null voltava para casa após um longo e cansativo dia. Caminhava pelas ruas sem prestar muita atenção por onde passava; seu corpo automaticamente já sabia o caminho. O emprego temporário que havia arrumado no último ano da faculdade acabou se tornando definitivo, e o trabalho ocupava grande parte do seu tempo. O estresse estava tomando conta de sua vida nos últimos dias. E coisas simples, como flores e romances, estavam irritando-a demais.
Perdida em pensamentos, esbarrou em um casal, que aparentava ter a sua idade, agindo como adolescentes. Não suportava ver uma cena como aquela. Adultos fingindo serem adolescentes? Era só o que faltava. As responsabilidades da vida é que acabam com a sua adolescência e então adeus dias felizes. Contas para pagar, relatórios para entregar, casa para arrumar e nenhum tempo para romance, essa era a verdade da vida adulta.
Chegando ao seu destino, null cumprimentou o porteiro e entrou no elevador rumo ao sétimo andar, já esperando tomar um banho longo e relaxante. Mal podia imaginar que seria surpreendida por null dormindo encostado em sua porta. Ele era seu melhor amigo, ou em outras palavras, seu único amigo desde que se conhecia por gente. Se null tinha uma cópia da chave do seu apartamento, o que estaria fazendo ali do lado de fora?
Sem muita delicadeza, null o chacoalhou e começou a bater no rosto do rapaz, chamando seu nome repetidas vezes. “Vamos, acorda logo, null”, pensou ela, sem conseguir tirar seu banho relaxante da cabeça.
− Hm... Mãe? Eu já vou acordar, mãe. Ainda é cedo... − sussurrou ele, ainda adormecido.
− Que mané mãe o que, null? Levanta logo que eu não estou com paciência hoje! − ao ouvir sua voz, o rapaz sorriu de lado, abrindo os olhos com dificuldade.
− null, querida! Achei que você chegaria mais cedo em casa, hoje... − ela revirou os olhos, lembrando-se dos trabalhos extras que fora obrigada a fazer. − Vim te visitar e esqueci minha chave.
− Ok, ok. Já entendi! Agora levanta da minha porta, que eu estou morta de cansaço e quero muito a minha cama.
null suspirou, envergonhado por ainda estar deitado na porta do apartamento da amiga, e se levantou, dizendo em voz baixa:
− Já vi que seu humor não está dos melhores hoje...
null gostava de ver a amiga irritada, mas quando ele era o motivo da irritação. Estar irritada por qualquer outro motivo no mundo e descontar no melhor amigo não era justo, segundo ele. null fingiu não ouvir o que ele disse, mas ficou ainda mais irritada com aquele comentário. Ignorar era a melhor vingança, era isso que sua mãe sempre dizia. Suspirou, irritada, entrando em seu apartamento com null em seu encalço.
***
Após entrar em seu apartamento e finalmente tomar seu banho relaxante, que não pode ser tão longo quanto ela desejava por conta da visita inesperada, null vestiu seu pijama favorito e voltou à cozinha, onde null estava esperando-a.
− Você ainda tem esse pijama ridículo dos Ursinhos Carinhosos? − null tentou conter uma risada em vão − Eu acho que te dei isso de presente quando você fez 15 anos!
− Num enche vai, null! − ao ver a cara de brava da amiga, tudo o que ele pôde fazer foi rir ainda mais alto. − Já mandei parar, null, mais uma dessas e eu não respondo por mim...
Imediatamente, o rapaz parou de rir e adquiriu uma feição séria e pensativa. Sabia que havia algo errado quando null o chamava pelo nome. Então colocou dois pratos na mesa e os serviu com o mac and cheese que havia preparado enquanto a amiga tomava banho. Os dois se sentaram para comer e após algum tempo em silêncio ele finalmente criou coragem para falar.
− 'Ta tudo bem, null?
− Tudo ótimo. − ela respondeu com o tom de voz ainda grosseiro.
Passaram-se mais dois minutos em silêncio, até que o receio de prosseguir com a conversa deixou null se pronunciar mais uma vez, lembrando o motivo que o levara até o apartamento da amiga.
− Sabe, null, amanhã eu vou sair pra jantar com aquela menina que eu te contei semana passada... − um sorriso bobo apareceu em seu rosto, mas null conhecia esse sorriso e sabia muito bem o que significava.
− A Kimberly? − respondeu ela, sem expressão nenhuma no rosto.
− O quê? − null arregalou os olhos − A Kimberly já é peça de museu, faz um mês que eu saí com ela, null.
− Ah, ótimo saber que a próxima que você vai comer é carne nova na sua cama! − ironia correndo solta, tudo o que a garota precisava era ouvir esse tipo de coisa.
Não que null se importasse com as garotas que iam para cama com null, afinal, ele era seu melhor amigo e ela via aquela cena se repetir todos os finais de semana desde que se formaram e null deixou de ser o nerd da sala 301. Ela só estava cansada de tanto ouvir a mesma história...
− Qual é o problema com a Lauren? − perguntou null, visivelmente ofendido.
− Não há problema nenhum! Que inferno. − null subiu um tom ou dois sua voz para responder impaciente.
null já estava se irritando com a maneira estúpida que null estava o tratando. Os dois se conheciam desde que entraram na escola e nunca haviam se desentendido, exceto pela vez que null roubou sua Barbie preferida e mergulhou ela na privada, mas aquilo fazia muito tempo para ser considerado. O rapaz se perguntava qual era o problema de null. Mais trinta segundos em silêncio...
− 'Ta tudo bem com você mesmo? − perguntou, recebendo um olhar assassino de null.
− Eu já disse que sim! Por que você está insistindo tanto nisso? – ela não se conformava de estar tendo uma conversa daquelas depois de um dia longo daqueles.
− Talvez por que eu esteja vendo que tem alguma coisa errada, null. – null sorriu, se sentindo inteligente como nos tempos do colégio, e null revirou os olhos, não gostava quando o amigo começava a pensar como um sabe tudo.
null continuou pensando por mais alguns minutos enquanto comiam. E levantou algumas possibilidades para explicar o que causara tamanho surto de mau humor em null. Mas, para ter certeza, teria que enfrentar a fera e perguntar se suas hipóteses se provavam teorias.
− TPM?
− Não, null! Eu já disse que está tudo bem, porra. − disse ela, se levantando da mesa sem ao menos terminar de comer.
null não era do tipo que aumentava a voz para ter a razão. null nunca recusava o mac and cheese do melhor amigo. null nunca se descontrolava a ponto de gritar palavrões. null respirou fundo antes de se levantar, seguindo a amiga até a sala e explodir, sem controlar o volume de sua voz.
− Vai ser assim então, null? Desde quando você fala desse jeito comigo? − null podia ver o quão desapontado o amigo estava, mas não conseguia evitar a explosão.
− Desde quando você invade meu apartamento! – null não podia acreditar naquela resposta, ele estava sempre no apartamento da amiga, até o porteiro já o conhecia.
− Olha aqui. Eu estou aqui tentando descobrir o SEU problema. Mas esse seu humor me deixa com uma única opção... – null olhou fundo nos olhos da amiga, já sabendo que iria magoá-la, pois a verdade dói. − Há quanto tempo você não deita com um homem, null?
O desconforto que tomou conta do ambiente poderia ser sentido de longe. O silêncio que tomou o apartamento parecia fazer a pergunta ecoar na cabeça de null, mas era tudo culpa de sua imaginação. Como ele poderia perguntar uma coisa dessas? Os dois se conheciam desde sempre e tinham intimidade o suficiente para conversar sobre qualquer coisa. Mas, para null, isso era visto como uma acusação sem cabimentos. null levou alguns instantes para se recuperar, antes de responder, entre dentes:
− Isso não é da sua conta, null. – ao ouvir o tom da voz de null, ele fechou os olhos, se arrependendo, mas agora não tinha mais volta.
− Como seu amigo, eu devo te dizer a verdade. E a verdade é que esse mau humor é falta de homem! Você precisa é de uma boa noite de sexo, null. − null soltou um riso debochado e malicioso antes de continuar. − Esqueça um pouco seu trabalho, você é jovem demais para se escravizar tanto. Você necessita muito mais do que comer e dormir para viver. Lembre-se disso.
