Por que as garotas gostosas sabem que são gostosas e sabem provocar um homem até o último fio de cabelo? Aquilo estava realmente me matando. Aos poucos. Ela com certeza sabe que tem poder. . A garota dos meus sonhos desde a sexta série. Tinha 17 anos, e está no primeiro ano da faculdade, e parece que me segue, porque entre mil faculdades em toda a Inglaterra, ela foi escolher bem a que eu estou estudando. Bom, pelo menos tentando estudar, porque ela fica passeando por todos os lados, com aquele pedaço de pano que ela insiste em chamar de saia. Meu curso é de música, mas eu estou pensando seriamente em trancar, porque não tenho como prestar atenção na aula com ela perto de mim. Parece exagero, mas é a mais pura verdade. Uma vez eu estava na fila do lanche, no segundo ano e ela estava na minha frente, o fato foi que ela mexeu o cabelo e eu deixei toda a minha comida cair no chão. Meu corpo é fisicamente atraído pelo dela. Não tenho como controlar. Pra falar a verdade tenho, e é exatamente esse o motivo de que eu nunca tenha agarrado ela em algum lugar, ou coisa do tipo. Isso é doentio. Mas o que eu posso fazer? Conversar com ela poderia ser uma boa idéia. Mas eu sei que ela é fútil o bastante para estragar o modo como eu a vejo, então eu prefiro simplesmente observá-la. Outro ponto doentio. Ela faz curso de Design de Moda. Que, na minha opinião tem dois tipos de pessoas. As garotas ricas - faz parte dessa -, que querem ser mais ricas ainda tendo uma marca de roupa famosa com o seu própria nome. E as garotas estilosas, que podem até querer ter uma marca de roupa com o seu nome, mas querem principalmente fazer as suas próprias roupas. , minha melhor amiga, está no grupo das estilosas. E ela é sem dúvida, muito estilosa. é a garota mais incrível do mundo. Eu me casaria com ela, se não fosse pelo fato de nossos pais serem casados e nós sermos irmãos.
- Por que você não arranja alguma pessoa normal pra amar? - Ouvi falando enquanto eu olhava as pernas de que estava sentada do outro lado do pátio.
- Por acaso ela é anormal? - Perguntei tirando meu olhar do lugar aonde eu quis colocar as minhas mãos desde que meus dentes de leite caíram. Menos .
- Demais. - Ela continuou e eu rolei os olhos. Ignorei totalmente o que ela falou.
- Você acha que algum dia eu vou criar coragem pra falar com ela? - Perguntei dando uma mordida no meu foleado de frango.
- Sim, mas acho que não vai ter coragem de sair de casa quando ela te der o fora mais feio do mundo. -Ela riu um pouco. Eu também.
- Mas eu só iria falar com ela. Não iria pedir pra namorar. - Fiz careta e ela entendeu.
- Porque não vai falar com ela agora? - levantou uma sobrancelha deliciando-se com a minha cara de tarado/idiota.
- Se eu for falar o que você vai fazer em troca? - Adoro fazer apostas com a . Ela sempre passa alguma vergonha e não dá bola para que os outros vão pensar dela. - Que tal vir amanhã com uma saia igual a da ?
- Fechado! - Apertamos as mãos e eu fiquei me preparando psicologicamente para um momento que não iria sair da minha cabeça por muito tempo.
- Só preciso esperar o sinal bater. - Falei e concordou.
Alguns minutos depois e o sinal bateu escandalosamente para mais uma hora de tortura com o mesmo professor de todas as quartas-feiras à noite.
- Fica de olho. - Pisquei pra e ela riu alto. Peguei alguns livros teóricos em cima da mesa e fui à direção de . Fingi estar lendo alguma coisa do livro, que nem eu mesmo sabia o que era direito. E me preparei para o maior encontrão da história dos encontrões propositais.
- Wow. Não olha por onde anda não, garota? - Falei quando eu e ela já estávamos sentados no chão e os livros espalhados pelo corredor inteiro. Ninguém deu bola para nós.
- Eu que pergunto isso! Não existe senso de direção nessa tua cabeça de estrume? - Ela perguntou me fazendo rir. - Do que você está rindo? Me ajuda logo a juntar esses livros! Arg! Vou perder aula por causa de um fugitivo da ala psiquiátrica! - Eu realmente não sabia que o senso de humor dela era tão afiado. Juntei meus livros e me virei. Amanhã seria meu dia de glória, ver de mini-saia na escola. Seria o máximo.
- Hey, aonde você vai? Me ajuda com esses livros! - Era praticamente uma ordem. Eu tinha que me aguentar ao máximo. Era um plano in-fa-lí-vel.
- Quais são as palavras mágicas mesmo? - Me fiz de arrogante. Ela riu ironicamente.
- Abracadabra! - Ela mal terminou de falar e eu me virei novamente. - Por favor! Por favor! Minha unha quebrou. Por favor, pega essas livros pra mim. - Sorri vitorioso e ela virou os olhos.
- Senhorita ! - Ouvi uma mulher com uma voz estranha falar. - Acabou de receber uma falta em minha matéria. - Ouvi o gritinho estridente de e fechei os olhos.
- EU PERDI UMA AULA POR SUA CAUSA! EU VOU TE MATAR!
- Eu não sei se tu percebeu, mas eu também perdi uma aula, gênio. - Falei pegando ferozmente os livros dela do chão. Eu sabia que falar com ela iria estragar toda a minha felicidade. Ah, se futilidade matasse...
- Mas a culpa foi sua! Foi você que esbarrou em mim. - Ela respondeu praticamente cuspindo na minha cara. Ela nunca esteve tão perto.
- Eu não tenho que te dar satisfações. - Falei praticamente jogando os livros no colo, bem descoberto, dela. Sai dali puto, batendo pé e fui até a saída do prédio. Eu tinha uma hora livre, até o professor me deixar entrar. Maldita regra dos 15 minutos de tolerância. Estava tudo vazio. Apenas alguns faxineiros varriam o chão me olhando estranho. Como se eu fosse matar aula. Maldita e sua aposta demoníaca. Por que eu tinha que falar com ela? Estraguei tudo. Eu podia simplesmente achá-la perfeita em minha cabeça. E agora nem isso eu posso, porque ela é sem dúvida alguma a garota mais irritante do universo. Coloquei meu Ipod no ouvido, tentando esquecer todos os problemas que eu tinha causado a garota mais gostosa/besta do mundo e a única que eu nunca vou esquecer.
