O Brilho do Meu Olhar Reflete do Seu



O menino estava sentado naquele banco sujo já fazia horas, o mundo passava por ele e ele nem ao menos se dava conta disso. A sua mente estava ocupada, ou melhor, ela estava vazia. Ele não conseguia pensar em nada, eram tantas coisas que ele não era capaz de se concentrar em apenas uma. Fechou os olhos e pediu por ajuda, com o coração acelerado ele implorou para que alguém o ouvisse, o ajudasse.
Ela sentou-se ao seu lado e encostou sua mão na dele. abriu os olhos devagar e não pôde acreditar que ela estava ali. Era impossível.
- Oi. – ela disse sem abrir a boca praticamente.
- Você... – ele encarou o chão – O que está fazendo aqui?
- Não sei... – ela riu sem graça – Quer que eu vá embora?
- Não. – disse firme – Sinto sua falta...
A menina fechou os olhos e riu suavemente.
- Sinto a sua também.
- Por que, ãh? – sua voz saiu esganiçada – Por que... Me pergunto isso todos os dias.
- ... – ela começou – Não existe um porquê. Simplesmente aconteceu!
- É difícil entender.
- É só continuar. – ela sorriu – Continue e me deixe continuar.
- Você, er, se lembra quando a gente se conheceu? – seu olhar era triste, a dor e a agonia eram visíveis. Isso fez estremecer.
- Lembro. – na realidade ela mal lembrava, ela não se lembrava de mais nada ultimamente.
- Você estava tão linda! – ele gargalhou – Tão... Menininha.
- Sim... – ela concordou sem graça por não se lembrar.
- , eu, – ele parou – eu preciso de você comigo.
- , eu já disse. Continue.
- É fácil falar.
- Lembra do nosso primeiro beijo? – disso ela lembrava.
- Eu escrevi uma música, lembra? – Isso ela não lembrava.
- Não... – a resposta saiu espontaneamente.
Ele riu e começou a cantarolar:
“Vim te falar que eu desejo um feliz natal
e eu não sou o que você acha que eu sou,
mas mesmo assim, eu vim só te olhar,
e sob as luzes azuis te dar esse refrão...”
riu e se lembrou das luzes azuis, como um flash ela viu a cena em sua cabeça, com uma pequena caixa em formato de coração parado a sua porta com um sorriso infantil e, então, o beijo. Um beijo doce e calmo, inconscientemente seus lábios se moveram.
- Se lembrou? – ele perguntou.
Ela fez que sim com a cabeça e sorriu, fazendo-o sorrir junto.
- Não sei se você vai gostar de ouvir isso, mas – ele disse baixo – tem dias que tudo o que eu faço é ficar lembrando dessas coisas. Digo, do nosso primeiro beijo, primeira briga, primeira vez...
sentiu as bochechas corarem e encarou os pés.
- Não posso fazer nada, . – ela disse em um sussurro – Se te faz bem ficar pensando nessas coisas... Se é o seu jeito de lidar com isso. Ótimo. Mas não se prenda a mim, isso te fará mal, eu posso te afirmar com certeza.
- Não tem mais volta, . – ele quase gritou – Você não entende isso?
- , você não é o único machucado, sabia? – ela falou magoada – Eu também estou com dificuldade para entender! Mas eu preciso compreender, e ver você desse jeito, nem ao menos tentando, me impede.
- Lembra da nossa primeira briga? – ele mudou de assunto. bufou, ele sempre foi assim. Toda vez que brigavam e ele sabia que estava errado ele simplesmente mudava de assunto como se nada tivesse acontecido. E sempre se deixava levar.
- Não. – ela falou ríspida.
- Eu lembro como se fosse ontem. Para falar a verdade parece que ela está se repetindo agora... – ele riu desgostoso – Foi logo no começo do nosso namoro, você lembra que me disse que o nosso relacionamento não te fazia tão bem o quanto fazia a mim? – não esperou a resposta e continuou – Eu passei noites em claro pensando qual era o meu erro! O que eu fazia de errado...
- Você nunca fez nada errado. – “Apenas me amar demais” ela pensou – Os melhores momentos da minha vida foram ao seu lado. Eu te amei, .
- Eu te amo, .
O silêncio se tornou eterno. Nenhum dos dois tinha coragem de falar algo, por diversas vezes chegou a abrir a boca, mas não era capaz de emitir som algum. apenas mergulhava em seus pensamentos.
