O céu daquele fim de tarde parecia laranja demais para existir e era digno de ser emoldurado. O contorno das nuvens era de um dourado intenso que fazia os olhos doerem e ele se encontrava de frente para uma das janelas da pequena sala sagrada, observando a brisa dançar com as folhas das pequenas árvores do outro lado do vidro.
Estava em um momento de sua vida que nunca pensara que chegaria. Se lhe perguntassem há poucos anos atrás, no auge de sua carreira no , ele diria que casar-se era uma babaquice. Que provavelmente nunca o faria, porque a vida ainda tinha muita coisa a lhe oferecer que um casamento totalmente o impediria de experimentar. Agora, inacreditavelmente e quase surrealmente, sua família e a de sua noiva estavam sentadas nos bancos alvos da igreja, esperando ansiosos que ele e sua futura esposa trocassem alianças.
Fechou as cortinas, andou até a frente do espelho e mediu-se de cima a baixo. Estava tremendo e suando frio. Toda aquela roupa estava começando a incomodar. Franziu a testa e a apoiou junto com um punho na face refletora do objeto. Era aquilo mesmo que queria fazer? Por que sua convicção, que estivera sempre consigo desde que pedira em casamento, parecia ter sumido? Por que o casamento parecia uma idéia tão assustadora agora?
Talvez porque o dele ocorreria por pura pressão da noiva, da família dela e da família dele - que tinham o inconveniente costume de cutucá-lo sempre, dizendo que ele era o único que não havia se casado ainda. E, por mais que tentasse se enganar, lá no fundo ele sabia que esta era a pura verdade. Só não sabia por que havia se tornado tão suscetível aos comentários dos outros sendo que há algum tempo atrás continuaria não dando a mínima.
Sua mente começou a divagar em marcha ré, em direção ao passado, e parou nos cabelos sedosos e olhos cativantes daquela que possuía todo seu coração, embora não fosse admitir aquilo nunca ou talvez o fizesse tarde demais. Duas batidas na porta o tiraram de seu transe e de repente seus pensamentos pareceram ter se materializado ao ver, através do reflexo do espelho, os mesmos cabelos e o mesmo brilho intenso daqueles olhos cheios de segredos que só ele desvendava completamente entrando pela porta. Seu olhar se encontrou com o outro e fez do seu corpo vítima de um choque.
-Oi - ela, , disse simplesmente com sua voz melíflua. A voz que sempre o fazia se derreter por dentro de uma forma que não podia compreender. Por que não se sentia da mesma maneira com ? Já estava cansado de tentar.
Ele não conseguiu responder ou reagir. Tudo que parecia conseguir fazer era ficar parado ali - como um nerd daqueles filmes adolescentes e clichês que recebe um cumprimento de uma popular bonitona e só falta entrar em estado vegetativo - encarando-a através de sua imagem virtual, num silêncio constrangedor. Ela aparecera como se tivesse ouvido seu chamado silencioso e aquilo fora um pouco assustador.
- Bom, eu só achei que devia... devia... - gaguejou, quebrando o silêncio. - Esqueça. - ela virou-se de frente para a porta, girando a mão na maçaneta redonda.
-Espera. - A voz grave soou nos ouvidos dela, que continuava a segurar a maçaneta. Suas pálpebras se fecharam lentamente e ela suspirou. Estava começando a ouvir o que queria.
Tornou a ficar de frente para ele, ainda de olhos fechados. Quando os abriu, percebeu a aproximação do outro e sentiu um conhecido frêmito percorrer sua espinha. Aquele que ela sempre sentia quando ele estava perto demais, quando a provocava, quando a olhava de outra maneira ou sorria verdadeiramente para ela e só para ela.
- Eu achei que como sua melhor amiga devia vir até aqui te de desejar boa sorte antes de tudo. - disse e o encarou, comprimindo os lábios.
Ele inclinou a cabeça para baixo e riu roucamente, deixando os dentes que quase cegavam qualquer um aparecerem. Ela detestava saber que ele acordaria e os exibiria para outra.
