Sir. Psycho Sexy
Autora: Lê Oliveira | Beta: Sofia Queirós


I - Sir. Psycho Sexy, that is me

Eu já xingava antes mesmo de encontrá-la. Eu poderia estar, sei lá, lendo um livro para a faculdade que eu já devia ter começado há semanas – qual era o título mesmo? -, comendo China In Box deitada na minha cama, vendo reprise de alguma série na TV... Mas não. Eu estava rumo à uma merda de festa de lançamento. Qual era o nome do clipe que estavam lançando mesmo? Margareth? Marge?... Não, essa era dos Simpsons. Ah, sim! Maggie. Não-sei-o-quê Maggie. Porra, o nome da música era quase um texto! Enfim, eu não conseguia me lembrar do nome todo, mas sabia que era do Red Hot Chili Peppers. Eles tinham lançado um CD novo, I’m With You, pelo que me falou, e aquele seria o primeiro single. E quando ela ganhou um concurso em uma rádio, que tinha como prêmio poder ir à festa de lançamento, quem ela convidou para ir junto? Eu, claro. Ou melhor, ela não me convidou, ela me obrigou.
Eu sequer conhecia a banda direito. Claro, já tinha ouvido algumas músicas e os conhecia de vista, mas não sabia o nome de nenhum deles e a música com a qual eu era mais familiarizada era aquela Otherside. Já era o oposto. Tinha pôsteres do RHCP espalhados pelo quarto, só ouvia músicas deles o dia todo e, nas últimas semanas, só conseguia falar sobre como o guitarrista novo – um tal de Jeff, Josh, sei lá - era fofo. Para mim, não passavam de um bando de drogados que deviam comer uma mulher atrás da outra. As músicas poderiam até ser boas, mas nunca consegui ter um interesse muito grande pelo som dos caras. Aliás, agora que eu tinha entrado na universidade, mal tinha tempo para ouvir música.
Cheguei em frente ao local em que aconteceria a festa. Muitas fãs estavam na porta, se descabelando e cantando em coro, desafinadamente, uma música que eu não conhecia. Alguns "eu te amo" também podiam ser distinguidos no meio da barulheira. Isso que eles nem tinham chegado ainda.
- ! – era a voz de . Me virei e vi que ela estava alguns metros atrás de mim, me gritando e acenando. Analisei sua roupa e me senti destoada. Ela estava vestida como uma verdadeira rockstar, enquanto eu... Bem, eu estava vestida como se estivesse indo dar uma volta no shopping em um domingo à tarde. Mas eu não estava ligando. Afinal, eu realmente preferiria estar dando uma volta no shopping.
- Hey! – cumprimentei-a ao chegar mais perto.
- Oi! Achei que você não fosse vir. Por que se atrasou tanto?
- Eu me esqueci da festa, desculpa. – ela me lançou um olhar fuzilante – Não me olhe com essa cara, ok? Você sabe que eu não queria estar aqui.
- Qual é, , olha o tamanho desse evento! Eu não deixaria você perder nunca! Eu sei que você não curte o Red Hot, mas vai valer a pena pela festa. Além do mais, você não deixaria sua melhor amiga curtir a melhor festa da vida dela sozinha, não é? – ela fez um beicinho forçado, mas que me amoleceu.
- Ok, você ganhou. Mas para de fazer essa carinha de cachorro que caiu da mudança. - nós rimos – Já podemos entrar? Preciso beber muito para compensar minha noite perdida de sábado.
- Sim, já podemos. E pare de falar assim. Garanto que você não vai se arrepender. Vem!
Ela saiu andando na direção oposta ao bando de fãs histéricas. Eu a segui, chegando até uma porta na lateral do lugar. deu nossos nomes para o segurança, que nos revistou e em seguida nos entregou as credenciais. Sugeri que, ao invés de pendurarmos no pescoço, amarrássemos na cintura. Passei o cordão do crachá pelos passadores da minha saia e finalizei com um pequeno lacinho. Minha roupa já estava bastante fora dos padrões exigidos pelo evento, eu não precisava de algo que a estragasse mais ainda.
O salão estava apagado, exceto por algumas luzes amareladas nas paredes negras e as velas que enfeitavam as mesas. Já havia bastante gente lá dentro, várias pessoas que julguei serem importantes, como empresários e talvez até celebridades, e algumas adolescentes que deviam ter ganhado entradas assim como . Como eu já imaginava, todos, exceto eu, estavam muito bem vestidos. Ao fundo, tocava uma música do Red Hot que eu não conhecia, pra variar.
disse que não queria sentar pois gostaria de estar perto dos integrantes quando chegassem. Dei de ombros, só queria que aquilo terminasse logo.
- Você se importa de ir pegar bebidas para nós? Não quero correr o risco de perder a entrada deles. Dá pra acreditar? Eu vou ver o Red Hot, !
Eu ri e respondi que não tinha problema. Saí dali antes que ela começasse a surtar e disparar a falar sobre o quanto eles eram maravilhosos, perfeitos e blá blá blá. O bar ficava do outro lado, e não tive pressa para atravessar o salão. Acendi um cigarro enquanto caminhava pelo lugar, observando as pessoas e a decoração. O símbolo da banda estava espalhados pelo local, e todos pareciam bastante entusiasmados com a premiére do clipe.
- Dois coquetéis de frutas com vodka, por favor. – pedi ao bartender. Entre uma tragada e outra no cigarro, ouvi o burburinho a minha volta aumentar e então vieram os gritos. Flashs de todo lado, o tapete vermelho que se estendia ao centro do lugar ficou cercado de gente. Eles então haviam chegado.
Eu podia até não ser fã, mas não significava que não estava curiosa para vê-los. Seria legal poder falar para as pessoas que estive a poucos metros do Red Hot Chili Peppers. E seria mais legal ainda saber que alguns dariam tudo para estar lá enquanto eu não dava a mínima. Se sou maquiavélica? Só um pouco.
Joguei meu cigarro em uma lixeira que estava ao meu lado, peguei as bebidas e andei em direção à multidão. Quando estava chegando perto, pude ver se descabelando e gritando como se o mundo fosse acabar naquele momento. Não evitei uma risada ao ver aquela cena. Eu estava feliz por ela, afinal, era um grande sonho que ela estava realizando. Dei mais alguns passos para frente e então senti aqueles olhos sobre mim.

Anthony’s POV

- Um brinde, a essa nova era do Red Hot! Eu e os caras gritamos em resposta ao Rick. Erguemos nossas taças e então tomamos um gole de champagne. O meu era sem álcool. Eu me sentia uma criança por isso, mas não me importava. Sabia que era por um bem maior.
A limousine já estava chegando ao local da premiére. Eu via o Flea um pouco chapado e sentia aquela vontade já familiar de estar como ele, mas algo dentro de mim era mais forte. Eu pensava no Bear e toda aquela necessidade sumia.
Paramos em frente ao lugar após alguns minutos. Eu estava realmente feliz, não conseguia parar de sorrir. Acenava para as fãs que estavam do lado de fora, elas estavam realmente histéricas. Era bom poder sentir aquela adrenalina de ter um CD novo após cinco longos anos.
Passamos rapidamente pelo tapete vermelho na parte de fora. Tirei algumas fotos e dei alguns autógrafos, enquanto Flea pulava de um lado para o outro, abraçando e fazendo high-five com algumas garotas. Eu ria bastante daquela cena. O apelido dele realmente tinha sentido.
Logo entramos no salão. No começo da fila, nas laterais do tapete, estava o pessoal da equipe, que nos cumprimentava com abraços e apertos de mão. Eu podia ouvir gritos vindo da frente. Resolveram sortear entradas para a premiére em algumas rádios, então havia várias fãs ali. De repente ouvi um "Anthony gostoso" e ri sozinho.
Logo chegamos a parte em que estavam as fãs. Todas foram muito carinhosas comigo, me abraçavam e diziam que me amavam... E realmente eram bonitas. Não pude evitar um sorriso ao pensar no que a noite prometia. Afinal, uma coisa era estar limpo de substâncias químicas. Outra era estar limpo de sexo.
Estava quase chegando perto do palco quando vi algo que destoava de todo aquele cenário. Afastada da multidão, usando uma roupa bem mais casual – e muito sexy – do que o restante das pessoas, rindo de uma maneira tão gostosa que senti vontade de acompanhar sua risada, estava uma garota muito bonita. Era a única mulher ali que não estava gritando histericamente ou tentando me agarrar. Ela parecia estar totalmente alheia à situação. Aquilo me intrigou bastante e, sem ao menos perceber, parei no meio do caminho, encarando-a. Ela deve ter sentido meu olhar sobre ela, pois segundos depois virou o rosto em minha direção. Seus olhos percorreram todo meu corpo, focalizando meus olhos por fim. Sustentei aquele olhar por algum tempo, então ela virou o rosto e deu um grande gole na bebida que estava em sua mão direita.
