Autora: Gisele Castro || Beta-reader: Brille



Prólogo

“Prezada Senhorita :

Temos os prazer de informar que seu requerimento para ingressar na Escola de Artes London College of Communication foi APROVADO.
Favor enviar a documentação necessária para o seguinte endereço: (...)”


Eu só fiquei parada ali no meio da minha cozinha com as mãos tremendo e olhando pra aquele papel timbrado, meu nome estava ali. MEU NOME! E o melhor de tudo, a palavra APROVADO brilhava e eu esqueci completamente de ver o que estava escrito abaixo. Essa parte de papelada eu posso deixar para meus pais, o importante é que eu consegui ENTRAR NA ESCOLA DE ARTES DE LONDRES! Isso significa que minha bolsa foi aceita, isso significa que meus pais não vão desembolsar com o curso, isso significa que finalmente vou sair dessa cidade de merda eu vou PRA LONDRES!

Terminei meu terceiro colegial com honra, passei em todas as matérias e fui homenageada na formatura. O único problema é que meus pais queriam que eu fizesse algum vestibular, coisa que eu não queria. Depois de longas noites de briga, discussão e eu me trancando no quarto fazendo greve social, meu pai finalmente me autorizou a ficar um ano ‘de folga’ para eu pensar melhor nas oportunidades que vida iria me trazer. Mas eu não queria ficar de folga, eu sabia muito bem o que queria. Eu sou fanática por fotografia e a Escola de Artes de Londres é a melhor DO MUNDO! Por isso, meio que escondida eu acabei enviando meu formulário para eles em meados de novembro; para minha total surpresa agora no meio de janeiro eu recebo uma carta avisando que eu passei, fui aprovada e posso finalmente começar meu curso. Meus pais sabem que eu mandei o formulário (avisei pra eles duas semanas depois, houve outra crise, mas o que eles iam fazer?), eles não aprovam de jeito nenhum eu ir sozinha pra outro país e ficar lá por mais ou menos um ano e meio (500 dias dá nisso, né?). Vou morar nas acomodidades da escola, sozinha em uma cidade que eu não faço ideia do que me espera! Estudei Inglês toda a minha vida, então não vou ter problemas com a língua – embora os britâncos falem um tipo de Inglês completamente diferente dos Americanos –, não tenho problema com frio porque eu AMO frio, não tenho frescura com comida, não tenho muitos amigos aqui e nem namorado. WHY NOT?

Subi as escadas de minha casa correndo. É domingo, passa um pouco das oito da manhã, meus pais ainda estão dormindo. Aqui no Brasil em janeiro é absurdamente calor, por isso tenho medo de abrir a porta do quarto dos meus pais e dar de cara com uma cena nada agradável. Abri a porta devagar e, quando vi que ambos estavam usando os usuais pijamas, sorri e pulei em cima deles abanando a carta e gritando ‘PASSEI, PASSEI, PASSEI’. Demorou um pouco para eles se acostumarem com a claridade do quarto e com o fato de que eu estava pulando igual uma macaca em cima deles. Quando meus pais conseguiram me controlar e eu finalmente parei de chorar para dizer que eu fui aprovada na minha requisição, a mistura de felicidade com surpresa tomou conta do quarto e no segundo seguinte eu estava sendo carregada no colo pelo meu pai até a cozinha e ele gritava para todo mundo ouvir que eu era o maior orgulho da vida dele. E era mais ou menos assim que a felicidade tomava conta do meu corpo, todas as minhas extremidades formigavam e eu sentia que ia vomitar e desmaiar ao mesmo tempo. Eu ia pra Londres, PRA LONDRES!

Capítulo 01

- Mamãe, eu tô bem! – Falei mais uma vez sendo esmagada por uma mãe completamente chorosa.
- Você verificou se lá tem internet e sinal pro celular? Eu preciso saber se vou conseguir falar com a minha bebê a qualquer hora do dia!
- Primeiro de tudo, não me chame de ‘bebê’ em públco – eu ri. – Segundo, eu não estou indo pro fim do mundo, eu estou indo pra LONDRES! É óbvio que tem internet, mãe!
- Não sei, , não sei... – ela começou a chorar, e eu acho que ia começar a chorar também... – Filha, você tem certeza de que quer ir?
- Mãe, não começa – mordi os lábios. – Por favor...
- Ai, ... – e mais um abraço, cacete! – Liga assim que você chegar, se não gostar deles pega o primeiro avião de volta pro Brasil, o primeiro!
- Prometo – respondi meio abafada.

Já havia me despedido do meu pai de manhã, ele não era fã de despedidas longas nos aeroportos com todo mundo olhando, minha mãe em contrapartida se pudesse iria pra Londres comigo – coisa que graças a Deus foi proibida pelo meu pai. Não é que eu não estava triste, é óbvio que eu estava! Meu quarto, meus pais e minha cachorra estavam sendo deixados no Brasil, porém eu estava indo viver um sonho que eu tenho desde menina e eu não deixaria ninguém se colocar no meu caminho. O número do meu vôo foi chamado e o frio na barriga apareceu, eu nunca tinha andado de avião e agora eu ia passar catorze horas com a bunda colada numa cadeira a trocentos mil pés de altitude!

- Me liga?
- Ligo, mãe, por favor, não fica paranóica! – Eu sorri e dei um beijo em sua bochecha.
- Te amo, minha menina, estamos muito orgulhosos de você!
- Eu também amo vocês – sorri.

Passei pelo portão de embarque, entrei no avião (segunda classe, é óbvio) coloquei meus fones, fechei meus olhos e fingi que aquela lágrima não estava caindo do meu olho. Eu fiz a escolha certa, não fiz? Bom, eu ia descobrir quando dali a catorze horas eu acordasse em Londres. LONDRES!

Catorze horas depois

Peguei minhas malas e quase corri para a saída do aeroporto já procurando por um táxi. A viagem tinha sido absurdamente longa e agora eu sei bem o que dizem sobre ‘fadiga de viagem’. O fato de eu tomado um Vallium quando saí do Brasil contribuiu para eu dormir o tempo todo, mas agora eu me sinto cansada, enjoada e morrendo de vontade de me jogar na cama que eu nem sei como que é. Os britânicos falam rápido demais, enrolados demais e correm demais! Acho que já fui quase atropleada umas cinco vezes, e quando falo palavrões em português ficam me olhando com cara feia, QUAL O PROBLEMA? Meio emburrada consegui chegar até o táxi; um cara meio gordo, careca, branco demais abriu a porta pra mim (lado OPOSTO do qual estou acostumada no Brasil) e educadamente com um sotaque absurdo perguntou qual o endereço. As horas que gastava diariamente vendo Harry Potter, Nárnia e ouvindo The Police me ajudaram bastante a entender o sotaque britânico – ninguém nesse mundo fala mais enrolado do que Rupert Grint! Dei pra ele um papel com o endereço e ele sorriu dizendo que o local era bem próximo. Houve aquela conversa de ‘você é de onde?’ e mais os detalhes pessoais de sempre, e, quando de por mim, já estava de frente com um prédio absurdamente enorme lotado de adolescentes na frente.

- Albergue Stanton? – Ele sorriu pra mim apontando para meu lado esquerdo.
- Acho que é esse mesmo – suspirei. – Quanto fica?
- Nada não, criança, não vou ser o primeiro a extorquir seu dinheiro – ele riu. – Só tome cuidado com os taxistas, tudo bem?
- Desculpe senhor – eu disse. – Tem como me dar então o seu telefone? Caso eu precise de alguma coisa...
- Pensei que nunca ia perguntar – ele sorriu e me entregou seu cartão. – Me chamo Jeff. Esse é o telefone de minha casa, às vezes estou no serviço e não posso usar celular enquanto dirijo, pode falar com minha esposa caso precise de algo. Ela se chama Meg.
- Obrigada, Jeff – sorri absurdamente aliviada, primeira amizade, yay! – Tenha um bom dia.
- Bom dia, criança, boa sorte.

Finalmente saí do táxi com minha mala e bolsa. Caminhei lentamente pela multidão adolescente captando cada objeto, cada folha, flor e pessoa que passava na minha frente. Qualquer detalhe era essêncial, eu queria me lembrar de tudo para contar em detalhes para minha família como foi minha chegada em Londres. Havia pessoas de todos os tipos e roupas e gêneros, estava me sentindo nas nuvens! Fui tão acostumada a estudar com só um tipo de gente que ver tanta variedade no mesmo lugar me deixava um pouco atordoada. Fui andando devagar e notei alguns sorrisos amigáveis no meu caminho, pessoas me olhando de forma curiosa e outras que simplesmente viraram a cara. Deve ser minha calça jeans rasgada, botas, camiseta branca, jaqueta jeans e esse cabelo desgrenhado? Deve ser isso, estou assustando pessoas.

Cheguei ao meu quarto depois de passar por uma boa vistoria. Eu ia ficar no terceiro andar, um quarto só meu com vista para o campus. Assim que eu abria a porta dava de cara com o que parecia ser uma sala enorme, a diferença é que nessa sala estava uma cama de casal gigantesca, uma janela atrás dela (mais gigante ainda), cortinas na cor branca (um pouco amareladas, devo dizer), escrivaninhas do lado esquerdo da cama, um armário do que pegava a lateral da parede toda do lado direito e alguns objetos deixados provavelmente pelo antigo morador. Do meu lado direito estava uma mesa enorme com alguns livros e uma luminária meio antiga, uma poltrona vermelha dava um tom diferenciado no ambiente pálido que eu me encontrava. Na minha esquerda estava a ‘cozinha’ – se é que posso chamar assim. Uma mesa de granito dividia a cozinha da ‘sala’, só havia uma pia tamanho médio, uma geladeira, fogão e, graças a Deus, um microondas. Acima da pia encontravam-se os armários (vazios) e mais pro fundo dessa área estava uma pequena e quase insignificante lavanderia. Quase centímetros longe da minha cama estava uma porta que levava a um banheiro comprido. Havia espelho, box e uma janela de vidraça colorida que lembrava um pouco a casa da minha vó no Brasil. Depois de dar uma boa olhada em tudo eu me joguei na cama – que estava sem lençol – e acabei ficando por lá. O cheiro de mofo era perceptível e meu nariz começou a coçar, mas quem se importa? Eu finalmente estava onde eu queria, onde eu pertencia. Eu estava em Londres!

Fui acordar só na manhã seguinte com meu despertador berrando, eram seis horas da manhã e eu não estava nada acostumada com o fuso horário! Acordei sentindo minhas costas doerem e depois de dar uma olhada na posição em que me encontrava fui entender o motivo da minha dor, eu estava toda torta. Cocei os olhos e fui na direção do banheiro lavar meu rosto e ver meu estado, eu estava horrível! Era o dia de arrumar o quarto, sair pra fazer compras (comida, claro) e dar minha primeira passeada em Londres. Tirei tudo da mala (roupa, lençol, shampoo, calcinhas), arrumei o quarto e depois de mais ou menos três horas (limpando chão, passando um pano com cheiro agradável nos móveis) meu cômodo estava mais ou menos como eu queria. Coloquei algumas fotos dos meus amigos na parede e dos meus pais perto da minha cama. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa confortável e quentinha para sair pela cidade, como ainda não conhecia ninguém podia aproveitar esse tempo só pra mim. Enquanto eu não fizesse amizades eu teria Londres a hora que eu quisesse, eu podia sair a hora que eu quisesse sem dar explicações pra ninguém. E foi exatamente isso o que fiz.

Peguei minha câmera fotográfica comprada um pouco antes da viagem (claro!), coloquei algumas libras necessárias no bolso da calça e saí. O prédio onde eu estava morando estava completamente silencioso, acho que todos estavam dormindo ainda. Pensei em ligar para o taxista simpático de ontem, mas eu decidi ir caminhando e ver onde que essas ruas tão lindas e cinzas iriam me levar, caso me perdesse eu ligaria pra ele. O primeiro lugar que fui foi uma padaria que estava exalando um cheiro maravilhoso de café com pão quente. Me sentei em uma das mesinhas e pedi um café preto com bagels na chapa – foi o melhor café da manhã da minha vida! Simples, porém delicioso. Enquanto estava ali sentada vi um grupo de adolescentes assim como eu do lado de fora brincando e conversando entre si. Ao fundo London Eye fazia um belo fundo de tela. Eles se vestiam bem, eram bonitos e pareciam ter saído de uma revista estilo BOP, será que seria estranho se eu começasse a fotografá-los? Aquela cena parecia tão perfeita, fim de cena de um filme romântico jovem americano.

Paguei meu café e saí meio de fininho pegando minha câmera da bolsa e focando nas pessoas que estavam ali conversando e brincando. Os meninos usavam sobretudo e as meninas pareciam estar em volta deles como urubus! Eles eram muito bonitos, mas eu nunca os tinha visto na minha vida. Eles paravam, tiravam fotos, sorriam, davam gargalhadas, as meninas quase desmaiavam, eles eram carinhosos, davam beijos, autógrafos... Eram famosos? Deviam ser um grupo de modelos de alguma faculdade ali perto ou uma banda de alguma escola? Não sei. Peguei a câmera e bati algumas fotos que, honestamente falando, ficaram LINDAS! London Eye se perdia no sorriso daqueles adolescentes, eles eram tão fotogênicos, inclusive as meninas que estavam ao redor deles, elas eram lindas! Mais pessoas apareceram e mais fotos eram tiradas com aqueles cinco garotos, e mais vezes eu apertava o botão da minha máquina a fim de registrar todos os momentos. Os sorrisos, as risadas, as brincadeiras, as intimidades, uma foto pode mostrar muita coisa. Um clique muda sua vida para sempre, registra um momento que pode ser histórico, em apenas um segundo você registra um momento pra sempre. Sorri quando olhei para as fotos que já havia batido e vi como elas ficaram boas e como eu era boa nisso, vi que escolhi o curso certo. Me perdi vendo as fotos e quando olhei de volta para eles, o mesmo grupo não estava mais lá. Procurei ao meu redor, mas não os encontrei. Marquei bobeira.

Comecei a bater fotos de outras pessoas, algumas paravam e sorriam pra mim. Explicava que eu era uma estudante nova de fotografia e elas eram absurdamente educadas (em especial os turistas). Tudo me fascinava, o chão em Londres era o chão mais lindo e limpo que eu já vi na vida – ou era um grande exagero da minha cabeça. Fui caminhando para uma pequena ponta localizada perto do London Eye batendo fotos de crianças que brincavam com alguns balões e comiam algodão doce como se aquela fosse a última refeição de suas vidas. Sorri com uma delas que sorria pra mim com um pedaço de algodão rosa preso entre os dentes, aquela deve ter sido minha foto favorita do dia. Enquanto batia a foto percebi um corpo mais atrás que se mexia cada vez que eu dava um clique. Tirei a câmera dos meus olhos e olhei em volta, mas não vi ninguém. Continuei batendo, e quando eu focava de novo em outro lugar via o mesmo corpo fazendo poses, caras e caretas para a câmera. Finalmente quando foquei nessa pessoa percebi que era um dos meninos que estava a alguns minutos atrás perto do London Eye, um dos adolescentes. Fiz cara de surpresa, pensei que nunca mais os vería de novo (no caso, ‘o veria’ porque ali só tinha um deles). Fingi indiferença e continuei batendo fotos, mas para cada novo foco ele estava ali, uma hora sorrindo, outra fazendo careta, outra hora ameaçando abaixar as calças em público!

- HEY! – Eu berrei quando ele levantou a calça jeans que ao meu ver estava larga demais. – Você está poluindo minhas fotos.
- Você sempre costuma bater fotos de pessoas estranhas? – Ele veio até mim com um sorriso brincalhão no rosto, todos os britânicos são simpáticos?
- Acho que essa é uma pergunta errada para uma estudante de fotografia – respondi meio arrogante. – Que foi? Vai querer me processar por algum tipo de invasão?
- Você é sempre tão arisca assim? – Ele riu. O vento londrino passava por seus cabelos dando um ar mais bagunçado.

Agora que ele estava mais perto pude reparar em pequenos detalhes. Sempre via que os britânicos são as pessoas mais simpáticas e bonitas do mundo, sangue europeu É TUDO! E esse ser na minha frente fazia jus a todos os meus sonhos europeus. Devia ter mais de 1,70m, sorriso brincalhão nos lábios, cabelos levemente rebeldes que dançavam com o vento, as mãos com dedos longos jogavam os cabelos pra trás (dedos esses que me lembravam o de Robert Pattinson), um perfume não conhecido exalava dele. Sua pele era clara – mais clara que a minha, já que eu moro abaixo da linha do Equador – e ele parecia estar intrigado comigo. Que foi que eu fiz?

- Só com quem não conheço – respondi agora sorrindo depois de fazer essa análise mental. – Sou .
- – ele estendeu a mão pra mim e nos cumprimentamos, se fosse no Brasil eu estaria dando dois bejinhos estalados na bochecha dele. – .
- Prazer – respondi. – E o que está fazendo posando para as minhas fotos?
- Chamando sua atenção? – Ele me respondeu com uma pergunta e fazendo cara de dúvida, eu ri. – Pelo menos deu certo.
- Sim, eu acabei de perder uma criança de no máximo seis anos se lambuzando toda com o algodão doce, é uma cena muito linda e eu queria ter fotografado!
- Não seja por isso, meu amigo se comporta como uma criança e eu acho que ele ia adorar ser modelo para suas fotos.
- Obrigada – eu ri. – Seus outros amigos são aqueles que estavam perto do London Eye?
- Exato – ele respondeu com um estalo na boca.
- Hm, e as meninas ao redor de vocês seriam o que? Groupies? – Perguntei meio rindo e ele abriu o maior sorriso. – Que foi?
- Nada – ele mordeu os lábios, senti que estava escondendo algo de mim. – Há quanto tempo está em Londres?
- É tão óbvio assim que eu não sou daqui? – Perguntei fingindo ofensa.
- Hm, sua pele é mais corada do que de qualquer pessoa daqui, você tem sotaque e você tirou fotos do chão. Me desculpe, você não é daqui – ele sorriu com os lábios fechados e eu senti que fiquei mais corada ainda.
- Touché – sorri sem graça. – Sou brasileira, estou aqui há menos de 24 horas e essa é a primeira vez que saio sozinha em Londres.
- Eu sabia – ele sorriu. – Gosta de cultura londrina? Filmes, música?
- Acho que só Harry Potter – falei me sentindo culpada. – Gosto de uma banda chamada Mcfly, conhece?
- Ah, claro! – Ele riu e abriu o maior sorriso. – Eu os conheço... Digo, eles são bons , a música é ótima. - ainda estava sorrindo e coçando a nuca, novamente aquela sensação de que ele estava me escondendo alguma coisa.
- Bom... – mordi os lábios. – , obrigada pelos cinco minutos de atenção, mas eu pretendo voltar para meus aposentos reais.
- E onde seriam os seus aposentos reais?
- Seria... Epa! – Comecei a rir. – Mal te conheço e já vou te falando assim logo de cara onde eu moro? Tá maluco? – Ele pode ser um gatinho, mas psicopatas são gatos.
- Ok, ok... Me desculpe – ele ergueu as mãos pro alto como quem assume a culpa e começou a rir. – Sinto que vamos nos encontrar mais vezes.
- Pelo visto você vai me perseguir, devo chamar Sherlock Holmes pra me ajudar?
- Ah meu Deus! – Ele começou a rir. – Eu acho que você precisa de uma ajuda pra conhecer outras coisas em Londres que não sejam tão clichês – ele riu.
- E quem vai me ajudar? – Perguntei desconfiada guardando minha câmera na bolsa.
- Eu, óbvio – ele sorriu. – Nos vemos em breve, .
- Heey, quem te deu permissão pra me chamar de ? – Ele já estava a alguns passos longe de mim, então só deu eu gritando no meio do povo.

apenas virou para trás e acenou com um sorriso sapeca em seu rosto. Fiquei ali parada com cara de idiota e percebi que algumas pessoas – em especial meninas da minha idade – passavam e ficavam me encarando. Mordi os lábios nervosa e decidi sair de lá antes de alguém conversar comigo, pelo visto muitas pessoas gostavam desse tal de ‘’, acho que ele é o tipo de garoto que conversa com todo mundo; deve ser por isso que aquelas meninas estavam tirando fotos com ele, deve ser o maluco de Londres que fala com estranhos. E eu sou a maluca que tira fotos de estranhos, bela combinação.

Voltando pra casa achei uma loja de CD’s e DVD’s e decidi entrar, além de fotografia eu sou apaixonada por música, e acho que o ser humano não funciona bem quando não tem uma trilha sonora. Sei lá... Por exemplo, quando estou revoltada gosto de ouvir um rock pesado, quando sofro por algum menino ouço Taylor Swift, quando quero cantar por diversão ouço McFly e por aí vai. Fui dando uma olhada nos CD’s e vi umas meninas quase gritando quando acharam um álbum que eu acho que elas queriam muito.

- é o mais gato da banda!
- Não, nem pensar, o é o mais gatinho de todos!
- e , e !
- , ! Olha como ele é sexy, e é o que canta melhor.
- Mentira, a voz do é muito mais perfeita.
- A voz do é a mais perfeita...

Hein?

- Procurando algo em especial? – O vendedor de mais ou menos uns 30 anos chegou simpático. – Grande parte dos nossos CD’s está em promoção.
- Hm, obrigada – agradeci. – Na verdade, estou só dando uma olhada.
- Se precisar de alguma coisa, pode me chamar.
- Ok – sorri. – Escuta, não irrita ter meninas desse tipo o tempo todo na loja? – apontei para o grupo de meninas de mais ou menos catorze anos que pegavam os CD’s e abraçavam e beijavam, eu achava meio ridículo.
- Sempre que aparece uma banda nova as meninas ficam doidas – ele riu. – Esses meninos aí estão fazendo o maior sucesso.
- Sério? Qual o nome deles?
- One Direction – ele respondeu. – Já ouviu falar?
- Hmm... Na verdade não – ri sem graça. – Eles são bons?
- Gosta de música pop?
- Na verdade, gosto – não menti, eu gostava mesmo. – Posso dar uma olhada no CD deles? Sabe como é, curiosidade adolescente.
- Vou pegar um CD pra você – ele saiu sorrindo.

Entrou no meio das meninas gritantes e pegou um exemplar do CD. Trouxe até mim me explicando que a banda saiu de um reality show chamado Xfactor, que eles são bons, que a Inglaterra estava precisando de uma banda assim e quase a história toda de cinco meninos sortudos. Achei interessante, e se eles saíram de um reality eles devem ser bons, Simon não ia contratar uns carinhas só porque eles são bonitinhos ou algo do tipo. Peguei o CD e fiquei olhando pra capa, eles realmente eram bonitinhos. Mas... Epa!

- Sim, eu acabei de perder uma criança de no máximo seis anos se lambuzando toda com o algodão doce, é uma cena muito linda e eu queria ter fotografado!
- Não seja por isso, meu amigo se comporta como uma criança e eu acho que ele ia adorar ser modelo para suas fotos.
- Obrigada – eu ri. – Seus outros amigos são aqueles que estavam perto do London Eye?


Não, não é possível! Eu não posso ser tão cagada a esse ponto, eu não consigo ser tão cagada a esse ponto!

- é o mais gato da banda!
- Não, nem pensar, o é o mais gatinho de todos!
- e , e !


Os nomes apareceram na conversa e eu nem percebi! O nome do garoto que eu conheci é ! ... Qual o sobrenome mesmo? Mas não interessa, foi ele quem eu conheci alguns minutos atrás, era com ele que eu estava conversando casualmente.

O filho da puta tá numa banda famosa no Reino Unido e ele nem me fala nada!? E o amigo dele, ! E tem um na banda, e um ! Cacete, ele é do One Direction. Era por isso que ele e os amigos estavam batendo foto com as meninas, era por isso que tinha TANTA menina em volta deles no London Eye, e é por isso que ele é tão gatinho, porque meninos normais não são bonitos daquele jeito.

Meu coração quase saiu pela boca, eu não conhecia a banda e nem nunca tinha ouvido falar em One Direction (só estou lembrando o nome porque o CD está em minhas mãos, na minha cabeça só consigo pensar em New Directions, mas isso é GLEE!), e eu devo ter parecido uma idiota conversando com ele! ELES JÁ TRABALHARAM COM O MCFLY!? Eu falei do McFly e ele ficou sem graça, era por isso ERA POR ISSO!

- Garota, você vai levar esse CD? – O vendedor me perguntou.
- Sim, por favor.

Dei uma olhada de novo no CD só pra ter certeza de que eu não estava confundindo o menino com o sobretudo com aquele sorridente da capa. E ele ainda me perguntou se eu conhecia música britânica, com certeza estava achando engraçado o fato de eu não saber quem era One Direction. A pergunta que estava martelando na minha cabeça era: por que ele não me falou nada? Era a hora dele subir no palco imaginário e dizer ‘então, eu faço parte de uma banda, sabe?’ AUTO PROMOÇÃO! Não que ele fosse me ganhar, porque não faço o tipo groupie (com exceção de quando o assunto é Tom Fletcher), mas só pra eu não ser feita de idiota. Será que o McFly sabe alguma coisa do One Direction e eu nem prestei atenção? BURRA, BURRA!

Paguei o CD e saí meio correndo de onde eu estava, parti pra banca de jornal mais próxima. Minhas aulas começavam só semana que vem, então eu tinha uma semana de folga, uma semana pra fazer minha lição de casa, pra não ficar com cara de babaca da próxima vez: estudar, ouvir e aprender um pouco mais sobre One Direction.

Capítulo 02

One Direction, ocasionalmente abreviado para 1D, é uma boyband de pop rock formada na cidade de Londres, Reino Unido, em 2010. É composta pelos britânicos , , e e . O quinteto foi formado após seus membros participarem do programa de televisão X-Factor, um reality show musical, como competidores solo e depois se unirem para concorrer como grupo; eles acabaram na terceira colocação entre os finalistas.

Qual é? Eu realmente fui pro google, digitei ‘ONE DIRECTION’ e entrei no Wikipedia, que seria o único site tecnicamente confiável que eu podia contar. Li algumas coisas sobre os meninos, acabei baixando o CD deles e ouvi durante três dias seguidos. Achei legal – embora seja muito Backstreet Boys meets N’Sync – e eles cantam muito bem! Mas eu, como boa fã de guitarra e bateria, queria um pouco mais de instrumentação. E eu tenho certeza de que se alguma fã da banda me visse falando assim ia começar a gritar no meu ouvido e no mínimo me chamar de ‘idiota, vadia, retardada e quem você pensa que é pra falar assim dos MEUS BEBÊÊÊS’ e coisas do tipo. Não nego que os cinco são gatinhos, mas pra mim precisa um pouco mais do que ‘rostos bonitos’ pra me ganhar. Ouvi o CD, até dancei Up all Night, mas depois acabei cansando. E, ok, vamos de novo pensar isso em voz baixa ou alguma fã vai comer meu fígado, eu estou em Londres, exatamente na cidade DELES! Pelo que eu li é absurdamente difícil chegar perto dos meninos, ou seja, foi uma baita sorte ver naquele dia. Pensando nisso eu sei que nunca vou mais vou vê-lo – posso usar no plural também – e que eu tive uma chance em um milhão! Podem me matar, meninas, o carinha da banda mais hot do Reino Unido estava fazendo pose para as minhas fotos e eu nem sabia quem ele era! Tem como eu ser mais idiota?

Dei uma boa olhada no meu quarto e percebi que estava uma bagunça, mas daquelas bem caprichadas! Meu curso começaria dali cinco dias, mas eu ainda tinha que ir para escola entregar meus documentos, ver se estava tudo certo com a matrícula, visitar minha sala e fazer essas coisas que todo aluno em começo de ano precisa fazer. Dei uma arrumada na pilha de roupas que usei nos últimos dias, joguei um casaco sobre meu corpo, joguei meus cabelos pra um lado só - já que estavam para todos os lados tudo de uma vez –, calcei minhas botas cano baixo por cima da calça jeans que eu usava, comi um donut e saí na direção do prédio principal. Cada vez que saía sentia arrepios em minha pele e não era por culpa do frio, Londres era absurdamente maravilhosa e nem todos os meus sonhos faziam juz ao que eu estava vendo naquele momento. O céu era nublado e claro, as pessoas sorriam o tempo todo e te encaravam sorrindo, o frio cortante era masoquistamente delicioso e o cheiro de café e chá que saía de qualquer lugar era inebriante.

- Hey... hey você!

Estava perdida em meus pensamentos quando uma voz com um grave sotaque supostamente me chamou. Virei-me e vi uma garota sorridente correndo até mim com seus cabelos longos correndo ao lado dela. Ela com certeza era daqui, tinha todo esse ar britânico que eu ainda não tinha e acho que nunca teria.

- Quer falar comigo?
- Na verdade eu estou tentando falar com você desde que saiu do seu dormitório, você deixou cair seu passaporte – ela me entregou aquela coisinha verde e eu quase vomitei uma coisa verde!
- Cacete – eu comecei a rir, geralmente eu começo a dar risada quando fico nervosa e tende a piorar. – Nossa, muito obrigada! Muito obrigada mesmo, se eu perco isso não sei o que faria.
- Iria parar no consulado – ela começou a rir. – , certo?
- Sim – sorri.
- Desculpa, tomei a liberdade de abrir seu passaporte, precisava saber se você realmente era a dona do documento – ela disse dando de ombros. – Sou , mas pode me chamar de .
- Muito prazer, – dei a mão pra ela, que a apertou de leve, bem que me avisaram que os britânicos são um pouco mais frios. – Acho que deve saber que não sou daqui.
- É meio óbvio – ela riu engraçado, dando uns soluços. – Seja bem vinda à Londres. Não sou daqui também, sou de Bolton. Vim pra cá estudar fotografia.
- Caraca, eu também – sorri. – Bolton é a cidade de um dos meus cantores favoritos.
- Quem?
- Danny Jones do McFly – falei me empolgando um pouco mais do que devia. – É muito longe daqui?
- De trem não – ela deu de ombros. – Engraçado, sou daqui e não gosto de McFly. Só do último CD, prefiro música eletrônica.
- Ah...tá... – fiquei meio sem graça. – Pra quem é fã mesmo de McFly, o último CD foi uma bosta – comecei a rir e ela riu junto. – Desculpa.
- Sem problema, não sou fã nem nada – ela sorriu. – Pra onde você estava indo, brasileira perdida em Londres e quase presa no consulado?
- Eu na verdade estava indo pra escola levar minha papelada final. É por isso que era pro passaporte estar bem guardado na pasta – apontei pra minha pasta rosa um pouco sem graça.
- Estou indo também – ela disse animada. – Vamos ver se estamos na mesma sala, eu acho que sim. Só abre uma turma de fotografia por semestre, então, se você está começando agora e eu também, significa que nós vamos estudar juntas.
- Bom saber que já conheço alguém – falei me animando. – Escuta, você conseguiu entender bem o meu inglês?
- Perfeitamente – me respondeu caminhando ao meu lado.
- Ótimo, tenho a impressão que ninguém entende o que eu falo.
- Se você for para as cidades interioranas aí sim você não vai entender nada do que eles falam, e olha que é inglês – ela sorriu. – Digo por experiência própria, o sotaque de Bolton é carregado demais.
- Eu consigo entender o que você fala.
- Faço fono desde os meus cinco anos pra treinar a pronúncia, quero ser jornalista então preciso falar direito e de forma que todos entendam – olhou pra mim e sorriu. – Acho que é por isso que todo o meu sotaque foi embora.
- Entendi – respondi.

Caminhamos juntas até a portaria da escola e em alguns minutos de conversa já era totalmente íntima comigo, parecia que me conhecia desde sempre. Me contou porque escolheu o curso de fotografia, como foi difícil convencer seus pais que seria bom ela ir para Londres, como foi mais difícil ainda terminar com o namorado e como as pessoas londrinas são muito mais fofas e simpáticas. Já que ela me contou quase tudo da vida dela, eu pude contar um pouco da minha, inclusive do meu acidental encontro com um tal de da banda One Direction.

- MENINA, ELE É LINDO DEMAIS! – ela me segurou pelos ombros e me sacudiu quando chegamos na porta da escola, senti uns olhares estranhos pra nós. – Você tem noção do tamanho da sua sorte?
- Depois que eu pesquisei no Google pra saber quem ele era eu pude ter uma noção mínima da minha sorte – falei sem graça. – Se fosse outra garota no meu lugar...
- Ela teria agarrado o ali mesmo, sem pensar! Ele é um dos mais namoradeiros da banda e ele ficou fazendo graça pra você! Caraca, , você nasceu com a bunda virada pra lua! – Ela sorria e eu via que se controlava pra não dar pulinhos de alegria ali mesmo. – Se eu encontro o eu não sei o que faria.
- Você gosta de One Direction?
- SOU LOUCA POR ELES – ela abriu um sorriso enorme. – Eis uma razão bônus pela qual eu me mudei pra Londres, a chance de ver eles por aqui é altíssima e você é a prova viva e sem graça disso – ela riu e eu fiz careta.
- Ok, recapitulando... Você não gosta de McFly, mas gosta de One Direction! Isso não faz o mínimo sentido pra mim.
- Já ouviu o CD deles? – Ela me perguntou e eu concordei. – Ouviu Everything About You? – Concordei de novo. – Então, ela é totalmente dance! Super me imagino dançando ela numa boate com o atrás de mim – ela suspirou safada.
- Ok, você será a minha guia londrina! Eu não sei muito sobre aqui então eu preciso que você me ajude, começando com One Direction – eu sorri e ela ficou mais empolgada ainda.
- Vamos entregar nossa papelada aqui e vamos direto pro meu dormitório, tenho vídeos, fotos, revistas, posters... Vou adorar te mostrar algumas coisas! E você finalmente vai se apaixonar pelo e da próxima vez que vê-lo não vai dar uma de tonta! Realmente, minha amiga, esse foi o maior mico do MUNDO!
- Não me culpe – dei de ombros. – Vamos logo então.

Não demorou muito para terminarmos de preencher os formulários de cadastro. Entregamos os documentos necessários e perguntamos se poderíamos conhecer nossa sala de aula e dar uma voltinha. A moça da recepção disse que isso seria possível, e deixou claro que devíamos dar uma olhada no quadro de anúncios... Sempre há vagas de emprego para intercambiários e nossa programação estava lá o tempo todo atualizada.

Subimos dois lances de escada e chegamos a um andar enorme! Nossa sala era a 22B e ficava quase no comecinho, bandeiras inglesas enfeitavam o corredor e por questão de segundos eu me senti mais ou menos em Hogwarts. A escola era um pouco antiga, porém muito modernizada. Suspirei com a sensação de estar pela primeira vez no lugar certo e, graças a Deus, com a pessoa certa.

- , você tem que dar uma olhada nisso aqui! – me chamou olhando para o quadro de atividades. – Carácoles, você é muito rabuda.
- É normal quem vem de Bolton ter um linguajar tão... Singular? – Perguntei rindo e ela me mandou o dedo, ri mais ainda.
- Deixa de ser nojenta e olha o quadro, mais especificamente para a nossa segunda semana de aula – ela apontou e eu, de boa, fui ver. Quase caí para trás.

Ali na minha frente a nossa grade de horário, ali uma atividade que eu obrigatóriamente teria que participar e eu intimimente não queria participar. , ao meu lado, estava muito feliz com essa possível tragédia.

Fotógrafa: Olivia Shawn
Banda: One Direction Atividade: Os alunos do primeiro semestre do curso de fotografia terão o prazer de acompanhar a professora Olivia (renomada fotógrafa – já trabalhou com moda, bandas e é especializada em casamentos) em um photoshoot para a revista SugarScape da banda do momento, One Direction. Os alunos poderão conversar sobre dúvidas, além de ver o trabalho de um fotógrafo ao vivo. Sobre a banda, os alunos também poderão ter acesso aos meninos, porém se foquem no trabalho e não na banda.

Atenciosamente.


Sério, por que não MCFLY?! Tudo bem, a Olívia já namorou o Danny, mas isso eu acho que são águas passadas! Ele agora tá namorando aquela miss nada e a Olívia tá mais linda, fofa e perfeita do que nunca. E espera, ELA VAI SER NOSSA PROFESSORA?? Momento fangirling total, eu A AMO! Na verdade ela é um dos motivos pelos quais eu me tornei fotógrafa, conheço o trabalho dela por causa do McFly, mas desde então eu virei fã. E agora essa linda vai ser minha professora, e essa linda vai fotografar o One Direction e nós vamos juntos. Como alunos. Caralho!

- Segundo o que eu li é altamente difícil chegar perto do One Direction...
- E você, sua vagabunda, vai ver eles DE NOVO! E o de novo, em um photofuckingshoot – ela falou bem pausadamente, por isso eu entendi. – E eu vou ver meu , meu lindinho! Diferente de você, eu realmente pretendo agarrá-lo.
- Por acaso você leu uma das coisas mais importantes do comunicado? Se foquem no trabalho e não NA BANDA?
- E depois que o trabalho acabar eu vou me focar em quem? Na banda, óbvio.
- Eu não quero ir, eu não quero ir, eu não quero ir... – comecei a falar como uma lesada e riu do meu desespero.
- Não seja bundona, você vai e pronto!
- Ele nem vai lembrar de mim, eu tenho certeza – bufei, nem sei ao certo porquê eu bufei.
- Você mal conhecia One Direction uns dias atrás e agora tá se importando se o vai lembrar de você ou não? Oh, Lord! – fez draminha. – Relaxa, gata. E, olha, podemos chamar a atenção do se você quiser.
- Eu não vou dar uma de groupie! – Falei brava. Meu lado McFly groupie falava alto, porque o que eu mais queria era aparecer na casa do Tom Fletcher, mas me segurei; se não sou groupie com McFly não sou groupie com ninguém.
- Não estou falando de ser groupie – ela riu. – Tem twitter?
- Claro que sim.
- Vem comigo então...

me puxou pelo braço e saímos correndo da escola, eu ainda teria problemas com ela! Passamos pelos portões, pelos portões dos dormitórios e em um piscar de olhos eu estava em um quarto todo azul e roxo com coisas penduradas para todos os lados e posters em todas as portas e quase janelas. dormia sozinha, então aquele parecia ser um espaço só dela, e pra quem acabou de chegar em Londres ela estava muito bem acomodada. O lugar era do mesmo jeito que o meu dormitório, só que com a diferença que estava todo decorado, eu queria dormir lá.

Ela sentou-se na cama e abriu o AirMac no colo, me sentei ao seu lado esperando para ver a arte da garota de Bolton agora.

- Qual o login do seu twitter?
- ‘stargirl’ – falei sem graça e ela fez careta.
- Sério?
- Já disse, sou fã do McFly! – respondi na defensiva.
- Ok, senha...?
- tommcflyfletcherjones – falei rapidinho e ela riu mais ainda.

Ela abriu meu twitter e começou a rir. Era tudo do McFly, o background, os followers, tudo deles! Eu posso ter um gosto mais pro rock, mas McFly desperta a adolescente que existe em mim. deu uma olhada em quem eu seguia e viu que eu não seguia nenhum menino do One Direction, e no segundo seguinte eu estava seguindo todos!

