Mouth... Neck... Hand and your mind
Autora: Karol Oliveira
Beta: Abby

Nos conhecemos assim mesmo, por internet. Mentira, apenas nosso primeiro “encontro” e os meses que se seguiram foram assim.
Minha vida era tão normal que chegava a ser hipócrita, nem preciso dizer que feliz eu não era, né? Acho que é visível quando eu me refiro à minha querida vida como sendo HIPOCRISIA.
Eu estudava, estava no terceiro ano de faculdade. Tinha uma banda, nenhum namorado e nenhum apoio da minha família no quesito – sonhos. É que todo mundo achava que eu era louca por querer largar tudo e seguir sem rumo com minha banda por aí. Poderia ser, mas loucura é combustível pra uma vida feliz, pelo menos na minha concepção.
Eu nunca fui muito fã de John Cornelius O’Callaghan V vocalista do The Maine, o que me fascinava era o O’Callaghan poeta. Sim, o poeta que escrevia tudo que eu sentia e sempre me fazia chorar. Gostar da banda era uma consequência, que não me atingiu até que eu estivesse intimamente envolvida com eles, o que demorou certo tempo.
Além de parecer que ele me entendia perfeitamente, sem me conhecer, era incrível como nós escrevíamos sobre nossos sentimentos com toda alma e coração. Pra mim sempre fora difícil falar sobre o que se passava em minha cabeça, então eu escrevia. Colocava algumas coisas na internet às vezes, sempre achava pessoas na mesma situação ou piores que eu. Sempre procurei ser anônima, era melhor, assim eu pensava.
As coisas mais improváveis aconteciam na minha vida, isso era um fato que nem se eu quisesse eu conseguiria mudar. Eu sempre achava que isso era karma, mas depois desse acontecido em especial, eu comecei a pensar que eu realmente era sortuda.
Por obra do destino, de Deus, de Thor ou seja lá no que você acredite, um dos meus textos foi parar nas mãos de John O’Callaghan. Confesso que até hoje ele não me explica direito como isso aconteceu. – O importante é que aconteceu. – É sempre isso que ele diz. Ok, o que posso fazer?
Certo dia, recebi um recado frenético de uma amiga:

“Você não vai acreditar, JOHN O’CALLAGHAN ESTÁ TE PROCURANDO.”

Sério, a precisava parar de beber. Olha que eu nem sabia que ela bebia. era uma amiga de outro estado, ela era fã da banda de John, foi a um show deles por minha causa. Ela não estava trabalhando e então eu dei o ingresso de presente a ela. Eu não fui, porque, pra variar, eu morava no fim do mundo.
Começamos a conversar com calma e ela não falava coisa com coisa. Foi aí que fiquei sabendo que ele postou em seu twitter e no twitter da banda que estava a procura da “garota misteriosa que fez seu coração sangrar”, ele era um belo poeta dramático. Eu realmente estava surpresa, é claro que estava. Como uma das minhas coisas mais pessoais tinha ido parar nas mãos dele? Como eu disse, não sei até hoje.
Apenas alguns amigos próximos souberam da historia, é claro que eles me cobravam todos os dias pra que eu me revelasse. Eu não achava que daria certo, com certeza, logo ele desistiria. Mas eu estava prestando atenção em tudo, twitter e todas as redes sociais. Minha vontade era de dizer “Aqui estou eu, do outro lado do oceano.” Até comecei a ouvir com mais frequência KT Tunstall, que tinha uma musica chamada Other side of the world. Queria ser menos patética.
O fato é que durante um mês ele postava todos os dias a mesma frase em seu twitter. “Where are you girl of the love of souls?” Depois de um tempo, até mesmo os companheiros de banda começaram a pedir pra que a tal garota aparecesse. Eu já estava com pena dele, parecia que ele realmente queria saber quem havia escrito aquilo. Eu iria tentar, uma vez.
“Mouth... Neck... Hand and your mind.” Foi esse o meu tweet direcionado a ele. Era uma das frases daquela espécie de poema que eu havia escrito. Não recebi nenhuma resposta, provavelmente ele nem havia visto. Algumas semanas se passaram quando recebi uma mention no mínimo curiosa.
“Why don’t you answer me? Check your DM's”, adivinhem só quem era? O’Callaghan. Então era por isso que meu nuúmero de seguidores havia aumentado consideravelmente. Eu tinha nada mais nada menos que 13 DM’s dele. Todas praticamente implorando que eu o enviasse um email.
Foi a partir dessa minha resposta por email que tudo começou. Primeiramente, nada mais que emails trocados com certa frequência. Percebi que estávamos nos tornando mais “próximos” quando ele pediu minha opinião sobre uma musica que estava escrevendo. Quase um mês depois, ele se sentiu a vontade para pedir meu Skype, é claro que eu dei com um frio na barriga. Meu inglês não era fluente e com certeza eu congelaria.
Esqueci-me de comentar o fato de que exclui meu twitter, mas fiz outro apenas para os amigos mais próximos. Acho que nem preciso dizer que eu estava vivendo um sonho. Era incrível como nos entendíamos perfeitamente, era algo tão gostoso e natural.
Quase um ano depois, nós estávamos mais que íntimos, nossa rotina era estar um com o outro. Ele e Pat haviam se tornado meus melhores amigos, deixava até de sair com meus amigos “reais” só pra poder passar a madrugada com eles. John me fez uma musica, não exatamente pra mim, mas baseada em tudo que eu havia escrito. Nessa altura do campeonato ele já tinha milhares de textos meus.
Antes mesmo de tudo acontecer, eu e mais duas amigas tínhamos um intercâmbio de um mês para LA marcado. A banda estava em tour, então a chance de encontrá-los era realmente pequena. Mas John me prometera que faria o possível. Eu acreditava nele. É aqui que a historia começa de verdade.

