Essa é uma história de um garoto, que conhece uma garota.
Ninguém nunca diria que eram feitos um para o outro.
Ninguém jamais saberia que, coincidência ou destino, eles foram programados para se encontrem.
De algum jeito, de alguma forma.
Por uma noite, apenas.
Manhattan, 5 de dezembro de 2009.
colocou seu gorro vermelho e correu na neve da 5ª Avenida. Começara a nevar mais cedo que o normal, e a paisagem quase translúcida lhe dava a sensação de paz, mesmo em meio a intermináveis buzinas e a um trânsito infernal comum naquela hora do dia. Seus pés a estavam matando, apertados por horas dentro daquelas botas Louboutin de salto finíssimo - mas ela não podia reclamar. Ainda que tivesse certeza que um dia teria uma síncope de tanto stress, trabalhar na editoria de moda da Vogue America sempre fora seu sonho - um sonho menos glamuroso quando tornou-se realidade, isso é bem verdade.
Aquele dia tinha produzido um ensaio de tendências para a moda verão, ao ar livre. Tente fazer isso no meio da neve, com modelos ameaçando morrer de hipotermia.
Mas, ao menos, ela não era nenhuma Andy Sachs, em O Diabo Veste Prada. Amém.
Nada mal para uma garotinha do interior do Texas, que desafiou a família toda quando decidiu que não seria enfermeira, que não trabalharia no Hospital Geral e que faria Moda na Universidade de Columbia.
Seu pai não tirara seu chapéu de cowboy para isso. Mas nunca ligou, sempre teve certeza de que estariam todos em sua formatura, o que de fato aconteceu.
Viver em Nova York sempre fora seu sonho, desde pequena. Não voltaria jamais para aquele fim de mundo.
- Ufa! - exclamou ao sentir o ar quente da Starbucks encher seus pulmões.
O dono da Starbucks deveria ser canonizado. Aquele cara sim era um gênio.
- Um Caramel Macchiato e um Mocha branco, por favor! - sorriu para a atendente, já sacando o celular da bolsa.
Ele atendeu no terceiro toque.
- Oi, amor! - sorriu, digitando a senha de seu cartão de débito com a mão livre. - Que saudade!
Ouviu a risada rouca que tanto gostava do outro lado da linha.
- Nós nos vemos essa manhã, . - ele disse, rapidamente.
- Está ocupado? - indagou. Achou estranha aquela resposta. Certamente Derek, seu namorado há quatro anos e noivo há um ano e meio, estava atolado de processos para solucionar em sua frente.
Ela o imaginou de gravata, atrás de uma pilha de papel, e achou aquilo incrivelmente sexy.
Lembrou da vez que eles fizeram certas coisas na mesa daquele escritório. Com direito a jogar todos os papéis para o alto, como nos filmes. Riu sozinha de sua idiotice quando o ouviu chamar do outro lado da linha.
- Opa, desculpa, me distraí aqui com os pedidos - disse rapidamente, chacoalhando a cabeça. - Quer seu Mocha com muita canela, como sempre? Eu estou aqui na esquina do seu escritório, vou passar aí para...
- Eu estou em casa - ele disse, rapidamente.
- Em casa? Wow, essa é nova - ela riu. - Nossa, isso é incrível, amor, finalmente te deram uma folga! Acho que seu café vai chegar meio frio, infelizmente... Mas vou tentar correr! O que acha de pedirmos tailandesa hoje? Estou morrendo de vontade de comer aquele frango de tangerina, espero que dessa vez não venha laranja, se não eu...
- ! - Derek a interrompeu. tinha acessos e costumava falar mais que os cotovelos do nada. Ele não riu. - Vem logo para casa, estou esperando você... Amor.
Ao segurar os dois copos com certa dificuldade, devido ao telefone, teve certeza que havia algo muito errado com Derek.
Ela o conhecia mais que a si mesma. Moravam juntos há dois anos, conviviam o suficiente para que ela entendesse, por seu tom de voz, que as coisas estavam estranhas. Respirou fundo, sentindo um súbito arrepio na espinha.
- Eu estou indo - disse, quase em um susssurro, e jogou o aparelho na bolsa.
Não colocou canela no café dele.
- Senhor , esqueceu algum celular de novo? - Joseph, o porteiro do prédio, perguntou, já quase rindo.
Terrível aquela mania que tinha de esquecer celulares, chaves, carteiras e até garotas presas dentro do escritório. A expressão de fez com que o adorável velhinho murchasse atrás do balcão.
- Aconteceu alguma coisa? - Joseph perguntou. rolou os olhos.
As veias de seu pescoço estavam saltadas, seus olhos pareciam que iam pular do rosto. Qualquer um que o encarasse por pouco mais de um segundo ficaria confuso em decidir se estava transbordando ódio ou morrendo de pânico.
- Agora não, Joe - disse, seco, esmurrando os botões do elevador.
Nunca havia tratado aquele senhor daquela forma. Adorava Joseph.
Mas seu coração estava tão acelerado que os quinze segundos esperando o elevador lhe pareceram mais lentos que dois anos e alguns meses. Todos os momentos que passara naquele prédio vieram em sua mente - desde o dia em que fora contratado, das horas correndo de um lado para o outro, dos papos com Joe, das noitadas com os caras nas sextas feiras, das garotas que levara para a copiadora quase que semanalmente.
Ele era uma lenda viva ali.
- Dois anos, nove meses e dezessete horas - sussurrou, esmurrando a parede do elevador.
Eleonor, a ascensorista, já tinha ido para casa. Todos já tinham.
Mas ele sabia que a pessoa com quem queria falar estaria, como sempre, fumando um charuto com os pés em cima da mesa, admirando a vista do 63° andar após o expediente.
Entrou como um furacão na sala dela.
- Margareth! - gritou para a senhora de meia idade que estava virada de costas. Seus cabelos loiros emolduravam seu rosto redondo e ela vestia um conjunto de saia e blazer escuros. Era uma perfeita dama durante o dia, mas agia como seu antigo marido - de quem tinha herdado aquela empresa, após seu infarte em uma viagem ao Cabo três anos antes (alguns diziam que Charles detestava férias, e isso o matou) - quando estava sozinha.
- O que é, ? Quem está morrendo? - disse, com seu típico tom de voz entediado.
Ao girar a cadeira, no entanto, percebeu, pelos olhos avermelhados do rapaz, que o assunto dessa vez era sério. - Alguém ESTÁ morrendo? - perguntou, assustada.
jogou um mandado policial na mesa de Margareth. Ao sentar na cadeira em sua frente, abaixou o rosto e passou as mãos pelos cabelos nervosamente enquanto a mulher analisava o que estava escrito.
- Ah, querido - Margareth quase sussurrou. - Eu sinto... Eu sinto muito. Nós fizemos tudo o que poderíamos ter feito, mas...
- NÃO FIZERAM! - berrou, levantando da cadeira. - Se tivessem feito essa merda direito, eu não teria recebido a porra desse mandado oficial! OFICIAL, Maggie! - quase correu até a mesa de drinks da sala da chefe. Alcançou uma garrafa de whisky, e sem preocupar-se em procurar um copo, entornou uma grande quantidade do líquido.
Maggie não parecia espantada, no entanto.
Contratou pessoalmente dois anos e alguns meses atrás. Quando o rapaz apareceu em seu escritório, devidamente atrasado para um legítimo inglês recém chegado de Kent, afobado com as palavras e visivelmente desesperado por uma chance naquela cidade, encantou-se por ele. Não da maneira que todas as garotas do prédio se encantaram - e aproveitou-se bastante disso, ouvira falar. Sabia que ele era uma boa pessoa e um profissional cheio de potencial. Ficou sabendo, meses depois de contratá-lo, que havia vindo para os Estados Unidos sem absolutamente nada, deixando uma família rica para trás, e que, naquele dia, estava desesperado com a possibilidade de ter que voltar para casa e decepcionar seus pais novamente.
E agora, isso estava acontecendo de fato. DEPORTADO.
leu a palavra que o fazia sentir vontade de vomitar novamente.
- , querido, você sabia quando entrou aqui da duração do contrato! Fizemos tudo pela renovação, no entanto, há algum problema com seus documentos... Eu nem sabia que ingleses eram deportados da América! - Maggie disparou. a olhou, afrouxando o nó da gravata.
- Então é isso? Eu simplesmente tenho que... Ir embora?
Merda, como aquilo doía!
Pela primeira vez em vinte e quatro anos ele era o orgulho da sua família. Sempre fora tudo sobre Michael, seu irmão mais velho.
Ele orgulhara sua família ao ganhar uma bolsa em Oxford, mesmo sem precisar de uma.
Ele orgulhara seu pai ao tornar-se um médico renomado.
Fora Michael quem casou com a herdeira de uma fortuna na nobreza britânica.
E também ele quem dera o neto que seus pais sempre sonharam.
sempre foi o garoto bagunceiro do colégio, que visitava a diretoria duas ou três vezes por semana, que sumia em bebedeiras com os amigos e que nunca tinha uma namorada fixa para apresentar nas festas familiares. Nunca ligou para escola, nem para o dinheiro do pai. Não ganhou bolsa em lugar algum, mas formou-se em Administração de Empresas na Universidade de Cardiff.
Nem ele sabia como isso tinha acontecido, já que ele pouco frequentava as aulas e só vivia em festas. Mas gostava daquela profissão, e sabia que quando deixasse de agir como um moleque, era isso que iria fazer com prazer. Quando largara tudo sem aviso prévio e fora para Nova York, seu pai apontou o dedo em seu rosto e disse quatro palavras que agora ecoavam em sua cabeça tão cortantes quanto fascas afiadas.
"Você não é capaz". "Você-não-é-capaz".
Quando conseguiu aquele emprego, sua vida mudou. Em poucos meses, saiu de seu microapartamento em um bairro perigoso para um duplex com vista para o Central Park. Não era sobre o dinheiro, mesmo sabendo, antes mesmo de entrar naquela entrevista, que enriqueceria muito fácil ali. Era uma questão de orgulho.
A melhor coisa de sua vida foi quando voltou no Natal para Kent.
Ver seu pai engolir tudo o que sempre disse sobre ele foi quase como um presente trazido pelo bom velhinho. levou Candace, uma secretária de Maggie que era perfeita (fisicamente e mentalmente) para apresentar como sua namorada. Claro que o relacionamento acabou duas semanas depois. Mas naquele dia, seu pai lhe dissera:
"Filho, você é um homem agora. Estou muito orgulhoso de você".
Agora, ele estava voltando pra mesma merda de antes.
Nada de independência. Nada de Nova York. Nada de orgulho.
- Querido, eu liguei para alguns contatos, posso arrumar um emprego pra você em Londres, em uma empresa conhecida, até que você arrume tudo e que possa voltar para...
- Eu não quero ir - sua voz quase não saía. Sentia-se como um garotinho indefeso de cinco anos.
- Mas, infelizmente, você terá que ir, - Maggie estendeu o mandado judicial junto com outra folha a ele.
Sua demissão.
- Você está me...?
- Não torne isso mais difícil do que já é, por favor. Você sabe que eu queria que você ficasse.
assinou de forma descoordenada o papel, enquanto Maggie dava a volta na mesa.
Ao levantar-se, viu, por trás dos óculos de armação preta da senhora, que seus olhos estavam marejados. E então se abraçaram.
deixou que algumas lágrimas caíssem. Aquele era seu lugar.
