Nascido sob um signo ruim
Escrita por Rayane
Betada por Paula Brussi
Revisada por Mel


- Mas o que...? MEU DEUS! Que diabos está acontecendo? – acordei no meio da noite ouvindo um estrondo. Parecia que todas as coisas da sala estavam sendo tacadas no chão. Saí da cama como se a mesma tivesse começado a pegar fogo, minhas pernas tremiam e a única coisa que eu conseguia fazer era... Nada. Isso mesmo. Nada.
Ouvi outro estrondo vindo do andar de baixo, mas dessa vez mais alto e assustador. O que estava acontecendo?
Saí do quarto e comecei a andar pelo longo corredor da antiga casa dos meus avós, o barulho dos meus passos, no antigo piso de madeira, denunciava-me, cheguei à sala e...
- AAH! – gritei "abafado".
Congelei no pé da escada. Ladrões, eu pensei. Passei uma das mãos pelo corrimão e encontrei lá o guarda-chuva que usei na noite passada, o segurei firme e dei um pequeno passo, procurando pela sombra que eu havia acabado de ver perto do meu sofá.
Dei mais um passo e congelei outra vez no lugar. Literalmente, congelei. Uma rajada de vento frio passou por mim, eu pude sentir que sairia voando. Senti um cheiro doce e conhecido. E então, senti minha cabeça pegar fogo. Ela queimou e o calor foi descendo pelo meu corpo, cada vez com mais intensidade.
Acho que desmaiei, pois não me lembro de mais nada.

Capítulo 1 – Kitchen?

Que barulho estridente! Hm, minha cabeça... Mas da onde vem esse barulho horrível?
Fiz uma enorme força para conseguir abrir os olhos que pareciam grudados com cola. A luz do sol entrava imponente pela janela, eu sentia um cheiro doce, como perfume de criança, e o barulho continuava e continuava... Agora além do som estridente, eu ouvia também um som oco, de murros. Eu estava ficando louca?
- ABRE A PORTA! – Essa voz... Eu conheço essa voz.
Passei a mão esquerda pelo rosto e abri melhor os olhos, levantei um pouco a cabeça e a senti pesar. Olhei em volta e vi que estava no chão da cozinha.
- Como vim parar aqui? – murmurei para mim mesma. A campainha da casa tocava. O tal barulho estridente.
Levantei-me e senti minhas pernas falharem, minha cabeça dizia: ‘ande reto’, e minhas pernas respondiam: ‘por que se posso ir para a direita e depois para a esquerda?’ Fui andando em zig-zag até a porta de entrada. Ao chegar à sala pude reconhecer a voz do louco que batia em minha porta com, aparentemente, uma tora de madeira. .
- Meu Deus! – ele disse pausadamente quando abri a porta – O que houve com você? Achei que estivesse morta! – ele arregalou os olhos.
- Acho que desmaiei ontem na cozinha, ... – Disse perdida, correndo o olhar pela casa.
- Desmaiou...? ? – ele me olhou assustado – Você não bebeu ou não usou algo ilegal ontem à noite, certo?
- ! – gritei indo até a sala, onde havia um grande espelho na parede da escada.
- , você saiu com alguém ontem? – ele riu – Não vou achar nenhum homem dentro do seu armário, né? – ele riu mais ainda – Ou... – ele ficou sério – Nenhuma mulher também, né?
Comecei a rir.
- , eu não me lembro. Eu não sei... Mas dê uma olhada em baixo da mesa da cozinha, só por precaução. – o encarei fingindo estar espantada.
- Você está me assustando, . – olhou-me paternalmente – Olhe, se você estiver usando qualquer coisa, você sabe que pode contar comigo, né? Ou com o , ele gosta de você e vai te apoiar, como todos nós.
Olhei para ele como se ele estivesse falando em alemão e eu não entendesse nada.
- ! Eu estou bem, não tenho vício algum! Veja. – levantei as mangas do pijama e lhe mostrei os braços, depois levantei o rosto e empinei o nariz. – Eu não me drogo. Pára com isso.
- Nem bebe... Demais? – perguntou cauteloso.
- ! – gritei me sentando no degrau da escada.
- Tudo bem, tudo bem... Calei-me.
- Afinal, o que você quer batendo a minha porta a essa hora da manhã? – perguntei tentando me lembrar por que acordei na cozinha.
- , são três da tarde. – ele disse displicente – E eu vim aqui para pedir por ajuda! Estou desesperado.
- Você está usando drogas, ? Deixe-me ver as suas veias, ande! – falei o imitando.
- Não é nada disso, - ele riu – lembra-se que eu havia dito que conheci uma menina, no The Beginning?
Senti um arrepio percorrer a minha coluna e um frio incômodo se estalar na minha barriga. Que tipo de pessoa conheceria alguém no The Beginning? Ah, , com certeza.
- Bom, sei que você não se lembra... Mas, , eu preciso que você me deixe trazê-la aqui.
- O quê? – balbuciei. NUNCA.
- Eu queria ter uma noite especial com ela, sabe? Mas em casa não dá. Minha mãe e minha irmã ainda moram lá, sabe?
- E a casa de algum dos meninos?
- Eles nunca deixariam, ! Por favor, amiga linda do meu coração! – como é falso esse .
- Espera um pouco! ‘Noite especial’? , você não vai transar com uma gótica adoradora de satã no sofá da minha casa! Nem pensar. Não, mesmo. – disse me levantando.
- ...
- Não, . Vai com ela no The Beginning, oras! Tem coisa mais romântica? Foi lá que vocês se conheceram... – falei fazendo uma, falsa, cara de apaixonada.
- Ah, ... Eu só queria passar um tempo com ela, é isso! Eu não pretendia transar com ela no seu sofá. Eu gosto dela, e queria passar um tempinho com ela, não posso levá-la em casa porque você conhece a minha irmã, ela vai ficar enchendo e fazendo várias perguntas desagradáveis... Eu queria que ela me convidasse para ir à casa dela, mas... Ela não convida!
Ok, ele realmente me convenceu com essa cara de cachorro esquecido pelo caminhão de mudança.
- Ok, ... Pode trazê-la. – eu disse já o acompanhando até a porta e louca para me livrar dele – E eu vou chamar todo o resto.

Capítulo 2 - The witches are coming.

Já são quase sete horas, está na hora de alguém chegar. Não quero ter que receber o e sua namoradinha esquisita, sozinha.
Ah, doce som da campainha. Só espero que não seja o . Poderia ser o , hã? Faz tempo que não o vejo.
- Oi, ! - Não era o ... Nem o ...
- ! - falei sorrindo. Fazia tempo que não via o . Para falar a verdade, não falo com o , faz um tempo também. Apenas o me enche o saco, pelo menos uma vez por semana. - Entra, dude.
Ele entrou e foi direto para a sala. Fiquei parada por um tempo olhando o vazio na minha porta de entrada.
- ? - o ouvi gritar da sala. 'Já estou indo' gritei em resposta. - Então... Tudo bem? - me perguntou assim que apareci na porta da sala.
- Hm, tudo ok. E com você?
- É, estou bem. - ele falou. Era eu, ou o estava extremamente hiperativo hoje?
- Senta, . - eu disse me sentando no sofá - Você tem certeza que está bem?
- Eu... Eu... Eu estou bem em pé. Não se preocupe. - ele olhou para a porta da cozinha - Se importa de irmos para a cozinha?
- Hã? - ele me encarou, e embora eu soubesse que ele não queria demonstrar, eu vi um pouco de desespero e desconforto em seus olhos - Vamos. Quer beber alguma coisa?
- Água. - ele disse se sentando em uma cadeira velha de madeira que ficava perto da mesa. - , você...
- Eu?
- Você não está sentindo nada... Diferente?
- Diferente como, ? - Mas que conversa era aquela?
- Nada, esquece. - ele passou a ponta de um dos dedos pelo copo - Você, er, cortou o cabelo. - disse baixo, afirmando para ele mesmo - Está bonita.
- Obri...
- A campainha. - disse olhando em direção à sala.
Deixei o na cozinha e saí em direção ao hall, quando passei pela sala, senti um vento frio, mas todas as janelas estavam fechadas. Devia ser coisa da minha cabeça.
- Pequena! - um homem enorme falou antes de pular em mim quase me matando.
- Ah, oi, . - murmurei com a cabeça enfiada em seu peito - Você, er, poderia me deixar respirar?
- Oh, desculpe. - ele falou sem graça - Estava com saudades!
- Eu também, eu também. Vamos lá na cozinha, o está lá.
- Ah! Pensei que poderia passar esse tempo todo falando mal dos outros com você... - às vezes acho que os meus amigos são gays.
Comecei a guiar o pelo caminho até minha cozinha, não pude deixar de perceber que quando passamos pela sala arrepiou. Com certeza deveria ter alguma janela aberta em algum lugar!
Chegamos à cozinha e nos deparamos com o sério, encarando o vazio. Entramos e ele não mexeu um músculo. Nem ao menos piscou. Fiquei o observando com até que o mesmo se irritou:
- ! - ele gritou no ouvido do rapaz - Que diabos você está fazendo?
não fez nada, apenas piscou um pouco e encarou com um olhar confuso.
- , você tem certeza que não está sentindo nada diferente? - me olhou nos olhos.
- ... Eu, não sei... - falei olhando do para o .
- , você sabia que não se pode deixar a porta de casa aberta? Ladrões entram. - disse , entrando sorrindo na cozinha - E aí, dudes?
- Oi, . - disse.
me olhava nos olhos esperando por uma boa resposta.
- , podemos conversar depois? - disse implorando com o olhar - ! - acenei para o mesmo que observava a mim e com interrogação.
- Ah, oi, . - disse olhando para baixo. - Er, esquece tudo, . Eu que devo estar ficando louco...
A campainha tocou e dessa vez não poderia ser ninguém mais além de e sua namorada gótica.
Abri e porta e vi a fada do dente. BRINCADEIRINHA! Lá estava o , sua namorada e mais duas meninas parecidas com ela.
- Oi, - a namorada de disse. Isso mesmo, pasme. ELA SABIA O MEU NOME! Ai, Deus estou "macumbada"!
- Oi, namorada do . - respondi, até a chamaria pelo nome, mas eu não sabia qual era...
- , essa é a Alice - apresentou a namorada que usava uma calça colada ao corpo e um corpete vinho com fitas de um vermelho mais claro e tachinhas - E essas são Serena, - uma menina com um vestido até os pés roxo e preto, acenou para mim - e Melinda. - outra menina de vestido, mas dessa vez mais curto, branco com verde esmeralda, algumas fitas de cetim pretas e coturno também preto, acenou e sorriu para mim.
Confesso que apesar de tudo, digo, do modo como conheceu Alice, e tal... Eu gostei dessas meninas.

Capítulo 3 - The Blood Moon.

Apresentei-me para as meninas e as convidei para entrar. As três eram irmãs, Melinda e Serena eram gêmeas e Alice era a mais velha. A família Clancy havia se mudado da Irlanda fazia pouco mais de seis meses.
- Meninas, vocês vão adorar a casa da , é muito grande e espaçosa. - disse sorrindo e entrando na sala, o segui, entrando também.
Eu estava quase chegando à cozinha quando percebi que eles não vinham atrás de mim. Olhei para a entrada da sala e vi conversando com as meninas. Parei e fiquei observando. Serena percebeu o meu olhar curioso e cutucou Alice com o cotovelo.
- , você poderia vir até aqui? - a menina disse sorrindo.
Fui ao encontro deles me perguntando se havia algo de errado com a minha casa, já que como disse, ela era grande e espaçosa, além de muito confortável.
- Algo errado? - perguntei apreensiva. Pude ouvir os passos de , e , se aproximando.
- Vocês viram a lua hoje? - perguntou Melinda. Era incrível como suas feições angelicais, combinavam com seu estilo. Serena também, já que eram gêmeas... [n.a: dãããr]
- A lua? - perguntou arqueando a sobrancelha - Como assim a lua?
- Ela está diferente! - respondeu Serena, seus olhos infantis.
- É a mesma lua de sempre, menina. - falou, sentando-se no sofá.
- Não é. - disse Melinda, como se fosse óbvio.
a encarou sério e bufou.
Eu não estava entendendo nada. Não tem nenhum problema com a minha casa?
- Hm, meninas... Por que não nos sentamos no sofá? E então, podemos falar sobre a lua à vontade. - disse sorrindo.
- ... - murmurou sem graça.
- Por que não ficamos aqui? - perguntou Alice.
- Aqui no hall? - disse como se fosse um absurdo.
- Estamos bem aqui. - responderam as três juntas.
- Pelo amor de Deus, meninas! - eu quase gritei - Entrem logo, os sofás são bons, eu garanto.
- Ok... - Alice sussurrou e olhou apreensiva para as irmãs, fazendo com que elas sorrissem nervosamente. As três entraram na sala e se sentaram timidamente em uma poltroninha.
Eu não disse mais nada e me sentei no sofá, juntando-me a , e , que já estavam sentados, encarando o nada.
ficou em pé, de mãos dadas com Alice.
- Posso ligar a televisão? - perguntou baixo.
- Pode. - respondi, sem saber por quê, baixo também.
- Coloca no E4, dude! - Disse , em um tom... Baixo.
- AH! - ouvi urrar. Ele se levantou, olhou para mim e foi para cozinha.
- Dude? - disse fazendo menção de ir atrás de , mas quando puxou a mão de Alice ela nem se moveu.
- Pelo amor de Deus! Alguém poderia me dizer o que está acontecendo? - eu disse me levantando - ! Traga o seu traseiro gordo para cá.
- ... - senti sua voz tremer.
- AGORA. - eu realmente estava irritada. - E vocês? - depois de meia hora observando todos, por não ter nada para fazer, eu finalmente percebi que elas não estavam se sentindo nem um pouco confortáveis. E não era timidez.
- , você não sabe? - Disse Serena.
- , não estou te vendo na sala. - eu disse alto - Não sei o que Serena? - voltei minha atenção à menina que me olhava curiosa.
- A sua casa.
- Minha casa? O que tem a minha casa? - ouvi um barulho na cozinha, olhei para trás e vi colocar apenas a cabeça à vista.
- Você não está sentindo? - Melinda perguntou assustada.
- Eu disse que ela não sentia... - murmurou Alice para Melinda. - , a sua casa tem... Tem... Um clima... - ela olhou para as irmãs, que concordaram - Um clima pesado e estranho.
- Só pesado e estranho? - perguntou , que embora eu nem tivesse percebido, estava atrás de mim. - Acho que é bem pior.
- Pior? - perguntei, minha voz parecia um assobio.
- Bom, não é bem assim... - disse Serena, olhando repreensivamente para . - Ainda tem jeito. - ela murmurou para si.
- Você pode sentir, não pode? - Melinda falou para o , sorrindo. - Eu sabia! O modo como você simplesmente não parava quieto!
- Dude, é tão bom saber que não sou o único a sentir isso. - falou sorrindo e indo em direção à elas - Aqueles arrepios estavam me deixando louco! E o que diabos era aquela sombra?
- Sombra? - perguntou Alice.
- É, oras! - , olhou para baixo - Vocês não estão vendo as sombras?
Melinda olhou para Alice e Alice para Serena que olhou para Melinda de volta, as três se olharam preocupadas, mas meio segundo depois seus olhos brilharam.
- Não devia ter dito sobre as sombras. - murmurou - Meleca...
- , - chamou Melinda - como elas são?
- Ah, calem a boca! - eu disse. - Vocês só podem estar de brincadeira!
- Dude, não estou entendendo nada... - Falou .
- Então, venha para cá! Junte-se a nós. - chamou para assistir algum filme estranho com ele e .
- , lembra que mais cedo eu disse que a lua estava diferente? - ah, cara... De novo essa história?
- Sim, me lembro.
- Hoje para nós é apenas mais uma quarta-feira fria em Londres. - Começou Melinda - Mas há muito tempo atrás...
- ... Em um vilarejo na península da Califórnia, perto da cidade de La Paz, no México... - Serena a cortou - Hoje era conhecido como...
- ... El día de la Luna Roja. - concluiu Alice. - Ou 'O dia da Lua Vermelha'.
as olhava curioso, ele de fato estava acreditando. E eu, não via a hora de jogar o na frente de um ônibus, por trazer sua namorada louca, e irmãs para a minha casa.
- E o que acontece nesse dia? - perguntei.
- Você já desejou muito alguma coisa? Tanto que você sonhava acordada com ela? Só pensava nisso? - e isso responde a minha pergunta, como mesmo?
Balancei a cabeça afirmando. Mas isso não é nenhum crime! Quem nunca desejou algo na vida? Eu já quis desde Barbies e seus carros rosa, até um Porsche Boxter amarelo.
- O Vilarejo era conhecido como El Apagón, porque ele ficava muito escondido dentro da mata e a chuva era constante.
- Ou seja, ele ganhou esse nome por ser escuro. - disse Serena.
- As pessoas desse vilarejo eram extremamente religiosas, mas a religião dessa tribo era politeísta, eles acreditavam em vários deuses. Para eles o maior e mais poderoso era o Deus Potosí, era ele quem protegia o Vilarejo. Mas, ele tinha um irmão, o Deus Campeche. Potosí era um Deus bom, ele cuidava da saúde das crianças e mulheres e garantia o alimento. Já Campeche, era o irmão mal. A escuridão e as chuvas que duravam dias, e às vezes matando algumas pessoas, eram culpa dele. Todos amavam Potosí, faziam sacrifícios com animais para que ele continuasse a ajudá-los, e o mais comum era matar uma cabra que tinha que ser nova. - explicou Melinda.
- Mas do mesmo modo que alguns amavam o Deus Potosí, outros amavam o Deus Campeche. - Serena retomou a explicação - Eles afirmavam que era bom para o Vilarejo que chovesse, pois não faltaria água, e melhor ainda que ele fosse escondido, pois eles não sabiam o que tinha além das árvores daquela floresta. Não sabiam que tipo de Deuses e poderes eles poderiam encontrar. Para Campeche, também eram feitos sacrifícios, mas esses eram geralmente com bodes velhos. O contrário do sacrifício feito à Potosí.
- No meio de toda essa história temos Carlos Juarez, um dos seguidores de Campeche. Um homem pobre e frustrado. Ele dizia aos outros seguidores que se eles orassem à Campeche pedindo pelas coisas que mais desejavam, eles seriam atendidos.
- Anos se passavam e os desejos nunca eram atendidos. Carlos Juarez começou a ser interrogado pelos seguidores, e ele apenas dizia que Campeche não atendia aos pedidos porque eles não mereciam. - Alice disse olhando em volta, como se procurasse por algo. - Em um dia de Maio, tudo piorou para Juarez, os seguidores de Potosí disseram que o Deus deles havia prometido um dia de sol, e que estava próximo. Alguns dias depois, o sol brilhou em El Apagón! - os olhos de Alice brilhavam.
- E isso foi a gota de água para os seguidores de Campeche, que decidiram matar Carlos Juarez no mesmo dia. Carlos tentava argumentar, mas nada que ele dizia era ouvido. - Serena sentou-se no chão - Na hora de execução, Carlos olhou para o céu e pediu a Campeche que o ajudasse, que fizesse o Vilarejo voltar à escuridão.
- E então? - perguntou o , entretido. - O que aconteceu, Serena?
- O Vilarejo voltou à escuridão.
- CARAMBA! - exclamou do sofá.
- Vocês não estavam vendo um filme? - perguntei ríspida.
- Mas a história das meninas estava mais interessante... - disse .
Bufei e olhei para as garotas.
- É só isso? Digo, acabou? Porque vocês contaram uma história bem legal mesmo, mas não vi ligação alguma com os chiliques do - 'eu não tenho chiliques', murmurou.
- Na realidade, o que houve aquele dia, não foi uma manifestação de Campeche, mas sim um eclipse solar que durou seis minutos e vinte e nove segundos. O que foi tempo suficiente para Carlos conseguir a atenção de seus seguidores e voltar ao poder. Naquela noite todos eles mataram os seguidores de Potosí, alegando que eles queriam destruir o Vilarejo, colocando-o em risco pedindo a Potosí que fizesse o sol brilhar dentro de El Apagón.
- Então, tudo voltou ao "normal", os seguidores de Campeche voltaram a fazer seus pedidos. E um dia, um foi ouvido. - disse Alice fazendo voz de suspense. Ela encarou suas irmãs e elas sorriram. Um sorriso doce, mas que ao mesmo tempo me fez arrepiar. - Uma menina chamada Morelía Oxaca, havia perdido os pais, no massacre contra os seguidores de Potosí, em todas as suas orações a Campeche ela desejava poder vê-los, ou pelo menos poder ouvi-los ou senti-los. Em uma noite, Morelía pôde ver seus pais que pediam por ajuda. Ela escutava os gritos de sua mãe e jurava poder ouvir os passos de seu pai. A todo lugar que ela fosse. A menina não tinha descanso. Após um tempo, ela começou a ver os espíritos dos seguidores de Potosí, que foram mortos. Ninguém acreditava na menina. Já que Liacán, o Deus dos mortos para eles, não deixava alma alguma escapar, ele as buscava e as trancafiava em seu reino.
- A menina foi morta, em sacrifício a Campeche. Pois, à medida que as visões de Morelía se tornavam mais costumeiras, começaram a acreditar que Morelía estava dirigindo suas orações a Liacán, e não a Campeche. E apenas seu sangue faria o Deus a perdoar.
- Na noite em que Morelía morreu, era noite de lua cheia, e envolta da lua havia um círculo vermelho. As bruxas sempre acreditaram que isso era sinal de morte, tragédia e mudança de destino. Era noite de Lua de Sangue. Uma inocente morreu naquela noite, e o destino de muitos outros foi mudado; com Morelía iniciou-se a Dinastia Mediadora.

