Escrita por: Jubbs
Betada por: Vanessa


9 anos

O primeiro contato de verdade que eu tive com Dougie Poynter fora na minha festa de aniversário de 9 anos.
Minha mãe tinha me obrigado a convidar todos os meus colegas de turma, mas eu nem me importei muito com o fato de que talvez alguma pessoa que eu não gostasse iria. Eu só queria saber dos presentes.
A festa estava bem animada, em minha opinião. Tinha músicas legais que faziam sucesso na MTV tocando; não tinha balões; não tinha palhaços; tinha muitos doces, salgados e todo tipo de porcaria que adoramos quando somos crianças (cá entre nós, não são só as crianças que amam doces, mas o adultos vivem com mania de emagrecer, enquanto crianças não ligam para isso); havia uma pilha de presentes embalados perto da entrada do jardim da minha casa; um grupo de meninos jogava futebol em um lado do jardim enquanto um grupo de meninas brincava de se maquiar com as minhas tias do outro lado; todos os meus familiares estavam lá – até mesmo os que moravam no continente – e eles não vieram com aquele papo de "Está virando mocinha!"; e o melhor de tudo: o meu pai ainda não tinha tirado o meu repertório de músicas para colocar um brega que ele gostava.
Todos estavam se divertindo muito, e eu ainda não tinha visto ninguém estranho. No geral, eu gostava de todos da minha classe. Não que eu fosse popular, mas eu só me dava bem com todos. Bem, eu me dava bem com todas as pessoas que, assim como eu, se davam bem com todas as pessoas.
Por isso que eu nunca falava com Dougie Poynter.
Ele era o garoto esquisito de nossa classe, ficava fazendo desenhos estranhos na hora da aula, sempre desatento, e todos sabiam que ele gostava de lagartos. Não era bem o fato de ele gostar de lagartos que as pessoas não gostavam nele, mas o fato de ele pegar em lagartos sem um pingo de nojo. É, crianças podem ser bem cruéis com as outras por causa de motivos fúteis como esse. E ainda tinha o fato do nome dele ser só Dougie, e não Douglas. As pessoas podem ser tão idiotas com 9 anos, por se importarem com coisas desse tipo.
Mas eu nunca tinha me dado o trabalho de ir falar com ele. Eu somente aceitava a posição dele de excluído e pronto.
Mas quando eu o vi no meu aniversário, com um pedaço de bolo na mão, em pé de frente a uma árvore no jardim da minha casa, observando os galhos tão fixamente, eu não tive alternativa, se não ir falar com ele. Era como se aquela imagem estranha e inocente dele estivesse me atraindo como um imã. Mas é claro que eu não tinha pensado nisso naquela idade. Garotos ainda eram nojentos para mim.
Eu me aproximei devagar e silenciosamente, por isso ele levou um susto quando eu falei:
- Sabe, você não vai achar lagartos por aqui.
Ele se virou rápido, com os olhos assustados, e quase deixou a metade do pedaço de bolo de chocolate cair no chão. Ele me olhava como se eu fosse prendê-lo por estar olhando para a árvore. Eu logo percebi que ele não iria falar nada, iria apenas ficar me olhando com um olhar culpado. Talvez ele não esperasse que eu notasse a sua presença na minha própria festa.
Fiquei do lado dele e encarei os galhos da árvore também, como que dizendo que ele podia olhar sem problemas.
- Toda semana vem um homem para tirar os bichos do jardim. A minha mãe não gosta quando eles entram em casa. – eu disse.
Dougie ficou em silencio, mas parecia querer falar algo. Ele estava um tanto quanto inquieto.
Reparei nas suas roupas: uma camiseta branca com um desenho de um dinossauro por baixo de uma camisa social azul clara – que parecia um tanto quanto folgada nele –, uma calça cinza e tênis pretos. Os seus cabelos estavam desgrenhados, parecia que a mãe dele havia penteado com gel para trás, mas ele provavelmente tinha despenteado tudo quando a mãe dele virou as costas.
E depois reparei nos seus olhos: pequenininhos e azuis, totalmente diferentes dos meus grandes e castanhos.
Ele era exatamente da minha altura – eu nunca fui muito alta, assim como Dougie também não – e me ocorreu o pensamento de que nós estávamos combinando: eu estava linda no meu vestido azul claro que combinava com a minha tiara também azul; as minhas sapatilhas eram prateadas, assim como os detalhes do meu vestido; o meu cabelo estava bem arrumado no início da festa, mas eu tinha certeza que já estava todo embaraçado.
É claro que com 9 anos eu não admiti, com todas as palavras, que combinávamos. Mas no fundo, bem lá no fundo do meu subconsciente, eu sabia que ele estava lindo naquele dia.
Ele percebeu que eu o estava analisando, e então suas bochechas coraram um pouco. Bem, quando eu mesma percebi que o estava analisando também fiquei um pouco envergonhada.
- Por que você não está lá com as outras garotas se maquiando? – Dougie perguntou baixinho. Sua voz era fininha, mas era extremamente fofa.
- E por que você não está com os outros garotos jogando futebol? – eu rebati, levantando uma sobrancelha.
- Eles não gostam de mim, fora que eu não sou bom em futebol.
Eu desviei os olhos, um pouco envergonhada. É, eu tinha feito uma pergunta estúpida. Eu já sabia por que ele estava sozinho, não tinha que ter esfregado na cara dele.
- Desculpa – eu disse, e então fique encarando a barra do meu vestido, eu estava prestes a fazer outra pergunta estúpida. – Mas se ninguém gosta de você, como você mesmo está dizendo, por que veio a minha festa?
- Eu gosto de bolos de aniversário – ele deu uma garfada no bolo.
Eu andara assistindo alguns filmes de adolescente naquela época, e, como acontecia nos filmes, eu percebi que ele disse aquilo como que para esconder o motivo real de sua vinda.
- Eu não gosto tanto assim desses bolos de aniversários, eles são...
- Você não queria que eu tivesse vindo? – ele me interrompeu, depois de terminar o pedaço de bolo. Por um momento eu achei ter visto pânico em seus olhos.
- Não! Calma, não é isso! – eu tratei de dizer logo, e soei meio desesperada. Ora, eu fui falar com ele com a intenção de ser legal com ele, porque ninguém mais é, e não queria que ele pensasse o contrário. – Eu só achei um pouco estranho você ter vindo. Mesmo eu o tendo convidado, não esperava que você realmente viesse. Mas estou feliz que você não pense que eu não gosto de você.
Só depois de dizer aquilo e ver os seus olhos se arregalarem que eu percebi que aquilo soou meio como uma declaração. Eu tinha que parar de assistir filmes de adolescentes. Acabava imitando muitas personagens, e isso não era legal, estava me deixando em situações constrangedoras.