- Tony? – Chad me cutucou, vendo minha parada repentina. Despertei de meu transe – confesso, eu já estava formando imagens em minha mente que envolviam aquela mulher. Qual é, ela estava de mini-saia e uma blusa que deixava aparecer aquela barriga sarada... Era impossível resistir – e continuei andando. A continuou parada onde estava, ela agora olhava para Flea e ria de suas palhaçadas. Não me contive e ri junto. Ela não tornou a me olhar até o momento em que subimos no palco.
Peguei o microfone e fui para a frente da "plateia".
- Boa noite, galera! – recebi um coro de "boa noite" como resposta. – Quero agradecer a presença de todos vocês nessa noite tão especial para nós. É com muito orgulho que viemos apresentar a vocês nosso novo trabalho, o videoclipe de The Adventures of Rain Dance Maggie! – todos gritaram e aplaudiram – Então, chega dessa enrolação e vamos a grande estreia, porra!
Olhei na direção onde a mulher misteriosa estava e, para minha surpresa, ela me encarava. Dei-lhe um sorriso mas, quando viu que olhei em sua direção, desviou o rosto e saiu andando.

Fim do Anthony’s POV

Tudo bem, ele era um... tesão, se me permite o uso da palavra. Estava irresistivelmente gostoso naqueles jeans pretos, com aquela camiseta vermelha, luvas e boné também pretos. Eu sabia que era o vocalista do Red Hot, mas não tinha ideia do seu nome. Senti um calafrio percorrer meu corpo quando meu olhar encontrou o dele, o que fez com que eu desviasse o rosto e tomasse um extenso gole do meu coquetel. Fiz uma careta ao sentir a bebida descer por minha garganta, mas eu precisava daquilo.
Procurei encarar qualquer coisa que não fosse aquele homem. Logo a minha frente estava um cara bastante exaltado, praticamente pulando no meio das fãs. Seu cabelo era azul e ele realmente era muito sem noção. Acho que ele era o baixista doido de quem sempre falava. Comecei a rir descontroladamente. Ele devia estar bem chapado.
Logo os Peppers estavam no palco. O vocalista assumiu o microfone, saudando a todos e anunciando o videoclipe. Eu não conseguia tirar os olhos dele. Merda. Ele realmente era muito sexy, e aquele ar de pegador só o dava ainda mais charme. Como sempre, eu me sentia atraída pelos tipos errados.
Ele terminou seu discurso e foi para o canto esquerdo do palco, de frente para onde eu estava. O lugar em que eu havia parado era bastante próximo e por isso, quando ele virou a cabeça, me flagrou encarando-o. Lançou-me um sorriso com o canto dos lábios. Ao contrário do que eu estava pensando desde a hora em que o vi, ele podia ficar ainda mais atraente.
Desviei o olhar e saí a procura de . Ela devia estar esperando a bebida e... Ok, ela nem devia estar se lembrando da bebida. Sequer devia estar se lembrando de mim depois que o Red Hot chegou. Mas eu precisava parar de olhar aquele homem. Ele podia ser lindo, gostoso e irresístivel, mas eu não seria mais uma da lista dele. Não mesmo.
Consegui localizar rapidamente. Ela estava sorrindo feito uma boba, do lado direito do palco, os braços erguidos e gritando coisas como "eu amo vocês, caras". Sorri junto. poderia ser uma pateta em algumas horas, mas eu a amava mesmo assim.
- Hey! Trouxe sua bebida! – eu disse ao chegar ao seu lado.
- Meu Deus, você viu que coisa mais linda? OMG, eu abracei o Chad! Você tem noção do que é isso, ?
Ela gritava, desesperada, enquanto eu ria da sua histeria. bebeu o coquetel inteiro quase de uma vez, e então o clipe começou no telão. A música tinha uma batida contagiante, comecei a dançar junto com as pessoas que estavam ao meu redor. Obviamente não era uma dança para remexer os quadris, mas era legal pular e balançar a cabeça de um lado para o outro. Era uma música feita para se soltar, e era exatamente o que eu estava fazendo.
Resolvi abrir um pouco os olhos – os fechei para sentir melhor a música – e olhar para o telão em que o videoclipe estava sendo transmitido. Antes não tivesse o feito. O cenário do clipe era o telhado de um prédio, a banda tocava lá em cima... E o maldito vocalista estava sem camisa. Eu olhava para aqueles músculos, pasma, e chegava a ser tentador pensar que ele estava a poucos metros de mim.
Ok, , controle-se. Você não é uma fã histérica que se arrastaria aos pés dele. Muito menos uma tiete.
, pelo jeito, havia feito amizade com algumas fãs enquanto eu estava no bar. Ela conversava com mais duas meninas, ou melhor, ela gritava sem parar enquanto via o clipe. "Lindos", "meu Deus" e "gostosos" eram umas das palavras que eu mais ouvia. Era até divertido vê-la tão entusiasmada. Eu continuava dançando, mas agora não conseguia desgrudar os olhos do telão. Que corpo... Que homem!
Quando o clipe acabou, todos gritaram e aplaudiram muito, inclusive eu, devo confessar. O vídeo realmente tinha ficado incrível e a música era ótima. ainda surtava com as outras duas garotas. Avisei-a que iria pegar mais bebidas, não sabia nem se ela tinha me ouvido, já que recebi um grito de "o Flea é demais" ao perguntar se ela queria outro coquetel. Sendo assim, fui para o bar e pedi mais dois coquetéis, tinha certeza de que ela não recusaria ao ver a bebida.
Eu não via o vocalista em lugar nenhum. Ele e a banda deviam estar no backstage, comemorando o sucesso do lançamento. Resolvi que definitivamente precisava saber seu nome. Ter que chamá-lo de "vocalista" mentalmente já estava começando a me irritar.
Os drinks ficaram prontos rapidamente. Fui caminhando de volta até onde estava vagarosamente, tomando cuidado para não derramar as bebidas, já que agora uma música animada tocava e as pessoas dançavam na frente do palco.
- Hey, ! Trouxe para você. – ela agradeceu e tomou um gole demorado. Eu não conseguiria descrever a felicidade que estampava seu rosto. As duas garotas com quem ela conversava antes não estavam ali agora.
- E aí, o que achou do clipe? – perguntou entre um gole e outro.
- Na verdade, gostei bastante. A música também é ótima.
- Eu disse que você iria gostar! – ela sorriu.
- Pois é, você acertou. – sorri de volta – , só por curiosidade... Qual é o nome dos caras? – tentei disfarçar minhas verdadeiras intenções. Não estava nem aí para o restante, só queria saber o nome dele.
- Bom, o baterista é o Chad, o que eu abracei. – ela deu um meio gritinho ao lembrar – O de olhos azuis. Não o de cabelo azul, o outro.
Assenti.
- E o azulzinho, quem é?
- É o Flea. Na verdade o nome dele é Michael, mas você deve ter percebido o porquê do apelido. – ela riu. Dei uma pequena risada também, lembrando-me dele no tapete vermelho. Era como uma verdadeira pulga.
- E os outros dois?
- Josh é o novo guitarrista de quem te falei algumas vezes. Ah, o Flea é baixista. Assenti.
- E o vocalista? – perguntei, sem conseguir esconder muito bem minha ansiedade.
- Pelo amor de Deus, ! Achei que você fosse saber ao menos o nome dele. – nós rimos – É Anthony. Anthony Kiedis. O maior gostoso de todos. Se bem que o Josh também é bem bonitinho... Mas ele sempre será o Sir. Psycho Sexy, se você me entende.
- Hum... Na verdade, não entendo. – eu ri – O que é Sir. Psycho Sexy?
- Uma música. Veja a letra depois e você vai entender.
Apenas murmurei um "ah, sim" e guardei um sorriso. Anthony. O nome combinava com ele... E eu realmente precisava parar de pensar naquele maldito homem.
As meninas com quem havia feito amizade voltaram, ainda mais histéricas que antes.
- ! Você não sabe! Nós estávamos no banheiro, saindo de lá, quando ver um cara da produção do Red Hot chegou e...
- Calma, meninas! – pediu. Afinal, elas falavam ao mesmo tempo e não estava dando pra entender nada. – Primeiramente, essa é , a amiga de quem eu tinha falado. – sorri para elas, que sorriram de volta. E dava para notar que elas estavam ansiosas demais para ter que aguentar uma apresentação idiota – , essas são Juliet e Bridget. – ela apontou primeiro para a loira e depois para a ruiva. As duas eram muito bonitas. Elas acenaram rapidamente para mim. – Agora, uma de vocês, conte-me o que aconteceu.