Capítulo 4 - I'm what?

- Dinastia Mediadora? - perguntou se levantando do sofá e chegando perto - O que é isso?
- Eu me lembro de ter visto algo assim em algum lugar... - falou se juntando a nós também.
- Mesmo? - Melinda perguntou.
- Sim. Minha irmã estava lendo algo assim uma vez e eu achei interessante e li também.
- Você ainda se lembra do que era? - Alice perguntou.
- Hm... Na realidade não muita coisa. Só me lembro de alguém que podia ver sombras, mas que isso era algo raro...
Olhei para , cruzando nossos olhares, já que ele já estava me olhando.
- Um mediador é alguém que pode falar com os mortos. - Disse Serena como se isso fosse uma coisa corriqueira. Tipo: 'Oi, eu falo com os mortos, há algo que queira dizer ao seu peixinho dourado? Porque ele está bravo por você tê-lo jogado na privada.'
- E esse que vê sombras, - Melinda olhou para - é o Mediador de apoio. Ele não vê os mortos, mas vê suas sombras. O que é muito raro. Geralmente os de apoio apenas podem sentir a presença deles, ouvir, ou sentir algum cheiro, como por exemplo, um perfume. Na história da Dinastia são poucos os que podiam ver as tais sombras.
- Calma, me situem, porque eu fico cada vez mais perdida. - eu disse, já estava começando a me interessar pela história, ela era mesmo muito intrigante. E confusa. Mas eu ainda queria saber o que isso tinha a ver com a minha casa.
- , um mediador tem a missão de ajudar os mortos, não apenas vê-los. Os espíritos ficam presos a objetos, lugares ou pessoas, porque têm alguma coisa ainda pendente. E é o serviço do Mediador concluir essas tais coisas.
- Morelía era uma Mediadora. Ela sempre pôde falar com os mortos, mas foi preciso morrer alguém muito ligado a ela, os pais, para que seu dom se manifestasse. Alguns mediadores passam a vida sem ver um espírito sequer. Outros descobrem o dom quando já são velhos, ou alguns quando são muito novos. As circunstâncias são as mais variadas... Pode ser graças à morte de algum ente querido, como Morelía, pode ser graças à uma visita ao cemitério, ou o contado com algo mal-assombrado.
- E sempre que nasce um mediador, nasce um mediador de apoio. E os dois são ligados. Por exemplo, podem ser primos, ou mãe e filho, amigos... Os dois se conhecem. Para que assim eles possam unir os dons. Mas o de apoio só tem o dom quando o mediador descobre os seus.
- E obviamente temos um mediador de apoio aqui. - falou. Todos nós já estávamos sentados de frente para a tal poltroninha que as meninas estavam.
- Quer dizer o que com isso? - perguntou relutante.
- Ah, , está na cara! - disse apontando para ele - Me diz que não vê sombra alguma na sala.
ficou quieto.
- Não vejo nenhuma agora. - murmurou.
- Mas se é o de apoio, quem é o mediador? - perguntou às meninas.
Olhei para frente, observando cada um dos meus amigos.
? Não... ? Se fosse ele, ele não teria perguntado. ? Alice já saberia... Não poderia ser nenhuma das irmãs, ou elas já teriam falado. E não seria o mediador de apoio de nenhuma delas! Se Serena fosse a mediadora, Melinda seria o apoio, e vice e versa. O mesmo vale para Alice. Serena ou Melinda, seria o apoio de Alice.
Todos pareciam fazer a mesma coisa que eu, exceto pelas irmãs que me encaravam. Retribui o olhar e senti um arrepio, virei o corpo e olhei na direção do sofá. Senti meu coração acelerar os batimentos, e soltei um gritinho baixo. Olhei para as irmãs e as três me encaravam com curiosidade, o mesmo faziam os meninos. , que estava sentado ao meu lado, pegou em minha mão a apertando de leve.
- Você viu algo, não viu? - ele sussurrou.
Eu queria responder, queria gritar e sair correndo. Mas minha voz não saía, e minhas pernas não me obedeciam. Apenas o olhei e senti meus olhos marejarem, um cheiro doce invadiu o ambiente, meu olhos começaram a pesar, mas eu tentava mantê-los abertos, eu precisava falar!
Eu estava deitada em algo macio, me sentia confortável, mas tinha a sensação que não deveria. Abri os olhos e me sentei de uma vez. Minha visão escureceu, parecia que eu estava prestes a cair novamente.
- ? - uma voz rouca me chamou - , você está bem?
Reconheci a voz de , abri os olhos e olhei em direção da voz, vendo o rosto dele, uma expressão preocupada. Aos poucos fui reconhecendo cada rosto presente.
- Onde estou? - Fiz a típica pergunta de recém desmaiada.
- Nós te trouxemos para o seu quarto - disse se sentando ao meu lado na cama.
- , o que você viu na sala? - Alice perguntou, levando um cutucão de .
- Eu... Foi real? - olhei apreensiva para ela.
- Não sei... - ela parecia triste - Eu não posso ver essas coisas...
- Acho que foi. - murmurou - Eu vi a sombra e senti como se ondas de raiva passassem por mim, raiva e arrogância.
- Você sentiu um perfume doce, ? - me senti uma criança assustada.
- Perfume? Não... - ele respondeu - Mas, , como era o homem?
- Eu não sei como dizer... - não tinha como explicar - Ele parecia ter mais de cinqüenta anos, usava uma roupa toda preta e um chapéu que cobria quase todo o rosto. Eu só podia ver o seu sorriso, um riso cínico e debochado.
- Eu não pude ver muita coisa, - começou - quando eu olhei para você e te vi estática encarando a sala, eu senti a raiva e a arrogância, olhei para trás, mas o homem estava sumindo... Eu apenas vi um borrão...
- Acho que já sabemos quem é o Mediador. - disse, sorrindo nervoso.
- Não entendo... Por que o começou a sentir e ver as sombras antes que a ? - perguntou para quem quisesse responder.
Olhei para o lado e fiquei o encarando, eu sabia que tinha a resposta para aquela pergunta, mas não sabia qual era. Desviei o olhar e comecei a olhar em volta. Meu quarto parecia tão diferente. Com um clima diferente. Eu não sentia que poderia dormir ali... Ouvi Serena dizer a que ela não sabia explicar o porquê disso. Melinda falou que talvez por ser um dos raros de apoio que vê sombras, ele também tenha ganhado o dom antes de mim.
- Não. - eu disse - Não foi por isso, eu vi algo ontem à noite. - falei me lembrando da noite passada, e entrando em uma espécie de transe.
Todos pararam o que estavam fazendo e passaram a prestar atenção em mim. Senti pegar em minha mão, como ele fizera na sala, há poucos minutos.
- Ontem foi um dia bem estranho para falar a verdade... - eu comecei - Tudo começou enquanto eu voltava do trabalho, eu estava no metrô e uma velha senhora passou por mim sorrindo docemente, eu retribui o sorriso e continuei o meu caminho, mas mal dei dois passos e a senhora estava ao meu lado, ela segurou um dos meus braços e disse: "prepare-se, e não tenha medo", eu estranhei, mas sorri e voltei a andar. Eu cheguei em casa e senti um arrepio, mas não estranhei, já que estava frio... Fiquei acordada até tarde, vendo algum programa estúpido na televisão, mas sempre com a sensação de ser observada. Vim para o quarto para dormir, o que não foi fácil, eu acordava de dez em dez minutos, parecia que tinha alguém correndo de um lado para o outro dentro do quarto. Por volta das quatro da manhã eu acordei com um barulho que vinha da sala, me levantei e fui ver o que estava acontecendo, quando cheguei ao pé da escada eu... - apertei a mão de - Eu vi o homem do chapéu parado ao lado do sofá, na hora pensei que fosse algum ladrão, então puxei o guarda-chuva e me aproximei, mas antes que eu pudesse fazer algo, senti minha cabeça queimar, fiquei tonta e acho que desmaiei... - olhei para baixo e disse incerta - Mas hoje de manhã acordei na cozinha... - passei uma das mãos pelo cabelo.

Capítulo 5 – Are you afraid of dark?

