Betada por: Bih hedegaard (a partir do capítulo 25)


Dezenove

(n/a: coloque essa música pra carregar)


’s POV On


No começo eu senti raiva por ver a em cima daquela mesa, dançando tão insinuante, tão desinibida tão... Sexy. Senti raiva por aquele bando de idiotas estarem olhando para ela daquele jeito, e senti raiva por ela ter dado um mínimo de confiança para eles. Mas agora eu não estava mais sentindo, para dizer a verdade eu não sabia mais o que sentia. O carro estava em completo silêncio, olhava pela janela, eu sabia que ela estava bêbada, e como a conhecia bem, sabia também que provavelmente depois de dormir, não lembraria de metade das coisas que fez. Mas mesmo assim eu sentia uma necessidade enorme de brigar com ela pelo que fizera. bufou alto e ligou o radio, deixando que uma música qualquer ecoasse pelo silêncio que estava no local; ela batucava o pé conforme a batida da música, enrolava uma mexa do cabelo e parecia que estava começando a ficar com sono.Foi quando uma introdução bem conhecida começou a tocar e ela se virou com um enorme sorriso nos lábios, aumentando o volume do rádio e sorrindo de tal forma, que , dude, é impossível não sorrir junto. A é totalmente bipolar, já disse isso?

- Own, eu amo essa música! – disse antes de abrir a janela e começar a cantar que nem uma maluca, com a cabeça para fora e sacudindo os cabelos. – MAKING MY WAY DOWNTOWN, WALKING FAST, FACES PASSES AND I’M HOME BOUND! – ela colocou a cabeça para dentro do carro e fingiu estar tocando um teclado imaginário. – STARING BLANKLY AHEAD, JUST MAKING MY WAY, MAKING MY WAY THROUGH THE CROWD! – novamente o teclado imaginário foi tocado e ela olhou para mim, cantando com um sorriso nos lábios. – AND I NEED YOU! AND I MISS YOU, AND NOW I WONDER... IF I COULD FALL, INTO THE SKY, DO YOU THINK TIME WOULD PASS ME BY, CAUSE YOU KNOW I’D WALK A THOUSAND MILES IF I COULD JUST SEE YOU TONIGHT! – ela cantou a última frase me olhando e apontando, gargalhando muito em seguida. – Ah , seu carro tinha que ser um conversível! Eu sempre tive o sonho de cantar essa música com os cabelos voando, que nem nas Branquelas! – ela fez gestos exagerados, demonstrando seu pouco grau de lucidez.
- Você sempre sonhou? – eu perguntei com uma das sombracelhas arqueadas.
- Ah, me responde qual menina nunca teve vontade de fazer sua própria performance das Branquelas? – ela respondeu prendendo os cabelos em um nó frouxo. – Eu simplesmente amo aquele filme! Os irmãos Wayans são tão bons atores. – ela mordeu os lábios. – E são tão hots também... - ela jogou a cabeça pesadamente sobre o encosto, fechando os olhos e ficando em silencio também. Sabe, é estranho saber que eu estava na mente dela, porque, cara, a é minha amiga, e é muito novo pra mim saber que ela era afim de mim, e eu queria entender por que eu tinha que estar na cabeça dela pra ela fazer tudo aquilo?
- . – ela chamou minha atenção quando eu parei o carro na minha garagem.
- Diga. – falei desligando o carro e encarando-a.
- ... – ela falou de novo, arrastando a voz, fazendo daquele jeito manhoso que sabia que me derretia. Puta merda. – , eu quero nadar! – ela disse fazendo aquela cara de quem quer fazer travessura. Com aquele sorrisinho de lado que ela dava, com os olhos apertadinhos e mordendo os lábios. E uma coisa se passou pela minha cabeça, dude, como eu nunca me apaixonei por ela antes?
- , não viaja. – disse rindo. – São quase três horas da manhã e a única coisa que você tem o direito de querer agora é ir para a cama.
- Fazer o que na cama? – ela me olhou séria, mordendo os lábios e... Cacete! Eu sou homem, não me culpe por ter dado segundas intenções essa frase dela. Mas antes que eu pudesse sair do meu devaneio sobre segundas intenções, havia aberto a porta do carro e saído correndo, chutando as sandálias para fora dos pés em direção a minha piscina. (Dêem Play na música)
- , espera. – eu sai do carro correndo em sua direção, chegando a tempo apenas de vê-la se jogando na água, de roupa e tudo. Acho que devo ter ficado com cara de babaca enquanto a olhava emergir, com os cabelos caindo no rosto e o sorriso mais perfeito que alguém poderia ter. Ela tinha uma aura inocente em volta dela, uma coisa ao qual sempre admirei é o fato de nunca se importar com o que os outros vão pensar. Com a maioria de seus atos ela gostava apenas de aproveitar o que estava vivendo. Às vezes eu conseguia descrevê-la melhor do que a mim mesmo.
- Vem, . – ela pediu afastando alguns fios do rosto e me olhando daquele jeito pidão. Ela mergulhou e emergiu na borda perto de mim. Me encarando em silêncio.
- Nada disso, . Anda, sai da piscina que você vai acabar pegando um resfriado, e daqui a pouco começa a chover. – disse olhando o céu que cada vez mais parecia não ter estrelas.
- Me dá a mão então – ela pediu de forma inocente, e eu lhe estendi, esquecendo só de um detalhe,mínimo, mas essencial no momento: de inocente a não tem nada! E então ela me puxou pra piscina junto com ela! Primeiro me assustei, mas quando emergi, ela estava rindo da minha cara e eu não pude deixar de rir, por que... Ah cara, ela me dava vontade de sorrir.
- Deixa de ser carrancudo, ! – ela tacou água na minha cara. – Parece um velho gaga que só sabe resmungar, tá pior que o meu avô.
- Eu, carrancudo? – perguntei indignado e a olhando maldoso, antes de jogar água em seu rosto. Ela abriu a boca incrédula e me olhou com os olhos semi cerrados; antes de pular em cima de mim na tentativa de me afogar, em vão, já que ela era bem mais fraca que eu. Quando ela percebeu que suas tentativas foram em vão, se afastou de mim gargalhando. E eu a encarei com maldade. entendeu meu sinal e começou a correr, ou melhor, nadar para longe, mas ela não era mais rápida que eu, já que em questão de segundos eu já havia acompanhado-a e a puxando para baixo. E assim ficamos que nem crianças, correndo um atrás do outro e jogando água, às vezes até tentava de novo me afogar, mas sempre em vão, eu era bem maior que ela. Foi quando as grossas gotas de chuva começaram a cair sobre a gente.
- Ah, eu amo tomar banho de chuva. – ela falou soltando as mãos que estavam presas as minhas na altura de nossos rostos, já que estávamos em uma ‘lutinha’, e abrindo os braços, virou o rosto para o céu, com os olhos fechados e um sorriso nos lábios. A chuva começou a cair com mais intensidade de modo que se eu quisesse falar com ela teria que quase gritar, mas eu não o fiz. Ao contrario, fiquei olhando-a e uma pergunta se passou pela minha cabeça, quando foi que ela cresceu que eu não percebi? Porque a que eu to olhando agora não é mais a mesma magrela e desajeitada que dormia comigo, e dude, ela tá tão linda. Não que ela não fosse, mas ela estava... Diferente. abriu os olhos e me olhou de forma engraçada quando um trovão rompeu no céu. Ela tinha medo.
- Vamos sair. - disse apoiando os braços na borda da piscina e fazendo força para erguer meu corpo, meu jeans pesava e minha camisa já estava mais do que fundida ao meu corpo. Quando sai, entendi a mão a , que saiu meio tonta, mesmo com o banho gelado ela ainda estava um pouco sobre o efeito da bebida.
- Me leva no colo, tio. – ela disse e eu ri virando as costas para que ela subisse, ela escorregava um pouco, mas prendeu bem as pernas em volta de minha cintura. – To com sono. – ela falou apoiando seu queixo no vão do meu pescoço e fechando os olhos.
- Não ouse dormir, mocinha! – disse entrando em casa e sacudindo levemente o corpo para que ela acordasse. Mas não sei se ela se assustou e escorregou, ou sei lá, mas no segundo seguinte, não senti mais o peso dela em minhas costas. Quando olhei para trás, ela estava no chão estatelada e rindo que nem uma hiena. – Machucou? – eu perguntei com meio sorriso nos lábios, preocupado.
- Não. – ela disse parando de rir e recusando minha mão de ajuda para se levantar. – , eu realmente to com sono. – ela jogou os braços em volta do corpo.
- Então sobe e troca de roupa. - eu disse a avaliando e tirando minha própria camisa. – Ou melhor, coloca uma, porque você já ta quase nua. – ela então se olhou e parece que só agora que ela se tocou que estava apenas com o sutiã.
- Ai é! Eu gostava daquela blusa, mas não vou trocar de roupa não! – ela sorriu de forma sapeca. – Eu vou dormir assim. – ela gargalhou e me olhou que nem criança antes de começar a correr em direção as escadas.
- Ah pode parar ai. – eu corri rindo atrás dela. Conhecendo do jeito que conheço, ela estava planejando se jogar na minha cama. Do jeito que estava, toda molhada, e posso garantir que não seria a primeira vez que ela faria isso. – Pode parando ai, mocinha. - eu disse segurando-a pelo braço e puxando-a, quando ela ia subir o primeiro degrau. Mas acho que errei na dose, segurei rápido demais, puxei forte de mais e agora ela estava perto demais. Muito perto... nossos corpos se encostavam de leve, e nossas respirações se cruzavam.

me olhou nos olhos e por um segundo eu achei que não conseguiria desviar minha atenção deles, era como se algo atraísse meus olhos aos dela. Mas eu não consegui continuar a encará-los por muito tempo, meus olhos foram descendo para seus lábios, que me pareciam tão tentadores no momento. Eles estavam tão perto. Era como se inconscientemente eles estivessem me chamando. Fechei os olhos com firmeza, respirando fundo antes de dar um passo para trás. Aquela ali era a . Minha amiga desde sempre, e eu tinha namorada, não era justo com a , não era justo com a própria .

- Er... eu vou trocar de roupa. – ela disse passando a mão pelos cabelos,olhando para baixo. Ela deu um passo para trás e merda! Eu não conseguia entender e explicar o que estava acontecendo, nem o que estava fazendo. Era como se um imã me puxasse para ela, como se se eu não fizesse isso me arrependeria para o resto da minha vida. Eu sabia que tinha namorada, sabia que ela era irmã da , e isso estava martelando minha cabeça, estava. Porque no momento seguinte, uma de minhas mãos puxou pela cintura, enquanto outra subia para sua nuca, e no momento em que eu grudei seus lábios aos meus e nossas línguas se encontraram, nada mais tomou conta de meus pensamentos a não ser o gosto de . E a onda de sensações maravilhosas que ele estava me causando no momento.


Vinte

Acordei, mas não me mexi como de costume. Fiquei quietinha, sentindo o ar gelado que passava por minhas vias respiratórias e o calor aconchegante ao qual meu corpo estava envolvido; era tão gostosa aquela sensação de acordar sem barulho, simplesmente por acordar. Mas eu sabia que no exato momento em que abrisse os olhos, uma enorme dor de cabeça me atingiria, e aquela sensação de conforto sumiria em um piscar de olhos. Literalmente, algo se mexeu em minhas costas e eu quase pari meu baço de susto, e logo me lembrei de uma coisa, não estava na minha casa e nem na minha cama. estava ao meu lado. Forcei meus olhos, ainda cerrados, a me lembrarem o que havia acontecido para que eu fosse parar ali, mas minha mente parecia doer demais, então resolvi seguir por etapas. me buscando em casa, a festa, Josh, dança, musica, putz! Eu havia dançando em cima da bancada? Não acredito que eu fiz isso! Eu ri sozinha, ainda de olhos fechados; céus, eu realmente estava bêbada... bom, estou lembrando, então vamos prosseguir. me trouxe pra casa dele, eu me joguei na piscina, ele me carregou no colo, a gente se beijou... CARALHO! Sentei de imediato, abrindo os olhos da forma mais arregalada que alguém poderia abrir, mesmo de ressaca; acho que se não estivesse, meus olhos sairiam saltando de meu rosto e eu teria que procurá-los às cegas. Ta bom, chega de viajar. Dude, como eu não acordei lembrando imediatamente disso? Um sorriso bobo se formou no meu rosto de orelha a orelha, e eu olhei para o menino adormecido ao meu lado. Nós havíamos nos beijado, e a iniciativa havia sido dele!

Flashback

- , eu realmente estou com sono. - disse jogando meus braços em volta do corpo, a roupa que vestia parecia pesada e eu já começava a sentir frio.
- Então sobe e troca de roupa. - disse me avaliando e tirando sua própria camisa que também estava encharcada. Bom, eu não precisei de espelho naquele momento para ter certeza que eu estava com a maior cara de tarada do mundo! Ver ele ali, sem camisa, na minha frente, com todo aquele corpo, nós dois sozinhos dentro de uma casa... Ele está me provocando, você não acha não? – Ou melhor, coloca uma, porque você já ta quase nua. – ele olhou diretamente para os meus seios. TARADO! Tu olhou pros meus peitos que eu vi, eu pensei histericamente, pensei histericamente? Tem como pensar histericamente? Deve ter, porque eu to pensando assim. Olhei-me e, caraça, eu tava só com o sutiã, dude! Mas ele é uma graça, fica a dica, um dos meus prediletos, preto e com rendinha.
- Ah, eu gostava daquela blusa! Mas não vou trocar de roupa não! – eu ri. Estava com preguiça, pra que tirar a roupa? - Eu vou dormir assim. – gargalhei batendo palmas em frente ao rosto, eu estava com vontade demais de rir. E me deu uma vontade enorme de brincar de pique pega, então eu corri para a cama de , ou melhor, tentei correr.
- Ah, pode parar. – correu atrás de mim. – Pode ir parando ai, mocinha – ouvi sua voz quando pisei no primeiro degrau e ele segurou meu braço, me puxando de volta. Não sei se por ele ter feito o movimento com demasiada força, não sei se por eu estar bêbada e meu corpo mole demais, só sei que no segundo seguinte, estava com seu corpo junto ao meu, sua barriga encostada a minha. Eu senti uma onda de arrepios me invadirem quando nossos olhares se encontraram. Céus, era como se ele tivesse me hipnotizado, e não havia outra coisa no mundo que eu pudesse querer naquele momento mais do que ele. Ele produzia um efeito em mim que parecia até que todo o álcool tinha evaporado de meu sangue. Seus olhos se desviaram dos meus e desceram para meus lábios. E por instinto, meus olhos fizeram o mesmo, seus lábios eram tão lindos, parecia tão macios, eu precisava muito sentir seu gosto, como era beijá-lo, acho que eu morreria se não fizesse isso. fechou firme os olhos e respirou com dificuldade, como se estivesse fazendo muita força para tirar algo da mente... como se quisesse evitar algo. E então eu me toquei. Ele queria me tirar da mente, ele queria me evitar.
- Er... Eu vou trocar de roupa. – disse, passando as mãos pela cabeça na inútil tentativa de não ficar sem graça; é, ele havia acabado de me rejeitar. Evitei olhar em seus olhos, não acho que agüentaria fazê-lo. Dei um passo em direção a escada, mas as mãos de me impediram de continuar meu caminho. Ele me puxou para si, grudando seus lábios nos meus. Uma de suas mãos foi para minha nuca, enquanto a outra me puxou pela cintura, colando nossos corpos. Por meio segundo ficamos parados, sentindo apenas nossos lábios unidos, mas logo sua língua delicadamente pediu passagem em meus lábios, facilmente concedida, e eu me senti amolecer mais ainda, se era possível. me beijava calmamente e eu sentia meu coração parar de bater a cada segundo. Por muito tempo eu havia imaginado e criado ilusões em minha mente sobre como seria beijá-lo, se seria bom... eu estava enganada demais em todas as hipóteses imaginadas, porque nenhumas delas havia chegado perto do quão perfeito estava sendo.

Flashback off

Sentei-me na cama e pus um pé para fora, tomando todo cuidado necessário para não acordar . Primeiro, porque eu deveria estar pavorosa naquele momento, segundo, porque eu não sabia como encará-lo. Sempre havia um momento constrangedor por trás de um beijo, e eu estava começando a temer o meu momento constrangedor com . Eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele se arrependeria, para saber que ele me diria que foi um erro, e que ele tinha namorada, e eu sabia que era exatamente isso que ele faria quando acordasse. Com todo cuidado do mundo cacei algo no guarda-roupa de que pudesse ser vestivel, essa palavra existe? Pois bem – lê-se que ninguém me mande para o manicômio quando me ver vestida na rua - e sai do quarto. Eu não conseguia conter o sorriso e a euforia em mim. Eu havia beijado ele! Eu sei que poderia ser apenas um beijo, para ele apenas mais uma de sua lista, mas pra mim havia sido especial, aquele era , o cara que eu sempre quis beijar! E, se um dia eu estive confusa sobre o que realmente sentia por ele, essa confusão se desfez, porque eu sabia exatamente o que queria, e sem sombra de dúvida, era o meu objeto de desejo. Sai da casa com um de seus casacos por cima de uma calça legging que havia em seu guarda-roupa e uma havaiana no pé. Não havia escovado os dentes e o único trabalho que havia me dado era de prender os cabelos. Não me assustaria se alguma criança saísse correndo na rua quando me visse. O tempo estava frio, gostoso, e minha cabeça voltou a latejar. Não demorou muito para que eu chegasse em casa. Tudo estava em completo silencio, tomei um banho bem quente e demorado, lavando bem os cabelos. Sequei-os e olhei o relógio: meio dia. Não era estranho que minha casa estivesse em silêncio, eu havia madrugado completamente. Meus pais não estavam em casa e Carolina provavelmente estava dormindo. Senti um aperto no peito ao me lembrar dela, ela podia ser uma vaca, vadia, puta, e cadela, mas ainda era minha irmã, e ainda era namorado dela. Merda, não sei se devia, ou se não, mas um puta remorso estava começando a surgir em mim, não era justo. Nunca fui a favor de traição, não faço com os outros porque não gostaria que fizessem comigo. Mas ao mesmo tempo aquele era . Dude, há quanto tempo eu queria isso dele? Três anos? Mais? Muito mais! Resolvi ir até a casa de , estava chovendo e eu infelizmente não poderia subir na minha ‘árvore do pensamento’. É, eu tenho uma árvore, no fundo do quintal da minha casa, que eu gosto de subir pra pensar na vida, enquanto vejo tudo o que esta acontecendo ao meu redor, sem que ninguém perceba que eu estou presente. É quase como se eu tivesse uma capa da invisibilidade sem ficar invisível. A casa de estava em completo silêncio, não se ouvia um pio. Fui até a parte de trás, pegando a chave no esconderijo e entrando; se a dúvida sobre onde estaria não fosse tão grande, eu provavelmente estaria na sua porta, mas era meio ameaçadora pela manhã. Subi as escadas, e entrei no quarto de , parando no segundo seguinte e dando meia volta. Segurando totalmente o riso, e a vontade de pular em cima da cama, de empolgação, ou sei lá o que, e tive que me segurar também pra não tirar uma foto. Então eu apenas sai do quarto, o mais rápido possível, e só quando cheguei na sala, na parte de baixo, cai na gargalhada. estava deitada, dormindo totalmente absorta, com as pernas e braços abertos, enquanto segurava em sua cintura, numa falsa tentativa de não cair da cama, com uma das pernas já pra fora, e com os cabelos de em sua cara. Devo ressaltar a parte do sem camisa. Joguei-me em seu sofá ligando a TV, bateu a preguiça de ir para casa e seria engraçado encontrar os dois quando acordassem, então joguei as pernas em cima da mesinha, colocando em um canal qualquer - tanto faz minha mente não estava ali mesmo. Reencostei a cabeça no sofá pensando em quando teria que encarar e já prevendo tudo o que ele me falaria, sentindo o remorso e o medo já começarem a me corroer por dentro. Suspirei frustrada, lembrando novamente dos dois lá em cima; sorri fraco pra mim mesma, pelo menos para alguns as coisas poderia começar a andar agora, né?


’s POV

Rolei na cama me espreguiçando e em seguida ouvi um baque surdo no chão, como se algo tivesse se chocado fortemente contra o mesmo; mas que merda é essa? Minha pergunta foi respondida quando se ergueu, jogando-se ao meu lado da cama e puxando as minhas cobertas, se enrolando nelas, e resmungando mal-humorado.

- Já é a terceira vez, chata pra caramba, até o chuta menos, que saco. – e então ficou em silêncio, como se tivesse caído em um sono profundo, dormindo com a boca aberta. Ri daquilo e cocei os olhos, olhando meu relógio de cabeceira em seguida. Uma e vinte. Acho que já estava na hora de levantar. Sentei-me na cama e sai, tomando cuidado para não acordar nem derrubar novamente, coitado. Eu tinha plena noção de como ele era dormindo, e digamos que não era uma companhia muito agradável, se mexia demais. Escovei os dentes e penteei os cabelos. Minha cabeça não doía muito, mas minha barriga já gritava por comida. Desci as escadas e quase sai voando pelo teto de susto quando vi jogada no meu sofá com o controle da TV em mãos.
- Quenga, quer me matar? – foi sua vez de se assustar quando ouviu minha voz. – Madrugou, foi? – perguntei me jogando no sofá ao seu lado.
- Aham. – ela concordou olhando para a televisão, pensativa. E como se se lembrasse de algo, me encarou de volta com meio sorriso nos lábios. – O que o estava fazendo no seu quarto, e sem camisa? Dormindo abraçadinho com você? – ela fez cara de segundas intenções com direito a sobrancelha erguida e tudo.
- Ah, nada demais! – eu disse indiferente. – Eu só peguei ele ontem. – disse a olhando séria e três segundos depois soltamos juntas gritinhos empolgados.
- Como assim você o pegou? Como aconteceu? – me joguei no sofá ao seu lado e comecei a contar minha história.

- , manda ele pegar a chave. - gritou de forma totalmente histérica caindo na gargalhada. Em seguida e eu me lembrei de algo que me fez rir que nem uma maluca também.
- Pega a chave. – disse, colocando minhas mãos na cintura e empinando os peitos. , lerdo como sempre, pareceu não entender.
- E onde está a chave? – ele perguntou com aquela cara de ameba, como se fosse o único a não entender a piada.
- Adivinha? - tentei fazer minha maior cara sexy enquanto olhava para os meus próprios seios e cai na gargalhada em seguida. mudou de cor e eu avistei de lado enquanto entrava no carro com ao seu lado, fala sério, mó caretão o .
Fiz minha melhor cara sexy e olhei para os seios, agora cobertos apenas pelo sutiã. continuou parado olhando pro meu sutiã na dúvida. - Como é que é? Vai pegar ou não? - perguntei rindo, mas ele não se moveu. Eu apenas bufei alto tirando a chave do sutiã.


- Ta de sacanagem que o não quis tirar a chave? - perguntou, parecendo indignada. - Ele é gay? Você lá, toda gostosona, dando mó mole e ele... - deixou a frase pairar no ar e eu ri.
- Cala a boca e me deixa terminar.

foi dirigindo até minha casa, ele estava em silêncio e eu estava inquieta; queria fazer algo, detestava ficar parada, ainda mais depois da quantidade enorme de álcool que tinha ingerido. Quando o carro parou dentro de minha garagem, eu não pude mais me conter. Peguei o controle do portão que estava nas mãos do menino, fechando-o, deixando tudo escuro. E sem pensar duas vezes, pulei para o banco do motorista, sentando no colo de e beijando-o em seguida.

- OMG! - exclamou rindo. - Você agarrou o ? Isso a,i amiga, tenha atitude! - eu ri do comentário. - Mas e depois?
- A gente ficou se agarrando mó tempão no carro, até que eu já estava bêbada demais, e me sentia cansada demais, ai eu capotei. - gargalhou alto, tapando a boca em seguida, talvez por medo de que ele acordasse. - E então não lembro de mais nada. Mas e você, como foi o esporro do ?
- Ah, ele não falou muito. - ela disse olhando pra frente. Estranhei. - parecia puto quando saiu da festa.
- E estava. Mas depois... - ela parou ainda olhando para um ponto vago.
- Depois? - a incentivei a continuar.
- Ele perguntou o que tinha passado na minha cabeça pra fazer aquilo e eu fui sincera.
- Você? - eu fiquei incrédula, minha menininha estava começando a encarar as coisas. - Você disse que era ele?
- Aham, eu estava bêbada. Depois começou a cantar Carlton na rádio, eu comecei a cantar que nem uma maluca, e acho que ele esqueceu que estava meio bravo. Ai, quando chegamos a casa dele, eu me joguei na piscina e ele foi junto, a gente ficou que nem dois malucos. - ela riu sozinha com aquele olhar apaixonado olhando o nada, eu queria realmente entender por que esses dois foram idiotas o suficiente para não ficarem juntos antes. De coração. Eu não entendo! Eles se gostam, está mais do que na cara isso.
- Você se jogou na piscina? , você é bem pior bêbada do que eu! – sorri. - E depois, o que aconteceu? – perguntei, pegando um pacote de biscoitos que estava jogado em cima da mesinha e apoiando meus pés no mesmo lugar. ficou em silêncio.
- Você já quis muito uma coisa, mas depois se sentiu culpada por ter conseguido? Ou ficou com medo das conseqüências que isso poderia te trazer? - ela perguntou séria e eu joguei minha cabeça no sofá, encarando o teto que nem ela fazia.
- O que aconteceu, ?
- O me beijou. - cuspi todo o biscoito que tinha posto na boca no momento que ouvi aquela frase. E não pude deixar de rir.
- Isso é ótimo! - refreei um pouco minha empolgação quando vi a cara de , ela estava séria. - Ele beija mal? - arqueei minha sobrancelha em dúvida.
- Não. - ela sorriu fraco. - Foi tão bom! Ele que me beijou, ele que tomou a iniciativa. - e então ela começou a me contar os detalhes de como tinha acontecido.
- E depois? Digo, que vocês pararam de se beijar?
- Ele me deu um selinho, me olhou da forma mais fofa possível e disse que eu precisava trocar de roupa, porque ele não queria ser responsável caso eu pegasse uma pneumonia. E então eu subi, troquei de roupa e apaguei.
- Ai, amiga, que fofo! E por que você ta com essa carinha? – perguntei, tentando entendê-la. O cara que ela gosta havia beijado-a, ela tinha que estar feliz, muito feliz, muito mais do que aquele sorrisinho idiota que ela sempre tem! Ela tinha que estar com um sorriso estilo curinga no rosto.
- Ele tem namorada, , ele namora minha irmã, ele é meu cunhado. E eu conheço o bem o suficiente pra saber o que ele vai dizer quando a gente se vir. - agora sim eu havia entendido.
- , relaxa. Às vezes ele pode se surpreender. - a puxei de lado para um abraço, enquanto ela suspirava.
- Deus te ouça, amiga, Deus te ouça.


Vinte e Um

Assim que alcancei o portão da escola, senti meu sangue congelar em minhas veias. Agora era inevitável, eu teria que encarar , e o medo do que ele iria dizer me fazia tremer nas bases. Respirei fundo e me encarou, como se me encoraja-se; ela entendia meu medo. Era importante para mim o que diria, e apesar de saber exatamente o que era, eu temia ouvir saindo da boca dele, porque eu tinha certeza que doeria. O sinal tocou e apareceu atrás de nós, sorrindo e me encarando daquele jeito estilo: vai mulher! O amontoado de hormônios ambulantes seguiu para suas determinadas salas. Eu avistava meio de longe enquanto , e caminhavam até a sala, nenhum deles havia me visto e eu agradeci muito por isso. Quando não os vi mais, entrei pelo portão, sem me dar o trabalho de me importar se estaria atrasada ou não, a única coisa que eu queria era não ter que encarar , mas que merda! Eu era uma mulher ou uma rata? Acho que rata era a minha melhor opção. As aulas passaram monótonas e chatas, como de costume, mas eu não queria que elas passassem. Senti meu coração bater na boca quando o sinal que anuncia o intervalo tocou. Olhei para os meus dois lados, encarando minhas amigas e sinceramente? Me senti como Edward Cullen, saindo da sala apressada como se fosse tirar o pai da forca. Sinceramente? As pessoas podiam não entender meu medo, mas a verdade é que eu sempre tive medo de rejeição, de não ser aceita. Traduzindo: eu tenho medo de levar um fora, toco, pé na bunda. É isso. E eu sabia que era exatamente isso que iria fazer assim que me visse. Não que nós tivéssemos algo, mas ele simplesmente iria acabar com minha doce ilusão do nosso beijo, diria que foi um erro, e que não deveria acontecer mais. E eu não queria ouvir aquilo, não mesmo, então eu recorri à única opção que me restava naquele momento: me esconder nos fundos do colégio . E era isso que eu estava fazendo, minha mochila se encontrava jogada entre minhas pernas e eu encarava o nada a minha frente. Street Map do Athlete ecoava de um dos fones do meu iPod - apenas de um por que eu tinha a nata habilidade de queimar sempre um -, e eu contava mentalmente quanto tempo faltava para as minhas aulas daquele dia acabarem, ou qual seria a probabilidade de eu quebrar uma de minhas pernas ou braços, ou me machucar tentando pular o muro a minha frente, Foi quando uma voz conhecida chegou aos meus ouvidos e eu senti todos os meus órgãos afundarem em meu corpo quando se sentou ao meu lado.

- Acho que atrás da escola é um lugar muito óbvio pra você se esconder de mim. – disse e eu não precisei encará-lo para saber que ele tinha um sorriso nos lábios.
- E quem disse que eu estou fugindo de você? - perguntei ainda olhando para frente, sentia meu coração bater tão forte que seria capaz de vomitá-lo a qualquer momento.
- Bom você não atende as minhas ligações, não estava no seu quarto quando fui te acordar. Ficou no portão da escola esperando eu entrar pra que você pudesse fazer o mesmo. – ele soltou um risinho. – E esta aqui na hora do intervalo, perdendo a oportunidade de zoar a e o por estarem se agarrando, então eu deduzi que você estava fugindo de algo. E já que você ainda não me olhou desde que eu cheguei, eu deduzi que esse algo seja eu. – não o respondi, apenas fiquei quieta, olhando o nada. Sempre o nada. Ah, e já disse que de minha boca também não saia nada? Pois bem, fica a dica. – , a gente precisa falar sobre o que aconteceu sábado. – ele assumiu um tom mais serio.
- Eu acho que não, porque eu já sei o que você vai falar. – disse, por fim, finalmente o encarando.
- Sabe? – ele ergueu uma das sombracelhas e então desviou o olhar. - Então diga. – ele agora olhava para frente, para o nada, assim como eu voltei a fazer.
- Bom, que primeiro foi um erro, que você estava equivocado, que você tem namorada, que você se arrependeu, que a gente deveria esquecer tudo o que aconteceu e agir como se nada tivesse acontecido, e que espera que isso não mude nossa amizade. – eu disse.
- Exatamente... – ele respirou fundo e eu senti meu coração afundar mais ainda em meu peito. – Era exatamente isso que eu tinha que dizer. Mas não vou. – foi minha vez de virar para encará-lo, mais ele não fez o mesmo. – Droga, , você me deixou confuso! Eu te beijei, eu tenho consciência disso, sei também que a atitude foi minha, que eu tenho namorada, mas não consigo me arrepender disso! Pelo contrário. – ele passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os mais ainda do que já estavam. - Eu não consigo olhar pra você agora sem ter vontade de repetir tudo. – ele então me encarou, deixando seus braços caírem sobre o corpo. Alguns segundos se passaram em silêncio, minha boca estava entreaberta e eu agora tinha vontade de sorrir; ele não estava arrependido, pelo contrário, ele queria fazer de novo! – Olha, , - se apoiou nos joelhos, girando e ficando de frente a mim. - Você me deixou confuso, eu... Eu não sei o que fazer, desde aquele dia que você bebeu lá na , e de tudo o que você me falou, você mexeu com a minha cabeça. Você é minha melhor amiga, e eu sempre fui sincero com você, como eu to sendo agora, mas desde aquele dia, eu não consigo olhar pra do mesmo jeito de antes, e nem... Tocar ela da mesma forma..por que eu comecei a olhar você de uma forma diferente, de um jeito que eu não sei explicar, mas que me deixa mais confuso toda vez que eu tento entender.
- , eu...
- ,escuta, eu não quero te magoar, mas eu também não quero magoar a , da mesma forma que eu também não quero sair magoado disso tudo. Eu quero te beijar de novo. Eu quero muito, mas não é justo com você, não e justo com a . Eu... Eu to confuso. – ele passou novamente as mãos pelos cabelos, como se estivesse desesperado. – Eu não sei o que fazer. – ficamos nos encarando por longos segundos, e eu não sabia descrever qual a sensação se passava no meu corpo aquele momento. Meu coração batia de forma desesperadoramente exagerada, e eu sentia vontade apenas de jogar aquela merda de mochila pra bem longe de mim e pular nos braços do cara que eu gosto - que havia em meias palavras acabado de dizer que estava ficando afim de mim - e enche-lo de beijos, sem me importar com o que os outros iriam dizer. E por uma fração de segundos eu achei que pensava o mesmo, pela forma que ele me olhava. – Você não vai dizer algo?
- , você me conhece muito bem. Eu gosto de você, eu gosto de tudo em você; e aquele beijo, ele significou muito pra mim, mais do que você pode ate conseguir imaginar. Desde então, a única coisa em que tenho pensado é em como eu quero repetir, como quero te beijar de novo, e em como eu vou apagar esse sorriso idiota nos meus lábios antes que as pessoas comessem a pensar que eu to maluca. Mas ao mesmo tempo, eu me sinto com remorso porque, dude, você namora minha irmã! E eu não quero me sentir culpada por isso, por querer tanto te beijar de novo, por querer você... Então você vem e me diz tudo o que eu não imaginaria que você pudesse dizer e ainda quer que eu te diga algo? – eu sorri de canto, - Eu não sei o que dizer. Mas uma coisa você pode ter certeza, eu não vou virar pra você e falar ‘larga ela e fica comigo’, porque se eu for entrar na sua vida dessa maneira, digo sem ser apenas sua amiga, isso não vai depender do que eu vou dizer, mas do que você vai fazer. Eu acho que é isso que eu tenho a dizer. – eu disse e então ele sorriu.
- Eu sabia que você diria exatamente isso. - o sinal tocou e parecia que nós nem havíamos nos tocado disso. – , me dá um tempo, eu preciso pensar – ele fez aquela cara de criança abandonada.
- Você tem o tempo que você quiser. Só não se esqueça que é minha irmã, e por mais que eu a deteste, eu também não quero que ela saia magoada disso, e eu te mato se alguém souber que eu falei isso. - ele sorriu abertamente de uma forma que me fazia querer beijá-lo de novo, de novo, de novo e de novo. Me ergui, evitando olhá-lo. Não saberia quanto tempo mais agüentaria sem atacá-lo. - A gente se vê por ai - disse jogando minha mochila apenas em um ombro e dando dois passos. Sabe quando o certo e o errado parecem às mesmas coisas? Sabe quando tudo o que você quer e tudo o que você não deve querer parecem ser o mesmo? era o meu erro, minha maior fraqueza, meu certo e meu errado, meu bem e meu mal, eu não sei se estava em mim ou não, se me arrependeria ou não, mas meu corpo falou muito mais rápido do que minha mente poderia raciocinar. Meus pés não se mexeram para o terceiro passo, ao contrário disso, eles se viraram, e mais uma vez eu vi perto demais. Eu não queria me submeter a isso, mas ele estava aqui, uma de suas mãos me envolveu pela cintura e rapidamente joguei meus braços em volta de seu pescoço.
- Você sabe que isso é errado, né? – perguntei, olhando-o nos olhos.
- Eu sei - disse olhando no fundo de meus olhos. Olhá-lo fazia parecer que as coisas estavam todas em seus lugares certos, que tudo iria dar certo; olhá-lo dava uma segurança inexplicável. Um sorriso de canto se formou em meus lábios e nos deles também, nossos rostos foram se aproximando automaticamente e os lábios de roçaram os meus em um carinho, seu nariz brincou com o meu em um beijo de esquimó e rimos juntos, antes de finalmente grudarmos nossos lábios em um beijo de verdade. Sua língua procurou a minha e eu senti que poderia explodir de alegria com seu toque; minhas mãos brincaram com seu cabelo e me puxou para mais perto, colando mais nossos corpos. Nosso beijo ganhou velocidade e, de coração, nunca pensei que beijar pudesse ser tão bom, tão perfeito. Tão... Eu não sei explicar, nunca pensei que apenas um beijo pudesse trazer essa sensação de plena felicidade. Finalizei o beijo com uma mordida em seu lábio inferior, o que fez me apertar mais ainda contra si, iniciando o beijo novamente. Eu não queria sair dali, não queria soltá-lo, mas alguém podia aparecer, ele era meu ‘cunhado’, meu melhor amigo, e seria estranho que as outras pessoas nos vissem se beijando. Separei nossos lábios e tirei minhas mãos de seu pescoço, sorrindo de uma forma que eu me sentia idiota, mais uma idiotice boa, muito boa.
- Eu tenho que ir.- disse olhando o chão. Se olhasse novamente, não me responsabilizaria mais por meus atos. me olhou em silêncio, mas ainda com meio sorriso nos lábios, e acenou com a cabeça. Me virei de costas, voltando ao meu trajeto inicial, lutando com todas as minhas forças contra o meu instinto, a minha vontade e o pior de tudo, lutando contra o meu coração para não voltar e ficar o resto do meu dia ali com , beijando-o, abraçando-o, sentindo seu cheiro, seu toque, ouvindo sua respiração. Aquilo não era certo, ele namorava minha meia irmã. Mas mesmo sabendo disso, eu não pude deixar de evitar o sorriso idiota que se formava em meu rosto e a euforia maior que parecia crescer a cada segundo dentro de mim.


Vinte e Dois

(N/A coloque essa música para carregar )

- Oi, mãe. – disse, enquanto me jogava no colo da mesma, e recebendo uma gargalhada em resposta. Coloquei minha mochila em um canto qualquer, e me deitei no sofá, com a cabeça apoiada no colo da minha coroa. Ela assistia a um programa qualquer de fofoca e olhou-me rindo.
- Que bom humor é esse? – ela perguntou, colocando uma das mãos em meus cabelos e começando a acariciá-los.
- Nada. – disse sorrindo. – Só estou com bom humor, isso. – dei de ombros me aconchegando, mais ainda, em seu colo.
- Isso esta me cheirando a namorado novo. – minha mãe riu e me olhou curiosa. – Me conta, é o ? Eu o acho uma graça, se eu fosse uns vinte e cinco anos mais nova, ele não me escapava. – ela disse animada e eu gargalhei alto, vendo a porta da sala ser aberta por .
- Oi, oi. – ela disse, se jogando no sofá do nosso lado, com uma cara não muito agradável. Oh my God será que...
- Aconteceu alguma coisa, ? - minha mãe perguntou de forma terna.
- Não, tia, nada não. Eu só estou um pouco cansada do ensaio. – ela sorriu para minha mãe e depois virou-se pra mim. – , você sabe se o foi pra casa depois da aula? Desde a primeira aula que eu não o vejo, tive que resolver umas coisas no intervalo e acabou que eu nem falei com ele.
- Não, os meninos foram todos para a casa do , fazer não sei o quê. – respondi, tentando parecer educada.
- Ah, ok, obrigada. – ela disse e se levantou.
- Tem comida no forno, ! – minha mãe gritou e eu a ouvi soltar um muxoxo de agradecimento.
- Mãe? – chamei-a e ela fez um barulho com a boca, demonstrando que estava ouvindo. – A senhora já quis muito uma coisa e quando conseguiu, percebeu que não era aquilo mesmo que você queria? – perguntei, fitando o teto.
- Como assim, você não quer mais?
- Não, não é o fato de não querer mais, o fato é querer até demais. E eu não sei se é certo esse querer. – fiz careta e minha mãe voltou a fazer carinho em minha cabeça.
- Ah, minha filha, o único conselho que eu posso te dar agora, é pra você seguir teu coração. Ele é o único que pode te ajudar nesse momento, mas também, não deixe a razão de lado, porque ela também é muito importante, não corrompa seus princípios, só isso. – ela sorriu me olhando de forma amável.
- É, acho que a senhora tem razão. – disse me ajeitando no sofá, de forma a ficar com o rosto virado para sua barriga.
- E ... – minha mãe me chamou e eu fiz um barulho com a boca insinuando que estava ouvindo. – Por que você não tenta investir no , sabe? Ele sempre foi meu segundo preferido, e nem que fosse só pra dar uns beijinhos. – minha mãe riu da minha careta.
- O está com a , mãe. – ri quando minha mãe soltou um muxoxo de decepção. – E, aliás, figurinha repetida não preenche álbum. – gargalhei da cara que a minha mãe fez, e afundei meu rosto novamente em seu colo.
- Não preenche álbum, mas dá muito bem pra jogar bafo. – foi minha vez de gargalhar de sua frase. Essa minha mãe é uma figura.


- É claro que não! É óbvio que o Jensen é mais bonito! – disse revoltada, apontando para a televisão.
- Lógico que não, o Jared é muito mais gato! – disse, pausando a televisão e apontando para o rosto do Jared Padalecki, na tela.
- Olha, se vocês continuarem secando meus homens, eu vou ser obrigada a dar porrada na cara das duas, o Jensen é meu e o Jared também. Os Winchesters me pertencem, propriedade exclusiva minha. – disse, com toda a minha possessão.
- Ê laiá, , você... – ia dizendo quando a campainha tocou.
- ENTRA! – gritamos em coro e rimos em seguida. Meus pais resolveram passar a noite fora, então eu tinha resolvido chamar o bando de retardados mórs para minha casa. Meus olhos se encontraram com os de , brevemente, quando ele, , e passaram pela porta, mas eu desviei os olhos, voltando a olhar a televisão. Sentindo meu coração bater forte.
- MONTINHO! – ouvi e gritarem, e antes que pudesse fazer algo, senti alguns, muitos, quilos sobre nós. gritava e xingava, enquanto dava gritos histéricos, se remexendo, e eu ria, igual a uma hiena com tuberculose, me movendo e tentando achar um jeito de sair dali. Alguém se encostou à minha barriga e eu quase gritei.

Tá, na verdade, eu gritei. – ISSO É MINHA BARRIGA, TIRA A MÃO DAÍ! – disse me remexendo, e conseqüentemente, movendo a todos que estavam no sofá, embolados. Os dedos, que se encostavam a minha barriga, começaram a me fazer cócegas e eu gritei, rindo e me mexendo mais ainda, tentando me livrar daquilo.

O fato de eu me mover, fez com que conseqüentemente, todos se mexessem e no segundo seguinte todos estavam no chão. Caímos do sofá, uns em cima dos outros, e todos deram gargalhadas. estava em baixo de mim, a barriga de Gleide na direção do meu rosto, a bunda de na direção da minha mão, tinha o pé em minhas costelas, a cabeça de encostava-se à minha barriga e todos estávamos em cima de .

- Como é que é? Virei o quê? Tapete? - ele disse tentando se mover e sair de baixo de nós, virei o rosto e o de estava a milímetros do meu, sorrimos juntos, nos encarando, era tão bom olhá-lo nos olhos, me fazia sentir tantas coisas, e então, algo cutucou minha coluna e eu me virei apoiando as mão em algo macio, fazendo força pra cima, em seguida para me levantar.
- ISSO É O MEU... – começou sobressaltado, mas sua voz se tornou um pio. - Pênis? - ele rolou para o lado encolhido e com as mãos entre as pernas, caímos todos na gargalhada, enquanto o coitado do apenas rolava de um lado para o outro gemendo de dor.
- Desculpa, meu amor, eu sei que o Júnior vai ficar bem! – disse me agachando e ficando ao seu lado. Estava morrendo de vontade de rir, mas tentava me manter séria em nome do Júnior, ou pelo menos à memória dele.
- Vai nada, você vai precisar fazer massagem nele para ele voltar ao normal. - ele me olhou sapeca e duas almofadas voaram em sua direção. Olhei para traz e notei que uma das almofadas viera da direção de , mas quando olhei para o outro lado, me surpreendi, a outra almofada vinha de .
- Mais respeito com as mulheres da minha família, rapaz! - ela disse em tom brincalhão e se jogando no sofá com um pote de sorvete. - Alguém quer? - ela sorriu e acho que o silêncio foi mútuo. se levantou, rindo e caminhando em sua direção.
- É claro que eu quero. - ele pegou uma colher na mão de , que já comia, e mergulhou no pote, e eu trocamos um olhar e ela sorriu. Estendeu-me uma colher, aceitei ainda confusa e meus olhos se encontraram com os de , que deu de ombros e aceitou, também, a colher que lhe oferecia. Todos pegaram suas próprias colheres e começamos a comer. Rimos de , que se melecou todo e iniciou uma mini guerra de sorvete!
- Oh meu Deus, isso ta envenenado? - eu perguntei olhando para , para o sorvete e voltando meu olhar a ela novamente, que soltou uma gargalhada estrondosa, que mesmo sem querer, me fez rir também. Por um momento achei que iríamos discutir, mas pelo contrário, apenas colocou mais sorvete na boca e disse:
- Qual é, , já ta na hora da gente crescer né? – oi, para tudo, alguém ai pausa a fita e volta à parte em que a fica legal, porque eu acho que perdi.
-Ah é, né? - eu disse, estranhando toda aquela gentileza repentina e me levantando. – Vou pegar uns edredons para nós nos jogarmos em cima. – disse me levantando. – E aproveitar pra limpar o meu rosto. - sorri para todos antes de caminhar até a escada.

Merda! Como assim? Ela agora resolveu ser legal? Droga! Isso só serviu para aumentar a minha culpa, que eu já estava achando que não existia, estava tentando ser legal comigo e eu tinha ficado com o namorado dela. Que vaca eu sou! Lavei o rosto e o enxuguei em uma toalha qualquer, sai do banheiro e abri o guarda-roupa atrás de edredons e colchonetes que pudesse colocar no chão para nos acomodarmos.

- Acho que vou começar a cobrar taxa. - ouvi a voz de atrás de mim e quase voei de susto.
- Ai que susto! – exclamei, levando as mãos ao peito. – Cobrar pelo o quê? – perguntei, não entendendo e ele apontou com a cabeça para a camiseta que eu vestia. Ah, claro. Era dele. – Ah, claro, se eu cobrar tudo que faço por você, vou te levar a falência, honey. – disse, lhe mandando uma piscadela, e rimos juntos. Então o riso cessou, mas ainda continuamos nos encarando, com um leve sorriso nos lábios. Era engraçado e estranho, parecíamos duas pessoas que acabaram de se conhecer. Uma coisa gostosa borbulhava minha barriga com intensidade e eu poderia continuar ali para sempre, apenas olhando-o. Mas eu era humana, olhá-lo tão intensamente me trazia vontades, de beijá-lo, de abraçá-lo, de sentir seu cheiro, sentir sua pele junto com a minha, sua respiração batendo no meu rosto. Eu queria tanto ele, que eu nem sabia como explicar, era uma força quase sobrenatural a que eu estava fazendo naquele momento para não tocá-lo, para não beijá-lo. Dude, eu quero tanto ele.
< - Acho melhor eu descer. – disse, depois de longos segundos em que apenas nos encarávamos.
- Por que a gente não fez isso antes? - ele perguntou, ainda me olhando nos olhos.
- Será que é porque somos burros demais? - perguntei rindo, peguei alguns edredons e joguei por cima do braço, ajeitando para que eu pudesse carregar de qualquer jeito. - Eu acho melhor descer, a ta lá embaixo, e pela primeira vez na vida ela está sendo legal comigo, não quero que a culpa que eu estou sentindo aumente.
- A é legal, . - ele disse e eu acenei com a cabeça. - Foi ela quem foi me buscar para eu te tirar daquela mesa na festa.
- Me lembre de agradecer a ela depois, não sei o que eu teria feito se você não tivesse me tirado de lá. - sorri, eu e não parecíamos nós mesmos naquele momento, não mesmo. - Vou descer... - disse por fim, dando dois passos em direção à porta.
- ... - me chamou e eu parei ainda de costas pra ele. - Eu não sei o que ta acontecendo, mas a única coisa que eu sei é que eu quero te beijar de novo. - ele disse e eu senti vontade de abraçá-lo, de jogar tudo o que eu tinha em minhas mãos para o alto e beijá-lo ali mesmo, sem me importar com quem quer que fosse que estivesse lá em baixo.
- Eu quero te beijar também, , quero muito. - disse e virei, me deparando com seus olhos me encarnado de uma forma engraçada, e um sorriso torto que brincava em seus lábios. Ele se virou. - Mas a sua namorada esta lá em baixo. E eu não vou ter nada com você, até que você se resolva com ela. - disse e sorri de canto antes de sair do quarto, minha cabeça estava a mil, as coisas pareciam acontecer de uma forma que fugia ao meu controle. Eu queria , mas não queria estragar o que ‘poderia’ estar começando entre e eu. Ele é o namorado dela, mas também é o cara que eu sempre quis, sempre amei. E essa vontade, essa sensação que percorre todo meu corpo quando ele esta perto de mim, uma espécie de dormência gostosa, uma frio gostoso na barriga. A vontade que eu tinha de sentir seu toque.
- Hey , karaokê? - chamou e eu sorri, acenando com a cabeça e aceitando o microfone que ela me oferecia. E tentando entender o que era maior em mim naquele momento, a vontade de voltar àquelas escadas correndo e me jogar nos braços de , ou a culpa por querer tanto ele, mesmo sabendo que ele namora minha irmã.


On

- Qual é cara, a gente vai cantar no Karaokê, desistimos do filme. - disse, colocando a cabeça pra dentro do quarto de e me tirando de meu transe total. – Que cara é essa, dude? O quê que houve? - ele perguntou, me olhando estranho e entrando no quarto.
Eu estava sentado na cama com os cotovelos apoiados no joelho e olhando para a parede.

- Nada não, eu só estava pensando. – disse saindo totalmente do meu transe.
- Aham, e eu nem te conheço, né? – ele disse, se sentando na cama ao meu lado. – Anda, desembucha, que cara é essa?
- Dude. – eu respirei fundo, eu precisava falar com alguém e bom, eu acho que não tinha ninguém mais indicado do que pra isso, ele é um dos meus melhores amigos e é super cabeça. - Eu to afim da . – soltei.
- Putz, cara! – afundou o rosto nas mãos, antes de erguê-los rapidamente e me encarar. – Que merda hein! – ele fez uma careta. - E o que você vai fazer?
- O que eu já fiz, você quer dizer? - disse e me olhou sério, com a boca aberta.
- Você não fez isso... – ele disse baixinho e eu concordei com a cabeça.
- Eu a beijei, cara! - disse e não sei por que, mas um sorriso se formou nos meus lábios.
-VOCÊ O QUE? VOCÊ É MALUCO, CARA? O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA? - gritou, se levantando e me olhando sério.
- Cala a boca, dude, assim a casa toda escuta! – disse me levantando também e lhe dando um pedala.
- Dude. – colocou a mão no rosto e respirou fundo antes de acrescentar. – Primeiro. – ele ergueu seu dedo indicador. – Você tem namorada e se você não se lembra, ela é irmã da . Segundo. – ele ergueu o outro dedo, apontando-o quase na minha cara, antes de acrescentar. - Você não pode fazer isso com a , não pode tratá-la como a outra. Eu sei que com a nem são as mil maravilhas e tal, mas ela também não merece nada disso! - me repreendeu.
- Eu sei, eu sei! Minha cabeça esta uma merda maior do que ela já costumava ser. Dude, eu nunca senti nada, com ninguém, parecido com o que eu senti quando eu beijei a . Sei lá. Foi tão... Diferente! - eu tentei fazer com que entendesse meu ponto de vista.
- Dude, sinceramente, eu não quero parecer grosso, mas eu não quero saber se foi diferente ou não. Aquela é a , minha melhor amiga também. Você tem que decidir o que você quer. Você não pode fazer isso com ela. - disse decidido. - Você tem que decidir o que você quer. Se é a , se é a , ai sim, você faz alguma coisa. Mas não brinque com os sentimentos da , ela gosta muito de você. - ele disse se aproximando e colocando uma das mãos em meu rosto. - E eu vou ser obrigado a quebrar seu lindo rostinho. – ele deu dois tapas no local, antes de continuar. - Caso ela seja magoada com isso tudo. - disse apertando minhas bochechas, antes de caminhar até a porta. - Agora vamos descer, porque eu não quero minha namorada me perguntando por que eu passei tanto tempo dentro de um quarto com um marmanjo! - não pude deixar de rir, me levantando também.
- Vou ao banheiro primeiro, pode descer. - disse caminhando até a porta do banheiro de .
- Ok, ah, dude, posso te dizer uma coisa? - ele perguntou já na porta e eu acenei com a cabeça positivamente. - Você não está afim da . - ele disse e eu arqueei a sobrancelha não entendendo. - Você sempre foi afim da , mas sempre foi idiota o suficiente para não perceber isso! - ele gargalhou antes de sair, e eu passei as mãos no cabelo, sem deixar de pensar que talvez aquela fosse a mais pura verdade.


