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Capítulo Um

22 de janeiro, 2008
New York


, uma menina pobre, de classe inferior, sempre lutou com seus estudos por um lugar melhor no mercado de trabalho, onde ela pudesse ter um nível de escolaridade maior e mais estruturado. Então fez um exame para o colégio mais caro e requisitado dos Estados Unidos, o colégio interno Renaissance Military School.
Era começo das férias escolares de verão, ela estudou durante sete meses para essa avaliação. Realizou-a e dois meses depois os resultados saíram. Ela teria que disputar a vaga com mais 300 jovens de classe médio-baixa e fez muitos amigos durante os grupos de estudos que se formaram. Ela gastou todo o dinheiro que economizou com a inscrição e não restava mais nada, a não ser esperar. Nos primeiros dias de fevereiro, os resultados sairiam e ela estava lá, cedo, muito cedo, vindo de longe para saber seu futuro. Abriram-se as portas do “Mice” (apelido dado ao colégio, por alunos) e lá estavam os resultados pregados numa borda elegante de ouro. Procurou desesperadamente seu nome e não o encontrou. Saiu chorando até um banco e logo depois escutou um grito por seu nome, do local onde estavam os resultados. Era Julio, seu amigo do grupo de estudo.
- , nós fomos aceitos, somos uns dos dez! Não acredito! – Gritava ele.
Incrédula, levantou-se com lágrimas no rosto. Julio compreendeu sua confusão, apontando para o local onde seu nome estava elegantemente escrito e lá estava: “ foi aceita”. Ela deu pulos de alegria, correndo pelos corredores e gritou:
- Julio, que maravilha! Esse é nosso resultado e o nosso esforço foi provado aí! Não acredito – ofegava ela.
- Sim, . Este não é o último dia que nos vemos, eu lhe disse, nós fomos aceitos. Parabéns para nós, então.
- Claro, Julio, daqui a um mês estaremos aqui, com nossos novos colegas... No futuro teremos possibilidades de ser alguém, eu não acredito! – falava ela, contente, ainda sem se dar conta de que foi aceita.
- Tenho que ir, nos vemos daqui um mês, obrigado por tudo – disse Julio sorrindo e saiu feliz. - Tchau, obrigada – gritou .
pegou o metrô correndo e foi para a pensão, onde havia alugado uma peça de quarto para poder ir aos grupos de estudos e esperar as aulas particulares que pagava, trabalhando na Starbucks no centro da cidade.
Alguns alunos selecionados teriam um treinamento para serem monitores e morar em cabanas separadas, um luxo. Era feito para alunos ricos também, na lista de nomes estavam vários e só ela, dos alunos que entraram com bolsa, foi escolhida. Aquilo era uma alegria só. Na lista constavam alguns nomes que ela memorizou: “ , Knowles, , Gucci, Garcia , etc.”. Ela sabia que eram nomes conhecidos, filhos de donos das marcas mais famosas do mundo, mas estava lá para estudar e esse era o seu objetivo.
A menina caiu no sono naquela noite, pensando no dia seguinte e no treinamento com os “ricos mimados”. Ela aguentaria aquilo por tudo que lutou e acreditava que dias melhores viriam.

02 de fevereiro, 2008

- Arrume suas coisas, . Agora! – disse o pai de , quando passou rapidamente pela porta do quarto da garota.
- Já vou! – ela gritou relutante. Levantou-se, abriu as cortinas e sentou olhando para as malas que Consuelo, a governanta, havia preparado para sua partida.

11 de julho, 1998
Melborne


- Filha, liga o rádio.
- Claro, mãe – disse , ligando-o. Tocava, animadamente, Vanessa Carlton em uma das estações.
Depois do feriado de 4 de julho, e sua mãe voltavam da casa de praia na costa da Austrália, em Melborne. Sua mãe dirigia o carro e flutuava sob a rodovia. Elas estavam indo em direção ao aeroporto para embarcar no vôo de volta para New York. O pai de voltou alguns dias mais cedo, pois tinha alguns compromissos e os Estados Unidos enfrentava uma crise econômica baixa, porém, ele sempre tomava muito cuidado com suas ações.
Elas cantavam alegremente a música que contagiava o interior do carro. admirava a mãe que sorria e cantava algumas palavras da música, enquanto olhava a estrada a frente. O que aconteceu depois... Foi rápido demais. Um barulho forte, uma dor intensa e algumas sirenes. tinha quatro anos e sua mãe trinta. Eram como unha e carne, faziam passeios maravilhosos e cuidavam uma da outra. O pai de , Evandro , as amava muito. Eram suas maiores preciosidades e todo o momento em que ele podia estar presente, ele estava.
acordou sobre uma cama confortável, mas seu rosto latejava e havia uma máquina irritante que dava pequenos bips. Tudo era tão branco e limpo, porém ela ficou com medo. Tentava lembrar-se do que havia acontecido e não conseguia. Alguns minutos depois, uma moça com um jaleco branco entrou no lugar, a examinou e foi correndo chamar alguém.
- , minha querida! Você acordou! – Gritou Consuelo. queria que seu pai e sua mãe estivessem ali, mas nenhum dos dois apareceu.
- O que aconteceu, Consu? – perguntou a menina, assustada.
- Então, minha querida... Sua mãe foi para o céu junto com os anjinhos...

02 de fevereiro, 2008
New York


Depois daquele acidente, a vida de nunca foi a mesma. O pai a tratava como um animal e vivia como um fantasma que se escondia na mansão em que viviam, no norte de New York City. A garota sentia a falta da mãe constantemente, mas já tinha quinze anos e havia escutado poucas e boas do pai, que apelidara de pai-monstro.
Uma noite ele a chamou de “assassina”, na outra “destruidora de sonhos”, nas outras variava entre “garota dos infernos” e “eu te odeio”. No começo foi tão difícil pra ela, mas depois se acostumou e a única pessoa em quem confiava plenamente era em Consuelo, sua governanta.
- Consu, você acha que eu vou ficar bem na Mice? Eu serei monitora e morarei com um menino, vai ser tão diferente! – a menina falou rápido, enquanto se arrumava para o primeiro dia de aula no internato.
- Claro, meu amor. Você é muito sociável e, até que enfim, terá uma oportunidade de viver realmente. Eu gosto muito de seu pai, mas você não merece isso, – Consuelo confessou à .
- Eu sei, Consu, mas eu não quero pensar nisso. Quero que ele fique bem e me deixe em paz. Aliás, marque logo uma consulta para mim na estética.

Evandro, o pai-monstro, acusava de ser a culpada por matar o amor de sua vida, de matar a própria mãe. E quando as coisas fugiam do controle, ele batia nela. Ele a queimava com cigarro, dava tapas em seu rosto, puxava suas orelhas e a beliscava os braços. Ela não suportava mais as agressões. Perdeu as contas de quantas vezes foi à estética para apagar as marcas de tudo o que ele a fazia.
Ela se sentia forte, mas não sabia quando esse pesadelo acabaria.

Capítulo Dois

03 de fevereiro, 2008
Em uma parte isolada e afastada do centro de New York


No dia seguinte, os monitores chegaram ao colégio todos com seus choferes e carros de alta classe. Eram dez, cinco meninas e cinco meninos, com cinco cabanas. Dois pra cada, misturado. A lista com cada casal estava na parede, em folha de papel grosso, elegante, com borda dupla, que continha as informações de cada um deles, mas estava tapada.
Eles se sentaram em bancos no saguão, com malas e infinitas malas, as meninas ricas todas maquiadas, com caras emburradas. era a mais simples, mas estava radiante porque gostava de conhecer pessoas diferentes. Notou que a única que sorriu para ela foi , conhecida por seu temperamento frágil e seu pai extremamente rico. Naquela sala enorme estavam os dois herdeiros mais ricos dos Estados Unidos, e . A diretora entrou na sala, destapou a folha e desprendeu-a do mural.
- Bem-vindos alunos, sou a Senhora Professora Natasha, a diretora nos próximos quatro anos que vocês passarão neste local. Apresentei-me, agora são vocês – ela sorriu, era uma mulher simpática, de aproximadamente cinquenta anos, com uma aparência jovem para sua idade, elegante e usava roupas formais. Um dos meninos se levantou de boa vontade e disse:
- Oi, meu nome é Gucci, herdeiro da Companhia Gucci. – em uma série surgiram vários outros se levantando um a um e se apresentando.
- Meu nome é , mas podem me chamar de e sou filha de Gregório . Prazer. constatou que era a mais simpática de todas as outras quatro meninas. , , Pedro, Lucas, Alyssa, Melinda, Bernardo, que se apresentou como Ber, todos se apresentaram, só faltava , então ela levantou-se e disse:
- Olá, meu nome é e sou bolsista, muito prazer, colegas.
foi à única que se manifestou quanto a isso, pois todos, com exceção de , se entreolharam e ficaram espantados. levantou-se e disse:
- Prazer. Gente, e mais uma coisa, gostaria de conhecer meu colega de cabana, sim?
Em um gesto de agradecimento, olhou para sorriu significativamente e ela piscou em reconhecimento, percebeu e sorriu, sem que ninguém notasse.
- Sim, senhorita , irei lhes apresentar a formações no quadro nesse exato instante – então, a diretora levantou a folha e sorriu. – As duplas são mistas e, como todos sabem, monitores não trocam de quarto nos primeiros três meses, só em casos especiais.
Ela retirou a película que cobria a folha e sorriu. Um alvoroço começou, parecia uma manada de elefantes.

e – 103
e – 104
e Pedro – 105
Alyssa e Bernardo – 106
Melinda e Lucas – 107


Esse era o simples conteúdo da folha. Um olhava o outro. Já estavam todos nervosos para sair dali, conhecer as cabanas e seu par.
- Por favor, alunos, dirijam-se as suas respectivas cabanas, descarreguem suas malas e acomodem-se. Em cada cabana tem um mural, lá haverá uma carta, leiam e façam o que informamos, sejam bem-vindos novamente – a diretora apontou para um corredor com uma porta grande no fundo do saguão e todos a seguiram.
A luz do sol brilhou quando todos saíram do saguão para se deparar com um lugar muito, muito grande mesmo. Com muitas árvores, quatro prédios imensos e em uma área reservada que havia cinco cabanas-padrão lindas por fora, elegantes e iluminadas, mesmo àquela hora da manhã. Ela os liberou e todos saíram correndo para conhecer o lugar.

Xxxx


03 de fevereiro, 2008
Mice



Cada cabana era dividida por um jardim, onde havia uma fonte no centro do espaço das cinco, com bancos de pedra em sua volta. Para chegar a cabana, havia caminhos feitos de cimento em forma de onda até cada uma e eles nasciam da fonte. Era magnífico.
Então, peguei minhas malas e andei até a cabana que indicava o número 103 ao lado da porta. estava atrás de mim, calado, seguindo meus passos. Vi pelo canto do olho que os outros faziam a mesma coisa. Eu estava mais lenta que todos, que estavam agitados e não conseguiam colocar a chave na fechadura com ansiedade. No lado de fora, uma varanda em volta de toda a cabana, com um telhado de madeira, muito elegante, mas simples ao mesmo tempo. Nela, havia balanços, bancos e uma mesinha, e em cima dela, existiam duas chaves exatamente iguais. Alcancei uma das cópias para , dei um sorriso maroto e virei para abrir a porta da minha nova casa simples, por três anos.
Assim que o fiz, me surpreendi com o que havia dentro e escutei hesitando atrás de mim, ao ver o interior luxuoso daquela cabana simples por fora. Dentro havia duas camas de solteiro enormes, de lados opostos, na ponta de cada cama estavam duas escrivaninhas, com computadores da mais alta tecnologia. Papéis, canetas, livros didáticos, tudo para se estudar. Nos pés da cama havia baús grandes e arrojados. As camas estavam cobertas por lençóis de seda claros, o piso era de madeira falsa e as paredes de tons diferentes e muito belos. Sobre as camas estavam várias mudas de uniformes e alguns formulários de conduta.
- Oi, , prazer, desculpe não lhe cumprimentar anteriormente, estava curiosa para ver a cabana.
- Olá, , digo o mesmo, muito prazer.
- Me chame de , é muito formal – nós dois rimos e naquele instante, constatei que ele seria uma pessoa fácil de conviver.
- Vamos ver o resto da cabana, o que será que há na parte de trás? – ele fez uma cara de nervoso e nós rimos novamente. A primeira impressão que tive: simpático.
Então eu o segui, por um corredor curto, de um lado havia dois banheiros com banheira de hidromassagem, os dois eram enormes e revestidos de azulejos brancos com detalhes em um tom pastel. No lado de fora dos banheiros, havia uma mesa para seis lugares, grande, com um lustre de cristal sobre ela. Um balcão de canto a canto, fechava uma parte e definia a cozinha, que eu amei. Era diferente, temática, retro. A geladeira era vermelha, grande, mas parecia ser último modelo, o microondas do mesmo modelo e cor, tudo combinava e fazia a cozinha ser chamada “anos sessenta”. Na copa, havia um som antigo, daqueles que escolhemos os discos.
- Nossa! Adorei esta parte da cabana! É menor, gosto disso... É mais aconchegante. Minha casa é imensa e a maioria das coisas é automática. Gosto dessa simplicidade com luxo – eu disse.
- É verdade, , teremos bons cafés da manhã – ele estava na cozinha abrindo um armário cheio de pães, bolos, café em pó. – Quanta coisa!
- Vou confessar uma coisa... Não sei cozinhar nada.
- Eu sei algumas coisas que vi na televisão em meus tempos livres, podemos pedir alguns livros de culinária – nós rimos, pois ninguém sabia preparar nada direito.
- Comer pronto é uma opção também – eu disse.
- Estamos esquecendo alguma coisa...
- O bilhete do quadro, no hall – lembrei-o.
Dirigimo-nos até a entrada e lá havia um mural gigantesco, com vários imãs e uma carta somente, ele pegou-a e leu para mim:
- Sejam bem-vindos, alunos! Convidamos todos para uma fogueira de apresentação nesta noite. Dirijam-se às 20h para a parte leste do pátio. Obrigado.
- Nossa, já temos compromissos.
- Conturbado. Estou cansado, , vou desfazer as malas – ele disse.
- Eu também, parece que não vamos descansar muito.
Coloquei a mala rosa, que comprei dois dias antes, em cima da cama e coloquei todas as roupas dobradas dentro das gavetas e cabides do armário. Nesta hora agradeci à Consuelo por ter dobrado tudo, pois insisti antes de sair de casa que não precisava dobrar nada. Sorri ao lembrar-me da minha governanta amável e sensível que sempre me ajudou com meu pai problemático. Descarreguei tudo, olhei no relógio da escrivaninha e já eram sete horas. Corri, peguei uma muda de roupas bem leve e entrei no banheiro. O chuveiro era quente e me fez relaxar. Enquanto tomava meu banho, comecei a pensar nas pessoas que eu vi ali naquela tarde. Sentia-me tão independente, sem fotógrafos por perto, pessoas que tinham o mesmo dinheiro que eu e não eram interesseiras.
Um pensamento me pegou: , meu colega de quarto pareceu ser simpático e quieto, seria uma boa pessoa pra se conviver? Ele era lindo, tinha o cabelo castanho claro, olhos claros, pele tabaco e um sorriso rosinha, era um deus grego. Tentei não pensar nisso, pensei em , a menina da bolsa de estudos, que me pareceu assustada e querida. Gostaria de revê-la esta noite, mas não sabia se estaria lá. Meu banho tinha chegado ao fim, por mais que tentasse prolongá-lo. Queria curtir minha liberdade, na minha casa nova, com pessoas desconhecidas que vou aprender a conviver por três anos. Pensei em meu pai, será que tudo que eu vivia desde a morte de minha mãe continuaria a existir no colégio? Eu não sabia, mas olhei as marcas no meu braço e me reprimi, precisava visitar minha médica e seu laser, novamente.
Vesti-me, colocando as roupas vagarosamente, penteei o cabelo, apliquei uma maquiagem básica, pois não era muito boa em fazer as coisas sozinhas. Pensei em meu cabelo, liso feito seda, que era ótimo, pois não precisava me preocupar em chapinhas ou tratamentos. Quando saí, vi na mesa, me esperando. Corei, não esperava que ele ainda estivesse ali.
- Desculpe a demora, não precisava ter esperado – eu disse.
- , você está linda. Vamos? – Ele disse, ignorando minhas desculpas, que eram inúteis. Ele esperava determinado por mim. Talvez por não querer ir sozinho até a fogueira.
- Obrigado – corei. – Vamos sim.
Andamos até a porta, fechando-a e quando saímos, as luzes estavam acesas, já anoitecera e estava tudo iluminado por milhares de postes, por todo o campus. Seguimos duas pessoas que não identifiquei de primeira, mas depois vi que eram e , os donos da cabana ao lado. Eles andavam como nós em direção ao encontro dos professores. olhou para trás e sorriu, aquilo me deixou feliz. Muito feliz, ela cutucou seu colega e ele virou, olhou para o e para mim, dizendo:
- Ei, vamos juntos! - chamou.
Nós nos juntamos a eles e estávamos nos dando bem, era bem diferente do que eu pensava que seria. Olhei para , que me olhou esperançosa, os meninos estavam conversando e falando coisas aleatórias e nós duas rimos bastante com eles. Eu estava admirando , ele era diferente de tudo o que falavam, aliás, todos eram diferentes. Caminhando, chegamos abaixo de um arco escrito: “Listen to the Music”. Logo avistamos mais duas pessoas e um conselho de cinco professores e a diretora, sentados em um tronco, como bancos. A fogueira lampejava faíscas, eu olhei encantada e percebi que não fui só eu que tive essa reação.
e passaram pelo arco e logo depois eu passei, e enquanto caminhava eu olhei para trás e percebi que me analisava e sorria. Eu corei e virei o rosto antes que ele pudesse notar que eu percebi a sua análise.

Capítulo betado por Thais M.



Capítulo Três
Mice

Os professores pediram que nós nos acomodássemos no bancos estilo troncos-de-árvore-cortados. sentou ao meu lado e sentou no outro. Ficamos observando a fogueira que irradiava calor e brilhava jorrando suas faíscas. Era algo lindo de se ver.
- Boa noite, monitores. Eu sou o professor do ano passado de música. Eu estou me aposentando esse ano, mas antes recebi um convite para trazer pra vocês essa banda que faz alguns covers incríveis no YouTube.
Nós batemos palmas e esperamos que eles sentassem em um banco comprido de madeira. A banda era constituída por uma menina e quatro garotos. A menina não tinha nada nas mãos e presumi que ela fosse a vocalista. Os meninos seguravam um violão, um baixo e uma caixa como se fosse um tambor, respectivamente.
- Boa noite, meu nome é Megan e nós vamos embalar a noite de vocês. Estamos muito felizes pelo convite. Eu estudei aqui quatro anos atrás e foi a melhor escolha que eu tomei na minha vida. Conheci meus melhores amigos e meus companheiros de banda.
- E aí pessoal? Meu nome é Trevor, estes são Heitor e Antônio – ele apontou para o menino do baixo e depois para o menino do tambor. – Agora nós vamos tocar para vocês. Espero que vocês gostem e aproveitem. A primeira música que vamos tocar é Wild Horses da Natasha Bedingfield.

I feel these four walls closing in
Eu sinto essas quatro paredes que me rodeiam
Face up against the glass
Meu rosto contra o copo
I'm looking out
Estou observando
Is this my life I'm wondering
Esta é a minha vida, estou desejando saber
It happened so fast
Aconteceu tão rápido
How do I turn this thing around
Como eu viro essa coisa de volta
Is this the bed I chose to make
Esta é a aposta que escolhi fazer
There's greener pastures I'm thinking about
Estou pensando sobre estes pastos verdejantes
Wide open spaces far away
Espaços escancarados bem longe

All I want is the wind in my hair
Tudo o que eu quero é o vento no meu cabelo
To face the fear, but not feel scared
Encarar o vento, mas não ter medo
Wild horses I wanna be like you

Cavalos Selvagens, eu quero ser igual vocês
Throwing caution to the wind, I'll run free too
Jogando a precaução para o vento, eu correrei livre também
Wish I could recklessly love like I'm longing to
Queria poder amar impulsivamente, como eu desejo também
I wanna run with the wild horses
Correr com os cavalos selvagens
Run with the wild horses
Correr com os cavalos selvagens

Eu sentia as lágrimas prontas para caírem, prontas pra se libertarem. Mas a única que precisava ser libertada era eu. Eu estava cansada de lágrimas, de quatro paredes, de comodidade e de sofrimento. Eu queria viver mais do que intensamente. Queria ser a realização da música. Eu não queria que o medo me pertencesse.
segurou a minha mão calmamente, eu o encarei, mas ele continuava a observar a banda tocar aquela música. Aquilo foi um tanto estranho, mas eu não conseguia parar de observá-lo. Até que enfim ele me olhou e sorriu. Simplesmente levantou a mão livre e secou uma lágrima pequena. Como ele sabia disso? Como ele sabia do que eu precisava?
Resolvi voltar a escutar o fim da canção e esquecer um pouquinho as minhas dores. Afinal nem tudo é tão horrível assim, às vezes me sentia uma protagonista de novela mexicana, e o pior? Quem me colocava nessa situação era eu mesma.
As músicas continuavam a tocar pela banda, eles tocaram mais umas quatro músicas e depois agradeceram.
- Pessoal, agora vocês podem conversar, se conhecer. Daqui a uma meia hora voltem aos seus lugares, pois teremos a segunda parte da noite. A melhor parte. E se despeçam da banda... Eles vão tocar em um pub no centro de New York – ele fez um biquinho e sorriu logo depois.
Os monitores começaram a levantar. puxou minha mãe até a sua boca e beijou-a carinhosamente. Sorriu para mim, levantou-se puxando consigo. Eu e continuamos no mesmo lugar, olhando a crepitante fogueira.
- Eu os adorei – falou.
- Eu também, são muito talentosos e o repertório foi bem... Bonito – tentei disfarçar, mas o que eu realmente queria falar era “forte”.
- Com certeza. Então, , o que você está achando do lugar, do , dos monitores, da cabana?
- Pelo visto você está bem animada, não? – Nós rimos. Foi fofo. – Do ? Como assim? Foi normal, não nos falamos muito, pois ficamos guardando nossas coisas. E me chame de , por favor. Os monitores eu, por enquanto, só falei com você, o e o , e eu gostei muito de vocês. A cabana é linda, morri com todos aqueles móveis.
- É verdade, que coisas lindas.
- Faço as mesmas perguntas, .
- Então... Eu não guardei absolutamente nada na minha cabana nem o . Nós ficamos conversando e depois fomos tomar banho.
- Juntos? – Eu fiz cara de tarada e nós caímos na gargalhada.
- Claro que não, sua louca. Você entendeu.
- Rolou clima, rolou clima, rolou clima – comecei a cantarolar e se fez de desentendida.
- Shiu! Fica quieta, . Estou frita se ele escuta isso – ela riu. – Mudando de assunto, também só falei com vocês e tenho uma leve impressão de que seremos bem amigos.
- Uau! Temos alguém que prevê o futuro. Eu vou me casar? – Fiz careta e estendi a palma da minha mão, dando a entender que ela deveria lê-la.
- Bobalhona. Claro que não. É só um pressentimento. Dãr.

