Autora: Gisele Castro || Beta-reader: Abby



Capítulo 35

Com o passar dos minutos eu fui ficando mais calma. A entrevista não era tão tensa como eu pensava, e as duas eram simpáticas até demais, perguntaram não apenas as coisas óbvias, e não editavam nossas respostas. Pelo menos eu gostava de achar que elas não seriam editadas. Um prato e meio de frutas depois e alguns copos de suco pra mim e café pra , nós finalmente chegávamos aos minutos finais.

- Eu sei que vocês já responderam essa pergunta algumas vezes, em especial o , mas o jeito que vocês se conheceram é, de verdade, muito peculiar. Alguém já fez algum comentário a respeito?
- Eu escuto comentários disso o tempo todo – riu – Falam que foi combinado, forçado, algo como ‘ah tá, ele estava do nada na praça e resolveu fazer gracinhas pra menina e eles se apaixonaram’ e similares.
- E não foi assim que aconteceu?
- Foi e não foi – eu sorri – One Direction ainda não era muito conhecido no Brasil no começo do ano, então eu não conhecia os meninos. Quando eu vi o fazendo gracinha pra minha câmera, eu achei diferente. Tem um lugar em São Paulo, chama-se Praça da Sé. Lá, se você resolver tirar foto, vai passar muita gente na sua frente fazendo graça igual ao ; então quando ele começou a fazer isso eu achei o máximo, me senti em casa.
- Só a parte da paixão que gostam de florear um pouco mais do que devem... – olhou pra mim e piscou.
- Por quê? Como aconteceu?
- Gosto de responder essa pergunta citando um casal conhecido: Jack e Rose – por um momento pensei que fosse citar alguém de verdade – Aquela cena que ele a vê pela primeira vez é muito bonita. E consegue convencer todo o público de que ele se apaixonou por ela naquele instante, naquele segundo. Parece ser clichê, mas aconteceu. Por que, quando isso acontece na vida real, as pessoas possuem tanta dificuldade em aceitar? Eu me apaixonei pela no instante em que a vi, assim como aconteceu com Jack e Rose, Romeu e Julieta...
- Quem nunca amou, quem nunca sentiu isso, tem esse certo preconceito – eu falei.
- O fato de vocês serem jovens não é ruim para a aceitação?
- Romeu e Julieta viveram um romance ao extremo com treze anos – falei, sorrindo, as duas abriram o maior sorrisão do mundo.
- Ela é incrível, .
- Sei disso – ele sorriu, feliz – E isso também é algo que incomoda um pouco algumas pessoas.
- O fato de ela ser incrível?
- De ela ser boa em tudo que faz.
- Como assim?
- Bom... – segurei na mão de , pedindo autorização para eu falar – Quando a bolsa de estudos saiu, eu sabia que seria uma oportunidade única de mostrar meu trabalho e minhas qualificações. Repetia pra mim mesma que eu vim pra Londres com um propósito, de ser a número um em tudo e nunca falhar. Consegui grande parte do que eu queria, e isso parece incomodar porque ninguém nunca é cem por cento bom no que faz. Quando as coisas começam a dar certo, o efeito imediato é de alimentar suspeitas, as pessoas ficarem intrigadas e, em alguns casos, com inveja.
- Uau – ela desligou o gravador – Desculpa, eu pensei que os comentários maldosos eram por culpa do seu namoro com o .
- Não vou dizer que aprendi a lidar com isso, de vez em quando ainda leio alguma coisa que me machuca, mas é mais fácil administrar essa parte. Agora, quando começam a falar do meu trabalho e de como eu conquistei as coisas, eu viro uma leoa e não penso muito nas consequências. Lutei muito pra chegar até aqui, não permito que falem mal do que eu amo.
- Caramba – uma delas sorriu pra mim e pra – Quantos anos você tem, mesmo?
- Dezoito.
- Tenho certeza que tudo o que você conquistou foi de grande merecimento. Parabéns!
- Obrigada – sorri.
- Enfim, podemos continuar? – ela ligou novamente o gravador – e , qual a frequência de brigas?
- Nossa Senhora! – ele passou as mãos nos cabelos e começou a rir – Briga feia ou briga tonta?
- Tanto faz, briga é sempre briga – as duas riram.
- Gênio? – ele olhou pra mim e eu já estava rindo – Tá, eu respondo. Nossas brigas nunca duram mais que quarenta e oito horas.
- Como assim?
- É muito raro eu passar um mês inteiro com a , às vezes ficamos semanas longe. Então não gostamos de perder tempo brigados; já não nos vemos direito, se for pra ficar afastado um do outro, então nem compensa.
- Nosso tempo juntos é muito curto pra ser desperdiçado brigando, eu não vejo necessidade nisso – acrescentei.
- Vocês são dois fofos – a moça falou e nós dois sorrimos um para o outro.
- E quando há uma briga, como vocês se reconciliam?
- Starbucks e muffin pela manhã – respondeu e nós rimos – Mas às vezes a amiga dela precisa dar uma força, a é muito orgulhosa.
- Sou mesmo!
- te trazendo café da manhã depois de uma briga e você ainda consegue ser orgulhosa?
- Tem que fazer um charme, pra dar mais certo – sorri, vendo a cara de sapeca de ao meu lado – E pelo visto, tá dando.
- Bom, eu vou fazer mais uma pergunta que eu vi algumas fãs comentando. Você, , foi vista no começo como uma menina que não se interessava nem por One Direction e nem pelo próprio . Algumas criticavam o seu comportamento como namorada, parecia que você não queria estar fazendo parte disso. Como você se sentiu ao ler essas coisas a seu respeito?
- Então... – sorri, nervosa, e estralei meus dedos, olhando para – Eu não conhecia One Direction, não sabia nada sobre eles. Assim sendo, eu não conhecia o e, pra ser sincera, acho que isso ajudou no nosso relacionamento. Eu gostei dele, me apaixonei por ele, e não pela bagagem que vinha junto. Não precisava saber da banda ou da música pra eu ser mais ou menos apaixonada por ele, não via necessidade disso. Assim como ele não soube tudo da minha vida quando me conheceu, foi algo que fomos conquistando e conhecendo aos poucos. Assim é um relacionamento, você não fica sabendo tudo da vida da pessoa no primeiro mês, você descobre.
- E nunca te passou pela cabeça procurar alguma coisa dele no google? Dar uma de stalker e saber do ou da banda?
- Ah, não? – eu cocei a cabeça e ri – Sei lá, confesso que algumas vezes eu entrei no sites feitos por fãs pra ler coisas sobre os meninos, mas tudo eu acabei descobrindo depois. Algumas vezes, entrei mais pra saber o que falavam de mim do que do próprio .
- Sério? – ele me encarou com um sorriso de lado – Estão vendo? Disso eu não fazia ideia.
- Se decepcionou com alguma coisa?
- Ah, várias – eu sorri – Mas passou, depois de um tempo. Mostrei pro e pros meninos, tudo virou uma grande piada depois.
- E vocês conhecem fanfics? As fãs costumam escrever muito sobre como elas imaginam um relacionamento com vocês ou até “entre vocês”.
- Cara, tem muita fic gay que as fãs escrevem! – bateu a mão na testa e nós começamos a gargalhar – Não sei de onde surge tanta criatividade pra escrever tanto absurdo, dá até medo. Será que os pais dessas meninas sabem o que elas estão fazendo?
- Muita coisa absurda?
- Olha, demais! Tem umas coisas muito absurdas, meio impossíveis – eu estava ficando constrangida só de imaginar, comecei a rir ao vê-lo ficar vermelho de vergonha.
- Dá pra contar alguma coisa pra gente?
- De jeito nenhum, eu passo os links depois dos que eu lembro, mas contar aqui, agora? Nem pensar!

Ao final da entrevista, as perguntas mais clichês e normais voltaram a aparecer. Coisas como: o novo CD, quando começa a turnê, se ele e os meninos estavam ansiosos para o Madison Square Garden, se eu ia – coisa que não vai dar –, planos pro ano que vem, planos pra nós dois e essas coisas. Confesso que eu gostei muito de poder falar um pouco sobre assuntos que pouca gente tem noção. De certa forma fiquei aliviada e uma parte meio insana está bem curiosa pra ver qual vai ser a reação das fãs ao lerem a entrevista. Foi-me perguntado sobre os rumores de eu estar passando por uma crise, porque eu visivelmente tinha emagrecido muito desde o começo do namoro até agora... Minha resposta foi vaga e, em off, eu disse que não queria falar muito do assunto para menos boatos surgirem. Me respeitaram, e a única coisa que elas me asseguraram que será publicado, será que eu passei por uma crise e algumas dificuldades, mas que no momento eu estava bem.

Bem, uma parte já estava pronta, agora vinha a segunda. Photoshoot!


- Você disse tudo isso, mesmo?
- Aham – fechei os olhos, uma das maquiadoras estava tentando grudar alguma coisa junto com a maquiagem, nem sei o que era – Nem quero imaginar qual vai ser o título da entrevista.
- “O recalque bate na minha bússola e volta na cara das vadia" – falou e nós duas começamos a gargalhar, tive que pedir desculpas pra moça que cuidava de mim.
- Porra, genial! Posso dar essa ideia pra elas?
- Certeza! Aproveita e tira uma foto mostrando essa bússola Tiffany LINDA e ainda faz cara de malvada, as fãs vão te detestar.
- Mais?
- Acredite, é possível. Ainda mais depois dessa entrevista, vai chover ameaça de morte, corre pras colinas e se benze, amiga.
- Você tem um dom de me deixar tão tranquila, – eu sorri – Desculpe, posso levantar rapidinho?
- Tá falando comigo?
- Não, com a moça que tá me maquiando.
- TEM ALGUÉM TE MAQUIANDO?
- Aham, eu vou fazer as fotos daqui a pouco com o .
- Eu to chorando sangue de inveja – a ouvi suspirar e sorrir – Tá sozinha agora?
- Sim, sim – respondi, me olhando no espelho e quase não me reconhecendo – Pai Amado, eu estou outra pessoa.
- Gata?
- PERUA!
- Tá valendo – nós rimos – Já sabe se vai vestir algum estilista famoso? Morro de vontade de fazer aquela cena de “Uma Linda Mulher”.
- Ainda não – dei uma olhada em volta – Estou vendo várias roupas aqui, mas não sei se são pra mim e nem sei de quem são. São descoladas, pelo menos eu curti.
- Detalhes, , detalhes!
- Ai, tá... – me levantei e fui dar uma olhada nas peças de roupas que estavam nas araras – Calças jeans, camisetas, casaquinhos, hm... Sapatos...
- DE QUEM?
- Ah, estilista?
- Claro, ou você achou que esse “de quem” era, sei lá... – a ouvi gargalhar – Não consigo pensar numa resposta engraçada agora.
- Que seja! – eu ri – Diesel, Coca, Dolce...
- DOLCE? Fala sério, você vai usar Dolce?
- Channel...
- Filha da puta sortuda do caralho.
- Oi, linguajar peculiar de Bolton! – eu comecei a rir, sempre me divertia quando soltava mil palavrões de uma só vez.
- Me deixa colocar pra fora toda a minha inveja, por favor. É tudo o que me resta nesse mundo sombrio.
- Que drama, sabia que estão querendo fazer um photoshoot com toda banda? E isso inclui eu e você nos bastidores?
- Bastidores? Eu quero estar na frente – ela riu – Mas já fico feliz em ser lembrada.
- Drama, drama, drama.
- Faço mesmo – a ouvi bufar – Enquanto você tá no seu dia de princesa, eu vou com os meninos pra um ensaio em um “lugar secreto”, pelo menos foi isso o que eles postaram no twitter oficial.
- Vai tirar fotos?
- Não, só como acompanhante do mesmo, hoje é meu dia de folga e quero mimar meu namorado, e não ficar trabalhando.
- Ahá, muito bem. Acho fofo vocês dois juntos de novo, não aguentava mais seus choros na madrugada.
- Eu nunca chorei pelo !
- Ah, não?
- Tá... Esquece – ela fazia careta, eu tenho certeza.

Antes de eu formular novamente alguma frase, vi entrar no camarim onde eu estava. Simplesmente lindo, e ele mal usava maquiagem e nem precisava de muita roupa! SÉRIO! Uma calça jeans, tênis qualquer, camiseta que me parece ser familiar e uma camisa azul jogada por cima. Abriu um sorriso quando me viu ali, e só foi então que percebi que eu estava de roupão branco, pantufas, cabelo pra cima e uma maquiagem ainda não finalizada.

- , meu namorado acabou de entrar – falei com um sorriso nos lábios, riu.
- Ai, sendo trocada pelo , de novo!
- Tá, quando chegar em casa te conto como foi o dia.
- Ok, se cuidem e me mandem fotos de forma clandestina, não vou aguentar esperar a revista sair pra eu morrer de inveja, mais ainda.
- Farei o possível.
- Obrigada – ela riu – Beijos, divirtam-se.
- Você também – desliguei o celular e o encarei – Tá gatinho, .
- Curtiu? – ele abriu a camisa e deu uma rodadinha sexy – Saint Kidd.
- SABIIIIA! Conheço os trabalhos de Dougie Poynter – eu ri, indo até ele e vendo a camiseta mais de perto – É linda, to doida pra comprar uma.
- Comprar? Só pedir pro Dougie.
- É estranho eu “só pedir pro Dougie” – imitei a voz dele de um jeito babaca, o fazendo rir e dar um beijo de leve em meus lábios.
- Entããããoo... Não vou nem perguntar se você está pronta, porque...
- Acho que elas precisam arrumar meu cabelo, terminar a maquiagem e colocar uma roupa em mim – apontei pro roupão.
- Você está usando só isso? – ele mexeu nas pontinhas do roupão – Tipo, Rose Dawnson?
- Que você tem hoje com essa coisa de Titanic, hein?
- Nada, só uma comparação – ele me mostrou a língua – Mas você ainda não respondeu a minha pergunta, .
- É, to sim – dei dois passos pra trás – Agora, vaza daqui que eu vou escolher a roupa, ou pelo menos dar uma olhada nas minhas opções.
- Não posso nem ficar pra ajudar?
- Não, – eu ria, empurrando ele pra fora – Me espera lá fora.
- Ok...

Antes de ir, ele parou na soleira da porta, com uma mão em cada extremidade, me encarando daquele jeito brincalhão e mordendo os lábios. Tentei fazer careta de quem não estava gostando nada daquilo e que, de verdade, ele atrapalhava o andamento da minha produção, mas foi tudo em vão. Ele se aproximou um pouco mais, encostando de leve o nariz dele ao meu e, aos poucos, nossos lábios. Começou apenas roçando de um jeito brincalhão, me fazendo rir, depois passou a mão pela lateral do meu rosto até meu queixo, puxando-o pra cima e encaixando nossos lábios, me beijando. Coloquei minhas mãos no bolso traseiro de sua calça jeans, apertando de leve sua bunda e fazendo, sem querer, nós dois rirmos durante o beijo, quebrando-o ao fim. Tirei minhas mãos dali e as coloquei ao redor do seu pescoço, brincando com seu cabelo ali e dando selinhos que, por mim, poderiam ser intermináveis.

- Se eu te contar uma coisa bem tosca, você promete que não fica brava?
- Vixi! – eu ri – Conta.
- Sonhei com uma coisa estranha noite passada.
- Sonhou? Hm, você nunca me conta dos seus sonhos.
- Geralmente são babacas, mas ontem... Fiquei me sentindo estranho, porque, se isso acontecesse com você, aquela seria uma reação que eu nunca teria. Não entendi o motivo do sonho.
- Você tá me assustando.
- Desculpa! – mais um selinho – Eu sonhei que você voltava pro Brasil.
- Hã? – é, mas um “hã” digno de cara de psicopata – Como assim?
- Na verdade, você não voltava. Você recebia uma proposta pra voltar, e quando vinha contar pra mim eu te proibia de ir e... – ele fez careta – Me deixar. Tá, eu sei, foi bem egoísta e eu nunca faria isso.
- ...
- Nunca tinha sonhado nada do tipo, e fiquei mais chateado com a minha reação do que com o sonho em si.
- Por quê? Você me deixaria ir embora? – falei, sentindo um leve aperto no coração, como se nesse momento eu estivesse contando pra ele sobre a proposta da Miriam.
- Se isso fosse pra te fazer feliz e você crescer profissionalmente, não vejo motivos pra te prender aqui – passou a mão em meu rosto, me segurei pra não abrir a boca nesse momento – Não há nada que me deixaria mais frustrado do que saber que você perdeu uma oportunidade de crescer por minha causa.
- Você não abriria mão de nada, por mim? – perguntei baixo, mesmo já tendo alucinações de como ele responderia.
- Essa é a vida que eu tenho, , é quem eu sou. Você já faz parte dela, querendo ou não. Não tem como eu crescer mais, entende? Claro, vou continuar com a música, viajando e conhecendo nossos países, mas é isso – ele sorriu – Você, não! Sua vida não se limita a Londres e nem a um curso que vai acabar daqui uns meses, ainda existe muita coisa a ser conquistada. Eu quero estar com você, mas se não der, o que vamos fazer?
- Vamos ficar juntos, é isso o que vamos fazer.
- E eu volto a perguntar – ele suspirou fundo – E se não der?

É isso, eu vou falar agora. Vou falar da proposta da Miriam e de como eu não quero voltar pro Brasil, e dane-se, não pode simplesmente comprar uma passagem pra mim e me obrigar a ir, ou pode? Soltei minhas mãos de sua nuca e me afastei um pouco, coçando o queixo e o encarando. É como se ele soubesse de alguma coisa e não quisesse me contar, estivesse me testando e esperando que eu falasse. Será que ele viu a carta? IMPOSSÍVEL, ela está grudada comigo o tempo todo, eu não mostrei pra ninguém, nem pra . E essa história agora de “E se não der?”; ele vai terminar comigo. É claro que vai, ele terminaria comigo por uma oportunidade estúpida que pode aparecer de novo pra mim daqui um tempo. Não, isso eu me nego a aceitar. Eu não vou perder o curso, nem o que conquistei e, muito menos ele.

- Vai dar! – eu disse ao fim – Porque eu não vou perder tudo o que eu amo por uma oportunidade idiota.
- Hey, calma – ele veio até mim. Merda, eu estava chorando? – , foi um sonho! E, ah, esquece isso o que eu falei, tudo bem? – o senti me abraçar – Você tá bem?
- Aham – funguei – Eu só não gosto de pensar na possibilidade de te perder.
- Mas você não vai – me olhou sorrindo – Cara, esse é um dos momentos onde eu não consigo ler seus olhos. Odeio isso.
- Como assim?
- Eu ainda não consigo te ler – havia um lamento em sua voz – Como se metade sua ainda fosse uma neblina pra mim.
- Hã? – minha respiração aumentou um pouco – Você não me acha sincera? Não vê verdade nos meus olhos?
- Eu te vejo, mas não por inteira – ele segurava meu rosto com suas duas mãos e parecia querer capturar cada movimento do meu olhar – Você é um enigma que me fascina, mas tenho medo de você ocultar de novo algo de mim, .
- Não confia em mim?
- Você confia em mim?
- É claro que sim!
- E se... – ele lambeu os lábios – Se algum dia você recebesse uma proposta assim, você iria me contar, certo?
- Do que você tá falando? Não foi apenas um sonho? – segurei em seus braços. Por favor, me diz que foi só um sonho.

Ele demorou a me responder. Abaixou a cabeça e fez “não” umas duas vezes, voltando a me encarar com uma tristeza no olhar.

- Foi só um sonho – e me beijou na testa.

Ele sabia.

- , minha flor, podemos continuar com a maquiagem? – uma das meninas da produção apareceu, dando uma olhada de cima a baixo para mim e para – Eu atrapalhei alguma coisa?
- Não, de maneira alguma – respondi, escorregando minha mão pelo braço de e apertando sua mão – Tá tudo bem, não está?
- Sempre esteve – ele me respondeu, beijando minha mão e sorrindo de forma preocupada – Estou te esperando no estúdio.
- Ok – suspirei e o vi ir embora.
- Nossa, que climããããããão! – a loira de cabelos curtos e espetados riu e me empurrou para dentro do camarim – Credo, se eu soubesse que vocês estavam brigando...
- Nós não estávamos brigando.
- ... Eu teria aparecido depois. Mas pode deixar que eu não vou comentar absolutamente nada com ninguém, nem posso falar nada...
- Escuta – me virei pra essa tagarela idiota – Você vai terminar de me maquiar ou não? Na verdade, eu já estou pronta, só preciso de uma roupa. Seu trabalho envolve ficar fazendo especulações da vida alheia, também?

Queria vomitar. Me sentia enjoada, indisposta... Cadê o banheiro?

- Me desculpe, eu só queria conversar.
- Se quisesse conversar, você deveria ter perguntado como eu estou, e não começado a falar igual uma arara – suspirei – Cadê as roupas?
- Estão ali - apontando para os cabides – Qual seu número? Trinta e oito?
- Quarenta – respondi, sentindo a garganta fechar. A tal loira deu uma boa olhada em minha cintura e depois revirou os olhos.
- Vou ter que dar uma olhada em outras roupas, trouxemos apenas manequim trinta e oito pra baixo, são os que estamos habituados a usar – ela mordeu os lábios e continuava a encarar minha barriga, cintura, quadris – Volto logo.

Ótimo, excelente, era tudo o que precisava no momento. Fui até a porta e a tranquei, quase fazendo aquela cena de ‘escorregando na parede e chorando’, só que em vez de ser uma parede, seria uma porta. Dei dois socos nela, com vontade de socar a mim mesma ou socar meu estômago e barriga por ainda serem tão gigantes para não caberem em uma porra de manequim trinta e oito. Eu fui em toda consulta com a nutricionista, segui certo a dieta que ela me passou, mas não foi bom o bastante; ainda estou acima do peso, ainda não estou boa nem para entrar em uma merda de roupa.

Segurando a vontade de gritar, fiz o que estava ao meu alcance. Tirei o roupão, ficando apenas de calcinha e sutiã no camarim. Fui até o espelho das maquiagens e procurei por demaquilantes, precisava tirar essa máscara de mim, essa camada grossa de pó, base e rímel e tudo o que escondia quem eu realmente era. Quando achei, molhei em um pedaço de algodão e comecei a esfregar com violência em minhas bochechas e olhos, estes ao fim ficando um pouco mais vermelhos do que deviam. Podia ser pelas lágrimas, ou pelo líquido que acabou entrando dentro deles sem querer. Esfreguei meus lábios, tirando o gosto amargo que estava começando a aparecer... Eu não ia fazer isso, não ia vomitar, não ia me sujeitar a essa humilhação pessoal DE NOVO! Lembra do hospital, , lembra o hospital.

Diga! Quem você é, me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida

Tira!
A máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro, jeito de ser

Passei uma leve camada de base e pó, apenas para esconder as olheiras e marcas de espinhas. Ficou uniforme e quase não dava pra perceber que eu estava com maquiagem. Ouvi claramente batidas na porta, talvez a maldita loira estivesse ali com roupas “manequim quarenta”. Pensei em abrir a porta e mandar ela à merda, mas iria fazer melhor... Eu ia mostrar pra ela que uma garota manequim quarenta foi feita para roupas trinta e oito. Ia demorar e me dar um pouco de trabalho, mas valeria a pena.

Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem permanecer, consciente e inconsequente
Sem se preocupar em ser
Adulto ou criança

O importante é ser VOCÊ!

Um bom lápis escuro marcando meus olhos, uma boa dose de rímel nos cílios superiores e inferiores. Blush apenas para dar um tom de viva e não ficar tão pálida, e um gloss rosa claro para molhar os lábios. O rosto estava pronto, agora só faltava a roupa, minha própria identificação.

- , abre essa porta!
- O QUE VOCÊ ACHA QUE TÁ FAZENDO AÍ DENTRO, SUA MALUCA?
- Você está encrencada, mocinha, muito encrencada.
- CANCELA ESSE PHOTOSHOOT, CANCELA!

Ah, mas vocês não vão cancelar. Nem por um decreto, nem se a Rainha aparecer aqui agora mandando cancelar, isso não vai acontecer. Eu estou a mais de uma hora sendo julgada por essas parasitas, desde que tom de roupa fica bom pra mim, maquiagem e ‘eu acho que seu braço podia ser um pouco mais fino’. Vai todo mundo tomar no rabo e me deixem! E, além disso, essa menina olhou de forma bem interesseira para , e na minha frente. Isso eu não vou deixar barato!

Mesmo que seja, estranho
Seja você!
Mesmo que seja bizarro, bizarro, bizarro

Mesmo que seja, estranho
Seja você!
Mesmo que seja... Uh!

Cortei a cintura alta de uma das calças, porque com aquela cintura daquele tamanho eu NUNCA ia mesmo entrar! Desfiei com a ajuda de duas tesouras, cada um com um corte diferente. Rasguei um pouco nas coxas dando uma abertura maior, sabia que assim minhas pernas iriam entrar ali; fiz o mesmo com a barra e com mais três calças, cada uma de um jeito, estilo e cor. Com as blusinhas e camisetas não foi tão diferente. Cortar, dobrar, prender com alfinetes... Obrigada Sam e Lucas pelas horas vendo Project Runaway! Procurei por sapatos e achei todos de salto alto, mas não era aquilo o que eu queria. Finalmente vi dois pares de tênis, um Vans e uma bota cano alto de couro preta. Absolutamente LINDA, e era aquilo o que eu ia vestir.

Coloquei a calça jeans que ficou um dedo abaixo do meu umbigo, prendi as laterais com alfinetes prateados, a camiseta de caveira segurando uma Polaroid deu todo o ar rock que eu estava procurando. A bota de couro pareceu deixar o look pesado demais, porém não me importei. Escovei os cabelos, passei uma chapinha rápida, deixando-os lisos, mas um pouco armados e rebeldes e, finalmente, abri a porta.

Kirsty estava ali, bem como três possíveis assistentes que deveria estar tomando conta de mim. Assim que me viu, Kirsty abriu um sorriso que mais parecia assustador do que de orgulho, mas depois começou a rir e bater palmas de forma discreta. As outras três entortaram o nariz e uma delas quase se jogou no chão quando viu o que eu tinha feito com as tais ‘roupas de marca’. Não fazia ideia de como seria o photoshoot, mas eles iam me fotografar assim, querendo ou não! Porque eu não ia colocar uma roupa fofa e fingir ser algo que não sou.

- Você fez isso com uma DIESEL?
- Que blusa é essa? Ai meu Deus, é a Channel.
- É doida? Retardada? Idiota?
- Achei fantástico – Kirsty disse, ao final – Deu um toque de rock. Único! Vejo meninas querendo imitar esse estilo, perguntando como ela fez isso, destruindo suas próprias roupas.
- E você acha isso LEGAL?
- Original é a palavra certa... – ela sorriu – , querida, está pronta?
- Sim – sorri igual uma babaca, passando pelas magrelas que não cuidaram de mim e indo com Kirsty até o tal estúdio onde estava me esperando.

A cada passo eu me sentia mais confiante e mais nervosa. Eu não sei nem por que tomei essa decisão, por que acabei fazendo isso. Parece que deu um estalo em minha mente depois do que conversei com e depois daquela magrela olhar pra mim como se eu fosse gorda demais pra entrar em qualquer roupa de grife. Tinhas duas certezas: que eu nunca mais me sentiria tão humilhada a respeito do meu peso em minha vida, não iria me sujeitar a qualquer outra loucura apenas para parecer mais bonita aos padrões de alguém, ou uma revista, ou uma estúpida sociedade. Não estou acima do peso, e mesmo se estivesse, qual o problema nisso? Mesmo assim, conquistei a pessoa mais incrível desse mundo, e é por ele que eu também estou fazendo isso. Precisava contar para sobre a carta, sobre a proposta... Se eu me escondi dele uma vez, eu não faria isso novamente. Assim como não estou me escondendo atrás de uma máscara ou roupas largas... Serei sincera, totalmente sincera. E isso já começou.

Assim que entramos ao estúdio, estava num canto conversando com duas das fotógrafas que iriam participar do ensaio de hoje. Uma delas, muito bonita, devo acrescentar, estava dando risada, e era o tipo de pessoa que a cada riso passava a mão no rosto, braço ou peitoral dele. Fiz careta quando eu vi isso, mas essa logo sumiu quando meu olhar encontrou com o dele – porque, pra mim, agora só existia no estúdio. Literalmente ficou de queixo caído e começou a rir como um idiota, parecendo eu aquele dia no carro, voltando do Ritz. Quem estava perto me olhou, julgando cada pedaço da minha roupa, mas não estava fazendo isso, ele gostou do que viu, e isso, pra mim, era mais do que suficiente.

- Uau! – ele sorria, chegando até mim e colocando as mãos em minha cintura – Então os boatos estavam certos. A namorada do deu uma de doida e fez a sua própria roupa.
- Bom, a “namorada do ” estava meio cansada de ser julgada por vestir um manequim dois números a mais do que elas estão acostumadas – eu ri – Decidi fazer umas pequenas mudanças nas roupas, mas eu juro que elas continuam de marca e blábláblá.
- Você está incrível, – ele riu – Eu estava te imaginando de outra forma, mas essa roupa é bem mais a sua cara – ele puxou a camiseta que eu usava – Essa caveira com uma polaroid, genial!
- Obrigada – dei um selinho nele – E então, vamos começar?

De repente, eu parecia animada.

Apesar dos olhares estranhos para mim, aos poucos as meninas foram se acostumando ao meu visual, na verdade, elas tiveram que fazer isso. E com o passar do tempo, as fotos foram ficando mais naturais e mais animadas.

Na primeira parte da sessão, nós não posamos exatamente com um casal, fizemos poses de formas separadas. pousou uma grande maioria das fotos com um microfone em mãos e eu com uma câmera na outra, fingindo que tirava fotos. Colocaram um ventilador na nossa frente, então eu achei uma graça o tanto que o se mexia de um lado pro outro, abrindo e fechando a camisa social que usava e todo sorriso. Fazia muito tempo que eu não o via em um photoshoot, então comecei a achar muito engraçado. Eu brincava jogando meu cabelo de um lado pro outro e mudando de pose a cada clique, não precisamos de muito guia para as poses, tudo estava saindo de uma forma harmoniosa e casual. Uma parte minha estava louca de vontade de pegar aquela câmera e fotografar um pouco, depois de um tempo é meio chato ficar sorrindo e fazendo poses, por mais que seja com seu namorado. Eu queria a câmera... E minha boca grande acabou pedindo.

- Por favor? – perguntei para Ethan, o fotógrafo bonzinho – Só uns shoots?
- Algum problema, ? – ele perguntou, óbvio que ele não se importou.
- Faz um tempo que ela não me fotografa, mas só se eu puder fazer o mesmo depois.
- Quê? Você vai querer me fotografar?
- E por que não?
- Ok... – eu ri.
- Câmeras para o casal, por favor! – Ethan me chamou e deu a profissional que ele estava usando.

COISA MAIS LINDA!

- Vai, , se concentra – falei, pegando a câmera e indo até ele para os primeiros shoots – Faça o que eu mando.
- Não tem muita diferença entre você fotógrafa e namorada, continua mandando em mim do mesmo jeito – ele me mostrou a língua, e eu bati uma foto, rindo.
- Tá lindo – gargalhei.

Ele fazia todas as poses mais toscas possíveis, e o pessoal no estúdio se divertia com nós dois. Fui bem pra perto dele e tirei algumas bem perto do seu rosto, depois me afastei e comecei a bater algumas de corpo inteiro. Ele fazia piadas e começava a rir, deixando a sessão de fotos muito mais fofa do que já estava; a cada flash era uma gargalhada por alguma coisa estúpida que ele tinha falado e eu, com certeza, concordado. Algumas meninas da produção foram até ele para arrumar cabelo e dar uma geral na maquiagem, e eu via as caretas que ele fazia cada vez que elas iam com o pincel pra passar pó em seu rosto. Enquanto isso acontecia, eu ia até os computadores ao fundo ver como as fotos estavam ficando... Gostei muito do resultado, tanto das que foram batidas anteriormente como as que estavam sendo tiradas por mim. Quando as meninas avisaram que ele estava pronto, lá vou eu novamente para o meu trabalho.

Me ajoelhei na sua frente, enquanto ele brincava com o microfone e fingia estar cantando. Sorriu pra mim quando eu avisei que essa foto merecia destaque por ter ficado tão linda e espontânea. Então, o pessoal da produção pediu para que eu fosse até ele e batesse algumas fotos de nós dois juntos; concordei de imediato. Lembro-me da primeira vez que nós tiramos uma foto assim, no fundo de sua casa. Eu ainda nem tinha sido apresentada como “a garota especial” e nem éramos namorados nem nada. Só achava ele uma gracinha...

- Vem aqui – ele abriu um dos braços na minha direção – Quero deixar essa noite como uma memória boa.
- Vai bater uma foto nossa? – perguntei, fazendo careta – Ai, Deus!
- Prometo não publicar, mas você vai ter que revelar e dar uma cópia pra mim depois.
- Tem a minha palavra – respondi – Vai, vamos logo.

Me aninhei meio sem jeito ao corpo de sentindo seu braço me aconchegar mais ainda. Encostei minha cabeça no seu ombro e coloquei a língua pra fora, enquanto ele encostava a cabeça na minha e eu presumi que sorria. Ele bateu a foto e logo em seguida virou a câmera pra ver como tinha ficado; como era de se esperar, ele ficou lindo, e eu, mega esquisita.

- Não sabe tirar foto igual pessoa normal, não? – ele perguntou, rindo, desligando a câmera e a colocando em cima de uma mesinha de centro.
- Não gosto de fotos! – falei de novo, arrancando mais uma risada dele – Mas essa ficou mais ou menos espontânea.
- Gostei – ele disse.
- Cara, é só você sorrir que você já fica lindo! Não te irrita isso, não? – falei, um pouco na demência. Realmente, é só ele sorrir e já fica gato, se eu começo a sorrir, pareço o Chandler de Friends.
- Você, quando sorri, fica linda – ele me disse, passando as mãos nos cabelos.

- Promete que dessa vez vai tirar uma foto como uma pessoa normal? – ele cochichou ao meu ouvido, lembrando com certeza desse mesmo dia – Ainda tenho aquela foto que tiramos em casa.
- E onde você a carrega?
- Na carteira – ele riu, me abraçando – É a nossa primeira juntos...
- Sei disso, me lembrei na mesma hora em que eles pediram pra eu bater algumas fotos nossas.
- Lembra a foto na Polaroid? – ele se virou de frente pra mim, me abraçando pela cintura e pegando a câmera de minhas mãos – É a minha favorita.
- Tem uma razão pra ela ser sua favorita... Foi na nossa primeira noite.
- Aham – ele me deu um selinho e bateu uma foto. Ouvi um coro ao fundo de gemidos fofos e senti meu rosto ficar vermelho – Mais uma?

- Obrigado – juntou mais seu corpo ao meu e posicionou a Polaroid na nossa frente, como quem vai bater uma foto. Ele ia bater uma foto – Posso?
- Promete que essa foto vai ficar apenas entre nós?
- Prometo – ele beijou meu rosto e eu devo ter feito uma cara de boba apaixonada, aninhada aos braços do meu namorado – E agora? Que faço?
- Espera, – eu ri, pegando a câmera da mão dele e vendo a foto sair de maneira instantânea. Peguei, mexi, sentindo um cheirinho conhecido de álcool que a câmera soltava, e vi a foto sair do negativo e criar cores bem na minha frente, era praticamente mágica – Agora, sim, tá pronta – olhei a foto e fiz careta, como sempre, eu me acha detestável.
- Linda. Na verdade, lindos, porque somos um casal perfeito – ele riu, pegando a foto de minhas mãos – Gostei.
- Você sempre gosta das fotos, eu sempre as odeio...

- Vamos ficar marcados pra sempre como o casal do ano, tipo Zac Efron e Vanessa... Não lembro o sobrenome dela – ele fez careta e começou a rir.
- Acho fofo – peguei a câmera e dei uma olhada na foto – Você me ofusca!
- Eita, dramática – ele me deu um beijo no rosto e, clic, mais uma foto.
- Tá bom já de fotos assim, não acha?
- Acho – ele se afastou e olhou para a produção – Então, agora, como eu uso isso aqui pra tirar as fotos dela?
- Primeiro, ela precisa de uns retoques – as mocinhas da maquiagem já vinham na minha direção com os estojinhos – Hm, que acha de mudar o figurino?
- Vou ter que mudar o figurino? – poxa, eu gostava dessa roupa – Posso ter algumas fotos solo com essa roupa?
- Claro, pode, sim... – elas me responderam, batendo os pincéis no meu rosto e retocando blush, pó e outras coisinhas – , ela está pronta.
- Ok... – eu o vi segurando a câmera e olhando pra mim – Eu olho pra você ou pra cá?
- É como uma câmera antiga, babe. Você foca em mim, me centraliza nesse quadradinho e depois bate a foto, a diferença é que ela já vai sair digitalmente, entendeu?
- Hm... – ele olhou, me olhou e outro clic, tirou uma foto – Acho que entendi.
- Beleza – eu ri – Posso fazer poses estranhas agora?
- Vai nessa, gata! Dê o seu melhor – ele se ajoelhou no chão e começou a imitar um fotógrafo profissional, me fazendo rir, assim como todos que estavam lá.
- , sabe de uma coisa?
- O quê? – perguntei posando mostrando a língua.
- Não tenho dúvidas que você continua aquela garota especial que conheci em frente ao London Eye – ele sorriu.
- Por quê?
- Porque essa carinha que eu estou vendo aqui nas fotos é a mesma daquela menina que eu tenho em meu celular, com cara de deslumbrada e levemente brava comigo por eu ter tirado uma foto surpresa na van.
- Então eu continuo a mesma pra você? – mordi os lábios. Sério que ele ainda tinha aquela foto?
- Sempre vai ser.

- Vamos imaginar que todo mundo vai adorar você?
- Ok – suspirei – E caso isso não aconteça...?
- Eu vou estar aqui com você – disse, beijando meu rosto e me abraçando.

Dei uma olhada na foto em seu celular recém-publicada no twitter:

‘A garota especial’

Essa era a lembrança mais clara que eu tinha desde que conheci . Desde que ele publicou aquela foto dizendo que eu era a tal garota especial da vida dele, e quando tudo em minha vida mudou. Na verdade, muita coisa havia mudado desses primeiros meses pra cá... E agora, parecia que o universo queria, de novo, me dar um novo rumo. Suspirei e sentei-me no chão, vendo ainda bater minhas fotos com um sorriso brincalhão no rosto.

Eu não ia conseguir dizer adeus a tudo isso. Nem em um milhão de anos.



Capítulo 36

- Você tá GATAAA!!!! – dizia pela quinta vez enquanto caminhávamos na direção de uma feira ao ar livre que acontecia todo final de semana nas ruas de Londres.
- São essas as fotos que vão estar na revista? – pegou meu celular e também começou a vê-las – Porra, estão de parabéns!
- Não sei se vão ser exatamente essas, mas acho que... Ah, sei lá! – eu ri, pegando meu celular de volta e o colocando no bolso – Gostaram?
- Por mim, a revista seria apenas sobre você, não aguento mais ver fotos do em tudo o que é lugar – riu e recebeu um peteleco na orelha do meu namorado, nos fazendo rir – To falando a verdade! Te vejo todo santo dia, trabalho com você, ainda tenho que te aturar pagando de galã em revista?
- Supera isso, respondeu, me abraçando pelos ombros e beijando meus cabelos.
- Supera isso... – ele repetiu pra si mesmo e nós rimos – Cadê o resto da gangue?
- Não vão vir – suspirou – A tá bem gripada, não gosta das feiras e deve tá dormindo, uma hora dessas – ele olhou em seu relógio – Certeza que ele está dormindo.
- e precisam de namoradas – eu falei, e os três garotos olharam pra mim, surpresos - Falei alguma merda?
- O ainda gosta de você e temos uma leve certeza que o é gay – respondeu como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
- Eu devo ficar tranquila com o ainda gostando de mim ou com sendo gay?
- não ééééé gay, é só um jeito de brincarmos, porque ele nunca arranja namorada, é muito exigente – deu de ombros – Chega a ser chato.
- Reclama demais? – perguntei.
- Aham, o tempo todo.
- E o ? Pensei que ele tivesse superado essa fase...
- Superou – disse – É que ele de vez em quando tem recaída, mas nada grave.
- Tem tanta fã gata, não entendo o motivo da solteirice.
- não quer fã nossa – riu – Sei lá se ele quer de verdade uma namorada.
- Socorro!

Os meninos não costumavam ir à feira com tanta frequência, mas eles tinham uma leve ideia que aqui não teria tantas fãs. Porém, Paul estava o tempo todo nos vigiando e apontando quando algum fotógrafo ou fã aparecia. Eles pararam algumas vezes para tirar fotos, dar autógrafos e conversarem com fãs, mas como era previsto, aqui não tinha tanta gente. As feiras eram mais alternativas e tinha de tudo, desde comida até roupa, sapatos e discos antigos. e ficaram um bom tempo em uma tenda indiana vendo as roupas e sapatos, achando o máximo se eles pudessem usar aquelas coisas na turnê, mas claro que ninguém ia deixar. Honestamente falando, nem eu ia deixar. Como os dois ficaram um bom tempo perdidos por ali, e eu saímos para uma outra tenda, onde tinha um bom cheiro de café moído na hora. Com esse frio, era tudo o que eu estava precisando no momento.

- E então, como andam as coisas entre você e a Lorelai? – perguntei com um sorriso brincalhão no rosto – Eu sei que tem alguma coisinha de novo entre vocês, mas como faz um bom tempo que não converso com ela, não posso concretizar nada.
- Eita, porra! – ele riu e bebericou o café – Tá indo, .
- Indo pra onde, ? – nos sentamos em um banco atrás da tenda – Tá enrolando a menina?
- Claro que não, , eu adoro ela – ele sorriu de leve – Mas é que, sei lá. Nós não tínhamos um relacionamento igual a e o , o nosso era mais na base da diversão. Não sinto que devo alguma coisa pra Lary, entendeu?
- Entendi... Mas e ela?
- Ela entende meu ponto de vista e respeita. Lary é mais velha, mais madura e agora não to com tempo pra ter namorada.
- Sem tempo? – eu ri – Dois dos integrantes da banda tem namorada, qual o problema em você se comprometer também?
- Você está querendo ver todo mundo namorando, é isso mesmo?
- Acho bonitinho vocês dois juntos, só isso.
- Mesmo depois daquele esporro que você deu nela na frente da casa do ? Você ainda acha nós dois bonitinhos? – ele deu uma risada de moleque e eu comecei a gargalhar.
- Águas passadas, , águas passadas. Assim como eu tenho certeza absoluta de que você consegue se dar bem com o apesar de tudo – sorri.
- Não foi fácil, e você sabe disso – ele me encarou – Eu amo o , eu não amo a Lorelai.
- Essa doeu até em mim – fiz careta, ele sorriu, um pouco mais contido – Pensei que vocês dois fossem algo mais...
- , as únicas pessoas apaixonadas na banda são o e o . O que o fez foi uma coisa idiota de uma noite, mas ele ama a mais do que qualquer coisa, e se ele pudesse apagar aquilo, ele apagaria. O que eu senti foi traição por parte dele, e não da Lary, eu não a amo. De verdade.
- Me desculpa tocar nesse assunto de novo, . Minha intenção foi só ajudar, desculpa.
- Fica tranquila – ele me abraçou, beijando minha testa – Você pode perguntar o que quiser, não me importo.
- Tá bom – sorri – A sessão pode continuar?
- Que sessão?
- De perguntas – eu ri – Pode?
- Que mais você quer saber?
- Você já se apaixonou, ?
- Bom... – ele molhou os lábios com café e depois passou a língua por eles, desviou seu olhar do meu e olhou um casal de crianças na nossa frente – Amei duas vezes, quando era bem pequeno. Nas duas eu me fodi, porque as meninas me trataram como lixo.
- Quando era pequeno?
- Eu não era tão pequeno, mas não tinha muita noção das coisas. Só sei que foi complicado, eu tava começando a me apaixonar, e as duas foram e acabaram com tudo.
- Diria que é bonitinho ver você falando isso, mas pelo visto te causou alguns traumas pessoais – eu ri e ele me olhou engraçado.
- Como assim, traumas?
- Não é porque duas garotas “crianças” não te amaram que você não pode permitir se amar de novo. Você canta músicas de amor e não ama? Não combina.
- Não é que eu não quero amar, , é claro que quero!
- Então se permita – eu sorri e o beijei no rosto – Posso ter tido meus motivos pra brigar com a Lorelai, e, acredite, eu tive! Mas ela é uma garota incrível, e você paga pau pra ela descaradamente desde a primeira vez que a viu.
- ...
- Vai, , amolece esse seu coração – nós dois rimos – Você é lindo e uma pessoa adorável. Não menti quando eu disse que namoraria você, se o me deixasse, acredite em mim – ele me olhou sorrindo e deu aquela piscadinha básica – Mas enfim... Quero dizer tenho certeza que será um namorado maravilhoso, e a Lary é a garota ideal pra sentir isso.
- Você acha mesmo?
- Tenho quase certeza – sorri.

e eu ficamos em um silêncio gostoso por um tempo, acho que ele ficou pensando nas coisas que eu falei, e eu estava tentando entender de onde eu agora entendia de relacionamentos e podia sair por aí dando conselhos para as pessoas. Era estranho pensar que parte de mim queria os meninos bem encaminhados, como se eu fosse uma mãe que estivesse indo embora e queria ver meus filhos em ordem. Coloquei a mão dentro da minha jaqueta e senti a carta ali. Eu, na verdade, a levava para todos os lados com medo de que, se eu deixasse em casa, a ou um dos meninos pudesse ver. E mesmo com todos esses cuidados, ainda tenho a impressão que sabia da existência dela.

Metade minha queria ir embora, a outra metade me batia e falava que isso era loucura e eu não podia jogar tudo pro lado. Eu precisava de ajuda, e que não fosse por parte do , ou minha mãe... Todos eles iam falar pra eu voltar pro Brasil e “ser feliz”, como se eu não estivesse sendo feliz aqui na Inglaterra. Talvez se, eu contasse para outra pessoa, essa tal pessoa poderia me ajudar. ? Ele era uma opção, certo?

- ...?
- Fala.
- Se eu te contar um segredo, você jura que não vai abrir a boca por nada nesse mundo?
- O sabe desse segredo ou é o tipo de coisa que você não pode contar pro namorado?
- Ele não sabe, e agora eu não quero que ele saiba.
- Você o traiu? – arregalou os olhos – Brigou com fã?
- Cala a boca, caralho! Me deixa falar primeiro – dei um tapa nos seus ombros – Primeiro, me promete que não vai contar nada.
- Vou me arrepender disso depois, mas... Tá, prometo.
- Obrigada – suspirei. Fechando os olhos, tirei a carta do bolso e entreguei em suas mãos – Só abre.
- Que é isso? – ele pegou, desdobrando três vezes o pedaço de papel – Não está em inglês.
- Está em português, minha mãe me enviou – suspirei.
- Sua família tá bem? – ele parecia preocupado.
- Aham, não tem nada com eles – cocei a nuca – Essa é uma carta proposta.
- Carta... Proposta? – ele me olhou, desconfiado – De quem?
- De uma fotógrafa brasileira – suspirei – Me convidando a ir trabalhar com ela.

Eu parei de respirar e senti fazer o mesmo. Ele olhava pra mim e depois para o pedaço de papel em suas mãos; vi a carta tremer e seus olhos tomarem um tom rosa. Ele desviou o olhar dos meus e respirou fundo, voltando a me encarar segundos depois.

- Você aceitou? – sua voz soava embargada – Já deu sua resposta?
- Ainda não – eu estava do mesmo jeito – , se você começar a chorar, eu vou começar a chorar! Eu pensei que você fosse o durão da banda, se controla!
- Eu não estou chorando – me respondeu entre os dentes – Só emocionado com sua conquista.
- Vem aqui – abri meus braços – Por favor.
- Que porra, ! – ele me abraçou, colocando a cabeça acima da minha e me apertando em seus braços, beijando o topo de minha cabeça – Cara, eu não quero que você vá embora, mas não posso dizer isso pra você.
- Acabou de falar, – eu sorri.
- Ignora e esquece – nos soltamos do abraço – Quando você vai contar isso aos outros? Especialmente ao .
- Nunca – eu ri – Não quero voltar pro Brasil, ! Que sentido teria em tudo isso? Meu contrato diz quinhentos dias, e até agora eu ainda não vivi quinhentos dias aqui.
- Você tem um contrato que diz quantos dias você vai ficar aqui?
- É a bolsa, né? – dei de ombros – Se eu voltar, eu perco a bolsa e não tem como eu retomar os estudos de onde eu parei.
- Então por que essa moça pediu pra trabalhar com você?
- Ela pediu pra eu trabalhar com ela, – o corrigi, rindo – Na verdade, eu seria sua estagiária e terminaria o curso por lá, em uma das escolas de fotografia brasileira. O currículo não é o mesmo da escola aqui, mas eu não perderia o que já aprendi, entendeu?
- Pra mim, não faz o menor sentido você voltar.
- Exato! Nem pra mim – parecia aliviada – Eu posso muito bem terminar meus estudos aqui e depois voltar e trabalhar com ela.
- Também não gosto dessa opção, porque ao final dela você acaba voltando pro Brasil de qualquer jeito.
- Não tenho condições de me sustentar sozinha, . A bolsa me ajuda com as acomodações, comida e transporte; o que ganho nos trabalhos aleatórios paga poucas coisas, é impossível eu me virar sozinha aqui. Preciso voltar pro Brasil, me estruturar e depois voltar.
- Casa com o – ele riu – Tá, estamos em um assunto sério.
- Sim, estamos – suspirei – Eu não sei o que fazer, , não sei! De qualquer jeito, minha história termina voltando pro Brasil, eu só queria adiar isso mais um pouco.
- E por que você não faz isso?
- Porque essa carta não é apenas uma proposta de emprego e dinheiro garantido pra mim – apontei para o papel ainda em posse dele – É minha família contando comigo e uma chance única. Trabalhar com a Miriam é uma em um milhão, sabe-se Deus se vou conseguir algo pra mim nesse nível quando eu voltar.

me encarou sem saber realmente o que poderia falar. Bem lá no fundo, eu nunca esperava estar tendo essa conversa com ele, e muito menos estar passando por essa situação. Estava feliz porque ele havia sido sincero, disse com todas as letras que não queria que eu fosse embora, coisa que não faria. ia usar a razão, ia falar que eu precisava ir embora porque era meu futuro e toda essa parnafenalha... E eu não queria ouvir isso no momento.

- Aí estão vocês! – apareceu, todo sorridente, segurando duas sacolas – Pensei que tinham ido embora.
- Vocês demoraram demais e tá muito frio – sorri – Que comprou?
- Umas blusas estranhas, e o ficou tentando pechinchar um chapéu.
- Pechinchar? – eu e falamos juntos, apareceu ao fundo com mais sacolas que .
- Esse lugar é INCRÍVEL! – ele riu – A última vez que eu vim aqui foi antes do XFactor, tinha me esquecido o quão legal é comprar as coisas nessa feira.
- Você pechinchou, ou eu ouvi errado? – falei, rindo – O cara que tem foto comprando roupa na loja Armani tá pedindo esmola numa feira?
- Faz parte da arte de vir aqui, paixão – ele veio até mim e me deu um selinho – Então, do que conversavam?
- Da tour, o novo CD, essas coisas – deu de ombros – E de como a quer me ver namorando a Lorelai.
- Ah, que bonitinho – riu, sentando no meu colo. Ele não era exatamente leve, diga-se de passagem – E vocês vão voltar?
- Ainda não sei, se depender dos conselhos da sua namorada, já estou de casamento marcado.
- Não é beeem assim – eu ri, colocando minhas mãos ao redor da cintura de e encostando minha cabeça em suas costas – Só acho que vocês dois fariam um par perfeito e fofo.
- não vai gostar nada, nada se vocês dois voltarem – deu de ombros – Ela não gostava dela antes, não gosta dela agora e não vai gostar da Lary nunca.
- Me arriscaria a dizer que ela não tem motivos, mas em vista dos últimos acontecimentos, ela tem, sim – eu sorri, e fez careta – Mas ela aos poucos vai aceitar, pelo menos eu espero que você não faça nenhuma besteira, certo, ?
- Certo! – ele bateu continência – E então, vamos continuar o passeio? Ainda tem muita barraca pra visitar e muita comida estranha pra experimentar.
- Posso perguntar por que vocês estão fazendo isso? Quase um ano morando aqui e nós nunca viemos a nenhuma feira! – dei dois tapinhas na perna de , fazendo ele se levantar.
- Vamos passar um tempo fora em Nova Iorque – disse, ajudando os meninos com as sacolas – E depois vem Natal, Ano Novo, nova tour... Não vamos ter tempo pra fazer essas coisas bobas, hoje é como se fosse nosso último dia do ano.
- Ai que horror, !
- Mas é verdade, babe – me abraçou – Acho que cada um vai pra um canto depois de Nova Iorque, não sei se vai dar pra passar o natal junto e nem o ano novo, então agora é o tempo que nos resta, sabe?
- Entendi... – suspirei – Então essa pode ser a última vez que vamos sair juntos?
- Mais ou menos, sim – sorriu – Mas não pense que vai se ver livre de nós com tanta facilidade, ! Ainda temos nossos celulares.
- Há, eu sabia – eu ri, e nós voltamos a caminhar pela feira.
me encarou e deu uma piscada de leve, apontando para seu bolso... Vi que a carta estava ali. estava abraçado comigo, mas conversando com , veio rápido ao meu lado e cochichou no meu ouvido:

“Você não vai se ver livre de nós tão cedo”


Na feira, você pode encontrar absolutamente de tudo! Desde barracas com discos antigos de vinil até uma super câmera fotográficas, daquelas bem antigas. Tive que pedir para os meninos pararem naquela barraca comigo, tinha de todos os tamanhos e jeitos! Era como estar em um micro museu de câmeras, uma mais linda – e mais cara, devo acrescentar – que a outra. O senhor que estava ali era de aspecto oriental. Ao meu ver, me pareceu simpático, já que foi logo pegando autógrafo dos meninos e querendo uma foto com sua “câmera velha com 36 fotos”, achei o máximo. Era Digital, pra quê?