- E por um milagre da natureza, está online no twitter - ela riu me mostrando o último tweet dele, que dizia algo do tipo ‘e aí, galera?’
- Hey, você não tá pensando em mandar um tweet pra ele! Eu NUNCA consegui reply de ninguém que eu gosto, eu já fiz tanto spam pro McFly que acho que fui bloqueada! Nem pensar, , nem pensar.
- Tarde demais, boneca – mandei ela pra puta que pariu quando vi o tweet que ela havia mandado pra ele:

‘oi , ainda tenho as suas fotos daquele dia X’

- Caralho, , você come merda?
- Que foi? – Ela riu enquanto respondia umas replies MINHAS. – Não custa nada tentar, eles vivem respondendo as fãs.
- Mas, minha linda, eu não sou fã dele – bufei. – Espero honestamente que ele não me responda, não quero que meu primeiro reply famoso seja de um cara que eu nem gosto direito. Isso é muito poser.
- Vai que ele responde – ela sorriu. – Olha, to dando F5 na página dele e ele está respondendo várias fãs, devo mandar um tweet de novo?
- Não deveria nem ter mandando o primeiro – falei tentando pegar o AirMac e ela se esquivava pra todos os lados. – Sai do Twitter!
- Ah, tá bom... Tá bom – ela disse ainda rindo – , quantos followers você tinha?
- 97 – é, não sou popular.
- Você está com 98 – ela olhou pra mim apontando o número mágico do Twitter com os olhos brilhando, fiquei sem entender.
- E...
- Sabia que os meninos do 1D tem o costume de dar follow nas fãs?
- EU NÃO SOU FÃ! – É, eu berrei.
- Que seja... – ela deu de ombros – CARALHO, ELE TE DEU FOLLOW!
- O QUÊ?

Agora sim eu consegui pegar a porcaria do computador do colo da . Olhei para meus followers e ali estava aquela merdinha com uma foto do me seguindo! Fui para minhas replies e estava uma notificação started to follow you’ e eu tive que colocar minha mão na boca pra não gritar. Como assim, meu Deus? THOMAS FLETCHER, APRENDE ISSO, CACETE! Agora o ia ver que não sou popular, que os meus tweets em geral são só sobre comida e nerdices e tá tudo em português! Ele não vai entender nada mesmo, então por que eu tô nervosa? A ideia de ter ele me seguindo no Twitter me dava arrepios, eu vou ter que me vigiar pra não escrever merda? E se ele falar comigo, e se alguma fã vier me xingar? Meu Deus, eu já mandei tanta merda pra Georgia, agora eu vou sentir isso na pele!
- Checa as suas DM’s – disse baixinho. – Eles mandam DM de vez em quando.
- Ok... Ok – respirei fundo e abri minha DM. Tinha uma. E era dele.

‘hey, a garota das fotos tem twitter, como vai?’

Só isso! Não tinha nada demais, não tinha nada de ‘oi sua linda’ e nem aquele ‘X’ que eles costumam colocar no final dos tweets ou mensagens indicando que ele estaria me mandando um beijo. Nada, nadica! Zero. E eu me importo?

- E aí? Como você vai? – apoiou a cabeça no meu ombro lendo a DM do e me fazendo a mesma pergunta com uma voz mais grossa tentando imitar o que seria a voz dele.
- Eu vou bem, oras! – Falei meio mal educada, eu estava chateada, tá? Ele é gato, leve isso em consideração.
- Responde pra ele falando que você tá bem – ela disse de uma maneira meio óbvia apontando pra tela.
- Ele foi meio estranho – disse baixinho dando voz aos meus pensamentos.
- Ele foi fofo – ela disse na defensiva. – Responde pra ele, fala do photoshoot que você vai, que mal tem nisso?
- – fechei o note no meu colo e me virei pra ela, e sim, ela gritou. – Eu não sei me comportar perto de pessoas bonitas e muito menos pessoas famosas! Eu sou caipira, eu não gosto de pessoas, não gosto de falar com pessoas e muito menos pessoas famosas, bonitas da minha idade! Precisamente um dos vocalistas da banda mais hot atualmente do Reino Unido! Isso não acontece comigo.
- Eu percebi, , você tem 97 pessoas no seu twitter – ela falou e mordeu os lábios meio arrependida. – , ele não tá te vendo! Só responde e pronto, não to falando que você vai namorar ele ou algo do tipo, mas você tem alguma coisa que aguçou a curiosidade do – ela sorriu. – Pelo menos vocês ficam amigos e você me consegue ingressos de graça pra ver o show deles.
- Interesseira – eu sorri. – E eu respondo o quê?
- Fala que tá bem e que vai estar no photoshoot daqui duas semanas, só isso.
- Tá...

Abri novamente o note e abri a página do Twitter. Ele ainda estava on respondendo as fãs, então imaginei que ele iria ver minha DM agora.

‘oi, eu to bem. Bom, vou acompanhar um photoshoot do One Direction semana que vem, nos vemos em 14 dias’

Não mande beijos, tenho sentimentos também! Minha DM foi sem graça, sem sal e sem adição de açúcar. Ele ia responder algo do tipo ‘ahn... ok então’, eu tinha certeza! estava ocupada demais colocando bobes nos cabelos e fazendo caretas no espelho do banheiro, e eu lá sentada na posição de índio esperando uma resposta de uma DM do ! Se eu falar isso em voz alta vai soar ridículo, então vou manter pra mim mesma. Um minuto... dois... três... DM!

‘hell yeah! Vamos nos ver de novo, eu sabia disso. Que tal encurtarmos esse prazo? Já foi ao London Eye? X

C-A-R-A-C-A!

- !!! VEM AQUI AGORA! – Berrei, mas com força mesmo! Como assim?
- Que foi, Jesus? – Ela apareceu com uma máscara branca no rosto e com o cabelo todo embolado por bobes enormes e rosas. Me contorci até meu último músculo pra não sair correndo ou ter uma crise de riso.
- me respondeu! Tá perguntando se pode encurtar o prazo de 14 dias e me perguntou se já fui ao London Eye! – Falei meio rápido e sem respirar, não sei porque eu tava sentindo uma coisinha gostosa na barriga. – Ele mandou aquele X no final.
- EU SABIA! – Ela sorriu. – Ah Deus, respondeeeeee... Mesmo se você já foi ao London Eye, fala que ainda não foi.
- Eu fui perto...
- Não conta – ela sorriu. – Responde!

‘fui perto, mas nunca fui mesmo ao London Eye. Por que? X’

está babando ao meu lado e eu to muito entediado. Aceita minha companhia? X’


Ele tá me chamando pra sair?



‘você tá me chamando pra sair?’

‘se você não se importar em eu ter que parar pra tirar fotos e sairmos com um segurança... eu to sim :D X’


Ele me chamou pra sair, eu nunca fui chamada pra sair! Nem no Brasil.

- Ele me chamou pra sair – falei atônita e ouviu.
- O QUÊÊÊ? VAI PRA MERDA! – ela riu se jogando na cama ao meu lado, pelo menos a meleca no rosto tinha ido embora, só restavam os bobes nos cabelos. – Cara, ele te chamou pra sair assim na cara dura? Então tudo o que falam do One Direction é verdade, eles realmente chamam as meninas pra sair por Twitter! Algumas até já ficaram com eles, eu já li isso.
- Muito obrigada por tirar todo o encantamento do momento, eu vou ser mais uma na listinha ‘já peguei’ do – fechei o note com força.
- Ai , não tô falando pra você beijar ele! Mas... Deixa eu calar a boca.
- Eu não vou sair com ele , é ridículo! É assim que eles conseguem ser populares? Beijando as fãs? É assim que nascem as groupies, e eu não sou uma delas!
- Sei disso, , sei disso... Mas acho que você deveria dar uma chance. É uma aventura e você não está sabendo aproveitar.
- Eu sou uma garota normal, por que ele ia querer minha companhia?
- Talvez seja esse o motivo – ela sorriu. – You don’t know you’re beautiful oh oh...
- Não começa a cantar One Direction – falei antes dela cantar What Makes You Beautiful desde o começo.
- THAT’S WHAT MAKES YOU BEAUTIFUUULLLL – ela terminou de cantar sorrindo e eu juro que queria pular no pescoço dela, que coisa chata!
- Ok, senhora, eu vou responder pra ele.
- Aham...

Antes mesmo de eu abrir novamente a página do Twitter, o telefone do quarto da começou a tocar, esse telefone era da escola então eu suspeitei que fosse algum recado para pararmos de gritar, falar mais baixo ou algo do tipo. , junto com os seus bobes capilares, foi pululante atender ao telefone.

- falando.

A mocinha do outro lado da linha deve ter falado quem era e eu acho que não era uma notícia boa, ficou branca. Fui até o seu lado e perguntei baixinho se estava ‘tudo bem’, mas ela apenas colocou a mão na minha frente e fez ‘shhhh’. Tá bom.

- Ok, eu aceito a ligação externa – ela respondeu mordendo os lábios e eu vi um sorriso formar em seu rosto. – Caraca, é você mesmo?
- Quem tá falando? – Perguntei ansiosa, vai saber se alguma coisa ruim tinha acontecido com a família dela, sei lá.
- Eu vou passar pra ela, senão vou começar a gritar aqui, sério! EU AMO VOCÊ!
- Quem é? – Estava na dúvida.
- Atende, só atende! E seja simpática – ela riu e me passou o telefone; ser simpática com quem?
- Alô? – peguei o telefone e atendi meio na dúvida.
- Nunca pensei que iria ser tão fácil achar o número de telefone da sua escola.
- Quem tá falando? – Eu realmente não conhecia aquela voz.
- – pausa pra uma risada do outro lado da linha. – – pausa pra uma morta do outro lado da linha.
- ? – Perguntei quase gaguejando e vendo a fazer caras e bocas do tipo ‘seja simpática, diga oi, fica normal’. – Como que você conseguiu esse número?
- Procurei por escolas de fotografia em Londres e achei. Não vou passar meus contatos secretos, isso estraga o momento – ele riu. – E aí? Tudo bem?
- Tô digerindo o fato de estar falando com você pelo telefone – falei meio sem pensar e sem demonstrar emoção alguma, parte de mim tava meio em coma. só bateu a mão na testa não acreditando no que eu tinha respondido.
- Nossa, é um elogio ou não? - – falei seu nome completo, eu era íntima pra chamá-lo apenas de ? Sei não... – É, bem... Agora que eu sei exatamente quem você é, digo que é muito esquisito falar com você pelo telefone – eu soltei uma risada anasalada, ele riu do outro lado da linha.
- E quem eu sou?
- do One Direction – respondi e ele riu alegre. – E eu sou a tonta que nem sabia quem você era uns dias atrás.
- Acontece, não é obrigação de todo mundo saber quem somos – pude sentir um pequeno desapontamento na sua voz. – Vai começar a me tratar diferente por causa disso?
- Devo começar a tratar você diferente? – perguntei na dúvida. – Nunca falei com ninguém famoso, dá uma ajuda aí!
- Faz de conta que eu não sou famoso – ele riu. – E esse cara não famoso tá querendo te levar pro London Eye! Talvez por ele ser muito bonito meninas vão querer tirar fotos com ele e um segurança vai ter que nos acompanhar, e aí?
- Nossa – quem riu fui eu. estava na minha frente com uma foto do e ela gesticulava demais ‘você tá falando com ele, você tá falando COM ELE’. – Não tem problema pra você? Tipo, não falar que eu sou sua namorada ou algo assim, vão?
- Com certeza vão – ele riu mais ainda. – Vamos ser discretos, é um preço que infelizmente eu tenho que pagar – ele suspirou.
- Ai meu Deus – eu ri e olhei pra , ela só falava ‘vai logo caralho’ e eu ri mais ainda, que desespero.
- Prometo que te pago um churros – ele disse e sua voz parecia um pouco mais melosa, eu ri. – Minha última oferta.
- Ah, tá bom – falei por fim e vi fazer um ‘YEEES’ – Como faremos? Eu vou pra lá?
- Sabe chegar lá? - Táxi, amigo, táxi! – Eu respondi e ele gargalhou. – Não estou tão perdida assim em Londres.
- Bom saber, vou fazer um quiz com umas 50 perguntas que todo londrino precisa saber, só depois disso você vai poder falar que conhece Londres muito bem ou não.
- É o preço que eu tenho a pagar – eu ri. – Como te acho lá?
- Vou te esperar no carro, quando eu te ver dou farol alto, pode ser?
- E como você vai saber que sou eu? Lembra da minha cara?
- Claro que sim – ele sorria, eu sabia disso. – Nos vemos em uma hora?
- Tá, fechado – suspirei. – Só não me abandona pra ficar falando com as fãs, sou muito anti-social.
- Há, ok – ele riu. – Até breve, beijo.
- Be-beijo?!

Desliguei o telefone vendo a pular em cima da cama e parecer absurdamente mais feliz do que eu. Não vou negar que eu estava sentindo calafrios, mas não conseguia decidir se era porque:

- era um gatinho e talvez fosse a primeira vez em minha vida que eu fosse sair com alguém bonito
- Ok, ele era famoso! Ele era famoso! Como assim?
- Ele me ligou, como que essa pessoa conseguiu o telefone?
- Comparando as meninas que ele possivelmente já deve ter saído, eu devo ser a mais sem graça e eu não sei nada sobre ele, absolutamente nada.

- ? – me chamou, me tirando dos meus devaneios.
- Que foi, ? – Eu perguntei.
- Você tem aí uma meia hora pra se arrumar, o trânsito em Londres é horrível e nós costumamos ser bem pontuais – ela sorriu. – O vai estar te esperando.
- , eu... – pânico começou a se apoderar de mim, sério?
- – ela veio até mim e sorriu. – Vamos, eu te ajudo a achar uma roupa.

abriu o guarda roupa e me mostrou algumas peças dela, eu mal sabia o que vestir pra ir pra escola, vou lá saber o que vestir pra ir em um encontro com um cara famoso? Olhei pro relógio, com essa minha indecisão se foram 7 minutos, eu ainda tinha que dar um jeito no cabelo e ficar apresentável. Sem falar da fãs que iriam estar lá e eu tenho certeza de que iam me olhar feio. Será que elas iam falar mal de mim no Twitter? Ai que coisa ridícula! E se falassem que éramos namorados? E se eu saísse na revista? Devo ir, não devo ir? Que seja... já escolheu a roupa que eu vou vestir, maquiagem e ela está mais preparada pra esse encontro do que eu. Espera, eu chamei de encontro? Isso não é um encontro, , não é um encontro.

Eu só vou até o London Eye. Com um garoto. Do One Direction. .
Caralho!

Capítulo 03

me emprestou um sobretudo que seria capaz de me deixar aquecida o tempo todo, eu não tinha roupas quentes suficientes e não estava em meus planos sair à noite em Londres logo na minha primeira semana – ou nos primeiros cinco dias. Ela apenas arrumou meu cabelo de um jeito que me deixasse com cara de normal e disse pra eu não passar muita maquiagem (“lembre de don’t need make up to cover up, !” – ela repetia enquanto passava um blush, me deixando com as bochechas coradas). Me olhei no espelho e me achei totalmente normal! Calça jeans, botas, blusa cacharrel preta por baixo e um sobretudo caramelo por cima. Luvas e um gorro – é, eu estava de gorro, eu sinto frio nas orelhas –, e esse adereço iria sumir no momento em que eu visse o . Se eu falar em voz alta ‘eu vou ver ’ vai ser muito estranho, prefiro manter esse pensamento em minha cabeça de forma isolada.

Jeff, meu taxista amigo desde meu primeiro dia, já estava me esperando em frente ao nosso albergue – é estranho falar albergue, então eu vou chamar de apartamento estudantil – e deu umas duas buzinadas, só pra me avisar que já estava ali.

- Perfume, maquiagem... Ai meu Deus, eu não acredito nisso! – sorria e batia palminhas enquanto dava voltas ao redor de mim pra checar se estava tudo bem.
- , não faz pressão, por favor – eu ri nervosa. – Ele é simplesmente um garo...
- Um garoto lindo de uma das minhas bandas favoritas! Não tire essa alegria de mim agora, , me deixa ser groupie por você, já que você não está agindo como uma!
- Eu não gosto e nem quero ser groupie – bufei e apertei o sobretudo contra meu corpo. – E estou me sentindo assim, odeio essa sensação.
- Você é mais uma garota sortuda que vai dar uns peguinhas de leve no e depois me contar tudo nos mínimos detalhes – ela riu e eu fiz careta. – É sério que você não quer dar uns pegas nele?
- Meu cérebro não funciona desse jeito – bufei de novo. – E agora deixa eu ir, se eu passar mais cinco minutos conversando com você eu desisto.
- Deixa que eu vou no seu lugar então – ela riu.

Cheguei ao andar debaixo em dois segundos, o que a estava falando não ajudava em nada, só me deixava mais nervosa! Eu não queria ir, ele pode ser bonito, mas e daí? Aposto que tem muitos outros garotos da minha idade que são bonitos, sangue europeu é sempre melhor que sangue brasileiro! Diga-se de passagem o McFly, os quatro são maravilhosos! E por eles eu viro groupie. Agora, com One Direction, eu nem sabia quem eles eram cinco dias atrás e agora estou indo em um pseudo encontro com um deles, eu sei que vai ser estranho!

- Boa noite Jeff – falei meio sorrindo.
- Boa noite, criança, como vai?
- Bem, tô bem... – entrei no táxi e fechei a porta. – Pro London Eye, por favor.
- Hm, já fazendo passeios noturnos? – Ele perguntou com uma malícia na voz e eu apenas ri. – Tome cuidado, os britânicos não pensam duas vezes antes de agarrar uma menina.
- Esse é meio... Diferente – falei e mordi os lábios. – Pelo menos eu acho.
- Como sabe?
- Hm, já ouviu falar da banda One Direction?
- Os cinco garotinhos que foram contratados pelo Simon? – Ele perguntou e eu balancei a cabeça afirmando, ele viu minha resposta pelo retrovisor. – Minha filha é louca por eles, tem posters grudados até no teto!
- Hm, legal – eu ri. – Então, digamos que eu vou sair com um garoto que é bem dessa banda – sorri, não ia falar que ia sair com um cara da banda.
- Ah, meio afeminado? – Ele perguntou já rindo e eu ri mais ainda.
- Não diria que é afeminado, apenas com um gosto musical peculiar.
- Gay, aham.
- JEFF! – Eu bati de leve no banco dele e ele gargalhou. – Nem sei porquê estou fazendo isso, esse garoto não faz meu tipo.
- Bom, é sempre legal experimentar – ele sorriu de forma paterna. – Você está em Londres, uma das cidades mais peculiares do mundo, por que não?

E com essa pergunta na cabeça ‘por que não’ eu fiquei meio calada e permaneci assim até chegarmos ao London Eye.

Assim que cheguei já vi umas sete meninas rodeando um garoto e tirando fotos. Claro, o garoto ali no meio era – desculpem, não consigo chamá-lo apenas de ! Fiquei parada uns metros longe vendo a cena e balancei a cabeça negativamente, o que eu estava fazendo lá? Aquelas meninas eram lindas demais, maldito sangue europeu, como eu já disse. Os cabelos longos, finos e lisos, o corpo esbelto e a pele branca como marfim, não era meu mundo. Respirei fundo e caminhei mais alguns passos, se eu cheguei até aqui eu ia pelo menos ter a descência de falar oi e me despedir cinco segundos depois. Quando eu estava chegando mais perto eu vi uma menina dar um beijo em sua bochecha e tirar uma foto, ele sorria e eu não posso negar que achei o sorriso dele bobo e infantil, porém lindo. Nossos olhares se encontraram e ele soltou um ‘heeeeeey’ bem animado, a menina que estava há poucos segundos beijando sua bochecha me olhou de cara feia e foi logo puxando o rosto dele chamando sua atenção. Sorri olhando pra baixo, que diabos eu fazia ali?

- Hey, garota – uma voz grossa me assustou e quando eu olhei para o lado vi uma pessoa bem BEM mas bem ‘forte’ e um pouco branquelo. – Por aqui, por favor.

Mas hein?

Olhei pra , que ainda falava com as fãs, só queria que ele me olhasse por cinco segundos pra ver que eu estava mais ou menos querendo ajuda. Olhei pro armário ao meu lado e então vi um crachá escrito ‘1D’ e algumas coisas a mais. Ah, então ele deve ser o tal segurança, ok. Com o coração mais tranquilo eu o segui. Fomos até uma van preta que estava encostada um pouco mais afastada do London Eye, deve ser o carro em que o veio e provavelmente que a banda toda usa. Pensei nas meninas ao lado do , elas iriam morrer pra estarem aqui.

- Bom, vocês dois tem trinta minutos pra ficarem juntos, o Senhor precisa voltar cedo porque amanhã tem entrevistas logo pela manhã, entende? – Sua voz era grave e rouca e me dava medo, muito medo.
- Claro, tudo bem – concordei quase de forma automática.
- Infelizmente não sera possível vocês irem ao London Eye como ele havia combinado com a senhorita, vocês vão ficar aqui perto da van, eu preciso saber o que você gosta de comer. Hambúrguer? – E eu de novo fiz cara de ‘hein?’
- Desculpa, por que não podemos ir ao London Eye?
- Não posso expor o menino , senhorita, há muitas fãs no local que de alguma maneira descobriram que ele viria pra cá hoje – ele falou com a voz um pouco mais calma, menos mal. – Eu tenho por objetivo protegê-lo da mídia e fotógrafos indiscretos. A senhorita deve saber que o senhor é comprometido.
- Co-compro-compro hã?
- Comprometido – ele falou mais pausado pensando que eu fosse ou uma retardada ou não sabia falar inglês. – Tem uma namorada.
- Eu... Eu não sabia – falei baixo. – Então, por que ele me chamou pra vir pra cá?
- Ah meu Deus – ele coçou a nuca, quantas vezes ele não deve ter visto essa cena?
- Desculpa, acho que eu não devo fazer essas perguntas para o senhor, e sim pra ele, estou certa?
- Eu já respondi essa pergunta umas mil vezes por ele – ele sorriu. – Embora ele tenha uma namorada, é mais ou menos fachada pra mídia. É necessário agora no começo da carreira ele ter alguém ao lado, como posso explicar, Teen Vogue acha muito mais bonito fazer uma sessão de fotos com ele e a namorada do que com ele sozinho.
- Então ele namora uma menina apenas porque é necessário? – Perguntei quase aumentando minha voz um decimal acima. – Que ridículo.
- Concordo – o fortão deu de ombros. – É por isso que ele dá essas escapadas com as fãs – eu ia abrir a boca pra falar algo, mas já fui interrompida. – Só pedimos que não comente nada, não tire fotos, seja discreta e não fique no pé dele por Twitter, Facebook ou qualquer outro meio de comunicação virtual. E caso ele te ligue após a noite de hoje, não atenda.
- Fique tranquilo, eu não vou falar nada – quase bufei, sim, eu era a peguete da noite! Vai pra puta que pariu.
- Caso queiram ir para um lugar mais reservado, apenas me informem. Estarei no restaurante logo ali na frente, o senhor tem meu número.
- Se nem podemos ir ao London Eye, pra que eu vou querer ir a outro lugar?
- Se o clima esquentar... Digo... Vocês são jovens...
- Temos trinta minutos! – eu disse entre os dentes. – E eu gosto de hambúrguer.
- Desculpe-me? – Ele não deve ter entendido a última parte, eu tava respondendo uma pergunta anterior.
- O senhor me perguntou se eu gostava de hambúrguer, eu disse que sim – sorri e ele acenou com a cabeça.
- Ok, obrigado pela resposta – quanta formalidade. – Vou buscar o senhor . Por favor, espere perto da van um pouco escondida.
- Tá, já entendi.

Dei um sorriso falso e fiquei ao lado da van de forma escondida como o altão tinha me mandado. Nós estávamos um quarteirão longe do London Eye, a van estacionada em uma rua não muito deserta, mas com outros carros, então ficava meio que camuflado. O céu estava escuro, como uma manta negra, e exatamente nessa rua não tinha luz, o que me deixava mais na escuridão, só a luz de alguns flashes dos carros que passavam ali, mas estavam rápidos demais, então a luz durava pouco. Me encostei na van suspirando e sentindo o vento cortar o pouco de pele exposta que eu tinha, meu rosto. Deve ser muito difícil viver assim, uma pessoa controlando tudo o que você faz, não podendo ir aos seus lugares favoritos e ter que namorar por obrigação apenas pra fazer ‘média’ com a publicidade. Mas ele tinha namorada, de qualquer forma ele tinha uma pessoa, e eu, como foi deixado bem claro, era apenas mais uma que felizmente teria 30 minutos de amor com ! Ah, por favor. Depois me dizem que essas meninas não são groupies, é óbvio que são.

Tentei abrir a porta da van, que, ainda bem, estava aberta. Lá dentro estava bem mais quentinho, então me sentei em um das cadeiras, poltronas, sei lá, e fiquei esperando o segurança trazer o garotinho que estava dando uma escapadinha hoje. Estava quase falando pra ele chamar uma das outras fãs e me deixar ir embora pra casa, mas eu iria ganhar hambúrguer de graça, deixa quieto.

- Heeeeeyyy... – a cabeça feliz de apareceu na porta da van.

Suas bochechas estavam rosadas, seus lábios vermelhos e seus cabelos iam de um lado pro outro por culpa do vento. Ele também estava com luvas, manga comprida, calça, todo empacotado. Senti um leve perfume vir na minha direção, mas nem me prendi a isso, caso contrário perderia o pouco que me restava da razão.

- Tudo bem, não vamos sair daqui – ele disse ao segurança, e logo depois entrou na van e se sentou de frente pra mim, acendendo a luz e deixando tudo um pouco mais claro. – Desculpa, não sabia que as fãs iriam descobrir onde eu estava hoje.
- Sem problemas – sorri meio sem jeito. – O fortão já me explicou tudo.
- Paul? – Ele sorriu. – Ele é de boa, sempre me ajuda – suspirou fundo e passou as mãos nos cabelos, empurrando-os para trás. – E então, como você está?
- Com frio – falei meio seca, eu estava desconfortável, ME DESCULPA!
- Olha – ele inclinou o corpo pra frente e pegou minha mão com uma brandura indescritível, quem era esse moleque? – Desculpa por não sair exatamente como eu planejei, eu realmente queria te levar até o London Eye, de noite é uma experiência incrível! – Ele sorriu e eu quase automáticamente sorri junto. – Espero poder marcar um outro dia.
- Sua namorada não vai ficar brava? – Perguntei.
- Ah, o Paul contou – ele soltou minha mão e eu estralei os dedos. – Nós não nos tratamos como namorados, é... Complicado – ele passou a língua pelos lábios e suspirou. – Não queria te colocar nessa situação.
- , digo, posso te chamar de só de ?
- É o meu nome – ele riu e eu também, eu sou tão babaca.
- Bom, – enfatizei o nome dele e ele riu de novo. – Eu não sei exatamente o que você estava esperando dessa noite, não sou como uma fã do seu grupo, digo, eu nem sou sua fã – falei e logo em seguida me arrependi. – Não se ofenda.
- De maneira alguma – ele ainda sorria.
- Continuando, eu não acho certo você ter uma namorada, mesmo que seja por conveniência, e sair por aí ficando com as fãs – suspirei e acabei mordendo meus lábios com um pouco mais de força, eu falo demais. – E eu não sou exatamente fã, acho que outra garota deveria estar no meu lugar. Na verdade, eu estou me perguntando por que eu ainda estou aqui – sorri sem graça.
- , posso te chamar assim? – Ele perguntou fazendo um cara engraçada e eu sorri concordando. – Obrigada pelo hm... Conselho – ele coçou a nuca e riu. – Você na verdade é a primeira garota que fala isso, geralmente as meninas não se importam muito com o fato de eu ter uma namorada.
- Eu não sou normal – ri sem humor.
- Não você não é – ele riu concordando. – Mas isso não é uma crítica, eu realmente queria te agradecer. A razão pela qual eu te chamei pra sair hoje foi na amizade, eu sabia que não ia conseguir nada com você, nem vim com essa intenção – arregalei os olhos assustada. – Não que você não seja atraente, de maneira alguma – ele se preciptou em se redimir. – Você é linda, é muito bonita – murchei meus olhos, não preciso de elogios, a besteira foi falada. – Ah meu Deus, agora você vai me achar o maior idiota de Londres.
- Imagine – falei meio sem forças. – Estou acostumada com isso – dei de ombros.
- Acostumada com o quê?
- Em ser a amiga – eu sorri. – Não se desculpe, , de certa forma eu tô aliviada de você ter me chamado só na amizade, amigos são sempre bons – tentei parecer um pouco mais animada, não ia deixar ele mal. – E como eu não sou uma garota que sabe tudo da sua vida, acho que posso te tratar como um amigo mesmo.
- Não se acostume em ser apenas a amiga de um cara, de vez em quando nós queremos um pouco mais – ele sorriu. – Eu não queria te deixar mal, me desculpe.
- Não fica pedindo desculpas – eu ri. – Gente, que conversa desconfortável – comecei a rir e ele riu junto comigo.
- É a primeira vez que eu converso com uma garota desse jeito – ainda sorria e era lindo. – Queria deixar claro que eu te chamei como amiga, mas te achei interessante. Desde que formamos a banda não tenho muito tempo para construir amizades e você me pareceu legal, o fato de não me ver como alguém famoso foi um bônus, me senti mais a vontade de te chamar pra sair.
- De nada? – Perguntei na dúvida e ele abriu o sorriso. – Deve ser difícil não conseguir conversar com alguém sem que essa pessoa tenha segundas intenções.
- Um pouco – ele disse. – Do dia pra noite nossa vida mudou, nem nossos amigos antigos nos tratam como antes. Na verdade, hoje eu considero os meninos da banda como meus melhores amigos, nós passamos por tudo juntos e vimos nossa vida mudar diante dos nossos olhos, ninguém sabe, mesmo que de vez em quando eu queria só chamar uma garota legal pra comer um lanche no London Eye sem ser perseguido por fotógrafos e ver fofocas dela no dia seguinte – ele olhou pra mim e sorriu de forma sincera.
- Bom, nós vamos comer um lanche numa van, isso é bem legal também – eu sorri e ele sorriu junto. – Eu posso vir no London Eye depois, é o número um dos meus pontos turísticos que pretendo visitar.
- Mas não vai ser a mesma coisa se você vier de dia – ele disse brincalhão. – E nem vai ter a minha companhia.
- Eu ligo pra você desde o momento em que eu pisar no London até a hora que eu sair, pode ser? – Falei brincando e só depois me toquei do que tinha dito, eu tava mesmo pedindo o número de telefone dele?
- Hm... – ele fez um estalo com os lábios e eu fiquei vermelha. – Pra isso você precisa do número do meu telefone – ele sorriu.
- É, e você não precisa me dar se você não quiser – eu disse. – Na verdade, o Paul deixou bem claro pra eu não te ligar e nem ir atrás de você pelas redes sociais, então esquece o que eu disse.
- Ele diz isso para as meninas que geralmente beijo – ele mordeu os lábios. – E você não é uma delas – eu sorri totalmente sem graça e, devo acrescentar, sem esperança alguma. – Você é amiga, não tem problema ter meu número.
- Então se eu me perder em Londres e precisar de ajuda eu vou poder te ligar?
- Se eu não estiver ocupado, por que não? – Ele sorriu. – Cadê seu celular?
- Espera...

Peguei meu celular do bolso um pouco tremendo, não pensei que ia ser tão fácil a esse ponto e meu coração dava saltos dentro de mim. Tudo bem que eu realmente ia ser só amiga dele, mas era demais! E ele era bonito, nunca fui amiga de ninguém bonito. Entreguei meu celular em suas mãos e ele rapidamente anotou uns 8 números lá, aproveitou e tirou uma foto dele mesmo fazendo careta e colocou como a foto que iria aparecer caso ele me ligasse ou eu ligasse pra ele. Pensei comigo mesma que aquela foto era algo mais que precioso, imaginei a foto sendo editada no Tumblr e as meninas pagando pau em cima. Pra mim seria a foto de um ‘amigo’ que eu acabei de fazer e estaria em meu celular, e agora eu teria que redobrar o cuidado com o aparelho.

- Pronto – ele sorriu e me entrou meu aparelho móvel. – Aproveitei e já dei um toque no meu celular pra eu gravar seu número, mas preciso de uma foto sua pra eu saber que é você quem está me ligando.
- Fala sério – eu ri vendo meu celular e a foto dele. – Nem pensar, odeio fotos!
- Se você se encontrasse com Tom Fletcher e fosse seu único momento de ter uma foto com ele, você iria se recusar só por que não gosta de fotos? – Ele me perguntou sorrindo com os lábios fechados e fazendo uma cara de arteiro.
- Como que você sabe que eu tenho uma queda pelo Tom?
- A foto dele tá de background do seu celular – ele apontou para o objeto em minhas mãos e eu fiz cara de culpa. – E então, você iria tirar uma foto com ele?
- É diferente – eu disse meio manhosa. – Ele é meu ídolo, eu o amo desde o primeiro CD do Mcfly, se eu não tirasse uma foto com ele seria estúpida! Eu poderia ficar horrorosa, mas seria uma lembrança boa – eu falei meio sonhadora.
- Então você só tira foto com pessoas que você acha especial, tô errado?
- Ai, chega com isso – eu ri. – Você vai querer saber porque você não é especial e blábláblá e eu vou ficar mais sem graça, essa noite já está sendo estranha o suficiente, não torna isso pior!
- Ok – ele ergueu os braços. – Só olha aqui pra mim, rapidão...

E quando eu ergui meu rosto, o filho da puta bateu uma foto minha.

- HEEEEY! – Tentei pegar o celular das mãos dele de onde eu estava, mas ele ergueu o aparelho mais alto e ria descaradamente. – Não te dei liberdade pra você ter uma foto minha no seu celular.
- Eu pego liberdade fácil com as pessoas que eu gosto – ele sorriu e deu uma piscada de leve com o olho. – Pronto, sua foto já está anexada ao seu número de telefone.
- Eu posso pelo menos ver como ficou isso?
- “Isso” ficou lindo – ele sorriu. – Confia em mim, não vou mostrar essa foto pra ninguém.
- Assim espero – eu bufei. – Que saco, garoto.
- Como você é fraquinha nos argumentos – ele gargalhou e eu bufei mais ainda, eu nem sabia mais o que falar! Se ele fosse um amigo meu de longa data, nesse momento ele estaria cheio de marcas de tapas.

Ficamos nessa briguinha de gato e rato por mais uns cinco minutos. Não demorou mais que isso para Dave aparecer com hambúrgueres, refrigerante e uma dose extra de chocolates. E eu achando que ia comer de forma saudável aqui em Londres.

acabou me contando coisas que, eu tenho certeza, nenhuma revista de fofoca sabe. O que ele sentiu quando foi eliminado no Xfactor e depois acabou voltando com os meninos, o que todos sentiram quando conseguiram a terceira colocação, a primeira fã que ele abraçou, a sensação de ter o CD em mãos e, claro, coisas pessoais. Primeira namorada, primeiro beijo, marcas de roupa favoritas, primeiro tombo de bicicleta, essas coisas. ficou querendo saber um pouco de mim, mas eu fui meio seca nas respostas, eu não queria falar tudo de mim assim na primeira conversa, confesso que estava sendo mais interessante saber da vida dele e me sentir especial por alguns minutos, a ideia de que aquelas meninas do lado de fora estavam agora chorando e morrendo porque conseguiram uma foto com ele e eu estava dentro de uma van comendo hambúrguer com me dava arrepios.

- Com licença – Paul abriu a porta da van enquanto nós colocávamos o lixo dentro de sacolinhas plásticas. – Senhor , nós realmente precisamos ir.
- Agora? – Ele fez uma cara tão bonitinha, senti vontade de apertar suas bochechas.
- Infelizmente, o senhor tem entrevistas a partir das 7 da manhã.
- Tá – ele supirou. – Nos dê mais cinco minutos, por favor.
- Ok, estou esperando aqui fora – ele disse calmo. – Senhorita, você precisa de carona pra casa?
- Não, obrigada – respondi. – Eu chamo um táxi.
- De maneira alguma – falou. – Você já está dentro de uma van, pra que chamar um táxi?
- Você não é o único que tem motorista particular – eu sorri. – Já combinei com um taxista que é meio que meu amigo, ele vem me buscar.
- Então liga pra ele agora, não vou deixar você esperando um táxi sozinha – respondeu. – Dê o telefone ao Paul que ele liga, você pode fazer isso, né, Paul?
- Claro que sim – o grandão respondeu. A meio contragosto eu dei o número do telefone do Jeff, em meia hora eu fui mimada de um jeito que eu nunca fui na vida.

e eu saímos da van e colocamos o lixo em uma caçamba ali perto, achei engraçado, ok? Londres também tem caçamba! Paul ligou para Jeff explicando certinho onde nós estávamos, e eu nos sentamos na calçada perto da sarjeta e ficamos ali esperando meu taxista fofo. Estava mais ou menos perto das nove da noite e o frio em Londres tinha se intensificado, eu até mesmo esqueci de tirar meu gorro, porque minhas orelhas estavam frias até mesmo dentro da van. Apertei o sobretudo da contra meu corpo e abaixei mais meu gorro, estava me sentindo uma bolinha toda empacotada; olhou pra mim de lado e sorriu.

- Não está acostumada com o frio?
- Brasil é bem mais quente que isso até no frio – falei meio que batendo o queixo e sentindo minha boca arroxear. – Isso aqui é frio demais pra mim.
- Toma – ele tirou o cachecol que usava e me deu. – Cobre seu rosto com isso, vai ajudar.
- Não precisa, o Jeff tá chegando – eu sorri meio trêmula e ele me lançou um ar desconfiado.
- Teimosa – ele virou todo o seu corpo pra mim e colocou o cachecol ao redor do meu pescoço. Tinha uma razão pela qual eu não queria usar aquilo, esse pedaço de pano tava no PESCOÇO dele, e o perfume dele, claro, vívido e delicioso ali. – Tá melhor?
- Um pouco – respondi subindo o cachecol até meu nariz, não era pra sentir o perfume dele melhor, eu juro. – Obrigada.
- De nada – ele sorriu e me abraçou de lado, levei um susto e fiquei mais paralisada do que já estava. – Sabe, essa foi uma das noites mais normais que eu já tive desde que entrei na banda.
- Desculpa por não ter sido uma groupie – falei tirando o cachecol de cima da minha boca e rindo. – Acho que você vai ter que agarrar o Paul pra descontar sua frustração.
- Vou agarrar um dos meninos, pode ter certeza – ele sorriu. – E obrigada por não ser uma groupie – viramos nossos rostos ao mesmo tempo e deu aquela coisa bem clichê do tipo ‘nossos rostos estão perto demais’. – Se você fosse groupie, eu não te veria de novo.
- Por que não? São elas que seguem a banda pra todos os lados – falei um pouco baixo, estava perdida no meio do sorriso e dos seus olhos.
- É sempre a mesma conversa, não tem... Entrosamento, se é que posso falar assim. É diferente, bem diferente – ele sorriu. Sua mão, que estava apoiada um pouco mais abaixo do meu ombro, me abraçou mais forte, estávamos mais perto. – Eu tenho certeza de que vou te ver de novo.
- Pra devolver o cachecol? – Perguntei rindo. – Porque eu realmente não vou devolvê-lo hoje, finalmente estou sentindo a ponta do meu nariz.
- Há – ele riu alto. – Exato, vou cobrar o cachecol, e que bom que seu nariz voltou a ser sentido – ele deu um peteleco de leve e sorriu assim como eu, borboletas faziam festa na minha barriga.
- Com licença – Paul, de novo, apareceu. – Acho que o seu taxista acabou de chegar.
- Ah, obrigada – eu sorri.
me ajudou a levantar e foi abraçado comigo até o táxi, que estava parado um pouco mais atrás de onde estava a nossa van.