O que faria de sua vida agora?
Ao correr para fora das imponentes portas de vidro, ignorando Joseph, encarou a neve e as luzes de Natal.
E teve certeza que, dali em diante, sua vida seria uma merda.
Não sabia pra onde ir quando entrou no táxi.
"Eu não te amo mais. Desculpe".
As lágrimas escorriam quentes pelo rosto pálido e gelado de , enquanto ela derrapava com seus saltos pela neve. Como assim, não a amava mais? Como tudo aquilo podia simplesmente ter evaporado, todo o amor, toda a paixão, todo o tesão que eles tinham um pelo outro?
O pior era que ela ainda o amava. O desejava. Precisava dele.
E então, entre um frango de tangerina e algum quote engraçado de Chandler, em Friends, Derek resolvera apontar uma arma para seu peito e explodir seu coração.
E ela estava perdida, com frio, enojada e com vontade de deitar na neve e morrer de hipotermia, como quase aconteceu com suas modelos aquela tarde.
Aquele beco não estava movimentado, exceto por um casal que se beijava com paixão em um banquinho e três cachorros que se encolhiam perto de caixas de papelão.
Não conseguiu se segurar. Gritou, do fundo do seus pulmões. Pensou que nunca fosse conseguir parar de gritar. Sem parar. Bateu os pés com força no chão, até o salto atolar na neve e a derrubar de bunda no gelo.
Então gritou de dor e de ódio. E ninguém estava mais ali.
Nem o casalzinho, nem os cachorros.
Estava completamente sozinha.
&
encarava um cubo de gelo derretendo dentro de seu Whisky como se aquilo fosse muito interessante. Não havia reparado na garota que tentava a todo custo encostar nele, querendo um pouco de atenção, quem sabe alguma bebida grátis e uma ida sem compromisso ao motel mais próximo. Ele tinha o poder de detectar esse tipo mulher. Se aquele dia não tivesse sido tão bizarro, provavelmente estaria cantando a garota de forma barata que, se fosse dita por algum cara em uma construção, a faria torcer o nariz... Mas vinda dos lábios de , com seu sotaque britânico que todas adoravam, era praticamente um convite para algo promissor entre quatro paredes. Ao ouvir o barulho estrondoso da porta chocando-se contra a parede, acordou de um transe, mas não se deu ao trabalho de olhar para trás.
- Não, Claire, eu quero mais que ele se fod... - a garota parou de falar, tacando as coisas na mesa. Devia ter chumbo naquela bolsa. - Não, eu não quero ver ninguém. Me deixe em paz! - a voz fininha disse, antes de tacar um Blackberry no balcão de mármore gélido.
- Um martíni para a senhorita? - o barman perguntou, galanteador, e ouviu a garota bufar. Não fazia ideia de como, mas algo o dizia que ela estava rolando os olhos.
- Uma tequila. Sem sal e sem limão - murmurou. Um pouco confuso pela chegada repentina de uma pessoa surtada ao seu lado, atreveu-se a tentar olhá-la, enquanto virava o resto do líquido que estava em seu copo de uma vez só.
Os dois bateram os copos no mármore.
- Completa - disseram ao mesmo tempo.
teve vontade de rir, mas não o fez. A encarou pela primeira vez. A garota usava um casaco enorme preto e tinha um gorro de lã vermelho na cabeça. Apesar de estar quente lá dentro, ela não pareceu importar-se em deixar esses pertences pendurados perto da porta. Seu olhar estava vidrado na tela do celular, como quem espera muito que o aparelho toque a qualquer momento. Rodava freneticamente um anel com um brilhante enorme em seu dedo. Quando o barman completou seu shot de tequila, ela mal esperou que o rapaz levantasse a garrafa, virando-o novamente, para susto do mesmo.
- Algo mais forte, por favor - disse, quase num sussurro. Então, para surpresa de , ela virou para o lado, o encarando com seus olhos um pouco avermelhados, provavelmente de tanto chorar. - Perdeu alguma coisa aqui?
não sabia o que responder. Aquela garota era obviamente linda, mas claramente meio descontrolada. Rolou os olhos impaciente tomou um longo gole de seu Whisky.
- De forma alguma - estendeu os braços ao lado da cabeça, voltando seu olhar para o letreiro luminoso da Heineken na parede.
- Até parece... - a ouviu murmurar, então rodou no banquinho para encará-la.
- Como disse? - perguntou, já sentindo a cabeça doer.
Era só o que lhe faltava. Demissão remix deportação featuring Garota-louca-no-bar.
Ele devia ter pensado melhor, em suas vidas passadas, antes de mandar pombos cagarem na cruz.
- Até parece que você não está morrendo de vontade de rir da patricinha estranha do bar que toma tequilas que nem água com cara de choro! - ela esbravejou, nervosa. - Tá querendo o quê? Esperar que eu fique bêbada o suficiente para me arrastar para a cama? O que diabos é esse sotaque britânico falso? - indagou, com a sobrancelha erguida.
Ao vê-la com a mão na cintura, parecendo uma garotinha de cinco anos brigando na pré escola, tudo o que conseguiu foi rir. Gargalhar.
Até que ela ficasse tão vermelha que parecia que ia explodir - ou explodir a sua cara com a bazuca que guardava dentro da bolsa. Só uma arma desse porte explicaria o peso e o barulho que aquele negócio fez ao cair na bancada.
- QUAL O SEU PROBLEMA? - ela gritou, e então segurou o riso, tomando um gole da bebida.
- Muitos... Você nem imagina o tanto, "patricinha" - riu, fazendo aspas com os dedos. - Mas só para constar, eu sou inglês de verdade. Não estou fingindo sotaque pra levar menininhas indefesas pra cama. Eu simplesmente as convido e elas me seguem por vontade própria - riu, presunçoso, lançando seu melhor olhar galante.
Dessa vez ela quem teve um ataque de risos, deixando o rapaz visivelmente ofendido.
- Oh, por favor. Conta outra - ela ainda ria, sem muito humor. - Homens como você nem deveriam existir...
- Homens como eu? - logo indagou, perdendo a paciência. Quem aquela garota pensava que era?
Ela era bonita? Muito! Era gostosa? Definitivamente (principalmente agora que tirara o casaco, revelando um vestido preto que usava por baixo).
Mas como era louca! E pentelha!
- Sim... Homens que se acham a última possibilidade de orgasmo da face da terra - ela disse, calmamente, fazendo careta ao engolir um líquido que lhe serviram. Ele achava que era conhaque, mas preferiu não perguntar.
Ao encarar novamente a pedra gigantesca que parecia reluzir à pouca luz do bar, percebeu qual seria sua jogada de mestre. Sorriu, malicioso.
- Homens bons são aqueles que dão anéis de diamante para patricinhas descontroladas, certo? "Oh... Não... Você NÃO fez isso"
Foi a primeira coisa que pensou, ao ver a expressão do rosto da garota. Ela mudou de raiva para tristeza profunda e foi diretamente à fúria em segundos.
Então logo concluiu, sentindo um arrepio na espinha: Bazuca. Explodir. Cabeça. Adeus, .
- Ai, que ódio! - a garota bateu a mão no balcão. - Você nem sequer me conhece! Que merda você está falando, inglês metido a pegador? Por que você não pega toda sua pose e enfia bem no meio do seu...
- Opa! Peraí! - a interrompeu, puxando o drink da mão da menina. - Eu não ligo para o quão bêbada você está. Na verdade, hoje eu estou TÃO PUTO que eu bateria numa garota. Então cala a merda da sua boca e entre em coma alcóolico fingindo que eu não existo, pode ser?
Os dois ficaram em silêncio. A garota rolou os olhos, puxando a bebida e volta.
- Você supostamente não deve tocar na bebida de estranhos, sabe, garoto da Inglaterra?
- Você tem sorte que eu não cuspi aí dentro - retrucou, mas a garota não pareceu se abalar, rindo de maneira sarcástica.
- Quer saber? Eu estou tendo o pior dia da minha vida, não vou ficar perdendo meu tempo com um inglês mimado metido a bad boy - ela levantou, segurando o final de sua bebida, tentando carregar todas aquelas coisas. riu. - O que foi, agora? Tenho cara de palhaça?
Ele assentiu.
- Tem, já que perguntou - disse, fazendo-a rolar os olhos e arrastar suas coisas e virar de costas. Então continuou. - O que diabos tenha acontecido para te deixar tão estressadinha, não deve chegar aos pés do meu dia hoje.
Ela parou de andar e suspirou profundamente. Então virou-se e bateu com a bolsa propositalmente na cabeça de , antes de jogá-la de volta na bancada.
- Isso é impossível - riu, melancólica. - Qualquer coisa que tenha acontecido com você, nem deve se comparar à merda que...
- Quer apostar? - ele a interrompeu.
- Você vai ter que me pagar uma bebida - disse, sentando-se novamente.
- Veremos - sorriu sem muito o humor, e ela o acompanhou. - Stu, duas tequilas aqui, por favor.
- Então - sorriu malicioso ao levantar o shot de tequila para um brinde. A garota sorriu e chacoalhou a cabeça, repetindo o gesto. - Primeiro as damas. Mas devo avisar que você vai perder...
- Impossível - ela virou o shot. - Eu acabei de levar um pé na bunda...
arqueou uma sobrancelha, batendo o copinho vazio no balcão.
- É isso? - perguntou, rindo. - É essa sua história terrível? Você tomou um pé na bunda? - ele gargalhou. - Ah, por favor, já vá pedindo meu...
- Dá pra calar a boca e deixar eu continuar? - dessa vez ela quem arqueou a sobrancelha, e riu, assentindo. - Não foi qualquer pé na bunda... foi um pé na bunda histórico.
- Ele te traiu?
- Não.
- Porra, que merda de história - disse e a garota o estapeou no braço, fazendo com que a olhasse assustado, enquanto ela ria.
- O problema é que... Nós estávamos juntos há quatro anos - ela choramingou. - QUATRO ANOS, sabe? E noivos há um ano e meio. E então, um belo dia, do nada, sem nenhuma espécie de aviso, ele...
- ... Disse que não queria mais nada - a interrompeu, já prevendo um tapa, mas a garota apenas assentiu, encarando o enorme anel no dedo e respirando fundo. - Tem certeza que ele não...
- NÃO! ELE NÃO ME TRAIU! - a garota quase gritou, e quando o encarou, os dois riram de forma quase melancólica. - Como pode, sabe? Um dia você está junto com o cara que você imagina ser o homem da sua vida, deitada no sofá, assistindo um filme na televisão e você tem certeza que tudo o que você sente é correspondido, só pelo jeito que ele... Olha para você - suspirou, depois encarou nos olhos. - E então, tudo o que você pensava que era real, desmorona. Ele disse que... Que não me ama mais. Assim, como quem pede meia dúzia de pães doces na padaria, sabe? Como se tudo o que passamos juntos esse tempo todo fosse uma ilusão de ótica, como se o amor fosse...
- Eu não acredito no amor - murmurou, acendendo um cigarro.
A cara de choque da garota em sua frente o teria feito gargalhar, mas ele não o fez.
- Você não acredita no... Como? - ela indagou, e soltou a fumaça, fazendo-a tossir. - Argh, odeio cigarro! Fecha minha garganta!