- Oi. - Pensei ter ouvido a voz de e abri os olhos. Ela realmente estava ali.
- O que é que você quer? - Perguntei tirando um fone do meu ouvido. O rosto dela estava perigosamente perto do meu.
- Será que eu posso me sentar aqui? Acabei de dizer para aquele faxineiro que você era o meu namorado. - Senti meu coração dar o maior salto da minha vida. Minhas mãos estavam tremendo.
- Porque vo-você fez i-isso? - Perguntei gaguejando e ela sorriu um pouco, eu devia amaldiçoá-la por ser tão perfeita.
- Ele queria me agarrar. - Senti a adrenalina falar mais alto do que eu. Levantei-me do banco. Mas ela me empurrou de volta. - Está tudo bem... Eu, eu só quero me sentar perto de você, pra ele acreditar. - Ela continuou falando. Dei espaço para ela se sentar. Eu só consegui ouvir o som do meu coração, estava rápido demais. O cheiro do cabelo dela me deixou tonto. E eu tive que apoiar a cabeça nas mãos para ela não notar.
O rosto dela estava próximo do meu de novo, eu poderia contar todas as sardas do rosto dela, e são muitas. O cabelo ruivo e extremamente liso tampava parte do seu rosto mesmo sendo curto atrás e na altura do queixo na frente. Só me respondam porque ela tem que ser tão, tão linda.
- Coloca a mão no meu ombro. - Ela falou baixinho e eu passei o meu braço pelo ombro dela, dando um abraço de lado. Acabou. Eu não tinha mais qualquer responsabilidade pelos meus atos. Segurei o rosto dela com uma das minhas mãos e colei as nossas bocas. Passei minha língua pelos seus lábios pedindo passagem e ela correspondeu. Senti o mundo parar de girar. E o som do meu coração estava mais alto ainda. Minha boca formigar quando a língua dela encostou-se à minha, os olhos dela estavam abertos, assim como os meus. Para ela, aquilo era apenas uma encenação, pra mim era mais, muito mais do que o suficiente. As mãos dela estavam no meu cabelo por algum motivo, e eu não consegui separar as nossas bocas. E como ela não fez isso, eu apenas continuei, tentando fazer o melhor trabalho possível. Ela tinha fechado os olhos, mas eu não consegui me entregar tanto ao beijo. A boca dela tinha gosto de tutti-fruti, e eu já estava tendo sérios problemas com o meu amigo debaixo. Separei nossas bocas antes que ela pudesse perceber algo.
- Eu vou ao banheiro. - Ela falou se levantando rapidamente. Pegando sua bolsa roxa xadrez.
O que estava acontecendo? Em que momento eu vou acordar para descobrir que tudo isso é um sonho? Quando essa tortura acaba e eu volto a ser o garoto invisível?
- Desculpa a demora. – Ela falou sentando-se ao meu lado novamente. – O batom borrou.
Virei os olhos e coloquei o fone no meu ouvido de novo.
- Vai me ignorar agora? – Ela se sentiu ofendida.
- Só acho que o solo do Angus Young seja mais interessante do que essa sua carinha superficial. – MENTIRA! A mais pura e crua mentira. Me desculpe, Angus.
- Você não disse isso, disse? – Ela me perguntou tirando bruscamente o fone do meu ouvido.
- Eu não posso ter minhas próprias escolhas agora? – Perguntei fazendo doce.
- Você é gay? – Ela levantou uma sobrancelha. Sexy.
- Não.
- Mas parece. – deu de ombros olhando para o outro lado.
- Eu pedi a sua opinião? – Perguntei colocando o fone novamente.
- Ai, seu grosso! – Ela deu um tapinha no meu ombro. O fone que ela tinha puxado não estava mais pegando.
- Você estragou o meu fone. – Falei respirando fundo. Ela me olhou com cara de “Aff” e riu.
- Como se eu não tivesse dinheiro pra pagar um novo.
- Não é o fato de você pagar ou não um fone novo. É o fato de que eu não quero mais ouvir a tua voz e agora eu não tenho mais escolha. – Respondi cuspindo e saí dali sem nem respirar.
Saí do prédio e fui até uma pizzaria ali perto.
- Pode me dar uma Tônica, por favor? – Perguntei ao garçom que veio com um cardápio em mãos.
Um minuto depois ele voltou me entregando a bebida. Meia hora de silêncio e paz.
- Hm, isso é sexy. – Ela falou mordendo o lábio inferior e eu deixei um pouco da água escorrer pela boca. Limpei rapidamente e olhei pra ela.
- Até que você é bonitinho, sabia? – Ela continuou falando e se aproximou de mim. – Eu acho bem sexy garotos que tomam Água Tônica. – Ela falou sério? Er.
- Tá me seguindo, é? – Perguntei sério e ela riu.
- Sim. – Respondeu rindo.
- Você bebeu? – Perguntei vendo ela se esfregar em mim. Passando as mãos pelo meu pescoço. Mordendo a minha blusa e tentando rasgá-la. A afastei de mim, mesmo não querendo fazer isso. Po, era loucura demais! Meu corpo não iria aguentar.
- . Se ajeita, garota! – a sentei na cadeira e segurei seus ombros. – Eu não te conheço. Eu não sou seu namorado. Eu não sou seu amigo. Eu não sou nada seu. Será que dá pra parar?
Joguei o meu dinheiro na mesa e saí bufando. Que garota insuportável. Além de tudo: Bêbada. Aonde já se viu beber assim faltando 15 minutos pra voltar pra aula? Sinceramente. Acho que agora eu odeio .
Voltei ao lugar em que eu estava antes. Liguei meu Ipod e mesmo com um fone só eu pude me desligar do mundo por alguns minutos.
- Tá fugindo de mim é, bonitinho? – Virei os olhos e olhei-a, que estava de pernas cruzadas do meu lado. Chata demais. Gostosa demais.
- Por que você não esquece que eu existo? – Perguntei e ela riu. Começou a brincar com a manga da minha jaqueta, subindo o dedo do meu pulso até o pescoço, como se fosse um bichinho.
- Porque eu te amo. – Mesmo sabendo que ela estava bêbada - ou não -, eu senti meu coração dar um pulo. Meu rosto com certeza corou.
- Ama é? – Perguntei brincando. E ela mordeu o lábio. Sexy.
- Claro. – Continuou e começou a vir em cima de mim. Wow, assim eu não aguento! Pega leve guria.
- Quase acreditei, . – Falei empurrando ela de volta.