E então saiu pela porta, deixando null sozinha, imersa no silêncio de seu apartamento. As palavras duras do amigo não faziam sentido, é claro que havia algum tempo que não se deitava com ninguém. Na verdade, nem se lembrava da última vez que o fizera. Mas nunca teve necessidade disso. Não era nenhuma pervertida, sobrevivia muito bem sem sexo. Ou pelo menos, era isso que dizia a si mesma.
***
Duas semanas haviam se passado. Duas semanas sem dormir direito durante a noite. Duas semanas sem saber de null. Duas semanas de pensamentos a atormentando. Duas semanas dizendo a si mesma que tudo estava bem. Duas semanas de sonhos relacionados àquela conversa a atormentando. Havia tentado conversar com algumas colegas no escritório, mas não tinha coragem de falar com elas sobre um assunto como aquele. “O que elas iriam dizer?”, pensava null.
A verdade é que, depois de várias desilusões amorosas, null deixara de acreditar que era necessário ter um homem por perto. Um homem que estivesse envolvido com ela, que falasse sobre amor só para conseguir se deitar com ela no fim da noite. Na época da faculdade, null acreditava que devia sair todos os finais de semana para beber e se divertir. Mas esse pensamento apenas fez com que ela se iludisse. null tinha se apaixonado por vários homens errados e se entregado completamente para eles, antes de descobrir que isso era tudo o que eles desejavam.
Quantas noites sonhando em acordar ao lado daquele que havia se deitado se tornaram decepções ao acordar completamente sozinha, apenas de roupas íntimas, envolvida em seus lençóis sem que houvesse nenhum bilhete no travesseiro ao lado. Depois de muito sofrer, null desistiu das festas e bebedeiras e se tornou mais independente. Deixou de confiar no sexo oposto e passou a se importar apenas com si mesma.
Talvez o amor fosse apenas uma invenção de poetas tarados que precisavam tomar uma atitude para que as esposas não tivessem mais dores de cabeça todas as noites. Talvez fosse apenas história para crianças dormirem, sonhando com contos de fadas para que não enxergassem o mundo terrível que viviam, enquanto estivessem ocupadas com suas ilusões. Talvez o amor fosse só uma esperança, que não existisse.
Se houvesse amor, o sexo não moveria o mundo do jeito que move. Pessoas não ganhariam a vida com isso, e outras, como null, não viveriam cada final de semana com uma mulher diferente na cama. Mas por que ela precisaria de sexo? O sexo não era apenas uma distração, uma forma de entretenimento pessoal? null tinha televisão em casa e adorava passar suas tardes e noites livres vendo séries de comédia, parecia entreter o bastante, não?
null apostava a maioria de suas fichas no estresse que o trabalho causava, mas não poderia negar que a hipótese do amigo tinha seus fundamentos. Talvez, apenas talvez, null estivesse certo. Mas se o destino não a ajudava a se aproximar do sexo oposto, o que ela poderia fazer para controlar seus hormônios? Contratar um garoto de programa estava completamente fora de cogitação, mesmo que a ideia tenha passado pela cabeça de null por singelos dois segundos. Ir para balada também não era uma boa opção, fazia tempo demais que não frequentava aquele ambiente e não saberia nem qual roupa usar. Mas ela podia mudar a rotina para quem sabe dar a chance que o destino precisava para ajudá-la e foi isso que null fez.
Na manhã seguinte, resolveu sair de casa mais cedo e passar em um café antes de ir trabalhar. Sempre via aquele charmoso café na esquina de seu prédio, mas nunca havia parado por ali antes. Um sininho tocou quando ela abriu a porta, chamando a atenção de todos os presentes e null se dirigiu ao balcão, envergonhada. O cheiro de café que tomava conta do ambiente deixou a garota extasiada, já podia sentir seu humor mudando. Era um café muito bem decorado, com imagens de várias cidades do mundo e grandes sofás, o que fez com que null se sentisse em casa rapidamente.
− Bem vinda ao Le Monde du Café, em que posso ajudá-la? − perguntou uma velha garçonete que já deveria ter se aposentado há algum tempo.
− Eu gostaria de um cappuccino e um croissant, por favor. − null respondeu, vendo que um rapaz jovem e bonito se aproximava do lado de dentro do balcão.
− Pode deixar que eu retiro o pedido dela. − os olhos azuis dele brilhavam enquanto ele falava. – Cappuccino mais croissant, certo? É pra já! − o rapaz piscou para null e foi buscar seu pedido.
null resolveu se sentar em um dos grandes sofás e se perdeu em pensamentos. Será que o destino podia agir assim tão depressa? Por que ela nunca havia tentado antes se era tão simples? Antes que pudesse responder essas perguntas, o jovem garçom dos olhos azuis se aproximou e ela notou que seu crachá dizia "Derek". Ele trazia seu pedido em uma bandeja. O uniforme azul claro caia muito bem em contraste com seus olhos...
− Muito obrigada, Derek. − ela sorriu, tentando parecer simpática. − Você trabalha aqui há muito tempo? − arriscou ela.
− Bom, a loja é da minha família e meus pais restauraram o café faz uns três anos. − o rapaz sorriu orgulhoso. − Trabalho aqui desde então para pagar a faculdade.
− Interessante...
− Espero que o café esteja ao seu gosto. − ele se virou para atender outras pessoas, null sentia a oportunidade escapando de suas mãos.
− Derek! − gritou ela − Será que você não gostaria de tomar um café mais tarde comigo?
O garoto sorriu de maneira irresistível antes de jogar os cabelos para o lado de maneira mais irresistível ainda. E para surpresa de null, balançou a cabeça negativamente.
− Desculpa... − ele prolongou a sentença como se perguntasse o nome dela, null respondeu "null", desanimada. − null. É que eu sou casado! − disse ele sem graça, apontando para a aliança dourada na mão esquerda.
null abriu a boca para tentar responder, mas não conseguiu formar nenhuma frase conexa. A vergonha que estava sentindo era a mesma que sentiu ao tropeçar na frente do garoto mais lindo do colégio, aos 16 anos. Derek, notando o desconforto de null, resolveu dizer mais alguma coisa para que ela não se sentisse mal.
− Sabe, null... Se eu não fosse casado, eu não deixaria você ir embora sem pegar seu telefone. – Derek sorriu mais uma vez, fazendo null se derreter. – Você é linda!
null sentiu as bochechas corarem ao ouvir aquilo. Derek era o homem perfeito, se preocupando em dizer coisas legais até depois de ouvir uma cantada. Mas nada pode ser 100% perfeito, ele era casado. “Não se deve cobiçar o homem do próximo”, essa frase passava pela cabeça de null sem parar. Derek apenas deu um sorriso torto e voltou ao trabalho. null se sentiu idiota mais uma vez, terminou seu cappuccino em um gole, embrulhou o croissant para viagem e se retirou, fazendo o sininho idiota tocar mais uma vez. Como ela poderia não ter notado a aliança no dedo dele antes de fazer aquela cena?
Talvez o destino não fosse tão simples assim. Talvez ela apenas estivesse destinada a nunca mais se deitar com homem nenhum. Uma coisa null tinha certeza: nunca mais voltaria ao Le Monde du Café. Assim como sempre procuraria alianças para não acabar paquerando homens comprometidos. Ela não poderia desistir no primeiro obstáculo, apesar de parecer tentador. Se null estava certo, seu problema não era impossível de ser selecionado. Seguiu para o escritório, já sabendo que mais um dia longo e tedioso viria pela frente...
***
Não poderia esperar muito de seu dia mesmo, ela odiava as terças-feiras com muito mais intensidade do que pessoas costumavam odiar as segundas. O dia no escritório foi péssimo. null estava em seu último parágrafo do relatório quando a energia acabou e todos os computadores apagaram. Havia perdido três dias colhendo informações sobre a Identificação e Melhoria de Problemas Mercadológicos e mais um dia inteiro de trabalho para redigi-lo para perder tudo nos 44 do segundo tempo.
