Pés no Chão
História por Tuh | Revisão por Gabriella


’s POV

Toda vez é a mesma coisa: sai com Vick e Pedro, some por uns dias e depois volta suja, sem dormir, bêbada e drogada. Recordo-me que da última vez ela ficou mais de uma semana fora de casa. A mãe dela já nem se levanta da cama, prefere ficar sedada e dormir o dia inteiro a ver a filha nesse estado degradante. O pai já disse que não quer saber e que a culpa disso tudo é da mãe de , que ela tem que zelar e vigiar a filha e, se ela está envolvida com coisas erradas, a culpa não é dele. E eu?
Bom, eu sou louco por ela.
Desde a última briga que tivemos num barzinho que eu não a vejo. Já pensei em ligar pra ela e saber como ela está, se está bem, mas, provavelmente, ela vai desligar o telefone na minha cara como sempre faz.
Estou ficando saturado de tanto correr atrás dela e ela me humilhar, só faço isso porque algo me diz que ela se sente balançada por mim.
era uma garota incrível, bonita, inteligente e simpática. Até que Vick se mudou pra nossa rua e elas viraram melhores amigas. No princípio, elas saíam juntas e faziam algumas loucuras, mas todos achavam que era coisa de adolescentes e que essa fase fosse passar, mas não passou e, cada vez mais, eu fui ficando de lado na vida dela. Hoje, com dezenove anos, está envolvida com drogas, talvez até tráfico, e só fala comigo quando eu a procuro. Eu não gosto nem de pensar nisso, me dá um aperto no coração de imaginar a minha envolvida com esse tipo de gente, correndo todo o tipo de risco.

[FLASHBACK ON]

- Você pensa que é quem pra falar comigo assim, cheio de autoridade?
- , estou falando isso pro seu bem! Esse cara é perigoso.
- Ah, ! Você é um chato, sabia? Essa é a diferença entre você e o Pedro, por isso você julga ele perigoso.
- Você que é maluca, será que não vê que ele vende drogas pro pessoal do bairro? Mas é claro que você sabe, é com ele que você compra, não é?
- É! Eu compro com ele, eu transo com ele, me drogo com ele, é tudo com ele! – Ela falou num sussurro perto do ouvido de , que torceu o punho pra não dar um soco na cara dela ali mesmo. – São vários, e vários quilos de pó, muito sexo e orgia!
- Cala a boca, ... – Ele pediu.
- A gente transa, ele me bate, enquanto isso eu cheiro carreiras de cem gramas de pó de quatro pra ele e ele soca bem fundo dentro de mim...
- CHEGA! – Ele gritou descontrolado e deu um soco no balcão onde estavam encostados, tirando um sorriso sarcástico da menina. – Eu fiz isso pra não socar a sua cara, sua... Sua... – Ele buscava formas de conseguir ofendê-la, mas não conseguia, ele sabia que ela fazia para atingi-lo, porque no fundo o que ela desejava era mantê-lo afastado.
- Vadia? Pode me chamar do que quiser, eu não estou nem aí pra você!
E então ela saiu do bar, rebolando seu quadril em cima de um salto agulha, dentro de um vestidinho preto, chamando a atenção de todos os homens do recinto e deixando louco de ciúmes.


[FLASHBACK OFF]

Não consigo entender como aquela menina meiga e linda se transformou nisso.
Já peguei no telefone umas dez vezes, em menos de três minutos, disco o numero dela e quando vou apertar o SEND, lembro-me das coisas horríveis que ela me disse e desisto. Fui à casa dela ontem, chamei e ninguém me atendeu, provavelmente a mãe dela está sedada enquanto ela está pela rua se drogando.