- Qual é, dude, eu quero cantar My Heart Will Go On. - disse rindo e tomando o microfone das mãos de , que insistia em cantar Tracy Chapman, segurando o dedão do pé.
- Ah, mete pé, , eu quero cantar Pussycat Dolls! - a empurrou pegando o microfone de suas mãos, e por incrível que pareça, isso não gerou confusão.
- Claro que não, eu já te ouvi cantando e você parece com um gato escaldado. - pegou o microfone de volta, rindo.
- Eu quero cantar Eminem. - disse, roubando o microfone. E fazendo pose de mano do gueto.
- Como assim, cantar Eminem? Dude, tu não sabe nem cantar a musiquinha do alfabeto sem se embolar e quer cantar Eminem? – disse, tomando o microfone de sua mão. - Eu vou cantar Pavarotti. - disse e as risadas foram mútuas. - Qual é, canto muito, a pode até fazer par comigo fingindo ser a Mariah Carey!
- Ok, parou a veadagem! – disse mais alto, roubando o microfone de mim. – Eu vou cantar, fui o único que ainda não cantou. – ele começou a selecionar uma música qualquer no DVD. Joguei-me no sofá observando a cena, eu estava aleatório demais pra continuar naquela briga. Os demais estavam empolgados demais para sentar. se posicionou no alto de uma poltrona, como se fosse o astro do show e as meninas suas groupies, ri com aquilo, quando uma musica do The Fray começou a tocar. (N/A aperte play)

There are certain people
Há certas pessoas
You just keep coming back to
para as quais você acaba sempre voltando
She is right in front of you
Ela está bem a sua frente.


Sorri, olhando para e o jeito como ela se mexia sem se importar muito com as coisas que estavam acontecendo ao seu redor. Ela dançava e ria junto com , que gargalhava de alguma palhaçada que provavelmente havia feito, mas que eu não percebi, naquele momento meus olhos estavam focados em , que sorria da forma mais contagiante, em minha opinião, que alguém pode sorrir.

You begin to wonder
Você começa a se perguntar
Could you find a better one
se poderia achar alguém melhor
Compared to her now she's in question
Comparada a ela, agora ela está em questão.


Então parou a minha frente, não a minha frente literalmente, mas no meu campo de visão. Então eu a observei, como ela também parecia descontraída entre meus amigos pela primeira vez, como ela ria de forma natural, e como ela não parecia estar fingindo na frente deles.

And all at once the crowd begins to sing
E de uma vez a multidão começa a cantar
Sometimes the hardest thing and the right thing are the same
Às vezes a coisa mais difícil e a certa são a mesma coisa


Meus ouvidos se focaram na música e foi como se alguma coisa se acendesse dentro de mim.

Maybe you want her
Talvez você a queira
Maybe you need her
Talvez você precisa dela
Maybe you started to compare
Talvez você começou a comparar
To someone not there
Com alguém que não está


Minha mente se voltou para três anos atrás, quando havia me dito que dera seu primeiro beijo e como eu senti raiva do cara, me lembrei da discussão que tivera com algumas semanas atrás, ‘nunca rolou e provavelmente nunca vai rolar’ era assim que eu sempre pensei. Porque, dude, aquela ali é a , ela sempre me contava tudo, nunca achei que ela pudesse esconder um sentimento de mim.

Looking for the right one
Procurando pela pessoa certa
You line up the world to find
Você arruma o mundo para encontrar
Where no questions cross your mind
Onde nenhuma pergunta cruza sua mente
But she won't keep on waiting for you without a doubt
Mas ela não continuará te esperando, sem dúvida
Much longer for you to sort it out
Mas, sim, para você cuidar disso


Quantas vezes eu já havia me sentido atraído por ela, mas sempre achei que era apenas amizade? Quantas vezes a gente já ficou se olhando, sem nada a dizer e aqueles momentos pareciam perfeitos, como se nada mais importasse, como se apenas nos olhar bastasse.

And all at once the crowd begins to sing
E de uma vez a multidão começa a cantar
Sometimes the hardest thing and the right thing are the same
Às vezes a coisa mais difícil e a certa são a mesma coisa


Então a chegou bonita, inteligente e legal. Tudo entre as demais qualidades. Ela me fez sentir diferente, me fez sentir algo novo, gostoso. Algo que eu nunca havia sentindo com ninguém. E olhando para as duas ali agora, na minha frente, eu conseguia entender o quê, e o porquê. As coisas pareciam bem claras na minha cabeça. ‘Talvez você a queira, talvez você precise dela’. Essa frase nunca me pareceu tão certa. Mas com um sentido um pouco diferente ‘com certeza eu a quero e sim, eu preciso dela’. É dude, às vezes a coisa mais difícil e a certa são as mesmas.

Maybe you want her
Talvez você a queira
Maybe you need her
Talvez você precisa dela
Maybe you started to compare
Talvez você começou a comparar
To someone not there
Com alguém que não está
Maybe you want it maybe you need it,
Talvez você queira talvez você precise
Maybe it's all you're running from,
Talvez seja disso tudo que você está fugindo
Perfection will not come
Perfeição não virá


Eu sempre achei que nunca pudesse me relacionar com a por ela ser a minha amiga, minha melhor amiga também. Eu achava que seria difícil. - Às vezes a coisa mais difícil e a certa são as mesmas. - cantarolou e eu continuei olhando para as duas garotas à minha frente e agora eu entendia, as coisas estavam claras na minha frente. Dude, como eu nunca havia percebido antes? Como eu não tinha me tocado antes? Sem sombras de dúvidas a coisa mais difícil e a coisa certa a fazer ali eram a mesma.

Vinte e Três

(N/A: Coloque essa música para carregar | narrativa em terceira pessoa)


Todos dormiam espalhados pelo chão da sala, sem se importarem muito em cima de quem o outro estava. se levantou do canto onde estava e olhou de soslaio para o relógio grande pendurado na sala. Três horas da manhã. Não conseguia mais dormir, já fazia um bom tempo que estava rolando de um lado para o outro no chão da sala. Já havia cogitado a idéia de ir para sua confortável e amada cama, mas a quem estava enganando? Ela sabia que não conseguiria dormir. Caminhou até a cozinha, planejando tomar um copo de leite com achocolatado e quase soltou um grito ao encontrar parado em frente à janela, olhando o nada a sua frente.

- Esta fazendo o que acordado há essa hora? – disse baixo e foi a vez de se assustar, fazendo com que ela risse, na verdade gargalhasse.
- Que foi?– o menino perguntou, levando a mão ao peito e respirando rápido, estava realmente distraído e havia realmente se assustado.
- Você tinha que ter visto a sua cara, foi impagável. – ela disse caminhando até a geladeira e tirando dali duas caixinhas de suco, tacando uma na direção de . – Insônia? – perguntou se sentando em um dos bancos da bancada da cozinha.
- É! Detesto quando isso acontece. – o menino fez uma careta, se sentando no banco em frente à menina e a observando. Aquela música não saia de sua cabeça, e de certa forma ele não queria que ela saísse. – Tive uma idéia. – ele disse de repente, com um sorriso sapeca nos lábios.
- Hum, o quê? – a menina perguntou, bebericando seu suco, já sabendo que viria bomba. Sempre vinha quando fazia aquela cara.
- Que tal nós dois sairmos para dar uma volta? – ele sorriu malicioso, o que fez com que a menina gargalhasse.
- você está louco? Minha irmã está dormindo logo acima da gente. – a menina disse baixo, mas não deixando de sorrir de aprovação com a idéia. Não tinha coisa, naquele momento, que ela quisesse mais do que estar longe de todos e perto apenas de . Mas não podia, as coisas não podiam ser assim.
- , por favor. Só sair pra dar uma volta. Não tem nada demais nisso. – o menino sorriu abertamente, ele não entendia o porquê, mas queria ficar com , apenas os dois, longe de tudo e de todos. – Nós sempre fizemos isso, certo? - ele mordeu o lábio inferior, rodando as chaves entre os dedos.
- Ok, mas não podemos demorar. São três e pouco da manhã, , amanhã temos aula. – sorriu, dando-se por vencida e por fim concordando com a idéia. Não poderia ter nada de errado sair para passear com ele, certo? Aquele era o , sempre faziam isso. não pode deixar de sorrir com a resposta afirmativa e se levantou, segurando-a pelas mãos, antes de puxá-la para fora da casa. A temperatura do lado de fora estava gostosa, chegando a ser até agradável. não parou de caminhar apressado, nem mesmo quando já estavam fora da rua da menina. carregava um sorriso nos lábios, que voltava sem a mínima permissão da mesma, assustando-a quando ela percebia que ele estava ali. Era como se ele simplesmente nascesse por vontade própria. Assim que atravessaram a rua, soltou uma gargalhada alta, que fez com que se assustasse, devido à sua distração.
< - O que foi? – ela perguntou, colocando uma mecha de seu cabelo, que se desprendeu de seu rabo de cavalo, atrás da orelha. a olhou de forma terna, sorrindo engraçado, antes de se virar e voltar a caminhar.
- Nada não, vamos que o meu carro esta em casa. – apressou mais seus passos e ela riu daquilo, ainda sem entender direito. Não deram cinco minutos e os dois estavam parados em frente à casa de . Entraram no carro e se entreolharam em silêncio, que foi quebrado cinco segundos depois por uma cascata de gargalhadas soltas por ambos.
- Do que você esta rindo, seu louco? – a menina perguntou, enxugando os olhos molhados devido ao riso que ela nem ao menos sabia o motivo. A única coisa que sabia era que queria rir. a fazia ter vontade de sorrir.
- Não sei. – ele deu de ombros, fazendo bico. - E você também esta rindo, sua louca. - ele sorriu novamente, antes de dar partida no carro.
- Para onde estamos indo? – ela perguntou, olhando pela janela as casas que passavam, as ruas estavam em completo silêncio e a maioria das casas tinha suas lâmpadas apagadas.
- Qualquer lugar. – ele deu de ombros, fazendo uma curva. – Qualquer lugar que possamos ficar só eu e você. – ele sorriu de canto ainda olhando para frente. Para ela era novo aquilo, a forma que a estava tratando, não tanto, eles sempre se tratavam daquela forma, sempre fugiam de madrugada para algum lugar, o que era novo ali era a intensidade dos sentimentos, os delas que pareciam crescer a cada olhar que ele lhe lançava, a cada sorriso, a cada palavra, a cada lembrança do beijo, isso sim era novo. – Para de me olhar desse jeito! – a encarou com as bochechas vermelhas. Sentia o olhar de sobre si e o que mais o assustava em tudo aquilo, era que ele queria corresponder. Nunca fora um romântico, mas sempre quis uma menina que o fizesse sentir da forma que se sentia naquele momento. E bom, estava ali.
- Que jeito? – ela gargalhou, sentindo as bochechas esquentarem por ter sido pega.
- Como se quisesse me apertar. – ele gargalhou da própria frase. - Eu sei que eu sou lindo, gostoso e maravilhoso, mas você me olhando desse jeito fica difícil eu me concentrar em dirigir! – ele sorriu de novo, não conseguia parar de sorrir, já estava começado a se sentir ridículo, era como se o que ele era não estivesse mais ali. Totalmente gay, mas ele não conseguia evitar fazer essa cara de retardado, era uma atração muito forte que o estava levando a isso.
- Por quê? - a menina perguntou, virando-se de lado no banco do carona, de forma a ficar toda de frente a ele.
- Porque me faz ter vontade de te beijar. – ele sorriu sem graça, mordendo o canto da boca e quase se arrependendo da frase, ele tinha que se arrepender, mas ele não queria. Era a verdade, aquela ali era a , e ele nunca tivera segredos com ela, bem, quase nunca. A menina se endireitou no banco sem graça e olhou pela janela, observando o carro perder velocidade até parar.
- O que você... – ela ia falando, mas quando olhou para o lado já batia a porta do motorista e se dirigia à porta do carona, abrindo-a. – Olha que bonitinho, meu menininho esta virando um homenzinho! Que coisa mais linda! – ela disse apertando suas bochechas, sorrindo debochada, levando um peteleco na orelha em seguida.
- Cavalheirismo é meu nome do meio, senhorita. – ele disse, virando-se de costas – Sobe. – mandou, agachando um pouco, de forma que a menina pudesse se encaixar em suas costas, ficando em sua corcunda. não hesitou em pular nas costas do menino, entrelaçando suas pernas em sua cintura e apoiando os braços em seus ombros. havia estacionado o carro em um píer e agora descia o caminho de pedras que levava à praia.
- O que viemos fazer aqui? – a menina perguntou, observava o mar, que ficava cada vez mais próximo. Apoiou o queixo no vão do pescoço de e soltou a respiração em seguida, fazendo com que uma onde de sensações percorresse o corpo do menino, junto com um arrepio.
- Não sei. – ele disse dando de ombros. – Acho que você esta precisando de uma dieta. – disse, levando um pedala logo em seguida. – Olha, eu sou bonzinho, te carrego e ainda apanho, é isso mesmo? – disse, gargalhando em seguida.
- Claro. E não fala muito não.
- Abusada, fica de graça que eu te jogo no chão. – ele disse em tom brincalhão.
< - Você não é doido. – disse e no instante seguinte sentiu colidir com algo macio, a areia abaixo de si. – Eu vou matar você, . – ela disse em tom ameaçador, mas na verdade, tudo o que tinha vontade de fazer era gargalhar e abraçar o menino a sua frente. Levantou-se caminhando decidida em direção ao mar, parando quando sentiu a areia molhada em seus pés. Abaixou-se e pegou algo, que não pode identificar, entre as mãos. O menino se sentia estranho, uma coisa gostosa estava em seu peito, algo que ele sempre soube que existia quando estava apenas ele e , mas que agora parecia estar maior, como se tudo o que lhe bastasse fosse estar ali e com ela, a forma que ela sorria, que estava lhe dando vontade de sorrir. Ele queria se sentir arrependido pelo beijo, mas não conseguia. A única coisa que conseguia se arrepender era por não ter dado ele antes. se levantou e se virou para o menino, com um sorriso enorme nos lábios, não conseguia parar de sorrir por mais que quisesse, por mais que se sentisse culpada, simplesmente não conseguia. Aproximou-se de , dando pulinhos igual criança, e observou o mesmo a olhar desconfiado.

(N/A: aperte Play.)

- O que foi, ? – ela sorriu, chegando ainda mais perto, quando o menino ia abrir a boca para falar ela passou areia molhada em seu rosto, melecando-o todo. se afastou rindo e resmungando baixo, olhando a menina que ria de forma descontrolada. – Chumbo trocado não dói. – ela deu de ombros, rindo.
- Eu não teria feito isso se fosse você. – disse caminhando em direção a areia molhada e enchendo as duas mãos antes de começar a correr atrás da menina, que ria e corria pela areia seca, soltando gritinhos todas as vezes que seu pé se encostava à areia gelada.
- , se você tacar areia em mim, considere-se um cara morto. – ela riu, não agüentando mais correr, areia sempre a deixava cansada. - Pára, PÁRA! – gritou e parou, ainda com uma das mãos cheias e se sentindo ofegar devido a pequena corrida.
- Ok, só porque eu sou um cara bonzinho com você. – ele sorriu, balançou a cabeça fazendo com que o cabelo, que antes lhe caia no olho, fosse para a testa, que já começava a dar sinais de suor.
- Eu sei que você é bonzinho comigo porque você me ama. – disse, lhe dando a língua e se aproximando. – Joga isso fora. – ela disse olhando diretamente para as mãos de . – Anda , joga fora. – ela disse vendo-o erguer as mãos. – Bom garoto. – ela disse, mas no segundo seguinte foi atingida no braço pela bola de areia molhada.
- Chumbo trocado não dói. – disse gargalhando e se aproximando da menina com as mãos erguidas, mostrando as palmas. fez o mesmo com as mãos, mostrando que estavam totalmente limpas.
- Está sujo aqui. – disse, aproximando-se e limpando com o polegar a bochecha do menino, sorrindo para ele logo depois de terminar seu serviço. – Pronto, está limpo. – disse e o menino a segurou pela cintura, aproximando-a e fazendo com que seus corpos se encaixassem. Abraçou-a apertado, beijando o topo de sua cabeça. A respiração de ambos estava descompassada, mas naquele momento nenhum dos dois saberia explicar se pela corrida recente ou se pela proximidade dos corpos.

Well where I come from,
Bem, de onde eu vim,
You learn to take it nice and slow.
Você aprende a levar isso agradável e lento.
But baby since we met,
Mas baby, desde que nos conhecemos,
Oh, it's been go, go, go
Oh ele foi crescendo, crescendo.


passou os braços em volta do pescoço de e apoiou a cabeça em seu peito, ouvindo o som de seu coração. Suas mãos fizeram um carinho de leve na nuca do menino, assim como as deles fizeram um carinho lento por suas costas. Eles não tinham palavras para falarem naquele momento e nem queriam. O silêncio era gostoso, era aconchegante.

So you can rough me up
Então você pode ser rude comigo
Yeah baby you can hurt me too.
Yeah baby, você pode me machucar também.
Because all I've got
Porque tudo que eu tenho
You see, all I've got is you.
Veja, tudo que eu tenho é você.


Seus corpos começaram a se balançar de um lado para o outro, não havia música, ou talvez houvesse o som de suas respirações, que se acalmavam aos poucos, e o coração de ambos, que batiam de forma acelerada, misturada com o som do vento e das ondas se chocando com as pedras, soavam como música aos seus ouvidos, uma música que não podia ser ouvida, melhor do que isso, podia ser sentida, o vento batia no cabelo de ambos, bagunçando-os mais do que o normal. sentia que se pudesse, ficaria ali pra sempre sentindo a pele macia de acariciando suas costas, trazendo uma sensação tão boa que palavras não poderiam descrever.

You can rough me up,
Você pode ser rude comigo,
You can break me down,
Você pode me derrubar
Baby don't stop now.
Baby, não pare agora.
Oh, you can use me up till it all runs out,
Oh você pode me usar até que tudo se esgote,
Baby don't stop now.
Baby não pare agora.
I'm all yours,
Eu sou todo seu,
I'm all yours somehow,
Eu sou todo seu de alguma forma
Baby don't stop now.
Baby não pare agora.


se sentia estranho. Nunca tinha se sentido dessa forma, não com tanta intensidade, nunca o silêncio lhe parecera tão verdadeiro. Era como se o silêncio falasse com ele coisas que ele mesmo nunca tinha parado pra reparar. Sentia-se estranho, mas era um estranho bom, um estranho gostoso, um estranho repentino, mas que ele não queria que acabasse.

So where I come from,
Então de onde eu vi,
You learn to make the best of things.
Você aprende a fazer o melhor das coisas.
Honey since we met,
Querida desde que nos conhecemos,
You know you've had the best of me.
Você sabe que teve o melhor de mim.


O Sol já dava sinais de que queria nascer, o céu já começava a se tornar mais claro, ficando com uma coloração alaranjada. se soltou de por uns instantes, sentando-se na areia macia e trazendo-a para se sentar entre suas pernas, a menina apoiou novamente a cabeça no peito de e começaram a olhar o mar, suas mãos se entrelaçaram e ela sorriu com aquilo, fazendo um carinho gostoso nele com seu polegar.

So you can lock me out,
Então você pode me trancar,
Yeah baby throw away that key,
Yeah baby jogue aquela chave longe
Because all I know,
Porque tudo que eu sei,
Is this is where I wanna be.
É que esse é o lugar onde quero estar.


- , me promete uma coisa? – ela disse se virando um pouco, de modo que pudesse encará-lo. O menino assentiu com a cabeça, olhando dentro de seus olhos. – Que mesmo que nada disso dê certo, que mesmo que a gente não fique junto, a gente não vai mudar um com o outro? - ela sorriu de canto. – Que você nunca vai deixar de ser o meu melhor amigo? – o menino sorriu com o pedido, sentindo seu coração se apertar com aquilo. Mesmo que quisesse, achava que nunca conseguiria deixar de ser algo de .

You can rough me up,
Você pode ser rude comigo,
You can break me down,
Você pode me derrubar
Baby don't stop now.
Baby, não pare agora.
Oh, you can use me up til it all runs out,
Oh você pode me usar até que tudo se esgote,
Baby don't stop now.
Baby não pare agora.
I'm all yours,
Eu sou todo seu,
I'm all yours somehow,
Eu sou todo seu de alguma forma
Baby don't stop now.
Baby não pare agora.


- Claro que não. – ele respondeu sorrindo e depositando um beijo em sua testa. – Não importa o que aconteça. Sempre seremos amigos. Você sempre será a do e eu sempre serei o da . – ele sorriu da próxima frase.
- Promete? – ela perguntou, fazendo um carinha infantil.
- Prometo.
- Promessa de mindinho? – ela riu mordendo o canto da boca.
- Promessa de mindinho. – ele uniu seu dedo ao da menina, que gargalhou com aquilo o olhando nos olhos. Os olhos de correram por toda face da menina e ele depositou um beijo demorado em sua testa, fechou os olhos ao sentir os lábios quentes do menino encostados a sua pele. Suas mãos se ergueram, acariciando a bochecha do mesmo. Os lábios de desceram, beijando-a entre os olhos e os dois respiraram fundo. A vontade era forte demais, a necessidade que ambos sentiam um do outro, no momento, era muito grande para que pudesse ser ignorada. Os olhos de se abriram, encontrando os de , que brilhavam perto demais, o rapaz desceu os lábios pelo nariz da menina, depositando ali um pequeno beijo na ponta antes que seus lábios se encontrassem. deixou seus olhos pesarem e beijou de leve os lábios da menina em seus braços. Sua língua fez o contorno de seus lábios, pedindo passagem pelo mesmo, concedida imediatamente. Suas línguas se acariciavam com ternura, brincando uma com a outra. As mãos de desceram para o pescoço do menino, acariciando o local e indo em direção a sua nuca, mexendo em seus cabelos. As mãos de acariciavam sua bochecha e ele as levou à nuca de , puxando-a para mais perto e aprofundando o beijo. Ele não precisava de mais nada naquele momento, ele não queria mais nada. Os lábios da menina eram doces e macios, ele poderia ficar beijando-a o resto da vida. Suas mãos desceram por seu pescoço e ombro acariciando-os, fazendo o mesmo trajeto pelo braço, fazendo um carinho leve até a sua mão e voltou, chegando ao seu rosto novamente. brincava com seus cabelos e passava as unhas de leve por sua nuca, ergueu um pouco o tronco da menina e se mexeu, passando suas pernas por cima de sua cintura, ficando de frente ao menino, o beijo parecia ganhar ritmo e intensidade. Beijar nunca havia parecido tão bom para ambos. O tempo pareceu passar, mas nenhum dos dois saberia dizer se foram horas ou minutos, na verdade pareceram segundos. partiu o beijo e olhou o céu, que já estava muito mais claro.
- Acho que é melhor irmos, temos aula daqui a pouco. – ela disse e o menino colou suas testas acariciando suas bochechas.
- Jura? Por mim a gente poderia ficar aqui o dia todo. – ele disse sorrindo e ela fez o mesmo, ainda olhando em seus olhos. apertou suas bochechas, fazendo com que seus lábios formassem um bico e depositou um pequeno beijo ali. – Vamos voltar à realidade? – ele disse puxando-a para mais próximo de si, apertando-a em seus braços e depositando um beijo em seu pescoço, que fez com que ela se encolhesse arrepiada.
- Vamos voltar a nossa triste realidade. – ela falou de forma engraçada, beijando-o no pescoço também, e sorriu satisfeita ao ver que ele também se arrepiara.
- Eu vou terminar com ela hoje. – disse quando os dois ainda estavam abraçados. – Eu acho que eu não agüento mais um dia sem poder te beijar assim de novo. – ele disse ainda olhando o mar a sua frente e não pode deixar de sorrir.
- Eu sei que ela é minha irmã, mas eu não posso deixar de dizer que estou feliz que você tenha dito isso.
- Eu também. – ele disse antes de juntar seus lábios aos dela novamente. Porque naquele momento, nada o fazia mais feliz do que aquilo.
Well, baby don't stop now.


Vinte e Quatro

Abri a porta de minha casa e olhei com cuidado o chão da minha sala; as pessoas dormiam em silencio, o que me fez respirar aliviada. Caminhei pé ante pé vagarosamente em direção as escadas, subindo-as com o maior cuidado possível; passei pela porta de e pude ouvir o barulho de algo se chocando contra o chão, o que me fez adiantar meus passos, entrando quase correndo em meu quarto. Fechei a porta atrás de mim e não pude deixar de suspirar alto, sentindo um enorme sorriso se formado em meus lábios, provavelmente me deixando com a maior cara de idiota do mundo.

- Isso são horas de se chegar em casa. – ouvi uma voz vindo da minha cama e quase pari de susto, meu coração bateu no cérebro, e minhas pernas tremeram, fazendo com que eu quase caísse.
- Que susto, . – eu disse levando a mão ao peito na falsa tentativa de acalmar meu coraçã,o que batia mais rápido que bateria de escola de samba. Por um momento eu pensei que pudesse ser , mesmo com a voz masculina. É, acho que a culpa nos faz alucinar.
- Posso saber onde a senhorita esteve durante toda a madrugada? – o menino perguntou ainda enrolado em minha coberta, ele abraçava meu urso branco, que havia me dado e logo o soltou quando percebeu meu olhar estranho. – O que foi? Eu gosto de abraçar algo enquanto durmo. – ele deu de ombros se virando de barriga para cima e chegando para o lado, batendo no colchão pedindo para que eu me deitasse ao seu lado.
- Quem te deu autorização para dormir na minha cama, hein mocinho? – eu perguntei fazendo careta e me jogando na cama ao seu lado, deitando meu pescoço por cima de seu braço, que continuava estendido.
- Eu vim pra cá logo depois que você e saíram, a estava me chutando e o roncado alto. – ele riu sem mostrar os dentes e logo tomou uma postura séria. - , o que vocês estão fazendo? – ele perguntou de uma forma terma, mas dando muito bem a entender que sabia muito bem o que e eu estávamos fazendo. – Ela é sua irmã!
- Eu sei, , eu sei. – disse tapando o rosto com as mãos. – Mas eu não consigo, é mais forte do que eu. Eu sei que eu estou agindo que nem uma vadia fazendo isso, mas eu simplesmente não consigo deixar ara lá. Eu gosto muito dele, , muito mesmo. E quando eu estou com ele, é como se nada mais importasse, sabe? Como se o mundo ao nosso redor não existisse, como se fossemos apenas nós dois. – disse mordendo os lábios e destapando o rosto.
- Eu sei, , e eu posso até te dizer que eu te entendo, porque eu me sinto da mesma forma com a , mas ele continua tendo namorada. E é isso que esta me preocupando. Você e eu conhecemos o há muito tempo. Ele é meu parceiro, mas nós sabemos muito bem a quantidade de corações que ele já partiu por ai, certo? Eu estou com medo de que você acabe da mesma forma. – ele passou as mãos pelos meus cabelos gentilmente.
- Eu sei, , e isso martela na minha cabeça sempre. – disse respirando fundo. – Sabe, eu acabei de passar a noite toda com ele, e foi tão bom, tão bom nós juntos, eu só queria que pudesse ser sempre assim, sabe? Sem ter que esconder de ninguém.
- Eu sei. Eu te entendo, pequena. Mas eu quero, ou melhor, eu preciso que você me prometa uma coisa. – ele se virou de lado me encarado ainda com o semblante sério, e eu acenei positivamente com a cabeça. – Me promete que você só vai entrar nisso de cabeça quando o estiver solteiro?
- Prometo, . – concordei sorrindo fraco com o pedido.
- Ótimo, ai sim eu vou torcer demais por vocês. Para que vocês fiquem juntos, casem, tenham filhos netos, bisnetos e tataranetos. – ele sorriu. – Porque foi o que eu sempre torci, você sabe disso.
- Eu sei. – sorri de canto.
- E se eu fosse você, iria tomar banho logo para tirar toda essa areia antes que alguém estranhe que você tenha dormido em casa e acordado com areia da praia. – ele me deu uma bundada, fazendo com que eu quase caísse da cama. - Vocês adolescentes e essas loucuras de amor. - ele disse de forma pensativa, como se fosse um senhor de sessenta anos. - Passar a noite na praia, vê se pode? – ele balançou a cabeça de forma negativa, mas com um sorriso nos lábios. – Acho que já sei onde vai ser meu próximo encontro com a . – ele gargalhou antes que eu lhe desse um tapa de brincadeira e me levantasse da cama rindo da sua cara, caminhado até o banheiro. Deixei que meus pensamentos fluíssem. Mal sabia que eu já estava nisso, e totalmente de cabeça.

- Hey, . - ouvi um menino chamar quando ia caminhando em direção a mesma mesa de sempre na hora do intervalo. Meus olhos estavam pesados, eu queria dormir, dormir muito. As aulas estavam muito mais chatas do que o normal, ou talvez fosse a minha vida que estava confusa e fazia tudo parecer chato ao meu redor, ou talvez o fato de eu ter passado a noite toda acordada e o sono estar querendo me dominar agora seja o motivo de eu estar tendo essa conversa com o meu interior . Ou realmente física fosse uma parada não muito agradável, para ser sincera eu não sei. A única coisa que eu sabia era que eu não queria ter que ver e juntos, eu não queria mais pensar em nós dois na praia. As pessoas já me olhavam estranho achando que eu era algum tipo de demente. Eu sorria quando me lembrava isso. Mas o mais importante, eu não queria mais me sentir culpada, porque eu estava me sentido. Muito. Era como se eu tivesse me tornado igual a , ou quem sabe até uma versão diferente. Virei-me vendo um menino alto e loiro se aproximando de mim com um sorriso nos lábios, forcei meus olhos a ficarem abertos. Ele provavelmente deve ter achado que eu ingeri algum tipo de droga.
- Oi? - perguntei insegura se a que ele chamou realmente era eu, de repente no estado de demência que eu estava eu estivesse tendo alucinações. Vai saber?
- Sua blusa. - ele me entregou uma sacolinha e eu demorei uns bons dez segundos para entender o que ele esta falando, olhei a sacolinha e pude ver algo conhecido lá dentro. - Você jogou para o povo no sábado, e eu peguei. – ele sorriu de uma forma doce, e envergonhada, que bonitinho. – Como pra mim não vai ter nenhuma utilidade, nada mais justo do que devolver para a dona, né? – ele deu um sorriso torto.
- Ah, muito obrigada. – disse agradecida. – Eu realmente gosto dessa blusa, obrigada mesmo... – fiz uma careta. Eu não sabia o nome dele.
- Ryan – ele me estendeu uma das mãos
- Ryan. - eu concordei apertando sua mão. – Obrigada mesmo, eu já tinha até esquecido um pouco do meu vexame no sábado. – disse envergonhada, eu estava em total estado caótico por causa do sono, mas ainda assim sentia as pessoas me olhando de forma diferente, principalmente os olhares masculinos. Bom, acho que é isso que se acontece quando se fica apenas de sutiã na festa da escola, né?

- Que nada, você estava linda lá em cima. – ele sorriu e eu fiquei sem graça, qual é, eu nunca tinha falado com o garoto em toda minha história acadêmica, então de repente ele me olha, sorri – um sorriso bem bonitinho por sinal – e fala que eu estava bonita de sutiã. Duvido que você não ficaria sem graça. – Eu até te procurei para te entregar ontem, mas não te vi na hora do intervalo.
- Eu estava ocupada. – disse dando de ombros. Bom, eu estava pegando o namorado da minha meia irmã atrás do colégio, colega, foi por isso que você não me viu – meu cérebro gritava. – Bom, muito obrigada, Ryan. – eu disse meio que cortando o assunto. – A gente se v.ê – disse antes de me virar pra continuar caminhando.
- Espero. - ele disse antes de fazer o mesmo e eu me virei, vendo-o caminhar no sentido contrario a mim; ele disse espero ou eu estou maluca? Acho que estou alucinando. Ele tava me dando mole? – fiz careta perguntando a mim mesma. Ah, acho que não, ele só estava me entregando a blusa, certo? Certo.

- Que cara de retardada é essa? – ouvi a voz de e só então me toquei que estava quase em frente a mesa onde ele, , , , , e estavam sentados. Senti meu coração se apertar ao olhar os dois últimos e decidi que não olharia. Não me faria bem.
- Nada, eu estava pensando – disse jogado minha mochila em cima da mesa e me sentando, apoiei meus braços na mesma e afundei meu rosto no local. Por que, meu Deus? Por que eles tinham que ser namorados? Por que ela não poderia ter escolhido o , ou até o tal do Ryan, eles dois nãos eram de se jogar fora. Ou então por que eu não escolhi me apaixonar por um dos dois? Por que tinha que ser tudo tão complicado? E por que eu tinha que sentir esse bolo no estômago por ela esta sentada do lado dele, essa vontade de chorar? Afina, ela ainda era a namorada dele, certo? Mas eles terminariam, havia me dito que terminariam. Eu não precisava me sentir assim, ou precisava? Talvez ela sofresse. Eu sei que ela é uma vaca, mas mesmo assim sofrimento é uma coisa que eu não desejo a ninguém. - Alguém me leva para casa, pelo amor de Deus, que eu quero dormir. – disse afundando mais ainda meu rosto. Por que tinha que doer?
- , se você quiser eu te levo pra minha, ai a gente forma o quarto casal, o que você acha? Qual é, já esta na hora de nós dois pararmos de segurar vela. - disse de forma brincalhona e eu ri fraco. Seria bem mais fácil mesmo, se eu ficasse afim dele e ele afim de mim, assim todos sairíamos mais felizes dessa situação.
- Ué, , e a Julie? – ouvi perguntar. Por que a voz tão fofa? Por que essa voz tinha que fazer meu coração acelerar tanto? Caralho de sentimento.
- Mora muito longe, não ia dar certo. – ouvi responder e ergui meu rosto; sério, eu capotaria se continuasse nessa mesma posição. e conversavam de forma engraçada me lançado alguns olhares interrogativos, o que me fez quase concluir que havia contado a e ela havia contato para . Não se tem mais privacidade nessa porra de pais. - Falando nisso, o Josh pediu seu telefone. - ele disse e eu pude sentir o olhar de em mim. Assim como o das outras pessoas na mesa. – Acho que ele gostou do seu show de sábado e quer pedir um particular. – ele disse e eu lhe taquei uma bolinha de papel que estava jogada a mesa.
- Ele me ligou ontem. – disse, dando de ombros
- Danada! E você nem conta. - as palavras de saíram com pura malícia. – E o que aquele bonitinho ali queria com você, hein? – ela apontou com a cabeça para a quadra aonde Ryan nos observada e acenou quando nossos olhos se encontraram.
- Na verdade, ele me ligou e eu tava dormindo, mais tarde ele retornou. E o Ryan queria devolver minha blusa. – dei de ombros.
- Só devolver sua blusa? Sei, sei. – disse rindo. – Mas não muda de assunto não, o que o tal do Josh disse, hein mocinha? – ele perguntou fazendo cara de detetive e eu ri.
- É impressão minha ou o espírito do meu pai encarnou aqui? – disse debochada. – Acho que sim, né? – fiz careta. – Queria me chamar para sair, ok? - observei se mexer em seu próprio lugar, falava algo com ele. Mas nossos olhares se encontraram por breves segundos.
- E você o que disse? – perguntou. Por que você pergunta, ? Isso, acaba comigo mesmo. Filho da... ok, a tia é legal.
- Que não dava, uai. Dude, ele mora muito longe. – dei de ombros.
- Casos a distância, mesmo que não seja namoro, nunca dão certo. – se pronunciou. – Eu mesma já passei por isso, no final um dos dois sempre sai magoado, – ela sorriu, e eu me forcei a fazer o mesmo, sem mostrar os dentes, deixando que o silêncio pairasse na mesa.
- É. – o quebrou. – Eu preciso dizer que vocês duas estavam muito hots sábado. – oh my God, por que as pessoas haviam resolvido falar disso agora?
- A sempre me disse que queria praticar Pole Dance, mas você me surpreendeu, amiga, ficar de sutiã em frente de metade da escola é ter coragem. – ela disse e eu abaixei a cabeça envergonhada. – Acho que se a não tivesse agido rápido, eu nem sei o que aconteceria. – gargalhou e eu lhe mandei o dedo.
- Obrigada, . – me vi dizendo. – Por ter chamado o , acho que eu estava meio surtada.
- Nada. - ela sorriu. – Eu já passei por uma situação parecida e digamos que ninguém fez isso por mim e as conseqüências não foram muito agradáveis. – ela fez careta.
- É, e eu é que fiquei com a parte pior! - reclamou e eu ouvi um barulho de tapa seguido por gargalhadas.
- Por que parte pior? – perguntou com um semblante ameaçador.
- A foi nas costas do quietinha, que nem uma Lady, ai você se mexe, pensando que ta em carro de escola de samba, me bate, me chuta, me morde, aperta minha bunda, sou quase um sobrevivente de atentado depois daquilo - ele disse sério, o que levou todos as gargalhadas. - Não riam, eu fui seriamente molestado durante o trajeto até o carro e depois dentro dele. - ele continuou com a cara séria recebendo outro tapa, deixando vermelha.
- Como assim, , você esta me dizendo que uma mulher te agarrou? Onde está sua atitude, parceiro? – riu e foi a vez de ficar vermelho, abrindo e fechando a boca sem saber o que falar.
- Se fodeu. – disse rindo voltando a cor normal.
- , aonde você estava durante a noite? – perguntou na tentativa de mudar de assunto e de forma ingênua e eu gelei. – Eu levantei para beber água e não te achei.
- Eu estava no meu quarto. – respondi rápido, vendo ficar tenso no seu lugar. – Eu acordei quando o pediu pra eu abrir a porta para ele ir dormir na cama dele e depois subi para o meu quarto. O foi atrás de mim e tudo. – cutuquei o menino por baixo da mesa. Eu havia dito a todos pela manhã que havia resolvido ir para casa de madrugada.
- Por isso a porta estava trancada? – perguntou.
- Claro. – foi a vez de me cutucar. – Você acha que eu ia deixar a porta aberta com a oportunidade de mais alguém se enfiar na cama quentinha em que eu estava? - ele deu de ombros.
- Hey, olha vocês dois, hein. – disse risonha. Ela sabia exatamente onde eu estava, caso contrário, não faria essa cara normal que estava fazendo. Não quando seu namorado dormiu trancado no quarto de sua amiga. Eu sei que eu era a melhor amiga dela, mas, de qualquer forma, era esquisito, não?
- Ih amiga, nem esquenta, o não faz o meu tipo. – disse.
- Hey, eu faço o tipo de qualquer garota. - ele disse recebendo um tapa estalado de . – Principalmente o da minha baixinha aqui. – ele sorriu dando um beijo na namorada..
- Eca, vão para um quarto. – eu disse tacando algo os dois que apenas se agarraram mais ainda, joguei novamente meu rosto na mochila. Eu precisava dormir - Me acordem quando for a hora de ir embora - disse rindo, mas mal terminei de falar o sinal tocou. - Ah meu cacete, eu devo ter tacado catarro na cruz, quê que há? Quem adiantou a hora desse sinal? - eu disse revoltada me sentando e pegando meu material. Meus amigos riram da minha cara e começaram a se levantar e caminhar, conversando entre si com seus determinados pares indo em direção à sala de aula.
- , vamos embora que sua próxima aula é comigo! - disse e eles dois saíram para um lado contrário. Nenhum deles notou a minha falta de sono em excesso, eu vivia sonolenta. , ao contrário de mim, parecia ter dormido a noite toda, estava lindo como sempre, usando o uniforme da escola e com o cabelo jogado para o lado. Sabe qual a parte mais engraçada de gostar dele? Ele era lindo, mas não tinha sido por sua beleza que eu me apaixonara, não foi ela que me encantou primeiro. Foi o seu jeito, a forma que ele mexia nos cabelos e olhava para baixo quando estava sem graça, a forma que olhava para o lado e inclinava a cabeça levemente quando estava querendo fugir de um assunto. Como ele coçava a cabeça quando estava irritado ou ansioso. Como ele fechava os olhos e jogava a cabeça pra trás na hora de rir. E que por sinal era uma das coisas que mais me encantava nele. Ele não conseguia rir e deixar os olhos abertos ao mesmo tempo. A forma que ele dormia jogado na cama quando estava sozinho e como ele ficava quietinho a noite toda quando eu estava com ele, eu havia me encantado até pela forma que ele chorava, mordendo o lábio inferior enquanto tentava segurar e olhando pra baixo quando já não conseguia mais. Engraçado como eu havia me apaixonado por todas as partes deles, todos os mínimos detalhes. Não só sua beleza física, mas sim pela sua interior. Eu tenho certeza que poderia ter qualquer outra aparência, poderia ser moreno, ruivo, baixinho, magrelo, mas eu me apaixonaria por ele de novo, porque eu não que apaixonei pelo que ele aparentava ser, mas sim pelo que ele era de verdade.
- Hey, , acorda! – disse estalando os dedos na minha frente. – Dorme com os olhos abertos não porque isso dá medo. – ele sorriu parando a minha frente. – Eu estou falando com você a uns bons três minutos e você parece que não ouviu um A. - ele gargalhou da minha cara junto com , que me olhou com aquela cara de “eu sei o que você fez na noite passada”. – Eu sei que o chão estava duro, e que eu ocupei sua cama, mas vamos lá, reage. Eu sei que você consegue. – ele gargalhou da própria frase junto com , pegando sua mão e começando a caminhar, sem se dar ao trabalho de me dizer o que ele estava falando antes. Dei de ombros com aquilo e ajeitei minha mochila nas costas. Soltei meu cabelo em seguida e olhei as pontas roxas, eu precisava urgentemente retocá-las, já estavam estranhas .Foi quando senti uma mão segurar a minha e me virar para trás.
- Que susto, . - disse distraída e olhando-o.
- Posso falar com você? - ele perguntou com meio sorriso nos lábios.
- E desde quando você pede para falar comigo? - rolei os olhos. E ele riu, passando um dos braços por meus ombros e me guiando até a parte de trás da escola; nossos amigos estavam distraídos demais para prestar a atenção em nós. - Você sobe ou eu primeiro? - ele perguntou se referindo a uma escadinha na nossa frente, assim que chegamos à parte deserta da escola.
- É aqui que você vai me molestar, ? – perguntei com um sorriso nos lábios vendo-o gargalhar, apontando com a cabeça para a escada. - Primeiro as damas. - disse entregando minha mochila a ele e subindo, pegando as mochilas e esperando que ele fizesse o mesmo trajeto que eu, em pouco tempo estávamos no terraço da escola; nos sentamos em um lugar, onde até pouco tempo atrás costumávamos freqüentar muito, mas infelizmente aquele canto foi descoberto por outras pessoas, então paramos de vir aqui.
- Nada melhor do que estar no terraço e não na aula de Matemática. - disse rindo e apoiando minha cabeça na pilastra atrás de mim.
- Oh, nem fala, a minha aula era de Biologia. - ele sorriu pegando minhas mãos e começando a brincar com os meus dedos. Os arrepios por toda a minha pele começaram com o simples fato de sentir o seu toque. Ou quem sabe pelo simples fato de saber que estávamos apenas nós dois. Bom, porque era naquele momento que eu me desligava de todo o mundo ao meu redor e para mim era como se existisse apenas nós dois.
- Lembra quando a gente veio parar aqui de madrugada por não ter nada de bom apra fazer e acabamos dormindo aqui no terraço, e morrendo de frio?! - disse rindo.
- Claro, você além de roubar meu casaco quase se fundiu a mim de madrugada porque estava sentindo frio.
- Nós dois burros demais para simplesmente ir para casa. - eu gargalhei.
- minha mãe ainda ficava em casa nessa época - ela disse olhando para frente - falando nisso ela me ligou essa manha, disse que mês que vem ela volta, e te mandou um beijo. - ele me olhou

- Eu estou com saudades dela. Quando ela te ligar de novo diga isso a ela, e fala que eu mandei beijos.
- Pode deixar. - ele disse ainda brincando com meus dedos. Um silêncio gostoso ficou entre nós. Eu apenas olhava para frente, o terraço dava uma boa visão de parte da cidade, e até um pouco de nossas casas. Senti um beijo sendo depositado no topo de minha cabeça e um dos braços de se apoiar em meus ombros, me trazendo mais para perto; e então ficamos assim, olhando o horizonte e rindo de vez em quando de alguma palhaçada que nem dois idiotas, apenas sentindo um a presença do outro, porque por muitas vezes para mim, só saber que ele estava comigo já bastava.

Eu acordei ligada no duzentos, é. Depois de ter dormido no terraço com e ele ter me trago para casa, eu havia dormido que nem um bebê e acordei disposta. Vesti um casaco de que ele havia esquecido por aqui e uma bermuda e resolvi dar uma corrida. Há muito tempo não me exercitava. Peguei meu iPod e foi isso que fiz. Sabe, é engraçado como temos sempre uma maneira de arrumar uma desculpa para tudo o que acontece em nossas vidas, sejam elas coisas boas ou ruins. Nós desperdiçamos muito do nosso precioso tempo pensando em explicações para coisas que não têm explicação. Era isso que e estava tentando fazer com o que estava acontecendo comigo e . Não havia uma explicação lógica para o que estava acontecendo, mas estava acontecendo, né? Eu me sentia culpada por ser minha irmã, mas me vem uma coisa na minha cabeça, será que ela se sentiria culpada se fosse o contrário? Será que valeria a pena arriscar não só minha amizade com , mas também algo que poderia surgir entre minha irmã e eu por aquilo? O que eu sinto por é forte o suficiente para passar por isso, mas será que o que ele sente por mim é forte o bastante? E se eu for apenas mais uma das garotas que ele acha que está apaixonado? E se ele estiver confundindo as coisas? Sabe, é ai que entra a duvida, a falta de coragem, o medo. E a porra toda de ruim. Mas será que não é isso que é viver? Se aventurar, sentir a euforia de fazer algo, arriscar, correr riscos, magoar, ser magoado, sorrir chorar. Não é disso que se trata a vida? Às vezes a magoa te torna mais forte para as coisas que podem vir em seguida. Às vezes te faz querer ser uma pessoa melhor. Mas trás também o medo. O medo, ele sempre te afasta de algo, talvez daquilo que você mais deseja, talvez daquilo que você realmente é, e muitas vezes não percebemos, mas deixamos que o medo nos impeça por alguns momentos de viver, de sentir coisas que talvez possam não mais ser sentidas. O medo é uma das maiores barreiras que enfrentamos para que possamos realmente viver, e era esse dilema que eu estava enfrentando agora, o medo do que dizer, o medo do que fazer. Para ser mais sincera, acho que o meu fato era insegurança, medo de que os sentimentos de fossem apenas uma confusão, e que depois eles passassem, me deixando magoada; medo que um dia nossa amizade ou quem sabe posso até chamar de história, fosse esquecida, ou quem sabe até não mais vivida. Eu estava à beira de um ataque de pânico. Não tirava a frase que havia me dito mais cedo da cabeça ‘eu quero você. Vou terminar com a hoje’. Acho que a primeira parte da frase sempre foi tudo o que eu quis ouvir dele. Mas eu não sei por que estava com medo. Talvez do que as pessoas falariam quando nos vissem juntos... Acho que não, nunca me importei muito com opinião alheia. Acho que estava apenas procurando uma desculpa, porque simplesmente não conseguia encarar o fato de que tudo estava bom demais para ser verdade, eu e , ficaríamos juntos, ele queria ficar comigo. Fechei as mãos em punho tentando conter um pouco do entusiasmo. Mas o sorriso bobo não saia de meus lábios. E para ser sincera, eu não queria que ele saísse; há muito tempo eu não sentia essa sensação plena de felicidade, de completo êxtase, satisfação. Eu estava feliz, feliz demais. Eu precisava contar a alguém, eu não estava me agüentando. Mas ao mesmo tempo eu estava com medo, era como algum tipo de sexto sentido. Era como se de alguma forma algo fosse acontecer para tirar toda essa felicidade de mim. Sacudi a cabeça tentando afastar esse sentimento, já estava na rua de trás de minha casa e resolvi que não daria a volta para entrar pelo portão da frente, passaria pelo de trás mesmo. Minhas pernas já doíam e minha respiração estava ofegante. Tirei os fones do ouvido respirando fundo e fazendo um pouco de força para abrir o portão que há muito tempo já não era usado. Foi quando vi algo estranho e voltei dois passos, me escondendo um pouco. colocou a cabeça para o lado de fora, olhando atentamente provavelmente para se certificar que não tinha ninguém ali e logo depois saiu, carregando uma sacola preta em mãos. Quase correu em direção a lixeira e tacou a sacola ali, voltando mais que depressa para dentro de casa. Achei a reação estranha, mas assim que me certifiquei que ela realmente tinha ido, entrei no quintal, enrolando os fones em volta do meu iPod. Já ouviu falar que não existe nada pior do que curiosidade? Pois bem, não existe mesmo, porque ela sempre te faz descobrir algo que não quer. Mas minha curiosidade foi maior que eu, fui até a porta e coloquei a cabeça para dentro, quando vi que não estava mais lá, voltei quase que correndo para a lixeira. Abri-a em seguida, estava completamente vazia, a não ser pelo saco que havia jogado nele. Peguei-o. Sabe toda aquela ladainha de medo, de sexto sentido, de sentir que tudo estava bom demais para ser verdade?Bom tudo isso se confirmou quando abri aquele saco, e principalmente quando vi o teste de gravidez com o resultado positivo que havia dentro dele.