Permanecera no escritório por mais uma hora e meia até que os técnicos disseram que todos poderiam ir para casa, o problema com a energia não seria resolvido até o dia seguinte.
null desceu os vinte andares que separavam o escritório do térreo, chegando quase sem fôlego. Não suportaria ir andando até sua casa, caminhar mais 30 minutos realmente não estava nos seus planos. Parou num ponto de ônibus e resolveu esperar, mesmo sem ter certeza de qual iria para sua casa. Enquanto esperava, distraiu-se escrevendo uma mensagem para null. Digitar, apagar, digitar, apagar... As palavras lhe faltavam, pois não queria que o amigo tivesse certeza que estava errada. No fim, enviou o texto mais simples possível: "Talvez você esteja certo, me desculpe pelo outro dia. Sinto sua falta! null". Após tomar a iniciativa no caso null, perguntou para uma senhora qual ônibus passava perto de onde morava e se surpreendeu com sua rápida chegada. Desceria treze pontos adiante.
Por sorte, o ônibus estava vazio e ela pode se sentar sem ninguém ao seu lado. null tinha certo pavor a estranhos que se aproximavam no ônibus, esse era um dos motivos que preferia voltar para casa caminhando. Quatro pontos depois de sua entrada, uma multidão adentrou o ônibus. null, irritada, só conseguia repetir em sua mente: Terça-feira. Terça-feira. Terça-feira. Olhou o relógio no pulso, era meio dia e meia, hora de sair do trabalho e ir almoçar.
null olhava todos que passavam pelo corredor com um olhar intimidador, que fazia com que as pessoas se afastassem. Por um segundo, ao ouvir um grito, sua atenção foi voltada para rua. Quando, no segundo seguinte, voltou os olhos para o ônibus, o assento ao seu lado estava ocupado por um homem de olhos acinzentados e sorriso fácil. Ele sorriu para ela e a proximidade fez com que ela sentisse seu hálito de hortelã, desejando sentir também o seu sabor... “Controle esses seus pensamentos, null! Onde você vai parar se continuar assim?”. Antes de continuar com seus pensamentos enlouquecidos, ela buscou com os olhos as duas mãos do homem que estava ao seu lado. Sem aliança, melhor assim.
− Desculpa, eu não aguento silêncios constrangedores como este. Posso perguntar seu nome? − null ouviu aqueles olhos acinzentados dizerem.
− Meu nome é null. Você é...
− Pablo. Encantado em conhecê-la. − o homem se contorceu no pequeno assento do ônibus, na tentativa de fazer uma reverência. null riu. − Eu sempre pego esse mesmo ônibus e nunca te vi por aqui... Não me esqueceria desse sorriso lindo.
− Bom, eu costumo andar até em casa, mas hoje não foi um dia muito bom. − suspirou pesadamente ao se lembrar de tudo o que ocorrera.
− Espero que goste tanto da viagem que passe a vir sempre de ônibus. − o cheiro de hortelã invadiu novamente suas narinas, e ela sorriu. − Qual seu livro favorito?
Mil e um pensamentos passaram pela cabeça de null. Só poderia ter encontrado um louco, pensava ela. Mas um louco com um delicioso hálito de hortelã, ela corrigiu-se. Por fim, decidiu que ser educada mesmo se ele fosse louco era a melhor das saídas para a situação. Faltavam apenas mais seis pontos até sua casa...
− O Mundo de Sofia. − respondeu com sinceridade.
− Um romance da história da filosofia? − Pablo parecia surpreso, como se não acreditasse no que ela havia dito.
− Sim, li pela primeira vez aos quinze anos e reli mais de três vezes. − ela sorriu orgulhosa.
Passaram algum tempo em silêncio e null realmente não conseguia compreender o homem que estava ao seu lado. Sua expressão era calma e distante, ele parecia estar pensando em qualquer coisa que precisasse fazer em casa e ter se esquecido da moça ao seu lado. Talvez sofresse de déficit de atenção... Quando finalmente se pronunciou, seus olhos brilhavam.
− Sou formado em Filosofia e Ciências Sociais. É uma área da ciência esquecida pelo mundo, apesar de ter sido o início de tudo. − fez uma pausa. − Fico fascinado quando encontro pessoas que se interessam por essa área. Gostaria muito de te encontrar qualquer dia para discutirmos o livro. O que acha? − null deu de ombros e sorriu levemente. − Seu telefone! null, certo? Anote seu número aqui e eu te ligo...
null anotou seu número em um dos cadernos de Pablo, fazendo questão que o número 1 e o número 7 ficassem bem parecidos e torcendo para que ele ligasse para o número errado. Pablo era estranho demais para o tipo que estava acostumada. Se é que havia um tipo em que ela estivesse acostumada... Onde estava null para tirar ela de uma dessas? Lembrava-se da época do colégio, quando o amigo fingia ser seu namorado para que os malandros não se aproximassem dela. Bons tempos!
Olhou em volta e opa... Seu ponto havia passado enquanto se distraia com o discurso de Pablo. Além de ser um mala, ainda fazia as pessoas perderem o ponto! Bom, ele ainda tinha hálito de hortelã, se é que isso significa alguma coisa numa hora dessas... null se levantou num pulo, já fazendo sinal para o motorista enquanto Pablo continuava seu discurso.
− A emoção de encontrar alguém que tenha a filosofia como hobby é inexplicável... Mal posso esperar para o nosso encontro!
− Tchau, Pablo. Até uma próxima!
− Foi um prazer conhecer você, null. − e ele continuou depois que ela desceu do ônibus, gritando pela janela − Eu vou te ligar, não esquece!
− Até nunca mais, Pablo. − null pensou, sorrindo para si mesma por ter se livrado daquele Sócrates moderno.
Depois de andar em direção ao seu prédio, fazendo questão de passar pelo lado oposto do Le Monde du Café, null avistou um caminhão de mudanças em frente à garagem, e como sua curiosidade não lhe dava sossego, disse olá ao velho porteiro:
− Oi, seu Charles. Como está? – sorrir e conversar com alguém civilizadamente não faria mal.
− Olá, null – disse com sua voz calma e reconfortante. De vez em quando ela conseguia se lembrar de seu avô ao conversar com o velho Charles. – Eu estou muito bem, e a senhorita?
− É, estou bem também, Charles. – mordeu sua língua até que a curiosidade falou mais alto. – Hm... Quem é que está se mudando?
− Você se lembra da médica que morava no oitavo andar? – null concordou com a cabeça. – Pois bem, ela se mudou há uns dois meses atrás, seu apartamento estava vazio e agora um sobrinho dela do interior está se mudando. Acho que se chama James...
− Bom saber. Agora se eu ouvir algum barulho no andar de cima, irei saber a quem devo culpar! – o velho porteiro deu uma risada leve e depois sorriu, com seu bom humor de costume. – Bom, eu já vou subir... Boa noite, Charles.
− Boa noite, querida.
null esperou o elevador por quase cinco minutos e nada dele dar sinal de vida. O bom humor de Charles que havia a contagiado já estava bem longe. Era culpa da terça-feira, essa era a única explicação possível. Sem mais paciência, começou a bater na porta do elevador na esperança de que quem o estivesse segurando percebesse a demora e o soltasse. Em menos de trinta segundos, o elevador desceu ao térreo. Quando null abriu a porta, preparada para falar mal em todas as línguas da pessoa que estivesse ali dentro, notou que ainda não o conhecia. Só podia ser o...
− James? – o queixo de null caiu no chão, ela estava boquiaberta com a beleza do mais novo morador do prédio.
− Desculpa, a gente se conhece? Eu estou me mudando para cá agora, por isso a demora do elevador... – o rapaz parecia encabulado, tropeçando nas palavras. – Você é moradora?
− Sou sim, meu nome é null, sétimo andar. – sorriu e estendeu a mão para cumprimentá-lo. Ele não tardou a fazer o mesmo e null pode notar que não havia aliança nenhuma em seu dedo.
− Bom, acho que você já sabe meu nome. Aliás, como você sabe meu nome? – null começou a rir, sendo levada pela vontade de seduzir o mais novo vizinho. Ser simpática é o primeiro passo, não é? Aliás, o segundo, já que o primeiro é descobrir se o cara é solteiro.
