MERRY CHRISTMAS, BABY
História por B.F | Revisão por Gabriella
22 de dezembro de 2010.
- Ai, merda! – sussurrei ao bater o mindinho em minha cama de casal no meu apartamento em Manhattan. Estava arrumando minhas malas para ir a Londres, onde todo o resto da família Cooper vivia. Minha irmã mais nova, Kate, estava para se casar com um de seus amigos de infância, o qual eu mal conseguia me recordar.
Pois é, minha irmã mais nova. E sim, ela vai se casar na véspera de Natal.
Tenho 25 anos e sou bem sucedida em meu emprego: jornalismo esportivo. Na verdade, eu costumava escrever crônicas esportivas, e adorava. Pode ser estranho, mas sou apaixonada por esportes, desde pequena. Sempre fui meio moleque, usava roupas largas demais e nunca tive uma melhor amiga, só algumas colegas. Mas tive um melhor amigo. Na verdade, tenho até hoje, mas não vem ao caso.
Lá pelos 13 anos, comecei a me vestir de um modo mais feminino. Foi quando dei meu primeiro beijo. Não era tarde pra uma garota, naquela época.
Não me pareço em nada com minha família. Todas as mulheres são loiras e eu sou morena. Todas têm olhos verdes, e os meus são castanhos claros. Eles adoram jogar pôquer, buraco, qualquer coisa com baralho. Eu preferia qualquer jogo desde que envolvesse uma bola.
Kate tem 23 anos. É loira de olhos verdes e acabou de concluir sua faculdade de engenharia química. Ainda vive à custa de papai e sempre foi muito patricinha. Acima disso tudo, nós nos amamos, sabe? Quando nossa mãe, Lauren, faleceu, prometemos que iríamos parar com as costumeiras brigas estúpidas. Mas sempre nos adoramos. Era um tipo de diversão brigar uma com a outra.
De qualquer forma, eu SEMPRE tive certeza que me casaria antes de Kate. Não só por ser mais velha, mas pelo fato de que ela costumava me provocar exatamente com isso.
“Você parece um garoto, ninguém vai querer se casar com você. E quando alguém quiser, tenho certeza que já estarei casada.” Eram essas as palavras dela. E olha onde eu, Cooper, estava. Arrumando as malas para ir ao seu casamento. Ou Deus me odiava, ou eu realmente era feia e insuportável.
Pelo menos um namorado eu tinha. Charles Tucker, ou simplesmente Chuck. Mas estava tão perto de me casar quanto estava de me tornar a próxima Lady GaGa. Ou seja, não rola.
Apresentaria meu namorado à família no casamento de Kate. Estava com ele há um ano e três meses. Mas tudo bem, pelo menos iria apresentar.
Do nada, começou a tocar All My Loving, dos Beatles, e saí correndo em busca de meu telefone celular, encontrando-o debaixo do sofá da sala. Vamos fingir que ele estava dentro da minha bolsa, ou em cima da cama. Ou em qualquer lugar mais normal que debaixo do sofá.
Olhei para o visor do iPhone e sorri antes de atender.
- Oi Chuck! – disse, ainda sorrindo.
- Está pronta? – ele sussurrou e pude sentir o sorriso em sua voz.
- Sim, só estou botando as últimas coisas na mala. – disse me sentando na cama super macia. – Está chegando?
- Estou no carro, aqui embaixo. Você tem meia hora pra descer, porque eu sei que ainda nem se vestiu. – ouvi sua voz divertida e quase ri. Olhei pra baixo, vendo meu corpo enrolado em uma toalha branca e felpuda. É incrível como ele me conhecia.
- Você venceu. – falei baixo. – Eu te amo.
- Eu te amo mais. – ele fez uma pausa. – Beijos, linda!
Desliguei o telefone e saí correndo pelo apartamento, arrancando a toalha de meu corpo, vestindo uma lingerie que encontrei pelo caminho, um bandage bege, scarpin preto, e uma pequena bolsa da mesma cor. Soltei o cabelo e o penteei, deixado-o solto sobre os ombros. Maquiei-me rapidamente e botei um sobretudo preto devido ao frio. Está nevando em New York. Como já devo ter mencionado, estamos perto do Natal.
Saí trancando a porta do apartamento depois de me arrumar em quinze minutos. Eu estava ficando boa nisso.
Entrei no carro de Chuck, lhe dando um selinho e ele arrancou com o carro. Observei, por toda a cidade, as casas enfeitadas para o Natal. Nunca fui uma pessoa muito natalina, mas naqueles três anos em New York, comecei a achar as decorações da época muito bonitas. A gente acaba se acostumando.
Estávamos em silêncio há exatos cinco minutos e toda vez que ele me olhava, mostrava uma expressão séria. Estava morrendo de medo disso, se quer saber. Só o que me faltava era ele terminar comigo um dia antes de irmos à Londres.
- ... – ele começou, limpando sua boca com o guardanapo. E pela primeira vez na noite, olhou em meus olhos. Não respondi. – Esses quinze meses ao seu lado, foram os melhores da minha vida.
- Charles, nem completa, ok? – falei friamente, o interrompendo. – Foram os melhores meses da minha vida também, então se quer mesmo terminar isso, fala de uma vez! – senti meus olhos arderem e me levantei pra ir ao toalete. O ouvi rir baixo e me virei incrédula. Como ele podia rir dessa situação?
- Eu te amo, . E esse discurso não é pra terminar com você. – ele disse e botou a mão dentro de seu paletó. Não Charles, eu não acredito que você vai fazer isso. Ele se levantou e veio até a minha frente. Ajoelhou-se e abriu a caixinha preta de veludo em suas mãos. – Você quer se casar comigo?
Arregalei os olhos e senti meu sistema respiratório parar de funcionar. Minhas pernas ficaram bambas e um aperto na garganta surgiu. Vontade de vomitar. Por muito tempo na minha vida, fui louca pra casar. Chegar ao casamento de Kate dando uma noticia dessas seria a coisa mais foda que eu faria em toda minha vida.
Então por que, de repente, casar não era mais uma ideia tão boa?
- Sim! – falei antes que me desse conta do que estava dizendo. Ele botou um anel simples, mas bem sofisticado em meu dedo, se levantou e me beijou. Um beijo de cinema. Se tivesse parado pra me encarar, teria visto que eu estava em choque.