- Então vira o nariz para o outro lado - ele respondeu automaticamente, fazendo o queixo da menina cair. Quando ia abrir a boca para reclamar, apagou o cigarro no cinzeiro, e a olhou. - Pensa no que você acabou de falar. Você acha que o amor existe?
- Eu ainda o amo - ela respondeu prontamente, com a voz fraca.
- Porque você deve ter problemas mentais graves - ele respondeu, sinalizando para que o barman lhes servisse novamente. - O amor devia ser algo bom, não algo que te faz chorar ensandecidamente, conversar com estranhos no bar ou querer se matar...
- Eu não quero me matar!
- Eu não estou falando de você - tomou um gole do conhaque, sentindo que ela o analisava. Ficaram dois minutos em silêncio, mas não era desconfortável, muito pelo contrário.
O que era, por outro lado, meio estranho.
- Você com certeza já teve o coração quebrado por alguma garota e por isso está dizendo essas coisas - ela disparou, e sorriu.
- Nunca. De verdade - disse, quando ela pareceu desconfiar. - Acho que o amor é superestimado. É tudo sobre se ter alguém que supostamente te aguenta vinte e quatro horas por dia. E então, você ama a pessoa. Mas como você sabe que não tem ninguém aí melhor para você?
- Você simplesmente... Sente.
- Acho que tudo o que você está sentindo agora é vontade de matá-lo. - ele suspirou. - Por isso sou adepto do compromisso zero. Você leva o melhor das pessoas, dá seu melhor, se diverte, e, no fim das contas, não vai parar num bar chorando porque a vida é uma merda - chacoalhou a cabeça. - Sua vida não é uma merda.
A garota gargalhou.
- A não ser que sua história envolva mortes, a minha é muito mais...
- Acabei de ser demitido - ele a interrompeu, fazendo-a rir.
- Pessoas são demitidas todos os dias. E então, elas entram na internet, compram um jornal, circulam oportunidades com uma caneta vermelha e vão à luta, - e então lhe lançou um olhar sarcástico. - ao invés de vir parar em um bar e reclamar da vida com estranhas.
abriu a boca algumas vezes, mas não emitiu som algum. Os dois tiveram um ataque de risos em seguida. Não sabiam se era devido à bebida, mas aquele momento era bizarro.
- Eu não terminei! - disse, e ela o deixou continuar. - Isso não é meu problema, na verdade... Eu estou... Eu fui... Deportado.
cuspiu o líquido que tinha colocado na boca, direto no balcão. O olhou com cara de choque, e arqueou uma sobrancelha, com uma expressão desapontada.
- Você o quê?
- Recebi o mandado judicial oficial... Na verdade, eu preciso deixar o país em... - olhou o relógio. - Quatorze horas.
Ficaram em silêncio. Nenhum dos dois tinha certeza do que dizer, ou como dizer.
- Como isso aconteceu? O que você fez? - disparou.
- Há dois anos, eu levantei da cama um dia, em Kent, e resolvi que ia ligar o foda-se para minha vida na Inglaterra. Então eu entrei em um avião e vim... Acabei não organizando todos os documentos. Arrumei um emprego num bar enquanto procurava algo melhor, em administração. Quando estava quase desistindo e admitindo minha derrota ao meu pai, achei meu emprego dos sonhos. E esqueci disso.
- Mas o governo lembrou... - Ela acrescentou, fazendo-o concordar com a cabeça. - Eu... Sinto muito! Não há nada que você possa...?
- Eu posso voltar em um ano - o garoto falou. - Mas eu não queria... Ir embora! Isso é ridículo! Eu pago a merda das minhas contas! Agora vou ter que voltar como a porra de um derrotado para lá, depois de mais de dois anos aqui! Minha vida é aqui agora... - ele parou e a encarou, confuso. - Menina estranha do bar! - disse, e os dois riram. - Caralho, não acredito que eu não sei nem seu nome e estou falando todo esse tipo de coisa!
Ela riu, e adorou aquele sorriso.
- Talvez seja por isso que está tão fácil desabafar. É muito difícil assumir suas falhas para aqueles que você conhece... - ela estendeu a mão. - Burkhart, prazer.
Dessa vez quem sorriu.
- - disse, ao segurar a mão pequena e fria da garota com a sua.
- Eu só tenho uma coisa a adicionar, antes que a gente decida quem está mais fodido nessa vida - colocou a mão na boca, como se o palavrão fosse proibido, e os dois gargalharam.
- Pensei que eu já tivesse ganhado - riu.
- Não tão fácil, queridinho - sorriu. - Ele me jogou pra fora do apartamento que a gente dividia há dois anos. Você está conversando com uma sem teto. Uma sem teto que veste Prada, mas... - ela riu.
- Ah, mas vocês podem dividir a grana do apartamento, não?
- Eu morava no apartamento dele - disse, séria.
Depois os dois gargalharam.
- Puta que pariu - disse, parando de rir. - Agora eu entendo aquele ditado... A desgraça SEMPRE procura companhia!
gargalhou, tomando seu drink.
- Um brinde a nós, dois perdidos nesse mundo cão, fodidos e sem rumo - a menina disse, e eles riram, antes de brindarem novamente.
- Quantos desses pequeninos eu já virei? - debruçou no balcão, virando um copinho de tequila de ponta cabeça, e rindo.
riu da cena.
- Um milhão? Dois? - ele bateu a mão no balcão, chamando o barman.
- Então, continua a história... - disse, com a voz arrastada.
- Qual? - fez uma careta engraçada, e os dois riram mais que o normal. - Ah, sim, da secretária que eu comi... - ele parou e encarou o olhar felino da menina em sua frente. - Digo, da secretária com quem eu "fiz amor" no banheiro da sala da presidente da empresa.
gargalhou.
- Sexo, . Sexo está bom.
- Beleza, na sua casa ou na minha? - ele perguntou, lançando-lhe um olhar galante.
- EU NÃO TENHO CASA! - disparou, já morrendo de rir.
- Ok, eu não tenho móveis... Sexo na caixa de papelão que sobrou no meu apartamento?
e estavam conversando por duas horas sobre assuntos banais, enquanto acabavam com todo o estoque de bebidas do bar. Além de lamentarem suas vidas destruídas naquele dia, estavam rindo de tudo e de todos, totalmente alterados pelo álcool. Quem os via ali, juntos, julgaria que com certeza eram grandes amigos, há muito tempo. Não era bem o caso. Nenhum dos dois tinha parado para julgar esse relacionamento estranho e repentino.
Mas uma coisa era fato: Há pelo menos meia hora, esquecera que seria deportado, enquanto contava algo engraçadíssimo que envolvia touro mecânico, alemães e seu ex namorado. Ele adorava o jeito que ela gesticulava e o sorriso malicioso que dava sempre.
, por sua vez, já há quarenta minutos estava mais interessada em rir e definhar na tequila, enquanto ouvia a voz sexy daquele inglês, que tinha braços muito interessantes e que estava a fazendo rir quando pensou que ninguém conseguiria.
Não tinham conseguido decidir quem vencera a aposta.
- Quero música! - deu um pulo da cadeira, se desequilibrando um pouco. a segurou pela cintura, e ela sorriu.
- Está tocando música... - Ele a olhou como se ela fosse retardada, e então riu.
- Quero algo mais apropriado para meu momento, com licença? - disse, tropeçando nos próprios pés até a Jukebox que ficava próxima à porta.
rolou os olhos, caminhando atrás dela.
- Sério mesmo? Música de corno? - ele gargalhou do tapa que ela deu. - Outch!
- Você mereceu! Para de falar que eu fui traída, tá? Nem todos os homens são cachorros e adeptos do amor livre que nem você! Seu... Seu... - apontou o dedo no rosto de . - Hippie!
gargalhou, e a abraçou pelas costas, apoiando a cabeça em seu pescoço enquanto olhava os Cds que tinham no aparelho.
- Vai se aproveitando, vai - riu, e sentiu o rosto corar. Opa! Essa era nova.
- Ei, eu só estou aqui no intuito de... - parou no meio da frase, ao ver que a garota escolhera o cd do... - ENRIQUE IGLESIAS? Mas que merda é essa, ? - ele disse e ela gargalhou, pegando uma lata de Red Bull perdida em uma mesa vazia e usando de microfone.
- Do you know? Do you know? - começou a cantar junto, com uma voz que beirava o atropelamento de gatinhos. Isso devia soar mais bonito, mas estava achando aquela cena toda hilária. - Do you know what it feels like loving someone that's in a rush to throw you awaaaaaaaaay? - Ela jogava os braços para o ar, dançando e fazendo pose de Britney Spears no meio do bar, enquanto gargalhava. - Canta comiiiiiiiiiiiiiiiigo zinho! - ela gargalhou, e ele negou com a cabeça, enquanto era puxado pela mão.
- Ainda tenho um mínimo de dignidade e vou zelar por isso - respondeu e ela riu.
- Do you know what it feels like, to be the last one to know the lock on the door has changed?
Quando deu por si, já estava dançando com a garota em seus braços, enquanto ela gritava a letra da música com mais propriedade que o hino nacional.
- Loooooove, you never know the minute, it ends suddenly - ela murmurou, e o garoto pode perceber que estava murchando em seus braços.
Ah, não. Ela não ia chorar ali! Ou será que ia desmaiar?
a rodou, como se fizesse parte da dança, e percebeu que ela estava com os olhos vermelhos. Não era legal. E então resolveu perder o resto da dignidade, tomando-lhe o Red Bull.
- I'm standing on the edge and I don't know what else to giiiiiiive - cantou, e primeiramente se espantou, mas depois caiu na risada com a voz que ele estava fazendo. - Do you know what it feels liiiiiike loving someone that's in a rush to throw you awaaaaay?
E estendendo o "microfone" para novamente, riram juntos, enquanto ela interpretava qualquer coisa e cantava muito alto, os dois dançavam e a meia dúzia de pessoas do bar olhavam como se fossem loucos.
Talvez fossem.
- Nossa, achei desnecessário essa atitude de gerente - disse e riu, bebendo um gole de cerveja.
- Nunca pensei que fôssemos ser jogados para fora do bar - ele disse e sorriu, andando com dificuldade na neve escorregadia, enquanto segurava o braço de . - Aparentemente ser expulso de lugares está virando rotina na minha vida - o garoto disse, fazendo rir e lhe tomar a garrafa da mão, tomando um gole.
- Acho que devíamos ir para Vegas e nos casarmos - ela disse calmamente, como quem informava as horas.
arregalou os olhos e parou de andar, fazendo a garota tropeçar nos próprios pés e ter um ataque de riso.
- Você está muito, muito chapada - ele gargalhou, acompanhando-a.
- Estou - ela concordou, rindo. - Mas acho que você daria um bom marido. Sabe, bom coração, bundinha no lugar e sexo duas vezes por dia - gargalhou da cara de choque de .
- "Bundinha no lugar"? Mas que porra é essa? - ele ria alto, enquanto a garota virava o resto da cerveja.
- Tá gostosinho, sim - disse, mordendo o lábio, e depois riu. O que diabos estava fazendo? Precisava parar de beber. Urgente.
- Por mais que seja muito tentador topar casar com uma americana que topa sexo duas vezes ao dia e conseguir meu green card enquanto ela está bêbada, não acredito que você levaria isso à sério amanhã de manhã - ele riu. - E outra, arrumar uma esposa logo hoje seria atestado de fraude. E eu seria deportado e você presa - gargalhou da cara que fez.
