Eu não sou o garoto mais legal da escola, essa é a primeira coisa que estou avisando. Se você estiver procurando aquela típica cena de filmes adolescentes de Hollywood, da história do casal popular: daquela garota nova que se apaixona pelo popular e ele acaba se apaixonando por ela com o tempo enquanto a popular “má” tenta acabar com a vida social da garota, pode parar de ler isso aqui e ir embora. Porque esse tipo de amor não acontece na vida real, falo por experiência própria.
Hoje em dia você só pode namorar com alguém da sua “espécie”, ou, como dizem as revistas adolescentes femininas, alguém da sua “tribo”, da sua... Panelinha. Mas eu prefiro me referir como espécies porque somos como animais mesmo, pelo menos no refeitório do meu colégio. Cada pessoa está sentada em seu respectivo lugar, com seus respectivos amigos, em seu respectivo grupinho. Menos eu, claro. Enquanto os populares sentam-se na mesa do meio, rodeados por todos os outros grupos que se consideram “meros mortais” ao lado deles, como skatistas, patricinhas a favor do feminismo e do uso de saias menores do que a minha mesada aos onze anos, drogados, esportistas, viciados em videogame e góticos, eu me sento sozinho. Isso mesmo, sozinho.
Caso você esteja se perguntando quem são os populares, já que os esportistas sentam em outra mesa, eu te respondo: os populares são aqueles bem vestidos, inteligentes, bonitos, carismáticos que conseguiram a fama de maneiras diferentes, mas que acabaram conquistando todos os outros alunos da escola. Eles podem ser maus, se você quer saber. Os populares são aqueles que estudam nessa merda de escola desde que se consideram por gente e ditam as regras por aqui desde então. São apenas seis.
Comecemos então por , o conquistador. Ele diz às garotas o que elas querem ouvir até que elas se apaixonem perdidamente por ele e depois pula fora, antes de pegá-las. Ninguém sabe por quê ele faz isso, e já houveram muitos boatos (como ele ser gay, por exemplo), mas eu duvido que seja verdade qualquer um deles.
Também tem meninas no grupo... As mais invejadas, as mais bonitas, as que têm mais fama. O segundo popular que citarei aqui então é . Dizem que ela é engraçada e lerda como uma tartaruga, apesar de eu nunca ter falado com ela. As pessoas mais próximas à popularidade dizem que nas festas (que eu por acaso nunca fui convidado) ela bebe mais do que seu corpo pode agüentar (sim, ela é baixinha).
Tem também o , o pegador. tem uma garota nova como namorada a cada mês. Chega a ser irritante o fato de ele ter todas as garotas e eu, pobre rapaz, não ter nenhuma. Ele é o garoto mais “cobiçado” pelas garotas de dentro e de fora do colégio. Morar em cidade pequena dá nisso. Todo mundo se conhece, todo mundo sabe da sua vida, quem são seus pais, o que você fez semana passada e o que aconteceu na festa do fim de semana.
Outra fêmea da “realeza” do colégio é a Tess. Eu odeio essa menina. Ela era super legal na sétima série, nós tínhamos aulas de artes plástica juntos. Uma vez, ela fez um desenho dizendo que era o que representava nossa amizade. Tudo bem que o desenho era de um cavalo, mas isso a gente ignora. E foi aí que ela decidiu perder o bv com (já que ele sempre foi o galinha da história, desde a quinta série) na festa da piscina de Jordan Simon, e começar a se tornar popular ficando amiga de e logo depois, já que e sempre foram muito amigos. Logicamente, Tess e não estão mais juntos faz muito tempo, mas há um boato que eles... Bom, fazem você sabe o quê quando está carente. Todo mundo sabe que Tess tem uma queda pelo . E eu sempre tento não pensar que lá mesmo, naquela festa, essa menina imbecil inventou um boato sobre mim... Você não precisa saber qual é. Enfim, esse é o motivo por eu não ser popular, assim como meu único amigo, . Ele é o popular mais legal de todos eles... Eu e ele somos amigos desde que ele se mudou para a minha rua quando éramos pequenos. Mas fomos crescendo, as meninas foram criando hormônios e se apaixonando por , que acabou se tornando popular sem querer. Hormônios idiotas. Eu poderia ser popular também, junto com , mas nenhuma se apaixonou por mim depois do boato que ela inventou. e eu ainda somos amigos quando seus amigos populares e sua namorada não estão perto e... Peraí! NAMORADA?! Bom, era o que eu estava percebendo naquele momento: beijando uma menina. E não era uma garota qualquer. Era a minha. Meu nome é , e eu sou um nerd.
É engraçado quando qualquer popular beija alguém, tudo fica quieto. Todas as pessoas ficam quietas, ou murmurando coisas, provavelmente inventando boatos ou explicando com o beijo acabou acontecendo. E naquele momento não foi diferente, estava um silêncio total. As poucas pessoas que sussurravam coisas mal tiravam os olhos de e sua “peguete”, e eu preciso admitir que essa é uma das poucas coisas boas de ser um não-popular. Você tem o mínimo de privacidade, ao menos.
Bom, voltando ao fato de que meu único amigo está beijando a menina por quem eu sou completamente apaixonado desde... Sempre. Lembro bem de como foi: eu tinha nove anos e brincava com na rua, foi quando um carro estacionou na frente de uma casa perto da minha, do outro lado. Um homem desceu e logo desceu uma menininha. Falo sério, encontrei a minha futura mulher naquela hora. Ela se mudou para o meu colégio, ficou amiga de já no segundo dia de aula e começou já “fazendo sucesso”. AOS NOVE ANOS! EU ME APAIXONEI AOS NOVE ANOS! Como isso é possível? Bom, eu também não sei.
Tess olhou ao redor e sorriu, começando a cantar com aquela música que elas sempre cantavam quando beijava alguém: “Você quer o , mas não pode. Vem com o que ele te f...” – melhor não continuar, né? Já deu pra entender que elas agem como se fossem idiotas. Mas tudo bem, porque Tess está quase repetindo o ano mesmo e vai sair do colégio, e quando isso acontecer, eles vão procurar um novo membro para se tornar popular. Ou seja, dessa vez serei eu.
Eu acabei nem falando sobre a mais importante das populares. Ela é simplesmente a mulher da minha vida. Só que... Bom... Ela ainda não sabe disso. Ela é a garota que mudou pra casa na frente da minha; ela é a garota que ficou amiga de aos 9 anos de idade; ela é a garota que tem o sorriso mais bonito que a eternidade já viu; ela é a . Nunca vi uma garota como ela. Quando ela ri, parece que cada objeto, cada lugar, cada momento fica colorido, digo isso porque estou na sala de química avançada com ela desde que começamos a ter química, que, por acaso, é a nossa matéria preferida, tanto minha quanto dela.
No semestre passado, eu fiz soluções de reação para avaliação enquanto ela se juntou no grupo de duas patricinhas e uma gótica para fazer... Bem... Maquiagem para avaliação. Mas juro que ela não é fútil que nem todas as outras. Eu lembro até que ela tentou mudar de grupo, alegando para o professor que ela tinha “problemas pessoais” com os integrantes da equipe. Se a mina timidez tivesse deixado, eu teria tido coragem para convidá-la a entrar no meu e, como o professor me adora, ele provavelmente teria deixado. Mas eu fiquei lá, só olhando ele torturá-la e dizer que não podia. Eu ainda acho que ele tem uma paixão platônica e secreta por ela, mas é melhor não entrarmos nesse assunto.
Enfim, após o fato de meu quase ex melhor amigo pegar a minha quase futura namorada, eu sabia que não podia continuar ali sem falar nada. Então peguei meu Ipod e liguei a música “Learning To Fall” do Boys Like Girls. Sabe, eu poderia dizer que essa é uma das músicas que eu usaria na trilha sonora da minha vida. Mas voltando, assim que e pararam de se beijar, ele se levantou e saiu, indo pro banheiro. Agora era a minha chance de perguntar o que tinha dado naquele imbecil. Eu não merecia esse tipo de coisa, cara.
Peguei a mochila e saí correndo atrás dele. Ele entrou no banheiro e fui logo atrás, quero dizer, ele tinha beijado a minha garota! Eu queria uma explicação e queria agora!
Entrei lá e não o vi, então percebi que estava sozinho e não me contive, tirando da mochila um maço de cigarros. Eu sei que fumar faz mal, mas, sinceramente? É a única coisa que me acalma. E não sou tão nerd assim, não é? Quero dizer, nerds não fumam por saber que a composição química do mesmo faz mal. Eu sei a composição química e a quantidade de nicotina, mas mesmo assim, não consigo parar. Ou melhor, não quero parar.
Não demorou muito para sair de uma das cabines e sorrir. Desgraçado, como você ainda consegue sorrir para mim?
- Fala, dude. – ele disse, apertando minha mão.
- Oi. – respondi friamente, correspondendo ao aperto de mãos. – Não se faça de idiota, .
- Que foi, ? – Ok, ele está me irritando.
- Ah, nada não, você só beijou a na frente da escola inteira. Você sabe que eu a amo desde... Bom... Sempre! Como você pôde? – Eu sei que talvez eu estivesse exagerando um pouco, mas mesmo assim, ele sabia que eu gostava dela.
- Olha, você nem conversava com ela. Não é comigo que você tem que ficar bravo, porque eu te disse desde que você me contou que gostava dela, que eu também gostava. – Droga, ele estava certo. – E eu não tenho culpa que você nunca falou com ela. Além do mais, , ela gosta de mim. E eu dela. E se você a ama, você desejaria que ela fosse feliz, não?! – Foi aí que ele bateu a mão na pia e saiu andando, chutando o lixo como sempre fazia, e saindo daquela merda de toalete.
Certo, ele não estava completamente errado. Mas, caramba, nós sempre fomos melhores amigos, e foi só ele começar a ficar popular que eu fui literalmente excluído da vida “social” dele. Isso me irrita tanto. Ele vai depois da aula lá em casa para estudarmos juntos, jogarmos videogame e tocarmos. Ele disse que ia me ajudar para eu me tornar popular, e eu, ele, e montarmos uma banda. Meus pensamentos foram interrompidos quando ele colocou só a cabeça para dentro da porta e disse, com um sorriso:
- E eu já falei que é para você parar de fumar, , faz mal e a não gosta. – e fechou a porta de novo.
Tá, agora chega. Eu cansei de passar a minha vida inteira aqui, e, ao contrário dos populares, ser totalmente excluído desse lugar. Na sétima série eu tive a brilhante idéia de inventar uma mini bombinha num projeto de física, quem me dera se eu pudesse usá-la depois. Meu professor imbecil disse que eu só podia fazer a parte teórica, porque em prática, além de ser muito difícil, era perigoso. Se eu tivesse conseguido, eu teria explodido a escola. Droga, ele devia ter deixado.
Eu sei que você deve estar pensando que eu sou um nerd revoltado que mata os populares que nem um livro da Meg Cabot que a minha prima leu (óbvio que foi ela que leu, eu me recuso a ler livros de menininha). Mas eu não sou assim, só sou meio... Bom... Rebelde. Eu não deveria ser assim, sabe, mas é isso o que se ganha quando você mora com a sua mãe e a sua prima (dois anos mais nova) e as duas reclamam diariamente porque eu não tenho uma namorada.
Juliett, minha prima, tem apenas 14 anos e, ao contrário de mim, tem milhões de caras atrás dela. Ela não é tudo isso, não para mim pelo menos, mas ela seduz que é uma beleza. Falo por experiência própria. Apesar de um simples incesto, um dia eu e Juliett conversávamos e eu acabei dizendo que ainda era bv. Ela ficou tão revoltada dizendo que não era possível eu ter 16 anos, ela ter 14 e eu ser bv e ela não. E foi aí que ela me beijou. Sim, eu perdi meu bv no meio de um incesto. E se você quer saber, ela foi a primeira e única garota que eu beijei. Mas se você quer saber mais, eu já tive a capacidade de beijar outras garotas... Eu não sou (tão) feio, não sou burro (nem um pouco burro, por sinal) e não tenho nenhum bloqueio realmente significante para falar com garotas.
Elas que não gostam de mim... E eu tenho quase certeza do porquê: um animal alto, de cabelos compridos e fofoqueira que é uma beleza, que pode fazer o mundo ser seu se quiser. E eu só tenho um nome para ela, se você quer saber: Tess.
Finalmente, última aula do dia. Sexta-feira e última aula são sinônimos de descanso. E o melhor de tudo é que a última aula de sexta é projeto de química, ou seja, além de ver a “”, como ela gosta de ser chamada, eu ainda estou fazendo minha matéria preferida. Sim, minha matéria preferida é química, me chame de nerd, o mundo inteiro já chama. O problema hoje era que eu estava atrasado porque uns idiotas do time de futebol quebraram meu relógio e eu fiquei no telhado fumando durante o último intervalo, enquanto me segurava para não descer e dar um murro em cada um deles, e bem... Acabei me atrasando. E isso é o que o meu professor mais odeia no mundo inteiro: atrasos.
Eu me lembro de uma vez que Kimmy Bridget tentou entrar atrasada. Foi horrível. Perdemos uma aula de experimentos sobre reações voláteis e ficamos ouvindo aquele imbecil cabeludo falando sobre a extrema importância de chegar nos devidos horários. Eu nunca vou esquecer que ele usou o exemplo “E se eu não chegasse no horário?” e fez questão de não segurar o riso, provavelmente por causa de alguma piadinha que tinha feito. Todos nós sabíamos que odiava aquele lugar e só estava lá por causa da amiga. E foi aí que ela respondeu ao professor: “Daí seríamos todos felizes, professor Conor”, e a sala desabou a rir. Isso é uma coisa que eu sempre admirei em : Ela não tem medo. Ela sabe como é inteligente, ela sabe que os professores jamais seriam capazes de se atrever a colocar autoridade sobre ela.
Entrei no laboratório, a porta estava aberta. Para a minha sorte, o professor ainda não estava lá, então logo sentei em minha bancada e abri meu caderno para ler meus registros da última aula. Mas não consegui me concentrar. Olhei ao redor do laboratório e também não vi . O professor chegou em poucos minutos, mas ainda não estava lá. E não era comum ela se atrasar, até porque, a única vez que isso aconteceu com ela, foi a vez que ela acabou ficando na equipe das pattys fúteis. E acho que aquela vez fora trauma suficiente para que o atraso nunca mais se repetisse. Mas eu provavelmente estava errado.
Normalmente dizem que nerds preferem ficar na deles, mas eu tenho o extremo defeito de ser curioso. Se não estava ali naquele momento, eu precisava encontrá-la naquele exato segundo. Mesmo que ela estivesse com em algum lugar, mesmo que ela estivesse com qualquer pessoa. Mesmo que ela não soubesse quem eu era. Porque, sabe, eu era um nerd. Minha curiosidade era maior do que a minha “nerdeza”, então saí à procura da garota dos meus sonhos, que devia estar em algum lugar naquele colégio gigantesco. Pedi ao professor para ir beber água, e apesar de ele ter reclamado nos primeiros minutos que ele tinha acabado de entrar na sala e todo aquele nhé nhé nhé que professor sempre faz, como ele me adora, acabou deixando.
Saí à procura de , seguindo calmamente pelo corredor. No corredor do laboratório só tem três portas: A do laboratório de biologia (aonde dissecamos coisas e tal), a sala de materiais químicos (aonde nós guardam as substâncias, beckers, tubos de ensaio e coisa e tal) e a sala de materiais de educação física (aonde guardam as bolas, colchões e essas coisas insignificantes). Passei pela primeira sala e estava fechada. Abri a porta calmamente, e ok, não tinha ninguém nela. Continuei andando e parei em frente à sala de química, mas era impossível estar aí porque o professor trancava a sala, então continuei seguindo minha direção.
Estava crente de que a sala de materiais também estaria vazia, então estava passando reto quando... Bom... Ouvi barulhos estranhos. Abri só uma frestinha e vi a cena que me deixaria traumatizado pelo resto da minha pobre e inocente puberdade: , a gostosona, fodona, popular, perfeita, princesinha, santinha, virgem, dona do colégio, sentada na mesa do fundo da sala, com suas pernas bem torneadas enlaçadas na cintura de , também popular, sem camisa. Era de se esperar que meu coração pulasse para fora de meu peito, que eu tivesse um ataque e acabasse vomitando de nojo simplesmente por ser meu (agora ex) melhor amigo e ser, bem... Minha ex futura mulher. Mas não. Eu só fiquei ali olhando, desejando mortalmente a garota com meus olhos, e pensando que ela sempre foi a única das populares que tinha fama de virgem. Por isso era tão desejada. E, bem, pude ver com meus próprios olhos que de santa ela não tinha absolutamente nada, até porque, suas mãos estavam dentro da calça de . Não, você não leu errado. As mãos dela estavam lá.
Uma pessoa comum, apaixonada por alguém que está fazendo outras coisas com o seu suposto melhor amigo, ficaria muito bravo, tramando uma vingança completa, com direito à cordas e sofrimento. Mas eu não. Eu estava planejando uma coisa pior. Muito pior. O único sofrimento que aconteceria seria no coração, nenhum fisicamente. Então comecei a me imaginar sendo o próximo , com as pernas de em minha volta. E eu gostei dessa visão.
Bom, depois da minha crise “ é uma vadia”, eu voltei para o laboratório como se nada tivesse acontecido e comecei a fazer meus experimentos, como sempre. Deu uns dez minutos e ela entrou lá, como se tivesse se perdido, como se nem soubesse o que tinha acontecido consigo mesma. Ok, preciso admitir que ela é uma ótima atriz.
Seu cabelo estava meio despenteado, mas sua roupa não estava meio amassada nem nada disso como nos filmes. Seu short continuava na altura de sempre, com o emblema da escola no lugar certo. Sua camisa continuava totalmente abotoada como sempre, apenas com alguns botões abertos, o que ficava bem sexy nela, ela não tinha peitos extremamente grandes como o de algumas meninas. Não... Eram peitos bonitos. Ok, talvez eu não devesse falar isso, mas o que eu já havia visto era bonito. Vou admitir: Na sétima série, uma vez, eu a espiei pela maçaneta enquanto ela se trocava num acampamento em que vamos com a escola desde a quinta série.
- Srta. , você está atrasada na minha aula... De novo. Fora! – disse o imbecil do Conor, apontando o dedo indicador para a porta do laboratório.
- Mas... – ela começou.
- Nada de “mas”. – ele interrompeu. – Pode ir falar para a diretora Margot porque a senhorita foi expulsa da aula.
Naquele minuto, vi os olhos de se enchendo de lágrimas. Em toda sua vida escola lembro-me bem que ela só foi expulsa da aula uma vez, e eu não queria vê-la chorando que nem naquele dia. Mas eu também não queria ir defendê-la. É, eu fui defendê-la, não sei o que deu em mim. Eu não queria... Mentira. Eu queria.
Era o que eu mais queria, se você quer mesmo saber. Porque aí ela seria eternamente grata à mim e pelo menos saberia o meu nome... Ou o meu sobrenome. Depende muito de como o professor me chamaria.
- Ahm, professor Conor. – comecei. Aonde eu estava me metendo? Merda. – A está atrasada por minha causa.
Nesse momento vi os grandes olhos de se virarem para mim. Estavam já começando a ficar marejados. Conor olhou pra mim desconfiado e coçou a cabeça. Não sei como não perdeu a mão dentro da própria cabeleira, se você quer saber.
- Por sua causa, ? Como assim?
- É que... – pronto, lá se ia minha reputação de melhor aluno do primeiro colegial. Olhei para rapidamente, percebendo que ela estava completamente estarrecida com a minha ação. – É que perdeu uma pulseira na sala de materiais de educação física. – arregalou seus lindos olhos, me encarando assustada. Ela percebeu que eu sabia o que ela havia feito. – Então, para ela não se preocupar, eu falei pra ela que a aula ia começar mais tarde porque o senhor estava... Er... Ocupado com a professora de biologia. – Eu era um gênio! Eu tinha descoberto que o professor de química e a professora de biologia estavam tendo um tipo de “caso” ano passado, e eles ficavam se beijando dentro da sala de materiais de química. E ninguém sabia disso. Quando eu descobri, eu preferi guardar segredo, caso houvesse alguma emergência. No mesmo momento, vi o rosto do professor corar.
- , na minha sala. Agora. – ele anunciou. Foi bom te conhecer, , eu vou morrer. Mas pelo menos agora, meu amor, você sabe meu sobrenome.
A minha sorte foi que o professor não brigou comigo. Ele só pediu, ou melhor, implorou para que eu não contasse para ninguém sobre ele e a professora de biologia. Isso eu nunca tinha visto: um professor implorar. Disse que gostava muito dela, e como é proibido professores namorarem no corpo docente, que ele não queria que nenhum dos dois fosse demitido. Chegou a dizer que quando um dos dois fosse promovido, ou mudasse de emprego, ele a pediria em casamento. E foi aí que eu apenas assenti e disse “Posso voltar agora? Senão minha experiência vai superaquecer e eu vou ter que começar de novo”. Uau, . Boa desculpa. Idiota. Mas funcionou. Ele abriu a porta com calma e me deixou sair, saindo logo após e trancando a sala.
Assim que entrei, todos que conversavam pararam a olharam para mim, aparentemente assustados. Silêncio. Todos olhavam para mim como se eu fosse um monstro, e alguns sussurravam coisas para os amigos. Fofoca, claro. E o pior é que me lembrou muito a cena de quando eu vi e se beijando. Só que eu não havia beijado ninguém, infelizmente. Assustado com todas aquelas pessoas me olhando, fui até minha bancada, aonde eu estava sozinho e me sentei. As pessoas continuaram me encarando. Tentava não olhar de volta, até perceber que não era qualquer pessoa que me encarava. estava me olhando como se estivesse imensamente agradecida. Ponto para !
- Então... – o professor entrou novamente na sala e deu um pigarro, como se estivesse uma zona. Só que dessa vez, estava um silêncio tão gigante que chegava a ser constrangedor. – Vamos voltar ao trabalho. – ele disse e olhou com reprovação para . Quando todos começaram a trabalhar, eu o vi chegar ao lado da bancada da morena discretamente e a chamar de canto, provavelmente para dizer o que disse à mim. Foi quando ela olhou para mim meio surpresa, e eu revirei o olhar, como se não estivesse olhando-a também. Vi o professor se afastar. Maldito cabeludo, o que você disse à ela? Foi quando ela sussurrou algo no ouvido de , que também se virou e me olhou. Ficaram as duas me olhando de uma maneira indescritível, e com medo, eu abaixei a cabeça como se não tivesse percebendo.
A aula passou como um sufoco para mim, já que e não conseguiam parar de me olhar. Assim que bateu o sinal peguei minha mochila e saí da sala, praticamente correndo. Fim de aulas. Fim de semana. Sem , , Tess ou qualquer coisa assim. Agora era eu e eu mesmo. Ou talvez não.
- ! – alguém gritou atrás de mim, e eu ouvi passos correndo. Não queria me virar, podia ser , ou qualquer outra pessoa querendo devolver algo que eu esqueci em alguma aula. Foi quando eu me virei.