Eu o amo? Claro! Quero passar toda a minha vida ao seu lado? Sem sombra de dúvidas! Mas casar? Ok, eu já não tenho tanta certeza disso. Botar um vestido branco e ter todas as atenções sobre mim? Qual foi, eu sempre tive pavor de apresentar trabalhos pra turma! Odiava e ainda odeio atenção exagerada sobre mim! Por isso resolvi fazer jornalismo, faço o que mais gosto (escrever), e ninguém nem sequer repara no meu minúsculo nome logo acima da reportagem.
Mas que merda! Dúvidas, pra que?
23 de dezembro de 2010.
Eram dez horas da manhã e Chuck e eu estávamos no aeroporto, prestes a embarcar. Disse a ele que iria ao banheiro, e aqui estou, encarando meu rosto assustado no espelho. Estava exatamente assim desde que aceitara seu pedido na noite anterior. Só esqueci disso por algumas horas, quando chegamos em meu apartamento (onde, segundo ele, iremos morar após o casamento), e acabamos por nos divertir no carpete da sala.
Se é que me entendem.
Minha mão direita, mais precisamente o dedo anelar direito, estava pesando. Não, o anel não tinha nem dez gramas, mas meu dedo pesava uma tonelada. Lá no fundo, sabia que tomara a decisão certa, afinal eu o amo, me divirto e consigo ser quem sou ao seu lado. Mas estou com medo.
Casamento é uma coisa tão séria!
E, de repente, já não queria dar uma noticia como aquela no casamento de Kate. Me sentiria péssima por estragar sua noite.
Olhei mais uma vez para meu dedo e suspirei. Guardei o anel na pequena bagagem de mão.
- Ainda não entendi. – ele disse pela quarta ou quinta vez, pressionando minha mão direita, enquanto saíamos pela porta do aeroporto de Londres.
- Se dermos essa notícia antes do casamento –comecei a explicar mais uma vez -, Kate vai ficar arrasada e achar que fiz isso pra estragar seu casamento de propósito. Conheço minha irmã. – ele deu um sorrisinho e me beijou intensamente.
- Ok, me convenceu. –disse, entrando no táxi, depois de guardar toda a bagagem no porta-malas do carro.
- Procure não falar sobre futebol americano. – eu falei, entrando ao seu lado. – Meu pai odeia os Estados Unidos. De acordo com ele, esse país dos infernos levou a menininha dele. – ri baixo. – Tente não falar muito de seu emprego. O maior sonho dele era ver sua filha mais velha casada com um médico. – torci o nariz e ele riu, beijando minha testa. Odiava medicina e Chuck também. É advogado. Dos bons, se quer saber. – Ele gosta muito de pôquer, ama a História da Inglaterra, adora entrar em longas conversas sobre o Capitalismo e Socialismo na Europa... – falei e parei pra respirar. – Fora a parte de você ser norte americano e não ser médico, acho que vocês dois vão se dar bem. – finalizei lhe dando um selinho e me aconchegando em seu peito.
- Eu vou me casar, dá pra acreditar? – Kate disse, descendo as enormes escadas da minha antiga casa de Londres e me dando um abraço. – Senti tanto a sua falta! Nem acredito que amanhã eu vou poder jogar na sua cara que estarei casada e você não! – ela disse e começou a rir. Ri junto, de nervoso. Se ela soubesse...
- Kate, cala a boquinha, vai! – falei e sorri. – Esse é Charles, meu namorado. – ela apertou sua mão, e meu pai apareceu logo atrás de minha irmã. Eles se conheceram na porta de entrada da casa.
- E vocês, quando vão se casar? – ela perguntou, toda sorridente. Senti meu estômago cair.
- Ainda não conversamos sobre isso. – respondi, sorrindo amarelo, ao ver que Chuck abrira a boca pra responder.
Fomos para a escada, e começamos a subir. Chuck estava em silêncio completo desde que chegamos em casa. Então, ele disse:
- Por que você disse que nunca conversamos sobre isso? – perguntou um pouco magoado. Ah, beleza. – Eu não acho que ela iria ficar ofendida.
- Eu achei melhor, mas não ligue. Sim, ela iria ficar ofendida. Na verdade, só me perguntou isso porque tem certeza que não vou me casar tão cedo. – eu disse, abrindo a porta do meu antigo quarto. Ele fez menção de entrar comigo e eu o segurei na porta. – Não! – eu disse e ri baixo. – Seu quarto é no fim do corredor. – disse sorrindo e fechando a porta.
Tomei banho, separei a roupa que usarei no jantar de ensaio de hoje à noite, desci para o almoço e subi para descansar em meu quarto. Suspirando, caí em um sono profundo.
Acordei faltando três horas para o ensaio. Estava com vontade de ficar deitada pra sempre. Mas levantei, tomei outro banho rápido, botei um Valentino preto com uma fenda no comprimento e um decote que vai até a cintura na parte das costas, e uma sandália de salto prata. Prendi o cabelo num coque alto e me maquiei levemente. Voilá.
Desci, encontrando meu pai e Chuck conversando na beira da escada. A casa já estava toda lotada. Maldita pontualidade britânica!
Saí de perto deles e fui direto para o bar.
- Uma Vodka, por favor. – pedi ao barman e ele me entregou um copo rapidamente. Sorri em agradecimento.
- Completa! – uma senhora de cabelos avermelhados ao meu lado pediu, batendo o copo na bancada. Quase ri.
- A senhora já bebeu demais... – o barman disse, a olhando.
- Foda-se! Completa! – ela disse irritada e eu soltei uma risada antes de exclamar:
- Vovó! – ainda estava rindo quando a senhora de cabelos vermelhos e o rosto cheio de botox virou pra mim, com uma expressão irritada, enquanto o barman, muito a contragosto, servia alguma bebida a ela.
- Quantas vezes eu já lhe pedi pra não me chamar assim em voz alta? – semicerrei os olhos e fui até o banco ao lado da mãe de minha mãe. Surpreendentemente, ela sorriu. Bom, pelo menos eu sabia de qual lado da família puxara minha bipolaridade. – Senti sua falta. – sorri sinceramente, terminando meu copo.
- Eu também, querida. Demais! – minha avó pode ser facilmente confundida com meus amigos. Não pela aparência, claro, mas pela sua idade mental. Provavelmente, nesse sentido, minha avó era mais nova que eu. Posso ter dito que não tenho uma melhor amiga, mas se for pra considerar alguma, com certeza seria ela.