- Digo, eu não gosto de você... Calma, eu gosto, mas não gosto... – eu tentava me explicar, mas me enrolava cada vez mais.
Dougie deu um sorrisinho e riu da minha confusão.
- Eu sei que você não gosta de mim, não precisa se preocupar – ele disse, meio que se conformando com o fato de eu não gostar da ideia de gostar dele. Mas, bem, com 9 anos, eu dizer que gostava dele assim, com essas palavras, era a maior vergonha do mundo. E eu nem gostava dele como os adolescentes dos filmes, qual é! Isso era nojento na época.
- Espera, eu vou explicar: eu fico que feliz que você não pense que eu tenho nojo de você ou que te odeie ou algo do tipo, como o resto dos nossos colegas. E eu não gosto de você como a mamãe gosta do papai. É nojento. Foi isso que eu quis dizer – eu disse, soltando um suspiro no final.
Então ficamos nos encarando, como que esperando para ver a reação um do outro. Começamos a rir.
- É nojento – ele tentou imitar a minha voz e a careta que eu fiz quando disse isso. Ri ainda mais. – Mas eu entendi: você não é que nem as outras pessoas. Você é legal.
E então nós dois coramos.
É impressionante como que com 9 anos a mais simples frase como "Você é legal" dita para um ser do sexo oposto que tem a mesma idade que você pode soar como a coisa mais vergonhosa do mundo. Mas também como a mais verdadeira.
Ele ia tentar falar alguma outra coisa, mas a minha mãe apareceu atrás de mim, com uma câmera na mão.
- Ah, , aí está você. Quem é esse seu amigo? Andem, fiquem juntos para uma foto. – ela disse e então nos empurrou um contra o outro, e ficamos lado a lado, com os braços encostados. Dougie estava com tanta vergonha quanto eu. – Ah, deem um sorriso. – minha mãe resmungou.
E então o flash nos cegou.
No resto da festa eu não falei mais com Dougie. Depois da foto, minha mãe me arrastou para ir abrir os presentes na frente dos convidados, que já aparentavam querer ir embora. Ela fez aquilo como uma tentativa de deixar a festa mais interessante para os adultos: eu iria ter que abrir o presente sem ver o cartão, e então iria ter que tentar adivinhar de quem é.
Eu não acertei nenhum dos primeiros, o que fazia os meus familiares rirem a cada chute fora da trave que eu dava. Mas então chegou a vez de eu abrir um pacote verde com um laço rosa amassado em cima. Ele era pequeno e leve como uma pena. Balancei-o perto da orelha, para ouvir se tinha algo dentro e minha mãe quase morreu do coração.
- Menina, não faça isso! E se for algo que quebra?
Desfiz o laço com cuidado, eu pretendia guardar a fita para usar como um acessório de boneca, e abri a caixa. Dentro tinha outra caixa, bem pequena, de veludo vermelho. Abri-a com cuidado para que, o que fosse que estivesse dentro, não caísse na grama.
Era uma pulseira. Ela era bem delicada, de um dourado discreto, ideal para uma criança de 9 anos. Tirei-a para mostrar para todos. Eu estava prestes a dizer o nome de uma tia minha quando vi um pingente verde na pulseira. Era um pingente de lagarto, pequeno, mas não era feio como a maioria das meninas acharia. Era bem fofo e infantil. Até que combinava comigo. E eu sabia quem tinha me dado aquilo.
- Esse é do Dougie – eu disse, apontando para o garotinho louro que tentava se esconder atrás de uma mulher loura. Eu entendi logo na hora que aquela era a mãe dele. Bem, eu sabia que ele não iria sozinho para a minha festa, sabendo que não era muito bem aceito entre as outras crianças, sem a presença de sua mãe. Eu até que achei fofo aquilo. Muitas das outras crianças achavam uma vergonha ir com a mãe para os aniversários dos colegas, mas Dougie não se importou com isso.
A mulher tirou Dougie de trás das pernas dela, e ele estava muito vermelho. Bem, eu também estava, porque agora todos os adultos estavam dizendo coisas como "Hmmm, ela adivinhou o do Dougie.", "Tão bonitinho, ele deve ser o namoradinho dela." E os meus colegas de classe diziam coisas como "Eca, o Dougie veio?" e "Ela sorriu quando viu a pulseira. Será que agora ela é uma garota lagarto também?" com expressões de nojo no rosto.
Então a minha mãe foi para o lado da mãe de Dougie e ajudou-a a trazer Dougie para o meu lado, para tirar outra foto. Nesse momento eu jurei para mim mesma que nunca mais deixaria a minha mãe ser fotógrafa de nada. Nada.
Ela tirou o que pareceu ser zilhões de fotos, e eu já estava quase ficando cega. Graças aos céus, o meu pai percebeu que nem eu nem Dougie estávamos gostando dessa sessão de fotos exagerada e foi tirar a câmera das mãos da minha mãe.
- Ah, mas eles são tão bonitinho juntos – minha mãe resmungou e vi que a mãe de Dougie concordava com ela.
Pronto, o nosso casamento já estava arranjado.
Eu tratei logo de guardar a pulseira junto com os outros presentes e peguei o primeiro presente que vi na minha frente.
A minha festa acabou logo depois. As pessoas foram embora quase que ao mesmo tempo. A cada minuto chegava o pai de um colega meu para buscá-lo. Quando Dougie foi embora, a mãe dele veio com ele se despedir.
- Tchau, querida, a sua festa foi ótima – a mãe dele disse. Eu apenas dei um sorrisinho tímido em resposta. – Anda, Dougie, se despede de . – ela segurou os ombros de Dougie e o empurrou um pouquinho, como que o encorajando.
Ele disse bem baixinho:
- Tchau, .
E eu respondi no mesmo tom:
- Tchau.
No dia seguinte eu já era praticamente a melhor amiga de Dougie. Bem, pelo menos eu era a única de nossa classe que conversava com ele. E eu adorava isso. Ninguém nunca vinha interromper o que estávamos fazendo nem nada.
Aos poucos, os meus antigos amigos (na verdade, de amigos eles não tinham nada, já que me abandonaram assim que perceberam que eu estava andando com Dougie) foram me abandonando, mas, para a minha sorte, Dougie sempre estava lá ao meu lado.
Na primeira vez que eu fui à casa dele, ele me apresentou um lagarto chamado Zukie. Eu não toquei nele no primeiro dia e nem nos que se seguiram naquele mês (eu e Dougie desenvolvemos uma mania de ir à casa um do outro sempre que podíamos), mas depois eu perdi o medo. É, eu tinha medo de Zukie. Na minha cabeça ele podia abocanhar o meu dedo e arrancar um pedaço. Ainda bem que isso não aconteceu.
Começar uma amizade com Dougie foi a melhor coisa que eu poderia ter feito no meu aniversário de 9 anos.