Eu e a minha nova amiga, , ficamos conversando durante a meia hora determinada pelo professor. Falamos bobagens e ficamos contando nossas vidas. Os cinco garotos monitores se reuniram e lançavam um papo animado sobre bobagens do outro lado da fogueira. No banco em que a banda havia cantado estavam , Alyssa e Melinda fofocando do mesmo jeito que eu e . Não gostei muito daquilo, não. Achei meio que uma divisão de grupos. Por que será que os meninos estavam todos juntos e as meninas haviam formado dois grupinhos? Quando eu assistia os seriados na televisão, era assim que as meninas se tratavam nos colégios.
- Eu não fui com a cara da disse com expressão de desgosto.
- Você é das minhas! Somos duas! – Eu falei rindo.
- Temos muito em comum, então.
- Voltem aos seus lugares, por favor – o professor quase aposentado pronunciou alto para que todos escutassem.
- Ah! – Todos os meninos disseram desanimadamente.
- Sem “ah” nem “eba”. Voltem agora! – O professor falou brincando com os garotos, mas os meninos voltaram.
sentou ao meu lado, mais perto do que antes. Seu corpo colado de lado ao meu. Arrepios não faltaram. Eu queria tocar sua pele macia, queria sentir seus braços em minha volta. “Que isso, ? Volta pra cá? O que você pensa que está fazendo?”, eu pensei.
- Você está melhor? – sussurrou em meu ouvido. Sua respiração batia na minha bochecha. “Chegue mais perto”, eu desejei cruelmente.
- Melhor de quê, ? Eu não tenho absolutamente nada – falei rispidamente, aterrorizando a minha mente por pensar aquelas bobagens.
- Que pena, pois eu poderia fazer você ficar melhor – ele sussurrou quente. “O que foi isso?”, eu me perguntei mentalmente. Não sabendo se havia gostado ou não. Só sabia que foi absurdamente sexy e que eu tive vontade de beijá-lo.
- Não, não, eu estou bem. Obrigada – eu disse e me afastei rapidamente do corpo de .
- Tudo bem, é você quem sabe... – Ele disse e bateu as mãos nos joelhos voltando a se aproximar de mim. – , eu não mordo... – Ele voltou a sussurra em meu ouvido. – Não mordo, se você não quiser.
- Para com isso, . Você está louco? – “Deus, o que ele está fazendo?” Eu o queria, mas só havia passado algumas horas com ele. Que loucura! Não me afastei como havia feito antes, porém fiquei quieta e olhei para o professor que se preparava para falar.
- Luzes! – O professor falou e as luzes do local foram apagadas. “Ótimo, professor. Bem conveniente com esse louco do meu lado. Querendo me morder?”

xxxx


Só as luzes da fogueira que iluminavam os rostos que sorriam em volta da fogueira. Estavam todos em silêncio, os dez monitores, o professor quase aposentado e a diretora. O professor jogou um pó na fogueira que fez com que as chamas diminuíssem.
- Hoje eu estou aqui pra falar sobre “A Lenda da Fonte”. Você gostaria de começar, Diretora?
- Não, professor. Você é melhor em contar essa história, prossiga, por favor...
- Tudo bem. Pois bem – o silêncio tomou conta do lugar e as pessoas prestavam atenção, com seus olhos apertados ansiadas por ouvir mais -, alguns bons anos atrás houve uma geração revolucionária na Mice. Os números de monitores era bem menor do que hoje em dia e só havia dois casais em duas cabanas – o professor contava em um tom de suspense.
- Evandro e Sophie ... – O coração de disparou e todos a encaravam, menos que continuo olhando pra frente. – Os dois queriam que a Mice fosse menos autoritária e que os alunos, que não tivessem condições de estudar aqui, pudessem ganhar bolsas. Hoje em dia nós temos bolsistas aqui por causa destes dois malucos. Eu fui monitor com esse casal. Eles se amavam demais e faziam tudo juntos. Um dia a Diretora chegou para eles e disse que se eles não parassem de anarquizar, eles seriam expulsos. Mas para eles aquilo não era anarquia, era expressão, eram apenas direitos que eles defendiam. No meio de uma noite eles bateram em minha cabana e propuseram que construíssemos uma fonte no meio do pátio dos monitores.
- Planejamos tudo por muito tempo, trouxemos o material com muito esforço e escondemos na floresta. Até que um dia resolvemos construí-la e foi isso que fizemos. Em uma noite nós conseguimos que a fonte funcionasse e que expressasse tudo o que sentíamos. Na fonte nós escrevemos cada um uma frase que representasse o que quer que seja, mas escrevemos. Foi um ato muito rebelde aos olhos do conselho da Mice. Fomos expulsos. Depois disso eu perdi contato com os dois. Mas hoje, quando eu vi a – ele apontou pra mim e meu coração apertou. Eu já não aguentava mais segurá-las, mas as pessoas não paravam de me olhar. Eu odiava quando me olhavam.
- Não entendi, professor. Qual é a moral da história? – Melissa perguntou.
- Depois que eu saí da Mice, alguns anos depois para ser mais preciso, eu encontrei o Evandro. Ele sorriu pra mim e nós conversamos por muito tempo. Ele disse que teria uma filha. Ele estava tão feliz... – se contorcia e sentiu que ela iria desabar. – No ano seguinte eu encontrei minha parceira de cabana e ela me contou que a Mice já não era mais a mesma depois do que fizemos. Abriram vagas para bolsistas e o número de monitores era maior. O que eu quero dizer é que vocês serão a nova geração da Mice pelos próximos três anos aqui. Aproveitem tudo ao máximo, esse colégio, e eu não sei o porquê, é muito intenso. Deixem marcas na história deste lugar. Não estou dizendo para derrubarem muros ou destruírem o refeitório... Pelo contrário, peço que vocês deixem a Mice marcar vocês.
As pessoas batiam palmas e comentavam sobre a história. Alguns monitores já haviam ido embora, inclusive e . estava acabada. Queria chorar, queria ir embora. Quem aquele professor achava que era para falar sobre sua família? Como ele pode dizer que Evandro-pai-monstro estava feliz? Ele nunca foi feliz, era um hipócrita que destruiu a vida da garota. Ela não aguentava mais. Ela estava sentada ao lado de e os dois não se mexeram nem um centímetro. Por fim as lágrimas caíram e ela não conseguiu resistir, mesmo depois de se irritar com a atitude anterior do garoto, e acabou se deixando levar... Deitou sua cabeça no ombro de que hesitou um pouco, mas logo passou o braço pelas costas da menina e a abraçou ternamente.
- Vamos? – Ele perguntou.
- Por favor – ela sussurrou fraco.
Ele levantou cuidadosamente e estendeu a mão para que ela pegasse. Ela pegou e ele a puxou até ela ficar de pé, mas as mãos continuavam unidas durante o percurso da fogueira até a cabana. Mas antes eles passaram pela fonte. soltou a mão do menino e foi até lá, abaixou-se e leu as frases que estavam escritas. As frases estavam escritas em gesso.

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Por Anna.”
Deve ser a colega de cabana do professor aposentado.
“Ó beleza! Onde está tua verdade? Por Julio”
Deve ser o professor aposentado. “A vida é maravilhosa se não se tem medo dela. Por .” “As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem. Por Sophie.”

As lágrimas voltaram a habitar o rosto de . Que hipocrisia! Que ridículo. A raiva era inexplicável. Ela queria que aquela noite não existisse nem a Mice, muito menos Evandro.
- Você está bem? – flexionou os joelhos e desceu, ficou na altura de que agora estava sentada no chão com as costas escoradas na fonte.
- Vai embora! Você já me viu chorar o bastante por hoje.
- Não tenho nada melhor pra fazer. Mesmo.
- O que você quer, ?
- O que eu quero, ? Seus ouvidos não podem escutar. O que eu quero, só seu corpo pode sentir – ele falou calmamente como se aquilo fosse “normal”.
- Eu quero que você morra com essas suas indiretas diretas. Eu quero que você saiba que eu não acredito no amor, não acredito nas pessoas, eu quero que você saiba que eu entrei aqui querendo sair ou querendo morrer... Whatever, não faz muito diferença.
- Eu entrei aqui, , querendo absolutamente nada. Agora eu quero mudar essa sua opinião imbecil.
- Imbecil é você que acha que me conhece!
- Mostrarei quem é o imbecil nessa história. Espera pra ver, . Espere – ele saiu gritando e foi pra cabana. observou a cena de longe até a porta da sua cabana se fechar.

xxxx


A garota dormiu no chão, foi acordar às seis horas da manhã quando os primeiros sinais de luz solar começaram a surgir no céu. Foi pra sua cabana, mas não tinha a chave. Ficou batendo na porta incessantemente, até que conseguiu com o mau humor de acordasse e levasse o corpo do menino até a porta.
- Filha da puta, me deixa dormir! – Ele disse pra ela. Tudo aconteceu tão rápido, ela estava com dor e só queria algo quente, pois estava tremendo e queria chorar de novo. Mas ele não facilitou. Ofendeu sua mãe e ainda foi grosso. Ela lhe deu um tapa bem dado na cara.
- O que você pensa que fez? Idiota! – Ele xingou bravíssimo.
- Me deixa entrar, seu idiota. Eu estou morrendo de frio e você ofendeu a minha mãe – o lábio inferior da menina tremeu e ela sabia o quê isso significada: Chorar.
- Entra – ele disse tirando o corpo da frente.
- Desculpe-me, . Por ontem e por hoje, eu estou muito triste e estou descontando em você.
- Pelo menos é em mim e não nos outros. Mas você me deve uma e eu vou cobrar. Agora vai dormir – ele empurrou a menina até a cama e ela se deitou, ele a cobriu e depositou um beijo na testa. Ela fechou os olhos sentou na beirada da cama e pôs a mão na cintura da menina. Ela continuou de olhos fechados.

Lights will guide you home
Luzes vão te guiar até em casa
And ignite your bones
E aquecer teus ossos
I will try to fix you
Eu tentarei, consertar você

Ele cantou baixinho. aproveitou para ouvir cada palavra da música, ela amou. Achou lindo. Achou fofo. Seu coração aqueceu rápido e um sorriso subiu a superfície, com dificuldade, mas subiu. Ela abriu os olhos e olhou para seu rosto pleno e lindo.
- Que lindo. Que música é essa, ?
- Fix You, Coldplay.
- Por que você cantou ela?
- Sabe qual é o seu problema ? Você quer saber sempre um porque, onde, quando, como. Mas você já parou pra pensar que nem tudo tem uma explicação? Durma bem.
levantou e desligou a luz da cabana. não sabia o que falar. Ela não entendeu por qual razão ele ficou daquele jeito. O que foi aquilo? Mas, mesmo assim, ela o ouviu cantar e a última pessoa que cantou pra ela foi sua mãe. Não conseguia parar de sorrir. E assim ela dormiu...

Capítulo Quatro

Mice
09 de fevereiro, 2008


A semana passou rapidamente. Os professores e o conselho da Mice solicitava o tempo todos os monitores, eles nunca paravam. Quase nunca se viam e quando os eventos, aulas, preparações, atividades eram em conjunto, eles não podiam conversar ou se trocassem uma simples palavra, perdiam as informações necessárias.
Os alunos do currículo – os quatro prédios que iriam abrigar os alunos “cursistas”, ou seja, aqueles que não eram monitores – chegariam no dia seguinte e os monitores já não aguentavam mais as aulas de orientação. O papel dos monitores era simplesmente cuidar do espaço em que estavam, seja na sala de aula, no refeitório e no pátio. Eles simplesmente não faziam nada, mas na cabeça dos alunos, os monitores eram uma figura autoritária e que exigia respeito. Os monitores e os alunos se misturavam muito pouco, por isso o fato de que os monitores eram bem mais unidos.
estava sentada em sua classe na pequena sala de orientação que durante o ano se tornava sala de detenção e, acredite, a sala era usada muito frequentemente pelos alunos cursistas. Até contrataram uma professora para cuidar dos alunos em detenção.
- Psiu! – chamou .
- O que é? – sussurrou. lhe passou um pequeno pedaço de papel.
Na verdade não era um pequeno pedaço de papel, era uma folha A4 bem dobrada. desdobrou aquilo e leu. “O que vocês acham, de fazermos uma última noite da Mice sendo só nossa? Hoje à noite na fogueira, pedi autorização para a diretora e comprei coisas para que pudéssemos comemorar. Quem vai? Ass.: Pedro.” leu as assinaturas, a dela era a última que faltava. Ela assinou e passou para Melissa que passou para Pedro discretamente. Pedro leu e sorriu, guardando a folha no caderno.
- Monitores, eu sei que vocês vão fazer uma festa esta noite, mas não exagerem, pois amanhã vocês terão que subir no palco na frente de todos e apresentarem-se formalmente à todos os alunos cursistas no auditório – a Diretora disse.
- Ah, Diretora! Temos mesmo que fazer isso? – Pedro resmungou.
- Sim. Como você quer interagir com os alunos senão fizer uma apresentação?
- Fazendo uma festa! – Pedro gritou e todos os monitores riram.

Xxxx


e quase não se falaram na semana em que se passou depois que ele cantou para ela. O clima ficou estranho. Ele cozinhava e a chamava. Depois das atividades cada um ia para seu banheiro, fazia o que tinha pra fazer e iam dormir. estava ficando cansada disso, dessa distância. Sentia falta de quando ele conseguia decifrar ela, mesmo que eles tenham passado poucas horas juntos. Foram horas bem intensas. resolveu acabar com durante a tarde, pois os monitores seriam liberados para poderem descansar para o dia seguinte e até mesmo para as garotas se arrumarem para a “Última noite de Mice só nossa”.
Os monitores haviam almoçado todos juntos e se dirigiam as suas cabanas para dormir, assistirem televisão ou fazer qualquer coisa até o horário da festa organizada por Pedro. andava atrás de , eles subiram as escadas e abriu a porta, deixou aberta para que entrasse e foi logo se jogar em sua cama. “Como começar uma conversa com ele?”, ela pensou.
- Quer dormir comigo, ? – Ele perguntou. Ela esqueceu até o que estava começando e enrubesceu.
- O que você disse?
- Foi isso mesmo o que você ouviu. , eu não estou pedindo pra você transar comigo, imbecil. Só estou dizendo pra dormir comigo, bem abraçada, colada ao meu corpo – ele se levantou e foi caminhando em sua direção, falando aquelas coisas pra ela. – Eu aquecendo você e você me aquecendo.
Ele parou de falar quando já estava a sua frente. Ela fechou os olhos e sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela imaginou tudo o que ele falou e pensou: “Sabe que não é uma má ideia?” Mas logo acordou de sua luxúria e o encarou.
- Acho que isso não será certo, .
- Como se eu ligasse pra isso.
- Mas eu ligo.
- ... – ele ficou de joelhos e colocou as mãos nos joelhos da menina. Quando ele fixou os olhos na menina, ela sentiu que ele conseguia captar sua alma em um piscar. – Eu ainda vou conseguir derrubar todas as suas barreiras, todos os seus medos e, então, você vai desejar nunca ter dito não pra mim.
- Eu não disse não. Eu disse que não está certo.
- E isso significa?
- Que você é um idiota que fala essas coisas sem nem me conhecer – ela falou. Se pudesse fugir naquele momento, ela não fugiria.
- Um idiota, sim. Que não te conhece, não. Eu te conheço.
- Prove – ela disse. “, , não provoca que vai piorar”, ela pensou, mas já havia feito a burrada. Ele levantou e fez com que a garota o acompanhasse, colando seus corpos.
- Antes de dormir você se pergunta como alguém como o idiota do consegue mexer tanto com você – ele disse fixado em seus olhos e a cinco centímetros de distância. – Você quer tanto que eu beije você agora, mas isso não acontecerá. Você gostou tanto de mim em poucas horas que quer enganar a si própria e você só consegue fazer isso me ignorando ou brigando.
- Cala a boca, . Você não sabe porra nenhuma da minha vida! Do que eu sinto ou deixo de sentir! Você não me conhece e eu quero que continue assim. Eu quero que você saia da minha frente agora! – gritou quase cuspindo na cara de . Ela estava possuída e sabia que tudo o que ele havia dito era verdade, por isso ela ficou tão brava. Mas ele ficou ainda mais com a reação da garota.
- Você é uma infeliz! Não consegue aproveitar absolutamente nada. Não há como alguém gostar de você, não há como eu gostar de você. Você não deixa. Se você quer sair, pode sair, pois o caminho está livre – observou e viu que bastava ela dar um passo para o lado e todo o contato acabaria. – Você fica assim, pois não sabe se defender.
- Acabou? – Ela perguntou com a cabeça baixa e ele saiu porta fora tão rápido como chegou ali. ficou ali, querendo bater no garoto, querendo agarra-lo e beijá-lo até que ele morresse por falta de ar. Ela queria tantas coisas daquele imbecil que mal a conhecia.

xxxx


Festa? Até parece. nunca iria nessa festa idiota do Pedro idiota onde o idiota do estaria comemorando sua idiotice. Simples assim. ligou a televisão em um programa bem bobinho de entrevistas e acabou pegando no sono. Acordou quando a porta da cabana foi fechada, mas ela não se moveu, pois o único que poderia ser era o e ela não queria vê-lo. Ela olhou para a televisão e estava passando um programa sobre mulheres que não sabiam que estavam grávidas, aliás, o nome do programa era “Eu não sabia que estava grávida”. Só uma mulher muito sem sentido não sabe que está grávida.
- Você não vai para a festa? – perguntou abatendo seus pensamentos sobre mulheres grávidas e que não sabem.
- Não. – Ela respondeu simplesmente, porém não foi ríspida.
- Isso se deve ao fato de que...?
- Eu não quero, simples assim.
- Tudo bem, curta essa sua noite patética – ele foi para a parte de trás da cabana, na cozinha. o seguiu.
- Agora é que eu vou mesmo!
saiu esbaforida da cozinha e foi direto para o banho. Lavou os cabelos calmamente, depois ficou brincando de caretas no espelho do banheiro e por fim saiu da banheira. Quando ela pisou no tapete ao lado da banheira, ela percebeu que não havia pegado nenhuma roupa. “A pressa é inimiga da perfeição”, ela pensou.
Ela enrolou a toalha no corpo e abriu o armário para pegar outra e, assim, prensar os cabelos na segunda. Saiu pé por pé do banheiro olhando para os lados pra ver se já tinha saído ou se estava na parte de trás. Como ela não viu ninguém saiu correndo em direção à cômoda. Quando chegou ao seu destino e abriu a primeira gaveta à procura de uma blusa dourada e perfeita, escutou passos vindos da cozinha.
- Como eu adoro essas suas pernas – ele falou debochadamente.
- Como eu adoro essa sua carinha depois que eu dou uma bofetada – ela falou mais debochada ainda.
Ele voltou calado para a cozinha. até estranhou o comportamento dele, esperava por algo como “vadia” ou “vá se catar”. Ignorou o sentimento estranho de compaixão e voltou a se vestir. Cinco minutos depois ela já havia se vestido e estava passando uma maquiagem básica. Arrumou os cabelos e pôs uma rasteirinha.
- Você está linda. Vamos? – Ele falou de uma forma “triste”?
- Está tudo bem?
- Sim, sim. Vamos logo.
Eles foram lado a lado até a festa. Todos os oito monitores já estavam lá, eles que foram os atrasados. sem hesitar foi direto ao encontro de e a abraçou. viu que foi ao encontro dos quatro garotos que esperavam ansiosos por contar algo pra ele.
- Preciso te contar uma coisa – e falaram juntas. E riram.
- Conta você primeiro – falou.
- Então, eu não te vi por muito tempo e quanto te vi não pude te falar nada. Mas lá vem... Eu e o estamos meio que “juntos” – ela desenhou aspas no ar com os dedos.
- Como. Assim. Conta. Mais. .
- Então, nós ficamos por muito tempo nos conhecendo e hoje, com esse tempo livre, aconteceu! Estávamos fazendo algo pra comer a tarde e ele me agarrou. Foi muito lindo e que pegada!
- , ! Sem detalhes sórdidos, por favor.
- Tá. E daí nós ficamos e ficamos, disse que eu só poderia contar pra você e eu disse que ele só poderia contar para o , pois são nossos amigos mais próximos.
- Ai, como vocês são fofos conosco!
- Nem me fale. Morri com tudo isso. Ai, não mereço isso!
- Claro que merece, ! Merece mais que todos esses riquinhos mimados, ainda mais com sua história e o tanto que você se esforçou pra estar aqui dentro da Mice.
- Own! – ela abraçou forte. – Mas me conta, amiga.
- Não é nada de mais, só queria saber se você leu as frases da fonte – mentira pura! queria contar sobre . Mas não conseguiu, não foi por falta de confiança, ela só não conseguiu.
- Li, que coisas lindas. A da sua mãe é a mais bonita e a do seu pai é incrível. Eles devem ser legais.
- , minha mãe morreu há muito tempo e eu tenho um péssimo relacionamento com o meu pai.
- Sério? Sinto muito.
- Tudo bem, amiga. Eu estou bem e isso já é passado. Não vamos falar disso, nunca mais. – Idiota! burra, agora ela nunca mais poderia falar sobre esse assunto com a e se ela precisasse?
- Como foi hoje? – perguntou. se sentiu meio estranha, achou aquela pergunta intencional, mas deveria ser coisa da sua cabeça.
- Normal, dormi a tarde toda – o que não deixa de ser verdade, porém ela teve vários momentos com .
se sentia sozinha, não conseguia contar nada a ninguém e a pessoa que ela mais contou coisa foi pro . Mas foi o que mais brigou com ela, o que mais mexeu com ela, o que mais se aproximou dela. A garota já havia namorado com Bruno, VJ da MTV. Ele era legal, mas o namoro foi arranjado por Evandro. Ele achava Bruno um ótimo partido e achou certo que os dois se envolvessem. De tanta pressão, cedeu e acabou ficando seis meses com Bruno. Eles nunca tiveram nenhuma relação sexual e muito menos afetiva. Bruno amava , mas não o amava. Era uma briga de gato e rato, onde não queria ser nenhum dos dois. Até que um dia ela se livrou dele.
Quando olhou para os seus colegas percebeu que caminha em sua direção. Olhou para os outros. e estavam se beijando. Melissa e Lucas não estavam mais no local da festa. Angélica e Pedro estavam abraçados conversando com Alyssa e Bernardo que estavam de mãos dadas.
- O que é isso? Meu Deus! – falou inconscientemente.
- Pois bem, me pergunto a mesma coisa. Só sobramos nós dois.
- É – falou sem jeito.
- Eu acabei de saber de outra lenda da Mice bem legal – falou.
- E qual é?
- Vem cá – puxou pela mão e eles caminharam até a fonte. Fora da vista dos outros monitores nem eles conseguiam ver a fogueira apagada. Eles sentaram nos bancos de gesso que foram feitos a volta da fonte lendária. – A história é muito simples.
- Desembucha!
- Ih, já começou!
- Desculpa. Conta logo, então.
- Tá bom. A lenda da Mice, que é mais antiga que a da fonte, diz que todos os casais de monitores namoraram.
- Você está me dizendo que se a lenda é verdade, eu e você vamos namorar?
- Exato.
- Cruz credo! Saí pra lá – levantou e saiu andando. foi mais rápido e a segurou pelo braço. Teve que fazer um pouco de força para trazê-la para os seus braços. Ele abraçou a menina. pôs as mãos no peito do garoto e o encarou.
- De hoje não passa.
- Eu não quero – ela disse de cabeça baixa. Ele segurou o queixo de e puxou seu rosto pra cima. Fazendo com que ela o encarasse novamente.
- Eu odeio quando você mente. Eu odeio quando você é tão durona, mas quando é pra falar de sentimentos você abaixa a cabeça e sussurra. Que medo é esse? – Ele perguntou de uma forma fofa, tentando entendê-la.
- Eu odeio quando você me obriga a fazer essas coisas, .
- Que coisas?
- Ficar tão perto.
- Você não gosta? – Ele chegou mais perto, impedindo que ela abaixasse a cabeça.
- Não é esse o caso...
- Responde – ele disse a interrompendo.
- Gosto, porra! – Ela falou braba e já ia sair, mas ele não permitiu.

