O Banco da Pracinha
Escrito por Bia Cullen ~ Betado por Tah :)
A campainha. De novo. Caramba, ele não me deixa em paz, por que ele não consegue entender a palavra ACABOU? Por acaso ele tem algum problema mental e eu não to sabendo?
É, eu não devo estar sabendo.
Mais uma vez, veio até a minha casa. Nós havíamos terminado havia dois dias, e ele não parava de me ligar desde então.
Porque terminamos? Ah, simples, eu não agüento mais olhar pra cara daquele filha da puta de carteirinha. Ele chega pra mim, fala que me ama, me beija, e depois fala que precisa ir. E quando eu pergunto o porquê, ele fala que tem que estudar, tem que ajudar a mãe, tem que aparar a grama, tem que rodar a bolsinha na beira da estrada pra ganhar dinheiro. Já foram tantas desculpas! Eu simplesmente já não sei mais no que acreditar.
Daí, quando eu falo que a gente precisa conversar, ele volta a me beijar e falar coisas fofinhas para mim. E quando eu começo a ficar feliz com ele, ele diz que tem que ir. Daí eu fico com raiva e falo que a gente tem que terminar. E adivinha o que ele faz?
Ele me beija de novo.
Só que nessa terceira vez, eu já estou cansada. O afasto e falo que não dá mais. Vou para minha casa. Só no caminho, recebo duzentas ligações. Nem preciso dizer que quando chego em casa, minha mãe vem e fala que ligou umas trocentas vezes, querendo falar comigo.
Eu simplesmente falo que nós terminamos e subo as escadas, indo para meu refúgio. Minha ilha da paz. Meu cantinho feliz.
Deito na cama, coloco os fones de ouvido e ligo o iPod. Daí, assim como das últimas duas vezes que nós terminamos, eu coloco “Can’t Have You” pra tocar. Deixo a voz do Joe e Nick invadirem meus ouvidos sem dó, varrendo dos meus pensamentos, mas nem mesmo os acordes de Kevin me impedem de chorar.
Essa música, assim como mais umas sete ou oito dos Jonas Brothers, me ajudam quando eu estou naquela fossa. Acho que nem mesmo uma conversa com minha best, a , me faria sentir tão leve e menos angustiada quanto a voz desses deuses gregos.
E cá estamos, a campainha tocando como se fosse assombrada, conseguindo (infelizmente) superar o som alto dos meus boys.
- , desce aqui! O quer falar contigo! – Não, sério, mãe?! Tem certeza que ele não veio aqui só pra pular do segundo andar?
Na verdade, acho que eu vou acabar pulando do segundo andar.
Se bem que essa não é uma má idéia! Afinal, ao invés de eu pular diretamente para o térreo, porque não descer pela árvore ao lado do meu quarto?
, às vezes, você é um gênio!
Como estava um tanto frio, peguei um casaco enorme no meu armário, todo cinza com uma dessas frases legais na frente. Era um casaco do meu irmão mais velho, que havia viajado para a Denver ano passado para fazer a faculdade. Só eu e meus pais continuamos aqui, em Los Angeles.
Desliguei o iPod e coloquei-o no bolso do casaco, depois peguei o dinheiro que estava na minha carteira e fui até a janela do meu quarto.
Antes de sair, voltei e escrevi rapidamente em um bloco de notas “Fui dar uma volta. Manda o voltar pra barriga da mãe, que é o lugar onde ele deveria estar. Te amo, mãe” e deixei o papel em cima da cama. Agora que estava com a consciência limpa, voltei para a janela.
Pela posição do sol, deveriam ser umas 16h, ainda. Agradeci por estar cedo e preocupei-me em alcançar a árvore. Ela estava a pelo menos um metro da minha janela, então apenas dei um salto até o galho mais próximo.
O galho balançou um pouco, mas não rachou, nem nada parecido. Fui então em direção ao tronco, descendo cuidadosamente. Ainda conseguia ouvir minha mãe gritando meu nome.
Quando cheguei até o chão, dei uma verificada em mim mesma para ver se ainda estava inteira. Minha calça jeans estava um pouco suja, mas pelo menos o casaco do meu irmão parecia intacto. Nem verifiquei o cabelo, sabendo que ele deveria estar um tanto desgrenhado como sempre.
Enfiei a mão no bolso, pegando meu iPod e colocando apenas um dos fones. Para a ocasião, estilo missão impossível, escolhi “Tonight”. Apesar de não ter muito a ver, a letra fazia sentido nesse momento e era animada. Acho que isso não me faria chorar por pelo menos cinco minutos.
Caminhei sorrateiramente até a cerca, que dava para a calçada. Em frente à minha casa, o carro de estava estacionado com as janelas abertas. Ah, quem dera eu tivesse algo molhado para jogar naqueles preciosos bancos do babaca!
A dois quarteirões da minha casa, havia um parque onde as crianças iam brincar toda tarde. Como eu sempre achei aquilo relaxante, coloquei o meu outro fone e fui até o parquinho.
A caminhada realmente foi relaxante, pude sentir o meu rosto desinchar. Que bom, eu odeio ficar com a cara inchada depois de chorar!
Na verdade, não era apenas um parquinho. Eram dois, um ao lado do outro, e entre os eles havia bancos para as babás e mães. Os bancos eram de madeira, sem encosto e bem simples, e algumas mães já se acomodavam e começavam a conversar sobre a vida e a morte da bezerra.
Havia apenas duas crianças brincando em um dos parquinhos, o outro estava vazio. Sentei-me então de frente para o parquinho vazio, apoiando meus cotovelos nos joelhos e olhando para o nada, apenas ouvindo música.
Imagens de ameaçavam invadir minha mente, e tentei expulsá-las com todas as minhas forças.
E então aquela vozinha chata que todos temos começou a tagarelar:
“Você vai ter que enfrentá-lo mais cedo ou mais tarde. E mais tarde pode ser pior, porque você pode descobrir coisas indesejáveis”. “Ah, cale a boca” Mandei.
“Você sabe que não quer que eu cale a boca. Você quer ouvir o que tenho a dizer.” Porque não podemos fugir de nossas próprias mentes?
- Eu mandei calar a boca!
Alguma coisa ao meu lado se mexeu. Quando me dei conta, havia alguém sentado ao meu lado, vestido com algumas roupas largas, chapéu e óculos escuros. Claro que só percebi isso tudo com o canto dos olhos. Depois dessa ordem em voz alta, a pessoa deveria pensar que eu era louca.