15 anos

Eu fui a maior idiota da galáxia com 15 anos. Eu tenho certeza que qualquer extraterrestre do sexo feminino, com a idade equivalente a 15 anos humanos não teria sido tão idiota quanto eu fui com essa idade.
Por mais que eu fosse a melhor amiga de Dougie há mais de 5 anos, eu tinha certeza de que ele me escondia coisas que considerava de extrema importância.
Não que eu fosse aquele tipo de amiga que obriga o outro a contar todos os detalhes do dia. Não, mesmo sendo como irmãos, ele tinha o espaço dele e eu o meu. Mas eu sabia que ele estava me escondendo alguma coisa, e isso estava começando a me incomodar de uma forma tão grande que eu comecei a me preocupar.
Eu não queria que a gente acabasse se desentendendo por causa de uma paranoia minha. Dougie já estava um tanto quanto estranho ultimamente, eu não precisava fazer mais nada para deixar as coisas mais tensas. Claro que nós brigávamos às vezes, mas eu tentava evitar.
Mesmo com o comportamento dele um pouco fora do normal, a hora do intervalo continuava sendo sagrada: todo intervalo, desde quando tínhamos 12 anos, nós subíamos em uma árvore, o que nos fazia observar todos os outros alunos no pátio.
Naquele dia, Dougie subiu primeiro e me ajudou a subir. Na primeira vez que o vi subir aquela árvore, eu pensei que fosse proibido, que nós iríamos parar na detenção por causa disso. Mas quando vi a mão dele estendida para mim, a sensação de não ligar para as regras da escola me invadiu. Dougie havia me levado para o lado negro.
Sentamo-nos em um galho que não era muito alto e fiquei balançando as pernas. Dougie permaneceu quieto, o que era estranho, geralmente ele ficava falando alguma besteira que me fazia rir.
- Algum problema? – perguntei, apontando para as mãos dele, que estavam se mexendo freneticamente.
Peguei o meu achocolatado de caixinha e comecei a tomar. Dougie não tinha pegado nada no refeitório para comer, mas eu não me importei muito com esse fato.
- Não, nenhum problema. – deu um sorrisinho que não me convenceu nada. Ele encarava as pessoas que tentavam tomar algum sol, não com muito sucesso; o dia estava nublado hoje.
- Bem, então...
- Você sabia que vai ter um baile para todos os alunos do ensino médio nesse sábado? – ele me interrompeu, resolvendo, finalmente, me encarar.
E foi então que entendi.
Nossa, como Dougie é besta. Ele estava preocupado esse tempo todo com o baile? Se era isso, ele só precisava me dizer, não precisava ter guardado esse segredo a sete chaves nem nada. A não ser que ele queira minha ajuda para chamar alguma garota para ir com ele para o baile, o que eu, decididamente, não faria.
Entendam, eu não vejo o Dougie como um possível namorado, mas também não o vejo com o possível namorado de qualquer outra garota que só vai magoar o pobre coraçãozinho frágil dele. Como a melhor amiga dele, eu tenho o dever de protegê-lo.
Mas também como melhor amiga, eu não posso impedi-lo de sair com alguma garota que ele queira. Mesmo que ela não mereça sair com Dougie.
- Você quer ir ao baile? – levantei uma sobrancelha, para que ele entendesse logo que eu estava desconfiada. Nunca passou pela minha cabeça que Dougie, algum dia, quisesse ir a algum baile da escola.
Ele corou um pouco.
- Ah, você sabe, só para ver como é e não querer ir a outro nunca mais. – ele deu de ombros e finalmente pareceu relaxar um pouco.
- Tudo bem. Se você vai, eu também vou. – anunciei. – Quem você quer convidar? Tem aquela garota ali, olha, lá do outro lado. A ruiva. Ela parece ser legal.
Não sabia o que eu estava fazendo. Eu acabo de comentar que não gosto de vê-lo com outras garotas e fico dizendo as opções que ele tem para levar ao baile? Talvez, no fundo, eu só quisesse que ele dissesse que não queria ir com nenhuma delas. Mas é claro que isso não iria acontecer.
- Hmm... – ele analisou a garota e balançou a cabeça. – Acho que não.
E então passamos um tempo assim, eu apontando para as garotas que, com certeza, Dougie nunca convidaria e que também nunca aceitariam um convite dele. Mas eu cansei logo dessa brincadeira.
- Okay, então, vamos ver quem me convidaria para o baile! – eu disse, começando agora a analisar os garotos.
Na verdade, nenhum deles me chamava muito a atenção, apesar de muitos serem bonitos. Mas com a beleza deles vinham defeitos irritantes. As únicas pessoas que eu aguentava defeitos eram meus pais, Dougie e eu. É, uma lista muito grande, em minha opinião.
- O que você acha daquele ali? – apontei para um dos garotos do time-de-algum-esporte-que-eu-nunca-me-dei-ao-trabalho-de-saber-qual-era.
Dougie balançou a cabeça imediatamente.
- Você seria louca se fosse com ele.
- E também ele nunca me convidaria. Nem eu o convidaria.
Apontei para mais ou menos mais uns cinco garotos, até que me estressei.
- Se não temos ninguém para convidar, por que a gente vai para isso? – cruzei os braços.
- Então por que não vamos nós dois juntos? – ele falou rápido demais e eu confesso que me assustei um pouco.
Okay, ele queria ir ao baile. Eu já tinha aceitado isso, não é tão estranho assim uma pessoa querer ir ao baile. Mesmo que essa pessoa seja Dougie e que quase todas as pessoas da escola não liguem para ele nem nada. É estranho ele querer ir, mas é aceitável.
Mas ele querer ir comigo? Tá, eu sei que as opções para ele levar ao baile são horríveis, e que as minhas também, mas ele não precisava fazer esse favor para mim. Eu sabia que se ele poderia se arranjar com alguma garota qualquer, mas ele sabia que eu não arranjaria um par.
- Sabe, Dougie, você pode ir com qualquer outra garota, não precisa se obrigar a ir comigo só porque nenhum garoto iria comigo. – eu disse, olhando para os meus pés que balançavam. – Eu nem estou assim tão a fim de ir a esse baile, ainda terão outros e...
- Se você continuar esse falatório, eu vou jogar essa lagartixa no seu cabelo. – ele apontou para uma lagartixa que estava no tronco da árvore, ao lado dele.
A verdade era que eu adoraria ir ao baile com Dougie. Mesmo que só como amigos. Fiz uma careta ao ter esse pensamento, eu não queria mais Dougie só como amigo. Desde os meus 13 anos, quando eu finalmente comecei a olhar de uma maneira diferente para os garotos que passavam por mim no corredor da escola que eu queria que Dougie me notasse como algo mais.
Mas isso não aconteceu, ele notava qualquer garota, menos eu. Ele ficava com qualquer garota que não se importasse de estar ficando com o garoto lagarto, menos comigo. Entre nós existia a famosa barreira da amizade, tão forte quanto o muro de Berlim foi na Guerra Fria. Não podíamos demolir aquela barreira e arriscar não ter pedreiros o suficiente para reconstruí-la.
Dougie interpretou a careta que eu fiz como uma reação à ameaça da lagartixa.
- Vamos, qual é o problema de ir comigo? Você não quer fotos suas comigo no primeiro baile que você foi na escola? – ele fez um biquinho, fingindo estar triste. – Tem medo de eu ir com um terno de escamas?
- Ei, seria legal esse terno.
- É, mas não daria mais tempo de arranjar um. – ele deu de ombros. – Mas e aí? Vai comigo no baile ou não?
- Sabe, Dougie...
Interrompi minha fala porque ele se levantou de súbito e então se ajoelhou e pegou a minha mão.
Dougie havia enlouquecido. Nós estávamos em cima de um galho (tá que era um galho bem forte, e um pouco largo, não havia perigo de ele cair), e quando ele se ajoelhou, a atenção de algumas pessoas se virou para nós, mas quando perceberam que era só o garoto lagarto e sua fiel escudeira, pararam de prestar atenção.
Eu corei até a raiz dos cabelos.
- , você aceitaria ir ao baile deste sábado comigo? – ele perguntou, um pouco alto demais, em minha opinião.
- Se você nunca mais me submeter a uma vergonha dessas, eu aceito. – eu disse baixinho, tirando as minhas mãos das dele e ajeitando a minha franja, como uma desculpa por tê-las tirado de lá. Na verdade, eu não sabia por que as tirei do contato de Dougie se eu estava gostando.
- O que é uma vergonha? Ir ao baile, ir ao baile comigo ou eu te fazer um convite para você ir ao baile comigo?
- Os três.