- Acho melhor nos despedirmos aqui, a filha do Jeff é bem fã de One Direction e ele pode pedir alguma coisa pra você, sei lá – falei parando uns dois carros antes do táxi.
- Fala pra ela vir da próxima vez com ele, aí eu tiro uma foto com ela ou algo assim, pode ser? – Ele sorria, meu Deus, como ele sorriu hoje.
- Fechado – eu disse. – Bom, boa noite, . Obrigada pelo lanche.
- Boa noite, – ele me respondeu vindo até mim e me dando um daqueles abraços apertados que você não quer se soltar nunca. Antes de sair ele me deu um beijo que demorou quinze segundos, beijo na bochecha, e, sim... Eu contei os segundos.
- Boa sorte na entrevista amanhã cedo – falei com as pernas meio bambas, a sensação do rosto dele perto do meu e dos seus lábios era recente e me dava faniquitos. – É pra qual revista?
- SugarScape – ele falou animado. – Hey, você não vai com a sua turma participar de uma sessão de fotos nossa?
- Vou sim, daqui quinze dias – eu sorri. – Finalmente vou conhecer a banda toda.
- Não temos que esperar quinze dias – ele disse. – Nós vamos fazer um show na arena O2 esse sábado, por que não vem?
- Porque não tenho ingressos...? – Perguntei meio na dúvida.
- Ah, claro – ele riu. – Oi prazer, sou da banda One Direction; quer comprar um ingresso? – Ele fez cara de comerciante e começou a rir, assim como eu, a cada segundo eu achava ele mais fofo. – Deixa de ser boba, vai como minha convidada.
- Ah, ...
- Hey, você é minha amiga ou não? – Ele sorriu me segurando pelos ombros e quase me abraçando de frente. – Queria muito que você fosse, quem sabe não te transformo em uma ‘Directioner’?
- Hein?
- Fã de One Direction – ele me respondeu fazendo uma cara meio óbvia, eu lá sabia que as fãs tinham nomes!
- Vai ser difícil me levar pro lado negro da força, sou uma fã muito fiel ao McFly.
- O Tom escreveu uma música pra nós...
- O QUÊ? – tá, eu berrei na cara dele. – VOCÊS CONHECEM TOM FLETCHER?
- É essa reação que eu queria quando você ouvisse ‘One Direction’ – ele apontou pra minha cara, que deveria ser de espanto, e começou a rir.
- Desculpa, mil vezes desculpa...
- Tá – ele ainda ria. – Sim, nós conhecemos o Tom. Ele escreveu uma música pra nós, se chama ‘I Want’, geralmente abrimos o show com ela.
- Caramba, caramba – coloquei a mão na boca pra não gritar de novo. – Você... Você fala com ele tipo... Sempre?
- Não sempre – ele deu de ombros. – Mas eu tenho o telefone dele no meu celular, da banda toda pra falar a verdade.
- CARALHO! – Falei em português mesmo, me olhou engraçado. – Nós conversamos por meia hora e você se esqueceu de me falar que você tem o número da pessoa mais perfeita no seu celular! Que tipo de amigo você é? – Tá, eu estapeei ele, no braço, foi sem querer. Assim como o segundo tapa, o terceiro, o quarto...
- Calmaaaaaa... – ele ria alto enquanto segurava meus braços, me deu um desespero, Tom estava tão longe e tão perto de mim; nem percebi quando segurou meus braços atrás de seu corpo e nós estávamos novamente abraçados de frente. – Da próxima vez eu prometo que falo com o Tom, tá bom?
- Tá – eu ri. – Ai, sou groupie do McFly e vou usar você pra chegar até eles!
- Aham... – ele sorriu, assim como eu. – Essa seria a parte da noite onde eu beijaria a garota – sorriu com os lábios fechados. De repente toda aquela excitação McFly foi embora, minhas pernas bambearam e o sorriso que estava antes em meu rosto saiu, eu não estava esperando por aquilo. Pensa rápido, , pensa...
- Quer parar de me paquerar? – Saí do abraço e o empurrei pelo peito, já caminhando na direção do táxi, e deixei com um sorriso bobo no rosto, eu acho que devia estar com um também. – É bom que você me liguei de novo, , ou eu vou dar uma de stalker atrás de você.

Nem ouvi a resposta dele, saí correndo na direção do táxi e entrei quase que com tudo, assustando um Jeff que lia o jornal calmamente.

- Menina, que pressa é essa?
- Desculpa, Jeff, eu tô... feliz, só isso – eu sorria enquanto tirava o sobretudo, mas ainda ficava com o cachecol.
- Foi bom o encontro?
- Foi inesperado – eu ri. – Me leva pra Stanton, por favor? Eu só quero me trancar no quarto e ficar sorrindo igual besta pra parede.
- Ok – ele riu. – Ah, adolescentes.

Encostei minha cabeça no vidro enquanto via a London Eye se distanciar ao fundo, vi a van sair de dentro da escuridão e pegar a direção oposta da minha. Queria passar mais tempo com , queria falar mais sobre sua vida, sobre a minha vida, e queria que ele ligasse pro Tom. Isso foi ridículo, mas eu sou fã!

Senti meu bolso vibrar e tive quase certeza de que era uma mensagem da , ela devia estar louca querendo saber como foi o encontro e os detalhes. No fundo eu sabia que iria ficar despontada, não teve amassos como ela pensou. Levei um susto quando vi a foto que havia tirado dele mesmo ali e ‘uma nova mensagem ’ piscando no Iphone.

‘Esteja às 4 da tarde na Entrada C da Arena O2. O show começa às 6h, então vamos chegar mais cedo para fazer o soundcheck. Se quiser levar uma amiga, fica à vontade, Paul vai estar te esperando com as credenciais. Não me desaponte X’

Não me desaponte? Como assim? Ai meu Deus, a vai ter um treco! Nós vamos ao show do One Direction.

‘Você esqueceu sua carteirinha do curso na van, vai precisar dela? Aliás, bela foto, X’

- Ah meu Deus! – Eu falei alto e Jeff me olhou curioso.
- Alguma coisa, pequena?
- Não – eu ri. – Coisa minha.

Olhei pra mensagem de novo e tive que engolir a vontade de rir. Eu não ia precisar dela, , meu curso só começa semana que vem. Respondi rapidamente e guardei o celular no bolso novamente. Quando me disseram que a experiência em Londres seria uma coisa única, nunca me avisaram que eu estava correndo o risco de ser amiga de uma banda, de sair pra comer com um dos caras da banda e nem de ficar recebendo mensagens dele. E de ficar absolutamente encantada pelo jeitinho dele a noite toda.
E de ter que me lembrar a cada cinco minutos que ele tem namorada.
É, nada é perfeito...

Capítulo 04

- NO BRASIL NÃO TEM PEIXE NÃO, CARALHO? É PEIXE!!!

Sábado, dia do show, e lá estava eu agarrada na privada colocando todo o peixe com um tempero suspeito pra fora. Já eram seis da tarde, o show estava começando. me mandou umas cinco mensagens, uma mais fofa que a outra, e por último uma bronca: ‘obrigado por me deixar com cara de pamonha na frente dos meus amigos’. Desculpa, , não acho que seria legal seus amigos me conhecerem exatamente no dia em que to colocando salmão pra fora até pelo nariz.

, ao invés de ser solidária, estava me mandando pra puta que pariu a cada cinco minutos e falando umas palavras estranhas que eu tinha certeza de que eram de Bolton. Ela não respondeu nenhuma mensagem do em meu nome, embora eu tenha pedido isso mil vezes. Ela estava brava, mas a culpa não era minha! Nós almoçamos hoje pela primeira vez na escola e o tempero britânico pode ser bem diferente quando você não está acostumada; eu comi salmão e salada, e eu juro que aquele salmão estava com gosto de atum. Não demorou muito pro meu estômago reclamar e, hm, desde as 3 da tarde aqui estou, desnutrida e agarrada ao vaso sanitário sem uma amiga compreensiva ao meu lado. Já tinha ligado para minha mãe e ela tinha me passado a receita do soro caseiro que eu tomava no Brasil – TÃO difícil – e eu já tinha tomado, mas, até aquela hora, nada. E, de acordo com o meu reflexo no espelho, eu estava verde.

- , você tem noção do que acabou de acontecer? TEM NOÇÃO? – Ela parou ao meu lado, prendendo meu cabelo novamente em um rabo de cavalo.
- Eu vou vomitar salmão pelo cu se você falar de novo da porra do show – é, eu tava nervosa.
- – ela se sentou ao meu lado. – Pra você pode não significar nada, mas pra mim seria tudo. Tem noção de como eu sou fã deles? Tem noção da sua sorte e você não tá fazendo nada! Passa sua sorte pra mim.
- – ergui meu rosto e limpei o pouco de vômito no canto da minha boca, ela fez careta. – Eu ligo pro depois, peço desculpas e pergunto se podemos ir outro dia. Ele é meu amigo agora, lembra?
- Amigo que você não tá fazendo questão de ter a amizade cultivada.
- Número um, eu não fui porque eu não quis, eu tô passando mal – apontei pra mim e pra privada. – Número dois, não queria correr o risco de trombar com a namorada dele por lá.
- A Lauren não é namorada dele de verdade, você sabe disso – ela disse com uma voz penosa. – Ele mesmo explicou pra você.
- Não interessa, , se nós fôssemos seria mais um motivo pra uma fofoca ser criada, e eu não quero isso agora – suspirei, senti meu estômago dar uma pontada, mas eu sabia que não tinha mais nada pra sair. – Eu não entendo, essa Lauren é tão linda, por que não namorar ela de verdade?
- Ela deve ser ruim de cama - gargalhou, se eu tivesse força iria rir junto.

Quando voltei do meu encontro com dois dias atrás contei tudo pra , e como era de se esperar, ela ficou desapontada. Nós duas fomos procurar quem seria essa namorada dele e nos deparamos com uma irlandesa chamada Lauren Miller. A tal menina tinha 17 anos, era cantora e era maravilhosa; a pele tão branca que me dava um pouco de medo, os cabelos castanhos ondulados que iam até a cintura, os olhos grandes amedoados e um corpo pra dar inveja na Barbie. Uma super model. De acordo com as notícias, os dois começaram a namorar uns dois meses atrás, tem até foto deles se pegando e tal, mas parece que de uns quinze dias pra cá o namoro deu uma esfriada. Não se tem mais notícias dele, ela sai pra lá e pra cá sem ele e o nem preciso comentar o que fica fazendo sem ela. As fãs falam que eles estão pra acabar o namoro, o marketing do 1D afirma que eles estão juntos, e os meninos da banda não comentam nada. Ou seja, é um belo ponto de interrogação.

Não que eu tenha ciúme, não é isso. Mas o é uma pessoa encantadora e acho muita sacanagem ele ficar preso em um relacionamento onde ele não é feliz, tem que manter só fachada porque é bom pra ‘imagem’ dele ou da banda. Ninguém é de ninguém, não se prende ninguém assim. As fãs não gostam dela, dizem que ela é metida e não sabe a sorte que tem; bom, qualquer menina no mundo teria sorte em namorar com , ele é um príncipe. Um príncipe que deve estar muito puto comigo no momento.

- O show está sendo transmitido pelo Twitter – disse do quarto dela, sua voz tinha uma mágoa muito grande. – Eles estão tão fofos.
- Aproveita o show – eu falei e nem ouvi resposta. – Vou tomar um banho.
- É bom mesmo, tu tá fedida demais.
- Há, sua linda – eu ri.

Fechei a porta do banheiro e quase me joguei de roupa e tudo dentro do box, eu estava fraca, fedorenta e só queria CAMA! É sacanagem demais ficar doente em Londres, e hoje era pra ser um dia especial, mas NÃO, eu tenho que inventar de comer salmão, sendo que eu nem gosto de peixe! Prometi pra minha mãe que ia manter uma vida saudável e, até agora, me fudi. Tomei meu banho, demorei mais que o necessário, escutava berrar as músicas lá do quarto e, depois de conseguir parar em pé, saí do banheiro já vestindo meu lindo pijaminha Calvin&Hobbs e me joguei na cama ao lado da . Nos últimos dias eu estava dormindo mais com ela do que no meu quarto, então já tínhamos conversado com a escola para ver se podíamos ficar juntas, só que com duas camas de solteiro, por favor. cantava a única música que eu conheciam ‘What Makes you Beautiful’, e chorava junto, confesso que me deu pena, mas o que eu ia fazer? Ficar com um saquinho o show inteiro? Não, né... Dei uma olhada pra tela do computador e vi os meninos ali, vi ali. Sorrindo e brincando com a platéia o tempo todo, pulava, gritava, fazia passinhos de dança ridículos; comecei a entender porquê One Direction fazia sucesso. Eles não tinham uma beleza explêndida, na verdade eram meninos bonitos, mas em um padrão normal. Pareciam os meninos que vão pra escola conosco, brincalhões e fofos. Adolescentes gostam disso, nós nos identificamos. Ali, ouvindo eles cantarem ‘Baby you light up my world like nobody else...’, eu senti meus olhos se fecharem e acabei adormecendo.

- , , ...

Alguém estava me cutucando.

- , , ... Pelo amor de Deus, abre os olhos!
- Que foi? – Minha voz saiu ou eu fiz essa pergunta só em pensamento?
- Escuto pedrinhas na nossa janela – ela sorriu. – E eu sei quem são.
- Hã? – abri meus olhos e os cocei, minha boca tinha um gosto amargo ainda e meu estômago roncou alto. Claro, tava sem nada o coitado. – Que foi, ?
- Tem pessoas jogando pedrinha na nossa janela – ela sorria.
- E qual o motivo da sua empolgação? Vai que é ladrão!
- Ladrão não fica jogando pedrinha pra avisar que vai entrar na casa da pessoa, sua retardada – ela me deu um tapa na testa e eu ri.
- Sempre tão delicada – bufei. – Que tem as pedrinhas?
- Vai na janela pra ver quem é, eu já sei - eu sabia que ela tava se controlando pra não pular igual o Bambi.
- O que você aprontou dessa vez? – Perguntei desconfiada.
- Só vai logo, pelo amor de Deus! Eles estão congelando lá fora.
- Eles? – Aumentei a voz, meu coração fez BOOM!

Levantei meio tropeçando nos lençóis e nos meus próprios pés. Abri a janela com tudo e aquele vento forte frio travou minha mandíbula, fiquei mais travada ainda quando olhei pra baixo. Cabelos cacheados, cabelos lisos, curtos, loiros, morenos... Cinco garotos vestidos de preto. Cinco garotos segurando umas sacolas plásticas e olhando diretamente pro nosso andar sorrindo empolgados. Um deles olhava diretamente pra mim, meu estômago roncou mais alto ainda e acho que não era de fome.

- , o que você fez? – Olhei pra dentro e dei de cara com a .
- te ligou assim que acabou o show, aí eu atendi e expliquei pra ele o que tinha acontecido. Que você tava morrendo.
- Essas coisas não se falam pras pessoas – dei uma bronca de leve, ela pareceu nem ligar.
- Enfim... Ele ficou preocupado e preguntou se podia te fazer uma visita. Eu disse que sim, mas só se ele trouxesse comida e o resto da banda junto.
- Você NÃO FEZ ISSO!
- Fiz, tá aí o resultado – ela apontou pra baixo, para aqueles cinco. – Manda eles subirem.
- Por onde, ? - Se você ainda não viu, tem uma escada de emergência ali do lado esquerdo, pede pra um deles puxar a escada pra baixo e eles sobem aqui. Se forem entrar pela entrada principal vão chamar muito a atenção.
- Ah claro, puxar uma escada de emergência às nove da noite não é chamar a atenção!
- Eu só tô dando uma idéia, vai logo... Vou arrumar o quarto.

Bufei e olhei pra baixo, os cinco ainda estavam lá me olhando com cara de dúvida.

- A comida vai esfriar, disse levantando o saquinho plástico e rindo.
- Ok, tem uma escada aí do lado de emergência, puxem ela e subam aqui – disse apontando pra escada.
- Não é pra ser usada só em casos de emergência? – Um deles perguntou e os outros riram.
- , esse é um caso de emergência – vi responder.
- Emergência pra quem? – Vi o tal do perguntar e olhar pra ele como quem dá uma bronca. – Ah, tá bom.

Eu fiquei na janela meio rindo enquanto eu via a cena dos cinco garotos puxando a escada, fazendo um barulho mais ou menos considerável, e subindo um a um. A escada não era totalmente confiável e eu tava com medo que eles fossem cair, e cair bonito. O primeiro da fila era , que segurava duas sacolas nas mãos; atrás dele, o garoto chamado subia com mais sacolas; os meninos atrás se equilibravam na escada. Quando eles finalmente estavam mais pertos eu abri a janela por completo para eles entrarem, estava me sentindo mais ou menos uma criminosa escondendo cinco criminosos, tava bem engraçado. Olhei pra , que estava terminando de jogar nossas coisas pra dentro do armário e se aprumava toda, percebi que ela ia ver os ídolos dela ali dentro do quarto, isso era demais! Engraçado, eu os estava vendo como cinco garotos desconhecidos bonitos que iam invadir nosso recinto, e pelo menos iam trazer comida, embora meu estômago não estivesse aceitando muita coisa e eu estivesse com medo de colocar alguma coisa pra dentro.

- E aí? – Um sorridente finalmente apareceu na janela, colocou primeiro uma perna e depois a outra, e, por fim, seu corpo todo estava dentro do quarto. – Nossa, você tá horrível.
- Caraca, obrigada – eu respondi rindo, eu sabia que não estava um primor de beleza.
- Dá pra ajudar? – Olhei pra janela e vi tentando entrar, e atrás dele mais um.
- Passa as sacolas pra mim – eu disse pegando as sacolas da mão de e vendo ajudar o restante dos amigos a entrar no apartamento.

Um a um eles entraram, e, quando eu percebi, nosso quarto estava pequeno demais para sete pessoas. já foi logo abraçando e falando com todos eles, seus olhos estavam brilhando e eu não sabia se era por causa das lágrimas que ela estava controlando pra não deixar cair ou se era emoção de ver os ídolos ali na frente dela. Percebi que ela estava agarrada há mais tempo com um deles e deduzi que fosse , o seu favorito. Enquanto eles conversavam – porque a não tinha calado a boca ainda e falava, falava, falava – eu peguei as sacolas e fui levando pra nossa mini-cozinha. Coloquei todas em cima da pia e do nosso balcão e controlei minha curiosidade de não abri pra ver o que tinha dentro, embora o cheiro que saía delas fosse muito bom, muito bom mesmo. E elas estavam quentinhas, que droga; meu estômago roncou de novo e acho que foi um pouco alto.

- Que aconteceu, ? – apareceu ao meu lado e eu levei um susto básico, não entendo como ele pode aparecer assim do nada.
- Um salmão suspeito e um estômago sensível – respondi sorrindo com os lábios fechados. – Quis comer comida saudável e me ferrei – ri sem humor.
- Mas você tá melhor agora? – Ele se aproximou um pouco mais e passou a mão de leve dos meus cabelos até meus ombros. – Realmente, sua cara não está nada boa.
- Obrigada por me chamar de horrorosa – eu ri. – Tô um pouco melhor, pelo menos eu parei de vomitar. Minha mãe me passou uma receita caseira de soro e acho que isso fez eu ficar um pouco melhor.
- Desculpa te chamar de horrorosa – ele riu e me abraçou; é, me abraçou, assim do nada! – Você só tá bem diferente da que eu vi aquele dia na van.
- Eu tô doente – respondi rindo e ainda aproveitando o abraço. – Desculpa não ter ido ao show...
- Hey – ele me segurou pelos ombros e me olhou de frente. – Não se preocupa com isso, vamos ter mais shows e você vai poder ir – e sorriu, ele devia ser proibido de sorrir.
- Oooooiii, casal – o garoto chamado apareceu na nossa frente sorrindo, puta que pariu, ele era tão lindo quanto .
- Oi, idiota – respondeu me soltando e me puxando pela mão até . – , esse é , essa é a .
- Prazer, moça – ele sorriu e me abraçou assim como , que lindo! – Então quer dizer que você não é um fantasma.
- Como assim? – Perguntei na dúvida.
- ficou falando de você o dia inteiro, e como você não apareceu, nós pensamos que você fosse algum tipo de fantasia ou fantasma do nosso aqui – ele deu um tapinha no ombro de que riu sarcástico.
- Acabei passando mal e não pude ir – falei meio sem graça. – Minha amiga quase me trucidou, sério.
- Sua amiga é doida – falou e nós três rimos. – Ela não vai soltar o tão cedo, vai?
- Eu acho que não – falei rindo vendo abraçar e bater uma foto, depois beijar seu rosto e bater outra foto...
- E você deve ser , tô certo? – Um outro apareceu e meu coração fez boooom de novo, pra que tão lindo?
- Sou eu – respondi forçando minha garganta a fazer algum som. – E você seria?
- – ele sorriu e me deu um beijo no rosto. – E esse é o .
- E aí? – O tal , que era o top de beleza, chegou e me deu outro beijo no rosto.
- Pra que tanto beijo? – disse atrás de mim me abraçando por trás e colocando seus braços um pouco abaixo do meu pescoço, perto do colo. – Ela é minha amiga.
- Amiga sua é amiga nossa – disse. – E desde quando você tem amigas?
- É, mulher na sua mão é coisa passageira... – falou, e pela cara dele eu percebi que ele deixou escapulir um segredo deles. ficou um pouco mais rígido atrás de mim.
- Não sou como outra garota – eu falei rindo. – E outra, tem namorada, mesmo que seja só de fachada. Não quero colocar ele em maus lençóis – olhei pra ele, que estava um pouco mais sério, e depois sorri para os meninos.
- Gostei de você – apontou pra mim e piscou, eu ri e senti soltar meu abraço.
- É verdade que você não conhecia One Direction? – me perguntou e eu senti minhas bochechas ficarem coradas e quentes. – Há, é verdade.
- Ai gente, parem com isso – escondi meu rosto com as mãos. – Eu me sinto péssima! Mas se querem saber, graças a minha amiga e ao eu já ouvi as músicas e acho vocês todos umas gracinhas – eu disse rindo e todos riram.
- Eba, até que enfim fez algo que preste – falou. – Né... ? ?

Olhei pra trás e não vi mais atrás de mim como ele estava alguns segundos atrás. Eu, junto com os meninos, demos uma olhada no quarto e vimos parado olhando um quadro de fotos da , e infelizmente tinha foto minha ali também, como eu já disse, eu estava quase morando no mesmo quarto que ela. mantinha o olhar fixo nas fotos, o corpo reto e as mãos colocadas no bolso da calça jeans.

- Se importam se eu for falar com ele? – Perguntei para os meninos e todos eles balançaram a cabeça falando ‘de maneira alguma, vai lá...’ – Obrigada.

Passei por e – que ainda estavam conversando – e apenas falei ‘oi prazer’ e ele sorriu pra mim e vi quase cair pra trás. Também vi os outros meninos chegarem até os dois e começarem uma pequena algazarra os empurrando pra cozinha e começando a tirar a comida das sacolinhas. Fui caminhando devagar até pisando com cuidado pra não assustá-lo, passei em frente ao espelho do banheiro e vi exatamente como eu estava. Pijama, cabelo todo desgrenhado e cara de doente, ah, eu tava uma princesa. Fiz careta pra mim mesma no reflexo e fui até o lado dele. Havia ali fotos da e umas três fotos minhas no Brasil com minha cachorra e minha família.

- Que foi? – Eu estava com os braços cruzados e dei de leve um empurrão nele, vi sorrir. – Você está muito quieto hoje, o que foi?
- Fiquei preocupado com você – ele se virou pra mim. – Mas, sei lá, eu não preciso ficar preocupado com você – ele sorriu meio se humor e eu não entendi. – gostou de você.
- Ah, por favor – eu ri meio exagerada e ele ficou sério. – Primeiro, a palavra ‘você’ apareceu demais na sua última fala – falei dando uma de intelectual e ele sorriu de forma sincera. – E segundo, qual é? É claro que seu amigo ia gostar de mim, eu estou com meu pijama mais sexy, meus cabelos estão lindos e brilhosos e com certeza eu devo estar com a cara mais gata do mundo – fiz careta e seu sorriso se transformou em uma risada alta e gostosa. – Você tá assim por causa disso?
- Foi estranho, só isso – ele disse na defensiva. – Eu fiquei falando tanto de você que esqueci que eles gostam de abraçar e beijar todo mundo, fiquei meio sem jeito.
- Você também gosta de abraçar e beijar todo mundo – respondi e ele ficou meio vermelho. – Eu vi o jeito que tratou as fãs aquele dia, foi lindo.
- Mas você não é nossa fã pra eles tratarem você assim – ele disse meio rindo e eu bufei.
- Hey, só porque não gosto de vocês não posso ser tratada de uma forma carinhosa?
- Quer dizer então que você não gosta de nós, é isso mesmo? – Ele deu um passo na minha direção, falando um pouco mais alto e rindo.
- Exato, eu não gosto de vocês, não gosto da música de vocês – eu também estava rindo e andava pra trás sem saber ao certo pra onde eu estava indo.
- Perdeu o amor à vida, ?
- Perdi faz tempo, não percebeu que fiquei vomitando a tarde toda? Perdi muito mais que o amor à vida – eu falei rindo. – Perdi um show de uma bandinha inglesa aí, conhece?
- Eles são bons? – Ele sorriu meio de lado, a cada segundo eu achava mais lindo.
- Não sei, seria meu primeiro show – respondi rindo, acabei encostando minhas costas no armário, fiquei ali mesmo. – E é bom você não se aproximar, eu ainda estou com meu estômago sensível e sabe Deus o que pode acontecer.
- Nada sexy , nada sexy – ele disse rindo e eu ri junto.

Ele sorriu largo pra mim e todo o enjôo do meu estômago foi embora, não é possível existirem pessoais reais tão lindas desse jeito. Digo, McFly não é real, eles são meus ídolos inatingíveis e por isso são perfeitos; é um garoto que deu sorte na vida e está aqui na minha frente sorrindo e isso pra mim é real, e ele é perfeito.

- Casal? – apareceu ao nosso lado com a boca cheia de hambúrguer. – Eu sei que vocês estão nesse momento ternurinha, mas, hm... , sua amiga finalmente largou o e está atacando o restante da banda, isso é normal?
- Completamente – falei rindo. – O que eu não tenho de fã ela tem de sobra, com certeza a vai ficar falando desse momento por um bom tempo – sorri.
- Ainda bem que o favorito dela não é o falou dando uma piscadinha pra mim, tenho quase certeza de que fiquei vermelha.
- Mas o namora, então... – falei de novo, preciso ficar afirmando que ele tem namorada o tempo todo, mas acho que prefiro afirmar isso mais pra mim do que pro próprio .
- Por pouco tempo – falou meio baixo, eu olhei estranho e sorriu depois de terminar de engolir seu hambúrguer. – Conversei com nosso agente e não tem porque manter um relacionamento pela mídia, e tá bem claro que ela anda saindo com outros caras, então...
- Você tá solteiro? – Minha voz saiu um pouco mais aguda do que eu esperava, os dois meninos começaram a rir. – Não que isso seja da minha conta.
- Tô solteiro, – ele disse de forma blasé, simples e encantadora.
- Que bom – eu sorri e soltou um ‘awwwnnn’ ao nosso lado.
- Ok, bonitinhos, vamos comer? – falou me puxando pela mão e me levando pra cozinha.

Não estava com fome, tinha medo do meu estômago ainda estar fraco e acabar passando vergonha na frente dos meninos do One Direction. , em contra partida, estava comendo tudo o que eles trouxeram e batendo papo com os cinco, quase tudo de uma vez. Os cinco estavam visivelmente encantados com ela, não poderia ser diferente. Tudo o que eles perguntavam sobre a banda ela sabia, tudo o que talvez eles não soubessem sobre eles mesmos ela já sabia, era incrível. E talvez por culpa do sorriso, cabelo e corpo ela estivesse chamando mais a atenção. era linda demais e eu me sentia muito um patinho feio ao lado dela, não que eu fosse horrorosa, mas pessoas bonitas demais acabam com meu ego, e com ela era assim. Eu a adoro, vamos deixar isso bem claro.

Enquanto os meninos da banda literalmente babavam em cima da – que essa hora estava sentada em cima da bancada falando alegremente com eles – eu resolvi ir pro banheiro dar uma lavada no rosto e jogar um pouco de água na nuca. Todos comeram, menos eu. Ainda me sentia um pouco fraca e enjoada, e não sei qual deles trouxe comida japonesa e o cheiro forte de peixe fez meu estômago dar cambalhotas, por uma razão meio óbvia eu preferi me afastar. Sem falar que eu não fazia idéia do que eles conversavam. Não sabia quem era Cheryl Cole, Caroline Flack, quem seria Kevin, Video Diaries e umas piadas internas que, quando eles faziam, já dava risada porque ela conseguia entender (que porra seria Vas Happening e NO JIMMY PROTESTED?). Sabendo que aquele não era o clima pra mim, porque a cada piada eu ia ficar com cara de tacho e ia pedir pra me explicarem, eu resolvi sair de cena. E até agora ainda estou no banheiro lavando meu rosto com tanta água e sabão que acho que estou ficando desbotada. Tirei minha camiseta do pijama e coloquei uma regata branca que estava pendurada ali, provavelmente era de , estava começando a ficar com calor, embora o tempo estivesse frio. Coloquei a mão na minha testa e vi que estava um pouco mais quente que o normal, presumi que estava em um estado meio febril. Tá, agora eu realmente fico nesse banheiro pra sempre.

- Mi - , você deve ser nossa fã número um.
- AHHHHHHHH, seus lindos!
- Podemos adotar você como mascote da banda?
- Já deveriam ter feito isso faz tempo, óbvio que sim!
- Então hoje declaramos você oficialmente como a mascote do One Direction.
- OBRIGADAAA!!!

Comecei a rir no banheiro, estava tendo a noite da vida dela, e com os meninos a mimando tanto não poderia ser melhor. Realmente, eles sabiam como tratar as fãs e estava sendo tratada como uma princesa. Ouvi mais risadinhas e uns estalos de beijos, ela deveria estar beijando a banda toda. Peguei a toalha e sequei minha nuca, pescoço e rosto, me olhei no espelho e dei de cara com uma menina semi-zumbi e com olheiras absurdas, as bochechas do meu rosto estavam meio vermelhas, mas era por culpa da febre. De repente o mal estar em meu estômago voltou e eu senti que o ‘nada’ que eu tinha comido queria sair, quase chorei de desespero. Tranquei a porta do banheiro correndo, liguei o chuveiro e me abaixei de novo na privada, e aquela gosma sem cor e sem cheiro saiu da minha boca. Meu estômago ardeu e eu coloquei a mão na boca abafando um grito, que porra! O cheiro de comida tinha me deixado enjoada de novo, e talvez a melação na tivesse ajudado um pouco. Eu não estava com ciúme, mas tem outra menina nesse apartamento! Outra menina que não curte One Direction... Tá, entendi o recado. E de novo outra gosma saiu da minha boca, e dessa vez eu gritei um pouco mais alto, parecia que meu estômago estava sendo rachado ao meio e lágrimas saíram dos meus olhos. EU NUNCA MAIS COMO SALMÃO NA VIDA!

- ?

Merda, mil vezes merda!

- , tá me ouvindo?
- Que foi, ?
- Tá tudo bem? – Ela perguntou um pouco preocupada.
- Tô ótima – falei forçando a voz que saiu um pouco rouca. – Me dá um tempinho aqui.
- Nem pensar, ! – E essa era a voz de . – Abre a porta.
- NÃO! – Dei descarga, passei uma água na boca, delsiguei o chuveiro e abri só um pouquinho da porta, vi seis cabeças do lado de fora, todos com cara de preocupados.
- , deixa eu entrar? – pediu passando na frente de e colocando o pé pra dentro do banheiro.
- , sai daqui – respondi, eu tava vendo um embaçado. – Sério, não é um bom momento.
- Desculpa, falou mais atrás. – Ficamos empolgados conversando e não prestamos atenção em você.
- Desculpaaaaaaaaaaaa – quase berrou mais atrás e todos riram. – Que você tem?
- Estômago fraco – falei dando de ombros e ainda mantendo a porta do banheiro meio fechada com o pé de ali. – , eu vou machucar seu pé.
- Você nem tá com força pra se manter de pé, – ele falou meio irritante. – Sai daí.
- A tá fazendo uma meleca de sal e açúcar, que é isso? – perguntou olhando na direção da cozinha. – Credo.
- É SORO CASEIRO – ouvi berrar, nem vi ela sair dali da multidão. – É ALGO QUE A MÃE DA GI ENSINOU.
- Soro caseiro? – me olhou meio ressabiado.
- Remédinho brasileiro – eu falei. – Tira o pé, porra!
- Vai sair?
- Vou – bufei.

tirou o pé e eu fechei a porta rápido só pra dar tempo de dar uma escovada nos dentes, os meninos ficaram berrando pra eu abrir e minutinhos depois eu abri a porta. veio até mim e me deu um abraço apertado que eu não estava esperando, me deu um beijo no rosto e passou as mãos carinhosamente em meus cabelos.

- Oi, faltava só eu te dar um abraço – ele disse todo fofo e eu comecei a rir. – Sou o .
- Eu sei – acabei sorrindo. – Obrigada pelo abraço, eu acho.
- De nada – ele me soltou. – E agora, o que tá acontecendo com você?
- Ai gente – eu tava sem graça, não gosto de ser o centro das atenções, eu deixo isso pra , e agora os cinco estavam me olhando de forma curiosa. – Eu tô com o estômago fraco hoje, por isso não fui ao show, aí vocês trouxeram comida e eu fiquei enjoada de novo...
- ESCONDE A COMIDA! – disse e no segundo seguinte ele e estavam fechando todos os potes onde a comida estava e escondendo na cozinha.
- Não quis dizer pra vocês esconderem a comida...
- Eles são doidos – falou, eu memorizei mesmo todos os nomes deles, score pra mim! – Olha aí a .
- Oi – ela sorria meio sem graça. – Espero que tenha ficado igual ao soro que você tomou mais cedo, eu segui as instruções que você anotou da sua mãe – ela me entregou um copo com o soro, pelo menos a cor era a mesma. – Desculpa, .
- Desculpa pelo quê? – Eu tentei sorrir tomando um gole do soro, realmente estava igual ao meu. – A é doida por vocês e vocês deram atenção pra ela! Que fofos.
- Eles podiam dar atenção pra e eu dar atenção pra você – disse ao meu lado com um cara meio de culpa.
- A gosta do ONE DIRECTION – apontei para todos os meninos, inclusive e , que estavam na cozinha. – E não apenas parte dele! Se você não desse atenção pra minha amiga ia ficar muito chato.
- E por que você não participou da conversa? – me perguntou.
- Porque eu... – mordi os lábios, ai caralho. – Eu não conheço tão bem a banda como a conhece, ia ficar um pouco perdida.
- Ah, que besteira – falou e os meninos riram. – Como que você espera conhecer a banda se não passar um tempo COM a banda?
- Exatamente – voltou e abraçava por trás. – O que você quer saber sobre nós, ?
- Gente, sério... – eu ri nervosa e bebi outro gole do soro. – Não se preocupem comigo, eu realmente estou de boa.
- Mas nós não – disse ao meu lado. – Pelo menos eu não estou.
- Nenhuma garota é ignorada pelo One Direction – disse. – Não interessa se ela sabe tudo sobre nós ou não.
- Somos garotos normais – deu de ombros. – A diferença é que a nossa vida tá meio exposta.
- E a diferença é que você não fica 24h lendo tudo sobre nós, o que na verdade é bem legal – complementou. – Não que você não seja legal, .
- Eu entendi – ela sorriu.
- Promete que da próxima vez vai participar da conversa e se não entender alguma coisa vai perguntar? – ficou de frente pra mim e me fez essa pergunta como se fosse a coisa mais importante do mundo pra ele.
- E vai ter próxima vez? – Perguntei.
- Por que não teria? – disse. – Nós adoramos vocês, eu adorei.
- A agora é a fã número um do 1D, e você é amiga da nossa fã número um... Realmente vamos nos ver VÁRIAS vezes – disse empolgado. – Não temos mais muitas amigas, então é legal.
- Obrigada – agradeci e recebi um beijo no rosto de , não sabia mais se tava tonta pelo beijo ou pela falta de comida no estômago.
- , por que seu rosto tá tão quente? – me perguntou passando a mão na minha bochecha e depois colocando a mão na minha testa. – Caraca, você tá com febre.
- É normal – dei de ombros. – Geralmente quando eu passo mal do estômago me dá febre também, mas com o soro eu já melhoro.
- Quer que eu compre alguma coisa, ? – me perguntou. – Tem uma farmácia aqui perto.
- Não precisa, eu tô bem, digo, vou ficar bem – respondi tentando colocar um ânimo em minha voz, não queria todo mundo me bajulando.
- O que vocês acham de deixar a e a descansando? – perguntou abraçando de lado, eu vi claramente ela prender a respiração.
- Acho uma boa idéia – disse. – Quando nos vemos de novo?
- A tem o telefone do , é só eles se ligarem – falou rindo meio sacana e os meninos deram um olhares maliciosos para mim e para , acho que nós dois ficamos sem jeito.
- Vai que ela tá perdida em Londres, ela precisa de ajuda... – começou a dizer, mas a zoação dos outros acabou cortando sua frase pela metade e ele desistiu.
- Tá bom disse. – Meninas, vamos estar ocupados a semana toda, mas só mandar um tweet ou algo assim e vamos nos falando.
- Vocês tem dois milhões de seguidores, como vão nos achar? – Perguntei. - Qual o Twitter de vocês? – perguntou, já tirando o BlackBerry do bolso. disse o dela e eu disse o meu. – Estou mandando DM para as duas, vamos nos comunicar assim. É mais fácil.
- Fechado – respondi.
- Vamos? Amanhã tem mais um show, mais ensaios... – dizia enquanto dava um beijo em e depois um beijo em mim. – Sério, , você tá com a febre alta.
- Eu vou cuidar dela – veio até mim e me deu um abraço, os meninos fizeram uma cara fofa enquanto nos encaravam. – Eu sei cuidar das pessoas.
- Espero que sim – falou sorrindo pra nós duas, eu acabei sorrindo de volta. – Me liga amanhã?
- Claro, que horas você vai estar livre? – Perguntei.
- Me liga qualquer hora, se eu não atender eu te retorno – respondeu, estava dando a impressão que nos conhecíamos desde sempre.
- Vocês dois são tão fofos – falou abraçando por trás e nós rimos. – , quer ser minha melhor amiga fofa?
- Eu quero ser mais que sua melhor amiga fofa – ela respondeu com um olhar cheio de segundas intenções e nós caímos na gargalhada.
- Sério, como você consegue? – Perguntei olhando pra ela totalmente abismada e ela fez cara de desdém. – , cuidado com o que você pergunta pra ela.
- Tô ligado – ele piscou pra mim e eu sorri.
- Paul ligaaaaaaaaaaaaaando – mostrou o celular. – Precisamos ir, meus amores.
- Vamos sair pela porta ou pela janela? – olhou pra porta e pra janela e nós rimos.
- Acho que não tem problema vocês saírem pela porta, a essa hora nem tem muita gente acordada mesmo – respondi. – Mas, vocês podem jogar um lençol por cima e irem iguais cinco fantasmas.
- Gostei da ideia – respondeu. – Vocês tem pelo menos uns três lençóis?
- Temos – disse de prontidão. – Podemos ir com vocês?
- Aham... – disse pegando o lençol e jogando por cima de si mesmo e de .

