Dizem Que a Segunda Vez é Ainda Melhor
Escrito por Lilly.


A campainha tocava insistentemente, a garota estava sozinha em casa e sem a mínima vontade de ver ninguém. Ela estava deitada no sofá, de frente para a enorme televisão, mas ela não estava sequer assistindo-a, ela estava lendo um livro. Até que a campainha começou a ficar extremamente irritante. Como se esse alguém tivesse certeza absoluta que havia alguém em casa, ela havia decidido ir até a janela e mandá-lo ir embora. Seja quem fosse.
Mas quando a garota chegou a janela, já extremamente irritada e querendo gritar com o infeliz que a tirara da sua leitura, a primeira coisa que ela viu foi seu ex-namorado, segurando um cartaz branco, escrito em preto. A caneta aparentava estar falhando e com certeza aquilo fora improvisado alguns minutos antes dele aparecer ali.

, TE AMO!”

Era o que dizia no cartaz. A garota ficou de boca aberta. Ela havia perdido o chão. Não sabia o que dizer, ou falar. Essa era, sem sombra de dúvidas a coisa mais fofa que um garoto já tinha feito por ela algum dia. Eles haviam terminado depois de uma grande briga que ela nem sequer se lembrava o motivo, mas o problema, foi que eles só brigavam! 90% do tempo eles estavam brigando pelas coisas mais idiotas possíveis. Então havia ficado cada vez mais insuportável aquele relacionamento. Ela ainda o amava, e aquela decisão não havia sido fácil, no entanto ela achava mais fácil mentir pra todo mundo e principalmente para ela mesma.
A primeira semana foi a pior, ela estava literalmente no fundo do poço, não comia nada além de chocolate e chorava a toa pelos cantos, até que finalmente decidiu dar um basta naquela situação, ela se controlava o máximo para não chorar e ela não falava com o garoto, nem via ele. Ela estava decidida a superá-lo. E ela estava conseguindo muito bem, já não precisava mais fazer esforço para não chorar, havia largado o chocolate de vez e principalmente ela havia voltado a rir outra vez.
Mas ele com certeza não a deixaria em paz assim tão fácil. 3 semanas depois, ele foi falar com ela. Assim do nada, sem aviso prévio ou motivo, simplesmente veio. E foi justo em um momento em que ela estava pirando por causa de uma prova de matemática, ele foi fofo com ela. Ele disse que acreditava nela, que ela era dona do próprio destino dela, e ela fazia da vida dela o que ela queria, na hora que ela queria e ninguém era capaz de pará-la. Aquilo havia despertado naquela garota, um sentimento que há algum tempo ela havia se esquecido. Então de repente ela começou a sentir tanta falta dele e ela havia se arrependido por não ter voltado a namorá-lo quando teve a chance, naquela primeira semana depois do final do namoro.
Mas ela era orgulhosa demais para sequer admitir isso para ela mesma, mesmo que fosse em pensamento, então ela voltou a se enganar. Primeiro porque ela tinha um medo incontrolável de se envolver com alguém outra vez, ainda mais com ele. E segundo porque ela acredita ser melhor para ela. Não namora, não sofre. E claro, porque ela tinha que se concentrar nos estudos, se ela queria passar em uma boa faculdade, possivelmente até uma faculdade pública.

Aquela garota, antes tão doce e tão compreensível, preocupada com o resto do mundo, havia se tornado uma garota sonsa e cínica, não levava ninguém à sério. Aquele garoto a havia transformado nisso. Mas é claro que tudo isso não passava de pose. Principalmente pelo motivo de que ela tinha que se fazer de forte para poder passar por cima do que ela passava. Mas a verdade é que ela não tinha força alguma. Quando as coisas ficavam sérias, ela se escondia de baixo da escrivaninha e chorava como um bebê.
A garota imediatamente sai de perto da janela, aliás, ela caiu sentada ali no chão mesmo e desatou a chorar. Ele não tinha o direito de fazer aquilo com ela. Como que ele aparecia ali, sem avisar, com um estúpido cartaz dizendo que a amava? Ela estava muito brava. Ela começou a descer as escadas para brigar com ele, quando parou no meio do caminho e percebeu que ainda estava de pijamas, com o cabelo preso em um rabo de cavalo, já todo bagunçado. Ela não queria acreditar que havia aparecido na janela daquele jeito. Então ela correu pro seu quarto, colocou a primeira roupa que ela viu pela frente, passou no banheiro, escovou os dentes, soltou os cabelos castanho escuro, quase pretos, passando o pente de qualquer jeito neles. E então desceu correndo.
O garoto quando a viu outra vez, tornou a abrir o cartaz. Mas o que ele não imaginava é que ela estava querendo matá-lo.

