Peço-lhe desculpas por demorar em responder suas caras, estive doente nos últimos dias, quer dizer, ainda permaneço, usando o pouco de minhas forças para lhe escrever isto. Com muita tristeza afirmo que esta será a última correspondência que lhe mandarei, depois de centenas. Sei que não é de bom tom dizer que logo morrerei, mas diante do meu estado de saúde e minha idade avançada, digo que não há muitas esperanças para a pobre alma que lhe vos fala.
No entanto não é sobre minha morte que irei relatar nesta singela carta, é sobre algo muito maior e mais bonito, uma história que nunca me atrevi a contar a ninguém, muito menos a você, pois fui decididamente egoísta para guardar apenas em minha mente, querendo florescer as lembranças de minha juventude para sempre. O que irei lhe contar é sobre a pessoa mais importante e especial que já passara em minha vida... Sei que neste momento você deve estar resmungado e afirmando que você foi a pessoa mais importante, porém, minha admirável amiga, sinto-lhe informar que há muitos anos uma pessoa vêem ocupando este posto. Seu nome era e foi o único homem que realmente amei.
Na época eu apenas tinha vinte anos de idade, era muito nova e ingênua, sempre sonhando com os constantes livros de romance que carregava comigo para todos os lados. Mamãe dizia-me que eu era sonhadora demais e que deveria me preocupar em arranjar um marido que me desse conforto por toda uma vida; por mais que eu sempre entendesse a verdade por de trás daquelas palavras, ela queria que eu encontrasse um homem relativamente rico para sustentar a mim e a ela, quando estivesse velha demais para morar sozinha. Apesar disso eu apenas acenava com a cabeça e mergulhava em meus romances, me esquecendo completamente das palavras dela. Definitivamente, eu não sabia o que era realmente viver... Antes de conhecê-lo.
Eu estava caminhando pelo mercado do porto – contradizendo todas as regras impostas a mim – quando fui abordada por uma dupla de homens bêbados que queriam muito mais do que ouvir minha bela voz. Seria tola se não afirmasse que estava apavorada, eu sabia que algo de muito ruim iria acontecer comigo e não haveria nenhum personagem de um livro de romance que salvaria minha vida, seria apenas eu e a sorte. E ela veio ao meu encontro, na forma do homem mais arrogante e egocêntrico que poderia encontrar. Ele havia aparecido atrás de mim me enlaçado pela cintura e puxando-me para longe dos bêbados, mas isto não me acalmou nem um pouco, fiquei mais apavorada do que antes, desejando que a situação não tivesse piorado. Para meu alívio apenas descobri que ele viera me salvar e não queria nada com “uma criança” como ele mesmo havia ressaltado na hora, deixando-me extremamente raivosa. O chamei de grosso e fui embora o mais rápido possível, não lhe agradecendo pelo seu feito.
Sim, meu primeiro encontro com não havia sido como eu imaginava que seria quando encontrasse com o homem de minha vida, porém agradeço por ter sido assim.
Os dias se passaram e passei todos eles me lembrando do belo e rude homem que encontrara no porto, me levando a criar coragem e sair novamente de casa à procura dele. Digamos que não foi relativamente fácil vê-lo novamente, tive que voltar àquele lugar imundo no mínimo três vezes, até esbarrar com ele mais uma vez. Lembro-me de vê-lo sorrir pretensioso e de eu ter rolado os olhos, disfarçando pessimamente que estava apenas ali por estar perdida novamente, no entanto sabia que eu estive lá nos outros dias a sua procura, o que apenas inflou seu ego. Eu quis ir embora, certa que nunca voltaria, mas ele me segurou e fez-me encarar-lhe nos olhos. Naquele momento não houve insultos ou resmungos, apenas uma troca de energias que nunca havia sentido em minha curta vida.
Foi preciso apenas olhar em seus olhos para me apaixonar perdidamente.
era marinheiro, mas isso não fez com que meu amor por ele diminuísse de maneira alguma, apenas fez aumentar. Apesar dos inúmeros defeitos, ele cuidava de mim que estávamos juntos, me ensinando tudo aquilo que sabia, enquanto eu apenas contava-lhe as inúmeras aventuras que criava em minha mente. me achava engraçada e eu o achava perfeito.
Os piores momentos para mim eram quando ele tinha que partir com o barco, não tendo uma data certa de seu retorno... Apesar de tudo, eu sempre o esperava, voltava todos os dias para o porto e olhava para o horizonte, na esperança de senti-lo novamente em meus braços. Não era necessário ele ser rico ou ser extremante bonito, para mim era o suficiente sentir-me aquecida em seus braços e escutar sua voz em meus ouvidos, mostrando-me que tudo aquilo era importante.
