Autora: Bia Pontes | Beta-reader: Andy


Los Angeles, Califórnia, 20 de Dezembro.

Ressaca. Você só sabe o que é quando sente uma de verdade, e as minhas estavam cada vez mais intensas. Senti uma mão me sacudindo e abri os olhos, ainda estava vendo um pouco embaçado, desisti de saber quem era e fechei os olhos novamente.
- , levanta AGORA! – Reconheci aquela voz chata e irritante, era Katy.
- Mas que porra! – Cocei os olhos tentando ver alguma coisa a minha volta, eu estava dormindo no sofá da sala e meu apartamento estava todo revirado. – Não se pode nem mais descansar em paz!
- , você passou dos LIMITES! Quer dizer, limite é uma coisa que VOCÊ NÃO TEM MAIS! – Ela parecia minha mãe, me olhava com as mãos na cintura batendo a ponta do pé de leve no chão. Eu levantei do sofá e percebi que eu estava apenas de calcinha, gargalhei, com quem eu passei a noite?
- Katy... – Cantarolei e abri os braços. – Você que me deixou peladinha, é? – Ela jogou uma blusa em cima de mim e parecia realmente estar com raiva.
- Olha esse apartamento , você não tem noção do que está fazendo com a sua vida, não é mesmo?
- Eu acho que dei uma festa. – Sorri, não lembrava de absolutamente nada do dia anterior.
- Você chama isso de festa? – Ela apontava uma bandeja com seringas e montinhos de um pó branco, deveria ser alguma das drogas que eu usava, mas eu nunca sabia o nome.
- Foi uma festa oras... Last Friday night Yeah I think we broke the law Always say we're gonna stop-op Whoa-oh-oah... - Eu dançava no ritmo da música e dava algumas reboladinhas enquanto Katy me olhava séria, sem esboçar um único sorriso. – Vamos, canta! – Gargalhei. – Ah qual é, você é Katy Perry, você que escreveu essa música, canta!
- Já chega , eu estou CANSADA disso tudo! – Katy me puxou pelo braço, me levando até o meu quarto. – Qual é o nome dele? – Ela apontou um rapaz completamente nu na minha cama.
- There's a stranger in my bed, There's a pounding in my head... – Ela apertou meu braço, me repreendendo com o olhar. – Ta legal, não sei o nome dele, Katy, e daí? – Ela começou a me puxar novamente e parou comigo em frente ao imenso espelho que tinha no meu quarto.
- Quem é essa pessoa que está aí? – Ela apontou o espelho. Wow, me assustei com o que vi.
- Sou eu!? – Respondi seca. Eu estava diferente.
- Não! Não é você! Você emagreceu dez kilos por causa dessas porcarias que você usa, sua voz é a sua profissão e você está acabando com ela, você tem olheiras porque não dorme mais, você cancela shows porque dá essas festinhas e fica o dia todo de ressaca, você está perdendo fãs e está acabando com a minha imagem porque eu AINDA SOU SUA AMIGA! – Katy me segurou com as duas mãos e me sacudiu. – VOCÊ NÃO TEM MAIS AMIGOS, , OLHA A PESSOA QUE VOCÊ SE TORNOU! – Fui empurrada de volta a frente do espelho, encarando meu reflexo. – ESTÁ PERTO DO NATAL, COM QUEM VOCÊ VAI PASSAR O NATAL, ? SERÁ QUE VOCÊ AINDA LEMBRA QUE TEM UMA FAMÍLIA? – Comecei a medir cada parte do meu corpo, eu realmente estava magra. Tudo que eu ganhei malhando durante meses eu estava perdendo a cada semana desde que comecei a me drogar. Não ligava para meus pais há meses e todas as vezes que eles ligavam para falar comigo eu dava uma desculpa qualquer. Eu tinha um namorado que eu larguei há anos pra fazer meu sonho virar realidade e agora ele era tão famoso com a sua banda quanto eu e com certeza nem lembrava que eu existia. Ah, e eu tinha um filho. Um filho que ninguém me deixava ver, não sei por qual motivo, e também não sabia se ele ainda estava com , só sabia que ele não podia ficar comigo e nem sabia que eu era sua mãe. Meus olhos transbordaram e eu chorei. Chorei pela primeira vez em anos. Katy me abraçou, e toda dor e culpa que eu sentia estava desabando de uma vez em cima de mim.
- Você vai sair dessa, eu vou te ajudar... – Ela sussurrou. Katy era minha primeira e única amiga desde que cheguei a Los Angeles, eu acho que não seria nada sem ela. A lembrança da conversa que eu tive com meu ex-namorado veio à tona, me causando ainda mais dor.