- Ok, eu falo. – Juliet se pronunciou – Estávamos saindo do banheiro quando um cara da staff do Red Hot nos chamou. Ele nos convidou para ir ao hotel deles quando sairmos daqui! Você tem noção do que é isso? – arregalou os olhos e deu pulinhos e gritinhos. Até eu arregalei os olhos.
- Espera. – eu as interrompi. – Como assim ir para o hotel deles?
- Geralmente, depois de festas e até mesmo de shows, eles chamam algumas fãs para acompanhá-los até o hotel em que estão hospedados, para uma espécie de after-party, se é que você me entende. Na verdade, é estranho eles estarem em hotel aqui em L.A., mas eu, sinceramente, não estou ligando. – Bridget me explicou, então elas voltaram a pular e a comemorar, junto pois pensava na possibilidade de ser chamada também.
Meu Deus. Eles tratavam as fãs como prostitutas. Agora eu definitivamente não queria ter nada a ver com nenhum deles. Principalmente com o tal Kiedis, que parecia ser o chefão dos mulherengos.
Olhei em volta do salão, mas só conseguia ver pessoas cantando, bebendo e dançando. Ergui um pouco os pés – mesmo usando salto alto, é difícil ser baixinha – e então consegui ver, do meu lado direito, uma portinha meio escondida. Havia uma placa nela, onde eu pude ler a palavra "telhado" escrita em vermelho.
- Meninas, vou tomar um pouco de ar fresco. – avisei-as.
- Ok. Vou ficar por aqui. Se alguém me chamar para ir ao hotel, pergunto se posso te levar como convidada, tudo bem? – perguntou. Apenas assenti, querendo sair logo dali. Eu realmente precisava de ar puro.
Me esgueirei pela multidão, chegando até a porta rapidamente. Não sabia se era permitido adentrar aquela área, mas todos estavam ocupados demais, bebendo ou dançando, para notar alguma coisa. Subi rapidamente as escadas, chegando a outra porta. Abri e pude sentir a brisa refrescante em meu rosto. Fechei os olhos por alguns segundos, respirando fundo e absorvendo a noite de Los Angeles. Quando os abri novamente, sorri com a paisagem. Ali era bastante alto, e a vista da cidade era incrível.
Caminhei até chegar na beira do telhado. Tinha uma mureta ali, na mesma direção da porta, onde coloquei meu copo enquanto acendia um cigarro. Apoiei os braços na mureta, que batia na altura de minhas costelas. Fiquei debruçada ali, dando algumas tragadas no cigarro e uns goles no coquetel enquanto apreciava a vista. Estava tão distraída que só percebi que outra pessoa estava no telhado quando também se apoiou na mureta, a poucos metros de mim.
- Belo traseiro.
Estremeci ao ouvir aquela voz. Eu sabia exatamente a quem pertencia. Sem olhar diretamente para ele, segurei no pequeno muro com as duas mãos e me inclinei para trás. Dei uma olhada rápida na parte de trás de seu corpo e voltei a minha posição de antes, apoiando os dois braços, olhando para frente. Eu sentia que ele me encarava, curioso.
- O seu também. – e era mesmo. Muito belo, por sinal.
Dei uma tragada no cigarro, enquanto ele ria. Sua risada era gostosa de se ouvir, me fez querer rir junto.
- É a melhor resposta que já recebi para essa cantada.
- Então você sempre usa essa cantada barata? – perguntei em tom debochado, ainda sem encará-lo.
- Só com as que realmente merecem.
- Fico lisonjeada em fazer parte da sua lista de... Qual a média por semana? Dez? Quinze? Vinte garotas, talvez? – finalmente o encarei. E me arrependi. Ele tinha um esboço de sorriso nos lábios, o vento levava alguns fios de cabelo até seu olho e ele não me encarava, olhava para algum ponto indefinido a oeste da cidade. Quase perdi o fôlego com aquela cena. Quase.
- Precisa melhorar seu chute.
- Para mais ou para menos? – ergui uma sombrancelha.
- Isso não posso contar. – ele tornou a me encarar, e desta vez sustentei seu olhar. Por algum motivo desconhecido, era difícil me desconectar daqueles olhos esverdeados. Talvez castanhos-claros... Ou seriam cor-de-mel? Não importava a cor, eu só sabia que eram tentadoramente... tentadores. Não havia outra palavra que pudesse definir. – Prazer, Anthony Kiedis. – ele estendeu a mão direita em minha direção, dando um passo a mais para o meu lado.
- Disso eu já sabia. – ele riu. Tentei me controlar, afinal, dez minutos atrás eu não sabia. – . – apertei sua mão, sentindo a textura de sua luva preta.
- Sem sobrenome?
- Prefiro assim.
- Ok, sem sobrenome. – ele riu – Sabe, eu poderia escolher um sobrenome para você.
- Ah, é? E qual seria?
Ele se aproximou cada vez mais. Quando dei por mim, estávamos praticamente colados, ele direcionava sua boca ao meu ouvido.
- Tesão. – ele sussurrou. Senti meus pelos eriçarem e rezei para que ele não tivesse percebido. Levou alguns segundos até eu voltar do transe e me afastar de Anthony, mesmo que contra minha vontade. Ou melhor, a vontade do meu corpo, porque minha mente estava totalmente sã. Ou eu pelo menos esperava que estivesse.
- Meu Deus, você é nojento. – revirei os olhos e tornei a tragar meu cigarro. Afastei-me uns quatro passos e encostei na mureta novamente, olhando para um lugar qualquer da grande Los Angeles.
- É o que a maioria das mulheres diz antes de transarmos.
Soltei uma risada alta.
- Então é nisso que você está pensando? Que iremos transar? Pode acordar agora, senhor Kiedis. Eu sequer queria estar aqui.
- Eu sei. Pude perceber isso lá dentro. Na verdade, foi o que te destacou das outras. Era a única que não estava gritando por mim. E isso me excitou de tal maneira que te imaginei gritando meu nome de outra forma... Em minha cama, após eu quase te matar de prazer.
Não vou negar que aquelas palavras, por mais sujas que fossem, me excitaram de alguma forma. O encarei novamente, curiosa para ver o que encontraria em seu rosto. Seus olhos transmitiam pura luxúria e desejo, e tive medo de que os meus estivessem mostrando a mesma coisa. Ele agora estava apoiado de costas no muro, as mãos nos bolsos, um sorriso malicioso nos lábios. Insistia em encarar meus olhos.
- Você conta bastante vantagem para alguém com... Quantos anos você tem, Kiedis?
- Quarenta e nove, com muito orgulho, sem sobrenome. Não pense nisso como um quesito para avaliar meus dons. Você vai se surpreender. Aliás, quantos anos você tem?
Fiquei assustada. Aquele homem não aparentava ter quase cinquenta anos de jeito nenhum. Não com aquele rosto lindo e o abdômen que eu tinha visto no clipe. O que mais me assustava era que eu nunca havia me sentindo atraída por um homem tão mais velho. E eu realmente precisava parar de pensar que estava atraída por ele.
- Tenho vinte anos.
- Então, te julgando pela idade também, suponho que ainda não tenha desenvolvido muita experiência sexual. Mas você pode me provar o contrário. – completou, sugestivo.
Soltei minha primeira risada natural naquela conversa. Ele realmente era um abusado que não desistiria tão cedo.
- Não preciso te provar nada. Mesmo porque, você ficaria tão extasiado com o quanto sou boa que poderia ter um infarto. Sabe como são as coisas nessa sua idade, né. Não quero ser a responsável pela morte de Anthony Kiedis. – lancei-lhe um sorriso debochado. Ele pareceu perdido por alguns segundos, mas logo retomou a postura sabe-tudo.
- Então agora minha idade é motivo de piada, é? Não pareceu levar isso em consideração enquanto me encarava lá dentro. Aliás, seu olhar ainda demonstra que você não se importa nem um pouco com minha idade. Eu sei que você quer, .
- Não sou uma das fãs que você trata como prostitutas, Anthony. Sequer sou uma fã.
- Eu juro que posso fazer você virar minha fã em questão de segundos. – sorriu malicioso.
- Desista, Kiedis – dei uma última tragada em meu cigarro, antes de jogá-lo no chão e apagá-lo com uma pisada. – Precisará de mais do que suas cantadas baratas para me conquistar.
Ele me lançou um olhar divertido e então seu celular começou a tocar. Ele bufou e o atendeu, afastando-se para poder conversar. Eu poderia ter aproveitado a deixa e ter ido embora. O problema era que meu corpo não obedecia mais aos comandos de minha mente.
Encostei-me no muro novamente e terminei meu drink. Anthony voltou após alguns minutos.
- Estão procurando por mim, terei que voltar para dentro. Mas não pense que desistirei tão fácil, garota sem sobrenome.
- Eu sei disso. E por isso você precisa saber que também não cederei tão fácil.