- Eu sei e você também sabe que você não veio aqui só para dizer isso - ele provocou. Umedeceu os lábios e encostou a ponta da língua no dente canino antes de morder o inferior deles.
Droga. Isso fazia com que ela quisesse amarrar os próprios braços para controlar seu impulso de agarrá-lo ali mesmo. Por que amava torturá-la daquela maneira? Aquilo era algo que ela estava habituada a fazer. Não havia doado seus direitos a ele.
Ele estudou-a profundamente, esperando que reagisse. Uma dor pungente e aguda o espremia por dentro conforme ficava mais próximo dela. Ao senti-la anular todo o espaço que sobrava entre eles ao abraçá-lo por baixo dos ombros e acomodar sua cabeça sobre a curvatura de seu pescoço, assustou-se. Não soube direito o que fazer, então decidiu por abraçá-la pela cintura e afagar os cabelos que tanto gostava.
- Eu não quero te deixar ir, - ela disse com a voz embargada. - Eu não posso te entregar assim pra essa mulher, você sabe que eu não posso! Só de pensar que... Olha, você não é dela. Você é meu. Isso tá me destruindo!
Ele tinha que dizer algo e rápido. Mas o que ela estava esperando que dissesse? Iria se casar em menos de uma hora!
- Eu... Olha, escuta bem: você não vai me perder, . Nunca. - ele sussurrou carinhosamente no ouvido dela, provocando mais uma reação nos pêlos de sua nuca. - Eu prometo. Nós seremos melhores amigos para sempre, se lembra?
afastou seu rosto do colo dele e o encarou, melancólica. Seus lábios estavam perigosamente próximos dos dele quando colocou uma das mãos sobre sua face. Seria tão bom se ele tivesse traços desgostosos a ela...
- Você sabe que eu já não quero ser só sua melhor amiga há anos. Você sempre soube... - Ela sorriu. Não o sorriso ao qual ele estava acostumado e que o fazia sorrir também. Era um sorriso murcho, desiludido. A mágoa retida em seus olhos marejados era visível. - Eu só não sei por que sempre insiste em fingir que não sabe.
- E eu já te disse que nos nunca daríamos certo. - retorquiu seriamente, tentando não soar ríspido.
não sabia por que diabos ainda se sentia indignada, ultrajada e extremamente ferida ao ouvi-lo dizer aquela frase e suas variações. Já devia ter se acostumado, devia ter se conformado. A ofensa fazia questão de aparecer sempre. Ainda estava tentando entender por quais motivos entrara naquela sala; será que era algum tipo de masoquista e não sabia?
Era evidente que ela estava prestes a perdê-lo para outra, definitivamente desta vez. E deixá-lo ir fingindo que tudo estava bem parecia muito mais doloroso do que deixá-lo ir lembrando-o de que ela sempre estivera ali e nunca seria uma besteira maior do que o compromisso no qual ele estava prestes a se envolver. Admitia para si mesma que queria fazê-lo viver com algum tipo de culpa, queria entregar a ele pelo menos uma parcela da dor que sentia. Queria que cada vez que ele acordasse ao lado de , sentisse remorso e desejasse que fosse ela ali. Queria que o senso de humor insoso de e sua mania irritante de levar qualqer coisa a sério passasse a fazer menos sentido do jamais fizera para ele.
Ao mesmo tempo em que sentia toda a agonia existente querendo se apoderar cada vez mais de seus órgãos e membros, ela se sentia aliviada por saber que a noiva dele nunca seria capaz de provocá-lo da forma como ela o fazia; sentia-se aliviada por ter certeza de que os dois, juntos, nunca teriam a ligação quase sobrenatural que ela tinha com há muitos anos; sentia-se alegre por saber que eles nunca vibrariam na mesma sintonia. Entendia muito bem o gosto de vingança que salivava em sua boca ao estar convicta da idéia de que, por mais que ou até mesmo se esforçassem, nunca seriam o que ela e ele eram juntos. Eles nunca seriam - nem em outra reencarnação, se quisessem - e .