− Eu vi o caminhão de mudança e acabei perguntando para o porteiro. Mas ele nem tinha certeza se esse era mesmo seu nome, mas parece que sim. – James sorriu e após seu olhar cruzar com o de null, ele olhou para baixo. – Bom, o seu Charles não é fofoqueiro, ok? Eu só fiquei curiosa e ele me contou o que estava acontecendo...
− Não se preocupe, eu só fiquei me perguntando se a gente já se conhecia e eu não me lembrava de você. O que seria bem engraçado de me acontecer novamente. – ele gargalhou, provavelmente se lembrando da ocasião.
− Então você é do tipo que conhece as pessoas e no dia seguinte não se lembra? – null arregalou os olhos, sem acreditar, mas resolveu fazer uma piada para descontrair. – Tão jovem e com tantos problemas de memória... – soltou uma risada baixinha.
− Talvez não fossem exatamente problemas de memória, mas culpa do José Cuervo. – null riu mais ainda com a justificativa dele.
− Então você é do tipo José Cuervo lovers. – James piscou para ela, que sentiu suas pernas tremerem no mesmo instante e continuou, sem graça: – Bem, acho melhor a gente subir. Não é bom segurar o elevador por muito tempo...
− Ou uma vizinha enlouquecida pode ficar irritada, certo? – James tinha um sorriso sacana no rosto e null não pode evitar ficar com as bochechas vermelhas.
Entraram no elevador e apertaram seus respectivos andares. Mas o constrangimento do elevador ficou para trás, sem nem requerer muito esforço de null. James era simpático e comunicativo e em sete andares já podiam dizer que eram bons amigos. null já sabia que ele estava na cidade para estudar e que trabalhava como fotógrafo. James já sabia que null morava sozinha e passava o dia todo no escritório, e sabia até que a especialidade dela na cozinha era torta de chocolate com morangos.
− Sétimo andar, é aqui que eu fico. – sorriu null, ainda segurando a porta do elevador e não querendo soltá-la. − Foi um prazer te conhecer.
− Hm... Desculpa incomodar, mas será que eu poderia beber um copo d’água e usar seu telefone por um instante? – James a olhou incerto, mordendo o lábio inferior. null achou isso pura provocação. − Meu celular acabou a bateria e no meio dessa confusão de mudança não faço a mínima ideia de onde esteja o carregador...
− Sem problemas, pode ficar à vontade. Só não repare na bagunça, por favor. – ela disse, já se lembrando de que na noite anterior não havia lavado a louça.
− Você não sabe o que é bagunça! Nem te convido para conhecer meu apartamento, se não você nunca mais vai querer falar comigo. – ele riu enquanto null abria a porta.
***
Entraram no apartamento do sétimo andar e James elogiou a decoração feita por null, simples e elegante ao mesmo tempo, nas palavras dele. null achou engraçado um homem comentar sobre a decoração, mas devia ser culpa da área em que ele trabalhava. Fotógrafos tendem a ser muito observadores, ligados aos detalhes que passariam em branco para o resto do mundo.
Quando se dirigiram a cozinha, já haviam engatado uma conversa sobre filmes favoritos. Vendo que a conversa estava fluindo muito bem, null ofereceu muito mais que apenas um copo d'água a James, que aceitou ficar para almoçar com a condição que null o ensinasse a fazer a torta de chocolate com morangos mais tarde.
− Mas o Adam Sandler está em sua melhor fase da carreira no filme Click. Esse é seu filme mais incrível. − James dizia com os olhos brilhando, no meio de um debate com null, que discordava completamente.
− NA-DA. Nada, está me ouvindo? − fez uma pausa dramática antes de prosseguir. − Nada se compara ao seu desempenho em Como Se Fosse a Primeira Vez, esse filme é um clássico. Apenas o filme Esposa de Mentirinha poderia ser comparado a ele, ainda que em imensa desvantagem.
− Eu tenho certeza de que ele já participou de filmes melhores, ele e a Drew Barrymore nem combinavam como par romântico! – James não viu o olhar matador que null direcionava a ele, e continuou: – Aliás, o meu filme favorito do Adam é Eu os Declaro Marido e... Larry.
A sorte de James é que null estava preparando lanches para eles comerem e não queria se preocupar em arrumar briga com seu mais novo vizinho e futuro pretendente. Ela apenas respirou fundo e continuou o que estava fazendo, como se não tivesse ouvido tamanho desaforo. Um silêncio caiu sobre a cozinha após o último comentário de James, e só foi quebrado quando dois minutos depois, o telefone de null tocou. Ela pediu licença e correu para atender.
− Alô? – null atendeu com tanta pressa que nem se preocupou em olhar o identificador de mensagens, odiava atender ao telefone sem saber quem estava do outro lado da linha.
− Oi, querida null. Aposto que estava morrendo de saudades do seu amigo mais gato e desejado do mundo. – null e sua modéstia, sempre juntos. null não pode deixar de rir, estava, sim, com saudades.
− null, que bom falar com você! Recebeu minha mensagem? Desculpa pelo outro dia, eu estava fora de mim...
− Você sabe que não precisa pedir desculpas, eu também não deveria ter sido tão grosso com a minha null.
− Mas eu bem que mereci, não é, null? – null fez um biquinho emburrado, odiava brigar com o amigo.
− Esquece isso, null. Aposto que você pensou no que eu te disse e resolveu o problema rapidinho. – null não precisava vê-lo para saber que estava sorrindo ao dizer aquilo, anos de amizade resultam nesse tipo de coisa. − Essa é minha garota! – null tinha empolgação demais na voz, mal sabia ele...
− Er, na verdade... – alguns segundos em silêncio. Então James gritou da cozinha “null, vem logo senão eu vou comer sem você!”, bom, agora precisava dizer a verdade para o amigo, então respirou fundo antes de começar. – null, eu só me dei conta de que o que você me disse podia ser verdade, hoje. Então saí em busca de um homem, e, nossa, dizer isso é vulgar demais para mim. Conheci um novo vizinho aqui do prédio, mas ainda nem sei... As minhas duas primeiras tentativas foram terríveis, eu não sei como pode ser tão fácil para você atrair o sexo oposto, não sei mesmo.
− Eu tenho duas coisas para te dizer, querida null. A primeira é: você fala muito rápido quando está nervosa! − disse, rindo da cara dela. − E a segunda é: vá logo comer seja lá o que for com seu homem aí, vai. Depois você me conta como foi, pois já estou curioso! Beijos, e desculpa se eu atrapalhei...
− Mas você nunca atrapalha! – null tentou dizer, mas o amigo já havia desligado o telefone.
Voltou para cozinha e viu que James havia posto a mesa, os lanches e bebidas. Mentalmente, apostou que o apartamento dele não seria uma bagunça se ele fosse organizá-lo como ele organizou sua mesa. Ele sorriu para ela com uma cara de criança que aprontou, e depois ela pôde ver que ele havia derrubado refrigerante no chão. É, talvez o apartamento dele fosse uma bagunça...
− Estava falando com o seu namorado? – James a olhou sugestivamente, e ela não conseguiu entender o que aquele olhar significava.
− Namorado? Até parece... – ela deu risada antes de continuar. – Era só meu melhor amigo.
− Engraçado, você falou como se fosse impossível ter um namorado. Você é tão linda, null. Aposto que existem vários homens correndo atrás de você. – James sorriu.
− Por favor, não aposte muito alto, por que eu não gostaria de te ver perdendo por minha causa...
− Eu não iria perder. É fácil encontrar um homem hoje em dia, olhe para mim... – null olhou para ele, de cima a baixo, tentando entender se não era uma pegadinha, ele era certamente um homem do tipo que a agradaria namorar. – Eu nem sou tão bonito assim, e conseguiria um homem num piscar de olhos.
O que ele estava querendo dizer com conseguiria um homem num piscar de olhos? null já não estava mais entendendo onde ele queria chegar. No início, cogitara a possibilidade de uma cantada barata para seduzi-la, mas, agora, não tinha a menor ideia do que James estava falando. Para quê ele iria conseguir um homem? Ou será que ele estava dando só um exemplo para que ela não se sentisse mal? James notou a confusão passando na cabeça da vizinha e resolveu esclarecer as coisas...