Ele se aproximou de mim novamente. Não ficou tão próximo quanto da primeira vez, mas estava perto suficiente para que eu sentisse sua respiração quente bater em meu rosto.
- Eu já te disse que adoro desafios? – seu olhar agora era mais safado que nunca.
- Não. Mas espero que você aprecie frustrações também, Anthony, porque não conseguirá nada de mim.
- É o que veremos, – nossos olhares estavam conectados de maneira tão intensa que qualquer movimento era perigoso. Eu não me responsabilizaria por meus atos se perdesse o controle. Não era fácil manter a sanidade tendo aqueles olhos tão profundos a apenas alguns centímetros de distância. – Vou fazer você implorar por mim. Você pode se entregar agora, faciitando bastante as coisas, ou pode simplesmente esperar que eu a deixe tão tentada que mal conseguirá controlar seus próprios pensamentos.
- Prefiro a segunda opção. Afinal, isso não vai acontecer.
Ele se aproximou mais um pouco. Nós ainda nos encarávamos, e ele só parou a aproximação quando seus lábios praticamente roçavam nos meus.
- É o que veremos – sussurrou. Outro calafrio percorreu meu corpo. Após isso, piscou mais algumas vezes e então se afastou, passando pela porta que levava ao salão sem olhar para trás.
Soltei o ar pesadamente quando ele fechou a porta atrás de si. Eu sentia que minha mente estava prestes a explodir, tantos eram os pensamentos que a rodeavam. Alguns até mesmo bastante impróprios e indevidos, mas todos, sem exceção, envolviam Anthony. Eu ainda podia sentir o calor que ele irradiava.
Sim, eu tinha decidido resistir. Só não sabia até que ponto eu, de fato, conseguiria.
Esperei mais alguns minutos e desci as escadas de volta para o salão. Comecei a procurar por lá, mas não a via em lugar algum. Decidida a ir embora, procurei a chave de casa mas não estava em minha bolsa. Com certeza era arte da . Ela já tinha me dito que eu não fugiria daquela festa de maneira nenhuma.
Sentei em uma mesa vazia, tentando restabelecer meus pensamentos e afastar aquela voz tentadora de Anthony Kiedis da minha mente. Queria ir embora logo, deitar em minha cama e então poder pensar que nunca mais veria aquele homem na minha frente.
Ironias da vida... Mal sabia eu que aquela noite estava apenas começando.


II – I won't and I don't hang up until I please her

– Sua doida! Onde você se meteu? Te procurei em todos os lugares! – Eu ainda estava sentada, pensando em Anthony, quando chegou afobada em minha mesa, gritando mais que o necessário. Percebi que ela já estava um pouco bêbada.
– Eu estava no...
– Agora não interessa, já te achei! – me interrompeu, e então um sorriso surgiu em seus lábios – Adivinha? Fui convidada para ir ao hotel! E eles me disseram que posso levar uma amiga comigo!
Ela segurou minhas duas mãos e começou a dar pulinhos de alegria na minha frente. Ao ver que eu continuava parada, parou de saltar e ficou séria.
– Por que você não está pulando, ?
– Por que eu não vou, .
– Meu Deus, deixa de ser boba, é claro que você vai! O hotel que eles escolheram é o Village, você sabe como é chique, não vou deixar que você perca a oportunidade de ir lá. – ela disparou argumentos, mas eu já estava decidida a ir embora.
, de verdade, acho que esse lance é mais para fãs. Eu realmente estou muito cansada, preciso começar a ler um livro para a faculdade e não estou com vontade de ir para esse hotel.
Ela me encarou por alguns segundos, o olhar de decepção bastante perceptível, mas eu não iria ceder. Aquela festa já havia sido demais para mim. Mantive minha expressão séria e então ela bufou em sinal de desistência.
– Tudo bem, . Mas você tem certeza de que não quer ir?
– Tenho, , mas preciso da minha chave. Você a roubou, né, sua biscate?
Ela deu uma risadinha.
– É claro que roubei! Eu sabia que você tentaria fugir assim que pudesse, e pelo jeito eu estava certa.
Dei-lhe um sorriso. Ela remexeu um pouco em sua bolsa e tirou de lá meu chaveiro do Mickey. Entregou-me, ainda relutante, e então deu um sorriso sapeca. Seu rosto tinha a típica expressão de quem estava fazendo alguma arte, mas não dei bola, afinal, a bebida já tinha a deixado um pouco fora de si.
– Obrigada, . E pelo amor de Deus, juízo, hein? Não vou dar uma de mãe, mesmo achando totalmente errado você ir, mas pelo menos use camisinha, ok?
riu alto.
– Pode deixar, mamãe. E você fala como se eu realmente fosse transar com um deles. Quem me dera...
– Por que não transaria? Você é linda e gostosa, eles vão cair matando em cima! – nós duas rimos – Enfim, eu vou pro apartamento, preciso da minha cama. Divirta-se lá, mas por favor, tome cuidado, tenho um pouco de medo desses caras.
Ela deu uma risadinha e disse para que eu não me preocupasse. Dei um abraço em e comecei a caminhar em direção à porta pela qual eu havia entrado. Peguei meu celular para checar o horário e me assustei ao ver que já passava da meia-noite. Enquanto eu olhava distraída para o visor do aparelho, esbarrei em alguém. Olhei para cima para pedir desculpas, mas ao ver aqueles olhos verdes, congelei.
– Se fosse outra pessoa, eu até diria para que prestasse mais atenção, mas não posso dizer que estou chateado por esbarrar em você, sem sobrenome.
Eu não conseguia me desprender daquele olhar e muito menos daquele corpo. Eu podia sentir seu perfume amadeirado devido à nossa proximidade, já que não tinha me afastado um centímetro dele desde que batemos de frente. Sua voz estava ainda mais sexy que o normal.
– E eu até pediria desculpas, Kiedis, se você não fosse tão abusado.
Ele riu.
– Agradeço o elogio. Mas acho que você não se sente tão incomodada, já que continua colada em mim, não é mesmo?
Me afastei um passo assim que ele disse aquilo. Senti meu rosto corar.
– Você fica ainda mais linda quando está corada.
Lancei-lhe um olhar matador e recebi um sorriso sacana como resposta.
– Eu deveria estar lisonjeada por estar recebendo um elogio um pouco mais, digamos, civilizado de Anthony Kiedis, mas sei que por trás dele deve haver um monte de perversões, então não me darei ao trabalho. Agora, se me der licença, estou indo embora.
Dei um passo decidido para frente, sem olhar para Anthony, mas então senti sua mão segurar meu braço e me puxar para trás.
– Espera, aonde você está indo?
– Para a minha casa.
– Por quê? – seu olhar era sério.
– Porque, caso você não tenha percebido, eu não quero estar aqui.
Seu olhar agora estava perdido, confuso. Piscou algumas vezes e quando voltou a falar seu tom de voz era, no mínimo, suplicante.
– Fica mais um pouco! Podemos beber alguma coisa, conversar...
– Me desculpa, Anthony, mas eu realmente estou indo embora. Minha cabeça está estourando e eu nem devia estar aqui, na verdade.
– Posso te acompanhar até sua casa, então?
Agora o meu olhar que devia estar demonstrando confusão. Anthony Kiedis se oferecendo para levar uma garota em casa? Essa é novidade.
– Realmente não precisa, Anthony, obrigada por oferecer. Minha casa fica a dois quarteirões daqui, não precisa se preocupar.
Ficamos apenas nos encarando por um tempo. Anthony tirou sua mão do meu braço – eu nem tinha percebido que ela estava ali o tempo todo – e um sorriso sacana já familiar surgiu em seus lábios.
– Sei que você sabe se cuidar, , não é essa minha preocupação. Mas sim que uma mulher tão linda estará em casa, em um sábado à noite, sozinha... Eu realmente poderia mudar este cenário.
– E eu ainda achei que você tinha motivos mais nobres. Meu Deus, você é nojento! – rolei os olhos – Realmente estou indo embora, Kiedis. Tenha uma boa noite, até nunca mais.
– Não diga a palavra nunca, sem sobrenome.
– Não me diga o que devo ou não dizer. Boa noite.
Virei-me e saí andando com passos firmes, sem olhar para trás. Pude ouvir uma última risada rouca vinda de Anthony, mas não dei bola. Agora mais do que nunca eu precisava chegar em casa e me aconchegar em minha cama, após um bom banho quente.
Enquanto eu caminhava para meu apartamento, imagens de Anthony Kiedis dominavam meus pensamentos. Ele chegando à estreia, sem camisa no videoclipe, dando em cima de mim no telhado, pedindo para que eu não fosse embora... Eu realmente precisava parar de pensar nele. Não devia passar de um cara de cinquenta anos que comia umas três mulheres por dia e se drogava constantemente. Aliás, todos da banda deviam ser assim.