Aquela história manjada de que devia se sentir feliz por quem amava nem sempre valia para ela. E não sentia um pingo de culpa por pensar daquele jeito. Quem era o ser humano não-hipócrita que se sentia feliz ao ver a pessoa que amava casando-se com outra? Se ela não soubesse que pertencia a ela embora ele fizesse vista grossa para isso e ainda por cima simulasse descaradamente não saber que ela também pertencia a ele da mesma maneira e com a mesma intensidade, talvez fosse diferente.
Desejava toda a felicidade do mundo a ele, mas não ao lado da noiva que estava prestes a chegar. sabia que não era possível que os dois fossem felizes juntos. Era por isso que ainda se agarrava vigorosamente ao último fio de esperança que lhe restava e tentava fazer com que desistisse da idéia maluca de casamento.
soltou-se de seu abraço por completo e elevou o tom de voz ao se dirigir a ele:
- E como é que você sabe? Você nem ao menos se deu o direito de tentar!
- Eu simplesmente sei, . Eu sei.
Ele, na verdade, não sabia. Aliás, nem sabia o porquê de dizer que sabia. Somente queria aparentar ter um pouco de dignidade e ser convincente diante da situação, o que parecia não estar adiantando, já que ela não se dava por vencida.
- Você é, por acaso, onisciente? Talvez algum tipo de gênio, ? Não tente me fazer de idiota - Ela se reaproximou, com o dedo em riste apontando na direção de seu nariz. -, porque eu não sou nenhuma dessas sonsas com que você está acostumado a lidar. E você sabe que seu estilinho ‘amo songas-mongas’ me deixa puta. A garota por quem você vai esperar no altar me deixa mais puta ainda e eu odeio ter que me fazer de amiguinha dela. Disso, sim, você sempre soube muito bem. - Ela crispou os lábios e respirou fundo antes de continuar. - Do que é que você tem medo, ? É a única coisa que eu quero saber. Do que é que você tem medo?
abriu a boca para responder, mas mais uma vez ela havia o deixado sem reação. Também queria descobrir porque se sentia muito mais confortável em se casar com uma pessoa como , que mal tinha opinião própria e concordava com quase tudo que ele dizia, embora ele não a amasse tanto assim, do que admitir um relacionamento com , que era uma garota difícil, que sabia se impor e também sabia tudo sobre ele. Principalmente que ele escondia a amar mais do que a sua própria noiva.
era uma zona de conforto constante, era sempre um desafio. Ele costumava gostar de desafios, não? Vivera o tempo todo enganando a si próprio?
- Vamos, eu quero saber. O que você pretende inventar agora? Vou até me sentar aqui e esperar - disse sarcasticamente e acomodou-se em um sofá que ficava no canto da sala. - Porque, não sei se já te contei, mas eu tenho um estoque de justificativas infundadas também. Todas as que você me deu!
Ele passou os dedos entre os cabelos, despenteando-os, e aproveitou a oportunidade que ela deu para falar mais alto também:
- Eu tenho os meus motivos, ! Você sabe! Você também sempre...
- Que motivos? - ela se exaltou, interrompendo-o. - Eu não sei de nada, olha as porcarias que você fala! Você tem tantos motivos que nem sabe me dizer quais são! Que diabos de motivos fúteis são esses? Comodidade por seus pais amarem a por ela ser um amor de menina e me detestarem porque sou petulante demais? Você tem medo de enfrentar os seus pais com essa idade? Eles nunca gostaram de mim, mas isso nunca foi motivo pra você ignorar minha companhia. Ou será porque você é tão idiota a ponto de achar que o que seus pais, os dela ou o que qualquer otário sem importância lá fora pensa, quer ou fala de você define o que é melhor pra sua vida? Vamos, qual é o seu, - OH! - motivo superior? - disse em tom dramático.
permanecia em silêncio. Se sentia um garotinho de cinco anos levando bronca por ter aprontado. Por mais que buscasse o que dizer, as palavras e o tom dela o intimidavam demais para que obtivesse sucesso.