Quando mamãe descobriu a verdade quis me separar dele, me trancar dentro do quarto ou ameaçá-lo, não sendo o bastante para acabar com tudo. Eu fugi de casa e fui morar com ele, passando os melhores meses da minha vida. Não havia regras, não havia reprimendas, apenas o amor, algumas brigas, risadas e tudo que uma mulher poderia sonhar. Entretanto todo aquele conto de fadas teria que ter um fim; e ele chegou mais rápido do que esperava.
Numa manhã me disse que teria que partir mais uma vez e eu tentei impedi-lo, algo dentro de mim dizia para fazer aquilo, mas não havia adiantado, ele prometera que voltaria e que iríamos nos casar, por isso o deixei ir. Fui até o porto me despedir e ver meu marinheiro partir para mais uma viagem, voltando a minha rotina de sempre aparecer lá na esperança de vê-lo novamente.
Os dias passaram, o primeiro mês, mais alguns dias, e o barco não voltou. Meu coração se apertava e se espedaçava a cada noite, tendo a certeza de que nunca mais o veria novamente e foi o que aconteceu. Numa manhã recebi uma visita de um dos responsáveis do porto, que me informara que o barco que estava havia afundado após uma tempestade, levando todos os tripulantes para as profundezas do mar. Aquilo foi o fim para mim, eu havia perdido a pessoa que mais amava no mundo e não havia como tê-la de volta. Quis acabar com minha vida também, mas nunca conseguia. A cada dia eu afundava mais e mais, pensando que esta seria a melhor forma de reencontrá-lo: afundara no oceano e eu na minha tristeza.
Depois de um tempo eu recebi mais uma visita, era mamãe e ela já sabia o que havia acontecido. Eu esperava que ela dissesse que havia me avisado e que não prestava eu estar naquela situação por um homem que não valia uma moeda, no entanto ela apenas me abraçou, me consolou e me levou de volta para a minha antiga casa, permitindo que eu levasse algo de comigo. E foi a corrente pessoal dele que levei (a com o crucifixo que sempre está em meu pescoço).
Assim os dias se transformaram em meses, que se transformaram em anos, me casei com John - um homem maravilhoso, que agradeço até hoje por ter entrado em minha vida – e criei minha própria família, mas sem me esquecer um dia sequer do meu marinheiro egocêntrico. sempre foi e sempre será o maior amor da minha vida e ele partiu como um herói, pois salvara meu coração da eterna solidão.
Estou contando-lhe essa história agora, porque não há mais como escondê-la. Fora um amor lindo demais para ser esquecido para sempre. Agora, nos meus 87 anos de idade, espero morrer e encontrá-lo novamente, voltando a viver toda a felicidade que um dia senti. Pois não há alegria maior do que viver um amor verdadeiro, minha amiga.
Sinto meu coração mais leve ao contar-lhe isso, pois tenho a certeza de que minha última missão foi cumprida. Desejo-lhe toda a felicidade e todo o amor do mundo.
De sua eterna amiga,
Jane Bright.
PS: Faço-lhe um último desejo, quero ser enterrada com a corrente, pois esta a única forma que encontrei de ter meu descanso eterno com aquele que me amou da mesma forma que fora amado.
N/A: Eu seria muito idiota se não confessasse que acabei chorando quando escrevi isso, sendo que eu parecia um bebezinho enquanto digitava tudo. Essa história acabou vindo na minha cabeça quando vi pela milionésima vez Titanic, o filme estava passando na televisão e eu resolvi ver, chorando como um bebê no final, tem filmes de romance e drama que eu não sinto a menor vontade de chorar, mas esse e Desejo e Reparação ganham de lavada de todos os outros. Eu não quis ser longa com a história, então resolvi escrevê-la dessa forma, como uma carta, que me pareceu a maneira mais bonita de contá-la ao invés do simples enredo comprido, onde contaria tudo detalhadamente. Não, assim me pareceu mais adequando, pois faria qualquer um tentar imaginar como foi toda a história do casal.
Está é a minha segunda fic finalizada no site, e como a primeira ( Savin'me) chorei na mesma intensidade, pois ambas relatam o assunto que mais me pega desprevenida: a morte de alguém que você realmente ama. Confesso que ainda não vivi nada parecido - o que eu espero que não, pois nunca estarei preparada para um sofrimento deste tamanho -, mas espero que, no dia que me apaixonar de verdade, essa pessoa me ame da mesma maneira, pois não desejo dor a ninguém. Não seria justo.
Vou terminar logo isso, antes que começe a chorar novamente rs. Esperando que vocês tenham gostado da história como eu gostei dela.
Beijos.
N/B:Se houver algum erro, seja de script, português ou ambos, não use a caixinha de comentários, nem envie um email para o site ou para a autora, envie diretamente a mim neste email, com o assunto "Erro" e, no corpo do email, o nome desta fic, com a(s) parte(s) erradas. Obrigada!
xx Kath