- Ahm... Oi? – perguntei, vendo uma garota baixinha bem à minha frente. E percebi que atrás dela tinha , olhando de longe para nós dois.
- Oi! Eu não sei se você me conhece, eu sou a . – Lógico que eu te conheço... Quero dizer, se conhecer quer dizer “sei quem você é”, é meio óbvio que eu conheço. É meio difícil não saber quem são as princesinhas dessa merda de colégio.
- Sei sim... Só não sei porque uma menina como você estaria falando comigo na frente de todo mundo. Não vai manchar a sua reputação? – Eu tenho mania de ser grosso com os populares. É sem querer! Eu acho que tenho antipatia com populares ou com pessoas que queiram ser populares mais do que tudo na vida. Mas ela não pareceu se incomodar com a grosseria, apenas riu.
- Na verdade não. É que eu queria falar sobre o que você fez por hoje na aula. – Aham, certo. Até parece. – É que... Bom, ela ficou muito assustada por você saber onde ela estava, mas também ficou muito grata por você ter feito isso por ela. Então ela me mandou te entregar isso. – e me entregou um papel não muito grande, branco. – Use com sabedoria. – disse ela por fim, se virando e indo ao encontro da amiga. As duas foram embora e eu fiquei com cara de taxo, olhando para o papel que eu segurava em minhas mãos.
Minhas mãos trêmulas tomaram coragem então e eu abri o papel. Tinha um número de telefone e uma sigla “A. A.”. Se eu fosse um nerd qualquer eu não teria a menor idéia do que significava, mas como eu sempre quis saber como era ser descolado, apesar de eu já ser descolado mas ninguém notar, eu li muitas coisas sobre isso. E a verdade é que “A. A.” dignifica “Anywhere, Anytime.”, ou seja, 'em qualquer lugar, à qualquer hora'. Não dava pra acreditar. Eu finalmente tinha o telefone celular de . Era algo que eu esperei para ter desde que descobri como garotos tímidos marcavam encontros. Só que dessa vez era melhor. Porque ela sabia meu sobrenome. Não me importava muito qual das partes ela sabia: se era nome ou sobrenome, desde que ela tivesse a mínima idéia de quem eu sou.
Outra coisa que torna alguém popular: Eleição escolar. Sempre tem aquelas que são nomeadas as ‘meninas mais bonitas’ do baile de formatura. Só pode ganhar a competição de rainha com coroa e tudo mais quem está no último ano. Mas a partir da oitava série se pode ser candidata, os alunos que votam. As três candidatas vencedoras de seis ganham sempre duas coisas: uma folha só para ela no anuário escolar e popular de graça por cerca de meio ano. E para você ter uma noção, ganha essa competição desde a SEXTA série. Mesmo não sendo válido. Ela sempre ganhava. E ela sempre teve meu voto, mesmo sem saber. Só que dessa vez seria diferente, ela não iria com algum popular para o baile. Eu ia deixar de ser nerd como eu era e convidá-la para ir comigo.
Era sábado de manhã quando eu senti o Sol maldito iluminando o meu quarto. Droga, havia me esquecido de fechar as janelas. Odeio o Sol. Quero dizer, odeio o Sol quando ele queima, sabe como é. Me levantei de uma maneira meio desajeitada, prendendo meu pé acidentalmente no edredom e caindo no chão. Típico, já estava acostumado. Fiquei jogado no chão até tomar consciência de que eu estava caído quando vi minha calça jeans largada bem à minha frente e a peguei.
Essa noite eu tive um dos melhores sonhos da minha vida: havia me dado seu telefone. Doce ilusão, eu sei. Ao pegar minha calça fiquei sentado e enfiei a mão dentro do bolso, tentando encontrar o que fez meu sonho ser tão bom. E foi quando eu vi que não havia sido só um sonho: O telefone de estava mesmo no papel amassado dentro da minha calça com um “A.A” escrito em cor de rosa. Rosa é uma das cores preferidas de , assim como umas das flores preferidas. Eu estava pensando, e eu cheguei à conclusão de que eu seria o namorado ideal para , se ela soubesse da minha existência. Espera aí! AGORA ELA SABIA!
Peguei meu celular no meio de uma pilha de roupas no canto do quarto e digitei o número do telefone dela, gravando os oito dígitos mais esperados da história. Quero dizer, eu não poderia perder aquele número por nada no mundo. Fiquei com uma vontade insaciável de apertar aquela tecla com um telefonezinho verde, mas eu simplesmente não podia fazer isso. Não por quê eu não quisesse, mas porque além de provavelmente ser muito cedo, já que eu acordei com o Sol e não como eu acordaria normalmente, porque não iria atender. Mas a tecla estava tão encantadora, pedia que eu lhe apertasse.
Foi quando eu sem querer apertei. No começo não tinha entendido muito bem o que estava acontecendo, mas quando percebi já era tarde.
- Alô? - disse uma voz meio rouca e bem baixa, devido ao fato de que o celular não estava na minha orelha. Fechei o slide antes de responder, desesperado. “Como você é imbecil, !” – era o que eu pensava no começo.
E então meu celular começou a tocar em minha mão. Sem pensar em nada realmente perigoso olhei o visor, aonde tinha o número ao qual eu havia acabado de ligar. Droga! Ok, sem pânico, , você que pediu por isso. Naquele momento eu olhava para o visor, tomando coragem para atender a chamada. Porém, quando consegui apertar o botão, a ligação caiu. Provavelmente porque ela cansou de esperar que eu fosse atender e desligou. Legal, muito legal.
Umas duas horas depois eu descer, tomar café da manhã e tudo mais. Decidi ir andar de moto. Andar de moto tem suas vantagens: Você atrai olhares positivos sobre a sua pessoa, você vai mais rápido do que os carros porque não pega trânsito e é muito mais fácil de se estacionar. O bom de andar de moto é que eu posso voar, nem ao menos perceber que estou voando e ir para onde eu quiser ir. Hoje, eu vou ao píer. Caso você não saiba, eu moro num mini condomínio de casas, bem perto do meu colégio. Nesse mesmo condomínio moram quase todos os estudantes da minha escola. Não é tão mini assim, tem um lago, algumas quadras e algumas piscinas. Mas eu moro em Londres, cara, quem precisa de uma piscina em Londres? Mesmo que a do condomínio seja aquecida no frio (ou seja, na maior parte do tempo), quando faz calor eles desligam.
Cheguei ao píer. Fazia frio apesar de o Sol estar ali, tentando me aquecer. Olhei para o leste, calmamente, e vi uma garota sair de pijama em sua varanda. Era comum fazer isso às oito e meia da manhã, ela gostava de ver o Sol subindo ao lado do lago, e ver os patos que tinham no lago fazendo suas atividades habituais. E foi naquele momento que ela percebeu que eu estava lá. Percebi que ela me viu porque seu rosto deixou transparecer seu espanto. Sabe, de todas as vezes que ela ia em sua varanda cor de marfim eu estava lá, e apenas hoje ela havia reparado que eu estava no píer.
Espantada, ela entrou em sua casa e fechou a porta de madeira escura da varanda. Passaram-se cinco minutos desde que saiu de sua varanda quando eu a vi aparecendo na frente de sua casa com um pijama azul e branco de mangas compridas. Tão compridas que suas mãos eram escondidas pelas próprias mãos. Ela olhou pra mim de longe, seriamente. Começou a andar em minha direção e eu senti um frio percorrer minhas costas quando ela parou de andar e ficou apenas me encarando.
Não sei o que deu em mim naquele momento, se fosse num dia qualquer eu me afastaria correndo. Mas naquele dia, especialmente, eu sorri para a morena, mostrando que ela podia continuar se aproximando de mim, que eu não iria fugir. E aparentemente ela entendeu, pois voltou a andar na direção do lago e também na minha. Durante vários anos eu sonhei com o momento em que fosse falar comigo. E eu percebi que esse dia havia chegado quando ela parou na ponta do píer e abriu seu sorriso.
- Você gosta de passear às oito e meia de manhã todos os sábados pelo condomínio? – ela disse ironicamente, apesar de não haver ironia alguma na situação.
- O Sol é um grande inimigo quando se esquece de fechar a janela antes de dormir. – respondi abrindo um meio sorriso, tentando soltar o nó que havia sido feito em minha garganta pela timidez. Mas nem pareceu ter reparado.
- Por que você fez aquilo, ? – ela disse, ficando novamente séria. – Lá no laboratório.
- Ahm... – comecei. Tentei imaginar uma desculpa que não incluísse o que eu vi, o que eu queria e o que eu sentia por . Mas não achei muitas alternativas. – Porque eu não queria que você perdesse sua reputação. – Ela arregalou os olhos e inclinou a cabeça um pouco pro lado, sem entender muito bem o que eu havia dito. – Eu vi você e na sala de materiais ontem, e se alguém descobrisse que vocês estavam juntos as fofocas iriam começar.
Ok, não foi inteiramente verdade mas também não foi a maior das mentiras. Eu só não me importava com a sua reputação, mas eu me importava naquele momento em chamar sua atenção. E eu consegui.
- V-você me viu com ? - ela me questionou, gaguejando um pouco, ainda de olhos arregalados. Quando assenti, ela desabou no chão de madeira do píer, de joelhos, apoiando o rosto em suas mãos e continuando com a voz meio chorosa. – Você deve achar que eu sou uma vadia. e eu não fizemos nada do que você está pensando, ok? Eu pedi para ele para quando eu percebi que... Bom... Que estávamos indo longe demais. Eu não sou como você deve estar achando que eu sou.
- Você não sabe o que eu acho sobre você. – retruquei, porque era a mais pura verdade. Ela não sabia mesmo. E se dependesse de mim, ela nunca saberia que eu a acho simplesmente a garota mais perfeita que eu já pude conhecer em toda a minha vida desde meus nove anos de idade.
- Lógico que sei. – ela respondeu, confiante de si. – Pelo menos agora, nesse momento, você deve achar que eu sou uma menina qualquer que não tem amor próprio.
Totalmente equivocada, porque de qualquer, não tem nada. Ri sozinho, já que não teve graça.
- Você sempre faz isso? – perguntei. – Quero dizer, de ficar se menosprezando à toa e achando que todo mundo te odeia? – Ela olhou para mim confusa, ainda ajoelhada sobre o piso de madeira, e inclinou sua cabeça para o lado, fazendo seu cabelo cair de seu ombro. – Por que você se importa com o que pensam sobre você?
- Eu não me importo! – ela disse, deixando a voz um pouco aguda com a histeria. Levantei uma sobrancelha de reprovação e ela suspirou. – Ok, talvez um pouquinho. Mas eu normalmente não ligo para o que dizem, já que nunca dizem coisas ruins... – ela riu, levantando o olhar para o céu, pensando em alguma situação que se passou por sua mente. – Só que quando você fala algo sobre mim que eu não gosto que eu me importo. Porque eu sei das coisas que você sabe sobre mim.
- Mas eu não vou contar pra ninguém...
- Eu sei que não. – ela interrompeu, com frieza. – Se você me ajudou antes, não tem para contar isso para alguém, certo? Mas a pergunta verdadeira é: Por quê? Você nem me conhece direito.
- Eu já te disse, ! Não queria que você manchasse sua reputação, você é a namorada do meu amigo. – E eu te conheço melhor do que você deve imaginar, mas é melhor eu não dizer isso em voz alta.
- Mas você me defendeu, ! Por que você faria alguma coisa desse tipo? – ela continuou insistindo. – Você quer ficar popular por associação? É isso?
Popular por associação quer dizer que você fica conhecido por falar com os populares mesmo sem ser um. É o primeiro passo para se tornar popular, pelo menos. Como , por exemplo, que os rumores até já começaram sobre ela ser a próxima a entrar no grupo quando Tess saísse. Mas era óbvio que isso fosse acontecer mais cedo ou mais tarde.
veio de Nova York ano passado e é prima de , isso já dá um passe livre à ela. Dizem que os pais dela são tão ricos que ela passou as últimas férias de verão em Miami porque disse ao pai que queria conhecer o Keith Richards. E seu pai pagou! Ela conheceu o Keith, você tem noção disso? E ela nem gosta de Rolling Stones, ela só foi pra pedir um autógrafo pra uma amiga porque ela sem querer usou o que a amiga tinha para escrever o endereço da casa dela.
Mas sabe o que é pior? O KEITH DEU O AUTÓGRAFO! E ainda disse que ficou impressionado com a coincidência de ele ir para Miami para fazer um show e encontrar bem na época em que ela estava lá!
- Lógico que não – respondi, acordando de meus pensamentos – Não me importo com popularidade. Na verdade, já estou bem acostumado, já que até meu melhor amigo é popular e ninguém saber disso.
- – ela afirmou – Todo ano ele pedia para te chamar para andar conosco, mas você era tão tímido que a gente preferiu esperar. Por isso que ninguém mais entrou. me prometeu que você ia mudar e que não era pra deixar ninguém te substituir. Por isso a gente sempre foi em seis e não em oito. Sem um garoto não podia haver uma garota. – ela disse, se levantando e sorrindo para mim. Olhou em meus olhos, e eu pude ver o quão lindos eles eram. Mais do que aparentavam. – Por isso a te passou meu celular ontem. Nós vimos que você estava pronto quando disse do Conor com a outra professora. Você foi o único que conseguiu admitir que a escola inteira já sabia deles dois.
Nesse momento eu vi um pato entrando na água e tentando pegar um peixe com o bico. Como ele era imbecil. Quase tanto quanto eu. Senti meu coração batendo tão forte que quase explodia. tentava convencer . Eu só pedi uma vez para ele me ajudar, mas ele o fez até sem eu pedir!
Fiquei pasmo. Sem palavras que pudessem descrever como fui desleal ao falar que era um imbecil. Acordei de meu transe quando deu uma gargalhada, provavelmente pela expressão que eu devia estar fazendo.
- Ele não te contou, né?! – ela disse, enquanto ria – Ainda bem... Quero dizer... – eu estava confuso. Meio puto, para falar a verdade. – Eu que pedi pra ele não contar. Sabe como é, se você soubesse você tentaria mudar propositalmente, e não era isso o que a gente queria.
- É impressão minha ou você está me chamando para andar com você? – eu estava chocado. Finalmente tinha chegado o dia em que eu sempre sonhei. Ou pelo menos, era o que eu achava. sorriu maliciosamente.
- Amanhã à noite vai ter uma festa na minha casa, para se despedir de Tess. Vá arrumado. – ela sugeriu. O QUÊ? Arregalei os olhos. EU fui convidado para uma festa na casa de . Nem em meus sonhos mais surreais e loucos isso seria capaz de acontecer. No máximo uma ida no cinema em grupo, mas numa festa nunca. Nada mais fazia sentido.
- Festa? – perguntei, incrédulo.
- Claro, ! Precisamos te introduzir ao nosso grupo de uma maneira espetacular! Senão, ninguém vai lembrar de você. Você vai precisar de um novo visual e de um novo estilo... Sabe como é. Todos os garotos que andam com a gente passaram por isso, mas você vai ser mais... Especial. – ela disse, olhando com desdém para minha camisa social. – começou a arrumar o cabelo e usar roupas melhores, por exemplo. Mas você não vai precisar arrumar seu cabelo, ele é bom.
- HÁ – eu gritei, assustando – EU SABIA!
- O quê? – perguntou , aparentemente assustada com a minha reação.
- Que a mãe dele não tinha trazido aquelas roupas de Malibu. Ela odeia esse estilo.
riu.
- Vou ligar para mais tarde. Meus pais vão numa expedição pelo Egito e só vão voltar semana que vem. Apareça em casa às oito da noite.
- De hoje? – perguntei, confuso. olhou pra mim, me reprimindo com o olhar.
- Você nunca dormiu na casa de um amigo, ?
- Já... – pensei bem e continuei, com medo do que ela fosse pensar. – Mas nunca na casa de uma menina.
- Precisamos melhorar o seu convívio social – disse ela, balançando a cabeça negativamente.
Era sete e meia quando eu comecei a fazer minha mochila para ir para casa de . Coloquei coisas simples: roupas, escova de dente, um pente, desodorante e o perfume que eu costumo usar. Eu achava que seria o suficiente, mas vi que estava errado no momento em que a morena, dona do meu coração (ok, foi brega), atendeu a porta e olhou para mim, com uma expressão decepcionada:
- Todas as suas necessidades estão aí? Ok, teremos uma longa noite. Entra.
Ela saiu da frente da porta, me dando espaço para entrar e a primeira coisa em que reparei não foi em sua casa, como eu imaginei que seria, foi em seu pijama minúsculo lilás e branco que acentuava suas curvas. Aos poucos, me “recuperei” e apenas depois comecei a reparar no cômodo em que eu estava. Nós seguíamos até o salão com duas portas de cada lado e uma imensa escada bem à nossa frente com o corrimão de marfim. Aquilo não era uma casa. Não mesmo. Era uma mansão. Sinceramente, do lado de fora parecia bem menor do que eu podia ver agora, apesar de que eu já achava grande do lado de fora.
Entrei e girei, reparando em cada detalhe da “pequena” casa de . Subimos a escada, enquanto ela modestamente dizia que a casa parecia imensa, mas não era como a gente imaginava. Se duvidar tinha até passagens secretas lá, qual é, cara! Seguimos então pelo corredor e entramos no quarto de , onde encontrei sentada no tapete felpudo rosa Pink de , que combinava com o resto do quarto. pintava as unhas do pé naquele momento.
- Finalmente! – disse ela, ao reparar que eu entrei. – A disse que só ia pedir pizza quando você chegasse e eu estou faminta! , vá pedir nossa pizza e não se esqueça da minha cerveja.
riu e se sentou ao lado da amiga no tapete, pegando o celular e ligando para a pizzaria. Não demorou muito tempo para ela sorrir e dizer um simples “obrigada”, desligando o celular e olhando para mim, que ainda estava na porta do quarto. Não me senti confortável o bastante para entrar.
- Joga a sua... - hesitou ao ver com desgosto para minha mochila. – sacola em algum lugar.
- Sacola? – repeti, puto.
- É, ué, uma sacola pequena...
Olhei para minha mochila e não vi nada de pequena nela, mas como elas eram mulheres, preferi ficar na minha.
- Não liga pra ela – disse, desencanada – Ela fica assim toda vez que a gente chama alguém novo para entrar no grupo. Falando nisso, estou muito feliz que você vai andar com a gente. – e sorriu, sincera.
A noite não foi tão ruim como eu esperava. Elas enriqueceram meu conhecimento com cultura inútil. Ouvi todos os CDs de umas bandas estranhas como Paramore, Taylor Swift e outras coisas do gênero. Nada de um bom Beatles. Porém, aprendi como você sabe que uma garota está te dando mole, aprendi as musicas que se dança numa balada, roupas que garotas acham sexy. A única coisa que eu me recusei foi aprender a dançar tehcno.
Assisti filmes melosos que toda menina chora, tipo “Um Amor pra Recordar”, “Diário de Uma Paixão”, “Meninas Malvadas” e “Crepúsculo”. disse que era pra entender o mundo feminino. Os outros filmes eu já tinha assistido. Os que não eram de romance, eu quis dizer.
- Agora vamos te deixar... Menos nerd. – disse , ligando seu notebook. – Onde você compra suas roupas?
- No brechó. – falei modestamente, apesar de eu comprar lá por causa das coisas vintages, não porque eram mais baratas. Meio gay, eu sei. e olharam para mim como se eu fosse um monstro, balançando a cabeça negativamente com um olhar de reprovação.
- Você conhece um site de roupas chamado “Original Kiss”? – balancei a cabeça, negando. – É um site em que você monta suas próprias roupas do jeito que você quiser e o preço máximo é vinte libras. Óbvio que eu vou montar suas roupas pra você, já que não existe capacidade nenhuma de você fazer isso sozinho. Mas relaxa, eu fiz de todos os garotos. foi o único que não precisei, ele já tinha bom gosto.
Olhei para e percebi que ela corou imediatamente. Ela gostava dele! Fiquei quieto e comecei a ver as roupas que fazia para mim. Nada a ver com as que eu usava.
- Eu vou mandar entregar na sua casa – ela disse por fim, clicando no carrinho de supermercado no canto da tela. – Pronto.
Foi quando a campainha tocou e se levantou rapidamente, pegou o dinheiro em cima do criado mudo e foi buscar a pizza. Eu me ofereci para ajudar, mas suas palavras exatas foram: “Deixe o cavalheirismo para os dias de semana, . Além do mais, eu sou mais homem do que você. E eu sou uma mulher”. Não entendi o que ela quis dizer com isso, mas notei que dessa vez ela me chamou de . Ela sabia meu nome.
- Então... – começou , deitada em seu tapete felpudo. – É isso mesmo o que você quer?
- Como assim? – questionei. confuso.
- Você sabe... Todo mundo sabendo cada detalhe da sua vida profissional e pessoal, meninas losers se jogando em cima de você...
-Essa segunda parte é meio improvável... – afirmei pessimista.
- Não se você ficar sem óculos fora do horário de aula, como Dougie faz. E comprar um mais moderno. – ela disse, olhando para mim com um largo sorriso em seu rosto. Seu sorriso era lindo. – Me dá.
Ela sentou-se bem próxima a mim e tirou meus óculos. Eu enxergava bem sem eles, quando era de perto. Ainda conseguia ver cada traço da beleza no rosto de . Eu admito que meus óculos são meio... Inadequados para um garoto da minha idade. É do Cebolinha, da Turma da Mônica. Minha avó me deu ano retrasado de Natal, e eu não pude recusar, porque ela deu junto um sabre de luz. Dude, você tem noção de que um dos meus maiores sonhos era ganhar um sabre de luz? Ok, não pode saber disso de jeito nenhum, ou ela vai me desconvidar a entrar no grupo. Sorriu, e eu tremi.
- Bem melhor. – corei ao perceber como seu rosto estava perto do meu, como eu podia sentir seu hálito, sua respiração, nossos narizes quase se tocando. Ela me fitou com seus olhos verdes, tentando decifrar o que eu sentia naquele momento. – Obrigada por ter me salvado na aula do Conor.
- Não foi n... – não deu tempo de terminar a frase porque naquele momento, se inclinou e me beijou, antes mesmo até que eu pudesse respirar fundo e fechar os olhos. Foi por isso que não tive capacidade de fechar os olhos nos primeiros segundos. Me olhei no espelho que estava à minha frente, e foi aí que eu vi que não era um sonho. Quer dizer, era um sonho. Mas havia se realizado. , me beijou. E eu gostei. Então fechei meus olhos, coloquei uma mão em sua cintura e outra em seu rosto com delicadeza, e me deixei levar pelo momento.
Os minutos se passavam rápido e a única coisa que vinha em minha cabeça era como tudo havia mudado tão de repente que eu nem tive tempo para analisar a situação. Eu estava realizando a razão do meu viver. Até eu me lembrar de . Que merda! Ele fez de tudo para me ajudar e eu estava beijando a garota dele. POR QUE ELE TINHA QUE NAMORAR ELA? HEIN? Não era justo com o . Nem comigo. Esperei esse momento por quase toda a minha vida e agora eu iria ser obrigado a estraga tudo? Segurei pelos ombros calmamente e a afastei de mim, separando o beijo. Ela foi a primeira menina (sem ser Juliett, minha prima) que eu beijei de verdade, e eu ia terminar com ela, mesmo sem termos começado.
