhava como se eu fosse um bebê.
– Alexander, só porque estou com o nariz e a boca sangrando, não quer dizer que não posso andar. – falei unindo as sobrancelhas. – Estou bem.
– Desculpe, só estou preocupado contigo, está pálida e trêmula. – uniu as sobrancelhas.
Patrick nos observava. Fiquei com vontade de responder que não precisava da preocupação dele e de mais ninguém, só que era bem capaz dele nunca mais olhar na minha cara se eu falasse isso. Então resolvi ficar calada e apenas caminhar até onde estava sua Ferrari. Assim quando chegamos nela, dei um abraço em Patrick de despedida.
– Desculpe ir embora assim.
– Tudo bem. – Ele me abraçou forte. – Até segunda.
– Até. – Entrei no carro de Alex.
– Até depois, Patrick. – disse Alexander e então entrou no carro.
Assim quando viramos a esquina da rua da casa de Tia Gertrude, Alex parou o carro.
– O que foi? – Perguntei assustada pensando que tinha alguma coisa na rua.
– Agora você vai me contar o que aconteceu! – ele se virou no banco.
– Alex, me desculpe, mas eu não te devo satisfações. – Respondi olhando pela janela.
– Eu sei que não me deve nada, mas quero saber o que aconteceu com você! – disse nervoso. – Te encontro na rua, sentada no meio fio, parecendo que tinha visto um fantasma. Além do mais, você está machucada. – senti sua mão quente tocar minha coxa.
Ri pelo nariz.
– Alex, a minha vida é assim, cheia de segredos que ninguém vai saber. – Respondi tocando em sua mão. – E mesmo que alguém saiba deles não vai gostar nada do que irá escutar.
– Então me conte eles. – seus dedos foram se entrelaçando com os meus.
– Se eu te contar algo, sei que nunca mais irá chegar perto de mim. – o olhei.
– Por que acha isso? Você não me conhece tão bem assim para saber o que vou achar. – sustentou meu olhar.
– Pena, queria ter conhecido. – puxei minha mão a colocando entre minhas pernas.
Ele ficou quieto.
– Olha. – Agora me virei para ele. – Um conhecido do meu ex-namorado veio me ameaçar e então nós brigamos. – decidi contar.
– Ameaçar?
– Sim. – voltei a olhar pela janela.
– Por que ele faria isso? – ele não me pareceu nem um pouco surpreso.
– Está vendo porque eu não queria te contar o que aconteceu? Cada fato puxa o outro. – cerrei os lábios em linha reta.
– O que ele disse para você? – Quis saber.
– Disse que se eu não arranjasse 100 mil ele estouraria minha cabeça. – Respondi como se fosse normal isso acontecer. – Isso tudo com o revolver na minha cabeça. Satisfeito?
– , temos que ir na polícia! – agora sim ele se assustou, voltando a se ajeitar no banco e ligar o carro.
– Quem disse que polícia resolve isso? Já dei meu jeito. – estiquei o braço e girei a chave na ignição, desligando o carro.
– O que você fez? – me olhou assustado.
– Não, eu não o matei. O disparo que vocês escutaram, sim, fui eu. Disparei para cima para assustar o idiota. – A face de Alexander era de pavor. – Está vendo porque eu não queria te contar? – Passei a mão em seu rosto. – Apesar de ter apenas 17 anos, já fiz muitas coisas das quais não me orgulho. Alex, eu sou um lixo. Não sou descente para você ou para qualquer outra pessoa. Olha… – Tirei o colar que ele tinha me dado de meu pescoço. – Não mereço isso. Dê para alguém que mereça. – Puxei sua mão, coloquei o colar em sua palma e depois a fechei. – Você foi e é o melhor cara que já conheci. O que eu disse e fiz contigo foi ridículo, sou grossa e mal educada, não penso nas coisas antes de dizer, magoo as pessoas que gosto. E você foi uma delas. Garoto, obrigada por ser quem você é comigo. – Dei um beijo em sua testa e sai do carro.
Não escutei o carro ligar, olhei discretamente para trás e a Ferrari vermelha parada no mesmo lugar. É, acho que assustei o menino. Fui caminhando para casa, no meio do caminho tirei o salto, pois já estavam me machucando. Assim que cheguei, meu pai estava dormindo com a TV ligada. Desliguei-a, passei no quarto de Josh que estava dormindo feito um anjo, dei um beijo em sua testa e fui para o meu tomar um banho. Quando saí do banheiro escutei o barulho de algo batendo em minha janela. Fui até ela e a abri para ver o que era.
– Por que você não atende o celular? – Alex perguntou dando um sorriso.
– Porque eu estava tomando banho. O que você veio fazer aqui? – Perguntei segurando minha toalha para que não caísse.
– Se vista e desça. Vamos conversar. – saiu andando.
– Está bem. – Me vesti, passei a mão em meus cabelos molhados apenas para desembaraçar e desci. – O que te deu… – abri a porta já perguntando, mas não consegui terminar a frase. Alex me puxou pela cintura e me beijou.
No momento em que ele fez isso, fiquei parada, completamente sem reação, mas depois relaxei e deixei fluir.
– Eu não ligo para o seu passado. – Disse assim me nos separamos. – Não me importo com o que fez ou deixou de fazer. O que me importa é como você é comigo. Não me interessa como você age com as outras pessoas e nem nada.
– Alex… – Me interrompeu.
– Não consigo parar de pensar em você nem por um momento. – nossos rostos estavam perto.
– Mas, não sei se vai dar certo nós ficarmos juntos. – falei com pesar. – Acho que já deu para você perceber que eu gosto do . – não me decidia se olhara para seus olhos azuis ou para sua boca.
– Quem não iria perceber? Mas isso nós podemos deixar de lado, o que importa somos apenas nós. – Ele passou o polegar de leve em minha maçã do rosto. – Me deixe tentar? – pediu.
– Alexander, você tem certeza disso? Porque nem eu mesma tenho. – fechei os olhos com seu toque.
– Irei fazer você ter certeza de tudo. – Alex selou nossos lábios em um selinho fraco que acabou se tornando um beijo profundo e caloroso.
Discretamente ele foi me empurrando para trás até que eu me encostasse no parapeito da varanda. Senti as mãos dele me puxando para cima para que eu me sentasse sobre o corrimão. Meus dedos se atracavam com os cabelos da nuca dele, sedosos e macios, parecia uma seda. Os dedos quentes dele encostavam na pele das minhas costas, o que me fazia sentir um arrepio que ia da nuca até o final da espinha. Alexander desceu seus beijos até meu pescoço. Ah peste! Estava me deixando excitada, tombei minha cabeça para trás apertando ainda mais meus dedos no cabelo em forma de incentivo para que continuasse com aquilo. Soltei um gemido leve e baixo só para provocá-lo, e deu certo, porque ele subiu um pouco mais sua mão em minhas costas, a apertando e me puxou para mais perto de si, com isso mais um arrepio percorreu minha espinha. Escutei o barulho da porta se abrindo, Alex me soltou, então desequilibrei e cai pra trás no meio dos arbustos que ficavam debaixo do parapeito da varanda.
– ! – Alex disse alto ao me escutar cair. – Você está bem?
– Estou ótima, imagina! – reclamei soltando um gemido.
– O que vocês estão fazendo? – escutei a voz de meu pai.
– Pai, estamos namorando. – respondi ainda caída no meio dos arbustos.
– Namorando essa hora da madrugada? – os passos pesados de meu pai se aproximavam.
– Desculpe Sr . – Disse Alex soltando uma risada nervosa.
– Em vez de pedir desculpas ao meu pai porque estava me agarrando que tal me ajudar a sair desse mato aqui?! – Perguntei meio nervosa, não estava conseguindo levantar, tinha caído de mau jeito e a merda dos arbustos estava me segurando ou sei lá, só sei que não estava conseguindo sair dali por mais que tentasse.
– O que você está fazendo ai? – meu pai perguntou chegando no parapeito e me olhando.
– Estou vendo se tem toupeiras no jardim. – Respondi com um sorriso irônico. – O que você acha que estou fazendo aqui? Eu cai! – quase gritei, quase.
– Venha, . – Alex agora desceu e me ajudou a sair dali. – Se machucou?
– Não. – Respondi arrancando as folhas que estavam agarradas em mim.
Muito obrigada pai! Na hora que o Alex decide ser macho e me agarrar de jeito, você chega e joga um balde de água fria em cima de nós! Valeu mesmo. É isso aí! Eu e o Alex nunca transamos e nem nada depois daquela noite no Caribe. Umas pegadas de vez em quando, mas nada além disso, estava começando a desconfiar que ele era meio gay! Porque não é possível, nós namoramos uma semana e meia, tudo bem que era pouco tempo… Só que ele era muito “santinho” ou “lentinho”. Acho que estou mal acostumada com Jared que chegava me pegando todo daquele jeitão bruto, que é todo agressivo no modo de ser comigo e Jack que logo me jogava na parede que parecia que eu iria desmontar. Ai eu pego o Alex que é todo, digamos “delicado” e fico estranhando toda a calma e gentileza dele. Realmente estou acostumada com ogros!
– O que foi? – Alex me perguntou.
– Hã? Nada, por quê? – Me concentrei olhando para ele agora.
– Sei lá, você ficou olhando pro nada. Pensei que tivesse se machucado ou algo do tipo. – Disse ele todo preocupado, como sempre.
– O que vocês dois estavam fazendo para se assustarem tanto quanto abri a porta? – Meu pai se intrometeu na conversa.
– Já disse, estávamos namorando. – Se você chegasse meia hora depois quem sabe eu e Alex não estaríamos transando?
– Amanhã vocês namoram na minha vigilância, agora entre, porque está esfriando e já é tarde. – meu pai saiu andando.
Eu mereço. Meu pai entrou encostando a porta.
– É melhor eu ir antes que seu pai pegue a espingarda, não? – Alexander deu uma risadinha.
– Não não, acho que a carabina dele está emperrada e só serve de enfeite agora. – brinquei.
– Bom saber. – Ele riu. – Até amanhã?
Dei um sorriso sapeca.
– A minha vontade é de pular a janela do meu quarto e passar a noite todinha com você. – fiquei na ponta dos pés para chegar quase a sua altura. – Te provocar… – Dei um beijo em seu pescoço e depois outro. – E provocar, até te deixar doidinho. – agora mordi sua orelha.
– Quem sabe outro dia. – Alex me afastou.
Ah porra! Qual é o seu problema?
– Está bem. Amanhã nos vemos. – falei meio triste.
Ele me deu um beijo na testa. Mas que droga é essa? Estou com cara de sua irmãzinha mais nova? O puxei pela sua jaqueta com brutalidade e o beijei com vontade. Eu mais parecia uma leoa com tanta voracidade que o agarrei. Me separei dele e o encarei, seus lábios estavam vermelhos assim como os meus também deveriam estar. Ele estava ofegante e seu olhar meio surpreso pela minha ação, eu poderia jurar que Alex sairia correndo e gritando a qualquer momento agora. Soltei um pequeno riso se tornando apenas sonoro pelo nariz. Ele continuava me olhando. Daqui a pouco eu ia começar a pensar que eu era um monstro.
– Alex, o que foi? – Por fim perguntei. Porque, né?
Ele riu e suas bochechas ficaram extremamente vermelhas.
– E que não estou acostumado com essas coisas. – uni as sobrancelhas.
– Como assim? Vai falar que nenhuma menina nunca te agarrou. – perguntei colocando as mãos na cintura.
– Geralmente sou eu quem “agarro” elas. – explicou.
– Hum, sei disso. Afinal você quem me agarrou da primeira vez. – tombei a cabeça de lado.
– Exatamente.
– Alex, estou te achando muito santinho. Pronto falei. – Cruzei os braços e ele caiu na gargalhada.
– Só porque não fico te agarrando e passando a mão em você não quer dizer que sou santo, apenas te respeito. Ao contrário de muitos por aí que só querem as meninas para transarem. Pronto falei. – Ele me remedou no final fazendo a mesma pose que eu, só para me provocar.
Agora foi a minha vez de ficar quieta e encarar ele.
– Queria que fosse especial. – Continuou Alex. – Já que aquela vez... você sabe...
Abaixei a cabeça e ri, ele era bom em ler pensamentos. Alex pegou a ponta de meu queixo e levantou.
– Pare com essa bobeira de querer forçar as coisas, se acontecer vai acontecer, não importa onde. – encostou sua boca na minha.
– Desculpa. – Onde que eu vou enfiar minha cara? Acho que vou cavar um buraco aqui mesmo e enfiar a minha cabeça nele, de tanta vergonha que estava sentindo.
– Até amanhã. – Ele me deu mais um beijo na testa e saiu andando.
Não falei nada, apenas fiquei olhando ele entrar nem sua Ferrari e ir embora. 20x0 para você ! Sou uma idiota mesmo. Entrei e meu pai estava vendo TV.
– Você e o Alexander voltaram? – perguntou. Era impressão minha, ou meu pai estava feliz?
– Sim. – respondi dando um sorriso.
– Fico contente, ele é um bom garoto. – Disse meu pai desligando a TV. – Vamos dormir. Amanhã o convide para almoçar conosco.
– Tá. – Respondi subindo a escada.
Como dizer que as coisas andam meio estranhas? E quando digo meia, é que sempre quando eu e trocávamos um olhar em alguma aula, ou em qualquer lugar que fosse, ele me olhava de uma forma estranha, na qual não sei nem como explicar. Sinto falta dele e não queria sentir isso, tenho Alex, mas não é a mesma coisa, ele não é o , não o cara que realmente quero. Não quero consertar as coisas e também não depende de mim fazer isso. Só queria desaparecer e não presenciar mais nada do que está se passando ao meu redor. Para completar toda essa situação esquisita, minha mãe nos encontrou. Não me lembro bem que dia foi isso, mas lembro bem quando alguém tocou a capainha daqui de casa e quando fui abrir lá estava ela, tão bêbada quanto um gambá. Na mesma hora fiquei morrendo de pena e a coloquei para dentro, mas quando meu pai chegou com meu irmão e a viu sentava em nossa mesa da cozinha comendo algo que preparei, ele simplesmente surtou. Eles começaram a brigar e mesmo que eu pedisse para que parassem, pois Josh estava vendo toda a cena e chorava em meus braços, foi completamente em vão. Para dizer a verdade, até eu mesma chorava por desespero com aqueles dois. Por fim, tive que ligar para a polícia, pois pensei que os dois se matariam. Então levaram os dois para a delegacia. Tive que ficar em casa e quando meu pai retornou, disse que minha mãe foi presa por causa de alguns roubos na cidade e envolvimento com droga. E pensar que um ia já estive no lugar dela. Mas esquece, não quero mais pensar sobre isso. Agora tinha que acabar de me arrumar, pois Alex nos buscaria para ir jantar em sua casa. Ele não demorou para chegar. Meu pai gostava tanto do meu namorado, que pensei que ele mesmo queria namorá-lo. Era engraçada a forma como um tratava o outro. E nessa noite, finalmente conheci os pais de Alexander, eles foram ótimos, tentando em agradar de todas as formas possíveis, assim como sua irmã mais nova, que deveria ter uns 11 anos. Depois de muita festa e comilança, fui levada para um tour na casa nada humilde, digamos assim...
– Alex, vou precisar de um GPS para andar na sua casa. – brinquei soltando uma risada.
– Não seja exagerada, nem é tão grande assim. A nossa casa da França é bem maior. – se gabou e depois riu comigo.
– Sim, a minha da Espanha também bem maior que esse casebre que você mora. – fez uma cara de metida e revirei os olhos. – Ahh, seu chato.
– A minha namorada é muito debochada! – Ele me puxou pela cintura e distribuiu vários beijos em meu pescoço e rosto. – Sua pestinha.
– Não venha com essa para cima de mim, Alexander. A sua casa é uma das maiores que já entrei. – disse enquanto passava os braços ao redor de seu pescoço.
– Você ainda nem acabou de ver tudo, anda, venha, quero te mostrar como nós viajamos. – Pegou minha mão e saiu me puxando.
Chegamos no que me pareceu uma garagem. Além de vários carros que entre eles tinha um Lamborghini Gallardo, Porsche Cayman S, a Ferrari 458 Italy do Alex, Aston Martin db9 entre outros que se eu falar vou ficar aqui até amanhã. Mas o que me chamou atenção mesmo foi um ônibus enorme preto de dois andares.
– Meu Deus, Alex! O que é aquilo? – apontei para ele com meus olhos praticamente brilhando.
– É como nós viajamos. – Ele riu do meu espanto. – Quando meu pai tira férias ele diz que toda a família tem que viajar junta, então colocamos tudo dentro do ônibus e saímos pela estrada sem destino.
– Que legal!
– Não é legal. Ficar um mês na estrada sem ninguém além dos seus pais e irmã mais nova é entediante. A única parte maneira mesmo, é quando paramos em algum lugar que tenha acampamento e passamos alguns dias lá. Já conheci muita gente assim.
– Você ainda diz que não é legal? – tive vontade de esbofeteá-lo por causa disso.
– Esse verão eles foram viajar, mas consegui fugir indo para a casa do no Caribe. Venha, vou te mostrar o meu quarto. – saiu andando na minha frente.
– Quê? Mas eu já vi o seu quarto. – Não entendi o que ele quis dizer.
– Não… O meu quarto dentro do ônibus. – apontou para o mesmo.
– Ah sim, me explica direito, então. – Falei rindo.
Lá dentro parecia uma casa, eu poderia morar ali que nem me incomodaria por ser um ônibus. Era muito legal. Tinha chuveiro e tudo. Eu parecia uma criança ali dentro. Subimos para o segundo andar.
– Aqui ficam os quartos. – Disse abrindo uma porta para um corredor extenso. – Esse é dos meus pais. – Abriu a primeira porta a nossa direita.
Era pequeno. Apenas com um frigobar, cama de casal, uma janela acima da cama, um armário embutido, duas cabeceiras e uma TV de LED pendurada na parede. Passamos para o próximo quarto.
– Esse é o da minha irmã. – abriu a outra porta a nossa direita.
Era exatamente como o anterior. Tirando a cama que era um pouco menor e os pôsteres de bandas colados pelas paredes. Caminhamos até fim do corredor onde uma porta no final. Pelo que me parecia nós deveríamos estar na parte da frente. Alex abriu a porta revelando o ultimo quarto.
– E esse, é o meu.
Realmente estava na parte da frente o ônibus. Uma cama de casal estava colada debaixo da janela de vidro com uma cortina blackout e ela também estava encostada na parede ao lado, deixando apenas um espaço para quem dormisse ali levantasse e saísse do quarto, digamos que 1 metro acima da cama mais ou menos, tinha uma prateleira que supus que fosse ali que Alex colocava seus pertences básicos, na parede na frente dela tinha uma TV de LED também e ao meu lado um armário embutido. Era tudo bem compacto, mas aconchegante. O vidro preto impedia que qualquer um visse quem estava deitado na cama ao contrario de quem estava ao lado de dentro que dava uma visão panorâmica de tudo que se passava do lado de fora.
– E aí, gostou? – me abraçou por trás.
– Adorei. – afirmei também com a cabeça. – Posso vim morar no seu ônibus?
– Pode. – Ele riu.
– . – Escutei alguém me chamar.
– Acho que é seu pai. – informou Alex e eu tinha quase certeza mesmo que era.
Desci e saí do ônibus para ver o que ele queria.
– Diga. – perguntei dando uns pulinhos.
– Vamos embora, já está ficando tarde. – falou colocando as mãos nos bolsos e olhando ao redor, aposto que estava fascinado com aquilo tudo tanto quanto eu.
– Sr. pode deixar que eu a levo depois. – Alex disse andando até mim.
Meu pai olhou atravessado para ele.
– Pai, quem vai levar vocês? – Perguntei antes que ele falasse alguma besteira.
– O motorista dos . – deu de ombros.
– Hum, então tá. Estou com a chave, não precisa ficar acordado me esperando. – avisei.
– Não chegue tarde. E você menino, – apontou para Alex. – suas mãos apenas na cintura de minha filha.
– Pai! Para de me envergonhas na frente do meu namorado pelo menos uma vez na vida. – Disse nervosa já ficando vermelha. – Já somos grandes o suficiente para saber o que é certo e o que é errado. – e eu adoro o errado.
– Não são. Só será grande depois dos 21 anos. – cerrou os olhos.
– Tudo bem Sr. . Não faremos nada que você possa se preocupar mais tarde. – Disse Alex antes que eu e meu pai começássemos a brigar.
– Estou de olho em você rapaz. – fez um sinal com a mão e depois apontou para meu namorado.
– Está bem, PAI. AGORA VAI! – Virei meu pai de costas e fui empurrando ele até a porta da garagem. – Fique com Deus e durma com ele. Não vá fugir de madrugada na minha ausência.
– Não chegue tarde. – Insistia ele. – Se não virei aqui te buscar.
– Não me faça passar vergonha de novo e vai logo. – Continuei empurrando ele. – Tchau pai. – Falei fechando a porta.
– Seu pai é uma comédia. – Comentou Alex quando eu voltava.
– Comédia? Não é você quem fica escutando ele falar besteira no seu ouvido 24hs por dia. – Rolei os olhos e bufei.
– Ele só se preocupa com você.
– Eu sei, mas isso de super pai chega a ser irritante. Anda, vamos voltar a explorar o ônibus. – Sai puxando Alex para dentro do veículo de novo.
Nem esperei ele entrar, sai correndo para dentro feito uma criança e subi de volta para o quarto dele me atirando na cama que era muito confortável. Olhei para o teto e vi um monte fotos de Alexander com várias pessoas e lugares diferentes, deduzi que deve ter sido das várias viagens que ele deveria ter feito. Escutei passos no andar de baixo, vindo subindo pela escada, corredor, próximo demais, porta, a porta foi fechada e Alex veio se deitando por cima de mim passando a mão por dentro de minha perna direita até chegar à minha coxa, mas não parou ali, continuou subindo até minha cintura e depois me puxou para que eu deitasse por cima de si. Nossos narizes se tocaram e ficamos nos olhando um pouco, o olhar dele era tão intenso e apaixonado enquanto o meu não deveria ser a metade. Será que eu deveria continuar com isso? Alex sabe muito bem onde está se metendo. Mas seria muito egoísmo meu mantê-lo aqui comigo? Senti ele desenhar com o indicador em minha cintura como uma criança tímida. Estava começando a me sentir mal com aquilo. Não estava mais suportando aquele olhar então o beijei só para que aquela tortura parasse de me sufocar. Por mais que eu tentasse, meus pensamentos sempre retornavam a ele, o único que conseguiu mexer comigo de verdade. . Maldito nome, maldito garoto! Eu já não estava nem mais conseguindo beijar Alex, minha cabeça estava tão confusa. Dentro de mim uma agonia gigantesca martelava meu peito e chegava a me sufocar. Meu Deus, me diz o que eu faço? não confia em mim. Então, por que tenho que confiar nele? Por que ainda sustento esse amor platônico? Por que não posso tentar ser feliz? Por que esse simples fato não vira realidade? Só quero ser feliz. Apenas isso. Me separei de Alex e respirei fundo.
– Alexander. – sussurrei ainda de olhos fechados.
– Diga. – Ele colocou uma mecha de cabelo que estava caída no meu rosto para trás de minha orelha.
– Quero que me faça feliz. Quero que me faça esquecer ele. – Pedi sentindo meus olhos queimarem. – Por favor, me ajuda.
– , não posso te fazer esquecer alguém, mas posso tentar fazer você gostar de mim tanto quando gosta dele. – Não sei porquê, mas aquelas palavras foram aconchegantes.
Dei um sorriso fraco e encostei minha cabeça em seu peito. Me senti menos sufocada, mas ainda não era o suficiente. Alex mudou as posições agora ficando deitado por cima de mim. Voltamos a nos beijar, só que não estava rolando aquela química. Parei o beijo de novo.
– Me desculpe. – Falei me inclinando e Alex saiu de cima de mim. – Desculpe mesmo, mas não dá, não estou conseguindo. – gesticulei com a mão. – Não é com você Alex, é comigo, só comigo. Acho que preciso de um tempo.