LA, 19 de agosto.

Eu estava nervosa, tremendo, impaciente e quase tendo um ataque. Esperava o desembarque dos passageiros do voo vindo de NY. Sim, ele viria. Mas traria também meu tão adorado bonequinho Pat, ele não aceitou que John fosse sozinho. Eu sentia que a qualquer momento eu iria furar o chão e parar na China, ou no Japão, sei lá, onde eu iria parar era o que menos importava.
Mas foi só quando eu vi o olhar de que eu soube o que era realmente estar nervosa. Eu estava prestes a ter uma parada cardíaca, simplesmente não conseguia me virar e encarar o que eu sentia que estava atrás de mim.
- ? – aquela voz que eu ouvira com tanta frequência por fones de ouvido agora era a mais linda melodia. Ele estava mesmo ali.
Virei-me lentamente, ainda sem saber o que fazer. Se eu o abraçaria, se gritaria. Não fiz nada, uma garota que estava por perto se encarregou de gritar quando o reconheceu. Claro que ele não deixaria de dar atenção às pessoas que começavam a se aglomerar em volta. Enquanto eu esperava, vi uma figura curiosa com um boné e óculos escuros aparecer. Eu sabia quem era, simplesmente reconhecia aquele boné. Era Pat.
Em uma reação totalmente diferente da de quando John apareceu, eu corri e pule nele, o abraçando e distribuindo beijos pelo rosto do garoto que só conseguia rir.
- Meu Deus, eu não acredito que vocês estão realmente aqui. – eu disse a Pat, tentando controlar minha vontade quase incontrolável de chorar, de felicidade, é claro.
- Pois estamos, eu, lindo como sempre, e John... bom, acho melhor você se acostumar com isso, né? – ele disse sem deixar de me abraçar enquanto nós íamos à direção de e .
Pat com uma educação imensa e invejável cumprimentou minhas amigas e continuou conversando com a gente enquanto John ainda era engolido por uma pequena multidão. Foi só nessa hora que eu entendi o “disfarce” de Pat.
- Acho que agora eu posso ganhar o meu abraço também. – eu paralisei outra vez, com Pat era tudo normal, mas John simplesmente me desarmava.
- John... – eu disse como se fosse um suspiro, virando lentamente. Parecia que tudo estava em câmera lenta.
Ele sorriu, era o sorriso mais perfeito do mundo. Eu queria alguém pra me beliscar ou então alguém pra me acordar daquele sonho perfeito.
- Só o Pat vai ganhar abraço, ? – ele disse mais uma vez e só então eu me toquei que provavelmente eu parecia uma bocó na frente dele.
Agora era minha vez de sorrir, de me tocar finalmente que aquilo não era um sonho.
Com muito esforço pela nossa diferença de altura, eu consegui alcançar o pescoço dele para um longo abraço. Loooooongo abraço mesmo. Depois que conseguimos nos soltar, ele fez o mesmo que Pat, cumprimentando minhas amigas.
- Quase me esqueci, tenho um presente pra você. – ele disse quando já estávamos nos dirigindo para saída do aeroporto.
Ele revirou a mochila e tirou um embrulho já meio amassado, eu não tinha ideia do que poderia ser, qualquer coisa seria mágico. Meus olhos e minha boca se abriram quando eu finalmente consegui me livrar do embrulho vermelho.
A-Ha - DVD Ending On A High Note - The Final Concert