- E quanto é essa aqui? – apontei para uma LENINGRAD, versão 1955!
- E a mocinha sabe que câmera é essa? – o senhor que achava que era simpático me perguntou. ao meu lado tampou a boca com a mão, mas os outros atrás de mim começaram a rir.
- Meu senhor, essa é uma Leningrad, e se meus olhos não mentem, versão da década de cinquenta – passei por ele e fui até essa linda e perfeita obra de arte - Na década de 50, a URSS estava no auge da tecnologia, liderava a conquista espacial, a corrida ao armamento e outras tecnologias. As máquinas fotográficas traduziram esse momento histórico. Lançada em 1955 e produzida apenas em 60.000 exemplares, a Leningrad era uma máquina para os dirigentes do Partido, oferecida a dignitários de outros regimes, mas praticamente fora do alcance do soviete normal – comecei a falar, vendo os meninos arregalarem os olhos, e o senhor, mais ainda - A grande novidade é o design, já com uma curva no lado direito para encaixar melhor a mão, coisa que começaria a aparecer nas máquinas japonesas 30 anos depois – o encarei com um certo respeito. Não sabia se ele era japonês, mas ele era oriental... - Outra grande novidade técnica é o avanço do filme automático por motor de corda, totalmente integrado na máquina e não exterior como nas Leicas. Dotado duma potente mola, era capaz de avançar o rolo 3 imagens por segundo – suspirei – Devo continuar?
- Onde você aprendeu tudo isso? – ele parecia perplexo.
- Sou estudante de fotografia, senhor. É meio que meu dever conhecer os tipos de câmeras, independente de serem dessa década ou não – sorri e dei de ombros. Ao fundo, e os meninos faziam joinha com as mãos e fingiam bater palmas.
- Hm... Se é estudante, me permite fazer então algumas perguntas sobre minhas outras preciosas?
- Com certeza, mas isso seria um teste? – perguntei, na dúvida – Digamos que o senhor quer saber mesmo se eu conheço essas preciosas?
- Exatamente – ele riu de forma bonitinha e me apontou mais uma ao fundo – O que pode me dizer dessa aqui?
- Deixe-me ver... – fui até ela.

veio ao meu lado junto com e . Os meninos pareciam achar engraçado e perigoso, talvez seja por isso que tenha me abraçado por trás e apertado as mãos ao redor de minha cintura. Ele parecia mais nervoso que eu! Mas, poxa... Essa é minha praia, disso eu não tenho dúvidas, conheço bem o que me colocar na frente.

- Fica calmo, , disso eu entendo – eu sorri.
- Sei disso, mas fico tenso do mesmo jeito – ele beijou meus cabelos.
- Faz quanto tempo que você estuda, ? Não aqui em Londres, mas na sua vida inteira? – perguntou.
- Não sei ao certo, – sorri – Eu não me lembro de não estudar fotografia. Lá em casa, sempre meu pai ou meu avô tinham alguma câmera em mãos e me deixavam brincar, vamos dizer assim.
- Incrível!
- E então, mocinha?
- Ah tá, me desculpe! – suspirei... Ok, que câmera é essa?

É Canon... Só pode ser Canon...

- ? – me chamou – E então?
- É uma Canon?! – cocei a cabeça, ouvindo uma risadinha maldosa atrás de mim do tal oriental que me fez o desafio – Certeza, é uma Canon.
- Qualquer pessoa poderia dizer que é uma Canon.
- Eu não conseguiria! – ouvi responder – Isso nem formato de câmera tem.
- Ai! – o empurrei pelo ombro – Parece uma Bell & Howell, mas eu não tenho certeza...
- BINGO! – ele gritou, e todos nós começamos a rir – Exatamente, pequena! – ele veio até nós e ficou na nossa frente, como um professor dando aula – Uma linda Bell & Howell da década de sessenta.
- Perfeita – eu sorri – Um tanto quanto difícil de ser identificada, mas linda.
- Bell & Howell era o antigo nome Canon nos Estados Unidos, sabia disso?
- De maneira alguma – sorri – Então, tecnicamente o nome dela não é o nome do modelo, e, sim, da marca?
- Aham! – bateu nas minhas costas de leve, me dando parabéns, e sorriam pra mim – Querem saber um pouco da história dessa bonequinha?
- Claro! – eu respondi por mim – Quero dizer, vocês topam?
- Por mim, tudo bem – sorriu, os outros meninos também concordaram.
- Então vamos lá – ele arregaçou as mangas - Não é um telemóvel primitivo, mas sim uma máquina fotográfica de meio formato
- Tá vendo por que eu não reconheci? Ela não parece uma máquina! – apontava para o objeto, nos fazendo rir. Sabia que ele adorava, no final, estar se sentindo certo com seus pensamentos... Ok, .
- Esta Canon Dial 35 tira o seu nome do verbo "to dial" (discar para ligar) e por ser redondo (dial), criando uma brincadeira com as palavras. Aliás, divertimento na concepção desta máquina é algo que parece não ter faltado. O design lembra um disco de telefone e todo o design é Bauhaus (a forma segue a função). A pega em baixo serve para dar corda ao motor, pois o avanço do rolo era mecanizado. Outra particularidade interessante é o facto do rolo desfilar na vertical, caso raro no 35mm. Esta opção teve como objectivo dar um visor na horizontal quando se pega na máquina, já que a maioria das pessoas fotografa na horizontal. Assim sendo, a Canon evitou um dos pontos menos bons das máquinas de meio formato e das Olympus Pen em particular, que era terem o visor na vertical quando se segurava a maquina horizontalmente.

Minha vontade foi de começar a bater palmas para ele. Esse tipo de conversa, conhecimento a mais do que eu vejo em sala de aula, é tão lindo e incrível que eu poderia ficar aqui por horas e horas, vendo cada um desses objetos, acessórios para câmeras e as próprias câmeras em si. Como dizer adeus pra isso?

- E então, qual vai ser? – me perguntou quando saímos da barraca fotográfica.
- Qual vai ser o quê?
- Qual delas você vai querer?
- Das câmeras? – o olhei assustado – Bebeu, ?
- Você se apaixonou por metade daquelas relíquias e não vai levar nenhuma pra casa?
- Não tenho dinheiro, e não me olhe com essa cara de quem pode pagar. Você estava pechinchando algumas horas atrás em uma barraca indiana – nós rimos.
- É diferente, pra você eu não preciso pechinchar.
- Não seja idiota, você sabe que eu nunca ia aceitar isso.
- Você aceitou isso – ele deu um peteleco em minha bússola – Não foi um presente barato.
- Pra mim, tem um significado diferente, o que você disse pra mim aquele dia, não teve como eu negar o presente – sorri, o abraçando e colocando a mão delicadamente em cima do presente mais lindo que ele já havia me dado.
- Ainda lembra o que eu te disse aquele dia? – olhei pra cima e o vi sorrindo.
- Claro que sim – suspirei – Nós estávamos no carro, um dia antes de vocês irem para uma turnê ou divulgação nos Estados Unidos, nós nem namorávamos ainda e você conseguiu me conquistar direitinho dizendo “Não sei o que o universo tinha planejado pra mim naquele dia, mas de um jeito ou de outro ele me fez te encontrar...” – nós paramos de andar, ele ficou parado na minha frente, fazendo carinho em meu rosto e sorrindo para mim – “É engraçado o nome da banda ser ‘One Direction’ porque, a bússola sempre marca apenas para uma direção...”, e então eu respondi...
- Norte – ele completou minha fala, me fazendo corar.
- Ao final, você disse que eu era o seu norte e que tinha que ser eu, e mais ninguém – suspirei, sentindo meu nariz arder bem na pontinha, aquela sensação chata que vem antes de começar a chorar.

You finish my sentences and I think I love you.
(Você termina minhas sentenças e eu acho que te amo)

Não era a primeira vez que terminava uma sentença minha ou uma frase, isso começou a acontecer com bastante frequência depois do quarto mês de namoro, e foi mais ou menos quando eu tive cem por cento de certeza que eu o amava. Alanis já havia cantado isso antes em Princess Familiar, e mais do que nunca a letra da música fazia sentido pra mim. Desde que a ouvi pela primeira vez, sempre quis achar uma pessoa em minha vida que terminasse as minhas falas e pensamentos por mim, apenas pela deliciosa sensação de saber que você e outra pessoa estão conectados, porque vocês se conhecem demais, melhor do que muitos outros casais. E agora eu tinha achado... era meu norte, era minha música da Alanis, era a pessoa que eu queria que terminasse minhas falas e me deixasse sem fala!

- Quando você vai me contar o que tá acontecendo, ?
- Como assim? – funguei, literalmente puxando o choro pra dentro. E isso foi muito nojento.
- Você e o hoje, tinha alguma coisa estranha no ar. E não é ciúme, é só o cheiro de alguma coisa que eu não conheço – ele me abraçou pela cintura – Eu sei que está acontecendo alguma coisa, mas não consigo saber o que é. E isso entra naquela coisinha chata de ‘poxa, o sabe e eu não?’.
- Não fica pensando essas coisas, , por favor – o abracei de volta – Tá tudo bem, de verdade.
- Você anda cabisbaixa demais, chorona demais...
- Como você sabe que eu to chorando? – o olhei assustada – Ah, !
- Ela só está preocupada com você.
- E vai fofocar pro meu namorado que eu fico chorando na madrugada.
- Ela não disse que você chora na madrugada, ela disse que você tá chorando com certa regularidade, só isso – ele me encarou – Então é na madrugada?
- Ugh! – fiz careta – Não é nada demais, nada pra se importar.
- Por que você contou pro , e pra mim, não?
- Porque eu odeio ver você com essa cara – fiz bico e coloquei as duas mãos em seu rosto – Confia em mim?
- ... – encostou sua testa na minha – A sua bússola também aponta pro Norte?
- Como assim?
- Ela aponta pra mim? – ela abriu os olhos e me encarou – Hein?
- Pergunta idiota, claro que sim! – o soltei – Sério, ? Sério que você está me fazendo essa pergunta?
- Eu não faço por mal, é só essa coisa de você sempre poder contar com os outros e não contar comigo. Primeiro foi o , agora o .
- Hey – o peguei pela mão e o fiz me encarar – Eu amo você! Entenda isso de uma vez por todas. É você, e eu seria capaz de fazer qualquer coisa pra não acabar com isso o que nós temos, e se pra isso eu tiver que tomar algumas decisões sem o seu conhecimento, eu vou fazer. E se eu precisar pedir ajuda dos seus amigos, eu também vou fazer; tudo o que eu faço é por amor! Amor a você e a mim, então, eu te peço, confia em mim – soltei sua mão, de novo segurando o choro.
- Tem alguma coisa, não tem? – ele voltou a segurar minha mão – , você não vai tomar essa decisão sozinha.

Decisão?

- Como assim? – engoli a seco.
- ... – ele suspirou e apertou mais minha mão – Eu não vou falar se você não falar primeiro.
- Vo-Você... Você sabe.

E isso não foi uma pergunta. Soltei sua mão e comecei a chorar ali mesmo.
Não tinha me dado conta, mas um grupo de fãs estava bem na tangente, nos assistindo e tirando fotos e mais fotos, assim como uns paparazzi que pareciam brotar pior que barata no calor. Mas esse não é o problema... O problema é que sabe! Ele sabe da carta, da proposta, da minha ida ao Brasil.

- O que eu sei? – seu olhar era sério e triste – Me responde, o que eu sei?
- Não vou falar, não é pra você saber, e como você sabe?
- Eu agora não sei mais do que estamos falando... – ele fez careta – , dá pra ser clara comigo de uma vez?
- Para, não vou conversar sobre isso com você aqui – apontei para os fotógrafos e as fãs – Conversamos em casa.
- Volta aqui! – ele me puxou pelo braço quando eu dei as costas e caminhei na outra direção – , o que eu tenho que fazer pra você sentir que pode contar pra mim tudo o que se passa na sua vida? – a voz de era rouca e muito baixa, no intuito, creio eu, das outras pessoas não ouvirem
- Não ser meu namorado – respondi com um sorriso triste – Porque a última pessoa no mundo que eu quero machucar é você, e sabendo disso que eu sei que você já sabe, eu vou te machucar e não quero isso pra nós.
- Quem decide se vai se foder ou não no final sou eu – ele soltou meu braço – Isso é estar em um relacionamento, sabia?
- Novidade pra você, – eu o encarei – Esse é meu primeiro relacionamento.

E agora, eu dei as costas. Ah, que ótimo! Mais uma briguinha com espectadores, em qual revista será que isso vai aparecer amanhã? E as vésperas de um Madison Square Garden?

Londres é uma capital emocionante, eclética, cheia de cor e características próprias. Consegue misturar o novo e o antigo de forma surpreendente. O que a deixa em minha opinião muito mais atraente...
Existe muito que se ver e conhecer por lá, mas para fugir um pouco do óbvio resolvi fazer um post sobre as feiras ao ar livre que na verdade são bancas misturadas a mercados onde se tiver tempo e paciência pode descobrir muita coisa.
Existem centenas delas e muitas parecidas com nossas feiras no Brasil onde encontramos basicamente alimentos, mas muitas outras lhe oferecem isso e muito mais.


e estavam chamando toda a atenção do mundo no palco central, com várias fãs na frente deles, assim como outros olheiros curiosos. Os dois estavam lendo um guia para turistas sobre todas as feiras disponíveis no Reino Unido, e isso incluía a que estávamos. Era engraçado demais vê-los assim, como duas crianças alegres que pareciam estar no palco pela primeira vez, mexendo com todas as pessoas que passavam ali por perto. Paul já estava ficando mais careca, com tanta menina querendo subir no palco e ele sendo um só, a situação estava ficando complicada. E desde quando e se importam com isso?

- PORTOBELLO ROAD MARKET - gritou – , meu amigo, o que sabemos sobre essa feira ou mercado?
- Bom, amigo ... – limpou a garganta e abriu o livro que estava segurando em mãos - São 3 ou 4 mercados muito próximos. É basicamente dividida em partes de acordo com interesses, tem áreas onde se encontra pinturas e pratarias, tem a parte de frutas e verduras, roupas novas e usadas e tem uma parte coberta onde o ambiente é mais despojado e pode-se encontrar de tudo. Todos devem tem visto um pedacinho dela no filme "Um lugar chamado Notting Hill", porém já adianto que a livraria não existe e nem nunca existiu, e a porta filmada já foi até repintada! Localiza-se no West side de Londres, na Portobello Road, no bairro Notting Hill (sim, aquele do filme, mas é bom avisar, o Hugh Grant não mora aqui, e a casinha de porta azul pode ser qualquer uma entre centenas – você vai ver). Ao longo da rua, encontram-se brechós, restaurantes, barraquinhas de bugigangas, lojas de antiguidades e milhares de turistas. Embora atraia viajantes de todo o planeta, Portobello Market não é desprezada pelos londoners, que costumam passear e fazer umas comprinhas no local.
- Londoners? – fingiu curiosidade.
- Ah, esse é outro nome dado para os cidadãos londrinos...

Divertia-me vendo os dois pagando de famosos, sendo que eles eram, que nem percebi quando parou ao meu lado. Eu estava meio distante da muvuca de pessoas, encostada em uma tenda de morangos e frutas silvestres... Cômico eu estar perto de uma tenda de comida justo agora, mas o cheiro cítrico estava me acalmando de um jeitinho gostoso e fresco.

não ficou apenas parado ao meu lado, mas ele aos poucos foi pegando dedo por dedo de minha mão, até entrelaçá-los com os dele. Foi quase que impossível eu não começar a chorar ali, enxuguei as lágrimas com as costas da minha outra mão e suspirei alto. Senti-o apertar nossas mãos e levar a minha até seus lábios e ali pousar um beijo delicado e macio, deixando minha mão ali em contato com sua boca por um pouco mais de tempo. Ergui minha cabeça e o olhei, mantinha os olhos fechados e sua respiração era baixa e pesada.

- ? – o chamei.
- Bem vinda a um relacionamento – ele me encarou – Onde eu te amo e eu sei que você me ama, e não vai ser uma pequena discussão no meio de uma feira que vai acabar com tudo, entendeu? – ele sorriu de lado – E por favor, não coloque nunca mais a hipótese de eu não ser o seu namorado, entendeu?
- Entendi... – eu ri, um riso meio misturado com a vontade de chorar e novamente aquela alegria que só conseguia ter com ele.
- E, por favor, vamos tirar aqueles dois daquele palco! – riu, apontando para e – Não vou aguentar a banda indo pro buraco pelo mal comportamento deles.
- Estou achando até bonitinho – sorri, aninhando meu corpo ao dele – Babe?
- Hm?
- Prometo, na hora certa você vai saber – eu disse ao fim.
- Sei disso – ele beijou meu cabelos – Sei disso.




Capítulo 37

- MADISON SQUARE GARDEEEEEEEEEEEEEEEEEN!

Tanto eu, como começamos a gargalhar como duas idiotas. fez aquela cara de total desapontamento quando nós duas, mais Sam e Lucas, levantamos as quatro plaquinhas que ele não queria ver de jeito nenhum:

- GAY
- SUPER GAY
- ULTRA BLASTER GAY
- BICHA

- Que tipo de grito vocês querem que eu dê? – ele baixou o microfone e ficou nos encarando.
- Não o tipo de grito que você dá na cama, meu amor, mas grito de machinho – falou, e nós rimos mais ainda – Falei demais?
- Como sempre, né, ? – eu ri – Sam e Lucas, algum conselho?
- Você está parecendo Avril Lavigne no começo da carreira: voz esganiçada e com uma imagem rock que não lhe pertence – Lucas começou – Seja, simplesmente, da One Direction e ponto final.
- É isso o que eu estou tentando ser aqui em cima!
- Não tá funcionando, meu bem – Sam sorriu.

Nós quatro, os meninos, a produção, Paul, Jeff (o taxista) e o McFly estávamos na Arena O2 em Londres. One Direction ensaiava para o show no Madison que seria daqui uma semana, e como era um sábado chato e eu não queria ficar em casa estudando, viemos acompanhar os meninos, e eu não podia estar em lugar melhor. Pelo menos por hoje, abandonei minhas câmeras – só levei a Polaroid – e vesti a personalidade da , namorada do , e nada mais que isso. também estava assim, Sam e Lucas se comportavam como namoradas de e , já que estava ainda de rolo com Lorelai, mesmo sem ele admitir isso.

- Oi, amor! – sentou-se ao meu lado, me dando um beijo rápido nos lábios e todo feliz, segurando um papel em mãos – Terminamos a setlist.
- Yay, finalmente – sorri – Posso ver?
- Claro, claro – ele parecia cansado, com as bochechas vermelhas e levemente suado. Eu achava uma gracinha quando ele se empolgava nos ensaios – Oi, e o outro casal aí do lado.
- Oi, – os três responderam formalmente, nos fazendo rir.
- Hm... Você vai ficar muito chateado se eu falar que não conheço cinco músicas do repertório? – perguntei, fazendo careta, ele sorriu.
- Claro que não, e eu até imagino quais sejam.
- Quais são?
- Magic, Truly Madly, She’s not Afraid, Still The One e Irresistible.
- Exatamente – sorri – , você conhece? – perguntei, mostrando-a o setlist.
- Só não conheço Irresistible – ela olhou pra – É de vocês?
- Sim, nossa e do McFly.
- QUÊ?
- Lembra aquela vez que vocês tiveram que ficar na biblioteca, e eu ligando pra vocês irem até a casa do Tom, que estava rolando um churrasco? Então, nesse dia, Irresistible apareceu – sorriu – E devo dizer que ficou uma música muito bonita.
- Disso eu não tenho a mínima dúvida – suspirei – Vocês vão cantar no Madison?
- Ainda não sabemos, essa é uma setlist provisória. Não podemos fazer a Take Me Home Tour antes do Reino Unido, então vai ser um misto da Up All Night com a atual, entenderam?
- Sim, senhor – e eu falamos juntas.
- , do palco, estralou os dedos o chamando atenção – Ensaio, ensaio!
- Ok, ok... – ele me beijou de novo e correu na direção dos meninos.
- Então, hoje vocês vão ficar aqui – Sam olhou para nós duas – não surtou pelo McFly, não conhecia uma das músicas; tem alguma coisa muito estranha no ar, e eu não estou gostando nada disso.
- Deixa de ser doido, Sam, não tem nada de estranho – suspirei.
- Elas estão preocupadas porque os bofes estão indo para Nova Iorque! América, lugar onde as fãs são mais doidas e vagabas que no resto do mundo – Lucas sorriu – Eu estou certo, não estou?
- Depois do que aconteceu com o , no mesmo continente, eu nem me importo de ele ir pra América e transar com todo mundo – ela bufou.
- , você sabe que ele não vai mais fazer isso, relaxa – eu sorri – está muito arrependido, e vocês dois agora voltaram às boas, curte o momento e o seu namorado.
- Ai, tá! – ela bufou.
- E você, amorzinho? Tá com essa carinha de bunda por quê?
- Carinha de bunda? – eu ri pro Lucas – Que terminho mais delicado, hein?
- Mas você está com cara de azeda tem umas semanas, desde que você voltou daquele chá da tarde com seu bofe.
- e eu temos brigado algumas vezes, mais do que nós brigamos desde que assumimos o namoro – olhei pra eles. – Eu estou com muita coisa na cabeça e não estou me abrindo, sabe? Acho que isso está causando certo stress pra nós dois.
- Não está falando com ele? – pareceu preocupada, como se ela também soubesse de alguma coisa – É algo muito importante?
- Pode ser que sim – mordi os lábios. – Parem de me fazer perguntas, por favor.
- pegou em minha mão, Sam e Lucas nos olhavam, atentos – Qualquer coisa que você estiver passando, sabe que pode falar comigo, não sabe?
- Sei.
- E não interessa se o negócio é grande que vai te dar medo, ou se é pequeno e você está surtando por pouca coisa... Você vai me falar, não vai?
- , você está sabendo de alguma coisa? – perguntei.
- Até eu tô achando que você sabe de alguma coisa, mulher! – Lucas parecia desconfiado – E agora eu tô querendo saber disso que vocês sabem.
- Eu não sei de nada – afirmou – Se eu soubesse, eu falaria, assim como a .
- Que código maluco é esse que vocês estão usando hoje? – Sam se irritou – Ou fala logo, ou não fala!
- Não tem nada pra falar – suspirei – Caso tenha, fiquem tranquilos.
- Duas estranhas – Sam virou-se pra frente – Cansei de vocês duas por hoje.
- Sam!
- Mulheres... – Lucas jogou a franja pro lado e riu de forma tímida – Graças a Deus não nasci mulher, e sim com a opção de ser mulher.
- Eu não nasci com a opção de ser homem! – falou, achando aquele comentário horrível.
- Nem eu, meu bem. Nunca, jamais me vi na opção de ser homem – Lucas piscou, e nós duas rimos – Prestem atenção no palco, os bofes vão ensaiar.

sorriu pra mim e segurou minha mão, como se quisesse me falar alguma coisa. Quanto mais o tempo passa, mais eu estou desconfiando que ela e sabem da carta da Miriam, ou o tagarela do deu com a língua entre os dentes e acabou falando mais do que devia. Mas... Acho que não. Se ele fosse falar pra alguém, seria pro , e ele não parece estar me tratando diferente; agora eu estou mais confusa do antes.

Quando olhei pro palco, não tinha percebido que, nos instrumentos, estava o McFly! Comecei a rir e não pensei duas vezes em pegar a Polaroid e registrar alguns momentos de uma forma mais antiga, eu queria de verdade essas fotos só pra mim. Talvez fossem as minhas últimas fotos, e eu teria uma oportunidade como essa daqui vai saber em quanto tempo, ainda mais se eu fosse mesmo embora pro Brasil. Afastando esse tipo de pensamento, peguei minha câmera, puxei comigo e fomos nós duas para a frente do palco, só acompanhar mais de perto e, quem sabe, atrapalhar um pouco os ensaios – e corrermos o risco de sermos expulsas dali.

B-b-b-baby c'mon over
(Baby venha pra cá)
I don't care if people find out
(Eu não me import se as pessoas ficarem sabendo)
They say that we're no good together
(Eles dizem que não somos bons juntos)
And this never gonna work out.
(E isso nunca vai dar certo)

Eu não conhecia a música, mas , sim. Fiquei encostada na frente do palco, mais pro lado esquerdo, perto do Tom – eu sempre ia pro lado dele –, e logo no comecinho já tirei uma foto dele, que saiu em alguns instantes, pensei em dar essa foto pra ele. Acho que Tom tem uma certa paixão por fotografia, e essa seria uma adorável pra ele ter em sua casa. Olhei para o resultado em minhas mãos e sorri, mostrando pra Tom, que riu e depois murmurou algo como ‘presta atenção na música’. Olhei pra com a intenção de saber se ela tinha ouvido ao Tom, mas ela estava tão empolgada com que era bem óbvio que ela não tinha visto ou ouvido nada. Entortei meu nariz pra ele, e a única coisa que Tom fez foi rir.

But baby you got me moving too fast
(Mas, babe você faz eu me mexer muito rápido)
Cause I know you wanna be back
(Porque eu sei que você quer voltar)
And girl when you're lookin' like that
(E garota, quando você está olhando desse jeito)
I can't hold back.
(Não posso me controlar)

- Se segura, porque agora vem a melhor parte – sorriu pra mim.

Pendurei a Polaroid no pescoço como uma boa turista em um show One Direction, fui pro lado de e percebi Sam e Lucas parando atrás de nós duas. Os dois estavam com as câmeras profissionais, eu tinha uma pequena impressão que eles iriam usar as fotos tiradas hoje para alguma coisa ilícita, só espero que eles não vendam para nenhuma revista ou site e consigam um dinheiro com isso. Ah, mas eles vão fazer isso.

De onde eu estava, encarei , que ria de alguma coisa bem besta – eu imagino – com Dougie. Este cutucou-o e o fez olhar em minha direção, com aquela cara de total inocente, e ao mesmo tempo com mil coisas passando pela sua mente. Peguei a câmera e tirei mais uma foto sua, ele colocou a língua pra fora nesse momento e Dougie encostou a cabeça em seu ombro, fazendo uma típica careta Poynter. Quando a foto ficou pronta, eu sabia que aquela ia ficar comigo, talvez eu até pudesse fazer uma cópia para eles.

Cause you, you've got this spell on me
(Porque você, você possui esse feitiço em mim)
I don't know what to believe
(Eu não sei no que acreditar)
Kiss you once, now I can't leave
(Beijo você uma vez, agora não posso partir)
Cause everything you do is magic
(Porque tudo o que você faz é mágico)
But everything you do is magic.
(Mas tudo o que você faz é mágico)

Nas últimas duas partes do refrão, tanto quanto pararam de frente para e eu, cantando a música para nós. Não consegui nem dizer um “obrigada” ou chamá-lo de algum nome constrangedor; quando pensei em falar algo, ele inclinou seu corpo e me deu um beijo desajeitado e engraçado, partindo depois com e pulando pelo palco. Vi coçar o nariz ao me encarar e ir até seu lado, abraçá-lo pelos ombros e o puxar para o centro do palco.

precisava de alguém em sua vida que achasse tudo o que ele fez mágico e que o enfeitiçasse, assim como fez comigo.

So l-l-let them take pictures
(Então os deixem tirar fotos)
Spread it all around the world now
(Espalhar isso ao redor do mundo, agora)
I wanna put it on my record
(Eu quero colocar isso no meu CD)
I want everyone to know now.
(Quero que todos agora saibam)

- Você também tem a impressão que a música é pra você? – murmurou.
- Estava pensando nisso agora, faz um pouco de sentido, certo? – perguntei, concordando com seu comentário anterior – Mas acho que ninguém precisa saber disso.
- Se depender dessa última parte que os meninos cantaram, eu acho que eles querem espalhar pro mundo inteiro – nós rimos. – Você tá feliz?
- E por que eu não estaria? – sorri pra ela. estava com as antenas ligadas até demais, pro meu gosto.
- Por nada – ela parecia agora triste, e não desconfiada.
- , para de me fazer essas perguntas, por favor.
- Ok, eu vou parar – ela mordeu a unha e olhou pro palco novamente.

Vi ao fundo, perto da bateria, junto com Judd, me encarando. Ele não estava cantando junto com os outros meninos, estava só ali parado com os braços cruzados, olhando pra mim desde o início da música. Se tinha uma pessoa dentro desse lugar que sabia muito bem o que estava acontecendo, essa pessoa era , e ele estava estranho comigo desde o dia da feira. Estranho no sentido de eu contar logo tudo pro ou pra . Acho que ele estava se sentindo mais ou menos como o Joey quando ele era o único que sabia do romance entre Chandler e Monica; ele precisava de alguém pra contar, e eu não deixava porque, por enquanto, era segredo de estado.

But baby you got me moving too fast
(Mas, babe você faz eu me mexer muito rápido)
‘Cause I know you wanna be back
(Porque eu sei que você quer voltar)
And girl when you're lookin' like that
(E garota, quando você está olhando desse jeito)
I can't hold back.
(Não posso me controlar)

Cause you, you've got this spell on me
(Porque você, você possui esse feitiço em mim)
I don't know what to believe
(Eu não sei no que acreditar)
Kiss you once, now I can't leave
(Beijo você uma vez, agora não posso partir)
Cause everything you do is magic
(Porque tudo o que você faz é mágico)
But everything you do is magic.
(Mas tudo o que você faz é mágico)

- , minha mãe está me ligando – falei no meio da apresentação, pegando o celular e mostrando pra ela.
- Ela anda te ligando demais nesses últimos dias... – novamente aquele ar desconfiado.
- Que posso fazer? Ela anda com saudades – eu sorri meio com culpa – Já volto.
- Ok.

Saí meio de fininho para o canto direito do palco, quase chegando perto da porta dos bastidores. Ali o som estava meio abafado, já que eles não estavam ensaiando com todas as caixas de som ligadas, era mais uma passagem de som e ensaio das posições do que do show propriamente dito. Na verdade, eu não entendia direito o que era isso, só sei que ali onde eu estava não dava pra ouvir a música de forma clara.

- Oi, mãe.
- , eu preciso conversar muito sério com você. Pode falar agora ou está na escola?
- Não estou na escola, estou com os meninos vendo o ensaio do show deles.
- Meninos?
- Sério, mãe?
- Ah sim, seu namoradinho e a bandinha dele – quis começar a rir com as palavras no diminutivo, minha mãe gostava de dar um perjorativo em coisas que ela achava desnecessárias.
- Isso, mãe. e One Direction – eu ri – O que você tem pra conversar comigo?
- É sobre a proposta, você respondeu a carta?
- Claro que não, e eu acho que já conversamos sobre isso. Eu não vou voltar pro Brasil.
- Ah, mas você vai sim! Que é isso? Tá achando que pode tomar as suas próprias decisões só porque tá passando um tempo fora de casa? Nem maioridade plena você tem, , então pare de agir como uma criança. Se você quer crescer na vida, você vai aceitar essa proposta e vai voltar pro Brasil.
- Eu não vou fazer isso só porque você acha o certo, sei muito bem tomar minhas próprias decisões sozinha, afinal, eu consegui essa porcaria de bolsa com meus méritos e não vou jogá-la fora por causa de uma única oportunidade.
- Uma oportunidade que vai mudar sua vida.
- Londres mudou minha vida, mãe, LONDRES!

Eu estava começando a ficar cansada dessas conversas com minha mãe. Era sempre a mesma coisa, a mesma insistência em querer me convencer de voltar pra casa sendo que eu não queria. Já tomei minha decisão, falta pouco tempo pra eu me formar aqui, depois disso eu penso em voltar pro Brasil, mas só depois da conclusão do curso. E eu nunca vou comentar esse assunto com !

- , eu e seu pai estamos indo pra Londres te trazer de volta pro Brasil.
- O QUÊ? TÁ DOIDA?
- Você tem até o Natal, . Caso contrário, estamos pegando o primeiro voo antes do ano novo e te arrastamos pra cá, nem que seja pra você ser dopada.
- Você não tá falando sério, deixa de ser doentia.
- Estou sendo racional, coisa que você não é e nunca foi. Se fosse, não teria tentado essa bolsa, estaria aqui cursando uma faculdade regular como qualquer menina da sua idade.
- Menina sem sonhos, você quer dizer.
- Racional! Não sei por que essa frescura de estudar fora, no Brasil temos tantas oportunidades de trabalho, tantas promessas.
- Não vou de novo falar disso com você, mãe! Falamos sobre esse assunto desde os meus treze anos, você sempre soube que eu queria me formar fora do país.
- Por um capricho idiota! E agora você tá com esse namorado que só te atrapalha...
- Ele não me atrapalha! Você nem o conhece, como pode falar dele desse jeito?
- Não preciso conhecer. Acha que só você sabe usar a internet? É só eu digitar no google o nome de vocês dois pra eu ver as fotos em todos os lugares, e festas, e premiações! Se você não estivesse com esse tal de sua vida estaria focada e com certeza sem esse ar de arrogância. Ele tem dinheiro, , você, não.
- Para de falar coisa que você não sabe, para com isso! – solucei.

Ouvir todo dia alguma merda de fãs é uma coisa, ouvir de sua própria mãe é bem diferente. Ela não imagina o poder que as palavras possuem, e como ela pode me derrubar facilmente.

- Até o Natal, , ou nós vamos te buscar.
- Eu me mato antes disso, e vocês vão levar um corpo sem vida pro Brasil.
- Que seja – ela suspirou – Mas te trazemos de volta! – e desligou o telefone.

Apertei o celular em minhas mãos controlando a vontade de jogá-lo contra a parede mais próxima, não conseguia entender como minha mãe podia agir de uma maneira tão ditatorial comigo a essa altura do campeonato! Tem coisas que realmente não precisa jogar na cara, ainda mais mostrar esse desprezo todo com meu futuro e com o próprio – que, tecnicamente, ela adora. No momento, me via sem coragem de voltar para o ensaio deles, a última coisa que eu queria era voltar e sorrir, ainda mais sabendo da empolgação dos meninos com o Madison a poucos dias. Ninguém merece minha cara de enterro.

Sentei no chão e fiquei futricando meu celular, fugindo dos aplicativos como facebook e twitter, na verdade, fiquei olhando fotos antigas minha e do , novamente caindo naquele pensamento de que eu não iria conseguir dizer adeus a ele. E muito menos aos meninos; passei por uma foto minha e do , onde ele mordia minha bochecha e fazia cara feia para nós dois, foto essa que eu sei que, se caísse no fandom, ou iriam amar, ou odiar. Ia continuar vendo as fotos, quando vi uma sombra parar na minha frente; achei estranho, porque era para os meninos ainda estarem ensaiando, mas como não ouvia música alguma, presumi que podia ser um deles. Levantei meu olhar e vi parado ali, com um sorriso de lado e braços cruzados, mas seu olhar era suspeito, como se soubesse de algo. Na verdade, a essa altura do campeonato, eu estava achando que todo mundo já estava sabendo dessa novidade maldita.

- .
- – eu sorri – Fala, querido.
- Que você está fazendo aqui, sozinha, com seu celular e essa cara de bosta?
- Pensando – falei em meio aos suspiros – Senta aqui – bati no chão ao meu lado, sorriu e fez o que eu pedi – Foi bom o ensaio?
- Foi, sim, mas agora tá um clima meio tenso por lá – ele se espreguiçou – Lary chegou, e você sabe como sua amiga fica com ela por perto.
- Ai, ! – fiz careta – Ela nunca vai superar isso, vai?
- Está ameaçando agarrar o a qualquer momento, citou até a Lei de... Tamilião?
- Lei de Talião? – eu ri.
- ISSO! Sabia que você ia entender.
- Olho por olho e dente por dente?
- Na verdade seria algo mais “boca por boca e namorado por namorado”.
- Pelo menos a vai parar na boca do , e não na cama – nós dois rimos – E o vai deixar?
- E desde quando ele nega mulher? Mesmo sendo a mulher do .
- Ai, meu Deus – gargalhei.
- Mas o papo tá bom – ele bateu em minha perna – E você mesmo rindo parece que ainda está escondendo alguma coisa, o que se passa, ?
- Está tão assim na cara?
- Já tem um tempo, mas como você nunca é de se abrir com as pessoas, e muito menos com seu namorado, pensei que não fosse nada sério e que na hora certa você fosse acabar falando. Pelo visto, estou errado.
- Acertou a parte de que ainda não falei nada pro .
- Então, tem alguma coisa aí – ele riu – E o não sabe.
- Não.
- Alguém sabe?
- Sim.
- Sua mãe?
- A ideia partiu dela, pra falar a verdade.
- Vixi, se partiu da sua mãe, coisa boa não é.
- Não, e eu não quero falar do assunto – bufei.
- sabe?
- Não.
- ?
- Não.
- ?
- Claro que não, ele é super fofoqueiro! Ia na mesma hora contar pra .
- ?

Suspirei e desviei o olhar de , acho que acabei dando na cara que era o único que sabia, certo?

- Ele sabe, não sabe?
- Sabe, e chorou igual uma putinha quando eu contei pra ele.
- ... Chorou?
- Acontece, – eu ri – As pessoas choram quando eu conto alguma coisa triste.
- Então, é triste?
- Para de me fazer perguntas, moleque! – agora foi a minha vez de bater em sua perna – , eu quero contar, mas se eu contar agora, você vai começar a chorar e os meninos vão ficar fazendo perguntas.
- Quem disse que eu vou chorar?
- chorou, preciso dizer algo a mais?
- , o quê? – e claro, ele apareceu.

Levantei-me do lado de e dei um abraço nele, que retribuiu, não sabendo ao certo o que eu estava fazendo ou o motivo do abraço. também levantou e ficou nos encarando como se pudesse ler algo nas entrelinhas, essas que nem sequer haviam sido faladas. Lembro-me de pensar que seria, dentre todos, o meu melhor amigo. Aquele que, quando eu saí da redação da SugarScape, me abraçou e me deu seu casaco porque estava frio, que estava sempre comigo quando eu precisava. Esse é o motivo pra eu tê-lo escolhido como, por enquanto, o único que sabe da minha volta ou talvez não volta ao Brasil.


- Pega, .
- Estou quase indo embora, , eu estou bem – falei, tentando controlar meus queixos, que não paravam de bater, mas foi em vão.
- Será que, por favor, você pode pegar meu casaco? – ele sorria – Ou eu vou ter que enfiar ele por seus braços?
- UGH! – gemi e me certifiquei que as fãs não estavam olhando. Coloquei o casaco de e na mesma hora me senti melhor – Volta lá com as meninas, eu sei cuidar de mim.
- Pra que esse mau humor todo? – falou, meio triste – Vem aqui.
- ! – eu ia tentar dar uma bronca, mas me abraçou por trás e ficou passando as mãos com força em meus braços, a fim de me esquentar.

- Estávamos falando como você é lindo, maravilhoso e, de longe, meu melhor amigo entre todos os outros – forcei um sorriso, que saiu meio macabro, e eu o vi fazer careta.
- Bebeu, ?
- Agradece que ela tá toda assim com você, comigo não consegui nada!
- Você também tem meu amor, – pisquei.
- Mas não tenho sua confiança, pelo jeito!
- De novo, do que vocês estão falando?
- Do que você sabe, mas ninguém sabe – bufou – Do motivo pra estar toda estranha e escondendo alguma coisa.
- Ah – coçou a nuca – Isso.
- Viu! Você sabe.
- Sabe do quê?

Perfeito, Dougie e ! Mais alguém?

- Da estar estranha.
- Eu não estou estranha, !
- A tá estranha? – era mais perdido ainda.
- Deve ser gases – Dougie soltou, mas acho que nem foi ouvido por todos, pelo menos por mim foi.
- Será que, por favor, podem parar de tomar conta da minha vida? Só por um segundo?
- Você divide seus problemas com , tecnicamente está traindo nós quatro. Se for contar a , dá cinco; nem vou colocar as bichas e o McFly.
- PARA! – gritei, os meninos assustaram.

Senti atrás de mim colocar as mãos em minha cintura e aos poucos aproximar nossos corpos, encostando sua cabeça na minha e suspirando tão fundo quanto eu. , e Dougie nos olharam meio estranho, será que agora essas porras estão achando que eu e estamos tendo um caso?

- Que caralho de olhar é esse?
- Vocês... Dois...?
- NÃO, PORRA! – tirei as mãos de da minha cintura.
- Pega leve, galera – o ouvi dizer – Se a não quer falar, ela não fala.
- Mas ela contou pra você!
- Tá com ciúme de mulher quem nem é tua, ? – falou, meio alto – Porra, cara! Controla aí esse sentimento, tá ficando irritante já.
- Não é ciúme...
- Então é o quê? Vai dar a desculpinha que você tá cuidando dela? Cuidando de quem? De mim?
- Ela nem contou pro e contou pra você.
- Porque essa merda de notícia é forte demais pra ele! Foi pra mim, caceta!

Dougie e nos encaravam com a plena certeza que haviam perdido alguma parte da conversa, discussão. A esse ponto, nem eu sabia mais por que e tinham alterado o tom de voz. Agora, eu estava de braços cruzados ao lado de Dougie e , vendo os outros dois se encararem e trocarem palavras fortes, era como se desse tapas na cara de para ele parar de ser possessivo ou ciumento comigo e, em contrapartida, se defendia falando que apenas estava me protegendo. Me pergunto se esse tipo de conversa era frequente entre os meninos; me arrepio só de imaginar que sim.

- Quer ir lá pra fora? – me cutucou no braço – Acho que essa conversa ainda vai bem longe – ele me encarou com um sorriso torto – E eu juro que não vou te perguntar nada.
- Obrigada – respondi baixo – Não quero falar do assunto.
- Sei que não – ele me abraçou pelos ombros – Vamos? Dougie?
- Vou guardar o baixo, vejo vocês daqui a pouco – ele piscou – Se cuida, baixinha.
- Olha aí, o baixista se achando! – brinquei mostrando a língua, pelo menos os meninos riram.
- , qual o problema do ?
- Como assim? – não entendi mesmo a pergunta.
- Tá meio na cara que você tá estranha, e ele nem se quer dá indícios de que tá preocupado.
- Eu acho que ele nem sabe que eu tô estranha – respondi – Mas isso é coisa dele, só consegue pensar em uma coisa de cada vez.
- E isso não te incomoda? – perguntou, abrindo a porta dos fundos da arena para mim – Digo, ele é seu namorado.
- Adia meu sofrimento – ri sem humor – Quer dizer que eu fico com mais tempo pra pensar em como vou dar uma notícia pra ele, sabe? No fundo, sei bem que o tá ligado no que tá acontecendo, mas ele evita tanto quanto eu.
- E não é pior? – nos encostamos em uma parede pintada de azul royal – Adiar?
- Não – deitei minha cabeça em seu ombro – Chega uma hora em que nós dois vamos estar cansados de fingir que não sabíamos de nada, um olhar pra cara do outro e vai dizer ‘hey, eu sabia’, e pronto. Poupa todo o drama de ter que falar, entrar em detalhes, essas coisas.
- Sintonia perfeita – o ouvi rir.

Ficamos assim, apenas em silêncio, sentindo os pingos finos da garoa londrina cair sobre nós por longos minutos. Às vezes a porta ali abria e fechava, às vezes era um dos meninos do McFly, que eu via murmurar que estava tudo bem e pedia um tempo sozinho comigo, depois eu vi abrir a porta, seguido de ... Mas nada de . Então, começo a imaginar que essas pessoas que me viram com chegavam até ele e diziam que eu estava bem, apenas precisava conversar com por um tempo, mas logo depois eu já ia entrar. Era essa a nossa dinâmica, todos protegiam nosso relacionamento, embora soubesse que eu não estava totalmente bem, ou pelo menos não parecia estar.

Ali, sozinha com , por várias vezes senti as palavras pararem na boca e depois voltarem. Era o momento perfeito para eu contar o que estava passando, talvez ele pudesse me ajudar ou fosse ser mais um ombro amigo. já estava sendo. Queria, antes de tudo, pedir pra ele não contar nada pra , porque ela, sim, iria entrar em um colapso, e de duas, uma: ou ia me encaixotar de volta pro Brasil, ou iria me deixar encaixotada na Inglaterra. De qualquer forma, eu ia morar uma caixa.

- Brasil! – entrelacei meus dedos nos de e, quando menos percebi, já estava chorando – Eu acho que vou voltar pro Brasil.
- Eu sei – ele me abraçou e beijou meus cabelos – me contou.
- Você contou pra ?
- Não, mas acho que ela suspeita – soltou toda sua respiração de uma vez pela boca – Puta que o pariu!
- Não quero ir.
- É obrigatório? Se você não for, perde essa oportunidade pra sempre?
- Mais ou menos – limpei meus olhos com as costas de minhas mãos e funguei – Mais alguns dias e eu termino o curso, . São quinhentos no total, já fiz mais da metade.
- Linda... – ele me segurou pelos ombros e me virou para ele – Não são quinhentos, não são mil! É você, entendeu? – o vi morder os lábios e, em seguida, beijar minha testa – Nós não queremos uma com prazo de validade, queremos ela pra sempre.
- Ai, ! – o abracei e deixei o choro sair de mim sem freio.
- Chora, , vai te fazer melhor – sua voz também era embargada, mas diferente de , ele estava segurando o choro – Você vai precisar chorar muito antes de dar a notícia pro .
- Como eu vou falar isso pra ele? Eu não... Não quero ir!
- Se você quiser, eu te ajudo, você foi a única que não acabou comigo depois do show do McFly aquele dia – ele riu e beijou meus cabelos – Te devo uma.
- Se for assim, casa comigo e me dá a cidadania europeia, assim eu não tenho mais que voltar pro Brasil e fico aqui pra sempre, como você pediu – falei em meio a um choro angustiante e um riso forçado.
- Te amo, mas há limites – ele me apertou mais forte – Trair a com a melhor amiga dela é pedir pra nunca mais fazer xixi na vida, porque é certeza que ela vai cortar meu boy fora!
- boy? – encostei meu queixo em seu peitoral e o olhei – Que broxantes, vocês dois.
- Perdeu a vontade de me ter como marido?
- Certeza! – eu ri e recebi um outro beijo na testa – Você dá a notícia pro por mim?
- Com você, é diferente – suspirou – E com a , deixa que eu me viro. Acho que vai ser mais fácil eu falar do que isso partir de você.
- Tem noção que a sua namorada vai surtar porque eu contei a notícia primeiro pra você do que pra ela?
- ... – ele ergueu meu rosto e fez carinho em minha bochecha – Tem noção que a minha namorada já está sabendo do assunto? – eu arregalei os olhos e ele abriu um sorriso que, ao meu ver, parecia de orgulho – é mais esperta do que nós pensamos, certeza que ela já sabe, mas tá escondendo o jogo.
- Não sei lidar com ela e com o nesse joguinho.
- Nem eu – ele riu.

Nos abraçamos de novo e ficamos ali, sozinhos mais um tempo. Vi a porta abrir novamente e um vulto que parecia de aparecer e sumir. Como eu imaginava, ele sabia o que estava acontecendo, mas assim como , ia esperar o momento certo para se manifestar. E eu também.


Capítulo 38

Estava com a cabeça encostada no ombro de , me dando tapas internos tentando ficar acordada. Eram cinco da manhã e lá estávamos no aeroporto esperando os meninos embarcarem para Nova Iorque, sem falar que hoje temos as piores provas no curso possíveis! dormia no colo de , Lary e compravam café, abraçava e os dois dormiam juntos, fazia carinho em meus cabelos de um jeito preguiçoso, de quem também já estava querendo dormir.

Apesar de ser tão cedo e do nosso desânimo, os fotógrafos e fãs não desanimavam em nenhum segundo. Nós ficamos em uma área reservada, como se fosse uma sala VIP, porém mesmo dali dava para ouvir as fãs cantando e chamando pelos meninos e os barulhos de câmeras e flashes; todo segundo vinha um segurança se certificar de que estávamos bem, que nada tinha acontecido e que ninguém tinha conseguido tirar nenhuma foto nossa. É claro que conseguiram, acabei de entrar no tumblr e já vi as fotos dos meninos dormindo, e, óbvio, eu e junto com “tags” nada educadas.

- Como você está com a prova? – perguntou com uma voz rouca e sonolenta.
- Se eu responder, você vai prestar atenção?
- Estou tentando me manter acordado, , coopera comigo – o ouvi rir – Toda viagem é a mesma coisa, e ainda tem a imigração no aeroporto.
- Vocês passam por isso?
- Opa, sempre passamos. E dessa vez pelo menos eu espero que o tenha lembrado de trazer o passaporte.
- esqueceu o passaporte?
- Cinco vezes – fez cinco com a mão e riu quase sem força alguma – Ah, puta merda, que dor de cabeça!
- Hm? – tirei minha cabeça de seus ombros e o encarei – É de sono?
- Não sei – ele fez careta e massageou as têmporas – Tá todo mundo um pouco ansioso com o show no Madison e, agora que está tão perto, tá dando mais ansiedade e com isso, mais dor de cabeça.
- Você tem isso sempre?
- Perto de alguma coisa importante – ele suspirou – Sim.
- Eita, paixão! Você nunca me disse nada – sorri e fiz carinho em sua testa e seus cabelos – Minha mãe me ensinou umas coisas pra passar a dor de cabeça, posso tentar?
- Tudo o que você quiser, amor.
- Ok – eu ri – Me dá sua mão.
- Qualquer uma?
- Aham – ele colocou a mão direita em meu colo e inclinou a cabeça pra trás, fechando os olhos. Deus, ele estava tão cansado.
- Minha mãe diz que devemos apertar aqui – apertei o dedão de sua mão, bem na base da unha – E segurar por trinta segundos.
- Tá doendo – ele resmungou, sem ao menos abrir os olhos.
- Eu sei que está, mas é pro seu bem – repeti o que minha mãe sempre me falava, riu rouco – Tenho que fazer isso três vezes, depois sua dor de cabeça melhora.
- Simpatia brasileira?
- Na verdade tem uma razão pra isso dar certo, mas às cinco da manhã eu não vou lembrar – eu ri e pressionei a base de sua unha mais uma vez, dando um pequeno intervalo e repetindo.

Foi a vez de deitar a cabeça em meu ombro e me abraçar pela cintura, não me dando muito espaço para me mexer, porém nem fiz questão de reclamar. Ia passar um bom tempo sem ele e não estava a fim de desperdiçar qualquer momento nosso.

Quando eu estava começando a me entregar a um novo sono, ouvindo claramente os outros meninos e roncarem, ouvi passos de salto alto pelo chão e uma risada conhecida. e Lary voltaram com cafés e rosquinhas para nós todos; acho que, do pessoal, eles eram os únicos mais animados e mais acordados! Abri meus olhos com um pouco de preguiça e vi os dois trocando beijos e carícias, ali na nossa frente mesmo. Sorri de forma discreta, me dava um certo alívio saber que eles estavam juntos novamente.