– Não sei o que aconteceu entre vocês, mas o que você sente por ele é muito forte. Respeito isso. Não posso te forçar a ficar comigo, se quer um tempo, tudo bem. – fez um carinho gostoso em meu rosto. – Sabe onde me encontrar.
– Obrigada, obrigada mesmo. Não precisa me levar, pego um taxi. – levantei da cama passando a mão em meus cabelos e sai do quarto.
– Não. Peço para o motorista te levar. – Alex se levantou e veio andando atrás de mim. – Tem certeza que não quer que eu te leve? Não estou querendo te pressionar, estarei indo apenas como amigo.
– Alexander. – Parei e me virei para ele. – O que você sente por mim? De verdade mesmo.
– Sei lá. Gosto de ti e quero o seu bem. A única coisa mesmo que quero é te ver feliz e se para te ver feliz quer dizer que tem que ficar com outro cara, vou entender e te dar o maior apoio para isso. – deu de ombros e logo em seguida um sorriso triste.
Me aproximei dele e o abracei pela cintura com força afundando minha cabeça em seu peito.
24 de outubro, sábado, alguma hora bem cedo.
Meu pai entrou em meu quarto meio apressado, digo, correndo mesmo, fazendo todo o barulho possível para que eu já fosse acordando.
– , levante e arrume suas coisas. – disse ele abrindo meu armário e tirando minha mala de carrinho de dentro dele.
– hã? Quê? O que foi pai? Arrumar a mala para quê? – perguntei meio confusa me sentando na cama e olhando o que ele fazia, sem entender absolutamente nada o que estava acontecendo.
– Esqueci de te avisar que fomos convidados para ir até a casa de praia de um amigo meu, lá da empresa. – ele abria a cortina enquanto falava, os raios de sol da manhã bateram em meu olho quase me cegando. Fiz uma careta, na verdade devo ter imitado um morcego ficando cego pela luminosidade.
– Estou vendo. Você já arrumou as malas do Josh? – voltei a me deitar e cobri a cabeça com o edredom, sem a menor vontade de me levantar.
– Pedi para a Corinne fazer isso ontem mesmo, mas esqueci de te falar. Anda menina, levanta, estamos praticamente atrasados. Combinei com o Alan às nove e meia na saída da cidade. – meu pai puxou meu edredom. – Levante logo, vou colocar as malas no carro e já volto para pegar a sua. – resmunguei algo que nem eu mesma entendi e coloquei o travesseiro em meu rosto.
Meu pai saiu do quarto e então levantei com a maior preguiça do mundo. Olhei a hora em meu celular e ainda era nove da manhã. Passei a mão em meu rosto e me joguei para fora da cama.
– Liga para o Alex nos encontrar lá. – gritou o velho do andar de baixo.
– Ele não vai, nós terminamos. – respondi sonolenta, me arrastando para o banheiro.
– De novo? – sua pergunta foi um tanto quanto irônica.
– Sim. Pai, você não disse que ia colocar as malas no carro? – rebati tentando mudar de assunto.
– E você já arrumou a sua? – me respondeu com outra pergunta.
Revirei os olhos e bufei. Arrumei tudo correndo, escovando os dentes, colocando as coisas na mala e me vestindo, tudo ao mesmo tempo. Amarrei o cabelo em um coque e desci com a mala, quase a jogando escada abaixo.
– Estou pronta e com fome. – Falei quando cheguei no fim da escada e meu pai pegava a mala de minhas mãos.
– Passamos em qualquer fast food no meio do caminho.
– Eu não quero comer aquela comida. Fast food mata, sabia? – Falei indo atrás dele e trancando a porta. – Está tudo aí?
– Sim. Vamos. – Ele disse fechando a porta malas do seu novo Land Rover Evoque.
Entrei no lado do carona olhando para trás para ver se Josh e Max estavam com sinto.
– Pai, acredito que o Max não precise de cinto, ele pode vir aqui na frente no meu colo. – falei assim quando ele entrou no carro.
– Tanto faz. – deu a ré e arrancou com o carro.
– Pai, eu quero ir no Starbucks. – reclamei escutando minha barriga roncar.
– Não, vamos passar no Burger King que é mais rápido.
– Eu quero ir no McDonald’s. – disse Josh dando a sua opinião.
– Starbucks.
– Burger King.
– McDonald’s!
Ficamos nessa discussão até o celular de meu pai tocar.
– Atende para mim. – Pediu jogando o aparelho em minhas pernas.
– Alô. – falei assim quando abri a tampa do celular.
– Poderia falar com Peter? – Pediu educadamente o homem do outro lado da linha.
– Ele está dirigindo, pode falar comigo mesmo. – olhei para o meu pai, que começou a rir.
– É a esposa dele?
– Não, sou muito nova para isso, sou apenas a filha dele. Quem fala? – Quis saber.
– Sou Alan, amigo da empresa. – informou.
– Sr. Alan, já estamos indo encontrá-lo. Só estamos discutindo onde vamos tomar café da manhã.
– Ah sim. Por favor, apenas me chame de Alan, o senhor me deixa com aparência de velho. Diga ao seu pai para vim direto e tomamos café da manhã todos juntos. – ele era bem gentil.
– Vou falar, até logo Sr… é, Alan.
– Até. – Encerrei a ligação.
– Pai o Sr. Alan disse para irmos direto e tomarmos café da amanhã junto com ele. – avisei colocando o celular no porta moedas.
– Está bem.
– Pai, ele sabia que você ia nos levar? – perguntei.
– Não, mas disse que poderia levar quem eu quisesse.
– Pai, você está parecendo um adolescente irresponsável. Por que não disse que iria nós levar? – lhe empurrei e ele reclamou.
– Achei que não era necessário. – fez uma careta engraçada.
– Pelo visto você nem conhece esse cara direito, ele pensou que eu era sua esposa. – balancei a cabeça irritada.
Meu pai riu da minha cara como se eu tivesse acabado de contar uma piada. Josh estava quietinho no banco de trás jogando seu PS vita.
– Do que você está rindo, ? – Perguntei nervosa.
– Pelo jeito que você está falando comigo, parece mais a minha mãe. – riu mais ainda, o que me fez bufar.
– Ah que bom, estou sendo zuada pelo MEU pai. – cruzei os braços e fiquei olhando pela janela.
– Você parece a sua mãe quando era nova, fazendo pirraça e esse biquinho.
– Mentira! Estou parecendo a SUA mãe! – Praticamente rosnei.
Ele não parava de rir. Chegamos ao lugar marcado, que por acaso era em uma lanchonete que tinha como ponto de encontro na saída da cidade.
– Não preciso sair do carro, preciso? – Perguntei.
– Claro que precisa, não seja mal educada. Solte o Josh e deixe o Max no carro com o vidro aberto. Vou te esperar lá dentro. – Meu pai jogou a chave em cima do banco.
Peguei meu celular, fiz o que meu pai pediu e entrei com Josh. Vi meu pai conversando com um homem de boné, óculos escuro, bermudão e regata, bem estilo quem estava indo para a praia. Me aproximei de mão dada com Josh.
– Alan, esses são meus filhos. – Disse meu pai quando chegamos bem perto.
– Oi. – Falei estendendo a mão apenas.
– Oi. – Josh deu apenas um aceno.
– Olá. – Alan pegou minha mão e me puxou para dar um beijo, mas o segurei para que não avançasse.
– Pai, já pediu alguma coisa? – Perguntei me sentando em um banco no balcão.
– Não, estava esperando para ver o que você e Josh iriam querer.
– Hum. – Resmunguei olhando a tabela de preços que tinha a minha frente. – Josh, o que vai querer?
– Hamburguer! – falou todo animado jogando as mãos para cima.
– Não. Peça outra coisa. Que tal apenas umas torradas com geleia? – perguntei ainda olhando o cardápio.
– Não.
– Então… – Observei o que tinha para comer, vendo algo que não fosse pesar no estomago dele para que não passasse mal na viajem. – Josh, não tem nada que preste aqui, vamos comer apenas uma torrada com café, ok?
– Está bem. – ele respondeu fazendo bico.
– Seu mala. – Baguncei seu cabelo.
– Não faz isso. – Ele me deu língua.
– Seus filhos são adoráveis. – Escutei Alan falar.
Não sei porque, mas não simpatizei muito com ele.
– Meu filho ficou dentro do carro. – Continuou.
– Ué, por que ele não quis entrar? – meu pai quis saber.
– Brigou com a namorada e disse que não estava com fome.
– Viu pai, eu poderia ter dado esse pretexto também para ter ficado no carro. – Rebati sorrindo.
– É, mas depois você ia ficar reclamando no meu ouvido que estava com fome, então para de reclamar, coma algo e vamos embora. Ou melhor, peça para viajem.
– Você está me irritando. – falei entre dentes.
– Peter, não apresse a menina, temos tempo. Querida, pode comer tranquila. – Ele colocou a mão em meu ombro, a sorte que eu não tinha tirado meus óculos escuros, porque o olhar que joguei para a mão dele foi mortal! Apenas dei um sorriso amarelo e fiz os pedidos para viajem.
Até que a moça foi rápida, peguei os lanches e fui para o carro sem falar nada. Josh veio atrás de mim. Vi meu pai saindo com Alan, ele acenou para dentro do carro e acenei de volta de má vontade. Sério gente, ele era estranho, mas familiar, eu o conhecia só não sabia de onde.
– Você não foi educada com Alan. – meu pai me repreendeu ao entrar no carro.
– Não fui com a cara dele. – respondi enquanto comia.
– Como você pode dizer isso se nem o conhece?
– Ué, meu santo não bateu com o dele, simples assim.
– Ele gostou de você. Não seja grosseira com ele, vamos ficar na casa dele esse final de semana.
– Ainda bem que é só até amanhã. – Falei dando uma dentada em minha torrada.
Depois de 2 horas de viagem chegamos na casa de praia. E cara, que casa! Era muito foda. Meu pai estacionou o carro dentro da garagem ao lado do de Alan. Saímos do carro.
– Pode deixar que o criado pega as malas. – Disse Alan. – Vamos, vou lhes mostrar a casa.
– Max. – dei um assovio e o cavalo pulou de dentro do carro assim quando Josh saiu.
Alan nos mostrou a casa. Mas dei falta de alguma coisa.
– Você não disse que tem um filho? – perguntei achando estranho.
– Ah sim. O infeliz deve ter ficado no carro quando subimos, vou ir lá chamar ele. – Alan sumiu por uma porta.
– Pai, acho que vou me perder por aqui, então vou andar com o celular qualquer coisa te ligo para me buscar. – brinquei.
– Não seja exagerada. A casa do seu avô dava umas quatro dessas.
– Sério? – Não acreditei no que ouvi.
– Sim, acho que tenho umas fotos lá em casa. Quando chegar, procuro e te mostro.
Alan voltou.
– Ele não está no carro, deve estar andando por aí. Peste de menino. Não liguem, ele anda meio estranho ultimamente. Venha, vou mostrar onde vão dormir.
Ele nos mostrou nossos quarto onde já estavam nossas malas.
– Vou trocar de roupa e ir para a praia. – avisei.
– Está bem, fique á vontade, a casa é sua. – disse Alan dando um sorriso enorme.
– Obrigada. – Fechei a porta.
Josh tinha ido com meu pai e junto com Max. Graças a deus, enfim sozinha. Cheguei perto da janela e olhei a maravilhosa vista. O dia estava lindo, o céu azul e o mar calmo. Me troquei passei protetor em minha tatuagem e sai do quarto.
– Tá, para qual lado eu vou agora? – me perguntei olhando para os dois lados do corredor.
Que tosca! Eu perdida dentro de uma casa. Escutei uma música. Fui seguindo o som dela, com certeza me levaria a um lugar. Reconheci a canção quando cheguei na porta que parecia ser de um quarto. Era Blink-182, I Miss You. Humm. Tem estilo. Deve ser o filho do Alan. Tomara que seja gatinho. Bati na porta do quarto, o som se abaixou, escutei passos e a porta se abriu.
– Você! O que você está fazendo aqui? – arregalei os olhos sem acreditar.
– Estou na minha casa. – Deu de ombros. – Gostei da camisa. – apontou para ela.
– Sou uma burra mesmo. Como que eu não tinha sacado antes. Alan trabalha na mesma empresa que meu pai, tem um filho retardado, só podia ser você mesmo. – Sai andando.
– Se você está querendo ir para a praia, é para o outro lado. – Disse ele apontando para o lado aposto de onde eu estava indo.
Parei de andar e fui para o outro lado, quase furando o chão. Ah, que raiva! Era tudo que eu precisava, um final de semana com o idiota MOR do ! Depois de um tempo perdida consegui chegar na praia, saí tirando a blusa, short, óculos e chinelo, os joguei na arei e entrei na água dando longo um mergulho. Nada é tão bom quanto um banho de mar. Quando olhei para a areia, vi Alan parado lá. Ah cara, qual é? Sai da água e fui até ele, onde segurava uma toalha branca.
– Acho que vai precisar disso para se secar. – estendeu a toalha par mim.
– Sei muito bem do seu segredo. – Falei pegando a toalha e sai andando catando minha roupa da areia.
– Do que está falando? – ele vinha atrás de mim.
– Que o filho que a Green está esperando é seu. – Joguei o verde só para ver se tudo o que se passava na minha cabeça era mesmo verdade.
Ele não respondeu, apenas parou de andar.
– Quem te disse isso? – Agora Alan veio atrás de mim e segurou meu braço.
– Ninguém precisa dizer, é só olhar para você com essa cara de culpado. – ele estava mordendo a isca.
– Não sei do que está falando. – sua mão ainda segurava meu braço com força, me puxando para mais perto.
– Se não sabe, porque está segurando meu braço com essa força toda? Além do mais, porque não conta logo a verdade para o ? Acho que ele precisa saber que está sendo traído pelos dois lados. – Dei um sorrisinho sarcástico.
Mas a minha vontade era de começar a gargalhar.
– Quem é você, afinal? – Ele quis saber. – Como sabe disso tudo? Nem te conheço.
– Você não me conhece, mas eu conheço seu filho muito bem. Alan, quando for sair com a Green, vá em um bar menos conhecido. O Sr. é tão avoado que nem percebeu que te servi uma noite no Wolf. – puxei meu braço, mas ele não o soltou.
– Não olho para a cara de funcionários. – disse com desdém e agora a guerra estava declarada.
– Então, olhe da próxima vez que estiver fazendo algo errado. Com licença que tenho que esclarecer umas coisas com o . – Tentei puxar mais uma vez meu braço de suas mãos, mas ele não me soltou.
– Você não vai falar nada, está me ouvindo? – ouvindo posso até estar, mas não garanto nada.
– Façamos assim; Fala você ou falo eu. Que tal? – Ergui uma de minhas sobrancelhas.
– O que você quer? Dinheiro? Quanto? É só falar. – agora eu tinha cara de mercenária?
– Não quero o seu dinheiro. – falei com nojo. – Só quero que não haja mentiras. O Sr. não tem compaixão pelo seu filho?
– Não é esse o caso. – ele estava tão nervoso quanto eu.
– Me diz o que o Sr viu naquela garota? Deve ser mal de família cara, ou uma macumba bem feita. – sugeri. – Green é podre, não vale nem o chão que pisa e como vocês ainda ficam com ela? Juro que não entendo. E a sua esposa?
– Sou divorciado. – estava sentindo que meu braço ficaria marcado com os cinco dedos de Alan.
– Ah claro! E se aventura com a namorada do filho. Belo homem o Sr é. – isso já estava me dando ânsia.
– Não é uma aventura. – agora seu tom de voz mudou.
– Hã? Tá, já entendi, o Sr. está apaixonado por uma menina de 17 anos. A menina tem idade para ser a sua filha. Ela já te disse que gosta do ? Que ela é doida por ele? – aquilo tudo estava me dando ainda mais raiva.
Alan riu.
– Você está enganada, menina. – disse ele.
– Não estou. Escutei ela falando sozinha que gostava do .
– Ela disse nomes? – Alan tinha um sorriso.
– Er… Não, mas estava falando dele. Que ele preferia… uma outra garota do que a ela. – Ele deu uma gargalhada.
– Como você é bobinha. Quando foi isso?
– Nas férias.
– Green me pegou na cama com minha ex. Ela é uma boba também, ficou falando que eu preferia a outra do que a ela, mas vocês meninas de hoje em dia não escutam ninguém. – agora ele estava mais calmo. Me pergunto como uma pessoa consegue ser desse jeito.
– Mas que… – Miserável! Um bando de miseráveis. Meus olhos se encheram d’água. Puxei meu braço com força e saí andando, mentira, saí correndo. Corri até as pedras e fiquei lá sentada por bastante tempo.
– Suas costas estão vermelhas. – Escutei falando.
Enxuguei as lágrimas rapidamente e coloquei os óculos de sol. Eu não queria que ele me visse chorando, seria humilhante demais.
– O que aconteceu? Meu pai te disse alguma coisa? – sua sombra me fez perceber que ele estava parado bem atrás de mim.
– Quê? – perguntei tentando controlar minha voz.
– Vi vocês conversando na praia. – Ele se sentou ao meu lado.
– Você não tem o que fazer? É feio ficar espionando os outros. – falei nervosa olhando para o lado oposto.
– Não. Aqui não tem nada para fazer, então fiquei te seguindo. – ele riu logo em seguida. – Tudo bem contigo?
– Estou respirando, serve? – Dei uma bufada e passei a mão no nariz que escorria.
– Briguei com a Green. – disse simplesmente do nada. Quem te perguntou alguma coisa? Idiota.
– Que bom. Vocês se merecem mesmo. – Levantei e ele levantou também.
– O que você estava falando com o meu pai? Parecia que discutiam. – insistia.
– Seu burro! Só você que não vê as coisas acontecerem debaixo do seu nariz! – Explodi o empurrando.
– Do que você está falando? – estava calmo.
– Todos só sabem fazer a mesma pergunta. Do que estou falando?! Estou falando do inferno que está no meio de nós. – Eu nunca tinha ficado tão histérica como eu estava agora.
– Fica calma. – Ele segurou meus punhos com gentileza para tentar me controlar. – Não vai adiantar nada você ficar assim. Me fala o que está pegando.
– Me larga ! Eu vou me jogar daqui. Quem sabe se eu morrer alguém enxerga alguma coisa. Me larga, moleque. – me debatia e tentava puxar meus braços, até que a mão dele escorregou de meu pulso. Sai correndo para a beira da pedra e pulei.
– Sua louca! – Escutei gritar.
Assim que bati na água veio uma onda, fiquei parada onde estava. Quem sabe a onda não me acertava e me esmagava contra as pedras? Eu teria sorte se desmaiasse. Mas do jeito que eu estava indo, acho que morreria sofrendo cada segundo. Quando a onda estava bem perto senti algo me puxar de repente, acabei engolindo água, minha garganta começou a queimar por causa do sal e consequentemente entrou água no meu nariz. Não lutei contra nada, já tinha bebido água e ela era mais forte do que eu, apenas deixei que me levasse. Senti mais água entrar no meu nariz, fui ficando sem ar e acabei ficando tonta. Algo me sacudiu com força. Que merda, não posso nem morrer em paz?
– Sua idiota! – A voz de ecoava na minha cabeça. – Para de bobeira. , acorda.
Eu não estava mais na água, estava sobre algo quente que percebi que era areia. Senti uma pressão sobre meu peito e muita água saiu pela minha boca e nariz. Comecei a tossir desesperadamente a procura de ar.
– Sua mongol, olha para mim. – segurou meu rosto com as duas mãos tirando cabelo que estava agarrando em minha face.
Eu estava meio tonta, acho que tinha bebido muita água. me olhava apavorado, com seus cabelos molhados jogados para trás, até que aquela visão era bem agradável.
– Por que você fez isso? Ein? – Agora ele estava revoltado. – Quer me matar do coração?
– A parte do morrer era só minha, sou egoísta e não gosto de dividir minha morte com ninguém. – Respondi tirando suas mãos de mim. – Seu ridículo! Por que me tirou da água? Não pedi a sua ajuda!
– Não ia te deixar morrer. Larga de ser mal agradecida. Te salvei e você ainda me dá patada. – ele estava ajoelhado ao meu lado.
Me levantei meio cambaleando, e me segurou para que eu não caísse.
– Já disse que não pedi a sua ajuda. Argh. Gosto horrível de sal. – Coloquei a língua para fora.
– Também, você bebeu água pra caramba. – dessa vez não os empurrei, era bom sentir a mão dele na minha cintura.
– Não te perguntei nada. – respondi tentando andar, e ele me soltou.
– Grossa.
– Ridículo.
– Ingrata.
– Ogro. – Eu respondia andando pela praia que nem uma bêbada. – Que raiva, . Seu merda. – Voltei e comecei a estapear ele.
– Sua maluca! Por que você está me batendo? – ele se defendia dos tapas.
– Porque você merece, seu burro. – eu não parava.
– Agora deu para dar tapas em vez de socos? Acho que entrou água no seu cérebro. – ria.
– Se você prefere. – Fechei a mão.
me puxou pela cintura com brutalidade, parecia que iria me quebrar no meio de tanta força que ele usou, senti minhas costas arderem e então ele me beijou. A língua dele invadiu minha boca com vontade, a outra mão dele segurou minha cabeça para que eu não recuasse, minhas mãos estavam em seus peitos tentando afastar ele de mim. Mas o que eu estava fazendo? Eu o queria para mim e estava o afastando. Sim, estava fazendo o certo, estava apenas me iludindo como fez das outras vezes. E eu prometi que ia tentar esquecer ele e agora estávamos nos beijando. É isso aí, não resisti e retribuí o beijo com a mesma intensidade, a mesma vontade e brutalidade. Minhas mãos deslizaram dos peitos dele para ombros, pescoço, nuca e ali ficaram agarradas o puxando para mim com força. Nós íamos acabar nos quebrando de tanta voracidade. Minha língua brigava com a dele para quem tomava mais espaço um na boca do outro, meus lábios estavam latejando, ainda o mordeu com força o puxando, isso me deixou excitada, apesar que não precisava de muito com ele me agarrando todo molhando e ainda por cima sem camisa. Arranhei sua nuca com minhas unhas afiadas e senti ele me apertar ainda mais. Peste de menino. Nos separamos quando escutamos Josh me chamar. assim como eu estava ofegante demais, seus lábios meio inchados e vermelhos me atraía como um convite de quero mais.
– . – Josh apareceu na sacada da casa.
– Oi amor. – respondi olhando para cima.
– Quero ir aí embaixo, vem me buscar. – pediu.
– Está bem. – Olhei mais uma vez para e saí andando, só que ele segurou meu punho. – Nunca mais faça isso novamente. – Faça isso sempre que quiser.
– Nos falamos depois. – Ele deu um sorriso de lado e me soltou.
O almoço estava sendo torturante, ninguém falava nada. A comida me olhava implorando para que eu a comesse, mas estava completamente sem vontade. O clima estava tenso e pesado. Alan me olhava de rabo de olho e depois olhava para , que também me olhava, tentando ver se conseguia descobrir algo, já eu, tentava desviar dos olhares dos , não que estivesse acanhada com isso, e sim porque simplesmente não conseguia sustentar a mentira que estava no meio de nós. Aquilo tudo era mais sujo do que pensava. Um ninho de vespas.
– Peter, né? – se pronunciou, atraindo a atenção de todos na mesa.
Aposto que assim como eu, Alan também levou um susto esperando por uma bomba que estivesse prestes a explodir.
– Sim. – meu pai o olhou e depois sorriu.
– Sabia que a sua filha se afogou na praia mais cedo? – o encarei unindo as sobrancelhas. tinha um sorriso nos lábios.
Aquele moleque estava tentando me provocar para ver até onde eu ia. Dei um bicudo na canela dele, para que calasse a maldita boca. Segurei a faca e o garfo com força em minhas mãos, prontos para atirar contra ele caso abrisse a boca novamente para falar alguma besteira.
– Ai. – reclamo fazendo a maior cara de coitado. – Não me chute. – depois fez uma careta.