apertava minha mão com força, mas ao mesmo tempo, parecia tão delicado. Eu encarava o rosto dos meus amigos, tentando ler o pensamento de cada um deles. Eu estava ficando louca, essa era a única explicação.
- Nossa. – murmurou Alice, seus olhos brilhando.
- Serena? – Melinda chamou – Você...
- Aham. – a menina respondeu, sem nem antes ouvir a pergunta. Deve ser a tal sincronia de gêmeos. – Alice?
- Aham. – Tá, isso é a tal sincronia de irmãos, mesmo...
pigarreou e se sentou na ponta da cama, ainda olhava pelo meu quarto, como se a qualquer minuto algo pudesse aparecer e devorar o seu cérebro, não que ele tivesse um... Mas você entendeu. apenas observava Alice e a mim. Eu tentava não olhar nos olhos de ninguém presente, eu sentia que devia alguma resposta a eles, mas eu não sabia o que responder. Eu não podia explicar nem a mim mesma! Imagine a outra pessoa... Tudo aconteceu tão rápido, eu ainda não pude processar tudo.
- O que vocês sentiram na sala? – disse, sua voz saiu um pouco rouca, pois fazia um tempo que não falava.
- Desconforto. – Melinda respondeu simples.
- Não era bem isso, né Mell? – Serena a encarou – Nós sentimos que algo estava errado, que tinha uma presença ali que não era desejada.
- , nós não vemos, mas às vezes, não é nem preciso ser um Mediador para perceber algum espírito tão forte como o que está na sua sala.
- Alice... – Serena a olhou, das três, ela parecia ser a que mais media as palavras. – O que ela quer dizer é que esse homem, deve estar aqui há tanto tempo, que está ficando forte. Ele já deve ter descoberto como usar sua energia... Isso explica os barulhos que você ouviu ontem à noite. E às vezes, mesmo pessoas normais podem sentir esse tipo de espírito. Porque sua presença é forte. Ah, é claro, pessoas normais também podem ver as conseqüências, ontem, se não fosse o seu dom, você apenas teria visto os objetos que ele espalhou pela sua casa. E isso já seria algo a se pensar, hã? – ela deu um sorriso forçado.
- Isso parece loucura. – disse com os olhos arregalados.
- Isso É loucura. – Eu falei. Primeiro estágio: negação.
- Eu sei que parece estranho, mas... – Alice sorriu – É real!
- Eu queria tanto poder ter o seu dom, ! – Melinda quase gritou – Ou o seu !
- Seria demais poder falar com os mortos. – completou Serena.
Elas tinham o olhar brilhante sobre mim e . Pareciam realmente desejar isso! COMO ASSIM? Quem sonha em falar com os mortos? Eu não. E seja lá o que é esse “dom”, eu não quero. Eu não pedi por ele. E não vou aceitar.
- Então, esse negócio de arrepios, cheiros, sombras... É para sempre? – perguntou.
- Hum... Creio que sim. – Melinda disse – Eu não sei de nenhuma história de alguém que simplesmente perdeu o dom.
- Sabe, ... Eu até que estou achando isso tudo muito interessante.
- Vocêsópodeestarficandomaluco. – eu disse desesperada. Olhando a cara de: ‘o que?’, que ele fazia. – Você só pode estar ficando maluco. – falei mais pausadamente.
- Talvez... – ele olhou para o teto. – Mas nós bem que poderíamos tentar descobrir algo sobre o cara que assombra a sua casa, hã?
- CONCORDO. – As três irmãs disseram, lê-se: berraram, juntas.
- Ótimo, então os quatro bonitinhos podem descer e ir lá tentar falar com ele. Porque eu fico por aqui. - Eu disse sorrindo desconfortável - Alguém tem que cuidar do , sabe como é...
- Na realidade, ... - começou, tirando os olhos das paredes rosa do meu quarto e me encarando - Eu acho que seria legal vocês descobrirem quem é esse cara.
Acho que nunca arregalei tanto os olhos na vida, fato. Eles realmente queriam fazer isso? Eu vi o que ele fez com os antigos livros de psicologia que o meu avô tinha na sala! E eu não quero ter o mesmo destino.
- Se ela descobrir quem ele é--
- E ajudá-lo com os 'serviços inacabados', sim. Ele vai embora. - Alice cortou para . - , ele precisa de você.
- Não é o que parece! Ele está muito bem tacando coisas pelos ares e me fazendo perder os sentidos. - Disse mal-humorada. - Gente, eu não sei nem como fazer isso. - me senti tão inútil e derrotada, mas por apenas alguns segundos - Não que se eu soubesse, eu o ajudaria. Claro.
Mas esses 'alguns segundos' significaram muito para Alice, Serena, Melinda e .
- Você poderia tentar falar com ele. - Serena.
- Então, fazer uma busca para descobrir a história dele. - Alice.
- E isso dará trabalho, porque às vezes eles estão tão confusos que mal lembram o nome! Mas com sorte esse vai saber até como morreu. - Melinda.
As três não calavam a boca, diziam tudo ao mesmo tempo, eu mal entendia. Pensei que desmaiaria de novo.
- E eu estarei lá com você, . - . Já havia até me esquecido que ele estava ali.
- E-eu... Eu... Não sei. - murmurei, quase me dando por vencida. Eu não queria ter que conversar com aquele homem de novo! Mas eu não podia fugir como um rato... Era a casa dos meus avós! Essa casa tinha história, eu não a perderia para um fantasma. - É só eu descer que ele vai vir falar comigo?
- Talvez, não sei... - Alice parecia ansiosa para encontrar com o fantasma, mesmo que quem fosse falar com ele fosse eu. - Pode levar um tempo até ele se fazer presente.
- Ou, não. - disse baixo, se aproximando da porta do meu quarto. - Estão ouvindo isso?
Congelei na cama. Eu não estava preparada! Esse 'cara' já me fizera desmaiar duas vezes. DUAS VEZES! O que vem agora? Coma?
Olhei para o lado e encontrei com o olhar do , ele me olhava como se perguntasse se eu queria fazer aquilo.
- Vamos logo. - disse me levantando e puxando o comigo.
- Calma, ! - se levantou da cama junto. - Vamos primeiro identificar o que ele está fazendo.
- Você está ouvindo? - Melinda me perguntou.
- Está ficando cada vez mais alto. E você ? - perguntei, recebendo um aceno de cabeça confirmando.
- Eu mal escuto alguma coisa... - Serena falou, e todos os outros concordaram. Exceto .
- Eu posso ouvir claramente! Ele está na cozinha. - falou abrindo um pouco a porta.
Serena encarou como que se perguntasse por que ele ouvia e ela não. Porque ele podia ouvir tão bem como e eu.
Olhei para trás e vi sorrindo, apertei mais a sua mão e botei o pé direito para fora, sentindo me acompanhar comecei a descer as escadas. Além dos nossos passos, eu podia ouvir nossos amigos caminhando lentamente atrás de nós, sem contar com o barulho de panelas caindo, colheres batendo em pratos, e cadeiras arrastando. Quando cheguei ao pé da escada, senti recuar.
- ? - ele murmurou - Você está sentindo? - o encarei por um estante, sentindo o que? - Toda essa raiva!
- , não sinto nada disso. - olhei para baixo - Deixe que eu vá até lá. - soltei sua mão e comecei a andar até a cozinha. Ouvi gritar por mim, pedindo que eu o esperasse. Mas ele pareceu estar tão longe! Encostei uma das mãos à maçaneta da porta da cozinha e fiz força para que ela abrisse.
Aaaah, mas por que fantasmas mexem com a nossa cabeça, mesmo?
Abri a porta, mas não foi a minha cozinha do século XXI que eu encontrei. Eu parecia ter voltado aos anos 50. A cozinha era toda branca, com um leve tom de rosa. Meu microondas? Só Deus sabe onde foi parar! Minha linda geladeira de aço inox com portinha para gelo, também estava em algum lugar que não era onde eu a havia deixado mais cedo. Mas tinha algo mais diferente nela... Não só os móveis, ou a falta de modernidade. Ela estava mais ampla, mais clara, com mais janelas e com uma mesa bem espaçosa ao centro. Fora o forte cheiro de bolo! Lembrei-me de minha avó. Quero dizer, me lembrei da segunda mulher do meu avô. Minha avó, mãe de minha mãe, faleceu antes mesmo do meu nascimento. Nunca a conheci.
Ouvi alguém chamar meu nome, era uma voz doce, voz de mulher. Olhei em volta procurando pela dona da voz, mas não encontrei ninguém. Senti uma rajada de vento e o tal cheiro doce de sempre chegou até mim novamente, e para variar fiquei tonta, me sentei em uma das cadeiras da mesa de jantar. Fiquei encarando o vazio por um tempo, não sei dizer se foi meia hora ou meio segundo. Mas rapidamente desviei o olhar dos azulejos brancos à porta que estava sento aberta. Uma senhora de aparentemente quarenta anos entrou seguida de uma menina de uns dez anos, as duas passaram por mim como se eu nem estivesse lá, a mulher e a menina começaram a mexer nos armários e na geladeira, para preparar algo, depois de um tempo pude perceber que elas faziam algum tipo de doce caseiro de abóbora ou algo do tipo. A senhora mexia o doce na panela enquanto a menina apenas observava. Ouvi uma voz grossa de homem gritando, a mulher largou a panela e saiu correndo, creio que para ajudar o tal homem, e a menina subiu em uma cadeira para mexer o doce. Foi tudo que vi. Aos poucos minha visão começou a escurecer e comecei a perder os sentidos, mas antes pude ouvir um grito de criança.
Ao longe eu ouvia alguém me chamar, a voz era conhecida. Eu sabia que eu conhecia o dono da voz, mas estava tão tonta que mal sabia meu nome. Eu sentia tudo girar, e podia sentir cada batimento do meu coração. Aos poucos fui me acalmando e pude reconhecer o dono da voz. Ou melhor: das vozes.
- Oh, meu Deus! - , creio eu, disse.
- A culpa é toda minha! Eu... Eu a deixei ir sozinha!
- Não é sua culpa, ! - eu disse abrindo os olhos o encarando. Me arrependi amargamente, senti tudo girar e escurecer. - Eu estou bem.
- Desculpe, ! - ele se ajoelhou - Eu tentei correr, mas você saiu correndo! Eu fiquei batendo na porta da cozinha, mas ela parecia de concreto... - ele falou incerto.
- O que houve lá, ? - Serena perguntou - A porta parecia de concreto como o disse, e nós não ouvimos nada.
- Eu ouvi um grito de criança. - me encarou. - Era uma criança?
- E o homem? - perguntou .
- Eu não sei o que foi aquilo! - eu me sentei - Quando entrei na cozinha tudo estava diferente... - Contei a história a eles que me olhavam cada vez mais interessados, ou seria assustados? - Só sei de uma coisa: se eu for desmaiar cada vez que isso acontecer...
- Não se preocupe! Com o tempo os desmaios ficam mais fracos... Os desmaios virarão piscadas de olhos! - Alice sorriu - Você apenas fechará os olhos e tudo terá acabado.
- Isso é o que eu mais gosto! - Serena sorriu.
Olhei em sua direção e a vi encostada no sofá, junto com Melinda e Alice.
- Quero saber o que tem a ver isso tudo com a visão... - se sentou no sofá encarando a porta da cozinha. - Será que aqui tem mais de um fantasma?
Todos arregalaram os olhos e senti se aproximar de mim. Olhei para o relógio antigo do meu avô e vi que já era quinze para a meia noite. Só então, percebi o quanto eu estava cansada.
- Quer dormir? - pareceu ler meus pensamentos - Nós podemos ir. Né gente?
Todos concordaram, as meninas um pouco mais relutantes, mas concordaram.
- Bom... Eu estou cansada, sabe? - eu sorri, sentindo o peso do meu corpo - Adoraria poder descansar...
Todos sorriram entendendo o que eu queria dizer e murmurando 'boa noite' e 'qualquer coisa liga' eles foram embora. Observei meus amigos deixando minha casa e subi as escadas rumo ao meu quarto. Pude sentir que não queria me deixar, mas ao mesmo tempo ele sabia que eu precisava descansar. Eu queria que ele ficasse, não me pergunte por quê, mas eu sentia que precisava dele agora. Mais do que jamais precisei. Talvez, fosse graças ao dom que compartilhamos.
Abri a porta de madeira do meu quarto e nunca a senti tão pesada, andei lentamente até minha cama e me joguei relaxando. Fechei os olhos por um momento, e cenas do dia vieram a minha mente. Vi o homem de preto sorrir para mim, a cozinha estranha, me lembrei dos arrepios, do cheiro de bolo, de , e do grito da menina. Este, por sinal, pareceu ser real. Não apenas em minhas lembranças, foi como se eu houvesse escutado de novo. Apertei os olhos com toda força que pude, o que não era muito, e afundei o rosto no travesseiro. 'Oras ! Você não precisa ter medo do escuro... ' Disse baixinho pra mim mesma.
Ouvi um miado, 'maldito gato da vizinha' pensei. O miado continuava, cada vez mais alto. Nunca gostei muito de gatos, fato. Só precisava de mais alguns miados horríveis e esse gato levaria um belo banho de água fria. Nem ligo pro IBAMA, falou? 'Mas não é possível!' eu gritei me levantando e indo abrir a janela, para TENTAR dar um susto no gato, não importa se eu teria que gritar, cacarejar... Mas não cheguei até a metade do caminho...
Senti um cheiro estranho... E parei no lugar, tentando me lembrar que cheiro era aquele. Onde eu já havia sentido esse cheiro. 'QUEIMADO!' Gritei.
Corri para o andar de baixo e o cheiro ficava cada vez mais forte, sem contar com o calor que se tornava insuportável, ao chegar à sala pude ver a cozinha pegando fogo, ele se alastrava rapidamente e em segundos o sofá bege já pegava fogo. Eu queria correr, mas não encontrava forças. Minhas pernas não obedeciam.
Senti o maldito perfume doce de novo, recuperei minhas forças e comecei a correr para fora de casa antes que o fogo me devorasse. Abri a porta e pude sentir o ar fresco da madrugada, corri até o outro lado da rua sem olhar para trás. Não queria ver a casa dos meus avôs, da qual tenho tantas lembranças, destruída.
Senti um par de braços em volta de mim, me abraçando, olhei para cima e me deparei com os olhos de me encarando preocupados.
Encostei minha cabeça em seu peito e senti lágrimas descerem pelo meu rosto molhando sua roupa.
- ? - ele passou as mãos pelo meu cabelo - Você está bem?
- ... Minha casa. FOGO. - eu disse tremendo.
- Fogo? - o senti esticar o pescoço para tentar ver melhor. - Onde?
- Como assim onde? - perguntei me virando em direção à casa - Fogo...? - murmurei. - , estava pegando fogo! Eu vi! Eu senti o cheiro de queimado, senti o calor infernal! Eu quase morri! - senti minhas pernas moles e meus joelhos falharam, me obrigando a ajoelhar - Não é possível. - encarei o chão.

Capítulo 6 - Ladies asking for help.

Fiquei observando o chão sujo da rua com ao meu lado, sem saber o que fazer. Eu vi minha casa pegar fogo! Eu vi. Como seria possível não haver fogo algum agora?
- Talvez o fogo esteja só queimando por dentro da casa! - falei levantando o meu olhar até que encarava minha casa.
- , o fogo já estaria queimando a parte de fora. - ele disse como se isso fosse óbvio - Vamos lá dentro. - me ofereceu a mão para que eu me levantasse. Observei sua mão e fiquei pensando se ia ou não. Admito que não queria, mas não podia passar a noite inteira na rua encarando o asfalto.
Aceitei sua mão e com passos lentos andei em direção à minha casa, trazendo comigo. Escutei de novo o miado e murmurei 'maldito gato' abrindo a porta de casa e vendo que tudo estava... Inteiro. Nada fora do lugar, nada queimado. entrou e foi direto para a sala e depois para a cozinha. Eu não era capaz de andar, fiquei parada no hall olhando tudo em volta. Nada queimado. Nada de fogo.
- Está sentindo? - ele gritou da cozinha.
- O que? Medo? - eu ri irônica - Porque eu realmente estou com medo. - dei alguns passos em direção à sala, e encontrei parado ao lado do sofá.
Olhei à direção que ele olhava e vi uma senhora. Sentada no sofá, ela sorriu para mim e eu senti como se todo amor do mundo me invadisse, um amor de mãe, ouvi dar alguns passos para trás e se encostar à parede. Ao contrário de , eu fui ao encontro da mulher, parei à sua frente e sorri. Senti-me confortável perto dela, diferente do que senti quando vi o homem de preto.
- Você precisa entender! - a senhora me olhou nos olhos - Uma mãe precisa proteger a filha. Precisa cuidar da felicidade da família. Não importa como! - Eu não conseguia entender o que a mulher queria dizer com aquilo - Me ajude! A outra mulher não pôde, não deixaram. - me aproximei mais e pude ver que a tal senhora era a mesma que vi mais cedo na cozinha. - Por favor. - ela disse baixo antes de começar a sumir.
Senti minha cabeça girar, mas dessa vez não desmaiei. Acho que Alice está certa, com o tempo esses desmaios ficam mais fracos.
Olhei para trás e encarei que estava vindo em minha direção. O amor que aquele espírito passou para mim era tão grande que me aproximei sorrindo do e o abracei, pegando-o de surpresa e o fazendo estremecer. Eu estava me sentindo ligada a ele, às vezes eu sentia que precisava MUITO dele por perto. Ele, depois do susto, abraçou-me de volta e afagou meus cabelos. Talvez ele sentisse que também precisava de mim... 'Ele sempre sentiu isso' uma voz disse, baixo, quase um sussurro, em minha cabeça.
- Precisamos descobrir o que aquela mulher quis dizer com tudo aquilo. - ele se afastou um pouco para olhar em meu rosto - Acho que temos que investigar a história da sua casa, ... - ainda o abraçando respondi:
- Acho que sei por que vi tudo pegar fogo, ... - me soltei de seus braços e fui sentar-me no sofá. - Foi tudo uma visão! - Ele deu alguns passos e se sentou ao meu lado no sofá, me olhando interrogativo, querendo alguma explicação. - Meus avôs se mudaram para essa casa alguns anos depois de se casarem. Acho que uns cinco anos depois. Meu avô morava com os pais na rua de trás, e ele sempre desejou morar nessa casa... Quando se casou e conseguiu dinheiro suficiente para poder reconstruir a casa, pois anos antes ela havia pegado fogo, eles vieram morar aqui. Minha mãe não me contou a história com detalhes, mas parece que uma família morava aqui e um dia tudo pegou fogo matando a todos.
- Será que a senhora e o homem morreram nesse incêndio? - ele perguntou olhando para o teto. - Mas por que eles estariam presos aqui ainda...? – murmurou.
- Sabe, se eu morresse em um incêndio não ficaria muito feliz! - eu forcei um riso – Isso, talvez, explique a raiva do homem.
- Mas não o amor e tranqüilidade da senhora. - ele me encarou.
- Mas ela disse algo sobre proteger a família, proteger a filha, se lembra? - eu retribui o olhar - Ela deve ter tentado salvar a família e morreu assim.
- Por isso não estaria revoltada. - ele balançou a cabeça concordando - Isso faz sentido.
- É... Eu acho que sim.
Ficamos em silêncio por um momento. Eu tentava entender melhor o que estava acontecendo. Eu queria ajudar aquela mulher, ela me fez querer ajudá-la, diferente do homem. Ele só me fez querer ir embora e nunca mais voltar. Eu sentia que ambos estavam ligados. E ainda tinha a outra mulher que tentou ajudá-los, mas não pôde... Não deixaram... Como assim não deixaram? As irmãs estavam certas quando disseram que seria um pouco difícil entender o que os espíritos têm a nos dizer... Mas essa senhora não parecia confusa. Eu apenas tinha certeza de uma coisa: houve um incêndio e uma família morreu nesse dia. E agora eu precisava ajudá-los e ir para Deus sabe onde. O está certo, preciso saber um pouco mais sobre a história da minha casa. Algo...
- Tem alguma coisa que não está encaixando - ele disse.
- Leu meus pensamentos. - sorri - Você tem feito isso bastante ultimamente, hã?
- É... - ele sorriu sem graça. sem graça? COMO É QUE É?! - Seu avô nunca te contou nada sobra a casa?
- Hum... Ele nunca me disse muita coisa... - olhei em volta, por um momento pensei ter sentido o tal perfume doce - Para falar a verdade, ninguém da minha família fala muito sobre isso. Só sei do incêndio.
- A gente podia procurar algo sobre o incêndio! - ele sorriu se levantando e subindo as escadas - Vamos ! - ele me chamou quando viu que eu nem ao menos me mexi. - Seu computador ainda funciona?
- Hum... - me levantei do sofá lentamente e comecei a subir a escada - O o arrumou semana passada... Malditos vírus. - era inacreditável a facilidade que eu tinha em pegar vírus de computador! E eu sempre perdia tudo! Absolutamente TUDO! Já cheguei a perder um trabalho enorme, da faculdade, e virei à noite o refazendo...
Abri a porta do meu quarto e pude ver se sentando em minha cadeira roxa de rodinhas para ligar o computador.
- Vamos torcer para ligar! - riu displicente.
- Também não é assim! - falei me sentando na minha cama o olhando de canto de olho. - E como você pretende descobrir algo sobre a minha casa?
- EU? - ele olhou para mim - Eu nada. VOCÊ. - OIIIIIIIIIIII? Como assim? Eu nada.
- Você que inventou isso, oras! - Ah, essa é boa... Eu não sei nem por onde começar. Hunf, se vira nego! - E como eu faria isso?
- GOOGLE IT. - Ah, seu folgado. - Joga no google, gata.
- Mas você está muito engraçadinho, . - fiz careta.
- , sério. Nunca viu Supernatural, não? - ele riu - Procura por algum artigo antigo de jornal ou algo do tipo.
- E onde acho isso?
- Sei lá... Vai no site do The Mail on Sunday... - ele disse como se fosse super fácil. Eu perderia a noite inteira nisso! Não que eu fosse dormir... Porque com certeza eu não iria conseguir.
- Por que você não procura? - eu realmente não queria fazer aquilo. Se você ainda não percebeu...
- Porque a casa é sua! É mais fácil pra você... - Ah, mas se você pensa que eu engoli essa, você se engana.
Levantei da cama fazendo sinal para que ele deixasse a cadeira para mim, e me apoderei do computador. Ok, vamos procurar por artigos antigos sobre incêndios. Fácil. Não.
- Hey, - eu disse depois de meia hora - acho que achei algo. Escuta. - falei começando a ler o artigo que havia achado.