Entretanto, algo em particular me intrigava. ter citado a tal música quando me contou sobre o Anthony... Como era o mesmo nome? Alguma coisa Sexy, eu acho. Por que será que ela tinha dito “ele sempre será o sei lá o que sexy”? Minha curiosidade me venceu e logo peguei meu iPhone dentro da bolsa. Fui ao google e digitei “sexy Red Hot Chili Peppers”. Com certeza apareceria algo a ver com a música.
O primeiro resultado da pesquisa era de um site de letras de música. “Sir. Psycho Sexy – Red Hot Chili Peppers” era o título do resultado. Ah, era esse mesmo o nome! Sem perder tempo, entrei na página e comecei a ler a letra.
Meu. Deus. O que era aquilo? Acho que eu nunca havia visto tantas obscenidades em um só texto. E aquilo tudo realmente falava sobre o Anthony? Meu Deus duplo. Tudo bem, a música já tinha bastante tempo de lançamento, mas eu duvidava que alguma coisa tivesse mudado. Terminei de ler e guardei meu celular na bolsa novamente.
Continuei minha caminhada, aqueles versos se repetindo em minha mente. Aquilo me deixava enojada, mas na verdade, algo sobressaía o sentimento de repulsa. Aquilo me deixava, mesmo que eu não quisesse assumir, excitada. Qual é, o cara já era um gostoso, e eu ainda lia aquilo? Ok, aquela letra era bastante aumentada e fantasiada, mas pelo jeito tinha um fundo de verdade. Por tudo o que eu já tinha ouvido falar sobre ele – não que fosse muita coisa, mas em sua maioria envolviam mulheres que ele já tinha comido e mulheres que sonhavam em ser comidas por ele -, pelo modo como havia se referido a ele e pelo modo como ele falou aquele monte de obscenidades para mim... Com certeza aquela música tinha algo honesto.
Foi então que me lembrei do que ele havia me dito no telhado: Você pode se entregar agora, faciitando bastante as coisas, ou pode simplesmente esperar que eu a deixe tão tentada que mal conseguirá controlar seus próprios pensamentos. Meu Deus, era o que estava acontecendo! Controle seus pensamentos, ! Já foi, você nunca mais precisará encontrar esse homem em sua vida.Mas e se eu quiser encontrar? Controle-se, !
Suspirei pesadamente e resolvi pegar um cigarro em minha bolsa. Eu já estava quase chegando em casa, logo estaria dormindo e aquela noite finalmente acabaria.
Nem pude acreditar quando cheguei na porta do meu prédio. Eu e morávamos juntas havia quatro anos e tínhamos acabado de nos mudar para um apartamento novo. Não era luxuoso, mas também não era coisa de estudante, como o outro em que estávamos morando antes. O apartamento tinha um tamanho razoável, cada uma tinha uma suíte e também contávamos com uma sala, um banheiro para visitas, uma cozinha e uma pequena lavanderia. Eu estava feliz morando lá. A convivência com era fácil e eu adorava tê-la sempre por perto. Nunca brigávamos, éramos melhores amigas e sentíamos como se fossemos irmãs. Dei um sorriso ao pensar em . Ela devia estar indo para o hotel agora.
Toquei o interfone e James, o porteiro, abriu ao reconhecer minha voz. Passei por ele acenando e então fui para o elevador. Cada andar tinha dois apartamentos e o meu ficava no quinto. Dividíamos o andar com Margareth, uma solteirona de quarenta anos muito amigável. Sempre nos encontrávamos no andar e parávamos um pouco para conversar, ou melhor, para eu ouvir sobre como era difícil arrumar um homem decente hoje em dia.
O elevador não demorou a chegar ao meu andar. Parei em frente a porta do meu apartamento, de número 501, e comecei a vasculhar minha bolsa. Encontrei a chave rapidamente. Levei-a direto ao encaixe da fechadura e estava tendo um pouco de dificuldade para abrir a porta. A bebida devia ter feito um pouco de efeito, ao final das contas. Insisti por mais um tempo mas a chave sequer entrava na fechadura, e foi então que me dei conta.
Levantei o chaveiro até a frente de meus olhos. Minhas suspeitas estavam certas. Eu via o rosto do Mickey Mouse ali, enquanto deveria estar vendo uma miniatura da Torre Eiffel. Droga, !
Voltei para o elevador, pisando firme e quase gritando de tanta raiva. tirou proveito da minha típica falta de atenção para me enganar. Aquela era a chave de nosso antigo apartamento, não daquele. Isso explica o olhar travesso dela quando me entregou o chaveiro na festa. Como eu não percebi? Já tínhamos nos mudado havia mais de um mês! Como eu era lerda. Meu Deus, eu poderia picar em pedacinhos se a visse em minha frente!
Não demorou até que eu chegasse no térreo. Caminhei desesperada até James, torcendo para que ele pudesse me ajudar.
– James, me diz que você tem uma cópia da chave do meu apartamento.
– Me desculpe, , mas eu realmente não tenho. Não somos autorizados a ter cópias de chaves pessoais.
Eu realmente queria gritar. Ainda atordoada, agradeci e desejei boa noite ao James, saindo pela porta da frente. Fui para calçada e fiquei alguns minutos acenando por um táxi, até que finalmente um parou onde eu estava. Pedi para que o motorista me levasse até o Village. Era um pouco longe, então aproveitei a viagem para colocar a cabeça no lugar. Primeiro respirei fundo e retomei um pouco da calma para não matar no momento em que colocasse meus olhos nela. Funcionou um pouco. Afinal, ela estava bêbada e isso dava-lhe um pouco de crédito – mesmo eu sabendo que ela teria feito a mesma coisa se estivesse sóbria.
Resolvido o problema com em minha cabeça, outro pensamento ocupou minha mente: Anthony Kiedis. “Até nunca mais”... Eu e minha boca grande. Sentia um frio na barriga só de pensar em dar de cara com ele novamente. Eu tinha resistido muito na festa, e se dessa vez eu não conseguisse? Ok, , respire fundo.
Decidi deixar de lado todo e qualquer pensamento que envolvesse aqueles malditos olhos verdes até a hora em que eu chegasse ao hotel. Coloquei meus fones de ouvido e escutei Keith Urban durante todo o caminho. Sim, eu adoro country.
O motorista estacionou em frente ao Village após uns quinze minutos. Paguei-lhe e desci do carro, apressada. O hotel era realmente impressionante, tinha uma fachada imponente e era enorme. Por sorte não havia nenhum tumulto de fãs na entrada. Adentrei o lobby e me dirigi ao recepcionista.
– Boa noite. Em que posso ajudá-la, senhorita? – ele me deu um sorriso simpático. Era até bonitinho, devia ter uns trinta anos e parecia ser muito simpático.
– Boa noite. Eu precisava ter acesso ao andar em que os Red Hot Chili Peppers estão hospedados, minha amiga está lá e...
– Desculpa, senhorita, apenas autorizados podem subir para o andar da banda – seu sorriso passou a demonstrar impaciência. Pelo visto ele não era tão simpático quanto eu imaginava.
Bufei. Eu ía caminhando para longe da mesa da recepção para tentar ligar para , quando um monte de cabelo azul entrou pela porta da frente do hotel. Era a minha oportunidade.
– Ei, azulzinho! Ei!
Saí correndo atrás dele, que estava indo em direção aos elevadores. Ele olhou para trás, curioso, e seu olhar tornou-se assustado quando me viu. Também, não era pra menos, uma louca correndo atrás dele e chamando-o de “azulzinho”. Qual era mesmo o nome que havia me dito?
– Eu? – ele apontou para si mesmo.
– Acho que é o único azulzinho por aqui – dei-lhe um sorriso simpático e ele retribuiu. Seus dentes da frente eram bastante separados, o que chegava a ser estranhamente fofo.
– Pode me chamar de Flea. E você é...?
, muito prazer. – estendi minha mão e nos cumprimentamos – Olha, eu não sei se você lembra de mim mas eu estava na festa...
– Ah, sim, lembrei de você! Sabia que você era familiar. Vi você conversando com o Anthony, perto da saída. Você veio atrás dele, não é?
Assim que assimilei as palavras de Flea, arregalei os olhos.
– O quê? Não! Eu estava indo embora! Não vim procurar o Anthony! – comecei a disparar uma negação atrás da outra. Ele riu e então deu um tapinha em meu ombro.
– Tudo bem, tudo bem. Do que você precisa, então?
– Bom, minha amiga está lá em cima e está com a chave do nosso apartamento, e eu realmente preciso ir para casa. Por isso eu precisava encontrá-la.
– Ah, sim! Sem problemas, você pode subir comigo. Considere-se minha convidada de honra.