’s POV OFF

O chão de cimento batido era gelado, as paredes de madeira estavam repletas de cupins e pôsteres de mulheres nuas, o cheiro de esgoto denunciava as más condições sanitárias do local. acordou e ainda estava amarrada com as mãos pra trás, os ferimentos no rosto e pelo corpo todo doíam conforme ela tentava se mover, o sangue que secou das feridas começava a criar casquinhas, que se desprendiam da pele e caíam no fino lençol onde ela estava deitada.
A última lembrança que ela tinha era de a alertando sobre Pedro.
- ... – Ela disse baixinho, entre gemidos dolorosos, com os olhos fechados. – Se você me ama de verdade, vai sentir que eu ‘to precisando de você, vem me buscar, ! – Ela pedia e chorava.
- Chamando o namoradinho, princesa? – Ela viu somente um par de tênis sujos de lama parados a sua frente.
- Por favor, me solta! Eu juro que não conto nada a ninguém e você nunca mais vai me ver. – As palavras saíram embargadas pelo choro.
- Vai fazer direitinho como eu quero?
- Não! Eu sou virgem, porra!
- Era, lindinha! – Ele falou e se abaixou ao lado da menina deitada ao chão. – Você acha que dormiu todo esse tempo por quê? E o que você acha que eu fiquei fazendo enquanto você dormia?
- O QUE VOCÊ FEZ COMIGO? – Ela gritou apavorada.
- Tudo que eu quis fazer enquanto você estava sóbria e não deixou.
agora chorava e gritava ao mesmo tempo, desesperadamente, seu pensamento só a levava a e em todas as vezes que ele a quis e ela, por medo de decepcioná-lo, desprezou-o.

’s POV ON

Eu juro, meu Deus, se eu conseguir sair daqui, nunca mais uso drogas, nem bebo e nem transo com ninguém! Eu vou pra um convento e vou ficar por lá até o resto da minha vida inútil!
Tudo que eu fiz nessa vida foi decepcionar as pessoas que eu amo, primeiro com meu pai, eu que o afastei de mim com todo o meu egoísmo, sempre querendo tudo, cobrando dele e o culpando por não ter condições de fazer minhas vontades mais loucas e insanas. Depois com , afastei-o quando conheci Vick, envolvi-me na falsa ilusão que ela me vendeu como liberdade, deixei-o de lado pra viver na noite, com um e outro, bebendo e me drogando, achando que eu era o máximo. Depois foi minha mãe, que depositou todas as fichas em mim, no meu bom desempenho como filha estudiosa e dedicada, até minha faculdade já estava paga, quando ela me viu indo pelo caminho que estou agora e eu sei que não é nem metade do caminho, se eu não parar agora, tudo pode ir longe demais e talvez eu nunca mais volte.
Eu só queria ver o , só isso. Poder abraçá-lo, senti-lo aqui perto de mim, protegendo-me como ele sempre fez. Eu não quero mais mentir pra ele, dizendo que não o amo e o desprezo, mentira, mentira. Sempre gostei dele e, mesmo depois de tudo de ruim que eu fiz pra ele, mesmo depois de toda humilhação, de todas as brigas, ele ainda me respeitava, priorizava-me como amiga. Quantas vezes ele me levou pra casa bêbada e nunca se aproveitou da situação pra tentar algo, mesmo querendo muito, mesmo eu provocando muito, ele nunca fez nada que pudesse atentar contra o meu bem-estar.
E agora eu estou aqui, não sei onde, violentada, amarrada e sem ter como sair. A mercê de um maldito drogado, que se eu pudesse mataria com as próprias mãos.

’s POV OFF

A movimentação constante na casa da frente não era novidade, novidade era quando não havia movimento. Há dois dias que a casa estava em silêncio, apagada, e o carro mal estacionado na calçada. O rapaz que morava nela só saía durante a noite e quando voltava era sempre muito bêbado, caindo e com um embrulho em papel pardo debaixo do braço.
Da janela do quarto de Martha era possível ver a garagem da casa de Pedro. “Mas por que o carro na rua se a garagem está vazia?” Era o que ela questionava. Então, ela se lembrou do dia que ele chegou em casa de madrugada, com uma menina praticamente nua, ambos estavam caindo, riam alto e ele beijava o pescoço da garota com agressividade. Depois disso, ela apagou a luz e voltou pra sua cama, a última coisa que ela ouviu vindo daquela casa foram alguns gritos e barulhos estranhos, mas ela continuou ignorando o fato. Tudo naquela casa era sempre suspeito mesmo.

’s POV ON

Já se passaram dez dias e ninguém tem notícias de , minha mãe já brigou comigo várias vezes por não querer mais ir ao trabalho, nem à faculdade. Nos últimos três dias, eu fiquei pela rua com um grupo de amigos do bem que ainda tenho em comum com ela, saímos por aí procurando por ela, mas até agora nada. A cada dia que passa, a angústia só aumenta junto com a saudade.