Aquela noite do baile foi a melhor e a pior da minha vida.
Eu fiquei pronta para o baile cedo demais no sábado. Dougie estava atrasado pelo menos uns 20 minutos, e eu já não aguentava mais ficar assistindo a reprise de Os Simpsons. A minha mãe estava ao meu lado com a câmera na mão, só esperando Dougie chegar. Ela pode ter trocado de câmera desde o meu aniversário de 9 anos, mas não largou essa mania de fotos.
Eu estava quase subindo e indo tirar o meu vestido azul quando a campainha tocou. A minha mãe correu para a porta e abriu-a, um tanto desesperada demais.
- Dougie, você está maravilhoso – ouvi a minha mãe dizer e então fui para o hall, antes que ela começasse a dizer coisas que me deixariam constrangida, como "eu tenho certeza que os seus filhos com serão lindos, assim como vocês dois."
Eu tinha que admitir que mesmo que eu não gostasse quando a minha mãe falava essas coisas, no fundo, eu queria que as previsões dela acabassem acontecendo. Mas é claro que não aconteceriam.
- Obrigado, Sra. Summers. – ouvi Dougie responder baixinho. Mesmo conhecendo e convivendo com a minha mãe por mais de cinco anos, ele continuava o mesmo garotinho tímido com ela.
- Mãe – eu disse, pegando no ombro dela, pedindo que se afastasse da porta. – pare de deixar Dougie sem graça.
Minha mãe resmungou algo que eu não me dei ao trabalho de traduzir e Dougie corou mais um pouco.
- Okay, mas antes de vocês irem eu vou tirar umas fotos – ela disse, apontando a câmera para a gente.
- Uma foto. – corrigi-a e então fiquei do lado de Dougie, que ainda estava vermelho. Ele passou a mão pela minha cintura e então sorrimos para a foto. O flash nos cegou, como sempre.
Sob alguns protestos da minha mãe, nós saímos para a noite fria. Dougie me emprestou o blazer do paletó cinza dele, pois o meu vestido poderia ser lindo, mas não me protegia do frio. Fomos, no início, em silencio, mas logo depois Dougie começou a me contar algumas piadas.
Quando chegamos à escola, meu pé já doía um pouco e eu estava com sede de tanto que eu ri no caminho.
- Espera, Dougie. Eu tenho que sentar antes de esperar nessa fila para entrar. – eu disse, apontando para a fila na entrada da escola e depois indiquei um banco de concreto com a cabeça.
Sentamo-nos, eu tirei os meus sapatos de salto alto e pisei na calçada fria, não me importando se estava suja ou não.
- Por que vocês usam esses sapatos altos? Não são desconfortáveis? – ele perguntou, pegando um sapato e analisando-o.
- São bonitos, nos deixam elegantes e quase da altura dos garotos. Bem, pelo menos, dos que são altos. – acrescentei, antes que Dougie ficasse com a falsa esperança de que fosse alto.
- Para que ficar da altura deles? – ele levantou uma sobrancelha.
- Ah, não sei bem. – dei de ombros. – Você sabe que eu não tenho a mínima experiência com garotos. Mas vai ver que é para quando vão se beijar, para os garotos altos não precisarem se abaixar muito ou para as garotas baixas não precisarem subir em um banquinho.
Dougie pareceu pensar por um momento e então fez uma pergunta que eu realmente não estava esperando para aquela noite.
- Você nunca beijou ninguém?
Eu tenho certeza que a cara que eu fiz depois dessa pergunta foi muito engraçada, mas ele não riu, permaneceu sério, me encarando, e eu não consegui sustentar aquele olhar por muito tempo. Encarando os meus pés descalços, respondi:
- Você sabe que não, por que a pergunta?
Ele pareceu perceber que eu não gostei da pergunta.
Sim, eu tinha 15 anos e nunca tinha sido beijada. Não era um fato que eu gostava de lembrar sempre. Mas eu só estava nessa situação porque os garotos que eu conheço são totalmente dispensáveis, em minha opinião. Não que chovam garotos na minha horta, mas mesmo assim.
- Você nunca tinha me contado que nunca beijou ninguém. – ele disse aquilo num tom de brincadeira, tentando amenizar o clima. Tentativa em vão.
- É, mas eu também nunca contei que tinha beijado alguém. – eu disse, ainda com o mesmo tom de "garoto, se toca, olha o assunto indelicado que você está me obrigando a falar." – Pensei que estivesse subentendido.
Dougie se levantou do banco e me puxou pelas mãos, me obrigando a ficar em pé. Os meus olhos estavam quase no mesmo nível dos olhos azuis de Dougie, e eles estavam com um brilho diferente naquele momento. Uma brisa passou por nós e eu pude sentir bem o cheiro do perfume dele, o que me deixou um pouco embriagada.
- Está vendo? Você não precisa de salto alto para me beijar.
- Dougie, o que...
Mas eu não consegui terminar de falar. Dougie me calou com um beijo. Um beijo! Dougie Poynter, que eu conhecia desde os 9 anos, que era o garoto lagarto, tímido e rejeitado, tinha me beijado! Eu não conseguia acreditar na hora, por isso que o beijo não passou de um selinho de cinco segundos, pois eu estava surpresa demais para contribuir em alguma coisa.
Dougie se afastou de mim e deu um sorrisinho tímido, o que eu achei extremamente fofo para a ocasião. No final das contas, pareceu que ele estava mais surpreso do que eu.
- Desculpa, eu não sabia se... – ele começou a falar, mas o interrompi.