- Essa é a minha chance, ! – já estava com os olhos vermelhos de tanto que ele havia chorado. E em seu colo, nosso bebê. Fruto de uma noite em que nos descuidamos. – Olha... eu vou fazer sucesso lá, e quando eu tiver lá em cima eu volto, eu volto e a gente casa na igreja e no cartório e a gente compra uma casa só nossa e vive feliz pra sempre, nós três!
- Você ta achando que isso é brincadeira, ? Você ta falando em me deixar sozinho com o Nick aqui e ir embora pra realizar um sonho? – colocou Nick, que já dormia, em seu berço. – E os meus sonhos? Você acha que eu não tenho nenhum?
- , para de ser infantil! – Peguei minha única bagagem, saindo do quarto, sendo seguida por reclamando em meu ouvido. – Eu tenho 17 anos, eu preciso dessa chance... é única, eu não posso ficar presa aqui por causa de você... e de um filho... que eu NUNCA desejei.
- VOCÊ É UM MONSTRO, ! – Eu já estava descendo as escadas quando ele me segurou pelo braço. – Pode ir, vai pra Los Angeles realizar seu sonho. Só que lembra de uma coisa... – Ele me segurava contra a parede, me fuzilando com os olhos. – Quando você se arrepender dessa palhaçada toda e quiser voltar, saiba que você nunca mais terá a mim nem o Nick de volta, porque nem eu, nem ele, merecemos viver com uma pessoa como você! – Ele revirou os olhos, ainda me segurando com força. – Eu também vou realizar meus sonhos... Mas com o Nick nos meus braços, porque eu sou muito diferente de você e sou incapaz de deixar o MEU FILHO sozinho no mundo! – me soltou e atirou minha bagagem escada a baixo. – VAI EMBORA , E EU ESPERO NUNCA MAIS VER A SUA CARA NOVAMENTE! NUNCA MAIS! – Ele subiu as escadas novamente e eu revirei os olhos.
- Tenho certeza de que quando eu voltar, você vai estar me esperando de braços abertos, porque você não RESISTE a mim! – Um vaso voou e se chocou contra a parede em que eu estava minutos atrás. – LOUCO!
- VAGABUNDA! – Ele gritou de volta e eu desci as escadas correndo. Já estava na hora de ir embora daquela merda de lugar.


Todas as coisas que me falou naquele dia não tiveram valor algum, mas que agora me causavam dor, e me cortavam como facas, me lembrando a merda que eu tinha feito com a minha vida.

Los Angeles, Califórnia, 23 de Dezembro.

- Vamos , eu sei que você consegue! – Katy como sempre estava linda, e eu abriria o show dela aquela noite. Nos últimos três dias eu andei pensando somente na minha vida e em tudo que eu tinha deixado pra trás. Fiquei esses três últimos dias sem beber, fumar ou me drogar, era parte da minha nova vida. E fazia parte da minha nova vida também essa pequena abertura de show que eu cantaria uma única música para a entrada de Katy. Já estava há meses sem subir em um palco e a sensação era como se fosse a primeira vez. O remédio que estava me fazendo ficar longe das drogas me dava muita fome e eu não acreditei quando me pesei na balança mais cedo e vi que tinha engordado dois kilos em três dias. Katy estava comemorando a cada meia hora e seu camarim estava recheado de todos os tipos de coisa que eu adorava comer. Estava retocando a maquiagem quando anunciaram o meu nome, abracei Katy e ela me desejou sorte.
Subir ao palco novamente era a melhor sensação do mundo. Fui ofuscada pelos holofotes, mas logo estava ouvindo gritos e assovios de fãs meus. Eu tinha colocado a roupa mais larga que tinha para ninguém perceber o quanto eu havia emagrecido. Mesmo a imprensa já ter tido anunciado a todo mundo. Respirei fundo, sentei ao piano e sorri, sorri para todos que estavam ali, eles precisavam ver que eu estava bem.
- A música que eu escolhi pra cantar essa noite, acho que todos conhecem, é da nossa querida Adele, e eu peço que vocês cantem junto comigo, porque daqui a pouco a Katy vai estar aqui em cima, e eu quero que vocês aqueçam a voz pra cantar junto com ela quando ela estiver brilhando aqui! – Ouvi gritos mais uma vez, e a primeira de muitas lágrimas que eu ia derramar aquela noite desceu, e eu fui surpreendida por um estádio lotado gritando meu nome. Fechei os olhos e fiz a única coisa que eu sabia fazer de bom, cantar. - Play