- Ahm... ... – comecei.
- . – ela me interrompeu para me corrigir, com um sorriso no rosto. Eu já disse como seu sorriso é lindo?
- ... Você está com , e não seria justo com ele.
Pude ver o brilho se esvoaçando de seu rosto e a tristeza se instalando em seus olhos verdes. Foi quando entrou, salvando a situação:
- Você passou na ultima etapa! Precisávamos ver se você era leal aos seus amigos.
começou a rir desesperadamente, concordando com . Não acreditei muito na atuação da garota.
- Boa, . – disse ela.
entrou no quarto com uma pizza, uma latinha de cerveja e uma garrafa de coca-cola. Jantamos enquanto assistíamos Gossip Girl, para terminar meu estudo sobre a cultura inútil. Chegamos a ficar até as quatro e meia da madrugada assistindo os melhores episódios da série. Eu gostei mesmo foi daquela Agnes gostosa da segunda temporada, amiga da Jenny Humphrey.
me disse que ela também fez The OC. Esse eu assisti. Uma vez me disseram que eu era o Seth Cohen de Clinton Ferruci School (meu colégio). No começo fiquei perplexo com a capacidade de dizerem tanta merda sobre mim, mas depois dos únicos três episódios que vi, percebi que eu e Cohen seríamos bons amigos se ele existisse. Não tanto como e eu, mas quase isso.
já sabia as falas de cor dos episódios de Gossip Girl, então ela foi dormir no sofá-cama ao lado da imensa janela de . Eu e a morena ficamos assistindo até que cansei de tentar me segurar e fiz algo que eu precisava fazer desde meus onze anos de idade, quando realmente comecei a pensar em coisas “sérias”.
- , acho que eu não passei no ultimo teste. – comentei calmamente. Meu coração pulava, palpitava sem controle.
- Por quê? – ela perguntou ainda deitada em seu tapete felpudo, tentando prestar atenção no seriado. Esquece o Ryan, , eu estou bem aqui.
- Porque eu não sou leal aos meus amigos. – respondi e a beijei logo em seguida, de maneira certamente abrupta e ao mesmo tempo tentando ser delicado. Da maneira que eu sempre quis.
Acordei na manhã seguinte com um sentimento de vazio dentro de mim. Eu havia sonhado com essa noite, só não me lembrava muito bem o quê. Olhei para a janela coberta pela cortinha também dor de rosa clara de e foi então que me deparei com ela, dormindo bem ao meu lado, parecendo tão tranqüila, meiga, delicada e vulnerável. De todas as coisas, a única que eu tinha certeza absoluta que ela não era, ou pelo menos aparentava não ser, era vulnerável. Nunca.
Encantado com a maneira que algumas mechas de cabelo caiam sobre seu rosto e o jeito com que respirava profundamente, nem percebi que estava sem camiseta. Calma, e eu não fizemos nada.
FLASHBACK
Ficamos longos minutos nos beijando, e nossos beijos iam se aprofundando e se intensificando mais do que anteriormente. Nossas mãos percorriam um pelo corpo do outro, o que chegou a me assustar um pouco no começo, já que eu nunca havia feito coisas desse tipo. Nós, que já estávamos no tapete de , nos levantamos ainda aos beijos e eu me deitei sobre ela em sua imensa cama de casal. A cama de é como toda garota romântica sonha: daquelas de princesa, com um véu cor de rosa por cima e aos lados, presos por laços de seda.
- ... – começou ela com a voz rouca, meio ofegante. – A gente não vai fazer o que eu acho que a gente vai fazer, né?
- N-Não sei... – sussurrei, também com a voz rouca. – Melhor não. A não ser que você tenha certeza do que você quer.
- Eu não quero. – ela respondeu, confiante e ao mesmo tempo tímida.
Foi aí que saí de cima dela, encabulado. Beijei sua testa e a abracei, sentindo ela se aconchegar em meus braços. Não demorou cerca de dez minutos até ela adormecer deitada em mim.
- Eu te amo. – sussurrei, esperando que ela não estivesse apenas fingindo que dormia.
Com cuidado para não acordá-la, deitei sua cabeça no travesseiro ao lado e beijei mais uma vez sua testa. Ela sorriu.
Tirei minha camiseta, porque não gosto de dormir com ela e deitei-me ao lado de . Fazia um pouco de frio lá fora, como fazia todas as noites. Fiquei observando o amor da minha vida, relembrando cada momento que passamos esta noite e dessa vez fui eu quem sorri, por me sentir realmente feliz.
FIM DO FLASHBACK
Olhei para o sofá-cama ao lado da janela aonde dormia e agradeci por saber que ela não havia me visto dormindo. Em silêncio, me levantei e apanhei minha camiseta no chão, vestindo-a mais uma vez. Saí do quarto, ainda sem camiseta e desci as escadas da casa de . Havia uma porta de cada lado, e eu segui meus instintos (ou melhor, o barulho que minha barriga fazia, alertando-me que eu devia estar com fome) e entrei na cozinha.
Vi um cozinheiro com roupas uniformizadas cortando rapidamente um enorme pedaço de carne. Tenho que admitir que quase fiz dejetos na minha calça (se é que você me entende).
- Pois não? - o chefe de cozinha disse. – meu nome é Jean, sou cozinheiro dos .
- Oi, eu sou , Sr. É um prazer. – respondi com educação.
- Está aqui para ver ? Ela deve estar dormindo, mas posso pedir para Julian, meu filho, ir acordá-la.
- Na verdade, eu dormi aqui. – ele arregalou os olhos. – Acordei mais cedo que e e vim para cá. O sr. se importaria em me dar uma mãozinha?
Quando e desceram e entraram no aposento que eu estava, quase desmaiaram ao mesmo tempo. Soltaram em uníssono um simples “WOW” ao me ver fazendo “flips” com panquecas usando um avental.
- ? – perguntou, com os olhos arregalados. – É você?
- Sou sim, baby. – ela riu e disse atrás de .
- Menos, ... Bem menos.
Eu ri e servi as panquecas. Comemos juntos, em silêncio, quando lembrei que eu deveria voltar cedo para casa porque minha mãe voltava de viagem hoje. Ela trabalha numa área de finanças de uma empresa multinacional, então ela viaja para Atlanta quase todo mês.
- Não se esqueça... – começou , apreciando a minha comida. – Assim que chegar em casa desinstale todos os jogos de RPG, jogue todas as suas camisas sociais com estampas que não sejam listradas ou xadrez, gel de cabelo, meias três quartos, óculos fundo de garrafa com armação de acrílico, e o mais importante: jogue fora tudo o que você achar nerd.
- Ele não vai achar nada nerd, , ele ainda é um nerd. – corrigiu, mostrando para que ela tinha razão. – Se ele tiver uma miniatura autenticada do Tiranoussauro Rex do Jurassic Park na estante dele, junto com uma miniatura do Darth Vader, ele vai achar que não é nerd.
- Ei! – eu disse, revoltado. – Do Tiranossauro eu não tenho, eu tenho do Velocirraptor. – protestei em vão. e olharam para mim como se eu fosse um idiota.
Ok, talvez eu ainda seja um idiota.
- Me ligue assim que você chegar em casa, . – ela suspirou, me reprovando. – Mais fácil se eu te disser o que é nerd.
Assenti e fui para casa. Aproveitei o caminho de volta para acender um cigarro, já que na casa de eu não pude fumar. Minha mãe ainda não havia chegado quando entrei em casa, então subi e comecei a jogar fora (quase) tudo o que era “nerd”, na opinião de . Obviamente algumas coisas eu guardei numa caixa e coloquei dentro do meu closet. Meu quarto ficou praticamente nu.
Incrível como o dia passa devagar quando estamos entediados. disse que os únicos jogos de videogame que eu podia jogar agora eram Wii, Super Mario (que eu já zerei algumas vezes, então eu enjoei) e Guitar Hero. Sem Zelda, Espadachim, Naruto e essas coisas. Foi horrível nos primeiros minutos, mas agora já estou me acostumando.
Foi quando chegou a hora da festa e eu fui tomar banho. me ligou para avisar que era bom que eu fosse com uma camisa branca lisa e uma calça jeans. O tênis não importava muito. Eu só tenho duas calças jeans, mas aparentemente ela não sabia disso.
Eu podia escutar a musica há três quadras de distância da casa de e, sinceramente, fiquei com uma incrível pena dos vizinhos dela. Mas afinal, o que eu podia fazer? Pela primeira vez eu era um convidado. Entrei lá e imediatamente alguns holofotes vieram em minha direção, me cegando. Quando finalmente consegui abrir os olhos, vi um mar de pessoas me encarando, como se eu fosse um intruso ou algo do tipo. Até chegar e me abraçar, o que fez todos se chocarem. Só pra variar.
Eu sinceramente não sei o que é pior: ficar ajoelhado no milho durante quatro horas, ou ir numa dessas festas. Eu mal conseguia pensar, enquanto tentava à todo custo me fazer beber, e eu não podia dizer ‘não’ que ela começava a me encher a paciência e me chamar de nerd. ficou tão feliz por mim que assim que me viu, me deu um abraço super gay. Ele e me disseram que era comum fazer esse tipo de coisa quando a gente não fazia as “coisas bobas” que ela pedia. Então comecei a beber junto com todos eles. não havia mudado tanto quanto eu achava que ele havia mudado.
não era tão insuportável quanto eu achava que ele era, era realmente a menina mais engraçada e bêbada que eu já vi, e era exatamente como eu havia percebido durante minha vida inteira: perfeita para mim. Nós não falávamos apenas sobre coisas idiotas como marcas e maquiagem. trazia conversas sobre política, trazia assuntos sobre lições de casa. Mas nesse quesito eu fiquei quieto, porque não ia ser muito legal vê-los me olhando feio se eu dissesse que as aulas de química avançadas estavam fáceis demais.
As pessoas dançando na pista, o DJ falando no microfone de dez em dez minutos, as pessoas bêbadas jogadas do sofá. Realmente, nada a ver comigo. Mas não estava tão ruim assim, se você quer saber. Eu nem percebi o tempo passar, só vi as horas quando me perguntou, e todos nós percebemos que ela estava completamente bêbada.
- É comum dela. – disse , aborrecido. – Eu já a mandei diminuir, mas ela faz isso pra esquecer os problemas. Como se funcionasse. – ele bufou, pegando-a no colo quando ela quase caiu.
Eu não estava acostumado com esse tipo de festa, e talvez por isso o começo tenha parecido extremamente “deslocado” para mim, mas com o passar do tempo acabei começando a gostar. Até porque e eu nos entreolhávamos toda vez que alguma musica romântica tocava e eu pensava em chamá-la para dançar. Mas desistia ao pensar em .
Dançar eu até tinha aprendido com na noite passada, mas ainda preferia ver do que dançar, isso era algo que jamais mudaria em minha pessoa. Pelo menos no começo. Foi quando chegou, sorrindo malicioso e disse para , que estava abraçada com , enquanto eu estava ao lado deles dois:
- Dude, a está bêbada.
- Isso não é novidade. – disse . – E daí?
- E daí que o foi levá-la lá pra cima, pra colocar ela pra dormir. – ele disse, enquanto eu pude ver seus olhos brilharem e ele abrir um sorriso mega malicioso, assim como fez também quando percebeu de que se tratava.
- Não entendi. – Eu disse. Os três ficaram me olhando como se eu fosse um imbecil até que revirou os olhos e se sentou ao meu lado.
- Vai lá ver no quarto da , . – ele disse por fim. E eu, o loser, fui.
Subi as escadas com pressa, porque eu sabia que enquanto eu estivesse fora, estaria enfiando sua língua na boca de . Ele não queria beijá-la comigo perto dele, porque ele sabia o quanto eu a amava. Bom amigo ele é. Pena que eu não sou como ele. Ao terminar de subir as escadas, abri apenas um pouco da porta, fazendo com que eu visse a cena de longe, através da fresta aberta.
estava literalmente colocando para dormir. Deitada no colo do rapaz, ela tentava escapar de seus braços enquanto ele sorria e a segurava, tentando balançá-la até que ela dormisse. Ela vestia um pijama, que provavelmente era de , e tinha seus cabelos úmidos, o que implicava que ela havia tomado banho. havia dado banho nela. Esse é o tipo de atitude que faz uma garota perder a cabeça de tanta paixão. E havia caído direitinho.
No exato momento em que eu pensei isso, um homem careca, baixinho e barrigudo apareceu atrás de mim com uma voz rouca e mal humorado. Fechei a porta rapidamente, antes que ele percebesse que eu espiava .
- Com licença, rapaz... – ele começou. – Eu sou vizinho dos , pai da , você a viu por aí?
Senti minhas mãos começarem a suar, meu rosto ficar extremamente quente e minha garganta começar a coçar. Acho que não ia ser muito legal se o pai de entrasse no quarto e se deparasse com um rapaz deitado na cama com sua querida e pura filhinha, como ele devia achar que ela era. Minhas entranhas se viraram do avesso no momento em que ele arqueou uma sobrancelha e reparou que eu não havia respondido nada porque estava duro como uma pedra.
- Você está bem? – ele perguntou. – Parece meio tenso.
- Ahm... – gaguejei. – Ela deve estar lá embaixo, dançando com na pista de dança... Foi quando eu a vi pela última vez.
Ele pareceu satisfeito com a minha resposta, e no momento em que ele iria descer, ouvimos berros de dentro do quarto. Boa , você fudeu tudo. Seu imbecil. No momento em que o velho ouviu os berros da filha ele entrou pela porta fechada em que a filha se encontrava. Assim que entrou, a cena para que quem tinha alguns problemas de interpretação, foi maligna: estava sobre , segurando suas mãos, enquanto a garota ria sem parar.
Para nós, adolescentes, podíamos ver claramente que estava apenas fazendo cócegas em . Para pais corujas e ciumentos, eu realmente prefiro não saber o que ele havia imaginado que e faziam naquele momento. Só pude ouvir o cara dar um grito de ódio, chamando pelo nome da filha. Ao ouvir tão manifestação, imediatamente saiu de cima de e ficou de pé ao lado da cama, olhando para o pai de como se ele fosse seu mestre ninja, ou algo do gênero.
- Pai? – Ela perguntou, ainda rindo. Pobrezinha, estava tão bêbada que perdeu a noção do perigo. – O que você está fazendo aqui?
- POR QUE VOCÊ ESTÁ NUM QUARTO COM ESSE MARMANJO? – ele começou.
- Ai, pai, não grita, dude. – ela respondeu. – Relaxa na bolacha e vai tomar alguma coisa... Tem bastante bebida lá embaixo para todos nós. – e riu. Gargalhou. Como se fosse engraçado. ia ser viúvo antes mesmo de se casar.
- TEM BEBIDA PARA MENORES DE DEZOITO ANOS?
Nesse momento, levou a mão na testa, pensando provavelmente a mesma coisa que eu: , você estragou a festa, e provavelmente a vida de , já que o pai de contaria aos pais de sobre isso.
Então o pai de simplesmente a pegou pelo braço e a levantou. Ela cambaleou e ele sentiu o cheiro de bebida em seu hálito. Logicamente havia saído de seu corpo, mas não de seu hálito. Ele sussurrou alguma coisa no ouvido da garota e foi a arrastando escadaria abaixo, tirando-a da festa de uma vez por todas. Assim que ele bateu a porta, e eu corremos até que, como eu havia previsto, estava beijando .
Após explicar todos os detalhes da história (enquanto eu fazia questão de fitar a mão de na cintura de ), se sentou numa cadeira vazia e apoiou ambos os cotovelos nas pernas, apoiando seu rosto entre seus braços.
mandou uma mensagem para , mas ela só respondeu na manhã seguinte. , , e eu dormimos na casa de depois da festa, que era uma espécie de tradição, como haviam me explicado anteriormente. Acordei com o barulho do celular da garota que eu amava tocando incessantemente, até que acordou ao lado de (pra variar), com o cabelo extremamente bagunçado e atendeu.
- Alô? – ela disse com voz de sono. – QUE? – ela gritou, acordando o resto dos garotos, tirando .
- Que susto, mulher! – gritou . – Quer me matar do coração?
- Como assim, ? – ela perguntou, ao celular.
- É a ? – se intrometeu . – Deixe-me falar com ela. – ele tentou pegar o celular de , mas ela deu um tapa na mão dele, para que soltasse o aparelho, e continuou falando por mais alguns minutos. Quando terminou, olhou feio para , que disse apenas uma única palavra:
- Reabilitação.
Foi o suficiente para eu ver o pavor se instalando no rosto dos rapazes enquanto abaixou seu lindo rosto, numa intenção de sentir pena da amiga.
- Qual é o problema? – perguntei.
- A já foi duas vezes para a reabilitação, . – disse. – Uma vez na sétima série, durante dois meses, e outra ano passado, durante as férias de verão. Dude, ela não agüenta mais. Ela me disse que se fosse para lá mais uma vez, ia surtar aquele lugar até liberarem ela como ‘pessoa insana’. O pai dela a colocou na reabilitação na sétima série porque ela experimentou uma cerveja. Só por isso. Imagine agora, que ele a viu bêbada?
- E se a gente a salvar? – sugeri. Todos os quatro olharam na minha direção com aquele típico ponto de interrogação na testa e eu continuei. – , não tem um episódio de Gossip Girl em que as meninas salvam aquele gay lá? Irmão da menina gata?
- Eric! – ela respondeu. – , você é um gênio! E pela primeira vez na vida, no sentido útil da palavra.
Me senti lisonjeado e ao mesmo tempo maltratado, mas preferi deixar a segunda parte de lado no mesmo momento em que ela me deu um beijo na bochecha que me fez corar e se levantou com seu pijama minúsculo, ligando para alguém através de seu celular. Olhei para e ele ria da minha cara de retardado. Foi então que começou a dizer:
- Eric? Oi, é a . Lembra da minha amiga, ? Então, ela está na clinica de reabilitação aonde sua irmã está fazendo residência de medicina, sabe? Então, e eu preciso cobrar aqueles favores que você disse que me devia na virada do ano, no ano passado, está lembrado?
É isso o que eu amo em . Ela é pratica, rápida, e... Bom... Perfeita. Mas isso já não era mais novidade para mim, se é que você quer saber.
Sabe aqueles filmes de espião aonde as pessoas usam uma roupa preta para passar sob o escuro e fazem malabarismos como se fosse um circo até desligar os alarmes? Eu imaginei, a princípio, que seria isso que nós faríamos. Foi até bem chato resgatar . A única coisa que eu vi foi dando em cima de enfermeiros, distraindo a secretária enquanto e procuravam em alguns quartos. Ela havia ido para lá hoje de manhã, e isso significava que ela estaria num dos últimos quartos disponíveis.
- ... – começou. – Você vai com distrair os enfermeiros, ok?
Assenti e fui. Esperamos que entrasse primeiro e assim ele começou seu trabalho. Ele colocou numa cartola e pegou uma bengala e riu, entrando no aposento.
- Oi. – ele disse para a secretária esquisita dos dentes tortos com aparelho fixo e o cabelo rebelde preso num coque. – Meu nome é Willy Wonka, e eu vim aqui para tentar te convencer a vender esse imenso terreno para que eu pudesse reconstruir minha enorme fábrica de chocolate.
- P-Pois não? – a mulher perguntou. – O Sr. Está se sentindo bem?
- Nunca estive melhor, meu bem. – piscou com apenas um olho, fazendo a melhor cara que podia para tripudiar a moça. E ele conseguiu. Entramos e ela nem reparou, pois estava olhando fixamente para os olhos de . Foda esses caras que sabem que podem conquistar qualquer garota.
- Desculpe, tentei fingir que havia tomado chá de cogumelo para tentar te chamar para sair. – disse meigamente. Revirei os olhos e percebi o ciúmes que sentia naquele momento, pela maneira como olhava para . – Eu consegui?
Fomos andando e então nos separamos nos corredores. foi para um lado e para outro. e eu seguimos , já que seu instinto perceptível era melhor que o de . Ainda mais quando se tratava de algo sobre . Olha, agora, sinceramente, me responde: Se os dois se amam, por que eles ainda não estão juntos? Quero dizer, e estão juntos, sendo que eu amo . Agora, se estivesse afim de também, aí sim eu entenderia. Mas não entendo. Foi quando dois enfermeiros viraram o corredor.
entrou no primeiro quarto que viu pela frente e disse:
- , me pega. – disse, e se jogou no chão. Ah, legal, , muito legal. Peguei-a em meus braços e imediatamente os enfermeiros correram para socorrê-la.
- O que você fez com ela? – o primeiro perguntou.
- Nada, cara, a gente tinha acabado de sair... – pensei bem em minhas palavras. – Nós estávamos visitando a prima dela, e já estávamos indo embora.
Nesse momento levantou rapidamente e disse um simples:
- BU! – e com isso, fez o primeiro enfermeiro, que estava agachado ao seu lado na intenção de ajudá-la, tomar o maior susto. Então começou a rir descontroladamente, praticamente maníaca e começou a falar coisas sem nexo. – Ei você, sabia que eu sou uma serra? – ela começou. – Pois é, cara, eu preciso serrar madeiras. Porque madeiras fazem papel. E serrar madeiras é o meu papel.
Os enfermeiros se entreolharam e o primeiro encostou em seu pulso, para tentar medí-lo.
- NÃO TOQUE EM MIM! – ela gritou. Então ela começou a fazer o maior escândalo, gritando, pulando em tudo quanto era canto.
- Ela bebeu um pouco antes de vir para cá. – comentei. Olhei para ela, que ria demoniacamente. – Ok, muito. Na verdade, eu pensei que talvez sua prima pudesse ajudar a convencê-la a se internar aqui. Mas não deu certo.
- Ok, eu vou pegar um formulário. Lance, leve a garota até algum quarto vago enquanto isso.
Enquanto isso, saiu do quarto e foi andando na ponta dos pés e então começou a correr devagar, sem fazer barulho. Ao virar o corredor, sorriu para nós e voltou a correr. O segundo médico assentiu e tentou pegar no colo, que gritou de imediato.
- JÁ MANDEI NÃO TOCAR EM MIM, CARA DE MANGA! – Ela atuava muito bem, isso era fato. Então eu a peguei e a levantei, segurando-a pela cintura para que ela não cambaleasse ou caísse no meio do caminho. Começamos a andar mais rápido do que o enfermeiro e assim que viramos, sussurrou. – Corre.
Então eu e ela começamos a correr por toda a clínica. Assim que o enfermeiro virou no mesmo corredor que nós, ele percebeu que nós já não estávamos mais lá. Conseguimos fugir. Corríamos rapidamente, sem acordar ninguém. Devia ser cerca de oito ou nova horas da noite quando viramos um novo corredor e trombou com . Ambos caíram no chão e eu fiquei apenas olhando, com cara de trouxa.
- Finalmente encontrei vocês. – disse , desesperado. – Tem três enfermeiros me perseguindo, acha que encontrou , mas o quarto dela está trancado.
- Isso é sério? – perguntou, revoltada. – A gente vem aqui pra salvá-la e o nosso maior problema agora é a merda do quarto trancado?
