O cruzamento da avenida Bourbon com a avenida Hampshire estava suntuosamente iluminado por diversas luzes coloridas de natal. Do outro lado da rua, uma mulher e abria o porta malas de seu carro, um Chevy vermelho e velho. Ela pegou duas grandes sacolas cheias de coisas coloridas e andou desajeitada sob o peso dos pacotes até uma pequena casa pobremente decorada.
A casa era amarela, e em diversas partes a pintura estava lascada. Na frente, um pequeno Papai Noel estava plantado no jardim, e este estava envolto em neve. A mulher bateu na porta - não havia campainha - e ela se arrepiou quando um vento frio cortou o ar. A porta se moveu devagar e uma velha senhora de espinha curvada espiou por entre a brecha. Ela pareceu reconhecer a mulher que estremecia de frio e a acolheu com um abraço. A porta se fechou.
Alguns minutos depois, um Rang Rover prateado estacionou e um homem de cabelos saltou do carro, carregando um enorme urso numa mão e fechou a porta. Logo após, ele foi para a traseira do carro e tirou uma enorme caixa enrolada em papel vermelho e verde. Ele também rumou para a casinha, parou um instante para observar o Papai Noel e sorriu. O rapaz bateu na porta da casa e a mesma mulher curvada o recebeu com um aceno de cabeça. Ele entrou e pela segunda vez naquela noite a porta daquela casa se fechou.
"O Natal não é um momento nem uma estação, senão um estado da mente. Valorizar a paz e a generosidade e ter graça é compreender o verdadeiro significado de Natal" Calvin Coolidge
sorriu ao ver a garota irromper porta adentro. Ela não era sua mãe nem parente consanguínea, mas a amava demais. Kevin tinha como uma irmã e a jovem sentia muito carinho pela pequena criança que ela adotara como afilhado de coração.
- Epa! Calma aí, garotão; vamos com calma - brincou , quando o garoto apertou forte os pequenos braços em seu pescoço.
- Você demorou - justificou Kevin.
soltou-se do abraço e foi até a mesa da ceia. Um pequeno bolo de chocolate parecia ser o centro das atenções. Um frango de padaria, uma travessa de arroz branco e uma de farofa completavam o buffet. sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e então virou-se para o corredor em direção aos dormitórios. Abriu a primeira porta à direita e deu de cara com Jane, Ive e Bryana que conversavam sentadas no chão. As três sorriram para .
- Podem ir para a sala em cinco minutos? - perguntou a jovem, ainda segurando Kevin pela mão.
- Sim! - responderam as três em uníssono.
Ela abriu a porta da esquerda e não viu ninguém no quarto, apenas três caminhas pequenas de ferro totalmente bagunçadas. No mesmo instante percebeu o que se passava ali. Soltando Kevin ela fingiu estar preocupada.
- Essa não! - balbuciou. - Sequestraram Joan e Michael, Kevin. O que faremos? - alardeou.
Kevin soltou uma gostosa gargalhada e apontou para o guarda-roupa, em algumas partes do móvel a madeira estava comida por cupins.
- Será que eles estão aqui ainda? - continuou . - Uhuuuu! - cantarolou.
nem teve tempo de abrir a porta do armário. Um rapaz bonito apareceu na porta chamando por Kevin.
O garotinho deu um pinote em direção ao homem e estagnou. Seu sorriso vacilou diante da beleza dele. Ela ficou ainda mais assustada no modo como Kevin reagia ao homem; pareciam ter bastante intimidade e isso arrancou um pouco de ciúme dela.
- Tio ! - os outros dois garotos saíram do armário e correram para abraçar o homem.
- Olha se não é Super-Mosca e Homem Libélula! - brincou , abraçando os outros dois.
pigarreou alto para ser notada e Kevin voltou estendendo a mãozinha para ela. O rapaz notou a presença de e levantou segurando cada criança em uma mão. Ele trajava um grosso casaco verde e por dentro uma camisa vermelha - bem ao estilo natalino. - Ele sorriu para , que retribuiu.
- Oi, eu sou - apresentou-se.
- Sei quem você é, mas nunca imaginei que fosse vê-lo cara-a-cara. Sou - respondeu a garota.
sorriu mais ainda e entrou no quarto.
- O garoto fala muito de você! - disse ele, olhando para Kevin.
- Que coincidência - retrucou .
Ambos pegaram as crianças pela mão e levaram para sala, onde a velha senhora terminava de tricotar uma suéter. Ela levantou os olhos para o casal e sorriu meiga, a dentadura amarelada e os cabelos brancos deixavam transparecer a idade avançada. A senhora Scorburn fizera de sua casa um orfanato desde que era jovem. Abrigava sempre seis crianças de cada vez, porque a casa pequena e sem reparos não aguentaria mais que isso.
era muito grata àquela senhora, pois em uma noite fria de natal ela havia sido abandonada à porta da Sra Scorburn que não hesitou em cuidar dela com o carinho de uma mãe. sabia que tinha em algum lugar do mundo, uma família, mas a garota não tinha a mínima intenção de procurar por eles. Estava bem sozinha, havia durado 22 anos e não seria agora que estava estudando na Universidade de Londres e iria começar um novo emprego depois das festividades que se daria o trabalho de ir atrás de quem nunca lhe quis.
, por sua vez, era apenas um músico fazendo a caridade do ano. Quando resolveu se inscrever para ser padrinho de uma criança órfã, não imaginara que ia se apegar tanto ao afilhado.