- Não, foi bom. É melhor eu lembrar que o meu primeiro beijo foi com você do que com qualquer outro idiota.
Eu estava nas nuvens. Eu tinha certeza de que Dougie tinha planejado tudo isso para essa noite, por isso ele andava meio estranho. Ele estava nervoso quanto a minha reação! Será que ele realmente achava que eu não iria gostar do beijo e que bateria nele e gritaria que ele não deveria ter feito aquilo? Como ele foi besta!
Dougie abriu um sorriso com o que eu disse.
- Eu tenho uma coisa para te contar.
- Okay, conte.
Sentamo-nos novamente no banco e eu o encarava com um sorriso de orelha a orelha no rosto. Ele iria dizer que me amava, que queria me namorar, que queria passar o resto da vida comigo e...
- Eu entrei para uma banda, . – ele disse, me abraçando logo em seguida.
Eu não esperava que ele dissesse aquilo. Pela segunda vez naquela noite Dougie me pegou de surpresa. O meu sorriso se desfez um pouco, a decepção nos meus olhos, mas mesmo assim eu estava feliz.
Eu sabia que o que Dougie mais queria depois de se tornar um especialista em répteis era entrar para uma banda. Ele tocava baixo muito bem, ele merecia passar em um teste. Mas eu realmente não esperava que ele dissesse isso naquele momento.
- Dougie, parabéns! – coloquei o meu melhor sorriso no rosto, não podia fazer Dougie se sentir mal naquele momento tão feliz para ele.
- Foi por isso que eu tenho estado estranho ultimamente. Eu não sabia qual era o momento certo de te contar, sabe? Eu queria esperar o momento certo.
- Eu sabia que você ia se dar bem.
Dougie se levantou do banco e me puxou para outro abraço, mas dessa vez me girando um pouco desengonçado.
- Me solta, a gente vai cair! – eu ria junto com ele.
Dougie parecia uma criança que tinha acabado de ganhar o melhor presente de natal. Bem, não era o presente de natal, mas era a melhor coisa que poderia ter acontecido para ele.
Ele me colocou no chão, ainda rindo.
- Você pode me visitar em Londres quando quiser e...
- Londres? – o interrompi, parando de rir na mesma hora.
- Sim, Londres. – ele parou de rir também, mas continuava com o tom alegre, diferente de mim. - Eu vou para lá, vou sair da escola e...
- Você não pode abandonar a escola! – com isso eu queria dizer "Você não pode me abandonar!".
Eu estava ficando com um pouco de raiva. Dougie não podia me abandonar! Depois de todos esses anos ele iria se mudar de cidade assim, do nada, só por causa de uma banda? E ele ainda achava que eu ia aceitar em uma boa?
- , calma. Qual é o problema? Eu vou entrar para uma banda! Pensei que você iria ficar feliz em saber isso. – ele parecia magoado. Mas eu estava mais. Ele iria me abandonar!
- Você vai me abandonar. – eu disse o mais tranquila que pude. – Você não liga se eu vou ficar sozinha e...
- Será que dá para parar de pensar somente em você e pensar um pouco no que é importante para mim? – ele gritou.
Fiquei assustada. Eu nunca pensei que Dougie fosse capaz de dizer aquilo para mim. Como ele estava sendo injusto! Dougie não me amava coisa nenhuma, ele só queria ser famoso e me abandonar na primeira oportunidade. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu disse as seguintes palavras:
- Eu só estou pensando em mim? Tudo o que eu fiz nos últimos cinco anos foi pensando em você! Eu não falo mais com nenhum dos meus antigos amigos porque eu queria passar o meu tempo com você. Eu não queria deixá-lo sozinho. Eu passei todos esses anos só pensando na nossa amizade, em como não estragá-la! Mas agora é tarde demais. Você já fez esse favor. Vá, fique famoso, e nunca mais olhe na minha cara.
Com lágrimas rolando no meu rosto, peguei os meus sapatos que estavam jogados no chão e saí correndo.
- Eu não precisava da sua pena! Não pedi que fosse falar comigo naquela merda de aniversário! – ainda ouvi Dougie gritar, antes de eu virar a esquina e correr em direção a minha casa.
Quando cheguei em casa chorando, minha mãe me encheu de perguntas.
- , o que houve? Fizeram alguma coisa com você? Cadê o Dougie? Ele te defendeu, é claro, mas onde está ele?
- Eu não quero nunca mais ouvir esse nome nessa casa! – gritei para a escada que eu havia acabado de subir, para que minha mãe ouvisse a minha voz do hall. Entrei no meu quarto e fechei a porta com força, trancando-a para que a minha mãe não me incomodasse.
Fui para frente do mural de fotos que eu tinha com Dougie. Tinha todas as fotos que a minha mãe conseguiu tirar de nós dois juntos: em todos os meus aniversários desde o de 9 anos, em todos os halloweens que saímos juntos, quando fomos uma vez para a praia juntos... Tudo!
A última foto que foi colocada lá chamou minha atenção. A minha mãe já havia revelado a foto que tinha tirado antes de irmos para o baile. Enxuguei as lágrimas que caíam com as costas da mão. Analisei bem aquela foto antes de rasgá-la ao meio.
- Idiota, idiota, idiota, idiota. – eu disse com a voz calma, agora analisando as duas metades da foto. No fundo eu não sabia se dizia essas palavras para Dougie ou para mim mesma.
Eu tinha certeza que nós teríamos tido uma vida feliz juntos. Mas agora estava acabado, Dougie havia estragado tudo.