- Fiquei sabendo sobre seu namorado – ela disse, mudando drasticamente de assunto. Outra coisa que nós tínhamos em comum era o fato de não gostar desses momentos muito emotivos. – Me conte tudo. – sorrindo, peguei minha bolsa e tirei a delicada aliança de dentro de um pequeno compartimento. No momento, vovó é a única pessoa da qual eu sei que consigo contar isso.
- O nome dele é Charles, ele me pediu em casamento ontem. – eu disse e suspirei. Rachel, minha avó, sorriu compreensiva.
- Tenho certeza que depois dessa frase tem um “mas”. – ela rebateu fazendo sinal de aspas com as mãos.
- Mas... – suspirei novamente – acho que não estou preparada. Digo, eu o amo demais. Só que estou insegura.
- Compreendo. Sua mãe também ficou apavorada quando o senhor Cooper a pediu em casamento. É a única explicação pra ela ter desaparecido algumas semanas antes do casamento... – ela se calou abruptamente e engoliu toda a dose de sua bebida.
- O que quer dizer com isso, Rachel? – sussurrei. Sim, eu tratava minha avó pelo nome.
- Nada. – ela disse e fez sinal para o barman encher o copo. – Eu realmente tenho que parar de beber. – ela disse baixinho, mais pra si mesma do que pra mim.
- Você acha que ela pode ter tido outro? – falei, ignorando seu comentário. Ela suspirou.
- Eu não disse isso, ! – ela pegou o copo e se levantou, fugindo de mim e da minha pergunta.
- Completa! – falei para o barman, entornando a bebida de uma vez.
Meu pai sempre disse que nasci prematura de um mês, mas nasci complemente saudável. Então é bem possível que... Eu tenha sido concebida antes. Pedi outra vez para o barman completar, ao ter esse pensamento. Estremeci ao pensar nisso. É possível, é extremamente possível que mamãe tenha pulado a cerca por indecisão. Será que ela amava o outro? Será que ficou com papai porque o outro não quis me assumir?
MAS O QUE EU ESTOU PENSANDO?
Mamãe não faria uma coisa dessas com meu pai! Nos poucos anos em que convivi com ela, eu via que ela o amava e que era recíproco.
Mas eu ter nascido prematura de um mês? Bom, isso era coincidência até demais.
- Um Whisky, por favor! – ouvi uma voz grossa vinda do banco que antes era de vovó e me virei deslumbrada. Era um homem que tinha mais ou menos a minha idade, e com certeza não era de minha família. E, meu Deus, era muito lindo.
Fitei-o por mais alguns segundos e balancei a cabeça levemente irritada comigo mesma. Caralho, ! Você está noiva.
Voltei minha atenção para o barman e novamente bati o copo no balcão, chamando a atenção do ser ao meu lado.
- Completa! – disse, com a voz um tanto embargada. De repente senti uma enorme vontade de chorar.
“Você é uma bastarda. Você é uma bastarda. Você é uma bastarda.” Essa frase irritante ficou martelando em minha cabeça. Então, finalmente deixei uma lágrima cair. E depois outra, e depois outra e outra.
Claro que é possível que mamãe tenha fugido! Eu mesma tinha minhas dúvidas! Entenderia perfeitamente se ela estivesse viva. Mas, porra, tem grandes chances de o cara que me criou e foi meu pai por 25 anos simplesmente... Não ser o meu pai. Me diga, como uma pessoa racional reagiria a isso, sem cair no choro?
Não que eu seja muito racional, mas vocês entenderam.
- Você não parece muito bem. – a mesma voz grossa disse. Automaticamente me virei para ele, engolindo todo o conteúdo de meu copo de uma vez, encontrando um cara encarando o copo vazio à sua frente.
- Jura? – perguntei ironicamente. Ele não respondeu.
- . – ele disse, desviando o olhar do copo, e olhando pra mim. Fiquei perdida em seus olhos , o encarando com cara de nada. Ele suspirou um pouco impaciente. – É o meu nome. . – acordei de meu transe, percebendo o quão idiota aquilo estava parecendo.
- Cooper. – falei rapidamente. Quis me matar ao perceber que minha voz soou como o de uma adolescente de colegial falando com o cara mais popular da escola. Pelo amor de Deus, você vai se casar, pára com isso. – Sou irmã da noiva, mas não acho que você seja da família. – disse, tentando parecer fria. Repare que eu disse tentando.
- Primo do noivo, Kurt . – ele disse, suspirando. – Você realmente não está bem. – ele disse mais uma vez, falando baixo.
- Quantos anos você tem? – perguntei irônica.
- 27 – ele respondeu confuso -, por quê? – suspirei.
- Porque você acabou de chegar numa conclusão que qualquer criança de cinco anos chegaria. –disse, me levantando para ir até o toalete. Logo ouvi uma risada baixa atrás de mim, que mesmo sem nunca ter ouvido, não precisei virar pra trás pra saber de quem era.
- Eu estou tentando te ajudar, caso não tenha reparado. – ele falou, pegando meu braço de leve. Mas quem esse garoto acha que é?
- Por que você me ajudaria, querido? – falei secamente. – A única coisa que você sabe sobre mim é o meu nome! – eu falei me soltando e tentando ir até o banheiro, para logo depois sentir sua mão envolver meu braço de novo.
- Também sei que você é jornalista, e eu sinceramente amo a sua coluna. – estanquei onde estava e me virei lentamente para encarar seu rosto, no qual estava estampado um sorriso prepotente. E isso só me deixou com mais raiva. – Assino o New York Times só pra lê-la. – arregalei de leve os olhos, e ao invés de agradecer e fazer o que mandaria minha educação, apenas me soltei e saí de perto do cara lindo de terno.
- ? – ouvi a voz de Chuck atrás de mim e dei um pulinho de susto, botando a mão no rosto. Ao senti-lo úmido, e lembrar os motivos das lágrimas, voltei a chorar.
- Preciso conversar com você. – eu falei, com um pesar na voz, virando-me para Charles. Ao me ver chorando, me abraçou e fez carinho no meu cabelo. – Mas antes, preciso falar com minha avó. –completei. Saí de seu abraço, a contragosto, lhe dei um selinho e sem falar mais nada, saí à procura de Rachel.