Capítulo 25
Coloque pra carregar essa música: Jessie J - Who You Are

Sabe aquela sensação de que todo o peso do mundo esta sobre você ameaçando te esmagar a qualquer momento e você não pode fazer simplesmente nada para mudar isso? Era assim que eu me sentia naquele momento, encarando a caixa em minhas mãos. Eu queria chorar, mas não sabia se algum choro era possível naquele momento. Ele parecia estar preso em minha garganta, prestes a sair, mas era como se esperasse algo a mais para se libertar. Talvez a confirmação. Ouvi a porta de minha casa bater e respirei fundo. Havia esperado meus pais saírem novamente para que eu fosse falar com , não queria correr o risco de que mais alguém ouvisse nossa conversa. Certifiquei-me de que o carro não estava do lado de fora, observando da janela antes de bater na porta do quarto de minha irmã. A mesma não demorou a abrir e me olhou assustada. Sua boca se abriu, como se ela fosse indagar o motivo da minha visita e seus olhos em momento algum correram para o objeto em minhas mãos. Entrei no quarto sem nem ao menos me dar ao trabalho de pedir autorização, ou de esperar que ela falasse algo. Parei a alguns centímetros da janela, virando-me para , que continuava me encarando como quem não esta entendendo nada. Mas mesmo assim sem pronunciar uma palavra. Ela tinha os olhos vermelhos, como se estivesse chorando há pouco tempo.
- Fecha a porta. – eu disse séria e a mesma fez o que eu pedia, talvez estranhando o meu tom de voz. – Isso é seu? – ergui minha mão e pude observar o rosto da minha irmã perder completamente a cor, seus olhos foram se arregalando e sua boca foi se abrindo. Logo seu rosto voltou à tonalidade, atingindo um tom fortemente vermelho e ela explodiu:
- QUEM TE DEU O DIREITO DE MEXER NISSO? – ela vôou em minha direção para arrancar a caixa de minhas mãos, mas eu me desviei a tempo, escondendo a caixa atrás de mim, que nem criança faz quando querem tomar seu brinquedo predileto.
- Eu te fiz uma pergunta, isso é teu? – perguntei alto, ela parou. Seus lábios tremiam fracamente. Eu estranhei que meu tom de voz não tivesse fracassado, afinal. Eu tremia.
- É. – respondeu, engolindo a seco. Ela não tinha o olhar superior de sempre. Seus olhos transpareciam medo. Talvez estivessem que nem os meus naquele momento.
- Esse filho é do ? – era a pergunta de um milhão de dólares.
- É. – disse, desviando seu olhar do meu e eu agradeci por isso. Naquele momento foi como se eu tivesse acabado de levar um soco na boca do estômago. O soluço veio por minha garganta, mas eu me proibi de deixá-lo escapar. Meu coração pareceu se afundar dentro do peito. Eu não me lembrava de algum dia na minha vida ter me sentido tão mal. Mordi a parte interna de meus lábios com força, tentando fazer com aquela mínima dor distraísse meu coração. Porque estava doendo. Muito. A única coisa que eu conseguia pensar com coerência naquele momento era que eu queria sair dali, cavar um buraco na terra e me esconder nele para sempre.
- O que vocês dois têm na cabeça? – foi a única pergunta que consegui formar. continuava olhando para a direção oposta a mim. E então, para minha surpresa, ela soluçou. O primeiro soluço foi baixo, quase inaudível. Mas não para meus ouvidos, que pareciam mais apurados que o normal naquele momento. Os soluços que seguiram aquele, bom, foram como se eu tivesse pegado uma caixa de som e começado a aumentar até chegar o seu volume máximo. Porque foi isso que aconteceu com ela. estava chorando. Na minha frente. E eu não sabia o que fazer. Coloquei a caixa em cima da cômoda próxima a mim e me aproximei, colocando as mãos em seu ombro.
- Eu tô com medo. – ela disse no meio dos soluços. E eu por breves instantes analisei sua situação. Dezessete anos. Grávida. Eu estaria desesperada.
- Vem cá. – eu não consegui acreditar que aquela frase estava saindo de mim, e nem que eu realmente estava fazendo aquilo, mas no segundo seguinte ao pronunciar da frase, puxei para um abraço. Foi aí que ela realmente desmoronou. E eu senti que estava desmoronando também. – Calma, vai ficar tudo bem. – disse a ela, mas tentando convencer a mim mesma de que minhas palavras eram reais. – Eu tenho certeza que você e o serão excelente pais. – eu passei gentilmente as mãos nas suas costas.
- Meu pai vai me matar. – ela disse.
- É claro que não. – eu me soltei dela e a puxei para se sentar na cama, sentando-me ao seu lado.
- Nosso pai é uma das pessoas mais compreensivas que eu conheço. Ele pode até ficar bravo porque você não se cuidou, mas ele vai te apoiar em tudo, Carol. Não precisa se preocupar.
- O que eu faço? – ela passou as mãos pelo rosto vermelho, enxugando um pouco das lágrimas, que ainda não paravam de descer.
- Acho que você deveria fazer um exame de sangue. E depois, bom, depois do resultado definitivo, você deveria falar primeiro com a minha mãe. – ela acenou com a cabeça. - Tem uma clínica aqui por perto que fica aberta 24 horas, por que a gente não vai até lá?
- Eu tô sem grana.
- Eu pago. – disse, levantando-me. – Eu te espero lá em baixo. - segui para a porta.
- Por que você esta fazendo isso? – ela perguntou. – Sendo legal comigo?
- O é meu melhor amigo, e tem uma parte dele agora dentro de você. – dei de ombros – E não há nada que eu não fizesse pra ver qualquer parte dele feliz. – disse antes de sair, fechando a porta atrás de mim.

Eu batia o pé freneticamente no chão, enquanto e eu aguardávamos o resultado do seu exame de sangue. Minha mente ainda se recusava a acreditar no que estava acontecendo, e eu esperava que tudo isso fosse um sonho, e que eu pudesse a qualquer momento acordar. Senti meu celular vibrar no bolso e o peguei, olhando o identificador de chamadas. “ gostosão” era quem me ligava, ele mesmo havia colocado esse nome em minha agenda. Olhei para o lado e roía as unhas, olhando fixamente para a porta pela qual a enfermeira sairia a qualquer momento. Levantei-me e caminhei para um pouco longe, para que ela nem escutasse minha conversa e nem soubesse com quem eu falava.
- Oi. – atendi, e meu tom saiu totalmente sem vida. Era como eu me sentia. Era como se eu estivesse agindo em uma espécie de piloto automático.
- Tá em casa? - sua voz perguntou de forma doce, e eu quis sentar e chorar ali mesmo. para mim nunca tinha parecido tão perto, e tão longe ao mesmo tempo.
- Na verdade, não, eu vim fazer um favor pra minha mãe. – disse.
- Aconteceu alguma coisa? Sua voz tá estranha. – ele perguntou preocupado e eu olhei para a garota que roía a unha do outro lado da sala.
- Eu... , nós precisamos conversar.
- Ok, sobre o quê? – ele perguntou preocupado.
- Eu não quero falar com você pelo telefone.
- Ok, eu vou à sua casa mais tarde falar com a , e a gente conversa. – ele disse ainda com seu tom preocupado.
- Tudo bem. – olhei o corredor, onde uma mulher branca apareceu trazendo um envelope em mãos.
- . – ela disse e minha irmã me olhou apreensiva, com um olhar de pânico no rosto.
- , eu preciso desligar. Mas assim que você chegar lá em casa eu preciso falar com você. Por favor. – disse, ouvindo um sibilo de resposta e não me despedindo, desligando o telefone em seguida. caminhou em minha direção com o envelope de cor parda, e eu pude notar que suas mãos tremiam.
- Já abriu? – perguntei, colocando o telefone no bolso.
- Não, eu tô com medo. – sua voz quase fraquejou. – Abre pra mim. – ela entregou o objeto em minhas mãos. Peguei o envelope e senti que começava a tremer tanto quanto ela. Abri o envelope sob seu olhar assustado. Percorri os olhos sobre a folha, onde algumas coisas, como seus dados, estavam escritos. Mas meus olhos bateram no final da linha, onde estava o resultado do teste.
- Positivo. – eu disse, sentindo minha voz embargar. – Seu exame deu positivo. – eu me senti desesperada. Era como se só agora com a confirmação real da gravidez a notícia tivessem me atingido. Como se eu tivesse tomado realmente noção do que estava acontecendo. Ela não chorou. Engoliu em seco e passou as mãos pelos cabelos. Eu queria chorar. Estava tão perto de ter tudo o que eu queria. e eu ficaríamos bem. estava grávida. Nada ficaria bem. Pelo menos para mim. – Acho melhor irmos para casa. – disse, seguindo em direção à porta. Minha cabeça começava a latejar. E a única coisa que eu pensava naquele momento era em como eu queria o meu quarto, minha cama, meu travesseiro e meu mundo dos sonhos. Na verdade, eu queria que tudo isso fosse um sonho.
- Eu não quero que o saiba. – foi o que disse assim que chegamos em casa, não trocamos uma palavra sequer no trajeto da clinica até lá.
- Como assim? – perguntei assustada.
- Eu não quero que ninguém saiba, não agora. Não por enquanto. – ela me olhou em súplica. – Isso inclui seus pais. , , . Qualquer um dos meninos. Eu quero que isso fique apenas entre nós por enquanto, . Eu sei que não somos amigas, mas eu nunca te pedi nada. Por favor.
- Ok. – disse em desagrado. – Eu não vou falar nada com ninguém. Mas como vocês foram tão estúpidos? Nunca ouviram falar de algo chamado camisinha, não? – perguntei, sentindo raiva dela por estragar tudo o que eu sempre quis quando eu estava tão perto.
- Não foi proposital, ok? – ela falou.
- Vocês tinham que ter tomado mais cuidado! – eu disse em tom de acusação. – O que vocês têm na cabeça? Merda? Meus pais são compreensivos, mas a mãe do ? Ela vai surtar! – disse, jogando minhas chaves em cima do criado mudo próximo à porta.
- Foram só duas vezes que a gente não se protegeu, em uma estávamos bêbados. – ela disse, jogando a bolsa dela em cima do sofá. – Que foi lá na casa da . E a outra vez foi essa semana, no domingo, quando não tinha ninguém em casa, mas aí eu tomei a pílula do dia seguinte. - eu tenho plena certeza de que continuou a falar, mas eu não ouvia mais nada que saía de sua boca. Todo meu corpo havia paralisado com a sua frase “foi essa semana, no domingo”. Minha mente estava distante, era como se eu tivesse impossibilitada de me mexer ou esboçar qualquer reação. Mas eu me forcei a isso, e ignorando-a totalmente, eu voltei o trajeto até porta e deixei-a falando sozinha. Eu só queria silêncio. Depois de ter me beijado, ele havia transado com ela. Acho que palavra nenhuma conseguiria explicar o que eu sentia naquele momento, porque estava doendo. Doendo muito. Eu só queria sentar e chorar, mas parecia que o choro ao mesmo tempo em que queria, não queria sair. Ele parecia entalado na minha garganta, me sufocando cada segundo mais. Eu me sentia totalmente desnorteada. , aquele que eu sempre imaginei que nunca me magoaria, que nunca me deixaria para traz, aquele que eu sempre imaginei que me protegeria. Bom, ele havia sido o primeiro a me magoar. A me deixar na mão, a me decepcionar. Eu estava totalmente decepcionada. Com por me enganar, comigo mesma por me deixar ser enganada.
Caminhei pela rua sem um rumo certo. Eu só queria andar, só queria acordar do pesadelo que minha vida havia se tornado de três horas para cá. Porque era exatamente isso que eu estava vivendo. Um pesadelo. E dos piores. Eu não sei por quanto tempo caminhei, mas quando me dei por mim, estava em frente a um pub. Não era muito cheio, na verdade ele era mais usado por aqueles que queriam sempre fugir da vida, exatamente como eu naquele momento. Entrei sem me dar ao trabalho de olhar as pessoas que estavam por ali. Meus olhos só viam um rumo. Apenas um lugar onde eu queria estar. Mas ele não era possível. Sentei-me em um banco que dava de frente para o bar e chamei a garçonete com uma das mãos.
- O que você tiver de mais forte. – disse contemplando todas as bebidas em uma prateleira e ela me sorriu amigável, pegando uma garrafa com algum liquido transparente.
- Dia ruim? – perguntou, colocando um copo à minha frente e depositando nele um pouco do líquido.
- O meu dia estava sendo ótimo, até que a tarde estragou o que parece ser o resto da minha vida. – disse sem pensar, olhando o copo à minha frente. – Por que quando tudo está bem nós sempre somos obrigados a deixar pra trás? – perguntei à estranha à minha frente sentindo meus olhos marejarem, mas pisquei ara afastar as lágrimas. Eu não choraria. Pensei que ela fosse rir da minha cara, mas ao invés disso ela pegou outro copo, depositando a mesma quantidade de bebida e colocando a garrafa ao nosso lado.
- Bem vinda ao que chamamos de vida. – ela bebeu e eu fiz o mesmo. – . – disse, estendendo uma das mãos.
- , mas pode me chamar de . – ela encheu novamente meu copo.
- Esse é por conta da casa. – sorriu novamente de forma amigável e eu tentei fazer o mesmo, mas não conseguia. Eu me sentia travada entre as lágrimas e as gargalhadas. Mas eu não poderia culpar ninguém além de mim mesma. Eu sabia que ele tinha uma namorada, eu sabia que ele poderia estar confuso. Mas mesmo assim havia decidido entrar de cabeça naquilo tudo. Mas como eu imaginaria que pudesse fazer isso comigo? Ou ele realmente faria? Poderia ser mentira de , não?
- Hey, , vamos? – ouvi uma voz conhecida e encarei o rapaz ao meu lado. – Hey, . - ele disse sorrindo abertamente.
- Hey. – tentei sorrir com o mesmo entusiasmo, mas não consegui. Algumas lágrimas que queriam sair ainda embaçavam minha visão. – O menino que pegou minha camiseta, certo? – perguntei.
- Isso. – ele concordou empolgado. – O que faz perdida por aqui? As meninas bonitas não costumam frequentar esse lugar.
- Hey, olha eu aqui. – disse, dando um tapa no rapaz e seguindo para uma porta.
- Você é uma exceção, . – ele disse risonho antes de se virar para mim como se esperasse uma resposta.
- Vai ver eu não sou uma menina bonita. – dei de ombros, bebendo o último gole da bebida que havia posto em meu copo. – E você? O que faz perdido por aqui?
- Ah, a é minha irmã. Eu vim buscá-la para podermos ir à fogueira da outra cidade.
- Fogueira? – perguntei sem entender.
- É, fogueira. - apareceu do meu lado vestindo um casaco. – Nem chega a ser em outra cidade, é a uma meia hora aqui. Todo ano nessa mesma data e no mesmo horário os moradores vão lá e queimam coisas. Coisas que eles querem deixar pra trás, sabe? É bonito de se ver. – ela ajeitou o cabelo. – Eu também costumo falar que é um ritual desintoxicante.
- Quer vir conosco? – Ryan, eu acho que esse era o nome dele, perguntou.
- É, venha, vai ser divertido, eu só preciso pegar minha bolsa. – voltou pela mesma porta pela qual havia saído.
- Ah, não. Obrigada. Eu... Eu acho que vou me encontrar com umas amigas. – disse, tirando do bolso uma nota e colocando-a no balcão. – Vejo vocês por aí. – disse antes de caminhar em direção à saída. O ar do lado de fora era bem mais frio do que o de dentro do Pub. E o vento e o excesso de nuvens no céu demonstravam que iria chover. Respirei fundo. Eu queria que aquela sensação de angústia saísse de mim. Eu acho que tudo o que eu precisava era conversar com uma de minhas amigas. Elas talvez pudessem me dar o conforto que eu necessitava. Saquei o telefone de meu bolso, discando o segundo número da minha discagem rápida e atendeu depois do terceiro toque.
- Oi, amiga! – ela disse com voz risonha e eu pude ouvir gargalhadas no fundo.
- Hey. – tentei transparecer animação, mas não consegui. E ela também pareceu não perceber.
- Quem é? – ouvi a voz de no fundo e mais uma enxurrada de gargalhadas. Eles não estavam sozinhos. – É a . – ouvi-a dizer. – Manda um beijo pra ela. – foi a voz de e eu pude jurar ouvir um grito de .
- Programa de casais, é? – perguntei desanimada.
- É, estamos saindo pro cinema. – ela respondeu rindo. – Mas o que você ia falar, amiga?
- Nada não, eu ia te perguntar se eu tinha deixado meu livro de matemática com você, mas acabei de lembrar que emprestei pra uma menina da minha sala.
- Ah, lerdona você, hein? – ela disse rindo. – Ok então. Tchau.
- É, ... – chamei antes que ela desligasse e ouvi um “oi” como resposta. – Quem foram os últimos a irem dormir no dia em que estávamos na casa da ? – perguntei mordendo meus lábios. – No dia em que brincamos de “eu nunca”. – mordi os lábios, esperando a resposta.
- Se não me engano, e . Por quê?
- Nada não. – respondi. – Vai lá, amiga, amanhã a gente se fala na escola. – disse, sentindo meus olhos marejarem mais e piscando rápido para que nenhuma lágrima me escapasse. Caminhei novamente em direção à rua, mas não a direção que daria em minha casa. Lá era o último lugar em que eu queria estar. Eu não queria ver e sua barriga que ainda não aparecia. Eu não queria ver nada. Eu não queria pensar em nada.
- Tem certeza de que você não quer ir conosco? – perguntou de dentro de um carro que andava devagarzinho ao meu lado e eu me assustei com minha distração. – Não somos nenhum tipo de malucos psicopatas e nem vamos fazer nada de ruim com você, te garanto que você não vai se arrepender. – ela sorriu abertamente.
- Anda, , eu até te devolvi sua blusa. – Ryan disse sorrindo e eu concordei com a cabeça, abrindo a porta traseira do carro e entrando. Ninguém falou nada quando eu entrei. E eu agradeci por isso, eu parecia mergulhada em outro mundo. Não pensava em nada direito. Minhas mãos estavam no bolso do casaco que eu usava, e a única coisa de que eu estava totalmente consciente era do telefone em meu bolso, e eu o segurava. Eu queria muito ligar para e saber onde ele havia passado o domingo. Com quem ele havia passado o domingo e fazendo o quê. Mas eu tinha medo. poderia ser o que fosse, mas não era burra ao ponto de mentir sobre aquilo, era? Ela sabia que era meu melhor amigo e que eu poderia perguntar a ele. Ela só não sabia das consequências que isso poderia causar na minha vida. E eu estava com medo de descobrir.
- Chegamos. – Ryan disse depois de um tempo de viagem. Só então eu me dei conta de que ele tinha estacionado o carro em uma espécie de praça, onde havia varias pessoas conversando, rindo e comendo alguma espécie de doce que vendia nas inúmeras barraquinhas por ali. Desci do carro e me olhou de forma estranha. Ela sorriu antes de caminhar em direção a uma enorme fogueira no meio da praça. Ela tinha uma camisa nas mãos e a jogou lá antes de voltar em nossa direção.
- Existe algo que você quer deixar pra trás hoje, ? – ela sorriu, mas um sorriso triste. Eu não soube responder, e ela pareceu entender. Ryan consultou o relógio em seu pulso, virando-se para nós em seguida.
- Faltam só três minutos. – ele disse e nós nos aproximamos do amontoado que estava se formando no meio. Um trovão rompeu no céu e eu olhei meus dois acompanhantes, que sorriram.
- Sempre chove nesse dia. As pessoas daqui costumam dizer que é pra lavar de nós os vestígios daquilo que estamos deixando pra trás. Um senhor subiu em uma espécie de mini palquinho e começou a falar algo para as pessoas que estavam por ali. Era como se fosse um discurso antes da fogueira ser acesa. Eu não prestei muita atenção, afinal, tudo o que eu conseguia sentir era o celular em meu bolso que eu esperava que tocasse. Ergui meus olhos para aquele senhor de cabelos branquinhos que falava de forma doce, como se soubesse todas as respostas para as minhas dúvidas.
- Michelangelo disse uma vez: – concentrei-me em sua voz - o melhor jeito de julgar os elementos essenciais de uma estatua é jogá-la de um morro, e as peças que não forem importantes vão se quebrar. Às vezes a vida é assim, ela nos joga morro abaixo, mas quando atingimos o fim e só restam as coisas mais importantes é quando nossa visão clareia. É quando nos agarramos ao que conhecemos, enquanto a esperança se mexe dentro de nós, é quando damos valor àquilo que realmente importa. – ele continuou falando, mas eu voltei a não prestar atenção. era uma coisa muito importante em minha vida, será que ele não ficaria inteiro da queda do morro? Era apenas isso que eu precisava saber. Tomei coragem e então eu peguei meu telefone, discando o primeiro número da minha discagem rápida, sentindo meu coração aumentar a velocidade a cada batida. [n/a: aperte o play]

I stare at my reflection in the mirror
Eu observo meu reflexo no espelho
Why am I doing this to myself?
Por que eu estou fazendo isso comigo?
Losing my mind on a tiny error
Perdendo minha cabeça em um pequeno erro
I nearly left the real me on the shelf
Eu estava perto de deixar meu verdadeiro eu na prateleira

- Até que enfim. – disse ao atender ao telefone no final do segundo toque.
- Onde você estava domingo, ? – fui direta, e a linha ficou muda do outro lado. Ouvi respirar e eu respirei junto, temendo sua resposta.
- Eu estava com o...
- Por favor, não diga . – disse, temendo que ele mentisse - Porque ele passou a tarde inteira na casa do jogando video game com o . – pedi, sentindo minha garganta começar a se fechar. – Você é meu melhor amigo, , não deveria mentir pra mim. – senti que minha voz começava a falhar. Ele estava mentindo para mim.

Don't lose who you are, in the blur of the stars
Não perca quem você é, no borrão das estrelas
Seeing is deceiving, dreaming is believing
Ver é enganar, sonhar é acreditar
It's okay not to be okay
Tudo bem não estar tudo bem
Sometimes it's hard
Às vezes é difícil
To follow your hear
Seguir seu coração
But tears don't mean you're losing
Mas lágrimas não significam que você está perdendo
Everybody's bruising
Todo mundo se machuca
Just be true with who you are
Basta ser verdadeiro com quem você é

- Eu estava com a . – eu pude ver a tocha com fogo que foi lançada no meio da madeira, acendendo a enorme fogueira, iniciando altas chamas e começando a queimar todas as coisas jogadas ali. Eu sentia que meu coração estava se derretendo com todos aqueles objetos. – . - eu não queria mais ouvir sua voz, eu não queria mais olhar em seu rosto. Eu só queria que ele sumisse.
- Nós não tínhamos nada, . - forcei-me a parecer indiferente. - Eu não tenho nem o direito de te cobrar nada. - reprimi o bolo em minha garganta. – Eu acho que me enganei, eu esperava mais de você. Mas, afinal, você não é diferente de nenhum outro cara, é? – sorri irônica, sentindo uma lágrima escapar pelo canto de meu olho. - Eu só quero te dizer duas coisas. Esse nada que nós tínhamos acabou de acabar. – engoli em seco. - E pelo que eu possa entender, essa amizade também. – desliguei o telefone antes que ele pudesse dizer algo. Eu não queria mais escutar sua voz. Ele havia me traído. Traído minha confiança cega nele, traído nossa amizade. Ele havia brincado com meus sentimentos. Desde o começo eu sabia que era um erro. Afinal, ele namorava minha irmã. Mas aquele continuava sendo o . Contemplei o fogo, que parecia ficar cada vez mais alto. E pude perceber que o único som que se ouvia ali era das labaredas por ele produzidas. As pessoas contemplavam a fogueira com um olhar diferente, como se tivessem esperanças. Algumas com olhares tristes, e até com lágrimas nos olhos. Fechei os olhos, tentando esquecer aquela sensação que percorria meu corpo.

Don't lose who you are, in the blur of the stars
Não perca quem você é, no borrão das estrelas
Seeing is deceiving, dreaming is believing
Ver é enganar, sonhar é acreditar
It's okay not to be okay
Tudo bem não estar tudo bem
Sometimes it's hard
Às vezes é difícil
To follow your heart
Seguir seu coração
But tears don't mean you're losing
Mas lágrimas não significam que você está perdendo
Everybody's bruising
Todo mundo se machuca
Just be true with who you are
Basta ser verdadeiro com quem você é

- Você está bem? – perguntou e eu acenei com a cabeça. Ryan havia se distanciado de nós. Éramos apenas nós duas ali, no meio de um monte de gente que eu não conhecia. Eu tentava reprimir as lágrimas que ameaçavam descer a cada segundo. Porque estava doendo. Estava doendo demais. Eu me sentia fraca e incapaz. Eu não estava bem, não estava tudo bem, e tudo parecia bem distante disso. O fogo parecia cada vez mais alto, e então as primeiras gotas grossas começaram a cair. Primeiro fracas, em seguida se tornando mais fortes, começando a apagar a enorme fogueira. A pior sensação do mundo é estar cercada por várias pessoas e ainda assim se sentir só. E era assim que eu me sentia naquele momento. Foi quando a chuva começou a me molhar que as lágrimas começaram a descer. Era como se elas precisassem de uma barreira de proteção para se sentirem livres. Ali, debaixo daquela chuva, eu chorei. Chorei por estar perdendo , chorei por ele ter mentido para mim, brincado comigo. Eu chorei pelas coisas que não pareciam que iriam melhorar. Chorei por ter me entregado a ele. Chorei por ter sido estúpida e idiota. Chorei por me sentir perdida. Chorei porque era a primeira vez que eu sentia esse batalhão de sentimentos que pareciam me sufocar mais a cada segundo, e chorei porque era a primeira vez que me sentia assim e não podia contar com meu melhor amigo para me abraçar. era a minha estátua que havia sido jogada da montanha, e infelizmente não havia sobrado nenhuma parte dele que se pudesse aproveitar.


Capítulo 26

Eu jogava a caixinha de suco natural dentro da lixeira da cozinha quando vi um vulto de cabelos pretos passar correndo pela porta da mesma em direção ao banheiro, jogando todas as suas coisas pelo caminho sem um pingo de discrição. Assustei-me e corri em direção à escada, vendo todo o material de jogado no chão e um barulho no banheiro. É, ela estava vomitando. Caminhei até a porta, parando no batente da mesma e observando - por incrível que pareça - sem nojo enquanto ela provavelmente despejava todo o seu lanche na privada.
- Está tudo bem? – perguntei quando a vi fechar a tampa. E ela se virou para mim. Sua cara estava verde, seus lábios sem cor e seus olhos vermelhos. Não, ela não estava bem. Senti-me idiota por fazer essa pergunta. Cheguei perto dela para ajudá-la a selevantar quando percebi que se ela fizesse isso sozinha provavelmente se estabacaria no chão que nem maracujá podre.
- Como eu nunca tinha percebido que o perfume do é tão doce? – ela fez careta, ligando a torneira e juntando as mãos em concha. - É tão enjoativo, como ele consegue usar aquilo o tempo inteiro? – ela revirou os olhos, mergulhando o rosto na água fria.
- Você já contou pra ele? – perguntei sem dar muita importância à menção do perfume dele, que para mim era simplesmente perfeito.
- Ainda não, acho que vou fazer isso hoje à noite. – ela lavou a boca, prendendo em seguida os cabelos em um coque frouxo, e pela primeira vez eu a vi fazendo isso e não soltei os meus.
- Por que você não foi à escola? - ela se virou para mim com uma expressão curiosa.
- Não estava a fim. - dei de ombros, caminhando até a saída.
- Um menino lá na mesa apareceu te procurando. Ryan, se eu não em engano, o nome dele. – parei, virando-me novamente para a Limonaja, ops, .
- O que ele queria? – perguntei curiosa.
- Ele eu não sei, já o passou a manhã toda tentando te ligar, mas seu telefone só dava desligado. Ele passou no seu quarto hoje cedo, mas a porta estava trancada, e como sua mãe ainda estava dormindo ele nem chamou.
- Ok. – voltei a fazer o meu caminho.
- Ele disse que vinha aqui daqui a pouco, só ia em casa esperar a ligação da mãe dele.
- Ok. – disse novamente. Entrei no meu quarto, fechei a porta e me sentei na cama, observando a parede. Eu me sentia totalmente desanimada, meu coração doía apenas com uma simples suposição de ter que encarar . Eu ainda não conseguia acreditar que ele tivesse feito isso comigo. Respirei fundo. Eu não choraria. Não mesmo. Havia prometido a mim mesma ontem que não choraria, não ficaria quieta pelos cantos e muito menos iria demonstrar que tudo estava me abalando. não conseguiria me ver mal. Porque eu tenho plena certeza que é isso mesmo que ele pensava que iria acontecer, afinal, ele me conhecia melhor do que todos, não? Eu mostraria a ele o quanto ele estava enganado. Tomei um banho rápido, vesti uma roupa e saí de casa, antes que ele pudesse chegar lá e eu tivesse de encará-lo. Caminhei meio sem rumo, até que decidi dar um pulo no Pub, quem sabe estaria por lá? E até mesmo Ryan, aí eu poderia saber o que ele queria.
- Hey. – disse carregando uma caixa de engradados vazios quando eu passei pela porta.
- Oi. – disse sem graça. – Eu não tinha nada pra fazer e então resolvi vir aqui ver se, sei lá, você precisa de alguma ajuda. – ontem quando voltávamos da fogueira, e eu conversamos um pouco sobre ela e o irmão. Os dois eram órfãos há um ano, e o pai deles havia deixado aquele pub de herança. Há pouco tempo havia demitido o administrador e largado a faculdade para que pudesse gerenciar o negocio sozinha, ela achava que o cara não estava fazendo um bom trabalho.
- Na verdade, eu quero sim, traz aquela caixa ali pra mim. – ela apontou para a outra caixa de engradados vazia, que eu peguei, e a segui para uma parte interna. – Pode colocar ali. – ela apontou com a cabeça para o local.
- o Ryan esta por aí? A disse que ele estava me procurando hoje no colégio.
- Ele foi comprar uns refrigerantes pra mim, daqui a pouco está aqui. – voltou para a parte principal, indo para o bar agora. – Se sentindo melhor hoje? Ontem você parecia bem triste.
- Sim. – forcei um sorriso. - BEM melhor. – revirei os olhos sem que percebesse, coitada, se ela soubesse que esse meu "bem melhor" significava com uma enorme vontade de me esconder do mundo e chorar... Mas eu podia superar isso.
- Que bom, por que eu quero ser exploradora. – sorriu de forma sapeca. – Eu tive uma idéia pra agitar um pouco o Pub, duas na realidade. E eu queria a opinião de alguém mais jovem e que não fosse meu irmão.
- Sou toda ouvidos.
- Eu tive idéia de uma noite dos desafios. – ela falou com os olhos brilhando.
- E isso seria?
- Vários grupos, vários desafios e um prêmio.
- E que desafios seriam esses? – perguntei curiosa, eu nunca tinha ouvido falar da noite dos desafios.
- Vários desafios, e garanto que nenhum deles vai ser fácil, não tem graça quando é fácil, e não tem graça se eu contar pra você. E o prêmio nada mais é que acesso exclusivo para um show que eu vou fazer aqui.
- E de quem seria esse show? - perguntei curiosa.
- Maroon Five. – esse é o momento em que o meu eu interno esta se debatendo e contorcendo no chão tendo ataques histéricos enquanto o meu eu que todos vêem faz cara de bunda. - ?
- OH, SHIT É SÉRIO ISSO? – eu me exaltei, empolgada. Eu simplesmente AMAVA Maroon Five, não é à toa que esse era a banda que tocava quando eu resolvi fazer um strip-tease no meio da festa.
- Seríssimo! E eu preciso da sua ajuda pra divulgar a noite dos desafios, porque ela vai ser ÓTIMA pra divulgar o show, que provavelmente vai ser na semana que vem.
- Semana que vem? SEMANA QUE VEM? What the fuck? Como assim tão rápido?
- Um amigo meu que trabalha como produtor da banda conseguiu assim, DO NADA, sabe? E eu não posso perder a oportunidade, vai ser única de levantar o Pub.
- Coloca única nisso.
- Então você esta dentro?
- É claro! Tô mais dentro que farpa de madeira quando entra no dedo. – disse e riu da comparação.
- JURA? Então posso mesmo contar com você?
- Óbvio! E eu tenho que ganhar esse desafio, eu PRECISO ver meu Adam.
- AH, que bom. – me abraçou e eu ri. – Então já que eu posso contar com você pra explorar, que tal me ajudar pendurando esses cartazes da noite dos desafios junto com o Ryan?
- Claro! – peguei a pilha de cartazes que ela me estendia e me virei, ouvindo barulho de passos.
- Hey, . – Ryan disse sorrindo e meio vermelho, ele carregava dois engradados de refrigerantes, o que provavelmente estava pesado. – Prontinho, senhorita. – ele disse a , depositando os engradados em cima do balcão. – Refrigerantes comprados, agora, que eu me lembre, na minha lista resta apenas grudar os cartazes, certo? – ele passou as mãos pelos cabelos.
- Certo. – lhe entregou uma pilha de cartazes como a minha. – A disse que vai te ajudar, olha que fofa! – apertou minhas bochechas, o que fez com que eu fizesse careta.
- Oh, que ótimo, eu estava achando que seria um saco pendurar isso por aí sozinho.
- Eu não tinha nada pra fazer mesmo! – dei de ombros, sorrindo. – O que você queria comigo na escola? – perguntei curiosa.
- Era falar que a queria te falar do desafio. – ele se virou em seguida para a irmã. – Você já explicou a ela, né?
- Já, já.
- Por que você não me disse que era isso que ele queria falar quando eu falei que ele queria falar algo? - perguntei, rindo da cara de .
- , eu às vezes esqueço até meu segundo nome, quanto mais que o Ryan ia te falar que eu falei pra ele falar pra você que eu queria te falar do desafio – ela parou por um momento. – Ok, eu me confundi, esqueçam isso e vão pendurar os cartazes, vocês estão perdendo tempo! – ela nos enxotou e Ryan e eu rimos, saindo do Pub.
- E aí, já está bem mais animadinha que ontem, hein. – Ryan sorriu, colando o primeiro cartaz em um poste não muito longe do pub.
- É, eu acho que ficar quieta pelos cantos e remoendo os fatos da vida não levam ninguém a nada, você não acha? – disse, caminhando um pouco mais à frente e pregando dois cartazes em um muro onde alguns outros cartazes já estavam pendurados.
- Eu acho que é normal fazer isso às vezes. – ele seguiu um pouco mais à minha frente.
- Eu acho que não vai me levar a lugar nenhum. – dei de ombros, mesmo que no fundo eu soubesse que o que eu mais queria era ficar quieta no meu canto remoendo os fatos da minha vida.
- Isso tem a ver com o ? – ele perguntou e eu engasguei.
- Como?
- O . Todo mundo sabe que vocês dois tem uma ligação esquisita, só que ninguém sabe ao certo o que é. E então ele apareceu namorando aquela menina, que depois todo mundo soube que era sua irmã, e vocês dois, bom, era notável que vocês dois ora pareciam bem, hora mal. – ele riu.
- As pessoas observam isso?
- Qual é, , nós estamos na escola. Vocês são "populares". - ele fez aspas com os dedos. - Todos os garotos do colégio querem chegar em você, mas nenhum deles nunca fez nada porque o vivia te cercando, e às vezes olhava de cara feia. E vocês dois sempre pareceram estar juntos, mãos dadas pra cá, abraços pra lá. Um grude só. – ele riu. - E depois ele apareceu com uma namorada. Só vocês que não perceberam, mas a vida de vocês na escola virou praticamente um Big Brother.
- Tá falando sério? – eu quase ri, de tão ridículo que isso parecia.
- Seríssimo, quando você começou a beber lá na festa do sinal jogando ping pong e a dançar, rolou até aposta de em quanto tempo o ia te tirar dali e levar pra casa quando entrasse.
- Entrasse?
- É, ele estava no bar com sua irmã e os dois foram lá pra fora. E geral apostou quanto tempo demoraria até que ele te tirasse de lá.
- E demorou muito? – perguntei curiosa.
- Bom, primeiro sua irmã entrou e depois ela saiu, acho que pra chamar ele, e depois ele veio. Eu ganhei a aposta. – Ryan sorriu vitorioso.
- Por quê? – perguntei rindo.
- Eu apostei que não demoraria cinco minutos, e eu ganhei. – ele sorriu vitorioso. – Além de ganhar a aposta ainda ganhei a blusa que voou na minha direção.
- Sortudo, hein. – sorri e percebi que já havíamos colado cartazes na rua quase toda. – E fofoqueiro também. – gargalhei.
- Fofoqueiro não, informado. E não é nada que ninguém não saiba. – ele deu de ombros.
- Eu nunca tinha te visto na escola. – disse sincera.
- Eu entrei esse semestre, ou seja, há um mês atrás. Mas já tem uns três meses que eu moro aqui.
- Foi fácil deixar as coisas na sua cidade pra trás? – perguntei curiosa. Na noite anterior eu soube que Ryan morava em outra cidade, a mesma em que cursava a faculdade, só os dois moravam juntos e os pais aqui, cuidando do Pub e de outras coisas da família.
- No começo, não. Sinceramente, foi horrível. Mas a e eu estávamos precisando disso, novos ares. Principalmente ela. Nós dois estávamos em uma fase muito ruim, tanto pela morte de nossos pais quanto por alguns outros problemas.
- Você se arrepende de ter vindo pra cá?
- Olha, no começo, sim, me arrependi, mas teve um dia que eu fiz que nem você falou, cansei de ficar pelos cantos remoendo o passado e comecei a viver o presente. – ele deu um sorriso largo. – E hoje em dia não me arrependo mais.
- Que bom, fiquei feliz em te conhecer. – sorri sincera.
- Eu também, é bom ver que você está sorrindo hoje, diferente de ontem.
- Ontem foi um dia ruim. Péssimo, pra dizer a verdade. Mas a partir de hoje tudo vai ficar bem. - disse, forçando outro sorriso e me virando de costas para pregar outro cartaz, deixando que o sorriso sumisse em meus lábios e respirando fundo, lutando contra as lágrimas que a cada segundo pareciam querer tomar conta de mim. Nada ficaria bem, eu podia ter certeza disso a cada segundo.


Capítulo 27

- Eu posso saber onde você se meteu? – perguntou irritada assim que eu apareci no corredor do colégio no horário de troca de professores. Mais uma vez eu havia me atrasado. Havia passado a tarde anterior toda pregando cartazes pela cidade junto com Ryan e ficado até tarde no pub ajudando a organizar algumas coisas. Não fazia idéia de onde havia largado meu celular, e ele provavelmente estava desligado, o que dificultava alguém me achar. Eu não havia ficado em casa, só em lugares onde meus amigos provavelmente nem se tocariam de me procurar.
- Por aí. – dei de ombros, abrindo meu armário e pegando meu livro de Biologia.
- E não ligou o celular por quê? Eu estou tentando falar com você, já fui à sua casa duas vezes e nada!
- Ok, , chega de chilique, eu já estou aqui, não estou? Diga o que quer. – disse, sacudindo-a pelos braços e rindo, fazendo-a fazer o mesmo.
- Aconteceu. – ela exclamou feliz com as bochechas rosadas. Demorei meio segundo para entender do que ela estava falando.
- Você e o ?
- É! – ela deu dois pulinhos e eu repeti seus gestos, feliz por ela. Foi quando avistei no final do corredor junto com , que falava algo animado, mas ele não parecia prestar muita atenção. Seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal, sua mochila jogada apenas em um ombro, e ele nunca me pareceu tão lindo, tão perfeito, tão filho da puta, cafajeste, traidor. O sorriso pela felicidade de murchou na mesma hora em que nossos olhos se encontraram.
- Eu tenho que ir. – eu disse e se virou, observando a dupla que seguia em nossa direção.
- Hey, espera aí. – ela segurou meu braço. – O que aconteceu com vocês dois? Ele estava tão atrás de você ontem quanto eu.
- Nada. – soltei meu braço, virando-me e dando de cara com e , que vinham conversando animados segurando um cartaz.
- Olha quem deu o ar de sua graça. – disse rindo e me beijando a testa assim como . Ninguém pareceu notar meu desespero e vontade de sair dali, já que os dois energúmenos taparam minha saída, e eu conseguia ouvir a voz de e mais próximos, até que eles já estavam do meu lado. – Noite dos desafios amanhã. – continuou, estamos todos dentro, né?
- É claro. – disse, já parado ao meu lado e dando um selinho em . - Olha a sumida. – disse, dando-me um beijo no mesmo lugar que os outros dois.
- Eu só faltei ontem. – sorri sem encarar , virando-me para sair dali, mas o mesmo segurou meu braço.
- , eu preciso falar com você. – ele disse sério e os demais nos encararam sem entender.
- , até que enfim. – Ryan apareceu do nada no meio de um monte de gente com seu sorriso encantador, e eu quase voei em seu colo em agradecimento. Ele segurava em uma das mãos cartazes e em outra meu celular, cara, eu amo esse moleque, sério.
- Meu celular! – exclamei, soltando meu braço das mãos de e pegando o objeto das mãos de Ryan. – Onde estava?
- Dentro do meu carro, você provavelmente o deixou cair lá terça. – ele sorriu.
- MUITO obrigada, você vive resgatando minhas coisas. – disse rindo. – Vamos terminar de pendurar os cartazes? – fiz a pergunta mais como se fosse uma afirmação, pegando o bolo de cartazes das mãos do rapaz à minha frente.
- Claro. – ele concordou.
- Valeu, gente, eu vou ajudar meu amigo. – disse aos meus amigos, e até a , que havia acabado de se juntar a nós, me olhou estranho. Mandei-lhe um beijo no ar. – Sorry, , eu tenho mais o que fazer. – respondi seca, enlaçando os braços nos de Ryan e o puxando para o corredor mais longe que eu pudesse ir daqueles olhos azuis que insistiam em assaltar meu coração.
- Obrigada! – disse assim que viramos o corredor.
- Eu percebi que você estava quase gritando socorro quando o se aproximou. – ele riu e eu fiz o mesmo, grudando um cartaz ao lado do banheiro, quando vi a porta ser aberta. saiu do mesmo branca, sem nenhuma cor em seu rosto e seu rosto estava meio molhado, como se aquilo fosse suor.
- Hey, você está bem? – perguntei assustada com a sua aparência, sua bolsa quase escapava de seus dedos, ela não parecia ter forças para segurá-la.
- Não. – ela respondeu em um fio de voz antes que seu corpo cedesse e ela fosse direto de encontro ao chão.
Ryan agiu mais rápido que eu, segurando o corpo de antes que ele se chocasse ao chão. Eu agi por impulso, segurando sua cabeça, e pude sentir seu rosto frio com um suor grudento. Senti-me desesperada. Ela parecia morta.
- Hey, . – dei um tapa fraco em seu rosto, minhas mãos começaram a tremer. – ! – chamei um pouco mais alto, batendo um pouco mais forte. – em outra ocasião eu estaria adorando bater em seu rosto, mas eu disse bem, em outra situação. Não agora.
- Hey. – Ryan ergueu no colo. – Acho melhor levar ela pra enfermaria, . – ele não esperou minha resposta e começou a andar na minha frente. Peguei a bolsa no chão, seguindo no encalço de Ryan, olhando os cabelos de minha irmã batendo contra seus braços e seu braço mole pendendo ao lado do corpo. Eu nunca me senti assim antes, preocupada daquela forma, minhas mãos tremiam e meu coração estava totalmente acelerado. Ryan entrou correndo na enfermaria e deitou em uma maca, sob o olhar preocupado da enfermeira, que assim que nos avistou veio ao nosso encontro.
- O que aconteceu com ela? – a enfermeira perguntou, pegando no pulso de .
- Ela desmaiou do nada. – disse sentindo minha voz falhar. A enfermeira pediu que saíssemos da sala e então voltamos para o corredor pelo qual viemos.
- Caralho. – disse, levando a mão à boca, começando a roer as unhas.
- Cara, que susto, ela caiu dura do nada. – Ryan parecia tão assustado quanto eu. – Acho que é melhor avisar ao , não? Ele é namorado dela. – ele pareceu cauteloso.
- Claro. – disse e ele saiu andando em direção às salas. Comecei a andar de um lado para o outro. Eu não gostava de , mas mesmo assim ela era minha irmã, meia. E estava grávida, tudo bem os enjôos, mas cair dura do nada eu acho que não é muito normal, não.
Não passaram cinco minutos até que a enfermeira aparecesse dizendo que ela estava no soro, que o desmaio havia sido provocado pela falta de alimento e vômito em excesso, e que provavelmente deveria ter sido alguma reação alérgica ou virose. Acenei com a cabeça, dizendo que entendia, e fiquei ali na porta, preocupada. Eu queria saber se estava tudo bem com ela e o bebê. Mas não sabia se a enfermeira saberia da gravidez.
- O que aconteceu com ela? – ouvi a voz de atrás de mim e quando me virei para encará-lo pude admirar seu semblante preocupado.
- Você que é namorado não sabe? – perguntei arisca, ele provavelmente já deveria saber da gravidez. Afinal, ela havia dito que ia contar na noite anterior.
- Deveria? - ele perguntou, e, pela sua cara, ele ainda não sabia. Ótimo, não seria eu que contaria.
- Tanto faz, eu não tenho nada a ver com a vida de vocês. – dei de ombros, caminhando até o corredor, mas segurou meu braço.
- Custa você me dizer o que aconteceu com ela? Ela é sua irmã!
- Ela desmaiou, pronto, já está sabendo. Agora eu posso ir embora? – pedi com a voz mais firme que eu poderia fazer.
- , você sabe muito bem que nós dois precisamos conversar. – ele disse, ainda segurando meu braço. – Será que eu posso falar com você?
- Estamos em um país livre onde você tem todo o direito de falar, e eu tenho todo o direito de não querer ouvir. – respondi, puxando meu braço.
- Você poderia pelo menos tentar me ouvir, me deixar explicar, por favor? – ele pediu, já começando a ficar nervoso. Eu conhecia muito bem aquela expressão de quem já estava começando a perder a paciência.
- Explicar o quê? Você não tem nada pra explicar, , ela é sua namorada, certo? Você está muito bem em ficar com ela, errada fui eu em... Em entrar em tudo isso, em ficar com você, agora só esquece que aconteceu, ok? – pedi com a cara mais convincente que eu poderia fazer. – Eu só não volto atrás em nada do que eu disse. Eu pensei que você fosse diferente, cara. Mas eu me enganei. – sorri forçado. – E se eu não deixei bem claro, eu não tenho nada pra ouvir de você.
- Sua irmã está te chamando. – a enfermeira apareceu no corredor e eu me virei para a porta, evitando ter que olhar aqueles olhos à minha frente. Caso contrário todo o meu autocontrole iria embora e eu o estapearia, gritando o quão decepcionada com ele eu estava, e como a única coisa que eu queria era que aquela dor no meu peito passasse. – Desculpe, mas ela quer ver só a irmã. – a enfermeira informou quando fez questão de se mover, indicando que entraria na enfermaria. Era esquisito ouvir alguém sem ser parente chamando de minha irmã. me olhou estranho, ele queria dizer coisas, eu o conhecia muito bem para entender isso. O problema é que eu não queria ouvir. Entrei na área de enfermaria, e preciso dizer que minha escola era muito bem equipada em matéria de saúde dos alunos. estava deitada com uma agulha espetada em seu braço lhe transferindo soro.
- Que susto, hein. – disse, sentando-me na beira da cama ao seu lado. – acho que vou ter que pintar seu cabelo de verde de novo, assim vai combinar mais com a sua cara de ultimamente. – sorri fraco, querendo fazer graça, mas ela não riu. Seu olhar era distante. – Por que você não tem comido direito? A enfermeira falou que você passou mal por falta de alimento. Você não sabe que grávidas têm que comer bem pra fazer bem pro bebê? – ela continuava olhando para algum ponto à sua esquerda, sem me encarar e falar nada. O que já estava me deixando preocupada. – Por que você ainda não falou com o ? Ele vai te ajudar e...
- Eu não quero ter esse filho. – falou séria, encarando-me pela primeira vez, e se eu não soubesse que ela estava tão mal, ou melhor, se eu não percebesse que ela estava à beira de um ataque de pânico, eu teria dado em tapa na sua cara. – Não me olha desse jeito, não é você quem tem dezessete anos e está grávida. Não é você que vai ter que aguentar todo mundo te olhando torto por onde você for, não é você quem vai ter que se virar pra sustentar um filho, sendo que nem a escola terminou ainda. Não é você, , então não me olha desse jeito, porque você não sabe como é que é. – engoli a seco, ela havia me chamado de . Coisa que, bom, ela havia feito apenas uma vez e eu a havia repreendido.
- . – Respirei fundo antes de começar a falar. - Eu sei que não vai ser fácil, principalmente pra você. Eu sei que o vai surtar no começo. Meu pai, bom, eu sinceramente não sei o que meu pai vai fazer. Ele sempre me surpreende, mas você sabe o quão compreensivo ele é. E você pode conversar primeiro com a minha mãe. Vai ficar tudo bem, , você não precisa se preocupar com você e o futuro dessa criança porque eu tenho certeza de que vai ficar tudo bem com vocês!
- Eu estou com medo. – ela soluçou baixinho e e segurei sua mão, apertando-a junto à minha.
- Tudo Vai ficar bem. - disse.
- E como você pode ter tanta certeza assim? - ela soluçou novamente, com as lágrimas escorrendo por seu rosto.
- Eu sei porque essa criança vai ter uma ótima tia. – eu sorri. - Que vai ajudá-la sempre que ela precisar, e que promete ensiná-la sempre o melhor. E você vai poder contar comigo pro que der e vier daqui pra frente. – apertei mais ainda sua mão. – Eu não vou te abandonar, cara, sério. Você pode contar comigo.
- Eu não sei o que fazer. – ela soluçou baixinho. – Eu tô ferrada, eu tô ferrada.
- Pensasse nisso antes de transar sem camisinha. No que você tem que pensar agora é seu bebê e em se alimentar direito pra ele ficar saudável. E para nascer tudo bem com ele. – sorri e ela enxugou as lágrimas que anda molhavam sua bochecha.
- Eu quero ir pra casa. – ela disse fraco.
- Eu vou com você. – disse, levantando-me. - E ainda vou fazer minha macarronada, que é minha especialidade, assim você alimenta esse guri, ou guria, aí. – eu merecia um prêmio por ser a melhor pessoa do mundo, sério. Sai à procura da enfermeira e não demorou e nós já estávamos em casa, e eu mais uma vez não assistiria à aula Não sei o que ela havia dito a e nem me dei o trabalho de saber. Nada mais que era relacionado a ele me interessava, ok, na verdade interessava sim, mas eu não queria mais que interessasse. Entreguei um prato de macarronada a , que estava sentada no sofá em frente à TV, e me sentei ao seu lado com meu prato. Começando minha refeição, virei-me de lado, encarando-a e percebendo que ela apenas olhava a comida.
- Ou você come isso ou eu te enfio goela abaixo. – disse ameaçadora e ela sorriu fraco, começando a mexer na comida.
- Obrigada. – ela sorriu sincera. Pela primeira vez, eu conseguia ver a sem a máscara superior. - Você tem sido uma boa pessoa pra mim, , obrigada.
- É isso que parentes devem fazer um pelo outro, não? – sorri sem mostrar os dentes. - Agora come porque vamos precisar de ajuda amanhã na nossa noite dos desafios, e, bom, com você vai ser ajuda em dobro, sempre ouvi dizer que grávidas dão sorte. – disse, pegando o controle e mudando para um canal de filme qualquer.
- Vou começar a cobrar minha companhia por aí. – ela disse rindo, comendo minha macarronada. E então embarcamos em uma tarde de filmes e séries de TV que nem duas pessoas civilizadas, coisa que, pela primeira vez na vida, e eu estávamos sendo uma com a outra.