Acordei no dia seguinte com os raios de sol na minha cara. Cocei os olhos antes de me sentar na cama e analisar o quarto a minha volta. O mural que antes era repleto de fotos minhas com Dougie agora estava vazio e o chão do meu quarto estava limpo. Eu tinha certeza que minha mãe pegou a chave mestra enquanto eu dormia e veio limpar a sujeira que eu fiz.
Ainda bem que ela tinha feito isso, se não eu iria encarar o resto das fotos e querer rasgá-las mais ainda.
Tirei o lençol de cima de meu corpo e joguei minhas pernas para fora da cama. Mas antes que eu me levantasse, um envelope branco chamou a minha atenção. Ele estava em cima da minha mesinha de cabeceira, e em cima dele havia um pequeno pedaço de papel. Peguei os dois nas mãos e li primeiro o bilhete.

", o Dougie passou hoje cedo para te entregar esta carta. Eu disse que você estava muito chateada com ele, mas não sabia o porquê. Ele não quis me explicar, disse que você faria isso se quisesse. Ele parecia bem triste.
Vou passar o dia fora com algumas amigas, mas não se preocupe, deixei comida na geladeira. Qualquer coisa, ligue.
Mamãe."


Dougie havia passado mais cedo para entregar uma carta? Encarei o envelope. Uma sensação estranha passava no meu corpo. Tive dificuldade em distinguir se era ansiedade de saber o que ele tinha escrito ou se era raiva por ele nem ter tido a coragem de se desculpar comigo pessoalmente.
Abri o envelope e tirei um papel, que estava dobrado em dois, de dentro.
"Querida ,
Eu não queria que aquilo que aconteceu ontem tivesse acontecido. Eu não sabia que você reagiria daquele jeito. Se eu soubesse, teria contado logo tudo de uma vez assim que eu soube que passei no teste, em vez de esperar um momento especial, como o momento em que eu te dei um beijo pela primeira – e receio que última – vez.
Eu também não queria estar te dizendo tudo que eu tenho para te dizer por uma carta, mas não tenho coragem suficiente para dizer pessoalmente. Fora o fato de que você não quer me ver, provavelmente.
Quando eu fiquei sabendo desse teste para a banda, eu logo soube que eu precisava fazê-lo. Não só porque eu realmente gostaria de entrar para uma banda e tocar baixo para o resto da vida, como você sabe que eu quero, mas eu precisava fazê-lo por você.
Você agora deve estar pensando "Por que ele faria algo que nos separaria por mim?" Bem, vou tentar responder de maneira simples:
Eu te amo.
Eu queria dizer isso pessoalmente, mas acho que por escrito você tem mais tempo para absorver.
Sim, , eu, Dougie Poynter, te amo! Se eu dissesse que foi desde a primeira vez que te vi, eu estaria mentindo. A primeira vez que eu te vi foi no primeiro dia de aula da primeira série, e ninguém ama ninguém do sexo oposto nessa idade. Mas eu te amo desde o momento em que eu percebi que você não me maltratava como as outras crianças faziam. Você não falava comigo na época, mas para mim o fato de você não ter a mesma visão de mim que as outras pessoas tinham já fazia de você o máximo. Claro que eu não admitia que te amava.
Quando eu recebi o convite para o seu aniversário de 9 anos, eu fiquei feliz da vida. Você tinha me chamado para o seu aniversário! Você, a menina que eu admirava, tinha me chamado para a sua festa. Ninguém me convidava para nada, mas você sim.
Eu pedi para a minha mãe me ajudar a comprar algo super especial, que fizesse você se lembrar de mim, por isso que eu comprei a pulseira com um pingente de lagarto. Se todos me conheciam como o garoto lagarto, você se lembraria logo de mim ao ver o pingente.
Apesar de eu ter ficado com vergonha, eu fiquei super feliz quando você adivinhou o meu presente. Eu sabia que você se lembraria de mim.
E quando começamos a nossa amizade, eu tinha certeza que íamos acabar juntos no final das contas. Mas quanto mais tempo nós passávamos juntos, mais eu sabia que entre nós só existia amizade. Eu tinha certeza que você não olhava para mim com outros olhos.
Por isso eu acabei ficando com outras garotas de vez em quando. Eu queria ver se eu era capaz de te esquecer, pois você não gostava de mim do jeito que eu gostava de você.
Mas não adiantou nada. Eu não conseguia parar de pensar em querer ter uma vida ao seu lado, formar família e tudo.
Às vezes eu me achava estranho por pensar tanto nisso tão novo, afinal, só temos 15 anos, não é? Acho que eu aprendi a pensar muito no futuro com você.
Por isso que eu precisava fazer o teste para a banda. Eu precisava arranjar um jeito de fazer algo certo por você. Eu iria ser o baixista dessa banda, eu iria me tornar famoso, ganhar dinheiro e, quando tivéssemos idade suficiente, claro, formar uma família com você.
Vendo isso escrito, depois de nossa briga, parece a coisa mais idiota que eu já consegui pensar na vida.
Eu não quero ser famoso, isso é uma consequência da profissão que eu quero seguir. Eu não teria como proporcionar a você conforto e tudo o mais se eu não fizesse isso, você sabe que eu não sou bom na escola, não sei se passaria em uma faculdade, nem nada. Eu não podia continuar com essa incerteza de "será que eu passo em uma faculdade e arranjo um emprego bom para poder fazer feliz?"
Eu fiz o teste pensando em você, passei nele e vou fazer parte dessa banda pensando em você. Se a banda não fizer sucesso, a única coisa que posso fazer é lamentar por você ter cortado relações comigo por algo que nem deu certo.
Eu não irei desistir dessa banda. Eu irei seguir com o meu plano original, mas com algumas mudanças: eu terei que esperar você mudar de ideia com relação a mim. E espero que não demore muito para isso.
Muito obrigada, , por ter sido minha amiga todos esses anos, mesmo não percebendo que eu te amava.
Te esperando pelo resto da vida,
Dougie, o seu garoto lagarto."