- Sabe, acho que ainda não inventaram o iPod que desliga com comando de voz. – Consegui ouvir a pessoa, mesmo com a música dos Jonas nos meus ouvidos. – Caso não tenha sido o iPod, fique sabendo que eu estou quieto.
- Essa foi boa. – Eu falei baixinho, suspirando enquanto tirava um dos fones. Quieto? Então era um homem ao meu lado. – Desculpe, estava pensando alto. Talvez alto demais.
- Entendo. Eu faço isso várias vezes. – Falou o rapaz. Continuei sem vê-lo, mas tinha a impressão que ele não era tão mais velho que eu. – Acredite, mais vezes do que eu gostaria.
Dei uma risada fraca. Nós continuávamos sentados naquela posição, ele olhando para o parquinho atrás de mim e eu olhando para o nada. Ele não parecia se incomodar com o silêncio, e eu estava sinceramente pouco me lixando. Graças a esse garoto, não estava mais pensando em .
- Você está com alguém? – Ele perguntou. Eu lutei com o instinto de olhar para ele e perguntar “VOCÊ TÁ ME PAQUERANDO?”, mas então me toquei que ele não falava nesse sentido. Óbvio.
- Não, só estou aqui para pensar um pouco. Eu venho a este parque desde pequena, é um lugar que me relaxa. – Falei calmamente. Percebi que ele me olhou de soslaio, mas continuei olhando para frente, como se nem estivesse percebendo. – E você?
- Estou com meu irmão. – Falou o garoto misterioso. Estou com a impressão de conhecer essa voz... Eu já o vi antes? Não, ele provavelmente já teria me cumprimentado antes se eu o conhecesse.
- Legal. – Eu falei sinceramente. Sempre quis ter um irmãozinho para cuidar e criar como o homem perfeito, mas, infelizmente, minha mãe só teve a mim e a meu irmão mais velho. Não que eu reclame do meu big brother, ele é, na verdade, o melhor irmão que eu poderia ter.
- E você, tem irmãos? – O garoto perguntou depois de um tempo.
- Tenho um, mas ele não mora mais aqui. – Suspirei mais uma vez. – Foi para a Denver estudar direito.
- Legal. – Ele falou, imitando o meu tom. Eu dei uma risada.
- Isso era pra me imitar? – eu perguntei. Foi então que percebi, até agora não havíamos nos olhado. Mas acho que é melhor assim, apenas a voz de duas pessoas misteriosas. Ou pessoa misteriosa, já que ele olhou discretamente para mim.
- Não, nunca. – Ele falou sarcástico. Não sei porque, mas sentia-me bem perto daquele rapaz. Ele era legal, ao contrário de certas pessoas indesejáveis e retardadas.
Passamos mais um tempo em silêncio. Percebi então que ele se levantou.
- Tenho que ir, já está tarde. Até algum dia, garota do banco. – Ouvi a voz dele atrás de mim. Ri um pouquinho, por causa do apelido.
- Até algum dia, garoto do banco. Foi bom conversar com você. - Falei, sem me virar para ele.
Recoloquei o fone pendurado e fiquei olhando para o parquinho à minha frente, agora com cinco crianças brincando na gangorra. Ouvi a voz do garoto, provavelmente chamando seu irmãozinho para ir para casa. Depois de alguns segundos, alguém retira meu fone. Eu já sabia quem era.
- E só pra você saber, eu adoro a música que você está ouvindo. – Ele estendeu a mão com o fone. Eu peguei o pequeno objeto branco e assenti com a cabeça. O garoto retirou a mão.
Quando virei para ver o tal garoto, ele estava de costas e saindo, seu irmãozinho saltitando ao seu lado. Ele não era alto nem baixo, vestia um suéter azul marinho que deixava seus braços um tanto musculosos à mostra. O chapéu deixava apenas alguns chumaços de cabelo aparecer, sem conseguir distinguir sua forma exata. Só sabia que era castanho escuro.
E então recoloquei o fone. A música da qual ele falava era... Hello, Beautiful? Nossa, só os fãs dos Jonas conhecem músicas como essa! Será que o tal garoto é um fã?
Continuei ali sentada durante um tempinho, e quando me dei conta, já eram 18h. Minha mãe deveria estar louca atrás de mim! Imagina se ela liga pra polícia?
Levantei do banquinho e saí correndo em direção à minha casa. Infelizmente, como as coisas boas acabam rápido, meus pensamentos logo se voltaram para o problema indesejável. Parecia que eu havia tomado alguma droga e ficado feliz, mas agora estava voltando a me sentir um lixo.
Eu ainda amo ? Não, não o amo mais. Mas sinto um vazio, uma sensação estranha no estômago... Acho que estou carente, ou precisando descansar, ou quem sabe comer um pouco. Por causa da conversa com o garoto do banco, nem tive tempo de comprar algum lanche para mim.
Chegando em casa, o carro de não estava mais estacionado perto da calçada. Ainda bem que ele já foi, eu não estava com paciência para ficar dizendo não a ele. Hoje é o dia do nosso término definitivo, eu não voltarei com aquele babaca.
Desliguei meu iPod e pulei a cerca em volta da casa, correndo pelo gramado até chegar aos primeiros degraus. Bati duas vezes na porta. Eu ia bater três vezes, mas, na segunda, alguém já abria a porta. Era meu pai.
- ! – Ele me abraçou – Estávamos tão preocupados! Para onde você foi, menina?
- ! – Minha mãe veio até mim e me abraçou forte. – Filha, por que você fez isso? Está enlouquecendo de vez?
- Mãe, eu deixei um bilhete no meu quarto, em cima da cama. Vocês não viram? – perguntei, estranhando. Quando teimo em não responder minha mãe, ela vai até meu quarto me encher o saco. Porque desta vez seria diferente?
- pediu para ir até lá, ver se você estava bem, e eu o deixei ir. – Minha mãe falou, toda inocente. – Ele me pareceu bem sincero, então ele foi até lá. Depois de um tempo ele voltou, falando que você estava bem, só não queria ser perturbada por algum tempo.
Isso sim foi estranho. Por que ele mentiria para minha mãe sobre eu estar aqui?
- Daí, há alguns minutos, eu fui te chamar para comer, mas você não respondia. E quando eu fui no seu quarto, não tinha ninguém. Fiquei desesperada e chamei seu pai. Ele veio para cá e estamos esperando você voltar. Se demorasse mais alguns minutos, chamaríamos a polícia.