- Você é gay? – Segunda vez.
- Você já perguntou isso. – Falei apertando o nariz dela, como eu fazia com .
- Já? – Ela nem me deixou responder e soltou um bocejo, se aninhando no banco e apoiando a cabeça em minhas pernas. Que opção eu tinha? Comecei a fazer um carinho involuntário em seu cabelo.
O sinal tocou e ouve alguns minutos em que algumas pessoas iam mudando de sala.
- Quer que eu fique aqui com ela? – Um homem extremamente obeso com um alargador na orelha esquerda, com o cabelo comprido e amarrado, e a barba mal feita me perguntou. Analisei-o por vários segundos e neguei com a cabeça, concluindo que ele era o faxineiro tarado de quem ela tinha me falado.
- Não, ela é minha namorada, acho que vou ficar com ela, não é? – Falei tentando ser o mais casual possível.
- Garoto de sorte, hein. – Ele riu maroto. Eu respirei fundo. E acenei com a mão.
- Tchau. – O lutador de sumô entendeu o recado e saiu.
Voltei a me concentrar no som do Ipod enquanto eu perdia o resto das minhas aulas em que eu tinha um trabalho para apresentar. poderia muito bem apresentar pra mim, afinal éramos do mesmo grupo. Depois que eu contasse pra ele, com certeza ele entenderia meu estado de vida ou morte.
Voltei a minha atenção para . Ela dormia perfeitamente bem. Com os olhos fechados dava para perceber a quão pesada era a maquiagem dela, era preta bem forte. E na minha opinião deixava os olhos dela mais claros do que quando ela usava alguma cor clarinha. No rosto ela não usava absolutamente nada, deixava sempre as milhares de sardas à mostra, que pra mim, era o charme dela. Sem as sardas ela não era nada. O cabelo extremamente ruivo, e não era pintado, era ruivo natural era lindo demais e era a explicação das tantas sardas que com certeza percorriam o corpo dela todo, porque do couro cabeludo até a barriga ela tinha sardas de sobra. Nas pernas não tinha tantas, mas ainda sim apareciam. A pele era muito, muito branca e quando ela era menor algumas pessoas bregas realmente a chamavam de branca de neve. Perfeita, meu deus, perfeita demais. Era uma pena ser tão… irritante!
Senti ela se mexer em meu colo, e num salto virou o corpo e vomitou no chão. Que romântico, a bela adormecida bêbada vomitando no pé do príncipe encantando. Segurei-a pelos ombros enquanto ela respirava fundo tentando se recuperar.
- Você está bem? – Perguntei quando ela sentou-se normalmente no banco. Ela concordou com a cabeça levantando-se do banco. Cambaleou. – Vamos, eu te ajudo. – Falei segurando ela pelo ombro e a levando até o banheiro feminino. Parei na porta e ela entrou. Olhei para o chão e vi meu tênis personalizado todo sujo de carne-moída e suco gástrico. Quando essa garota voltar ao normal eu vou matá-la, amaldiçoá-la, açoitá-la bem no meio daquela cara cheia de sardas. Meu tênis, era um all star branco velho, mas para um trabalho da escola, o transformou no tênis mais legal do mundo, era cheio de detalhes feito com uma caneta especial, tinha um cadarço verde de fita e a “língua” tinha um desenho todo style. Maldita. Maldita. Maldita . Era o tênis perfeito. disse que era o tênis do . Era o meu xodó, o meu, meu tênis, único no mundo inteiro. E agora ele seria lavado, iria estragar toda a mágica do meu bebê. Olhei para o banco, onde o “Gordofredo” estava limpando, com um lencinho no rosto, o vômito de .
mal colocou o pé pra fora do banheiro e eu segurei o braço dela com força.
- Para, garoto... – Ela falou com a voz embolada. Ainda não tinha passado o efeito? O que ela tomou?!
- Você acabou com o meu tênis. Acho que eu vou te matar. – Falei sentando ela em outro banco. SE ela estivesse sã, eu pediria para ela lavar o meu tênis com a língua. Mentira, mas eu faria alguma coisa.
- Não me mata agora, eu quero dormir. – Ela falou me abraçando, como se me conhecesse há anos, e não há horas. Olhei pra ela e por incrível que pareça, já estava dormindo novamente, dessa vez encostada em meu ombro. Ri comigo mesmo. teria que vir pelada amanhã pra escola e não de mini-saia. Agora, uma pergunta que me intriga: Que bebida ela bebeu?
Senti a curiosidade falar mais alto e peguei a sua bolsa, que pesava no mínimo uma tonelada. Abri e de cara vi um vidro de Martini. Pergunta respondida. Continuei mexendo nas suas coisas, celular, câmera, carteira, estojo de maquiagem, um penal, chicletes – que eu não fiquei com a mínima vergonha de pegar um e colocar na boca -, uma calculadora, um cabo USB, um Pendrive, um estojo de higiene pessoal e alguns papéis amassados. Agora só me responde pra quê tanta bugiganga? Uma carteira com dinheiro só não dá? Tem que ter isso tudo? Meninas são todas iguais mesmo.
Ouvi o sinal bater, me preparei para largar nas mãos da primeira amiga dela que passasse por ali. Vi e saindo juntos, hm safadinhos. E vi um monte de garotas com, exatamente, o estilo da se aproximar de mim.
- Ai, ela começou a festa sem a gente. Ingrata. – A primeira falou.
- É por isso que eu não gosto dela, ela sempre é a bêbada. – A outra falou fazendo careta.
- Coitada, gente, é a primeira vez que ela bebeu sem a gente. – A melhor amiga dela falou.
- Vamos acordar ela? – A primeira falou de volta.
- Vamos deixar ela aí. Quem mandou ela beber... – A última que não tinha se pronunciado falou.
- Isso mesmo, vamos pra casa do Josh então! – Elas saíram comemorando e nem notaram a minha presença.
Quando o colégio esvaziou e eu vi que não tinha uma alma viva para levar ela para casa eu me dei por vencido. Peguei-a no colo e levei até o meu carro. Liguei o carro, coloquei o meu CD do AC/DC e fui para o meu apartamento. Deixei-a dentro do carro e entrei no prédio. Dei um ‘Boa Noite’ para o porteiro - há seis meses que eu estou morando ali ainda não sei o nome dele - subi as escadas e entrei. Tirei o tênis e coloquei na pia do banheiro, que era branca e ficou marrom da areia. Soltei uma risada e liguei a torneira deixando a água tirar todo o vômito grosso que tinha incrustado em cima do meu bebê.