- O silêncio é um som assustador. – ela disse.
- Foi tudo em vão? – ele disparou.
- Não! – ela levantou e o encarou. – Lógico que não. Eu já disse que te amei. Amei com todo o meu coração.
- E eu ainda te amo... – ele riu fraco.
largou os braços ao longo do corpo e respirou fundo.
- Como você pode amar algo que você não tem?
- Não sei... – ele olhou para o céu como se a resposta fosse cair em sua cabeça – Talvez... Eu ame o que eu tive. Eu ame a sensação, as lembranças.
Silêncio mais uma vez.
- Eu acho que enlouqueci. – ele riu – Mas eu me sinto tão mal, .
- , você está vivendo de ilusões.
- Eu sei. – ele fechou os olhos – Eu sei no que me tornei, mas é tão mais fácil assim... Eu não vou acordar um dia e simplesmente ter te esquecido.
- Foi tudo tão rápido, né? – ela voltou a se sentar ao seu lado – Nós nem—
- Por favor. – ele a cortou. – Na-não. – gaguejou.
- Parece tão irreal... – ela riu.
- ... – estava com o olhar opaco, sem brilho, seu rosto já estava perdendo a cor.
- Você lembra daquele dia?
- Mais ou menos... – ele falou fechando os olhos.
- Sabe do que eu acabei de me lembrar? – ela gargalhava – Oh, meu Deus...
- O que? – ele quase sorriu.
- 20 de Maio de 2009.
- Nossa. – começou a rir – Foi o dia mais insano da minha vida!
- Eu ainda posso ouvir você sussurrando no meu ouvido: “eu quero ver se você vai dançar até o amanhecer quando o sol te encontrar”
- Eu fiz uma música com isso... – ele riu – Eu procurei pelas fotos desse dia semana passada, não as achei.
- Acho que nem chegamos a revelá-las, .
- Nós fomos felizes, ãh? – ele falou com um certo brilho no olhar.
- Sim, nós fomos muito felizes. – o brilho do olhar dele refletiu no dela.
- Quando eu recebi a ligação, eu fiquei sem chão. Eu não sabia o que fazer! Se eu gritava, corria ou, sei lá, esperava.
- Sinto muito por ter ido embora desse jeito. – seus olhos se encheram de lágrimas - Você sabe que se eu pudesse, eu—
- Eu sei, . – respirou fundo – Eu sei disso. Você precisa entender que às vezes eu só preciso de alguém aqui como você.
- Eu entendo isso e, bem, às vezes eu também sinto a sua falta e desejo poder estar ao seu lado. Mas—
- Eu sei. – ele a olhou com o olhar triste – Vamos, er, vamos continuar lembrando de coisas boas? – ele riu. Ela fez que sim com a cabeça e disse:
- Eu menti, ... – começou sem graça – Eu não me lembro de quando nos conhecemos.
- Eu percebi que você não lembrava. – riu – Foi em uma festa, , uma festa de aniversario à fantasia e você estava fantasiada de Branca de Neve. Estava linda. – ele a encarou – Linda sob aquela luz ultravioleta, naquele momento eu soube que você seria alguém especial. Engraçado isso, né? Desde a primeira vez que te vi eu soube que você marcaria a minha vida.
- Acho que me lembro de algo assim. – ela riu. Como antes, ela viu a cena em sua cabeça, as luzes piscando, as pessoas se contorcendo na pista de dança e lá, parado, a observando, absolutamente lindo fantasiado de pirata, praticamente um Jack Sparrow. Seu coração bateu mais rápido. Ela ouviu dizendo: “Aposto um beijo que você me quer.” Riu por dentro se lembrando o quão ridículo ela achou esse “xaveco”. Mas que ela caiu direitinho...
- Lembra de quando te pedi em namoro? – ele ficou vermelho.
- Eu... – ela respirou fundo – Não. Eu não lembro.
- Bom, - ele tentou disfarçar o desapontamento - foi bem aqui. Nesse mesmo banco.
- Aqui? – fechou os olhos com força, ela tinha que lembrar! Era algo importante! Ela se odiou por um momento, como ela foi capaz de esquecer essas coisas? Elas pareciam lembranças de outra vida! De outra pessoa.