’s POV OFF

De longe, Martha via um pessoal se aproximando, mais ou menos uns quatro rapazes e duas moças, eles tinham uns papéis nas mãos e paravam as pessoas na rua. Curiosa, ela se aproximou na tentativa de saber do que se tratava.
- Boa tarde, senhora. Gostaria de saber se a senhora viu essa moça por aí. – Abordou um jovem enquanto oferecia à ela uma foto impressa em preto e branco de uma moça muito bonita, mas ela não olhou muito, só estava interessada em saber do que se tratava o mutirão.
- Não... Não vi não, meu filho. Desculpe não poder ajudar. – Ela respondeu.
- Fique com essa foto, por favor, e caso a senhora veja alguém parecido com ela, nos comunique, a família está desesperada atrás de notícias dela. Há uns quinze dias ela não aparece em casa...
- Tudo bem, meu filho, eu já entendi, pode deixar que eu ligo! – Ela respondeu em tom de grosseria e se afastou do grupo. Quando virou a esquina, dobrou o papel e o colocou de qualquer jeito na bolsa, sem dar muita importância ao retrato que nele estava impresso.

*


Quando a música de tema inicial de sua novela preferida começou, Martha apagou a luz da sala e se sentou no sofá com o controle remoto na mão. Aumentou um pouco e, quando João Manoel iria contar à Cecília Vitória que estava com um câncer em estado terminal, uma gritaria começou na casa da frente. Ela bufou e abaixou o volume de sua TV. Eram gritos de mulher e ela sabia muito bem do que se tratava, na verdade, ela sabia de quem se tratava.
Foi até a janela de seu quarto, de onde tinha uma visão melhorada da casa, e gritou:
- PAREM COM ESSA GRITARIA OU EU VOU CHAMAR A POLÍCIA! ISSO NÃO É MAIS HORA!
Os gritos cessaram e, então, ela voltou a sua sala e retornou ao seu vicio. Porém, novamente iniciaram os gritos.
- Oras! Esse moleque me paga com essa perturbação! – Ela resmungava enquanto subia as escadas. – OLHA AQUI, É O ÚLTIMO AVISO!
- Vai se foder, sua velha fofoqueira, cuide de sua vida! – O rapaz da casa da frente gritou assim que saiu da garagem.
Furiosa com a atitude do vizinho, ela desceu as escadas com uma intenção.
- Alô? Bem, eu gostaria de dizer que eu sei onde está a tal menina. – Ela falava ao telefone com um pano na boca, modificando sua voz. – Ela está numa casa, na rua...

’s POV ON

Já estava num estado desesperador, dezoito dias e nada de noticias. Vick jurava de pés juntos que não sabia onde estava , Pedro idem. Não tínhamos provas de nada, ela simplesmente sumiu, desapareceu como se fosse fumaça. A mãe dela estava no hospital, tentara suicídio tomando remédios para dormir, o pai dela está viajando, nem sabe do sumiço da filha. E eu não durmo direito há dias, sempre acordo com o mesmo sonho: Vejo-a deitada no chão, em um lugar escuro, pedindo-me ajuda e, quando eu vou pegá-la, sou golpeado por trás.
E acordo sentindo dores muito fortes na cabeça.
Essa falta de respostas está torturante, eu só quero a minha de volta.