Peguei uma latinha de cerveja e comecei a tomar enquanto a pia enchia. Ouvi um barulho de buzina e saí correndo até a varanda vendo apenas que era o meu carro que fazia aquela barulheira toda. Desci as escadas correndo e ri sozinho imaginando a acordar em um carro estranho, velho e tocando AC/DC no último volume.
Abri a porta do carro e vi a pior cena da minha vida.
- Me desculpa. – Foi a única coisa que ela falou quando viu a minha cara de Serial Killer.
O sapato - que parecia ser bem caro - dela estava mergulhado em alguma coisa amarela gosmenta que estava espalhada por toda a extensão do lado passageiro do meu carro. O banco estava respingado e as pernas dela também. Ela tinha vomitado no meu carro. Meu cérebro não processou aquilo. Entrei no carro, abri todas as janelas e joguei a chave do meu apartamento pro porteiro.
- Fecha a porta que ficou aberta. – Gritei pra ele ouvir. – É o 658. – Mal terminei de falar e acelerei o carro feito um louco. O pneu cantou e ficou a marca no asfalto. Não consegui falar nada, e nem ela.
Meu carro. Não era um carro novo. Era um carro normal, um carro que tinha estilo. O banco era de couro e o som não era muito potente. Mas era o MEU carro, e ninguém se sente agradecido quando alguém vomita no seu carro.
Estacionei no único Posto de Gasolina 24 horas da cidade e levei ele direto para a lavagem.
- Pelo amor de deus. Salva esse carro, essa mula aqui vomitou tudo. E rápido. – Falei sem nem pensar para o cara que veio me atender e ele assentiu com a cabeça. não tinha falado nada, ela era a errada do momento, pelo menos isso ela admite.
- Você pode fazer um café puro e bem forte pra mim? – perguntou ao garçom massageando a têmpora.
- Me traz um Capuccino e um pedaço daquela torta de sempre pra mim? – Joe, o garçom, sorriu concordando.
- Torta? Você quer que eu vomite mais uma vez? – Ela me olhou indignada. Fiquei sério e olhei pra ela desejando que ela explodice ali mesmo.
- Uma torta bem grande, com chocolate, chantili, alguns pedaços de morango, e se quiser trazer um pedaço bem grande de bacon cru pra minha “namorada querida” comer, pode trazer. – Falei fazendo aspas com a mão. E ela fez ânsia de vômito. – Deixa de ser fresca garota.
- Eu já disse que te odeio hoje? – Ela perguntou fazendo bico. E eu ri ironicamente.
- Me odeia? Me odeia por quê? Por que eu fui o único que te ajudei? Pra sua informação, as suas amigas te largaram lá comigo porque você estava bêbada e não tinha condições de ir à festa do Josh. Eu fiquei contigo dormindo no meu colo, enquanto eu poderia estar na aula. Mas eu não te larguei porque tinha um faxineiro tarado que queria te comer. Você vomitou no meu tênis personalizado, que a minha irmã fez pra mim. E pra fechar com chave de ouro você vomitou no meu carro inteiro me fazendo vir descalço para uma lanchonete. E você ME odeia? – Falei tudo de uma vez só e ela fez uma carinha de dó. Como o gatinho do Shrek.
- Me desculpa, me desculpa mesmo. Posso te ajudar? – Ela perguntou com os olhos brilhando de animação.
- Não sei se eu quero. – Falei incerto e ela sorriu segurando a minha mão. E eu senti uma corrente elétrica percorrer minha espinha.
- Vamos! É aqui do lado. – Ela me puxou pela mão e saímos da lanchonete do Posto. Ela parou em uma daquelas lixeiras coloridas, tirou o seu sapato caríssimo que agora estava podre e ficou analisando as lixeiras, não era vidro, não era plástico, nem metal, nem orgânico, colocou no chão, do lado das lixeiras e continuou a sua jornada. Acelerou o passo quando viu que a tal loja estava fechando.
- Nãããão! Não fecha! – Ela começou a bater no vidro quando o homem da loja virou a placa de “Aberto” para “Fechado”. – Abre, por favor... Eu pago o dobro! – Ela falou sacudindo a bolsa. E o homem sorriu. Abrindo as trancas da porta e deixando nós entrarmos.
- O que vocês querem? Tem o jogo dos Titans e eu não posso perder! – Ele falou empolgado e forçou um sorriso pra ele. Ainda puxando a minha mão ela me guiou até uma parte onde tinha algumas pantufas horríveis.
- Cadê aqueles sapatos lindos que tinham aqui semana passada? – Ela perguntou ao homem e ele deu de ombros. – Que droga. Pega essas daqui. – Ela me entregou um par de pantufas com orelhas de coelhinho.
- Isso era a ajuda que você ia me dar? – Perguntei balançando as pantufas na minha mão. Ela sorriu.
- Era ‘pra ser sapatos, mas acabaram, então não seja ingrato e use isso. – Ela falou escolhendo um par de pantufas do Scooby Doo pra ela.
- Porque as suas são do Scooby Doo e as minhas são de coelhinhos? – Perguntei e ela riu.
- Own, o bebê quer de desenho é? – Ela fez uma voz de criança e eu rolei os olhos pegando uma pantufa de monstro, toda verde com umas garras pretas. Bem chamativa, mas pelo menos não era de coelhinho.
Ela pagou. E sinceramente, eu não me importei. Ela vomitou no meu carro e no meu tênis, e para mim isso é a gota d’água. Voltamos para a nossa mesa na lanchonete, e ela tomou o café em silêncio.
- Você fez tudo aquilo mesmo? – Perguntou quando eu terminei o meu pedaço de torta.
- Aquilo o quê? – Perguntei sem entender e ela ficou sem graça.
- Você sabe... Ficar comigo enquanto eu estava bêbada, me carregar de um lado pro outro, não me matar quando viu o carro vomitado... – Ela começou a contar e eu cortei a fala dela.
- É, eu fiz tudo isso sim. – Falei sem emoção nenhuma. E ela sorriu.
- Acho que você é a primeira pessoa que faz alguma coisa de verdade por mim. Valeu.
- Disponha. – Falei sem graça e senti meu rosto queimar por um momento.
- Moço, o carro ‘tá pronto. – O garoto com quem eu tinha deixado o meu carro para ser lavado me chamou. Eu e não trocamos muitas palavras antes desse garoto chegar. Levantei-me indo na direção do caixa e paguei.