- Mãe, eu deixei um bilhete, avisando que eu saí para dar uma volta. Eu, realmente, não quer ver aquele filho da... digo, o . – Minha mãe me olhou feio quando comecei o palavrão, então tratei de corrigir.
- Só não faça mais isso, coração. – Falou meu pai, dando um beijo na minha cabeça. Eu concordei e fui até a cozinha, pegar alguma coisa para comer.
Quando voltei para meu quarto (com um saco gigante de Doritos embaixo do braço), sentei na cama e liguei a pequena TV. Fiquei comendo e assistindo a qualquer coisa durante um bom tempo e, quando me dei conta, já eram onze horas e meus olhos estavam um pouco pesados.
Apesar de estarmos de férias, eu costumo dormir lá pela meia noite, onze horas, já que de manhã eu saía para qualquer lugar e fazia qualquer coisa. Nunca nesses dias tive problemas para dormir, nem mesmo quando eu terminei com das últimas duas vezes.
Mas, esta noite, estava difícil dormir. O garoto do banco simplesmente não saía da minha cabeça, com aquela voz suave e baixa. Eu tinha certeza de já ter ouvido aquela voz, mas onde? Será que eu conhecia aquele garoto?
Olhei as horas, já passava das duas, e tudo por causa do garoto do banco. Comecei, então, a pensar em nada, meu truque para conseguir dormir rapidinho. Como sempre, funcionou.
No dia seguinte, lembrei-me de ligar para e contar sobre ontem. Quando liguei, o celular, pela primeira vez desde que terminei com , havia dez mensagens na caixa de entrada, sem falar nas trocentas ligações perdidas.
Duas mensagens eram de perguntando se eu estava bem. Aparentemente, alguém havia lhe contado sobre as maravilhosas novidades. Liguei, então, para minha amiga, que atendeu no segundo toque.
- Pode começar a contar. – Ela já atendeu assim.
- Qualé, nem um “oi”, ou “bom dia” ou “você está bem?”?
- Você só está tentando desviar da pergunta. Agora conta logo.
Gentil essa minha amiga, não? Enfim, contei para ela tudo, e ela me apoiou totalmente.
- Há tempos eu venho lhe dizendo para terminar com ele, que ele era um idiota completo...
- Que tempos são esses? Você nunca falou isso, . – Falei, zoando com a cara dela. Ela odeia quando eu a tiro desse jeito. – você até apoiava meu namoro, lembra?
- Oh, shut up. Então, vai fazer alguma coisa hoje?
- Além de evitar todas as ligações daquele inferno em pessoa? Vou ficar um pouco em casa, não me sinto cem por cento, ainda.
- Quer que eu vá aí? Tá precisando de um pedaço de roupa? – Esse era nosso pequeno código para “Está precisando de um ombro para chorar?”
- Você sabe que eu ODEIO chorar, principalmente na frente dos outros. Mas relaxa, acho que ontem já chorei o suficiente. Valeu mesmo assim.
- Você é quem sabe. Eu posso levar Orgulho e Preconceito pra gente assistir...
- Nossa, como ‘cê tá caridosa hoje, hein? – Eu dei uma gargalhada. – você odeia esse filme!
- Mas hoje você tá sensível, pô. Eu faço esse sacrifício. – Eu ri de novo. Às vezes, ela era a best que eu sempre pedi.
- Relaxa, . Já estou melhor agora. A gente se vê, beleza?
- Então tá, se você diz que está bem... – Eu sabia que ela estava dando de ombros. – Falou. Beijos, beijos.
- Beijos e queijos. Falou. – Desliguei o telefone. Eu queria ter contado do garoto do banco, mas acho que não é nada importante. Só um garoto num banco.
Fui até o computador no quarto dos meus pais e liguei-o, querendo verificar meu facebook. Mas quando entrei no meu usuário...
- AH! – Gritei o mais alto que meus pulmões permitiam. No plano de fundo, havia uma foto de , olhando para mim com uma sobrancelha levantada e um sorriso meio sarcástico, meio assustador. Embaixo de seu rosto, havia uma mensagem:
“Não pense que se livrará de mim tão facilmente. Eu te amo, , mais ardentemente que qualquer pessoa nesse mundo. Você não tem idéia do quanto eu te amo. Você não pode me deixar, entendeu? Você agora é a minha vida.”
Se não tivéssemos terminado e se essa foto esquisita não estivesse no fundo, eu talvez achasse meio bonitinho. Mas ainda assustador.
Troquei o plano de fundo para um de peixinhos e entrei na internet, me logando no facebook rapidamente.
Em todas as minhas fotos, havia pelo menos três comentários de , pedindo desculpas, dizendo que me amava e que não me esqueceria. E também no status, só que eram dez de uma vez. Mas que infernos esse guri ainda quer comigo?
Antes que visse mais alguma coisa indesejável, desliguei o computador e voltei pra meu quarto, ligando a tevê. Onde o garoto do banco estaria agora?
me ligou mais umas dez vezes, e todas eu me recusei a falar com ele. Acabei desligando o celular, já ficando estressada ao ouvir o toque especial dele.
Minha mãe voltou do trabalho na hora do almoço, e almoçamos juntas à mesa, conversando sobre o dia dela, óbvio. O que eu falaria sobre o meu dia?
“Ah mãe, não fiz nada demais. Só recebi uma mensagem que parecia uma ameaça do meu ex. Nada demais.”
Minha mãe passou a tarde trabalhando em casa, usando o laptop dela e eu fiquei ao seu lado, lendo um livro. Quando eram umas três e meia, a campainha tocou. Era cedo demais para meu pai chegar, então não fazia idéia de quem era.
Quando olhei pela janela lateral da casa, vi a pessoa mais repugnante e indesejável parada à minha porta. Que droga, por que ele não pode me deixar em paz?
Corri até minha mãe, que ela pareceu alarmada quando pulei o sofá para chegar mais rápido à escada.
- O que você está fazendo? – Fiz shiu e me aproximei dela, cochichando em seu ouvido.
- É o . Atenda quando ele tocar da segunda vez, eu vou fazer a mesma coisa de ontem. Não se preocupem comigo, estarei bem.
- Você vai ter que falar com ele mais cedo ou mais tarde, .
- Mãe, ele é doido. Deixe-o entrar, mas se ele pedir para ir até meu quarto, vá com ele. Imagina se ele resolve roubar um sutiã meu, pra fazer voodoo! – Eu sussurrei e minha mãe riu, baixinho. – Voltarei mais ou menos na hora de ontem. Se ele ainda estiver aqui, irei para casa da e te ligo de lá, okay?