- , O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – ela gritou na cara dele, sem ao menos abrir o portão para ele entrar.
- Eu tentei não vir. Eu tentei te esquecer, mas eu não consegui, amor! – o garoto disse olhando para aqueles grandes olhos castanhos, tentando saber o que se passava na cabeça da garota que ele amava. – Eu te amo, .
- Por quê você está fazendo isso comigo agora? – ela estava se segurando para não começar a chorar outra vez, encostou a cabeça no portão e fechou os olhos.
- Fazendo o quê, amor? – ele perguntou inocente.
- Pára de me chamar de amor. – ela disse o mais pausadamente que conseguiu.
- Me deixa entrar, amor. – ele fingiu que não tinha ouvido-a.
- Não. – ela respondeu simplesmente, agora levantando a cabeça, abrindo os olhos, a primeira coisa que viu foi os olhos do garoto. Aqueles olhos castanhos claros que ela adorava tanto. Mas na verdade eles eram escuros, não tão escuros como os dela, é claro, os dela eram quase pretos. Mas os dele não. Era da cor de chocolate, mas na luz eles ficavam claros, da cor de mel.
- Eu vou ter que pular mesmo o portão? – ele perguntou irônico.
- Se você quiser, eu não vou abrir. – a garota respondeu irônica também, ela duvidava que ele fosse realmente pular.
- Tá bom. Segura o seu cartaz, por favor? – ele pediu, gentilmente, entregando para a garota o cartaz que ele havia feito para ela. Depois tirou o boné, jogou para o lado de dentro do portão e começou a escalar o portão.
- , O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – é claro que a garota na hora entrou em pânico. Ele iria cair dali e se quebrar todo. – DESCE DAÍ AGORA! – porém o garoto estava decidido a cumprir a sua missão. Pular o portão da casa dela. – POR FAVOR, POR FAVOR, EU VOU ABRIR, EU PROMETO. MAS DESCE, POR FAVOR! – ela estava em pânico e começou a chorar. Assim mesmo, como se ela nem se quer pudesse se controlar. Só de passar pela cabeça dela que ele fosse seriamente se machucar, a fazia ficar em pânico.
- Relaxa, amor. – ele disse sorrindo de lado e como se ele fosse algum tipo de super-herói, pulou para o lado de dentro do portão. Então sem dizer mais nem uma palavra, ele a abraçou. Ela nem sequer questionou, só o abraçou de volta e começou a chorar ainda mais.
Ela sentia tanto a falta dele: dos abraços, dos carinhos, do cheiro dele. Tudo aquilo tinha virado parte da vida dela e era difícil esquecer de uma hora para outra. Eles ficaram assim, apenas se abraçando por alguns minutos. Ou será que foram horas? Eles sentiam tanta falta um do outro, eles tinham ficado tanto tempo longe que eles mal conseguiam se soltar. Era como se alguém os tivesse grudado, outra vez.
- Me espera aqui. – a garota disse quando eles haviam se separado. E subiu as escadas correndo, pegou as chaves, um casaco e o celular. Afinal ela não havia avisado ninguém que sairia e não sabia que horas iria voltar.
- Pra onde estamos indo? – ele perguntava pela milésima vez, em menos de 5 minutos.
- Você se preocupa demais. – ela disse sorrindo de lado.