− Eu disse conseguiria, no passado, viu? Por que eu... – “Ufa, ele vai dizer não é gay, já estava até me assustando”, pensou null. −... Já tenho namorado. E nunca o trairia.
O tempo parou. null estava em estado de choque. Então o seu mais novo e lindo vizinho torcia pelo mesmo time que ela? O ar desapareceu, seu coração parecia não bater mais, seus olhos estavam vidrados, sem piscar. null estava completamente paralisada por causa da novidade. Como assim? Um homem tão lindo, tão legal... Realmente, James era bom de mais para ser verdade, tinha que ter algum defeito. Mas precisava ser justo esse? Não podia ser apenas o fato de gostar dos filmes errados do Adam Sandler? Por que, nesse momento, isso era completamente insignificante para null.
Terças-feiras eram realmente dias ruins para null, e o último acontecimento era apenas mais uma prova disso. James percebeu a situação constrangedora que se instalou no ambiente, mas preferiu não dizer nada, era melhor deixar que null se recuperasse antes. Ela ainda o olhava, paralisada, mas o ar já estava voltando aos seus pulmões e seu coração estava batendo lentamente. Apesar da nítida decepção e mal entendido, James era um bom rapaz e seria seu vizinho por algum tempo, então ela não podia agir como nas duas primeiras situações difíceis do dia, quando fugir era a opção mais fácil.
Após minutos, que para James pareceram horas, null se levantou, bebeu um copo d’água e voltou a se sentar, com um sorriso no rosto. O choque havia sido imenso e ela não podia negar que ainda estava abalada, porém, precisava ser legal com James. Não era culpa do vizinho que ela havia se sentido atraída por ele, ou talvez fosse, mas no momento era melhor que não fosse.
− Desculpe-me, James. – null mordeu o lábio antes de continuar, incerta. – Eu só não esperava ouvir isso de você. – ela estava visivelmente constrangida.
− Não se preocupe, null. Já vi pessoas reagirem de maneira bem pior que você. Não tenho problemas com isso. – James realmente não parecia incomodado com a situação, talvez ele fosse bem mais resolvido do que aparentava ser.
− De verdade, eu peço desculpas por essa cena. Você tem sido tão legal comigo e apesar de te conhecer a poucas horas, eu sei que podemos ser bons amigos. Desculpa!
− Já que você insiste em se desculpar, eu acho que você pode começar me emprestando seu telefone para eu ligar para o meu namorado e, em seguida, me convidar para saborear sua deliciosa torta de chocolate com morango! – James se divertia com a situação, e abusava da boa vontade de null. Os dois riram e esqueceram o constrangimento de minutos atrás.
Mas null não se esqueceria de que todas as suas tentativas foram falhas. Se havia sido azar por ser terça-feira ou não, ela já não se importava com isso. Só não iria continuar se expondo ao ridículo devido ao seu dedo podre para escolher homens. Em um dia, ela tinha conseguido bater seu recorde. Escolheu três caras errados. Lindos, maravilhosos e errados.
***
No dia seguinte, null resolveu telefonar para seu melhor amigo. Se ele lhe arranjara o problema, nada mais justo do que ajudar a encontrar uma solução. Simples e fácil. Bom, quando ele ouvisse as três histórias do dia anterior ele selecionaria a dificuldade. Talvez não fosse tão simples e nenhum pouco fácil, mas nada que não se possa superar...
− É isso, null. Eu estou desistindo...
− null, me escuta. Você não pode desistir. − null estava perdendo a paciência com a amiga, já estavam no telefone a vinte minutos, discutindo − Eu sei que ontem não foi um dia fácil, querida null...
− Nenhum pouco. − null respirou fundo, odiava ser interrompido.
− Talvez você apenas esteja procurando homens nos lugares errados! Quem sabe o homem certo para você não está mais perto do que você imagina?
− Mais perto do que eu imagino? Só se você estiver falando do seu Charles... − null soltou uma exclamação, animado com a ideia − Não, ele não é uma opção, null!
− Você está exigente demais, null...
− Não estou! Eu só acho que mereço alguém especial para fazer sexo comigo. Não vejo nada de errado nisso...
− É por isso que as mulheres sofrem... − null ouviu uma risada sarcástica do outro lado − Ficam se iludindo com tudo, até com o sexo!
− Você é um cafajeste mesmo, essa história de que “sexo é só sexo” não funciona comigo, não...
− Mas bem que você estava procurando um homem lindo e gostoso, como o seu amigo aqui, para uma noite de sexo. − a modéstia do amigo a fazia rir − É por isso que elas me procuram, null. Tudo é questão de uma boa noite de sexo! – null disse a última frase pausadamente, como se sublinhasse o que queria dizer.
− Ok, null, mas isso não resolve meu problema... − uma lâmpada acendeu na cabeça de null, brilhante. − A não ser que... null, o que você acha de vir me ajudar sexta a noite?
− O que você quer dizer com "te ajudar"? − a suspeita do amigo era evidente. − Não vai me fazer ter que te apresentar um amigo, como quando a gente tinha dez anos e você nunca tinha beijado, não é? − null riu, lembrando-se de como aquele dia havia sido engraçado.
− Não, eu te prometo que não é nada disso!
***
Segundo pesquisa, existem 96 mulheres para cada 100 homens. Desses 100, 12 não gostam do assunto – James está incluso nessa parcela -, um tem um poodle, cinco moram com a mãe, 13 têm medo de barata, oito palitam os dentes, três preferem fazer declaração do imposto de renda a sexo, oito nunca mandaram flores para uma mulher, sete acham que preliminares são bobagem, 10 gostam de cueca com vinco, seis secam o cabelo com o secador, três usam pochete, cinco fazem a unha, 17 são casados e um é casado e fiel - lê-se: Derek.
(Nota da Autora: null não sabia dizer em qual parcela Pablo estava incluído, e nem eu saberia dizer se me perguntassem, mas o meu palpite é que ao invés de preferir fazer declaração do imposto de renda a sexo, ele preferiria filosofar.). Sobra, por tanto, um homem para cada 96 mulheres. Isto explica porque é tão difícil para o destino colocar um homem certo na vida de null. Isto também explica por que null consegue tão facilmente atrair mulheres diferentes todos os fins de semana. null era o homem restante. null era um homem para 96 mulheres. null só podia estar inclusa nessas 96 pobres coitadas que teriam que dividir null, a ficha estava finalmente caindo.
null passou os três dias restantes pensando em suas conclusões e se preparando para convencer null sobre o que queria fazer. Ela já sabia que ele negaria no primeiro pedido, diria não novamente no segundo, mas hesitaria no terceiro. null também conhecia muito bem os pontos fracos de null, e sabia que ele faria qualquer coisa pela amizade dos dois. Além disso, tinha sido a conselheira oficial das apaixonadas por null no último ano do colégio. Sabia com todos os detalhes as preferências do amigo.
Quando saiu do trabalho na sexta-feira à tarde, null voou para o seu apartamento – não literalmente, ela só voltou para casa caminhando bem depressa. Já havia comprado o vinho preferido de null para uma noite de queijos e vinhos, tomou um banho rápido, devido à ansiedade, e se vestiu. Estava com um vestido preto justo, que valorizava suas curvas e calçou o escarpim vermelho, que o amigo adorava, mas que ela nunca usava. null sabia, também, qual era o perfume favorito do amigo, por isso havia comprado. Maquiou-se, apenas para não parecer a “querida null” de sempre, aproveitando para destacar os olhos e passar um hidratante na boca.
A campainha tocou e null estava nervosa, suas mãos estavam suando frio e não sabia se conseguiria convencer null de toda a sua loucura. Naquele momento, enquanto ela se dirigia a porta, seu plano infalível parecia o pior plano de todos, já se via no final da noite morrendo de vergonha e sem querer olhar para cara de null nunca mais. Mas aqueles trinta segundos não foram suficiente para que ela desistisse de tudo. null era um homem para 96 mulheres, ela estava inclusa nas 96 mulheres, logo, null era o homem certo para ela.
null abriu a porta, recebendo null com um sorriso no rosto. O amigo, ao ver que ela estava toda produzida, olhou-a dos pés à cabeça, babando discretamente. null sorriu maliciosamente e null teve certeza que o seu plano iria funcionar, ela só precisava de uma pitada de autoestima para conseguir seguir em frente, e até nisso null a ajudara.