Dei um sorrisinho irônico para o recepcionista e eu e Flea entramos no elevador. Ele realmente era um cara muito legal e amigável.
– Então, o Sir. Psycho Sexy tentou te seduzir?
Que droga, por que todo mundo mencionava essa maldita música?
– Acho que posso dizer que sim, mas eu sou meio durona. – dei-lhe um meio sorriso.
– Eu imagino que sim, para ter recusado o Tony. Sabe como é, ele é o galã da banda.
Nós dois rimos.
– Por que foi embora da festa tão cedo?
Eu corei. Chegava a me incomodar ter que responder aquilo para alguém tão legal quanto o Flea.
– Na verdade, não sou fã da banda. Não leve isso com uma ofensa. Gosto das músicas de vocês. Aliás, parabéns pelo novo clipe, eu realmente gostei. Mas não sou do tipo de fã histérica, sabe? Minha amiga é muito fã, e me arrastou junto.
Flea deu um sorriso fofo.
– Não se preocupe, não precisa se envergonhar por isso. Nós só fazemos um pouco de barulho – eu ri.
O elevador abriu no andar da banda.
– Estamos com o andar fechado para nós, então devem ter uns dez ou mais quartos. Sua amiga deve estar em um deles. Tem certeza de que quer procurá-la? Não posso garantir que encontrará coisas agradáveis por trás dessas portas.
– Não se preocupe, Flea. Muito obrigada por me ajudar, de verdade! – dei-lhe meu sorriso mais sincero.
– O prazer foi todo meu, mademoiselle.
Ele pegou minha mão, deu um beijo em cima e nós dois rimos. O elevador ficava no meio do extenso corredor, que tinha várias portas. Flea saiu andando para o lado direito, e eu resolvi começar a procurar pelo lado esquerdo.
Andei alguns passos e parei entre duas portas, uma à frente do elevador e uma que ficava na mesma parede dele. Resolvi abrir a que ficava na parede da frente.
Dei de cara com um homem e várias garotas se drogando. Não pude evitar um suspiro aliviado ao ver que não estava ali, já que as duas garotas que ela tinha conhecido na festa estavam injetando alguma coisa no braço. O cara que estava ali era, se eu não me enganava, o baterista.
Fechei a porta sem falar nada, já que nenhum deles percebeu que eu havia aberto. Ok, eu ainda tinha quatro portas para olhar desse lado e mais cinco para olhar do outro. Respirei fundo e parei para pensar um pouco. Bom, se estivesse se agarrando com um cara, eles procurariam a porta mais próxima quando saíssem do elevador, ou seja, a porta que ficava logo ao lado, do lado esquerdo ou do lado direito. Era um palpite, então resolvi começar pelas duas portas. Abri a que estava atrás de mim e o quarto estava vazio. Respirei fundo, quase desanimando. Caminhei até o outro lado do elevador e não reprimi um grito ao abrir a porta.
– Meu Deus, !
estava deitada em um sofá que ficava em frente à porta, sem blusa e sem sapatos, e um cara estava por cima dela. Meus olhos estavam arregalados e minha boca entreaberta. Os dois me olharam, então reconheci o tal guitarrista de quem ela tanto falava, Jeff, Josh, sei lá. Me recuperei do susto e percebi o quanto eu tinha sido idiota. Eu não tinha direito de interromper aquele momento.
– Er... Desculpa. Eu vou fechar a porta, continuem e finjam que nada aconteceu, ok? Er... Tchau.
Fechei a porta sem esperar uma resposta. Legal, agora eu realmente estava trancada pra fora de casa enquanto minha amiga pegava um bonitão. E eu duvidava de que ela fosse se tocar disso e vir falar comigo, afinal, estava bêbada, semi-nua e com um cara por cima dela.
Eu ainda estava encarando a porta quando ouvi aquela voz rouca e já tão familiar.
– Você lembra do que eu disse sobre o “nunca”, sem sobrenome?
Me virei e dei de cara com o Anthony parado atrás de mim, um sorriso irônico e lindo no rosto, as mãos nos bolsos e uma expressão de quem estava se divertindo.
Ele estava lindo, e eu, perdida. Puta merda, eu não ia conseguir resistir.
- Infelizmente, sim, Anthony. – dei-lhe um sorriso irônico, que ele retribuiu da mesma forma. Deus, ele não podia ser menos gostoso?
- E a que devo a honra deste encontro? – ele levantou uma sobrancelha, sugestivo – Sentiu minha falta?
- Por Deus, é claro que não! – revirei os olhos – Vim procurar minha amiga, que por acaso está atracada com o seu amigo agora, e com a chave da minha casa.
Seu sorriso se alargou ainda mais e agora também apresentava um certo quê de malícia. Por que eu fui falar da maldita chave?
- Então você não tem para onde ir, sem sobrenome?
Eu corei.
- Er... não.
- Bom, isso não é problema. Tenho uma suíte todinha para mim, tem bebidas lá. Se você quiser, podemos conversar, ouvir um pouco de música...
Soltei uma risada debochada.
- Conversar e ouvir música? Conta outra, Anthony. Você vai tentar me agarrar assim que passarmos pela porta, talvez nem espere até chegarmos lá.
O sorriso não saía do seu rosto, e aquilo estava começando a me deixar entorpecida.
- Estou falando sério, . Qual é, não farei nada que você não queira. Mas se você quiser...
Nesse momento, ouvi um gemido – ou devo dizer um grito? - de , vindo detrás da porta. Arregalei os olhos e Anthony riu da minha reação.
- Você prefere mesmo ficar aqui, ouvindo sua amiga transar? Prometo que irei me comportar.
Encarei-lhe séria, tentando decifrar sua expressão. Ainda havia malícia presente em seus olhos e em seu sorriso – afinal, ele era Anthony Kiedis -, mas por algum motivo eu soube que podia confiar nele. No fim das contas ele até era gente boa, e qual é, ele não era um maníaco que iria me estuprar na primeira oportunidade. Pelo menos eu esperava que não.
- Tudo bem, você venceu.
Rolei os olhos mais uma vez, enquanto um sorriso vitorioso aparecia em seus lábios. Ele foi caminhando na frente, até a segunda porta depois do elevador. Abriu-a e deu espaço para que eu passasse primeiro. Até me pareceu um ato de cavalheirismo, mas tratando-se de Anthony Kiedis, eu não duvidava que fosse uma desculpa para poder olhar para a minha bunda.
O quarto tinha um tamanho razoável. Uma cama de casal ao centro, uma porta do lado direito que percebi ser o banheiro, já que estava entreaberta, um sofá de três lugares preto ao lado esquerdo e um closet ao lado do mesmo.
- Senta aí, vou pegar algo para você beber – ele apontou para o sofá – Alguma preferência? Whiskey, cerveja, vinho...
- Pode ser uma cerveja, por favor. – pedi, enquanto me sentava em uma das extremidades do sofá.
Ele foi até o frigobar, pegou uma cerveja para mim e... uma Coca-Cola para ele?
- Coca-Cola? – ergui uma sobrancelha, curiosa.
- Sou limpo, . Sou vegano, não bebo, não fumo e não me drogo. Não mais.
Ok, aquilo era novidade para mim. Depois de alguns segundos, percebi que eu estava com a boca entreaberta. Talvez eu tivesse o julgado de maneira um pouquinho precipitada.
- Sério? Eu não sabia. Isso é muito legal, Anthony. – eu estava com muita vergonha. Há alguns minutos atrás eu julgava o cara como um maconheiro de marca maior, e agora tinha descoberto que nem carne ele comia. Me senti suja por um momento.
- A iniciativa é legal, sim, mas confesso que a tentação, não.
Ele me entregou a cerveja enquanto se sentava na outra extremidade do sofá. Seu olhar agora transmitia uma certa agonia. Comecei a imaginar tudo o que ele já devia ter passado na vida, todo o seu período irresponsável de rockstar, e então senti um aperto por dentro. Me senti mal por ele.
- Você quer que eu deixe a cerveja pra lá? Eu posso te acompanhar na Coca. – eu estava me sentindo, de certa forma, culpada.
Ele deu uma risada, mas não havia humor algum ali.
- Não se preocupe, . Convivo com os caras todos os dias, imagine o que eu devo passar. Meu auto-controle se desenvolveu bastante nos últimos anos.
Encarei-o, mas ele não olhava pra mim. Ao sentir meu olhar sobre si, levantou a cabeça e me deu um meio sorriso. Retribuí, e por alguns segundos ficamos daquele jeito, nos encarando sem dizer nada.
Quando aquele silêncio começou a ficar constrangedor, Anthony resolveu quebrá-lo.
- Mas devo dizer, , meu auto-controle fica bastante perturbado quando estou perto de você.
Ele me deu um sorriso sacana enquanto minha expressão devia ser incrédula. O garanhão Kiedis estava de volta.