- Costa? – era a voz de – Não tem Starbucks?
- , agradeça por eu ter descoberto um café aberto essa hora – Lary disse, entregando um saquinho com alguma coisa dentro e o copo de café para ele.
- Qual o problema com Heathrow e seus cafés fechados? – reclamou – É um aeroporto, eles deviam ficar abertos o tempo todo, vinte e quatro horas...
- , quer parar de reclamar? – falou – Achou o café, achou comida, ótimo! Cadê minha parte?
- Também vai ficar sem comida, por ser tão ranzinza essa hora da manhã! – riu.
- Considerando meus padrões, ISSO ainda não é MANHÃ!
- Alguém me passa a comidaaaaa! – reclamou.

Sentamo-nos no chão mesmo da sala VIP – embora as pessoas lá tivessem insistido para que sentássemos nas mesinhas – e abrimos os sacos da cafeteria COSTA, sentindo aquele cheirinho de comida quente; tenho certeza que tinha alguma coisa com peito de peru ali dentro. pegou o café das mãos de Lary e me olhou meio desconfiada. Embora as duas estivessem se “comunicando” agora, sempre existiria essa tensão entre elas e, honestamente falando, já estou até acostumada com isso.

- Acho que ela cuspiu no meu café. – fez careta – Sério, ela cuspiu no meu café.
- beija a Lary todo dia e não fica doente – respondi dando uma mordida no meu lanche de, adivinha? PEITO DE PERU – Ai como eu amo peito de peru – falei de boca cheia, me deliciando com aquele gosto.
- Eu queria que, só por um dia, você me defendesse – abriu a tampinha do café, analisando se tinha alguma coisa estranha flutuando – Não é porque ela pediu desculpas que de repente tudo pode voltar ao normal.
- Amiga... – segurei sua mão, sorrindo – Eu amo você, você é minha melhor amiga e eu sempre vou te defender, mas temos que dar um crédito ao e especialmente à Lary, porque ambos já pediram desculpas, e honestamente, não vejo mais nenhuma faísca de “traição” entre os dois.
- Se fosse o que tivesse te traído, tenho certeza que você ia ficar com os dois pés atrás.
- Mas não foi o – pisquei e ela fez careta – Vamos lá, os meninos vão passar um tempão fora, curte seu namorado. E, outra, daqui a pouco é natal, entra no clima natalino.
- Já estamos em dezembro, né?
- Sim, e eu sei também que o natal está chegando porque Tom Fletcher gosta de fazer contagem regressiva – eu ri com a infantilidade fofa do meu ídolo.
- Acertei nos pedidos? – Lary sentou-se ao meu lado, com um carinha de sono tão óbvia quanto a nossa – conhece vocês muito bem, mas eu fico com uma dúvida, sabe?
- Peito de peru – fiz “joinha” com a mão – Melhor coisa que você podia ter pedido.
- Ai, que bom – ela sorriu – E você, ? Tudo certo?
- Sim, obrigada – ela travou a mandíbula, pelo menos ela respondeu de forma educada.
- Lary, você vai viajar com os meninos?
- Não, . Na verdade vou precisar ficar e arrumar as datas da tour deles pela Europa, divulgação do CD, essas coisas.
- Algum plano pra levar os meninos pro Brasil?
- Acredite – ela riu – É o que eles mais pedem – Lary sorriu – E você será nossa guia.
- Pelo menos em São Paulo eu posso dar uma ajudinha.
- São Paulo?
- Uma das principais cidades – dei de ombros – Mas, então... Tour pela Europa?
- ? – e interromperam nossa conversa – Podemos falar com você, rapidão?
- Eita – arregalou os olhos – Posso ir junto?
- Nhé, não – riu – É uma coisa tipo, nossa, sabe?
- Uma coisa de vocês? Com minha amiga? E eu não posso saber?
- Oi “Senhora controladora obsessiva”, sua amiga vai voltar inteira pra você, fica tranquila – jogou as mãos pra cima, querendo se livrar de qualquer culpa.
- sabe que você está pegando a namorada dele e a levando pra algum lugar pra ter uma conversa particular?
- Sim, , ele sabe – bufou – Sabe, depois que o fez o que te fez, você anda tão mal humorada.
- Eu tenho minhas razões, não é?
- Eu tô de boa – foi a vez de dar de ombros. Alguma coisa tinha picado nessa madrugada, porque ela estava impossível.
- Só estou meio cansada das pessoas esconderem coisas de mim e eu ser a última a saber – ela lançou um breve olhar pra mim. Mas, hein? – Vou achar o .
- Ok – ela simplesmente se levantou e passou pelos meninos, nem olhando direito na nossa cara.
- TPM? – riu.
- Não, outra coisa – suspirei – Lary, nos dá licença, por favor?
- Claro – ela sorriu – Vou ver se está tudo certo com a viagem.

Não fui muito longe com os meninos, na verdade fomos perto do banheiro masculino, o que não me deixava nada à vontade com a situação. Mas, como nós éramos as únicas pessoas ali – pelo menos eu não ouvia ninguém falando ou andando – resolvi ficar um pouco mais tranquila, apesar do cheiro irritante de xixi que vinha do banheiro. Por que meninos são tão fedidos?

- suspirou e colocou as mãos nos bolsos – Nós precisamos te contar uma coisa.
- Que coisa? – estava ficando assustada com esse drama e suspense todo – Pelo amor de Deus, meninos, aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu – me respondeu – E acho que você deve ser a primeira a saber.
- O que, caceta?
- sabe da carta – disse.

Nessa hora eu não sei direito o que aconteceu comigo, porque eu não conseguia mais focar em nenhum deles, não sentia mais meus pés e nem meu corpo. Me senti caindo pra trás e cada parte de mim parecia estar adormecida... Nem senti e tentando me segurar, mas já era meio tarde demais. Eu caí dentro daqueles baldes amarelos que os faxineiros usam para carregar produtos, vassouras, rodos e essas coisas. Só me dei conta que estava lá quando aos poucos senti minha calça jeans ficar molhada e minhas costas geladas, e eu comecei a chorar. e arregalaram os olhos assustados e pararam por um tempo me encarando, não mostrando nenhuma intenção em me ajudar. Assim que eu me dei conta de onde estava, não conseguia levantar e desisti mentalmente porque comecei a chorar, só de pensar na reação de quando soube da carta, a raiva que ela deve ter sentido de mim, e na verdade isso explicaria todo esse mal humor. É como se fosse uma sensação de traição, e eu não sei quem traiu primeiro: se fui eu por esconder isso dela ou um dos meninos – que provavelmente foi o – por contar pra ela, mesmo depois de eu ter implorado por segredo. Fiquei ainda ali dentro daquele balde por não sei quanto tempo, até senti me puxar pelos ombros e pelas minhas pernas, me ajudando a levantar e ficar em pé, já que minhas pernas pareciam gelatinas e eu sentia um pouco de frio.

- Porra, não viu essa merda de balde lá atrás, ?
- E você realmente achou que eu fosse imaginar que ela ia tombar desse jeito?
- É a ! Ela sempre tomba.
- Parem... De... Falar... – balbuciei de qualquer jeito, soltando meus braços que eles ainda seguravam – Como... Como... ?
- Era brincadeira, soltou e mordeu os lábios.

Era, o QUÊ?

- QUE PORRA VOCÊS TÊM NA CABEÇA, CARALHO?
- Eu disse que ela ia ficar pirada – suspirou e, não pensei duas vezes antes de dar um chute ali mesmo onde os meninos mais sentem dor.
- Caralho, vocês dois tem noção do que fizeram comigo? De como eu estou?
- E de como ELE está, você tem noção? – rangia os dentes, curvado e com as mãos em cima das calças. estava a uns passos longe de nós dois.
- Espero que gangrene essa merda – dei uma olhada em mim mesma; estava encharcada e, pra ajudar, estava fedendo a cloro – Pra que essa brincadeira idiota?
- Não era brincadeira, nós de verdade achávamos que você não fosse ter essa reação, afinal está bem na cara que a tá sabendo de alguma coisa – coçou a nuca.
- Ela sabe ou não, porra?
- NÃO SEI – gritou – Eu acho que não, eu não contei nada. ?
- Claro que eu não contei, tá doido?
- Escutem – balancei a cabeça – O que vocês querem afinal?
- A gente queria falar pra você contar pro logo, porque vimos umas coisas meio suspeitas e achamos que ele está suspeitando de algo – repondeu, aos poucos voltando a se reerguer.
- Coisas suspeitas? Como assim?
- Ele andou vendo passagens aéreas e... – tirou um papel de dentro do bolso da calça – A Lary me entregou isso uns três dias atrás.

Peguei o papel e ali tinha dois nomes de companhias aéreas que faziam voos diretos para o Brasil. Uma era a TAM e a outra a British Airlines; ambas estavam com detalhes de horários, preços e essas coisas. Detalhe que as datas eram para o fim do ano, mais precisamente após o natal, dia 26 dezembro. Havia algumas anotações na letra do ali, e ele parecia estar nervoso ou com pressa quando escreveu, porque eu não consegui entender quase nada.

- pediu pra Lary pesquisar umas passagens pra ele, ela o fez sem entender nada, mas acabou me contando depois achando que eu soubesse de alguma coisa.
- Você contou alguma coisa pra Lary, ?
- Não, de jeito nenhum, você me pediu segredo e assim vou continuar. Mas tá meio na cara que o tá sondando você e que deve ter descoberto algo.
- não sabe disfarçar, se ele soubesse de algo ele teria deixado escapar de algum jeito – dobrei o papel e entreguei de volta pra – De qualquer forma, obrigada.
- E o que você vai fazer agora?
- Não sei, – cocei a cabeça e suspirei – Não posso dar a notícia pra ele minutos antes de vocês embarcarem pra Nova Iorque. Como você espera que ele vá se concentrar no show se eu falar ‘hey, então, acho que volto pro Brasil no começo do ano. Legal, né?’, tá doido?
- Ainda mais com todo o rolo que tá acontecendo, temos coisas demais pra nos preocupar.
- Rolo? – olhei desconfiada pro e vi reprovar o amigo com o olhar – Que rolo?
- É... Bem, nada a ver com você, .
- Que rolo, ?
- Já ouviu falar da banda The Wanted? – perguntou.
- Sim, carinhosamente os chamo de “Os Glad You Came” porque é a única música que conheço deles – dei de ombros – Qual o problema?
- Estamos meio que de briga marcada com eles em Nova Iorque – falou meio com os dentes trincados.
- Vocês o quê?
- Eles que começaram! – disse em defesa – Tem dois deles que adoram uma briga e começaram a nos provocar. Tem noção que...
- Eu de verdade não tô interessada na briga de vocês – ergui minha mão, pedindo pro ficar quieto – Vocês que são boybands, vocês que se entendam. Onde que o entra no meio do assunto?
- Se vamos brigar, vai todo mundo, oras – disse como se fosse algo óbvio.
- Ah, que lindo! Vocês vão brigar com show marcado no Madison Square Garden – bati palmas em total desprezo – Ai, moleques...
- Hey, se seu namorado aparecer com olho roxo, é bom que você esteja ciente que ele brigou defendendo a banda.
- Sim, com certeza eu vou morrer de orgulho dele – rolei os olhos – Podemos voltar ao ponto que realmente importa? O de o saber que eu talvez volte ou não volte pro meu país?
- Tá – suspirou e colocou as mãos nos bolsos – Olha, eu acho que se você contar pro ele vai querer que você volte.
- Sim, eu tenho certeza – murmurei – E se eu não contar ele vai ficar muito puto comigo.
- Também tem essa – piscou – E aí?
- E aí que eu achei vocês! – apareceu sorrindo, mas quando me viu toda encharcada, o sorriso murchou – Caraca, que te fizeram?
- Pegadinha antes da viagem – inventei a primeira coisa que apareceu em minha mente – Não te chamaram por razões óbvias, né?
- Porque eu não ia deixar fazerem isso com você – ele riu e foi até mim, mas sem antes lançar um olhar de reprovação para os amigos – Amor, você tá fedendo.
- É, eu sei – ri baixo. E mesmo com todo esse cheiro de cloro, me abraçou – Não faz isso paixão, vão reclamar do seu cheiro o voo todo.
- Eu troco de roupa antes – ele me beijou no rosto – Cambada, precisamos fazer nosso check-in e entrar pra sala de espera.
- Já? – parecia, novamente, com preguiça – Nós vamos passar pela sala normal?
- Acho que não, a Lary tá vendo um jeito de entrarmos no avião pela pista e ficar esperando na sala VIP. Tem muita gente do lado de fora nos esperando.
- E as fãs? – perguntei.
- Foi avisado que nós não vamos poder falar com ninguém, mas elas continuam lá. Vi até umas meninas falando que estão esperando você e a .
- Ótimo – dei uma olhada em mim mesma – Fantástico – e agora, olhei pra e .
- Quer uma calça emprestada, ? – riu – Só tem de moletom, mas acho que serve.
- Eu tô indo pro curso depois, , não vou de calça de moletom.
- Você vai com a calça de moletom do – ele piscou e nós rimos – Tem certeza?
- Pega, amor – disse – Eu tenho uma camiseta na bagagem de mão, te empresto também. E aproveita e passa um pouco do meu perfume, porque esse cheiro de cloro tá forte demais.

Ri sem humor nenhum, se soubesse o real motivo de eu estar toda molhada não estaria fazendo piadinhas e muito menos se importando em me emprestar roupas.

Depois de finalmente me trocar – felicidade em dizer que a calça de coube em mim e que a camiseta do ficou um pouco larga – fomos nos despedir dos cinco e de alguns produtores que conhecíamos por causa deles. Abracei um a um e, apesar da brincadeira de mau gosto dos meninos, eu os abracei forte, sabendo que os próximos dias seriam difíceis e eu ia sentir saudade deles. Mas o mais complicado era sempre me despedir do .

- Arrasa, meu amor – disse ainda abraçada a ele, me mantendo na ponta dos pés e dando um beijo em seu pescoço.
- Você também, gênio – ele riu, depositando um beijo em meus cabelos – Escuta amor, você vai ficar bem, certo? – me encarou, fazendo carinho meu rosto e em meus braços – Digo, com aquele lance de comida e tal.
- Eu tô melhor, eu juro – sorri – E a tá controlando minha alimentação, tem até um alarme no celular dela lembrando “que horas a tem que comer” – nós rimos.
- E com respeito ao curso, essas coisas, tudo tranquilo?
- ? – o olhei curiosa – Você quer me dizer alguma coisa? – perguntei com um gelo no estômago, porque se ele dissesse algo eu poderia desmoronar na mesma hora.
- Não. – ele sorriu e mordeu os lábios – Só que vou sentir muita saudade – ele enrugou o nariz e engoliu a seco alguma coisa que queria falar... E senti que eu e ele podíamos chorar a qualquer momento.
- Eu amo você – respondi, dando um beijo na ponta do seu nariz e fazendo carinho em seus cabelos – Volta inteiro pra mim.
- Com certeza – ele riu – Me deixe orgulhoso, combinado?
- Combinado.

O puxei pelo pescoço, dando-lhe um beijo que tinha gosto de despedida, tristeza e segredos guardados que não tinha mais porque guardar, ele já sabia. Senti apertar minha cintura e aprofundar mais nosso beijo, enquanto eu segurava em seu pescoço e, mesmo durante esse nosso momento, tive que me controlar pra não chorar, já que senti minha boca ficar amarga e salgada, mostrando que o choro estava chegando à garganta. Ele percebeu isso, interrompendo o beijo e me dando vários selinhos depois. Sorri sem graça e o abracei novamente; dessa vez eu não queria deixá-lo ir, dessa vez era diferente porque eu poderia nunca mais vê-lo. E se eu fosse embora antes dele voltar? E se a Miriam aparecesse em Londres dizendo que eu tinha que voltar com ela pro Brasil? E se minha MÃE aparecesse aqui e me obrigasse a voltar com ela? E se isso tudo acontecesse antes de voltar? Essa seria nossa última vez juntos, e ele nunca iria me perdoar por ter escondido isso dele.

- TODOS A BORDO! – gritou e nós dois começamos a rir – Vamos pombinhos, separando, separando.
- Por favor, não vai dormir com uma americana qualquer – choraminguei e gargalhou, dando um beijo demorado em meu pescoço.
- Qual sua nacionalidade mesmo? – ele murmurou em meu ouvido, dando uma mordida de leve depois – Brasileira, certo?
- ...
- Só durmo com brasileiras, meu amor.
- Ah, grande consolo – eu ri, o empurrando – Vai logo antes que a princesa comece a gritar mais ainda.
- Te amo – ele me beijou novamente e correu ao encontro dos meninos.

Eu e vimos os meninos se afastarem e nos abraçamos. Namorando por quase um ano e até agora não nos acostumávamos com eles indo embora para turnês, shows e eventos, e agora era um pouco mais difícil pra mim...

- E então, provas?
- Provas! – fingiu ânimo – Vem logo, caso contrário acabo desistindo e volto pra casa pra dormir.
- Ligou pro Jeff?
- Já está lá fora nos esperando, ele nunca falha.
- Grande taxista – eu ri e caminhamos pra fora do aeroporto, tentando de algum jeito despistar as fãs que nos aguardavam.



1) No texto, a principal crítica que se faz ao Photoshop é:
a) O uso exagerado dos seus recursos provoca falsificação da realidade.
b) O fato de estar disponível na internet para qualquer indivíduo.
c) O seu emprego em fotografias digitais, comerciais, publicitárias e jornalísticas.
d) Os seus cinco mil comandos e menus produzem más fotografias.
e) O seu emprego descontrolado provoca problemas visuais nas pessoas.


Olhei pra , Sam e Lucas e eles pareciam tão perdidos quanto eu. Na verdade eu sabia a resposta, mas estava tão cansada que não queria responder e esse meu cansaço me dava dúvidas, e dúvidas me deixam estressada. Tinha mais quarenta minutos de prova e três questões múltipla-escolha pra responder; não estava nem um pouco empolgada para pensar em como iria solucioná-las. Passei as folhas de prova e resolvi conferir as minhas questões abertas, só pra ter certeza que não tinha escrito nenhuma besteira, apesar da minha mente estar vagando pra bem longe dali, brincando entre Nova Iorque e Brasil.

3) O que é megapixel?
Megapixel na verdade é apenas um número ligado a qualidade da imagem digital, um CCD com 3 megapixel é um CCD onde o produto de seus pixels na horizontal pelos pixels na vertical é da ordem de 3 milhões de pixels. Uma câmera digital que tem 3000 pixels na horizontal e 2000 pixels na vertical tem 6 000 000 pixels, ou seja, 6 megapixel (prefixo mega é igual a milhão). Em termos práticos, uma imagem de 3 megapixels gera uma excelente impressão em papel fotográfico, processo químico, no tamanho 10 x 15 cm.

4) Cálculo de Resoluções e tamanhos:
Ex: Maior lado da imagem 3888 pixels: 3888 dividido por 300 pixels (alta resolução) = 12.96 polegadas . 2,5 cm (tamanho da polegada) = 32,4 cm Consulte o manual de sua câmera, veja os tamanhos de imagem em pixels e monte sua própria tabela.

5) Qual é a relação entre a qualidade da imagem e o número de pixels?
A qualidade da imagem é diretamente proporcional ao número de pixels que forma a imagem. Maiores sensores de imagem produzem maior número de pixels que por sua vez irão gerar imagens digitais de melhor qualidade.
Full Frame Reflex Digital, fator de corte de imagem 1.1 x – tamanho 24 x 36 mm
1.3x Fator de corte, tamanho 28.7 mm x 15 mm
1.5x Fator de corte tamanho 18 x 24 mm
1.6x Fator de corre, Tamanho 22.5 x 15 mm
Quanto maior a área do sensor, melhor a qualidade da imagem.


6) O que é um CCD?
CCD significa charge-coupled device, ou seja, dispositivo de carga acoplada. É um sistema eletrônico formado por fotodiodos onde a luz incidente produz diferenças de potencial que são proporcionais a quantidade de luz incidente. Assim, quanto mais luz atingirem os fotodiodos que formam o CCD maior é a voltagem: esta é interpretada pelo sistema eletrônico da câmera e associa esses valores aos tons presentes na cena fotografada.

7) O que é um CMOS?
CMOS significa Complementary metal-oxide semicondutor, é produzido com tecnologia mais simples que os CCD e, portanto mais econômicos. Atualmente a qualidade dos detectores CCD são superiores aos CMOS.
Há diversos tamanhos de sensor e o formato padrão é baseado no filme 35 mm cuja área é 36×24 mm. Câmeras com sensor desse tamanho são conhecidas como “Full Frame” (quadro inteiro). Além dos sensores Full Frame temos os sensores menores, chamados de APSC que possui cerca de 50% da área de um sensor full frame (crop factor ou fator corte) que correspondem ao sensor imagens de tamanho 18x24mm.


8) O que é resolução de uma câmera digital?
A resolução de uma câmera digital é basicamente o produto do número de pixels na horizontal pelo número de pixels na vertical, quanto maior esse número, melhor é a qualidade da imagem. Agora cuidado, pois os valores em megapixel podem ser reais ou interpolados. A regra é 72 dpi, resolução de imagem para mídia eletrônica, como e-mail, publicação de imagens na internet e 300 dpi para impressão em gráfica ou laboratório fotográfico. Caso pretenda fazer banners ou imprimir cartazes, pergunte antes qual a resolução recomendada.

Reli uma, duas, três vezes, e quando vi que estava tudo certo e que eu estava a cinco minutos de entregar a prova, resolvi chutar as questões que ainda estavam em branco e entreguei-a terminada para Olivia. , Lucas e Sam terminaram junto comigo, e nós todos estávamos com aquela sensação de alívio. Primeira prova da semana: DONE!
- E agora, que faremos?
- Vamos pra casa terminar de estudar? Ainda temos quatro dias e seis provas pela frente, pessoal – respondi, dando uma espreguiçada no banco em frente ao nosso apartamento – E, tecnicamente, eu não sei o que vai cair na última prova.
- Ela vai ser prática, – Sam sorriu – Não viu o edital?
- Vi no dia que saiu, esqueci completamente.
- Quem vai aplicar é o Leishman – Lucas riu – Seu fotógrafo favorito, e você nem tá ligada no que tá acontecendo.
- Leishman vai aplicar nossa prova final prática? – senti minha barriga formigar – Tá brincando.
- De jeito nenhum, é o próprio – Sam sorriu – O que será que a aluna favorita que já teve fotos divulgadas na Super City ou sei lá o que do McFly vai tirar nessa prova? Hmm, que difícil.
- Cala a boca – eu ri – Será que vai demorar muito pros meninos chegarem a Nova Iorque?
- Mas já tá com saudades?
- Óbvio – sorri – Daqui a pouco vamos começar os preparativos pro natal e essas coisas e o não vai estar aqui.
- Nem o fez bico – Queria planejar algo especial pro nosso primeiro natal juntos, mas com ele fora e chegando quase em cima do natal, vai ficar complicado.
- Vai se vestir de mamãe noel, ? – Sam provocou, abraçando a pela cintura e dando um beijo e seu pescoço, nós todos rimos.
- Que mamãe o que! Quero algo mais sexy, uma elfa, sei lá.
- Elfa?
- Duende feminina – Lucas disse, quando viu a cara estranha de Sam.
- Não é exatamente uma duende feminina... – eu ia começar a dizer.
- Vai quer mesmo explicar pro Sam o que é um elfo?
- Qual o problema de explicar algo pra mim?
- Você nunca entende.
- Eu sempre entendo, vocês que não têm paciência pra me explicar nada.
- Parem de destruir o clima do nataaaaaaal – gemeu.

Eu sorri vendo aqueles três brincando e brigando, como sempre fazíamos quando estávamos sozinhos. Fechei meus olhos no banco só ouvindo as gargalhadas de e as vozes afetadas de Sam e Lucas, enquanto a irritavam. Tentei aquecer meu coração aproveitando a situação, mas por dentro eu sabia que eu estava ficando cada vez mais longe dali, eu podia sentir.

Algo ia acontecer nesse natal, e eu não estava com um bom pressentimento.

Capítulo 39
Especial de natal publicado no FFOBS em dezembro de 2012

Jingle bell, jingle bell, jingle bell rock
Jingle bells swing and jingle bells ring
Snowin’ and blowin’ up of fun
Now, the jingle hop has begun

Os meninos batucavam em algum lugar da casa de uma maneira tão alta que era impossível dormir. Com as tão queridas férias e sem nada pra fazer, eu e passávamos o dia todo com eles. One Direction fez um grande show no dia três de dezembro em New York no MSG, mas como nós estávamos com os exames finais, foi praticamente impossível desmarcar ou arranjar pra outro dia. Perdemos o show, perdemos a reunião de fãs e eu perdi a chance de ir pra NYC. ficou tão puto com tudo isso que resolveu dar um fora em uma entrevista quando perguntaram pra ele “quando você vai ter a intenção de ficar solteiro novamente?”, a resposta do meu lindo foi “quando a vontade de dar um soco na tua cara passar, ou seja, nunca”, e agora nós abafamos o caso.

A culpa da fúria de parou no jornal, as fãs falaram que a culpa de tudo era minha porque eu o deixava estressado, que eu estava atrapalhando a vida dele, que ele deu uma pequena desafinada ontem e a culpa era minha, ou seja, tudo de ruim que acontece na vida dele a culpa É minha! E eu tô no clima de mandar todo mundo ir se foder. Ando com muita coisa na cabeça, com essa proposta de voltar pro Brasil, abandonar a carreira por aqui e terminar o curso por lá, e eu nem conversei a respeito disso com ou com a própria . A única parte boa disso é que minha família foi bem compreensiva e me deixaram passar o Natal em Londres ao lado do pessoal, eles sabem muito bem que se eu voltasse pro Brasil, a probabilidade de eu voltar seria mínima, então... Melhor aproveitar cada momento. E esquecer desse detalhe e curtir o Natal... Natal!

Jingle bell, jingle bell, jingle bell rock
Jingle bells chime in jingle bell time
Dancing and prancing in jingle bell square
In the frosty air.
What a bright time, it’s the right time
To rock the night away
Jingle bell time is a swell time
To go gliding in a one-horse sleigh
Giddy-up jingle horse, pick up your feet
Jingle around the clock
Mix and a-mingle in the jingling feet
That’s the jingle bell rock.

- Eu vou MATAR essas desgraças! – bufou ao meu lado na cama se enrolando mais nos edredons e colocando o travesseiro de em cima da cabeça. – Ele me prometeu que ia cantar baixo, mas nããoo! Tem que cantar como se estivesse em plena arena de Wembley!
- Deixa de ser mal humorada, é Natal! – Cocei meus olhos pra encarar um quarto escuro, gelado e só habitado por mim e pela . – Natal em Londres, não tire essa minha felicidade.
- Pra sua informação, sua lesada, estamos no dia 23 de dezembro. AINDA não é Natal, então segura sua vontade de querer abrir os presentes – ela surgiu debaixo das cobertas e eu comecei a rir. – Segundo, fiquei acordada ontem com o seu namorado e o resto da banda até as três da manhã empacotando os presentes, enquanto a sua pessoa dormia lindamente no sofá!
- Você viu minha crise de espirros ontem? Não estou acostumada com esse frio londrino, não – cocei o nariz. – Tava a fim de querer os papéis de presente cheios de meleca?
- Não, – ela riu. – Escuta, o que você vai...
- THAT’S THE JINGLE BELL ROOOOOOOOOOOOOOOOCK!!!!

Cinco garotos abriram a porta do quarto e gritaram o final do refrão da música mais clichê natalina dos últimos séculos. , e pularam em cima de mim enquanto que e foram direto para . Eu gritei porque colocou as duas pernas em volta do meu corpo e tentava me roubar um beijo de qualquer jeito, e estavam em cima de , eu tinha três pessoas em cima DE MIM e eu acabei de acordar. tentava sair do meio de e , mas quanto mais ela se mexia, mais embolada ela ficava no meio dos meninos. Catástrofe!

- Ok, eu te amo, mas sai de cima de mim! – Falei empurrando pro lado e me engatinhando pra fora da cama, passando pelos outros meninos. – Que é isso? Tomaram quantas doses de energéticos essa manhã?
- Suficientes para ficarmos acordados até o Natal – respondeu, caindo na cama e agarrando por trás. – Vem cá, coração!
- ME LARGA, PORRA! – ria tentando se soltar de .
- Aposto que as fãs não sabem o quão inconvenientes e chatos vocês são pela manhã, especialmente você, ! – bufou.
- Aposto como tem muita fã querendo acordar do nosso lado, babe – ele piscou pra namorada e levou uma onda de travesseiros na cara. Merecido, merecido!
- Estamos já sem nada pra fazer, porém preparamos um café da manhã para nossas donzelas – levantou-se da cama e fez uma reverência para nós duas. – Escuta...
- NÃO! – já o bloqueou.
- Mas você nem sabe o que ele vai falar ainda.
- Cala a boca, , claro que eu sei! Nada de chamar a Lary pra passar o Natal com a gente, NADA! – ela olhou brava pra . – Não tô certa?
- Hmmm...
- EU SABIA!
- Qual o problema da Lary passar o Natal com a gente? – Perguntei.
- O que você ia achar se a Bells fotógafa gata parisiense fosse passar o Natal aqui, hein, ? – provocou. – Não ia te incomodar.
- Ehr – levantou a mão, ele ainda estava na cama com . – Que eu saiba eu não dormi com a Bells.
- Se você é um namorado fiel e bonitinho não vem ao caso, balbuciou fazendo muitos gestos com as mãos.
- Nesse caso, eu vou pra casa da Lary ficar com ela no Natal – disse por fim.
- Ah não, cara! Esse é meu primeiro Natal em Londres, eu quero passar com todos vocês! Ninguém sai dessa casa, é todo mundo junto – bufei. – , supera essa fase negra, pelo amor de Deus!
- Superar? – Ela arregalou os olhos pra mim. – Ela...
- THAT’S THE JINGLE BELL ROOOOOCK! – Eu cantei algo e os meninos começaram a rir, todos eles. – Vamos, , sorria e aproveita! Se o der alguma escapulida com a Lary eu juro que o presente que eu vou dar pra ele de Natal é uma vaginoplastia’, porque eu vou tirar essa porcaria que ele chama de ‘pinto’ do meio das pernas.
- EEEEIIII!!! – Os meninos começaram a rir mais ainda e se alterou. – Porra, !
- Se comporta, – pisquei pra ele. – Bom, agora que todo mundo já tá acordado, , tira o pé da minha câmera!
- Desculpa – ele riu.
- Enfim, eu tô com fome, o que vocês fizeram pra comer?
- PANQUECAS! – e responderam felizes. – Vamos?
- Vamos – falei e puxei pelo braço. – Vamos, irritadinha de Londres, vamos comer as panquecas dos meninos.
- Pensei merda – ela riu baixo.
- Você sempre pensa merda – respondi a abraçando e indo pra cozinha, ouvindo os cinco atrás de nós cantarem de novo Jingle Bell Rock.

Realmente, os meninos fizeram um belo de um banquete para nós naquela manhã gelada e ensolarada de dezembro. Houve uma guerra de panquecas na mesa, o que resultou em massa e maple syrup nos cabelos de e pijamas de todo mundo. Só pra constar, não era nem meio-dia...

- Quando vamos abrir os presentes? – Perguntei me jogando no sofá da casa de e vendo se deitar ao meu lado. – Tem mesmo que ser dia 24?
- Na verdade abrimos os presentes na manhã de Natal - respondeu fazendo carinho no meu cabelo. – Não é assim no Brasil?
- Sem neve, sem bonecos de neve e muito menos sem abrir os presentes na manhã de Natal, sempre abrimos na noite da ceia. E como é geralmente muito calor nessa época do ano, passamos o dia seguinte em um bar bebendo cerveja ou na praia ou até mesmo na piscina. Fazemos churrascos com a família – suspirei e sorri. – Nossa, que saudade da família .
- Hey, babe – me aninhou um pouco mais ao seu peito. – Sua mãe autorizou você passar o Natal conosco, somos sua família também.
- Não a considero parte da família – disse e começou a rir. – O dia que vocês terminarem eu vou dar em cima da , se ela for família vai ser incesto.
- CALA A BOCA! – Comecei a rir e joguei uma almofada em cima dele. – De todos os meninos da sala, eu pegaria – olhei pra ele e pisquei. Na mesma hora os meninos gritaram em protesto. – Quê?
- Tom Fletcher eu aceito, agora o ? – me olhou assustado e eu ainda ria. – Oi, prazer, sou seu namorado! Lembra de mim?
- Ai, – me levantei. – Olha, com o não rola porque seria uma coisa muito óbvia, sabe? Tipo, todo mundo acha que eu vou te trair com ele, eu até já li isso em algum lugar no tumblr – cocei a nuca, os meninos só sabiam rir.
- Podemos ter um caso em particular...
- EI!
- , cala a boca – eu ri. – Bom, com o você ia ficar aí todo mordido de ciúme já que ele gostou de mim e essas coisas... – eu disse de forma leviana e vi se encolher no sofá de vergonha, como se fosse uma concha. – não posso nem chegar perto, caso contrário a me mata.
- Aham – ela agarrou o pescoço do namorado.
- E me sobrou o , que acabou levando um chifre e não ganhou nada com isso.
- E O MEU CHIFRE? – também levantou e me encarava e também fazia isso com os meninos. – Eu sei que é brincadeira, eu sei, mas me dá uma coisa ruim aqui – ele massageva o peito e fazia caretas, prato cheio pra piada!
- vai ter infarto porque a namorada tá declaradamente falando que quer pegar outro membro da banda? É isso mesmo, produção? – ria e quase dava cambalhotas no sofá.
- E não apenas isso, ela explicou com detalhes o motivo pelo qual ela quer ficar com aquele outro membro – acrescentou. – Vai que é sua, .
- Tô aceitando – disse de forma tímida, mas me olhou da cabeça aos pés e eu sorri, também tímida. – , Papai Noel te trouxe uma surpresa, e das grandes.
- AHHHHHHHH – gritei e tapei meus olhos, apontou para os países baixos. A sala toda começou a gargalhar. – , me respeita, moleque.
- Faz propaganda e agora foge, nem pensar! – disse. – Vai sentar no colo do Papai, vai, .
- Senta, senta, senta, senta – , e batiam palmas e agitavam o clima.
- Senta o caralho – me pegou pela cintura, levantando-me e fazendo nós dois cairmos no sofá e eu sentando em seu colo. – É aqui seu lugar, só aqui.
- Me solta, – eu ria enquanto segurava mais em seus braços, não queria sair dali.
- Solta ela, ! – falou. – Ela é minha, ela mesma quer isso – começou a rir e vir na nossa direção, acabou se jogando em cima de mim.
- PARA COM ISSO, SAI DAQUI! – tentava empurrar de cima de mim, mas a única coisa que acontecia era ficar me prensando mais e eu acabava ficando sem ar de tanto rir.
- , vou dar em cima de você – ouvi dizer e uma gritaria de e acabar poluindo o ambiente. – Fala sério, não posso dar em cima de ninguém?
- Vem aqui que eu tô sozinho – disse e agora foi a vez de gritar e sair correndo.

Ficamos nessa bagunça por um bom tempo; saiu de cima de mim para pegar , veio pra cima de mim e acabou desisistindo e foi pra cima de . estava proibido de ir pra cima de qualquer pessoa que não fosse a devido aos últimos acontecimentos recentes. E assim ficamos correndo um atrás do outro, a mesma bagunça de sempre. Nossa bagunça, nosso mundo.

Londres, na época natalina, era exatamente do jeito que eu sempre imaginei. Neve, frio e com luzes piscando para todos os lugares. Quando eu cheguei aqui, depois do dia dos namorados, eu já cheguei reclamando que queria ver neve! Nunca vi nada nem parecido, e minha mãe sempre dizia “Quer ver gelo? Abre a geladeira”. Eu, óbvio, emburrava. Eu vi o tempo ficar cinza, escuro, chuvoso, denso, deprimente, calor, ensolarado, vi a primavera, as flores, o outono com as ruas lotadas de folhas marrons, mas faltava o principal: os grandes floquinhos brancos gelados de algodão caindo do céu. riu quando eu acordei algumas semanas atrás e me joguei, de pijama, no quintal em frente a casa dele. Fiz o que sempre quis fazer – um anjinho – e fiquei ali parada sentindo os flocos gelados e úmidos baterem em minha pele fazendo cócegas deliciosas, misturando-se com as lágrimas infantis que molhavam meu rosto. Foi uma emoção criança chorar com neve, mas fazer o quê? Fico feliz com as poucas coisas que a vida me proporciona, e se naquele dia ela me proporcionou neve, vou chorar com isso! Meu namorado foi completamente compreensível e ainda disse “Acho que no dia em que eu pisar na areia de Copacabana, também vou chorar”, e devo acrescentar que foi fofo ver ele tentando falar Copacabana sem sotaque, mas saiu algo mais parecido com ‘Côpacabána’ com acentuação gráfica e oral em todas as vogais erradas.

Nós dois saímos no final da tarde do dia 23 para comprar alguns enfeites para a casa. Decidimos passar o Natal no nosso apartamento – quando digo nosso, quero dizer meu e de – por ser mais aconchegante e bem a nossa cara. O campus estaria vazio nessa época e era um bom jeito de não chamarmos a atenção dos fãs – no dia de Ação de Graças algumas delas resolveram acampar na frente da casa dos meninos e tivemos que dividir o peru com quarenta meninas que passaram três dias sem comer, sem tomar banho e ser fazer xixi – era uma boa oportunidade para ficarmos sozinhos e comemorarmos o Natal em paz.

Enquanto caminhávamos pelas ruas vazias de Londres, já que escolhemos um bairro alternativo para comprarmos os últimos presentes – na verdade, os meus presentes porque eu deixo tudo pra cima da hora – um silêncio incômodo se instaurou entre nós dois. Eu sentia que queria falar alguma coisa, mas eu também queria falar alguma coisa. A carta de admissão para trabalhar com a Miriam Rezende – fotógrafa paulista de muito renome – chegou uns dias atrás, e eu não tinha conseguido falar com ninguém a respeito disso. Sem falar que isso consistia em eu voltar pro Brasil, fazer um estudo mais aprofundado da fotografia no meu país, estudar Arte Moderna, a semana da Arte Moderna, o impacto que a fotografia teve na pintura, em artistas como Tarsila do Amaral e até mesmo em autores... Em resumo, estou ficando louca. Vim pra Londres porque sei que aqui é um dos polos intelectos mundiais, mas não posso também deixar de pensar que no Brasil há várias maneiras de explorar a história e as oportunidades. Meu país é muito rico em ideias, em genialidade, criatividades, cores, dança, musicalidade! Tenho muito orgulho em ser brasileira e de certa forma estou com saudade do meu país; porém, só de pensar em deixar , os meninos, a ... Deixar Londres!

- Você tá quieta demais – apertou minha mão quando paramos em frente a uma loja vintage. – Que foi?
- Perdida em pensamentos – ri sem humor. – Acho que ando com saudades da minha família, do meu país.
- Não é a primeira vez que você fala isso – ele suspirou. – , se você quiser passar o Ano Novo lá com seus pais não tem problema.
- , não é isso – suspirei e abaixei a cabeça. – É que eu acho que se eu voltar pro Brasil eu não volto mais pra cá, entende?
- Por causa da proposta?

O quê? Ele... Ele...

- , não tem como você esconder as coisas de mim, e eu juro que dessa vez eu não abri correspondência nenhuma ou fui fuçar suas coisas – estava de frente pra mim segurando minhas duas mãos e sorrindo. – E eu imagino que você deve estar se perguntando como eu descobri isso.
- ÓBVIO!
- Você deixou a carta em cima da sua cama, a leu e começou a chorar. Eu perguntei o que era e ela me disse.
- E desde quando aquela pessoa sabe alguma coisa de português? A carta estava em português – acho que estava ficando histérica.
- A traduziu.
- O QUÊ?
- Quer parar de gritar? – Ele riu. – Vamos dizer que a palavra “proposta” não é tão difícil assim de ser entendida em português, e nem fotografia, estúdio e Brasil sorriu de lado com um ‘quê’ de culpa, ele também tinha participado da tradução clandestina, tenho certeza. – Eu só acho que você poderia ter sido sincera e falado com a gente antes, qual o problema?
- ! – Gemi. – Eu não contei nem pros meus pais quando me inscrevi no programa de bolsas para estudar em Londres, você acha que eu ia contar pra vocês da proposta de voltar pro Brasil? Tá doido?
- Por quê? – Ele sorria, mas não era um sorriso totalmente sincero. – , meu amor, é sua carreira! É a sua vida, o que você ama...
- Eu amo você – respondi já com a voz pesada. – Eu acho que amo você mais do que amo...
- NÃO! – me bloqueou. – Você não pode me amar mais do que outra coisa, tá me entendendo – ele segurou meu rosto e selou meus lábios. – Essa não é a minha , não é a garota por qual eu sou louco! Ela não tem sentimentos com as outras pessoas, ela pensa sempre primeiro nela e é por isso que eu te amo.
- Era pra eu me sentir melhor? – Funguei e comecei a rir. – Porque não estou.
- É pra você se lembrar de quem você é – disse. – Se há uma proposta pra você melhorar o seu profissional no seu país, você vai! Não importa se você vai deixar a , os meninos e a mim. Eu não vou ficar feliz sabendo que você ficou em Londres por um relacionamento, tá me entendendo?
- Mas eu vou me culpar muito se eu tiver que ir embora e deixar você – falei mordendo os lábios. – Eu sei que eu não sou assim, mas se sou uma bocó apaixonada a culpa é completamente sua, .
- Sei que sou irresistível – ele riu e me beijou rápido. – Porém aprenda a viver um pouco longe de mim e fazer sua carreira. Isso não significa que vamos deixar de nos amar, que eu vou parar de sentir o que eu sinto por você. Eu te amo, e mesmo se você não volte mais ou não dê para te ver no Brasil, esse amor aqui não vai mudar. Você vai conhecer outra pessoa, eu também vou, mas isso – ele apontou pra nós dois e eu quase chorei. – É nosso, é pra sempre, único.
- Eu não... Eu...
- Não chora – ele sorriu e me abraçou forte. – É Natal, não vou deixar você chorar e nem se preocupar com essas coisas. Só saiba que, não importa o que você decidir, vai dar certo e eu vou te apoiar, combinado?
- Amo você – murmurei com os lábios encostados em seus ombros. – Não me deixa desamparada, por favor?
- Nunca – senti o peso do corpo de soltar um pouco no abraço.

Demoramos duas horas nas ruas londrinas. Voltei pra casa com lembrancinhas toscas para os meninos, uma coisa mais caprichada para e – óbvio – algo bem lindo para Tom Fletcher. É, eu sei que por um momento alguém pode ter achado que eu ia falar , mas o presente de está pronto desde nossa primeira semana de namoro, eu sempre soube que íamos passar o Natal juntos. Agora para Tom, achar uma Estrela-da-Morte (Lego) não foi assim, tão fácil, e eu tive que chorar muito pra vendedora fazer um preço bacana – ela gostava de enfatizar o fato de que meu namorado era rico, e eu gostava de enfatizar o fato de que ele não ia pagar meu presente. perguntou qual era a criança que ia ganhar Lego de Natal, e quando eu disse que seria Tom, ele começou a rir mais ainda, seguido de ‘você conhece demais Tom Fletcher’, como se isso fosse alguma novidade.

Ele teve que parar algumas vezes para tirar fotos com as fãs, algumas eu até já conhecia. Geralmente, na vizinhança, as fãs sabiam que horas os meninos saíam, era assustador, mas fazer o quê? Até mesmo já sabia o nome das meninas, era bem engraçado. Elas deram presentes de Natal para ele e os meninos, eu ganhei algumas coisinhas também – fiquei surpresa – e depois conseguimos voltar pra casa. Sempre que eu via com as fãs, meu coração inflava e eu sentia meu peito doer com a sensção de nunca mais estar perto dele para vê-lo sendo lindo com essas meninas. Elas não querem nada em troca, apenas um momento com o ídolo, e ele sempre muito atencioso, fazia com que esse momento fosse o melhor da vida delas. E para mim, era o momento onde eu percebia que havia ali descoberto um amor que, se não fosse pra vida inteira, pelo menos marcaria metade dela.

Enquanto estava ainda com as fãs, me afastei um pouco e fui para o outro lado da rua, me encostando em uma ponte e vendo Londres ao longe; brilhante, cheia, linda. Olhei pro céu e não consegui ver nenhuma estrela, estava muito nublado, mas mesmo assim a cidade ainda brilhava com as luzes artificiais. Suspirei vendo toda aquela cidade apenas para mim, com todos os meus desejos e sonhos a poucos metros. Eu não podia abandonar tudo e voltar pro Brasil, não agora que, pela primeira vez, estava fazendo sentido, onde eu finalmente tinha me encontrado. Estava sim, com uma oportunidade de primeira nas mãos, mas tenho certeza de que algo bom iria acontecer pra mim na Europa, tinha que acontecer! Eu batalhei tanto, pra que isso agora? Abandonar tudo na primeira oportunidade?

“Mãe, eu não vou voltar. Te ligo depois do Natal, por favor não surte até lá e desculpa estragar a ceia. Te amo – x”

Essa foi a mensagem mais difícil que eu já escrevi desde que vim pra cá.


- Tom ligou – foi a primeira coisa que disse quando eu e atravessamos a porta da casa dele, cada hora estávamos na casa de um dos meninos.
- Jura? – Respondi tentando conter minha animação, mas deu um tapa na minha bunda meio que me incentivando. – Ai caralho, vai dizer que ele nos chamou pro Natal?
- Porra – riu. – Não pra ceia, mas ele disse que quer nos ver.
- AI MEU DEEEUS! – Derrubei as sacolas no chão e comecei a pular feito uma idiota, os meninso riram. – Isso é sério, ?
- Claro que é! Não tem por que eu mentir pra você, tem?
- Não, porque você é minha primeira opção se o me deixar – falei rindo e vi-o gargalhar de forma fofa na minha frente.
- Não me esqueci disso, – ele sorriu de forma malandra e saiu na direção à cozinha.
- Bom, Tom ligou... E aí? – Sentei ao lado de e peguei um pouco da pipoca que ele estava comendo. – Que você tá assistindo?
- Grinch – ele respondeu com a boca cheia. – Digno de Natal.
- Não gosta dessa época do ano? – Eu ri.
- Gosto, mas torço pro Grinch, ele é genial.
- Você é estranho, , bem estranho – eu ri. – Cadê o resto do povo?
- vai sair daqui a pouco pra dar o presente de Natal pra Lary, pelo que eu vi é alguma coisa com ‘trinta minutos de amor comigo’.
- SÓ TRINTA? – Agora quem engasgou fui eu, se matou de rir no sofá. – Que é isso, ela merece mais!
- É o que o aguenta – respondeu e eu quase engasguei de novo, comecei a tossir como uma doida.
- EU TÔ OUVINDO, CARA! – gritou de algum lugar da casa.
- Foda-se – disse baixinho, foi estranho porque não estou acostumada a vê-lo falar palavrão.
- Ok, e os outros meninos?
- e foram pra casa dele se pegar, ouvi alguma coisa de ‘fantasia de Mamãe Noel sentando no colo do papai’...
- Eca! – Eu fiz careta, que cena ridícula!
- É, eu sei, eca – riu. – foi pra casa dele tomar banho, eu tô aqui sem fazer nada comendo pipoca e o seu namorado entrou e não voltou ainda – ele olhou pra mim e sorriu. – E você está aqui.
- E eu estou aqui – sorri. – , posso te perguntar uma coisa?
- Sempre – ele abaixou o volume da TV e se virou pra mim. – Que foi?
- Você ainda... Gosta de mim? – Mordi os lábios. – Se não quiser responder não precisa, eu só... É curiosidade.
- Eita, – ele riu e coçou a nuca.
- Desculpa se eu te deixei desconfortável...
- É claro que sim – ele sorriu e ficou vermelho. – É meio difícil não gostar de você te vendo todo dia, mas eu aprendi lidar com isso. É uma sensação boa gostar de você, isso aqui já está de bom tamanho pra mim.
- Você é tão fofo – sorri e começou a rir. – Mas desapega, sério! Você precisa de uma garota que te ame o dia todo, você é tão especial.
- Obrigado – ele fez careta, sempre fazia careta quando ficava tímido. – Eu vou encontrar, enquanto não acho fico te amando por tabela, e tem o que insiste que iniciar um relacionamento homossexual comigo – nós dois rimos. – Mas não é exatamente isso o que você tem pra me contar, estou certo? – Ele deu um peteleco no meu nariz e eu sorri. – Tenho a vantagem de saber o que se passa na sua cabeça, .
- Sei disso, por isso te nomeei de melhor amigo – eu ri. – Eu tô bem ferrada, .
- Por quê? – Ele pareceu preocupado.

Contei pra ele toda a história do Brasil, de voltar pra lá, do curso, da oportunidade e, especialmente, de como reagiu a essa história toda. prestava atenção em casa detalhe, e quando eu parava no meio achando que estava sendo chata demais, ele pedia para eu prosseguir, como se quisesse que eu terminasse logo para ele dar uma opinião a respeito. Vi ir embora para a casa da Lary, vi ir na cozinha pegar algo, olhar pra nós e voltar pro quarto, vi voltar cheiroso e dizer que ia estar assisitindo um filme com meu namorado no quarto (debaixo das cobertas, agarradinho) e não vi voltar com da sessão amassos. Terminei de contar, acabei chorando no meio das palavras e depois me recompus.

- Que faço? – Falei ao fim, fungando pela última vez e vendo um embaçado na minha frente. – Você é a única pessoa que vai ser sincero comigo, porque vai falar que é importante pra minha carreira e eu preciso ir, mas tenho absoluta certeza de que não é exatamente isso o que ele está pensando.
- – ele suspirou e sorriu. – O que você quer?
- Como assim? – Assustei-me.
- Simples – ele riu. – O que é mais importante pra você? , você tem que ir pra sua direção, para o que vai fazer diferença na sua vida e não ir pela opinião dos outros. Então, o que a quer da vida?
- Ai... – eu ri nervosa, na verdade eu queria chorar. – Eu não... Eu não pensei nisso ainda.
- Então acho que seria bom você começar a pensar, porque não é sempre que surge uma oportunidade dessas na vida. Eu e os meninos vamos estar aqui pra sempre, o próprio disse que vai continuar te amando. Mas se você der as costas pra essa chance, pode se arrepender pro resto da vida, e quando eu digo ‘resto da vida’ não é de uma maneira exagerada, acredite.
- Mas e se o esquecer de mim? Eu não posso dar as costas pra um relacionamento e muito menos dar as costas pra você.
- Meu amor – se aproximou mais de mim e segurou minha mão. – Há quase um ano nós nem existíamos na sua vida, porém há quantos anos você quer ser uma fotógrafa profissional? – Era uma pergunta retórica, seu sorriso misterioso já dizia isso, ele não esperava uma resposta porque ele já a sabia. – Essa é sua prioridade.
- Eu não me vejo sem vocês, não me vejo sem ele – e de novo, eu chorava. Desde quando chorar virou uma rotina?
- E nós não te vemos sem uma câmera em mãos – sorriu. – Vamos estar aqui pra sempre, ou até um de nós ser atingido por um ônibus ou nosso avião cair em algum lugar do Pacífico...
- CALA A BOCA! – Bati nele com um travesseiro e gargalhou. – Nunca mais diga isso, nunca mais!

Era perto da meia-noite. estava embolado em um edredom com a perna em cima da minha, estava estava deitado em um colchão no chão perto da TV meio acordado e meio dormindo. e Lary deitados meio conchinha em uma das camas de casal do quarto, comportando-se como duas pessoas que já estavam em um relacionamento duradouro, e também estavam deitados em uma cama de casal, mas quase toda hora eu ouvia uns estalos de beijos, estava encostado na cabeceira da cama e eu em seu peitoral, sentindo sua respiração em cima dos meus cabelos enquanto terminávamos de assistir “Esqueceram de Mim 2”. Não passávamos muito tempo na casa de , já que ele tinha uma certa frescura com bagunça e nós não éramos exatamente o esquadrão mais organizado do mundo. Mas devo confessar que a casa dele, de todos os meninos, era uma das mais bonitas; quem tem um quarto enorme desse jeito com duas camas de casal e capacidade para aguentar oito pessoas bagunceiras que se comportam como crianças de seis anos? e eu estávamos na mesma cama de casal que e Lary, porém, como as duas camas estavam juntas, eu acho que nós estávamos mais ou menos no meio entre uma e outra – se eu escolhesse de livre e espontânea vontade ficar na mesma cama que a Lorelai, ia aguentar uma chata e reclamona o resto do Natal.