A encontrei perto da porta, com um copo de algo que tinha 99,9% de chances de conter álcool. Teria sorrido com esse pensamento, caso o momento fosse outro. Ela me olhou e suspirou.
- Eu prometi à sua mãe e ao seu pai que não contaria isso a você, querida. E sabe que eu não quebro promessas. –falou me ignorando, sumindo de vista em três segundos. Ah, mas que MERDA de vida.
Olhei pra Chuck, parado no outro lado do salão de minha antiga casa e sorri levemente. Ele entendeu meu recado, assentindo de leve com a cabeça, e eu comecei a subir as escadas, indo para o meu quarto. Ao chegar ao topo da escada, lancei um olhar para a parte visível da casa, e meu olhar parou num par de olhos que me encaravam sem nenhuma vergonha. Estremeci e fui rapidamente pro quarto.
Tomei banho, botei uma roupinha larga qualquer e me joguei na cama, caindo em um sono profundo.
E estranhamente, a última coisa da qual me lembro é ter sorrido ao me lembrar de um sorrisinho prepotente, e um par de olhos .
24 de dezembro de 2010.
Acordei estranhamente feliz, ainda com aqueles olhos na mente. Olhei na cadeira de meu antigo computador, o vestido que fora feito especialmente pra mim.
Hoje é o dia. Casamento de Kate, véspera de Natal. Neve em Londres.
Fiquei com vontade de brincar na neve, mas não tinha tempo pra isso.
Tomei um banho rápido, lavando o cabelo para depois secá-lo e o deixar impecavelmente liso. Botei a roupa e um sobretudo grosso, devido ao frio londrino. Sorri com minha imagem no espelho, e desci, vendo todos prontos. Já devo ter mencionado, mas não custa repetir que odeio a pontualidade britânica.
E bom, foi uma surpresa muito grande ver o tal ali, me encarando com o mesmo sorriso prepotente da noite anterior. Ah, bela merda.
- Parece que vamos entrar juntos na igreja. – ele disse, rindo baixo. Bati a mão de leve em minha testa.
- Por favor, não me diga que...
- Sim, sou o padrinho. – ele me interrompeu. Ah, mas que bela merda.
- Sabe – eu falei de repente -, eu não vou com a tua cara. – falei tão naturalmente que assustei até a mim mesma. Ele só riu.
- Muita gente não vai. – ele vinha até mim, e eu fiquei paralisada. Não por não querer andar, mas simplesmente porque estava grudada no chão, devido à uma força gravitacional desconhecida pelo homem. Foi quando o salvador da pátria desceu pelas escadas, me tomou em seus braços e me beijou. Não qualquer beijo, mas O beijo.
- Bom dia, linda! – Chuck disse e eu sorri vacilante. Pois é, não estava no meu estado normal, porque teria aberto o maior sorriso se estivesse. E ele percebeu isso, me olhando desconfiado. – Você não está bem. – ele disse, e ouvi rir baixo.
- Você chegou a uma conclusão que qualquer criança de cinco anos teria chegado. – ele falou se afastando e eu ri alto. Sim, de verdade. Eu ri. E muito. Tipo, de gargalhar e perder o ar. Chuck me olhou assustado.
- Longa história. – eu disse e lhe dei um selinho. Do nada, senti a atmosfera ficar leve. – Quem sabe um dia eu te conto.
Até que não foi tão tenso. Digo, entrar na igreja com o . Foi só imaginar que era o nosso casamento e ficou tudo mais fácil. Mentira.
Mas eu imaginei. Tipo, entrar na igreja, me casar... Não foi tão ruim. Eu não era a noiva, e as atenções sobre mim não foram nada comparadas às de Kate.
Eu estava novamente no bar. Pois é. E muito mais pra lá do que pra cá, vamos combinar. Chuck sumiu com meu pai e alguns amigos dele. Rachel estava me ignorando, e eu não podia fazer nada quanto a isso.
E o pior de tudo era eu nem saber o nome do cara que provavelmente seria meu pai. Balancei de leve a cabeça, sentindo mais algumas lágrimas jorrarem de meus olhos.
- Sempre que eu chego perto de você, está chorando. – ouvi aquela voz, e repentinamente senti repulsa. – Vou achar que é algo pessoal.
- Talvez seja. – falei, levantando bruscamente.
- Dá pra você me ouvir, por favor? – ele quase gritou e eu o olhei assustada. – Você não está bem, eu só quero ajudar! –falou chegando perto.
Comecei a chorar mais e saí correndo do quintal de minha casa. Em poucos minutos, estava há mais de 50 metros de distância. E olha que eu estava de salto.
Joguei-me no chão, sentindo a neve fria e fofa, e me arrependi de não ter pego meu sobretudo. Estava realmente muito frio.
- Sabe que não vou desistir – ouvi sua voz perto de mim -, não sabe? – ele se sentou ao meu lado, e eu suspirei em sinal de derrota. E surpreendentemente, ri. Ele jogou meu sobretudo em mim, e eu o vesti, agradecida.
- Acho que minha mãe teve outro. – falei baixo. – E tem grandes chances de eu ser filha desse outro.
- Como você pode ter certeza disso? –falou, deitando no chão frio, encostando a cabeça em meu colo. Ignorando isso, só respondi.
- Meu pai sempre disse que nasci prematura de um mês. E minha mãe sumiu exatamente um mês antes do casamento. –suspirei. – Nasci completamente saudável, com peso e comprimento de um recém nascido normal. – ele riu baixo, e senti minha irritação voltar.
- Você já parou pra pensar que pode mesmo ter nascido prematura? –perguntou e eu o encarei com cara de nada.
- Claro! – respondi ofendida. – Mas é coincidência demais, não tem como não desconfiar. – falei, olhando em seus olhos. De repente me lembrei de Chuck. E ainda mais de repente, percebi que ele não estava me fazendo falta. AH, QUE INFERNO! Quem é esse homem e o que ele ta fazendo comigo?
- ? – ele disse rindo. E percebi que fiquei perdida por algum tempo, enquanto ele falava algo de suma importância. Ou algo sem importância nenhuma, depende do ponto de vista.
- Pode me chamar de . – eu falei e ele repetiu.
- Por que você não pergunta pro seu pai? –se sentou, prendendo o olhar no meu, muito próximo.