The Mail on Sunday. 03 de Maio de 1955.
Tragédia Familiar.
Por Angie Bronw.


Ontem à noite, por volta das seis horas da noite, toca o telefone no quartel de bombeiros. Uma vizinha desesperada ligou zelando pela família Adams, a qual tinha sua casa pegando fogo. Uma linda casa de meados dos anos 20. Grande, bonita e, aparentemente, aconchegante. Tudo indica que o fogo começou na cozinha, não se sabe quantas pessoas havia na casa, mas acredita-se que Arthur Adams, sua mulher Elizabeth Adams e a filha do casal, Lorraine Adams, eram os únicos dentro da casa localizada na Blessfall Street (...).

Capítulo 7 - Journal.

- , sua casa não é na Blessfall Street! - riu - Isso é do outro lado da cidade...
- É verdade... - voltei a pesquisar - Li apenas o começo e podia jurar que era--
- Hey, tá chovendo! - me cortou, para falar da chuva? HUNF.
- E daí? - perguntei rabugenta - Nunca viu chover, não?
- Essa chuva é diferente... - Ahn? Diferente? Como diferente? É chuva! É água. H2O caindo do céu... - Venha veeer! – Ah, pára de ser gay...
- ... - murmurei vendo-o caminhar até a janela do meu quarto e observar a "estranha" chuva. - Hum... - realmente a chuva era... Diferente.
- Você pode sentir, né?
- Hum... Mais ou menos... Não sei ao certo o que é. - me sentei na minha cama, pensando - É uma mistura de carinho com confusão, hã?
- Eu sinto mais raiva... - ele se sentou ao meu lado. - , eu realmente não sei por que isso acontece com a gente. Mas eu... Eu estou feliz de ser você e eu, sabe? De ter uma coisa só nossa, para a gente poder compartilhar um com o outro. Eu me sinto mais próximo de você assim.
me pegou de surpresa, eu estava sentindo as mesmas coisas, mas ele, diferente de mim, teve coragem para dizer em voz alta.
- Eu às vezes sinto que preciso de você ao meu lado. - falei encarando-o e pude ver seus olhos brilharem. Talvez porque dessa vez não fui e lhe dei uma respostinha sarcástica e irônica.
Antes que eu pudesse dizer: 'eu te mato se fizer isso', pulou em mim e me abraçou, o abraço mais apertado e carinhoso da minha vida. Mas que logo foi interrompido.
- Céus! Isso é aqui em casa? - perguntei me levantando da cama e vi caminhar até a porta e abri-la, fazendo o som ficar mais alto - O que é isso?
"Ah, ba ba ba ba Barbara Ann.
Ba ba ba ba Barbara Ann.
Oh Barbara Ann, take my hand
Barbara Ann..."

- The Beach Boys? - ele começou a descer as escadas, indo para a sala - Não sabia que você gostava.
- Eu não gosto. - murmurei o seguindo. - Não sabia nem que tinha esse CD...
- , não é CD, é vinil. - gritou da sala.
- Vinil? Tá, reformulando: 'não sabia nem que vinil ainda existe'. - entrei na sala e me sentei no sofá.
- , você sabia que nem sempre música era mp3? - ele riu irônico e começou a cantarolar a música. - O que?! - gritou quando me viu o encarando.
- Como você sabe a letra disso?
- É Beach Boys, ! Por Deus. - me olhou incrédulo e começou a andar de um lado a outro. - Não, não quero abrir um buraco na sua sala. - eu ri.
- Nem cheguei a pensar nisso... - me levantei e aproximei-me da janela, que estava embaçada devido à chuva que caia. Quando eu era pequena, gostava de passar os fins de semana na casa dos meus avôs, e quando chovia, o que era quase sempre, me sentava perto da janela e ficava observando a chuva, pensando na vida, nas decisões que eu teria de tomar um dia. Eu pensava em minha avó. Nunca a conheci. Minha mãe apenas viveu com ela até os dez anos, até minha avó Ruby falecer. Logo depois meu avô se casou de novo... Não reclamo de Vovó Delia, mas queria ter conhecido Vovó Ruby.
Senti se aproximar e encostar uma das mãos nas minhas costas, fazendo-me arrepiar e virar-me de frente para encará-lo. Ele estava sorrindo e me olhava de um jeito que só ele era capaz, amava quando ele me olhava assim, eu me sentia especial. sempre dizia que eu e éramos perfeitos juntos. Não sei por que nunca pensei em mim e DESSE jeito.
Embora agora, depois de tudo, sinto que não tem coisa mais certa do que nós dois juntos.
- Eu quero muito descobrir o que está acontecendo aqui, ... - falei olhando para baixo.
- , nós vamos descobrir o que está havendo. - apertou de leve minha mão - E quem sabe, se nós ficarmos bons nisso, talvez a gente possa ajudar outras pessoas! - nunca vi um sorriso tão grande. Fato, que sempre amou ajudar os outros. E desde pequeno sempre quis ser um caça-fantasmas também... Só juntou a gula com a vontade de comer.
- No chão solto. - eu e olhamos para trás e não vimos ninguém. Mas podia jurar que essa voz veio do disco dos Beach Boys que ainda tocava.
- Nenhuma sombra? - perguntei apreensiva.
- Nenhuma. - ele pigarreou - Algum fantasminha camarada?
- Nada. - murmurei.
- No chão solto. - olhamos para trás novamente e nada. - No chão solto. - Sim, a voz vinha do disco. - No chão solto. - estavam ficando cada vez mais rápidas, as repetições - No chão solto.
- , está vindo do disco mesmo? - ele me perguntou, se aproximando do aparelho onde o vinil girava e pulava um pouco.
- Acho que sim. - ao fundo o disco continuava: 'No chão solto.' - O que quer dizer isso? - Deve ter algo no chão...
- Er, isso é meio óbvio, né ? - arqueei uma sobrancelha - No... Chão. Ok. Solto...? - murmurei para mim mesma. Olhei para o piso da sala, e tudo fez sentido. Digo, quase tudo. - , olhe para baixo. - ele me obedeceu - É de madeira! É taco! Um deles está solto.
- Precisamos saber qual.
- Sim. Mas por quê? - eu o olhei com medo - E se... Se... Sei lá...
- , pára de ser medrosa. - ele riu - Não percebeu que agora somos caça-fantasmas? - ele estufou o peito. Eu disse que desde pequeno ele sonhava em correr atrás de fantasmas com correntes presas aos pés e com sinos barulhentos. - Anda logo. - A voz que saía do vinil parou na hora. Devolvendo à casa um silêncio estranho.
Agachei-me junto com e comecei a procurar por algum taco solto, o que não seria fácil... Já que a minha sala era um tanto... Hum, grande. Mas não adiantaria, por mais que eu quisesse, e acredite, eu queria, o não me deixaria escapar. Determinado esse homem! Pensei que nuca mais fosse sair daquela sala, a cada taco que eu dava um soquinho para ver se era oco e não era, era mais uma pontinha de certeza que nunca encontraria o certo. Acho que verifiquei umas cinco vezes o mesmo taco... Isso também me atrasava, sabe?
às vezes parava e ficava apenas olhando para mim e rindo do meu desespero. Às vezes acho que não tenho amigos. FALOMESMO. Não me importa o que ele disse, não haverá uma próxima vez! Vou me livrar desses que já me assombram e depois? Vou me livrar desse dom. As irmãs Clancy devem saber algum ritual maluco para isso. Serena me ajudaria com certeza.
- , aqui! - ele gritou de trás do sofá.
- Achou?
- Não... - riu desanimado - É que você estava muito séria... Quis descontrair. - Há. Dormiu com o Bozo?
- Tchau. Estou ocupada demais indo me sentar ali ó - apontei para a poltrona perto da janela e me joguei em cima dela.
- Aaaah, ! Não fica brava... - ele caminhou até mim - Não desiste!
- Já desisti. - falei derrotada, encostando a cabeça e fechando os olhos. Eu estava cansada e com sono. Ah, minhas costas doíam também.
- Você procurou por aqui? - ele perguntou.
- Não.
- Então por que parou? Vamos procurar tudo.
- Por que você é assim tão determinado, heim? Credo . - Já disse que tô com sono? E quando eu estou com sono fico mal-humorada e grossa.
- Levanta, quero olhar de baixo dessa poltrona.
- Nããããããão. - resmunguei. - Vai olhar de baixo do sofá, vai...
- Levanta . Anda. - ele me puxou pelo braço e começou a puxar a poltrona. Sentei-me no sofá e fiquei olhando enquanto ele tava soquinhos nos tacos para ver se algum era oco.
- Hey, - ele me olhou sorrindo - achei, ! - seu sorriso era lindo e radiante. Cara, o é lindo. Como eu nunca reparei isso? - Er, é um livro...?
- Não, ! É um diário. - falei pegando o pequeno caderno rosa das mãos dele - Seja quem for, quer que a gente leia o que está escrito aqui.
- Erm, não quero parecer uma menininha... Mas, não é indelicado ler assim o diário alheio? - me perguntou, corando. Não pude evitar sorrir, que coisa mais meiga!
- Não se preocupe. - sorri para ele - Como eu já disse, seja de quem for, quer que a gente leia. - pisquei sapeca.

03 de Setembro de 1957.
Céus, não sei mais o que fazer. Amy chora todas as noites até dormir, e eu ando pelos cantos sem saber o que fazer.
Sinto como se houvesse falhado. Não sei onde errei! Sempre fiz de tudo por ele, por essa família. Sempre ouvi os conselhos de minha mãe, uma mulher mais experiente... Mas nunca dá certo! Não sei onde erro, para merecer tal tratamento.

---

- Qual tratamento? - me perguntou, quando acabei de ler a primeira página do diário.
- Não sei... As primeiras páginas foram arrancadas. - mostrei a ele os restos de páginas - Não estão no buraco?
- Não. Só tinha o diário lá dentro.
- Bom...

06 de Setembro de 1957.
Hoje Anne me perguntou se anda tudo bem aqui em casa... Acho que ela percebeu que algo está errado, mesmo eu dizendo que não, pois na hora tenho certeza que corei, e, além disso, fiquei tão nervosa que gaguejei. Era só o que faltava! Os vizinhos a par do que acontece em minha casa! Eu, uma Watson, na boca do povo! Preciso conversar com Edward... Não posso mais viver assim.
---

- Ok, agora está tudo mais fácil. - eu ri.
- Está? Sério? Você entendeu alguma coisa?
- Não... - ri mais ainda.
- Pára de ser boba... - me olhou feio - Pelo menos temos nomes! Podemos pesquisar sobre essa tal da Anne, que aparentemente é uma vizinha. E também, podemos tentar achar alguém com o sobrenome Watson...
- Sim... Algum Edward ou Amy Watson. - concordei fechando o diário e subindo até o meu quarto. - Você não vem, ? - gritei do topo da escada.
- Estou indo...
Entrei no quarto e fui direto até o computador. Agora que tínhamos pelo menos por onde começar... Tudo ficou mais interessante. entrou pouco depois de mim e se deitou na cama. Agora ele vai dormir? Na parte mais legal? Cadê a determinação de antes? Eu, heim...

- HEY! - gritei, já fazia uns cinco minutos que tentava chamar a atenção do infeliz e ele não me ouvia - , ME OUVE!
- Ahn? Estou ouvindo, oras... - ele se sentou na cama e me encarou - Que desespero...
- Você estava BABANDO no meu travesseiro! - falei indignada - Ah, sai da minha cama, caçamba!
- Calminha, filha... - como é cínico - Desculpa, eu estou cansado. - Desculpas, desculpas, desculpas. Eu também estou cansada e estou babando no teclado? ESTOU? - O que você achou aí?
- Uma reportagem. - respondi seca. - Essa aparentemente é a certa.

The Mail on Sunday. 07 de Janeiro de 1958.
Incêndio mortal.
Por Dan Gordon.


Na tarde de ontem, em um dos bairros mais nobres da cidade de Londres, houve um incêndio na casa da família Hale. Uma família tradicional, e da alta sociedade londrina. O corpo de mãe, Alanis Hale Watson, e filha, Amy Hale Watson, foram encontrados na cozinha. O corpo do marido de Alanis, Edward Hale, não foi encontrado. Vizinhos afirmam que Edward não era visto fazia um tempo. Não se sabe do paradeiro dele, ou se ao menos ele estava na casa.
Sei que meu editor irá me matar, me desculpe Ted, mas quero, aqui, demonstrar minhas condolências à família Watson, a qual minha família sempre foi amiga. Cresci ao lado de Alanis, e posso afirmar que essa mulher irá fazer falta a esse mundo. Amy, sua filha, também, com toda certeza. Perdão, Jack e Deb, por não poder prestar uma homenagem melhor a Alanis.

- É... - se levantou da cama - Acho que é mesmo a certa...
- Esse Dan... - olhei pela janela, o sol logo nasceria - Não sei por quê, me pareceu estranho essa homenagem.
- Ahn? Eles eram amigos de infância. - riu - O sol tá quase nascendo.
- É... Eu estava pensando nisso. - sorri de lado.
- Nós poderíamos pesquisar sobre o tal Dan.
- Sim... - encostei de leve a testa na mesa do computador. - Mas não hoje.
- É, não hoje. - ele bocejou - Está com sono?
Eu não precisei responder, bastou ouvir o meu ronco. Sim, eu ronco. Mas só quando estou MUITO cansada, mas isso ocorre com todo mundo, ok?
A última coisa que me lembro desse dia é de sentir os braços de me envolverem e de me largarem em minha cama. Creio que disse boa noite e deixou o meu quarto, mas antes perguntou se podia dormir no quarto de hóspedes. Espero que eu tenha dito que sim.

Capítulo 8 - Raise and shine, !

- ...? - abri devagar a porta do quarto de hóspedes - Hey, tá aqui? - coloquei a cabeça para dentro do quarto e pude vê-lo deitado todo esparramado na cama, com o lençol cobrindo metade do seu corpo. Era impressão minha, ou o estava ficando hot? Ou, pior, sempre foi?
Sentei-me na ponta da cama, e apertei de leve as bochechas da Bela Adormecida, quer dizer, do .
- RAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAISE AND SHIIIIIIIIIINE, ! – [n.a.: se levante e brilhe, ] gritei. Eu sei... É feio acordar alguém assim... Mas não pude me conter! Eu tinha uma novidade para contar a ele!
- PELAMÃEDOGUARDADAESQUINA! - ele pulou da cama e caiu no chão. Eu nem ri. Juro. Tá... Eu ri. BASTANTE. - Que diabos...? - ele me olhou interrogativo - , que horas são? Me diz que são, pelo menos, umas três da tarde!
- São...? - eu olhei no relógio de parede - Onze horas.
- O QUE? - Ai Deus, despertei a ira da Bela Adormecida! Salvem-se! - Pô, ... Sabe que horas eu fui dormir?
- Tarde...? - fiz minha melhor cara de "natal", sabe aquela cara de pedir presente e fingir que é um anjinho assexuado? Pois é... - Desculpa, , mas eu descobri uma coisa!
- Hunf... - ele bufou e se sentou na cama, me encarando - O que você descobriu?
- Escuta!

08 de Setembro de 1957.
Oh, sou tão grata por ter alguém como Dan por perto! Lembro-me de quando éramos apenas crianças e ficávamos brincando como imbecis, correndo de um lado para o outro... Ele sempre me dizia que me protegeria para sempre, que nada de mau me aconteceria. Eu quero muito contar a ele, mas tenho vergonha. E se ele não falava sério? E se ele me deixar? Não sei o que farei... É só com ele que eu posso rir. Rir de verdade! Cada vez mais tenho certeza que eu o amo. Mas não conte para ninguém, ok? Hahaha, eu conversando com um diário... Parece que tenho treze anos novamente. Por um lado, não seria tão ruim voltar a ser criança.
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Hum... Alguém, aparentemente, era beem safadinha! Será--
- Será, que ela traiu o marido com o Dan? - perguntou, o que eu estava prestes a perguntar a mim mesma.
- Eu não sei... - pisquei algumas vezes - Ela gostava dele, isso é fato.
- E ele gostava dela. - ele deitou.
- Já sei! - eu ri travessa - Ela traiu o marido com o Dan, e iria fugir para o México para ter muitos filhos com esse jornalista fracassado, mas mesmo assim ser extremamente feliz! - me deu um pedala - Hey, isso doeu.
- Eu acho que é MUITO mais provável, ela ter traído o marido com esse tal Dan, o corno descobriu, e botou fogo na casa com a filha e esposa dentro.
- Por que você só vê o lado ruim das pessoas? Eu não acho que ele fez isso.
- Ver o lado ruim? - ele levantou em um pulo - , não é isso. Nós temos que pensar em várias coisas possíveis!
- Eu não acho que ele mataria a filha! - falei emburrada.
- E por que não?
- Porque é filha dele, oras! - Ai, mas como pode ser burrinho quando quer, hã?
- Isso não quer dizer nada... - ele se sentou ao me lado, novamente - Se ele estava com o orgulho ferido... O ser humano é tão orgulhoso que é capaz de coisas horríveis, se tem seu orgulho ferido. E uma traição... Deus, isso acaba com uma pessoa. - ele encarou o chão - Eu queria morrer quando te via com o JJ... Simplesmente não sabia o que você via nele...
AHN? Como o JJ veio parar aqui? O que o meu ex-namorado tem a ver com tudo isso? E por que ele tinha ciúmes...?
- Eu sempre gostei de você, . - estava vermelho - Sempre.
Eu não conseguia olhar para o homem parado à minha frente. Como assim? Da onde isso tinha surgido? Como essa declaração surgiu? E POR QUÊ?!
- Eu... Eu... - Cara, o que eu faço? - Eu, acho que... - Mudo de assunto...! - Ele batia nela. Isso, o marido batia nela. Ela é a vítima, não ele.
- Er, talvez. - ele me encarou, aqueles olhos me encantavam. Me olhavam com sinceridade, e eu amava isso. Por que eu não simplesmente dizia?
- Eu amo o modo como você me olha. - soltei, antes de pensar duas vezes - Ninguém nunca me olhou assim, com sinceridade e carinho. Obrigada, . Por tudo. Por ser você. - Deus, da onde eu estava tirando tudo aquilo? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Aff, declarações a mil.
- De nada. - ele sorriu. Levantou-se e foi ao banheiro, me deixando sozinha com os meus pensamentos. Não entendo o que acontece entre nós! Em alguns momentos parecemos o casal de namorados mais apaixonados que existe... Mas depois somos como completos estranhos. A verdade é que ainda não sei como me sinto em relação a ele. Admito que tenho reparado mais nele. Será que é porque dividimos o mesmo dom? O mesmo segredo? Sim. Segredo. Porque eu não pretendo contar ao mundo que eu vejo mortos. Não mesmo. Gosto muuuito da minha casa, e não a trocaria por um quarto branco e sujo de um hospício.

