Esta fanfic foi, em parte, inspirada na música In Another Life, de The Veronicas. Então, se vocês quiserem ler a história ouvindo a música citada, eu garanto que vai ficar muito mais legal.
Aqui está o LINK para download. Se não quiser baixá-la, apenas coloque para ouvir.
Capítulo I
Eu sempre ouvi dizer que, quando você está prestes a morrer, toda sua vida passa diante de seus olhos, como um filme. Bem, naquele momento eu quase acreditei naquilo. Quase.
Ainda não entendia o que estava fazendo ali. Não entendia nem ao menos onde eu estava, para falar a verdade. Só tinha certeza de duas coisas:
1- Algo estava furando meu pulso e
2- Eu estava prestes a morrer.
Não conseguia ouvir nada, não conseguia mover nada, não conseguia formular respostas coerentes para aquela situação toda. Então, como se meu cérebro fosse uma televisão, tudo começou a chiar. O chiado ficava mais forte e causava uma intensa dor em minha cabeça.
De repente, ele parou. E, no lugar do chiado, eu pude ver algo. Algo como uma cena muito, muito antiga e um pouco borrada.
- null! null, menina, deixe de bancar o moleque e venha cá! Ande! – Ouvi a voz de minha mãe, ao longe. Então a imagem ficou completamente nítida e pude ver uma menininha null correndo para uma mulher alta, que a encarava com os braços na cintura e as sobrancelhas erguidas, enquanto a menina, toda suja de terra, parava em frente a ela com um sorriso travesso no rosto.
- Sim, mamãe? – A menininha falou.
- Por Deus, null! Por que não pode brincar como meninas normais brincam? – A mulher perguntou, soltando um suspiro cansado. – Devia ter trazido sua barbie. A única que restou. – Falou, meneando a cabeça.
- Aquelas barbies são estranhas, mamãe. Os cabelos delas não crescem quando a gente corta! – A menina disse, arregalando os olhinhos, cheia de indignação, o que fez a mãe rir carinhosamente.
- Venha, quero lhe apresentar umas pessoas. Não vai dar tempo de lhe limpar, então vamos assim mesmo.
A menina pegou na mão da mãe e ambas foram até um pequeno grupo de quatro pessoas que estavam debaixo de um toldo branco. Quando chegaram, um dos homens se virou para elas e abriu os braços, se acocorando. A menininha logo correu para ele e, quando o homem a segurou entre os braços, a girou no ar, beijando sua bochecha repetidamente.
- Pára, papai, pára! Tá me lambuzando toda de baba! – Ela reclamou, rindo e limpando as bochechas.
- Eu posso lhe lambuzar, sou seu pai. – O homem replicou, sorrindo e colocando a menina de volta no chão. Os dois se viraram para as outras três pessoas ali presentes e o homem disse: - null, esses são Tina e Adam, uns amigos que estudaram comigo na faculdade. Estão morando duas casas depois da nossa, agora. E esse é null, o filho deles.
null olhou para o menino que agarrava uma das pernas da mãe, sorrindo tímido para ela. Os olhinhos null dele brilhavam e suas bochechas eram muito rosadinhas.
Senti algo bom passar pelo meu peito. Uma sensação deliciosa. A vontade de pegar aquele menininho nos braços e apertá-lo tomou conta de mim. E então eu simplesmente senti que sorri. Não tinha certeza se realmente estava sorrindo, mas, de algum modo, eu sabia que estava.
- Deixa de ser frouxo, null! É só uma arvorezinha. – Uma garota que aparentava ter seus 9 anos gritava, pendurada em um pessegueiro, olhando para baixo.
- É só uma arvorezinha que, se quebrar um dos galhos, me faz cair e morrer! – Um menino meio rosado replicou, olhando com medo para a árvore.
- Anda logo, null. Deixa de ser mariquinha. – Ela o provocou e logo viu que funcionou. O garoto a encarou com raiva e começou a subir habilmente na árvore. Logo já estava no mesmo galho que ela, o qual era grosso o suficiente para agüentar os dois.
- Odeio quando me chama de null. – Ele resmungou, arfante e vermelho.
- Oh, como ele fica bonitinho quando está com raiva! – Ela brincou, rindo e apertando as bochechas dele, que ficou ainda mais escarlate, mas logo deu um tapinha nas mãos dela.
- Você é muito chata.
- É, mas você não vive sem a chata aqui.
Ele apenas riu. Não adiantava desmentir, ela sabia tão bem quanto ele que era verdade.
- Você tem mesmo que viajar? – O garoto perguntou, depois de um tempo em silêncio.
A menina suspirou.
- Sim. – Ela respondeu, triste, mas logo esboçou um sorriso encorajador. – Mas eu volto logo. Um mês não pode ser taaanto tempo assim.
Novamente, silêncio. Mas, desta vez, eles ficaram se encarando. E null viu uma espécie de brilho nos olhos dele quando o menino pronunciou a próxima frase. Um brilho que a fez se sentir envergonhada.
- Vou sentir saudade.
Ela sorriu fracamente e segurou a mão direita dele entre as suas.
- Eu também. Muita.
Ele era meu melhor amigo. Sempre foi. E tenho certeza que sempre vai ser.
Não há nada que substitua a alegria de tê-lo perto de mim. Eu sempre sei quando ele está.
Como eu sei que, neste momento, ele está segurando minha mão.
- null! null! – A menina gritou, assim que avistou o amigo adentrando o portão da casa. Ela correu para ele e se jogou em seus braços, o apertando num forte abraço.
- null! Que saudade! Me conta como é Paris. – Ele pediu, empolgado, expressando pura alegria ao observar o rosto da garota.
- É perfeito, null. Um show de luzes, um clima romântico... – Ela corou ao dizer aquilo. – Queria que estivesse lá comigo.
Ele sorriu de orelha a orelha.
- Vem, quero te dar uma coisa.
A menina o puxou pela mão e ambos adentraram a casa, onde os pais dela passavam de um lado para o outro, ajeitando as coisas que haviam comprado na viagem.
- null! – A mãe da garota exclamou quando o avistou ali, de mãos dadas com a filha. – Quanto tempo. Sentimos saudade.
- Eu também, tia Ash. – Ele respondeu, sorrindo.
- null não parava de falar em você. Fotografou tudo o que viu para lhe mostrar.
O menino olhou para a amiga sorrindo marotamente, o que a fez corar de leve.
- Vou mostrar as coisas da viagem para ele, mamãe. – E o puxou rapidamente escada a cima. – Comprei um presente maravilhoso para você. – Ela disse, empolgada, quando estavam na porta do quarto dela.
- Oi. – Ouviram uma voz falar atrás deles e logo se viraram, deparando-se com um menino que aparentava ser um ou dois anos mais velho que eles. null franziu as sobrancelhas.
- Pierre! – null exclamou, sorridente. – null, esse é meu primo, Pierre. Ele é filho da minha tia que mora na França e vai passar uns tempos aqui em casa.
O mais velho a olhou, sorrindo de uma forma que pareceu desagradar profundamente null, pois ele cerrou os punhos.
- Pierre, este é null, meu melhor amigo. – Ela terminou a apresentação e null relaxou quando a amiga pronunciou seu nome.
- Prazer, null. null falou muito de você. – Pierre disse, estendendo uma mão para null, que a apertou hesitantemente.
- O prazer é meu. – Ele disse, educado.
O silêncio logo se instalou e, parecendo perceber o clima estranho que ficou ali, null logo disse:
- Eu estava indo mostrar as coisas da viagem para null.
- Ah, é claro. Eu vou terminar de arrumar minhas coisas. – Pierre disse, se aproximando da prima e dando um beijo carinhoso na bochecha dela, o que fez null enrijecer. Logo depois, o mais velho acenou com a cabeça para o outro garoto e entrou no quarto, que era em frente ao de null.
- Vamos. – A garota abriu a porta de seu quarto e os dois amigos entraram.
- Por quanto tempo ele vai ficar aqui? – null perguntou, assim que ela fechou novamente a porta.
- Não sei. Um mês, talvez dois... – Ela respondeu, sem dar muita atenção à pergunta, se encaminhando para uma grande mala que estava encostada na parede rosa e a abrindo.
- Não fui muito com a cara dele. – O garoto resmungou, cruzando os braços.
- Besteira sua. Ele é uma das pessoas mais legais que eu já conheci. – null disse, remexendo na mala.
- O quê? Uma das pessoas mais legais que você já conheceu? – null perguntou, expressando indignação e ficando, repentinamente, vermelho. – Ele é um... Um... Maricas! É, um maricas!
A garota o olhou com as sobrancelhas erguidas, parecendo também estar indignada.
- Não fale do que não sabe, null. Ele é muito legal.
- Ah, ele é legal? – O garoto perguntou, ficando mais vermelho ainda. – Então acho que você não precisa mais de mim como amigo, não é?
Ela fechou a mala com um pequeno objeto nas mãos e se levantou, virando-se totalmente para ele.
- O quê? Do que você está falando? – Ela perguntou, confusa, também estranhamente vermelha.
- Que se ele é tão legal, você pode muito bem ser amiga só dele. – null, a esta altura, já gritava.
- Deixe de ser imbecil, null! Eu só disse...
- Que ele é a pessoa mais legal que você já conheceu.
- Não! Que ele é uma das pessoas mais legais que eu já conheci! – null gritou de volta.
- Ótimo, então vá aproveitar a “legaldade” dele sem mim! Não quero nem mais saber de você!
A menina ficou rígida. Abriu a boca diversas vezes, mas não saía som algum. Por fim, ela respirou fundo e seus olhos ficaram cheios de lágrimas. Andou até ele e disse, estendendo uma miniatura da Torre Eiffel:
- Tome, seu presente. Agora saia daqui.
null encarou a miniatura, arfante por conta dos gritos e, em seguida, olhou para a amiga novamente.
- null, eu...
- VÁ EMBORA, NÃO OUVIU? – Ela gritou, assustando-o.
O garoto apenas pegou o presente e saiu do quarto de null.
De repente, um aperto no peito. Não, era mais do que isso. Era como se meu coração quisesse rasgar meu peito.
E aquela sensação horrível só me invadia em uma situação: quando ele estava triste.
Capítulo II
Pela primeira vez no que me pareceu ser muito tempo, eu consegui ouvir algo que, sabia, ia além do que ouvia em minha mente.
Eu ouvi soluços. E, tinha certeza, eram os soluços dele.
Pela primeira vez, eu senti algo em alguma outra parte do meu corpo. Em alguma outra parte que não fosse o coração.
Minha garganta se apertou de angústia. Eu queria abrir os olhos e acalmá-lo, mas não conseguia. Não tinha forças. Não tinha controle sobre meu corpo.
Era como se, na verdade, eu nem tivesse um corpo próprio.
Então, minha garganta se afrouxou e eu, mais uma vez, fiquei completamente alheia ao que acontecia fora de minha mente.
- Aconteceu alguma coisa entre você e o null, null? – Pierre perguntou, analisando o rosto da prima, que olhava para a rua, alheia a tudo. Parecia perdida em pensamentos. Ambos estavam na mesma árvore que ela e null haviam escalado antes de a menina ir para Paris, um mês atrás. – null? – Ele chamou novamente, quando viu que a prima não ouvira a pergunta.
A menina virou o rosto para ele, como se tivesse tomado um susto.
- Sim, Pierre?
- O que aconteceu para você estar assim?
- Assim como? – Ela perguntou, engolindo em seco e lembrando-se, novamente, de null.
- Foi aquele seu amigo, não foi?
null se calou por um momento, encarando a rua vazia. Em seguida, virou novamente o rosto para o primo, suspirando.
- Sim, foi null. Parece que ele não gosta que eu seja sua amiga. – Respondeu, com visível tristeza no olhar.
Pierre soltou uma risadinha pelo nariz.
- Que imbecil.
- Não fale assim dele, Pierre! null é meu melhor amigo. Apesar de...
- Apesar de... ? – Pierre pressionou.
- Apesar de ter me dito coisas horríveis. Ainda assim, é meu melhor amigo. – Ela disse, com raiva por ter ouvido o primo insultar null, e olhou mais uma vez para a rua. Mas, desta vez, ela não estava vazia. – null! – Ela disse, baixinho. O garoto não a ouviu.
Ele andava de cabeça baixa e com as mãos enfiadas nos bolsos das bermudas, chutando pedrinhas no chão. Quando chegou em frente à árvore, parou repentinamente, como se estivesse se lembrando de algo, e olhou para cima.
Os olhos de null e null se encontraram, ambos igualmente tristes.
Em seguida, o garoto olhou para Pierre, que também o encarava. Mordeu os lábios e seus olhos começaram a brilhar intensamente, como se lágrimas fossem escorrer deles. Respirou fundo e desviou o olhar, voltando a andar de cabeça baixa.
null olhou para ele desesperada.
- null! ! – Ela gritou. O menino parou, mas não olhou para trás, como ela ficou esperando que fizesse. Alguns segundos depois, recomeçou a andar. – , VOLTA AQUI! – Ela gritou mais alto. – , ESPERA! , POR FAVOR, ESPERA! ! – A menina começou a descer da árvore apressadamente, desesperada para falar com o amigo. Mas, com toda a pressa, deixou um pé escorregar pelo tronco, o que a fez cair com força no chão. – AI! – Gritou, sentindo uma dor aguda na perna.
null parou, rígido, ao ouvir o grito da amiga. Virou-se para a árvore, mas não a encontrou lá. Havia apenas Pierre descendo apressadamente dela. Tentou olhar por cima do muro, mas, como era muito pequeno, pareceu não conseguir enxergar nada. Parecia desesperado.
O menino correu até o portão de entrada da casa, que sempre estava destrancado, e o abriu com urgência, procurando pela amiga com os olhos, assim que adentrou o jardim da casa. A achou caída ao lado da árvore, chorando. Pierre olhava para a perna dela com preocupação. Não pareceu pensar duas vezes, antes de correr para onde eles estavam.
- null! – Ele disse, preocupado, se abaixando ao lado da menina, que levantou o rosto corado para ele.
- null! Está doendo muito! – Ela disse, dando um grito agudo em seguida, o que fez null fazer uma cara mais desesperada ainda.
- O que nós fazemos? O que nós fazemos? – Ele perguntou a Pierre, eufórico.
- Não... Não sei. Eu vou chamar meus tios. Fique aqui com ela. – E ele saiu em disparada para a imensa casa.
- Shh, null, vai ficar tudo bem. Seus pais já estão vindo. – Ele tentou acalmar a amiga, alisando os cabelos emaranhados dela e parecendo fazer o possível para não demonstrar o medo que sentia, mas sua própria voz o traía.
- null. null, eu não quero ficar brigada com você! – Ela disse, pousando os olhos lacrimosos nos null dele. – Pierre não é a pessoa mais legal que eu já conheci. Você que é. Por favor, não deixe de ser meu melhor amigo. Não deixe. – Ela pediu, chorando mais forte e lançando a cabeça contra o peito dele, que fez uma cara de confusão, como se não soubesse o que fazer. Por fim, ele colocou os braços em volta da cabeça dela, timidamente, e recomeçou a alisar a cabeleira null.
- Calma, null, não se preocupe. Eu nunca conseguiria deixar de ser seu amigo. – Ele falou baixinho, ficando ligeiramente vermelho.
- Você é meu melhor amigo, null. Pra sempre.
Aquele foi um dos dias de maior desespero da minha vida. Eu precisava recuperar a pessoa mais importante da minha vida, precisava recuperar meu amigo.
O garoto pelo qual - mesmo que eu não fizesse idéia daquilo - eu era apaixonada.
- null! null, espera aí! – Um garoto lá pelos seus 11 anos gritava para uma menina null, que parecia ser apenas um ano mais nova do que ele. Ela andava apressada por um imenso pátio de colégio, com a mochila rosa nas costas e o rosto emburrado, enquanto o garoto corria com certo esforço até ela.
- Não espero, não! – Ela gritou de volta, virando apenas a cabeça para ele e apressando o passo.
- null! – Ele finalmente a alcançou e a puxou pelo braço, fazendo-a virar-se para ele.
- Me deixe, null, e vá ficar rindo com sua amiguinha. – Ela disse, com os olhos marejados.
- O quê? A Dorothy? Não, null, escuta. Ela é minha parceira num trabalho, então eu estava combinando com ela on...
- Não precisa me explicar, null. Eu vi você andando abraçado com ela.
- Eu ando abraçado com você também. É normal se andar abraçado com os amigos, não é?
Ela o fitou com profunda raiva.
- Claro que é. Também deve ser super normal para você trocar os amigos, não é?
null sorriu maroto.
- Você está com ciúmes?
Ela o encarou com incredulidade, corando furiosamente. Aos dez anos o conceito de ciúmes parece já ser bem conhecido. Afinal, em um ano se aprende muitas coisas.
- É claro que não! Ora, como você ousa... ?
Mas o garoto não a deixou terminar a frase. Ele apenas a puxou pela mão e começou a correr. Parou apenas quando chegaram na frente de uma imensa casa.
A menina parou, ofegante, e finalmente pôde olhar onde estavam.
- Por que você me trouxe para minha casa? – Ela perguntou, numa mistura de raiva e curiosidade.
- Vem cá.
Ele entrou pelo grande portão de ferro e foi até um imenso pessegueiro, a única árvore do jardim. Fez a menina ficar de frente para ele e segurou suas duas mãos.
- Eu vou te fazer uma promessa. – null disse, olhando-a nos olhos. Seus olhos null brilhavam intensamente.
- Por quê?
- Porque eu quero que você saiba que você é minha melhor amiga e sempre vai ser. Eu quero que você saiba que você é muito importante pra mim.
Ela ficou calada. Apenas assentiu com a cabeça.
- Eu prometo que, quando nós crescermos, eu vou me casar com você.
null ergueu as sobrancelhas por alguns instantes e, em seguida, gargalhou. Logo null se juntava a ela nas risadas.
- Eu quero só ver. – A menina falou, se recuperando.
- De bem? – Ele perguntou, sorrindo alegremente para ela.
- De bem. – Ela respondeu, se jogando no pescoço dele e o abraçando apertado.
Talvez aquela promessa não significasse nada para nós, naquele momento, naquela idade. Era apenas uma demonstração de que éramos as pessoas mais importantes no mundo para o outro.
Acho que era mais uma promessa de que sempre estaríamos juntos, acontecesse o que tivesse de acontecer.
Mas, infelizmente, nem sempre os ‘sempres’ são possíveis.
- null? null, cadê vo... ? – Uma garota em volta de seus 13 anos interrompeu a frase, olhando fixamente para um ponto na praça.
Havia recebido a notícia-bomba no dia anterior e só pensava em contar para ele. Mas parecia que ele não estava nem um pouco preocupado com ela, naquele momento, beijando aquela menina.
As lágrimas cegaram os olhos de null e ela se virou para ir embora, mas, quando já estava saindo da praça, ouviu a voz dele:
- !
Parecia um grito de desespero. De medo.
A garota respirou fundo, parecendo se perguntar se deveria virar ou não para ele. As lágrimas já escorriam livremente por sua face corada.
Sentiu, então, duas mãos quentes envolverem um de seus braços e a forçar a se virar. As primeiras coisas que viu foram olhos null intensos.
- null... – Ele começou, mas, ao ouvir sua voz, a menina estremeceu e, sem mais nem menos, desferiu-lhe um tapa no rosto.
null olhou incrédulo para ela, as marcas dos dedos da amiga vermelhas em sua bochecha.
- Você está louca?
- Devo estar! Só posso estar louca para me preocupar com você quando não está nem aí para mim! – Ela gritou, desvencilhando-se das mãos dele.
- Do que você está falando?
- Que, enquanto eu vim aqui te contar uma notícia terrível, você estava se agarrando com essazinha! – Ela quase cuspiu no rosto dele, apontando freneticamente para a menina morena no outro lado da praça, que olhava para os dois curiosa.
- Olha como você fala dela, null! – null disse, ficando vermelho.
- Isso, fica aí defendendo ela. Depois não venha sentir saudades de mim quando eu estiver no Brasil sem ter ao menos me despedido de você! – Ela berrou a plenos pulmões, já completamente vermelha.
null enrijeceu ao ouvir aquilo. Parecia estar processando a informação em seu cérebro. Por fim, apenas disse, sério:
- Espere aqui. – E foi até a outra menina. Falou algo para ela, que fez sinal afirmativo com a cabeça e lhe deu um selinho nos lábios, se afastando em seguida.
null desviou os olhos do casal no momento em que eles encostaram os lábios. null foi ao seu encontro segundos depois.
- Me explique. – Ele pediu, aflito.
Ela o olhou com raiva, lágrimas grossas ainda rolando por sua face já menos vermelha.
- Não acho que você esteja interessado em ouvir.
- null! – Ele pediu, desesperado. – O que você quis dizer com ‘quando eu estiver no Brasil’?
Ela respirou fundo e passou as mãos pelas bochechas, enxugando as lágrimas. Em seguida, voltou a encará-lo nos olhos.
- Papai me contou isso ontem. Ele... Ele foi transferido para uma filial no Brasil e nós nos mudamos em dois meses.
- O... O quê? – Ele murmurou, curvando-se como se tivesse levando um soco no estômago e desabando num banco ao lado dele.
- Não se preocupe, você terá companhia boa o suficiente quando eu me for, não é? Acho que ela pode até fazer você esquecer de mim. – A garota disse, tentando inutilmente fazer com que aquilo soasse sem importância para ela.
- Não fale besteiras! – Ele disse, bravo, a fazendo sentar-se ao lado dele no banco. – Você sabe que é absolutamente insubstituível na minha vida.
- Não era o que parecia quando você estava se agarrando com aquelazinha. – null disse, desviando o olhar do amigo. Ele levantou o queixo dela com o indicador, a fazendo fitar os olhos null novamente.
- Você sabe que, não importa quantas namoradas eu tiver, você vai ser sempre minha garota preferida. – Ele disse, sorrindo fracamente.
Mas aquilo parecia não tê-la convencido.
- Vocês estão namorando? – null perguntou, engolindo em seco.
- Bem, não oficialmente. Mas eu pretendo pedir em breve.
A garota apenas afirmou com a cabeça, parecendo chocada demais para falar qualquer coisa.
- Mas eu não quero falar sobre ela agora. Tudo o que importa, neste momento, é você. – Ele disse, voltando à expressão de tristeza. – Venha morar comigo.
Ela negou com a cabeça.
- Não posso.
- Por quê não? – O rapaz perguntou, desesperado.
- Meus pais não deixariam. – Ela deu de ombros.
- Eu falo com eles.
- Eu nunca os abandonaria, null.
- Mas a mim você vai abandonar, não é? – Ele perguntou, com os olhos marejados. Levantou-se bruscamente do banco, esfregando as mãos no rosto, nervoso. A garota apenas o observou com o olhar triste. – A mim você pode deixar. Eu, quem você dizia ser a pessoa mais importante da sua vida!
null suspirou.
- Não tenho escolha.
- É claro que tem! Mas parece que você escolheu ficar longe de mim. – Ele disse, virando-se para a amiga com raiva, o que pareceu a deixar indignada.
- Como eu disse, acho que você não vai ter problemas em superar, não é? Sua namorada pode ajudá-lo nisso. – Ela falou, também se levantando.
- Deixe de ser idiota, null! Você sabe que nem ela nem ninguém podem preencher o vazio que é minha vida sem você! – Ele gritou, fazendo-a calar-se e piscar várias vezes seguidas os olhos fundos.
null inspirou profundamente, exalando o ar pela boca.
- Desculpe. Desculpe por gritar com você. – O rapaz disse, puxando-a para junto de si e a abraçando apertado. – Foi só o choque da notícia.
- Eu sei. – Ela falou, enlaçando a cintura do amigo. – Também fiquei nervosa quando soube.
- Mas não importa. Você tem que ir. Vamos apenas ficar juntos esses dois meses inteiros. Vou ser todo seu.
Ela desgrudou a cabeça do peito dele e encarou seus olhos.
- E sua namorada?
- Ela pode esperar.
null sorriu verdadeiramente, se sentindo novamente importante na vida do amigo, e encostou novamente a cabeça no peito dele.
- null.
- Sim.
Ele fez uma pausa.
- Estou... Com medo de viver sem você.
A maior tristeza não foi saber que era ela que estava beijando ele, não eu. A maior tristeza não foi saber que ele tinha alguém mais na vida dele que era tão importante quanto eu.
A maior tristeza foi me sentir, por um momento, a menos importante.
- Estes foram os melhores dois meses da minha vida. – null sussurrou, com a testa colada na de null e suas mãos entrelaçadas às dele.
- Não fale como se fossem os últimos. – Ele pediu. Lágrimas pesadas corriam por suas bochechas. – Ainda haverá muitos mais.
- Só me prometa uma coisa, null: que, por nada neste mundo, você vai esquecer, nem que seja por um segundo sequer, de mim. Por favor. Eu não vou agüentar se eu souber que vou ser só uma lembrança distante para você. – Ela pediu, tentando ao máximo não soltar as lágrimas.
- null, a coisa mais impossível do mundo é que eu te esqueça, algum dia, nem que seja por um segundo sequer. – Ele respondeu, encarando-a nos olhos.
“Chamada para o vôo 2736 com destino ao Brasil” - null, querida, temos que ir. – A mãe da garota chamou-a, chorosa.
- Eu não quero! – null disse, entre-dentes. – Não posso deixá-lo. Não posso.
- Temos que ir, minha princesa. – O pai disse, afastando-a lentamente de null. Ela parecia tão mole que se deixou levar.
Olhou para o amigo fixamente, como se quisesse memorizar cada detalhe de seu rosto.
- Eu te amo. – Ela falou, apenas mexendo os lábios.
“Última chamada para o vôo 2736 com destino ao Brasil” - Eu te amo mais. – Ele respondeu, do mesmo modo.
- Vamos, querida. Adeus, null. Nós viremos visitá-los. – Ashley disse, abraçando null, enquanto null ia abraçar os pais do garoto.
- Venham, por favor. Não tirem a null de mim. – Ele pediu, chorando mais forte.
- Isso nós não conseguiríamos nunca, nem se quiséssemos. – A mulher sorriu por entre as lágrimas e foi para junto da filha novamente, que voltou a encarar o amigo fixamente.
A família null pegou as bagagens de mão e se dirigiu à plataforma de embarque. Mas, antes de adentrar a porta da saleta, null se virou para null, agora chorando abertamente.