Ela concordou com a cabeça e a campainha soou novamente. Eu corri até as escadas, mas antes de ir, falei:
- E não fale onde estarei, pelo amor de Deus! – E subi as escadas correndo.
- Como se eu soubesse aonde você vai... – A ouvi falar antes de chegar ao andar de cima. Valeu mãe, você é a melhor!
Peguei novamente o casaco do meu irmão e coloquei as mesmas coisas de ontem nos bolsos, mas desta vez adicionei meu celular, só por precaução.
Antes de ir, lembrei de trancar o meu quarto por dentro. Vai ver ele queria mesmo roubar meu sutiã, nunca se sabe.
Desci pela árvore novamente, dando o mesmo salto para o galho mais próximo. Ele fez um barulho meio alto, mas continuou firme. Eu sabia que essa árvore um dia seria útil!
Fui até o parque de novo, mas ao chegar lá não havia ninguém. Sentei-me no mesmo banco de ontem, ligando o iPod e colocando os fones nos ouvidos. Passei um bom tempo cantarolando as músicas dos meus ídolos, algumas vezes mais alto que o necessário. Mas quem liga? Os adultos nem vão prestar atenção em mim, por favor, né?
Mas havia uma pessoa que iria prestar atenção na minha cantoria, e não era um adulto.
- Bela voz. – Alguém ao meu lado falou. Eu levei um susto, erguendo a cabeça repentinamente e retirando um dos fones. – Desculpe, não quis te assustar.
- Acho que você não tem o ouvido muito bom pra música. – Falei, relaxando o corpo e olhando de soslaio para o garoto. Ele estavam com um chapéu diferente, mas os óculos eram os mesmos. No lugar do suéter, havia uma jaqueta preta, aparentemente de couro. - Eu sou desafinada como um bebê cantando ópera.
Ele riu um pouco, eu apenas sorri. Agora eu realmente sentia que conhecia aquela voz, mas o rosto ou o nome do dono era desconhecido para mim.
- Então, porque você veio hoje? Relaxamento? – Ele perguntou enquanto tirava o chapéu da cabeça. Eu não conseguia ver como era o cabelo, mas que droga! Apenas via uma mancha preta em cima da cabeça dele.
- Na verdade, eu estou me escondendo. Fui ameaçada por um ex-namorado maníaco e estou me escondendo dele aqui. – Falei descontraidamente, dando uma risada. Ele me acompanhou. – Afinal, que ex pensaria e procurar a ex num parquinho?
- Ótimo esconderijo, eu diria. Bem pensado, garota do banco.
- Obrigada.
Daí a conversa fluiu naturalmente, descobri que os pais dele eram pastores evangélicos, que ele tinha uma banda e os outros membros do conjunto eram como irmãos para ele. Eu contei que gostava de ler e ficar o dia no computador lendo coisas inúteis e mexendo no facebook. Ele me contou que morava na casa branca da esquina, ali perto do parque, e eu lhe contei que morava na antepenúltima casa da rua, uma azul com branco.
- Bem, garoto do banco, acho que está na hora de ir... – Levantei, olhando para o relógio. Já eram seis e quinze, acho que aquela peste já foi embora.
- Também acho, garota do banco. – Ele levantou também e começou a chamar o irmãozinho. Nem prestei atenção, tentando escolher uma música legal para ouvir.
- Ah sim, e garota do banco? – ele chamou.
- Oi...?
- Me chame de . – Eu sabia que ele estava de costas para mim, por isso nem me dei o trabalho de virar. Acho que se eu não visse seu rosto, não estragaria o encanto que pairava sobre aquele . E ele entendia perfeitamente.
Espera aí. Encanto?
- Sou . – Falei tranquilamente. – Até mais, .
- Até mais, .
- Me chame de . – Falei enquanto começava a andar. Ele deve ter ouvido.
Será que eu veria esse novamente? Ele era realmente alguém legal, alguém que eu gostaria de conversar todo dia e não me enjoaria. Ele faz comentários engraçados, me faz rir.
O que me faz voltar ao meu próprio comentário mental: Encanto? O que eu quis dizer com encanto? Eu estava encantada com ele? Não, não devo. Eu não fico encantada. Coisa mais ridícula, coisa de filme da Disney.
Mas será que só seria coisa de Disney?
Cheguei em casa, o carro do meu ex não estava à vista. Soltei o ar, aliviada, e bati na porta.
Nos dois dias seguintes, eu fiz a mesma coisa: à tarde, vinha até minha casa e eu fugia pela janela. e eu, então, nos encontrávamos no parque e ficávamos conversando sobre qualquer coisa, até as seis horas. Depois eu voltava para casa, sã, salva e livra do ex-namorado louco.
Minha mãe cooperava todos os dias, indo com até o andar de cima e vistoriando cada passo do garoto. Assim, ele só havia como mandar as mensagens idiotas por facebook ou pelo meu celular, que constantemente estava desligado. entendeu que só poderia ligar para minha casa, e eu só atenderia quando ouvisse a voz dela no correio de voz.
No quinto dia dessa correria toda, fugi novamente para o parque, quando chegou. Ele não se cansa? Ninguém merece, sinceramente! Parece que ele está, sei lá, paranóico em me ter de volta. E quanto mais ele faz isso, mais eu fico assustada.
estava me esperando no parque, no nosso banco. Aquele realmente virou nosso banco, nenhuma das mães ou babás se sentava naquele lugar. Elas já nos conheciam de vista, e nos cumprimentavam de longe quando vinham ao parque.
O dia estava menos frio, chegando até a fazer um calor. Depois de pouco tempo de conversa, fiquei com calor e tirei meu casaco, o deixando atrás de mim e ficando apenas com meu iPod no bolso do jeans (Eu já havia desistido de trazer a carteira ou o celular).
Estávamos conversando sobre um filme que passaria no cinema, quando olhei o relógio do meu iPod: sete e meia! Havia perdido a hora! Essas conversas com realmente são interessantes e, como dizem, o tempo voa quando estamos nos divertindo.
- Meu Deus, sete e meia! Tenho que ir! – Falei, levantando rápido do banco e ajustando o iPod no bolso. – Até amanhã, !
Saí correndo tão rápido, que nem pôde falar coisa alguma. Chegando no meio do caminho, fiquei um pouco cansada, então parei para descansar um pouco. Depois de pouco tempo, comecei a caminhar em direção à minha casa.
Chegando lá, pulei o portãozinho e fui até a porta. Quando ia começar a bater, havia um bilhete pregado perto do olho mágico. A letra era caprichada e grande, dava para ver que era de minha mãe.