- Por que você pagou? – Ela perguntou indignada. – Fui eu que sujei, eu que pago!
- O carro é meu, eu pago. – Falei sem dar ouvidos a ela e segui em direção ao carro.
- Você é muito chato, sabia? Não me deixa fazer nada! – Ela gritava enquanto eu entrava no carro, sentindo um cheirinho bom de lavanda. – Você escutou alguma coisa que eu disse? Não né, você não me escuta! Seu louco.
Virei a chave para ligar o carro e nada. Nem um leve som do carro se engasgando.
- ‘Tá sem bateria. – Falei mais para mim do que para ela. Saí do carro a procura de alguém pra me ajudar. Só tinha um caminhoneiro estranho na lanchonete e o garoto que limpou o meu carro.
- Hey, ô garoto, me ajuda aqui a empurrar, acho que o som ficou ligado muito tempo. – Falei e o garoto riu da minha cara.
- Isso eu sei, mas agora eu não posso, porque está no meu horário de folga. – Ele falou ainda rindo e eu senti meu corpo explodir. – , você vai ter que me ajudar. Vamos ter que empurrar o carro.
- O quê? Mas eu não sei fazer isso! Vou quebrar mais uma unha minha, não, não e não! – Ela bateu o pé.
- Anda, empurra aí atrás enquanto eu empurro aqui. – Falei começando a empurrar o carro sozinho ao lado do volante. Ela veio me ajudar logo depois. Várias tentativas frustradas de empurrar o carro. Ela não tinha a mínima noção da força que ela tinha que fazer. E depois da décima vez, nós conseguimos.
- Acho que eu vou desmaiar. – Ela falou ao meu lado, enquanto eu acelerava bastante o carro, para ele não morrer novamente.
- Olha só aquela bundinha. – Ouvi aquele caminhoneiro estranho falar para o garoto que lava carros. Senti uma onda de adrenalina surgir no meu corpo.
- Coloca o pé aqui no acelerador e não tira por nada desse mundo. – Falei e ela foi ao meu lugar toda desajeitada. Fui calmamente até os dois machões e eles começaram a rir da minha cara.
- Adorei essa sua pantufa. – O pirralho falou e eu já estava feito um louco.
- Mas eu gostei mais da sua namorada, ela deve fazer loucuras na cama, hein? – O caminhoneiro perguntou e eu serrei o meu punho juntando todas as minhas forças dando um soco bem no meu do seu focinho arrebitado, soltando bastante sangue do seu nariz. Ele caiu no chão com a força do meu soco e eu olhei pro pirralho que me olhou com misericórdia.
- Me desculpa, moço, foi sem querer… - Ele saiu correndo para o fundo da lanchonete, enquanto o caminhoneiro se levantava cambaleando.
- Seu filho da... – Ele falou e eu soltei um cuspe na cara dele e saí correndo feito um louco, antes que aquele brutamonte me desse um soco que quebrasse o meu crânio no meio.
- Vai pra lá, . – Falei praticamente saltando dentro do carro, mudando a marcha e cantando pneu pela segunda vez na noite.
- Você bateu nele? – Ela perguntou assustada com a respiração mais cansada que a minha.
- Não, eu estava brincando de dar soco na cara, sabe, é uma brincadeira bem legal. – Falei ironizando para quebrar a tensão. Ela riu um pouco.
- Ele estava falando de mim? – Ela já estava mais calma.
- É difícil não te notar quando se está com uma saia dessas. – Falei e depois notei o que eu tinha falado.
- É tão curta assim? – Ela perguntou e eu concordei com a cabeça. – Mas então você já olhou, seu safado.
- Qualquer homem olharia. – Falei sem tirar o olho da estrada, para não ter que encará-la.
- Mas você não é gay? – Pela terceira vez.
- Eu realmente tenho cara de gay? – Perguntei com a voz meio alterada. – É a terceira vez que você me pergunta isso hoje.
- Não. – Ela só respondeu isso e depois riu. – Talvez um pouquinho.
- Que graça. – Falei seco e ela riu mais ainda. A risada dela era realmente boa de ouvir.
- Sabe de uma coisa? Eu ainda não sei o seu nome. – Ela falou do nada. E eu suspirei. Que romântico, a Bela Adormecida vomita no tênis e no carro do Príncipe Encantado que ela não sabe o nome.
- . – Falei sem me importar muito e ela sorriu.
- Prazer, . O meu nome é . – Ela falou estirando a mão até mim e eu a apertei, como se eu não soubesse o nome dela.
- Para onde nós estamos indo, ? – Perguntei enfatizando o nome dela, para mostrar que eu tinha aprendido.
- Eu não sei, . – Ela fez a mesma coisa que eu. Entrei no retorno e fiz o mesmo caminho de antes, passando pela frente do Posto e vendo que tinha uma rodinha de gente em volta do Brutamonte.
Segui em frente querendo chegar ao meu destino, liguei o som deixando no volume máximo enquanto se contorcia ao meu lado.
- Arg! Essa música é um horror! – E apertou o botão onde passava do CD pra rádio.
- Você está louca? – Perguntei sério. – Já não basta vomitar no meu carro, ainda quer mandar na música? – Ela fingia não me ouvir, cantando uma música que devia ser da Britney Spears, ou da Beyoncé. Eu realmente não sei. Cliquei no botão de volta, deixando a “Highway to Hell” estourar os meus tímpanos.
- Você é que é louco, de ouvir uma música dessas! – Ela falou apenas abaixando o volume. – Faz faculdade de quê? – Ela mudou de assunto se acomodando no banco de um jeito que ficasse olhando pra mim.
- Música. Mas acho que vou trancar. – Falei fazendo careta e ela me olhou indignada.
- Por quê? – Só porque você está lá todos os dias e isso me atrapalha muito.
- Não sei. – Simplesmente falei dando de ombros.
- Tem que ter alguma razão! Você não pode simplesmente trancar a faculdade sem nenhuma explicação! – Falou ela, totalmente desesperada.
- Por quê? Vai sentir a minha falta, é? – Perguntei fazendo cara de gostosão, e ela riu e não respondeu. E eu fiquei naquele vácuo eterno.
Chegamos ao meu prédio. Ela desceu do carro olhando pra cima.
- Em que andar você mora?
- No sexto. – Falei entrando na recepção e vendo o porteiro dormir. tocou uma pequena campainha que tinha no balcão e ele deu um salto.