I can be tough
Eu posso ser dura
I can be strong
Eu posso ser forte
But with you, It’s not like that at all
Mas com você, isso não é assim.

Ele cantava cada letra vagarosamente, despertando coisas.
- Porque você foge? – Ele perguntou ainda abraçado a ela.
- Eu não estou pronta ainda.
- Como você sabe?

There's a girl
Há uma menina
That gives a shit
Que dá a mínima
Behind this wall
Atrás dessa parede
You just walk through it
Você simplesmente atravessa

- Eu vou te mostrar – ele parou de cantar e disse isso. Só isso.
Ele colou uma mão em cada bochecha da garota e fixou seu olhar nela. Eles só conseguiam sentir os corpos fundidos e as respirações falhas. Ele aproximou os lábios dos dela e depositou um selinho. Ela não fugiu, não bateu nele, só ficou parada. Ele decidiu intensificar o beijo.
- Te entrega pra mim... Eu não vou poder fazer isso, se você não fizer o que eu estou pedindo – disse com os lábios colados aos dela.
- Eu não posso me entregar. Pra ninguém. Devolvem-me em pedaços depois... – Ela falou triste e descolou seus lábios dos dele bem pouco.
- Eu prometo...
- Não, não prometa nada. Eu não quero promessas – “eu quero atos”, ela completou em sua mente.
- Eu quero tanto te beijar, cuidar de você.
não falou nada, só lhe beijou a bochecha e recolheu-se no conforto da cabana. Ela sabia que quando voltasse, ela já estaria dormindo. Ela entrou no banheiro, tirou a maquiagem, colocou um short e uma camiseta, prendeu os cabelos, mas as lágrimas estavam na superfície. Ela levantou os olhos para o espelho e a primeira gota solitária caiu.

And I remember
E eu me lembro
All those crazy things you said
Todas aquelas coisas malucas que você disse
You left them running through my head
Você as deixou correndo pela minha cabeça
You're always there
Você sempre está lá
You're everywhere
Você está em toda parte
But right now I wish you were here
Mas agora eu queria que você estivesse aqui

A música que ele havia cantado não saía da sua cabeça. Ele tinha uma voz linda, uma beleza incrível. Na verdade, amava o jeito de ... Como ele a enfrentava, como ele tentava destruir tudo o que ela construiu em seu entorno para se defender, como ele fazia as coisas sem medo. E mesmo assim, não estava certo. Ela não poderia se entregar a nenhum homem.

All those crazy things we did
Todas as coisas loucas que fizemos
Didn't think about it
Não pensamos sobre elas
Just went with it
Só fomos com elas
You're always there
Você está sempre lá
You're everywhere
Você está em todo lugar
But right now I wish you were here
Mas agora eu queria que você estivesse aqui

Essa música se encaixava exatamente em tudo o que estava passando. A garota não queria mais pensar, queria parar de funcionar, queria que suas entranhas parassem de pulsar. Ela saiu do banheiro, apagou todas as luzes e deitou, puxou o cobertor até não sobrar nenhuma parte dela pra fora. tinha apenas uma certeza aquela noite: Ela não culpava a Mice em nada do que estava acontecendo ou aconteceu e isso significava que ela não pensava em sair daquele lugar.
chegou à cabana depois de ter conversado horas com e na cabana deles. Uma conversa amigável e que em nenhum momento envolveu o nome de . Ele não queria isso, ele não queria prejudicá-la, ele não estava bravo. Quando ele chegou e ligou o abajur, viu que ela estava tapada dos pés a cabeça. Ele foi até a cama dela e puxou um pouco o cobertor até que seu pescoço aparecesse. Ela dormia tranquila. - Boa noite, gordinha – ele disse ternamente e foi se deitar em sua cama.

Capítulo Cinco
10 de fevereiro, 2008
Mice

Os dez monitores estavam sentados em poltronas azuis um do lado do outro em cima do palco. A Diretora estava falando algo muito chato e ninguém prestava atenção, estava aflita pra falar em público. Ela não é tímida nem envergonhada, mas não gosta de se expor e aprendeu isso sendo filha de um homem como Evandro. estava ao lado dela e seria o último a se apresentar. Antes dela vinham Pedro e , aquela garota insuportável não parava de mexer nos cabelos. queria que estivesse ali.
- Não fica nervosa, pois você está parecendo um pimentão. – sussurrou para rindo.
- É, é. – falou sem querer discutir, ela estava nervosa e não conseguia pensar direito naquele momento.
- Agora começaremos as apresentações dos nossos queridos monitores. – disse a Diretora, até que enfim. Ela sorriu para , que era o primeiro a se apresentar, depois veio , Melissa, Alyssa, Bernardo, Pedro, ... E eu? já voltava para o seu lugar e eu estava sentada. Até que consegui me levantar.
- Boa tarde, cursistas. Meu nome é , mas podem me chamar de . – e pronto, foi isso. vibrava de felicidade quando conseguiu acabar sua apresentação. Foram quatorze palavras tudo o que ela disse, mas pareceram bem mais, tipo umas cinquenta.
levantou e foi lá falar a parte dele.
- Sejam bem vindos, cursistas. Meu nome é e todos nós queremos que vocês sejam muito bem recebidos na Mice. – ele foi aplaudido e voltou para o seu lugar. Quando a apresentação dos professores ia começar, alguns dos organizadores os tiraram de lá - finalmente.
Os monitores ficaram no saguão esperando os alunos saíssem, pois a instrução foi essa: “Fiquem no saguão depois da apresentação, pois se algum aluno quiser falar com vocês, a disponibilidade e o acesso serão bem melhores. Pois vocês sabem que o acesso deles a área dos monitores não é permitido”. Então os dez ficaram lá embaixo esperando o bando de “pirralhos” descerem. Depois de vinte minutos, os monitores escutaram alguns burburinhos e logo a pirralhada apareceu e tomou conta do espaço. e estavam juntas e se alguém viesse falar com elas, teria que ser uma conversa tripla. e estavam perto delas e optaram pela mesma estratégia. Uma garota simpática começou a conversar com , algo sobre aulas de música e a comida da Mice. não escutou direito, estava mais interessada em ouvir a conversa que estava tendo com uma gostosa do segundo ano.
- Qual a definição de bem recebidos? – A garota abusada perguntou. começou a dar alguns passos pequenos para trás, para poder escutar melhor.
- Depende, o que você entende por isso? – “Um cafajeste e uma biscate, só o que me faltava”, pensou.
- Hm, eu acho que é se conhecer melhor e particularmente. – A biscate disse. já estava com ódio. Quem ela achava que era? E o respeito naquele local? Não era porque ela estava com o . Não! É porque ela estava se jogando pra um monitor no primeiro dia de aula.
- Gostei da ideia. - notou que se aproximava de costas. – Qual o seu nome?
- Bianca.
- Então, Bianca, quero te apresentar a minha amiga . – ele falou e chamou pra que ela fosse conversar com eles. Quando a garota escutou seu nome, ficou estática. Mas quando ela virou e viu que sorria, ela achou que ele não percebeu nada e foi se juntar aos dois.
- Oi, qual seu nome?
- Bianca.
- Hm, esse é o nome da minha ex-vizinha. Ainda bem que ela se mudou, muito chata. – fez papel de besta dizendo aquilo, mas precisava dar uns cutucões.
- Não conheço nenhuma Bianca chata. – a biscate falou. - Eu conheço. O pior não é ser chata, é ser biscate. Se vocês me derem licença, eu preciso ir. Encerrei meu turno amigável por hoje. Tchau. – saiu de nariz empinado. “Eu sou foda, é isso aí”, pensou. Bianca ficou de queixo caído e abriu um sorriu malicioso.

Xxxx

estava na cabana vendo televisão e jogada no sofá quando escutou a porta da cabana bater. “Que saco!”, ela pensou. pegou o controle da mão da garota, que retrucou, e desligou a televisão. Puxou a mesinha de centro e sentou bem de frente pra . Ele a olhava intensamente. O que ele queria com ela? A garota se ajeitou no sofá até ficar ereta e esperou que ele se pronunciasse.
- O que foi aquilo, ?
- Aquilo o quê? – um, zero.
- Aquele ataque de ciúmes no saguão. – um, um.
- Não sei de nada.
- Me deixa lembrar você... É melhor ser chata. – ele imitava a voz dela – do que ser biscate. – zero, cem.
- Nada a ver, eu só falei. As cursistas precisam entender que os monitores tem que ser respeitados. Elas não podem chegar aqui achando que mandam e podem fazer o que querem, . E você já deveria saber disso. Você fica dando corda para essas meninas e logo se enforcará. – falou, já sem fôlego. Ele sorriu pra ela.
- Então, você está querendo dizer que foi defender a integridade dos monitores e não a mim?
- Você é bem grandinho e já sabe se cuidar, . Eu não tenho nada a ver com as suas escolhas, mesmo que sejam biscates de última categoria.
- Agora eu entendi. Você sabe, não é? No fundo do teu coração você sabe que foi um ataque de ciúmes.
- Se você acha isso, quem sou eu pra discutir. Eu não vou mudar a sua opinião.
- Ai que coisa mais linda essa minha gordinha braba! – falou, apertando as bochechas de .
- O que foi isso? Eu não sou gorda!
- Não, não é. Mas é muito linda e vai ser minha. – saiu correndo de lá antes que ela resolvesse discutir alguma coisa.
voltou a ligar a televisão e acabou dormindo no sofá.

[...] Ela estava em um lugar muito lindo, onde só existiam mar e rochas. Ela estava sob uma rocha e as ondas colidiam pertinho. Alguém lhe apertou a mão e ela olhou para o lado. Era sorrindo pra ela. “Eu te amo”, ele disse. “Eu te amo ainda mais”, disse. Mesmo que ela não quisesse dizer, apenas escapou. “Eu preciso ir”, ele falou. “Não vá”, ela disse chorosa. Mas ele se foi e ela ficou lá sozinha. [...]

Ela acordou suando e procurando por . Quando viu, ela estava no sofá e a televisão ainda estava ligada. Sentiu cheiro de chocolate e correu pra cozinha. estava se sentindo desesperada. A garota chegou à cozinha e viu de costas, ele estava cozinhando algo. Algo estranho aconteceu... Todo aquele desespero que ela sentia desapareceu. Ela ficou feliz. “Feliz?”, ela pensou. Ela queria tanto falar com ele, não aguentava mais brigas, muito menos a distância que estava começando a afetar seriamente a convivência.
Ela caminhou até entrar na cozinha e sentou-se no banco do balcão americano.
- Oi, . – ela disse calma. Ele largou a frigideira que segurava e virou pra ela sorrindo.
- Oi. Dormiu bem? – “Ele está sendo simpático?”, ela se questionou.
- Sim. O que você está fazendo? Tem um cheiro maravilhoso de chocolate.
- Panquecas salgadas e doces. Eu fiz algumas de queijo com tomate e orégano, e fiz algumas de chocolate com morango.
- Uau! Amo esses sabores. Você quer ser chef? – Ela perguntou rindo.
- Não. – Ele fechou a cara e voltou a mover a frigideira com a massa que ganhava uma cor mais dourada. – Faça o que quiser, quando estiver pronto eu chamo você.
- Tudo bem. – ela foi sem discutir à frente da cabana.

Xxxx

O relógio marcava que a hora do jantar já estava chegando. estava com muita fome, mas queria aumentar essa fome em mil pra poder saborear as panquecas que continuava fazendo. A garota estava em sua cama, lendo uma revista sobre fofocas de celebridades, nada viu de muito interessante na revista, talvez nada do que leu fosse verdade. Jogou a revista no chão e se deitou. O silêncio do campus, o silêncio da cabana, ela só escutava a frigideira sendo movida sob o fogão.
queria que aquela sensação que ela sentia fosse embora. Ela se sentia solitária, triste, incompleta. Queria poder mudar tudo, queria não estar arrependida naquele momento. Ela deveria deixar tentar ou talvez até conseguir.
Toque, toque, toque. Foi esse o barulho que fez com que esquecesse tudo o que estava pensando. Bufando, a garota foi atender a porta. Ela destrancou a porta da cabana e, quando puxou a porta contra si, viu o que não queria ter visto em milhares de anos.
- Não vai me deixar entrar? – Ele perguntou ironicamente.
- Entre. – falou baixo. “ está lá atrás”, pensou, a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
- Eu vim aqui pra lhe dizer que você será transferida.
- Como assim? – Ela perguntou incrédula. O pai-monstro estava a uns três metros de distância bem no meio da sala principal da cabana.
- Esse colégio é muito ruim. Fui pedir a Diretora que transferisse você pra ala dos cursistas e ela não aceitou de forma alguma. – ele disse debochado, zombando da expressão que a garota fazia. estava abalada.
- Por quê?
- Porque eu sei bem o que acontece entre monitores nesse campus. Você esqueceu que eu já fui aluno da Mice? A Diretora me comentou o que eles contaram sobre a minha geração. Então é isso, arrume suas coisas, .
- Não vou arrumar droga nenhuma! – gritou. Evandro ficou surpreso com a revolta da garota, afinal, ela nunca gritou com ele daquela maneira.
- Não fale assim comigo, garota insolente! – Ele gritou mais alto. “Pegue suas coisas”, martelavam na mente da garota essas três palavrinhas idiotas.
- Não vou. Você não me obriga a mais nada! Nada! Ouviu bem? Você quer me tirar daqui porque sabe o que esse colégio representa pra você! Minha mãe! – gritava e as primeiras lágrimas começavam a escorrer. Ela não queria ir embora. Ela não queria abandonar aquele lugar, aquelas pessoas... Ela não queria abandonar o .
As coisas aconteceram muito depressa depois do que disse. A garota escutou alguns passos da parte de trás e logo escutou os passos ao seu lado. correu e se colocou em frente ao corpo de . viu a mão de segurar o pulso de Evandro e os dedos do garoto ficarem brancos de tanto fazer força. não pestanejou e abraçou por trás. Ela estava com muito medo que Evandro fizesse algo a ele. sentia que ofegava, sua barriga subia e descia muito rapidamente. Ela não se arriscava a ver a expressão de Evandro.
- Por favor, meu Deus! Por favor! Que nada de mal aconteça ao ! Ao meu . – pediu baixinho para que ninguém escutasse. Só Deus escutou.
- Quem é você? – Gritou Evandro pra . viu que não segurava mais a mão do pai-monstro.
- O namorado da . – falou. E no exato momento em que ele falou isso, teve a certeza de que piorou totalmente as coisas. Ela sabia que isso irritaria seiscentas vezes mais o pai dela.
foi arrancado do abraço da garota que não conseguia ver nada. A visão dela demorou um pouco pra voltar e quando voltou ela viu suspenso pelas mãos do pai-monstro, esse ofegava e dava socos na barriga do garoto. Até que foi arremessado contra o sofá em que dormia uma hora antes. A garota acompanhou ele cair desacordado e começou a chorar.
- Eu ainda não terminei... – Evandro caminhou até chegar perto de e lhe depositou uma bofetada na cara. A garota rodopiou e caiu no chão. Ela ainda estava acordada e olhou pra cima onde Evandro a observava. – Eu voltarei! Aguarde-me. – ele falou e foi embora, batendo a porta.
respirou algumas vezes e se levantou. ainda estava desacordado e ela chamou por ele, mas ele não acordou. A garota pegou as duas mãos de e começou a carregá-lo, ele era muito pesado e ela não estava tendo resultado, porém continuou carregando-o até que chegaram à cama da garota. Essa foi a parte mais difícil porque ela teve que levantá-lo. Ele não era gordo, mas era pesado pra uma garota com poucos músculos como ela. Enfim, ela conseguiu que ele deitasse, mas quando estava o ajeitando, percebeu que sua camisa estava toda rasgada na parte das costas. Ela o virou de costas e viu que ele estava com as costas arranhadas e machucadas. Ela correu para o banheiro e pegou a caixinha de primeiros socorros.
Ele estava respirando tranquilamente, ainda desmaiado. Ela cortou a camiseta dele e começou a limpar as feridas e a fazer curativos. Depois que acabou, o virou de frente e o deitou carinhosamente. Foi correndo na cozinha buscar uma aspirina e um copo de água para deixar ao lado da cama quando ele acordasse. Ia ser difícil. Quando ela não tinha mais o que fazer, só bastava esperar, ligou o rádio e o deixou tocando. Sentou nos pés da cama e colocou os pés de sob suas pernas.
“O que foi isso? Vai ser difícil explicar tudo isso pra ele. Vai ser difícil até olhar pra ele cheio de machucados que meu pai-monstro fez. Por que essas coisas têm que acontecer?”, pensava. Ela sentiu que começou a se movimentar e o olhou esperançosa. Ele abriu os olhos vagarosamente e gemeu um pouco de dor. Quando os seus olhares se encontraram, fez uma careta.
- Seu rosto está bem roxo. – ele falou baixo.
A música do rádio tocava e o silêncio tomou conta do lugar. abaixou a cabeça sem conseguir olhar pra ele, sem conseguir encará-lo.

I drift away to a place
Eu me mudei para um lugar
Another kind of life
Outro tipo de vida
Take away the pain
Deixei a tristeza de lado
I create my paradise
E criei meu paraíso

- Me desculpe, .

Everything I've held
Tudo que eu segureibr> Has hit the wall
Bateu na parede
What used to be yours
O que era seu
Isn't yours at all
Não é seu mais

- Eu não queria que isso estivesse acontecendo, mas eu não pude controlar. Desculpa-me mesmo! – disse, chorando. Ela chorava de dor, nada dava certo e ela só queria um pouquinho de sossego.

Falling apart and all that I'm asking
Caindo aos pedaços, e tudo que eu pergunto
Is a crime? Am I overreacting?
É se isso é um crime ou eu estou exagerando?

pegou o controle do rádio e o desligou. Aquela música a estava torturando. O silêncio de a estava torturando ainda mais. se moveu e observou o que ele ia fazer. Ele percebeu que sua camiseta estava rasgada e tocou suas costas, depois olhou pra garota, que deu um pequeno sorriso.
- Eu não suportei saber que você estava machucado depois de tudo o que aconteceu, então eu tive que fazer esses curativos.
- Me desculpe por não poder ter te defendido mais. – ele falou triste.
- Mais? Você me defendeu, .
- Olhe o seu rosto.
- Eu ainda não tive coragem de procurar um espelho. – ela disse. E mais uma vez o silêncio tomou conta da cabana. Algumas gotas de chuva começaram a cair e a telha fazia um barulho bom.
- Eu amo chuva, pois parece que nada de ruim pode me acontecer... – falou. se moveu até conseguir sentar e apoiar suas costas no encosto da cama.
- Vem cá. – ele chamou e bateu a mão na cama onde havia um espaço entre ele e a parede. Ela vagarosamente foi até lá e se encostou também, mas o que mais a surpreendeu foi o fato de ele pedir pra que ela deitasse a cabeça em seu ombro e que ele abraçou sua cintura.
- Obrigada, .
- Por quê? Eu não fiz mais do que o meu dever, eu não poderia ver aquilo calado.
- Mesmo assim. Aliás, por que você disse que era meu namorado? No momento em que você disse aquilo, eu sabia que ele ficaria mais irritado ainda.
- Não importa, já passou. Foi a primeira coisa que me veio a cabeça, eu só queria te defender. – ele falou. “Morri, morri, morri. Que coisa mais linda”, pensou. – ?
- Fala.
- Eu não sei se a intenção foi que eu escutasse, acredito que não, mas eu escutei o que você disse. – “Opa, opa, opa. boca grande!”, ela se censurou mentalmente. Ela sabia do que ele estava falando, mas não iria ceder.
- O quê eu falei? – Ele olhou pra ela sorridente.
- Não faz isso, não. Você sabe o que você disse. Mas pra refrescar sua memória... Você disse “meu ”.
- Eu esperava que você não escutasse isso, sinceramente.
- E por que não? – Ele ficou sério.
- Depois sou eu que quero uma explicação pra tudo. Seu idiota, eu pedi pra Deus te proteger. Só isso!
- Só isso? Só isso o caramba. Você disse que eu sou seu e eu quero saber porquê. Você sempre me evita, diz que não é certo, mas na hora em que as coisas apertam eu sou o melhor do mundo, o suprassumo. Isso me irrita muito, .
- Eu não consigo te evitar, eu não consigo parar de pensar em você, eu odeio brigar com você, eu odeio quando você fica chateado comigo e passa a semana inteira sem falar comigo, eu queria mesmo falar aquilo, tá? Pronto, eu assumo! – Ela falou e cruzou os braços, fazendo biquinho.
- Até que enfim! Morreu por isso?
- Não! – Ela sussurrou.
- Posso te beijar, ? – Ele sussurrou lindamente no ouvido dela. Em um impulso ela o encarou e ele a fitava sério.
As mãos dele subiram até suas bochechas, como na noite da festa, só que dessa vez elas estavam mais quentes, mais aconchegantes. queria mergulhar logo nessa loucura, ela queria experimentar o gosto de . A garota fechou os olhos e ele assumiu o controle, colando os lábios aos dela. Ela exigiu por mais, mas ele negou. Ele foi paciente, foi devagar, ele queria tocar cada parte do rosto dela, queria memorizar aquelas linhas de expressão, queria tê-la por mais tempo, ele não sabia se ela fugiria depois. E quando ela exigiu a segunda vez, ele cedeu e deixou que seus gostos se misturassem, deixou que os arrepios e os desejos aflorassem. Ela queria mais e ele concedeu isso a ela. Os dois ficaram se beijando por um bom tempo, aproveitando cada sensação, cada toque, cada suspiro. Até que ele finalizou o beijo com um selinho e a observou abrindo os olhos que estavam brilhando como nunca. Ele sorriu.

Capítulo Seis

Mice
21 de fevereiro, 2008

- Amiga, o me convidou pra jantar. Eu preciso da sua ajuda. – disse, invadindo a cabana 103. – E sabe do pior? O jantar é daqui a algumas horas.
- Calma. Eu te ajudo. Tenho roupas, maquiagem e hoje é sexta-feira! – disse sorridente.