– Então, cale a boca. – Rosnei lhe dando outro chute por baixo da mesa.
– O que aconteceu? – meu pai quis saber. – E , por favor, tenha mais respeito à mesa. – revirei os olhos, irritada. Isso tudo só podia ser brincadeira. O ruim era que nem dava para voltar para a cidade a pé, ficava longe demais e muito menos conseguiria pedir uma carona no caminho.
– Nada pai, esse menino que é muito exagerado. Só porque levei um caixote, ele ficou falando que me afoguei. – fuzilei com os olhos e dei uma garfada em meu bife, o colocando na boca mesmo sem vontade de comer.
– Não fui eu que me… – o interrompi, dando um gole em minha água.
– Cala a boca, . – alterei um pouco meu tom de voz, não tinha motivo algum para ele falar ao meu pai que tentei me matar.
– ! – meu velho esbravejou fazendo até mesmo Josh levar um susto e com isso, Max começou a latir. – Desculpe o comportamento dela, continue falando, por favor. – ele me olhava de cara feia.
– Que nada, Peter, já estou acostumado com as patadas dela. – disse de forma modesta.
– Não sou cachorra para dar patada. – retruquei, querendo tacar alguma coisa nele, ou até mesmo, agredi-lo novamente.
– Verdade, cachorra não, está mais para uma… – ele não conseguiu terminar a frase, logo o cortei.
– Pense bem o que você vai falar para não se arrepender depois. – estava ficando nervosa, muito nervosa, a ponto de voar por cima da mesa e agarrá-lo pelo pescoço.
– Não ia falar nada demais, só que você é muito delicada para essas coisas. Parece até uma boneca de porcelana. – debochava descaradamente da minha cara.
– E eu só não te sento a mão na cara porque estamos almoçando. – dei um sorrisinho singelo e comecei a comer.
– ! – Meu pai me repreendeu mais uma vez. – De novo, peço desculpas pelo comportamento de minha filha. – já estava me dando vontade de vomitar com meu pai me tratando como se eu fosse uma criança de dez anos.
– Não sou nenhuma criança para me tratar assim! – falei revoltada, não estava aguentando mais ficar sentada àquela mesa com aquelas pessoas hipócritas. – Com licença. – levantei da mesa e cacei meu quarto.
Passei pela porta, a batendo com força. Dane-se que estava na casa dos outros, no momento só não desejaria estar ali. Peguei uma roupa em minha mala, a separei e fui tomar um banho, pois eu ainda estava suja de areia. Por incrível que pareça uma vez na vida teve razão, minhas costas estavam realmente meio ardidas, mas nada que um creme pós-sol não resolvesse e até a noite nem estaria mais sentindo nada. Ainda conseguia sentir o gosto do sal em minha boca, acho que bebi bastante água. Quando terminei meu banho, chamei meu príncipe para que passasse o creme em minhas costas. Suas mãozinhas eram tão leves, que nem se quer ardeu na hora em que passou. Fiquei deitada sem camisa e deixei a janela aberta para entrar vento. Ficamos deitados na cama, até que peguei no sono sem perceber. Quando abri os olhos já estava escuro, mas o abajur estava aceso. Deparei com sentado no chão me olhando fixamente e aquilo me assustou um pouco, mas não me mexi, lembrando que estava sem roupa de cima. Josh não estava mais no quarto.
– Que tipo de maníaco pervertido é você que fica me olhando enquanto durmo? – perguntei me agarrando em um travesseiro e me tampando com ele.
– Bem, até onde eu saiba, não sou nenhum tipo de maníaco, agora você, acho que é uma e suicida ainda por cima. – ele me observava enquanto eu levantava e pegava um sutiã e uma camiseta em minha mala. Alguém me responda o porquê de tem que ser um completo babaca? – Fiquei preocupado, sumiu a tarde inteira, pensei que tivesse feito alguma besteira. – o olhei por cima do ombro, então revirei os olhos bufando.
– Até parece que você se preocupa. – coloquei o sutiã. – Por quantas horas está me olhando dormir? – perguntei já me virando e vestindo uma camiseta.
– Acabei de chegar. – deu de ombros. – Nem tinha pensado em te procurar no quarto. Como está? – aquilo estava me irritando, o modo como estava agindo, fingindo preocupação.
– Já disse, respirando. Que saco! – levantei os braços e acendia a luz. – Qual foi, deu para ficar me vigiando agora? – nem pestanejei em ser grossa.
– Não. Só que se morrer, nunca vou saber o que você estava falando com meu pai. – Ele se sentou na cama agora ou melhor, se deitou nela.
– Hm, legal. – torci os lábios. Já era de se esperar. – Pergunte a ele, não a mim. Por que essa curiosidade toda? – cruzei os braços.
– Porque ele não fica nervoso à toa. Você deve ter dito algo bem sério a ele. – me encarava. – Ou então, tem o poder de irritar homens da minha família.
– Me arranje outro e vamos fazer o teste. – ironizei. – Se você veio atrás de mim só para saber disso, perdeu seu tempo. – fui para o banheiro cantarolando. – Say good bye tomy hear tonight.
– Hum? Disse alguma coisa? – perguntou, olhei sobre o ombro e o vi esparramado na cama. Ele tinha mesmo que ser gostoso?
– Não. Só estou cantando. – Respondi pegando minha escova de dente.
– Você adora cantar, né? – agora ele me olhava novamente, então dei de ombros me fazendo de indiferente. – Por que não vira cantora?
– Porque minha voz é horrível. – respondi tirando a escova da boca.
– Não acho. – sorriu. Acho que vou proibir ele de fazer isso, pois seu sorriso tinha algo no qual me fazia derreter por dentro.
Desde quando a opinião dele valia alguma coisa? Desde o dia que me apaixonei por ele. Irônico, não? Acabei de escovar os dentes. Voltei cantarolando.
Oh, oh, I want some more
Oh, oh, what are you waiting for?
Take a bite of my heart tonight.
– Que música é essa? – quis saber.
– Animal do Neon Trees. – me sentei a cama, bem ao seu lado.
– Tem ela no seu iPod? – se virou e colocou a mão em minha perna, eu apenas a olhei quando os pelos de minha coxa se eriçaram com seu toque.
– Tenho, por quê? – engoli em seco e tirei sua mão de meu corpo.
– Posso ouvir? – ele sorriu com a minha atitude.
– Não. – falei séria. Até parece que aquele sorriso iria me comprar. – Se quiser, eu trouxe meu notebook, pode pegar ela. – Ele me comprava. Levantei e peguei-o em minha mala. – Tome. Vou lá embaixo pegar algo para comer e já volto. – disse entregando o aparelho em sua mão.
– Traz uma taça de sorvete de chocolate para mim? – pediu.
– Você é muito folgado. – falei e saí do quarto.
Não demorei trazendo comigo duas taças de sorvete, mas apenas uma dela, que era a minha, tinha brownie.
– Você é má! – reclamou enquanto se sentava para pegar a taça de minha mão. – Por que não trouxe brownie para mim também? – resmungou quando viu que não tinha trazido para ele.
– Por que você não pediu e eu não sabia se gostava. – falei me sentando ao lado dele.
– Então vou roubar o seu. – disse aquilo como se fosse muito simples.
– Nem pensar. Sai, . – ele já vinha para cima com sua colher em minha direção.
– , não seja má, me dá o seu. – choramingava.
– Não. Sou má mesmo. Não vou te dar, se comporte, menino. – eu o empurrava pelo peito.
– Só um pedacinho. – tentava roubar minha taça de sorvete.
– Já disse que não. Sai de cima. – Eu esticava o braço ao máximo para que ele não pegasse meu brownie. O engraçado era que eu já estava deitada na cama com em cima de meu corpo, tentando roubar minha taça. – , para. – comecei a rir daquela situação.
– Não, me dá. – ele praticamente me “escalava”.
– Não‼ Sai. A taça vai acabar caindo no chão e os dois vão ficar sem. Está bem, te dou um pedaço. – falei por fim, me dando por vencida.
saiu de cima de mim, peguei um pedaço bem pequeno e dei para ele.
– Hey, você disse que ia dividir. – reclamou.
– Não, eu disse que te daria um pedaço e não que iria dividir tudo contigo. – soltei uma gargalhada maléfica.
– Você é a maior mentirosa que já vi na vida. Anda, eu quero o brownie inteiro. – exigiu voltando a pular em cima de mim.
– Não. Olha, inteiro eu não vou te dar, mas agora posso dividir contigo. – dei uma opção. – Olha que estou sendo boazinha, não divido brownie com ninguém.
– Fazer o que, né? É isso ou nada. – deu de ombros e voltou para seu lugar. Cortei o brownie no meio e lhe dei um pedaço.
– Ainda bem que você sabe. – brinquei. – Achou a música?
– Uhum. – concordou com a cabeça enquanto comia um pouco de seu sorvete.
– Você trouxe o seu notebook também? – perguntei, tive vontade de conhecer as músicas que ele escutava.
– Não, só meu iPod.
– Me empresta? – pedi. Era melhor que nada.
– Ok. – Ele deixou a taça de sorvete em cima da cabeceira e saiu do quarto.
Dei um sorriso perverso já planejando o que iria fazer. Fui até a taça e peguei todo o sorvete que tinha ali. Sou uma menina muito travessa. voltou, me entregou seu iPod, se sentou ao meu lado para voltar a mexer no notebook e pegou a taça de sorvete.
– , devolva! – ordenou quando viu que sua taça de sorvete estava vazia.
– Devolver o quê? – me fiz de sínica mexendo no iPod, mas nem se quer o olhei.
– Meu sorvete, sua larápia.
– Que sorvete, está doido? Você come tudo e ainda fala que peguei seu. – disse rindo de boca cheia.
– Mentira, você roubou meu sorvete. – continuava me acusando.
– Isso é calúnia sobre minha pessoa. – brinquei.
– É nada, então me explica porque a sua taça está cheia? – apontou para ela e fez uma cara de desconfiado.
– É impressão sua.
– Não me faça roubá-la de você, menina. – já começou a vir em minha direção.
– Está bem. Abre a boca. – Enchi a colher de sorvete.
riu, mas abriu a boca. Que milagre, confiou em mim, se eu fosse ele não faria isso. Fiz menção em colocar a colher na boca dele, mas quando foi para fechar a boca, eu tirei rapidamente e comecei a rir que nem uma maluca.
– Ah não. Você vai ficar de bobeira com a minha cara. – cruzou os braços de fez um biquinho.
– Não, agora é sério. Abre a boca e fecha os olhos. – continuei rindo que nem uma retardada.
– Nem adianta. Não vou cair na sua. Você vai enfiar qualquer coisa na minha boca, menos o sorvete. – virou a cara para o outro lado.
– Então, só feche os olhos. – sugeri parando de rir.
– Por que deveria confiar? Você vai me sacanear. – disse estreitando os olhos.
– Não vou, apenas feche os olhos. Só essa vez, confia em mim, não vou te zuar. Apesar de ser tentador judiar de você. – coloquei um pouco de malícia em minha voz.
Por fim, fechou os olhos. Coloquei uma colherada de sorvete em minha boca, mas não a engoli, me aproximei dele e lhe dei um beijo de leve, para que desse espaço para que minha língua passasse. Ele riu, então me deu passagem e nos beijamos pra valer, passei o sorvete que estava da minha boca para a dele e me separei, mesmo não querendo. Devo ser algum tipo de maluca bipolar, pois ao mesmo tempo em que quero dar na cara dele, quero beijá-lo.
– Falei que te daria o sorvete. – sussurrei ainda perto de seus lábios e com os olhos ainda fechados.
– Faz de novo? – pediu meio meloso.
– Não. Você tem namorada, não era nem para eu ter feito isso. – me afastei.
– Você gosta de cortar o clima. Falando em namoro, você e o Alex estão juntos? – perguntou agora abrindo seus lindos olhos .
– Por quê? – uni as sobrancelhas.
– Porque a foto do seu plano de fundo é de vocês. – disse de um jeito que eu poderia falar que estava com ciúmes.
– Hum. É. – Dei de ombros.
– É o quê? Vocês estão namorando? – era engraçada a curiosidade dele.
– Se eu estivesse namorando ele, não teria te beijado. – Falei colocando os fones do iPod do no ouvido.
Passando as músicas, achei uma que me chamou atenção.
– Não sabia que você escutava Hanson. – Disse tirando os fones. – Amo essa música.
– Qual? – ele pegou o fone para escutar. – Save Me. Essa música é maneira.
– Sim, sei cantar ela toda até de trás para frente. – brinquei e comecei a cantarolar junto com o Isaac e Taylor Hanson. – I never thought I'd bespea king these words.
me olhava fixamente, parecia hipnotizado por cada palavra que eu cantava.
– Won't you save me? – Ele cantou junto comigo a última frase e isso me fez sorrir que nem uma criança boba.
– Você canta bem. – Agora foi a minha vez de falar.
– Nem adianta. Você canta mil vezes melhor. – ele deitou sua cabeça sobre minhas coxas.
Fiquei meio sem reação. Meu cérebro deu pane. O que eu faria? Ai meu Deus! Aqueles olhos olhando diretamente nos meus estava me deixando confusa, eu não conseguia mais pensar direto.
– Agora quando eu escutar essa música sempre vou me lembrar de você. – disse passando as pontas dos dedos em minha bochecha. Depois as senti ficarem quentes.
Não acreditei que estava com vergonha, logo eu que não me intimidava com nada. sorriu de uma forma doce para mim, o que me surpreendeu. Quem era aquele garoto que estava na minha frente? Meu corpo já não respondia mais aos meus comandos, minha mão direita alisava seu cabelo sedoso e macio, o desgrenhando. Acho que nunca na minha vida até agora fiquei sem saber o que dizer. Eu queria falar algo, só que as palavras se travaram em minha garganta.
– Por que ficou quieta? – sua voz era baixa e calma.
– Por nada, só estou curtindo o momento. – Que coisa idiota foi essa que eu disse? Era melhor ter continuado quieta. – Er… Que horas vai ser o jantar?
– Ah sim, sabia que tinha que te falar alguma coisa, meu pai disse que queria falar com você antes do jantar. – agora voltou a falar normalmente.
– Hum. – Fiz uma careta.
– O que foi? Não sei o porquê, mas acho que vocês estão me escondendo algo. – Você ainda achava? Sério? Bem, não sou eu quem estou escondendo algo, mas tudo bem.
– Não tenho nada para esconder. – E era verdade, eu não tinha nada a esconder mesmo.
– Se não tem, por que não me conta o que vocês estavam conversando? – ele estava muito interessado para o meu gosto.
– Você está me bajulando só para eu te contar? – foi aí que me toquei. Nossa, não acredito que ele foi tão idiota a esse ponto.
– Er… Não, vai, fala logo. – era o pior tipo de pessoa que já conheci.
– Não acredito! Sai . – Empurrei a cabeça dele.
Mais uma vez ele me enganando. Que raiva. Até que ponto ele poderia me manipular daquele jeito? Até que ponto ele fingiria que gostava de mim para conseguir uma informação? Até onde ele era capaz? Levantei da cama indignada. Burra. Burra. Burra. O cabelo caiu sobre meu rosto escondendo minha face de raiva e mágoa. Meus olhos queriam começar a embaçar. Não! Não ia chorar, eu era forte e não era garota de chorar. Engoli o choro goela abaixo, respirei fundo e levantei a cabeça tomando uma nova personalidade. Nova não, a que estava acostumado a ver.
– Qual é a sua garoto? Você acha que sou palhaça ou algo do tipo? – Perguntei me aproximando com uma fúria crescente dentro de meu peito. – Acho que está se enganando de garota, pois se acha que vai conseguir alguma merda de mim, está muito enganado e sabe de uma coisa? Cada vez mais tenho nojo de você. – minha voz era fria, dei um sorrisinho seco e ri pelo nariz. – Eu tinha razão desde o começo, você é apenas um moleque. Como eu já disse, quando virar homem nos falamos. – Ele estava em pé do outro lado da cama me olhando surpreso.
Não esperei pensar em algo para me responder, peguei o iPod em cima da cama e saí do quarto batendo a porta. Desci as escadas mais rápido do que meus pés podiam, chegando a pular degraus. Eu disse que não ia chorar e não ia mesmo. Reprimi tudo, absolutamente tudo o que estava sentindo. Prendi o iPod no meu braço e fui correr na praia. Estava noite e a lua cheia iluminava tudo. Estava alguma coisa estranha, eu não escutava Beatles. Parei de correr e olhei o iPod. Ah muito bom, peguei o aparelho errado. Burra mesmo. Desliguei aquela merda e enfiei no bolso do short. Voltei a correr. Não sei por quanto tempo fiquei correndo, mas já estava começando a ficar cansada, então voltei para casa. Assim que cheguei escutei alguém me chamar. Cara esse povo não tirava o meu nome da boca, eu ia mudar de nome, sério mesmo.
– Estou aqui. – Gritei da praia.
– Senhorita . – Disse um homem da varanda. – Estamos lhe procurando, pensamos que tinha se perdido.
– Ah sim. – Deveria ser um dos empregados. – Fui dar uma corrida na praia.
– Por favor, se limpe e suba. Estão esperando a Senhorita para jantar. – falou e saiu da varanda provavelmente para avisar que havia me encontrado.
Subi. Fui ao banheiro e lavei os pés e mãos. Depois caminhei lentamente até a sala de jantar onde meu pai não tinha uma cara nada agradável.
– Me perdoe o atraso, saí sem avisar para correr na praia e não levei relógio, esqueci a hora completamente. – dei uma de educada só para implicar com meu pai. – Não queria atrapalhar a refeição de vocês, mas estou sem fome e vou para meu aposento. Com licença.
– Tudo bem, querida. – disse Alan agradavelmente. – Se tiver fome mais tarde, peça a cozinheira para lhe preparar algo.
– Obrigada, Sr. . Boa refeição para vocês. – agradeci e saí da sala de jantar.
Subi para meu quarto, tomei um banho e coloquei meu pijama. Fiquei sentada na janela observando a noite estrelada, o quarto de luzes apagadas e apenas o notebook ligado tocando Intervention da Madonna. Tinha coisas que eram impossíveis de se acreditar, como tudo isso que aconteceu e como minha vida se transformou por completa, da água pro vinho. Ontem mesmo eu estava roubando com o Jared, e agora estava ali sentada na janela de uma mansão em frente de uma praia maravilhosa com uma noite linda e sozinha. Eu dizia que amava o Jared e, comparado com o que sinto por não é nada. Quando era para eu estar brincando de boneca, eu estava aprendendo como se carrega um revolver, quando era para estar aprendendo a beijar, eu estava transando com um cara maior de idade. Bizarro. Pensando agora, queria ser virgem e inocente. Queria ser pura de coração e alma. Queria ser uma menina normal. Me envolvi com tantas coisas que me arrependo e se pudesse voltar a trás, mudaria tanta coisa. Na verdade, me perdi no meio do caminho e não saba mais quem eu era. Vamos fazer o meu perfil: , 17 anos, já fez de tudo que se possa imaginar de ruim e sofre um amor platônico idiota. Agora como eu queria ser: , 17 anos, meiga, doce, gentil, inocente e com um namorado que gostasse dela como é. Bem, acho que está bem diferente. Eu queria ter terminado isso tudo hoje, não me importaria de morrer, mas ... talvez ele tenha se importado. Não, ele não se importa. Ele apenas fez o que teria feito por qualquer um que tivesse se jogado no mar. Sei que estou sendo egoísta e pensando só em mim, em terminar com aquele sofrimento todo. Sei que deveria pensar em como Josh ficaria sem mim, como meus amigos ficariam e meu pai. Mas era tão ruim o que tinha dentro de mim. O que sinto era raiva, ódio, fúria, tristeza, mágoa e tudo mais. Não se tinha nada que prestasse. Não sabia como alguém podia ser assim. Só queria mudar. Apenas isso. Queria ser uma pessoa boa. Soltei o ar pesado de dentro de meu peito. Escutei o barulho da porta e olhei para trás. Dei um sorriso e uma lágrima escorreu do canto de meu olho quando vi Josh ali parado.
– Entra, meu príncipe. – pedi, enxugando o rosto.
Ele entrou e fechou a porta.
– , o que você tem? – perguntou sentando no meu lado na janela.
– Meu lindo, a maninha não tem nada. – Sorri passando a mão em seus cabelos.
– Tem sim, tenho te visto muito triste já tem um tempão. Só não quis falar nada para não te ver mais triste.
Eu o abracei com força e segurando o choro em meu peito. Será que eu estava tão péssima assim que até uma criança podia ver?
– Tudo bem, , pode contar para mim. Não vou falar para ninguém, eu prometo. – Ele beijou seus dedos fazendo um “X”.
– Anjo, eu posso até te falar, mas acho que você não entenderia. – acariciei seu rosto.
– Eu entendo muita coisa. – disse com convicção.
Respirei fundo.
– Josh, sua irmã é a bruxa malvada da branca de neve. – tentei explicar de uma forma simples que ele entendesse.
– Mas você não é malvada comigo. Você é a melhor irmã do mundo, além de ser bonita. Não é nada parecida com uma bruxa. – Josh abraçou meu pescoço. – Você cuida sempre de mim e eu te amo muito por tudo que você faz.
– Eu também te amo muito, meu pequenininho. – o abracei de volta.
– Então não precisa ficar triste. – ele falava tudo como se fosse fácil, como um passe de mágica. Até que não seria nada mal se fosse realmente assim.
– Se fosse assim tão fácil... – Dei um beijo no topo de sua cabeça.
– Por que não é? – quis saber.
– Sua irmã gosta de uma pessoa que não gosta dela. – falei soltando o ar de uma forma pesada.
– E você fica triste porque essa pessoa burra não gosta de você. – Concluiu. – Esse menino deve ser um bobo mesmo para não gostar de você. Sabia que você é a menina mais bonita que eu já vi?
– Sou? – não resisti e sorri.
– Sim. Parece até aquelas princesas dos livros. Assim, a mais linda delas. – Josh sorria para mim.
– E você é o príncipe mais lindo que eu já vi. – o apertei. Ele era tão fofo.
– Sou nada. – resmungou.
– Claro que é, e nem adianta. – Falei mordiscando a barriga dele.
– Hey, não faça isso. Faz cócegas. – ele ria.
– Ah, eu faço sim. – o tirei da janela e o coloquei no chão o enchendo de cócegas.
– Para. – ele ria e tentava sair correndo de mim.
Depois deu ter brincado um pouco com Josh, ele acabou pegando no sono na minha cama. O peguei no colo com cuidado e o levei para seu quarto. Toquei sua roupa e o deitei na cama. Max dormia já em sua canto na caminha dele, na qual trouxemos. Dei um beijo na cabeça de meu anjo, acendi o abajur e saí sem fazer barulho. Aproveitando, na volta e fui na cozinha beliscar algo. Nem acendi a luz quando entrei, fui direto na geladeira e vi uma torta de morango que estava com uma cara deliciosa, a peguei e fechei a porta da geladeira.
– Filho da mãe! Desgraça! Vai dar susto na sua avó! – Xinguei que estava atrás da porta da geladeira.
– Você quem me assustou, entrou aqui na cozinha e nem me viu. Do nada a porta da geladeira abre sozinha, quando eu vejo é você! Depois sou eu quem te assusto. – Retrucou irritado.
– Realmente, eu não costumo enxergar pessoas que nem você. Sai da minha frente. – Quase o empurrei para passar com a torta.
– Como você consegue? – vinha atrás, me irritando.
– Ser grossa? Simples, é só estar no mesmo ambiente que você. – se a luz estivesse acesa, ele poderia ter visto meu sorriso de deboche.
– Ah sim, você funciona por instinto. Tipo uma auto defesa. Vi isso na aula de biologia. – respirei fundo.
Fingi não ter escutado e me sentei a mesa.
– Ogro, acenda a luz e pegue um pratinho com talher. – Pedi.
– Por que eu faria isso? – perguntou todo irritadinho.
– Porque estou pedindo. – era algo tão simples, mas será que nem isso ele entendia?
– Pedindo? Você está mandando. Não escutei o “por favor” no final da frase. – Não era possível, ele devia fazer isso só para me tirar do sério.