Não acreditava nos meus olhos, o DVD que eu mais amava e ainda autografado pelo Morten. Poderia morrer, com certeza.
- O-M-G. – eu disse quase em tom de desespero.
- Você gostou? – ele perguntou, rindo.
- Você tá brincando? Isso é a coisa mais linda, perfeita e posso morrer de tanta felicidade. – eu disse tão rápido que ele e Pat não conseguiram entender e eu tive que repetir tudo mais devagar. Meu inglês ainda tinha seus momentos de fraqueza, principalmente quando falava rápido. Outra coisa era o sobrenome de John, até hoje não consigo pronunciar.
Aqueles três dias que passamos juntos foram como um flash. Ficávamos todos grudados praticamente 24h por dia, esse tempo só não se prolongava porque não dormíamos no mesmo lugar, afinal, eu e as meninas estávamos em uma casa de estudantes. Eles iriam embora na madrugada do dia 23 de agosto, meu mau humor por isso já era visível, eu não queria acordar naquele dia. Mas fui obrigada a reprimir meus desejos suicidas e passar meus últimos momentos agradáveis com eles. Saímos à noite, fomos a uma boate que nem em meus sonhos mais perfeitos eu ousaria entrar. Mas é claro que eles conseguiam ser influentes quando queriam, foi o que aconteceu.
Sabem o que mais aconteceu? Eu e John. É claro que eu fantasiava esse momento, no mais íntimo que eu conseguia. Eu não era obcecada por ele nem nada do gênero, mas não sei, havia uma atração. Mútua.
A parte mais difícil disso? Ter que acordar do lado dele pronta pra me despedir.
Sempre achei que minha relação com John continuaria a mesma depois do ocorrido. Ele voltou para estrada com a banda e eu para minha vidinha de sempre. Mas não, nossas conversar ficavam cada vez mais frequentes. Assim que voltei do intercâmbio, ele me propôs uma coisa no mínimo inusitada e inesperada: Ir embora e ficar em tour com eles.
Obviamente eu recusei, se aguentasse mais dois anos eu conseguiria me formar. Mas na verdade aquela proposta me deu medo. No fundo eu queria ter aceitado na mesma hora. John continuara me torrar a paciência por mais três meses. Ele sempre usava a chantagem: Onde está a garota que conheci? Aquela que largaria tudo o que não gosta pela própria felicidade?
O filho da mãe conseguiu plantar a dúvida em mim, todo esse tempo minhas reclamações eram sempre as mesmas. Eu queria ser livre, viajar, trabalhar com música, escrever e não ficar presa na minha cidadezinha no fim do mundo.
Foi em um domingo que eu disse as palavras tão esperadas por John.
- Yes, I’ll go with you. – foi apenas isso que eu disse a ele, que estava do outro lado da tela, aparentemente sozinho. Aparentemente. Quando terminei minha frase, Pat, Kenny, Jared e Garrett apareceram gritando e fazendo festa. Eu só consegui rir.
Demorou um pouco até convencer minha família que eles não eram caras de 40 anos que queriam me levar para um caminho de drogas e prostituição, acho que até hoje eles não tem tanta certeza disso.
Era fevereiro e eu estava embarcando para Tempe, Arizona. Sem shows por enquanto, mas o nosso álibi é que eu havia sido contratada para trabalhar com eles, isso facilitaria todo o processo burocrático que envolve se mudar de um país para o outro. Eu estava aterrorizada e achava que eu tinha feito uma grande besteira, mas também não conseguia tirar meu sorriso do rosto. Até me lembrar, é claro, que eu ficaria na casa de John e sua família. Com tanto dinheiro ganho, o garoto mimado ainda não havia saído da barra da saia de Jenny. Agora eu só tinha que torcer pra que ela gostasse de mim.
Outra coisa que estava deixando minha cabeça a mil era minha “relação” com ele. Depois de LA, nós não conversamos sobre isso. Eu não tinha ideia se ele me trataria como amiga ou se nós continuaríamos de onde paramos naquela madrugada.