- Você achou mais alguma coisa no diário? - ele perguntou, voltando já vestido.
- Hm... Não. Nada. – E como acharia se nem procurei?
- Vamos ler mais então! - ele estava radiante agora. Acho que ele só precisava dar uma boa lavada no rosto para mandar o mau-humor para longe e voltar a ser o meu . - Eu leio dessa vez. Passa o diário para cá.

09 de Setembro de 1957.
Ok, estou certa do que quero. Vou conversar com Edward hoje mesmo. Vou esperar que chegue do trabalho, e então direi a ele como me sinto em relação a tudo isso. E ele terá que me ouvir. Não posso viver mais assim. Se ele não me respeitar, farei as malas, e irei com Amy para a França.
Minha família tem uma casa perto de La Rochelle, é para lá que irei. Quem sabe, começando tudo de novo... Mas eu não gostaria de ser obrigada a fazer isso.

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- Vou ler a próxima, ok? - ele perguntou e já começou a ler, sem nem ao menos ouvir minha resposta. Mas não me importei. Senti que estávamos perto de descobrir o que houve com Alanis.

09 de Setembro de 1957.
Não sei se hoje ainda é dia 9, ou se já estamos no dia 10... Mas a data é o que menos importa. Minha conversa com Edward foi horrível. Ele gritou, me ofendeu, me machucou. Nada muito diferente do de sempre. Não posso mais com isso. Minha filha não crescerá em uma casa sem estrutura. Não posso me sacrificar mais. Preciso falar com Dan.
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- Você está certa. - parou de ler - Ela apanhava do marido.
- Sim... - eu concordei olhando para o teto me sentindo tonta. Oh, não... Não de novo.

- Dan... Por favor! - Uma mulher alta e loira puxava um dos braços de um homem moreno e pálido - Você precisa me ajudar!
- Alanis! - ele gritou - Eu te amo! Te amo mais que minha própria vida. Mas... Não posso concordar com isso!
- Eu... Eu já não agüento mais! - ela começou a chorar - Não posso mais.
- Alanis... Me entenda! - ele segurou firmemente em sua mão - Eu faria qualquer coisa. Qualquer coisa! Menos isso... Não agora que sei a verdade.
- Eu sei Dan... - ela se sentou no sofá - Desculpe-me.
- Não me peça desculpas. - ele se sentou ao seu lado no sofá - Eu sei o que você está passando... Espero que você saiba que por mim... Por mim eu acabaria com tudo isso.
- Dan... - ela murmurou - Você... Dan faça-o parar! Por favor!
- Você fala sério? - ele a encarou, e ela acenou que sim com a cabeça - Bom... Deixe-me pensar...

Minha visão começou a embaçar, e antes que eu pudesse ao menos reclamar de tontura, pude ver sentado à minha frente com o olhar vazio.
- Você viu? - eu perguntei, minha voz saiu um assobio.
Não obtive resposta.
- Er, ...? Você viu também? - eu perguntei novamente, minha voz já estava quase normal. - Hey?!
- Eu... Eu senti. - ele piscou um pouco e me encarou - Eu senti tudo, e pude ouvir algumas coisas... Mas não vi nada.
- O que você sentiu?
- Primeiro desespero... - ele olhou para o chão - Depois, relutância e indecisão. Ódio... Amor... E por fim, senti como se algo fosse muito importante, e que deveria ser feito. Mas que era perigoso. - ele continuava a encarar o chão. - O que você viu?
Contei a ele tudo. Supostamente a mulher loira era Alanis, e analisando melhor, percebi que era a mesma mulher que vi na cozinha e na sala, e o homem pálido deveria ser Dan. Creio que discutiam a vida de Alanis e Edward, seu marido, e minha certeza sobre o caso de Alanis e Dan foi confirmada por que sentiu de ambos um amor e uma cumplicidade além de qualquer coisa. E ele pôde perceber que quando falaram de Edward, Dan quase morreu do coração, puro ódio e ciúmes.
Nós precisávamos descobrir o que aconteceu a Alanis.
- Precisamos pesquisar esse tal Dan. - eu disse.
- Concordo. Talvez ele tenha algum filho ainda vivo... Ou um neto. - concluiu. - Internet?
- Sim. Mas dessa vez: você procura. - eu disse sorrindo e me dirigindo ao meu quarto.


Capítulo 9 – The Gordon's

- , olha isso aqui. – me chamou. Levantei-me sonada e fui até ele. – Olha só, um tal de Michael Gordon ganhou um prêmio em um concurso de desenho há uma semana.
- E ele é parente do Dan? – perguntei apoiando minha mão em um dos ombros de , e pude sentir seu corpo se arrepiar.
- Hum... – ele pensou – Acho que sim. Vou pesquisar mais um pouco sobre ele, tentar descobrir seu endereço ou algo do tipo...
Concordei balançando a cabeça e voltei a deitar-me em minha cama, já fazia bem mais de duas horas que estávamos, lê-se estava, tentando encontrar algum parente de Dan Gordon, suposto amante da mulher que morou em minha casa pouco antes de meu avô comprá-la para constituir família. Por falar nisso... Qual seria a mulher que tentou ajudar Alanis, mas não pode? Lembro-me que no meu primeiro encontro com o espírito de Alanis ela mencionou uma mulher... Embora eu não tenha comentando com , fiquei curiosa para saber quem era a tal mulher. Não me lembro de meu avô contar que antes da minha família e depois da família de Alanis, houve outra família morando nessa casa.
- ! – eu disse alto, havia percebido algo – O espírito de Alanis me disse sobre uma mulher... Uma mulher que tentou ajudá-la, mas não pôde.
- Podemos pesquisar sobre isso! – ele sorriu, e eu mais ainda, ele havia captado o meu pensamento tão simplesmente – Talvez uma vizinha, ou alguém que morou aqui... Mas...
- É, ninguém, além da minha família e da de Alanis, morou aqui. – eu me sentei na beirada da cama, pensando – Eu poderia conversar com o meu avô, ou com a minha mãe, sei lá...
- Sim. – ele me encarou – Mas, antes, vamos conversar com o Michael, bisneto do Dan. Ele mora do outro lado da cidade, mas—
- Você conseguiu o endereço dele? – eu perguntei, lê-se berrei, cortando-o.
- Consegui. – ele se levantou – Vamos, podemos chegar lá de metrô.
- Mas nós vamos assim? – me espantei, mas mesmo assim me levantei e inconscientemente fui acompanhando-o – Sem avisar, sem ligar, sem fazer nada antes?!
- Sim. – ele disse simplesmente abrindo a porta da sala. Irritei-me.
- ! – gritei parando automaticamente. virou seu olhar para mim e me encarou interrogativo – Nós não podemos simplesmente aparecer. Se liga, ! – lhe dei um pequeno tapa na cabeça. Sabe como é, né? Pra pegar no tranco... Ele continuou me encarando, às vezes me pergunto se ele tem algum problema mental. se aproximou e me olhou nos olhos sorrindo maroto.

- Eu ainda acho isso errado. – eu disse parando em frente à uma linda e grande casa amarela com o jardim mais verde que eu já vi.
- , não começa. – ele me olhou repreensivo abrindo o pequeno portão branco de entrada e indo em direção à casa, deixando-me com cara de trouxa.
- Hunf, - bufei – não começa VOCÊ! Meus braços ainda estão roxos! – disse passando as mãos por meus braços que aquele ogro machucou, apertando-os para me obrigar a sair de casa – Seu bruuuuuuuuuuto! – falei dengosa.
- Aaaah ! – ele parou e se virou para mim – Desculpa, ok? Eu não deveria ter apertado os seus braços, tá bom donzela?
- Er, não vou esquecer facilmente. A dor é grande sabe? – eu falei me aproximando dele – Mas farei o possível.
- Agradecido, pequena. – ele sorriu docemente e passou uma das mãos em minha bochecha, me fazendo corar. – Agora vamos, estou ansioso. – ele voltou a andar.
Eu o segui até a porta branca da casa e o vi tocando a campainha. Senti meu coração acelerar. Ouvimos passos se aproximando, e pude ver um senhor de uns quarenta anos abrir a porta.
- Erm, olá. – pigarreou – O Michael está?
- Depende. – o homem sorriu brincalhão. – Qual deles?
- Qual deles...? – murmurei para mim mesma, mas, aparentemente, o homem ouviu.
- Sim. Qual deles, mocinha! – ele me encarou – Eu sou Michael Gordon, e meu filho também é Michael Gordon.
- O que ganhou o concurso de desenho? – perguntou.
- Então, vocês querem falar com o Adam.
- Adam? – abriu a boca, mas quem perguntou dessa vez fui eu.
- Meu outro filho. – o homem abriu a porta e fez sinal para que entrássemos – Entrem, crianças. Vou chamar Michael e Adam.
Entrei na casa e pude sentir minha cabeça girar, as cores eram fortes, muito verde, laranja e vermelho. Havia almofadas e coisas esotéricas para todo lado, alguns livros espalhados e outros papéis largados. Só então reparei que o tal Michael Pai usava apenas uma espécie de "vestido" branco com contas. Casa engraçada.
- Vocês cometeram um engano comum. – o homem comentou se sentando em um enorme sofá amarelo – Adam e Michael estão acostumados a serem confundidos.
- Estão...? – riu abafado. – Eles são tão parecidos assim?
- Muito. – Um rapaz alto com olhos verdes disse parando atrás de nós.
- Parecemos até gêmeos! – outro rapaz alto de olhos verdes disse.
- Vocês são gêmeos! – eu disse como se essa fosse a coisa mais óbvia do mundo, e me sentindo a pessoa mais inteligente.
- Mesmo, ? – um deles perguntou.
- Mas, heim? – se levantou do sofá e os encarou com uma sobrancelha arqueada. – Como você sabe o nome dela?
- Eu sei o seu também, ! – um dos gêmeos se aproximou e encarou , uh? .
Ok. Ok. Ok. Suuper normal! Vou visitar desconhecidos e eles sabem o meu nome. Super normal. Hã? Espera aí!
- Como...?! – eu balbuciei.
- Olá, eu sou o Michael. – um dos gêmeos se aproximou de mim e pegando minha mão, se apresentou.
- E eu, - o outro gêmeo pegou minha outra mão e beijou-a delicadamente – sou Adam. Prazer.
- ... . – sorri deslocada. Olhei de canto para e ele parecia estar tão confuso quanto eu.
- Sabemos disso. – os dois disseram juntos. – Estão aqui para, - os dois disseram juntos mais uma vez – Fala você. – Isso já estava irritante, ou até mesmo engraçado.
- Vocês estão aqui para saber do meu avô? – O pai dos gêmeos disse calmamente do sofá. – Sobre Dan Gordon?
- Bom, - sorriu sem graça – sim.
- Não que eu já não saiba... – Adam começou.
- Mas o que querem saber sobre ele? – Michael terminou.
- Sua relação com Alanis Hale. – foi direto.
- Hum... Senhorita, - Adam disse – ou melhor: senhora Hale.
- Viúva Hale? – indagou Michael – "A" viúva Hale?
- Oh, a desgraça de nossa família. – o senhor Gordon disse dramaticamente – O fim de vidas, o fim da felicidade! E o começo de uma era obscura.
- Perdoem o meu pai. – Adam sorriu displicente – Ele exagera às vezes...
- São as aulas de teatro com Madame Copélia. – Michael riu abertamente, mas não deixando seu lado... Hum, irônico?
Engraçado, para uma casa como essa, digo, toda esotérica, com incensos e feng shui, é estranho haver uma atmosfera tão irônica e sarcástica. Mas ao mesmo tempo divertida.
- Desculpem, mas não podemos ajudar. – Adam se sentou ao meu lado no grande, e muito fofo por sinal, sofá amarelo.
- E honestamente, esse não é o assunto preferido de nossa família. – Michael encarou-me – Se é que me entendem.
- Er, deveríamos? – O perguntou o que se passava em minha mente segundos antes.
- Responda-me você, caro . - encarou Adam com interrogação, ele, como eu, não fazia idéia de qual seria a resposta. Afinal, se soubéssemos não teríamos vindo até aqui.
- Bom, nós, erm... – me encarou suplicante, pedindo por ajuda.
- Nós temos um certo... Problema? – encarei .
- Podemos chamar de problema? – me perguntou – Não vejo como problema... Eu até gosto, pensei que você também gostasse... É legal, quero dizer, não somos aberrações, sabe...? – Ele desandou a falar.
- Eu sou uma Mediadora. E o é um Mediador de Apoio. – eu falei de uma vez – É isso.
- Nós já sabíamos. – Os dois falaram juntos. Isso de falar junto já está me irritando.
- E nós somos uma espécie de telepatas. – Adam sorriu.
- Podemos ler sua mente, ver coisas que você já viveu, sentir o que você sente... – Os olhos de Michael brilhavam. – Podemos fazer o que quisermos com a sua mente.
- Sem contar que podemos mover as coisas, mas isso é algo que ainda estamos trabalhando.
- Wow! – disse, ou gritou? – Esses são poderes...
- Maravilhosos? – Adam piscou maroto.
- Magníficos? – Michael passou a mão pelo cabelo como se fosse um modelo de propaganda para cuecas.
- Os melhores poderes possíveis? – perguntaram juntos e sorrindo.
- Já vi melhores. – eu disse. Que meninos metidos, cara!
- Já viu, é? – disseram juntos.
- VOCÊS PODEM PARAR? – eu gritei – Que saco, precisam falar tudo juntos?
- Não. – disseram juntos mais uma vez. – Mas é engraçado.
- Odeio gêmeos. – falei baixo.
- Bom, eu acho que vocês podem nos ajudar, não é? – perguntou e me lançou um olhar nada agradável.
- Poderíamos. – Adam começou – Mas não vamos.
- Não leve para o lado pessoal, , - Michael sorriu – mas esse é um assunto delicado.
- E não vamos desenterrar o passado. – O Senhor Gordon disse.
- Mas nós precisamos saber! – eu disse quase tendo um surto – Como vamos ajudar Alanis?
- Sinto muito, gatinha... – Esse Michael me enoja. Leu esse pensamento, meu bem? Você me enoja. ENOJA. – Mas, não vamos mover um dedo para ajudá-los. E se precisar o banheiro é logo ali.
- Continuem com o Google. Era o que estavam fazendo antes, certo? – Adam sorriu irônico. Que bando de idiotas... Sinto pena por eles. – Continuem com o bom trabalho.
- Bom... – pigarreou – Ok, então. Vamos ?
- Com certeza. – falei ríspida.
O Senhor Gordon se levantou de sua poltrona verde esmeralda e se aproximou para nos acompanhar até a porta.
- Ah, ? – Michael me chamou quando já estava virando as costas – Não sinta pena, ok? Não precisamos.
Você que pensa, idiota. Espero que tenha entendido. Oh, pela sua cara você entendeu.
- Adeus Senhor Gordon. – murmurou.
- Até logo, menino. - O Gordon pai sorriu de canto e me encarou – Tenha cuidado, mocinha.
Acenei com a cabeça confirmando e saí da casa, seguindo os passos de .
Pude ouvir a porta se fechar atrás de mim e pensei: Malditos gêmeos convencidos, irão terminar sozinhos e lendo a mente de um maldito mosquito.
Pude ouvir a risada alta de Adam e Michael enquando atravessava a rua.

Capítulo 10 – She did it!

