12/06/2010 – 02:50 AM.
Deitado em minha cama jogando dardos no calendário.


Sinceramente? Nunca gostei do dia dos namorados. Mais do que uma data onde as lojas esvaziam a carteira de todos os pobres rapazes apaixonados e enchem de esperança e sonhos toda garota com mais de doze anos, é também um dia de muitas confusões para mim. Lamentavelmente, não há um ano em que eu saia ileso dessa “comemoração” desde os meus catorze anos. Isso porque tem gente que pensa que só as garotas solteiras odeiam o dia dos namorados! Mas isso é só porque eles não me conhecem. Pelo menos não o suficiente...

Até meus catorze anos, nunca liguei muito para essa data. Verdade seja dita: mandei um ou dois cartões para garotas, porém nada sério. Mas naquele ano, tudo havia mudado. Eu tinha encontrado a “mulher da minha vida”. Ao menos era o que eu achava na época.

Sara. Era esse o nome dela. Ruiva de cabelos longos e cheios de cachos, tinha treze anos e sardas no rosto, nariz arrebitado e usava aparelho fixo nos dentes. Eu achava-a perfeita e tinha dito isso a ela há uma semana quando gravei as nossas iniciais no tronco de uma árvore do pátio e lhe dei um anel que roubara de minha mãe. Fiquei um mês de castigo sem poder jogar vídeo game. Sara terminou comigo no dia dos namorados quando recebeu um cartão de algum garoto mais velho.

Com quinze anos, fui a um baile de outono no dia doze de junho com uma das garotas mais bonitas, em minha opinião, da escola. Melissa. Ela estava linda. Dançamos a noite toda e a comida também estava uma delícia. Tanto que acho que acabei exagerando. Naquele dia, fiz uma nota mental: nunca comer muito perto de uma garota. Além de elas não aprovarem em nada a situação e acharem que você é um morto de fome e só saiu com elas para comer, ainda pode ter más conseqüências... Bem, eu tive.
Na hora da dança, onde escolheriam o rei e a rainha do baile, acabei vomitando na roupa da Mel e não teve desculpa que a fizesse me perdoar. Quando eu disse que não fui eu quem estragou a noite dela, mas, sim, o meu irmão gêmeo malvado, ela só ficou mais zangada! Espalhou para a escola toda que eu beijava mal quando eu na verdade nunca tinha beijado nenhuma garota. Até hoje, quando a vejo na rua, ela vira a cara.

No ano seguinte, eu estava de saco cheio das garotas. Resolvi que não queria mais nada com ninguém, que eu não estava pronto para nada sério. No fundo, eu estava morrendo de medo de levar outro fora. Acabei indo ao baile de inverno sozinho. O único garoto sem par. Nesse dia eu entendi uma coisa: quando uma garota vai a um baile sozinha, é porque ela foi para dançar e se divertir com as amigas. Agora se um garoto vai a um baile sozinho... “Coitadinho. Ele não conseguiu um par!” E quando vi uma garota saindo do seu grupo de amigas, sorrindo e vindo em minha direção, perguntando se eu estava sozinho, achei que ela estava a fim de mim. Ela riu e disse com voz de pena: “você quer que tentemos encontrar algum par para você?”.

Com dezessete, tive a minha primeira namorada séria: Catarine. De olhos e cabelos claros, com descendência alemã, a garota enrolava na língua e enganava meio mundo, fingindo ser de intercâmbio. Inclusive a mim.
Desesperado, sem saber como agradar a “extrangeirinha”, pedi conselho à pior pessoa que poderia pedir: minha mãe. Nunca mais.
Ela disse para eu comprar flores à menina e me tranqüilizou, falando que cuidaria do jantar. Confiante na opinião de mulher de minha mãe, comprei um lindo buquê de tulipas vermelhas (que significam declaração de amor, segundo mamãe) e fui todo contente entregar na porta da minha namorada, só para descobrir que ela tinha alergia a flores. E para redimir a minha situação, quando chegamos à minha casa, o chão estava inteirinho coberto das malditas flores e tocava no último volume:


“Garçom! Aqui!
Nessa mesa de bar...
Você já cansou de escutar
Centenas de casos de amor...

Garçom!
No bar, todo mundo é igual.
Meu caso é mais um, é banal.
Mas preste atenção, por favor...

Saiba que meu grande amor
Hoje vai se casar.
Mandou uma carta para me avisar,
Deixou em pedaços meu coração..."



Uma música do Reginaldo Rossi! Realmente era o que faltava para minha extrangeirinha ficar caidinha por mim! Dá para imaginar o que aconteceu depois, não?

