Lucinda andava as presas em direção a uma pequena e afastada cabana. A noite estava escura e fria, a neblina banhava o local e uma leve garoa caía sobre a garota, de pele metálica. Ela adentrou o cômodo, ainda mais escuro. Seus olhos se estreitando, tentando acostumar-se com o local turvo. Seus passos eram incertos, mas ela queria tanto vê-lo, nem que fosse pela última vez, que não se importou com sua “fraqueza” momentânea.
Os sons leves e sutis de seus passos cessaram quando ela captou a grande silhueta, tão conhecida, tombada desajeitadamente sob uma mesa de vidro. Cam. Seu corpo coberto, como sempre, por uma camiseta negra, dessa vez do Metallica - sim, ela se sentia uma boba, sempre reparava coisas nele, coisas bestas, que nenhuma garota de sua idade repararia em qualquer rapaz. Mas Cam não era qualquer rapaz, assim como Daniel, ele também era especial para ela.
Daniel.
Ele ficaria furioso, mas como disse Callie, ela devia fazer o que achava ser certo, e o que estava prestes a fazer lhe parecia ser certo.
Não é?
Seus pensamentos e receios foram interrompidos pela voz grave do rapaz. Ele a notou sem ela precisar falar nada. Cam parecia sentir sua presença seja onde for, mesmo que seus olhos estivessem vendados.
– O que veio fazer aqui? – Perguntou friamente, mas ainda sem olhá-la; tinha medo do que poderia fazer.
Sim. Medo. Muito, muito medo.
Como se temesse não se segurar e tomá-la em seus braços, como fez alguns dias atrás. Mas não era certo, eles haviam feito um acordo: dezoito dias sem brigas.
Por Luce. Por ela. Sempre por ela.
– A festa estava entediante. – Falou ela rapidamente dando um fraco sorriso, tentando aliviar a tensão do local.
Mas não funcionou, ele continuou frio.
– Vá direto ao ponto. Por que veio aqui, Lucinda?
Ela suspirou. Não adiantava mentir, não para Cam.
– Queria vê-lo… - Ela viu as costas do rapaz ficarem tensas, e continuou corando. – Er… Você é meu amigo, e há dias não o vejo. E Roland, bem, Roland disse que talvez você estivesse aqui. E, bom, ele estava certo. – Ela despejou as palavras umas sobre as outras, estava nervosa e com medo da reação dele.
– Grigori não ficaria nada contente de saber que você está aqui. – Ele pausou. - Comigo. – Novamente uma pausa. E um sorriso malicioso. – Sozinha.
– Não me importo com o que ele vai achar. – Respondeu secamente. Estava ali para vê-lo e era assim que ele a recebia? Mas como sempre, Luce não se importava nem cumpria as regras impostas por Daniel. Ele a tratava como uma mãe trata seu filho de 2 anos que mastiga tudo que vê pela frente.
– Claro... – Respondeu Cam ironicamente. – Diga logo o que quer!
Luce abaixou a cabeça. Não havia pensando em um motivo. Queria apenas vê-lo sem que Daniel passasse os braços sobre seus ombros e a impedisse de se aproximar de Cam, com a mesma desculpa de que ele era um demônio, e talvez até perigoso. Mas Luce não via perigo nos olhos verdes de Cam.
– Luce... Eu... Eu... – Ele passou as mãos pelos cabelos negros, nervoso consigo mesmo. - Perdoe-me. Não queria fazer isso de novo.
Ela assentiu silenciosamente. Incapaz de dizer algo. Ela tinha que se acostumar com o fato de Cam ser instável.
Ouviu os passos pesados e som alto dos sapatos dele no assoalho, depois o contato dos braços quentes dele contra os ombros dela, que estavam gelados. Essa sensação era extremamente viciante. Seus olhos se fecharam no mesmo instante em que sua testa encostou-se à camiseta úmida de Cam. Era bom, era um abraço sem receios, um abraço tão esperado por ambos.
– Senti sua falta. – Admitiu ela, baixinho. – Como nunca achei que sentiria.
– Eu também, querida. – Respondeu ele no mesmo tom, sorrindo levemente, estava radiante ao ouvi-la dizer isso. Os olhos verdes de Cam brilhavam, seu rosto era passivo, há muito tempo não se sentia bem assim. Luce o acalmava, transformava-o em alguém que ele não era, mas que estava gostando de ser.
Os lábios dele encontraram o alto da cabeça dela, depositando ali um longo beijo, mas ele não se controlou, não queria se controlar.
Seus lábios se aproximavam cada vez mais do rosto dela, cada beijo depositado ali com calma, cuidado, até que os lábios rosados dele encontraram os lábios pálidos da garota. Ela não o afastou, simplesmente o aproximou ainda mais. Mesmo assim não parecia o suficiente.
Luce queria… Fundir-se a ele.
Sim.
Queria o máximo de contato que pudesse ter.
Sua boca movia-se devagar, sensualmente contra a dela. Parecia que sua mente flutuava junto à seu corpo. Ela podia sentir por debaixo da blusa de Cam suas asas mexendo-se inquietas, ele estava se controlando para não tomá-la para sempre.
Luce podia jurar que se não fossem os braços firmes de Cam a segurando, ela cairia. Simplesmente não sentia seu corpo, apenas arrepios gostosos na nuca. Ela contornou o pescoço dele com as mãos suadas, era tudo tão novo e tão bom. Os lábios dele passaram sobre sua clavícula até encontrarem seu pescoço. Era gostoso, ela o queria o mais perto o possível. Agarrou a bainha de sua camiseta e o aproximou ainda mais.
– Eu te amo, Luce. Tanto. – Murmurou ele contra a pele dela.
– Eu também... Mais do que gostaria. – Ela estava alucinada, não raciocinava direito, estava entorpecida. Mas tinha certeza que o que havia dito era a mais pura das verdades.
Os sons que ele fazia em seu ouvido eram tão leves e tão deliciosos, ela não poderia mentir, não mais, o amava tanto.
A chuva havia parado, dando lugar a uma bela lua. A luz adentrava o casebre iluminando os dois “amantes” que ali se encontravam, saciando seu desejo, como deveria ter sido desde o início.