- , você está ouvindo isso? – eu disse. Mais um pouquinho e EU IRIA ENLOUQUECER!
- Ouvindo o que, ? – ele respondeu distraído com alguma coisa inútil no computador.
- Essa música! – eu ri nervosa – Estou ouvindo desde que chegamos da casa dos gêmeos...
- Mesmo? – ele me encarou – Se concentra, . – ele se levantou e veio em minha direção – Fecha os olhos e se concentra na música. Só escuta a música.
Fechei os olhos e me concentrei. Até que a única coisa que podia ouvir era a melódica voz feminina que ecoava em minha mente.
Aos poucos a música foi parando, e eu pude ver a imagem de um homem sentado na calçada de uma rua escura, ele segurava um pedaço de papel e parecia não acreditar no que lia. Pude ouvir em minha cabeça a mesma voz melódica de antes, ela recitava a música que eu ouvia:

Now I love you. I really do. Você sabe que eu te amo. Eu realmente amo.
But, I can't fight anymore for you. Mas eu não posso mais lutar por você.
And I don't know... E eu não sei...
Maybe we'll be together again. Talvez nós fiquemos juntos novamente.
Sometime, in another life. Daqui a algum tempo, em outra vida.


O homem amassou o papel com uma das mãos e se levantou cambaleante. Por um momento pensei ter sentido seu olhar em mim, me cobrando ajuda.
Mas antes que pudesse raciocinar, a imagem começou a se borrar e eu já podia ver me olhando com um olhar calmo, mas ao mesmo tempo ansioso.
- Então? – ele arqueou a sobrancelha.
- Acho que acabo de descobrir que nas minhas visões, eu posso ser vista. – eu me sentei na beira da cama e o encarei – Mas isso não importa agora. – sorri – Tive uma visão com Dan.
Contei a a minha visão e o quanto Dan parecia triste. O disse que não sentiu, viu, ouviu nada. O que, para mim, soou um tanto estranho.
Ficamos por um tempo apenas sentados na cama, observando o nada. Eu pensei nesses últimos dias, em como tudo tem acontecido depressa... Como minha vida mudou. Acho que estou começando a aceitar isso. Não digo que vou viver em função do meu dom, não mesmo. Mas posso aceitá-lo. Posso conviver com ele. Com ao meu lado. Honestamente? Não acho que posso viver mais sem ele. Digo, o . Está sendo tão legal passar esse tempo com ele. Sentir que ele está por perto. Maldição! Perdi minha aposta com o ... Acho que me apaixonei pelo .
- ... – parecia assustado – Ai meu Deus ! – ele gritou, me tirando dos meus devaneios – OLHA ISSO!
- O que é, amor? – perguntei inocentemente, corando logo depois – O que aconteceu, ?
Ele não disse nada. Apenas me entregou o Diário de Alanis.

26 de Outubro de 1957
Eu fiz. Matei meu marido.
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- OH, MEU DEUS! – gritei e joguei o livrinho o mais longe que pude.
- Por quê?! – riu – Por que você fez isso?
- NÃO SEI. – senti que se eu gritasse mais uma vez, meu pulmão se partiria em pedaços – Eu... Simplesmente joguei esse livrinho rosa longe. O mais longe possível.
Silêncio. E explodimos em risadas. Parecíamos idiotas. Por que estávamos rindo? A mulher havia matado o marido! O que a tornava uma assassina! Não havia graça nisso. De modo algum.
- ... – me chamou. – Ela matou o marido.
- É . – eu pigarreei nervosa – Ela matou o Edward.
- Tem mais coisa.

28 de Outubro de 1957
Não posso dormir. Não posso descansar. Tirei a vida de um homem.
Talvez um dia eu volte a dormir tranquilamente. Pergunto-me se Dan está dormindo agora... Se ele consegue encostar a cabeça no travesseiro e sonhar.

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Céus, o que estava havendo? Como Alanis se transformou em uma assassina? E como Dan permitiu!?
- Leia o próximo, . – pedi, passando a ele o livrinho rosa.

28 de Outubro de 1957
Acho que... Deus, não acredito que direi isso. Mas... Sinto falta de Edward. A verdade é que nunca deixei de amá-lo. Porém, meu amor por Dan é um sentimento que cresce a cada dia. A cada momento. O fato de ele lutar por mim sempre, me faz amá-lo cada vez com mais intensidade.
Mas, bem no fundo de meu coração, eu sei que não posso lutar por ele. Que nunca ficarei em paz com o que fizemos. E a cada vez que ver Dan me lembrarei de Edward.

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lia, e eu apenas observava o pôr do sol e me concentrava em sua voz.
No fundo eu sempre desconfiei que esse fosse o fim dessa história. Alanis não aceitaria para sempre os maus tratos de Edward. Ela era uma mulher forte e geniosa, eu podia sentir. Do mesmo modo que sentia o quanto o amor entre ela e Dan era sincero.

6 de Novembro de 1957
Amy chora todas as noites... Sente falta do pai. Anne, ontem mesmo, me perguntou sobre Edward. Não soube como agir! Gaguejei e acho que corei... Disse que ele estava em uma viagem de trabalho, que voltava semana que vem. Dan disse-me hoje que se sente vigiado pelos visinhos quando vem em casa... Talvez alguém esteja suspeitando de algo. Mas com certeza nada além um caso extra conjugal. Espero eu.
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- Ela mata o marido, e os visinhos só têm olhos para o fato de ela ter um caso! – bufou – Inacreditável. Ninguém ouviu nada? Ou viu? Tipo, ela matou o marido!
- , termina de ler. – eu disse ríspida. Sentia que estava prestes a descobrir algo.

11 de Novembro de 1957
Estou deixando Dan.
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- Ah, tá. Agora ela deixa o infeliz que a ajudou a cometer um ASSASSINATO. – riu displicente.

Capítulo 11 – All started to make sense.

levantou o olhar do diário e me encarou. Ele estava descrente. Eu podia ver em seus olhos. Eu também estava. Mas mesmo assim, não tão assustada. Como já disse, eu sempre suspeitei que esse fosse o fim. E tudo estava começando a fazer sentido. Para falar a verdade... Tudo estava fazendo MUITO sentido!
- Oh, rainha da Inglaterra... – murmurei incrédula.
- ? – me chamou. – O que foi? – ouvi sua pergunta, mas não encontrava as palavras. – Erm, o telefone. – ouvi o som estridente.
Levantei-me mecanicamente, com a mente ainda processando as idéias e juntando-as para que fizessem sentido.
- Alô? – disse em um sussurro – Er, Alô? – falei mais alto.
- Então, finalmente você entendeu? – uma voz masculina disse do outro lado da linha.
Arregalei os olhos e encarei , que se levantou e em um segundo estava ao meu lado.
- Quem é? – perguntei apertando a mão de .
- Hm, você não tem a menor idéia? – perguntou, e mesmo sem ver a pessoa do outro lado, posso jurar que ela sorriu se divertindo.
- Não. Não tenho. – disse rápido, e pronta para desligar. Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar agora.
- Oras, vamos, ! – o homem disse como se eu fosse uma idiota – Eu posso ler a sua mente. Sei que você desconfia.
- Michael.
me encarou.
- Errou de gêmeo.
- O que quer Adam? – falei ríspida.
- Hey, hey! – ele riu – Calma aí, gatinha!
- Não me chame de gatinha. – cuspi. E arregalou os olhos.
- Não seja mal educada, ok? – ele assumiu um tom sério em sua voz – Estou ligando porque quero ajudar.
- Ajudar...? – disse duvidosa. Ajuda de Adam Gordon? HÁ-HÁ e eu sou o Bozo.
- Sim. Ajudar. E não duvide de mim.
- E como você pretende me ajudar, Adam?
- Estou passando aí. – ele disse – Não pode ser por telefone, e Michael não pode saber.
Passando aqui? Não me lembro de ter te convidado...
- E eu não gosto de palhaços, . – ele gargalhou – E nem preciso de convites.
Desligou. Simples assim. Folgado. E eu simplesmente odeio quando ele lê os meus pensamentos e me responde como se eu tivesse tido em voz alta.
Que falta de privacidade.

- A campainha. – disse.
Estávamos sentados na sala há praticamente meia hora, esperando por Adam. Eu ainda não podia acreditar no que havíamos descoberto, e nas coisas que eu estava pensando que haviam acontecido. Não devia ter sido assim.
- Eu atendo. – murmurou já que eu não havia ao menos me mexido.
- Não. – me levantei – Deixe que eu atendo.
Andei até a porta, como se estivesse caminhando para a morte. E estava.
Quando abri a porta, não foi o meu jardim que vi. Muito menos Adam. Vi Dan, ele passou por mim correndo com pânico nos olhos.
- Alanis? – ele gritou subindo as escadas, meio segundo depois já as estava descendo.
Foi aí que me dei conta que a casa estava em chamas.
O homem olhou pela sala, e seguiu em direção à cozinha, mas quando estava prestes a entrar, uma viga de madeira caiu, quase o esmagando, e fechando a passagem para a cozinha. Dan ficou observando a viga por um tempo, talvez imaginando se Alanis e sua filha estavam lá. E então, ele se virou em direção à porta, e dessa vez tive certeza, ele me encarou.
Abri os olhos e estava deitada no sofá da sala.
- Você está bem? – perguntou – O que você viu?
- Eu... – revi tudo em minha mente, agora tudo parecia tão confuso... Não era o que eu havia imaginado que tinha acontecido.
- Ela viu meu avô. – Adam falou com sua voz rouca. – Ela o viu quando ele percebeu a burrada que havia feito.
- Não o culpe, Adam! – eu quase gritei – Ele tentou ajudar Alanis! Mas uma viga de madeira o impediu. Não o julgue.
- ... - ele sorriu – Não seja ingênua. Meu avô causou o incêndio.
- Um dos dois pode me explicar o que está havendo? - gritou.
- Eu vi o Dan, . – comecei – A casa estava em chamas, e ele estava procurando por Alanis e sua filha, mas não as encontrou a tempo, elas estavam na cozinha, mas uma viga caiu o impedindo de entrar para salvá-las.
- Mas isso é só uma parte da história. – Adam se sentou ao meu lado no sofá, arrancando uma cara feia de . – Calma amigo, não vou fazer nada. – bufou e se sentou na poltrona de frente para o sofá.
- Então, conte a história inteira. – murmurei. O que havia pensado àquela hora? Será que ele está com ciúmes? E por que isso me deixa feliz?!
- Meu avô não faleceu de parada cardíaca como foi divulgado. – Ele se acomodou melhor – Ele se suicidou. Apenas um mês depois da morte de Alanis, deixando minha avó e meu pai que ainda era um, er, feto. Minha avó estava grávida de quatro meses. Mas não é isso que importa. O que importa é o que dizia na carta suicida dele. A explicação por tudo que acontece e aconteceu em minha família, o motivo pelo qual nos impede de conversar sobre Dan e a Viúva Hale.
- Conte logo! – disse ríspido – Pare de enrolar.
- Você realmente não sabe como ouvir uma boa história e ficar quieto, não é mesmo? Calma . – bufou pela, er, terceira vez? – Como eu ia dizendo... – Adam encarou – Na carta, meu avô assumia que ele e Alanis mataram Edward, meu avô não diz na carta onde deixaram o corpo do homem, só que Alanis estava louca em querer esconder o corpo, onde quis.
- Isso eu já sabia, - eu disse – tive uma visão que me comprovava isso. E ainda sim, acho que sua família exagera em relação a Dan.
- Eu já te disse que você não sabe a história inteira? – ele indagou fazendo uma careta – Ah, sim. Já disse. Então, fique quieta e me deixe terminar. – sorriu.
- Adam, você é um idiota.
- Mas mesmo assim, você sabe que não resiste a mim, hã? – ele chegou perto de mim, quase encostando nossos narizes. Não consegui responder, essa proximidade repentina me pegou de surpresa.
- Termine logo essa história e nos deixe em paz. – se levantou da poltrona, parando em frente à mim e Adam.
Minha cabeça girava. Adam era um menino muito bonito, e eu não havia me dado conta disso...
- ... Tsc, tsc, tsc – Adam riu e olhou para mim ainda sorrindo, me fazendo arrepiar – Onde eu parei?
- Hm... – eu pensei por um momento, mas seus olhos haviam me pegado e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser no verde profundo que eu mergulhava mais e mais.
- Na carta de suicídio. – se sentou na poltrona, derrotado – Ele assumiu que matou Edward com Alanis.
- Bom, - Adam deixou de me encarar e passou a olhar em volta da casa – não foi apenas a vida de Edward que meu avô tirou. Ele foi o responsável pela morte de Alanis e Amy.
- O QUE? – eu gritei o encarando – Não, Adam! Eu vi, eu vi o seu avô tentando salvá-las.
- Culpa, . – ele disse docemente – Ele causou o fogo, e quando estava prestes a ir embora, seu coração apertou... Ele percebeu a besteira que estava fazendo e voltou para tentar salvá-las. Mas não pôde. Alanis e sua filha faleceram dentro dessa cozinha.
- Mas por quê? – eu perguntei olhando para o chão – Por que ele a matou? Digo, ele a amava! Ele matou uma pessoa por ela...
- Pensei que soubesse que ela o abandonou, pouco tempo depois. – ele me encarou.
- Oh, é mesmo... – de repente tudo começou a fazer sentido.
Alanis e Dan mataram Edward. Alanis não foi capaz de conviver com a culpa, e resolveu deixar Dan, para poder recomeçar a vida com sua filha. E como já me disse uma vez, o orgulho ferido de um homem, o leva a loucura. Dan matou Alanis e Amy. E depois não suportou a culpa e tirou a própria vida.
- É isso mesmo, . – Adam pegou em meu braço – Você está certa.
- Foi isso que acabou com a sua família? – eu perguntei o olhando nos olhos – O suicídio do seu vó?
- Não... – ele riu fraco – , o peso da vida de alguém é enorme, e o peso de morte de alguém é ainda maior. Poucos podem carregar o peso da morte. Meu avô, no dia em que matou Edward, juntou uma morte a sua "bagagem", mas a morte de Edward não foi a única, teve Alanis e Amy, logo em seguida. É uma boa "bagagem", se quer saber... – ele me encarou – O peso de três mortes é o suficiente para atormentar uma pessoa pelo resto da vida. Por isso o suicídio. Então, junte mais uma morte. E logo após a morte de meu avô, minha avó, faleceu também. Meu pai é um milagre. Meu avô é responsável pela morte de cinco pessoas. É um peso e tanto.
- Adam... – eu não sabia o que dizer, me perguntei sobre os assassinos em série de hoje em dia, deveriam ser pessoas bastante atormentadas.
- Não duvide disso, . – ele me encarou sério – Mas não sinta pena de nenhum deles. Não merecem isso. Todos capazes de tirar a vida de alguém, devem arcar com o peso da morte. Às vezes, o peso é tão grande, que famílias carregam esse fardo por gerações. Tem vezes que uma pessoa não é apenas, erm, como é que se diz...? Ah, azarada. Meu pai passou por várias coisas graças ao karma que meu vô atribuiu a nossa família. Você não acha estranho eu e meu irmão termos essa capacidade telecinética e meu pai não? Ou minha avó ter falecido logo depois do meu avô? O velho não teve coragem de arcar com o peso das suas próprias ações, então nós as enfrentamos.
- Entendo... - eu murmurei, quase sem forças. Queria dizer algo mais, mas as palavras simplesmente sumiram da minha mente.
- Quando eu disse que poucos podem carregar o peso da morte, - ele pegou em meu braço com carinho, admito que estava assustada com esse carinho repentino de Adam – me referia a você, e aos outros com o mesmo dom.
- O que? – perguntei, senti minha barriga congelar.
- Seu dever é lidar com a morte. Ajudar quem não está mais vivo a ir para onde deve ir. Para a luz, para o inferno, para o limbo, para o paraíso, para o nirvana... Sabe-se lá Deus para onde. Mas não é aqui que devem ficar. Você carrega o peso da morte de várias pessoas. Mas também o da redenção.

Capítulo 12 – Jeously.

Narração.
estava sentado na poltrona velha apenas encarando e Adam. Era impossível não perceber a afinidade dos dois, ele via Adam explicando à coisas que ele nem ao menos imaginava, coisas que para ele não faziam sentido. Ele via o modo como olhava para Adam, ela estava maravilhada, era notável a alegria de ao descobrir a história completa. Pelo o que ele conhecia da garota, ele podia afirmar que ela não via a hora de sair daquele sofá e procurar pelo espírito de Alanis.
Mas aquilo era demais para ele, já não agüentava mais ver Adam fazendo algo que ele gostaria de fazer.
O menino se levantou e foi em direção à cozinha. Um copo de água gelada sempre faz bem, ele pensou.