, e foram embaixo do mesmo lençol de casal, e sobrou pra e eu dividirmos o outro. Ele jogou por cima de mim e me abraçou pelo ombro enquanto eu abria a porta, estávamos tão perto um do outro, mas a zoação dos outros meninos era tão grande que nem dava pra rolar um clima. E eu não queria que rolasse um clima, ele é amigo! AMIGO!

Chegamos no andar debaixo e abriu a porta. Paul já esperava com a van aberta e nós todos corremos juntos para o veículo. Primeiro os três (, e ) saíram do lençol e pularam para a van, eu e estávamos um pouco mais atrás esperando os meninos se acomodarem.

- Você tá muito quente, e isso não está sendo um elogio – falou encostando o rosto no meu e medindo minha temperatura, já que as mãos estavam ocupadas segurando o lençol. – Promete que vai voltar, entrar debaixo das cobertas e se cuidar? Se não der pra me ligar amanhã, não tem problema.
- – eu falei rindo. – Você tá parecendo minha mãe falando!
- Desculpa – ele olhou pro chão. – Eu, eu gostei de você, , e eu não confio muito na pra cuidar de você.
- Sei me cuidar sozinha – eu ri. – Vamos, Paul só está esperando você.
- Ok...

Corremos até a van, antes de pular pra dentro dela me deu mais um beijo no rosto e pulou caindo no colo de . Eu e ficamos do lado de fora enroladas no lençol enquanto Paul fechava a van e dizia pros meninos ficarem quietos e não chamarem mais a atenção, era uma situação hilária.

- E aí, ? – Paul falou comigo, ao meu lado quase caiu dura.
- Oi, Paul – respondi sorrindo. – Cuida bem deles, tá?
- Pode deixar – ele sorriu. – Precisamos ir, meninas, até mais.
- Até – eu falei, já que não dizia nada.

Subimos as escadas com me falando o quanto eu era sortuda, que além de TUDO o segurança dos meninos me conhecia, que ficou me olhando de forma fofa a noite toda – coisa que eu sei que era mentira –, o quanto ela me ama agora, já que por uma brincadeira do destino eu acabei me esbarrando com e consequentemente acabamos conhecendo o One Direction por completo, como eu tenho que parar de ser trouxa e dar em cima do porque ela vai dar em cima do – na verdade ela já deu, e foi bem descarada – e mais um monte de coisas que eu não consegui acompanhar.

Naquela noite decidi ir para o meu dormitório, ele estava meio vazio, já que eu estava levando tudo para o dormitório da . Porém eu realmente queria ficar sozinha, nem tava com tanta febre assim e meu enjôo tinha melhorado. Quando deitei na cama e ameacei fechar os olhos, vi a luz do meu celular começar a piscar e eu tinha quase certeza de que era falando pra eu ir pra lá ou comentando mais alguma coisa dessa noite; parte de mim não queria ler, mas eu sou curiosa demais. Peguei o celular meio desastrada e só cliquei em ‘ler mensagem’.

‘You’ve got that one thing – X’

Sorri igual uma besta quando aquelas letrinhas miúdas e brilhantes apareceram pra mim no visor do celular. Tudo bem que era o trecho de uma música deles, mas receber essa mensagem me deixou tão feliz que acho que minha febre até foi embora. Todos os meninos eram lindos, eram fofos e eram simpáticos, mas pra mim tinha algo especial, algo que eu não sabia exatamente o que era. O sorriso, o jeito que ele mexia no cabelo, o olhar, a bunda – ah tá, eu olhei, pô – e o fato de ser famoso. O sorriso murchou, ele era famoso, ele seria aquela coisa de uma noite e pronto. Ou eu levo de boa nossa relação como amigo ou eu vou me machucar, nunca vou conseguir algo sério com ele, não é esse tipo de garoto. Eu não sou o tipo de garota dele, e não é o garoto das músicas que ele canta. Volta para o mundo real, .

Capítulo 05

Yeah, as I stumble into the night
We're touching
But I feel like you're still out of reach
The people here are buzzing like a bug on a light
I'm feeling like I always see them,
But they can't see me

Kelly Clarkson a todo vapor tocava nos carros em frente à nossa escola. Primeira semana de aula e eu nunca estive tão feliz como estou hoje. Apesar de estar frio, o sol brilhava em Londres e eu só conseguia pensar em SUN IS IN THE SKY AND IT’S GONNA BE A GLORIOUS DAAAAAAAAAAAAAY, trecho de Everybody Knows do McFly. já tinha feito umas amizades e eu ainda estava sentada em um murinho perto da porta da escola. Eu adorava Kelly Clarkson, então pra mim estava sendo ótima a trilha sonora de fundo. Os meninos do 1D mantiveram contato conosco durante os dias que se passaram, ocasionalmente me mandava mensagens e duas vezes me ligou pra saber se eu estava melhor. Vi hoje pela manhã eles em um programa e foi muito surreal, as meninas quase se jogavam na frente do carro onde eles estavam só pra receber um ‘oi’; mandei uma mensagem pra ele quando vi isso, e o imbecil estava com o celular no bolso DURANTE a entrevista. Os dois entrevistadores incentivaram a pegar o celular e ler a mensagem, eu mandei algo do tipo ‘vocês tem fãs absurdamente loucas, sorte minha que não gosto de One Direction X’ . e riram quando leram, foi passando o celular para os outros meninos e eles riram também, quando ele foi perguntado de quem era a mensagem ele respondeu algo como ‘alguém especial’; eu era especial? As perguntas sobre namoro, quem era essa pessoa e coisas do tipo começaram a pipocar, e sempre na defensiva. Entrei no Twitter da – já que ela seguia praticamente o fandom INTEIRO dos meninos – e logo vi xingamentos e surtos das fãs, só de imaginar se estava namorando. Me senti mal, me senti péssima... Se alguma fã suspeitasse desse relacionamento secreto que eu e tínhamos com eles, seria o fim da minha vida. Eu tenho medo dessas fãs, eu SOU uma dessas fãs, ou era. Eu fiquei louca quando o Tom disse que ia casar, fiquei mais louca com a Frankie e quis tacar uma bomba na cara da Georgia de tão insuportável que eu a achava. A única que eu sempre amei foi a Izzy, ela é perfeita; pois bem, eu sei como funciona o coração de uma fã e sei que essas meninas loucas por 1D não vão pensar duas vezes antes de começar a ameaçar eu ou a de morte caso elas descubram alguma coisa. Tentei não pensar mais nisso enquanto fazia meu caminho pra escola, por isso estava sentadinha no murinho ouvindo Kelly Clarkson e vendo balançar os cabelos de um lado pro outro enquanto conversa com dois meninos, eu queria ter os cabelos da .

Sentimental feelings
Never get me anywhere
My heart continues beating
Is there anybody, anybody?
Hello

Hello, is anybody listening?
Let go as everyone lets go of me
Won't somebody show me that I'm not alone, not alone

- Hello?
Um garoto com a pele branca como a neve, bochechas coradas, olhos azuis piscina e cabelos acobreados em um tom que misturava loiro, caramelo e cobre estava parado na minha frente com um sorriso ridiculamente perfeito no rosto. Seu porte físico parecia de um jogador de rugby – estilo baterista gostoso do McFly – e sua roupa parecia aquela amassada no fundo do guarda roupa. Calça jeans surrada, tênis mais ou menos velho nos pés, camiseta branca e uma camisa xadrez azul jogada por cima. Ele tinha um ‘quê’ Zac Efron, mas com todo aquele ar britânico de lord... Não consigo nem colocar em palavras, ele era lindo demais. Será que é famoso também e eu vou dar outra bola fora?

- Oi? – Perguntei meio confusa e ele ainda sorria.
- Você estuda aqui? – Sua voz era doce, grossa, suave, meu Deus!
- Comecei hoje, e você? – Sempre tentando manter o tom casual.
- Também – ele sorriu. – Desculpa te incomodar, mas vi que você tá meio perdida e sozinha assim como eu – ele riu meio sem jeito e uma covinha linda e discreta apareceu do lado esquerdo do seu rosto. – Sou Sam.
- Prazer, Sam – estendi minha mão. – Sou .
- Prazer é meu – ele sorriu e eu também. – Posso me sentar aqui enquanto a aula não começa?
- Claro – tirei minha mochila do meu lado dando espaço pro garoto bonitão se sentar, por dentro eu tava berrando. – Faz curso de quê?
- Fotografia, e você? – Ai caralho!
- Também – respondi um pouco animada, mas não tanto quanto eu realmente estava, eu podia assustar o menino.
- Legal, já conheço uma pessoa da minha sala – ele riu. – Você é de onde?
- Brasil – falei sem graça. – E você pelo visto não é do Reino Unido.
- Austrália – ele falou sorridente. – Mas não gosto muito de lá.
- Como não gostar da Austrália? – Perguntei meio abismada. – O país é lindo!
- Já foi alguma vez pra lá?
- Não – falei sem graça e ele gargalhou. – Mas pelas fotos e filmes eu vejo que é maravilhoso.
- Nem tanto, a mídia abusa um pouco na propaganda enganosa. Por exemplo, Brasil é só carnaval e favelas?
- Claro que não.
- Então, Austrália não se resume a apenas praia e cangurus – ele disse sorrindo e eu acabei rindo junto. – Nem se resume a ‘Procurando Nemo’.
- Eu ia chegar lá...

Ficamos jogando conversa fora uns cinco minutos. Sam era muito fofo e altamente tímido; mal me olhava nos olhos e o tempo todo coçava a nuca e olhava pros próprios pés como se tivesse medo de fazer contato visual. Não que eu me incomodasse, eu era bem tímida também e, como já disse outras vezes, não gosto e não sei ficar perto de pessoas bonitas demais, e esse garoto era LINDO! Enquanto conversávamos dei uma olhada na , que encarava a mim e a Sam como uma bocona aberta em ‘O’ e ao mesmo tempo sorria. É, eu tava me dando bem no primeiro dia e nem sei como isso aconteceu. Quando ia me levantar pra aula – já que o sinal bateu e Kelly Clarkson parou de tocar – senti meu bolso de trás vibrar e presumi que era uma mensagem chegando. Me dava arrepios imaginar de quem era essa mensagem.

‘A aula já começou? X’

Sorri sem ao menos perceber quando li a mensagem. A entrevista no programa matinal devia ter acabado e eu já imaginei os meninos no camarim não fazendo nada, sentado em um canto com o celular na mão digitando a mensagem pra mim. Alguns segundos da vida dele ele desperdiçou pensando em mim, achei tudo muito encantador.

‘Estou indo pra aula agora – X’

Respondi rápido, já que uma das diretoras estava na porta chamando os alunos. Sam foi indo na frente enquanto me esperava do lado de dentro. Corri um pouco pra não ficar atrasada e coloquei o celular no bolso da mochila, caso ele me respondesse eu iria ver mais tarde.

A temperatura de cor é uma caracteristica da luz visível, usada em muitos casos, incluindo a fotografia. Para medir esta temperatura é usada uma escala, cuja unidade de medida são os graus Kelvin, que mede a intensidade da luz refletida por um corpo preto em incandescência.

- ?

Olhei pra cima e vi aquela fada em forma de pessoa, Olivia! Ela sorria e estava com uma caderneta na mão e uma caneta preta na outra.

- Oi – falei sorrindo.
- Assine aqui, por favor, é só pra comprovar que você estava na minha aula – ela colocou a caderneta em minha mesa e eu assinei quase com uma caligrafia trêmula, ela era minha ÍDOLA!
- Vai ficar chato se eu falar que te amo e você é minha profissional favorita? – Falei totalmente fangirling over her!
- Obrigada, flor – ela disse toda meiga e delicada e mantendo o sorriso no rosto, estava correndo o risco de ficar apaixonada por ela.

Voltei minha atenção para o livro que estávamos lendo. Aprendíamos como tirar fotos com iluminação diferente, temperatura e etc. Iríamos ter aulas práticas pelo menos uma vez por semana, sem falar que na próxima segunda seria o photoshoot da Sugar Scape e eu estava tendo calafrios só de imaginar. Para não ficarmos com cara de bocós, teríamos umas aulas práticas a mais essa semana com algumas modelos, pelo menos para aprender como devemos nos comportar em um estúdio fotográfico, saber qual é o melhor tipo de iluminação... Essas coisas. Tô torcendo pra um dia fotografar com o Leishaman – o fotógrafo do McFly –, e, quem sabe fotografar o Dougie com as roupas da grife Saint Kidd; eu sonho alto demais.

- ? – , que estava sentada atrás de mim, me cutucou com uma régua.
- Fala.
- Quem era o bonitinho que você estava conversando de manhã?
- Ai, sério, ?
- Qual é? Você não me disse absolutamente nada e eu to hiper blaster curiosa.
- Muda o palavriado para palavras mais simples – eu disse rindo e ela bufou.
- Não muda o curso da conversa, quem é ele?
- O nome dele é Sam, ele é da Austrália e só foi um carinha bonitinho que se sentou ao meu lado lá fora. Só isso – falei tentando me concentrar de novo no meu livro.
- Ele é solteiro?
- , eu não sei – falei baixo.
- Você vai pegar ele?
- ! – Falei um pouco alto e a linda Olivia olhou pra mim, que mico.
- , está tudo bem por aí?
- Está sim, professora, eu só... estava tentando chamar a atenção da minha amiga – ai que vergonha.
- Okay, volte para o livro, por favor – Olivia disse meiga e eu senti minhas bochechas pegarem fogo.
- Vai virar queridinha da professora agora? – me provocou.
- Eu a amo, cala a boca – falei rindo e dessa vez, fiquei quietinha lendo o livro.

Tivemos duas horas de aula com Olivia, eu realmente aprendi muita coisa. Não tenho experiência e acabei de descobrir que preciso de uma câmera nova. Por dia tínhamos quatro horas de aula e um intervalo de meia hora a cada duas horas. Falei com Olivia depois do término da aula e tirei algumas pequenas dúvidas, na verdade eu estava na grande parte do tempo inventando perguntas. O jeito que ela falava de fotografia era impressionante, e eu quase cheguei a perguntar como foi trabalhar com Mcfly e como que ela conseguiu tirar as fotos do Motion in the Ocean, mas preferi me calar. Danny era um tema muito delicado – ainda mais depois de uma entrevista que ele deu em 2009, se não me engano ele admitiu que a traiu, besta – e eu acho que a amo demais pra falar disso. Perguntei mais ou menos como seria o photoshoot de semana que vem e, com um sorriso enorme, Olivia me respondeu que seria uma experiência única. É, realmente seria.

Saí para o nosso refeitório e encontrei sentada sozinha com o laptop aberto no colo. Ela tinha uma leve cara de preocupação e eu não gostei do que vi. Enquanto caminhava dei ‘oi’ pro Sam, que conversava com um grupo de meninos – ele estava fazendo amizade, bom pra ele –, e fui na direção da minha amiga. Sentei-me ao seu lado e, sem falar absolutamente nada, ela só me virou a tela do notebook. Ali estava a página dela no Twitter e do Tumblr, e eu nunca li tantas palavras absurdas na minha vida de uma vez só. Asks no Tumblr perguntando ‘quem era a garota especial de ’, no Twitter já com mil suposições de quem poderia ser a garota, algumas meninas afirmando que ELAS eram a garota – com fotos e montagens delas com o – e tanta coisa que me deu dor de cabeça e um embrulho no estômago.

- E ele só falou que é alguém especial – disse com uma certa dor na voz. – Esse fandom é muito obcecado, tenho medo e ao mesmo tempo dó dos meninos.
- já ficou com fãs, certo? – Perguntei dando uma mordida em uma maçã que peguei no caminho; afirmou com a cabeça. – As fãs deviam ficar acostumadas quando ele tem alguém especial, qual o problema?
- O problema é que One Direction tá sendo maior que Justin Bieber e que as fãs acham que os meninos são propriedades delas – falou com um certo pesar na voz, ela não gostava disso. – Não acontece isso com McFly não?
- Bom – mordi de novo a maçã e engoli o pedaço. – Acho que já aconteceu. Sempre tem uma fã ou outra que não gosta da Giovanna ou, no meu caso, da Georgia. Mas Mcfly é família, sabe? As fãs geralmente apóiam os meninos em praticamente tudo, rola aquele sentimento de ciúme, mas o amor é maior – falei sentindo um orgulho queimar em mim.
- Mas não teve um rolo com alguém das The Saturdays?
- A Frankie é vaca – eu ri e também. – As fãs caíram em cima dela porque ela arrasou o Dougie. Ele ficou mal, foi pra rehab, mas deu a volta por cima porque ele é foda demais. Mas ela não conta, ela foi uma garota que todas as fãs odiaram, mas ninguém ficou mandando ameaça de morte pra ela por Twitter, só mandaram ela tomar no cu algumas vezes – eu gargalhei meio baixinho, eu fiz isso.
- Entendi – disse. – Espero que nunca fotografem você com o , amiga, se não a coisa vai feder pro seu lado.
- Como assim? – Perguntei totalmente na dúvida.
- Olha isso.

virou novamente o laptop pra mim e eu vi uma ask no Tumblr que fez eu me sentir gelada e quase morta ao mesmo tempo.

Ask: Se o estiver namorando eu vou matar essa garota!
Resposta: Eu acho que devemos apoiar os meninos, mas o tem um péssimo gosto pra garota e essa daí deve ser mais uma biscatinha. POR FAVOR, SE ALGUÉM VER O COM UMA MENINA, TIREM FOTOS!


- Entendeu agora o motivo pelo qual você não pode ser vista com o ou com qualquer outro do One Direction? – me olhou séria.
- Amiga, isso não vai acontecer. Digo, eles estão mega ocupados e acho que se nos vermos vai ser muito rápido, eles não tem tempo pra nada e...

E nesse momento meu celular vibrou, e não era mensagem.

- Aham, tô vendo, falou fechando o laptop. – Só fica segura, ok? Eu tô falando sério. Cyberbulling é foda e o pior é quando passam isso pra vida real.
- Tudo bem, – falei me afastando dela e indo atender a ligação. Preciso falar que era ? – E aí?
- Ocupada?
- Nem um pouco – respondi me sentando um pouco distante de todos. – Tudo bem?
- Aham... PARA QUIETO, CACETE! – Ele disse alto no telefone e eu acho que quem estava perto de mim pode ter escutado. – Desculpa, me diz que você tirou o telefone da orelha quando eu gritei.
- Não, não tirei – respondi rindo e passando o celular da orelha esquerda pra direita. – O que está acontecendo?
- está berrando aqui do meu lado e fica tentando tirar o celular da minha mão pra falar com você.
- Deixa eu falar com ele, oras – respondi rindo.
- Mas quem tá falando com você SOU EU – ele berrou de novo. – QUE PORRA, DEPOIS TE DOU O NÚMERO DELA, TÁ FELIZ?
- Tô sim – ouvi a voz de ao fundo e gargalhei.
- , quer me ligar outra hora?
- Não, depois não vou conseguir cinco minutos livres – ele disse. – Liguei pra saber como você está, e... tá tudo bem mesmo?
- Pra que essa preocupação toda? – Perguntei e dois segundos depois a ficha caiu levemente. – Ah meu Deus, você viu o Twitter?
- Exato, pensei que você nunca fosse entender – ele riu sem humor do outro lado da linha. – Alguém te falou alguma coisa ou fez alguma coisa?
- Como que alguém vai fazer alguma coisa sendo que nem me conhece?
- Não sei, as nossa fãs são meio bizarras.
- Isso eu percebi, , elas deixaram bem claro que vão me matar caso me vejam com você, e elas nem sabem quem eu sou – bufei. – Olha, eu tô bem, ninguém nunca viu minha cara e eu espero que continue assim.
- Quer dizer o que com isso? – A voz dele estava meio séria.
- Não quero dizer nada, mas se vamos nos ver de novo eu acho melhor que seja bem escondido e de noite, sem luz solar. Na boa, eu temo pela minha segurança.
- Entendo, – ele suspirou e meu coração apertou. – Olha, se você achar melhor se afastar eu vou entender, eu só queria que... Eu gosto de ser seu amigo.
- Eu não vou me afastar – falei meio sorrindo. – Se eu fizer isso a me mata, agora que tenho a chance de ir em shows de graça? Tá doido?
- Obrigado por abusar da minha boa vontade – sua voz tinha um tom um pouco mais animado.
- , eu só não quero que as pessoas me associem ao One Direction – falei o nome da banda baixinho, vai que alguém ouve? – Nem que me rotulem ou que alguma fã de 12 anos me jogue um ovo na cabeça porque eu sou amiga do ‘bebê’ dela – ele riu quando eu disse isso. – Vocês são adoráveis e é lógico que eu quero continuar amiga de vocês, mas se não der pra te ver durante o mês todo porque você estão ocupados, ou porque vocês estão sem tempo ou porque é arriscado demais, não tem problema. Vamos nos falando por mensagens, telefonemas e DM’s.
- Sério – ele suspirou do outro lado da linha. – Você é incrível.

Fiquei muda. Tá, fiquei mesmo! Não estava esperando por isso e a voz de me dá MUITO arrepio, é aquela voz gostosa e ao mesmo tempo misturado com esse sotaque forte, puta que pariu. E aí ele solta essa que eu sou incrível com o timbre de voz de um garoto que nem tem 21 anos. É pedir pra em matar.

- Tá aí ainda? – Ele perguntou rindo.
- Aham – respondi. – Tipo, por que eu sou incrível?
- Com tudo isso o que tá acontecendo você fica tão calma e, porra, , não quero me gabar nem nada, mas sendo nossa amiga você ia conseguir tanta coisa e você nem pensa nisso! É incrível.
- Obrigada – eu ri. – Já disse, odeio groupies.
- Eu sei disso – ele tinha uma certa ansiedade na voz. – Você é o tipo de garota que eu queria ao meu lado.
- Mas você me tem, sou sua amiga, não sou?
- Não ... Você... Deixa pra lá – ele riu sem humor.
- ?
- Eu preciso ir, vamos dar uma entrevista na Rádio Capital, tem como você ouvir?
- Infelizmente não, tenho que voltar pra aula... – vi Sam ao longe me chamando, a maioria dos alunos já tinham entrado. – Espera um pouco, .
- Okay...?
- SAM! – Eu o chamei. – Guarda um lugar pra mim no fundo, por favor?
- Já guardei, , eu e sua amiga doida lá pegamos o seu material – ele sorriu e eu comeei a gargalhar, já tinha falado com ele.
- Obrigada, to indo já...
- Belê.
- , tá aí ainda?
- – ele tava sério. – Quem é Sam?
- Ah, um amigo novo – falei já andando. – Conheci ele hoje, todo tímido, tadinho. Acho que ele devia estar mais perdido que eu – acabei rindo.
- Tá... – e de novo sério. – E vocês se deram bem?
- Claro que sim, o cara é da Austrália, mega fofo – a respiração de ficou pesada do outro lado da linha, decidi me calar. – Escuta, vou passar a tarde treinando as fotografias por Londres, vai ficar ocupado?
- Vou, digo... Vamos. A banda toda – ele riu fraco. – Mais pro fim da tarde eu vou ficar livre, pode me ligar.
- Vai fazer alguma coisa hoje? Preciso de um crítico para as fotos que vou tirar.
- Manda pro meu email, te passo por mensagem daqui a pouco. Assim que você tirar já me manda e mais tarde nos falamos e eu te falo o que achei das fotos.
- Obrigada, – falei feliz comigo mesma. - Sua opinião vai ser importante pra mim.
- Escuta – ele fez um estalo com a boca. – Amanhã nós temos o dia de folga e, bom, por que você e a não vão pra nossa casa hoje? Assim eu te digo o que achei das fotos pessoalmente, e você ainda tem a chance de treinar o photoshoot hoje com a banda toda.
- Uau, tentador – eu comecei a rir nervosa. – Mas não é perigoso?
- Paul te busca no apê de vocês, acho que não tem problema.
- Promete não publicar nada no Twitter e nem falar que ‘a garota especial tá na sua casa’? – Falei mordendo os lábios nervosa e ele riu do outro lado da linha. – , tô falando sério.
- Tá, prometo – ele disse. – É bom eu já avisar o , porque ele vai ficar todo empolgado de saber que vocês vão vir pra casa hoje.
- Ok – eu ri. – Preciso mesmo ir agora, quando ficar livre mais pro fim da tarde me manda mensagem ou me liga.
- Pode deixar, , beijo e boa aula.
- Obrigada – e desliguei o telefone.

Suspirei fundo, eu tinha acabado de falar com o e com a que talvez fosse ser extremamente difícil nos vermos novamente, e agora eu acabei de marcar um encontro básico na casa dele mais tarde. E não apenas pra mim, mas pra também! Guardei o celular no bolso traseiro da minha calça e corri pra próxima aula; seria aula sobre como fotografar em preto e branco, provavelmente seria uma das minhas aulas favoritas.

- E seu nome seria? – Um professor cheio de gala que lembrava um ator de cinema me perguntou quando apareci na porta da sala dez minutos atrasada.
- – falei com uma certa dificuldade. – .
- Bem, – ele suspirou e me deu uma olhada de cima a baixo. – Acho que você deve saber que aqui na Inglaterra nós não admitimos atrasos.
- Eu sei e eu realmente sinto MUITO! Isso não vai mais acontecer, eu simplesmente... Bom, acho que me perdi – falei tomando mais ar que o necessário e relaxando os ombros.
- Espero que arrume um mapa para amanhã, não quero ter que ficar interrompendo minha aula porque uma aluna incapaz de se localizar na escola acabou chegando atrasada – e de novo aquele olhar. – Vai se sentar, por favor.
- Obrigada.

Lembra que eu disse que ia ser uma das minhas aulas favoritas? É, pode esquecer.

- Que aconteceu, ? – me perguntou assim que me sentei ao seu lado e já fui logo abrindo meu livro e meu caderno. – Você tá com a cara branca.
- Isso é de correr mesmo, sou sedentária – ri baixo. – Na verdade, eu preciso te comunicar uma coisa.
- O quê?
- Nós vamos hoje à casa do e dos meninos – falei mordendo a boca e só vi o olhar de arregalar absurdamente, ela parecia um mangá. – , não grita, pelo amor de Deus.
- Caraaalho! – ela disse colocando a mão na boca. – Puta que pariu, puta merda, caralho, que porra é essa?
- Cacete, tem como sair mais palavrão?
- Não fode, , não fode! – Ela respirava com dificuldade, eu queria muito rir, mas não estava numa zona de conforto pra isso. – Como que isso foi acontecer?
- Na verdade – eu dei uma olhada de leve pro professor, que estava de costas escrevendo algumas coisas na lousa e falando ao mesmo tempo. – me ligou pra saber como eu estava. Ele leu algumas coisas no Twitter e ficou preocupado comigo.
- Que gracinha!
- É, mas nem tem como nada acontecer, ninguém me conhece – dei de ombros e concordou. – Então eu disse que ia passar a tarde treinando fotografia por Londres e pedi pra mostrar minhas fotos pra ele.
- E...
- Ele me disse que estão de folga amanhã e me perguntou se não queremos ir a casa dele hoje – sorri e ela sorriu mais ainda. – Paul vem nos buscar, foi isso o que ele disse.
- Me belisca, – ela esticou o braço e eu ri baixinho. – Eu sabia que achar seu passaporte era um sinal do destino, você é a criatura mais rabuda que eu conheço!
- Queria eu ter essa mesma percepção que você – falei. – Eu tô achando isso tudo demais, não vou mentir. Mas não é uma empolgação assim tão grande quanto a sua.
- Imagina Tom Fletcher virando seu amigo e te convidando pra um jantar na casa dele com o resto do McFly – disse me provocando.
- Aí sim – eu sorri, meu estômago quase caiu só de imaginar essa oportunidade.
- Você sabe que eles moram em um complexo, né? Estilo, sei lá, teletubbies?
- Não faço idéia do que você está falando – disse rabiscando umas coisas no meu caderno só pra disfarçar. – Eles não moram juntos na mesma casa?
- Se não me engano tem dois que moram juntos, mas não sei quem são – ela disse meio pensativa. – De qualquer forma, nós vamos entrar no ninho do One Direction! O lugar onde qualquer menina do mundo queria entrar...
- Desculpem... – uma menina loira muito bonita me cutucou nas costas.
- Pois não? – Perguntei sendo simpática.
- É, eu ouvi vocês falarem ‘ninho do One Direction?’ – O olhar dela tinha um brilho quase psicopata, morri de medo.
- Ehr... – olhei pra procurando por ajuda, eu não sei me livrar bem desse tipo de situação.
- Não, fofa – disse. – Eu disse ‘o bonitinho do One Direction’ – ela falou e a menina fez aquela cara de ‘ahhhh entendi’. – Você gosta deles?
- Se eu gosto? – A loirinha jogou os cabelos pra trás e sorriu. – Eu sou apaixonada por eles! Na verdade eu sou apaixonada pelo , mas não é amor de fã, é amor de homem mulher mesmo, sabe? Eu vou até o fim do mundo pra conhecer ele, eu sei que ele é o amor da minha vida, o cara mais perfeito...

Blá blá blá. Desliguei um pouco.

- Uau, boa sorte, garota – disse meio sarcástica olhando pra mim, abafei uma risada.
- Não preciso de sorte – ela disse ainda sorrindo. – Eu sei que quando ele me conhecer ele vai se apaixonar por mim, eu tenho tudo o que ele procura em uma garota. Sei de cor as coisas que ele fala em entrevistas, eu sou a alma gêmea dele.
- Mas – me arrisquei a dizer – eu vi uma entrevisa dele hoje de manhã e, hm, parece que tem alguém especial na vida dele.
- Essa vadia? – Ela levantou a sobrancelha e eu senti meu estômago embrulhar. – Ela que não se meta na vida do . Na boa, ela não sabe com quem está se metendo.
- Mas você nem a conhece – me arrisquei a dizer, me olhou repreendedo-me.
- Não preciso conhecer, deve ser alguma putinha que o andou comendo por aí e agora fica mandando mensagem pra ele. E pra não ficar chato ele disse isso na entrevista, ele gosta de mexer com as fãs e adora quando nós ficamos com ciúme.
- Bom – falou me abraçando de lado. – Eu realmente espero que você tenha sorte com o ; ele será um garoto de sorte caso encontre você.
- Eu sei disso – ela sorriu convencida.

Eu e nos viramos pra frente e ficamos caladas. De repente todo o meu medo pareceu voltar; eu não fazia nem ideia do que essas garotas pensavam com respeito aos meninos, e vendo uma falar na minha frente o que ela pensava era muito assustador. Estava com as mãos tremendo debaixo da mesa quando senti segurar minha mão e apertar firme passando seu polegar na palma da minha mão. Olhei pra ela com meus olhos quase marejados e ela sorriu de forma encantadora.

- Estamos juntas, não estamos? – Ela disse baixinho.
- Sim – foi a única coisa que consegui responder.

E com muito esforço foquei o professor e passei a aula toda ali, sentada quietinha segurando a mão de como se minha vida dependesse disso. E, de certa forma, dependia sim.

As últimas duas horas acabaram e eu finalmente pude sair daquela sala de aula que estava sendo claustrofóbica pra mim. Aquele professor realmente não foi com a minha cara tudo porque eu cheguei dez minutos atrasada; me lembre de matar mais tarde, o meu atraso foi culpa dele. Sam disse que tinha que ir pra casa mais cedo, mas depois de trocarmos telefones e derivados, nos prometeu que nos ligaria mais tarde; talvez ele fosse conosco até o centro de Londres tirar as fotos. Eu ia adorar, o cara era um fofo! Assim que saímos, eu e vimos um grupo de umas cinco meninas sentadas naquele mesmo murinho que eu estava quando cheguei à escola; uma delas segurava o Iphone na mão e tremia ao mesmo tempo que chorava. Fiz careta pra e quase deixei passar em branco, mas o timbre de voz do garoto que falava no vídeo que as meninas assistiam me chamou a atenção. Era o timbre de voz do .

- Elas devem estar ouvindo a entrevisa que eles deram hoje pra Rádio Capital – falei baixo. – me disse que eles estavam indo pra lá.
- Sssshhh, vamos ouvir – fez sinal pra eu ficar em silêncio e, delicadamente, ficamos próximas às meninas que ouviam a entrevista no Iphone.

Entrevistadora: , você causou um furor hoje cedo lendo uma mensagem e dizendo que era de uma pessoa especial. Pelo amor de Deus, quem é essa pessoa?
: Ahhh, tem como não falarmos sobre isso?
: É realmente particular.
Entrevistadora: Acho que vocês deveriam saber que agora é meio difícil esconder alguma coisa da mídia.
: Nós sabemos disso, mas realmente não sabíamos que ia causar essa revolta toda. Todos nós temos pessoas especiais em nossa vida, mas não indica que necessariamente estamos em algum tipo de relacionamento.
: Exato. Ela é realmente uma amiga muito especial e eu tenho um grande carinho por ela, mas não estamos juntos nem nada.
Entrevistadora: Suas fãs ameaçaram se matar caso você estivesse namorando.
: Isso é um exagero. Nós amamos nossas meninas e elas são tudo na nossa vida; não estaríamos em lugar algum se não fosse por elas.
: Por favor, fiquem vivas e em segurança. Amamos vocês mais assim do que falando que vão se matar ou algo do tipo.
Entrevistadora: E se vocês começarem a namorar e algumas fãs mandarem ameaças para a garota de vocês?
: Então essa pessoa não pode ser considerada fã. Fã nos apóia e quer nossa felicidade; ameaçar alguém que amamos nos deixa triste e chega a ser doentio.
Entrevistadora: Algum dia vamos saber quem é essa garota especial da mensagem, ?
: Conversei com ela poucos minutos atrás, como eu já disse ela é uma grande amiga e eu tenho um carinho enorme por ela. Vamos continuar sendo amigos e, não sei, se algum dia alguém nos ver juntos então vocês vão saber quem ela é.
: Por favor, a tratem com respeito.
: Sim, nós a amamos e queremos que vocês possam amar elas também.
Entrevistadora: Elas?
: Ela tem uma amiga que é nossa amiga também. Amamos as duas.
: Vamos parar de falar sobre isso, rapazes?

- ELAS? SÃO DUAS?
- falou com ela minutos antes da entrevista – uma menina ruiva falava, tremia e chorava. – Quem é ela, meu Deus? Quem pode ser essa vaca?
- Eles são muito lindos, mas será que não percebem que desse jeito estão nos matando? Nós não queremos eles namorando.
- Deus me livre, Deus me livre!
- One Direction precisa pensar mais nas fãs. Nós somos TUDO pra eles, eles não podem nos decepcionar ficando com garotas.

É isso mesmo? As fãs queriam que eles fizessem celibato e permanecessem virgens e solteiros pro resto da vida? Só eu acho que elas estão confundindo com os Jonas Brothers? Olhei em desespero pra , que agora tinha o tom de pele mais pálido. disse sobre ‘ a amiga’ e que a ama também – eu sei que o verbo ‘amar’ aqui não é exatamente como uma paixão, mas a cabeça da deve estar a mil – e agora o mundo inteiro sabe que One Direction tem duas amigas, que sente um grande carinho por uma delas e o ama a outra. E o disse que NOS AMA! Tá, quem está passando mal agora sou eu.

Puxei pra longe daquelas meninas e caminhamos até o nosso apê caladas. Agora eu estava no mesmo quarto que ela, então ficaríamos juntas o tempo todo. Esse silêncio estava me matando e de novo eu me lembrei de McFly, ‘Silence is a Scary Sound’, e como é! Me sentei na cama ainda meio zonza e vi pegar o computador e ligá-lo de forma rápida, a página que ela entrou era óbvia, Twitter, e também o Tumblr. Como era de se esperar, o fandom 1D estava aos prantos, indo à loucura; apenas alguns comentários eram razoáveis dizendo que os meninos estavam certos em namorar e que deviam dar apoio. Em contra partida, a maioria dos comentários eram ofensivos, maldosos e exagerados. Mordi os lábios confusa, não conseguia entender o que se passava na cabeça dessas garotas; uma coisa é você sentir ciúme do seu ídolo e, claro, ficar meio chateada porque ele está namorando ou tá de rolo com alguém, isso é normal! Eu senti isso pelo Joe Jonas quando ele namorou a Camilla Belle, e pior ainda quando o Danny começou a namorar a Georgia, mas eu nunca desejei a morte delas, eu nunca quis me matar porque eles estavam namorando. Na verdade, depois de um tempo, eu comecei a achar eles lindos, eu acho que o Danny super combina com a Georgia, embora ela seja altamente irritante. Mas o que vou fazer? Eu não tenho a MÍNIMA chance com ele, vou querer me matar por isso? Vou querer matar ela por isso? John Lennon tá aí pra mostrar até que ponto o fanatismo pode levar uma pessoa. Lembrete: manter o livro O Apanhador no Campo de Centeio longe das fãs do One Direction. Se Mark David leu esse livro e matou John Lennon, vai saber o que as fãs podem fazer com um dos meninos da banda ou alguém que se aproxime da banda.
Ai, eu sou nerd demais.

- me chamou meio rindo. – Você não vai acreditar em quem está te defendendo.
- Hã?
- Georgia Horsley é o nome da namorada do Danny?
- É sim... Que foi?
- Vem ver o que ela acabou de escrever no Twitter – me virou o Mac pra eu ler o último tweet da Miss e eu fiquei sem ar.

@GeorgiaHorsley1 só eu estou achando ridículo o que estão falando da garota do ? Vocês nem a conhecem, amadureçam xxxxx

- Retiro tudo o que eu já disse dela em toda a minha vida! – Falei rindo. – Nossa, que surpresa.
- Ela deve saber muito bem o que é sofrer cyberbulling – disse dando de ombros e pegando o Mac de volta. – Achei legal da parte dela.
- Eu achei o máximo – sorri. – É de mim que ela tá falando! Eu... Caramba, que emoção.
- Tá vendo, é assim que me sinto quando você fala do 1D – ela riu – McFly é muito amigo dos meninos?
- Não sei, eles já trabalharam juntos, mas não sei se são amigos – dei de ombros.
- Hm...
- Escuta, vou mandar mensagem pro . Quero saber que horas podemos ir pra lá, e ainda temos uma tarde toda de fotos pela frente.
- Você quer mesmo ir pra casa deles?
- – suspirei. – Não quero me afastar dos meninos, eles são legais.
- Não quer se afastar dos meninos ou do ?
- Cala a boca – disse entre os dentes e vi abafar uma risadinha.

Peguei o telefone e antes mesmo de pensar em mandar a mensagem, o Iphone já acusava uma ‘nova mensagem de ’. Sorri sozinha, até nossos pensamentos estavam ficando sincronizados e... deixa pra lá.