Capítulo 26

Eu jogava a caixinha de suco natural dentro da lixeira da cozinha quando vi um vulto de cabelos pretos passar correndo pela porta da mesma em direção ao banheiro, jogando todas as suas coisas pelo caminho sem um pingo de discrição. Assustei-me e corri em direção à escada, vendo todo o material de jogado no chão e um barulho no banheiro. É, ela estava vomitando. Caminhei até a porta, parando no batente da mesma e observando - por incrível que pareça - sem nojo enquanto ela provavelmente despejava todo o seu lanche na privada.
- Está tudo bem? – perguntei quando a vi fechar a tampa. E ela se virou para mim. Sua cara estava verde, seus lábios sem cor e seus olhos vermelhos. Não, ela não estava bem. Senti-me idiota por fazer essa pergunta. Cheguei perto dela para ajudá-la a selevantar quando percebi que se ela fizesse isso sozinha provavelmente se estabacaria no chão que nem maracujá podre.
- Como eu nunca tinha percebido que o perfume do é tão doce? – ela fez careta, ligando a torneira e juntando as mãos em concha. - É tão enjoativo, como ele consegue usar aquilo o tempo inteiro? – ela revirou os olhos, mergulhando o rosto na água fria.
- Você já contou pra ele? – perguntei sem dar muita importância à menção do perfume dele, que para mim era simplesmente perfeito.
- Ainda não, acho que vou fazer isso hoje à noite. – ela lavou a boca, prendendo em seguida os cabelos em um coque frouxo, e pela primeira vez eu a vi fazendo isso e não soltei os meus.
- Por que você não foi à escola? - ela se virou para mim com uma expressão curiosa.
- Não estava a fim. - dei de ombros, caminhando até a saída.
- Um menino lá na mesa apareceu te procurando. Ryan, se eu não em engano, o nome dele. – parei, virando-me novamente para a Limonaja, ops, .
- O que ele queria? – perguntei curiosa.
- Ele eu não sei, já o passou a manhã toda tentando te ligar, mas seu telefone só dava desligado. Ele passou no seu quarto hoje cedo, mas a porta estava trancada, e como sua mãe ainda estava dormindo ele nem chamou.
- Ok. – voltei a fazer o meu caminho.
- Ele disse que vinha aqui daqui a pouco, só ia em casa esperar a ligação da mãe dele.
- Ok. – disse novamente. Entrei no meu quarto, fechei a porta e me sentei na cama, observando a parede. Eu me sentia totalmente desanimada, meu coração doía apenas com uma simples suposição de ter que encarar . Eu ainda não conseguia acreditar que ele tivesse feito isso comigo. Respirei fundo. Eu não choraria. Não mesmo. Havia prometido a mim mesma ontem que não choraria, não ficaria quieta pelos cantos e muito menos iria demonstrar que tudo estava me abalando. não conseguiria me ver mal. Porque eu tenho plena certeza que é isso mesmo que ele pensava que iria acontecer, afinal, ele me conhecia melhor do que todos, não? Eu mostraria a ele o quanto ele estava enganado. Tomei um banho rápido, vesti uma roupa e saí de casa, antes que ele pudesse chegar lá e eu tivesse de encará-lo. Caminhei meio sem rumo, até que decidi dar um pulo no Pub, quem sabe estaria por lá? E até mesmo Ryan, aí eu poderia saber o que ele queria.
- Hey. – disse carregando uma caixa de engradados vazios quando eu passei pela porta.
- Oi. – disse sem graça. – Eu não tinha nada pra fazer e então resolvi vir aqui ver se, sei lá, você precisa de alguma ajuda. – ontem quando voltávamos da fogueira, e eu conversamos um pouco sobre ela e o irmão. Os dois eram órfãos há um ano, e o pai deles havia deixado aquele pub de herança. Há pouco tempo havia demitido o administrador e largado a faculdade para que pudesse gerenciar o negocio sozinha, ela achava que o cara não estava fazendo um bom trabalho.
- Na verdade, eu quero sim, traz aquela caixa ali pra mim. – ela apontou para a outra caixa de engradados vazia, que eu peguei, e a segui para uma parte interna. – Pode colocar ali. – ela apontou com a cabeça para o local.
- o Ryan esta por aí? A disse que ele estava me procurando hoje no colégio.
- Ele foi comprar uns refrigerantes pra mim, daqui a pouco está aqui. – voltou para a parte principal, indo para o bar agora. – Se sentindo melhor hoje? Ontem você parecia bem triste.
- Sim. – forcei um sorriso. - BEM melhor. – revirei os olhos sem que percebesse, coitada, se ela soubesse que esse meu "bem melhor" significava com uma enorme vontade de me esconder do mundo e chorar... Mas eu podia superar isso.
- Que bom, por que eu quero ser exploradora. – sorriu de forma sapeca. – Eu tive uma idéia pra agitar um pouco o Pub, duas na realidade. E eu queria a opinião de alguém mais jovem e que não fosse meu irmão.
- Sou toda ouvidos.
- Eu tive idéia de uma noite dos desafios. – ela falou com os olhos brilhando.
- E isso seria?
- Vários grupos, vários desafios e um prêmio.
- E que desafios seriam esses? – perguntei curiosa, eu nunca tinha ouvido falar da noite dos desafios.
- Vários desafios, e garanto que nenhum deles vai ser fácil, não tem graça quando é fácil, e não tem graça se eu contar pra você. E o prêmio nada mais é que acesso exclusivo para um show que eu vou fazer aqui.
- E de quem seria esse show? - perguntei curiosa.
- Maroon Five. – esse é o momento em que o meu eu interno esta se debatendo e contorcendo no chão tendo ataques histéricos enquanto o meu eu que todos vêem faz cara de bunda. - ?
- OH, SHIT É SÉRIO ISSO? – eu me exaltei, empolgada. Eu simplesmente AMAVA Maroon Five, não é à toa que esse era a banda que tocava quando eu resolvi fazer um strip-tease no meio da festa.
- Seríssimo! E eu preciso da sua ajuda pra divulgar a noite dos desafios, porque ela vai ser ÓTIMA pra divulgar o show, que provavelmente vai ser na semana que vem.
- Semana que vem? SEMANA QUE VEM? What the fuck? Como assim tão rápido?
- Um amigo meu que trabalha como produtor da banda conseguiu assim, DO NADA, sabe? E eu não posso perder a oportunidade, vai ser única de levantar o Pub.
- Coloca única nisso.
- Então você esta dentro?
- É claro! Tô mais dentro que farpa de madeira quando entra no dedo. – disse e riu da comparação.
- JURA? Então posso mesmo contar com você?
- Óbvio! E eu tenho que ganhar esse desafio, eu PRECISO ver meu Adam.
- AH, que bom. – me abraçou e eu ri. – Então já que eu posso contar com você pra explorar, que tal me ajudar pendurando esses cartazes da noite dos desafios junto com o Ryan?
- Claro! – peguei a pilha de cartazes que ela me estendia e me virei, ouvindo barulho de passos.
- Hey, . – Ryan disse sorrindo e meio vermelho, ele carregava dois engradados de refrigerantes, o que provavelmente estava pesado. – Prontinho, senhorita. – ele disse a , depositando os engradados em cima do balcão. – Refrigerantes comprados, agora, que eu me lembre, na minha lista resta apenas grudar os cartazes, certo? – ele passou as mãos pelos cabelos.
- Certo. – lhe entregou uma pilha de cartazes como a minha. – A disse que vai te ajudar, olha que fofa! – apertou minhas bochechas, o que fez com que eu fizesse careta.
- Oh, que ótimo, eu estava achando que seria um saco pendurar isso por aí sozinho.
- Eu não tinha nada pra fazer mesmo! – dei de ombros, sorrindo. – O que você queria comigo na escola? – perguntei curiosa.
- Era falar que a queria te falar do desafio. – ele se virou em seguida para a irmã. – Você já explicou a ela, né?
- Já, já.
- Por que você não me disse que era isso que ele queria falar quando eu falei que ele queria falar algo? - perguntei, rindo da cara de .
- , eu às vezes esqueço até meu segundo nome, quanto mais que o Ryan ia te falar que eu falei pra ele falar pra você que eu queria te falar do desafio – ela parou por um momento. – Ok, eu me confundi, esqueçam isso e vão pendurar os cartazes, vocês estão perdendo tempo! – ela nos enxotou e Ryan e eu rimos, saindo do Pub.
- E aí, já está bem mais animadinha que ontem, hein. – Ryan sorriu, colando o primeiro cartaz em um poste não muito longe do pub.
- É, eu acho que ficar quieta pelos cantos e remoendo os fatos da vida não levam ninguém a nada, você não acha? – disse, caminhando um pouco mais à frente e pregando dois cartazes em um muro onde alguns outros cartazes já estavam pendurados.
- Eu acho que é normal fazer isso às vezes. – ele seguiu um pouco mais à minha frente.
- Eu acho que não vai me levar a lugar nenhum. – dei de ombros, mesmo que no fundo eu soubesse que o que eu mais queria era ficar quieta no meu canto remoendo os fatos da minha vida.
- Isso tem a ver com o ? – ele perguntou e eu engasguei.
- Como?
- O . Todo mundo sabe que vocês dois tem uma ligação esquisita, só que ninguém sabe ao certo o que é. E então ele apareceu namorando aquela menina, que depois todo mundo soube que era sua irmã, e vocês dois, bom, era notável que vocês dois ora pareciam bem, hora mal. – ele riu.
- As pessoas observam isso?
- Qual é, , nós estamos na escola. Vocês são "populares". - ele fez aspas com os dedos. - Todos os garotos do colégio querem chegar em você, mas nenhum deles nunca fez nada porque o vivia te cercando, e às vezes olhava de cara feia. E vocês dois sempre pareceram estar juntos, mãos dadas pra cá, abraços pra lá. Um grude só. – ele riu. - E depois ele apareceu com uma namorada. Só vocês que não perceberam, mas a vida de vocês na escola virou praticamente um Big Brother.
- Tá falando sério? – eu quase ri, de tão ridículo que isso parecia.
- Seríssimo, quando você começou a beber lá na festa do sinal jogando ping pong e a dançar, rolou até aposta de em quanto tempo o ia te tirar dali e levar pra casa quando entrasse.
- Entrasse?
- É, ele estava no bar com sua irmã e os dois foram lá pra fora. E geral apostou quanto tempo demoraria até que ele te tirasse de lá.
- E demorou muito? – perguntei curiosa.
- Bom, primeiro sua irmã entrou e depois ela saiu, acho que pra chamar ele, e depois ele veio. Eu ganhei a aposta. – Ryan sorriu vitorioso.
- Por quê? – perguntei rindo.
- Eu apostei que não demoraria cinco minutos, e eu ganhei. – ele sorriu vitorioso. – Além de ganhar a aposta ainda ganhei a blusa que voou na minha direção.
- Sortudo, hein. – sorri e percebi que já havíamos colado cartazes na rua quase toda. – E fofoqueiro também. – gargalhei.
- Fofoqueiro não, informado. E não é nada que ninguém não saiba. – ele deu de ombros.
- Eu nunca tinha te visto na escola. – disse sincera.
- Eu entrei esse semestre, ou seja, há um mês atrás. Mas já tem uns três meses que eu moro aqui.
- Foi fácil deixar as coisas na sua cidade pra trás? – perguntei curiosa. Na noite anterior eu soube que Ryan morava em outra cidade, a mesma em que cursava a faculdade, só os dois moravam juntos e os pais aqui, cuidando do Pub e de outras coisas da família.
- No começo, não. Sinceramente, foi horrível. Mas a e eu estávamos precisando disso, novos ares. Principalmente ela. Nós dois estávamos em uma fase muito ruim, tanto pela morte de nossos pais quanto por alguns outros problemas.
- Você se arrepende de ter vindo pra cá?
- Olha, no começo, sim, me arrependi, mas teve um dia que eu fiz que nem você falou, cansei de ficar pelos cantos remoendo o passado e comecei a viver o presente. – ele deu um sorriso largo. – E hoje em dia não me arrependo mais.
- Que bom, fiquei feliz em te conhecer. – sorri sincera.
- Eu também, é bom ver que você está sorrindo hoje, diferente de ontem.
- Ontem foi um dia ruim. Péssimo, pra dizer a verdade. Mas a partir de hoje tudo vai ficar bem. - disse, forçando outro sorriso e me virando de costas para pregar outro cartaz, deixando que o sorriso sumisse em meus lábios e respirando fundo, lutando contra as lágrimas que a cada segundo pareciam querer tomar conta de mim. Nada ficaria bem, eu podia ter certeza disso a cada segundo.


Capítulo 27

- Eu posso saber onde você se meteu? – perguntou irritada assim que eu apareci no corredor do colégio no horário de troca de professores. Mais uma vez eu havia me atrasado. Havia passado a tarde anterior toda pregando cartazes pela cidade junto com Ryan e ficado até tarde no pub ajudando a organizar algumas coisas. Não fazia idéia de onde havia largado meu celular, e ele provavelmente estava desligado, o que dificultava alguém me achar. Eu não havia ficado em casa, só em lugares onde meus amigos provavelmente nem se tocariam de me procurar.
- Por aí. – dei de ombros, abrindo meu armário e pegando meu livro de Biologia.
- E não ligou o celular por quê? Eu estou tentando falar com você, já fui à sua casa duas vezes e nada!
- Ok, , chega de chilique, eu já estou aqui, não estou? Diga o que quer. – disse, sacudindo-a pelos braços e rindo, fazendo-a fazer o mesmo.
- Aconteceu. – ela exclamou feliz com as bochechas rosadas. Demorei meio segundo para entender do que ela estava falando.
- Você e o ?
- É! – ela deu dois pulinhos e eu repeti seus gestos, feliz por ela. Foi quando avistei no final do corredor junto com , que falava algo animado, mas ele não parecia prestar muita atenção. Seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal, sua mochila jogada apenas em um ombro, e ele nunca me pareceu tão lindo, tão perfeito, tão filho da puta, cafajeste, traidor. O sorriso pela felicidade de murchou na mesma hora em que nossos olhos se encontraram.
- Eu tenho que ir. – eu disse e se virou, observando a dupla que seguia em nossa direção.
- Hey, espera aí. – ela segurou meu braço. – O que aconteceu com vocês dois? Ele estava tão atrás de você ontem quanto eu.
- Nada. – soltei meu braço, virando-me e dando de cara com e , que vinham conversando animados segurando um cartaz.
- Olha quem deu o ar de sua graça. – disse rindo e me beijando a testa assim como . Ninguém pareceu notar meu desespero e vontade de sair dali, já que os dois energúmenos taparam minha saída, e eu conseguia ouvir a voz de e mais próximos, até que eles já estavam do meu lado. – Noite dos desafios amanhã. – continuou, estamos todos dentro, né?
- É claro. – disse, já parado ao meu lado e dando um selinho em . - Olha a sumida. – disse, dando-me um beijo no mesmo lugar que os outros dois.
- Eu só faltei ontem. – sorri sem encarar , virando-me para sair dali, mas o mesmo segurou meu braço.
- , eu preciso falar com você. – ele disse sério e os demais nos encararam sem entender.
- , até que enfim. – Ryan apareceu do nada no meio de um monte de gente com seu sorriso encantador, e eu quase voei em seu colo em agradecimento. Ele segurava em uma das mãos cartazes e em outra meu celular, cara, eu amo esse moleque, sério.
- Meu celular! – exclamei, soltando meu braço das mãos de e pegando o objeto das mãos de Ryan. – Onde estava?
- Dentro do meu carro, você provavelmente o deixou cair lá terça. – ele sorriu.
- MUITO obrigada, você vive resgatando minhas coisas. – disse rindo. – Vamos terminar de pendurar os cartazes? – fiz a pergunta mais como se fosse uma afirmação, pegando o bolo de cartazes das mãos do rapaz à minha frente.
- Claro. – ele concordou.
- Valeu, gente, eu vou ajudar meu amigo. – disse aos meus amigos, e até a , que havia acabado de se juntar a nós, me olhou estranho. Mandei-lhe um beijo no ar. – Sorry, , eu tenho mais o que fazer. – respondi seca, enlaçando os braços nos de Ryan e o puxando para o corredor mais longe que eu pudesse ir daqueles olhos azuis que insistiam em assaltar meu coração.
- Obrigada! – disse assim que viramos o corredor.
- Eu percebi que você estava quase gritando socorro quando o se aproximou. – ele riu e eu fiz o mesmo, grudando um cartaz ao lado do banheiro, quando vi a porta ser aberta. saiu do mesmo branca, sem nenhuma cor em seu rosto e seu rosto estava meio molhado, como se aquilo fosse suor.
- Hey, você está bem? – perguntei assustada com a sua aparência, sua bolsa quase escapava de seus dedos, ela não parecia ter forças para segurá-la.
- Não. – ela respondeu em um fio de voz antes que seu corpo cedesse e ela fosse direto de encontro ao chão.
Ryan agiu mais rápido que eu, segurando o corpo de antes que ele se chocasse ao chão. Eu agi por impulso, segurando sua cabeça, e pude sentir seu rosto frio com um suor grudento. Senti-me desesperada. Ela parecia morta.
- Hey, . – dei um tapa fraco em seu rosto, minhas mãos começaram a tremer. – ! – chamei um pouco mais alto, batendo um pouco mais forte. – em outra ocasião eu estaria adorando bater em seu rosto, mas eu disse bem, em outra situação. Não agora.
- Hey. – Ryan ergueu no colo. – Acho melhor levar ela pra enfermaria, . – ele não esperou minha resposta e começou a andar na minha frente. Peguei a bolsa no chão, seguindo no encalço de Ryan, olhando os cabelos de minha irmã batendo contra seus braços e seu braço mole pendendo ao lado do corpo. Eu nunca me senti assim antes, preocupada daquela forma, minhas mãos tremiam e meu coração estava totalmente acelerado. Ryan entrou correndo na enfermaria e deitou em uma maca, sob o olhar preocupado da enfermeira, que assim que nos avistou veio ao nosso encontro.
- O que aconteceu com ela? – a enfermeira perguntou, pegando no pulso de .
- Ela desmaiou do nada. – disse sentindo minha voz falhar. A enfermeira pediu que saíssemos da sala e então voltamos para o corredor pelo qual viemos.
- Caralho. – disse, levando a mão à boca, começando a roer as unhas.
- Cara, que susto, ela caiu dura do nada. – Ryan parecia tão assustado quanto eu. – Acho que é melhor avisar ao , não? Ele é namorado dela. – ele pareceu cauteloso.
- Claro. – disse e ele saiu andando em direção às salas. Comecei a andar de um lado para o outro. Eu não gostava de , mas mesmo assim ela era minha irmã, meia. E estava grávida, tudo bem os enjôos, mas cair dura do nada eu acho que não é muito normal, não.
Não passaram cinco minutos até que a enfermeira aparecesse dizendo que ela estava no soro, que o desmaio havia sido provocado pela falta de alimento e vômito em excesso, e que provavelmente deveria ter sido alguma reação alérgica ou virose. Acenei com a cabeça, dizendo que entendia, e fiquei ali na porta, preocupada. Eu queria saber se estava tudo bem com ela e o bebê. Mas não sabia se a enfermeira saberia da gravidez.
- O que aconteceu com ela? – ouvi a voz de atrás de mim e quando me virei para encará-lo pude admirar seu semblante preocupado.
- Você que é namorado não sabe? – perguntei arisca, ele provavelmente já deveria saber da gravidez. Afinal, ela havia dito que ia contar na noite anterior.
- Deveria? - ele perguntou, e, pela sua cara, ele ainda não sabia. Ótimo, não seria eu que contaria.
- Tanto faz, eu não tenho nada a ver com a vida de vocês. – dei de ombros, caminhando até o corredor, mas segurou meu braço.
- Custa você me dizer o que aconteceu com ela? Ela é sua irmã!
- Ela desmaiou, pronto, já está sabendo. Agora eu posso ir embora? – pedi com a voz mais firme que eu poderia fazer.
- , você sabe muito bem que nós dois precisamos conversar. – ele disse, ainda segurando meu braço. – Será que eu posso falar com você?
- Estamos em um país livre onde você tem todo o direito de falar, e eu tenho todo o direito de não querer ouvir. – respondi, puxando meu braço.
- Você poderia pelo menos tentar me ouvir, me deixar explicar, por favor? – ele pediu, já começando a ficar nervoso. Eu conhecia muito bem aquela expressão de quem já estava começando a perder a paciência.
- Explicar o quê? Você não tem nada pra explicar, , ela é sua namorada, certo? Você está muito bem em ficar com ela, errada fui eu em... Em entrar em tudo isso, em ficar com você, agora só esquece que aconteceu, ok? – pedi com a cara mais convincente que eu poderia fazer. – Eu só não volto atrás em nada do que eu disse. Eu pensei que você fosse diferente, cara. Mas eu me enganei. – sorri forçado. – E se eu não deixei bem claro, eu não tenho nada pra ouvir de você.
- Sua irmã está te chamando. – a enfermeira apareceu no corredor e eu me virei para a porta, evitando ter que olhar aqueles olhos à minha frente. Caso contrário todo o meu autocontrole iria embora e eu o estapearia, gritando o quão decepcionada com ele eu estava, e como a única coisa que eu queria era que aquela dor no meu peito passasse. – Desculpe, mas ela quer ver só a irmã. – a enfermeira informou quando fez questão de se mover, indicando que entraria na enfermaria. Era esquisito ouvir alguém sem ser parente chamando de minha irmã. me olhou estranho, ele queria dizer coisas, eu o conhecia muito bem para entender isso. O problema é que eu não queria ouvir. Entrei na área de enfermaria, e preciso dizer que minha escola era muito bem equipada em matéria de saúde dos alunos. estava deitada com uma agulha espetada em seu braço lhe transferindo soro.
- Que susto, hein. – disse, sentando-me na beira da cama ao seu lado. – acho que vou ter que pintar seu cabelo de verde de novo, assim vai combinar mais com a sua cara de ultimamente. – sorri fraco, querendo fazer graça, mas ela não riu. Seu olhar era distante. – Por que você não tem comido direito? A enfermeira falou que você passou mal por falta de alimento. Você não sabe que grávidas têm que comer bem pra fazer bem pro bebê? – ela continuava olhando para algum ponto à sua esquerda, sem me encarar e falar nada. O que já estava me deixando preocupada. – Por que você ainda não falou com o ? Ele vai te ajudar e...
- Eu não quero ter esse filho. – falou séria, encarando-me pela primeira vez, e se eu não soubesse que ela estava tão mal, ou melhor, se eu não percebesse que ela estava à beira de um ataque de pânico, eu teria dado em tapa na sua cara. – Não me olha desse jeito, não é você quem tem dezessete anos e está grávida. Não é você que vai ter que aguentar todo mundo te olhando torto por onde você for, não é você quem vai ter que se virar pra sustentar um filho, sendo que nem a escola terminou ainda. Não é você, , então não me olha desse jeito, porque você não sabe como é que é. – engoli a seco, ela havia me chamado de . Coisa que, bom, ela havia feito apenas uma vez e eu a havia repreendido.
- . – Respirei fundo antes de começar a falar. - Eu sei que não vai ser fácil, principalmente pra você. Eu sei que o vai surtar no começo. Meu pai, bom, eu sinceramente não sei o que meu pai vai fazer. Ele sempre me surpreende, mas você sabe o quão compreensivo ele é. E você pode conversar primeiro com a minha mãe. Vai ficar tudo bem, , você não precisa se preocupar com você e o futuro dessa criança porque eu tenho certeza de que vai ficar tudo bem com vocês!
- Eu estou com medo. – ela soluçou baixinho e e segurei sua mão, apertando-a junto à minha.
- Tudo Vai ficar bem. - disse.
- E como você pode ter tanta certeza assim? - ela soluçou novamente, com as lágrimas escorrendo por seu rosto.
- Eu sei porque essa criança vai ter uma ótima tia. – eu sorri. - Que vai ajudá-la sempre que ela precisar, e que promete ensiná-la sempre o melhor. E você vai poder contar comigo pro que der e vier daqui pra frente. – apertei mais ainda sua mão. – Eu não vou te abandonar, cara, sério. Você pode contar comigo.
- Eu não sei o que fazer. – ela soluçou baixinho. – Eu tô ferrada, eu tô ferrada.
- Pensasse nisso antes de transar sem camisinha. No que você tem que pensar agora é seu bebê e em se alimentar direito pra ele ficar saudável. E para nascer tudo bem com ele. – sorri e ela enxugou as lágrimas que anda molhavam sua bochecha.
- Eu quero ir pra casa. – ela disse fraco.
- Eu vou com você. – disse, levantando-me. - E ainda vou fazer minha macarronada, que é minha especialidade, assim você alimenta esse guri, ou guria, aí. – eu merecia um prêmio por ser a melhor pessoa do mundo, sério. Sai à procura da enfermeira e não demorou e nós já estávamos em casa, e eu mais uma vez não assistiria à aula Não sei o que ela havia dito a e nem me dei o trabalho de saber. Nada mais que era relacionado a ele me interessava, ok, na verdade interessava sim, mas eu não queria mais que interessasse. Entreguei um prato de macarronada a , que estava sentada no sofá em frente à TV, e me sentei ao seu lado com meu prato. Começando minha refeição, virei-me de lado, encarando-a e percebendo que ela apenas olhava a comida.
- Ou você come isso ou eu te enfio goela abaixo. – disse ameaçadora e ela sorriu fraco, começando a mexer na comida.
- Obrigada. – ela sorriu sincera. Pela primeira vez, eu conseguia ver a sem a máscara superior. - Você tem sido uma boa pessoa pra mim, , obrigada.
- É isso que parentes devem fazer um pelo outro, não? – sorri sem mostrar os dentes. - Agora come porque vamos precisar de ajuda amanhã na nossa noite dos desafios, e, bom, com você vai ser ajuda em dobro, sempre ouvi dizer que grávidas dão sorte. – disse, pegando o controle e mudando para um canal de filme qualquer.
- Vou começar a cobrar minha companhia por aí. – ela disse rindo, comendo minha macarronada. E então embarcamos em uma tarde de filmes e séries de TV que nem duas pessoas civilizadas, coisa que, pela primeira vez na vida, e eu estávamos sendo uma com a outra.

Capítulo 28
Noite dos desafios: Parte I


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- Meu Deus, isso daqui está lotado! – disse quando consegui chegar ao balcão onde e Ryan serviam algumas bebidas para as pessoas amontoadas ao redor. Ainda faltavam alguns minutos para que a noite dos desafios começasse oficialmente.
- Nem me fala, precisamos da sua ajuda. – abriu a entrada para que eu pudesse me juntar aos dois atrás do balcão, jogando-me uma lata de cerveja em seguida e apontando com a cabeça para uma menina perto de mim.
- Você está linda! – Ryan disse, dando-me um beijo na testa e eu sorri, beijando seu rosto e entregando uma cerveja a uma menina que se esticava no balcão.
- , eu não sei como te agradecer, sério. Você é o máximo, mulher. – disse rindo e apertando minhas bochechas, voltando em seguida a entregar bebidas para as pessoas. O Pub não estava lotado, mas estava MUITO movimentado. Cerca de cento e poucas pessoas estavam por ali conversando animadas enquanto esperavam que dessem nove da noite, para que oficialmente a noite começasse.
- Eu estava achando que não ia conseguir chegar a tempo, eu saí daqui muito tarde. – falei continuando com o meu trabalho.
- Ainda bem que você chegou, alguns dos seus amigos já estão por aí, e o já veio aqui perguntar por você. – ergui minha cabeça para Ryan quando ele pronunciou o sobrenome do dito cujo. Eu havia passado o resto da minha semana fugindo e ignorando o máximo que eu podia. Ficara no Pub até tarde quase todos os dias, ajudando Ryan e com o novo design do lugar, que agora estava simplesmente perfeito. Muito mais moderno, as pessoas estavam gostando, o que significava que dali para frente era só melhorar.
- Ele parecia bem a fim de falar com você, . – me encarou de forma engraçada. – Caso de amor não resolvido? - ela arqueou a sobrancelha.
- Meu EX melhor amigo. - sorri sem vontade, ok, era estranho falar dessa forma. – E eu não queria falar dele, não agora. - concordou com a cabeça e eu pude ver e caminhando rindo em minha direção.
- E aí, sumida, até que enfim você chegou, hein? – disse rindo e se debruçando sobre o balcão. – Eu quero uma cerveja, garçonete. – ri, entregando a cerveja a minha amiga e apertando a bochecha das duas.
- Eu não estou sumida, vocêes me vêem na escola todos os dias. - fiz careta para as duas.
- É, mas você está sempre colada com o bonitão ali. - me olhou com cara de sapeca. – O que esta rolando hein?
- Nada. – disse simplesmente, dando de ombros. - Ele é apenas um novo amigo. – entreguei uma cerveja a .
- Ta, já que você me diz que não está rolando nada entre você e o bonitão ali, – bebericou sua bebida – e eu acredito veemente que é verdade já que você não mentiria para mim... - ela me mandou seu olhar assassino. - O que esta acontecendo com você e o ? – ela falou séria. - E não adianta me dizer que não é nada porque todo mundo já notou o jeito que ele te olha, o jeito que você olha pra ele e vocês dois não estarem nem se falando é mais do que uma mostra de que tem alguma coisa errada. - ela fez cara de que era a coisa mais óbvia do mundo. – E você pensa que me engana com esse sorriso enorme, mas eu sei que você está triste por dentro, .
- Ele só não é a pessoa que eu pensava que ele fosse, só isso. – dei de ombros. Seria estranho se eu dissesse que estava de saco cheio do ? – Eu não quero falar dele, amiga, não hoje, não agora. Eu tô bem. – sorri abertamente. – Eu juro. Eu só não quero mais perder nenhum tempo da minha vida com ele.
- Mas vocês dois não tinham ficado? – falou baixo, de forma que apenas nós três pudéssemos escutar – O que aconteceu?
- É só porque ele namora a sua irmã? – perguntou.
- , você esta se escutando? Na verdade eu nem sei onde eu estava com a cabeça pra ficar com ele, foi um erro, ele não SÓ namora a minha irmã. Isso não é um só. Você tem noção do quão vadia eu fui ficando com ele mesmo sabendo que ele tinha namorada? Eu não sou assim. Nunca fui, você sabe disso. Eu só quero esquecer que isso aconteceu, só isso. Pelo menos por essa noite, tem como? – fiz cara de pidona.
- O que você não pede sorrindo que eu não faço chorando? – disse, apertando minhas bochechas. - Estamos por aí, qualquer coisa é só gritar. – ela sorriu. – Se bem que com um desse aí do seu lado, eu pediria é pra ele me fazer gritar. – ela fez cara de tarada e eu abri a boca espantada, rindo ao mesmo tempo. Ela provavelmente já tinha bebido umas latinhas, não havia dúvidas. saiu andando, voltando para onde os meninos provavelmente estavam e chamando com as mãos, que antes de sair me puxou para perto.
- Você não vai conseguir se livrar disso tão fácil assim. – ela disse séria. – E se você pensa que me engana você está muito enganada, senhorita. – ela sorriu antes de sair andando na mesma direção que . Será que era complicado pedir demais para esquecer o apenas por uma noite?
- Eu preciso falar com você. – falando no diabo... Virei-me em direção à voz e ergui meus olhos a ele, e, meu Deus, por que tão lindo?
- Acho que não temos nada pra falar, . – dei de ombros, entregando uma latinha a uma menina e abrindo uma para mim, eu precisava sentir álcool correr por minhas veias essa noite.
- É claro que temos, , deixa de ser teimosa. – ele apoiou os braços no balcão.
- , me ajuda lá trás? – Ryan veio em meu socorro. Bendito Ryan, deveriam fazer uma estátua para ele e pendurar em praça pública. Que nem fizeram com aquele cão do filme lá no Japão. O Rat. É esse o nome dele mesmo? Ah, sei lá.
- Claro. - acenei com a cabeça. – Nós não temos nada a conversar, . Eu já disse que o que tínhamos acabou, e essa foi minha palavra final. – segui para a parte de trás do Pub, onde tinha uma espécie de cozinha. Tudo o que eu queria era me ver livre dele por pelo menos uma noite, mas tudo o que eu conseguia era ele cada vez mais no meu pensamento. Merda.
- Uma dose antes de inauguração? – Ryan me estendeu um copo com algum líquido verde. Sorri, pegando o copo. Ele tinha um semelhante na outra mão. Erguemos, brindamos e bebemos rindo um para o outro. Eu tinha a leve impressão que estávamos flertando. Não sei dizer, eu sou meio lerda com essas coisas.
- Tem vodka? – perguntei depois de derramar o líquido pela garganta, que desceu queimando.
- Aqui. – apareceu, jogando-me uma garrafa, se não fosse meu bom reflexo, ela teria ido para o chão. – Agora me incluam nesse brinde. – ela riu, estendendo um copo.
- Claro. – enchi meu copo, o dela e o do Ryan. – Um brinde à primeira de várias noites bem sucedidas na Poison. – eu havia sugerido e havia aceitado o nome do Pub como Poison. Eu já era praticamente uma funcionária.
- À primeira de várias – ergueu o copo. E todos nós brindamos, bebendo em seguida. Meus olhos lacrimejaram e eu pisquei algumas vezes. Coloquei o copo em um canto, pegando um engradado no chão.
- Não precisa disso, vai começar agora. – ela disse, saindo da cozinha. Peguei uma latinha de cerveja no freezer e então Ryan e eu caminhamos em direção a onde meus amigos estavam. Eu havia pedido para incluir Ryan e – é, ela participaria dos desafios, mesmo sendo uma coisa organizada por ela - no nosso grupo, já que poderia ser de até dez pessoas. , e estavam parecendo crianças prestes a andar na montanha russa pela primeira vez. Dei um beijo no rosto de cada um parei entre Ryan e .
- Espero que você tenha se alimentado direito, não quero ninguém desmaiando enquanto eu estiver lutando pela chance de conhecer meu homem. – disse bebericando minha cerveja e ela riu.
- Duas vitaminas, um pacote de biscoito e mais umas quinhentas coisas que eu comi hoje durante o dia, está bom ou você quer mais? – ela sorriu um mesmo sorriso que eu estava acostumada a dar. Um sorriso de desafio. – E quem disse que ele é o SEU homem?
- Eu disse, honey. – mandei-lhe uma piscadela. – Afinal, não sou eu quem tenho um namorado e estou grávida. – ri da sua cara de injustiçada.
- Golpe baixo. – ela reclamou.
- Realidade!
- Boa noite, pessoal! – gritou de cima do palco e as pessoas ao meu redor, incluindo eu, fizeram um murmúrio positivo. Na verdade todos gritaram que nem um bando de malucos. – Estão todos preparados para os desafios? – ela falava super animada e todos ao redor pareciam da mesma forma, eu principalmente. Eu me sentia animada, eu disse que precisava de álcool. – Acho que todos estão curiosos para o que vai acontecer, né? Seguinte: temos aqui o total de dezesseis grupos, e isso significa que temos aqui dezesseis envelopes. – ela sacudiu uma caixa em suas mãos. - Em cada um desses envelopes existem tarefas que vocês deverão fazer e cada uma dessas tarefas vai levar vocês à próxima. Serão cinco envelopes no total. O quarto envelope levará vocês até a tarefa final e todos terão que se encontrar aqui à meia noite. É preciso gravar vídeos demonstrando que vocês realmente executaram as tarefas, caso contrário vocês estão fora da competição. E vou deixar bem claro que é válido apenas para quem chegar aqui até meia noite, meia noite e um já está desclassificado, ok? Estamos entendidos? - todos gritaram. – Lembrando só que serão apenas três horas para cumprir os desafios, e que não é permitido o uso de carro. – ela depositou a caixa no chão. – QUE OS JOGOS COMEÇEM. – gritou e antes que eu pudesse piscar ela já caminhava em nossa direção com um envelope em mãos.
- Olá, pessoas que eu não conheço, meu nome é , mas prefiro que me chamem de . – ela disse as palavras rapidamente. – Eu sou organizadora, mas não fiz nem metade dos desafios, isso ficou por conta de uns amigos meus que têm a cabeça bem melhor pra isso, então significa que se vocês acham que eu sou de grande ajuda, fodeu! – todos riram da forma que ela falou, mexendo os braços.
- Tudo bem, o importante é uma cabeça a mais pra ajudar. – disse. – A propósito, meu nome é , esse daqui é o , aquele o , , , , e eu esqueci seu nome. – ele quis se referir a Ryan, que riu.
- Eu sou Ryan, irmão dela, pra quem não sabe. – ele disse sorrindo e suas bochechas estavam rosadas, own, que lindo, ele estava com vergonha.
- Ok, apresentações feitas, vamos ao primeiro envelope. – ela deu o mesmo a , que o abriu sem demoras, lendo em seguida.
- No estacionamento existe uma mochila escondida dentro de uma lata de lixo azul, achem-na e escolham cinco pessoas para realizar o primeiro desafio. – foi só terminar de falar que todos correram que nem um bando de malucos em direção ao estacionamento. Havia uma quantidade razoável de carros e mais lixeiras do que deveria naquele lugar. Sem contar que todas elas eram vermelhas. Os meninos olhavam em baixo do carro e eu estava perto de uma árvore, vendo se de repente não havia jogado a lixeira por lá, quando ouvi a voz de gritar um “achei”. Quando cheguei próximo, todos já estavam reunidos.
- Vou ler. – disse, pegando a mochila de dentro de uma lata de lixo vermelha onde havia uma lata de lixo azul. Um envelope estava grudado do lado de fora. – “Já escolheram os cinco participantes?” – ela ergueu os olhos e todos nos encaramos.
- Por que não fazemos assim: estamos em cinco meninos e cinco meninas, os meninos executam essa primeira. – sugeriu, os meninos fizeram careta, mas concordaram assim mesmo. Então continuou.
- “O primeiro desafio de vocês é entregar as roupas que estão na mochila à loja, as notas fiscais estão dentro do bolso interno, mas existe um detalhe. Vocês deverão entregar as roupas vestindo-as.” – as gargalhadas não puderam ser evitadas quando tirou as roupas de dentro da mochila, porque na verdade não se tratava de roupas e sim de lingeries. Era uma enorme quantidade de calcinhas fio dental, sutiãs sexys, cinta ligas e camisolas.
- Isso é sério? – pegou uma calcinha vermelha fazendo careta.
- Desafio é desafio, amor. – disse rindo e entregando a ele um sutiã e uma cinta liga, fazendo em seguida o mesmo com os outros meninos. Um papel caiu quando ela pegou a última peça. Ela abriu e leu: - Se quem executar esse desafio for homem, tire 50% das roupas.
- Nossa. – disse derrotado. - Eu serei uma bicha louca. – gargalhou, tirando a camiseta.
Peguei a mochila, colocando lá dentro as roupas que os meninos tiravam, e fiz o máximo de força possível para não olhar . Depois que todos estavam vestidos eu não pude deixar de rir. Foquei minha atenção em cada um deles, Ryan usava um conjunto de camisola de seda rosa com uma tanguinha de renda vermelha e uma cinta liga preta nas pernas. Ele não era totalmente definido, mas seu corpo era saltado nos lugares certos. Dando um charme, tirei o elástico que prendia meu cabelo e me aproximei dele, juntando o cabelo que caia em sua testa e amarrando-o.
- Você está um gato. – sorri quando ele fez bico. Era engraçado como eu me sentia bem quando estava com ele.
- Eu sou uma bicha linda, meu bem. – ele me deu uma piscadela e em seguida um beijo no nariz. Sorri com o carinho, mesmo que tivesse ficado surpresa com tal.
- Pode dizer, eu sou ou não sou o ser assexuado mais lindo desse mundo? - deu dois passos rebolando, ele usava sua boxer preta e branca e por cima da mesma uma camisola vermelha com detalhe de bojo nos seios e uma cinta liga rosa. – Gente, cadê meu batom? – ele fez bico e cara de puta. Foi impossível não rir.
- Ai, amiga, bichas chiques não precisam de batom, elas são deslumbrantes de qualquer forma. - disse. Ele usava uma calcinha fio dental branca e um sutiã de bojo da mesma cor.
- Vamos, povo, estamos perdendo tempo. – disse e foi quase impossível não olhá-lo. Seu cabelo estava bagunçado e ele usava um sutiã de renda vermelho e uma calcinha da mesma cor, fio dental. E, por baixo, uma boxer verde que eu havia lhe dado. Por que ele tinha de ser tão lindo?
- Então, , qual endereço? – me tirou dos meus devaneios sobre e todos encararam minha meia irmã, que leu o endereço em voz alta.
- Mas só tem um problema. – ela acrescentou. - A loja fecha em exatamente quinze minutos. – Foi só ela falar que disparamos a correr, não era muito longe. Cinco quarteirões. Mas parecia que correr nos faria chegar mais rápido. Eu estava ao ponto de ter uma crise de riso, olhar os cinco meninos correndo com roupas íntimas por cima de suas boxer e de tênis era simplesmente hilário. com suas pernas tortas era o mais engraçado. corria mexendo os braços como se estivesse se preparando para levantar vôo. As pessoas na rua nos olhavam como se fossemos anormais, e para dizer a verdade eu tinha quase certeza de que éramos. Não era possível termos vindo desse mundo! Eu não consegui correr e respirar ao mesmo tempo, o que me ocasionou uma dorzinha incomoda abaixo do seio, perto das costelas, sei lá a localidade exata. Acho que era no baço. Só sei que doía mais a cada passo que eu dava. O nome disso: sedentarismo. Parei com as mãos apoiadas nos joelhos e respirando fundo ao mesmo tempo em que tentava me controlar para não rir. Ryan foi o único que percebeu que eu parei e veio em minha direção com o habitual sorriso nos lábios.
- Que foi? – ele perguntou, chegando mais perto.
- Doeu. – eu disse rindo, mas sem saber ao certo por que estava rindo. Só sei que estava. Algumas pessoas na rua me olhavam estranho. O que fazia com que eu risse ainda mais. Apontei para o lado da minha barriga que doía.
- Respira pelo nariz e solta pela boca com os braços esticados assim, respira cinco vezes. -Ryan me pôs reta e colocou meus braços em “posição de vôo” e eu fiz o que ele mandou, pelo menos duas vezes, na terceira eu comecei a rir de , que estava discutindo com uma senhora que o repreendeu pela roupa. E também tinha , , e , que posavam enquanto tirava foto de suas posições excêntricas. Pelo menos eles haviam percebido que eu tinha parado.
- Se você rir vai doer mais ainda. – ele falou, mas também começou a rir depois de olhar na mesma direção que eu. Voltei à minha posição de “vôo”, respirando pelo nariz e soltando pela boca cinco vezes, até que a dor sumiu.
- Como é que é? Vocês vêm ou não? – gritou. Sim, ele gritou. Estava poucos metros à nossa frente e eu o encarei. Quem diabos ele pensa que é para gritar?
- Tem alguém te pedindo pra esperar? Você sabe o caminho, ninguém está com suas pernas. – respondi e me olhou com os olhos arregalados. Ok, todos me olhavam de olhos arregalados. Já sei o que era. Eu nunca havia dado um fora em antes. Dude, como eu nunca tinha feito isso antes? Era tão legal. Deu-me uma sensação boa.
- É, mas está atrasando o grupo. – ele cruzou o braço, fazendo cara feia. Cara feia para mim é fome, meu amor, sinta-se à vontade para comer sua linda namoradinha grávida.
- Até você chegar lá, encontrar a loja e tirar a roupa Ryan e eu chegamos, então, por favor, não se incomode conosco. – disse revirando os olhos e olhando para o lado, onde havia um bar. Ótimo, eu estava com sede. – Quero cerveja, vem. - puxei Ryan pela mão, entrando no bar. Alguns caras me olharam, mas eu não liguei. Pedi duas cervejas, entregando ao meu “companheiro”. Quando cheguei do lado de fora, os outros, com exceção de , e , já haviam ido. Sorri para eles. – Alguém quer? – ofereci minha cerveja e Ryan fez o mesmo. Terminamos a cerveja e eu sorri que nem uma retardada olhando para os meus amigos. – Quem chegar por ultimo é mulher do padre. – disse antes de disparar a correr com correndo desengonçado atrás de mim, seguido por , e Ryan, que havia ficado por último. Ao dobrarmos a última esquina nos deparamos com o shopping da cidade e paramos rindo.
- Você sabe onde é a loja? – perguntou ofegante assim que me alcançou.
- Sei sim, sigam-me os bons. – imitei o Chapolin Colorado antes de voltar a correr. Eu me sentia com o pique todo. De repente me deu uma vontadezinha de dançar. Pessoas riam, comentavam, gritavam, vaiavam e faziam uma porrada de coisas conforme íamos passando por elas. Apenas três entradas depois, estávamos de frente à loja em que deveríamos entregar as roupas. Era em frente a uma praça de alimentação. Saquei meu celular do bolso.
- Anda, coisas lindas, façam uma pose sexy pra tia aqui. – disse e os meninos se juntaram, fazendo biquinho e caretas que só eles julgavam sexy.
- De onde vocês surgiram? - apareceu de repente, do lado oposto do qual havíamos vindo. Ela estava suada e ofegante. Todos estavam.
- Da entrada ué! – deu de ombros e eu virei o telefone para filmá-lo. – Vamos, porque eu acho que já cansei de usar isso. - ele entrou na loja seguido dos outros meninos. Fiquei por último filmando a entrada de todos quando parou ao meu lado.
- Ele tá merecendo uma porrada? – perguntou em tom brincalhão, eu sabia exatamente de quem ele estava falando.
- Duas. – eu ri. - Eu tô rindo mas falando sério, se você não fizer isso eu contrato umas pessoas para judiarem dele que nem a Lily Allen fez em Smile. gargalhou.
- Estou começando a ficar com medo de você. – ele riu, entrando na loja. Pausei o telefone e salvei o vídeo, entrando em seguida.
- Queremos devolver algumas roupas. – disse, olhando para os meninos em seguida, e a mulher atrás do caixa riu.
- E por acaso eu posso saber que roupas seriam essas? - ela perguntou, mas o tom de riso era claramente notado em sua voz.
- Essa daqui, minha senhora. – foi à frente, tirando a calcinha que usava. – E isso aqui também. - ele entregou o sutiã em seguida.
- Ah, e tem mais aqui, minha senhora. – seguiu os mesmos gestos, entregando as peças que vestia, assim como todos os garotos.
- Ah, e aqui estão as notas ficais. – disse, abrindo a mochila e entregando as notas à senhora do caixa.
- Bom, tudo certinho. – ela disse depois de conferir as notas e me entregou um envelope. – Isso aqui é pra vocês. – peguei o envelope e caminhamos para fora, assim que todos estávamos reunidos em uma roda eu o abri e li.
- Primeiro desafio cumprido! Parabéns, agora a segunda missão de vocês é ir até o endereço abaixo e pedir o seguinte: “Quentes”. Todos deverão executar essa tarefa. – terminei e nos entreolhamos sem entender muito o que “quente” poderia dizer.
- É muito longe daqui? - perguntou.
- Não muito. – disse depois de ler o endereço no envelope. – Uns três quarteirões.
- Tranquilo, dá pra irmos andando. – se pronunciou, começando a caminhar. o seguiu, parando ao seu lado e pegando em sua mão.
- Do jeito que estamos tendo que andar, ficarei com as pernas grossas e gostosa. – disse rindo e fazendo uma dancinha engraçada.
- Do jeito que estamos eu só espero que esse tal de quente seja algo de comer, porque eu tô com uma fome de uns quarenta e sete mendigos e mais dois s. – falou e nós rimos. – Sério, eu seria capaz de comer qualquer coisa agora.
- Eu queria mesmo era uma cerveja bem gelada. – disse e minha boca encheu de água, eu estava com sede.
- Não, eu queria uma Ice. – mordeu os lábios.
- Eu queria um banheiro, porque eu tô louco pra mijar. – fez careta.
- Você é homem, cara, qualquer canto de árvore serve. – disse. Para os homens era tudo tão mais simples! começou a responder e todos embarcaram em uma conversa na qual eu nem estava prestando atenção. Minha mente parecia viajar. Para nada especifico, mas viajava. Eu estava me sentindo engraçada, eu estava agitada, feliz, sei lá. Estranha eu, não? Será que só eu sou assim? Sinto umas coisas estranhas e parece que se eu contar a alguém ninguém vai entender.
- Um chocolate por seus pensamentos. – Ryan chamou minha atenção.
- Se eu sou a única pessoa retardada do mundo. – ri da minha própria resposta. – E o que seria esse tal de quente? Eu fico imaginando se seria alguma coisa de comer, ou de beber. Ou se nos jogarão água quente, ou nos lavarão com lama quente, eu só fico imaginando o que seria. Tô com medo. – disse fazendo gestos com as mãos, não era como se eu não estivesse pensando naquilo naquele momento, porque inconscientemente eu sabia que estava. – Acho que ganhei um chocolate. – mandei-lhe uma piscadela e ele riu.
- É, acho que lhe devo um chocolate, mas eu acho que posso te dar ele quando formos ao cinema. O que você acha? – ele ergueu a sobrancelha sorrindo sem mostrar os dentes. E então eu percebi algo que me fez perceber o quão eu estava alienada por causa do .
- Dude, você tem covinhas? – eu parei, sorrindo que nem uma boba com o dedo indicador parado a meio caminho do seu rosto. É, eu parecia uma retardada.
- Tenho. – ele sorriu abertamente e suas covinhas ficaram mais fundas e fofas e lindas e ele ficou vermelho, colocando as mãos no rosto. – Para de me olhar como se fosse me morder.
- Eu posso? – pedi, batendo palminhas na frente do rosto que nem uma foca.
- Você vai ao cinema comigo? – ele barganhou.
- Você vai me deixar morder as covinhas se eu for? – ok, foi uma barganha ridícula, mas acho que já estava na hora de eu deixar de mover minha vida baseado no que acha, no que o faz e no meu relacionamento com ele. Já passou da hora de viver por mim mesma. Ryan era um cara legal, fofo e boa companhia, e não parecia haver segundas intenções em seu pedido de ir ao cinema, não era como se ele fosse me estuprar e vender meus órgãos no mercado negro se eu não fosse. Ele tirou as mãos da frente do rosto e eu pulei, rindo e soltando gritinhos totalmente ridículos, mordendo sua bochecha em seguida, de leve. Era tão fofo ter covinhas. Era meu sonho master. Dei um beijo estalado em sua bochecha. – É tão fofo. - eu disse, apertando-as e ele riu.
- Obsessão esquisita, hein, covinhas. – Ryan passou as mãos pelo local mordido. – Acho que tô ficando com medo de você.
- Eu sou perigosa, muamuamua... – eu tentei imitar uma risada maquiavélica, o que não deu muito certo e acabou que ele riu da minha cara. – Acho covinhas tão lindo. Sério, se existisse algum tipo de cirurgia que as pessoas fizessem só pra ter covinhas, eu faria.
- Tá falando sério? Você queria ter um buraco no meio do rosto? – ele me olhou como se eu tivesse problemas.
- Não é um buraco, é O buraco, lindo fofo e sexy. – mandei-lhe uma piscadela.
- Você é esquisita, . – ele gargalhou quando levou um tapa. O caminho até o segundo desafio foi rápido, não demorou muito e estávamos de frente a um tipo de barraca, com cobertura de lona laranja. Uma senhora negra vestindo uma roupa branca e uma espécie de lenço na cabeça nos olhou sorrindo conforme nos aproximávamos.
- Oi, por favor, queremos dez quentes. – pediu e a senhora falou para que nos sentássemos, porque ela iria nos servir. Sentamos todos em volta de uma enorme mesa redonda.
- Quem aí tem alguma idéia do que seja esse quente? – perguntou e todos fizeram cara de interrogação.
- Eu aposto que vai ser algo MUITO ruim. – disse.
- O meu amigo que me ajudou a organizar os desafios não vale muita coisa, então não esperem nada bom.
- , , se algo ruim me acontecer a culpa será toda sua. – disse.
- Eu agora já tenho completa certeza de que é alguma coisa de comer, porque, menina, tá brabo aqui. – sorriu ao ver a senhora caminhar em nossa direção com uma enorme bandeja. Ela depositou a bandeja no centro da mesa e todos nós nos entreolhamos.
- Quem vai ser o primeiro? – perguntou olhando estranho para o que parecia ser um bolinho, mas que eu nunca tinha visto na minha vida.
- O que é isso? – perguntou avaliando.
- O nome disso é Acarajé, é uma comida típica do Brasil. – a senhora disse alto de dentro da sua barraca.
- Esse é o momento em que eu acho que ela tem audição super ninja? – Ryan falou baixinho olhando assustado na direção da moça, fazendo-nos rir.
- Quem vai se arriscar primeiro? - perguntou.
- Eu. – pegou o bolinho. – Isso até que está com uma cara ótima.
- Espera! – disse antes que ela colocasse na boca. – Todos deveríamos comer juntos, assim ninguém escapa, e deveríamos pedir alguém pra filmar. – todos concordamos e ele chamou a mesma senhora que havia nos dado o bolinhos, ligando seu celular e entregando-o a ela. Pegamos nossos próprios bolinhos.
- No três, hein? – falou. – Um, dois, três. – todos nós abocanhamos o bolinho. Não era ruim. Não mesmo. Mas tinha alguma coisa diferente. Muito diferente. Algo que ardeu meus olhos e me fez pensar em fogo.
- PIMENTA! – gritou cuspindo. Eu engasguei, não pela pimenta que queimava e ardia meus olhos, fazendo com que lágrimas descessem sem minha permissão. Mas sim pela cena. havia cuspido em cima de , que tinha a boca aberta ainda com o alimento nela gritando para soprar, mas o mesmo tossia bufando. abanava a própria boca, Ryan havia cuspido no chão e havia cuspido para a frente, acertando , que o xingava e cuspia. – Água, moça. ÁGUA! – pedia desesperado para a moça.
- Desculpa, mas tenho ordens de não dar água. – ela disse rindo de nossa cara.
- Porra, SOPRA. – abriu a boca para que soprasse, mas o mesmo puxava o ar para sua própria boca, numa tentativa de se “auto soprar”.
- Isso aqui é gostoso. – continuava comendo seu bolinho como se não estivesse temperado apenas com pimenta e aquilo não estivesse queimando sua boca. Sério, essa garota é adotada.
- Você é louca? – a olhou estranho. – Esse treco queima até a minha alma e você está aí comendo de boa?
- Eu achei gostoso, ué. – ela deu de ombros continuando a comer o bolinho e eu era quem abanava minha própria boca.
- Ajuda aí? – Ryan perguntou, fazendo careta e abanando minha boca. Ri da cena, agradecendo com a boca aberta, e comecei a abanar sua boca assim como ele fazia com a minha.
- Muito obrigada por gravar, moça. – pegou o celular da mão da senhora, que saiu andando anda rindo da nossa cara, mas voltou segundos depois trazendo um envelope branco em mãos.
- Isso aqui é pra vocês. – ela entregou um envelope nas mãos de , que não demorou a abrir. – Parabéns! Desafio dois cumprido. Agora para compensar a pimenta, vocês irão atrás de água. Na próxima rua há uma praça, e no meio dessa praça, uma fonte. A missão de vocês é pegar dinheiro o suficiente ali para ir até o centro da cidade. Não haverá envelopes escondidos até o quinto desafio, portando, siga as instruções desse por partes. Por enquanto é só.
- Essa é fácil. – disse limpando a boca. – Quem nunca roubou dinheiro da fonte dos desejos, gente? – todos nós a encaramos incrédulos. Quando eu digo que essa menina só pode ser adotada, ninguém acredita em mim!