O tempo passou rápido desde a visita indesejada de Evandro na Mice, há mais de uma semana que ela não sabia lidar com tudo o que havia acontecido. desapareceu na manhã do dia 11 de fevereiro em uma viagem com a Diretoria da Mice para representar o colégio em uma competição de futebol no Canadá. “Ele volta amanhã”, ela pensava isso umas cinquenta vezes por dia. Ela não recebeu nenhuma noticia dele (e achava que nem deveria, pois não tinha nada a mais com ele), mas sentia falta daqueles olhos. Sentia falta da companhia e da comida.
tinha medo de pensar o que poderia acontecer, ela sabia que Evandro estava atento a tudo o que os dois faziam e provavelmente saberia que estava fora da cidade, fora do país, mas dentro de seus pensamentos e de seus sonhos 24h por dia.
- Acorda! Eu preciso de você!
- Oh, desculpe, estava pensando na roupa perfeita. – desconversou.
- E aí, já sabe qual será ela?
- Sim! Acompanhe-me, por favor.
- Eu quero algo bonito, mas simples. Com pouco decote, mas nada muito fechado. Quero algo com classe, mas nada até os pés. Quero algo com brilhos, mas sem sirenes.
- Quer mais alguma coisa, senhorita? – debochou, pois a garota fazia mais exigências que a Britney Spears em seus shows no Brasil.
- Sim, um café, por favor. – disse ela, imitando a voz de uma velha rica dos filmes que assistia.
- Aguarde um minuto, senhora. – saiu rindo e deixou sentada em sua cama por o que pareceu uma eternidade.
No closet, ela abriu uma mala que levou para Mice, mas nunca teve a oportunidade de abrir, pois nunca houve uma ocasião para usufruir daquelas roupas. Buscou o vestido que achava ideal, depois foi para a estante de sapatos, não achou nenhum decente. Olhou para o outro lado e botou os olhos em um que nunca havia usado. “Perfeito”, ela pensou. Colocou os sapatos junto com o vestido sob o banco e foi procurar pelas maquiagens, após isso, achou o esmalte. E então, o perfume, que para ela era uma peça chave para qualquer noite em que precisasse arrasar. Quando ela queria espantar as pessoas, ela escolhia uma fragrância mais cítrica, mais arrogante. Pra ela, perfume tinha personalidade.
Ela levou todas essas coisas pra onde se encontrava. A garota roía as unhas e já estava sentada de pernas cruzadas sob a cama. Quando avistou a amiga com todas aquelas coisas, seu olhar se iluminou e ela deu um salto pra fora da cama.

- Isso tudo é pra mim?
- Claro! Aproveite que hoje estou magnânima. – deu uma risada boa e entregou tudo com dificuldade para os braços ainda mais magros de .
- Obrigada por tudo, você salvou minha noite! – já disparava porta fora.
- Ei! Espere! Você não se arrumará aqui comigo?
- Não, eu não quero te incomodar. – voltou até ficar próxima de e a encarou profundamente. – Olha, você sente falta dele, né? Dá pra ver nos seus olhos que você não é a mesma, . Dá pra ver que você sente falta dele e eu não quero ficar aqui completando sua paciência com felicidade, enquanto eu sei que você quer paz.
- Mas... – tentou protestar.
- Não. Eu sei como é. – sorriu.
- Obrigada. – a abraçou, agradecendo pela compreensão. E dessa vez se foi.

E talvez todas aquelas palavras, tudo aquilo o tinha dito, mesmo não sabendo de nada do que havia acontecido, fazia sentido. Talvez ela o quisesse ali, talvez aquela chuva que estava pronta pra se armar, como na noite em que o pai-monstro os feriu, fosse um refugio... Ou um aviso. Ela só queria estar segura. Onde ele estava? O que ele queria? Ele a queria? O que ele estava sentindo? E quando ele voltar, o que vai ser?
preparou uma massa muito ruim e comeu mesmo assim, sentia tanta falta dos pratos elaborados dele. Sentia falta do cheiro da comida, mas também sentia falta do cheiro dele. Para se ocupar, ela lavou a louça atrasada de dias que estava mofando na pia. Quando não havia mais nada pra fazer, ela foi para o sofá e puxou seu cobertor, excluindo o frio de seus pés. “Cadê você, ?”, ela pensou. A televisão não foi ligada, nenhuma gota caiu de seus olhos, mas dos céus caiu. Muitas gotas que protestavam ao fato da solidão de e a noite que começava. Ela apenas dormiu.

xxxx

22 de fevereiro, 2008

- Oi, gordinha. – ele disse. Seu rosto estava perto, seu cheiro estava forte, seus cabelos molhados, seu sorriso presente.
- O que você está fazendo aqui? Que horas são? – Disse , esfregando os olhos, e se sentou no sofá, jogando o cobertor nos pés.
- Seis horas da manhã, então, bom dia. Eu acabei de chegar do Canadá e vi você aqui toda encolhida, não quer ir pra sua cama? Está frio. – ele disse, sorrindo fraco.
- Você tem que ir tomar um banho, está todo molhado e vai pegar uma gripe forte. Vamos, vou cuidar de você. – ela disse, levantando-se e o empurrando até o banheiro. Ele entrou resmungando e ela fechou a porta. – Você só sai daí de banho tomado, !
Enquanto ele tomava banho, ela foi buscar algumas roupas confortáveis pra ele, afinal, o dia que se seguia era sábado e certamente ele ia querer ficar na cama dormindo. “Oi, gordinha”, ela se lembrou. E sorriu. Sentia tanta falta de tudo aquilo dele, sentia a sua falta. Escutou um barulho vindo da porta do banheiro.
- Você pode pegar algumas roupas pra mim? – ele sussurrou.
- Aqui. – ela entregou as roupas rapidamente.
- Obrigado. – ele fechou a porta novamente e ela se sentou no sofá, ligando a televisão. Quando achou algo decente pra assistir, ele saiu do banheiro e tirou toda a sua concentração no programa. Ela a analisou: Lindo, com sempre, cabelos molhados e olhos penetrantes. Ele a olhou e sorriu.
- Sabe de uma coisa? – ele chegou mais perto e sentou ao lado dela, podendo olhá-la nos olhos apenas com a luz da televisão.
- O quê?
- Eu senti a sua falta. – ele sussurrou tão baixo que ela jurou não ter escutado. Mas não importava se ele havia dito ou não, ela o abraçou forte por longos minutos. Deitada em seu peito, respirava calmamente e sorria.
- Eu senti a sua falta também, .<> - Quanta falta? – ele perguntou. “Como assim?”, ela pensou.
- O bastante pra até a notar e dizer que iria me deixar em paz. E você?
- Eu queria estar aqui o tempo todo, gordinha.
- Gordinho. – ela disse e o abraçou mais forte, rindo.
- Minha gordinha. Eu estava com medo que ele voltasse e você estivesse sozinha. Não quero me perder de você, acho que foi em você que me encontrei. – ele disse.

E isso foi o necessário para que chorasse. a carregou até sua cama e os dois dormiram abraçados, assim, juntos. Feitos um para o outro, ou não.

Xxxx

22 de abril, 2008

- Feliz dois meses de namoro, gordinho! – disse , abraçando .
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada. – ele era um bom mentiroso.

Os dois estavam na cabana em um dia tranquilo, dois meses depois da conversa que tiveram e decidiram tentar um relacionamento. não queria nada como alianças de compromisso ou pedidos por enquanto, aceitou, odiando a ideia. Hoje eles combinaram de fazer um jantar romântico em um lugar próximo da Mice e foi ela quem organizou tudo.

- Te encontro a noite, gordinho. – ela disse. - Até mais tarde. – ele disse, mas a puxou pelo braço quando a viu indo embora. – , não esqueça nunca de que o que eu sinto por você nunca vai acabar. Você ouviu?
- Como posso esquecer algo que eu sinto da mesma forma? – ela sorriu e saiu após selar seus lábios com os dele.
tremia e suas mãos estavam suadas. Seu celular tocou novamente como naquela manhã. O número desconhecido que ele sabia a quem pertencia.
- Ela já foi?
- Sim.
- A diretora já autorizou a sua saída da Mice, estou lhe esperando no pórtico de entrada.
- Estou a caminho. – disse e finalizou a chamada no celular. “O que eu estou fazendo? É para o bem dela, certo?”, ele pensou, mas não conseguiu responder àquela pergunta. Ele caminhou durante alguns longos minutos, torturando-se por estar fazendo aquilo.
Naquela manhã, acordou com um número desconhecido ligando para aquele número que ele havia acabado de adquirir com a operadora. Ele mudava muito de número. Poucas pessoas sabiam daquele número e se um número desconhecido estava ligando, era importante. E era.
Evandro disse, naquela manhã, que precisava conversar com o garoto. Ele disse que não queria, mas Evandro disse que se ele não fosse, as consequências para seriam piores. Ele foi. Ele estava indo. Estava se sentindo um traidor da pior espécie, pois não sabia o que ela pensaria sobre isso. Ou pior... O que poderia acontecer depois disso.

- Boa tarde, meu querido. – disse Evandro sarcástico.
- Pode começar a falar.
- Acalme-se. Pode seguir. – Evandro dirigiu a segunda frase ao motorista.
Depois de algum tempo, eles chegaram ao estacionamento de um prédio grande que deveria ser empreendimento de Evandro. Eles entraram no elevador e subiram até o nono andar em silêncio, entraram em um dos escritórios. Parecia um escritório de médico, Evandro sentou na cadeira que pertencia ao médico e na do paciente. Um de frente pro outro. esperou.
- Então, vou ser breve. Você tem que terminar com ela, pelo seu bem.
- Por quê?
- Coisas ruins vão acontecer se vocês continuarem juntos.
- Vai partir pra ameaça agora? – alterou seu tom de voz.
- Vou ser direto. Vou te fazer uma proposta bem simples. Eu paro de bater na , de falar com ela se você quiser. Porém, você tem que terminar com ela e mudar de cabana. Você não poderá mais falar com ela. Eu inclusive cogito a possibilidade de contratar alguns seguranças para mantê-la longe de você.
O mundo de desabou. Ele queria o bem de , mas a queria mais que tudo. Mesmo assim ele não tinha nenhuma saída, ele não podia fazer nada. Mas ele podia contestar algumas coisas ainda.
- Você acha que fará algum bem pra ela?
- Eu não me importo!
- Ela é sua filha! – gritou, levantando-se.
- Você aceita ou não? – Evandro disse da mesma maneira, calmo e sentado na mesma posição.
- Com uma condição.
- E qual é?
- Que você faça um acordo com a Direção da Mice para que eu não seja substituído de forma alguma na cabana. Mesmo que ela fique sozinha. – ele sabia que ela iria sofrer, ele iria mais ainda. Ele estava sendo egoísta, mas ela tinha que ser só dele.
- Acordado, então?
- Sim.
- Então, adeus. E que a não saiba de nada disso.
deu as costas e saiu. As portas do elevador se fecharam e as suas pálpebras também, mas essas carregavam um conteúdo muito pesado: Suas lágrimas de solidão e tristeza. “O que eu vou fazer sem ela?”, ele pensou.
chegou devastado a cabana. Ela não estava lá, deveria estar esperando por ele no lugar em que combinaram para comemorar os dois meses juntos. Mas ele não iria. Esperaria ela se cansar de esperar e quando ela chegasse à cabana, já um pouco triste, ele a destruiria. Esse era o destino deles, não?
Demorou mais do que ele esperava. Eles marcaram às 20h e ela só foi chegar à cabana por volta das 23h. Ela chegou chorando e o olhou decepcionada. Ele estava sentado em sua cama com uma feição tranquila. jogou os sapatos no chão e o encarou brava.

- Onde você estava?
- Aqui. – ele disse, simplesmente. E ela percebeu que algo de muito errado estava acontecendo.
- Por que você não foi?
- Eu não quis ir, será que não deu pra perceber? – ele disse ríspido, sem olhá-la nos olhos.
- Não deu pra perceber, mas será que dá pra você me explicar?
- Com toda a certeza, querida. – disse sarcástico.

E nada doía mais em do que fazer aquilo com ela. Nada doía mais do que ver aquelas lágrimas caindo dos olhos da garota que ele amava e não poder fazer nada a não ser contribuir mais ainda pra isso. Ele queria destruir a si mesmo. No fundo ele sonhava que um dia tudo se resolveria e ela o perdoaria, mas ele já tinha pensado em tudo. Era tudo tão convincente, tão frágil, que quebraria o coração de uma garota em pedaços. Ele construiu aquela mentira pra que ela não perguntasse: “Você não me ama, ?” Pois se ela perguntasse, ele não seria capaz de mentir. Não mesmo.

Capítulo Sete
Mice
22 de abril, 2008

- Eu estou indo embora. – disse firmemente.
- Pra onde? Como assim? Pra fora do país? – perguntava desesperada e as lágrimas começavam a cair grossas por suas bochechas.
- Não, mudar de cabana. Eu pedi.
- Mas por quê?
- Eu não suporto você. Eu não aguento mais ficar aqui. Essa cabana é amaldiçoada, você e a sua família colocaram uma maldição nesse lugar. – e ele sabia que, falando isso, estava tocando no ponto fraco de : A família.
- Cala a boca!
- Cala você. Garota insuportável!
- Eu achei que você gostasse de mim, que talvez... Talvez... – gaguejava.
- Talvez o quê? Namorássemos? Eu não vou ser aquele que vai salvar você do seu pai maldito. Não sou seu príncipe encantado, . – Ele falava tão sarcasticamente que a garota não estava conseguindo acreditar naquilo.
- Você só pode estar brincando comigo, , não? Onde estão as câmeras?
- Ingenuidade da sua parte. – ele gritava. “Vamos, ! Acabe logo com isso, acredite em mim! Por favor!”, ele pensou. Como ele amava aquela garota, como aquilo machucava nele. E nela? O quanto machucava?
- Vai embora, por favor. – disse chorando.
- Amanhã eu peço para que o venha recolher as minhas coisas. – ele disse e saiu correndo de lá.

Meu Deus! O que aconteceu agora? Ele não me quer mais? O que eu fiz? Eu jurava que ele me pediria em namoro esta noite. Eu nunca pedi um príncipe encantando, só queria alguém. Eu só o queria. Queria seus sorrisos, seus abraços, seu cheirinho, seus beijos, só queria que ele estivesse ao meu lado. Eu nunca exigi mais do que isso.
Estava doendo demais. Vamos lá, ! Admita! Eu amava cada coisa nele e estava aprendendo a amar o que eu nem poderia. Eu me abri pra ele, eu confiei nele e aquele desgraçado quebrou o meu coração.
Lágrimas, por que vocês existem? Pra quê? Eu não conseguia parar de chorar. Estava com medo de ficar sozinha naquela cabana que, naquele momento, parecia tão imensa e fria. Eu só queria me esconder e nunca mais sair debaixo das cobertas. Deitei-me e dormi chorando, por ali mesmo. Jogada aos prantos da solidão daquele imbecil do .

Fui correndo pra Direção sem pensar no que eu acabara de fazer, sem pensar no que eu acabara de destruir, em quem eu acabara de destruir. As luzes do pequeno prédio estavam ligadas e eu entrei as pressas. Avistei a secretária fechando algumas gavetas e passei sem comunicar a minha entrada ao gabinete.

- Pra onde eu vou agora? – Entrei perguntando isso. A mulher me olhou assustada e prontamente procurou alguns arquivos.
- Esta noite você ficará no quarto de hospedes deste prédio, mas amanhã mesmo você já se encaminhará para a cabana 105, com seus colegas e Pedro. Tudo bem?
- Eu preciso fazer uma ligação. – eu disse amargo. Eu não queria explicações. Só queria me esconder, queria esconder o monstro em que me tornei.
- Seja rápido. – ela apontou o telefone sob a mesa e saiu do gabinete silenciosamente.
- Certo.

Disquei alguns números que eu havia anotado pela manhã em minha mão, estavam meio apagados, mas eu ainda conseguia vê-los. Procurei por algum lugar que indicasse as horas e achei o relógio grande de parede. 23h48min.
- Quem fala? – Evandro perguntou, visivelmente irritado.
- . Serei breve. Então, está tudo feito e ela acreditou. Só vou lhe avisar uma coisa, se o senhor quer que ela não suspeite que você esteja envolvido nisto, não mande os seguranças pra cá.
- Isso é uma decisão minha. Boa noite e bom trabalho. – Evandro disse rápido e já ia desligando o telefone...
- Não se esqueça. Se você machucá-la de qualquer forma, eu abrirei a boca. Boa noite. – disse e desligou. Suas mãos tremiam.

E agora, meu Deus? O que eu farei sem ela? Eu a amo. Esse quarto é uma bosta sem ela, eu odeio dormir sozinho. Eu pretendia criar o hábito de dormir com ela todas as noites, observá-la dormindo ao amanhecer. Mas não. Não foi dessa vez e eu não sei como eu conseguirei olhar pra ela mais uma vez. Eu não queria chorar, mas essas lágrimas estúpidas insistem em cair. Só quero dormir e esperar pra ver o que vai acontecer.

Xxxx

O raiar do dia deu o ar da graça e essa estava faltando na Mice. As fofocas de que havia mudado de cabana correram rápido pelos monitores e correu pra ver como estava. estava dormindo e não pretendia acordar tão cedo.

As batidas insistentes na porta fizeram com que se desse por vencida e fosse atender a porta. Bufando, ela abriu a porta e viu a expressão de pena que carregava, só ela não sabia o porquê.
- Amiga, como você está?
- Bem, dentro do possível. – disse, abraçando-a.
- foi transferido para a cabana da cobra da . – disse, fazendo careta. – O que aconteceu?
- Entra. – a garota disse, dando liberdade pra que a outra entrasse e se sentasse na cama.
- Você está péssima, parece que passou a noite toda chorando.
- E foi isso mesmo que aconteceu. – decidiu que ela tinha que abrir o jogo com , pois agora ela era a única pessoa que ela podia contar. – Ele foi embora. Ele decidiu ir embora. – começou a chorar e caiu nos braços de . Por algum tempo não se escutou mais nada além dos soluços de .
- E agora? – perguntou.
- Não sei. Ele foi embora, me deixou, e eu não sei os motivos. Foi do nada, eu estava tão esperançosa com o nosso jantar. Ele ia me levar para jantar ontem à noite, mas me deixou plantada esperando e quando eu cheguei aqui ele disse coisas horrendas pra mim. Deixou bem claro que não queria mais me ver. – ela disse, caindo aos prantos novamente.
- Calma, meu amor. Tudo vai melhorar, espera ele esfriar a cabeça. A verdade sempre aparece, não é? Vou falar com o pra ver se ele sabe de algo, está bem?
- Sim. – disse, fungando e tentando sorrir. Ela não tinha a mínima vontade de ir tomar café da manhã com todas aquelas pessoas a encarando. – Mas me conta uma coisa, como assim ele foi pra cabana da ?
- Sim, pelo visto a cabana da e a do Pedro é a maior. Então ele vai morar lá temporariamente.
- Bom pra ele. Ele me destruiu.
- Eu não entendo.
- Nem eu, .
- Vamos?
- Não. – resmungou.
- Você não pode parar agora, amiga. – disse, passando suas mãos nos cabelos de .
- Vou pegar minha mochila.

As duas entrelaçaram seus braços e já estavam saindo da cabana 103 quando se depararam com dois gorilas de terno preto. deu alguns passos para trás, mas insistiu que ela continuasse onde estava. As duas ficaram encarando os seguranças.
- Quem são vocês? – Perguntou .
- Seus novos seguranças.
- Mas quem mandou vocês? Eu não preciso disso.
- Seu pai. Precisa sim, você está sob algumas ameaças e ela preferiu que nós não deixássemos ninguém suspeito chegar perto de você. – O maior deles falou calmamente. suspeitou daquilo e resolveu perguntar.
- Por acaso, quem seria o suspeito em questão?
- . – o mais baixo respondeu rapidamente e eles se entreolharam, depois olharam para as garotas a sua frente e as analisaram.
- Hum. – foi só o que conseguiu concluir no momento. Ela puxou pelo braço e seguiu para o refeitório. Quando fez isso, percebeu que os seguranças não estavam de brincadeira e que estavam mesmo a protegendo.

acordou com dor de cabeça e o rosto todo vermelho da choradeira da noite anterior. Correu logo pra tomar um banho demorado e infelizmente teve que botar as mesmas roupas do dia anterior. Saiu pelo campus da Mice, ainda vazio. Primeiro ele tinha que falar com , pegar suas coisas na cabana e saber como estava. Depois ele precisava enfrentá-la.
Ele avistou de longe, saindo de sua cabana, e correu até lá.
- !
- , onde você estava? O que pensa que está fazendo?
- Nada de mais, eu só mudei de cabana. Eu tenho meus motivos, amigo. Mas eu preciso que você me ajude.
- Eu espero que você saiba o que está fazendo, pois as coisas não estão boas pro teu lado.
- É, eu sei. Você soube?
- Você irá para a cabana da e do Pedro. A acabou de me mandar uma mensagem dizendo que foi falar com a e que ela estava em pedaços. O que você fez? A garota ainda está andando de escolta por dois grandalhões de terno.
- Eu não acredito! – “Ele fez isso mesmo”, pensou. “Evandro se arriscou ao ponto de dar uma dica para do que poderia ter acontecido, eu estou ferrado”.
- No quê?
- Nada não. Você me ajuda?
- Claro, fala aí!
- Eu preciso que você recolha tudo o que é meu na antiga cabana e leve pra nova. Por favor, . – implorou para o amigo. - Está bem, obrigada. Vamos.

Os dois estavam indo para o refeitório calmamente e passaram pela frente da nova cabana de , nenhum dos dois falou nada. Mas suspirou. Quanto mais a distância do refeitório diminuía, mais nervoso ele ficava. Ela estava lá. Ele sabia disso. “O que eu vou fazer? Com que cara eu vou olhar pra ela?”, pensou.
O barulho costumeiro do local acalmou até ele encarar as costas de e ver ao lado dela. estava toda desajeitada. E os dois seguranças marcavam presença, era impossível não notá-los. Eles eram gigantes e ficavam olhando pra tudo e todos. notou que algumas pessoas, inclusive , sua nova colega de cabana, o encaravam. Eles foram pra fila pegar coisas para comer.

- , eu não posso ir pra lá! Você me entende?
- Claro. Eu fico com você. entenderá, ela ficará com a hoje também.
- Valeu, irmão! – abraçou de lado e eles escolheram algumas frutas.
- Vamos sentar.
Infelizmente, a mesa que sobrou no refeitório exigia que os dois passassem necessariamente pela frente da mesa das garotas. Surgiu um frio na barriga de . Como ele queria que aquilo não estivesse acontecendo, eles poderiam estar juntos naquele momento. Ela não sabia, mas estava mais segura sem ele.
Dois olhares se encontraram, dois corações palpitaram e se perderam em batidas incontroláveis, duas pessoas entenderam que naquele momento nenhum dos dois pertenceria ao outro. Porém, ambos sabiam que estavam perdidos e só poderiam ser encontrados juntos. Náufragos de suas decisões.