‘Esteja pronta às 19h. Paul vai parar na esquina e vai buzinar três vezes. Não se atrase – X’

Segurei com força o celular em minhas mãos, estava pensando em mim durante o dia mais do que eu estava pensando nele. Isso era bom sinal, não era? Quer dizer que nossa amizade estava de verdade amadurecendo, e não tinha motivo para as fãs me odiarem. Ele disse que só sente um carinho por mim, como amiga. Óbvio, faz uns dez dias que nos conhecemos, não tem como ser nada demais... É isso. Respondi a mensagem correndo agradecendo e falando que estaríamos prontas e pedi para eles pedirem pizza, iríamos estar com fome. Olhei pra , que ainda estava com cara de preocupada olhando pro computador. Onde estou me metendo dessa vez?


Capítulo 06

- Eu tô morrendo de fome – falei enquanto esperava do lado de fora algum dos meninos abrir a porta.

Paul havia pego eu e às sete em ponto, não nos atrasamos um minuto sequer. Nós duas passamos a tarde toda tirando fotos de Londres e de todos os pontos turísticos. Não foi impossível lembrar de quando eu tirava fotos panorâmicas de dentro da cabine do London Eye, realmente é uma visão absurdamente maravilhosa e eu tive que me controlar pra não chorar de emoção. Mandei uma mensagem para ele dizendo que estava no topo do London Eye e ele me respondeu com simples, porém magnânimas palavras :’Gostaria de estar aí com você’. Quase deixei cair minha câmera fotográfica e meu celular quando recebi a mensagem, ele conseguia ser fofo e direto em poucas palavras; sorri como nunca. , óbvio, ficou me zoando o resto da tarde e eu tentava a convencer que era apenas um amigo muito carinhoso e nada mais que isso – nem podia desejar mais que isso, com o tanto de fãs me odiando sem ao menos me conhecer.

- Seu amiguinho não disse que ia pedir pizza? – me provocou e eu ri.
- Disse sim, espero que ele tenha pedi...

abriu a porta. De cueca. Apenas. De Cueca.

- E aí, meninas?

E o sorriso. E cueca. Ok, garotos com a idade nele não se desenvolvem tão rápido assim, desenvolvem? Abdômen, aquele maldito ‘V’ na zona de perigo – ou que leva até a zona de perigo – aquele sorriso brincalhão como se não tivesse noção do que ele pode fazer com um corpo feminino cheio de hormônios em fúria igual o meu no momento, aquela porra de cabelo todo desgrenhado e arrumadinho ao mesmo tempo, aqueles olhos, as mãos – sou apaixonada por mãos – e, porra, que CORPO! Sério, McFly teve corpo agora depois dos 24 anos – Tom Fletcher, eu AMO o seu corpo, tá?! – e como que esse merdinha na minha frente tem todas essas ondulações deliciosas na barriga? Todas essas definições que me dão vontade de mordê-las? NHAC!

- , tu não sente frio não? – perguntou mordendo os lábios de forma meio provocativa e riu graciosamente. – Na boa, amigo, não faz isso com meu pobre coração de fã.
- Se eu fosse você – ele cruzou os braços e se encostou no batente da porta – não entraria no quarto do . Se não me engano ele acabou de sair do banho.
- Espera... Essa aqui é a casa de quem? – Ela arregalou os olhos dando uma olhada geral. – Pensei que vocês morassem todos separados.
- Na verdade – ele fez um estalo com a boca e olhou pra mim, eu ainda estava meio maravilhada com a escultura na minha frente – Nós moramos nesse complexo, mas ficamos todos na mesma casa, sei lá... A casa de um é a casa de todos. Só quando estamos acompanhados, aí colocamos uma meia na maçaneta pra alertar – ele riu e eu não.
- Hm, e isso acontece com que frequência? – Eu perguntei me arriscando a falar alguma coisa.
- Bom – ele sorriu pra mim e pegou uma meia que estava na maçaneta do lado de dentro e a colocou do lado de fora. – Hoje seria um desses dias.
- Safado – falou já rindo e passando por ele entrando na casa. Na boa, queria ser como ela um dia. – !
- Ela já o achou – falei rindo. – Espero que você coloque alguma roupa quando eu fizer o photoshoot.
- Você realmente trouxe a câmera? – perguntou dando um sorriso de lado, meu estômago revirava e eu não sabia pra onde olhar.

Vamos começar pelo topo do corpo de . Seu cabelo deve ser o mais macio e mais delicioso de se deslizar os dedos, e isso eu ainda não tinha feito e tava morrendo de vontade de fazer. É aquele cabelo que você quer ter no seu colo e ficar massageando e brincando e deixando o leve cheiro de perfume impregnar entre seus dedos. Descendo nós temos seu tão perfeito e simétrico e único rosto. Esses olhos que se iluminam cada vez que ele sorri, que ficam um pouco menores e quase se fecham quando seus lábios desenham um sorriso; o nariz perfeito, a boca que eu não consigo parar de olhar! Essa boca perfeitamente desenhada e, cada vez que ele a morde quando não quer dizer alguma coisa, eu mordo os meus lábios pra controlar minha vontade de pular em cima dele. Então nós temos seu pescoço estranhamente atrativo e com uma veia que sempre aparece quando ele canta ou faz alguma nota alta. Então colo, peitoral ambulante cheio de ondinhas parecendo um tanquinho – eu só quero lavar minha roupa ali, na boa – a parte do ‘meio’ do corpo que eu vou ter que pular, porque nunca vi (mas já olhei, e, meu Deus, papai do céu caprichou!), as coxas, que são gostosas porque eu acho que ele joga futebol ou gosta de ficar correndo com os meninos; e a coisa menos atrativa dele seria o pé. Mas com todos esses atributos citados acima, quem vai se lembrar da porra do pé? Virando ele de costas nós temos uma bunda melhor que a minha, dá vontade de morder literalmente! Ou apertar, morder e apertar... E tem as costas, desenhada e eu queria fazer desenhos com as minhas unhas ali. é o tipo de cara que você chama de ‘delicioso’ e te dá água na boca. Óbvio, nada nunca vai acontecer entre nós dois, então vou acalmando os meus hormônios e me conformo com a ideia de que eu tenho um amigo perigosamente desenhado pelos deuses e mais quatro dentro de casa mais ou menos iguais a ele.

- É claro que eu trouxe a câmera – respondi depois de tirar fotos mentais desse menino e guardar em um cantinho especial. – Aqui, ó – bati na bolsa que eu carregava ao lado do meu corpo.
- Vem, entra...

Ele deu espaço para eu passar enquanto abria a porta. Prendi a respiração quando estava ao seu lado pra eu não inalar o cheiro delicioso que estava vindo do seu corpo e quase entrei correndo dentro da casa. Quando entrei me dei de cara com um lugar típico adolescente bagunçado. Tinha uma bela sala, não muitos móveis, mas nos poucos que tinham havia roupa em cima – cueca, sapato, camiseta, jeans – ao fundo eu podia ver o que deveria ser a cozinha e do lado esquerdo aparecia um corredor que devia levar para os quartos. A gritaria vinha da cozinha e eu pude ouvir a voz de e gritando um com o outro e rindo ao mesmo tempo. Sorri comigo mesma, para ela deveria estar sendo um sonho estar na casa do ídolo e ficar brincando com ele e coisas do tipo. Coloquei o case da minha câmera em cima de uma mesa que estava ali perto e tirei minha jaqueta jeans, colocando-a em cima.

- Os meninos estão na cozinha preparando pizza, eu vou colocar uma roupa.
- Ah, você não pretende então ficar andando de cueca pela casa? – Perguntei rindo enquanto o encarava com a mão na cintura.
- Eu até pretendia, mas não quero ficar te tentando desse jeito, – ele sorriu de lado e coçou a nuca. – Deve estar sendo muito difícil pra você não me agarrar agora.
- Você é sempre tão pretensioso assim? – Eu ri e dei um passo na direção dele. Seu corpo parecia um ímã e nem eu sei porque estava fazendo isso. – Se eu não te agarrei até agora, , não vai ser exatamente hoje que vou perder o controle.
- Ah, então você quer me agarrar – ele se aproximou mais de mim e meu corpo todo pegava fogo, o que eu estava fazendo? Se safa dessa agora, ...
- Por necessidades puramente físicas e fisiológicas. E não porque eu talvez esteja sexualmente atraída por você – respondi mordendo meus lábios com força e sentindo um formigamento em minhas pernas, eu acho que ia cair.
- Você fica sexy demais falando desse jeito – quando que eu não percebi o corpo de totalmente em cima do meu e meu nariz quase encostando em seu queixo? Ele era relativamente mais alto que eu, então...
- Já mandei você parar de flertar comigo – respondi sentindo a respiração dele em meus cabelos; quente e pesada. – Tchau, – e com um empurrão em seu corpo descamisado eu saí daquela situação perigosa e constrangedora.
- Uma hora você não vai mais aguentar, – ele disse aos sorrisos e se dirigiu para um dos corredores que deveria levar até o quarto.

Respirei fundo algumas vezes e dei tapas de leve em meu rosto pra eu acordar dessa vida. Isso não me pertencia, eu não sou de ficar flertando com as pessoas e nem de me colocar nesse tipo de situação; mas que merda tinha nesse menino? Coloquei mais oxigênio em meu corpo a fim de meu cérebro receber a quantidade necessária para começar a raciocinar direito, peguei minha case com a câmera e a abri. Arrumei minha Canon SLR, coloquei as novas lentes novas que tinha comprado naquela tarde e fui correndo pra cozinha.

Assim que cheguei vi segurando por trás pela cintura enquanto os dois gargalhavam, e estavam decorando duas massas de pizza que estavam em cima da pia e preparava sete copos de suco de uva – um para cada um de nós eu imagino. Nenhum deles realmente viu minha presença lá, por isso peguei minha câmera, ajustei para o modo interno e bati uma foto sem precisar do auxílio do flash. A foto ficou linda, espontânea e parecia aquelas de revista Casa e Construção. Sorri com o resultado e bati outra, pegando o momento em que erguia o corpo de do chão ao mesmo em tempo que dava um beijo em seu rosto; ainda bem que bati essa foto, eis uma coisa que ela vai querer guardar pra sempre. Quando eu ia bater a próxima foto, ergueu o rosto e me viu soltando um belo “HEEEEEEEEEEEEEEEEEY” que me fez ter ataque de riso. Todo mundo parou o que estava fazendo para me olhar e falar “HEEEEEEEEEEEY” igual ao , me vi obrigada a parar de tirar fotos.

- Como que a senhorita chega aqui, de mansinho e fica tirando fotos nossas assim? Quem te deu essa liberdade? – falou enquanto limpava as mãos no avental do Pateta que usava e vinha até mim. – Deixa eu ver como ficaram essas bagaças.
- Nem pensar – falei rindo escondendo a câmera atrás de mim. – Isso aqui é ferramenta de trabalho e eu morro de ciúme dela.
- Fala sério – ele sorriu enquanto me dava um beijo estalado e molhado na bochecha e um abraço. – Boa noite, .
- Boa noite, – respondi bagunçando o cabelo dele de leve. – E aí, meninos?
- Oi, e falaram, estava ocupado demais se enroscando com e ela dando gritinhos de alegria.
- É sério? – Eu apontei pros dois enquanto colocava minha câmera de volta no case e deixava em cima da bancada da cozinha. – é mais safado do que eu pensava.
- Sua amiga é bem atirada, falou. – E ela é gata – ele riu, assim como os outros meninos. Obrigada por ressaltar o óbvio, .
- É, eu sei – falei meio sem graça. – E então, o que estão cozinhando?
- PIZZA! – disse vindo até mim e me dando um abraço e um beijo, pelo menos todos estavam com suas camisas e bermudas... Ninguém descamisado, graças a Deus!
- Gosta de pizza? – finalmente falou depois de soltar e vir até mim também me dar um abraço e beijo; eles são muito carinhosos.
- Adoro – respondi sorrindo. – Precisam de ajuda?
- Na verdade, não – disse colocando uma das pizzas no forno e jogando um beijo pra mim, sorri em resposta. – Vai demorar ainda uns trinta minutos, vamos pra sala?
- Eu vou lá em casa pegar cerveja, alguém me acompanha? – falou olhando pra , que tinha ficado um pouco corada.
- Eu não vou deixar vocês dois sozinhos nem pensar, eu tô com sede e quero cerveja. Portanto, vou junto – falou tirando o avental e pulando nas costas de .
- Que caralho, você não é leve não! – disse saindo correndo com nas costas, enquanto este gritava parecendo uma menina. – VEM, ISA!
- Tô indo – disse sorrindo pra nós e correndo na direção dos dois.
- Eles já se pegaram – disse enquanto caminhava pra sala e ia me abraçando e caminhando junto comigo. – Deram uma estaleca quando se viram.
- Dar estaleca não é se pegar – falei abraçando e indo pra sala. Que abraço gostoso, meu Deus. – Se pegar é dar beijo de língua.
- Acho que eles vão se pegar agora então – ele respondeu rindo. – Por falar em se pegar, já pegou algum londrino, ?
- Ainda não – eu ri sem graça me sentando no sofá ao lado de e vendo zapear canais na televisão. – Hoje conheci um aluno gatinho.
- Whoo, não fala alto – disse. – Nosso fica com ciúme.
- Que ciúme o quê – respondi. – Tem um bando de fã pagando pau pra ele, pra que ter ciúme de mim?
- Porque ele gosta de você – respondeu me dando um carinhoso peteleco no nariz. – Ele fala de você o tempo todo.
- , sério – olhou pra mim sorrindo. – Ele tá todo gamadão.
- Cala a boca – respondi. – Na verdade, calem a boca! Isso é pra você também, .
- Só estou ressaltando o óbvio – ele respondeu e tanto quanto sorriram cúmplices.

deixou em um canal de comida e tomou conta do sofá maior, estava totalmente deitado e brincava com o próprio cabelo. Eu e estávamos no outro, tinha o braço atrás do meu corpo e de uma certa forma estávamos abraçados, sem segundas intenções, eu juro. Quando apareceu na sala – vestido da cabeça aos pés, já que agora ele usava um gorro cinza – entortou o nariz ao ver a cena entre nós. Sorri pra ele e tirei a almofada que estava ao meu lado, o convidando pra se sentar ali conosco, mas ele respondeu uma coisa que eu não entendi, e foi pra cozinha argumentando que estava com sede. Sede, aham!

- Posso fazer uma perguntinha de uma leiga pra vocês? – Cutuquei na perna e olhei pra , que agora estava ocupado demais vendo Cake Boss. – Se não quiserem responder, tudo bem.
- Manda – falou.
- É que – mordi os lábios – eu conheci hoje uma fã de vocês no curso – eles sorriram, deviam estar acostumados. – Sério, ela muito louca por vocês.
- Legal – falou fazendo ‘joinha’ com a mão. – E daí?
- Bom, eu e estávamos falando baixinho sobre vir pra cá hoje e ela meio que caiu de paraquedas no assunto. Não comentamos nada, óbvio, mas ela disse umas coisas que eu fiquei meio neurótica – fiz careta e tanto como se viraram para me encarar. – E depois da aula nós duas vimos um grupo de meninas ouvindo a entrevista que vocês deram pra rádio...
- Vocês ouviram? – perguntou meio sorridente.
- Aham – falei rindo. – Bom, primeiro... Obrigada por ‘nós amamos as duas’, foi realmente fofo da parte de vocês – os dois me olharam totalmente fofos e meu coração explodiu metade. – Porém fiquei meio apavorada, porque o fato do dizer que tem uma amiga especial fez com que as fãs quisessem se matar! E as meninas que eu vi estavam tremendo e chorando só de pensar nessa possibilidade. Digo, ele nem tá namorando nem nada e elas surtaram!
- Algumas fãs tendem a ser um pouco apaixonadas demais – respondeu me olhando meio preocupado. – Alguma delas te falou alguma coisa?
- Claro que não, elas nem sabem quem eu sou – ri nervosa. – É que eu fiquei com medo, entenderam?
- Medo do que em especial?
- Caso algum dia futuro alguém descubra quem eu sou, o que vão fazer? Tipo, a tá toda no balacobaco com o ... Se alguém ficar perseguindo a menina?
- Nossas fãs? – parecia preocupado.
- Olha, eu sei que vocês falam em entrevistas que as ‘suas meninas’ são tudo na vida de vocês, elas são realmente lindas, mas, vamos ser sinceros, tem limite.
- Uma vez um de nós que eu não vou falar quem é – começou a contar – se envolveu com alguém durante o Xfactor. – É, eu não fazia idéia de quem era. – As fãs na época realmente foram meio pesadas e até mandavam ameaças de morte no Twitter pra essa ‘pessoa’.
- É disso que eu tô falando – respondi.
- Nós tentamos ao máximo manter nossa vida pessoal em segredo, mas às vezes não dá. Como hoje – ele riu.
- Eu só fico um pouco apavorada com o meu futuro – olhei para os dois. – Minha vida não está ganha como a de vocês, sem ofensas.
- Não me ofendi – falou.
- Minha mãe não é exatamente uma mãe careta, ela tem Twitter e sabe usar a internet muito bem. Não quero que no futuro ela leia uma fofoca da filha dela que veio pra Londres e acabou se engraçando com uma banda! Dei muito duro pra conseguir essa bolsa e pensar que posso perder tudo por culpa de uma fofoca ou... Amizade...
- virou o corpo pra mim e segurou minha mão, senti sentar atrás de mim no sofá e segurar meus ombros com carinho. – Nós entendemos o que essa situação toda deve estar sendo pra você e na verdade pedimos desculpas.
- Desculpas – disse atrás de mim e eu ri.
- Vocês não precisam pedir desculpas, a culpa não é de vocês.
- Se você não quiser que comentemos de você ou da em entrevista, não vamos mais fazer isso – falou. – A princípio eu acho bom mesmo não falarmos nada.
- As notícias na internet são rápidas, o que é fofoca hoje vira besteira no dia seguinte. Logo mais as fãs vão ter esquecido isso e ninguém mais vai comentar do assunto.
- Vou falar pro sair com outras meninas – falou com um sorrisinho no rosto e eu senti minhas bochechas corarem. – Aí ninguém precisa ficar sabendo quem é essa pessoa especial e vocês dois ficam, de verdade, sendo só amigos.
- É... – forcei minha voz a sair. – Acho que, acho que seria...
- Deixa de ser tonta, falou me abraçando por trás. – é completamente doido por você, ele fica até de madrugada rolando o celular pelo seu número com vontade de te ligar, mas não faz isso.
- Sério? – Olhei para , de madrugada eu já estaria dormindo pesado. – Eu não... Não imagino...
- Se você gostar dele – disse – nós vamos apoiar! Isso inclui as fãs e qualquer fofoca que venha a aparecer.
- E isso vale pra e pro falou. - Vocês duas apareceram na hora certa para todos nós. E são completamente diferentes do tipo de meninas que estamos acostumados a conhecer.
- Modelos, cantoras, groupies, hipsters, interesseiras... – dizia listando o provável tipo de meninas que eles conheciam e foi impossível eu não rir.
- É mais ou menos por aí – acrescentou.
- Eu e somos duas meninas normais, é isso?
- Ser normal é ser interessante, e vocês duas são isso – falou. – Não sei, o jeito despreocupado de vocês duas nos deixam com os pés no chão. A vida não é só esse momento que estamos agora, essa fama ou esse brilho. É muito mais que isso, é encontrar pessoas que podem mudar tudo de perspectiva, como vocês.
- Caramba – eu olhei pra ele com os olhos arregalados e ri. – Isso foi a coisa mais complicada e mais bonita que alguém já me disse.
- Eu nunca entendo direito o que o diz – falou fazendo careta e nós rimos.
- O que eu estou querendo dizer é...
- Não explica, – eu o cortei rindo junto com . – Obrigada, gente.
- De nada – e recebi um abraço apertado de ambos. – Se eu fosse você, iria na cozinha.
- ficou o dia todo meio mal depois do que as fãs falaram. Ele só queria ficar com você e ligar pra você – falou. – Ele gostou muito da sua pessoa, .
- Eu gostei da pessoa dele também – falei rindo. – Vou lá falar com ele.
- Vamos lá com o e o resto do povo, um pouco de privacidade vai fazer bem pra vocês dois – comentou enquanto se levantava do sofá. – Afinal, acho que vocês nunca ficaram realmente sozinhos.
- Ficamos na van – eu falei.
- Aquilo não conta, Paul estava calculando cada minuto – disse. – Se precisarem de algo é só gritar, a casa do é um metro daqui.
- Temos paredes finas – disse piscando um olho e rindo, eu ignorei esse comentário dúbio e vi os dois irem embora enquanto eu me dirigia pra cozinha pra falar com .

Assim que cheguei, vi sentado em cima da pia com a minha câmera em mãos vendo as fotos. Tinha um sorriso quase infantil no rosto e as pernas pendiam na frente do seu corpo e balançavam; era como ver a visão de uma criança de cinco anos sentada em uma cadeira, por ser pequena ou a cadeira alta demais, seus pés não chegavam ao chão. Limpei minha garganta um pouco alto e cruzei os braços na frente do corpo observando e querendo chamar sua atenção. Funcionou.

- Belas fotos – ele disse levantando o olhar pra mim e sorrindo um pouco mais aberto.
- Obrigada – respondi. – A câmera é nova, então ajuda um pouco.
- Acho que o que ajuda é a fotógrafa – ele disse em um pequeno elogio enquanto pulava da pia e vinha na minha direção. – Sua câmera.
- Valeu – peguei a câmera da mão dele, dei uma olhada na foto que ele estava vendo e vi e no zoom. – Seus amigos são fotogênicos.
- Você gosta de tirar fotos deles, não é a primeira vez que os pega de surpresa.
- Tá querendo me lembrar daquela vez no London Eye? – Perguntei meio brincalhona e ele balançou a cabeça afirmando. – Aliás, as fotos daquele dia ficaram lindas.
- Por que eu nunca as vi?
- Eu gosto das coisas caseiras – respondi. – Não passo minhas fotos pro computador, digo, não todas. Eu montei um pequeno estúdio lá no apê com a e revelei as fotos lá, todas estão guardadas comigo em um local especial. - Como que você revela fotos em casa? – Ele fez careta e coçou a cabeça. Eu sorri.
- Não quero me gabar, mas, se você faz curso de fotografia, isso é o BÁSICO que você tem que saber, nem é tão difícil assim. Qualquer dia te mostro.
- Como você fez isso? – Ele perguntou curioso, sério que ele estava interessado na minha vida?
- Bom, – pigarreei um pouco antes de falar – não é algo tão simples, mas também não é nada impossível. Digo, com um pouquinho de dedicação, qualquer pessoa que não seja familiarizada com esse tipo de processo consegue montar um laboratório e revelar as fotos sem problema. Aí, como a faz fotografia também, nós duas meio que dividimos os custos – falei sorridente, eu amava falar do meu trabalho.
- Continua – ele me incentivou sorrindo mais do que eu.
- Você precisa de um ambiente onde a luz possa ser vedada, no nosso caso escolhemos a lavanderia que fica no fundo do apê. Aí você precisa de uma lona preta pra isolar a entrada da luz, um revelador pra papel fotográfico, fixador, casquilho pra lâmpada incandescente e... , você realmente quer saber disso?
- Você fica linda explicando sobre fotografia – ele sorriu e pegou minha câmera. – É quase a primeira vez que converso com uma garota sem que ela fique fazendo charme pra mim, não tô querendo me achar...
- Nem precisa – respondi sem graça.
- Posso bater uma foto sua? – Ele pegou minha câmera e apontou pra mim.
- Eu acho que já disse uma vez que odeio fotos, e você já tem uma foto minha em seu celular, que por sinal foi tirada de maneira totalmente clandestina.
- Por isso que dessa vez eu estou perguntando se posso tirar uma foto sua, quero me sentir fotógrafo uma vez na vida – ele riu.
- Não sou fotogênica – bufei.
- A foto que tenho em meu celular diz o contrário – ele sorriu malandro. – Vai, , por favor!
- Ugh! – Gemi. – Tá bom, mas vamos em um lugar onde você possa se sentir realmente como um fotógrafo profissional. Onde é um bom lugar com iluminação?
- Meu quarto – ele falou já gargalhando e eu o olhei séria, mas por dentro querendo rir.
- Tô falando sério, !
- Lá fora, a varanda é bem iluminada.
- Ok, vamos lá.


Saí na frente de me dirigindo para porta dos fundos. Assim que a abri, dei de cara com um jardim muito maior do que minha casa no Brasil... FENOMENAL! ligou as luzes e o ambiente ficou perfeito, era lindo demais. Com certeza eu faria o photoshoot dos meninos ali, já super imaginei mil fotos.

- E agora, o que faço? – Ele perguntou olhando pra câmera e olhando pra mim.
- Primeiro você encontra um lugar onde não faça muita sombra, como é de noite, precisamos do máximo de iluminação possível – falava enquanto dava uma geral na varanda tentando achar um lugar. – Aqui, por exemplo, é perfeito.
- Sério? – Ele perguntou meio duvidoso quando eu me sentei em uma das cadeiras de descanso.

Eu estava sentada na parte verde do jardim, havia a iluminação tanto da varanda quanto da lua. Havia uma sombra suspeita, porém com o flash ela iria desaparecer. Atrás de mim não tinha nada, apenas o muro que estava a muitos metros, ou seja, seria uma foto clean, sem adição de objetos ou pessoas. Eu gosto muito mais desse tipo de foto, onde você pode ver o que está sendo fotografado sem se perder no que acontece ao redor.

- Aham – respondi me levantando. – Eu vou ficar aqui e você precisar achar o foco da câmera. Primeiro, ligue-a.
- Isso eu já fiz – ele riu. – É nesse botão verde, né?
- É sim – eu ri. – Vai aparecer um quadradinho e você precisa colocar meu corpo no centro desse quadrado.
- Acho que consegui – ele falava enquanto parecia ajustar a câmera para mim. – E agora eu bato a foto?
- Liga o flash, como que tá a luz? Tá dando pra me ver?
- Tá sim – ele disse. – Posso bater?
- Aí pode – falei olhando pro meu lado esquerdo, não gosto de fotos onde a pessoa está olhando diretamente pra câmera. – E aí?
- Caralho! – Ele disse rindo enquanto olhava pra foto. – Dá muita diferença tirar com uma câmera profissional.
- Eu sei, certo? – Ri comigo mesma e fui até ele ver como ficou a foto. – Hm, não tá tão mal.
- Quando alguém diz que você é bonita e que você fica bem nas fotos, acho que poderia começar a acreditar – ele me respondeu, virando a câmera pra mim e batendo mais uma.
- HEY! Quer parar? – Respondi rindo. – Me devolve!
- Vem aqui – ele abriu um dos braços na minha direção. – Quero deixar essa noite como uma memória boa.
- Vai bater uma foto nossa? – Perguntei fazendo careta. – Ai Deus!
- Prometo não publicar, mas você vai ter que revelar e dar uma cópia pra mim depois.
- Tem a minha palavra – respondi. – Vai, vamos logo.

Me aninhei meio sem jeito ao corpo de sentindo seu braço me aconchegar mais ainda. Encostei minha cabeça no seu ombro e coloquei a língua pra fora, enquanto ele encostava a cabeça na minha e eu presumi que sorria. Ele bateu a foto e logo em seguida virou a câmera pra ver como tinha ficado; como era de se esperar, ele ficou lindo e eu mega esquisita.

- Não sabe tirar foto igual pessoa normal não? – Ele perguntou rindo desligando a câmera e a colocando em cima de uma mesinha de centro.
- Não gosto de fotos! – Falei de novo, arrancando mais uma risada dele. – Mas essa ficou mais ou menos espontânea.
- Gostei – ele disse.
- Cara, é só você sorrir que você já fica lindo! Não te irrita isso não? – Falei um pouco na demência. Realmente, é só ele sorrir e já fica gato, se eu começo a sorrir pareço o Chandler de Friends.
- Você quando sorri fica linda – ele me disse passando as mãos nos cabelos.
- Fico estranha – respondi dando de ombros. – Escuta, posso te perguntar uma coisa?
- Que foi?
- Naquele dia no London Eye, quando você me viu – garganta, agora não é o melhor momento de você ficar seca. – Por que eu? Digo, por que dentre tantas garotas naquele dia você me escolheu?
- Quer mesmo saber? – Ele perguntou meio risonho.
- Por favor!
- Você se destacou no meio de todo mundo – ele disse sorrindo. – Você não estava ali para aparecer ou chamar a atenção de ninguém, mal olhava para os lados enquanto andava. E quando eu te vi tirando fotos das crianças e o seu sorriso mais infantil no rosto, eu simplesmente tive a certeza de que precisava falar com você.
- Isso é ridículo – falei nervosa.
- Claro que não – ele riu e se aproximou mais de mim. – , no meio de tanta gente você foi a única que eu quis me aproximar. E não tinha como eu falar com você porque você não largava essa câmera por nada no mundo! O único jeito foi realmente começar a fazer gracinhas, o que deu certo.
- Tirar as calças no meio do povo não foi uma ‘gracinha’.
- Eu IA fazer isso, mas não fiz – ele sorriu e pegou minha mão, acariciando com o polegar. Meu Deus, eu vou morrer!
- Só queria saber quem era essa garota que não se importava em ser cara de pau o suficiente pra tirar fotos das pessoas, que sorria quando uma criança olhava pra ela, que colocava o cabelo atrás da orelha e mordia os lábios quando parecia gostar de uma foto que havia acabado de tirar – carinhosamente colocou uma mecha de meus cabelos atrás da orelha e eu inconscientemente mordi meus lábios.
- Agora você já sabe quem ela é – falei meio sem ar.
- Há muito mais nessa garota que eu quero saber, há muitas coisas que eu queria descobrir, mas ainda não consegui. Chamei ela pra um passeio pro London Eye e tudo acabou errado...
- Foi ótimo, – falei quase em um suspiro. – Foi perfeito.
- Ainda tem meu cachecol?
- Claro que sim.
- Ainda quer ir de verdade em um encontro comigo?
- O Paul vai junto? – Nós dois rimos, eu sou tão idiota.
- Vou tentar vetá-lo, mas acho meio impossível – ele riu. – E então?
- Eu adoraria, mas seria comida viva pelas suas fãs no dia seguinte – falei meio triste.
- Isso realmente te incomodou – e agora ele passava as mãos desde meus ombros até minhas mãos, aquele vai e vem de mãos me dava calafrios. – Sinto muito.
- Não é sua culpa, , eu entendo – falei. – Digo, também tenho meus ídolos e sinto ciúme deles de vez em quando, é totalmente normal.
- Mas...?
- Tenho medo de perder meu foco – funguei. – Vim pra cá com um propósito, e com certeza ter quinze minutos de fama não é o principal.
- Não queria que as coisas fossem assim pra você, – ele suspirou. – Nessas horas eu queria não ter essa fama.
- – levantei meu olhos e o encarei, puta merda, como ele era lindo. – Essa vida que você escolheu é a vida que você ama! Tem noção do quanto você pode curtir? Você tem milhões de garotas lindas que se jogam aos seus pés o tempo todo, quatro melhores amigos fantásticos e uma amiga que topa fazer photoshoots de graça!
- Há, palhaça – ele riu. – , eu não... – pausa pra um suspiro dele. – Você realmente me vê só como um amigo?
- Claro! – A voz saiu um pouco aguda, é o nervoso. – Digo, claro que sim. Não é isso o que somos? Amigos?
- Você gosta do ? – Ele me perguntou baixo. – Ou do ?
- ! – Me afastei um pouco pra olhá-lo melhor. – De onde você tirou essa ideia absurda?
- É que hoje eu vi vocês no sofá e tem fotos demais deles na sua câmera, e o jeito como o te tratava, e o próprio ...
- Eles não são seus melhores amigos? – Ele balançou a cabeça afirmando. – Não seria legal da parte deles dar em cima de uma garota que o amigo está a fim.
- O quê? – Essa pergunta saiu quase como um soluço. – O que, o que eles falaram?
- Disseram que você gosta de mim – eu ri. – Do tipo muuuuuito, sabe?
- Eu vou matar aqueles caras! – Vi as bochechas de ficarem coradas e, ai meu Deus, que coisa linda!
- – eu disse rindo e indo até ele, puxando sua mão e fazendo-o olhar para mim.
- Eu tô levando um fora?
- Não – quase gargalhei, quem sou eu pra dar uma fora nele?
- Mas você acabou de me dizer que me vê como amigo!
- Quer me olhar por meio segundo? – Eu controlava meu riso, até que finalmente ele me encarou. – , você é um lindo! E eu não entendi até agora porque você está interessado em alguém tão sem graça como eu.
- É que...
- Shhh, espera – coloquei minha mão em cima dos seus lábios, senti um leve formigamento e decidi tirar minha mão de lá. – Você é o sonho de toda garota, ; e faz totalmente o meu tipo – eu ri e ele também. – Mas eu me amo mais! E amo essa segurança que tenho de poder ir aos lugares sem ninguém me importunar, de ter 98 seguidores no Twitter e ninguém dar a mínima ao que escrevo.
- Você não quer ser vista comigo.
- Se você fosse um garoto sem essa fama ao seu redor, eu teria te chamado pra sair há muito tempo atrás – falei. – Mas e se não der certo? E se eu ficar marcada como a garota que namorou você? E...
- ‘Garota que me namorou?’ – Ele perguntou com um sorriso brincalhão, ai Deus Pai, eu falei demais. – Você também quer isso?
- Tô falando por falar, não muda de assunto! – Respondi meio nervosa, meu estômago fazia festa e dava cambalhotas dentro de mim. – Que seja, , você acha mesmo que alguma garota iria dizer ‘não’ pra você?
- Você acabou de dizer – ele apontou pra mim com um “micro bico” nos lábios, ah, pff!
- – respirei fundo e dei dois passos pra trás. – Eu gosto de você, mas tenho medo de ser morta pelas suas fãs e ver minha privacidade se escafeder porque sou sua amiga, namorada ou sei lá o que mais!
- – ele pegou minha mão e segurou forte. – Eu já disse pro mundo inteiro que tenho uma pessoa especial em minha vida hoje, por que não falar que essa pessoa é você?
- ...
- Por favor! – Ele encostou a testa na minha, agora eu podia sentir sua respiração um pouco mais pesada e quente em meu rosto. – Vamos fazer tudo em doses homeopáticas, bem devagar...
- Eu vou me foder!
- Eu tô aqui, não estou? – Levantamos nossos rostos ao mesmo tempo. – Antes de tudo eu sou seu amigo, eu te quero bem e eu tô completamente louco por esse enigma chamado . Me dá a chance de te decifrar, de ficar mais perto de você, de poder falar de você sem eu ter que me enrolar nas respostas.
- E se me odiarem?
- E se não te odiarem? – Ele riu. – Ao mesmo tempo que eu vou te conhecer melhor, as outras pessoas também vão te conhecer. Dá essa chance a elas e... Pra mim.
- Amigos? – Perguntei meio rindo e ele fez careta. – Quê? Primeiro vamos mostrar pro público que somos amigos.
- Você aceita? – Ele sorriu, acho que pela primeira vez na noite ele sorriu com tamanha sinceridade. – Posso, posso falar de você?
- Pode – eu ri. – E seja o que Deus quiser!
- Obrigado – e me abraçou.

E foi aquele abraço demorado, gostoso e lerdo e cheio de emoções. Eu estava colocando minha vida na mão dele, eu iria me expor de uma maneira que eu nunca fiz na vida. Não seria apenas no Reino Unido, seria no mundo INTEIRO! Todos iriam saber quem eu era, a garota sem graça que é amiga do One Direction, que é amiga de ! Eu não estava preparada pra isso, mas, ao mesmo tempo, por que não? O que demais poderia acontecer? Se eu fosse lembrar da reação das meninas na escola eu sei bem o que poderia acontecer comigo: morte!

- Vem aqui – ele me puxou pela mão e sentou na cadeira, me puxando junto e fazendo com que eu me sentasse em seu colo.
- O que vai fazer? – Perguntei meio nervosa, coloquei um dos meus braços em volta do corpo dele e deixei minha mão pousar no seu ombro.
- Quer saber já como vai ser a reação das fãs? – Seu sorriso era feliz, malandro e travesso, senti de novo aquele gelo na barriga.
- Quais são seus planos, ?
- Tem como sorrir pra uma foto dessa vez? – Ele pegou o celular e virou pra nós.
- Ah não, você vai publicar uma foto NOSSA?
- Claro, já não quer saber como vão reagir?
- Eu tava pensando em alguma coisa pros próximos seis meses, e não agora.
- Por favor, , prometo que vou falar que você é uma amiga, nada mais.
- Ah, que seja!

1, 2... pronto! Sorri com os lábios fechados e saiu com seu típico sorriso feliz. Eu estava sentada em seu colo com um dos braços ao redor do seu corpo, enquanto ele estava com o seu braço me segurando pela cintura. Pela foto dava pra ver claramente isso, agora eu tava ferrada de vez! Não precisou de muito tempo para publicar a foto pelo Instagram e no segundo seguinte ela estar em seu Twitter.

- E agora esperamos alguns segundos – ele disse.
- Você sabe que arruinou minha vida, não sabe?
- Nem falei qual o seu Twitter, olha como eu sou bacana!
- POR FAVOR, não fala! – Quase gritei. – Sério, é capaz de eu ganhar um milhão de seguidores e vai saber quantos haters.
- Vamos tentar pensar pelo lado positivo? – Ele sorriu pra mim. – Vamos imaginar que todo mundo vai adorar você?
- Ok – suspirei. – E caso isso não aconteça...?
- Eu vou estar aqui com você – disse beijando meu rosto e me abraçando.

Dei uma olhada na foto recém-publicada no Twitter em seu celular:

‘A garota especial’

Esse era o título da foto. E ali estava eu, sentada no colo dele sorrindo tentando esconder meu susto e medo, enquanto , por outro lado, parecia quase que completamente satisfeito. Em questão de segundos o número de mentions no Twitter subiu de 345 para 987, e esse número aumentava cada vez. Meu coração batia na garganta, estariam essas pessoas falando de mim? E se estivessem falando mal?

Agora o estrago já estava feito, prometi a mim mesma que só veria os comentários na manhã seguinte. Me aninhei ainda mais ao corpo de e enterrei minha cabeça no seu pescoço, pelo menos por alguns minutos de privacidade meu mundo se resumia a ele, e ninguém precisava saber disso.

Capítulo 07

SUGARSCAPE PHOTOSHOOT!!

Para aumentar meu desespero, acordei com uma terrível dor de cabeça! Os últimos dias não têm sido realmente os mais fáceis; de alguma maneira as fãs descobriram meu Twitter e meu Facebook. Está um misto de ódio com surpresa e fofocas que eu não sei de onde surgiram. Recebo tweets dizendo ‘VOCÊ É LINDA DEMAIS’ até ‘FICA LONGE DELE, SUA VADIA GORDA’, e por aí vai...

vem sendo absurdamente fofo comigo, ele sabia que isso ia acontecer e tem sido um tanto quanto cavalheiro. Além de ter dado uns foras em algumas fãs, ele me defende em entrevistas e diz que ‘ela é realmente minha amiga e eu a adoro, não entendo de onde possa vir esse ódio todo’. não foi descoberta, quase implorei pra ele e para os meninos deixarem ela no anonimato, já basta eu sendo esculhambada com bombardeios de tweets, não queria isso pra ela. Ah, e claro, o número dos meus followers cresceu de 98 para 300,000 em apenas dois dias, e a quantidade só vem aumentando. As meninas na escola mal me olham, especialmente a loira que ‘ama o assim como uma mulher ama um homem’, que está sendo a típica loirinha que gosta de bulinar todo mundo; eu, no caso, sou um prato cheio para as bulinações. Hoje estou com muito receio desse photoshoot, conversei com os meninos na noite anterior e pedi para eles não me tratarem de maneira especial e muito menos ; nós vamos estar com pelo menos mais umas vinte garotas loucas por One Direction e eu não quero ser a estrelinha da situação, pelo amor de Deus, mantenha isso longe de mim.