- Bom, depois não diga que eu não ofereci - ela gargalhou. - É uma pena que você tenha que ir embora. Eu vou com a tua cara.
Os dois sorriram. "Eu vou com a tua cara" não era o tipo de elogio que costumava receber, mas o nível de álcool em seu sangue pareceu discordar da análise, achando aquilo extremamente... Fofo? Sexy? Cara, aquela garota era maluca. Mas ele... Também ia com a cara dela.
- Claro que você vai com a minha cara, eu canto melhor que o Enrique Iglesias - disse e os dois gargalharam.
- Você é forte - disparou e riu, malicioso.
- Você realmente quer me assediar, né? - ele piscou para ela, recebendo um tapa em troca. - Ei!
- Seu babaca. - ela riu. - Eu acabei de tomar um pé na bunda, a última coisa que eu quero é sexo com um cara que eu conheço há quatro horas!
- Peraí, estou confuso - ele fez pose de ofendido. - Você acaba de me pedir em casamento, e agora me chama de estranho? Poxa vida, anos de terapia depois dessa - disse, fazendo-a rir.
- Você é muito, muito idiota - riu. - Quando eu digo forte... - sentou em um parapeito de uma passarela, dando vista para um lago quase congelado. Ela mesma estava congelando, mas não se importava mais. - ... Eu quis dizer que... Poxa, você vai ter que voltar para a Inglaterra, encarar tudo o que nunca quis, seu pai e tudo mais, e está aqui, todo calmo e piadista, sem sequer mostrar um pouquinho que seja de medo ou sei lá... Raiva.
a encarou, e então sentou ao seu lado.
Não costumava demonstrar emoções, não era de seu feitio. Muito menos quando mal conhecia a pessoa, como era o caso. Só que então ela sorriu, como quem o incentivava, e alguma coisa lhe aqueceu por dentro. Ele sabia que podia confiar nela. Na garota estranha do bar.
- Está me matando por dentro, sabe? - quase sussurrou, sentindo o rosto queimar. Realmente não estava acostumado com aquilo. - Mas também, não há nada que eu possa fazer. Não agora - ele respirou fundo, e então alisou os cabelos nervosamente. - Esquece isso.
sorriu de canto, mas ele não a olhava. Também fitou o horizonte e segurou sua mão delicadamente, afagando-a mesmo por cima da luva. E então ele estava a olhando.
- Ninguém disse que seria fácil, - ela chacoalhou a cabeça. - Eu sempre achei que há males que vem para o bem. E quando uma porta se fecha, duas se abrem. Ou uma janela se abre - ela sorriu, fitando o nada. - O problema é que eu não consigo enxergar isso agora. Eu estou totalmente perdida. Sem... Ele, entende? Por incrível que pareça... Eu sei como você se sente.
Os dois sorriram e voltaram o olhar para o lago. Os flocos de neve voltavam a cair suavemente em suas cabeças, mas não pareceram se importar com isso. a puxou para mais perto, já que os dois tremiam, e apoiou sua cabeça no ombro do garoto.
- Você acredita em destino? - ela sussurrou, encarando-o, e sorriu para a ponta do nariz vermelho da menina.
- Não sei - disse, olhando para a frente. - Quer dizer... Eu sempre achei isso uma puta besteira, sabe? Eu acho que você está no lugar certo, na hora certa, e pronto, acontece - disse, e quando o encarou de novo, prestes a dizer alguma coisa, continuou. - Mas então acontece alguma coisa, ou você conhece alguém... E te faz pensar se destino realmente não existe - ele sorriu, encostando o nariz no dela sem querer.
Os dois riram, e voltou seu olhar para frente, chacoalhando a cabeça.
- Por que coisas assim acontecem com pessoas como... Nós? O que eu quero dizer é que nós somos boas pessoas, sabe? Não queríamos o mal de ninguém e éramos felizes... Você não merecia ser deportado.
sorriu.
- Você não merecia levar um pé na bunda - disse, depois a olhou. - Mas espera aí. Quer saber? Foda-se. O governo me quer fora daqui? Foda-se! Seu noivo é idiota e terminou com você? Foda-se ele também! - disse, fazendo a garota rir. - Nossas vidas não tem que ser essa merda toda. A gente não merece, certo?
riu.
- Certo - concordou. - Então, vamos nos divertir, que ainda são três da manhã - ela sorriu, maliciosa. - E eu quero esquecer tudo o que aconteceu hoje!
- Estou com você - disse, a puxando para cima. - E que se foda o mundo!
- Yeah! Menos nós dois, porque somos muito fodas - disse, e os dois gargalharam, correndo para a calçada à procura de algum lugar quente e com mais bebidas.
Não queriam que acabasse tão cedo.
- Cheers! - os dois riram, brindando com suas garrafinhas verdes na porta de uma loja de conveniência 24 horas.
O clima congelante combinava com eles, definitivamente.
- Então, você não respondeu minha pergunta - disse, comendo algumas Pringles que tinham comprado. riu.
- Quanto mais bêbada você fica, mais profundas ficam suas perguntas - retrucou, fazendo-a sorrir. - Pra mim, a vida é como um show de rock.
- Como assim? - riu, ao perceber que perguntara alto demais e que sua voz soava meio afetada.
- Mais ou menos assim... A vida foi feita pra ser curtida, gritada, pra ser... Vivida - ele parou para ver a reação da garota. - O que eu quero dizer, é que você tem duas escolhas: Assisti-la sentado, esperando que passe, ou sentir a vibe e deixar acontecer. Se você ficar parado, alguém vai passar por cima de você. Se você ficar moscando, alguma groupie vai comer no seu lugar. Simples assim - disse, rindo junto com a garota.
- Isso foi bem poético - gargalhou. - Muito drogado da sua parte.
- Obrigado, também vou com a tua cara - respondeu rapidamente, observando que mexia freneticamente, ainda que por cima da luva, no dedo da aliança. - Sabe, você devia se livrar disso.
o encarou, confusa.
- Disso o quê? - perguntou, e ele apontou para a mão enluvada.
- Do seu diamante de dois mil novecentos e dezessete quilates - respondeu, rindo, mas a garota não o acompanhou, fazendo-o enrijecer a coluna e sentar corretamente, um pouco desconsertado.
- Por que eu faria isso? - ela perguntou, parecendo um pouco ofendida. Ops, merda.
- Porque se você não o fizer, vai ficar presa nisso para sempre - respondeu rápido.
- Isso não faz sentido! Nós mal terminamos - levantou, dando alguns passos adiante, e ficando de costas. tomou um gole de cerveja.
- Você é quem sabe - ele completou, fazendo-a virar abruptamente.
- Você acha que sabe de muita coisa, né? Com suas filosofias de hippie e tudo mais - a garota disse, e ele quase riu. - Mas você nunca se apaixonou e não sabe o quanto isso dói! Simplesmente não sabe!
apenas sorriu sem mostrar os dentes, enquanto a garota esperava que ele levantasse, ou esboçasse alguma reação mais séria. Talvez brigasse com ela. Ela estava no pique de dar uns gritos, e como estava.
- Você está certa, eu não sei como é - ele disse, calmamente. - Mas posso imaginar que deve doer mais o peso desse negócio na sua mão, quando você sabe que acabou. - ele a olhou nos olhos, vendo que a menina estava prestes a chorar. - Acabou, .
virou de costas querendo gritar. Ele estava certo. Mas que merda era aquela, por que Derek era tão imbecil? Por que era tão imbecil de fazê-la lembrar disso? O que havia de errado com os homens do mundo?
Ao virar rapidamente e nervosa, pronta para andar em sua direção e dizer poucas e boas, o garoto já estava atrás dela, devidamente de pé, com as mãos nos bolsos e o nariz vermelho. respirou fundo, engolindo as lágrimas que queria derrubar. Era mesmo uma fraca. A situação de era pior que a sua, ela reconheceu isso ainda no bar, mas não admitiu para não perder a aposta. E lá estava ela, quase desmoronando de novo, enquanto ele a olhava com aquela cara de galã importado com feições de ursinho de pelúcia e sexy ao mesmo tempo, alheio aos próprios problemas, e a ajudando com os dela. Injusto, no mínimo.
- Eu não sou como você, - murmurou. - Eu não tenho coragem de devolver isso, eu nem sei se consigo olhar na cara do Derek nesse momento.
Ele sorriu.
- Quanto essa aliança vale, mais ou menos? - perguntou, e a garota arqueou a sobrancelha, confusa.
- Ah, não vai me dizer que no fim das contas, você é um assaltante com cara de galãzinho, né? - ela brincou, fazendo-o rir. - Não sei... Uns dez mil dólares?
- CARALHO! - quase gritou, e ela riu alto. - Vende, ué!
- Mas é dele!
- O caralho, ele terminou com você - retrucou, depois se arrependeu. - Puta merda, eu juro que vou parar de falar isso! Desculpe!
- Tudo bem - riu, sem humor. - Não sei se vou vender...
E então fez uma cara que considerou parecer de vilão de desenho animado.
- JÁ SEI! - ele exclamou, e a garota fez uma careta.
- Ai, tenho medo disso - murmurou, e ele torceu o nariz, lhe mostrando o dedo do meio.
- JOGA NO LAGO!
- QUÊ? - dessa vez, quem berrou. - Querido, você bebeu demais!
- Por que não? Ele vai ficar fodido de raiva, e você vai poder rir eternamente! - disse, quase saltitando, e riu.
- Não posso fazer isso! Você é maluco!
- Se vingue! - ele riu. - A não ser que... Você ache que tenha volta.
A garota parou. No fundo, esperava que Derek voltasse atrás. Mas as concepções de a estavam confundindo, não sabia mais ao certo o que pretendia. Amava Derek. Mas não lhe parecia mais tão real a ideia dele querê-la de volta.
- Eu... Não sei - murmurou, coçando a cabeça. - Acha que eu devo ligar para ele?
- Tenho cara de melhor amigo gay, por acaso? - disparou, rindo. - Como é que eu vou saber?
- Ai, estúpido - rolou os olhos, quase rindo. - Acho que vou... Vou ligar, é. - disse, e fez uma careta. - O que foi agora, criatura?
- Sério que você vai ligar?
- Vá se foder - ela riu, e ele a acompanhou.
Quem era ele para sugerir que aquilo era uma má ideia?
fez uma careta, trinta segundos depois.
- O celular chamado está desligado ou fora da área de cobertura - rolou os olhos. - Derek tem mania disso! Que saco! E ele desliga o aparelho para dormir!
- Bom, amanhã vocês...
- Agora! Eu quero AGORA! - cruzou os braços como uma criancinha, e rolou os olhos.
- Onde que você morava com ele? - perguntou.
- A dois quarteirões daqui - respondeu, ainda fitando o visor do celular com certa raiva.
- Tá, anda logo que eu não tenho a noite toda - disse, a puxando pela mão.
- O que você está fazendo? - disse alto, quase tropeçando pela velocidade com que ele andava.
- Você não quer resolver isso logo? - disse, olhando para atravessar a rua, e apertando a mão da garota. - Então...
- Você pirou! - gritou, enquanto corria. - Você viu que horas são?
Então virou rapidamente, parando de andar e a encarando.
- Esse é seu problema - ele disse, arfando pelo frio e pela corrida. - Você tem medo demais.
- Ei, eu não... - ela ia interromper, mas voltou a falar.