A chegada ao aeroporto foi a hora mais tensa, acho que enrolei uma meia hora só pra pegar minha mala. Assim que a porta automática se abriu para algumas pessoas que estavam a minha frente, eu vi John, Jenny e Pat me esperando. Ele andava de um lado para o outro, sorri ao lembrar que há um tempo era eu que estava naquela situação. Ver Jenny também me deixara ainda mais nervosa. Ela era incrível, já havia conversado com ela poucas vezes, compartilhávamos o mesmo amor por Morten Harket. Ela nunca dissera nada, mas eu tinha quase certeza que ela achava aquele um passo muito grande, seja lá qual fosse ele. Eram pensamentos de mãe.
Eu não consegui me comportar normalmente, é claro que provavelmente eu enlouqueceria com aquela pequena distancia entre nós. Larguei as malas no meio do caminho (inspirada por alguns filmes) e saí correndo em direção a ele, que repetiu meus movimentos. Acho que foi nosso abraço mais longo, mais longo que o da chegada em LA e ainda mais longo que o da nossa despedida.
- Não acredito que você está realmente aqui.
- Eu não acredito que estou aqui. – ele me beijou. Sim, me beijou. Acho que era isso que eu precisava para entender que nós continuaríamos onde paramos naquela madrugada.
Silêncio. Eu só precisava olhar para ele, ainda era difícil acreditar em tudo que havia acontecido até aquele momento. Fui tirada dos meus devaneios por Pat, é claro, que me abraçou calorosamente e depois me deu um cupcake.
- Pra você, eu quase o comi porque John nos fez chegar aqui 1h antes do avião pousar. Mas não consegui, tem seu nome escrito nele. – quando ele disse isso eu percebi que meu nome estava realmente escrito ali. Meus braços apertaram Pat mais uma vez.
- ? – ouvi a voz de Jenny e por um segundo eu pensei em sair correndo.
Com toda calma e elegância ela veio até mim e me abraçou, me senti muito acolhida naquele abraço. Seu cheiro lembrava minha mãe, a qual não estava falando comigo por toda aquela história. Foi então que me toquei que a pessoa mais importante no mundo, pra mim, estava sofrendo com a minha partida. Num impulso que tentei controlar, comecei a chorar abraçada aquela mulher. Ninguém disse nada ou perguntou, só ficamos ali, eu e ela.
- Vai ficar tudo bem. – ela balbuciou quando percebeu que eu estava mais calma.
Fui rápida ao dizer para John que meu choro não era de arrependimento, mas acho que nem precisaria, ele entendeu o motivo claramente.
Família incrível, era a única coisa que eu tinha a dizer. Passaríamos pouco tempo ali, eles estavam de férias, férias essas que estavam quase em seu final. Minha “contratação” era apenas uma desculpa, mas eu não queria ficar sem fazer nada. Então, John, junto com os outros, concordou que meu trabalho com eles seria de uma espécie de Diário Ambulante. No começo eu não entendi muito bem, mas eles me explicaram com calma depois. Eu escreveria sobre o dia-a-dia deles, talvez se transformasse em um blog ou um livro, eles ainda não sabiam, mas eu concordei. Meu outro objetivo era estudar, mas antes de entrar em uma Universidade eu teria que passar no teste exigido para que estrangeiros possam ser aceitos, eu precisava provar minha fluência no idioma. Seria fácil, mas ainda teriam algumas coisas que eu tinha que aperfeiçoar.
Duas semanas já haviam se passado e eu ainda morria de vergonha de andar pela casa sozinha. Até na hora de tomar banho, John ficava esperando no quarto até que eu saísse. Eu sei que era ridículo, mas eu não conseguia controlar aquilo.
Era uma quarta-feira quando acordei e não o vi na cama, pensei em ficar ali até que ele voltasse, mas e se ele demorasse? Jenny me acharia uma folgada e preguiçosa. Quando esse pensamento me invadiu, levantei-me rápido e me arrumei.