- Vamos precisar levar a câmera? – me perguntou enquanto esperávamos a van que nos levaria até o estúdio SugarScape. – Acho que não, né? - Até agora não sei se vamos fotografar os meninos ou simplesmente ficar olhando pra aprender algumas técnicas – respondi bocejando, eu tava com sono. – Olívia não nos disse nada, disse?
- Ela tinha dito que piranhas não estariam no photoshoot, mas acho que ela se esqueceu de mencionar você – uma das meninas da sala disse isso passando por mim e esbarrando em meu ombro. – Você fede, sabia?
- nunca reclamou do meu cheiro, interessante – respondi com um sorriso insuportável no rosto, o que deu pra aquela garota um asco tão grande que ela saiu de perto de mim. – Sério, não vou aguentar isso.
- Qual o nome dela? – me perguntou abrindo um pacote de bolacha e enfiando umas três na boca.
- Ambreel – respondi. – Ela é linda, mas chatinha...
- Chatinha? Ela é um nojo! – falou engolindo as bolachas e enfiando mais duas na boca.
- Cara, tem como ser mais educada?
- nunca reclamou – ela respondeu me imitando e eu caí na gargalhada.
- Por falar nisso, como vão as coisas entre vocês dois?
- Bom, ontem quando você estava com o em um momento ‘pelo amor de Deus não me trate de forma especial amanhã’, eu e o meio que, hm... nos beijamos.
- Vocês... O QUÊ? – O sorriso em meu rosto não iria sumir tão cedo, beijou !
- Cala a boca, caralho, quer que todo mundo fique sabendo? – Ela disse me beliscando e rindo. – É, nos beijamos.
- E como foi? E por que você não me disse NADA quando voltamos pra casa?
- Porque você estava tão tensa com respeito ao e como seria hoje que eu achei melhor não falar nada. Eu pedi pro não falar nada a respeito também, mas pelo menos eu estou a alguns passos na sua frente – ela sorriu.
- Não tá na frente de ninguém, , eu e não somos esse tipo de...
- Casal?
- Cala a boca, não somos um casal! – Bufei. – Só de saberem que somos amigos eu tô sendo trollada todo dia na internet. Pensa se passa da amizade pra algo maior, eu to ferrada!
- Será que isso pode acontecer comigo e com o também? – me perguntou assustada. Bom, não deixava de ser uma possibilidade...

A van chegou e os alunos que estavam ao nosso lado praticamente passaram por cima de mim e da . Escutei coisinhas como ‘você não é amiga deles? Pede pro vir te buscar...’ e daí pra baixo. Cada vez que ouvia uma coisa desse tipo sentia meu estômago borbulhar de ódio e ficar enjoada ao mesmo tempo. Entrei na van e, como já era esperado, não tinha lugar pra eu sentar. Ou as meninas colocaram as bolsas e me olhavam de cara feia, ou faziam questão de falar em alto e bom som que eu não era bem vinda ali. Parecia a segunda série toda de novo! sentou-se ao lado de Sam mais pro fundo da van e os dois me olharam com aquele olhar de pena; não era culpa deles, poxa, e é exatamente esse olhar que eu to tentando evitar. Eu vejo a me olhando quando passo horas no computador lendo os tweets, quando alguém me olha de cara feia e como ela sempre tenta me animar. Não é culpa dela se os fãs do One Direction são um bando de virgens que não saem de casa e gosta de ficar inventando merda de qualquer garota que se aproxime de um dos meninos. No momento, eu sou uma dessas meninas.

Sentei-me na última fileira de poltronas da van e fiquei lá quietinha esperando a nossa longa jornada até SugarScape acabar; demoraria cerca de 20 minutos e com o trânsito londrino ia demorar uns 40 minutos. Me acomodei na poltrona pequena, apertei meu casaco mais um pouco em meu corpo e já me preparei para pegar meu Iphone e ligar música no alto; e juro que não ia ouvir One Direction. É, eu ia ouvir McFly. Assim que peguei o telefone, vi duas mensagens não lidas aparecendo no visor e o nome ‘’ brilhando ali. Mordi os lábios e coloquei o celular dentro do casaco meio escondido, não ia correr o risco de alguma outra aluna ler a mensagem.

‘Que horas você chega? Já estamos aqui X’

Essa foi enviada 30 minutos atrás. Eles já estão lá? Caralho!

‘Tá, acabei de perguntar pro Paul que horas vocês chegam. Daqui a pouco, né? X’

E essa era de cinco minutos antes. Eu ri baixinho e olhei pra , que estava uma fileira na minha frente, ela também olhava o celular, acho que ela havia recebido uma mensagem de . É, nós duas éramos sortudas e azaradas ao mesmo tempo.

- ? – A linda, perfeita Olívia estava parada ao lado do lugar onde eu estava sentada, ainda não tinha me acostumado em tê-la como professora. – A van está toda lotada, posso me sentar ao seu lado?
- Cla-claro! – É, gaguejei. – Claro, professora.
- Me chame de Olívia – ela sorriu e se sentou. – Então, devo perguntar por que você não está sentada com alguma outra menina da sala? Embora eu já saiba a resposta.
- Já sabe? – Olhei pra ela quase que implorando. Mostrei meu celular com a mensagem de e ela sorriu. - Não sei como lidar com isso, Olívia.
- Ele é muito charmoso – ela me disse. – Você é garota sortuda.
- Nós somos só amigos – falei mordendo meus lábios. – Não quero ser mais nada além disso.
- Sabe – ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e suspirou – quando Danny e eu começamos a namorar, as fãs também não gostaram muito.
- Olívia, você não precisa me falar do seu namoro...
- Fica tranquila, , eu já superei essa parte da minha vida – ela riu. – Eu queria dizer que no começo foi muito angustiante pra mim ficar nesse meio. Eu já era exposta devido ao meu trabalho, mas é bem diferente o tipo de exposição que você sofre quando namora um ídolo adolescente.
- As fãs te tratavam mal?
- Na época não tinha Twitter, Tumblr ou metade das redes sociais existentes hoje. Era mais fácil ficar no anonimato, mas o pouco de exposição que tínhamos causava um furor – ela suspirou. – Nunca recebi ameaças de morte, mas sempre ouvia comentários falando que eu não era boa o bastante pra ele.
- E como você se sentia com tudo isso?
- Me sentia péssima e durante o namoro pensei em colocar um ponto final várias vezes. Não era pelo Danny, mas por mim mesma; porém, tanto ele quanto os outros meninos e as meninas foram sempre gentis. A Giovanna era a que mais recebia ódio das fãs, diziam que ela não era bonita, era gorda. Porém ela sempre foi um modelo pra mim, ela nunca ficou abalada. Ela tinha o Tom, não tinha?
- Até hoje algumas fãs falam mal dela...
- Exato – Olívia sorriu. – , não tem como você agradar todo mundo, ainda mais uma legião de fãs. Mais saiba que sempre vai ter aquele grupo que gosta de você e apóia o seu namoro.
- Mas eu e ...
- Tá, que não seja namoro. Apóia a amizade de vocês – ela riu. – E eu tenho mais certeza ainda de que o vai fazer o impossível pra te proteger dos ‘haters’. Ele é uma pessoa muito doce, e aquela foto mostra muito mais do que um simples carinho de amigo.
- Eu gosto dele – acabei falando. – De verdade.
- Sei disso – ela sorriu. – Dá pra ver na sua cara.
- Mas eu morro de medo, não sei até que ponto vou aguentar. E o dia que eu explodir? Eu sou estúpida de vez em quando...
- Seja! – Ela riu. – Seja, fala, se mostra! Tem que colocar limites de vez em quando. E se você quiser soltar um ‘foda-se, ele está comigo’, que fale. Não há motivos pra se prender aos pudores sociais, .
- Você tinha medo de perder o Danny pra alguma fã?
- Sempre tive – ela sorriu. – Mas ele sempre me provava que me amava mais do que qualquer pessoa.
- Sinto muito.
- O Danny foi e sempre será uma pessoa especial em meu coração. Dou graças a Deus que até hoje tenho contato com a Frankie, a Izzy...
- Não gosto da Frankie – acabei falando e sem querer fiz bico. Olívia sorriu.
- Tá vendo? – Ela apontou pra mim.
- Que foi?
- Você a conhece? Sabe de verdade o que aconteceu no relacionamento dela com o Dougie? Sabe se ela foi realmente o motivo pelo qual ele se internou?
- Não, pra todas as perguntas – fiquei sem graça.
- Frankie tem um coração enorme. Dougie e ela de verdade tentaram, mas chega um dia em que não dá mais; mas ela não é nem metade do que foi pintado pela mídia ou pelas próprias fãs.
- Me senti péssima agora – murmurei.
- Não sinta – ela me abraçou de lado, como uma amiga. – Como fã você ficou chateada com o que aconteceu e é normal. É praticamente a mesma coisa que está acontecendo agora com os fãs do ; elas estão chateadas e se sentindo traídas.
- Que faço? – Suspirei me controlando pra não começar a chorar.
- Você quer ficar com ele? Você gosta dele?
- Muito!
- Então faça você mesma feliz e fique com ele – ela sorriu e me deu um beijo no rosto, controlei mais ainda minha vontade de chorar. – E o faça feliz também.
- E as fãs?
- Dê para elas motivos pra gostarem de você – ela riu. – Bem vinda ao mundo do show business.
- Obrigada – eu ri sem humor algum.

Nosso caminho até a SugarScape não demorou muito já que fiquei o tempo todo conversando com Olívia. Quando chegamos, ela esperou todos os alunos descerem e ficou ao meu lado, sabia que alguém ia fazer uma piada de mau gosto uma hora ou outra. Agradeci mentalmente por tanto cuidado e carinho e, quando finalmente entramos no estúdio fotográfico, pude me sentir em casa. , eu e Sam ficamos atrás do grupo principal de alunos; todas as meninas estavam em êxtase por ver One Direction, enquanto eu estava com medo. O estúdio era enorme e era minha primeira vez em um estúdio profissional. O fundo onde eles fariam as fotos era branco assim como o chão, e absurdamente GRANDE! Nós estávamos atrás com umas 12 pessoas – que incluíam o diretor de fotografia, duas jornalistas da SugarScape e maquiadores – mais câmeras profissionais por todos os lados e Olívia estava na frente com mais dois fotógrafos. Fomos de roupas leves – calça jeans, camiseta e tênis – embora algumas meninas estivessem com blusas apertadas demais e saltos altos demais; mas o dia seria longo e eu acho que todas nós teríamos a chance de tirar uma foto do One Direction. Nossa sala tinha mais ou menos vinte e cinco alunos, então imaginem...

- Seu celular está vibrando – Sam me cutucou, eu nem tinha percebido.
- Não vou atender, Olívia está no meio da explicação de como devemos nos comportar em um photoshoot desse tamanho.
- Esse barulinho está me irritando – ele falou rindo.
- Então vai pro outro lado, Sam – falei dando um empurrão de leve nele. O celular parou de vibrar e dois segundos depois voltou a vibrar.
- , atende isso!
- , não posso...
- Você sabe quem é, até eu sei quem é – ela ria.

Peguei o celular e lá estava o nome de brilhando e ele ligando. A foto que ele tirou no dia da van aparecia, seu sorriso moleque e todo não comprometimento de ambas as partes naquela noite. Olhei ao redor pra me assegurar que ninguém estava me olhando e foi aí que eu vi. Pela porta que entramos bem ao fundo, ali estava ele. estava balançando o celular de forma brincalhona e sorrindo pra mim, há quanto tempo ele estava lá? acompanhou meu olhar de desespero quando nós duas avistamos e ela teve que colocar a mão na boca pra não começar a rir.

- Eu não vou até ele! – Falei pra e tentando fazê-la parar de rir.
- Qual o problema? Vai saber a quanto tempo ele está lá te esperando!
- Mas daqui a pouco começa a sessão e eu não vou estar aqui...
- Uma sessão com o One Direction não vai começar sem o – ela riu.
- Me dá cobertura? – Perguntei já quase caindo na gargalhada.

Fui saindo de marcha ré do local onde eu estava com mais ou menos na minha frente me dando cobertura e disfarçando o fato de que eu estava saindo. Olívia estava prestando atenção em um dos fotógrafos, porém ela me avistou e sorriu de forma cúmplice pra mim; só dou graças a Deus que nenhum dos alunos viu.

- Vem aqui! – me puxou pela cintura e no segundo seguinte lá estava eu no corredor que passei alguns minutos atrás. – A não vem?
- Não, vai ficar meio na cara se nós duas sairmos – eu falei rindo. – Oiii!
- Oi! – Ele sorriu e nos abraçamos, eu adorava seus abraços. – Queria falar com você antes do photoshoot.
- Você não deveria estar com uma roupa diferente? – Perguntei o vendo com uma camiseta e jeans, nada especial.
- Acabamos de sair da maquiagem e cabelo, agora vamos colocar a roupa. Quer vir?
- Tá doido?
- Qual o problema? – Ele riu. – Por favor, os meninos estão completamente loucos pra falar com você e . Especialmente o .
- É, fiquei sabendo que eles, hm...
- Estão quarenta passos na nossa frente?
- HEY!!
- Qual é? – gargalhou. – Escuta, quando esse photoshoot acabar eu queria, hm, falar com você.
- Tem que ser depois? Agora você me deixou curiosa – eu ri.
- Bom, a banda recebeu uma proposta e...
- AMÉM! VOCÊ TÁ AQUI! – e saíram correndo de algum lugar e no momento seguinte estavam me abraçando e me enchendo de beijos. Desde quando sou tão amada assim?
- Senti saudades de vocês também – eu só dava risada. – Nossa, vocês estão lindos.
- E ainda vão colocar photoshop na nossa cara! – falou meio emburrado. – Às vezes nem minha mãe me reconhece na foto!
- Quanto exagero, eu ia adorar ter um dia onde me colocam roupa nova e maquiagem e cuidam do meu cabelo...
- Pra quê? Você odeia fotos – falou me irritando um pouco, até colocou a língua pra fora e fez uma cara mais ainda sapeca.
- Não queria me produzir toda pra tirar fotos, só pra me sentir bonita – respondi e senti umas risadinhas ao meu lado. Era .
- Você já é linda, falou me abraçando. – E se o não fica falando isso o tempo todo, acho que você precisa passar mais tempo com outros membros do One Direction.
- É, não sou bem tratada pelo – falei e ele exclamou um ‘HAYHOUHAY’.
- Se você me aceitasse como seu namorado, quem sabe não seria melhor tratada?
- Eita, já estamos nesse nível? – perguntou. – Que parte foi que eu perdi?
- tira foto com no colo, fãs piram, ela é ameaçada de morte pelas fãs, hm, por que será que ela ainda não aceitou namorar você? – dizia isso com cara de pensativo, mordi meus lábios pra controlar minha vontade de rir.
- Eu ia dizer que ainda não fui pedida oficialmente em namoro, mas gostei dos argumentos do – sorri.
- ONE DIRECTION, TRÊS MINUTOS.
- Nós ainda não terminamos essa conversa, apontou pra mim e foi caminhando pra trás. – Se é um pedido que você quer, um pedido você vai ter.
- Uuuhhhh, ele tá te ameaçando – brincou. – Nos vemos daqui a pouco.
- Okay, amor – dei um beijo no rosto dele e voltei pra onde eu deveria estar desde o começo.

Voltei meio na surdina e agora os alunos já estavam espalhados de forma a todo mundo ter visões dos ângulos do photoshoot. Fui quase correndo pro lado de , que estava mais ou menos ao canto esquerdo e pro fundo, junto com Sam. O que Olívia mais falava era ‘se controlem, eles vão entrar daqui uns minutos’, mas parecia que todo mundo só queria saber do One Direction. me mostrou as anotações feitas enquanto eu estava com , e . Nós acompanharíamos vinte minutos do photoshoot que a Olívia faria, depois um por um ficaria sozinho com a banda para bater dez a doze fotos – esse era o momento que me preocupava. Depois, One Direction faria um pequeno show capela para nós alunos. estava freaking the fuck out ao meu lado, já que o sonho da vida dessa menina era ver 1D ao vivo. E olha que ela já beijou o , mas parece que isso ainda não importa.

Nós estávamos lá, esperando... Até que a porta se abriu. A gritaria foi absurda e eu acho que meu tímpano foi danificado. Vi a careta de quando ele entrou no estúdio e os outros meninos riram. A pequena multidão de meninas se aglomerou na frente da banda e eles não conseguiram mais caminhar; todas já estavam em cima deles, beijando e abraçando e algumas chorando e tremendo. Vi que algumas meninas passavam mal e ficaram brancas, ficou preocupado e acabou abraçando algumas e perguntando se elas estavam bem – como resultado recebeu um grito na cara de “AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH” – uma delas agarrou e não queria mais largá-lo e, ok, ela o beijou na boca! É, ela deu um estalinho na boca dele, mas deu, e ele riu... E isso não vai dar certo! e estavam ocupados demais tentando acalmar um outro grupo de três que só choravam e mal conseguiam equilibrar o celular na mão pra tirar a foto, tanto que eles pegaram os celulares das meninas e bateram a foto pra elas. O quão fofo eles conseguem ser? Eu, e Sam, que não saiu do nosso lado, acompanhávamos a visão do inferno na nossa frente e ficávamos meio sem graças. Sam não os conhecia, eu os conhecia e beijou um deles... Belo grupo! Olívia e um dos outros fotógrafos resolveu dar uma acalmada no furor hormonal feminino – Sam era o único garoto da sala – e depois de uns dez minutos os meninos do 1D conseguiram ser afastados das hienas e elas voltaram para o posto anterior; ainda chorando, ainda tremendo e ainda com gritinhos histéricos internos que eram possíveis ser escutados. Não falei com eles, o tempo todo fiquei com a cabeça baixa enquanto via rindo para os cinco, ela me cutucava vez ou outra, mas eu não estava muito segura de sorrir pra um deles, eu podia morrer a qualquer momento.

- Tá tudo bem, ? – Sam me perguntou me abraçando. – Você está meio pálida.
- Não vou conseguir ficar aqui Sam – falei. – Como vou bater as fotos? Tá todo mundo me encarando e encarando o esperando por alguma coisa. Coisa que não vai acontecer!
- Só relaxa, isso aqui é uma aula – ele sorriu. – Vem, vamos lá pra frente.
- Cadê a ? – Olhei pros lados procurando minha amiga.
- Ela já está na frente – ele riu. – Vamos...

Sam me puxou pela mão e me guiou até mais a frente. Sentei ao lado de e ouvi uns murmúrios atrás de mim, coisinhas que não valem a pena ser comentadas. Sam bufou e me abraçou de lado, fez o mesmo segurando minha mão. Quando dei por mim, vi sentado na minha frente e o murmúrio atrás mais alto.

- Passando mal, ?
- Falei pra não falarem comigo – respondi sem ao menos olhar pra cima.
- Eu me preocupei com as fãs que estavam passando mal, por que não faria isso com você? – Ele sorriu. – Oi, prazer.
- Sam – Sam estendeu a mão para e os dois se cumprimentaram cordialmente.
- E aí, ?
- Estou bem, – finalmente o encarei e sorri.
- Esse olhar me lembra aquele no dia que você comeu salmão – ele riu.
- Cala a boca! – falei brincando.
- Só olha pro e balança a cabeça afirmando que você está bem, você nos ignorar está matando o pobre coitado.
- Ugh! – Gemi e olhei pra ele acenando e sorrindo. Consegui um sorriso maroto de volta e uns gemidos de desprezo atrás de mim.
- Vou pra lá – deu uma piscadinha pra mim e se juntou com o resto dos meninos.
- Morreu por causa disso? – me perguntou quando percebeu que eu estava meio sorrindo.
- Não, agora cala a boca! – Respondi finalmente olhando para os meninos e vendo o quão fofos eles eram.

Olívia explicou tanto para eles como para nossa sala como funcionaria o dia de hoje. Todos nós nos sentamos no chão enquanto ela comandava o photoshoot junto com os outros fotógrafos. A maioria das meninas não estava prestando atenção em nada, e por mais que Olívia mandasse todo mundo calar a boca e parar de ficar tentando chamar a atenção de algum deles, o tempo todo eu ouvia gritinhos para cada gracinha que eles faziam. Eu nunca tinha visto One Direction como banda e a química deles é algo incrível, com um toque apimentado – se é que dá pra me entender desse jeito. Tinha pelo menos umas três que não paravam de chorar e tremer e mal conseguiam segurar o caderno com as anotações. Outras tiraram a blusa e ficaram só de top e jogavam os cabelos pra lá e para cá (e pensar que essas meninas vão ficar um tempo sozinhas com eles na sessão privada!) e óbvio que os meninos ficavam olhando, eu nem podia reclamar, essas meninas eram Barbies. Passando essa fase de ter que ficar reparando nessas garotas, eu, e Sam realmente prestávamos atenção na aula. Olívia ia direcionando os meninos e falando quais os ângulos e poses que ficariam bons; ao mesmo tempo se preocupava em nos ensinar qual o tipo de câmera que ela estava usando, como a luz podia ajudar ou atrapalhar e como essas fotos seriam reveladas. Eu anotava tudo muito rápido, minha caligrafia estava uma merda e eu nem sabia como conseguiria ler quando fosse estudar mais tarde.

A fotografia de estúdio é um mundo a parte dentro da fotografia. E é um mundo onde o fotógrafo é quem manda, porém, nesse mundo maravilhoso onde temos todo o poder sobre o ambiente, a modelo e, principalmente, sobre a luz, é o local onde se separa fotógrafos de sorte de fotógrafos que realmente sabem o que estão fazendo.

E lá vai eu escrever junto com e Sam. Ouvi a risada gostosa de ao fundo e quando olhei pra ver o que estava acontecendo, vi ele e em um momento íntimo e engraçado, ali na frente de todo mundo. Olívia estava tentando manter o controle, mas o problema não era nem os alunos, e sim a própria banda – às vezes eles parecem ter 13 anos! As meninas estavam gritando um pouco mais alto e a sessão de fotos estava ficando cada vez mais complicada. Só bufei de raiva, queria que nossa primeira experiência fosse com alguém menos famoso, porque com One Direction não estava dando certo. Finalmente Olívia desistiu de tentar controlar os hormônios em fúria da nossa sala e nos organizou a fim de deixarmos entrar um por um no estúdio e ter cinco minutos com One Direction. Todos nós fomos para o corredor do lado de fora e esperamos em uma fila indiana, eu junto com meus outros amigos fomos os últimos. Eu não ia fazer graça nenhuma, de verdade, eu ia tirar fotos, esse trabalho valia nota e a melhor foto estaria no editorial da SugarScape. Pensa, uma foto MINHA na revista! E eu queria estagiar ali no futuro, era bom eu fazer um bom trabalho.

- A iluminação mais básica para um estúdio consiste em iluminar o fundo e o assunto. Digamos que, para um setup básico, você vai precisar de uma luz principal 1, uma luz de preenchimento 2 e uma luz de fundo 3 – eu falava enumerando as coisas que eu lembrava ter lido no livro e via o sorriso de . – Que foi?
- Nerd!
- Cala a boca – eu ri.
- Você é amiga dos caras, senão quiser tirar foto e ficar cinco minutos conversando com eles você pode, pra que se preocupar? – Sam me perguntou e eu fiz careta.
- Não quero ter privilégios porque conheço os meninos, sou uma aluna como outra qualquer...
- Ai , você é tão bobinha – disse. – Eu vou me preocupar em mais do que simplesmente ficar tirando fotos.
- Você é doida , eu não – eu ri.
- Meus amores, precisam de alguma coisa? – Olívia apareceu ao nosso lado colocando a mão em meu ombro e sorrindo de forma angelical. – Tudo certo?
- Tudo sim – respondi. – Hm, podemos usar todo o espaço do estúdio e todos os objetos?
- Podem sim, tem alguma coisa em mente? – Ela sorriu. - Na verdade tenho. Como eles são uma banda a tendência é tirar fotos de frente, porém o Tom Leishman sempre tira fotos do McFly com uma visão mais panorâmica, acho mais interessante – falei tentando parecer segura, mas eu estava bem nervosa.

Eu conhecia um pouquinho “a mais” de fotografia do que a minha sala toda. Venho me preparando pra isso desde os meus seis anos, quando ganhei minha primeira câmera, e passava o dia todo tirando fotos dos meus pais, dos vizinhos e de qualquer coisa que eu achasse interessante. Depois passava mais horas no meu banheiro – improvisei ali um pequeno estúdio fotográfico – revelando foto por foto, e depois espalhava pela casa a fim de fazer uma pequena exposição do meu trabalho. Acompanho American Next Top Model e acho bárbaro o jeito que os fotógrafos tratam as modelos, nós que comandamos como a foto vai ficar e damos ideias. One Direction tem uma dinâmica maravilhosa, tirar fotos deles deve ser uma experiência perfeita. E como eles têm toda essa energia, direcioná-los a fim de tirar a foto perfeita deve ser fácil!

- Tenho certeza de que você fará um excelente trabalho, – Olívia falou. – E vocês? Alguma ideia?
- Se eu entrar primeiro que a e roubar a idéia dela vai ficar chato? – perguntou e todos nós gargalhamos. – Na verdade eu ainda não tenho nenhuma ideia, deve aparecer quando eu entrar no estúdio.
- Foque-se nas fotos, , e não na banda – Olívia falou em um tom mais ou menos sério como nossa professora. – Não quero ter que entrar no meio das suas fotos pra ver o que você está fazendo.
- O quê? E por que você faria isso comigo? – Ela parecia brava.
- Porque você não saiu desse celular desde que chegamos e você ficou trocando olhares com desde o momento em que eles apareceram – Olívia deu um sorriso meio maldoso e eu abafei um riso.
- Você é boa – olhou assustada e eu ri. – Ok, vou tirar as fotos.
- Obrigada, – Olívia disse e depois se retirou.

Quase 50 minutos depois lá estava eu esperando sair para finalmente eu entrar no estúdio e fotografar One Direction. Havia felicidade nos olhos de cada menina que saía, e em algumas um olhar mega malicioso. Duas delas vieram até mim e falaram ‘você pode até ser a garota da foto, eu vou ser a garota que vai acordar ao lado de amanhã’. Sem falar das mil piadinhas que eu ouvia enquanto estava do lado de fora, algumas meninas tiraram fotos minhas enquanto eu estava esperando e as publicaram no Twitter e no Tumblr com uma pergunta em cima ‘ela parece boa o bastante?’, sei disso porque eu recebi links com as fotos. Não aguentei ficar muito tempo com o celular e desliguei, quanto mais eu via mais angustiada eu ficava.

Eu estava sentada em frente à porta que abria para o estúdio, algumas meninas jogavam papel em cima de mim e faziam questão de falar ALTO e em bom som coisas que ou um dos meninos provavelmente deve ter dito. Era sempre sobre , era sempre sobre o jeito que ele a olhou, que ele falou do perfume, que ele elogiou o corpo, cabelo, a voz, perguntou se uma delas não queria ir pra casa dele a noite tirar fotos e por aí vai. Não duvido que alguma dessas seja verdade, ele é solteiro e as meninas são realmente bonitas – são um nojo, mas o que posso fazer? – e ficam se jogando pra cima dele. Mas aposto que nenhuma delas foi pedida não-oficialmente em namoro, ou foi?

- , sua vez – Olívia disse assim que saiu do estúdio mais radiante do que nunca.
- Obrigada – eu falei me levantando. – E aí, como foi?
- Preciso de ar – falou toda esbaforida. – Sério, eles são... Ai meu Deus!
- Você já os conhecia – eu ri e só vi uma careta de . Entrei no estúdio e vi os cinco deitados no chão rindo de alguma coisa babaca.
- ? – A organizadora do photoshoot apareceu, me deu uma credencial e uma câmera. – Por aqui, por favor.
- Obrigada – agradeci dando uma olhada na câmera que me foi dada.

Puta merda, era uma CANON EOS 5D MARK II OBJECTIVA. Tá, devo dar detalhes? Essa câmera foi vencedora do prémio "melhor reflex digital" nos TIPA awards e do prêmio "Melhor máquina fotográfica reflex" nos EISA 2009-2010. Essa câmera é mega blaster resistente, seu corpo robusto, resistente ao pó e à água, protege um magnífico sensor CMOS 24 x 36 mm de 21,1 megapixeis efectivos. Ele produz imagens de 5616 x 3744 pixeis e o novo processador DIGIC 4 permite atingir 25 600 ISO de sensibilidade. Além disso, com esta EOS pode tirar 3,9 imagens por segundo no seu modo de bracketing. E como se isso não chegasse, também dispõe de um modo de vídeo. A 5D Mark II é a primeira máquina fotográfica digital que pode filmar com uma resolução de 1920 x 1080 pixeis. Até é possível ligar um microfone para garantir uma elevada qualidade sonora. Tô falando grego? Me empolguei, e me empolguei DEMAIS! Essa câmera é muito cara e nos meus maiores sonhos eu imaginava segurar ela uma vez e agora aqui estou, vou chorar! Tá, todo mundo está empolgado porque estão fotografando One Direction e eu empolgada porque estou com a câmera mais foda em minhas mãos. EM MINHAS MÃOS!

- Você sabe como utilizá-la? – A mocinha me perguntou vendo que, provavelmente, eu estava com os olhos brilhando.
- Essa é uma EOS 5D, estou certa? – Minha voz até tremia.
- Exato – ela sorriu. – Uau, você é boa. Os outros alunos mal sabiam como segurar uma câmera e só queriam saber dos meninos. E você está muito mais empolgada com esse objeto valioso em suas mãos do que com One Direction.
- Ah, mil perdões – eu falei. – É que, meu Deus, eu sou totalmente apaixonada por fotografia e essa câmera é um dos meus maiores sonhos de consumo.
- Vamos usá-la, meu amor – ela sorriu e foi me encaminhando até onde os meninos estavam. – One Direction?
- Oi...OIEEE!! – abriu o maior sorriso quando levantou e viu que quem estava ali parada era eu. – Nossa, quase uma hora de espera!
- Podemos saber por que você foi a última? – disse vindo até mim e me dando um daqueles abraços apertados que só ele sabe dar. – Tivemos que sorrir pra outras garotas que não eram você ou a .
- E dar umas cantadas nelas também? – Perguntei marota e soltou uma risadinha.
- Quem disse isso? – perguntou vindo até mim e me dando um beijo no rosto, logo em seguida e fizeram o mesmo. – Quem foi?
- Quase todas as meninas que saíram disseram que levaram cantadas – eu ri.
- Algumas delas recebeu do ? – perguntou rindo e vendo se aproximar com a cabeça meio baixa e mordendo os lábios. Sexy.
- A maioria – eu ri.
- Eu estava treinando a cantada perfeita pra dar em você – falou finalmente se aproximando e dando um beijo demorado em minha bochecha. – Mas não consegui, você é mais inteligente do que todas elas juntas.
- Obrigada – agradeci sentindo meu rosto arder.
- Ah, chamar a de inteligente deixa ela tímida – falou e nós rimos.
- Calem a boca e vamos trabalhar, tenho cinco minutos pra tirar a foto perfeita e é bom vocês ajudarem – falei estralando meu pescoço e já dando uma olhada no espaço que eu tinha disponível.
- Você fica sexy desse jeito – falou indo se juntar ao grupo e me dando aquele sorrisinho sacana. – Adoro mulheres que mandam.
- Não me desconcentra! – eu ri.

O estúdio era grande, a iluminação era boa e tinha uma escada ENORME que eu podia usar pra finalmente tirar minha foto panorâmica. Lembrei do que Leishman fez com o photoshoot do calendário do McFly, mas acho que não tinha como eu escrever ‘One Direction’ usando o corpo deles. Mas tinha como eu fazer 1D, não tinha? Subi na escada a fim de ter uma visão do meu espaço visto de cima, dois outros fotógrafos me ajudaram e já começaram a rir e a fazer elogios como ‘nenhum outro aluno foi tão criativo como você’, eu só queria morrer de alegria. Fodam-se as groupies, eu sou a melhor fotógrafa da sala e ainda posso ser amiga da banda! Os cinco me olhavam lá de baixo com caras assustados e eu tenho certeza de que parecia uma doida.

- OK! – eu disse. – e vocês serão o número 1. , e vocês serão a letra D, entenderam?
- Como fazer isso? – perguntou rindo. – Você que nos comanda.
- Tá – suspirei, me segurei no topo da escada mantendo uma perna minha no degrau abaixo e uma no degrau acima. Afastei meu cabelo e já fiquei com a câmera em mãos, queria tirar foto também de como o logo 1D seria formado – você fica bem ali no meio, onde tem aquele X verde – e foi pra lá. – Deite, por favor, e deixe seu corpo reto com os braços pra cima.
- Você é boa – ouvi um dos fotógrafos dizer lá em baixo e sorri orgulhosa.
- E agora? – Ouvi perguntar.
- Com as suas mãos e um pouco do seu braço tente fazer a pontinha do número um. Por favor, tem como ajudá-lo?
- Sem problemas – o fotógrafo falou e foi até , o ajudando. – Me avise quando ficar bom – estava olhando de cima até que achei a posição perfeita.
- ÓTIMO! – Falei. – , aguenta firme.
- Sem pressa, – ele disse meio rindo, os outros meninos estavam concentrados. Foi realmente bom, não teve gracinhas, estava fazendo um bom trabalho.
- , fique abaixo de e, hm... você sabe fazer pé de bailarina?
- O QUÊ? – Os outros meninos caíram na gargalhada, na verdade o estúdio todo começou a rir. – Que é isso, ?
- Plié – eu disse rindo. – Vamos lá, , eu sei que você consegue.
- Que passo é esse? – Ele falava meio abestado.
- Alguém nesse estúdio sabe fazer um plié pra mostrar pro ? – Perguntei.
- Eu sei – acho que a moça que fazia maquiagem levantou-se e foi ficar de frente com . – Coloque seus pés nessa posição, um encostado no outro em direções opostas.
- Fala sério – falou tentando imitar a moça, e não é que ficou igual? – , eu vou acabar com a sua vida.
- TÁ LINDO! – Berrei. – Agora, , fique abaixo de e faça o plié.
- Nós NUNCA vamos esquecer desse momento, falou lá debaixo olhando pra mim e eu pisquei concordando com o que disse.
- Espero que sua foto seja escolhida – falou. – Tá ficando massa.
- Com toda essa energia, eu quero você trabalhando aqui – um dos fotógrafos envolvidos disse isso alto e eu quase caí da escada.
- Tô trabalhando pra isso – falei tentando parecer casual. – Moça da maquiagem, obrigada!
- De nada linda – ela agradeceu.
- Bom, o número 1 está feito. e , preciso que vocês façam o mesmo que e , porém sem o plié e sem a mãozinha fazendo o comecinho do número um.
- Onde, ? – perguntou já se colocando mais ou menos no lugar.
- Daqui eu vejo um ponto roxo perto do , tem como ir pra lá pra eu ver como fica?
- Tem sim – foi até o ponto. Coloquei minhas mãos na frente do meu rosto fazendo uma câmera com meus dedos; sabe quando você usa seu indicador e polegar como se fosse um quadrado? É, assim. Fechei e dei uma olhada na posição onde estava, perfecto!
- AÍ MESMO! – Berrei. – e , por favor, deitem-se.
- Deitando... – falou e ficou na posição que eu pedi, eles ainda estavam zoando por estar fazendo plié, tava fofo demais.
- – o chamei e ele olhou pra mim sorrindo. – Você vai ser a barriguinha do D, então... hm...
- Deixa comigo – ele disse. Na mesma hora já foi pro chão e deixou seu corpo em uma posição côncava, fazendo a barriga do da letra D. – Ficou bom?
- Está excelente, EXCELENTE! – E comecei a fotografar.
Tirei de vários ângulos. A câmera era ótima e a resolução perfeita, em algumas fotos os meninos estavam rindo, o que só contribuiu para eu ter a foto perfeita. Depois de uns 20 shoots, eu acho que consegui o que queria. Tirei de cima, de mais pra baixo, do meio e até fui lá pra baixo tirar foto da cara dos meninos.
- , você manda bem pra caralho! – falou quando eu me abaixei pra tirar uma foto dele de perto. – Nenhum dos outros alunos nos comandou bem assim.
- Anos de experiência assistindo TV – eu ri e fui na direção de . – E aí, como está com o plié?
- Câimbra – ele disse rindo. – Ficou boa?
- As fotos estão excelentes – eu ri. – Fui pro outro lado e bati fotos de e , e, por último, de .
- Tirou foto da minha bunda?
- Não é minha culpa se você está virado pro lado oposto – eu ri e ainda dei um chute de leve na sua cueca que estava aparecendo.
- Lindinha – ele disse rindo.
- Meninos, acho que conseguimos a foto perfeita – falei. – Podem levantar e muito obrigada pelo trabalho.
- YAAAAY! – Eles falaram e assim que se levantaram foram pra cima de mim, quem acabou caindo no chão foi eu.
- , tempo esgotado – Olívia abriu a porta e disse. – Pode voltar, por favor.
- Pode deixar – eu disse saindo do abraço dos meninos. – Bom, agora vocês vão fazer mais alguma coisa?
- Vamos cantar duas músicas pra sala de vocês e depois acabou – me abraçando de lado. – E você, o que tem pra fazer hoje?
- Dormir – eu ri. – Estamos acordadas desde cedo e amanhã vai ser um longo dia. Vamos amanhã ao Museu Britânico ter umas aulas de arte, de acordo com os nossos professores é bom saber como era o mundo antes da fotografia.
- Fantástico – falou. – Não queremos te atrasar nem causar mais problemas, , então vamos indo.
- Ok, obrigada, meninos, foi tudo muito divertido – eu sorri e de novo abracei um a um.
- Você ainda tem um minuto? – pegou minha mão quando os outros meninos se afastaram – Só queria falar uma coisa pra você.
- Então corre – eu disse sorrindo.
- Quero te levar pra jantar hoje – falou mordendo os lábios, ele parecia um pouco nervoso.
- Da última vez que você me propôs isso acabamos em uma van – eu ri.
- Paul já fez as reservas, só preciso que você aceite.
- Uau – eu ri e fiquei meio tímida. – , dependendo do restaurante que você escolheu, não tem como eu pagar minha parte e eu nem tenho roupa...
- Primeiro, quem vai pagar sou eu! Segundo, você fica linda com qualquer roupa, , e não se preocupe com isso – ele sorria. – E então?
- Que horas devo estar pronta? – Perguntei já sentindo as borboletas fazerem festa no meu estômago.
- Dez horas. Vamos um pouco mais tarde assim o restaurante não vai estar tão cheio.
- Caraca, vou morrer de fome! – Falei fazendo drama e ele riu de forma gostosa, meu Deus!
- Engana seu estômago com batata frita – ele riu. – Então, fechado?
- Fechado! – Eu sorri. puxou minha mão para um abraço e envolveu minha cintura com seus braços, com muito cuidado senti seus lábios roçarem de leve em meu pescoço e depositar ali um beijo quase imperceptível. Só percebi porque meu corpo todo se arrepiou, e outras partes também. Hormônios.
- Você disse que tinha uma coisa pra me falar hoje quando chegamos. Vai me falar no jantar ou o que você tinha pra me falar era que você queria me convidar pra sair?
- Eu falo no jantar – ele piscou. – Agora vai, antes que eu te atrase mais ainda. - Paul vai me buscar ou eu devo ir de táxi?
- Eu vou te buscar – ele sorriu, esqueci de comentar que ainda segurava minha mão. – Hoje você será tratada como merece, – e em um gesto absurdo de cavalheirismo ele depositou um beijo em minha mão.
- Mal posso esperar – tive uma noção de que minha voz saiu esganiçada, eu estava mega nervosa.
Nos despedimos e então fui embora. Dei a câmera para a mocinha que estava lá e ela ficou me olhando de forma engraçada; se deu cantada em todas as meninas eu pelo menos fui aquela que ele chamou pra sair no fim do photoshoot. Suspirei umas três vezes antes de abrir a porta e dar de cara com um grupo de meninas raivosas, todas com o celular na mão. Meu estômago enjoou e eu já quis matar o antes mesmo de saber o que podia estar acontecendo, será que esse ameba twittou alguma coisa?