- Ok, eu não ligo para o seu argumento - disse, rindo. - Você vai no seu apartamento e vai falar para ele tudo o que está entalado. E eu vou esperar na porta.
Disse, a puxando de volta enquanto andavam. respirou fundo.
- ?
- O quê? - ele respondeu, sem parar de andar.
- Você vai subir comigo, não vai? - ela perguntou, a voz quase sussurrada. sorriu, mas a garota não reparou, pois ele estava de costas.
- Se você quiser que eu suba... - disse, dando de ombros.
- Eu queria que você socasse a cara dele - a garota riu, e gargalhou.
- Eu posso fazer isso - respondeu, presunçoso. - Só se ele não for muito grande! Nem lutar nada - disse, fazendo a garota gargalhar e parar de andar. - Que foi? - rolou os olhos, impaciente.
- Meu salto está atrapalhando - a garota disse, nervosa. - Vai, vira de costas!
- Para quê?
- Para eu apertar sua bunda! - ela disse, rindo alto da cara que o garoto fez. - Para eu subir nas suas costas, seu tapado!
- Porra, como você é folgada! Andar na neve com você nas costas ainda por cima? - ele reclamou, fazendo bico, e riu.
Então, ela se aproximou e cruzou suas mãos atrás da nuca do garoto, de modo que, na ponta dos pés, seu nariz encostara no dele. Percebeu que ele estremecera, e então sorriu da forma mais doce que conseguiu.
- Por favoooooor - disse, com a voz arrastada, enquanto ele a segurava pela cintura. - Meus dedinhos estão doendo - ela fez bico, e o garoto rolou os olhos, fazendo-a rir.
- Eu não mereço isso - murmurou, virando de costas, e riu, pulando em sua direção.
- Obrigada, zinho lindo! - gargalhou, apertando sua bochecha, e o garoto riu.
Ao caminharem pelas ruas frias, enquanto contava algo que a fazia rir ou tropeçava na neve e quase derrubava ambos, fazendo-os terem ataques intermináveis de riso, teve uma certeza: Não importava o que aconteceria dali em diante, com Derek. Se ele a machucasse de novo... Pelo menos não estaria sozinha. E ela gostava da ideia.
- Corre! CORRE, - gritou, enquanto corria freneticamente pela rua paralela do antigo apartamento de .
Ouviam a sirene da polícia ao longe, e começou a rir, escorregando e tropeçando na neve.
- ESTOU TENTANDO! - gritou.
- NÃO GRITA, PORRA! - ele berrou de volta, rindo alto.
a puxou pela mão para um beco sem saída. Nos filmes isso sempre dava certo, mas na vida real nunca tinha tentado. Abaixou e a puxou junto, fazendo com que ela caísse em seu colo.
A sirene se aproximou, e quando ele ia dizer alguma coisa, tampou sua boca, enterrando a cabeça em seu pescoço.
Ele sentiu as lágrimas esquentarem sua pele, e levantou uma mão para acariciar os cabelos da garota.
Ao chegarem na casa, dez minutos antes, não encontrou ninguém lá. Quando finalmente deu-se por convencida que precisava ir embora, ouviram vozes no hall de entrada. Derek. E então, em questão de segundos, assistiram, de camarote, o rapaz loiro e com porte atlético - tinha lhe assegurado que ele não era grande, o que era mentira - se atracar com uma morena muito gostosa contra a parede. E então, derrubara seu celular no chão, partindo-o em pedaços. E tudo saiu do controle.
- ! - Derek gritara, com os olhos arregalados.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ - parou de falar, olhando para a garota. - Com essa vadia da Leslie?
- Ei! - a morena se manifestou.
- Shhhh - colocou a mão no lábio, lançando-lhe um olhar matador.
- Eu não a traí, ! Eu me apaixonei pela Leslie e...
- Ah, faça-me o favor! Você é um filho de uma put...
- , para com isso - Derek aproximou-se dela. - Eu amei você. Muito, e de verdade, mas eu não previ isso... Aconteceu - ele disse, um perfeito galã de novela mexicana. rolou os olhos, depois voltou a encarar as pernas torneadas da piriguete que estava com Derek. Por que perna de fora naquele frio...
- Você - ela não conseguia terminar a frase. - Eu não acredito que ainda me preocupei - disse, jogando as luvas no chão, e pegando o anel. - Eu devia devolvê-lo para que você possa dar ao novo amor da sua vida , mas tudo o que você vai ganhar com esse término vai ser isso! - socou o rosto de Derek.
Socou mesmo. Como um homem. Com um anel gigantesco, arrancando um pedaço da cara do cidadão. teve um ataque de riso, e então a morena aproximou-se para socorrer o rapaz.
- VOCÊ É LOUCA! ME DÁ ISSO AQUI! - Derek gritou. aproximou-se.
- Derek, certo? - ele disse, tomando o anel da mão de . - Vocês tem uma bela vista para o lago, não?
- Você não vai... - Derek ia dizer, mas era tarde demais.
arremessara o anel pela janela do hall, e de novo, a tal da Leslie gritou.
- E isso - ele socou o rosto do ex babaca de , fazendo-o despencar no chão. - É para você aprender a ser homem e não magoar quem não merece, seu filho da puta - disse, e quase sorriu, ainda tremendo de ódio ou pânico. Quando o rapaz foi retrucar, colocando-se de pé, uma porta abriu.
- Ah, não... - murmurou. - , no três...
- O que é? - ele sussurrou de volta.
- QUE BAGUNÇA É ESSA AQUI?
O vizinho de , Lionel Kirk, era policial. Dois metros de altura. Muito estresse acumulado.
- , TRÊS! - ela gritou, e os dois dispararam escada abaixo, com o policial de pijamas na cola deles.
- VOCÊ NÃO COMENTOU NADA DE VIZINHO POLICIAL - gritou, e riu, quase caindo.
- EU NÃO SABIA QUE ELE IA APARECER!
Ao dispararem pelas ruas, com uma viatura policial em suas costas, estavam rindo muito. Aquela situação era bizarra. literalmente tinha acabado de jogar dez mil dólares pela janela. Mas estava arrasada por dentro. Como se tivesse sido esfaqueada mil vezes em um ponto só. Como se já não tivesse mais alma. Concentrou-se em correr, e quando entraram no beco, acabara desabando no ombro de , que agora acariciava seus cabelos, enquanto Lionel parecia ter retornado com sua viatura em segurança para o seu ex-apartamento. Onde seu ex-namorado estava com a secretária. Ela queria morrer, bem ali.
- - sussurrou. - Eu acho que ele já foi.
Ela virou o rosto para o outro lado, esfregando as mãos nas bochechas geladas, tentando secar as lágrimas. a puxou de volta.
- Vai ficar tudo bem - disse baixo, abraçando-a. Ela levantou abruptamente.
- Não, NÃO VAI! - gritou, deixando que as lágrimas caíssem. - Você estava certo! Ele estava me traindo esse tempo todo! Eu sou uma puta de uma idiota! Como eu não vi isso? - se colocou de pé, mas não conseguiu falar nada. - Tudo o que eu fazia era ficar horas no meu trabalho, sem dar atenção para ele, e ELA o fez! E agora ELA está lá, com o cara que eu sonhei ver sorrindo ao me ver entrar na igreja! Com quem eu sonhei TER FILHOS - ela berrou. - AAAARGH! Eu me odeio! Eu o odeio, eu...
- CALA A BOCA! - a segurou pelos dois pulsos, fazendo-a parar de gritar. Depois largou seus pulsos com força. - O que diabos você falando? Você ficou louca ou algo assim, porra? - gritou, e secou as lágrimas.
- Eu estou falando que...
- ...Cala a boca! - disse de novo, um pouco mais baixo. - Se ele fosse tão bom quanto você está falando, ele não teria te traído! Se ele fosse um santo carente de atenção, VOCÊ SABERIA! - gritou, vendo que a garota soluçava. - Pare de se culpar! Se alguém tem culpa aqui na história, é ELE! Ele é um puta de um idiota! Ele traiu você! Se ele fosse bom, ele estaria ao seu lado agora, e se tivesse o mínimo de decência, você não estaria chorando agora. E se ele sequer se importasse, ele estaria aqui agora, no meu lugar, fazendo isso.
a segurou pelo rosto, puxando-a rapidamente para perto. Quando sua boca encostou na dela, um choque percorreu seu corpo, e ao contrário do que pensava, não ofereceu resistência alguma. Apertou-a contra si e suas línguas se tocaram, e a garota espalmou uma mão em seu peito, mexendo timidamente em seu cabelo. À medida que o beijo se aprofundava, ela arranhava um pouco sua nuca, fazendo-o arrepiar.
não sabia o que era aquilo, nem queria parar. Sabia o que estava fazendo, e ele sabia em que situação ela se encontrava no momento. No entanto, seu coração se aquecera completamente pela primeira vez naquele dia inteiro quando sentira sua língua na sua. Aquilo lhe fazia sentir bem, bem como não se sentia há tempos.
Quando puxou seu lábio com os dentes, dando um selinho em seguida, ela repousou as mãos atrás de seu pescoço, e respirou fundo antes de abrir os olhos.
- Agora você me bate - ele sussurrou, e a garota riu, lhe dando um selinho.
- Sadomasoquismo? - perguntou, marota, e riu.
- Achei que você fosse ficar puta - disse, rindo timidamente, enquanto negava com a cabeça.
- Obrigada por estar aqui comigo, - ela enterrou a cabeça em seu pescoço, abraçando-o.
- Obrigado por me fazer companhia no meu último dia aqui - respondeu de volta, também a abraçando.
- Certeza que você não vai virar o maníaco do parque e me atacar? – perguntou, tremendo e rindo dentro do elevador. riu.
- Eu tenho certeza que tenho cobertores e café no meu apartamento – ele arqueou a sobrancelha de forma significativa, e a garota riu.
- Isso não responde minha pergunta, mas quase tive um orgasmo quando ouvi a palavra café – ela disse, fazendo-o gargalhar.
- Café... Caféééé – disse, olhando-a com malícia, enquanto a garota ria alto. – Melhor ainda... Capuccino! – ele riu também. – Orgasmos múltiplos?
- Tarado! – gargalhou, saindo do elevador.
Ao entrarem no apartamento de , viu caixas por todos os lados. Caixas e mais caixas. Ele jogou a chave em cima de uma delas, e parou ao seu lado. não podia deixar de achar aquela imagem triste, e seu coração apertou de verdade.
- Belo apartamento – disse, e era verdade. sorriu.
- Era mais legal quando tinha meu sofá bem ali – ele apontou. – E minha televisão na parede... E meus quadros... E...
- Eu entendo – ela o interrompeu, olhando de soslaio. parecia ter murchado de repente. Quando ia abrir a boca para dizer algo sobre isso, ele sorriu, sem humor, e caminhou até a cozinha.
- Eu deixei a cafeteira fora da caixa, para amanhã... Meu colchão tá estendido lá no quarto, deve ter algum cobertor por lá e... – ele ia dizendo, quando contornou o balcão de mármore limpo e melancolicamente vazio, parando em sua frente.
- Você vai voltar, certo? – ela perguntou baixo, apertando as mãos de forma nervosa. achou aquilo bonitinho, ela realmente parecia se importar, mas ainda não mudava muita coisa.
- Vou – respondeu simplesmente, colocando o pó de café no compartimento correto.