’s Pov
Todos estavam parados de frente à fonte dos desejos e sem um pingo de coragem de cumprir o próximo desafio. A praça na qual a fonte ficava estava cheia de gente, que a cada vez que passava nos olhava estranho, talvez pensando que iríamos assaltar alguém. Veja bem, dez adolescentes parados olhando para um mesmo lugar em silêncio e concentrados, provavelmente com cara de maus – não que seja de propósito, mas o gosto da pimenta ainda me fazia fazer careta toda vez que engolia saliva. Eu também pensaria que iria ser assaltado. É uma reação óbvia. Talvez se todos pensassem que éramos assaltantes iriam embora, assim poderíamos roubar o dinheiro sem problemas. Dude, isso realmente fazia de mim um assaltante! Quem disse que a vida é fácil? Ela não é!
- ! – me puxou pela blusa cochichando: – O que a gente vai fazer, cara? – ela falou de forma engraçada e eu senti um cheiro engraçado de álcool. Só então prestei atenção em sua mão. Ela tinha uma garrafa de vodka.
- Líquido! – eu quase gritei, roubando sua garrafa. – Onde você arrumou isso? – perguntei, dando uma golada que desceu queimando mais que a pimenta, mas ainda assim o gosto era melhor, bem melhor.
- Água! – pulou animada, pegando a garrafa de minhas mãos.
- É Vodka, amor, nem sei onde essa pinguça arrumou! – disse me virando para , que riu. - Eu sou uma menina prevenida. – ela riu, tirando outra garrafa de dentro da mochila que carregava nas costas. De onde essa menina tinha tirado isso? É uma cachaceira mesmo! – Vocês estavam tão distraídos, eu comprei ali, ó. – ela apontou uma barraca, onde alguns caras bebiam.
- Você é rápida. – disse rindo e tomando a garrafa das mãos de . , e bebiam da outra garrafa que havia comprado. – Vai, ? – perguntei ao meu amigo, que ainda estava parado olhando a fonte.
- Quero não, valeu. – ele respondeu indiferente sem nem olhar em nossa direção direito. Eu queria entender o que estava se passando entre e , ao dirigir meu olhar à última notei o quanto ela estava rindo de algo idiota que Ryan deveria estar falando. Já que era com ele que ela conversava. bufou em seu canto e eu me aproximei.
- O que aconteceu com vocês? – perguntei, colocando as mãos no bolso. – Não adianta dizer que nada, não sou idiota, nem cego e nem surdo. A te deu um fora hoje no meio da rua, não está nada bom pro seu lado.
- Ela está puta comigo e nem quer me escutar. – ele passou as mãos pelos cabelos. – Eu sei que eu vacilei, mas, porra, custava ela apenas me escutar? – ele bufou novamente.
- O que você fez? – comecei a pensar que talvez eu não quisesse muito ouvir o que ele havia feito. Eu sentia um instinto de proteção em relação à engraçado, e isso estava me fazendo pensar que estava próximo de tomar um soco a qualquer momento.
- Dude. – ele passou as mãos novamente nos cabelos. Olhei para trás, o resto do pessoal conversava animado um pouco distante de nós, compartilhando a bebida e olhando a fonte como se planejassem como roubá-la.
- Desembucha logo, . – disse já impaciente, olhando novamente para o grupo e meus olhos se focaram em , que continuava rindo e enfiando o dedo na bochecha de Ryan, o cara até que parecia ser legal.
- Eu fiquei com a no domingo, logo depois de ter beijado a . – eu deixei que o silêncio predominasse ao invés de acertar um soco na cara dele. Juro que essa foi minha vontade. Filho da puta! Como ele poderia ter feito isso com a . Não disse nada, apenas virei as costas e o deixei lá sozinho. Sim, eu estava puto. Parei no meio do caminho e voltei, chegando próximo a novamente.
- Você tem noção do quanto você é idiota? Ela é sua melhor amiga, cara, você pode magoar qualquer um menos ela! Você sabe que ela gosta de você e resolve agir que nem um otário logo com ela? Que merda você tem na cabeça? – perguntei controlado para que as outras pessoas não percebessem. – Eu achava que você era um idiota, mas agora eu já tenho completa certeza. – saí pisando duro. Eu não queria mais papo com o , não por enquanto. – E aí, alguém teve alguma idéia? – perguntei quando cheguei ao grupo, que parecia realmente estar organizando um assalto.
- A teve a idéia de começarmos a fingir que estamos brincando de pique e pega, e então alguém “cai” dentro da fonte e todos nós nos jogamos depois e começamos a pegar o dinheiro. Toda vez que um tiver o dinheiro o suficiente pra sua própria passagem sai da fonte e vai correndo para aquela rua ali, – apontou para a rua seguinte – e espera o próximo, porque provavelmente o guarda vai querer correr atrás da gente. É aí que os meninos entram. Por que vocês vão dar um olé nele. – ela apontou com a cabeça para o guarda que nos olhava com cara de desconfiado parado do outro lado da pracinha.
- Tá, e a gente vai literalmente se jogar mesmo na fonte? - perguntou. – Tipo, Vamos ficar todos molhados?
- É, ninguém vai morrer, não. – disse rindo, se aproximou mais do grupo.
- Então vai ser isso? Apenas um pique pega que vai terminar na fonte? – parecia interessado.
- Sim. – todos concordaram e acrescentou: - Eu filmo, não posso me molhar, problemas femininos. – ela disse sorrindo sem mostrar os dentes e pegando o telefone. (N/A: aperte Play)
- O último a tocar está com o pique. – disse colocando as mãos no meio, todos se entreolharam e colocaram as mãos em seguida, apressados para não serem os últimos. Eu fui o segundo.
- NÃO ESTÁ COMIGO – saiu correndo gritando, sobressaltando algumas pessoas por perto. Eu fiz o mesmo, gritando a mesma frase e começando a correr com os braços abertos. Eu não havia nem bebido, mas a sensação que eu tinha naquele momento era de estar bêbado, talvez de felicidade? Fala sério, o que seria melhor do que estar com seus melhores amigos em uma sexta feira à noite e se divertindo?
- Isso é injusto! – gritou rindo antes de começar a correr atrás de , que ria e pulava por cima de alguns bancos vazios

I remember every night we spent on weekends
With good friends
We did nothin' but it seems like we did so much
Back then
Oh back then we would kick it and laughin' all relaxin' and taking things for granted
We did anything just for a little rush


- Você não me pega, cara de meleca! – balançou as mãos próximas ao rosto, dando língua à amiga, e todos rimos de , que fez cara de enfezada, mas mudou de direção, encostando-se a , que estava distraído olhando . Ih, tá apaixonado mesmo.
- CORRE, NEGADA. – ele colocou os braços para trás e imitou um touro correndo atrás de , que ria, pulando também por cima dos bancos e passando por alguns casais que riam da nossa cara. foi a primeira a pular na fonte.

Just don't forget this, we won't regret this
We've got one chance to get it right


- Hey, o que você pensa que está fazendo? – o guarda levantou do seu lugar, caminhando em direção à fonte. Corri em sua direção e percebeu o que eu iria fazer. Fiquei atrás do guarda, escondendo-me e fazendo olé com o . – Será que vocês poderiam me deixar passar? – o guarda se sobressaltou. – Existem meninas tomando banho na minha fonte. – olhei para a fonte e agora todas as meninas estavam dentro da fonte caçando moedas. - ELAS ESTÃO ROUBANDO A MINHA FONTE! – ele gritou, esquivando-se, mas , Ryan e nos ajudaram a cercá-lo e começamos a dançar em volta do guarda, que ficava cada vez mais puto e vermelho. As pessoas riam demais.

We're alive and we drive to the center of it
Where we know we're all fine and this just can't be it
And in the end we all know we only breathe for so long
So tonight's the night
We all roll along


- PEGUEI O SEU, RYAN. – gritou, saindo de dentro da fonte e correndo.
- EU TAMBÉM PEGUEI A MAIS. – gritou.
- FONTE! – gritou e todos corremos para a fonte caindo de joelhos nela. Talvez não, mas acho que fui o único idiota que meteu o joelho no chão, e doeu. A água não tapava nada, era totalmente raso. Minhas mãos investigavam o fundo à procura de moedas. Eu não contava nenhuma delas. Apenas pegava.

Back to our first cigarette
You know we can't forget all of the faces we've met
Eight One Twenty Three means everything to me
Take me back to the parking lots
The sleep we fought
All the places we got caught
This place will always be part of me
Yeah, you're all a part of me


Dois guardas apareceram não sei de onde e o desespero bateu.
- CORRE, NEGADA. – eu gritei, enfiando as moedas dentro do bolso, e comecei a correr. nos seguiu e não demorou muito para que alcançássemos as meninas um pouco mais à frente, mancava, e eu tive plena certeza de que eu não tinha sido o único idiota a meter o joelho no chão.
Just don't forget this, we won't regret this
We've got one chance to get it right

We're alive and we drive to the center of it
Where we know we're all fine and this just can't be it
And in the end we all know we only breathe for so long
So tonight's the night
We all roll along


Eu não fui o único a perceber que mancava, Ryan estava bem atento a isso, e então ele parou, pegando-a no colo e voltando a correr com ela rindo e falando idiotices. Ela aprecia uma boneca pendurada em baixo de seu braço e eu ria disso. Minha amiga estava feliz, rindo de verdade, e pela primeira vez eu a via fazendo isso independente de . Peguei nas mãos de , que quase não aguentava mais correr. E olhei para tras, os guardinhas ainda corriam em nossa direção. Então, seguindo o exemplo de Ryan, fiz o mesmo com a minha namorada.

I remember every day that I spent dreaming
Of leaving
This place behind I would run away from thinkin'
Adding up all the days spend wasted
Chasing the girls we hated
Some things, well they never change
Take me back to the sleepless nights
The stupid fights
It never mattered who was wrong or who was right
You're all a part of me


- Hey menino, me leva também. – cutucou as costas de , que me olhou e olhou para Ryan e , os dois pareciam meio alienados, sem dar atenção às coisas ao redor, apenas corriam e riam de coisas que os dois falavam um para o outro. Pude ver o olhar de seguir naquela direção e seu sorriso murchar nos lábios, mas o despertou pedindo para subir nas costas dele, assim como tinha feito em , e agora em . Todos os meninos pareciam burros de carga. O que me fez gargalhar.

We're alive and we drive to the center of it
Where we know we're all fine and this just can't be it
And in the end we all know we only breathe for so long
So tonight's the night
We all roll along


Só paramos alguns minutos depois, quando as guardinhas já haviam desistido de nos perseguir, as meninas desceram do colo e se ajeitaram.
- E agora? - perguntou ainda meio ofegante.
- E agora é partir pro centro da cidade. – disse rindo e caminhando em direção ao ponto.
- E ainda temos mais dois desafios pela frente. – eu disse erguendo as mãos aos céus.
- Mais dois desafios. – repetiu rindo e empurrando Ryan com a cintura, que também riu e retribuiu o feito. Eu sentia que as coisas começavam a mudar. Se para bom ou ruim, bem, isso apenas o tempo iria dizer.


Parte II

Música do capítulo : Spice Girls – Wannabe


Eu ria que nem uma maluca no meio da rua, e o problema era que eu não fazia a mínima ideia de por que eu estava rindo. Talvez eu estivesse rindo porque os meus amigos são um bando de retardados e nós havíamos fugido de policiais. Talvez porque o e o estavam fazendo imitações tocas de algum cara que eles viram em um jogo de futebol americano. Talvez por que acabara de tropeçar e quase cair no chão, ou talvez porque eu não aguentava ver e Ryan implicando um com o outro, os dois são simplesmente hilários. Ela faz piada de tudo, e ele também. Ou talvez porque o Ryan, que é um cara bem gatinho, estavs me dando mole. Ou era só coisa da minha cabeça? Ou então porque meu joelho amanheceria provavelmente com uma bola roxa, já que eu tinha dado com ele no chão da fonte, mas eu não estava muito preocupada com isso. Eu só tinha vontade de rir. De rir muito. E eu me sentia bem por isso. Mas ainda assim havia um vazio. Talvez fosse o efeito da cachaça. É, porque aquele treco era cachaça. E das ardidas, meu bem.
- O joelho parou de doer? – Ryan perguntou chegando ao meu lado novamente e eu me virei para ele. Eu conversava com e .
- Já, eu tenho certeza que amanha vai estar roxo, mas não tô ligando muito não. – dei de ombros.
- Gente, pelo amor de Deus. Esse bar aí que mandaram a gente encontrar fica onde? Na China? – reclamou já emburrada, já fazia uns bons vinte e cinco minutos que havíamos chegado à ENORME avenida a qual o envelope nos direcionava e nada de encontrarmos o lugar que ele mandava. Havia vários bares, pubs e boates naquela rua. E ela era bem movimentada.
- Não é aquele ali? – disse do nada, apontando para um lugar com forte iluminação do lado de fora e UMA PORRADA de gente esperando na fila.
- Esse mesmo. – confirmou o nome olhando o envelope.
- Estamos ferrados! Nem fodendo nós vamos conseguir entrar aí antes da meia noite. – disse.
- Tem dez passes livres aqui dentro. – tirou os passes de dentro de outro envelope que estava dentro do envelope. Todos nós comemoramos. Seria um BAITA tempo economizado.
- Não seria melhor lermos aqui mesmo qual o próximo desafio? Lá dentro vai ter muita gente, som alto. Vai estar a maior bagunça. – disse e todos concordaram. Nos reunimos mais próximos para que pudesse ler o próximo desafio.
- “Achado o local indicado, vocês deverão dar um jeito de subir até o palco principal que fica no meio do Pub e dançar Wannabe – Spice Girls. A parte do grupo que não executou as tarefas das lingeries deve executar essa.” - todas nos entreolhamos com cara de riso.
- Nada que nós já não tenhamos feito bêbadas na sua casa, não? – e eu batemos a mão em um High Five.
- Bom, eu fiz strip-tease no meio da festa do colégio, dançar Wannabe vestida em um pub lotado onde pessoas podem ter câmeras e esse vídeo pode ir parar no Youtube e quem sabe na caixa de entrada do email do meu pai resultando no meu castigo eterno não é nada demais. – eu dei de ombros.
- Essa eu realmente quero MUITO ver. - disse maroto, pegando o passe livre que lhe estendia.
- Quem vai dar um jeito de pedir ao DJ pra colocar essa música? – perguntou.
- Eu fico com essa parte - disse. – E eu filmo também. – ele pegou seu próprio passe livre, seus olhos em momento algum se viraram pra mim, e por mais que eu me sentisse agradecida por isso, eu me sentia estranha. Sacudi minha cabeça, virando-me para Ryan.
- Não quer dançar com a gente, não? – mandei-lhe uma piscadela.
- Eu prefiro apreciar a paisagem. – ele sorriu fofo. - E vou estar bem na sua direção se você resolver jogar alguma peça de roupa para o público. – ele sorriu de forma meiga, beijando-me a ponta do nariz antes de sair andando. Senti-me surpreendida pela atitude e ao mesmo tempo achei fofa.
- Se está tentando me fazer ciúmes, não esta dando certo. – disse passando por mim e seguindo na mesma direção que os outros andavam. Bufei alto revirando os olhos e seguindo a mesma direção. - Acorda, meu mundo não gira ao seu redor. – disse quando estava ao seu lado e então ele me olhou nos olhos. Acho que nunca fui tão fria e indiferente com o . Nunca em minha existência. – . – eu gritei quando ela comprava uma pulseirinha que acendia. – Eu quero uma. – parei ao seu lado, escolhendo minha pulseirinha. Por que minha cabeça tinha que ficar tão mexida com um simples olhar, ou uma simples palavra dele? Por quê?
- Qual o problema entre vocês? – segurou a pulseira em minha mão e me olhou nos olhos. – , pelo amor de Deus, eu te conheço há dias, mas dá pra perceber que por mais que você esteja rindo, tem alguma coisa por trás dos seus olhos que está te matando por dentro. Vocês dois estavam ficando, não estavam? – ergui meus olhos a .
- Como você sabe disso? – eu perguntei, eu não achava que era muito óbvio. Acho que eu até que sei disfarçar bem.
- Eu tenho vinte e três anos, . Psicologia era o ramo que eu ia seguir, eu observo as coisas. A forma que ele olha pra você, a forma que ele olha pro Ryan, a forma que você olha a sua irmã, a forma que você olha pra ele. A forma que ele mesmo fica. O que aconteceu com vocês? Vocês não são melhores amigos?
- Eu fui uma estúpida e cometi um erro idiota! – eu disse batendo na minha própria testa. - Eu fiquei com ele mesmo sabendo que ele namorava a minha irmã. Mas era porque tinha tanto tempo que eu queria e foi um erro imbecil ter feito isso e... – segurou minha mão e sorriu.
- Não foca no erro, quando a gente esta apaixonada a gente faz tanta coisa que até Deus duvida. Mas o que aconteceu depois que vocês ficaram? Ele te deu o fora e continuou com a sua irmã?
- Não. Antes fosse. – eu sorri sem vontade. – Ele disse pra mim que ia terminar com ela e que estava realmente a fim de mim, só que ele transou com ela no mesmo dia que me beijou.
- Ain. – ela fez careta olhando discretamente para . – Filho da puta seu amiguinho, hein! – concordei com a cabeça. - Agora qual o dilema com a sua irmã? Pelo que eu soube vocês duas não se davam muito bem e agora estão agindo normal uma com a outra.
- Nenhum. – respondi rápido. Afinal, era um segredo de , não meu. – Ela é minha meia-irmã. Acho que já estava na hora de deixarmos de ser infantis. – me olhou não acreditando que esse fosse o real motivo. – Acho que é melhor irmos, ainda temos mais dois desafios depois desse. – forcei um sorriso. Eu me sentia leve e bem, mas ao mesmo tempo pesada e estranha. Seria possível?
- Ok. – e eu seguimos na direção que o resto do pessoal estava. Entregamos nossos passes livres e em menos de cinco minutos já estávamos dentro do pub, ele era simplesmente enorme e cheio. Não era uma festa da escola em que eu bebia e subia ao palco. Era um pub cheio, com gente desconhecida, e eu teria que invadir o palco principal.
- Eu preciso de uma bebida. – eu disse quando alcancei meus amigos, que estavam todos parados em frente ao palco.
- Precisamos. – concordou comigo. – Acho que não vou conseguir.
- É claro que vamos. – disse mais do que empolgada. – Gente, eu já fiz coisa bem pior do que isso, podem crer. Anda, vamos tomar uma dose e botar pra quebrar porque só temos mais uma hora e pouquinha pra fazermos mais duas tarefas e eu não quero perder esse negocio, não. – ela seguiu para o bar.
- Eu aposto que você vai chegar lá em cima e se soltar. – Ryan apareceu do meu lado, às vezes eu achava que ele brotava do chão. Porque do nada ele estava ali.
- Acho que não, hein, já viu quantas pessoas tem ali, cara? Tô ferrada. – eu coloquei as mãos no rosto.
- Faz o seguinte, se você ficar com vergonha olha pra mim, eu te conheço e sou seu amigo, você não precisa ter vergonha de mim. – ele piscou.
- Ai, meu Deus, eu tô me sentindo com dezessete anos de novo! – chegou, pendurando-se em Ryan e eu. – Isso é tão legal. Spice Girls, eu passei minha adolescência querendo ser que nem elas.
- , você precisa entender que você não tem mais idade pra esses surtos. – Ryan disse sério como se fosse um pai e ela lhe mandou língua.
- A idade tá na mente, oh, boboca.
- Concordo! – agora quem brotou do chão foi . – Essa parada de idade não tem nada a ver, porque meu avô é parceiro e já ta pra lá dos sessenta há muito tempo. Ou ele é jovem de mente...
- Ou você que é um retardado. – deu um pedala no menino, que devolveu.
- Não. Agora é sério, essa parada de idade pra mim é só fichinha. Você pode ser maduro com dezessete e infantil com trinta e seis.
- Hoje tudo o que eu quero é ser um cara de dezessete anos aproveitando com os amigos. – encostou-se ao balcão à nossa frente, tirando a carteira do bolso. – Psiu, dez doses do mais forte que você tiver. – ele se dirigiu ao bar tender. – Por minha conta, só pra vocês ficarem animadinhas. - o bar tender depositou os copinhos com as bebidas no balcão e todos nós nos aproximamos, pegando nossas doses.
- Hey, você não pode, aquele antibiótico que você está tomando, lembra? – eu tomei o copo da mão de . – Eu tomo por você, honey. – mandei uma piscadela e pronunciei o “honey” de modo debochado. Eu também sentia um pouco de raiva dela por estar grávida. Que saco. Eu não conseguia sentir a raiva que eu queria sentir, porque na verdade eu estava era com um pouco de pena. – Um refrigerante aqui pra Limonaja, quero dizer, . – eu lhe mandei uma piscadela e ela revirou os olhos. Virei minha própria dose, sentindo a garganta queimar e os olhos lacrimejarem. Ainda na empolgação, virei a dose que seria de . De olhos fechados, a bebida desceu por minha garganta ainda queimando, mas não tanto quanto a primeira. Quando abri os olhos as coisas pareciam um pouco fora de foco, mas quem se importa. Porra, eu tenho dezessete anos e acabei de sofrer uma desilusão. Não era a primeira e provavelmente não seria a última, tudo o que eu tinha que fazer era mandar a bola para frente porque atrás vem gente. Chega de chorar por , chega de tudo. Não era a primeira vez que eu pensava dessa forma, mas seria a primeira vez que eu seguiria a risca meus pensamentos. Eu cansei de toda essa palhaçada. A única coisa que eu queria é ligar o foda-se e ser feliz.
- Vamos, meninas? – eu coloquei os copos no balcão e elas concordaram, seguindo-me.
- Mais uma apresentação e . – disse e batemos nossas mãos em um cumprimento besta.
- Vamos colocar pra quebrar. – nos mandou uma piscadela.
- Quem invade primeiro? – perguntou com o rosto vermelho, ela estava com vergonha. Todas nos entreolhamos. Todas estavam empolgadas pra fazer, mas ninguém queria ser a primeira. Meu olhar se encontrou com o de e eu reconheci aquele brilho.
- Vamos? - ela me perguntou e eu acenei com a cabeça. Já estávamos de frente ao palco do meio. As pessoas não prestavam atenção na gente. Seria fácil invadir, afinal, havia só uma corrente que impedia a subida das escadinhas. Nada que não pudéssemos pular. As pessoas pulavam ao som de alguma musica eletrônica que do nada parou. Entreolhamo-nos e olhamos para a direção do som, onde estava na cabine. Era a hora. e eu pulamos a corrente, as outras meninas ainda ficaram. Elas só viriam depois de ver as duas bobas aqui pagando mico. Cagonas.
- E aí, Little Sister, preparada pra botar pra quebrar? – perguntou quando estávamos já lá em cima, mas ninguém ainda havia nos percebido, todos estavam aturdidos olhando a cabine esperando que o som voltasse.
- Sempre. – eu lhe mandei uma piscadela. E então, não sei como as luzes ao redor se apagaram e a única que ficou acesa foi a do palco, as pessoas nos encararam e eu gargalhei, olhando . Já que era pra fazer, então que eu faça decentemente, não? E então a música começou a tocar.

Yo I'll tell you what I want, what I really really want,
So tell me what you want, what you really really want,
I'll tell you what I want, what I really really want,
So tell me what you want, what you really really want,
I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really
really really wanna zigazig ha.

e eu começamos a dançar que nem duas malucas chamando a atenção das pessoas ali na nossa frente, que começaram a rir. Algumas até dançaram junto.

If you want my future forget my past,
If you wanna get with me better make it fast,
Now don't go wasting my precious time,
Get your act together we could be just fine.

Virei-me, olhando para a entrada do palco à procura das outras meninas, que brotaram lá também. Todas nós fazíamos a mesma dancinha. E gargalhávamos que nem um bando de malucas. Eu simplesmente estava adorando estar ali rindo com minhas amigas de mais uma coisa idiota que estávamos fazendo.

I'll tell you what I want, what I really really want,
So tell me what you want, what you really really want,
I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really
really really wanna zigazig ha.

Eu jogava os cabelos, rebolava e curtia amarradona as pessoas nos olhando e gostando da nossa performance de Spice Girls. e eu dançamos uma com a outra e depois nos colocamos todas umas do lado das outras, dançando minha parte predileta da música.

If you wanna be my lover, you gotta get with my friends, Make it last forever friendship never ends,If you wanna be my lover, you have got to give,
Taking is too easy, but that's the way it is.

Eu não sei como, eu não sei quando e nem sei o porquê, mas todos os meninos apareceram no palco fazendo a mesma dancinha junto conosco. PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER. Ryan dançando Spice Girls. Alô, mãe? Então, eu quero apertá-lo. Ele chegou perto de mim e eu dancei com ele.

What do you think about that now you know how I feel,
Say you can handle my love are you for real,
I won't be hasty, I'll give you a try,
If you really bug me then I'll say goodbye.

Sabe, eu não queria mais me importar com as coisas ao meu redor, eu queria viver aquele momento curti-lo junto com meus amigos, aproveitar cada instante sem me lamentar de nada. Eu queria aproveitar essa minha nova fase com a minha irmã. Eu queria aproveitar essa minha nova amizade com Ryan e com a . Eu queria aproveitar tudo ao máximo e deixar o resto para lá. Quem sabe essa gravidez de não fosse tão ruim. Talvez fosse só um inicio de uma nova fase em nossas vidas. Quem sabe? Há males que vem para o bem, não?


Pov

Estávamos todos reunidos sentados no meio fio próximo ao pub de , já havíamos voltado e estávamos cansados. Eu sinceramente havia achado que quando as meninas subissem ao palco iriam tirar elas dali correndo, mas ao invés disso um cara chegou até a mim na sala de som, que eu havia invadido com , e me entregou um envelope, dizendo que esse seria o próximo desafio. Legal. Pelo menos não teríamos que sair dali carregados por seguranças. E a coisa que havia escrito no envelope do lado de fora era: Leiam quando já estiverem próximo ao ponto inicial dos desafios, ou seja, a Poison.
- Que remédio você está tomando? – perguntei a , que mexia em uma pedrinha no chão sentada ao meu lado, todos nós estávamos descansando cinco minutinhos. Havia cansado dançar lá no palco e estava calor. Eu queria saber que remédio era esse que estava tomando, afinal, ela era minha namorada e eu não sabia de nada disso.
- É tipo uma vitamina por causa do dia em que eu desmaiei. – ela tentou sorrir, mas ela não sorriu de verdade. Essa era uma das coisas que ela tinha em comum com a , ela poderia até sorrir com os lábios, mas seus olhos não enganavam ninguém.
- Está acontecendo alguma coisa que eu não sei? – perguntei, olhando-a dentro dos olhos. – Essa mudança repentina no seu relacionamento com a ? Ou algo a mais?
- Não. – ela deu de ombros. – Acho que eu e a estamos entendendo que nossas brigas não vão levar a lugar algum. - ela voltou a olhar pra baixo. – , nós precisamos conversar.
- Então vamos conversar, ué. – eu disse, começando a mexer em alguma pedrinha no chão também. e eu não estávamos normais um com o outro. Eu sabia disso, ela sabia disso. Eu me sentia um filho da puta traidor. Com as duas s. Era a primeira vez que eu traía uma namorada. Mas eu não conseguia me sentir arrependido. Eu faria tudo de novo. Motivo pelo qual eu terminaria com no final daquela noite.
- Não aqui, não agora. – ela pediu e eu concordei, olhando pra frente, de onde Ryan e vinham segurando dois litros de refrigerante e alguns copos descartáveis. Eu sentia uma raiva absurda por vê-los tão perto. Afinal, ele estava ocupando um lugar meu. Ela era minha melhor amiga. Comigo que ela era sempre colada, não com aquela coisa estranha com buraco na bochecha que ela fica insistindo em enfiar o dedo. Eles serviram refrigerante a todos e eu senti vontade de enfiar a mão na cara daquele imbecil quando ele me serviu, mas me contentei apenas em falar um valeu e beber a porra do líquido. Eu estava puto. SIM, EU ESTAVA PUTO. Muito puto. Eu queria entender como eu pude ser tão idiota de deixar a minha vida a porra da confusão que estava. Caralho, só falando assim. Eu queria entender por que eu simplesmente não percebi antes que era da que eu gostava.
- Então vamos ler esse desafio logo. O tempo já esta ficando curto. – se levantou, parando à minha frente, entreguei o envelope a ela. Não estava a fim de ler nada. Na verdade eu já estava cansando desses desafios, por mais legais que estivessem sendo, me matem, mas eu fico pensando em como estariam sendo se eu não namorasse , o Ryan não existisse e a e eu estivéssemos juntos. Eu que teria carregado ela no colo vindo da fonte, eu que estaria dançando com ela no palco. Eu. Não ele.
- “Vamos aos próximos desafios”. – leu e todos paramos para prestar atenção nela. – “Parabéns, vocês estão indo muito bem até aqui. Agora, em algum jogo de sorte, escolham dois participantes para cumprir o próximo desafio.”- entreolhamo-nos. – Vamos no zerinho ou um? Os dois primeiros a sair cumprem o desafio. – todos concordaram e mais uma vez nos reunimos em roda, erguendo as mãos fechadas na altura dos ombros.
- Zerinho ou um. – todos abaixaram as mãos juntos. , , e fizeram zero. , , , Ryan, e eu fizemos um. Fomos novamente. – Zerinho ou um. - , , , , , , Ryan, e eu fizemos zero. um.
- fora, você vai cumprir o desafio. – disse. Vamos tirar quem vai ser o próximo. Com fora da roda, erguemos nossas mãos novamente. – Zerinho ou um. , e fizeram zero. ,Ryan, , , e eu fizemos Um. Todos ergueram as mãos novamente. – Zerinho ou um. - todos fizeram zero, eu fui o único que fiz um.
- vai cumprir o desafio com a . – disse e o olhar que a fez me desanimou totalmente. Isso não daria certo. Não mesmo.
- Vou ler o que mais diz no envelope. – prosseguiu. - Os dois escolhidos deverão seguir até o cemitério da Rua Ambley. O desafio de vocês é: filmar um dos dois cantando e dançando YMCA de dentro de uma cova aberta. Os demais deverão seguir até o lago que fica próximo à rua Waterside, a função de vocês é: achar um reptil, capturá-lo e tirar uma foto com ele antes de devolvê-lo ao lago. Serão dois desafios cumpridos ao mesmo tempo. Haverá um envelope extra na lixeira vermelha na lateral do pub onde um desafio extra estará escrito. Boa sorte.”
- Cemitério? – quase gritou. – Isso é sério? Eu não vou ao cemitério. – ela choramingou, levando as mãos à boca, ela sempre roia as unhas quando estava ansiosa.
- Sorry, , mas você foi a primeira a sair, nem podemos mudar isso. – disse e fechou a cara. Ela odiava cemitérios, e no momento ela estava me odiando. Seria uma péssima experiência para ela. Bom, já eu via como uma oportunidade de conversarmos. Eu precisava falar com ela, explicar-lhe algumas coisas. Contar a ela que eu terminaria com no final daquela noite. Porque como eu já havia dito, era com ela que eu queria ficar.

Todos haviam nos deixado na porta do cemitério e agora seguiam para seu destino: o lago a três quadras de distância. Eu podia sentir a tensão de , era quase possível tocá-la. E me deu vontade de rir.
- Sabe , você deveria ter medo dos vivos. Os mortos não vão fazer nada a você. – eu disse com meio sorriso nos lábios e ela revirou os olhos.
- Quero ver você dizer isso quando acontecer o apocalipse zumbi. – ela revirou os olhos ainda emburrada, entrando no cemitério na minha frente. Ela tinha os braços cruzados na frente do peito e batucava impacientemente a mão ao braço. Ela estava com medo.
- . - segui no seu encalço. – Eu vou terminar com a hoje. - disse, ela precisava saber. Eu queria que ela soubesse.
- Eu que vou ter que descer, você tem forças pra me puxar de volta, já eu não. Me ajuda a descer. – ela disse, parando de frente a uma cova. Eu segurei em sua mão, ajudando-a a descer. – Eu não quero que você termine com ela e não quero que você faça mais nada na sua vida que possa ter alguma relação comigo.
- . – eu me sentei na cova com as pernas para dentro e ela me encarou ainda emburrada. – Eu fui um idiota, eu sei. E eu estou te pedindo perdão. Tudo o que eu estou te dizendo nesse momento é que eu vou terminar com a . Por que é com você que eu quero ficar.
- , o problema não é terminar com ela agora. Nós não deveríamos nem ter começado isso. - eu senti mágoa na sua voz. - Você me conhece, . Ela é minha irmã. Você, meu melhor amigo. Por mais que nós estivéssemos sentindo atração um pelo outro, tinha mais uma pessoa envolvida nisso e nós dois erramos em ter começado. O importante agora é que acabou. – ela engoliu a seco. – Como eu já te disse, eu sempre soube que você tinha uma namorada. Eu só pensei que comigo você agiria de forma diferente. Mas não.
- Eu não quis te magoar. – eu sacudi as pernas no ar. E ela olhou pra baixo. Eu realmente não queria. sempre foi uma das pessoas com quem eu mais me preocupei no mundo, e agora cá estou eu. Percebendo que a nossa amizade estava escapando por meus dedos. – Você nunca foi que nem qualquer outra.
- Tem certeza? – não era uma pergunta. Ela sentia como se tivesse sido que nem as outras.
- Você ainda pergunta? – eu quem me senti magoado dessa vez. Ela simplesmente achava que era que nem qualquer outra garota. Com ela que eu havia passado a maioria dos meus dias, com ela que eu sempre me preocupei, meu mundo quase sempre girou ao redor dela e um erro que eu cometo, puft. Acabou-se amizade? - Então é assim, você vai deixar isso interferir na nossa amizade? – eu me ergui não mais ficando sentado e sim agachado, olhando-a.
- Será que a gente pode chamar isso de amizade mesmo? - ela pareceu um pouco alterada. - Que e me lembre amigos de verdade não mentem um pro outro. – ela acusou.
-Jura? Então você vai querer acabar com a nossa amizade de sei lá quanto tempo porque eu cometi um erro e você não quer aceitar minhas desculpas. Você quer falar sobre mentiras, então vamos falar sobre todas as vezes que você mentiu pra mim dizendo que nunca tinha ficado com o . Porque eu acho que algumas vezes que eu perguntei você já tinha ficado, né? Ou então me fale sobre esconder um sentimento que você tinha por mim. Porque eu acho que todas as vezes que te perguntei se você gostava de alguém você também mentiu, me corrija se eu estiver errado.
- São casos totalmente diferentes. – ela disse mais impaciente. – Que merda, , eu não quero mais conversar, ok? Eu só quero cumprir o caralho desse desafio e sair dessa cova idiota. – ela descruzou os braços. – Você está certo. Eu menti. EU MENTI. Satisfeito? Eu menti, mas depois eu disse a verdade. Eu não fiz nada na intenção de magoar ninguém, na verdade eu fiz tudo na intenção de NÃO ME magoar, mas não deu muito certo, né? Já que eu entrei nisso de cabeça, mas acabei dando com ela no chão. – ela passou impaciente a mão no cabelo, não sei se era só pela discussão que ela estava impaciente, afinal, odeia cemitérios. – Isso tudo foi um erro, , só um erro que eu quero esquecer.
- Que droga, , um erro? Isso que você acha que foi? Ótimo, se você acha que foi um erro, então tudo bem. – eu me alterei. - Eu estou te pedindo desculpas e dizendo que é com você que eu quero ficar. Se isso não for suficiente então eu não sei mais o que fazer. Agora você fica aí, toda se engraçando pra cima desse Ryan, você nem o conhece. – eu quase gritei. Eu sentia raiva de mim, eu sentia raiva dela, eu sentia raiva do tal do Ryan. Eu apenas sentia raiva. Então ela simplesmente achava que era um erro. - Vai me dizer o que agora? Que se arrepende?
- SIM! Eu me arrependo sim. E MUITO! Eu não tenho culpa se você é um idiota que estraga as coisas, ok? – ela gritou de volta. – E não mete o Ryan nessa história, porque se o que rolou entre a gente não deu certo eu te GARANTO que a culpa DE LONGE é dele. – ela gritou. – Sabe, eu realmente pensei que gostava de você, mas eu percebi uma coisa: eu não gosto. Eu gostava de quem eu tinha idealizado que você era, não de quem você é de verdade. – suas palavras me magoaram. Não era a primeira vez que ela me falava aquelas palavras, não aquelas palavras, mas que fizessem aquele sentido.
- ÓTIMO, SE VOCÊ, QUE É MINHA MELHOR AMIGA, NÃO ME CONHECE E NEM SABE QUEM EU SOU, QUE PORRA EU ESTOU FAZENDO AQUI? PORQUE EU SÓ ENTREI NESSA PORRA DE DESAFIO POR VOCÊ. PORQUE EU SEI O QUANTO VOCÊ GOSTA DAQUELA BANDA IDIOTA, MAS JÁ QUE PRA VOCÊ É TUDO UM ERRO, E VOCÊ PREFERE DEIXAR TUDO PRA TRÁS, QUE PORRA EU ESTOU FAZENDO AQUI? – eu ergui as mãos, me olhava com os olhos arregalados de raiva.
- Me tira daqui. – ela mandou e eu a olhei sério. Passei as mãos pelos cabelos, mordendo os lábios, eu sentia raiva, MUITA raiva. – Eu não quero mais fazer desafio idiota nenhum!
- Não. – seus olhos se arregalaram com a minha palavra e seus braços se descruzaram. Ela parecia surpresa, não esperava por essa minha resposta.
-, – ela falou baixo, respirando fundo e fechando os olhos – me tira daqui! – sua voz passava autoridade.
- Pede o Ryan pra tirar, não é ele seu mais novo amiguinho? – eu disse e fiz a coisa mais idiota que eu poderia fazer naquele momento. Eu simplesmente fui embora.


Parte III

Minhas mãos tremiam e eu sentia que me coração poderia parar, a qualquer minuto, de pânico. Ele batia de forma tão acelerada que eu conseguia ouvi-lo. Ou talvez fosse só coisa da minha imaginação, afinal, eu já achava que estava ouvindo outras coisas também. Minha respiração parecia que de tão rápida a qualquer momento pararia. Eu ia morrer. Sim, eu ia morrer. Eu ia morrer porque estava dentro de uma cova aberta, onde várias pessoas mortas estavam ao meu redor. Eu simplesmente ia morrer. E ficar que nem uma delas. Morta.
- DOUGIE! – eu gritei desesperada, já sentindo meu rosto molhado pelas lágrimas que começaram a escorrer e eu nem havia me dado conta. Ele havia me deixado lá. Ele simplesmente havia ido embora. – , para de palhaçada me tira daqui. – eu solucei, abraçando meu próprio corpo. – DOUGIE! – meu grito ecoou pelo cemitério vazio. Eu estava totalmente só. Minhas mãos trêmulas procuraram algo em que eu pudesse me apoiar para tentar sair de dentro da cova. Mas nada acharam. Eu tentei pular, mas, ainda assim, não havia nada em que pudesse me apoiar. Eu estava desesperada. Soltei um grito fraco que fez eco e resultou em um susto. Sim, eu havia me assustado com meu próprio grito. Sim, eu tinha medo de que o meu grito acordasse os mortos. Sim, eu tinha medo de defuntos. Meu coração iria parar, eu tinha certeza. Na segunda tentativa de pulo meus pés bateram em uma tábua. Eu fiquei com medo de puxá-la, mesmo sabendo que era apenas uma tábua dentro de uma cova no cemitério. Mas tábuas em lugares úmidos assim geralmente tinham bichos em baixo. Ou eu poderia achar um osso. Tremi com a hipótese, chorando mais forte que antes. Por sorte, não havia nada ali embaixo. Então eu apoiei a tábua na parede da cova, e com todo cuidado que pude, apoiei meu pé nela, tentando fazer algum tipo de suporte para que eu pudesse me erguer até alcançar o topo. Mas assim que apoiei meu peso, a tábua virou. Soltei um grito frustrado, respirando fundo, e com a mão trêmula apoiei a tábua lá novamente. Pus meu pé esquerdo com cuidado e no momento que consegui um suporte e ergui meu corpo, a primeira coisa que fiz foi agarrar a grama ao redor da cova. Eu a agarrei como se a minha vida dependesse daquilo. Coloquei toda a minha força ali e consegui apoiar meu pé direito, e com muito esforço consegui sair da cova. Levantei-me mais do que depressa daquele chão, daquele lugar que eu tanto odiava. E então eu corri. Corri para longe dali, e apenas uma coisa passava na minha mente: eu mataria .

Eu sentia o sangue ferver em minhas veias e as lágrimas de ódio descerem por meu rosto. Bati a porta do meu quarto com força, eu havia descoberto o sentido de “enxergar tudo vermelho” que as pessoas diziam. Porque eu só conseguia enxergar as coisas vermelhas, de sangue. De . Eu queria matá-lo. Minha roupa e meus braços estavam sujos de barro. O desespero de saber que estava em um cemitério escuro, sozinha e ainda por cima dentro de uma cova ainda me fazia tremer. Passei as costas da mão pelo rosto, enxugando a lágrima que ainda descia. Eu ainda sentia minha mão tremendo pelo medo, pela raiva, pelo ódio. Eu odiava com todas as forças do universo. Catei todas as coisas que queria e joguei dentro de uma caixa vazia que eu havia pegado na garagem. Meus pais não estavam em casa, mas o carro sim, ótimo. Seria mais rápido para mim. Todos haviam combinado de nos encontrarmos no estacionamento da Poison. E foi para lá que eu segui, sentindo o ódio borbulhando dentro de mim.


Pov

Eu sou um idiota, estúpido, filho da puta, imbecil, retardado, canalha, cafajeste e todos os outros adjetivos ruins que qualquer pessoa pudesse me dar. Eu sempre ajo de forma estúpida com raiva, mas dessa vez eu me superei. E eu tenho certeza de que isso vai me custar caro. Eu havia voltado ao cemitério, nem cinco minutos depois de tê-lo deixado. Mas não estava mais lá. Ela me mataria, não havia dúvidas disso. Cheguei ao pátio da Poison e todos já estavam lá. Eles me encararam estranho quando me notaram sozinho. Minha cara provavelmente estava com uma expressão assustada, já que a primeira coisa que ouvi foi:
- Hey, , está tudo bem? – perguntou me olhando preocupada.
- Aham – eu disse, acenando com a cabeça, e meus olhos se encontraram com os de , que cerrou os olhos para mim. Eu tinha certeza de que dessa noite eu sairia com pelo menos um hematoma. Sim, eu estava assustado com o que a seria capaz de me fazer.
- Cadê a ? – Ryan, o idiota, perguntou. Quem o mandou falar mesmo? A voz dele era tão insuportável. No momento em que abri a boca para responder, ouvimos um barulho de freada e todos nos viramos para o carro que havia acabado de parar que nem um louco. saltou do carro não muito longe de nós. Suja de barro, com os cabelos desgrenhados e a cara enfezada. Sim, ela me mataria. Ela olhou nos meus olhos antes de se abaixar para pegar algo no veículo. Seria uma arma? A cara que ela fazia não me deixava duvidar que fosse, mas, ao invés disso, ela pegou uma enorme caixa de papelão. Eu queria pedir desculpas, dizer que voltei lá. Mas ela não deixaria. No momento em que abri a boca, ela gritou.
- SEU BASTARDO FILHO DA PUTA! – ela gritou, carregando a caixa marchando em minha direção, e quando eu menos esperava um telefone em forma de hambúrguer voou na minha direção, acertando minha testa. Um hematoma já me era garantido, e eu merecia. – ME LARGAR DENTRO DE UMA COVA? SÉRIO, DOUGIE? – um urso de pelúcia, que assim como o telefone em forma de hambúrguer eu havia dado de presente a , voou na minha direção. – NÃO TINHA FORMA DE SER MAIS IMBECIL? – ela me tacou agora uma caixa de alumínio rosa em forma de coração que quando eu lhe dei havia alguns bombons, ela guardava ali dentro todos os nossos bilhetinhos idiotas. Naquele momento eu soube que estava realmente fodido.
- Escuta... – eu disse, tentando me desviar das outras coisas que ela me tacava, protegendo meu rosto com os braços. – EU VOLTEI LÁ, OK? DESCULPA.
- EU QUERO QUE VOCÊ PEGUE AS SUAS DESCULPAS E ENFIE ELAS NO CU! – um exemplar de Potter acertou minha cara em cheio quando eu a desprotegi para tentar chegar perto de . Algumas pessoas pararam para olhar a cena.
- EU FIQUEI COM RAIVA! - eu consegui segurar seus braços antes que uma sandália de salto plataforma me acertasse. Nossos amigos estavam todos sem reação, apenas olhando a cena. se aproximava no momento em que e havia conseguido segurar .
- JURA? RAIVA? - ela parou por um segundo e duas grossas lágrimas, que ela tratou de enxugar rápido, rolaram por seu rosto. - Raiva do quê? – ela perguntou baixo, seus olhos transmitiam mágoa. Eu havia exagerado. Exagerado MUITO. – Me solta, . – ela puxou os braços e deu dois passos para trás. – Eu realmente espero que depois de hoje você esqueça que eu exista, porque pra mim você ficou dentro daquela cova. – ela me olhou pela última vez antes de se afastar, seguindo na direção de onde todos os outros nos encaravam. Eu tentei abrir a boca para falar, mas não consegui, já que no segundo seguinte tudo o que senti foi o punho de no meu rosto, e então tudo escureceu.

Pov Of

Eu senti minhas mãos tremerem de raiva, e esse tremor só se aliviou um pouco depois que eu taquei todas as coisas em cima do . Dentro daquela caixa havia todas as coisas que ele já havia me dado. Eu estava me libertando dele. Chega de na minha vida. Cansei. Como eu mesma já disse, eu estou ligando o foda-se e indo ser feliz. havia acertado um belo soco na cara dele. Bem feito, agora estava com o olho roxo. Por mim ele poderia ficar com os dois olhos roxos. Todo o corpo roxo, ele poderia ficar na sarjeta sangrando que eu não me importaria. havia pegado um pouco de gelo no bar do Pub e passava no olho de . também colocava gelo na mão de . Os dois estavam sentados em lados opostos e o olhava ameaçador. havia me emprestado uma roupa que ela tinha no pub, já que a minha estava em estado totalmente deplorável. Eu havia parado de chorar, mas ainda estava com raiva. Eu tinha certeza de que sonharia com mortos.
- Gente, eu sei que o clima está tenso, mas ainda temos um desafio extra, já que pelo visto não cumprimos o último, vamos ter que executar o extra. – sacudiu o envelope vermelho escrito “extra” na mão.
- Vamos, temos apenas dez minutos pra meia noite, e alguns grupos já chegaram. – eu disse, levantando-me e chegando próxima a onde ela, , e estavam. Ryan estava do meu lado e eu acho que nunca estive tão séria em toda a minha vida, acho que eu estava reinventando minhas expressões faciais. Ryan passou as mãos pelos meus braços e pescoço, que ainda estavam sujos, e eu sorri agradecida, passando as mãos no cabelo e prendendo-os de novo. Todos se reuniram, mas a tensão quase conseguia ser capturada. Eu não olhava para , que não olhava pra , que fazia cara feia olhando para , que olhava para mim.
- Vou ler. – disse, abrindo o envelope. – “Desafio extra: como não poderia faltar em qualquer jogo de desafio, o desafio seguinte é dar um beijo em um membro do grupo. As duas pessoas deverão ser do sexo oposto e não poderão ter nenhum envolvimento emocional: ou seja, serem namorados, ficantes, ou amizade colorida”.
- Bom acho que isso exclui você e o . – apontou para o casal. - e , e eu. Sobram , Ryan, e . - os seis se afastaram um pouco e nós quatro nos encaramos.
- Desculpa gente, tô fora. – ergueu as mãos. – A bolsa tá contigo, . – ela se afastou também. Olhei de para Ryan e de Ryan para . O último fazia um biquinho tosco e colocava a língua para fora.
- Eca, . – eu disse rindo e ele fez o mesmo, abrindo os olhos para me encarar. Não dava para beijar o . Não mesmo. Seria como cometer incesto. Encarei Ryan, ele tinha o rosto vermelho e estava sem graça.
- É, acho que perdi essa parada. - disse rindo, pegando o celular do bolso. – Eu filmo. - olhei para Ryan, que tinha o rosto vermelho, e me aproximei mordendo os lábios. Seria tenso. Tenso por tudo, tenso porque o clima já estava tenso. Tenso porque eu beijaria na frente de mais oito pessoas. Tenso porque seria a primeira vez que eu beijaria a pessoa em questão. Legal. Tudo tenso. Ryan passou a mão no cabelo.
- Bom, já que sobrou pra gente... – ele sorriu, dando um passo em minha direção. Sua mão direita colocou minha franja atrás da orelha enquanto a outra passava por minha cintura, me puxando para mais próximo dele. Firme, mas ao mesmo tempo delicado.
- Se você não quiser me beijar na frente de todo mundo não tem problema. – ele disse perto do meu rosto e eu abri meio sorriso.
- Quem disse que eu estou me importando? – dei de ombros antes de passar a mão por sua nuca e colar seus lábios aos meus. Seus lábios eram macios e doces, e sua língua delicadamente pediu passagem em minha boca, facilmente concedida. Era um beijo simples, porém bom. Aprofundamos o beijo, e preciso dizer que estava gostando daquilo. Ele beijava bem, era de uma forma diferente. Seus lábios eram bons.
- Ok, ok, já chega. – interrompeu o beijo e eu me afastei de Ryan rindo, o mesmo ficou vermelho.
- Acho que já está na hora de entrarmos. – disse, chegando ao meu lado e me mandando uma piscadela.
- Concordo. – disse, jogando o saquinho de gelo que tinha em mãos em algum lugar não identificado.
- Podemos repetir o beijo no cinema, que tal? – Ryan disse em meu ouvido, passando o braço em volta do meu ombro.
- Quem sabe? – eu sorri sem mostrar os dentes. Eu queria ir embora. Não queria mais saber de resultado de nada. Só queria minha casa, meu chuveiro e minha cama.
- Algo me diz que essa noite dos desafios entrou pra história. - disse ao meu lado, pegando minha mão. E eu concordei com a cabeça.
- Oh, se entrou. – eu disse antes de seguir com ela para dentro do pub. Oh, se entrou.