Capítulo Oito

Mice
02 de maio, 2008

Como era difícil pra passar por tudo aquilo sozinha. Ela não queria incomodar , ainda mais que agora a mesma estava namorando e eles estavam nas alturas. Nos primeiros quatro dias após a ida de , ela chorou incessantemente durante as noites. não se sentia bem, não se sentia viva. Ela ia pras aulas, fazia os exames, estudava o necessário e voltava pra cabana acompanhada dos dois seguranças. Durante esse tempo, ela descobriu que os seguranças se chamavam Juan e Charlie, até que ela gostava deles, pelo menos não se sentia tão sozinha e eles não eram uns chatos.
O assunto “” ainda era um assunto delicadíssimo para a garota. Ela o via poucas vezes e, quando via, sentia que ele estava péssimo. Sentia ele perto, mas ao mesmo tempo mais distante impossível. contou que não desistia de ficar com ele, mesmo sabendo de tudo o que aconteceu entre e . Mas ele negava e sempre se esquivava.

estava na cabana, acabara de ter sua última aula do dia e estava estudando um pouco para o exame de biologia da semana seguinte, ela definitivamente não gostava de deixar as coisas pra última hora. Ela escutou algumas pessoas falando alto e, depois de ouvir alguns passos na sua escada, correu pra porta para atender. Chegou à porta e a abriu, já estava batendo para chamá-la.
- Vem comigo agora! – vociferou.
- O que está acontecendo? – perguntou assustada.
- Olha lá! – apontou pra perto na fonte e parou no meio da escada, fazendo parar ao lado dela.
A cena que viu era no mínimo grotesca. e . Sim, . O ex-namorado de , aquele que ela foi forçada a namorar pelo pai. Os dois se encaravam com as expressões tensas e punhos serradas. As pessoas já os cercavam.
- Juan e Charlie, me sigam. Agora! – disse e seguiu correndo em direção aos dois com em seu encalço. Ela andou o mais rápido que pôde e foi empurrando as pessoas que formaram uma roda em volta do que parecia ser uma briga.<>br - Não encoste mais os pés na Mice! – Gritou .
- Dona , você não pode se aproximar muito. Você sabe disso. – Sussurrou Juan.
- Eu sei, Juan, eu sei o que vou fazer. Pode deixar comigo, vocês não vão precisar fazer nada – sussurrou de volta e voltou a observar a briga. - Você sabe, meu querido – disse gargalhando. – Tenho todo o direito, afinal, qual o problema? Eu vou ver sua ex-namorada? Ela não pertence a você, garoto.
- Não toque no assunto! Não toque nela, você sabe que ela me ama e que ela me pertence. Você só veio aqui pois o Evandro te mandou, não é? Pois bem, não adiantará nada, ela me ama! – Eles gritavam todas as palavras, exaltando-se mais e mais. partiu pra cima de . Foi tudo tão rápido, eles começaram a se socar e o sangue começou a escorrer da boca de . não conseguia vê-lo machucado.
- Juan e Charlie, separem-nos!
Prontamente, os seguranças apanharam os dois garotos e os separaram em uma distância grande o bastante para que não pudessem se tocar. Os dois ainda tentaram revidar, mas quando perceberam que não poderiam fazer mais nada, desistiram.
- Tá, o que vocês estão olhando ainda? Já acabou a briga! Podem ir! – Gritou rude, fazendo com que a platéia se dispersasse.
- Obrigada, – disse e ele só concordou. – O que você quer aqui, ?
- Oh, meu amor, eu vim te buscar. Disseram-me que você precisava de alguém e eu estou aqui! – Ele disse orgulhoso e já recuperado. bufou e deu uma risada sarcástica do outro lado.
- Eu não preciso de você e não me chame de amor, eu nunca te amei. Tudo acabou entre nós, . E você sabe! – falou calmamente. O silêncio tomou conta das sete pessoas que se encontravam ali ao lado da fonte.
- Pode me soltar, seu brutamonte! – Ele falou para Charlie que o soltou imediatamente. – Que pena, , pois é você quem perde.
disse isso e se foi. tinha a sensação de que ele não voltaria mais, de que ele tinha entendido e que ela conseguiu falar aquilo para ele sem humilhá-lo, diante das circunstâncias. encarou e ela não pôde deixar de falar com ele, afinal, ele tinha defendido ela de uma forma ou de outra. “o Evandro te mandou”, ela pensou. “Meu Deus! O que está acontecendo?”
- Obrigada – ela agradeceu de forma neutra e se virou de volta para a cabana, sendo seguida pelos seguranças.
- Eu infringi alguma regra?
- Não. Você está bem, Dona ? – disse Charlie.
- Vou ficar. Obrigada, Charlie e Juan. Boa noite – ela entrou na cabana e, pela primeira vez em muito tempo, ela sorriu. Só não sabia o porquê, mas deixaria pra pensar nisso no dia seguinte.

Xxxx

03 de maio, 2008
Mice

“O que estava acontecendo?”, dormiu e acordou pensando nisso. Mas o tempo que ela teve para pensar foi pouco, pois no momento em que a garota colocou os pés no chão, ela desmaiou.

- , abre a porta! Abre a porta! – gritava na varanda da nova cabana do garoto.
- Calma, já vou! – Ele abriu a porta e encontrou uma pálida.
- Eu não... Eu não consigo... Meu Deus! !
- Se acalme! O que está acontecendo? – Ele segurou os ombros da menina.
- ... – Ela falou mais calma, porém ofegante. – Eu estou tentando falar com a já faz um tempão! Liguei para o celular dela e não atende! Os seguranças disseram que ela está na cabana, mas ela não atende. Estou muito preocupada!
- Vamos! – disse, batendo a porta da cabana e acompanhando até a cabana 103. Nesse momento, ele não se importava com nada, só com . Ele faria qualquer coisa por ela.
“Por que eu fiz isso? Como eu me arrependo! Eu preferiria ter passado todo esse tempo com ela. Ai de Evandro se alguma coisa acontecer com ela!”, pensou. Quando eles chegaram ao caminho que adentrava a varanda da cabana de , viram os seguranças desesperados. Juan estava com o celular na mão. Os dois correram até os seguranças.
- O que aconteceu? – A porta da cabana estava escancarada e não havia nenhum sinal de . entrou sem precedentes em seu antigo lar.
- ! – Ele gritou ao se deparar com a garota desmaiada na cama, ela estava muito pálida. O coração de apertou e ele correu em direção a ela. Os seguranças, acompanhados de , entraram na cabana.
- Já chamamos uma ambulância – anunciou Charlie.
- chamou e a garota foi ao seu encontro -, cuide de . Por favor. Eu preciso resolver algumas coisas, mas eu preciso que você não a abandone.
- Tudo bem – ela disse com lágrimas nos olhos.

beijou os lábios de e saiu da cabana. Foi correndo até o estacionamento da Mice e pegou seu carro. Cantando pneu, ele saiu de lá, sem pedir permissão. E quando ele estava no portal de saída, ele viu a ambulância chegando e se tranquilizou um pouco. Não fazia a mínima ideia do que havia acontecido a , mas ele sabia muito bem o que fazer. Na verdade, ele se culpava por não ter feito aquilo desde o começo. O caminho até a mansão dos Altervallo.

03 de maio, 2008
Mansão dos Altervallo

Ao chegar àquela mansão, ele entrou no pórtico e pediu pra falar com Evandro. Sendo atendido, ele estacionou o carro e correu até a porta de entrada. Foi Evandro que abriu a porta.
- Deve ser algo muito importante, pois você está aqui? – Ele disse indeciso.
- Estou. está a caminho do hospital – disse e observou a expressão de Evandro passou de irônica para preocupada, pela primeira vez.
- Entre – Evandro disse relutante.
Eles foram até o escritório principal, no primeiro andar da mansão. observou o lugar, que mais parecia uma biblioteca. Evandro sentou e apontou para que sentasse na sua frente.
- Eu quero desfazer o acordo – disse.
- Vá com calma!
- Calma o caramba! – se levantou e o olhou bem fundo, seus olhos eram de uma fúria inimaginável. – Eu não acredito que eu aceitei deixá-la! Ela me odeia! Sabe de uma coisa? Depois de tudo o que você fez, ela ainda ama você, ela ainda acha que um dia você voltará ao normal e não será um canalha com ela. Como você pode? Ela está no hospital! Você quer perdê-la como perdeu sua esposa? – Evandro estava pensativo e olhava o garoto incrédulo. ofegava.
- Eu a quero de volta. Por favor, eu nunca quis tanto algo na minha vida. Mas eu a encontrei desmaiada e eu sei como é saber que posso ter estragado tudo. Por favor, Evandro!
- , eu era como você. Apaixonado. Até que eu perdi a minha tão preciosa esposa... E dói muito, até hoje. Eu só quero o melhor para , pode parecer que não, mas a quero bem. Eu nunca quis causar tanto mal a ela e eu só pude perceber isso agora. Você me acompanha até o hospital?
- Claro – disse . O garoto não entendeu qual foi a decisão de Evandro, mas, pela primeira vez, ele pôde perceber um lado mais humano de um monstro. Que talvez não fosse tão monstro assim. Mas no momento aquilo não importava, ele queria ver e dizer pra ela que havia mentido. Que ele a amava.

03 de maio, 2008
Hospital

- Você tem alguma notícia? – perguntou quando viu na sala de espera do hospital. também estava com ela. Os dois se levantaram, Evandro foi falar com a recepcionista.
- Não, levaram-na há mais de meia hora e não nos disseram nada até o momento – disse pesaroso.
- , ela acordou em algum momento?
- Não. – Ela respondeu seca.
- ! – Evandro chamou junto à recepção, do outro lado da sala. O garoto foi ao encontro do pai da garota que estava com uma expressão mais tranquila.
- Ela está consciente. Eu preciso falar com ela, pedir perdão. Ela vai receber alta amanhã à noite. Será que você e seus amigos poderiam preparar uma festa surpresa em minha mansão para recepcioná-la?
- Sim, claro – disse. – Eu vou poder falar com ela?
- Meu caro, peço que todos vocês falem com ela só amanhã na festa. Ela está fraca e o médico disse que ela não pode se estressar. Ela não comeu durante essas últimas duas semanas e precisa se recuperar. Eu vou explicar a situação.
- Tudo bem. – Ele disse de má vontade e voltou para falar com e .
- Como ela está? – perguntou apreensiva.

Capítulo Nove
Hospital
04 de maio, 2008

acordou naquela manhã se sentindo um pouco fraca e com algum desconforto dentro de sua cabeça. Demorou pra identificar o lugar onde estava. A primeira coisa que sentiu foi seu corpo deitado em algo mais duro que sua cama da cabana e um de seus braços suportando uma agulha pregada com esparadrapo. Ela seguiu o fio da agulha e chegou a uma embalagem com um liquido incolor. “Soro”, ela pensou de imediato. “Mas o que eu estou fazendo aqui, meu Deus?”
O quarto era todo branco, sem exceções. Suas vestes e suas roupas de cama eram brancas. Tudo muito hospitalar. E quando concluiu isso, chegou ao resultado de que ela estava mesmo em um hospital. Mas não foi como nos filmes em que havia alguém ao lado dela incansavelmente, chorando para que ela acordasse. “Não deve ter sido grave, então”, ela pensou de má vontade. No momento em que ela pensou levantar, a porta foi aberta.
- Filha! – Disse Evandro, sorridente ao adentrar aquele quarto que, de forma estranha, também tinha o número “103” na porta. “Meu Deus, o que está acontecendo? Acho que eu quase morri! Por que meu pai está assim tão simpático comigo? Não estou entendendo nada!”, pensou.
- Espera aí! Como assim “filha”? Por que você está sorrindo pra mim? – Ela perguntou e no fundo Evandro sentiu que ela perguntava aquilo ressentida.
- Vou te explicar tudo, . – Ele chegou mais perto e sentou ao lado da garota, de uma forma terna. não estava entendendo absolutamente nada. – Por onde você quer que eu comece?
“Pelo começo”, ela pensou, mas não quis ser grosseira no seu primeiro contato amigável com seu pai depois que a mãe de morreu.
- Bom, por que eu estou aqui?
- Você deixou de comer por duas semanas e eu presumo que isso tenha acontecido quando o terminou contigo. – Ele disse calmamente. “Espera um pouquinho! Como meu pai sabe disso?”
- Como você sabe disso?
- Eu preciso te contar muitas coisas, mas preciso que você me escute primeiro, se você tiver qualquer pergunta é só me interromper, tá bom?
- Tá. Por que você está sendo tão legal comigo?
- Calma, . Eu ainda nem comecei e essa é uma das últimas partes da história.

04 de maio, 2008
Mice

, e estavam reunidos na cabana do casal preparando a festa de boas vindas para . ficou encarregada de arrumar o Buffet e a decoração. ficou encarregado de todos os detalhes e da organização da festa. se encarregou de fazer os convites e enviar para quem achava que ia gostar de encontrar nesse momento.

- Bom dia. Gostaria de saber se vocês têm jantar para cento e cinquenta pessoas para esta noite? Para a família . – falava ao telefone em um lado isolado da casa.

Eles combinaram de se encontrar na hora do almoço para tomar conhecimento do que cada um já tinha conseguido. saiu da cabana atrás do que precisava e pegou o computador, chamando alguém que desenhasse o tal do convite. Ele não teria tempo de entregar os convites pessoalmente, por isso enviaria por e-mail. Ele só iria entregar em mãos os convites para os monitores.

04 de maio, 2008
Hospital

- Pode começar, então. – ela esperava nervosa, tinha a sensação de que nem tudo o que sairia da boca do pai seria “perdão” e que esse “nem tudo” seriam coisas ruins.
- Um dia, duas semanas atrás. – ele olhou pra ela sério. – Eu chamei o dizendo que tinha uma proposta irrecusável. Ele foi até a Fundação comigo. Aquele garoto te ama demais.
- Mentira! Seja direto e rápido, por favor. – ela disse friamente.
- Não é mentira, me escute simplesmente.
- É fácil falar quando não é você que está deitado na cama de um hospital só porque não comeu! – Lágrimas começaram a cair de seus olhos. Na verdade, o fato de ela estar ali era o de menos. Ela só estava com medo de escutar o nome dele novamente. Ela morria de saudade dele, de seus braços, de seus olhos, de seu sorriso, de sua voz, de seu cheiro. E enquanto ela pensava nisso, fechou os olhos e sentiu mais algumas lágrimas rolarem por suas bochechas.
- Eu sei que não é fácil, . – ele parou e ela o olhou. Ele estava sofrendo.
- Continue, por favor. – ela disse mais calma. – Qual foi a proposta?
- Simples, ele tinha que terminar com você de qualquer forma e eu nunca mais encostaria um dedo em você. Ele resistiu um pouco, mas no fundo ele percebeu que não tinha escolha. Ele tentou argumentar, mas eu estava decidido. Ele aceitou, porém, impôs que eu fizesse uma exigência à Direção da Mice... Ele disse que eu não poderia substituí-lo na cabana. – Evandro parou de falar e os únicos sons que eram audíveis, eram os de chorando.
- Pai, eu preciso ficar sozinha. – ela o encarou e ele soltou uma lágrima.
- Desculpa por tudo o que eu te causei, durante todos esses anos. Você é forte como a sua mãe. E eu prometo que mudarei, não suporto saber que posso ter te perdido. – ele disse choramingando.
- Você não me perdeu. Eu só preciso de um tempo só pra mim.
- Tudo bem, mas antes as enfermeiras precisam examinar você.
- Tudo bem. – ela disse, secando as lágrimas, e ele beijou a testa de .

04 de maio, 2008
Mice

Depois de algumas horas, pediu duas pizzas pra eles e refrigerantes. já estava de volta à cabana. E os três sentaram no chão pra almoçar.
- E então, eu desenhei os convites e enviei para as pessoas. Só falta entregar pessoalmente aos monitores. O cara da gráfica vai me entregá-los logo. – disse, mordendo um pedaço de pizza.
- Da minha parte, já está tudo pronto! – falou animado.
- Contratei os jantares, garçons, bebidas, decoração, mesas. Mas eu precisava saber de alguns detalhes e liguei para o pai da . – ela olhou a reação de , que no exato momento em que ouviu aquele nome, ficou nervoso.
- O que ele disse? – perguntou. concordou, querendo saber a mesma coisa.
- Ele disse que a tinha acordado e que acabara de sair do quarto. Disse também que contou tudo pra ela. E , ele disse que você saberia o que isso significa.
- Hm. – foi só o que conseguiu dizer.
- Ah, ele disse também que você pode ligar pra ele, se quiser saber mais.
- Vou fazer isso. – levantou e foi até a parte posterior da cabana. Pegou o celular e procurou pelo número de Evandro. Alguns momentos depois, ele atendeu.
- Oi , tudo bem? – Ele cumprimentou simpaticamente, por mais estranho que isso soasse.
- Tudo, e você?
- Tudo bem.
- acabou de me dar o recado e resolvi ligar pra saber mais detalhes. – se ainda tivesse unha, ele roeria. Estava pronto pra dar pulos de tão nervoso.
- Eu contei tudo pra ela. Sobre o dia em que você foi me ver.
- E o que ela disse?
- Ela chorou muito e disse que precisava ficar sozinha. – Evandro informou pesaroso.
- Eu preciso vê-La. – Mauricio disse com o coração apertado. Não aguentava mais ficar longe de .
- Não complique mais as coisas, por favor. Você poderá vê-la na festa daqui a algumas horas.
- Eu sei, mas isso é muito difícil.
- Eu sei, sinto o mesmo. – Evandro disse. ouviu a campainha tocar e presumiu que fosse o cara da gráfica.
- Preciso ir agora. – ele disse quase desligando.
- ! – Evandro chamou alto e voltou a pressionar o celular no ouvido.
- Estou ouvindo.
- Eu... Eu só quero te agradecer por tudo. – Evandro disse hesitante. sorriu fraco e desligou o telefone indo ao encontro de e . Era mesmo o cara da gráfica.
- Estão prontos. – o homem entregou um envelope pardo a e sorriu.
- Obrigada.

xxxx

bateu na porta da cabana de Melinda e Lucas para entregar o convite pessoalmente aos monitores. Ele sabia que gostaria muito que todos eles fossem, mas não tinha certeza se ela gostaria de vê-lo.
- Oi, ! – Falou Lucas. – O que te traz aqui? Faz muito tempo que não o vejo.
- Pois é cara, estou numa correria danada! Enfim, a vai sair do hospital hoje e vamos fazer uma festa surpresa pra ela na mansão. Vim aqui pra te entregar isso. – ele puxou um convite do envelope e entregou a Lucas.
- Iremos com toda a certeza. E como ela está? – Ele perguntou, olhando para os pés.
- Acho que melhor. – meio que respondeu em um sussurro.
- E como você está? – Era assim, os monitores se relacionavam muito bem uns com os outros na Mice, mas as monitoras nem tanto.
- Sinceramente? Nem parei pra pensar em como eu estou. Só quero que ela volte. – “Pra mim”, ele completou mentalmente.
- E logo, né? – Lucas sorriu.
- Claro! Bom, tenho que ir e entregar o resto dos convites. Vemo-nos lá, então?
- Até lá! – Lucas deu um abraço em que saiu um pouco mais feliz.

Faltavam duas cabanas ainda. Ele estava indo em ordem decrescente pelos caminhos de cimento ao redor da fonte. Bateu a porta de Alyssa e Bernardo. Dessa vez quem atendeu foi Aly, que sorriu e o beijou no rosto.
- Como vai, ?
- Bem. Aliás, vim aqui pra dizer uma coisa boa. Cadê o Bernardo?
- Só um pouquinho, que vou chamá-lo. – ela disse voltando e gritou: - Bernardo! – Algum tempo depois ele veio até a porta com uma cara de sono.
- O que é, amor?
- O tá aqui. – ela disse, dando um selinho nele. assistiu aquela cena e quis fazer o mesmo com , mas simplesmente não podia. Bernardo olhou pra porta e viu parado o olhando contente.
- Entra aí! – Bernardo disse.
- Não, mas valeu. Eu só vim fazer um convite pra vocês dois.
- Ai que lindo! Adoro convites! – Aly disse.
- Pois é. A recebe alta do hospital hoje e iremos fazer uma festa surpresa pra ela.
- Ah que maravilha! Estou duplamente feliz pela festa e pela melhora da minha amiga! – Aly comemorou. entregou o convite a eles e se despediu rapidamente. Foi em direção à varanda de e Pedro.

- Oi, .
- Oi , como você está? O Pedro tá aí? – Ele perguntou calmo.
- Não, ele está na piscina. Você quer falar com ele? – Ela dizia com uma voz sedutora e se aproximava cada vez mais dele.
- Sim e não. Pode ser com você também. – ele disse e notou que ela não estava bem intencionada. Queria falar logo e sair dali logo. – Então, a vai receber alta do hospital e resolvemos fazer uma festa surpresa pra ela. Aqui estão todas as informações, espero vocês lá. – ele disse, entregando de uma vez o convite.
- Espera, !
- O que é? – Ele perguntou de má vontade.
- Você não desiste, não é? Você irá ver que a perdeu. Você já estragou tudo. – disse, sorrindo de uma forma estranha.
- Do que você está falando? Você é louca? Só pode! – Ele disse, aumentando seu tom de voz. se jogou nos braços de e ele a empurrou. – Me deixa em paz! – Ele gritou e saiu de lá correndo. Ele só queria o seu lar, sabia pra onde correr.

subiu as escadas da cabana e jogou o envelope pardo fora. Estava igual ao que ele se lembrava, mas a varanda já não tinha mais o jeito de . Estava tudo frio, escuro e vazio. Ele girou a maçaneta da porta e abriu. O interior não estava diferente, mas por um milagre o perfume de ainda estava impregnado no lugar. Ele sentou na cama dela e começou a chorar.
Sentia falta dos beijos, dos sorrisos, das conversas, da simples companhia dela. Sentia falta de guardá-la em seus braços. Pensou que poderia ter aproveitado mais, pensou que poderia ter errado menos. Ele começava a aceitar a ideia de que eles não estavam destinados a ficarem juntos. Lágrimas finas rolavam de seus olhos.
“No que estava pensando?”, ele pensou. Ele ficou muito surpreso com o ataque da garota alguns minutos atrás. Mas não queria pensar nisso, queria pensar nos olhos da garota que amava. Ele queria correr para o hospital e dizer pra ela que a amava. Porém, sabia que isso não era o certo, sabia que o certo era se corroer até a noite e fazer tudo acontecer.