- É, foi aqui. – ele abriu os braços - Numa tarde exatamente como essa, fria e sem sol. Mas foi um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida.
E ela se odiou mais um pouco.
- , eu não lembro! – ela gritou, e se levantou do banco prestes a correr – Que... Que... Merda.
- Shhhh – ele a abraçou – Calma. Está tudo bem.
Nos braços dele ela se sentia protegida. Amada. Não se sentia sozinha. Não como estava se sentindo ultimamente. Às vezes parecia que ela estava em um buraco sem fim, ela simplesmente ia caindo e caindo, sem nunca alcançar o chão, então, ela ouvia a voz dele em sua cabeça, a chamando, pedindo por ela e, assim, ela finalmente chegava ao fim, abria os olhos e lá estava ele. Toda a escuridão tomava cor e forma. Mas ela sabia que isso não era bom. Não era bom para ambos. Mas ela odiava cair... E ele odiava ficar sem chamá-la. Um precisava do outro.
- Eu não quero ser quem vai ter que dizer adeus primeiro. – ele disse.
- Eu também, não. – escondeu o rosto no ombro de como uma criança assustada – Eu tentei... Fingi ser forte e fazer o que era certo.
- Se é certo por que parece tão errado? - ele a abraçou forte.
- Eu não sei...
- Eu não quero te deixar partir, . – fungou – Eu não posso te deixar ir. Não posso ficar sem você!
- , dói tanto em mim quanto em você. – ela tinha que se mostrar forte e decidida, tinha que ser assim pelos dois.
- Talvez... Eu só queria saber por quê! – ele a soltou e começou a andar de um lado a outro – Se eu entendesse o porquê...
- Eu já disse que não há um porquê, - ela o acompanhava com o olhar – aconteceu. Todos nós lidamos com isso mais cedo ou mais tarde.
- Mas foi tão... Cedo. – ele parou e a encarou. – Parece que eu fui dormir e... Dormi demais. O mundo mudou completamente enquanto eu estava longe.
- A sua voz ainda ecoa na minha mente... Ainda vejo o seu sorriso quando fecho os olhos, eu ainda te desejo.
- Nessas horas que eu me pergunto, POR QUÊ?! – ele estava vermelho. – Eu não canso de me perguntar por quê! – ele disse derrotado, apenas o encarava, ela via o brilho dos olhos do menino sumindo aos poucos. - , a gente tinha tanta coisa para viver juntos! Tantos sonhos, tantas metas, tantos desejos! Nós tínhamos tanto amor...
- Viva isso com outra pessoa! Não guarde - ela colocou a mão no peito dele – esse amor dentro de você! Distribua o seu amor! Amor guardado perde o valor. Arrume outros sonhos, outras metas e outros desejos! - ela já chorava – Por favor, , viva a sua vida! Por mim! Faça isso por mim. Faça tudo o que nos queríamos fazer.
- Qual o significado de fazer isso sem você? – ele perguntou.
não tinha a resposta para essa pergunta.
- Eu só quero que você viva.
- Eu queria poder parar o tempo só para poder ficar aqui e contemplar você.
- Não. – ela falou. – Tenho que ir.
- , por favor! – ele pediu, seus olhos cheios de agonia – Fica só mais um pouco! Não me deixe sozinho com os meus demônios.
- Eu preciso ir. – falou com pesar – Preciso ir e nunca mais voltar. Nunca mais. Só assim você poderá aprender a viver sem mim e, então, tudo ficará como deveria estar.
- Então vá. – disse ríspido – E prometa que não voltará.
Ela o encarou, seus olhos cheios de lágrimas, ela queria ir, sumir, mas não conseguia, não sabendo que ele nunca a perdoaria, que ele nunca ficaria bem. Era impossível para ela fazer isso. Enquanto ele não seguisse em frente ela não poderia ir embora.
- Nós podemos continuar assim! – ele disse se aproximando dela – Qual o problema nisso?
- , eu não pertenço mais aqui! – ela falou e se afastou dele – Eu preciso ir.
- Não, você não precisa. Eu não quero que você vá. – ele se aproximou de novo – Pega na minha mão e esquece de tudo isso.
ameaçou tocá-lo, mas voltou atrás rapidamente. Isso não era certo.
- Você nunca vai entender, não é? - perguntou, sua voz era um fio.
- Não, nunca. – falou firme. – Te amo demais para isso.