- Não se esqueça de mim. – Ela pediu, novamente apenas mexendo os lábios.
- Impossível.
Senti meu coração acelerar consideravelmente ao me lembrar daquilo. Foi um dos dias mais dolorosos da minha vida.
Depois, a segunda percepção em todo aquele tempo que eu estava ali.
Percebi pessoas correndo à minha volta e percebi que ele estava, mais uma vez, desesperado.
Capítulo III
Meu coração havia parado de palpitar tão rápido. A mão dele ainda segurava a minha.
Em meu rosto, eu sentia algo como uma máscara gelada.
Algo macio e delicado estava alisando minha bochecha.
E eu consegui, então, fechar meus dedos fracamente sobre os dedos dele.
- Vamos, null. Você vai ter bastante tempo para falar com ele depois. – Uma senhora alta disse, olhando para uma moça null que parecia estar em torno de seus 16 anos e que encarava fixamente uma casa azul à sua frente. Ao ouvir a voz da mulher, ela desviou os olhos da casa e seguiu a outra.
Pararam duas casas depois e a moça encarou esta casa também. Um sorriso brotou de seus lábios. Um sorriso que era um misto de saudade e tristeza.
- Não está feliz em estar de volta? – A mulher perguntou.
- Claro que estou. A tristeza é por saber que teremos que ir embora de novo. – null suspirou.
- Apenas aproveite enquanto estiver aqui.
- Claro.
As duas sorriram e adentraram o belo jardim da casa. Os olhos de null imediatamente correram para um imenso pessegueiro, a única árvore ali presente. Ele continuava magnífico como sempre.
- Ainda bem que o jardineiro continuou cuidando direito da casa. – Ashley falou, seguindo pelo caminho de pedra até a porta frontal da casa, com a filha em seu encalço.
- Vou levar as coisas pro meu quarto. – null disse, subindo as escadas apressadamente, assim que colocou os pés dentro da casa.
Ela abriu a primeira porta da direita do imenso corredor e ficou parada uns instantes, como se estivesse se lembrando de momentos que passara ali. E aquilo, conseqüentemente, a fazia se lembrar dele. Como será que estaria agora? Como seria quando o visse pessoalmente?
Por fim, entrou no quarto rosa e colocou a mala em cima da cama. Quando ia se sentar na mesma, ouviu seu pai gritar do andar debaixo:
- , DESÇA AQUI! RÁPIDO!
Ela ficou ereta novamente e saiu preocupada do quarto.
- O que foi pa... ? – Mas parou a frase ao avistar um homem, um rapaz e uma mulher parados na porta, olhando para ela sorridentes.
Seu coração deu um salto ao fixar seus olhos nos olhos null profundos dos quais sentira tanta falta.
- null! – Foi a mulher null que falou. – Como você está linda!
null desviou os olhos de null e olhou para Tina, que a encarava com uma expressão de satisfação.
- Tia Tina! Que saudades! – A moça desceu as escadas correndo e se jogou nos braços da mulher, que a abraçou fortemente.
- Nós também morremos de saudades, querida. – Tina disse, sorrindo.
null se soltou dela e abraçou um Adam também sorridente. Em seguida, os adultos foram para a cozinha preparar bebidas e petiscos, deixando os dois adolescentes sozinhos, se encarando fixamente.
- Não vai me abraçar? – null perguntou, esboçando o sorriso mais lindo que null já o vira dar.
A moça imediatamente se jogou nos braços dele, que a envolveram num abraço apertado. O cheiro do amigo a inebriava e logo seus olhos estavam marejados.
- Eu não acredito que estou com você de novo. – Foram as únicas palavras que ela conseguiu pronunciar.
- Eu senti tanta saudade. Não, não foi apenas saudade. Acho que ainda não inventaram um nome para o que eu senti quando você foi embora. – null sussurrou, cheirando o cabelo da amiga.
Ficaram ali, abraçados, por bastante tempo. Na verdade, só se soltaram quando a mãe de null apareceu na sala dizendo que os adultos iriam ficar no jardim de trás, conversando.
- Tudo bem, mamãe. Nós vamos para o pessegueiro. – A moça disse e, quando Ashley sumiu pela cozinha novamente, puxou o amigo pela mão e foi correndo para a imensa e majestosa árvore.
- Duvido que você ainda consiga escalar. – null falou, olhando a amiga de maneira ao mesmo tempo desafiante e brincalhona, ao pararem sob a sombra do pessegueiro.
- Você ainda não aprendeu que é um erro duvidar de mim, null? – Ela perguntou, com as sobrancelhas erguidas e um sorrisinho de superioridade nos lábios.
O rapaz fez uma careta.
- null não, pelo amor de Deus. Soa... Estranho na sua voz.
null sorriu e começou a escalar a árvore. Logo já estava no galho que eles chamavam de ‘nosso galho’ e sentava-se lá confortavelmente.
- Eu duvido que você consiga subir. Sempre foi um medroso.
null fez outra careta e começou a escalar a árvore com uma habilidade maior do que a dela. Logo já estavam sentados um de frente para o outro, se olhando nos olhos.
- É, parece que andou treinando. – A moça riu.
null ficou em silêncio por alguns segundos, apenas olhando para o rosto da amiga. Parecia avaliar cada detalhe.
- Você está linda. – Falou, simplesmente. null corou.
- Obrigada, null. Você também não está nada mal, sabe? – Ela falou e os dois riram.
- Nada mal, é? Eu sou o cara mais bonito e gostoso de todo o bairro. – Ele disse, erguendo as sobrancelhas de brincadeira.
- Ah, duvido.
- Duvida, é?
- Duvido. Principalmente se Joseph Knight ainda morar aqui. – Ela falou, provocativa. null cerrou os olhos para ela.
- Não acredito que você ainda baba por esse idiota.
- Ele ainda mora aqui?
- Não. Se mudou há dois anos.
- Que pena.
null ficou vermelho.
- Eu não gostava dele. – Falou, ainda de olhos cerrados.
- Você não gostava de nenhum garoto que se aproximasse de mim. – null riu.
- Olha só quem fala. Não podia me ver com uma menina que ficava fazendo birra.
- Não é verdade. – Ela disse, fechando a cara.
- Ah, não? Ainda me lembro do caso Dorothy Simpson. Acho que eu tinha uns 11 anos. Você ficou morrendo de ciúmes quando me viu abraçado com ela e rindo de algo que ela havia falado. Eu tive que correr atrás de você o colégio inteiro e você só me desculpou quando... – Ele parou a frase, murchando o sorriso que tinha antes.
- Quando você prometeu que ia se casar comigo quando crescêssemos. – null concluiu, sorrindo e olhando para o galho abaixo de si, como se estivesse lembrando da cena.
- É.
Mais algum tempo de silêncio. null ainda olhava para o galho e null olhava para o céu.
- É incrível como nosso galho ainda nos agüenta, não é? – A moça quebrou o silêncio, sorrindo e elevando o rosto para o amigo.
- Verdade. Principalmente depois de todo esse peso que você adquiriu. – Ele brincou, apertando a cintura dela, que o olhou indignada e deu um tapinha em suas mãos.
- Que absurdo! Eu não estou gorda, null.
- Está sim, olha aqui. – Ele começou a apertar mais forte e logo null estava tendo um ataque de risos.
- PÁRA! PÁ-PÁRA, POR FAVOR! – Ela pedia, já vermelha.
- Então diz que eu sou o cara mais gostoso que você já conheceu. Mais gostoso até do que o Joseph Knight.
- JAMA... AAH! – Ela gritou, apavorada, quando o galho quebrou e ambos caíram com força no chão.
- null! Ai, meu Deus, você está bem? – null disse, levantando-se do chão com a coluna dolorida e indo até a amiga, que estava com o rosto enfiado nas mãos e tremia. – null. null, olha pra mim! – Ele levantou o rosto dela e a viu rindo escandalosamente. – Que louca! – Ele disse, rindo junto com ela.
- Ai, ai... Esta é a segunda vez que eu caio dessa árvore. – A moça disse, quando já estava mais recuperada do ataque de risos.
null rapidamente ficou sério.
- É. E, das duas vezes, a culpa foi minha. – Ele disse, cabisbaixo.
null o encarou de testa franzida e levantou o rosto do amigo.
- Prefiro cair da árvore e me machucar por culpa sua do que estar segura longe de você. – Ela falou, sorrindo. Logo o rapaz a imitou, abrindo um sorriso maior ainda.
- Eu te amo. – Ele falou, como que por impulso.
null fechou os olhos, sentindo aquelas palavras adentrarem sua pele e chegarem à sua alma. E então, sorriu.
- Eu te amo mais. Sempre amei. – A moça falou.
O que posso falar? Eu tinha meu amigo de volta, mais uma vez.
O problema era que ele não era mais o único que me importava.
- Sua mãe nos contou a novidade, null. – Tina disse, assim que avistou os dois amigos adentrarem o jardim de trás, rindo de algo que algum deles havia falado.
- Que novidade? – A moça perguntou, desviando os olhos do amigo e pousando-os nos quatro adultos sentados em uma mesinha branca e redonda, bebendo cerveja e comendo Pringles.
- Do Gabriel, filha. – Ashley disse, sorrindo para a moça, que logo sorriu ao ouvir o nome pronunciado.
- Ah. É que já faz tanto tempo que eu não acho que isso seja uma novidade. – Ela disse, dando de ombros e se sentando junto do pai, enquanto null se sentava de frente para ela, ao lado de Tina.
- Quem é Gabriel? – null perguntou, franzindo a testa. null pareceu se sentir repentinamente desconfortável, pois corou e se remexeu na cadeira.
- É o namorado de null. – Foi Tina quem disse, sorrindo para a menina.
null olhou boquiaberto para a amiga.
- Você... Você es-está... Namorando? – Ele perguntou, arregalando os olhos.
null apenas afirmou com a cabeça, sem encará-lo.
- Já faz um ano e meio. Achei que tinha falado para null, querida. – Ashley disse e, em seguida, se virou para o rapaz. – Ela me disse que vocês se comunicavam por Internet e mensagens de texto.
- É. E às vezes eu até ligava para ela. Mas parece que ela não queria que eu soubesse, não é? – Ele falou, com raiva, ficando corado e se levantando bruscamente da cadeira, o que a fez cair no chão. Em seguida, ele saiu em disparada para dentro da cozinha e todos os adultos olharam para null.
Ela suspirou e disse, se levantando:
- Vou atrás dele. – E saiu. Encontrou-o sentado no sofá da sala de estar, com os braços apoiados nos joelhos e as mãos cobrindo o rosto.
Ela foi até ele e se sentou ao seu lado.
- Me desculpe. Não é que eu não queria que você soubesse, é que...
- É que o que, null? Que droga! – Ele explodiu, olhando para amiga com raiva. – Eu achei que tudo ia ser como antes, mas vi que me enganei. Me enganei por muito tempo, não é? Parece que a distância mudou drasticamente as coisas entre nós.
- Não! – Ela exclamou, exasperada. – A distância não mudou absolutamente nada do que eu sinto por você! Ninguém nunca substituiu você na minha vida, null. Nunca.
- Apenas seu namorado, não é? – Ele perguntou, encarando-a profundamente nos olhos, o que a fez corar.
- Nem ele. – A moça sussurrou. – O motivo de eu não ter contado foi pura e unicamente medo.
- Medo? De que, posso saber?
null ficou em silêncio por alguns minutos, como se estivesse se decidindo entre responder ou não. Por fim, suspirou e disse:
- Eu tinha medo que você ficasse com ciúmes e parasse de se comunicar comigo. Por incrível que pareça, quando Gabriel me pediu em namoro, a primeira pessoa que me veio à cabeça foi você.
- Mas que idiotice, null! Você acha mesmo que eu iria parar de falar com você só porque você arrumou um namorado? Me poupe. – Ele disse, aumentando o tom de voz. - Por Deus, um ano e meio e você não me falou nada.
- Eu sei que foi estúpido. Me desculpe.
Ele respirou fundo e balançou a cabeça.
- Esqueça isso. Só me prometa que nunca mais vai esconder algo de mim.
null segurou as mãos dele entre as suas e disse, sorrindo:
- Prometo. Nunca mais.
Estávamos crescidos agora. Não podíamos mais nos dar ao luxo de fazer escândalos por tudo.
Principalmente por ciúmes.
Mas aquilo não queria dizer que eles não mais existiam. Pude ver naquele dia, no olhar de null, que ele não estava nada satisfeito com o fato de eu estar namorando.
- É incrível como tudo está igual. – null falou, andando pela única praça do bairro, com null ao seu lado.
- Esta praça me lembra um episódio infeliz. – null disse, amargo.
- Eu também me lembro. Foi quando eu vim dizer a você que ia embora.
- É. E deu um ataque de ciúmes quando me viu beijando uma menina. – Ele disse, agora rindo. – Você era muito ciumenta.
null riu fracamente.
- Eu não suportava a idéia de ser menos importante do que alguém para você.
- E agora, você suporta?
Ficaram em silêncio por algum tempo, mas logo a moça respondeu:
- Não sei. Acho que aprendi a aceitar, mas nunca vou realmente suportar.
- Mas você não precisa se preocupar. Ninguém nunca tomou seu lugar. Você continua sendo uma das pessoas mais importantes da minha vida. – null falou, olhando para a amiga pelo canto dos olhos.
null apenas sorriu, alegre, e se sentou em um banco ali perto. O rapaz logo estava sentado ao lado dela.
- O que aconteceu com aquela menina que você estava beijando aqui quando fui embora? – A moça perguntou, encostando a cabeça no ombro do amigo, que passou um de seus braços pelo ombro dela e começou a alisar a cabeleira null.
- Eu namorei com ela por uns três meses, mas depois conheci outra menina e acabei com ela.
- Nossa, que galinha! – null brincou.
- Não é isso. Ela foi minha única namorada, mas eu acho que era novo demais pra agüentar ficar muito tempo com alguém que nem conhecia direito. Você sabe, os hormônios eram incontroláveis naquela época. – Ele sorriu.
- Sei, sei. Só se fossem pra você. Meu primeiro beijo foi com o Gabriel, então eu sempre fui uma pessoa muito controlada. Não coloque a culpa nos seus hormônios. – null disse, rindo.
- Você gosta mesmo desse garoto, null? – null perguntou, sério, depois de algum tempo em silêncio.
- Gosto. Ele me faz bem e é carinhoso comigo. – Ela respondeu, dando de ombros.
- Você... Você o ama?
A moça pensou por um momento.
- Não. Acho que nunca amei ninguém. Pelo menos não pra namorar, sabe? As únicas pessoas que já amei na minha vida foram meus pais, seus pais e você.
null abriu um largo sorriso ao ouvir aquilo e, naquele momento, o celular de null começou a tocar. Ela o pegou no bolso posterior da calça jeans e viu quem era no visor. Logo abriu um sorriso.
- Alô? – Ela disse, colocando o telefone no ouvido. – Amor? Você está louco? Sua conta vai vir super alta!
null ficou rígido assim que a moça falou a palavra ‘amor’. Tirou o braço dos ombros dela e o pouso na perna direita, encarando fixamente o chão.
- É, mas vai se importar quando vir o valor da sua conta. E, se você não se importar, seus pais com certeza irão. E, vem cá, por que estamos falando em inglês mesmo? Ah, você é um bobo! Está tudo ótimo aqui. E aí? Lila já se acertou com Mauro? Ai, ai... Vou matá-los quando chegar aí. Tudo bem, vai lá. Eu também. Beijo.
Ela colocou o celular de volta no bolso da calça e se virou para o amigo.
- Era Gabriel.
- Percebi. – Ele falou, seco, ainda encarando o chão.
- null? null! – Finalmente, o rapaz desviou o olhar do chão e encarou a amiga. – O que foi?
- Nada.
- Claro que não é nada! Olhe só sua cara!
- É só que eu achei que você disse que não o amava. Aí você vem e o chama de ‘amor’. – Ele falou, emburrado, voltando a encarar o chão.
- É apenas um apelido carinhoso. Não significa que eu o ame.
- Ele pode não achar isso.
Ficaram em silêncio por alguns instantes.
- null, por favor... Eu só tenho um mês aqui. Não vamos ficar brigando por besteiras, por favor. – null pediu, também encarando o chão. null suspirou e se virou para a amiga.
- Tudo bem, me desculpe.
Ela também se virou para ele, sorrindo, e o abraçou.
- Sem problemas.
Quando se soltaram, null falou:
- Uns amigos vão lá pra casa no próximo final de semana. Você tem que ir também para conhecê-los.
- Amigos, é? null, null e null?
- Eles mesmo. – O rapaz sorriu. – E null de encomenda, é claro. null não a larga. – Ele revirou os olhos.
- Depois de todas as histórias que você me contou sobre eles, estou até com medo de conhecê-los. – null brincou.
- Não se preocupe, eu estarei lá para protegê-la. – null sorriu para ela.
E agora iam entrar as outras quatro pessoas mais importantes da minha vida.
Se null era meu porto seguro, null, null, null e null se tornaram, com o tempo, minhas fontes de risadas.
- Bem na hora. – null disse, assim que abriu a porta e avistou null ali, parada. – Venha, as outras pestes já chegaram.
A moça entrou na casa e deu um abraço rápido nele, beijando suas bochechas.
- Você é tão carinhoso com eles. – Ela falou, rindo.
- Você vai concordar comigo quando os conhecer. Vem cá. – Ele a puxou pela mão até a sala de televisão da casa dos null e, ao entrar lá, null avistou quatro pessoas, no mínimo, estranhas.
Dois garotos brigavam um com o outro para ver de quem era a vez no vídeo-game, enquanto outro ficava jogando salgadinhos pra cima e tentava pegá-los com a boca. Uma garota bonita estava sentada no único sofá da saleta, de frente para a televisão, fazendo as unhas e parecendo estar muito concentrada na cutícula do dedão do pé esquerdo.
- Caham. – null pigarreou, mas nenhum deles pareceu ouvi-lo. – Ei, cambada! – Ele falou mais alto e, daquela vez, todos olharam para ele de forma engraçada. – Bons garotos. – A moça que estava sentada no sofá o fuzilou com o olhar e ele logo acrescentou: - E boa garota. – null riu. – Bem, pessoal, esta é a null, aquele ser de quem vocês já cansaram de ouvir falar. null, esses loucos são null, null, - Ele apontou para os dois garotos que brigavam pelo vídeo-game. – null – O garoto do salgadinho. – E null.
- Prazer, gente. – null falou, sorrindo timidamente.
Logo os três rapazes se levantaram do tapete e foram até eles, esmagando a moça em um abraço grupal. Ela apenas começou a rir e a ficar meio vermelha.
- Não consigo... Respirar!
- Já chega, seus bárbaros. – null foi até eles e os tirou de junto de null, que sorria agradecida para ela. – Muito prazer, pode me chamar de null.
- O prazer é meu. – null sorriu.
- Sabe, já estávamos enjoados de ouvir seu nome, de tanto que o null nos falou de você. – Ela falou, rindo.
- Espero que tenha sido bem. – A outra olhou para o amigo, sorrindo marotamente.
- Claro que não foi. Você sabe que eu detesto você. – Ele disse, rindo e a abraçando.
- Sim, estou vendo. – null falou, beijando a bochecha dele.
- Ow, casal, sentem-se em algum lugar e vamos terminar esta partida. – null, que finalmente havia ganho a batalha com null pelo controle, falou.
- O que vocês estão jogando? – null perguntou, se sentando ao lado de null no sofá. null se sentou no chão, encostado nas pernas da amiga.
- Sonic. É corrida. – null respondeu.
- Ótimo. Quem ganhar vai comigo. – Ela disse, sorrindo maliciosamente.
- Ah, qual é. Você gosta de ser humilhada? – null perguntou, arqueando as sobrancelhas.
- Não fale do que não sabe, null. Essa garota é a monstra dos vídeo-games. – null disse, dando uma tapinha de leve nas pernas de null, que apenas riu.
- Veremos.
Senti, novamente, uma sensação boa invadir meu coração.
Os sentimentos mais sublimes que Deus criou foram, com certeza, o amor e a amizade. E um só existe se o outro existir.
Eles se completam.
Acho que é por isso que eu e null somos nos complementávamos de forma tão perfeita.
- null, você é o orgulho da null aqui! – null falou, rindo satisfeita ao ver a amiga derrotar null pela milésima vez durante as três semanas que estava lá.
- Você devia estar torcendo por mim, null, não por essa monstra. – O garoto resmungou, jogando o controle no chão com raiva e indo se sentar junto da namorada.
- Você fala isso porque sempre perde pra ela. – null disse, estirando a língua para o amigo.
- E você não, né, cabeção? – null perguntou, atirando uma almofada na cabeça do outro.
- Chega, crianças. – null disse, alisando os cabelos de null, que estava encostada nas pernas dele. – Vamos sair de casa. Estou cansado de ficar aqui jogando vídeo-game.
- Isso, null, você é um gênio! – null disse, batendo palminhas. – Vamos tomar milk shake no Freddy’s.
- Perfeito. Estou cansada de ganhar para esses amadores. – null disse, rindo e dando um beijinho na perna do amigo antes de se levantar, enquanto os meninos a olhavam indignados e null apenas ria.
Logo todos já estavam a caminho da sorveteria, rindo de alguma piada que null havia contado. Chegaram ao local e logo pegaram a mesa de sempre. Uma atendente morena, muito bonita, veio atendê-los.
- Marjorie! Já voltou das férias? – null perguntou, sorrindo para ela.
- Infelizmente, sim. – A atendente fez uma falsa cara de sofrida. – Mas aposto que estão super felizes em me ver.
- É claro. Sempre gostamos de olhar para uma moça bonita. – null disse, sorrindo maroto para ela, que bateu a prancheta que segurava de leve no ombro dele. – O que foi? É verdade. null que o diga.
null riu fracamente e olhou para a garçonete, que piscou para ele. null se remexeu desconfortavelmente na cadeira e null a encarou, mas não falou nada.
- Então, o que vão querer?
- Seis milk shakes. O meu é de chocolate. – null falou.
- Morango. – null disse.
- Baunilha. – null se pronunciou.
- Morango! – null disse alto, fazendo os outros rirem.
- Ô, criança! – null disse, dando um pedala nele. – O meu e o da null são de brigadeiro.
- Ok. – Marjorie disse, anotando tudo. – Daqui a pouco eu trago. – E saiu rebolando, o que fez os quatro meninos a olharem com as bocas abertas e null dar um pedala em null.
- Outch, amor! – Ele falou, com voz de criança, olhando para a namorada e massageando a cabeça.
- Isso foi pra você aprender a não olhar para outras mulheres quando está a meu lado. – Ela disse, fuzilando-o com o olhar.
- Desculpa, minha linda. Mas você sabe que é a única que eu amo, não é? – Ele disse, aproximando a namorada de si e beijando o pescoço dela, que sorriu.
- Ew! Arrumem um quarto, seus ninfomaníacos! – null resmungou, tampando os olhos com as mãos, no que os outros riram.
- E você não precisa se preocupar, null. A Marjorie já é do null. – null disse, olhando marotamente para o amigo.
null ergueu uma sobrancelha e se virou para null.
- Que história é essa que eu não sei, null?
- História? Que história, null? – null perguntou, lançando um olhar mortífero para os amigos e virando-se para a moça com cara de inocente.
- É o que eu quero saber. – Ela disse, impassível.
- A Marjorie vivia se jogando pro nullzão aqui e, em uma festa, eles se atracaram. – Foi null quem explicou, deixando null corado e null com um nó na garganta. Mas ela não falou mais nada, apenas encarou as mãos.
null a olhou com os cantos dos olhos, mas também ficou calado.
- Gente, como a null está indo embora daqui a uma semana, temos que preparar uma despedida! – null disse.
null engoliu em seco.
- Eu não quero festas, gente, por favor. – null pediu.
- Não vamos dar uma festa. Vamos ser só nós seis mesmo, na casa do null. – A outra moça disse, sorrindo.
- Na minha casa?
- É, na sua, porque sempre ficamos lá mesmo. – null disse, dando de ombros.
- Tudo bem, senhores. – null o fuzilou com o olhar. – E senhoras. – null sorriu amarelo para ela.
Eu sempre sentia algo diferente quando estava com null. Era uma sensação boa, de proteção e familiaridade.
Mas, naquela despedida, eu senti algo... Novo.
Algo que me fez abrir os olhos para a realidade. A realidade de que eu provavelmente não o amava apenas como amigo.
- Chegou o motivo da comemoração! – null gritou, quando abriu a porta e deu de cara com uma null sorridente. Ela entrou na casa de null e null fechou a porta.
- Onde estão todos? – A moça perguntou.
- Jogando pôquer na sala de jantar.
Os dois seguiram para lá e logo já haviam se juntado aos outros no jogo.
- Quero três. – null pediu, ficando apenas com um par de damas na mão. Deu as três cartas para null, que era quem estava distribuindo, já que não jogava, e a moça deu outras três de volta para ela. Quando olhou para as cartas, viu um rei de copas, um rei de espadas e um rei de ouro. Fez força para não sorrir.
As apostas começaram com null, que saiu do jogo. null apostou cinco e null dobrou a aposta. null colocou a quantia de null mais vinte e null ergueu as sobrancelhas. Apostou a quantia de null mais quarenta.
O rapaz a encarou com um sorriso maroto. null saiu do jogo, seguido por null, e null aumentou a aposta em cinco. null pagou para ver.
- Flush. – O rapaz colocou as cartas na mesa. Tinha um rei, uma dama, um valete, um oito e um cinco, todos de paus.
null olhou para ele com um sorriso triunfante.
- Full house. – Ela falou, abaixando o jogo na mesa.
- Que droga! Ela sempre ganha! – null exclamou, fazendo null gargalhar e arrastar todas as fichas.
- Eu sempre tive medo dessa garota em jogos de sorte. – null disse, rindo. – Vou pegar mais refrigerante e batata frita. Alguém quer me ajudar? – Todos ficaram calados. – Ótimo. – Ele resmungou.
- Eu vou com você. – null disse, se levantando.
Os dois seguiram para a cozinha e null foi pegar o refrigerante na geladeira, enquanto null ia até o armário pegar as batatas. Despejou-as num depósito e foi jogar o saco no lixo, que ficava entre a geladeira e a bancada da pia. Quando se virou, chocou-se contra o peito de null, que ia colocar o refrigerante na bancada.