- Tenho medo de que ele odeie mamãe. Nem eu a odeio, apesar disso. Não tem como. –sussurrei, chegando ainda mais perto dele, que olhou para o relógio.
- Olha, já é Natal... – ele sussurrou e voltou a me olhar. – Feliz Natal, . –sorriu, e não havia nenhum vestígio de prepotência dessa vez. Era sincero. E... Bom, nem eu entendo muito bem o que fiz a seguir.
Cheguei mais perto dele, e segurei seu rosto em minhas mãos.
- Feliz Natal, . – sussurrei, antes de beijá-lo. Entrei em choque, sentindo meu corpo amolecer aos poucos quando nossas línguas entraram em contato. Era a última coisa de que me lembro dessa noite de Natal.
25 de dezembro de 2010.
Virei na cama, desconfortável, e abracei o nada, esperando encontrar Charles. Abri os olhos lentamente, e encarei uma cama desconhecida, para logo depois olhar para um quarto desconhecido, provavelmente em uma casa desconhecida. Sentei na cama e senti a cabeça rodar. Ressaca. Ressaca das boas. Senti uma brisa fresca nas costas nuas e... OPA, ESPERA AÍ!
Olhei para meu corpo, de baixo das cobertas. Estava completamente nua. Com-ple-ta-men-te.
Levantei, vesti minhas roupas conforme as fui encontrando pelo chão daquele quarto, entrei no primeiro banheiro que vi e mirei meu estado no espelho. Deplorável.
Penteei o cabelo com a primeira escova que encontrei, bochechei com um pouco de água e pasta de dente, e saí do quarto com medo do que iria encontrar. Parei abruptamente ao me recordar do beijo... Mas o que eu fiz? Que merda é essa? E O QUE ACONTECEU NOITE PASSADA?
Bom, que eu transei com alguém, ta na cara. E que não foi com Chuck, também.
Ah, merda.
Charles.
Mas que merda é essa que to fazendo com a minha vida? Eu to com a felicidade na palma da mão e puf, vou e fodo com tudo?
- Precisa de uma aspirina? – ouvi sua voz divertida e suspirei. Claro que tinha que ter sido ele, . Segui sua voz até chegar à cozinha, e me deparei com a imagem de um corpo semi nu, coberto apenas pela boxer preta.
Puta que pariu, que corpo. Mordi o lábio inferior, sem perceber.
- Acho que sim. – respondi hesitante. – E um pouco de café forte, também. – completei, observando a caneca azul marinho em sua mão. Ele sorriu, pegando uma colher para o açúcar. – Não! – eu disse. – Sem açúcar. – completei constrangida. Ele piscou duas vezes e pegou o adoçante. – Ahn, sem adoçante. – ele me olhou confuso e eu ri baixo. – Bebo café puro. – expliquei. Ele riu.
- Você é fascinante. – suspirei. Bebi o café, engolindo a aspirina que ele me entregou.
- Aquele homem que me beijou ontem... – comecei sentindo o rosto esquentar.
- É seu noivo. – ele completou por mim. Fiquei confusa. – Você também teve suas dúvidas, assim como sua mãe teve. – ele riu compreensivo e eu comecei a estranhar tudo. Mas que porra toda era essa?
- Por que você me deixou fazer isso? – perguntei baixinho, sentindo o rosto esquentar ainda mais. Ele sorriu.
- Essa é a minha parte preferida. – ele disse. – Porque desde o momento que eu te vi chorar, enchendo a cara no ensaio do casamento, decidi que ia ter você. – ele me olhou e me surpreendi ao ver um pouco de tristeza em eu olhar. – Mesmo que fosse por uma noite. – numa situação normal, eu ficaria ofendida com aquela frase. Mas senti algo diferente.
- Você não está bem. – eu disse baixo e ele riu. Não precisou que ele falasse para que eu soubesse a frase que estava em sua cabeça. “Você acaba que chegar a uma conclusão que qualquer criança de cinco anos chegaria”.
- A última mulher pela qual eu me apaixonei, me deixou por um cara qualquer aí. – ele disse, virando de costas pra mim. – Acontece nas melhores famílias. – riu amargo. Franzi o cenho. – Eu não costumo ter sorte quando o assunto é amor. – fui até ele, parando em sua frente.
- E onde é que eu me encaixo nisso? – eu disse baixo, o olhando nos olhos. Me encarou de volta, e botou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
- Você é linda. – disse simplesmente, encostando a testa na minha.
Foi inevitável. Passei meus braços por seu pescoço. Calmamente, encostei meus lábios nos seus, e só ficamos com as bocas coladas por um tempo. Até ele pedir permissão com a língua, e eu ceder sem nem pensar. Antes que eu percebesse, estava sentada na bancada da cozinha com entre as minhas pernas.
- Isso está errado. – falei baixo e senti algo dentro de mim abrir um buraco no peito. E estranhamente, senti meus olhos ardem. me olhou, suplicante e eu quase caí no choro ali mesmo. – Não nós... Tudo! – eu disse, o afastando delicadamente. Peguei minha bolsa. – Eu me divirto com ele, sabe? Consigo ser quem eu sou! Mas, estranhamente... – eu pausei. – Sinto isso tudo com você, te conhecendo há o que? Pouco mais de 48 horas! – comecei a sair da cozinha, e ele não tentou me impedir. Só veio atrás de mim. – E eu... Eu só o acho muito legal. – senti a primeira lágrima escorregar pelo rosto, e a voz ficar diferente. – Ele foi a primeira pessoa que eu conheci em New York. A primeira que me acolheu. Fomos amigos por muito tempo, até que começamos a namorar e então... – perdi a fala. Simplesmente me entreguei ao choro e abri a porta do apartamento de . Ele proferiu a frase que eu já sabia, só não tinha coragem de dizer.
- Então talvez você não o ame da forma que acha que ama. Talvez ele só seja um amigo importante. – eu não soube o que fazer. Porque no fundo ele estava certo.
- Feliz Natal, . – sussurrei muito baixo, mas eu sabia que ele havia escutado.
Vi aquelas íris agoniadas e então, num ato de pura covardia, fechei a porta, e saí correndo daquele apartamento.
Algumas lembranças da noite passada apareciam como flashes em minha cabeça. Mas a única coisa que sempre ficava na minha mente, no final das contas, era aquela porra daquele par de olhos .