– Por favor. – Rosnei.
– Com educação. – poderia jurar que ele tinha um sorriso nos lábios.
– O cassete! Não precisa fazer porra nenhuma, seu imprestável. – Levantei da mesa e fui acender a luz, só que fui impedida no meio do caminho. – O que você pensa que está fazendo?
– Te irritando. – abri a boca para xingá-lo, mas resolvi fazer algo melhor.
– Ah claro, é o seu hobby favorito. – rebati, debochando.
– Como você adivinhou? Mas não chega a ser meu favorito. – isso já estava ficando ridículo.
– Não? E posso saber qual é? – cruzei os braços e fiz uma pose.
– Conseguir te beijar. – Ele me empurrou contra a parede. Minhas costas bateram contra ela com força, me causando um pouco de falta de ar.
– Você não vai fazer isso. Nem pensar. Sai . – Tentei me desprender, só que dessa vez ele foi mais esperto do que eu, colocou suas pernas entre as minhas e segurou meus pulsos contra a parede.
– Quando você fica nervosa é muito mais divertido. – Sussurrou em meu ouvido.
– Divertido vai ser a porrada que vou te dar quando sair daqui. Me larga, seu idiota. – tentava me debater.
– Não adianta, eu sei que você me quer. – agora beijava meu pescoço.
– Eu não quero nada vindo de você. Me solta moleque. – levantei o rosto para ficar o mais longe possível de sua boca.
– Agora sou moleque, mas aquele dia que transamos no banheiro eu não parecia um moleque para você. – disse com um timbre de raiva na voz, mas ainda beijava meu pescoço. – Vai negar que te deixei doida? Que te deixei sem ar?
– Cala boca. – falei entre dentes, aquilo estava me deixando mais nervosa ainda. – Você sempre vai e sempre será um moleque. Não é porque tem um pinto no meio das pernas que quer dizer que é homem, porque eu não tenho nada e sou mais homem que você. – Não sei de onde arranquei força, mas consegui soltar um pulso meu.
Escutei sussurrar um; “droga”, antes de o empurrar e soltar meu outro pulso.
– Não me subestime. – falei antes de avançar para cima dele e socar sua cara.
Para! Não! Parei segurando a gola da camisa dele e com o punho levantado para lhe dar mais um soco. Eu disse que ia mudar e agora estou sendo uma selvagem completa. Soltei sua camisa e abaixei o braço me afastando dele. Não podia deixar–me descontrolar daquele jeito. Fiquei fora de mim e tomada pela raiva, fiquei cega. Acendi a luz e vi o chão de azulejos brancos sujo de sangue, olhei para e assim como o chão sua camisa também estava suja, ele tinha a mão em sua boca. Merda. Me aproximei dele.
– Deixe-me ver. – pedi colocando a mão de leve sobre a dele, uni as sobrancelhas quando vi seu lábio vermelho de sangue, devo ter cortado sua boca. – Desculpe. – me olhou meio confuso.
– Tudo bem, já levei piores seus. – o idiota ainda riu.
– O que está acontecendo? – Ouvimos Alan perguntar e olhamos juntos para a porta onde ele estava em pé parado.
– Nada, pai. – disse meio apreensivo.
– Como nada? Escutei uns barulhos e quando chego aqui você está sangrando. – agora Alan caminhava até nós.
– É que entrei aqui no escuro, não vi a mesa, cai e bati com a boca na quina dela. – mentiu , então o olhei sem entender bem o motivo daquilo.
Logo depois segurei o riso imaginando a cena disso acontecendo.
– E o que a está fazendo aqui com você? – Então Alan está mesmo com medo de que eu conte algo para seu filho. Interessante.
– Então, escutei o barulho e vim ver o que era. – Respondi. – Venha , lave essa boca. – O guiei até a pia.
Alan ficou nos observando.
– Onde está doendo? – Perguntei olhando a boca dele. Controle-se, são apenas os lábios do . E são tão gostosos.
– Não está doendo, só está sangrando. – encheu a boca de água e depois cuspiu.
– Pena, da próxima vez dou mais forte. – falei baixinho e ele riu. – Tem certeza que não está doendo? Chupa um gelo para não ficar inchado.
– Não precisa, é sério. – persistiu. – Já está até parando de sangrar. – encheu mais uma vez a boca de água e cuspiu. – Viu.
– , está tudo bem mesmo? – Alan quis saber.
– Sim. – concordou se virando para seu pai.
– Vou dormir então, qualquer coisa me chame. – informou e saiu da cozinha. – Boa noite, crianças. – o ouvimos dizer.
– Boa noite. – respondemos juntos.
– Por que não disse a verdade? – Perguntei indo me sentar a mesa.
– Não sei. – respondeu me seguindo. – Achei melhor falar aquilo.
– A verdade é que não quis admitir que apanhou de mulher. – ri cortando um pedaço da torta.
– Não tenho vergonha de admitir que apanhei de você, como disse: Você é mais homem que eu. – rimos juntos agora e ele sentou-se a minha frente.
– Isso você tem razão. Mas agora é sério, não está doendo? – perguntei preocupada.
– Só um pouco dolorido, mas isso passa. Está preocupada? – deu um sorriso um tanto quanto vitorioso. É isso que dá quando se importa demais com uma pessoa, ela começa a se achar.
– Sim… Er… não. – É, me enrolei. – Só queria saber mesmo.
– Obrigado. – ergui uma sobrancelha sem compreender o motivo do agradecimento.
– Pelo quê? – Perguntei lhe servindo um pedaço de torta.
– Por gostar de mim mesmo eu não merecendo. – ele se levantou e sentou-se ao meu lado.
– Você merece, eu que não mereço nada. – cheguei um pouco mais para o lado para me distanciar um pouco dele, mas segurou meu braço e, dessa vez, com delicadeza.
– Desculpa por tudo que já te causei? – abaixei a cabeça sem saber o que dizer. Era impossível de acreditar que ele estava mesmo se desculpando por tudo.
– Tá. – respondi encarando meu prato de torta. – Tem coisa que não dá para esquecer. – a mão dele deslizou me soltando. – Você não tem culpa. A culpada disso tudo sou eu.
– Não. Pare com isso, você não tem culpa de nada. – Puxou meu rosto para cima e se aproximou para me beijar.
– Por favor, não piora as coisas mais do que já estão. – disse afastando meu rosto. – Já dói demais.
– Vou te fazer uma pergunta. Qual for a sua resposta, irei aceitar. – agora ele respirou fundo e fechou os olhos, logo depois voltou a abri-los e me encarou. – Você quer que eu me afaste de você? – Aquilo me pegou de surpresa e realmente doeu. Abaixei o olhar mais uma vez. Eu sabia que não seria forte o suficiente para isso, eu não aguentaria ficar longe dele. – Responda.
– Não. Se você fizer isso, não vou aguentar. – agora falei olhando em seus olhos. – Não precisa ficar junto de mim, só seja meu amigo, já bastará.
– E se eu falar que não consigo ser só o seu amigo? – nós mantínhamos um contato visual surpreendente, como nunca antes, era intenso demais.
– Vou dizer que está brincando comigo, como sempre faz. – a cada palavra pronunciada meu coração se acelerava cada vez mais.
– É sério, gosto mesmo de você. – segurou minha mão.
– Mas ama a Green. Não dá , você sabe disso. – virei o rosto.
– Como você pode falar que não dá se nunca tentamos? – segurou meu queixo e o virou para ele.
Balancei a cabeça em forma negativa rindo aquela insanidade toda. Eu gostava tanto dele que era capaz de fazer qualquer coisa para ficarmos juntos, de verdade.
– Do que está rindo? – já ele, permanecia sério.
– De nós. – dei um beijo em sua bochecha, levantei e fui até a geladeira pegar um suco. – Vai querer algo para beber?
– Pode ser. – sua voz não tinha emoção alguma.
Peguei a jarra de suco e dois copos, os coloquei na mesa e nos servi.
– Você não me respondeu. – disse dando uma garfada em sua torta.
Agora eu estava sentada a frente dele, era melhor assim, pelo menos tinha algo de material nos separando.
– Qual delas? – Me fiz de sonsa.
Vai que ele tinha mudado de ideia.
– De ficarmos juntos.
– Hum. – Não respondi.
– Hein? – insistiu. – Está me deixando agoniado já, responde logo.
– Gosto de fazer charme. – deu uma piscadinha sapeca. – Não sei, na verdade eu quero, mas…
– Mas tem medo. – acusou.
– É. Isso me assusta. Eu e você, juntos. Não fazemos o par perfeito, você é o capitão do time de futebol e eu a drogada da escola. Que bela dupla. Vai ser lindo andarmos pelo corredor fugido da Green e suas capangas. – falei com sarcasmo.
– Não, vai ser divertido. – abriu um sorriso largo.
– Ah, você acha divertido? Eu acho arriscado. – Hã? O que eu estava falando, com medo da Green?
– com medo! Essa é nova para mim. – riu e começou a bater palma. – Arriscado! – debochou.
– Pare de debochar, . – Taquei um pedaço de torta nele.
– Hey. – tacou outro pedaço de torta em mim.
– Não, para. Não vamos começar uma guerra de comida que nem fizemos na escola aquela vez. – lembrei o incidente.
– Culpa sua. – apontou em minha direção com o garfo sujo.
– Minha? Você que veio de ignorância só porque fiz uma brincadeira. – dei uma longa golada no suco.
– Claro, a culpa é sempre minha. Eu que te irrito, – começou a enumerar. – que te provoco, que te xingo…
– Cala a boca. – O cortei.
– Não me manda calar a boca, não sou seu capacho. – revirei os olhos e bufei. Não posso acreditar, estávamos começando a brigar, de novo.
– Que pena, mas parece. – retruquei sem dó.
– Estamos brigando. – sua mente brilhante concluiu.
– Que bom. Pois é isso que sempre fazemos quando estamos no mesmo ambiente. Normal. – dei de ombros.
– Se você acha normal, duas pessoas que se gostam brigarem todo momento, eu não sei o que é normal para você então. – ele estava realmente irritado.
– Você está me irritando. – reclamei.
– Irritando? Foi você quem começou.
– Eu?
– É, você me tacou torta.
– E isso é motivo para brigar agora? – estou falando que não daria certo ficarmos juntos.
– Não, mas você se lembrou de quando brigamos.
– Porque você foi grosso comigo da outra vez. – Levantei da mesa.
– Mas não estou sendo agora.
– Está sim. Quer saber, vou pro meu quarto que é a melhor coisa que faço. Passar bem. – Coloquei meu prato dentro da pia.
Assim que me virei, estava atrás de mim e me agarrou.
– Não vou deixar mais isso acontecer. – falou entre o beijo.
Nunca desejei ninguém como eu desejava . Nossas línguas se misturavam uma com a outra intensamente, minha mão percorria a extensão de seu braço até chegar ao ombro e o apertar, a mão dele agarrava minha cintura com força a puxando para si, meu coração palpitava cada vez mais rápido e minha respiração… respiração? Quem disse respiração? Esqueci que isso existia. Quando nos separamos me senti meio sonsa, apenas fechei os olhos, repousei minha cabeça no peito dele e abracei sua cintura de um jeito reconfortante. Senti afagar meus cabelos e passou seus braços largos em volta de mim. Escutei seu coração acelerado ficando em seu estado normal aos poucos.
– . – sussurrei.
– Hum?
– Desculpa por ser grossa todo o momento com você? – era tão bom sentir o cheiro de seu perfume.
– Já acostumei. – riu.
– Mas não era. Não sei como consegue gostar de mim, não entendo isso. – o olhei.
– Nós não escolhemos de quem gostamos. Apenas gostamos, não precisa ter um motivo. Pelo menos não para mim.
– Então você deve gostar muito para me aguentar. – brinquei.
– Digamos que o suficiente.
Sorri com isso. Voltamos a nos beijar, poderia ficar beijando aquela boca pelo resto da vida que nunca cansaria.
18. Pra me comportar mal – Parte 3
O beijo foi ficando cada vez mais feroz conforme nossos corpos se excitavam um com o outro. Uma de minhas mãos segurava sua nuca com força e a outra estava por debaixo de sua camisa, tocando em suas costelas, na verdade, as arranhava mediante a força exercia ao segurá-lo. Agora, já as mãos dele, não se contentavam apenas em apertar minha cintura com forma e me puxar contra ele, tinham que descer até minha bunda e a aperta com vontade. Não é que esteja reclamando, muito pelo contrário, estava amando a forma como me desejava naquele momento. Fui encostada contra a parede, e logo depois já escorávamos por ela, e por qualquer coisa que estivesse no nosso caminho. A luz da cozinha foi apagada, certeza que tinha sido ele, pois uma de suas mãos se soltou apenas por alguns segundos. Segurei sua blusa, querendo arrancar aquela porcaria para sentir o calor de seus peitos e como eles eram definidos. Andamos pelo corredor, lê-se, nos arrastamos pelo corredor derrubando alguns quadros pelo caminho, até que chegamos na escada, que dava para os quartos, e ali, foi onde nós não conseguimos fazer progresso e seguir adiante. Nos sentamos, meio que deitamos no meio dela, enquanto suas mãos não se controlavam mais e invadiram minha camiseta, apertando meu peito. Mordi seu lábio inferior, soltando um gemido leve, para provocá-lo. levantou uma de minhas coxas e se encaixou de forma deliciosa entre minhas pernas. Passei as unhas em suas costas, que iam de sua bunda até a nuca dele. Tentamos subir um pouco, nos rastejando, e depois de muita dificuldade, atingimos o outro andar. Levantamos do chão, então o empurrei contra a parede com força, e ele riu com aquilo. Avancei em seu pescoço, beijando, mordendo, chupando, fazendo tudo o que queria naquela região. Podia sentir sua ereção por cima de sua bermuda, e isso me estimulou a continuar ainda mais. Um gemido rouco e delicioso saia por sua garganta, bem baixinho. Fiquei louca com aquilo. Houve um barulho, depois passos pelo corredor. Paramos o que estávamos fazendo e olhamos apavorados para o mesmo lado. Merda, ninguém naquela casa podia nos ver juntos. segurou minha mão e saiu me puxando. Entramos em um dos quartos, no qual reparei que era o dele. Nos entreolhamos, e ele apontou para o armário. Corri e entrei dentro dele, e antes de fazer isso, o vi se jogar na cama, fingindo dormir. Deixei uma greta da porta aberta para ver o que ia acontecer. Alguém entrou no recinto e a luz foi acesa. Bosta, era Alan. Coloquei a mão na boca e no nariz, para controlar minha respiração e não fazer nenhum barulho. O homem olhou para os lados e dois para o filho, que fazia uma careta falsa por causa da luminosidade do lugar.
– O que foi, pai? – perguntou ele com o braço na frente do rosto. Alan não respondeu. – O que está procurando?
– A menina! Cadê ela? Posso sentir o cheiro daquele perfume barato. – controle , controle, ele está falando isso para te provocar e ver se saísse de seu esconderijo.
– Do que está falando? – indagou se sentando na cama. – Não tem ninguém aqui.
– Tira a camisa. – ordenou. Arregalei os olhos. Não faça isso. – Anda , tire a camisa! – Alan estava realmente alterado.
– Pai, isso é serio? Para que está fazendo isso? – perguntou e fez o que Alan mandou, tirou sua camisa. – Satisfeito? – fechei os olhos, não queria ver aquela cena, certeza que as costelas dele deveriam estar arranhadas, ou marcadas.
– Me dê essa porcaria aqui! – pelo que parece, seu pai pegou a blusa de sua mão. – Está fedendo ao perfume dela. – não consegui, tinha que ver o que estava se passando. Alan jogou a blusa em cima de seu filho. – Não acredito que estava se agarrando com aquela vadiazinha. – uniu as sobrancelhas, irritado. Pelo que parece, Alan não viu os arranhados.
– Não estava me agarrando com ninguém! – rebateu. – E ela não é nenhuma vadia! – vestiu sua camisa e se levantou. – Além do mais, se o perfume da , porque esse é o nome dela, está impregnado em minha roupa, foi por causa daquela hora que ela estava me ajudando na cozinha. – olha isso, pensa. Que milagre. – Se não se recorda bem do momento, ela me ajudou a levantar.
– Está mentindo. – apontou o dedo, seu rosto estava vermelho e uma veia saltitava em sua testa. – Acha mesmo que não percebi o jeito que ela te olha?
– É pai, e como ela me olha? – afrontou seu velho, se aproximando. Alan passou a mão pelos cabelos, em estado de estresse eminente.
– Fica longe dela, aquela garota vai lhe trazer problemas. – disse antes de sair, sem dar a resposta que queria, e ainda bateu a porta.
Sai do armário e fechei a porta de correr lentamente atrás de mim, encarando . Ele não tinha uma cara muito boa, assim como eu. Talvez fosse arriscado mesmo ficarmos juntos, e estava bem claro, que Alan não gostava nada dessa ideia. Soltei o ar e encarei o chão. Era isso, acho que era melhor eu ia para meu quarto, pois o clima tinha sido completamente cortado. Comecei a caminhar até a porta, mas fui impedida de continuar, já que minha mão foi segurada com delicadeza. Permaneci virada de costas para ele, mas me virou lentamente. O difícil era encarar aqueles lindos olhos e não me perder, não me render ao seu desejo. Encostei a cabeça em seu peito, o coração dele estava acelerado. Fechei os olhos para poder escutar melhor. Seus braços me envolveram com gentileza, suas mãos faziam um carinho gostoso em minhas costas. Respirei fundo, inalando todo o cheiro dele que me deixava inebriante. Abracei seu tronco e tive vontade de nunca mais soltá-lo. Eu o amava tanto.
– Vou para meu quarto. – falei tentando me soltar dele, mas não foi possível.
– Fica. – levantei o rosto para encará-lo. – Por favor. – neguei com a cabeça e voltei a encostar meu rosto em seu peito.
beijou o topo de minha cabeça e me deixou ir. Agora o corredor estava escuro, e aquilo era péssimo. Andei devagar para não fazer barulho e nem jogar nada no chão, ou melhor, não dar de cara com uma parede. Meu quarto não era muito longe, e talvez eu chegue nele sem morrer no caminho. Quase dei um pulo quando escutei um pigarro no meio daquela imensidão sombria. A luz de um abajur de mesinha que tinha no canto foi acesa, então a imagem de Alan foi revelada. Engoli em seco.
– O que estava fazendo no quarto de ? – Alan perguntou me encarando fixamente. Poderia jurar que ele sacaria uma arma a qualquer momento e me daria um tiro no meio da testa. Conseguia até imaginar a tal cena.
– Algo que não é do seu menor interesse. – rebati e dei as costas, voltando a andar. Mas foi péssima ideia, já que não deu tempo nem de me virar ao escutar os passos fortes de Alan, e ele me segurar pelos cabelos de minha nuca, os puxando com força. – Me solta, seu babaca. – falei entre dentes.
– A senhorita não tem mesmo um pingo de educação, não é? – me jogou no chão com brutalidade. Minha vontade era de matar aquele sujeito.
– Vejo que sua percepção é ótima, Sr . – ri, me levantando. – Aposto que adora fazer a mesma coisa com a Green, pegar ela pelos cabelos, e a fazer de submissa. – um sorriso largo surgia de meus lábios. – Ela geme seu nome quando faz isso? – Alan me agarrou pelo pescoço e me atirou contra uma parede, e eu só conseguia rir daquela merda. Tossi quando meus pulmões faltaram ar com o impacto. – Esse é o melhor que pode fazer? Agredir uma menina que não tem nem a metade do seu tamanho?
– Cala a boca. – veio em minha direção, mas me esquivei, dando um giro, e ficando atrás dele.
– Escolheu a garota errada para isso! – empurrei sua cabeça com toda a minha força contra a parede.
– Sua vaca! – reclamou colocando a mão na testa e se virando para mim, saia um pouco de sangue entre seus dedos. – Vai se arrepender disso. – avançou em meu pescoço, e como ele era bem maior, não consegui sustentar o peso de nós dois, então, acabamos caindo no chão. – Desgraçada. – deu um tapa em meu rosto.
– Alan, sinto lhe informar, mas isso não me excita em nada. – debochei. Suas mãos apertavam meu pescoço fino, e o ar já não passava por ele. – Vai lá, está quase me matando. O que vai dizer ao meu pai? – minha voz saiu extremamente esganiçada, e só desse jeito que ele me soltou.
– Pai! – a voz de foi como música para meus ouvidos. Permaneci parada, me fingindo de vítima, enquanto lancei um olhar de “a casa caiu” para Alan. – Sai de cima dela! – vi as mãos de puxarem os ombros do mais velho.
– , volte para seu quarto. – ordenou ainda sobre meu corpo. – Isso não é assunto seu. – debati minhas pernas, tentando sair dali, só para fazer um drama. – E você fica quietinha, por que ainda não terminei.
– , me ajuda. – pedi, fazendo voz de desespero, mas se quisesse mesmo, eu me virava sozinha. Poderia muito bem arranhar a cara de Alan, ou puxar o móvel que estava perto de nós, fazendo com que caísse em cima dele. conseguiu puxar seu pai de cima de mim, e depois me ajudou a levantar. O abracei e coloquei meu rosto na curva de seu pescoço. – Eu juro que não fiz nada dessa vez. – sussurrei. – Ele me atacou do nada. – ele me abraçou com firmeza, como se estivesse me protegendo.
– Ela está mentindo. – Disse Alan, quase gritando. – Não vai acreditar no que essa garota está falando! – o olhei disfarçadamente e sorri. Ele arregalou os olhos mais nervoso ainda e tentou vim para cima de nós, mas o impediu.
– Já chega, ok? Já bastava bater em minha mãe, não vou deixar que faça nada com a ! – me colocou para trás de suas costas. Seu pai estava perto de ter um AVC de tão irritado se encontrava. – Por quê estava fazendo isso com ela? – dei uma piscadinha travessa. O que será que Alan falaria agora?
– Essa menina estava se insinuando para mim. – uni as sobrancelhas e olhou por cima do ombro, me encarando, depois voltou a olhar para seu pai. Não, você não pode acreditar nisso! – Ela foi no meu quarto ontem a noite, e desde quando chegou, fica tentando me seduzir. – tentei passar por , agora sim, eu sentaria a mão na cara do pai dele. – Está vendo. Ela ficou toda nervosa ao escutar a verdade.
– É mentira! – berrei. – Seu desgraçado! – o braço de deu a volta em minha cintura, me impedindo. – Vou desconfigurar a sua cara toda, seu maldito covarde! Me solta, ! – comecei a me debater. – Alan, fala à verdade, que você está transando com a namorada do seu filho! – pude sentir o veneno escorrer de minha boca. Dani-se, não ia deixar que ele falasse que eu era a vadia da história. – Assume logo que aquele filho não é do , e sim, seu! – Alan riu, debochando da minha cara.
– Está vendo o que ela é capaz de fazer? Até de inventar coisas para nos jogar um contra o outro. – se aproximou de nós. – É por isso que não te quero perto dessa má influência. Ela mente e manipula as pessoas.
– O que? Não. , você não pode acreditar nisso. – olhei para ele, seu olhar estava longe demais para conseguir me conectar. – Alan, vou acabar com a sua vida! – me debati, completamente fora de si.
– ! – escutei meu pai esbravejar. – Que confusão já está arrumando agora? – isso pai, você apareceu e vai me ajudar agora.
– Pai, Alan está inventando coisas! – apontei para o mesmo o acusando. – Está dizendo que estou seduzindo ele! – meu pai me olhou um tanto quanto irado. Legal, ninguém acreditava em mim.
– Isso é verdade? – olhou para seu amigo de trabalho, que concordou com a cabeça.
– Mas com todo respeito, Peter, não fiz nada com sua filha, e nem faria. – falou de forma educada. – E quando disse isso a ela, a menina simplesmente me atacou. – indicou o machucado na testa que ainda sangrava um pouco. Dei um grito, irritada. – Caro amigo, sugiro que leve sua filha em um psicólogo, ela tem sérios problemas de conduta.