- null, me descul... – Mas ele parou a frase na metade ao ver a mínima distância entre suas bocas.
null já encarava a boca rosada do rapaz fixamente, e corou ao perceber que ele também fitava a sua. Algo bom fez seu estômago se revirar e um arrepio perpassou seu corpo quando imaginou os lábios dos dois unidos. Elevou seus olhos fundos para os olhos null intensos do amigo e viu lá um brilho que ela jamais vira antes. Parecia desejo. Desejo e carinho.
Mas a moça simplesmente balançou a cabeça, como que acordando de um transe, e falou:
- Não foi nada. Vamos, eles devem estar impacientes. – Pegou a vasilha e seguiu para a sala, com null em seu encalço.
Foi tudo muito rápido. Mas, ao mesmo tempo, maravilhoso. E confuso.
Principalmente confuso.
Sei que, a partir daquele momento, a imagem dos lábios de null sobre os meus não conseguia abandonar minha cabeça.
Nem ao menos quando tive que voltar ao ‘mundo real’.
- null, PROMETE que vai voltar para visitar a gente, não é? – null perguntava, com os olhos marejados, para a amiga.
- É claro que venho, null. Pra falar a verdade, vai ser realmente estranho viver no Brasil sem vê-los todos os dias. – null disse, olhando carinhosamente para as quatro pessoas que aprendera a amar durante aquele mês.
- null, volta logo mesmo, tá? Não importa que você ganhe pra mim no vídeo-game, eu deixo. Mas volta. – null, que era o que chorava mais, pediu, abraçando a amiga, que apenas riu.
- Não tente usar isso como uma desculpa para suas perdas, sr. null. – Ela falou, fazendo os outros rirem também.
Ela se soltou de null e abraçou todos os outros amigos. Depois foi se despedir de Tina e Adam e, então chegou a vez dele.
Se aproximou cabisbaixa de null, que levantou o rosto da moça com o indicador.
- Vou morrer de saudades. – Ele sussurrou.
- Eu volto o mais rápido possível. – Ela disse, sentindo as lágrimas preencherem seus olhos.
- Eu sei que sim. – null a abraçou fortemente. – Eu ainda tenho uma promessa para cumprir, lembra?
null riu, baixinho.
- Escrevi uma carta para você. – Ele disse, se desvencilhando dela e lhe dando um pequeno envelope branco. – Mas só abra quando chegar em casa.
- Tudo bem. – null disse, pegando a carta.
null a puxou para um abraço novamente.
- Eu te amo, null.
- Eu também te amo, null.
Aquela despedida foi menos dolorosa. Por dois motivos:
1- Já havíamos nos despedido uma vez, antes e
2- Eu ia voltar. Sabia que ia.
Então uma coisa estranha aconteceu. Ouvi uma voz. Uma voz muito distante. Parecia mais um eco.
Mas eu reconheci de quem era. É claro que reconheci.
- Você está aí, do outro lado do oceano, e eu só consigo pensar em você. Não sei como explicar. Desde que nos vimos novamente, reparo em cada detalhe seu, que eu já sabia de cor. Mas, cada vez que te olho, descubro uma coisa diferente. E posso dizer qual é a coisa que eu mais gosto de ver em você? O brilho dos seus olhos quando olha para mim. – A voz ia ficando mais nítida a cada frase. – Não sei mais o que escrever, null. Acho que meus sentimentos são sublimes demais para eu transformar em palavras. Eles vão muito além disso. Eles estão entranhados em meu ser. Assim como você está fixada em minha mente e em meu coração. Descobri algo interessante sobre você, mas não posso contar. Não agora. – A voz já estava quase completamente nítida agora. – Mas, um dia, prometo que você vai saber. Volte logo para mim, por favor. Da pessoa para a qual você é a mais importante de todas, null. P.S.: - Agora eu podia ouvir a voz perfeitamente. – Eu te amo. Para sempre.
E eu me lembrei: Aquela era a carta. A carta que ele me deu no aeroporto. A carta que me fez chorar copiosamente em meu quarto, antes de dormir, no dia em que voltei para casa.
Capítulo IV
- Já fazem quatro dias, dou... - Eu sei, senhor... Estamos fazen... - Não podem me di... - Infelizmente, nã... Era uma confusão de vozes. Uma confusão de passos. Uma confusão de palavras.
Então voltei para o único mundo em que nada, até agora, me parecia uma confusão.
- null, pequena, é o null. Mas acho que você já sabe, né? – Uma risada. – Então, acho que você não está em casa. Assim que chegar, por favor, me li... O monte de edredons enrolados em cima da cama se mexeu e, entre eles, surgiu uma cabeleira null bastante emaranhada. O quarto estava todo escuro e fechado, com vários papéis amassados jogados pelo chão.
- null? Estou aqui. – A menina disse com uma voz estranhamente fanha, colocando o telefone, que estava em cima da mesa-de-cabeceira, no viva-voz e se afundando novamente no mar de cobertores.
- null? Ainda bem que você está aí! Tenho uma novidade para te contar. – Ele disse, alegre, do outro lado da linha.
A menina abriu um fraquíssimo, quase imperceptível, sorriso.
- Fala.
- Eu, null, null e null vamos montar uma banda. null ficou um tempo calada, de sobrancelhas erguidas.
- Uma... Banda? Você e os garotos? – Ela perguntou, meio descrente.
- Sim, uma banda, eu e os garotos. Já temos até um nome. - E qual seria?
- McFly. – null falou, parecendo realmente empolgado.
- McFly? Isso me lembra De Volta Para o Futuro. - null respondeu.
- Eu sei, colocamos o nome por causa do Marty McFly. Mês passado me bateu uma saudade imensa de você, então me lembrei que esse era seu filme predileto e de todas as tardes que passamos juntos assistindo-o. Eu e os caras já tínhamos o projeto de montar uma banda desde a semana anterior e, enquanto estava assistindo ao filme, fique lembrando de você. Lembrei que você era apaixonada pelo Marty McFly e que dizia que queria ter um marido igual a ele. - Você ficava louco de ciúmes. – A moça disse, rindo fracamente.
- É. Mas, então... Eu resolvi colocar o nome da banda de McFly em sua homenagem. – O rapaz terminou a história e null podia jurar que ele estava sorrindo.
- Você é estranho quando se trata de fazer homenagens e promessas.
- Eu sei. E sei também que essa é a parte que você mais gosta em mim. – null riu, mas logo parou. – null, está tudo bem? Você parece... Desanimada. A moça suspirou. Não adiantava mentir para ele.
- Na verdade eu não estou bem, não.
- O que houve? – Ele perguntou, soando preocupado.
- O Gabriel. Ele... Ele ter-terminou com-comigo. – Ela falou, soluçando.
O silêncio se fez presente por alguns segundos.
- Por que ele faria isso? - Um mês depois que cheguei aqui, percebi que ele estava agindo de forma um pouco estranha, mas preferi esquecer. Então o tempo foi passando, passando e ele ia ficando cada vez mais distante. – A moça soluçava mais forte àquela altura. – Então, semana passada, ele me disse que estava apaixonado por outra e que não podia mais continuar comigo, porque estava enganando a nós dois e blá, blá, blá. Aquele idiota. – Ela disse, com raiva, pegando mais lencinhos na mesa-de-cabeceira e assoando o nariz fracamente. – Depois, quando fui falar com Lila sobre o que tinha acontecido, ela me disse que ela era a garota por quem Gabriel estava apaixonado e me contou também que eles tinham ficado enquanto eu estava viajando.
- E o que você fez? - Dei um soco na cara dela. – null respondeu, rindo fracamente ao se lembrar da cena.
- VOCÊ O QUÊ? – null gritou, soando genuinamente assustado.
- O que você esperava? Que eu desejasse toda a felicidade do mundo pros dois? Eu quero mais é que eles se fo...
- Olha o vocabulário, mocinha. - Desculpe, papai. – Ela respondeu, irônica. – O que mais me irritou foi o fato de ele ter esperado seis meses para terminar comigo. E eu, agora, sou uma corna mansa.
- Mansa, não. Você socou a menina! – null disse, rindo.
- É, que seja. Mas eu não quero mais falar sobre isso. – A moça suspirou e amassou o lencinho de papel, o jogando em qualquer canto do quarto. – Me diga por que não me liga há uma semana.
- Desculpe, pequena. Sei que deve ter precisado de mim durante... Tudo isso. – null ficou calada, respirando pesadamente. – Eu estava ocupado, tendo aulas de null. - Aulas de null? – A moça perguntou, arregalando os olhos.
- É claro. Como espera que eu tenha uma banda sem saber tocar nada? - Desculpe, senhor eu-sei-tocar-null-e-por-isso-sou-melhor-que-você.
- Sempre dramática. – null disse. null pôde jurar que ele estava revirando os olhos.
- Aprendi com você. – Ela disse, rindo. – Senti falta da sua voz.
- Eu estou sentindo falta da sua pele. – O rapaz disse, soltando um suspiro.
- Da minha pele?
- É. Gosto de fazer carinho em você. null sorriu verdadeiramente pela primeira vez em uma semana.
- Não fique mal por muito tempo, ok? Supere rápido. - Eu vou superar. Só o fato de falar com você já me deixa melhor.
- Você não sabe como fico feliz em saber disso. Ficaram um tempo em silêncio.
- null, canta pra mim?
- Claro, null. Qual? - A minha, é claro.
null havia escrito uma música para mim, quando eu tinha 11 anos. Ele sempre quis ser músico. Naquela conversa, eu podia até imaginar a felicidade que meu porto seguro estava sentindo.
O nome da música é I’ve Got You. Ele apenas escreveu a letra, mostrando-a para tio Adam, que sabia tocar violão e foi quem o ajudou com o ritmo.
A primeira vez que null cantou-a para mim foi no meu 12º aniversário e, a partir daquela data, sempre que estava triste e não podia ver meu melhor amigo, ouvia a música, que ele havia gravado em um CD para mim. Ela sempre me reconfortava.
Era uma pena que apenas uma música não pudesse levar embora toda a dor que estava por chegar em minha vida dali a um ano e alguns meses.
- Estou com saudades. – Uma moça null, que parecia estar no início de seus 17 anos, falou, assim que ouviu um ‘Alô’ do outro lado da linha.
- null! – A voz grossa do outro lado exclamou, contente. null deitou-se na imensa cama de casal e ficou encarando o telefone no gancho de onde uma luzinha, que indicava o viva-voz ligado, piscava.
- Estou com saudades. – Ela repetiu.
- Mas nós nos falamos há três dias! – A voz do outro lado disse, rindo.
- Isso quer dizer que você não sentiu saudades de mim, null? – Ela perguntou, com falso tom ameaçador.
- É claro que não, sua idiota. - Tão delicado... – null revirou os olhos, rindo. – Mas, então, me conte as novidades.
- Hm... Não tem nenhuma novidade, null. – null disse, parecendo ligeiramente desconfortável com a pergunta.
- Como vai a banda?
- Ah, quase esqueci de te contar! Aquele produtor que eu te falei, o Fletch, entrou em contato conosco semana passada. Vamos fazer as aberturas de alguns shows pelo país e, se formos bem aceitos, vamos fazer shows como a banda principal. Depois, se tudo der certo, vamos gravar um CD. - null, isso é maravilhoso! – null falou, empolgada. – Meu Deus, meus amigos vão ficar famosos! – Ela gargalhou.
- Não se empolgue, dona null. Ainda não temos certeza de nada. - Bem, eu tenho certeza de que vocês vão fazer muito sucesso.
- Eu sei que tem. Ficaram alguns segundos em silêncio, até que a moça disse, fitando o teto branco:
- Hm... Não tem nada para fazer aqui.
- Vem cá, você me ligou só pra passar o tempo, foi? - Foi. Algum problema? – A moça perguntou, franzindo a testa.
- Er... Não. Eu só estou... Ocupado. – Ele disse e, em seguida, null ouviu uma voz feminina falando do outro lado da linha: “Larga logo esse telefone e vem aqui em cima, null!”. Logo o rapaz respondeu com um “Já vou”.
A moça franziu ainda mais a testa.
- Quem está aí?
null suspirou.
- Olha só, null, eu... Eu tenho que te contar uma coisa. Mas, por favor, não pire, ok? – Ele pediu, soando cauteloso.
- Fala logo, null.
- Você se lembra da Dorothy Simpson? - Dorothy Simpson? Aquela com quem eu vi você andando abraçado no colégio uma vez?
- A própria. Então... Ela se mudou para a casa em frente à minha e, bem... Estamos namorando há dois dias. null arregalou os olhos, surpresa. Ficou muda por bastante tempo.
- null? Pelo amor de Deus, fala alguma coisa! – null pediu, parecendo preocupado.
- Eu... Eu não... Sei o que falar. – Ela suspirou. – Acho que tenho que lhe dar os parabéns, não é?
- Hm... É, acho que seria um bom começo. Você está bem? - Estou, null. Só fiquei... Surpresa.
- Ótimo, então. null, eu tenho que ir agora. Só me diz uma coisa antes: quando a senhorita vem nos visitar? A null não pára de me aperrear pedindo para que eu insista para você voltar. Como se só ela sentisse sua falta. – O rapaz bufou, fazendo null rir fracamente.
- Não sei ainda, null. Meu pai está vendo se consegue tirar férias em janeiro do próximo ano, mas eu acho difícil. A firma está crescendo muito aqui no Brasil e ele é o chefe. Acho que só vamos daqui a dois anos, mesmo.
- Ano que vem você vai fazer 18 anos e, até agora, eu só lhe vi por foto. – null disse, parecendo desgostoso daquilo.
- Falo o mesmo de você. Já está com 18 e eu só vejo o quanto mudou por foto. Queria estar aí para acompanhar as mudanças... – Ela fechou os olhos por um tempo, mas logo os abriu novamente. – Bem, é melhor você ir. Depois nos falamos.
- Tudo bem. - Tchau, então.
- null... - Quê?
- Te amo. null abriu um largo sorriso.
- Eu te amo mais. Sempre amei.
Eu não senti ciúmes. Não me senti menos importante. Eu apenas me senti... Distante.
Aquela foi a primeira vez em que me dei conta do que poderia perder estando longe de casa por tanto tempo. Estando longe dele por tanto tempo.
Afinal, eu ainda sonhava com nossos lábios unidos. Ainda sonhava em explorar a boca dele. E o término do meu namoro só havia intensificado aquilo.
Mas eu mal sabia que era preferível morar no Brasil para sempre ao voltar para a Inglaterra um ano depois daquela ligação pelos motivos que me forçaram a voltar.
- Vamos, mãe. Chegamos. – Uma moça que já era, em torno de seus 18 anos, uma mulher quase feita, disse para uma senhora que estava toda vestida de preto, assim como a jovem. – Aqui está, senhor. Obrigada. – Ela disse, dando o dinheiro ao taxista e pegando duas das quatro malas que o mesmo havia tirado do bagageiro.
Observou o táxi ir embora até dobrar a esquina e virou-se para a senhora, que olhava para a casa com lágrimas a molhar suas bochechas.
- Oh, mamãe, por favor, não fique assim! – Ela disse, indo abraçar a mãe, que começou a soluçar.
- E-Ele ia que-querer estar a-aqui com a gen-gente. – A mulher falava, escondendo o rosto no pescoço da filha.
- O que ele não ia querer era nos ver tristes assim. Ele nos amava tanto, mãe. Tente guardar apenas os momentos bons. Ele não ia querer que sofrêssemos pelo resto de nossas vidas. – A jovem disse, alisando os cabelos da mãe e se segurando para não chorar.
- Eu nã-não vejo mais sen-sentido em na-nada.
null sentiu um aperto no peito ao ouvir a mãe falar aquilo.
- Como pode dizer isso, mamãe? E eu? Não faço mais sentido para a senhora? – Ela perguntou, se afastando um pouco da mãe para olhá-la nos olhos.
- Eu nã-não quis di-dizer isso. – A senhora murmurou e null suspirou.
- Venha, mãe. Vamos abrir a casa, arrumar as coisas e...
- null.
Um calafrio percorreu a espinha da moça ao ouvir aquela voz grossa, de que tanto sentira falta. Ela se virou para trás e abriu um sorriso imenso ao vê-lo.
- null!
O rapaz estava lindo. Muito mais bonito do que as fotos a permitiam ver. Afinal, as fotos não mostravam o brilho tão intenso dos olhos null daquele homem maravilhoso.
- null, minha linda! – Ele foi até ela e a abraçou fortemente.
A moça apenas se entregou ao abraço, lutando com mais força para conter as lágrimas que ameaçavam cair por sua face.
- null! Meu Deus, null, eu senti tanto a sua falta. Só queria estar com você de novo. – Ela murmurou no ouvido dele, que alisava a cabeleira null da amiga.
- Shh, agora você está. Está comigo novamente, minha null. – Ele falou, no mesmo tom.
Ficaram abraçados por alguns segundos, mas logo null se desenlaçou dela e virou-se para a senhora, que os olhava tristemente.
- Tia Ashley! – Ele disse, indo abraçar a senhora, que se jogou nos braços dele, soluçando compulsivamente.
- Ah, null, null! Eu sinto tanto a falta dele!
- Eu sei, tia, eu sei. Todos nós sentimos. – O rapaz falou, com os olhos marejados.
- Eu vou levar minhas malas lá pra dentro. – null disse, com a voz fraca.
null ergueu os olhos para ela, ainda abraçado à tia, e disse:
- Tudo bem. Eu levo as dela depois.
A moça apenas concordou com a cabeça e entrou em casa com suas duas malas.
Senti um nó se formar em minha garganta e uma vontade imensa de chorar se apossou de mim. Meu coração começou a bater de forma descompassada e, novamente, uma confusão de passos se fez presente.
Meu pai havia morrido com uma bala perdida em uma perseguição policial quando voltava do trabalho. Um mês depois, minha mãe havia decidido voltar para a Inglaterra, pois lá tínhamos mais conhecidos, amigos e o resto da família.
Mas eu sabia que a responsabilidade, agora, ia ser toda minha. Teria que tomar conta de minha mãe e impedir que ela caísse em depressão.
Resumindo, eu comecei a carregar meu mundo em minhas costas.
- null? Posso entrar?
null passou as mãos pelas bochechas rapidamente, para enxugar as lágrimas, e se virou para o amigo, que adentrava o quarto rosa.
- Sou todo seu. – Foi apenas o que ele precisou falar para null começar a soluçar fortemente.
O rapaz rapidamente sentou-se ao lado dela na cama e a abraçou.
- Shh, minha linda, não fique assim. Não fique, por favor. – Ele sussurrava, como se estivesse implorando, deixando algumas lágrimas descerem por suas bochechas.
- Como vai ser agora, null? Minha mãe está quase entrando em depressão e eu não posso fazer nada. Mas eu tenho que fazer algo! – null falava baixo, mas tremia nos braços do amigo.
- Eu vou te ajudar, null. Prometo que vou.
- Não. – Ela se soltou dos braços dele, enxugando novamente as grossas lágrimas com as costas das mãos. – Você tem sua vida, null. Sua banda está começando a fazer turnês, você tem uma namorada. Esses são só meus problemas. Você não tem que se envolver em nada. Não voltei para dar problemas para você. – A moça disse rapidamente.
null apenas ergueu as sobrancelhas.
- Não seja ridícula, null, pelo amor de Deus! “Esses são só meus problemas”. – Ele repetiu a frase dela, bufando. – O negócio que rola aqui é que seus problemas também são meus. Nada mudou, null, você não entende? Eu ainda não consigo te ver triste, muito menos acabada! Eu ainda te amo do mesmo jeito... Talvez ainda mais do que antes. Eu ainda quero te proteger e estar do seu lado em todos os momentos das nossas vidas. A banda é um dos meus sonhos? É. Mas ela pode esperar um pouco. Os meninos vão concordar, eles também adoram você. Minha namorada? Ela vai entender. É uma das pessoas mais compreensivas que eu conheço. – Ele falou, ainda mais rápido do que a amiga havia falado. – Só entenda isto, null: você é minha prioridade. Antes, agora e sempre.
A moça, àquela altura, soluçava compulsivamente, olhando para o amigo com tanto carinho que os olhos dela chegavam a refletir a luminosidade do ambiente.
Passaram um tempo apenas se encarando, demonstrando, pelos olhares, todo o amor que sentiam um pelo outro. Era algo forte demais.
- O que seria da minha vida sem você? – Ela perguntou e, em seguida, franziu a testa, como se o pensamento a assustasse.
- Um vácuo imenso. Algo sem sentido. – null brincou, a trazendo para junto de si e afagando os cabelos dela, que riu fracamente.
- Obrigada, null.
- Pelo quê?
- Por existir e por fazer parte da minha vida.
- null, por favor, volte. Me perdoe e volte. Por favor. Não está dando mais sem você. Não es... Sussurros, que mais pareciam ecos, enchiam meus ouvidos, enquanto algo molhado batia em minha bochecha.
- Preciso de você. Preciso mui... Minha garganta apertou novamente. A mesma vontade de confortá-lo.
- Eu te amo. Para sempre.
- , MINHA LINDA! – Uma bela garota ruiva corria ao encontro de outra que, quando ouviu a voz dela, desviou os olhos do rapaz com quem conversava e se levantou do balanço. Logo as duas estavam se abraçando fortemente. – Que saudades!
- Eu também morri de saudades, null. Você nem imagina o quanto! – null disse, com os olhos marejados.
As duas garotas se soltaram e se encararam, sorridentes.
- Não quero ver você chorando, boneca. – null falou, passando a mão pelas bochechas da amiga para enxugar as finas lágrimas que corriam por ali.
O sorriso de null aumentou.
- Onde está o resto da trupe?
- Já estão chegando. null passou na casa de null para apressá-lo e null estava em um encontro com qualquer vadia. Nos ligou, dizendo que já estava chegando aqui. - null disse, revirando os olhos, o que fez null rir.
- Estou com tantas saudades deles.
- Oi para você também, null. Oh, que é isso, o prazer é meu em revê-la. – null se pronunciou, irônico, se levantando do balanço onde estava sentado e encarando a ruiva.
- Oh, querido null, mil perdões! – null riu, abraçando o amigo. – É que você é tão insignificante que eu nem te notei. – Ele deu um pedala na garota, se separando dela, no que ela fez uma careta e massageou a cabeça.
- Não fale assim do meu sexy-boy, sua... Sua... Desengonçada! – null brincou, também dando um pedala na amiga e rindo.
- Puxa vida, isso é um complô? “Vamos dar pedala na null para que ela perca todos os neurônios existentes no cérebro dela!”.
- E você ainda tinha algum? – null perguntou, no que ele e null começaram a rir e null fechou a cara.
- O que vocês estão fazendo com minha ursinha, seus mal-amados? – Um rapaz bonito chegou perto do grupo e abraçou null por trás, dando um beijo na bochecha dela.
- Eles estão me maltratando, am...
- ! – null berrou, sorrindo largamente para o amigo, que logo soltou a namorada e foi abraçar a outra garota.
- Que saudades, sua monstrinha! – null disse, rindo.
- Eu também, seu mau-perdedor! Estava com saudades de ganhar no vídeo-game para você.
O rapaz fez uma careta, se soltando da amiga.
- ! – Outra voz grossa gritou e logo outro rapaz bastante bonito apareceu, correndo até o grupo e abraçando null, ao chegar até eles.
- ! QUE SAUDADES, CRIANÇA! – Ela gritava, enquanto o rapaz a girava no ar.
- Chega disso, null. Não tente roubar minha null. – null disse, fazendo null parar de girar a amiga no ar e puxando-a para si.
- Oh, que ciumento, meu Deus! – null brincou, dando um beijo estalado na bochecha do rapaz.
- Agora só falta o null.
- E a namorada do null. Quero saber quando vou conhecê-la.
- Mas você já a conhece, null. – null disse, revirando os olhos.
- Não conheço, não. Nunca falei com ela.
- Bem, eu já lhe disse que ela está viajando e só volta daqui a dois meses.
- Dê graças a Deus por isso, null. Quanto mais tempo sem conhecê-la, melhor para você. – null disse, revirando os olhos.
- Só lembrando que ela é minha namorada, null. – null disse, fuzilando a ruiva com o olhar.
- E daí? Não é minha culpa se você escolheu uma guenza para ser sua namorada. – Ela disse, dando de ombros e fazendo null rir. A moça parecia ter prazer em ouvir a amiga dizer que a namorada de null não prestava.
- Pare com isso, null. Dorothy é muito legal. – null disse. – Mas é claro que eu sempre vou preferir minha nullzinha.
- Sua nullzinha o casse...
- Olha a boca, null. – null interrompeu o amigo, que fez uma careta.
- null não, null. – Ele disse, no que a amiga estirou a língua para ele.
- E ela não é nada legal, null. – null resmungou.
- Cala a bo...
- Ei, cambada! – Um quarto rapaz chegou, interrompendo a fala de null.
- Achei que não vinha me ver, null. – null disse, sorrindo e abraçando o amigo.
- nullzinha do meu coração! – O rapaz exclamou, abraçando-a fortemente. – Deixe-me olhar para você. – Ele se afastou dela e a olhou de cima a baixo. – Opa, a boneca tem telefone?
Todos gargalharam, menos null, que ficou emburrado.
- Odeio essas brincadeiras. – Ele resmungou.
- Deixe de ciúmes, null. – null disse, rolando os olhos.
- É, meu null, deixe de ciúmes. – null sussurrou no ouvido do amigo. – Você sabe que eu sou só sua.
Agora eu estava quase completa. Só estavam faltando duas partes importantes do meu mundo: meu pai e minha mãe.
Um havia partido para sempre e, a outra, parecia querer me deixar em breve.
- Eu te amo, minha null. Me perdo...
- Oi, minha. – null disse, sorridente, assim que a amiga abriu a porta da casa.
- Oi, sexy. – null respondeu, sorrindo de volta para o amigo.
- Dorothy acabou de chegar e vai passar lá em casa daqui a pouco. O resto do pessoal está indo para lá também. Vamos?
- Tudo bem. Só vou avisar a minha mãe.
- Posso ir com você? Quero vê-la.
- Claro.
Os dois entraram na casa e subiram as escadas. Caminharam até a última porta do corredor do primeiro andar, que estava entreaberta, e entraram.