- Você tem noção da preocupação que você me fez passar? – Charles disse. Eu já havia parado de chorar, mas não confiava em minha voz. Fui correndo até meu quarto, e voltei para a sala com a bolsa que usara no ensaio de casamento. Tirei a delicada aliança e ele sorriu. – Vamos contar para sua família agora? –disse. Me senti um completo monstro, mas precisava fazer aquilo. Suspirei, indo até meu quarto e pegando minha mala grande de rodinhas, e a pequena bagagem de mão, correndo até o andar de baixo da forma mais rápida que pude.
- Me desculpa, Chuck. – falei, comprovando minha voz péssima. – Mas eu não posso me casar com você. – entreguei a aliança da forma mais delicada que consegui e ele me olhou incrédulo.
- Você não me ama ou o que?
- Eu te amo Charles... Mas não dá forma que achei que amava. – sorri levemente. – Você é um bom amigo. Eu não te mereço. – falei pensando na coisa horrível que fiz na noite anterior.
- Claro que merece, não fala uma coisa dessas! – ele disse. Charles era tão bom... Eu sabia que se não desse um motivo, ele nunca iria aceitar isso. Fechei os olhos com força, antes de abrir a boca e proferir aquelas palavras com dificuldade.
- Eu te traí, Charles. – fiquei com medo de olhar pra ele. Mas abri os olhos lentamente, e vi a dor em seus olhos.
- Se você me disser que está arrependida, eu te perdôo. Eu te amo, ! – ele falou e eu me senti a maior babaca do mundo por fazer uma pessoa tão legal quanto ele sofrer. Pensei em como ele poderia me fazer feliz caso eu fizesse o que me pediu, e então olhos entraram em minha mente, e eu tive certeza do que tinha de fazer.
- Eu sinto muito, Chuck. – sussurrei derrotada. – Mas eu não me arrependo nem um pouco do que fiz. – o encarei mais uma vez, e vi nojo em seu olhar. Nojo. E então, antes que qualquer palavra pudesse ser dita, saí correndo, em mais uma demonstração de covardia, parando o primeiro táxi que vi. É claro que depois me entenderia com meu pai.
Cheguei ao apartamento de e saí do táxi hesitante. Paguei o motorista e entrei no prédio, prestando atenção na estrutura pela primeira vez. O lugar era lindo.
Ao chegar ao andar de , soltei o ar pesadamente. Percebi que a porta estava destrancada, e a abri, sem bater. Vi uma mulher muito bem vestida de costas para mim, abraçada a , que estava em minha direção de olhos fechados. Arregalei os olhos e fechei a porta, tentando não fazer barulho. Desci, e me sentei na calçada. Comecei a chorar.
Como eu podia ser tão ridícula?
não havia me prometido nada! Só disse que eu era linda. E que me queria por uma noite. E acabou! Eu era uma garota qualquer que ele queria comer. E a idiota acabou com um noivado, e um namoro de um ano e três meses... Por uma simples noite de sexo sem compromisso. Que belo Natal esse estava me saindo.
E por que diabos eu estava chorando? Era só... Um homem que eu conheci há dois dias e algumas horas. Ele não podia ser tão importante assim. Não podia.
Parei outro táxi e fui direto para o aeroporto. Cheguei a meu apartamento em Manhattan e o primeiro lugar para o qual dirigi o olhar foi o carpete da sala. Lembrei de Charles e me senti suja. E o pior de tudo: eu não me arrependia de nada.
31 de dezembro de 2010.
- Pai? – perguntei ouvindo a voz de meu amado pai do outro lado da linha e sorri. Havia ligado para ele e explicado tudo no dia seguinte do qual cheguei em casa. É claro que ele não concordou com a minha decisão, mas me apoiou. De acordo com ele, a menininha tinha crescido e tinha idade suficiente para fazer suas próprias escolhas.
- Oi querida! – ele respondeu.
- Só liguei pra desejar a todos um ótimo ano novo! Liguei logo agora porque sei que mais tarde as linhas vão ficar congestionadas. – disse.
- É verdade... – ele disse. – Um ótimo ano novo pra você também, minha filha.
Não prolongamos muito a conversa. Era irônico que uma mulher bem sucedida como eu estivesse passando o Ano Novo sozinha, em meu apartamento, com um moletom velho, cobertor e uma caneca de chocolate quente. Mas desde o fatídico Natal, nada me animava. Nada. Nem minhas amigas, nem mesmo Charles.
Quando ele voltou de Londres, me procurou e disse que se eu estivesse arrependida por tê-lo feito sofrer, ele me perdoava. E gostaria de ser meu amigo, algum dia, quem sabe. Disse também que ainda me amava, mas nenhum orgulho aguentava ser traído e saber que eu nem me arrependia disso... Bom, você deve ter entendido. Ele só me perguntou quem tinha sido e eu não disse. Simplesmente porque eu não conseguia sequer dizer seu nome em voz alta.
Engraçado as peças que o coração nos prega... Digo, estava há mais de um ano com um cara muito legal! Então, chega outro que me faz me apaixonar como uma garota boba de colegial. Estava tudo tão errado...
E a vida é tão injusta!
...
Ela parou de se permitir pensar nele. Mas por mais que tentasse... Era inevitável.
Um ano inteiro se passou. Ela foi reconhecida, lançou um livro sobre futebol para mulheres, e seu nome era escutado até na Rússia. Saiu com alguns caras, mas nenhum em especial. Seus casos não duravam mais que uma ou duas noites, em intervalos grandes de algumas semanas. Ainda ficava agoniada toda noite, pensando em seu pai. Mas decidiu que, sendo sua filha ou não, ele era o seu pai. O homem que a criou e lhe deu todo o seu amor. E Chuck... Bom, eles se tornaram ótimos amigos. Inclusive, se dava muito bem com sua nova namorada (e noiva!), Blair. Sim, ela também achava muito legal o fato de conhecer um casal chamado Chuck e Blair. Mas bom, esse casal não tinha nada a ver com o de Gossip Girl, só pra constar.
Ele pensava nela todos os dias. Assim que acordava, e antes de dormir...