Capítulo Dez
04 de maio, 2008

- Vamos? – Evandro perguntou depois que saiu do banheiro. Ela estava de vestido branco, sandálias e uma maquiagem leve.
- Claro. Já estou liberada?
- Sim, totalmente. E suas coisas já estão no carro.
- Obrigada. – ela disse e saiu do quarto. Despediu-se das enfermeiras e de seu médico que recomendou tranquilidade.
Evandro e saíram do hospital pelo estacionamento. A garota respirou profundamente e algumas lágrimas caíram de seus olhos.
- Por que você está chorando?
- Não sei. Estou feliz de sair do hospital e quero ver meus amigos. – ela disse cabisbaixa.
- Com certeza você os verá logo! – Ele disse, escondendo o rosto para que ela não notasse nada. Evandro sabia que havia herdado a característica “observadora” de sua mãe.
- Pra onde vamos?
- Pra casa.
- Ainda bem. Quero ver a Consuelo.
- Oh, nem me fale! Aquela mulher me importunou o tempo todo. Você ficou uma noite no hospital tomando soro e sendo analisada, mas pra ela parecia que você estava prestes a morrer.
- Eu podia ter morrido. – ela sussurrou.
- Mas não morreu. ! – Ele chamou.
- Fale. – ela parou no meio do estacionamento, o carro já os esperava.
- Eu não posso perder você como perdi sua mãe. Nunca me deixe, por favor. Pode parecer absurdo o que estou te pedindo, mas eu sei que errei.
Ela correu para abraçá-lo e mais lágrimas escorreram de seus olhos já inchados. Os dois caminharam até o carro e então Evandro autorizou para que o mesmo partisse. não conseguia parar de pensar nas pessoas, no que havia acontecido e no que ela havia descoberto. No fundo, no fundo, ela não queria admitir, mas sabia que a pessoa que mais queria ver no momento era .
acordou de seus pensamentos quando o celular de Evandro tocou.
- Alô?
- Oi Evandro, aqui é o . Finge que você está falando com a Consuelo.
- Tudo bem. – Evandro disse contendo o sorriso. – Pare de me atucanar, mulher!
- Não sei do que você está falando, mas você deve atuar bem. – riu. – Vocês já saíram do hospital?
- Sim.
- Em quanto tempo vocês chegam aqui?
- Quinze minutos. Até logo. – Evandro desligou, ele estava nervoso. Não queria que ela suspeitasse de nada.
- Era a Consu? – perguntou rindo.
- Sim, ela está louca pra ver você! – “Ela e mais cento e cinquenta pessoas”, ele pensou.

04 de maio, 2008
Mansão Altervallo

Quando o carro parou na entrada, a barriga de começou a borbulhar de nervoso. Queria ir para o seu quarto ou para a sua cabana. Ela não parava de pensar nele e em como estava magoada com tudo o que ele havia feito. “Poderia ter sido diferente”, ela pensou. Um empregado foi até o carro para buscar as malas e observou Consuelo correr até ela chorando. Consu a abraçou como se não a visse há muitos anos.
- Que bom que você voltou, menina! – Ela disse, chorando, ainda abraçada à .
- Estava morrendo de saudade sua!
- Ah, eu também! Minha menina. Você está se sentindo bem?
- Só um pouco cansada. – disse.
- Vamos entrar? – Evandro perguntou e concordou.
A casa estava perfeita, como ela sempre amou. Por mais que tenha passado momentos complicados na mansão, adorava aquele lugar, mas não mais que a cabana. Ela adorava o cheiro, a textura do carpete quando andava de pés descalços, os sofás gigantes e confortáveis, os cômodos bem distribuídos e iluminados. Ela amava tudo naquela casa.
- Eu quero te mostrar uma coisa no jardim. – Evandro disse.
- O que é? Eu sou muito curiosa, odeio suspense. – resmungou.
- Pare de se queixar, . Você já vai ver.

foi à frente, Evandro e Consuelo estavam seguindo ela. A garota abriu a porta da varanda e seu queixo caiu. Havia no mínimo umas cem pessoas ali, ela reconhecia todos. A maioria estava com roupas claras e quando a viram, gritaram: “Surpresa!” Seus olhos encheram de água, mas ela controlou aquele sentimento no mesmo instante. O jardim estava iluminado por estrelas de luz e as mesas cobertas com toalhas brancas. De um lado as pessoas mais velhas sentavam-se à mesa. Do outro, o pessoal da Mice estava sentado sob troncos de árvore em roda. Uma fogueira leve estava no centro da roda de troncos. Como no primeiro encontro oficial de monitores.
- Quem foi que preparou tudo isso? – Ela perguntou aos dois que estavam atrás dela.
- , e . – Evandro respondeu. – Eles prepararam isso de um dia para o outro, por isso não foram te visitar. Na verdade, eu não autorizei. Você tinha que se recuperar.
- Obrigada, vocês são demais! – disse, abraçando-os, e desceu as escadas até as pessoas que a esperavam.

falou com muitas pessoas. Escutou tantos “que bom que você está de volta”. Agradeceu, beijou, tirou foto, sorriu, agradeceu, beijou, tirou foto, sorriu, agradeceu e escutou muitas coisas boas. Ela queria ver e logo. Quando conseguiu parar um pouco, foi surpreendida pelos dois que apareceram do nada.
- Amiga! – gritou, abraçando-a. Depois deixou que a abraçasse.
- Obrigada, eu amei! – disse sorrindo.
- Que isso! Fizemos isso porque te amamos e queríamos que você ficasse feliz. - disse.
- E eu estou. Obrigada mesmo.
- ! – Chamou Pedro da fogueira.
- Então meninas, o dever me chama. – deu um beijo em cada uma e saiu pra falar com Pedro. As duas ficaram sozinhas e essa era a hora de tirar suas duvidas com a .
- Cadê o ? – Ela perguntou baixo.
- Não sei, ele estava aqui até agora pouco. Deve ter ido ao banheiro ou até a cozinha ver se estava tudo certo. Ele fez grande parte de tudo isso, nós o ajudamos. Mas surgiram alguns problemas e ele que resolveu tudo. – Depois das palavras de , o coração de bateu forte. Ela queria tanto falar com ele, sentir o cheiro dele, beijá-lo.
- Eu quero falar com ele, se você o vir, me avise! Agora eu preciso ir ao banheiro, porque depois eu preciso cumprimentar mais algumas pessoas.
- É assim que se fala, amiga! E ah, vou mandar servir o jantar.
- Perfeito! – disse e sorriu. a abraçou forte e saiu em direção ao namorado.

xxxx

lavava as mãos quando percebeu que não estava sozinha no banheiro. Ela pegou uma toalha descartável e secou suas mãos. Quando se virou para sair do banheiro, deu de cara com que sorria diabolicamente.
- Oi , como você está se sentindo? – perguntou de um modo sarcástico.
- Muito bem. – ela respondeu orgulhosa, mas se sentia fraca e cansada.
- Então, eu preciso de um minuto do seu precioso tempo.
- Pode falar. Meu precioso tempo está sendo desperdiçado com você, então desembucha! – falou. Ela não gostava mesmo de , pois bem.
- Ui, ela está mostrando as garrinhas. – Disse debochando.
- O que você quer comigo, garota?
- Com você nada. Eu quero com o .
- E o que eu tenho a ver com isso? – perguntou, mas estava com medo da resposta. Ela não estava entendendo nada, mas não podia desmoronar agora.
- Eu quero que você o deixe em paz. Eu quero mais uma noite ao lado dele, deitada em seu peito, beijando a sua boca. Eu o quero de novo. – disse e parecia que ela se deliciava com aquelas palavras. tinha vontade de vomitar literalmente. “ dormiu com ?”, ela se perguntou. O sangue de fervia e parecia que ela estava com febre.
- De novo? – Ela perguntou.
- Sim. De novo. Mil vezes de novo. Por que, querida? Ele nunca se entregou pra você do jeito que se entregou pra mim? – Ela perguntou e não respondeu, apenas abaixou a cabeça. queria chorar e bater em , bater muito nele.
- Pobrezinha. Você é um lixo. Rejeitada pelo papai, pelo namoradinho e agora traída.
não conseguiu aguentar os insultos e pulou em cima de . começou a gritar e a se defender. As duas caíram no chão e rolaram. acertou uma bofetada na cara de . Os cabelos de eram puxados por de forma bruta. Agora as duas gritavam como animais. Tapas, socos, puxões de cabelo, gritos, tudo acontecia muito rápido. Elas não paravam de se engalfinhar.
- Sua vadia! – gritou, empurrando .
- Vadia? Eu? Vadia é a senhora sua mãe que criou uma puta de esquina. – gritou .

- O que é isso? – Perguntou Evandro a do lado de fora do banheiro. Os convidados ouviam tudo e o jantar foi interrompido.
- Não sei.
- A está lá! – Disse quando chegou correndo ao lado dos dois.
- Precisamos saber o que está acontecendo. Juan e Charles, me sigam! – Disse Evandro.
- Eu vou junto! – Disse , seguindo-os.
- Não, você fica. – gritou pra ela. parou no mesmo instante onde estava, ela e os convidados assistiram os quatro homens entrarem no banheiro. A música que tocava de fundo na festa também havia parado.
Os gritos no banheiro continuavam. O nariz de sangrava e a boca de estava cortada. , Evandro, Charles e Juan entraram no banheiro e se depararam com aquela cena grotesca: Duas garotas brigando como verdadeiros animais.

não sabia o que estava acontecendo. Só foi entender quando seu corpo foi puxado e ela não alcançava mais , ela queria destruir aquela garota. Ela viu seu pai e Juan segurarem , que se contorcia pra continuar a briga. não sabia quem a estava segurando, mas não se importou. Pensava apenas em destruir a vadia em sua frente.
- Chega! – Gritou Evandro. O silêncio se deu no banheiro e eles escutaram a música voltar a tocar na festa, inclusive escutaram as pessoas voltarem a conversar normalmente. - O que está acontecendo aqui?
- Aquela vaca não aceita! – gritou e apontou pra .
- Quem você pensa que é pra chamar a minha filha assim? – Evandro perguntou bravo. continuava se contorcendo nos braços do homem que a segurava. – Levem-na daqui!
saiu, sendo segurada por Charlie e Juan. Ela mostrou a língua para que apenas observou ela sendo expurgada do banheiro.
- No que você estava pensando? – Disse Evandro e saiu bufando do banheiro. Ele foi tentar acalmar os ânimos dos convidados.
- Será que dá pra me soltar agora? – gritou e os braços que a seguravam soltaram. Ela virou e viu que era , no momento ela queria matá-lo.
- Eu te odeio! – Ela gritou e começou a socar o peito dele. Ele não impediu, só ficou assistindo a garota se acabar de tanto bater nele. As pancadas começaram a doer no peito de e ele segurou os punhos de . A garota o olhou assustada.
- Acabou? – Ele perguntou.

Ele percebeu que ela estava prestes a cair em prantos e não iria aguentar vê-la assim. Ele apenas a puxou para um abraço apertado. deitou a cabeça no peito de e começou a chorar no mesmo instante. Ela chorava incessantemente e ainda batia fracamente no peito dele.
- Eu te odeio! Eu te odeio! Eu te odeio! – Ela dizia quase como um sussurro. só a abraçou mais. Depois de algum tempo ela se acalmou um pouco mais e resolveu que deveria sair dali. Ela se desvencilhou do abraço de . Ele a olhou profundamente.
- Eu preciso cuidar de você. – ele disse e passou a mão na boca cortada dela. O sangue já estava seco, mas estava escorrido pelo queixo de .
fez com que sentasse em um banco estofado do banheiro e foi procurar por uma caixa de primeiros socorros. Procurou nas gavetas, no balcão, atrás das portas de vidro e só foi achar dentro do armário de papel higiênico. Ele caminhou até onde ela estava e sentou. Pegou o algodão e o spray antisséptico, umedecendo um pouco o algodão. Ele a encarou, então tocou em seu rosto e aproximou mais o rosto dela. Depois passou o algodão pra tirar o sangue e na boca. Não foi um corte preocupante, mas o sangue que saiu não foi pouco. Ele acabou de limpar o estrago e jogou tudo fora. Ela continuava sentada e ele apoiou-se no tampo de mármore da pia.
- O que aconteceu?
- Ela me contou toda a verdade. – disse, chorando novamente. Ele chegou mais perto, puxou ela para si e a segurou em seus braços, fazendo com que seus olhares se encontrassem.
- Que verdade?
- Que vocês... – hesitou. – Vocês transaram.
não alterou sua expressão em nada. Ele esperava uma coisa pior até, do tipo “ela me contou que você ficou com trezentas garotas depois que terminamos e que uma delas está grávida”.
- E você acredita nisso? – Ele disse calmo e ela o olhou em dúvida.
- E não é verdade?
- Não. Eu nunca nem beijei a . – ele disse sério.
- Então por que ela diria todas essas coisas? – Ela choramingou e algumas lágrimas caíram de seus olhos. Só Deus sabe como o coração de estava apertado.
- Eu simplesmente não sei.
Os dois ficaram se olhando por um bom tempo. As lágrimas não paravam de cair dos olhos de . Ele respirou fundo.
- Eu nunca tocaria ninguém do jeito que eu te toco. – disse, segurando o rosto de entre mãos. Ela fechou os olhos, aproveitando a sensação boa do toque dele. – Eu nunca olharia pra ninguém do jeito que eu te olho – ele disse e ela abriu os olhos instantaneamente. – Eu nunca beijaria ninguém do jeito que eu quero te beijar. – Ele não deu tempo pra seque pensar. Invadiu a boca dela de uma forma intensa. sentia saudade daquilo, daquele gosto, daquele cheiro, daquelas mãos e daquele toque. Ele a segurava com confiança e se deleitava a cada novo contato de suas línguas. O beijo foi tão bem correspondido.
- . – ela sussurrou, parando o beijo. Ele ficou tão próximo dela. Ele não queria distância nenhuma.
- Fala, gordinha.
Quando o escutou a chamando de gordinha, uma felicidade e uma tristeza enorme a invadiram. Ela amava quando ele a chamava assim. Tão fofo e tão .
- Eu amo quando você... – Ela parou.
- Quando eu? – Ele perguntou aflito.
- Nada, deixa pra lá. Eu preciso descansar e comer. E pensar, também. – Ela queria ficar com ele o resto da noite. Queria que eles dormissem abraçados, mas ela não podia se permitir.
- Eu sei.
- Você vai me soltar? – Ela perguntou e não a soltou. Ele ainda segurava o rosto de em suas mãos e a olhava de uma forma apaixonada.
- Vou. Só promete que me procura quando você estiver pronta?
- Prometo. – ela disse e enfim ele a soltou. Mas não gostou tanto de deixá-lo como imaginava.

05 de maio, 2008
Mansão Altervallo

Depois do acontecimento com no banheiro, ela não o viu mais. Ela ficou na festa por mais algumas horas. Todos torraram a paciência dela, até ela decidir se empanturrar de comida.
- Pai, eu preciso ir. Estou com dor de cabeça, irritada e com sono. – ela disse, rindo um pouco.
- Vai lá, mas se você se sentir mal, me chama imediatamente.
- Claro. Boa noite e juízo. – ela disse a ele e entrou na casa.

As luzes internas da casa estavam acesas, mas nenhum sinal de vida lá dentro. subiu as escadas e foi direto pro seu quarto. Ele estava intacto, cheirava bem e... Ela se sentia bem lá. Era o seu lar. Depois de trocar suas roupas e desligar as luzes, apenas deixando a luz do abajur ligada, foi até seu mural e pegou uma foto dela com . Eles sorriam abraçados sentados na fonte da Mice. Ela sorriu no momento em que analisou a foto.
Ela pegou a foto e levou consigo até a cama. Quando puxou a coberta para se jogar na cama, percebeu um papel.
“A única coisa que justifica o que eu fiz é o amor que sinto por você. E sim, ele é o bastante pra suportar qualquer coisa que aconteça. Procure-me, eu falo sério. Eu te amo, minha gordinha – .”

Capítulo Onze
Mice
05 de maio, 2008

havia ido direto pra Mice depois que deixou a festa. Ele não sabia mais o que fazer e só o tempo poderia responder todas as questões que pipocavam em sua mente. Ele mal sabia o que poderia acontecer, mas fez o que achou certo.
Ele já havia sido autorizado para retornar à cabana 103, mas faltava uma coisa ali que fazia toda diferença: . ainda precisava pegar suas coisas na cabana de , porém depois do que aconteceu, ele estava receoso.

05 de maio, 2008
Mansão Altervallo

- , acorda! – Disse Consuelo, sacudindo a garota que ainda dormia. – Acorda! Acorda!
- O que é, Consu? – perguntou ela, ainda sonolenta e esfregando os olhos.
- Você precisa voltar pra Mice, pros seus amigos e pro – disse ela sorrindo.
- Já estou indo! – Ela disse, resmungando, e Consuelo saiu do quarto.
- O café da manhã está pronto, desça logo. Escutou, ? – Gritou Consuelo.
- Sim – gritou .

tomou um banho demorado com muita espuma e conseguiu relaxar o bastante pra pensar no que fazer. Tinha certeza de que ela não estava pronta pra sair de casa e muito menos enfrentar seus amigos e o . A noite anterior tinha sido surpreendente. E ela decidiu que ficaria mesmo em casa, ela queria um dia de calma, de descanso.

06 de maio, 2008 Mice

estava atucanado com a ideia de que não havia ido à Mice no dia seguinte da festa, na verdade ele ficou arrasado. Ele esperava por tantas coisas, pra dizer coisas a ela, pra tê-la novamente... Mas ele tinha que tomar conta de sua vida que ficou jogada na última semana depois de tudo o que aconteceu. Ele pretendia buscar suas coisas na cabana de naquele mesmo dia, só precisava tomar café da manhã.
No momento em que bateu na porta da sua antiga cabana e abriu a porta já se insinuando, um pequeno pensamento passou por sua mente: “Eu definitivamente não deveria estar aqui”.
- Bom dia, ! – Cumprimentou sorridente e linda àquela hora da manhã. Ninguém se vestia impecavelmente, com maquiagem perfeita e cabelo superficialmente brilhoso às oito horas da manhã.
- Bom dia, eu vim buscar minhas coisas – ele disse seco.
- Pode entrar – ela disse, virando o corpo um pouco. entrou e pegou a mala mais a mochila.
- Obrigada, – ele disse, virando-se um pouco pra ela antes de descer as escadas.
- ! – Ela chamou e ele se virou novamente pra ela com a mala nas mãos.
- O que é?
saiu correndo na direção de e o abraçou pelo pescoço; E em questão de segundos a garota já colava os lábios nos dele. Fica bem claro que o não abriu passagem para a interação de suas línguas. Ele largou a mala no chão e a empurrou.
- O que pensa que está fazendo?
- Eu achei que você queria – ela choramingou tentando atingi-lo, mas no momento ele não estava nem aí se ela chorasse.
- Você nunca desiste, não é? – Alguém disse do pé da escada. Esse alguém era e ela subia a escada furiosa. Nenhum dos dois entendeu se aquilo foi para a ou para o . Ninguém respondeu. Ela chegou ao fim da escada e parou ao lado de , que estava a dois passos de .
- Do que você está falando? – Perguntou . estava apreensivo, por que ela tinha que chegar na pior hora?
- De você, é claro! Já não chegou a surra que eu te dei ontem? Você quer mais?
- Surra? Quem está com a boca cortada é você, garota.
- Quem está rebocada aqui é você e aposto a minha unha quebrada que você está escondendo alguns muitos hematomas – riu baixo satisfeita.
- Deu? – Perguntou .
- Não deu! – Respondeu , olhando-o, brava e voltou a olhar . – Se você fizer mais alguma coisa comigo ou com o , você vai se ver comigo. E acredite, você não vai querer descobrir quais são as consequências! – disse e segurou o pulso de , que pegou a mala, e a seguiu pelo campus.
foi até a sua cabana com o seu . Depois que ela o soltou e ele colocou a mala no chão perto de sua cama, o encarou. As sensações que a assolavam eram avassaladoras e nem como agir ela sabia. Eles ficaram se olhando por um tempo, parecia que nenhum dos dois tomaria a iniciativa de pelo menos falar algo. Até que o silêncio se tornou insuportável e a garota disse:
- E agora? – Ela perguntou e hesitou antes de falar.
- Não sei – ele disse simplesmente. E a situação pode ser deixada de lado, apenas por algum tempo, após a campainha soar. levantou da cama e foi anteder. Eram e .
- ! – Ela gritou, atirando-se nos braços da amiga. beijou e foi ao encontro de . – E então como você está? Co-como vocês estão? – Ela perguntou incerta.
- Eu estou bem e... Não sei, eu acabei de chegar e a gente estava... Conversando – disse insegura.
- Oh, me desculpe! Nós só viemos ver como você estava e avisar que depois de amanhã é a viagem para a sede campestre da Mice. Vocês vão, não é? – A garota perguntou esperançosa, olhando de um lado para o outro e analisando a expressão da amiga.
- Acho que sim – disse. – Nem parei pra pensar nisso, ainda.
- Pense, então. Vamos jantar juntos hoje à noite? Na nossa cabana? – perguntou.
- Boa ideia, as coisas nessa cabana devem estar velhas e a gente não se ambientou ainda – respondeu . Eles agradeceram o convite e combinaram o jantar, depois disso o casal de amigos foi embora para que se instalasse novamente O Silêncio Constrangedor.
- Chega disso! – disse com raiva da situação.
- O que você quer que eu faça?
- Me diga o que você quer fazer – ele disse, aproximando-se dela restando apenas uma fresta entre eles. Ele a olhava intensamente.
- Eu quero que você saiba que eu pensei muito sobre tudo o que aconteceu. Depois que eu descobri que você rompeu nosso namoro por causa de um pedido do meu pai, as coisas ficaram mais claras. E eu briguei com a na minha festa, aliás, obrigada por ter organizado aquilo – ela disse sorrindo e ele sorriu junto. – Eu não vim ontem, pois eu realmente precisava de um descanso e colocar as ideias no lugar.
- E você conseguiu?
- Na verdade, não muito. Ainda mais depois do que eu vi hoje pela manhã. Eu não sei se confio mais em você. Eu sou muito grata pelo que você fez por mim, sabe? Mas eu não consigo lidar ainda com tudo o que eu passei. Talvez, no começo, eu idealizasse que o nosso amor fosse intocável. Intocável pelos outros, mas eu não imaginava que o primeiro que pudesse tocá-lo fosse você. E não apenas tocasse ele, mas o danificasse – ela disse, com lágrimas nos olhos, e percebeu que pela primeira vez ela pode dizer o que queria com clareza.
- E agora? – Ele repetiu o que ela disse com a voz embargada. A última vez que havia visto o olhar de daquele jeito foi no refeitório da Mice depois que eles terminaram.
- Eu preciso de um tempo. É isso, eu preciso de um tempo. Mas saiba que não é um tempo de incertezas, na verdade, é um tempo de muita certeza. Certeza de que eu só preciso desse tempo pra reconstruir minha confiança e, com isso, deixar esse medo de lado.
- Medo de quê, gordinha? – Ele disse, aproximando-se mais e segurando o rosto de entre mãos.
- De você.
O demorou pra cair na real depois do que ela disse, mas depois que caiu ele a puxou pra perto. Acomodou-a em seu peito e começou a cantar.