- Mãe? – null chamou, baixinho.
O quarto estava todo escuro. Não havia vestígio algum de luz. Na cama, uma montanha de edredons cobria a mulher, que não deixava aparecer parte alguma do corpo. O quarto cheirava a cigarro.
Quando null falou, a montanha de edredons começou a se mexer e logo uma senhora que possuía cabelos brancos e desgrenhados apareceu por entre eles. null ficou com uma expressão tristonha ao ver o estado lastimável da tia e olhou para a amiga com o canto dos olhos. Os olhos fundos da moça expressavam cansaço e desespero.
- Mãe, eu vou para a casa do null um pouco, tudo bem? – null disse, tentando sorrir.
A mulher apenas assentiu fracamente com a cabeça.
- Oi, tia Ashley.
Ela novamente fez apenas um aceno com a cabeça para o rapaz e voltou a se esconder por entre os edredons. null suspirou, segurando as lágrimas, e foi até a mãe, dando um beijo no que seria a cabeça dela, por cima das cobertas. Em seguida, foi até o amigo e o puxou pela mão para fora do quarto.
- Então, null, quando vocês vão tocar novamente? – null perguntou, assim que eles saíram da casa, tentando esquecer a cena que via toda vez que entrava no quarto da mãe.
- Não sei. Acho que vai ser em outra cidade, da próxima vez. Só fizemos dois shows em Londres, até agora. – Ele respondeu, dando de ombros.
- Adorei a banda. Vocês são muito talentosos.
null sorriu e abraçou a amiga pelos ombros.
- Fletch disse que estamos sendo bem aceitos pelo público. Várias pessoas já conhecem nosso som e ficamos sabendo, antes de ontem, que estão pensando em colocar Five Colours In Her Hair nas rádios.
- Isso é demais, null! – null exclamou, empolgada, quando chegaram na casa do rapaz.
- É, estamos muito animados. – Ele disse, abrindo a porta de casa e sorrindo.
- Seus pais ainda não chegaram? – null perguntou, triste, quando encontrou a casa do amigo vazia.
- Não. Só voltam daqui a duas semanas.
- Isso é horrível. Quando eu volto, todos estão viajando. – A moça resmungou, sentando-se no sofá e logo sendo acompanhada pelo amigo.
- É, parece que você espanta as pessoas. – Ele brincou, no que a moça deu uma tapinha em seu ombro e ele a abraçou, afagando a cabeleira null.
- Estou muito feliz por você e pelos garotos, null. – null comentou, após algum tempo de silêncio.
- Eu sei que está, null. – O rapaz comentou, sorrindo. – Talvez façamos uma turnê de um mês com uma banda que começou a estourar agora. Você podia vir com a gente.
- Acho que não vou poder. Minhas aulas da faculdade começam mês que vem.
- É verdade, tinha esquecido. Vai fazer com null, não é?
- Sim. Consegui transferência da faculdade do Brasil.
Ficaram mais algum tempo em silêncio.
- Desde quando você quer ser jornalista? – null perguntou, beijando a cabeça da amiga.
- Decidi isso há três anos, mais ou menos. – Ela respondeu.
- Eu odeio saber que perdi tantas coisas da sua vida, null.
A moça apertou o abraço.
- Não importa. Podemos recuperar tudo.
- Sim, podemos. E vamos.
Naquele momento a campainha tocou e null se levantou para atender. Logo, quatro pessoas entraram falando alto e fazendo null sorrir largamente.
- null! – Os recém-chegados falaram, em coro.
- Olá, trupe.
- E aí, cadê a baranga? – null perguntou, pulando ao lado da amiga no sofá.
- Olha lá como você fala, null. – null disse, fuzilando a ruiva com o olhar.
- Desculpe, desculpe. – A ruiva disse, erguendo os braços.
Senti minhas pálpebras tremerem um pouco. Eu queria abrir os olhos, queria muito.
Mas, ao mesmo tempo, queria continuar vendo aquelas cenas tão familiares.
Queria saber o que acontecia no final. O final que eu não lembrava.
- Oi, amor. – null disse, quando abriu a porta.
null imediatamente se virou para onde ele estava e o viu beijando levemente uma garota alta, muito bonita. Os cabelos dela eram pretos, com algumas mechas roxas, e todo repicado, na altura dos ombros. Era um pouco... Estranho.
- Vem, quero te apresentar uma pessoa. – O rapaz disse, puxando a namorada pela mão para dentro da casa e fechando a porta.
- Por acaso aquela é a null? – A moça perguntou, olhando para a null que estava sentada no sofá.
- Eu mesma. – null respondeu, sorrindo amarelo.
- Não sei se você lembra de mim. Sou Dorothy. – A ‘bicolor’ disse, indo até a null, sorridente, e dando dois beijinhos na bochecha dela.
- Você está... Diferente. – null comentou, fazendo null soltar um risinho escandaloso. Mas ela logo se segurou, ao ver o olhar de reprovação de null.
- Então, vamos jogar baralho? – null propôs, depois de alguns segundos de silêncio.
- Claro! Pôquer? – null perguntou, animado.
- Não, vamos jogar algo que eu goste. – null disse, revirando os olhos.
- Você é louca. Como alguém pode não gostar de pôquer? – null comentou, meneando a cabeça.
- Não gostando. Vamos jogar... Canastra!
- Mas canastra é ruim com muita gente, null.
- Não é nada, null. Vai lá pegar o baralho, null.
O rapaz logo obedeceu. Em um minuto subiu as escadas e voltou com o baralho em mãos, jogando-o na mesa da sala de jantar, onde todos já estavam, e abraçando Dorothy por trás.
- Não vão jogar, casal? – null perguntou, quando todos já estavam devidamente sentados e null embaralhava as cartas.
- Não, vamos matar as saudades. – null respondeu, piscando e se sentando numa poltrona, com a namorada em seu colo. null se remexeu desconfortavelmente na cadeira, mas ficou calada.
null, null, null, null e null ficaram jogando, enquanto null e Dorothy sussurrava e ficavam dando beijinhos periodicamente. null sempre os olhava com os cantos dos olhos, sentindo um aperto incômodo no peito.
O jogo terminou com um null vencedor e um null emburrado.
- Ele roubou!
- Não roubei nada, null. Aprenda a perder. – null disse, revirando os olhos e guardando as cartas.
Dorothy sussurrou algo no ouvido de null e se levantou do colo dele, sumindo pela sala de estar.
- Estou com fome. – null comentou, se espreguiçando.
- Que novidade! – null disse, irônica, fazendo os outros rirem.
- Eu vou arrumar alguma coisa para comermos. – null disse, se levantando da poltrona. – Vem comigo, null?
A null olhou para ele ligeiramente seca, mas o seguiu para a cozinha.
- E aí, o que achou dela? – Ele perguntou, colocando Pringles em um depósito, enquanto null pegava cervejas na geladeira.
- Ela é... Diferente. – A moça respondeu, ainda um pouco seca e dando de ombros.
- É. Acho que é por isso que eu adoro tanto ela.
null paralisou ao ouvir aquilo. Ele adorava aquela... Aguada bicolor?
- É, você sempre teve gostos estranhos. – Ela disse, com raiva, colocando as latinhas de cerveja com força na bancada da pia e encarando o amigo, que jogou a embalagem no lixo e se virou para ela com a testa franzida.
- Você não gostou dela?
null suspirou.
- Não sei. Não deu tempo de avaliar ainda.
- Amor? Quer ajuda? – Dorothy perguntou, adentrando a cozinha. null logo se virou para ela e null revirou, discretamente, os olhos.
- Não, minha linda, já pegamos tudo. – Ele respondeu, sorrindo.
- Deixe-me ajudá-la com a cerveja, null. – Dorothy disse, sorridente, pegando metade das cervejas que estavam na bancada. Mas, ao pegar a última, deixou outra, que já segurava, cair no chão. – Ai, como eu sou desastrada! – Ela disse, rindo.
null pegou a latinha, também risonho, e se aproximou da namorada, beijando-a carinhosamente.
- Mas esse é o seu charme, linda. – Ele falou baixinho, mas não o suficiente para null não ouvir.
Ela apertou os lábios, como se quisesse prender as lágrimas que ameaçavam brotar deles. Sem dizer nada, pegou as cervejas restantes e levou-as para a sala, sendo seguida por null e Dorothy.
- Eu vou embora. – null anunciou, colocando as cervejas na mesa-de-centro e indo em direção à porta.
- Mas já? – null perguntou, franzindo o cenho.
A moça não respondeu. Apenas saiu da casa, batendo a porta com força.
Novamente, eu não me senti menos importante. Daquela vez, eu senti, simplesmente, ciúmes. Eu morri de ciúmes.
E, daquela vez, eu tinha plena consciência daquilo. De que estava com ciúmes.
Lembro-me de que tive vontade de dar um soco na namorada de null, assim como havia feito com a garota que fez meu ex-namorado me trair.
Mas eu não podia socar Dorothy porque, junto com a consciência plena de que eu tinha ciúmes de null, vinha a consciência de que eu já era crescida demais para estar arrumando briguinhas por aquilo.
Principalmente porque eu tinha coisas mais importantes para me preocupar, naquele momento.
- null! null! – A moça null olhou para cima quando ouviu aquela voz a chamar. Seu rosto estava bastante vermelho e lágrimas descontroladas escorriam pela sua face, enquanto ela enfiava as unhas nas palmas das mãos, as fazendo sangrar.
null, que ainda possuía a mesma roupa de quando a moça deixara sua casa, imediatamente correu até ela e sentou-se na cadeira junto à que ela estava sentada. Puxou-a para si, abraçando-a fortemente.
- Por que, null? Por que ela fez isso? Será que ela não pensa em mim? Por quê? – null balbuciava, tremendo e soluçando compulsivamente.
- Calma, minha null, eu estou aqui. Shh, tudo vai ficar bem, ela vai sair dessa, você vai ver. – O rapaz sussurrava, alisando os cabelos longos da amiga. Mas ele não conseguia evitar o choro, pois, por mais força que estivesse fazendo para não deixar as lágrimas rolarem, duas delas o fizeram, teimosas.
- Ela tem que ficar bem, null. Ela tem que ficar bem. Eu só tenho a ela no mundo. Ela tem que ficar bem.
O rapaz se afastou um pouco da amiga, fazendo-a encarar os olhos null intensos, que brilhavam mais, naquele momento, por conta das lágrimas que os preenchiam.
- Me escuta, pequena. Ela vai ficar bem. Você está me ouvindo? Ela vai ficar bem. – Ele falou, parecendo estar bastante certo daquilo. – E quem disse que você só tem a ela? Por acaso eu não existo mais, é?
null arregalou os olhos fundos, apavorada, e abraçou o amigo novamente, ainda mais forte.
- Se você não existisse, eu me mataria. – Ela sussurrou e, ao pronunciar a última palavra, começou a chorar ainda mais forte.
null a apertou mais entre seus braços, como se aquela possibilidade o assustasse mais do que tudo.
- Nunca diga isso, sua tola. Nunca diga isso! – Ele falou, como se quisesse, ao mesmo tempo, brigar com ela e reconfortá-la.
Ficaram abraçados por bastante tempo. Ninguém saberia dizer o quanto. Só se soltaram quando ouviram uma voz grossa chamar a “srta. null”.
- Sou eu. – null murmurou, fraca, olhando para o médico à sua frente. Não tinha forças para se levantar, então foi null quem o fez, ficando cara-a-cara com o médico.
- E então, doutor? – Ele perguntou, aflito, sem nem se preocupar em enxugar as lágrimas que corriam pela bochecha corada.
O médico suspirou.
- Felizmente, a srta. null chegou em casa à tempo. Se tivesse demorado mais alguns minutos, não teria volta. – Ele disse. - A sra. Ashley null perdeu muito sangue, mas conseguimos conter a hemorragia e a equipe está fazendo uma transfusão neste momento, com meu parceiro.
- Ela ainda está em risco, doutor? – null perguntou, fracamente.
- Bem, ela não está totalmente fora de risco, mas já cuidamos do pior, que foi a hemorragia. Como eu disse, se a senhorita tivesse chegado minutos mais tarde, não teria volta. Mas, como chegou na hora certa, ela ainda tem grandes chances de sobreviver.
- Quando poderemos vê-la? – null perguntou.
- Ela vai ter que passar a noite na UTI, em observação. Mas, se tudo der certo, amanhã ela já irá para um quarto e vocês poderão vê-la. – O médico disse. – Eu acho melhor o senhor levá-la para casa. – Ele falou, apontando para null, que agora mirava o chão, pensativa. – Ela passou por um mal bocado hoje, precisa descansar. E, por favor, não a deixe sozinha. Os pais e filhos das pessoas que tentam se suicidar são os mais afetados em toda a situação.
- Pode deixar, doutor. Eu vou cuidar dela.
O médico saiu, entrando em uma das salas do imenso corredor branco, e null se abaixou perto da amiga, que ainda fitava o chão.
- Ei, minha null, vamos para casa? – Ele disse, baixinho.
null o encarou, parecendo sem forças para protestar ou concordar. Ele, então, a pegou o colo, deu um beijo em sua cabeça e a levou para fora do hospital.
Ele sempre estava comigo. Sempre. Não importava a hora, o lugar, ou o acontecido.
Ele era sempre meu porto seguro. E, daquela vez, não foi diferente.
- null, por favor, volte. Volte, minha null, não me deixe. Me perdoe. Não precisa olha na mi... – Soluços compulsivos. Nunca ouvi ninguém soluçar daquela maneira. – Não me deixe. Eu não posso perder você. Não vou aguen... Então, por um milésimo de segundo, senti minhas pálpebras se erguerem e uma luz intensa invadiu meus olhos.
Mas, no instante seguinte, tudo estava escuro de novo.
Capítulo V
A sensação de final estava começando a se formar em mim.
Mas eu não estava com medo. Eu sabia desde o começo que o momento chegaria.
A única coisa que eu desejo é poder olhá-lo mais uma vez.
Preciso ter o rosto dele gravado perfeitamente em minha mente.
Preciso.
- null! O que faz aqui? Pensei que ia passar o dia com Dorothy. – Uma moça loira disse, quando abriu a porta e deu de cara com um par de olhos null.
- Podemos conversar? – Ele perguntou, parecendo triste.
- Claro. – Ela respondeu, franzindo a testa e dando espaço para o amigo entrar.
Os dois foram até o sofá e se sentaram de lado, de modo que pudessem olhar para o outro.
- Como ela está? – null perguntou, indicando as escadas com a cabeça.
null suspirou.
- Está dormindo agora. Já faz quase dois meses do ‘incidente’ e ela ainda não fala direito, nem come, nem se mexe. Estou preocupada demais. – Ela falou, abaixando a cabeça. Mas logo a levantou novamente, sorrindo fracamente.
- Mas me diga o porquê de ter vindo aqui.
Foi a vez de null suspirar e passar as mãos pelos cabelos.
- Eu estava com Dorothy até agora e ela... Bem... Me deu uma notícia... Não muito agradável.
null ergueu as sobrancelhas.
- Qual foi a notícia?
- Bem, eu acho que já lhe falei que ela quer fazer Artes Plásticas e se candidatou a uma faculdade em Nova Iorque. – Quando a moça confirmou com a cabeça, ele prosseguiu. – Então, ela foi aceita e vai embora mês que vem.
Ficaram em silêncio por algum tempo.
- Como vocês vão fazer? – null perguntou.
- Ela disse que devíamos tentar continuar juntos. Mas eu sei que não vai dar certo. – Ele suspirou de novo.
- Por que você acha isso?
- Qual é, null! Nenhum namoro a distância dá certo. Muito menos com Dorothy, que é bonita, legal, divertida... Todos os caras dão em cima dela. É um saco. – Ele respondeu e null parecia se controlar para não fazer uma careta. – Além disso, eu já não sei se sinto algo forte o suficiente por ela para fazer dar certo.
A moça olhou para o amigo, surpresa.
- Vo-você não gosta dela?
- Gosto, gosto sim. Mas não mais como no começo, sabe? – Ele respondeu, brincando com os dedos das mãos. – Na verdade, acho que percebi algumas coisas de uns tempos pra cá. – Ele riu fracamente, como se aquela fosse uma piada apenas dele. – Acho que nunca fui apaixonado por ela. Não como eu sou por...
- Por... ? – null perguntou, nervosa. Engoliu em seco, parecendo bastante ansiosa pela resposta.
null a olhou nos olhos e um arrepio perpassou pelo corpo da garota. Ficaram um tempo se encarando, até que o rapaz balançou a cabeça e soltou uma risadinha triste.
- Por ninguém. Acho que... Não sei. Eu preciso ir. – Ele disse, se levantando bruscamente, o que deixou null confusa.
- Já? Você mal chegou e...
- É, mas eu tenho que ir. Meus pais disseram que iam precisar de mim hoje e... É, eu tenho que ir. – Ele disse.
Não parecia nervoso, só parecia querer inventar uma desculpa boa o suficiente para não ter que dizer algo que não queria. Ou, talvez, que não devia.
- Tudo bem, então. Diga para eles virem nos visitar novamente. Só vieram quatro vezes desde que voltaram. – null falou, acompanhando o amigo até a porta.
- Claro, eu digo. – Ele disse, saindo da casa. – Tchau, null. – null deu um beijo na testa da amiga e saiu apressadamente pelo jardim.
E a moça apenas franziu a testa, observando-o fechar o grande portão do jardim e ser coberto pelo grande muro da casa.
Ele estava... Estranho, naquele dia. Muito estranho.
Era como se quisesse me esconder algo. E eu não gostava nada daquilo.
Mas, por outro lado, esperava que o que ele me escondia fosse o que eu achava que era. Esperava que fosse o que eu, de certa forma, também escondia dele.
Eu já sabia que estava apaixonada por null desde o quase beijo, da última vez que eu viera para a Inglaterra. Mas, é claro, não admitia aquilo. Para mim, tinha se tornado apenas um momento muito estranho entre nós dois.
Mas, àquela altura do campeonato, não tinha mais como negar. Todo o ciúme que eu tinha ao vê-lo com a namorada, todos os arrepios que passavam pelo meu corpo quando ele me abraçava, durante os quatro meses que tinha voltado para casa... Não tinha mais como negar.
Eu amava null null. E não apenas como amigo.
- Eu vou morrer de saudades, meu amor. – Uma moça que possuía cabelos pretos, com algumas mechas roxas, falou, abraçada a um rapaz bonito.
- Eu também, minha linda. Não esqueça de me ligar quando chegar, ok? – Ele falou, se separando um pouco dela e sorrindo fracamente.
- Pode deixar.
O rapaz deu um beijo na testa dela, que fechou os olhos e murmurou:
- Vamos fazer isto dar certo, null, não vamos?
null ficou alguns segundos em silêncio. Não parecia ponderar a questão. Parecia já ter uma resposta, mas parecia ter medo de dá-la.
- Vamos esperar.
Dorothy ergueu os olhos para o namorado e deu um selinho nele. Ouviram, então, a última chamada do vôo para Nova Iorque e ela entrou na sala de embarque.
null logo foi para a moça null que estava mais distante deles.
- Como você está? – Ela perguntou, puxando o amigo para um abraço.
- Dando graças a Deus que, desta vez, não estou me despedindo de você. – Ele murmurou, fechando os olhos e cheirando profundamente a cabeleira null.
null sorriu largamente, depositando um beijo no pescoço do amigo, que pareceu tremer um pouco ao contato dos lábios com sua pele, o que fez o sorriso da moça se alargar mais.
- Vamos? Você tem que se encontrar com Fletch e os garotos, lembra? – null disse, se afastando um pouco dele e fazendo carinho no rosto do amigo.
- É, vamos. O deve me chama. – Ele falou, sorrindo e depositando um beijo na testa da amiga.
null abraçou null pelos ombros e, assim, eles saíram do aeroporto.
Eu fiquei feliz quando Dorothy foi embora, não posso negar.
Foi maravilhosa a sensação de saber que null, agora, ia ser só meu novamente. Era maravilhoso saber que eu seria a primeira a saber tudo na vida dele, novamente.
E, a partir dali, as coisas começaram a mudar.
- Olá, mademoiselles. – Uma voz masculina falou, fazendo as duas moças, que riam de algo, se virarem para a porta, por onde entravam quatro rapazes sorridentes.
- Oi, brotos. – null falou, também sorrindo, quando null foi até ela e lhe deu um selinho. null, por sua vez, foi até null e a pegou no colo, sentando-se, em seguida, no lugar onde ela sentava antes, o que a fez dar uma tapinha no ombro dele e rir.
Os outros dois apenas se jogaram no tapete felpudo da sala.
- E aí? Novidades? – null perguntou, fazendo carinho no cabelo do amigo, encostava a cabeça no ombro dela.
- Sim, outra turnê. – null falou. – Mas, desta vez, vai ser por dois meses.
null e null se entreolharam, sorridentes.
- Que máximo!
- É estranho. Só fazíamos turnês de uma, duas semanas, no máximo... E, desta vez, vamos para vários lugares diferentes da Europa. – null disse, dando de ombros. – Mas Fletch disse que, depois dessa turnê, vão lançar Five Colours nas rádios e, se ‘expandirmos nosso horizontes’, como ele mesmo disse, vamos começar a fazer turnês como a banda principal.
- E, depois, vamos gravar um CD. – null concluiu, animado.
- Depois talvez gravemos um CD, null. – null disse, de olhos fechados, enquanto a amiga ainda fazia carinho em sua cabeça.
- Deixe de ser pessimista, null. É claro que vocês vão gravar esse bendito CD, e eu vou ser a primeira a ganhar um. – null disse.
- Claro que não, sua mocréia! Eu vou ser a primeira a ganhar um CD. – null retrucou, estirando a língua para a amiga.
- O que te faz pensar que você vai ser a primeira? – A outra perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Eu namoro um dos membros há muito tempo.
- E eu conheço outro dos membros desde que me entendo por gente, então tenho mais direito.
- Ok, ok, garotas. Vamos dar CD’s para as duas ao mesmo tempo, ok? – null disse, revirando os olhos e fazendo todos rirem.
- Ok, galerinha, temos que sair para comemorar a turnê de dois meses. – null disse, se levantando e indo até a porta.
- Mas eu não quero comemorar. Vou ficar dois meses longe do meu bebê. – null disse, fazendo voz de criancinha e abraçando null pelo pescoço.
- Ai, sai dessa vida, criatura. – null disse, revirando os olhos e levantando do colo de null, que imediatamente a encarou, emburrado. – O que foi?
- Tava legal daquele jeito. – Ele falou, levantando.
- Ow, bebê, mais tarde eu coloco você pra dormir, tá bom? – null brincou, apertando as bochechas do amigo e seguindo os outros, que já saíam da casa.
Mas, antes que ela pudesse chegar até a porta, null a puxou pelo braço e colou seus corpos, levando a boca para perto do ouvido dela.
- Vou cobrar.
E a soltou, saindo da casa.
É, eu me lembrava bem. Aquilo tinha acontecido uma semana depois que Dorothy foi embora.
Aquele foi o dia em que tudo saiu do preto-e-branco e ficou colorido, em termos de relacionamento entre null e eu.
E, mesmo que não tivesse acontecido nada demais, foi um dia que preencheu meu coração de felicidade.
- Ai, que maravilha! – null falou, saindo do carro e encarando o pub com os olhinhos brilhando. – Faz tanto tempo que não venho num pub!
- Viemos aqui semana passada, amor. – null disse, saindo atrás dela e rindo.
- Que seja. – A garota fez um gesto displicente com as mãos e todos os amigos entraram no local.
Uma música eletrônica qualquer tocava e várias pessoas estavam na pista de dança.
Não era um local muito cheio. Era bastante agradável, até.
Os seis jovens acharam uma mesa vazia e se sentaram nela. Ficaram algum tempo observando o ambiente, conversando e bebendo o que null e null haviam pegado no bar, até que null chamou null para dançar e os dois sumiram na pista de dança.
- Eu vou seguir o caminho deles e vou achar meu par desta noite. – null disse, se levantando.
- Eu vou com você. – null disse e logo eles também sumiram pela pista.
- E você? Vai ficar aqui, sentado, a noite toda? – null perguntou para null, sorrindo.
- Não estou com ânimo para dançar hoje. – Ele respondeu, olhando para os casais na pista e bebericando sua cerveja.
- O que houve? Saudades da Dorothy? – Ela perguntou, abaixando a cabeça.
null a encarou fixamente e logo um sorrisinho brotou de seus lábios.
- Não, nenhuma.
null ergueu a cabeça para ele, franzindo a testa.
- Não? Mas vo...
- Com licença.
Os dois amigos olharam para a voz grossa que havia falado. Era um rapaz de tirar o fôlego: seus cabelos eram escuros e ondulados, seu sorriso era largo e revelava dentes extremamente brancos e seus olhos pareciam ser de um cinza profundo.
- Pois não? – null perguntou, sorrindo.
- Vim perguntar se a senhorita está acompanhada. – Ele disse, a encarando nos olhos.
null se remexeu desconfortavelmente na cadeira, encarando o rapaz com surpresa. E null apenas alargou o sorriso.
- Não, não estou. – Respondeu.
- Quer dançar comigo, então? – Ele perguntou, estendendo a mão para ela.
- Você não se importa, não é, null? – A moça perguntou para o amigo, sem desviar os olhos do sorriso perfeito do outro rapaz.
- Na verdade, eu...
- Não, ele não se importa. Vamos dançar. – Ela interrompeu null, que fuzilou o ‘casal’ com o olhar, enquanto eles iam para a pista de dança.
Quando chegaram em meio aos vários casais que dançavam ali, uma música relativamente lenta começou a tocar. O rapaz sorriu para null, que corou de leve e se aproximou dele, passando os braços pelo seu pescoço, enquanto ele enlaçava a cintura da moça.
- A propósito, sou Derrick. – Ele disse em seu ouvido.
- null, mas me chame apenas de null. – Ela respondeu.
- Então, null, você é daqui, mesmo?
- Sim, moro a duas ruas deste pub. Você?
- Na verdade, não. Moro em Los Angeles. Estou aqui apenas a trabalho.
- Sério? Que legal! Em que você trabalha?
O fato não era que eu não sentia nada por null. É claro que não. Eu o amava de todas as maneiras que um ser humano pode amar outro.