Foi então que ela saiu correndo pelos corredores, enquanto e eu a seguimos e encontrou parado em frente a porta, batendo na mesma.
- , abre essa porta! – ele dizia. – Sou eu, !
- Sai da frente. – disse, tirando um negócio do cabelo. Ao olhar mais de perto, pude ver que era um grampo. Então ela se abaixou e colocou o grampo na maçaneta, girando o mesmo e abrindo a porta. Sorriu. – Essa é a graça de ser eu.
Então se apressou e abriu a porta, levou um susto que até seus últimos minutos de vida lhe subiria os pêlos da perna ao relembrar a cena que passou pelos seus olhos ao entrar naquele aposento. Ele encontrou a garota pelo qual ele era apaixonado deitada, inconsciente. entrou calmamente, tentando não fazer movimentos bruscos e assustar , que parecia praticamente imóvel vendo o corpo de .
Fiquei apenas parado na porta, vendo todos eles entrarem para ver a amiga, e eu fui diretamente para a mesa de cabeceira, aonde se encontrava uma prancheta com provavelmente todos os sintomas diagnosticados pelos médicos, avaliando .
- Ela está dormindo... – começou . – Acho que eles a cansaram... Será que aqui tem jogos de futebol? Porque, sabe, eu lembro que toda vez que a gente joga, no final a se joga no chão e...
Todos olharam para com aquela típica expressão de reprovação, a ponto de o mesmo perceber e calar-se uma última vez. sentou-se ao lado da amiga de , olhando para sua face pálida.
- O que será que aconteceu com ela? – comentou .
- Ela tomou analgésicos e injetaram um remédio para ela dormir. – eu comentei, olhando para a ficha. – Aqui diz que ela se exaltou falando que ia explodir isso aqui com uma bomba nuclear e... – hesitei por um momento, ainda lendo as análises.
- E..? – disse mais uma vez.
- E eles consideraram o caso dela mais grave do que uma clínica de reabilitação pode agüentar. Amanhã de manhã ela será transferida para um manicômio.
riu ironicamente, fingindo que não havia escutado sequer uma palavra do que eu disse.
- , você pega a no colo. , e eu vamos distrair os enfermeiros novamente. ainda deve estar fazendo seu trabalho com a... – ela bufou, deu um suspiro e revirou os olhos, enojada. – Secretária maldita.
saiu primeiro, assim, se ele encontrasse alguém ele nos avisaria. Logo depois saímos eu, e , que segurava inconsciente. Não demorou muito para chegarmos ao fim do corredor e perceber que ainda falava com a secretária.
- O que você vai fazer nesse fim de semana? – ele perguntou.
Foi quando um enfermeiro avistou segurando e gritou, chamando por outros companheiros. Merda. Todos nós começamos a correr enquanto nem parecia perceber que estavam atrás de nós. Então, ao sair correndo aproveitei e lhe dei um tapa na cabeça, para ver se ele reparava no que estava acontecendo à sua volta. Conseguimos fugir.
Fomos em dois carros, obviamente. Em um nós deitamos no banco de trás, enquanto ainda a carregava, e na frente foi , que saiu cantando o pneu dirigindo. Já no outro carro, quem saiu cantando o pneu foi .
Se você quer mesmo saber, achei o caminho de volta praticamente insuportável. e começaram a discutir porque teve um ataque de ciúmes! Quem diria? com ciúmes! Chegamos então à casa de , e levou para o quarto da amiga, que aproveitou para nos avisar que Bia, a prima de , iria passar alguns dias conosco em Londres. colocou na cama de , sentou ao seu lado e ficou apenas acariciando o rosto da menina, com esperança de que ela acordasse e abrisse um sorriso. Provavelmente faria alguma piada ou falaria alguma coisa boba, como sempre, e começaria a rir. Pelo menos era isso o que ele queria. Isso o que ele esperava.
Preferimos então, deixá-lo sozinho com . Ao descermos até a cozinha encontramos a prima de , que mexia com uma colher pequena uma xícara de café, presa em seus próprios pensamentos. Assim que ela notou nossa presença, disse:
- está lá em cima. – e abriu tamanho sorriso que sempre me fez sorrir junto. E dessa vez não foi muito diferente. A prima sorriu também.
- Que bom, não ia ser a mesma coisa sem ela. – E olhou para , que estava com a cara fechada. – O que aconteceu com ele? – perguntou a garota.
- Ah... – começou. Hesitou uma vez e preferiu ficar calada. – Melhor não falarmos disso.
Era evidente o clima de tensão, briga e todas essas babaquices de casal no ar. Mas como havíamos acabado de completar uma boa fase de nossas vidas, roubando um corpo (inconsciente, porém vivo) de uma clínica de reabilitação, seria mais fácil de falássemos sobre coisas boas, tipo quem quer chocolate quente, ou qualquer coisa assim. Não sei se você sabe, mas a noite em Londres é frio. E eu estava com frio. Muito frio, na verdade.
- ... – começou, tocando o ombro da garota que EU amava. – Você quer conversar?
Por um momento, olhou para como se ele fosse um monstro, ou qualquer coisa do gênero. Eu me lembro bem que no dia em que fui dormir na casa dela, ela me ensinou que quando alguém diz ‘nós precisamos conversar’ ou coisas similares a isso, na verdade quer dizer ‘acho que vamos terminar’. Não sei porquê, acho que sou meio filho da puta, mas senti uma enorme pontada de alívio ao ouvir tal frase vindo de .
Eu imaginei a cena em que e terminariam apenas duas vezes, eu acho. Mas nunca pensei que fosse mesmo acontecer. Por um momento, considerei a idéia de que agora e eu poderíamos ficar juntos. E não sei o que deu em mim, mas acabei mudando de idéia. Eu quis que eles ficassem juntos, porque eu me lembro de uma vez em especial, descobri que sabia mais sobre mim do que eu esperava.
saiu da cozinha com e alguns minutos depois ele voltou, com os olhos vidrados no chão. Mal tive tempo de abrir a boca antes de ele comentar, com a voz baixa:
- Ela pediu um tempo... Pra pensar. Eu vou embora daqui. – e me deu as costas, indo provavelmente para sua casa. não esperou muito e foi consolar , que saiu da casa o mais rápido que conseguiu. Fiquei paralisado nos primeiros segundos, tentando receber a informação por completo. Tempo? Como assim? Saí da cozinha e fui procurar por .
Ela não estava na sala de televisão, ou no seu próprio quarto. Sei disso porque ao entrar no mesmo, vi dormindo, abraçado à . Achei bonitinho. Percebi que a janela da varanda estava aberta, então passei pela mesma, e a vi deserta. Estava quase saindo quando ouvi alguém fungando, e eu já sabia muito bem quem era. Fui até o para-peito, e ao me virar e olhar para cima pude ver abraçando suas pernas, enquanto chorava, com a cabeça apoiada nas mesmas. Olhava fixamente para o horizonte, tentando segurar as lágrimas ao máximo, mas não conseguia.
Então subi ao lado dela, e assim que ela percebeu, tentou limpar suas lágrimas com o polegar.
- Não precisa esconder nada de mim. – eu disse. – E também não vou te obrigar a me contar nada. Mas caso você queira contar, estou à todos os ouvidos. – e tentei sorrir.
Mas ela não respondeu. Continuava chorando quietamente, sem mover nenhuma parte de seu corpo que não fosse para respirar, ou piscar. Ficamos quase quinze minutos em silencio, e isso já começava a me desesperar. Ver quieta não era lá muito comum, se você quer saber. Eu lembro de uma vez que um garoto novo veio falar comigo, e no outro intervalo ele já estava falando com ela. Eu lembro que as palavras exatas dele sobre ela foram: “Sabe, ela é muito falante. Tagarela. Mas é bonitinha. Quero dizer, ela tem uma opinião formada sobre tantas coisas, e acolhe a gente. Eu sei que ela é meio lerdinha as vezes, mas eu gostei tanto dela... Quero dizer, conversar com ela por quinze minutos faz eu me sentir amigo dela há anos e anos”. Depois daquele dia eu tentei convencer a diretora a expulsar o garoto. Nem preciso te contar o motivo.
Ela olhava para a vista que tinha do telhado, apesar de não se poder ver muita coisa. Se abraçava no frio. Tirei meu casaco e cobri seus ombros, que estavam cobertos apenas por sua malha de lã, apesar de não ajuda muito. A garota olhou para mim e abriu um sorriso, tentando parecer que estava tudo bem. Mas suas lágrimas não deixavam seus olhos mentirem por si só. Ela limpava suas lágrimas com a manga de meu casaco, e naquele momento eu nem me importava com isso.
- Sabe... – ela começou. – Eu sei que tem alguma coisa errada com ele, . Ele não é assim. Quero dizer, ele não é... Grosso do jeito que ele foi. Por isso eu dei um tempo com ele. – ela soluçava intensamente enquanto tentava pronunciar as palavras. – Você não entende... Ele nunca foi assim, só que agora ele parece... Não gostar de mim! ELE NÃO GOSTA DE MIM! Como isso pode ser possível? Olha, você sabe...
- Que qualquer garoto que não te ame é um imbecil. – interrompi. – Olha, todo mundo na escola sabe que você é linda.
- Eu não ia dizer isso. – ela respondeu. – Eu ia dizer que... Não sei se você sabe, mas desde que e eu começamos a ficar juntos, parece que ninguém mais gosta de mim. Até... Bom, até... – ela abaixou o olhar.
- Até o que?
- O que vocês estão fazendo aí em cima? - Ouvi uma voz masculina perguntar, não muito alto. Olhei para baixo e vi nos encarando com malícia. – Olha, , vou contar pro que você ta traindo ele, hein?!
E foi aí que teve um ataque de choro ainda maior e começou a deixar as lágrimas rolarem, seguidas por soluços e gemidos ainda mais altos. Olhei pra , reprovando-o, que percebeu e automaticamente se desculpou, entrando novamente na casa.
- Calma. – eu disse apenas, a abraçando forte. Ela correspondeu, e eu senti cada músculo meu se contrair para sentir o corpo frio de . Mas aparentemente o meu corpo que estava frio.
- Você deve estar congelando! – ela exclamou, ainda com a maquiagem totalmente borrada, preta, de tanto chorar. – Como eu sou idiota, venha, vamos entrar. – e puxou minha mão para descer.
- Não. – eu disse, confiante. Espera aí... Eu estava confiante? Isso não era muito comum. – Vamos ficar aqui. Não ligo para o frio. Eu ligo para você. – e ela sorriu. A puxei de volta e a abracei, enquanto ela novamente, como aquele dia em sua cama, ela se reconfortou em meus braços.
- Sabe... Eu gostei de ver que você não era como Tess dizia. – ela comentou.
- Como ela dizia?
- Você sabe... Metido, nerd, sem graça, besta, criança, sem pegada... – ela riu. – Na verdade, ela me contou uma historia bem engraçada, que eu nem sei se é verdade.
Pronto, era o que me faltava. Não sei se eu já comentei que o motivo pelo qual eu nunca fui popular foi porque Tess espalhou para a escola inteira que eu perdi o bv com Juliett. E tudo bem que era verdade, mas ela não precisava ter contado. Mentira, ela precisava sim. Até porque, foi assim que ela ficou popular.
- O que ela disse? – perguntei inocente.
- Que você beijou a sua irmã.
- MINHA IRMÃ? – gritei. Perdi a calma, a consciência, sei lá. Eu sei que num momento meu coração batia forte devido ao fato que estava deitada em meu colo, e em outro eu estava com o coração batendo acelerado porque uma vadia nojenta disse que eu beijei a minha irmã.
- É... Engraçado, né? – ela ria de se acabar. Gargalhava como nunca tinha feito antes. E eu sentia o sangue pulsar em minhas veias.
- Eu nem tenho irmã! – eu comentei. – Eu beijei minha prima, só! Mas isso todo mundo faz.
no exato momento parou de rir e olhou para mim como se eu fosse um doente. Talvez eu fosse um doente, se você quer saber.
- Sua prima? – ela disse. Por um instante achei que ela fosse me bater, ou me jogar do telhado. Mas não. Ela simplesmente sorriu e disse, da maneira mais meiga que conseguiu. – Todos nós já fizemos isso, menos eu. Então, por favor, vamos manter esse caso da sua prima em segredo absoluto, ok? Assim como mantivemos o de , o de e o de . Eu e a não temos primos homens, e nós não ficaríamos, então não, nós nunca fizemos esse tipo de coisa.
Sabe, era incrível. Foi meio óbvio que ela pareceu enojada, mas ela não demonstrou isso. Ou tentou não parecer.
Naquele exato momento senti uma vontade descontrolada de fumar. Coloquei a mão em meus bolsos para pegar o cigarro, e então me lembrei que deixei-o em casa. sempre me disse que não gostava de gente que fumava. E por ela, me prometi que iria parar. Mas por que justo agora? Eu precisava fumar.
- , você quer ser minha prima? – perguntei brincando. Ela olhou para mim e tentou abafar o riso, mas não conseguiu. Começou a rir muito. Foi até engraçado vê-la rindo daquele jeito. Tão engraçado que comecei a rir da risada da garota. Parecíamos dois retardados. Ou duas crianças felizes que estavam apaixonadas. A verdade é que apenas uma dessas crianças estava apaixonada. A outra tinha seu coração partido, despedaçado como pétalas de rosa, ou vidraça de casa de criança enquanto joga bola.
- Só se você me prometer que você vai me pegar escondido dos seus tios, . – Ela respondeu, contente. Passamos alguns minutos rindo e fazendo piadinhas uns com os outros, até que ela se acalmou e se deitou no telhado, olhando para cima. Deitei ao seu lado, e vi milhões, bilhões e talvez até trilhões de estrelas no céu, piscando como luzinhas de Natal. Acho que o Papai Noel atendeu meu pedido, e me trouxe para me fazer companhia.
Ficamos alguns minutos em silêncio, até que ela se apoiou em um cotovelo, se virou para mim e aproximou seus lábios dos meus. Podia ver o vapor frio saindo deles enquanto os mesmos estavam roxos.
- Posso te beijar? – ela sussurrou para mim, colocando uma mecha de seus cabelos atrás da orelha.
Deitado, não respondi, o que a fez pensar que era um sim. E se você quer saber, eu também acho que era um sim.
E foi então que , novamente inconveniente, saiu na varanda e disse:
- Ei, vocês... – começou ele. – Querem chocolate quente?
Mas não soltou de mim, nem eu dela. Então provavelmente percebeu que nós havíamos encontrado uma outra maneira de nos aquecermos e saiu do aposento, gritando para um simples “ Eles tão ocupados, não vão querer.”
Ficamos minutos e minutos assim, e eu mal podia perceber que o tempo se passava e a lua ia para o outro lado do céu. Quando cansamos (o que deve ter demorado cerca de uma ou duas horas), se acomodou em meus braços, morrendo de frio e deu um berro.
- ! Você que ficou vindo nas piores horas, vem agora aqui!
veio dois minutos depois, esfregando os olhos com as costas da mão, como se estivesse acabando de acordar.
- Eu estava na sua cama com .
- Olha lá, hein! – ela disse. – Sem manchar o meu lençol, por favor. - Vi ficar vermelho de vergonha e dar uma gargalhada. – É brincadeira. Pega meu edredom no armário e joga aqui pra mim? Eu e o estamos com frio.
, sem dizer sequer uma reclamação ou qualquer coisa do gênero, foi e voltou logo em seguida. Por ser alto, deu um pulo e jogou o edredom ao mesmo tempo, caindo bem aos meus pés.
Então e eu nos cobrimos, e eu a abracei.
- Posso dizer uma coisa? – sussurrei. Ela assentiu, abrindo um sorriso para mim. – Olha, eu não sei qual é a relação que eu e você temos, e eu não quero que você esteja comigo agora só para se vingar de . Só que... – suspirei. – Eu passei muito tempo imaginando como seria ter você ao meu lado, e se não for para ter você o mais rápido possível, eu tenho medo que uma hora seja tarde demais... Entende?
Eu esperei oito anos para ter comigo, nunca seria tarde. Mas eu queria que ela estivesse comigo de corpo e alma, não só de corpo. E era dessa maneira que estava. Pois nesse momento, eu sabia que seu corpo era meu. Mas eu também sabia que sua mente era de . Tanto quanto seu coração.
- Eu te amo, . – Foi o que ela disse, segurando meu rosto. – Não sei se essa é uma hora apropriada para dizer isso, eu não mando no futuro e não sei o que vai acontecer amanhã. Mas, nesse minuto, nessa noite, eu sei que eu te amo. E me desculpe se tiver sido cedo ou tarde demais.
- Se você quer saber, acho que não havia hora mais certa para você dizer isso. – e a beijei novamente, sentindo o céu cobrir a noite, e os lábios de , cobrirem os meus.
Não consegui dormir durante a noite inteira. Me remexia de um lado para o outro tentando ao máximo para não acordar , que dormia em meus braços, tranqüila. Mas teve uma hora em que me cansei e a peguei no colo, descendo do telhado. Entramos no quarto dela e me deparei com e dormindo no quarto da garota, abraçados, o que meio que ‘derreteu meu coração’ e eu não tive coragem de acordá-los. Levei então para o quarto de seus pais, a deitei na cama dos mesmos, lhe dei um beijo na testa e fui para a minha casa.
Ao chegar, mal tive tempo de suspirar. Uma pessoa logo acendeu a luz do abajur e me encarou com um olhar de ódio e ciúme. Era Juliett, minha prima.
- Onde você estava? – ela perguntou, com seus olhos castanhos me fitando profundamente, praticamente tirando minha pele do resto de meu corpo. – Sabe, desde que você foi dormir na casa daquela eu nunca mais te vi aqui em casa. Você tem sorte da minha tia chegar super tarde e nunca perceber que às vezes você nem volta pra casa, ou chega agora... Você tem noção que horas são, ?
- Não me enche, vai. – eu disse, saindo do aposento. Então ela me segurou pelo braço com suas mãos delicadas.
- ... O que aconteceu com você? A gente era tão amigo, e agora você me vem com essa? – ela dizia, com a voz aguda e inocente que tinha, típico para uma garota de 14 anos como ela. Só que garotas de 14 anos não usavam unhas postiças para ficarem maior, não faziam luzes e hidratação no cabelo sempre que possível e, com certeza, não tinham o corpo de Juliett. Não mesmo.
- Não aconteceu nada. Eu prometo. – não sei se ela sabia que eu amava desde sempre, mas eu me lembro bem de uma vez que ela disse que iria pintar seus cabelos para ficar igual aos dela. Foi engraçado a tentativa. Uma época pintou as pontas do cabelo de rosa, e eu lembro que eu cheguei em casa e Juliett estava esquentando a água para molhar papel crepom rosa. Alguns minutos depois ela entrou no meu quarto com o cabelo INTEIRO, sem exceção, até a raiz, pintado da cor.
- Tudo bem, não precisa me contar... – ela disse, fazendo pouco caso. – Mas, ei, você quer uma massagem pra dormir, como eu fazia antigamente?
Ok, vou admitir que eu era um pouco folgado com a Juliett. O fato é que ela era uma ótima massagista, então sempre que acontecia algo que eu preferia não saber, eu ficava tenso. E sempre que eu ficava tenso, Juliett me fazia uma ótima massagem. Sem brincadeira, eu quase dormia.
- Melhor não. – eu disse, confiante. Me livrei da mãos de Juliett em meu braço e subi imediatamente para o meu quarto. Entrei em meu banheiro e tomei uma ducha quente. O frio lá fora me fazia trincar os dentes, eu precisava de uma maneira descente para me aquecer. Um banho pareceu a coisa mais apropriada.
Saí rapidamente e me sequei ainda dentro do banheiro, mas sempre gostei mais de me trocar do lado de fora, ou seja, no meu quarto. Mas a sensação de vergonha, frio, invasão de propriedade não vão boa como eu esperava. Na verdade, eu não esperava o que aconteceu.
Me deparei com uma pirralha de quatorze anos, deitada em minha cama com o meu, isso mesmo, o meu pijama, olhando para mim como se fosse uma santa.
- Juliett... – comecei, esfregando os olhos com apenas uma mão, na intenção não só de fechá-los, mas para evitar uma enorme dor de cabeça depois. – Devolve meu pijama.
- Sabe o que eu não entendo, ? – ela começou. – Na minha escola, grande parte dos rapazes me desejam. Eles brigam por minha causa, dão risada de tudo o que eu digo, me dão presentes, dizem que me amam... Mas o único cara que eu esperei a vida inteira para me notar, e até me mudei para a casa dele para ver se ele me notava... Simplesmente nunca o fez.
Ela começou a se aproximar de mim com calma, pisando no tapete com os pés descalços usando a ponta dos mesmos. Abriu um largo sorriso de malícia e, ao chegar bem perto de mim, continuou a falar, com sua sensualidade no auge.
- Não começa, vai. – eu disse, frio. – Você sabe que isso não vai chegar a lugar nenhum. Eu já te disse, mulher, caramba, você é a minha prima! Isso é meio nojento.
Mas ela não parava de se aproximar de mim de maneira alguma, e isso de fato estava começando a me aborrecer. Ela ficou bem perto e levantou os pés, ficando na ponta deles e quase na minha altura. Eu continuava sendo um pouco mais alto. Foi então que ela se inclinou e me beijou. Eu deveria simplesmente ter feito algo do tipo empurrá-la, ou sei lá o que, mas... Não sei. Eu não fiz. Eu fiquei paralisado nos primeiros momentos, e então, após cerca de dez segundos, comecei a corresponder. De forma abrupta.
Não demorou muito tempo para estarmos suados na horizontal, na minha cama. É, você não leu errado. Nossos pés roçavam e nossas roupas se encontravam no chão. E o pior de tudo era que eu não pensava em Juliett enquanto eu fazia essas coisas. Eu pensava numa garota de lindos olhos e cabelos brilhantes, que tinha a inteligência de Einstein, apesar da lerdeza de uma tartaruga. A garota que tinha o sorriso da Mona Lisa, e a timidez de um nerd. A minha timidez. E aquela garota era . .
- . – sussurrei, enquanto Juliett tentava dizer obscenidades em me ouvido. E eu simplesmente me recusava a escutar.
Acordei na manhã seguinte, com os meus olhos penando para se abrir graças ao sol que batia em meu quarto. Não sei qual é o meu problema, mas eu sempre esqueço de fechar a janela antes de dormir. Cocei meus olhos com as costas das mãos e olhei em volta enquanto me espreguiçava, sentindo um outro corpo em minha cama.
“ ?”, eu pensei. Mas então me lembrei de que não era . Era uma garota de cabelos lisos com cachos formados na ponta, loiros com mechas castanhas um pouco mais escuras. Era uma garota de quatorze anos com corpo de 17, que soube me seduzir desde que o mundo é mundo. Era minha prima Juliett. Aquela que me chamava todos os dias para brincar de Barbie. E ontem à noite, ela quis brincar de outra coisa.
Ela dormia calmamente ao meu lado, com um enorme cobertor cobrindo seu corpo nu. E o meu também. Eu estava completamente envergonhado e mal tive tempo de me levantar, porque no momento em que me sentei em minha cama, e entraram no meu quarto aos berros. segurava uma câmera e sorria sadicamente para mim.