- Bom dia. – eu disse a Jenny, que estava sozinha na cozinha.
- Bom dia, querida. John pediu pra te avisar que não demora. – ela disse, acolhedora como sempre.
- Onde ele foi? Você sabe? – perguntei, sentindo a vergonha me deixar lentamente.
- Ele não disse, só comentou que ia resolver algumas coisas e que não demorava. Mas eu tenho um palpite. – ela disse me olhando com um sorriso ainda maior.
- Tem? – respondi desconfiada.
- Acho que ele foi à procura de um apartamento pra vocês.
- O quê? Eu não acho, as viagens começam na semana que vem e...
- John sempre disse que só ia sair daqui quando fosse para formar uma família. Acredite, eu não acho que ele teria feito tudo que fez se você não fosse a pessoa com quem ele quisesse fazer isso.
- Você me pegou de surpresa, Jenny.
- Ele me disse que você não pretende ficar o tempo inteiro com a banda. Você quer voltar a estudar, construir algo que seja seu, e não algo que seja dele e que ele a colocou no meio. Estou sendo clara?
- Sim, muito. É exatamente isso. Mas eu não imaginei que ele pudesse dar um passo tão grande, não agora já que terei que esperar alguns meses para poder me inscrever para os exames.
- Não quero encher sua cabeça com abobrinhas, , mas essa é a minha opinião do que ele foi fazer. Agora se sente e tome seu café da manhã. Só saberemos do que se trata quando ele chegar. – ela sorriu e eu apenas fiz o que ela pediu.
Estava sentada no sofá com Jenny mostrando algumas fotos de família, minha mãe e meu irmão eram as pessoas que mais apareciam. Ela ria, comentando como nós três éramos parecidos, não tinha como não dizer que éramos da mesma família.
As risadas de Kennedy ainda do lado de fora anunciaram a chegada dos garotos, estavam todos juntos.
- O que está acontecendo? – perguntei curiosa.
- Vem, nós vamos sair. – John disse, me puxando.
- Espera, aonde nós vamos? – eu continuei perguntando.
- Para de perguntar, . Garrett, cadê a venda? – Jared disse olhando para trás e esticando a mão, até que alcançou a venda que Garrett lhe deu.
- Jenny, não deixa eles me sequestrarem. Ninguém vai pagar o resgate. – eu gritei, ao mesmo tempo brincando e falando sério.
Eu já não sabia mais onde estava, só sentia o movimento do carro e a risada dos meninos. Sabia que eles estavam tirando fotos. Filhos da mãe. Não me movi até o carro parar e alguém que eu pude ouvir como sendo Pat me ajudando a sair do mesmo.
Escada. Porta giratória. Escada. Elevador.
Paramos e ouvi a voz de John no meu ouvido, o que me causou um arrepio já que eu não esperava por aquilo.
- Preparada? – ele perguntou.
- Não. – respondi. Eles deram gargalhadas.
Mais um passo e então a escuridão que me tomava foi substituída por um tom de branco que machucou meus olhos. Jenny realmente estava certa, ele havia comprado um apartamento para NÓS. O nós realmente existia.
Confesso que o esperei ajoelhar e me pedir em casamento, mas até eu concordava que era muito cedo pra isso.
- Tem até um quarto extra pra quando nós precisarmos trazer nossos amigos bêbados pra cá. – ele disse de frente pra mim. – O que achou?
- John, eu não sei o que dizer. É simplesmente maravilhoso. – eu tinha certeza que meus olhos estavam brilhando com aquilo.
Eu estava viajando tanto que nem prestei atenção quando todos eles pararam perto de mim com os celulares apontados para minha cara de boba.
Acho que perdi a conta de quanto tempo ficamos lá, mas depois da sessão “babação” do apartamento novo, fomos almoçar todos juntos. Por um momento eu me esqueci de quem eram meus companheiros, já estava ficando cansada de ter que parar de comer para tirar fotos deles com pessoas (leia-se meninas) que apareciam dando alguns gritos histéricos. Eu sabia que essa seria minha vida, era melhor me acostumar, então.