O fato era que Derrick havia me encantado. E devo admitir que a possibilidade de estar com alguém na frente de null me encantava ainda mais. Acho que, quando estamos apaixonados, temos a necessidade de mostrar à pessoa amada que somos desejados por outras pessoas.
- Acho que seu amigo não gostou muito de eu ter tirado você para dançar. – Derrick comentou. Dançavam uma música mais agitada agora.
- Ele supera. – null disse, fazendo um sinal de descaso com a cabeça, mas não parecia realmente não se importar com aquilo.
- É, tenho certeza que ele já superou. – O rapaz falou ironicamente.
- O quê?
Derrick apontou para um canto na pista de dança. null logo seguiu sua indicação e, ao ver a cena que se passava ali, arregalou os olhos: o corpo de null estava bastante colado com o de uma garota morena, se movendo sensualmente, e ele a beijava intensamente, como se o mundo fosse acabar naquele instante.
Os olhos fundos de null encheram-se de lágrimas e ela largou Derrick na pista, indo ao encontro do ‘casal’ que se agarrava. Bateu no ombro de null, que não soltou a garota, o que fez null cutucá-lo ainda mais forte. Finalmente ele se separou da moça e se virou para a amiga. Quando viu que era ela, seu olhar se transformou em um gélido.
- O que você quer? Está interrompendo. – Ele falou, seco.
- Podemos conversar? – Ela perguntou, do mesmo modo.
- Você não está ocupada demais com seu “novo acompanhante”? – null perguntou, irônico.
- Podemos conversar? – A moça repetiu.
Ele bufou e falou alguma coisa no ouvido da outra garota, que deu de ombros e se afastou.
- Lá em cima. – null falou, seguindo para as escadas que ficavam no canto do recinto.
Foram até o segundo andar, que era uma imensa área preenchida por sofás, pequenas mesas entre eles e cortinas, e a moça seguiu para uma grade mais no fundo, com null em seu encalço. Encostou-se no metal e encarou o amigo.
- Que cena foi aquela? – Ela perguntou, fria.
null a lançou um olhar fulminante.
- Quem é você parar falar de “cenas” aqui?
- Eu não estava quase me comendo com ninguém! – Ela quase gritou, seus olhos expressando profunda raiva.
- Ainda não. – O rapaz murmurou.
- Como é? – Ela perguntou, se aproximando mais dele. – Eu não sou esse tipo de garota, null, e você sabe disso. Apenas queria entender o que levou você a fazer uma cena dessas, principalmente quando ainda tem uma namorada.
- Eu... Eu não me importo mais com Dorothy. – Ele disse, abaixando a cabeça.
- Você anda falando muito essa fase, ultimamente. – null disse e, em seguida, suspirou. – Por que simplesmente não termina com ela?
- Eu vou fazer isso. Só não... Sei direito como fazer. É muito frio terminar por telefone, não sei. – Ele deu de ombros. – De qualquer forma, tivemos um relacionamento legal, que durou um ano. Não seria legal simplesmente... Terminar.
null cerrou os olhos. Não com raiva, mas como se pensasse.
- É melhor “simplesmente terminar” do que ficar traindo ela, não acha?
- Você fala como se eu fizesse isso sempre. Foi a primeira vez!
- Uma primeira vez sem motivos, por sinal.
- E quem disse que eu não tive motivos? – Ele perguntou, começando a se alterar.
- Então me diga, null, quais foram os motivos.
- O motivo. Apenas um. E, é claro, foi você. Sempre é você. Parece que tudo a minha volta está sempre concentrado em você. – Ele falou, fazendo gestos largos com as mãos. – Isso é um saco!
As lágrimas voltaram a preencher os olhos de null quando ela ouviu as últimas palavras. O olhou com desprezo e, em seguida, passou por ele rapidamente, mas o rapaz foi ainda mais rápido e segurou seu braço.
- Me... Me desculpe, null. Eu... Não devia ter dito isso. – Ele disse, soando suplicante.
- Mas disse. Me solte, null. – Ela falou, sem se virar para ele.
- Não. Por favor, não faça isso.
- Não fazer o quê? – A moça perguntou, soltando o braço e o encarando. Chegou bem perto dele e falou, perigosamente baixo: - Não fazer o que, null? Porque, que eu saiba, não fiz nada para você me dizer palavras tão duras.
- Eu sei. Me desculpe. Eu só estava... Com ciúmes. – Ele abaixou a cabeça.
- Com... Ciúmes? – A moça franziu a testa.
- É, ciúmes. Não gosto de ver você com outros caras.
- Você nunca gostou.
- Não, mas agora é... Diferente.
- Diferente como?
Ele fez uma pequena pausa.
- Diferente porque, antes, eu não queria perder sua amizade. Não queria perder a importância que tinha como seu amigo. Mas, hoje, não é só isso que eu não quero perder. – O rapaz falou, fechando os olhos, como se não a quisesse encarar enquanto falava tudo aquilo. – O que não quero perder, hoje, é você como um todo. Você como mulher.
A boca de null se escancarou e seus olhos se arregalaram. Ficou muda por um tempo, parecendo não conseguir formular uma frase sequer. Por fim, sacudiu a cabeça e tocou a bochecha do amigo.
- null, eu... Não sei o...
- Shh, não precisa dizer nada. – Ele falou, abrindo os olhos e colocando o dedo indicador nos lábios dela. Sorriu e disse: - Me perdoa?
Ela sorriu carinhosamente e o abraçou.
- É claro, null. Até parece que eu consigo ficar com raiva de você por muito tempo.
Ele riu, alegre, e beijou o topo da cabeça dela.
- Dança comigo?
- Sempre que quiser.
Não havia acontecido nenhum tipo de contato físico naquele dia. Nem um beijo, nada. Apenas dançamos, juntos, o resto da noite inteira.
Mas aquela noite foi mágica. Aquelas danças foram mágicas. Aquele sentimento todo era mágico.
E, naquele momento, eu sabia que null também me amava de todas as formas que um ser humano pode amar outro.
- Hey. – O rapaz cumprimentou a null, assim que a avistou, ao abrir a porta, parada ali.
- Oi, sexy. – Ela sorriu para ele e beijou sua bochecha.
null deu espaço para ela entrar na casa e fechou a porta.
- Tudo bem? – A moça perguntou.
- Tudo. – Ele disse, indo até o sofá e se sentando lá. A televisão estava pausada em alguma parte de um filme qualquer. – Acabei de falar com Dorothy.
null foi até o sofá e se sentou ao lado dele, que a puxou para mais perto, deixando seus corpos colados, e deitou a cabeça no ombro da amiga.
- Como ela está?
- Ótima. – Ele falou, enquanto a moça fazia carinho em seus cabelos. – Nós terminamos.
null arregalou os olhos e prendeu a respiração.
- Co-como?
- Terminamos.
- Por que, null?
Algum tempo de silêncio.
- Quem terminou? – null, novamente, perguntou.
- Chegamos a um entendimento. – Ele respondeu e, em seguida, suspirou. – Eu não queria mais nada com ela e ela já está interessada em outro cara lá.
- Ela foi um pouco rápida, não?
- Um pouco? – Ele riu amargamente. – Mas eu sabia que isso ia acontecer.
null voltou a alisar os cabelos do amigo.
- E você, está bem?
- Estou ótimo. Estou... Feliz.
A moça riu.
- É raro as pessoas ficarem felizes ao terminarem um namoro de um ano, sabe?
null a acompanhou na risada.
- Eu sei. Mas tenho tudo que quero aqui comigo.
Ele levantou o rosto e encarou os olhos da amiga, que brilhavam intensamente.
Uma sensação horrível. Parecia que minha garganta estava sendo apertada. A falta de ar era aterrorizante. Meus pulmões pareciam se contrair, podendo explodir a qualquer momento. Era algo meio sem sentido e a dor era insuportável.
Eu tentei puxar ar, apesar de não sentir realmente que o estava fazendo, mas ele não vinha. Era como se meu corpo o rejeitasse. Um chiado forte invadiu meus ouvidos e, logo, tudo estava mais escuro do que antes. Havia apenas um ponto verde em algum canto da minha mente.
Então, tão rápido quanto veio, a sensação passou, e eu tive a impressão de estar mais desfalecida do que antes.
Capítulo VI
Era como se eu tivesse voltado a viver, de repente.
Uma luz meio esbranquiçada estava crescendo em minha mente e aquilo me deixava, de certa forma, aliviada.
Algo macio apertava minha mão. Algo que, eu podia jurar, era outra mão.
E eu já sabia de quem a mão era. É claro.
- Você devia vir comigo. – Um rapaz dizia, abraçado a uma garota null, que parecia tentar, ao máximo, não chorar.
- Não posso, null. Vou começar minha faculdade aqui e...
- Eu sei, eu sei. É só que... Vou morrer de saudades. – Ele disse, suspirando. – Estou cansado de me despedir de você.
A moça esboçou um sorriso melancólico.
- Eu sei bem como é isso.
Eles se separaram e olharam-se nos olhos. Ficaram bastante tempo daquela maneira: com as mãos entrelaçadas e parecendo ler os pensamentos um do outro.
Era como se aquele simples olhar fosse tudo o que precisassem.
- null, vamos. Estão nos esperando. – Ouviram a voz de um outro rapaz, que adentrava uma imensa van.
- Já estou indo. – null disse, sem desviar os olhos da amiga. – Eu te amo, minha null.
- Eu também, seu bobão. – Ela disse, sorrindo. – Agora vai lá. São só dois meses.
Ele abaixou a cabeça tristemente, mas esboçou um sorriso, também.
- É, só dois meses. – null suspirou. – Vou indo, então.
Ele se aproximou da amiga e beijou a testa dela.
- Eu ligo quando chegar lá.
- Tudo bem. – null sorriu.
Os dois foram de mãos dadas até a van, onde uma null que se acabava em lágrimas não queria deixar o namorado ir.
- null, por favor, acalma ela. – Ele pediu, desesperado.
- Vem, null. Calma. – A moça puxou a amiga que, depois de um certo esforço, soltou o namorado.
- Eu te amo, null! – Ela gritou, soluçando freneticamente.
- Eu também te amo, minha linda. Se acalma, dois meses passam rápido. – null disse, sorrindo docemente para a namorada e entrando, em seguida, na van.
null se virou para a amiga e a abraçou, chorando mais fortemente ainda.
- Calma, null. São só dois meses. Não precisa fazer isso tudo. – null disse, quase rindo, enquanto afagava os cabelos ruivos da outra.
- Eu sei, é só que... Ah, eu... – Ela voltou a soluçar.
null meneou a cabeça e olhou para a van, vendo null parado na porta, olhando para ela e sorrindo.
- Te amo. – Ele murmurou.
A moça sorriu de volta.
- Te amo mais.
- Não faz mais isso, null... Você não po... Eu te a... - Sr... não po... É melhor dei... Ela precisa des... Eu já estava cansada daquilo tudo.
Aquelas vozes, aquelas reações que eu não entendia... Era tudo muito confuso.
Eu queria continuar ali para descobrir o final daquele “filme”. Eu sabia que precisava saber.
Mas, ao mesmo tempo, sentia apenas tristeza e expectativa à minha volta.
E aquilo me cansava.
- Alô? – null atendeu o celular, que começou a tocar ‘Til There Was You, dos Beatles. – null!
- Coloca no viva-voz, null. – null pediu, ajeitando-se na cama da amiga, que logo fez o que ela pediu e apoiou o aparelho no colchão.
- Como foram de viagem?
- Foi tudo bem, tirando que o null vomitou umas duas vezes. null e null riram.
- O null está aí, null? – null perguntou.
- Não, null. Ele está tomando banho. O null acertou em cheio a camisa dele. As garotas fizeram caretas.
- Bem, diga para ele que eu o amo e para me ligar logo.
- Pode deixar. - Vou fazer pipoca. – null falou, levantando-se da cama e saindo do quarto.
- Então, ansiosa para a faculdade? - null perguntou, após um curto tempo de silêncio.
- Muito. Mal posso esperar para recomeçar a estudar.
- Você sempre foi meio louca. - Há, há, muito engraçado, null. – null resmungou, fazendo null rir.
Mais um tempo de silêncio, que logo foi cortado pela voz embargada do rapaz:
- Já estou com saudades, minha null. null suspirou.
- Eu também, null, eu também.
- null, vamos, Fletch quer falar com a gente no lobby. - null ouviu a voz de null ao fundo.
- Ok. null, tenho que ir. Mais tarde eu te ligo, ok? - Ok. Mas não se esqueça.
- Impossível. - Ele falou, e a moça podia jurar que estava sorrindo. - Te amo. - Eu também, null.
Então o tempo foi passando. Eu comecei minha faculdade e falava com null todos os dias.
Eles estavam realmente se dando bem na turnê. Todos os dias aparecia algo sobre eles nas rádios ou em pequenas notas nos jornais da cidade.
E eu estava imensamente feliz com tudo aquilo. Só faltava uma peça se encaixar.
- Por favor, Deus, traga-a de volta para... Traga-a.
- Preciso de você. – Foi a primeira coisa que null ouviu ao apertar no viva-voz do telefone. Ela sorriu.
- Eu também, sexy boy.
- Como está tia Ashley? A moça suspirou.
- Está melhorando, até. Não teve muitos progressos, mas já sai da cama para comer na mesa, comigo, e conversa sobre besteiras.
- Isso é ótimo, null! - Eu sei. Seus pais vieram jantar aqui, ontem.
- É, eles me falaram que iam. - Pois é. Acho que isso a animou um pouco mais.
- Fico muito feliz em saber disso. Alguns segundos de silêncio.
- E você, como está? - Estou bem. Só morrendo de saudades.
- Ah, eu também, minha null. Eu também! Mas não se preocupe, amanhã nos veremos. - Graças a Deus. Como foi o show hoje?
- Foi ótimo. Madrid é perfeita. - Queria estar aí com você.
- Eu também queria muito que você estivesse aqui. - Mas não importa. É só fechar os olhos e pensar em mim, que eu também estarei pensando e você e estaremos juntos, não importa onde.
- Eu sempre penso em você. É inevitável. E, null... Preciso fazer algo quando chegar aí. - O quê? – A null perguntou, franzindo a testa.
- Você vai ver. – Ele deu uma risadinha. – Tenho que dormir. Boa noite, minha. Te amo. - Eu também. Sonhe comigo.
- Não precisa nem pedir.
Dizem que a distância enfraquece os falsos amores e fortalece os puros.
Bem, nunca tive dúvidas de que meu amor por null era puro, mas a saudade que eu sentia dele me torturava.
E, quando ele voltou, tive a maior surpresa de minha vida. A surpresa que me fez ter como maior certeza que nada era mais sublime do que ele. Do que o amor puro.
- ! – null gritou, com os olhos brilhando, assim que viu o namorado sair da sala de desembarque. Ele correu para a ela, largando as malas no chão, e a abraçou fortemente, girando-a no ar, enquanto sussurrava algo em seu ouvido.
null mordeu o lábio inferior, olhando fixamente para as portas automáticas. Viu null e null saírem, mas não conseguiu nem ao menos sorrir para os amigos. Queria apenas vê-lo.
Então finalmente pôde avistar o tão conhecido par de olhos null, que brilharam intensamente ao encontrar os dela. null puxou o carrinho apressadamente para fora da sala e parou em frente a null.
- null! Eu morri de sau...
Ela não terminou a frase. E descobriria que nunca ficaria tão feliz em ser interrompida.
Afinal, sonhava com os lábios de null sobre os seus há muito tempo, não é?
E, no começo, ela ficou surpresa, pois nada foi como ela realmente imaginara.
Naquele momento, null descobriu que a realidade é infinitamente melhor do que os mais belos sonhos, quando se tem algo tão intenso e poderoso consigo.
- null, eu... Precisava fazer isso. Há muito tempo.
A moça o encarava de olhos arregalados e boca aberta.
- Eu acho que você já percebeu, é claro, mas... Eu te amo, minha null. Eu te amo demais. Eu... Não sei. Disse numa carta, uma vez, que havia descoberto algo sobre você. Mas, na verdade, não era sobre você. Era sobre mim também. Sobre nós. Descobri que você é... Eu não sei explicar. Não consigo, é tudo forte demais. Só consigo sentir. – Ele falava tudo muito rápido, mas null acompanhava perfeitamente cada palavra, sentindo seu coração disparar, entendendo tudo. – Você é minha vida, null. Não é exagero. Eu posso viver sem você, mas não quero. Deus, não quero de jeito nenhum! – Ele a abraçou fortemente. – É uma escolha, e eu escolho ficar com você. Isso é, se você também quiser ficar comigo.
Se separaram um pouco e null engoliu em seco. Estava pálida.
- null?
Ela respirou fundo.
- null, eu...
O rapaz a encarava ansiosamente.
- Eu te amo demais. Tudo o que mais quero na minha vida é estar com você, e não só como amiga. Também como mulher. Da maneira como você disse que me queria, dois meses atrás.
Os olhos de null nunca brilharam tanto. O sorriso que ele esboçou pareceu iluminar todo o ambiente e, então, ele puxou a moça para outro beijo.
Aquela foi a terceira cena mais feliz de minha vida. Não vou tentar descrever.
Ainda não inventaram palavras suficientes para isso.
Só sei que uma sensação maravilhosa passou por todo meu corpo e eu me arrepiei.
Fechei novamente meus dedos sobre os dele, com mais força, e sorri.
E senti que, de algum modo, duas lágrimas atravessaram minhas bochechas.
- Dois meses! – null disse, sorrindo bobo, deitado no colo da namorada.
- É. – Ela riu. – Nunca imaginei que seria tão feliz, null. Nunca mesmo.
- Nem eu, minha null. – Ele aumentou o sorriso e ergueu ligeiramente a cabeça, dando um selinho nela.
- Ok, senhor, está tudo muito lindo, mas ainda temos três filmes para ver.
- Ah, nããão! Está tão gostoso aqui. – null disse, manhoso, dando vários beijinhos na perna da moça, que ria gostosamente.
- Vamos, monsieur, você anda muito folgado ultimamente. – Ela retirou a cabeça do namorado de seu colo e se levantou, mas null foi mais rápido e a puxou pelo braço, fazendo-a cair em cima dele com uma perna de cada lado do corpo do rapaz. Aproximou perigosamente seus lábios e começou a fazer carícias nas costas dela, deixando-a extremamente arrepiada. O beijo começou de forma lenta. Era como se eles não quisessem simplesmente sentir suas bocas encostadas ou o gosto da boca do outro. Era como se eles quisessem se sentir por completo.
Era como se nada mais importava se eles tinham um ao outro, ali, naquele momento que podia parecer inexistente para uma pessoa que estivesse passando na rua, ou para os vizinhos que jogavam cartas na casa ao lado, ou até mesmo para os amigos deles que estavam se divertindo por aí, mas que, para eles, era um momento... Mágico.
- Eu te amo. – null deu um selinho nela, depois que afastaram ligeiramente os lábios. – Eu te amo. – Ele repetiu, dando outro selinho. – E eu te amo.
null apenas sorria largamente. Era uma cena realmente bonita.
- Eu te amo, meu null.
O mais incrível na história toda foi o que eu comecei a descobrir com null. O que ele me fazia sentir era... Especial. Único.
Porque ele não era simplesmente meu namorado. Ele era, acima de tudo, meu amigo. A pessoa em quem eu mais confiava no mundo.
E eu me sentia tão amada quando estava com ele... Ah, era maravilhoso demais!
A maneira como ele me olhava pelo canto do olho, só para me observar, enquanto eu estava conversando com outra pessoa, e até mesmo o jeito como ele brincava com meus dedos quando estávamos de mãos dadas, faziam com que meu coração dançasse uma espécie de balada muito gostosa.
De repente, todos os clichês faziam sentido.
- Amor! – null sorriu e se jogou no pescoço do namorado, dando um beijo estalado na bochecha dele.
- Tudo bem, minha null? – Ele perguntou, afundando o rosto no pescoço da garota e inspirando profundamente.
- Tudo ótimo! Eu estou tão feliz, null! Vem, tenho que te mostrar uma coisa!
Os dois entraram na sala de estar da casa de null, onde uma Ashley quase completamente grisalha ria fracamente de algo que passava na TV. null arregalou os olhos e sorriu automaticamente.
- Ela veio assistir por vontade própria? – Ele sussurrou.
- Sim. Quando desci as escadas, a vi aí. Corri e dei um beijo nela, de tão feliz que fiquei! – null sussurrou de volta, animada. – Finalmente ela pode ter uma chance de ficar melhor!
- E ela ainda está tomando os remédios direito?
- Claro. Só implica um pouco com o psicólogo, ainda, mas já está melhorando nesse aspecto também. Estou tão feliz, null! – Ela alargou o sorriso. – Mãe! – Ela chamou.
Ashley olhou para trás e aumentou ligeiramente o sorriso quando viu o rapaz ali.
- null! – A mulher se levantou e os dois foram imediatamente até ela. – Já faz cinco meses e eu ainda não dei os parabéns a vocês! Quero que saiba que não poderia existir alguém melhor para minha filha do que você.
- Obrigada, tia Ash. – Ele a abraçou fortemente, enquanto null visivelmente tentava prender o choro. – Eu vou fazê-la muito feliz. Prometo.
- Eu sei que vai. – A mulher disse, se soltando dele e, agora, sorrindo mais largamente ainda. Se virou para a filha e beijou sua testa. – Eu te amo, minha filha.
Então null não agüentou mais. Lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela, caindo em seu largo sorriso.
- Eu também te amo, mãe.
Ashley apertou a mão dela e logo a soltou, sentando-se novamente no sofá e ficando aérea a tudo, apenas assistindo à TV.
- Vamos subir. – null disse, enxugando as lágrimas e puxando null para seu quarto.
Tudo estava dando certo.
Senti uma alegria imensa massagear meu coração.
Mas, lá no fundo, eu sabia que aquilo ia acabar um dia.
Eu só queria me lembrar como ia acabar.
- Chegou o casal 21! – Ouviram a voz de null assim que adentraram a pizzaria.
null e null riram, se aproximando da mesa onde os amigos os esperavam.
- O casal mais bonito do mundo. – null brincou.
null sentou-se ao lado de null e o namorado sentou-se ao seu lado.
- Ninguém é mais bonito que meu bebê e eu, seu cabeçudo! – null disse, virando-se para null, que estava ao seu lado, e dando um beijo estalado em sua bochecha.
- Isso mesmo. – O garoto disse, rindo.
- Não precisamos discutir. Já sabemos que somos os melhores, de qualquer forma. – null disse, fazendo pose de metida.
- Oooook, chega dessa conversa! – null se pronunciou, erguendo os braços. – Eu estou com fome.
- Pra variar. – Todos murmuraram, mas ele nem ligou, apenas chamou um garçom.
- Vamos querer duas pizzas grandes, uma de calabresa e outra de mussarela. Ah, não se esqueça das bordas de catupiry. O garçom anotou tudo e logo se afastou da mesa.
- Então, o que vamos fazer sexta-feira? – null perguntou.
- Vocês, eu não sei, mas minha namorada e eu vamos para um lugar especial. – null respondeu, olhando para null, que sorriu.
- Por quê?
- Porque, querida null, estaremos fazendo seis meses de namoro.
- Oooown, que fofos! – null exclamou, batendo palminhas.
- Deixa de ser gay, null.
- Deixa de ser implicante, null.
- Deixem de ser crianças, pelo amor de Deus! – null disse, bufando.
null e null apenas riam da cena, enquanto faziam carinho na mão um do outro, que estavam entrelaçadas por debaixo da mesa.
Eu estava me lembrando de absolutamente tudo.
Todos os momentos que passei com null foram absolutamente incríveis durante aqueles primeiros meses de namoro.
E o que aconteceu no dia que comemoramos nosso sexto mês foi o mais inesquecível de tudo.
- null, que lugar maravilhoso! – null disse, com os olhos brilhando.
O lugar era realmente maravilhoso. null havia levado a namorada, primeiramente, para o Hyde Park e, ao chegar lá, guiou-a para uma espécie de parede de plantas. Lá, o rapaz afastou alguns galhos em uma parte específica da ‘parede’, revelando uma espécie de jardim secreto.
- Descobri este lugar mês passado e só pensei em você. – null sussurrou, abraçando a namorada por trás.
- É... Perfeito. – Ela disse, sorrindo largamente.
- Quer ver mais para dentro? – O rapaz perguntou, ficando de frente para ela e estendendo sua mão, que logo foi coberta pela mão de null.
Os dois começaram a caminhar pela bela paisagem. Passaram por várias árvores que possuíam seus galhos inclinados, formando espécies de arcos entre si. Mais à frente, havia uma fonte envolta por flores amarelas, brancas e roxas, onde borboletas coloridas brincavam, dando um ar sereno e leve ao lugar.
Atravessaram uma pontezinha de madeira, que ficava em cima de um laguinho onde cisnes nadavam lado a lado e, finalmente, chegaram a um espaço mais aberto, como uma espécie de campina. No meio dessa campina, havia uma toalha florida, onde uma cesta e algumas velas estavam postas.
- null, eu... Não sei o que dizer! – null falou, com os olhos brilhando, tentando olhar para tudo ao mesmo tempo.
- Não diz nada, então. – Ele sorriu, puxando-a para a toalha.
Comeram sanduíches com pasta de amendoim, vários tipos de frutas, cookies e tomaram chá, enquanto conversavam e riam, parecendo se sentirem maravilhados não só com o lugar, mas principalmente com a presença um do outro.
Nós passamos toda a tarde ali. Era o lugar mais lindo que eu já havia visto em toda minha vida!
Assistimos ao pôr-do-sol juntos, em silêncio, apenas sentindo toda a magia que aquele dia emanava.
Mas a magia maior aconteceu em minha casa, quando null e eu voltamos da campina.
- Gostou do seu dia? – null perguntou, adentrando o quarto da namorada logo depois dela.
- Do nosso dia, null. – Ela corrigiu, se jogando na cama com um largo sorriso no rosto. – E, sim, eu amei.
- Que bom, porque foi tudo extremamente calculado para ser perfeito – Ele falou, deitando-se ao lado da moça, abraçando-a.
- Nunca soube que você era bom em cálculo, então. – Ela se virou para ele, que sorriu, e o beijou levemente.
- null. – O rapaz chamou, após ficarem algum tempo em silêncio. A moça o encarou. – Você sabe que é a pessoa mais importante da minha vida, não sabe?