- BOM DIA! – gritou no meu ouvido, como se estivesse segurando um megafone, ou algo do gênero. me gravava na câmera com satisfação, o que provava que eles ainda não haviam visto Juliett dormindo ao meu lado. Nem notaram. E obviamente só notariam quando ela acordasse, e aí já seria extremamente difícil não notar. Primeiro porque era uma menina na minha cama, e isso nunca acontecia. Segundo porque ela era simplesmente linda, apesar de tarada, malvada e... Bom, ninfomaníaca, pelo o que percebi noite passada. Mas se você quer saber, acho que não ia demorar muito para notarem ela, porque ela já se remexia em minha cama.
- ACORDA! – gritou, fazendo Juliett de remexer mais uma vez em minha cama. Mas dessa vez, não pude escapar: Ela havia acordado.
Assim que viu aquela figura loira em minha cama, ele arregalou seus olhos e sua boca. Durante alguns segundos ficou tão paralisado que mal sabia o que dizer.
- PUTA MERDA! – ele gritou. Respirou fundo e tentou se acalmar, respirou fundo e continuou. – Er... ?! Tem algo que você queira me contar?
Então Juliett se sentou em minha cama, deixando o cobertor cair de seu corpo e mostrando praticamente tudo o que ela tentava cobrir com um sutiã, só que em vez de um sutiã, ela tinha algumas mechas de seus cabelos loiros em cima dos mesmos. Eu estava fudido. Completamente. Eu tenho certeza que e não conseguiriam guardar esse segredo, então fui direto e preferi dizer:
- , você se lembra da minha prima Juliett, certo?
E Juliett acenou com suas mãos macias, mexendo principalmente seus dedos compridos e piscando com apenas um olho para os meus amigos. Eu sabia que não ia dar certo.
Eu tomava café em silêncio, enquanto e me encaravam como se eu devesse me sentir culpado por não ter contado nada a eles. Mas a verdade é que eu não tinha o que contar, já que ela me seduziu ontem e eu mal tive tempo de dizer não. Já chegava a ser desconfortante a maneira que eles me olhavam, mas assim que Juliett entrou no aposento com o meu robbie, eles mudaram radicalmente a expressão facial, e pareceram mais simpáticos do que nunca.
- Então, ... – começou a falar, enquanto olhava para o corpo de Juliett, que andava pela cozinha e abria a geladeira. – Você e a estão dando um tempo ainda?
- É... – respondeu, aparentando não estar triste. – Pois é. Eu não sei, cara, parece que tudo mudou.
Ele abaixou o olhar para sua xícara com chocolate quente, e Juliett fez o santo favor de se intrometer.
- Sabe, ... Você vem nessa casa já faz tanto tempo, e nunca me falou muito dessa .
- Você não tem nada melhor pra fazer, não? – perguntei, grosso.
- , trate bem a sua namorada. – disse . tentou abafar o riso com a mão, mas foi perceptível que ele não conseguiu muito bem. – Ah, é a minha namorada. Estamos dando um tempo. E você e , estão juntos faz tempo? Porque ele não me conta nada, então eu não sei.
- Ah... – ela começou, lançando um olhar para mim. – Não sei bem, se você quer saber. e eu sempre tivemos uma química especial, só que nenhum dos dois conseguia admitir. Daí a gente foi crescendo, e nosso amor foi crescendo junto, entende?
Dessa vez quem tentou abafar o riso fui eu. não podia acreditar nisso porque ele sabia que eu sempre amei . E também não podia acreditar porque eu não era tão nojento a ponto de namorar a minha prima. Bom, eu peguei ela, mas... Ah, melhor deixar pra lá. Os três me olharam como se eu fosse um imbecil, então me pronunciei naquela conversa.
- Que amor, Juliett? – comecei, achando graça. – Nunca teve amor entre nós dois que não fosse de família. Eu tentei te falar ontem que eu não te amava, mas você sempre foi uma boa sedutora, se é que eu posso falar dessa maneira, e eu não consegui resistir.
Nesse momento ficou boquiaberto com o meu comentário, e eu vi os olhos castanhos de minha prima se encherem de lágrimas. Ela limpou uma que começava a cair com as costas da mão e tentou conter o choro.
Por um momento as palavras que proferi fizeram sentido dentro de minha mente, e eu me arrependi de cada letra que pronunciei à Juliett.
- Juliett, eu sinto muito! – comecei encabulado. – Eu não...
- Tanto faz. – ela me interrompeu, com a voz chorosa, limpando uma lagrima presa em seus olhos com a mão. – Eu sabia que a gente nunca significaria algo pra valer. Pelo menos não pra você. – e saiu do aposento.
Senti pena da minha prima, e ao olhar para e , percebi que suas bocas estavam simplesmente escancaradas.
- Dude... – disse . – Você se superou dessa vez.
Isso porque ele não sabia que eu beijei . E Juliett. E vi e na sala de materiais aquele dia. Assenti para o amigo e ri falsamente com o comentário, porque na verdade eu queria subir lá e me desculpar com Juliett por ser grosso, apesar de não ter mentido.
- Eu mudei. – foi a única coisa que respondi. Eu não era mais , o nerd do colégio e sim, , o pegador de Clinton Ferruci School.
- vai morrer quando contarmos isso. – disse .
- Contar?! – me apressei. Eu amei a minha vida inteira, e agora eu tinha meu destino nas mãos de um imbecil que pegava três meninas por dia. – Não precisa contar!
- Lógico que precisa, . – disse . – Ela vai ficar tão orgulhosa quando souber.
- Ela não precisa saber. – argumentei, sentindo minhas mãos começarem a suar. – Não precisamos contar nada a ela. – argumentei com frieza.
- Contar o quê? - disse uma voz feminina atrás de mim. Virei-me, rezando para ser uma ilusão ou algo do gênero, mas não era. O medo era tão grande que ao me deparar com prendi a respiração. Ela sorriu delicadamente e repetiu. – Contar o quê?
- Nada. – me apressei.
- dormiu com uma garota! – dedurou com um sorriso idiota no rosto. Filho da puta. E naquele momento mudou completamente a expressão de seu rosto. Parou de sorrir imediatamente, cruzou seus braços e arqueou uma sobrancelha. Por um momento ficou certo que a garota esperasse que eu dissesse seu nome.
- É mesmo? – ela perguntou num tom extremamente irônico. – Com quem, ?
- Juliett. – respondeu por mim.
- E quem é essa? – perguntou .
- Sou eu. – disse uma voz feminina pouco mais aguda que a de , uma voz que havia acabado de gritar comigo, naquele mesmo aposento. Aquela garota que eu ouvi a noite inteira gemendo meu nome, dizendo obscenidades. Aquela garota. – Prazer, Juliett .
“Fudeu”, foi a única coisa que pude pensar.
- Juliett, eu preciso conversar com você. – eu disse, num tom de desespero. – Olha, eu nunca quis te magoar e...
- Me poupe, . – Ela disse, num tom de desprezo, colocando dois dedos sobre a minha boca, impedindo-me de falar algo. – Eu não quero mais conversar. Então, diga-me, ... Que nome bonito o seu. – e deu aquele sorriso de quando ela pegou meu casaco uma vez e levou pra escola, dizendo que era do namorado dela.
- Obrigada. – respondeu com um sorriso. – Você e o estão juntos há muito tempo?
- Não... Na verdade, nós transamos ontem e só. Estou esperando um compromisso sério.
Naquele momento estremeceu. Seus lábios ficaram pálidos, e ela perdeu o brilho de seu sorriso. Ela fechou os olhos por alguns segundos, e ao abrir os mesmos, pude vê-los marejados.
- Ahm... Boa sorte para vocês dois. é um bom amigo para mim. – ela disse, dando ênfase na palavra “amigo”. – ... Posso falar com você um minutinho?
- Claro. – respondeu, e ambos saíram do aposento.
- QUAL...? – comecei perguntando, aos berros. Parei, corado, e respirei fundo. – Qual é o seu problema?
- Nenhum, oras. – ela disse, revirando seus olhos. – Não tenho culpa que você é um péssimo amigo e sempre rouba a namorada dos seus amigos.
- Mas eu nunca tive uma namorada, Juliett! – exclamei. – Você foi a primeira menina que eu beijei!
- E a primeira que você transou! Olha, , eu estou te dizendo: Nós estamos predestinados a ficar juntos.
Naquele momento olhei em volta, e vi que já havia saído de lá, então quando olhei novamente para Juliett e a vi sorrindo para mim. Uma música de casamento ecoou em minha mente e eu balancei a cabeça, tentando me livrar daquele pensamento.
- Você tem problemas. Terapia até que é uma coisa bem útil, entende? – eu disse, saindo de lá. Mas o que veio a seguir não me deixou muito confortável. Ao entrar em minha sala, vi no colo de , com uma perna de cada lado. E eles estavam se beijando. Profundamente.
Respirei fundo e contei até cento e trinta e sete. tinha razão de estar brava comigo, quero dizer, a culpa não foi totalmente minha. Juliett sabia me seduzir desde que nós brincamos de Barbie e eu não entedia porque ela queria tanto que eu fosse o carinha lá. Sério, tenho trauma de Barbie depois daquele dia. Aquele tal de Ken é meio psicótico, cara, você já viu o sorriso que ele tem no rosto? A Barbie bate nele e ele ta lá, sorrindo. A Barbie pega ele de jeito e ele ta lá, sorrindo. Ok, eu também estaria sorrindo. Se fosse com . Se não estivesse quase fazendo impurezas com . No meu sofá.
- Caham. – pigarreei. e pararam de se beijar e rolou para o lado do sofá, saindo de cima de . – Desculpe interromper, mas... – Eu não tinha um bom motivo para pedir para eles pararem com aquilo, tirando que era na minha casa, no meu sofá, e na minha frente. – Vocês querem sair hoje à noite?
ficou me olhando com aquela cara de quando uma pessoa não sabe porque a outra pessoa disse o que disse. Aquela cara de quando ela pensa consigo mesma “Como assim? Não tô entendendo a dele.”
- Claro, dude. – disse . – Agora que eu tenho de volta, eu sou capaz até de pular de pára-quedas se você quiser. – riu e abraçou o namorado, fazendo-me borbulhar de ciúmes por dentro.
- Vamos naquela boate que eu sempre esqueço o nome. – eu me pronunciei mais uma vez. – Aquela lá que tem bebidas com nome de cidades, países, sei lá o que.
- Country Made. – disse , atrás de mim. Olhei, e ele sorriu, olhando para e , que estavam abraçados. – Que bom que vocês voltaram. Eu não agüentava mais ver o chorando no meu ouvido.
Nesse mesmo momento e eu viramos nossos olhos para .
- Você chorou por mim? – ela perguntou, e vi corar.
- Não, disse metaforicamente. – respondeu, ainda corado, e eu vi no mesmo segundo que não era mentira. E me senti o pior homem do mundo.
- Não disse não. – se atreveu, ainda sorrindo. – Ele disse que tinha certeza que você estava com outro, , e começou a chorar dizendo que ia saber quem era, e quando soubesse ele ia...
- ! – interrompeu . – Ta, já entendi! Ta bom, eu chorei sim! E daí?
Estremeci, ouvindo as palavras de fazerem sentido e eu entendendo que se ele soubesse que, talvez, tudo o que houve foi minha culpa, me mataria. E naquele momento, eu tinha medo de saber.
- Então. – eu disse, mudando de assunto. – A gente vai ou não?
- Claro, cara. – disse , se levantando e me dando o abraço mais gay do mundo. Ele estava todo feliz, e isso só piorou o que eu sentia. – A gente se encontra aqui na casa do , e aí vamos todos juntos. No meu carro.
Os olhos de brilharam a ouvir o final da frase. O carro de é um daqueles conversíveis que as garotas pode ir sentadas em cima, com os pés no banco. Um daqueles carros que se ele capota todo mundo cai, entende?
Todos foram para sua casa e deu uma desculpa para , dizendo que ia ficar mais um pouco na minha. Ao saírem, não demorou um minuto até ela suspirar, e se aproximar de mim, com um olhar demoníaco, como se fosse me espancar ou algo do gênero.
- Você gosta de fazer as pessoas de bobo, ? - ela começou.
- N-Não. – gaguejei, amedrontado. Ok, agora seria aquela hora em que eu pediria pra ela contar até dez enquanto eu guardava as facas da cozinha. – Olha, , eu posso explicar.
- É? Tem certeza? – ela respondeu, com a voz aparentemente chorosa. – Eu não entendo, . O que você tem para me explicar? O fato de você ter dormido com a sua prima? O fato de você ter me trocado pela sua prima?
- E você? – eu interrompi, exaltado. – Você se faz de santa, , mas você nunca vai mudar! Você diz que é virgem, mas eu te pego na sala de materiais com o . Você diz que ama , mas fica dando em cima de mim. Você diz tudo e faz exatamente o contrário! Não dá pra saber o que você sente! Eu não sei se pra você eu sou só mais um pra sua coleção de babacas.
Nesse momento vi os lindos olhos de ficarem marejados, e ela respirou fundo, enxugando uma lágrima que caía com as costas da mão.
- É, , você foi só mais um babaca. – ela disse. – Babaca de ter me perdido na hora que brincou de papai e mamãe com a sua prima. Só que agora eu não quero mais brincar com você, eu estou cansada de só amar quem não me ama, e ter que me contentar com os poucos que de fato sentem algo por mim.
E então ela deu as costas para mim, dando uma fungada e saindo calmamente de minha casa.
- ... – comecei, arrependido do que disse, e também magoado pelas palavras que proferiu enquanto me olhava com ódio. – Espera.
- Vai pegar sua prima, . – disse ela, se distanciando. – Aposto que vale mais à pena.
E então, vi entrar na neblina que cobria a esquina da rua, e ela desapareceu diante de meus olhos. A única coisa que pude ouvir foram passos rápidos, o que deu a entender que ela começou a correr. E eu só fiquei ali, parado como um imbecil, tentando entender como eu fudi minha vida, e estraguei a minha relação com em menos de cinco minutos. Como poucas palavras magoaram tanto, e como tantas ações mudaram tudo. Desculpe, .
Eu colocava minha camisa branca e apertava meu cinto quando a campainha tocou. Não era só mais uma noite essa. Passei pelo meu banheiro e vi meu cabelo solto, não muito bagunçado, como sempre deixei. Desci correndo e abri a porta, dando de cara com , e . Eles entraram e se ajeitaram na sala, de maneira que todos estivessem arrumados e confortáveis enquanto eu acabava de me arrumar. Não demorou muito para eu ficar pronto e buzinar do lado de fora para sairmos.
E foi então que eu vi do lado esquerdo (n/a: Inglaterra, alou), com no banco do co-piloto e , prima de , atrás. Entramos então, todos nós atrás, e teve que ir no colo de para que todos nós coubéssemos ali.
- Da próxima vez, vamos no meu carro também. – comentou , apertado no canto. Alguns de nós rimos e fomos de uma vez para Country Made.
Aquele lugar era simplesmente a coisa mais surreal que eu já vi. As paredes eram revestidas em branco-prateada combinavam com as cortinas pretas. Mal pudemos reclamar e , e nos puxaram até a pista para dançar.
A música rápida e alta não nos deu tempo para reclamar, fugir ou recusar, e quando me dei por mim, eu estava dançando pateticamente com os caras. Só que eu me esqueci do fato que essa “boate” era permitida para convidados ou moradores do meu condomínio.
- Oh, ! – disse uma garota em meu ouvido, fazendo que eu me arrepiasse dos pés à cabeça. – Você por aqui. – continuou ela, atrás de mim, com uma voz sensualmente e perceptivelmente mudada.
Me virei interessado, para ver quem era a dona daquela voz, e então a vi. A menina que me persegue desde que minha mãe disse “Querido, essa é a sua priminha.”
- JULIETT! – gritei. – O que você quer?
- Ora, . – ela disse, colocando as mãos na cintura e fazendo bico. – Deixe de ser grosso e vamos dançar.
Olhei para trás e vi e dançando colados, da maneira eternamente perturbadora. Revirei os olhos, e pousei os mesmos em , que apoiava sua cabeça em seu braço, entediada, olhando entristecida para o casal, enquanto e dançavam da mesma maneira que a minha amada e, aparentemente, o amado de . A garota olhou para mim e sussurrou algo no ouvido de , que estava sentado ao seu lado.
- Não. Mas deve estar louco para dançar contigo, vamos. – e puxei minha prima até a mesa aonde e conversavam.
- licious... – começou Juliett, enrolando o cabelo com a ponta do dedo enquanto mordia o lábio inferior discretamente. – Quer dançar?
Foi meio difícil para recusar, já que Juliett estava ‘armada’, se é que você me entende. Ela vestia uma mini saia preta, uma regata cor de rosa marcando suas curvas e um enorme salto, aumentando sua estatura. Seus cabelos lisos caíam sobre seus ombros, e sua sensualidade aguçava seu rosto, principalmente o seu olhar, coberto de maquiagem.
Eles foram dançar, e eu me sentei ao lado de , que tinha seus pensamentos em qualquer lugar, menos aqui.
- . – Comecei. – O que foi?
- Nada. – respondeu ela seca, sem ao menos olhar para mim. – Eu sei o que você falou para a minha prima, e não foi legal. – começou ela, ainda olhando para a prima e . – E eu sempre defendi quando ela precisou. Sabe, você pode ser sozinho sempre, mas existem pessoas que tem amigos, .
- Eu nunca disse isso.
- Eu sei que não. Porque aí você seria um hipócrita. Sabe, eu não entendo como pode te amar e... – então ela deu conta de suas palavras e colocou a mão sobre sua boca, na intenção de se calar. Mas aí já era tarde demais.
- O QUE? – eu perguntei, praticamente gastando todas as minhas cordas vocais. – VOCÊ TA FALANDO SÉRIO?
negou com a cabeça, mas já era tarde. E foi então que, mentalmente e sem querer, bolei um plano. Um plano para tirar do meu caminho, e do caminho de .
- Escuta, eu tenho uma coisa que pode ajudar a nós dois. – eu disse. – Eu sei que você gosta do . E eu gosto de . – eu olhei para o casal que se beijava enquanto dançava. – Eu tenho uma idéia.
Então peguei pela mão e a levei até a pista de dança, bem ao lado do casal ao qual eu pretendia provocar ciúmes. A outra foi a primeira a reparar que eu e dançávamos animados, enquanto minhas mãos estavam estrategicamente pousadas na cintura da garota, e as mãos dela percorriam pelo meu pescoço.
- Ai! – alertou ao sentir que pisou sem querer em seu pé, devido ao fato de que ela estava distraída com e eu dançando.
- D-Desculpe, . – Foi a única coisa que balbuciou, voltando a dançar.
E então eu sorri e assentiu, sabendo já o que eu pretendia fazer. E eu a beijei. Na boca. Seus lábios eram macios e doces, de forma que seu formato se encaixava com o formato da minha boca. Só que não havia química nenhuma entre nós. Eu a beijava e não sentia absolutamente nada.
era linda, engraçada, divertida e mesmo assim eu não sentia química nenhuma por ela. Mas eu sabia que estava passando mal por dentro. Paramos de nos beijar e olhamos para o casal do lado, e no mesmo momento percebi que tanto a prima quanto nos encaravam de maneira suspeita.
- , vem cá um minutinho. – Puxou , com um olhar fulminante para cima de mim, saindo da pista. Olhei de longe, e podia ver abanando seus braços para cima, desesperada, quase estrangulando a prima.
Fiquei olhando e se aproximou de mim, quase me surrando com o olhar.
- Então... Você e a outra ? Você não cansa de pegar primas, não?
- Qual é a sua, hein? – eu reclamei. – Você fica bravo com tudo o que eu faço! Me deixa em paz, , eu não sou mais seu capacho.
arregalou os olhos, aparentemente surpreso com o que eu disse.
- Eu nunca quis que você fosse meu capacho, . O tempo todo eu tentei fazer você entrar no grupo, mas Tess é uma vadia e ficava inventando histórias. Mas pára de pegar todas as meninas, nem quer mais fazer isso.
- Não são todas as meninas! Eu beijei... – pensei em , mas a ignorei. – Duas meninas a minha vida inteira!
- É, mas a é diferente. – disse ele, encabulado.
- Ah Meu Deus. – eu disse, arqueando uma sobrancelha. – Você gosta dela.
- Cala a boca, não fala besteira. – disse , saindo da pista, e eu fui atrás.
- Claro que gosta! E está com ciúmes! Por isso você ta todo puto. Admite, ! Caramba, o tempo todo você ficou falando de , daí foi só conseguir e já não quer mais. E você, , não cansa de pegar ’s, não? – eu disse sarcasticamente e ele se virou para mim, me pegando pela gola da camisa.
- Eu não fiquei com a , quero ir devagar com ela e não sei como falar isso para . Além do mais, eu a amei o mesmo tempo que você a amou, então não venha me dizer sobre ‘deixar de gostar de alguém’, porque ela foi a garota que eu mais amei.
- Então por que você quer terminar com ela? – provoquei, e percebi que estava a um passo de tomar um bom soco na cara.
- Eu não quero. e eu sempre fomos e sempre seremos amigos, então eu estou esperando ela terminar comigo. Então eu espero que você, , fique quieto sobre esse assunto. – E me colocou no chão novamente. – Você é o meu melhor amigo, dude, seja leal pelo menos uma vez na vida.
Arrumei minha camisa e olhei para ele, assentindo, e no mesmo momento as primas voltaram.
- , posso falar com você? - disse num tom entristecido.
Fui até ela e nos distanciamos. O rosto pálido e triste de logo se alargou num lindo sorriso.
- Deu certo! está puta da vida comigo, não é legal? – ela disse, animada. Não entendi o que tinha de legal numa pessoa brava com você, mas dei uma gargalhada.
- Que bom. gosta de você também, ele ficou com ciúmes.
E eu vi os olhos de cintilarem, como se ela nunca tivesse sido tão feliz antes. Me deu um beijo na bochecha e me abraçou, sussurrando:
- Ela pediu para eu terminar o que nós não começamos, então finja que está desapontado, ok? – Eu ri e assenti, ainda a abraçando.
Não sei o que deu em mim naquela festa para enfrentar , não sei o que deu em mim para eu criar aquele plano idiota e não sei o que aconteceu para ter voltado o resto do caminho sem olhar na minha cara. Só sei que quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi entrar em meu quarto e me jogar na minha cama.
Só que não consegui dormir, e comecei a ouvir barulhos estranhos. Gemidos. Então fui até o quarto de Juliett, e apenas a fresta da porta estava aberta. Foi quando eu vi que a garota que gemia era Juliett, e o motivo disso era .
Domingo nunca é um dia bom. Porque se for legal passa rápido, e chega logo segunda, e se você não tiver o que fazer só lhe resta adiantar lição, o que não deixa nenhum adolescente contente, se é que posso dizer dessa forma. Acordei cedo e fui para o lago, como sempre faço, só que dessa vez não foi como costumava ser. O normal parecia vazio, e o certo parecia errado. Fiquei olhando para a varanda de fechada e esperava que ela fosse abrir, apesar de ter quase certeza que não aconteceria.