- A minha chave. – Falei e ele demorou pra entender. Entregou-me a chave e riu.
- Gostei da pantufa. – Ele continuou e a riu sarcástica.
- Vamos fazer uma noitinha do pijama. – Ela piscou pra mim, e eu fiquei estático. Mesmo nessa altura do campeonato, eu ainda babava por ela. – E eu acho que nem vou dormir hoje, você vai, amor? – Ela me perguntou e eu sorri convencido pro porteiro.
- Eu acho que não. – Fiz charminho e ela sorriu satisfeita. – Vamos logo bebê, se não eu não aguento. –Ela falou e apertou a minha bunda. Comecei a rir, enquanto subíamos as escadas e o porteiro ainda nos olhava desacreditado.
- Você viu a cara dele? – Ela me perguntou enquanto eu abria a porta do meu apartamento.
- Vi sim, ele... – Não terminei de falar a frase ouvindo um barulho que parou o meu coração. Água. Corri pro banheiro e vi os tapetes boiando e o meu par de tênis boiando dentro da pia que transbordava água.
- Ô senhor! – Ouvi falar enquanto eu praticamente surtava na porta do banheiro. – Desliga isso garoto! – Ela entrou no banheiro e fechou a torneira.
- Hoje só pode ser o meu dia de azar. – Falei olhando pra dentro do banheiro que era – POR SORTE! - um palmo mais baixo do que o apartamento inteiro.
- O mundo inteiro está economizando água e você fica gastando assim, né, seu malvadinho. Tira logo essas pantufas e pega lá um balde, vamos secar isso. – Ela ordenou e eu fui correndo para a lavanderia. Peguei dois baldes, alguns panos e um par de luvas amarelas para ela. Até debaixo d’água eu pago pau.
Entreguei os baldes pra ela e fui pendurar o tênis no varal da varanda.
- Own, que bonitinho, trouxe uma luva pra mim. – Ela falou colocando as luvas e eu ri, não sei como.
Começamos a juntar toda a água acumulada no chão.
- Você mora aqui sozinho? – Perguntou ela depois de um bom tempo em silêncio. Um balde inteirinho já estava cheio.
- Moro. É bom morar sozinho. – Falei torcendo o pano e ela me olhou com uma carinha bonitinha.
- Eu sempre quis morar sozinha. Como é? – Me diz para quê uma pessoa que tem todo esse dinheiro vai fazer sozinha? Se matar na cozinha? Vomitar quando ver um rato no banheiro?
- É bom, independência. Comer o que quiser. Fazer o que quiser. Dormir a hora que quiser. Sair a hora que quiser. Eu gosto disso. – Falei e ela sorriu.
- Algum dia eu vou ter tudo isso. – Ela falou passando a mão no cabelo, colocando ele para trás da orelha.
- Você fala como se a vida de gente rica fosse chata. É tão ruim assim? – Perguntei e o sorriso dela se desmanchou.
- É boa quando os pais estão em casa. Meus pais vivem viajando e eu fico parte do meu tempo com a empregada. Nada contra ela, mas se é pra ficar sozinha, então que seja sem regras. E não com as regras dos meus pais. – Ela falou fazendo careta e eu ri.
Terminamos de secar o banheiro e guardamos os baldes no canto da lavanderia. Não, a gente não ia jogar aquela água limpinha fora. Aprenda a economizar água com e ! :D
- Não repara na bagunça. – Falei quando vi que o apartamento estava totalmente desorganizado.
- Você chama isso de bagunça? Não visse o meu quarto ainda! Eu não deixo a empregada entrar lá por nada, se ela arrumar, eu nunca mais acho alguma coisa lá dentro. – Ela falou rindo e se jogou no sofá.
- Eu também. O meu desarrumado é organizado pra mim. – Falei e percebi que a frase ficou estranha. – Quero dizer...
- Eu entendi. – Riu. – Sabe de uma coisa? Eu estou com fome. Vamos comprar alguma coisa pra comer?
- Você fala como se aqui em casa não tivesse comida. – Falei fazendo bico.
- E tem? – Ela me desafiou e eu ri.
- Não. Vamos então! – Falei me levantando e colocando as pantufas. Ela colocou as suas pantufas também e fomos.
- Sabe que eu nem estou mais com vergonha dessas pantufas? – Falei, e ela riu.
- Eu também. São bonitinhas, oras... São a nossa cara.
- ‘Tá me chamando de monstro? – Perguntei, fazendo cara de indignado, e ela riu segurando o meu braço.
- Não, claro que não. Só estou falando que você não dispõe de muita beleza. – Ela riu alto e eu fiquei com cara de taxo.
- Há-há. Você é uma graça, sabia? – Perguntei e ela riu mais e se encolheu depois de uma rajada de vento. Tirei a minha jaqueta e ofereci a ela que não se recusou a colocar. Fiquei apenas com uma camiseta xadrez laranja e preta. Eu ainda morro de hipotermia por causa dessa garota.
- Que vento louco é esse? – Ela perguntou e entrou na lanchonete fechando a porta atrás de si. Dei de ombros e fui até as prateleiras aonde tinha um monte de salgadinhos.
- Ah, eu quero esse! – Ela falou pegando um Cheetos de queijo.
- Eu quero esse, esse e esse. – Falei pegando uma batata, um de requeijão e um de queijo - só que diferente do dela. Pegamos uma cestinha e começamos a jogar tudo que tinha cara de bom dentro. Resultado: Saímos de lá com três sacolas cheias. Voltamos para o apartamento.
- Hm, experimenta isso daqui. – Ela falou passando o dedo dentro de um pote com uma coisa que parecia ser chocolate e colocou na minha boca. Cinco segundos de glória com o dedo dela na minha boca. Senti um gosto bom de chocolate com avelã e concordei com ela. Era bom demais.
- Acho que o sorvete derreteu. – Falei rindo e mostrando o pote aberto pra ela ver.
- Eca, vou colocar lá no congelador. – Ela falou indo para a cozinha e voltando com um Spray de chantili nas mãos.
- Hey, esse chantili é meu ok. – Falei fazendo bico, e ela riu.
- Dá licença né, eu que achei. – Espirrou um pouco em uma bolacha recheada e comeu. – Meu Deus, vou parar de comer, vou virar uma bola. – Ela falou rindo e se jogando no sofá novamente.
- Então será que dá ‘pra devolver o meu Chantili? – Perguntei agoniado. Eu sou viciado em Chantili. – Eu quero fazer o meu milk-shake de Ovomaltine.