– Você não pode acreditar em tudo isso que esse cretino está falando! – implorei. parecia que nem estava mais ali conosco, embora seu braço ainda estivesse me segurando com força para que eu não atacasse seu pai. – , fala alguma coisa!
– , cale-se! – meu pai berrou. O olhei assustada. – Já chega das suas mentiras e desordens. Você me prometeu que tinha mudado. – meu velho me olhava com extrema indignação e decepção. Não faça isso comigo! Não me acuse dessa forma. – Vá para seu quarto, agora. – ordenou, segurando meu braço com força. me soltou. Olhei para ele a ultima vez, e agora sua expressão era a mesma do meu pai. – Alan, por favor, perdoe o comportamento imprudente de minha filha. Nós vamos embora. – disse me segurando feito uma criança que tinha acabado de fazer uma grande merda.
– Que isso, Peter, de forma alguma. Essas crianças de hoje em dia se desviam de tal forma que não conseguimos controlá-las. – aquele cretino dava-se uma de cordial. – Não precisa ir embora a essa hora da noite, pode ser até mesmo perigoso. Sugiro que façam isso amanhã depois do almoço, assim como nós. Viemos juntos, afinal. – minhas narinas se inflaram de tanto ódio que estava sentindo.
– Certo. Obrigado por tudo, e mais uma vez, me desculpe por esse transtorno todo. – Alan assentiu, e então me pai saiu me arrastando corredor a fora. – Não posso acreditar no que acabei de ver. Anda se drogando novamente? Pois esse é o único motivo no qual consigo compreender esse seu comportamento insano. – Vi Josh na porta do quarto dele, com Max bem ao seu lado. Ele tinha uma carinha de sono, e nos observava.
– Filho, volte para a cama, está tudo bem. – meu pai disse, na tentativa de fazer meu irmão ficar tranquilo.
– . – chamou ele esticando a mão em minha direção. – Fica comigo?
– Ela não pode, está de castigo, e você volte para sua cama. – mandou, mas de uma forma bem educada. Meu príncipe apenas concordou e entrou de volta para seu quarto.
– Espera, você disse; castigo? – perguntei quando ele me atirou para dentro do meu quarto, acendendo a luz dele.
– Sim! Só vai sair daí amanhã quando formos embora. – tirou a chave do trinco e bateu a porta, a trancando por fora.
– Pai, pare de brincadeira! A janela é muito alta para ser pulada. – corri para tentar abrir a porta, mas ela já estava trancada, então a soquei.
– Que bom. Assim você vai pensar duas vezes antes de tentar sair daí, ou melhor, pensar sobre o que acabou de fazer. – respondeu, e saiu andando, pois seus passos ecoavam pelo corredor. Comecei a esmurrar a porta querendo sair.
– Abre essa bagaça. Não sou mais criança. Pai! – gritei batendo naquela madeira com todas as minhas forças.
Quando meus braços não aguentam mais, e as lágrimas de raiva já saíram de meus olhos, parei. Me abaixei devagar e fiquei sentada atrás da porta, já não aguentavam mais aquilo. Ninguém acreditava no que eu falava, todos estavam contra mim. Como odiava estar ali, e também a cada pessoa dentro daquela casa, tirando o Josh, é claro. Abracei minhas pernas e fiquei ali, sentada esperando meu pai se arrepender do que fez e vim me soltar. Meus olhos começaram a ficar pesados, e a fecharem bem devagar. Quando dei conta, tinha pegado no sono, ali mesmo. Abri os olhos, assustada com um barulho, mas era alguém abrindo a porta. Me afastei, para que ele entrasse. Será que meu velho ia mesmo se desculpa comigo pelo o que disse? Mas a figura que apareceu, não era Peter , e sim Alan . Levantei em um pulo. Como que ele conseguiu... Sim, chave mestra. Mas o que estava me intrigando era o que aquele cara estava fazendo ali? Já não tinha cansado de me fazer parecer à maluca drogada na frente da minha família? Minha vontade era de matar aquele homem, cortar em pedacinhos e jogar no mar, bem estilo Dexter.
– O que quer? – perguntei me afastando o máximo possível e pensando no que pegar para me defender, caso ele tentasse me atacar novamente.
– Apenas conversar sem interrupções. – veio em minha direção. – Estou curioso para saber o que meu filho viu em uma garota feito você. – aquilo me causou tanto nojo, que quase coloquei a torta que comi para fora. Como um sujeito conseguia ser tão pervertido a esse ponto? – Cadê toda a sua coragem agora? – me provocou com um sorriso no rosto. Controle, não bata nele, será pior.
– Alan, não chega perto. – falei colocando o braço na frente, para que ele não se aproximasse mais do que já estava. Ele segurou meu pulso e me puxou. – Me solta! – seus braços me prendiam.
– . – escutei a voz do me chamando. Graças a Deus. Mas, tinha alguma coisa estranha. – Está acordada?
Sim, algo estava errado ali, pois Alan nem se quer me soltou, e era como se ele não escutasse a voz do filho. Em um pulo, abri os olhos, assustada. Estava meio suada, e o chão quente por causa do calor que meu corpo emitia. Olhei para os lados. Droga, era só um sonho. Respirei aliviada. Levantei e encostei o ouvido na porta. Meu coração estava acelerado demais, e eu só conseguia ouvir o barulho dele sapateando em meu peito.
– ? – chamei, e pude ouvir um barulho do outro lado. Mas embora não queria falar com ele, precisava disso, para saber o que se passava em sua cabeça.
– Oi. – respondeu baixinho. – Te acordei? – ele me parecia preocupado, sua voz estava estranha.
– É. Vai dormir. – mandei e segurei a maçaneta, querendo que aquela porcaria abrisse. Não sabia mais o que pensar, o que fazer, ou como agir naquela situação. Joguei a verdade na cara de , e ele pelo que me pareceu, não acreditou. – Não quero conversar.
– Não me pede para sair daqui. Preciso falar contigo. – ele implorou, o que nunca tinha visto ainda. – Abri a porta, por favor. – minha mão empurrou o trinco para baixo, mas aquilo não era o suficiente.
– Está trancada, e a chave está com meu pai. – lamentei. – Me deixa. – e mesmo que falasse aquilo, continuava ali parada, tentando escutar sua respiração.
– Eu sei que está trancada, mas você sabe abrir as coisas, anda, tente, pelo menos. – se rastejou no outro lado da madeira. – Precisamos conversar. – Não, não precisávamos. Nós nunca daríamos certo.
Sai dali e procurei por alguma coisa que desse para abrir aquela maldita fechadura. E por mais que minha cabeça me falasse que não era para deixar entrar, meu coração falava algo completamente diferente. Revirei todas as minhas coisas e não encontrei anda. Olhei pela janela, me certificando de que era mesmo alto para pular. No mínimo eu quebraria as duas pernas se fizesse isso. Era loucura. Voltei a me escorar na porta do quarto, tentando escutar para ver se ainda estava ali me esperando, e sim, estava, pois, pelo que parecia, ele estava encostado com suas costas contra a madeira. Era tão bom escutar aquele som, da sua respiração e de seu coração batendo pesado.
– Não tem nada que eu possa abrir. – falei depois de um tempo, então, o escutei se mexer.
– Espera ai que vou ver se arranjo alguma coisa. – fiquei ali parada, esperando, escutando os passos dele se afastarem. Não demorou muito para que voltasse. – Tome, vê se consegue abrir com isso. – ele passou dois clips por debaixo da soleira.
– Dá sim, só um minuto. – Jared, muito obrigada por tem me ensinado a arrombar qualquer tipo de fechadura com um clip, ou algo parecido.
Foi menos de um minuto. Até que a tranca era fácil de ser aberta. Ouve um “tec” e a porta se abriu. entrou no quarto com cautela e a fechou atrás de si com cuidado. Ficamos nos olhando por um tempo, nenhum de nós dois tinha coragem de falar algo, e aposto que sua cabeça estava em plena confusão. Minha respiração estava trêmula, assim como cada centímetro de meu corpo. A tensão que tinha entre nós era grotesca. Dei um passo a frente, meio recuso, sem ter certeza do que ia fazer, mas ao ver se manifestar com minha ação, meus instintos falaram mais alto. Fui em sua direção, e ele me segurou com a mesma força que o segurei. O beijei, e pouco me importava se estava achando que era tudo mentira minha ou não. Minha língua invadia com tudo sua boca, como a dele, a minha. O beijo era urgente demais para ser quebrado. Começamos a nos atracar. Seus toques em meu corpo eram brutos, e eu estava amando aquilo, não deixei por menos, o apertava com a mesma intensidade e vontade. era meu, ali, e não ia deixar de perder nada. Ele me jogou em cima da cama, e um sorriso malicioso surgiu em meus lábios. Pensei em brincar um pouco, o provocar, mas o problema era que eu mesma não saberia se conseguiria isso. Meu desejo por aquele garoto era muito grande. Assim que se ajoelhou na cama para se deitar sobre meu corpo, segurei a barra de sua camisa e a tirei. Passei mão em seus peitos, até chegar em seus ombros largos e nuca, o puxando para mais um beijo. O rompi e levantei. Seu olhar me seguiu sem entender muito bem o que eu estava querendo fazer. Mordi o canto de meu lábio inferior e passei a mão em minha barriga, subindo até meu peito e o apertando. A cara que aquela peste fez ao me ver fazendo aquilo, foi simplesmente impagável. Senti meu corpo ferver. Ele levantou, e veio andando em minha direção, então, apenas sai correndo para dentro do banheiro, sem acender a luz. Olhei por cima do ombro, o vendo vim atrás, apressado. Ali era pequeno, e não tinha muito lugar para fugir. Entrei no box, era o último local onde eu poderia ir ali dentro, e fechei sua porta de vidro fumê, me encostando nela e o olhando através. se aproximou, e tocou o vidro, bem onde minha mão estava, meu olhar seguiu seu movimento lentamente, vidrada em cada ação. Encostei minha testa ali.
– Você sabe que tudo aquilo que seu pai disse, era mentira, não é? – perguntei sem ter coragem de encará-lo para ver qual seria sua reação. – Não sou capaz de fazer uma coisa dessas.
– Não esquenta, sei muito bem como meu pai é. – ele também encostou sua testa na porta.
– Preciso te falar uma coisa. – minha respiração estava pesada, meu coração se remexia dentro de meu peito querendo sair e meu estomago tinha uma pressão enorme. – E talvez, seja a primeira vez que estou sendo mais sincera em toda a minha vida. – levantei a cabeça, mas a de permaneceu abaixada e seus olhos fechados.
– Diz. – seus lábios se mexeram devagar.
– Eu te amo. – me esforcei ao máximo para pronunciar aquelas palavras em voz alta, ainda mais na frente dele. Aquilo era mesmo difícil de assumir.
– . – ergueu a cabeça lentamente. As pupilas de seus olhos estavam dilatadas, deixando apenas uma linha fina da cor aparecer. Dava para ver isso com a pouca luz que entrava no banheiro. Não consegui decifrar sua feição. – Você nunca tinha me dito isso.
– Eu sei. – não consegui encará-lo. Naquele momento, o chão do box era muito menos constrangedor. – Esquece, não deveria ter falado nada. – dei um passo para trás e me encostei na parede de azulejos salmão.
– Por que agora? – perguntou abrindo a porta de vidro fumê. – Hm? – se aproximou segurando meu rosto, me obrigando a olhar para ele.
– Porque não estava mais aguentando guardar isso. – respondi engolindo o bolo em minha garganta. Depois tirei sua mão de meu maxilar. – Sei que não sente a mesma coisa. – ele não dizia nada, e isso fazia minha angustia ficar gigante. – Não precisa ficar comigo se não quiser.
– É claro que quero ficar contigo, pare de falar tantas besteiras. – encostou seus lábios nos meus com gentileza. – Não estraga o momento que estava tão bom. – falou antes de me beijar com mais vontade.
Quando me beijava meu mundo todo era apagado. Não sei bem se me arrependia ou não de ter falado que amava ele, pois essa era minha fraqueza. E desde que aprendi algo em relação a se manter forte, Jared sempre brigava comigo e dizia; “Você não pode mostrar sua fraqueza aos outros”. E agora, fiz exatamente o que ele sempre me falava para não fazer. Eu estava tão vulnerável, ali e agora, nunca fui assim, sempre me mantive firme o suficiente para encarar qualquer coisa. Por que estava agindo desse jeito? A única resposta válida seria; sentimos. Estava sentindo eles da forma mais bruta e avassaladora possível. Jared me chamava de a pequena guerreira. Sorri ao me lembrar disso, ele dizia que eu era osso duro de roer e se orgulhava de mim por ser assim, destemida e corajosa. Coragem, era isso que estava me faltando. Agora que já tinha falado que amava o , tinha que ser mulher o suficiente para encarar o que vier. Sei que se formos ficar mesmo juntos, a nossa relação não vai ser nem um pouco estável, e temia que aguentar ele e a Green juntos, fosse impossível. Mas o que eu poderia fazer a não ser aceitar? Senti a mão de segurar minha cintura, e me puxar para mais perto dele. Abracei seu pescoço. Senti a água do chuveiro nos molhar, ele tinha aberto o registro. Minhas roupas ficaram rapidamente encharcadas, assim como a bermuda dele. Suas mãos deslizaram por debaixo de minha camiseta e começaram a subir, levando ela consigo. O beijo foi quebrado para que a peça passasse por minha cabeça. Nos olhamos e voltamos a nos beijar com calma. Seus lábios soltaram dos meus e foram roçando pelo meu rosto, até chegar em meu pescoço. Meus dedos brincavam com o elástico de sua boxer, que estava mais acima que o cós de seu short. A água escorria entre nós, deixando nossos toques bem mais deslizantes. O fecho de meu sutiã foi solto com um pequeno movimento. Senti meus seios sendo libertados quando as mãos de passou uma por cada ombro meu, tirando a fina alça que pendiam neles. Assim quando a peça caiu no chão, ele me ergueu com suas mãos fortes, alto o suficiente para abocanhar meus peitos. Envolvi minhas pernas quase em seu tronco e abracei sua cabeça, emaranhando meus dedos nos cabelos de sua nuca, enquanto ele mordia e chupava cada mamilo do jeito que queria. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos, soltando um gemido ou outro quando a excitação era maior. Quando se cansou de brincar ali, ele foi me desceu, passando a língua pelo caminho até alcançar minha boca, que estava gelada comparada a dele. Passei a unha com suas costas. O calor subia pelo meu corpo fito lenha seca na fogueira. Apalpei a parede em busca do registro, e quando o encontre, desliguei o chuveiro. nos levou para o quarto, mas nenhum dos dois se importou que molhamos todos o caminho até a cama, onde ele me repousou como se eu fosse uma pequena boneca de porcelana. Admirei o jeito dele ter sido tão delicado comigo. Nossas caricias eram leves, mas me deixava com muito tesão. Sua mão deslizou pelo meu corpo, até chegar em meu shortinho jeans, o desabotoando e depois invadiu minha calcinha. Me arrepiei toda quando dois dedos dele passaram por minha entrada molhada e depois subiram, abrindo passagem até chegar em meu clitóris. Soltei um gemido convidadito para que ele fizesse aquilo que estava pensando. Em movimentos lentos e suaves, começou a me instigar, afastando um pouco nossos corpos. Mordi meu lábio inferior quando ele pegou o ponto certo. Seus olhos estavam fixo em meu rosto, reparando a expressão que eu esboçava com seu toque. Respirar estava ficando cada vez mais difícil. Minhas mãos buscaram algo para agarrar, achando só os lençóis da cama. Tentava ao máximo prender meus gemidos, mas eles saiam por meus lábios contra minha vontade. Implorei por mais, em um sussurro, e meu desejo foi atendido, mas antes deu chegar ao meu orgasmo, ele parou. Mas, o que? Suas mãos tiraram minhas duas peças de roupa juntas, me deixando completamente nua. Senti minhas bochechas ficaram quentes quando observou cada parte minha. Depois, um sorriso cheio de luxuria pareceu em seus lábios. Ele me beijou, me distraindo, logo em seguida, desceu até chegar em minha virilha. Uma onda de prazer me invadiu quando sua língua tocou meu clitóris já sensível. Se antes já estava sendo difícil de me controlar, agora tinha se tornado impossível, com ele me lambendo e chupando com intensidade. Sem perceber entre gemidos, eu balbuciava o nome de . Ele apertava um de meus peitos, enquanto sua outra mão alisava e apertava minha coxa. Os espasmos começaram a me tomar e minha intimidade a pulsar, o querendo naquele instante.
– Tem camisinha na minha mala, pega lá. – pedi apontando para a mesma, minha mão estava trêmula.
– Daqui a pouco. – falou apenas se soltando brevemente.
– Não, – soltei um gemido, cortando a frase no meio, tinha tido outro espasmo. – . Preciso que seja agora! – prendi a respiração. – Por favor. – resmungou qualquer coisa que não entendi, mas me soltou. – Bolsinho da frente. – falei e ele levantou para pegar.
Escutei o barulho do pacotinho, e depois dele sendo rasgado. Antes de voltar, ele apagou a luz do quarto. foi subindo na cama beijando minhas pernas e coxas, até voltar para onde estava. Minha respiração estava pesada demais. Suas chupadas eram rápidas, e faltava pouco para que meu orgasmo fosse atingido, e quando senti que isso ia acontecer, o puxei com tudo para cima. Seu corpo se encaixou no meu. Suas mãos seguraram minha bunda, e foi ai que ele me penetrou lentamente, até entrar por completo. Senti um alivio enorme, era muito bom tê-lo dentro de mim. Seu nariz estava ao lado do meu, e seus lábios muito próximos. Nos beijamos. começou a se mexer devagar. Meu prazer ia ficando maior a cada instante, assim como o dele também, dava para perceber na forma como ele me segurava e alisava. Separamos nossas bocas para conseguir respirar. Comecei a beijar seu ombro largo e pescoço. Sua pele tinha um cheiro tão gostoso. Minhas unhas deslizavam nas costas dele, e pude sentir que se arrepiava todo com aquilo. E ele não ligava se deixaria marcas de chupões, nos quais dava por onde seus lábios passavam. As estancadas foram ficando mais fortes, rápidas e precisas, conforme necessitávamos um do outro. Segurava o gemido de prazer que insistiam em sair de minha boca, minhas mãos arranhavam sem pena suas costas, braços, ombros ou qualquer parte do corpo de que encontrasse. Já ele me apertava com força, meus quadris, bunda, coxas, peitos e ombros, aquilo me deixava louca. A cama balançava com a movimentação que era feita sobre ela, o problema seria se algum nos escutasse. O suor fazia nossos corpos se deslizarem com mais facilidade, inverti nossas posições, agora ficando sentada encima dele. Segurei no encosto da cama e comecei a rebolar com vontade. As mãos do seguraram meu quadril e o apertava cada vez mais que eu aumentava o ritmo, ora ou outra subia e segurava meus seios. Joguei a cabeça para trás quando senti que meu clímax estava quase sendo atingindo, fechei os olhos com força mordendo o lábio inferior e franzindo minha testa. passou a mão por entre meus peitos e foi escorregando ela até na minha virilha, depois, subiu novamente e segurou minha nuca, me levantado para baixo e beijando meus lábios. Nos separamos, minha testa encostada na dele, o suor escorrendo por nossos rostos. Fiquei daquele jeito, me mexendo, até que fechei os olhos com força novamente, atingindo meu ponto máximo, mas ainda não tinha gozado ainda. Eu tinha que continuar, dar esse prazer a ele. Usei toda a minha reserva de força e vontade, mantendo meu corpo que estava mole, em movimento constante. Minha motivação era o prazer que corria em seu rosto, isso me fazia seguir. Vai amor, estou aqui para você. Meus pulmões doíam um pouco pela falta de ar neles. Os gemidos de eram maravilhosos, e mesmo que minhas forças estivessem no final, não parei. As mãos dele agarraram com vontade meu quadril, os segurando para parar de se mexer. O corpo dele ficou estático, então o senti gozar. Meus braços não sustentaram mais meu peso, então cai sobre o peito dele, ofegante. Meu coração iria explodir de tanto que batia forte dentro de mim. Estava tremendo por inteira, pensei que daria um treco, ou sei lá. Nunca tinha chegado tanto ao meu limite dessa forma. Uma calma tomou conta quando senti a mão de alisava minhas costas carinhosamente, como um afago gostoso. Escorreguei para me deitar abraçada ao seu lado. Repousei minha cabeça em seu peito, que subia e descia ainda rapidamente, comecei a escutar seu coração era quase como uma música para meus ouvidos, tão acelerado quando o meu. A adrenalina em meu corpo era tanta que eu não conseguia controlar minha tremedeira. Foi tudo tão intenso e bom. A luz do luar entrava pelas grandes janelas de vidro iluminando nossos corpos nus. Não sei por quanto tempo ficamos ali, deitados, só com ele fazendo um carinho em minhas costas. Não conseguia pensar em nada, só no que tinha acabado de acontecer ali, aquela cama, naquele quarto, entre quatro paredes, onde ninguém jamais saberia, a não sermos nós dois. Estava sendo tudo tão perfeito naquele momento que poderia jurar que era sonho. Apesar de estar casada, não estava com sono. Queria ficar o resto da noite ali, abraçada com ele.
– Como sempre, foi perfeita. – a voz rouca de me deu um susto. – Obrigado por me amar tanto. – e mais uma vez o nó se formou em minha garganta. – Estou me perguntando até agora como consegui essa façanha. – e aquilo me fez tremer mais um pouco, não sabia se deveria falar mais alguma coisa em relação aquilo. – Até porque, você foi à menina mais difícil com quem já fiquei.
– Acho que sou um troféu para você. – resmunguei me encolhendo um pouco, essa era a verdade que eu achava.
Ele não respondeu, meio que confirmando o que eu tinha acabado de falar. Então não passava de um brinquedo sexual na mão de , de mais um troféu que ele tinha conquistado com muita luta. Me soltei de seu corpo e me agarrei ao travesseiro gelado e macio, ficando de costas para o idiota que estava deitado comigo. Ele era um grande filho da puta, desgraçado. Seu corpo rolou na cama, e senti seu peito encostando em minhas costas. Sua respiração quente e pesada batia em meu pescoço, e sua mão desenhou minha cintura, até parar em minha barriga. Não me mexi, estava com tanta raiva, que se falasse algo, ou fizesse qualquer movimento, acabaria estapeando aquele energúmeno.
– Por um breve momento, senti como se você fosse à pessoa que eu mais gostava. – disse perto de meu ouvido. – Meus pensamentos só tinham seu nome os circundando. – deu uma pausa pesada. – Até que descobri que ia ser pai, então, essa merda bagunçou tudo. Não sei nem mais quem sou eu. – suas palavras tinham extremo pesar. – Me desculpe se agora não posso te retribuir da maneira que merece, mas ainda gosto muito de quando ficamos. – não consegui mais respirar, as lagrimas escorriam por meus olhos e molhavam a fronha daquele travesseiro fofo.
– Mas o filho nem é seu. – minha voz saiu muito baixa, e um pouco controlada. Não aguentava mais aquilo tudo, e a dor que sentia em meu peito era muito ruim. Senti como se estivesse sido apunhalada pelas costas.
– Não sei, talvez poss... – não permiti que terminasse de falar tal merda.
– Para de ser idiota! – falei me levantando da cama. – Para de me iludir. Para com essa merda toda! – passei a mão em meu rosto o secando, mas outras lágrimas o molharam. – Não sou a vadia da Green, que você transa para afogar suas mágoas! – senti meu pescoço ficar molhado. – Eu te amo, porra! Tem como pelo menos uma vez, você, , parar de pisar no que sinto? Tem como? – meu peito subia e descia violentamente, tentando puxar todo o ar que conseguia. estava me olhando, sem esboçar nenhuma reação. – Que droga! Fala alguma coisa, seu idiota! – joguei o travesseiro em cima dele.
– O que quer que eu diga? – se sentou na cama. – Que eu te amo? Hm? Ok, se é isso que quer tanto escutar, está certo. Eu te amo . – rebateu tão irritado quanto eu, mas tinha ironia e deboche em seu tom de voz. Dei um tapa em sua cara, e ele permaneceu com o rosto virado.