- Eu queria poder fazer alguma coisa...
- Você não pode – olhava para a sala vazia. – Ninguém pode.
- Você devia ao menos... Não sei, ter dado uma festa de despedida – quase bateu na própria cabeça ao dizer isso. – Não que seja algo que tenha que ser comemorado, mas... Sabe?
sorriu.
- Eu gosto das pessoas daqui, mas não estava em clima nenhum para me despedir deles... Despedidas tornam as coisas muito mais reais. E eu odeio minha realidade nesse momento – suspirou. – E outra... Quem ia ligar? Grande coisa eu estar indo embora e...
- Eu ligo – o interrompeu, e ele virou de frente para ela, rindo baixo.
- Você acabou de me conhecer – o garoto retrucou, e ela sentou na bancada e passou as mãos por trás da nuca de , encostando seus narizes.
- Eu me importo – disse, olhando firmemente nos olhos dele. – E eu sei que você não quer admitir, mas está derrubado por dentro. E eu fui idiota e fiz essa noite toda sobre mim, quando na verdade – ela deu um selinho rápido no rapaz, que estava entre suas pernas. – o que mais importa é você.
- ...
- Shhh, não precisa dizer nada – ela sorriu de forma doce. – Eu estou aqui com você. E eu vou sentir sua falta, mesmo tendo o conhecido há algumas horas – eles riram. – Eu sentiria sua falta mesmo se nunca tivesse o conhecido.
sorriu, a puxando pelo queixo e a beijando de forma suave. Era daquilo que precisava. Daquelas palavras que ele tinha certeza de ter escutado em algum filme, mas não importava. Precisava de alguém, e tinha achado esse alguém de uma forma extremamente bizarra, mas ela estava ali. E ele sabia que ela se importava de verdade.
- Nossa, orgasmos múltiplos mesmo – tomou um gole do café, sentada no colchão de , que estava no chão. Ele gargalhou. – Acho que vamos pegar uma pneumonia daquelas depois dessa noite.
- Mas valeu a pena – disse pela primeira vez, e a garota sorriu.
- É, com certeza – concordou. – Escuta, esse apartamento é seu? – perguntou do nada, e a encarou, confuso.
- Sim, por quê?
- Vai fazer o que com ele?
- Deixei as chaves com o síndico para ele alug... – parou no meio da frase, entendendo a conversa. – Ei, você quer...?
- Eu sou uma pessoa sem teto, você precisa da grana do aluguel... Eu posso cuidar disso aqui por um ano pra você – ela riu.
- Fechado – apertou sua mão, como num acordo de negócios, e os dois riram. – ... Como você acha que vão estar nossas vidas daqui a um ano? – Perguntou, tomando um longo gole do líquido quente.
Ela o encarou, pensativa.
- Isso parece o tipo de pergunta que eu faria – disse, e os dois riram. – Não sei... Eu espero que muito bem – ela sorriu. – Ei, sabe o que devíamos fazer? Daqui a um ano, exatamente um ano, se tudo em nossas vidas estiver dando certo, se tivermos nos recuperado de todos nossos traumas... Devíamos nos encontrar, naquele mesmo bar, e comemorar.
apoiou a caneca no chão, e sorriu para a garota em sua frente.
- No mesmo lugar? Comemorar? – perguntou, e ela assentiu. – Fechadíssimo – ele sorriu. – Façamos o possível pra que dê tudo certo então, para eu te ver em um ano – disse, e depois se arrependeu de ter dito. Não costumava dizer esse tipo de coisa. sorriu.
- Você sabe onde eu moro – ela respondeu, e os dois riram.
- Eu queria ter conhecido você bem antes – murmurou, com o cobertor quase cobrindo a cabeça, enquanto olhava com dificuldade devido à pouca luz que vinha da fresta da janela. Ele sorriu, deitado ao seu lado.
- Tempo é o de menos, ... É só um número – ele respondeu, vendo que a garota se esforçava para ficar acordada. – Assim como esse ano vai voar, e nós vamos comemorar isso... Juntos.
- Eu adorei conhecer você – sussurrou, e então fechou os olhos, não sem antes se certificar de que ele a olhava.
- Eu também – respondeu de volta, mas tinha certeza que ela já tinha dormido. – Muito.
Ela havia escutado.
Naquela manhã partiu para a Inglaterra.
Preferiu que não o levasse no aeroporto, como ela queria. Ele realmente detestava despedidas. E por incrível que pareça, aquela ia doer.
Sua chegada na Inglaterra foi impactante. Talvez fosse implicância sua, mas sentira a decepção nos olhos de seu pai e, naquele momento, decidira que faria absolutamente tudo para que aquele ano fosse perfeito. Aceitou a oferta de emprego em Londres que sua ex chefe lhe havia arrumado, mudou-se para um apartamento pequeno perto da Covent, arrumou os documentos e deu o melhor de si no trabalho. Passou noitadas com seus antigos amigos em pubs, riu muito, esteve com várias garotas, como lhe era de costume. Mas com o passar dos meses, tudo o que pensava era quanto tempo lhe restava para voltar. Ele e acharam melhor não ficarem mantendo contato durante esse tempo, já que talvez fosse mais difícil para ambos. Perdeu a conta de contas vezes digitou emails enormes, mas não teve coragem de enviar.
Eles estavam bem, ele tinha certeza que ela estava bem, de alguma forma. E se encontrariam para comemorar. Era tudo o que ele queria.
passara os primeiros meses dizendo a si mesma que precisava de terapia. Essa história de esbarrar com Derek pelas ruas estava lhe irritando, especialmente porque todas as vezes, queria ter um anel tão grande que causasse o mesmo efeito dolorido daquele que jogara no lago. Ah, ... O que ela estava na cabeça quando sugeriu ou concordou com essa ideia de não se falar durante o ano? Aquele apartamento a deprimia. Por mais que estivesse vazio quando chegara, conseguia imaginar facilmente seu sofá, seus quadros e a TV na parede. E sentia falta do café dele. Uma boa merda. Deprimida por duas coisas ao mesmo tempo, sendo que a segunda, sobre , ela achava que era loucura, tendo em vista que, de acordo com suas contas, estiveram juntos por oito horas. Tipo, UMA NOITE DE SONO bem dormida! Ah, mulheres são realmente babacas. Com o passar dos meses, no entanto, começara a se acalmar um pouco. Foi promovida no trabalho, suas amigas conseguiram a tirar de casa e a fizeram sair em dois ou três encontros com caras bem gatos, mas que não foram tão bem sucedidos, porque ela nunca dava muita chance à eles. Começava e acabava em uma, duas noites. Ela sabia qual era seu problema. Deixara de ser Derek há muito tempo. Ele tinha nome, sobrenome, e morava a um oceano de distância. E mesmo que soubesse que ele voltaria, mesmo que tivesse certeza de que o encontraria, incomodava muito saber que ele devia vê-la da forma que ela o viu aquela noite: Uma pessoa para se guardar, mas para uma noite apenas. Sentia sua falta. Precisava que ele a encontrasse no bar no dia 5 dezembro e precisava ouvir tudo sobre o ano em que estiveram separados. Era só no que conseguia pensar.
Manhattan, 5 de dezembro de 2010.
Não, aquilo NÃO estava certo.
Ela tinha certeza que tinham marcado nove da noite. CERTEZA! No entanto, eram onze e quinze e cadê aquele inglês maldito?
Seu coração estava apertado, ela estava tensa e com vontade, para variar, de gritar. Há tempos não se sentia assim. Passara a semana inteira procurando o vestido perfeito, a maquiagem perfeita, os sapatos mais bonitos, o perfume ideal... E nem tinha cem por cento de certeza que ele iria.
E agora estava começando a desconfiar que estava certa. Ai, Murphy.
Primeira coisa: Passaram oito horas juntos e depois não se falaram por 365 dias. É muito, muito tempo.
Segunda coisa: O ano dele podia não ter sido bom. Ou, na verdade, podia ter sido ótimo, mas talvez ele tivesse conhecido alguém ou sei lá, esquecido dela por qualquer motivo, e não tivesse achado necessário aparecer e fazê-la de babaca.
Virou sua taça de vinho – estava querendo ser chique ou ficar posuda e bonita – e deixou o dinheiro sob o balcão.
Estava com vontade de chorar. Pensou, mesmo sendo um hippie maluco, que fosse diferente. Ele esmurrou Derek e o chamou de filho da puta, sabe? Isso tinha que significar algo bom. Mas, para variar, estava errada.
O frio estava cortante do lado de fora do bar, mas não nevava. Colocou suas luvas e olhou para o céu, na esperança que alguns flocos de neve caíssem sobre sua cabeça, e seria o suficiente para lembrar ainda mais da noite de um ano antes. Sentiu seu celular vibrar, mas demorou eras para encontrá-lo dentro de sua bolsa gigantesca.
- Alô - atendeu rapidamente, sem olhar direito para o visor.
Teve a impressão que a pessoa já ia desligar.
- Alô? - ela disse um pouco mais alto.
- ? - ouviu a voz que, mesmo um ano depois, conseguiria reconhecer de qualquer maneira. E seu coração acelerou idiotamente com isso.
- ? - disse rapidamente, mas não estava o escutando direito devido ao barulho. É, talvez nem fosse...
- Olha, acho que meu sotaque é inconfundível - ele riu.
- Onde você está?
- ? - ele gritou. - Olha, eu não tô te ouvindo direito! Eu estou no aeroporto...
- Aeroporto? - ela gritou de volta.
- Meu vôo atrasou, só vou poder aparecer... - e então a voz se foi.
- ? ? - berrou do outro lado da linha, mas sua resposta foi o irritante "tu tu tu" do telefone. - Merda!
Discou rapidamente para a última chamada recebida.
"O telefone chamado está desligado ou fora da área de cobertura".
- INFERNO! - gritou, quase tacando seu telefone à longa distância.
É claro que não ia dar certo esse encontro dos dois. Tudo bem, se ele estava no aeroporto, é porque pelo menos estava vindo, e isso iluminou seu rosto com um sorriso besta. Então ele se importava, ótimo. Precisava dar um jeito de falar com ele e saber quando conseguiria "aparecer".
Mas mesmo sem a neve, as ruas estavam congelantes, e ela resolveu ir para casa, porque ao que lhe parecia, não o veria naquele dia.
- Táxi - gritou para o primeiro veículo amarelo que apareceu, e felizmente, ele estava desocupado.
Discou para sete vezes enquanto estava dentro do táxi, ouvindo The Corrs enquanto um motorista que parecia árabe cantarolava empolgado com um sotaque carregadíssimo e seu perfume de quinta categoria muito, muito forte.
Ótimo, uma crise de espirros era tudo o que ela precisava.
- Oi, aqui é o . No momento não posso atender, mas você sabe o que fazer.
Biiiiiiip.
- , é a . Não sei onde você está e nem que horas vai chegar, mas estou entrando no meu prédio. Me liga assim que ouvir isso. Quer que eu te busque no aeroporto? Beijos e... Bom, feliz um ano vivos e inteiros para você - ela sorriu, como se ele fosse poder ver isso.
Ai, como era idiota.
Entrou no elevador e em poucos segundos, estava em seu andar. Lembrou-se do dia em que esteve ali pela primeira vez e sorriu. Um ano depois, só conseguia lembrar daquele dia como algo bom, inevitavelmente. Abriu a porta e jogou a bolsa em qualquer canto, tirando os sapatos altíssimos enquanto acendia a luz.