“Deixe de ser frouxo, ”, pensei comigo mesmo. Porque é verdade. Eu precisava ter comigo pelo menos uma vez na vida, por mais de um dia, ou uma noite. Ter comigo seria como pedir para ganhar na loteria. Apesar de ganhar na loteria ser mais fácil do que tê-la. Até porque, pelo menos para mim, ela vale mais. E ela abriu a janela.
- . – eu disse baixo, esperando que ela olhasse para cá. E ela olhou, só que com tamanho desprezo que não acenou ou algo do gênero. Apenas fechou a varanda novamente, entrando pela mesma.
Não é possível! Primeiro Tess, depois , depois . Caramba, é incrível, dude. Quanto mais você ama alguém, mais difícil fica de ter essa pessoa ao seu lado, e eu não percebi isso só pra mim, mas também pelos filmes idiotas que fui obrigado a ver naquele dia, na casa dos . Só que eu estava cansado de ver todas as pessoas me passarem para trás e eu, o nerd idiota, sempre deixar. Dessa vez eu ia ter , quisesse qualquer pessoa, ou não.
Fui andando em direção a casa dela e toquei a campainha, impaciente. Ninguém atendeu. Toquei novamente e abriu a porta, saindo da casa.
- O que você quer? A está dormindo. – disse , me fuzilando com o olhar.
- Eu não quero falar com a . – comecei. – Eu não quero que a gente brigue mais. Eu não quero que você tire meu sono todas as noites. Eu não quero não ter você comigo.
ficou parada, olhando para mim, como se não tivesse mais nada no mundo além de meus olhos, aonde ela tentava pensar numa desculpa, ou relembrar alguma memória recente.
- Eu não posso mais, . Como eu disse antes, é tarde demais, agora eu estou com , e estou feliz. – Percebi que na hora em que disse “e estou feliz” ela mudou a direção de seu olhar, ficando óbvio que era uma mentira.
- não gosta de você. – admiti. Droga! Prometi que eu não contaria. Mas era tarde, naquele mesmo momento olhou para mim e vi seus olhos se arregalarem.
- Do que você ta falando?
- Er... Nada. – menti.
- ... – começou ela, se aproximando de mim, enquanto eu ia indo para trás. – Você sabe de alguma coisa que eu não sei?
- N-Não. – gaguejei. Sabe, gaguejar é a coisa mais imbecil que você pode fazer quando mente. Porque fica na cara que é mentira e porque a pessoa vai ficar ainda mais brava com você por ter tentado lhe enganar.
- Desembucha. – disse, se aproximando ainda mais, enquanto eu tentava me distanciar, apesar de ser difícil me manter longe dela.
- E-Eu acho que ele gosta de . – eu disse. Era verdade, por partes.
- Como assim? – ela perguntou, tentando me pressionar. – Me diz tudo o que você sabe, se você tiver medo da morte.
Medo da morte é uma maneira da falar ‘se não você vai ver só’. Ela sempre faz isso. E comigo sempre funciona, porque a maneira como ela te olha não é nada legal, você não tem noção.
- Eu acho que ele gosta dela, ué! Ele não me disse nada, mas o jeito como eles se olham... – fiz uma pausa.
- O que é que tem?
- É a maneira como eu te olho. – resumi. E ela entendeu. Me aproximei dela, colocando uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha. – Você sabe que eu nunca quis te magoar.
- Mas você magoou, . Isso não vai mudar nada. – disse . – Eu não sou um brinquedo que vocês, homens, escolhem quando querem brincar. Eu não sou uma jaqueta que você só usa no outono, entenda isso. – e entrou novamente em casa, me deixando parado à porta. Então ela abriu a mesma e colocou a cabeça para fora e continuou. – Quando você decidir tratar as pessoas como se elas fossem mais do que um pedaço de carne, , me ligue. Talvez eu ainda esteja aqui. – e entrou mais uma vez.
Passei a mão em meus cabelos e procurei em meus bolsos um maço de cigarros. Peguei o mesmo e tirei apenas um, colocando em minha boca e procurando dessa vez um isqueiro.
Traguei com profundidade, sentindo o quente do cigarro entrar em minha garganta e anestesiar minha angústia. Então saiu novamente de casa.
- ! – eu disse, mas ela nada respondeu. Só tirou o cigarro de minha mão, jogou o mesmo no chão e o amassou com a sola da pantufa.
- Fumar faz mal à saúde. – respondeu ela, entrando novamente.
- Então por que você se importa? – a questionei, e ela se virou, olhando de esguio para mim.
- Não me importo. – respondeu, fechando a porta. Lógico que se importava. Eu sei que se importava.
Voltei então de cabeça baixa para casa, desejando estar sozinho, sem Juliett para me aborrecer. Mas não foi o que aconteceu. Assim que entrei em casa ouvi risadas, vindas da cozinha, e ao seguir as mesmas, vi e Juliett brincando com a comida, como criancinhas de dez anos.
- O que é isso? – perguntei, estressado.
- Fala, dude! – disse rindo. – Você acordou cedo, hein? Agora são umas nove e eu já to de pé! Isso nunca acontece e...
- Ta, , me poupe. Não tô afim. – e fui para o meu quarto.
- Acho que ele brigou com aquela menina lá. – foi a única coisa que pude ouvir Juliett falando. Odeio o fato de ela me conhecer melhor do que eu mesmo. Odeio o fato de estar com raiva de mim. Odeio o fato de ter transado com Juliett. Odeio o fato de ter transando com Juliett. Odeio tudo. Sou um odiador.
Joguei-me em minha cama com os braços abertos, esperando que meu coração se acalmasse e minha respiração se estabilizasse quando alguém bateu na porta.
- Não estou! – gritei, tentando afastar quem estivesse ali. Mas não funcionou. Alguns segundos depois entrou sem dizer ao menos uma palavra e se sentou na cama, ao meu lado.
- Olha... – ele começou. – Eu sei que eu não sou o seu melhor amigo, mas a primeira coisa que eu aprendi quando fiquei amigo de é que você tem que tratar as pessoas da melhor maneira possível.
- Por isso que você enfiou a minha cabeça no vaso sanitário na sexta série? – eu disse, sarcástico.
- Ah! – exclamou ele. – Então era você que... – pensou um pouco. – Deixa quieto.
- Sim, era eu que jogava cartas do Pokémon na sexta série, não sei por que isso te surpreende tanto. – bufei, dando um longo suspiro. se aproximou e sentou na cadeira da minha mesa do computador.
- Sabe, eu também já gostei de . – ele comentou.
- Que novidade. – ironizei. Não só pelo fato de que é um extremo galinha, mas pelo fato de que todos os garotos de Clinton Ferruci School já gostaram.
- É sério, . – ele respondeu, enfatizando. – Na oitava série eu era doido para ficar com ela, mas então apareceu e ficou com ela. Eu não sabia mais o que fazer da minha vida, então decidi ficar com Tess, só por ficar. E ela acabou gostando mesmo de mim, sendo que a única coisa que eu queria era alguém pra apagar a minha dor.
- Essa última parte foi gay. – eu disse.
- Que se foda, você jogava Pokémon, eu posso ser o quanto gay eu quiser. – respondeu ele, estreitando os olhos para mim, me fuzilando com os mesmos.
Então eu olhei para ele e comecei a rir. Não sei por que, mas sim, eu comecei a rir, e ele começou a rir junto.
- Amar é horrível. – eu disse.
- E depois o gay sou eu. – respondeu , rindo como uma criança. – Dude, deixa de ser idiota! Eu perdi para o , não faça o mesmo.
- Mas ela não quer ficar mais comigo! O que eu vou fazer? Implorar? – questionei, sentindo uma onda de raiva invadir meu ser.
- Quem disse que ela não quer? – perguntou-me , mexendo em minhas coisas sobre a mesa do computador.
- Eu é que penso. – respondi num tom depressivo. – Ela disse que não se importa.
- Você quer ver se ela se importa ou não? – disse, num tom de malícia e malignidade ao mesmo tempo.
- ... – comecei, arqueando uma sobrancelha para o rapaz. – O que você tem em mente?
- , você já ficou bêbado? – ele me perguntou, dando uma gargalhada. – Se você já assistiu todos os episódios de Gossip Girl, como te obrigou, você vai entender o que eu estou falando. – e deu um sorriso malicioso.
Estava frio e tudo o que eu queria naquele momento era estar em casa assistindo algum filme estilo Star Wars ou estar apenas no computador. Mas não. Eu estava no alto do prédio comercial da Sony, sabe lá fazendo o que. Sabe, eu não tenho medo de altura, e essa foi a minha sorte de quando chegou lá com uma garrafa de vodka cheia até a metade e disse:
- Você sabe o que fazer. está vindo, eu já avisei ela. – ele disse, rindo e me entregando a garrafa.
- Tem vodka mesmo? – eu perguntei.
- Água. – respondeu por fim. – Agora me mostra como você pretende fazer.
Eu dei risada e comecei a fingir que estava bêbado, quando no mesmo chegou.
- Ah! Olha só quem chegou. – eu disse, tentando mudar parte da minha voz. E consegui.
- ... – disse ela, e pude ver , e ao lado dela. – Pára com isso.
- Por quê? – eu disse, ainda com minha voz alterada propositalmente. – Você não se importa comigo. Eu poderia pular de um prédio que você ia dar risada e ir foder com seu namoradinho. – eu disse. Eu sabia que a estava magoando, mas só assim para fazê-la acreditar que aquilo era pra valer. – Então eu acho que é o que vou fazer! – exclamei, subindo no parapeito.
Comecei a andar e dei um gole da suposta vodka, dando risada, mas sem querer tropecei em meu pé, quase caindo. Ok, aquilo havia sido sem querer. Respirei fundo e continuei fingindo.
- ... Desce daí. – disse .
- É, , vamos para casa. – disse também .
- FODAM-SE VOCÊS. – eu gritei, olhando para eles, ainda no parapeito. – VOCES NUNCA SE IMPORTARAM COMIGO, O NERD DO COLÉGIO. OU SE IMPORTARAM?
- E-Eu me importo, . – disse em meio a um gaguejo. – Desculpe pela briga que tivemos hoje. Desculpe por tudo! Eu não queria te magoar.
- É, , mas magoou. Não foi isso o que você disse? Uma hora tudo muda de lugar, não é? – eu dizia, alterando minha voz o máximo possível. Desculpa . Desculpa mesmo.
- ! – gritou um rapaz, entrando pela porta onde havia chegado até mim. Era . – Desce daí, cara.
- CALA A BOCA! – gritei. – Eu amei desde os nove anos, e tudo o que você fez foi tirar ela de mim, . Agora sinta-se por satisfeito, seu puto, ELA NÃO ME QUER.
- Eu quero. – admitiu ela, abaixando o olhar, e todos os olhares se viraram para a garota, que deixou uma lágrima cair de seus lindos olhos.
- ... – começou . – Isso é sério?
- É. – ela respondeu. – Desce daí, , eu não quero perder meu melhor amigo. Eu não quero te perder.
Fiquei paralisado, olhando para ela, assim como todos os outros no lugar. Abri um sorriso e senti meus olhos marejados. Merda, , não chora. Deixa de ser frouxo.
Ela sorriu junto, também chorando. Então decidi que chega de brincadeira. Desci do parapeito e, para o meu azar, pisei numa poça d’água que fez meu pé ir para trás, fazendo-me virar de ponta cabeça e cair e derrubar a garrafa de água. Não sei como não morri. Olhei para cima e vi a barra de minha calça presa num pedaço de ferro. Isso mesmo, eu estava de ponta cabeça, no alto de um prédio, com a minha calça presa. Cara, eu tenho muita sorte de ter calças rasgadas de vez em quando.
- ! – ouvi gritar com a voz chorosa. E o pior é que eu nem podia falar. Porque se eu proferisse qualquer palavra que fosse, eu não ia conseguir fingir minha voz, porque eu estava simplesmente morrendo de medo. Então fiquei calado.
A única coisa que senti foram mãos, não só uma ou duas, mas cerca de seis mãos me puxando. , e , provavelmente.
- Me dá a mão! – gritou , e eu tentei me impulsionar, sentindo minha calça cair.
deu um berro, com ambas as mãos sobre o rosto, chorando, e conseguiu segurar a minha mão. E eles me ergueram, me colocando no chão do prédio. no mesmo momento abraçou , e fez o mesmo com .
- Valeu, cara. – disse . – E desculpe por essa ultima parte.
- Eu que agradeço. – disse baixo, abrindo um sorriso.
Foi quando me deparei com um par de olhos vermelhos de desespero me encarando, mas eu não conseguia me levantar. Minhas pernas estavam bambas com o susto, e eu ainda tremia pelo medo que havia sentido.
- ... – ela se pronunciou, e percebeu que se fizesse qualquer movimento perto de mim ela perceberia que eu não estava bêbado.
- , deixa o um pouco sozinho. – disse ele, pegando a garota pela cintura e a afastando de mim.
- ME SOLTA! – ela berrou para , que a tirou de lá.
- Você não estava bêbado que eu sei. – afirmou , se soltando dos braços de . – Eu sei melhor do que todo mundo aqui quando alguém está bêbado, e você não está.
- Como assim? – disse . – Se isso foi uma piadinha, , eu juro que eu te jogo daqui.
- Não foi uma piadinha. – respondeu , por mim. – disse para que não se importava com ele, então eu sugeri que ele fizesse isso. A não ser a parte de escorregar, é lógico.
- Você quase matou a gente do coração. – respondeu .
- Eu sei. – pronunciei. – Desculpem se eu disse algo que ofendeu vocês. Qualquer um de vocês. – respondi, lançando um olhar de perdão à , que se aproximou de mim e me abraçou. Abraço de irmão, não confunda as coisas.
- E a ? – perguntou , que estava calada até certo momento. – Cadê ela?
- Eu a coloquei num táxi para casa. – disse . – Mas eu se fosse você, , tomaria uns goles de vodka de verdade, porque você precisa fingir a ressaca de amanhã. – e deu risada.
- Vamos sair daqui. – respondi, e todos nós descemos e fomos para um bar ali perto.
Não bebi muito, só para poder voltar para casa direito, e ao fazê-lo, a única coisa que pensava era em como devia estar se sentindo. Foi quando ouvi suspiros e fungadas vindos da minha cozinha. Segui até a mesma, esperando que fosse Juliett e que ela fosse me perguntar onde eu estava, como sempre fazia, tentando imitar minha mãe.
Mas era ela. . Ali. Tentando engolir o choro com o braço apoiado na mesa e a cabeça apoiada em sua mão. Deixava lágrimas caírem sobre minha mesa, desesperadamente.
- . – eu disse. – O que você está fazendo aqui?
Ela se levantou no mesmo momento e limpou suas lágrimas com as costas da mão.
- Eu... Eu... – ela começou, com a voz chorosa. Mas não conseguia dizer absolutamente nada. Ela saiu correndo e me abraçou forte, como se quisesse tirar toda a dor de seu peito com aquele abraço. E a única coisa que eu fiz foi corresponder, simplesmente por querer que aquele abraço fosse uma espécie de perdão por tê-la feito passar por tudo aquilo.
Ela chorava na sala de estar enquanto eu pegava um copo d’água com açúcar, em desespero. Ela estava tão assustada que senti que ela tremia ao me abraçar. Voltei com a água em minhas mãos, mas ela recusou, em meio a um soluço.
- Eu t-to bem. – ela me garantiu, sentada no sofá. Sentei-me ao seu lado e pousei minhas mãos sobre as dela calmamente, olhando para ela, preocupado.
- Desculpa. – eu disse, com pena de . – Eu não queria mais me magoar, ou te magoar. Só... Esquecer.
- V-Você não imagina, . – ela respondeu. – Quando eu te vi cair, todas as palavras que você falou surtiram efeito, e você... – ela fez uma pausa para respirar fundo e engolir o choro. – Você tinha razão para ter dito tudo aquilo. Eu sei que eu não sou perfeita, que eu briguei com você por motivos que nem eram da minha conta. A me disse que ela que quis te beijar e que a culpa não era sua. É que... Eu passei tanto tempo procurando alguém que eu pudesse confiar e, de repente, eu te encontrei. Só que...
Não deixei que acabasse seu monólogo e a beijei ferozmente, com ambas as mãos em seu rosto úmido de lágrimas, com certa urgência. Ela correspondia e nós intensificávamos o beijo a cada mordida que dávamos nos lábios um do outro. Não demorou muito para nossas roupas cobrirem parte do chão e logo estarmos roçando nossos pés e soltando frases sem sentido que vinham em nossas mentes naquele momento. Cada segundo parecia único e cada movimento levava a outro, fazendo com que, uma hora, todos os pêlos de meu corpo se arrepiassem e eu sentisse uma enorme onda de bem estar.
- Desculpa. – foi o que eu disse, apoiado com meu braço sobre o tapete onde e eu estávamos deitados. Coloquei uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha e sorri para a garota corada, que estava coberta pelo edredom. – Eu estou me sentindo péssimo.
- Por quê? – questionou , agora deitada sobre o tapete, me olhando daquela forma delicada que eu sempre gostei nela.
- Por ter... Bom... Você sabe. – Eu respondi, me referindo ao simples fato de que eu havia tirado a virgindade da menina mais santa e mais querida da escola. riu, assentindo na intenção de mostrar que havia entendido o que eu tentava ali dizer.
- Sabe, , eu sempre pensei como seria minha primeira vez, e de todas as vezes que poderiam ter sido a minha primeira vez, essa foi a mais próxima do que eu imaginava. – ela disse. Peraí, que história é essa de “todas as outras vezes?”
- Você poderia ter feito isso outras vezes? – perguntei, tentando controlar o ciúme que saia junto com a minha voz, e ela riu novamente.
- Sim, eu poderia. Mas todas as vezes eu parei, porque... Eu não me sentia segura o suficiente. O banco de trás do carro de não era muito confortável, nem na mesa da professora, então... – “Que nojo”, era a única coisa que vinha em minha mente.
- Eu nunca mais sento no carro de . – proferi, e deu uma gargalhada que inundou meu interior, fazendo-me sorrir junto com ela.
- Com você foi diferente, . – ela respondeu. – Das outras vezes eu fiquei indecisa, sem saber o que fazer, sem saber se o que eu estava sentindo era pra sentir. Sempre estranha e nunca segura. Mas com você não. – ela riu, tentando parecer boba, mas nem conseguia me olhar nos olhos de tamanha vergonha que devia estar sentindo. – Na hora que você me beijou eu entendi que você era... – ela fez uma pausa e olhou para mim, com um sorriso. – O cara.
- O cara? – questionei alto, sem querer. Que cara?
- É, , o cara que ia me fazer segura. O cara que eu sabia que não ia só fazer coisas pervertidas e depois ir embora, rindo de mim. O cara que não ia tentar controlar cada movimento e fingir que estava guiando cada passo. O cara que ia me valorizar. Você, . – ela dizia. Cada palavra que pronunciava penetravam em minha mente de maneira correta e absoluta, fazendo com que eu sorrisse cada vez mais. Dei-lhe um beijo rápido e sorri.
bocejou e só então descobri que estava já passava das três da manhã. Me levantei, apenas de samba canção, e corri até meu quarto, pegando cobertores e travesseiros. Desci e vi então que estava encolhida, apesar de coberta. Coloquei mais um edredom sobre ela e travesseiros embaixo de sua cabeça, jogando dois para o lado, aonde eu me deitaria.
- Viu porque você que era “o cara”? – me perguntou, mas eu neguei com a cabeça, sorrindo. – Porque só você que depois de tudo o que a gente fez teria coragem de se levantar e buscar coisas para nos cobrirmos. Qualquer outro garoto me mandaria para casa.
- Eu não quero que você me deixe essa noite. – Eu respondi, deitando ao lado dela e me cobrindo. – Além do mais, eu gosto de ficar com você, não teria motivos para te mandar pra casa.
riu.
- Às vezes eu acho que as pessoas me encaram como um objeto. – Ela olhou para mim e se aproximou, ainda deitada. Senti então seu braço tocar o meu e suas pernas nuas tocarem as minhas. Minhas bochechas coraram ao perceber que ela estava somente de lingerie, afinal, ainda não havia me acostumado com o fato de que eu havia transado com .
- Eu nunca faria isso. – Respondi prontamente.
- Eu sei. – ela respondeu por fim, se aconchegando bem ao meu lado. Passei meu braço sobre o corpo frio de e o trouxe para perto do meu, fazendo com que ela se aquecesse e pude vê-la abrir um sorriso. – Agora nada vai separar a gente, né? – perguntou ela, e eu neguei com a cabeça, abrindo um sorriso e beijando sua testa. virou para o lado, e eu sussurrei em seu ouvido, ao vê-la fechar os olhos.
- Eu te amo.
Adormeci sentindo o cheiro do cabelo de perto de mim e seu corpo se aquecendo junto ao meu. não era uma garota errada, que não se importava com ninguém que não fosse ela. Só era complicada demais, como todas as mulheres que já conheci, começando por minha mãe, que eu não via fazia cerca de uma semana.
Só que naquele momento eu não ligava para a minha mãe. A única coisa que eu queria saber era aquela garota que agora tinha um rosto neutro, pálido. Aquela garota que eu já havia visto dormir antes, mas dessa vez foi melhor. Não só porque ela havia se entregado totalmente a mim, mas porque eu sabia que ela era minha de corpo e alma.
Sentia uma leve dor de cabeça quando abri meus olhos e vi parte da luz entrando pela fresta da janela que não estava coberta pela cortina. Cocei meu olho direito com as costas da mão e sentei, percebendo que eu de fato havia dormido no tapete. Olhei para o lado e vi que ainda dormia, tomando cuidado ao levantar. Ouvi um barulho do andar superior e coloquei então a camiseta que estava jogada no chão, indo em direção ao quarto de minha mãe, de onde vinha o barulho.
Com cuidado, abri a porta e vi uma mulher de cabelos compridos remexendo a terceira gaveta do closet.
- Mamãe? – perguntei, e a mulher olhou para mim, abrindo um sorriso.
- Querido. – Ela disse, abrindo os braços e me dando um abraço apertado. – Acabei de volta de viagem, mas não quis te acordar, nem a sua amiga que está lá embaixo.
Corei. Que merda, a única vez que a minha mãe deveria estar viajando ela chega em casa.
- Ah. – pronunciei. – Por favor, não a apavore, ok? – implorei, me afastando de minha mãe, que riu.
- Quem é essa que o rosto é familiar? – ela perguntou. Agora fudeu. É óbvio que a minha mãe sabe de . Aos doze anos, quando eu ainda não sabia que não se conta sobre a garota que você gosta aos seus pais, eu pedi para minha mãe comprar flores, porque eu queria dar para .
- . – respondi, abaixando a cabeça. Minha mãe arregalou seus olhos para mim e, boquiaberta, tentou não gritar.
- Aquela ? Que você dizia que ia aprender a fazer panquecas para quando ela te convidasse para uma das festas do pijama na casa dela e...
- É, mãe, essa mesma. – eu interrompi, para não se lembrar de meu passado obscuro e obsessivo por .