“Querida ,
Seu pai chegou mais cedo e nós dois fomos até o supermercado comprar algumas coisas. Voltaremos lá pelas nove. Se quiser, vá para a casa da ou entre por você sabe onde.
Com amor,
Mamãe.”
Eu realmente queria ir para casa de , mas, infelizmente, ela me avisou que hoje ficaria na casa da tia até tarde. Então rodeei a casa até chegar na árvore que dava para meu quarto. Mas quando eu coloquei as mãos nos primeiros galhos, ouvi o barulho de passos e fique paralisada. O sol já estava baixo, quase se pondo, e em breve a única iluminação seria a da Lua, que estava minguante ou crescente.
Eu fiquei com medo. Morávamos em um condomínio protegido, que só permitia a entrada de alguém quando os donos da casa autorizassem pelo interfone. Seria um ladrão?
- Quem está aí? – Perguntei, agora segurando os galhos mais firmemente. Eu sabia que, se demorasse para subir, meus dedos começariam a tremer por causa do nervosismo. Isso não ajudaria em nada.
- , minha doce e pequena boneca.
Juro que senti o pior calafrio de toda a minha vida subir pela espinha. Os pêlos dos meus braços ficaram arrepiados, e aposto que os da nuca também. Senti meus olhos marejarem, não sabia se era de medo ou de emoção. Eu ainda amava ?
- Amorzinho, porque não vira e olha para mim? – Ele falou com a voz mais doce que possuía, o que me fez ter outro calafrio. Não, eu não sentia nada por aquele monstro. Eu estava com medo dele.
- O que você quer, ? – tentei manter minha voz o mais estável possível, e por sorte consegui. – Eu já disse, acabou tudo.
- Nada acabou, zinha linda. – Sua voz ficou um pouco áspera, e eu segurei com mais força o galho acima de minha cabeça. – Agora venha logo para meus braços, ou será que eu tenho que buscar você?
Essa era minha chance. Dei um salto rápido, subindo no galho com agilidade, e já me agarrando a outro.
- Tsc tsc, prefere mesmo do jeito mais difícil, amor? – Ouvi os passos rápidos dele em direção à árvore. – Muito bem, vamos brincar de pique-pega. Está comigo.
Eu subi em outro galho e em outro, enquanto ele se preparava ainda para subir no primeiro. Felizmente, era maior que eu, então era mais difícil pra ele subir por entre os galhos folhosos da árvore.
Mas foi aí que minha blusa enganchou em um galho.
- Parece que minha gatinha está presa na árvore. – Ele falou, sua voz voltando ao tom suave – Vamos fingir que eu sou o bombeiro que vai salvá-la. – estendeu o braço e agarrou meu pé, me puxando para baixo. Eu arranhei meus braços e minhas mãos ao tentar me segurar, e acabei caindo sentada em um galho abaixo do que estava antes. puxava ainda mais meu pé, e eu segurei no tronco com toda minha força, olhei para aquele cretino e apoiei o outro pé em um galho abaixo.
- FICA LONGE DE MIM, BABACA! – Me segurei direito e consegui o apoio que queria. Então simplesmente dei tipo um chute na árvore, e entre meu pé que estava sendo puxado e a árvore, ficou a mão de .
- AI, PORRA! – Ele gritou, soltando meu pé imediatamente e se apoiando em um galho atrás. Eu aproveitei e subi novamente no galho acima, com minha blusa já desenganchada. Subi mais um galho e, infelizmente, ouvi se aproximando. Quando cheguei ao galho final, aquele a um metro do meu quarto, ele deu um salto para cima e agarrou esse galho, fazendo a estrutura balançar. Tive que segurar alguns galhos mais finos para conseguir me equilibrar, já que estávamos na copa da árvore. Quando me preparava para saltar, segurou meu pé de novo.
- DESSA VEZ VOCÊ NÃO ESCAPA! JÁ CANSEI DE SER BONZINHO, AGORA A GENTE VAI VOLTAR PARA O TÉRREO E EU VOU FAZER O QUE QUISER COM VOCÊ, TÁ ENTENDENDO? – Ele continuou a segurar meu pé com uma das mãos. Agora eu percebi que estava sem saída, então voltei a segurar os galhinhos da copa para me equilibrar.
Foi então que eu percebi alguém vindo em nossa direção. Alguém de chapéu e óculos, com um suéter vermelho que eu conhecia. Ele estava correndo muito rápido e pulou a cerca da casa com extrema facilidade. Em pouco tempo, estava no tronco da árvore.
- ME AJUDA, PELO AMOR DE DEUS! – gritei para .
Nessa hora, o aperto em volta do meu tornozelo afrouxou, e virou para olhar o visitante.
- FICA FORA DISSO, GAROTO! – Meu ex berrou, tirando a mão do meu pé e descendo até o térreo em um salto.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA TRATÁ-LA DESSE JEITO? – perguntou, encarando . Os dois possuíam quase a mesma altura, sendo um pouco mais alto. Mas a diferente que ele tinha em altura, tinha em músculo.
- SOU O NAMORADO DELA, IDIOTA! E VOCÊ, QUEM PENSA QUE É? – foi para cima de e tentou dar um soco nele.
- ALGUÉM MUITO MELHOR QUE VOCÊ! – foi mais rápido, executando um golpe de defesa pessoal que eu nunca vi. Sei que, em um momento, estava em pé e, no outro, estava deitado na grama, com ao seu lado.
- Escute aqui, idiota mental, ouça bem que eu só vou falar uma vez. – se ajoelhou e apontou o dedo para . – Fique longe dela para seu próprio bem. Esse foi só um décimo do que eu posso fazer, se quiser. Eu poderia te deixar desacordado, mas isso não será preciso, certo?
apenas negou com a cabeça, seus olhos arregalados de medo.
- Agora, vai embora antes que eu chame a polícia. Isso foi invasão de propriedade privada e agressão. Acredite, eu poderia te mandar para a prisão perpétua só por ter encostado um dedo na . Ela é alguém de bom coração e que merece respeito, e não ser perseguida por um doente mental como você.
Meu coração bateu tão rápido que pensei estar tendo um ataque cardíaco. Ver falando assim de mim, tão protetoramente, fez meu coração inchar até o extremo. Ele é tão corajoso, valente, não se importou com nada e veio me ajudar em um momento como esse. Ah, sim! Eu estou encantada! Encantada com o jeito desse garoto! Eu o amo!
se levantou rápido e começou a correr o mais rápido que pôde, pulando a cerca desengonçadamente e correndo pela rua. se levantou e virou para mim, indo correndo até a base da árvore.