- Você tem certeza que não tomou nenhuma decisão precipitada? Não que eu não tenha amado, mas você entende o que quero dizer. – eu disse enquanto John mexia em meus cabelos, estávamos deitados e sem sono.
- Tenho certeza que esse foi o momento e a decisão certa. Quando as viagens terminarem e nós voltarmos, já temos nosso cantinho. Meu e seu, decorado como a gente quiser. – ele me respondera calmamente.
- Eu tô tão feliz que acho que vou explodir. De verdade.
- Eu deixo você explodir, mas de uma maneira sensual e somente pra mim. – não pude deixar de rir daquele comentário.

[...]

Já estávamos viajando há quase um mês, eu estava adorando tudo aquilo, mas meu corpo não estava reagindo muito bem às mudanças bruscas de temperatura. Eu ficava com febre com muita frequência e na maioria das vezes estava dopada por remédios. Mas tinha certeza que aquela era uma reação normal às mudanças, então não dava muito alarde e nem me preocupava tanto.
As semanas iam se passando e minha relação com John ficava cada vez mais madura. Sempre que eles tinham uma folga, voltávamos a Tempe e decorávamos um cantinho da nossa casa, é claro que o primeiro cômodo fora o quarto, assim tivemos que dormir no chão apenas uma vez. Em alguns meses eu faria meu exame de proficiência e ai eu estaria a um passo a menos da faculdade de Letras.
Eu havia aprendido a lidar melhor com a fama deles, não gostava de aparecer muito, tinha certo medo. Estava conversando com alguns amigos em uma tarde qualquer na internet, estávamos em Londres, quando vi uma pagina criada por algumas fãs sobre mim.
Motivos para odiar

Uau, será que eu era odiada assim por todas? Não comentei nada com John ou com qualquer um dos meninos, mas ele acabou descobrindo e foi curto e grosso dizendo que se aquilo não saísse do ar, ele iria até o inferno para encontrar quem o havia feito. Um pouco dramático, eu acho, mas extremamente linda essa preocupação dele.
Meu relacionamento com os meninos estava cada dia melhor.
Pat era sem dúvida meu melhor amigo. Nós tínhamos até nosso Cupcake Day. Ele era meu “segurança” quando John não estava por perto. Em um dia de tédio, no qual eles passaram o dia dando entrevista e eu no hotel, pintei uma camiseta para mim com os dizeres “Pat’s BFF” e outra para Pat que dizia “’s BFF”. Ele diz que foi um dos melhores presentes que ele ganhou na vida.
Garrett era meu Zombie friend, o que tínhamos em comum era nossa obsessão por Zumbis. Éramos capazes de passar horas falando sobre nossa reação no Apocalipse Zumbi. É claro que nós queríamos ser os zumbis.
Kenny sempre fora o amigo sensual, estava sempre se metendo em enrascadas com as garotas e eu que precisava salvá-lo. Além de sempre fazermos comprar juntos, eu arriscaria dizer que ele fazia o papel de amiga mulher.
Jared foi o que eu demorei mais tempo para descobrir coisas em comum, na verdade, acho que até hoje não descobrimos. Ele sempre fora o mais tímido e mais fechado. Mas comigo a história mudou em um show em Berlim que caiu no dia do aniversário dele. Dei a ideia de todos se pintarem de vermelho em homenagem a ele, os garotos, é claro, concordaram. Lembro-me da loucura que foi sair para comprar tintas, eu não tinha alguém para me traduzir, então era contar com a sorte para que me entendessem. Além de comprar tinta para pintar os garotos, distribui para os fãs na fila. O show aconteceu com uma banda vermelha e um mar de gente vermelha na plateia, inclusive eu. No final do show eu recebi todo o crédito pela ideia e o abraço mais amoroso que Jared já havia me dado, junto com o abraço veio a confiança dele, que era o mais importante para mim.

[...]