- , o que foi? – Cheguei pra minha amiga e ela me mostrou o Twitter. Era o bocudo do . Tive que me controlar pra não rir. Haters gonna hate! Com quatro palavras ele matou o fandom inteiro!

‘se deu bem, x’

Capítulo 08

Vinte garotas se aglomeraram na frente de um pequeno palco improvisado no meio do estúdio. Vinte garotas gritavam e alcançavam alguns decibéis que até então eu achava impossível de serem alcançados. Vinte garotas choravam, tremiam e quase desmaiavam por cinco garotos. One Direction.
, , , e estavam no palco ligando os microfones, eles iam cantar duas músicas acústicas e depois iriam embora; acho que iam tirar fotos e dar autógrafos também. Com muita insistência da , eu estava no meio desse furacão adolescente, e Sam estava um pouco mais afastado paquerando a mocinha da maquiagem que fez o plié para o . Eu nunca fui tão acotovelada igual eu estava sendo naquele momento, aquilo só me fez imaginar como seria um show do 1D, eu não ia sobreviver. Eu ouvia coisas como ‘você é amiga deles, vai lá pra trás’ ou ‘sai daqui, você nem é fã de One Direction’ e isso me fazia querer chorar. Quando eles começaram a cantar What Makes You Beautiful – só ao som do violão – pensei que ia desmaiar. ainda conseguia ficar em pé, mas eu só queria sair dali; se eu sou amiga deles não tem PORQUÊ eu ficar ali sendo chutada e acotovelada o tempo todo. Olhava pra pedindo misericórdia, mas ela só sabia gritar e berrar tanto quanto as outras; de vez em quando a olhava e eu tenho certeza de que as outras meninas perceberam isso também. Então chegou o refrão!

Assim que eles começaram ‘Baby you light up my world like nobody else’, as vinte garotas pularam quase em cima do palco, os meninos tiveram que dar um passo pra trás e eu vi claramente nos olhos de um certo pavor. Paul estava ali por perto, mas acalmar vinte feromônios não ia ser fácil nem pra ele; não estava sendo pra mim. Com o passar do refrão os pulos pioraram, os gritos também e os empurrões e chutes também. A loirinha que ama o mais do que tudo apareceu ao meu lado e me deu uma cotovelada na costela. Daí pra frente eu só sei de dor, muita dor. Caí no chão de joelhos e coloquei a mão na parte atingida enquanto as outras garotas mal se importaram de me ver ali, eu não conseguia me mexer e mal conseguia respirar. Duas garotas não me viram – ou me viram e fizeram de propósito – e começaram a pular ao meu lado, resultando em me derrubar no chão; só lembro de ser pisada nas mãos, nos cabelos, na perna, nos pés e alguém deu um chute pra trás que acertou meu lábio. Eu não conseguia falar nada, mal conseguia me mexer e se eu gritasse por ajuda ninguém ia me ouvir, eu mal conseguia ouvir os meninos cantando. Gritei um pouco mais alto quando a loirinha fez questão de pisar em minha mão, fiquei em posição fetal ali no chão só esperando a porra da música acabar e quem sabe eu conseguir me levantar; ergui meu rosto, mas só consegui ver lá na frente cantando com que estava de frente pra ela causando um furor maior nas fãs. Senti meus olhos ficarem cheios de água e não me importei em começar a chorar, tentava levantar e era arremessada ao chão de novo, tentei mais duas vezes, mas a dor em meus braços e pernas pisados não permitia que eu colocasse muita força, o que resultava na minha queda novamente ao chão. Meu lábio doía com o corte, mal sentia minhas costelas e meus dedos formigavam; se é isso que é morrer eu não tô pronta pra isso!

Foi então que eu ouvi berros mais altos, uma voz mais grave. ‘SAI, PORRA, SAI DAQUI...SAI, CARALHO...AFASTA, PUTA QUE PARIU!’ Me vi sendo carregada por dois braços longos e definidos. Era Sam, e ao seu lado Olívia.

- Coloca seu rosto no meu pescoço , vou te tirar daqui – ele disse me erguendo, a única coisa que consegui fazer foi gemer alto, a dor em meu corpo era absurda!
- Samuel, leve ela agora para a enfermaria e não comente nada – Olívia dizia enquanto caminhava ao nosso lado. – Isso não vai ficar assim, isso não vai ficar assim.
- Dor... AI! – Sam me segurou de mau jeito e minha costela latejou, vi estrelas e tenho uma impressão que apaguei. Minha visão ficou escura e daí pra frente não lembro de mais nada.

- Desculpe, Senhor , você não pode entrar aqui.
- Qual é? É minha amiga, sabia?
- , vamos, por favor.
- Vamos nada, , eu quero ver a !
- Vocês não acham que já deram trabalho demais hoje?
- A CULPA NÃO FOI NOSSA!
- Olívia, Olívia!
- , desculpe... Ela tá dormindo agora, você não pode vê-la.
- Na verdade eu não vou deixar esse grupo de aproximar da mocinha, com certeza vocês são as últimas pessoas no mundo que ela quer ver no momento.
- ELA É NOSSA AMIGA!
- SUA AMIGA FOI ESMAGADA!
- , cara, vamos! Você liga pra ela mais tarde.
- , você me avisa?
- Claro, , quando a acordar eu aviso pra vocês.
- POR QUE ELE PODE FICAR COM ELA E EU NÃO?
- ELE A SALVOU!
- Obrigado, cara.
- De nada.
- Obrigado o caralho, por que você não me avisou que ela estava sendo esmagada?
- Talvez porque você estivesse preocupado demais cantando o que faz uma garota bonita e paquerando a loirinha da frente?
- ESCUTA AQUI...
- , vamos!

Abri meus olhos com uma dificuldade tremenda. Havia uma luz branca bem em cima de mim e eu estava deitada em uma maca médica; não estava com as minhas roupas, e sim com uma camisola rosa clara da Hello Kitty. À minha volta estava uma cortina azul e eu só conseguia ouvir vozes e umas sombras, na verdade várias sombras. Tentei levantar minha cabeça, mas tudo doía; mexi meus dedos e meu braço e eu parecia sentir toda articulação se quebrando. Senti que meu lábio inferior estava inchado e de novo senti vontade de chorar; então me lembrei onde eu estava e me deu uma vontade maior ainda de chorar. SugarScape. One Direction.

- Alguém? – Fiz um esforço pra sair minha voz e deu certo, estava meio rouca, mas na mesma hora o burburinho lá fora parou. E foi aí que eu ouvi alguém gritando pro não entrar ali.
- apareceu com a roupa que eu o vi mais cedo e com o rosto lívido e branco. – Puta merda, você está bem?
- Vou sobreviver – falei me erguendo em meus cotovelos e tentando sentar, novamente falhei, porque meus músculos ainda doíam. – Ai caralho!
- Deixa eu te ajudar – veio até mim e colocou força no meu corpo, ajudando-me a erguê-lo. – Meu Deus, o que fizeram com você?
- , agora pra fora! – Era a voz de Olívia.
- Eu não vou sair daqui – ele respondeu sem ao menos se virar, ainda me encarava com aqueles olhos que pareciam penetrar minha alma. – Desculpa, pelo amor de Deus, me desculpa.
- A culpa não foi sua – falei. – Foi meio de propósito, não fica se martelando com isso.
- ...
- , eu não vou falar de novo.
- Que bosta! – Ele olhou pra Olívia. – Qual o problema de eu ficar aqui com ela?
- precisa se trocar e já vai pra casa. Eu mesma vou levá-la, se você quiser eu telefono e te falo como ela vai estar mais tarde.
- Eu quero ficar COM ELA!
- Ela tem dois amigos que farão isso por ela, e Samuel – Olívia apontou para os dois, que estavam um pouco nervosos. – Eu não vou falar de novo, .
- Nós também somos amigos dela, Olívia – ouvi dizer. – Por favor, estamos nos sentindo absurdamente culpados.
- Não vai ter jeito, vai? – Olívia suspirou e passou as mãos nos cabelos. – Se mais alguma coisa acontecer com ela, eu juro que nunca mais vocês chegam perto. Me entenderam?
- Sim senhora – cinco vozes responderam.
- e Samuel, me acompanhem? Eu preciso que vocês assinem o boletim que eu fiz da tarde de hoje. Aceitam ser testemunhas?
- Claro que sim – disse de prontidão. – A revista vai publicar alguma coisa?
- Não – Olívia falou meio cansada. – E caso alguma menina presente publique alguma coisa, vou me encarregar pessoalmente de entrar na justiça. Isso que aconteceu foi errado, muito errado!
- Obrigada – falei olhando para ela. – Obrigada.
- Está dispensada da escola essa semana, , fique em casa e repouse. Estamos mandando um comunicado para sua família no Brasil para eles não ficarem preocupados caso saia alguma notícia.
- Minha mãe vai ficar pirada – eu falei sem humor algum.
- Eu espero que ela fique – Olívia disse. – Samuel, ?
- Nos vemos daqui a pouco, disse me olhando com carinho.
- Sam – chamei-o. – Obrigada pela ajuda.
- Ao dispor – ele sorriu pra mim e eu senti ficar rígido ao meu lado.
- Eu preciso que vocês saiam para deixar a menina se trocar.
- Quer ajuda? – perguntou, mas na mesma hora eu disse que não.
- A enfermeira vai me ajudar – respondi. – Pode esperar lá fora.
- Não vou sair daqui – ele beijou minha mão e saiu para me esperar junto com os outros meninos.

Com muita dificuldade eu consegui tirar a camisola da Hello Kitty e vesti minha roupa. Eu não estava com machucados, mas o meu corpo todo doía por culpa das pisadas. Dei uma olhada em meus braços e constatei que haviam alguns roxos ali, nem me de ao trabalho de ficar olhando por muito tempo porque eu sei que iria ficar assustada, minhas mãos ainda estavam inchadas e com alguns cortes e meu lábio dolorido. Não sei mesmo se queria ficar na companhia dos meninos, de uma certa forma eu teria que concordar com a enfermeira, eles eram as últimas pessoas no mundo que eu queria ver agora. Eu sei que nada disso era culpa dos meninos, pelo amor de Deus! Mas foram as fãs da banda que fizeram isso comigo, eu acho que estava sentindo uma raiva por terceiros – se é que dá pra me entender. A primeira pessoa que eu ia falar era com o , por culpa da porcaria do tweet as fãs ficaram piradas e olha o que aconteceu comigo! Eu estava estressada, com dor e querendo tacar uma bomba em vinte garotas eufóricas e dar um soco nos cinco popstars!

- Oi, veio até mim e me deu um beijo no rosto quando eu saí da enfermaria já com a minha roupa. – Quer alguma coisa?
- Quero ir pra casa – falei de forma monótona. – Eu queria só falar uma coisinha, pro .
- Pra mim? – Ele apontou pra si mesmo com uma cara assustada. – Que foi que eu fiz?
- Quando eu pedir pra vocês não comentarem nada no Twiyter, é pra vocês NÃO comentarem nada no Twitter – falei brava. – , aquele mínimo tweet matou o fandom inteiro! Quando eu saí as vinte garotas estavam me olhando com tanta raiva que eu sabia que ia morrer, você tem noção?
- Sinto muito, – ele abaixou a cabeça, tá, a raiva tinha ido embora. – Eu pensei que as fãs já fossem estar acostumadas com você e o . Ele quase te pediu em namoro hoje.
- É, mas não pediu – e agora olhei pro . – E as fãs nunca vão se acostumar com isso! Tem noção do que acabou de acontecer? Não foi um acidente, , foi de propósito, elas me derrubaram no chão, elas me chutaram!
- Nós gostamos das nossas fãs, , foi só uma crise de ciúme – falou sem ao menos me olhar. É SÉRIO que ele ia defender as pirralhas?
- SÓ UMA CRISE? – Aumentei minha voz. – Isso pra mim não é uma crise, isso pra mim é crime! – Apontei pro meu braço com alguns pequenos hematomas. – Isso pra mim é falta de vergonha na cara, é falta de tapa! – Mostrei meu lábio cortado. – É um bando de filhinha de papai que acha que pode fazer o que quiser.
- Você está falando das nossas fãs – disse e eu quis quase morrer. – Elas não fizeram por mal.
- – suspirei pesado e engoli o choro. – Eu juro que vou sair daqui agora porque eu não quero prejudicar o pouco de amizade que nós temos.
- Onde você vai? – perguntou preocupado, eu acho que ele e eram os únicos que tinham uma noção do que acabara de acontecer.
- Vou pegar um táxi e vou pra casa, e vou ficar trancada por uma semana.
- Chama o Sam pra cuidar de você! – soltou, os meninos soltaram um suspiro pesado e ouvi ralhar com .
- – voltei os passos que tinha dado e o encarei. – Foi muito bom conhecer você, mas, por favor, suma da minha vida pelos próximos cinco dias.
- Com prazer – ele respondeu.

Engolindo o gosto amargo em minha garganta e nem percebendo que minhas lágrimas estavam caindo de meus olhos, me virei e deixei One Direction para trás. Ouvi e ralharem com e e ficarem em silêncio. Quando cheguei do lado de fora, cinco fãs me esperavam e me olhavam com cara de pena, pelo menos não vi aquela raiva tão conhecida em seus olhares. Era um pouco mais de quatro da tarde, e no inverno em Londres já é escuro e já está bem frio, eu estava apenas com uma camiseta e calça jeans, com o frio a dor em meus braços ficou ainda mais intensa e eu fiz careta quando passei dos portões principais da SugarScape.

- ? ?

Uma menina de aproximadamente catorze anos me chamava. Sua pele era branca como todo britânico e suas bochechas coradas. Seus cabelos eram lisos e ruivos, todo despontado e com aquela franja enorme que as britânicas gostam de usar; ela me olhava com aqueles grandes olhos verdes cobertos de rímel e lápis preto, seu rosto me lembrava o de um lêmure, porém muito mais angelical. Vi que ela tinha escrito na bochecha o logo do One Direction e presumi que ela fosse fã, porém ela continuava chamando meu nome de forma tão doce que eu não pude simplesmente ignorar sua presença ali.

- Pois não? – Falei parando onde estava e abraçando meu corpo.
- Meu nome é Carrie e eu... Eu te adoro – ela sorria, sorri sem ao menos pensar. Como que ela podia me adorar?
- Desculpa, o quê?
- Eu adoro você, eu e minhas amigas – ela apontou para um grupo de meninas atrás dela, mais ou menos no mesmo estilo e mais ou menos com a mesma idade. – Você é linda e eu acho que você faz um casal fofo com o .
- Obrigada, mas nós... – olhei para o grupo e percebi um certo brilho no olhar de todas, que é isso? – Somos amigos.
- Não é o que falaram por aí – ela riu de forma desengonçada e sem mostrar os dentes, percebi que ela usava aparelho. – Posso tirar uma foto com você?
- COMIGO? – Arregalei os olhos. – Eu... Eu tô acabada agora!
- É verdade o que falaram? Que pisaram em cima de você durante o photoshoot?
- Quem disse isso? – Perguntei pra loirinha de cabelo azul borrado atrás que falava com um sotaque muito forte.
- Saiu no Tumblr, tinha até um vídeo. Aí apareceu um cara fortão e te tirou de lá, a cara do foi inapagável! Fizeram até gif.
- Oh meu Deus – coloquei a mão na boca, a Olívia ia morrer. – Você pode me informar quem postou?
- Não lembro o endereço dela, mas eu posso te deixar um link no seu Twitter e depois você olha – ela sorriu. – Tem como você pedir pro me seguir no Twitter?
- Claro – eu disse atordoada, era muita informação pra mim. – Escreve em um papel o seu Twitter que eu passo pra ele.
- AH, OBRIGADA! – Ela gritou, mas eu nem me importei. Vi o grupinho se aglomerar e escrever o Twitter de cada uma em um pedaço de papel. Olhei para o portão da SugarScape e vi os cinco garotos atravessando o portão. Na mesma hora as meninas pararam de escrever e começaram a tremer, chorar... Essa era uma reação normal?
- MEU DEUS! MEU DEUS! MEU DEUS!
- SÃO ELES! SÃO ELES! SÃO ELES!
- Com licença, meninas, eu realmente preciso ir embora – falei sabendo que nenhuma delas iria prestar atenção no que eu acabei de falar.
- NEM PENSAR! – A tal Carrie disse – Fica, quero tirar uma foto com você e o juntos.
- Realmente não seria...
- OIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!! – se aproximou de nós e Carrie parou de falar comigo para dar pulinhos e gritinhos e abraçar .
- Oi, linda, tudo bem? – Ele perguntou sendo completamente fofo, sorri sem ao menos perceber.
- E aí? Como estão? – disse se aproximando do outro grupo e abraçando as meninas.

Um por um falaram com as fãs, aquele One Direction que estava há pouco tempo no photoshoot ou na enfermaria não era o mesmo que estava lá fora. Aquele era o grupo que sorria para as fãs, que era simpático e que sempre tinha que estar de bom humor porque qualquer deslize podia passar uma má impressão; mas pelo que eu estava vendo não era esforço algum sorrir, tirar fotos, dar autógrafo e ser simpático. As meninas estavam até que controladas, choraram um pouco, mas o que mais falavam era o tão famoso ‘Ai meu Deus, ai meu Deus’. Duas delas gravaram o encontro, pediram para eles falarem ‘oi’ para – o que eu supus – serem outras amigas, os viram fazendo gracinhas para a câmera e pelo sorriso e olhar delas, percebi que as meninas estavam mais apaixonadas ainda pela banda. Eu estava afastada com os braços cruzados e tremendo de frio, ia ser rude eu sair assim do nada? Mas ninguém estava prestando atenção em mim mesmo! Dei uma olhada em meu braço e os roxos estavam menores, porém mais escuros, minha pele arrepiada e eu tava começando a me sentir meio mal por culpa do frio. Precisava ir embora dali.

- Vocês se importam se eu for falar com a nossa amiga? – disse para a loirinha com mechas azuis.
- De jeito nenhum, ela é linda!
- Obrigada – ele sorriu e veio na minha direção. Sorri com os lábios fechados e o vi tirar o casaco caramelo que ele usava. – Pega, .
- Estou quase indo embora, , eu estou bem – falei tentando controlar meus queixos que não paravam de bater, mas foi em vão.
- Será que, por favor, você pode pegar meu casaco? – Ele sorria. – Ou eu vou ter que enfiar ele por seus braços?
- UGH! – gemi e me certifiquei que as fãs não estavam olhando. Coloquei o casaco de e na mesma hora me senti melhor. – Volta lá com as meninas, eu sei cuidar de mim.
- Pra que esse mau humor todo? – falou meio triste – Vem aqui.
- ! – Eu ia tentar dar uma bronca, mas me abraçou por trás e ficou passando as mãos com força em meus braços a fim de me esquentar.

Na mesma hora meu queixo parou de bater e minha respiração voltou ao normal. parou de passar as mãos pelos meus braços e simplesmente ficou ali abraçado comigo e com o queixo encostado em minha cabeça. Não teve nada de romantismo e nem frio na barriga, nada mesmo; naquele momento eu simplesmente senti que gostava de mim como amiga e por alguma obra do destino que eu nunca vou entender, eu também gostava muito dele. Ele e eram os únicos que me mandavam mensagens apenas pra saber se eu estava bem, apenas para falar comigo; e agora com essa simples demonstração de carinho eu acabei de eleger meu melhor amigo da banda. Enquando estávamos abraçados, vi parar para tirar uma foto com Carrie e depois olhar diretamente para e eu, seu rosto se contorceu numa mistura de surpresa e depois decepção. Carrie abriu a boca para falar alguma coisa, mas depois se calou vendo a foto que tinha acabado de tirar com e dando pulos de alegria.

- Eu acho que você deveria ir lá falar com elas – falei baixinho para . – Elas estão aqui pra ver você, sabia?
- Vou chamar o – ele disse me soltando do abraço. – Pega leve.
- ...
- – ele ficou de frente pra mim passando a mão no meu rosto onde estava meio arroxeado e depois em meus lábios no corte, sorri meio triste. – Aquele filho da puta te adora! – Ele riu. – Sério, eu nunca vi o ficar babando em uma garota como ele baba por você, ficar o dia todo esperando notícia sua e quando você manda uma mensagem ele fica com cara de idiota e sorrindo pro celular. Todos nós tiramos uma com a cara dele, porque, na boa, ele fica muito gay!
- Vou tentar traduzir o que você disse, ele gosta de mim? – Perguntei meio rindo e gargalhou.
- Não, ele não gosta – ele ponderou. – Ele está totalmente apaixonado por você.
- Ai meu Deus!
- Sabe como ele ficou quando descobriu que você não estava mais com a sua sala? Ele ficou totalmente perdido e errou a letra de More Than This, tem noção? Logo na primeira parte o cara já errou porque não te viu lá – falava com tanto carinho na voz que eu estava me derretendo toda. – Nós realmente não te vimos, , digo, quando as meninas começaram a pisar em cima de você.
- Eu imaginei isso – mordi os lábios, fiz careta porque mordi bem em cima do machucado.
- Se tivéssemos visto teríamos parado de cantar na mesma hora – ele falou. – Assim que acabamos, foi correndo saber o que tinha acontecido com você, mas as fãs não nos deixavam sair e...
- , eu não preciso que você me explique nada, eu entendo perfeitamente. Essas meninas estão falando do photoshoot desde o primeiro dia de aula, todo mundo estava muito eufórico – falei. – Mas é que o twittou aquilo e eu não estou realmente em uma zona de conforto agora. Tem pelo menos cinco meninas da minha sala que são apaixonadas por vocês, mas de uma maneira mega doentia.
- Percebi isso hoje – ele disse balançando os ombros.
- Mas elas sãs fãs, elas amam vocês mais do que a própria vida! Porém tudo tem limite, , e hoje elas passaram do limite, eu só queria que entendesse isso.
- Eu entendo... – estava parado atrás de nos encarando. – Posso ter um momento com você?
- Demorou hein? – falou meio brincando arrancando um sorriso de leve meu e de . – Cadê as meninas?
- Estão lá gravando uns vídeos – apontou para as fãs. – Elas são engraçadas.
- Beleza – respondeu saindo. – Se cuidem.

e eu nos encaramos por alguns segundos antes de qualquer coisa. Minhas mãos estavam no bolso do casaco de e eu balançava meu corpo pra frente e pra trás como se fosse aquele tipo de criança que quer alguma coisa, mas não sabe o que fazer pra pedir. estava quase da mesma forma que eu, mas suas mãos estavam no bolso da calça e ele não estava balançando o corpo, ocasionalmente ele mordia os lábios enquanto me encarava, quando eu fui fazer o mesmo novamente me machuquei e fiz careta. Ele sorriu quando viu isso; já disse que ele deveria ser proibido de sorrir?

- Tá doendo? – Ele perguntou apontando para meus lábios.
- Só quando eu mordo sem perceber, o que está acontecendo com muita frequência.
- Hm – ele riu com os lábios fechados. Se aproximou mais de mim, juntou seu dedo indicador e o do meio e deu um beijo neles ainda me encarando. Veio até mim e encostou seus dedos recém-beijados em meus lábios e sorriu. – Ainda não estou autorizado a beijar seus lábios, esse é o máximo que posso fazer agora.
- Já vale o esforço – tentei responder, o simples toque me fez ficar tonta e sonolenta, e era só o DEDO do ! – Eu fui grossa com você antes, me desculpe.
- Você está certa – ele suspirou. – Eu fui estúpido com você também, me desculpe.
- , isso tudo está me deixando confusa...
- Vem aqui – e ele me abraçou. Ali, sem muito o que falar, sem muito o que fazer, fui tomada pelos braços de , e quando me posicionei, estava envolvida em um abraço.

Senti seu corpo desmoronar em cima do meu num misto de descanso com desespero, sua respiração pesada se misturava com a minha em uma perfeita confusão. Seus braços ficaram ao redor de minha cintura e me apertaram forte, eu estava com os meus ao redor do seu pescoço e meu rosto enterrado na curva de sua clavícula. Percebi que ele suspirava e a sensação de sentir gás carbônico quente saindo de sua boca me dava arrepios e fazia meu frio voltar, por mais que a jaqueta de me esquentasse, algo no universo me deixava com frio e trêmula. Talvez fosse esse garoto que tinha em meus braços, ou ele me tinha nos braços...

- Acho que vamos ter que adiar o nosso jantar – falei saindo do abraço e tentando sorrir. – Não estou em condições de sair desse jeito hoje.
- Eu entendo – ele passou a mão por meu rosto e sorriu. – Melhor você descansar, quer que eu fique com você hoje ou acha melhor ficar sozinha?
- Na verdade...
- AHH VOCÊS DOIS SÃO TÃO LINDO-O-O-O-O-O-OS! – Carrie apareceu meio do nada ao nosso lado e bateu uma foto com um flash muito forte, fiz careta. – Gente, me desculpa, atrapalhei?
- De maneira alguma – respondi rindo, olhei pra , que sorria de forma marota para mim. – Você é muito legal, Carrie.
- JURA? – Tem como essa menina falar sem ser gritar? – Eu acho você a garota mais linda que eu já vi na vida, e vocês dois super combinam!
- Nós não somos namorados – falei de novo, mas parecia se divertir.
- Carrie? – olhou pra menina e a abraçou, parecia que eu estava vendo na minha frente de novo. – Você acha que nós combinamos?
- Acho super – ela disse ainda eufórica e com o rosto muito vermelho.
- Você acha que ela deveria aceitar ser minha namorada? – Ele falava e me encarava, com um sorriso pra lá de malandro. Apelar pra fã é sacanagem!
- Você já a pediu em namoro? – Carrie olhou para nós dois, eu sorri sem graça e balancei a cabeça negativamente. – , como que você pergunta pra mim se eu acho que ela deveria namorar com você sendo que a proposta nem foi feita?
- Carrie? – Eu fui até ela e sorri. – Você é uma garota muito, muito legal – falei e ela abriu o maior sorriso que já vi na vida. – Quem é seu favorito?
- – ela disse quase se sufocando no próprio oxigênio.
- Faz um favor pra mim? – Ela balançou a cabeça nervosamente. – Chama o ? Eu preciso perguntar uma coisa pra ele.
- Eu? Eu vou chamar pra ? – Ela se afastou um pouco e arregalou os olhos. – Meu Deus, esse é o melhor dia da minha vida!
- Você distraiu a fã?
- Aham – respondi rindo. – , pare de ficar colocando suas fãs nesse bolo!
- Só fiz uma pergunta sem malícia alguma – ele sorriu.
- Não faça!
- , me chamou? – apareceu. Carrie estava meio perdida com as amigas ao fundo conversando com os outros meninos.
- Tem como me levar pra casa?
- Hey, eu tô aqui! – bufou.
- É, eu sei, mas eu to precisando conversar com o … Sozinha.
- Primeiro a jaqueta do apontou pra jaqueta – E agora uma conversa com o … Tô ficando perdido!
- Eu só preciso conversar com seu amigo primeiro, antes de tomar uma decisão a respeito de nós dois – falei indo até e segurando sua mão. – Eu quero isso, mas me dá um tempo.
- O quê? – Ele parecia não acreditar no que eu acabei de falar, nem eu acreditava direito. atrás de mim soltou um muxoxo engraçado. – , você tá me pedindo em namoro?
- Não, imbecil – falei. – Tô afirmando que sim, eu quero namorar com você. Mas não, não agora. Estou afirmando que eu gosto de você e que, apesar do que aconteceu hoje, eu acho que, acho que consigo passar por cima de tudo. Existem fãs que aprovam você e eu, por que não tentar algo mais concreto?
- Você não tá falando sério – ele sorria, e dessa vez era um sorriso que eu não conhecia, era novo. – ... ...
- – eu sorri. – Eu só tenho que conversar com – apontei para , que estava atrás de nós. – Eu go-gosto dele.
- Como amigo!
- Óbvio – eu ri. – Tudo bem pra você?
- Claro – ele entrelaçou os dedos com os meus. – É bom saber que você quer o mesmo que eu.
- É bom tirar esse peso de mim também – suspirei. – Mas eu não sou melosa, então já cansei dessa conversa.
- Por que eu escolhi gostar de você? – Ele disse baixo e só eu escutei, ri igual uma menininha de cinco anos.
- Porque você é babaca! – Respondi me afastando e indo até . – E aí, vamos?
- Tá com fome? – Ele me perguntou já sorrindo e me abraçando. – Tô morrendo por um hambúrguer.
- Se alguma fã me ver com você...
- Para de pensar nas fãs! – Ele disse. – E aí? Eu pago.
- Vamos – falei sabendo que não ia vencer essa discussão.
e eu fomos caminhando juntos para um dos carros onde o One Direction veio. se juntou com os outros meninos e eu os vi se despedindo das meninas e elas pulando felizes no momento em que eles viraram de costas. Ri comigo mesma enquanto sentia me abraçar mais pra perto.

Fomos para a Queen’s Way, um bairro mais tranquilo e, devo acrescentar, bem terceira idade. Sentamos-nos em uma lanchonete de nome estranho, parecia o Pônei Saltitante do Senhor dos Anéis, mas com menos hobbits e eu não vi Aragorn em lugar algum. pediu um cheeseburguer bacon duplo, batata média e um milkshake gigante de chocolate com baunilha. Eu pedi um milkshake pequeno de morango, estava meio enjoada por tudo o que tinha acabado de acontecer, na verdade eu só ia beber algo pra fazer companhia pra e porque eu sou um pouco gorda mesmo.

- O que você acha? – Perguntei quando parou de mastigar seu cheeseburguer e depois de muita conversa fiada entre nós dois. – e eu.
- Acho fofo – me respondeu e nós caímos na gargalhada. – Sem brincadeira, acho fofo.
- Pulando a parte do conto de fadas, vamos ser realistas...
- Quantos anos você tem, ?
- Por quê?
- Porque às vezes você parece uma velha! – Ele disse sério, bebeu um gole do seu milkshake e me encarou. – Semana passada eu conheci uma garota.
- Jura?
- Não rolou nada – ele deu de ombros. – Mas duas fãs me viram com ela e no dia seguinte ela tinha deletado o Twitter – ele suspirou. – Ela era linda, mega gente boa e eu fiquei muito interessado nela.
- Sinto muito, – falei baixinho. – Eu não fiquei sabendo de nada.
- Foi meio obtuso, ninguém falou nada a respeito e foi uma fofoca espalhada só pra quem vive e respira One Direction – ele riu sem humor. – Voltando pra história, essa menina me mandou uma DM usando a conta de uma amiga dela. Disse que realmente tinha gostado de mim, ela é meio você, não é bem nossa fã...
- Tadinha – eu ri e ele também.
- É, eu sei – ele riu. – O ponto em questão, , é que eu posso ter perdido a oportunidade de ter conhecido uma garota legal por culpa das fãs. Eu sei que é tudo meio assombroso e que as coisas estão acontecendo rápido demais em nossas vidas, mas estamos perdendo coisas no caminho e isso não é legal. Por mim eu iria chamar aquela garota pra sair, mas como posso fazer isso se nem ela quer falar comigo?
- Você acha que eu devo investir no ?
- Eu acho que você tem que investir na sua felicidade – ele sorriu. – Somos jovens apenas uma vez na vida, , aproveita.
- E as fãs?
- Elas vão te amar da mesma maneira que nós te amamos, e se não gostarem de você, vamos aprender a lidar com isso.
- Você sabe que eu to completamente apavorada, não sabe?
- Sei sim, tá bem estampado na sua cara – ele riu. – Mas o também está com medo, ele tá cagando de medo! Ele gosta de você, mas tem medo de te chamar para esse furacão que está a nossa vida; infelizmente não escolhemos de quem vamos gostar, , e você foi a garota que captou a atenção dele.
- Entre tantas ele tinha que escolher a mais cabeçuda de todas – falei rindo sem humor algum.
- Ele não podia ter escolhido melhor – sorriu.

Passei minha noite sozinha, e – com a ajuda de Paul – fugiram escondidos para algum lugar que eu suponho que seja a casa dele. Pensei em mandar mensagem para perguntando se estava com uma meia na porta para bloquear a entrada dos meninos, mas depois mudei de ideia. Primeiro porque eu não estava no clima de mandar mensagem pro , segundo porque eu também não queria saber se a estava mandando ver com o – informação demais na mesma noite. Embora eu ame a , uma parte de mim diz que ela se preocupa primeiro com ela e depois com os outros; ok ela é fofa e ficou preocupada comigo, mas tecnicamente hoje foi um dia mais ou menos traumatizante pra mim. Eu literalmente fui pisoteada por fãs, parei na enfermagem, a Olívia ficou puta, briguei com o por cinco segundos, encontrei fãs, me declarei pro , jantei com o e ainda por cima no período da manhã eu tentei tirar uma foto foda para sair no editorial da SugarScape. Eu estou sendo egoísta demais em achar que queria só um pouquinho da atenção feminina da minha amiga? Digo, eu tô passando por uma crise e de vez em quando ter uma AMIGA do lado ajuda! E muito. Ah, que saudade da minha MÃE!

Dei uma olhada nos livros que eu trouxe do Brasil, avistei um que vinha protelando a leitura há um bom tempo. Jogos Vorazes. Não é exatamente meu tipo favorito de livro, mas é o que temos pra hoje; desisti de assistir televisão depois que vi que a única coisa que canais sabiam falar era sobre One Direction, a internet estava cheia de comentários sobre o dia de hoje, fotos da minha pessoa caída no chão, com a cara de assustado possivelmente quando Sam levantava e me levava para a enfermagem. Tinha comentários de fãs que estavam ao meu lado, que realmente não gostavam do que viam e que acharam um absurdo o que tinha acontecido na SugarScape, outras perguntaram porque eu não tinha morrido. Embaixo dos gifs as tags diziam: #porque #não #morreu #? Ou o pior #tentando #chamar #atenção #do #bebe, ah, claro, eu estava querendo chamar a atenção do sendo esmagada por vinte fãs! Sendo que eu tinha falado com ele cinco minutos atrás e podia falar com ele qualquer hora, mas NÃO, eu tinha que chamar a atenção do no chão esmagada! Agora eu acredito nisso que você não pode acreditar em tudo o que você lê, e cada vez mais eu tenho certeza de que as fofocas que aparecem são inventadas por fãs e pessoas que não tem o que fazer. Esse material que estava agora na internet foi divulgado por alguém da minha sala, DA MINHA SALA! Como que eu vou encarar todo mundo amanhã? Tá, chega... Peguei Jogos Vorazes e me joguei na cama, quem sabe um pouco de ação não ia tirar o foco dos meus pensamentos estranhos.

“Uma vez, quando eu estava em uma cobertura numa árvore, esperando imóvel por uma caça a vaguear, eu cochilei e caí 3 metros no chão, caindo sobre minhas costas. Foi como se o impacto tivesse bloqueado todo fragmento de ar dos meus pulmões, e eu fiquei deitada lá, lutando para inalar, exalar, fazer qualquer coisa.
Era como eu me sinto agora, tentando lembrar como respirar, incapaz de falar, totalmente estupefata enquanto o nome salta para dentro do meu crânio. Alguém está agarrando meu braço, um garoto de Seam, e acho que talvez eu comecei a cair e ele me pegou. Deve ter sido algum engano. Isso não pode estar acontecendo. Prim era uma tira de papel entre milhares! Suas chances de ser escolhida eram tão remotas que eu nem mesmo me incomodei em ficar preocupada. Eu não tenho feito nada? Tomado o tesserae, recusando a deixar ela fazer o mesmo? Uma tira. Um tira entre milhares. As chances tinham estado inteiramente a favor dela. Mas isso não importou.”


Nem a leitura estava me fazendo bem, a imagem novamente da SS, das fãs! E minha conversa com depois e eu tecnicamente me declarando, e depois o falando que eu deveria de verdade investir nessa relação! Eu sou muito cagada ou será que eu não gosto do o suficiente pra ficar com ele apesar de todo mundo odiar? Todo mundo que eu digo são as fãs, e se as fãs não gostam isso vai ser um belo problema. Digo, se ele escolhesse alguma fã pra namorar, eu tenho certeza de que ela não ia se importar com o fato de outras meninas ficarem com inveja, na verdade eu tenho certeza de que ela ia adorar essa possibilidade; e agora eu estou aqui! gosta de mim e eu gosto dele, mas será que gosto o bastante? Sentir calafrios quando se está perto dele não significa nada, ele é bonito e garotos bonitos dão arrepios – pelo menos pra minha pessoa – e eu sinto saudades, e cada vez que ele me manda mensagem eu começo a sorrir igual boba e sinto borboletas no estômago bem do jeitinho mais clichê que existe!

“Prim!” Um grito estrangulado sai da minha garganta, e meus músculos começam a se mover de novo. “Prim!” Eu não preciso empurrar pela multidão. As outras crianças fazem um caminho imediatamente me permitindo uma passagem direta para o palco. Eu a alcanço justo enquanto ela está para subir o piso. Com um arrastão do meu braço, eu a puxo para trás de mim.
“Eu me voluntario!” Arfo. “Eu me voluntario como tributo!”
Há alguma confusão no palco. Distrito 12 não tinha um voluntário em décadas e o protocolo tinha ficado enferrujado. A regra era que uma vez que o nome do tributo tinha sido puxado do globo, outro garoto elegível, se um nome de garoto tinha sido lido, ou garota, se o nome de uma garota tinha sido lido, pode andar para tomar o lugar dele ou dela.”

Será que eu teria coragem de me voluntariar como tributo? Digo, tributo não... Me voluntariar como namorada de ? O que seria mais importante pra mim? Tem muita coisa em questão agora e minha cabeça está em um nó sem fim:

- ser namorada de
- terminar meu curso de fotografia em plena tranquilidade
- ficar no anônimato e morrer de ciúme se ele aparecer com outra garota

Eu queria que minha vida fosse um pouquinho mais simples, é pedir demais?