Eu estava em choque. Contrariando o que ele disse, eu não conseguia absorver tudo aquilo que estava escrito. O fato de eu imaginar ele escrevendo aquilo, sofrendo, depois da nossa briga estúpida, só fazia com que eu não conseguisse absorver tudo o que estava escrito numa boa.
Eu fui a maior idiota da Galáxia com 15 anos.

22 anos

E então aconteceu McFly.
Para ser sincera, eu não esperava que a banda de Dougie fizesse sucesso. Era muito fora da realidade para mim. Mas ele conseguiu. Ele fez o que disse que ia fazer na carta que me deu depois da nossa briga.
Mesmo depois de sete anos, eu ainda me sentia idiota por causa daquela briga. Como eu pude ser tão mesquinha? Eu briguei com ele porque eu disse que ele iria me abandonar, mas ele estava fazendo aquilo pensando em mim!
Depois que eu li aquela carta, eu entrei em choque. Dougie me amando e admirando? Eu não conseguia acreditar. Era outra coisa muito fora da realidade para eu absorver com um cérebro limitado de 15 anos.
Mas eu não fui procurá-lo. Fui uma covarde por sete anos e continuo sendo. Afinal de contas, qual era o meu problema? Eu não tinha amadurecido? Era de se esperar que depois de tudo isso eu tivesse crescido e começasse a encarar as coisas com mais maturidade. É, parece que não. Nem a faculdade de moda, nem todas as responsabilidades de morar sozinha (okay, sozinha não, eu morava com , minha amiga desde quando Dougie foi embora) em Londres me fizeram criar coragem para ir atrás de Dougie.
Como eu iria encontrá-lo? Tentaria ganhar alguma promoção para entrar no camarim de algum show? Daria uma de fã louca e me hospedaria no mesmo hotel que ele em qualquer país e ficaria esperando no saguão ele descer do elevador para que eu pudesse falar com ele? Eu não conseguia pensar em nada.
Ele agora estava famoso! Mesmo que tivesse dito na carta que me esperaria, eu não acreditava mais nisso. Eu tentava ao máximo ficar longe das fofocas e boatos sobre as vidas pessoais dos integrantes do McFly, eu só gostava de ouvir notícias sobre músicas e coisas assim. Eu não queria saber se ele já tinha arranjado alguma namorada (mesmo sabendo que já tinha acontecido, mas, para o meu alívio, tinham acabado).
Eu tentei arranjar um namorado assim que entrei na faculdade, mas não deu muito certo. Claro que de vez em quando eu ficava com alguns caras (ninguém é de ferro!), mas sempre que eu me encontrava sozinha após me encontrar com algum, eu pensava em Dougie, em como nós poderíamos ter sido felizes se eu não tivesse sido estúpida.
Por que eu não fui atrás dele assim que li a carta? Por que eu fui tão orgulhosa? Por que eu não pude admitir para mim naquela hora que eu tinha errado e que precisava consertar as coisas naquele segundo antes que fosse tarde demais? Eu não conseguia conviver com a minha própria burrice em paz.
Mas mesmo me arrependendo do que aconteceu com Dougie, eu precisava seguir a minha vida.
Assim que ele foi embora (uma semana depois de eu ler a carta), eu me senti perdida. Eu não sabia como me comportar na escola sem Dougie. Foi tão fácil eu me acostumar com o garoto lagarto, como eu conseguiria me virar sem ele no inferno que é o Ensino Médio?
Por sorte, a resposta veio com uma garota que usava óculos e que não expressava muitas reações aos acontecimentos que ocorriam a sua volta. Ela me acolheu como amiga dela sem nem pensar duas vezes.
- Sabe, , você não precisa se obrigar a ser minha amiga porque sente pena de mim. – eu disse a ela. Nós andávamos conversando um pouco, depois que Dougie foi embora eu fiquei sem par no laboratório de biologia e o professor resolveu me colocar com ela, que reclamava direto do seu par.
- E por que eu estaria me obrigando a ser sua amiga por pena? Se eu estou conversando com você, é porque você é legal. – ela deu um sorriso. – Olha, , eu sei o que aconteceu com Dougie. Ele foi embora, ninguém sabe o porquê, mas todos sabem que você está "sem chão" por causa disso. Mas não é por causa disso que eu estou conversando com você. Você é legal, só não nos conhecemos antes porque o destino não queria. Pronto.
Eu ri do papo do destino.
- Você acredita em destino?
- Não muito, mas eu acredito que no futuro sempre podem acontecer coisas grandiosas, como encontrar uma nova amiga – ela apontou para mim, dando um sorriso, e então passou o braço pelos meus ombros, num abraço de lado. – Ou reencontrar um velho amigo.
Se ela soubesse levantar uma sobrancelha, teria feito isso. Eu sabia que ela estava falando de Dougie. Ela tinha me dito que de vez em quando nos observava e percebia que éramos muitos próximos mesmo, que um não conseguiria viver normalmente sem o outro. Mas eu precisava tentar.
E então o Ensino Médio acabou e fomos para a faculdade. Eu não fui para o baile, depois daquele em que eu briguei com Dougie eu prometi a mim mesma que nunca mais iria a algum. ficou comigo no meu quarto no dia do baile, ela não gostava muito desse tipo de coisa e aceitou de bom grado ficar comigo comendo sorvete e assistindo Orgulho e Preconceito no DVD. É, meio deprimente, duas garotas de 17 anos, no dia do último baile da escola, morrendo de chorar assistindo um filme romântico. Mas foi legal aquela noite. Não me arrependo de não ter ido.
A faculdade era bem legal, na medida do possível. Eu e combinamos de ir morar juntas em um apartamento pequeno próximo ao campus. Ela tinha se formado em Direito, mesmo alegando ser uma chatice.
- Eu não tenho vocação para nada, posso fazer o que? – reclamou quando soube que passou.
Eu também não achava que eu tinha vocação para alguma coisa, mas moda sempre me atraiu.