- Eu devia saber que essa safadeza não ia demorar a voltar – desviei meu olhar do dele e então reparei em um aparelho de som ao lado do frigobar – Tem algum CD aqui?
- Sim, em cima do frigobar. Mas são todos da banda.
- Sem problemas. Fiquei curiosa para conhecer melhor o som de vocês.
Levantei e fui até o frigobar, que ficava em frente ao sofá mas do lado oposto do quarto. Peguei os CDs nas mãos e um deles em particular chamou minha atenção. A capa era preta e branca com exceção de cinco rosas vermelhas. Demorei um tempo para decifrar o título do álbum, tive que revirá-lo em minhas mãos várias vezes, mas por fim cheguei a conclusão de que era Blood Sugar Sex Magik.
Eu estava tão entretida com o CD que nem reparei no estranho silêncio do Anthony. Vire-me de frente para ele e percebi que seus olhos estavam fixos em minhas coxas. Argh, homens.
- Anthony? – chamei, tentando tirá-lo do transe. Ele piscou algumas vezes antes de mirar meu rosto novamente. Seu olhar estava um pouco perdido. Meu Deus, ele devia estar fantasiando coisas comigo.
- De quando é este álbum? – mostrei-lhe o CD.
- É de 91. Um dos meus preferidos. Quer ouvir esse?
- Sim, gostei da capa.
E então eu me vi em um dilema: o aparelho de som estava no chão, ou seja, eu teria que agachar para colocar o CD nele. De costas para o Anthony. De mini-saia. Aquilo não ia dar certo. , respira fundo.
Mordi meu lábio inferior, morrendo de vergonha, e então abaixei para colocar o CD no player. O que deveria ser uma tarefa simples tornou-se impossível por causa do meu nervosismo. Derrubei o CD no chão e demorei o dobro do tempo para colocá-lo para tocar. E o Anthony estava assistindo a tudo aquilo. Meu Deus, e se minha calcinha estivessse aparecendo?
Ok, missão cumprida. Agora levante com muita calma, , sem movimentos bruscos ou ele vai ver sua calcinha. Tá, estou de pé. Agora vou virar pra trás e com certeza pegar o Anthony encarando a minha bunda...
Mas não foi isso o que aconteceu. Na verdade ele estava bem na minha frente. Ele tinha chegado atrás de mim e e eu sequer havia percebido! Seu olhar sobre mim era tão intenso que chegava a me assustar, mas não de uma maneira ruim. Era assustador de uma maneira excitante.
Seus olhos desprenderam-se dos meus e passaram a mirar meus lábios. E no segundo seguinte eu já não via mais nada, pois fechei meus olhos ao sentir seus lábios nos meus, em um beijo desesperado e cheio de desejo.
Sua língua pediu passagem e me recusei a dar. O que você está fazendo, ? Ele tem cinquenta anos e você mal o conhece! Anthony continuou investindo, suas mãos se revezavam entre meu cabelo e minha cintura, ele não desistia de tentar fazer com que eu correspondesse.
Em um determinado momento ele puxou meu cabelo, sem muita força, mas o suficiente para me levar ao delírio e fazer com que eu me entregasse. Minha boca deu passagem para a sua língua, e deixei um gemido baixo escapar quando ele me puxou para mais perto de si, nossos corpos ainda mais colados que antes.
Levei minha mão até sua nuca e a arranhei levemente. Senti Anthony se arrepiar, o que só serviu para me deixar ainda mais desejosa. Desci minhas mãos para seus braços, senti aqueles músculos definidos e não reprimi outro gemido, ainda que fraco. Ele sorriu entre o beijo e desceu sua mão para minha bunda... E então eu acordei. Meu Deus, o que eu estava fazendo?
Não foi preciso muito esforço para afastar Anthony de mim, já que ele estava bastante distraído em explorar minhas curvas. Peguei-o desprevinido, ele com certeza não imaginava que eu fosse repelí-lo. Minha mão ainda estava em seu peito, lugar que usei para empurrá-lo. Eu não conseguia encará-lo. Meu olhar estava direcionado para o chão e eu tentava recuperar o fôlego que me havia sido tomado naquele beijo. Após alguns segundos, percebi que estava mais calma e pronta para olhá-lo.
Seus olhos verdes não demonstravam nada mais senão confusão e frustração. Sua respiração também estava alterada, ainda mais falha que a minha. Eu não conseguia me mover. Aqueles olhos me prendiam, e eu podia ver que por trás deles havia uma pergunta: Por quê? E para se sincera, nem eu sabia responder.
Ele era mais velho, mas isso não era desculpa. Eu nunca tinha me importado com a idade de um cara, por mais que não quisesse assumir isso para ele. Eu não era do tipo de garota que ficava com um cara que mal conhecia, mas também não era do tipo que perdia uma oportunidade. E que oportunidade! Então por que eu estava recusando?
- ... Por que não? - sua voz quebrou o silêncio.
E então eu percebi o porquê. Não era a questão de eu ficar com qualquer cara. Mas de ele ficar com qualquer uma.
- Anthony, eu sinto muito, mas não vou ser mais uma da sua lista.
Sem encará-lo, tornei a me sentar no sofá, no mesmo lugar de antes. Peguei a cerveja que eu tinha deixado no chão e tomei um longo gole, com os olhos fechados. Senti o sofá afundar e percebi que ele tinha sentado-se ao meu lado, bastante próximo de mim. Mantive meus olhos fechados por mais algum tempo, temendo o que eu iria encontrar no rosto de Anthony quando os abrisse. Mas por quê eu temia?
Decidi que era a hora de encarar o que realmente estava acontecendo ali, então abri os olhos e encontrei Anthony me olhando, ou melhor, me analisando, com um sorriso estampado no rosto.
- Por que você está sorrindo?
- Porque gosto de te ver confusa. Você parece ficar mais... – ele hesitou um instante – vulnerável.
Lancei-lhe um olhar sério.
- Então é assim que você me quer, vulnerável? Francamente, Anthony, você só se importa com sexo, tenho certeza de que se eu caísse desmaiada agora você aproveitaria a chance.
- Por favor, , não diga besteiras! – ele revirou os olhos – É só que você parece tão... segura de si, tão diferente de todas as mulheres que já estiveram sozinhas em um quarto comigo. Elas nunca resistem. E você... Você é como um enigma que preciso decifrar.
Por alguns segundos, ficamos apenas nos encarando. O clima estava bastante tenso. Dentro de mim, uma batalha acontecia: Por um lado eu queria me entregar totalmente a ele, sem pensar duas vezes, e aproveitar aquele homem tão sexy que estava ao meu lado. Por outro, eu queria sair correndo, para não ter que pensar que no dia seguinte ele sequer lembraria meu nome.
- Talvez as outras mulheres estavam deslumbradas demais por terem um rockstar tão gostoso em um quarto e nem mesmo pensaram racionalmente que... – então eu arregalei os olhos e interrompi à mim mesma. Eu tinha acabado de assumir em voz alta que ele era gostoso. Droga, !
- Então você me acha gostoso, é? Gostei dessa revelação, ... – Anthony tinha um sorriso ainda mais malicioso no rosto, uma sobrancelha erguida que o deixava totalmente sexy... A verdade era que eu queria aquele homem de qualquer forma, não importava se ele fosse ligar ou não no dia seguinte. Mas eu deveria me entregar?
Eu não tinha ideia do que responder. Anthony se aproximou um pouco mais, olhando fundo no meus olhos. Eu estava presa àquele olhar, sua aproximação causava arrepios por todo meu corpo, eu sentia meus batimentos cardíacos cada vez mais acelerados. Não dava mais. Eu já não tinha mais controle sobre meu próprio corpo. E quando Anthony colocou o rosto sobre meu ombro, mordendo vagarosamente o lóbulo da minha orelha, não consegui mais aguentar.
Naquele momento, qualquer resquício de sanidade que eu ainda tinha em minha mente se esvaiu. Coloquei minhas mãos sobre os ombros de Anthony e passei minhas duas pernas por sua cintura, ficando em seu colo. Peguei-o tão desprevinido que ele apenas me encarava, incrédulo, os lábios entreabertos e o olhar desconfiado.
Decidi que eu deveria apenas aproveitar aquele momento, aquele homem, e o beijei com toda a minha vontade. Anthony não hesitou em corresponder meu beijo, e eu não sabia dizer qual de nós dois estava mais desesperado. Nossas línguas travavam uma batalha, em perfeita sincronia, e eu sentia meu corpo pedindo por mais. Minhas mãos, que estavam em sua nuca até então, percorreram todo seu abdômen sem pressa, sentindo cada pedaço daquele corpo escultural. Soltei um gemido baixo ao sentir seus músculos, enquanto Anthony soltou um gemido bastante alto quando minha mão chegou ao cós de sua calça.