- AAAAAAAAAAAAH - gritou, tacando um sapato na direção do sofá.
- AI, PORRA! - já estava preparada para sair correndo, quando ouviu o grito e abriu os olhos.
- ? - berrou, colocando a mão no peito, devido ao enorme susto que tinha tomado.
Era ele. Vestia uma camisa branca dobrada até os cotovelos, jeans e seus casacos estavam jogados de qualquer maneira na poltrona preferida de . Como diabos estava ali? Dentro da casa dela - ok, dele, mas ainda assim - deitado no sofá, com os pés calçados em cima da manta, no escuro, como se fosse dono da porra do lugar?
- Porra, não se acende a luz na cara dos outros assim! - ele reclamou, coçando os olhos. Como ela não reparara que ele era assim... Tão gato? Era possível? - E isso doeu - ele jogou o sapato de volta, fazendo desviar.
- MAS QUE MERDA É ESSA? - Ela gritou, depois de ficar em silêncio por alguns segundos, totalmente em estado de choque. - Você acha que pode invadir MINHA casa assim, colocar seus pés SUJOS na minha manta, bagunçar minha sala e ainda ME ENGANAR, dizendo que estava no... - ela parou, olhando para a cara de anjinho que o rapaz fazia. - Que cheiro é esse? - disse alto, e sorriu malicioso.
- Eu imaginei que você pudesse estar com frio e puta comigo - quase bocejou, sentando corretamente, depois lançou-lhe um olhar malicioso, esticando o braço para trás do sofá. o encarou, nervosa, e o viu tirar uma garrafa grande e prateada dali. - Orgasmos múltiplos?
Ele disse, com um sorriso maroto nos lábios, fazendo a garota gargalhar e correr em sua direção. também riu, levantando-se, mas quando ela se aproximou, pulando em cima dele, resolveu que poderia ter ficado sentado. Caíram desajeitadamente no sofá, de forma que ele perdeu o equilíbrio, e os dois pararam no chão, tendo ataques intermináveis de riso.
sentou no chão, ainda rindo, e a puxou para perto dele, aninhando-a em seu colo.
- Eu senti sua falta - disse, sentindo as bochechas arderem. Ah, ótimo, era tudo o que ele precisava ter feito. Sentia-se um perfeito idiota.
Mas sorriu tão largamente que ele deixou de xingar-se mentalmente quando ela o abraçou com força e beijou seu pescoço, enquanto ele sentia seu perfume gostoso e sorria que nem um bobo. Ela também sorria idiotamente, ele sabia. apoiou uma perna de cada lado do corpo de , e ele a puxou mais perto pela cintura, até que ela encostasse seu nariz no dele.
- Eu também senti sua falta - ela disse, baixo, e os dois sorriram, e então, ela lhe deu um selinho e mordiscou seu lábio inferior.
a segurou pela nuca, agarrando seus cabelos, e vendo que ela fechara os olhos, a beijou.
Não lembrava exatamente a sensação que beijá-la tinha lhe causado um ano antes. Mas definitivamente não era aquela. Quando suas línguas se tocaram, um arrepio lhe percorreu a espinha, e enquanto arranhava levemente sua nuca e retribuía o beijo calmamente, a princípio, ele sentiu seu coração disparar e a apertou com mais força contra si, apenas guiado pelos instintos e tendo uma certeza anormal de aquilo era o certo a se fazer.
tinha pensado naquele reencontro. Tinha pensado e repensado, tinha quase ensaiado. Ela o encontraria, eles se abraçariam, beberiam alguma coisa, e em algum ponto de uma conversa animada, rolaria um clima, e ele a beijaria. No entanto, tudo tinha acontecido de trás para frente, e ela não conseguia sentir vergonha alguma disso, como aconteceria normalmente. As mãos firmes de pressionavam seu corpo contra o dele, como se quisesse fundi-los em um só. O beijo, doce e calmo no início, estava profundo e acelerado, lhe causando arrepios, e uma sensação estranha de que tinham esperado demais por isso. Podia sentir seu coração batendo nos ouvidos. Ai, caramba.
, ao ouvir a respiração alta da garota, sorriu durante o beijo. teve vontade de rir, mas não o fez, e ele a segurou com força pela coxa, subindo a mão por sua perna descoberta, enquanto tentava se livrar do casaco enorme que ela ainda usava. Quando conseguiu, desceu em beijos pelo pescoço da garota, e enquanto ela arranhava suas costas por baixo da camisa, ele lhe deu um beijo no queixo, fazendo-a sorrir e mover as mãos para o botão de sua camisa, enquanto voltava a buscar vorazmente por seus lábios. não teve problemas com a camisa, que foi parar no chão em segundos, e ela mordiscou o lábio, distribuindo beijos pelo pescoço já arrepiado do rapaz, que a apertou com força e a levantou, pegando-a de surpresa. Os dois sorriram e cambalearam até a escada do duplex, sem partir o beijo.
Na curva da escada, a prensou contra a parede e envolveu sua cintura com as pernas, enquanto ele lhe tirava o vestido preto lindo que usava, e lhe beijava o colo, perto do sutiã rendado que ele achara incrivelmente sexy, mas não tinha tempo nem fôlego para comentar.
Aquela garota estava o deixando louco. Que merda era aquela?
deu graças ao ver a porta do quarto aberta. Tateou o interruptor e o deixou à meia luz com toda dificuldade do mundo, enquanto mordia seu pescoço e arranhava sua barriga, perto da barra da boxer que estava à mostra. Ele sorriu malicioso e a beijou, enquanto ela abria o zíper e chutava os jeans do rapaz para baixo. desceu de seu colo e o fez caminhar de costas até a cama. Ao empurrá-lo, no entanto, tomou um puta susto com a queda brusca no colchão.
Olhou para os lados, assustado, e encarou a garota que estava com as pernas ao lado de seu corpo.
- Cadê sua cama? – perguntou, ofegante. Ela deu uma gargalhada gostosa que o fez rir junto, mesmo sem entender.
Depois curvou seu corpo por cima do dele, e lhe deu um beijo rápido.
- Lembranças de um ano atrás – ela sorriu. – Acho camas muito impessoais depois de conhecer o poder de um colchão perdido no meio do quarto – disse e riu, virando seu corpo por cima do dela.
- Você é mesmo estranha – disse, e ela riu. Então tirou uma mecha de cabelo que tinha caído no rosto de . – E é por isso que eu vou com a tua cara.
Ao beijá-la novamente, conseguiu sentir o ritmo acelerado do coração de , o que lhe causou um arrepio pela espinha e o deixou feliz por não ser o único ali com sérios problemas mentais e com vontades que já não conseguia mais controlar.
Não demorou muito para que suas peças íntimas tomassem rumos distintos do quarto, enquanto ele lhe distribuía beijos nos mais diversos lugares, e ela o arranhava de uma forma tão delicada, mas tão sexy, que ele quis que nunca parasse de fazer aquilo.
Quando conseguiu achar um preservativo na mesa de canto de (ela não tinha cama, mas tinha mesas de canto), ela lhe lançou um olhar meio ludibriado, que o fez sorrir. Não perguntou nada.
E então, os dois eram um só.
Sem problemas, sem traumas. Só o que tinham esperado, mesmo que não tivessem certeza disso, por 365 dias, 8,760 horas e 525,600 minutos. Ou talvez muito mais do que isso.
- Orgasmos múltiplos – sussurrou, com sua cabeça apoiada no peito nu de , e o garoto gargalhou.
- Obrigado, eu sei que sou foda, modéstia à parte – disse, rindo, e ela o estapeou. – Outch! Esse round vai ter sadomasoquismo? – perguntou, e a garota gargalhou, o empurrando para fora do colchão.
- Você é um gringo muito metido – disse, e riu, sentando-se. – Eu estava me referindo à minha garrafa de café que você não deixou que eu provasse - disse, olhando-o com malícia, e riu.
- Foi você quem me atacou – ele respondeu, presunçoso. – O que só prova que eu...
- MEU CAFÉÉÉÉÉ! – berrou, e os dois gargalharam.
- Folgada... – ele sussurrou, ficando em pé e caminhando até a porta.
- Ei, eu ouvi isso! – disse alto, fazendo o garoto rir, e quando voltou a andar, ela o chamou de novo. – !
- O que é, dessa vez? – ele fingiu impaciência e sorriu.
- Você realmente tem uma bundinha muito sexy – disse, fazendo-o gargalhar e voltar para cama, prendendo-a entre as pernas e a beijando.
- Um brinde à nós, que sobrevivemos por um ano depois do dia pseudo mais terrível da face da Terra – disse, levantando uma caneca natalina, e sorriu.
Os dois estavam sentados no sofá da sala dela, e vestia sua camisa. Eles tinham uma manta gigante jogada por cima deles, e o café, que ele teve que fazer de novo após mais uma certa... brincadeira na cama, fazia papel de champagne às quatro da madrugada.
- Um brinde à nós, que além de sobrevivermos a tudo isso, soubemos comemorar da melhor forma – ele a olhou malicioso, e os dois riram, brindando com as canecas tomando o líquido quente.
- Café às quatro da madrugada... Insônia é luxo, não? – disse e a lançou um olhar galanteador.
- E quem disse que eu vou deixar você dormir? – perguntou, malicioso, fazendo a garota rir, enquanto chegavam mais perto para um beijo que quase fora regado por uma chuva de cafeína.
- Eu achei que você não fosse aparecer – disse baixo, enquanto acariciava seus cabelos, deitados na cama. Ele sorriu.
- Você é maluca – ele riu igualmente baixo. – Eu contei os dias para voltar para cá.
- Não sabia que Nova York era tão melhor que Londres – ela respondeu, mordendo o lábio, e riu, beijando sua testa.
- Qualquer lugar com uma garota estranha e várias doses de café fica melhor – ele respondeu, fazendo-a rir e lhe dar um selinho.
Naquela madrugada, nevou em Nova York.
Na semana seguinte, uma nevasca fez com que boa parte dos americanos de Nova York ficassem em casa. Cinco dias. Exatos cinco dias dentro daquele apartamento, sem sair para absolutamente lugar algum. e dormiam até tarde, almoçavam massas que ela adorava cozinhar, tomavam litros de café e vodka por dia, passavam horas conversando, jogando videogame, assistindo seriados de comédia e na maior parte do tempo, se beijando e aproveitando o colchão, o tapete, o sofá, o box do banheiro, a bancada da cozinha, a escada de emergência e alguns outros lugares para... Você sabe.
Nesse pouco espaço de tempo, teve a sensação de conhecia melhor que qualquer outra pessoa. E ele tinha a mesma impressão. Ela sabia das histórias de infância, de seu pânico por aranhas, que seu sabor de pizza preferido era mussarela e quais eram suas fantasias (na cama) e seus objetivos (fora da cama). sabia que não podia ser acordada antes das dez da manhã, à não ser que ele quisesse ter dois sapatos e um despertador jogados em sua direção, sabia que ela tinha pavor de música country, por ter nascido no Texas, que sabia andar à cavalo (ele soube se aproveitar dessa confissão), que assinava todas as revistas de moda dos Estados Unidos e que gostava de massagem nos pés e beijos na nuca.
Mas, com o fim da nevasca e a abertura dos aeroportos, chegara o dia que eles esperavam, mas não queriam que chegasse.
precisava voltar para a Inglaterra.