Capítulo 29

Eu me sentia estupidamente cansada. Muito cansada. Minha noite de sono havia simplesmente sido uma merda. Dormi mal, não dormi direito. Eu havia sonhado com defuntos. E com um apocalipse zumbi. Sim, eu sou tosca. Depois de descobrirmos que não ganhamos a noite dos desafios – o que me deixou bem puta e com mais raiva ainda de - Ryan e me trouxeram para casa. Eu tentei dormir, o que não deu muito certo. Resultado: eu estava há mais de uma hora fitando o teto de meu quarto pensando na vida. Merda, como eu odeio pensar na vida. Mas era inevitável. Há pouco mais de um mês atrás eu havia feito uma inofensiva viagem e de repente, quando volto, minha vida vira de cabeça para baixo. Vou recapitular. Eu chego de viagem e descubro que o cara de quem eu gosto, também conhecido como meu melhor amigo, está namorando. Ruim. Então eu descubro que a namorada dele nada mais é do que minha irmã, praga com a qual eu tenho uma péssima convivência e que simplesmente veio morar na minha casa enquanto eu estava de viagem. Péssimo. Minha melhor amiga começa a namorar e me deixa um pouco de lado. Eu volto a pegar um dos meus amigos. Legal. A vaca da minha irmã – eu já disse que ela é uma vaca? – usa minha cueca, a gente cai na porrada. Bom. Ela me coloca contra meu melhor amigo, ele não acredita em mim e a gente briga. Merda. Eu faço uma nova amiga. Bom. e eu fazemos as pazes. Ótimo. Eu tento ser legal com minha irmã. Idiota. Ele me diz que está apaixonado e feliz. Merda. Eu pinto o cabelo dela de verde. Perfeito. Ele diz que nunca rolou e nunca vai rolar algo entre a gente e eu curto uma fossa da porra, principalmente depois de minha irmã ter me jogado na cara tudo aquilo que mais me magoava. Horrível. Eu volto ao normal. Nem tanto. Por causa da Limojava eu assumo minha paixão pelo em uma brincadeira estúpida de “eu nunca”. Estupidez. Eu me declaro paraaale. Ato corajoso. A gente resolve acampar na praia. Eu conheço um cara legal na praia. A gente canta em volta da fogueira e eu sinto falta do que costumávamos ser. Droga. e eu voltamos a ser um pouco do que éramos. Bom. Eu fico bêbada em uma festa e faço strip-tease em cima de uma mesa. Retardadice. me beija. Perfeito. Tudo desanda por completo. É, minha vida estava na merda. Não tinha mais como piorar. Tudo estava confuso e agora ainda tinha Ryan, ele era um fofo. Sim, mas porque eu aceitei sair com ele mesmo? Eu preciso de férias, eu preciso da casa da minha avó. Eu preciso ir para longe desse lugar, para longe dessa casa, para longe de algumas pessoas. Fui tirada de meus pensamentos quando ouvi o barulho na porta. Sentei-me olhando a mesma ser aberta por e esperei que ela dissesse alguma coisa.
- Posso falar com você? – ela perguntou, entrando no quarto e parando a uma boa distância com os braços cruzados na altura dos seios. Pela primeira vez em muito tempo eu via com uma blusa justa. Sua barriga já estava começando a parecer perceptiva.
- Fala. – respondi, levantando-me e pegando uma escova de cabelo, começando a me pentear. Eu sentia que estava de mau humor. Muito mau humor.
- Seguinte, eu acho que essa história sua com o já foi longe demais! Vocês têm que parar com isso, vocês são melhores amigos, sempre estiveram juntos um com o outro e agora estão assim: passando por uma sessão quase morte! Pelo amor de Deus, ! – sério mesmo que eu estava ouvindo aquilo? Logo de quem? Da namorada dele?
- E eu posso saber o que você tem a ver com a minha relação com o ? O fato de você ser a namorada e mãe do filho dele não te dá o direito de se meter em nada. – eu rebati ignorante. Aff, era só o que me faltava mesmo, àquela hora da manhã.
- Eu não sou mais a namorada dele. – ela retrucou e eu a encarei. – O e eu terminamos ontem, na verdade, ele que terminou comigo. – ela deu de ombros. – O que não faz muita diferença, já que eu ia terminar com ele de qualquer forma.
- Você contou a ele? – era a única coisa que me interessava saber.
-Não. – ela olhou para outro lugar que não fosse meus olhos. - Olha, , eu sou a última pessoa que você provavelmente quer ouvir agora, mas é que eu tenho uma coisa pra te contar. – ela voltou a me encarar e eu cruzei meus braços, sentido que não vinha uma boa coisa dali.
- Olha, , eu realmente não quero ouvir nada de você agora.
- Eu sabia que o era o seu melhor amigo quando eu o conheci.
- Como é que é?
- Eu estava puta por que minha mãe tinha me mandado vir morar aqui e eu não gostava de você. Então eu fiz uma pesquisa em todas as suas redes sociais e não foi difícil perceber que tinha alguma coisa rolando entre vocês. No começo eu realmente achei que vocês eram namorados. Mas o estado civil de vocês no Facebook era solteiro. Então eu cheguei aqui, estava de madrugada e você ia pra casa da sua vó no outro dia de manhã. Eu esperei você sair e fui até o aeroporto. Eu vi vocês dois lá, e quando vocês se despediram só com um beijo no rosto e um abraço, eu soube exatamente o que fazer pra atormentar a sua vida. Então eu dei em cima do de propósito naquele dia. Pra mim seria simplesmente hilário roubar sua paixonite. E no começo foi. Ver a sua cara todos os dias e a sua raiva. Você não tem noção do quanto eu estava gostando daquilo! Então eu comecei a notar a influência do em você e a sua influência nele. E eu percebi que tinha começado a pegar pesado no dia em que nós brincamos de “eu nunca”.– vadia, piranha, salafrária.
- Você está dizendo que só ficou com o pra me irritar? – eu já batia meus pés com força no chão. Se ela não estivesse grávida, eu juro que mataria a filha da puta.
- Exatamente. – ela respondeu. – Eu fiquei com o pra te irritar e as coisas saíram um pouco do controle. Eu te subestimei no “eu nunca”, eu nunca pensaria que você beberia, e eu percebi que tinha exagerado ali. Pela forma que você ficou. E eu tentei falar com você na praia e pedir desculpas, aí você me disse todas aquelas coisas, o que me deu mais raiva ainda de você. E também o que me fez pensar. Você ficou bem magoada naquele dia. Eu mexi com algo que eu não deveria mexer, que era a sua paixão pelo . E eu sei que vocês dois brigaram aquele dia. Então eu resolvi parar com esse joguinho ridículo e conversar com você. O é um cara legal. E eu realmente estava curtindo ficar com ele. Mas agora eu cansei de mentiras. Tudo isso foi longe demais. A vida de vocês dois está uma bagunça e eu quero consertar as partes que eu estraguei.
- Você é uma vadia, sabia disso? – foi a única coisa que eu consegui dizer, elevando a minha voz. Eu queria socá-la.
- Posso até ser vadia, mas não fui eu quem ficou me agarrando com o namorado da minha irmã atrás do colégio. – eu arregalei os olhos ao ouvir a frase. – Eu vi vocês dois. Em um dia o está todo estranho e no dia seguinte, quando eu resolvo conversar com ele, ele simplesmente some. E quando eu o acho o que ele estava fazendo mesmo? Advinha: conversando com você sobre um beijo que vocês deram e o que vocês fazem depois? Dão outro! – ela também elevou o tom de voz. – Ele era o meu namorado, , e você se meteu nisso.
- Caso você não se lembre, ele era o MEU melhor amigo bem antes disso. E você estragou tudo! - eu joguei minha escova em cima da cama. – Ele não dormiu com você no dia depois da festa, dormiu? Ou até mesmo depois que eu bebi no “eu nunca”, dormiu? – eu estava a ponto de explodir e levar pedacinhos de junto comigo.
- Não. Eu só falei aquilo pra te irritar e te deixar com raiva. Eu não achei que fosse ser tão fácil você acreditar, afinal, ele era o seu melhor amigo. Você deveria confiar nele mais que tudo, não?
- Então é só isso que você sabe fazer? Mentir? Tem mais alguma mentira que você queira contar? Ou desvendar? Essa sua gravidez ao menos é verdade ou isso é uma porra de barriga falsa?
- Eu estou grávida, você viu meu exame! Você foi lá fazer comigo.
- Porque eu sou uma idiota! Mesmo depois de tudo o que você fez, eu ainda tentei ser legal com você e adivinhe: EU FUI! E o que aconteceu depois: eu ME FUDI! – ergui os braços.
-Mas o filho não é do . – sabe aqueles momentos nos filmes e nas séries em que alguém faz uma revelação bombástica e que os outros estão esperando há um tempo, e o silêncio predomina abundantemente no local, e que até se uma agulha cair você poderia ouvir? Pois bem, esse foi o momento. Eu só conseguia encarar e pensar como que queria arrancar todos os seus fios de cabelo. – , fala alguma coisa.
-Você está grávida e o filho não é do , se não é dele de quem é? – eu consegui perguntar.
- Do meu ex-namorado. Pelas contas, eu já vim pra cá grávida. - foram dois passos que me aproximaram dela. – Você não pode me bater, eu estou grávida! – ela deu um passo para trás, mas não me impedindo de acertar minha mão em cheio em sua cara.
– O bebê está na sua barriga, não na sua cara! - eu disse, saindo de perto dela, antes de acertá-la novamente. – Sai daqui.
- , eu vim aqui hoje pra te pedir desculpas. – ela disse com a mão no local atingido.
- Você pode pegar as suas desculpas e enfiá-las no... – no momento em que eu falava, minha mãe entrou no quarto, impedindo-me de prosseguir com o local em que deveria enfiar suas desculpas. Eu me sentia o ser mais idiota do mundo. Sério. A mais burra, imbecil, besta, otária.
- Que bom que estão aqui, eu e o pai de vocês queremos conversar com ambas. – minha mãe disse séria antes de sair, fechando a porta. – Agora. – ouvimo-la dizer do lado de fora e o barulho dos seus passos na escada.
- Será que ela descobriu? – me olhou com um olhar assustado.
- Eu não tenho nada a ver com isso. – eu respondi, indo para a porta e seguindo para a sala, onde meu pai e minha mãe estavam sentados no sofá sérios conversando entre si. Merda. Alguma coisa estava errada. Sentei-me no sofá de frente aos meus pais e segundos depois fez a mesma coisa com os braços cruzados e olhando para o chão. Encarei minha mãe nos olhos, afinal, quem não deve, não teme.
- Eu vou perguntar apenas uma vez e eu realmente espero que não aja enrolação na resposta. – meu pai ergueu o teste de gravidez de e olhou de mim para ela e dela para mim. – Eu sempre fui amigo de ambas, até quando uma de vocês estava longe. E agora eu quero que vocês sejam minhas amigas e me respondam se esse teste pertence a uma das duas. – eu continuava olhando na direção de meu pai, que continuava intercalando seu olhar entre nós duas. continuava em silêncio. – Eu acho que eu tenho o direito de saber se eu vou ser avô, certo? - meu pai estava visivelmente assustado com a ideia, eu conseguia ler isso em seus olhos. – Eu tenho a tarde toda pra esperar uma resposta. - Minha mãe me encarou, ela sabia que não era meu. Minha mãe e eu sempre tivemos um laço de sinceridade. Ela poderia ler isso em meus olhos.
- É meu, pai. – finalmente disse e meu pai respirou fundo.
- Então você está grávida? – ele fez a pergunta mais como uma afirmação. – Meu deus, parece que foi ontem que eu troquei suas fraldas. - ele passou a mão nos cabelos. – Por que você não me disse antes? – ficou em silêncio.
- O já sabe? - minha mãe perguntou e eu olhei para , esperando para ver qual resposta ela daria.
-O filho não é dele. – ela mordeu os próprios lábios olhando para o chão. – Eu já vim pra cá assim.
- Bom, agora que vocês já descobriram que eu não sou a filha menor de idade grávida, acho que já estou liberada desse papo família, certo? – eu me levantei, seguindo para o meu quarto. Cacei meu telefone, achando-o dentro da fronha do meu travesseiro. Sério, eu não conseguia entender como eu conseguia colocá-lo ali durante a madrugada. Oito chamadas não atendidas. Um número desconhecido. Duas do Ryan, uma da . Quatro de . Optei por ligar de volta para a desesperada da minha melhor amiga. No segundo toque ela me atendeu.
- Onde você está? – foi o que ela disse no lugar do alô.
- Indo para o lugar onde você está agora, que é...
- Indo para a casa da . – alô, mãe? O que a estava indo fazer lá?
- O que você está indo fazer na casa da ?
- Você tá pensando que é a única que é amiga dela. No Way, Bicth. Passo na sua casa em dois minutos. Tô de carro. Quer carona?
- Óbvio! Tudo o que eu preciso é sair daqui.
- Aconteceu algo além do ter te deixado em uma cova vazia de noite? – ela usou aquela voz de menina lerda dela, o que me fez rir.
- Nesse momento eu queria que meu único problema fosse o ter me deixado sozinha em uma cova aberta.
-Tô chegando aí, fiquei curiosa.
-Ok, tô descendo. – desliguei o telefone sem esperar por uma resposta. Peguei algumas peças de roupa em meu guarda-roupa e as joguei dentro de uma mochila, cacei alguma sandália jogada por perto, enfiei junto com as outras coisas e saí. Meu pai ainda estava na sala conversando com , o que fez com que eu passasse pela cozinha para sair. Provavelmente era o lugar onde minha mãe estaria, assim eu poderia avisá-la que não voltaria mais para casa naquele dia.
- Tô saindo, provavelmente vou dormir na , ok? – eu disse a minha mãe, que mexia algo no fogão, peraí, aquilo era chá? Ela estava fazendo chá pra Limonaja?
- , você quer conversar, minha filha? – minha mãe perguntou e eu acenei negativamente com a cabeça. – Está tudo bem?
- Está, mãe. Como não poderia estar? Eu tenho 16 anos e não estou grávida! – eu sorri em deboche e minha mãe revirou os olhos.
- Fui. – eu disse quando ouvi o barulho da buzina do lado de fora.
Entrei no carro de Gleice, que me olhava com aqueles olhos que pedem uma explicação.
- Oi, ! – disse ao meu amigo sentado no banco do passageiro, que me respondeu um oi de volta com um beijo na testa. - Onde está a Nanda? – eu perguntei tentando não entrar de cara no assunto, o que com era difícil.
- Já esta indo pra casa da . Assim como os meninos. Não sei o , mas ela pediu nossa ajuda ontem depois que o veio te trazer. Agora para de enrolar e me diz o que aconteceu. – riu da ansiedade da menina.
- A está grávida! – eu realmente achei que o carro capotaria devido à freada que deu naquele momento, fazendo minha cabeça pender para a frente. – VOCÊ ESTÁ MALUCA? – eu gritei irritada. – Quer nos matar?
- COMO ASSIM GRÁVIDA? – ela perguntou assustada junto com .
- Grávida, com um bebê na barriga, sabe? Que em nove meses nasce? Então, assim! Agora volta a dirigir.
-O sabe disso? Ele vai surtar totalmente - disse, parecia até que ele que seria o pai devido a sua cara.
- O filho não é dele. – outra freada causada por . Dessa vez ela parou de dirigir.
- Como assim não é dele?
- Não sendo, ela veio pra cá grávida. Ah, e antes que você volte a dirigir e dê outra freada, o não transou com ela depois de ter me beijado, ele nem ao menos transou com ela depois de eu ter me declarado. A sabia que ele era meu melhor amigo quando o conheceu e se aproximou dele de propósito com o intuito de fazer da minha vida um inferno usando o como o bonequinho manipulável dela. – eu dei um sorriso sarcástico para eles. – E agora eu acho melhor você andar com esse carro logo, antes que eu esqueça que aquela vadia está grávida e volte lá pra acertar um soco bem no meio das fuças dela. – eu pedi autoritária, o que obedeceu ainda com a cara de perplexa.
- Explica essa história direito, . – pediu quando voltou a andar com o carro e eu expliquei desde o começo tudo o que tinha me dito. foi deixado no meio do caminho, rumo à casa do . Ele iria contar os fatos ao amigo, nem parecia que menos de 24 horas atrás ele tinha acertado um soco na cara do indivíduo. Chegamos à casa de e Ryan e Nanda estavam jogados no meio de um monte de cartolinas. Era a organização para a noite do karaokê, que seria aquela.
- Hey! – eu disse, chegando perto e dando um beijo no rosto de casa um, sentando-me no chão logo em seguida.
- Tudo bem? – Ryan perguntou, arqueando a sobrancelha. Era engraçado como ele parecia me ler às vezes. Eu ainda tinha que conversar com ele sobre o beijo. Havia sido bom, legal. Mas eu não queria nada com ninguém no momento. Eu só queria me curtir. Eu tinha ligado o foda-se, certo? Foda-se os outros, só importa eu!
- Bom, defina “bem”. – eu sorri irônica e Nanda arqueou a sobrancelha. – Bom, eu não estou a fim de contar a história de novo, sem querer ser ignorante, mas já sendo. , conta pra mim que eu vou atrás da . – eu me levantei sob os olhares. esperou eu não estar perto para começar a contar. Caminhei até o quintal da parte de trás da casa, encontrando sentada de frente a uma pilha de CD’s.
- Hey, o que você esta fazendo? – perguntei, sentando-me a seu lado.
- Vendo se existe aqui algum que preste pra levar pra Poison. – ela respondeu, jogando um CD de capa preta em uma pilha que eu classifiquei como os não qualificados, já que ela fez uma careta. – Tudo bem?
- Tudo – respondi, dando de ombros e começando a vasculhar os CD’s. – O que você vai cantar hoje? – eu perguntei, analisando alguns CD’s. – Isso tudo era seu?
- Yep. – ela respondeu rindo. – Digamos que eu sou uma pessoa que muda com frequência os gostos musicais. – ela riu, estendendo em uma mão um CD de country e em outra um CD de Heavy metal.
- Coloca mudar nisso, hein. Eu gosto dessa banda. – eu disse, erguendo um CD do Def Leppard no meio de todos os outros.
- Ah, eu comprei esse CD por causa de uma música que eu amo aí, mas que hoje em dia eu nem lembro o nome. – revirou os olhos.
- O que você vai cantar hoje? – riu.
- Nada. Eu não sou uma pessoa que canta. – eu revirei os olhos. – Digamos que eu pareço um gato próximo da morte quando faço isso. – nós duas rimos alto.
- Olha, , tem uma coisa que eu quero te falar relacionada ao meu irmão. – pareceu cautelosa. Pronto, se ela me disser que ele é o pai do bebê da Limonaja, eu juro que eu dou um surto e saio por aí matando todo mundo com um isqueiro. Sério.
-Hum. – eu disse e riu. – Eu acho que hoje é o dia em que as pessoas vão me jogar bomba, pode jogar.
- Como assim jogar bombas? – ela arqueou a sobrancelha sem entender.
- Digamos que a minha irmã está grávida, eu achava que o filho era do e não é, e eu também achava que ele tinha dormido com ela logo depois de ter me beijado, o que não aconteceu. Eu descobri que ela só se aproximou do pra me irritar e usar ele contra mim. Digamos também que eu sinto como se minha vida fosse uma daquelas novelas mexicanas, onde a personagem principal deveria estar chorando e se lamentando por tudo, mas na verdade eu não quero chorar. Eu não estou bem, e acho que é mais do que normal. Mas eu não estou melancólica e depressiva, é como se, sei lá... Eu tivesse meio que me desligado, a única coisa que eu consigo pensar é, caralho, como eu fui idiota por me deixar levar por tanta intriga que eu não percebi que estava bem na minha cara, se mostrando sem nenhuma faceta pra esconder e eu nem percebi, sabe?
- Não, mas posso fazer uma ideia. - fez uma careta. - Que vaca a sua irmã.
- É uma filha da puta, eu sei. A única coisa que eu consigo pensar com coerência era que eu queria que ela não estivesse grávida só pra poder acertar um belo soco na cara dela, sem dó nem piedade. – respirei fundo. Eu estava com raiva, puta da vida.
- E o nessa história toda? Como vocês estão?
- Não sei, eu ainda não conversei com ele e sinceramente eu não estou a fim de fazer isso ainda, eu ainda estou com raiva dele por ter me deixado na cova, mas ao mesmo tempo a culpa também foi minha. Eu falei algumas coisas que não deveria ter falado por causa de uma coisa que eu achava que tinha acontecido, mas não aconteceu, entende? E o problema é que a nossa amizade agora está em crise e eu não sei o que fazer. – eu comecei a rir, porque eu sentia que estava falando que nem uma tagarela.
- Uma coisa que eu te aconselho a fazer é a conversar com o , vocês dois precisam definir a situação da amizade de vocês. E outra coisa que eu aconselho é...
- Não ficar com seu irmão. Minha cabeça está confusa demais e eu posso acabar magoando-o. – era isso que estava escrito nos olhos de e ela riu quando eu disse.
- Não era bem isso que eu ia falar, mas pode valer também. Não por meu irmão, mas por você. O Ryan tem esse jeito dele, todo fofo, carinhoso. Mas cuidado pra ambos não confundirem isso. Eu não falo isso por ele. Sua cabeça tem andado confusa demais, , antes mesmo de você conversar com o , você tem que definir o que você quer que vocês sejam, e o que ele possa querer que vocês sejam, pra você não ser pega de surpresa depois e não acabar se magoando.
- Eu sei, eu sei. Mas eu só não quero ter que conversar com ele. Não agora, sabe? Quem sabe amanhã. E não sei de mais nada, . – eu passei as mãos no cabelo. – Era só isso que você tinha pra me falar sobre o Ryan? - Na verdade, não. O que eu queria te falar, bem, eu não sei como dizer isso.
- ! – apareceu de repente, jogando-se em cima de mim, e eu gritei assustada antes de ser nocauteada por aquele ser besta.
- Oi, . – eu respondi entusiasmada o abraço.
- Eu vou cantar My Endless Love pra você hoje, posso? – ele pediu com carinha de criança e eu comecei a rir, vendo as outras pessoas seguindo para onde estávamos. É, pelo visto minha conversa com a teria que ficar para mais tarde.

’s Pov.

Eu estava PUTO. Acho que puto era uma palavra muito pequena para me definir naquele momento. Eu estava irritadíssimo, com raiva de mim mesmo. Como uma pessoa consegue ser tão idiota? É sério. Eu tinha sido usado. Que nem um bonequinho vodu. Eu tinha sido usado que nem um boneco pela para magoar a , e o pior de tudo é que eu fiz meu papel muito bem. Eu não conseguia entender o que era pior, saber que eu estava sendo usado, ou saber que a minha namorada estava grávida de outro cara durante todo o tempo que estivemos juntos e eu nem desconfiei. Como eu sou IDIOTA!
- Hey, cara, já está pronto? – apareceu na porta do meu quarto totalmente arrumado. Nós iríamos ao Karaokê da Poison e os meninos dormiriam na minha casa depois. Teríamos uma noite de vídeo game que há muito tempo não tínhamos. Inclusive . Acho que a pena de mim por ter sido tão idiota havia feito a raiva dele pelo dia anterior passar. Afinal, ele quem tinha vindo me contar toda a história que acabou me levando até a casa da e me fazendo ouvir todas as coisas que eu pensei ser verdadeiras se tornarem falsas. Eu realmente estava indignado. Como uma menina conseguia ser tão baixa? Eu nunca tinha sentido nojo de alguém na minha vida, conseguira mudar isso me mim, porque agora eu tinha nojo dela.
- Tô. – respondi, colocando meu casaco e saindo em direção à porta. já estava esperando no carro e nós seguimos em direção a Poison. Eu em silencio enquanto o resto conversava. Eu não estava muito a fim de ir, mas depois de muita encheçao de saco eu havia optado por ir. Melhor do que ficar em casa, não? O problema de ir era que eu veria . E eu realmente não queria vê-la. Não enquanto eu não colocasse as minhas ideias no lugar. Eu não estava acreditando que ela realmente tinha pensado que eu tinha transado com a depois de beijá-la. Não depois de todas as coisas que eu tinha dito a ela. Sério mesmo que ela não confiava em mim a esse ponto?
- Qual é, cara, tira essa cara de assassino, daqui a pouco vão implicar contigo. Anda. - me cutucou, puxando-me para fora do carro.
- Eu preciso de uma cerveja. – disse, seguindo ao nosso encalço para a entrada. O lugar estava cheio, não era costume ele estar assim.
- Eu preciso de várias cervejas.
- Eu preciso de uma namorada. – disse e todos nós rimos.
- Eu preciso da minha namorada. – disse rindo. – Dude, eu acho que estou apaixonado. – a risada foi geral e as zoações também.
- Sério? Eu nunca pensei que ouviria isso de você. – eu disse, bagunçando o cabelo de meu amigo. Procuramos uma mesa para nos sentar.
- Onde estão as meninas? – perguntou olhando em volta. – Achei que elas estariam aqui.
- Elas hoje estão trabalhando de garçonete, a pediu ajuda a elas. Elas devem estar por aí, servindo cerveja e sendo cantadas por caras mais velhos. – respondeu e e se entreolharam.
- Vou atrás delas. – o primeiro disse e saiu seguido pelo outro. Eita, cabras ciumentos, gente. Deixa as garotas trabalharem.
- Hey, cara, está tudo bem? Eu soube do que aconteceu. – disse fazendo careta.
-Ta, cara, eu só estou um pouco puto comigo mesmo, mas daqui a pouco passa.
- , aí está você, preciso da sua ajuda. – apareceu de repente, puxando de seu lugar. – Oi, ! – ela acenou para mim. E logo depois os dois me deixaram sozinho. Ótimo. Eu preciso de uma cerveja. Levantei-me, indo até o balcão e esperando que não estivesse lá. Eu queria conversar com ela. Queria muito. Mas ao mesmo tempo não queria. Ela não havia confiado em mim.
- Uma cerveja, por favor. – disse à menina do balcão e não me dei ao trabalho de encará-la. Eu sabia que era a , porque com a minha sorte de ultimamente só poderia ser a no balcão, assim como se alguém me desse um vale stripper naquela noite provavelmente viria a minha vó pra tirar a roupa para mim.
- ... – ela disse, entregando-me a cerveja, mas eu a cortei.
- Agora não, . – eu pedi. – Eu não tô a fim de ter que falar com você agora. – eu fui meio grosso, pegando minha cerveja e seguindo meu caminho. Mas merda. Porra. Puta que pariu. Porque eu simplesmente não conseguia ser grosso com ela sem voltar atrás? Sem me sentir culpado? Por quê? Respirei fundo, voltando os dois passos que tinha dado e encarando a menina que ainda estava na mesma posição que antes. – Sério que você pensou que eu tinha transado com a logo depois de te beijar?
Pov Off

- Achei. – admiti, colocando meu copo com cerveja em cima do balcão. Eu não era muito fã de cerveja, mas hoje eu precisava de algo mais leve.
- Eu não acredito nisso, , pelo amor de Deus! Você é a minha melhor amiga eu NUNCA faria algo que pudesse te magoar! – ergueu os braços. – Principalmente dormir com a sua irmã depois de ter te beijado! Você se esqueceu de todas as coisas que eu te disse no dia seguinte? Ou você simplesmente não escutou nenhuma delas?
- Você tentou mentir pra mim quando eu te liguei e perguntei onde você estava.
- Por que se eu falasse por telefone na lata: olha, , eu estava com a sua irmã. Era exatamente isso que você iria pensar: que nós estávamos fazendo algo, sendo que nós não estávamos! Tudo o que eu fiz naquela tarde foi dar um beijo de despedida nela e me sentir culpado pra caralho por isso!
- Você disse que não faria nada pra me magoar, mas me deixou em um cemitério sozinha! – eu retruquei.
- Porque eu estava com raiva. Você ficou comigo e logo em seguida disse que era um erro, que tinha se arrependido. Você colocou em dúvida a nossa amizade, disse que não sabia quem eu era. Você me disse isso, . Você estava me julgando por algo que eu não tinha feito, mas que você achava que sim, porque você não teve coragem de chegar até mim e perguntar de forma clara qual era a verdade! – ele parecia um pouco irritado. E por certos motivos eu não tirava a razão dele, mas eu também estava irritada, comigo, com ele, com a , com tudo!
- E você me contaria? Se você tivesse dormido com ela, você me contaria? – ergui minha sobrancelha esperando a resposta.
- Acho que você estava certa em relação à amizade, , porque ela descende de confiança. Coisa que acho que você não tem em mim já que você está fazendo essa pergunta. Você realmente acha que eu transaria com outra garota depois de ter te beijado? Olha no meu olho e responde isso. – me encarou e eu olhei em seus olhos. Eu sabia a resposta, mas não disse. Eu conhecia o suficiente. Agora parecia tão claro que era mentira. Que eu deveria ter perguntado a ele. – Eu acho que o que rolou entre nós não deu certo porque vamos ser sinceros, , nós dois fomos dois idiotas que começamos isso tudo da forma mais errada possível. – eu beberiquei mais um gole da minha cerveja, sabendo que ele estava falando a verdade. – Você errou por não confiar em mim, e eu errei por ter te deixado lá. , há quanto tempo você me conhece? Durante todo esse tempo quantas vezes eu menti pra você? - ele me olhou nos olhos e eu não pude encontrar uma resposta, porque não havia uma resposta. e eu nunca tivemos segredos um com o outro. nunca havia mentido para mim. – Quer saber de uma coisa? – ele perguntou, erguendo sua latinha - Somos dois idiotas. Dois idiotas que prometeram que isso não abalaria a nossa amizade. E olha, cá estamos nós em crise. Mas nós prometemos, lembra? – ele ergueu o dedo mindinho e eu rolei os olhos. - O fato de você ter se arrependido não significa que nós não possamos mais ser amigos. Até porque você sabe de tudo o que a gente passou junto, , e você sabe muito bem que nada e nem ninguém pode duvidar da nossa amizade.
- , eu só quero um tempo longe de tudo, de você, , todas as cosias que me trouxeram confusão antes. Eu só quero colocar minha cabeça no lugar.
- Você quem decide. Sua vaga de melhor amiga ainda está vaga aqui. – ele apontou para o peito e sorriu sem mostrar os dentes. – Eu não sou tão idiota quando você pensa, . - ele parou de falar e fez uma careta estranha. - Ok, talvez eu seja tão idiota quando você pensa. Mas me desculpa por ter te deixado lá? Eu voltei, mas você já tinha saído e sumido. – ele fez um bico. – Eu me odeio por aquilo. Sério.
- Não. – eu tentei parecer convincente, mas não fui tanto quanto eu esperava.
- Você sabe que você vai acabar me desculpando, não sabe?
- Sai daqui, . – eu revirei os olhos, terminando minha cerveja e jogando o copo na lixeira.
- Me desculpa? – ele fez aquele olhar de cachorro abandonado e eu tentei não sorrir.
- Sai daqui, . – eu repeti, expulsando-o com o pano que eu usava para secar o balcão. Meu coração bateu de uma forma diferente naquele momento.
- ? – ele bagunçou meu cabelo e eu ri, mesmo sem querer eu ri. Porque eu não conseguia ficar com raiva dele mesmo? Que caralho.
- Você me deixou em uma cova, eu não posso simplesmente te perdoar assim! – eu joguei meu pano no balcão. - Tudo na vida tem seu preço. – eu fiz pose de esnobe e ele riu.
- Você pode ter certeza que eu vou pagar o meu, assim como você vai pagar o seu. – ele me encarou com olhar risonho.
- Eu não vou pagar nada. – retruquei.
- Veremos. – ele disse rindo e se virando.
- Veremos. – repeti, observando ele sair para só então poder sorrir abertamente. Mesmo não sabendo o que fazer de agora em diante, eu sentia que o e a de antes de tudo acontecer estavam começando a estar de volta. Será?

Capítulo 30


- Bom dia. – meu pai disse, sentando-se ao meu lado, e eu me assustei, de tão perdida eu estava em pensamentos.
- Dia! – eu disse sorrindo e voltando a olhar para cima, eu estava deitada no quintal em cima da grama olhando para o céu e o sol. Uma das coisas que eu mais amava fazer. É, pode parecer loucura, mas eu realmente amo isso, okay?
- Está tudo bem? – ele perguntou naquele tom que ele sempre usava quando esperava que eu contasse a ele como eu estava me sentindo.
- Por incrível que pareça, está. – eu me virei de lado, encarando-o e sorrindo. Meu pai sorria marotamente também.
- A vai passar um tempo na casa da sua avó. Eu queria que ela ficasse, mas ela disse que prefere ir. Você já conversou com o ? A me contou tudo, desde quando ela o conheceu, até a parte que ele te deixou em uma cova aberta de noite. – meu pai fez uma careta engraçada. – E eu quero dizer que ele perdeu um pouco da minha confiança com isso.
- Eu falei algumas coisas que não devia aquele dia, fiz umas coisas que não devia também. Ai, pai, estava tudo errado. Tudo no lugar errado, sabe? Eu achava que o tinha feito uma coisa e ele não fez, e fui idiota o suficiente para não perguntar a ele claramente. E, agora, eu nem sei mais como nós dois estamos. Não sei como me sentir em relação a isso. Ao mesmo tempo em que eu quero estar brava com ele pela cova, eu não estou! E ele é meu melhor amigo! – eu sorri, mesmo sem querer. – E eu tô com um ódio mortal da sua filha. Sério, eu só não paguei uma gangue pra bater nela ainda por que ela está grávida, mas espera ela parir e o resguardo passar pra você ver se ela não vai aparecer sangrando o útero dela na sarjeta. – eu me assustei com a minha imaginação e gargalhei da minha imagem mental da vomitando sangue na sarjeta. Meu Deus, eu preciso me tratar. Tô virando uma pessoa má.
- , você e o já passaram por muita coisa juntos. E eu tenho certeza que o fato da sua irmã ter fingido estar grávida dele foi só fichinha. – ele sorriu e se levantou quando minha mãe o gritou pedindo para ir ao mercado comprar algo. - Procura pensar não no que está acontecendo agora, mas no que já aconteceu com vocês antes. – meu pai me deu um tapa na perna. - Isso é um segredo e deve ficar entre nós. Eu como pai eu não deveria dizer isso, mas eu sempre achei que o e você ficariam juntos no final. – ele sorriu antes de sair e eu voltei a olhar para o céu. E, seguindo o conselho do meu pai, comecei a pensar no passado.

Flashback – 2 anos antes

- É claro que não! Verde é BEM mais bonito! – eu disse rindo e empurrando de leve com o tronco, conforme entravamos no quintal de sua casa.
- Claro que não, você está maluca? Roxo é bem mais estiloso! – ele fez gestos com as mãos – Você ia ficar legal, faz roxo, ! – ele fez biquinho, empurrando-me com a cintura de volta e me segurando pelo braço pra que eu não caísse. – Eu esqueço que minha bunda é grande, sabe? E que eu sou forte, e lindo e gostoso. – ele gargalhou da minha cara. – Você precisa tomar mais Toddynho, . – disse, recebendo um tapa em seguida.
- Eu vou fazer verde e pronto e acabou! – eu retruquei decidida. e eu estávamos decidindo qual cor EU colocaria nas mechas de meu cabelo.
- Vai ficar feio, e você nunca vai arrumar um namorado! Só aquele melequento do Farrel mesmo! - ele disse fazendo cara de nojo.
- Ele não é melequento! – dei outro tapa em , que riu, acariciando o local.
- Ele é esquisito, , o tamanho do nariz daquele garoto... Nem sei como você consegue beijá-lo. Ele não suga todo o seu ar, não?
- Ah, cala a boca! Você pega a Adams, . A Adams! Toda a inteligência dela desceu pros peitos. – revirei os olhos.
- Pelo menos ela tem. – ele disse debochado olhando para o pequeno decote em V da minha camiseta preta. Bati nele dessa vez com a mão fechada, ob que fez com que ele risse, era sempre assim. Eu com minhas tentativas falhas de machucá-lo. E ele sempre rindo debochado da minha cara com aquele sorriso lindo, maravilhoso e mais sexy do que Johnny Depp. Ok, não vamos exagerar. Lindo e maravilhoso, sim, mais sexy, não.
- Seus tapas doem, sabia? – dei de ombros. Pelo menos minhas tentativas não eram tão falhas assim.
- E é pra doer mesmo. , você já transou com ela? – perguntei e engasgou com a própria saliva, seu rosto foi ficando vermelho conforme ele tossia engasgado e seus olhos estavam arregalados, dei leves tapinhas – lê-se “socos”. Desculpa, sociedade, eu gosto de machucar o ! – em suas costas para ajudá-lo a se desentalar. Eu estava curiosa, oras.
- , isso é pergunta que se faça? – ele perguntou sem graça.
- Claro! Você é meu melhor amigo e eu tenho todo o direito de saber se a sua virgindade ainda está intacta.
- E quem disse que eu sou virgem? – ele ainda tinha o tom avermelhado no rosto. E eu sorri daquilo. Qualquer coisa relacionada a sexo com o deixava sem graça, pelo menos comigo. Acho que o fato de eu ser mulher o constrangia. Besteira. Se ele tivesse noção do que se passava na minha mente pervertida...
- , às vezes que você se alivia no banheiro com aquela sua revista de mulher pelada não vale! – ok, dessa vez sim ele ficou vermelho. Mas ao invés de se engasgar, pareceu que o ar não entrava em seus pulmões.
- Como...
- Eu já vi a sua revista no seu banheiro , não é uma coisa tão complicada de deduzir. – rolei os olhos. – E não foge do assunto, você já transou com ela? Eu soube que ela dá pra todo mundo. – arqueei a sobrancelha. Eu detestava a namorada do , pra mim, ela era apenas uma liderzinha de torcida fútil e mimada. Com o cérebro do tamanho de um caroço de azeitona e peitos parecendo duas melancias em um corpo de palinete.
- J... já. – ele respondeu, coçando o cabelo, e eu parei a três passos da porta.
- COMO ASSIM JÁ? JÁ? E VOCÊ NÃO IA ME CONTAR? – cruzei os braços e emburrei a cara. Eu não havia gostado da resposta. E agora eu estava começando a imaginar mil e uma formas de torturar a vadia, acho que eu ia ter que começar a assistir Jogos Mortais. Sempre me disseram que lá tem uns jogos legais de tortura.
- Foi ontem. – ele ainda coçava a cabeça nervoso, o que me deu uma enorme vontade de rir, mesmo que por dentro eu quisesse matar a infeliz da Adams por ter tirado a virgindade do MEU .
- Aposto que você vai dizer que foram os melhores trinta segundos da sua vida. – sorri irônica, vendo-o abrir a boca indignado.Eu estava com raiva.
- Hey, que trinta segundos o quê? O zinho aqui mandou muito bem, ok?
- Eca, ! Eu não quero saber da sua performance sexual. – rolei os olhos novamente.
- Você quem começou com esse assunto.
- Então chega, vamos parar de falar disso. – eu me sentia estranha por saber que tinha feito algo tão íntimo com outra pessoa. – E eu não quero mais casar com você daqui a setenta e dois anos.
- Ué, por quê?
- Porque você não é mais virgem, oras. – respondi como se fosse a coisa mais óbvia. – Eu quero alguém puro, e você já está imundo e todo impregnado das secreções da Adams. – fiz cara de nojo.
- E você acha que daqui a setenta e dois anos você vai encontrar algum cara virgem? – ele fez cara de deboche.
- Então eu morro virgem. – disse rindo e empurrando a porta. e eu caminhamos um empurrando o outro pela sala, quando ouvimos um soluço baixo vindo do local. Paramos na hora e encaramos o sofá. A Tia Anna estava sentada ali com o rosto molhado em lágrimas e um papel em mãos.
- Mãe, o que aconteceu? – quase correu até ela, preocupado, e eu fiz o mesmo.
- Ele foi embora, . - ela chorou baixinho. – Simplesmente deixou um bilhete e foi. – ela soluçou e eu não entendi direito o que ela queria dizer até ela estender o bilhete a , que o leu e ficou parado, estático. Eu não sabia o que fazer. Ele se levantou como se não enxergasse nada à frente e correu pro seu quarto com uma expressão que até então pra mim era desconhecida.
- Tia, o que aconteceu? – perguntei agachando-me à sua frente.
- Ele foi embora, , simplesmente pegou suas coisas e foi embora. – ela me mostrou o bilhete, que eu pude reconhecer como sendo do pai do e dizia apenas: “Me desculpe, não dá mais”. Eu pude quase sentir a dor que o sentia naquele momento. Ele tinha como ídolo o pai, e agora ele simplesmente havia partido. – Vai lá falar com ele. - ela enxugou as lágrimas. - Acho que você é mais útil que eu. – ela se levantou e foi caminhando até a cozinha. Subi as escadas sentindo meu peito pesado. Quase como se fosse meu pai quem tivesse me abandonado. Olhei a porta do quarto de e não precisei nem virar a maçaneta pra saber que estava trancada, eu o conhecia bem pra saber que estava. Sentei-me apoiada na porta e uma lágrima desceu do meu rosto. Eu nunca havia me sentido assim, e naquele momento eu pude entender o que as pessoas querem dizer com compartilhar a dor, eu estava compartilhando a dor de .
- Não chora. – eu disse baixinho do outro lado e pude ouvir uma fungada, não me respondeu e eu fiquei por um momento em silêncio apenas ouvindo o som de minha própria respiração antes de me levantar e descer as escadas, seguindo até a cozinha. Tirei algumas coisas do armário e comecei a preparar o chá. Em alguns minutos estava pronto. Coloquei em uma xícara e procurei na sala, onde tia Anna poderia estar, mas ela não estava. Ainda com o chá em mãos segui para o segundo andar, batendo duas vezes antes de entrar.
- Tia Anna? – eu chamei, colocando apenas a minha cabeça para o lado de dentro. E ela ergueu os olhos para mim, ela estava parada en frente à mesinha de cabeceira segurando um porta-retrato.
- Por que ele teve que fazer isso assim? Ir embora sem nem ter a decência de se despedir, eu não digo por mim, mas digo pelo . Ele é só um menino. – ela fungou. – Por que fazer isso com o próprio filho?
- Eu fiz um chá. – foi a única coisa que eu consegui dizer, entrando no quarto e me aproximando.
- Obrigada. – ela me respondeu, sentando-se na cama e olhando para um ponto à sua frente. – O que eu vou falar pro meu filho? Como eu vou explicar? Eu não sei o que dizer. – ela chorou e eu me sentei ao seu lado, passando a mão em seu cabelo. - É tudo a minha culpa.
- Não se preocupa com o , tia, ele não é mais uma criança. E, além do mais, eu cuido dele pra senhora. – eu tentei passar-lhe um pouco de calma, ainda acariciando seu cabelo.
- Será que ele vai ficar com raiva de mim? – ela me olhou com os olhos marejados.
– Eu tenho certeza que não – eu lhe passei confiança porque eu sabia que era impossível ficar com raiva dela. Ele já havia notado o pai estranho há algum tempo e até comentado comigo que achava que ele tinha outra, talvez fosse até uma coisa que ele esperasse. Mas ter seu pai indo embora do nada, acho que não é uma coisa para qual a pessoa se sinta preparada.
- Pode deixar que eu converso com ele, tia. – eu me levantei para deixá-la sozinha. Desci as escadas, chegando ao quintal. Subi em uma arvore que tinha na lateral da casa, apoiando-me nos pontos certos, já decorados por mim, e me apoiando no telhado até que, enfim, eu pudesse chegar à janela de , que por sinal estava aberta. Sentei-me na mesma, não entrando, apenas observando meu melhor amigo deitado na cama de barriga para baixo e virado para o lado oposto de onde eu me encontrava.
- Você esqueceu a janela aberta. – eu disse baixinho, sentindo meu coração apertado.
- Eu sabia que você viria por aí. – ele fungou e eu entendi aquilo como um sinal de que eu poderia entrar. Sentei-me na cama ao seu lado, esticando as pernas e colocando sua cabeça em meu colo, começando a mexer em seus cabelos. passou os braços em volta da minha cintura, acomodando-se melhor, mas ainda não olhando para mim.
- Como ele pode ser tão estúpido a ponto de nem se despedir? Ir embora deixando só um bilhete? – eu não sabia o que responder. – Eu já esperava que um dia ele fosse embora, mas sabe, , – ele ergueu seus olhos e eu pude vê-los vermelhos – eu não pensei que fosse ser assim, e nem que eu me sentiria dessa forma, mas o problema é que eu tô sentindo, sabe?
- É normal, . - eu me deitei, passando meus braços em volta do seu pescoço e colocando-o deitado no meu peito. – Afinal, ele é seu pai. – eu nunca sabia o que dizer em situações difíceis, então eu procurava dar o máximo de mim para demonstrar que eu estava ali para ele.
- Promete que você nunca vai me abandonar? – ele ergueu seus olhos de novo e eu continuei acariciando seus cabelos, afastando-os um pouco e dando-lhe um beijo na testa.
- Você não precisa nem pedir. – eu sorri antes de voltar a acariciá-lo, e caímos em um silêncio total.