Nesse ano que se passou, ganhou milhões com alguns de seus negócios. Seu nome era conhecido até no Brasil! Saía com uma mulher diferente a cada noite, na tentativa frustrada de esquecê-la. Ficara sabendo por seu primo que ela e o suposto namorado haviam terminado. Era provável que tivesse sido por sua culpa, ou não. Só sabia que ela não o havia procurado. E seu orgulho era muito grande para procurá-la.
Ainda lia sua coluna diariamente, até seu livro havia lido. Era realmente muito boa no que fazia.
E sentia falta daquela garota. Mais do que desejava.
...
Você está em primeiro lugar no seu campeonato pessoal, invicto há anos. Falta uma rodada para o fim do campeonato, apenas uma partida para que possa soltar o grito de campeão. E você tem certeza de tudo isso.
De repente você está bem no seu emprego, está feliz com seu namorado ou noivo, a ponto de se casar. Está bem até mesmo com toda a sua família. E de repente, tudo isso some. De repente, o time rival toma o seu lugar.
Você está feliz com o amor de sua vida, então aparece outra pessoa... Alguém que vai te fazer esquecer tudo. Alguém que em poucas horas vai te impressionar, vai te fazer se apaixonar.
E então, a uma partida do fim... Você perde. Perde a compreensão de sua família, perde o seu futuro garantido, perde o amor. E perde até mesmo aquela pessoa que lhe fez perder-se. E nada do que possa fazer fará as coisas voltarem.
Só o que tem a fazer é chorar. Seu time perdeu, agora terá que esperar a próxima oportunidade para ser campeão. E percebe tarde demais que essa segunda oportunidade pode não chegar nunca.
Mas o que está feito... Está feito. E percebe que não se arrepende de nada.
A vida é feita de várias partidas de futebol. E a única coisa que peço nesse natal, é que o juiz apite indicando o começo de uma nova partida nesse ano. E se quer saber, espero ansiosamente.
New York Times, Cooper, 24 de dezembro de 2011.
24 de dezembro de 2011.
’s P.O.V.:
Li e reli aquela coluna, incrédulo. Não, não podia ter sido a Cooper mais velha, a escrever isso. havia escrito uma coluna... Praticamente sobre mim. Eu era o time rival. Sorri sozinho. Ela sabia que eu leria. Ela sempre soube que eu leria.
Afinal, aquela era uma das únicas coisas sobre ela que eu sabia. Que era uma jornalista muito talentosa. Sorri mais uma vez, e antes que me arrependesse, fui até meu armário.
’s P.O.V.:
Rolei de um lado para o outro na cama. Dali a algumas horas, faria um ano... Um ano de choros antes de dormir ao lembrar de certo par de olhos . Sentei na cama, derrotada. Nunca iria conseguir dormir 6:00 p.m., mesmo que fosse só para não ver o Natal chegar. E então, faria o que? Passaria o dia inteiro debaixo das cobertas com medo de encarar o mundo lá fora? E seria isso todo ano?
Não querida, você não é tão covarde assim. E não vai ser um filho de uma puta daquele merda que me deixará assim.
Suspirei e olhei para o porta retrato que ficava na estante, defronte à minha cama. Senti o peito apertar, como sempre acontecia ao ver aquela foto. Eu, minha mãe, meu pai, e Kate, ainda bebê. Eu devia jogar aquilo fora.
Foi quando eu decidi que merecia um presente de Natal.
- Alô? – meu pai atendeu e eu sorri involuntariamente. Mas resolvi ir direto ao ponto.
- Minha mãe sumiu um mês antes do casamento? – despejei. Senti meu pai vacilar no outro lado da linha e me arrependi. Mas aquilo estava me deixando agoniada, mais do que eu aguentava. Já havia decidido que eu sendo filha ou não daquele homem, ele sempre seria o meu pai.
- Ah, querida... – ele suspirou. – Sim, sumiu. E teve um caso com um outro homem.
- Eu sou sua filha? – perguntei num sussurro.
- Você não nasceu prematura, querida, como deve imaginar. – fechei os olhos com força. – Mas sim, você é minha filha.
Senti o ar deixar meu pulmão pesadamente. Mas como assim?
- Querida, o homem com quem sua mãe dormiu era estéril. – meu pai quase riu. – Na noite em que voltou, sua mãe me disse que voltou porque me amava. E naquela mesma noite, eu a perdoei e nós lhe concebemos.
- Por que disseram para todos que eu nasci prematura? – perguntei com a voz trêmula.
- Porque não era bem vista uma mulher que dormia com outros antes do casamento. – ele sussurrou. E era verdade.
- Eu te amo, pai. – disse do nada. Eu dizia aquilo muito pouco a ele, percebi. E não querendo prolongar o assunto, tanto quanto eu, papai só disse:
- E eu te amo, minha menininha. – ele falou e eu ri baixo. Aquele era meu pai, sem sombra de dúvidas. E eu era sua filha, como devia ser.
Desligamos logo e eu voltei para a cama. Mas toda a agonia não passou. E eu sabia exatamente o motivo.
25 de dezembro de 2011.
Estava rolando em minha cama novamente, quando ouvi a campainha de meu apartamento tocar.
Levantei preguiçosa, e olhei o relógio. Meia noite em ponto. Senti os olhos arderem e fui direto à porta, e vendo o que parecia ser uma miragem.
Mas era ele. Em carne, osso, e suas íris me encarando com um desejo incomum.
- Feliz Natal, . – ele sussurrou antes de encostar os lábios nos meus.
Correspondi sem nem pensar no que estava acontecendo. Fechei a porta de qualquer jeito, e o empurrei até meu quarto, até minha cama. Ele me beijava intensamente e eu correspondia com a mesma intensidade.
Foi quando eu percebi a saudade louca que estava sentindo. Queria que o mundo se acabasse ali, só pra passar meus últimos segundos com ele.
Logo estávamos em minha cama, sem nenhuma roupa, entre gemidos e sussurros. Eu só podia estar sonhando.
Quando seu corpo caiu pesadamente sobre o meu, só consegui sorrir.
- O que exatamente você está fazendo aqui? –sussurrei, extasiada. Ele sorriu.
- Não estraga, não agora, ok? – ele pediu, divertido e eu concordei.
- Feliz Natal, . –disse, antes de cair em sono profundo em seus braços.
Como deveria ser.
Quando acordei, não havia ninguém ao meu lado. Por um momento, entrei em pânico, achando que tudo não passara de um sonho. Mas então, suas roupas espalhadas pelo chão de meu quarto, me provaram o contrário.