Ligo a TV e nada de interessante, mudo de canal e vejo uma cena perturbadora, uma novela dessas mexicanas, onde um casal chora e a mulher diz ao rapaz que o ama independente da situação. Imediatamente, meu pensamento vai até ela, mas sou interrompido por meu celular que vibra no bolso da minha bermuda.
Só nessa semana, recebi vários trotes referentes ao sumiço de , se esse for mais um, eu juro que desisto e mudo de telefone.
- Pois não? – Era a voz de uma mulher, uma senhora. – Onde, senhora? A viu onde? Quando? Mas eu passei por aí esses dias e ninguém tinha visto nada! – Depois de tantas ligações falsas, eu já não caía em qualquer ladainha, tem gente que não respeita o sentimento alheio. – Tudo bem, senhora, amanhã eu verificarei... O QUÊ? TIRO? Mas como a senhora sabe dessas coisas? E porque só disse agora?
Desliguei o telefone e corri para a garagem, peguei meu carro e saí em disparada pro tal endereço que a mulher no telefone me passou. Estive lá há uns dias atrás e ninguém tinha notícia alguma. Agora essa mulher liga, dizendo que viu a no dia que ela chegou lá com um rapaz e que agora ela ouviu gritos de mulher pedindo socorro e um tiro! Tá de brincadeira!
O frio na rua está demais, tem até neblina, nunca vi um inverno tão rigoroso como esse. Lembro-me que quando estava frio, eu e falávamos e a fumacinha saía. Fumacinha era o motivo da nossa alegria. Nessa época de nossas vidas, eu sempre sabia onde encontrá-la, eu sempre sabia onde ela estava, sabia que ela estava bem. Agora eu não sei nem se ela está viva.
Cheguei à rua indicada pela tal mulher do telefonema e estava vazia, deserta, fria e escura. Com um pedaço de papel nas mãos com o número da casa, onde supostamente estaria, eu caminhei. Parei em frente à casa e um carro mal estacionado na calçada acumulava poeira, o mato do jardim já tinha quase um metro. Bati palmas e esperei. Ninguém atendeu.Bati novamente e nada.
Colei meus ouvidos no portão de madeira e pude ouvir algumas vozes distantes, onde um homem mandava alguém calar a boca.
Peguei meu celular no bolso e disquei o número da polícia, expliquei a situação, o desaparecimento de , a ligação da mulher, o tal tiro que ela ouviu e disse que estava parado no portão da casa. A atendente do outro lado da linha me pediu para não tentar nenhuma loucura e disse que uma viatura estaria a caminho do local. Desliguei o celular impaciente e me sentei na calçada do lado de fora e foi aí que EU ouvi um tiro.
Sem pensar duas vezes, invadi o lugar, se não fosse lá naquela casa, pelo menos estaria salvando a vida de alguma pessoa. O quintal estava sujo e mal cuidado, a escuridão me impedia de enxergar o que normalmente seria visto com facilidade. Passei pela lateral da casa e não vi nada pelas janelas que me mostravam o interior, tudo estava apagado, exceto pela luz fraca da garagem, então fui pra lá.
De pé do lado de fora, pude ouvir ruídos estranhos e alguém resmungando algo, a porta estava semi-aberta, então olhei pela fresta e vi um homem ajoelhado no chão e em volta dele umas cordas.
Uma gota fria de suor escorreu pelo meu rosto.
E se fosse ali?
E se ela estivesse morta?
E se...
Então, o homem se levantou e começou a tirar seu cinto e, em seguida, abaixou as calças. Sim, ele pretendia fazer isso.
Abri a porta da garagem e, então, ele se virou pra mim assustado, era Pedro.
- Cadê a , seu desgraçado? – Voei em cima dele e caí com meu peso prensando seu corpo contra o chão. De joelhos dobrados em cima de seus braços, dei dois socos bem dados na cara do desgraçado e sua boca começou a sangrar.
- ...
- ! – Levantei-me e fui até ela, que estava num estado deplorável.
- Você veio me salvar.
Falado isso, lembrei-me do maldito sonho de todas as noites, levantei-me rápido, pude ver quando Pedro tentou pegar uma barra de ferro e parti pra cima dele novamente.
O ódio em mim era tanto, ódio por ele ter sumido com , por ter contribuído pra que ela ficasse nesse estado, ódio de mim por não ter lutado mais por ela, ódio dela por não ter correspondido o meu amor.
Então, eu o soquei com todas as minhas forças, chutei sua costela quando ele caiu no chão e quando eu incitei meu pé à chutar sua cabeça, alguém me puxou pra trás. Era a polícia.
- O que é isso, rapaz?
- Olha o que ele fez com ela! – Apontei pra deitada no chão, desacordada.
- Vá socorrê-la ao invés de tentar matá-lo! – Disse-me o policial. –Deixe que cuidaremos dele.
’s POV OFF

[n/a: Coloque para tocar Pés no Chão - Luxúria]

Hoje eu me senti tão triste, mas suave é a vida
Quando você faz papel de irmão
Hoje eu perdi o sentido, já não penso em mais nada
Além de anestesiar a minha solidão