I love this place, but it's haunted without you
Eu amo esse lugar, mas ele é assombrado sem você
My tired heart is beating so slow
Meu cansado coração está batendo tão devagar
Our hearts sing less than we wanted
Nossos corações cantam menos do que nós queríamos
We wanted
Nós queríamos
Our hearts sing 'cause we do not know
Nossos corações cantam porque nós não sabemos
We do not know
Nós não sabemos

Quando parou de cantar e olhou o rosto de , viu que as lágrimas escorriam pelo rosto da garota e no mesmo momento ele prometeu pra si mesmo que ele deveria fazer algo pra que ela parasse de sofrer de uma vez por todas. Porém não era o momento ainda.
- Eu preciso me recompor antes do jantar – disse, olhando-o no fundo dos olhos, limpou as lágrimas na manga da blusa e foi para o banheiro.

xxxx

- Acho que a gente precisa de algumas explicações – disse. Os quatro jantavam na cabana de e . Eles estavam sentados no chão da cabana em uma roda comendo frango à xadrez do China In Box.
- Que tipo de explicações? – perguntou.
- Ah, nem eu sei! Só sei que estamos meio perdidos nessa história com o pai da e você – disse.
- É, eu não entendi direito o que aconteceu! – disse frustrada.
- É meio longa a história, mas vocês precisam prometer que não vão contar pra ninguém sobre isso.
- Nós prometemos, . – disse e se preparou pra ouvir o que ele já sabia, mas ele queria escutar da boca dela.
- Então... – Ela olhou rapidamente pra , que não esboçou nada contra ela contar. – Minha mãe morreu em um acidente de carro e eu estava com ela, mas só ela morreu. Meu pai sempre me culpou pela morte dela e depois de um tempo até eu comecei a acreditar nisso. Eu cresci com um pai volúvel e que me machucava. Ele brigava comigo a qualquer hora, me batia e sempre me deixou pra baixo. Eu sabia que ele sofria muito sem ela, mas eu nunca achei que merecesse. Enfim, eu vim pra Mice e vocês sabem a história da lenda, da fonte e dos meus pais. Meu pai apareceu um dia aqui querendo que eu fosse pra ala comum da escola e deixasse a monitoria. O interveio antes que ele pudesse me bater, ele machucou o e depois me machucou também. – Ela respirou fundo e pensou um pouco. – Acho que essa parte você pode contar melhor.
- Tudo bem – disse. – Depois de algum tempo, o Evandro me chamou, impôs que eu terminasse com a e eu perguntei o porquê disso. Ele disse que se eu fizesse o que ele estava pedindo, ele nunca mais tocaria na . Eu fiz o que ele disse, eu cheguei um dia em casa e fiz com que ela acreditasse que foi usada por mim. Que eu não a amava – ele olhou para a garota que respirava pesado, tentando controlar o choro. – Mas era tudo mentira. Enfim, o depois vocês sabem. Eu briguei com o Bruno, estava morando com a .
- Pois é. Eu não me alimentei direito, eu estava muito deprimida por tudo o que aconteceu. Eu realmente havia me entregado ao – e depois dessas palavras, ela não pode conter as lágrimas silenciosas. – Eu tive essa merda de doença. No hospital, meu pai veio me procurar arrependido. Eu nunca havia visto o Evandro daquele jeito. Ele estava destruído, mas eu estava mais. Eu o perdoei por tudo o que ele fez e ele sem dúvida nenhuma mudou – deu um sorriso breve e encarou as expressões estupefatas dos amigos, mas não teve a coragem de olhar pro .
- Eu não imaginava tudo isso. E como você fazia pra esconder os machucados da imprensa?
- Ah, é aí que se esconde o meu truque! – Ela deu uma risada mais animada. – Eu tinha uma clinica que assinou um contrato com a minha mentora, a Consuelo, para que eles apagassem os machucados e não contassem para ninguém o que viam. Funcionou muito bem durante todos esses anos.
- Você é muito forte, minha amiga – disse emocionada. – Nunca pensei que você pudesse passar por isso e ainda perdoar.
- Talvez.
- , vou te perguntar uma coisa e quero que você não se ofenda. Não estou correndo em defesa do . Se você consegue perdoar o seu pai, depois de tudo, por que não consegue perdoar o ?
pensou por um tempo. Você é muito forte, “você está enganada , eu sou tão fraca a ponto de não conseguir perdoar a pessoa que conserva amor por mim”, pensou. Mas ela simplesmente não conseguia quebrar aquela barreira. Ela olhou e ele sorriu fraco pra ela. Os dois sabiam que aquilo levaria um tempo, mas ela sentia muita falta dele.
- São coisas do meu coração – ela disse e a conversa foi encerrada dessa maneira.

Após voltarem para a cabana e tomarem seus respectivos banhos. e se jogaram no sofá, um em cada ponta, para assistir ao programa da Ellen.
- Eu adoro a Ellen, morro rindo quando ela dança e o jeito dela. Admiro-a!
- Pois é, ela é fodona! – disse e os dois caíram na gargalhada.

07 de maio, 2008
Mice

acordou sorrindo por dois motivos: O primeiro era que ela não acordou no sofá, mas sabia que havia pegado no sono lá e concluiu que o tinha carregado ela até sua cama. O segundo era porque ela sabia que no dia seguinte todos os monitores iriam viajar. Ela sabia também que aquela viagem seria de arromba e isso não era motivo de felicidade, ela sabia que muitas coisas poderiam acontecer.

Capítulo Doze

Mice
08 de maio, 2008

estava com a testa encostada no vidro do micro-ônibus enquanto todos os monitores dormiam. Seria normal se a galera estivesse tocando violão, cantando e falando sobre a viagem, mas era muito cedo. Tipo, seis horas da manhã. Depois que todas as malas foram depositadas no andar de baixo do veículo e os monitores já estavam devidamente instalados com suas duplas, eles puderam iniciar a viagem que teria duração de 4h.
A garota estava surpresa porque seu pai ligou alguns minutos antes dela embarcar. Ele disse: “Boa viagem, minha filha. Aproveita o máximo e eu sentirei a sua falta.” Afinal, eles não podiam levar celulares e nem aparelhos eletrônicos para a sede campestre, era quase como um retiro. Só não era retiro, pois lá eles iriam assistir televisão. Ela ficou surpresa por ele ter ligado, mas ao mesmo tempo ficou feliz por ter esse tipo de carinho.
- ?
- Oi, cochichou baixinho para , que estava sentada ao seu lado. e sentaram juntos no fundo do ônibus, eles resolveram assim pra não forçar a situação já de inicio. – O que você quer? Pode voltar a dormir, amiga, ainda falta muito.
- Você não vai dormir?
- Por enquanto, não. Quem sabe mais tarde? Se algo acontecer eu te chamo, tá?
- Tá bom, obrigada, amiga. Vê se desliga essa mente um pouco – disse, sorrindo fraco, e encostou-se ao banco que estava reclinado. Ela suspirou uma vez mais e voltou ao seu sono profundo.
pôde voltar à sua mente, que realmente não desligava, para estabelecer algumas regras pré-viagem.
1. Não chorar.
2. Não brigar.
3. Não beijar.
Pois é, essas eram as regras e ela sabia que teria dificuldades em cumpri-las, mas eram necessárias. Aliás, extremamente necessárias.

xxxx


07 de maio, 2008
Sede campestre

- Monitores, sejam bem-vindos! – Os dez monitores observavam a Diretora e o professor de história falar. – Primeiro, queremos dizer que esse será um passeio interessante. Vocês poderão fazer o que quiserem até a hora do almoço, depois, as atividades que planejamos começam. Não serão atividades, na verdade nós só planejamos alguns lugares para que o grupo fique unido.
- Agora, antes de qualquer coisa, vou dizer algumas regras simples: Proibida a entrada de meninos na ala feminina e vice-versa. Proibido beber, fumar e bagunçar. Os quartos serão divididos em duplas e vocês só vão saber seus colegas quando chegarem às alas. Proibido brigar, fugir e usar celular. Espero que você aproveitem os próximos três dias! – Disse a puta da Diretora com todas aquelas regras, mas queria saber com quem iria dividir o quarto.
Os monitores correram para os quartos. Para a surpresa das meninas, os professores “mesclaram” bastante e dividiram os grupos. Melinda ficou com a Diretora, com e com Alyssa. Nem preciso dizer que foi pânico e certeza de coisa ruim pra todos os lados, não é? Então, elas entraram nos quartos e se deparam com camas grandes, dois banheiros, bar com café e refrigerantes, televisão e um DVD que disponibilizava alguns filmes.
As meninas só largaram as malas e já voltaram para o saguão, encontrando , e Lucas lá.
- Como ficou a distribuição dos quartos de vocês? – perguntou para .
- Eu fiquei com o ! Isso aí! – Os dois fizeram high five e sorriram contentes, pelo menos eles. – O Lucas ficou com o Pedro e o Bernardo com o professor. Ficou tranquilo, e vocês?
- Ih, não posso dizer o mesmo! Juntaram a e a ... – disse apática.
- Sério? – perguntou perplexo. – O mundo inteiro sabe da confusão que isso pode dar.
- Foi isso o que eu pensei, mas vamos esperar pra ver. Nenhuma das duas reclamou.
- Isso sim é estranho! – disse.
O almoço passou tranquilamente, os monitores e professores sentaram à mesa juntos. As conversas eram animadas e todos comentavam sobre a trilha e o banho de cachoeira que aconteceria na parte da tarde. estava quieta e não deixou de notar, mas sabia que era porque ela ainda estava um pouco deslocada. Ele sentia falta de poder falar com ela naturalmente, sem a sensação de o simples ato de iniciar um diálogo já ser algo fora das regras. Parecia que existia uma barreira entre os dois. Ele sentia falta de dormir com ela em seus braços e principalmente de não falar nada, porque os dois tinham uma comunicação sutil. odiava essa distância, mas não deixaria assim por muito tempo.
pensava na razão pela qual os professores colocaram a e ela no mesmo quarto. Que tipo de besteira eles tinham na cabeça? Porém, ela não ia deixar que aquilo abalasse a viagem que ela tanto esperou, ela esperava por isso antes de tudo o que aconteceu. Agora ela pretendia esquecer o que passou e recomeçar.
- Monitores, vão para os seus quartos e se preparem para uma tarde muito divertida! – A professora falava, enquanto os alunos não conseguiam parar seus corpos nos bancos. – Os guias já estão nos esperando. Vão e não esqueçam a roupa de banho!
Ela não precisou dizer duas vezes. Os monitores prontamente se levantaram e correram para os seus quartos. vestiu o biquíni que havia ganhado de uma fã do México e, por cima, colocou um vestido com estampas do verão. retocou a chapinha e a maquiagem.
- , por que você está retocando a maquiagem se a gente vai pra cachoeira?
- Não, minha querida. Você e seus amiguinhos vão pra cachoeira, eu vou curtir minha viagem com um tipo de diversão que você nem conhece.
- É sério? – disse debochada. – Vai brincar nos tobogãs?
- Não, sua idiota! – Ela chegou mais perto querendo intimidar a outra garota, mas não se moveu e a encarou. – Olhe aqui, eu não quero mais me meter na sua vida e nem na do , eu só quero distância de pirralhos como vocês. Então, vai cuidar da sua vida! – ameaçou.
- É , pena que você não pensou nisso antes de fazer tudo o que fez. E saiba que quem quer distância sou eu, então, aproveite! – disse, pegou sua toalha e saiu do quarto.
Ela pensou que por um lado seria bom, porque ficou claro que não queria nem mais saber do , mas não achava a garota tão ruim assim. Na verdade, achava que a víbora podia ter um lado bom, só que foi tão rejeitada pelos pais que não se permitia confiar em alguém. Se bem que não teve o pai por muitos anos, por mais que ele estivesse vivo, e ela sempre fora maltratada, mas nunca descontou isso em ninguém.
Quando a garota chegou ao longe da sede campestre, todos os outros monitores já estavam devidamente vestidos e saltitando.
- , você sabe onde está a ? – Perguntou a professora.
- Ela disse que iria demorar um pouco e que depois pediria para outro guia levá-la à cachoeira.
- Tudo bem – concordou a professora e reuniu os monitores em uma roda em torno do tal monitor. O cara era o tipo brega antigo que sabe biologia, ele usava um colete vermelho, bermuda caqui, botas de escalada, óculos laranja e, pra melhorar a aparência, uma pochete.
- Meu Deus! O que é isso? – cochichou no ouvido de e as duas riram baixinho, enquanto o guia que “prefere ser chamado de John” dava instruções de como andar na mata. Afinal, quem se importava em como chegar?
- Não sei, só sei que eu quero ir logo para a cachoeira. Ouvi falar que uma parte da trilha é molhada – comentou baixo.
- Adoro essas aventuras comedidas! – As duas riram novamente. – Então, como foi com a ?
- Ela disse que tem coisas melhores pra fazer do que ficar andando com pirralhos como nós. Ainda disse que vai deixar eu e o em paz! – disse em tom de desdém.
- Ah amiga, eu acho essa garota muito problemática! Vamos aproveitar os nossos três dias de descanso com nossos garotos.
- Nossos não – corrigiu rapidamente.
- Não me venha com essa! Sei que você está louca pra agarrar o e ficar grudada nele pelo resto da viagem – sussurrou e viu que a amiga ficou tristonha. – Ei, o que aconteceu?
- Quem me dera poder ficar assim com ele, mas não é bem assim.
- Deixa de ser complicada! – falou alto e a professora as repreendeu, fazendo com que as duas parassem de fofocar e prestassem atenção no guia-brega.
A trilha foi muito apavorante, parecia que nunca terminava. Talvez porque eles quisessem chegar logo à cachoeira. ia atrás dos professores e a segurava pela cintura quando ela escorregava. ia logo atrás do casal e estava à sua espreita. Os dois não conversavam, mas escorregou algumas vezes nas pedras molhadas e o prontamente a segurou em todas as situações. Ela agradecia e continuava envergonhada. não apareceu.

07 de maio, 2008
Cachoeira

Depois de meia hora, eles chegaram a uma clareira e ao lado havia uma cachoeira forte. achou aquele lugar um santuário. O silêncio, os pássaros, a água em abundância que caía direto em um grande rio que era cercado e contido de pedras grandes. Tudo naquele lugar era mágico. Os monitores não hesitaram e foram logo se jogar na cachoeira, deixando as roupas jogadas nas pedras secas. ficou os observando com um pouco de vergonha de tirar a roupa.
- Não precisa ter vergonha – passou por ela e sussurrou. “Como ele sabe?”, ela se perguntou.
Ela sorriu e tirou o vestido por cima, correndo para junto de seus amigos. Os professores e o guia se sentaram em uma pedra grande para conversar e fiscalizar o que os monitores faziam. A água não estava gelada. A primeira diversão foi se jogar de uma pedra alta que tinha na parte da frente da cachoeira. Depois eles descobriram que dava pra entrar em uma caverna atrás da queda d’água, era só mergulhar fundo e passar a queda. Um por um eles foram até que todos estavam na caverna. Era lindo ver a luz bater contra a água e brilhar, só que era muito frio dentro da caverna e as garotas já estavam batendo queixo. , , Melinda e Alyssa voltaram para a parte calma do rio. Os meninos demoraram mais, mas voltaram. Eles criaram uma rodinha que incluía conversas, afogamentos e cuspe de água. Até briga de galo eles fizeram, os ganhadores foram e .
- Monitores, venham comer!
Ninguém esperava pelo piquenique que os professores organizaram, mas estava delicioso. Morangos frescos, empadas, sanduíches, sucos de caixinha e brigadeiros. Comeram até não aguentarem mais.
- Água? – Falou Lucas, olhando para o resto dos garotos, que correram novamente para o rio e ficaram brincando sob a cachoeira. As garotas ficaram conversando e mais tarde foram mais uma vez para a margem.
Quando começou a escurecer, os professores os chamaram para voltar à sede, porque eles ainda precisavam tomar banho para o jantar. Os monitores se vestiram e, quando iam voltar para a trilha, escutaram gemidos e passos. O guia disse que iria verificar o que era e fez pose de macho, mas notou que suas mãos tremiam. A luz já não estava mais tão forte e a noite começava a se aproximar. Os monitores e professores seguiam o guia em silêncio. Quando eles chegaram a uma parte de mata aberta, eles se depararam com agarrada a um homem de trinta e poucos anos, vestido da mesma forma que o John.
- O que é isso? – Perguntou a professora. “O que será que é?”, pensou irônica.
Quando se deu conta de que uma platéia a assistia, ela pegou suas roupas no chão e cobriu os seios. O homem tapou as partes baixas, pois alguma coisa aconteceu com o seu órgão genital. tentava conter o riso e viu que também. A cena era grotesca, os dois pelados no meio do nada, excitados e gemendo. não sabia onde colocar a mão.
- Direto para a sede, ! Agora! – O professor tomou as rédeas da situação, pois a professora não saía de seu estado de perplexidade. – E vocês, acompanhem o guia! – Nem o guia sabia o que fazer, ele endureceu o corpo e nos olhou como quem quer amenizar a situação. Aliás, ninguém sabia o que fazer, alguns riam, outros contorciam a cara de nojo.
- Eu não estou acreditando! – disse para os amigos, que gargalharam.
- Acho que você vai acabar ficando sem colega de quarto – disse.
- Será que é pra tanto? – Eu perguntei desconfiada, pois eles sempre diminuíam as loucuras que aprontava.
- Com certeza, essa garota não é certa da cabeça! – riu e correu até a entrada da trilha molhada. – Amor, vem me ajudar! – Ela gritou para que correu na direção dela. Restaram e , que caminhavam um ao lado do outro calmamente. Não era estranho, era apenas calmo.
- Quer jantar comigo hoje? – perguntou e viu o sorriso que surgiu no rosto da garota, fazia muito tempo que ele não a via sorrir daquele jeito.
- , por favor, não começa! E hoje a gente vai jantar junto, aliás, todos os monitores – ela disse com uma feição de tristeza e impotência. “O que eu faço?”, ela pensou.
- Depois do jantar, então – ela sabia que ele não desistiria tão fácil.
- Eu só vou se você me prometer uma coisa – declarou, parando de andar na trilha molhada e quase caindo. Ele a segurou pelos cotovelos até que ela se firmasse novamente. – Obrigada – ela disse envergonhada.
- Prometer o quê? – Ele perguntou, ainda a segurando em seus braços.
- Que não a gente vai ir com calma.
- Eu prometo – ele disse, beijando a testa de e voltando a andar na trilha, puxando a garota, pois eles estavam ficando para trás.

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07 de maio, 2008
Quarto de

não deu sinal de vida e as coisas dela já não estavam mais no quarto quando chegou. Ela chegou a pensar que a garota tinha sido trocada de quarto, mas preferiu pensar que os professores tinham sido justos e a mandado pra casa. Porém, tinha coisas muito mais urgentes pra organizar.
“Eu não sei o que fazer, eu não sei se estou preparada pra enfrentar todos os sentimentos que eu tenho deixado de lado”, ela pensava. No fundo, ou nem tanto assim, sabia que o dom de era despertar os mais fortes sentimentos na garota, desde ódio até paixão. Ele sabia exatamente como fazer isso e ela sabia que não tinha como resistir, mas também sabia que podia adiar.
A batida na porta do quarto a despertou de seus devaneios e ela correu para preparar sua muda de roupa para o banho.
- Quem é? – perguntou do banheiro.
- !
- Entre!
- Agora você está livre! – gritou num ímpeto ao entrar no quarto de , que se assustou e ficou se perguntando o que aquilo significava.

Capítulo Treze
Em um dos quartos da sede

08 de maio, 2008

fez uma cara esquisita, como se não estivesse entendendo nada, e gargalhou.
- Do que você está falando? – perguntou.
- Você ainda não soube? – A amiga perguntou e negou balançando a cabeça. – A foi embora! E o melhor é que você vai ser transferida pro meu quarto, pois não pode ficar aqui sozinha. – comemorava.
- Depois do que ela fez, isso é o mínimo! – dizia, entrando no banheiro e deixando a porta aberta. – O que foi aquilo? Foi nojento! – As duas riram e se olharam fazendo cara de quem vai vomitar. – Então, eu posso recolher minhas coisas e ir para o seu quarto?
- Pode, foi isso que vim fazer aqui. A professora me deu essa missão!
- Depois do meu banho eu vou. E tem espaço?
- Isso é o de menos. O mais importante é que a gente vai te encobrir hoje à noite – ela falou com sorriso de vitória no rosto e a encarou com um misto de espanto e segurança nos olhos.
- Do que você está falando? – Perguntou ela tentando demonstrar frieza.
- Você sabe, mas só conto se você admitir que sabe do que está falando – disse e sabia que a curiosidade era o ponto fraco dela.
- Admito. Ele me pediu pra sair com ele.
- Eu sabia! – gritou rindo e depois de um longo tempo se acalmou. entrou no banho e fechou a porta do Box. sentou na privada, que estava com a tampa fechada, para que as duas pudessem conversar.
- Será que dá pra me falar logo? – perguntou impaciente.
- O disse pro , simples. Só que eu lembrei que depois do jantar a gente não pode sair e deu tudo certo, fiz a cabeça da professora pra não te deixar sozinha no quarto e a Alyssa concordou em nos ajudar. – disse e ficou encarando ela com a porta do box aberta, com um olhar de admiração. – O que é, sua louca?
- Não sei – saiu de seu transe. – Mas você mudou, parece mais feliz.
- E você mais triste – sussurrou e não percebeu o que tinha falado. já estava com os pés descalços sobre o tapete, uma toalha enrolada nos cabelos e outra no corpo. As duas ficaram se olhando até que saiu do banheiro quieta e foi sentar em uma das camas. se vestiu, sem conseguir parar de pensar no que disse.
escutou os passos da amiga que saía do banheiro e a olhou. Quando percebeu, lágrimas caiam dos olhos de . Ela não sabia o que fazer e nem se a garota estava chorando pelas coisas que ela falou.
- Desculpe, eu não quis falar aquilo.
- Claro que você quis. Será que eu posso ficar sozinha? – disse em tom sarcástico enquanto secava as lágrimas.
- Quem é você, garota? Eu não te conheço mais! Eu estava apenas tentando te ajudar! – se sentiu ofendida e ficou magoada com as palavras da amiga.
- Eu nunca pedi ajuda, eu nunca disse que você poderia se meter na minha vida – disse brava e, quando percebeu, já tinha falado o que não queria falar, foi entender a merda que havia dito quando observou a expressão de passar de magoada pra raivosa.
- Eu, definitivamente, não preciso disso e nem de você! Não fale as coisas como se eu te devesse algo e não fala mais comigo! – saiu do quarto batendo a porta.