- Você precisa contar isso pra ele hoje, . – Thiago disse sério, parando à minha frente e segurando meu ombro antes de me dar uma leve sacolejada.
- Eu tenho que contar isso pra ele hoje! – eu repeti com voz decidida, soltando-me e olhando para mim mesma no espelho. Eu estava na casa de Thiago, onde estava rolando uma festa. Era a despedida de . Eu ainda não conseguia acreditar nisso. Com o fato de seu pai ter deixado a casa, sua mãe se viu obrigada a aceitar uma proposta de emprego em outro estado. E eles queriam que ela começasse o mais rápido possível. Resultado: deixaria a cidade em dois dias.
- Então vamos descer que você vai finalmente contar pro tudo o que se passa aqui. – ele indicou o dedo para o meu peito. – E aqui. – ele indicou minha cabeça.
- Eu vou. – disse novamente, e ele ergueu a sobrancelha com um ar risonho.
- Você vai porra nenhuma, olha pra sua cara, . – ele apontou meu rosto no espelho. – Você esta com aquela cara!
- Que cara? – virei-me, na dúvida sobre qual cara eu estava. Para mim, era a mesma de sempre, eu não tinha outra.
- Aquela cara de quem vai enrolar, enrolar e não vai dizer nada. – ele disse debochado e eu lhe dei um tapa, escondendo meu rosto nas mãos. Porque era a mais pura verdade.
- Eu não vou conseguir Thiago, aquele é o . Ele está lá embaixo. A festa nem começou direito ainda e ele está bêbado. A namorada dele chega daqui a pouco e ele provavelmente vai aproveitar bem a festa de despedida dele dentro de um quarto.
- O não faz essas coisas, . – Thiago revirou os olhos e eu o encarei. - Você está fazendo aquela cara. – ele disse, abrindo a boca e arregalando os olhos. – Eles... – ele fez um sinal com as mãos que indicava sexo.
- Eu não disse nada. E eu não estou com cara nenhuma. – cruzei os braços emburrada. Eu estava me sentindo péssima por ir embora, morrendo de vontade de chorar, mas eu não queria demonstrar a ninguém. – E eu não tenho nenhuma cara! – eu me olhei de novo no espelho e repeti para mim mesma: - Eu posso contar, eu posso contar.
- É claro que você tem. Você tem a cara de quem não vai falar com o . A cara de quem vai perdoar o . A de quem não sabe mentir sobre o e a sua principal. – ele deu um sorrisinho ladino.
- Que principal? – eu já estava achando engraçado. Afinal, eu não tinha nenhuma daquelas expressões.
- A única que você tem, de roubar o ! - ele riu e eu continuei parada com a boca aberta.
- Eu nunca roubo o . – então era isso que o infeliz ai pensava? Aff.
- É claro que você rouba! Você o rouba do futebol, do videogame e das namoradas. E o mais engraçado é que você nem ao menos percebe isso.
- Aff, Thiago, só você mesmo pra inventar isso! – eu revirei os olhos. – Eu vou descer! – eu disse, seguindo para as escadas. A casa estava cheia, uma música alta tocava e MUITAS pessoas dançavam e se pegavam no meio da sala e no sofá. Ô, se a mãe de alguém chegasse aqui...
- Você vem dançar comigo! – apareceu do nada, puxando-me para o meio da sala.
- Você já está bêbado. – eu o repreendi, mas com meio sorriso nos lábios.
- Desde a hora que acordei, meu amor, é a única forma que eu tenho de ficar. sabendo que eu vou embora. – ele disse, dando de ombros e bebericando sua cerveja. Eu queria tanto contar para ele, mas não conseguia encontrar uma oportunidade certa.
, eu preciso falar com você. – ele ergueu a sobrancelha. – Depois. Não agora.
- Fala agora. – ele gritou no meu ouvido. - Você sabe que eu sou curioso.
- Depois. – eu fiz a cara que eu sabia que o convenceria. Mesmo bêbado ele conseguia estar lindo, lindo, lindo. Eu já disse lindo. Caralho, cara, por que esse cara mexe tanto comigo?
- Você é muito mole, dança direito. – ele me puxou para mais perto. Por mais que eu já estivesse acostumada com aquela proximidade, eu sempre sentia meu coração acelerando quando ele estava mais perto, era como se ele pudesse sair de dentro de mim a qualquer momento. E eu sentia que não conseguia manter meus dentes dentro da boca, eu sentia vontade de sorrir. Ok, da forma que eu falei parece até que meus dentes caem. Eu não consigo manter a boca fechada, eu fico sorrindo com as canjicas de fora. Porque quando estávamos próximos assim e me olhava nos olhos, era como se mais nada importasse, nem as pessoas ao nosso redor, porque todas as vezes que ele estava assim perto me olhando e sorrindo, eu sabia que de alguma forma ele era meu. Aquele momento era nosso e ninguém poderia tirar isso da gente.
- Eu vou sentir tanto a sua falta. - ele disse com tom triste, mas ainda assim com meio sorriso nos lábios. – Eu juro que se você arrumar outro melhor amigo eu volto aqui só pra poder arrancar o saco dele.
- Então eu vou arrumar assim que você for. Que eu vou ter um motivo pra te ver de novo. – eu sorri e ele me deu um beijo na ponta do nariz.
- Mesmo se a gente se afastar, você sabe que isso que a gente tem você não vai conseguir ter com ninguém mais, né? – ele passou a mão no meu cabelo, ajeitando-o, e eu sorri. Eu queria entender o que tínhamos. Porque muitas vezes ele me confundia. Seus olhos, quando me olhavam da forma que ele estava olhando naquele momento, não me deixavam pensar direito. Porque tudo o que se passava na minha cabeça naquele momento era que estava rolando um clima, mas e se fosse coisa apenas da minha cabeça maluca? , por que você faz isso? Nós dois continuamos nos olhando sem falar nada. – Eu não estou muito bêbado, fala o que você queria falar. – seu tom de voz estava mais suave. Como se ele estivesse ficando mais sóbrio.
- eu... – eu respirei fundo, tomando coragem pra falar. parecia se aproximar a cada segundo mais de mim e eu comecei a perder todas as palavras na minha mente, era como se tudo o que eu soubesse e durante muito tempo havia ensaiado tivesse sumido da minha mente e restasse apenas o rosto dele ali, na minha frente, parecendo cada vez mais próximo. Ele sorriu, passando a mão no meu rosto, e eu abri a boca, tentando falar algo. Mas não conseguia. Ele sorriu. Eu não sei por que ele sorriu, mas eu fiz o mesmo.
- !
A Adams apareceu de repente, cortando nossa troca de olhares, e ela me olhou de cima a baixo antes de puxá-lo para perto dela e lhe dar um beijo na boca.
- Vou pegar algo pra beber. - eu disse antes do beijo rolar e quase corri dali. Era difícil vê-lo falar das outras e pegar as outras na minha frente. Mas fazer o que se ele era o meu melhor amigo? Eu não conseguiria falar com ele, não naquela noite. Não daquele jeito. Não com ele indo embora, mas eu tinha que falar. Caralho! Que porra de complicação. Por que ele simplesmente não dava um fora na vagaba? Por que pra ele é tão difícil perceber o que eu sinto por ele? Já que está tão na cara? E por que ele tinha que passar a mão no meu rosto daquele jeito? Me olhar daquele jeito? Sorrir daquele jeito?
- ! – apareceu do meu lado, ela parecia alegrinha demais. – A gente tem que beber nessa porra! – ela me entregou um copo com vodka. – Eu gosto do Thiago, pronto falei! – ela desviou os olhos e eu comecei a rir e a pular que nem uma demente mental.
- Eu sabia, eu sabia, eu sabia! – eu fiz uma dançinha ridícula. – Essa porra merece um brinde. – eu segurei seu braço e segui para a cozinha, pegando um limão. – Um brinde a nós duas, por sermos idiotas, por gostarmos de caras que não gostam da gente, e que preferem se divertir com loiras peitudas ao invés de perceber as amigas lindas, legais e apaixonadas que eles têm por perto! – nós duas batemos nossos copos antes de bebermos.
- Eu acho que pode ser bom! – eu disse por fim, olhando para a sala. – De repente se ele for embora eu paro de sentir o que eu sinto.
- Mas você tem que dizer, ! Porra! Como você vai saber como ele se sente se você nunca contar nada? Ele vai embora, . Embora! E você não vai contar?
- Como você disse, ele vai embora, eu não preciso contar! – mandei-lhe uma piscadela. – Eu quero dançar, beber, esquecer tudo! – concordou, arrastando-me pelo braço.
Nós duas começamos a dançar que nem duas malucas, alguns caras começaram a aparecer ao nosso redor e , , e apareceram também. Era engraçado porque estávamos fazendo uma dança engraçada. Eu dançava com , e juntos. Era tão perceptível, pelo menos para mim, que ela tinha alguma coisa por ele. A Adams passou de repente por mim me dando um empurrão de propósito. Respirei fundo, controlei o “caralho” que quase saiu da minha boca e continuei dançando, fingindo que não era comigo. apareceu do meu lado, puxando-me e me erguendo no colo. Ele começou a me rodar que nem uma criança. Nós dois rimos, ninguém deveria entender. Mas era legal quando nós dois tínhamos o nosso momento “retardado” juntos.
- Cadê seu namoradinho? – ele revirou os olhos, colocando-me no chão, mas continuando a dançar comigo.
- Eu não tenho namoradinho, a gente só fica de vez em quando. – eu respondi e ele revirou os olhos de novo.
- Eu tô sentindo que a sala está com bastante ar, ele provavelmente não está por aqui.
- Para de implicar com ele. – eu lhe dei um tapa. – Ele é um cara legal.
- Mas não é eu. Eu sou o único cara legal que te merece. – ele abriu os braços de uma forma engraçada e eu, mais uma vez, não consegui manter os dentes tapados na boca, eles cismaram de ficar à mostra. – E não importa se eu sou virgem ou não, você vai casar é comigo. – ele apontou o dedo pro próprio peito. - Quando você tiver setenta e dois anos e, se duvidar, bem antes disso. – ele abaixou a cabeça e me olhou de rabo de olho sorrindo de lado. – TENHO DITO. – ele gritou e começou a dançar que nem uma lombriga com hemorróidas. Era estranho saber que dali a dois dias eu não o teria mais por perto, para compartilhar meus segredos, minhas coisas, para dividir a minha vida com ele. Olhando assim, eu não conseguia deixar de sentir meu coração se apertar. Eu tinha que dizer a ele. Eu precisava dizer a ele. Eu não podia deixá-lo ir embora sem contar a ele como eu me sentia. - . – eu chamei sua atenção. – Seguinte, eu tenho que te falar uma coisa. E eu cansei de esconder. – ele e aproximou com uma cara de curioso e eu respirei fundo. Seus olhos estavam meio vidrados, ele estava visivelmente bêbado, não era assim que eu queria contar a ele. Mas foda-se!
- O quê? – ele quase caiu quando chegou um pouco mais perto e de repente eu me senti ser afastada dele.
- Você vai embora? – a Adams apareceu de repente, empurrando-me e gritando com o .
- Vou. – ele disse normalmente. – Agora, “peraí” que a tá querendo falar algo. – ele a tratou com indiferença.
- Espera aí que a está querendo falar é o caramba. Eu sou sua namorada. – ela segurou seu braço. Nossa, possessiva a bichinha. – Quando eu estiver falando com você, não quero você falando com essazinha aí. - ela se virou e me olhou de cima a baixo, fazendo cara de nojo. Ai, minha querida, quem ela pensa que é pra falar assim de mim? Esse mini projétil de Madonna pensa que é quem?
- Solta, garota, tá maluca? – puxou o braço. – Você é minha namorada e não a minha dona. – ele resmungou mais alguma coisa que eu não entendi e sacudiu os braços no ar, saindo de perto da Adams. – , vou beber algo. – ele revirou os olhos e eu acenei com a cabeça.
- "Essazinha aí" é o caramba. Olha lá como você fala quando se refere a mim, garota. – eu disse quando a Adams se virou para me encarar, sério, eu já não gosto dela, álcool estava rolando no meu sangue. E ela me atrapalha logo agora que eu ia contar para o o que sentia? Caralho. Vadia, quem mandou ela se meter?
- Se eu fosse você, eu sairia do meu caminho, gatinha, as coisas podem não ficar muito boas pra você. - ela me deu um empurrão e eu quase babei espuma. Na verdade, eu acho que babei.
- Encosta em mim de novo que eu te mando pra bater um papo com o Kurt Cobain, garota. – eu disse, chegando mais perto e ela fez o mesmo. Nós duas nos encarávamos como duas cadelas prestes a brigar, bom, mas nesse caso ela era a única cadela.
- Tenta a sorte. – ela me empurrou de novo, e eu não pensei duas vezes antes de partir para cima dela. A música não parou quando começamos a brigar, mas as pessoas se reuniram à nossa volta para assistir com um coro de “Briga! Briga! Briga!”. Minha mão acertou alguma parte da cara dela e ela puxou meu cabelo. Nós duas caímos por cima do sofá, rolando e indo parar no chão. Eu estava por cima, esbofeteando-a em algum lugar que eu não sabia onde. Mas, de repente, ela já estava por cima e então nós duas estávamos rolando no chão quando alguém segurou meu braço, afastando-me dela e afastando ela de mim, meu cabelo já estava jogado na cara e eu estava toda desgrenhada. Mas não estava me importando com aquilo. Caralho. Eu tinha dado na cara da Adams, ADORO!
- Vamos pra casa. – pegou na minha mão, puxando-me.
- Como assim pra casa? Por que você está levando ela pra casa? Sua namorada ainda sou EU. – eu revirei os olhos e sorri, ela estava com um olho meio roxo.
- Eu vou levar a primeiro, se quiser, espera que depois eu te levo. – ele parecia meio irritado e eu optei por não contestar.
- Como é que é? – ela colocou a mão na cintura. – Se ela quiser, ela que espere. Você vai ter que decidir, se você for com ela, – Adams apontou o dedo em minha direção - pode esquecer que tem uma namorada. – ela usou exatamente o tom que odiava que usassem com ele.
- Vamos, . – ele me chamou de . Fodeu. Ele estava irritado. Sua mão segurou a minha e me puxou para a porta, dei uma última olhada para trás sorrindo debochada e mandando um beijinho para Adams, que ficava cada vez mais distante.
e eu caminhamos em silêncio por um quarteirão e meio. Era engraçado como nós dois, às vezes, nos entendíamos até no silêncio. E eu sabia que ele estava meio brabo, só não sabia se era comigo ou com ela. Talvez fosse comigo. Eu preferi ficar no silêncio. Como eu sempre prefiro.
- Por que você foi arrumar confusão, hein? – ele perguntou com tom de voz meio sério.
- Ela me irrita, eu não gosto dela e você sabe muito bem disso, não adianta ficar com raivinha de mim, não. – eu respondi sem encará-lo.
- Que merda, ! – ele disse depois de um tempo. – Está tudo errado. Tudo errado. TUDO! – ele jogou os braços em volta do corpo e se sentou no meio fio. Eu fiquei apenas parada sem saber o que falar ou fazer. - Primeiro ele vai embora, depois eu tenho que ir embora. E agora tudo vai mudar, por quê? - e tirou o boné que usava e o jogou no chão. Ele estava bêbado, eu sabia disso, mas suas palavras em momento algum deixavam de ser sinceras. Ele só estava falando aquilo que sentia.
- Às vezes a vida é assim, . – eu tentei confortá-lo, aproximando-me e me abaixando à sua frente. - Alguns têm que ir, a gente tem que ir...
- Eu não queria ter que ir. – ele fez bico. – Eu tenho uma vida aqui, eu tenho meus amigos, minha escola, minha casa, minha namorada. Já não basta meu pai ter ido, agora eu tenho que deixar uma das pessoas que eu mais amo aqui. – ele olhou para cima e duas lágrimas rolaram de seus olhos, mas ele secou rapidamente.
- Fala sério, ! Vocês só se conhecem há dois meses e estão juntos há um. E você está aí chorando porque vai deixar a garota? – eu me levantei indignada e bufando. realmente conseguia ser um idiota. Continuei meu caminho, quer saber? Ele que voltasse lá e ficasse com a peituda da namorada dele para levar para casa.
- Hey, volta aqui. – ele me seguiu, segurando meu braço e me fazendo virar. – Eu não estava falando dela, estava falando de você. – ele soltou meu braço. – Você achou mesmo que eu estava falando dela? – ele fez um bico estranho. – Fala sério, , você é a minha melhor amiga, é você quem sempre cuida de mim, seja quando eu estou doente, triste ou bêbado. É sempre você que está comigo e eu não queria te deixar. Eu te amo. – ele parou com os braços jogados ao lado do corpo e eu engoli a seco.

Flash Back Off

Pov.

Eu estava sentado de frente à minha TV com uma caixa de coisas aberta e jogada ao meu lado, eram todas as coisas que havia me devolvido. Havia tanta coisa. Mas uma específica me chamou a atenção e fez voltar à minha memória um fato. Peguei a chave da minha casa e balancei a cabeça, lembrando-me de um fato não muito distante que havia acontecido.

Flashback - 2 anos antes.


- Eu não quero ter que te deixar. – eu disse, por fim, jogando meus braços em volta do corpo. Eu sentia meu peito pesado com um monte de coisas, eu não queria ter que ir embora, eu não queria ter que deixar a cidade, eu não queria ter que deixar a . Eu estava bêbado, mas não significava que eu não estava sabendo o que fazia ou falava.
- . – ela respirou fundo.
- Por que você nunca acredita quando eu digo as coisas? Você é especial, , você é única. Você tem que encontrar um cara que admire isso em você, não pode encontrar qualquer um. – ela fez uma cara estranha. – Se esse for realmente o meu último dia, eu quero aproveitá-lo com você. - eu disse, chegando mais perto dela e colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, por um segundo eu me imaginei chegando mais perto ainda e beijando-a. Mas sacudi a cabeça, afastando tal pensamento. – Vamos a um lugar maluco? – eu falei, tinha uma cara engraçada. Talvez por eu ter sacudido a cabeça ou sugerido um lugar maluco. Ela concordou com a cabeça. - Mas antes eu quero um abraço. – eu abri os braços e ela veio em minha direção. Abracei minha melhor amiga. Ela sempre conseguia fazer com que eu me sentisse seguro. Beijei o topo de sua cabeça.
- Onde? – ela ergueu os olhos, arqueando a sobrancelha. Ela tinha os olhos tão bonitos. Às vezes, eu gostava de ficar me perdendo neles, porque eu realmente me perdia. Não nos olhos em si, mas no olhar.
- Escola! – eu disse rindo e ela revirou os olhos. – Que foi? Você sabe que eu amo aquele telhado, tem uma linda visão. Anda, vamos. – eu a puxei pelo braço.
- Sério isso, ? Você vai embora amanhã e você quer ir pra escola?
- Exatamente, deixa de ser chata, quem chegar por último é mulher do padre. – eu sabia que por mais que ela tivesse um pouco relutante em ir, ela iria no momento que eu apostasse corrida. Essa era a minha garota. Peraí, não minha garota, digo, minha amiga. E foi só eu terminar a minha frase que ela começou a correr. Ela sempre fazia isso. Eu dei alguns segundos e comecei a correr também, só para dar a ela um pouco de vantagem. Era sempre assim.
- Você não me pega, cara de meleca. – ela gritou um pouco à frente, bem, eu não pegava mesmo.
- Eu estou bêbado, isso é uma ENORME DESVANTAGEM! - eu gritei. Sentia-me um fumante, que não conseguia correr direito. Porque eu estava cansado. - CHEGA, cansei. – eu parei de correr e comecei a andar que nem um zumbi, com os braços jogados em volta do corpo.
- Você está igualzinho aquele cara do Zumbilândia. – ela parou um pouco à frente, rindo. – Na verdade, não, porque os zumbis de Zumbilândia correm e você não consegue fazer isso. – ela deu língua. – Será que você consegue pelo menos subir na árvore, ?
- , meu amor, eu posso estar bêbado, cansado, destruído. Mas ainda assim consigo ser dez vezes mais rápido que você. – eu lhe mandei um beijo, encostando-me na parede em que ela se apoiava. – Sobe que eu faço pé pé pra você. – eu juntei minhas mãos para ajudá-la a subir no muro da escola. Não demorou muito e já estávamos no telhado do colégio.
- Quem é a pessoa retardada que vem parar no telhado do colégio no meio da noite? – fez a pergunta como se estivesse em um programa de auditório e eu ri. – Acertou quem votou na opção . – ela riu e eu lhe dei um peteleco, deitando-me e puxando-a para perto de mim, colocando-a deitada em meu peito.
- Seu cabelo está cheiroso. – eu disse. – Vou sentir falta do cheiro dele.
- Eu te dou meu xampu. – ela ergueu o rosto para mim.
- Não, você vai me dar uma mecha do seu cabelo depois de pintarmos as pontas de roxo.
- Eu não vou cortar uma mexa do meu cabelo pra você. – ela me olhou engraçado. – Isso está me parecendo mandinga, , tô com medo de você.
- Eu vou fazer mandinga com seu cabelo, , pra você nunca arranjar um namorado, assim, vai ser forçada a ficar comigo quando você chegar aos setenta sozinha. – ela me deu um tapa, cerrando os olhos.
- Eu vou arrumar um namorado sim, tá? – ela me mostrou a língua. - Está começando a ficar frio. - ela se encolheu e eu a apertei em meus braços.
- Vem cá que eu te esquento, gatinha. – eu ri da minha tentativa de soar sexy, assim como ela, mas eu me virei de lado, abraçando-a e deixando-a com o rosto próximo do meu.
- O que a gente veio fazer aqui, ? Poderíamos estar em casa, debaixo das cobertas.
- Eu queria estar aqui, e, pensa, pode ser uma história para contarmos depois e rirmos também. Dois retardados no teto do colégio.
- Você sabe que vamos acabar dormindo, né?
- Uhum. – respondi e comecei a mexer em seu cabelo. Como ele conseguia ser tão bonito? Ela sorriu de lado e eu passei a mão por sua bochecha. Estávamos próximos, nada que não fosse normal para nós dois. Mas eu senti uma vontade quase anormal de me aproximar mais. De passar mais a mão em seu rosto. De beijá-la. Eu estava sentindo vontade de beijá-la. Mordi meu próprio lábio com o pensamento. Afinal, era errado. Não podia acontecer. Aquela ali era a , minha melhor amiga. Mas, ao mesmo tempo, nada poderia ser mais certo. Afinal, ela era a minha melhor amiga. , você está mais bêbado do que pensava.
- Então boa última noite comigo, . – ela beijou meu rosto, e eu tive que me segurar para não virar o rosto e beijá-la. Era uma coisa estranha, uma vontade grande demais. Seus olhos se fecharam e eu continuei em silêncio encarando-a de olhos fechados, como ela respirava devagar, como seu rosto parecia ter um sorriso pintado nos lábios. Eu não sei se isso é normal, mas eu nunca me sentira dessa forma, com uma vontade tentadora de beijar tanto alguém. Era como se minha cabeça quase se mexesse sozinha, indo de encontro aos lábios dela. Eu imaginei como seria beijá-la. Eu não conseguia desprender meus olhos de seus lábios. Continuei observando-a enquanto caía no sono, como sua respiração ia ficando mais pesada, e como aos poucos o ar mais inocente ia tomando conta de seu rosto. E sua boca aos poucos se entreabrindo. Linda. Foi a única coisa que consegui pensar. Eu não consegui segurar a minha vontade naquele momento e aos poucos aproximei meus lábios dos dela, selando-os de forma simples, mas que fez com que meu coração se acelerasse de maneira totalmente inesperada. Seus lábios eram macios e eu tive que lutar comigo mesmo para não acordá-la e beijá-la de verdade. Então eu apenas me afastei, respirando fundo e sorrindo, antes de acrescentar:
- Boa ultima noite comigo .


- , acorda. ! – eu senti um tapa e me sentei assustado. – Já amanheceu, vamos embora. – disse. Ela conseguia ficar tão bonita na parte da manhã. Eu queria beijá-la acordada. Peraí, por que eu estou pensando isso mesmo? Arregalei os olhos com meu pensamento. Aquela era a . Minha , melhor amiga. – Que cara é essa? Eu sei que sou destruída de manhã, mas não precisa fazer essa cara.
- Não é isso. – eu respondi rápido. – Você está linda. – completei, vendo-a ficar sem graça.
- Já amanheceu, vamos. – ela se levantou e eu a segui, ainda meio tonto e me sentindo meio bêbado. – O que se passou na minha cabeça pra querer vir pra cá mesmo? - eu perguntei e ela riu.
- Acredite, , eu tento todo o tempo entender o que se passa na sua cabeça.
Nós apostamos corrida de novo pra ir para casa e discutimos mais uma vez qual seria a cor das mechas da .
- Verde, caralho! Já disse verde! – ela fez bico, já estávamos no quintal da minha casa.
- Roxa. – eu discordei.
- Eu só pinto de roxo se você não for embora. – ela me mandou língua.
- Cara, você é má, sabia? – eu cerrei os olhos, abrindo a porta e entrando junto com a , encontrando a minha mãe na sala. Assustei-me ao vê-la acordada àquela hora.
- Bom dia, Tia. – disse sorrindo. Mas ao mesmo tempo tensa, assim como eu.
- Bom dia, . – ela respondeu. E se virou para mim. – Eu preciso conversar com você, meu filho. – ela se virou para mim e a voltou um passo.
- Eu já vou indo.
- Não, eu quero que você fique, . – ela sorriu. - Meu filho não tem segredos com você, por que eu teria? Eu tenho que ir hoje. – ela disse, virando-se novamente para mim. Fodeu. Já? Assim?
- Eu ainda não arrumei nada, eu... – comecei a dizer.
- Eu vou sozinha, , eu pensei bem, e não é justo você ter que deixar toda a sua vida assim, então eu conversei com os pais da e eles concordaram em dar uma vigiada em você pra mim, eu vou vir aqui com frequência. Mas você fica. – eu não sabia se pulava, ria, chorava, gritava, cantava ou dançava.
- Tá falando sério? – eu consegui perguntar, em total estado de euforia.
- Sim. – ela sorriu quando eu corri em sua direção e a peguei no colo, rodando-a. – Me solta, , ela gargalhou. E eu a coloquei no chão. – Eu fico triste por não poder ficar mais tão presente na sua vida, meu filho. – ela passou a mão no meu rosto. – Mas eu tenho aqui alguém que eu sei que vai cuidar direitinho de você por mim. – ela sorriu olhando para e se soltando de mim. – Aqui, . – ela entregou um papel a . – Todos os meus telefones, email e endereços. Você pode me ligar a qualquer hora e toma. – ela tirou uma chave de dentro da bolsa. – A chave da minha casa. Eu quero te pedir que fique de olho nele por mim. – ela sorriu e fez o mesmo, pegando as coisas que minha mãe estendia.
- Claro, Tia. – ela sorriu e minha mãe lhe deu um beijo na testa. - Eu tenho que ir agora, o táxi já esta me esperando. Ela veio até a mim, abraçando-me de novo. – Juízo, . - ela disse antes de sair. e eu ficamos uns bons trinta segundos nos encarando antes dela pular no meu colo, gritando e comemorando.
- Eu vou ficar, porra! - eu a rodei no colo, depositando beijos em seu rosto. E ria.
- Você vai ficar, caralho! – ela repetiu, também me abraçando e beijando meu rosto.
- Você sabe o que isso significa, né? – eu parei de rodá-la e ela me encarou com a sobrancelha erguida, como se não entendesse. – Você vai ter que pintar de roxo.


Flashback off

Capítulo 31

(Coloque para carregar essa música All Time Low - Weightless)


- Alô. – eu disse quando meu telefone tocou no segundo toque. Era Ryan.
- , você está em casa? – ele perguntou e eu fiz um barulho com a boca indicando que sim. – Posso passar aí? Eu preciso falar com você. – seu tom de voz parecia um pouco estranho. Eu sentia que ele queria falar algo importante.
- Claro. Ainda vamos ao cinema? – perguntei como quem não quer nada, a verdade era que eu não queria ir. Eu não queria que Ryan pudesse confundir as coisas entre nós por mais que eu tivesse lhe dado um motivo pra confundir.
- Vamos conversar primeiro.Depois a gente resolve. – ele nele não se despediu, ele praticamente desligou o telefone na minha cara. Okay, esse é o momento em que eu repenso qualquer coisa que eu possa ter feito para ele, para magoá-lo ou algo do tipo. Mas não conseguia pensar em nada. Talvez ele não tivesse gostado do meu beijo ou talvez ele apenas quisesse dizer que demonstrou as intenções erradas. Não sei, mas também não queria ficar pensando. Eu estava pensando demais. Eu já não sabia mais no que pensar. Eu não sabia se pensava em . Eu não sabia se pensava em Ryan, eu não sabia se pensava em , eu não sabia se pensava no carinha que estava no reality show de música que eu estava acompanhando ou se pensava em quem era o assassino no livro policial que eu estava lendo. Eu estava pensando demais. Mãe, não se assuste se vir fumaça saindo do meu quarto. Meu telefone tocou apenas uma vez e eu olhei o visor só para me certificar de que era Ryan. Confirmando o número eu desci. Ele não estava de carro como eu pensei. Ele estava a pé, o que me fez calcular que ele estava próximo à minha casa quando me ligou. Estranho. Estava curiosa para saber o que ele queria. Perguntei se estava tudo bem e ele disse que sim, que só precisava me contar uma coisa. Caminhamos em silêncio até um parquinho não muito longe dali, era próximo à casa de . Ryan e eu nos sentamos na grama, e eu fiquei puxando-a com os dedos. Mania que eu tinha desde criança. costumava dizer que eu gostava era de destruir a grama bonitinha. Assim como eu gostava de tirar todas as pétalas da flor. Eu achava legal, fazer o quê?
- Está tudo bem mesmo, Ryan? Você está estranho. – ele suava. Sim, ele suava e muito, era como se ele estivesse muito nervoso. Engoli com medo realmente de que eu tivesse feito algo que pudesse tê-lo magoado.
- Não, a verdade é que eu preciso te contar uma coisa. – ele olhou para mim, mas pareceu desistir no segundo seguinte. Ele parecia tomar coragem e eu resolvi que não ficaria olhando para sua cara. Olhei o céu, que já estava escuro. Amanhã começaria tudo de novo. Escola, trabalhos, deveres, afazeres. Mas de certa forma eu sentia que começaria tudo de uma forma nova. Estranho, não?
- Pode falar. – eu comecei a mexer na minha própria unha, ansiosa. Que diabos ele queria falar?
- Você sabe que você é uma menina linda, interessante e eu me interessei por você desde a primeira vez que te vi dançando lá na festa da escola, porque ali eu percebi que você não era exatamente que nem as outras garotas que eu já havia conhecido. Você era diferente. – então na minha mente foi como se uma luz tivesse se acendido. Ele estava nervoso, evitando me olhar, parecendo que iria dizer uma coisa importante. Eu me reconheci naquela reação. Eu havia ficado daquela forma quando fui me declarar pra . CARALHO! Por favor, não se declara, não se declara, eu comecei a pedir internamente. Eu não precisava daquilo. Não mesmo, e eu não sabia como eu reagiria se ele dissesse algo do tipo. Eu nunca sei agir. E eu não queria aquilo, por mais que ele fosse um cara legal, eu não queria nada com ninguém. Ou melhor, eu queria, mas com um alguém em específico. – E o fato é que tem uma coisa que eu preciso te contar e que eu provavelmente deveria ter dito desde o dia que te conheci, ou pelo menos quando passamos a nos tornar amigos. – eu respirei fundo. E me preparei, porque já era. Ele falaria e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso.
-Ryan, olha. – eu tentei interrompê-lo, tentei falar algo, quem sabe trocar de assunto.
- Você pode falar, mas deixa só eu concluir algo, antes que eu perca coragem, e eu não quero que você mude comigo pelo que eu vou te dizer, e eu quero também dizer que tem uma explicação pra isso. Eu me interessei por você desde que te conheci, e quando nos beijamos foi uma coisa diferente, e – ele parou e respirou fundo, olhando bem no fundo dos meus olhos, minha nossa senhora das borrachas escolares perdidas, era agora. – ,eu sou gay.
- VOCÊ O QUÊ? – eu quase grite e engasguei com a minha própria saliva.
- Eu gosto de garotos. – ele mordeu o próprio lábio. Sabe quando você imagina um amigo gay aquele tipo de cara que dá pinta, quebra a mão e fala “ai, amiga”? Pois bem, vou te dizer algo, Ryan era totalmente o oposto disso. – Eu estava a fim de você. Ou eu realmente pensei que estava. Até nos beijarmos ontem. Eu percebi que não é de você que eu gosto e não é assim que eu quero que a gente esteja juntos, sabe? Você é uma ótima amiga. Mas só. - ele balançou os braços indicando que finalmente tinha concluído seu assunto e respirou fundo, como se estivesse aliviado. - A é a única pessoa que sabe.
- Era isso que ela iria me contar?
- Sim, eu havia pedido a ela pra te contar, porque eu não tinha coragem. É difícil pra mim, contar pra alguém Eu perdi algumas amizades quando descobriram minha opção sexual eu acabei de terminar um relacionamento.
- Por que eu mudaria com você por isso? – eu perguntei.
- Não sei, de repente você pode achar estranho, ou não sei.
- Eu acho que cada um tem o direito de gostar do que quiser. Se te faz bem e te faz feliz, quem sou eu pra dizer que é errado? – eu segurei sua mão e ele sorriu aliviado.
- E, além do mais, você acabou de realizar um sonho. – eu sorri e ele revirou os olhos antes de fazer a pergunta.
- Qual?
- Eu sempre quis ter um amigo gay.



***


Acordei de bom humor. Ryan havia me feito rir muito na noite anterior e acho que isso contribuiu para que eu acordasse de bom humor. Nós dois havíamos conversado muito sobre a vida, sobre amores. Eu havia contado toda a minha história com , desde que nos conhecemos e quando ele conheceu minha irmã. Falar de me fez pensar em nós dois e no quando eu queria tê-lo de volta. Eu me levantei da cama e antes de ir para o banho eu digitei uma curta mensagem para o número mais que conhecido pela minha cabeça. “Vamos recomeçar" foi a única coisa que escrevi e mandei a . Quer saber de algo? Eu errei, ele errou. Mas quem não erra? Errar é humano, certo? Certíssimo. Tudo o que eu queria era meu melhor amigo de volta. Cansei de todo drama e palhaçada. Eu só queria que nós dois voltássemos a ser como éramos antes. Quase pari de susto quando saí do banheiro e me deparei com deitado em minha cama, com o braço cruzado em frente aos olhos. E provavelmente cochilando, como ele sempre fazia. Abri a boca para acordá-lo, mas mudei de idéia ao vê-lo suspirar. Ele estava simplesmente lindo, com um ar de criança inocente, aquele ar que as pessoas geralmente carregam quando estão dormindo. Ele tinha um sorriso nos lábios e eu fiquei curiosa para saber o que ele sonhava, mas guardei minha curiosidade para mim, apenas observando-o ali. Era uma coisa diferente. Eu sabia que ele estava ali, que tudo seria como antes, que éramos apenas nós dois de novo dentro de nossa bolha. Mas ao mesmo tempo eu tinha medo disso. As coisas entre e eu não eram mais as mesmas, por mais que nós quiséssemos, elas nunca mais seriam. E isso, às vezes, me assustava. Nós dois amadurecemos nesse último mês. Eu aprendi a enfrentar meus sentimentos e nem de longe eu posso dizer que me arrependi disso. Muito pelo contrario, se existe algo pelo que eu preciso agradecer a é isso. Eu não era mais a mesma, aprendi a encarar meus próprios sentimentos, mas o que me assustava era . Será que ele sentia algo de verdade por mim? Ou ele estaria apenas confundindo? Não que eu pudesse culpá-lo caso ele estivesse fazendo aquilo, seria normal. Afinal, quem nunca confundiu os sentimentos por um amigo? Esse era o meu medo. De certa forma, não havia mais para culpar caso o relacionamento entre e eu sofresse outra mudança, caso algo desse errado a culpa seria única e exclusiva nossa.
- Bom dia. – saí de meus pensamentos ao ouvir a sua voz e sorri, sem graça por ter sido pega o encarando.
- Bom dia! – eu sorri e caminhei até minha cômoda, pegando meu telefone para consultar a hora. – Velhos hábitos não morrem, né? - ele sorriu sem graça e se sentou, mordendo os próprios lábios, e eu tive que ter um enorme alto controle para não pular em seus braços e agarrá-lo. Porque era aquilo que eu queria fazer mais que tudo. A vontade agora era mais forte do que qualquer outra vontade que eu tinha sentido antes. Ela não estava só em meu peito. Ela estava em todo o meu corpo. Gritando para que eu chegasse mais perto. Eu já conhecia seu gosto. Eu já sabia como era seu beijo, eu só estava com saudades. Senti vontade de gritar. Sim, eu senti vontade de gritar. Bem alto. Foi com se um “plim” tivesse estalado em minha cabeça: e eu nunca mais voltaríamos a ser como antes. O pensamento havia mudado, o olhar havia mudado, a vontade também. Em ambos.
- Será que podemos voltar a ser como antes? – ele olhou para as mãos e eu sorri, sentando-me ao seu lado. Nenhum de nós dois queria ter aquela conversa porque na verdade não havia conversa a ser tida. Nenhum de nós dois sabia o que dizer.
- Eu não sei o que fazer, . – fui sincera. – A minha irmã mentiu pra mim, manipulou a minha vida, ela fez uma enorme confusão e mexeu com a parte de mim que eu sempre pensei ser a mais concreta.
- Eu gosto de você, . - ele segurou minha mão e olhou em meus olhos. - Eu gosto mesmo.
– Eu também, . - eu sorri, porque por mais que me sentisse um pouco triste, eu estava feliz. - Eu só não sei o que fazer com a gente agora.
- A gente pode ir aos poucos. Agir como se tivéssemos nos conhecido hoje. Experimentar fazer coisas sem os outros. Sermos mais nós mesmos e não esconder as coisas um do outro mais. - ele dava aquele sorriso ladino que só ele parecia ter. Apenas uma parte de seus lábios se curvava em um sorriso e toda vez que eu o olhava eu sentia vontade de fazer o mesmo. - Eu gosto de nós. E eu não vou desistir disso. Não agora que eu percebi que é isso o que eu quero. - ele ergueu minha mão e a beijou, beijando minha testa em seguida, meus olhos, meu nariz. Respirei fundo e tentei colocar na minha cabeça que eu queria ir devagar. Sem correr muitos riscos. Fechei os olhos com força, tentando controlar a enorme vontade de agarrá-lo, e pareceu perceber isso, já que no segundo seguinte ele mesmo se levantou respirando fundo. – Então, vai querer minha carona pra escola ou vai tentar mudar isso também e ir a pé? - ele sorriu e eu me ergui.
- Vamos, nós vamos nos atrasar. – eu disse, pegando minhas coisas. O clima era legal entre nós fomos todo o caminho para a escola conversando e fazendo idiotices, exatamente como antes. Assim que descemos do carro, nossos amigos nos encararam com um enorme sorriso nos lábios. Eles finalmente estavam felizes que tínhamos voltado ao normal. Eu estava feliz que tínhamos voltado ao normal. Mesmo algo ainda estando diferente.
- Meninas, a dor do parto é grande, mas agora deixarei vocês sem a minha presença. – ele fez pose ao falar a frase antes de ir para a sala, como se fosse alguma espécie de galã, o que fez com que eu, e e , que estavam atrás de mim, ríssemos muito.
- Idiota. – eu sussurrei e ele me mandou um beijo no ar, exatamente como sempre fazia quando eu o xingava.
- E aí, como estão as coisas? , ? - perguntou, parando na porta de sua sala.
- Meu pai a levou ontem pra casa da minha avó. Ela vai passar um tempo por lá. E , bem, nós dois decidimos ir devagar. estamos nos re-acostumando com nós mesmos. – eu respondi, dando de ombros e sorrindo. Andei em direção a minha sala deixando para trás.
- Você precisa parar de sorrir. – disse me acompanhando, a sala dela era duas salas depois da minha
- Eu não consigo. – eu mordi meus lábios. Por mais que eu me sentisse assustada, também me sentia feliz. Feliz por saber que alguma coisa boa poderia sair de tudo aquilo.
- Apaixonada. – ela debochou antes de me deixar em frente à minha sala e seguir para a sua. As aulas passaram rápido, ou meus pensamentos, que estavam tão a mil, me fizeram perder a noção da realidade. Talvez não estivesse confundindo, havia uma grande chance de isso não estar acontecendo, certo? Ele havia me beijado sem que eu o tivesse provocado, pelo menos não intencionalmente. Talvez pudéssemos ficar juntos. Talvez não fosse tão estranho quanto eu pensava. Talvez não fosse um erro. O sinal tocou e os corredores se encheram com o amontoado de hormônios ambulantes que caminhavam em direção à porta que dava ao pátio que nem rinocerontes no cio. Encontrei com no meio deles.
- Achei você. – ela segurou meu braço. E eu me virei para ela sorrindo.
- Cara, a tua felicidade tá dando pra tocar.
- Eu não estou feliz, eu estou normal. – rolei os olhos. Okay, na verdade, eu me sentia feliz, que foi? Condene-me, sociedade. Um beijo. Gente, hoje eu estou divagando e pensando muitas besteiras comigo mesma, acredita que eu estava pensando durante a aula de biologia como vai ser quando eu tiver que contar ao meu marido que eu estou grávida? Sério, eu preciso me tratar.
- , mas que porra... – eu ouvi a voz de e me virei para ela com a sobrancelha erguida, quando ela tinha chegado mesmo?
-Oi? – eu disse sorrindo.
- Você escutou uma única palavra de algo que eu tenha dito?
- Não, você estava falando comigo? - recebi um pedala na cabeça, sério um dia elas acabam com meus neurônios que eu já não tenho.
- Não, com a minha vó. – ela deu língua, e eu lhe mandei o dedo do meio. Nesse exato momento meus olhos se encontraram com os de , e quando nos encaramos, foi exatamente como se aquele último mês não tivesse existido, pelo menos os momentos ruins, eu senti meu coração se acelerar da forma que sempre se acelerava quando meus olhos batiam nele, mas dessa vez teve algo diferente, eu não tive medo de sorrir, e nem escondi meu sorriso, eu apenas sorri abertamente quando nos olhamos e, para minha completa felicidade, ele sorriu de volta. Era um sorriso nosso, era como se algo nos conectasse naquele momento. Era como se estivéssemos de volta ao nosso mundo, e ninguém podia entrar nele. Era nosso só nosso e de mais ninguém. Eu não sei quando começou, mas quando dei por mim, nos dois corríamos que nem dois malucos em direção ao único banco que poderíamos querer, gritou algo e também, mas eu não prestei atenção. e eu corríamos que nem dois malucos e quando já estava próximo da cadeira, ele se aproximou de mim, puxando-me pela cintura e me erguendo do chão.
- Qual foi, sai, cara! – eu tentei mordê-lo, mas ele foi mais rápido, virando-me de cabeça para baixo em seu colo. Sim, ele tinha essa mania, mania besta.
- ! – eu gritei com as pernas para cima, os cabelos na cara e rindo. se sentou no banco e me colocou no chão. Eu lhe dei um tapa e ele me ajudou a levantar, puxando-me para sentar em seu colo. Seus braços se fecharam à minha volta. Era tão bom estar ali, com ele. Eu me sentia aconchegada.
- Vocês dois precisam de tratamento, vocês parecem dois retardados. – disse, aproximando-se de nós.
- Vai dar, . – eu disse rindo, ele respondeu algo e eu não prestei muita atenção, a única coisa na qual eu conseguia prestar atenção era nos braços de em volta da minha cintura, que me mantinham próximo a ele, e no beijo que ele havia acabado de depositar em meu pescoço. Eu sorri. Sorri muito. Porque era apenas isso que eu queria fazer. Sorrir por estar daquela forma com ele novamente. Eu não sei direito se o intervalo passou rápido ou devagar, como eu já disse, eu estava divagando demais em minha própria mente para prestar a atenção em algo que não fosse meus pensamentos idiotas, e as mãos de , que passaram todo o tempo acariciando meu braço.
- Gente, olha, a professora está chamando para a quadra. – nós nos entreolhamos e pegamos nosso material, seguindo para a quadra, onde todos os alunos já conversavam e se perguntavam o que seria aquilo. A professora de filosofia subiu em um banquinho e bateu no microfone duas vezes antes de falar.
- Bom dia, gente. – ela disse simpática. - Eu sei que a maioria de vocês deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui e o que isso significa. Bom, temos recebido muitos alunos na diretoria e até enfermaria por conta das rixas e brigas aqui. Eu quero dizer a vocês que isso nos decepciona muito, nos deixa profundamente tristes. Então, com a autorização do diretor eu resolvi aplicar um novo método. E quero que todos vocês escolham um par. Uma pessoa com quem você nunca tenha falado, ou que você já tenha brigado. Enfim, alguém que não tenha sido muito chegado a você nesse último mês. Ali naquela mesa – a professora apontou para a mesa onde víamos enormes quantidades de papel - vocês devem pegar cada um uma folha. Vocês têm a próxima aula para preenchê-las de acordo com a personalidade de seu parceiro. É só. Vocês têm uma hora pra isso. – ela disse, descendo do banquinho, e as pessoas começaram a caminhar em amontoados para a mesa. Em alguns minutos eu já estava com o meu papel em mãos e me despedindo de e , que haviam sido escolhidas por duas desconhecidas. Eu não sabia com quem conversar. Então surgiu na minha frente.
- Acho que nós dois nos incluímos no grupo de quem brigou, certo? Eu ter te deixado em uma cova aberta não é algo que seja considerado amigável, é? – ele sorriu, sacudindo a folha.
- Acredito que não. – ele me estendeu o braço e então saímos caminhando em direção ao campo de futebol.
- Vamos sentar lá. Bem no meio. – eu disse e apenas ri. – Okay, no meio não, vamos pra onde tem as árvores. – eu o puxei porque o sol estava quente e ele reclamou, como sempre. Parece um velho esse meu melhor amigo.
- Conte-me um sonho. – perguntou e eu o olhei, estranhando a pergunta, só me toquei que ele estava fazendo uma das perguntas feitas no papel que a professora deu quando ele o sacudiu na minha frente. - Mas tem que ser um que seja só seu, um que eu não saiba, por favor. - ele sorriu, gabando-se por saber meus sonhos.
- Eu tenho vários sonhos que você não conhece, Senhor .
- Então me diga um. - ele meio que se deitou, apoiando o braço atrás da cabeça e colocando uma mão nas minhas costas, acariciando-a.
- Eu acho que meu maior sonho é nunca sair de perto daqueles que eu amo. - disse por fim. E ele me encarou de uma forma engraçada, seus olhos estavam cerrados e um sorriso brincava em seus lábios. Eu me senti sem graça. Eu não costumava falar dessas coisas. Das pessoas que eu amo, ou do que eu quero ou tenho medo. Eu não costumava ser muito sentimental, pelo menos não com . Não dessa forma. Eu sempre gosto de manter minha parede protetora ali. – Sei lá, mesmo que acabe a escola, mesmo que cada um siga sua vida, sua carreira, ou talvez, sei lá, alguém se mude, eu acho que um dos meus maiores sonhos é nunca me afastar das pessoas que eu amo, nunca perder esse vínculo que a gente tem, sabe? Da sempre saber como eu estou me sentindo, e do estar sempre ali pela gente, pronto a te socar só pra me defender. Sei lá, às vezes eu tenho medo de que essas coisas acabem. E o seu?
- Eu achei que você falaria sobre ir a Broadway. – eu ri alto quando ele falou aquilo e revirei os olhos em seguida. – Sério mesmo.
- Eu nunca mantive isso em segredo.
- Estava no seu diário, .
- Eu já te falei que aquilo não era um diário. – eu revirei os olhos. - Era apenas uma agenda, .
- Quem me garante isso? – se referia a uma agenda que eu carregava de cima para baixo alguns anos atrás e que ele “acidentalmente” pegou e leu.
- Meu diário só tinha coisas escritas sobre você. – ele abriu um sorriso bonito convencido e eu lhe dei um tapa na perna. – Anda, me diz o seu.
- Ser pai.
- Disso eu já sei.
- Calma, eu não terminei. Não ser pai só de gerar filho, eu quero tipo, ser O cara pra eles. Eu quero que eles confiem em mim e me contem segredos e me contem tudo. Que eles sejam meus melhores amigos.
- Qual o motivo desse sonho? – perguntei lendo a pergunta no papel, mas me lançou aquele olhar de “você ainda pergunta”. – Okay. - parei para pensar no motivo do meu sonho. – Eu não sei o motivo do meu, sei lá, eu só não quero que isso acabe. E eu não sei, acho que eu tenho um pouco de medo de ser esquecida, de esquecer as coisas boas que já vivemos. De um dia lembrar as coisas que a gente já aprontou e pensar que só eu tenho essa lembrança, sabe? Eu não gosto de pensar na minha vida daqui a uns anos sem minha mãe, meu pai, a , a , o , o , o ... Você. - entortei a boca.
- A gente nunca vai se perder. – ele disse. Nós nos prometemos. Sorri por ele se lembrar da promessa.
- Um lugar que você já tenha feito algo bem legal e que seja dentro da escola. – eu fiquei animada com essa, porque eu contaria uma novidade a . Eu me levantei e o puxei pelo braço, ele reclamou, dizendo que estava com preguiça, mas logo estávamos em um almoxarifado que dava em um dos corredores do colégio, para ser sincera era um armário de vassouras. – Aqui é meu lugar especial.
- Por quê? – ele fez uma cara engraçada, mas logo uma “compreensão” pareceu passar por seus olhos. – Foi aqui que você deu seu primeiro amasso? – ele cerrou os olhos e eu dei de ombros, puxando-o para fora. – , você já deu amassos? Você não pode! Você só tem dezesseis, esses caras de hoje em dia não valem nada.
- . – eu o interrompi. - Você é um desses caras de hoje em dia. Você tem dezessete e nem virgem mais é. – suas bochechas ficaram vermelhas.
- Mas eu sou homem. – ele tentou se safar e eu revirei os olhos. – Ah, esquece isso, eu nunca mais vou entrar ali, vou te levar ao meu lugar especial. – ele segurou minha mão e saímos caminhando de mãos dadas pela escola, até sentarmos no segundo lance de escadas da saída do antigo corredor que era virado para a mesa em que costumávamos sentar antigamente.
- Por que aqui? – não entendi o que de especial esse lugar tem.
- O que eu vou te contar agora só o sabe. Três anos atrás, eu estava sentado aqui depois da minha aula de educação física esperando pra te levar pra casa. Quando você saiu, eu não sei por que eu não consegui olhar pra nenhum lugar mais. Você estava de saia. Foi uma das poucas vezes que você veio de saia pro colégio. E seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto e você estava usando aquela blusa dos Backstreet Boys que eu te dei, e eu percebi também que ela já estava ficando pequena. Eu reparei aquele dia que você estava diferente, tinha alguma coisa diferente no seu jeito, no seu olhar. Eu percebi que você tinha crescido. - meu coração, não sei por quê, estava acelerado. Eu sentia que minhas mãos estavam frias. Ele já tinha sentido alguma coisa por mim, um sorriso brincou nos meus lábios. - O boato que rolava na escola era que as líderes de torcida te queriam com elas, mas você não estava nem aí. Você andava por aí, rindo alto e falando seus palavrões sem se importar com nada. Você era apenas você. Eu lembro que sentado aqui eu virei pro e disse: cara, eu acho que gosto dela. Eu me lembro da cara do quando eu disse isso pra ele, ele pareceu que ia enfartar. A cara dele mudou de cor e por um momento eu pensei que ele pudesse estar com você. Eu lembro que ele perguntou se eu pensava em contar ou fazer algo em relação a isso. Eu disse que não sabia. Eu só queria ficar te observando andar por aí e ser você mesma sem que ninguém te incomodasse. E de alguma forma eu achava que você sentia algo também. O prometeu pra mim que não contaria pra você nem sob tortura. E eu prometi a ele que só faria algo quando eu tivesse certeza de alguma coisa. E então aconteceu e eu achei que estava certo. Você havia acabado de pintar as pontas dos cabelos e eu ia ficar aqui. Eu havia terminado meu namoro e decidi que te contaria o que eu estava sentindo. Até que...
- Até que eu comecei a ficar com o Olen. - concordou com a cabeça. Olen havia sido um dos primeiros caras que eu havia ficado. Nosso rolo durou no mínimo uns oito meses entre idas e vindas.
- Então eu simplesmente deixei passar e achei que tinha passado. Até você voltar de viagem. Até você começar a sentir ciúmes de mim, até você me dizer aquelas coisas. Eu achei que surtaria. – eu já não conseguia disfarçar meu sorriso, eu sorria abertamente e mantinha o olhar fixo à nossa frente, suas bochechas estavam vermelhas e ele pegou minha mão, beijando-a e mantendo-a próxima ao seu rosto. - Se nós somos melhores amigos, por que escondemos tantas coisas um do outro?
- Sentimentos são difíceis de encarar. – eu dei de ombros achando que aquela era a única resposta plausível.
- Nós dois somos dois idiotas. – nós dois rimos porque falamos juntos.
- Qual é a próxima pergunta? – ele perguntou.
- Você está com um papel na mão, .
- Tô com preguiça, lê aí. – ele se deitou no meu colo e pegou minha mão, colocando-a em seu cabelo.
- Diga três defeitos que você não gosta da pessoa. – abriu os olhos e fez carinha de anjinho.
, eu não tenho defeito. – ele tentou parecer sério, mas riu. – Okay, quem começa?
- Pode começar. - eu disse.
- Você é mandona. Tem horas que até demais. E você também é orgulhosa. Você às vezes perde as coisas por orgulho e eu não gosto da cor atual do seu cabelo. – ele pegou uma mexa. – Está feio, sem vida. Você já foi mais bonita, . – ele fez uma voz como se fosse uma bicha falando e levou um tapa em seguida. – Mentira, você é linda, só não gosto da ponta atual do seu cabelo, está com cor de diarréia.
- Idiota. – eu lhe dei outro tapa. – Você é tapado. - até demais. Nossa, isso me irrita profundamente.
- Porque você acha que eu sou tapado?
- , eu gostei de você por todos esses anos e você não percebeu.
- Eu desconfiei, mas não acreditei. Era surreal demais! E eu não sou tapado, eu sou inocente, é diferente.
- Você é fácil.
- WHAT? – ele se sentou imediatamente com a cara fechada e eu ri alto.
- Eu não sou fácil.
- Claro que é. Você corria atrás de qualquer rabo de saia que passasse por você. Ficava com qualquer uma que te desse mole. Não é à toa que minha irmã te fisgou rapidinho.
- Sua irmã me fisgou porque ela me lembrava você. Por isso que eu gostei dela. Porque eu te via nela.
- Mas eu não era ela.
- Eu sei. – ele passou a mão por meu cabelo e eu fiquei sem saber o que fazer ou falar. – Droga, eu quero te beijar. – mordi meus próprios lábios quando ele disse isso. – E você mordendo os lábios assim próximos de mim não vai ajudar.
- , estamos na escola, você acabou de terminar com a minha irmã... – eu disse e ele tirou a mão do meu rosto.
– Okay, vamos devagar. – ele respirou fundo.
- Falta um defeito. – ele voltou a olhar para a frente e continuou segurando minha mão. – , você ainda quer me beijar? Ou você ficou abalada com o beijo do Ryan? – ele virou os olhos para mim de novo. E eu sorri.
- Eu quero beijar você, .
- Então já que nós dois queremos a mesma coisa, por que simplesmente não fazemos?
- Você é impulsivo. - eu disse seu último defeito. – Eu quero esperar, , você acabou de terminar com minha irmã, um monte de coisas aconteceu. Eu não quero me precipitar.
- Você é cautelosa demais.
- Eu procuro evitar me magoar.
- Eu não vou te magoar.
- Eu sei. – disse e fui o mais sincera que pude. Eu sabia que aquilo era verdade. – Três qualidades agora. – eu disse, tentando voltar ao assunto da folha.
- Essa é fácil pra você, eu só tenho qualidades. – ele riu e mexeu nos cabelos. – Mas eu começo. – Você é sincera. Espontânea e beija bem. – ele teve que tocar no assunto beijo. Será que ele não entendia que quanto mais de falava, mais vontade dava? Revirei os olhos e ele riu. - Ah, e fica sem graça fácil. Você já foi melhor nisso, . – eu lhe mandei língua.
- Você é amigo, cuidadoso e beija bem. – disse por fim, entrando em sua brincadeira.
- Eu sei. – ele riu convencido de novo e tomou outro tapa.
- Eu não vou te magoar, , vou te provar isso. Que nada vai ser como antes e ao mesmo tempo vai. Que eu gosto de você. Eu vou te fazer entender isso. - como você reagiria se o garoto que você gostasse te dissesse isso? Um beijo para você que surtaria, porque eu estava quase surtando. Ao invés de dizer alguma coisa ou gritar com ele dizendo que ele não podia falar aquelas coisas, não quando eu estava tentando manter as coisas devagar, apenas para organizar meus pensamentos. Ele pareceu perceber a confusão estampada em meu rosto e beijou minha testa, carinhosamente. Eu sentia que derreteria a qualquer momento.
A quadra ganhou um barulho novo e percebi as pessoas se aproximando. O tempo dado pela professora estava chegando ao fim e todos se reuniram na quadra. Ela pediu que fizéssemos um círculo e ela ficou no meio. Um pequeno discurso sobre relacionamentos foi dado. Mas a última parte dele é que me chamou a atenção. A professora pediu a algumas pessoas aleatórias que descrevessem uma qualidade da pessoa com quem haviam passado a última hora. Algumas qualidades foram legais, qualidades normais, mas algumas pessoas não se conheciam o suficiente para ressaltar a qualidade do outro, então “peituda” e “gostosa” foram duas qualidades que apareceram no meio dos comentários. O que gerou uma onda de gargalhadas.
- É bom saber o que as outras pessoa pensam da gente, não é? – a professora disse, chamando nossa atenção de novo. - Mas o que eu queria falar pra vocês hoje é uma coisa diferente. Vocês perceberam que a maioria dos defeitos citados relatam o que a pessoa transparece, geralmente são a primeira impressão que as pessoas causam? Todos vocês são jovens, ainda têm muita coisa pra aprender. Mas vocês estão crescendo, não são mais crianças, mas ainda não são adultos. E agora eu pergunto: é assim que você quer que as pessoas te vejam por aí quando a escola acabar? O que você foi ou é na escola, não importa muito quando você está no mundo lá fora. Não importa se você foi líder de torcida, se você foi um nerd, um loser ou popular. O que importa não é o que você pareceu ser, ou o que diziam que você era, é o que você é de verdade. É um momento difícil da vida, saber o que quer ser, quem quer ser, o que ser. O que fazer, o que não fazer? Acredite, eu já passei por isso, assim como muitos de vocês agora ficam na dúvida sobre o que é a vida, será que ela realmente é assim? Muitos sofrem por tantas coisas. Há quem diga que adolescentes não sofrem de amor, mas eu acho que vocês são os que mais sofrem. - a professora olhou para mim e eu desviei o olhar. - Porque vocês estão começando suas vidas e entram de cabeça naquela primeira sensação de coisa boa que é o amor, o primeiro amor, mas às vezes as coisas não dão muito certo. - ela se virou, encarando as outras pessoas. - Eu sei que vocês têm passado por muitas coisas, têm amadurecido muito, eu lembro quando comecei a dar aula pra maioria de vocês, um bando de pirralhos magrelos, e agora são meninos e meninas lindas. Quase adultos, porém não mais crianças. A cabeça cheia. Mas eu queria propor uma coisa diferente pra vocês. - ela se aproximou de um galão que eu não sabia o que continha. Todos os alunos estavam em silêncio total prestando atenção no que ela dizia. - Eu quero que vocês esqueçam as diferenças, eu quero que vocês enfrentem seus medos, que amem, que briguem por aquilo que querem, mas que pensem bem antes pra saber se vale a pena. Eu vejo vocês brigando por um status, por um lugar onde sentar, mas não vejo vocês brigando por seus direitos como alunos, direito como pessoas. Eu quero que agora, pelo menos nessa última aula, vocês esqueçam responsabilidades, problemas, diferenças, grupinhos, preconceitos. Eu só quero que vocês se divirtam, sejam vocês mesmos, sem medo de nada. E ajam como se esse fosse um dia bom, ou melhor, um dia ótimo pra ser feliz com aquele que está sempre próximo, mas que muitas vezes nem notamos. Hoje eu quero que vocês aproveitem cada segundo e tentem levar isso para a vida de vocês, aprendam a perdoar, aprendam a deixar algumas coisas para trás e apenas vivam, porque a vida é só uma, e depois vocês não poderão voltar atrás. Façam as coisas, arrependam-se, por que é melhor e se arrepender de algo feito do que nunca fazer nada. Valorizem os momentos bons, peçam desculpas, façam as pazes. Os bons momentos valem muito mais a pena serem lembrados do que os ruins. - ela sorriu, retirando do galão uma bexiga colorida. - Eu quero que, por hoje, ou pelo menos por agora, vocês voltem a ser crianças. - ela tirou um balão cheio de água colorida de dentro de um dos barris. - E que apenas se divirtam e nunca se esqueçam disso. Que nunca se esqueçam de ser felizes, por que a vida vale muito mais a pena quando fazemos algo feliz. – ela jogou a bexiga de água na direção de , que logo ficou encharcado de água rosa. Ele riu e a professora também. - E então, quem vai ser o próximo? - a professora perguntou e as pessoas logo se encaminharam para os galões. A professora olhou os alunos com um sorriso no rosto e eu senti vontade de agradecê-la. Caminhei em sua direção e, quando estava próxima, abracei-a. Seus braços demoraram um pouco para se curvarem em volta de meu corpo.
- Obrigada. – eu disse quando a soltei. – Você me ajudou bastante. - eu lhe dei um beijo no rosto e ela sorriu parecendo feliz e surpresa ao mesmo tempo. Não era mentira, ela havia me ajudado de verdade, era como se do nada um nó tivesse se desfeito em minha cabeça.
- Que bom! – eu acenei com a cabeça antes de sair. As pessoas ao meu redor já haviam começado a jogar balões de água uma nas outras e correr que nem um bando de malucos. Eu achei Ryan no meio deles e ele se aproximou de mim.
- E então... - ele fez uma careta engraçada. - Não me diga que depois desse discurso da professora você não vai fazer nada em relação a você e o ? - eu apenas dei de ombros, rindo, mas não era um dar de ombros qualquer, era um dar de ombros que queria dizer: é obvio que eu vou fazer alguma coisa. Sabe o que estava passando na minha cabeça? Um grande, na verdade, enorme foda-se. Foda-se medo. Foda-se razão. Eu gostava dele, certo? Ele dizia que gostava de mim, certo? Por que não? Por que enrolar e adiar? Por que deixar passar uma oportunidade de fazer dar certo? E se desse? Eu estava pronta para tentar. Sentindo-me mais preparada do que nunca, mais segura do que nunca. É a vida, não é? A gente nunca sabe o que vai dar certo até tentar. E eu queria tentar. estava ali, parado do outro lado da quadra, ele sorria, jogando balões em , que tentava se desviar sendo atacado por mais dois rapazes que eu nem sabia quem eram. Eu não tinha um pingo de dúvidas do que sentia por ele. E eu não queria mais adiar isso. (coloque a música pra tocar)
- . – me chamou e me tacou uma bola bem na cabeça. Era verde.