- A pressão da sua noiva de merda ou daquela família insuportável dela, de quem eu sempre tenho que ouvir você reclamar? Você já pensou no que você quer uma vez na sua vida ou você realmente acha que tudo isso vale mais do que a gente passou, do que eu sinto por você e do que eu sei que você sente por mim?
- Eu não sinto nada além de um amor super amistoso por você e você sabe disso. - Mentiu descaradamente, encarando-a de forma dura, fria, para que ela acabasse com tudo aquilo o mais rápido possível. Porém, a verdade que ele não queria admitir para si mesmo sempre estivera à tona. - Já cansei de te dizer.
- Você sabe que eu te amo. Você sabe que me ama mais do que como amigo.
- Isso é loucura sua.
- Seu cínico, seu hipócrita. Sujo! - ela o xingou, entre dentes. - Como você tem coragem de olhar na minha cara e mentir desse jeito? E ainda por cima me chamar de louca! - vociferou, os olhos fervendo em cólera.
Bem, coragem para fazer isso nunca pareceu faltar a ele. Quanto ao resto...
- ...
- Você tinha que ter dito aos seus pais que essa história de famílias amigas predestinarem o casamento dos filhos já caiu por terra faz tempo e nós já estamos no século XXI! - continuou. - Eu não dou a mínima se você e a vaca da ...
- Ela não é uma vaca!
- Se você e a vaca da se conhecem desde antes de sequer se abrigarem no útero das suas respectivas mães. Isso não te torna obrigado a se casar com ela, mas acho que você se esqueceu de jogar isso na cara da sua família.
- , vamos acabar logo com isso, tá bem? Nós já estamos bem crescidos pra tomarmos as nossas próprias decisões. - Ela riu em sinal de deboche. - Fomos muito bem criados até onde eu sei, e estamos em um lugar sagrado. E você também vai borrar a maquiagem que eu sei que levou horas para fazer, se começar a chorar – ele notou os olhos marejados dela.
É claro que estava muito bem maquiada, tinha que lembrá-lo também de que era muito mais bonita do que a garota de véu. Até sem maquiagem, se quisesse.
Poderia ter sorrido ao notar o deslize dele ao dizer aquela última frase em um tom mais carinhoso e cheio de cuidado se não estivesse tão machucada.
- Aaah, você virou um garoto de Deus agora? Assim, de uma hora para outra? Porque você se importa se o tal Deus está vendo ou não, deveras - retorquiu, irônica, arqueando uma sobrancelha; gesto que o tirava completamente do sério.
- Mas eu me importo com você, porra! - berrou nervoso, esperando que ninguém, absolutamente, pudesse ouvi-los do outro lado. - Eu... Me importo, . Eu me importo muito.
- Se importa? Será? Então por que não foi homem o suficiente para me escolher? - ela indagou e afundou o rosto nas mãos. - Eu sempre te dei todas as oportunidades, todas as deixas, você teve escolha, ! Por que me fez acreditar esse tempo todo se era para me jogar no lixo, se era pra fingir que nada a mais rolava entre nós, se não ia desistir da tola da ?
Cada palavra que dizia era uma facada no peito de . Cada frase o acertava como um golpe de uma pedra em chamas. Teria que tirá-la dali antes que tudo ficasse ainda mais grave. Ela levantou o rosto corado, prestes a se dissolver em lágrimas, e o fitou.
Não queria vê-la chorar, não queria fazê-la chorar. E agora que parava para pensar, quantas vezes lágrimas com seu reflexo e estampadas com o seu nome já não haviam escorrido pelo delicado rosto dela?