Vesti-me rapidamente e corri à sua procura feito uma adolescente vivendo o primeiro amor.
- Precisa de uma aspirina? – ouvi sua voz e sua risada perfeita vinda de trás do balcão de minha cozinha.
- Não bebi ontem, obrigada. – falei. – Mas adoraria um café forte. – ele riu, servindo o café e me entregando. Sorri surpresa com o fato de ele lembrar que eu bebia café puro. Suspirei e percebi que aquele momento chegaria mais cedo ou mais tarde. – Por que você veio? – perguntei. Ele me olhou e sorriu.
- Li sua coluna. – disse simplesmente, vindo até mim e me abraçando pelas costas. – Percebi logo o sentido de tudo. E se quer saber, acabo de ouvir o juiz apitando nosso novo começo. – estremeci ao ouvi-lo dizer a palavra “nosso”.
- E sua namorada? – perguntei me afastando. Ele me olhou confuso.
- , eu não tenho uma namorada há mais de três anos! – ele disse e riu. Arregalei levemente os olhos.
- Mas... Naquele dia, terminei tudo com Charles e fui ao seu apartamento... Você estava com...
- A minha mãe! – ele disse e riu. – , eu não acredito que você fugiu de mim por isso! – ele começou a gargalhar e eu não consegui evitar rir junto.
- Meu Deus, eu sou uma idiota! – falei alto. Paramos de rir ao mesmo tempo. Mas ainda estava me sentindo a maior babaca do mundo. Ele me beijou, ainda rindo.
- Eu não vim atrás de você, porque pensei que não quisesse nada comigo. Você não me procurou, só voltou pra cá. Pensei que já tivesse me esquecido. Mas então, ontem o jornal chegou em casa e eu li aquela coluna... Saber que você lembrava de mim foi a melhor coisa do mundo. –suspirou.
- Eu te amo. – falei sem pensar e quis me matar em seguida. Ele me encarou sem expressão por alguns segundos, e logo depois, em sua boca surgiu um sorriso bobo.
- Eu também. E muito. – ele disse, antes de pressionar-me contra o balcão da cozinha começar outro dos melhores beijos do mundo.
24 de dezembro de 2012.
’s P.O.V.:
- Porra, , você já ta linda, dá pra vir logo? – disse nervoso ao telefone. Aquela demora estava me deixando maluco.
- Como você pode saber, se ainda não me viu? – ela disse, entrando no carro. – Já estou aqui, bobo. –falou me dando um beijo, e eu fiquei sem ar ao encará-la. Estava linda em seu vestido.
- Porque você é sempre linda, não preciso te ver pra ter certeza.
Hoje era, provavelmente, o dia mais importante de minha vida.
Desde aquele dia, em que disse que a amava pela primeira vez, nós estávamos namorando. Pedi-la em namoro havia sido 769298374 vezes mais fácil do que eu estava planejando fazer agora. Mas era ela, eu sabia que era. Era ela que eu queria pra ser a mãe dos meus filhos, e a mulher que ficaria ao meu lado pro resto da minha vida. Fora por ela que me mudei pra esse país totalmente desconhecido, nessa cidade estranha, a tal New York.
Sorri debilmente, antes de arrancar com o carro.
...
e pararam em frente ao restaurante 5 estrelas, e sentiu um enjôo. Não conseguiria comer nada aquela noite, a qual tinha uma importante notícia para dar à . E tinha medo de sua reação. Antes que o rapaz pudesse sair do carro, segurou sua mão e disse:
- Não posso comer aqui. –falou insegura. O garoto a encarou confuso. – Esse lugar me deixou enjoada. – a expressão de relaxou e ele disse.
- Podemos ir a outro lugar. – falou. – Apesar de que vai ser um pouco difícil encontrar outro restaurante aberto, hoje.
- Eu não vou conseguir comer nada. – ela falou e o garoto a encarou, com medo. A primeira coisa que passou pela sua cabeça, foi que a garota ia terminar tudo com ele, justo quando iria fazer um pedido tão importante. Mas suas palavras seguintes, o fizeram ficar mais do que feliz. – Eu estou grávida.
arregalou os olhos e sorriu.
- Isso é ótimo! Até porque, eu vou te fazer um pedido que vai combinar perfeitamente com a sua notícia. – ele disse, botando a mão no bolso e tirando uma caixinha de veludo preta. Abriu lentamente tirando uma pequena aliança dali. Olhando profundamente nos olhos da menina, fez o pedido que esperara pra fazer por toda sua vida.
- Quer se casar comigo? – ele disse, tão baixo que ela quase não escutou. – Quer ser a senhora pra todo sempre? – finalizou.
E todas as inseguranças foram por água abaixo. Dessa vez, Cooper tinha certeza ao pronunciar as palavras seguintes.
- Eu quero, e vou ser . – ela deu um selinho em . – Pra sempre. – e soltando uma risadinha, completou. – Feliz Natal, .
N/A: Oi gente, tudo beleza? Me ignorem.
Enfim. Essa não é a primeira fic que eu escrevo, mas é a primeira que eu tenho coragem de mandar para o site. Percebe-se que eu sou péssima com finais, mas ok. Geralmente eu odeio o que escrevo, pra mim fica sempre uma porcaria, mas quando eu terminei de escrever essa, acabei achando fofa e criei coragem pra mandar.
Essa eu vou dedicar pra todos os meus amigos, família, sem exceções. É Natal galera, então essa eu dou de presente pra todos.
Se não for pedir muito, dá uma comentadinha? :3
Ou então manda uma reply no meu twitter dizendo o que achou? :3
Sim, sou insegura, mas who cares? Hahaha. Aceito qualquer critica, sério mesmo. Todas são bem vindas, tanto as ruins quanto as boas (apesar de que eu tenho preferência para as boas. Sério, me ignorem). Só pra eu saber o que vocês acharam e no que eu to ruim, pra procurar sempre melhorar, ok?
Enfim, obrigada por ler. <3
comments powered by DisqusNota da Beta: Brotos, caso tenha algum erro de português/script/html, podem entrar em contato comigo pelo twitter ou por e-mail, fiquem à vontade. E pelo twitter eu digo como ta o processo de betagem/se já mandei pro site, essas coisas, então pode seguir, se quiser =D