Ela estava levando-o para uma pracinha que ela adorava. Pra ela, aquela praça era o sinal de perfeição. É claro que ultimamente ela estava suja e mal cuidada, mas ainda assim tinham algumas flores que sobraram, aquele lugar lhe trazia boas lembranças. Eles se sentaram lado a lado na grama. Nenhum dos dois disse nada por um longo período de tempo. O clima estava começando a ficar um pouco tenso. Nenhum dos dois sabia o que fazer ou falar.
- Então... – o garoto tentou puxar papo.
- Então... – a garota imitou-o. Eles estavam agindo como se nunca tivessem namorado, como se aquela fosse a primeira vez que eles saim juntos. A garota estava morrendo de vergonha, estava brincando com um lírio branco, lindo, que estava meio murcho já, mas que não deixava de ser perfeito.
Aquela garota era completamente apaixonada por lírios.
- Minha mãe está grávida, sabia? – o garoto disse olhando-a de repente.
- Não! Sério? Cara, que demais! – a garota se animou, era exatamente disso que eles precisavam para quebrar o gelo.
- Sim! Ela está de dois meses! Se for menino, vai se chamar Enzo e se for menina, vai ser Gabriela. – ele disse sorrindo.
- O que você prefere? – garota perguntou, com um sorriso de orelha a orelha.
- Uma menina. – ele respondeu simplesmente.
- Por que? – ela perguntou, nem imaginando a resposta.
- Porque aí eu vou continuar sendo o homem da casa. Tirando meu padrasto, claro. – ele disse sorrindo sincero. A garota apenas riu, riu de verdade, com gosto. – E você prefere um cunhado ou uma cunhada? – ele perguntou soltando um sorrisinho no canto da boca.
- Um cunhado, claro. – ela respondeu como se aquilo fosse óbvio.
- Por que? – o garoto também não entendia a resposta dela, mesmo que para ela parecesse óbvio.
- Eu gosto de garotos, ué. – ela respondeu e depois que respondeu, percebeu o que tinha dito. Os dois começaram a rir juntos como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo.
- Poxa, que bom, né?! – o garoto disse, tirando sarro da garota.
- Seu bobo! Você entendeu! – ela disse dando um tapinha nele.
- Tudo bem, tudo bem. – ele disse ainda rindo. – Então, isso quer dizer que você vai voltar comigo? – ele perguntou, sorrindo vitorioso.
- Não necessariamente. – a garota respondeu, levantando uma das sobrancelhas.
- Ah. – o garoto ficou triste de repente. Ela tentava desesperadamente não agarrá-lo ali mesmo. Ela sentia falta dos beijos dele, quase tanto quanto sentia falta dele. Parecendo que ele era capaz de ler os pensamentos dela, ele se aproximou lentamente da garota. Ela havia ficado paralisada, ele se aproximava pouco a pouco e quando ele foi beijá-la, ela juntou todas as forças que tinha e virou o rosto para o lado. O garoto acabou dando um inocente beijo no rosto da garota. A cara de frustração daquele garoto era de dar pena.
Ele tentava desesperadamente voltar com ela já algum tempo, mas por mais que ela também quisesse isso, ela tinha medo. Medo de passar por tudo aquilo de novo. A semana logo após o termino do namoro dos dois foi muito sombria, ela não queria reviver aqueles momentos outra vez, era difícil para ela até lembrar-se deles.
- Por que você tem tanto medo, amor? – ele respondeu triste, brincando com uma formiga na grama verde clara.
- Eu já me machuquei uma vez, tenho medo de me machucar outra vez. – ela disse olhando para um ponto fixo na sua frente. – Você já se machucou inúmeras outras vezes, - ela disse com uma voz embargada, como se fosse começar a chorar outra vez. – como pode não ter medo?
- Porque eu te amo. – ele disse, fazendo-a olhar para ele. – Você é a minha princesinha coelhinha mais pentelha do mundo. – ele encarava-a com os seus olhos, a garota tinha que se concentrar para não perder-se neles. – Eu posso não ter cuidado muito bem de você na primeira vez, mas eu prometo que dessa vez vai ser diferente. Eu vou cuidar de você como eu nunca cuidei de ninguém antes! – ele disse soando sincero para qualquer um que ouvisse. A garota já estava cheia de lágrimas nos olhos.
- Por que você acha que dessa vez seria diferente? – ela perguntou mais por perguntar, porque ela precisava ter certeza e confiança do que estava prestes a fazer.
- Amor, uma vez me disseram que a segunda vez é ainda melhor do que a primeira. – ele disse piscando com aquele sorriso torto que só ele sabia dar. Ela caiu na risada, ele era geneticamente programado para rir junto com ela. Aquela risada dela, era extremamente contagiante para quem quer que fosse, mas para ele era algo mais especial. Era um sinal que a “princesinha” dele, estava feliz e se ela estava feliz, então ele estava feliz também.

A garota nada respondeu, ficou olhando dois passarinhos brincarem de pega-pega ou pelo menos ela pensou que eles estavam brincando de pega- pega. O garoto seguiu o olhar dela, depois olhou ao redor da praça. Havia um casal de velhinhos se beijando apaixonadamente, algumas crianças pequenas e dois garotos tentando, sem muito sucesso, fazer “Le Parkour”. Os dois haviam deixado seus bonés em um banco para eles não saírem voando.
- Nossa que boné foda! – o garoto disse maravilhado, na verdade eram apenas dois bonés pretos de marca. Aparentavam ser caros. Uma coisa que a garota nunca entenderia é essa mania que os garotos tem de amarem bonés de marca. Era tudo boné.
- Pega, ué. – a garota disse debochando do garoto.
- Duvida? – ele perguntou em tom de desafio.
- Claro. – ela disse simplesmente, sorrindo de lado.
- O que eu ganho se eu pegar? – ele perguntou, pensando nas inúmeras possibilidades de pedidos que ele poderia fazer.
- Hum... – a garota pensou por alguns instantes e respondeu-o confiante. – Um beijo.
- Agüenta aí. – ele disse sorrindo. Um sorriso maior do que a boca e saiu andando.