- Por que você nunca nos deu uma chance de verdade? - Suas íris molhadas se agarraram às dele. - Eu posso ter quem eu quiser, . Você sabe tanto quanto eu que posso. E eu tentei querer tantos caras, mas... Mas eu só quero você. Só você. E isso me dói tanto, , tanto... Se você ao menos conseguisse, se esforçasse pra se botar no meu lugar e imaginar o quanto me dói... - Sua voz saía agoniada. - Eu perdi todo meu respeito próprio e tô aqui praticamente implorando pra você ser meu...
Ela permanecia o encarando, esperando por uma resposta que não veio.
se levantou, determinada, e aproximou-se dele. Até demais, ele pensou.
- Eu não quero que você viva os seus sonhos, todos os nossos sonhos adolescentes que ainda não vivemos juntos, ao lado dela. Não quero que você ouça nossas músicas especiais ao lado dela, porque elas são somente nossas. - aproximou mais seu rosto do dele, se é que era possível, quase encostando seus lábios. Podia sentir a respiração de contra sua pele ficando cada vez mais pesada. - Não quero que você a leve aos nossos lugares favoritos, porque são nossos lugares favoritos. - Ela pousou uma das mãos na nuca dele. - Eu não quero que ela possua os olhos que eu amo; seu olhar de deboche, ou o divertido. - Ela beijou cada uma das pálpebras que ele havia cerrado. - Não quero que você a acorde a qualquer hora do dia, com seu sussurro rouco ao pé do ouvido. - disse baixinho, encostando seus lábios no lóbulo da orelha dele. Não quero que ela desvende seu cheiro como só eu fiz. - murmurou, inalando fortemente o perfume cítrico misturado com o cheiro característico dele ao aproximar suas narinas de seu protuberante pomo-de-adão, deixando-o cada vez mais tonto e ensandecido. - Não quero que ela morda a ponta gelada do seu nariz como eu farei agora.
Certo, ela estava conseguindo dominá-lo. No fundo, sabia que ela sempre o dominaria.
Um segundo virou outro e o tesão começava a enlouquecê-lo. Suava frio. O perfume docemente inebriante que revestia de forma invisível a pele de deixava suas pernas bambas. Não podia ceder. Não. Podia. Ceder. Estava há poucos momentos de assumir perante à sociedade um compromisso legal e divino. Sua decisão estava tomada fazia tempo, não tinha por que revirar tudo.
devia estar absolutamente bela e radiante em seu vestido – talvez não tanto quanto ficaria, ele pensou -, quase chegando. E ele estava quase beijando o que era para ser, pelo menos naquele momento, nada mais do que sua melhor amiga lhe desejando boa sorte. Bem que sua mãe lhe avisava que amizades muito íntimas entre garotos e garotas raramente permaneciam só como amizades.
- Não quero que você a abrace como está me abraçando agora, não quero que você a ame como sei que me ama, nunca - enfatizou, passando as mãos pelos braços dele, que sentiu cada um dos pêlos dali e de sua nuca se arrepiarem.
Céus, aquilo estava ficando perigoso demais. Como poderia escapar? Aliás, queria mesmo escapar?
- E eu não quero que ela te beije da forma que eu farei agora, jamais.
Tarde demais.
No momento em que ela encostou seus lábios nos dele, a dúvida entre deixar aquilo acontecer ou não o assolou só por mais alguns centésimos de segundo antes que começasse a corresponder ao beijo com toda a intensidade que podia implicar, dando passagem para a língua sedenta dela.
- Espero que essa porta tenha um trinco - ele riu nervoso entre o beijo, causando a mesma reação nela e andou de costas até a porta, puxando-a junto. Após girar a pequena chave, com certa dificuldade por fazê-lo às cegas, conduziu-a até o sofá e deixou que suas mãos percorressem desesperadamente as curvas de um corpo que ele parecia conhecer extremamente bem em sua mente enquanto os beijos se tornavam cada vez mais eufóricos.
Ele abaixou as alças do vestido dela enquanto ela abria rapidamente os botões de sua camisa branca. Alguém deu duas batidas seguidas na porta e berrou um aviso. tentou não parecer ofegante ao berrar: ‘já estou saindo!’ enquanto ela estava em dúvida entre desafivelar seu cinto ou desabotoar sua calça.