– Escuta, ... – me aproximei, com o dedo apontado para ele. Eu não conseguia mais falar. Me ajoelhei e escorei a cama, ao lado dele. – Eu te amo tanto, que chego a me odiar pro isso. – afundei meu rosto no colchão e gritei, abafando todo o barulho, depois soltei o choro.
Senti as mãos dele seguraram meus ombros, tentando me tirar do chão, mas o afastei, só que não deu certo. me levantou e me deu um abraço apertado. No começo estava me debatendo, mas depois parei, ficando imóvel naqueles braços fortes. Nos deitamos na cama, e ele ficou fazendo um carinho em meus cabelos. A única coisa que dava para ser ouvida naquele maldito quarto era meu choro compulsivo. Aquilo me traria uma bela dor de cabeça na manhã seguinte. Por que ainda estava ali? Era para ele ter ido embora no instante em que lhe dei aquele tapa. Isso me deixava mais confusa do que já estava. Qual era o real sentimento dele por mim afinal de contas? Se fosse mesmo só por sexo, ele teria me deixado ali sozinha, aos prantos, mas ao contrário disso, permaneceu e ainda por cima de tudo, estava tentando me acalmar. Sinceramente, estava cansada demais para pensar naquilo. Meus olhos foram se fechando, então, acabei me entregando a Morféu, nos braços daquele que tanto amava. Seja lá o que o destino esteja preparando para nós dois daqui para frente, isso me causava medo, muito medo, ao ponto de não querer viver o próximo dia.
19. Eu sei do meu fracasso
20 de novembro, quinta-feira.
Você deve estar realmente muito curioso para saber como aquela noite terminou, bem, ela simplesmente não terminou. Por mais escroto que pareça, eu não me importo o quanto goste de mim, e sim, já de gostar só um pouco, e ficar comigo, era mais que suficiente. Isso pareceu um pouco masoquista, mas garanto que era bom. Sei que talvez ele nunca vá me amar da forma como ama a Green, e aquela maldita criança, na qual cisma que é dele. Sei disso tudo, e mesmo assim, eu não ligo. Pode ficar pensando o que quiser aí, que sou uma idiota, e tudo mais, só que são impagáveis os beijos de , nada poderia tirar isso de mim. Sentir aqueles lábios quentes e macios tocando nos meus era maravilhoso, o jeito como me sinto bem quando ele está comigo, a forma como chama meu nome, seus toques em minha pele, o cheiro do seu perfume, fazia tudo ficar perfeito. E era isso. Nós estávamos ficando às escondidas, se pegando sempre quando achávamos alguma brecha. E digo, estava sendo muito divertido e prazeroso. Soltei um suspiro e olhei através do vidro da janela da sala de aula, depois voltei meu olhar para , que estava de cabeça baixa, dormindo, em sua carteira. Aquela aula de história estava mesmo chata, um pé no saco, estávamos no último bimestre do ano, e se não estivesse chegando as provas, sem dúvida eu nem na escola estaria. Meus olhos se guiaram até Rachel e Camille, as amigas de Green, que faziam aquela aula conosco. Ergui uma sobrancelha com a ideia que tive. Rasguei um pedaço da folha de meu caderno e escrevi um bilhete nele.
“Quer me encontrar depois que eu sair da sala?”
Não precisava nem de remetente, ele conhecia minha letra. Amassei o papel e passei para sem que ninguém visse. Ele levantou a cabeça, com a maior cara de sono, e sorriu ao me olhar. Fingi não ter visto, disfarçando, caso alguém esteja nos observando. Fiquei esperando por sua resposta, que não demorou. Seus dedos se entrelaçaram aos meus quando o pequeno pedaço de papel foi passado. Desamassei o bilhete e li o que estava escrito nele.
“Quando vai sair da sala?”
Uma risada quase saiu dos meus lábios, enquanto a ideia se corria em minha cabeça. Coloquei uma mexa de cabelo atrás de minha orelha, e vi que estava com sua cabeça abaixada, me olhando atento. Peguei minha caneta e respondi a sua pergunta.
“Então, não interessa quando, mas assim que eu o fizer, depois de cinco minutos você sai para que ninguém desconfie e me encontra no quinto andar, que agora está vazio.”
Passei o papel para ele, que fez um “ok” com a cabeça. Apalpei meu casaco em busca do meu celular, depois o peguei de dentro de meu bolso. Coloquei o aparelho para começar a tocar, chamando atenção de todos na sala, especialmente do professor Astolfo. Segurei um riso e fingi atender uma suposta ligação. O velho careca parou a aula e cruzou os braços, me olhando completamente indignado. e me olharam desconfiados, mas ignorei por completo os dois.
– O que? Fala de novo. – pedi colocando o dedo no ouvido e aumentando meu tom de voz.
– Senhorita , desligue esse celular, agora!– ordenou, vindo andando até minha mesa.
– Espera aí. – falei e tampei o fone. – Professor, cale a boca, estou tentando falar no celular. A ligação não está boa. – o repreendi, e algumas risadinhas puderam ser ouvidas.
– Senhorita , vá para a diretoria, agora! – apontou para a porta da sala.
– Agora? Não dá para ser quando eu acabar de falar? – perguntei fazendo cara de inocente. O velho começou a ficar meio vermelho. me olhava, segurando a gargalhada.
– Agora! – berrou quase dando um pulo de tanto nervoso.
– Ok, ok, já estou indo. – levantei as mãos, rendida, e me abaixei para pegar minha mochila. Coloquei sua alça no ombro e fui caminhando para sair da sala, mas parei no meio do caminho. – Professor, minha amiga está te mando um beijo. – falei, então dei uma corridinha para dar logo o fora dali.
Subi lentamente as escadas. A minha sala se localizava no segundo andar, então tinha mais alguns para serem subidos. Quando cheguei finalmente no quinto andar, caminhei até o final do corredor, e me encostei na parede, jogando minha mochila no chão ao lado de meu pé. Fiquei mexendo em meu celular enquanto esperava por . Escutei alguns passos, e olhei para ver quem era. Meus olhos se encontraram com aqueles , que eu tanto amava. Ambos sorrimos, e ele veio em minha direção em passos largos e apressados. Continuei parada onde estava. Quando ele parou bem a minha frente, suas mãos seguraram minha cintura e meus lábios foram prensados pelos dele. Segurei os cabelos de sua nuca, quando senti sua língua passando por entre meus lábios e entrando em minha boca, desvendando como sempre cada canto dela. Apertei seu ombro, depois desci, segurando seu casaco com força, o puxando para mais perto.
– Você não presta. – disse entre o beijo, e depois um sorriso apareceu em meus lábios. Mordi seu queixo.
– Nunca prestei, não vai ser agora que vou prestar. – murmurei, descendo os beijos até seu pescoço. – Eu sei que você adora esse meu jeitinho. – mordisquei sua pele, que se arrepiou com aquilo.
– Green está começando a desconfiar de algo. – sussurrou com sua voz rouca. Aquilo me fez parar.
– O que vamos fazer? Não nos vermos mais? Fingir uma briga? Não nos falarmos por quanto tempo? – mordi seu lábio inferior, o provocando. Não estava mesmo falando sério.
– Se for necessário… Sim. Podemos forjar uma briga no refeitório. – disse antes de me beijar, mas me esquivei. Ele tinha mesmo concordado com tal absurdo?
Fiquei o encarando sem acreditar muito no que tinha acabado de ouvir. O afastei de mim, lentamente, o empurrando pelo peito. Comecei a andar pelo corredor, tentando pensar em algo que não fosse uma briga, ora ou outra, encarava . Ele meio que me seguia. Até que parei a sua frente, no meio do corredor, e o olhei de um jeito desafiador, já seus olhos , me examinavam de cima, fixos nos meus.
– O único jeito de forjarmos uma briga, é você me irritando de verdade, sem ser nada fingido. – umedeci meus lábios antes de continuar. – Diz que não gosta de mim, que estamos juntos apenas porque você sente desejo pelos meus toques, pelos meus beijos. – me aproximei mais de seu rosto. – Diga , diga que não quer mais ficar comigo! Diga! Diga, agora! – aumentei meu tom de voz. E o empurrei pelos peitos para ver se ele se irritava.
parou de respirar por alguns segundos, aqueles olhos me encaravam completamente desconfiados. Estreitei os meus, e me aproximei mais uma vez, ficando a centímetros de sua boca. Passei meus lábios de leve nos dele.
– Anda, . – o provoquei, intercalando o olhar entre seus lábios e olhos. – Se não consegue falar que não quer mais ficar comigo, admita o que sente de verdade...
Não pude terminar a frase, pois os lábios de me calaram repentinamente. Meus braços envolveram seu pescoço, o puxando para mais perto, e os dele, envolveram meu corpo, me apertando contra o dele. O beijo foi urgente e intenso. Um empurrou o outro, quando escutamos uma voz um tanto quanto familiar.
– ! Seu cretino! – Green gritou, e depois saiu correndo.
– Droga. – falou antes de sair atrás dela.
Corri atrás dos dois. Green estava bem na frente, mas tinha a vantagem de correr mais rápido por ser do time de futebol, logo alcançando sua namorada, que chegava às escadas. Ele tentou segurar o braço dela, mas a mesma o puxou.
– Não se atreva a me tocar com essas mãos! – ela olhava para com seu rosto molhado por lágrimas.
Foi tudo muito rápido. tentou mais uma vez segurá-la, mas ela o empurrou, causando seu desequilíbrio, indo para trás, e batendo com seu quadril contra o corrimão da escadaria. Depois disso, só vi as pernas finas de Green indo para o alto e seu corpo despencar pelo vão, descendo cinco andares abaixo em queda livre. se impulsionou para frente, tentando segurar a menina, mas cheguei a tempo para agarrar sua cintura, e não deixar que ele caísse também.
– Não! – gritou ele se debruçando ainda mais sobre peitoril.
Merda! Olhei para baixo, vendo o corpo de Green estatelado no chão com uma poça de sangue se formando rapidamente ao redor dela. Engoli em seco, aquela cena era meio difícil de encarar. Puxei para trás. Ele então começou a descer as escadas correndo, fui atrás, pulando os degraus, para chegar o mais rápido possível no térreo. Meus pensamentos não eram coerentes. Que porra tinha acabado de acontecer? Como iríamos explicar aquilo tudo? Estávamos muito fudidos. Quando chegamos ao final, já tinha uma roda de pessoas em volta do corpo, saímos empurrando elas, para que nos aproximar da menina que eu tinha quase certeza que estava morta.
– Green! – se ajoelhou ao lado dela.
Me abaixei ao lado dele, e chequei se ela tinha algum batimento cardíaco. Nada, sem nenhuma pulsação. Morta. Uma lágrima fugiu de meus olhos. pegou a menina, se sujando inteiro, ele chorava desesperado e às vezes até soltava uns gritos.
– , não encosta no corpo. – falei, tentando fazer com que ele pelo menos se levantasse e saísse dali.
– Me deixa! – disse nervoso, tentando em afastar dele.
Fiquei ali parada sem saber o que fazer ou o que falar. estava abraçado com o corpo sem vida da Green e chorava muito. Quem iria pensar que isso tudo ia acabar nisso, causando a morte de alguém. Passei dos limites dessa vez. Saí correndo e fui para a casa em ruínas que tinha na mata atrás da escola. Corri por entre as árvores e arbustos, alguns galhinhos ainda arranhavam meu rosto, mas não me importei. Sentia que tinha que fugir daquilo tudo. Parei apenas quando cheguei na frente da pequena construção, e me sentei nos degraus sujos.
21 de novembro, sexta-feira.
Era estranho até para mim mesma estar de luto por alguém que não tinha o mínimo de afeto, na verdade não sabia se era luto por ela, ou por que tinha perdido alguém. A noite foi mais difícil do que o esperado, sem conseguir pregar os olhos e olhando todo o momento para o celular, na esperança que retornasse alguma de minhas ligações, ou sms’s. Quando dei conta, a noite já virava dia, iluminando o céu escuro e sombrio. Não haveria aula por causa do acontecido de ontem, e eu realmente não sabia muito bem o que fazer, já que o enterro de Green seria hoje à tarde, portanto o velório estava sendo agora pela manhã. A questão era; ir até lá ou não. Apesar de tudo, ela era minha colega de classe, mesmo nós duas nos odiando, e tinha o , ele estaria lá e quem sabe, talvez, precisasse de um abraço, um abraço meu. Reuni toda a minha coragem e tirei as cobertas de cima de meu corpo quente, usando todas as minhas forças que restava para levantar daquela cama. Cacei uma roupa no armário, e vesti algo que fosse preto e confortável. Saí de meu quarto e desci as escadas sem fazer barulho para não acordar ninguém, bem, eu estava em casa sozinha, meu pai tinha ido trabalhar e Josh estava na escola. Revirei os olhos, é isso que dá ficar mais de vinte e quatro horas acordada, sua cabeça começa a te confundir. Por várias vezes enquanto preparava meu lanche, parei no meio da cozinha sem saber o que ia fazer logo em seguida, que era pegar a geleia na geladeira, ou até mesmo minha caneca no armário. Quando terminei, lavei a louça, e fui escovar meus dentes. Peguei meus óculos de sol para esconder um pouco minhas enormes bolsas roxas que envolviam meus olhos, além do sol fraco e frio de outono que estava do lado de fora que com certeza ofuscaria, e faria doer minhas vistas. Sentei nos degraus da varanda de casa e esperei por Alex, já que ele se prontificou em me acompanhar. Logo sua Ferrari vermelha apareceu na rua dando duas buzinadas, seu vidro fumê abaixou e ele sorriu em minha direção. Levantei, dando um meio sorriso sem muita vontade e passando a mão em minhas calças para limpá-las. Caminhei até o carro e entrei pelo lado do carona.
– Como está? – perguntou como sempre de forma gentil, tentando me fazer sentir melhor.
– Nunca pensei que ficaria mal com a morte dela, para falar a verdade, não sei mesmo o que estou sentindo. – confessei olhando pelo vidro. – É tudo muito estranho.
– Não fiquei assim, disse que vai nos encontrar lá. – passou a mão em meus cabelos, me virei para olhá-lo, então ele deu um beijo em minha testa. – Vai ficar tudo bem. – sorriu amigavelmente.
– Valeu por me acompanhar, eu não teria coragem de aparecer lá sozinha. – agradeci tentando parecer um pouco melhor do que estava.
– Você sabe que pode contar comigo sempre. Não te deixaria na mão. – apertou a ponta de meu nariz.
Dei um sorriso fraco, e voltei a olhar pela janela. Alex arrancou com o carro, sem fazer nenhuma manobra brusca. O rádio estava ligado, baixinho, deixando um som ambiente agradável, no qual não era preciso ter palavras entre nós dois para que ficássemos confortáveis. Queria mesmo saber como estava me sentindo. Essa era a questão. Seria muito cruel ficar feliz pela morte de alguém, mesmo que essa pessoa não fosse boa, e muito menos merecesse o seu respeito diante de tudo que lhe causou? Sem dúvidas essa pergunta não teria uma resposta fácil, mas sim, estava feliz por aquela vadia ter saído de nossos caminhos, e dessa vez para sempre. Bem, “sempre” tem o mesmo peso de “nunca”, ambas as palavras tinham um sentido de infinito, e nessa vida nada dura o suficiente para que elas sejam ditas com tanta convicção. Então, retiro esse “sempre”, pois pode haver muito bem outra pessoa que pode entrar em nossos caminhos para nos afastar um do outro. Senti a mão de Alex tocando meu ombro, e foi aí que percebi que tínhamos chegado à funerária. Saí do carro e vi , com os outros nos esperando, mas não estava junto deles. Caminhamos até eles, e entramos no local. As pessoas nos olhavam, e alguma delas eram do colégio que estava lá, pareciam que me matariam só com o olhar, claro, essas eram as amigas da Green. Sei que não deveria estar ali, e muito menos estar querendo tripudiar sobre o caixão, mas era inevitável. Vi encostado na parede com a cabeça baixa, me aproximei e parei à sua frente. Ele ergueu seu rosto até mantermos contato visual, bem, pelo menos eu, já que meus óculos de sol impediam dele ver meus olhos.
– Como você está? – perguntei baixinho, não estava com vontade de chamar mais atenção do que já estava chamando.
– Ainda pergunta? Acabei de perder minha mulher e meu filho! – se desencostou da parede, chegando mais perto de meu corpo. – Quer que eu esteja como? – seu rosto estava muito próximo do meu. – Comemorando? – disse com extremo deboche e com acidez na voz. – Não sou você. – praticamente berrou bem dentro da minha cara.
– Acha que estou feliz porquê tudo isso aconteceu? – agora eu agia na evasiva, pronta para começar a brigar com ele.
– Lamentando que não está! – o afastei um pouco empurrando seu peito para trás, fazendo que ele pelo menos recuasse um passo. De todo o caso, não estava morrendo de felicidade, e nem de tristeza. Só sentia aquele sentimento de que mais uma ameaça havia sido eliminada.
– Tem razão. – sussurrei como se estivesse contando um segredo. – Mas , acho que você não conhece muito bem as pessoas que te cercam. – voltei meu tom de voz normal. Sentia como se minha língua fosse cortada no meio, e que o veneno escorresse pelos cantos de minha boca. – Especialmente a Green e seu pai. – as pessoas começavam a prestar mais atenção em nós dois, e naquela briga. – Eles tinham um caso. – falei aquilo abrindo os braços e rindo. – Seu idiota! Aquela criança não era sua, e sim, do seu... – me acertou com tanta força o que me fez cair no chão e que meus óculos saíssem de meu rosto.
– Cale a boca! Não vou deixar o nome dela andar na sua boca dessa maneira! – ele praticamente espumava de ódio, enquanto eu começava a gargalhar, ainda no chão.
e Alexander correram até mim, e me ajudaram a levantar. Um gosto de sangue surgia em minha boca, e logo ele já escorria pelo canto dela, sujando meu rosto. E dá-lhe barraco! Que se dane, decidi chutar o pau da barraca com toda a força. Uma roda ao nosso redor começou a ser formada, olhos atentos esperava por minha resposta.
– O que está acontecendo? – Alex perguntou preocupado, e limpando meu queixo.
Olhei para , que parecia com mais raiva que antes.
– , você é um otário mesmo! – falei rindo, gargalhando, tirando o cabelo de meu rosto. – A Green te traia com seu próprio pai! Seu corno! – cuspi as palavras me aproximando dele. – E aquele filho não era seu. – minha voz era em um tom explicativo, como se estivesse dizendo a uma criança que o coelhinho da páscoa não existia. – A única quem realmente ficou grávida de você aqui, fui eu! – pude ouvir expressões de surpresas de várias pessoas, e um buchicho começar a correr.
– Já mandei você calar a boca, garota! – tentou avançar para cima de mim, mas , Lais e Perez o seguraram como se ele fosse um touro em fúria. – Senão, eu mesmo vou calar.
– Anda, vem calar. – afrontei, cutucando a onça com vara curta. Serrei os olhos, e fechei minha mão em um punho, acertando ela com toda a minha força no rosto dele. – Seu babaca, isso é pelo tapa que me deu, e para aprender que nunca se deve levantar a mão para uma mulher. – quando fui lhe dar outro soco, alguém me puxou para trás, então cuspi meu sangue na cara dele. – Nos vemos no inferno, ! – me debati irritada, tentando me soltar.
– Vamos embora. – era quem me segurava. – Chega de vexame. – ele estava irritado. – Se soubesse que isso aconteceria, nem tinha te deixado vir. – eu estava sendo arrastada para fora. – Você e o são simplesmente bombas-relógio, não podem ficar juntos que acabam explodindo. – todo mundo nos olhava, e aquilo me incomodava.
– O que foi? Estão olhando o que? Bando de otários! – disse claramente descontrolada. – Que Droga, me larga! – tentei puxar meu braço, mas Alex logo segurou o outro, me escoltando.
– , chega. – pediu ele.
Chegamos do lado de fora, caminhei até o carro e me encostei na lataria, cruzando os braços. O sol doía meus olhos, então puxei o capuz do casaco para tampar os raios. Alexander segurou a ponta de meu queixo levantando meu rosto e o virando. Certamente deveria estar vermelho onde tinha batido, pois estava doendo. Senti seu olhar sobre o local da batida, e depois seu polegar passou no canto do meu lábio inferior, no qual saiu vermelho. Vi Alan andando apressado e nervoso na nossa direção. que estava parado ao meu lado entrou na minha frente, já na defensiva, coloquei a mão em seu ombro, mostrando que estava tudo bem.
– O que quer? – perguntei me desencostando do carro, e passando a frente de meu amigo. – Nem tente me ameaçar, pois sou capaz de voar em cima de você sem pensar duas vezes.
– De novo não. – disse Alex bufando, tirando as chaves de sua Ferrari do bolso. – Vamos embora. – me empurrou para dentro do carro.
– Até parece que tenho medo de uma garotinha patética! – Alan falou e parou em uma distância razoável. – Você não podia ter dito aquilo tudo lá dentro! Tem noção da forma como acabou de expor minha família?
– Foda-se a sua família de merda! – rebati, mas fui enfiada dentro do veículo vermelho.
– Dá para parar de brigar com todo mundo? – Alex me repreendeu, fechando a porta para que eu parasse com aquilo.
Fiquei olhando através do vidro fumê Alan se distanciando. Probabilidade de eu e o ficarmos juntos depois dessa; zero!
23 de dezembro, quarta-feira.
Se passaram as provas finais, e a escola não tinha outro assunto que não fosse o nosso triângulo amoroso. Se antes já me olhavam nos corredores como se eu fosse uma leprosa, agora tinha ficado muito pior, mas nada que eu não já estivesse acostumada, o que importava era que meus amigos continuavam comigo. Não estava mais com raiva do pelo o ocorrido do velório. Ele estava furioso e o provoquei. Se estivesse em seu lugar teria feito o mesmo, não tiro sua razão. Embora depois disso nem se quer olhava para minha cara, estava. Admito que sinto sua falta, mas não estava mal por aquilo tudo, e nem me arrependia, se pudesse faria tudo novamente, do mesmo jeito. Não iria correr atrás dele, já cansei de me rastejar atrás de alguém que não me ama, pois essa era a realidade, aquele cara não sentia a metade do que sinto por ele, mas essa é a vida, né? Acho que dessa vez consegui abrir mesmo os olhos e encarar a verdade de frente. Não valia mesmo a pena.
No exato momento estava caminhando pela madrugada no meio da cidade, deveria ser duas da manhã, ou algo assim. Tinha acabado de nevar, as calçadas e prédios tinham gelo ao redor. Algo me chamou atenção, um menino de touca, fumando seu cigarro tranquilamente na dele vendo as pessoas passarem, sim, tinha pessoas na rua além de os dois. Ele estava sentado nos degraus de uma escada à frente de um prédio. Tinha alguns adolescentes ali perto, escutando música, conversando e bebendo. Não sei por quê, mas me aproximei e foi aí que o reconheci. O que o estava fazendo ali e ainda mais a essa hora? Ergui uma sobrancelha achando aquilo a coisa mais bizarra do mundo, era para ele estar em casa, ou em alguma festa.
– ? – chamei e o dito cujo olhou para cima me encarando.
– Oi. – foi apenas isso que respondeu, voltando olhar as pessoas infelizes que passavam e logo após me ignorando por completa.
– O que está fazendo aqui? – perguntei tirando o cigarro de seus dedos, e dando uma longa tragada.
– Importa? – falou sem se quer olhar para mim. Devolvi o rolinho branco a ele.
– Sinceramente, não sei por quê ainda perco meu tempo de vir falar contigo! – me virei para ir embora e continuar minha caminhada.
– Qual é? Você adora perder seu tempo comigo, especialmente quando transamos. – dei um giro de trinta graus, e o olhei. Agora sim o infeliz me olhou com um sorriso fujo nos lábios.
era realmente o cara mais babaca que conheci em toda a minha vida, nem o Jared que era um traficante se rebaixava à esse nível deplorável. Mas ele deveria no mínimo estar bêbado, ou talvez não, quem sabe. Aquilo era ridículo, tinha que ir embora.