Oficialmente era véspera de Natal, olhei no relógio e já apontava 00:01 e a moça das pombas estava novamente me assustando. Eu tenho um medo infantil dela desde a primeira vez que vi o filme, talvez essa seja uma das razões pelas quais eu nunca tive vontade de visitar NYC, medo de encontrar a velha das pombas – eu sei que ela é boa, assim como eu sei que nem todos os palhaços são assassinos, mas meu subconsciente criança ainda não sabe disso. Eu podia ouvir claramente roncar no colchão abaixo de nós, Lorelai e e as respirações profundas de quem estava dormindo, me dar chutes de uma pessoa inconsciente, e de conchinha dormindo como dois bebês. Acho que eu era a única acordada, porque a respiração de também estava bem pesada atrás de mim. Tirei o braço dele, que estava ao redor de minha cintura, e afastei o pé de , com cuidado levantei em silêncio e fui saindo do quarto. Antes de sair, vi minha polaroid em cima da estante – nós passamos um bom tempo tirando fotos e fazendo um álbum do nosso primeiro Natal – e resolvi tirar uma foto daquele momento, caso eu fosse embora pro Brasil, queria uma lembrança de todos. Bati duas vezes, uma ficou mais fofa e linda que a outra, deixei uma em cima da estante e a outra coloquei na minha bolsa que estava jogada em um canto do quarto. Eu não estava com sono, na verdade eu estava era com muitos pensamentos e sabia que não ia conseguir dormir, e, de uma forma bem estranha, aquele quarto estava me deixando sufocada.

Fui pra cozinha, tomei dois goles de água bem gelada a fim de despertar meu corpo e minha mente, comi uma panqueca com xarope – cozinha muito bem – e me joguei no sofá da sala. Meu celular estava na mesinha ao centro e piscava a cada dois segundos... Mensagem. Sabia de quem era, minha mãe devia estar bem puta comigo ou no mínimo desesperada, não sei se estava pronta para ler as mensagens agora. Ignorei a luz que aparecia e me virei pro outro lado, mas o reflexo do meu celular piscante ainda me incomodava na parede. Ah, que se dane!

, como você me dá uma notícia dessas por mensagem? – Mãe”

“Acho bom você largar esse seu namoradinho por cinco minutos e ligar para sua mãe, estamos preocupados com você. Não faça nenhuma besteira! – Pai”

“LIGA PRA MIM AGORA!” – Mãe”

“Sua mãe tomou calmantes, liga pra cá assim que você ver essa mensagem. Não estamos bravos, apenas preocupados com seu futuro – Pai”

“EU ESTOU BRAVA! – Mãe”

“Hey star girl, não sei se o te deu o recado. Vamos fazer uma bagunça aqui em casa no dia 25, vocês vão vir. Não é um convite, é uma intimação – Tom”

“Geralmente você responde as minhas mensagens de maneira mais rápida, tá tudo bem? – Tom”

“To pelado – Dougie”

“Nem o Dougie pelado funcionou, devo mandar o Judd pelado? – Tom”

“Ok, nos ligue quando der – Tom”

E no Twitter:

@tommcfly @stargirl tá viva?

@dougiemcfly @stargirl continuo com a mesma ideia: estou pelado x

@mcflyharry pronto, ela não vai mais responder RT @dougiemcfly @stargirl continuo com a mesma ideia: estou pelado x

Ai Deus!

- ? – surgiu com a cara toda amassada na sala enquanto eu ria baixo dos últimos tweets dos meninos e das mensagens desesperadas da minha mãe e do meu pai. – Que horas você saiu do quarto?
- Uns vinte minutos atrás, não queria acordar ninguém – sorri. – Só não estava conseguindo dormir.
- Você sabe que eu não durmo sem você – ele bocejou, meu coração inflou como se eu tivesse doença de chagas. Comparação ridícula.
- Ai que neném – ri. – Vem aqui, deita comigo, não vou pra cama tão cedo.
- Ok – veio e deitou no meu colo em posição fetal, ele de verdade estava com sono e manhoso. Combinação perfeita pra ele ficar mais apaixonante. – Você tá bem?
- Só aguentando surtos da minha mãe, meu pai e dos meninos do McFly – falei enquanto fazia carinho em seus cabelos e rolava o celular vendo as mensagens novamente. – Tom ficou meio desesperado porque não conseguiu falar comigo.
- Ele tem uma queda por você, bizarro – disse num tom grave e depois começou a rir. – Não o culpo.
- Também tenho uma queda por ele, acho que poderíamos ser felizes juntos.
- Tô com sono, mas não tô morto e muito menos surdo – ele deu um beliscão de leve na minha perna, nós dois rimos. – O que seus pais queriam?
- Saber como eu estou – menti.
- E como você está?
- Bem.

Silêncio.

- ?
- Hm?
- Eu não vou voltar pro Brasil.

Silêncio, parte dois.

- ?
- Vamos conversar disso amanhã – ele se virou de barriga pra cima e abriu os olhos, um pouco vermelhos devido ao sono.
- Não há nada o que conversar, eu não volto.
- Hm... – ele resmungou. – Deita aqui comigo?
- Quê?
- Coloca o celular na mesa e deita comigo? Não consigo dormir com você assim, acordada, inquieta e falando besteira.
- Não é besteira!
- ?
- Humpf! – Resmunguei colocando o celular na mesinha do centro.

deu espaço para mim no sofá, me deitei ao seu lado e ele me abraçou pela cintura, ficando na forma conchinha comigo. Sua respiração quente batia em meu pescoço, já que sua cabeça estava enterrada naquela curva. Ele depositou um beijo preguiçoso ali e me apertou mais ao seu corpo, como se quisesse falar algo que com palavras não estava conseguindo. Senti-o relaxar e colocar uma das pernas em cima das minhas, eu fiquei ali parada com esse misto de sensações gostosas que só ele conseguia proporcionar. Entrelacei nossos dedos e encaixei meu corpo no seu, relaxando minha musculatura e começando a fechar meus olhos. A única coisa que lembro dele ter falado foi “conversamos disso depois”, e depois nós dois apagamos.

24 de dezembro. Temperatura: CONGELANTE! Roupas: todas possíveis. Local onde me encontro: Jardim da casa do . Fazendo o quê? Aguentando minha mãe gritar no telefone comigo.

- Eu já disse mil vezes que você vai voltar pro Brasil, . Que palhaçada é essa? Vai ficar aí por causa de um namorado? E sua carreira?
- Mãe, o não é apenas meu namorado!
- Se você falar que o ama de novo eu quebro sua cara por telefone – acho que agora dá pra entender por que eu tinha tanta dificuldade em dizer isso pro . – Não existe amor antes dos trinta!
- MÃE!
- Eu não amei seu pai antes de me casar, fui amá-lo só depois! Mas ele era uma boa pessoa, por isso nos casamos.
- Muito obrigada por me avisar que seu casamento é um fracasso – bufei. – Não quero saber se você amava o papai antes ou depois, eu amo o e não vou deixar um trabalho atrapalhar nosso relacionamento.
- TRABALHO? É SUA CARREIRA! Você bateu tanto o pé pra essa porcaria de curso, agora que surge a oportunidade da sua vida...
- Porcaria? – Lá vamos nós com essa discussão de novo. – Incrível! Eu pensei que já tivéssemos superado essa fase, mãe.
- Eu permitir que você siga essa carreira é uma coisa, aceitar é outra. Acredito muito mais no seu potencial como advogada do que como uma simples fotógrafa. E você sabe disso, não há porque eu falar tudo de novo.
- Simples fotógrafa?
- Para de ficar prestando atenção em palavras separadas e presta atenção no contexto todo?
- Então faça o mesmo, mãe. Qual a parte do eu não vou voltar pro Brasil e eu estou apaixonada por a senhora não entendeu?
- Não seja grossa comigo.
- Não se faça de tonta comigo!
- Se o seu namorado tem condição de se sustentar sozinho porque ele é um novo popstar, o problema é dele! Você não tem, e se você não voltar pra casa, não vamos mais te enviar dinheiro todo mês.
- O QUÊ?
- Exatamente, ! Ou você volta pra casa ou começa a catar lixo nas ruas de Londres. E então?
- Você não faria isso comigo.
- Não simplesmente faria como vou fazer. Ou você prefere ficar sendo sustentada pelo seu namorado?
- não me sustentaria, eu pelo menos nunca permitiria isso.
- Então...
- Eu não acredito que você está fazendo isso comigo.
- A escolha é sua, mas você não me deixa outra opção.

Desliguei o telefone na cara da minha mãe. Ah, ótimo dia pra começar a véspera do Natal! Quando entrei, os meninos estavam esparramados na sala vestindo típicas roupas natalinas e gorrinhos vermelhos. Assim que passei pela porta, veio correndo até mim com um visco em mãos, segurando-o em cima de nossas cabeças com aquele sorriso sapeca no rosto.

- Sabem o que dizem sobre viscos, não sabe?
- Esse é de plástico – respondi olhando pra cima e rindo. – Desde quando você precisa de uma plantinha pra me beijar?
- Entra no clima do Natal, por favor? – Ele fez bico.
- Ain... – resmunguei de pirraça e dei um selinho nele. – Tá feliz?
- Bem melhor – nós rimos.
- , acabou de passar uma propaganda do Natal pelo mundo e passou o Brasil – Lary disse apontando pra TV de uma forma animada. – Nossa, seu país é muito lindo.
- Obrigada – falei me jogando no sofá ao lado de e roubando uma de suas bolachas amanteigadas. – Ensolarado, né?
- É daquele jeito o ano todo?
- Bom, não o ano todo, mas a maior parte.
- Quando vamos pro Brasiiiiiiiiiiiil? – disse batendo as pernas no sofá como uma criança mimada. – Sol, praia, surf...
- Biquínis – comentou e levou um tapa de Lary. – Que foi?
- Menos, .
- Se o pumpkin for pro Brasil, vai precisar passar protetor solar fator 500! Olha a brancura desse moleque – levantou a camiseta de e mostrou a sua translúcida pele, todos gargalharam.
- Falou a rainha da cor do pecado, né? Já se olhou no espelho, meu amor? – disse rindo tentando levantar a blusa da namorada, em vão.
- Não gosto de praia, vou passar o dia todo debaixo do guarda-sol.
- São praias brasileiras, , não são qualquer praia – apareceu se jogando no meu colo e derrubando algumas bolachas de no chão. – Foi mal – o olhou feio e eu abracei pela cintura, protegendo-o.
- O negócio é o seguinte: vocês têm milhões de fãs no Brasil, acho digno irem logo pra lá fazer uma mega tour e deixar as ‘directioners’ felizes da vida.
- Ela tá falando o nome do fandom – colocou a mão no coração fazendo drama.
- É um milagre de Natal – disse rindo.
- Bando de babaca – joguei uma almofada em cada um enquanto ouvia o resto do pessoal zoar da minha cara só porque disse o nome do fandom. Idiotas.

Depois de passarmos a manhã fazendo nada e a tarde comendo e terminando de embrulhar os presentes, finalmente chegou a hora de irmos para a casa de Tom. Véspera de Natal é sempre uma delícia, mas digo que passar a véspera com neve e bonequinhos é muito mais interessante. O que tínhamos em mente na verdade era ficarmos em casa de pijamas natalinos, vendo filmes a madrugada toda e comendo porcarias, os meninos iriam cantar aquelas canções chatas, um deles ia se fantasiar de Papai Noel – provavelmente – alguma de nós ia ser a Mamãe Noel – provavelmente – e, no fim, papai e mamãe iam copular – com certeza e . Por mais que eu ame o Fletcher e amo a paixão desse menino por Natal, eu queria passar esse dia com , por mim até os outros meninos podiam desaparecer, eu só queria ficar com . Oficialmente virei uma idiota apaixonada, mas o que posso fazer?

- Tom ligou – entrou no quarto onde eu estava. – Disse que está vindo pra cá.
- O QUÊ? – Eu engasguei no meu próprio susto. – Como assim?
- Alguma coisa sobre “melhor aí do que aqui” e sei lá. Como você entende o que o Fletcher diz?
- Quase dez anos amando a banda, alguma coisa eu tinha que aprender – eu ri.
- O que temos aí em cima da cama? – falou quando viu o vestido que eu havia reservado para o Natal. – Nossa!
- É, eu ia com ele pra casa do Fletcher, mas já que ele está vindo pra cá vou ficar de pijamas mesmo – dei de ombros. – Que achou? – Perguntei levantando o vestido. - E lindo – vi o sorriso de abrir. – Quando comprou?
- É da minha mãe – eu ri sem graça. – Nós duas temos praticamente o mesmo tipo de corpo, e eu sempre fui apaixonada por esse vestido.
- Dá pra imaginar porque o seu pai se apaixonou pela sua mãe, se você têm o mesmo tipo de corpo e saem por aí com esse vestido – chegou mais perto com um sorriso nos lábios e pegou o vestido. – É muito bonito.
- Pena que não vou poder usá-lo – suspirei. – Não hoje.
- Pode usar no nosso jantar depois do Natal – ele sorriu de lado, esbanjando charme.
- Jantar, ?
- Sim, como não vamos passar o Natal sozinhos, pensei em te sequestrar por um dia. Se não tiver problemas pra você, óbvio.
- Sabe – joguei meu vestido em cima da cama. – Estava pensando a mesma coisa.
- Ótimo – ele riu e me segurou pela cintura.

encostou de leve os lábios nos meus só para dar tempo de nós dois sorrirmos ao mesmo tempo, depois fomos abrindo-os e iniciando o nosso tão famoso beijo. Suas mãos se apertaram mais ao redor da minha cintura e me ergueram do chão, jogando-me na cama e se jogando por cima de mim no instante seguinte. Eu comecei a rir quando ele iniciou beijos desastrosos pelo meu pescoço, me faziam cócegas. Abri minhas pernas deixando se encaixar em mim e ficar mais confortável, os beijos desastrosos começaram a criar formas e ficarem mais concretos e gostosos. Sua boca encontrou-se novamente com a minha,eu tinha um desejo de beijá-lo o tempo todo, ainda mais nesse tipo de situação. Enterrei minhas duas mãos em seus cabelos e apertei mais minhas pernas ao redor do seu corpo, sentindo dar sinais que estava gostando do que acontecia. Ele gemeu alto contra minha boca e senti seu corpo se afastar de leve, mas ainda ficar por cima de mim.

- Pra mulher é sempre mais fácil – ele disse com dificuldade.
- Esqueci desse detalhe – gargalhei. – Desculpa.
- Tudo bem.
- Mas... Já?
- Já, já ainda não! Mas eu sei que o “jááá” vai aparecer “jááá” se você continuar me beijando desse jeito – ele riu e fez careta.
- e pelados na banheira...
- Ok... – ele riu. – Porra! Para!
- Pra mim é excitante.
- Jura? – Ele arregalou os olhos. – Que tosco.
- Homens – revirei os olhos, dei dois tapinhas em seu ombro e o senti escorregar de cima de mim.
- Depois terminamos – ele riu mordendo os lábios.
- Vou cobrar – disse dando um beijo no seu nariz e me levantando. – Quer cinco minutos sozinho?
- A imagem do com o na banheira ainda está bem clara pra mim - riu fazendo um careta pior ainda. – Apelou demais, demais!
- Isso porque eu não quis fazer você imaginar eu com o ou eu com os dois na banheira – ri de forma sapeca e vi ficar vermelho.
- SAI DAQUI, SAI! – Ele jogou dois travesseiros em cima de mim e eu saí correndo do quarto. Deixa a criança se acalmar um pouco.

- Tá tudo bem lá dentro? – me perguntou assim que saí do quarto. – Ouvi gritos.
- tendo um piripaque, nada demais – dei de ombros. – Então, Tom está vindo pra cá.
- Sim, está – ele riu. – Vai ficar de pijama mesmo?
- Resolvi seduzir Tom Fletcher com meu estilo ao natural – joguei meus cabelos pra trás e fiz charme, gargalhou. – Brincadeira.
- Acho que ele não vai ficar muito tempo por aqui – ele riu. – Comprou presente pra ele?
- ÓBVIO! – Falei animada. – Um presente bem infantil, mas a cara do Fletcher.
- Comprou pra mim? – Ele sorriu.
- Acho que deve ter alguma coisa pra você debaixo da árvore – eu pisquei. – Você só vai saber amanhã de manhã, já que aqui vocês comemoram o Natal só no dia seguinte da ceia.
- Quem sabe você não se surpreende hoje a noite? – mordeu os lábios e deu um peteleco no meu nariz. Meu estômago embrulhou, pessoas bonitas não podiam fazer isso!

Depois de três tentativas, eu e conseguimos fazer um boneco de neve que não se parecesse com um E.T. Eu disse que alguém ia ter que ficar comigo na neve tentando quantas vezes fosse necessário, e como não estava mais a fim de ficar na cozinha com Lary e e , ela se prontificou a ficar comigo na neve. Mas até que foi engraçado, entre guerrinhas e anjinhos, finalmente o boneco saiu e estava pronto para ficar na frente da casa durante o resto da noite. Colocamos até aquelas luzes no bonequinho pra ele ficar mais alegre e com menos cara de maníaco, definitivamente nós não tínhamos talento para construir um boneco de neve.

- E então? – perguntou se jogando na neve e fazendo outro anjinho. Depois a retardada era eu. – Não vai brigar comigo?
- Pelo que dessa vez? – Eu ri me sentando ao seu lado. – Sua implicância com a Lary ou tem outra coisa no meio?
- Eu ter lido sua carta?
- A... A carta – bufei. – Vocês iam ter que saber mais cedo ou mais tarde, era questão de tempo.
- Te conhecendo, nós iríamos saber bem mais tarde, por exemplo, quando você estivesse embarcando.
- Eu não vou, – respondi meio triste. – Hey, não me olha com essa cara.
- Cara de quê? De quem acha que você tá fazendo a coisa mais absurda da sua vida?
- Por que todo mundo tem que falar isso pra mim? Quando eu acho que tô fazendo uma coisa radical, querendo ficar aqui porque eu amo vocês e amo o e tô meio que mandando minha carreira pro espaço, vocês ficam contra mim.
- Porque essa não é você, ! Me desculpe amiga, mas você não é nada radical – ela riu pelo nariz e eu taquei uma bolinha de neve nela.
- Eu já fiz coisas radicais, eu mudei pra Londres!
- Por causa do seu curso – deu de ombros. – Escuta! Eu sei que seu namoro com o tá a coisa mais lindinha do mundo e que você está toda ‘sparks fly’ por ele no momento...
- Tá citando Taylor Swift?
- Tô citando Taylor Swift.
- Você odeia a Taylor.
- Cala a boca – ela riu. – O que eu quero dizer é, alguém precisa ser a pessoa responsável aqui, e pelo visto você não está sendo essa pessoa.
- foi – resmunguei. – E foi e você está sendo.
- Olha aí que coisa linda! – Ela bateu palmas e sentou. – Ouça seus amigos uma vez na vida e vai atrás disso! Nós vamos estar aqui quando você voltar.
- E se eu não voltar? – Mordi os lábios e fiz careta segurando o choro.
- Se você não voltar – ela me abraçou e encostou a cabeça no meu ombro – vou ter que aprender a escrever cartas – ela riu e me deu um beijo carinho na bochecha.
- Ai – eu reclamei e nós duas começamos a rir, um riso que eu sei carregava uma certa tristeza.

Quando nós duas estávamos levantando para entrar, ouvimos um carro parando e logo uma pessoa muito bem conhecida por mim desceu. Tom estava ali com Dougie, os dois com aqueles gorros natalinos, segurando sacolas vermelhas com desenhos de Natal. Dougie com aquelas calças apertadas que vão até o calcanhar, sapato roxo e camiseta Saint Kidd. Tom usava um suéter de Natal que me lembrava Ronald Wesley, fofo ao extremo. Não aguentei quando vi aquelas duas pessoas, talvez fosse a emoção natalina do ambiente, ou o fato de que eu podia estar voltando pro Brasil a qualquer momento e que eu nunca mais teria a oportunidade de abraçar o McFly a hora que eu quisesse, só sei que não pensei duas vezes e fui correndo na direção dos meninos me atirando em Tom em um abraço que, pra mim, podia durar uma eternidade.

Tom era mais que um ídolo e um crush agora não tão secreto. Ele havia se tornado um amigo, e nem em meus sonhos mais doidos eu iria imaginar que Tom Fletcher era alguém que eu podia ligar a qualquer hora do dia e pedir ajuda, conselho ou simplesmente avisar que estava indo para sua casa porque estava entediada demais e meu namorado estava em uma turnê nos Estados Unidos. E saber que eu não ia mais poder fazer isso a qualquer hora do dia me dava uma angústia muito grande, voltar para o Brasil significava perder muito mais do que apenas um namorado e melhores amigos; era perder uma vida que eu construí em um ano, algo que eu planejei durante todos os anos de minha existência. Valia assim tanto a pena?

- Mas é só eu virar as costas por um segundo e você já está se agarrando com outro? Que é isso, ? – Ouvi a voz brincalhona de ao fundo e larguei Tom, abaixei logo a cabeça para esconder minha cara de choro, mas isso acabou não passando desapercebido.
- Você tá bem, ? – Tom ergueu meu rosto e analisou-me. – Tá chorando?
- É o Natal – brinquei disfarçando o nervosismo. – Fico emotiva demais nessa época do ano, deve ser isso.
- Ok – ele me abraçou de lado e foi caminhando comigo até a porta, Dougie já estava dentro com o resto do pessoal. – Hey, .
- Valeu por passar aqui, cara – os dois deram aquele abraço meio moleque e eu senti de novo mais vontade de chorar, eu estava perdendo tudo isso.
- Sua mulher – Tom me pegou pela mão e “me entregou” para , foi bem engraçado. – Como vocês estão?
- Tudo bem – eu e falamos juntos.
- Entra aí, tem comida em cima da mesa da cozinha, nada saudável porque ninguém aqui cozinha direito – ele riu.
- Mentira, eles fazem panquecas maravilhosas – falei abraçando pela cintura.
- Não vamos ficar muito tempo, mas valeu o convite – Fletcher sorriu. – Onde posso colocar os presentes?
- Ganhamos presentes? – Meus olhos brilharam, começou a rir.
- Claro que sim, é Natal – Tom respondeu de maneira animada, primeira vez na vida que de verdade eu vejo a empolgação dele pessoalmente. Gravei essa imagem para nunca mais esquecer.
- Ok – eu ri. – Desde já, obrigada! E você não pode sair daqui sem uma foto comigo e com o resto do pessoal, por favor!
- Hm – Tom colocou a mão no queixo. – Estou passando o Natal com uma fotógrafa e estou sendo cogitado a tirar uma foto, que coisa!
- Clichê, eu sei - dei de ombros.
- Vai ser o maior prazer, – ele sorriu e entrou. Fiquei suspirando igual uma babaca do lado de fora.
- Hey – me cutucou na cintura e me olhou sorrindo. – Tá legal?
- Já disse que é o espírito natalino – suspirei.
- Ok – ele beijou o topo dos meus cabelos. – Vamos entrar, a noite vai ser longa.
- Por quê?
- Só... Vai ser – ele me apertou um pouco mais, mas eu sentia seu corpo um pouco duro. Tinha alguma coisa estranha no ar, de todos os ângulos possíveis.

Em cima da pia da cozinha nós tínhamos pizza, cerveja, latas e mais latas de Dr. Pepper, salgados estranhos, panetone, chocolate, energéticos, M&M’s, amendoins... Tudo o que não era saudável no mundo estava ali. Sinos de chocolate, balas, guloseimas, refrigerante e uma garrafa de cerveja amanteigada – Dougie e Tom viram no Youtube como preparar uma e resolveram dar de presente para nós. Eles disseram que iam ficar por lá até perto da meia-noite, depois tinham que voltar pra casa e passar o Natal com a família, nas palavras de Tom ‘esse é o primeiro Natal da aqui em Londres, precisei marcar presença’, isso pra mim foi o melhor presente de Natal.

, Tom e estavam no sofá da sala tocando algumas músicas no violão como Let it Snow, Chills in the Evening, Jingle Bells e algumas de Peter Pan (essa última eu também não entendi). , Lary e - pasmem – – estavam na cozinha dando uma organizada nas coisas, já que todo mundo comeu como se fosse a última refeição das vidas ( dizia que o fim do mundo ainda estava próximo, que precisávamos acreditar nos maias) e eles também cantavam. Atrevo-me a dizer que vi e Lary trocando brincadeiras com um uma pitada de sarcasmo, mas é melhor que nada, pelo menos agora elas estavam no mesmo ambiente, conversando e sem tapas ou cabelos voando para os lados (ainda tenho trauma da briga das duas). estava debaixo da árvore de Natal arrumando os presentes por tamanhos e cores como se ele fosse uma criança especial. Às vezes eu simplesmente parava de fazer o que quer que eu estivesse fazendo e ficava olhando , aquela criança linda que veio de Nárnia e está perdida no nosso mundo. Só espero que ele encontre alguém que o faça muito feliz, porque ele merece, quem não ama ? E ... Bom, estava distante. Estranhamente... Distante. E do nada!

- E aí? – Ele estava encostado na parede vendo , e Tom estragarem alguma música do Busted. – Tudo bem?
- Tudo – ele suspirou sem me olhar.
- – dei um tapa em seu ombro. – Que eu fiz?
- Nada, – ele não me olhava, ainda.
- Você tá bravo por causa das brincadeiras com o Fletcher? Porque acho que você sabe que ele é casado e... – eu ri nervosa. – Tipo, não tem nada a ver.
- É claro que não – ele riu e olhou pra baixo. – Escuta, os presentes de Natal no Brasil são dados à meia-noite, certo?
- Sim – meu estômago embrulhou. – Você trocar presentes agora?
- Vem comigo – finalmente seu olhar captou o meu, e não era um olhar reconfortante.

Saímos de mãos dadas para o quarto de . Não via pacote nenhum ali, nem no quarto nem nas mãos de . Olhei para o relógio e ainda eram 23:28h, faltava ainda um certo tempo pro Natal, e nem era costume deles darem os presentes antes da meia-noite ou após esse horário. fechou a porta e ligou a luz, seu olhar era perdido e ele estralava todos os dedos de uma só vez, ISSO estava me deixando muito nervosa. Ele andava de um lado pro outro no quarto sem me olhar, apenas batendo no bolso da calça a cada cinco segundos, e depois voltava a estralar os dedos, passar as mãos nos cabelos, morder os lábios. Ok, o que estava acontecendo?

- , fala comigo, pelo amor de Deus! – Eu disse por fim. – Sério, se você está querendo me deixar nervosa, você está conseguindo.
- É o seu presente – ele parou de andar e me encarou. – Eu preciso dá-lo agora antes que eu me arrependa depois e volte nessa decisão.
- Nossa – eu ri, mas era de nervoso. – O que é? Uma carta bomba?
- ... – ele não riu.
- Eu tô brincando, o que foi? – Tentei ir até ele, mas ele deu dois passos pra trás. Aquela simples atitude acabou comigo. – ?
- Pega – ele tirou um envelope de dentro do bolso e me entregou. Algo em mim não queria abrir aquilo, devia ser algo horrendo para estar tão ansioso desse jeito, e se ele estava assim, imagina como eu ia ficar.

Sem olhá-lo, eu abri o envelope.

Data e Hora Prevista da SAÍDA
Data: 30/12/2012
Horário: 06:00am
Roteiro: Saída do Aeroporto Heathrow / Sem Escala / Chegada Aeroporto Guarulhos

- O que é isso? – Minhas mãos tremiam, nem ao menos olhava para mim. – Pelo amor de Deus, o que é isso?
- Sua passagem pro Brasil – ele respondeu sério e com a voz amargurada. – Você vai voltar.
- NÃO VOU! – Berrei. – EU JÁ DISSE MIL VEZES QUE EU NÃO VOU, QUE PALHAÇADA É ESSA?
- VOCÊ VAI! – Ele me segurou pelos braços, e foi aí então que eu vi o estado de .

Seus olhos estavam brilhantes e cheios de lágrimas, seus lábios mais vermelhos que o normal e tremiam como se ele estivesse com frio. Sua mão suava gelada e tremia junto ao meu corpo, eu via como se ele estivesse sentindo uma dor física grande, porque a cada palavra, a cada respiração, ele fazia careta como se mil agulhas estivesse perfurando seu corpo. sofria, eu não aguentava isso.

- Nós somos um casal, essa é uma decisão que precisa ser tomada por nós dois, você não pode simplesmente decidir que eu vou voltar pro Brasil e comprar a passagem pra mim, – joguei a passagem no chão e coloquei meus braços ao redor do seu pescoço, ele estava gelado. – Para de tremer, por favor.
- Você sabe quem é Miriam Rezende? – Seus olhos me focaram. – Tem noção de quem é essa mulher no seu país? Ela segue a mesma linha de trabalho da Olivia e por você ser a melhor aluna da escola aqui em Londres ela está pessoalmente te chamando pra você fazer parte da equipe dela. Como que você pode jogar essa chance NO LIXO?
- Eu não quero, eu não... – já soluçava. – Não me importo, eu não quero ir! Não quero voltar, não quero deixar você...
- Por favor, para! – chorava tanto quanto eu. – Essa oportunidade vai fazer você crescer, você já tem um reconhecimento enorme aqui, agora é sua chance de brilhar no seu país! Construir o seu nome como fotógrafa, e em um ramo que eu sei que pra você sempre foi um desafio...
- Infantil – falamos juntos. sempre soube do meu desejo de fotografar crianças e bebês, Olivia e Miriam seguiam essa linha.
- Você sabe tanto sobre mim.
- Porque eu te amo – ele encostou os lábios nos meus. – Eu te amo demais, e por isso eu não posso permitir que você acabe com sua carreira por mim ou pelos seus amigos, por um capricho de não querer ir embora.
- , não... Não...
- Eu tô... – ele apertou meus braços, soluçou, virou o rosto para o lado e chorou mais alto. – Eu estou terminando com você – ele encostou a cabeça na minha e nós dois começamos a chorar como se fôssemos um só.
- NÃO! – Berrei. – NÃO, NÃO! NÃO!
- Por favor, ...
- NÃO! – Eu apertava seu braço quase encravando minha unha nele, as agulhas que antes pareciam estar em seu corpo agora estavam nos meus. – Não faz isso comigo, por favor, não faz...
- Eu te amo demais pra te prender aqui, pra deixar a oportunidade da sua vida escapar das suas mãos, eu simplemente não posso fazer isso com você!
- E NÓS?
- Não existe mais nós – escorreu suas mãos pelos meus braços e caiu de joelho no chão, colocando as mãos no rosto e chorando. Eu via seus ombros subindo e descendo e aquele barulho rouco que saía de sua garganta. – PORQUE EU TÔ TERMINANDO COM TUDO!
- EU NÃO ACEITO ISSO! – Ajoelhei-me no chão de frente pra ele, tirei suas mãos de seus olhos e o fiz me encarar. – Eu não aceito o fim desse namoro, você está me entendendo? Eu não aceito você terminar comigo! Diz que você não me ama, que não dá pra ficar do meu lado, que eu sou irritante demais...
- Como dizer tudo isso sendo que eu te amo mais do que qualquer coisa que eu já amei nessa vida? – Ele me encarou. – Para de se humilhar, não há culpado nesse término! Sou eu te deixando livre pra você viver sua vida.
- A minha vida é aqui com você – coloquei sua mão em meu coração. – Eu nunca vou achar lugar algum, pessoa alguma que me faça tão viva como você faz, como esse lugar faz.
- Você não pode ficar aqui com a dúvida de que “e se você voltasse”?
- EU NÃO QUERO VOLTAR!
- MAS VOCÊ VAI! – Ele levantou. – Você vai, eu não quero saber, nem que eu tenha que te ignorar que arrancar você da minha vida, EU VOU! PORQUE EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ PERDER ESSA CHANCE POR MIM!
- POR NÓS!
- NÃO EXISTE MAIS NÓS! – Ele berrou com toda a força que restava.

O quarto ficou frio, escuro apesar da lâmpada estar brilhando em cima de nossas cabeças. Eu queria o abraço dele, queria que ele se virasse pra mim e disesse que isso tudo era uma brincadeira, que óbvio que não ia voltar pro Brasil e que nós ainda estávamos juntos. Ou, que ele mentisse. Dissesse que não me amava, não me queria, que sou chata, irritante, feia, nojenta! Terminar comigo dizendo que me ama torna tudo tão mais complicado, difícil. E dói, demais.

- Você me ama? – Perguntei, uma última tentativa de me humilhar. – Mente pra mim.
- Por que eu faria isso?
- Porque tornaria tudo mais fácil – suspirei. – Minha aceitação.
- Eu não posso fazer isso – ele riu sem humor. – Não me chamo Edward Cullen.
- Mente.Pra.Mim – eu disse entre os dentes. – Por favor.
- Eu te amo – caminhou dois passos até mim. – Eu te amo desde a primeira vez que te vi, desde que você encarava seus sapatos ao invés de me olhar nos olhos. Quando te vi machucada na enfermagem da SugarScape eu senti uma força de proteção ao meu redor, como se minha responsabilidade fosse te proteger pra sempre. Seu olhar quando conheceu McFly, quando você foi ao primeiro show. A nossa primeira vez, seu jeito tímido, sua voz de manhã, quando voltou de Paris, quando ganhou de melhor aluna revelação – agora ele já estava na minha frente passando as mãos por meus braços. – Como você pode pedir pra eu mentir a respeito do que sinto? Dizer que não te amo tornaria as coisas mais fáceis? Pra quem? Pra você?
- Eu não aceito o fim – solucei. – Não era pra ser assim, não era meu plano!
- Os planos mudaram – ele me abraçou. – Você vai ser feliz, você vai conseguir tudo o que sempre quis, vai fazer um nome, trabalhar com o que sempre quis...
- E você? – Eu o apertei contra meu corpo. – Estou perdendo você.
- Nunca vai me perder – segurou meu rosto entre suas mãos. – Eu vou sempre estar aqui pronto pra te receber, ser o primeiro a levantar e te aplaudir pelas suas realizações, suas conquistas. Mas, pra isso, você precisa se permitir.
- Eu não quero...
- Mas você vai – ele sorriu triste. – E vai voltar pra me dizer como foi.
- Não me deixa, ! Não me deixa.

Ele segurou-me pela nuca e com a outra mão me puxou pela cintura. O beijo era salgado, molhado pelas lágrimas e com um gosto que já era de saudade. Me aconcheguei mais ao seu corpo sabendo que aquela seria a última vez e não consegui segurar o choro, acabei separando nossas bocas para me encostar em seu peito e chorar, colocar pra fora a dor que estava em meu coração. Lembro de Renato Russo “disseste que se tua voz tivesse força igual a imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira”, e a dor que eu estava sentindo agora, tinha exatamente essa intensidade. Ele me apertou mais no abraço e acabou chorando junto comigo, eu não sabia mais qual choro era mais alto, o meu ou o dele.

Don’t try to make stay or ask if I’m okay
(Não tente fazer eu ficar, ou pergunte se está tudo bem)
I don’t have the answer
(Eu não tenho a resposta)
Don’t make me stay the night
(Não tente me fazer ficar a noite)
Or ask if I’m alright
(Ou pergunte se eu estou bem)
I don’t have the answer
(Eu não tenho a resposta)

cantava baixo enquanto me abraçava e balançava nossos corpos de um lado pro outro, como se fosse um gesto maternal de querer me acalmar, e, de uma certa forma, acalmá-lo

Heartache doesn’t last forever
(Um coração partido não dura pra sempre)
I’ll say I’m fine
(Eu vou dizer que estou bem)
Midnight ain’t no time for laughing
(Meia noite não é hora para risadas)
When you say goodbye
(Quando você diz adeus)

- Não canta o resto, por favor – me aninhei ao seu peito. – Não aguento.
- A dor passa, , para todos nós – ele suspirou. E como era de esperar, ele não me obedeceu.

It’s in your lips and in your kiss
(É em seus lábios e nos seus beijos)
It’s in your touch and your fingertips
(É em seu toque e na ponta dos seus dedos)
And it’s in all the things and other things

(E é em todas as coisas e nas outras coisas)
That make you who you are
(Que faz você ser quem você é)
And your eyes, irresistible
(E seus olhos, irresistíveis)

Nas últimas frases, já não conseguia cantar, porque sua voz saía embargada pelas lágrimas e pelo choro em sua garganta. Eu percebia o tanto que ele se segurava, mas conseguiu terminar a música e, depois, um silêncio instaurou-se no quarto. Só nos dois, apenas nós dois.

- Irresistible – murmurei e ouvi rir sobre meus cabelos. – McFly.
- Só sabe a música porque foi escrita pelos meninos.
- E porque eu chorei a primeira vez que você e o Danny cantaram.
- Eu lembro – ele riu. – E eu lembro da minha promessa...
- Que você nunca cantaria essa música pra mim de novo.
- Pelo visto quebrei minha promessa – ele fungou. – Desculpa.
- – ergui meu rosto e o encarei. – Obrigada por me amar.
- Não foi difícil – ele riu e me deu um selinho. – Eu não posso mais fazer isso.
- Não – ri sem humor. – Escuta, por que você pegou uma passagem antes do Ano Novo? Meu curso no Brasil só começa na terceira semana de janeiro, ainda tenho tempo suficiente pra passar aqui com vocês.
- – ele suspirou e passou a mão no meu rosto. – Não quero começar o ano com você ao meu lado sabendo que não vai estar comigo pelos próximos dias – sorriu de forma triste. – Este sou eu sendo o egoósta da relação.
- Essa foi a declaração mais triste e mais fofa que você já fez pra mim – sorri.
Me afastei de e olhei pra ele como se aquela fosse a última vez. Eu não aguentava nós dois juntos no mesmo cômodo e agora tão distantes, não éramos mais um casal. Comecei a chorar de novo, e acho que isso ia demorar muito pra passar, eu só me via chorando pelos próximos meses, até eu voltar novamente para Londres e arrumar tudo, deixar as coisas como elas deveriam ser. Isso tá errado, tá muito errado! A vida do Chandler e da Monica começou a dar certo em Londres, por que a minha tem que começar a dar errado? É por que eu gosto mais do Ross? Porque a vida do Ross começou a dar muito errado em Londres.

- Eu queria te pedir uma coisa – falei fazendo muita força para sair algum barulho de minha garganta.
- Qualquer coisa.
- Seja aqueles namorados idiotas e suma da minha vida – pedi chorosa. – Vai ser mais fácil eu ir embora se eu não te ver pelos próximos dias.
- Eu não...
- Por favor, ! É o último pedido que eu te faço. Não me ligue, não apareça, não pergunte de mim para os meninos, só, me deixe sozinha.

E agora ele me olhava como se estivesse perdendo a coisa mais importante da vida dele. Pelo menos eu gostava de pensar que era assim.

- Eu amo você.
- Sei disso.
- Feliz Natal.


Capítulo 40

All the photographs were peeling
(Todas as fotos estão se desfazendo)
And colors turned to gray
(E as cores se transformaram em cinza)
He stayed... in his room with memories for days
(Ele permaneceu… Em seu quarto com as memórias por dias)
He faced... an undertow of futures laid to waste
(Enfrentou... um emaranhado de futuros destinados a ruína)
Embraced... by the loss of what he could not replace
(Abraçado... pela perda de algo que ele não poderia substituir)

Sentada em minha cama, com Sad do Pearl Jam tocando em meus ouvidos, eu encarava minhas duas malas fechadas no canto do quarto. 29 de dezembro, um dia antes de eu voltar pro Brasil e eu sinto como se estivesse indo para um matadouro.

Minha mãe me ligou praticamente todos os dias desde que dei a notícia de que estava embarcando dia 30, e ela está mais radiante do que nunca. Porém, quando ela veio me falar que eu estava com a cabeça no lugar por abandonar minha vida aqui e eu respondi dizendo que foi o quem me comprou a passagem ela ficou muda no telefone por uns dez minutos, respondendo em seguida “Depois vemos um jeito de pagá-lo pela passagem”. É SÉRIO que a minha mãe vai querer pagar por R$2.000,00 reais gastos em uma passagem aérea? Ele ganha isso se for peidar na esquina, pelo amor.

Apesar disso, meu pai parece ser o único que compreende minha situação. Disse que queria conversar com pelo telefone, agradecer pelo o que ele fez e pedir desculpas pelo transtorno, mas isso foi meio impossível já que pedi pro meu ex-namorado não falar mais comigo, me deixar em paz. Meu pai entendeu a situação, mas afirmou que ainda quer conversar com ele, afinal, cuidou de mim por quase um ano aqui na Inglaterra, e meu pai é aquele tipo bem antigo que gosta de conhecer as pessoas, especialmente uma pessoa que ficou com a filha dele por tanto tempo.

There is no reason that she passed
(Não há nenhuma razão para ela ter partido)
And there is no god with a plan
(E não há nenhum deus com um plano)
It's sad... and his loneliness is proof (É triste… E a solidão dele é a prova)
It's sad... he could only love you
(É triste… Ele poderia apenas amar você)
It's sad
(É triste)

Limpei as lágrimas que estavam ficando secas em meu rosto e peguei, de novo, o celular, pela milésima vez desde o fatídico dia do natal. Como já era de se esperar, não tinha nenhuma ligação nova, mensagem, tweet ou qualquer tipo de contato. foi visto três vezes pelas ruas de Londres com uma aparência degradante e os rumores de que nosso relacionamento havia chegado ao fim começavam a se espalhar. Os tweets vitoriosos chegavam a mim como raios, mas na minha atual condição, eu não me importava com o que garotinhas de doze anos achavam de mim; se elas estavam se sentindo realizadas por ver naquele estado, eu tinha medo do que elas sentiam de verdade por ele.

Havia tweets do , e dos outros meninos para essas supostas fãs, alguns mandando elas calarem a boca e pararem com tanta maldade pra cima de mim, outros simplesmente rindo da cara delas... Mas eu sabia que não adiantava o que eles falavam, isso nunca ia parar. não se manifestou, ele estava tão calado quanto eu, tanto em vida real como nesse universo virtual paralelo. Em contrapartida, tagarelava mais que suficiente, e eu sei que ela andou entrando na minha conta, pegando tweet por tweet e mandando um ‘vai se fuder, sua idiota’ para cada uma. Não a culpo, não a julgo, eu sei que esse é o jeito dela me defender, e eu ainda não aprendi como lidar direito com quem é de Bolton, eles possuem uma característica forte sobre amizade, amor e fidelidade, eu vejo isso todo dia em .

... Como vou deixá-la? Não basta deixar , meu curso, deixo amigos e minha melhor amiga, eu nunca tive ninguém que se preocupasse tanto comigo no quesito amizade, e agora a estou deixando. Estou perdendo muito mais do que ganhando, será que ninguém consegue ver isso?

The door swings to a passing fable
(A porta balança através de uma fantasia)
A fate we may delay
(Um destino nós podemos esperar)
We say... holding on... delivered in our own brace
(Dizemos... nos segurando... entregues em nossa própria força)
He let 'em as he laid in bed
(Ele os deixou quando deitou na cama)
Hoping that dreams would bring her back
(Esperando que os sonhos pudessem trazê-la de volta)
It's sad... and his loneliness is proof
(É triste… e a solidão dele é a prova)
It's sad... he could only love you
(É triste… ele poderia apenas amar você)
It's sad
(É triste)

Minha última foto com foi exatamente no dia em que ele me deu a passagem, assim como minha última foto com os outros meninos. Ela era o plano de fundo do meu celular, e novamente eu imagino quantas meninas não dariam a vida pra ter uma foto dessas. Eu ficava vendo as fotos do One Direction com fãs em M&Gs e o quanto as meninas faziam graça, e eles posavam como se fossem amigos, como se aquela fosse apenas mais uma foto do cotidiano. Mas, olhando pra nossa foto, essa que saiu de forma tão espontânea, eu sei quem eles são de verdade, eu sei o quão amigos e companheiros esses cinco sabem ser.

Resolvi me torturar um pouco mais e passei por todas as fotos que eu tinha em meu celular, desde a primeira, o fatídico “garota especial” até a nossa última. Não conseguia segurar meu choro e em um ato infantil, trouxe meu celular até meu coração, apertando o máximo que conseguia, talvez para aliviar um pouco a dor, o peso, tirar essa lembrança que ia ficar me assombrando pelo tempo que eu passasse no Brasil. Não há dor maior do que ser afastada daquele você mais ama, e ter esse rompimento abrupto quando tudo parecia estar indo tão bem. Tudo em minha vida parecia estar caminhando para um final feliz, mesmo após o término do curso eu tinha planos de conseguir um trabalho, ficar por aqui e não me afastar dos meninos e desse país nunca mais, mas o destino brincalhão me reservou uma piada sem graça, algo que eu não estava esperando.

parecia confortável nas fotos, embora ele ainda gostasse de mim, em várias estava atrás com um olhar carinhoso, , como sempre, ao lado de fazendo alguma gracinha que geralmente incluía um chifre, mostrar a língua ou uma careta; e sempre eram o casal fofo, de mãos dadas e sorrindo, como se estivessem juntos a séculos, e ninguém pudesse penetrar naquele mundo particular. geralmente me abraçava pela cintura, ou por trás encostando sua cabeça em meus ombros... Nunca me esqueço da primeira sensação que tive quando vi sua foto pela primeira vez “é só ele sorrir que ele já fica lindo”, e essa era a pior verdade. Eu amava o sorriso dele, o jeito como seus olhos fechavam como uma criança, como ele sorria com o rosto inteiro parecendo que ia rasgar, as linhas que se formavam em suas bochechas, uma veia discreta que aparecia em sua testa – essa veia aparecia especialmente quando ele tentava alcançar uma nota alta quando estava cantando – como suas bochechas coravam quando, em meio ao seu sorriso, eu dava um beijo em seu rosto, como tudo nele era quentinho e confortável.

Holding his last breath
(Segurando seu ultimo suspiro)
Believing... he'll make his way
(Acreditando… Ele vai fazer seu próprio caminho)

era o sonho de qualquer namorada, e não pelo fato de ele ser um príncipe na aparência, mas por tudo o que ele fazia quando amava alguém. O jeito como ele, mesmo preguiçoso, me acordava de manhã fazendo carinho em minhas costas ou em meu rosto, como ele roçava seu nariz no meu ou em minhas bochechas enquanto assistíamos televisão, como sua mão procurava a minha quando andávamos nas ruas de Londres e como seus dedos eram ridículos de grandes e ele sempre brincava sobre isso; “sabe o que dizem sobre dedos longos, certo?”, e eu na minha santa ignorância, demorei a entender que essa piadinha tinha uma conotação sexual. Como ele morria de ciúme do Eddie Vedder, mesmo ele sabendo que o cara tem quase cinquenta anos e eu nunca teria a chance de conhecê-lo ou ter alguma coisa com ele, mas ele prometeu que um dia me levaria a um show do Pearl Jam, mesmo Eddie detestando boybands; “por você eu até levo uma surra do Eddie, só pra você curtir o show”, infelizmente esse dia não chegou, mas ele fez o que pode pra me fazer sorrir com McFly.

Ele tinha ciúme de eu gostar de Senhor dos Anéis por achar que eu pudesse me apaixonar pelo Frodo, sendo que, na verdade, ele tinha que se preocupar com Hobbit, porque Kili é mil vezes mais apaixonante e mais másculo; ou como ele não gostava quando eu ficava a madrugada toda vendo Supernatural ao invés de estudar e depois não conseguia dormir porque pensava em vampiros e possessões demoníacas. Ele disse que até mesmo já me ouviu chamar por Sam Winchester durante meu sono, mas ignorou pra não ficar bravo e acabar brigando comigo na manhã seguinte. Era engraçado como ele sentia ciúme de coisas patéticas, sendo que na verdade, deveria ser a maior ciumenta de todas; milhões de garotas queriam a atenção dele, todo dia ele posava para fotos com umas quinze meninas diferentes, e elas queriam muito mais do que uma foto, elas queriam um beijo, um abraço e algumas foram mais felizes em ter um selinho roubado. Ele chegava em casa ou me telefonava com aquela voz de culpa e eu achava legal, afinal é o trabalho dele, por mais que por dentro eu me corroesse, mas eu já beijei Tom Fletcher, então ele tinha aval para receber beijos roubados também.

But she's not forgotten
(Mas ela não é esquecida)
He's haunted... he's searching for escape
(Ele é assombrando… Ele está procurando uma saída)

Meu maior medo era que essas lembranças fossem esquecidas com o passar do tempo, que eu esquecesse seu cheiro, seu toque, seu gosto, sua temperatura, seu sorriso, olhar, boca, mãos... Tinha um maior medo que ele se esquecesse de mim mais rápido. Com uma vida tão tumultuada e com tanta coisa pra fazer, quando ele ia poder parar pra pensar em mim? Eu pelo menos era só abrir a internet e ver uma novidade de One Direction, mas, e ele? Quando ele ia saber uma novidade minha? Eu pedi pra ele se afastar, será que ele faria isso pra sempre? Queria um afastamento agora, até eu ir embora, e não durante meu tempo no Brasil, porque se eu nunca mais ouvir falar dele, se ele não me ligar, se eu não puder mais conversar com ele eu vou ficar doida e eu detesto essa sensação de dependência.

Fechei meus olhos, encostando minha cabeça na cabeceira da cama, tentando alinhar meus pensamentos e parar um pouco de chorar. Minha vontade agora era de fazer uma loucura, qualquer uma, mas tem tanta gente envolvida nessa história que é capaz de eu acabar machucando alguém, e eu não quero mais ninguém se dando mal comigo. Chega!

If just one wish could bring her back
(Se apenas um pedido pudesse trazê-la de volta)
It's sad... and his loneliness is proof
(É triste… E a solidão dele é a prova)
It's sad... he will always love you
(É triste… Ele sempre amará você)
It's sad
(É triste)

- ?

A música havia terminado bem no momento que senti cutucar minha perna e me chamar. Tirei os fones de ouvido e abri meus olhos com dificuldade, já que eles estavam inchados de tanto choro dos últimos dias. Deparei-me com ela e os meninos, exceto , óbvio.

- Que foi?
- A gente veio aqui pra saber se você está bem, se precisa de alguma coisa, ajuda com as malas, sei lá – ela deu de ombros, mordendo os lábios com força e evitando olhar pras minhas duas malas em cima da cama.
- Tá tudo arrumado já, amiga, obrigada – forcei um sorriso – Oi meninos.
- Oi, – eles responderam em uníssono.
- Eu nem vou perguntar por que o não veio, porque...
- Ele queria vir, começou – Mas nós achamos melhor que ele ficasse em casa.
- Fizemos mal? – fez careta – Porque, se você quiser vê-lo nós vamos lá e...
- Não precisa – suspirei – Eu mesma que pedi pra ele não falar comigo até eu ir embora, eu agradeço a preocupação.
- Você já comeu hoje? – sentou-se ao meu lado – Trouxemos comida.
- Hm... – coloquei a mão em cima do estômago, ele não reclamou nos últimos dias, mesmo estando sem comida – Não sei se estou com fome ou não.
- Eu conheço esse seu discurso, falou, mostrando a sacolinha do Burger King – E eu sei que você está com fome.
- Sério, quem vai ficar no seu pé no Brasil pra você comer? – riu, indo com para a nossa cozinha, tirando os lanches e arrumando as coisas.
- No Brasil eu não vou ter namorado e nem fãs de namorado pra impressionar. Posso voltar a ser uma baleia e ninguém vai notar ou reclamar – dei de ombros, encostando minha cabeça no ombro de que ainda estava sentado perto de mim.
- “Voltar a ser uma baleia”, e desde quando você foi uma? – fez carinho em minha cabeça, rolou os olhos.
- Cada vez que você fala uma coisa dessas minha vontade é te dar um soco na cara, mas como você tá em um momento melancólico, eu não vou fazer isso.
- Obrigada, amiga – eu forcei um sorriso.
- Meninas, tá na mesa – falou, enchendo a boca de batata frita e carne de hambúrguer – Fão logo.

me ajudou a sair da cama, como um legítimo cavalheiro, e os outros dois estavam espalhando os lanches em cima da pia e de uma mesa improvisada, e quanto mais eu olhava, mais eu tinha a sensação que eles haviam comprado mais lanche do que o necessário. Fome de meninos, eu nunca vou entender isso, como que o estômago deles aguenta tanta porcaria assim?

- ? – me chamou no canto do quarto quando os outros meninos já estavam atacando a comida – Comprei uma coisa pra você.
- Ai, amiga...
- Sério. Eu sei que você não é muito fã de ganhar presentes nem nada, mas quando eu vi isso eu me lembrei de você – ela pegou a bolsa que estava em cima da cama, a abriu e tirou um pacote prata – Sabe que vida de estudante não é exatamente uma beleza, mas foi isso o que consegui comprar.
- ! – eu ri e a abracei – Você não precisava ter me comprado nada, e sabe disso.
- É, e eu sei que se não te desse nada ia ficar me culpando pelo resto da vida – ela riu meio sem graça – Abre logo, por favor.