Com dezoito anos, eu estava saindo com Lizzie. Eu não era apaixonado por ela. Éramos apenas amigos. Mas quando ela me contou que sentia algo mais por mim, pedi-a em namoro. Contudo, acho que nunca a vi como namorada. Esqueci-me completamente da data e a chamei para ir ao cinema. Como toda garota normal, ela esperava um filme romântico ao invés de um filme de alienígenas. Depois disso, a menina disse que eu não a via mais do que como uma amiga e levei algumas semanas para entender como ela chegou a tal conclusão.

Mas, falando sério, de todos os dias dos namorados, tenho certeza de que nenhum vai ser mais estranho do que esse. E olhe que o dia mal começou! A verdade é que estou acordado a essa hora porque tenho medo de estragar tudo esse ano de novo. Eu sempre estrago! Só que agora é diferente, agora a garota importa. Eu... Amo a , apesar de nunca ter dito isso a ela. Não quero fazer nenhuma merda! Não quero que ela acabe com tudo!

Eu queria muito dizer isso a ela, mas não sei como! Não tenho coragem de falar e não sou bom com palavras. Sempre acabo me enrolando. Pensei em escrever. Tenho aqui em minha gaveta diversos bilhetinhos, vários recados de amor rabiscados em minha caderneta durante a madrugada depois de algumas bebidas... Porém, nunca tive a coragem necessária para entregá-los. Queria muito fazer isso hoje, junto com o seu presente. Sabe, as pessoas normais reconheceriam que esse era um dia propício, no entanto, não para mim. Não para o cara que atraía azar no dia dos casais enamorados! E, como se fosse uma prova de que não era esse ano que as coisas mudariam, ontem vi uma cena preocupante na casa do meu melhor amigo...


*Flashback*

11/06/2010 – 16:32 PM. Casa do .



– Ande logo com essa pizza, cara! Estou morrendo de fome! – gritei deitado de ponta cabeça na cama de

– Você morrendo de fome? Nossa, que milagre! – ironizou o meu amigo da cozinha. – Calabresa ou mozarela?

– Hum... Não sei. Difícil escolher... – respondi, examinando o quarto de , e, de repente, os meus olhos pararam em uma revista impressionante na lixeira do quarto dele. Era mesmo uma...? Não, não podia ser. Seria muito desperdício!

Cheguei mais perto e constatei decepcionado que estava certo. Mas... O que aquela Playboy com a Angelina Jolie na capa estava fazendo na lixeira? Tinha que estar havendo algum equívoco.

Peguei a revista do lixo e foi aí que percebi que alguém, provavelmente o mesmo maluco que havia jogado-a no lixo, tinha rabiscado a indefesa donzela gostosa. Surpreso, comecei a coçar a cabeça, sem entender o que estava acontecendo ali. Foi quando os meus olhos bateram em papeizinhos amarelos amassados dentro da mesma lixeira.

Lentamente, agachei-me e peguei alguns daqueles papéis. Quase me engasguei com o que li. Não era possível! Os bilhetes eram... DECLARAÇÕES DE AMOR! DECLARAÇÕES DE AMOR PARA UM HOMEM! MAIS ESPECIFICAMENTE, PARA O PEDREIRO QUE ESTAVA TRABALHANDO NA CASA VIZINHA! Eu não podia acreditar... era gay de verdade!

Não tive muito tempo para pensar nisso, pois ouvi os passos de e rapidamente recoloquei a Playboy e os bilhetes no lixo.

– Pedi calabresa com mozarela..

– Até que enfim... – comentei, observando um chupão no pescoço do amigo que antes não tinha reparado e pensando seriamente em perguntar a origem, mas arrependendo-me segundos depois.

*Fim de flashback*


Como podem ver, o destino já estava sinalizando que seria mais um dia dos namorados atrapalhado em minha vida. Suspirei, sentindo o suave cheiro do perfume de . Perfume de melancia, sua fruta favorita. Aquela menina doce, distraída, com uma mente fértil, louca, que eu admirava e até achava divertida. Aquela garota extremamente teimosa, orgulhosa, brava, que muitas vezes me irritava de propósito, que tinha a engraçada mania de falar alto e grosso quando estava empolgada e uma tattoo de coração nas costas que eu achava sexy. A que muitos achavam estranha e, no entanto, eu estava viciado. Quem, por ironia do destino, eu havia conhecido na sala de espera de um hospital, quando está chegou engasgada com a semente de uma melancia. Não quero, não posso estragar tudo. Estava decidido a fazer de tudo para tornar este o melhor dia dos namorados da vida dela.