– É , quem sabe, em um passado distante isso pode ter acontecido. – um meio sorriso se surgiu em meus lábios, então abaixei, ficando da sua altura. – Mas saiba, que se isso voltar a acontecer, você pode me internar no primeiro hospício que encontrar. – levantei, o olhando de cima.
– Claro, farei isso pessoalmente. – jogou a fumaça praticamente na minha cara. – Hm, não quer entrar e dar uma rapidinha? – apontou para a porta do prédio. Ele morava ali?
– Vá se ferrar. – bati no cigarro em sua boca, fazendo o mesmo cair no chão.
– Pow, vai ficar desperdiçando o negócio? – ele me olhou já com raiva, e o pegou ainda aceso.
– Você é um babaca. – grunhi e sai andando.
– Garota, vai implicar com outro. Vê se me erra. – o escutei falar, enquanto eu andava para longe, pegando uma rua deserta.
Senti alguém segurar meu braço, e eu já estava pronta para xingar ele, que provavelmente deveria ser . Me virei tentando me libertar, mas não consegui de forma alguma.
– Finalmente te encontrei! – reconheci a voz, mas não me lembrava exatamente de onde, então ergui o olhar até encontrar aquele rosto. – Pensou que iria fugir de mim?! – era Jack Armstreng! Lá vamos nós novamente...
I think I lost my way
Getting good at starting over
Everytime that I return
Epílogo - De volta ao começo.
’s POV
Minha cabeça doía por causa da ressaca, e tudo o que eu desejava era dormir até cansar. Mas isso não era possível, pois meu celular começou a tocar. Levantei a cabeça do travesseiro e esfreguei os olhos, depois os estreitei, tentando enxergar que horas eram, sete da manhã ou alguma coisa assim. Não vi quem estava me ligando, só bati com a mão sobre o aparelho, que caiu no chão e logo depois parou de tocar. Virei para o outro lado e tentei voltar a dormir, só que pelo visto seria impossível, já que o telefone de casa começou a tocar também. Que inferno! Escutei minha mãe atender a ligação e logo depois vir me chamar, falando que era para mim. Fingi estar dormindo ainda, mas ela bateu na porta e entrou.
– , atenda ao telefone. Parece ser importante. – pediu minha mãe com uma voz sonolenta, com o aparelho sem fio em mãos.
– Quem é? – perguntei com o rosto enfiado no travesseiro.
– . – ao escutar o nome, bufei de irritação.
– Diz que estou dormindo. – agora puxei a coberta para que tampasse minha cabeça. – Fecha a porta na hora que sair. – pedi.
– Está bem. – ela se retirou, enquanto falava ao telefone que eu estava dormindo, pedindo que ligasse mais tarde.
Por fim, achei que conseguiria descansar em paz, mas logo recebi um SMS. Peguei meu celular que estava no chão e li a mensagem.
“Que merda! Atenda essa porra de telefone. #”
Respirei fundo, então retornei a ligação, que foi atendida logo no primeiro toque.
– Puta que pariu, ! O que você quer? – perguntei com extrema ignorância.
– , me diz que a está com você?! – ele parecia nervoso, ignorando completamente meu nervosismo por ter me acordado.
– Está me ligando para perguntar dela? – rebati mais irritado ainda. – É claro que não!
– Droga. – sua aflição aumentou. – Valeu. Tchau. – encerrou a ligação na minha cara.
O que essa surtada aprontou dessa vez? Deitei-me novamente e tentei dormir. Porra! Depois dessa não consegui nem fechar os olhos por um minuto sem pensar em , e onde ela deveria estar. Levantei puto da vida com aquela merda, tomei um banho, me vesti e saí sem nem ao menos tomar café da manhã, quem sabe, compraria algo em alguma confeitaria. Passei a mão em meus cabelos molhados na tentativa de secá-los um pouco e coloquei o capuz do casaco. Entrei em meu carro e fui para a casa de . Estacionei na frente da residência. Saltei de minha Mercedes e caminhei apressado até a porta de entrada, tocando a campainha umas três vezes seguidas para que eu fosse atendido logo. Judith, a governanta, atendeu a porta, então entrei. Deb apareceu no hall, vestindo um roupão de algodão rosa.
– , querido. – sorriu ao me ver. – Está sumido. Como tem andado? Soube da sua namorada, meus pêsames. – não fiz uma cara muito boa quando Deb citou o ocorrido com a Green.
– Obrigado. – tentei não ser mal educado. – Sabe, vou indo. Ainda sinto falta dela. – coloquei as mãos dentro do bolso do meu casaco. – O está?
– Não querido, ele saiu cedo com Alex. Parece-me que aconteceu alguma coisa com aquela amiga dele, a . – não pude controlar o nervosismo que senti ao escutar que algo poderia ter acontecido mesmo.
– Sabe para onde eles foram? – tentei pensar onde eles poderiam estar, mas a minha dor de cabeça não me deixou raciocinar muito bem.
– Não. – Deb fez uma cara triste. – Tente ligar para , mas caso ele volte para casa logo, eu digo que você esteve aqui.
– Ok, valeu. Vou ver se consigo encontrá-los. – já fui dando uns passos para trás, para sair dali e ligar para aquele viado.
– Boa sorte. – sorriu e me acompanhou até a porta. – Tchau, querido. – acenou.
– Tchau, Deb. – disse, já entrando no carro.
Tinha alguma coisa de muito errada acontecendo para o ter saído a essa hora da manhã, ainda mais junto com Alex e envolvia no meio. Peguei meu celular, que estava jogado no banco do carona, e liguei para ele, que dessa vez, demorou bastante para atender, e aquilo foi me deixando cada vez mais puto.
– Porra! Que demora! – reclamei. – Onde você está? – perguntei, já dando partida e saindo pelo portão da casa dos .
– Na casa da . – respondeu, como se aquilo fosse óbvio.
– Estou indo aí. – encerrei a ligação.
Dirigi correndo até o apartamento de , sem me importar de ultrapassar o limite de velocidade ou passar alguns sinais vermelhos. Assim que cheguei, procurei uma vaga próxima para estacionar, mas não encontrei, então parei em cima da calçada mesmo e fui andando apressado até o prédio. Toquei o interfone, já tinha ido ali algumas vezes com . Ninguém atendeu, então voltei a ligar para aquele viado, que tinha me dito que estava ali.
– Tem como abrir a merda da porta? – falei, já pegando o maço de cigarros dentro do bolso do casaco e colocando um na boca.
– Cara, onde você está? Não vejo seu carro. – revirei os olhos. Depois eu quem era o lerdo da parada.
– Na frente do prédio! – dei uma tragada e soltei a fumaça.
– Ela não mora mais aí! – me passou o novo endereço. – O que você quer vindo até aqui? – pelo que me pareceu, ele não estava gostando da ideia de eu ir até lá.
– Saber o que está acontecendo. – falei irritado.
– Está preocupado agora? , não tem nada no que você possa ajudar. – ultimamente, nós dois estávamos brigando pra caralho por causa da , e não seria agora que isso ficaria diferente, mas eu estava querendo saber o que estava pegando.
– Tchau, . – desliguei na cara dele antes de mandar ele se fuder.
Não é que eu esteja mesmo preocupado com ela, mas do nada o me liga perguntando se a maluca estava comigo. Quer dizer então que sumiu sem dar noticias. Certo, vou reconhecer que estava morrendo de vontade de saber para onde ela tinha ido, mas não ia admitir isso tão facilmente. Entrei no carro e fui para o endereço que me indicou. Estacionei rente à calçada e caminhei até a casa amarela do outro lado da rua. Chegando lá, toquei a campainha. Dei a última tragada e joguei o cigarro fora. Peter abriu a porta e me pareceu meio surpreso ao me ver.
– , entre. – deu passagem para que eu entrasse.
, Alex e estavam sentados no sofá conversando e quando me viram ficaram quietos, me encarando como se eu fosse um estranho.
– Você ainda tem a cara de pau de vir até aqui? – Alex se levantou todo irritado e veio andando em minha direção.
Esse cara é um mala! Ainda não sei como namorou com isso, comparado a mim, ele não era nada. O maluco era magrelo, um saco de ossos. Duvido que ele a fez gemer como eu fiz.
– Não te devo satisfações, vim falar com o . – desviei o olhar para ele, que me olhava todo irritado. – Pode ser? – perguntei com ignorância.
se levantou e fomos para fora.
– Por que você me ligou às sete da manhã, perguntando da ? – encostei-me ao parapeito da varanda e cruzei meus braços.
– , na boa, vai embora. – virou a cara. – Esquece que te liguei.
– Qual é, !? Fala logo! – aquele cú doce estava me irritando demais.
– Se eu te falar vai fazer diferença? – agora ele me olhou com extrema indiferença. – , você nunca deu a mínima pra a garota, viveu iludindo ela com algo que nunca existiu. Agora vem querer saber o que está acontecendo?
Respirei fundo. O pior de tudo era que ele tinha razão. Vi a porta se abrindo, e olhei para ver quem era o desgraçado que não podia esperar nem ao menos um minuto para que eu terminasse minha conversa com . Era Alex, que nos olhou com aquela cara de bunda. Sério, qual era a desse cara?
– Se vim aqui é porque estou preocupado. – respondi, apenas para que falasse logo o que estava pegando.
– Preocupado? – agora Alex se aproximou. – Repete, acho que não escutei direito.
– Cala boca, não falei contigo. – rebati sem nem olhar para ele.
O moleque veio para cima de mim, e antes que eu percebesse levei um murro na cara. O gosto de sangue veio na minha boca, não pensei duas vezes antes de revidar. Já estava querendo porrar aquele cara desde o dia que o vi agarrando a minha garota, só me faltava um motivo. Dei um soco em seu rosto, sentindo meu anel pegar bem em cheio no supercílio dele. Começamos a brigar feio, eu ia arregaçar esse sujeito escroto! Quem ele pensa que é para falar daquele jeito comigo, e ainda mais achar que era propriedade dele? O segurei pela camisa e o joguei contra a porta, que abriu quando ele bateu nela. Fui para cima assim que ele caiu no chão, mas logo e Peter me seguraram, impedindo que eu socasse a cara daquele moleque até escutar os ossos da minha mão quebrando. segurou Alex para que não revidasse.
– Se vieram aqui para brigar, dispenso a ajuda de vocês. – disse Peter nervoso, olhando para ambos. – Minha filha desapareceu e o que menos preciso agora é mais uma preocupação. – eu estava ofegante. E ainda queria socar mais aquele moleque que me olhava com ódio, apenas retribuí o olhar.
– Desculpe. – pediu Alex, passando a mão em seu rosto, onde tinha sangue escorrendo. – Licença, vou me limpar. – tentei ir atrás dele, mas não deixou.
– Me solte porra. – puxei meu casaco tentando me soltar, mas só fui libertado quando Alex já tinha sumido de vista. – Quanto tempo faz que ela sumiu? – perguntei um pouco mais calmo dessa vez.
– Desde ontem. Ela saiu para correr eram umas nove da noite e não voltou mais. – disse, sentando-se no sofá.
– Eu a vi eram umas duas da manhã, perto do parque, no centro. – informei, me lembrando do nosso encontro.
– Você falou com ela? – Peter perguntou esperançoso.
– Mais ou menos. – na verdade, nós brigamos mais do que conversamos. – Ela não atende o celular?
– Atende, disse que ia andando até a Califórnia a pé. – Alex debochou, voltando a entrar na sala. – É claro que não! Se atendesse não estaríamos aqui preocupados ligando para Deus e o mundo procurando por ela!
– Já disse que não estou falando contigo. – apontei para ele, doido para voltar a socá-lo.
– Meninos. – Peter nos repreendeu, enquanto ficava calado apenas olhando para a minha cara.
Ficamos o dia todo procurando por , e todos que nos conheciam, mesmo não gostando dela, estavam nos ajudando. Laís e Perez apareceram com várias cópias de fotos para facilitar nossa procura, mas ninguém tinha visto aquela maluca por lugar nenhum. O que me deixava mais puto era que não podíamos ir à polícia antes de vinte e quatro horas de desaparecimento. Ela sumiu e isso já é o suficiente para acionar até as forças armadas. não era de fazer isso, o que queria dizer que tinha alguma coisa mesmo acontecendo, e pelo menos nisso os caras concordavam comigo. Que merda! Onde essa garota está? Passei minhas mãos em meus cabelos, cansado até mesmo para pensar. Joguei-me no sofá da casa dos , aquela situação estava me deixando nervoso. Fechei os olhos e tentei pela última vez imaginar onde poderia estar.
– Acho que já sei! – abri os olhos e levantei apressado, atraindo a atenção de todos.
– Aonde você vai, ? – veio atrás me perguntando e colocando seu casaco.
– Tem um lugar onde ela costuma ficar quando está tentando se esconder. Não demoro. – abri a porta e olhei no relógio, já era oito da noite. – Não precisa ir comigo. – falei ao ver me seguindo, ele ficou me encarando e desistiu, voltando para dentro da casa quente.
Entrei em meu carro e fui para a escola. Estava fechada, como já imaginava. Estacionei perto do muro lateral, subi em cima do carro e pulei para dentro do colégio. Corri, cruzando a quadra escura, o pátio, prédios, até chegar à mata. Peguei meu celular para iluminar meu caminho. A trilha estava bem fechada comparada a última vez que estive ali, atrás de . Devo ter me perdido algumas vezes, já que demorei mais do que deveria para chegar à casa em ruínas, onde não encontrei nada, nenhum vestígio ou sinal dela. Sentei nos degraus e encostei a cabeça na pilastra rachada. Estava cansado, esgotado. Só queria ter a encontrado e lhe abraçado forte, e depois brigar com ela por ter sumido dessa forma.
– Não posso te perder. Não agora. – sussurrei comigo mesmo.
Apesar de eu ter mentido para em todos os momentos em que ficamos juntos. Sentia saudades de ouvir sua voz, do gosto de sua boca, o cheiro de seu perfume que era tão exótico, de como sua pele era macia, quentinha e gostosa de ser tocada. Tirando todo aquele jeitão todo bruto, ela era uma menina doce. Conheci uma que poucos conheceram, algumas vezes em que estávamos só nós dois, em momentos que ela deixava tudo de lado para me mostrar quem realmente era. me amava e eu era um merda que nunca a mereci. Chega! Levantei e voltei para a casa dela.
Uma semana se passou, e ela foi a mais longa e torturante que já tive. Cada hora parecia um abismo sem fim, o que doía cada vez mais, pois não sabíamos mais se a encontraríamos. O desaparecimento da estava preocupando até a polícia. Sem pistas e rastros. Parecia um sequestro, só que ninguém havia ligado pedindo resgate e nem nada. Pensaram na hipótese de tráfico de pessoas, ou até mesmo órgãos, o que deixava a todos mais apavorados do que já estávamos. , , Alex e eu revezávamos os plantões na casa dos para que Peter fosse trabalhar, e tomávamos conta de Josh. O molequinho até que era maneiro. Quando eu tomava conta dele, passávamos as tardes comendo besteira e jogando vídeo game. Hoje, no sábado, estávamos reunidos, mas e tinham saído para comprar alguma coisa para comermos, só restando eu e Alexander, até que a campainha tocou. Olhamos-nos e levantamos juntos. Fomos correndo para a porta, mas Alex chegou primeiro por estar mais perto. Juro que qualquer hora vou dar outro soco nesse cara. Ele abriu a porta, e fiquei meio que “surpreso” com quem estava de pé ali.
– ? – era só o que me faltava, mais um para me tirar a paciência.
– Não diga que está surpreso, porque também estou te vendo aí. A está? – perguntou ele parado, tentando olhar por cima dos nossos ombros.
– Não. – respondi com grosseria.
– Sabe se ela demora? – passei à frente do babaca e já ia fechando a porta, mas a segurou.
– Ela desapareceu. – Alex disse atrás de mim, e o olhei com uma vontade de arrebentá-lo por isso. Se eu não falei nada, quer dizer que não queria que ele soubesse de nada!
– Como assim? – perguntou, entrando agora.
– Desapareceu, sumiu, evaporou do mapa, não entendeu ou quer que eu desenhe? – disse bufando, e querendo colocar ele para fora. – Agora que já sabe que ela não está, já pode ir. – o empurrei pelo ombro para fora, e bati a porta em sua cara.
Alex passou por mim e abriu a porta.
– Me desculpe pela grosseria. – ele só podia ser um baitola! – Entre. – convidou a entrar.
– Ah sim, Obrigado. Já conheço o sujeito. – Me olhou atravessado.
Fui para a cozinha beber um pouco de café. Acho que se ficasse com aqueles dois na sala, acabaria cometendo um assassinato. Sentei-me à mesa com uma caneca de café bem forte em mãos. O relógio que ficava acima da geladeira, marcava sete da noite. Josh estava em seu quarto vendo desenho. Ele era uma criança boa, nem nos dava trabalho. entrou pela porta da cozinha tirando o casaco sujo de neve, com logo atrás.
– Quem está na sala com o Alex? – foi a primeira coisa que perguntou ao escutar uma voz diferente.
– Olhe e veja você mesmo, porque até agora não estou acreditando. – dei um gole no café.
chegou na porta e olhou, unindo as sobrancelhas sem entender porra nenhuma.
– O que esse cara está fazendo aqui? – perguntou puto da vida, apontando para a sala.
– Você quer que eu saiba? Estou me fazendo a mesma pergunta. Já que sou o grosso da historia, por que você não vai lá e expulsa ele? Já fiz isso, mas seu primo trouxe de volta. – quase quebrei a caneca, a socando sobre a mesa de madeira. nem falava nada, apenas tirava as coisas da sacola de mercado.
– Alex não o conhece. – foi até a sala para ver o que estava rolando. – ? O que está fazendo aqui?
Não pude deixar de escutar a conversa.
– ! Vim visitar a . – me pareceu animado.
– Ah sim, visitar. Não sei por que, mas ela disse que vocês brigaram e não queria te ver nem pintado de ouro. – agora a parada estava começando a ficar interessante.
– Vim fazer as pazes com ela. – respondeu rapidamente.
– Diz logo o que você veio fazer aqui! – falou meio nervoso.
Levantei e fui lá ver. Fiquei de pé na porta, encostado ao batente de braços cruzados.
– Ok, ok. – uni as sobrancelhas achando aquilo estranho. – Eu já sabia que ela tinha sumido, e sei quem a pegou. – olhei sério para ele. Nossa, foi tão fácil assim? Pensei que ele iria nos enrolar mais um pouco para dizer o verdadeiro motivo de estar ali.
– Então diz logo! – fui andando em sua direção, pronto para esmurrar a cara daquele desgraçado. Ele sabia e não falou nada antes!
– Não é bem assim. – colocou as mãos no bolso de seu casaco. – Tem muita coisa envolvida nisso, e não posso ir até a delegacia, tem gente me vigiando. – o agarrei pelo colarinho, mas os meninos já interviram. – Porra, ! Estou tentando ajudar, era tão minha amiga quanto é de vocês! – disse arrumando sua roupa. – Se souberem que estou aqui, vão me matar. Você não está entendendo a gravidade da situação! – todos nós olhávamos para . – Quem está à frente da investigação?
– O delegado Harris. – respondeu , que parecia estar mais calmo que todos nós.
– Já imaginava que fosse ele. – respirou fundo e olhou pela janela. – Droga. – tinha algo lá fora. Ele saiu andando apressado, pegou a caneta que estava sobre a mesinha de telefone e escreveu alguma coisa no bloco de anotações que estava ali também. – Esse é o único jeito de eu ajudar vocês. – entregou o papel para . – Sejam rápidos, eles pretendem matá-la! Tchau.
Acho que não escutei direito. Ele disse matar a ? Não deu tempo de eu falar nada, pois saiu andando em direção da porta pela qual entrou. Mas assim que a abriu, um barulho estranho foi escutado, então ele caiu de costas no chão, completamente inerte.
– Puta que pariu! – corri até lá, mas algo me acertou de raspão no braço.
Joguei-me no chão e empurrei a porta com o pé, a fechando. Arrastei-me para trás da parede. Seja quem fosse atirando, estava usando silenciador para não chamar tanta atenção. Coloquei a mão onde tinha sido acertado, estava sangrando. Os caras estavam tão assustados que já tinham se atirado no chão. Tinham atirado contra nós. já estava com o telefone na mão, ligando para a polícia, suponho. Olhei para , que estava com os olhos abertos e um buraco no meio da testa. O sangue começava a formar uma grande poça vermelha, e aquilo me fez lembrar a Green. Merda. Olhei ao redor, procurando por Josh. Levantei e subi para o andar de cima, o procurando. Encontrei o moleque sentado no quarto brincando com um carrinho de controle remoto. Ele me olhou e sorriu. Pelo que parece, estava tão concentrado em seu brinquedo que nem percebeu o alarde que estava acontecendo lá embaixo.
– Vem brincar comigo? – me chamou, mas apenas neguei com a cabeça.
– Cara, preciso que você fique aqui no quarto e só desça se nós chamarmos, ok? – meu braço estava queimando. E sorte que meu casaco era preto, senão Josh veria o sangue e poderia ficar apavorado.
– Uhum. Aconteceu alguma coisa com o seu braço? – apontou para minha mão, que estava sobre o machucado.
– Ah, eu estava brincando com os meninos e acabei me machucando. Não é nada. – sorri para ele. – Então, temos um trato? Você só desce se alguém te chamar.
– Temos. – ele acenou com a cabeça e voltou a brincar com seu carrinho.
Saí do quarto fechando a porta e desci. O sangue que esvaía da cabeça de ia manchando cada vez mais o piso de madeira, e aquilo daria trabalho para limpar. Teríamos sorte se ninguém entrasse ali dentro e matasse todos nós. Sentei-me ao pé da escada, encostado na parede. Todos estavam quietos e deitados no chão, ninguém ousava se mexer. Aquele sangue todo me fazia ter flashes, aqueles que eu queria esquecer, e isso doía mais que meu braço. Senti meus olhos ficarem molhados. poderia ter o mesmo final. Que merda! Onde ela estava?! Tinha que estar viva. Passei a manga do casaco em meu olho. Eu tinha que vê-la e ter certeza que estava tudo bem, tinha que encontrá-la de qualquer forma. Levantei e fui até o corpo que estava em frente à porta, e comecei a procurar qualquer coisa que pudesse me falar onde estava. Achei um celular, então comecei a mexer nas ultimas chamadas.
– , o que está fazendo? Deixe isso aí! – agora se sentava ao pé do sofá. – Isso são provas.
– Foda-se. sabia de mais coisas, aqui deve ter algo. – voltei a sentar onde estava antes. – Tenho que encontrar a . – minha mão estava suja e trêmula.
– Nós vamos encontrá-la. – afirmou. Queria ter a fé que ele tinha. – Viva.
– Viva, ? Se fizeram isso com o , imagina o que já não fizeram com ela! – praticamente berrei.
Escutamos barulho de sirene, e logo o delegado abriu a porta e quase pisou em . Ele nos olhou preocupado e veio em minha direção pedindo primeiros socorros. Guardei o celular no bolso. Tive que ir para a ambulância, enquanto os caras falavam o que tinha acontecido para Harris. A mulher que cuidava de mim era bem delicada, ela deu uns pontos no meu braço e fez um curativo. Peter chegou do trabalho e ficou assustado com aquilo tudo que estava acontecendo. Ele correu até , perguntando sobre Josh, e ele não soube responder.
– Ele está bem, Peter. – gritei por estar longe. – Josh está brincando no quarto dele. – o velho me olhou e veio em minha direção.
– Meu Deus, ! O que está acontecendo? Ninguém me fala nada! – o Sr estava apavorado, assim como todos estávamos. – O que houve com seu braço?
– Tiro de raspão. – fiz uma careta. – apareceu do nada falando que sabia quem estava com a , mas aí ele levou um tiro na cabeça. – tentei explicar enquanto descia da maca. – Só espero que ela esteja bem.