- Ah, eu já tinha me esquecido do milk-shake. Vamos fazer! – Ela falou dando um pulo. Fomos para a cozinha com o pacote de Ovomaltine e o Chantili. Peguei o liquidificador virei metade do sorvete líquido dentro e praticamente um pingo de leite. Ela jogou todo o pacote de ovomaltine dentro e eu liguei.
- O segredo não está em como se faz. – Ela falou pegando dois copos meus enormes do X-men, de uma promoção do McDonald’s. – Está em como colocar no copo.
Ela encheu o fundo dos copos de calda de chocolate e de morango, depois colocou um pouco de Chantili, depois colocou o milk-shake e depois mais um pouco de chantili. E de acordo com ela, eu nunca mais esqueceria aquele milk-shake. Peguei dois canudos que tínhamos comprado para esta ocasião. E tomei.
Ela ficou muito, repito, muito feliz quando eu disse que o milk-shake tinha ficado igual ao do McDonald’s. E o pior é que estava mesmo! Ficamos vendo televisão até não aguentarmos mais comer.
- Cadê a minha bolsa? – Ela me olhou preocupada e eu dei de ombros. – É sério, ela não está aí?
- Não. – Falei me levantando para achar a bendita bolsa.
- Será que eu esqueci na lanchonete? – Ela perguntou com a cara preocupada, e eu peguei a chave do carro.
- Vamos lá ver. – Falei puxando ela para fora do apartamento e fechando a porta.
Chegamos na lanchonete num segundo, já que ela ficava a menos de um quarteirão do prédio, mas eu preferi ir de carro, porque o vento lá fora estava realmente forte.
De fora da loja já dava pra ver a bolsa dela em cima do balcão.
- Ah, meu amor, minha vida! – Ela falou abraçando a bolsa, e a mulher do caixa me olhou assustada.
- Sem exageros, . – Falei rindo sem graça. E olhei para a caixa. – Obrigada por cuidar da bolsa.
- Isso sempre acontece com garotas desvairadas. – Ela riu sem preceber o que tinha falado.
- Como é que é? – perguntou e eu ri. Era engraçado.
- Não é nada, , vamos embora. – Falei empurrando ela pra fora da loja. – Obrigado. – Falei quando estava fechando a porta da lanchonete.
- Como é que é agora? Vai ficar flertando com a caixa? – Ela me perguntou entrando agressivamente no carro.
- Por acaso eu sou sua propriedade? – Perguntei e ela virou os olhos. Dirigi para qualquer lugar sem nem ao menos prestar atenção.
- Pra onde você está me levando? – Ela perguntou ainda num tom bravo. Chata.
- Eu não sei. A madame quer ir pra casa? – Perguntei bravo também, e ela riu.
- Vamos parar com essa briguinha, vamos? Eu não consigo ficar sem falar contigo. – Ela apertou as minhas bochechas e eu rolei os olhos.
- Nem ‘pra brigar você presta. – Falei brincando e ela se fingiu de ofendida. Ficamos andando de carro pela cidade por bastante tempo. Até me surgir uma idéia.
- Eu já sei aonde vou te levar. – Falei entrando na primeira esquina que vi. E ela bateu palmas.
- Onde é? – Ela perguntou sorrindo, e eu não abri a boca pra falar.
Depois de alguns minutos chegamos no tal lugar.
- Não pode olhar. – Falei e coloquei as minhas mãos nos olhos dela.
- Que chato. – Ela falou rindo. A guiei até a porta onde tinha escrito uma faixa bem grande. “Não existe hora para adotar um cão”.
Entramos e eu preenchi o cadastro ainda sem deixar ela ver. Tirei a mão dos olhos dela e ela abafou um grito.
- Eu não acredito!
- Eu acho que assim pelo menos tu não fica tão sozinha em casa. – Falei dando de ombros. Ela me deu um tapinha no braço.
- Você é perfeito sabia? – Gelei por um momento e ela nem deu bola. Uma mulher com cara de sono nos levou até a ala dos filhotes.
- Todos eles estão com a vacina em dia. – A mesma mulher falou abrindo um portãozinho para entrar e escolher um. Eu fiquei do lado de fora, só vendo ela toda boba.
- É esse! – Ela falou pegando um pequenino no colo. Não tinha uma raça definida. Era branquinho e tinha as orelhas escuras, assim como as patas também. A mulher o pegou e foi apenas terminar o cadastro.
- Own, você é muito lindo, sabia bebê? – Ela falou já dentro do carro enquanto voltávamos para o apartamento. O cachorro ficou lambendo e brincando com ela até chegarmos.
- Eu não quero nenhum cagão aqui, hein. – Falei para e para o cachorro. E ela riu.
- Fica tranqüilo, Senhor Limpeza. – Ela falou sentando-se no chão e brincando com o sem-nome.
- Hey, Sem Nome, vem cá. – Me sentei no chão também e fiz um barulhinho com a boca para ele vir. Comecei a fazer carinho nele e ela riu.
- Sem Nome, vem cá, não fica aí com ele não. – Pelo jeito o meu nome era de bom agrado. – Ele é muito chato. – Ela cochichou pro cachorro.
- Bem feito, ele ficou comigo, ele me ama. – Falei me achando. – Isso mesmo, Sem Nome, fica com o papai aqui. – Continuei fazendo carinho nele.
- Hunf, chato. – Ela se levantou e foi na varanda. – Hey, vem cá ver. – Ela chamou e me levantei com o Sem Nome no colo.
- O quê?
- O seu tênis já está seco. Quer que eu desenhe essa parte de caneta de novo? – Ela perguntou mostrando a parte de caneta que estava desbotada.
- Se você não se importa, eu quero sim. – Falei sério e ela entrou fechando a porta de vidro que separava a sala da varanda.
Ela pegou o penal de dentro da sua bolsa e sentou-se no chão de novo, ligando a luz dessa vez.
- Não é muito difícil fazer isso. Fiz isso em um sapato que eu tenho lá em casa, eu não uso ele por causa disso. Mas pelo jeito tu gosta desse tênis, sempre usa ele lá na escola. – Ela falou enquanto fazia os desenhos certinhos. Ela já tinha me notado? – Aquela garota com quem você sempre anda lá, é tua namorada?
- Er, não. Ela é minha irmã. – Falei rapidamente. E ela fez uma carinha bonitinha.
- Eu jurava que ela era tua namorada! Ela faz curso comigo, sabia? – Sim, sabia. – Claro que sabe, ela é tua irmã. – Ela mesma respondeu a pergunta rindo.