Preparei tudo com o maior cuidado no dia anterior. Comprei um coração de chocolate com o nome dela escrito, também uma aliança com o dinheiro que andei economizando de meu salário há uns bons quatro meses e uma lingerie preta que vinha junto com um chicote. Por alguma razão, eu adorava o chicote na mão dela, especialmente à noite.

Peguei a vassoura e um saco plástico e fiz uma limpeza geral em meu quarto, tomando o cuidado de retirar revistas de material “inadequado para a presença do bom humor de ”. Incluindo aquelas com as jogadoras de Handebol que ela tanto implicava. Verifiquei se não havia nenhum cigarro que pudesse ter deixado cair em alguma das vezes em que veio à minha casa – coisa que acontecia de vez em quando para o aborrecimento de minha namorada – e organizei inteirinho o meu quarto. Estava tudo pronto para o grande momento. Respirei fundo e me deitei na minha cama para tentar dormir.


12/06/2010 – 17:06 PM.

Subimos de mãos dadas para o meu quarto e então pedi que a minha namorada se sentasse em minha cama. Peguei o coração de chocolate e coloquei no colo da menina que sorriu e tentou me beijar. Pedi que esta esperasse. Abri a gaveta e peguei o meu caderno de anotações, onde fiz as declarações, e o coloquei também no colo dela, que leu em silêncio cada página. Acompanhei com atenção todos os movimentos dela, enquanto lia, o correr dos olhos, a respiração que se tornava mais rápida, o movimento de seus dedos ao virarem as páginas e o seu sorriso que crescia conforme ela ia avançando no texto.

terminou der ler as declarações e apenas ficou olhando para mim, sorrindo. Correspondi a esse sorriso, sentindo que nele estavam embutidas palavras – palavras muito mais significativas do que aquelas que escrevi e poderia dizer. Dei-lhe um longo selinho que com o tempo se transformou em um beijo apaixonado quente, lento e carinhoso, que só pausara depois de alguns minutos por mim para dizer:

– Eu te amo, minha querida... – e, dizendo isso, trocamos mais um olhar e voltamos a nos beijar. Passei as mãos nos cabelos dela e deixei a minha mão descer até as suas costas, tocando-lhe por dentro da blusa e a fazendo se arrepiar, não somente pelo toque de meus dedos, mas pela a temperatura fria destes. Ela cravava as suas unhas em meu pescoço.

Nós dois ficamos deitados e abraçados por um bom tempo juntos. Apenas isso. Somente isso. Como se o mundo acabasse ali conosco e problemas não existissem. O mundo tornou-se nós, o calor, a serenidade, a paz, nosso amor... Momento que somente fora interrompido depois de muito tempo, porém que parecera questão de segundos.

– Preciso entregar o seu presente.

– O quê? Você já me deu.

Sorri de um jeito divertido.

– Não foi suficiente.

– Ah, não, ! Outro? Isso não é justo. Só lhe dei um relógio.

– Junto com uma camisa, um perfume e a sua presença, o que torna impossível eu igualar as coisas.

– Bobo! – ela disse, sorrindo e me dando outro selinho.

– Linda! – respondi, devolvendo o beijo.

Dei a ela o embrulho com o lingerie e a vi abrir com curiosidade. Ela deu um sorriso esperto quando viu o conteúdo do pacote e bateu com o chicote no chão, perguntando com uma voz alta e grossa que me fez sorrir. Ela era mesmo uma gracinha.

– Você quer saber como vai ficar?

– Com certeza... – eu disse, sorrindo de um jeito safado.

– Está bem... – ela disse, saindo com o presente na mão.

? Aonde você vai? – perguntei confuso.

– Ao banheiro, ué... Para vestir o meu presente.

E falando isso, ela me deixou lá. Esperei por longos dez minutos (está bem. Três e meio) e fui até lá ver se ela estava bem, levando comigo a aliança.

Quando cheguei lá, deparei-me com uma de lingerie preta deitada em minha banheira e me esperando.

– Sabia que não iria agüentar esperar.

Sorri e dei um beijo em sua cabeça.

– Esperar? Mas já esperei tanto tempo por esse momento...

E observando a sua cara de confusa, mostrei-lhe a aliança.

, eu...

– Agora é oficial. , eu te amo como nunca amei outra pessoa antes. Aceita namorar comigo? – refiz a pergunta que fizera há cinco meses, dessa vez do jeito certo.

– Sim. Eu também te amo, – ela disse, sorrindo, e coloquei a aliança em seu dedo. Logo depois, selei o momento com um longo beijo.


12/06/2010 – 11:45 PM.


E esse foi o melhor dia dos namorados de minha vida.

Fim!






comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.