Como conseguira impedir a si mesmo de experimentá-la de forma mais profunda por tanto tempo? Com ela, nunca havia ido além de um beijo que ela lhe roubara há muitos anos atrás quando estava cuidando dela durante um porre e de outro beijo - com um pouquinho de bônus - que ele sem querer facilitou para que acontecesse um tempo depois, durante uma outra festa, e que se tornou razão para que ele ignorasse a presença e as conversas dela durante o resto da noite.
Agora, se dava conta do quanto fora burro em ficar evitando algo que queria mais do que podia suportar.
Pressionava seu corpo contra o dela enquanto uma das mãos se aproveitavam de seus seios, que logo passaram a ficar irritados por causa das mordidas e apertões que ele dava, fazendo com que ela gemesse um pouco mais alto. Cada gemido mais descontrolado dela era calado com um beijo.
- Vai continuar negando que me quer agora? - ela arfou no pescoço dele, que pôde sentir seu hálito quente atravessando-lhe a pele.
- Eu te quero. - ele disse, apertando-a mais forte contra si e afundando o rosto em seu pescoço, enquanto os dedos dela estavam perdidos em seus cabelos. -, eu... - ele ofegou. - Eu te quero como nunca quis alguém na vida.
Já não importava se estavam dentro de uma igreja, afinal, até onde os dois sabiam, o amor era o sentimento mais bonito e puro do mundo e diziam ter sido inventado por Deus, assim como o sexo.
- Te quero, te quero, te quero... - ele repetiu, intercalando beijos, até se cansar.
Seus dedos a massageavam por dentro da calcinha e a preparavam para tê-lo. Ela sentiu que morreria ali mesmo, antes que conseguissem consumar qualquer coisa.
Enquanto ele ficava indeciso entre descer ou subir cada vez mais o vestido dela, o que era um tanto complicado, já que este era apertado demais e mais longo do que ele gostaria que fosse, descia também os beijos por toda extensão de sua pele, que tinha o cheiro favorito dele no mundo inteiro. Com um gemido lânguido ela deixou que ele a marcasse ao morder um de seus seios com mais força.
Nunca haviam chegado ao ponto em que estavam prestes a chegar. Não era como estar com outros caras e se enganar ao projetar nestes a imagem dele. Ela sonhava com aquilo havia anos e não estava acontecendo como imaginava. Não estava se sentindo como esperava. Tudo era um milhão de vezes melhor.
separou seus lábios dos de um tanto bruscamente, permanecendo com os olhos fechados. Estes se crisparam e ele a observou, confuso. Ela não podia simplesmente resolver pôr a mão na consciência naquela altura do campeonato, não depois de deixá-lo louco para saber o que perdera por tanto tempo.
- O que aconteceu? - ele se indignou.
Ela apenas sorriu preguiçosamente e em resposta disse:
- Estou tentando armazenar seu gosto na minha boca.
Isso foi incentivo suficiente para voltarem a se beijar vorazmente, sem pudor algum.
- Eu não tenho camisinha. – Ele interrompeu o beijo, querendo bater em si mesmo por ter de dar tal informação a ela. riu pelo nariz não acreditando no que ele acabara de dizer. Era broxante!
- Que tipo de garota você acha que eu sou? - disse risonha, denotando ser muito precavida. - Além do mais, eu confio muito em você, apesar dos pesares.
Não tinham muito tempo. abriu sua calça por completo, abaixou-a até onde apressadamente conseguiu e afastou a calcinha dela para o lado de forma que a deixasse desimpedida. Ele imobilizou-a contra o sofá, fixou seu olhar no dela e se encaixou vagarosamente, soltando o ar com dificuldade enquanto a via adormecer os olhos. A quantidade de êxtase e adrenalina que corria no sangue de cada um triplicou e se tornou absurda, imobilizando-os por um momento.