- Você tá bem, ? – ele perguntou, parecendo genuinamente preocupado. – Tá machucada?
- Só alguns arranhões, nada demais. – Falei, sorrindo para . Comecei então a andar de volta. – Obrigada, , nem sei como...
Tudo o que pude ouvir foi um barulho de algo se quebrando, e de repente eu estava caindo.
- !
O chão veio rápido, e eu acabei caindo com o lado direito do corpo para baixo. Minha cabeça bateu com violência na grama, e eu ouvi outro barulho de algo se partindo. Foi quando senti uma dor lacerante no braço direito.
- ! , VOCÊ TÁ BEM? – estava ao meu lado rapidamente. Senti minha cabeça girar, meu corpo inteiro começando a ficar mole. – , FALA COMIGO POR FAVOR!
Ele me virou de barriga para cima, e senti como se meu braço direito estivesse sendo arrancado. Abri os olhos e dei um grito muito alto, pude perceber vagamente a luz da casa vizinha se acender.
- , CALMA! Você quebrou o braço, o deixe parado. – segurava meu rosto nas suas duas mãos, mantendo-o para cima. Minha visão começou a falhar ainda mais, mas finalmente eu olhei para meu amigo, meu amado, para descobrir como era aquela face.
Foi então que vi Jonas.
Espera um pouco. ? Jonas? Não, estou delirando. Estou vendo coisas. Aquele era , meu amigo, aquele a quem eu amava. Minha visão está falhando mesmo, não é possível.
- ... Jonas? – eu murmurei, e percebi que falar me deixou ainda mais tonta. Sim, o rosto era o de , aqueles olhos inconfundíveis, sua face bela que eu admirava todo dia em meu iPod, seus lábios perfeitos. A única coisa que não combinava com aquele deus grego era a expressão preocupada em seu rosto.
- Sim, , eu estou aqui. – Senti meu corpo fraquejar novamente, agora eu tinha certeza que iria desmaiar. Meus pensamentos ficaram lentos, minha visão estava tão escura quanto a noite. – , fique comigo. Vamos , não durma, fique comigo.
- , estando com você, estarei... bem – foram as últimas coisas que consegui falar. Ouvi ainda a vizinha sair à porta e perguntar o que estava acontecendo, e então minha visão se foi, juntamente com a audição e todos os outros sentidos.
Quando finalmente acordei, não consegui lembrar de nada. Mas antes de forçar minha memória, comecei a ouvir vozes.
- Médico, ela não vai acordar nunca?
Espera aí, eu conheço essa voz.
- ! Pare de atormentar o médico! Ele já disse que poderá acordar a qualquer momento.
Essa voz eu não conheço.
- Mais uma vez, , muito obrigada por ter ajudado nossa filha. Não sabemos o que aquele louco do poderia ter feito a ela.
- Somos muito gratos pelo que você vez, jovem.
Mãe? Pai?
Ouvi a porta abrir com violência e alguém entrar apressado.
- O que aconteceu? ?
?
- Acalme-se, filho. – Essa era a voz da minha mãe. – Sua irmã caiu da árvore, teve uma concussão e quebrou o braço. Mas ela já está bem agora.
- Esqueceu de falar que foi por causa de um babaca completo que perseguiu a . – Meu Deus. De onde eu já ouvi essa voz?
- !
- Mas é verdade, mãe.
- Jonas! – dessa vez foi a voz de um homem. Deveria ser o pai dos garotos.
- Como assim? – meu irmão preocupado é algo perigoso de se ver.
- Ah, filho, sua irmã estava voltando sozinha para casa. Eu e seu pai havíamos saído para fazer compras. – Mamãe começou.
Isso eu lembro vagamente. Um bilhete dos meus pais...
- Daí ela, aparentemente, teve que subir pela árvore do lado de fora da casa para entrar no quarto dela e estava esperando por ela. – Um pai continuou.
- ? – perguntou .
- É, aquele namoradinho dela. – respondeu minha mãe. Ouvi uma risada baixa do lugar onde supostamente estava e alguém cochichou:
- Olha a cara do !
e começaram rir baixinho.
- Pois bem, daí ele começou a persegui-la pela árvore e o aqui, chegou a tempo de ajudar sua irmãzinha.
- Ele usou um golpe de defesa pessoal que Big Rob nos ensinou – falou. – E jogou o cara no chão.
- Daí ele mandou o tal ir pastar. – Falou .
- Mas quando a ia descer, o galho embaixo dela quebrou e ela caiu feio. Nossa vizinha foi ajudar, chamaram a ambulância e cá estamos.
Agora eu me lembrava de tudo! Bom, quase tudo. caído no chão, ajoelhado ao seu lado e apontando o dedo para ele. E então eu caí, e o restante eu lembrava vagamente. Nem mesmo o rosto de eu conseguia lembrar, mesmo sabendo que já conhecia sua face.
- Realmente foi uma sorte ter alguém por perto nessa hora. – Esse deveria ser o médico, o único que ainda não havia se manifestado.
- Na verdade, foi uma sorte ter por perto.
Só ouvi o som de nove pessoas caminhando para perto da cama.
- ? Você está me ouvindo? – perguntou meu pai.
- Não pai, to adivinhando seus pensamentos. – Falei, tentando dar um sorriso.
- Realmente, ela tá de volta. – Falou minha mãe.
- , você consegue abrir os olhos? – perguntou o médico.
Abri os olhos devagar, minha cabeça estava virada para a direita. Vi primeiro meu pai, minha mãe e meu irmão, olhando para mim. Minha mãe estava chorando.
- Não chora, mãe. – Eu falei, e quando tentei estender meu braço direito para segurar a mão dela, senti uma dor lacerante.
- Não mexa o braço, maninha. – Falou meu irmão. – Tá quebrado.
- Já percebi, . – sorri de novo. Minha família sorriu junto comigo. – É bom ver você depois de tanto tempo.
Consegui abrir os olhos mais um pouco e dessa vez virei a cabeça para a esquerda.
- Ahn, doutor? Acho que o senhor me deu remédio demais pra dormir. Eu to vendo coisas.
- Como assim, ? – perguntou o doutor.
- Eu to vendo uma miragem, doutor. – levantei o braço esquerdo e esfreguei os olhos. Continuei falando enquanto esfregava os olhos. – Eu to vendo a família dos Jonas Brothers. Bom, menos o Frankie.