Ela sorriu largamente, afirmando com a cabeça.
- Cada segundo que eu passo ao seu lado traz experiências e sentimentos novos, que fazem de mim o homem mais feliz do mundo.
Ela fechou os olhos, como se estivesse sentindo as palavras.
- Também é tudo novo e maravilhoso para mim, null. É como se... Eu não simplesmente amasse você. É como se eu realmente sentisse você. Não sei, vai além do que eu possa entender.
- Eu sei bem como é. – Ele disse, sorrindo.
null se apoiou nos cotovelos e olhou fundo nos olhos da namorada. Lentamente, foi aproximando seus lábios.
O beijo era calmo, sereno. Como se quisessem guardar aquilo por toda a eternidade.
Mas a serenidade não durou tanto. Logo o beijo começou a ficar mais desesperado, como se aquele fosse o último minuto de vida de ambos.
null começou a alisar as costas de null por debaixo da blusa, subindo-a até a altura do sutiã. Passou a beijar o pescoço da namorada, que ofegava e puxava o cabelo dele. Por fim, ele terminou de tirar a blusa dela e levou as mãos ao fecho do sutiã, ao mesmo tempo em que descia os lábios para o colo da garota.
Mas, num aparente surto de ‘sanidade’, ele se afastou ligeiramente dela, ofegante.
- null, você tem cer...
- null. – Ela o interrompeu, levando o dedo indicador aos lábios dele. – Eu preciso de você. Por completo.
Foi só o que ele precisou ouvir para voltar a beijá-la como se aquele fosse o último minuto de suas vidas.
Pi. Pi. Pi. Pi. Pi. Um barulho irritantemente agudo adentrou meus ouvidos. E, desta vez, não era como um eco. Era mais como algo martelando rapidamente dentro de mim.
- Doutor, o que é isso? - Se afaste, senhor, por favor. - Mas... A partir daí eu não consegui ouvir mais nada. Tudo ficou extremamente escuro, e nem mais aquele filme passava por minha mente.
Capítulo VII
Eu estava desesperada.
Por que tudo estava escuro por tanto tempo?
Eu queria continuar vendo e sentindo tudo.
Mas nada me vinha à cabeça. Eu nem ao menos lembrava do que eu estava me lembrando, exatamente.
Então, senti uma mão gelada em cima da minha e, como num choque, uma imagem apareceu em minha mente.
- São eles. – null disse, levantando-se do sofá onde estava sentada com a amiga e correndo para a porta.
- Amor! – Uma voz masculina praticamente gritou e null virou para trás, abrindo um imenso sorriso ao avistar null correndo em sua direção e se jogando ao seu lado.
- Você não vai acreditar! – Ele exclamou, sorrindo de orelha a orelha.
- O que aconteceu? – Ela perguntou, visivelmente curiosa.
- NÓS VAMOS FAZER UM FILME! – Foi null quem gritou, fazendo null e null se entreolharem com os olhos arregalados.
- O quê? Como? Quando? Onde? – Elas perguntavam rapidamente.
- Calma, garotas, calma! – null riu. – Fletch acabou de nos informar. O nome é Just My Luck e vai ser gravado em Nova Iorque. Nova Iorque, dá pra acreditar?
Todos os garotos alargaram ainda mais os sorrisos ao final da frase, ao contrário das garotas, que ficaram com olhares aparentemente preocupados.
Ao perceber aquilo, null perguntou:
- O que foi? Não gostaram?
null balançou a cabeça e sorriu fracamente.
- Não é isso, é só que... Nova Iorque? Por quanto tempo?
O rapaz pareceu entender o motivo da preocupação da namorada, pois a puxou para mais perto, fazendo-a encostar a cabeça no ombro dele, enquanto ele alisava a cabeleira null.
- Sete meses. – Ele falou baixinho.
- Sete meses? – As duas perguntaram juntas, mais uma vez.
- Calma, vocês vão poder nos visitar nesse tempo, é claro. – null disse, abraçando null, que estava rígida.
- Mas mesmo assim, null... É... Muito tempo, não? – Ela disse, com a voz rouca.
- Sim, é, mas é pela nossa carreira. Vai ser ótimo para a banda, ainda mais por ser em outro país.
- Você está certo, null. Não temos que ficar tristes com isso. Vai ser ótimo para vocês! – null falou, tentando parecer decidida. Olhou para null, que apenas lhe lançou um olhar de agradecimento.
Um alívio imenso percorreu meu corpo ao ver aquela cena. Ao ter voltado a ver as cenas, na verdade.
Mas, por outro lado, senti toda a preocupação do momento.
Realmente, null e eu ficamos tristes de certa forma, mas sabíamos que ia ser daquele jeito desde que os garotos começaram a fazer sucesso.
Eles nunca mais seriam completamente nossos, e tínhamos que aprender a conviver com aquilo.
- Você ainda está preocupada? – null perguntou, aproximando-se de null, que estava sentada à beira do mar. Ele sentou-se ao lado dela, que não o olhou.
- Não preocupada.
- Você está chorando? – Ele perguntou, sério, fazendo-a encará-lo e, assim, vendo algumas finas, quase imperceptíveis lágrimas que caíam pelas bochechas da moça. – null, por que você está chorando?
- Eu não sei. Acho que estou começando a perceber que vou ter que dividir você com seu trabalho, que envolve milhares de coisas. – Ela respondeu, dando de ombros e enxugando as lágrimas com as costas das mãos.
Ele sorriu de forma gentil e a puxou para um forte abraço.
- Não importa meu trabalho, você sempre vai ser o mais importante para mim.
- Eu sei... É só besteira minha. – null disse, inspirando profundamente o perfume do namorado.
- Não é besteira, é o que você sente. Mas não precisa se preocupar com nada. – Ele falou, afagando os longos cabelos dela. – Você acha que eu não vou morrer de saudades? Elas vão me torturar. Mas, sempre que você puder, vai estar lá comigo.
- Eu vou.
Ficaram algum tempo em silêncio, apenas encarando a Lua cheia e ouvindo as risadas dos amigos, que estavam sentados ao redor da fogueira que haviam construído mais cedo.
- null, me promete que você não vai esquecer de mim nem um segundo sequer? – null falou de repente, com os olhos cheios de lágrimas.
- Minha null, eu já te disse milhões de vezes que isso é impossível! Eu te amo demais, meu amor. Será que, mesmo depois de dez meses de namoro, você ainda duvida disso?
- Não, claro que não, null! Nunca duvidei. É só que... Eu vou sentir muita saudade. – Ela falou, escondendo o rosto no pescoço do rapaz.
- Ei, casal! Vamos embora, senão vai ficar muito tarde para voltarmos para Londres! – Ouviram a voz de null, antes que null pudesse responder.
Apenas se olharam por alguns segundos e, em seguida, foram se juntar aos amigos.
Eu não queria mesmo que null fosse. Estava com um péssimo pressentimento sobre essa viagem.
Não era insegurança, era apenas... Não sei.
Apenas não queria ficar longe dele.
Já havia ficando tempo demais longe e não queria aquilo de novo.
Principalmente quando estava tudo dando tão certo para nós.
- null, vai devagar! null null, para onde você está me levando? – null praticamente gritava, enquanto o namorado a puxava como um louco por uma calçada de Londres.
- Deixe de ser curiosa, já estamos chegando! – Ele falou, rindo gostosamente. null sorriu largamente ao ouvir aquele som.
Correram mais um pouco e, finalmente, pararam. A moça ergueu os olhos, ofegante, e avistou a London Eye, majestosamente cercada pelos raios do Sol, que estava começando a se pôr.
- Vamos. – null disse, e eles entraram em uma cabine completamente vazia.
- null, por que diabos você me trouxe aqui?
- Para te dar uma coisa.
- O quê?
- Espere só mais um segundo.
Quando estavam quase na parte mais alta, a roda parou, e eles pararam alguns segundos para observar o céu alaranjado.
Na verdade, apenas null encarava o céu, pois null olhava apenas para ela. Possuía um sorriso terno nos lábios e seus olhos demonstravam um carinho imenso ao ver a moça ser iluminada pelos raios quase adormecidos.
- null. – Ele chamou baixinho, parecendo estar encantado com a visão da namorada, que o encarou, sentido uma ventura enorme se apossar dela ao fazê-lo.
- Sim?
null chegou mais perto dela e tirou uma caixinha vermelha do bolso da camisa.
- Era isto que eu queria te dar.
E, então, ele abriu a caixinha, revelando duas alianças de prata. Uma delas possuía uma pedrinha azul cravada no meio e, ao outra, era toda lisa.
- Eu queria ter te dado isto quando fizemos um ano de namoro, semana retrasada, mas preferi guardar para hoje. Achei que ia lhe lembrar melhor do que está inscrito nele. – null retirou o anel que possuía a pedrinha azul e deu para a namorada, que estava com os olhos marejados. Ela pegou o anel com todo o carinho do mundo e leu a inscrição, que dizia: “Where you are is where I wanna be”. Te amo. - null, este... É o presente mais lindo que eu já ganhei na vida! – Ela disse, já com lágrimas escorrendo pelo rosto.
- Deixa eu colocar. – Ele pegou o anel e colocou no anelar da mão direita da moça.
null pegou o outro anel na caixinha e fez o mesmo com o namorado.
- null, eu... Sei que essa distância toda vai ser muito difícil para nós dois, mas vai dar tudo certo, não vai?
- É claro que vai, meu amor! É claro que vai! – Ela o abraçou fortemente, querendo confortá-lo. – Eu te amo mais do que tudo no mundo, e o filme vai ser um sucesso!
- Vai, sim. E você vai me visitar logo, não é?
- Vou, sim. É claro que eu vou.
No outro dia, null viajou.
Ainda me lembro bem. Não queria demonstrar fraqueza, pois ele iria ficar preocupado comigo, e precisava se concentrar apenas no trabalho.
Assim, eu fiquei vendo-o, mais uma vez, ir para longe de mim.
- Anda, null, vai logo chamar o null! – null dizia, impaciente, para null, que estava falando com null através do viva-voz.
- Calma, sua apressada! – null disse. – Pronto, ele veio correndo pro telefone quando ouviu sua vo... - null, meu amor, eu não agüento mais de saudades! Quando vocês vêm, hein? – null ouviu a voz desesperada de null do outro lado da linha e sorriu, aliviada.
- Calma, null, respira! – Ela brincou, rindo. – Nós compramos as passagens para o próximo final de semana.
- Ótimo! É sério, eu não agüento mais de saudades! - Eu também não, meu amor. Mas, em breve, nos veremos.
- Se Deus quiser! - Mas me conta, como estão as gravações?
- Está tudo ótimo. O pessoal todo é muito legal, estamos nos divertindo pra caramba. - Ah, é? E a Lindsay? Espero que você tenha achado ela uma baranga, despeitada e um porre.
null gargalhou.
- Chegou perto. Não, ela não é nenhuma baranga, e nem é um porre. Mas isso não significa que ela é simpática, tampouco. Não sei, ela é... Sem graça. Você é muito melhor, com certeza. Não tem nem comparação! - Ui, me senti, agora! – null disse, fazendo null gargalhar novamente.
- É, amor, está podendo! – Ele brincou. – null, tenho que ir. Vamos para o estúdio agora. - Tudo bem, null. Te amo.
- Te amo mais, minha null.
Aquela semana foi torturante. Já fazia quatro meses que null havia viajado e eu já estava morrendo de saudades, mas não havia podido ir antes por conta da faculdade e de minha mãe, que estava se recuperando mais, agora, e precisava muito de mim.
Então, finalmente, o bendito final de semana no qual eu e null iríamos viajar chegou.
Finalmente.
- ! – null gritou, assim que null saiu pelas portas automáticas do portão de desembarque.
- ! – Ela gritou de volta, largando a mala e correndo ao encontro do namorado. O abraçou com força e o beijou por um longo tempo.
- Meu Deus, minha null, eu não acredito que finalmente você está aqui! – Ele beijava cada centímetro do corpo da moça que alcançava, enquanto ela ria gostosamente. – Morri de saudade dos seus olhos, do seu riso, da sua pele, do seu cabelo... De tudo. Tudo!
- Eu também, meu amor, eu também! – Ela falou. Sentia-se em casa novamente, ali, nos braços dele.
- Vem, vamos para o hotel. Hoje estamos de folga.
null pegou a mala da namorada e eles se juntaram a null e null, que se abraçavam fortemente.
- null! – null exclamou, abraçando o amigo. – Que saudades!
- Eu também senti saudades, null! – Ele disse, sorrindo e desfazendo o abraço, puxando null para junto de si novamente.
- Onde estão os outros?
- No hotel, minha linda. Ainda estão dormindo. – null disse, revirando os olhos.
Os outros apenas riram, saindo do aeroporto.
Nada substituía a alegria de ter null perto de mim novamente.
Meu Deus, como eu o amava!
Poder abraçá-lo, sentir seu cheiro... Tudo era como um sonho.
- Vem, amor, quero te apresentar a uma pessoa. – null disse, puxando a namorada pelo estúdio de gravação. Chegaram perto de uma mulher morena, de cabelos cacheados, que estava vendo algo em uma das câmeras. Ao vê-los se aproximando, ela arregalou os olhos, mas logo sorriu. – Andie, esta é null. null, esta é Andie, assistente de gravação do filme.
- Prazer, Andie. – null falou, simpática.
- Prazer, querida. null me fala muito de você. – Andie disse, com um sorrisinho que null julgou ser bem... Falso.
- Que bom saber disso. – Ela falou, sorrindo para o namorado, que retribuiu.
- Andie tem nos ajudado muito com esse negócio de atuar, porque, você sabe, não somos exatamente bons. - Deixe disso, null! Você sabe que é excelente em tudo o que faz! – Andie falou, com um tom que fez algo borbulhar dentro de null.
Me lembro bem de Andie.
Na verdade, me lembro bem de como eu não gostei de Andie.
- Ai, null, você sabe que é excelente em tudo o que faz! Nhãnhãnhã! – null falava com null, irritada, perto da máquina de café do estúdio.
- Alguém aqui está com ciúmes. – A outra disse, rindo.
- Não é ciúme, null. É só que ela é uma nojenta!
- Também não gostei muito dela. Olha lá, é toda risinhos e abraços pra cima deles.
As duas olharam para um canto mais ao fundo, onde null, null e null riam de algo que Andie falava.
- Nojenta.
- Vadia.
Falaram ao mesmo tempo, mas, quando viram que null olhou para elas, trataram logo de desviar os olhos da cena. Alguns segundos depois, o rapaz estava junto delas, seguido por null.
- Olá, ladies. – null disse, abraçando null por trás e depositando um beijo no pescoço dela, que ficou rígida.
- Ah, que bom que decidiu lembrar que tem uma namorada que está indo embora amanhã. – Ela falou, com raiva.
- Ei, ei, ei! O que é isso, agora?
- Por que não vai perguntar para sua querida Andie? – null disse, irônica.
- Acho que alguém aqui está com ciúmes! – null brincou, recebendo um olhar frio da garota.
- Eu já ouvi isso hoje, e não, não são ciúmes. Eu apenas acho que, se null tivesse sentido tanta falta de mim como ele disse, não ficaria rindo com a Andie, e sim comigo. – Dizendo isso, ela colocou o café na bancada e saiu apressadamente do estúdio.
Parou na calçada em frente ao mesmo e jogou os cabelos para trás, inspirando profundamente.
- null, o que foi aquilo? – null chegou perto dela, com a testa franzida.
- Você deve ter entendido tudo muito bem, null. – Ela falou, o encarando com raiva. – Eu vim passar cinco dias aqui e o tempo todo tive que aturar essa Andie que vive se jogando pra você!
- Ei, ela não se joga pra mim! – Ele falou, indignado. – Ela é minha amiga. - Pode até ser assim para você, mas pra ela com certeza não é! Está na cara que essa garota está a fim de você, null! – null gritou, chegando perto dele.
- Não me chame de null! – Ele gritou de volta, se aproximando ainda mais dela. – Você sabe que eu odeio isso! E por que essa reação, agora? O que importa a Andie? A única coisa que importa é que você está aqui, perto de mim. E eu não quero que você vá embora amanhã estando brigada comigo!
- Ah, agora você lembra que eu vou embora amanhã? Que pena, é tarde de mais, não é?
- Não, não é.
- É claro que é, null! Você nunca percebe a gravidade das coi... – Mas ela não conseguiu terminar a frase, pois null a puxou com força para perto de si e selou seus lábios.
No começo, null tentou resistir, pois a raiva falou mais alto. Se debatia fortemente contra o peitoral do namorado, mas, ao sentir a língua dele tocar seus lábios, pedindo passagem, ela amoleceu e jogou seus braços ao redor do pescoço de null, puxando seus cabelos fortemente e o beijando com vontade.
Cortaram o beijo apenas por necessidade de ar.
- Eu não quero que fique com ciúmes, null. Eu te amo. – null murmurou, com os lábios vermelhos.
- Eu sei, me desculpe. – A moça suspirou. – Mas isso não significa que eu tenha gostado dela!
null riu fracamente.
- Eu não estou pedindo para você gostar.
- null, só me promete uma coisa.
- O que você quiser.
- Se... Acontecer qualquer coisa entre... Vocês dois... Você promete me contar? – Ela pediu, sentindo o coração acelerar.
- Que tipo de pedido é esse? – Ele perguntou, franzindo a testa.
- Só me promete, por favor.
- Apesar de eu achar isso uma loucura, já que nada vai acontecer, eu prometo.
null sorriu fracamente.
- Eu te amo.
- Eu também, null. Nunca duvide disso, por favor.
Se aquele momento não fosse tão desesperador, eu teria até achado graça.
Aquela foi a primeira vez que senti ciúmes de null desde que começamos a namorar.
Mas, enfim... No outro dia, eu e null fomos embora. E, ao voltar para casa e ao me ver sem null novamente, tudo pareceu ser um vazio imenso.
‘Minha null,
Meu Deus, você não tem idéia do quanto sinto sua falta! É verdade, minha vida é extremamente incompleta quando não estou com você. Piegas, eu sei, mas o que posso fazer se é verdade?
Tentei te ligar ontem, mas ninguém atendeu. Nem na sua casa, nem no seu celular. Está tudo bem aí? E tia Ashley, como vai?
Ainda bem que, daqui a dois meses, as gravações acabam! Sério, eu mal posso esperar para voltar pra casa, reencontrar meus pais, você...
E, por falar nisso, quando você e null voltam? Já faz dois meses que não nos vemos e, mesmo que seja menos tempo do que da última vez, as saudades estão maiores.
“Where you are is where I wanna be” xoxo null
P.S.: Eu te amo!’
null sorriu de orelha-a-orelha e clicou em ‘Responder’.
‘Meu sexy boy,
Neste exato momento, um técnico está aqui em casa consertando algo na linha telefônica, que ficou muda do nada. E meu celular, bem... Ele caiu na bacia sanitária (Nem ouse me chamar de cabeça-de-vento, null!). Pois é, nem eu entendi direito como aconteceu. Só ouvi um ploft! e, quando olhei, lá estava ele, no fundo da bacia.
Mamãe está melhorando muito. Claro que ainda está muito debilitada, mas isso provavelmente não vai passar nunca, você sabe. Mas, pelo menos, não pensa mais nas coisas horríveis que pensava antes. E seus pais estão nos ajudando muito nestes últimos tempo! Devemos muito a eles!
Também mal posso esperar para te ter aqui de novo! Todo o bairro parece mais vazio sem você, é incrível!
null e eu vamos comprar nossas passagens para daqui a exatamente duas semanas.
Estou com tantas saudades, meu amor! Você nem consegue imaginar o quanto!
“The sooner you let two hearts beat together
The sooner you'll know this love is forever” xoxo null
P.S.: Eu te amo mais!’
Nos falávamos todos os dias por telefone e eu realmente sentia que ele estava com saudades de mim.
Mas, ao mesmo tempo, ficava pensando o tempo todo que ele estava lá com Andie, e não comigo.
E aquilo me enlouquecia.
Até que, enfim, null e eu voltamos para Nova Iorque.
- Onde está null, null? – null perguntou, olhando para todos os cantos do aeroporto sem avistar o namorado.
- Er... null, o null teve que levar a... Andie para o hospital. – O rapaz falou, cauteloso, ao terminar de beijar a namorada.
- O QUÊ? – A moça berrou, ficando repentinamente vermelha. – COMO ELE SE ATREVEU A FAZER ISSO?
- Olha, nós já estávamos saindo do estúdio para vir pegar vocês, quando a Andie caiu e torceu o pé. Ela pediu para o null levá-la para o hospital e, bem, ele não podia dizer ‘não’, não é?
- Não, é claro que ele não podia. Mas ele pôde deixar a namorada que ele não vê há dois meses, e da qual ele supostamente sente muita falta, esperando, não é? – Ela disse, furiosa, já com os olhos marejados de raiva. – Hoje o null vai me ouvir. Ah, se vai!
- null, se acalma, pelo amor de Deus! – null pediu, preocupada.
- Não vou me acalmar, não, null. Ele vai ouvir o que merece e...
O celular de null começou a tocar. O rapaz logo o pegou e disse, olhando para null.
- É ele.
A moça revirou os olhos e null atendeu.
- Sim, está. Claro, eu te disse. Pode deixar, eu levo. Tudo bem. Ele quer falar com você, null.
- Ah, quer? Pois diga que eu só falo com ele cara-a-cara. – Ela grunhiu.
- Ela disse que só quer falar na sua cara. – null disse no telefone. – Tem certeza? Tudo bem. – O rapaz retirou o telefone do ouvido e colocou no viva-voz.
- null! null, responde, por favor! - Morra, null! – null berrou ao ouvir a voz do namorado.
- null, amor, escuta, por fa... - Amor o caramba! Se você não quiser ficar solteiro ainda hoje, vá neste exato segundo para o hotel. Se eu chegar lá e você não estiver, juro que pego o primeiro vôo de volta para a Inglaterra e nunca mais olho na sua cara! – E, terminando de dizer aquilo, null arrancou o celular da mão de null e o jogou no lixo. – Vamos!
- Ei, meu celular! – O rapaz reclamou, de olhos arregalados.
- Vamos logo, null! – null grunhiu, fazendo os outros dois pularem de susto e correrem para fora no aeroporto atrás dela.
Eu senti muita raiva naquele dia. Acho que podia matar alguém.
Na verdade, acho que podia matar null.
E não era raiva pura. Ainda tinha uma alta dose de ciúmes.
- null, para onde estamos indo? – null perguntou, franzindo a testa.
- Para o estúdio.
- Não, não! Temos que ir para o hotel! – Ela falou, exasperada.
- O null me pediu para te levar para o estúdio, então é para lá que vamos. – null disse, firme.
null bufou, mas ficou calada.
Chegando lá, ela saiu como um foguete do táxi. Nem ao menos a mala pegou.
Correu para o camarim que possuía uma placa com o nome ‘McFly’ e entrou sem nem ao menos bater, mas, ao fazê-lo, parou, chocada, olhando fixamente para o sofá.
null estava praticamente deitado em cima de uma Andie descabelada e que possuía o pé esquerdo enfaixado. Seus rostos estavam a poucos centímetros de distância, mas, mesmo antes de null ter falado qualquer coisa, null se levantou em um pulo do sofá.
- O que aconteceu aqui? – A moça perguntou, com a voz rouca, e só aí null virou-se para ela, com um olhar assustado. – O que diabos aconteceu aqui, null? O que você estava fazendo? O quê? – Ela começou a gritar, ficando vermelha e derramando grossas lágrimas.
- Calma, null, não aconteceu nada! – null falou, desesperado, se aproximando da namorada, mas ela andou para trás, olhando-o com nojo.
- COMO NÃO ACONTECEU NADA? VOCÊS ESTAVAM PRATICAMENTE SE BEIJANDO! – Ela gritou mais alto ainda e, em seguida, saiu correndo, mas não conseguiu ir muito longe, pois null segurou seu braço.
- Me escuta, por favor!
null não falou nada. Apenas se virou para ele com raiva e deu um sonoro tapa no rosto do rapaz.
- COMO VOCÊ SE ATREVEU, ? MEU DEUS, EU ACHEI QUE... TODO ESSE TEMPO EU... MEU DEUS! – Ela chorava compulsivamente, agora, e os olhos de null começaram a ficar marejados também.
- Não aconteceu nada, eu juro!
- AH, É? VAI ME DIZER QUE VOCÊ NUNCA TEVE NADA COM ELA? POIS EU NÃO ACREDITO!
- Não, eu não vou dizer isso porque... Bem, houve um beijo, sim. – Ele murmurou, e null ficou mole, olhando-o incredulamente.
- O quê? – Ela perguntou com a voz fraca.
- É, mas... Ela estava bêbada e eu...
- Você prometeu que ia me contar!
- Eu sei, mas... Eu não queria te preocupar e...
- NÃO ME IMPORTA, ! NÃO QUERO NEM SABER! VOCÊ É UM NOJO!
- Não fala assim, por favor, null. Por favor!
- E, SE VOCÊ AINDA NÃO PERCEBEU, NOSSO NAMORO ACABOU! – Quando a moça disse isso, null a largou, boquiaberto, parecendo atormentado demais para fazer qualquer coisa. null apenas tirou o anel de prata do dedo e o jogou no lixo ao seu lado, enquanto o rapaz apenas a observava sair correndo pelo corredor.
De repente, algo pesado se abateu sobre meu coração.
Meus pulmões estavam sem ar de novo e eu não conseguia me mexer nem pensar.
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Tudo apagou, e eu não senti mais nada.
Capítulo VIII
Parecia uma queda sem fim. Uma queda rumo ao infinito.
O desespero tomou conta de mim. Não podia acontecer agora.
Simplesmente não podia.
Foi então que senti ondas de choque percorrendo todo meu corpo e, aos poucos, como se algo eletrizasse e, ao mesmo tempo, amaciasse meu coração, ele voltou a bater violentamente. Senti uma rajada de ar frio adentrar meus pulmões e minha respiração parou por um segundo, logo depois voltando ao normal.
Me senti cansada.
E, mas uma vez, as lembranças voltaram.
- !
A moça null, que já estava quase fechando o imenso portão da casa, parou e olhou para o jardim. Um homem alto e moreno, bastante bonito, veio correndo na direção dela com uma pasta em uma das mãos.
- Toma, você esqueceu sua apostila.
null pegou a pasta e sorriu para o rapaz.