I heard that you're settled down
Eu ouvi que você se estabeleceu
That you found a girl and you're married now
Que você encontrou uma garota e você está casado agora
I heard that your dreams came true
Eu ouvi que seus sonhos se tornaram realidade
Guess she gave you things, I didn't give to you
Acho que ela lhe deu coisas que não dei a você

A música estava me cortando em pequenos pedacinhos por dentro, mas eu precisava ir até o fim agora. Não foi a toa que eu escolhi essa música essa noite.

Old friend
Velho amigo
Why are you so shy
Por que você está tão tímido?
It ain't like you to hold back
Não é como se você tivesse que se conter
Or hide from the light
Ou se esconder da luz

Sorri quando vi que não estava sozinha. Katy me olhava da coxia, sorrindo para mim.

I hate to turn up out of the blue uninvited
Eu odeio aparecer de repente sem ser convidada
But I couldn't stay away, I couldn't fight it
Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar
I hoped you'd see my face and that you'd be reminded
Eu tinha esperança de que você veria meu rosto e que você se lembraria
That for me, it isn't over
De que pra mim, não acabou

Eu já tinha feito minhas malas antes do show, estava certa de que voltaria para Londres e passaria o Natal com quem quisesse me aceitar de volta. Só agora eu me dei conta de que era o amor da minha vida, e ele eu não teria nunca mais de volta. Porque com certeza ele encontrou alguém melhor que eu.

Never mind, I'll find someone like you
Não se preocupe, eu vou encontrar alguém como você
I wish nothing but the best for you, too
Não desejo nada além do melhor para você, também
Don't forget me, I beg, I remember you said
Não se esqueça de mim, eu imploro, me lembro que você dizia:
Sometimes it lasts in love
Às vezes o amor dura
But sometimes it hurts instead
Mas, às vezes, fere em vez disso
Sometimes it lasts in love
Às vezes o amor dura,
But sometimes it hurts instead, yeah
Mas, às vezes, fere em vez disso, yeah

Meu rosto já estava repleto de lágrimas. Eu joguei tudo que eu construí com no lixo, achando que eu estava fazendo a coisa certa, agora tinha alguém vivendo minha vida com ele.

You'd know how the time flies
Você saberia como o tempo voa
Only yesterday was the time of our lives
Somente ontem foi o tempo das nossas vidas
We were born and raised in a summery haze
Nós nascemos e fomos criados numa neblina de verão
Bound by the surprise of our glory days
Unidos pela surpresa dos nossos dias de glória

Todas as juras de amor eterno... Todo o tempo em que passamos sonhando, e eu só precisava de seu perdão pra me restabelecer novamente.

I hate to turn up out of the blue uninvited
Eu odeio aparecer de repente sem ser convidada
But I couldn't stay away, I couldn't fight it
Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar
I hoped you'd see my face and that you'd be reminded
Eu tinha esperança de que você veria meu rosto e que você se lembraria
That for me, it isn't over yet
De que pra mim não acabou

Minha voz aumentava a cada nota. Eu estava expulsando todos os monstros que existiam dentro de mim.