Abri o pacote e me deparei com um ursinho de pelúcia ridículo de tão fofo. Na verdade, não era um ursinho, era um elefante... Ele era roxo, roxa, azul claro e com uns pontinhos brancos, coisa mais linda. Bem pequeno em tamanho porque cabia na palma da minha mão, mas tinha um palmo e meio de altura, contando com as orelhinhas grandes e roxinhas. A tromba também era grande e tinha uma manchinha rosa na ponta; olhando por esse lado, acho errado chamar de elefante, sendo que claramente o bichinho é fêmea, ou seja, uma elefanta.

- , é uma gracinha, eu adorei – engoli o choro indo dar um abraço em – Meu Deus, eu amo essas coisinhas fofas.
- Eu sei que ama, por isso comprei – ela respondeu com a voz embargada – E sabe qual o nome dela?
- Você já deu um nome pra ela? – funguei e encarei minha amiga – Nossa.
- É aquele doce de amendoim que você e o Judd ficaram falando outro dia, eu nunca experimentei, mas gostei do som dessa palavra.
- Paçoca? – perguntei na dúvida.
- ISSO! – ela riu – Passôca – ela gargalhou porque sabia que o som não tinha saído exatamente igual ao original – Sou péssima no português.
- Tá perfeito – minha voz saiu mais embargada ainda – A Paçoca é perfeita.
- Você tem certeza, gostou mesmo? – ela parecia meio insegura, era praticamente a primeira vez que me dava um presente.
- Claro que sim, amiga – fui até ela e a abracei forte, apertado a Paçoca em minhas mãos – Toda vez que eu sentir sua falta, vou conversar com minha nova companheira de pelúcia.
- Eu sou muito mais legal que esse elefante – disse meio rindo – Mas eu aceito.
- E quando você sentir saudades dela, só me ligar no skype que eu coloco toda família pra conversar junto, fechado?
- Fechado – ela riu e nos abraçamos de novo – , me desculpa por falar isso agora, mas eu não estou acreditando que você vai embora.
- Nem eu, amiga, nem eu.
- Hey, vocês duas – nos largamos e nos viramos para os meninos, nos chamava – Comida tá mesa e faz tempo.
- Já estamos indo, calma – respondeu – Escuta, se você voltar e perceber que o novo trabalho não é aquilo que você imaginava e você começar a ficar desconfortável, não pense duas vezes antes de voltar pra cá, está me ouvindo?
- Estou – eu sorri. Mesmo se eu não gostasse do novo trabalho eu sabia que ia ser quase que impossível eu voltar, minha mãe nunca ia deixar.
- E não é pra voltar só porque você está com saudades do , ou do real Starbucks, ou de todas as coisas britânicas que você aprendeu durante esse tempo... Volte por você mesma – ela suspirou – E por mim, claro, porque você nunca vai encontrar uma amiga tão maravilhosa quanto eu.
- Nada prepotente, nem um pouco – eu ri a abraçando de novo de uma forma mais carinhosa e divertida – Se eu tiver que voltar, juro que será por você.
- Eu sabiiiiiiiia – ela gargalhou.

Comemos os lanches ao som dos meninos fazendo várias piadas, tentando fazer com que eu esquecesse que no dia seguinte eu estaria embarcando de novo para meu país. Todo momento que eu tendia a ficar mais quieta em meu canto, algum deles ia lá e me cutucava, fazia alguma brincadeira, chamava minha atenção, jogava batatinha frita em mim, sei lá. Eu sei que eles também estavam forçando a barra, que ninguém ali estava cem por cento feliz, mas alguém tinha que fazer um esforço extra, já que eu não estava a pessoa mais agradável do mundo.

Durante nosso tempo junto, minha mãe me ligou três vezes apenas pra conferir se tudo estava em ordem, se eu estava descansando e ela ficou bem nervosa quando soube que os meninos estavam lá. Nas palavras dela “grande irresponsáveis, você deveria estar descansando, amanhã será um grande dia pra você”, grande dia pra quem, mãe? Eu não sei que bicho havia mordido minha mãe desde que a tal carta da Miriam chegou pra mim, porque ela antigamente adorava o fato de eu estar em Londres, adorava os meninos e era totalmente apaixonada pelo ; agora eles não passam de cinco babacas que deram sorte na vida e eu preciso me afastar de todos porque eu posso ser má influenciada pelo mau comportamento juvenil deles. É, eu de verdade não sei o que aconteceu com a minha mãe.

No tempo em que ficamos lá e cada vez que meu celular tocava – e todas as vezes era a minha mãe – meu coração chegava a parar por um instante pensando que poderia ser ele, pensando que poderia ser . Vi duas vezes atender o celular e se afastar, olhando de soslaio para mim e sorrindo de forma triste, voltando a falar no celular, o que me fez crer que ele estava falando com quem mais eu queria conversar no momento. Pensei que ele iria me passar a ligação, pra pelo menos eu dizer oi, dizer que estava com saudades, dizer que eu o queria ali, que ele me segurasse pelo braço e não me deixasse partir, que pegasse a passagem de avião e a rasgasse em mil pedaços; mas eu tinha uma parte em mim que ainda estava acordada e consciente, e sabia que isso nunca ia acontecer.

- Que horas sai seu voo mesmo, ? – me perguntou enquanto checávamos minhas malas e minha passagem mais uma vez em menos de três horas.
- Você está com o bilhete em mãos, , é só dar uma olhada – brincou e nós sorrimos – Até eu sei que o voo da vai sair às seis da manhã.
- Você sabe porque ajudou o a comprar a passagem – deixou escapulir e nós olhamos pra ele. ... Sabia?
- ? – o chamei.
- Desculpa , mas acho que a essa altura do campeonato não tem porque esconder mais nada de você – ele tinha o semblante triste – Eu já sabia, mas não podia contar.
- Eu entendo – suspirei – Quando que ele comprou?
- Um pouco depois que você me contou – ele sorriu triste – Como nós já havíamos lhe dito, e sempre souberam, desde o começo.
- ? – a olhei e ela sorriu meio sem graça.
- Amiga, você é péssima em esconder informações.
- Sei disso, mas isso é uma coisa que você podia ter me alertado – a encarei e depois encarei o pequeno grupo na minha frente – Todos vocês podiam ter me alertado que meu namo... Ex-namorado, que seja, estava planejando esse ataque surpresa.
- Desculpa, , mas se contássemos você ia surtar mais ainda – falou – E vocês dois iam brigar, e de qualquer forma você ia voltar pro Brasil e da pior maneira possível.
- Mesmo assim... – bufei.
- Você não foi a única que escondeu um segredo, amiga – encostou a cabeça em meu ombro – Fizemos isso pelo seu bem.

Sei que não tenho motivos mesmo pra ficar brava com nenhum deles, afinal, quem sou eu pra falar alguma coisa sendo que fui dando a minha notícia aos poucos para cada um e escondi da minha melhor amiga? Não os culpo, e concordo com de que, se eu soubesse dessa notícia antes, eu não sei o que teria acontecido comigo, e hoje eu poderia estar me preparando pra voltar pro Brasil muito pior do que eu já estou.

- Mas, enfim – suspirei – Acho que daqui a pouco vocês precisam ir pra casa, meu voo sai às 6 horas, mas eu preciso estar no aeroporto pelo menos três horas antes.
- Como que você vai pra lá? – perguntou, fechando minha mala e dando um tapinha na mala e suspirando – Nem acredito que você tá indo embora de verdade.
- Podemos não falar no assunto? – eu ri forçado – E respondendo sua pergunta, Jeff vai me levar até a King’s Cross e de lá pego o metrô, em 45 minutos mais ou menos eu chego ao Heathrow tranquilamente.
- Você vai pegar o metrô de madrugada? – arregalou os olhos – É seguro?
- Não sei se é seguro, mas agora eu não sinto como se eu tivesse muito a perder.
- , vira essa boca pra lá, menina! Vai que acontece alguma coisa com você, não quero nem pensar – bateu no nosso armário de madeira três vezes – Eu vou com você.
- Não precisa – bufei – Já disse isso algumas vezes pra todos vocês, não preciso que ninguém vá comigo e não tornem essa partida mais difícil do que já está.
- Vou ter que, infelizmente, concordar com a soltou – Acho meio desnecessário você esperar por três horas sozinha até a hora do seu voo sendo que nós não temos nada pra fazer amanhã.
- Escuta – sentei na cama e olhei pros cinco na minha frente – Eu não vou dar uma de Rachel de Friends e me despedir individualmente de cada um, e eu nem tive chance de ter uma noite de amor final com – todos fizeram careta ao ouvirem a última parte – Odeio despedidas, odeio falar tchau, odeio chorar e odeio pensar que suas fãs podem descobrir alguma coisa e isso, a minha partida, virar notícia da SugarScape durante a semana. Por favor, eu imploro que vocês respeitem a minha opinião e não me acompanhem ao aeroporto. Está sendo complicado demais subir naquele avião, não quero vocês ali...
- Nós já entendemos – me interrompeu.

Eu não sei em que momento do meu discurso eu comecei a chorar, mas só quando interrompeu dei-me conta que meu rosto estava molhado e minha garganta um pouco quente... Chorei e nem ao menos me dei conta disso. Eles vieram até mim e me abraçaram, os quatro de uma vez, ficou com os braços cruzados ao longe, soluçando baixinho e mordendo os lábios com uma certa urgência, desviando o olhar do meu todo o tempo. Encostei minha cabeça no ombro de – que era quem estava me abraçando de frente – e encarei . Meu peito doeu mais do que deixar os meninos... A viu meus piores momentos, minhas primeiras alegrias, a primeira vez que fiquei doente, que chorei de saudades; foi por causa dela que acabei entrando no universo One Direction, e toda essa loucura que aconteceu em quase quinhentos dias. já disse algumas vezes que agradece a mim por ter colocado o na vida dela, mas na verdade, a responsabilidade é totalmente dela. Se não fosse por em minha vida, se ela não tivesse achado meu passaporte aquele dia, não sei como e nem onde eu estaria hoje. Se eu penso dessa forma, sei que no fundo ela se sente da mesma maneira, o que faz a nossa despedida ser a pior de todas. Vou deixar a melhor amiga, a irmã que eu não tenho no Brasil.

- Eu amo você – murmurei para ela, enquanto os meninos ainda me abraçavam e diziam coisas para me tranquilizar.
- Eu também – respondeu em seguida, virando-se e indo pra cozinha.

Apertei mais e , quando na verdade eu queria estar abraçando minha amiga. Dela, eu sei que não vou conseguir dizer adeus.



Quando cheguei ao Heathrow, o aeroporto estava extremamente vazio e algumas pessoas dormiam nos bancos e perto das portas. Estava congelante e eu estava feliz por estar usando o cachecol que deu a mim no nosso primeiro encontro. e vieram conversando comigo por mensagens o caminho todo do metrô, e caíram no sono, e estava chorosa demais pra falar alguma coisa. Despedi-me deles como se fosse vê-los no dia seguinte, tentando não demorar demais, não chorar demais e nem dar explicações demais. Foi apenas um ‘ok, até daqui a pouco’ e pronto, porque não ia conseguir dizer mais nada, além disso.

Fui para o primeiro andar do aeroporto, chegando aos terminais. Chequei os horários que eram os únicos que brilhavam na escuridão das luzes de emergência... Senti um frio na barriga muito ruim quando vi os escritos:

“Londres – Guarulhos – Embarque”

Dei uma olhada na porta de vidro que dava para a área externa. Ainda tinha a esperança de ele aparecer ali? Será que estava escondido em algum lugar que eu não estava vendo? Eu to vendo embaçado de novo ou estou chorando?
Apertei o cachecol com mais força e fui achar um banco para me sentar. Três horas me restavam naquele país, três horas para destruir e acabar com o sonho da minha vida.

Capítulo 41

Não comi o primeiro café da manhã que nos foi servido no serviço de bordo do avião. Me sentia totalmente sem fome e mais enjoada do que nunca. Acompanhei pela janela Londres sendo deixada para trás, até as cidades se tornarem borrões sob meus olhos e nada mais restar do que o oceano azul platina embaixo do avião. Tentei procurar algum filme pra assistir, mas nenhum parecia despertar meu interesse; tentei ouvir alguma música, mas quando vi que One Direction estava nos destaques musicais, também acabei desistindo. A senhora ao meu lado caiu no sono em dez minutos de voo, então eu estava livre de ter que inventar uma conversa fiada com uma desconhecida, o que me deixou bastante aliviada. Peguei o catálogo de informações sobre o voo, mas quando comecei a ler o que deveríamos fazer em caso de pane, despressurização e essas coisas, comecei a entrar em pânico e abandonei exatamente onde o tinha pegado antes; a última coisa que eu queria ler agora era sobre um possível desastre aéreo.

Peguei o cobertor que eles nos dão quando entramos no avião, o abri e me cobri, encostando minha cabeça na janela e tentando pensar nas coisas boas que me esperavam no Brasil... O problema é que eu não conseguia pensar em quase nada, porque tudo me remetia ao que eu já estava vivendo de bom em Londres e tive que deixar pra trás, por uma escolha que não havia sido minha. Apertei a bússola pendurada em meu pescoço e desejei que ela fosse o vira-tempo da Hermione, que eu pudesse voltar no meu primeiro dia e ignorar e seu comportamento infantil e babaca de querer fazer poses pra chamar minha atenção, ou ter sido mais severa com minha mãe pelo telefone e ter dispensando Miriam Rezende assim que tive a primeira oportunidade, ou melhor ainda... Voltar no dia em que me inscrevi pra bolsa de estudos! Pelo menos eu ainda estaria vivendo no Brasil e frustrada com outras coisas, e não por um sonho interrompido. Maldita Rowling que inventa essas coisas e as deixa apenas na literatura e nos nossos sonhos. Pra que colocar algo tão valioso e precioso em uma obra de ficção, sendo que não podemos usar na vida real? Ah, ótimo, agora estou começando a delirar, deve ser a altitude.

Fechei meus olhos contanto até dez, mil, cem, trocentos... Queria ficar inconsciente logo e só acordar quando ouvisse o tão famoso “Tripulação, preparar para pouso”, porque aí, sim, eu ia ter plena certeza que meu pesadelo teria começado. Brasil! Tentei pensar em alguma coisa boa, alguma memória que me tirasse daquele ambiente e me levasse de volta pra Londres, nem que fosse por duas horas até eu pegar no sono, ou então que me envolvesse por completo e que não lembrasse de mais nada pelas onze, doze horas que me separavam do meu país. Pensamentos felizes, pensamentos felizes... Tudo .


Novembro – Casa do Tom Fletcher

Don't give me no lip
(Não me desrespeite)
Don't give me no lip
(Não me desrespeite)
Don't give me no
(Não me desrespeite, não)

Assim que entramos, eu já comecei a cantar e sorrir como uma idiota! Estava segurando a mão de e ele gargalhou quando viu minha cara de felicidade, como se esta fosse exatamente a reação que ele estava esperando: eu com uma bela cara de retardada!

Estávamos perto do estúdio e eu podia ouvir Dougie cantando, as guitarras de Tom e Danny e a percussão forte e presente de Judd, e meu coração acompanhava as batidas. Don’t give me no lip era um lado B quase nada conhecido do Pearl Jam, e eu sempre imaginei Daniel Jones cantando Eddie Vedder, mas nunca Dougie Poynter. E ele só escolheu a música perfeita pra voz dele, combinou tão certo que, se eu fechasse os olhos, era Eddie no auge dos seus 25 anos cantando... Dá até arrepio.

Don't give me no lip, i've had my fill of it
(Não me desrespeite, eu já estou cheio disso)
Don't give me no lip, i've lost my taste for it
(Não me desrespeite, eu já perdi o gusto por isso)
Don't give me no lip, you've got to face this shit
(Não me desrespeite, você tem que enfrentar essas merdas)
Don't give me no lip, Don't give me no lip
(Não me desrespeite, não me desrespeite)


hoje estava mais gato do que nunca, acho que fazia um tempo que não nos víamos e hoje ele resolveu caprichar mais ainda no visual, fazendo aquele estilo “to nem aí de ser um popstar rico pra caralho, mas vou colocar a primeira roupa que eu ver na minha frente, porque eu sei que é tudo roupa de marca e cara pra porra”, é, eu defino assim meu namorado. Se bem que, por mim, ele podia fazer o que quisesse, desde que usasse óculos de sol e me encarasse daquele jeito despojado, ele me tinha aos seus pés, pescoço, boca, cama, onde mais ele desejasse! Como o inverno estava se fazendo presente, já que dezembro estava quase aí, tive que colocar botas e meia calça, mas estava com preguiça demais de pensar em algo mais elaborado e joguei um vestido e uma jaqueta por cima de mim – totalmente sob os protestos do , que dizia que eu ia ficar resfriada, mas se estávamos indo pra casa do Tom, qual o problema?

Assim que abriu a porta do estúdio, os quatro componentes do McFly pararam de tocar e nos encararam, com um sorrisão no rosto. Dougie ficou roxo, algo me diz que ele não estava nos esperando, ou que pelo menos aparecêssemos depois de sua apresentação, ou sei lá, Dougie é sempre Dougie de um jeito fofo e tímido. Um a um eles vieram até nós, com o tão gostoso carinho de sempre, e meu estômago de fã dando pulos porque pra mim sempre era uma experiência surreal estar em contato com o McFly! Não importa que agora eu tenho o número deles em meu celular, ou que eu posso voltar do curso e dar uma passada na casa do Tom e fazer companhia pra Giovanna, ou sei lá... Era sempre estranho e ao mesmo tempo gostoso. É McFly, é amor, não importa como.

- E aí, curtiu? – Tom perguntou enquanto me abraçava de lado. Vi acompanhar Danny até a guitarra e tentar entender alguns acordes – Pearl Jaaaaaaaaaam!
- Eu nem acredito que vivi pra ver vocês tocando Eddie Vedder, foi demais pro meu coração – comecei a rir – Sempre imaginei ouvir na voz do Danny, mas nunca na do Dougie.
- Decepção? – Dougie perguntou, meio tímido, e eu abri o maior sorrisão.
- Nem um pouco, essa música é perfeita! É como ouvir, sei lá, Born to Run do Springsteen na voz do Danny, parece que foi feita pra você cantar, sabe?
- Belo elogio – Tom fez “joinha” com as duas mãos – E aí, quais os planos pra hoje?
- Não sei ainda, não se decidiu se vai ficar aqui pegando as músicas novas ou tentando aprender alguma coisa com o Jones ou se vamos sair, tá tudo meio nas escuras pra mim.
- Eu tenho que ir – ouvi a voz de Judd atrás mim, me abraçando e me dando um beijo no rosto (e me deixando com as pernas bambas) – Tenho uma noiva meio desesperada me esperando em casa.
- To com tanta inveja da Izzy – deixei escapulir e eles riram – Digo, é meio estranho ver alguém que você admira faz muito tempo casando, sabe? Já perdi o Fletcher, to perdendo você também.
- Pensa como eu vou ficar quando você e o decidirem casar? Praticamente limpamos suas fraldas, não vai ser nada legal – Judd falou e eu sorri mais do que deveria. Casar com o ... Eita.
- Não gostei da comparação, mas tudo bem – eu sorri.

Me despedi de Judd e fui pra cozinha com Tom, dando um pouco de privacidade ao meu namorado e para Danny, que iam inventar alguma coisa naquele estúdio. Dougie desapareceu um pouco depois, talvez indo acompanhar seu macho alfa até o carro, ou sei lá, foi brincar com algum lagarto que achou no meio do quintal.

- Sabe uma banda que você podia começar a escutar? – Tom perguntou pra mim, me dando um copo d’agua enquanto ficava no estúdio com Danny.
- Qual?
- Guns.
- Mas quem disse que eu não escuto Guns?
- É que... – ele coçou a cabeça e começou a rir – Você só fala de uma banda, então eu presumi que não escuta outra coisa.
- Hey – comecei a rir – O fato de minha banda favorita ser Pearl Jam não quer dizer que não escuto outras coisas. Na verdade, tem muita banda brasileira que vocês nem conhecem que eu também ouço pra caramba.
- Me dá um exemplo – ele sentou-se em cima da bancada da cozinha e sorriu de lado, e lá vai a covinha aparecer.
- De que adianta te dar um exemplo se você não vai conhecer? – desafiei.
- Eu posso me interessar pelo nome da banda e baixar alguma coisa, não posso?
- Tá – eu ri – O que o nome Skank diz pra você?
- “Skenk”? – Tom fez careta, e eu comecei a gargalhar como doida.

Skank em inglês significa vadia, biscate, essas coisas. É sinônimo de bitch, whore e todas essas palavras, por isso que ele fez careta. Quem em sã consciência ia colocar esse nome em uma banda? Bom, na Inglaterra não faz sentido, mas no Brasil faz. Na verdade, se for mesmo explicar o real significado do Skank, a coisa vai ficar pior ainda.

- Não, Tom – parei de rir – No Brasil tem outro significado, que não é esse que você está pensando.
- Ah, ok – ele suspirou – Mas o que significa?
- Hm... – mordi os lábios – Eu não sei se é pior ou melhor do que isso que você está imaginando – fiz careta.
- Vai, !
- Skank é um termo oriundo da palavra Ska, que é um gênero musical natural da Jamaica. Skank é um ritmo musical que teve início na década de 80, que combina vários gêneros de música, como músicas caribenhas, jazz, blues e outros – até aí tudo bem, o problema é o que vinha a seguir – Skank é também conhecido como skunk, que é uma droga parecida com a maconha, mas que é produzida em laboratório. O skank possui uma concentração bem maior do que a folha natural, que é formada também por flores e folhas prensadas. Cinco vezes maior.
- Ou seja, os caras cantam a liberação da maconha num ritmo jamaicano?
- Eles até possuem umas músicas assim, mas a maioria é uma viagem meio doida, que eu juro, não é por causa da droga – comecei a rir e ele também.
- Tá, ok... O que mais?
- Bom, tem Los Hermanos, que eu adoro, Rita Lee, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso...
- Tem como você anotar esses nomes pra mim?
- Você vai ouvir? De verdade? – eu sorri.
- E por que não ouviria? É música, , se puder ajudar de alguma forma no nosso processo criativo, deve ser levado em conta.
- Que fofo – deixei escapar e Tom riu. Concentra, ! – Enfim, posso te passar os nomes das músicas, sim, farei um apanhado das minhas bandas favoritas e te... Sei lá, te aviso – eu ri.

Nisso, e Danny apareceram na cozinha, rindo de alguma besteira que eu imagino ter sido falada pelo Jones. Suspirei quando vi se aproximando e Tom desceu da bancada e colocou a mão em meus ombros de forma quase paternal, e eu não gostei de pensar em Tom nessa maneira.

- Parece que é a primeira vez que você olha pra ele, ou vice-versa – ele murmurou, meio sorrindo.
- Como assim? – desviei meu olhar de e encarei Tom, que tinha um sorriso bobo no rosto – Tá falando de quem?
- Do Papa, ! – ele gargalhou.
- Perdi a piada? – se aproximou, me dando um selinho e, depois, um beijo na bochecha – Sério, quando vocês dois se juntam eu sempre tenho a impressão de que estou perdendo algo genial.
- Não está perdendo nada, amor – beijei a ponta do seu nariz – E então, como foi a aula particular com Danny Jones?
- Ótima – Danny disse ao fundo, rindo baixo.
- Eu sou um péssimo aluno, péssimo! – balançou a cabeça negativamente, a encostando em meu ombro.
- Calma, cara, as coisas no começo são complicadas – Tom deu um tapinha nas costas dele e piscou pra mim – Quer começar do básico?
- Mas é de lá mesmo que eu estou começando – gargalhou.
- Tendo o Jones como professor? Sem essa, vou te mostrar umas coisas.
- Quê? Tá querendo dizer que não sou um bom professor de guitarra, é isso?
- Não disse nada, não disse nada – Tom levantou os braços pra cima.

Tom foi novamente pro estúdio, e Danny atrás dele reclamando de alguma coisa, a essa altura eu acho que Dougie já tinha ido embora e ninguém tinha percebido.

Eu e ficamos sozinhos na cozinha, nos encarando em silêncio, quando o único barulho era a risada de Tom ao longe e a voz rouca de Danny berrando algo engraçado. Coloquei meus braços ao redor do pescoço do meu namorado e dei um beijo demorado em seus lábios, percebi que o peguei totalmente de surpresa porque, ao final, ele tinha um sorriso infantil e lindo no rosto. Mordi minha boca e perguntei com meu olhar “qual o problema?”; nós já estávamos em uma sintonia tão grande que não era mais preciso usar as palavras pra dizer o que queríamos, o olhar já dizia tudo. Ele apenas encostou a boca na minha e murmurou um “nada”, me beijando logo em seguida. Ouvi passos e abri meus olhos pra deparar com Dougie comendo uma maçã no canto, e nos olhando com cara de atrevido. Puxei um pouco mais pra mim e mostrei o dedo pra Dougie, que caiu na gargalhada...

- Senhorita?

Abri meus olhos, que estavam mais pesados do que nunca, e vi o comissário de bordo parado ao lado da poltrona, com um sorriso comercial e algumas bandejas.

- Oi? Hã?
- Lanche da manhã. Temos leite, pão...
- Não estou com fome, obrigada – suspirei, me arrumando na poltrona. O cheiro era agradável, mas eu ainda estava enjoada.
- Se precisar de algo, só chamar.
- Tudo bem – agradeci e voltei a olhar pra janela.

Agora o dia estava bem mais claro que antes... Olhei no mapa onde estávamos e vi que eu já estava muito longe de Londres, mas muito mesmo. Brasil ficava mais perto, o fuso horário já tinha mudado e o aperto em meu peito só aumentava. Agora, sim, eu estava com vontade de chorar como doida, como uma quase descontrolada, porque bateu aquele desespero tamanho, eu até cogitei a possibilidade de pular do avião. Mas, óbvio, não o fiz.

Puxei novamente o cobertor pra mim e me encolhi, olhando o azul do céu em cima das nuvens e tentando não perder o controle e nem a sanidade. Só não consegui controlar meu choro baixo, as lágrimas que caíam cada vez mais rápido e o grito em minha garganta que pedia pra sair. Já imaginava como seria minha vida no Brasil, pelo menos no primeiro mês... UMA BELA MERDA!

Meu corpo inteiro formigava e eu não sentia a ponta dos meus dedos. Abri minhas botas e coloquei os pés em cima da poltrona, massageando e tentando fazer com que a circulação voltasse ao normal, mas não obtive um bom resultado. Meus pés ainda formigavam e ainda estavam gelados. Fiquei nessa posição e fechei novamente os olhos, tentando buscar mais alguma lembrança... Qualquer uma seria boa, eu só queria um conforto, algo que me levasse de volta pra lá, nem que fosse apenas em pensamento.


se sentou ao meu lado. Ele vestia uma camiseta preta com mangas e segurava uma garrafinha de água. Os cabelos, pregando levemente na testa em um desalinhamento perfeito por conta do suor, davam-lhe um ar despojado, juvenil. Nestas horas eu conseguia entender o porquê de cada uma das fãs enxergarem nele a figura de um ícone.

- Do que está rindo, ?
- De você, . De você! – respondi, erguendo a câmera que, ainda que não regulada de forma apropriada para a luz do ambiente no modo manual, conseguiu capturar uma imagem legal.
- Ei! – ele protestou, mas logo sorriu de forma maliciosa, tirando o Iphone do bolso. Um clique acompanhou o ato. Mal tive tempo de tampar meu rosto.
- Apaga isso, !
- Qual o problema, amor? – ironizou, mostrando-me a foto. Eu estava com a cara assustada e tampando somente um lado da face. E a minha blusa customizada, com uma estampa que dizia “I’m in a relationship with Karl Marx ideas”, deixava a mostra um pedaço do sutiã de renda que complementava a composição do visual. Era uma coisa meio trash, confesso. Mas seguia bem a linha do que eu costumava vestir.
- Apaga. Isso. Agora. . ! ? O que você está fazendo? Você não...
- Sim, , eu publiquei a foto no meu instagram. – Ele respondeu de uma maneira risonha e calma. – As fãs gostam de ver você, sabia?

Rolei os olhos, decidindo por ignorá-lo enquanto voltava à leitura do meu livro. O Rei Lear era, sem dúvida alguma, uma das minhas histórias favoritas de Shakespeare – ainda que não tão famosa quanto os clássicos Hamlet, Romeu e Julieta ou Otelo.

- Vai mesmo fingir que não estou aqui? – perguntou, se aproximando como um animal pronto para dar o bote.
- Vou – resmunguei, me esforçando para continuar a provocá-lo. – Você é um idiota.
- ...
- Sai pra lá, ! Se não percebeu, você está fedendo!
- Outch! – ele disse, se afastando como se houvesse levado um choque. Por alguns segundos me arrependi amargamente da decisão de dizer aquilo. – O que você está lendo?
- Shakespeare.
- O nome do autor eu consegui entender na capa, quero saber qual é a peça teatral em questão.
- Uh, “peça teatral em questão”? – gargalhei, posicionando o marcador de página entre uma ou outra enquanto fixava os olhos sobre a figura do meu namorado. – Parece que alguém andou estudando para me impressionar...
- Eu não sou o asno que você pensa que eu sou, babe.
- Eu sei, . Só estou brincando! – sorri de uma maneira agradável, e então me decidi por responder sua pergunta. – Essa é a história do Rei Lear.
- Rei Lear? – ele questionou quase como se fosse uma criança de cinco anos, sentando-se ao meu lado no chão e encostando a coluna na parede.
- Sim. Ele era um Rei que governava a Grã Bretanha e atingiu a velhice. Basicamente, quando foi dividir a herança entre as três filhas, deserdou uma delas, a Cordélia.
- E por que ele fez isso?
- Porque, diferentemente das irmãs, ela não mentiu para agradá-lo. Disse que seria tão fiel a ele quanto ao homem que esposasse. No fim das contas, ainda que sem receber nada, foi a única a acompanhar o pai no leito de morte.
- Tragédias Shakespearianas... – ele suspirou, pensativo, e aí deu um gole na garrafinha que eu já havia esquecido que segurava. – Talvez eu leia alguma uma hora. Inspiração para novas músicas não irão faltar...
- Quando se aprende a conviver com a tragédia – virei o rosto para observá-lo, antes de dar continuidade –, as coisas se tornam mais fáceis. Nesta obra, por exemplo, o bobo representa a ironia em cada uma das situações. De uma forma implícita, acaba conduzindo a narrativa com um “humor negro”.
- Profundo... – ele sorriu, encarando meus lábios enquanto eu os mordia de forma inconsciente. – Alguma outra indicação?
- Alice no País das Maravilhas... – murmurei, me aproximando ainda mais dele. A esta altura, nossos lábios já estavam se roçando.
- Espera aí... Não é nessa história que o autor é um pedófilo? – ele questionou, quebrando em partes o clima e fazendo uma careta engraçada.
- Detalhes, ... Detalhes... Todo artista é um pouco louco. E ele foi infinitamente feliz ao colocar a rainha de copas para citar uma das frases que, para mim, é das mais memoráveis...
- E qual seria...?
- “Primeiro a sentença, depois o julgamento.”
- ... – murmurou – Inteligência é algo incrivelmente sexy. – E então extinguiu a pequena distancia existente entre nós, selando finalmente os lábios nos meus.

Por um momento foi como estar saindo de órbita. Eu sentia as mãos dele passeando por toda a extensão de cada uma das minhas coxas e indo até a altura da cintura. Aquele território, ambos sabíamos, não lhe era desconhecido. Na verdade, tê-lo assim, tão próximo, era de um conforto ao qual eu vinha me habituando nos últimos tempos.

- Acho que sou um cara de sorte... – ele riu. O rosto estava escondido em meu pescoço e, agora, eu me esforçava para sentar de uma forma confortável em seu colo sem ter de tirá-lo dali. – Tenho uma namorada incrível e estou na maior banda dos últimos tempos...
- Desce do salto, . Sua namorada é tão trágica quanto os livros que lê e falta bastante até que a One Direction se consolide de uma maneira estável.
- E ainda é sincera...

Ao empurrá-lo para o lado, pude ver que ele dava um dos sorrisos de como quando estava se divertindo com a situação. Filho da mãe!

- Você não deveria estar malhando? – rolei os olhos, impaciente.
- Se não percebeu, terminei minha sessão. Estava revezando os aparelhos com – ele deu de ombros, pegando minha câmera que ficou no chão e a ligando.
- E , onde se enfiou?
- Dentro da , provavelmente. Sabe... O casal tem uma maneira bem melhor de queimar calorias do que a convencional utilizada na academia. Se quiser, claro, posso mostrar a você...
- , sua cara não queima?! Você é muito pretensioso! – gargalhei com vontade, deixando meu corpo cair logo ao lado de onde ele estava sentado. – O que tanto olha aí? Complexo de Narciso, ? Não vá me dizer que se apaixonou pela própria foto!
- Não que seja algo difícil de acontecer... – ele sorriu, entrando na brincadeira. - Mas, sabe como é, prefiro me concentrar em uma imagem que tenha você vestida nessas camisetas de banda. É sexy, . É muito sexy.
- Guns n’ Roses é sexy, babe.
- Assim como qualquer coisa que envolva você...
- Não começa, ...
- Daria para parar de me chamar pelo sobrenome? É inconveniente! E, além do mais, me lembra o Simon quando está prestes a dar alguma bronca na gente.
- Tudo bem, amorzinho. Melhorou para você?
- Vou fingir que não notei o tom de deboche. E, respondendo a sua pergunta, sim, melhorou mil vezes.

Mostrei-lhe a língua e recebi um abraço. A máquina, que anteriormente estava em suas mãos, repousava sobre as minhas enquanto eu fazia uma inspeção mais profunda na imagem que brilhava na tela.

havia tirado aquela fotografia em um dia que caminhávamos pelo campus após o horário de aulas. Segundo ela, aliás, era uma forma de que eu me “acostumasse com o assédio dos paparazzi” e aprendesse a posar com uma expressão melhor do que a “cara de bosta” habitual. Minha melhor amiga era ou não um amor?
- Você está quieto, . – comentei, erguendo os olhos em uma tentativa falha de encará-lo. Aninhada da forma que estava, tudo o que conseguia ver era a imagem de seu queixo.
- Não é nada... – ele murmurou, mas eu soube não ser verdade.
No próximo final de semana ocorreria uma premiação de renome mundial perto do Palácio e, pela primeira vez, a One Direction havia sido convidada a participar. Grandes nomes como Paul McCartney e Elton John haviam confirmado presença no evento. E acho que, em uma dessas de convivência, um pouco da minha insegurança havia sido transmitida ao .

- Você está ansioso... – cantarolei, brincalhona.
- Não estou! – ele resmungou de uma forma rabugenta, que me lembrou um pouco... Eu mesma!?
- Está. Mas isso é normal, acredite em mim. O medo provoca a mudança, seja ela positiva ou negativa. Mas, principalmente, nos faz colocar os pés no chão de novo.

Ele moveu os lábios, tencionando soltar uma resposta, mas, ao invés disso, o cortei com um assovio para dar início ao trecho de uma música que julguei bastante apropriada para o momento.

Said, man, take it slow
And it'll work itself out fine
All we need is just a little patience
Said, sugar, make it slow
And we'll come together fine
All we need is just a little patience

É claro que, em minha interpretação, substitui o termo original, que é “woman”, em uma das frases, por “man”. riu de forma divertida e me encarou, só que, desta vez, com o olhar confiante de sempre.

- Estou cada vez gostando mais de Guns n’ Roses...
- Desde que não cante nenhuma música deles em suas apresentações, pode amá-los o quanto quiser.
- Você é tão... – ele iria dizer, e mais uma vez o cortei, não esperando que complementasse o raciocínio. O segundo beijo, diferente do primeiro, adquiria um ar mais terno.

“Tripulação, preparar para pouso”

Acordei num susto, uma mistura de alegria e tristeza quando ouvi essas malditas palavras que me trouxeram de volta pra minha nada legal realidade. Vi Guarulhos, vi São Paulo, a bandeira do Brasil e a manhã cinzenta que, comparando com a cor de Londres, era um cinza mais escuro e feio. Ou pra mim, tudo agora aqui seria feio.

Esperei todos saírem do avião, literalmente TODO mundo saiu, e eu fiquei ali, sentada, olhando pro nada, até que veio uma comissária e perguntou se eu estava bem ou precisava de alguma coisa. Minha vontade foi dizer que precisava de uma passagem de volta pra Inglaterra, mas acho que ela não ia entender bem o que eu estava querendo dizer. Apenas disse que estava um pouco enjoada do voo, se eu podia ficar ali mais uns cinco minutos até me sentir melhor. Ela, com toda atenção do mundo, disse que tudo estava bem e soltou o famoso “se precisar de algo... blá blá blá”.

Eu precisava moça, precisava do , da minha vida de antes, do projeto perfeito do meu futuro, de tudo o que eu mais quis na minha vida de volta. Tem como me arranjar isso?


Capítulo 41
Especial de Ano Novo publicado no FFObs em 2012

Hells e Jess já estavam ajudando minha mãe desde o meio-dia com os preparativos para as festas de fim de ano. Conseguia ouvir claramente a risada alta de Jess bem como Hells rindo de toda piada sem graça e sem noção da minha mãe. Hells era fofa demais e boa demais para estar no mesmo mundo que nós, às vezes eu tinha plena certeza que ela era de Nárnia ou algum lugar parecido. A casa da minha vó em Ilha Bela estava lotada e bagunçada, e eu odiava isso. Queria passar meu Ano Novo sozinha no meu quarto.

Não foi nada fácil entrar naquele avião e ver do lado de fora encostado no vidro sem ao menos vir até mim para se despedir. Eu pedi espaço porque não conseguia compreender de jeito algum o nosso término, e voltando agora para o Brasil tudo fazia menos sentido ainda. Tinha uma sensação de que eu odiava tudo aqui! Não era mais a mesma coisa, não era meu quarto, meu cheiro, e acho que nem minha cachorra parecia mais me reconhecer. Era um universo diferente, um mundo diferente. Era o Brasil e não mais a Inglaterra. Era Ilha Bela e não Londres.

Lá estava eu, deitada na cama, brincando com a luz do meu abajur. Parecia a Holly em Ps I love you, porém não estava com uma roupa tão bonita quanto a dela e nem meu marido estava morto me mandando cartas do além; na verdade eu ia adorar se me mandasse uma carta, embora fizesse menos de 24 horas que eu cheguei ao Brasil e acho difícil uma carta chegar em tão pouco tempo. Eu estava com uma saia preta de pregas bem curtinha para os meus parâmetros, a camiseta que eu havia ganho da Lary de Natal – uma do Pearl Jam com o stickman vermelho na frente, cor preta – olhos delineados com lápis preto, cabelos lisos. Se alguém me visse com certeza pensaria que eu sou uma gótica fugitiva de algum ritual satânico de algum cemitério ao redor. Era Ano Novo, era para eu estar toda de branco como uma fadinha, mas resolvi colocar uma roupa que retratava meu humor. NEGRO! Preto como a porra do céu que estava agora; ia chover. Óbvio que ia, toda porra de ano chove, diferente de Londres, onde neva. Branquinha, fofa, gelada. E NÃO CHUVA. NO FIM DO ANO! Bosta!

- ?

Nem me dei ao trabalho de perguntar quem era, a voz de Jess era inconfundível. Jess era minha prima distante de quase quinto grau, mas nós crescemos juntas então dividíamos uma amizade longa. Embora não fôssemos muito próximas e nos víssemos apenas em datas especiais – aniversários, natal e Ano Novo – durante o ano trocávamos mensagens no Facebook e no Twitter. Desde que fui pra Londres perdemos totalmente o contato, já que ela não é nada fã de One Direction e arrasta uma asa pelo Fletcher, assim como eu. Quando ela viu que eu estava próxima dos meninos e não tinha falado nada pra ela, nossa pouca amizade se tornou em uma grande inimizade e cortamos relações. Mas então ela foi com minha mãe me buscar no aeroporto, viu minha cara de enterro e ficou com pena de mim, voltamos às boas. Jess era uma fofa e eu era apaixonada pelo seu estilo musical e visual; fã apaixonada de rock, cabelos longos e vermelhos, olhos bem desenhados de preto, unhas pretas e não estava nem aí para que o mundo pensasse dela. Começamos a amar juntas McFly, dividimos o mesmo homem – Tom – e adorávamos falar mal da Giovanna (embora hoje eu ache isso muito horrendo, Gio é uma fofa e falar mal da namorada do ídolo se tornou algo meio traumatizante pra mim). Ela pode não gostar de One Direction nem ao menos saber quem é , mas sua irmã Hells sabe, e muito bem. Hells era linda, mas quando o assunto é One Direction ela vira uma fera, talvez seja porque ela fosse mais fã de The Wanted. Quando os meninos brigaram por Twitter – assunto esse que eu me neguei a discutir com porque achei babaca e infantil demais, e nós na verdade brigamos por isso – sempre via a Hells no Twitter defendendo o The Wanted e mandando mil asneiras para os meninos da One Direction. Na verdade, minha briga com começou a partir daí, porque ele disse que eu não o estava defendendo, afinal das contas mandei ele pra merda e mentalmente mandei todos os fandoms do mundo pra merda. Na verdade, a atitude de Hells me espantou e muito, geralmente ela é uma pessoa muito doce, mas acho que como mexeram com o queridinho dela – que eu honestamente nem sei o nome – a menina ficou uma fera e mandou todo mundo para os quatro cantos do inferno. Nunca fui muito próxima de Hells por ela ser mais nova que eu e Jess, mas sempre nos demos bem, e como ela também gostava de McFly, tínhamos de vez em quando assuntos em comum. Agora nosso assunto em comum são duas boybands e, se eu abrir a boca pra falar no , começaremos uma briga sem fim.

- , abre a porta? Por favor?

Ah sim, Jess estava aqui.

- Tá aberta, Jess – respondi, falando pela primeira vez desde que desci daquele avião.
- Credo, tá escuro demais aqui e fedendo mofo – ela abriu as persianas da minha janela, acendeu a luz (já que estava escuro devido ao tempo chuvoso) e sentou-se ao meu lado na cama. Dei uma olhada de soslaio para ela e constatei que até mesmo ELA estava de branco pro Ano Novo. Ótimo, serei a única esquisita. – Trouxe seu presente de Natal atrasado – ela sorriu.
- Não precisava – respondi. – Não te comprei nada.
- Sei disso, na verdade eu comprei o seu ontem, sua cara de Mortiça começou a me deixar preocupada, e como você não comeu ou falou nada desde que chegou, presumi que estava entrando em um estado de choque no estilo ‘Silêncio de Melinda’, então, antes que você morra e ninguém saiba, te trouxe um presente – ela riu e me entregou um pacote prata bem pequeno. – Não conheço seu gosto, achei que isso fosse te trazer lembranças boas.
- Obrigada – falei erguendo-me na cama e pegando o pacote. Quando abri dei de cara com um chaveiro bem pequeno do London Eye. Meus olhos se encheram de lágrimas... Justamente o London Eye, não tinha como você acertar mais em cheio, Jess. – É lindo! Simplesmente perfeito – respondi com a voz embargada. – Valeu.
- Sabia que ia gostar, vi suas fotos do London Eye e achei bem sua cara – Jess sorria, não via ninguém sorrir pra mim há um bom tempo. – Você tá chorando?
- Não sei se vou conseguir parar de chorar – funguei e limpei meus olhos, sentindo a grossa camada de lápis sair. – Não sei se você vai entender se eu começar a falar.
- Posso não saber quem é seu namorado, mas se você tá sofrendo assim é porque ele valia a pena – ela deu de ombros. – Desculpa, sou péssma em conselhos.
- Queria que você o conhecesse, eu tinha tantos preconceitos com respeito a ele!
- Ele é melhor que o Tom?
- Ninguém é melhor que Thomas Fletcher – eu falei começando a rir. Ah Deus, eu ainda podia rir. – Quer saber de algumas fofocas sobre o universo McFly?
- QUERO! – Ela riu. – Mas, primeiro, o que você acha de levantar, tomar um banho e tirar essa roupa horrorosa? Sério, , não estamos mais no Halloween.
- Não estou com ânimo para desejar feliz Ano Novo para ninguém, meu novo ano não vai ser nada alegre.
- É claro que vai – ela deu um tapa na minha perna. – , temos a mesma idade e você conseguiu apenas tudo o que eu almejo pra mim nos próximos dez anos. Essa sua experiência vai contar no seu currículo, na sua carreira...
- Jess – eu a interrompi. – Sabia que tem coisa mais legal do que simplesmente uma carreira?
- Garotos? – Ela arregalou os olhos. – SUPERA! Você nunca foi assim, nunca foi de ficar chorando pelos cantos por culpa de alguém, e desde que te conheço seu sonho é entrar de cabeça no ramo da fotografia e agora você conseguiu. Esquece essa bandinha e foca no seu futuro.
- Não é a banda – fiz manha. – Jess, é muito mais que isso!
- HELP ME BABY, I GOTTA GET OVER YOOOU! – Ela berrou e nós começamos a rir como duas babacas. – Lembra do Fred? Lembra de como você ficou devastada por ele? De como você jurou que não ia ficar chorando por mais nenhum menino?
- Tá querendo comparar o babaca do Fred com ?
- To querendo comparar a situação – ela explicou. – Ficamos cantando McFly durante dias, você finalmente o esqueceu e depois se entregou de cabeça no trabalho, tudo bem que era no colegial, mas mesmo assim esqueceu do mundo e ficou igual a Salmon do filme “Um olhar do Paraíso”, tirando foto até do chão.
- Eu tirei foto do chão de Londres – ri sem graça.
- SABIA! – Jess gargalhou. Ficamos nos encarando por um tempo e depois ela terminou sua linha de raciocínio. – Por favor, , não se entrega não. Foi ele quem terminou com você pelo seu trabalho, porque ele gosta muito de ti e quer seu melhor. Ele não foi um babaca igual o Fred, ele foi alguém maduro que te ama – ela fez careta. – Nem acredito que eu disse isso.
- Mas ele me ama – eu ri. – E eu também o amo.
- Supera esse amor, pelo menos por hoje! Toma um banho, eu te ajudo a escolher uma roupa branca, fechado?
- Jess...
- FECHADO?
- Ai, tá bom – bufei. – Só vou desejar feliz Ano Novo pra você.
- E pra minha irmã?
- Se ela vier falar de The Wanted comigo, eu não vou desejar um feliz Ano Novo pra ela não – eu ri. – To brincando.
- Ela vai falar...
- Deeeeeeeeeeeeeus!

Tomei banho e coloquei um vestido branco e leve que Jess havia escolhido pra mim. Como estávamos na praia, não passei maquiagem alguma, deixei meus cabelos molhados secarem ao natural e, nos pés, apenas chinelos. Era o Brasil, então não precisava de muita frescura.

Todos os meus parentes estavam no andar debaixo, TODOS! Avós, tios, pai, mãe, primos, tias fofoqueiras, primas mais fofoqueiras ainda... E assim que cheguei ao andar de baixo, todos os olhares foram para a minha pessoa. Minhas tias começaram a cochichar, minhas primas trocaram risadinhas maldosas e fizeram questão de mostrar que estava passando o DVD Up All Night Tour na Nick – malditas! Minha mãe veio ao meu encontro puxando a minha saia mais pra baixo, dizendo que estava curta demais, mandando eu pentear o cabelo, mandando eu colocar um cor no meu rosto e para eu sorrir. A coisa mais difícil que eu conseguia no momento era sorrir, ainda mais com esses rostos estranhos me encarando e falando de mim. Pensei que já tivesse superado essa fase.

- ! – Uma Hells um pouco mais alta do que da última vez que a tinha visto veio correndo até mim e me abraçou. – Ai que saudades suas, pensei que fosse te ver só ano que vem – ela gargalhou. Aquelas piadas que todo mundo faz no dia 31 de dezembro tipo ‘ahhh nossa amanhã é ano que vem’, Hells fazia isso. Eu disse que ela era de Nárnia.
- Agradeça a sua irmã por me tirar do meu antro de depressão – apontei pra Jess enquanto dava outro abraço nela. – Mas, menina, como você cresceu?
- , já tenho quinze anos completos! QUINZE! A última vez que você me viu eu tinha catorze, tipo, muuuuuuuuito tempo atrás – ela jogou a franja longa e castanha pra trás e eu comecei a rir. Jess e Hells eram parecidas na aparência: ambas lindas, com o mesmo corpão e com gostos musicais totalmente opostos.
- Sim, com certeza faz muito tempo que não te vejo, Hells – sorri. – Me dá outro abraço, por favor – a agarrei e aproveitei que eu ainda era mais alta e podia cuidar daquela pequena por mais um tempo.
- Vai lá fora no posto de segurança – Hells cochichou no meu ouvido.
- Que? – Eu a olhei assustada. – Hells, que foi?
- Vai lá fora – ela sorriu. – Agora.
- Por quê? Que você aprontou?
- Eu nada, eu juro – ela riu. – Só vai, por favor.
- Hells?
- Vai, ! – Ela riu e me empurrou.

Olhei pra Jess, que parecia saber muito bem o que estava acontecendo e sorriu pra mim também. Minha mãe agora estava preocupada demais em organizar a mesa para a ceia que se aproximava, minhas primas malditas soltavam gritinhos cada vez que aparecia na TV e fazia questão de falar ‘ele tá solteiroooooooo’, claramente para eu ouvir, meus tios bêbados e meu pai no meio. Apesar dos cinco minutos que eu tive com esse povo me encarando, agora eu parecia ser mais uma na multidão. Consegui sair da casa da minha vó sem chamar a atenção de ninguém e caminhei rápido na direção da praia. A casa da minha vó ficava de frente para o mar, menos de cinco passos e meus pés já tocavam a areia macia e gelada das praias de Ilha Bela, por mais que eu estivesse sentindo saudades de Londres, devo dizer que eu sentia saudade de uma boa praia brasileira.

- Seu Gerônimo?

O meu grande amigo e guarda da casa da minha vó estava sentado em um banquinho do quiosque na praia. Ele devia ter mais ou menos uns setenta anos, e me conhecia desde que eu era uma criança de três. Seu Gerônimo era o tipo de avô da galera, como o meu vô não dava muito a mínima para o que eu fazia ou deixava de fazer, Seu Gerônimo acabou me adotando; me ensinou a pescar, colocar minhoca no anzol, a pular ondas, pegar água-viva sem me queimar, comer carangueijo, essas coisas que o pessoal que vive na praia acaba fazendo. Ele sempre dizia que eu merecia um bom namorado ao meu lado, mas que eu nunca o encontraria aqui, que minhas ambições eram grandes demais pro Brasil e que o garoto que me entenderia encontrava-se em outro continente. Sempre que ele falava isso eu só gargalhava, porém ele nunca esteve tão certo em toda sua vida. Será que dessa vez ele tinha mais alguma predição pra minha vida?