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07 de maio, 2008
Jantar dos monitores


O local do jantar era lindo. Tinha muitas mesas e alguns casais, afinal, qualquer sócio da Mice poderia trazer quem quisesse para a sede campestre. Havia um palco onde um homem tocava violão e cantava uma música calma. chegou e a maioria de seus colegas já estavam sentados. , quando a viu, virou a cara e cochichou com algo que não deu pra entender. respirou fundo e deu alguns passos até chegar à mesa.
- Sente-se, garota! – Disse a professora, visivelmente alterada por ter ingerido alguns copos de vinho junto com o professor. Ela estava com um vestido decotado e sorria sensualmente para o professor, que correspondia.
se sentou ao lado de , na ponta da mesa, e à frente de , que sorriu abertamente para ela. A garota só queria fugir dali, estava cansada, morrendo de vontade de chorar e não sabia o que estava sentindo. Ela sabia que precisava de uma boa noite de sono para que seus sentimentos se aquietassem.
- A professora está ficando bêbada – comentou rindo.
- Ela e o professor ainda vão ficar juntos – disse.
- Licença – pediu, saindo da mesa e indo na primeira direção que apareceu.
- ! – a segurou pelo braço e a puxou até que ficassem com os corpos colados. Quando seus olhares se encontraram, sabia que só estava perdida daquela forma porque estava longe dele.
- O que é? – Ela sussurrou, sentindo a respiração de na sua bochecha.
- O que está acontecendo?
- Eu só quero ficar sozinha, apenas isso! Será que ninguém entende? – Ela disse bufando e já não aguentando mais.
a puxou contra seu peito e ela deitou a cabeça no peito dele. Eles se abraçavam como se aquilo fosse algo muito necessário. sentia suas forças cederem e as barreiras começarem a caírem aos poucos. O cheiro dele, o calor, as mãos, não havia nada nele que ela não sentisse falta. o sentia relaxar sob seus braços, ela se sentiu deixar levar pela saudade. A garota escondeu o rosto no abraço de e ficou ali respirando.
- Vai pro quarto e a gente janta junto amanhã, pode ser? – Ele sussurrou, beijando a testa dela.
- Eu estou com medo – ela disse, agarrando-o ainda mais, a última coisa que passava pela cabeça de era soltá-lo.
- Medo de quê?
- De ficar sozinha – ela suspirou.
- Eu tenho medo de ser tarde demais – ele disse calmamente como se aquilo fosse algo que se encaixasse no contexto.
- Não é – ela disse se afastando. – Boa noite, gordo.
- Boa noite, gordinha – ele sorriu, mostrando todos os dentes. Ele queria morder ela, morder suas bochechas que mostravam covinhas por ela estar sorrindo. Porém, ele sabia que não era o momento certo e deixou-a ir.

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08 de maio, 2008
Em um dos quartos da sede

sabia que precisava consertar as coisas quando acordou naquele quarto sozinha. Nem tudo estava no lugar certo na mente dela, mas o sono ajudou a clarear os pensamentos. Ela pensou que já estava na hora de os monitores estarem se arrumando para o penúltimo dia de viagem. se vestiu e foi direto ao quarto de . Ela bateu na porta e aguardou até que viu Alyssa abrir a porta.
- Bom dia, – a garota cumprimentou abraçando-a com um sorriso imenso no rosto.
- Bom dia – disse retribuindo. – Posso falar com a ?
- Pode, eu vou deixar vocês conversarem e vou encontrar meu amor.
- Obrigada – estava realmente grata pela ajuda de Aly.
viu que a amiga estava tomando banho e decidiu esperar para que elas pudessem conversar diretamente. A garota demorou a sair do banho, mas quando saiu, viu que estava sentada em uma das camas à sua espera. acabou de se vestir e sentou na cama desocupada, de frente para .
- O que você quer? – disse impaciente.
- Conversar e te pedir desculpas, eu não deveria ter falado aquilo – disse nervosa.
- Mas falou, ! O problema é que você está virando outra pessoa, o está virado em um trapo de tão deprimido que está. Só você não consegue enxergar como ele muda quando você chega, parece que ele brilha. Se permita amar novamente. Eu não estou brava com você, só estou triste. Eu estou perdendo meus amigos aos poucos – se levantou e andou de um lado para o outro falando e gesticulando com as mãos. – Minha amiga, por favor, você sabe que as coisas não estão bem.
- O que você quer que eu faça? – perguntou frustrada. Ela sabia que tudo o que disse era verdade, mas não via nenhuma saída para a situação.
- Não quero que você faça nada. Eu amo o e sei que ele fará o possível e o impossível pra ter você, você só precisa acreditar nele. Por que é tão difícil? – perguntou, ajoelhando-se e se apoiando nos joelhos de . As duas se olhavam e pôde perceber os olhos da amiga acumularem lágrimas.
- É que quanto mais a gente ama, mais a gente sofre. Eu passei por momentos terríveis sem ele, eu cheguei a acreditar que ele nunca me amou. Aceitar isso não foi fácil, e não tem nada a ver com o meu pai. Estou falando de nós dois. E você não tem noção da falta que eu sinto dele todos os dias! – disse, já chorando.
- Se você não quer passar pelas mesmas coisas o resto da sua vida, acredita nele. Sabe o que é tudo isso? Medo. Medo de ele fazer as mesmas coisas outra vez, medo de perdê-lo tão bruscamente como você perdeu.
não sabia o que falar, porém, sabia que estava totalmente certa. Ela tinha medo de se entregar ao e ele quebrar seu coração novamente. Ela não queria ser uma daquelas garotas que dá o troco, porque não fazia o tipo dela. então resolveu aceitar o conselho de . As duas ficaram abraçadas por algum tempo.
- Eu estou com fome – sussurrou, ainda abraçada com a amiga, e as duas riram.
- Só você consegue estragar um momento como esse, não é? – disse e as duas gargalharam, indo direto para o café da manhã oferecido pela sede campestre.

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- Estou morrendo de medo – comentou.
A atividade programada para aquele dia era tirolesa. Uma delas, a mais alta, era composta por uma parte onde a pessoa caminhava em uma grua até chegar ao outro ponto da montanha e de lá ela saltava na tirolesa. A segunda era a mais simples: Ir de tirolesa na ida e na volta, pois essa a altura era bem menor. Os únicos que quiseram a com a grua foram , , e , o professor teve que acompanhá-los contra a vontade dele. Os cinco andavam na trilha em torno da montanha que estava montada a base dos saltos.
O professor ia à frente, e andavam de mãos dadas na frente enquanto e iam atrás, um ao lado do outro. “Por que eu aceitei vir?”, pensou. Porém, quando ela sentiu segurar a sua mão, após ela falar que estava com medo, ela sorriu fraco, sentindo a estranha sensação de que aquilo era o certo. Ela o olhou para tentar entender o que se passava e ele apenas sorriu de lado quando viu que ela o olhava, voltando a conversar com .
- Está sentindo falta da professora? – perguntou ao professor, que imediatamente ficou vermelho e nervoso.
- Não, garoto – ele disse gaguejando e os monitores começaram a rir.
- Ah não? Vou contar pra ela – disse rindo.
- Não faça isso, . Não me ponha na berlinda – o professor disse mais descontraído, percebendo que eles estavam apenas brincando.
- Não estou fazendo nada – disse segurando o riso.
- Eu vou ir e voltar milhares de vezes! – disse extremamente animada.
- Chegamos, garotos! – O professor anunciou e eles puderam ver algumas pessoas em um pórtico mais à frente.
Quando eles chegaram ao pórtico alguns homens os recepcionaram. olhou para o vale que existia entre as duas montanhas e um arrepio subiu pela sua espinha. Sua mão começou a tremer e a encarou, ele não a soltou por um minuto.
- Eu não vou – ela disse com o olhar suplicante enquanto e já estavam sendo equipados com a cadeirinha, mosquetões e todas aquelas cordas de proteção.
- Não precisa ter medo – disse, puxando-a pra perto, ela pôde sentir a respiração dele bem perto.
Ela concordou com a cabeça e ele a puxou até que um homem os parou para começar a colocar todos os equipamentos em suas cinturas. continuava tremendo e já não poderia mais saber disso. e já estavam na metade da grua.
- Cadê a minha corajosa? – gritou da grua para a namorada que tremia e não conseguia dar mais nenhum passo, pois olhou para o vale sob seus pés.
- Me salva, amor! – Ela disse nervosa e andou até ela segurando a sua mão.
- Vem comigo – ele disse e deu um passo, ela o seguiu e eles continuaram.
e entraram na grua, já devidamente equipados e seguros, mas a garota estava com muito medo. Ela se segurou nas barras de metal e começou a andar lentamente. ia acompanhá-la levasse o tempo que precisasse. Eles já tinham conseguido andar vinte metros, mas ainda faltavam quarenta metros. e já estavam em terra firme na outra montanha e acenaram para que outro casal se apressasse.
- Eu não vou conseguir – disse gaguejando, parecia que ela estava fazendo muitos abdominais, pois sua barriga não parava de tremer.
- Eu estou aqui – se soltou das barras de ferro e, com cuidado para não pisar em falso, foi até onde estava. – Não olha para o chão, olha pra mim.
Ele pegou na mão dela e ela fez exatamente o que ele pediu. se distraiu nos traços do rosto de e nem percebeu que estava caminhando na grua, o perfume dele intoxicava a saudade que ela sentia. Ele pigarreou e ela acordou do transe, olhando para frente.
- Eu disse que podia me olhar, mas não precisa secar – brincou e ela ficou mais nervosa, pois a vergonha que sentiu ao notar que, se essa fosse a vontade de algo maior que os dois, eles ficariam juntos novamente.
- Ah, me desculpe.
- Gorda – ele parou no meio da grua, forçando ela a encará-lo. Quando ele a chamou pelo apelido, seus pelos se eriçaram. – Eu estava brincando, pode me olhar o quanto quiser. Se eu pudesse, ficaria te olhando o dia inteiro.
Ela sorriu, escondendo a vontade que tinha de agarrá-lo ali mesmo, e, ao se lembrar de que estava à muitos metros de altura, voltou a andar e logo chegou ao outro lado. soltou a mão de . e ainda esperavam por eles e os quatro desceram a trilha que dava ao segundo pórtico, o professor havia amarelado e não quis praticar o esporte.
- Obrigada – sussurrou para , que apenas concordou com a cabeça sorrindo.
estava mesmo se sentindo corajosa e se ofereceu pra ser a primeira a saltar. Ela saiu correndo e se jogou ao ar com apenas aquelas cordas de segurança. Ela gritava e fazia sinais durante o tempo em que deslizava pelo cabo de aço. Depois dela foi e se divertiu, ele não gritou enlouquecidamente como , apenas emitiu uns “uhul”. empurrou para que o instrutor a preparasse para o salto, ele balançou a cabeça dando força a ela. O garoto ficou cuidando do instrutor, que tocava demais as coxas de .
- Menos contato, amigo! – disse para o instrutor e as bochechas de ficaram vermelhas. Ela achou mesmo que o instrutor estava passando dos limites e agradeceu mentalmente ao . E não deixou de notar o quão fofa foi a ação dele. “Como eu amo esse garoto”, ela pensou antes de correr para o salto.
gritou nos primeiros segundos até perceber que era maravilhoso fazer aquilo. Ela olhou todo o vale sob seus pés e não ficou com medo. Depois de parar no pórtico da outra montanha ela queria ir novamente e, mais uma vez, e mais uma. chegou tranquilo ao encontro dos outros. Eles queriam ir novamente, mas o professor os vetou, pois eles ainda tinham que caminhar até a sede.
- Eu amei fazer tirolesa – disse enquanto eles voltavam para a sede. Começava a escurecer.
- Você estava com medo, se não fosse pelo , você ainda estaria na grua – falou e o cutucou, insinuando que ele não deveria ter falado aquilo. – O que foi? Eu não falei nada de mais, é a verdade. – disse e não soube onde se enfiar.
- Por favor, parem com isso. Vocês estão agindo como se a minha história com o fosse um assunto proibido. Eu sei que pode parecer estranho pra vocês dois, mas pra nós é mais ainda – disse, soltando o ar, como se falar aquilo tirasse um grande peso de suas costas e ela percebeu que estava a ponto de chorar, mas se controlou.
- Vocês vão indo na frente – disse e segurou que, sem entender nada, esperou que os outros se distanciassem e encarou o garoto sem entender nada.
- Não demorem! – O professor falou de longe.
- O que é?
- O que foi aquilo? – perguntou, chegando mais perto de , seus corpos quase se tocando. – Foi desnecessário o que você falou. Como você acha que eles podem falar sobre nós dois, se quando eles falam você dá esses ataques e quase chora? – “Ele está furioso?”, se perguntou sem entender.
- Eu não dei nenhum ataque, ! – disse voltando a caminhar e deixando para trás. Ele a segurou pelo braço e a trouxe pra mais perto, a envolveu com os braços e ficou olhando pra ela.
- Eu não quero que você vá – ele sussurrou bem perto do rosto dela e entendeu o que estava acontecendo. Os dois sentiam o mesmo. Ela baixou o rosto sem conseguir encará-lo. – Eu não aguento mais essa distância, eu acho que já paguei por tudo de errado que fiz, . Por favor, me perdoa.
- Não é assim que as coisas funcionam – disse por dizer, pois o que ela queria é que ele lutasse por ela. Ela queria que ele a tomasse e nunca mais soltasse, pois era disse que ela tinha medo. Ela tinha medo de que ele fosse embora.
- Então como elas funcionam?
- Eu não sei.
- Mas eu sei.
Ela sabia exatamente o que ele ia fazer e não tinha a pretensão de impedi-lo. a segurou com a certeza de que ela não ia fugir e a tomou. Quando seus lábios se tocaram, a sensação de que aquilo era a coisa mais certa a se fazer os dominou. não tinha mais medo. segurou o rosto de entre as mãos e abriu os olhos. Ele sorria como há muito tempo a garota não via.
- ...
- Shhh, não fala nada – falou, dando vários selinhos nela, ele não tirava o sorriso do rosto. – Depois do jantar a gente conversa, vamos aproveitar esse momento.
sorriu e concordou, abraçando-o. Ela sentia falta de poder fazer isso, sentia falta de abraça-lo e saber que não tinha nenhum problema, pois o coração dele era dela. E assim eles voltaram para a sede, abraçados e sem falar absolutamente nada. Antes de chegar a área dos quartos, a puxou para um último beijo.
- Te vejo no jantar, gordinha.
- Até lá. Promete que não vai fugir? – perguntou.
- Prometo que isso não vai nem passar pela minha cabeça.

Capítulo Quatorze
Cabana

11 de dezembro, 2010

- Eu estou muito nervosa, mas até que enfim acabou – disse para as garotas que estavam se arrumando na cabana.
- Ainda não acabou – riu alto e subiu em uma das camas. – Acaba essa noite! – E todas as outras davam gritinhos e comemoravam.
Depois de três anos como monitores, naquele dia eles entregariam seus postos e terminariam a educação escolar. Muitos já estavam com suas mentes na faculdade e não agüentavam esperar pelo ano seguinte, outros só queriam aproveitar a vida antes de assumir algumas responsabilidades.
A formatura aconteceria dali a algumas horas no Centro de Eventos da Mice e os monitores estavam se virando pra ficarem perfeitos para a noite. No dia onze aconteceria a formatura dos monitores e no dia dezoito, a dos alunos. Um clima de nostalgia misturado com ansiedade. O campus estava todo decorado com luzes penduradas entre as árvores.

Nesses três anos muitas coisas aconteceram. e finalmente ficaram juntos, eles ainda brigavam, mas por algumas horas apenas. Agora nada mais os separava e eles haviam ficado noivos com a maior aprovação do pai de . A mansão de família iria ser vendida e os pombinhos iriam morar em uma mansão recém construída em um condomínio de luxo. fez questão que o pai morasse com eles, a mansão teria três andares e o segundo andar seria apenas para o casal.
e iriam para a mesma faculdade e o namoro dos dois era muito sólido. pretendia pedir em casamento após eles concluírem seus cursos e ela queria ter três filhos. iria cursar Psicologia e o namorado faria Engenharia Química.
, depois de muita briga, resolveu se firmar e começou a namorar Bruno, ex-namorado de , que, quando soube, ficou muito feliz. Assim os dois iriam parar de azucrinar a vida dela com o . Mas foi embora da Mice e foi estudar em um colégio na Escócia, onde comprou um apartamento com o Bruno. Os dois se viam aos finais do dia e aos finais de semana pegavam o carro e saiam pra conhecer as cidades vizinhas. ficou realmente muito feliz por eles. Os outros monitores estavam seguindo suas vidas; Pedro iria cursar Medicina em Oxford e Melinda iria viajar para a África do Sul em um trabalho voluntário de um ano.
- Está quase na hora – Alyssa disse. – Venham garotas!
Elas estavam lindas em seus vestidos de gala. Elas combinaram de não usar as mesmas cores, então usava um vestido lilás, estava esbelta em um vestido branco de renda, Melinda optou pelo laranja e Alyssa usava um Valentino preto. Todas as monitoras ficaram prontas e se uniram em uma roda.
- Temos que prometer não chorar, mas acho que vai ser meio difícil – disse sorrindo amarelo e já quase chorando.
- Eu não quero acabar com tudo isso, eu não quero ir embora da minha cabana. Foi aqui que vivi os melhores momentos da minha vida e conheci pessoas que a mudaram de forma irreversível. – chorava silenciosamente enquanto falava.
- Eu não quero esquecer o que passei aqui, conheci o meu grande amor e minha melhor amiga. Aqui a minha vida mudou por completo – disse sorrindo e ao mesmo tempo chorando, a abraçou e elas voltaram para a roda.
- Aqui eu pude ser eu mesma e conheci a minha melhor amiga também – Melinda olhou para Alyssa e elas sorriram cúmplices. – A Mice me ensinou a amar e me fez livre de tudo o que eu achava que era responsável.
- Eu não queria ir embora daqui e deixar tudo isso pra trás, não sei como será o meu futuro, mas a Mice fez do meu passado o mais bem vivido. Fui muito feliz aqui – Alyssa disse chorando.
- Somos umas bobonas! – disse chorando e elas se abraçaram eternizando aquele momento. – Mas temos que prometer uma coisa.
- E o que é? – Alyssa perguntou.
- Que nós não vamos perder o contato.
- Combinado – as quatro colocaram as mãos no meio da roda, uma em cima da outra, e depois jogaram as mãos para cima. Como um grito de guerra.

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- ! – A Diretora chamou e ele foi receber seu diploma. Os monitores estavam sentados em um conjunto de cadeiras sobre o palco. A platéia aplaudia e a turma que monitorou gritava animada do fundo do salão. E foi assim até que todos os monitores foram chamados. As garotas não paravam de derramar lágrimas. – Agora chamo aqui a nossa oradora: . – se levantou e foi até o púlpito. Ela respirava pesadamente por causa do nervosismo.
- Boa noite. No dia 03 de fevereiro de 2008 eu entrei pela primeira vez na Mice e desde aquele dia eu soube que a minha vida mudaria. E mudou. Aqui conheci meus melhores amigos e companheiros pra vida toda, aqui conheci meus grandes mestres que me ensinaram a lidar com a vida, aqui conheci meu lar e minha história e, por fim, aqui eu conheci meu grande amor. Dá vontade de nunca mais sair desse lugar, porque aqui eu vivi os melhores anos da minha vida e que com certeza as compartilho com meus colegas. – respirou fundo antes de continuar. A platéia escutava calada a tudo o que ela dizia. Não havia nada mais naquele salão além do silêncio. - Quero agradecer a cada um de vocês e às pessoas que contribuíram nessa caminhada, nossos pais, nossos, irmãos, nossa família, nossos professores e nossos amigos. Obrigada por cada abraço de consolo ao final do semestre, obrigada por cada palavra de apoio a cada fraquejar que enfrentávamos. Monitores, amigos, companheiros, essa mensagem é pra vocês e quero que a escutem com o coração aberto:

Desejo que você não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la.
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência.
Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina, pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas.
Seja um debatedor de idéias. Lute pelo que você ama.
Augusto Cury

A platéia bateu palmas de pé e voltou para o seu lugar. Depois do fechamento da cerimônia, a música final começou a tocar e os monitores jogaram seus capelos para o alto, correndo para abraçar uns aos outros.
- Acabou? – sussurrou para que a abraçava pela cintura.
- Acho que sim – ele sorriu amarelo e ela enfiou o rosto na curva de seu pescoço chorando. – Gordinha, pensa pelo lado bom, a gente vai casar e vai ser muito feliz.
- Vai, não é? – Ela o olhou com os olhos vermelhos e ele concordou, beijando a testa da garota.
Por mais que o amasse, ela estava com medo de todas essas mudanças que iriam acontecer em sua vida. A casa em que ela cresceu seria vendida e ela teria que dividir a vida com outra pessoa, mesmo sendo , ela estava com medo. Mas naquele momento ela só queria aproveitar a festa.

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A mansão estava linda e os convidados começavam a chegar. Os monitores resolveram usar o imenso jardim da mansão de para fazer a festa de formatura. Tudo estava maravilhoso. Duzentas mesas, cobertas com toalhas brancas e velas no centro, lotavam um canto do jardim que foi podado especialmente para aquele dia. Havia uma pista de dança com uma estrutura de metal que suportava as luzes e os efeitos. Além disso, havia um palco mais afastado onde uma banda tocaria música ao vivo durante algumas horas.
Os monitores chegaram e encontraram suas famílias e amigos sentados conversando. As risadas e conversas eram escutadas de qualquer lugar. A entrada principal já havia sido servida e a carta de vinhos já estava rolando pelas mesas. Os garçons estavam atordoados com tantas pessoas, mas tudo transcorria em sua máxima naturalidade.
- ! – cumprimentou enquanto a descia as escadas da varanda para abraçá-la. Antes de ir morar com Bruno, as duas tiveram uma conversa longa e se entenderam. Elas agora eram boas amigas, com suas recordações ruins, mas se davam bem.
- ! A festa está linda.
- Obrigada, ficamos meses organizando e discutindo o que faríamos. Nunca imaginei que a festa seria aqui.
- Está realmente muito bonita! – disse e sorriu. – E o ? – sentiu um embrulho tomar o seu estomago com aquela simples pergunta e se lembrou do que já havia acontecido entre ela e . Ela não conseguiu disfarçar a feição de espanto e hesitou. – Desculpe pela pergunta, mas eu achei que já houvéssemos superado essa fase.
- Eu acho que sim – disse incerta -, mas eu ainda tranco quando o assunto é ele.
- Falando nele – disse e sentiu atrás de si. Ela sabia que ele tinha escutado. – Olá , como vai?
- Vou bem e você? Bom te ver! – Ele disse sincero, abraçando , e depois voltou para abraçar de lado.
- Então, já demorei demais aqui e vou lá abraçar minhas queridas amigas monitoras. Faz muito tempo que não as vejo! – disse, saindo da visão do casal.
- Eu sei que você escutou, não fica bravo comigo, amor – disse, virando para olhá-lo, e ele a encarou sorridente.
- Eu entendo que você esteja com medo. Mesmo. Porque eu também estou.
- Está? – perguntou espantada com a resposta e sorriu.
- Vamos jantar? – Ele perguntou, selando seus lábios aos dela.

N/A: Muito lúdico esse meu capitulo, não? Ahahah Entendam-me, essa é uma fase decisiva de Say When e antes que vocês comecem a desistir de ler, saibam que não está no fim. Na verdade, é agora que começa a parte boa. Então não se desesperem que eu vou começar a enviar capítulos regularmente, tipo uns dois por semana. Obrigada pelo carinho nos comentários e no twitter! E muito, mas muito obrigada a Sarah, minha beta linda que me agüenta everyday. Tweet me!! @alanabochenek



Continua…




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