Never mind, I'll find someone like you
Não se preocupe, eu vou encontrar alguém como você
I wish nothing but the best for you, too
Não desejo nada além do melhor para você, também
Don't forget me, I beg, I remember you said
Não se esqueça de mim, eu imploro, me lembro que você dizia:
Sometimes it lasts in love
Às vezes o amor dura,
But sometimes it hurts instead, yeah
Mas, às vezes, fere em vez disso, yeah

Existe uma força que queria me derrubar, mas existia uma maior ainda que estava me segurando com as duas mãos.

Nothing compares, no worries or cares
Nada se compara, não se preocupe ou se importe
Regrets and mistakes they're memories made
Lamentações e erros são produtos da memória
Who would have known how bitter-sweet this would taste
Quem poderia ter adivinhado o gosto agridoce que isso teria?

Nick. Como eu fui capaz de abandonar um filho? Será que eu era tão ruim assim? Será que ainda não restava nada de bom em mim?

Never mind, I'll find someone like you
Não se preocupe, eu vou encontrar alguém como você
I wish nothing but the best for you, too
Não desejo nada além do melhor para você, também
Don't forget me, I beg, I remember you said
Não se esqueça de mim, eu imploro, me lembro que você dizia:
Sometimes it lasts in love
Às vezes o amor dura,
But sometimes it hurts instead, yeah
Mas, às vezes, fere em vez disso, yeah

Never mind, I'll find someone like you
Não se preocupe, eu vou encontrar alguém como você
I wish nothing but the best for you, too
Não desejo nada além do melhor para você, também
Don't forget me, I beg, I remember you said
Não se esqueça de mim, eu imploro, me lembro que você dizia:
Sometimes it lasts in love
Às vezes o amor dura
But sometimes it hurts instead
Mas, às vezes, fere em vez disso
Sometimes it lasts in love
Às vezes o amor dura,
But sometimes it hurts instead, yeah, yeah
Mas, às vezes, fere em vez disso, yeah, yeah

Quando terminei de cantar todos estavam em pé me aplaudindo. Eu apenas sorri, não conseguia emitir mais nenhum som além do choro. Katy saiu da coxia e veio até a mim, me abraçando forte. – Minha amiga, tudo vai dar certo... – Ela sussurrou no me ouvido e eu sorri.

Aeroporto de Los Angeles, Califórnia, 23 de Dezembro.

Fui seguida pelos paparazzis até o aeroporto. Já estava ficando sufocada com tantas perguntas que eles faziam sobre minha saúde e para onde eu viajaria. Consegui um voo pequeno em que só viajariam três importantes políticos e com certeza eles não se importariam comigo, não deveriam saber nem quem eu era. A viagem seria longa, onze horas de voo para Londres sem escala seria desconfortante. Mas eu precisava chegar o mais rápido possível em Londres, queria chegar a tempo da ceia de Natal. O remédio que eu estava tomando além de fome me dava sono, depois de revirar o frigobar todo atrás de comida eu resolvi dormir. Coloquei os fones no ouvido e fiquei assistindo um filme que estava passando, e aos poucos adormeci.

Londres, Reino Unido, 24 de Dezembro.