Quando parei de esfregar meus olhos e os abri, juro que nunca levei tamanho susto na minha vida. Joe, Kevin, Nick, Denise e Kevin I. Eu não estava vendo uma miragem. Eram eles, de verdade, olhando para mim com preocupação.
- SANTA MARIA, VOCÊS SÃO VOCÊS! – Arregalei os olhos e sentei na cama, com a mão na boca. Depois olhei para meus pais. E depois para a família Jonas. – O que está acontecendo aqui?!
Todos começaram a rir, menos o mais novo da banda. Ele me olhava tranquilamente, apesar de seu rosto estar sério. Ele deu um meio sorriso, nem preciso dizer que eu derreti, né?
- Você não lembra de nada, ? – perguntou , olhando curioso para mim. – Nadica de nada?
- Lembro do acidente, mas não me lembro de ter ganhado uma visita da família Jonas no hospital onde eu estava!
Todos olharam para , inclusive eu. Ele continuou me olhando daquele jeito, até que pareceu despertar de um transe e abaixou a cabeça, olhando para os pés.
- Será que eu podia... Sabe? Falar a sós... Com a ? – Ele perguntou baixinho, ainda olhando para os pés. Foi então que eu percebi seu estado: A blusa estava toda amassada, a calça amassada e suja de barro nos joelhos. Seu cabelo estava desgrenhado, alguns fios simplesmente em pé. Havia um óculos pendurado na gola de seu suéter. Um óculos que eu já havia visto em algum lugar...
- Claro, filho. – Denise falou, puxando o marido e os outros dois filhos.
- Ah, mas que droga! Porque as melhores cenas têm de ser em particular? – reclamou .
- Você me deve uma, maninha. – cochichou no meu ouvido, depois segurou meus pais pelos ombros. – Muito bem, agora que a tá bem, vamos comer alguma coisa, né?
Todos saíram do quarto, inclusive o médico, e fecharam a porta. Estávamos, então, só eu e . Jonas.
Nós ficamos nos encarando durante um tempo, e eu me perguntei no que aquele lindo rapaz estava pensando. Parecia querer dizer alguma coisa, mas não conseguir pôr em palavras.
- ... Você não lembra de nada? – Ele perguntou, sua voz vacilando um pouco. Aquela voz...
- É como eu disse, . – Só falar o nome dele era difícil, uma vez que... Bem, eu sempre falei o nome dele normalmente, mas nunca me dirigi a alguém assim. Não sei explicar direito. – Eu me lembro do acidente, e chegando...
Acabei lembrando de tudo. Desta vez, tudo mesmo. Quando ele me defendeu de , quando perguntou se eu estava bem, da confissão que fiz a mim mesma antes de cair. Lembrei-me da queda, dele me socorrendo, do rosto angelical preocupado comigo, o chapéu na cabeça, mas sem óculos.
Aqueles óculos... Aquele rosto... Aquela voz... Lembrei-me da hora que tive delírios antes de desmaiar. Lembro de ter visto meu ídolo me socorrendo e pensar estar delirando, mas quando chamei-lhe pelo nome, ele atendeu.
Oh. Meu. Deus! Como eu fui burra.
- Olá, . – O segundo nome de Jonas era . Ele tinha uma banda, com os dois irmãos, os pais eram pastores evangélicos, mas deixaram de pregar a religião para auxiliarem os filhos a seguir seus sonhos. Jonas possuía um irmão mais novo, conhecido como Jonas Bônus, o lindo e saltitante Frankie. Tudo se encaixava, e eu fui tapada o suficiente para não perceber nada disso.
- Olá, . – Ele sorriu para mim. Ah, aquele sorriso que esperei tanto para ver, com o qual eu sonhei diversas vezes.
Só que aquilo era real.
- Como eu fui burra, . – Eu falei, fechando os olhos e negando com a cabeça. Isso fez minha cabeça doer um pouco, mas eu não ligava. – Como eu não notei isso antes? Eu ficava tentando lembrar onde ouvi sua voz, mas a resposta nunca veio, e tem também o nome . Você é mau, sabia?
riu levemente, se aproximando de mim com passos lentos. Percebi que embaixo de seus olhos, as olheiras estavam escuras e profundas.
- Há quanto tempo estou aqui?
- Só uma noite. Por quê?
- Ah, , não tente esconder. Posso perceber que você não dormiu nadica de nada, e posso deduzir isso mesmo tendo visto seu rosto somente em fotos de revista.
Ele ficou em silêncio, e voltou o olhar para os pés.
- Bem... Eu fiquei aqui com você, . – Ele falou, levantando o rosto e olhando para mim. Seus olhos estavam sérios, e sua expressão possuía um toque de determinação. – Eu tive que ficar, mesmo quando os médicos pediram para eu sair. Seus pais foram bons e me deixaram ficar aqui com você. Eu não podia deixá-la, não podia ir para casa sabendo que você estava em perigo.
Senti meus olhos lacrimejarem, mas pela primeira vez, não odiei ter que chorar.
- Então chamei meus irmãos, e seus pais também os permitiram ficar comigo. – Ele continuou, e eu vi que seus olhos estavam brilhando... Estaria Jonas chorando por mim? – Eles me apoiaram, mas não consegui parar de pensar em você, se você estaria bem quando acordasse, se lembraria de mim... E se ficaria com raiva de mim quando descobrisse que eu era .
Ele estava ao lado da minha cama, e eu podia tocá-lo se quisesse. Mas algo que ele disse me fez refletir, e resolvi perguntar:
- Mas porque eu ficaria com raiva disso?
- Não sei. – Ele suspirou. – Talvez descobrisse que eu não o que você queria. Você nunca olhou para meu rosto até o momento em que caiu, e eu fiquei com medo... de simplesmente não ser o que você esperava.
Fiquei olhando para ele, agora sentia uma lágrima descer pela minha bochecha. estendeu a mão e passou o polegar pelo lado direito do meu rosto, limpando a lágrima. Eu fiquei olhando para ele, e nós dois sorrimos. Ele se curvou e me beijou.
No momento em que nossos lábios se tocaram, parecia que haviam soltado milhares de fogos de artifício. O beijo de era doce e suave, nada apressado e paciente.
Um momento mágico como esse não acontece todos os dias.
Foi então que comecei a pensar: Eu não estou beijando Jonas, o astro. Eu estou beijando Jonas, o garoto do banco. Aquele que conversou e riu comigo, não importava o quão idiota a piada fosse. Ele não se importava com o silêncio, era reconfortante para nós dois e não desagradável.