- Foi ela que fez esse tênis pra mim. – Falei e ela fez uma cara de “Ahn, entendi”.
- Ô senhor! Olha a hora. – Ela falou apontando para o relógio na parede. – Acho melhor irmos embora, né, Sem Nome?
- ‘Tá cedo. – Falei e olhei o relógio que marcava umas duas horas da manhã. Ela riu irônica e pegou o Sem Nome do meu colo. Peguei a chave do meu carro e fomos.
Na real, eu sabia onde ela morava, mas fingi perguntando a ela. Levei-a até a porta e de lá ela entrou rapidamente sem nem me agradecer direito. Ingrata! Voltei para casa, me deitei na cama, mas eu estava sem sono. Para falar a verdade, eu estava com medo de dormir e acordar sabendo que tudo isso foi um sonho. Seria o sonho mais real, e mais... Perfeito que eu já tive. Isso se eu me lembrasse quando acordasse, eu tenho a mania de acordar e esquecer dos sonhos. Por isso tenho muito déjà vu.
Fiquei rolando na cama por muito tempo até desistir e ir até um barzinho que tinha ali perto.
- Oi. – Pensei ter ouvido a voz dela por um momento e nem tentei procurar.
- Oi. ‘Tá me evitando é? Ingrato. – Ela sentou-se na minha frente. Fiz uma careta.
- ‘Tá me seguindo é? – Eu e ela falamos juntos e rimos. – Eu só vim... - Falamos juntos de novo. E rimos mais.
- Fala primeiro. – Falei finalmente sozinho e ela riu.
- Bem, você me deixou em casa, e minhas amigas me convidaram pra vir rir um pouquinho, e eu vim. –Ela falou e apoiou o rosto nas mãos. Esperando eu falar. – E você?
- Eu deixei você em casa, mas como estava sem sono resolvi vir aqui, encher a cara e desmaiar de sono. – Falei e ela me olhou.
- Que horror. – Eu ri da cara que ela fazia.
- Como está o Sem Nome? – Perguntei, e ela sorriu.
- Tá bem, deixei ele dormindo na minha cama. Vou cuidar bem dele, não se preocupe.
- Pra uma pessoa “desvairada” que esquece a bolsa na lanchonete até que você está se saindo uma boa mamãe. – Falei e ela riu, provavelmente se lembrando da cena.
- Acho que vou abandonar as minhas amigas para ficar aqui conversando contigo. – Ela falou, e eu notei as bochechas dela corarem. – Vamos sair daqui?
- E as suas amigas? – Perguntei olhando pra trás tentando procurá-las.
- Elas provavelmente vão pensar que eu desmaiei no banheiro. – Ela deu de ombros e me puxou pra fora da lanchonete. Ela enganchou o braço no meu e começamos a andar sem rumo.
- Você pode ser o meu conselheiro por um momento? – Ela perguntou me olhando, e eu concordei com a cabeça. Aquele vento louco tinha parado, pelo menos serviu pra secar o meu tênis.
- Você acha que se eu namorar alguém lá da faculdade, vai ser ruim pra mim? – Se eu dizer que acho que ela está falando de mim, alguém vai achar demais?
- E-eu não sei. Pode atrapalhar nos estudos, mas acho que não vai ser tão ruim assim. – Respondi. sempre tira suas dúvidas comigo. Disse que sou bom com conselhos. Acho que vou trancar a música e vou começar a fazer psicologia.
- Hm. É porque eu acho que estou gostando dele, mas não sei se ele gosta de mim. Quero dizer. É bem estranho. E outra coisa é que ele é bem diferente de mim, ele é lutador e eu sou a “patricinha”. É muito clichê. – Ela falou fazendo um biquinho. Er, morri. Lutador? Que isso.
- É clichê, mas porque você não conversa com ele? É o único jeito de resolver isso. – Falei tentando disfarçar o desânimo da minha voz.
- Eu tenho medo que ele me rejeite, e ao mesmo tempo tenho medo que ele queira ficar comigo só porque eu sou “bonitinha”. – Bonitinha é apelido.
- Sinceramente, se ele for ficar com você só porque você é bonita, ele não te merece. – Falei e depois fechei os olhos notando o que eu tinha falado. Falar sem pensar já virou rotina pra mim. Fiquei olhando pra baixo, para não ter que olhar pra ela. Ouvi sua risada e rolei os olhos.
- , dá ‘pra parar de ser tão... Tolo?
- Será que dá ‘pra você parar de mexer com os meus sentimentos? – Fiz a pergunta do mesmo jeito que ela. Dessa vez ela gargalhou.
- É disso que eu estou falando. – Falei apontando o dedo na cara dela. Senti algumas gotas d’água baterem no meu rosto. Chuva, era só o que faltava. – Ótimo. – Falei soltando o braço dela do meu, apontando pro céu e andando.
- . – Ela falou segurando meu braço. Virei-me para mandá-la para os infernos e senti os lábios dela encostando-se nos meus. Ela agarrou os meus cabelos com força e mordeu meu lábio inferior antes de encostar as nossas línguas. Puxei a cintura dela pra mais perto e fechei os olhos. Como eu esperava isso, senti o mundo parar de girar novamente e uma onda de calor passar por mim. A chuva tinha engrossado e mesmo assim, continuamos ali, sem fôlego para parar. Não me aguentei, e passei meus dois braços pela sua cintura, levantando-a. Ela partiu o beijo e riu. Coloquei-a no chão e fiz uma cara de exclamação.
- E o lutador? – Perguntei, e ela segurou a minha cabeça balançando de um lado pro outro.
- Você é o meu lutador, ! Foi você que lutou por mim enquanto ninguém sabia o meu verdadeiro eu. – Agora que ela falou parecia tão óbvio.
- Eu acho que te amo. – Falei desse jeito só para ela não se assustar mesmo.
- Sabe que eu também acho? – Ela perguntou iniciando um novo beijo.
Dia mais feliz da minha vida: Hoje.
Nota da Autora: Oooooi amores! Tudo bom? Pois então, mais uma fic minha. Só pra não perder o costume, sabe... Eu sei que não ficou aquela maravilha, mas dá pro gasto, hehe. Só postei ela no site pra matar a minha vontade de escrever uma fic do ATL. Fiz ela em uma tarde, e por isso ela ficou.. desse jeito, mas tudo bem, ignorem. E, não esqueçam de comentar :*