Quando cheguei a Londres o tempo estava chuvoso e fazia muito frio, clima típico de Londres em dezembro. Já eram onze horas da noite quando eu cheguei à casa dos meus pais. Já fazia seis anos, exatamente seis anos que eu não via meus pais. Na frente da casa deles estavam estacionados os mais diversos tipos de carros, com certeza toda minha família estava lá, e eu estava sem coragem nenhuma de descer do táxi. O motorista já estava impaciente a minha frente, afinal, já estava quase na hora da virada do Natal e deveria ser a última corrida dele. Tomei coragem para sair do carro, dei dinheiro a mais para ele, uma gorjeta por ele esperar eu me restabelecer. A casa dos meus pais havia mudado tanto... Com certeza não estava no meu quarto cuidando de Nick, muito menos morando ali ainda. Eles tinham pintado a casa de branco e ela estava toda enfeitada por luzes de Natal. Arrastei minhas malas até a entrada, tomei coragem e toquei a campainha.
- ? – Estava de cabeça baixa quando minha mãe abriu a porta. Quando a olhei seu rosto refletia surpresa e dor. Ela me abraçou e eu logo a ouvi chorar baixinho no meu ombro.
- Desculpa mãe, eu nunca mais faço isso!
- Filha... – Ela se separou de mim, me olhando da cabeça aos pés. – O que aconteceu com você? Eu achei que fosse tudo invenção da imprensa, mas você está tão magrinha... tão abatida.
- Mãe... Me desculpa por tudo. Mas eu quero esquecer tudo que aconteceu, vida nova daqui pra frente, por favor, você não vai querer saber as coisas ruins que eu fiz. – Ela entendeu e me abraçou novamente. Seu abraço era tão bom, eu me sentia segura agora, estava em casa.
Quando entrei em casa todos ficaram assustados, mas logo me receberam de braços abertos. Meu pai, que nunca foi de chorar, foi só lágrimas quando me viu. Ele me ajudou a levar minhas malas até o meu quarto e ele estava como eu havia deixado a última vez. A cama de casal que eles tinham comprado pra eu morar durante um tempo com ali, o berço de Nick e seus brinquedos dentro. E o quarto, que antes se enchia com a voz de e o choro de Nick, estava completamente vazio. Meu pai me abraçou e eu não contive as lágrimas.
- Calma, minha filha... Vai ficar tudo bem.
- Eu perdi os dois, papai... Eu sou uma idiota mesmo!
- O você pode até ter perdido sim... Mas o Nick você nunca conquistou, então está na hora de recuperar o tempo perdido. Ainda dá tempo, .
Eu abracei ainda mais forte o meu pai. Depois fui ao banheiro lavar o rosto e desci para a ceia. Ninguém fez nenhuma pergunta que eu não pudesse responder, parecem que já tinham sidos avisados pela minha mãe, como sempre mandona. Eu ria com piadas do meu tio George, sempre engraçado, e suas piadas não mudavam nunca. Parte da minha família quando bebia queria dançar, e lá pelas três horas da madrugada todos ainda estavam acordados dançando, com a exceção das crianças que iam dormindo em qualquer canto que vissem. Meu irmão tinha tido duas meninas e elas tinham dois anos a menos que Nick e eram as coisas mais fofas do mundo.
Tomei coragem e me levantei do sofá. Estava decidida a ir à casa de falar com ele e ver meu filho, pelo menos o meu filho eu veria. Minha mãe, mesmo não querendo, me passou o novo endereço de ; peguei o carro dela emprestado e fui. Sem nem pensar no que eu iria falar.