– UAU! – disse null, ainda sem conseguir formar frases complexas. – Você está maravilhosa, null! – ele a olhou dos pés a cabeça mais uma vez, antes de dizer sorrindo: – Quem vai ser o sortudo de aproveitar de tudo isso, null?
– Não seja bobo, null! – null não contava com a timidez que sentiria do seu próprio melhor amigo.
– É só curiosidade, querida null. – null riu e a abraçou, sentindo seu perfume. – Você está usando 212 Sexy? Esse é o melhor perfume de todos os tempos. – disse, segurando-a ainda mais perto para sentir o perfume.
– Nem sabia que você gostava, null... – mentiu ela.
Os dois entraram no apartamento e sentaram-se lado a lado no sofá. O vinho já estava na mesa de centro, ao lado de duas taças e uma bandeja de queijos para que eles saboreassem. null não sabia se preferia adiar o momento ou falar logo o que queria com null. Decidiu conquistá-lo um pouco mais com umas taças de vinho, antes de chegar ao que interessava. Se tudo desse errado, ainda poderia embebedar o amigo e dizer que tudo não passou da imaginação dele. Nada poderia dar errado.
Eles começaram a comer e conversar, null não perguntava nada sobre no que ele deveria ajudar, e null também não havia tocado no assunto ainda. Estavam se divertindo como há algum tempo não paravam para fazer, já que null estava sempre ocupado nas sextas à noite com uma das outras 95 mulheres. null não se importava de ser só mais uma, pois sabia que era especial para null e que ele nunca a machucaria.
Quando null já estava enchendo sua terceira taça de vinho, null resolveu tomar coragem para falar, deu um gole em sua própria taça e mudou de assunto:
– null, lembra que eu disse que precisava da sua ajuda? – ele olhou para ela e riu.
– Lá vem... O que eu posso fazer por você, querida null? – null sorriu, sabendo que não recusaria pedido algum da amiga.
– Eu fico até meio sem jeito de te pedir. Mas você sabe que somos amigos acima de tudo e também sabe que eu faria qualquer coisa pela sua amizade, então, pensa bem antes de dizer não. – null já começou colocando sua persuasão na conversa, ela estava tensa.
– O que está acontecendo, null? Você está me assustando! – o sorriso dele deu lugar a uma cara séria que era tão engraçada que quase fez null se esquecer de tudo e começar a rir.
– null, é o seguinte... Existem no mundo 96 mulheres para cada 100 homens. Desses 100 homens, 99 estão indisponíveis. – foi a vez de null não aguentar e começar a rir. – É sério, null! Não estou brincando...
– Ok. – disse ele, segurando o riso. – Desculpe, pode continuar.
– Portanto, existe apenas um homem para cada 96 mulheres. E o único homem disponível no momento, é você, null... – ela terminou, abaixando a cabeça com as bochechas rosadas.
– Você não está pensando... NÃO, null. Não mesmo! – null já tinha entendido onde ela queria chegar...
– null, por favor! Olha nos meus olhos, faça isso pela nossa amizade. Você é meu melhor amigo, não pode recusar um pedido desses! – null já estava partindo para súplica, mais uma resposta negativa e ele aceitaria seu pedido. Esse é o previsível null.
– É exatamente pela nossa amizade que eu não posso aceitar isso. – null arregalou os olhos, sem saber o que dizer, então segurou a amiga pelos ombros e começou a chacoalhá-la. – Pensa bem, null. Isso não está certo. Nós somos amigos, lembra? “null e null, null e null, os melhores amigos que alguém poderia ter!” – ele cantou a música que costumavam cantar quando tinham 15 anos.
– Nós sempre seremos amigos, null! Escuta o que eu vou te dizer... – ele já havia dito não duas vezes, agora viria o momento da aceitação, null estava torcendo para estar certa. – Você é meu amigo mais gato e desejado de todos, é você que todas as mulheres procuram quando querem uma noite de sexo, não é?
– Sim. Mas elas não são você, null! – ela fez cara feia por ter sido interrompida, então ele a deixou continuar.
– Não vai ser nada mais que uma amizade com benefícios, null! Vai dizer que você nunca pensou em como seria se ficássemos juntos? – perguntou null, ela nunca havia pensado nisso antes, mas vai que o amigo já.
– É, eu já imaginei como seria... – disse ele, pensativo. – E quando a gente tinha 16, meu maior sonho era beijar minha melhor amiga...
– Então, null... – ela sorriu, sabendo que o amigo já estava aceitando seu pedido. – O melhor de tudo é que eu não vou criar expectativas para encontrar o homem perfeito, nem ficar me perguntando se ele vai ligar no outro dia, por que ele vai ser você! Não vai ser bom saber que nenhum homem vai quebrar o coração da sua querida null?
– Olhando por esse lado...
– Amigos com benefícios, então? – null estendeu a mão para que eles selassem o acordo com o toque que inventaram na terceira série.
null ainda hesitou por alguns segundos. Olhou para null de cima a baixo, como se buscasse algum defeito que servisse como desculpa para recusar. Ela estava perfeita, era impossível resistir a um pedido desses enquanto ela estava de vestido preto mais escarpim vermelho, sem falar no melhor perfume do mundo. null sorriu, sabendo que a amiga já havia planejado todos os detalhes para que ele não recusasse.
Que mal poderia haver aceitar passar uma noite com a sua null? Não era como se ele não fosse um homem e ela, uma mulher... Biologicamente, aquilo estava correto, não estava? Ele sabia que já tinha aceitado a proposta, mas não poderia deixar de fazer um charme, ainda mais se tratando de null. Ela odiava esperar e ele adorava a irritar. Fingiu estar pensando por mais algum tempo, enquanto via a expressão de null se fechar e sua mão ficar cansada por esperar tanto tempo estendida.
Então, null começou a rir, antes de estender a mão e completar o toque infantil que haviam criado muitos anos atrás. null sorriu, imensamente, e ele balançou a cabeça, ainda rindo, dizendo:
– Amigos com benefícios. Eu não acredito que a gente vai fazer isso, null! – os dois riam, sem conseguir se controlar.
– Acredite, eu também não. Nem nos meus piores pesadelos imaginei que um dia te pediria uma coisa dessas, null.
– Opa! Também não precisa ofender, querida null. Aposto que, no fundo, você sempre quis ver meu corpo nu. – null gargalhou, negando.
– Quanta modéstia. Acho melhor a gente beber um pouco mais de vinho antes de começar o que combinamos, sinto que eu não vou conseguir completamente sóbria. – null a olhou magoado.
– Eu não bebo mais uma gota. Quero me lembrar desse momento único da nossa amizade. – os dois se olharam, cúmplices, antes que null enchesse a taça de vinho e virasse de uma vez só.
Toda a vergonha que sentiram durante a “negociação” do acordo tinha passado. Eles eram apenas null e null, null e null, fazendo piadas, rindo e se divertindo como sempre. Agora, com uma curiosidade disfarçada de saber como seria quando estivessem juntos. null nunca imaginara que sua amiga um dia faria um pedido desses a ele. Eles estavam sempre juntos, mas nunca tiveram a oportunidade de se envolver. null sempre fora uma das mulheres mais especiais da sua vida, era como uma segunda irmã para ele.