- Obrigada, Pierre. Eu ando muito distraída ultimamente.
- Você sempre foi avoada, null. – Pierre falou, rindo.
- Mas que calúnia, eu nunca fui avoada! – null falou com fingido tom de indignação, mas logo riu junto com o primo. – Mas deixa eu ir, Pierre, porque eu já estou atrasada.
- Boa aula. – Ele falou, dando um beijo na testa dela e, em seguida, adentrando novamente o jardim.
null fechou o grande portão da casa e virou-se para começar a caminhar, mas parou assim que olhou, assustada, assim que olhou para frente e seus olhos pousaram num par de olhos null profundamente tristes.
null e null ficaram se encarando por alguns segundos, ambos parecendo perdidos em suas próprias mágoas. Foi o rapaz quem cortou o silêncio:
- Eu pensei em vir aqui te explicar tudo e implorar que você me perdoasse. Mas parece que você já superou, não é? – Ele falou, com os olhos marejados.
null sentiu um nó na garganta ao ouvi-lo falando daquela forma, mas seu orgulho falou mais alto, e ela não disse nada. Apenas começou a caminhar e passou pelo rapaz sem nem ao menos olhar mais uma vez em seu rosto.
Minha respiração ainda estava pesada, e agora as memórias estavam mais nítidas do que antes.
Aquela cena havia acontecido dois meses depois que eu e null havíamos terminado, ou seja, foi no dia em que ele voltou para casa. Pierre havia ido para lá um mês antes e pediu para se hospedar em nossa casa por um tempo, pois ia fazer uma entrevista de emprego para uma revista, como fotógrafo.
Eu ainda estava profundamente decepcionada com o que null havia feito, mas, principalmente depois que ele voltou, parecia que o amor que eu sentia por ele só crescia e crescia. Por outro lado, meu orgulho, pela primeira vez em que o fato envolvia null, falava mais alto.
- null, vocês têm que parar com essa infantilidade! – Foi a primeira coisa que null disse ao ver a amiga abrindo a porta.
- Oi pra você também, null. – null disse, sarcástica, dando espaço para a amiga entrar em sua casa.
- É sério, null, não está fazendo bem para nenhum de vocês! O null só faz ir para pub’s beber e ficar se agarrando com umas vadias nojentas. – null sentiu sua garganta se apertar e seu estômago revirar ao ouvir aquilo. – E você parece mais um zumbi orgulhoso.
As duas se sentaram no sofá.
- Então você acha infantilidade eu não perdoar ele por causa de uma traição?
- null, você está cega. Por que não conversa com null pelo menos? Ele me contou o que aconteceu e eu posso te garantir que não aconteceu nada naquele dia que nós...
- Mas eles se beijaram antes, null! – null a interrompeu, quase gritando. – E ele tinha me prometido que ia me falar se algo acontecesse entre eles!
null suspirou.
- Eu sei, null, mas ele só estava tentando não magoar você. Devia dar outra chance pra ele, sabe. null não vai esperar a vida toda por você.
Aquelas palavras atingiram null profundamente, como uma realidade esmagadora, e ela não conseguiu responder nada.
- Mas a culpa não é só sua, claro. null também é um imbecil por ter ciúmes do Pierre. Quero dizer, ele já foi embora há um mês e meio, e eu posso garantir que não aconteceu absolutamente nada entre vocês.
null sorriu fracamente.
- null sempre teve ciúmes dele. Inclusive, Pierre foi o motivo da primeira briga que tivemos na vida, quando eu tinha 9 anos.
- Amiga, por favor, converse com ele. Dê uma chance a vocês de novo. Isso não pode terminar assim, simplesmente não pode.
null ficou calada por cerca de cinco minutos, parecendo avaliar até os mínimos detalhes daquela possibilidade. Por fim, suspirou e disse:
- Tudo bem, null, você venceu. Eu vou conversar com ele.
null soltou um gritinho animado, o que fez a amiga rir.
- Vamos jantar no Pizza Planet hoje, e você também vai. Deixa comigo, eu vou fazer você ir sozinha no carro com ele.
null assentiu lentamente com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, null, você vai ver. A história de vocês é bonita demais para terminar assim.
Era verdade, nossa história era bonita demais para acabar daquele jeito.
Mas eu sabia que não era daquele jeito que ia acabar.
Só não sabia exatamente como era.
- Você quase me matou, null. Não faz mais isso, não faz.
- O que nos impede de ir para a pizzaria agora, mesmo? – null perguntou, olhando para a namorada, que parecia estar realmente impaciente.
- null null, é claro. Se vocês não perceberam, ele ainda não chegou. – Ela respondeu, olhando para seu relógio de pulso e bufando.
- Estamos aqui esse tempo todo esperando pelo null? Mas ele não vai com a gente, null. – null falou, franzindo as sobrancelhas.
- Como assim ele não vai com a gente? – null perguntou, indignada.
- Hoje à tarde ele me ligou, e disse que ia no carro dele, sozinho. Disse que tem uma coisa para nos mostrar quando chegássemos lá. – null disse, dando de ombros.
null bufou novamente e olhou para null - que permaneceu calada desde se encontrou com os amigos mais cedo – como que pedindo desculpas. A null apenas sorriu fracamente, como se dissesse que não era culpa dela.
- Bem, podemos ir, então? – null perguntou, adentrando o banco de motorista do carro. null, null e null se ajeitaram no banco de trás e null foi no banco do carona.
Cerca de dez minutos depois, os cinco amigos estavam adentrando a imensa e já tão conhecida pizzaria. Logo acharam null sentado em uma mesa mais ao fundo, sozinho, e foram até lá. O rapaz os viu se aproximando e sorriu, mas ao ver que null estava presente, seu sorriso murchou e uma expressão de desconforto se fez presente em seu rosto.
- E aí, seu veado, o que você queria nos mostrar hoje? – null perguntou, quando todos já haviam se cumprimentado – null e null apenas trocaram um frio aceno de cabeça - e estavam devidamente acomodados.
- Ela já está vindo. – null falou, sorrindo e olhando para algum ponto à sua frente. Ao ouvir aquela frase, o estômago de null revirou, e ela foi a última a olhar para o mesmo ponto que null olhava. Quando o fez, o rapaz estava em pé, junto de uma linda moça que possuía cabelos ruivos e olhos azuis.
- Pessoal, esta é Lucy, minha namorada.
Senti algo pesado em meu estômago, e minha garganta pareceu se fechar.
Uma mão apertou a minha com força, mas daquela vez eu sabia que não era a dele. E, pela primeira vez, eu não queria que fosse. Fiquei com raiva ao ver aquela cena, com a mesma raiva que senti ao absorver a notícia que null havia acabado de dar.
A última sensação, então, foi a de algo molhado escorrendo vagarosamente pela minha bochecha.
- Ai, que droga de porta! Abreeee! – null gritava, tentando inutilmente destrancar a porta do banheiro.
- null? – Ela ouviu a voz de null do outro lado da porta e paralisou. – null, você ficou presa?
Ela revirou os olhos e falou, irônica:
- Não, null, é que eu adoro me trancar no banheiro por 15 minutos para ficar me olhando no espelho e sentindo o calor maravilhoso que faz aqui dentro.
- Não precisa ser grossa. – Ele falou, irritado, e ela podia jurar que ele estava revirando os olhos.
A moça bufou e forçou novamente a chave da porta, obtendo, finalmente sucesso. A porta, porém, abriu-se com tudo, e null viu-se jogada nos braços de null antes que pudesse se equilibrar devidamente.
Olhou para o rosto do rapaz, que estava apenas a centímetros de distância do seu, e corou, soltando-se dele imediatamente e ajeitando as vestes.
- Parece que eu te dei sorte. – Ele falou, sorrindo fracamente.
Ela o encarou duramente, mas não disse nada.
- null, eu...
- Olha, null, se você vai se desculpar, devo dizer logo para poupar seu fôlego. – Ela falou rudemente, o que o fez suspirar.
- Não, eu não ia me desculpar. Só queria dizer que... Eu sinto muito sua falta.
O tom de voz com que ele falou era tão doce, tão conhecido e tão amado por null que, quase que automaticamente, ela o olhou surpresa. Surpresa por perceber como sentira falta daquele tom de voz durante aqueles quatro meses ridículos que passou sem nem ao menos olhar na cara dele.
Porém, tão rapidamente como veio a sensação de saudade, a raiva se apoderou dela ao lembrar-se de que a nova namorada dele estava no andar debaixo da casa de null, junto com todos os seus outros amigos.
E foi essa raiva que a fez, num impulso, falar:
- Eu não me importo, null. Você já arrumou alguém com quem pode matar as saudades que supostamente sente de mim.
null lançou-lhe um olhar extremamente triste. Parecia a ponto de chorar.
- Eu sou... Muito idiota mesmo. Achei que íamos, pelo menos, resgatar nossa amizade e...
- Resgatar nossa amizade? Tudo de bom que eu sentia por você morreu depois da sua traição, null! – Ela praticamente gritou. Aquelas palavras pareceram deixar null extremamente irritado.
- Você é uma cabeça-dura, null! Nem ao menos me deixou explicar que eu não contei sobre o meu beijo com Andie porque queria poupar você de sofrer! Não queria que tudo entre nós ficasse estranho por uma coisa tão sem significado na minha vida!
Mas a moça não parecia entender nada daquilo. Era como se, de uma só vez, todo o passado que ela deixou intocado e, com ele, os sentimentos que os acontecimentos provocaram nela, voltassem à tona, e precisassem ser jogado em quem ela julgava culpado.
- Mas você me prometeu que ia contar! Você me prometeu droga! Como eu posso confiar em você para mais alguma coisa na vida depois que você não cumpriu sua promessa?
- Você fala como se eu vivesse te decepcionando, null, o que não é verdade. Eu só fiz isso para te poupar, porque eu te amava, porque eu te amo, e não queria que sofresse!
Aquelas palavras fizeram null paralisar, chocada, e arregalar os olhos. Conseguiu falar, com uma voz fraquinha, apenas alguns segundos depois:
- Você disse que... Me ama? Digo, que ainda me ama?
null suspirou.
- Amo, null, é claro que amo. Você acha que todo o amor que eu senti por você durante toda minha vida pode simplesmente acabar? É claro que não, e eu tampouco acredito que o seu tenha acabado como você diz.
Eles ficaram em silêncio por algum tempo, apenas se encarando.
- Basta uma palavra sua e eu volto a ser completamente seu, null. Apenas uma palavra.
null estava completamente atordoada, não sabia o que pensar ou o que fazer.
- Mas e... E Lucy?
- Eu acabo com ela. Só você me importa.
Ela olhou para o chão, respirando pesadamente, e meneou a cabeça, como se algo a estivesse impedindo de aceitar a proposta de null.
- Não, null. Aquela cena ainda me assombra, e eu não sei se consigo confiar em você depois daquilo. É melhor você continuar com Lucy. É assim que tem que ser. – Ela falou, com os olhos cheios de água, e saiu correndo daquele corredor apertado e escuro.
Senti ódio de mim mesma. Mas como eu era burra!
Talvez, só talvez, se eu tivesse aceitado a proposta dele naquela hora, nada disso estaria acontecendo agora.
Mas essa era só uma hipótese. Na verdade, era um desejo.
Eu nem ao menos sabia o que estava acontecendo agora.
Sabia apenas que estava na minha reta final, e que as pessoas que eu mais amava na vida iam sofrer profundamente quando eu me fosse.
Capítulo IX
Reta final.
Coração acelerado.
Coração prestes a parar.
Coração acelerado.
Coração prestes a parar.
Desconforto.
E medo.
Principalmente medo.
- Façam silêncio, por favor. – Disse null, pondo-se de pé e batendo de leve com o garfo na taça de cristal que continha champagne. Todos se calaram e olharam para ele, menos uma moça null que estava mais ao fundo da mesa, brincando com um enfeite qualquer. – Há seis meses conheci essa garota incrível, que me fez ver a vida por sob um novo e maravilhoso aspecto. Ela me trouxe alegria e se tornou minha cúmplice. – Ele parou e olhou para Lucy, que estava ao seu lado. Fez ela se levantar e, nesse momento, null encarou o casal, assustada, sentindo que seu coração ia sair pela boca. Não podia ser. – E ela se tornou, também, minha melhor amiga. – Nada doeu mais do que aquelas palavras. null sentiu os olhos marejarem e uma dor imensa no peito, mas manteve-se firme.
Minha garganta se fechou.
Meu coração estava sendo perfurado.
Minha mente vagou pelo espaço, sem tempo, sem direção.
Minhas forças se esvaíram.
Dor.
Dor.
Medo.
- Lucy Button, você quer se casar comigo? – null tirou uma caixinha de veludo negro do bolso da calça jeans e abriu em frente à moça. Era um brilhante incrível. Mas null não se atreveu a olhar.
- Oh, null! Oh, é claro que eu aceito! – Lucy disse, com os olhos marejados de emoção, se jogando nos braços do, agora, noivo. Este a abraçou pela cintura, sorrindo de lado.
null se levantou e olhou para null. Seus olhos estavam sem brilho, sem vida. Nunca parecera tão morta antes. null a encarou e seu rosto assumiu uma expressão assustada, que logo depois foi substituída por uma dura.
A moça null apenas se retirou do restaurante, deixando todos os amigos, que a encaravam assustados, para trás.
Eu não me lembrava de nada.
Não me lembrava como aquilo tinha acontecido, por que eu estava ali naquela hora, onde havia sido... Nada.
Era como se minha mente tivesse simplesmente apagado aquela lembrança que me trazia tanta dor.
Tanto medo.
- null, vamos para o Havaí! – Bábara falou animada, se jogando no sofá ao lado da amiga, que assistia a algum programa de cirurgia plástica.
- O quê? – null perguntou, franzindo a sobrancelha e olhando para a ruiva.
Seus olhos ainda estavam sem brilho.
- Vamos passar o verão no Havaí com os meninos.
- Não, obrigada. Não quero ver o quanto null e a noiva se amam. – null falou amargamente.
- Mas aí é que entra a parte boa: Lucy não vai.
- Como assim?
- Não sei, parece que a avó dela está com câncer e está internada num hospital em Liverpool. Lucy vai ter que ir para lá ficar com ela durante as férias.
O estômago de null revirou.
- Não sei, null.
- Vamos, null, por favor. Não precisa nem falar com o null, você vai estar com o resto de nós também. E, cá entre nós, você está acabada. Precisa viajar para renovar as forças.
- Não sei se quero renovar as forças. – A null falou, suspirando.
- Ah, pare de drama! Nós vamos e está decidido. Já até comprei sua passagem.
- Claro, porque você já sabia que ia me convencer.
- Claro. Sempre tive um forte poder de persuasão.
As duas riram.
Por que todas as lembranças pareciam passar mais rapidamente agora?
Por que tudo parecia estar acabando?
Por que eu estava vendo aquelas coisas que estavam me trazendo tanta dor?
Será que minha vida tinha sido tão sofrida assim?
Será que nada valeu a pena?
... Senti medo.
- Havaí, Havaí, tão bom que te nomearam duas vezes! – null disse, abrindo os braços e respirando fundo.
- Essa frase é de Nova Iorque, otário. – null disse, revirando os olhos e dando um pedala em null.
- Outch, seu grosso!
- Não faz isso com meu bebê, null. – null resmungou, dando um beijinho na cabeça de null, que sorriu e a abraçou pela cintura.
- Fiquem aí se agarrando, que eu vou para o mar. – null disse, correndo feito uma criança em direção ao imenso mar azul.
- EI, SEU FRANGO, ME ESPERE! – null gritou, correndo pelo mesmo caminho que o amigo. null e null sorriram maliciosamente e os seguiram correndo, como se apostassem corrida.
null olhava a cena sorrindo. Era bom ver como seus amigos eram felizes. Não desejava nunca que eles sentiam a mesma tristeza que ela estava sentindo.
Então a moça olhou para o lado, procurando a única pessoa que não participou de toda a brincadeira. E a achou. E, quando a achou, seus olhos se encontraram.
Ele tinha um olhar triste e saudoso, ao mesmo tempo que assustado.
- Perdeu alguma coisa? – A null perguntou rudemente.
- Não, quem perdeu foi você. – null respondeu, dando de ombros.
- O que, vai dizer que eu te perdi? – Ela falou, desdenhosa. – Foi você quem me perdeu.
- Na verdade, nós dois nos perdemos. Perdemos a nós mesmos e tudo de bom que construímos. – null disse tristemente. – Mas o que eu quis dizer que você perdeu foi o brilho dos seus olhos. E isso me assusta.
Eles se encararam por um tempo e, depois, null começou a andar vagarosamente em direção ao mar.
Ele parecia ser a primeira pessoa que via aquilo. Que percebia a falta de brilho em mim. Nem ao menos minha mãe, que me conhecia tão bem e já estava completamente curada da depressão percebeu o quão realmente triste eu estava.
E a única pessoa que eu não queria que visse aquilo, viu.
Como sempre, é claro.
E aquilo me fez ter medo.
- Ok, vamos animar. – Um ritmo animado soou no violão e, em seguida, quatro vozes animadas começaram a cantar Nothing.
null olhava para o mar, agora negro, por refletir a escuridão do céu sem nuvens. Apenas uma imensa lua cheia e branquíssima se encontrava no meio de toda a negritude. E era para a lua que a null olhava, sentindo calafrios constantes.
Estava com vontade de chorar, mas não queria. Não ali. Não na frente dele.
Arriscou uma olhadela para o sujeito de seus pensamentos e viu que os olhos null estavam completamente vidrados nela. Mas não a estavam encarando com o amor com que eles a encaravam quando ela e null namoravam. Estavam com uma ruga de preocupação entre eles.
Mas null preferiu deixar para lá. Afinal, não se importava mais com ele, não era?
Naquela noite, senti medo só de uma coisa:
De estar completamente submissa aos meus sentimentos.
- Ótimo, ótimo, ótimo! Odeio portas! – null resmungava, enquanto tirava e botava furiosamente o cartão na maçaneta.
- Algum problema? – Uma voz tão conhecida perguntou, fazendo a moça se arrepiar. Respirou fundo, mas não o encarou.
- Não, eu só gosto de...
- Tudo bem, não precisa vir com suas frases irônicas e grosseiras. – Ele disse rispidamente, tomando o cartão da mão da null. Logo a porta estava aberta.
- Como você fez isso? – null perguntou, bufando.
- Parece que tenho sorte com portas, não é? – A moça o encarou furiosamente. – Ou, talvez, você só estivesse colocando o cartão de cabeça pra baixo.
Ela revirou os olhos e tirou o cartão da mão de null, abrindo, em seguida, a porta.
- Obrigada e boa noite.
- Não. Eu quero falar com você.
null o encarou com as sobrancelhas franzidas.
- Não temos nada para falar, null.
null fez uma careta.
- Mesmo com toda a nossa distância, isso ainda soa estranho na sua voz. – Ele suspirou. – Por favor, é rápido.
A moça o encarou por alguns segundos. Por fim, respirou fundo e deu espaço para o rapaz entrar. Ambos sentaram na cama, lado a lado, encarando o mar pela varanda do quarto.
- É uma bela vista.
- Fale logo, null.
O rapaz suspirou.
- Eu te amo, null.
A null o encarou de olhos arregalados.
- Como?
- Eu te amo. Eu sempre te amei, e sempre te amarei. Nada que você faça pode mudar isso.
Ela soltou um risinho irônico.
- Não foi o que pareceu no seu discurso de noivado.
Ele suspirou novamente.
- Aquilo foi... Não foi nada. Não sei, era só um discurso. Eu jamais disse que a amava.
Ficaram algum tempo em silêncio. Então null falou:
- Às vezes... Não, às vezes não, sempre eu fico pensando no que aconteceu com a gente. Éramos tão amigos, null. Pelo amor de Deus, você é a pessoa que eu mais amo no mundo! Crescemos juntos, eu conheço mais você do que a mim mesmo, assim como você é a pessoa que mais me conhece. E, hoje, nos tratamos como desconhecidos. Nos ignoramos. Isso é ridículo. E não venha jogar em mim nenhuma acusação pelo que aconteceu com Andie. Você sabe que isso é perdoável.
- Não sei se é tão perdoável assim, null. Eu confiei em você e você me traiu. Não por ter beijado ela, mas por não ter me contado. Quando eu perco a confiança em alguém, não é tão fácil recuperá-la.
- Nós dois sabemos que não foi isso que aconteceu, null. O problema é sua insegurança. Seu medo. Sempre teve medo de você me amar mais do que eu te amo. Mesmo demonstrando tanto seu amor, sempre teve medo de se machucar. Eu sei, eu te conheço.
Ela ficou parada, sentindo os olhos marejarem.
- O negócio é que eu não acredito que, depois de todo esse tempo, você ainda tenha alguma dúvida do que eu sinto por você. Meu Deus, não é amor. É algo que não tem nome, null. Parece que você é parte de mim, e eu não quero viver sem você.
- Você está noivo.
- Não importa. Isso não muda o meu amor por você.
- Por que está me dizendo tudo isso agora?
- Porque eu estou preocupado com a tristeza que estou vendo no seu olhar. Porque fiquei pensando, no luau, e percebi que estamos nos enganando. Que é errado vivermos um sem o outro. Você sou eu e eu sou você. Somos null e null. Somos parte um do outro. É como a melodia e a letra, uma é incompleta sem a outra.
A moça olhou fundo nos olhos null, sentindo lágrimas escorrerem por suas bochechas. Ficaram se encarando por um longo tempo, até que null se aproximou e, com o dedão, esmagou as lágrimas da null. Aproximou seus lábios dos dela lentamente e, muito de leve, os roçou.
- Eu te amo, null, e nada vai mudar isso. - Ele sussurrou e, em seguida, levantou-se, se encaminhando para fora do quarto.
Não há palavras para descrever aquilo.
O que eu senti ali.
Estou com medo.
Estou triste.
Estou com um aperto imenso no peito.
E minhas mãos estão formigando, como se alguém estivesse fazendo cócegas nelas.
Queria chorar.
- Preciso de um casaco. – null disse, e se levantou, cambaleando.
- Você acerta chegar lá? – null perguntou, rindo idiotamente.
- Vai se foder. – Falou null, indo meio bambo para o hotel, do outro lado da rua.
null encarou a silhueta de null e abriu um sorrisinho malicioso.
Estava bêbada.
- Já volto.
Ela se levantou também cambaleando e correu para o hotel.
Por sorte não passava nenhum carro na rua.
null já havia subido, então ela chamou o elevador e, quando entrou no mesmo, apertou o botão 11. Em alguns segundos, estava batendo na porta do quarto do rapaz.
- Mas quem porra se... – Ele arregalou os olhos quando viu null parado à sua frente.
A null não pareceu pensar em nada, apenas jogou seus braços em volta do pescoço de null e encostou seus lábios. Mesmo assutado, o rapaz correspondeu.
Não pareciam saber o que estavam fazendo e, mesmo assim, pareciam querer muito aquilo pelo modo como o beijo esquentou.
Adentraram o quarto sem desencostar os lábios e null bateu a porta com força atrás de si.
Só consigo me lembrar dos meus sentimentos naquela noite.
Eles eram: a vontade, a esperança, o desejo, a paixão, o amor.
E, graças a Deus, o medo não estava incluso ali.
- Aonde você vai? – null perguntou, parecendo confuso ao olhar a moça null terminando de vestir os shorts.
- Para o meu quarto. Isso não podia ter acontecido. – Ela falou, nervosa, prendendo o cabelo num rabo-de-cavalo. Parecia não ter coragem de encará-lo.
- Como assim? Se eu bem me lembro - e eu me lembro, mesmo que estivesse bêbado -, foi você quem entrou no meu quarto, me beijou e fez amor comigo.
Ela parou, estática, ao ouvir aquilo.
- Não disse que não havia sido um erro meu.
- null...
- Escute, null. – Ela se virou para ele, suspirando. – Você vai se casar, ok? Vai se casar daqui a o que, quatro meses?
- Eu já disse que isso não importa. – Ele falou, sentando-se na cama e, consequentemente, fazendo o lençol deslizar pelo seu corpo.
null acompanhou todo o trajeto com os olhos e, ao ver o corpo desnudo do rapaz, sentiu as bochechas pegarem fogo e o ambiente de repente esquentar.
- Foi um erro, null. Não se preocupe, você não deve nada a mim. Vamos fingir que isso nunca aconteceu. – null pegou a bolsa que estava jogada numa poltrona e se dirigiu para a porta.
- Mas aconteceu! – null falou, exasperado.
- O que aconteceu, null? – A null perguntou, batendo a porta do quarto logo em seguida.
Não podia dizer que estava arrependida. Eu quis aquilo tanto quanto ele.
Porém, não podia negar o fato de ele estar noivo. E foi aquilo o que me impediu de dizer que eu provavelmente o amava ainda mais do que antes.
Senti medo.
Mas, agora, eu não estava sentindo mais nada.
Apenas algo que me parecia uma cabeça, deitada em minha barriga.
E, então, ouvi soluços.
Capítulo X
Por que estou sentindo essa sensação de final?
Sinto uma angústia imensa, um nó em minha garganta, um embalo no estômago...
Sinto que tudo vai acabar.
Me sinto tão triste.
E sinto saudades
E sinto ele junto a mim.
- null? – null perguntou, surpreso, ao abrir a porta de casa e ver a moça null ali.
- Precisamos conversar – ela falou, nervosa, adentrando a casa sem nem esperar convite. Os dois foram para a sala de estar; a moça sentou-se no sofá e null sentou-se na mesa de cabeceira, de frente para ela.
null respirou profundamente, entrelaçando seus dedos e encarando o rapaz à sua frente.
- Por que fez isso, null?
O rapaz arqueou uma sobrancelha, como se aquela fosse uma pergunta idiota.
- Não faça essa cara! Eu lhe disse que não me devia nada. Não devia ter feito isso.
- Quem lhe contou?
- Isso vem ao caso agora?
- Quem lhe contou?
- A null.
- É claro – ele falou, revirando os olhos. Em seguida, respirou fundo e continuou: - Acho que sabe muito bem o porquê de eu ter terminado o noivado com Lucy, null.
Ela arregalou os olhos por um momento, mas logo suspirou.
- Não devia ter feito isso.
- Não se sinta culpada.