- ... Pequena ? – Seu sorriso de sempre, tão cheio de poucos dentes (TADINHO!), mas que demonstrava tanta sinceridade, apareceu, a única coisa que eu soube fazer foi começar a chorar e dar um abraço de urso nele. – Mas, menina, de onde você surgiu?
- Ai vô – falei chorosa aninhando-me mais ao seu peito. – Meu Deus, você é a última pessoa que eu esperava encontrar a essa hora na praia, o que o senhor está fazendo aqui?
- Minha ronda de sempre pequena, noite de Ano Novo, sabe como essas crianças ficam, sempre temos que manter um olho aberto e outro também – ele riu apontando para seus olhos, sorri sincera. – Mas, quando você chegou? Não te vejo há um bom tempo.
- O senhor ficou sabendo que eu fui pra Londres, não ficou?
- Londres? A terra da rainha? – Seus olhos brilharam, Seu Gerônimo era tão simples e tão livre de ambição, era quase que uma criatura mágica.
- Essa mesma – eu sorri. – Voltei ontem no fim da noite.
- E como que ninguém me avisa? Minha princesa volta de terras longes e eu só descubro porque, graças a Deus, você resolveu dar uma volta na praia sozinha à noite, olha só! – Seu Gerônimo ia começar a chorar, oh meu Deus!
- Ah, por favor, vô – Eu sorri e fiz carinho em se rosto. – Me desculpe, eu também não ando muito social desde que voltei pro Brasil – dei de ombros.
- Mas o que se passa?
- Coração partido – eu ri. – Lembra que você sempre me dizia que meu amor estaria bem longe daqui? Então, eu o encontrei, mas infelizmente não demos certo.
- Ele te magoou?
- Seu erro foi me amar demais – suspirei e controlei o choro. – Mas, vamos indo.
- Sinto muito pequena, sempre achei que você teria seu final feliz longe daqui.
- Eu tive um começo feliz – sorri. – Já está bom, não está? Eu nunca tive nem cinco segundos felizes.
- Está excelente – Seu Gerônimo fez carinho em meus cabelos. – Me responda, o que você faz essa hora da noite na praia? Daqui a pouco dá meia noite e você não vai estar com sua família para desejar feliz Ano Novo.
- Não estou no clima de Ano Novo – fiz careta. – Na verdade a Hells, lembra dela?
- A pequena notável?
- A própria – nós rimos. – Ela me mandou vir pra cá, digo, pro posto de segurança da praia.
- Ah sim... Eu realmente achei que aquele moço não estava lá à toa, na verdade ele nem é da vizinhança. O jeitão dele, na hora pensei que era gringo – minha garganta se fechou! Não podia ser...
- Gringo? Moço? – Titubeei. – Seu Gerônimo, você... Você tentou falar com ele? – Pergunta estúpida, eu sei.
- Menina, eu mal sei falar português – ele riu. – Sei que ele tentou se comunicar, é nome de gringo... Charlie, Steve...
- ? – Já perguntei sentindo meu coração sair pela boca e meu estômago dar mil voltas. Se ele confirmasse o nome eu não sei o que...
- ISSO! – Ele riu. – Como você adivinhou?
- Tem certeza? – Eu tremia. – , mais alto que eu... – comecei a descrevê-lo lembrando de cada detalhe do seu rosto e corpo, Seu Gerônimo concordou com absolutamente tudo. – Ai, Deus!
- Tá tudo bem, menina?
- É ele – eu não sabia se ria ou começava a chorar. – É ele, é ele o menino que eu conheci em Londres, Seu Gerônimo! – Optei por rir e chorar ao mesmo tempo, igual uma doida.
- Poxa – ele gargalhou. – Então eu sempre estive certo, a pessoa certa pra você estava mesmo longe daqui. Menina, vem aqui – ele me abraçou e me levou para perto do mar, a brisa balançou meus cabelos de leve e eu parecia mais feliz do que nunca, mas eu precisava vê-lo. – Consegue ver a imensidão desse oceano?
- Sim – respondo trêmula.
- Ele atravessou tudo isso pra te ver – Seu Gerônimo apertou de leve meus ombros e eu o ouvi fungar. – Só por você, pequena.
- Sim – sorri. – Vô, eu de verdade...
- Vai lá – ele me abraçou. – Feliz Ano Novo, pequena.
- Pro senhor também – dei um beijo demorado em seu rosto e corri para o posto policial, que não ficava muito longe de onde estávamos.

Corri uns quinhentos metros até chegar ao posto, e quando eu vi quem me esperava, uma alegria insana se apossou de mim. Parei de frente já sentindo as lágrimas serem levadas pelo vento praiano, e sentindo meu corpo vibrar por inteiro. estava ali, não era uma miragem, era ele, ERA ELE! Seus cabelos dançavam conforme o vento, seu rosto estava com as bochechas vermelhas devido ao frio e seus lábios mais convidativos do que nunca. Usava uma camisa branca e uma calça jeans clara, estava encostado na grade de madeira olhando para o oceano e com as mãos cruzadas na frente do corpo. Vendo essa imagem eu só conseguia lembrar de Renato Russo em Tempo Perdido:

“Então me abraça forte
E diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo...

O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens
Tão jovens
Tão jovens...”

Eu só queria abraçá-lo, queria ficar distante de tudo e todos e parar o momento agora! Não queria que chegasse o Ano Novo porque esse ano foi exatamente tudo o que eu sempre sonhei, o que eu sempre quis pra minha vida, tinha medo do novo! Eu não queria o novo, queria permanecer no velho. Mas novamente Renato Russo dizia pra mim que nada do que vivemos foi tempo perdido e que ainda éramos jovens, tinha muito nessa vida para viver, para aproveitar, para conhecer. Eu só queria que desviasse seu olhar do mar e me visse, provasse logo que eu não estava ficando doida e que ele estava lá. Olha pra mim, olha pra mim.

- Oi – ele olhou.

Aquele sorriso sacana no canto de seus lábios apareceu e a frase clichê e que eu particularmente detesto ‘baby you light up my world like nobody else’ fez todo o sentido pra mim. Vi descer as escadas do posto, eu não conseguia me mover, acho que só conseguia respirar porque isso era uma ação involuntária. Ele estava descalso e eu tive que olhar na areia para ver se havia marcas dos seus passos pra eu ter plena certeza DE que eu não estava doida e que isso era real, aqueles passos eram reais, ou era novamente uma brincadeira de mal gosto do meu cérebro. O vento trouxe seu perfume até mim e eu comecei a chorar de novo, isso é real? Abri meus olhos e o vi sorrindo, como se fosse divertido me ver daquele jeito, em um estado de total torpor por sua pessoa, como ele fazia isso? Meu corpo dava choques e espasmos a cada segundo e a cada passo parecia mais real, eu não podia estar sonhando. Pensei em falar alguma coisa quando ele ficou mais próximo, mas não pude falar nada porque fui envolvida por seus braços, que estavam gelados, e senti o doce choque dos seus lábios nos meus. Eu sei que uma voz dizia para eu me entregar, mas eu não conseguia parar de chorar. Nervosa eu coloquei minhas mãos em seus ombros e o puxei mais pra perto de mim, aprofundando o beijo em meio as minhas lágrimas, apenas pra ter certeza DE que ele estava ali. Eu não o via desde o Natal, eu não o beijava desde o Natal, nós não éramos mais ‘ e ’ desde o Natal.

- É você – suspirei quando paramos o beijo. – De verdade, é você?
- Sou eu – ele riu e me deu um selinho. – Cansado, sofrendo de uma fadiga foda de viagem, mas sou eu.
- Ah, meu Deus! – Joguei meus braços ao redor do seu pescoço e ali fiquei, nem me importando se estava chorando demais ou não. – , você... Você...
- É, eu sei, foi loucura!
- Você nem disse tchau pra mim no aeroporto, como deu tempo de pegar um avião e vir pra cá? Na verdade, como você descobriu que eu estava aqui?
- “Como que você conseguiu esse número?” – ele disse rindo e eu não entendi direito, não estávamos falando de telefone. – Essa foi a primeira coisa que você me perguntou quando eu consegui o número do seu quarto na escola, lembra?
- Ai, Deus – eu ri. – Você se lembra disso?
- Eu lembro de cada detalhe que passei com você – ele deu de ombros. – Seu problema é que sempre quer saber como eu consigo as coisas, como que eu sempre chego até você.
- Sério que sendo meu namorado por quase um ano esse foi o único problema que detectou em mim? – Eu ri e o abracei de novo. – Caralho, que saudade!
- Eu sei, eu também – senti-o suspirar durante o abraço. – Eu ainda não estava preparado pra te dizer adeus.
- Mas e aquele papo todo de eu ter que seguir minha vida, ter que aprender sem você e aquele sermão todo natalino?
- Precisava arrumar um jeito de te tirar de Londres, pelo menos eu consegui – ele sorriu com culpa. – E eu também vim porque, bom, queria conhecer sua família e saber se você estaria bem aqui no Brasil. E eu também sempre quis visitar o Brasil.
- As fãs sabem que você está aqui?
- Claro que sabem, não viu o Paul ali no fundo? – Ela apontou para atrás do posto policial e lá estava Paul.
- Ah, oi Paul – acenei de longe e ele fez o mesmo, permanecendo com a postura séria de segurança, séria só por fora. – Como que foi?
- Tumultuado – ele deu de ombros. – Tive que escapar pela própria pista no aeroporto que eu não lembro o nome em São Paulo, era muita menina, muita gente!
- Não parou pra falar com ninguém?
- Algumas conseguiram chegar perto e eu tirei poucas fotos, mas estava tão cansado e com medo de não chegar a tempo, mas, olha – ele se virou de costas pra mim e levantou a camisa, podia ver claramente arranhões recentes que não eram meus.
- Sempre disse que as fãs brasileiras são doidas – eu ri e passei meus dedos por cima tentando ser gentil. – Tá doendo?
- Valeu a pena – ele voltou a me encarar e sorriu. – Só estou com medo de ir embora.
- E quando você vai?
- Depois de passar o Ano Novo com você, meu vôo sai amanhã na madrugada, acho difícil ter alguma fã por lá.
- , acredite – eu ri. – Vai ter.
- Droga – ele riu e fez careta. – Tem como você ir comigo?
- Acho meio difícil – sorri. – E, primeiro, meu amor, você precisa passar pela avaliação da família , e, acredite, não vai ser nada fácil.
- Sua mãe já me ama pelo skype.
- Minha mãe me ama pelo skype, pessoalmente é bem diferente. Sem falar no meu pai, nos meus tios, nas minhas primas irritantes...
- São fãs de One Direction?
- São SUAS fãs, o que torna tudo mais difícil.
- Ah, entendi – ele mordeu os lábios. – As que eu conheci pareciam bem legais.
- Jess e Hells? Ah, a propósito, como que tudo isso aconteceu bem diante do meu nariz?
- De novo, – ele beijou meu rosto e depois minha boca. – Perguntas demais.
- Idiota – eu bufei.
- Vem, vamos dar uma volta pra matar a saudade... Quanto tempo falta pra meia noite?
- Quase uma hora – suspirei. – Já é Ano Novo na Inglaterra, né?
- Sim, os meninos já me mandaram mensagem e ligaram, se você estivesse com seu celular por perto, teria com certeza visto que eles também te ligaram.
- Me desliguei do mundo desde que cheguei aqui.
- É sobre isso que quero conversar com você, vamos – e pegou minha mão, começando a caminhar na praia comigo ao seu lado. – Paul?
- Logo atrás, , logo atrás – ouvi a voz tão conhecida de Paul e por um segundo me senti em Londres de novo.

Caminhamos pouco, queria saber mais da minha família para não dar bola fora com eles daqui a pouco, e eu tentava novamente ensiná-lo a como falar algumas frases práticas em português. Mas foi tudo em vão, o mais bonitinho foi ver o Feliz Ano Novo se transformar em um ‘Filix Anhu Novu’, foi o que ele conseguiu. Ele estava nervoso e tímido e eu nunca o vi desse jeito. Eu estava nervosa e triste, porque sabia que ele iria embora no dia seguinte, queria saber porque ele veio até aqui e porque ele ia conhecer minha família sendo que não iríamos ficar juntos mais, pelo menos não até eu terminar meu período de experiência aqui no Brasil.

- Me explica de novo por que você está aqui? – Eu parei de andar fiquei na sua frente com os braços cruzados, ele havia tentando de todas as maneiras mudar de assunto, mas isso ficava martelando em minha cabeça sem parar. – , não tem futuro.
- Fecha os olhos – ele me pediu, com um sorriso lateral.
- Hein?
- Fecha, os, olhos – ele falou pausado e passou de leve os dedos por cima de meus olhos os fechando.
- E agora?
- O que você vê?
- Nada?
- Ah, eu esqueci de mandar você imaginar uma coisa antes – ele riu e eu acabei rindo junto, de vez em quando ele conseguia ser muito lerdo.
- Lerdo!
- Tá, me dá um desconto, estou sem dormir há quase vinte horas!
- – abri meus olhos pra dar uma bronca, mas ele fez sinal para eu os fechar novamente. – Ok, ok.
- Enfim, onde você se vê daqui cinco anos? Profissionalmente, eu quero dizer.
- Não sei – suspirei. Depois da experiência em Paris eu realmente gostei de fotografar modelos, mas é um mundo traiçoeiro demais. Eu gosto da National Geographic, mas será que eu daria conta de ficar no meio do nada cercada por animais ferozes procurando por um bom ângulo e tirar a foto do século? Gosto de fotos urbanas, já tive umas experiências legais em São Paulo, mas tem também a fotografia infantil que é simplesmente fofa ao último nível... – Eu de verdade não faço ideia.
- Foca em alguma coisa que te dê prazer, realização pessoal.
- Ok – suspirei de novo. Realização pessoal, então tira a moda. Crianças crescem, urbanismo eu acho em qualquer lugar, África? – National Geographic – respondi e comecei a rir igual uma louca. – Aposto que você não estava esperando por isso.
- Eu lembro de você tirar fotos do Marvin achando que ele era um tigre na casa do Tom, então não foi assim uma surpresa tamanha – ouvi-o dizer. – Mas, e a fotografia infantil? Você vai trabalhar com uma das melhores em poucas semanas.
- É um desafio que eu quero pra mim, acho o máximo, mas não que eu vá focar minha carreira nessa área. É só mais um trabalho que quero ter em meu currículo.
- Então, você não pretende seguir essa área?
- Não.
- E você quer ir pra África?
- Eu não falei África, falei? – Eu não falei, eu só pensei, né?
- National Geographic me lembra África – ele riu. – Não sei bem dessas coisas.
- Eu podia viajar pra lá, fazer umas fotos bacanas e usar o visual para trabalhar essa essência no urbanismo, seria como, juntar minhas duas paixões!
- Eu estou nesse futuro? – Senti se aproximar, sua respiração bateu em meu rosto, sorri sem ao menos querer. – ?
- Não no meio da África comigo, mas está me esperando em meu estúdio que eu vou abrir em Londres – sorri. – Por quê? – desisti de ficar com olhos fechados.
- Porque se você continuar imaginando o seu futuro, mas eu ainda vou estar nele, então esse aqui – ele apontou pra nós dois. – Não é nosso fim.
- Você me pediu pra imaginar cinco anos, . Vamos ficar juntos daqui a cinco anos?
- Esperei quase vinte pra te achar, esperar mais cinco não é tão difícil assim – ele fungou e seu nariz enrugou de leve. Poucas vezes o vi assim. – Não sei quanto mais preciso fazer pra provar que você é amor da minha vida, e eu espero por você o quanto for necessário...
- Te tenho com a certeza de que você pode ir, te amo com a certeza de que irá voltar pra gente ser feliz – comecei a cantarolar em português com me olhando com aquela cara de quem não está entendendo nada, mas continuei. – Você surgiu e juntos conseguimos ir mais longe, você dividiu comigo a sua história, e me ajudou a construir a minha – embarguei a voz, mal ele sabia o que essa música significava e o quanto ela combinava com nós dois. – Hoje mais do que nunca somos dois, a nossa liberdade é o que nos prende...
- Não entendi uma palavra sequer que você acabou de cantar – ele riu e me abraçou pela cintura. – Mas, pelo visto, essa música significa demais pra você.
- Ela fala de um casal que se ama, construíram muitas coisas juntos, mas ao fim eles precisam se separar. Porém ele vai esperar por ela o tempo que for para ficarem juntos de novo, na verdade o nome da música é ‘Mais Uma Vez’, porque o refrão é mais ou menos assim – fiz careta. – Vou traduzi-lo pro inglês.
- Boa sorte – ele riu.
- Eu espero por você o tempo que for, pra ficarmos juntos, mais uma vez – não cantei, apenas declamei em inglês, entendeu. – Achei que combinava com nossa atual situação.
- Você espera? – Ele riu. – O tempo que for?
- Vai ser difícil, porque eu não sei mais ficar sem você – coloquei meus braços em seu pescoço. – Mas vamos ficar juntos de novo, não vamos?

não me respondeu, aproveitou que estávamos mais juntos e me puxou para um beijo, que parecia responder bem a pergunta que havia feito. A cada beijo eu tinha a sensação que era o último, pelo menos o último desse ano que nós estávamos, de repente a sensação de desespero bateu no meu estômago e eu apertei mais ao meu corpo e parei de beijá-lo, só fiquei com a boca encostada na dele. Ele se assustou, mas não disse nada, especialmente quando abriu os olhos e deve ter visto os meus arregalados e assustados. Eu acho que ia explodir a qualquer momento...

- ?
- Tá tudo bem – funguei e passei a mão em seu rosto e seu cabelo. – Tudo bem.
- Comigo está, e com você?
- Vai ficar – suspirei. – Vamos voltar? Quero pegar meu celular e ver se algum dos meninos me ligou.
- Amor – esse apelido miserável... – Vai dar meia noite – ele sorriu. – Olha aqui.
- O QUÊ? – Segurei seu pulso e vi que faltavam cinco minutos. – Puta merda, não chegamos em casa em cinco minutos nem a pau, minha mãe vai me matar.
- Um tempo atrás você nem queria comemorar Ano Novo, e agora tá preocupada que sua mãe vai te matar?
- Temos todo um ritual de Ano Novo, . Comer lentilhas, damasco, pular sete ondas, ai que droga.
- E você... Não pode fazer isso, comigo? – Era o brilho da lua ou o começo dos fogos de artifício que o deixavam mais irresistível?
- Não... Eu não...
- Nós tivemos um ano incrível, e eu queria começar o meu próximo ano com você. Mesmo que, não vamos ficar tão juntos, mas...
- Eu aceito – sorri.
- Três minutos – ele olhou de novo no relógio. – Eu nunca tive um beijo perfeito de fim de ano e começo de ano.
- Tá brincando? – Arregalei os olhos e gargalhei. – Como que nunca fez a coisinha mais clichê de todo fim de ano?
- Vai dizer que você já fez?
- Óbvio que não, mas eu não sou sua pessoa, já se olhou no espelho?
- E lá vamos nós de novo...
- Sério!
- Você quer começar o Ano Novo brigando comigo sobre isso de novo ou...?
- Eu não queria começar o Ano Novo, eu queria simplesmente ficar parada no ano em que estamos porque foi perfeito e eu nunca teria que dizer adeus, nunca.
- Dois minutos.
- Para, !
- , temos dois minutos pra chegarmos a um acordo e: ou terminamos esse ano de um jeito especial ou eu viro as costas e vou embora, começamos o ano separados e vai saber Deus quando vamos ficar juntos de novo.
- Você torna as coisas mais difíceis.
- Sabia que você adora começar uma briga de uma conversa que até cinco minutos atrás estava agradável? É sempre você que começa a brigar.
- EU?
- Acho que eu disse que queria um beijo especial no fim do ano e você começou a falar e olha onde estamos agora.
- Então a briga começou quando eu comecei a falar?
- !
- Sabe, acho que vai ser mesmo uma ótima ideia não ficarmos mais juntos e você voltar pra Londres, pelo que eu vejo eu simplesmente começo brigas do nada e isso claramente te deixa nervoso, irritado...
- Um minuto.
- CALA A BOCA!
- Uau! Essas vão ser suas últimas palavras do ano, pra mim?

Parei de falar e respirei. Essa era nossa dinâmica! Ele falava algo idiota, eu respondia e começávamos uma briga que eu nem ia lembrar porque começou, algumas vezes ela ia terminar de forma séria, com um de nós falando coisas que não deveríamos, eu iria pro apartamento e ele ia aparecer de manhã com muffins e Starbucks dizendo que nós éramos idiotas, mas ele não queria brigar com mais ninguém, só comigo. Ou então eu ia ignorá-lo por três dias e depois me martirizar porque eu perdi três dias que eu podia ter passado com ele e não passei porque fui burra. Mas éramos nós, isso era simplesmente NÓS.

- A contagem regressiva vai começar daqui a pouco.
- Dessa vez não tem como eu correr e você aparecer amanhã com muffins e Starbucks, tem? – Eu ri. – Você quer começar o ano comigo sabendo que vai passar um bom tempo sem mim?
- Quem disse que eu vou passar sem você?
- ! – Eu tombei a cabeça pro lado e ele sorriu.
- Skype, Facebook, Twitter, cartas, mensagens... Tem tanta coisa que podemos usar ao nosso favor, .
- – peguei em sua mão e sorri. – Isso nunca vai mudar, não é?
- Nós? – Ele beijou minhas mãos. – Nunca.

Escutei ao fundo uma gritaria, a contagem regressiva começava. Dez segundos nos separavam de um Ano Novo. Um ano que eu não queria começar, que eu estava morrendo de medo, que eu iria estar sem ele por pelo menos uns três meses.

- Dez...
- Nove...
- Eu amo você.
- Oito...
- Sete...
- Eu também te amo.
- Seis...
- Cinco...
- Nós ainda vamos ficar juntos.
- Quatro...
- Três...
- Me beija, .
- Dois...
- Feliz Ano Novo, .

E com um beijo perfeito, nós terminamos e começamos um ano.


Capítulo 42

O tempo todo eu tinha que pedir pra passar protetor solar. Estava muito quente, muito sol, muito calor e ele não está acostumado com isso, porém se eu falasse mais uma vez ia receber outro fora, tanto dele quanto do meu pai. Meu pai, por sinal, estava muito contente no karaokê com meus tios cantando Boate Azul, e tentava ler o que estava escrito – ou seja, a letra da música – e era só gargalhada porque meu pai era um terrível cantor. Mas, muito ruim mesmo.

Sair de que jeito,
Se nem sei o rumo para onde vou
Muito vagamente me lembro que estou
Em uma boate aqui na zona sul
Eu bebi demais
E não consigo me lembrar sequer
Qual era o nome daquela mulher
A flor da noite na boate azul


- AOOOOOOOOOOOOO PAIXÃÃÃÃOO!
- Pai do céu! – abaixei minha cabeça em total vergonha.

olhou pra mim e me cutucou. Eu nunca tinha o visto com um sorriso tão retardado em toda nossa vida juntos, nem quando ele fez o show no Madison ele parecia tão feliz. Eu só queria saber se esse sorriso era mesmo de felicidade ou pânico, porque minha família estava quilômetros de saber se comportar como uma família normal, e isso me deixava meio apreensiva.

Minhas primas, que antes estavam me provocando por causa do , agora não paravam de chegar perto dele e querer tirar foto, passar a mão e não sei mais que porra elas queriam. A única coisa que nós dois estávamos pedindo era que não publicasse absolutamente nada na internet, porque se as fãs soubessem exatamente onde estava, nosso começo de ano seria um belo de um inferno. O tempo todo eu tinha que ficar de olho, e fui obrigada a arrancar o celular de duas primas que ameaçavam colocar a foto do no instagram. QUE PORRA, custa ser gentil e tentar, pelo menos dessa vez, se comportar como gente? Elas nem são fãs de One Direction, socorro.

Ilha Bela era uma cidade linda, mas eu já estava acostumada a passar todo final de ano por lá, ainda mais com todos esses parentes. E, como nenhuma tia, prima, madrinha, cunhada, conhecida, resolveu engravidar nesse último ano, dessa vez não tinha bebê nem ninguém novo na família. Só as crianças que agora estavam crescendo e ficando mais barulhentas ainda... Nada agradável. Porém essas crianças conheciam muito bem One Direction e , e estavam super felizes em ver que um dos seus ídolos estava ali, passando o ano novo com elas. Acho que era mais engraçado elas olharem pra mim e falarem “não acredito que você tá namorando ele”, era um misto de surpresa, inveja, sei lá. Desconto porque eram as crianças, mas mando ir tomar no cu se forem as primas babaquinhas.

fora aprovado por quase todos os meus familiares, menos minha mãe, que antes o adorava tanto, agora o achava meio metido, branco e magro demais. Meu pai, que era a pessoa que eu mais tinha medo de detestar meu ex-sei-lá-namorado, tinha se encantando por , apenas disse que ele precisa de “um pouco mais de sol e mais picanha nos ossos”. Disse o mesmo pra mim, falando pra todo mundo que quisesse ouvir que eu era bem mais “cheinha” quando morava no Brasil, o que me fez dar graças aos céus por não entender português, embora ele estivesse fazendo um esforço redobrado pra conseguir entender quase tudo. Quando ele entendia alguma coisa, era como ver uma criança toda feliz. Ele estava muito feliz, mas muito mesmo. Eu, então, não cabia dentro de mim de tanta felicidade.

- E então? – ele perguntou, me abraçando por trás enquanto quase toda minha família se jogava na piscina, e eu fui pra perto da churrasqueira tentar achar mais algum pedaço de carne.
- Fala – respondi, ainda procurando minha carne.
- Tá aí uma coisa que eu nunca pensei que fosse ver: você me ignorando por causa de comida! – ele riu com os lábios colados ao meu ouvido.
- Não é comida, é churrasco – respondi, me virando pra ele com um pedaço de carne entre os dedos – A melhor invenção culinária – sorri.
- Seu pai tem talento pra essas coisas – ele abriu a boca, pedindo comida... Fiz careta, mas óbvio que acabei dando meu pedaço pra ele.
- Aproveita, porque na Inglaterra não tem comida assim, não – eu ri e dei um selinho nele – Falando nisso...
- Podemos não falar nisso? – encostou a testa na minha – Por favor?
- Ok – abaixei a cabeça e suspirei pesado – Eu não consigo parar de pensar no assunto, entendeu?
- Então vou ter que colocar meu plano infalível pra funcionar antes do previsto – roçou o nariz no meu pescoço e me abraçou com um pouco mais de malícia – Que horas sua família dorme?
- Hã?
- Que horas posso te roubar sem quase ninguém perceber?
- , tá doido? Todos os meus parentes estão aqui, é quase que impossível isso acontecer.
- Por isso que eu disse “quase ninguém” – ele riu – Você acha mesmo que eu ia descambar da Inglaterra pro Brasil sem nem ao menos dar uma dor de cabeça pros seus pais?
- Pais não, né, meu amor? Na minha mãe, porque ela vai ter um treco se eu sumir.
- Mas se eu sumir junto, vai ser meio óbvio que é porque você está comigo, não é?
- ... – gemi.
- Isso, assim que eu gosto – ele falou com uma voz totalmente safada, e eu gargalhei alto.

Não que eu não estivesse curtindo a ideia de me sequestrar, de maneira alguma. É porque ele vai embora, e quem vai aguentar minha mãe enchendo o saco e não respeitando meu luto porque o amor da minha voltou pra Inglaterra vai ser eu! Mas quer saber? Foda-se.

- Que horas vamos sumir?
- Toma um banho e me encontra no portão da frente daqui uns quarenta minutos. Preciso fazer umas ligações pra saber se está tudo certo, e então... Nós fugimos.
- Ok – eu ri e o beijei – Que emoção.
- Agora disfarça porque sua mãe não pode nem sonhar com o que está acontecendo.
- E eu não sei disso? A mãe é minha, eu conheço muito bem – eu ri e, com mais um beijo, me despedi de , correndo pra dentro de casa e indo tomar um banho.

Não sabia pra onde íamos, se eu precisava levar mais roupa, menos roupa, dinheiro... Eu estava totalmente às cegas. Coloquei o básico do verão (short, camiseta e rasteirinha), meu cartão de débito no bolso e pronto.

Exatos quarenta minutos depois eu estava no portão da frente, torcendo pra ele aparecer logo, antes que alguém fosse lá e me perguntasse o que diabos estava acontecendo. Minhas primas suspeitaram de alguma coisa, mas como estavam altinhas demais depois de beberem tanta cerveja no churrasco, o raciocínio estava um pouco mais lerdo do que o normal, o que foi ótimo. Dei uma olhada no relógio pra saber se eu tinha feito as contas erradas, se estava atrasada ou adiantada demais, mas pelo visto estava certa. Olhei pra esquerda, direita e... Então apareceu.

Atravessou a rua com um sorriso brincalhão nos lábios e incrivelmente mais gato e um pouco mais corado. Bendito sol brasileiro! Em um dia essa maria mole da brancura vira um churros coradinho, adorei! Sacudi a cabeça, tirando essa piada idiota da mente e encarei atravessando a rua como um modelo Calvin Klein, só tá faltando um ventinho pra fazer o cabelo se mexer de um lado pro outro e pronto, fica tudo perfeito. Camiseta branca, bermudão, totalmente turista! Quando chegou mais perto, piscou, totalmente fofo, e começou a rir, sabendo ele mesmo que tinha pago o maior mico na minha frente tentando pagar de turista gatinho.

- Você tá ridículo, só queria dizer isso.
- Ah, qual é? – deu uma volta em torno de si mesmo – Só falta uma câmera fotográfica em meu pescoço pra eu parecer um completo turista.
- Pelo menos não podemos mais reclamar da sua cor, tá tostadinho e tá bonito – gargalhei – E então? Pra onde vamos?
- Vem comigo, princesa.

me puxou pela mão e corremos para um Corsa Sedan que estava estacionado logo na esquina. Eu de verdade estava esperando que não fosse dirigir, porque nem eu faço isso aqui em Ilha, muito menos ele, que é super perdido. Mas, pra minha surpresa, já tinha uma pessoa no volante nos esperando, e era... JEFF!

- JEFF! – gritei quando abriu a porta de trás para mim – Como? Espera, o que?
- Oi, pequena – ele parecia tão turista quanto – Surpresa.
- Cara, você veio com o ? Passou o ano novo sem sua família por causa dessa praga aqui?
- Eeeeeeei – ele riu, entrando no caro – Eu ouvi essa, .
- Que nada, trouxe a família toda. pagou passagem e hospedagem para todos nós – Jeff parecia emocionado – Foi um presentão. Primeira vez que nós andamos de avião.
- Poxa vida – suspirei e beijei o rosto de Jeff e depois de – Feliz ano novo, meu amigo.
- Feliz ano novo pra você também, pequena – ele sorriu – Mas então, posso levá-los ao lugar especial.
- ?
- Com certeza, Jeff. Plano em ação – ele parecia muito satisfeito consigo mesmo, o que me deixava mais curiosa ainda.

Da casa da minha avó até esse tal “lugar secreto” demoramos mais ou menos vinte minutos. Passamos por dentro da cidade e aos poucos fomos nos afastando. Eu tinha uma ideia em minha cabeça de onde poderia estar me levando, mas preferi guardar pra mim mesma, era muito mais legal quando eu era surpreendida, e dessa vez eu queria ser. Apesar da surpresa estar sendo feita no meu próprio país e... Como que ele planejou tudo isso? Como que ele SEMPRE planeja as coisas bem debaixo do meu nariz?

Finalmente chegamos até um luxuosérrimo hotel no litoral da ilha. Eu nunca tinha visto este lugar e era muito melhor do que qualquer coisa que eu pudesse ter imaginado. Era o DPNY HOTEL, um dos mais caros da cidade, disso eu tenho absoluta certeza. Dei uma boa olhada na minha roupa e me arrependi amargamente de estar usando aquilo, mas aí olhei pra roupa de e me senti um pouco melhor – e muito triste, mas ele ficava tão ridículo de turista que o jeito mesmo é rir. Ele, como todo bom cavalheiro, saiu primeiro do carro, segurou a porta e me deu a mão, ajudando-me a sair.

- Jeff, pra onde você vai agora?
- Ver minha família e aproveitar o fim do dia, pequena – ele parecia tão feliz consigo mesmo – E eu não vou perguntar o que vocês vão fazer.
- Nem posso te responder porque, de verdade, eu não sei – sorri.
- Aproveitem – ele sorriu tanto para mim quanto para e deu a partida no taxi.

Me virei pra ele, completamente bestificada. DPNY Hotel, sério? Se eu for contar todos os lugares luxuosos que o já me levou, capaz de eu me perder nas contas, mas dessa vez preciso admitir que ele se superou totalmente.

- ... Como que...?
- Vamos, já está tudo pronto.
- Pronto, o quê?
- Para de fazer perguntas, caramba – ele riu e, mais uma vez, me puxou pela mão e me levou correndo até algum lugar.

O hotel ficava na beirada da praia, então atravessamos uma boa parte correndo pela areia. Tive que tirar minha rasteirinha, e aproveitou essa parada para me pegar no colo e correr comigo até o lugar onde ele tinha reservado. Nós dois ríamos o tempo todo, era como se, por agora, o universo fosse apenas nosso e tudo estava parado, nada estava acontecendo. Era eu e ele.

Finalmente ele parou de correr, me colocando no chão e tomando um pouco de ar. Me abraçou por trás e fechou meus olhos, me guiando até um quarto que, ele dizia, era o melhor do hotel. Me avisava quando tinha algum degrau, quando eu tinha que tomar cuidado porque podia bater em alguma coisa, quando devia andar mais devagar e mais rápido. Até que, finalmente, tirou as mãos dos meus olhos e... Caramba!

Era um quarto suíte bangalô, LINDO! Enorme, clássico, limpo, fresco. Minhas pernas falharam porque eu não imaginava algo assim, mas vindo do , dá pra se esperar qualquer coisa, e qualquer coisa mesmo. O chão era de um mármore branco, as paredes pintadas em azul oceano com suaves degradês. Espelhos posicionados em lugares estratégicos, um lustre delicado e luzes mais claras e brancas que saíam de lugares que eu não conseguia distinguir porque ainda estava meio tonta com tanta coisa pra eu ver. A cama de casal era mais quem uma queen/king size, porque ali cabiam uns três reis e umas quatro rainhas... GORDAS, porque a cama era enorme. O edredom era azul mais claro, fazendo um tom sobre tom com a parede, com pilares delicados em cada limite da cama, com uma cortina branca presa sobre eles. Da cama dava pra ver a sacada que dava para uma área com piscina, mas também era possível sair por uma lateral e ir pra praia. Me debrucei na sacada, a claridade da lua era a única coisa que iluminava o ambiente, e a lua aqui era a mais linda de todas. Quando eu pensei em começar a chorar, me abraçou por trás, me entregando uma taça com champanhe e beijando minha nuca de forma demorada e molhada. Fechei os olhos, inclinando-me um pouco mais pra trás e até esquecendo da taça em minhas mãos. Agora, o que eu queria, era ele.

- Quer entrar? – mordeu minha orelha e se encaixou atrás de mim – Por favor, diz que sim.
- E se eu disser que não?
- Te como aqui mesmo na sacada, caralho!

Eu gargalhei, mas muito alto! Não era do feitio de falar desse jeito, ainda mais usando esse tipo de palavreado, mas foi tão espontâneo que eu não contive meu riso. Ele percebeu que tinha falado algo que não costumava e começou a rir junto. Abriu a boca pra tentar consertar, mas eu me virei pra ele de uma vez e o beijei. Primeiro um beijo para calá-lo, e depois outro mostrando o meu interesse naquele noite, minhas reais intenções e o que eu queria que ele fizesse comigo.

I used to be on an endless run.
(Eu costumava estar numa busca sem fim)
Believe in miracles 'cause I'm one.
(Acredite em milagres, pois eu sou um)
I have been blessed with the power to survive.
(Eu fui abençoado com o poder de sobreviver)
After all these years I'm still alive
(E, após todos esses anos, eu ainda estou vivo)

As mãos de iam descendo por meu corpo, e aos poucos a camiseta que eu estava usando foi tirada, contraí minha barriga inconscientemente e sei bem que ele percebeu isso; fazia um certo tempo que não nos tocávamos de forma íntima, e depois de todo o término e drama, era como se estivéssemos nos descobrindo pela primeira vez, e a velha tensão apareceu. Mas a facilidade com a qual eu era embriagada por seus gestos, voz e sabor era tanta que com o simples roçar de sua pele na minha eu já me via completamente entregue a ele e aos seus caprichos. Aquele era o meu garoto e o mundo podia se explodir ao nosso redor que eu me permiti não importar, coloquei uma pedra em cima desses assuntos pelo menos por agora.

I'm out here cookin' with the band.
(Eu estou longe daqui detonando com a minha banda)
I'm no longer a solitary man.
(Eu não sou mais um cara solitário)
Every day my time runs out.
(A cada dia que passa meu tempo diminui)
Lived like a fool, that's what I was about, oh. (Vivi como um tolo, era isso o que eu era)

Eu já estava somente vestindo minha calcinha e meu sutiã, usava seu bermudão. Seus lábios iam beijando cada centímetro do meu corpo e nas regiões que ele sabia que me eram sensíveis ele tinha um carinho extra especial. Quando sua mão alcançou a parte interna de minha coxa eu mal pude sentir seu toque, seus dedos faziam movimentos circulares e sua respiração ficou pesada e tensa, como se estivesse pensando e calculando cada movimento. Eu não fazia ideia do que podia estar passando em sua mente e isso me apavorava, fiz o que estava ao meu alcance, o chamei baixo e seus olhos brilhantes me encararam assustados, sorri e mordi meu lábio de leve transparecendo minha insegurança e medo. Minhas mãos subiram por suas costas nuas e senti seu corpo tremer em cima do meu, coloquei minhas mãos nos seus cabelos e guiei sua cabeça em direção à minha, nossos lábios roçaram ainda abertos e eu traguei sua respiração quente junto com a minha, sentindo meu peito estufar e se esquentar; entorpecida por aquele momento mal senti quando iniciou um beijo calmo e quente típico do nosso relacionamento.

I believe in miracles.
(E eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor, pra mim e pra você)
Oh, I believe in miracles.
(Oh, eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor pra mim e pra você)

Aos poucos já fui sentindo meu corpo ir relaxando, minhas pálpebras começaram a ficar pesadas e eu não sabia fazer nada além de respirar e soltar suspiros longos para cada carícia que eu sentia por parte de , sua boca estava ocupada em fazer trilhos de beijos desde minha clavícula até minha orelha, e por ali ficou brincando com sua língua fazendo a temperatura do meu corpo aumentar drasticamente. Minhas mãos, antes indecisas, agora estavam apertando as costas dele contra meu corpo, e eu estava decidida a arranhar sua pele nua e quente. Eu ia o incentivando a continuar os beijos, sempre pedindo por mais, e ele, por sua vez, fazia o que eu queria. Os beijos que antes estavam em meu pescoço agora desceram pelo meu colo, seios, barriga e foram abaixando cada vez mais; contraí a barriga e prendi a respiração. percebeu minha surpresa, parou no meio do caminho e me encarou, olhando de cima pra baixo.

Tattoo your name on my arm.
(Tatuei seu nome em meu braço)
I always said my girl's my good luck charm.
(Eu sempre disse que minha garota é sinal de boa sorte)
If she could find a reason to forgive,
(Se ela pudesse achar uma razão para me perdoar)
Then I could find a reason to live.
(Então eu acharia uma razão pra viver)

- Desculpe - ele subiu novamente o corpo, deixando seus olhos e sua boca na altura dos meus – Faz tempo e eu não...
- Tá tudo bem – eu ri, totalmente sem graça – Nem parece que somos namorados, ou pelo menos que éramos.
- É, eu sei – ele mordeu meus lábios – Mas é que...
- Só cala a boca e continua o que você estava fazendo – gargalhei – Pelo amor de Deus.
- Não quer discutir a relação agora?
- !

Ele tocou meus lábios com os seus em um beijo demorado, porém sem língua. Abri minha boca e soltei um gemido tímido quando de novo começamos a nos beijar, ele sugava meus lábios com vigor e eu senti de novo todo meu corpo pulsar. Um dos braços de desceu pela lateral de meu corpo e chegou até minha intimidade, a princípio ele apenas a acariciou por cima de minha lingerie, e quando percebeu que eu já estava começando a arfar e perder o fôlego que me restava, baixou minha lingerie aos poucos; eu o ajudei com as minhas pernas, e segundos depois ela estava fora de minha pele. Os dedos de eram gentis e ágeis, arqueei meu corpo pra cima quando senti aquela sensação quente e gostosa no meu corpo, eu pensava que nunca mais sentiria algo assim; ele continuou com as carícias e sua outra mão estava ocupada desabotoando meu sutiã e fazendo carinhos circulares em meus seios, seus lábios estavam apenas abertos em contato com os meus e nós respirávamos um ao outro, sugando o oxigênio que emanávamos. Minhas mãos puxavam os cabelos úmidos dele, escorregavam por seus fios de cabelo, me divertia em bagunçá-los e parecia gostar disso.

- Me espera... - ele disse com sua voz pesada.

Eu sabia do que ele estava falando, apenas com seu toque em minha intimidade eu estava quase chegando ao ápice, mas ele queria chegar junto. O ajudei a tirar o resto de roupa que ele ainda vestia, e desastrosamente ele pegou no bolso da sua roupa no chão a camisinha. Ergui um pouco meu corpo enquanto o ajudava a se proteger, me sentei na cama e ele me olhou curioso, até eu fiquei curiosamente preocupada com essa minha disposição. Ele veio até mim e entendeu o que eu queria fazer, aos poucos fomos nos aproximando e eu sentei em seu colo, um pouco insegura sobre a nossa posição. Ele sorriu abertamente e empurrou meu cabelo para trás, deixando meu rosto livre, sorrimos um para o outro e nos entregamos ao nosso momento particular.

I used to be on an endless run.
(Eu costumava estar numa busca sem fim)
Believe in miracles 'cause I'm one.
(Acredite em milagres, pois eu sou um)
A have been blessed with the power to survive.
(Eu fui abençoado com o poder de sobreviver)
After all these years I'm still alive.
(Após todos esses anos eu ainda estou vivo)

Caímos na cama depois, cansados e exaustos, meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu ainda tentava normalizar a minha respiração, estava exatamente da mesma forma que eu. Pela fraca luz que entrava pela janela eu podia ver seu peito brilhando de suor, seus olhos fechados e sua boca que arqueava delicadamente em um singelo sorriso. O abracei, sentindo sua respiração se acalmar junto com a minha e me arrisquei a dar um beijo em seu queixo, aumentando ainda mais o sorriso em seu rosto. Minhas mãos brincavam em seu peitoral, fazendo desenhos abstratos e vendo sua pele arrepiar a cada pequeno toque. Nossas pernas se entrelaçaram e nossos corpos ficaram um só, como eu pude ficar tanto tempo sem ele?

I believe in miracles.
(E eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor, pra mim e pra você)
Oh, I believe in miracles.
(Oh, eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor pra mim e pra você)
- Não quero pensar em você indo embora – eu soltei, depois de alguns minutos em silêncio.
- Nem eu – ele suspirou.
- Eu podia ficar grávida...
- Usamos camisinha e você toma pílula.
- Droga – eu ri.

Mais um minuto de silêncio.

- ... – no meio do silêncio e da escuridão, foi claro perceber que sua voz estava embargada.
- ?
- Eu decorei uma coisa pra falar pra você do... Da sua banda – ele riu fraco, nitidamente fazendo um esforço.
- Não precisava, sabe disso.
- Eu não sei cantar e nem me atrevo a cantar Eddie Vedder pra você, mas, posso...
- Ei – ergui meu corpo, me apoiando em meu cotovelo – Amor, se for pra te deixar mais angustiado ou me angustiar...
- Não tem como a situação piorar, tem? – ele sorriu com os olhos fechados – Só, posso tentar?
- Sim – beijei seus lábios e me deitei em seu peito de novo.

Ele tomou fôlego uma, duas, três vezes até eu ouvir sua voz rouca sair desde seu peito, garganta...

I close my eyes and think how it might be.
(Eu fecho meus olhos e penso em como as coisas podem ser)
The future's here today.
(O futuro é aqui, hoje)
It's not too late.
(Não é muito tarde)
It's not too late, yeah!

- And wherever you've gone and wherever we might go, it don't seem fair today just disappeared começou a chorar - Your light's reflected now, reflected from apart, we were but stones but your light made us stars. (E onde quer que você tenha ido e onde quer que possamos ir. Não parece justo. o hoje simplesmente desaparecer. Suas luz agora reflete. reflete a distância. Nós fomos apenas pedras. sua luz nos fez estrelas.)
- Light Years – foi o que respondi.
- Desculpa, não vou conseguir falar a outra parte – ele fez menção em se levantar, por isso afastei meu corpo e o deixei sentar na beirada da cama – Que merda, hein.
- Hey, hey... – puxei um pouco do lençol para cobrir a parte superior do meu corpo; encostei-me em e beijei o início de suas costas – Não estou preparada pra outra despedida, e sei que você também não.
- Eu não estou preparado pra não te ter – a angústia e desespero em sua voz eram tão claros – Que eu começo a me perguntar se fiz a coisa certa em pedir pra você voltar e me deixar – ele suspirou, rindo de si mesmo – Essa é a coisa mais egoísta que eu já disse.
- Para – eu o abracei – Só para com isso.
- E a gente faz o que?
- A gente vive acreditando que alguma coisa de boa vai acontecer pra nós, , nem que seja um milagre – eu sorri – O maior milagre da minha vida foi ter ganhado aquela bolsa, ido pra Londres e ter vivido o que eu vivi. E pra você?
- XFactor e você – sua voz saiu um pouco mais baixa.
- Nós somos a prova de que se pode acreditar em milagres, , e eu sei que algo de grande ainda vai nos acontecer. Há um mundo melhor pra nós dois, é só esperar.
- E o que fazemos até lá?
- Vivemos – tirei o cabelo de sua nuca e o beijei ali – De algum jeito.

I believe in miracles.
(E eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor, pra mim e pra você)
Oh, I believe in miracles.
(Oh, eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor pra mim e pra você)

- Ainda temos algumas horas pra ficarmos juntos – ele suspirou – Mas...
- Podemos ficar, de boa? – eu ri.

Só quem já esteve ou está em um relacionamento sério sabe que, às vezes, sexo não é exatamente tudo o que você precisa. É muito bom – claro –, mas tem vez que você só quer ficar tranquila, conversando, falando sobre a maior idiotice que aparecer em sua cabeça, comentar sobre como o tempo tá frio ou se está ficando calor demais. Eu queria falar e fazer tudo ao mesmo tempo com , porque nosso tempo era curto e não podia perder um segundo, mas eu não sabia nem o que fazer.

- Me conta da sua família? Porque eu vi umas figuras hoje que, meu Deus, !
- É, eu sei – comecei a rir – Acho que tenho que começar contando do meu pai, que é a pessoa mais hilária na família. Não sei pra quem ele puxou, porque meu avô é todo mais sério e minha avó super conservadora.
- Ou seja, se sua avó nos pegasse aqui agora...
- Ela ia te matar, certeza – nós dois rimos – Pra ela, eu vou ser sempre a bonequinha estudiosa e virgem da família.
- Qual o problema de se estudar e fazer sexo?
- Não é esse o problema, o problema é não casar virgem e “casar no pecado”.
- É sério que sua família tem dessas?
- Minha avó e minha mãe. Avó por parte de pai, que, por sinal, detesta minha mãe.
- Ah, vá! Sua mãe é tãããão adorável pessoalmente – ele gargalhou.
- , dá um tempo – bati em seu ombro – Tá, confesso que ela está sendo uma bela bruxa desde ontem.

Ficamos em conversas, namoro, choro e segundo round até o dia seguinte.
Não foi tão pior como eu tinha imaginado, já que nós dois estávamos preparados para a despedida e, oficialmente, o nosso fim. Mas, como eu disse pra ele e nós conversamos a noite, ainda acreditamos em milagres e eu, de verdade, acredito que há um mundo melhor pra nós dois. Precisa ter, porque, se não, tudo isso o que vivemos foi uma grande peça do destino, nos dando o gosto da felicidade e nos arrancando depois. Merecemos mais, merecemos felicidade plena, por favor.


Capítulo 43
Março – 2 meses depois

- E então, como estão as coisas por aí?
- Ah, corridas – eu ri, tirando a câmera que estava pendurada em meu pescoço e a colocando em cima da mesa – Fotografar criança não dá tanto trabalho como eu imaginei, as mães são a pior parte.
- As mães?
- Elas querem mandar em mim! Como eu devo fotografar, como eu tenho que tratar os filhos, qual a melhor posição que elas acham – suspirei – Acho que já estou com alguns cabelos brancos.
- Viu, eis o motivo pelo qual não gosto de crianças.
- Eu não disse que não gosto de crianças, eu disse que não gosto das mães das crianças.

Nós rimos, e então ficamos em silêncio por alguns segundos. Logo mais ia vir a pergunta... Era sempre assim quando eu conversava com . Ela começava perguntando sobre alguma coisa sobre o trabalho, minha família, o clima no Brasil, como iam as aulas, e depois falava em , nos meninos e de novo.

- Acho que você não ficou sabendo das últimas, ficou?
- Qual delas? Tem muita “última coisa” acontecendo, .
- Não sei se encaro essa sua irritação como uma resposta positiva ou negativa pra minha pergunta.
- Fala logo, !
- Lembra da Lauren? – ela suspirou – A cantora que, um pouco mais de um ano atrás estava namorando o seu ex-namorado?
- Sei, lembro dela. Vagamente – mordi os lábios.
- Ela vai abrir o show da tour Take me Home. Na verdade, ela já está abrindo, a tour começou umas três semanas atrás.
- E...?
- Estão querendo colocar ela e o juntos de novo. Sabe como é, desde que você foi embora ele não anda muito legal e todos os jornais e revistas de fofocas daqui só falam o quanto ele anda meio pra baixo e que, parece, a culpa foi sua.
- Óbvio que a culpa foi minha, de quem mais seria?
- !
- Mas, e o ? – quis mudar de assunto – Ele aceitou essa proposta?
- Não é questão de aceitar, – ela suspirou – Você sabe que foi meio difícil pra ele, pra banda e pros empresários encararem numa boa quando vocês dois assumiram o namoro. Por isso que de todas as formas queriam divulgar que você era uma fotógrafa de respeito e essas coisas.
- Eu sei, eu tinha que ter “um nome” pra estar namorando o ... – funguei – Mas você não respondeu minha pergunta. Ele aceitou ou não?
- Quando que você vai aprender a usar o google? – ela riu, claramente muito triste.
- Ele aceitou, né?
- Não estão namorando, só saindo para alguns lugares estratégicos onde fotógrafos vão estar esperando por um momento perfeito.
- Imaginei – suspirei, triste.

A primeira lembrança que tenho de , quando eu comecei a sentir um frio na barriga por ele, foi quando ele me disse que “estava solteiro”, ou seja, que não estava namorando a Lauren. E eu também sei como foi difícil convencer a mídia, os produtores, até o próprio Simon de que nós dois estávamos juntos e que ele não ia voltar para um namoro de conveniência, e o mesmo aconteceu com , mas eu tenho uma impressão de que com ela foi mais fácil, já que ela era e é mil vezes mais interessante do que eu. Acho que a coisa ficou um pouco mais fácil quando eles viram com que as fãs me atormentavam e – acreditem ou não – usaram isso como uma campanha usando o próprio One Direction como caras para “Anti-bullying”; é, a minha situação ajudou os meninos e os produtores a ganharem mais dinheiro, legal.

Mas agora não tinha mais problema, não tinha que convencer ninguém. estava namorando ou posando de namorado com a garota modelo da Inglaterra, com uma cantora tão famosa quanto Taylor Swift e tão bonitinha e loirinha como ela. Eu não sei o que ele está pensando e muito menos os meninos, e acho que prefiro me manter longe, porque qualquer coisa que eu ficar sabendo vai me fazer mal. Confesso que, no fundo, me dá um alívio em saber que ele está vivendo a vida dele, ou está tendo que viver, já que rola uma pressão absurda pra ele manter a imagem de que está tudo bem, de que ele já superou, que eu fui apenas um namoro longo ou não sei o quê. Ele está bem, não faz nada que não gostaria de fazer, ele tá legal.

- Não posso expor o menino , senhorita, há muitas fãs no local que de alguma maneira descobriram que ele viria pra cá hoje – ele falou com a voz um pouco mais calma, menos mal – Eu tenho por objetivo protegê-lo da mídia e fotógrafos indiscretos. A senhorita deve saber que o senhor é comprometido.
- Co-compro-compro, hã?
- Comprometido – ele falou mais pausado, pensando que eu fosse ou uma retardada ou não sabia falar inglês – Tem uma namorada.
- Eu... Eu não sabia – falei baixo – Então por que ele me chamou pra vir pra cá?
- Ah meu Deus – ele coçou a nuca, quantas vezes ele não deve ter visto essa cena?
- Desculpa, acho que eu não devo fazer essas perguntas para o senhor, e sim pra ele, estou certa?


Ai, Paul! Eu juro que você tentou me alertar antes do meu primeiro encontro com , mas pelo visto eu não dei muita moral, certo? Um ano atrás eu estava prestes a ter um dos encontros mais bizarros e engraçados com um popstar, e olha onde a vida me colocou hoje. Vai ser estranho eu pensar que quem evoluiu nessa história fui eu e que está retrocedendo mil passos? Um ano atrás ele estava namorando ou sei lá o que com essa Lauren, e aqui estamos... Um ano depois, e ele na mesma situação. , você não mudou nada.

- Tá viva, ?
- Oi... – eu ri meio fraca – Que foi?
- Eu to desabafando da minha vida aqui tem uns dois minutos e você está em silêncio. Tudo bem?
- Estou fazendo uma retrospectiva do meu último ano, só isso – suspirei – Mas você dizia?
- Eu dizia que o está aqui do meu lado querendo falar com você, e eu queria saber se você quer falar com ele.
- ? – perguntei com carinho – Claro que sim, eu pensei que ele não quisesse mais falar comigo.
- E por que ele não ia querer? – ela riu – Espera, vou passar pra ele.
- Ok – batuquei os dedos em minha perna e esperei aquela voz tão conhecida atender o telefone.
- , como você tá e por que você deletou seu twitter?