Enquanto null lembrava alguma história engraçada da época do colégio e contava para null, ela bebia mais uma taça de vinho, sua terceira e última, pois apesar de dizer o contrário, também queria se lembrar de tudo o que aconteceria naquela noite. Estava morrendo de curiosidade para saber como era estar com null, sentir o calor da sua pele, seus toques e beijos. O vinho acabou, e junto com ele o assunto, que antes preenchia o apartamento. Era hora de começar a noite. Era agora ou nunca.
null olhou para os olhos de null e depois para a sua boca, e foi se aproximando devagar. null respirou fundo, fechando os olhos e se deixando levar pelo perfume da amiga, que o trazia boas lembranças. Quando já podia sentir a respiração de null junto da sua, null abriu os olhos assustada e começou a rir, quebrando todo o clima que existia. null abriu os olhos e a olhou com uma cara de interrogação, que foi respondida pela amiga:
– Desculpa, null. Eu só nunca imaginei estar nessa situação com você. – ela disse, envergonhada. – Podemos começar de novo? Prometo que não vou rir dessa vez!
– Relaxe, null. Que tal imaginar que eu sou, sei lá, o David Beckham? O que acha? – null sorriu e levantou do sofá para massagear as costas da amiga.
Inconscientemente, ela fechou os olhos para sentir o toque quente e preciso do amigo. Há quanto tempo ele não fazia massagem nela, nem se lembrava da última vez. Logo ela que costumava ser cobaia na época em que ele estava fazendo curso de massagista, havia se esquecido de que essa era uma das especialidades do amigo e, definitivamente, seu próprio ponto fraco.
null se aproximou ainda mais de null, que podia sentir sua respiração quente batendo em sua nuca. Aquilo a fez suspirar, seus hormônios estavam dando sinal de vida, antes mesmo de começar a imaginar o David Beckham. null estava incerto sobre como agir com sua melhor amiga, mas tinha certeza de que deveria tratá-la da melhor maneira possível, da maneira como sempre esperou que os outros a tratassem.
Ele sentiu que um arrepio começava a correr pela espinha de null e decidiu que era hora de ir além, então beijou suavemente sua nuca, fazendo-a arfar. null estava perfeita em todos os sentidos, na opinião de null. Seu perfume o estava deixando enlouquecido. Não estava agindo mecanicamente como fazia todos os finais de semana quando saia com alguém. Aquele momento tinha algo diferente e especial, ele queria seduzir a amiga.
null ouviu o amigo sussurrar algo incompreensível em seu ouvido e logo depois, levantou-se virando de frente para ele. Não precisaria imaginar nenhum jogador de futebol maravilhoso para se sentir a vontade com seu melhor amigo. null era gato e desejado, como ele mesmo gostava de repetir. Ela sorriu para ele e se aproximou mais uma vez, envolvendo seus braços no pescoço do amigo, agora imersa em expectativas sobre aquele beijo. Beijou o canto da boca do amigo e esperou a reação dele, ainda de olhos fechados.
null virou a cabeça de lado para encaixar os lábios na boca da amiga e quando o fez, pediu passagem querendo aproveitar o momento. null concedeu a passagem, abrindo os lábios, e quando se aproximou mais de null, sentiu seus dentes se chocarem nos dentes do amigo com força. Abriu os olhos assustada e se deparou com o olhar, também assustado de null. Em menos de um segundo, estavam rindo do acontecido, ainda a poucos centímetros um do outro. null balançou a cabeça, ainda rindo, antes de sorrir cheio de malícia e dizer:
– Vem aqui que eu vou te mostrar como um homem beija uma mulher de verdade, null.
Depois dessas palavras, ele segurou firme a cintura de null com uma mão e com a outra acariciou sua bochecha, antes de dá-la um daqueles beijos de tirar o fôlego. Não se preocupou em pedir passagem nem em ser gentil, os dois não precisavam de romance, mas sim de uma noite de sexo casual entre amigos. O carinho em sua bochecha logo cessou, e a mão de null foi para a nuca da amiga, guiando-a durante o beijo. Beijo este que estava acendendo uma chama em ambos. Não havia mais vergonha nem hesitação, que foram substituídos por uma onda de malícia e desejo.
null passou a acariciar o tronco bem definido do amigo, e antes que pudesse se dar conta, já havia aberto todos os botões de sua camisa, que foi para o chão poucos segundos depois. Os dois já estavam bem animados com o beijo quando a mão de null começou a explorar o corpo da amiga, descendo da cintura até a barra de seu vestido e fazendo o caminho inverso logo em seguida. O ar condicionado já não dava mais conta de espantar o calor que o casal estava sentindo.
null puxou null para o seu colo com as duas mãos, rompendo o beijo só para ter certeza que não iria derrubá-la, e seguiu corredor adentro, rumo ao quarto da amiga. Ao chegar lá, tirou os sapatos e a deitou na cama, deitando sobre ela e apoiando-se nos cotovelos, para que ela não fosse esmagada com seu peso. null já conseguia sentir o volume dentro da calça do amigo e isso a excitava ainda mais. null passou a beijar o pescoço perfumado dela, enquanto null entrelaçava suas pernas nas dele, fazendo com que o salto do escarpim o arranhasse levemente.
O mundo lá fora estava em silêncio, como se os dois fossem os únicos seres vivos existentes. O único som que podia ser ouvido eram seus gemidos e respirações pesadas. Eles não pensavam mais em nada, a não ser no motivo de ainda estarem vestindo tantas roupas. null desejava que todas as roupas sumissem apenas com um pensamento, sua excitação já estava queimando no meio de suas pernas.
null sentia seus hormônios borbulhando cada vez mais. Suas mãos bagunçavam os cabelos de null, deixando-os despenteados de um jeito sexy. Quando ela desceu suas mãos para o abdome do amigo e começou a brincar com cós da calça dele, sentiu que a respiração de null começou a falhar e sorriu com isso, aproveitando as unhas compridas para arranhá-lo ainda mais. null parou de beijar seu pescoço para apenas gemer no seu ouvido, fazendo-a suspirar.
Não aguentando mais ficar só de provocação, null começou a descer o zíper da calça do amigo, fazendo-o levantar a cabeça para olhá-la. null mordeu o lábio inferior, inconscientemente, fazendo null sorrir. Porém, ele não deixou que a amiga continuasse com sua missão “retirar a calça”.
– Você acha mesmo que eu vou ficar só de cueca aqui, enquanto você ainda está completamente vestida? – ele falou sério, levantando a sobrancelha, enquanto null ria. – E se tudo isso for uma pegadinha? Eu ainda não sei se você não quer apenas me despir e depois me prender na cama para me humilhar...
– Você é um idiota, null! Eu nunca faria isso. – fingiu estar ofendida com o que ele acabou de dizer.
– Eu também acho que não. Mas, por via das dúvidas, acho melhor eu tirar o seu vestido antes da gente continuar de onde parou. – ele sorriu e piscou para null, que sentou na cama e virou de costas para que ele descesse o zíper do seu vestido.
O escarpim vermelho já estava jogado em algum canto do chão, talvez para o mesmo que o vestido de null tinha sido destinado. null estava boquiaberto ao ver a amiga apenas de lingerie, o conjunto rendado preto contrastava com sua pele, ocasionando uma harmonia perfeita. Suas curvas também colaboravam com a harmonia, null se perguntava desde quando a amiga tinha aquele corpo, se ele nunca havia reparado. null sorriu, vendo que null estava desconsertado, e voltou à sua missão.
Logo, a calça de null e suas meias estavam perdidas pelo quarto e o casal voltara a se beijar com ainda mais intensidade, podendo sentir o calor que emanava de seus corpos, agora. Já estavam inquietas as mãos de null, tentando abrir o sutiã da amiga, mas sem sucesso. Então, o beijo quase selvagem foi interrompido por um sorriso de null, que notou a tentativa falha do amigo. null olhou para ela com uma cara irritada, que foi respondida com mais um sorriso. Por que mesmo eles ainda estavam vestindo suas roupas íntimas? Com uma única mão, null abriu o fecho do seu sutiã sem dificuldade alguma. null soltou um resmungo e revirou os olhos ao ver isso, mas logo se aproveitou da falta da peça para acariciar os seios fartos que nunca havia notado antes na amiga.