Capítulo 09

Adormeci assistindo Romeu e Julieta versão Leo DiCaprio e Claire Danes – na verdade é minha versão favorita e menos melo dramática, se é que isso é possível quando o assunto é Romeu e Julieta. A chuva caía de forma torrencial do lado de fora (óbvio, porque não podia ser DENTRO, odeio pensar pleonasmos) e eu me encontrava toda encolhida debaixo das cobertas e parecendo um pacotinho. Não sei onde estava e, na verdade, mal me lembro da última vez que nos falamos. Parece que estou em um universo paralelo ou coisa do tipo, andava meio zonza nos últimos dias. Desde tudo o que aconteceu na SugarScape, minha conversa com e especialmente minha conversa final com , eu andava meio tonta e pensando seriamente em voltar pro Brasil, na verdade não queria voltar pro Brasil, mas eu só queria não ter me esbarrado no aquele dia perto do London Eye. Ou que ele fosse simplesmente um cara regular, que não fosse famoso e que gostasse de mim de boa, e que eu não tivesse que ficar me preocupando com fãs maníacas que por alguma razão obscura do universo me odeiam.

Passei a semana em casa, por recomendações de Olívia e da escola eu não participei das aulas, mas eu recebi o material todo via e-mail. foi à escola, porém a situação estava ficando um pouco pesada pra ela também; as meninas agora sabiam que ela era amiga do One Direction tanto quanto eu, só não sabiam por enquanto do rolo dela com – mas isso não era algo que ela fazia muita questão de esconder. Todo dia ela voltava com a cara meio triste e era bem claro perceber que ela estava chorando, mas quando me via abria o maior sorriso e dizia que o dia tinha sido ótimo e que eu fiz muita falta na escola; sorria pra fingir que estava tudo bem, mas nós duas sabíamos muito bem que a escola poderia se tornar uma tortura. É lógico que foram tiradas fotos daquele dia fatídico do photoshoot, e as fotos caíram nas redes sociais. Teve fã que disse que preferia me ver morta, que deveria ter me deixado lá caída no chão, teve fã que ficou preocupada e teve fã que nem sabia direito o que estava acontecendo. Recebi uns tweets desejando melhoras, outros falando que eu deveria morrer e que não era boa o bastante pra , outras me chamando de biscate e caça dotes, falando que eu estava de ‘rolo’ com porque eu queria fama... E, sério, as fofocas só estavam aumentando. Não conversei com nenhum dos meninos desde que voltei pra casa e nem eles me procuravam, também ficou afastada de e nós duas estávamos sentindo saudades daqueles cinco filhos da puta! Me pegava olhando pro celular pensando que podia receber uma mensagem de a qualquer momento, mas mal recebia notícias de minha mãe então acabava desistindo. Acompanho a vida deles pela internet e pelos blogs, o sorriso no rosto dos cinco me mata porque eu sei que no fundo pelo menos dois deles estão preocupados. Vi uma fã um dia chamar pra sair, filmar e colocar no Tumblr; a resposta dele foi um sem graça ‘claro’ e depois ele olhou pra e deu de ombros, a menina já postou o vídeo falando que tem um encontro com e, querendo ou não, eu voltei a ser a atenção. Fãs diziam que havia encontrado alguém melhor que eu, que tudo foi apenas um passatempo, que eu era a peguete da semana, e, PASMEM, tudo isso aconteceu em um espaço mínimo de cinco dias. Novamente devo falar, esse fandom me assusta em proporções ridículas!

Como eu dizia antes desse desabafo, eu estou parcialmente adormecida em minha cama ouvindo a chuva cair e quase destruindo o telhado enquanto eu me mantenho quentinha e aquecida aqui debaixo das minhas cobertas. Queria que meu cérebro parasse de funcionar por alguns minutos, eu realmente estou disposta a dormir! Tomei por dois dias um remédio chamado ‘Rivotril’, praticamente um ‘boa noite Cinderella’. Eu APAGUEI por dois dias, acho que estava querendo me poupar da minha realidade maldita. Pois bem, tomando esse remédio eu desapareci do mundo por dois dias e agora parece que eu só sei dormir, por mim eu tomava Rivotril hoje de novo, mas escondeu de mim porque o treco pode ser viciante. Enquanto eu estava naquela luta interior de olhos fechados tentando apagar cem por cento e não apenas setenta por cento, escutei alguém cutucando a janela; por um instante achei que fosse a chuva e todo o vento, mas comecei a ouvir uma voz conhecida chamando meu nome. Abri meus olhos – já que estava mais ou menos acordada mesmo – e levantei, não estava com medo porque ladrões não avisam que vão entrar na casa das pessoas, podia ser que esqueceu a chave em algum lugar e agora estava tentando entrar pela janela, ou podia ser o guarda vindo avisar que alguma coisa aconteceu com ela. Mas pela janela?

Fui andando meio tonta e, quando afastei a cortina da janela, tive que colocar uma das mãos em cima dos meus lábios para não gritar. estava ali, totalmente ensopado e com os lábios num misto de roxo com vermelho, e tremendo muito. Sua roupa totalmente ensopada e seu cabelo caindo por sua testa, o que eu estava fazendo ali que ainda não tinha ido abrir a janela para o garoto entrar? Ele sorriu pra mim e vi seu queixo vacilar e tremer, suas mãos estavam brancas e não tinha como sua roupa estar mais colada ao seu corpo, a chuva era tanta que eu mal conseguia vê-lo.

- ! – Exclamei abrindo a janela. Senti aquele vento cortante entrar por meu quarto e quase tive que puxar o garoto pra dentro. – Puta que pariu, o que você tá fazendo?
- E-eu... – seu queixo tremeu. – Vi-vim t-te ve-ve-ver.
- Por Deus, seu maluco! – corri os olhos pelo quarto e peguei a manta de lã que estava em cima da cama e joguei-a por cima de , abraçando-o quase de imediato. Nunca tinha visto uma pessoa tremer tanto. – Você poderia ter me ligado, sabia? Eu pelo menos teria deixado a janela aberta.
- Você não ia que-quer me ver – ele soltou um longo suspiro e senti os músculos de seu corpo relaxarem ao passo que ele ia se esquentando. – Obrigado.
- Nós teríamos uma pequena discussão pelo telefone, mas no fim você ganharia e eu ia deixar você vir aqui – respondi rindo enquanto me afastava. – Tá se sentindo melhor?
- Volta aqui – ele me chamou de volta para seus braços e eu recuei em pensamento.
- , o que você quer?
- Eu quero você – ele me respondeu sério.

A manta que antes o mantinha quente estava no chão e seu corpo agora todo contra o meu. Nós estávamos na cama. Como que isso aconteceu?

Seu corpo era pesado, mas ao mesmo tempo confortável e se encaixava perfeitamente com o meu, nunca pensei que eu fosse ser tão pequena perto dele. Nossos rostos estavam quase na mesma altura e ele me encarava como se a vida dele dependesse daquele momento, mordi meus lábios e engoli a seco a vontade que eu estava de gritar ou de finalmente beijá-lo. Ergui minhas mãos para passar por seus cabelos molhados e vi fechar os olhos e soltar um suspiro de aprovação, um sorriso delicioso apareceu no canto de seus lábios e era bom saber que ele sorria por mim. Ele abaixou um pouco mais o rosto para encostar sua testa na minha enquanto eu sentia suas mãos brincalhonas passearem pela lateral do meu corpo e levantarem a minha camiseta, de repente eu senti aquele velho formigamento na barriga e um pouco mais embaixo, devo acrescentar. Usando uma das mãos ele apertou a parte interna da minha coxa e eu deixei escapar um gemido alto, seu rosto estava ainda colado ao meu e eu pude sentir seus lábios finalmente tocarem os meus de forma macia a fim de calá-los. Não houve língua, apenas o toque, pude sentir sorrir por cima e foi impossível não sorrir junto, ele apertou um pouco mais minha coxa ao passo que ia separando minhas pernas e se encaixava em mim, outro gemido escapou e tive que morder meu lábio inferior para eu não dar nenhum escândalo. Nunca senti nada parecido e ninguém nunca havia me tocado desse jeito! Pensei em falar alguma coisa, mas meus pensamentos e minha talvez voz foram calados quando, ainda com os lábios entre abertos, senti a língua de pedir passagem e um beijo delicioso e molhado ser iniciado. Era melhor do que eu podia sonhar, do que eu podia imaginar, e melhor do qualquer outro beijo que eu já tivesse provado. A princípio nós abrimos nossas bocas de forma sincronizada e eu apenas apreciei o toque molhado e quente de sua língua, depois o beijo tomou forma e nós ficamos naquela briga de abre e fecha a boca enquanto brincávamos um com a língua do outro, puta merda, que beijo BOM! Inclinei meu corpo e deixei ele roçar em mim, aumentando a fricção lá embaixo, foi a vez dele soltar um grunhido e eu sorri durante o beijo. Me permiti emaranhar meus dedos por seus cabelos que eu tinha tanta fascinação e depois eu controlava o ritmo do nosso beijo e a posição de nossas cabeças, cada vez que eu recuava ele vinha sedento de volta procurando meus lábios. Nossas respirações se misturavam ao passo que a nossa temperatura corporal aumentava, por vezes ele me beijava e mordiscava meu lábio inferior, o prendia por seus dentes e depois soltava; eu fazia caretas de reprovação porque esse tipo de provocação me deixava cada vez mais e mais louca por ele, por seu corpo e por tudo o que podia acontecer. Finalmente tirou sua camiseta e no segundo seguinte eu tirei a minha, nossos corpos agora quentes e suados podiam ter um contato digno, os arrepios por minha espinha eram constantes e cada vez mais o incômodo mais embaixo começava a ser desconfortável, eu precisava de fazendo o que ele queria fazer logo, caso contrário eu ia ficar louca! Ele começou a beijar meu queixo e meu colo, os beijos foram descendo e minha pressão arterial foi caindo junto, sentia meu corpo gelado e meu coração batendo num ritmo acelerado demais e podia jurar que estava quase morrendo, mas a sensação de ter beijando meu corpo e apertando minha coxa ao mesmo tempo me deixava acordada e dava uma adrenalina em minhas células me deixando ligada, ou era tesão, sei lá. Ele mordiscou a pele abaixo do meu umbigo e dessa vez eu soltei um grito, não foi nem um gemido, foi grito de insatisfação porque eu estava querendo mais, eu precisava de mais e ele estava sendo um garoto muito mau. Joguei minhas mãos pra cima e puxei com força meu cabelo pra trás, quase como que querendo ter um autocontrole dos meus sentimentos, ele olhou pra mim debaixo pra cima e eu pude ver o tão conhecido sorriso sacana em seus lábios; lábios estes que estavam vermelhos e inchados, provavelmente iguais aos meus. Aos poucos ele foi abaixando minha calça e ele não parava de me beijar, suas mãos me apertaram um pouco mais e foram subindo pela lateral do meu corpo, era como se ele quisesse segurar em alguma coisa quando fosse fazer o... quando fosse fazer o que todo mundo faz com a boca LÁ! Bom, nem todo mundo faz, mas quem faz adora. Eu já estava me sentindo tonta e aquele incômodo no meio das minhas pernas estava ficando cada vez pior, não ajudava em nada apertando seu polegar na minha cintura e deixando marcas ali, seus outros dedos estavam massageando minhas costas e me arranhando de leve, cada vez mais eu me arqueava pra cima e fazia um enorme esforço de permanecer sã. Senti ele morder a renda da minha calcinha e brincar com os lábios ali, passando a língua suavemente na minha pele fina e arrepiada, senti ele fazer desenhos com os lábios e a língua enquanto eu não controlava mais os gemidos e gritos que escapavam de minha boca; não posso mais afirmar se era tesão ou se era desespero! Ele ia me matar, eu ia morrer! Foi então que pareci ouvir meu nome, mas estava um pouco longe e não conseguir distinguir. Balancei a cabeça e respirei fundo tentando me concentrar no que estava acontecendo, mas não deu certo; novamente ouvi meu nome ser chamado, olhei pra baixo e não era a voz de . Na verdade, cadê o ? Hein?

- ? Tá aí?

Meu corpo estava completamente ensopado e o lençol nunca esteve tão molhado. Eu estava deitada na cama, sozinha! Levantei sentando-me no colchão e passei as mãos pelos meus cabelos e meu colo, eu estava suada, melequenta... Mexi minhas pernas e constatei que não era apenas a parte superior que estava molhada, eu também estava úmida mais pra baixo. Espera... PUTA MERDA, EU TIVE UM SONHO ERÓTICO! O desespero tomou conta de mim e minha respiração aumentou, mas dessa vez não foi de prazer, foi de vergonha! Eu nunca tive um sonho assim na minha vida, eu nunca nem se quer devo ter me masturbado da forma correta – nem sei se tem forma pra isso, minha mãe sempre me disse pra eu tomar cuidado com o chuveirinho do banheiro – e agora eu tô tendo sonho erótico com ! E eu sou virgem, não sei como que funciona essas coisas, eu tive um orgasmo? Porra, eu tive um orgasmo enquanto eu dormia só de pensar no , QUE VERGONHA! E eu estava com vontade de fazer xixi e com sede, era por isso que eu estava sonhando com chuva? Dizem que quando você sonha com chuva é porque você quer fazer xixi ou quer beber água, no meu caso eu quero os dois; e eu queria o ! Que caralho, que vergonha meu Deus, eu nunca NUNCA mais vou conseguir olhar pra cara dele, meu Deus, meu coração vai sair pela boca. Olhei pra televisão e vi Leonardo DiCaprio falando alguma frase do Romeu, pelo menos parte do sonho era realidade. Mas, meu Deus!

- , você tá me ouvindo?

Tinha realmente alguém me chamando do lado de fora do quarto, e não era da janela, o chamado estava vindo da porta mesmo. Forcei-me e levantar-me da cama e senti o quão chato era caminhar me sentindo meio suja, eu precisava de um banho e logo! Peguei o roupão de que estava jogado em cima de uma das nossas poltronas e me enrolei, joguei meu cabelo pra trás na tentativa frustrada de melhorar minha cara, mas quando eu passei em frente ao nosso espelho eu vi que estava com uma cara péssima! Fui até a porta e a destranquei, quase caí pra trás no susto quando vi quem me chamava do lado de fora. Entre todas as pessoas no mundo, o que fazia ali?

- ? – Perguntei fazendo um esforço para não ver tudo embaçado, eu ainda estava vendo meio estranho e sentindo coisas estranhas. – Que faz aqui?
- Deixa eu entrar? Acabei de despistar três garotas e eu acho que elas vão voltar daqui a pouco – ele ria. – Dá espaço.
- Entra – eu ri e afastei meu corpo deixando entrar. – Tudo bem?
- Aham.
- ? – Ele me chamou, tinha um sorriso engraçado no rosto. – Você tá ok?
- Eu... Estava dormindo – falei suspirando. – Tive um... Hm... Pesadelo.
- Pesadelo? – Ele ria. – Tá toda suada por culpa do pesadelo?
- , chega...
- Não foi pesadelo, foi? – E agora ele ria. – Caralho, você teve sonho safado.
- Não quero falar disso com você, – eu ri. – Fica à vontade, eu vou tomar um banho.
- Sei que vai...
- CALA A BOCA!
Deixei um que estava morrendo de rir na sala e fui para o banheiro. Tirei aquela roupa suada e entrei debaixo do chuveiro gelado, assim que senti a água bater nas minhas costas senti uma sensação de alívio e pude relaxar por alguns minutos. Molhei meus cabelos e massageei minha nuca, meus ombros e o resto do meu corpo, nunca um banho foi tão prazeroso. Eu ainda sentia o toque imaginário de em mim e isso me dava espasmos, eu precisava parar com isso! Molhei a esponja e coloquei o meu sabonete líquido, passei por todo meu corpo e em cada parte que eu massageava eu me arrepiava, tenho certeza de que esse sonho ainda vai me provocar por muito tempo, só de pensar eu já estou tendo dificuldades pra respirar de novo. Lavei os cabelos demorando bastante nesse processo, depois deixei a água escorrer por meu corpo, acalmando-me célula por célula; só quando percebi que estava mais calma e que conseguiria encarar foi que desliguei o chuveiro.

Nós tínhamos alguma roupas no banheiro, então saí e me sequei. Procurei por roupas íntimas e depois que as tinha colocado em meu corpo coloquei um short jeans largo e uma camiseta velha dos Simpsons, não estava me importando muito em ficar bonita. Penteei meu cabelo e tirei o excesso da água com a toalha, me olhei no espelho e vi que estava um pouco melhor do que antes, pelo menos não estava mais com aquela cara de orgasmo imaginário. Suspirei três vezes e, pra garantir, joguei mais um pouco de água gelada no rosto e na nuca, se eu estava meio ansiosa pra ver o imagina quando eu tiver que encarar o de novo? Assim que saí do banheiro não vi , pensei que ele tivesse ido embora, mas então ouvi o som de alguma coisa caindo no nosso improvisado estúdio de fotografia... Ah meu Deus!

- ? ? – Perguntei abrindo a cortina e vendo o garoto no chão pegando minha câmera, MINHA câmera. – Não me mostra!
- Não quebrou, – ele disse se levantando. – Mas pra que você precisa desse negócio redondo na frente da lente?
- Ai, puta merda – eu ri. – Só deixa ali em cima da bancada e depois eu vejo o que faço, e, pelo amor de Deus, vamos sair daqui.
- Espera um pouco – ele riu depois de deixar minha câmera onde eu pedi. – Todas essas fotos, você quem tirou?
- Eu mesma – sorri orgulhosa. – Gostou?
- São excelentes – ele sorria olhando foto por fofo.

Como eu já disse uma vez, eu e montamos nosso próprio estúdio de revelação fotográfico, ele ficava na nossa pequena lavanderia e era até fofinho. Todas as fotos recém-reveladas estavam penduradas em algo que chamamos de ‘varal’, as tigelas com o líquido revelador embaixo e as luzes escuras localizadas em pontos estratégicos. De verdade, esse estúdio era meu orgulho particular. As fotos que tirei dos meninos no dia em que fui a casa deles estavam lá, e isso incluía as fotos que tirei com . parou de frente para a foto de nós dois e sorriu, cruzando os braços na frente do corpo e fazendo ‘não’ com a cabeça.

- Que foi? Não gostou da foto?
- Na verdade, tudo nessa foto é simplesmente perfeito – ele sorriu. – Vocês fazem um casal maravilhoso, já disse isso antes?
- Algumas vezes – respondi rindo. – já disse isso também.
- Vamos lá pra fora, preciso falar com você – ele apontou pra cortina, eu apenas concordei e saí.
- Manda – disse pegando um copo de água e me sentando em cima do nosso balcão da cozinha.
- , nós vamos para os Estados Unidos semana que vem – disse olhando meio pra baixo, mas não pude deixar de notar um sorriso.
- Cara – sorri. – Cara, isso é ÓTIMO!
- Estamos muito empolgados. Na verdade soubemos da notícia ontem, tivemos uma reunião com o Simon e nossos outros produtores, eles acham legal talvez começar a expandir nosso trabalho, e quer lugar melhor que os States?
- Nossa, agora sim o mundo inteiro vai conhecer vocês – eu ri.
- Se nós já tivéssemos estourado lá antes, talvez você já nos conhecesse. Por exemplo, você deve conhecer Justin Bieber...?
- Ah sim – eu disse rindo. – Mas vocês são bem melhores que ele!
- Hey, eu gosto do Justin!
- Sem ofensas – eu ri. – , eu espero de coração que vocês façam muito sucesso por lá, na verdade eu tenho certeza de que vocês vão ser adorados!
- Obrigada, – ele sorriu.
- Ah caramba, me dá um abraço, pô!

Pulei da bancada e fui logo dar um belo abraço apertado em . Foi um abraço tão apertado e tão gostoso, eu parecia que ia ser esmagada, senti ele sorrir atrás de mim e soltar uma doce risada, tive que fazer o mesmo. Ele me segurou pela cintura e me ergueu, rodando meu corpo pela cozinha, tive que alertá-lo que a cozinha era pequena e eu podia bater minha perna em qualquer lugar. Conquistar os EUA era um grande passo pra banda e eu tenho certeza de que eles iam brilhar, e brilhar demais! Iam ser estrelas mundiais, podia ver o futuro do One Direction estampado na minha frente, meu Deus, eles iam ser grandes!

- Você veio aqui me dar essa notícia maravilhosa?
- Na verdade, não – ele riu, bagunçando os cabelos. – queria te dar essa notícia no dia do photoshoot, por isso ele te chamou pra jantar. Nós só confirmamos isso recentemente, mas ele já queria te avisar.
- Pena que deu tudo meio errado – falei dando de ombros. – Cadê ele?
- Essa é a segunda parte da minha visita – ele sorriu. – Vim aqui te buscar pra um esconderijo secreto, te espera lá.
- Oh meu Deus, ...
- Qual é? Vocês dois tem muita coisa pra conversar, , você tem que ver como que o cara está meio miserável.
- Mas eu não fiz nada!
- Vocês não estão juntos, isso está o matando!
- , agora com vocês indo pros EUA vai ficar mais difícil ainda. Vamos passar tempo separados, e o tanto de menina maravilhosa que vocês ainda vão conhecer pela frente...
- Ele quer VOCÊ! – pegou na minha mão e me olhou sério. – Acredite, , não tem ninguém nesse mundo que ele queira mais que você.
- ...
- E vendo sua cara quando eu cheguei, você quer isso tanto quanto ele – sorriu meio maroto. – Não mente pra mim, você estava sonhando com ele.
- Eu podia estar sonhando com outra pessoa – falei sem graça, ele riu. – Que seja, isso não significa nada.
- Significa que você gosta do meu amigo, e ele gosta muito de você também.
- – suspirei, que se dane. – Me dá cinco minutos.
- É isso aí, garota! – Ele riu.

Só troquei o short por uma calça jeans e joguei meu moletom da GAP por cima da minha camiseta dos Simpsons. Meu cabelo ainda estava meio úmido, então só o joguei pra frente e depois pra trás e dei uma bagunçada, não ia melhorar muito mais. Peguei minha bolsa e saí do apartamento com . Não fazia nem ideia do que me esperava e nem do que eu ia conversar com , mas eu confiava nele e confiava também em .

- ?
- Manda.
- Desculpa por brigar com você no dia do photoshoot.
- Esquece isso, .
- Não, sério – funguei. – É que, depois do que aconteceu eu fiquei aborrecida e tive que descontar na primeira pessoa. Você foi muito fofo, não queria...
- Eu gosto de você e gosto do . E gosto muito mais de vocês dois juntos, se eu falei que ele se deu bem é porque de verdade ele se deu bem.
- Obrigada.
- Quando vocês dois se tornarem um casal público eu vou poder ficar fazendo piadinhas de vocês dois? – Ele perguntou rindo.
- Claro que sim – respondi sorrindo. – Posso contar com você pra me defender se alguma fã falar mal de mim?
- Pode contar com todos nós – ele sorriu de forma meiga. – E isso vale pra também.
- Acho que vamos matar o fandom inteiro – comecei a rir e me acompanhou.

Dez minutos depois estávamos em um lugar que eu não fazia idéia de onde era. parou em uma rua mais ou menos deserta em frente a um prédio com uns dez andares. O prédio era um pouco abandonado, mas eu podia ver que lá no terraço havia luzes e a sombra de uma pessoa.

- Você só tem que subir lá em cima e pronto – disse. – Ele já está te esperando.
- Valeu, – respondi dando um beijo em seu rosto e pulando pra fora do carro no minuto seguinte.

Todos os arrepios que eu senti durante o sonho não se comparavam a nada com o que eu sentia naquele momento, aquilo era real e me deixava apavorada. Entrei no prédio mais ou menos abandonado e frio e me deparei com velas colocadas nos degraus de uma escada. Caminhei até elas com um sorriso idiota no rosto e vi um bilhete que dizia ‘siga as velas – x’. Comecei a rir de forma descontrolada e senti um fogo tomar conta de mim, eu era tão babaca! Por mais que eu não gostasse de coisas fofas e românticas, devo dizer que estava me pegando de surpresa a cada segundo, nada com ele era clichê e nada com ele era premeditado, era tudo uma confusão e tudo muito rápido. Subi cada lance de escada sentindo meu coração ir parar na boca, quando estava quase chegando ao topo pude ouvir a risada de e então me apressei. Finalmente, depois de vários lances e estar um pouco mais cansada do que eu devia, eu cheguei! O terraço ainda não tinha nada, só conseguia ver concreto e tijolos para todos os lados, porém o que mais me interessava estava bem ali na minha frente. Sabe, eu só lembrava do do meu sonho, ver ele assim era muito melhor. Ele estava de social, e eu de moletom e calça jeans, por que raios não me disse pra vestir uma roupinha melhor?

- Cansada? – Ele me perguntou vindo até mim e me dando um abraço. – Desculpa, não consegui achar um lugar com elevador.
- Sem problemas – eu falei rindo pegando um pouco de fôlego. – Falando nisso, como você achou esse lugar?
- Contatos – ele piscou. – Senti sua falta, .
- Eu também – sorri sentindo um peso que estava em meu coração ir embora. – me contou as boas notícias, parabéns!
- Ah, obrigado – vi sorrir de uma forma tão feliz que meu mundo se iluminou só com aquele sorriso. – Vai ser muito surreal, eu mal consigo imaginar isso.
- Vai ser incrível, eu tenho certeza de que vocês vão adorar – falei passando as mãos pelos seus braços e sorrindo. – Traz uma lembrança pra mim?
- Eu vou trazer muito mais que isso – ele sorriu. – Vamos ser número um, escreve o que eu tô falando.
- Tenho certeza de que vão, confio muito em vocês – respondi. – Bom, você deve ter marcado de me ver aqui por uma razão, eu suponho.
- É – ele mordeu os lábios. – Vem aqui – me puxou pela mão e me levou até um banco feito de concreto .– , nós vamos ficar fora por mais ou menos um mês e meio.
- Caralho, sério?
- Nós vamos primeiro pra LA fazer uma divulgação por lá, depois vamos rodar algumas cidades, vai ser quase uma cidade por dia – ele suspirou. – Vai ser bem puxado.
- Mas isso tudo é pra divulgação do CD e da banda?
- Aham – ele concordou. – O CD ainda nem foi lançado nos EUA, então vamos fazer alguns shows para promover nosso trabalho.
- Que massa, , que demais!
- É, vai ser incrível – ele sorriu. – Então, como eu dizia, vamos ficar fora por quase dois meses e... Ai, caramba, como vou falar isso?
- Que foi? – Perguntei segurando em sua mão, vi meus dedos serem delicadamente entrelaçados aos dele. – , pode falar qualquer coisa pra mim.
- , eu gosto muito de você, eu gosto mais do que eu deveria gostar – ele riu. – E eu queria saber se... ai meu Deus – ele riu nervoso. – Eu quero você ao meu lado.
- ?
- Seja minha garota.

E agora senti meu mundo desabar por debaixo dos meus pés. Sabe quando você está esperando por algo, mas aí você escuta isso sair da boca do cara que você gosta e quando você ouve você não tem certeza se isso foi realmente direcionado para a sua pessoa? Eu não me via ao lado de , eu não me via namorando o e eu nunca imaginei ele falando isso pra mim! Mas tinha muita coisa pra ser levada em consideração, e não apenas a minha paranoia, tinha muito mais ALÉM de ser a namorada dele, e eu não tive tempo pra pensar no assunto. Tá, eu sou racional demais e isso só me fode, mas é minha vida, fazer o quê? Já tinha tido uma experiência mais ou menos desagradável naquela semana, agora pensa vivenciar isso todos os dias? E não era apenas, é... ele vai ficar longe por um, epa, por quase dois meses! Se eu aceitasse naquele momento, selaria um relacionamento que já iria começar com distância. Puta merda, por que eu não podia gostar de um cara que vai ficar pra sempre no mesmo fuso horário que eu? Na verdade eu até poderia viver com isso se e eu estivéssemos namorando há mais tempo, mas agora?

- Você está quieta – ele soltou minha mão. – Não é isso o que você quer?
- , pelo amor de Deus, não coloca dessa forma!
- Como dessa forma, ? – Ele riu sem humor. – Eu realmente estou te pedindo em namoro e o que eu consegui em resposta foi silêncio da sua parte!
- Ugh! – Gemi e me levantei, ele bufou. – , você está me pedindo em namoro um dia antes da sua partida pros Estados Unidos! Olha que legal, eu vou ser sua namorada e logo de cara vou ficar quase dois meses sem você.
- Essa é a minha profissão, sabia? Não vai ser a primeira vez que você vai ficar longe de mim, infelizmente eu faço turnê! Mas eu queria muito levar você comigo.
- Eu não tô reclamando do seu trabalho, porra – agora quem bufou alto fui eu, que saco. – Nunca vou reclamar do seu trabalho, , pelo amor de Deus!
- Então, o que tá sendo tudo isso?
- Isso – apontei pra nós dois. – Vai acontecer, mas quando você voltar.
- Por quê?
- , você está indo pro país primeiro mundo! Tem noção de quantas pessoas você vai conhecer? Quantos lugares você vai visitar? Quantas fãs vão cair de amores por você?
- ...
- Eu quero que você VIVA tudo isso antes de se enroscar comigo – ri sem humor. – Eu sou apenas uma caipira do Brasil que deu a sorte grande.
- Eu sou um caipira que nem ganhei o Xfactor, e aí?
- Você não tá me entendendo...
- Quê? Você acha que, por eu conhecer outras pessoas eu vou me esquecer de você? , se eu tô pedindo pra você ficar comigo é porque eu quero ficar com você, eu quero ir sabendo que quando eu voltar você é minha e que estamos juntos.
- Não quero perca oportunidades que ainda estão por vir porque estamos juntos, eu posso ser bem ciumenta quando eu quero – falei séria, riu.
- Não me importo de você ser ciumenta, eu até prefiro assim – ele caminhou até mim e eu dei dois passos pra trás. – , quer parar de se afastar?
- , eu não quero namorar você agora – falei e ele arregalou os olhos. Essa frase ficou muito mais assustadora quando saiu da minha boca.
- É o Sam? – E lá vem o semblante de ciúme de novo. – É o Sam, não é?
- Que caralho Sam! – falei alto. – Na boa, , eu tenho quase certeza de que o Sam é gay, então para de ficar colocando ele no meio do assunto.
- Como assim gay?
- Gay, que gosta do mesmo sexo! – Falei explicando e ele fez cara de desdém.
- Eu sei o que é uma pessoa gay.
- Se sabe então por que me perguntou?

Silêncio.

Não é que eu não queria namorar o , puta merda, é claro que eu queria, mas tem como me entender aqui? Eu sou mega insegura, mega ciumenta e mega chata! Amanhã aquela pessoa na minha frente estaria embarcando para o país das tentações, o país da Kim Kardashian! É onde a primeira Starbucks foi criada, é de onde saem os filmes, é cinema... é Stan Lee! Tá, na Inglaterra há muitas coisas boas, mas venhamos e convenhamos, EUA dá de mil em qualquer país, não importa o quão desenvolvido ele seja. FACEBOOK, isso lembrei de mais uma coisa – maldito seja Mark! Depois de longos minutos de silêncio, eu olhando pro meu pé e bufando de frente pra mim, resolvi caminhar os poucos passos que nos distanciavam; parei de frente pra ele, peguei sua mão e comecei a passar meu polegar em sua palma e cantar baixinho pra mim a letra de New York. Ele ia pra LA primeiro, mas eu só consegui pensar na letra de NY cantada pelo pessoal de Glee, aprendi muitas músicas assistindo essa série. riu baixinho, provavelmente por culpa da minha falta de afinação vocal, eu não tinha o mínimo dom pra música.

- Você sabe que eu gosto de você, não sabe? – Perguntei sem olhar pra ele.
- Sei.
- Você sabe que desde que eu te vi aquele dia perto do London Eye eu não parei de pensar em você, por mais que eu ficasse mentindo pra mim o tempo todo falando que eu não me importo com você?
- Isso eu não sabia – ele riu.
- E você sabe que eu vou estar aqui te esperando quando você voltar dessa divulgação?
- Você vai?
- Eu sempre vou – levantei meu rosto pra dar de cara com a poucos centímetros de mim.

Um simples suspiro poderia ser considerado nosso primeiro beijo, era só eu me mover meio milímetro e nossos lábios se encostariam, nossos olhares se encontraram e ficou naquela coisa de eu acompanhando os movimentos de sua pupila e ele acompanhando os movimentos das minhas. mordeu seu lábio inferior sem parar o contato visual comigo e percebi uma certa tensão em seus ombros. Eu queria mais do que tudo na vida beijá-lo, mas eu sabia que se sentisse o seu gosto ia ser tortura, porque eu ia ter que ficar um mês e meio sem senti-lo novamente. moveu-se em minha direção, mas eu virei o rosto, o que deveria ser um beijo na boca foi um beijo no rosto. Eu ri baixinho porque senti ficar com os lábios por mais tempo na minha bochecha enquanto soltava um suspiro de total reprovação. Olhei pra ele e vi que ele estava com aquela cara meio ‘que porra foi essa?’ e eu comecei a rir, deixando mais puto ainda.

- Não, eu não estou me fazendo de difícil – falei parando de rir. – É que, hm... Bom...
- Desembucha!
- Eu gosto de beijo na boca, TÁ! – Falei sentindo minhas bochechas corarem e um calor tomar conta de mim, porra de hormônios. abriu o maior sorriso e quem comeceu a gargalhar foi ele.
- E desde quando isso é algo ruim?
- Não tô falando que é ruim, mas é que... – coloquei quase todo meu cabelo pra trás, se divertia vendo o quão envergonhada eu estava. – Bom, se eu te beijar agora vai ser bem difícil ficar sem te beijar por mais um mês, quase dois. Se eu já tivesse te beijado antes seria mais fácil, mas agora...
- Nunca me arrependi TANTO de não ter te beijado aquele dia na van!
- Você disse que não me chamou com segundas intenções – abri a boca em um ‘O’ e ele riu de forma histérica.
- Sério que você caiu naquele papinho de merda? Ah, você é mais inteligente que isso, .
- Fui muito ingênua – eu ri. – Charlatão.
- Eu queria te beijar desde a primeira vez que te vi, , só que eu já sabia que você ia ser difícil, então...
- A espera vai valer a pena – eu falei mordendo os lábios e ele encarou de forma nada discreta meu rosto e minha boca. – Eu prometo.
- Literalmente estou com água na boca, e isso não é bom – ele falou.
- Me leva pra casa? E você também tem que ir pra casa – ergui minha mão esperando que ele a segurasse, foi exatamente isso o que ele fez.
- Vamos sair nessa madrugada, o aeroporto está mais vazio, acho que as fãs não sabem o horário do nosso vôo – me disse enquanto caminhávamos.
- E já sabem que horas vão chegar em LA?
- Sei não, nem sei quanto tempo é de vôo, não fico pesquisando essas coisas – ele riu.

Saímos do prédio abandonado de mãos dadas e, meu Deus, tudo parecia tão certo. Por algumas vezes eu olhava para nossas mãos juntas e não podia acreditar no que estava acontecendo, quem nos visse na rua ia achar piada. de roupa social com uma estudante mediana brasileira de calça jeans e moletom, o que há de errado no mundo?

O carro dele estava de frente pro prédio, como um bom cavalheiro ele abriu a porta pra mim – ele riu antes, já que eu fui pro lado do ‘motorista’, nunca vou me acostumar com a mão inglesa –, me esperou eu entrar e depois a fechou. No caminho para minha casa fomos conversando de tudo um pouco, de como ele estava ansioso para saber o que as fãs iam achar da banda, de como eles não iam poder beber porque nenhum deles tem mais de 21 anos (essa é a maioridade nos EUA), dos shows, da possibilidade de eles se apresentarem no Today Show e, quem sabe, Saturday Night Live. Claro, falamos de nós dois; de como iríamos fazer quando ele voltasse, de como talvez fôssemos abrir o jogo e essas coisas. Eu disse pra que nunca tinha namorado sério na vida e ele sorriu de forma prepotente; ‘então eu vou ser o seu primeiro?’ e essa pergunta estava cheia de segundas intenções. É, , você ia ser meu primeiro, e se fosse igual ao sonho de mais cedo... Puta que pariu!

- Que horas sai seu vôo? – Perguntei quando o carro parou em frente ao meu prédio.
- Se não me engano, perto das quatro da manhã – ele disse com uma voz mega preguiçosa, eu ri.
- Melhor você ir dormir então – falei passando minhas mãos por seus cabelos, abrindo e fechando meus dedos. Sensação maravilhosa; vi sorrir com os olhos fechados enquanto eu fazia carinho em seus cabelos e depois desci para seu rosto. Ele deve ser a pessoa mais linda que eu já vi na vida.
- Vem comigo? – Ele disse manhoso ainda com os olhos fechados, – Vou sentir muito a sua falta.
- Não posso, nesse tempo que você vai ficar fora eu vou ter pelo menos três provas e uma aula prática – respondi parando os carinhos e vendo abrir os olhos. – Você parece um bebê.
- Exato, eu preciso de cuidados constantes e regulares – ele disse ainda manhoso e todo sorridente, eu comecei a rir. – Não vou conseguir um beijo seu hoje, vou?
- Hm-hm – falei travando os lábios e fazendo ‘não’ com a cabeça. – Se quiser beijar alguma americana, tem carta branca.
- Pra passar o tempo? – Ele disse brincalhão. – Não, obrigado.
- Vou fingir que acredito – respondi. – Deixa eu ir, . Obrigada pela noite mega surpresa, não vou me esquecer.
- Lembra o que você disse no dia do photoshoot? – Ele perguntou antes de eu abrir a porta do carro. – Que você queria um pedido de namoro oficial?
- Eu falei brincando, o tava zoando!
- Mas eu não estava – tirou de dentro do bolso do paletó uma caixinha azul e a deu pra mim. – Eu ia te dar isso se você me dissesse sim, você me disse de um jeito estranho – ele riu. – Mas eu considerei como uma resposta afirmativa pra minha pergunta.
- Não precisava se preocupar, , não faço a mínima questão dessas coisas – disse pegando a caixinha de forma trêmula. Quando olhei a label em cima eu quase chorei, aquilo era uma caixinha Tiffany!, isso foi uma NOTA!
- Só abre, por favor? – Ele mordia os lábios, acho que ele faz isso com frequência, especialmente quando está nervoso ou ansioso.

Abri a caixinha com as mãos trêmulas e, quando vi o que estava dentro, aí que eu quase morri. Era um pingente de uma bússola prata, bem pequena e bem delicada. Estava pendurada em um cordão fino e também prata; na mesma hora já peguei e coloquei no pescoço.

- Não sei o que o universo tinha planejado pra mim naquele dia, mas de um jeito ou de outro ele fez eu te encontrar – falou passando a mão na bússola recém-colocada no meu pescoço e depois em meu rosto. – É engraçado o nome da banda ser ‘One Direction’, porque a bússola sempre marca apenas para uma direção.
- Norte – eu falei e ele concordou.
- Você é o meu Norte – ele sorriu e eu também. – Você é a minha única direção, , não pode ser mais ninguém.
- Obrigada – respondi quase aos sussurros, minha voz insistia em não sair. – Eu amei.
- Se cuida, princesa – falou todo galanteador e veio me dar um beijo no rosto.

O beijo como sempre demorou mais do que devia, enquanto ele depositava o beijo em minha bochecha, senti seu corpo relaxar e ele respirar em alívio. Fechei meus olhos guardando com carinho aquele mínimo toque tão simples, mas ao mesmo tempo tão intenso para nós dois. Dei um beijo em seu rosto também e logo em seguida saí do carro. Acompanhei virar a esquina e sumir no meio da noite londrina, apertei meu presente junto ao meu corpo e fui quase saltitante pro quarto. Esse mês tinha que passar muito rápido, pelo amor de Deus! Vai ser clichê demais se eu falar que já estou com saudades dele?


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