Daí a porta abriu violentamente, e duas pessoas se espatifaram no chão com tudo. e eu nos separamos rápido, mas eu não o deixei se afastar. Durante nosso beijo, segurei a mão direita dele, e não pretendia soltá-la tão cedo.
- ! ! – Denise apareceu na porta brava, seguida de Kevin pai.
- Droga, ! Porque você tinha que apoiar na maçaneta? – Perguntou .
- Ah, você não ajudou quando praticamente montou em mim. – Resmungou . – Agora, dá pra sair de cima de mim?
levantou, e em seguida ajudou . Os dois ficaram nos encarando, um meio sorriso no rosto deles, como se fossem crianças levadas que foram descobertas, mas não se arrependiam.
- Bom, já que o não apresenta oficialmente... – veio até mim, sorrindo. – Eu sou Jonas, prazer.
- E eu sou Jonas, é um prazer conhecê-la finalmente. – Falou , sorrindo e se aproximando também. Eu os cumprimentei com a cabeça, sorrindo para eles.
- E nós somos Denise e Paul Kevin I, é um prazer conhecê-la, jovem. – Falou Denise, sorrindo meiga para mim. – Infelizmente, não trouxemos Frankie, porque ele é muito pequeno ainda...
- Sou , e o prazer é, realmente, todo meu. – Apertei de leve a mão de , que retribuiu o gesto. – E não se preocupem, eu entendo perfeitamente. Um hospital não é o melhor lugar para uma criança tão agitada quanto Frankie.
Ficamos ali conversando, e meus pais chegaram com meu irmão mais velho. Nunca ficávamos sem assunto e a conversa fluía sem artificialidade, mas eu podia perceber os olhares desconfiados que meu pai e meu irmão lançavam para a minha mão junto à de . Mas afinal, quem liga? Eles que agüentem.
Tive alta na hora do almoço, então todos nós fomos almoçar num restaurante ali perto. Minha mão e a de pareciam grudadas, e só as soltávamos quando precisávamos usá-las para comer. Óbvio que tive certa dificuldade para comer sem o braço direito, mas nada que me impedisse. Não havia notado que estava com tanta fome.
Chegando em casa, meus pais e meu irmão entraram depois de se despedirem da família Jonas, mas eu fiquei para me despedir de .
- , não demore, ou eu volto pra te pegar, hein? – falou , fazendo a família rir. – , , não o deixe perder a hora!
- Pode deixar, zão. Ele vai voltar a tempo de vocês encherem o saco dele. – Sorri para meus mais novos amigos, e . Eles riram.
- Te esperamos para jantar ou almoçar conosco quando quiser, querida. – Falou Denise, abraçada Paul Kevin I. – Saiba que as portas de nossa casa estarão sempre abertas a você.
- Obrigada, Denise, você é muito gentil. – Eu falei, sem graça. Como Denise era fofa!
- Muito bem, vamos indo, meninos. Aparentemente ainda quer conversar com . – O pai Jonas segurou pelos ombros, praticamente o arrastando. acenou para nós e seguiu a família, nos deixando sozinhos em frente à minha casa.
Começamos a andar devagar pela calçada, e acho que sei onde ele queria me levar. No meio do caminho, soltou minha mão e passou o braço por cima dos meus ombros. Eu queria abraçá-lo com os dois braços, mas com o meu braço direito engessado, contentei-me em abraçá-lo pela cintura com apenas um.
Ficamos andando em silêncio, cada um imerso em seus pensamentos. Chegando ao parque, nos sentamos no nosso banco, mas desta vez, nós estávamos de frente para o mesmo parquinho de areia. Ele me apertou contra o peito, e eu o segurei com mais força. Apesar de o sol estar no alto, a brisa me fez estremecer.
- Você tá com frio? – Ele perguntou, olhando para mim. A cada vez que eu olhava naqueles olhos, sentia meu corpo inteiro vacilar, minha mente ficava atrapalhada e confusa. Ah sim, eu amava aqueles olhos como jamais amei a quaisquer outros.
- Estou bem. – Falei, me aconchegando no peito dele. – Sabe o que é engraçado?
- Hum?
- Tudo isso começou nesse banco. – Falei, olhando para a madeira que sobrava no meu lado direito. – Se eu não tivesse vindo aqui naquele dia, eu poderia...
- Não pense nisso. Algo que aprendi com tudo o que passei foi que não vale a pena ficar pensando no que poderia ou não acontecer. – segurou meu queixo e levantou meu rosto, fazendo nossos olhares se encontrarem. – O que importa é que estamos aqui, juntos, e nada de mal aconteceu.
- É como eu disse, . – Eu falei, sorrindo. – Estando com você, eu estarei bem.
E nós nos beijamos.
Fim
...
Atrás de uma árvore ali, perto dos dois parquinhos de areia infantis, um rapaz alto observava duas pessoas sentadas em um dos banquinhos entre os parques. Este alguém olhava furioso para o casal, especialmente para certo garoto que abraçava certa garota, e agora estavam se beijando.
- Ah, minha doce , você acha que vai ficar assim. Mas não vai. Eu ainda a terei para mim. – Falou , dando um meio sorriso. – Por bem ou por mal.
E, assim, o garoto foi embora, levantando o capuz do casaco e dando as costas para o casal feliz, que mal sabia do que era capaz quando queria algo.
Fim?
Bom, eu só queria agradecer novamente à minha querida e amada best-xará, Beatriz Ventura, que sempre lê minhas fics e me elogia, mesmo elas sendo tão podres e nojentas quando o verme no fundo do lixo. Amiga, loveya forever ande ver (L)
Também queria agradecer à minha única amiga que lê minhas fics, a Gabyzudah. A Gaby porque ela realmente lê minhas fics e sabe como eu sou emotiva e chorona e besta e blá blá blá. Thanks, dude :D
Agradeço também aos meus pais, só porque eles me fizeram nascer :D ah, e também por me colocarem na escola para aprender a escrever.
E também queria agradecer MESMO pela Denise e o Paul Kevin I por deixarem nossos Jonas seguirem o sonho desde pequenos. Sem essas pessoas importantes, NADA disso existiria, e nossas vidas seriam tão vazias quanto uma garrafa selada a vácuo.
Além de agradecer aos garotos, Nick, Joe e Kevin, por simplesmente existirem nas nossas vidas e me ajudarem naquela fossa (sim, eu choro com Can’t Have You. EDAÍ???).
AMO VOCÊS, NA VIDA E NA MORTE. -QQ