- Olá, filhos! - cumprimentou a Sra Scorburn. - Sentem-se! - ela apontou para um sofá puído coberto com uma manta amarelo queimado.
olhou no relógio e comentou:
- Estamos há apenas 10 minutos do natal!
As meninas se animaram e Kevin se agitou no colo de . O garotinho não parava de olhar para debaixo da mínima árvore de natal que fora doada por amigos da Sra. Scorburn. então iniciou um debate acalorado sobre o significado do natal, mas a frase mais significativa veio de .
- Acho que além de amor e cooperação é caridade. Sempre encontramos pessoas especiais no natal, pessoas que nos marcarão para sempre em meros segundos.
As doze badaladas da meia noite tocaram. ajudou a velha senhora à se levantar e chamou as crianças para perto da árvore; era hora de distribuir os presentes entre elas, que se animaram demasiadamente. Kevin pulou de cima do sofá no colo de e abriu seu pacote. Retirando um pequeno urso marrom, que fez sua grande alegria.
As garotas ganharam bonecas e kits de maquiagem infantil. deu à Sra. Scorburn uma cafeteira nova e a velha agradeceu calorosomente com lágrimas nos olhos.
- É ótimo estar aqui com vocês, melhor ainda é poder presenciar esse momento feliz com as duas pessoas que mais nos ajudam. - A senhora sentou e voltou a tricotar sua suéter.
***
- Então você foi criada aqui? - perguntou .
- Sim! Eu tenho a Sra. Scorburn como mãe; não podia virar as costas para o orfanato. Sempre volto aqui no natal para passá-lo com a família - respondeu .
- É o primeiro ano que passo afastado da família. Quis ser generoso com os outros nesse natal.
- As pessoas se tornam egoístas sem nem perceberem - começou a garota, olhando para a neve que caía fina. - Só pensam em si mesmas, onde irão passar o natal, com quem irão passar o natal, o que vão ganhar no natal. Nunca pensam em trazer um pouco de calor para um lugar carente de afeto.
olhou com admiração para àquela menina tão jovem e viu nos olhos dela uma resignação em ajudar o próximo. Ele estava encantando com ela, mas quando percebeu que a garota sorria curiosa com o gesto momentâneo dele, virou o rosto para a janela.
Do outro lado da rua, um estranho coral de senhores e senhoras muito gordos cantava um música natalina. Todos usavam gorros vermelhos com um pompom branco na ponta, parecido ao da figura lendária do Santa Claus.
suspirou; estava cansada. Passara o dia inteiro correndo atrás dos presentes para as crianças e agora se sentia recompensada. Todos estavam se divertindo com tudo que ela arrecadara, eles teriam um natal feliz graças à ela e claro, não poderia esquecer de . Ela olhou de soslaio para ele e percebeu que o rapaz observava Kevin brincar com uma grande bola, os lábios dele se curvaram em um sorriso carinhoso e extremamente satisfeito.
- Você gosta mesmo dele, não? - indagou .
- Lembro de mim quando olho pro Kevin.
- Eu também!
virou-se de repente para , que ficou confusa. A boca entreaberta da garota era um convite para o rapaz que não se conteve e tocou seu rosto com os dedos. sentiu a pele corar; ela não conseguia pensar em mais nada, só na distância que diminuía entre os lábios dela e o de . Ele se aproximava para beijá-la, sem realmente saber porque estava fazendo aquilo; só queria poder sentir algo especial naquele natal, algo que não fosse o prazer de ter milhares de garotas gritando seu nome, desesperadas. Ele precisava ter alguma coisa normal em sua vida.
sentiu o beijo com o coração acelerado. Seus lábios se moviam compassadamente e logo após se abriram para aprofundar o beijo delicado. Foram meros segundos; incríveis segundos para ela. Qualquer garota do mundo se rasgaria para estar em seu lugar, mas a garota não estava nem um pingo preocupada com isso, para ela era muito mais que uma celebridade em ascensão, agora. Ele estava se tornando parte importante de sua vida. sentia que o conhecia de muitos anos.
***
Um ano depois do primeiro beijo...
- Mãe! Mãe! - um garotinho irrompeu quarto adentro, pulando na cama de lençóis brancos.
- Ei, não vamos acordar seu pai! Ele está cansado da viajem de ontem, okay? - A mulher sentou-se sonolenta na cama, puxando a criança para um abraço.
- Tarde demais - gemeu o homem, também se sentando.
olhou para , divertida. Os cabelos dele estavam desarrumados e os olhos inchados. Se as fãs o vissem assim, iriam com toda certeza correr quilômetros.
não estava nada parecido com o que ela conhecera um ano atrás. Fisicamente ainda era o mesmo, mas a adoção de Kevin e a decisão de morarem juntos deu-lhe uma maturidade invejável. Agora poderia dizer que pela primeira vez na vida tinha uma família.
abraçou a pequena família e por cima da cabeça de Kevin sussurrou após um beijo:
- Feliz Natal, ! Eu amo você.
- Eu te amo - retrucou .
- Ei, eu ainda estou aqui - Kevin reclamou.
Do lado de fora da pequena casa amarela, agora totalmente reformada. Um coral cantava uma música conhecida para todos ali presentes: Happy Christmas (War is Over), e então outras cinco outras crianças adentraram afobadas no quarto. "Agora sim", pensou , "minha família está completa".
comments powered by Disqus Nota da Beta:Comentem. Não demora, faz a autora feliz e evita possíveis sequestros - só um toque. Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por email ou Twitter. Obrigada. Amy Moore xx