– POV
Esse idiota do Adam vai ficar dando em cima da por quanto tempo, heim?
Nós não precisamos dele. Eu gostava muito mais quando era apenas eu e a ... Mas não sei o que está acontecendo, parece que não estou conseguindo acompanhar os raciocínios dela! Eu já não tenho mais as respostas para as perguntas que ela me faz! E ainda não entendi por que não tenho sentido mais nada... Digo, ela já teve duas visões e eu não senti nada! Nem um pouquinho de raiva, ou tristeza! Eu não posso perder esse dom! Não agora que estou me aproximando dela.
End – POV

- Que barulho é esse? – um som oco o tirou do transe - , sua porquinha, tem ratos no seu porão. – disse caminhando em direção à porta de madeira que levava a uma escada e então, ao porão.
O som ia ficando cada vez mais alto. O que antes pareciam pedras jogadas em uma parede, agora se assimilava com murros.
parou no alto da escada, olhou em volta para ver se ou Adam estavam por perto. Eles não estavam.
- Como eles podem não estar ouvindo isso? – murmurou para si.
Ficou encarando o escuro por mais um tempo, até que o barulho começou a ficar ensurdecedor, e ele começou a descer, um degrau de cada vez, olhando atentamente para todos os lados. Ele não era a ! Ele não via nada. Apenas sentia os sentimentos do espírito, ou podia escutá-lo. Mas não podia ver se ele o machucaria. Mas a estava ocupada demais com Adam, ele pensava.
- . – uma voz grossa e áspera disse. Assustando-o.
- Quem é? - se forçou a perguntar, sua voz saiu trêmula.
- É horrível, não é? – os barulhos cessaram.
não entendeu a pergunta, e permaneceu quieto, olhando a escuridão a sua volta.
- Elas nos trocam tão facilmente, não é? – voz tornou a falar áspera – Em um momento são só nossas, mas é só você cometer um pequeno erro e elas correm para o primeiro que abrir os braços.
- Eu... – não sabia o que dizer. – Quem são "elas"?
- , como você é ingênuo! – a voz gargalhou – Enquanto você está aqui bancando o idiota, a está lá, nos braços de Adam.
- Ela não está nos braços dele. – cerrou os olhos – Ela nem ao menos gosta dele.
- Você tem certeza?
- Tenho! – ele gritou – Ela só quer a ajuda dele.
- E será que ela faria de tudo pela ajuda? – sentiu um toque de escárnio na voz.
- Não fale assim dela! – o menino gritou mais uma vez – ELA NÃO É ASSIM.
sentia seu corpo inteiro tremer, o ódio que aquela voz estava despertando nele estava o transformando. Ele nunca havia se sentido assim. Fechou os olhos e cerrou os punhos tentando se controlar.
- Você pensa que a conhece. – a voz parecia até cantar infantilmente. Irritantemente.
- Eu a conheço. – disse – E mesmo assim... – ele abriu e fechou a boca algumas vezes, doía admitir isso em voz alta – Ela não gosta de mim. Nós não temos nada.
A voz explodiu em risadas altas, fazendo mais uma vez pensar que perderia o controle.
- Oh, é mesmo... – o dono da voz parecia se deliciar com isso – Ela nem ao menos gosta de você. Pobre ... Condenado a um amor sem esperanças. Espero que goste do Adam, ele estará presente por um bom tempo.
Mais uma vez abriu a boca diversas vezes, ele não tinha o que dizer, as palavras daquela voz áspera estavam machucando-o. Ele sabia que não seria sua, mas não precisava que jogassem em sua cara. Seu corpo estava quente de ódio, ele se sentia um vulcão em erupção, sua raiva precisava sair e o rosto de Adam era a única coisa que via em sua mente.
Mais uma vez ele fechou os olhos e respirou fundo.
- Oh, era o que faltava... – a voz disse sarcástica.
abriu os olhos devagar e paralisou. A sua frente havia um ponto de luz, como um raio destorcido. Ele não podia ver o que era, mas podia sentir a sua presença.
- , não o deixe ganhar! – a "luz" falou, uma voz feminina e doce ecoou pelo escuro porão. – Não deixe que ele te irrite! É isso que ele quer, é disso que ele se alimenta. Você está deixando-o cada vez mais forte com isso.
- Ah cale a boca! – homem gritou.
- Você nunca aprende mesmo, não é?
estava tão entretido observando a luz que brilhava a sua frente que nem ao menos percebeu que as duas vozes discutiam.
- Estou vendo um fantasma? – ele se perguntou em um murmúrio – Oh, meu Deus...
- ... – a mulher se dirigiu a ele.
- ? – gritou do alto da escada – Você está aí?
O menino ouviu chamá-lo, mas não sentia a menor vontade de responder.
- , não deixe que a sua raiva tome o lugar da compreensão.
- Ele não está aqui. – disse a Adam, ainda do alto da escada – Vamos ver no andar de cima.
- Tem certeza? – Adam perguntou a começando a descer as escadas.
- ... – murmurou, quase sem fazer barulho algum – , estou aqui. – disse com mais força.
- ? – perguntou quando chegou ao fim da escada.
A menina olhava na direção da tal luz que acreditava ser o primeiro fantasma que ele era capaz de ver. E ele estava certo. logo pôde ver a figura de Alanis.
- , você está bem? – Adam perguntou, ele parecia genuinamente preocupado. apenas o olhou de canto de olho. – , sou telepata. Eu leio a sua mente, esqueceu?
- Então, leia isso. – disse mandando Adam, com o perdão da palavra, para a merda.
- Você deve ser o Edward, hã? – disse de repente, o nojo em sua voz ao pronunciar o nome do homem, era notável.
- E você a menininha enxerida, não? – A mesma voz áspera que antes estivera conversando com respondeu.
- Eu já sei o que você fazia! – berrou – O tipo de homem que você era!
- Ah, você sabe? – ele riu – Então, me diga, que tipo de homem eu sou?
- Do tipo que bate na mulher! – tremia, aquele homem emanava uma energia tão ruim que ela lutava para se manter em pé. – Do tipo que não merece viver.
- Ouviu essa Alanis? – ele perguntou ríspido ao outro fantasma.
- Edward, estamos presos a essa maldita casa há anos, e eu venho tentando lhe explicar o quanto arrependida eu estou por ter feito o que fiz, durante todo esse tempo.
- ARREPENDIDA? – ele gritou e algumas caixas com alguns livros antigos do avô de vieram ao chão. – VOCÊ ME MATOU! Você e aquele jornalistazinho pé de chinelo... Como era mesmo nome do infeliz? – Edward virou o rosto em direção a Adam e sorriu – Dan.
- Você não era o santo. – Alanis disse com desdém, encostando-se na parede.
- Eu fazia o que era preciso para manter a nossa família. – ele a encarou – Me descontrolava às vezes? Sim.
Os dois pareciam nem ao menos notar , Adam ou . olhava de um espírito a outro, enquanto Adam lia os pensamentos nada agradáveis de sobre ele.
A menina lutava para acompanhar a discussão, se sentia mais perdida a cada momento.
- VOCÊ ME OBRIGOU A FAZER ISSO, EDWARD! – Alanis vociferou. – Eu já não era capaz de agüentar... Estava no meu limite.
- Não me lembro de encostar uma arma em meu peito e atirar, Alanis... – Ele disse desdenhoso, deixando o espírito de Alanis mais irritado.
- Adam. – chamou baixinho. O menino nem olhou, ele parecia estudar a cabeça de . – ADAAAAAAAAAAAAM! – berrou mentalmente. E o rapaz a encarou assustado murmurando um: 'O que?' – Me ajude. – ela pediu, dessa vez, em voz alta.
cerrou os olhos.
- Calma, . - Adam pousou a mão em seu ombro. – Ela só pediu minha ajuda por causa do meu dom.
- Então vá ajudá-la. – disse, ou berrou?
- Não consigo entender o que eles estão dizendo! – pensou, olhando para Adam – Você pode ler os pensamentos deles, Adam?
- Não, não posso. – ele negou com a cabeça – Eles, erm, estão mortos . – disse como se fosse óbvio. – A menina o olhou triste – Mas posso perguntar.
- Não se meta moleque. – Edward disse para Adam. – Me resolvo com essa... Senhora. Muito bem sem a sua ajuda.
- Ah claro! – Alanis riu – Estamos presos aqui há, o que? Cinqüenta anos? Talvez mais... E ainda não nos resolvemos.
- Você só precisa admitir que me traiu. Que traiu o próprio marido, pai de sua filha.
- Eu admito isso, seu fantasma estúpido. – Alanis disse nervosa – Sempre admiti isso.
- Agora assuma que foi por pura maldade. Que foi porque você era uma vagabunda!
- Edward! – Alanis gritou assustando e Adam – O matei antes que você me matasse! Antes que você destruísse a minha vida e a da nossa filha! E... Não me chame de vagabunda.
- É isso que você é. – ele disse.
- Nós só queremos ajudar—
- Calada. – Edward interrompeu . – Já disse que não quero sua ajuda.
- Então por que me foi encher o saco? – a menina havia perdido a paciência. – Eu estava muito bem sem ver fantasma algum, sabia!? Mas então você o fantasminha NAAAAADA camarada aparece atirando livros e panelas! Envolveu-me nessa história, então não diga que não quer a minha ajuda! – ela respirou fundo. – Agora... Contem-me o que aconteceu.
Tanto Alanis quanto Edward encararam a menina que estava com o rosto vermelho e tremendo da cabeça aos pés.
- Vou lhe mostrar – Alanis disse se aproximando, nem ao menos se mexeu. Nem teve tempo.
Quando abriu os olhos, viu a sala de sua casa, mas alguns anos atrás, provavelmente na época em que Alanis e Edward moravam na casa. Ouviu gritos e olhou para as escadas, pôde ver Amy, a filha do casal, descendo as escadas correndo e indo em direção ao quintal da casa, logo depois ouviu a voz doce de Alanis chamando por Dan.
- Deus, por favor, me ajude. – a mulher parecia chorar – Dan...
- Não adianta chamar pelo jornalista, Alanis! – A voz de Edward ecoou – Ele não pode fazer nada. Ele não é homem o suficiente para fazer algo.
- Você não é homem! – Alanis disse com vontade – E se não é homem, não tem o direito, e nem o conhecimento das palavras adequadas, para julgar um homem de VERDADE!
- CALE A BOCA!
ouviu uma porta se batendo e coisas se quebrando, e antes que pensasse em controlar o instinto de ir ajudar Alanis, a cena mudou.
Ela estava em um lugar escuro, não conseguia identificar onde, ouvia Alanis a Dan conversando.
- Entre em casa, meu amor. – Dan disse – Entre, e vá direto para o seu quarto.
- Tome cuidado! – disse.
E mais uma vez o ambiente mudou. Dessa vez, ela estava no quarto que ela se lembrava como sendo de seus avôs, mas era de Alanis e Edward. O homem estava parado de costas para a porta de entrada do quarto, vestia um sobretudo preto e ajeitava um chapéu, também preto, em sua cabeça. ouviu a porta se abrindo e um Dan cauteloso adentrar o quarto, Edward pareceu perceber a presença de Dan, ficou parado por um momento, como se pensasse, e disse:
- Seria covarde o suficiente para atirar em um homem de costas?
- Vire-se então, para que possa atirar olhando em seus olhos. – Dan disse frio.
- Você sabe que não é capaz de atirar, jornalista. – Edward riu.
- Você não me conhece. – ele deu alguns passos se aproximando de Edward – Como sabe se não sou capaz?
- Só porque está tremendo da cabeça aos pés. – riu desdenhoso mostrando todos os dentes – Se quisesse atirar, já o teria feito.
Edward deu dois passos, chegando muito perto de Dan, com a mão esquerda puxou a arma pelo cano e a encostou em seu peito.
- Atire, Gordon! – ele disse entre os dentes. – Atire logo!
- NÃÃÃÃO! – Alanis gritou entrando no quarto abruptamente – Dan...
- Aaah... – Edward sentou-se na cama – Mudou de idéia meu amor? Não me quer mais morto, é isso? Ah, não! Quer que seja a facadas, não tiro.
- Edward... – Alanis olhava de um rosto a outro sem saber o que dizer – Dan...
- Alanis, você... – Dan pigarreou – Erm, mudou de idéia?
- Edward, me deixe ir! – Ela começou, ignorando a pergunta de Dan – Me deixe ir com Amy... Por favor.
- Não. – disse ríspido. E em um pulo chegou ao lado de Dan que apenas observava tudo – Atire.
ouviu um estampido e novamente estava em outro lugar. Seu quintal. Ela reconheceria aquela macieira, a qual passara boa parte de sua infância pendurada, em qualquer situação.
- Alanis, você é louca de querer enterrá-lo aqui! – Dan disse nervoso.
- Não. – Ela falou baixo, sussurrando – Assim saberei onde ele estará sempre.
piscou os olhos e se viu em seu porão, olhou em volta e pôde perceber Adam a encarando, meio zonzo, como se ele mesmo estivesse saindo de um transe. , estava de cara feia, ele andava com um mau humor horrível ultimamente, ela pensou.

Capítulo 13 – The last fight.