Ele tinha lhe prometido que voltaria a morar nos Estados Unidos, mas ainda estava ligado a seu emprego e a papelada, que já estava bem encaminhada para sua volta, ainda demoraria duas semanas para ser finalizada, ele estava no país com visto de turista.
Tinham conversado vagamente sobre a situação que viviam e sobre seu relacionamento repentino. sabia muito bem do pânico que tinha de relacionamentos sérios. O cara tinha dito com todas as letras que não acreditava no amor, poxa! Mas como ele era lindo! E incrível, e como todas suas atitudes contradiziam com esse pequeno fato! Ela preferiu não pressionar. Combinaram que, assim que ele voltasse, decidiriam o que fariam.
Mas eles se gostavam, e muito, isso estava na cara. E pelo menos essa certeza ela tinha.
Ele, novamente, não a deixou ir até o aeroporto.
assistiu entrar no táxi em meio à neve. Ele se despedira dela na porta do apartamento. Ela estava com lágrimas nos olhos e com vontade de gritar, correr até lá embaixo e fazer uma típica cena de filme americano.
Só queria que ele olhasse para cima.
Ele precisava olhar, só para ela ter certeza. Certeza de que aquilo tudo não era uma ilusão perfeita de sua cabeça.
Que seu coração não estava a enganando de novo.
A porta do táxi bateu, mas não recebeu olhar algum de volta.
- Sem ofensas, amiga, mas seu café não é tão bom assim – disse, e Susan, sua amiga e colega de trabalho, riu.
- Ah, só o café do meu maravilhoso inglês que presta! – a outra respondeu com uma voz afetada, fazendo gargalhar. – Vá se ferrar, gatíssima!
- Eu não disse isso! – ela se defendeu, tomando mais um gole, enquanto selecionava as fotos para o próximo editorial de moda.
- Falando nisso, como ele está? – Susan abaixou a haste dos óculos, e sorriu.
- Hm, de acordo com os meus conhecimentos, em reunião – ela disse, fazendo careta.
- Caramba, você estão casados ou o quê? – Susan zombou, e lhe mostrou o dedo do meio. – Ei! Malcriada!
- Nos falamos ontem à noite, sua babaca... Ele disse que tinha reunião hoje, só isso.
- Ainda não tocaram naquele assunto? Digo... Sobre como vocês dois vão ficar?
Argh. Essa pergunta de novo? Por que diabos gostavam tanto de questioná-la sobre isso? Não queriam apressar nada, que saco!
(Na verdade, bem no fundo, também perguntava a mesma coisa).
Não admitiu para as amigas, nem para si mesma, mas estava preocupada com isso. Falavam-se muito pouco desde que voltara à Inglaterra. Suas conversas por email e telefone ficavam escassas com o passar dos dias, e ela temia o pior. Será que aquela semana tinha sido mágica apenas pra ela?
Será que ele tinha ficado assustado com aquela proximidade toda?
Droga, por que os homens são tão complicados?
Ao sair do trabalho, naquele dia, resolveu que não queria ir para casa. Aquele lugar trazia lembranças, muitas, excessivas, e precisava ficar um pouco longe disso. Precisava parar de sentir o cheiro de no ar e lembrar das coisas que ele dizia, que a fazia rir sozinha por horas. Ao passar pela rua que, pouco mais de um ano antes, o encontrou num bar, rolou os olhos, entrando no bar ao lado.
- Um Cosmopolitan, por favor – pediu, sorrindo calmamente para o barman de olhos verdes. Ele era bonito, sim. Não a interessava.
O rapaz a serviu e ela agradeceu, tomando o drink de forma lenta e quase melancólica. Esperava que ele ainda pensasse nela. Esperava, do fundo do coração, que ele sei lá... Não estivesse com outra pessoa. Que ele não tivesse outra pessoa esperando por ele, em Londres. Que ele soubesse o quanto era importante na vida dela.
- Argh, sai da minha cabeça – exclamou, e o senhor de sessenta e poucos anos que estava no banquinho ao lado a encarou, confuso. – Ah, desculpe – murmurou, impaciente, e ao colocar o dinheiro no balcão, pegou sua bolsa e saiu para a rua.
Neve.
- Ah, perfeito – ela reclamou, rabugenta, e bateu os pés na calçada, nervosa por estar de salto. Enfiou as mãos nos bolsos e gritou pelo primeiro táxi, mas ele não parou.
Nem o segundo.
- Ah, mas que inferno! – murmurou, e então resolveu que caminharia até o apartamento. Na neve. Estava mesmo precisando congelar a cabeça.
Mas, ao dar dois passos para o lado, a porta do bar que ela tanto queria evitar abriu. E duas garotas saíram de lá de dentro, bêbadas e sorridentes. E quando a porta bateu, ela o viu através do vidro.
Porra, , bêbada com um Cosmopolitan?
Caminhou, nervosa, e então ouviu de novo o baque da porta do bar.
- ! – ouviu uma voz gritar. Não olhou para trás. – ! – ele a segurou pelo braço.
Ela não estava louca!
- ? – quase gaguejou, sentindo as mãos gelarem dentro da luva. – O quê... O que diabos você...? O que está fazendo aqui? Você ia voltar em uma semana, e...
- Cala a boca – ele disse, baixo e sorridente, mas contorcia as mãos de forma nervosa. arqueou a sobrancelha. – Eu resolvi fazer uma surpresa. Mas você não estava no apartamento, e quando liguei na revista, disseram que você tinha ido para algum outro lugar. Pensei que pudesse estar aqui... – disse, com a voz quase beirando a timidez, coisa que não era normal pra ele.
- Eu estava no bar ao lado... Eu não queria... Bem... – se atrapalhou com as palavras e sorriu.
- Lembrar?
Ela apenas assentiu com a cabeça. sentiu algo gelar dentro dele.
- Por quê?
- Porque é difícil – ela respondeu baixo. – Porque passamos uma semana maravilhosa juntos, e então depois disso nos afastamos, não só geograficamente... Eu sei quando uma pessoa não quer alguma coisa. Eu sei que eu estava o importunando com minhas ligações e emails, e sei que, talvez, isso tudo tenha significado muito mais para mim do que para você – ela disparou, e abriu a boca, mas não conseguiu interromper.
- É isso? – ele perguntou, chacoalhando a cabeça, indignado. – Você acha que eu seria capaz de ignorar você?
- Eu não sei... – não conseguiu continuar, porque ... Começou a rir. Tipo, rir, no meio de um momento tenso! Aquele garoto tinha titica de galinha na cabeça ou algo parecido? – Tá rindo do quê? – ela alterou um pouco a voz, e ele tentou segurar o riso, mas demorou um pouco. – !
- Você é tão patética e tão estranha que chega a ser engraçado – ele respondeu, levando um tapa.
- Você bebeu, seu inútil? – ela perguntou, nervosa, e a segurou pelos pulsos.
- , você tem alguma ideia do porquê eu estou aqui? – ele perguntou, fazendo-a negar com a cabeça. – Eu também não tenho a menor ideia.
- Quê? – a garota perguntou, com a voz afetada, e ele sorriu.
- Você percebe que tem algo de errado com você quando passa um vôo de quase sete horas com uma garota na cabeça – ele disse, e deixou os pulsos caírem, reprimindo um sorriso. – Principalmente quando garotas não ficam na sua cabeça por mais de duas horas após o sexo.
ia abrir a boca para contra argumentar, mas começou a falar de novo.
- Quando cheguei em Londres, eu fiz tudo para... Para tentar te tirar da cabeça pela merda de dois minutos, sabe? Eu nunca pensei em me apegar assim a uma garota, então fiquei assustado, e por isso me afastei – disse, e suas bochechas coraram. sabia que não era do frio.
- , eu nunca te pedi para que fôssemos nada... – Ela disse, e ele sorriu.
- Eu sei. O que me assustou foi saber que, mesmo sem você ter pedido, ter alguma coisa era bem o que eu queria. Bem o que eu quero - ele sorriu. – Meu emprego em Londres é melhor que o de Nova York. Minha família está lá, eu gosto de lá, mas... Algo estranho me puxou de volta para cá. Eu quero ficar aqui, . Em Nova York. Com você – disse, sorrindo timidamente, e riu, e sem dizer nada, pulou em sua direção.
Dessa vez o garoto estava preparado, e não despencou no chão. A segurou no ar, no meio da rua, e os dois sorriram antes de se beijarem de uma maneira que parou o trânsito da rua.
Manhattan, 5 de dezembro de 2011.
- ... – sussurrou, com a voz ansiosa – Você lembra daquela vez que eu perguntei se você acreditava em destino?
O garoto sorriu do outro lado da linha.
- Lembro – ele respondeu simplesmente, esperando que ela continuasse.
- O que você acha disso agora? – perguntou, e não estava a vendo, mas tinha certeza que ela estava estralando os dedos ou fazendo algum gesto nervoso com as mãos. Típico.
E então ele sorriu.
- Eu ainda não acredito nisso – respondeu calmamente. – Mas sabe que você me fez acreditar em uma coisa?
- No quê? – ela perguntou com a voz baixa.
- Eu não acredito em destino... – ele sorriu. – Mas eu acredito no amor – disse, fazendo sorrir do outro lado da linha.
- Tudo bem, eu só precisava ouvir isso – sorriu. – Preciso desligar, tem gente me esperando.
- Anda logo – ele riu. – Eu amo você, estranha.
- Eu também amo você.
colocou o celular no bolso e virou seu olhar para a porta da igreja.
Para ver a garota que ele amava entrar.
“Eu sei que o futuro dá medo. Eu sei que o mundo pode ser ameaçador. Mas você deve saber que às vezes, quando as coisas parecem mais desesperadoras... As pessoas te encontram”. (One Tree Hill)
FIM
N/A: Parabéns pra vocêêêê, nessa data queridaaaaaaaaa! YEEEEY! Viva o Fanfic Obsession! HAHAHAHAHA O que falar desse site, não é mesmo? Mais do que um site de fanfictions, isso aqui é uma família, de autoras, de leitoras, de pessoas loucas... A gente faz tantos amigos aqui, né? Me orgulho muito de poder fazer parte da comemoração de um ano desse site maravilhoso, de verdade :’) Me sinto muito honrada! Vivi, amiga, parabéns por conseguir manter isso aqui! Como eu já disse e repito mil vezes: o FFOBS não é nada sem você! Meus parabéns! :) E vocês, leitoras lindas... Mais uma fic, né? HAHAHAHAHA Vocês sabem que eu não sou boa nesse negócio de short, mas espero que tenham gostado, e que deixem seus comentários sempre lindos e deevos para eu saber o que vocês acharam, tá bom? Essa história era pra ser uma fic normal, mas adaptei e fiz a short para o 1 ano do FFOBS (: Espero que tenha ficado à altura do que o site merece! No mais, um beijo para as minhas lindas Bru e Li, que leram a fanfiction por email e comentaram e me deram ideias, só elas sabem o sofrimento que foi pra escrever isso à tempo! hahahaha Beijos, queridas, amo vocês (L) Cah.
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N/B: Qualquer erro, seja de script, português ou ambos, não envie para o site, para a Cah ou use a caixinha de comentários, envie diretamente para mim. Se quiser, sinta-se livre para enviar-me um tweet informando o erro.
Obrigada.