- Às vezes é difícil acreditar nesse amor... – falou ríspida, abriu a boca para dizer algo, mas ela não o deixou continuar – E não me venha falar coisas bonitas! Músicos... Sempre sabem o que dizer a uma garota. – Mais uma vez ele tentou falar, mas ela não permitiu - Você não me ama! Você não pode amar o que você não tem, você ama ter alguém a quem amar! - ela sabia que estava o machucando e sabia que estava errada, ele a amava – Você é egoísta! Só pensa no seu bem estar. Você nem imagina como é ficar presa a esse lugar! , eu não pertenço mais aqui, eu preciso ir embora! Preciso ir atrás da minha paz! Eu já estou me desfazendo... Já perdi minhas memórias, já não me lembro de mais nada, e eu já cansei de sentir como se eu estivesse sempre caindo... Eu preciso de paz. Preciso que você me deixe ir.
- Eu não quero... – ele parecia uma criança manhosa – Não quero. Tenho medo... Sim, eu sou egoísta! Eu tenho medo de nunca mais amar alguém como eu te amo, ou de nunca mais ser amado. São tantos problemas que eu nem quero pensar, por medo de enfrentar! Eu não quero acordar... Com você era tudo muito mais fácil. Você era a minha força e fé.
- Eu vou continuar com você! Sempre! Em todo lugar que você estiver, sempre que você pensar em mim. Eu estarei lá. Torcendo por você, pela sua felicidade!
- Como você sabe? – ele disse – E se você for embora e me esquecer? E se você simplesmente sumir?
- Oh, meu amor... – ela sorriu – Nunca duvide que eu vá estar ao seu lado. Não importa onde eu estiver, eu estarei com você. Sempre que você sentir uma leve brisa, sou eu acariciando o seu rosto, ou quando você sentir o perfume das flores, sou eu te mostrando o quanto a vida pode ser linda.
- ... – o menino agora já não segurava as lágrimas, ele sabia que deveria deixá-la ir, que era o melhor, mas só de pensar nisso o seu coração parecia explodir dentro do peito, ele não conseguia se ver feliz em um futuro sem ela.
- Me deixe ir, . – ela falou passando a mão no rosto dele, sentiu um fraco formigamento na bochecha, fechou os olhos e respirou fundo.
- Só... – ele mal conseguia falar, tinha medo do que estava prestes a dizer – Só prometa que nunca vai esquecer.
- Nunca.
- Nunca. – ele repetiu com a voz embargando – Sentirei a sua falta.
Ele abriu os olhos e ela estava a sua frente o encarando, ouviu como um sopro ao pé do ouvido:
- Todos os dias. Para sempre, juntos.
E como se ele tivesse dado uma piscadela mais longa ela desapareceu de sua vista.
- ?! – ele ouviu uma voz atrás dele – Pô, que você tá fazendo aqui, meu velho?
- Ahn...? – ele estava meio desnorteado.
- O que você tá fazendo aqui, ?! – o amigo sentou-se ao seu lado – Todo mundo tá atrás de você, ... O Pin tá doido já!
- Erm... – olhou em volta, pensando no que dizer – Desculpa...?
- Eu, - o amigo se aproximou – eu sei o que você veio fazer aqui.
- ... – o encarou.
- Não, tá firmeza, brother. – ele riu – Não foi fácil pra ninguém! Principalmente pra você, né... A era uma menina muito especial.
- É... – concordou, sua voz fraca – Mas ela tá bem lá no céu, o meu anjinho. Sempre comigo.
- É isso mesmo, ! – sorriu – É assim que você tem que pensar! Não ficar se remoendo e pensando no futuro que vocês poderiam ter juntos. Continue, e supere. Não só eu, mas você também, sabemos que seria isso que ela iria querer.
sorriu, seu coração se enchendo de calor. Piscou algumas vezes e olhou para cima encarando o céu.
- Eu tenho certeza que ela iria querer isso. – ele sorriu mais ainda.


FIM.


N/a:: Contato: ultraviioleet_@hotmail.com
Twitter: www.twitter.com/xxxraay

N/b: Achou algum erro, seja ele qual for, envie um e-mail diretamente para mim [paulabrussi@gmail.com], ou um tweet, indicando-o e o nome da fic. Obrigada!


comments powered by Disqus