- Mas é claro que eu me sinto. O fato de termos feito amor naquela viagem não significou nada.
- Como pode dizer isso? – ele perguntou, exasperado. – Significou tudo, e você sabe muito bem. Mostrou que ainda nos amamos, null. Você me mostrou que ainda me ama e que ainda me quer. Tem certeza que vai conseguir continuar fugindo disso?
- null, pare de...
- Não, agora você vai ficar caladinha e ouvir tudo. Depois, se você ainda achar que seus argumentos são válidos, eu juro que sumo da sua vida para sempre. Até me mudo para longe.
A null engoliu em seco.
- Você é uma idiota, null.
- Eu sei.
- Calada. – Ele a fuzilou com o olhar. – Você é uma idiota de fugir de tudo isso. É uma idiota de se acabar dessa forma por nada. Calada! – null quase gritou quando viu que ela abrira a boca para retrucar. – Meu Deus, nos conhecemos desde sempre, e eu NUNCA, durante esse tempo, traí sua confiança. No episódio da Andie, eu já lhe expliquei, não foi nada. Me desculpe por não ter contado, me desculpe se acha que eu a traí, mas eu estava lhe poupando, só isso. Só lhe poupando de ficar toda insegura, achando que eu gostava da Andie e blá, blá, blá. A questão é: você tem que parar de ser insegura assim, null. Ou será que você ainda não entendeu que não tem como eu amar outra mulher? Me chame de brega, clichê, do que você quiser, mas eu sei que esse amor que eu sinto por você é mais forte do que tudo, é puro, é lindo. E você é a única que está estragando ele. Que está magoando a nós dois. Eu fiz minha parte, null. Estou aqui, livre, esperando por você.
null prendeu a respiração ao ouvir aquilo, e lágrimas preencheram os seus olhos. Ela respirou fundo mais uma vez, e começou a falar:
- Você também é um idiota, null. Um idiota por ainda me amar.
- Não, eu não sou um idiota por isso. Você é uma pessoa maravilhosa, uma mulher linda, que me deixa louco... – Ele sorriu, esticando um braço e, com a palma da mão, alisando a bochecha da null, que sorriu de volta para ele. – Só tem que parar de achar que me ama mais do que eu amo você, entendeu? Estamos juntos nessa, se você perder, eu perco, e vice-e-versa.
Os olhos dela brilharam, e aquilo fez o sorriso de null aumentar. Ele se sentou junto a ela no sofá e a puxou para perto de si.
- Volte para mim, null, por favor – ele murmurou, com a boca contra os cabelos dela.
null sorriu largamente e se aconchegou mais junto a null.
- Eu nunca deixei de ser sua.
Sentimentos diversos começaram a tomar conta de mim muito rapidamente.
Queria chorar, sorrir, correr, me esconder, acordar... Eu temia não mais acordar.
Eu tinha que vê-lo.
Tinha.
E ainda não lembrava como tinha vindo parar aqui.
- null, eu tenho uma coisa para te dar. Na verdade, duas coisas. – null falou, sorrindo nervosamente para a namorada, que o olhou com as sobrancelhas franzidas.
Ambos estavam encostados no pessegueiro da casa da null, abraçados. O rapaz tirou um objeto do bolso e, com esse movimento, null pôde perceber algo no dedo dele.
- Sua aliança!
null sorriu.
- E a sua – ele falou, entregando o objeto que havia tirado do bolso para ela. null encarou sua aliança com os olhos brilhando, e leu a inscrição, sentindo-se extremamente feliz.
- Mas... Eu não a joguei no lixo? – ela falou, corando.
O rapaz soltou uma gargalhada.
- Sim, mas eu a peguei assim que você saiu correndo.
- null, eu... Nem sei o que dizer.
Ele ficou sério novamente, encarando-a com um carinho imenso.
- Na verdade, eu acho que sei o que você pode dizer.
- O quê?
null se levantou e puxou a namorada junto consigo.
- Sim.
Ela o encarou confusamente, e então ele se ajoelhou diante dela, pegando uma caixinha no bolso. null arregalou os olhos, sentindo o coração disparar.
- null, eu não consigo enxergar meu futuro com ninguém mais, a não ser você. Quer passar o resto dos seus dias comigo? – null perguntou, sorrindo e abrindo a caixinha, que possuía um anel dourado com uma pequena pérola no meio.
A null encarou o anel por alguns segundos, atônita demais para falar qualquer coisa.
- null?
Ela o encarou com lágrimas escorrendo pela face; lágrimas essas que contrastavam com o imenso sorriso estampado em seu rosto.
- Sim. É claro que eu aceito, null.
O rapaz sorriu largamente e colocou o anel na mão direita da, agora, noiva. null encarou os dois anéis em seu dedo e, em seguida, olhou novamente para null. Ele era lindo. E, agora, seria seu para sempre. Seu marido.
- Finalmente você vai cumprir sua promessa – ela falou, e ambos se abraçaram, rindo.
- null, por favor, me perdoe. Lute. Volte para mim. Por favor. Eu juro que não fiz por querer. Não fiz mesmo. Me perdoe, não tenha raiva de mim. Eu te amo mais do que tudo. Por favor, me perdoe.
- Meu Deus, como você está linda! – null falou, levando as mãos ao coração e arregalando os olhos. null sorriu e se virou para ela, alisando a saia do vestido de noiva.
- Estou mesmo?
- Nunca vi uma noiva mais linda, null!
A null corou, virando-se novamente para o imenso espelho à sua frente. O vestido era realmente lindo: tomara-que-caia, com uma saia um pouco armada e recoberta por alguns fios de strass. Luvas de seda cobriam o braço da moça até os cotovelos e a fina grinalda ia até seus ombros.
- É, vou ficar com este.
- Ótima escolha, madame – uma mulher que parecia ser a vendedora falou, sorrindo para ela.
null tirou o vestido com a ajuda das funcionárias, colocou suas roupas e foi se sentar junto a null num sofazinho.
- Nervosa? – a ruiva perguntou, segurando a mão da amiga e sorrindo.
- Não. Só estou com ódio do seu namorado. – null falou, bufando.
- Calma, null, eles não vão fazer nada demais. É só uma despedida de solteiro.
- Eu não vou ter uma despedida!
- Porque não quer.
- Porque eu acho desnecessário. Estou louca para me casar com ele, não é como se estivesse me lamentando por deixar de ser “solteira” – ela falou, com raiva.
- Não vai acontecer nada, eles só vão para um pub, apenas os quatro.
- É, e lá os garotos vão fazer o null encher a cara e, aí, quem sabe o que pode acontecer?
- Relaxa, criatura! É claro que eles não vão fazer nada demais, vão só se divertir. Além do mais, é o null, por favor, né.
- Não sei, não, não gostei nada dessa idéia idiota do seu namorado.
- null, relaxe, nada demais vai acontecer.
Tudo estava mais claro agora. Cada cena, cada sensação, tudo estava mais real.
Mais perto do fim.
Mas por que era o fim, se eu estava tão feliz, ali, experimentando aquele vestido, sonhando em me casar com null?
- Foi minha culpa, sim, null. Foi tudo minha culpa.
- null, relaxa, eu já te prometi mil vezes que vou me comportar. A gente só vai sair, beber, conversar, rir... – null falava, com a expressão cansada.
- Mesmo assim, null, não sei o que aqueles loucos podem inventar! – A null falava, exasperada.
- Olha, já vamos fazer isso dois dias antes do casamento para não dar nenhum problema no dia mesmo. Não vou estar de ressaca, nem me atrasar, nem nada... Além disso, vou poder passar o último dia antes de estar casado todinho com você, não é bom? – Ele sorriu, puxando a noiva de volta para perto de si.
- Mesmo assim... Por que você precisa disso? Parece até que é ruim se casar comigo, se precisa tanto de uma despedida.
- null, não é por mim, é por eles. Como eu sou o primeiro a casar, eles quiseram ter a desculpa de fazer essa “comemoração”. Eu não podia estar mais feliz por me casar com você.
A null suspirou.
- Tudo bem, me desculpe, só acho isso tudo desnecessário. – Ela deu de ombros e null beijou o topo de sua cabeça.
- Relaxe, null, nada de mais vai acontecer.
O medo voltou a tomar conta de mim.
Eu sabia que aqueles eram os últimos momentos.
Mas não sabia exatamente quando ia ser.
Nem como.
- Como ela está?
- Na mesma. Às vezes, murmura alguma coisa, treme. Até já chorou. É como se estivesse... Lembrando de algo triste. Se for isso, eu posso até imaginar o que é. Ela deve me odiar. Como eu poderia odiá-lo? Eu o amava, independente de... Tudo?
- Que cara é essa, meu amor?
- O null está na “despedida de solteiro” dele, mãe – null falou, fazendo uma careta. Ashley sentou-se ao lado da null no sofá.
- Está preocupada que ele faça alguma besteira?
- Não, não é isso. É só que eu queria que ele estivesse comigo, agora – null disse, dando de ombros.
Ashley sorriu e a trouxe para perto de si.
- Me lembro exatamente de quando me casei com seu pai. Não me importei com a despedida dele, considerando que eu tive a minha própria, mas não foi tão divertido como se eu tivesse passado aquele tempo com ele. Estávamos loucos para nos casar.
null sorriu.
- Queria ter visto, deve ter sido lindo.
- Foi, de fato. E tenho certeza que você e null vão ter um casamento tão lindo quanto o nosso e serão tão felizes quanto nós fomos. – Ashley sorriu e, ao ver o rosto desanimado da filha, beijou sua testa e disse, alisando seus cabelos: - Relaxe, filha, nada de mais vai acontecer.
- Eu só queria estar no lugar dela. Quero dizer... Eu merecia estar aí! Me dói tanto vê-la nesse estado, e pensar que fui eu quem causei tudo isso, null. Tia Ash não me culpa, mas sei que ela acha que em parte a culpa foi minha, sim. E ela está errada, pois a culpa foi toda minha. Minha null não merece isso, não merece. Eu não suportava ouvi-lo chorando.
Queria sair desse estado logo, queria acabar com aquela sensação de final e ir confortá-lo.
- Estou indo para a casa do null, mãe!
Algo como um flash de câmera surgiu em minha mente, e minha cabeça começou a doer.
- Oi, null. Não, estou indo me encontrar com o null. O quê? Tudo bem, quando eu chegar lá vejo se ele está bem.
Medo. Me lembrava do que havia visto. Me lembrava da tristeza, da decepção, da raiva.
Estou com raiva. O que ele havia feito???
- null? null, cadê você?
Cansaço. Não podia acreditar naquilo. Não podia sentir aquela dor toda outra vez.
Não queria, não aguentava. Não podia ir assim, sem gritar mais com ele, sem bater nele, sem mostrar toda a dor que eu sentia.
- null, a null me ligou agora e disse que os meninos estavam preocupados, porque você foi embora mais cedo on...
Não adiantava. Parece que não tínhamos chances, afinal.
Parece que jamais existiria “nós”.
- null!
- O QUE DIABOS VOCÊ FEZ, ?
- null, calma, eu pos...
- ESSA É A DOROTHY? A DOROTHY, ? COMO PÔDE?
Me mexia, agoniada, como se correntes me prendessem e eu precisasse me livrar delas.
- null! O que está acontecendo, doutor? Meu Deus, o que houve?
- , NÃO VÁ! ESPERE!
Não ia mais lutar por ele. Não ia. Não depois daquilo.
Mas tinha que lutar para acordar mais uma vez.
- null, por favor, eu te amo! Por favor, eu te amo! Por que aquilo parecia tão sincero?
Eu o amava tanto! Por que ele havia feito aquilo?
Talvez, só talvez, tivéssemos nossa chance.
Luzes piscavam em minha mente o tempo todo. Minha cabeça doía e meu corpo tremia.
Não me importava com a velocidade do carro. Não me importava que a rua era cheia de curvas. Nada me importava. Apenas a traição dele.
Quão clichê, traída um dia antes do casamento! Eu havia me dado por inteira para ele, e ele dormiu com a Dorothy Simpson. O que, queria relembrar os velhos tempos? Ótimo, espero que tenha relembrado muito bem.
Não aguentava aquilo, não de novo. Não aguentava.
Nunca mais olharia para ele de novo! Nunca mais ele teria o prazer de olhar para mim!
Nunca ma...
Uma luz muito branca ofuscou meus olhos, mas, desta vez, ela permaneceu acesa.
- null! null, você acordou, meu amor! Fale comigo!
- Sr. null, por favor, se afaste, precisamos...
- null... – Ouvi minha voz fraca chamá-lo. Tentei focar alguma coisa, e conseguir enxergar uma porta meio embaçada. Um cômodo muito branco. O rosto dele.
- null, minha linda, como você está? Por que está tão fria? null, por favor, fique aqui comigo, não me deixe, me perdoe, por favor!
- Não... Posso, null. Não agüento. Muita... Dor. – Tossi, e aquilo fez meus pulmões doerem.
- Não a force, Sr. null, ela não pode fazer esforço!
- Preciso falar... Ele. – Senti as mãos de null segurarem meu rosto com delicadeza e sorri fracamente. Eu o amava. O amava, mas não podia mais, a dor era muito forte; eua me consumia. – Lutar... Não... Mais, null. Tudo... Tudo tão... Doloroso. Desc... Desculpe. – Tossi novamente, sentindo meus pulmões congelando. – Amo... Você. - null... null, por favor... – Lágrimas frenéticas escorriam pelo rosto lindo dele, os olhos null estavam brilhando intensamente, demonstrando uma dor que me fazia sentir mal. Não queria vê-lo sofrendo, mas não queria mais sofrer também.
- Eu ten... Tentei. Mas não... Mais. Não posso. – Tossi. – Talvez... Nós... Juntos de... De novo. Algum dia.
Eu sempre ouvi dizer que, quando você está prestes a morrer, toda sua vida passa diante de seus olhos como um filme. Bem, naquele momento eu quase acreditei naquilo. Quase.
Afinal, apenas as partes em que ele estava foram vistas, relembradas... Guardadas para sempre. E, apesar de toda a dor sentida naquele último momento, não me arrependo de nada. Não trocaria o que tive por nada, pois vou lhes dizer uma coisa: Não morri sozinha. Morri sendo amada, e amada fui durante toda a minha vida. E, por isso, posso dizer que, apesar de tanta dor, eu vivi. Vivi, e vivi com ele. Amei. Amei e fui amada. E eu não troco isso por nada. E, talvez, ainda fiquemos juntos. Tenho certeza que merecemos.
Talvez, em outra vida... Algum dia.
Epílogo
O caixão de mogno descia lentamente, e parecia levar meu coração com ele.
A pessoa que eu mais amei na vida estava ali dentro. Aquela pessoa que já foi tão quente, que já teve a risada mais linda que já existiu, que já teve aqueles olhos tão profundos... Estava ali, sem vida. Por minha culpa.
E, agora, tenho que viver com essa culpa pelo resto de minha vida, sozinho. Eu a amo, e sempre amarei. Sempre. Ela me ensinou o sentido da vida, o sentido do amor, o sentido da alegria e, acima de tudo, o sentido da amizade. Ela foi a melhor pessoa que já existiu, e talvez eu não fosse merecedor do seu amor.
Mas, mesmo assim, sei que ela não se arrependia de me amar, pois dediquei o meu melhor a ela. E sei que meus amigos e familiares não me julgam. E sei que ela não me julgaria. Ela era boa demais para ter ódio dentro do coração.
Ainda me lembro de quando a conheci, aquela menininha null toda suja de terra, que possuía os olhos mais brilhantes que eu já tinha visto. Me lembro dos ciúmes que sentia dela, de como eu não suportava pensar que havia outro garoto na vida, na mente ou no coração dela a não ser eu. Me lembro da dor que senti ao vê-la ir embora, para longe de mim, tantas vezes. Doía estar sem ela. E me lembro também de quando ela me aceitou como homem, quando ela se tornou por completo minha. Fiz a maior besteira de minha vida há quase um mês, quando fiquei podre de bêbado e, por razões que eu não me lembro, dormi com outra. Mas acabou, não vou mais lembrar disso. Dói demais.
Apenas juro que, a partir de agora, tudo de bom da minha vida será dedicado a ela mais ainda.
- null, você não vai...
- Não se preocupe, null, não vou fazer mais nenhuma besteira. Nem mesmo essa que vocês estão pensando.
- Já basta perdê-la, null, não queremos perder você também.
- Eu sei, null, eu sei.
Me aproximei lentamente do buraco em que o caixão já se encontrava. Olhei fixamente para a escritura da lápide: Amada filha e amiga. E, logo embaixo, em letras menores, havia a minha própria inscrição: Where you are is where I wanna be. Forever. Peguei as alianças no meu bolso e as olhei por alguns segundos. Observei a pequena pedrinha azul e, em seguida, a pérola. Senti lágrimas escorrendo pela minha face, lentamente, como se estivessem se recusando a cair. Como se não pudessem levar minha dor embora. Como se não quisessem aceitar aquela verdade de que ela não estaria mais aqui.
Beijei cada uma das alianças e, em seguida, as coloquei cuidadosamente em cima do caixão.
- Eu te amo, minha null. Para sempre.
Ela tinha razão. Talvez ainda fiquemos juntos.
Talvez, em outra vida... Algum dia.
FIM
N/A: *CHORANDO RIOS E RIOS DE LÁGRIMAS*
Acabou. É, acabou mesmo. Minha ficzinha brega e fofa acabou. Vou me matar, bjks. Não, brincadeira, já basta eu ter matado a garota kkkkk Ta, não tou boa pra fazer piadinhas :( Bom, hoje a N/A vai ser grande.
Em primeiro lugar, queria explicar umas coisas sobre a fic: esse final, o negócio de ele ter traído ela antes do casamento e tals, foi bem clichê e não tem mistério nenhum nisso, eu sei. Mas gostaria que vocês observassem que o intuito não foi mostrar exatamente COMO ela foi parar no hospital, apesar de ser isso que ela queria saber durante toda a fic. Meu intuito principal foi mostrar todos os sentimentos dela durante toda a fic, principalmente nesse final, por isso que ficou uma coisa meio misturada, meio homogênea. Espero que tenham entendido e isso não seja motivo de decepção pra vocês :) Também o objetivo da fic está mais na parte em negrito que ela fala. Porque aquilo sim é que é, como eu já pude testemunhar, a grande lição da vida.
Em segundo lugar, quero pedir pra vocês não terem raiva do menino. Pesem as coisas que ele já fez pra menina ao longo de toda a fic e vejam se o amor dele não foi maior que todo esse incidente. (E eu aqui defendendo meus personagens hahaha) Minha única demora pra enviar a fic foi esse epílogo, pois queria mostrar um lado dele que não fizesse vocês ficarem com raiva, mas que fizesse entender o amor que ele sentia por ela. Espero que tenha funcionado.
Em terceiro lugar, queria agradecer MUITO a todas as minhas leitoras maravilhosas. Não importa se você é nova, antiga, se comentava em todas as atualizações ou não, eu só quero agradecer a vocês por ter estado comigo e por não ter desistido da fic, de verdade, vocês são uns amores e nem eu nem Sometime seríamos nada sem vocês. Enfim, faço questão de agradecer uma por uma nas respostas dos comentários, e a você que não comentou, obrigada do mesmo jeito, de coração.
Queria agradecer, mais uma vez e imensamente, à Marii-Marii, minha beta maravilhosa que quebrou meu galho quando eu mais precisei, depois de ter deixado de ser beta. Obrigada mesmo, flor. Quero também mandar um beijo imeeenso pra Déa. Você sabe que0 esta história, mesmo que eu não te conhecesse quando comecei a escrever a fic, é mais sua do que minha. Nunca vi uma vida bater tanto com uma história :P
Agora, vamos responder os comentários, pela última vez *SE ACABANDO DE CHORAR*
gabs - Oun, já te disse isso, mas fiquei muito feliz por você ter gostado da fic, de verdade. Mesmo tendo pego ela no finalzinho, né =/ Mas tudo bem haha Obrigada mesmo por ter lido, Gabs.
Nancí - Aposto que você ta com ódio do garoto agora kkkkkk Mas espero que tenha gostado do último capítulo, e quero agradecer por você estar há tanto tempo acompanhando a fic, flor, de verdade :)
Juh Sellare - É, infelizmente é verdade, foi o último :( E aí, ainda acha que o final foi digno? Kkkkkk Eu tentei fazer um beeem grandão, mas nem ficou tão grande assim né =/ Enfim, nem tem problema só ter comentado agora, flor, obrigada por ter acompanhado a fic e fico muito feliz que você goste dela :)
giiks - Oun, muito obrigada por acompanhar desde o começo *-* E aí, gostou do final?
Gabs Jones - Kkkkkkkkkk rilitros. Pois é, pelo menos nas fics podemos realizar nossos desejos ocultos (6) haha Aun, desculpa por te fazer chorar, mas na verdade eu nem acho que dá pra chorar tanto assim como vocês dizem com essa fic kkkkk Eu só fiquei com vontade de chorar mesmo escrevendo o final né, mas não foi porque tava bom, foi porque já deu saudades =/ Mas então, espero que tenha gostado do final e obrigada por acompanhar a fic há tanto tempo, linda, de verdade.
gabriela - Aqui está, que bom que gostou da fic :) Gostou do final?
Rafa Piai - Claro que eu me lembro da Rafa, né! Aliás, já mandou sua fic? Kkkkkkk Aun, amei seu comentário, de verdade, é bom saber que algumas pessoas vêem essa fic como uma mensagem de vida. Obrigada por ter lido, flor, e espero que tenha gostado do último capítulo.
karobinha - Por favor, não se jogue da janela! Kkkkkkk É, ela morreu :( Mas isso já tava meio óbvio, né? Não fique depressiva, leia o que ela disse no final e fique feliz com aquilo :) Obrigada mesmo por acompanhar a fic há tanto tempo, flor, e por sempre marcar presença aqui. Gostou do final? (Mesmo ela tendo morrido? Hahaha)
Laís Judd - Eu sei bem o que é ter se apegado a esta fic :( Kkkkkk Tipo, eu ainda acho ela meio chata e tals quando eu tenho que relê-la toda de novo, mas sei lá, é meu xodó, fim. Kkkkk E eu quero te agradecer por não desistir de ler a fic, mesmo com tantas demoras haha Obrigada, flor.
Roh - É, ele pode até meio que ter sido culpado pelo acidente dela, mas as declarações deles são as melhores mesmo, isso eu tenho que admitir. Mesmo sendo bregas né, mas enfim kkkkkk Bom, não tá beeem grande e não foi feliz kkkkkk Mas espero que tenha gostado :) Aun, e eu vou morrer de saudades de responder os comentários. Vou choraaaar haha Ai, fico tão feliz de saber disso, Roh! Você é uma das leitoras mais antigas e fiéis, e eu queria te agradecer imensamente por isso, viu? Adoro ler seus comentários, muito obrigada por eles também *-* E que você também tenha um 2010 maravilhoso, flor! Obrigada por tudo s2 Ah, vou colocar o twitter mais abaixo, ok?
Hanna - Aun, muito obrigada mesmo por ler a fic desde o começo, flor, e por não ter desistido dela :) Nem me fale, eu também sempre lembro de Sometime quando ouço In Another Life. Aliás, acho que não vou ouvir mais essa música por pelo menos uns dois anos kkkkkkkkk Bom, eu tentei fazer um final legal e grande, espero que tenha gostado. Ah, eu pretendo, sim, escrever outras fics, mas antes tenho que organizar meus horários. Aun, muito obrigada por essas palavras, viu? Obrigada mesmo, Hanna, e espero que tenha gostado *-*
Dani - Ah, se eu pudesse não terminava, mas é que já tava tudo programado aqui :( Kkkkkkk quem não queria mais tempo com o Tom, né? Bua Mas é a vida (ou a morte hahah parei) Oun flor, fico muito feliz em saber disso e te agradeço imensamente pelo carinho, viu? Espero que tenha gostado do último :)
lívia - Muito obrigada flor, fico muito feliz em saber que você gostou :) É, pena mesmo que é o último =/ Mas e aí, gostou?
Emi - Aun, muito obrigada, de verdade!
Lu Avanci - Aun, não importa que você seja leitora nova, te agradeço muito por ter lido e fico muito feliz que tenha gostado, de verdade :) Kkkkk Na verdade essa coisa das respostas é meio que egoísta, porque eu faço isso mais porque acho divertido mesmo *-* Muito obrigada pelo carinho, Lu, e espero que tenha gostado do final.
Débi Baldissera - Em primeiro lugar, quero te agradecer muuito por estar acompanhando a fic há tanto tempo e por não ter desistido dela, ok, Débi? E pelos seus comentários que eu simplesmente AMO, de verdade! E espero que tenha gostado desse último capítulo :)
Luisa - Muito obrigada, flor :) Aí está, gostou?
Naat_ - Kkkkkk normal, todo mundo sempre acha meus capítulos tristes :( haha Realmente, se mata por um homem assim. Acho que é por isso que ele é tão brega, porque é o protótipo de homem perfeito hm Nossa, um mês? Realmente, meus pêsames kkkkkk Aun, tarde demais, aqui está o último capítulo, espero que tenha gostado. E muito obrigada por estar há tanto tempo acompanhando a fic, Naat, mesmo.
Quero agradecer de novo a todas vocês, minhas florzinhas, de verdade. Não quero ir embooooora :( Mas eu tenho né, então, pra vocês que pediram, estou colocando aqui meu orkut e meu twitter (apesar de eu não entrar muito hm). E eu pretendo, sim, escrever outras fics, o problema é que eu vou pro terceiro ano agora e estou com a vida muito corrida, mas já tenho vários projetos aqui, então me aguardem!
É isso, é o fim *cortando os pulsos* -nn Espero que tenham gostado desse trabalho que eu fiz com tanto amor. E nos vemos na próxima!
Bjks,
Mari M.
Nota da beta: Não sei bem o que falar. Eu tô meio abalada. Não devia estar. Devia ter imaginado.
O amor não morre junto com os nossos corpos, e essa é a maior fé e esperança que eu posso ter. Ler Sometime me fez resgatar isso, e eu só posso lhe agradecer, Mari.
Qualquer erro, mandem um tweet para mim (@summer_giirl) ou um e-mail (marii.hurtado@gmail.com). Comentem bastante, e se chorarem que nem eu, tentem esconder de seus pais: eles não vão entender muito bem, dica. Marii-Marii