Ah sim, meu twitter!

- Bom ouvir sua voz depois desse tempo e obrigada pela bronca, – eu ri.
- Sério, seu twitter! Por que você fez isso?
- Estou há vinte dias sem usar minha conta, e não estava mais curtindo a vibe de levar a culpa pela cara de depressão do seu amigo, sendo que ele está agora muito bem com uma nova namoradinha.
- , você sabe que ele não tá ok, e nem precisa de twitter pra saber disso.
- Blá blá – rolei os olhos – Como você tá?
- Estou ok, feliz e com uma turnê nova. Viu as fotos?
- Algumas, sim, tá lindo demais! Tá tudo tão colorido, tirando vocês, que estão adorando usar só preto nos palcos – eu sorri – Ou essas camisetas cavadas e ficam pagando peitinho. Estão andando muito com o Fletcher de novo?
- Ahhhhhh, então você reparou nos nossos peitinhos? – ele gargalhou – Vamos combinar que a última turnê tava complicado demais, aquelas roupas engomadinhas não davam mais.
- Concordo, as novas roupas estão mil vezes melhores – eu ri – Quem está tirando as fotos oficiais pra vocês?
- A tirou as de Londres, Manchester e algumas da Irlanda.
- A foi pra Irlanda com vocês? – coloquei a mão e meu coração. Sei tão bem a vontade que ela tinha de ir pra lá, e senti uma ponta de inveja por não ter participado disso.
- Ganhou pontos na fase final do curso por isso, e ficou muito bêbada em um pub.
- Fico dois meses fora e tudo isso acontece? Meu Deus!
- Dá tempo ainda de voltar, tem mais um mês de turnê pela frente. Temos New Castle, Nottingham, Londres de novo...
- , você sabe que eu não posso.
- Não custa nada tentar – ele fez um estalo com os lábios em sinal de desaprovação.
- ...
- Conta, como estão as coisas por aí? Já achou algum namoradinho novo também?
- E você acha que é fácil assim? – eu ri – Estou no intervalo de uma sessão de fotos agora, estou esperando a Miriam chamar pra dar o resultado de um concurso que participamos.
- Concurso de quê?
- Pra ganhar ingressos pro Lollapalooza, sabe? O festival?
- Já ouvi falar, mas não tenho ideia do que pode ser.
- Festival de música – sorri – Tiramos algumas fotos com crianças, vestindo-as de acordo com uma banda que fosse tocar no festival. Eu vesti minhas crianças com as roupas do The Killers e do Pearl Jam, agora só torcer pra saber se eu vou ganhar um ingresso ou não.
- E você ainda tem dúvida disso? – ele gargalhou – Só se controla se você ganhar pro show do Pearl Jam, porque eu tenho certeza que você vai ficar descontrolada, mais do que ficou no McFly quando os viu pela primeira vez.
- Não vou ter contato com a banda, só vou ao show. Mas sim, eu vou ficar descontrolada, nem adianta me pedir o oposto.
- Sabia que vamos tocar em Seattle? Acho que é onde eles moram, não é?
- É onde o Eddie Vedder mora com a família – respondi empolgada, nesses momentos eu tinha certeza de que eles prestavam atenção ou se lembravam das minhas ladainhas de fã paga pau – Quando vai ser o show?
- Julho – ele demorou um pouco pra responder, acho que estava conferindo na agenda a data certa – Vamos?
- Tá doido? Não vou ter dinheiro pra ir, e nem dá tempo de conseguir um visto até julho.
- Se você quiser, você sabe que damos um jeito.
- Nem pensar, fica quieto e para com essas ideias – bufei.

Estava sentada no chão, esperando a Miriam aparecer ou algum dos outros alunos/fotógrafos que também participaram do concurso. Nós estávamos no estúdio, e tinha um aglomerado de pelo menos dez em uma rodinha conversando animadamente sobre algum assunto de São Paulo, algum bar na Augusta ou aquela exposição bacana que estava rolando no MASP. Desde que vim, não me relacionei bem com quase nenhum aluno; alguns me olhavam estranho, talvez se perguntando o que eu estava fazendo lá, outras (meninas, em geral), curtiam fazer uma gracinha comigo sabendo que eu namorei . , infelizmente, respondeu uma delas no twitter, e isso foi motivo de conversa por duas semanas... A vontade que eu tenho de esfregar o número do celular dele na cara dessas é enorme, mas vou me controlar porque, agora, nós dois não temos nenhuma ligação.

Tinha uma pessoa nesse grupo que conversava comigo, e era o Rodrigo. Ele tinha vinte e dois anos, era bem mais alto que eu, um pouco mais que , cabelos loiro queimado, com algumas ondas, mas que não faziam cachos. Gostava de usar calça jeans dois números mais larga, sempre na cor jeans claro e rasgada em algum ponto, geralmente usava camiseta de banda com uma camisa xadrez jogada por cima. Muitas pulseiras hippies no pulso direito e vários colares nesse estilo também; todo dia chegava cheirando a sabonete Dove e tabaco, e mesmo sendo fumante, seu sorriso era lindo e clarinho. Os olhos era um pouco femininos, grandes cílios castanho escuro, tanto os superiores quanto os inferiores. Olhos castanho mel, daquele estilo grande que parece um lêmure, e tinha um pouco de olheiras também. Ele não era um príncipe de lindo, mas era uma figura que, no mínimo, chamava a atenção... A minha, pelo menos, ele chamava.

O primeiro dia que Rodrigo falou comigo foi quando fui trabalhar com a camiseta do Pearl Jam que a Lary me deu ainda na Inglaterra. Ele sorriu quando entrei no estúdio e a primeira coisa que disse foi “belo gosto musical” e me deu um tapinha nas costas. Fiquei feliz porque, pelo menos, alguém naquele estúdio falou comigo, mas minha felicidade não durou muito, já que depois ele foi se esfregar em uma outra aluna, o que me resta a pensar que, apesar de todo o seu estilo diferenciado, por dentro ele ainda é um babaca como qualquer outro garoto. Mas por que eu estava querendo a atenção dele, mesmo?

- ?

E falando no diabo, opa, Rodrigo.

- Oi! – afastei o celular por um instante – Tudo bem?
- Tudo, sim – ele sorriu – A Miriam vai falar agora quem ganhou o concurso, você não quer ir pra lá?
- Claro, vou, sim, só um segundo – agradeci e voltei a conversar com – Hey, amorzinho.
- Quem te chamou? Era voz de homem.
- Um amigo.
- Amigo? Que amigo?
- , controla a pica, por favor.
- Você disse que não estava com nenhum namoradinho novo, então, quem é esse?
- E eu também disse que não estou trabalhando em um convento, o que quer dizer que nesse estúdio há garotas e garotos.
- E esse garoto, quem é?
- ELA TÁ FALANDO COM UM GAROTO? QUEM?
- A tá mais perturbada que eu.

- Olha... – cocei a cabeça e suspirei – Me liguem mais tarde, ok? Preciso saber o resultado do concurso.
- Só me fala quem é essa pessoa.
- QUEM É ELE?

- Tchau, pombinhos – e, pronto!

Tá pra nascer gente mais curiosa que esses dois, e o resto dos meninos também.

Muita gente boa ia tocar nesse festival, mas muita gente boa mesmo! E eu só queria ir no domingo, não sou muito fã de The Killers pra me matar na sexta, e eu sei que quase todo mundo aqui é fã deles, ou paga pau por causa de Mr. Brightside (que é a única oficial que eu conheço, e porque o McFly fez cover). Eu só quero o Pearl Jam, o Eddie e andar na roda-gigante da Heineken, só isso na minha vida. E depois eu vejo como vou convencer meus pais que vou lá pro Jokey passar meu domingo ouvindo rock o dia todo, e possivelmente bebendo.

- Cada um de vocês tem um envelope no armário, pessoal. Nesse envelope contém ou uma boa ou má notícia – Miriam dizia – Vão lá e vejam se conseguiram seus ingressos. Para aqueles que não conseguiram, não fiquem tristes porque outras oportunidades virão, tenho certeza – ela sorriu pra mim.

Então, eu não consegui?

Fui para a sala onde ficavam nossos armários e já vi alguns alunos felizes, outros com cara de decepção. Abri o meu e peguei o envelope vermelho, a essa altura eu não sei mais o que eu queria. Não sei se queria abrir na frente de todo mundo, então fui para o banheiro mais próximo, me trancando dentro de uma das cabines e, se eu tivesse conseguido, a privada ia ser a única ali que ia ficar sabendo.

Rasguei dos lados o envelope e peguei uma folha de papel sulfite azul, nela estava escrito, em caligrafia da própria Miriam “não foi dessa vez, continue tentando”.

Era a primeira vez, desde que me tornei aluna de fotografia, que eu falhava em alguma coisa, não conseguia atingir meu objetivo. Olhei aquelas palavras escritas em itálico e negrito, e lembrei de certas palavras que, um dia, me fizeram tão bem:

Temos os prazer de informar que seu requerimento para ingressar na Escola de Artes London College of Communication foi APROVADO.

Amassei o papel junto com o envelope e os joguei dentro do lixo, tentando respirar um pouco mais calma por não ter conseguido ganhar dessa vez. Eu sempre fui bem em tudo, eu sempre consegui a maioria das coisas, o que deu errado dessa vez? Um certo pânico começou a crescer em meu peito, e eu comecei a imaginar que talvez eu ganhasse as coisas na Inglaterra por causa do , que eu nunca tinha sido boa de verdade e eu que eu conseguia por pena ou porque eu tinha um namorado famoso. Agora que eu podia provar meu talento e quem eu sou de verdade, não era o bastante. Eu não sou boa o bastante pra me fazer sozinha, pra trabalhar sozinha. Era isso. Eu era boa enquanto o nome “ ” ou “One Direction” andava comigo, mas agora que eu sou apenas “ ”, vejo que não sou nada, nem uma porcaria de concurso eu consigo ganhar, como vou crescer na profissão assim? Eu preciso começar do zero, eu preciso me refazer, mas que MERDA!

Chutei a porta do banheiro com força e me dei dois tapas na cara, me obrigando a acordar pra vida e perceber que era tudo ou nada, e que eu não era essa pessoa tão maravilhosa e foda que todos diziam. Talvez as fãs sempre estivessem certas, eu não era nada sem o , e tudo o que consegui foi por causa dele. Bom, parabéns, vocês venceram, eu sou, de verdade, uma bosta. Ou talvez eu não estivesse acostumada a perder, a falhar. Não sei perder, porque sempre me falaram que eu ia conseguir tudo, que eu consigo tudo! Mas eu conseguia por causa deles?

- ?

Me assustei quando ouvi a voz de Rodrigo do lado de fora da porta do banheiro. Eu estou no banheiro feminino, não estou?

- , você está aí?
- Estou, que foi? – isso acabou soando de forma ríspida, e eu me arrependi.
- Posso falar com você?
- O que você quer? Ganhou?
- Ganhei – ele parecia feliz. Bom pra ele – E você?
- Estou trancada no banheiro com certeza comemorando minha vitória. Uau!
- Perdeu, né?
- Porra! – abri com tudo a porta, que quase acertou nele – Que você... Que é isso na sua mão?

Rodrigo segurava fotos que haviam sido tiradas por mim na Inglaterra, entre elas as fotos do McFly e do próprio One Direction. Uma das fotos era minha com na sessão da Teen Vogue. Como que ele conseguiu isso e, o mais importante de tudo, por que ele está com essas fotos em mãos?

- Onde você conseguiu isso?
- Então você é a tão famosa namorada do carinha da boyband, né? – ele mostrou minha foto com – Pra uma menina que curte rock, namorar boybands chega até ser cômico.
- Cala a porra da boca, você não sabe nada sobre mim – tentei tirar as fotos das mãos dele, mas Rodrigo se afastou – Me dá isso, agora!
- Se eu te der essas fotos, eu as consigo de volta no google em um piscar de olhos, então se você quiser essas aqui...
- Rodrigo, o que você quer?
- Quem tirou essa foto? – ele mostrou uma foto da turnê do McFly – E essa aqui? – e essa foto era do photoshot com a Tyra – Ou essa? – uma dos meninos.
- Quer parar?
- Foi você? – ele parecia se divertir – Foi, não foi?
- Foi, caralho – bati em suas mãos e as fotos caíram – E daí?
- E daí? – ele riu e pegou as fotos do chão – Tem ideia de que metade dos alunos aqui não fizeram nem metade do que você fez em um ano? Você trabalhou com bandas, modelos e com fotógrafos renomados.
- E?
- E que você não fez tudo isso porque seu namorado era famosinho – ele fez cara de desprezo – Foi porque você é boa.
- Ai, tá bom... – rolei os olhos e tentei passar por ele, mas Rodrigo me segurou pelo braço.
- Escuta aqui, eu não sei como era sua vida em Londres, eu nunca nem saí do Brasil. Sei muito menos como foi seu relacionamento, mas uma coisa eu posso te dizer, É FODA terminar um namoro, mudar de um lugar que você gosta e começar do zero. Você pode sofrer com tudo isso, , mas isso aqui – e ele me mostrou minhas fotos novamente – Isso é bom pra caralho, e eu não consigo acreditar que você está se esquecendo o quão boa você é.

Estatelei meus olhos e senti meu rosto queimar e o resto do meu corpo congelar. Era a primeira vez que Rodrigo conversava comigo, de uma maneira tão intrínseca como hoje. Aos poucos ele foi afrouxando a mão em meu braço e suspirou pesado, aos poucos se acalmando e tentando me acalmar também.

- Quanto tempo você e o boyzinho namoraram?
- Tem como não chamar ele assim?
- Tá, tá... – ele olhou a foto – – ele rolou os olhos – Quanto tempo?
- Um bom tempo – suspirei – Por quê?
- Eu fui noivo, – ele sorriu – Por dois anos.
- Noivo? Mas, você só tem vinte e dois anos.
- E daí? Se você continuasse em Londres tenho certeza que ia querer casar com seu namorado, não estou certo?
- Bom... – cocei a nuca.
- Enfim, o que eu quero dizer é que, eu posso não ter deixado Londres, mas deixei Santa Catarina. Não deixei uma estrela pop mundial, mas deixei um grande amor. E deixei porque eu sei que mereço mais, porque pra eu me sentir completo, preciso me realizar aqui – ele apontou pra cabeça – É importante amar e ser amado, mas quer mais satisfação pessoal do que ser reconhecido? Do que fazer aquilo que gosta?
- Aparentemente nem isso eu consegui aqui – bufei.
- Ah, por favor! Sem esse mimimi de garotinha que falhou em UM trabalho – ele disse com muito deboche – Você errou uma vez, e os outros quinhentos que você já fez? Pra que se apegar em um erro, sendo que você tem mil acertos?
- Escuta...
- Me deixa terminar de falar – ele me entregou as fotos – Isso aqui é você! Suas técnicas que você aprendeu lá fora são diferentes das técnicas daqui, mas faça isso o seu diferencial, e não o seu escudo ou sua zona de conforto. “Ah, eu não ganhei o concurso porque tenho um estilo diferente de fotografia”, foda-se! Faça a Miriam gostar desse seu jeito, porque se ela te escolheu, é porque alguma coisa de bom você tem. E por favor, dá uma olhada no seu portofólio, garota, você é ótima.

Segurei as fotos em minhas mãos e dei uma olhada no trabalho. Olhava, e não com um saudosismo de Londres ou até mesmo de e dos meninos, mas olhava como um trabalho pessoal, um orgulho de eu ter sido a responsável por aqueles shoots. Uma a uma, passei e observei com carinho; eu estava tão envolvida em um ambiente diferente, tão apaixonada por tudo que as fotos saíam ao natural. Tirar fotos era meu dom, então o que eu estava fazendo de errado no Brasil?

- Não perde seu brilho, – ele levantou meu rosto, me segurando pelo queixo – Dentre nós todos, você é a melhor. Não esquece.
- Por que você tá me falando isso?
- Já vi muita gente ficar presa no passado, não quero o mesmo com você. Vale a pena lutar e virar a página, acredite – ele sorriu e me soltou.

Suspirei e pisquei algumas vezes até focar em alguma coisa de novo. Era como se Rodrigo estivesse de olho em mim desde que eu cheguei e agora cansou de me ver chorando pelos cantos e me deu um belo tapa na cara de realidade. Tenho plena certeza que estava deixando meu passado e a saudade me influenciar, meus trabalhos aqui não estavam sendo cem por cento e ouvia os burburinhos que rolavam pelos corredores de que a Miriam estava ficando um pouco decepcionada comigo. Se eu perdesse essa chance, aí sim eu estava ferrada de quatro! Não tinha mais Londres, não tinha outro trabalho, não tinha curso e não ia ter grana. Tinha que voltar a me focar, esse era o essencial.

- Ah, e mais uma coisa – Rodrigo disse da porta do banheiro – Pra você – e me jogou o envelope.
- Seu ingresso? – perguntei meio desconfiada, abrindo-o e vendo o ingresso verde do Lollapalooza ali dentro – Pra mim?
- Já tenho o meu – ele piscou e deu as costas. Mas, epa!
- Rodrigo, volta aqui – em passos largos, saí do banheiro e o alcancei no corredor – Me explica isso, como assim? Você comprou?
- Claro, oras. Não ia ficar esperando o resultado de um concurso pra comprar meu ingresso pro Lolla, e você deveria ter feito o mesmo.
- Não tenho dinheiro pra isso.
- Então, ótimo! Agora você tem o ingresso, de graça – ele sorriu – Tem como ir?
- Eu... Não... Como...
- O show começa às nove e meia, mas eu vou com uns amigos pra lá a partir do meio dia. Onde você mora? Ou então, tem como você pegar o metrô e a gente se encontra perto do Jokey?
- RODRIGO!
- , cala a porra da boca e aceita o ingresso? É sua banda favorita, é de graça e você vai estar comigo e com uns amigos, que, por sinal, tem uma banda cover do Pearl Jam. Vai ser massa demais, e não me diga que você não bebe e fica toda cheia de firula, porque essa imagem de bonitinha não combina com você – ele ria.
- Obrigada – eu sorri – De verdade, obrigada.
- Sem problemas – ele veio até mim e me deu uma palmadinha no ombro – Nos vemos domingo?
- Sim – sorri.

Agora, sim, eu estava me permitindo ficar feliz. Lolla de graça, Pearl Jam, Eddie Vedder... AO FUCKING VIVO! E não era apenas por isso, mas parecia um misto de emoções e uma felicidade bizarra, que eu continha dentro de mim, porque se começasse a sair pulando pelo corredor ia pegar estranho. Infantilmente, dei um beijo no ingresso em minhas mãos e o guardei no bolso traseiro da calça jeans, bem a tempo do meu celular começar a vibrar. Não era mensagem, era alguém me ligando, e tenho a impressão de que era a ou o querendo saber como eu tinha ido. Aposto que ela vai gritar horrores comigo, e eu vou ter que fingir que escuto o que ela está dizendo, quando na verdade, vou estar dando gargalhadas.

Peguei meu celular de olhos fechados e me encostei na parede, já me preparando pra ouvir a voz da do outro lado da linha...

- Fala, !
- Amor... ?
- ?

Abri a boca em “O” tão grande e coloquei a mão em cima por impulso. Não ouvia a voz dele desde janeiro, quando ele foi embora, eu evitei qualquer contato com tanto quanto eu pude, assim como tentei com os meninos. Ele era a última pessoa que eu esperava falar agora, a última a ligar no meu celular. Senti vontade de desmaiar, fazer xixi, morrer, sair correndo, vomitar, tudo ao mesmo tempo. Especialmente, vontade de sair correndo...

- Tá me ouvindo? Alô?
- .
- Você ainda está aí?
- Sim, eu só... Caceta, oi! – eu gargalhei, e ele logo em seguida – Meu Deus, você não pode ligar assim pra mim do nada, precisa me avisar.
- Por quê? Tá ocupada? Não pode falar agora? – sua voz tinha uma certa urgência e tristeza, como se estivesse me atrapalhando.
- Claro que eu posso, estou apenas brincando – eu ri.

Completamente idiota, como se ele pudesse estar me vendo nesse momento, eu coloquei minha franja atrás da orelha e mordi os lábios, me sentando no chão e apertando o celular em meus ouvidos. Eu queria só ouvir a voz dele, e não queria que ninguém me atrapalhasse; no fundo, estava desejando que ele estivesse sentindo o mesmo. Como que eu podia “virar a página” sendo que só a sensação de estar falando com ele de novo me deixava totalmente idiota e chorosa?

- Como você está? Não sei se eu podia te ligar, mas o me disse alguma coisa sobre uma competição de fotos e, bom, você me conhece...
- Eu não ganhei, – o interrompi.
- Você... HÃ? Como assim! Você sempre ganha tudo.
- É, mas eu não ando muito focada aqui no Brasil e não desempenhei meu melhor. Um outro cara ganhou, mas tá tudo bem.
- Eu não te imagino perdendo – ele riu meio seco – O que você ganharia?
- Um ingresso pro Lollapalooza, pra ver Pearl Jam no domingo.
- AH!
- Calma, calma – comecei a rir – Eu perdi, mas de qualquer forma ganhei o ingresso.
- Por quê?
- Eu ganhei de um amigo – falei, me dando um tapa na testa, consegui falar a primeira coisa que veio na minha cabeça, idiota.
- A-amigo... – eu sei que ele passou mentalmente todos os meus amigos, e ele no momento não conhecia nenhum – Ah, tá.
- , não sou eu que estou namorando no momento – ri meio fraco – Aliás, estou com uma revista em mãos que mostra uma foto fofa sua com a, qual o nome dela mesmo?
- Lauren.
- Isso! Lauren – sorri. Eu tinha a pior revista adolescente em mãos, e naquela parte tosca tipo “flagras dos famosos” tinha um set de fotos do com a Lauren saindo de mãos dadas de um restaurante em Londres – A propósito, vocês estão de mãos dadas.
- , eu não gosto dela, é coisa do trabalho. É pra turnê e essas coisas.
- Não estou pedindo explicação, nós não estamos mais juntos.
- Mas eu quero te dar explicação, qual o problema nisso?
- O problema é que você terminou comigo e me mandou pro Brasil! Parto do pressuposto que nosso relacionamento terminou e que a essa altura do campeonato, praticamente três meses desde o nosso término, você pode fazer o que quiser da sua vida, e eu posso fazer o que quiser da minha.
- Então, isso significa que você não gosta mais de mim? Não me ama mais? Esqueceu tudo o que vivemos nos últimos meses.
- Eu to tendo seguir em frente com a minha vida, e você?
- Sabe, eu te liguei pra saber do concurso, como você estava se dando no Brasil, já que você resolveu sumir do mapa! Mas foi a pior coisa te ligar, claramente você está muito bem, se divertindo e se esquecendo das coisas que teve em Londres.
- !

Afastei o celular e coloquei a cabeça entre os joelhos, chorando mais do que devia. Apertei o aparelho em minhas mãos, pensando que era o pescoço do e que agora eu o estava enforcando, porque o que eu sentia agora era uma vontade imensa e bizarra de matá-lo. Pra que me ligar e brigar comigo? E pra que me dar explicações? Eu não quero saber! Maldita revista adolescente...

- ME RESPONDE, CARALHO!
- Que foi? – funguei e coloquei o celular novamente em minha orelha, escutando seu último berro – Eu não estava prestando atenção.
- Percebi, porra! – ele suspirou pesado.

Nós dois ficamos em silêncio, naquele estado clichê de um ficar ouvindo a respiração do outro. Fechei meus olhos e minha boca tremia, a ponta do meu nariz tremia, tudo porque eu estava tentando segurar o choro. Mordi meus lábios com força, mas um suspiro manhoso acabou escapando e chamando a atenção dele, que na mesma hora parou de respirar e perguntou logo em seguida “Você está chorando?”.

- – sua voz estava mais baixa e pesada – Eu não sou isso que você está pensando, não sou tão manipulado assim. Você me conhece, sabe quem eu sou de verdade, mas é que...
- Eu sei disso, eu sei – chorei, mesmo sabendo que o deixava angustiado.
- Na verdade, eu não sei mais quem eu sou desde que você foi embora, tudo parece embaçado, turvo, não consigo me concentrar, fazer as coisas certas! Eu só digo sim, eu só vou pra onde me mandam. Eu to perdido, .
- Não perde o seu brilho – repeti o que Rodrigo me disse uns instantes atrás – Você é a melhor pessoa que eu já conheci em minha vida, . Não se perca nesse mundo, por favor.
- Eu preciso de você, pelo menos contato com você, não sei.
- , babe... – sorri ao chamá-lo desse jeito novamente – Você precisa de foco, nós dois estamos precisando. Seu trabalho, suas fãs dependem de um cem por cento pronto, seja às cinco da manhã, seja às três da tarde! Seja jantando com a Lauren ou saindo de um show, mas elas precisam de você.
- Não...
- Vamos fazer isso por nós dois? – pedi – Nós não estamos nos dando totalmente em nossos trabalhos, e isso está nos afetando demais. Mas faça isso por você, por mim.
- E o que eu não faço por você? – ele riu baixo.
- Você podia não ter comprado a passagem – respondi.
- Me desculpa, eu achava que estava fazendo o melhor por nós dois.
- Você fez, babe. Talvez não tenha sido no momento certo, mas você fez. E daqui a pouco eu sei que vamos conseguir nos centrar e deixar tudo mais fácil, é só questão de tempo.
- E quanto tempo vai demorar pra gente se esquecer?
- Nós não vamos – suspirei – Eu disse “centrar”, e não “superar” nada.
- Vai acontecer o quê, então? Relacionamento à distância? Vou fingir que estou com a Lauren quando na verdade não paro um minuto de pensar em você?
- Não, . A gente aprende a viver, e isso não quer dizer colocar o que nós dois sentimos pra trás ou encontrar alguém ou algo que substitua. Por que não usamos isso para adicionar coisas boas a nós?
- Lembrar as coisas boas? Tratar você como se fosse apenas uma lembrança e nada mais?
- Uma lembrança de como é ser feliz, . De como é amar, ser amado e de como existe uma garota no Brasil que ainda é completamente louca por você, e te ama demais. E nunca, nunca vai esquecer nossos momentos.
- Moments in time, I’ll find the words to say...
- Before you leave me today.

Flashes left in my mind
Going back to the time
Playing games in the street
Kicking balls with my feet
Dancing on with my toes
Standing close to the edge
There's a part of my clothes at the end of your bed
As I feel myself fall
Make a joke of it all


- Lembrou da música inteira, não foi? – ele brincou e eu concordei, murmurando, porque não conseguia falar mais nada. Eu já estava em prantos – Hey, eu ainda te amo, viu, gênio?


Capítulo 44

A fila não estava muito grande, e eu demorei mais ou menos meia hora até entrar no Jokey Club. Nunca tinha ido pra lá, então comecei a achar tudo o máximo, menos a lama (tinha chovido muito nos dias anteriores, estava um pouco complicado, mas ainda bem que eu vim de botas), mas esse era o menor dos problemas.

Rodrigo estava com uma galera logo na portaria principal, já bebendo cerveja e rindo algo de alguma coisa. Nesse contexto, ele não parecia mais tão esquisito, e chamava muito a atenção das meninas que passavam ali por perto. Achei engraçado porque, no estúdio, Rodrigo era um pouco esquisito e, ou ele era visto como um cara gato ou uma aberração. E hoje, ele com certeza era o cara gato.

- ! – ele me viu parada (juro que não estava atolada na lama) e acenou um pouco empolgado demais, acho que a Heineken já estava fazendo efeito – Vem pra cá.
- To indo, to indo – eu ri e vi os amigos dele virarem as cabeças e me encararem, até eu chegar mais perto – Oi, tudo bem?
- Nem acredito que você veio mesmo – ele sorriu e me deu um beijo no rosto – Galera, essa é a menina que eu falei, a fotógrafa de Londres.
- Ahhhhhh – um coro de cinco marmanjos um pouco bêbados me fez rir.
- , esses são os caras da banda cover que eu te falei – Rodrigo me abraçou pelos ombros e apontou para os amigos – Lucão, Vitão, Cezinha, Palinha e Marco.
- Oi, meninos – falei dando uma olhada em cada um deles.

Cinco meninos em Londres que faziam parte de uma boyband eram bem diferentes desses cinco que estavam aqui. Lucão era o baterista, um pouco moreno e com o estilo bem largado, tipo Jack Sparrow em Piratas do Caribe. Na verdade, ele tinha o olho delineado, pulseiras e colares no estilo Jack. Vitão era alto e era o baixista, devia ter uns trinta e cinco anos, mas se vestia de forma jovem e era muito engraçado, meio doido, mas um bom doido. Cezinha era um dos guitarristas, era um pouco mestiço e um pouco quieto, mas uma gracinha de educação. Palinha – que, na verdade, era o apelido – era o guitarrista principal, e era um amor! Também devia ter uns trinta anos, cara de moleque, se vestia como moleque e parecia ligado nos 220v, porque, desde que eu me aproximei deles, ele não parava de falar, e eu estava achando o máximo. Então, tem Marco, vocalista. Ele era a versão 1992 do Eddie Vedder, mas não tão magrelo quanto o Eddie. Ele usava uma camiseta do Ramones que eu podia jurar que já vi em algum dos outros meninos (One Direction), tinha o cabelo bem comprido e liso, loiro escuro, e um rosto lindo. Marco era muito bonito, e o fato dele ser o vocalista da banda me fez ficar curiosa demais, queria muito ouvir a voz dele cantando Pearl Jam.

- Estamos fazendo uma aposta – Rodrigo disse, depois de me apresentar os amigos e de uns dez minutos de conversa – Com qual música eles vão começar o show.
- Ah, isso é praticamente impossível de saber – eu ri – Com qual música vocês costumam começar o show de vocês? – perguntei aos meninos.
- Depende – Marco falou, e nossa, a voz dele era fantástica – Depois do show de 2011, nós começamos a abrir com Release, mas as vezes o público pede uma coisa mais pesada, então abrimos com Save You ou Go, as vezes com Even Flow. Na moral, depende mesmo.
- Viu – dei um tapa de leve em Rodrigo – Nem a banda cover tem uma ideia de como abrem o próprio show, você acha mesmo que nós vamos conseguir adivinhar que música o Eddie escolheu? Ainda mais Eddie Vedder, a pessoa mais indecifrável desse planeta.
- É só pensarmos um pouco – Rodrigo disse – É um festival, eles vão tocar as músicas mais conhecidas, não pode rolar muito lado B, então...

E então eu parei de dar minha opinião e fiquei apenas ouvindo aqueles caras conversarem. E era tudo tão incrível, porque eu entendia perfeitamente do que eles estavam falando e me senti tão confortável e tão em casa por estar lá. Eu não tinha que parecer ser outra pessoa, não precisava me esforçar em ficar bonita, em erguer mais minha coluna pra ficar mais magra, a falar baixo ou ficar preocupada que algum fotógrafo aparecesse por ali e minha cara estivesse estampada em uma revista de fofoca ou algo assim. E, esse grupo, bom, ninguém sabia da existência de One Direction ou boybands britânicas, porque eles estavam preocupados em aproveitar a vida, ouvir música que tivesse sons de guitarra e bateria, beber uma boa cerveja e sair de casa aos sábados e durante a semana, se possível, ao invés de perder a vida em frente ao computador querendo saber “qual o próximo passo de sua celebridade favorita”. Eles não viviam em prol de ninguém, a não ser de si mesmos. Não eram adolescentes babacas que ficavam falando de bandas e de “quem era o integrante mais lindo” ou “meu Deus, em que hotel eles vão estar porque eu quero falar com eles”, não era uma vida fútil. Eles olhavam as garotas de verdade que passavam ao lado deles, paqueravam-nas com o olhar (e que olhar, devo dizer) e não se preocupavam com absolutamente nada; em parecer legal, em parecer cult, em querer causar impressão, eles eram pessoas reais.

O tempo que passei em Londres eu tenho plena certeza que foi a realização de um sonho, mas também acho que eu ainda estava sonhando, por quase quinhentos dias. Era tudo muito surreal e ao mesmo tempo muito fácil e difícil. O que eu quisesse, e por mais que batesse o pé, me proporcionava. Não tinha o frio na barriga do desafio, porque tenho certeza que eu conseguia as coisas por causa dele. Sei que coloquei muitas das minhas prioridades de escanteio por causa dele, por causa de um sentimento que eu julgava ser o mais real e verdadeiro possível. Será que era? Eu, que nunca fiz nada, virei celebridade por estar ao lado dele, me vi ser odiada de forma gratuita por estar namorando “um ídolo”, fui julgada da pior maneira possível e ouvi as coisas mais baixas e feias de adolescentes que passam o dia em frente ao computador sonhando com um casamento com o ídolo! Essas que, na minha frente, nunca falavam nada (algumas eu já cheguei a conhecer em filas de shows dos meninos etc.), essas que, protegidas pelo anonimato, se comportavam da forma mais rude e perversa que eu já vi, e elas nem tinham idade suficiente pra beber ou pra ir a uma faculdade.

Ao mesmo tempo que foi a melhor coisa que já me aconteceu, eu preciso admitir que foi uma das piores experiências da minha vida. Era tudo muito extremo, era tudo muito feliz ou muito triste, muito doido ou muito normal. Em nosso mundo particular, e os meninos eram as criaturas mais adoráveis e verdadeiras, mas sei que quando estávamos em público, eles tinham que se comportar e conversar de forma diferente. Não os julgo, porque eles possuem a necessidade de passar uma imagem para o mundo – imagem essa que é comprada por todos, e é essa imagem que faz as meninas se apaixonarem, e não os meninos de verdade – mas eu não consegui acompanhar e levar uma vida dupla, e quando tentei, quase acabei me matando. Lutando por um corpo perfeito, imagem perfeita, namorada perfeita, eu me perdi no meio disso tudo. se importava, claro que sim, mas ele também tinha tanta coisa na cabeça, e pensar em como se comportar ou o que falar em sua próxima entrevista, que por muitas vezes eu passava batida por ele. Ele nunca teve culpa disso, claro que não, nunca eu vou culpá-lo de nada, na verdade, a grande culpa disso foi minha.

Olhando novamente para o grupo que eu estava, me senti completamente normal. Ser normal, agir de forma normal, beber, falar, andar, rir, sorrir, piscar, espirrar, coçar o nariz, morder os lábios... NORMAL! Sem ter a preocupação de ver no tumblr espirra no Lollapalooza... QUE NOJO, viu o jeito que ela espirra? Parece que o cérebro vai sair pelo nariz. Por que não morre logo de uma vez e deixa o sozinho?”. É, não sinto saudades disso.

- Ei, ei, ei – Marco estralava os dedos na minha frente e eu pisquei assustada – Ainda tá nesse mundo?
- Desculpa, fiquei meio aérea – sorri – Do que vocês falavam?
- Que estamos com sede e vamos pegar um cerveja, tá a fim?
- Opa!

Marco, junto com os outros meninos, começaram a caminhar. Rodrigo esperou eles estarem uns passos a frente pra vir até mim; me abraçou de lado e depositou um beijo carinhoso em meus cabelos.

- Estava pensando no seu boyband e em Londres, estou errado?
- Não – ri pelo nariz e começamos a andar em direção ao bar Heineken – É impossível não me lembrar dele ou de todo o resto. Eu começo a fazer comparações em minha cabeça o tempo todo, tentando achar erros e acertos, é um saco.
- Então pare de fazer isso, oras! – Rodrigo disse – Tem como mudar alguma coisa que você já viveu? Não, e isso é óbvio e clichê. Tem como mudar o que você ainda vai viver e a pessoa que você vai se tornar? Ah, isso tem.
- Alguma coisa parece que ainda me puxa pra Londres, como se eu não tivesse terminado tudo lá. Mas, ao mesmo tempo, eu não sei se quero voltar, é complicado.
- Vamos combinar uma coisa? – ele parou na minha frente, colocando as mãos em meus ombros – Por hoje, vamos esquecer Londres e seu ex-namorado? – ele sorria e suspirava – Dá uma olhada onde você está. Melhor que isso, só a noite do Rock in Rio com Metallica! – gargalhamos – Que, por falar nisso, nós vamos, ou você prefere uma noite melequenta com John Mayer?
- Nem conheço as músicas dele – dei de ombros.
- Ótimo, então vamos pro Metallica – ele riu – Voltando pra Sampa... Você está no Lollapalooza! Noite do Pearl Jam, o cara vai fechar o festival, fechar a noite. Tá, hoje é domingo de páscoa, mas quer noite melhor que essa?
- É que...
- É que nada, . Pensa no seu presente, pensa aqui. Agora não tem como você ir pra Londres, não tem como você ver seu ex, não tem como você controlar o que está acontecendo no universo. Então, pra que se preocupar? Vai se preocupar com algo que não está ao seu controle? – ele tirou as mãos dos meus ombros – Meu Deus, quantas coisas na vida você já perdeu por ficar se preocupando com os outros ou com que os outros vão pensar, ou o que você fez e não fez. É isso o que importa, você, então fecha os olhos e aproveita esse domingo lindo.
- Fechar os olhos?
- Ou fica com eles abertos, dane-se – ele ria – Vou te pegar no colo de qualquer jeito, porque os caras estão lá na frente na fila da cerveja e eu to aqui pagando de terapeuta com você.
- Me pegar no colo?
- Você é lerda pra caralho, .

E, dito isso, ele me pegou pela cintura e agora eu estava em seus ombros, sendo carregada como se fosse um saco de batata. Não fiz esforço ou gracinhas do tipo “Ai, Rodrigo, me soltaaaa”, porque eu estava achando essa situação toda muito engraçada.

Assisti todos os shows, correndo de um palco ao outro a cada uma hora e cinquenta. Depois de quase três horas, eu não conseguia mais saber o que estava acontecendo, e perdi as contas de quantos copos de Heineken eu tomei durante o dia – e quantos cigarros acabei fumando, já que todos os meninos fumam e eu entrei na onda. Tenho plena certeza que hoje estou longe de ser a menina modelo da minha mãe ou garotinha exemplo pra namorar o . E lá vou eu de novo lembrar dele!

O show do The Hives começou por volta das seis da tarde, ou seis e alguma coisa, e eu não estava mais em condições de ficar em pé pulando ou beber de novo. Durante os shows eu fiquei boa parte nos ombros de Marco e ele é bem alto, o que incomodava bastante as pessoas que estavam atrás de nós, mas eu não estava nem aí, e nem estava nas melhores condições de uma discussão ou conversa. Apesar dessa visão privilegiada, eu estava cansada e não conhecia nenhuma música do The Hives, o que me dava a vontade de querer sentar em um cantinho e esperar pelo Pearl Jam. Mas, em todos os cantos só tinha lama ou pessoas deitadas na lama – eu juro que vi algumas em seu próprio vômito – e não via um espaço pra encostar minha bunda, nem que fosse por cinco minutos. Como eles queriam curtir o show, tive que ficar com eles mesmo, não tinha muita opção. Me encostei em Rodrigo – que também estava muito bêbado, mais que todos nós – e peguei meu celular, rolando em mensagens antigas e me controlando pra não abrir as que foram trocadas em Londres no ano passado. Sabe quando você está meio altinha – não totalmente bêbada, mas meio alta que metade de você tem consciência do que está fazendo e a outra está totalmente entorpecida – e você acha que pode fazer o que está na sua cabeça? E todo mundo conhece a regra número um de quando se bebe: nunca, jamais, ever deixe um celular na mão de um bêbado. E quem aqui tirou o celular da minha mão? Ninguém!

O sinal não era dos melhores, o som estava alto demais, mas mesmo assim eu achei que podia ligar pra , não contando com o preço caro que eu ia pagar de telefone e também foder com meu emocional. Fui andando aos tropeços até o banheiro químico e me apoiei em um muro de concreto que tinha ao lado. Ninguém estava interessado em mim, só queriam chegar ao banheiro logo, ou que a fila andasse mais rápido. Achei uns dois tijolos ali e sentei-me em cima, colocando o celular bem perto do meu ouvido e abaixando a cabeça, sentindo meu estômago dar umas voltinhas desnecessárias. Ótimo, eu quero vomitar.

- ?
- ...
- , é você? Que barulhão.
- , sou eu! Tá me ouvindo? – me encurvei mais ainda, literalmente colocando minha cabeça entre meus joelhos, e isso não ajudava em porra nenhuma no enjôo.
- Você tá legal? Tá tudo bem?
- ... – estalei os lábios – Eu sinto muito.
- Você tá bêbada? – ele riu, o filho da puta estava rindo – Nunca te vi bêbada.
- Claro que já, eu bebia com você! – bufei – Quer calar a boca e me ouvir?
- Ok, ok. Mas, quer que eu te ligue? Essa ligação vai ficar uma fortuna pra você.
- Deixa eu pagar alguma coisa nessa vida, .
- , eu deixaria você pagar qualquer coisa, mas uma ligação pro Reino Unido de um celular vai ficar muito caro. Eu não vou desligar na sua cara, só quero te ligar de volta, posso?
- Não, não pode! – eu não consegui distinguir se ele ria ou reclamava – Eu tenho Claro Conta então fica mais barato, não são créditos.
- Que é isso? Claro Conta?
- , me escuta, por favor – ergui minha cabeça com tudo e as pessoas na minha frente pareceram borrões – Ai porra, vou vomitar.
- VOMITAR?

Estiquei meu braço direito segurando o celular longe de mim, dei duas suspiradas longas, sentindo a cerveja vir parar na garganta e aquele gosto amargo vir junto. Não podia vomitar com no telefone, e muito menos ali na frente de todo mundo, mas que merda. Suspirei pesado e de forma longa mais umas três vezes e engoli o gosto ruim, sentindo meu corpo tremer e arder ao mesmo tempo. Um cara qualquer passou na minha frente e deve ter visto que estava passando meio mal; me ofereceu um copo de água que ele segurava e eu tive que aceitar, nem pensei se ele tinha colocado alguma coisa nessa água ou não. Bebi quase tudo de uma vez, e o que sobrou, joguei um pouco no rosto e na nuca, sacudindo a cabeça e torcendo pra sobriedade voltar logo. Eu tinha um show pela frente e meu ex no celular.

- Dá pra me explicar o que você está fazendo? Onde você está? Eu to falando sozinho tem uns cinco minutos, , e eu não sei se desligo o telefone e espero você me ligar, ou se eu desligo e te ligo, ou se fico aqui na linha esperando você aparecer e me falar que não tá desmaiada na própria merda!
- Não to desmaiada na própria merda, na verdade, se eu fosse desmaiar, seria na lama ou no meu vômito.
- Onde você ESTÁ!?
- No Lollapalooza – respondi cantarolando – Desculpa.
- Me explica, pelo amor de Deus, o que foi?
- ... – mordi os lábios e suspirei – Eu não vou me lembrar dessa conversa amanhã, ou vou fingir que não me lembro, mas eu precisava te ligar, porque se eu ficar tendo esse tipo de pensamento sozinha vou ficar doida! E o Rodrigo fica me podando, ele não deixa eu pensar em você, ele fala pra eu pensar no meu presente, mas meu presente não está o mesmo se você não está aqui. Mas agora você está namorando, e eu queria ficar feliz e superar, mas não dá! E eu juro que o Marco deu em cima de mim, eu não sou mais tão idiota como eu era, sabe? Se eu fosse essa de hoje um ano atrás, eu com certeza ia saber que você me queria no London Eye, eu era tão burra! Tão burra.
- Amor, respira...
- Você ainda me chama de amor depois de tudo isso? Ah!
- – ele riu meio fraco – Se concentra e me fala, por que você me ligou?
- Eu acho que quero te esquecer – solucei. Nem eu sabia que estava com vontade de chorar – Não é porque eu não te amo, não foi nada do que você fez, eu só sinto que eu preciso te esquecer...
- ?
- Oi?
- Tudo bem.
- Tu-tudo bem? – solucei mais alto – Como assim “tudo bem”? Eu estava me preparando pra uma briga, ou... – parei pra pensar – Você já me esqueceu, não foi?
- Não! Claro que não, tá doida?
- Então, por que isso? Essa reação tão rápida?
- Porque eu sabia que essa decisão ia sair primeiro de você do que de mim, porque você ia conseguir superar isso muito mais rápido do que eu – eu sabia claramente que ele sorria, e eu não gostava disso – É claro que eu ainda te amo e claro que eu sei que não está sendo fácil, mas um de nós tinha que dar o primeiro passo, soltar a corda primeiro.
- Não me deixa sair como a vilã da história, por favor.
- De jeito nenhum, quem disse que você é a vilã? – ele riu – Como sempre, você está me superando, gênio. Porque você está se colocando de novo em primeiro lugar, sabendo o que é melhor pra você e me deixando ir, deixando esse nosso sentimento ir embora.
- Eu não sei o que está acontecendo comigo, e eu não sei por que cheguei a essa conclusão. Eu te amo, você sabe que eu te amo, que tudo o que vivemos ano passado foi mais do que eu mereço e eu nunca quis dizer adeus a nada disso. Mas eu precisei, eu preciso deixar você ir, porque eu não consigo sair do lugar, ! Eu me encontro presa a você, a um mundo que eu não faço mais parte.
- Isso não faz de você uma má pessoa, . Até que demorou demais pra esse dia chegar, cada vez que meu celular tocava eu tinha medo de ser você.
- Por que você não fez isso primeiro?
- Eu fiz, não fiz? Eu que te deixei ir, eu que fiz você voltar pro Brasil. Não posso te prender ao meu lado sendo que o mundo é seu, sabendo que você é muito maior que uma fotógrafa pseudo-londrina ou namorada de um cara de uma boyband – ele gargalhou – Pra muitos, eu sei que é status, pra você é um peso. E você não merece esse peso, tem que ser livre, tem que ser feliz. Você está feliz?
- Eu ainda não sei – suspirei – Porque eu não parei pra pensar em mim sem você.
- Então pensa, mas pensa com carinho. Não é você sem mim, , porque eu continuo aqui. Posso não ser mais seu namorado, e não vou mais estar com você vinte e quatro horas por dia, mas eu estou aqui e vou sempre estar.
- Eu amo você! – apertei minha bússola, porque eu nunca a tirava – Eu te amo, eu ainda te amo e não sei quando isso vai passar.
- Também te amo, gênio – a voz dele embargou um pouco – Agora faça um favor a nós dois e desligue esse celular e vai curtir sua banda favorita, por favor.
- , não me esquece. E não mude, não me decepcione, eu não quero ficar aqui longe me preocupando porque você está se comportando como um completo babaca.
- Eu? Me comportando como um babaca? Eu sou o legal da banda, tá me confundindo com o ou ?
- Não sei, mas vai que você vai na onda deles e começa a ser um babaca? Se vocês se meterem em mais uma briga pelo twitter, eu vou ficar do lado do The Wanted.
- HEEEEEEEEY! Pode não ser minha namorada, mas bom senso é bom em qualquer situação, .
- Tá, tá, que seja – eu ri – ...
- Eu sei, você precisa ir.
- Sim, eu preciso – eu sorri para Marco e Palinha, que caminhavam ao meu encontro com uma cara de interrogação – Dois amigos meus já estão chegando pra me chamar pro show.
- Amigos? Masculino?
- Sim – eu ri – Mas tá de boa.
- Agora você é solteira, pode fazer o que quiser.
- Relaxa, que nenhum deles é vocalista da maior boyband do mundo – nós gargalhamos – Ele só é vocalista de uma banda do Pearl Jam.
- O CARA É COSPLAY DO EDDIE VEDDER?
- Cosplay? Que cosplay, garoto!
- To ferrado – ele gargalhou – Vai lá, e não seja idiota.
- Não vou ser.

Desliguei o celular e me levantei, indo até Palinha e Marco, que me olhavam com uma cara um pouco curiosa. Marco deu uma olhada em meu celular, depois pra mim, depois pro meu celular de novo, como quem quer saber com quem eu estava conversando. Palinha deu uma risada, querendo disfarçar a situação, e depois tossiu alto, chamando um pouco atenção; eu apenas sacudi a cabeça e coloquei o celular no bolso do short jeans e sorri para eles.

- Tudo bem? – Marco perguntou com um meio sorriso – Você sumiu no meio do show do Hives.
- Estava meio enjoada – suspirei – Muita cerveja, não estou acostumada a fumar e ficar pulando o tanto que nós pulamos...
- Mas tá melhor?
- Aham – sorri – Obrigada.
- Bom, então vamos mexendo, povo? O show dos caras já acabou e precisamos dar um jeito de chegar perto do palco.
- Os fãs do Hives vão sair agora, não vão? – perguntei, já caminhando com eles pra perto do palco.
- Estamos torcendo pra eles saírem, agora, se eles vão, é outro papo – Palinha riu.
- Com quem você estava falando? – Marco cutucou de leve meu braço, e eu comecei a rir, assim como ele – Foi mal, só estou curioso.
- Com o meu ex – respondi tranquilamente – Sabe como é, não se pode deixar um celular com uma bêbada carente e sozinha.
- Sempre dá merda, sempre dá merda! – Palinha falava e ria – E tá tudo de boa?
- Sim, eu só precisava colocar um ponto final em algumas coisas, e acho que chegamos a um senso comum – sorri – Estamos “de boa”.
- Melhor assim – Marco me abraçou de lado – Pra curtir um show desses, a cabeça precisa estar vazia, longe dos problemas.
- E ela está, eu prometo – o abracei também e continuamos andando, até acharmos os outros meninos.

Rodrigo já estava pulando ao som da música que tocava ao fundo, e Lucas estava junto, tão doido e bêbado quanto ele. No final das contas, nós três tivemos que carregar esses dois até o meio da multidão pra tentar chegar a um lugar apropriado e assistir ao show. Não conseguimos grade, e o povo já se amontoava e empurrava muito, mas conseguimos achar um lugar uns cinco passos longe da grade e mais ou menos no meio, na direção do Jeff e do próprio Eddie. Onde eu estava parecia perfeito, porque eu conseguia ver o palco todo sem precisar ficar na ponta dos meus pés.

Cinco minutos ali esperando pelo show e eu já estava transpirando e morrendo de sede. Os seguranças começaram a jogar copinhos de água para a plateia, mas eu não sou grande o suficiente para conseguir um, então os meninos me ajudaram, pegando uns quatro ou cinco copinhos e os guardando pra mim. Não acho que vou tomar algum durante o show, mas é sempre bom ter uma reserva.

- Então, já sabem com qual música ele vai começar? – Lucas perguntou, quase não conseguindo terminar de formar a frase – Voto em Why Go.
- Ele não vai começar com Why Go, é impossível! – eu respondi – Acho que Got Some.
- Backspacer? Nem pensar, vai ser alguma do lado B.
- E do Ten, vai ser alguma do Ten.
- E aí, galera?

De repente nós calamos a boca e olhamos pro palco. Eddie Vedder estava ali! EDDIE VEDDER ESTAVA ALI! A multidão começou a se aglomerar um pouco mais, a empurrar mais ainda, mas eu praticamente enterrei meus pés naquele lugar e decidi que não ia me mexer até acabar o show, estava tudo lindo demais. O palco todo se iluminou e eu vi lá atrás a art do Backspacer e os escritos “Pearl Jam Twenty”, e a partir desse momento eu já comecei a gritar e quase chorar. Todo mundo já gritava e meu coração estava na boca, me preparando para escutar pela primeira vez a voz de Eddie ao vivo e escutar qual era a porcaria da música que ele ia abrir o Lolla. Pearl Jam é sempre muito imprevisível...

- One, two, three, two, four...

- ELDERY WOMAAAAAAAAAAAAAAAN!

Nós gritamos quando Eddie “contou” ao microfone, porque ele sempre contava desse jeito antes de começar a cantar “Eldery Woman Behind...”; eu NUNCA imaginei que ele fosse começar bem com essa música. Pelo amor de Deus.

I seem to recognize your face
(Pareço reconheçer seu rosto)
Haunting, familiar, yet I can't seem to place it
(Obsessivo, familiar, perece que eu não consigo encaixá-lo)
Cannot find the candle of thought to light your name
(Não consigo encontrar a luz do pensamento para iluminar seu nome)
Lifetimes are catching up with me
(Memórias estão me alcançando)
All these changes taking place, I wish I'd seen the place
(Todas essa mudanças acontecendo, gostaria de poder vê-las acontecer)
But no one's ever taken me
(Mas ninguém nunca me levou)

Estava chorando um pouco mais do que devia. Alguma parte de minha cabeça não lembrava muito da letra da música, mas assim que Eddie Vedder começou a cantar as palavras, elas vieram até mim como um soco gelado em meu estômago, e tudo o que fora conversado com parecia fazer o efeito entorpecente e dolorido agora. Parecia que um filme dos meus dias passava em minha cabeça, me assombrando como se fosse um sonho mergulhado numa neblina densa, e eu não conseguia mais ver de forma clara. Elas doíam ao passo que chegavam, mas sempre no meio da neblina eu via uma luz clara, como se fosse uma mudança que se aproximava, alguma coisa boa que me aquecia no meio daquela neblina gelada.

Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)

Cantei baixo o refrão, mais murmurando para mim mesma como se fosse um mantra. Tudo ia acabar desaparecendo um dia ou outro, de um jeito ou de outro. A única coisa que fiz foi agilizar o processo, foi o curativo mais rápido, assim como a Phoebe fez mostrando pra Rachel que ela devia logo “superar Ross”. Por que eu sempre me lembro de Friends nessas horas?

I swear I recognize your breath
(Eu juro que reconheço sua respiração)
Memories like fingerprints are slowly raising
(Memórias, assim como digitais, vão aparecendo devagar)
Me, you wouldn't recall, for I'm not my former
(Você não se lembraria de mim, porque eu não sou mais o mesmo)
It's hard when, your stuck upon the shelf
(É difícil quando você está preso sobre a prateleira)
I changed by not changing at all, small town predicts my fate
(Eu mudei ao não mudar... Uma cidade pequena prediz meu destino)
Perhaps that's what no one wants to see
(Talvez seja isso o que ninguém quer ver.)

Eu não cantava mais, parecia que cada linha da música se encaixava perfeitamente ao que eu estava sentindo e isso me matava. É como se eu pudesse ver minha vida daqui dez anos, ou daqui vinte anos. Será que eu continuaria a mesma, ou será que continuaria o mesmo? Tinha plena certeza que tudo o que vivemos ia ficar preso em minha memória e em algumas situações elas iam aparecer para mim “como digitais”, bem devagar, até ficar totalmente claras. Balancei minha cabeça como se eu quisesse esquecer tudo isso, mas a única coisa que aparecia para mim era o sorriso de , que as poucos ia se transformando nele chorando no dia do natal, e depois ele chorando em Ilha Bela e poucos segundos sua voz dizendo “tudo bem” em colocar um ponto final e darmos a nós dois o direito de viver as nossas vidas, de nos conformarmos com a distância e que não tinha mais como ficar preso a um relacionamento que, claramente, chegou ao fim.

I just want to scream...hello...
(E eu só quero gritar... Olá!)
My god its been so long, never dreamed you'd return
(Meu Deus, faz tanto tempo, nunca sonhei com sua volta)
But now here you are, and here I am
(Mas agora aqui está você e aqui estou eu)
Hearts and thoughts they fade...away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)

Será que nos veríamos de novo? Algum dia eu vou poder parar e encarar na minha frente e falar “now here you are and here I am”, como se fosse um milagre? Como se o universo estivesse de novo nos dando uma chance? Ou que fosse por uma hora, um minuto, eu só quero ter essa sensação, de que tudo não foi em vão, de que tudo não foi perdido. Sei que meu coração e meus pensamentos vão se perder, que com o tempo vou acabar esquecendo de muita coisa, vou me focar na minha atual realidade e ter que tapar meu passado com uma peneira, e tudo ficará confuso e nebuloso... Mas nós vamos ter uma segunda chance?

Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)
Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)
Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)
Hearts and thoughts they fade...
(Corações e pensamentos desaparecem...)

As coisas iam sumir de meus pensamentos e meu coração, elas iam. Sem minha permissão, sem eu perceber, uma hora ou outra, elas iam ir embora. Apertei minha bússola e fechei meus olhos, tentando captar a energia do lugar... As palmas, os gritos, a voz de Eddie agradecendo ao público. Em seguida ele começou a tocar Why Go e ouvi Lucas reclamar ao fundo “porra, por uma música!”. Ri comigo mesma e alonguei minha cabeça para a esquerda e a direita; eu tinha um show pra curtir e uma vida para seguir. Dependia de mim, apenas de mim.


O show acabou perto da meia noite, e eu estava completamente esgotada. Foi como uma experiência incrível, e foi de longe o melhor show que eu já fui em minha vida, nunca mais vou esquecer, nunca mesmo. Assim que acabou, fomos pegar mais umas cervejas com o que havia sobrado do nosso dinheiro e saímos – quase nos rastejando – até um ponto de táxi, e dali rumamos para o metrô. Marco e Rodrigo foram comigo até a minha estação, e me acompanharam até o apartamento de meus pais. Os dois estavam cansados e com muito sonos, mas disseram que era perigoso demais eu sair da estação e ir até minha casa sozinha. Foram dois cavalheiros bêbados, e eu achei uma graça, de verdade me senti segura, porque eu não estava nem um pouco confortável em andar sozinha por aí. Rodrigo me fez prometer que no dia seguinte eu estaria no estúdio e Marco anotou meu celular, dizendo que da próxima vez que os meninos tocassem no Manifesto Bar em São Paulo era pra eu ir. Agradeci meio sonolenta – pra fazer esse trajeto todo, demorou quase duas horas – e entrei em meu prédio, dando um olá meio bêbada para o porteiro.

Quase cai dura no chão quando abri a porta da sala e vi minha mãe e meu pai acordados, vendo Domingo Maior na Globo. Minha mãe estava com o rosto inchado e dava pra ver que ela chorava a umas boas horas, meu pai parecia um pouco mais sereno, mas suas mãos que seguravam um envelope pardo tremiam um pouco. Mil coisas passaram por minha cabeça, como um exame médico do meu pai, alguma notícia de um tio ou da minha avó ou alguma outra coisa muito ruim, pra deixá-los acordados até essa hora da madrugada. Ainda mais meus pais, que vão dormir as nove da noite já achando que estão super madrugando.

- Pai, mãe?
- , senta do lado da sua mãe, por favor.
- Aconteceu alguma coisa, pai?
- Aconteceu.

Ok, o problema era comigo.

Sentei ao lado de minha mãe, que mal olhava em minha cara e parecia sentir câimbras no corpo porque eu estava ao seu lado. Meu pai me entregou o envelope pardo e minha mãe fez cara de raiva, eu a vi fechar os punhos e endurecer as pernas e o rosto. Por meio segundo eu tive medo de saber o que era aquela carta.

“Londres, 20 de março

Querida ,

Eu realmente espero que sua vida esteja linda no Brasil, porque você merece isso e muito mais. Pelo que eu ando vendo no website da Miriam, seus trabalhos estão ótimos, mas vejo que você não está dando cem por cento da sua capacidade, o que me preocupa um pouco. Mas, nada que não possamos conversar.

Essa carta na verdade não tem nada a ver com isso, estou mandando em nome da London College e como sua professora e orientadora. No próximo mês de maio estaremos concluindo as turmas, e isso inclui a turma que você estava se formando. É muito triste não ter você aqui conosco, mas eu entendo que foi por um bem maior; porém, mesmo sabendo disso, fazemos questão de sua presença na nossa formatura anual.

A formatura será realizada em dezembro deste ano, no Royal Albert Hall, às oito horas da noite. Pensei em fazer uma chantagem e dizer que você precisa vir aqui, caso contrário não receberá o seu diploma, mas isso é errado demais e não me vejo fazendo isso com você. Por isso, apenas digo que você precisa vir, como aluna e convidada. Lugar pra ficar sei bem que você tem, e dinheiro nós damos um jeito. Segue anexo sua passagem para Londres no dia 10 de dezembro, e abaixo data e horário da sua formatura.

Será um enorme prazer vê-la novamente. Grande abraço.

Formatura da 101º turma de Fotografia da London College

Dia: 13 de dezembro
Horário: 08:00pm
Local: Royal Albert Hall

Vestido de gala/longo
Masculino: esporte fino

Favor, confirmar presença até o dia 13 de novembro com a professora Olivia.”


- Londres? Estão me chamando de volta pra Londres? – eu sorria, e MUITO! – Pai, é pra formatura, por favor.
- , eu não sei se é uma boa idei...
- É ÓBVIO QUE NÃO É UMA BOA IDEIA! – minha mãe alterou a voz – Demos duro pra te trazer de volta ao Brasil e agora essa professora acha que pode te levar de volta pra lá? Eu sei muito bem que se você for não volta mais, vai se enroscar naquele moleque daquela bandinha de merda...
- MÃE!
- VOCÊ NÃO VAI, VOCÊ NÃO VAI! Se eu pudesse voltar atrás, eu nunca teria autorizado você a ir pra Londres, em primeiro lugar. Você fez tudo as escondidas e ganhou essa bolsa ESCONDIDA de nós. Vai saber o que mais você andou fazendo por lá.
- Puta merda! – falei alto demais e meus pais se assustaram – Eu com certeza fiz muita merda em Londres para a minha professora mandar uma carta pra mim me convidando a ir a formatura. Meu Deus, que tipo de filha eu fui, hein?
- , não é esse o ponto.
- Pai, eu não vou discutir isso com vocês! – peguei a carta e vi as duas folhas anexadas, passagem de ida E VOLTA – Ela pensou em tudo, Olivia sabe muito bem que eu tenho uma vida no Brasil, tanto que eu estou com uma passagem para ir e voltar da Inglaterra, eu não vou ficar lá pra sempre e muito menos me envolver com de novo – olhei pra minha mãe – O nome dele é , você deveria saber disso a essa altura do campeonato.
- Que seja.
- MÃE!
- PAREM, VOCÊS DUAS! – meu pai ergueu a voz e se ergueu do sofá – , vem aqui, por favor.
- Pai – eu chorava – Pai, eu volto, eu juro que eu volto, eu não tenho nem dinheiro para me manter em Londres, e eu sei que vocês não podem pagar nada. É só a formatura, eu juro, é só a minha formatura.
- Você vai – ele sorriu – É claro que você vai.
- SÉRIO? – solucei alto – Pai, meu Deus, jura? – o abracei e chorei mais ainda.
- Isso, mima ela bastante, deixa ela fazer o que ela quiser.
- O que aconteceu com você, mulher? – meu pai repreendeu minha mãe – É da nossa filha que estamos falando, do maior orgulho dessa família. Você já a trouxe de volta, já tirou parte da felicidade ela, vai querer tirar isso também?
- Obrigada, pai – suspirei, abraçando ele mais forte e chorando em seu colo – Eu não vou te decepcionar – soltei meu pai e olhei pra minha mãe – Eu também não vou decepcionar a senhora.

Ela me encarava com um olhar triste e totalmente de repreensão, nada feliz com isso. Não senti vontade de abraçá-la, sabia que esses meses fora de casa foram difíceis para ela e meu pai, mas eu não tinha culpa nisso, tinha?

- Vou voltar, prometo – olhei meus pais – Prometo, prometo.
- E mesmo se não voltar – meu pai me segurou pelos ombros – Eu vou entender, é a sua felicidade, filha.
- Eu amo você, pai – sorri e encarei minha mãe – Amo você também, mãe.

Não houve resposta, apenas um olhar triste e então ela virou as costas para mim e meu pai, indo na direção do quarto e batendo a porta com força. Meu coração ficou pequeno, eu queria muito a aprovação de ambos, pra que esse ódio todo?

- Já sabe o que tem que fazer? – meu pai chamou minha atenção.
- Fazer? Tenho ainda um ano todo pra planejar isso, pai.
- Não – ele deu um beijo em meu nariz – Você precisa avisar seus amigos, especialmente uma pessoa.
- Pai – eu ri – Hoje mesmo eu e ele terminamos tudo, e agora vou falar que estou voltando pra Londres?
- E quem disse que vocês vão namorar de novo? Vocês vão se ver, só isso.
- Vou voltar pior ainda.
- Impossível – meu pai me abraçou – Não desperdice as chances que a vida te dá, e se você tem essa segunda chance de falar que ama alguém, fale! Não fique presa a uma pessoa que te faz mal e que você não fala que ama a anos – ele suspirou. Sabia que estava falando da minha mãe – Aproveite os momentos que a vida lhe fornece.
- Eu vou – apertei mais meu pai – Hey, quer ir comigo pra Londres?
- Não, não dou certo em país frio – ele riu – Agora vai, avisa seus amigos.
- Ok, ok – beijei meu pai no rosto e já fui pegando meu celular no bolso.

Destinatários: , , , , , Tom Fletcher, Danny Jones, Dougie Poynter, Judd the Drummer e :

“Volto pra Londres em dezembro”

ENVIADO!


EPÍLOGO

O vestido era pesado, mas muito pesado. Não sou acostumada a usar esse tipo de roupa, nem ter alguém me maquiando ou arrumando meu cabelo, e muito menos usar salto alto, mas hoje era um dia especial. E eu passei cinco horas do meu dia me arrumando pra formatura, junto com e os meninos, Sam e Lucas. E agora, cá estamos nós na porta do Royal posando para fotos, e eu já gastei minha cota de sorrisos e poses com mão na cintura. Por duas vezes, eu quis fazer uma pose diferente, mas a responsável pelas fotos brigou comigo "só porque você está se formando em um curso de fotografia, não quer dizer que você pode mandar nas minhas fotos". Ótimo!

- Falou com os meninos? – me perguntou, quando posamos mais uma vez e ela pediu um tempo até a próxima foto.
- Só com o – suspirei e passei a mão por meu vestido, dando uma “desamassada” básica – E porque ele está grudado em você desde que voltei pra Londres – sorri.
- E ?
- Você sabe muito bem que ele não quis falar comigo e nem atendeu o celular – suspirei, totalmente desapontada – Tento falar com ele desde o começo do mês e não deu em nada, acho que ele não quer saber de mim.
- sorriu meio triste – Deve ter alguma explicação, ele não ia simplesmente te ignorar assim. É , ele te ama.
- Me amava há um ano atrás, amiga – dei de ombros – As coisas mudaram.
- É, eu sei...

ia continuar o que estava falando, mas fomos interrompidas por uma bela limusine que estacionou em frente ao Royal Albert. Mas era linda demais! Além de ser enorme, era branca e dava pra perceber que era altamente luxuosa. e eu ficamos encantadas, e meu coração começou a bater mais forte, porque, por um momento, eu pensei que os meninos fossem sair de dentro. Vai que era essa uma surpresa? Que estivesse me evitando porque ele ia me surpreender na formatura? Mas, infelizmente, não foi ele que saiu do carro... Embora eu também acabasse amando aquela pessoa que eu vi toda trabalhada no terno e gravata.

McFly! McFly em ternos pretos, gravatas, sapatos e cabelos penteados – e cases das guitarras, devo acrescentar. Os alunos que ainda estavam ali na frente tirando as fotos para o álbum pararam para olhar os meninos e algumas alunas começaram a gritar e querer chegar perto, mas foram impedidas pelos seguranças. Como os quatro caminhavam ao nosso encontro, os seguranças entenderam que nós éramos conhecidas, por isso tivemos passe livre para falar com eles. Junto com os meninos, estavam David e Leishman; oficialmente eu não conseguia mais parar de sorrir e tremer.

Tom foi o primeiro que chegou até nós, pegando-me pela cintura e levantando-me do chão, abraçando-me e rodando como se nós fôssemos velhos amigos, conhecidos e íntimos. Segurei-me em seus ombros e enterrei meu rosto em seu pescoço, segurando o choro por motivos óbvios, mas sentindo o gosto na garganta e tendo que engolir a cada segundo, porque se eu começasse a chorar ali, não ia ficar muito bonito pra nenhum de nós dois. No meio do abraço, ele dizia o quanto estava com saudades, como eu estava mais bonita e dos seus planos de me sequestrar e me guardar no porão da casa dele e não me deixar mais voltar pro Brasil, ou eu só iria voltar quando o McFly voltasse com uma nova turnê. Eu ria e o abraçava mais forte, com ideias rodopiando minha mente e eu quase dizendo “sim” para todas as opções que ele me apresentava. Depois que ele me soltou, foi a vez de falar com os outros meninos, que estavam tão arrumados e lindos como Tom, porém os abraços não foram tão apertados, já que eles ainda riam do agarramento do Fletcher em mim.

Tinha que me lembrar o tempo todo de que eu não podia chorar, a maquiagem iria embora a qualquer hora e eu ainda precisava entrar dentro do salão pra pelo menos oficializar a nossa graduação; mas por mim, eu saía correndo com os meninos para a primeira lanchonete, tirava estes saltos e este vestido, colocava algo mais confortável e nós ficaríamos conversando a noite toda sobre qualquer coisa, porque eu tinha oficialmente 48 horas pra ficar em Londres, e definitivamente não estava nos meus planos perder quase 12 horas dentro de um baile – só se McFly ficasse comigo.

- Meninas... Ah, oi, rapazes.

Eu estava tão empolgada vendo eles ali; eles contando que iam tocar no baile pelo menos cinco músicas, dizendo que conseguiu decorar as principais... Eu nem me lembrei que Olivia era a nossa paraninfa e que, em algum momento, ela ia esbarrar com Danny. E não é que isso aconteceu mesmo? Estávamos ali conversando e Olivia apareceu para nos chamar, quando parou mais ou menos no meio do caminho e viu que falávamos com McFly. Eu fiz cara de assustada, mas eles se comportaram de uma maneira super normal – eles já se viram antes, não é? No casamento do Judd estava todo mundo junto, deve ter sido uma loucura.

- Oi, professora – respondi e depois comecei a rir – Desculpa, força do hábito.
- Sem problemas – ela sorriu – Sinto muito em atrapalhar, mas as meninas precisam entrar porque vamos começar com as apresentações. E, meninos, vocês têm que colocar os instrumentos no palco e ver se está tudo ok.
- Aham, pode deixar – Danny – DANNY JONES – respondeu.
- Meninas, com quem vocês vão entrar?
- Hã?
- Oi?
- Entrar?
- Sim – Olivia arregalou os olhos – O par de vocês, quem vai ser?
- Olivia, eu não tenho par.
- Nem eu – estava com a voz um pouco aguda – Se eu soubesse que precisava de um par, tinha chamado o , mas pra que par?
- Vocês precisam entrar com alguém e depois um par pra dançar a primeira valsa.
- SAM E LUCAS! – eu falei meio histérica – Cadê aquelas duas bichas?
- Eles vão entrar juntos – Olivia riu – E não, não tem como vocês duas entrarem juntas.
- Mas que merda!
- Ei – Tom nos interrompeu – Podemos entrar com vocês, se não tiver problema, Olly.
- Por mim, tudo bem – ela sorriu – Tem algum problema pra vocês, meninas?
- Tom, sério? – fui até ele – De verdade?
- Por que não? – ele me abraçou – Aceita?
- ÓBVIO!
- E comigo? Quem entra comigo?
- – Dougie parou ao lado dela – Aceita minha companhia esta noite, senhorita?
- Awwwwwn! – nós começamos a rir de tão gay e fofa que era aquela cena.
- Aceitado, Poynter – ela começou a rir – Olha, já estou te chamando pelo sobrenome.
- Estamos bem, amiga, estamos bem – eu sorri.
- Perfeito – Olivia parecia aliviada – Danny, Judd, podem me acompanhar, por favor?
- Sim, senhora – eles responderam e eu vi, SIM, Olivia ficar com as bochechas vermelhas.

Danny e Olivia, pra mim, ainda são o casal perfeito, e não tem ninguém nesse mundo que possa me convencer do contrário.


Quando entramos no Royal Albert, eu me senti como uma princesa. Dispensando as descrições do local, que genuinamente era um palácio, eu estava me sentindo como uma princesa pelo fato de estar com um vestido lindo e um príncipe ao meu lado. Minhas pernas estavam um pouco bambas e meu estômago dava algumas voltas, mas Tom estava com seus dedos entrelaçados aos meus e o tempo todo apertava-os um pouco, dando aquela pequena faísca de segurança que eu estava precisando.

O vestido era longo, colado em meu corpo e tomara que (não) caia. Meu cabelo estava solto e apenas com a franja presa em um pequeno topete. Eu o tinha cortado meses antes de ir pra Inglaterra novamente, e agora ele estava batendo em meus ombros e bem mais repicado que o normal, o que me agradava e muito. Em meu ombro esquerdo havia uma tatuagem de uma polaroid de 1990, presa a um cordão de metal preto e branca. Era bem delicada e fora uma das primeiras “rebeliões” que fiz em São Paulo, quase causando um AVC em minha mãe. Eu também prometi aos meus pais que ia me cuidar mais e procurar um terapeuta, coisa que eu fiz depois de quatro meses e ainda estou no tratamento, o que me ajudou muito, em especial, a trabalhar minha confiança e autoestima. Não estou cem por cento, mas agora estou mais consciente de minhas ações e escolhas. Delicadamente em meu pescoço tinha a corrente de bússola que me dera, ela acabou sendo um objeto de proteção para mim, e mesmo ele não atendendo minhas ligações, vi-me na obrigação de usá-la hoje. Ela representava muito mais do que um presente dele, ela sempre me ajudou a achar minha direção certa, e olha que coisa mais irônica... Depois de um ano que saí de Londres, aqui me encontro novamente. O ciclo está fechando.

- Com todo o respeito, você está muito mais bonita agora – Tom disse bem baixinho, enquanto caminhávamos pelo corredor que nos levava até a frente do palco principal do Albert Royal.
- Eu engordei – ri baixo – Uns quatro quilos, pelo menos.
- Está linda.
- Obrigada – suspirei – Agora não tenho mais ninguém pra impressionar, então...
- Sempre tem a si mesma – ele soltou nossas mãos e me abraçou pelo ombro – E você, senhorita, é a garota mais impressionante que eu já conheci.

E dizendo isso, me deu um beijo no rosto e voltou a segurar minhas mãos, dando mais alguns passos e finalmente chegando à frente do palco.

O salão estava repleto de mesas redondas com convidados e familiares. A decoração era dourada e preta, delicadamente forte e até nas menores coisas era possível encontrar algum detalhe. Ao passo que os alunos iam chegando, íamos fazendo um círculo e fechando, esperando ao lado com nossos “pares”. Quando o círculo foi fechado, entregaram-nos uma taça de espumante sem álcool e nós brindamos, jogando as taças cheias pra cima e causando uma chuva de espumante e taças de cristal, que se despedaçaram em frangalhos diamantes pelo chão, fazendo todo mundo rir e ao mesmo tempo se arrepender daquilo. Olhei pra ao meu lado e nós quase juramos que não íamos tirar os sapatos até o final do baile, porque com certeza algum estraçalhado de vidro ia entrar em nossos pés. Ideia genial essa, meu Deus!

- Agora eu preciso ir pro palco, – Tom pegou minha mão e a beijou – Nos vemos daqui a pouco.
- Ok – sorri – Obrigada, por tudo até agora.
- Você merece, sempre mereceu – ele deu um peteleco em meu nariz – E, preste atenção no show, não saia daqui.
- Não vou sair, são vocês!
- Tem uma surpresa – ele piscou e saiu, com Dougie correndo de forma desengonçada atrás dele.
- Ok, confesso – se pendurou em meu pescoço – Se não fosse o amor da minha vida, eu dava em cima do Poynter de boa.
- Sei disso, amiga – gargalhei – Escuta – me virei pra ela – Tom disse que vamos ter uma surpresa durante o show, Dougie te disse alguma coisa?
- Não – ela fez um estalo com os lábios – Devem fazer algum cover, sei lá.
- Deve ser mesmo – sorri – Vamos pra lá, vamos pra lá.

Empurrei pelos ombros até a frente do palco e ali ficamos, sentindo os outros alunos e convidados também se aproximarem. O protocolo era, na verdade, que rolasse uma colação de grau BÁÁÁSICA, que dançássemos a primeira valsa e todo esse frufru que acontece em cerimônias de graduação. Mas McFly tinha que fazer tudo diferente e conseguiram convencer as pessoas responsáveis de que o baile tinha que começar com eles cantando; já tinha que ser de forma animada, se não todo mundo ia ficar entediado e iam querer ir pra casa mais cedo. Os mais velhos não aprovaram, mas sei bem que tem o dedo e braço de Olivia nessa decisão, e cinco minutos antes tudo foi mudado, e McFly foi escalado para começar a tocar assim que todos os alunos entrassem dentro do salão. Talvez essa fosse a surpresa que Tom estivesse falando...

As luzes do Albert Royal se apagaram e todos começaram a gritar. Uma introdução musical de algo que eu não conhecia se iniciou e eu já vi ficar toda empolgada e sorrir bobinha, o que me surpreendeu porque, se estávamos ali pra ver McFly e ela estava assim, eu de verdade estava orgulhosa da minha amiga. Então, as cortinas vermelhas do palco caíram e foram retiradas pelas laterais, e meu coração acelerou e pensei que fosse cair ali mesmo. Sam e Lucas apareceram do nada me agarrando pelos ombros e me sacolejando, gritando coisas sem sentido como "TÁ VENDO? TÁ VENDO? TÁ VENDO?", e é CLARO que eu estava vendo. já estava fora de si, berrando mais do que devia, e eu ainda me encontrava em estado de choque.

No palco, cinco pedestais com microfones e cinco garotos... One Direction estava ali, estava ali! As alunas, mães das alunas e convidadas gritavam mais do que os pulmões aguentavam, e eles sorriam e riam para todas, até que o olhar dos cinco se encontrou com o meu. A minha vontade foi de matar os meninos, então era por isso que nenhum deles queria falar comigo, a não ser por , que acho que só falava por causa da . Eles fizeram caretas e logo depois começaram a falar algo com o “público”, mas não tirava os olhos de mim, sorrindo com os lábios fechados, como se quisesse dizer tantas coisas, mas não podia. E eu sentindo o mesmo.

Um ano tinha se passado, praticamente, desde a última vez que nos vimos, e quase seis meses que não conversávamos. Como que, de repente, todo o sentimento parecia voltar como um soco no estômago? Eu apertei as mãos de e Sam ao meu lado e sorri pra , querendo dizer que eu estava muito feliz de ele estar ali, porque minha viagem pra Londres não estaria completa se eu não o visse. Tenho plena certeza que ele entendeu, porque ele piscou o olho meio maroto e depois disse alguma coisa também para os convidados, junto com os meninos. McFly era a banda que ia tocar com eles, e agora eu entendia a tal surpresa que Tom dissera um pouco antes. Cacei-o com o olhar e, quando o encontrei, ele sorria tanto quanto eu e ... Coisa mais linda! Então, a tal melodia voltou a tocar novamente, mas eu não a conhecia, devia ser alguma música nova ou cover, eu só vi , , , e pegando os microfones dos pedestais e começando a interagir com o McFly e conosco, e logo em seguida, começaram a cantar.

Maybe it's the way she walked
Straight into my heart and stole it
Through the doors and past the guards
Just like she already own it
I said can you give it back to me
She said never in your wildest dreams


- Que música é essa? – perguntei pra , que cantava cada palavra com muita empolgação – !
- É a música nova deles, do filme – ela me respondeu, meio gritando – Sério, em que mundo você viveu esses meses todos?

Dei de ombros pra não ficar ofendida. Eu escolhi me afastar de tudo o que me lembrasse deles, e pelo visto me afastei demais, porque nem de música e nem de filme eu estava sabendo. Filme eu lembrava que eles iam fazer um, porque eu ainda estava com quando os primeiros planos apareceram, mas tinha me esquecido completamente. O quão perdida eu estou?

And we danced all night to the best song ever
We knew every line now I can't remember
How it goes but I know that I won't forget her
Cause we danced all night to the best song ever


- BEST SONG EVEEEEEER! – Sam e Lucas cantaram aos berros perto de mim, gargalhando logo em seguida.
- Se joga, , aproveita a música.
- Eu juro que estou tentando – respondi, sorrindo.

I think it went oh, oh, oh
I think it went yeah, yeah, yeah
I think it goes


Os cinco pularam do palco pro chão, e as outras formandas partiram logo pra cima deles, mas com um pouco de cuidado. Claro que eles adoraram e começaram a rir e abraçar as meninas; enquanto isso eu ainda ficava no meu canto só observando. Até que, um a um, eles vieram até mim, com um sorriso de orelha a orelha. O primeiro foi .

- E você achando que ninguém queria falar com você – ele sorriu e me deu um abraço, segurando firme em minha cintura – Parabéns pela graduação, !
- Se eu não estivesse tão chorona, eu juro que matava os cinco agora – respondi com a voz meio embargada, apertando um pouco mais ele – Ai, como vocês estão lindos.
- Sabemos disso – ele gargalhou – Fica aí, não vai embora.
- Tá bom, tá bom.
- ! – veio cheio de charme e me deu um beijo demorado na bochecha, seguido de um abraço que me fez sair do chão – Parabéns, princesa.
- Obrigada – foi a única coisa que consegui responder, porque logo em seguida veio e depois .

Said her name was Georgia Rose
And her daddy was a dentist


me observava de longe, terminava de tirar umas fotos com algumas meninas e sempre me encarava. Já tinha falado com todos os outros, só faltava ele, e minhas mãos já estavam transpirando e meu corpo inteiro formigando.

Said I had a dirty mouth (I got a dirty mouth)
But she kissed me like she meant it


- ! – passou por e entregou o microfone dele pra ela – Faz minha parte aí, por favor.
- Ok – ela gargalhou e começou a cantar junto com os outros.

caminhou até mim, meio querendo ser charmoso, mas não dava mais porque a essa altura eu já estava sorrindo e qualquer coisa que ele fizesse, pra mim, já era lindo demais. Vê-lo totalmente arrumado de social, e sorrindo daquele jeitinho irresistível me deixava com as pernas bambas. Ele tinha mudado e muito nesse último ano, e com certeza mudado pra melhor. Estava mais alto, a voz um pouco mais grave, os cabelos diferentes, o jeito de andar era diferente. Algumas libras a mais no bolso, mais meninas correndo atrás, porém em algum lugar, ainda existia aquele mesmo do London Eye de muito tempo atrás – pra mim, pelo menos, era muito tempo.

I said can I take you home with me
She said never in your wildest dreams


- – sorri.
- Depois a gente conversa.

Arregalei os olhos, mas ele sorria. Puxou-me pela cintura, do jeito que ele costumava sempre fazer e me beijou! Ali, na frente de todos, sem se importar com absolutamente nada, nem com as fotos que iam aparecer, nem com quem estava ali.

Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço, e dessa vez não precisei ficar na ponta dos pés, já que meus saltos me deixavam em um tamanho razoavelmente alto, apesar de não estar mais sentindo meus dedos. Passei as mãos delicadamente pelos seus cabelos enquanto fazia carinho em meu rosto. O beijo não tinha mudado nada, só tinha um gosto de saudade, de algo que nunca deveríamos ter parado de fazer na nossa vida. Ouvi os meninos gritando coisas ao fundo, e com isso acabei rindo e também riu. Separamos nossas bocas, mas continuamos nos encarando, com ele me dando selinhos demorados com os olhos abertos. Ele passou o polegar desde minha bochecha até meu queixo, depois segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou mais uma vez, mas dessa vez um pouco mais rápido.


And we danced all night to the best song ever
We knew every line now I can't remember
How it goes but I know that I won't forget her
Cause we danced all night to the best song ever


- Parabéns, gênio – ele disse, abraçando-me forte e dando beijos em meu pescoço e ombros – Você merece isso mais que muita gente que está se formando hoje.
- Obrigada – sussurrei – É você mesmo? Digo, não estou sonhando, estou?

Ele gargalhou e voltou a me encarar. Como eu já havia percebido, estava mudado, e não apenas fisicamente falando, mas tinha muita coisa naquele olhar que não era o mesmo. Só agora o olhando de perto eu pude perceber que o meu antigo não estava mais ali, mas talvez a antiga também não existisse mais. Nós optamos por crescer, e isso era estranho.

I think it went oh, oh, oh
I think it went yeah, yeah, yeah
I think it goes


- Em carne, osso, terno e música nova – ele sorriu – E, cara! Você está incrível, linda, muito mais linda do que você era. Você sempre foi maravilhosa, mas... Nossa!
- Para, seu tonto – dei um tapa de leve em seu ombro – Eu, hein, parece que nunca me viu.
- Não é isso, é que... – ele ficou um pouco envergonhado – Você mudou, .
- Sei disso – sorri – E você também, muito.
- Sério?
- U-hum – passei a mão por seus ombros, braços, até chegar em suas mãos e entrelaçar seus dedos com os meus – Não somos os mesmos, somos?
- Eu tinha certeza que, quando te visse, fosse sentir uma coisa inexplicável. Eu estou sentindo, mas eu esperava algo tão mais... Forte? – ele fez careta.
- Não há amor que possa superar uma distância e um tempo tão grande, . E nós nem podemos classificar aquilo que vivemos como amor, foi tão intenso e tão surreal que às vezes me pergunto se aconteceu de verdade.
- Tenho fotos pra comprovar que foi real – ele riu – Mas eu entendo o que você tá querendo dizer – ele suspirou – Um ano atrás era tudo tão dramático, tão absurdo. A ideia de te perder, de não ter você ao meu lado era mortífera.
- Sim – sorri e fiz carinho em seu rosto – Mas sobrevivemos, não é?


You know, I know
You know I'll remember you
And I know, you know
I know you'll remember me
And you know, I know
You know I'll remember you
And I know, you know
I hope you'll remember how we danced
(Yeah yeah yeah) How we danced


- Eu ainda te amo – disse.
- Também te amo, mas não do mesmo jeito – mordi os lábios e ele gargalhou – E eu sei que você sente o mesmo.
- Coisa estranha, né?
- Ah, não é tudo igual nos filmes, que o mocinho e a mocinha ficam sem se ver por anos e quando se reencontram é aquela paixão ardente como se nunca tivessem se separado. Isso aqui é mais vida real, ou “pegadinha” da vida real.
- Quer dizer que não existe amor como em “Um Amor pra Recordar”?
- Nicholas Sparks acabou com qualquer tipo de amor que exista nesse mundo! Eita autor chato pra caralho, muito mimimi pra pouco personagem – rolei os olhos e gargalhou.
- Escuta – ele se aproximou de mim novamente, fazendo carinho em meu rosto e mordendo os lábios de leve – A gente pode não ser o que éramos há um ano atrás, mas você continua sendo a garota mais especial, mais incrível, mais gênio que eu já conheci.
- Verdade? – perguntei infantilmente.
- Sempre vai ser – ele suspirou e me deu um selinho novamente.

And we danced all night to the best song ever
We knew every line now I can't remember
How it goes but I know that I won't forget her
Cause we danced all night to the best song ever


Todos os dias em que passei ao lado de , ao lado dos meninos e em Londres passaram como um flash bem diante dos meus olhos. E, apesar de tudo, nunca imaginei que nosso reencontro fosse ser tão normal e tão pé no chão. Algo em mim já tinha superado , porque nós dois somos de mundos totalmente diferentes e seria impossível continuar esse conto de fadas, então decidi por mim mesma colocar uma pedra em cima desse assunto. E me dava mais alívio em saber que ele sentia o mesmo, e que não havia resquícios de mágoa nem nada. Apenas dois adolescentes que cresceram, seguiram com a vida e viram que, às vezes, esquecer um amor e se concentrar nas coisas importantes faz muita diferença, e não mata ninguém.


- Eu jurava que vocês estivessem me ignorando – eu ri – Mandei mensagem pra todos e não tive resposta, liguei e ninguém me atendeu. Tem noção do tamanho do meu desespero?
- Tem noção do nosso desespero? – disse, engasgando-se um pouco com a bebida – Nós não podíamos falar nada, e sabe muito bem que todo mundo aqui tem a tendência a ser um pouco fofoqueiro, especialmente o .
- Eeeei! Ela só conversou comigo e, adivinhem só? Não falei nada, consegui me segurar.
- Porque a te matava se você soltasse alguma coisa – disse e fez um high five com .
- A guarda segredos como ninguém – foi até ela e deu um selinho rápido.

Foi nessa hora que eu percebi que todos estavam um pouco mais bêbados do que deveriam.

- VOCÊ DEU UM SELINHO NA MINHA GAROTA!
- AHHHHHHHHHHHHH! – nós começamos a gargalhar.

Nós sete estávamos sentados em uma das mesas do salão, mas achou melhor eu ficar sentada no colo dele (“pra matar a saudade”, nas palavras dele). Era como se o tempo tivesse parado e agora eu tinha voltado para aquele mundo particular que eu costumava ir há um ano atrás, onde só existia eu, , e os meninos. Deve ser um pouco da bebida que eu estou tomando que me deixa com essa sensação de estar vendo tudo meio nebuloso como se fosse um sonho...

- brincou, ajoelhando-se na frente dele – A mais de um ano eu estou me segurando pra te falar isso, mas acho que chegou a hora, porque não sei quando vamos nos ver de novo, já que vamos começar uma turnê mundial ano que vem e...
- Fala logo, ! – ela estava empolgada.
- Estou te devendo um beijo – ele falou, estalando os lábios e com uma certa dificuldade em terminar a sentença – Desde que seu homem pegou a Lorelai, estou com isso entalado, e o melhor jeito de me vingar, é dando uns pegas na namorada dele.
- DE JEITO NENHUM! – se levantou da cadeira, mas e o seguraram pelos braços.
- Eu sempre pensei que você quisesse pegar a comentou meio rindo.
- Eu queria, mas depois do que aconteceu, pegar a virou questão de honra.
- Whoooo, essa eu quero ver! – comecei a bater palmas no estilo “foquinha”, me ajudando, e quase espumando de raiva.

se levantou, arrumou o vestido e foi até , levantando-o pelo queixo – já que ele ainda estava ajoelhado – e rindo de forma sexy, porque ela sempre ficava um pouco mais sexy quando bebia além da conta. estava aos berros, depois eu acho que estava aos prantos, mas nós só sabíamos dar risada. Eu via de vez em quando pegar a Lary – que por sinal, não estava presente, já que os dois terminaram e ela aceitou o trabalho em Cardiff, no País de Gales – mas seria a primeira vez que eu ia ver dar uns belos de uns pegas na minha amiga, e na frente do . E assim foi!

puxou pela cintura e a tombou, no maior estilo “beijo cinematográfico”. Ela, pra dar um drama porque ela ama um drama, levantou uma perna e se segurou no pescoço dele, e os dois estavam se beijando de verdade. Mas beijando MESMO! Eu abri minha boca e não consegui mais fechá-la, assim como os meninos também não conseguiram, e ficamos ali esperando aquele momento “mwack mwack” terminar pra podermos fazer algum tipo de comentário. Mas a cena dispensava qualquer um. estava sentado com os braços cruzados, as bochechas roxas – nem vermelhas mais estavam – e ele bufava, e com muita raiva. Depois de alguns – bons! – minutos, soltou , passando a língua por cima dos lábios vermelhos, e ela copiando o mesmo. Ficamos ainda atônitos com a cena, mas começou a gargalhar como um louco e nós tivemos que rir da risada dele. parecia cem por cento satisfeita, e cem por cento vingado! E ... Bom, ele era um caso à parte.

- Alguém faz isso parar? Sério, dói demais – colocava a mão no peito do lado DIREITO, querendo dizer que o coração estava doendo. Estamos bem.
- Dói, né? Agora pensa se eu durmo com ele, que coisa mais linda?
- PARA, CARAMBA!
- Um ano, e nada mudou – eu ri, e os dois ainda estavam se matando – Escuta, não quero atrapalhar o momento ternurinha do casal, mas eu só tenho mais algumas horas em Londres e não estou a fim de passar aqui dentro.
- Quantas horas? – me cutucou na cintura.
- Hm, considerando que no meu último dia eu vou tomar chá de cadeira no aeroporto, podemos falar... Vinte e quatro horas.
- CARAMBA! – ele gritou e os meninos também – O que estamos fazendo aqui dentro, mesmo?
- , já pegou seu diploma e essas coisas? – perguntou, pegando seu casaco e já o colocando – Tá tudo certo?
- Está sim, por quê?
- Vamos, vamos, vamos! – ele me estendeu a mão e eu levantei do colo de , ele fazendo o mesmo depois – Londres está linda pro natal, e você não pode perder suas horas aqui.
- Mas pra onde vamos? – eu ria, vendo os meninos se arrumarem. e ainda discutiam, mas eu sabia que dali a pouco iriam estar se pegando pelos cantos.
- London Eye – falou e me olhou de forma carinhosa – Tudo tem que terminar onde um dia começou, estou certo?
- Terminar? – riu – Terminar o que, sendo que a noite está apenas começando?
- – eu ri, veio até mim e me deu a mão.
- O que posso fazer com você em vinte e quatro horas? – ele sussurrou em meu ouvido, dando-me um beijo na clavícula em seguida.
- Alguma coisa escondida, já que não queremos chamar a atenção – eu respondi.
- BORA, GALERA! – guardou o celular no bolso da calça – Nosso amigo já está nos esperando do lado de fora.
- Amigo?
- VEM LOGO!

Saímos correndo pelo salão até a porta da saída, e vimos uma van preta estacionada na frente. Olhei com cara de espanto pra , porque eu podia jurar que aquela era exatamente a mesma van do nosso primeiro encontro. Ele dava gargalhadas, porque eu sei, estava pensando o mesmo. Chegamos mais perto e deu dois tapas na porta, pedindo pra abri-la, e adivinha quem aparece ali dentro? SIM, O PAUL! E adivinha quem estava dirigindo a van? Aham: JEFF, meu parceiro favorito em Londres.

- SUBAM, CRIANÇAS! – Paul riu, dando passagem para nós e ajudando tanto a mim quanto à com os nossos vestidos longos.
- EEEEEEI, ESPEREM! – espiei pela janela, e lá vinham Tom, Dougie, Danny e Judd, correndo e colocando os ternos.
- Eles vão também? – agarrei o braço de – Sério mesmo?
- Quer jeito melhor de passar sua noite em Londres do que com seus amigos e o eterno amor da sua vida? – ele sorriu e me deu um beijo rápido – Vamos fazer valer a pena, pra você.
- Atrasados? – Danny entrou por último, quase caindo em cima do colo de e .
- Ainda não – ela riu – E então, nosso destino?
- LONDON EYE! – nós gritamos e Jeff gargalhou, dando partida no carro.
- Só pra esclarecer uma coisa, eu vi o e a se pegando? – Tom virou pra nós com uma cara de dúvida, e nós começamos a rir de novo sobre o mesmo assunto.
- Não quero falar sobre isso, cara – jogou a cabeça entre os joelhos, e foi mais motivo de piada ainda.
- Ahhh, tá bom! – Tom riu.

Nós nos acomodamos em nossos lugares e começamos a rir de alguma coisa idiota que algum deles tinha comentado, eu realmente acho que foi o Dougie, porque ele era o mais bêbado de todos nós. A essa altura, eu estava com minha cabeça encostada no ombro de , já tinha se acertado com e o clima estava calmo, perfeito. se mexeu um pouco, tirando o celular de dentro do bolso da calça e apontando pra mim, já com aquela cara de travesso que eu tanto conhecia.
- Que foi? – perguntei.
- Quero registrar esse momento, posso?
- Se eu responder que não pode, você vai tirar uma foto de qualquer jeito – deslizei meu dedo pelo celular e vi ali em imagens as nossas primeiras fotos – Pelo amor de Deus, melhoramos MUITO em um ano – gargalhei.
- Você ainda continua a mesma.
- Não continuo mesmo – sorri e me acomodei mais nele.
- Mas então, posso?
- Pode, !

Ele riu e virou a câmera para nós dois. Eu estava um pouco bêbada, então coloquei a língua pra fora igual uma retardada e ele simplesmente... Sorriu. Mas, espera? A gente já não tem uma foto assim?

Me aninhei meio sem jeito ao corpo de sentindo seu braço me aconchegar mais ainda. Encostei minha cabeça no seu ombro e coloquei a língua pra fora, enquanto ele encostava a cabeça na minha e eu presumi que sorria. Ele bateu a foto e logo em seguida virou a câmera pra ver como tinha ficado; como era de se esperar, ele ficou lindo e eu mega esquisita.

- Não sabe tirar foto igual pessoa normal, não? – ele perguntou rindo, desligando a câmera e a colocando em cima de uma mesinha de centro.
- Não gosto de fotos! – falei de novo, arrancando mais uma risada dele – Mas essa ficou mais ou menos espontânea.
- Gostei – ele disse.
- Cara, é só você sorrir que você já fica lindo! Não te irrita isso, não? – falei um pouco na demência. Realmente, é só ele sorrir e já fica gato, se eu começo a sorrir pareço o Chandler de Friends.
- Você, quando sorri, fica linda – ele me disse, passando as mãos nos cabelos.


virou o celular pra si mesmo e começou a rir quando viu o resultado da foto.

- Depois de todo esse tempo, ainda não aprendeu a tirar foto igual uma pessoa normal, não?
- Não gosto de fotos – respondi exatamente a mesma coisa – Até hoje, não gosto de fotos.
- Eu gostei dessa.
- Você sempre gosta – rolei os olhos e ele riu.
- Posso publicar?
- Pra que, ?
- Porque sim – ele beijou minha testa e eu o vi entrando no instagram.

“Ela está de volta... Pra sempre, minha garota especial”

- O que eu faço com esse “pra sempre”?
- A gente vive enquanto ele durar – ele suspirou e encostou a cabeça na minha.
- E quando ele terminar?
- Fecha os olhos e lembra dos momentos bons, .
- Se eu fechar os olhos agora eu vou dormir – eu ri, sentindo-me bem sonolenta por causa das bebidas.
- Dorme – ele fez carinho em meus cabelos – Prometo que, quando você acordar, eu ainda vou estar aqui. Eu sempre vou estar aqui pra você.
Fechei meus olhos, ouvindo as risadas e piadinhas ao meu redor, mas com a certeza de que ainda estaria ao meu lado quando eu acordasse. Talvez não da maneira como ele estava antes, talvez não com os mesmos sentimentos, mesmos pensamentos, mesmo amor. Mas a única certeza que eu tinha era de que ele não ia me deixar. Não importa tempo, distância... sempre estaria em algum lugar pra mim, assim como eu sempre estaria também, em algum lugar, por ele.


FIM






Agradecimentos:

Quando eu comecei a escrever a fanfic, muita gente acabou se envolvendo no desenvolvimento dos capítulos, da história, dos personagens e outros detalhes. Mas, muitas destas pessoas, infelizmente, não ficaram com a 500 days in London até o final. Então, acho justo e agradecer aquelas que, estão comigo até o “FIM”, porque essas viram todo o processo, e talvez de longe, torceram por essa fanfic. Duas pessoas são as responsáveis por essa fanfic ser o que é hoje: Isadora e Brille (a primeira beta). A Isa leu os dois primeiros capítulos em 06 de fevereiro de 2012 e o primeiro comentário dela foi “essa fanfic está bem One Direction”, e isso foi o suficiente pra eu publicá-la. Brille estava saindo de um site e indo para FFOBs, quando me mandou um e-mail perguntando se eu queria publicar essa fanfic no Obsession. A princípio eu não quis, porque sei do peso do site e morri de medo, mas acabei aceitando e, confesso que foi uma das melhores decisões que já tomei. Então, Isadora, minha GRANDE melhor amiga, aquela que deu toda a personalidade pra “melhor amiga de Bolton”, que viu cada capítulo, que acompanhou os meus momentos de escrita, as coisas que eu passei em vida real, que nunca me deu as costas e que, depois de cinco anos, ainda me aguenta, mesmo sabendo o quão chata, irritante e mala eu sou: essa fanfic é SUA. É meu presente pra você, pra mostrar o quanto te amo e o quanto você é importante pra mim, assim como essa pessoa de Bolton foi e é importante pra fotógrafa. Para a Brille eu deixo meu abraço apertado e minhas sinceras desculpas, porque você acabou gostando de One Direction por causa da fanfic (hihi), e de todas as dores de cabeça que as leitoras já te deram. Apesar disso, obrigada por cuidar com TANTO carinho da 500 days in London, por ser uma beta maravilhosa, tão paciente comigo e com as leitoras, e por me trazer ao site. O mérito de muita coisa também é todo seu.

E, não posso deixar de agradecer a Equipe FFObs, especialmente Camila Sodré (finalmente se rendeu ao lado negro da força e virou “directioner” HAHA), Gabee (que, porran! Você é fenomenal, eu sempre tive medo de falar com você, mas pagava pau HAHA, e você é uma linda), e a Abby: responsável por terminar a fanfic, por me levar ao lado The Wanted da vida, e, nossa! Abby, você também é maravilhosa (cof cof), aguentou leitora irritante, mal educada, alguns desesperos de minha parte quando eu quis desistir da fanfic, um abraço de URSO pra você. FFObs: nesse site, a 500 days in London foi fanfic do mês de junho/2012 e fanfic DO ANO, e eu fui autora do mês em junho também. ISSO eu não vou esquecer. Obrigada pelo espaço, pelas indicações, e já nem tenho mais palavras aqui. MWAACK!

Considerações finais

Leitoras de 500 days in London, como agradecer vocês por tudo? Eu conheci meninas histéricas, mal educadas, ameaçadoras, doidas, lindas, compreensivas, nojentas, idiotas, amadas, maravilhosas... Acima de tudo: apaixonadas. Para aquelas que tinham o prazer de ir até meu twitter falar que minha fanfic “é uma bosta”, fiquem tranquilas porque ela finalmente chegou AO FIM. Para aquelas que cobravam atualização, também podem ficar tranquilas, porque a fanfic acabou. Mas para as meninas que vinham falar como que se identificavam com a história, com a principal, como que aprenderam com tudo, pra VOCÊS eu quero agradecer com todo o amor e carinho que vocês merecem, porque era pensando em cada uma que eu abria o word e iniciava um capítulo novo. Confesso que alguns tweets eu até imprimi e guardei na agenda, de tão lindos que eles eram; outros eu colei no meu mural, uma lembrancinha todo dia de que eu devia continuar escrevendo, não apenas essa fanfic, mas outras coisas. Vocês fizeram a diferença em minha vida, na fanfic, e em como eu julgava o fandom “directioner”. De verdade, conheci meninas maravilhosas que, por mim, levo pra sempre! Então, mais uma vez, obrigada por lerem, por darem essa oportunidade a uma história que começou meio ‘do nada’, e acima de tudo, obrigada pela consideração comigo, porque quando eu mais precisei, quando estava querendo desistir, muitas vieram até mim e me ajudaram. Leitoras, eu AMO vocês!

Por todas as homenagens, fotos, vídeos e recadinhos que vocês me deixavam – e espero ainda receber, por favor HAHA – meu eterno OBRIGADA!

E aos cinco fofinhos da 1D: obrigada pela inspiração, vídeos, gifs, clipes, e por tudo. Especialmente ao cupcake, porque ele é a pessoa mais maravilhosa, linda, educada a a personificação de um PRÍNCIPE que já vi. Styles, você foi a alma romântica por trás da 500 days in London. E, McFly, ÓBVIO! Mas, claro, TOM FLETCHER, por ser tão nerd e tão “eu do lado avesso”, que me ajudou a fazer tantas cenas importantes nessa fanfic e também a construir a personagem principal.

E assim termino as considerações finais, tendo plena certeza que deixei muita gente pra trás, muita coisa pra trás, mas agora eu nem estou conseguindo pensar direito. Na verdade, estou aqui batucando, não sei se acabo isso com The End do McFly ou The End do Pearl Jam. As duas bandas são tão importantes pra mim... Acho que vou terminar com as duas. AMO VOCÊS, e muito obrigada por esse UM ANO E MEIO de 500 days in London.

The End – McFly

“The end is where you hope you never say "I could have done it better" / And I'm gonna keep what counts and throw away what doesn't really matter and I wanna die on the highest height / It's not over ´till it's over… I wanna stay here forever”


The End – Pearl Jam

“Before I disappear, whisper in my ear / Give me something to echo in my unknown futures ear. My dear, the end comes near, I’m here… But not much longer”

Twitter: NÃO HÁ NENHUM TWITTER DA AUTORA. QUALQUER USER DIVULGADO SEM PASSAR PELO GRUPO É FALSO. FALSIDADE IDEOLÓGICA E DIFAMAÇÃO SÃO CRIMES.
Grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/318430238291772/


N/Abby: A beta pode ter um espacinho aqui? hehe
Gi, MUITO OBRIGADA por ter vindo falar comigo, pra que eu fosse a sua beta. Além de uma fic fofíssima e que adorei acompanhar (veja bem, agora é 5h58 e não consegui largar os últimos capítulos desde as 3h), acabei conhecendo uma gracinha de pessoa que você é! Parabéns pelo fim da fic, e que venham outras mais pra frente! Foi uma honra :D
Enfim, NÃO SOU A AUTORA DA FIC, mas em caso de erros, falem comigo pelo @AbbyCJ ou por email. xxo Abby
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