- Meu... Deus. - ele disse ofegante, totalmente agonizado, quando começou a se movimentar e riu da forma que pôde ao perceber a ironia que daquela frase.
Ela arfava enquanto ele continuava a penetrá-la impetuosamente, quase beirando a violência. Sua testa se encostava à dela, que agora se controlava para não fazer tanto barulho.
- Não... Não pára...
Os braços de se fecharam ao redor do pescoço de e ele a abraçou, tomando cuidado para não sufocá-la.
Sem conseguir mais se segurar, ele a apertou com força e investiu contra ela uma última vez. Seu orgasmo chegou junto com um gemido longo, satisfeito, mas não muito alto, ao pé do ouvido dela, que afundou as unhas em sua nuca.
parou por poucos segundos e respirou fundo antes de voltar a se movimentar e um tempo depois senti-la tremer em seus braços ao ultrapassar os limites do suportável também.
Foi como se tivessem subido ao paraíso mais cedo. Toda aquela vontade de chegar àquele ponto, que tinham reprimido durante anos - ele porque quis e ela por imposição da vontade dele -, os invadiu e explodiu de uma só vez, afundando-os em um transe que os levou a pensar que nada mais no mundo existia além deles mesmos. O que parecera ter durado uma eternidade para ocorrer durara pouco, mas o suficiente para sanar todas as dúvidas de que aquilo tinha algo errado. Não tinha, não aos seus olhos.
Ambos sentiram os músculos relaxarem enquanto recuperavam o ar, escutavam a respiração um do outro e sentiam os batimentos cardíacos desenfreados violentarem o peito.
Era tão bom senti-lo daquele jeito, e saber que causara aquilo, que não queria sair daquela posição nunca mais. Queria ficar ali, dormir nos braços dele e acordar neles pelo resto da vida. Mas a vida parecia injusta demais para deixar que isso acontecesse da forma que lhe parecia mais correta.
- Você tem que ir, . - disse, colocando uma mecha dos cabelos dela que caía sobre sua testa ligeiramente suada atrás de sua orelha.
"Você tem que ir''. Soava tão desrespeitoso e ordinário a ela depois de tudo isso que sentia novamente que iria morrer, mas desta vez era de uma forma ruim. Não se sentia diferente em nada de qualquer objeto descartável.
Ele percebeu que ela estava chorando e fez uma tentativa de consolá-la:
- Eu não quero que você chore mais, meu amor. - Ele passou o polegar por uma lágrima grossa que escorria pela bochecha corada dela, que pensava em como ele era audacioso por referir-se a ela daquele jeito nas atuais circumstâncias. - Por favor, não chora, tá? Não por mim - ele suplicava, agora podendo sentir a mesma dor que ela sentia. - Eu... Peço desculpas por ser tão idiota com você.
- Não peça desculpas quando você ainda tem alguns poucos minutos pra desistir disso tudo. – ela o encarava, angustiada, soluçando baixinho. Alguém teria que sair machucado daquela história e só cabia a ele decidir quem.
esperou, mas parecia não ter uma resposta convicta para sua pergunta.
Ela suspirou e deu um último beijo nele, com um gosto levemente salgado por causa de suas lágrimas. Sabia que ainda o veria. Só não sabia por quanto tempo mais suportaria vê-lo ao lado de .
Empurrou-o e ajeitou sua calcinha. Saiu debaixo dele e foi até o espelho. Estava menos desarrumada do que esperava e sua maquiagem talvez ainda pudesse ser rapidamente recuperada se o delineador não resolvesse borrar mais seus olhos sem seu consentimento. Precisava de um banheiro. Ajeitou ainda mais a calcinha e também o vestido, enquanto também se recompunha da melhor forma que podia. Passou os dedos entre os cabelos em uma tentativa de penteá-los e tirou um pouco do rímel levemente borrado debaixo dos olhos com o polegar e o indicador, agradecendo a si mesma por usar maquiagem cara e à prova d'àgua. A porcaria é que de alguma forma ou de outra borrava, mesmo que não saísse completamente. A desculpa já estava formulada em sua cabeça se perguntassem alguma coisa sobre seu estado deplorável e ninguém perceberia nada.