O aniversário de John estava próximo, eu queria fazer algo especial. Estaríamos em Tempe, um mês antes eu já estava bolando algumas ideias para uma surpresa. Liguei para Jenny com antecedência contando minha ideia, ela iria me ajudar.
O combinado seria que no dia do aniversário dele eu “esqueceria”. Eu precisava arrumar algo para fazer o dia todo e assim não ter tempo de encontrá-lo. Os garotos o levariam a uma boate que eu sei que ele gosta, então pouco antes da meia-noite, todos, inclusive eu, se juntariam no palco e cantaríamos um grandioso parabéns, com direito a bolo e velas.
Como era de se esperar, ele passou o dia possesso. Ligava-me de dez em dez minutos, mas eu sempre dizia que precisava estudar. Eram 8pm quando Pat me dera o sinal verde para ir até nossa casa e me arrumar. Eu ainda precisaria passar para pegar o bolo, mas Jenny me ligou um pouco antes dizendo que passaria para pegar o bolo primeiro e depois iria me buscar.
Como combinado, às 11pm estávamos na frente da boate. Harry, o segurança, já sabia do esquema, então nos conduziu até a entrada dos fundos, assim não correríamos o risco de John nos ver. A música tocava alto e o palco estava escuro, meu medo era de tropeçar e cair, estragando o bolo lindo que Jenny havia mandado fazer. Graças a Deus isso não aconteceu.
Pat mandou uma última mensagem, ele dissera que havia se perdido de John, mas não importava, nós o acharíamos de novo quando todas as luzes do palco se acendessem revelando a mim e Jenny em cima dele.
Foi o que aconteceu, as luzes se acenderam e eu e minha sogra começamos um tímido parabéns que logo foi acompanhado por todos que estavam ali. Mas nós ainda não havíamos visto John, será que ele fora embora?
Procuramos por alguns instantes e Jenny até chamou por ele no microfone. Foi quando ouvimos Kennedy xingando alguém ao olhar para trás. Forçando mais meus olhos eu pude ver de quem se tratava, era John. Mas não apenas ele, ele e uma garota, se beijavam. Eu não sei explicar o que eu senti vendo aquilo, eu queria estar enganada e pedia silenciosamente para que fosse apenas alguém muito parecido com ele, mas não, era ele.
Eu agira por impulso muitas vezes durante minha vida, mas aquele era um momento em que eu queria apenas que todos sumissem para que eu não precisasse tomar nenhuma atitude. Aquilo doía, como nada nem ninguém haviam conseguido. Com alguma ajuda eu desci do palco, com o bolo nas mãos ainda, me aproximei dele com o pouco de coragem que me restava. Joguei o bolo em cima dos dois.
- Feliz aniversário. – John me olhava desesperado e eu entendi que ele estava bêbado, ele tentava suplicar para que eu o ouvisse. Como? Se ele nem mesmo conseguia falar direito, eu não queria nem imaginar o quanto ele havia bebido aquela noite.
Ao me dirigir para a saída da boate, passei por Pat, que tentou falar algo, mas devido ao meu olhar ele simplesmente não continuou. Sabia que eu precisava de um tempo. Senti-me naqueles filmes bobos de romance, onde a personagem principal encontra seu príncipe encantado com outra e sai andando sem destino à noite pela cidade. Foi isso que fiz. Meu celular tocava insistentemente. Eu não queria ver o nome dele no visor e me enfraquecer.
- Vá se ferrar, John. – foi o que eu consegui gritar ao atender e logo depois o desligar. Sentei-me em uma lanchonete 24h rezando para que pelo menos uma vez na vida não houvesse nenhum fã da banda deles ali. Meu pedido não foi atendido, uma garota que aparentava seus 16 anos estava comendo com os pais na mesa a frente da minha. Ela já me lançara um olhar diferente assim que adentrei aquele lugar.
- Com licença. – ela falou educada, eu não podia tratá-la mal, ela não tinha culpa do ídolo ser um idiota.
- Sim. – respondi tentando sorrir.
- Você é a , certo? Namorada do John. – ela continuou, tímida.
- Exatamente, eu mesma. – meu sorriso estava mais fraco, mas presente.
- Desculpe perguntar, mas o que você está fazendo aqui? Hoje não é aniversario dele? – ela disse, era uma pergunta que eu já imaginava.
- É sim, hoje é aniversario dele. Mas nós combinamos que ele se divertiria com os amigos e depois me encontraria para uma diversão de casal. – pisquei pra ela, que pareceu satisfeita com minha resposta. – Olha só, está na minha hora.
- Boa comemoração. – ela disse me observando deixar o dinheiro em cima da mesa e eu quase apostaria que ela me olhou até que eu saísse pela porta.
Eu estava sem destino, então a quem recorrer? Meu melhor amigo, é claro.
- Pat? – eu disse tímida ao telefone.
- , ele está louco atrás de você. Onde você se meteu? – ele dizia aflito e eu podia ouvir John falando com ele ao mesmo tempo, querendo pegar o telefone.
- Eu só precisava de um ar, Pat.
- E pra onde você vai? Vai voltar pra casa e conversar com John?
- Na verdade, não, não hoje. Se você puder me abrigar... – nessa hora eu já estava chegando em frente a casa de Pat, esse era o lado bom de Tempe, tudo era muito perto.
- Você já está aí, né? – ele disse rindo e eu apenas murmurei um sim.
O ouvi dizer que não demoraria e logo em seguida desliguei. Sentei-me na calçada, brincava com um graveto qualquer quando o carro dele parou do outro lado da rua. Eu me levantei, pronta para atravessar a rua e chorar como uma criança nos braços dele, mas a imagem de John saindo do carro fez com que eu mudasse de ideia, eu não queria que ele me visse tão vulnerável.
- , ele insistiu pra vir junto. – Pat deu um beijo no topo da minha cabeça e disse como se estivesse se desculpando. Apenas sorri. – Eu vou entrar, te espero lá. – Concordei com a cabeça e ele passou por mim sumindo pela porta.
- Amor... – John começou, mas eu não queria ouvi-lo naquele momento.
- John, não agora, por favor. – ele concordou derrotado.
- Você vai dormir aqui? Volte pra casa, eu posso ir pra casa da minha mãe.
- Não se preocupe, John, tenho certeza de que se você for pra casa agora, sua mãe te espanca.
- Na verdade, ela já fez isso, mas eu não me importo porque eu mereço mesmo, eu sou um idiota.
- Vá pra casa, durma. Eu vou fazer o mesmo e amanhã de manhã Pat me leva e nós conversamos, pode ser? – como eu adquiri aquela calma eu não sei, mas eu simplesmente não tinha vontade de brigar. Ele apenas concordou e deu meia-volta, só mais algumas quadras e ele estaria em casa.
Quando entrei e vi Pat na sala, foi como se todas as minhas forças simplesmente abandonassem meu corpo. Como se entendesse perfeitamente meu olhar, meu melhor amigo me abraçou e então eu finalmente pude tirar todo aquele peso das costas, peso que caiu em forma de lágrimas.