O garoto foi em direção aos bonés, mas chegou em uma parte da praça em que ele saiu fora da visão da garota. Em todo o tempo que ela não conseguia vê-lo, por causa das enormes árvores, ela ficou apreensiva. Alguns minutos depois, que para a garota pareceram horas, o garoto apareceu com os dois bonés. Um na cabeça e o outro na mão, como se fosse um troféu. A garota foi correndo ao encontro dele e os dois se abraçaram, ele tirou-a do chão por alguns segundos e girou-a.
- Você é louco! Não acredito que fez isso! – ela disse rindo e falando alto ao mesmo tempo.
- Quero meu beijo agora. – ele disse sorrindo, esperançoso.
- Devolve o boné primeiro. – ela disse sorrindo sincera.
- Promete que vai cumprir a sua parte na aposta? – ele perguntou desconfiado.
- , alguma vez eu quebrei a minha palavra? – ela respondeu, como se aquilo tivesse a ofendido.
- Não. – ele pensou alguns instantes, procurando por algum momento na história em que a garota tivesse quebrado a sua palavra, mas não achou, então teve que dar o braço a torcer. Ele deu meia volta e foi devolver os bonés aos garotos.

O que a garota iria descobrir mais tarde é que ele não “roubou” os bonés, ele simplesmente conversou com os garotos e pediu-os emprestados, disse-lhes que ele ganharia um beijo da garota que ele amava se ele conseguisse os bonés, deixou com eles a sua chave em garantia que devolveria os bonés. Os garotos aceitaram, afinal não custava nada ajudar um “parceiro”,- como eles diziam - a “pegar uma mina”. Quando ele voltou, já sem os bonés, outra vez a garota foi correndo ao encontro dele, quanto mais perto ela ia ficando dele mais ele diminuía mais o ritmo, até que eles se encontraram lentamente e se aproximaram pouco a pouco, outra vez. Mas ao contrário da primeira vez, eles se beijaram. O beijo começou lento, romântico, como se fosse a primeira vez. Aos poucos ele foi se tornando um beijo mais urgente, cheio de saudade, amor, paixão, carinho, era um misto de sentimentos incontroláveis, tanto pela garota, quanto pelo garoto, os dois sentiam falta daquilo, os dois não agüentavam mais para matar essa saudade que machucava-os, essa saudade que a cada dia que passava ficava mais e mais dolorosa. O beijo ficava cada vez mais urgente, como se aquele fosse o último beijo que eles pudessem dar, como se o mundo fosse acabar ali, naquele exato momento. No final, o beijo voltou a ser lento e inocente, como de duas pessoas que se amavam tanto, que não conseguiam sequer entender esse sentimento. Eles se separaram com alguns selinhos e depois sorriram um para o outro. Ninguém disse nada. Não era necessário. Era óbvio pelo sorriso bobo no rosto de ambos que eles não precisavam de mais nada para serem felizes, além de estarem juntos, aquilo era suficiente para uma vida inteira.
O garoto sussurrou no ouvido da garota um “eu te amo” bem lentamente, o que a fez ficar arrepiada desde o dedão do pé até o último fio de cabelo. Ela sussurrou um “eu te amo também.” para ele. Eles ficaram assim, simplesmente sentados na grama, abraçados, matando a saudade daquele um mês longe um do outro, mas que para eles, agora pareciam mais como uma eternidade. Foi nesse dia que a garota entendeu quando dizem que nós só damos valor quando perdemos e não sentimos falta até que seja tarde demais. Mas por sorte dela, ainda deu tempo dela recuperar um amor que ela achava que já havia perdido. Ela havia decidido tentar outra vez, ele havia garantido-a que ele cuidaria dela com todo amor e carinho que ele era capaz de dar a alguém e ela precisava desesperadamente disso, então ela resolveu dar-lhe uma segunda chance. Quem sabe a segunda vez não era realmente ainda melhor do que a primeira?

Fim.


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