Enquanto se recompunham, eles não trocaram mais nenhuma palavra, ambos atônitos e incrédulos à sua maneira com o que acabara de acontecer. Enfim, ela pediu pela última vez, em súplica:
- Desiste, - o encarou aflita. Ainda chorava copiosamente e parar de soluçar parecia impossível. - Você ainda pode.
Ele sustentou seu olhar dolorido sem ao menos piscar, mas não disse uma palavra. Sendo assim, ela se viu obrigada a admitir a derrota e parar de se envergonhar por alguém que não cederia. Não podia fazer mais nada para mudar a cabeça dele.
abriu a porta e enxergou pela última vez, ali, parado no meio da saleta, um solteiro, que era todo seu de alguma forma e tinha o tempo que ela pedisse para dedicar-lhe. Mais uma vez, ela disse:
- Eu te amo.
Antes de sair da sala onde estava, colocou a mão nos bolsos e sentiu uma textura diferente. Quando percebeu que era um papel, puxou-o do bolso e desdobrou-o. A caligrafia redonda de , que ele bem conhecia,estava gravada no pequeno papel e dizia:
‘ The more you try to erase me, the more that I appear*.’
Lembre-se das nossas divertidas tardes de air band, quando você ainda não tinha o pra levar a sério!
You’re the only light I ever saw**,
<3. ’
Habilidosamente ela conseguira colocar o bilhete ali. E parecia que o tinha feito só para lembrá-lo de que ela sempre o perseguiria, aonde quer que ele fosse.
Ao ver todos se levantando e entrando de vestido branco e véu pela porta principal da igreja, as lágrimas que havia voltado a segurar já queriam se ver livres dela novamente. Quando , após jurar amor eterno a sua noiva, colocou a aliança em seu dedo e lhe lançou um olhar furtivo após beijá-la, ela não conseguiu mais suportar o nó na garganta e chorou, de tristeza e alegria ao mesmo tempo, por pelo menos tê-lo tido daquela maneira minutos antes. Chorou da forma mais sincera que já conseguira chorar na vida.
- Mas como você é sensível, ! - exclamou uma amiga que estava ao seu lado e também era madrinha do casal.
deu um meio sorriso e se explicou:
- É que é tão... Estranho ver o se casar...
Fim
*Quanto mais você tenta me apagar, mais eu apareço.
**Você é a única luz que eu já pude ver.
N/A (03/09/09):
Hey! E aí, gostaram? Eu espero que sim. Às vezes nem acredito que fui eu mesma que escrevi essa fic porque eu sou do tipo que detesta romance grudento, tanto que faço até caretas quando leio isso aqui, e ela saiu totalmente...Melosa. Originalmente, esta fic nem era uma fic, mas eu fiz algumas pequenas adaptações para que ela virasse uma. Acho que essa é a minha fic que eu menos gosto. E não era para ser restrita também, porque nem chega perto de uma, mesmo porque eu não sou boa em escrever essas cenas quentes e tal, mas se ela tiver que parar nas restritas, então tá, né? Eu posso lidar com isso (: Pra quem já leu alguma das minhas outras fics, acho que já deu pra notar que o John é meu super ídolo, né? Eu espero que sim, ele me inspira taaanto, em tudo, ele me escreve. Enfim, ele é lindo, maravilhoso e eu tenho ciúme dele, mas tô dividindo aqui com vocês, haha. Parte dois? Não é nada pessoal, ou por eu não amar minhas leitoras, muito pelo contrário, eu amo cada pessoa que lê as minhas fics, mesmo as que odeiam, mas eu não pretendo fazer uma segunda parte pra esta porque... Eu gosto de terminar assim. É, acho que quem já leu minhas fics finalizadas pôde notar isso. Adoro um drama. É isso! Um beijo, Annie Archer.