Era hora de parar o beijo por um instante, afinal, já estávamos sem fôlego. Ele aproveitou e passou a beijar minha nuca, mordiscando-a de vez em quando, e eu já não podia mais conter meus gemidos. Eu ainda estava completamente vestida e sentindo mais prazer do que qualquer outra vez em que estivera com um homem. O que aquele cantor estava fazendo comigo?
Anthony começou a descer os beijos para o meu decote. Percebi que alguma coisa estava me inncomodando: sua camiseta. Eu precisava senti-lo mais intimamente. Levantei um pouco a barra de sua blusa e ele entendeu o recado. Em menos de um segundo a camiseta já estava jogada em algum canto do quarto.
Voltamos a nos beijar freneticamente. Eu agora explorava seu abdômen sem o menor pudor, o que só resultava em gemidos cada vez mais altos vindos de Anthony. Resolvi retribuir o carinho de antes e passei a beijar e morder levemente sua nuca, o que fez com que ele apertasse minha cintura e me direcionasse para baixo, me pressionando ainda mais contra suas pernas. Senti aquele volume e não conti um gemido alto e satisfeito. Se antes eu já estava achando-o perfeito, agora eu não tinha mais dúvidas.
Anthony começou a passar sua mão quente e habilidosa em minha barriga, desnuda por causa da blusa que eu usava. Me arrepiei inteira ao sentir seus dedos brincando com a barra, então me afastei, dando sinal que ele podia fazer o que pretendia. Não demorou muito e eu estava com o sutiã à mostra.
O olhar de Anthony foi direcionado para meus seios e eu não poderia descrever a luxúria que sua expressão facial carregava.
- Você quer? – perguntei, e ele direcionou seu olhar para o meu.
- Eu não conseguiria descrever o quanto.
- Então não fique com vontade.
Pegando-o de surpresa novamente, desabotoei o fecho frontal do sutiã e logo ele estava no chão, junto com nossas blusas. Anthony não desprendia o olhar de meus seios, cada vez mais desejoso, e então tomou-os nas duas mãos, iniciando uma massagem tão prazerosa que joguei minha cabeça para trás, fechando os olhos e apenas sentindo todo o prazer que aquele homem podia me proporcionar. Logo sua mão direita foi substituída por seus lábios, que sugavam e mordiam meus mamilos sem pudor. Sua mão esquerda continuou massageando meu outro seio. Aquilo era tão excitante que quase chegava a me levar a um orgasmo.
Após algum tempo ele inverteu, sendo que agora seus lábios estavam em meu seio direito, mas sua mão desceu para minha coxa esquerda. Meus gemidos estavam cada vez mais desinibidos, enquanto ele apertava minha coxa e sugava meu mamilo. Minhas mãos exploravam suas costas tatuadas, arranhando-a e acariciando-a.
Em determinado momento, percebi que eu precisava dos lábios dele novamente, com urgência. Puxei seu rosto em direção ao meu e nos beijamos com ainda mais voracidade. Todo nosso desejo estava presente ali, naquele contato. Eu já não aguentava mais, precisava dele por completo. Levei minhas mãos até o botão de sua calça, abrindo-o e passando a mão por todo o cós de sua boxer preta. Anthony soltou o ar pesadamente, fechando os olhos e tombando a cabeça para trás.
- Tem certeza de que quer ficar aqui no sofá? Podemos ir para a cama... – ele abriu os olhos novamente e falou, sua respiração bastante ofegante.
- Você consegue chegar até lá? – perguntei, levantando uma sobrancelha e exibindo um sorriso malicioso.
- Definitivamente não – ele tomou meus lábios novamente, enquanto eu descia sua calça – Meu Deus, o que você está fazendo comigo?
Ele levantou-se um pouco do sofá, o suficiente para descer suas calças pelos joelhos, me segurando em seu colo. Me segurei em seu pescoço enquanto ele descia minha calcinha, minha saia e em seguida sua cueca. Sentou-se novamente, levando-me junto, e soltei meu gemido mais alto até então, quando nossas intimidades tiveram contato.
Voltei a beijá-lo, rebolando em seu colo para provocá-lo. Anthony abria o pacote de uma camisinha, que ele tinha pegado no bolso de sua calça antes de retirá-la. Parei de beijá-lo enquanto ele colocava-a em seu membro, nossos olhos não perdiam o contato, que era quase tangível de tão intenso. Quando terminou de colocar a proteção, segurou minha cintura.
Levantei-me alguns centimetros de seu colo, o suficiente para que ele finalizasse o movimento e então me preenche-se por completo, de uma vez. Dessa vez eu não gemi, mas gritei de prazer. Eu precisava de mais. E precisava agora.
Comecei a me mover lentamente, sentindo a maravilhosa sensação de ter Anthony me preenchendo por completo.
- Meu Deus, , isso já é tortura – ele sussurrou em meu ouvido e então começou a ditar os movimentos, movimentando minha cintura com uma rapidez alucinante.
Eu não poderia descrever aquela sensação. Naquele momento eu me sentia completa. Só conseguia gemer cada vez mais alto, esperando que Anthony entendesse que eu precisava de mais. E ele com certeza entendia.
Agora eu fazia a maior parte dos movimentos, cada vez mais rápido, cada estocada parecia ser ainda mais profunda. Eu estava perto do meu ápice.
- Anthony, eu vou...
- Eu também, baby. Me leve para o céu.
E então algo me surpreendeu: Sir. Psycho Sexy começou a tocar no disc player. Já que eu não conhecia o ritmo, o pouco de sanidade que ainda me restava reconheceu os primeiros versos. Aquela era a atmosfera perfeita para um orgasmo.
Aumentei ainda mais a velocidade de meus movimentos, deixando nossa transa bastante... selvagem, eu posso dizer. Anthony soltou um gemido alto, derramando-se dentro de mim, e então senti tremores por todo meu corpo. Com um grito alto de prazer, seguido por um desesperado “Anthony”, cheguei enfim ao meu orgasmo. E foi melhor do que qualquer palavra poderia descrever.
Deitei minha cabeça em seu peito, tentando puxar algum ar para dentro de meus pulmões. Anthony abraçou minha cintura com seus braços, eu podia ouvir sua respiração ainda alterada.
Depois de alguns segundos me recompondo, depositei um beijo em seu ombro e me desencostei de seu peito, encarando-o novamente. Seus lábios agora mostravam um sorriso sincero e satisfeito, que me fez sorrir também. Anthony tomou meus lábios em um beijo mais calmo, mas não menos desejoso. Retribuí sem pensar duas vezes. Anthony interrompeu o beijo e deu outro sorriso.
- Você não tem ideia do quanto estou agradecido à sua amiga. Achei que nunca mais fosse ver você.
Senti meu rosto corar e dei-lhe um sorriso.
- Para ser sincera, eu também estou agradecida. Só não posso deixar saber disso, ou me deixar pra fora de casa vai virar mania.
- Mas se for para me encontrar... – ele sorriu com o canto dos lábios, sugestivo.
- Se for para te encontrar, talvez eu fique trancada para fora de casa com mais frequência.
Eu também sorri e nos beijamos mais uma vez. Suas mãos passeavam por todo meu corpo sem pudor, com um pouco mais de calma, mas, ainda assim, de uma maneira que me levava à loucura.
- Na cama, desta vez? – ele perguntou, com os olhos semicerrados.
Eu apenas fechei os olhos e assenti. Senti que estava sendo levantada pelo Anthony, então entrelacei minhas pernas em sua cintura e começamos outro beijo. Ele me deitou no colchão, fazendo uma trilha de beijos por todo meu corpo logo em seguida, mas que não demorou muito para ser interrompida.
- ? – Anthony chamou.
- Hum? – resmunguei, não satisfeita com a pausa.
- Você vai me dizer qual é o seu sobrenome?
Abri os olhos e encarei Anthony com um sorriso sincero no rosto antes de responder.
- É , Anthony. Mas pelo amor de Deus, dá pra deixar isso para depois?
- Com prazer – ele respondeu, mais malicioso que nunca, e tornou a espalhar beijos por todo o meu corpo. Logo posicinou um dedo em minha intimidade, movendo-o lenta e deliciosamente por meu clitóris, e percebi que aquela noite estava apenas começando.
Afinal, tinha como ser diferente com o Sir. Psycho Sexy?

N/A: É isso, meninas! Eu não planejava finalizar a fanfic agora e torná-la uma short, mas foi preciso. Quero voltar, em breve, com uma possível parte 2! Espero que vocês tenham gostado! Beijoooos <3


NOTA DA BETA: Encontrou erros que provavelmente passaram despercebidos pela desastrada aqui?
     
P.S: A opção "descontar na autora através dos comentários" foi desativada pela eminente injustiça que representa.


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