- Sabe, , eu nem queria estar te falando essas coisas, mas é que eu sinto necessidade de te fazer entender o meu lado...
- Não, amor!
- Psiu! Deixe-me falar. – Ela tocou nos lábios dele com o indicador. – Eu tinha tanto medo de não conseguir me livrar das drogas, eu me sentia tão incapaz, tão fraca, tão omissa de mim mesma, que eu preferi me afastar de você pra não te fazer sofrer, eu não queria que você sofresse, por isso te afastei todo esse tempo. Me desculpa?
- Entenda uma coisa: eu lutaria por você até toda a minha vida se esvair de mim, pois eu sentia algo aqui dentro de mim que me dizia que esse amor um dia iria acontecer, eu não sentia tudo aquilo à toa, é muito amor que eu tenho pra você, . E com a força do meu amor, eu vou te ajudar a sair de todo poço, de qualquer furada, porque você é a minha vida. E quando eu digo isso, não exagero, sem você eu não teria graça pra viver, pois tudo que eu fiz em toda minha vida foi amar você. Eu não preciso te desculpar por nada, só tenho que te agradecer por você existir e me dar a oportunidade de fazer parte da sua história, de novo. – Ele roçou seu nariz no dela e, então, selaram seus lábios.

*
Na neblina vi o seu sorriso tímido
Dizendo assim: “Ta tudo bem!
Vi o seu casaco abrindo os braços me acenando
Como se não existisse mais ninguém

A luz da manhã de domingo entra pela janela do quarto, iluminando o rosto da menina deitada ao lado do rapaz sem camisa.
- Bom dia. – Ela diz e deita sua cabeça no peito desnudo do jovem.
- Bom dia, minha flor. – Ele responde e deposita um beijo na testa da moça. – Teve bons sonhos?
- Uhum. – Ela disse e balançou a cabeça. – Sonhei com você e, olha que engraçado, meus sonhos agora deram pra virar realidade! – Dito isso, ambos sorriram em sintonia.

*
Tudo pode parecer um caos, pois quando eu ando sem destino
Só você me trás de volta segurando a minha mão
Agora pode me levar no colo
Feito uma criança num filme de assombração
Não posso encostar os pés no chão


- Boa tarde a todos. O meu nome é e eu estou há três meses sem usar drogas. E eu agradeço isso ao meu namorado, que me ajudou e não desistiu de mim. Por causa das drogas, eu perdi uma amiga assassinada, minha mãe se suicidou, meu pai me deserdou e eu fui violentamente estuprada por vários dias. As drogas acabaram comigo, eu quase morri e, se não fosse por ele, que me motivou a não desistir depois de todas as perdas trágicas, eu não estaria aqui hoje. Espero que o meu depoimento não seja só mais um pra vocês, espero que de alguma forma eu consiga tocar no coração de vocês. Todo mundo diz que tem um motivo para se drogar, isso é bobagem, pegue todos esses motivos e os direcione para algo bom, que tenha valor e que faça sua existência valer à pena. Hoje eu trago no meu ventre um filho que eu não desejei, um filho do cara que me estuprou, que me fez perder minha família, mas eu não consigo odiar essa criança, não consigo porque ela não tem culpa de nada, ela será só mais uma vítima, assim como eu, você e você. Se eu culpá-la pelos meus problemas, ela será mais um de nós, então, eu resolvi dedicar minha vida ao bem-estar dessa alma que está pra nascer e que será muito amada. Dedicarei todo o meu tempo à ela, dedicarei o meu amor. Porque é isso que falta em vocês: amor. Se não for a falta do amor de alguém, é o amor próprio, e amor próprio só depende de nós. Por isso, eu digo a vocês: amem-se! De nada vale uma vida sem amor. Ocupe o tempo que vocês usam com drogas amando alguém verdadeiramente ou se amando. Porque o amor pode salvar uma alma. Ou até mesmo duas. – Dito isso, ela colocou as mãos sobre a barriga, num gesto de carinho com seu bebê.
Todos se puseram de pé e a aplaudiram.
Ela sorriu, olhou pro alto e sussurrou: “Obrigada, Deus!”

* Fim *



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