Eu não conseguira dormir, pelo visto, nem Pat, porque era cedo e ele já estava na cozinha.
- Bom dia. – ele disse me esticando um copo de suco.
- Bom dia. – eu respondi e peguei o copo.
Nenhum dos dois disse nada, não era preciso.
- Você já quer ir? – ele perguntou como se lesse meu pensamento.
- Por favor. – eu sorri.
Apesar das poucas quadras, Pat estava com preguiça demais para ir andando. Ele parou o carro em frente ao prédio, me deu um abraço apertado. Sorri em agradecimento.
Abri a porta do apartamento e logo me deparei com um John com olheiras e uma xícara de café na mão. Forte e sem açúcar, como ele sempre fazia quando tinha ressaca. Ao me ver ele deixou a xícara na mesinha de centro, levantou-se e veio em minha direção.
- Eu preciso de um banho antes, John. – eu disse antes que ele se aproximasse mais. – Não demoro. – Saí em direção ao quarto.
Como havia dito, não demorei a tomar banho. Saí do banheiro ainda com a toalha enrolada em meu corpo, ele estava sentando de cabeça baixa na cama.
- Eu passei praticamente a tarde toda bebendo. Você não me atendia e tinha esquecido meu aniversario, eu só conseguia pensar que talvez você estivesse fugindo de mim porque estava infeliz ou arrependida. Eu não quero colocar a culpa toda na bebida, eu assumo minha canalhice. Mas eu nem cheguei a aprofundar um beijo com ela, ela não era você. Desculpe-me, não me deixe.
Eu continuava parada em frente a porta, ouvindo. Não precisei me aproximar para saber que ele dizia a verdade, eu o conhecia e por mais que eu tenha me machucado quando vi aquilo, eu sabia que essa nunca seria a intenção dele. Caminhei lentamente, ele apenas me acompanhava com os olhos. Sentei-me no colo dele, que me abraçou com força.
- Não deixe que futuramente eu me arrependa de ter acreditado em você e te perdoado. – eu disse tocando seu rosto.
Num gesto simples, e, pra mim, suficiente, ele fechou os olhos e deixou que uma lágrima caísse.

Fim



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