- Uau, , todas aquelas noites rezando para que ela falasse com você de fato valeram a pena, não? – ela disse rindo, e foi ai que lembrei que minha mãe foi a única pessoa, além de , que riu de mim quando eu disse estar apaixonado.
Deixei ela rindo sozinha e desci novamente, percebendo que ainda dormia. Fui até a cozinha e comecei a arrumar a mesa, e olhei no relógio. Seis e meia, ou seja, eu dormi no máximo três horas essa noite. Não demorou muito para a minha mãe sair atrasada para o trabalho e eu ouvir a porta bater.
Deitei-me ao lado de novamente, e fiquei apenas encarando sua face, pensando se era comigo que ela sonhava. Não demorou muito para eu pegar no sono mais uma vez e dormir tranquilamente, sabendo que eu não precisava ter medo de estar acordada e tirar fotos minhas enquanto eu dormia. E então seu celular começou a tocar. Não sei se você conhece aquela música “I Can’t Take My Eyes Of You”, do Elvis Presley, mas o fato é que quando a mesma começou a tocar eu pensei que fosse em qualquer lugar, menos no celular de . Quero dizer, ela gostava de músicas pops que tocam na rádio, por que raios ela teria Elvis como toque de celular?
Antes que ela acordasse eu me levantei do tapete, ainda meio sonolento, e olhei no visor quem era. .
- Alô? – sussurrei.
- Ahm... Por favor, a ? – ela perguntou, estranhando o motivo pela voz de não ser tão rouca quanto a minha.
- É o . A está dormindo. – continuei sussurrando, e olhei para , que se remexeu um pouco em minha cama. Pude ver seus pés descobertos do edredom, e então me lembrei que ela ainda devia estar nua.
- ELA DORMIU AÍ? – ouvi gritar, e separei o telefone de meu ouvido por um momento, sentindo que eu estava prestes a ficar surdo. – QUAL É O SEU PROBLEMA?
- Por quê? – perguntei.
- passou a noite procurando por ela, tentando voltar com ela. Ele foi até a casa dela, e Jean disse que ela estava muito cansada para atender. Se ele souber que ela dormiu aí... – o silêncio deixou a entender que não seria nada bom para mim.
- Você quer dizer, se ele souber que ela dormiu comigo? – perguntei.
- VOCÊS DORMIRAM JUNTOS? – ela gritou novamente. Cacete, viu. Mulher é um bicho muito histérico pro meu gosto.
- Er... É. – eu disse, com quase certeza absoluta de que eu me arrependeria profundamente de ter dito tais palavras.
- , quer um conselho de amiga? – começou, do outro lado do telefone. – Passa pra .
- Ela ta dormindo. – respondi, olhando para , que ainda fazia o que eu havia dito para sua amiga.
- Então terminem o que vocês dois têm. – Ela disse, calmamente. WHAT?
- O QUÊ? – gritei, perdendo a paciência. – Você ta maluca? Eu passei quase dez anos da minha vida esperando para ter ela ao meu lado e você vem me dizer isso?
- Você prefere ter ela ao seu lado morto ou vivo? – ironizou a pequena. – Estou falando sério, . O não vai poupar esforços para ter de volta. Você não deve ter escutado a parte em que eu disse “Ele virou a noite atrás dela”. Olha... Eu só quero o bem de , e sabe coisas que ele pode usar contra ela num momento de raiva. – dizia ela, do outro lado do telefone. – Só diga para ela me ligar, ok?
Desligou logo e seguida, e pude ouvir se mexendo. Ao olhar para a mesma eu a vi sorrindo para mim, se cobrindo com o edredom enquanto seus ombros continuavam nus, assim como ela estava totalmente, debaixo das cobertas.
- Bom dia. – ela disse, segurando o edredom sobre seu corpo, e abriu um sorriso. Não foi um sorriso qualquer. Foi um sorriso ao qual eu jamais havia visto a garota abrir antes.
- Bom dia. – eu respondi, abrindo um sorriso e me aproximando dela. Ao ficarmos bem próximos eu a beijei, e ela correspondeu. Éramos apenas e eu naquele momento, e eu precisava aproveitá-lo ao máximo, afinal, nunca se sabe quando algum idiota pode bater na sua porta e levar a garota que você ama para longe.
Ouvi a campainha tocar.
- É melhor você ir atender... – disse entre os beijos.
- Não, deixa pra lá. – eu disse, segurando em sua cintura enquanto eu e ela ríamos.
- Não, , sério mesmo, vai lá atender. Juro que eu não vou fugir pela janela. – Ela disse, abrindo novamente aquele sorriso.
Me levantei então e fui abrir a porta com um imenso sorriso no rosto, que se despedaçou no momento em que vi quem estava ali.
- . – disse um garoto ao qual eu já estava cansado de ver com aquela cara. – Eu sei que ela está aí.
- Do que você ta falando, ?
- Eu sei que a está ai. – ele disse, com as olheiras profundas sob seus olhos. – A única coisa que eu quero é pedir desculpas à ela. Porra, eu te salvei e ela não me quer mais?
- Olha, ela não está aqui. – Menti, tentando parecer o mais normal possível.
- Dude, aonde ela se meteu então? – ele perguntou, colocando as mãos sobre sua face. – Se ela aparecer, diz que eu to procurando por ela, ok? É importante.
- Ta. Tchau, cara. – ele se virou e continuou andando até a sua casa, do outro lado da rua. – Ei, ! – ele se virou pra mim, cabisbaixo. – Vai dormir um pouco, cara, você parece morto de cansaço.
Ele assentiu e virou-se. Não era comum ver chorando, ou ao mesmo naquele “mood”. Ele era o cara que sempre deixava as pessoas melhores. Voltei à sala, e não demorou muito para ver que eu não estava me sentindo bem. Parecia que eu ia vomitar meu café da manhã, que eu ainda nem havia chegado a tomar, e os meus olhos iam saltar pra fora do meu corpo.
- Quem era? – ela perguntou, sorrindo. Como eu gostava de vê-la sorrir.
- . – disse, e ela se calou imediatamente. Ainda seminua, ela se levantou e começou a vestir sua roupa, saindo antes que eu pudesse me despedir, ou dizer que eu e a amava. Ela sumiu da minha frente em cerca de cinco minutos, nem chegou a tomar café da manhã comigo como Juliett e fizeram. Por falar nisso, não lembro de ter visto Juliett chegar.
Acho que eu nunca comentei como é o meu quarto. Tirando as coisas que costuma chamar de nerd, ele até que é bem reconfortante, se você quer saber. É azul, tem milhões de estantes para meus livros, uma escrivaninha para o meu laptop, minha cama e uma televisão presa num suporte da parede. Mas o que eu mais gosto é a vista da minha janela, que dá para o meu jardim, onde consigo ver minha casa da árvore. Eu e meu pai a construímos quando eu era pequeno, mas ela está lá, firme e forte até hoje.
Já era noite e eu não ouvi notícias de , ou de Juliett, o que estava começando a me preocupar. Coloquei um agasalho qualquer e saí de casa, indo até a casa de , que provavelmente estaria com Juliett. E se não tivesse, eu teria que espancá-lo até seu nariz virar uma batata. Toquei a campainha do rapaz, que atendeu alguns minutos depois com um pedaço de pizza na mão, o que acabou me lembrando de que eu não comi nada o dia inteiro, já que estava preocupado demais em esperar voltar pra mim.
- Fala, ! – ele disse, dando uma mordida. – To jantando com uns amigos.
– E eu estou procurando Juliett. – Nesse momento arregalou os olhos e fez uma pausa, tentando compreender o que eu havia dito. – Ela não voltou para casa ontem à noite, então se ela vier aqui, mande-a voltar para casa.
- Ela dormiu aqui. – disse o rapaz pegando mais um pedaço da pizza e puxando o queijo com os dentes. – Ela disse que ia te avisar, desculpa, cara.
- Não faz mal, desde que ela esteja bem. – eu respondi, colocando meu gorro do casaco sobre o rosto. – Diga que eu estive procurando por ela, está bem? – assentiu. – E você viu a ?
parou de mastigar no mesmo momento e começou a negar com a cabeça repetitivamente, o que deu a entender que ele estava escondendo algo de mim.
- Ela está aí também, né? – eu disse, entrando mesmo que não tivesse me convidado. No mesmo momento vi Juliett sentada na sala, comendo um dos pedaços de pizza.
- Ela não está aqui, . – disse, tentando me impedir.
- MENTIRA. – gritei, vendo que eu estava certo através dos olhos de , que tentavam encontrar alguma desculpa. – Eu só quero falar com ela. Cadê ela?
- Primo! – se intrometeu Juliett. – Quer comer um pedaço de pizza? – e abriu um sorriso falso, tentando acalmar a situação, provavelmente também sabendo onde estava.
- E você! Você dormiu fora de casa e olha a sua idade. Juliett, você só tem 14 anos, não tem idade para dormir na casa de outro cara. – eu comecei, estressado. – Cadê a ?
- Ela não está aqui. – Continuava afirmando , quando ouvi um barulho vindo do piso superior.
Olhei para o mesmo e saí correndo, subindo as escadas apressado, ainda que estivesse tentando me impedir a todo o custo. Foi quando ouvi gemidos vindos do quarto de . Senti meus olhos ficarem marejados, já imaginando quem estaria por detrás daquela porta, e passei a mão sobre os mesmos, secando-os antes que alguma lágrima caísse de meus olhos.
- Vem, cara, vamos descer. – disse , me pegando pelo braço com calma, tentando me levar até a sala por bem. Mas eu não dei ouvido, balancei meu braço e soltei-me de , abrindo a porta. E foi então que eu vi o que eu não queria ver. O que eu não imaginava nem em meus pesadelos mais perturbadores. É, exatamente o que você está imaginando. A dona dos gemidos era , e quem estava os provocando era . Maldito .
- . – eu disse, sentindo um nó na garganta, meu estômago revirar e uma vontade imensa de vomitar. Minha voz estava chorosa, meus olhos não podiam mais conter meus sentimentos. E ela me ouviu chamando, tanto que olhou para mim, empurrando de cima dela no mesmo momento e se cobriu com o lençol que estava na cama, que provavelmente era de .
- ...
Não deixei que ela acabasse de falar. Sinceramente, já não me importava. Eu queria que ela morresse. Mentira, eu não queria. Mas meus olhos não concordavam, e meu coração, que agora eu sentia se despedaçar, queimar e virar pó não dizia a mesma coisa. Eu não queria que ela morresse porque eu ainda a amava.
Entrei em casa, ainda sozinho, afinal, devia ser cerca de nove horas da noite. Eu parecia aquelas menininhas de treze anos que choram quando levavam um fora, mas eu tinha muito mais motivo. Subi para o meu quarto e me joguei em minha cama. Sim, que nem uma bicha. Me deixa em paz. Tudo o que eu queria naquele momento era nunca ter visto se mudando. Queria nunca ter entrado naquele grupinho de merda. Queria ainda ser o nerd excluído que seu único amigo é o dono da banca de jornais, que já está cansado de te ver ir lá comprar mangás todos os dias. É aquela frase que todo mundo me diz: “O mundo dá voltas, numa dessas você roda”. Mas tudo o que eu queria era minha vida antiga e sem complicações de volta.
No meio de tanto chorar acabei adormecendo e quando acordei Juliett estava sentada no canto de cama, passando a mão em minha cabeça. Ela sorriu ao me ver abrindo os olhos.
- Ta tudo bem? – ela perguntou, delicadamente. Eu nunca havia visto ela me tratar daquela maneira.
- Não, não ta. – eu disse, com a voz rouca, provavelmente com os gritos que dava ao chorar. Até cheguei a soluçar. – Eu to cansado, Juju. A sempre faz alguma coisa e estraga tudo, eu estou cansado de ir e voltar, e ter que dividir o amor dela com .
- Então não volta mais com ela. – respondeu Juliett, com calma. – Nada vai desesperá-la mais do que ver você ir embora e deixar o mundo dela de cabeça pra baixo.
Sentei-me em minha própria cama e abracei minha prima, sentindo-me seguro para fazer isso sem que ela fosse me agarrar e tentar me consolar da maneira menos apropriada.
- Eu vou fazer isso. – afirmei para ela, ainda a abraçando.
- Mas você não pode desistir e voltar com ela dois dias depois. Você tem que agir como um . – e sorriu. – E pode contar comigo se precisar.
Eu sorri e a soltei. Juliett não era uma pessoa tão perturbada quanto eu imaginava. Ela se ofereceu para fazer pipoca para nós dois assistirmos “Hércules”. Esse era o meu filme e o dela. Nós o assistíamos todos os dias quando éramos pequenos, e talvez fosse bom relembrar aqueles anos. Depois de Juliett sair, esfreguei meus olhos que agora doíam devido aos trilhões de lágrimas que caíram e comecei a ouvir meu celular apitando sem parar. Percebi que ele estava embaixo de um amontoado de roupas, e então comecei a tirá-las do lugar, a procura do mesmo.
Peguei o aparelho e li “21 chamadas perdidas”. Suspirei, ao ver que quem havia ligado tanto havia sido , e vi que havia um recado no correio eletrônico. Hesitei com medo de ser de , mas a curiosidade falou mais alto.
- “ O-Oi, . - Pude ouvi-la dizer com a voz tímida e chorosa. - Eu sei que você deve estar muito bravo comigo, mas eu tenho motivos. Quero dizer, eu tive. Você sabe, para ter feito aquilo com . Eu queria poder te explicar tudo, mas acho que vai ser melhor pra você se você não souber. Vamos fingir que o que houve entre eu e você nunca aconteceu, ta? Acho que vai ser melhor pra nós dois se eu continuar com e ignorarmos esse ataque que tivemos um pelo outro. Afinal, eu sei que o que eu senti por você não foi real, foi só uma paixonite. E o mesmo pra você. Nos vemos amanhã está escola... Beijos.” – E desligou.
O que me restou fazer foi enfiar mais uma vez a cara no travesseiro e chorar mais um pouco antes que Juliett acabasse de fazer a pipoca.
Eu acordei com o despertador pulando do lado da minha cama, sobre o criado mudo. Segunda feira. Levantei sem o mínimo entusiasmo e abri a janela, sem medo de que alguém me visse sem a camiseta do pijama. Mas até aí meu dia parecia o mesmo, era como se tudo o que tinha acontecido um dia antes havia sido apenas um sonho, só que meu raciocínio avançado me fazia lembrar que não era. Que tudo aquilo foi real. Que machucou por dentro, de verdade.
Quando entrei nos portões de Clinton Ferruci School eu senti todos os alunos me encarando. Normal. Não, não era, porque eles me olhavam com um olhar de compaixão e simpatia, e não com os típicos pensamentos ‘O nerd chegou’ e sim ‘O Amigo de entrou. Vamos falar com ele?’. Ainda bem que nenhum deles devia ter a mínima idéia de que em um mísero fim de semana nós salvamos de ir para um manicômio, eu dormi com , que terminou e voltou com , e acabou me deixando plantado enquanto fazia coisas impróprias com ele.
- Ei, . – disse uma voz rouca, e ao olhar vi James, o capitão do time de futebol. Até os treze anos ele me batia e roubava meu lanche, não estou brincando. Mas aí um dia se meteu no meio de uma briga e disse que eu fazia academia e só não brigava com ele porque eu era bonzinho, mas que era pra James nunca mais se meter comigo senão o próprio bateria nele. – Quer almoçar com a gente hoje?
Devia ser alguma piadinha. Em um dos filmes que eu não me lembro bem umas meninas populares a chamaram para almoçar com elas só para elas terem mais “popularidade”, porque a menina era, em minha opinião, uma gata. Por esse motivo, não sei o que aconteceu dentro de mim que eu respondi de maneira simpática, coisa que eu jamais faria se eu ainda fosse excluído.
- Não, James, obrigado. Eu já combinei de almoçar com , e o resto das pessoas. – e abri um sorriso vitorioso, que fez com que pessoas começassem a sussurrar coisas ao meu respeito.
Ao entrar em minha primeira aula, vi novamente todos os olhares se voltarem para mim. Levantei um braço de cada vez discretamente e cheirei embaixo do mesmo, afinal, para todos fazerem algo desse tipo, era de se notar que eu provavelmente estaria exalando algum cheiro não muito agradável. Sentei-me em meu lugar habitual e no mesmo momento Kimmy Bridget, uma das animadoras de torcida (que foi expulsa da aula de Conor, alguns meses atrás por chegar atrasada), apoiou-se em minha mesa sensualmente, fazendo aquela coisa de apertar os peitos com o braço para eles parecerem maiores... Não sei se vocês sabem como é.
- Oi, ... – ela disse com um sorriso estonteante e dando uma piscadinha para mim. – O que você vai fazer esse fim de semana?
- Jogar videogame. – menti, sabendo que o único motivo para ela estar fazendo isso era o fato de ter me abraçado na festa que deu sexta feira.
- Parece divertido. – respondeu, desviando o olhar. – Posso ir junto? – disse olhando mais uma vez para mim.
- Não, porque só os amigos dele que vão. – disse uma voz que eu pude reconhecer imediatamente. Era .
- ! – disse Kimmy. – Como vai, querida? Fiquei sabendo que você foi novamente para a “rehab”. Espero que você esteja melhor.
Cara, mulheres são bem cínicas quando querem.
- . – corrigiu com um sorriso. – Ótima! Na verdade, eu até pretendo dar uma festa esse fim de semana, mas é só para quem não liga que eu fui pela terceira vez para a reabilitação. E se você quer saber, até que lá é bem legal. Você perde aula e fica assistindo televisão, fazendo o que você quiser.
Kimmy percebeu que não devia ter comentado sobre a reabilitação e se calou. Respirou fundo durante a pausa e continuou, abrindo um novo sorriso.
- Bom, é claro que eu não tenho nada contra a reabilitação, pra mim é como um spa, se você quer saber. Que bom que está melhor.
O professor entrou na sala e Kimmy foi até seu lugar. Só que não foi até a última carteira e se sentou lá. Não, ela se sentou na cadeira ao lado da minha.
- Eu fiquei sabendo do que aconteceu ontem, me ligou chorando para contar. – sussurrou .
- Bom pra ela. – respondi secamente. – O que ela fez não foi nada, eu não estou nem aí.
- Eu sei que está. Eu te conheço, .
- Prova surpresa. – anunciou o professor de trigonometria, fazendo com que todos pulassem de susto, inclusive .
- Fudeu. – sussurrou . – Eu preciso de nove para passar esse trimestre.
O professor começou a distribuir as folhas pelas carteiras, e ao terminar de fazê-lo, sentou-se em seu lugar. Ele olhava para todos os alunos, tentando ao máximo ver se tinha alguém trapaceando. Eu fiz a minha prova em cerca de vinte minutos e entreguei, afinal, era fácil até demais. Mas eu olhei por um momento para e vi que ela tinha sua cabeça apoiada em sua mão, e seu cotovelo apoiado sobre a mesa. Ela não sabia absolutamente nada. Fiquei com pena, afinal, ela sempre me apoiou apesar de também ser amiga de , e se repetisse o ano era provável que ela sairia da escola. E eu não queria uma nova pessoa no grupo.
Anotei todos os cálculos e respostas numa folha qualquer e ao sair, fingi que deixei a mesma cair. Dei a prova ao professor, que me mandou sentar em meu lugar novamente. viu a folha e olhou para mim.
- Pega. – eu sussurrei para ela.
Ela deixou seu lápis cair “sem querer” no chão e pegou o mesmo, junto a folha de respostas. Abriu a mesma com cuidado e a deixou embaixo da carteira, protegida, enquanto copiava as respostas. Após fazê-lo, entregou a prova e saiu da sala, porque faltavam apenas dez minutos para o fim da prova, seguida por mim e por outros alunos que já haviam terminado a mesma.
- Por que você fez aquilo, ? – ela perguntou quando saí da sala.
- Porque eu não queria que você fosse mal, e pela sua reação ao ler cada questão, você não parecia estar muito bem na matéria.
Ela sorriu para mim.
- Bom, obrigada. Você vai almoçar conosco hoje, certo?
- Não sei se devo. – respondi. – Não sei como vou ter coragem de olhar para depois do que ela fez comigo.
- Olha, eu posso dizer uma coisa? e estão predestinados a ficar juntos, e eu descobri que a prima dela está totalmente apaixonada por ti.
- O QUÊ? – perguntei em voz alta, reproduzindo o que meus pensamentos haviam ecoando em minha mente.
- não sabe disso, mas e estavam tendo um caso depois que eles deram um tempo, e na balada que nós fomos te beijou para fazer ciúmes em , lembra? – eu assenti. – Então, a verdade é que ela gostou, e muito. E agora gosta de você.
- O QUÊ? – repeti. – Não pode ser.
- Pois é. Não é à toa que teve que escolher entre magoar a prima ou ficar com .
- O QUÊ? – gritei pela terceira vez e me olhou com desprezo.
- Cara, você é surdo ou só sabe falar isso? – disse ela, me olhando com desprezo. Engoli seco, relembrando a cena de e fazendo aquilo noite passada. – Escuta só, eu se fosse você desistiria dela.
- Eu não vou desistir. – respondi prontamente. – Qual é, , eu esperei por ela por quase dez anos!
- Mas agora a gosta de você. Olha, eu até já sei como você pode fazer. Lembra que mês que vem tem o baile de formatura do terceiro ano, e você pode pedir ela lá. Vai ser romântico, todo mundo vai estar vendo e vocês vão ser o terceiro casal.
- Terceiro?- questionei a baixinha, e imediatamente eu vi suas bochechas corarem.
- me pediu em namoro ontem. – disse a garota, corada. Dei uma gargalhada e seu rubor se transformou numa cara de negação à minha risada, que fez com que eu me calasse imediatamente. Abri um imenso sorriso de satisfação.
- Viu? Você ta com o garoto que você gosta. Por que eu não posso ficar com a garota que eu gosto? – perguntei. Percebi por um momento que ela precisava torcer seu rosto para cima para poder me ver e tentei não transparecer o riso em meus lábios.
- Porque ela não pode gostar. Você é um nerd! – afirmou ela com convicção, sem entender que garotos também têm sentimentos.
Aquilo fez com que eu me calasse. Não podia dizer que não era meio perturbador lembrar que nem tão pouco tempo atrás eu me orgulhava de ser nerd. E foi aí que eu entendi o que havia acontecido comigo. Sabe aquele filme lá da menina que veio da África? Aquele tal de Meninas Malvadas? Sabe a hora em que a garota vê o que ela havia se tornado e viu que isso a fez perder pessoas que de fato gostavam dela? Foi o que aconteceu comigo. Olhei para mim mesmo, reparando em meu casaco preto com uma espécie de onça no meio, minha calça jeans cortada reta em meu corpo e meu tênis da Nike. E eu sempre fui um anti tênis da Nike. Saí de perto da garota enquanto ela ainda gritava meu nome histericamente, me chamando para voltar lá.