As quatro mãos que existiam naquele quarto se perdiam pelos dois corpos deitados na cama, explorando cada centímetro deles sem pudor. Com as mãos no cós da calcinha da amiga, null ergueu os olhos, como se pedisse permissão para o que pretendia fazer. Ela sorriu, esperando que ele terminasse logo com essa demora. Mas era a vez de null a provocar, não poderia deixar que ela mandasse e desmandasse nele na cama. Ele beijou o pescoço da amiga e lentamente foi descendo os beijos por seu colo e barriga, ouvindo-a gemer baixinho em aprovação. Ao chegar ao umbigo, ele parou só para ouvi-la resmungar, e quando ela o fez, beijou sua intimidade ainda por cima da calcinha.
Após o beijo, null olhou para null, que estava de olhos fechados, e esperou que ela os abrisse. Quando abriu os olhos, null pode ver seu sorriso safado e sentiu sua intimidade pulsar. O homem certo sabia levar qualquer mulher a loucura, até mesmo sem um toque profundo. Sem paciência para esperas e provocações, null tirou a calcinha da amiga, beijando suas pernas enquanto a escorregava. null precisava daquele homem com urgência.
Nos segundos seguintes, a última peça de roupa ainda existente foi retirada por um null apressado. Então, a boca de null encontrou a de null com pressa, e seus corpos se chocaram deliciosamente. null gemia apenas por sentir a excitação do amigo, enquanto ele gemia apenas por tocar o corpo despido de null. Querendo tomar controle da situação, ela girou os corpos, ficando confortavelmente por cima do amigo.
Ainda sem quebrar o beijo, ela tateou o criado mudo em busca de um preservativo, sabendo que os dois não aguentariam muito tempo naquela situação. null a segurava com força, como se ela pudesse escapar de suas mãos a qualquer momento. null estava deliciada com todas aquelas sensações há tanto tempo esquecidas. Agora tinha certeza que o amigo estava certo e que ela realmente estava precisando de uma boa noite de sexo. Talvez mais que uma, já que os seus hormônios a estavam deixando louca.
null abriu o preservativo e o segurou com um das mãos, enquanto separava as bocas que pareciam estar magnetizadas. Sua respiração estava descompassada, assim como a de null, e seu coração batia acelerado. Ela sentou-se sobre as pernas do amigo e o olhou, mordendo o lábio inferior, o que fez com que ele jogasse a cabeça para trás e gemesse alto. Depois, pegou seu membro com uma das mãos e começou a masturbá-lo devagar. null enlouqueceu ao ver a cara da amiga enquanto o satisfazia.
Quando viu que o amigo já estava chegando ao limite, null colocou o preservativo e o olhou. Queria null dentro dela. Ele não pensou duas vezes, levantou o corpo e jogou null na cama, penetrando-a de uma vez só. O quarto, que antes estava preenchido por poucos gemidos, agora estava cheio deles. null se movimentava lento e preciso, querendo dar o máximo de prazer para a amiga. Queria que ela nunca mais se esquecesse daquela noite e de como um homem deve fazer tudo bem feito.
null se sentia completa, como há muito tempo não estivera. Seu corpo não a pertencia mais, ele estava tomado pelo prazer e pelo desejo pelo seu melhor amigo. Queria null cada vez mais perto dela, mesmo que aquilo não fosse possível. Como seu melhor amigo de todos os tempos poderia a fazer se sentir daquela maneira? Ela estava cega de prazer. Com a respiração entrecortada, sussurrou no ouvido de null: “Mais rápido, por favor, null...”. Foi o incentivo que ele precisava para aumentar a velocidade de seus movimentos. Em poucos minutos, os dois chegarem ao ápice.
Jogaram-se na cama, relaxados, mas cansados demais para dizer qualquer coisa. As respirações e os batimentos cardíacos dos dois estavam começando a normalizar. null nem se lembrava como era a sensação de ter seu corpo todo formigando daquela maneira, aquela transa seria tão lembrada quanto sua primeira vez, por trazer sensações únicas.
Algum tempo se passou no silêncio e pensamentos de ambos sobre o que havia acabado de acontecer, então null abraçou a amiga e começou a rir incontrolavelmente. No início, null não entendeu o motivo da risada, mas sentindo a felicidade do amigo, resolveu acompanhá-lo. E assim a noite acabou: com dois amigos rindo de si mesmos depois de uma noite de sexo casual.
– null? – disse null, parando de rir para sorrir para a amiga.
– Oi, null. – ela o olhou, ainda rindo.
– Já posso sentir seu humor bem melhor... – null parou de rir e o olhou feio. – Eu disse que era falta de sexo, querida null. Você tem que aprender a confiar mais no seu amigão aqui. – ele piscou.
– Não sei se eu posso confiar em um homem que não sabe abrir um fecho simples de sutiã, null. – null quis o provocar também. – Desculpa, mas um homem desses não tem muita moral comigo não.
null ficou em silêncio e null se perguntou se ele havia se ofendido com a brincadeira. Mas se bem conhecia null, sabia que ele provavelmente estava preparando sua revanche ou havia se perdido em pensamentos. Ela já havia fechado os olhos para descansar um pouco, quando ouviu a voz do amigo a chamando novamente:
– null? – pelo tom de sua voz, null sabia que o amigo não havia notado que ela estava dormindo.
– Oi, null. – respondeu ela, sonolenta.
– Sabe, querida null, eu estava aqui pensando... – null olhava para o teto enquanto falava, pausadamente. – Bom, talvez a gente pudesse repetir isso mais vezes... Única e exclusivamente pensando no seu humor, é claro! Eu, como seu melhor amigo, não posso deixar de me preocupar com isso... – null riu.
– Você está dizendo que eu sou boa na cama e que você quer passar mais noites comigo, null?
– É... Mas eu também estava pensando no seu bem, né, null. Afinal, ninguém mais aguentava o seu estresse. – disse ele, tentando se justificar.
– Sei, sei. – ela riu mais uma vez. – Para quem quase recusou, você agora está me propondo que sejamos amigos com benefícios?
– O que você acha? – null disse, incerto. – Sei lá, talvez uma vez por semana... A gente podia se encontrar toda sexta, null!
– Não sei, null.
– null, escute bem. Eu tenho outras 95 mulheres para dar conta, então, se eu fosse você, aceitava as sextas-feiras, viu... – disse ele, como se estivesse negociando um contrato. null achou graça, mas pensando bem...
– É, acho que podemos ser amigos com benefícios por um tempo. Eu sempre tive que aguentar você saindo com outras mulheres e me deixando aqui sozinha, parece que chegou minha vez de tirar uma casquinha do gostoso do null.
– Ei! – ele deu uma mordida na bochecha dela e começou a rir. – Amigos com benefícios, então? – null levantou a mão para que a amiga tocasse nela.
– Amigos com benefícios. – null concordou, completando o toque. – Agora me deixa dormir, vai, null! – ele riu malicioso.
– ‘Ta cansada né, null? Desculpa se minha masculinidade te cansou. – continuou rindo.
null, sem paciência para brincadeiras, deu um tapa no amigo e se virou de costas para ele. null sorriu satisfeito por irritar null, por beijar null, por transar com null e por aí vai... Ele era – e continuaria sendo – um homem para 96 mulheres, e agora null fazia parte desse seleto grupo que passava as noites com null, mesmo sendo sua melhor amiga.
Tudo era uma questão de uma boa noite de sexo. N no dia seguinte, null teve certeza disso. Ela se sentia muito mais viva, parecia outra mulher. Ao se olhar no espelho, notou que sua pele estava mais bonita e seus cabelos estavam com mais brilho. Ela se sentia feliz por ter dado um destino a seus hormônios enlouquecidos. Agora, flores e romances a deixavam bem mais animada, e nada conseguia tirar o sorriso de seu rosto.
A amizade com benefícios funciona perfeitamente para os dois, que se conheciam melhor do que ninguém. As outras 95 mulheres de null não tinham mais vez nas sextas-feiras. Nada mudou entre os dois, apesar do fato de que agora eles se encontravam todas as sextas à noite, não só para conversar e dar risada, mas para acordarem nus na mesma cama no dia seguinte. Mas essa era uma das partes que eles mais gostavam. No fim da história, eles ainda eram “null e null, null e null, os melhores amigos que alguém poderia ter!”. Tudo era apenas questão de uma boa noite de sexo, que a partir daquele dia não foi mais problema na vida de null, graças àquele que ela menos esperava.