- Gostou do que viu? – Edward perguntou. – Uma mulher assassinando o próprio marido.
- , você leu meu diário, sabe que... Apenas me defendia.
- Olhe, Edward... – respirou fundo – Eu sei como se sente.
- Sabe? – Edward riu.
- Sei... – ela o encarou – Não é fácil quando somos trocados! Eu sei por que você se sentiu tão descartável... Mas será que você não deu motivo? Você tratava Alanis como uma mulher merece ser tratada?
A menina ficou quieta observando as pessoas, ou espíritos, a sua volta, Edward parecia refletir sobre o que havia dito. Talvez os livros de psicologia de seu avô, realmente a haviam ensinado algo.
- ...! – Adam murmurou.
- Não acho que você realmente saiba como é se sentir descartável. – falou virando-se para subir as escadas. Edward riu.
- O que disse ? – encarou Edward e depois arqueou a sobrancelha encarando – O que quis dizer com isso?
- Nada. – ele murmurou olhando para o chão.
- Voc—
- , SÓ você sabe como me senti, não é? – Edward cortou – Se sente tão descartável como eu me senti, eu posso sentir isso.
- , o que ele quer dizer com isso?
Adam deu alguns passos para trás encostando-se à parede dizendo: "Oh, Deus...".
- Nada, .
- , não deixe que ele entre em sua cabeça. – Alanis disse pronta para tocar seu braço.
- Não, ele não está dentro da minha cabeça – levantou seu olhar do chão e olhou para – Eu realmente me sinto descartável.
o encarou, por que ele se sentia tão descartável? Ele era o ! O ! O cara que tinha o mesmo dom que ela e que, aparentemente, ela era apaixonada.
- Sentir-se uma pessoa descartável é o pior sentimento do mundo. – Edward começou; sua voz ecoando pelo porão escuro – Me senti assim, .
- Não diga como se fôssemos iguais. – disse rapidamente – Porque não somos, Edward. Eu sei quando é a hora de pular fora, e eu NUNCA desrespeitaria uma mulher, principalmente a mulher que eu amo. Diferente de você. O ciúme pode corroer uma pessoa, mas você a obrigou a procurar em Dan algo que você não podia dar a ela: felicidade, respeito e amor. Você a afastou.
- Não diga o que não sabe! – o espírito gritou, as paredes pareceram tremer – EU A AMAVA!
- Edward... – Alanis começou.
Adam se desencostou rapidamente da parede sentindo-a tremer cada vez mais.
olhou para Edward e pôde ver a fraca luz que emanava de seu espírito brilhar com mais intensidade, não conseguia olhar para outro lugar, o mundo parecia cair a sua volta, mas ela não era capaz de desviar o olhar. E o mundo realmente estava acabando. Os livros que estavam dentro de caixas estavam todos se debatendo nas paredes, no chão, a casa inteira tremia, a impressão era que a construção a qualquer momento viria a baixo. agarrou no corrimão da escada e observava o pequeno tufão que se formava dentro do porão, livros, papéis, brinquedos antigos e quebrados, até mesmo um abajur, sobrevoavam as cabeças de Adam, , , Alanis e Edward, que parecia cada vez mais enfurecido.
- Edward, por favor! – balbuciou.
- Entenda que você me obrigou a fazer aquilo, Edward! – Alanis gritou.
- CALE A BOCA! – ele gritou, as coisas começaram a voar mais rapidamente, mais um pouco e a casa não agüentaria. – CALE A BOCA!
- Já chega. – Adam suspirou.
o encarou, temerosa. O que vai fazer? Ela pensou. Ver quem pode mais. Ele respondeu com um tom de deboche, dentro da cabeça de . Adam estreitou os olhos e encarou Edward, que logo o encarou de volta. Os dois pareciam brigar apenas entre eles.
olhou vagamente para frente e cruzou o olhar com o de , que parecia enxergar através dela. Os dois ouviram um barulho e olharam em direção a algumas prateleiras, Adam estava largado em cima de alguns pedaços de madeira quebrados, ele parecia bem, mas inconsciente. sentiu as pernas tremerem e seus olhos embaçarem, correu até ele e passou a mão em seu rosto. Oh, meu Deus! Não morra, por favor, Adam! Ela pensou, na esperança que mais uma vez ele invadisse a cabeça dela e lesse seus pensamentos, mas dessa vez ela não obteve uma resposta irônica ou sarcástica. Adam permaneceu apagado. olhou para , que não retribuiu o olhar, e voltou a fitar Adam. não pôde ver triste por Adam. Doeu. Ele queria que aquela tristeza fosse por sua causa, mas... Não era. E de qualquer modo, era a sua que estava triste, tudo por causa de um fantasma estúpido que ele nem ao menos era capaz de enxergar.
- EDWARD! – ele ouviu Alanis gritar – Chega!
Então, pôde ver uma luz branca surgir do "nada", onde ele supôs que Alanis estivesse, a luz foi ficando cada vez maior e estava começando a tomar forma, logo ele pôde perceber que a luz havia tomado forma de um corpo feminino, era como as sombras que ele estava acostumado a ver, só que branco, como uma luz de farol de carro.
- Deixe essas pessoas em paz. – Alanis disse decidida. – Resolva-se comigo.
- Não. – Edward respondeu. – Vou destruí-los. Eu tentei. Tentei o máximo que pude para fazê-los entender o que realmente aconteceu. Mas não me ouviram. E não posso deixar que espalhem por aí que fui um péssimo marido. Um pai horrível.
- Edward, já disse. – A luz branca estava ficando maior, podia sentir que o pequeno tufão que Edward havia criado estava aumentando, mas ao mesmo tempo em que isso acontecia, ele podia sentir que a luz "sugava" o tufão para si, amenizando a situação. – PARE, EDWARD! Ou te levo comigo.
- Não voltarei para lá. – Edward disse, os ventos ficaram mais fortes e a atmosfera de terror pareceu piorar.
- Pare ou é para lá mesmo que te levarei.
- Você não pode, Alanis! – ele riu – Esqueceu que se me levar fica lá também?
- Não ria como se fosse muito esperto, Edward. – a luz pareceu crescer mais ainda – Não se esqueça que para mim não será um pesadelo como será para você. Não sinto culpa por nada.
- Mas deveria. – ele disse.
observava a luz branca maravilhado. Nem percebeu parada em frente à luz.
- Alanis, por favor. – parecia chorar – Me desculpe.
Alanis sorriu para e acariciou-lhe a bochecha.
- Eu que devo lhe pedir desculpas, . Não deveria ter te metido nisso. – Alanis pareceu desapontada.
- Desculpe, - a menina sorriu forçado – mas, por favor, faça o que está dizendo! O leve daqui!
- Que lindo! – a voz grossa de Edward ecoou pelo porão causando um pequeno arrepio em , a voz parecia vir de alguém que estava parado exatamente ao seu lado. – "Por favor, o leve daqui, mi mi mi..." – Edward disse com a voz fina imitando .
- SEU FANTASMA MALDITO! – a garota gritou – É JUSTAMENTE POR ISSO QUE NÃO QUERIA NADA A VER COM ESSE DOM! POR CAUSA DE PESSOAS COMO VOCÊ. – parecia segurar o choro, ela queria parecer forte. – VÁ EMBORA!
- Não. Não vou. – disse simplesmente. – Gosto daqui, sabe?
- AAAAAAAAAAAAAAH! – ela gritou, correu em sua direção, estava surtando, desabando, se não fosse por ele teria caído de encontro ao chão.
- Edward, - chamou – acho que estava certo... – largou o corpo de no chão de qualquer jeito.
- Não tente me enganar, .
- Não estou tentando te enganar, Edward! – falou sério – São todas iguais, não são? Sempre fiz das tripas coração por essa menina... Mas você viu como ela correu pelo Adam? E o pior, viu como eu acabei de correr por ela? – disse com desgosto, o olhava com lágrimas nos olhos – A verdade é que...
- São todas umas ingratas. – Edward completou . – Fico feliz que você tenha percebido isso, . – concordou com a cabeça e sorriu de lado – Agora, deixe-me terminar.
-Não, Edwar— - não conseguiu terminar sua frase.
Como em um piscar de olhos tudo começou a girar, não como antes, você já não podia enxergar o que era o que, os objetos voando não passavam de borrões, segurou no corrimão da velha escada a tempo de ver lutando com todas as suas forças para não voar junto com os móveis, instintivamente ofereceu a mão para , mas não foi capaz de alcançá-la. Tudo girava, tudo tremia, e de fundo podia-se ouvir o riso sarcástico de Edward. ouviu Alanis sussurrar em seu ouvido: "Proteja-se". O menino olhou em volta procurando algum lugar para esconder-se. Enfiou-se embaixo da escada procurando com os olhos por , ou até mesmo Adam.
- Edward. – Alanis começou – Mais uma vez lhe peço desculpas pela sua morte e, agora, pelo que vou fazer.
Edward nem ao menos teve tempo de responder, observava tudo atento, a tal luz branca de antes voltou, só que dessa vez, ela cresceu como em uma explosão, sem fazer barulho algum, sem estrago algum, a luz dominou o porão como uma bomba atômica, chegou a pensar que ficaria cego, tamanha a luminosidade, tudo não durou mais do que sessenta segundos, mas pareceu durar sessenta anos.
Tudo voltou a ficar escuro, abriu os olhos e olhou em volta. Tudo continuava revirado, saiu de baixo da escada devagar, prestando atenção onde pisava. Olhou na direção onde Adam estava antes e não pôde ver seu corpo, correu até lá, e rapidamente começou a tirar os vários pedaços de madeira quebrada; logo pôde ver a mão de Adam, o puxou e verificou se ele estava respirando, seu pulso estava fraco, mas, bem, estava vivo.
. Onde ela está? passou os olhos lentamente pelo porão destruído procurando por ela. Não a achou. Estava entrando em desespero quando a voz de Adam ecoou em sua cabeça: Ela está ali, ! Perto da janela. Posso ouvi-la pedir por ajuda.
nem ao menos parou para raciocinar, correu na direção que Adam mandou e começou a revirar os destroços, viu o rosto de , a menina parecia estar morta, estava pálida, com os olhos fechados e com alguns cortes no rosto. passou uma das mãos pelo seu rosto a fazendo forçar os olhos a abrir.
- ... – ela murmurou.
- Shhh. – ele voltou a livrá-la dos objetos de cima dela – Calma, . Vou te tirar daí.
- Onde... – a voz dela falhou – Onde está Alanis e... Edward?
- Não sei. – finalmente abriu espaço para que conseguisse tirar daquela situação. – Adam?
- Ok, te encontro lá em cima. – Adam respondeu a pergunta de em sua cabeça.
pegou no colo e procurou o caminho mais fácil para sair do porão destruído. Assustou-se ao chegar ao andar de cima, tudo estava perfeitamente bem. Como se nada tivesse acontecido.
Deitou no sofá e encarou Adam.
- Como está, Adam? – perguntou – E, por favor, não responda em minha cabeça. Isso está me deixando louco.
- Estou bem. – respondeu rindo. – Eu... Er, acho que vou embora.
- Não quer nem ao menos jogar uma água no rosto? – estava realmente preocupado, Adam parecia acabado, estava quase tão destruído quanto o porão.
- Não, obrigado. – Adam se dirigiu a porta – Preciso conversar com meu irmão sobre hoje...
balançou a cabeça concordando e o acompanhou até a porta.
- Cuide bem dela, ! - Adam invadiu a cabeça de novamente. E foi embora.
voltou para sala e observou , tão fraca e... Vulnerável. Foi até o banheiro para pegar um kit de primeiros socorros e cuidou dos cortes e aranhões que a menina tinha pelo corpo. Terminado o serviço a levou para o quarto. A deitou em sua cama e a deixou para descansar.
Sentou-se no chão do corredor e sentiu todo o seu corpo doer, ele estivera tão preocupado com que nem ao menos teve tempo de sentir suas próprias dores. Entrou no banheiro do quarto de hóspedes e pôde ver que ele estava quase tão destruído como Adam, com arranhões e cortes pelo rosto e pelos braços. Fora a dor que sentia em suas pernas. Sua cabeça latejava. não limpou seus ferimentos, só foi capaz de se arrastar para a cama e dormir quase que imediatamente.


Capítulo 14 - The last secret.

As cores pareciam borrões, as imagens eram deformadas. E eu não entendia nada. Algumas vozes ecoavam em minha cabeça. Eu estava sonhando.
- . – uma senhora tocou em meu ombro. Tudo a minha volta parou de girar, as cores vivas se tornaram cores sóbrias e frias, mas tudo continuava borrado, a única coisa que eu podia ver com perfeição era essa senhora. Seu rosto me parecia conhecido.
- Eu... – minha voz falhou – Eu te conheço?
- Pode-se dizer que sim. – ela riu docemente. – Então, como se sente, ?
A olhei com cara de interrogação.
- Eu não sei direito. – eu balbuciei – Acho que bem. Mas me sinto com a sensação que—
- Não cumpriu o seu dever? – ela riu – Estou aqui para lhe explicar isso. Sente-se – e como em um passe de mágica apareceu um lindo banco de ferro ao nosso lado. Sentei-me.
- Quem é a senhora? - eu a olhei tímida – Qual o seu nome?
- Me chamo Ruby. – de repente ela ficou séria – Vamos direto ao assunto, .
Endireitei-me no banco e assumi uma postura séria como a dela quase que instintivamente.
- O dom que você tem, minha cara, é um grande presente! – seus olhos marcados pelas rugas brilharam – Você não faz idéia do quanto pode ajudar o mundo com esse dom! Quantas vidas você pode iluminar. – a senhora parecia bastante feliz – Sei que você ainda não o compreende, e sei que pensa em se livrar dele, mas... Falando seriamente, , esse não é o tipo de presente que se pode trocar em uma loja, e será muito pior para você se o reprimir. Agora que você sabe o que você é, e conhece o seu propósito no mundo você deve enfrentá-lo.
- Eu sei qual é o meu propósito no mundo? – meus olhos com certeza passaram à senhora o que eu estava sentindo: frustração – Desculpe, Ruby, mas... Bom, não sei se esse dom foi dado à pessoa certa. A verdade é que não faço a menor idéia de como usá-lo. Viu o que fiz com Edward e Alanis? – eu ri melancólica.
- Esses eram espíritos muito fortes! – ela arregalou os olhos – Com certeza essa foi uma terrível primeira experiência! Esse Edward... Homenzinho rabugento e enjoado. – completou com desdém. – Você irá aprender a controlar o seu dom! Não se preocupe... Será mais rápido do que imagina, confie em mim.
- Às vezes eu acho que estou enlouquecendo.
- Aah... – ela encarou o chão pesarosa – Isso faz parte. É normal. Afinal, desde pequenos crescemos achando que fantasmas e coisas de outro mundo não existem. Mas, algumas pessoas como você, devem aprender que a realidade não é bem assim. – a senhora pegou em minha mão – Como seu amigo Adam lhe disse, você carrega o peso da redenção com você, !
- Desculpe-me mais uma vez, Ruby. – eu forcei um sorriso – Mas continuo sem entender o que está havendo aqui. Quem é você? Como sabe tanto sobre mim? E por que quer tanto me ajudar?
- Meu nome é Ruby Braxton.
- Vovó Ruby? - senti meu corpo inteiro adormecer.
- Sim. – sorriu ternamente – Partilhávamos o mesmo dom, .
- Partilhávamos? – me sentia zonza, perdida, mas feliz.
- Quando contei ao seu avô que podia ver fantasmas ele me internou em uma clínica psiquiátrica... Você não imaginaria o quão perturbado é um lugar como esse... E sem o meu mediador de apoio... Eu realmente enlouqueci.
- Mamãe sempre disse que você havia falecido de morte natural.
- Foi isso que seu avô disse a ela.
Eu não conseguia piscar. Minha avó tinha o mesmo dom que eu! E ela estava agora aqui na minha frente conversando comigo, me ajudando.
- , você precisa ter calma, precisa manter a cabeça no lugar. – ela olhou-me séria novamente – Cuide deles, e de você também. – Quase perguntei quem seria "deles", mas logo percebi... – Não deixe que lhe deixem louca. Faça sempre o seu máximo, e procure entender o que está acontecendo antes de agir. E principalmente, ofereça ajuda.
Vovó Ruby sorriu para mim, de repente percebi de onde a conhecia.
- Você, er, você estava aquele dia no metrô. – afirmei.
- Sim. – ela concordou.
- Você foi o meu primeiro fantasma. – pude sentir meu rosto arder. A velha senhora apenas riu docemente.
Abri a boca para perguntar alguma coisa, não sabia o que, mas estava sentindo que a conversa estava chegando ao fim, e eu não queria que isso acontecesse.
- Hm, vó, - acho que suei um pouco desesperada por assunto – por que o perdeu os poderes? – Poderes? Hm, ele é super herói, é?
- Oh, é verdade... Por pouco me esqueço disso! – ela colocou a mão na cabeça sorrindo - não perdeu os poderes, eu fiz com que eles sumissem por um tempo.
- Por quê? – quase gritei, será que ela sabia o quanto ele estava frustrado por causa disso? Por mais que ele não tenha nem ao menos reclamado em voz alta eu sabia. Podia sentir. Éramos conectados, esqueceu?
- Eu gostaria de ver como você se sairia sozinha. – disse simplesmente. – Não seja como eu, ! Se arrisque, e explore o seu dom o máximo possível.
Concordei um pouco desconcertada. A verdade é que acho que sou egoísta demais para me arriscar por um mero fantasma.
- Ah, - ela começou a falar novamente – já ia me esquecendo de novo! Minha cabeça não é como era há cinqüenta anos... Não deixe desistir! Nunca! Esse rapaz tem muito potencial, ! Com um pouco de pratica serão inacreditáveis as coisas que ele poderá fazer.
Mais uma vez senti como se a conversa estivesse chegando ao fim. Busquei em minha mente algo para poder conversar com minha avó, mas não consegui.
- Eu sei que irá se sair bem! - ela deu uma risada gostosa. As coisas ao meu redor voltaram a girar. As cores se misturavam entre si. – Estarei sempre por perto.
- VOVÓ?! – chamei enquanto era engolida pelas cores e borrões.
- Não tenha medo, ! – ela respondeu calma – Faça com que eu me orgulhe. Você é a minha última mediação.
Abri os olhos e encarei o teto escuro do meu quarto. Ainda podia sentir tudo girando. Ainda podia ouvir minha vó ecoando em minha mente pedindo que eu a orgulhe. Farei o possível.
Meus olhos pesaram, forçando-me a fechá-los. Senti o perfume doce, agora, eu sabia que era o perfume da minha vó. O perfume que denunciava quando ela estava por perto.
Sentindo-me protegida, adormeci.


Prólogo

Meus olhos pareciam grudados com cola, eu não era capaz de abri-los de modo algum. Após algum tempo tentando decidi voltar a dormir, quem quer que fosse que esperasse.
Mas essa pessoa era persistente. Muito.
Levantei da cama sentindo meu corpo doer, fui andando às cegas pelo quarto ao encontro do meu celular, que vibrava como um louco em algum lugar perto da cômoda, soterrado por roupas sujas. Como ele foi parar lá? Boa pergunta.
O atendi, e ouvi uma voz infantil dizer "Alô?". Minha educação mandava-me retribuir o "Alô?" e quem sabe ainda perguntar se tudo estava bem, mas quando fiz menção de abrir a boca, a mesma não o fez, tamanho era o meu cansaço.
- ? – a voz disse – , você está aí?
- Hm... – murmurei, era o máximo que eu podia.
- , é a Serena, irmã da Alice, namorada do .
Tantos nomes ditos de uma só vez... Meu cérebro judiado pelo sono não foi capaz de acompanhar.
- Preciso da sua ajuda. – ela falou em um suspiro – E do também.
Eu ainda não estava assimilando as coisas direito, eu ouvia a voz da menina muito longe. Chacoalhei a cabeça de leve e abri os olhos de uma só vez.
- Er, desculpe, o que você disse? – minha voz saiu abafada.
- Preciso da sua ajuda! Uma amiga minha está tendo um pequeno probleminha...
- Er, ok. – concordei, sem saber por quê. Acho que estava no automático.
- Posso passar aí em meia hora!?
- Pode. – O que estava havendo comigo? Eu estava respondendo sem pensar!
- Ah, você pode ligar para o ? Estou ligando na casa dele e ninguém atende.
Tive a impressão de saber por que não atendia ao telefone em sua casa.
- Ok.
- Obrigada, ! – a pessoa do outro lado da linha parecia bastante feliz – Obrigada mesmo. Você estará salvando uma vida.
Murmurei um "de nada" e desliguei o celular.
Coloquei uma das mãos na cintura e olhei em volta. Acho que era Serena no telefone... Pensei. Meu corpo doía como eu nunca pensei que fosse doer um dia! Era uma dor quase ridícula de tão forte, tão ridícula que comecei a rir. Isso mesmo, eu ri. E foi no meio dessa minha diversão insana que me lembrei de , que provavelmente estava no quarto de hóspedes dormindo tranqüilo, até eu ir lá acordá-lo para que nós possamos ajudar a tal amiga de Serena. Provavelmente uma adolescente estúpida que se ferrou fazendo brincadeira do copo com os seus amigos, er, estúpidos.
Caminhei até a minha cama lentamente, minhas pernas pareciam flutuar, eu não as sentia.
É, lá estava eu me envolvendo novamente em outra "história de fantasmas"... Inacreditável.
Mas fazer o que? Sou uma mediadora. Isso é o que eu faço.


FIM.


N.A.: Ai, gente, escrever essa fic foi demais! De verdade! Fiquei muito feliz com o resultado final e, sim, algumas coisas poderiam melhorar, eu sei!
Já estou escrevendo a continuação, e espero melhorar cada vez mais (: Ah, acho que tenho uma boa notícia: NSSUSR terá mais três continuações!
Quero agradecer a todo mundo que leu, a Paula minha beta, aos meus amigos que sempre lêem as minhas fics e me apóiam, você também, viu, Ana Victoria!? Jones do meu coração *-*
A Lolinha, o Fernando, a Fernanda, a Giih, a Drivicious, a Déia e todo mundo da faculdade que sempre quer ler o que escrevo.
Acho que é isso...
Tenho outras fics aqui, caso alguém queira ler: Old Times - Mcfly, finalizada e Last Wish - McFly, finalizada. E logo logo entra: O brilho do meu olhar reflete do seu - Cine, finalizada.
Beijos, e muito obrigada a todas vocês que leram.
@xxxraay

N/b: Magina, Ray!
Achou algum erro, seja ele qual for, envie um e-mail diretamente para mim [paulabrussi@gmail.com], ou um tweet, indicando-o e o nome da fic. Obrigada!


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