O fato é que ser nerd foi a melhor coisa que me aconteceu, porque pelo menos eu sabia que as pessoas gostavam de mim pelo o que eu era, e não pelas modinhas ridículas e as coisas que todo um do gosta hoje em dia. E então fui para o meu antigo refúgio. Quando os meninos do time de futebol tentavam me trancar dentro dos armários do vestiário, eu saía correndo para o meu refúgio, e eles nunca me alcançavam. Fugir sempre foi algo em que fui bom em fazer. Eu mesmo havia construído aquele lugar. A professora de biologia queria um jardim para quando ela fosse ensinar botânica, e eu me ofereci para ajudá-la. No final não deu muito certo, e aquele lugar acabou sendo abandonado.
Mas eu fiz dar certo. Plantei milhares de espécies diferentes de plantas e logo aquele lugar se tornou minha estufa. Meu refúgio. Eu cuidava das plantas porque eu não sabia cuidar de mim mesmo.
Faltava pouco para a festa que organizavam, e a escola inteira fazia questão de comentar sobre ela todo o tempo. Eu já sabia que nada daria certo para mim, porque depois desse dia agia como se nada tivesse acontecido e como se nós fossemos apenas amigos. Só que no fundo ela sabia que nós não éramos, até porque, eu tirei a virginidade dela. Não foi , fui eu. E o pior de tudo é que eu não queria chamar para a festa, apesar de dizer todos os dias para eu fazê-lo, de forma que quando eu entrei no laboratório de química e ela acenou para que eu fosse até sua bancada, eu já sabia o motivo.
- , você sabe que o baile é semana que vem, certo? – comentou ela, enquanto ainda não estava presente ao seu lado.- Por que você não convida a ? Ou melhor, por que você não vota nela para a princesa do baile?
- Eu já votei em para ser a princesa do baile. – retruquei imediatamente. – Como faço todos os anos. – ia me virando quando a ouvi dizer para si mesma.
- Fodeu.
Fingi que não escutei o péssimo habito de de falar palavrões e segui até outra bancada. Ao sentar-me, vi que ela mandava uma mensagem para alguém, e cinco minutos depois eu vi para quem era. e entraram no laboratório apressados e apontou para mim, mostrando para onde eu estava.
- Dude, a gente te procurou por toda parte! – começou . – É verdade que você votou em para princesa do baile? – eu assenti e ele continuou. – VOCÊ É UMA ANTA!
- Por quê? – perguntei, estressado com aquela espécie de xingamento.
- Porque a gente estava fazendo um complô para e você ganharem, assim vocês dançariam juntos e tudo ia acabar bem!
- Não, não ia. – respondi. – Porque vocês são uns merdas, e a única coisa que vocês querem fazer é me arranjar para alguém que eu nunca amei. Sem contar com o fato de que eu não vou ganhar essa merda de concurso, provavelmente porque eu nem quero ir nessa droga de baile. E você, , eu sei que você gosta da , e não da , então por que você não a deixa ser feliz comigo? Eu sei porquê: porque você é um idiota! Você quer ser popular, mas você não entende que popularidade não é namorar a garota mais foda do colégio, e sim ser quem você quer ser. Eu mudei tudo o que eu podia em mim quando me disse que eu começaria a andar com vocês, mas quer saber? Eu não quero mais isso. Eu vou voltar a ser o que eu era antes, e sabe o que mais?! Eu vou ser mais feliz do que eu seria se eu fosse algo que eu não sou.
No meio de todos os alunos, eu havia descarregado todas as energias que guardei para dizer isso à . Mas falei para . E não me arrependi.
Saí andando do laboratório, deixando todos os alunos, inclusive meus amigos, e indo para qualquer lugar bem longe dali. Não sei se o problema era o laboratório ou se era simplesmente o fato de sempre arranjar confusão.
Então eu trombei com alguém, e não gostei nada de quem tinha sido.
- Oi, ! – disse com um sorriso bobo no rosto. – Eu estava procurando , mas ela não está em lugar algum! Você sabe se ela está no laboratório de química e...
- Não. – interrompi, passando diretamente por ela e indo em direção à portaria.
- Ei! – gritou o inspetor. – Você não pode sair.
- Não? Bem, assista. – respondi, como num daqueles filmes onde o herói sai da prisão sem permissão. Foi exatamente assim. Eu saí, porque eu queria voltar a ser eu, e isso implicaria na mudança de várias coisas.
De forma que assim que cheguei em casa entrei em meu quarto e joguei todas as coisas inúteis no lixo. As roupas que comprou, as fotografias que a gente tirou e os comentários que ela escreveu no meu caderno de biologia. Eu estava me livrando de qualquer coisa que me lembrasse de nesses últimos meses. Coloquei tudo numa caixa e voltei para aquele inferno chamado escola. Assim que vi dei para ela a caixa, dizendo apenas um “faça bom proveito”, e saindo de lá, indo para a aula de literatura, a qual eu estava atrasado. Por um momento, ao entregar a caixa à , vi seus olhos se encherem de lágrimas, mas não duvidaria que fosse uma peça bem ensaiada para me deixar emocionado.
O fato é que foi uma fase, e eu não estava acostumado a perder coisas. Por isso senti falta da garota que eu perdi de uma vez por todas.
Era a noite do baile, e eu não me importava nem um pouco em estar sozinho. Já estava acostumado a ir com algum amigo ou apenas eu e eu mesmo. De forma que quando entrei não precisei ir tirar aquelas fotos ridículas com um par. Por um instante vi sentado numa das mesas com e pensei em ir cumprimentá-los, mas desisti na última hora. Olhei para o salão reparando nos detalhes em rosa e verde, e para a pista não muito cheia de pessoas.
Foi quando eu a vi descer. estava... Cara, nem sei descrever. Ela usava um vestido frente única, lilás. Peças brilhosas contornavam o bustiê da garota, e os detalhes presos, vindo por toda sua cintura. Ao chegar no final da mesma, uma saia de um tecido parecido com organza, bonito, que descia cobrindo suas pernas, até o chão. Inteiramente lilás, o vestido tinha os contornos brilhosos num lilás pouco mais escuro, puxado para o violeta. Seus cabelos estavam presos num meio rabo, com parte de sua franja solta e cacheada sobre seus olhos. O resto de seu cabelo estava liso, mas não era possível perceber se era ou não escova. Em outras palavras: estava perfeita.
Sorri como um retardado ao vê-la e me aproximei da escada, para segurá-la, mas fui impedido ao ver que fez o que eu pretendia. Mas teve uma diferença: Quando tocou em sua mão, a puxou para um longo beijo, que fez todas as esperanças de meu coração desaparecerem. O medo de ver nos braços de outra pessoa se realizou por completo, e a única coisa que me restou por fim foi seguir até a mesa de doces e comida, pegar um imenso copo de ponche e virá-lo. Eu não fazia a menor ideia de quantas garrafas de vodca os alunos mais velhos haviam jogado lá dentro, mas pude sentir o gosto amargo do álcool fazendo efeito em minha cabeça. Mas eu não ligava. Sentei em uma mesa e comecei a virar copos e mais copos, sem dar a mínima para o que aconteceria depois.
Já era metade da festa quando eu não tinha mais noção e não conseguia andar numa linha reta ou fazer o quatro com a perna. Eu sentia meus olhos revirarem, querendo dormir, mas sabia que eu não podia. Porque eu precisava ver meu feito da votação ocorrer. Eu precisava ver finalmente vencer e colocar aquela coroa a qual ela nunca pode colocar. Porque antes não era permitido. Mas agora era. E eu precisava ver meu feito se realizar, principalmente porque eu queria ver quem dançaria com ela.
Mas não consegui. Tentei contar os copos em cima da mesa... Cinco ou seis... Não conseguia mais conter meus pensamentos, e logo, acabei dormindo em cima da mesa. Eu ouvia as pessoas passando por mim e dizendo “ bebe!” e, na minha espécie de nirvana, não conseguia ao menos gemer para xingar os intrometidos.
- E agora vamos apresentar o rei e a rainha do baile de primavera desse ano – gritou o DJ, e todos na pista gritaram. – E a rainha do baile de primavera é... – ele fez uma pausa sei lá para que, já que eu tinha meus olhos fechados e não sabia se era apenas para fazer mais suspense. – .
subiu no palco com aplausos, mas eu me remeti a continuar deitado sobre a mesa, sentindo o mundo girar à minha volta e de repente eu ouvi alguém dizendo meu nome. Era o DJ, dizendo que havia ganhado a votação. Logo uma luz, provavelmente do refletor, veio diretamente em meu rosto, me provocando uma imensa dor de cabeça.
- Ali está ele – disse o DJ todo alegre, enquanto eu me levantava com uma vontade inimaginável de lhe cortar a cabeça fora. Me levantei e segui até o palco, pegando a coroa de plástico, sem colocá-la na cabeça. Olhei para , que olhava para seus amigos bem abaixo de nós, desesperadamente, e por um momento, seus lindos olhos pousaram em mim, que infelizmente, não estava em meus melhores dias. – Vamos aplaudi-los para dançar A Dança dos Reis.
Pessoas aplaudiram e logo se juntaram em pares para dançar, e, por um momento, vi e dançando, como se nada estivesse acontecendo ai em cima. Então olhei para e me aproximei dela, puxando-a pela cintura para dançar. O fato é que eu passei tanto tempo sem tocá-la, que até havia esquecido do cheiro de pêssego que tem, e por isso senti minhas mãos ficarem trêmulas ao tocarem sua cintura.
- Não precisa dançar comigo - disse ela. – Só finja gostar de mim até a música terminar.
- Eu gosto de você – falei, percebendo minha voz alterada. – VOCÊ que é uma vaca e não gosta de mim.
olhou para mim incrédula, e não demorou mais de dez de segundos para eu ver lágrimas se instalarem nos olhos de .
- Você precisa parar de beber toda vez que nós brigamos – disse ela, num meio sorriso. – Eu tive meus motivos para fazer tudo isso, .
- É? E quais seriam? – perguntei com uma tremenda ironia em minha voz. – Que o tem uma pegada melhor que a minha? Que eu sou idiota a ponto de ser completamente apaixonado por você desde os nove anos de idade e você nunca ter dado a mínima para mim? Ou simplesmente o fato de você ter achado graça em zoar um nerd como eu?
- não gosta mais de mim, e eu sei disso... Mas a minha reputação....
- É, é – interrompi, possesso. – É sempre você, . Só porque eu fui um nerd e não tinha amigos, não significa que eu não fui nada pra você. Você tem as suas complicações, e essa sua reputação idiota, eu não me colocaria na sua frente, Vossa Majestade – eu disse com a ironia aparente em minha voz. – Sabe , eu sempre te amei. Mas agora eu posso ver que você nunca ligou para mim. Eu fui só mais um brinquedinho que você não se cansa de dar risada.
olhava para mim como se mal me reconhecesse, e a verdade é que eu mesmo não podia me reconhecer naquele momento. É dude, quando você está bêbado nada parece igual.
- Não fala isso. – ela retrucou, com lágrimas caindo de seus olhos diante de toda a escola. Sua maquiagem impecável era agora desfigurada, e eu podia ver a tinta do rímel junto às lágrimas nos olhos de . – Eu te amo . Só que eu nasci e cresci assim, e eu nunca vou mudar. Talvez você tenha me amado por uma ilusão. Você me visse como a garota perfeita. Só que a verdade é que o que eu sinto por você é mais forte do que eu já senti por qualquer outra pessoa. E eu amo o verdadeiro . O que me defendeu na aula do Conor. O que eu via todos os dias no lago assim que eu acordava. O que, apesar de eu odiar cigarro, fumava sem se importar com o que qualquer pessoa iria pensar. Eu te amo, .
E então quem teve os olhos cheios de lágrima fui eu. Me chame de gay, estou pouco me ferrando. Ela riu enquanto a gente dançava, e mesmo bêbado eu entendia o que ela sentia de verdade por mim.
- , eu queria que você fosse você mesma uma vez na vida.
- Eu sou sempre eu mesma – replicou com um sorriso. – Eu só sou... Versátil demais.
- Então me mostra como é você além do que as pessoas vêem – respondi. Aos poucos fui aproximando meus lábios de , e finalmente os toquei. Sim, eu e nos beijamos, não me julgue por isso. Eu não estava nem aí se viu, se viu, se a escola inteira viu. Porque aquilo era a coisa que eu mais gostava de fazer no mundo inteiro e estar bêbado não influenciava em absolutamente nada. A não ser na minha voz.
Ficamos nos beijando até o fim da música que, para o meu azar, não demorou muito para terminar. parou de me olhar e sorriu.
- E agora? Vai voltar a ser a popular? – me questionei, esperando não estar certo, uma vez na vida.
- Por hoje sim – disse ela. – Mas vá amanhã onde você sempre foi para me ver após a aula – e desceu do palco, me deixando ali, sozinho, com a coroa na mão. A única coisa que me restou a fazer então foi descer e beber mais um pouco de ponche até a noite acabar.
O fato é que eu mal tive tempo de fazê-lo, porque assim que peguei um copo de ponche e me virei, fui atingido por um soco de direita que mal vi de onde tinha vindo. Era , que me deu um outro soco até me derrubar no chão.
- Vai beijar ela é, seu merda? – gritava ele. – Você vai pegar a minha garota? Qual é o seu problema?
Eu queria a todo custo responder, mas ao longo em que me chutava eu sentia meu estômago se revirando e não tinha coragem de fazê-lo. tentou lhe impedir, mas o jogou sobre a mesa de doces, logo, não se atreveu a tentar.
- Você nem gosta dela – eu disse, com dificuldade. – Você só se importa para essa merda da sua reputação. Você deixou uma garota separar uma amiga de quase sete anos, . Não venha brigar comigo agora.
Mais um chute. Outro. E mais um. Coloquei a mão sobre meus lábios e foi então que vi um líquido vermelho saindo do mesmo. Que ótimo, eu estava sangrando.
- O que você disse? – perguntou, puxando-me pelo cabelo. – Você acha que eu não gosto da ? Responde agora . ANDA! RESPONDE! – seu exagero tomava conta do salão, e mesmo com a música tocando, a escola inteira fazia questão de nos assistir. Foi quando eu ouvi uma melódica voz gritar o meu nome, e pude ouvir sapatos roçando o chão, correndo até nós.
- . Solta ele – disse , a alguns passos de nós.
- Não – respondeu , rapidamente, com a voz chorosa. – Ele beijou você . Ele beijou você.
- E daí? – disse , mostrando a coragem em sua voz. – Você nem gosta de mim, . Você nunca gostou de mim como ele gostou. A única coisa que você queria era me tornar outra pessoa. Tanto isso é verdade, como eu posso te dizer que você transou com a minha prima. E gostou dela.
Nesse momento pude ouvir sussurros de quem ouvia toda a briga. Pude ver como se eles tivessem assistindo à uma espécie de novela, tanto que os olhos de alguns brilhavam com aquela cena. E os meus doíam, graças aos socos que levei.
- ... – disse .
- Cala a boca e solta ele – disse ela, ainda firme. me soltou, e eu caí com todo no chão, sem ter tempo para me segurar. Senti meu peso sobre o chão de madeira do ginásio e pensei num segundo em puxar o pé de e espancá-lo por ter me feito sangrar.
ajoelhou ao meu lado e beijou minha testa. Para mim agora estava tudo bem. Ela se levantou, segurando a barra do vestido e olhou para com desprezo.
- E só para a sua informação, . Não foi ele quem me beijou – começou a garota, começando a sair do salão. – Fui eu quem o beijei.
Então ela se virou e saiu correndo, indo embora daquela festa e me deixando ali jogado. A última coisa que me lembro foi de me abraçar a dizer “Está tudo bem, . Vou te levar para casa”.
Capítulo 23 - You said my words were beautiful, they almost made you cry. The markings on the wall were jaded, I wonder why.
A luz do sol agora me dizia que era hora de levantar para a tortura, ou melhor, a escola. A dor de cabeça só não era pior porque, apesar da vodka, eu tentei me acalmar para dormir, ao invés de vomitar. Vesti minha camiseta preferida, era inteiramente preta e em branco estava escrito “Luke, I’m your father”. Eu era fascinado por aquela camiseta tanto quanto pela bermuda que vesti, e, ao olhar para a janela aberta, senti uma dor que apontava especificamente para o meu olho quando eu piscava.
Desci as escadas em passos lentos, tentando reconhecer para aonde eu ia e quem eram os donos das vozes que eu ouvia. Foi quando me deparei com , e Juliett tomando café da manhã na minha cozinha, como se fosse só mais um dia comum. E, talvez, de fato fosse um dia comum.
- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntei aos meus amigos com um sorriso bobo, já que não era comum eu ter visitas.
- MEU DEUS! – gritou Juliett, dando um pulo da cadeira, histérica. – TEM UM BICHO NO SEU OLHO!
- Não, Ju. – corrigiu , se sentindo inteligente por fazê-lo. – É que ontem ele levou um soco do e ficou assim. – e sorriu triunfante, recebendo um beijo no rosto de como uma espécie de recompensa.
- Tá tão feio assim? – perguntei rindo, e as respostas coincidiram quando os três assentiram ao mesmo tempo.
- Ah, . Espero que você não se importe. Vou sair para jantar com hoje. – ela disse, sorrindo como aquela garotinha que eu não via há muito tempo. – Não me espere para o jantar.
- Eu vou esperar. – respondi. – Você não tem idade para me falar isso.
- Sua prima está apaixonada, . – respondeu , defendendo-a com um sorriso - Deixa estar.
me emprestou óculos escuros para irmos par a escola, afinal, eu não ia querer que o diretor tivesse um surto ao ver meu olho naquele estado. a se abraçavam e contavam piadas, fazendo-me rir apesar da dor de cabeça não me deixar fazê-lo por muito tempo.
Foi então que vi adentrar o colégio com um sorriso pacífico e, antes que eu pudesse sair correndo ou me esconder atrás de , encontrar a roda de conversa. Ele sorriu.
- Tenho que contar algumas coisas a vocês. – começou ele, sem se importar se nós conversávamos sobre outro assunto. – Primeiro de tudo, , desculpe por ontem. Eu, de fato, agi como um idiota desde os 14 anos porque deixei uma garota se intrometer em nossa amizade. Eu não fui um bom amigo. – Eu sorri, assentindo para , que continuou antes que eu pudesse argumentar. – E a outra coisa é isso.
Então entregou um envelope pardo e grande e, ao abrir o mesmo, a primeira coisa que reparei foi o semblante do exército. Olhei para , incrédulo com meus olhos arregalados e a minha expressão de choque. Ele riu ao ver que e estavam como eu.
- Pois é. – ele disse, olhando especificadamente para mim. – Eu fui recrutado. Vou para o acampamento do exército nas férias de inverno e ficarei alguns anos lá.
- O QUÊ? – gritou, fazendo-me tampar os ouvidos por um segundo, o que me fez pensar se era possível uma pessoa ser tão baixa e ao mesmo tempo tão histérica. – Mas e a ? E a ? – se perguntava ela, como se fosse quase o fim do mundo.
- A nunca vai me perdoar por tudo o que eu fiz. E a , quem eu realmente estou gostando nesse momento, convenceu o pai a poder ir me ver nos finais de semana no acampamento.
Então, naquele mesmo momento, as portas do corredor se abriram, e um lindo par de compridas a bem torneadas pernas entraram por ali. Com uma mini saia jeans, uma camisa pólo listrada com os botões abertos e um scarpin preto, a garota deixou seus cabelos soltos balançarem enquanto andava. Parou então em nosso grupo e sorriu. Por um momento tentei olhar para seu decote, mas desisti de fazê-lo quando percebi que diversas coisas me impediam. segurava milhões de gibis com as mãos em que deveria estar segurando sua bolsa. Tinha uma mochila transversal repleta de bottons de todos os tipos nela, e, ao olhar para a garota, vi apenas um acessório em seu rosto: Óculos. Não pude conter minha risada quando ela olhou para mim e disse:
- Eu disse que era uma garota bem versátil. – e se aproximou de mim, me beijando na frente da escola inteira, soltando os gibis e deixando que os mesmo caíssem sobre nossos pés.
- Espera. – eu disse, cortando o beijo e me separando, ainda segurando em sua cintura. – E a sua reputação?
- E você realmente acha que eu me importo? – e ela riu, voltando a me beijar.
E foi assim que eu descobri que era uma nerd.
n/a final: Oi gente =) É, acabou. Hahah Deixa eu começar contando quem foram as minhas inspirações pra essa fic: o Guiga, o João Vitor e o Rodrigo. E eu queria que eles fizessem a n/a por mim, mas eles são muito nerds e preferem entrar na parte random do 4chan (demorei mil anos pra entender, então não pergunte. Porque me sinto a Penny, do The Big Bang Theory), outras pessoas vão fazer a n/a por mim. :D
Bia: TIPO: OI SOU EU, A BIA. EU TE AMO E VOCE É NERD, PORQUE VOCE NAO SABE DORMIR NAS AULAS SEM SER PEGA, E NEM SABE QUE LINGUA ELES FALAM NO EGITO. TÁ, TCHAU.
Lele: Ahm, oi, eu não sou a Thaís. Sou a Lele (: Ela me mandou eu fazer um pedaço da n/a, pra mandar todo mundo ler, então TODO MUNDO LEIA AS FICS DA THAÍS! Ela tem a YEAR 3000 e a STAY AWAKE. E elas são bem legais e diferentes, então vale a pena ler! E ela mandou eu dizer o quanto eu amo ela. Tá, THAÍS STAGNI, EU TE AMO (feliz?), mesmo que você me coloque nos melhores papéis, tipo a melhor amiga bêbada que vive na rehab (ihihi, nerdy <3) e outras coisinhas mais. Então, é. É isso! Eu adorei a Nerdy e recomendo as outras! :*
PS: lembrem-se: o nerd de hoje é o cara rico de amanhã! ESCOLHAM LOGO SEU NEEEEERD!
Guiga: a fic é foda, apesar do cara nem ser tão nerd assim. EU te amo, Thaís, por voce ter inspirado a melhor fic ever no meu jeito fail de ser <3
Haha, ok, gente só pra finalizar. Eu quero agradecer à todo mundo que leu, a todo mundo que apóia e à todas as pessoas que eu amo. São tantas que chega a ser difícil citar todas por aqui. O fato é que ser nerd tem suas desvantagens e vantagem. As vantagens é que você pode falar com um amigo nerd sem a sua amiga entender nada.
Exemplo real, acontecido dia 9 de agosto de 2009, 00:58
almeida :x diz: "sabe aquele ogro do WoW? tenho um poster na minha cama e todo dia rezo pra ser igual... tá dando certo gg"
Rodrigo´ diz: POR FALAR EM WOW, H TOC NAO DEU CERTO. nao sei o que faço agora. ja fiz quase todas as dailies e to sem saco pra fazer heroic
@loveperfume diz: nao entendi nada snif
Haha, realmente.
Enfim, obrigada por terem lido e comentado, agora eu estou com uma fic nova chamada “Stay Awake”. Espero que vocês leiam. Enfim, é isso.
Amo vocês.
Obrigada Tamy, por tudo.
Obrigada Lele, Becky, Bia, Guiga, Rodrigo, João Vitor, Iuri, Geovani, Carol F. L., Nathie e Peter. Apesar de eu ter nojo dele agora.
Enfim. Obrigada a vocês, leitoras, e até outra fic.