Peter me abraçou e começou a chorar. Fiquei sem reação, mas por fim o abracei tentando consolar. Já estava sendo difícil para nós que éramos amigos, imagina para ele que é pai dela. O delegado apareceu e pediu meu depoimento. Falei tudo o que aconteceu, e por fim acabei entregando o celular a ele. Se for mesmo verdade o que me foi dito, os caras que estavam com eram mesmo muito perigosos. Saí dali e entrei na casa, indo direto para a cozinha. Debrucei-me sobre a pia com os antebraços e de cabeça baixa. A primeira imagem que me veio à mente era daquela menina sorrindo, aquela vez na praia que ficamos juntos. Não sei por que pensei nisso. Foi tudo uma mentira mesmo. Balancei a cabeça espantando os pensamentos dela. Saí pela porta da cozinha e sentei nos degraus, acendendo um cigarro. Estava frio e meu casaco tinha sido rasgado, mas não estava ligando para isso. A grama do jardim de trás estava toda branca, havia acabado de nevar. Estava bem frio, mas nem por isso entrei de volta na casa quente. Algo me fez pensar no por que fiz isso com ela. Qual foi a razão de ter feito isso tudo? Talvez fosse o desafio de conseguir ficar com ela, beijar aquela boca que poucos beijaram, tocar em seu corpo e fazer que me desejasse como ninguém. Foi a menina mais difícil com quem fiquei. Isso chegava a ser fascinante. Era como se eu tivesse ganhado um troféu por ter conseguido fazer com que tivesse se apaixonado por mim. Eu, , peguei a garota mais difícil da escola. Senti-me até orgulhoso disso. Um feito que nenhum deles iria conseguir. Ri com isso. Tirando que ela era muito boa, nossa, não posso reclamar, além da mais difícil, foi a melhor de todas. O jeito de ela me beijar e me agarrar era muito bom. Toda bruta, mas sedutora quando queria. Quando ela gemia no meu ouvido, me deixava louco. Adorava quando me chamava de , era quando estava feliz ou alegre com algo. Distrai-me quando escutei a porta atrás de mim se abrindo, rapidamente joguei o cigarro fora e soprei a fumaça. Não olhei para ver quem era.
– Estava fumando? – perguntou um pouco desanimado. – Me arranja um.
Balancei a cabeça e tirei o maço do bolso da calça, entregando para ele que se sentava ao meu lado.
– Valeu. – pegou um cigarro. – O que achou sobre o que disse? – perguntou, acendendo um cigarro com o isqueiro que tinha dentro do maço.
– Acho que ele é um babaca. – respondi com indiferença.
– Isso eu já sei. – soltou uma risada sem graça. – Mas ele morreu tentando ajudá-la, isso deve valer de algo. – é. Ele tinha razão.
– Você está certo. Mas tem coisas que não se encaixam. disse que ele tinha brigado com a e que ela não queria ver mais. Então por que ele viria até nós para falar essas coisas? Além do mais, como ele sabia que ela morava aqui? Isso é estranho. Para mim, estava por trás disso tudo, se quer saber. – passei a mãos em meus cabelos. Estava nervoso, não sabia mais em quem confiar e no que acreditar.
– Se ele estava por trás disso, se arrependeu e estava tentando ajudar agora. – soltou a fumaça e me encarou. – O que vamos fazer agora?
– Não sei. – fiquei olhando para a grama, que estava branca.
Ficamos a noite inteira esperando por algo, mas acabei dormindo no sofá da sala da casa dos . Peter me acordou de manhã com uma caneca de café nas mãos.
– , vá para casa. Qualquer coisa te ligo. – disse, se sentando no braço do sofá.
– Não, Sr , tudo bem. – cocei os olhos, eles ardiam. – O delegado não retornou ainda? – apenas negou com a cabeça.
Olhei para o lado e Alex estava babando no outro sofá, estava deitado no chão roncando, abraçado com uma almofada e sentado sobre uma almofada, vendo Bob Esponja que passava na TV.
– Vou ao mercadinho comprar algo para nós tomarmos café da manhã. – antes que eu me levantasse, o telefone da casa tocou.
Peter foi atender, e sua reação era indescritível. Fiquei onde estava tentando entender a conversa, até que ele desligou o telefone e me encarou. Peter contou que eles tinham encontrado a localização do cativeiro, e que estavam indo para lá. O lugar não era muito longe. Não pensei duas vezes e levantei, pegando o casaco de que estava pendurado perto da porta. Os caras acordaram e não queriam me deixar sair, mas por fim os convenci a irem juntos. Peter foi junto, dirigindo. Mas antes, deixamos Josh na casa da Corrine, a babá dele. Quando chegamos, tivemos que parar no perímetro policial. Eu não estava aguentando esperar, ainda mais ao ouvir barulho de tiros de longe. Olhei para , que estava distraído demais conversando com Alex. mexia freneticamente em seu celular, e Peter permaneceu dentro do carro, com os vidros fechados para não escutar nada. Então saí correndo, em direção ao galpão onde era o cativeiro, driblando o perímetro estipulado. Alguns policiais tentaram me impedir, mas dei o melhor para que minhas pernas fossem mais rápidas, afinal, eu era o melhor corredor estadual do time, tinha que fazer jus ao meu cargo. Entrei no lugar e me escondi atrás de umas caixas de madeira enormes. Observei os homens passarem direto, então saí do meu esconderijo e fui procurar . O lugar era maior do que parecia. Acabei encontrando Harris, e mesmo que ele me mandasse para fora, o ignorei. Escutamos alguém cantando. Olhamos-nos, e mais uma vez ele me mandou sair, passando um rádio pedindo para que alguém me colocasse para fora dali, pois não sabia se eles tinham pegado todos os caras que estavam lá dentro. Reconheci a melodia e a voz. Era dela. estava cantando Save Me, dos Hanson.
– I'm needing you just to open up that door. – a voz fraca cantava.
Seguimos o som, e assim que chegamos ao local, fiquei sem reação. estava pendurada com correntes amarradas em seus pulsos, de cabeça baixa e com cabelo jogado em seu rosto, não dando para ver sua face. E o chão, nossa, já estava começando a ficar cansado de ver aquilo, pois estava sujo de sangue. Igual as suas roupas, que estavam rasgadas. A voz fraca continuava cantando. Corri até ela e levantei seu rosto. estava muito machucada. Vê-la assim me doeu mais do que pensei.
– Solta ela! – gritei para o delegado, que olhou para os lados procurando algo para soltá-la, mas não encontrou.
Passei a mão com cuidado em seu rosto machucado. Ela continuava cantando, seus lábios mal se mexiam. Vi Harris sacando uma pistola, então ele deu um tiro na corrente fazendo com que caísse, mas a segurei antes de atingir o chão.
– Hey, . – chamei, a colocando deitada no chão e tirando o cabelo de seu rosto. – Olha para mim. – pedi.
O olhar dela era distante, como se não estivesse me vendo ali.
– Me deixe ver. – Harris se aproximou. – , responda. Está me ouvindo? – perguntou, colocando a mão no pescoço dela, mas ela não reagia, e por fim, parou de cantar.
– Temos que tirá-la daqui. – abaixei do lado dela e tentei mais uma vez, enquanto o Delegado passava um rádio pedindo atendimento médico. – , olha para mim. – a sacudi de leve. Por que ela não esboçava nenhuma reação e nem cantava mais? – Isso não está certo! – ela fechou os olhos lentamente. – Não! ! Abra os olhos! Você tem que voltar para mim! Por favor. – uma lágrima escorreu de meu olho. – Não! Não! – Beijei seus lábios ressecados com força fazendo nossas testas se colarem. – Não faça isso! Não brinque dessa maneira. – o corpo dela estava gelado demais. Arranquei meu casaco e coloquei nela.
Tirei do chão, e a carreguei para fora daquele lugar sem ao menos esperar os paramédicos. Não conseguia nem escutar o que Harris falava comigo. No caminho, encontramos com o pessoal que já vinha com uma maca, tive que colocá-la deitada, para que a imobilizassem. Eles a cobriram com um cobertor térmico, então a levaram. Fui atrás, entrando na ambulância sem permissão de ninguém. Peter foi junto comigo. Eu não conseguia parar de olhar para o rosto machucado de . Minha roupa tinha o sangue dela. Algumas lágrimas desciam pelo meu rosto sem que eu percebesse, molhando a gola de minha camisa. Isso tudo era minha culpa. Se tivesse lhe dado atenção aquela noite, ela não estaria desse jeito agora. Quando chegamos ao hospital, a levaram para a sala de cirurgia. Fiquei sentado no sofá da recepção por horas sem falar nada com ninguém. Só conseguia pensar nela e em mais nada. Nada! Droga, isso não era para ter acontecido! A cena dela acorrentada, toda machucada não saía da minha cabeça. Acabei pegando no sono, mas depois acordei com o médico falando alguma coisa.
– O estado da paciente não é nada bom. Ela perdeu muito sangue, está com três costelas quebradas, o que ocasionou a perfuração de seu pulmão esquerdo, causando uma hemorragia interna. – explicava o médico.
– Mas ela vai ficar bem? – foi o único que conseguiu falar.
– Ainda não sabemos. Ela está no momento no CTI e estamos tentando conter a hemorragia. Precisamos de uma transfusão de sangue. – me perguntava como o homem poderia estar tão calmo falando que uma menina de apenas dezessete anos estava morrendo.
– Eu posso doar. – disse Peter, já levantando as mangas do casaco.
– Por favor, queira vir comigo para podermos fazer o procedimento e ver se o Sr pode efetuar a transfusão. – falou, já se virando e escrevendo algo em sua prancheta.
Fiquei desolado com aquilo. Não podia perdê-la. Não sei por que, mas simplesmente não podia. Voltei a me sentar no sofá. me olhou e sentou-se ao meu lado.
– , me responda com sinceridade. Você gosta da ? – o olhei, com a pergunta idiota.
Que coisa fora de hora! É claro que gostava, senão nem estaria aqui! Não respondi.
– Quero saber se você gosta dela como ela gosta de você. – tinha arrogância em sua voz.
– Por que quer saber? Faz alguma diferença? – me afundei mais no sofá.
– Depende. Sei que ficou com a só porque ela era difícil, mas você sentiu algo em algum momento? – ele me encarava, esperando por minha resposta.
– Quer mesmo a verdade? – o encarei de volta.
– Quero. – levantou as sobrancelhas.
– Não. Nunca senti nada por ela. – respondi com frieza. – Realmente, fiquei com ela só porque era difícil. Se quiser saber por que ainda estou aqui, a resposta é consciência pesada. Se eu tivesse falado com ela direito na noite que desapareceu, talvez nada disso tivesse acontecido. Não me arrependo do que fiz, só de tê-la feito gostar de mim.
– Realmente, tantos caras por aí e ela tinha que gostar logo do pior deles. – disse , se levantando do sofá.
– Tem razão! – retruquei. – Não posso fazer nada a respeito disso agora.
– Cale a boca. – respondeu, sem olhar para mim. – Se eu fosse você, iria embora.
– Quando ela estiver fora de risco eu vou. – dei um sorrisinho.
Foram três dias, três semanas ou três meses? Não sei. Só sei que pareceu muito tempo. Todos os dias ia até o hospital saber notícias da , mas continuava sempre na mesma. Ela não reagia a nada, só estava estável, e ainda corria risco de vida. Talvez isso seja bom, pois todo o sofrimento que a fiz passar estava voltando todo para mim. A angústia e a solidão estavam me matando. Quando tudo terminar, ela vai ter um cara que lhe dê carinho, alguém que a valorize como merece. Não um alguém como eu, um babaca. Mas que droga! Não conseguia parar de pensar nela, e isso nunca foi desse jeito. Nunca tinha sentido nada, não era justo começar a sentir agora. Sou um nada, um merda desgraçado por isso. E lá estava, mais um dia naquele hospital, esperando por algo. Pedi informação para a enfermeira responsável, que sempre me dava alguma notícia.
– Como ela está? – perguntei com o mesmo desânimo de sempre.
– Acordou, mas está com dificuldade para respirar. Não corre mais risco de vida. – deu um sorriso. – Acho que ela vai ficar bem.
– Posso vê-la? – pedi, e ela não fez uma cara muito boa. – Não vou mais te incomodar, só quero ver se ela está mesmo legal.
– Ok, mas ninguém pode saber. Vem comigo. – a segui.
Vesti um jaleco, máscara e touca para poder entrar no quarto. Ali era frio, e cheirava a álcool. Caminhei até a cama. estava com vários fios colados nela e com aquele tubo nojento enfiado no nariz. Seus olhos estavam um pouco abertos e ela estava mesmo respirando com dificuldade. Seu rosto não estava mais machucado, também, depois de tanto tempo. Peguei sua mão que estava gelada, e ela ainda não tinha reação. Mesmo daquele jeito, ela era linda. Engoli em seco, será que não me queria ali?
– Me desculpa por tudo. – comecei a falar. – Sei que sou o pior cara que já conheceu, e que sempre menti para você, mas agora estou sendo sincero. – sua mão se fechou um pouco, ela me olhou. – Só me desculpe. Prometi ao que iria embora depois de saber que você estava bem, e agora, estou cumprindo o que falei. – respirei fundo. – Adeus. – dei um beijo em sua testa, uma lágrima escorreu pelo canto do olho dela. – Hey, garota, você é forte, se lembra disso? Meninas fortes não choram. – forcei um sorriso, mesmo que ela não estivesse vendo por causa da máscara. – Vai ficar tudo bem. – sequei seu rosto com cuidado.
Afastei-me. A máquina que marcava os batimentos cardíacos dela começou a apitar cada vez mais rápido. Saí da sala sem olhar mais para trás. Agradeci à enfermeira, e quando estava saindo do hospital, dei de cara com . Ele me encarou sério, nós não estávamos nos falando já tinha tempos.
– Hey, estou cumprindo o que prometi. – falei, passando por ele. – Estou indo embora, minha mãe já está vendo minha transferência de escola. – apenas avisei. Então ele segurou meu braço.
– Você não era assim, na verdade nunca foi! – disse com pesar. – Quando falei aquilo, era para ver se meu amigo voltava a ser quem era, mas pelo visto se tornou um covarde. – me soltou. – O que está havendo? Desde que você ficou com a Green, tem agido de uma forma estranha. – cruzou os braços. Encostei-me a parede.
– , – eu não estava mais conseguindo esconder isso nem de mim mesmo. – quando comecei a ficar com a Green, eu e a ficamos. Tá, sei que fiz de tudo para que acontecesse, mas foi inesperado. Pensei que gostava de Green, e realmente gostava, demais, fiquei louco quando ela morreu… – dei uma pausa. – Mas a , ela me deixa fascinado de um jeito que nenhuma outra me deixou.
– Então, por que a trata mal? – quis saber.
– Para tentar afastá-la! Sei que sou um filho da puta, mas tem horas que não consigo. Algo me puxa para ela. – passei a mão em meus cabelos. Eu não sabia como explicar. – Não sei o que fazer, porque eu sempre fui apaixonado por ela! – me olhou assustado, fiquei parado, refletindo sobre o que tinha acabado de falar. – Merda. – fechei os olhos e encostei a cabeça na parede.
– Sempre. Exatamente, desde quando? – perguntou ao meu lado, o que parece que ele também se encostou à parede.
– Criança. – confessei. – Sempre estudamos juntos, todos nós. E eu sempre gostei dela. – engoli em seco. Certo, agora estava confessando isso para mim mesmo, pois sempre neguei dizendo que não, mas escondia a verdade.
– E por que nunca disse isso para ninguém?
– Porque sou um idiota! Toda essa parada de sermos populares, isso subiu à minha cabeça, e eu disse a mim mesmo que não podia gostar de uma marginal. – abri os olhos e encarei . – Então eu só ignorei tudo o que sentia, mas só de vê-la com outros caras, isso me deixava louco. – riu.
– Realmente, você é um idiota. A te ama, e você com esse seu preconceito escroto fez com que ela sofresse. Tem sorte de ela saber perdoar as pessoas, especialmente as que não merecem. – cerrou os lábios em uma linha reta. – O que mais desejo é que ela ache um homem de verdade. – ele disse isso e foi embora, me deixando ali com cara de babaca.
As férias de verão tinham acabado, e lá estava eu, entrando de volta na minha antiga escola para o primeiro dia de aula. No último semestre minha mãe tinha me transferido, mas o outro colégio era o maior saco. Tinha que usar uniforme e aquela palhaçada de gravata, que sufocava só de colocá-la. Tirando que as meninas não eram nada atraentes, e os caras de lá eram certinhos de mais, estilo Alexander . Falando nele, o babaca estava namorando com a , já que tive a infelicidade de ter que olhar para a cara daqueles dois juntos nas festas que sempre dava. não estava falando comigo, e eu não tinha mais coragem de chegar nela depois de tudo o que aconteceu, então ficava simplesmente na minha, bebendo com os meninos. Mas todas as vezes que ficávamos sozinhos, ela tentava ao máximo se desviar de mim, e todas as perguntas que eu fazia, eram tipo respondidas no automático, até ela arranjar uma desculpa e sair de perto. Agora, andando pelos corredores cheios, era engraçado como as pessoas esqueciam-se de você. Ninguém nem me olhava, como se eu fosse um completo estranho no meio deles, não era nem notado. Vi conversando com , e ela lhe entregava algo disfarçadamente, enquanto olhava para os lados, se certificando que ninguém estava prestando atenção neles. As pessoas estavam conversando, entusiasmados demais contando como foram suas férias para verem o tráfico que estava acontecendo ali. Aproximei-me deles e fechei a porta do armário de , que se assustou e se virou me encarando irritada. Por um momento parecia que ela não acreditava que estava me vendo mesmo ali. Ri com aquilo.
– Seu idiota! Vai assustar a sua avó! – falou irritada. – , depois nos falamos. – deu um sorriso para ele.
– Certo. Até logo. – saiu andando. – Tchau, , e bem vindo de volta. – acenei, e ele saiu em meio aos alunos, já sabia da minha volta, então não tinha ficado surpreso ao me ver.
– O que você deu a ele? – perguntei, me encostando ao armário.
– Interessa? – abriu a porta, quase a acertando em minha cara.
– Claro. – voltei a fechar a porta, só para deixá-la irritada. – Está mexendo com aquelas porcarias novamente? – perguntei, puxando seu rosto para que me encarasse. Agora, ali, no meio daquele povo todo, me sentia mais à vontade para mexer com a , já que seu namorado não estava por perto.
– , some! – deu um tapa em minha mão. – E para de fechar a porta do meu armário. – reclamou, voltando a abri-la.
– É assim que você fala com o seu futuro namorado? – perguntei, a puxando pela cintura. Queria deixá-la nervosa, já que essa era a única forma de ela me notar mesmo.
– Sempre falei contigo do jeito que eu quero. Por que mudaria agora? – ergueu uma sobrancelha. – E só uma coisa, quem te disse tal absurdo de sermos futuros namorados?
– Eu. – dei um sorriso e ela tentou me afastar, mas não a soltei. – Não sei, pensei que as coisas poderiam mudar. Tipo, a partir de agora.
– Pensou errado. Agora me solta, se o ou as meninas nos verem assim vão pensar coisa errada. – tirou minhas mãos de sua cintura. – Você sabe que eu e o Alex estamos juntos. – revirei os olhos só de escutar o nome daquele idiota.
– Não precisa de me lembrar disso todos os dias, digo, sempre quando nos encontramos. – cruzei os braços. – Então, o que você e o estavam fazendo? – me olhou e revirou os olhos.
– Estava dando chiclete para ele, se quer tanto saber. – respondeu, abrindo o armário pela terceira ou quarta vez, não sei, e pegando seus livros e os colocando dentro da mochila. – E não, não vou te dar chiclete. Você é abusado e vai querer mais depois.
– Mas eu quero! E também, o que tem? Você pode comprar mais. – ela estreitou os olhos. – Não me olhe desse jeito, assim me deixa excitado. – abri um sorriso.
– Acho que ainda não tive tempo de te mandar ir se ferrar hoje, não é? – perguntou, fechando a porta do armário com força e dando um sorriso amarelo. – , vai se ferrar! – passou a alça da mochila pelo ombro esquerdo e saiu andando.
– Me deixe levar, você não pode carregar peso. – a acompanhei, mas ela fingiu não me escutar. – É sério.
– , eu quebrei as costelas e não os braços, e também, isso já faz mais de seis meses, não preciso de ninguém me ajudando. – andei mais rápido e parei à sua frente. – Sai! – tentou se esquivar, mas não deixei. – Isso é sério? Quer mesmo acabar com o meu humor no primeiro dia de aula? – ergueu uma sobrancelha e respirou fundo.
– Não seria eu, se não fizesse isso. – soltei uma risada. – Até quando vamos ficar desse jeito?
– Que jeito? – cruzou os braços e se apoiou em uma perna só. – Até onde eu saiba, você sumiu por esse tempo todo, e sinceramente, não sei o motivo de ter voltado.
– Não sumi. Nós nos víamos nas festas do , e você sempre fugia de mim. – ela virou as costas e saiu andando, segurei seu braço. – Voltei por sua causa. – confessei, mas nem olhou para trás.
– Você voltou porque quis. – respondeu e puxou o braço de volta. – Não me faça me sentir culpada mais uma vez por suas decisões erradas. – me olhou séria. – Só me deixe viver em paz.
– Não posso. – ela não me respondeu mais nada, apenas saiu andando.
Fui atrás dela, tinha que tentar mais uma vez. Não iria desistir de tê-la assim, tão facilmente. Assim que a alcancei, puxei sua mão, e quando ela se virou, fui acertado com um cruzado de esquerda, bem no maxilar. Senti o sangue na minha boca, nossa, como estava com saudades disso. Sorri e a olhei. estava irritada, e com as mãos fechadas, pronta para me dar outro soco. O diretor que estava passando nos olhou sério, e isso me deu mais vontade de rir do que já estava. Ele apenas ordenou que fôssemos para sua sala no mesmo instante. A tentou argumentar, mas foi inútil.
– , te odeio! Se eu pegar detenção no primeiro dia de aula, vou te jogar pela janela! – reclamou, indo na frente enquanto eu a seguia logo atrás rindo. – E para de rir, seu imbecil!
– Acho que seremos os únicos na detenção. – falei baixinho ao me aproximar dela, bem perto de seu ouvido. – Ainda é o Spok que fica tomando conta dos alunos? – sim, esse era o apelido do maluco.
– Não sei, já que não vou para a detenção desde o ano passado! – se virou e começou a me estapear. – Você só voltou para me atormentar, seu encosto! – eu só conseguia rir da reação dela, era muito engraçado. – Para de rir!
– Impossível. Você é engraçada demais quando está com raiva. – ela iria me dar outro soco, mas a puxei pela cintura, juntando nossos corpos.
– Não se atrev... – antes de ela completar sua frase, eu encostei meus lábios nos seus.
Como sempre, tentou me afastar, segurando meus ombros com força e os apertando, mas não cedi, não iria. Ela é, e sempre será minha, mesmo que esteja com qualquer outro homem. Senti uma de suas mãos subindo até meu pescoço, enquanto a outra segurava minha camisa meio que me arranhando. Aos poucos minha língua passou por seus lábios e foi tomando conta de sua boca, tão gostosa, tão minha. Por fim começou a retribuir o beijo de forma calma, sem brutalidade e excitação. Tinha sentido tanta saudades disso, de senti-la perto novamente. O sinal tocou, a primeira aula já ia começar, e isso foi a única coisa que fez com que nos separássemos. Ela já ia sair andando na frente, mas segurei seu pulso.
– Te amo. – falei, e com isso recebi um tapa na cara. Por que sua mão tinha que ser tão pesada?
– Idiota. – a olhei e tinha um sorriso no rosto. – Para de falar tanta merda e vamos para a sala do diretor. – voltou e me deu um selinho. – Nunca mais faça isso.
Saiu andando na frente e olhou por cima do ombro ainda com um sorriso nos lábios, mas esse era safado. Neguei com a cabeça e fui atrás dela.
>... Sou ruim em tudo que eu faço
Eu sou assim
Só penso em mim (8)
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