Londres, Reino Unido, Natal, Cada dos ’s

P.O.V

Nick não parava de correr pela casa, tinha um pique que só. Samantha já dormia no sofá com seus sete meses de gestação. O carrinho de controle remoto que eu tinha dado de presente a Nick já estava nas últimas, ele já tinha acertado o carro em todas as paredes da casa. Eu estava muito cansado, meus amigos já tinham ido embora, só que eu tinha que esperar a bateria do Nick acabar pra poder dormir. Nick cada vez que crescia parecia mais com a vagabunda da , o jeito imperativo de ser, a mania de se achar sempre certo, os olhos, o nariz, tudo dele me fazia lembrar ela quase de propósito. Mas quem ele chamava de mãe era a Samantha e eu dava graças a Deus por isso. A campainha tocou às três da manhã, deveria ser algum dos meus convidados que tinha esquecido alguma coisa, fui até a porta e quando a abri vi quem eu menos esperava parada a minha porta.
- ? – Eu ri. Só podia ser uma brincadeira muito de mau gosto da vida.
- Eu posso falar com você? – Ela estava muito diferente, seus olhos estavam tristes, estava com a pele amarelada e seu cabelo parecia não ter mais vida, seu rosto estava tão fino, ela estava tão mal.
- Continua a mesma, né? Não perdeu a cara de pau mesmo, não é ? Eu deveria te dar um prêmio pela coragem de aparecer na minha casa em pleno Natal depois de todos esses anos!
- Seis malditos anos. – Ela respondeu. – E não pense que eu não tenho senso, que eu sou louca, ou sei lá o que. Porque eu tive de tomar muita coragem pra estar aqui agora. – Ela suspirou. – Olha ... Eu só vim aqui por um motivo. Eu sei que você está casado agora, está feliz, é claro. Mas eu quero ver o Nick, por favor.
- Sim, casei, estou feliz, o Nick também está feliz, minha mulher está grávida e não pode se estressar, então, por favor, vai embora.
- O Nick é meu filho também, !
- Não, o Nick não é seu filho mais! – A raiva que eu sentia de me consumia tanto que quando eu vi já estava a segurando pelos dois braços, a fuzilando com os olhos.
- , me solta! – Ela se remexeu sob os meus braços. – Eu só quero ver o Nick, eu só estou te pedindo isso, por favor!
- Quem é essa moça? – Nick me surpreendeu, aparecendo atrás de mim na porta, me fazendo ficar vermelho de raiva.
- Nick, entra AGORA!
- Nick... – se soltou e abaixou perto de Nick, o que estava me deixando cada vez mais puto. – Meu filho... Como você cresceu...
- Você não é minha mãe...
- Sou sim, meu amor, eu sou sua mãe! – estava em prantos e Nick a olhava confuso.
- VAI EMBORA, ! AGORA! – Eu a levantei pelo braço, a afastando de Nick. – Ela não é sua mãe, filho, ela é louca! Lembra o que o papai te disse sobre estranhos tentando se aproximar de você? Então... Ela é uma delas, Nick. Entra, por favor!
- VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COM ELE! – começou a socar meu peito, não fazia efeito nenhum sobre mim. Mas a presença dela ali estava sugando minha energia. Eu queria esquecer tudo e ficar só com ela novamente, ela mexia comigo de tal forma que estava me enlouquecendo. Ela precisava ir embora, senão eu seria capaz de fazer uma loucura.
- Vai embora ... Por favor! – Eu cedi. Não aguentei a pressão e lágrimas involuntárias começaram a rolar pelo meu rosto, era esse feito que ela tinha sobre mim. Só ela conseguia me manipular e fazer qualquer coisa comigo, eu não era tão forte assim perto dela, ela me encantava.
- ... Me perdoa! – Eu abri a guarda e ela me abraçou, e quando eu senti o calor de seu corpo tocando o meu eu senti saudades. Era a mulher da minha vida que estava na minha frente agora, mas eu tinha uma nova vida agora, não iria me machucar de novo por ela.
- ... Você já viu o Nick, agora vai embora. – Eu a afastei de mim, olhando em seus olhos. Ela estava realmente arrependida, mas eu precisava seguir em frente.

P.O.V

me olhava com pena e também sentia dor. A lembrança de todos os nossos anos juntos vinha e voltava a todo instante em minha cabeça. Nick estava tão lindo, tão grande. estava mais bonito do que era, estava mais maduro, com mais jeito de homem. Sua pele exalava um cheiro tão familiar que me entorpecia, e eu desejava a todo custo estar ali nos braços dele novamente, desejava nunca ter deixado ele sozinho.
- ... Eu te amo tanto...
- , por favor, não faz isso comigo, eu já sofri demais por você...
- Me dá uma chance , mais uma chance...
- Eu te dei todas as chances de se arrepender e voltar logo quando você decidiu ir embora... Agora é tarde demais, .
- , a gente tem muita coisa pra viver ainda, por favor.
- É tarde demais. – se aproximou de mim e fez o que eu menos esperava. Beijou minha testa, mas logo se afastou. – Eu realmente não resisto a você, mas estou usando todas as minhas forças agora. – Ele se afastou ainda mais e parou na porta, me olhando a última vez. – Nunca esqueça que eu te amo, e que eu lutei muito por você. Tenha um bom Natal, minha pequena.
Ele sumiu atrás da porta, me deixando completamente atordoada. Será que esse era mesmo o fim? Será que eu nunca conseguiria um perdão? Fui até o carro e fiquei sentada lá, observando a vida de de longe, como se eu nunca tivesse feito parte dela.

Fim.


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