Em certo ponto do meu curso, eu precisava fazer estágio, e consegui um com uma mulher que era figurinista de alguma banda. Não perguntei qual era. A única coisa que ela me advertiu foi que para, aconteça o que acontecer, eu não me envolvesse com nenhum dos garotos. Não seria problema nenhum.
Eu juro que não passou pela minha cabeça que eu iria ser estagiária da figurinista do McFly. Realmente não me ocorreu que tinha mesmo a chance disso acontecer.
Só fui perceber onde tinha me metido quando estava em uma sala com um pôster do McFly, esperando a figurinista chegar e me deparei com a última pessoa que pensei que reencontraria assim, de maneira tão casual.
Dougie estava de costas para mim, mexendo no celular. É claro que eu já sabia que ele estava lindo, eu assistia televisão e via fotos dele em jornais e revistas, mas a silhueta dele de costas simplesmente me fascinou.
Eu não conseguia acreditar! Depois de todos aqueles anos eu finalmente tinha reencontrado ele. Eu precisava encontrar coragem para falar com ele, eu precisava...
- Sabe, você não vai achar lagartos por aqui.
Dougie se virou assustado, provavelmente não esperava escutar uma voz desconhecida ali. A expressão que ele fez quando me reconheceu fez o meu coração se apertar. Ele me encarava com aqueles olhos azuis brilhantes, não acreditando que eu estava ali, na sua frente. Bem, eu também não acreditava.
- ... – ele conseguiu proferir algumas palavras. – Eu pensei que nunca mais te veria.
- Eu também.
Eu não sabia se deveria me aproximar dele, abraçá-lo ou algo do tipo. Eu não sabia o que fazer. Era como se ele fosse um estranho. Mas mesmo assim eu precisava dizer o que estava entalado na minha garganta há sete anos.
- Dougie, eu preciso te falar uma coisa muito... – eu comecei, mas ele me interrompeu.
- Você não precisa dizer nada.
Quando ele disse aquilo e eu olhei bem em seus olhos eu tive certeza: a promessa que ele tinha feito na carta ainda continuava de pé. Ele realmente me esperaria, e esperou esses anos todos (com algumas recaídas, claro, ninguém é de ferro). Mas mesmo assim eu precisava me desculpar. A coragem finalmente tinha resolvido aparecer.
- Dougie, eu fui a maior idiota do mundo. Do Sistema Solar. Da Via Láctea. Do Universo. Eu não sei o que deu em mim para ter sido tão egoísta no momento mais feliz da sua vida. Mas eu não consegui evitar. A imagem de você indo embora e me deixando sozinha em Essex era demais para eu suportar. Eu não queria você longe de mim. Eu... fui muito egoísta, só estava pensando em mim mesma no dia do baile. E quando eu li a carta fiquei em choque. Como eu ia adivinhar que você estava fazendo aquilo por mim? Você era somente o meu amigo, eu não fazia a mínima ideia que o meu amor por você era correspondido. Por favor, Dougie... – arrisquei alguns passos em sua direção. – me perdoa. Me perdoa por ser idiota, por não ter te apoiado, por tudo!
Eu não sabia se ele tinha absorvido tudo o que eu disse. Ele apenas permaneceu parado, me encarando e ofegando, como se escutar tudo aquilo tivesse sido como correr em uma maratona. E, então, ele me abraçou.
Dougie não tinha noção do quanto eu precisava daquele abraço quente e confortável. Ele estava de volta. O meu garoto lagarto estava de volta. Eu o tinha conseguido de volta.
Dougie beijou o meu cabelo antes de se separar de mim e me encarar bem. Os seus olhos estavam um pouco marejados, mas eu sabia que era de felicidade.
- Eu te amo, . Eu te amo! – e me puxou para outro abraço, me girando no ar logo em seguida.
Eu somente ria da sua alegria e quando ele me abaixou me beijou de maneira apaixonada, como eu queria que ele me beijasse desde que eu li a carta.
Só paramos quando ouvimos a risada dos outros integrantes do McFly e da minha nova chefe.
- Eu não disse que não era para você se envolver com algum dos garotos? – ela perguntou, mas não em tom de bronca, ela provavelmente ouviu tudo o que eu disse para Dougie. Ela, assim como os outros garotos, estava com sorriso no rosto.
Olhei para eles e depois para Dougie, sorrindo. Toquei o rosto dele e respondi, encarando seus olhos:
- Mas eu já estava envolvida com Dougie.
E então ele me puxou para um beijo.
Eu sabia que não poderia viver muito mais tempo longe de Dougie. Mas agora eu não precisava mais me importar com isso. Eu tinha o meu garoto lagarto de volta, e não o deixaria ir para longe de mim nunca mais.

24 anos

Revista Teen Magazine

"Hoje é um dia de felicidade para o casal Dougie Poynter e . O casamento dos dois foi uma cerimônia simples, somente para os amigos mais próximos e a família. Fontes afirmam ter ouvido que a lua de mel dos dois seria no Brasil, mas os padrinhos e , que provavelmente foram os que planejaram a viagem dos dois, não confirmaram nada. Todos sabiam que depois de , mais casamentos não iriam demorar a acontecer no McFly. Desejamos toda sorte do mundo para os dois e que não se separem logo.
"

Fim


N/A: Bom, essa foi a primeira fic que eu posto aqui no ffobs! Espero que tenham gostado de My Lizard Boy, mesmo se você não for Poynter, espero ter agradado a todas. Eu escrevi essa fic com muito carinho para a minha amiga Letícia, uma fanática pelo Poynter (pois é, eu não sou Poynter, sou Jones) e quero muito agradecê-la por ter me incentivado a postar aqui, eu estava meio que sem coragem.
Bom, é isso, vou calar meus dedos. Mereço reviews?
p.s: foi só eu que me senti seduzida pelo lagarto da capa? kkk
bjs e até a próxima (:
Jubbs.

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