Manage me
Oriente-me
I'm a mess
Estou um traste
Turn a page
Vire a página
I'm a book half unread
Sou um livro lido pela metade
I want to be laughed at,
Quero que riam de mim,
laughed with
Riam comigo
Just because
Só porque
I want to feel weightless
Quero me sentir leve
And that should be enough
e isso deve ser o suficiente


- Agora eu acho que você sabe como sua irmã se sentiu. – ela me deu língua debochada antes de sair correndo comigo ao seu encalço tentando inutilmente tacar uma bola em sua cabeça, mas ao invés de ser bem sucedida, eu apenas levei três boladas na cabeça de duas pessoas que eu não tinha ideia de quem eram, a única coisa que eu sei é que revidei. E fui bem sucedida nisso.
- ! – eu gritei e quando ela se virou eu taquei uma bolinha de água rosa em sua cara. Sua cara sem dúvidas foi uma das mais engraçadas. Ela estava de boca aberta e vazava água de sua boca.
- Mal. – eu tentei fazer cara de criança inocente e corri. Corri como se a corrida dependesse de salvar a minha vida.

But I'm stuck in this fucking rut
Mas estou preso nesta maldita rotina
Waiting on a second hand pick-me-up
Esperando por alguma coisa acontecer
And I'm over getting older
E eu estou cansado de envelhecer
If I could just find the time
Se ao menos eu pudesse encontrar tempo
Then I would never let another day go by
Então eu nunca deixaria outro dia passar despercebido
I'm over getting old
E eu cansei de estar envelhecendo

Cheguei próximo de onde estavam os meninos e fui acertada por uma bola de , que pegou em cheio na minha cara. Revidei a bola, que por sinal pegou em , e tacou uma bola em meus cabelos. O que essas pessoas tinham contra o meu cabelo? Mirei uma bola, que pegou nos cabelos de , fazendo-os ficarem azuis. acertou com uma bola no peito. Meus olhos procuraram por e na hora que eu o encontrei já era tarde demais. Água colorida já escorria por meu rosto.


Maybe it's not my weekend
Talvez essa não seja meu fim de semana
But it's gonna be my year
Mas esse será o meu ano
I'm so sick of watching while the minutes pass
Estou cansado de ver os minutos passarem
As I go nowhere
Enquanto vou a lugar nenhum
This is my reaction
E esta é minha reação
To everything I fear
Para tudo que temo
'Cause I've been going crazy
Porque estou enlouquecendo
I don't want to waste another minute her
Não quero desperdiçar mais um minuto aqui

Eu já corria pela quadra que nem uma desesperada e tentava uma tentativa frustrada de respirar, já que eu estava tendo uma crise de riso. Todos haviam se juntado e atacado , agora ela queria revanche, e a revanche era todos acertarem a mim. entrou na minha frente me protegendo e nós dois corremos pelo gramado do colégio, dando um olé em todos até que eles desistiram e resolveram correr atrás de Ryan, que estava muito limpo ainda.
Eu estava suja, encharcada, mas feliz. Eu não me lembrava de me sentir daquela forma havia muito tempo. Passei a mão nos olhos para tirar um pouco de tinta que tinha por ali e ver onde todos estavam. Eles estavam um pouco afastados, só estava próximo de mim sendo atacado por uma garota um ano abaixo dele.


Make believe
Faz de conta
That I impress,
Que eu impressiono
That every word
Que toda palavra,
By design turns a head
Conceitualmente, chama a atenção
I wanna feel reckless
Quero me sentir despreocupado,
Wanna live it up
Quero viver,
Just because
Só porque
I want to feel weightless
Quero me sentir leve,
'cause that would be enough
e isso deve ser o suficiente.


Eu tentei desviar meus olhos dele nem que fosse por um instante, mas não consegui; ele estava ali, a alguns metros de mim e para mim era como se não existisse mais ninguém no mundo. Meus olhos só conseguiam se concentrar nele. Ele tinha aquele sorriso nos lábios, o sorriso que fez com que eu me apaixonasse por ele alguns anos atrás. , meu melhor amigo. Eu não queria que isso mudasse, eu não iria permitir que isso não durasse. Eu faria valer para sempre. pareceu notar ser observado e se virou com aquele sorriso nos lábios em minha direção. Ele deu alguns passos, caminhando até a mim, suas mãos estavam vazias. E ele as sacudiu no ar, como se se rendesse.
- . - eu chamei quando ele já estava bem próximo, fui acertada nas costas por um desconhecido, mas eu não me importei, como eu já havia dito antes, para mim, naquele momento, era como se existissem apenas nós dois. Estávamos na nossa bolha, onde ninguém mais poderia nos tocar.
- Meu nome! - ele fez graça e eu respirei fundo olhando em seus olhos, mas por mais que eu quisesse manter meu olhar ali, era como se algo me atraísse para seus lábios.

If I could just find the time
Se ao menos pudesse encontrar tempo,
Then I would never let another day go by
então eu nunca deixaria outro dia passar em branco,
I'm over getting old
E eu não me importo de estar envelhecendo

- Foda-se. - eu disse e ele gargalhou alto. Eu também.
- Foda-se o quê? - ele perguntou com a sobrancelha erguida.
- Foda-se tudo, foda-se o que vão pensar, o que vai acontecer Eu gosto de você e eu quero mais que tudo que isso dê certo, e a gente nunca vai saber se não tentar, então eu quero tentar. - eu falava e sorria, aproximando-se mais ainda de mim. Eu não sei o que deu em mim porque eu não conseguia parar de falar. Eu sentia meu coração batendo de forma totalmente descompassada e minha respiração parecia começar a falhar, minhas mãos começaram a suar e eu não sei por que meu rosto corou. Eu gostava dele. Muito. Muito. Muito. - E eu quero avisar que se você me magoar eu juro que eu te mato, ou contrato alguém pra fazer isso e...

This could be all I've waited for
Isso pode ser tudo o que sempre esperei
This could be everything and I don't want to dream anymore
Isso pode ser tudo e eu não quero mais sonhar.

- . - ele falou um pouco mais alto, fazendo-me ficar quieta. Eu tremia, todo o meu corpo tremia e eu não conseguia entender por quê. As batidas de meu coração eram tão altas que se não fosse a correria e a gritaria à minha volta, eu não duvido nada que elas fossem escutadas. colocou o indicador em meus lábios e passou a mão por meus cabelos, colocando-os atrás da orelha. Seu polegar brincou com a minha bochecha até passar por meus lábios.
- O quê? - eu consegui falar, e não sei como. Eu me sentia paralisada. Eu sentia medo e excitação ao mesmo tempo. Era estranho me sentir temerosa e segura.
- Cala boca e me beija logo. - nós dois rimos, e ter seu sorriso ali, tão próximo de mim, tão meu me fez perder o medo. Eu não conseguia sentir medo quando estava com ele. Ele era meu porto seguro.
Eu não sei quem selou os lábios nos de quem. Eu só sabia que meus braços estavam em volta de seu pescoço e suas mãos envolvendo minha cintura enquanto dávamos nosso "primeiro" beijo de verdade, sem medos, sem culpa. Eu não queria saber se alguém estava olhando ou comentando. Eu só sabia que estávamos ali, juntos. Aquele era o meu e eu era a sua . Não havia nada de errado nisso.


Capítulo 32
(Coloque essa música pra carregar: Maroon Five - If I Ain't Got You)

- ! – eu gritei, enfiando a cara dentro freezer em seguida, pegando uma cerveja e quase entregando para a menina a minha frente, quando notei sua pulseira. Ela era menor de idade. – Sorry, babe, não posso te dar álcool. – eu disse e a menina revirou os olhos. O que eu poderia fazer se a havia regularizado o Pub e agora ela poderia ser presa se desse de beber a adolescentes? Isso incluindo a minha pessoa. Olhei a minha volta para ver se achava o ser que eu havia cansado de chamar e procurar, mas nada dela. – Ryan! – eu gritei. Merda. As cervejas estavam acabando e eu precisava ir até o estoque pegar mais para poder colocar no freezer. Eu precisava pegar gelo para os refrigerantes também. Não daria tempo de fazer tudo aquilo antes do show começar. O Maroon Five entraria no palco a qualquer momento e eu estava a ponto de surtar. Caralho!
– Ryan, finalmente. – eu finalmente havia encontrado o bendito e segurei em seu braço, fazendo com que ele parasse imediatamente.
- Já ta começando a bater o desespero porque eles vão entrar, é? - Ryan abriu um sorriso Colgate Sensitive pró alivio para mim. – Pode ir pra frente do palco, , eu fico aqui. - eu pulei que nem uma cabrita só de ouvir a primeira parte da última frase. Tirei o “avental” que eu estava usando para não sujar minha roupa e encontrei alguns segundos depois de sair de trás do balcão.
- Ué, sozinha? Cadê seu namorado? – eu perguntei ao notar que não estava por perto.
- Saiu com o seu. Depois eles dizem que mulheres que não sabem ir ao banheiro sozinhas. – ela revirou os olhos.
- Eu não tenho namorado. – mandei-lhe língua e ela cerrou os olhos.
- , a falou que não tem namorado. – puxou DO NADA no meio da conversa e eu ri. Sério, essa menina sempre PLIM, surgia no meio da gente.
- Claro que tem. Somos três lindas moças comprometidas. - me entregou um copo de algum liquido vermelho. – Eu nunca vi você e o tão felizes. – eu sorri com o comentário. Eu também nunca havia me sentido tão feliz.
- Gente, não tem nem uma semana. – eu revirei os olhos, sorrindo como quem não quer falar do assunto, mas quer. Prazer, essa sou eu.
-Imagina quando fizer um ano. Esses dois já vão ter deixado todo mundo com diabetes de tanto açúcar. – eu gargalhei com a frase de .
- Cadê seu namorado? - foi apenas falar que no segundo seguinte um boquiaberto apareceu. Ele tinha a cara vermelha e ria escandalosamente quando um esbaforido apareceu atrás dele tão vermelho quanto ele. apareceu logo em seguida, mais vermelha que os dois juntos e xingando alguma coisa baixinho.
- ELES ESTAVAM SE PEGANDO! – praticamente vomitou as palavras e todos nós engasgamos e começamos a rir.
- NO WAY. EU NÃO ACREDITO! – eu gritei. – SAFADA! – eu lhe dei um tapa amigável e ela quase cuspiu no chão e saiu nadando dali de tanta vergonha. Sua cara estava vermelha, muito vermelha e preciso dizer que a situação era meio louca.
- IDIOTA! - ela gritou de volta, mas no final, riu também .
- Gente, quem diria: finalmente desencalhou. – disse e ele lhe mostrou o dedo do meio.
- Eu quero ver vocês dois beijando. – apelou e nós seguimos a correnteza, iniciando coros de “beija, beija, beija!” Ryan apareceu algum tempo depois querendo saber do que tanto ríamos. Explicamos a situação e até ele lançou um “até que enfim que desencalhou”.
Será que eu era a única pessoa desnorteada que não percebi que eles estavam se paquerando? Alô, terra chamando .
- Hey, . – chamou minha atenção baixinho, e eu me abaixei um pouco para ouvir o que ela tinha a me dizer.
- Não ficou estranho entre você e o Ryan não? Digo, vocês se beijaram. – pensei no que dizer a e me lembrei do que Ryan havia me dito a dois dias atrás: ele estava cansado de fingir ser quem ele não era. Pelo menos com os amigos. era amiga, certo?
- O Ryan é gay. – o que você faria se sua melhor amiga cuspisse todo o líquido que havia em sua boca, bem na sua cara? Opção 1: Você a socaria? Opção 2: Você a socaria? Porque foi isso que fez. Mas eu não a soquei. Um beijo, sociedade, eu sou uma pessoa legal e feliz.
- NO WAY. – ela gritou chamando a atenção dos outros.
- O quê? – perguntou e no instante seguinte as luzes baixaram. Ninguém teve tempo de respondê-lo porque Adam gostoso Levine estava entrando no pequeno palco logo a minha frente. Preciso dizer que eu tive um ataque de pelanca e fiquei parecendo uma maluca gritando e pulando quando eu o vi? Você pode imaginar a cena por si só, certo? Velho, na boa, Adam Levine estava ali. Tudo bem que ainda um pouco distante, mas ele estava ali. , tu não me segura, não, para ver se eu não entro na mala daquele cara.
Eu puxei e pelo braço e junto com elas me embrenhei no meio das pessoas que estavam na minha frente. Eu queria chegar perto. Quando foi que o pub teve tanta gente mesmo? Não demorou até que estivesse ali também. Meus lábios se curvaram em um sorriso quando o avistei, lindo como sempre com aquele sorriso que conseguia arrancar os mais profundos suspiros de mim. Nossos lábios se encontraram em um beijo breve e simples. Impressionante o que um pequeno toque dele conseguia fazer comigo.
Era simplesmente como se depois de cada beijo eu me apaixonasse mais ainda por . Seus braços cruzaram minha cintura e ele se posicionou atrás de mim, depositando um beijo em meu ombro. As pessoas estavam comentando. O assunto do jornal da escola havia sido nós dois juntos. Nossos pais estavam achando a situação engraçada. Mas nós dois não nos importávamos. A única coisa que importava era que finalmente estávamos juntos. Eu já não conseguia mais sentir raiva de . Tudo o que eu conseguia sentir dela era pena. Pena por ser uma pessoa que não sabia aproveitar o melhor da vida. Eu realmente esperava que ela pudesse mudar. Talvez ser mãe a fizesse perceber as coisas que realmente poderiam ser importantes.Como o preço de uma amizade.
e eu conseguíamos ser amigos acima de qualquer coisa. Isso era a parte mais importante de nós dois. Eu achei que já tinha surtado, mas quando a primeira música começou a tocar: Stutter, eu tive certeza do que era surto. e eu nos entreolhamos e rimos. Eu tinha certeza que a minha mente, assim como a dela, se enchia de lembranças naquele momento. Aquela música me traziam muitas lembranças boas. Meu primeiro beijo com , principalmente. Não consegui não sorrir o tempo inteiro enquanto ela tocava, assim como não consegui parar de dançar. Minhas músicas prediletas iam chegando aos meus ouvidos e eu aproveitava cada instante delas cantando junto e por vezes surtando loucamente. Eu penso assim: sempre que estiver em um show, aproveite ao máximo para que ele seja eternizado na sua cabeça. Eu tinha um certo pressentimento de que de alguma forma aquele seria eterno pra mim. Os acordes finais da penúltima música já estavam sendo tocados quando eu me dirigi a .
- Pra mim a parte mais triste do show é quando vai acabando. É a ultima musica. – eu disse para .
- Mas é sempre na ultima música que acontece algo especial que torna o show inesquecível. – ele falou.
- Isso nunca aconteceu comigo. – eu fiz bico.
- Você não vai me perguntar onde eu estava? – repousou o queixo em meu ombro e eu me virei um pouco para encará-lo. Ele sabia que eu não costumava ficar perguntando essas coisas, mas se ele queria que eu perguntasse era porque ele queria que eu soubesse onde ele estava.
- Onde você estava? - perguntei curiosa agora e ele riu, puxando-me um pouco de frente do palco. Eu ia protestar, porque a última música iria começar. E pelo o que eu soube, seria “Nothing Lasts Forever,” eu amava aquela música. Na verdade eu amava tudo naquela banda, principalmente covers. Gente. Acabava comigo.
- , a última música. – eu tentei protestar, mas ele segurava minha mão e me olhava com tanta delicadeza que eu fui obrigada a segui-lo. Não nos afastamos muito, apenas até o meio da pista. As pessoas se espremiam muito na frente, de forma que o meio nos dava um bom espaço para nos movimentarmos.
- Eu fui implorar ao vocalista da banda predileta da minha melhor amiga que cantasse uma das músicas prediletas dela. Só pra ver a cara que ela fazia. – foi apenas ele falar que os acordes de If I Ain’t Got You começaram a tocar e algumas pessoas a gritar (aperte play). Eu parei por um instante, totalmente imóvel e no segundo seguinte pulei no pescoço de , distribuindo-lhe beijos pela região, pela bochecha, nos lábios, nos olhos e no nariz. Ele gargalhou de minha reação e pegou minha mão direita, abaixando um pouco e me olhando. - Me concede a honra dessa dança, senhorita? – ele fez uma reverência engraçada e eu revirei os olhos.
- É claro, cavalheiro. – eu retribuí a reverência e ele me puxou para mais perto, encostei minha cabeça em seu ombro e me deixei repousar sobre ele, enquanto a letra daquela linda canção invadia meus ouvidos.

Some people live for the fortune
(Algumas pesss vivem para a fortura)
Some people live just for the fame
(Algumas pessoas vivem para a fama)
Some people live for the power yeah
(Algumas pessoas vivem para o poder. Yeah)
Some people live just to play the game
(Algumas pessoas vivem apenas para jogar )
Some people think that the physical things
(Algumas pessoas pensam que as coisas físicas)
Define what's within
(definem como)
I've been there before
(Eu estve lá antes)
But that life's a bore
(Mas essa vida é um tédio)
So full of the superficial
(Tão cheia de coisas superficiais)


Nossos corpos dançavam devagar, embalados pela melodia, e fazia um leve carinho em minhas costas, fazendo-me sorrir. Eu poderia ficar ali para sempre. Sem sair dali. Apenas sentindo a sua mão acariciar meu corpo e me causar arrepios. Aqueles que eu sempre senti, mas de uma maneira totalmente nova dessa vez. Para dizer a verdade era uma maneira diferente a cada toque. Era como se a cada toque e a cada olhar, a cada beijo eu me sentisse mais apaixonada por ele. Como se isso ainda fosse possível.

Some people want it all
(Algumas pessoas querem tudo)
But I don't want nothing at all
(Mas eu não quero nada mais)
If it ain't you baby
(Se não for você Baby)
If I ain't got you baby
(Se eu não tiver você, Baby)
Some people want diamond rings
(Algumas pessoas querem anéis de diamantes)
Some just want everything
(alguns apenas querem tudo)
Everything means nothing
(Mas tudo significa nada)
If I ain't got you
(Se eu não tiver você)

- . – me chamou e eu ergui meus olhos. – Eu amo você. – meus lábios se abriram e fecharam sem saber o que fazer ou falar. – Você é a minha melhor amiga. E eu amo você por isso. Eu amo você por estar comigo nas horas que eu mais preciso. Eu amo você por brigar comigo. Eu amo você por gostar de mim. Eu amo estar com você. Eu amo rir com você. Eu amo o som da sua risada, e até mesmo quando você está irritada e fica bufando a ponto de me matar a qualquer momento. Eu amo a sua comida e como você passa a língua por dentro da bochecha quando está pensativa. Eu amo a forma que você mexe no cabelo. E eu não sei te dizer quando me apaixonei por você. Talvez tenha sido no dia que eu achei que poderia não te ver mais, dois anos atrás. O fato é que eu só não enxergava isso com a clareza que eu enxergo agora. Era como se uma nuvem cobrisse meus olhos. Eu tinha medo de encarar o que eu estava sentindo e perder a minha amiga que eu amo tanto. Mas eu não estou mais com medo. Porque eu sei que eu não preciso temer nada disso. – o sorriso não poderia ser maior em meu rosto. – Quando nós brigamos, a única coisa que eu conseguia pensar era em como eu era um idiota.
- Eu também amo você, , mesmo você tendo me deixado dentro de uma cova vazia, namorado minha irmã e duvidado de mim. – ele fez uma careta engraçada. – Mas acima disso eu te amo porque você é o meu melhor amigo e sempre me acorda pra escola, canta pra que eu possa dormir, me paga lanches gostosos. E agora principalmente porque fez o Adam Levine cantar minha música predileta. – eu já não conseguia guardar mais meu sorriso nos lábios.
Sabe, eu acho que era isso. Eu amava . Não pelo fato dele ser o cara por quem eu estava apaixonada. Meu amor ia além disso. Nosso amor ia além disso. Nós éramos melhores amigos. Ele era meu melhor amigo, o cara com quem acima de tudo eu sabia que poderia compartilhar a minha vida. E não é disso que se trata o amor verdadeiro? A amizade verdadeira acima de tudo. Então para mim isso era amor. Sempre foi. Tendo ele ou não comigo, era amor. Porque além e acima de qualquer coisa e eu éramos amigos. E amigos se amam. O fato era que eu sempre havia amado .
- Você quer ser minha namorada? – sabe, durante muito tempo eu havia sonhado com aquilo. Idealizado na minha mente se um dia aconteceria. Como aconteceria e como eu reagiria. Mas nada era comparado ao que eu estava sentindo ali.
Meu coração se acelerou tanto que eu não consegui nem falar, já que o ar nem entrou em meus pulmões. Eu não vou mentir e dizer que meus olhos não se encheram de lagrimas, porque eles se encheram. Sabe quando todas as coisas ao seu redor simplesmente parecem congelar? Era isso que parecia que tinha acontecido ao meu redor. As pessoas pareciam ter deixado de existir e comigo ali havia apenas e a música que tocava.
- Não existe nada no mundo que eu possa querer mais. – ele sorriu abertamente e secou com um beijo a única lágrima que rolou por meus olhos, abraçando-me forte em seguida, beijando meus lábios, meus olhos, minha bochecha meu nariz, o que me fez soltar uma gargalhada. encostou sua testa a minha e ficamos apenas nos encarando por alguns segundos.
- Agora somos literalmente a do e o da . – ele disse sorrindo antes de colar nossos lábios em um beijo intenso. Não havia culpa nele. Não havia medo. Não havia nada além de nós dois nos entregando de corpo e alma para aquilo. Para que desse certo. Eu não posso te garantir que e eu ficaríamos juntos para o resto da vida, porque eu sinceramente não sei e sinceramente não estou me preocupando.
Eu quero o agora. Eu quero viver o agora. Sentir o agora. Viver intensamente cada dia enquanto posso. era o cara por quem eu era totalmente apaixonada e nada poderia mudar aquilo. E nós estávamos juntos. Nada poderia me deixar mais feliz. Nada no mundo. Eu não queria me preocupar com mais nada além daquele momento. Eu era oficialmente a namorada de . E por favor, há quanto tempo eu sonhava com aquilo? E agora fazia parte de mim. Aquela era a minha vida. Confusa, estranha, totalmente sem rumo. Mas era minha. Estava ali. Era para ser vivida e eu estava vivendo. Era apenas isso e mais nada. Como eu já disse uma vez, era minha muito louca, mas ainda assim, minha tão amada vida.


Epilogo.
Coloque essa música pra carregar: (Coloque essa música pra carregar: Amber Pacific - Poetically Pathetic)
Dois anos depois.

- Anda, pai, nós vamos nos atrasar. – eu gritei ao pé da escada ao eu pai, que parecia mais uma noiva. Eita homem psra demorar a se arrumar.
De repente, me ver parada ali gritando daquela forma me fez ter uma enorme sensação de déjà-vu que me fez sorrir. Em um dia como esse, dois anos atrás, eu gritava dessa mesma forma por nas escadas de sua casa. Eu mal sabia que daquele dia em diante as coisas na minha vida mudariam. Mas hoje eu sabia. As coisas depois de hoje nunca mais seriam as mesmas. Eu me sentia ansiosa por isso. Meu coração batia totalmente acelerado só de pensar.
- Pronto! – meu pai apareceu devidamente arrumado e eu sussurrei um “até que enfim”. Segundos depois minha mãe apareceu, vindo da cozinha com cara de choro.
- Gente, vocês precisam parar de fazer essas caras de choro todas as vezes que olham pra mim. – eu pedi. Aquilo me deixava apenas mais ansiosa, nervosa e agitada.
- Não é todo dia que sua filha única se forma e sai de casa, então eu posso chorar? – minha mãe secou uma lágrima que escorreu por seus olhos.
- Mãe, isso é um ciclo natural da vida. – eu sorri e a abracei, fazendo com que uma nova cachoeira descesse por seu rosto. E preciso admitir que meus próprios olhos se encheu delas.
- Eu sei, mas é que passou muito rápido. – ela fez um bico que era muito parecido com o meu. – Ontem mesmo você e o estavam por aí, correndo pela casa e brigando e agora vocês vão morar juntos! Já podem até me dar um neto! – ela fez uma cara hilária como se a possibilidade de ter um neto fosse a coisa mais bizarra do mundo. E a cara do meu pai não era muito diferente.
- Mãe, não é como se nós não pudéssemos ter te dado um neto enquanto estávamos morando aqui. – eu rolei os olhos.
- Eu sei, mas é diferente agora. Eu não vou poder tomar mais conta de você, nem ver se você está comendo direito ou te obrigar a assistir TV comigo e nem te ver todos os dias. Nem te chantagear mais emocionalmente pra você ir à padaria pra mim.
- Você pode me chantagear sempre que eu vier te visitar. – eu enxuguei seus olhos.
- Chega, gente! – meu pai passou por nós indo até a porta. - Deixemos as lágrimas pra depois, pra quando for despedir de verdade.
- Credo, pai, desse jeito parece até que eu vou morrer. – ele mandou um vira essa boca para lá rindo. Tudo estava mudando, e por mais que a mudança fosse boa eu não poderia negar que era estranho. Diferente, novo. Novo era a palavra. Tudo estaria começando de novo. Uma nova vida, uma nova cidade, novos amigos. Era estranho deixar tantas coisas para trás. Ao final daquela noite, eu seria oficialmente introduzida a uma vida adulta. Era estranho pensar naquilo.
Era a noite da formatura, enfim o High School havia acabado. Não era como se eu tivesse apenas que agradecer por ter acabado. Eu havia vivido coisas impressionantes durante os últimos quatro anos. Principalmente nos últimos dois. Eu estava feliz.
, ,, , , , Ryan, e eu iríamos partir em uma pequena viagem de uma semana sem rumo certo. Seria nossa pequena “despedida”. Cada um seguiria seu rumo agora. Cada um correria atrás de seus sonhos. Dias e futuros incertos nos aguardavam. Estávamos crescendo.
e não estavam mais juntos. Era estranho ver isso. E até falar. Não imaginá-los mais como um casal era simplesmente bizarro. Eles tinham planos diferentes para a vida e haviam decidido que cada um seguiria seu próprio caminho. “Tudo o que tiver que ser será” foi o que disse depois de chorar horrores pelo término. “Quatro anos vai ser muito pouco se a gente estiver predestinado a passar o resto da vida juntos”.
e embarcariam em uma aventura. Tentariam abrir uma filial da Poison em uma outra cidade. Os dois estavam mais firmes e fortes do que nunca. havia feito aflorar uma maturidade em que eu nem sabia que era capaz de existir. Ryan ficaria por aqui mesmo, tomando conta do Pub. Ele estava feliz onde estava e não queria ir a lugar algum. Ele havia finalmente encontrado alguém que o deixava dessa forma.
e sem dúvidas foram as duas pessoas que mais me surpreenderam nessa última semana. Principalmente pelo fato de terem chegado ao colégio de alianças e anunciando que haviam se casado. CASADO. Eles tinham apenas dezoito anos. Mas era a decisão de cada um. Eles estariam indo morar juntos na nova cidade, e provavelmente seriam as pessoas com quem e eu teríamos mais contato, já que nós quatro havíamos passado para faculdades iguais e alugamos apartamentos no mesmo prédio. Mas antes de tudo isso, de todas essas mudanças, nós viajaríamos por aí sem preocupações, sem medos, apenas aproveitando nossos últimos momentos juntos antes de nos jogarmos para o que a vida reservava para nós.
Chegar até a escola não demorou, até porque minha mãe não sabia falar de outra coisa a não ser de como ela queria ouvir o meu discurso de oradora da turma, o que apenas me deixava mais nervosa. Ao chegar ao estacionamento me despedi dos meus pais e segui pra onde a van que nos levaria para nossa “aventura” estava. , e estavam lá, guardando algumas coisas no porta-malas. Preciso dizer que meu namorado estava lindo? Porque ele estava. Ele não estava, na verdade ele era a pessoa mais bonita que eu havia conhecido.
- Boa noite, formandos. – cheguei próximo a todos, animada. Por mais que eu estivesse nervosa, eu estava animada.
- Boa noite, oradora. – disse me dando língua e eu revirei os olhos. Eu era o alvo de zoação agora por causa disso. Abracei e lhe dei um selinho. Seus braços passaram em volta de minha cintura e ele fez um bico engraçado.
- O dia inteiro sem te ver e é só isso que eu ganho? – ele reclamou.
Nossos pais exigiram que nós passássemos o nosso último dia junto com eles e separados. me puxou para mais perto e me deu um beijo daqueles que tiravam o fôlego. Daqueles que faziam com que eu me apaixonasse por ele cada vez mais e mais. De novo e de novo e de novo. Aquele beijo que fazia meu coração disparar, os cabelos da minha nuca se eriçarem e meu mundo parecer entrar no lugar.
- Se larguem, pelo amor de Deus. – a mãe de apareceu ao meu lado de repente, dando uma bolsada em e me abraçando. – Você está cada dia mais linda, minha filha, meus netos serão divinos. – ela fez graça e eu ri.
- Pena que a senhora vai demorar no mínimo uns dez anos pra vê-los, né?
- Nem pense nisso, eu quero netos enquanto não estiver caduca.
- Credo, mãe, você ainda é nova. – disse, puxando-me para perto novamente e me abraçando por trás.
- Boa noite, gente! – apareceu carregando uma enorme mochila roxa. Apenas. – Resolvi viver a vida perigosamente. Trouxe só uma mochila de roupa. – todos nós rimos dela.
- Aposto cinquenta pratas que você vai surtar e mandar a gente parar pra comprar roupas em menos de dois dias. – debochou e revirou os olhos, mandando-lhe língua.
- Eu aposto em um dia só. – colocou lenha na fogueira. Era engraçado como os dois não se olhavam nos olhos. Talvez fosse medo de que se, se olhassem, o amor aflorassem e eles desistissem da palhaçada de terminar o namoro.
- Aposto também, em seis. Eu acredito em você, amiga. – eu entrei na brincadeira.
- O que vocês estão apostando? – e chegaram gatérrimos com suas roupas sociais.
- trouxe só essa mochila de roupa. A gente está apostando em quantos dias ela vai surtar e querer comprar novas.
- Hoje de madrugada. – disse e levou um tapa.
- Eu sou uma pessoa firme, tá bom?– ela fez cara de séria. – Amor, coloca no carro pra mim. – ela se referiu a e arregalou os olhos em seguida, ficando de todas as cores possíveis. apenas sorriu de canto, olhando para o chão e pegando a mala que ela já havia recolhido de novo para si.
- Não esquenta, é o costume. – ele disse baixo e triste. A decisão de terminar havia sido toda dela. A tristeza dele dava até para tocar.
Sabe quando você é pequeno e pega uma boneca e um boneco, segura a cabeça dos dois e coloca para beijar? Era isso que eu queria fazer com eles.
- Cadê a e o Ryan? – eu perguntei para quebrar o clima, estranhando não tê-los por perto.
- Estão terminando de ajeitar algumas coisas lá na Poison pro show, mas já estão vindo. – todos os formandos haviam alugado a Poison para suas festas de despedidas.
- Espero que eles não demorem, já vai começar. - eu estalei os dedos das mãos.
- , você não vai vomitar, não, né? – perguntou para debochar de e eu rolei os olhos.
- Ela vai arrasar, né, amiga? - me deu apoio. – Pare de deixar a menina mais nervosa.
- Qualquer coisa, é só olhar pra mim e fingir que não tem mais ninguém te olhando. – disse baixo em meu ouvido e eu senti que começava a me acalmar. Era isso: ele era meu calmante. Era incrível como eu conseguia não sentir nada de ruim quando ele estava por perto. –A propósito, você está linda. – ele beijou minha bochecha.
- Você também está um gato. Tem companhia pra festa mais tarde, coração?
- Tenho, uma gata vai comigo pra festa, você tem que ver, ela é a garota mais bonita que está nesse colégio hoje.
- Sorte dela ter um gato que nem você do lado dela. – eu lhe dei um selinho.
- Sorte minha, isso sim.
- Estão chamando pra colocar as becas, crianças. – Tia Ana disse e eu me despedi de meus amigos, acenando de longe para os meus pais, que já estavam sentados no lugar dos convidados. Eu me sentaria longe de todos. Lá na frente, esperando enquanto o diretor falava e anunciava os formandos.
Foi quando eu já estava lá em cima, com a beca, que eu vi sentada ao lado dos meus pais. Eu sorri para ela, recebendo um cumprimento de volta. Uma música começou a tocar pela escola e eu senti meu coração acelerar. Aquela era uma de minhas músicas prediletas. Meus olhos se focaram em e os dele se encontraram com os meus. Ouvir aquela música e olhar para ele me fazia lembrar os últimos dois anos em que havíamos estado juntos e como tudo havia sido bom.
Claro que tivemos nossas dificuldades. Que casal não tem? Mas os momentos bons haviam sobressaído. Tivemos muitos momentos de risos e também de lágrimas, não se engane achando que somos o casal perfeito. Ele por vezes me irritava. Mas era o fato de sempre me irritar que fazia com que eu continuasse apaixonada por ele todos os dias.
Os nomes dos meus amigos foram sendo chamados pouco a pouco conforme o diretor anunciava o nome dos formandos. completamente desfilou até o palco, pegando seu diploma e fazendo uma dançinha tosca. subiu chorando, o que me fez querer chorar, e também. fez uma reverencia tosca quando pegou o diploma e Ryan me surpreendeu.
Ao pegar o diploma ele abriu os braços e gritou em alto e bom som “EU SOU GAY”. Todos pararam até de respirar naquele momento. Foram alguns segundos de total silencio até que soltou um grito e um assobio, que foi seguido de uma salva de palmas e gargalhadas. subiu ao palco com um sorriso tímido e me mandou uma piscadela quando passou por mim. O último do grupo a ser chamado foi . Ele tinha aquele sorriso maroto nos lábios. Ele pegou o diploma e olhou em minha direção, dando-me uma piscadela sexy e sussurrando um “amo você”. Pouco tempo depois meu nome foi chamado. Recebi meu diploma e recebi a oportunidade de fazer meu discurso. Todas as pessoas que eu amava estavam ali, mas foi só olhar para uma que meu nervosismo falou, e então, como se não tivesse ninguém mais ali, eu comecei a falar.
- Sabe, hoje eu fiquei aqui pensando no que eu falaria, então eu resolvi que falaria sobre a vida. Sobre o quanto ela pode ser louca e imprevisível e tomar certos rumos que você nunca acreditaria serem possíveis. Ela pode fazer coisas e virar seu mundo do avesso de tal forma que você acha que nem tem mais conserto. Ela pode ser muito dura às vezes e ela dói. Como doem os tapas que a vida dá na cara da gente. Mas hoje não é sobre as coisas ruins que eu quero falar. Eu quero falar das coisas boas, como aproveitar todas as nossas oportunidades pra fazer algo bom. Algo simples, algo que simplesmente nos faça feliz. Como ir acampar de repente em uma praia que você nem conhece. Dançar em cima de uma mesa na festa da escola. Se jogar em uma fonte e correr pelas ruas da cidade que nem malucos fugindo de um guarda. Dizem que entramos nessa vida nus e sozinhos e saímos dessa mesma forma. Então se partimos sem nada, no que se mede a vida? Eu diria que a vida se mede nessas pequenas oportunidades de sorrir. De se deixar levar por um momento. De se permitir rolar uma lágrima, de cantar na chuva, de viajar por aí sem destino, de escrever uma história. Eu acredito que a vida se mede nas coisas simples, e é sobre isso que eu vim falar hoje. – eu parei um pouco para respirar, até com um pouco de medo de estar falando rápido demais e as pessoas não me entenderem. - Antes de vir pra cá e quando eu comecei a escrever esse discurso hoje, eu me sentei e comecei a pensar em tudo o que me trouxe até aqui. E eu comecei a me lembrar de como eu conheci todas as pessoas com quem eu convivo hoje. Eu comecei a me lembrar de todas as coisas que passamos juntos e, sério, eu percebi que a minha vida é meio louca. Mas além de tudo isso, eu percebi que eu conseguia sentir de novo a emoção de cada momento importante dela. Nós vivemos a vida intensamente e encontramos a felicidade nas coisas mais simples que alguém poderia ter. Sabe, a vida é curta e oportunidades são raras. Então devemos nos apegar com todas as nossas forças aquilo que nos faz feliz, aquilo que nos faz bem. Eu aprendi que às vezes as coisas não acontecem do jeito que queremos. Que as coisas mudam, seguem um rumo e que a gente não consegue tomar controle. E nos vemos perdidos entre quem somos e quem deveríamos ser. Mas eu aprendi também que a vida não nos deve nada. Nós que devemos à vida. Ela é apenas uma linda estória que nós mesmos podemos escolher como escrever, e no final de tudo, percebemos que ela se trata de amizade. Das amizades que fazemos e levamos no decorrer dos nossos dias. De como elas podem evoluir e regredir sem que nem ao menos nos demos conta disso. A amizade é que baseia tudo. Não existe amor verdadeiro sem amizade. – eu olhei para cada um dos meus amigos. E recebi tanto sorrisos quanto lágrimas de volta. – E mesmo dizendo tudo isso, o que eu tenho a dizer é que eu não sei de nada. Eu não sei se vou ver todos vocês de novo. Eu não sei o que vai acontecer daqui pra frente. A única coisa que eu sei é que esse é o nosso momento. É a nossa hora de brilhar e o mundo está esperando por nós. – eu terminei meu discurso e senti que um peso saía de minhas costas.
As pessoas começaram a aplaudir e eu desci do palco e me juntei aos meus amigos, que me abraçaram, apertaram. Nós jogamos nossos chapéus para cima e rimos juntos. , e abaixaram as calças e saíram correndo pelo ginásio gritando coisas que eu não conseguia entender e assustando alguns pais.
Engraçado, mais cedo eu havia relembrado toda minha vida nos últimos dois anos. E era engraçado como às vezes eu os olhava e ainda achava que eram um bando de garotos de dezesseis anos. Despedir-me dos meus pais foi fácil e eu consegui convencer minha mãe de que ficaria bem nessa uma semana viajando, e que nos encontraríamos no apartamento. Ela concordou que lá seria a despedida final e que guardaria as lágrimas para lá. Ela me elogiou pelo discurso e meu pai também. Logo já estávamos na Poison. Os alunos cantavam, gritavam e pulavam ao som de uma banda que tocava lá.
- Hoje a senhorita não vai trabalhar. – disse quando eu fui para trás do balcão, puxando-me para a pista de dança. Era tanto costume que para mim era mais do que normal estar lá atrás. Era incrível ver como a Poison havia evoluído. Isso me deixava feliz. Eu esperava que a filial dessa desse tão certo quanto essa dera.
Bem no meio da pista estavam todos. Dançando que nem malucos, e quando eu digo malucos, eu quero dizer malucos mesmo. Eles faziam uma dancinha sem noção que incluía colocar a mão no nariz e mergulhar. Ou melhor, fingir mergulhar. Tinham também reboladas. Muitas reboladas sem ritmo algum e sem sentido. Muitas dancinhas que não tinham nada a ver com o que estava sendo tocado. Mas nós não nos importávamos. Era a nossa maneira de sermos felizes. Uma música começou a tocar e simplesmente parou, olhando-me com os olhos arregalados antes de gritar.
- ESSA É A BANDA QUE TOCA A NOSSA MÚSICA! – e Ryan pararam para encará-lo. E eu fiz a mesma cara. Sem entender. – ESSA É A MINHA MÚSICA PRA VOCÊ! – ele apontou na minha direção antes de sair correndo da minha frente. Eu fiquei sem entender e olhei para os lados, onde e se agarravam ferozmente. EU SABIA QUE ISSO NÃO IA DURAR. ELES NÃO CONSEGUIRIAM. Sorri abertamente por aquilo. Agora sim as coisas pareciam estar entrando no lugar.
- França. – meu nome ecoou por todo pub e meus amigos me encararam sem entender, assim como eu não entendi. Olhei para o palco e lá estava , parado com um microfone na mão falando alguma coisa com o vocalista da banda. Seus olhos se encontraram com os meus e ele sorriu, um lindo sorriso sapeca. - Essa música é minha declaração de amor pra você. – uma música começou a ecoar por todo o ambiente e as pessoas começaram a pular com ela. (Aperte Play)
fez uma cara super engraçada quando o vocalista começou a cantar, era como se ele mesmo quisesse cantar a música. Na verdade era. Enquanto o vocalista cantava aquela música para todos os que estavam ali. cantava aquela musica para mim. Só para mim.

Thinking of the words to say,
(Pensando nas palavras para dizer)
I'd like to think that this was fake.
(Gostaria de pensar que isso fosse falso)
Reference to a song you love,
(Referências de uma música que você ama)
Spell confusion with a 'k'
(Confusão de soletrar com um “k”)
Like a star without its rings,
(Como uma estrela sem seu anel)
I'm hanging here on these two wings.
(Eu estou me enforcando aqui nestas duas asas)
For that smile and those eyes...I'm falling
(Por aquele sorriso e aqueles olhos... estou caindo)

e me empurraram para mais perto do palco e logo quando vi, todos já estávamos lá. EM CIMA dele.

If time could stop, how could I make this more poetic?
(Se o tempo pudesse parar, como eu poderia fazer isto mais poético?)
When there's nothing more pathetic to be said...
(Quando não há nada mais patético para ser dito...)

e eu nos encontramos e ele pegou minha mão, dançando também que nem maluco comigo. Nós formamos uma rodinha em cima do palco e as pessoas lá em baixo pararam para nos encarar. Mas dane-se. Caralho, eu estava me divertindo. MUITO. me abraçou e cantou o coro da musica em meu ouvido. De forma gritada e suada, mas ainda estava valendo. Ele estava cantando para mim. Segura essa, queridas.

You bring me out, show me light,
(Você me destacou, me mostrou a luz,)
I'm sorry if I hide, I'm too afraid to look inside
(Me desculpe se eu me escondi, estava com muito medo de olhar pra dentro)
You carry through, you make me smile,
(Você aguentou do começo ao fim, você me fez sorrir,)
If it were you and me tonight,
(Se estivéssemos eu e você hoje à noite)
I would tame the stars and save the brightest one for you, for you.
(Eu domesticaria as estrelas e guardaria a mais brilhante pra você, pra você.)


Aquele sem dúvidas era um dos momentos mais felizes da minha vida. Estar ali, com as pessoas que eu amava. Simplesmente não tinha preço.
- Eu amo muito você. – eu sussurrei para e ele sorriu, chegando próximo ao meu ouvido.
- Não mais do que eu amo você. – ele me beijou ainda com um sorriso nos lábios.
Foi quando eu me toquei que era nossa ultima vez ali, naquele lugar. Todos nós juntos. Nossa ultima noite como adolescentes. E de repente na minha frente foi como se tudo tivesse começado a acontecer em câmera lenta. Os meninos dançando a minha frente, rebolando até o chão sem nenhum ritmo. As meninas rindo e mostrando como é que se fazia. O vocalista da banda rindo de nossa cara provavelmente achando que éramos um bando de loucos. O que éramos. Totalmente loucos. Totalmente insanos. Então e me senti completa. Porque eu sabia que não importava o que aconteceria, estaríamos ali um para o outro, não importa se ficaríamos juntos pra sempre ou não.
Eu estava com o cara que eu amava e os amigos que eu havia escolhido para chamar de meus. Uma sensação muito boa se apossou de mim naquele momento. Talvez fosse amor, paz, liberdade ou uma grande mistura dos três. Certa vez eu li que a maior parte de nossas vidas passa por nós como cidades à beira de uma estrada, mas às vezes alguma coisa acontece e um único momento parece se congelar. É quando algo acontece. É quando algo muda. E eu sabia que estava vivenciando isso naquele momento. O que eu sentia naquele momento era algo grande, que não poderia ser nem filmado, fotografado ou tocado. Ele só podia ser sentido. Foi um momento único para mim. Foi o momento em que eu abri os braços para o mundo e me senti abraçada pela vida. E eu sabia que não importava o que acontecesse. Aquele momento e todas as sensações dele durariam dentro de mim para sempre.

Fim.

N/a: E então acabou. Se eu disser pra vocês que ainda nem caiu a minha ficha que acabou, vocês vão acreditar em mim? Porque essa é a mais pura verdade. Parece que foi ontem mesmo, que eu tinha dezesseis anos, era totalmente apaixonada pelo meu melhor amigo e resolvi escrever uma história depois que ele apareceu namorando uma garota com o mesmo nome da minha irmã. Três anos se passaram desde então. Eu desapaixonei, mudei de cidade, me apaixonei, desapaixonei de novo, Sai de casa, tanta coisa aconteceu. Mas enfim, hoje eu quero aproveitar essa n/a final pra agradecer. Agradecer a todas vocês que leram MVCL, que deixaram um comentário pra mim, que me fizeram chorar de rir com cada ameaça de morte que recebi. Agradecer pro você que me adicionou no facebook, que me mandou ask no tumblr mesmo que em anony. Agradecer a Vanessa Silva que um dia chegou em mim na Tag e perguntou se eu que escrevia MVCL, e desde então se tornou uma das minhas melhores amigas. Quero que saiba que escrever MVCL valeu a pena só por ter conhecido você, Te amo. Quero agradecer também a Letice Little e Dani Vioto, os comentários de vocês quase me matavam de tanto rir. Agradecer a Mira, Velozo e Marcela, que sempre aturarem meus surtos. Quero agradecer a cada uma de vocês mesmo, de todo o meu coração. Por terem cobrado atualização, enfim por tudo. Tenho muita coisa pra dizer, mas me resumo apenas a isso. A agradecer a cada uma de vocês. A Bih que é uma beta super fofa. A Mayra que fez a capa que eu tenho. A todo mundo que estiver lendo essa n/a. Espero que vocês tenham gostado de MVCL o tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Então é isso. Vejo vocês em Breve.
Ps :Não deixem de ler My Heart.
Ps2: fiquem atentar ao titulo My Very Crazy, afinal, nunca se sabe o que vem por ai.

Até a próxima

Outras fics:
My Heart (McFly/ Em Andamento)
No Place To Go ( McFly / Em Andamento)
Sudden ( Especial dia do sexo)

Outros: Facebook | Tumblr

N/B: Qualquer erro nessa fanfic, seja de gramática/script/HTML, mande um e-mail para mim. Obrigada.

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